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https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/ataque-hacker-ao-stj-nao-e-sinal-de-ameaca-a-seguranca-das-urnas/
COMPROVA
Ataque hacker ao STJ não é sinal de ameaça à segurança das urnas
null
2020-11-13
Diferentemente de sistemas internos, como o do STJ, os equipamentos de votação são máquinas isoladas, sem qualquer conexão com a internet. Para a contagem dos votos, um arquivo é retirado da máquina após o encerramento do período de votação e da impressão do boletim com o resultado daquela urna. Este arquivo é, então, enviado a um pólo de transmissão, que enviará os dados para que o TSE faça a totalização no seu sistema Conteúdo verificado: Post no Twitter insinua que ataque hacker ao sistema de informática do Superior Tribunal de Justiça seria uma ameaça à segurança do TSE e das urnas eletrônicas usadas no país. É enganoso o tuíte insinuando que o ataque hacker sofrido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), pelo Ministério da Saúde e por outros órgãos públicos, no começo de novembro, seja uma ameaça à segurança das urnas eletrônicas ou ao sistema eleitoral do Brasil. Diferentemente desses sistemas internos, os equipamentos de votação são máquinas isoladas, sem qualquer conexão com a internet. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as urnas eletrônicas não têm nem o hardware necessário para fazer uma conexão a uma rede com ou sem fio — o que inviabiliza um ataque virtual externo. Para a contagem dos votos, um arquivo é retirado da máquina após o encerramento do período de votação e da impressão do boletim com o resultado daquela urna. Este arquivo é, então, enviado a um pólo de transmissão, que enviará os dados para que o TSE faça a totalização no seu sistema. Este, por sua vez, é conectado à internet. Como verificamos? Procuramos o STJ, para verificar as informações sobre o ataque hacker mencionado no tuíte. A primeira tentativa foi por e-mail, mas não houve resposta. Pelo WhatsApp oficial, o órgão confirmou o ocorrido, e, por meio de notas com atualizações, disse que o caso está sendo investigado pela Polícia Federal e que o sistema está sendo restabelecido de forma gradual. O e-mail só foi respondido quatro dias depois, avisando o restabelecimento do sistema. Também entramos em contato com o Tribunal Superior Eleitoral, mencionado no tuíte e responsável pelo sistema eletrônico usado nas urnas de votação brasileiras. A Corte nos passou informações sobre os mecanismos de segurança usados nos equipamentos e sobre o funcionamento das urnas. Entrevistamos, ainda, por e-mail, Fernando Amatte, diretor de Cibervigilância da Cipher, empresa paulista especializada em cibersegurança, que explicou o ataque ao STJ e a diferença do sistema usado no tribunal para aquele adotado nas urnas eletrônicas. Por fim, consultamos matérias publicadas na imprensa sobre o ataque ao Superior Tribunal de Justiça. Procuramos também uma forma de contatar a autora do tuíte enganoso, mas sua conta não aceita mensagens e não encontramos e-mail ou telefone de contato. Verificação Ataque ao STJ O Superior Tribunal de Justiça foi, de fato, assim como afirma o tuíte, alvo de um ataque hacker no dia 3 de novembro. Segundo um comunicado assinado pelo presidente do órgão, ministro Humberto Martins, no dia 5, o ataque foi detectado pela presença de um vírus na rede de informática do tribunal, enquanto sessões de julgamento eram realizadas. Para proteger o sistema, os links da rede interna do tribunal com a internet foram desconectados — fazendo com que os sistemas de informática e telefonia do Tribunal deixassem de funcionar. A pedido da própria Corte, a Polícia Federal está investigando o caso — em um inquérito sigiloso. No dia 10, em outro comunicado, o presidente da corte disse que “os principais sistemas da rede de tecnologia da informação do tribunal foram restaurados”, e que novos procedimentos de segurança foram adotados por todos os servidores e usuários da rede interna de forma preventiva. Também de acordo com a nota, a extensão dos danos causados pelo ataque e das informações a que os hackers tiveram acesso ainda estão sendo apuradas pela Polícia Federal. Advogados temem que os dados dos clientes, que estavam na base do STJ e foram recuperados por um sistema de backup, sejam usados para chantagem pelos criminosos. Urnas são equipamentos isolados Como aponta o tuíte verificado, com ironia, as urnas eletrônicas não poderiam ser invadidas como foram os sites do STJ por um motivo simples: elas não estão conectadas a uma rede. Segundo o TSE, elas são dispositivos isolados. O que significa que, para invadir uma urna, uma pessoa teria de ter acesso a ela fisicamente – e efetuar a má conduta uma a uma. “A urna funciona independentemente da internet. Todas as urnas são zeradas antes do início das votações, com a impressão da zerésima (relatório da urna), que comprova que nenhum voto foi digitado até aquele momento. A partir daí, todo voto dado é registrado”, explica o tribunal eleitoral. Além disso, segundo o analista do TSE Bruno Coimbra, mestre em Ciência da Computação pela Universidade de Brasília (UnB), as urnas eletrônicas não são equipadas com o hardware necessário para se conectar a uma rede de internet ou a qualquer forma de conexão, com ou sem fio. “Vale destacar que o sistema operacional Linux contido na urna é preparado pela Justiça Eleitoral de forma a não incluir nenhum mecanismo de software que permita a conexão com redes ou o acesso remoto”, explica o analista em artigo publicado no site do tribunal. “Qualquer tentativa de executar software não autorizado na urna eletrônica resulta no bloqueio do seu funcionamento. De igual modo, tentativas de executar o software oficial em um hardware não certificado resultam no cancelamento da execução do aplicativo”. Diretor de cibervigilância da Cipher, empresa especializada em cibersegurança, Fernando Amatte também descarta qualquer relação entre o ataque ao sistema do STJ e uma hipotética invasão das urnas eletrônicas. Como os dispositivos eleitorais são totalmente desconectados da rede, é inviável estabelecer semelhanças. “Temos situações e vetores de ataque diferentes, com possibilidades de ataques distintas”, esclarece. De acordo com Amatte, um ataque similar poderia afetar o sistema de totalização de votos ou outras esferas do TSE, mas nunca as urnas, já que os equipamentos, em si, não estão conectados à internet. Por isso, os os boletins de urna são impressos ao final da votação em diferentes vias. Em caso de qualquer ataque ou suspeita de interferência externa, há provas autenticadas que permitem uma checagem segura dos votos. O especialista considera que as invasões recentes ligaram o alerta nas instituições, que devem renovar os cuidados para se proteger de ataques. “Ninguém quer ter esse tipo de problema. Sendo assim, acredito que todos os órgãos públicos estão, neste momento, analisando suas redes e suas capacidades internas de detecção, análise e resposta”, afirma. “Caso necessário, medidas complementares de segurança serão tomadas, porém nada muito específico ou focado em eleições”. O TSE também realiza testes com os equipamentos antes das eleições para averiguar a inviolabilidade da urna. Neste ano, dos 13 planos de ataque feitos pelas entidades que participaram dos testes, apenas dois conseguiram obter sucesso parcial, sem chegarem ao resultado final. Peritos da Polícia Federal (PF) conseguiram romper uma das diversas barreiras de proteção, mas não conseguiram alterar os dados de eleitores e de candidatos. Totalização dos votos é feita separadamente Como as urnas não têm conexão com a internet, para a contagem dos votos, um arquivo é retirado da máquina após o encerramento do período de votação e enviado a um polo de transmissão, que transmite os dados para que os tribunais regionais eleitorais (TREs) façam a totalização. Esses dados só conseguem ser lidos nos equipamentos da Justiça Eleitoral que possuem as chaves para as diversas camadas de segurança, integrantes do sistema eletrônico de votação. Após verificação na zona eleitoral, a autenticidade dos votos da urna eletrônica é checada mais uma vez no TSE, antes de serem incluídos na totalização. “Quando a zona eleitoral fecha, uma mídia de resultado gera o Boletim de Urna, com cinco cópias: uma fica afixada no local de votação, três seguem para o cartório eleitoral e a última é entregue aos representantes dos partidos políticos ali presentes. Tal procedimento se dá em todas as seções eleitorais”, explica o TSE. “Após a impressão, é retirada a mídia de resultado, para envio a um polo de transmissão. É a partir desse instante que se dão o envio e a totalização dos votos.” Nas eleições municipais de 2020, os votos serão totalizados no TSE e, não mais nos TREs. Segundo o secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, essa centralização possibilita ainda mais segurança no processamento dos votos, que ocorrerá na sala-cofre do TSE, que possui todos os certificados internacionais de segurança física e de garantia de fornecimento de energia. Quem é a autora O tuíte, publicado como ironia, foi escrito por Claudia Wild, uma militante de direita, apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ela escreve para alguns portais opinativos voltados à direita, como Hora Extra e Terça Livre. No último, sua minibio a identifica como “mineira, mãe do Thomas e bacharela em Direito pela UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais]. Entre seus tuítes há também questionamentos às eleições norte-americanas, que, diferente do Brasil, não usam urnas eletrônicas como método único, e às vacinas contra covid-19 produzidas na China. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais tratando sobre o processo eleitoral, políticas públicas do governo federal ou sobre a pandemia de covid-19. O post verificado aqui, com 7,6 mil curtidas e cerca de 1,4 mil compartilhamentos no Twitter, desinforma ao equiparar um ataque virtual real ocorrido com instituições brasileiras à possibilidade de invasão de urnas, para colocar em xeque o sistema eleitoral brasileiro. Este tipo de questionamento inconsistente e sem provas, estimulado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ajuda a descredibilizar o processo democrático brasileiro. O UOL Confere já checou conteúdo semelhante. O Comprova tem verificado uma série de postagens que questionam a eficiência das urnas eletrônicas, como a corrente que afirma que um documento comprovou fraude nas eleições de 2018 e a que diz que apenas três países no mundo usam urnas eletrônicas. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/medico-morreu-de-covid-19-e-nao-por-efeitos-adversos-da-vacina-de-oxford/
COMPROVA
Médico morreu de covid-19 e não por efeitos adversos da vacina de Oxford
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2020-11-11
De acordo com o atestado de óbito do jovem, que era voluntário no ensaio clínico da vacina de Oxford, ele faleceu em decorrência de uma pneumonia viral causada pela covid-19 e não pela vacina, como afirma um vídeo publicado no Facebook e YouTube Conteúdo verificado: Live realizada no Facebook, e posteriormente publicada no YouTube, na qual um enfermeiro afirma que a morte de um voluntário nos testes da vacina de Oxford, em outubro, teria sido provocada pelo imunizante. Além disso, ele também diz que as vacinas podem causar Alzheimer e fibromialgia É falso que o médico João Pedro Rodrigues Feitosa, voluntário no ensaio clínico da vacina de Oxford, tenha sido “vítima da vacina”, como afirmou o enfermeiro Anthony Ferrari Penza em uma transmissão ao vivo pelo Facebook. De acordo com o atestado de óbito do jovem, obtido pelo Comprova, ele faleceu em decorrência de uma pneumonia viral causada pela covid-19. Veículos de imprensa, como a TV Globo, disseram ter confirmado com fontes ligadas aos testes que o voluntário recebeu apenas placebo – e não a vacina propriamente dita. O Comprova não conseguiu confirmar essa informação. O enfermeiro ainda afirma no vídeo verificado pelo Comprova que os adjuvantes da vacina, substâncias que buscam melhorar sua eficácia, poderiam causar Alzheimer, doença degenerativa que afeta a memória, e fibromialgia, que causa dor e fadiga. A afirmação é enganosa, já que não existem indícios científicos que indiquem que as vacinas e os adjuvantes causem qualquer uma das duas doenças, como explicou o pesquisador Rafael Dhália, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Até o momento, não foram relatados efeitos colaterais graves nos 57 mil voluntários (10 mil deles no Brasil) que receberam a vacina de Oxford. É importante ressaltar que o simples ato de se vacinar não significa que uma pessoa esteja imune a uma determinada doença. Nenhuma vacina existente proporciona uma proteção para todas as pessoas que receberem as doses. “Vacina não é uma medida de proteção individual e, sim, populacional”, explica Dhália. Isso significa que mesmo quem vier a receber a vacina ainda poderá adquirir a doença. “Quando o nível é ‘excelente’, a vacina tem uma proteção de 80%”, complementa o pesquisador. Com isso, os 80% da população imunizados servem como uma espécie de barreira para que os outros 20% que não foram imunizados estejam protegidos. Procurado, Penza disse que não é contra a vacina ou contra os testes da vacina, mas que é “contra não avisar as pessoas que elas estão sendo testadas” e contra a “obrigatoriedade” dos testes. Na verdade, nenhuma pessoa é obrigada a participar dos testes e todos que participam são voluntários e assinam um termo reconhecendo a participação. Em relação aos efeitos colaterais, ele voltou a afirmar que os artigos científicos mostram que os adjuvantes podem provocar Alzheimer. Porém, quando o Comprova pediu para que ele enviasse os artigos que supostamente comprovariam a afirmação, ele deixou de responder. Como verificamos? Em primeiro lugar, consultamos as informações publicadas na imprensa sobre a morte de João Pedro Rodrigues Feitosa, voluntário nos testes da vacina de Oxford que faleceu no final de outubro. Depois disso, entramos em contato com a farmacêutica AstraZeneca, responsável pela vacina, e com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela aprovação de testes e medicamentos no Brasil. Pelo portal do Registro Civil, canal oficial de comunicação com cartórios de todo o Brasil, solicitamos e obtivemos o atestado de óbito de Feitosa para confirmar a causa da morte. Conversamos, também, com o doutor em biologia molecular e especialista em microbiologia e virologia da Fiocruz Rafael Dhalia e com Dirceu Bartolomeu Greco, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), presidente da Sociedade Brasileira de Bioética e vice-presidente do Comitê Internacional de Bioética da Unesco. Também entramos em contato com o enfermeiro Anthony Ferrari Penza via WhatsApp. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 11 de novembro de 2020. Morte de voluntário nos testes No vídeo analisado, o enfermeiro afirma que o médico carioca João Pedro Rodrigues Feitosa, de 28 anos, teria sido vítima da vacina contra o novo coronavírus. Feitosa era um dos participantes dos testes clínicos da vacina produzida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca e faleceu no dia 15 de outubro. A afirmação feita por Penza é falsa. De acordo com o atestado de óbito de Feitosa, ele faleceu por complicações em decorrência de uma pneumonia viral causada pela covid-19. Procurada, a farmacêutica AstraZeneca afirmou que não poderia divulgar informações sobre os voluntários, pois as informações sobre qualquer voluntário são tratadas em sigilo. Tanto a farmacêutica quanto a Universidade de Oxford, parceiras na produção da vacina, se recusaram a confirmar se Feitosa recebeu o placebo ou a vacina. Porém, diversos veículos de comunicação brasileiros confirmaram, com fontes ligadas ao estudo, que o médico recebeu apenas placebo – e não a vacina propriamente dita. Ou seja, a morte de Feitosa não tem relação direta com a vacina em testes no Brasil – ele foi uma das mais de 162 mil vítimas brasileiras da covid-19. Efeitos colaterais, Alzheimer e fibromialgia Na gravação, o enfermeiro Penza afirma que os adjuvantes presentes nas vacinas poderiam causar Alzheimer, doença neurodegenerativa que afeta a memória, e fibromialgia, enfermidade que causa dor e fadiga. Os adjuvantes são substâncias que procuram melhorar a eficácia das vacinas. A informação é enganosa. Não existem indícios científicos de que as vacinas e os adjuvantes causem essas duas doenças, explicou Rafael Dhália, pesquisador da Fiocruz e doutor em Biologia Molecular. “Não existe vacina ‘pronta’ pois elas ainda estão na fase 3 de testes, que é a fase final da avaliação de segurança e eficácia”, explica Dhália. “Mas não existem indícios científicos de que elas causem essas doenças”, complementa. No caso da vacina de Oxford, não foram registrados efeitos colaterais graves nos mais de 57 mil voluntários até o momento. O placebo e os testes A pesquisa científica com voluntários é regulamentada pela resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), e controlada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), vinculada ao CNS, para garantir o controle e se manter livre da influência de laboratórios e governantes. A explicação foi dada pelo presidente da Sociedade Brasileira de Bioética e vice-coordenador do Comitê Internacional de Bioética da Unesco, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dirceu Bartolomeu Greco. O direito ao sigilo em todas as fases da pesquisa é assegurado aos participantes voluntários pela mesma resolução, no capítulo IV. No entendimento de Greco, a legislação brasileira é uma das que garantem mais direitos aos voluntários de pesquisas e testes. Um desses direitos é o acesso aos resultados dos estudos, ou seja acesso sem custos a medicamentos e tratamento gerados por esses estudos, o que possibilita aos participantes um benefício em um processo “em que praticamente todos os envolvidos ganham alguma coisa, seja o pesquisador, a instituição de pesquisa e o laboratório, enquanto o voluntário entra só com a boca ou o braço”, segundo o professor. No vídeo verificado aqui, Penza afirma que o placebo utilizado na pesquisa é “um líquido que não é nada”. A afirmação está errada. De acordo com o imunologista Rafael Dhalia, a “definição de placebo usada pelo enfermeiro autor do vídeo está completamente equivocada”. O placebo dessa vacina não é uma substância inerte. Ele utiliza o mesmo vetor, mas leva o imunizante para meningite meningocócica. Ou seja, o placebo, neste caso, é uma outra vacina já consolidada e que é utilizada em larga escala no mundo todo. A vacina A vacina produzida pela farmacêutica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford é um imunizante vetorial. Isso significa que ela utiliza um vírus vivo – no caso, um adenovírus de chimpanzé modificado – como vetor para levar uma parte do vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, para dentro do corpo humano. Essa é uma solução para produzir a vacina sem precisar inserir o vírus inteiro no corpo. Ao identificar a sequência genética dessa parte do vírus, a proteína “S”, o sistema imunológico de quem recebe a vacina, a reconhece como uma parte estranha ao corpo e começa a produção de anticorpos que vão lutar contra o vírus. Dessa maneira, quando tivermos contato com o novo coronavírus, nosso corpo já estará protegido. É importante lembrar que o simples ato de se vacinar não significa dizer que uma pessoa está 100% imune a uma doença. Nenhuma vacina existente proporciona 100% de proteção. “[Tomar a vacina] não significa dizer que a pessoa precisaria estar protegida contra a doença. Vacina não é medida de proteção individual e, sim, populacional. Nenhuma delas protege 100%. Quando o nível é ‘excelente’ tem uma proteção de 80%”, explica Rafael Dhália, da Fiocruz. Com isso, os 80% da população protegidos servem como uma espécie de barreira para os outros 20% que não desenvolveram uma proteção após a vacinação e a transmissão do vírus vai sendo bloqueada ao longo dos anos. Segundo Dhalia, “a OMS deverá aceitar para a covid-19 qualquer vacina que tenha uma eficácia igual ou superior a 50%, para ir reduzindo a transmissão até surgir alguma outra mais eficaz, com nível de proteção acima de 70%”. Quem é o autor do vídeo? Anthony Ferrari Penza, nascido no Rio de Janeiro, tem 45 anos e atualmente é candidato a vereador no município de Cabo Frio, no mesmo estado. Segundo seu currículo Lattes, na plataforma CNPq, ele fez sua formação no curso de Enfermagem na Universidade Veiga de Almeida, em 2014. Entre 2014 e 2016, cumpriu especializações na área medicinal. Ainda conforme a plataforma Lattes (com última atualização registrada em 06/03/2018), Penza atuou em diversos hospitais da região. Entretanto, quando questionado sobre sua trajetória profissional em uma verificação anterior realizada pelo Comprova, o enfermeiro não disse em quais instituições trabalhou. Penza concorre pela primeira vez a vereador na cidade de Cabo Frio pelo Partido Social Democrata. Ele não teve nenhuma movimentação financeira na campanha eleitoral, segundo o site de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O enfermeiro já apareceu em outras duas verificações feitas pelo Comprova. Em uma delas, ele afirmava que o recebimento de verbas pelos hospitais estava atrelado ao número de óbitos. Essa informação é falsa. Na outra, ele distorceu dados de estudos científicos para afirmar falsamente que a ivermectina, medicamento usado contra vermes e parasitas, seria eficaz contra o novo coronavírus. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais tratando sobre políticas públicas do governo federal ou sobre a pandemia. Como ainda não existe uma vacina aprovada ou cura comprovada para o coronavírus, muitas das publicações verificadas estão relacionadas ao tema. Nos últimos meses, a grande politização em torno da vacina fez com que o número de conteúdos falsos e enganosos aumentasse muito. O vídeo analisado foi publicado no perfil do Facebook do enfermeiro Anthony Ferrari Penza e teve cerca de 2,6 milhões de visualizações até ser excluído, no dia 29 de outubro. O mesmo vídeo foi publicado no YouTube e chegou a mais de 50 mil visualizações até 11 de novembro. Os conteúdos passam insegurança para as pessoas que, além de estarem assustadas com a pandemia, também ficam receosas em relação às vacinas, visto que o vídeo dissemina medo e não traz nenhuma informação concreta sobre os testes e resultados das vacinas que estão em andamento no Brasil. O mesmo vídeo também foi verificado pela Agência Lupa e pelo Fato ou Fake, do portal G1, que classificaram as informações de Penza como falsas. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para modificar o seu significado original e divulgado de maneira deliberada para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/coronavac-nao-matou-voluntarios-e-vacinas-nao-causaram-danos-neurologicos-ou-de-dna/
COMPROVA
CoronaVac não matou voluntários e vacinas não causaram danos neurológicos ou de DNA
null
2020-11-09
Comunicados das fabricantes e de órgãos oficiais mostram que as vacinas que estão em teste não causaram nenhum dano neurológico e, muito menos, mortes de voluntários relacionadas a elas. O Comprova ouviu especialistas que também negaram a possibilidade dos imunizantes causarem alterações no DNA Conteúdo verificado: Post no Facebook usa print screen que mostra apenas o título de uma checagem para induzir os internautas a crer que a CoronaVac matou mais de 2 mil voluntários e altera o DNA das pessoas. É falso que a CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac com apoio do Instituto Butantan, tenha matado mais de 2 mil voluntários e que altere o DNA das pessoas, como sugere uma imagem que circula pelas redes sociais. Também é inverídico que as vacinas desenvolvidas pela Pfizer e pela Moderna tenham como objetivo causar graves danos neurológicos e, assim, matar a população em massa. Todas estas afirmações foram divulgadas pela mesma página em um post no Facebook e em uma publicação no Telegram. O post usa como imagem parte de uma checagem, apenas título e subtítulo, que repete o boato como forma de pergunta: “Vacina chinesa matou mais de 2 mil voluntários e altera o DNA das pessoas? Checamos!”. Essa imagem, no entanto, induz a uma interpretação errada, já que nem o link para a verificação nem a sua conclusão foram compartilhados. A verificação, feita pela seção de checagem do site maranhense O Imparcial, concluiu que a informação é falsa. O texto que acompanha a imagem do post verificado pelo Comprova fornece um link que leva a uma publicação no Telegram, que diz: “Cobaias humanas da Moderna e Pfizer sofrem exaustão extrema, falta de ar, dores de cabeça etc. Prepare-se para vacinas de despovoamento em massa que causam graves danos neurológicos e lobotomize [sic] qualquer estúpido o suficiente para tomá-las”. Comunicados das fabricantes e de órgãos oficiais mostram que as vacinas que estão em teste não causaram nenhum dano neurológico e, muito menos, mortes de voluntários relacionadas a elas. O Comprova ouviu especialistas que também negaram a possibilidade dos imunizantes causarem alterações no DNA. Em resposta ao Comprova, o responsável pela página que compartilhou os conteúdos afirmou que as informações “são conseguidas com pessoas que tem [sic] a mesma linha de pensamento que nós” e que iria tomar providências sobre as publicações, mas que a página iria manter “o foco, que é divulgar aquilo que a TV nunca vai mostrar”. Como verificamos? A verificação começou com o acionamento do Instituto Butantan, que desenvolve a CoronaVac em parceria com a chinesa Sinovac. O objetivo era questionar sobre a possibilidade de a vacina causar problemas no DNA humano e sobre a quantidade de mortes, caso houvesse, registrada entre os voluntários dos testes. Também foram procuradas a Pfizer e a Moderna, que trabalham na elaboração de outros dois imunizantes. Nesse caso, os questionamentos eram em torno das alegações feitas a respeito das vacinas: que causariam danos neurológicos graves, que teriam como intuito despovoar o planeta e que teriam provocado nos voluntários efeitos colaterais como exaustão extrema, dor de cabeça e falta de ar. Para tentar responder todas essas perguntas, o Comprova ainda realizou pesquisas no Google e fez buscas nos sites oficiais da vacina CoronaVac, do laboratório Moderna e da empresa farmacêutica Pfizer. Verificações anteriores do projeto, que trataram de danos genéticos e consequências das vacinas, também foram consultadas. Por fim, a equipe entrevistou dois especialistas por telefone: o professor e virologista Flávio Fonseca, do Centro em Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e a infectologista Luciana Barreto, do Hospital Estadual de Doenças Tropicais Doutor Anuar Auad, em Goiânia. Também entramos em contato com o responsável pela página que compartilhou os conteúdos falsos para questionar sobre as fontes das afirmações feitas nas publicações. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de novembro de 2020. Verificação CoronaVac não causou mortes em voluntários Desenvolvida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, a vacina CoronaVac não causou nenhuma morte, diferentemente do que sugere o post aqui verificado. Atualmente, a CoronaVac está na fase 3 de testes, com voluntários da China e do Brasil. No país asiático, mais de 50 mil pessoas integraram o estudo, sendo que menos de 6% apresentaram algum efeito colateral, como dor no local da aplicação, fadiga, febre, perda de apetite e dor de cabeça. “Estamos confiantes tanto em relação à segurança, quanto à eficácia”, afirmou Xing Han, representante da Sinovac no Brasil. Procurado, o Instituto Butantan complementou tais informações. “Nas fases 1 e 2 dos ensaios clínicos conduzidos na China não foi registrada nenhuma morte de voluntários em decorrência do uso da vacina. Na fase 3 do estudo, atualmente em andamento em sete estados brasileiros e no Distrito Federal, não foi registrado qualquer efeito adverso grave entre os participantes.” Dentre as principais vacinas em desenvolvimento, a única que registrou uma morte entre os voluntários foi a desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca – não citada pela publicação verificada. O óbito que vitimou o médico brasileiro João Pedro Rodrigues Feitosa, de 28 anos, aconteceu em outubro, conforme revelado por reportagens divulgadas em veículos como O Globo, Agência Brasil e UOL. A causa da morte não foi confirmada oficialmente nem pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nem pelo laboratório responsável, por questões de confidencialidade que envolvem os participantes dos ensaios clínicos. Apesar disso, em nota de pesar pelo falecimento do ex-aluno, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirmou que a causa da morte teria sido complicações da covid-19, informação também divulgada por veículos como Agência Brasil e O Globo. Também não foi informado se o médico brasileiro estava no grupo que tomou vacina ou placebo. Reportagem do jornal O Globo citou fontes ligadas ao desenvolvimento da vacina, mas que pediram para não serem identificadas, que sustentaram que ele estaria entre aqueles que tomaram apenas placebo. Após informações recebidas do Comitê Internacional de Avaliação de Segurança, a Anvisa informou que os testes da vacina podiam continuar. Atualmente, a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), que fará a produção da vacina no Brasil, já tem até um cronograma de produção e distribuição do imunizante. Vacinas não alteram o DNA Frequentemente, as vacinas contra a covid-19 têm sido alvo de afirmações inverídicas, incluindo falsos danos genéticos. O Comprova verificou duas publicações sobre o tema, chegando à conclusão de que ambas eram falsas. A primeira dizia que, além de problemas no DNA, as vacinas seriam capazes de monitorar a população. Já a segunda, indicava que elas poderiam causar câncer e transformar as pessoas em homossexuais. Professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Cristina Bonorino já afirmou à nossa equipe que “é muito importante explicar para as pessoas que isso (intervenção da vacina no DNA) é impossível” e que “para alterar o código genético, você precisa de algo que se insira no seu DNA, e a gente sabe que as vacinas não vão fazer isso”. Responsável pelo desenvolvimento pela CoronaVac, o Instituto Butantan explicou que a formulação da vacina utiliza a técnica de inativação do vírus. “Ou seja, a formulação do imunizante contém coronavírus mortos num processo de inativação química para que apenas estimulem a proteção imunológica do organismo sem causar a infecção. É completamente irresponsável afirmar que exista algum componente que altera o DNA.” Por telefone, o professor Flávio Fonseca, virologista do Centro em Tecnologia em Vacinas da UFMG, também garante que a informação de que a vacina altera o DNA não procede. “Isso é uma informação absolutamente incorreta, a vacina CoronaVac utiliza um vírus que passa por um processo químico para ser inativado, eles neutralizam ele e depois na corrente sanguínea é combatido com os anticorpos”, afirma. O professor ainda salienta que outras vacinas já produzidas em larga escala e utilizadas há décadas usam essa técnica, como a imunização contra a poliomielite. Sobre os efeitos colaterais, ele afirma que a maioria são brandos, como dor de cabeça e cansaço. A infectologista Luciana Barreto, do Hospital Estadual de Doenças Tropicais Doutor Anuar Auad, em Goiânia, lembra que várias vacinas utilizam há muito tempo a técnica do vírus inativado. Segundo ela, a CoronaVac é produzida de forma semelhante à da Influenza e da Hepatite A. “É um boato totalmente enganoso que a vacina altera o DNA das pessoas, é uma tecnologia utilizada há muito tempo por outras vacinas”, explica. Ela relembra que os estudos da fase 3 da CoronaVac ainda não mostraram nenhum dado científico acerca de danos neurológicos, mas nas fases 1 e 2 não há relatos de problemas do tipo. Atualmente, três vacinas estão sendo testadas no Brasil, além da CoronaVac. Duas delas – a europeia da Jassen-Cilag e a da parceria entre Oxford e AstraZeneca – utilizam a tecnologia do “adenovírus vetor”, na qual a proteína do novo coronavírus é inserida em outro vírus, como os que causam gripe ou conjuntivite, modificado em laboratório, para não se multiplicar no corpo humano, ao mesmo tempo em que estimula a produção de anticorpos contra o Sars-CoV-2. Somente a vacina desenvolvida pela Pfizer utiliza o material genético (RNA) do novo coronavírus para desencadear a resposta imune do organismo humano. Em entrevista ao Comprova, a Independentemente da tecnologia empregada, todas foram aprovadas para testes pela Anvisa, cujo comitê avalia dados de segurança, delineamento do estudo proposto, dados de produção e controle de qualidade e boas práticas clínicas. Quais os efeitos colaterais das vacinas da Pfizer e da Moderna? Chamada de mRNA-1273, a vacina que está sendo desenvolvida pela farmacêutica Moderna recebeu da Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês), no dia 22 de outubro, o parecer de que é “idônea” e que pode solicitar o registro junto à entidade. “Essa autorização é consequência dos resultados positivos do estudo pré-clínico e da análise positiva da fase 1 do estudo”, explica a nota oficial. A EMA é equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil. Diferentemente do que sugere a publicação verificada, não houve relato de “exaustão extrema” e nem de “falta de ar” entre os voluntários. Já as dores de cabeça, de fato, aconteceram em 60% dos voluntários que receberam a segunda aplicação da vacina, de 100 microgramas de dose. Os integrantes desse grupo também sentiram fadiga (80%), calafrios (80%) e mialgia (53%), sendo todos efeitos leves ou moderados. Nos resultados referentes ao grupo dos adultos com mais de 56 anos, divulgados no dia 29 de setembro, dois voluntários apresentaram efeitos colaterais classificados como graves. O primeiro teve febre e o segundo, fadiga. Os dois casos também aconteceram após a segunda aplicação da dose de 100 microgramas. Os resultados do relatório preliminar e dos estudos com o grupo de adultos mais velhos foram publicados no periódico científico The New England Journal of Medicine. Atualmente, a vacina da Moderna está na fase três de estudos. Nela, mais de 25 mil voluntários (adultos, saudáveis e que tenham alto risco de contrair a covid-19 ou de desenvolver um quadro grave da doença) receberam a segunda dose do imunizante. Os resultados desta fase ainda não foram divulgados. Sobre o tema, o Comprova acionou a Moderna, mas não recebeu o retorno até a publicação deste texto. Já a vacina desenvolvida pela parceria entre a Pfizer e a BioNtech, chamada de BNT162, é uma das que estão sendo testadas no Brasil. Atualmente, os estudos estão na fase 3, iniciada no final de julho deste ano, e os respectivos resultados preliminares são esperados para o final de novembro. Ao todo, a empresa farmacêutica conta com o voluntariado de 3.100 brasileiros. De acordo com um comunicado da Pfizer enviado ao Comprova, não houve registro de “eventos adversos graves” entre os voluntários. Ocorreram apenas casos de febre, fadiga e calafrios, que “geralmente eram de leves a moderados”, desaparecendo naturalmente, em um ou dois dias. “A segurança foi, é, e sempre será nossa prioridade em pesquisas e desenvolvimento de vacinas. Embora a Pfizer e a BioNTech estejam trabalhando numa velocidade extraordinária, a preservação de padrões de alta qualidade e segurança é extremamente importante. Para esse estudo, assim como em todos os nossos ensaios clínicos, a segurança dos voluntários é fundamental, e os pesquisadores devem seguir regras estritas para garantir que os participantes estejam seguros.” Título distorcido: a checagem do site Imparcial A partir de uma postagem em um grupo de Facebook no dia 16 de outubro, a redação do Imparcial elaborou uma checagem com o título em forma de pergunta, dando ênfase à principal afirmação da postagem, sobre a possível morte de 2 mil voluntários da CoronaVac e se a vacina poderia alterar o DNA das pessoas. A chamada termina com a indicação de que o conteúdo foi verificado: “Checamos!”. O primeiro parágrafo da verificação do Imparcial começa com a referência de que conteúdo viralizou nas mídias digitais. Logo abaixo, há um print da postagem alvo da checagem, dizendo, entre outras coisas, que a CoronaVac causou a morte de mais de 2 mil voluntários e que ela seria a primeira vacina a “mexer com nosso DNA”. No mesmo dia, 16 de outubro, a postagem foi publicada também no grupo de Facebook Conspiração e Manipulação Real. O Facebook classificou ambas as postagens como conteúdo falso, devido à verificação da Agência Lupa, feita no mesmo dia da postagem. No perfil que compartilhou esse conteúdo há outras publicações classificadas pelo Facebook como falsas. No decorrer da checagem, o Imparcial também classificou o conteúdo como falso e mencionou informações do Instituto Butantan e da Sinovac de que a vacina não causou mortes e nem efeitos adversos graves em voluntários até o momento. O trecho compartilhado posteriormente pela página Maldito Sistema, no entanto, omite essa conclusão, não oferece link para a verificação e exibe apenas o título em forma de pergunta, sugerindo que o boato poderia ser verdadeiro. O caminho da desinformação Na postagem no Facebook, a página Maldito Sistema usa um print da verificação do jornal O Imparcial, que apontou como falsa a informação de 2 mil mortes causadas pela CoronaVac. No entanto, a página engana ao sugerir que a afirmação seria verdadeira, já que a postagem não oferece link para a checagem, não exibe o trecho que desmente o boato e foi publicada com a legenda: “MATOU MAIS QUE ISSO. EU APOSTO!”. Na mesma postagem, a página insere um link para o canal Maldito Sistema no Telegram, que tinha 525 membros até o dia 9 de novembro de 2020. Em outras postagens no Facebook, a página convida pessoas a se inscreverem no canal. Em post do dia 2 de novembro, os administradores reclamam de ter um vídeo censurado no Facebook e, em publicação do dia seguinte, afirmam: “A censura tá de mais. se ÍNSCREVA [sic] em nosso canal do Telegram [link]”. No canal do Telegram, a página compartilha diversos conteúdos antivacina. Um deles é o print de uma publicação do site Coletividade Evolutiva, com o título “Cobaias humanas da Moderna e Pfizer sofrem exaustão extrema, falta de ar, dores de cabeça, etc”. Esta publicação do site Coletividade Evolutiva, divulgado pelo Telegram, é na verdade uma tradução de um conteúdo em inglês do site Natural News. O portal é reconhecido por divulgar informações falsas antivacinas e respondeu por 32% do total de links avaliados por um levantamento feito pela Avaaz sobre conteúdos inverídicos envolvendo vacinação, noticiado em reportagem da Deutsche Welle. O texto do Natural News tem as mesmas informações da publicação em português. Ele parte de uma notícia da rede norte-americana CNBC sobre efeitos colaterais de pacientes que testam as vacinas da Moderna e Pfizer, como febre alta, dor no corpo e exaustão. O site Natural News, no entanto, acrescenta por conta própria que essas reações seriam “sinais de danos neurológicos acontecendo em tempo real” e que “um tipo de lobotomia de vacina está ocorrendo”. A publicação, porém, não apresenta nenhuma fonte dessas informações. O conteúdo falso que afirmava que a vacina chinesa teria provocado 2 mil mortes na fase de testes já foi alvo de verificações de veículos como a Agência Lupa, que confirmou ser falsa a afirmação. Sobre os autores O perfil Maldita Sistema, autor dos posts verificados nesta checagem, foi criado em maio de 2020 e apresenta no Facebook a seguinte descrição: “Essa página tem o objetivo de esclarecer a verdade sobre a escravisão [sic] que o sistema realizar [sic] na sociedade”. Não há informação sobre quem administra a página. Questionada pelo Comprova sobre as fontes das afirmações divulgadas, em contato via Facebook, a página respondeu que as informações “são conseguidas com pessoas que tem [sic] a mesma linha de pensamento que nós”. Os responsáveis pela página afirmaram que tomariam providências sobre as publicações alvo desta verificação, mas que vão manter o “foco, que é divulgar aquilo que a TV nunca vai mostrar”. A página compartilha com frequência informações falsas sobre a pandemia, como as que associam vacinas a mortes e doenças e as que afirmam que o vírus foi fabricado em laboratório – o assunto já foi desmentido em outra verificação do Comprova. Por que investigamos? Na terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a covid-19 ou sobre políticas públicas do governo federal que tenham alcançado grande repercussão nas redes sociais. As publicações que veiculam informações falsas acerca das vacinas contra o novo coronavírus são ainda mais prejudiciais, visto que podem desencorajar a população de se imunizar – meio apontado pelos especialistas como o mais promissor para dar fim à pandemia, que já causou a morte de mais de 161 mil brasileiros, de acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, atualizados em 4 de novembro. Os conteúdos verificados nesta publicação associam, de maneira enganosa e sem embasamento científico, as vacinas em fase de testes a mortes, doenças e reações adversas graves, o que coloca em dúvida a segurança dos imunizantes, que, até o momento, têm se mostrado eficientes. A publicação divulgada na página Maldito Sistema teve 304 reações e 2,5 mil compartilhamentos no Facebook até 9 de novembro. Nos últimos meses, informações falsas ou enganosas sobre vacinas contra a covid-19 têm viralizado nas redes sociais. O Comprova já mostrou ser falso que as vacinas causem câncer, danos genéticos ou transformem as pessoas em homossexuais; que a ex-presidente Dilma Rousseff não falou que a vacina chinesa será eficaz porque o surto da doença começou na China; e que é enganoso dizer que expor a população ao vírus seja mais eficiente para acabar com a pandemia do que a vacinação. A Agência Lupa, o Fato ou Fake e O Imparcial checaram conteúdos semelhantes ao alvo desta verificação e também concluíram que as afirmações eram falsas. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/medicos-nao-provaram-que-uma-vacina-precisa-de-10-anos-de-pesquisa-para-ser-segura/
COMPROVA
Médicos não provaram que uma vacina precisa de 10 anos de pesquisa para ser segura
null
2020-11-06
O Comprova não encontrou qualquer indício de que os médicos tenham feito tais provas. E tempo não é um fator considerado nos protocolos de avaliação de vacinas tanto na Anvisa quanto na FDA, autoridade sanitária dos Estados Unidos Conteúdo verificado: Tuíte afirma que dois médicos brasileiros provaram cientificamente que uma vacina precisa de, no mínimo, dez anos de pesquisa para ser considerada segura e eficaz. É falso que os médicos brasileiros Nise Yamaguchi e Anthony Wong tenham provado cientificamente que uma vacina precisa de no mínimo dez anos de pesquisa para ser considerada segura e eficaz, conforme afirmou um blogueiro no Twitter. O Comprova não encontrou qualquer indício de que os médicos tenham feito tais provas. Só foi encontrada uma entrevista à rádio Jovem Pan em que ambos falam sobre efeitos colaterais e tempo de aprovação de vacinas, mas não há provas de que haja um tempo mínimo. Tempo, na verdade, não é um dos fatores considerados nos protocolos de aprovação de vacinas tanto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa) quanto da Food and Drug Administration (FDA), autoridade sanitária dos Estados Unidos. Além disso, o órgão norte-americano aprovou, no final de 2019, uma vacina contra ebola desenvolvida em cinco anos. O Comprova tentou entrar em contato com Yamaguchi e Wong, que já teve algumas das suas falas analisadas pelo Comprova, mas não teve retorno até o fechamento desta verificação. Como verificamos? Por meio de pesquisa, a equipe apurou os perfis das redes sociais dos médicos citados e do blogueiro que publicou o tuíte, principalmente o Instagram, Twitter e Linkedin. Além disso, foram analisadas entrevistas e postagens de Wong e Yamaguchi realizadas durante a pandemia, relacionadas aos cuidados recomendados para evitar a proliferação do vírus. Por e-mail, questionamos a Anvisa sobre os procedimentos para a aprovação de uma vacina, se haveria algum tempo mínimo requerido e se a data de 10 anos fazia algum sentido. As mesmas perguntas foram feitas à norte-americana FDA também por e-mail, em inglês. Por telefone, contatamos ainda Evaldo Stanislau, infectologista da Universidade de São Paulo (USP) para falar sobre produção de vacinas. Ele respondeu por WhatsApp. Também tentamos contato com Anthony Wong e Nise Yamaguchi por e-mail e telefone, mas não obtivemos resposta. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 6 de novembro de 2020. Verificação Tempo de aprovação Ao Comprova, a Anvisa afirmou, por e-mail, que não existe tempo delimitado para a aprovação de uma vacina ou medicamento. “O que existe é a exigência de demonstração de segurança e eficácia por meio de pesquisas clínicas que forneçam dados suficientes para esta análise”, explica a agência. O órgão afirma que há uma “exaustiva lista para regulamentação e registro”, mas que não inclui correlação com o tempo. Em seu site, a Anvisa explica as etapas que as indústrias devem seguir para registro do imunizante para covid-19: duas são pré-testes (pesquisa para identificação de candidatos e estudos clínicos com os selecionados após testes com animais) e três fases de testes em humanos. Atualmente, três das cinco vacinas testadas no Brasil (Oxford, CoronaVac e da Pfizer com a BioNTech) estão na terceira fase, de estudo clínico de eficácia – as outras duas estão com as pesquisas paradas. Não há qualquer menção a um tempo mínimo necessário para qualquer uma das etapas. Da mesma forma, a FDA, órgão equivalente à Anvisa nos Estados Unidos, também afirmou, por e-mail, que não estipula um tempo mínimo de pesquisa para a aprovação de uma vacina. A agência norte-americana também estabelece um estudo com três fases de testes em humanos antes do registro. “Em qualquer estágio dos estudos com humanos ou animais, se os dados levantarem preocupações significativas sobre a eficácia ou a segurança [do imunizante], o FDA poderá requerer informações ou estudos adicionais ou poderá suspender o estudo em andamento”, explica a agência. O que diz o especialista O infectologista Evaldo Stanislau, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro de diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), também afirmou que esse critério não existe. “Os estudos têm fases definidas de desenvolvimento para demonstrar a eficácia e segurança. Após a fase 3 – onde várias vacinas estão –, se aprovadas e registradas, podem ser comercializadas sem restrições”, explica o infectologista. Segundo ele, após a aprovação, há ainda uma fase posterior, com observação na vida real, como ocorre com qualquer fármaco. Se há qualquer intercorrência, as autoridades sanitárias devem ser avisadas. É o que se chama de “farmacovigilância”. “A depender de ocorrerem reportes – e do tipo de reporte –, isso pode demandar ações de correção ou restrição. Independente da farmacovigilância, o próprio produto pode ser aprimorado no pós-comercialização pelo próprio fabricante. E isso deverá ocorrer”, afirma Stanislau. Pode ocorrer, por exemplo, de uma vacina ser registrada e lançada com duas doses e, em algum momento, ser aprimorada para apenas uma dose. “A afirmação original, do jeito que é colocada, está incorreta e, mais do que isso, tenta comprometer um processo sério e regulado pelas autoridades sanitárias”, conclui o médico. Vacinas produzidas em menos de 10 anos Apesar de não haver um tempo mínimo, a produção de vacinas geralmente leva anos e depende de muitos fatores – desde o próprio vírus que se quer combater a elementos externos, como interesses econômicos e regionais, mas há registro de vacinas produzidas em menos de 10 anos. A Ervebo, primeira vacina contra a ebola aprovada pela FDA, em dezembro de 2019, levou cerca de cinco anos para ser produzida. Apesar de o vírus ter sido descoberto na República Democrática do Congo (então Zaire) em 1976, a pesquisa para a vacina fabricada pela Merck começou em 2014, durante a epidemia no país africano entre 2013 e 2016. Outras tantas tentativas em décadas anteriores falharam. A vacina contra a caxumba também foi descoberta em um período inferior de pesquisa. Apesar de seu vírus ter sido isolado em 1945, o médico Maurice Hilleman levou apenas quatro anos desde o início da pesquisa à aprovação, em 1967. Hilleman, que trabalhava na indústria farmacêutica e já tinha desenvolvido outros imunizantes, interessou-se pela doença depois que sua filha de cinco anos a contraiu. Essa história é contada pela rede britânica BBC. A vacina do sarampo também foi descoberta e aprovada em menos tempo. Seu vírus foi isolado em 1954 e a vacina, licenciada pela FDA em 1963, nove anos depois, como mostra este infográfico da revista Superinteressante. Quem são os médicos citados Os médicos citados no tuíte do jornalista são Antony Wong, médico pediatra e toxicologista, e Nise Yamaguchi, diretora da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC). Diferentemente do que diz a publicação no Twitter, nenhum dos dois comprovou que uma vacina precisa de dez anos para ser produzida. Na entrevista à rádio Jovem Pan, Wong trata os possíveis riscos da vacina e exemplifica a demora para que a eficácia e segurança de sua aplicação sejam provadas: “A vacina que foi mais curta (para ser feita) foi a de caxumba, que demorou quatro anos. A vacina de sarampo levou nove anos, a vacina de Ebola levou cinco anos só para ser desenvolvida e mais cinco para ser aprovada. Não é só fazer e pronto. Isso leva meses, anos… Até que os órgãos reguladores aprovem uma vacina segura. Nunca houve na história da humanidade pronta nos próximos meses, como estão dizendo”, declarou. Na mesma entrevista, Yamaguchi citou possíveis riscos que poderiam ser causados por uma vacina contra a covid-19. “Sabemos que as vacinas estão sendo testadas há pouquíssimos meses, então os efeitos colaterais tardios ainda não tem tempo de ser avaliados. O tempo é necessário para que os efeitos colaterais sejam estruturados”, afirmou. Wong já teve uma fala checada – e desmentida – pelo Comprova recentemente. Em entrevista à jornalista Leda Nagle, o médico afirmou que “nenhuma vacina de coronavírus passou pela fase pré-clínica”. Em outras entrevistas encontradas durante a apuração, Yamaguchi, por sua vez, mostrou duas preocupações relacionadas à pandemia: a primeira seria a preocupação com as pessoas que são mais vulneráveis à covid. Já a segunda é voltada para a segurança dos pacientes ao questionar o tempo de pesquisa e testes das vacinas em andamento, além da falta de conhecimento sobre os efeitos colaterais. Além disso, como Wong, ela também afirmou, de forma incorreta, que algumas das vacinas não passaram pela fase pré-teste. Quem é o blogueiro Oswaldo Eustáquio, que compartilhou o conteúdo falso, é conhecido por ser um blogueiro bolsonarista e se apresenta como jornalista investigativo. Na descrição de seu perfil no Twitter, apresenta a numeração da sua DRT, Delegacia Regional do Trabalho, que o habilita a trabalhar como jornalista. Foi investigado na Operação Lume, inquérito que apura a promoção de atos antidemocráticos favoráveis ao fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), a mesma operação em que Sara Giromini, que adota o pseudônimo de Sara Winter, foi presa em Brasília. Depois disso, passou a se apresentar como “censurado pelo STF.” Em fevereiro deste ano, Eustáquio foi condenado a pagar uma indenização de R$ 15 mil por danos morais ao jornalista Glenn Greenwald após publicar que Glenn mentira ao pedir visto de urgência para seus filhos conhecerem a avó, que estava com câncer e morreu em dezembro. O ex-deputado federal Jean Wyllys também abriu um processo contra o blogueiro. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais tratando sobre políticas públicas do governo federal ou sobre a pandemia de covid-19. O post verificado aqui, com 8,4 mil curtidas e cerca de 2,1 mil compartilhamentos no Twitter, desinforma ao afirmar que existe um tempo mínimo para aprovação de uma vacina e traz insegurança quanto às vacinas que estão sendo testadas atualmente pelo mundo – visto que, caso aprovadas em 2020 ou 2021, todas terão tempo de pesquisa inferior a dez anos. Ao citar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que também já questionou a velocidade de pesquisa das vacinas, o post desacredita pesquisas científicas em prol de uma visão política. O Comprova tem verificado uma série de postagens que questiona a eficiência das vacinas, como uma corrente que compara a letalidade da covid-19 à taxa de efeitos colaterais da vacina CoronaVac, outra que afirma que vacinas contra o vírus podem causar câncer, danos genéticos e “homossexualismo” e outra que afirma que imunidade de rebanho seria mais eficiente do que vacinação. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C425&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/nao-ha-tratamento-previo-para-covid-19-ao-contrario-do-que-sugere-medica-no-instagram/
COMPROVA
Não há tratamento prévio para covid-19, ao contrário do que sugere médica no Instagram
null
2020-11-06
Não é verdade que se a população tomar hidroxicloroquina e ivermectina estará protegida contra a covid-19 e que, com esses medicamentos, a circulação do vírus vai acabar antes da chegada do inverno Conteúdo verificado: Vídeo no Instagram em que a médica Raissa Soares afirma não ser o momento para vacina, mas sim de evitar a transmissão do novo coronavírus com o uso profilático da hidroxicloroquina e da ivermectina. São falsas as afirmações sobre o fim da circulação do novo coronavírus feitas por uma médica em um vídeo no Instagram. Na gravação, ela cita as vacinas, mas diz que ainda não é o momento das imunizações, e diz, erroneamente, que, se a população tomar hidroxicloroquina e ivermectina, estará protegida contra a covid-19 e, assim, a circulação do vírus vai acabar antes da chegada do inverno. Não é verdade. Até agora, não há nenhum medicamento que evite o contágio da doença, segundo autoridades de saúde. Sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina (que é um derivado da primeira), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirma que “os estudos conduzidos até o momento têm um número de pacientes muito reduzido e ainda é arriscado afirmar que vai funcionar no tratamento da covid-19” e que, o órgão, “da mesma forma que o FDA (Food and Drug Administration, autoridade sanitária dos Estados Unidos), não recomenda o uso indiscriminado desses medicamentos sem a confirmação de que realmente funcionam”. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), tem posicionamento similar em relação às drogas. Em seu site, a entidade destaca que “a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento”. Associações como a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Sociedade Brasileira de Infectologia já publicaram em comunicados que nenhum desses medicamentos, nem a ivermectina, tem eficácia comprovada contra a doença. Especificamente sobre a ivermectina, a Anvisa afirma, em nota, que “as indicações aprovadas são aquelas constantes da bula do medicamento” — nenhuma é para a covid-19 e, como a própria autora diz no vídeo, uma das indicações é para o tratamento de piolho. A médica complementa ser importante que cada indivíduo esteja com níveis altos de vitamina D e que “vitamina C, fruta, legume e exercício físico” são fundamentais para evitar a transmissão. Também não é verdade. Novamente, de acordo com a Anvisa, entre as medidas preventivas recomendadas estão o uso de máscara e a lavagem frequente das mãos – o órgão não cita as ações indicadas pela profissional. A autora do vídeo que viralizou no Instagram é a médica Raissa Soares. O Comprova tentou contatá-la, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Como verificamos? Para compormos esta verificação, fomos em busca de reportagens sobre uma possível eficácia das drogas cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina como medida preventiva para evitar o contágio pelo Sars-Cov-2 (vírus causador da atual pandemia). Também nos apoiamos em sites de órgãos da área da saúde e checagens anteriores do Comprova que mostram não haver comprovação científica da funcionalidade dessas substâncias no tratamento do novo coronavírus. Pesquisamos, ainda, o posicionamento de alguns políticos em relação a estudos científicos. Para complementar a apuração, acionamos especialistas da área da saúde com questionamentos sobre medidas profiláticas contra a covid-19 e o atual estágio de contaminação no país. Quem nos auxiliou foram o infectologista, professor de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atual chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Eduardo Sprinz, e o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ricardo Kuchembecker. Tentamos contato com a autora do vídeo e com o Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), onde a médica está inscrita profissionalmente, para verificar possível existência de processos. Até o fechamento desta reportagem, Raissa não deu retorno. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 6 de novembro de 2020. Verificação Cloroquina e ivermectina Nenhuma das drogas mencionadas por Raissa Soares tem eficácia comprovada contra a covid-19. De acordo com o infectologista Eduardo Sprinz, professor de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atual chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no momento “não existe qualquer medicação que tenha indicação na profilaxia”. “Estudos conduzidos com alguma seriedade não mostram diferença entre usar qualquer um desses medicamentos e não usar como agentes profiláticos”, pontua o médico. Para ele, a insistência em tentar tornar esses fármacos como alternativa de tratamento pode ter ligação com “negacionismo, fake news, mídias sociais e razões políticas”: “Não é questão de ser contra ou a favor, e sim de haver indicação. Neste momento, não há indicação”. O epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ricardo Kuchembecker, corrobora com o posicionamento de Sprinz. “Não há evidências científicas de que hidroxicloroquina ou ivermectina, utilizadas individualmente ou em associação, sejam capazes de evitar, bloquear ou reduzir a circulação do Sars-Cov-2, seja no organismo, seja entre as pessoas. Estudos clínicos controlados demonstraram ausência de efeito preventivo e terapêutico na covid-19. A ivermectina não foi testada em humanos em relação à covid-19. Ela só foi avaliada em estudos em laboratório (in vitro).” O governo federal chegou a recomendar a administração da cloroquina e da hidroxicloroquina como terapia para pacientes com coronavírus — mesmo sem comprovação científica de resultados. Conforme reportagem da BBC publicada em julho: “O Ministério da Saúde, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, recomenda o tratamento precoce contra a covid-19. Um protocolo da pasta defende o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina para todos os casos, dos mais leves aos mais graves, mesmo sem comprovação científica. Semanas atrás, Bolsonaro também se mostrou favorável ao uso da ivermectina em tratamento precoce contra o novo coronavírus”. A mesma matéria traz a reação de entidades de saúde sobre a recomendação, esclarecendo que, em 30 de junho, a da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou uma nota (atualizada em julho) para alertar sobre os riscos de tratamentos precoces. “Nos últimos dias, muito tem se divulgado nas redes sociais a respeito do uso de medicamentos para a covid-19. Várias destas divulgações que circulam nas mídias sociais são inadequadas, sem evidência científica e desinformam o público”, diz o comunicado. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, “as evidências disponíveis sobre benefícios do uso de cloroquina ou hidroxicloroquina são insuficientes, a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento. Por isso, enquanto não haja evidências científicas de melhor qualidade sobre a eficácia e segurança desses medicamentos, a OPAS recomenda que eles sejam usados apenas no contexto de estudos devidamente registrados, aprovados e eticamente aceitáveis”. No Brasil, a Anvisa não recomenda tais medicamentos: “Os estudos conduzidos até o momento têm um número de pacientes muito reduzido e ainda é arriscado afirmar que vai funcionar no tratamento da covid-19. Mais dados precisam ser coletados, de maneira adequada, para haver certeza de que vai funcionar”. A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia publicou, em junho, um posicionamento sobre a profilaxia e tratamento da covid-19, afirmando que “não existem evidências científicas de que quaisquer das medicações disponíveis no Brasil, tais como ivermectina, cloroquina ou hidroxicloroquina, isoladas ou associadamente, sejam capazes de evitar a instalação da doença em indivíduos não infectados. Isso também é verdade para vitaminas, como a C e a D, e suplementos alimentares contendo zinco ou outros nutrientes.” As informações constam em verificação feita pelo Comprova sobre o uso da ivermectina como forma de evitar mortes por covid-19. Fim da circulação? A médica diz, em determinado trecho, que “nós vamos parar a doença porque eu não tenho mais a circulação viral.” Não fica claro se Raissa refere-se à disseminação do Sars-CoV-2 entre a população ou no corpo de um indivíduo. Porém, nenhuma delas teria sentido. Segundo o painel do Ministério da Saúde que monitora o coronavírus em território nacional, desde 28 de outubro — data em que ela publicou o vídeo — até 4 de novembro (data mais atualizada até a publicação desta reportagem), o país teve mais de 150 mil novos casos confirmados. O epidemiologista Ricardo Kuchembecker explica que o vírus deve continuar circulando por um bom tempo. “A ivermectina, em estudos de laboratório, não em seres humanos, diminui a quantidade de vírus. Mas daí a dizer que ela diminui a circulação de vírus entre pessoas ou mesmo em uma pessoa, é informação absolutamente desprovida de evidência científica. Vai continuar havendo a circulação de vírus durante muito tempo até que consiga ou a imunidade coletiva com vacina ou imunidade coletiva depois que o vírus circulou em quase todos os suscetíveis”, avalia Kuchembecker. Politização da vacina Raissa Soares diz em seu vídeo que “político que está querendo vacina é porque é contrário à política do presidente”. Contudo, nota-se um movimento na política mundial de incentivo aos estudos científicos que buscam alcançar uma vacina segura e eficaz contra a covid-19, independente de partidos e vertentes políticas. A nível nacional, Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde, disse ao Roda Viva em outubro que a própria gestão da pandemia de Jair Bolsonaro é bastante ideológica. “Joga cloroquina, começa a chamar de vírus chinês, fala que a culpa é da China. Então, não dá para falar da China, fala que é da OMS. Passou o Ministério da Saúde a ser o elemento de raiva, esse é o cara que traz a notícia ruim, fala o que não quero ouvir. Tanto que eles trocam o ministro e uma das primeiras coisas que o ministro militar chega e fala é que não vai mais dar números”, disse. Em entrevista à Agência Senado, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), presidente da Frente Parlamentar Mista de Ciência, Tecnologia, Pesquisa e Inovação, comenta ainda sobre o impacto da politização da vacina em tempos de cortes em investimentos na ciência brasileira aprovados durante o governo Bolsonaro. “Os governantes, de forma geral, só atuam pensando na próxima eleição, e não nas próximas gerações. Preferem investir em programas que tragam resultados imediatos e tenham bastante visibilidade, garantindo votos. A ciência não é assim. Os resultados científicos que vemos hoje costumam ser fruto de anos de investimento e nem sempre podem ser mostrados na propaganda eleitoral. Isso ajuda a explicar o descaso com a ciência”, afirmou. Na comunidade internacional, Angela Merkel, chanceler alemã e ex-líder do partido de centro-direita União Democrata Cristã (CDU), afirmou que a vacina é crucial para a volta à normalidade. “Este é um assunto sério, tão sério quanto sempre foi, e é preciso continuar levando-o a sério”, disse em coletiva de imprensa realizada em Berlim. Quem é a médica Raissa Oliveira Azevedo de Melo Soares é médica. Em seu perfil pessoal no Instagram, ela afirma ser formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi no estado que ela fez seu primeiro registro no Conselho Regional de Medicina, em setembro de 1994. Desde março do ano passado, o registro ativo de Raissa é do Conselho Regional de Medicina da Bahia, com especialidade em Clínica Médica. Em junho deste ano, Raissa foi citada em uma verificação do Comprova, classificada como enganosa. Em um vídeo, compartilhado em uma publicação no Facebook, a médica defendia o uso da cloroquina para tratamento do coronavírus, com base em experiências pessoais. Na ocasião, Raissa trabalhava no Hospital Regional Deputado Luis Eduardo Magalhães (HRDLEM), em Porto Seguro, era contratada da prefeitura do município e também atuava no Hospital Navegantes. Ela chegou a pedir, por vídeo, ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que enviasse caixas de hidroxicloroquina para a cidade de Porto Seguro. O pedido foi atendido e 40 mil caixas do medicamento foram enviadas pelo Ministério da Saúde para a cidade baiana. A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Seguro disse, na época, que o medicamento seria destinado às unidades de saúde da cidade. Já a médica, para quem as caixas foram enviadas diretamente, disse que enviaria a hidroxicloroquina também para cidades vizinhas. Quando as caixas chegaram, Raissa não trabalhava mais no Hospital Regional Deputado Luis Eduardo Magalhães, administrado pelo governo do estado. Nas redes sociais, circulou a informação de que a demissão tinha motivação política — por conta do pedido de hidroxicloroquina feito ao presidente —, mas a informação foi desmentida pela própria médica e pelo hospital, como mostrou esta verificação da Agência Lupa. Ambos informaram que a saída ocorreu porque Raissa não estava conseguindo cumprir a carga horária da instituição em decorrência de outros compromissos durante a pandemia. Em sua conta no Instagram, Raissa tem feito postagens que defendem o uso de medicamentos para o que chama de “tratamento precoce” contra a covid-19. Entre os dias 2 e 4 de outubro, a médica organizou em Porto Seguro o encontro “Força Médica Nacional contra a covid-19”, para discutir justamente o tratamento precoce da doença. Por meio da assessoria de comunicação, a Prefeitura de Porto Seguro confirmou ao Comprova, nesta quarta-feira (4), que o município adota o “protocolo de tratamento precoce na fase inicial da covid-19”. A prefeitura confirmou que Raissa permanece contratada pelo município e trabalha na Unidade de Saúde do bairro de Campinho. A médica também compõe a equipe do Hospital Navegantes. Segundo a prefeitura, o hospital é privado, embora conste no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, que ele é gerido pelo município. Na página do hospital no Facebook também há um vídeo da médica falando sobre o tratamento precoce, com a legenda de que a unidade apoia a causa. Como já explicado por especialistas ouvidos pelo Comprova nesta verificação, não há comprovação científica da eficácia de um tratamento precoce, profilático, contra a covid-19, como defende Raissa. O Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), onde ela possui inscrição ativa desde março de 2019, condena a prática adotada por médicos de fazer prescrições públicas e em massa – é exatamente o que Raissa faz no vídeo verificado, ao indicar o uso de hidroxicloroquina (um derivado da cloroquina) e da ivermectina. Em julho, o conselho publicou em seu site um alerta aos médicos para a “inadequação de prescrição pública ou em massa” – em redes sociais, por exemplo. O texto, publicado no site do conselho, chama a atenção para o problema da prática não só do ponto de vista ético e legal, mas também pelo risco a que está exposto o paciente medicado por indicação coletiva. Para o Cremeb, esta prática “foge aos limites éticos da medicina”. “Prescrever indiscriminadamente, em uma rede social, por exemplo, não contempla preceitos básicos da prescrição médica, tais como a individualidade biológica de cada paciente, a possibilidade de monitorar os efeitos adversos e de emitir as advertências de acordo com a situação específica de cada indivíduo. Realizar a orientação em massa ignora também a realização da anamnese, procedimento imprescindível para decisão do caminho terapêutico a ser adotado”, informa o Cremeb. O Comprova não encontrou processos disciplinares envolvendo Raissa Soares no site do Cremeb e o conselho informou, por meio da assessoria, que não se pronuncia sobre casos específicos, embora a recomendação se aplique ao vídeo da médica. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos ligados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Como estamos em ano eleitoral, em que as disputas políticas estão acirradas, a covid-19 tornou-se tema de debates em todos os campos e a desinformação que circula nas redes sociais pode custar vidas. Não obstante, informações sem embasamento científico podem contribuir para que a população acredite em medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento do novo coronavírus, abrindo mão de cuidados com higiene e distanciamento social — ações recomendadas por especialistas e autoridades para conter a doença. O vídeo divulgado pela médica Raissa no Instagram, pregando, erroneamente, o uso profilático de cloroquina e ivermectina teve cerca de 61 mil visualizações até 6 de novembro. O Comprova já verificou outros conteúdos envolvendo cloroquina e ivermectina. Entre as checagens sobre esses temas, estão a que mostra ser falsa afirmação do presidente de que cloroquina poderia salvar 100 mil vidas, a que prova que China e FDA não aprovaram o uso do fármaco como 100% eficiente na cura do Covid e a de um enfermeiro que distorce dados para dizer que ivermectina evita mortes pela covid-19. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/estudo-recomenda-o-uso-de-mascara-contra-a-covid-19-ao-contrario-do-que-sugere-deputada/
COMPROVA
Estudo recomenda o uso de máscara contra a covid-19, ao contrário do que sugere deputada
null
2020-11-06
Postagem no Facebook usa como fonte um estudo que na verdade defende o uso de máscara como medida de proteção contra a covid-19 e as declarações enganosas de um médico que não participou da pesquisa Conteúdo verificado: Postagem no Facebook da deputada Bia Kicis afirma que estudo demonstra problemas à saúde causados pelas máscaras cirúrgicas, ou N95, e que os modelos artesanais causam os mesmos efeitos Uma publicação da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) no Facebook mistura dois conteúdos sem nenhuma relação para sugerir que o uso de máscaras como proteção contra a covid-19 causa problemas respiratórios e diversas alterações metabólicas, porém não há quaisquer evidências disso. Segundo a parlamentar, isso vale tanto para máscaras artesanais comuns, feitas de pano, quanto para as do modelo N95, um dos equipamentos usados por médicos para prevenção contra o novo coronavírus. A deputada cita, porém, como fonte, um estudo que defende o uso de máscara como medida de proteção contra a covid-19 e as declarações de um médico que não participou da pesquisa. Procurado pelo Comprova, o professor P. K. Purushothaman, que realmente participou do estudo, afirmou que, “considerando a pandemia”, sua escolha seria pelo uso da máscara. O estudo citado por Bia Kicis analisou as reações de 250 profissionais de saúde indianos ao uso da máscara N95, que é um equipamento de uso cirúrgico muito mais restritivo do que as máscaras usadas pela população. O estudo apontou que o uso prolongado desse tipo de equipamento gera “desconfortos”, que podem levar os médicos a tocarem mais frequentemente a face ou retirarem a máscara com mais frequência, o que causaria risco de serem infectados. As reações mais comuns foram suor ao redor da boca, dificuldade de respirar ao fazer esforço físico com a máscara, acne e coceira nasal. A conclusão do estudo defende que o uso de máscaras é fundamental para proteger contra a covid-19. Já a frase citada por Bia Kicis é do médico Alessandro Loiola, que não participou da pesquisa. Ele afirma que o uso de máscaras geraria uma atmosfera rica em gás carbônico, o que poderia causar “estresse cardiorrespiratório e alterações metabólicas”. O Comprova já mostrou que o uso de máscara não leva as pessoas a respirarem gás carbônico. Recentemente, o Comprova também mostrou que Loiola tirou de contexto dados de um estudo para sugerir que o uso de máscara é ineficiente como proteção ao novo coronavírus, algo que Bia Kicis repete em sua publicação. Em nenhum momento, o estudo indiano faz referências a gás carbônico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso de máscaras como parte de uma estratégia para reduzir a transmissão da covid-19. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o uso de máscara é uma medida importante quando o distanciamento físico não é possível. No Brasil, desde abril, o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de máscaras, inclusive as caseiras, como medida de prevenção contra o novo coronavírus. O governo brasileiro chegou a importar 240 milhões de máscaras cirúrgicas para serem distribuídas aos profissionais de saúde; sendo 40 milhões delas do modelo N95 citado pelo estudo. Por e-mail, a assessoria de Bia Kicis disse que a parlamentar já ouviu diversos relatos de mal-estar e problemas de saúde causados pelo uso de máscara, sem apresentar, porém, qualquer dado que comprove as alegações. Também disse que todos os conteúdos são checados antes de serem postados nas redes sociais da deputada. Como verificamos? Para esta verificação, primeiramente, o Comprova leu o artigo da pesquisa em questão, cujo link foi disponibilizado na própria publicação pela parlamentar. Também enviamos e-mail para o professor P. K. Purushothaman, um dos autores do artigo, para entender a posição dele sobre o uso de máscaras contra o novo coronavírus. Em seguida, pesquisamos na internet e em publicações anteriores do Comprova a posição da comunidade científica e de autoridades de saúde sobre o uso de máscaras artesanais e N95 como medida de prevenção contra a covid-19. Paralelamente, enviamos um e-mail para a assessoria da deputada Bia Kicis questionando-a sobre o conteúdo do artigo e sobre as fontes das informações sobre máscaras caseiras e sobre a frase de um médico que ela cita na publicação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 5 de novembro de 2020. Verificação O estudo O estudo mencionado pela deputada analisou o uso de máscaras N95 por 250 profissionais de saúde em um hospital universitário de Kattankulathur, na Índia. As N95 são equipamentos cirúrgicos que filtram 95% das partículas microscópicas. São, portanto, mais seguros contra o novo coronavírus do que outros modelos de máscaras cirúrgicas e as máscaras de pano, comumente usadas pela população em geral. Na publicação, a parlamentar afirma que o estudo demonstrou “uma série de problemas na área respiratória, na pele da face, na boca, dentre outros”. Os desconfortos identificados pelo estudo não foram considerados pelos pesquisadores como problemas graves. O artigo diz que 67,6% dos profissionais que fazem uso constante da máscara N95 demonstraram sudorese ao redor da boca; 58,2% tiveram dificuldade de respirar ao fazer esforço físico com a máscara; 56% apresentaram acne e 52% tiveram coceira nasal. Outros sintomas incluem desconforto nasal (30,3%); ressecamento nasal (26,1%); além de dor no nariz (30%) e atrás das orelhas (45,2%), possivelmente porque as máscaras ficam apertadas no rosto. Esses efeitos são descritos na pesquisa apenas como “desconfortos”. O artigo diz então que o suor excessivo e a dificuldade de respirar durante o esforço físico “resulta em menor adesão às máscaras e aumenta o risco de suscetibilidade à infecção”. Na conclusão do trabalho, os autores afirmam que os riscos não estão associados à utilização dos equipamentos, mas, justamente, ao fato de que os médicos podem relaxar os cuidados por causa dos desconfortos causados pelo uso prolongado. O artigo defende, por exemplo, que o uso de máscaras faciais protege contra microorganismos prejudiciais e “seu uso é essencial durante a pandemia”. Ele alerta que, por causa do desconforto causado pelo uso prolongado dos respiradores, os profissionais de saúde tendem a tocar as máscaras em curtos intervalos o que pode contaminar a mão e levar a mais disseminação da infecção. Na conclusão do artigo, os pesquisadores afirmam que esse desconforto pode limitar o uso eficiente dos respiradores, levando a uma redução da proteção. O trecho também reafirma que “o uso de máscaras é essencial para nos proteger da covid-19”. Em e-mail enviado ao Comprova, o professor P.K. Purushothaman, autor do artigo publicado pela deputada, disse que as reações demonstradas no artigo não são efeitos colaterais negligenciáveis por terem um impacto nos profissionais de saúde. “Mas se eu tivesse que fazer uma escolha entre usar máscara ou não usar por causa dos efeitos colaterais, eu iria definitivamente usá-la, considerando a pandemia”, completou. A utilidade das máscaras Com apoio de fontes multidisciplinares de instituições científicas de vários países, o New York Times disponibilizou um infográfico animado sobre como as máscaras funcionais protegem. O material demonstra como se dá, em nível microscópico, a filtragem nas máscaras N95 e as artesanais de algodão, exatamente os tipos citados pela deputada. Nas máscaras de algodão, as fibras do tecido atuam como um denso bosque que retém as micropartículas de aerossol, nas quais o coronavírus são da dimensão das menores partículas que “viajam” dentro das maiores, que são retidas pelas fibras com mais facilidade. Já as fibras das máscaras N95 são sintéticas, de espessuras e distribuição aleatórias, isso possibilita a retenção de até 95% das micropartículas. Esse modelo possui um fator adicional de proteção: uma carga eletrostática que atrai as partículas para as fibras. O conteúdo foi elaborado com informações fornecidas pelas seguintes instituições: Universidade Washington, em St. Louis (Depto. de Energia, Engenharia Ambiental e Química e o Centro de Engenharia de Aerossóis); Virgínia Tech (Departamento de Engenharia Civil e Ambiental); Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard; Laboratório de Medição de Materiais do Instituto Nacional de Normas e Tecnologia; Instituto Smithsonian; Universidade de Munique, Alemanha (Instituto de Mecânica de Fluidos e Aerodinâmica); Universidade da Califórnia (Depto. de Nanoengenharia); Instituto Max Planck de Química, Alemanha (Depto. de Química de Partículas); e Universidade de Cambridge, Inglaterra (Grupo de Epidemiologia). O que dizem as autoridades de saúde Da OMS aos municípios brasileiros, passando pelo Ministério da Saúde e governos estaduais, é consenso a necessidade do uso obrigatório de máscaras em vias e espaços públicos, além do transporte coletivo e estabelecimentos privados acessíveis à população, como no comércio. Durante a pandemia, o Congresso Nacional aprovou uma lei específica para isso (lei nº 14.019, de 2 de julho de 2020), determinando que “é obrigatório manter boca e nariz cobertos por máscara de proteção individual, conforme a legislação sanitária e na forma de regulamentação estabelecida pelo Poder Executivo federal, para circulação em espaços públicos e privados acessíveis ao público, em vias públicas e em transportes públicos coletivos”. Antes disso, em abril deste ano, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica com orientações para confecção de máscaras caseiras de algodão e outros tecidos. A Nota Informativa nº 3, publicada quando Luiz Henrique Mandetta ainda era ministro da Saúde, menciona: “pesquisas têm apontado que a utilização de máscaras caseiras impede a disseminação de gotículas expelidas do nariz ou da boca do usuário no ambiente, garantindo uma barreira física que vem auxiliando na mudança de comportamento da população e diminuição de casos (…) sugere-se que a população possa produzir as suas próprias máscaras caseiras”. Até hoje, mesmo com as duas trocas de ministros, a recomendação continua válida. Na esfera dos governos estaduais, o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) mantém em seu site vários informes sobre a necessidade de uso de máscaras. O mais recente, de 14 de outubro, se refere à portaria 2.789 do Ministério da Saúde sobre as medidas de proteção em todas as unidades de saúde do país. O Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) também disponibiliza publicações e normativas referentes aos uso de máscaras durante o período de emergência da pandemia. O que diz a deputada Natural de Resende, no Rio de Janeiro, Bia Kicis foi procuradora do Distrito Federal e líder do movimento Revoltados Online, que se articulou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, antes de se eleger deputada federal em 2018. É aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e já ocupou o cargo de vice-líder do governo no Congresso Nacional. Em e-mail enviado ao Comprova, a assessoria da deputada reafirmou que o estudo mostra que os respiradores N95, embora essenciais para a proteção dos médicos, “podem causar os efeitos colaterais e danos à saúde dos usuários”. A parlamentar defendeu o mesmo em relação às máscaras artesanais, porém não apresentando argumentos técnicos ou científicos, mas sim apenas exemplos e casos que teriam chegado ao seu conhecimento. “Temos relatos de várias pessoas, que nos encaminham mensagens diárias, dizendo sobre o mal-estar e problemas agravados de saúde, pelo uso prolongado das máscaras caseiras, além de a própria deputada Bia Kicis se sentir com tontura e dificuldade de respirar quando do uso das máscaras”, afirma o texto. Segundo a assessoria da parlamentar, a frase de Alessandro Loiola foi enviada para Kicis pelo próprio médico. A nota afirma que a deputada teria sido “muito cuidadosa em colocar na postagem um texto explicativo afirmando que o uso de máscaras por profissionais de saúde é importante”, mas defende que as informações apresentadas por Loiola demonstram que o uso prolongado de máscara pode causar não só desconforto, mas também “problemas mais severos de saúde”. Como demonstrado acima, as evidências científicas atuais contradizem as opiniões do médico. Por fim, o texto garante que todas as mensagens postadas por ela nas redes sociais são checadas antes da publicação e diz que Kicis conversa frequentemente com médicos para acompanhar a evolução de estudos sobre o tema. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. É o caso dessa publicação da deputada Bia Kicis, que teve 36,7 mil interações no Facebook. Quando as postagens tratam de métodos de prevenção ao novo coronavírus, a verificação se torna ainda mais necessária, já que informações erradas podem levar as pessoas a rejeitarem medidas eficazes de proteção, apostarem em medicamentos sem comprovação científica e exporem sua saúde a riscos. O Comprova já mostrou que as máscaras são eficientes no combate ao novo coronavírus; que as evidências científicas atestam a eficácia delas no controle da pandemia; que elas não reduzem a imunidade ou potencializam a proliferação de bactérias; também não tornam o sangue ácido. Também já mostrou que não há qualquer evidência que ligue a morte de uma menina alemã ao uso de máscaras. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/informacoes-sobre-ivermectina-divulgadas-por-silas-malafaia-sao-enganosas/
COMPROVA
Informações sobre ivermectina divulgadas por Silas Malafaia são enganosas
null
2020-12-28
Especialistas afirmam que as evidências apresentadas por um médico em vídeo compartilhado pelo pastor são insuficientes para promover o uso preventivo ou terapêutico da droga. Além disso, agências reguladoras dos Estados Unidos e do Brasil mantêm recomendações contrárias à aplicação do medicamento para tratar ou prevenir o novo coronavírus. Conteúdo verificado: Vídeo do médico pneumologista norte-americano Pierre Kory, divulgado pelo pastor Silas Malafaia, apresenta informações enganosas sobre a prescrição em larga escala da ivermectina para prevenção da covid-19. São enganosas as informações contidas no vídeo divulgado pelo pastor Silas Malafaia em que o médico pneumologista norte-americano Pierre Kory recomenda a prescrição de ivermectina para a prevenção da covid-19, durante audiência no Senado nos Estados Unidos. Malafaia afirma que o vídeo “pode salvar vidas” e sugere que seus seguidores peçam a um médico orientação sobre a quantidade de remédio a ser ingerida. O líder religioso compartilhou uma versão legendada em português de um discurso de Kory em que ele se refere ao medicamento como uma “droga milagrosa” com potencial de prevenir e tratar pacientes com a doença. Especialistas consultados pelo Comprova, no entanto, afirmam que as evidências expostas nos documentos apresentados pelo médico são insuficientes e não têm qualidade científica para promover o uso preventivo ou terapêutico da droga. Agências reguladoras e organizações da sociedade civil da área de medicina dos Estados Unidos e do Brasil também mantêm recomendações contrárias à aplicação do medicamento para tratar ou prevenir o novo coronavírus. Como verificamos? Para analisar os argumentos científicos apresentados pelo médico Pierre Kory, o Comprova entrevistou o médico veterinário Marcelo Beltrão Molento, professor e pesquisador na Universidade Federal do Paraná (UFPR), que pesquisa sobre a ivermectina (IVM) desde 1994 e que publicou em dezembro um artigo com um alerta para o uso de larga escala do composto. Também foram entrevistadas Fabiana Brandão, especialista em microbiologia clínica e professora do departamento de Farmácia da Universidade Brasília (UNB); e Raquel Stucchi, médica infectologista, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). O Comprova consultou os comunicados oficiais sobre a ivermectina divulgados nos sites da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da agência federal de alimentos e medicamentos (FDA, na sigla em inglês) e do Instituto Nacional de Saúde (NIH, também na sigla em inglês), ambos dos Estados Unidos. Para esta verificação também foi feito contato com o pastor Silas Malafaia e com o médico Pierre Kory por e-mail, mas até o fechamento desta verificação o Comprova não obteve retorno. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 28 de dezembro de 2020. Verificação Não há comprovação dos efeitos da ivermectina na prevenção da covid-19 No discurso capturado em vídeo, Kory aponta que a ivermectina é “milagrosa” na prevenção e no tratamento da covid-19 diz que há “montanhas” de dados e estudos que comprovam essa afirmação. Ele diz estar embasado em uma revisão contendo dados de quase 30 estudos assinada por ele e outros profissionais de saúde, que indicaria a eficácia do remédio contra a doença. O médico diz ainda que o relatório mostra que o medicamento basicamente “oblitera a transmissão desse vírus” e que se uma pessoa tomar a ivermectina ela não ficará doente. Para Marcelo Molento, que estuda a ivermectina há mais de 20 anos e é consultor da Organização Mundial da Saúde, é “uma desinformação gigantesca” dizer que o remédio impede a transmissão do vírus. Ele pontua que a revisão de Kory e os estudos que baseiam o artigo pecam gravemente na condução e no desenho dos ensaios clínicos, assim como na compilação de dados e na interpretação dos resultados. “Há estudos que nem sequer têm grupo de controle”, diz o especialista. Molento ainda ressalta que alguns trabalhos não fizeram um acompanhamento adequado dos pacientes durante os testes e se baseiam somente em boletins médicos. O cientista critica ainda um levantamento presente no estudo que compara a curva de mortes e infecções de municípios comuns com cidades que implementaram programas massivos de distribuição da ivermectina. “Não dá pra comparar cidades de dinâmicas diferentes (comportamento social, localização geográfica e clima). Este tipo de erro enfraquece a credibilidade dos estudos”, afirma. Falta rigor nos estudos feitos até o momento A microbiologista clínica e professora da Universidade de Brasília (UnB) Fabiana Brandão afirmou ao Comprova que muitos dos ensaios clínicos da ivermectina ainda são pré-publicações e precisam passar por revisão por pares. As próprias plataformas de preprint (que reúnem esse material) dizem que os artigos ali publicados não devem ser usados para guiar procedimentos clínicos. A pesquisadora diz que é a favor de mais estudos com o medicamento. Ela afirma, no entanto, que o discurso de Pierre Kory de que o medicamento tem efeitos milagrosos não tem sustentação. “Não é verdade que se as pessoas tomarem ivermectina podem sair às ruas que nada vai acontecer. Isso gera um risco tremendo das pessoas se exporem mais ao confiar num tratamento que pode não ser eficaz”, pontuou. Um levantamento da professora no site de pesquisas clínicas Clinical Trials identificou que há pelo menos 45 experimentos registrados para testar a eficácia da ivermectina, dos quais 13 já foram concluídos. Ela explica, no entanto, que os estudos apresentam um número de pacientes muito reduzido e que não têm “força estatística suficiente” para responder se a ivermectina é de fato eficaz. Outro ponto destacado por Brandão é que as pesquisas carecem de metodologias científicas rigorosas que eliminem os vieses das investigações. “Muitos estudos combinam medicamentos. Você vê uma discordância muito grande entre as pesquisas. Ainda faltam estudos com metodologias melhor delineadas”, diz a cientista. Brandão explica que até 80% dos pacientes com covid-19 se recupera sem nenhum tratamento medicamentoso específico. Isso dificulta ainda mais entender quando um fármaco teve ou não teve efeito sobre a doença. Estudo in vitro não comprova resultado em humanos No vídeo, Kory também cita um estudo laboratorial conduzido pela Universidade Monash, na Austrália, que identificou o potencial da ivermectina de inibir a reprodução do novo coronavírus em culturas de células de primatas. Os próprios autores, assim como a instituição de ensino, alertaram porém que a ivermectina não deveria ser recomendada contra a covid-19 “até que sejam concluídos mais testes e ensaios clínicos para estabelecer a eficácia do fármaco a níveis seguros para a dosagem humana.” A universidade também apontou riscos da automedicação. “O fato de ser antiviral in vitro não prova em absoluto o mecanismo de ação dela em humanos”, afirmou Marcelo Molento ao Comprova. Isso acontece porque os estudos laboratoriais ocorrem em condições controladas que não podem ser reproduzidas no corpo humano. “O corpo humano é mais complexo. Você tem mecanismos que influenciam na doença que não se resumem apenas à ação da droga sobre o vírus, como no laboratório.”, explica a consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia Raquel Stucchi. “A cloroquina, por exemplo, apresentou bons resultados em laboratórios, mas até agora não se provou eficaz nos ensaios clínicos.”. Outro ponto de alerta é que as dosagens de ivermectina aplicadas no estudo da Universidade de Monash são maiores do que o recomendado para o tratamento de parasitas em humanos. Identificar uma dose viável do medicamento é, inclusive, um dos desafios ressaltados pelos autores e outros cientistas. De acordo com Brandão, trata-se de uma investigação delicada. “A ivermectina é um fármaco com mais de 50 anos e tem um efeito muito bom para enfrentar algumas doenças e parasitas. Mas a dosagem usada para tratamento parasitário é muito inferior à usada nos estudos para a covid-19. Essas doses elevadas podem ter um risco muito grande de atingir o sistema nervoso central.”, pontua a cientista. O que dizem as agências reguladoras Diante da ausência de dados confiáveis sobre a eficácia da ivermectina, diversas organizações da área da saúde desaconselham o uso do medicamento para combater a covid-19. A Food and Drug Administration (FDA), agência sanitária dos Estados Unidos, afirma que “a utilização de ivermectina para a prevenção ou tratamento da COVID-19 deve ser evitada, uma vez que os seus benefícios e segurança para estes fins não foram estabelecidos.”. O Instituto Nacional de Saúde americano (NIH) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) também se opõem ao uso indiscriminado do medicamento contra a covid-19. No Brasil, um informe da Sociedade Brasileira de Infectologia reforça que não há comprovação científica que ateste a eficácia da ivermectina ou qualquer outro medicamento no tratamento precoce da doença. Já a Anvisa ressalta que “até o momento, não existem medicamentos aprovados para prevenção ou tratamento da Covid-19 no Brasil. Nesse sentido, as indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento”. Uso indiscriminado tem risco de aumentar resistência de parasitas Segundo artigo publicado por Marcelo Molento, a ivermectina (IVM) é um derivado da bactéria Streptomyces avermitilis introduzida comercialmente em 1981. Poderia ser colocada entre as drogas asmorfina (1827), aspirina (1899) e penicilina (1942), devido os seus benefícios vitais para os humanos e saúde animal. A IVM faz parte da família exclusiva dos endectocidas (avermectinas e milbemicinas), junto com a moxidectina, abamectina, doramectina, entre outras. Esta família de drogas tem a característica de ter alta eficácia contra a maioria dos parasitas mais importantes, sendo utilizada na região central da África. Em 2015, Satoshi Ômura e William Campbell ganharam o Prêmio Nobel de Medicina 2015 pela descoberta da ivermectina e seu uso mundial no combate a doenças parasitárias. Em algumas regiões, ela é essencial para o controle de doenças parasitárias, tendo status de vacina, devido ao seu amplo uso. Ganhou popularidade pela sua importância na medicina veterinária e humana. Até a chegada do coronavírus, era reservada para a área de parasitologia. Em artigo, Molento adverte quanto aos efeitos neurológicos adversos do medicamento em pacientes, como confusão, tremores, convulsão, inchaço local e vômitos, que podem durar até uma semana. No caso de animais, a utilização em intervalos curtos criou resistência aos parasitas. A seleção de parasitas para combater essa resistência tornou-se um dos fatores mais perigosos para a falha da droga. O tratamento em massa também é praticado para controlar parasitas humanos, e a resistência aos medicamentos é uma das principais preocupações para a continuação dos programas de erradicação de parasitas em grande escala, conforme explica Molento. De acordo com Molento, a IVM tem a reputação de ter efeitos antivirais, no caso da dengue, e é bem aceito na prática médica. Com a covid-19 voltou a ser manchete internacional a partir de evidências de suas atividades in vitro contra o vírus. O pesquisador alerta que apesar do medicamento ser conhecido por sua margem de segurança, esse fato não é suficiente para o seu uso regular. “O risco também pode ser potencializado por interações medicamentosas desconhecidas, que podem afetar a fisiologia do sistema nervoso central (barreira hematoencefálica), tornando potenciais efeitos nocivos à saúde”, explica em seu artigo. A recomendação do pesquisador é cautela, especialmente para o uso da IVM. Quem é o médico que aparece no vídeo? O homem que figura no vídeo publicado pelo pastor é o médico Pierre Kory, presidente da organização Frontline Covid-19 Critical Care Alliance (FCCCA, na sigla em inglês). Ele se identifica como pneumologista e especialista em cuidados intensivos. De acordo com o site da St. George’s University, em Granada, ele se graduou na instituição de ensino em 2002 e hoje trabalha no centro acadêmico de medicina da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos. Na página da FCCCA consta que o grupo é uma organização formada por dez médicos que tem o objetivo de revisar trabalhos e estudos publicados sobre remédios já existentes no combate ao vírus e publicar protocolos. Há dois tipos disponíveis no site, um para pacientes hospitalizados e outro para profilaxia da doença. Esse último inclui a ivermectina, mas também recomenda uso de máscara e distanciamento social. No dia 8 de dezembro, Kory foi ouvido na Comissão de Segurança Interna e Assuntos Governamentais do Senado americano,que realizou uma audiência com o tema “Tratamento ambulatorial precoce: parte essencial de uma solução para a covid-19”. Quem é Silas Malafaia? Silas Malafaia, 62 anos, é pastor e presidente da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) no Rio de Janeiro, desde 2010. É graduado em psicologia e fundador da Associação Vitória em Cristo (AVEC), criada em 1982 com a finalidade de arrecadar fundos para o programa de TV Vitória em Cristo. Nas mídias sociais, seus perfis reúnem mais de 3 milhões de seguidores. Em março de 2020, logo no início da pandemia de covid-19, o coletivo Bereia publicou uma verificação sobre os posts e vídeos enganosos acerca do novo coronavírus postados pelo pastor. Em um dos posts, ele minimiza a gravidade da covid-19 comparando-a com a gripe H1N1 e ataca a ampla cobertura da imprensa sobre a doença. Sua postura em relação à pandemia está alinhada com a do presidente Jair Bolsonaro. Em suas postagens, é comum temas como acusações contra a China, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a defesa do uso da hidroxicloroquina e da ivermectina e questionamentos sobre a vacinação contra a covid-19. Em abril, o Facebook, o Instagram e o Youtube apagaram um vídeo publicado pelo pastor, no qual afirmava que a quarentena era “uma farsa”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Conteúdos falsos prejudicam o trabalho dos pesquisadores e diminuem a confiança das pessoas nas autoridades. A postagem no Facebook, publicada em 18 de dezembro, tinha 98,9 mil visualizações em sete dias, até o dia 24 do mesmo mês. Em 22 de dezembro, o Comprova também publicou uma verificação com conteúdos enganosos sobre ivermectina e vacina chinesa do pastor Silas. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/mensagem-tira-de-contexto-dados-sobre-sintomas-adversos-da-vacina-pfizer/
COMPROVA
Mensagem tira de contexto dados sobre sintomas adversos da vacina Pfizer
null
2020-12-28
Mensagem que circula no WhatsApp usa informações descontextualizadas de um aplicativo para monitoramento de sintomas adversos que registra dados dos próprios pacientes e que ainda não foram checados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano. Conteúdo verificado: Mensagem que circula no WhatsApp e afirma que vacina da Pfizer/BioNTech causou efeitos colaterais em 5% dos vacinados e reações graves em 1%. Não é verdade que a vacina da Pfizer/BioNTech tenha causado efeitos colaterais em 5% e reações graves em 1% das pessoas vacinadas nos EUA, ao contrário do que afirma uma mensagem que circula no WhatsApp e nas redes sociais. A mensagem tira de contexto dados divulgados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC). No sábado (19), o órgão divulgou que 112 mil pessoas que se vacinaram se cadastraram em um aplicativo do governo para monitoramento de sintomas adversos após a aplicação da 1ª dose. Desse total, 3.150 (2,7%) disseram ter tido algum tipo de efeito que atrapalhou o trabalho ou atividades diárias. O médico Tom Clark, que apresentou esses dados ao Comitê Consultivo em Práticas de Imunização (ACIP) do CDC, disse que o órgão está estudando os relatos de sintomas para obter mais detalhes. Clark afirmou ainda que a maioria não requer cuidados médicos. Foram identificados também seis casos de anafilaxia, uma reação alérgica severa, mas o CDC ainda avalia se há relação com o imunizante. O CDC desenvolveu a ferramenta V-Safe para que pessoas que tomaram vacinas contra covid-19 façam check-ups diários sobre sua saúde. Como o próprio paciente relata seus sintomas, as estatísticas ainda necessitam de confirmação. Uma reportagem do jornal The Washington Post do início deste mês questionou a segurança do app, que segundo o texto poderia ser manipulado pelo movimento anti-vacina ou outros atores maliciosos. O governo americano tem outros dois sistemas de monitoramento de reações adversas após vacinas: o Vaccine Adverse Event Reporting System (VAERS) e o Vaccine Safety Datalink (VSD), que usam dados enviados pelas unidades de saúde. Como verificamos? Acessamos documentos do CDC sobre o V-Safe e sobre a vacinação contra covid-19. Também procuramos reportagens na imprensa que ajudassem a contextualizar a imunização nos EUA. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 28 de dezembro de 2020. Verificação De onde são os números citados na mensagem? A mensagem afirma que, em três dias de vacinação nos EUA, foram “272.000 doses aplicadas até o dia 19/12. 112.800 relatos de efeitos colaterais. Mais de 3.000 ficaram incapacitados de realizar atividades diárias. Com 5% de efeitos colaterais, sendo 1% de efeitos graves, talvez mande tanta gente quanto o vírus para os hospitais.” No entanto, os números estão apresentados de forma equivocada e fora de contexto. Os dados estão em um documento, parte de uma apresentação em slides utilizada em uma reunião emergencial do Comitê Consultivo em Práticas de Imunização (ACIP), ligado ao CDC. Os encontros foram realizados nos dias 19 e 20 de dezembro. O PDF que está incluído no texto que viralizou trata, especificamente, das informações sobre os casos de anafilaxia (uma reação alérgica grave) em pacientes vacinados com os imunizantes que usam tecnologia de RNA mensageiro (dos laboratórios Pfizer/BioNTech e Moderna). Os slides são assinados pelo médico Thomas Clark, que faz parte do corpo técnico do CDC. Os números que aparecem no texto são desta tabela, que está no documento, mas foi interpretada de maneira equivocada: O que a tabela registra são os dados colhidos por meio de um aplicativo, lançado pelo governo norte-americano para monitorar de forma ativa quem tomou a vacina. Pelo chamado V-Safe, as pessoas que receberam as doses podem registrar qualquer tipo de efeito colateral que tenham sentido. O número que o texto menciona, 112.807, trata-se, na verdade, do número de pessoas que baixaram e se registraram no aplicativo até o dia 18 de dezembro, após receberem a primeira dose da vacina. Segundo a mesma tabela, entre esse total, o número de casos registrados por meio do aplicativo de pessoas com algum impacto na saúde foi de 3.150, ou 2,7% — sendo que esses efeitos não têm indicação de gravidade, e podem ser o impedimento para realizar algum tipo de atividade do dia a dia, ter que faltar ao trabalho ou precisar se consultar com um médico ou profissional de saúde. O texto que viralizou fala em mais de 3 mil casos de pessoas “incapacitadas de realizar atividades diárias”, mas o número, na verdade, se refere a qualquer tipo de consequência. O mesmo documento também informa que, até o dia 18 de dezembro, o CDC havia identificado seis casos de anafilaxia em pacientes que receberam as doses da Pfizer-BioNTech. Todos ainda serão analisados pelos órgãos competentes dos EUA. Até o dia 21 de dezembro foram aplicadas 614.117 doses do imunizante Pfizer/BioNTech. Ou seja, o número de reações graves registradas até agora representa 0,0009% dos vacinados. Quais as reações adversas mais comuns ao imunizante Pfizer/BioNTech? Segundo o CDC, as reações adversas mais frequentes são dor, inchaço e vermelhidão no local de aplicação da vacina, além de calafrios, cansaço e dor de cabeça. São considerados efeitos leves, parecidos com uma gripe. O órgão americano diz que os sintomas podem começar em até dois dias após a primeira dose e podem atrapalhar o trabalho ou atividades diárias. De acordo com a Pfizer, o porcentual de pessoas que tiveram esses sintomas durante os ensaios clínicos foi: dor local (84.1%), cansaço (62.9%), dor de cabeça (55.1%), dor muscular (38.3%), calafrios (31.9%), dor articular (23.6%), febre (14.2%), inchaço local (10.5%), vermelhidão local (9.5%), náusea (1.1%), mal-estar (0.5%), e linfonodos aumentados (0.3%). Autoridades britânicas e americanas recomendam que a vacina não seja administrada a pessoas com histórico de anafilaxia. Mas essa reação é raríssima. O The New York Times informa que uma a cada 1 milhão de pessoas vacinadas nos EUA tem reação anafilática. Um documento do Food and Drug Administration (FDA), agência análoga à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), informa que 0,63% dos participantes do ensaio clínico da Pfizer que receberam a vacina tiveram alguma reação alérgica, comparado a 0,51% de reação no grupo de placebo. Na fase três dos testes, um dos 18.801 participantes que recebeu o imunizante teve anafilaxia. Reação alérgica grave foi causada pela vacina? Isso ainda não foi confirmado. O Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH) vai fazer um estudo para descobrir por que algumas raras pessoas desenvolvem reação anafilática. De acordo com o The Washington Post, pesquisadores vão analisar se algum componente da vacina causa a alergia e esperam ter resultados em algumas semanas. No entanto, a pesquisa é de difícil realização pois é preciso recrutar participantes extremamente alérgicos. O principal suspeito para os cientistas é o Polietilenoglicol, uma substância largamente utilizada em remédios e cosméticos. As reações alérgicas graves a esse composto são extremamente raras. Os especialistas ouvidos pelo Post afirmam que as reações anafiláticas registradas não devem impedir as pessoas de tomarem a vacina. Americanos que tomarem a primeira dose são instruídos a esperar 15 a 30 minutos antes de ir para casa, no caso improvável de uma reação desse tipo. A anafilaxia é facilmente revertida com doses de epinefrina e outros remédios. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Informações falsas sobre as vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 podem interferir na confiança das pessoas para serem submetidas aos imunizantes quando eles estiverem disponíveis no país, o que por consequência pode atrapalhar a estratégia de usar as vacinas para conter a disseminação do SARS-CoV-2 e reduzir os efeitos da pandemia. O texto verificado foi compartilhado em um tuíte com seis mil interações. O Comprova já verificou outros conteúdos falsos sobre vacinas contra covid-19 em fase de desenvolvimento, como a verificação que apontou que testes de um imunizante contra o coronavírus na Austrália não infectaram os voluntários com HIV, que não há comprovação de que a vacina da Pfizer tenha causado paralisia de Bell em voluntários e a que as vacinas para covid-19 não são capazes de provocar danos genéticos. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i0.wp.com/projet…=640%2C346&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-vacina-australiana-tenha-infectado-pessoas-com-hiv-voluntarios-tiveram-falso-positivo/
COMPROVA
É falso que vacina australiana tenha infectado pessoas com HIV; voluntários tiveram falso-positivo
null
2020-12-23
Resultado ocorreu porque a pesquisa feita pela empresa CSL em parceria com a Universidade de Queensland utilizou uma proteína do vírus da Aids. Ao contrário do que diz o homem no vídeo verificado, essa técnica não pode contaminar uma pessoa com o HIV Conteúdo verificado: em um vídeo no Youtube, homem cita testes feitos na Austrália e afirma que pessoas que tomaram a vacina testaram positivo para HIV. É falso que os voluntários que passaram por testes de uma vacina contra o coronavírus na Austrália tenham contraído HIV, como afirma um homem em um vídeo compartilhado no domingo (20) em um canal no YouTube. Alguns dos voluntários que participaram da fase 1 de testes da vacina produzida em parceria entre a empresa de biotecnologia CSL e a Universidade de Queensland registraram falso-positivos para HIV, mas isso não significa que eles foram infectados com a doença. Segundo os desenvolvedores, a presença de anticorpos para HIV já era esperada e os voluntários estavam cientes disso, uma vez que uma proteína presente no vírus causador da Aids foi utilizada na produção da vacina contra o coronavírus. Em alguns voluntários, a quantidade de anticorpos foi maior do que a esperada, o que interferiu nos exames. Nenhum dos voluntários, no entanto, foi contaminado com o HIV. Também não é verdade que o resultado tenha acometido todas as pessoas que tomaram a vacina no país, como afirma o homem. Após falso-positivos em alguns dos 216 voluntários que receberam a vacina australiana, os testes foram suspensos a fim de evitar que uma eventual aplicação em massa gerasse problemas de ansiedade por conta do temor por uma contaminação por HIV. Como verificamos? Primeiro, buscamos as reportagens citadas pelo homem no vídeo que, supostamente, dariam suporte às afirmações de que os voluntários que receberam a vacina australiana testaram positivo para HIV. Foram encontradas publicações do CanalTech, revista Exame e, ainda, da CNN (versões em português e em inglês), mas nenhuma delas afirmava que os pacientes tiveram resultados positivos para HIV, e sim falso-positivos. Em seguida, acessamos entrevistas de especialistas em canais de TV australianos que explicassem como se deram os resultados falso-positivos em alguns dos voluntários. Também acessamos a nota oficial divulgada no dia 11 de dezembro pelos desenvolvedores da vacina australiana — a empresa de biotecnologia CSL e a Universidade de Queensland — sobre os resultados obtidos. Procuramos por registros das declarações feitas pelo virologista francês Luc Montagnier, citado no vídeo, sobre a origem do coronavírus e a repercussão que sua teoria teve na comunidade científica. Por fim, buscamos informações sobre o autor da gravação e o canal em que ele foi postado no Youtube. Contatamos a empresa Hidrogênio Global e o autor do vídeo, mas até o fechamento desta verificação eles não retornaram. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de dezembro de 2020. Verificação Falso-positivos Alguns dos 216 pacientes que participaram da fase 1 de testes para a vacina desenvolvida numa parceria entre a empresa de biotecnologia CSL e a Universidade de Queensland, na Austrália, apresentaram resultados falso-positivos para HIV. Os resultados foram comunicados no dia 11 de dezembro pelos desenvolvedores do imunizante, que afirmaram que “não há possibilidade de a vacina causar infecção e os testes de acompanhamento de rotina confirmaram que não há presença do vírus HIV”. Apesar disso, os testes com o imunizante foram, de fato, suspensos diante do temor de que uma eventual aplicação da vacina causasse problemas de ansiedade e receio de contaminação pelo HIV. O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, informou que 51 milhões de doses seriam compradas do consórcio, mas que agora elas serão divididas entre a AstraZeneca e Novavax, que também desenvolvem vacinas contra o SARS-CoV-2. O homem que aparece no vídeo verificado mostra imagens de reportagens sobre os falso-positivos para HIV na Austrália -— na tela aparecem textos publicados pelo CanalTech e pela revista Exame — e usa o argumento de que, pelo fato de o assunto ter sido noticiado pela grande mídia, mais gente irá acreditar nele. No entanto, nenhuma das matérias utilizadas por ele como fonte fala em casos positivos para HIV — como ele afirma —, e sim em falso-positivos. As publicações também não falam que os resultados acometeram todas as pessoas que tomaram a vacina em teste, diferente do que diz o título do vídeo postado. Proteína do vírus HIV Na nota divulgada no dia 11 de dezembro, os desenvolvedores do imunizante australiano explicam os falso-positivos para HIV: “Os dados da fase 1 também mostraram a geração de anticorpos direcionados a fragmentos de uma proteína (gp41), componente utilizado para estabilizar a vacina. Os participantes do ensaio foram totalmente informados da possibilidade de uma resposta imunológica parcial a este componente, mas foi inesperado que os níveis induzidos interferissem com alguns testes de HIV”. Ou seja, os cientistas já esperam que a proteína, presente no vírus HIV e utilizada no desenvolvimento do imunizante, fizesse com que o sistema imunológico criasse anticorpos para combater o vírus, mesmo ele não existindo. O que eles não esperavam eram níveis tão elevados de anticorpos que gerassem interferência em exames de HIV. A professora Sarah Palmer, especialista em estudos do HIV/Aids do Instituto Westmead de Pesquisas Médicas, explicou para afiliada australiana da rede de TV SkyNews que o problema foi causado porque os cientistas da Universidade de Queensland usaram um segmento do vírus HIV como molécula “clamp”, ou seja, para estabilizar a proteína do coronavírus na vacina experimental e torná-la um alvo “atraente” para o sistema imunológico do ser humano. A tecnologia é considerada inovadora pela professora Palmer, mas não deu certo: o sistema imunológico dos voluntários realmente gerou uma boa resposta ao coronavírus, que provoca a covid-19, mas também ao próprio HIV, fazendo com que os testes de HIV nos voluntários desse positivo para Aids. “Infelizmente, como esse grampo molecular foi feito de uma proteína do HIV, não só o corpo respondeu desenvolvendo anticorpos para a proteína spike do coronavírus, o que é muito positivo, mas também desenvolveu anticorpos para a proteína do HIV. Isso fez com que as pessoas tivessem testes de HIV positivos, embora não estivessem infectadas com o HIV”, explicou a cientista. Os testes, então, foram suspensos. Para os desenvolvedores, se ela fosse amplamente aplicada na população, poderia causar um problema na saúde pública do país pelo alto índice de resultados falso-positivos para HIV. A Austrália descartou o uso desse imunizante, que já estava na fase 3 dos testes. A Universidade de Queensland deverá reiniciar a pesquisa e a vacina poderá vir a ser usada “no futuro”. O próprio Instituto Westmead está desenvolvendo uma vacina para a covid-19 a ser usada especificamente em idosos. Coronavac, China e a origem do vírus O homem que aparece no vídeo afirma que não apenas a vacina “que vem da China” pode infectar as pessoas com o HIV, mas todas as outras. Para isso, usa o argumento do virologista francês Luc Montagnier, vencedor do Nobel de Medicina em 2008 por ter descoberto o vírus HIV na década de 1980, de que o coronavírus teria sido fabricado em laboratório durante uma possível tentativa de descoberta de vacina contra a Aids. No entanto, as melhores evidências científicas disponíveis até o momento indicam que o SARS-CoV-2 tem origem natural. As afirmações do homem no vídeo verificado não têm sustentação. Em primeiro lugar, porque o caso relatado por ele diz respeito a uma vacina em testes na Austrália, que nada tem a ver com a China. A Coronavac, uma das vacinas desenvolvidas na China e feita em parceria, no Brasil, com o Instituto Butantan, não foi a vacina que provocou os resultados falso-positivos de HIV para os testes de alguns dos voluntários australianos. A vacina chinesa sequer foi testada na Austrália. Luc Montagnier realmente disse em abril que a responsabilidade pela ‘criação’ do vírus é de um laboratório em Wuhan, na China. Mas os comentários do cientista francês foram fortemente criticados e refutados pela comunidade científica. Montagnier disse ter analisado a sequência de RNA do novo coronavírus junto com o colega matemático Jean-Claude Perrez e, com base nisso, afirmou que não há motivos para acreditar que o coronavírus tenha vindo de um mercado de peixes. Para ele, essa versão é “história da carochinha”, já que, segundo ele, o vírus tem mutações que só podem ser feitas artificialmente. Montagnier também afirmou que o vírus foi fabricado acidentalmente em um laboratório de Wuhan, na China, alegando que o laboratório é especialista em coronavírus, trabalha com ele desde os anos 2000, e que, na tentativa de desenvolver uma vacina contra a Aids, os chineses acabaram criando o vírus. As declarações foram feitas para a Rádio Frequénce Medicale e para o site “Pourquoi doctor?”, ambos franceses. Ainda em abril, a Agência Lupa e o Estadão mostraram que estudos científicos refutavam as declarações do virologista francês. Um dos estudos, publicado na revista científica Nature Medicine, apontou que a estrutura central do SARS-CoV-2 é muito semelhante a um tipo de vírus que infecta morcegos — 96% de similaridade com o vírus dos morcegos e de 85,5% a 92,4% com um que afeta pangolins, animais que são vendidos ilegalmente na China por conta de sua carne. Se um vírus para afetar humanos fosse produzido em laboratório, ele deveria ser feito com a estrutura central mais próxima de um que já afetasse humanos, e não morcegos. Este estudo, dos pesquisadores Kristian G. Andersen, Andrew Rambaut, W. Ian Lipkin, Edward C. Holmes e Robert F. Garry, foi publicado em 17 de março deste ano, um mês antes de as declarações de Luc Montagnier ganharem o mundo. Como mostrou o Comprova em abril, a pesquisa concluiu que o novo coronavírus não é uma construção artificial ou que tenha sido manipulado por humanos. No final de março, outro artigo publicado na mesma revista, desta vez de autoria dos pesquisadores Tommy Tsan-Yuk Lam, Na Jia e Wu-Chun Cao, seguiu na mesma linha do anterior e tratou os pangolins como possíveis hospedeiros intermediários do vírus que chegou aos humanos. No final de abril, a Organização Mundial de Saúde (OMS) descartou a possibilidade de que o vírus tenha sido criado em um laboratório. Em seu site oficial, a OMS mantém uma página sobre mutações e acompanhamento da evolução do vírus. O canal O canal Hidrogênio Global foi fundado em 2013, tem 168 mil inscritos e 9,1 milhões de visualizações até 22 de dezembro, segundo o YouTube. O autor, Julio Fuertes, exibe vídeos voltados à venda de produtos como um gerador de hidrogênio para produção de água hidrogenada, com alegação de benefícios para a saúde, e de kit para uso de hidrogênio como combustível veicular. No entanto, nos últimos sete meses o canal passou a publicar majoritariamente vídeos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e alinhados com a direita. Há publicações com comentários sobre assuntos da pauta política do país, críticas ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a ministros do STF e outros. Há também críticas a medidas de isolamento social e às vacinas como estratégias para conter a pandemia de covid-19. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Informações falsas sobre as vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 podem interferir na confiança das pessoas para serem submetidas aos imunizantes quando eles estiverem disponíveis no país, o que por consequência pode atrapalhar a estratégia de usar as vacinas para conter a disseminação do SARS-CoV-2 e reduzir os efeitos da pandemia. O vídeo verificado teve 55,8 mil visualizações e 12 mil curtidas nos três primeiros dias. O Comprova já verificou outros conteúdos falsos sobre vacinas contra covid-19 em fase de desenvolvimento, como a verificação que apontou que não há comprovação de que a vacina da Pfizer tenha causado paralisia de Bell em voluntários e a que as vacinas para covid-19 não são capazes de provocar danos genéticos. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-de-medicos-estrangeiros-e-coletanea-de-informacoes-falsas-sobre-a-pandemia/
COMPROVA
Vídeo de médicos estrangeiros é coletânea de informações falsas sobre a pandemia
null
2020-12-23
O vídeo que circula pelas redes foi produzido por uma entidade que congrega médicos negacionistas da pandemia de covid-19 em todo o mundo Conteúdo verificado: Vídeo publicado no Facebook e compartilhado em aplicativos de mensagem que conta com a presença de médicos que afirmam que a pandemia é uma farsa, além de outras alegações sobre a covid-19. Não são verdadeiras as afirmações apresentadas em um vídeo que circula pelas redes sociais no qual médicos de diversos países dizem que a epidemia do novo coronavírus é uma farsa. O vídeo foi produzido pela Oracle Films, equipe de mídia da “World Freedom Alliance” (Aliança Mundial pela Liberdade), que reúne organizações internacionais negacionistas da pandemia de covid-19. No vídeo, médicos afirmam, sem apresentar provas, que “a vacina pode causar mudanças no DNA e não passou por testes em animais, sendo os humanos os primeiros a serem testados”. Como já verificado pelo Comprova, é inverídico que a pandemia seja uma farsa. Segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde, já são mais de um 1,7 milhão de mortes causadas pelo coronavírus no mundo. Ao contrário do que é dito no vídeo, as vacinas passam por diversos testes clinicos, entre eles o teste em animais que antecede o teste em humanos. O Comprova também já ouviu especialistas que desmentiram os boatos que vacinas podem causar alterações no DNA. Nesta verificação, a professora do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Viviane de Souza Alves, reafirma que nenhuma vacina já produzida ou em teste e liberada para a covid-19 tem a capacidade de alterar o DNA. Como verificamos? O Comprova procurou informações sobre todos os médicos que aparecem no vídeo e acessou perfis profissionais, sites pessoais e institucionais, além de matérias de veículos de comunicação para confirmar se as pessoas que apareciam no vídeo eram de fato profissionais da saúde. Checou também informações sobre a “Aliança Mundial pela Liberdade” e qual a relação dos profissionais com ela. Além de buscar informações sobre a origem do vídeo e quem o produziu, o Comprova entrou em contato com a administração da página que publicou o conteúdo no Facebook e divulgou o vídeo no aplicativo de mensagens Telegram após a publicação ter sido classificada como “falsa” pelo Facebook e retirada da rede social. Em paralelo, foram ouvidos especialistas que poderiam auxiliar com os depoimentos reproduzidos no vídeo, pontuando as alegações que foram mais abordadas, como a de que a pandemia da covid-19 seria uma farsa. Foram consultadas outras checagens realizadas pelo Comprova nas quais foram verificados boatos sobre a segurança das vacinas, alterações genéticas e a pandemia. Ouvimos também a professora do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Viviane de Souza Alves, para entender novamente os possíveis efeitos colaterais da vacina e a realidade da pandemia. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de Dezembro de 2020. Verificação O vídeo foi divulgado originalmente em 7 de dezembro, por uma página chamada “Oracle Films”, que se identifica como “o time de mídia oficial” da World Freedom Alliance ou “Aliança Mundial pela Liberdade”. Essa aliança se propõe a ser um grupo “guarda-chuva” para abarcar organizações internacionais negacionistas da pandemia de covid-19. A presidente da organização é a médica irlandesa Dolores Cahill, da University College Dublin. Cahill é diretora do Partido da Liberdade Irlandês, uma sigla nacionalista de direita fundada em 2018 e que, atualmente, não tem representação parlamentar. Ao longo dos últimos meses, Cahill fez várias alegações falsas, com conteúdos semelhantes aos que circulam em redes de desinformação no Brasil, como as afirmações de que distanciamento social é inútil contra a pandemia e de que as pessoas que se recuperam têm imunidade por toda a vida. Em maio, Cahill defendeu que a hidroxicloroquina seria eficaz como prevenção para a covid-19, uma afirmação que também não tem respaldo científico e que foi classificada como “sem base” pela iniciativa de verificação de fatos científicos Health Feedback. Em junho, 130 estudantes da University College Dublin, a maioria da escola de Medicina, publicaram uma carta aberta contra Cahill e a direção da instituição se distanciou das afirmações da professora. O Comitê Científico da Iniciativa de Medicamentos Inovadores, uma parceria entre a Comissão Europeia e a indústria farmacêutica em que Cahill era vice-presidente, solicitou sua renúncia. O vice-presidente da “Aliança Mundial pela Liberdade” é o alemão Heiko Shöning, idealizador de outra organização negacionista, conhecida em inglês como Doctors-for-Enlightenment e, em espanhol, como Médicos por la Verdad. Em agosto, o Comprova classificou como enganosas as afirmações feitas por um médico brasileiro que gravou um vídeo inspirado em um manifesto dos Médicos por la Verdad segundo o qual a pandemia era uma farsa. O vídeo foi publicado em uma plataforma de vídeos chamada “Brand New Tube” em 7 de dezembro de 2020 e postado já com as legendas em português na página no Facebook “Revelações”, e em um grupo no aplicativo Telegram no dia 14 de dezembro. O Comprova entrou em contato por email com a administração da página do Facebook mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O vídeo foi removido do Facebook na quarta-feira, 16, com a informação de que a postagem não era verdadeira. O conteúdo, no entanto, passou a circular no aplicativo de mensagens Telegram. Quem são os médicos do vídeo? Além da médica irlandesa Dolores Cahill, aparecem no vídeo os médicos Johan Dennis (homeopata), Anne Fierlafijn (clínica geral) e Hilde De Smet (clínica geral), da Bélgica; Carrie Madej (osteopata), Rashid Buttar (emergencista) e Sherri Tenpenny (osteopata e escritora), dos Estados Unidos; Kevin Corbett (enfermeiro aposentado e pesquisador independente), do Reino Unido; Piotr Rubas (clínico geral), polonês residente na Alemanha; Mikael Nordfors (clínico e escritor), da Suécia, e Elke F. de Klerk (clínica geral), da Holanda. Todos aparecem em outros vídeos e artigos divulgados pela “Aliança Mundial pela Liberdade”. O médico Johan Denis já havia afirmado anteriormente que as vacinas não são seguras, alteram o DNA humano e controlam pessoas pelo 5G (internet móvel). Nenhuma dessas afirmações é verdadeira. O vídeo em que ele faz comentários enganosos foi traduzido e viralizou no Brasil há algumas semanas. A Boatos.org escreveu uma matéria desmentindo os principais tópicos abordados pelo médico. No vídeo analisado pelo Comprova, ele afirma que não há emergência médica causada pelo novo coronavírus e que a pandemia é falsa. Anne Fierlafijn assina conteúdos na internet questionando a eficiência das máscaras no combate a covid-19 e afirmando que a única maneira de pegar o novo coronavírus seria por meio de transfusão de sangue e tomando vacinas, o que não é verdade. Hilde De Smet escreve textos e grava vídeos afirmando que a vacina causa mutação genética e aconselha o consumo de alho, orégano e chá verde para fortalecer o sistema imunológico e evitar a infecção pelo novo coronavírus. Isso também não é verdade. Carrie Madej gravou um vídeo afirmando que vacinas para a covid-19 podem criar seres geneticamente modificados que poderiam dar origem a uma nova espécie que destruiria a raça humana. A publicação foi desmentida em checagem da BBC Reality Check mas acabou viralizando no Brasil. A Fato ou Fake também fez uma apuração. Mikael Nordfors já teve o registro suspenso na Noruega, Suécia e Dinamarca por causa de uma série de maus-tratos a pacientes, entre outros crimes. Também foi advertido pelo uso de tratamentos sem eficácia comprovada. No vídeo, ele nega que haja uma pandemia, que as crianças sejam infectadas pela covid-19 e que “nunca haverá uma vacina tão segura quanto a vitamina D”, o que não é verdade. O enfermeiro aposentado Kevin Corbett possui um site no qual escreve textos sobre o que chama de “coronahisteria” e “novela do corona”, evidenciando a descrença de que haja uma pandemia em curso no mundo e criticando as medidas de distanciamento social. No vídeo analisado pelo Comprova, Elke F. de Klerk diz que a vacina pode tornar meninas e mulheres inférteis e alterar o código genético, crença compartilhada por Sherri Tempenny, médica e autora de alguns livros com argumentos contra todas as vacinas existentes. Não há evidências dessas afirmações. Já Piotr Rubas acredita que a taxa de mortalidade da covid-19 é similar à da gripe e que, por isso, não seria necessário se expor a uma vacina desenvolvida em caráter emergencial. A pandemia não é uma farsa O Projeto Comprova consultou a professora do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Viviane de Souza Alves, que explica que a pandemia não é uma farsa. “Estamos vendo milhares de casos e óbitos em vários países do mundo simultaneamente pela covid-19, alguns países estão vivendo a segunda onda. Não há a menor possibilidade de ser uma doença inventada e não há interesse algum em disseminar pânico. O que estamos vivendo é real e se continuarmos relaxados, perto do momento em que as vacinas chegarem, a pandemia não terá fim em breve”. A especialista também explica que não há registro de vacinas já produzidas para outras doenças ou em testes para a covid-19 que tenham a capacidade de causar alteração no DNA. Esses rumores giram em torno das vacinas que utilizam uma técnica conhecida como mRNA. As vacinas de mRNA têm pedaços do código genético do vírus, o RNA. Entre os imunizantes que estão em estágio mais avançado, os da Moderna e da Pfizer/BioNTech usam esse sistema. Viviane Alves explica como funciona o processo após esse tipo de vacina ser introduzida no corpo humano. “As vacinas genéticas introduzem no corpo uma pequena sequência que vai codificar apenas a proteína do coronavírus. Nosso corpo enxerga a proteína e sabe que não nos pertence, o que faz com que anticorpos sejam produzidos para eliminar esse invasor. Ao mesmo tempo, o corpo cria células de memória que reconhecem o invasor. Quando nos encontrarmos com o vírus real, depois da vacina, o corpo já tem anticorpos para eliminar a infecção e assim não adoecemos”, afirma. Viviane Alves ressalta que são falsas afirmações sobre máscaras e isolamento social serem desnecessárias. Ela relembra que, desde a pandemia da gripe espanhola (1918),sabemos que as mesmas medidas são fundamentais para limitar a disseminação de vírus. “São medidas que devem estar associadas. Não adianta usar máscara e aglomerar, a máscara é uma barreira que só funciona com distanciamento de dois metros. O vírus pode ficar viável por mais de quatro horas em ambientes fechados. Por isso a recomendação é que mesmo de máscara, ambientes fechados sejam evitados e jamais tocar na máscara sem higienizar as mãos”, alerta a especialista. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Combater a desinformação de assuntos relacionados a covid-19 tornou-se necessário e urgente, notícias como essa servem apenas para causar pânico e insegurança na população. A postagem no facebook chegou a ter 7,5 mil interações antes de ser removida da rede social, segundo a plataforma de monitoramento CrowdTangle. No canal da página no Telegram, a mensagem foi vista por cerca de 1.300 pessoas. Não existem motivos para acreditar que a pandemia seja uma farsa, e propagar esse tipo de material é ignorar as milhares de mortes que ocorrem todos os dias no mundo. O Comprova já verificou outros conteúdos que contribuem para a desinformação sobre a covid-19, como o tuíte que usou de afirmações falsas de médico canadense para negar a pandemia, o projeto checou também ser impossível que vacina cause alterações genéticas, segundo especialistas. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-do-pastor-silas-malafaia-engana-sobre-eficacia-da-ivermectina-contra-covid-19-na-africa/
COMPROVA
Vídeo do pastor Silas Malafaia engana sobre eficácia da ivermectina contra covid-19 na África
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2020-12-22
Ao contrário do que diz o pastor evangélico, não há como atribuir os números de covid-19 na África à distribuição de ivermectina no continente Conteúdo verificado: Vídeo divulgado por pastor Silas Malafaia afirma que os números de covid-19 na África são baixos por conta da ivermectina É enganoso um vídeo publicado pelo pastor Silas Malafaia no qual ele defende o uso da ivermectina na prevenção da covid-19 e faz comentários a respeito da Coronavac, vacina desenvolvida pela companhia chinesa Sinovac e que vem sendo testada no Brasil. No vídeo, o pastor alega de maneira equivocada que a distribuição em massa de ivermectina na África estaria relacionada aos números relativamente baixos de mortes pelo novo coronavírus no continente. Malafaia questiona ainda a Coronavac afirmando que o Brasil será o primeiro a se vacinar com a “vacina em parceria com a China”, antes que a China o faça. Ainda não é possível fazer tal afirmação, pois a vacinação não teve início no Brasil. Na China, a Coronavac recebeu autorização para uso emergencial. A fase 3 de testes do imunizante está sendo realizada, além do Brasil, no Chile, na Indonésia e na Turquia. Especialistas consultados pelo Comprova ressaltam que não há, até o momento, comprovação científica da eficácia do uso de ivermectina na prevenção ou tratamento da doença provocada pelo novo coronavírus. Eles alertam também que os dados epidemiológicos em alguns países africanos não são confiáveis, pois o sistema de vigilância não é bem estruturado. Como verificamos? Para elucidar as questões sobre a capacidade da ivermectina de prevenir ou tratar o novo coronavírus, entramos em contato com Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A coordenadora de pesquisa clínica na UFRJ, Valéria Viana, esclareceu pontos relacionados à vacina Coronavac. O Comprova buscou ainda informações para identificar o médico americano citado pelo pastor, que “quase chorou” em audiência no Senado americano enquanto falava da suposta eficácia do medicamento em protocolos profiláticos. Já para checar os dados de casos e mortes por covid-19 nos países africanos citados pelo pastor, foi acessado o painel de monitoramento de casos e mortes de covid-19 da Universidade Johns Hopkins. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de dezembro de 2020. Verificação Covid na África e a ivermectina O pastor também cita o número relativamente baixo de mortes provocadas pela covid-19 em países africanos como Nigéria, Angola e Moçambique. Segundo Malafaia, o uso em massa da ivermectina para tratamento de verminoses seria a causa dessa baixa mortalidade. De acordo com o painel de monitoramento de casos e mortes de covid-19 da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, os dados apresentados pelo pastor no vídeo são compatíveis com aqueles relatados pelos países africanos. Porém, especialistas afirmam que não é possível relacionar os números de covid-19 na África com o uso da Ivermectina. Além disso, eles chamam a atenção para a má qualidade das informações de vigilância em muitos países africanos. “O que se usou muito na África para prevenção e tratamento de verminoses foi o mebendazol e não a ivermectina. E os dados que ele coloca não são confiáveis, a gente tem poucos dados confiáveis da África. A vigilância epidemiológica é muito ruim para todas as doenças. Não dá para relacionar o uso de qualquer droga com essa mortalidade descrita na África”, pontua o diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, Alberto Chebabo. Um artigo da BBC aponta ainda outras variáveis que podem ter influenciado o número de casos e mortes por coronavírus no continente. Especialistas citam as inúmeras experiências com pandemias em anos recentes, um contato menor com outros países e até características demográficas (uma população bem mais jovem que na Europa, por exemplo). Em julho, o Comprova classificou como falso um vídeo segundo o qual a pandemia estaria controlada na África por conta da ivermectina. Em agosto, mostramos também ser falso outro vídeo que fazia a mesma alegação a respeito da Austrália. Ivermectina não tem comprovação “in vivo” Segundo Chebabo, não há recomendação para o uso de ivermectina na prevenção da covid-19 devido à ausência de estudos científicos publicados que deem embasamento para essa indicação. “Só temos dados in vitro de atividade da ivermectina na inibição do Sars-Cov-2 em culturas de células. A atividade in vitro não significa que a droga terá atividade in vivo”, explica o diretor que integra o Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento da covid-19 da UFRJ. Ainda segundo Chebabo, de cada 100 moléculas testadas com atividade in vitro, apenas uma chega na fase clínica com eficácia. O especialista destaca que não há pesquisa clínica que mostre a real eficácia da ivermectina. “Alguns [estudos] são observacionais ou com muita baixa qualidade e que não suportam a recomendação do uso da ivermectina tanto para prevenção quanto para tratamento”, completa o pesquisador. Portanto, não há evidência científica para a indicação do medicamento. O médico lembra ainda que a cloroquina também passou por essa fase de recomendação por conta da atividade in vitro, mas os estudos clínicos controlados não demonstraram a eficácia da droga contra a covid-19, e a utilização não é recomendada por entidades como a Organização Mundial da Saúde e a Sociedade Brasileira de Infectologia. “Ninguém mais fala em usar cloroquina a não ser alguns grupos aqui no Brasil. A gente aguarda resultados de estudos randomizados que estão sendo realizados com a ivermectina para avaliar se ela realmente tem ou não eficácia para ser recomendada como indicação de tratamento para covid-19”, explica. Contraindicação Em relação ao fato de a ivermectina não ter contraindicações, como assegura o pastor, Chebabo afirma que qualquer droga as possui, apesar desse medicamento específico ser seguro, com poucos efeitos colaterais. Ele explica que, quando o remédio é ingerido sem indicação, o paciente não só deixa de se beneficiar, já que não há eficácia comprovada, como passa a ter somente as desvantagens de um possível efeito adverso. Chebabo é enfático ao reiterar que não há nenhuma justificativa para se indicar a ivermectina. Em relação ao vídeo de Malafaia, ele chama a atenção para o fato de que o pastor recomendou o uso de um medicamento e que isso se configura em um exercício ilegal da medicina. De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), as sanções e punições só são cabíveis para o profissional médico ou estabelecimentos de saúde. O conselho só tem alcance com a população médica. Por isso, nesse caso, o pastor não poderia ser responsabilizado. A apuração sobre suspeitas de ilegalidade deve ser feita pelo Ministério Público e pela polícia. De qual médico americano ele fala no vídeo? Malafaia afirma no vídeo que um médico, “representando 2 mil médicos e cientistas que estão na linha de frente de combate à covid […] diante da comissão do Senado americano quase chorou clamando ‘por que não dar ivermectina pro povo como preventivo?’” Ele não cita nominalmente o especialista. Contudo, o Comprova apurou que o médico em questão é Pierre Kory, presidente da organização Frontline Covid-19 Critical Care Alliance (FCCCA). No último dia 8 de dezembro, ele foi ouvido na Comissão de Segurança Interna e Assuntos Governamentais do Senado americano – que realizou uma audiência sobre “Tratamento ambulatorial precoce: parte essencial de uma solução para a covid-19”. No vídeo, Kory aponta que a Ivermectina é “milagrosa” na prevenção e no tratamento da doença e que há “montanhas” de dados e estudos que comprovam essa afirmação. Segundo o site da FCCCA, eles são uma organização formada por dez médicos que tem o objetivo de revisar trabalhos e estudos publicados sobre remédios já existentes no combate ao vírus e publicar protocolos. Há dois tipos disponíveis no site, um para pacientes hospitalizados e outro para profilaxia da doença. Esse último inclui a ivermectina, mas também recomenda uso de máscara e distanciamento social. Brasil vai se vacinar com a Coronavac antes dos chineses? O pastor começa o vídeo questionando o porquê de o Brasil ser o primeiro país a se vacinar com a Coronavac, imunizante desenvolvido em parceria com a China, antes que o país asiático tenha vacinado a própria população. A vacinação no Brasil não teve início, no entanto. A Coronavac encontra-se, atualmente, na fase final de testes, que no Brasil é realizada em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. Na China, a Coronavac ainda não foi oficialmente registrada, mas é uma das diversas vacinas de companhias chinesas que receberam autorização do governo de Pequim para uso emergencial. Malafaia aponta ainda que as nações “do primeiro mundo” não estão utilizando a vacina chinesa. De fato, além do Brasil, apenas países como Turquia, Indonésia e Chile fizeram compras de doses da vacina através de acordo com a Sinovac e realizam atualmente a fase 3 de testes com o imunizante. Segundo informações até 17 de dezembro da Organização Mundial da Saúde (OMS), há atualmente 56 vacinas candidatas em ensaio clínico (sendo testadas em humanos). Entre elas, ao menos 13 foram desenvolvidas por companhias chinesas ou institutos de pesquisa da China. Uma, a Coronavac, tem acordo para distribuição no Brasil por ter sido feita em parceria com o Butantan. Quem é Silas Malafaia? Silas Malafaia, de 62 anos, é pastor e presidente da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) no Rio de Janeiro. Desde 2010, assumiu a liderança da igreja, que possui 35 mil membros, 118 templos no Brasil e três igrejas em Portugal, segundo informações no site da ADEVEC. É graduado em psicologia, autor de diversos livros e fundador da Associação Vitória em Cristo (AVEC), criada em 1982 com a finalidade de arrecadar fundos para o programa de TV Vitória em Cristo, lançado no mesmo ano. O programa é transmitido semanalmente pela Rede TV em rede nacional, e aos sábados em emissoras locais da Band, na Bahia e Espírito Santo. A AVEC possui uma rede de doadores que contribuem regularmente com quantias a partir de R$ 30 para manutenção do programa e de projetos sociais. Para essa rede, é produzida uma revista exclusiva chamada Fiel, ou seja, mais um canal de comunicação direto com seu público. Suas outras atuações estratégicas no campo da comunicação incluem a gravadora Central Gospel Music, uma das principais do segmento no país, e a Central Gospel, que já foi considerada segunda maior editora gospel do Brasil, mas em 2019 entrou com pedido de recuperação judicial no valor de quase R$ 16 milhões. Nas mídias sociais, seus perfis reúnem mais de 3 milhões de seguidores. Em março de 2020, logo no início da pandemia de covid-19, o coletivo Bereia publicou uma verificação sobre os posts e vídeos enganosos acerca do novo coronavírus postados pelo pastor. Em um dos posts, ele minimiza a gravidade da covid-19 comparando-a com a gripe H1N1 e ataca a ampla cobertura da imprensa sobre a doença. Sua postura em relação à pandemia está alinhada com a do presidente Jair Bolsonaro. Em suas postagens, é comum temas como acusações contra a China, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a defesa do uso da hidroxicloroquina e da ivermectina e questionamentos sobre a vacinação contra a covid-19. Em abril, o Facebook, o Instagram e o Youtube apagaram um vídeo publicado pelo pastor, no qual afirmava que a quarentena era “uma farsa”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Conteúdos falsos prejudicam o trabalho dos pesquisadores e diminuem a confiança das pessoas nas autoridades. A postagem no Facebook, publicada em 14 de dezembro, tinha 711 mil visualizações até o dia 16 de dezembro. No mesmo dia, o pastor publicou um tuíte com conteúdo similar. Até o dia 21 de dezembro, tinha 57 mil compartilhamentos. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/medico-e-empresarios-enganam-ao-desqualificar-medidas-protetivas-e-culpar-china-pela-pandemia/
COMPROVA
Médico e empresários enganam ao desqualificar medidas protetivas e culpar China pela pandemia
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2020-12-22
Em vídeo compartilhado pela deputada Bia Kicis, o médico Alessandro Loiola e os empresários Fabrizio Fasano Jr e Marcos Bellizia fazem afirmações sem sustentação a respeito de temas como máscaras e distanciamento social Conteúdo verificado: Vídeo publicado no Instagram por deputada federal com alegações sobre a pandemia. Existe justificativa científica que explique o período de isolamento por 14 dias para pessoas infectadas por covid-19, ao contrário do que afirma o médico Alessandro Loiola em um vídeo que circula pelas redes sociais. A definição sobre o tempo de isolamento para uma pessoa contaminada pelo novo coronavírus se baseia em estudos sobre o tempo de incubação do vírus, ou seja, o período do início da infecção até a carga viral se tornar alta o suficiente para retransmissão e manifestação de sintomas. No trecho do vídeo, que foi compartilhado pela deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), no Instagram, o médico é entrevistado pelo empresário Fabrizio Fasano Jr., apresentador do programa “Coliseum” no YouTube. Outro empresário, Marcos Bellizia, também participa da conversa. No programa, Loiola também afirma, de forma equivocada, que crianças são menos suscetíveis à contaminação pela covid-19 e que não são fontes de transmissão da doença. De acordo com informações disponíveis no site da Sociedade Brasileira de Pediatria, as crianças são tão propensas quanto os adultos a contrair covid-19, porém têm uma probabilidade menor de complicações graves e menos risco de morte, por isso não fazem parte do grupo de risco. No programa, Loiola também diz que a China estava preparada para a pandemia e que foi o país que mais lucrou com a crise sanitária – afirmações que são enganosas. De acordo com o relatório da Organização Mundial do Comércio, entidade que supervisiona as relações comerciais entre os países, a China já era o principal exportador de equipamentos de proteção individual, como máscaras e luvas, entre 2017 e 2019. Além disso, o PIB da China não cresceu 10%, como os participantes do programa afirmam, mas 4,9% no terceiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2019, como mostra esta reportagem do Valor Econômico publicada em outubro. Como verificamos? O Comprova procurou as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto ao uso de máscaras e período de isolamento, bem como a análise de especialistas e estudos científicos na área. Também consultamos os boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde para entender como a covid-19 afeta diferentes faixas etárias no Brasil. Entrevistamos o PhD em Microbiologia, na área de Genética de Bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, ICB-USP, Luiz Almeida, e o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil. Procuramos a Sinovac e a embaixada da China para comentar as alegações e insinuações feitas no vídeo, sobre a vacina desenvolvida contra a covid-19 e sobre supostos ganhos econômicos com a pandemia, mas, até o fechamento desta reportagem, não recebemos nenhuma resposta. Por fim, questionamos o médico Alessandro Lemos Passos Loiola, que aparece no vídeo verificado sobre o embasamento de suas afirmações. Não houve resposta até a publicação desta checagem. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de dezembro de 2020. Verificação Como ocorre a transmissão? O período de isolamento necessário para uma pessoa com covid-19 se baseia em estudos sobre a dinâmica de transmissão do novo coronavírus. Luiz Almeida, PhD em Microbiologia, na área de Genética de Bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, ICB-USP, explica que há um período em que a probabilidade de passar covid-19 para outra pessoa é maior: “Quando somos infectados, o vírus começa a se reproduzir em nosso corpo e leva alguns dias até que ele exista em quantidade suficiente para ser retransmitido. A probabilidade de transmissão é maior nos períodos em que a carga viral está elevada”. É neste momento, afirma Almeida, que os sintomas têm uma maior probabilidade de se manifestarem. O tempo de incubação é o período do início da infecção até a carga viral se tornar alta o suficiente para retransmissão do vírus e manifestação de sintomas. Cientistas estudaram especificamente o tempo de incubação do novo coronavírus. De acordo com Almeida, “este tempo de replicação viral, em média, é de quatro a oito dias após a infecção, sendo que temos relatos de alta carga viral em até 14 dias. Portanto, existe uma maior probabilidade de transmitir o vírus em até 14 dias após o início da infecção”. O biólogo ressalta que o tempo de incubação foi averiguado já no início da pandemia. Ele cita como exemplo este estudo publicado do The New England Journal of Medicine. O painel “A” da tabela abaixo detalha o tempo de incubação do SARS-CoV-2 (nome científico do novo coronavírus). Além do tempo de incubação, é importante entender o mecanismo de transmissão em si. A covid-19 é uma doença respiratória, como explica o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil. “Se uma pessoa estiver com a doença respiratória, ela fundamentalmente transmite através de gotículas de saliva ou por secreção nasal. Por isso é importante usar a máscara e o distanciamento”, acrescenta o professor. Assintomáticos transmitem? Os dois especialistas consultados pelo Comprova afirmam que uma pessoa sem sintomas ainda é capaz de transmitir covid-19. Kalil explica que “assintomáticos também podem transmitir a doença, porque eles têm o vírus nas fossas nasais e na garganta. Inclusive, a pessoa pode começar a transmitir o vírus dois dias antes de manifestar os sintomas”. De acordo com Almeida, a transmissão sempre depende do tempo de incubação, “que em média é o mesmo para pessoas com sintomas e sem sintomas”. O biólogo afirma que a principal diferença é o local do organismo onde o vírus se propaga. “Em assintomáticos, a gente vê mais em vias aéreas superiores, então não causa tantos sintomas severos quanto nos casos graves de covid-19, que acabam infectando o pulmão, as vias aéreas inferiores. Mas o tempo de transmissão, em hipótese, deve ser o mesmo”, esclarece Almeida. Isolamento e máscara de proteção O isolamento está relacionado ao tempo de incubação. A pessoa diagnosticada evita contato com outras pessoas pelo período em que há mais probabilidade de transmitir o vírus –ou seja, 14 dias a partir do momento em que ela própria contraiu o novo coronavírus. Como não é possível determinar o momento exato da contaminação, o prazo começa a contar a partir do diagnóstico positivo. Kalil lembra que “medicina não é matemática” e que cada caso é um caso. O fim das duas semanas não significa, necessariamente, que a pessoa deixou de transmitir o vírus. Se ela ainda manifesta sintomas, por exemplo, é provável que a carga viral ainda esteja alta o suficiente para infectar outras pessoas. Já o PhD em Microbiologia Luiz Almeida alerta que “em um mundo ideal, pessoas diagnosticadas com o vírus deveriam ficar internadas nos hospitais para acompanhar a evolução da doença e serem liberadas após o diagnóstico médico de que elas não são mais capazes de transmitir o vírus”. “Como não temos leito médico para todas as pessoas infectadas, quem for diagnosticado com o vírus deve evitar ao máximo o contato com familiares e parentes”, completa. Há recomendações específicas para o isolamento domiciliar –quando a pessoa diagnosticada com covid-19 precisa continuar na mesma casa que seus familiares durante o período de isolamento, como explica este guia do governo paranaense. Já a máscara de proteção funciona como uma barreira mecânica contra as gotículas que carregam o novo coronavírus. Ela é importante porque nem todas as pessoas infectadas manifestam os sintomas e, como Kalil afirmou, a transmissão pode começar antes mesmo dos primeiros sinais da doença. Segundo Luiz Almeida, “as máscaras impedem que parte das gotículas que carregam o coronavírus se dispersem no ar. Está muito bem documentado que uma nova infecção está relacionada e é diretamente proporcional à quantidade de partículas virais que ela é exposta”. Quanto maior for o número de partículas virais que você for exposto, maior a probabilidade de a transmissão ocorrer” aponta o biólogo. A proteção é proporcional ao tempo de uso da máscara. Quanto mais tempo usar, menor a probabilidade de contágio. Uma pessoa que remove a máscara só para comer em locais públicos estará mais protegida que aquela que não usa máscara em nenhum momento. A eficácia da máscara também está relacionada ao seu uso adequado. Crianças transmitem? Conforme informações do Departamento Científico de Infectologia, disponíveis no site da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), as crianças são tão propensas quanto os adultos a contrair covid-19, porém apresentam menos sintomas ou risco de desenvolver doença grave. Quer dizer que pessoas de todas as faixas etárias estão suscetíveis à doença. No entanto, como crianças têm uma probabilidade menor de complicações graves e menos risco de morte, não estão dentro do grupo de risco. Além disso, costumam apresentar poucos ou nenhum sintoma, o que não as impede de transmitir a doença. Na verdade, elas podem representar um importante vetor de transmissão. O risco é que a criança com covid-19 acabe contaminando outras pessoas de forma silenciosa, já que não chega a ser diagnosticada com o novo coronavírus. Estudo da Fiocruz ainda afirma que a “covid-19 sobre a saúde de crianças e adolescentes no Brasil, assim como em outros países da América Latina, tem potencial muito mais negativo do que o que vem sendo relatado em países da Europa e América do Norte”. Como a maioria das crianças infectadas não apresenta sintomas ou os sintomas são menos graves, o teste diagnóstico geralmente não é realizado na maioria dos casos, fazendo com que o número real de crianças infectadas seja menor. Ainda é incerto o papel das crianças no elo de transmissão do vírus. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, que apresenta a análise referente ao período de 26 de fevereiro a 05 de dezembro de 2020, do total de 974.032 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) hospitalizados com início de sintomas, 54,4% (529.549) foram confirmados para covid-19. Desse total, 13.276 (2,51%) são da faixa etária de 0 a 19 anos. Nesse intervalo, 10.448 (1,97%) casos ainda estão em investigação. Sinovac tem acordo assinado em pelo menos cinco países No vídeo, o empresário Marcos Bellizia diz que a vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan estaria sendo negociada apenas por “outros dois pequenos países”. Porém, além de já estar sendo aplicada na China em caráter emergencial, a Sinovac tem acordo com pelo menos outros três países, além do Brasil. No início deste mês, o ministro da saúde da Turquia, Fahrettin Koca, anunciou o início da vacinação com a CoronaVac. De acordo com a agência Associated Press, o acordo entre o governo da Turquia e a Sinovac Biotech prevê a aquisição de 50 milhões de doses da vacina. Em outubro, o governo chileno anunciou o acordo com a Sinovac para a compra de 20 milhões de doses caso o desenvolvimento seja bem-sucedido. De acordo com nota oficial, os estudos estão na fase três e mais de 400 voluntários já participaram do ensaio clínico da CoronaVac. No final de agosto, a Sinovac divulgou outros dois acordos com a PT Bio Farma, líder biofarmacêutica da Indonésia, para o fornecimento, produção local e licenciamento da tecnologia da CoronaVac. O acordo prevê o fornecimento da matéria-prima da vacina a granel para a produção de pelo menos 40 milhões de doses da CoronaVac até março de 2021; após o mês de março a Sinovac continuará fornecendo a quantidade necessária da vacina a granel até o final de 2021. A China e a pandemia No vídeo, os participantes do programa questionam a venda de equipamentos de proteção individual (EPIs) pela China durante a pandemia. Fabrizio Fasano, o apresentador, diz que o país asiático estava “misteriosamente, preparadíssimo”. E Loiola afirma que, no período da crise sanitária global, a China “conseguiu faturar mais vendendo máscaras do que o Brasil com a venda de soja, açúcar e frango”. De fato, a maior parte dos equipamentos de proteção individual usados em todo o mundo no contexto da pandemia – máscaras e luvas, por exemplo – foi produzida na China. Nenhum dos participantes do programa menciona, porém, que a China já realizava a maior parte das exportações de EPIs antes mesmo da pandemia. Um relatório da Organização Mundial do Comércio, entidade que supervisiona as relações comerciais entre os países, aponta que a China já era o principal exportador de equipamentos de proteção individual, como máscaras e luvas, entre 2017 e 2019. De acordo com o documento, de abril deste ano, as exportações realizadas pela China, Alemanha e Estados Unidos representaram mais de 40% do total. Se consideradas só as máscaras vendidas para outros países em 2019, a China foi responsável por um quarto da produção. Esta reportagem do New York Times explica que o governo chinês realizou diversos incentivos para produzir nacionalmente uma gama de produtos essenciais – e, provavelmente, deve dominar o mercado de EPIs mais uma vez, caso ocorra uma nova pandemia. Neste ano, de fato, somente a venda de máscaras pela China somou mais de US$ 40 bilhões, enquanto o Brasil exportou US$ 23,8 bilhões em soja, US$ 4,2 bilhões em carne bovina in natura e US$ 3,5 bilhões em açúcar bruto, alguns dos principais produtos brasileiros no mercado internacional. Mesmo com a grande participação dos produtos chineses no fornecimento, o aumento da demanda impactou o setor como um todo. Em 2020, o mercado brasileiro de EPIs hospitalares também cresceu. Os indicadores da Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg) mostram que a expectativa de evolução do mercado nacional de máscaras descartáveis, por exemplo, é de um aumento de 278%, em relação ao ano passado. Para os representantes do setor, só não houve um crescimento maior, especialmente em dólares, porque o governo proibiu a exportação dos EPIs voltados para a área hospitalar, para garantir o atendimento à demanda interna. Além disso, é importante ressaltar que a China não estava “preparadíssima” para atender à demanda que disparou com a pandemia. No primeiro semestre, a própria Organização Mundial de Saúde alertou para a falta de equipamentos de proteção individual em vários países. No Brasil, boa parte dos profissionais de saúde denunciou a falta de EPIs nos primeiros meses da pandemia. Um levantamento da Associação Médica Brasileira mostra que houve registro de falta de máscaras, óculos, luvas, entre outros. Durante a entrevista, Alessandro Loiola fala sobre o aumento das fortunas dos que já eram ricos no Brasil e nos Estados Unidos e diz que, durante a pandemia, os bilionários chineses ficaram 40% mais ricos, ao mesmo tempo em que o PIB do país cresceu 10%. E completa, se dirigindo aos entrevistadores: “Você acha que esse pessoal que tem dinheiro e poder quer que isso pare?”. O PIB da China não cresceu 10%, mas 4,9% ao ano, no terceiro trimestre do ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, como mostra esta reportagem do Valor Econômico publicada em outubro. Procuramos a Embaixada da China no Brasil para falar sobre as insinuações feitas durante a entrevista, mas não obtivemos resposta aos e-mails enviados nos dias 10 e 14 de dezembro. Sobre o crescimento da economia chinesa durante a epidemia, o UOL publicou uma reportagem em março mostrando o impacto desta e de outras epidemias no país ao longo dos anos. O texto mostra que a economia chinesa de fato cresceu durante as epidemias, mas não só nelas: o PIB chinês não sofre uma queda desde 1976, de acordo com dados do Banco Mundial. Naquele ano, a economia encolheu 1,57%. Por isso, não é possível afirmar que o crescimento chinês esteja ligado às epidemias de H1N1 (2009), gripe aviária (2013), peste suína africana (2019) e coronavírus. Em abril deste ano, o então ministro da Educação Abraham Weintraub usou as redes sociais para ironizar a China e insinuar que o país sairia fortalecido da crise. A Embaixada da China no Brasil usou a conta oficial no Twitter para rebater a postagem de Weintraub, dizendo que “tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil”. Quem participa do vídeo? O médico Alessandro Loiola é natural de Vitória, no Espírito Santo, e atua como clínico-geral em São José dos Campos, em um consultório particular. Loiola apareceu em outra verificação recente do Comprova, que apontou que ele também é registrado como profissional no Conselho Federal de Medicina em Minas Gerais, nas áreas de cirurgia geral e proctologia. O médico tem dezenas de milhares de seguidores no Twitter e no Instagram, onde já fez diversas postagens relacionadas à pandemia de covid-19, falando em “riscos da vacina” e contra o uso de máscaras. O médico não tem um currículo cadastrado na plataforma Lattes. Em novembro do ano passado, Alessandro Loiola foi nomeado pelo então secretário de cultura, Roberto Alvim, como Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Inovação, do Departamento de Empreendedorismo Cultural, da Secretaria da Economia Criativa. Ele foi exonerado menos de dois meses depois, em janeiro de 2020, após a saída de Alvim da chefia da pasta. Além de desmentir que as vacinas sejam capazes de provocar danos genéticos, o Comprova também já classificou como enganosas outras afirmações dele sobre a eficácia das máscaras. O Programa Coliseum é apresentado no YouTube pelo empresário do ramo da gastronomia Fabrizio Fasano Jr. Membro da família Fasano, famosa pelos hotéis e restaurantes no país, Fabrizio já participou de reality shows culinários na TV aberta e fechada. Nas redes sociais, já se desentendeu com o apresentador Danilo Gentili, e já realizou várias postagens em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e questionando a gravidade da pandemia da covid-19. O terceiro participante do programa é o empresário Marcos Bellizia, empresário sócio da SG Consulting, de gestão empresarial. Ele aparece na lista de empresários apoiadores de Bolsonaro investigados no “inquérito da fake news”, do Supremo Tribunal Federal (STF). Contra Bellizia, foram cumpridos mandados de busca e apreensão pela Polícia Federal, por suspeita de financiar a organização de atos antidemocráticos e a divulgação de fake news, além de promover ataques virtuais contra o STF. Segundo matéria do Estadão, Marcos Bellizia também é “Ex-líder do movimento Nas Ruas, fundado pela deputada Carla Zambelli (PSL-SP), ajudou a organizar e a encorpar atos pró-Bolsonaro”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que viralizaram na internet sobre as eleições, as políticas públicas do governo federal e a pandemia da covid-19. Afirmações falsas ou fora de contexto, como as feitas por Alessandro Loiola no vídeo, são um risco para a população, que precisa de informações precisas para se proteger e diminuir as chances de contágio pelo novo coronavírus, por meio de medidas como o uso de máscaras. Acusações e insinuações sobre a China, no contexto da pandemia, também desviam o foco sobre a gravidade da doença, que já matou mais de um milhão e seiscentas mil pessoas no mundo, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. O trecho do programa Coliseum publicado pela deputada Bia Kicis no Instagram teve mais de 200 mil visualizações, e o programa completo, no YouTube, foi visto mais de 87 mil vezes. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C482&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/nao-ha-conhecimento-suficiente-sobre-imunidade-para-deixar-de-vacinar-quem-ja-teve-covid-19/
COMPROVA
Não há conhecimento suficiente sobre imunidade para deixar de vacinar quem já teve covid-19
null
2020-12-21
As respostas imunes causadas pelas infecções do novo coronavírus variam conforme diversos fatores e o real nível de imunidade de cada pessoa só pode ser descoberto por exames muito específicos e caros Conteúdo verificado: Tuítes sugerem que quem já teve covid-19 não deveria se vacinar e que técnicas usadas nas vacinas e resultados são desconhecidos É enganoso que quem já teve covid-19 possua imunidade celular e por isso não deveria tomar a vacina contra o novo coronavírus, como afirma uma sequência de tuítes publicada por uma pesquisadora. Segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, as respostas imunes causadas pelas infecções do SARS CoV-2 são muito variadas e apenas exames específicos de anticorpos neutralizantes e de células do sistema imunológico podem revelar o nível de proteção obtida pela infecção natural. Também não há qualquer evidência de que quem já teve a doença poderia ter uma “tempestade de citocinas” se tomar a vacina. A sequência de postagens também afirma que só existiriam dois tipos de vacina, o que não é verdade, já que, até o momento,10 técnicas diferentes estão sendo adotadas no desenvolvimento de imunizantes contra a covid-19, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). As mensagens ainda questionam se o leitor sabe qual o tipo de cada vacina, em uma aparente sugestão de que esses dados seriam desconhecidos, quando na verdade essas informações são repassadas pelos desenvolvedores e pela OMS. A autora também afirma que os resultados das vacinas não foram apresentados, o que não procede – quatro empresas já divulgaram os dados de eficácia de seus imunizantes. Como verificamos? Iniciamos a verificação pesquisando dados sobre os tipos de vacina em desenvolvimento contra a covid-19. Consultamos reportagens, sites de instituições como a Fiocruz, o Plano Nacional de Vacinação e a lista de imunizantes em fase clínica de estudos no site da OMS. Também buscamos informações em matérias jornalísticas sobre os testes do novo coronavírus e artigos científicos sobre os resultados de eficácia das vacinas até aqui. Entrevistamos o médico imunologista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, André Báfica, o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, Flávio Fonseca, e o especialista em microbiologia, virologia e desenvolvimento de vacinas de DNA vírus pela Fiocruz, Rafael Dhalia, para questionar pontos como a possível imunidade celular de quem já teve covid-19 e possíveis reações em caso de aplicação de vacinas. Pesquisamos informações sobre a autora das postagens em sites de busca e na Plataforma Lattes. Também consultamos a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) para confirmar o vínculo da pesquisadora com a instituição. Tentamos contato por e-mail com a autora das postagens, mas até a publicação desta checagem não tivemos retorno. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de dezembro de 2020. Verificação Quem teve covid-19 não precisa de vacina? Na primeira mensagem publicada, a autora afirma que já teve covid-19 e, por isso, teria imunidade celular contra a doença, sugerindo que não haveria necessidade de se vacinar. No entanto, o conhecimento sobre essa proteção gerada pela infecção ainda é um ponto incerto nos estudos sobre o novo coronavírus. Especialistas têm defendido que mesmo quem já teve a doença tome a vacina quando ela estiver disponível. O médico imunologista e professor da UFSC André Báfica, que também atua no desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus com base na bactéria usada na BCG, esclarece que para a infecção pelo SARS CoV-2 ainda não se sabe qual o índice de proteção que a infecção natural promove. Ele explica que em algumas situações, como da pneumonia causada pela bactéria Pneumococo, a vacina protege mais do que a infecção natural. Em outros casos, como a caxumba, a imunização pela infecção é mais duradoura do que a da vacina – embora desenvolver a doença ofereça risco de infertilidade para homens. No caso da covid-19, o professor esclarece que há muita variação na resposta imune causada pelas infecções. E saber quem eventualmente já teria obtido proteção natural não é tarefa fácil. Os testes rápidos detectam apenas quem já teve contato com o vírus. Para saber a proteção real que a pessoa tem contra o SARS CoV-2, é preciso identificar se essa exposição gerou a criação de anticorpos neutralizantes, aqueles que são capazes de impedir o vírus de ingressar na célula humana, ou mesmo se há presença de células T (ou linfócitos T) específicas, mencionadas pela autora na postagem. Essas células T fazem parte do sistema imunológico, ajudam na resposta antiviral e são também associadas à imunidade contra a covid-19 porque alguns pacientes podem produzir pouco ou nenhum anticorpo, mas alcançaram imunidade por meio das células T. No entanto, identificar o nível dessas duas formas de proteção em cada pessoa só é possível com exames mais elaborados e complexos. “Tem maneiras de a gente saber, mas essas maneiras são muito caras, feitas em laboratório altamente especializado, para medir o nível de resposta imunológica das células T e o nível de anticorpos neutralizantes. Isso custa caro, muito mais caro que uma dose de vacina”, afirma o professor Báfica. Assim, se a eficácia de uma vacina for de 90%, explica Báfica, a cada 100 pessoas que receberem as doses, 90 estarão imunizadas, ao passo que pela infecção natural não se sabe a proporção de pessoas que estariam protegidas. Por conta disso, a recomendação de especialistas de saúde pública é para que todos tomem a vacina, para garantir a máxima imunização. A padronização na resposta imune proporcionada pela vacina é outra vantagem indicada. “Há uma chance de que quem teve a doença não precise ser vacinado? Tem uma chance? Nesse momento tem. Dá pra falar que essa pessoa não precisa de vacina? Não, não podemos falar isso. Até o momento, vai ser muito mais barato as pessoas tomarem a vacina, que a gente sabe que é segura, do que fazer um teste para saber se você vai ou não precisar dela”, explica. O virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, Flávio Fonseca, explica que a mecânica da imunização gerada pela infecção citada no tuíte é correta, mas confirma que uma das grandes lacunas de informação que se tem hoje é sobre a longevidade dessa resposta imune e o quão eficaz ela é. Um exemplo disso são os casos de reinfecção que vêm sendo registrados. Segundo ele, assegurar que todos que tiveram covid-19 possuem essa proteção desconsidera até mesmo a grande variabilidade de resposta imune de uma pessoa para outra. “Se a gente tivesse uma resposta clara de que a pessoa que se infectou está protegida, igual na catapora, ótimo. Não é o caso, a ciência ainda não conseguiu arregimentar essas informações, então é irresponsável da parte de uma pessoa vir publicamente informar isso”, aponta. Procurado pelo Comprova, o especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA vírus pela Fiocruz, Rafael Dhalia, confirma que estudos mostram queda abrupta de anticorpos após três meses de infecção e que, embora a resposta celular ocorra com a infecção, “se a imunidade celular por si só conferisse total proteção, não existiriam casos de reinfecção pelo SARS CoV-2”. Tempestade de citocinas A autora também sugere que, caso quem já teve covid-19 tome a vacina, poderia ter uma tempestade de citocinas ao entrar em contato com o vírus ou partículas do vírus que pudessem estar presentes nas doses, e que isso poderia levar até a morte, a depender da intensidade. O médico infectologista e professor da UFSC diz que não há nenhum dado de nenhuma vacina que confirme esta afirmação. Tempestade de citocinas é o nome dado a uma espécie de desequilíbrio na resposta imune, quando o sistema inflamatório do corpo não consegue parar de atuar e acaba causando danos ao próprio organismo. Estudos analisam possível relação desse fenômeno com a alta mortalidade decorrente de covid-19. Báfica explica que as tempestades de citocinas só têm sido vistas em parte dos pacientes que precisam ir para a UTI, na forma grave da doença. Em geral, pessoas com doença prévias e que representariam menos de 20% do total de casos. Além disso, muitas das vacinas em desenvolvimento, como a da farmacêutica norte-americana Pfizer em parceria com o laboratório alemão BioNTech, que usa método de RNA mensageiro, não utilizam partes do vírus na composição, apenas um código genético que induz as células a produzirem uma proteína característica do coronavírus. Flávio Fonseca, da UFMG, também diz que essa relação entre vacina e possível risco a quem já se infectou é incorreta. Ele explica que o mecanismo imune gerado pela vacina é diferente do que é desencadeado pela infecção, situação em que o vírus pode inclusive alterar a capacidade de resposta imunológica do corpo. “A resposta ao vírus é uma coisa, a resposta à vacina é completamente diferente. Nenhuma das vacinas é composta pelo vírus vivo. Ou é uma vacina de RNA, ou de adenovírus, ou de vírus morto ou que contém uma proteína do SARS CoV-2. Então, a circunstância da vacinação é outra. Ela gera anticorpos e células de defesa contra o coronavírus, mas num ambiente global de resposta imune completamente diferente da resposta ao coronavírus”, detalha. Rafael Dhalia, da Fiocruz, diverge e diz que há possibilidade de uma resposta exacerbada (a tempestade de citocinas) quando alguém já infectado entrar em contato com o vírus, mas diz que isso pode ocorrer também em caso de sucessivas infecções naturais ou por vírus relacionados (outros coronavírus). Segundo ele, o fenômeno, chamado de ADE, é comum com a dengue e vem sendo estudado no caso da covid-19. Sobre essa ocorrência no contato com as vacinas, ele cita que a vacina da Sinopharm, por exemplo, já foi aplicada de forma emergencial em mais de 1 milhão de chineses e que até o momento não há relatos dessa resposta exacerbada ou tempestade de citocinas em imunizados. “Não tomar nenhuma vacina não parece ser uma boa opção, até porque tudo indica que a infecção por SARS-CoV-2 não confira imunidade protetora duradoura, o que significa que não atingiremos a imunidade de rebanho pela simples infecção natural pelo vírus”, afirma. Dez tipos de vacina Ao contrário do que diz a autora das postagens, não há apenas dois tipos de vacina. As vacinas atenuadas, que contêm o vírus vivo, mas enfraquecido, e as inativadas, feitas com o vírus morto ou inativado por processo químico, são citadas por ela e são duas das formas mais conhecidas de imunizantes em geral, mas há outras tecnologias sendo empregadas no desenvolvimento de imunizantes contra a covid-19. Segundo a relação de vacinas em fase clínica de estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS), há 10 estratégias diferentes em utilização pelos desenvolvedores das 56 vacinas candidatas até 17 de dezembro, nas fases 1, 2 e 3 de estudos clínicos. Dessas, apenas uma usa o método com o vírus vivo atenuado. Um desses 10 métodos usados são as chamadas vacinas de subunidades, que em vez de trabalhar com o vírus inteiro, atenuado ou inativado, utilizam apenas uma parte dele, como uma proteína, para ativar a produção de anticorpos por meio dos imunizantes. O site da Fiocruz traz explicações sobre esses três tipos de vacinas. Outra estratégia em uso são as vacinas de vetor viral não replicante, em que outro vírus incapaz de se reproduzir no organismo, em muitos casos um adenovírus, é utilizado como vetor, para “transportar” o gene da proteína spike do SARS-CoV 2, responsável por permitir a entrada do coronavírus nas células humanas. É dessa forma que esse método de imunizante induz a produção de anticorpos. Além disso, a corrida pela vacina também acelerou as pesquisas das chamadas vacinas gênicas. Em vez de utilizarem o vírus ou parte dele, essa modalidade faz uso apenas de um código genético que é capaz de fazer as próprias células do corpo humano produzirem a proteína spike, existente no coronavírus. A partir daí, o organismo é acionado para desenvolver anticorpos contra essa substância, e em caso de uma futura infecção, o corpo já saberá como se proteger. É o caso das vacinas de mRNA, ou RNA mensageiro, como os imunizantes da norte-americana Moderna e da parceria Pfizer/BioNtech. Esta última foi a primeira a ser autorizada para uso em massa em um país ocidental e que já vem sendo aplicada no Reino Unido e nos Estados Unidos. No total, os 10 tipos de vacinas em teste, segundo a OMS, são: vírus vivo atenuado, vírus inativado, subunidade proteica, vetor viral não replicante, vetor viral replicante, DNA, RNA, VLP, além de outros dois tipos de vetor viral que combinam o uso de células de apresentação de antígenos. Publicação da Agência Brasil e edição de julho da revista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) explicam diferenças entre algumas das estratégias usadas na busca por vacinas contra a Covid-19. O Plano Nacional de Vacinação, apresentado esta semana pelo governo federal, também detalha esses métodos. Técnica de cada vacina é conhecida Também não é verdade que a população desconhece qual a tecnologia empregada no desenvolvimento de cada vacina, conforme sugerido na sequência de tuítes ao questionar “Vcs sabem qual delas está sendo produzida? Eu não!!!!”. Entre os quatro imunizantes com testes da fase 3 autorizados no Brasil, há três métodos diferentes. A vacina da Pfizer/BioNTech, como já dito, usa a plataforma de RNA. A CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac com o Instituto Butantan, é de vírus inativado. As vacinas da farmacêutica AstraZeneca com a Universidade de Oxford, da Inglaterra, e da Janssen usam a técnica de vetor viral não replicante. Segundo a lista da OMS, das 14 vacinas que estão na fase 3 dos estudos em todo o mundo, há seis métodos principais. Em quatro, os laboratórios utilizam o vírus inativado – Sinovac, Bahrat Biotech e dois imunizantes da Sinopharm. Duas, da Moderna e da Pfizer/BioNTech, utilizam tecnologia de mRNA e uma (Inovio) tem estratégia similar, de DNA. Outras quatro vacinas utilizam vetor viral não replicante (AstraZeneca/Oxford, Instituto Gamaleya, Janssen e Cansino), duas usam plataforma de subunidade proteica (Novavax e Anhui Zhifei Longcom) e uma (Medicago) usa plataforma com partículas semelhantes ao vírus, chamada de VLP (Virus Like Particle). Índice de erro nos testes A pesquisadora afirma nos tuítes que os testes apresentam de 20% a 70% de erros. Segundo o Conselho Nacional da Saúde, dois testes são mais recomendados para a detecção do novo coronavírus, o RT-PCR e os exames sorológicos IGG e anticorpos totais. Os testes do tipo RT-PCR são os mais recomendados pela OMS e identificam a presença do material genético do vírus no organismo a partir de amostras de secreções do nariz ou da garganta. Esse tipo de teste deve ser realizado entre o terceiro e sétimo dia de sintomas; fora deste prazo há uma maior chance de falso-negativo. Segundo artigo da Johns Hopkins Medicine, a porcentagem de falsos-negativos em testes RT-PCR é de pelo menos 20%, podendo variar de acordo com o tempo desde a infecção. Os cientistas ressaltam, entretanto, que o estudo possui limitações, como o fato de terem utilizado diferentes tipos de RT-PCR, e recomendam que mais estudos sejam feitos para identificar a precisão dos testes. Os exames sorológicos IGG e anticorpos totais identificam se a pessoa já produziu anticorpos contra o coronavírus, ou seja, indicam se já teve contato com o vírus. O resultado também depende do tempo desde a infecção, visto que o organismo pode levar alguns dias para produzir anticorpos, sendo na maioria das vezes entre o dia 10 e o dia 21 após a infecção. Segundo o Ministério da Saúde, os testes IGG utilizados no Brasil apresentaram de 95% a 100% de sensibilidade. Os chamados “testes rápidos” (IGA e IGM) estão sendo descartados pela comunidade científica e a OMS por conta da baixa eficácia nos resultados. Esse tipo de teste pode chegar a 75% de falsos-negativos. O diagnóstico da covid-19, no entanto, não deve levar em conta somente o teste, mas a análise de sintomas e, se possível, a utilização de testes conjuntamente. Tempo de desenvolvimento Em outro trecho do vídeo, a pesquisadora afirma que as vacinas levam tempo para serem produzidas, que “um estudo robusto leva em torno de 5 anos” e que “as vacinas atuais levaram um mês”. O Comprova já mostrou em outra verificação que tanto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto a Food and Drug Administration (FDA), órgão regulatório dos Estados Unidos, não estabelecem tempo mínimo para desenvolvimento de vacinas a serem aprovadas. O fundamental é que passem por estudos com três fases, comprovando segurança e eficácia. O médico imunologista e professor da UFSC acrescenta que novos desenvolvimentos de vacinas aproveitam o conhecimento acumulado de mais de 100 anos da ciência na fabricação de imunizantes. Além disso, os impactos da pandemia contribuíram para acelerar algumas etapas, como as análises de algumas agências regulatórias, sem deixar de garantir a segurança. Além disso, os testes das vacinas atuais não duraram um mês. A Pfizer, por exemplo, que teve autorizações recentes no Reino Unido e Estados Unidos, informa como 29 de abril a data de início dos estudos da fase 1 e anunciou a conclusão da fase 3 de estudos em novembro, o que corresponde a um intervalo de seis meses e meio. Duração da imunização A duração da proteção contra o novo coronavírus oferecida pela vacina, também citada pela autora da postagem, é de fato uma das principais dúvidas até o momento. Apesar disso, um estudo publicado no jornal The New England Journal of Medicine já revelou que voluntários da fase 1 da vacina da norte-americana Moderna continuaram registrando altos índices de anticorpos neutralizantes 119 dias após a vacinação – 90 dias após receberem a segunda dose. Os voluntários continuam sendo acompanhados para identificar a durabilidade da resposta imune. A notícia de que o imunizante proporciona pelo menos três meses de imunização foi repercutida por veículos como G1 e El País. Outras vacinas como a da Pfizer/BioNTech ainda não tiveram os dados de durabilidade divulgados. A tendência, segundo o médico imunologista e professor da UFSC, André Báfica, é de que só seja possível avaliar a longevidade da proteção das vacinas com o decorrer do tempo, em que os voluntários continuarão a ser avaliados. Rafael Dhalia, da Fiocruz, confirma que o tempo de proteção das vacinas em testes ainda não é conhecido e que isso requer que transcorra o tempo de estudo. “Agora, deixar esse tempo passar sem se vacinar e contar com a infecção do vírus como parâmetro de proteção individual com certeza não é uma boa avaliação da situação diante da escalada desenfreada do número de contaminações e mortes” aponta. Autora da postagem Em seu currículo Lattes, Cintia Tóquio Reis Gonçalves informa que é fisioterapeuta e doutora em patologia pulmonar pela Faculdade de Medicina da USP. A instituição confirmou por email que Cintia teve vínculo com a USP até 2019, nos cursos de doutorado e pós-doutorado. Entramos em contato com a autora, que não respondeu até a data da publicação. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo Coronavírus. Peças de desinformação sobre vacinas são prejudiciais porque diminuem a confiança da população nas autoridades e em campanhas de imunização, consideradas fundamentais para diminuir a mortalidade da covid-19 e desafogar o sistema de saúde. O conteúdo analisado teve mais de 15 mil interações, juntando todos os tweets. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-china-nao-usara-suas-proprias-vacinas/
COMPROVA
É falso que China não usará suas próprias vacinas
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2020-12-18
A China já usa suas próprias vacinas em grupos de profissionais em alto risco e há ao menos 13 imunizantes em desenvolvimento no país. Além disso, chineses aguardam os resultados da fase 3 da Coronavac que, no Brasil, estão sendo realizados pelo Instituto Butantan. Conteúdo verificado: post afirma que China comprou 1 bilhão de doses de vacinas da Austrália e que não usará vacinas de seu próprio país. É falso que a China tenha comprado um bilhão de vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento na Austrália e não vá usar nenhum dos imunizantes produzidos por seus laboratórios e universidades. As afirmações foram feitas originalmente em uma postagem do Facebook que atingiu mais de 22 mil compartilhamentos desde o último dia 17 de dezembro. Nesta semana outras páginas e perfis replicaram as informações falsas. Há ao menos 13 vacinas em desenvolvimento no país e o conteúdo verificado desconsidera que a China concedeu, desde novembro, autorização especial para que as vacinas da Sinovac e da Sinopharm – ambas desenvolvidas lá – sejam aplicadas na população do país considerada de alto risco, caso dos médicos e profissionais de saúde. Segundo a NPR, o processo se intensificou em novembro deste ano com a vacina da Sinopharm. Segundo a CNN, desde julho a Sinopharm está sendo aplicada em alguns trabalhadores de profissões de “alto risco”. A Coronavac teve parte de sua fase 3 realizada no Brasil, devido a um acordo entre o governo chinês e o Instituto Butantan. Segundo o governo do estado de São Paulo, o país asiático aguarda os resultados dos testes de eficácia e segurança realizados aqui, assim como Chile, Turquia e Indonésia. Na Austrália, uma parceria entre a empresa de biotecnologia CSL e a Universidade de Queensland, no norte do país, produziria milhões de doses da vacina. Porém, um efeito adverso nos testes freou o ensaio clínico e o governo australiano anunciou que irá reformular o plano de vacinação. A Austrália, então, encomendou mais doses da AstraZeneca, laboratório que desenvolve a vacina de Oxford e da Novovax, empresa de biotecnologia dos EUA. Como verificamos? Procuramos pela ferramenta de análise de redes Crowdtangle quando foram publicadas as primeiras postagens nas redes sociais – em português ou outros idiomas – com o boato. A primeira publicação é de 10 de dezembro no Facebook, de um paulistano, sem profissão identificada, chamado Diogo Oliveira Tão. Diogo não possui outras redes sociais públicas associadas ao seu perfil no Facebook. Entramos em contato com Diogo e procuramos informações sobre as vacinas em produção na Austrália, a partir de reportagens locais e dos sites das empresas biofarmacêuticas envolvidas com imunizantes para covid-19. Também buscamos na lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) todas as vacinas contra o novo coronavírus que já estão em estágio de ensaio clínico. Procuramos os sites dessas companhias ou entidades listadas para saber quais delas eram chinesas e se tinham relações conhecidas com o governo chinês. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de dezembro de 2020. Verificação Vacinas produzidas pela China Segundo o levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), atualizado no dia 17 de dezembro, há atualmente 56 vacinas candidatas em ensaio clínico (sendo testadas em humanos), enquanto 166 estão em estágio pré-clínico. Entre as vacinas que já estão em teste clínico, ao menos 13 foram desenvolvidas por companhias chinesas ou institutos de pesquisa da China. Apenas uma das vacinas desenvolvidas por chineses tem acordo para distribuição no Brasil: a CoronaVac, da Sinovac Biotech. O acordo com o governo de São Paulo prevê a importação e produção de 60 milhões de doses, e a tecnologia será transferida para o Instituto Butantan, que começou a produzir a vacina no início deste mês. Até março, o estado pretende ter 9 milhões de doses da CoronaVac, entre importadas da China e produzidas aqui. Além do Brasil, Indonésia, Turquia, Chile e a própria China pretendem usar a vacina. A China inclusive já concedeu autorização especial para que as vacinas da Sinovac e da Sinopharm – ambas desenvolvidas lá – sejam aplicadas na população do país considerada de alto risco, caso dos médicos e profissionais de saúde. Segundo o governo do estado de São Paulo, em coletivas de imprensa recentes, a China aguarda os resultados da fase 3 de testes para iniciar autorizações. Também segundo o governo paulista, o envio desses dados será feito no próximo dia 23. A China realizou as fases 1 e 2 dos testes da coronavac. Parte do acordo entre Instituto Butantan e a Sinovac Biotech incluiu que, uma vez que a fase 3 foi feita pelo governo de São Paulo, o preço pago por dose da vacina foi substancialmente abaixo em relação ao mercado internacional. [CORREÇÃO: Em 21 de dezembro de 2020, esse texto foi atualizado para corrigir a informação a respeito de onde são realizados os testes da fase 3 da Coronavac. Ao contrário do informado na versão original, que afirmava que os testes eram feitos apenas no Brasil, eles estão sendo realizados também no Chile, na Indonésia e na Turquia.] Vacinas da Austrália Uma das vacinas em fase de teste na Austrália foi desenvolvida pela empresa Commonwealth Serum Laboratories (CSL) em parceria com a Universidade de Queensland. O ensaio clínico envolvendo participantes começou em julho deste ano. Em setembro, o governo fez um acordo inicial para a produção da vacina quando estivesse pronta. No entanto, segundo a CSL, os anticorpos gerados pela vacina interferiram em resultados de exames. Em nota, o laboratório afirmou que não houve nenhuma reação adversa mais grave nos 216 participantes. Entretanto, os dados mostraram a geração de anticorpos direcionados a uma proteína da vacina e o sistema imunológico respondeu esses anticorpos alterando resultados como se fossem “falsos positivos”. Em conversa com o governo australiano, o laboratório decidiu suspender os testes. Autor da postagem Entramos em contato com o autor do post, ele alegou engano, no entanto, não deletou o conteúdo. Também não encontramos outras redes sociais do autor. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo Coronavírus. Conteúdos falsos prejudicam o trabalho dos pesquisadores e diminuem a confiança das pessoas nas autoridades. A postagem no Facebook teve 13 mil compartilhamentos em menos de uma semana e surgiram novas postagens com o mesmo conteúdo falso durante o crescimento da viralização. O Comprova já checou uma postagem que insinuava que a China não usará a própria vacina. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/nao-ha-comprovacao-de-que-vacina-da-pfizer-tenha-causado-paralisia-de-bell-em-voluntarios/
COMPROVA
Não há comprovação de que vacina da Pfizer tenha causado paralisia de Bell em voluntários
null
2020-12-17
Quatro casos foram identificados em um grupo de 38 mil voluntários testados com a vacina, mas não foram estabelecidas relações de causa e efeito com a vacina. A paralisia de Bell atinge de 20 a 30 casos em cada 100 mil pessoas por ano no mundo e, desses, 70 a 90% se recuperam completamente. Conteúdo verificado: Tuíte que afirma que vacina (da Pfizer) pode causar paralisia de Bell. É enganoso um tuíte afirmando que a vacina da Pfizer contra a covid-19 causa paralisia de Bell. Dos 38 mil voluntários dos testes com o imunizante, quatro tiveram a paralisia, porém, segundo a Food and Drugs Administration (FDA) – agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos que regulamenta o uso de medicamentos e vacinas no país -, não há evidências para afirmar que o distúrbio foi causado pela vacina. O comitê consultivo da FDA classificou o episódio como “evento adverso sem gravidade”. A vacina foi considerada segura, pois os eventos adversos sérios foram observados em menos de 0,5% dos voluntários. Os efeitos mais frequentes, contudo, não foram os mais graves, sendo os mais comuns a reação no local da injeção, cansaço e dor de cabeça. O imunizante já começou a ser aplicado no Reino Unido e nos Estados Unidos. A paralisia de Bell é ocasionada por uma lesão no nervo facial, cuja causa não é totalmente conhecida. Não é considerada grave pelos especialistas consultados pelo Comprova. Como verificamos? O Comprova buscou notícias na imprensa profissional de imunizantes que pudessem ter apresentado a paralisia de Bell como efeito adverso. Assim foi possível identificar que o tuíte se referia à vacina da Pfizer. Buscamos o documento produzido pelo comitê científico da FDA que avaliou segurança e eficácia do imunizante para aprovação do uso emergencial, para entender o que realmente foi dito pela agência sobre a paralisia de Bell. Depois, consultamos o neurologista Pedro Braga Neto, da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), para entender qual a gravidade da paralisia de Bell. Por fim, falamos com o doutor em Biologia Molecular pela Universidade de Cambridge, Rafael Dhalia, que atua como especialista em desenvolvimento de vacinas na Fiocruz. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de dezembro de 2020. Verificação O que disse a FDA sobre a vacina da Pfizer As farmacêuticas Pfizer e BioNTech solicitaram autorização de uso emergencial da vacina BNT 162b2 à Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória de medicamentos dos Estados Unidos. Tanto a FDA quanto o CDC (Centro de Controle de Doenças) aprovaram o pedido, e os norte-americanos começaram a ser vacinados na segunda-feira, 14. Para isso, as duas empresas entregaram os resultados de segurança e eficácia da fase 3 de testes, ainda em andamento, com cerca de 38 mil voluntários. O imunizante mostrou eficácia de 95%. A vacina foi considerada segura, uma vez que eventos adversos sérios foram observados em menos de 0,5% dos voluntários. No entanto, os efeitos adversos mais comuns foram outros, todos de menor gravidade: reação no local da injeção (84,1%), cansaço (62,9%) e dor de cabeça (55,1%). Um evento adverso inesperado chamou a atenção da agência reguladora. Entre os voluntários que tomaram a vacina, quatro tiveram a paralisia de Bell, enquanto a mesma condição não foi observada no grupo de placebo – pessoas que não tomaram a vacina e serviram como grupo de comparação com aqueles que tomaram. O comitê consultivo da FDA classificou a paralisia de Bell como “evento adverso sem gravidade”. Isso quer dizer que a vacina causou a paralisia? Para os especialistas da FDA, “não há clara evidência que permita concluir a relação causal” entre o imunizante e o desenvolvimento da paralisia facial. Também afirmam que o número de casos (4) é “consistente com o observado na população em geral”, isto é, em pessoas fora dos testes. “No entanto, a FDA recomendará vigilância de novos casos em vacinados na população em geral.” As quatro pessoas desenvolveram a síndrome de 3 a 48 dias após tomarem a vacina. Este último caso não mais apresentava a paralisia três dias após o aparecimento dela. Os outros aparentavam estar se curando no momento em que o relatório foi elaborado. Como a vacina da Pfizer funciona A vacina das empresas Pfizer e BioNTech utiliza uma tecnologia inovadora que introduz nas células humanas uma parte da informação genética do novo coronavírus (SARS-CoV-2) responsável pela produção de um antígeno viral. Dessa forma, as células passam a produzir esse antígeno, que será reconhecido pelo sistema imunológico da pessoa que recebe a dose e motivará a produção de anticorpos que protegerão o corpo contra o vírus. Este tipo de vacina já foi alvo de desinformação. O Comprova já desmentiu que algumas das vacinas em produção contra a covid-19 causariam danos irreversíveis ao DNA humano. No plano de imunização do governo Bolsonaro, entregue pelo Ministério da Saúde ao Supremo Tribunal Federal (STF) neste sábado, 12, as vacinas que utilizam RNA são descritas como seguras porque “não há integração do RNAm injetado ao genoma do indivíduo vacinado”. O que é a paralisia de Bell A paralisia de Bell é um distúrbio repentino ocasionado por uma lesão no sétimo nervo craniano, o nervo facial, cuja causa não é totalmente conhecida. É também chamado de paralisia facial periférica e ocorrem entre 20 a 30 casos para cada 100 mil pessoas por ano no mundo. Pode ocorrer em qualquer pessoa, mas é mais frequente na faixa etária de 15 a 50 anos. De acordo com o coordenador do Departamento Científico de Neurologia Geral da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e professor da UFC e UECE, Pedro Braga Neto, em alguns casos as lesões podem ser decorrentes de uma inflamação provocada pelo herpesvírus. “A grande maioria dos casos não tem uma causa esperada. Há relatos de outros vírus, além do herpes, que podem ser agentes causadores da paralisia de Bell. Há relatos, por exemplo, de paralisia facial periférica pelo coronavírus, como sintoma neurológico da infecção.” Os sintomas mais comuns são perda de movimentos de um lado do rosto, dificuldade de fechar os olhos, dificuldade de sorrir e realizar qualquer expressão facial no lado comprometido. “Além disso, pode haver dificuldade de lacrimejar os olhos, desconforto no ouvido e de sentir gosto do lado da língua afetada. Mas há um bom prognóstico, 70 a 90% dos pacientes se recuperam da lesão do nervo completamente”, explica o neurologista. A recuperação dos movimentos da face geralmente ocorre entre seis a oito semanas. Segundo Pedro Braga Neto, existem relatos na literatura médica de paralisia facial periférica associados à vacina, particularmente à imunização da influenza, “mas são eventos bem raros”, afirma. A paralisia de Bell não é considerada grave, explica o médico: “É uma doença autolimitada e que acomete exclusivamente o nervo facial. Pode gerar problemas de autoestima e psicológicos, devido a questões estéticas do rosto. Infelizmente alguns pacientes podem ficar com o rosto assimétrico, boca torta, etc como sequela do quadro.” O pesquisador da Fiocruz Rafael Dhalia usou palavras semelhantes para confirmar que a paralisia é “um evento raro”. Ele também admite que, “aparentemente pode ocorrer em decorrência de vacinação, com frequência muito baixa e sendo totalmente reversível. Pessoas com histórico de alergia e reações anafiláticas são mais propensas e devem, portanto, se vacinar sob orientação e cuidados médicos. Foram relatados apenas quatro casos em (quase) 40 mil voluntários, todos já recuperados. Portanto, desaconselhar a vacinação por esse motivo me parece um desserviço. Lembrando que a vacina da Pfizer vem mostrando bons resultados, foi aprovada pelo FDA para uso limitado e vários países liberaram inclusive para vacinação em massa”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova checa conteúdos virais suspeitos sobre a pandemia de covid-19 e políticas públicas do governo federal. A vacina da Pfizer chama atenção por ser o primeiro imunizante a receber autorização emergencial de grandes economias como o Reino Unido e os Estados Unidos, o que deu destaque para seus resultados e possíveis efeitos adversos. O tuíte checado teve ao menos 2,5 mil interações. Peças de desinformação sobre vacinas são prejudiciais porque diminuem a confiança da população nas autoridades e em campanhas de imunização, consideradas fundamentais para diminuir a mortalidade da covid-19 e desafogar o sistema de saúde. O Comprova já desmentiu publicações afirmando que as vacinas seriam iniciativa de redução populacional ou que a CoronaVac teria matado voluntários. O site e-farsas também desmentiu o conteúdo sobre o imunizante da Pfizer. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/vacinas-para-covid-19-nao-sao-capazes-de-provocar-danos-geneticos/
COMPROVA
Vacinas para covid-19 não são capazes de provocar danos genéticos
null
2020-12-16
Especialistas ouvidos pelo Comprova desmentem alegações de um médico em um vídeo publicado por deputado federal no Facebook. Os especialistas reforçam que não existem estudos científicos catalogados de que no futuro as vacinas contra o novo coronavírus possam causar câncer ou alterações genéticas em quem se imunizar. Conteúdo verificado: Vídeo publicado por deputado no Facebook no qual um médico afirma que as vacinas em desenvolvimento para a covid-19 e que utilizam as tecnologias de vetor viral, vacina de DNA e vacina de RNA mensageiro podem provocar danos genéticos potenciais em quem se imunizar. É falso que as vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 que utilizam como tecnologia vetor viral (adenovírus), vacina de DNA e vacina de RNA mensageiro possam provocar alterações genéticas ou câncer. É enganosa também a alegação de que as mesmas vacinas, para serem seguras, teriam de ser testadas durante 20 ou 30 anos. As afirmações foram feitas pelo médico Alessandro Loiola durante uma entrevista publicada em vídeo e compartilhada, na primeira semana de dezembro, pelo deputado federal do Rio de Janeiro Daniel Silveira (PSL) em seu perfil do Facebook. Ao contrário do que defende o médico na entrevista, não há provas de que haja um tempo mínimo para que uma vacina seja desenvolvida para que possa ser considerada segura. Do mesmo modo, não existem estudos científicos catalogados de que no futuro as vacinas contra o novo coronavírus possam causar câncer ou alterações genéticas em quem se imunizar. É válido reforçar que os imunizantes em desenvolvimento contra a covid-19 estão sendo testados em conjunto por laboratórios e instituições de pesquisa de várias partes do mundo, com o aval de órgãos regulatórios de diferentes países. Em entrevista ao Comprova, Rafael Dhalia, especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA vírus pela Fiocruz, lembrou que a eficácia demonstrada nos testes por essas vacinas que utilizam as tecnologias adenovírus e RNA mensageiro, ambas citadas pelo médico no vídeo verificado pelo Comprova, é de 92 a 95%. E que elas não têm apresentado efeitos adversos graves. Sobre as possíveis alterações genéticas, o Comprova já checou outros conteúdos semelhantes e, ao entrevistar especialistas como o virologista Flávio Fonseca, da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, constatou que não existem vacinas que tenham a capacidade de alterar o nosso material genético. Além disso, em outra checagem, o Comprova mostrou que todas as vacinas em teste no Brasil passaram pela fase pré-clínica. O Comprova entrou em contato por Facebook e e-mail com o deputado federal Daniel Silveira, que compartilhou o vídeo. Além disso, tentou contato com o médico que fez as alegações, Alessandro Loiola. No entanto, até a publicação desta verificação não obtivemos resposta. Como verificamos? Para esta verificação, primeiramente, entramos em contato com especialistas para tentar sanar dúvidas relacionadas às afirmações feitas pelo médico Alessandro Loiola durante uma entrevista. Dentre elas, esclarecer as diferentes tecnologias utilizadas nas vacinas em desenvolvimento e o que elas podem causar nas pessoas. Conversamos com Rafael Dhalia, da Fiocruz, com Gladys Prado, médica infectologista do Hospital Sírio-Libanês e parte da equipe de educadores da ONG Uneafro e com o virologista Flávio Fonseca, da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, que contribuíram com informações para que pudéssemos entender quais são as propostas da vacina, seus efeitos e a veracidade do conteúdo verificado. Em seguida, buscamos por registros com o nome de Alessandro Loiola no Conselho Federal de Medicina e por menções no Google a seu cargo como Coordenador-Geral do Departamento de Empreendedorismo Cultural, da Secretaria da Economia Criativa, da Secretaria Especial da Cultura. Fizemos também uma busca no Google com o nome do deputado federal Daniel Silveira, que compartilhou o vídeo no seu perfil do Facebook. Até o fechamento desta verificação, o deputado federal Daniel Silveira não havia respondido ao e-mail e nem à mensagem privada enviada na própria rede da publicação, como tentativa de contato pelo Comprova. Procurado por e-mail, Alessandro Loiola também não retornou. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de dezembro de 2020. Verificação No vídeo checado, além de o médico Alessandro Loiola afirmar que as vacinas poderão alterar o código genético e futuramente causar câncer, ele levanta outros questionamentos para tentar desqualificar as pesquisas e testes realizados para a vacina contra a covid-19 e diminuir a gravidade da pandemia, mesmo com a iminência de uma segunda onda do vírus e aumento significativo de casos. Na segunda parte da legenda do post, o deputado federal Daniel Silveira escreveu: “A estratégia sempre foi muito clara: ‘vamos espalhar o medo em escala global, e assim, podemos emplacar nossos experimentos como cura.’ Tecnologias utilizadas nas vacinas Durante a entrevista, Alessandro Loiola coloca em xeque a segurança de três tecnologias utilizadas em algumas vacinas em desenvolvimento contra a covid-19: utilização de vetor viral (adenovírus), vacina de DNA e vacina de RNA mensageiro. De acordo com o médico, por serem tecnologias novas e as vacinas nunca terem sido testadas em humanos, elas poderão provocar alterações no material genético das pessoas com consequências desconhecidas. Isso não é verdade. O especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA vírus pela Fiocruz, Rafael Dhalia, confirmou a utilização dessas novas tecnologias em algumas vacinas da covid-19. “No momento, na última fase de desenvolvimento [fase 3], temos quatro vacinas de vetor viral. A chinesa (Sinovac), a russa (Centro Gamaleya), a inglesa (AstraZeneca e Oxford) e a americana (Johnson & Johnson). E duas de RNA mensageiro, a americana (Moderna) e a americana/alemã (Pfizer e BioNTech)”. Ele disse também que nenhuma vacina de DNA entrou na fase 3 ainda e que a inglesa, produzida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, “foi a escolhida pelo governo brasileiro para a vacinação em massa caso venha a ser aprovada”. “Embora todas elas tenham como base o material genético do vírus, nas vacinas de vetor viral esse material é transportado para nossas células por um vírus deficiente, que não causa doença grave. Enquanto as vacinas de RNA são transportadas para as nossas células dentro de partículas lipídicas”, explicou Dhalia. O especialista da Fiocruz pontuou ainda que os resultados mais recentes divulgados das vacinas que utilizam as tecnologias adenovírus e RNA mensageiro, ambas citadas pelo médico no vídeo, “vêm demonstrando bons resultados de eficácia, entre 92 e 95%” e que “os dados de segurança não vêm demonstrando efeitos adversos graves”. “Resultados mais recentes da empresa Moderna (vacina de RNA) demonstraram, inclusive, que dos 95 participantes do estudo que tiveram covid-19, 11 evoluíram para as formas graves. Nenhum desses recebeu a vacina. Demonstrando que esta vacina parece proteger inclusive das formas mais graves”, completou. Para o especialista, “não é à toa” que o Reino Unido optou por começar a vacinação dos seus profissionais de saúde e idosos com as vacinas de RNA. E também, que a Rússia tenha iniciado a imunização pela vacina de adenovírus. “Uma análise técnica rigorosa por parte de especialistas foi com certeza realizada”, pontuou. A vacina pode alterar o material genético, DNA? No vídeo compartilhado, Alessandro Loiola afirma que a vacina pode alterar o código genético de quem receber as doses. No entanto, os especialistas entrevistados pelo Comprova afirmaram que esse processo não pode ocorrer. O virologista Flávio Fonseca, da UFMG, explicou que “nosso organismo está acostumado a receber uma quantidade de material genético estrangeiro enorme e nossas células sabem como lidar com esses materiais genéticos”. “No núcleo da célula tem várias enzimas que patrulham esse espaço corrigindo imperfeições no genoma e evitando que o material genético estrangeiro possa trazer algum problema. E isso é um resultado de milhões de anos de evolução para evitar que a gente seja sujeito a isso”, acrescentou. A médica infectologista Gladys Prado, do Sírio Libanês, explica que a vacina traz proteínas que estimulam o sistema imunológico enquanto nossos anticorpos reconhecem essas proteínas. Mas, quando uma pessoa é contaminada pelo coronavírus o processo é bem diferente: em vez de fortalecer o sistema imunológico, o vírus vindo da contaminação torna-se um “hospedeiro” e faz com que a célula trabalhe para ele. A vacina de vetor viral pode provocar câncer? Sem apresentar provas ou evidências, o médico no vídeo verificado diz ainda que “daqui há 30 anos poderemos ter uma epidemia de câncer”. Recentemente, o Comprova classificou como falso outro conteúdo que também sugeria que as vacinas em desenvolvimento contra o novo coronavírus que utilizam RNAs mensageiros poderiam causar câncer. Na ocasião, conversamos com a microbiologista Jordana Coelho dos Reis, que atua no Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Departamento de Microbiologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela reforçou que os RNAs que estão sendo utilizados nos testes para algumas vacinas não têm a capacidade de alterar nosso DNA e que, portanto, são seguros. “A gente pode confirmar com segurança, com pé no chão, tranquilamente que essas vacinas não representam um risco para câncer nesse sentido de alterar genoma, não tem a menor chance disso acontecer”. Quem é o deputado que compartilhou o vídeo Daniel Lúcio da Silveira, 38, é ex-policial militar e atualmente é deputado federal pelo Rio de Janeiro, filiado ao Partido Social Liberal (PSL). Em 2018, quando ainda era candidato, se notabilizou por quebrar uma placa em memória à ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em março do mesmo ano, como mostra esta reportagem do portal Uol. Neste ano, o parlamentar se tornou um dos alvos da operação da Polícia Federal no inquérito das fake news e na investigação da origem de recursos e a estrutura de financiamento de grupos suspeitos da prática de atos contra a democracia. Em agosto, a agência de notícias The Intercept Brasil publicou uma reportagem trazendo informações sobre o histórico policial de Silveira. A reportagem mostra que o ex-policial militar chegou a passar 80 dias preso no quartel entre os anos de 2013 e 2017. De acordo com a apuração da agência, “entre os motivos que levaram o deputado a ser detido tanto tempo estão mau comportamento, faltas, atrasos e, sobretudo, a gravação e postagem de vídeos ofensivos durante ações de patrulhamento”. Quem é o médico entrevistado no vídeo O entrevistado que aparece no vídeo é o médico vitoriense Alessandro Lemos Passos Loiola, 49, formado pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam), no Espírito Santo. Constam no site do Conselho Federal de Medicina (CFM) três registros em seu nome, em diferentes estados: Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. Isso é possível porque um médico precisa ter registro em cada estado onde atua. No seu estado de origem, a situação do registro de Loiola aparece como “transferido”. Já nos outros dois, os registros estão ativos. Nos conselhos regionais de Minas Gerais e Espírito Santo, constam como áreas de atuação médica a cirurgia geral e a proctologia ou coloproctologia. Em São Paulo não há indicação de especialidades. Ele tem mais de 49 mil seguidores no Instagram. Na descrição, está a seguinte definição: “escritor, palestrante, médico” e um link que direciona para um canal no aplicativo Telegram. Em um dos destaques do perfil contém um Stories com a frase “um canal para compartilhar ideias e reflexões censuradas pelos redbirds nas outras redes”. Na tradução livre “redbirds” significa pássaros vermelhos. Em sua conta no Twitter, com mais de 88 mil seguidores, há um link para um site que aparentemente tem como foco o público masculino. Ele contém publicações de Loiola abordando diferentes temas, dentre eles, assuntos relacionados à pandemia, como um texto em que ele fala sobre “os riscos da vacina” e outro em que se posiciona contra o uso de máscaras de pano. No site constam ainda cursos para discutir “as falácias esquerdistas”. Ambos os perfis têm postagens dele divulgando um livro de sua autoria, em que, na orelha, além de se apresentar como médico, ele menciona que foi, também, coordenador da Secretaria Especial de Cultura do governo federal. Em novembro de 2019, como mostra matéria do portal Metrópoles, Alessandro Loiola foi escalado pelo então secretário da cultura, Roberto Alvim, para se tornar coordenador de cultura. A nomeação para o cargo de Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Inovação, do Departamento de Empreendedorismo Cultural, da Secretaria da Economia Criativa, da Secretaria Especial da Cultura, foi assinada pelo então ministro do Turismo, Marcelo Henrique Teixeira Dias, mais conhecido como Marcelo Álvaro Antônio, e publicada no Diário Oficial da União de 27 de novembro de 2019. Menos de dois meses depois, ele e outros dois funcionários da Secretaria Especial da Cultura foram exonerados dos cargos também pelo ministro Dias. As exonerações foram publicadas no Diário Oficial da União no dia 24 de janeiro de 2020. Os três tinham sido nomeados pelo ex-secretário Roberto Alvim, que foi demitido dez dias antes, após fazer um pronunciamento oficial com referências nazistas, como mostra esta reportagem publicada por O Globo. Alessandro Loiola já foi foco de verificações realizadas pelo Comprova e em nenhuma delas foi encontrado um currículo do médico na Plataforma Lattes, que reúne pesquisadores do país. Em outubro o Comprova publicou uma checagem que comprovou que médico tirou de contexto dados de estudo para sugerir que máscaras são ineficientes. No mês seguinte, as declarações enganosas de Loiola que, inclusive, não participou da pesquisa sobre o uso de máscaras N95, foram usadas por uma deputada e novamente o Comprova constatou que o estudo recomendava o uso de máscara contra a covid-19. Recentemente, o Estadão Verifica, que participa do Comprova, publicou uma verificação sobre um vídeo que circulou no WhatsApp em que o médico fazia uma comparação entre tuberculose e covid-19, minimizando a gravidade da doença provocada pelo vírus. De acordo com a checagem, a comparação feita pelo médico ignora aspectos importantes de ambas as doenças. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados à políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, incluindo publicações que veiculam informações suspeitas relacionadas à vacina contra a covid-19. No caso deste vídeo verificado, a divulgação desse conteúdo é ainda mais grave, porque ele coloca em descrédito as vacinas que estão em desenvolvimento para conter o vírus que já tirou a vida de mais de 182 mil brasileiros, de acordo com os dados do Ministério da Saúde atualizados em 15 de dezembro. Nesta verificação, o vídeo com informações falsas foi publicado no Facebook e teve mais de 142 mil visualizações, até dia 15 de dezembro. Além de contribuir para o descrédito das vacinas, o conteúdo também desencoraja a população a se imunizar por meio da vacinação, o meio mais efetivo, segundo especialistas, para conter a covid-19. Na publicação o descrédito das vacinas se dá pelas diversas afirmações, sem apresentar outras provas, sobre “danos genéticos em potencial” que poderão ser provocados pelos imunizantes em desenvolvimento. Por isso, o Comprova tenta contribuir com o entendimento dos estudos sobre as vacinas, ouvindo especialistas e, assim, sanar dúvidas da população e aumentar a confiança das pessoas sobre as informações catalogadas nas pesquisas científicas. O Comprova já checou outros conteúdos falsos que também distorciam fatos e disseminavam medo entre a população em relação aos imunizantes. Recentemente o Comprova publicou uma verificação em que constatou que as vacinas não são uma iniciativa globalista para reduzir a população. Mostrou também que eram falsas as afirmações de um vídeo que dizia que médico teria morrido por conta de efeitos da vacina de Oxford e as alegações de um áudio de que as vacinas poderiam causar câncer, danos genéticos ou homossexualismo. Também mostrou que é enganoso dizer que expor a população ao vírus é melhor para acabar com a pandemia do que a vacinação, que todas as vacinas em teste no Brasil passaram por fase pré-clínica, ao contrário do que diz médico e que tuíte engana ao sugerir que vacina contra a covid-19 é desnecessária. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tuite-usa-afirmacoes-falsas-de-medico-canadense-para-negar-a-pandemia/
COMPROVA
Tuíte usa afirmações falsas de médico canadense para negar a pandemia
null
2020-12-16
Ao contrário do que alega um tuíte que reproduz afirmações inverídicas atribuídas a um médico canadense, a pandemia de coronavírus é uma realidade e os testes PCR são eficazes para detectar a presença do vírus. Conteúdo verificado: Post no Twitter com declarações atribuídas a médico do Canadá sobre a pandemia ser uma farsa, os testes RT-PCR não serem confiáveis e o distanciamento social ser inútil porque a Covid é espalhada por aerossóis. Não é verdade que a pandemia seja uma farsa, o distanciamento social, inútil e que os testes PCRs não sejam confiáveis, como afirma o perfil MarleneFFL no Twitter. A postagem usa declarações inverídicas feitas pelo médico canadense Roger Hodkinson e publicadas em um site chamado Day News. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, a pandemia de Coronavirus matou mais de um milhão e meio de pessoas no mundo. A OMS recomenda que as pessoas continuem com o distanciamento social, a utilização de máscaras e as medidas de saúde necessárias para evitar mais mortes e contaminações. Essas medidas são as únicas formas de evitar o coronavírus até a chegada da vacina. A OMS reconheceu que em alguns casos há transmissão por aerossóis, que são partículas bem menores que ao invés de se dissiparem, ficam no ar como “fumaça”. No entanto, a transmissão de aerossóis se dá em situações específicas. Portanto, é preciso manter todos os cuidados de higiene e distanciamento social. O Comprova consultou especialistas que trabalham no enfrentamento da Covid-19 e nos testes que detectam a presença de coronavírus. O teste RT-PCR é o teste molecular que procura no organismo a presença de Sars-Cov 2 (o agente causador da Covid). Porém, os testes não são os únicos recursos para diagnosticar a doença e fazem parte de um arcabouço de métodos ignorados na publicação. Além disso, dizer que a pandemia é uma farsa é ignorar o sofrimento de milhões de famílias que perderam pessoas e que ainda precisam continuar com as medidas de proteção. Como verificamos? Primeiramente, pesquisamos verificações que o Comprova já fez sobre declarações falsas e enganosas sobre a pandemia. Fizemos uma busca sobre Roger Hodkinson no site do Western Medical, e a biografia publicada lá diz que ele é formado na Universidade de Cambridge e foi professor da Universidade de Alberta, no Canadá. Enviamos email para essas duas instituições e somente a Universidade de Alberta respondeu. Encontramos um registro desse médico no estado de Alberta, Canadá. Conversamos por telefone com duas especialistas. A professora de Medicina da Universidade de Pernambuco (UPE) e pesquisadora do Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz, Ana Maria de Brito, que tem pós-doutorado em epidemiologia na Universidade de Berkeley, Califórnia, EUA (2011/2012), e a médica Marta Silva, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG). Entramos em contato com o site Day News, onde o conteúdo foi originalmente postado no Brasil, mas até o momento não houve resposta aos questionamentos enviados para o e-mail informado na página de “contato” do site. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de Dezembro de 2020. Verificação Enfrentamento da Covid-19 Os primeiros casos de Covid-19 foram registrados no mês de janeiro, na China. Até o dia 14 de dezembro de 2020, segundo a OMS, 1.608.648 pessoas morreram por Covid no mundo. Em junho, o FMI afirmou que os países gastaram US$ 10 trilhões para conter as consequências econômicas da pandemia. Um monitoramento do Tesouro Nacional mostra que a União gastou R$ 508,4 bilhões no combate à doença até o momento. Em verificação publicada em 7 de agosto de 2020, o Comprova já tratava das evidências científicas “indicando que o uso de máscaras reduz a quantidade de partículas virais que pessoas infectadas com a covid-19 expelem ao falar, espirrar ou tossir”. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) indica em seu site 19 artigos que foram publicados em revistas científicas atestando a efetividade das máscaras como parte da estratégia para controlar a pandemia. As declarações do médico canadense são de um áudio gravado em uma conferência na cidade de Edmonton, em Alberta, Canadá. O YouTube retirou esse áudio do ar, mas outro vídeo no Youtube comprova a existência desse médico e suas declarações. Medidas de segurança ainda são as únicas formas de prevenção contra a Covid-19, ao contrário do que afirma o médico. O novo coronavírus tem alta taxa de contágio. No dia 15 de dezembro, cada 100 pessoas contaminadas transmitiam o vírus para outras 113, portanto, a taxa é de 1,13. Esse número representa o avanço da doença que é transmitida pelo ar e pelo contato de superfícies contaminadas. Por isso, o uso de máscaras e o distanciamento social são necessários para evitar mais mortes e contaminações, e são recomendados pelas principais instituições científicas e de saúde, como a OMS, o Conselho Nacional de Saúde e a Fiocruz. “Dizer que a pandemia é uma farsa é um crime contra a humanidade”. É o que afirma a médica do Hospital das Clínicas da UFG, Marta Silva, que trabalha no monitoramento dos casos em Goiás. Para Marta, negar a existência do vírus é negar a morte de milhões de pessoas e, consequentemente, o sofrimento de muitas famílias que choram pelo seus mortos. A pandemia não é uma farsa “Excesso de mortalidade” é um conceito usado em epidemiologia e saúde pública que se refere ao número de mortes por todas as causas durante uma crise além do que se espera em condições normais. No caso da pandemia, é necessário saber como os números de mortes totais se comparam ao número médio de mortes no mesmo período nos anos anteriores. Vários estudos já foram publicados no mundo comprovando o excesso de mortalidade registrado em 2020. Esses estudos usaram apenas os dados da primeira onda da covid-19 na Europa e Estados Unidos, ou seja, sem contar sequer os mortos da chamada segunda onda, ainda em evolução. Em verificação de 27 de outubro, o Projeto Comprova citou três desses estudos disponíveis no banco de dados Our World in Data, mantido pela Universidade de Oxford com outros parceiros da comunidade científica internacional. No Brasil, o excesso de mortalidade está em 24%, de acordo com os dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), que indica 185 mil mortes a mais do que as 784.205 que eram projetadas inicialmente para 2020, caso não houvesse a pandemia. Testes PCR A professora e pesquisadora Ana Maria de Brito detalhou como funcionam os testes RT-PCR e apontou erros e imprecisões nas falas atribuídas a Roger Hodkinson. Segundo ela, esse teste é “considerado o padrão ouro para diagnosticar a covid-19 por identificar a presença do material genético do vírus na amostra de secreção respiratória [colhida no nariz e na garganta por meio do swab, semelhante a um cotonete]”. “O ideal é que seja feito na primeira semana de sintomas, de preferência não ultrapassando o 12º dia. É que nesse período a quantidade de vírus [carga viral] está mais elevada, o que permite detectar o RNA do SARS-CoV-2 na amostra analisada”, explica. O RNA, ou ácido ribonucleico, é uma molécula responsável pela síntese de proteínas das células do corpo. Sua principal função, portanto, é a produção de proteínas. Segundo a pesquisadora, se feito na janela de tempo correta, o exame tem alto grau de confiabilidade, acima de 90%, e dificilmente apresenta um resultado falso positivo. Porém, há possibilidade de apresentar resultados falsos negativos, não o contrário, como afirma o canadense”. Assim, como o RT-PCR amplifica a quantidade do material genético do vírus em uma amostra de secreção, quanto maior for a carga viral mais preciso será o resultado. A primeira imprecisão de Hodkinson seria a afirmação que os diagnósticos estão sendo feitos apenas pela testagem. “O diagnóstico de qualquer doença não é feito apenas pelos testes diagnósticos. Eles são mais uma ferramenta que os médicos utilizam e que se somam ao exame clínico com a constatação da presença de sintomas e exames de imagem. Os médicos sabem que quase nenhum teste diagnóstico é perfeito e todos podem apresentar erros”, informou Ana Brito. No Brasil, por exemplo, exames laboratoriais não são pré-requisito para confirmar diagnóstico de covid-19 desde junho. Quem é Roger Hodkinson? Roger G. Hodkinson é médico registrado no estado de Alberta, no Canadá. É CEO do Western Medical Assessments, uma empresa de consultoria médica, e aparece em um vídeo no YouTube apresentando os serviços prestados pela empresa. Uma checagem realizada pela Associated Press investigou a afirmação de Hodkinson de que a “covid-19 é a maior farsa já perpetrada contra um público desavisado”. Nessa mesma checagem, o Royal College of Physicians and Surgeons of Canada, instituição criada pelo parlamento que regula a educação médica do país, respondeu à equipe de checagem dizendo que ele, apesar de ser patologista desde 1976, não exerce e nunca exerceu nenhum cargo na instituição. Em nota publicada no dia 20 de novembro, o Royal College informou que apoia todas as medidas de segurança contra a Covid-19, incluindo o distanciamento social e o uso das máscaras e higienização das mãos. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Com a pandemia da covid-19, torna-se urgente o combate a informações que servem apenas para desorientar a população. A postagem no site Day News chegou a ter 20 mil interações, segundo a plataforma de monitoramento CrowdTangle. E no twitter o post teve 2,2 mil curtidas. Dizer que a pandemia é uma farsa, ou que a utilização de máscaras e o distanciamento social é inútil é relativizar as centenas de mortes que ocorreram, e ignorar as diversas comprovações científicas sobre a covid-19. O Comprova já verificou outros conteúdos que traziam informações falsas sobre a covid-19 e as formas de prevenção à doença, como a postagem que sugeria que o uso de máscaras poderia provocar o acúmulo de líquido nos pulmões e um tuíte onde um deputado usa dados imprecisos para colocar em dúvida a eficiência de medidas de distanciamento social. O Globo e o Boatos.org também já fizeram checagens sobre as falas de Roger Hodkinson. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-impossivel-que-vacina-cause-alteracoes-geneticas-dizem-especialistas/
COMPROVA
É impossível que vacina cause alterações genéticas, dizem especialistas
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2020-12-15
Não há nenhuma comprovação que vacinas contra a covid-19 possam modificar a composição genética das pessoas como alega um vídeo publicado no Instagram e no YouTube. Conteúdo verificado: Postagem no Instagram que afirma que “pessoas podem sofrer mutações após serem vacinadas” e que as vacinas são consideradas “organismos geneticamente modificados”. Não há nenhuma comprovação que vacinas contra a covid-19 possam modificar a composição genética das pessoas. Um vídeo publicado no Instagram e no YouTube afirma que “muitas vacinas são derivadas de células fetais” e que “o DNA do feto entra no corpo do receptor”, causando alterações genéticas. Essas alegações são completamente rechaçadas por especialistas ouvidos pelo Comprova em diferentes ocasiões e pela evidência científica disponível até o momento. Dois dos imunizantes contra o novo coronavírus — produzidos por Pfizer/BioNTech e Moderna — utilizam uma técnica nova, chamada de mRNA, que usa informação genética do vírus para ensinar nosso corpo a produzir uma proteína específica e criar anticorpos. Nenhuma vacina contém DNA de fetos. Alguns imunizantes usam culturas celulares para produzir um vírus atenuado, incapaz de causar doenças — vacinas contra febre amarela e sarampo usam essa técnica. Essas células podem ser cultivadas a partir de animais ou de material embrionário. Mas, como o Comprova explicou anteriormente, as células embrionárias não entram na composição da vacina e são desenvolvidas a partir de uma linhagem celular antiga. Como verificamos? Consultamos o pediatra, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) Renato Kfouri sobre as alegações ditas no vídeo analisado. Também utilizamos outras verificações anteriores publicadas pelo Comprova sobre o mesmo assunto. Acessamos documentos oficiais da Food and Drug Administration (FDA) sobre possíveis riscos da vacina produzida pela Pfizer/BioNTech. Pesquisamos estudos sobre associação entre narcolepsia e a vacinação contra H1N1 na Suécia e na Finlândia. Os links das fontes consultadas estão ao longo do texto. O vídeo foi publicado no perfil de Karina Michelin no Instagram e também em seu canal de YouTube. O Comprova entrou em contato com Karina por e-mail, mas não recebeu resposta. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de dezembro de 2020. Verificação Vacinas podem modificar nossa composição genética? Não há nenhuma possibilidade de que as vacinas contra covid-19 possam alterar nosso código genético — como já mostraram várias verificações publicadas pelo Comprova. O diretor da SBIm, Renato Kfouri confirma que a incorporação de um DNA estranho por meio de um imunizante é impossível. “Imagina, se fosse possível incorporar o DNA, seria uma guerra biológica”, diz ele. “Isso é uma bobagem enorme.” Duas das vacinas contra o novo coronavírus utilizam uma técnica nova, de mRNA (RNA mensageiro) — a da Pfizer/BioNTech e a da Moderna. O RNA mensageiro é uma molécula que todos temos no corpo. Ela leva informações até o núcleo das nossas células para produção de proteínas. Os laboratórios responsáveis pelos imunizantes produziram mRNAs sintéticos, que contêm uma parte da informação genética do novo coronavírus. No nosso corpo, esse RNA vai fazer com que produzamos uma proteína que alerta o sistema imunológico para criar anticorpos. “Por isso que essas vacinas são de rápida produção, não têm vírus vivo, não têm material vivo”, explica Kfouri. “Todo esse material genético se degrada muito rapidamente. Não há nenhuma incorporação, nenhuma possibilidade de esse material genético ser incorporado [pelo nosso corpo]”. Em agosto, Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), explicou que as vacinas mRNA são desenvolvidas de modo a não interferir com o DNA humano. “No caso das vacinas de mRNA, tudo é transparente, tudo é publicado”, disse ela. “Os dados estão aí para serem analisados. E um cara que faz uma alegação dessas basicamente não leu a literatura. É muito importante explicar para as pessoas que isso é impossível.” No início deste mês, o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG Flávio Fonseca disse que “não existe nenhuma vacina capaz de alterar o nosso material genético, nosso DNA”. Ele acrescentou que, apesar de estarmos constantemente expostos a material genético estranho (como vírus e bactérias), nosso DNA fica muito bem protegido dentro das células: “Ele fica dentro do núcleo, não fica exposto no citoplasma. E dentro do núcleo há uma série de enzimas que fazem, entre aspas, o patrulhamento da qualidade do nosso DNA para evitar exatamente que aconteçam mutações indesejadas”. Vacinas são derivadas de células fetais? No vídeo, Karina afirma que “muitas vacinas são derivadas de células fetais para as quais o DNA do feto entra no corpo do receptor”. Isso é falso. Como explicado anteriormente, os imunizantes usados atualmente contra a covid-19 usam a técnica de RNA mensageiro — e não DNA. Renato Kfouri explica que não há DNA de fetos nas vacinas. Alguns imunizantes usam o vírus atenuado ou inativado. Nesse caso, o laboratório usa culturas celulares, que são infectadas repetidamente até que a virulência seja reduzida. As células usadas nesse processo podem ter origem animal ou embrionária. Muitas vacinas amplamente utilizadas foram desenvolvidas por meio dessa metodologia: contra sarampo, rubéola e febre amarela. Em julho, o Comprova mostrou que a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford não usa células de fetos. Na realidade, as células foram retiradas de um feto abortado legalmente na Holanda nos anos de 1970 e desenvolvidas em laboratório a partir da imortalização — ou seja, a capacidade perene de divisão. Elas deram origem à linhagem de células HEK-293 (a sigla vem do inglês “human embryonic kidney”, ou seja, rim de embrião humano), que desde então é usada na indústria farmacêutica em todo o mundo. A tecnologia utilizada no imunizante de Oxford é de “vetor viral recombinante”, diferente da de vírus atenuado. A narradora do vídeo cita como fonte o Instituto Charlotte Lozier. Trata-se de uma insituição conservadora cujo presidente é ativista anti-aborto. FDA admitiu ‘riscos oncogênicos’ da vacina? A narradora do vídeo também afirma que a Food and Drug Administration (FDA), agência equivalente à Anvisa nos EUA, alertou para “riscos oncogênicos”, relacionados a câncer, das vacinas contra covid-19. Até o momento, o órgão sanitário aprovou apenas uma vacina para uso emergencial, produzida pela Pfizer e BioNTech. Os riscos potenciais associados a esse imunizante, segundo a FDA, incluem dor no local da aplicação, febre e cansaço. Na quinta-feira, 17, está marcada a próxima reunião do comitê avaliador da agência para analisar dados da vacina produzida pela farmacêutica Moderna. O Comprova não encontrou nenhum registro de que a FDA tenha alertado sobre “riscos oncogênicos” da vacina contra covid-19. Entramos em contato com a agência por e-mail, mas não recebemos resposta. Em outubro, o comitê avaliador de vacinas da FDA divulgou uma apresentação em que listava possíveis eventos adversos que seriam monitorados durante testes com imunizantes contra o novo coronavírus. A lista (página 16) não inclui câncer. Importante ressaltar que, embora a agência sanitária monitore a possível ocorrência de eventos adversos, isso não quer dizer que eles tenham ocorrido. Até o momento, não foram registradas reações negativas graves ligadas ao imunizante aplicado nos EUA. No início deste mês, a microbiologista Jordana Coelho dos Reis, que atua no Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Departamento de Microbiologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), disse ao Comprova que não há nenhuma possibilidade de que as vacinas que usam mRNA causem câncer. “A gente pode confirmar com segurança, com pé no chão, tranquilamente que essas vacinas não representam um risco para câncer nesse sentido de alterar genoma, não tem a menor chance disso acontecer”, disse ela. Vacinas são organismos geneticamente modificados? Karina afirma que muitas das vacinas testadas contra a covid-19 são de nova geração e foram consideradas “organismos geneticamente modificados” pelo Parlamento Europeu. A narradora do vídeo insinua que, por terem sido desenvolvidas em tempo recorde, as vacinas não seriam seguras. Mas não há nenhuma evidência de que isso seja verdade. O imunizante desenvolvido pelas empresas Pfizer e BioNTech, que utiliza a nova tecnologia de mRNA, teve o uso emergencial aprovado pela agência reguladora dos EUA, a FDA, que tem o “padrão ouro” do processo de autorização. Os testes clínicos da vacina evidenciam sua segurança e sua eficácia, de 95%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) garante que, apesar da rapidez com que as vacinas têm sido desenvolvidas, as pesquisas continuam a seguir os mais altos padrões de segurança. “Dada a necessidade urgente de vacinas contra a covid, investimentos financeiros sem precedentes e colaborações científicas estão mudando a forma como as vacinas são desenvolvidas”, diz a entidade. “Isto significa que algumas das etapas do processo de pesquisa e desenvolvimento têm acontecido em paralelo, mantendo, ao mesmo tempo, padrões clínicos e de segurança rigorosos”, informa a OMS. Em julho, o Parlamento Europeu aprovou uma medida para acelerar a produção de vacinas contra a covid-19, diante da emergência sanitária mundial. A normativa dispensou a exigência de alguns procedimentos para ensaios clínicos com imunizantes que usam organismos geneticamente modificados (GMO, na sigla em inglês). Os integrantes do Comitê de Meio Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar do Parlamento Europeu concordaram que havia a necessidade de adaptar as regras, mas enfatizaram que os padrões de qualidade, segurança e eficácia da vacina devem ser mantidos. GMOs são produtos de engenharia genética, uma tecnologia aplicada desde os anos 1970 para modificar aspectos de plantas, animais e microorganismos. Os tipos mais comuns de GMO são plantas modificadas, como milho, soja e algodão. Renato Kfouri explica que algumas pesquisas de vacinas contra a covid-19 utilizam uma tecnologia chamada de vetor viral, como a desenvolvida pela Universidade de Oxford, ou a produzida pela farmacêutica Janssen. “São vacinas que usam outro vírus, um adenovírus modificado geneticamente para carregar um pedaço do coronavírus”, diz o diretor da SBIm. “Não tem nenhum perigo. É a filosofia das vacinas: enfraquecer o vírus para proteger da doença”. Quem é o doutor Michael Yeadon? Karina cita ainda Michael Yeadon, ex-funcionário da farmacêutica Pfizer. Ela repete uma alegação de Yeadon já desmentida pelo Estadão Verifica e pela Agência Lupa — a de que não há necessidade de vacinação. A informação é falsa porque as vacinas foram fundamentais na erradicação ou controle de várias doenças no Brasil e no mundo. De acordo com o Ministério da Saúde, sarampo, poliomielite e tétano neonatal foram eliminadas; e outras doenças como difteria, coqueluche e tétano acidental, hepatite B, meningites, febre amarela, formas graves da tuberculose, rubéola e caxumba, foram controladas. Yeadon também espalhou a alegação falsa de que a vacina desenvolvida pela Pfizer e BioNTech contra a covid-19 poderia causar infertilidade em mulheres. Estadão Verifica e Agência Lupa desmentiram novamente o cientista — a substância que ele diz que poderia interferir no sistema reprodutor de mulheres não está presente na composição do imunizante distribuído no Reino Unido e nos EUA. O ex-consultor científico da Pfizer foi desmentido ainda pela agência de checagem americana Health Feedback. A verificação mostrou que, em entrevista a uma rádio, Yeadon fez várias alegações sem evidências de que a pandemia teria acabado no Reino Unido. Yeadon é co-fundador de uma pequena empresa farmacêutica chamada Ziarco e não trabalha na Pfizer pelo menos desde 2011. Qual a relação entre vacinação e narcolepsia? No vídeo, Karina também menciona que centenas de crianças e adolescentes vacinadas contra H1N1 na Suécia desenvolveram narcolepsia, um distúrbio que causa sonolência excessiva durante o dia. De fato, foi observada uma associação entre essa condição médica e a aplicação do imunizante Pandemrix em 2009, mas os casos foram raros. A Folha de S. Paulo mostrou em 2011 que a Europa restringiu o uso dessa vacina por causa do risco de narcolepsia. Mais de 31 milhões de doses foram aplicadas em 47 países. A GSK, farmacêutica responsável pelo imunizante, disse ter sido notificada de 335 casos do distúrbio, dois terços na Finlândia e na Suécia. De acordo com essa revisão das evidências disponíveis publicada na revista científica Vaccine em 2019, o mecanismo que levou a um risco aumentado de narcolepsia ainda não foi totalmente compreendido. Como a maior parte dos casos observados ocorreu na Finlândia e na Suécia, é possível que haja um risco maior nessas populações. “Parece haver uma suscetibilidade genética naquele grupo. E no restante do mundo não houve problema”, afirma Renato Kfouri. O Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) investigou em 2012 os dados de vacinação com a Pandemrix em vários países. Na Suécia e na Finlândia, foi encontrado um risco maior de narcolepsia na população de 5 a 19 anos, mas não em adultos. Nas outras nações analisadas (Dinamarca, Itália, França, Holanda, França, Noruega e Reino Unido), o mesmo risco não foi encontrado. O diretor da SBIm explica que, inicialmente, pesquisadores atribuíram a causa da narcolepsia ao adjuvante usado na vacina, o ASO3, uma substância nova. Adjuvantes são compostos adicionados aos imunizantes para potencializar a resposta imunológica do corpo. Estudos posteriores, no entanto, mostraram que o ASO3 é seguro e a substância continua a ser utilizada. Em 2018, pesquisadores do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) analisaram dados da Pandemrix e de outras vacinas que usaram o ASO3 e não encontraram associação com narcolepsia. Kfouri observa que é por isso que as vacinas continuam a ser monitoradas mesmo após a aprovação pelos órgãos de vigilância sanitária. É a chamada fase quatro dos estudos, de farmacovigilância. “Por isso há a importância de ter a vigilância desses eventos adversos, antes e depois do licenciamento”, disse ele. “Não só para vacina, mas para todos os remédios. Assim vamos construindo conhecimento”. Quem é Karina Michelin? Dona de um perfil no Instagram com 68,5 mil seguidores, Karina Michelin se apresenta como jornalista, atriz, apresentadora e poeta. O Comprova já checou um vídeo anterior de Karina em que ela comparava, erroneamente, o índice-H de pesquisadores ligados ao combate ao novo coronavírus. Esse índice é uma métrica que avalia a quantidade de citações de artigos científicos de um determinado pesquisador, e é equivocado comparar pesquisadores de áreas distintas e idades diferentes. Tentamos contato com Karina por meio de um e-mail disponível em sua página do Facebook, mas ela não respondeu. Após o início da apuração para esta verificação, o vídeo da jornalista foi marcado pela Agência Lupa como falso. A reprodução da mesma gravação no YouTube foi retirada do ar. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Com a covid-19, as informações relacionadas à pandemia precisam orientar a população sobre as doenças, como uma forma de minimizar os riscos de contrair o vírus. Ao fazer alegações falsas sobre os efeitos colaterais ou mesmo a segurança das vacinas, a postagem que chegou a 89, 5 mil visualizações no instagram, além de prestar um desserviço, apenas atrapalha em conter a disseminação da doença. O Comprova já verificou outros conteúdos que traziam informações falsas sobre a covid-19 como a que checou ser falso que vacina contra covid-19 cause danos irreversíveis ao DNA, assim como as vacinas contra a covid-19 não serão capazes de provocar danos genéticos nem vão monitorar a população e que o vírus não foi feito na França e vacinas não são uma iniciativa globalista para reduzir a população. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/vacina-que-teve-estudos-suspensos-no-peru-nao-e-a-mesma-testada-no-brasil/
COMPROVA
Vacina que teve estudos suspensos no Peru não é a mesma testada no Brasil
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2020-12-14
Site publica nota sem mencionar que não se trata da vacina testada no Brasil e que será produzida pelo Instituto Butantan, o que levou muitos leitores a se manifestarem contra a Coronavac nos comentários. Dois dias depois, o site editou o texto para incluir a referência ao laboratório Sinopharm. Conteúdo verificado: Texto publicado em site sobre suspensão de testes de vacina chinesa no Peru, que não menciona qual a empresa responsável pelo imunizante. É enganoso um artigo publicado pelo site Jornal da Cidade Online sobre a suspensão dos testes de uma vacina chinesa no Peru. O texto, publicado no sábado, 12, não mencionava em nenhum momento qual a empresa responsável pelo imunizante. Apenas nesta segunda-feira, 14, o link foi atualizado para incluir a informação de que a vacina suspensa é da Sinopharm, que não realiza ensaios clínicos no Brasil. É outra farmacêutica chinesa, a Sinovac, que produz uma pesquisa em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. A Sinopharm tem duas candidatas a vacina contra covid-19 na fase três de testes — uma em parceria com o Instituto Biológico de Wuhan e outra com o Instituto Biológico de Pequim. O imunizante que teve o estudo suspenso no Peru é testado nos seguintes países: Emirados Árabes Unidos, Barein, Egito, Jordânia e Argentina. O governo do Paraná chegou a firmar um acordo com a farmacêutica chinesa para testagem no estado, mas a parceria não vingou. Os testes da Sinopharm foram suspensos no Peru após um voluntário ter sentido fraqueza nas pernas. O Ministério da Saúde do país informou que ainda investiga se esse sintoma foi causado pela vacinação. No sábado, 12, o responsável pela pesquisa no Peru, Germán Málaga, da Universidad Peruana Cayetano Heredia (UPCH), disse à imprensa local que “há muito pouca probabilidade” de relação com o imunizante. Segundo o médico, o resultado da investigação sobre o evento adverso ficaria pronto em três dias. Os comentários da postagem do Jornal da Cidade Online no Facebook evidenciam que muitas pessoas entenderam que a vacina suspensa no Peru é a mesma produzida em São Paulo em parceria com o Butantan. “O (governador do Estado, João) Doria calça justa tem que tomar primeiro com a família dele e esquecer a população porque ninguém quer tomar essa droga de vacina da China”, escreveu um usuário. Procurado pelo Comprova, o site respondeu por email que fez uma atualização da matéria, informando que a vacina foi desenvolvida pelo laboratório Sinopharm. Como verificamos? Pesquisamos sobre a suspensão de testes da vacina chinesa na imprensa brasileira e peruana. Também procuramos posicionamentos oficiais do Ministério da Saúde do Peru e da Sinopharm, mas não conseguimos contato com a farmacêutica chinesa. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de dezembro de 2020. Verificação Qual é a vacina chinesa testada no Peru? A vacina da Sinopharm testada no Peru usa a tecnologia de vírus inativado e é produzida em parceria com o Instituto Biológico de Wuhan. Os estudos tiveram início em julho de 2020. Segundo divulgação do Ministério da Saúde do Peru, a Sinopharm iniciou os testes no país em setembro, com 6 mil voluntários e, em outubro, pôde duplicar a quantidade de pessoas submetidas ao teste. O mesmo texto afirma que, além da Sinopharm, a Johnson e Johnson também iniciou testes da fase 3 no país em novembro, com 3,5 mil voluntários. O governo do Peru até o momento informa ter acordo para aquisição de 9,9 milhões de doses da vacina da Pfizer, com uso já autorizado nos Estados Unidos, e mais 13,2 milhões de doses por meio da iniciativa de colaboração Covax Facility. A mesma vacina já foi aprovada pelo Ministério da Saúde dos Emirados Árabes Unidos. Lá, os estudos de fase três atestaram 86% de eficácia, de acordo com o órgão de saúde. A fabricante chinesa não divulgou dados sobre os testes. De acordo o plano de imunização do governo brasileiro, que lista todas as vacinas em fase três de testes no mundo, o imunizante da Sinopharm teve eventos adversos “leves e de curta duração, caracterizados principalmente por dor no local da aplicação e febre, sem registro de eventos adversos sérios”. Quais foram os sintomas do voluntário peruano? O pesquisador Germán Málaga, da UPCH, explicou ao jornal El Comercio, do Peru, que um voluntário de 64 anos teve fraqueza nas pernas depois de receber a vacina produzida pela Sinopharm. “Parece mais uma neuropatia diabética; no entanto, há uma possibilidade mínima de que tenha sido Guillain-Barré e por motivos de segurança o estudo foi suspenso”, esclareceu. A Síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune rara, que acomete de 1 a 4 pessoas a cada 100 mil habitantes. Um dos sintomas é justamente a fraqueza nos membros inferiores. Málaga acrescentou que a probabilidade de que haja relação com a vacina é “muito pequena”, porque o paciente tem diabetes mal-controlada há muitas décadas. “O paciente está bem, felizmente é um evento leve, o paciente está se recuperando, ele está em bom estado e todo o apoio está sendo dado a ele para recuperar sua saúde”, disse o médico. Segundo Málaga, as investigações sobre uma possível relação com o imunizante levariam 72 horas. Depois disso, os testes poderiam ser retomados. No Peru, 11,7 mil voluntários receberam doses da vacina chinesa. A decisão de suspender os estudos foi divulgada pelo Instituto Nacional de Saúde do Peru no dia 11 de dezembro. O Ministério da Saúde peruano apoiou a decisão em um comunicado no dia seguinte, em que informou que o evento adverso estava sob investigação. Segundo o órgão de saúde, a suspensão temporária é uma medida de segurança prevista pelo Regimento de Ensaios Clínicos. Qual a vacina chinesa testada no Brasil? No Brasil, a vacina é produzida por outra fabricante chinesa, a Sinovac Biotech, e é testada em parceria com o Instituto Butantan em 17 centros de pesquisa (página 65). Esse imunizante também usa a tecnologia de vírus inativado. Os testes chegaram a ser suspensos em novembro após a morte de um voluntário, mas foram retomados depois que a causa do óbito foi apontada como suicídio. A suspensão de estudos já ocorreu inclusive em testes de outros imunizantes, como a vacina da Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca, que teve estudos interrompidos após uma reação adversa relatada por um voluntário no Reino Unido, em setembro. Quatro dias depois, com a análise do caso, os desenvolvedores anunciaram a retomada dos testes. Os resultados de eficácia da fase três seriam divulgados até esta terça-feira, 15. No entanto, a divulgação foi adiada para incluir novos dados de voluntários infectados pelo novo coronavírus. É a terceira vez que o governo de São Paulo adia o anúncio desses dados. No sábado, o governador João Doria (PSDB) voltou a dizer que a previsão de início da campanha de vacinação no Estado é no dia 25 de janeiro. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Os conteúdos enganosos relacionados às vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 podem interferir na confiança da população em relação aos imunizantes e reduzir a adesão à vacinação quando o país tiver um plano de proteção implantado. A imunização das pessoas por meio de vacina é vista como a principal estratégia capaz de promover uma ampla proteção e encerrar a pandemia. Até a tarde desta segunda-feira (14), a publicação do Jornal da Cidade Online que não indicava qual vacina chinesa fora alvo de suspensão dos testes no Peru já havia sido postada mais de 500 vezes no Facebook, com mais de 88 mil reações, 53 mil compartilhamentos e 23 mil comentários, segundo dados da ferramenta CrowdTangle. A desinformação associando a CoronaVac à vacina que teve os testes suspensos no Peru também vem circulando em montagens de páginas no Facebook. Na tarde desta segunda (14), a plataforma já sinalizou o conteúdo como falso. O Comprova já verificou outros conteúdos que traziam informações incorretas sobre a covid-19 e a vacina chinesa desenvolvida pelo laboratório Sinovac, como a publicação que sugeria que um laudo descartaria suicídio como causa da morte de um voluntário da CoronaVac, outra que sugeria que o Instituto Butantan não teria informado a morte de um voluntário da vacina chinesa e outra que afirmava que a CoronaVac teria matado voluntários e causado danos neurológicos ou de DNA. Verificações também mostraram que é enganosa uma publicação que sugeria que a China não usaria a própria vacina contra covid-19. A publicação sobre a suspensão dos testes da vacina da Sinopharm no Peru também já foi alvo de verificações de outras agências de checagem, como a Aos Fatos e a Boatos.org. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
https://i0.wp.com/projet…=433%2C664&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/jornal-americano-nao-acusou-doria-de-receber-propina-da-sinovac/
COMPROVA
Jornal americano não acusou Doria de receber propina da Sinovac
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2020-12-14
A reportagem do Washington Post destacada por um youtuber apenas cita pagamentos ilegais feitos pela farmacêutica na China entre 2002 e 2011 Conteúdo verificado: Vídeo publicado por youtuber cita reportagem do The Washington Post e afirma que Doria teria recebido propina da farmacêutica chinesa Sinovac É falso que reportagem do jornal norte-americano The Washington Post tenha afirmado que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), recebeu propina do laboratório chinês Sinovac, como aponta um vídeo publicado no YouTube. O autor da gravação cita a publicação como fonte, mas a matéria jornalística aborda apenas pagamentos ilegais admitidos por um dirigente da farmacêutica a um ex-oficial da agência regulatória de medicamentos da China, entre 2002 e 2011. Não há menção a valores indevidos pagos em outros países, tampouco ao governador Doria. O autor também sugere que a China seria “dona” de 32 partidos políticos no Brasil, mas a legislação brasileira atual impede as legendas partidárias de receber recursos de organizações ou governos estrangeiros. O autor do vídeo é o youtuber Enzo Leonardo Suzin Momenti, que publica conteúdos favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O Comprova tentou contato com ele por e-mail. O autor respondeu com um link para um tuíte publicado por ele em que reafirma sem provas a acusação contra o governador João Doria e diz que essa seria sua “opinião como eleitor”. Como verificamos? Para verificar as afirmações feitas no vídeo, consultamos inicialmente a reportagem do The Washington Post que é citada pelo autor como fonte das informações, além de fazer buscas na internet para outros possíveis conteúdos relacionados a propina envolvendo Sinovac e João Doria. Pesquisamos também a legislação eleitoral sobre formas de financiamento dos partidos e ouvimos o presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB de Santa Catarina (OAB-SC), Paulo Fretta Moreira, sobre a possibilidade de doações estrangeiras às agremiações partidárias do Brasil. Por fim, consultamos reportagens que citavam o nome do autor do vídeo, como matérias sobre a operação da Polícia Federal no âmbito do inquérito das fake news, do Supremo Tribunal Federal (STF), a lista de filiação partidária no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e processos judiciais relacionados ao autor. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de dezembro de 2020. Verificação Reportagem do The Washington Post A reportagem que o youtuber faz menção foi um furo do jornal americano publicado em 4 de dezembro com o título (numa tradução livre): “Enquanto a China se aproxima de uma vacina contra o coronavírus, nuvem de suborno paira sobre a farmacêutica Sinovac”. (A leitura da reportagem pode exigir uma assinatura do jornal.) A reportagem sobre o laboratório chinês não menciona nem sugere envolvimento do governo de São Paulo, da figura de João Doria, o Instituto Butantan ou qualquer processo relativo ao desenvolvimento da Coronavac. O que o texto relata, com base em documentos de tribunais da China, é que o presidente da Sinovac, Weidong Yin, admitiu ter pago propina a um ex-oficial da agência regulatória de medicamentos chinesa entre 2002 e 2011 para acelerar a aprovação de vacinas no órgão governamental. Os eventos, portanto, são bem anteriores à pandemia de covid-19. O caso levou à abertura de uma investigação na Securities and Exchange Commission (SEC) – órgão que regula o mercado de capitais americano e é equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira – e no Departamento de Justiça dos EUA. Ao final da apuração, o caso foi encerrado sem que nenhuma responsabilidade ou sanção fosse atribuída à Sinovac. Enzo ainda afirma que “segundo o Washington Post, [a Sinovac] compra países emergentes e aplica a vacina naquela população antes mesmo de testar na população chinesa, como cobaias humanas”. Não há, em nenhum momento da reportagem, acusação semelhante. As propinas relatadas foram oferecidas a oficiais chineses. No vídeo também é alegado que João Doria é bilionário, o que não tem base factual. Nas eleições de 2018, o então candidato a governador declarou um patrimônio de R$180 milhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sinovac A companhia biofarmacêutica é a parceira do Instituto Butantan no desenvolvimento da vacina Coronavac. As duas instituições tiveram seu primeiro contato por meio da Rede de Fabricantes de Vacinas dos Países em Desenvolvimento, entidade que apoia o aprimoramento dos processos de produção de empresas de nações emergentes. Butantan e Sinovac são membros da entidade e eventualmente se encontravam nos eventos e reuniões anuais da aliança, que possui 41 fabricantes associados. A relação ficou mais próxima a partir de agosto do ano passado, quando técnicos do Butantan conheceram uma das fábricas da Sinovac em Pequim, durante missão do governo de São Paulo à China. A Sinovac teve faturamento em 2019 de 246 milhões de dólares e possui cerca de 900 funcionários. Vende, em média, 20 milhões de doses de seus imunizantes por ano, com 15% a 20% de market share na China. China e partidos políticos brasileiros Em um trecho do vídeo verificado, o youtuber afirma que “a China é dona dos 32 partidos que existem hoje [no Brasil], e se você tem alguma dúvida disso, você vive na La La Land”. Não fica claro na fala qual influência a China exerceria para ser “dona” de praticamente todos os partidos no Brasil (segundo o TSE, atualmente há 33 partidos com registro no país), se financeira ou de outra ordem. No entanto, a reportagem do The Washington Post citada como base para o vídeo não fala de doações ou propinas pagas no Brasil ou em outros países pela Sinovac – aborda apenas casos ocorridos na China. Além disso, partidos políticos no Brasil são proibidos de receber dinheiro de instituições ou governos de outros países. O Art. 17, inciso II da Constituição Federal estabelece a “proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes”. A Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 9.096/95) também veda o recebimento de recursos de origem estrangeira. O presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB de Santa Catarina (OAB-SC), Paulo Fretta Moreira, confirma que a legislação brasileira proíbe o recebimento de valores de organizações estrangeiras. “Esse tipo de recurso internacional, estrangeiro, não pode financiar partido político. Hoje em dia, o financiamento de partidos é exclusivo dos fundos públicos, o partidário e o fundo eleitoral para as eleições, e doações de pessoas físicas. Então nem pessoas jurídicas, nem organismos internacionais, ONGs, todas essas são fontes vedadas tanto para partidos políticos quanto para candidatos em eleições”, explica. O autor Enzo Leonardo Suzin Momenti é um youtuber apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Em seu canal no YouTube, que tinha 194 mil inscritos até 10 de dezembro, ele costuma compartilhar conteúdos a favor do governo Bolsonaro e ataques à imprensa, a governadores e a ministros do STF. Em maio de 2020, ele foi um dos alvos de buscas na operação da Polícia Federal que fez parte do inquérito das fake news. A investigação do STF apura notícias falsas, ameaças e ataques a ministros da corte e envolveu outros apoiadores de Bolsonaro. O inquérito está sob sigilo e não permite consulta aos despachos e manifestações. Apenas a decisão que autorizou as buscas está disponível até o momento. Um vídeo em que o âncora do Jornal Nacional, da TV Globo, William Bonner, cita o nome do youtuber em uma das reportagens sobre a investigação do STF viralizou nos dias seguintes à operação da PF. Na ocasião, o apresentador se referiu a Enzo como “um defensor da tese de que a Terra, o planeta Terra, é… plano”, fazendo gestos circulares e retos com as mãos. Enzo já publicou vídeos em seu canal defendendo o terraplanismo. Enzo é filiado ao PSL de São Paulo (SP), conforme o sistema de filiação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar disso, em 2018 ele tentou concorrer a deputado estadual em São Paulo com uma candidatura avulsa, sem filiação partidária. O pedido foi negado pela Justiça Eleitoral, porque a Constituição Federal prevê o vínculo com partido político como uma das condições de elegibilidade. Em um vídeo do próprio canal publicado em dezembro de 2019, Enzo disse que tinha “intenções de ser candidato à prefeitura” de Campinas, cidade em que estava vivendo na ocasião. No entanto, ele não disputou as eleições municipais de 2020. Outros processos Enzo e João Doria já estiveram em lados opostos antes do vídeo divulgado pelo youtuber. O governador de São Paulo moveu um processo judicial de indenização por danos morais contra Enzo em 2018. O político alegou que o youtuber teria o relacionado a atos ilícitos que nunca cometeu, “utilizando-se de narrativa com tom de clandestinidade e sensacionalismo”, segundo um trecho da decisão que consta na ação. Ainda segundo a manifestação da defesa, no vídeo ele usava termos como “mafioso” e “safado” ao se referir ao governador. Em novembro de 2018, o youtuber foi condenado em primeira instância a pagar R$ 50 mil como indenização a Doria. A defesa de Enzo chegou a recorrer ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), mas conseguiu apenas reduzir a indenização para R$ 15 mil. O processo atualmente está em fase de execução da sentença. Segundo a consulta processual do site do TJ-SP, já houve penhora de R$ 1,8 mil localizados pelo sistema bancário da Justiça, transferidos para uma conta vinculada ao processo. Enzo também foi alvo de uma ação do deputado estadual de São Paulo, Gil Diniz (sem partido), também conhecido como ‘Carteiro Reaça’. Nesse processo, Enzo não apresentou defesa e foi condenado a indenização de R$ 5 mil por danos morais, por ter chamado o parlamentar de “mafioso” e “corrupto” em um vídeo do seu canal do Youtube. No início de dezembro deste ano, o processo também entrou na fase de execução da sentença. Gil Diniz também apresentou uma queixa de calúnia, injúria e difamação, mas a solicitação foi convertida em um inquérito policial para melhor apuração dos fatos, que ainda segue em andamento. Além dessas duas ações, Enzo também é alvo de outro processo por danos morais no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Este é movido por Fernando Pinto (Patriota), que foi candidato a vereador em Resende (RJ) nas eleições municipais de 2020. Ele é irmão de outro youtuber de direita, Diego Rox. O Comprova tentou fazer contato com Enzo pelo e-mail indicado no canal dele no Youtube. Ele respondeu com um link para um tuíte publicado em 12 de dezembro. Na postagem, ele afirma novamente sem provas que Doria teria mentido sobre a eficácia da vacina da Sinovac e que, por isso, lhe caberia concluir que “é também por ter recebido proprina [sic]”. “Esse [sic] minha opinião como eleitor, não gostou? Me processe.”, diz o trecho final da mensagem. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Ao afirmar sem provas que uma das empresas que desenvolve uma das vacinas contra a covid-19 teria pago propina a um governante brasileiro e que isso poderia ter relação com a autorização para utilização do imunizante no território nacional, o vídeo, que teve 15,6 mil visualizações até o dia 11 de dezembro, pode aumentar a desconfiança da população com a segurança ou eficácia da proteção em desenvolvimento contra o novo coronavírus. Assim, poderia prejudicar a estratégia de imunização após a conclusão das vacinas, que é encarada como a principal forma de pôr fim à pandemia. Além do vídeo, diversas publicações, a maioria imagens com textos, que circulam desde 7 de dezembro no Facebook, também confundem o conteúdo da reportagem do The Washington Post e sugerem que a denúncia de propina relatada na reportagem tem relação com a CoronaVac, o que é falso. O mesmo vídeo com as acusações de Enzo contra João Doria foi verificado também pela Aos Fatos e pela Boatos.org. O Comprova já verificou outros conteúdos que traziam informações falsas sobre a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, como a publicação que sugeria que um laudo descartaria suicídio como causa da morte de um voluntário da CoronaVac, outra que sugeria que o Instituto Butantan não teria informado a morte de um voluntário da vacina chinesa e outra que afirmava que a CoronaVac teria matado voluntários e causado danos neurológicos ou de DNA. Verificações também confirmaram que é falso que Doria tomou vacina chinesa contra a covid-19 e que a parceria para a vacina não foi firmada pelo governador de São Paulo no ano passado. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/pacientes-com-lupus-nao-sao-imunes-ao-novo-coronavirus/
COMPROVA
Pacientes com lúpus não são imunes ao novo coronavírus
null
2020-12-09
O Comprova teve acesso a um estudo que mostra que pacientes com doenças autoimunes contraíram a covid-19. E especialistas dizem que, apesar da hidroxicloroquina ser eficaz no controle do lúpus, ela não interfere nos riscos dos pacientes de contrair ou não a covid-19. Conteúdo verificado: Post na rede social Twitter insinuando que pessoas com lúpus não “desenvolvem” covid-19. É falso que pessoas com lúpus não contraem a covid-19, como insinua uma publicação no Twitter. O post questiona por que os cientistas e a mídia não estão falando sobre isso, possivelmente relacionando ao fato de que o tratamento para lúpus envolve a hidroxicloroquina, medicamento que, mesmo sem comprovação científica de eficácia contra a covid-19, ainda é utilizado e defendido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. O Comprova conversou com especialistas que disseram não ser correta a relação de lúpus com a covid-19 e que, apesar da hidroxicloroquina ser eficaz no controle do lúpus, ela não interfere nos riscos dos pacientes de contrair ou não o novo coronavírus. Um estudo, coordenado por uma força-tarefa da Sociedade Brasileira de Reumatologia, e que está em processo de avaliação pelos pares, para ser publicado, aponta que os casos de covid-19 entre pacientes reumáticos, que usam o medicamento, ocorreram na mesma frequência que em pessoas que não fazem uso da hidroxicloroquina. Lúpus é uma doença autoimune rara que causa um desequilíbrio do sistema imunológico. A defesa imunológica se vira contra os tecidos do próprio organismo como pele, articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro. A hidroxicloroquina, um dos principais medicamentos utilizados no tratamento da doença, chegou a ter sua eficácia contra os sintomas graves da covid-19 estudada, mas as pesquisas realizadas em várias partes do mundo sugerem que a droga não tem efeito contra o novo coronavírus. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e diversas entidades médicas do Brasil não recomendam o uso para os pacientes com coronavírus, visto que não há resultados científicos que comprovem a funcionalidade do tratamento. Como verificamos? Tentamos contato com a autora da postagem no Twitter, @ValeriaBNews, para conferir as suas fontes a respeito da possível ligação entre os pacientes com lúpus e uma suposta “imunidade” ao novo coronavírus. O perfil não possibilita o envio de mensagens diretas, então enviamos as perguntas pelo perfil da mesma pessoa no Facebook e pelo contato de uma livraria da qual ela é proprietária. Como não tivemos retorno até o fechamento dessa verificação, analisamos as respostas ao tuíte original e vimos que a suposta conexão entre as duas doenças seria o uso contínuo de hidroxicloroquina – medicamento usado há décadas no tratamento do lúpus. Buscamos, então, informações de verificações anteriores do Comprova sobre a eficácia do fármaco no tratamento da covid-19, bem como reportagens sobre o tema. Além disso, entrevistamos, por telefone, o reumatologista, professor da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e coordenador da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia, que nos deu explicações sobre a doença. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de dezembro de 2020. Verificação No tuíte verificado, a usuária da rede social insinua que a mídia e os cientistas estariam ocultando a informação de que pacientes com lúpus não desenvolvem a covid-19 ao contraírem o novo coronavírus. Essa relação não é verdadeira. Lúpus O lúpus, segundo o coordenador da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Edgard Reis, “é uma doença autoimune, em que o organismo começa a produzir anticorpos e substâncias inflamatórias que vão atacar órgãos e tecidos do próprio corpo”. Geralmente, os “alvos” desses ataques são as articulações, algumas estruturas do sangue, do sistema nervoso central e dos rins, e eles podem ser desencadeados por diversos fatores, como infecções ou desequilíbrios hormonais. Como a hidroxicloroquina é usada em pacientes com lúpus? De acordo com o reumatologista Edgard Reis, a hidroxicloroquina é um medicamento utilizado há mais de 50 anos no tratamento de pacientes com lúpus para auxiliar no controle da doença e no controle do sistema imune do paciente. “Ela atua como um imunomodulador, ela vai ajudar a equilibrar o sistema imune do paciente. A hidroxicloroquina atua em estruturas da célula, que vão alterar o ph da célula e interferir em mecanismos inflamatórios da doença também”, explica o médico. O medicamento bloqueia os receptores de algumas células e diminui a resposta inflamatória. Que benefícios a hidroxicloroquina traz a esses pacientes? Há muita segurança dos especialistas em relação aos benefícios que a hidroxicloroquina confere aos pacientes com lúpus. De acordo com Edgard Reis, a medicação diminui a chance de a doença entrar em atividade e a frequência dos sintomas, além de melhorar lesões de pele e sistemas articulares. Também minimiza a evolução de sequelas da doença e o risco de morte do paciente. “Ou seja, aquele paciente com lúpus que usa a hidroxicloroquina vive por mais tempo do que aquele que não usa”, afirma Reis. A hidroxicloroquina também melhora o perfil de colesterol, propicia uma melhora na glicemia, diminui o risco de trombose e melhora a ação de outros medicamentos. “Ela age com sinergismo com outras medicações. A hidroxicloroquina, junto com outras medicações, ajuda a controlar melhor a doença também. Então, é uma droga muito importante, é uma medicação âncora, uma medicação base no tratamento da doença, a menos que o paciente tenha contraindicações para o seu uso”, completa. De acordo com o professor da Unifesp, essas contraindicações são poucas e não são absolutas, e estão mais ligadas a problemas cardíacos e oculares bastante específicos. Segundo ele, porém, é preciso fazer acompanhamento com um reumatologista, e realizar avaliações periódicas sobre o uso de qualquer medicamento ligado ao tratamento do lúpus. Pacientes com lúpus têm menos chance de contrair a covid-19? Não. Apesar de todos os benefícios da hidroxicloroquina no controle do lúpus, ela não interfere nos riscos de que esses pacientes contraiam ou não a covid-19. Os próprios especialistas na área de reumatologia tiveram a curiosidade, no início da pandemia, de saber se a hidroxicloroquina protegeria, de alguma forma, os pacientes que usavam a medicação. “Lá no começo da covid, a gente tinha essa curiosidade também: será que aqueles pacientes com lúpus, que já usam a hidroxicloroquina, teriam menos risco de contrair a covid-19? E, contraindo, será que eles teriam uma doença menos grave? Os estudos mostraram que não. Eles têm a mesma chance de contrair a covid e eles não têm uma doença menos grave pelo uso da hidroxicloroquina. Então, isso está bem claro pra gente na literatura”, afirma Edgard Reis. O estudo que apontou estes resultados chama-se Mario Pinotti 2 e foi elaborado por uma força-tarefa da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) com mais de 10 mil brasileiros com doenças reumáticas autoimunes – como lúpus, artrite reumatoide e Síndrome de Sjögren – e seus contactantes. O estudo foi feito em nove estados brasileiros e no Distrito Federal, incluindo 97 cidades e com a participação de quase 400 alunos estudantes de medicina voluntários. Das 10 mil pessoas avaliadas, 5.166 eram pacientes com doenças reumáticas em uso de hidroxicloroquina há mais de 5 anos e 4.423 contactantes domiciliares, ou seja, pessoas que não usam o medicamento, e moram junto com os pacientes reumáticos. Dos participantes, 169 pacientes reumáticos tiveram covid-19, o equivalente a 4,03% do universo pesquisado. Já entre os contactantes, que serviram de comparação, a proporção de infectados foi de 3,25%, o que representou 124 pessoas. Os resultados apontam, portanto, que o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina não protegeu e nem evitou formas graves da covid-19 entre aqueles que usavam a medicação. Os dados sobre a pesquisa foram passados ao Comprova pelo coordenador da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia, que nos explicou que ela ainda não foi publicada, e está em processo de revisão pelos pares. “A gente conhece ao longo desses anos muito do perfil de segurança da hidroxicloroquina para o lúpus, que é muitas vezes conflitante ou que não é semelhante àquele perfil de segurança dos pacientes de covid-19, onde a hidroxicloroquina foi testada e não se mostrou eficaz”, afirma Reis. O que o especialista afirma é que os cenários são diferentes para o uso do medicamento e que até mesmo a dose testada para a covid-19 é diferente daquela utilizada em pacientes com doenças reumáticas. “A covid-19 tem um status inflamatório agudo, que é único da própria doença, que é singular, ou seja, é diferente do status inflamatório crônico que a gente tem em algumas doenças autoimunes. E, muitas vezes, na covid-19 você tem um uso concomitante com várias outras medicações que podem levar a uma interação medicamentosa que pode propiciar o aparecimento de eventos adversos. A gente sabe dos benefícios da hidroxicloroquina no lúpus, mas sabe que ela não é protetora para covid-19”, finaliza. Em uma publicação oficial na internet, assinada por Edgar Reis, a Sociedade Brasileira de Reumatologia orienta os pacientes com doenças reumáticas sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina e alerta que o quadro da covid-19 é bastante diferente. O uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 vem sendo apontado como ineficaz há alguns meses. A OPAS, braço da Organização Mundial da Saúde na América, não recomenda o uso do medicamento para os pacientes com o novo coronavírus, diante da ausência de resultados científicos que comprovem a eficácia e segurança do tratamento. O Comprova também já demonstrou que não há tratamento prévio para a covid-19 e que o uso da hidroxicloroquina não é capaz de diminuir a gravidade da doença. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. No caso da covid-19, é imprescindível que as informações sejam claras e possam orientar a população sobre a doença e as formas de minimizar os riscos de contágio. Ao relacionar o uso de um medicamento sem eficácia comprovada a uma suposta “imunidade” à doença, a autora da postagem – que teve quase 5 mil interações no Twitter – desinforma sobre os riscos ligados à infecção e à ausência de tratamento. Com isso, a postagem pode atrapalhar os esforços das autoridades em conter a disseminação da doença. O Comprova já verificou outros conteúdos que traziam informações falsas sobre a covid-19 e as formas de prevenção à doença, como a postagem que sugeria que o uso de máscaras poderia provocar o acúmulo de líquido nos pulmões e o vídeo que afirma que as vacinas contra o novo coronavírus são uma tentativa de diminuir a população. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-que-trecho-de-ferrovia-em-go-seja-obra-do-governo-bolsonaro/
COMPROVA
É enganoso que trecho de ferrovia em GO seja obra do governo Bolsonaro
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2020-12-08
Trecho mostrado em vídeo que viralizou no Facebook foi concluído em 2014 e não no governo Bolsonaro como afirma a publicação. Ele foi concedido à iniciativa privada em março de 2019, em um leilão realizado no início do governo Bolsonaro, mas anunciado ainda no mandato de Michel Temer, no final de 2018. Conteúdo verificado: Post no Facebook sugere que os trens da Ferrovia Norte-Sul em Mara Rosa começaram a circular neste ano e atribui o feito ao presidente Jair Messias Bolsonaro (sem partido). É enganoso que um trecho da ferrovia Norte-Sul tenha sido liberado recentemente, durante a gestão de Jair Bolsonaro (sem partido), como induz uma publicação feita no Facebook e acompanhada de um vídeo. A legenda diz que “começam os trens a circular pela ferrovia Norte-Sul” e diversos dos comentários que aparecem no post celebram o fato como uma conquista do governo atual. As imagens do vídeo foram de fato registradas no local citado no post verificado e a estrada de ferro está em fase final de obras, mas a operação naquele trecho só começará oficialmente em 2021. A ferrovia Norte-Sul, que quando estiver totalmente pronta ligará Barcarena (PA) a Rio Grande (RS), teve sua construção iniciada em 1987. A parte da via mostrada no vídeo está concluída desde 2014. Ele fica em Mara Rosa, no norte de Goiás, e integra o trecho da ferrovia que vai de Porto Nacional (TO) a Estrela d’Oeste (SP). Este trecho foi concedido à iniciativa privada em março de 2019, em um leilão realizado no início do governo Bolsonaro, mas anunciado ainda no mandato de Michel Temer, no final de 2018. A empresa Rumo venceu a disputa, mas só deve começar a operação neste trecho no primeiro semestre de 2021, segundo informou a própria companhia ao Comprova. Até lá, somente trens de outra concessionária, a VLI, que opera outro trecho da Norte-Sul, transitam no trajeto ferroviário já concluído entre Anápolis (GO) e Porto Nacional, onde está inserida Mara Rosa, local da gravação do vídeo verificado. As obras que ainda faltam se concentram no trecho sul, entre São Paulo, Goiás e Minas Gerais, segundo a Rumo. A VLI informou ao Comprova usar “de forma pontual” o trecho de Anápolis a Porto Nacional, que passa por Mara Rosa. A empresa não informou desde quando faz uso desta parte da ferrovia. Ao Comprova, a Rumo confirmou que o trem que aparece no vídeo é de outra concessionária, mas que o registro se deu na Ferrovia Norte-Sul e que a viagem ocorreu entre 16 e 17 de outubro deste ano. A VLI também confirmou que o registro é de uma composição da companhia, que circulou nessas datas. A primeira divulgação do vídeo nas redes sociais foi em 21 de outubro. Fontes de Mara Rosa (GO) também confirmaram que o registro foi feito na cidade. A postagem, divulgada em vários grupos de Facebook e perfis do Twitter desde o final de novembro, também traz na legenda mensagens de que “é um sonho de mais de 30 anos” que começa a virar realidade e a mensagem “É um novo Brasil!”, tendo sido postada em diversos grupos de apoio a Bolsonaro. Como verificamos? Para checar as informações e o conteúdo do vídeo, fizemos buscas reversas em ferramentas como InVID e Google, com o objetivo de localizar outras publicações em que o vídeo pudesse ter sido utilizado. Também consultamos o Ministério da Infraestrutura, a empresa pública Valec, que executou a maior parte da obra da ferrovia, a Rumo, que é a atual concessionária do trecho onde foi feito o vídeo investigado, e a empresa VLI, que detém a concessão de outro trecho da Ferrovia Norte-Sul e foi apontada como dona do trem que aparece nas imagens. Recorremos ainda a um profissional da imprensa local. Consultamos também o Google Earth para tentar localizar o ponto da filmagem, a prefeitura de Mara Rosa e reportagens sobre a concessão e as obras da ferrovia. Verificação O vídeo da passagem do trem foi gravado no trecho da Ferrovia Norte-Sul que passa entre Mara Rosa e a cidade de Amaralina, no norte de Goiás. A cidade faz parte de um trecho da ferrovia que já teve obras concluídas em 2014, mas que deve ter o início de uma nova operação somente em 2021. A cidade de Mara Rosa tem 9.363 habitantes, segundo o último dado do IBGE e faz parte da trama central do Ferrovia Norte Sul, concluída em 2014, ainda no governo de Dilma Rousseff (PT). Por telefone, o diretor da Rádio Alternativa da cidade, Marcelo Matias, confirmou que a passagem entre Mara Rosa e Amaralina está pronta. Ele assistiu ao vídeo e confirmou que se trata do viaduto da Ferrovia Norte-Sul. Em contato com a prefeitura de Mara Rosa, a assessoria disse que não tem informações sobre as rotas e cargas transportadas na rodovia, mas confirmou que o percurso de Mara Rosa está pronto há “uns quatro ou cinco anos”. O Comprova procurou o Ministério da Infraestrutura para pedir informações sobre o trem registrado no vídeo. A assessoria de imprensa do órgão respondeu confirmando que o trecho da ferrovia que passa em Mara Rosa ficou pronto em 2014 e que foi concedido em março de 2019. Sobre o vídeo verificado, no entanto, o ministério solicitou que fosse feito contato com a concessionária desta área da ferrovia, a empresa Rumo. Em nota ao Comprova, a companhia Rumo confirmou que o trem que aparece no vídeo pertence a outra concessionária que exerce o direito de passagem para circular no trajeto administrado pela Rumo na Ferrovia Norte-Sul. “A composição partiu de Anápolis (GO) em 16/10 com destino a Porto Nacional (TO), chegando no dia seguinte (17). A cidade de Mara Rosa (GO) está entre essas duas cidades”. A empresa também explicou que, por ter vencido o leilão no ano passado, coordena e autoriza todas as circulações de trens no trecho entre Anápolis (GO) e Porto Nacional (TO) desde 1º de agosto de 2019 – mesmo trajeto em que Mara Rosa está inserida. Apesar de ter vencido a concessão, a Rumo ainda não iniciou a operação neste trecho da Ferrovia Norte-Sul. A previsão é de que isso ocorra no início do primeiro semestre de 2021, segundo a companhia. Por enquanto, quem utiliza este trecho da ferrovia entre Anápolis (GO) e Porto Nacional (TO) são apenas trens de outra empresa, a VLI, que tem a Vale como acionista e é concessionária do trecho em direção ao Norte, entre Porto Nacional (TO) e Açailândia (MA). Procurada pelo Comprova, a VLI confirmou por e-mail que o vídeo verificado mostra a passagem de uma composição da companhia pelo tramo central da Ferrovia Norte-Sul (FNS), entre os dias 16 e 17 de outubro. A empresa também afirmou que “utiliza de forma pontual o trecho que aparece no vídeo para enviar trilhos de sua unidade de manutenção, em Minas Gerais, para a operação do tramo norte da FNS, entre Porto Nacional (TO) e Açailândia (MA)”. O Comprova também questionou desde qual período a empresa utiliza o trecho e com qual frequência, no entanto, esses pontos não foram esclarecidos até o fechamento desta publicação. Histórico conturbado Segundo informações no site da Valec, a construção da Ferrovia Norte-Sul teve início em 1987. O traçado original era de 1.550 quilômetros, de Açailândia (MA) a Anápolis (GO), passando pelos Estados do Maranhão, Tocantins e Goiás. Esse trajeto está concluído e em operação, segundo o site da Valec. No entanto, os trens da nova concessionária deste trecho só devem circular a partir de 2021. O trecho de Anápolis (GO) a Porto Nacional (TO) é usado “de forma pontual” por outra empresa, a VLI, que administra outro trecho da ferrovia. Ao longo dos anos, a ferrovia foi recebendo projetos para ampliação. Em 2006, uma lei incluiu um trecho mais ao norte, de Açailândia (MA) a Barcarena (PA) – este trecho ainda está apenas em projeto. Em 2008, uma nova lei ampliou o traçado em direção ao Sul, até Panorama (SP). As informações também estão disponíveis no site da Valec. As obras da ferrovia ficaram paradas por longos períodos nos mais de 30 anos desde seu início. Também houve polêmicas sobre sua execução. A obra é envolvida em denúncias de irregularidades desde a primeira licitação, em 1987, e chegou a ser alvo de operações da Polícia Federal e de outras investigações sobre corrupção, como mostra reportagem do jornal O Globo. A primeira viagem comercial só ocorreu um ano e meio após a inauguração do trecho entre Anápolis (GO) e Porto Nacional (TO), em 2014, de acordo com reportagem do portal G1. Em 2015, foram concluídos os estudos de viabilidade para mais dois trechos, de Panorama (SP) a Chapecó (SC) e de Chapecó (SC) a Rio Grande (RS) – esses trechos da ferrovia também estão apenas no papel. Caso esses trajetos sejam totalmente executados, a via permitirá o transporte de cargas cruzando o país do Pará ao Rio Grande do Sul, com interligação com estradas férreas que acessam portos, o que faz com que a ferrovia seja chamada de “espinha dorsal” do transporte ferroviário no Brasil. Em 2019, um trecho da Ferrovia Norte-Sul foi concedido à iniciativa privada. Segundo reportagem do portal G1, a empresa Rumo arrematou o trecho de 1,5 mil km com um lance de R$ 2,7 bilhões, o dobro do lance mínimo previsto. O contrato tem duração de 30 anos. A empresa já possui outras concessões de ferrovias do país. O leilão foi anunciado no fim do governo Michel Temer (MDB), mas foi realizado já na gestão de Jair Bolsonaro (sem partido), em março de 2019. O contrato foi assinado em 31 de julho de 2019. O trecho entre Porto Nacional (TO) e Estrela d’Oeste (SP) estava previsto para ser entregue com a execução concluída à concessionária vencedora do leilão, mas foi repassado com 93% das obras terminadas, segundo informou ao Comprova o Ministério da Infraestrutura. O trajeto de Anápolis (GO) a Porto Nacional (TO) já estava concluído e chegou a ser inaugurado em 2014 pela presidente Dilma Rousseff (PT). As obras que ainda faltam se concentram no trecho sul, entre São Paulo, Goiás e Minas Gerais, segundo nota da empresa. Antes disso, em 2007, durante o governo Lula, o trecho entre Porto Nacional (TO) e Açailândia (MA) já havia sido concedido, com vitória da empresa Vale. A Ferrovia nos dias atuais e sua divisão Projetada para se tornar a espinha dorsal do transporte ferroviário no Brasil, quando concluída a Ferrovia Norte-Sul vai interligar terminais portuários das regiões Norte e Sudeste, passando pelo Centro-Oeste do país. Atualmente ela está dividida em três partes: > Tramo Norte: Entre Açailândia (MA) e Porto Nacional (TO), com 720 quilômetros de extensão. > Tramo Central: com 855 quilômetros de extensão, entre Porto Nacional (TO) e Anápolis (GO). Esse trecho da ferrovia passa por 14 municípios de Tocantins e 19 de Goiás. > Tramo Sul: entre os municípios de Ouro Verde de Goiás (GO) e Estrela d´Oeste (SP), com 682 km de extensão. Seu traçado passa por 16 municípios de Goiás, 3 de Minas Gerais e 3 de São Paulo. O caminho das publicações O Comprova não conseguiu localizar o autor do vídeo. As imagens circulam desde novembro deste ano. De acordo com a ferramenta CrowdTangle, o primeiro registro ocorreu no dia 26 por um perfil pessoal em um grupo chamado “PT Nunca Mais”. No dia seguinte, o mesmo perfil publicou o vídeo com legenda idêntica elogiando a conclusão das obras da ferrovia em outro grupo, de nome “A gente não tem cara de babaca”. Nesse mesmo dia, a primeira publicação, do dia anterior, foi compartilhada por outro usuário em um grupo diferente, o “Debates do Movimento Avança Brasil”. A partir do dia 28 a postagem começou a ser republicada por diversos perfis, com o mesmo texto de legenda. Segundo a plataforma CrowdTangle, foram 268 publicações e 6,6 mil interações até o dia 7 de dezembro. O vídeo com a legenda enaltecendo o avanço da Ferrovia Norte-Sul também circulou no Twitter. Nesta rede, foram 36 postagens até 7 de dezembro, segundo a plataforma Tweetdeck. Buscas reversas por meio da ferramenta InVID mostraram que o vídeo já havia sido publicado no Facebook mais de um mês antes, em 21 de outubro, em uma página que divulga vídeos de entretenimento. Na ocasião, no entanto, não havia nenhuma menção à Ferrovia Norte-Sul na publicação. A página publicou a gravação do trem apenas com a legenda “Oi o trem”, seguida de três emojis. Apenas a narração do vídeo é que fazia referência à Ferrovia Norte-Sul. O Comprova tentou contato com alguns perfis que divulgaram o vídeo nas redes sociais, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre as eleições municipais de 2020, a pandemia de covid-19 e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A checagem de conteúdo é importante pois ajuda as pessoas a formarem suas próprias conclusões com base em fatos verdadeiros. O vídeo publicado na página “Aliança pelo Brasil” teve mais de 2 mil interações no Facebook desde sua publicação no dia 29 de Novembro. Pelo Twitter, publicado no dia 30 de Novembro por um perfil pessoal, teve mais de 1.700 interações. Em agosto deste ano o Comprova checou outro conteúdo que também atribuía a conclusão de uma obra à gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Na ocasião, o foco era um viaduto na BR-277 em Foz do Iguaçu e foi confirmado pelo próprio Ministério da Infraestrutura que a obra não tinha nenhuma relação com o governo federal. Já em outubro, o Comprova também identificou como engano um tuíte que afirmava que a “Ferrovia do Sol” estava em vias de ser implementada e também comprovou que trecho na BR-163 foi asfaltado no governo do presidente Bolsonaro. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C438&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/mascara-nao-causa-acumulo-de-liquido-nos-pulmoes-nem-intoxicacao/
COMPROVA
Máscara não causa acúmulo de líquido nos pulmões nem intoxicação
null
2020-12-07
Postagem usa suposto caso de mulher que caiu enquanto corria usando uma máscara para dizer que equipamento é prejudicial à saúde, mas autoridades negam que proteção cause danos graves. Além disso, uso de máscara não é recomendado durante prática de exercícios físicos ao ar livre Conteúdo verificado: Postagem em um site que diz que, de acordo com médicos, o uso de máscara pode baixar a imunidade e congestionar pulmões. É falso que o uso de máscaras não reduza o risco de contrair o coronavírus e que o equipamento seja prejudicial à saúde, como consta num texto publicado pelo site Estudos Nacionais. A postagem recorre a um vídeo gravado por um otorrinolaringologista sobre uma paciente que teria sofrido uma queda enquanto corria usando máscara. Segundo a publicação, ele afirma que o equipamento de proteção pode causar intoxicação por CO2 e acúmulo de líquido nos pulmões. Isso não é verdade. O uso de máscaras impede a disseminação de gotículas no ambiente, por isso é indicado para a proteção contra o coronavírus. Mesmo a máscara caseira, quando produzida da maneira correta, não oferece riscos à saúde. Embora o uso da máscara reduza a capacidade respiratória – e, justamente por essa razão, não seja recomendada durante atividades físicas -, especialistas ouvidos pelo Comprova reafirmaram que elas são eficazes na proteção contra o coronavírus e negaram a possibilidade de as máscaras causarem danos graves como intoxicação por acúmulo de CO2 ou acúmulo de umidade e líquido nos pulmões. O post afirma ainda que as autoridades ao redor do mundo ignoraram o risco do uso de máscaras mesmo após a morte de dois estudantes na China que se exercitavam usando o equipamento. As duas informações também são falsas. Além de a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendar que as pessoas usem máscaras ao praticar exercícios intensos ao ar livre, a agência de checagem portuguesa Polígrafo já mostrou que é falsa a informação de que os estudantes chineses morreram por conta do uso do equipamento, em maio deste ano. Como verificamos? Iniciamos procurando o vídeo citado no início da publicação verificada e chegamos a uma postagem da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), feita no Twitter em 20 de novembro. Em seguida, o Comprova analisou os compartilhamentos do vídeo, não apenas no Twitter como também no Instagram e no Facebook, onde foi possível identificar o nome do médico responsável pela gravação. Feita a consulta no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), foi possível confirmar que Leandro Tavares Flaiban, médico otorrinolaringologista que trabalha no Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), foi o responsável pela gravação. Consultamos as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) a respeito do uso de máscaras, inclusive durante a realização de atividades físicas, e entrevistamos os infectologistas Fábio Amorim, do Hospital São Rafael e do Instituto Couto Maia, unidade de referência para doenças infectocontagiosas na Bahia; e Clarissa Cerqueira, do Hospital Cardiopulmonar e da Estratégia Med, em Salvador. Buscamos informações sobre o uso de máscaras em verificações anteriores do Comprova e de outras agências de checagem. Por fim, entramos em contato com o Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), que confirmou ter em seu quadro de profissionais o otorrino Leandro Tavares Flaiban. Porém, não foi possível falar com o médico pelos telefones do hospital. Não conseguimos encontrar os contatos pessoais dele. Também procuramos o site Estudos Nacionais, mas não recebemos resposta até o fechamento desta verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 7 de dezembro de 2020. Verificação Máscaras e CO2 O uso de máscaras realmente reduz a capacidade de respirar, segundo especialistas ouvidos pelo Comprova. No entanto, isso não significa que haja um aumento de concentração de CO2 capaz de causar intoxicação. “O gás carbônico que se concentra numa máscara não é suficiente para causar intoxicação nem dano cerebral. A gente trabalha com máscara N95 o tempo inteiro e eu desconheço caso de profissional de saúde que tenha desmaiado”, afirma o médico infectologista Fábio Amorim, que trabalha no Hospital São Rafael, em Salvador, e no Instituto Couto Maia, unidade de referência na Bahia para doenças infectocontagiosas. A máscara N95 consegue filtrar 95% de partículas e é indicada para proteção contra doenças por transmissão aérea. A também infectologista Clarissa Cerqueira, do Hospital Cardiopulmonar, em Salvador, corrobora, citando inclusive casos de profissionais de saúde que usam máscara com frequência sem que sofram intoxicação. “A máscara é extremamente eficaz. E ela tem a capacidade de fazer a troca de ar. Então, não existe a pessoa falar que está retendo CO2 por uso de máscara. Nós, profissionais em saúde, usamos máscaras há anos no ambiente hospitalar, tem cirurgiões que operam durante 12 horas, infectologistas que precisam usar máscara para atender pacientes com tuberculose, catapora, e nunca houve nada assim”, explica. No início do mês de abril, diante da falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) no mercado mundial, o Ministério da Saúde recomendou que a população produzisse máscaras de tecido, deixando as máscaras profissionais (cirúrgica e N95 ou similares) para os profissionais da saúde. Entretanto, para garantir a efetividade da proteção, a confecção das máscaras deve seguir algumas especificações técnicas, especialmente com relação ao tipo de matéria prima a ser utilizada. Os tecidos recomendados são, em ordem decrescente de capacidade de filtragem de partículas virais: a) Tecido de saco de aspirador; b) Cotton (composto de poliéster 55% e algodão 45%); c) Tecido de algodão (como camisetas 100% algodão); d) Fronhas de tecido antimicrobiano. Outras informações e especificações podem ser encontradas no site do Ministério da Saúde. “Uma coisa que pode acontecer é alguém fazer uma máscara com um tecido que não tem capacidade de troca de ar, mas isso não leva a esse tipo de alteração [intoxicação]. O tecido que a gente recomenda é algodão e algum tecido sintético. Você tem que usar um tecido de algodão na camada interna. Na intermediária, um tecido sintético como um TNT e na de fora também, porque o tecido tem poros. Agora, realmente, se a pessoa colocar um plástico no rosto, a pessoa vai morrer de falta de ar”, afirma Clarissa Cerqueira. Máscaras não provocam acúmulo de líquido nos pulmões Os dois especialistas também negaram a possibilidade de que a máscara, por conta da umidade, provoque acúmulo de líquido nos pulmões, como afirma o post. “Isso acontece quando a pessoa se afoga ou quando acontece uma falência múltipla por edema de pulmão, mas isso é incompatível com o uso de máscaras”, explica o infectologista Fábio Amorim. O equipamento não impede a passagem do ar, mas sim dificulta a passagem de partículas presentes no ar. Clarissa Cerqueira explica que a umidade na máscara é comum já que, durante a respiração, a pessoa libera partículas de ar. É por isso que a máscara precisa ser trocada a cada duas horas para que seja de fato eficaz. Mas, mesmo assim, não há possibilidade de acúmulo de líquido nos pulmões. “Não tem nada que justifique uma retenção de líquido nos pulmões. Quando você respira, você libera partículas de ar e, com o tempo, você troca a máscara. Se ela tá úmida, você precisa trocar. Mas não faz nenhum sentido acumular líquido no pulmão, eu não consigo nem explicar. Como entraria água ali?”, questiona. Não se deve usar máscara durante exercícios físicos A OMS não recomenda o uso de máscara em atividades físicas mais vigorosas, por conta do risco de redução da capacidade respiratória. No entanto, a Organização orienta que, não importa o quão intensas sejam as atividades físicas, é necessário manter no mínimo um metro de distância de outras pessoas e, no caso de atividades em casa, é necessário escolher um local com ventilação adequada. Não é verdade que estudantes chineses morreram ao usar máscara A agência portuguesa de fact-checking Polígrafo noticiou que um dos jovens que faleceu na China enquanto faziam exercícios físicos foi vítima de um ataque cardíaco, como foi declarado no atestado de óbito. Segundo a professora da Universidade de Medicina Chinesa de Shaanxi, Cao Lanxiu, “não foi a máscara que causou a morte súbita”. Na segunda morte registrada, o estudante faleceu durante uma corrida, segundo apuração realizada pela agência tendo como base uma reportagem realizada pela emissora de TV australiana 7 News. Não houve nenhuma evidência de que a máscara tenha sufocado o aluno. Quem são os médicos citados no post A postagem verificada cita dois médicos brasileiros. Um deles é Leandro Tavares Flaiban. De acordo com dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), Flaiban é otorrinolaringologista e possui registros em dois estados: São Paulo e Amazonas, ambos em situação regular. No registro principal, no Amazonas, consta a especialidade de otorrinolaringologia. Já o registro secundário, de São Paulo, não possui especialidades cadastradas. O Comprova conseguiu confirmar que Leandro trabalha no Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí, mas não pudemos conversar com o médico – o hospital, primeiro, disse que não poderia passar o contato dele; em seguida, nos forneceu um telefone, mas ninguém atendeu no número discado. Também não localizamos uma conta sua no Twitter. No Facebook, os posts são fechados. O segundo médico mencionado no texto é o também otorrinolaringologista Carlos Nigro, que trabalha em uma clínica em Taubaté (SP). Em seu perfil no Facebook, ele afirma ter estudado Medicina na Universidade de São Paulo (USP) e ter doutorado na mesma instituição. As informações constam em seu currículo Lattes, em texto informado pelo próprio autor. Também afirma ser aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho. O CFM tem um registro em nome de Carlos Eduardo Nazareth Nigro, feito em janeiro de 1996 em São Paulo, com especialidade para otorrinolaringologia. No Facebook, o médico faz postagens contrárias ao uso de máscara, ao lockdown e à vacina. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A matéria publicada no site “Estudos Nacionais” teve 12 mil interações no Facebook, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle. Tratando-se de temas relacionados à pandemia da covid-19, os riscos da desinformação são maiores, visto que afetam diretamente a saúde das pessoas e que as medidas de proteção como as máscaras são de extrema necessidade para impedir a disseminação da doença. O Comprova já verificou outros conteúdos que disseminam informações sem fundamentos, desde o início da pandemia, como um vídeo que afirmava que as máscaras não são eficientes no combate à covid-19; um áudio no qual um engenheiro falsamente alegava que as vacinas causam câncer e danos genéticos; e um vídeo no qual um pastor diz que o vírus foi feito na França e vacinas seriam uma iniciativa globalista para reduzir a população. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-video-que-denuncia-suposta-fraude-nas-urnas-em-joao-pessoa/
COMPROVA
É enganoso vídeo que denuncia suposta fraude nas urnas em João Pessoa
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2020-12-04
Um candidato a vereador pelo MDB disse não ter tido nenhum voto na seção onde ele próprio votou, mas documentos oficiais da Justiça Eleitoral mostram que ele teve dois votos no local Conteúdo verificado: Vídeo no YouTube em que candidato a vereador em João Pessoa afirma que voto que ele deu em si mesmo não foi contado É enganoso o vídeo em que um candidato a vereador em João Pessoa, na Paraíba, afirma que não foi contabilizado o voto que ele deu em si mesmo. Na realidade, foram contados dois votos para Edmilson Gomes de Melo (MDB) na seção onde ele votou. Ao todo, o candidato recebeu 119 votos e ganhou uma vaga de suplente na Câmara Municipal. Gomes de Melo está inscrito no Título de Eleitor na zona 001, seção 004. Porém, algumas seções eleitorais foram agregadas este ano, por isso Edmilson foi orientado a votar na seção 001. Ao Comprova, o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) apresentou documentos que provam a votação de Edmilson na seção 001. No vídeo, o candidato afirma ainda que um funcionário do TRE-PB “adicionou” dois votos para ele na seção eleitoral. O TRE-PB esclareceu que o banco de dados de votação jamais pode ser “editado”. O órgão comunicou em nota que o vídeo é uma “tentativa de macular a Justiça Eleitoral, forjando fatos”. Como verificamos? O Comprova entrou em contato com o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) e solicitou informações sobre as seções e zonas eleitorais existentes em João Pessoa. Também buscamos o resultado das eleições 2020 no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para confirmar a candidatura do homem que aparece no vídeo e a quantidade de votos obtida por ele. Foram procurados ainda o candidato Edmilson Duroger e o responsável pelo canal Seu Mizuka, que divulgou o vídeo. Verificação Qual a explicação do TRE-PB? No vídeo, o candidato a vereador Edmilson Gomes de Melo está em frente à sede do TRE-PB. De acordo com o órgão eleitoral, ele foi atendido na Seção de Orientação e Apoio às Zonas Eleitorais (SOAZE) no dia 18 de novembro, três dias depois do primeiro turno do pleito. Na gravação, Edmilson afirma que o voto que ele depositou em si mesmo não foi contado, assim como a votação de seus familiares. Isso não é verdade. De acordo com os resultados oficiais divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edmilson recebeu 119 votos. O TRE-PB detalhou que foram dois votos na seção onde o candidato votou, a 001 da 1ª Zona Eleitoral. A mesma votação consta no boletim de urna divulgado pelo TSE. Os votos a favor de Gomes de Melo foram distribuídos da seguinte maneira: 49 votos na 1ª Zona Eleitoral; 24 votos na 64ª Zona; 19 votos na 70ª; 12 votos na 76ª; e 15 votos na 77ª. Edmilson está cadastrado no Título de Eleitor na seção 004 da 1ª Zona Eleitoral, mas o TRE-PB esclareceu que algumas das seções foram agregadas este ano. O órgão apresentou ao Comprova um documento que mostra que o local de votação do candidato foi transferido. Como mostra consulta ao site oficial do TSE, Gomes de Melo votou na Faculdade de Ciências Médicas (antigo Colégio Pio XII), na Praça São Francisco, 116, no centro de João Pessoa. No vídeo, Edmilson diz que, depois de reclamar que nenhum voto a seu favor foi contado na seção onde votou, um funcionário do TRE-PB “adicionou” dois votos para o candidato. Em resposta, o TRE-PB disse que não é possível “editar” o banco de dados de votação. Neste ano, a totalização dos votos foi centralizada na sede do TSE, em Brasília. O TRE-PB informou que vai encaminhar o caso ao Ministério Público Eleitoral. Quem é o autor do vídeo original? Edmilson Gomes de Melo tem 57 anos e foi candidato pelo MDB, usando o número 15.777 e o nome de urna “Edmilson Duroger” — referência ao Roger, um dos bairros mais carentes da capital paraibana. No local ficava, até 2003, o antigo lixão da cidade, e ainda hoje funciona a Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega, o mais antigo presídio da Paraíba, inaugurado há 80 anos. Conversamos com Edmilson por telefone. Ele disse que “estranhou não ter tido votos em sua seção, a 4ª da 1ª zona eleitoral, mas que um funcionário do TRE disse que poderia corrigir e imprimiu um relatório com dois votos naquela seção (na verdade, a 1ª)”. Durante o telefonema, ele admitiu que o funcionário que o atendeu “pode ter sido irônico”. Após a gravação do vídeo, Edmilson disse que retornou ao TRE e recebeu a explicação que sua seção original, a 4ª, foi agregada à 1ª seção por conta das alterações realizadas para reduzir o número de mesários por causa da pandemia. O candidato explicou que, no vídeo, se referiu aos oito votos que teve no bairro do Roger, pois sabia que, no total, obteve 119 votos. “Sem arrogância, pela campanha que fiz e pelo trabalho que faço no Roger, há muitos anos, era pra ter tido 5 mil votos”. De acordo com os dados do último censo do IBGE, em 2010, a população do bairro era de 10.381 pessoas aptas a votar. O trabalho ao qual ele se refere seria “as denúncias de corrupção na Câmara Municipal” que costuma fazer. Edmilson informou ao TRE ser “jornalista e redator”. Na documentação de registro de candidatura consta apenas um diploma de conclusão do Ensino Médio. No dia 24 de novembro, ele foi à sede da superintendência da Polícia Federal no estado e protocolou um pedido para “pegar todas as urnas do município de João Pessoa, e que se disponibilize uma equipe de especialistas na segurança da informação que seja neutra para periciá-las”. Edmilson contou que foi à PF acompanhado de dois outros candidatos, citados no vídeo analisado: Nininho Mangabeira e Dr. Nosman (Antônio Nosman Barreiro Paulo), ambos do MDB. Um terceiro candidato que, segundo ele, também estaria “revoltado”, Dr. Aníbal Marcolino (José Aníbal Costa Marcolino Gomes), não o acompanhou por ter desistido de fazer a denúncia. O Comprova entrou em contato com a PF para saber mais informações sobre a denúncia de Edmilson, mas não recebeu resposta. O canal do Youtube O vídeo de Edmilson foi reproduzido pelo canal Seu Mizuka, que existe no YouTube desde 9 de dezembro de 2017 e tem 71,9 milhões de visualizações. É conhecido por publicar conteúdos favoráveis ao governo federal e é um dos canais que veicularam anúncios da Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal sobre a Previdência, sendo o sexto canal do YouTube com mais interações nos anúncios do governo por visualização. Em junho deste ano, o Comprova já desmentiu um vídeo publicado no mesmo canal e que tentava desacreditar a pandemia da covid-19, apoiado em imagens da cidade de Genebra, na Suíça. O Comprova tentou contato com o responsável pelo canal Seu Mizuka, mas não obteve resposta. Por que investigamos? Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições municipais de 2020, a pandemia de covid-19 e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições. O vídeo publicado no canal “Seu Mizuka” teve mais de 157 mil visualizações desde o dia 25 de novembro. No Facebook, o link de YouTube teve 32.355 interações, de acordo com a ferramenta CrowdTangle. O Comprova tem checado uma série de conteúdos que atacam a lisura do processo eleitoral. Por exemplo, desmentimos que o software das urnas eletrônicas brasileiras tenha sido usado em fraudes nos Estados Unidos e que o TSE tenha atualizado os resultados das eleições de acordo com o portal de notícias G1. Veja todas as verificações do Comprova sobre eleições. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C448&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/virus-nao-foi-feito-na-franca-e-vacinas-nao-sao-uma-iniciativa-globalista-para-reduzir-a-populacao/
COMPROVA
Vírus não foi feito na França e vacinas não são uma iniciativa globalista para reduzir a população
null
2020-12-02
O Instituto Pasteur nega as acusações feitas no vídeo verificado, especialistas dizem que são teorias conspiratórias sem fundamento e, procurados pelo Comprova, os homens que aparecem na gravação não ofereceram provas do que dizem. Conteúdo verificado: Trecho de uma live publicada no Instagram em que os participantes discutem sobre vídeo que supostamente mostraria documentos comprovando que o novo coronavírus foi fabricado no Instituto Pasteur, na França. Além disso, o conteúdo afirma que vacinas “modificam o DNA para sempre”, “estabelecem um novo sistema genético”, contém “material genético do HIV”, e que são “uma iniciativa dos globalistas para reduzir a população em 90%”. É falso que vacinas são uma iniciativa globalista para reduzir a população e que modificam o DNA, como afirma um pastor em uma live publicada no Instagram e no YouTube. Ele diz que assistiu a um vídeo que supostamente mostrava provas de que o novo coronavírus tinha sido criado no Instituto Pasteur, na França, e que as vacinas contam com “o material genético do HIV” e “estabelecem um novo sistema genético”. No entanto, o homem não mostra e nem divulga o link para o vídeo no qual baseou suas falas, mesmo sendo solicitado a fazê-lo por alguns seguidores nas áreas de comentários. Segundo o virologista Flávio Fonseca, da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, não existem vacinas que tenham a capacidade de alterar o nosso material genético, DNA. Sobre as afirmações realizadas no vídeo de que vacinas são “uma iniciativa dos globalistas para reduzir a população em 90%”, o professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil, falou que não existem provas de que esse tipo de medicamento tenha o objetivo de eliminar parte da população, que são teorias da conspiração. E acrescenta “Como vai ter uma coalizão de interesses tão comuns para eliminar a população do mundo? Nunca houve nenhum tipo de vacina responsável pela morte de muitas pessoas. Isso nunca existiu”. O Comprova acionou o instituto francês para verificar a afirmação feita pelo pastor sobre a origem do vírus, que negou o boato. O instituto já tinha sido acionado por versões em outros idiomas do mesmo boato e emitido posicionamento. Também buscamos contato com Lamartine Posella Sobrinho, que faz as afirmações durante a live, assim como o responsável pela entrevista Wagner Malagues, para solicitar as provas que são citadas no vídeo. Até o momento desta publicação não houve resposta do Pastor e Wagner deu respostas inconclusivas. Como verificamos? Recorremos a pesquisas em diversas reportagens sobre vacinas, bem como em checagens anteriores do Comprova sobre o tema. Esses materiais nos ajudaram a esclarecer questões como a possibilidade de um imunizante contra o novo coronavírus alterar o DNA humano ou conter material genético do HIV. Acionamos, ainda, o instituto francês Pasteur para solicitar um posicionamento sobre a alegação de que o Sars-CoV-2 teria sido criado na instituição. Além disso, buscamos especialistas para avaliar as afirmações do vídeo aqui analisado. Colaboraram o professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil; o professor da Escola de Relações Internacionais da FGV, Pedro Brites; o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, Flávio Fonseca e a microbiologista Jordana Coelho dos Reis, que atua no Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Departamento de Microbiologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Também entramos em contato com os autores do vídeo. O entrevistado, Lamartine Posella Sobrinho, não retornou até o fechamento desta publicação. Já o apresentador Wagner Malagues respondeu nosso contato, mas não deu nenhuma fonte que sustente as afirmações no seu canal. O Comprova fez esta verificação baseada em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 1 de dezembro de 2020. Verificação Vacinas podem causar alterações no DNA humano e câncer? No conteúdo verificado, o pastor Lamartine Posella diz que assistiu a um vídeo, sem indicar qual, em que um cientista, sem citar o nome, afirma que “das seis vacinas que estão sendo desenvolvidas para Covid, três delas modificam o DNA para sempre”. Porém, não foram apresentadas provas sobre tal afirmação e, de acordo com Flávio Fonseca, virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, “não existe nenhuma vacina capaz de alterar o nosso material genético, nosso DNA”. O virologista explicou que nosso material genético é muito bem protegido dentro de nossas células. “Ele fica dentro do núcleo, não fica exposto no citoplasma. E dentro do núcleo há uma série de enzimas que fazem, entre aspas, o patrulhamento da qualidade do nosso DNA para evitar exatamente que aconteçam mutações indesejadas”. Fonseca reforçou que estamos expostos diariamente a material genético estranho ao nosso DNA, como infecções por vírus, bactérias e por processo de absorção (fagocitoses) de outras células que, por ventura, entram em contato com nosso organismo. “Então tudo isso chega dentro de nossas células. E, na verdade, são poucos os materiais genéticos que conseguem integrar, entrar no nosso genoma e alterá-lo. Alguns vírus muito especializados conseguem fazer isso, entre eles, por exemplo, os retrovírus, do qual fazem parte o HIV. E pra conseguir fazer isso, o HIV tem todo um aparelhamento molecular que permite que ele altere o nosso DNA”. Ele também enfatizou que nenhuma das vacinas que temos atualmente consegue fazer isso. “Nenhuma delas, seja para covid-19 ou qualquer outra vacina que a gente conheça, têm a capacidade de fazer esse tipo de coisa, ou seja, de alterar nosso material genético através de sua integração dentro de nosso DNA”. No início deste mês, o Comprova fez uma verificação que apontou que vacinas não causaram danos neurológicos ou de DNA. O alvo do conteúdo verificado era a CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac com apoio do Instituto Butantan. Ainda no vídeo desta verificação, o pastor Posella também fala, sem apresentar provas, que é a primeira vez que uma vacina está sendo feita com um DNA estranho, um elemento diferente que vai modificar o RNA mensageiro, que por sua vez, estabelecerá um novo sistema genético e que isso pode gerar graves consequências no futuro para quem se vacinar, podendo até provocar mortes por câncer. Sobre isso a microbiologista Jordana Coelho dos Reis, que atua no Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Departamento de Microbiologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou que algumas das vacinas que estão sendo desenvolvidas contém RNA mensageiro – molécula que todos têm nas células e que leva a informação até o citoplasma para a produção de proteínas que constituem nosso organismo. Cada proteína precisa de um RNA mensageiro diferente para ser produzida, inclusive as de vírus. “Então para produzirmos proteínas no nosso organismo precisamos de RNAs mensageiros e eles são naturais do nosso organismo. As vacinas que são constituídas de RNAs mensageiros codificam proteínas dos SARS-CoV-2 que vão ser importantes para nos imunizar, para avisar o nosso sistema imune de que existe essa proteína e que ela precisa ser reconhecida por anticorpos, por células e , assim, realmente quando nós entrarmos em contato com o vírus [da covid-19] estaremos imunizados”. Jordana reforçou que os RNAs que estão sendo utilizados nos testes para algumas vacinas não têm a capacidade de alterar nosso DNA e que, portanto, são seguros. “A gente pode confirmar com segurança, com pé no chão, tranquilamente que essas vacinas não representam um risco para câncer nesse sentido de alterar genoma, não tem a menor chance disso acontecer”. Ainda sobre essa hipótese levantada pelo instituto, o Comprova já checou e identificou como falso outro conteúdo que também difundia um argumento de que a vacina poderia ocasionar câncer. À época, o Comprova conversou com Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), que comentou essa questão, dentre tantos pontos. Cristina disse que não há estudo que possa amparar esse argumento e se fosse verdade, haveria muito mais gente com câncer. Ela também explicou que os efeitos das vacinas, inclusive as que estão há décadas no calendário, na população são constantemente acompanhados por cientistas. “A gente faz estudos, busca efeitos, ajusta imunizações a partir do que é detectado. É muito perigoso uma pessoa sair por aí fazendo esse tipo de declaração.” Material genético do HIV nas vacinas De acordo com o virologista Flávio Fonseca, “não existe nenhuma vacina para SARS-CoV-2, para covid-19, que contenha porções oriundas do vírus HIV”. Fonseca acredita que esse boato possa ter origem em uma situação passada com uma vacina para HIV que passou por três fases de testes com adenovírus, mas não obteve sucesso. “Há uma grande confusão porque no passado houve a geração de uma vacina utilizando adenovírus, vetor viral, que é a estratégia, por exemplo, usada pela vacina de Oxford, pela vacina Russa, pela vacina da Johnson e Johnson, todas elas usam adenovírus como vetor viral”. No caso dessa vacina para HIV, ela não teve a eficácia pretendida e desencadeou até alguns problemas graves onde pessoas vacinadas acabaram tendo mais infecções com HIV, do que as pessoas que receberam placebo. Em outubro, a Revista Exame publicou uma reportagem falando sobre as preocupações de médicos em relação às vacinas em desenvolvimento que utilizam o adenovírus de número 5 (Ad5), e que segundo estudo publicado no jornal científico The Lancet apontava que a infecção por HIV poderia ser facilitada caso o paciente vacinado recebesse uma dose contendo o Ad5. Neste estudo, os cientistas se basearam em análises de 2007, referentes à vacina para HIV mencionada pelo o virologista da UFMG. Ainda no texto foi pontuado que até então, “nenhum teste realizado com as vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 mostraram resultados semelhantes”. A microbiologista Jordana também enfatizou que as vacinas em teste são completamente distintas do vírus HIV. “Vamos esclarecer então em relação às vacinas que estão sendo produzidas conter material genético do HIV, isso é uma inverdade. Nós não temos evidências de que existe material genético do HIV, inclusive em nenhuma das vacinas que estão sendo desenvolvidas. Algumas delas contém RNA mensageiro, mas em nenhum momento esse RNA mensageiro pertence ao HIV, ele não é de origem retroviral, então não tem retrovírus ali”. Vacina x Globalismo Ao fim do vídeo, o pastor Lamartine Posella Sobrinho, o entrevistado, alerta que vacina é “uma iniciativa dos globalistas para reduzir a população em 90%”. Contudo, não há provas de que esse tipo de medicamento tenha o objetivo de eliminar alguma parcela da população. Tampouco existe registro histórico de que já tenha causado muitos óbitos, conforme o professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil. “Essas teorias da conspiração que colocam a ciência, as empresas e os governantes como se todos quisessem eliminar 90% da população, me parece absolutamente ridículo. Como vai ter uma coalizão de interesses tão comuns para eliminar a população do mundo? Nunca houve nenhum tipo de vacina responsável pela morte de muitas pessoas. Isso nunca existiu”, afirma. Kallil ainda aponta que a imunização é a alternativa mais adequada para frear o contágio do novo coronavírus. “A gente sabe que vacina é a solução para uma pandemia porque ela vai deixar as pessoas imunizadas, que vão deixar de ficar doentes, vão deixar de transmitir o vírus e, com isso, o vírus não transmitindo, a pandemia acaba. Tivemos milhares de ganhos pela utilização de vacinas. E na situação atual é o que pode nos ajudar.“ Ao mencionar em tom crítico que vacinas são “uma iniciativa globalista”, o pastor usa um conceito difuso, adotado nos dias de hoje, principalmente, pela nova direita populista no mundo. O professor da Escola de Relações Internacionais da FGV, Pedro Brites, reforça a ideia de que o termo ‘globalistas’ é uma expressão sem significado estrito, que se opõe de maneira não clara a acontecimentos do cenário social, político, econômico e cultural de caráter internacional. ”É um conceito vago, mas que serve muito a propósitos políticos. Efetivamente é um termo que começou a ser utilizado por todos aqueles que são críticos a uma série de fatores que caracterizam esse cenário internacional, especialmente desde o final da guerra fria. Aí podemos mencionar, dentre esses fatores críticos, o avanço das instituições internacionais, aumento dos processos migratórios. Tudo o que diz respeito ou parece ameaçar uma identidade nacional, de valores patrióticos. E a crítica à esquerda, que também é responsabilizada por esse avanço – e aqui esquerda no sentido mais amplo do termo, desde o Obama ao PT no Brasil. Todos esses atores são considerados parte desse processo de você estar vendo cada vez mais o estado-nação perdendo força, perdendo sentido. O fato de ele não ter uma definição bem específica é o que permite que seja usado em diferentes contextos.” Instituto Pasteur O Comprova entrou em contato por e-mail com o diretor da unidade de Virologia e Imunidade do Instituto Pasteur, Olivier Schwartz e obteve como resposta uma nota já publicada no site do instituto, desde março deste ano, na seção destinada ao combate à desinformação da instituição. Na última atualização desta área do site, o instituto reitera que o SARS-CoV-2 não foi criado pelo Instituto, muito menos o liberou na cidade de Wuhan, na China. “O Instituto Pasteur não é um laboratório pertencente ao grupo farmacêutico Sanofi ou à sua subsidiária Sanofi-Pasteur; é uma fundação independente sem fins lucrativos. Afirmar que o Instituto Pasteur está planejando escravizar e controlar a população global é totalmente falso e desprovido de qualquer fundamento.”, diz trecho do texto. O Pasteur é uma fundação sem fins lucrativos, criada em 1887, que por meio de pesquisas contribui para a prevenção e o tratamento de doenças, principalmente infecciosas. É um dos principais centros internacionais de pesquisas biomédicas, estando presente em 25 países. No Brasil, o Instituto é representado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), situada no Rio de Janeiro. O Instituto é dedicado ao estudo de microorganismos, doenças e vacinas. Seu nome é uma homenagem a Louis Pasteur, seu fundador e primeiro diretor, que, em 1885, produziu a primeira vacina contra a raiva. Quem é o pastor Lamartine Posella Sobrinho, de acordo com seu site oficial, é fundador da YAH Church, igreja criada ao lado da esposa Lylian Posella. Trata-se de uma espécie de atualização da Igreja Batista Palavra Viva em São Paulo, da qual Lamartine foi presidente. Ele também atua como pregador, músico, pianista, violonista, compositor e escritor — publicou nove livros. Tem um canal no youtube que segundo descrição aborda “ vídeos com uma mensagem de fé, estudos sobre hebraico bíblico, escatologia, hermenêutica e tudo que envolve a Bíblia”. Além disso, tem uma carreira política com passagens pelo PP (outrora PPB, quando o PP uniu-se ao PPR e ao PRP). Pelo Partido Progressista, foi deputado federal por São Paulo entre 1997 e 1999, quando assumiu após ficar como suplente. Exerceu a mesma função como integrante do Partido Progressista Brasileiro, entre 1999 e 2003. Ainda candidatou-se a como vice-prefeito (2000) e como governador (2002) em São Paulo, mas não foi eleito. Atualmente, faz parte do MDB. Foi denunciado pelo Ministério Público Federal, em Brasília, por desvio de recursos públicos, conforme matéria do Estadão de fevereiro de 2017. Tentamos contato pelo e-mail informado no site oficial de Lamartine, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem. Wagner Malagues No perfil do Facebook, Wagner Malagues se apresenta como evangelista. Ele mantém um canal no YouTube intitulado “Wagnão”, cuja descrição diz “minha missão é informá-lo, e trazer o valor aquilo que estava perdido”. O canal contém conteúdos relacionados à religião e também vídeos sobre a vacina e temas políticos. Procurado pelo Comprova, sobre qual é a fonte para o conteúdo aqui verificado – referenciada na sua transmissão como um “vídeo em francês” -, não retornou. Perguntado se havia fontes adicionais que subsidiaram o conteúdo no seu perfil, nos enviou apenas o link da reportagem da Revista Exame mencionada acima. Também nos enviou um vídeo em português que não respondia às questões. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos relacionados a políticas públicas do governo federal e à pandemia, incluindo, publicações que veiculam informações falsas ou enganosas relacionadas à vacina contra a covid-19. Neste caso, a divulgação desses conteúdos é ainda mais grave, porque pode colocar a saúde das pessoas em risco, uma vez que desencorajam a população a se imunizar por meio da vacinação – que é apontado por especialistas como o meio mais efetivo para conter o novo coronavírus. Nesta verificação, o vídeo com informações falsas, publicado no Instagram, teve mais de 63 mil visualizações, até 23 de novembro. No YouTube o vídeo foi retirado de circulação antes da contagem de visualizações. O conteúdo contribui para o descrédito das vacinas contra a covid-19, doença que já tirou a vida de mais de 173 mil brasileiros, de acordo com os dados do Ministério da Saúde atualizados em 30 de novembro. A credibilidade dos imunizantes é colocada em dúvida por meio de afirmações sem comprovação que espalham medo, inclusive, a longo prazo, já que é mencionada a possibilidade de graves doenças futuras, como o câncer. Por isso, entender o que diz a ciência, sobretudo os estudos sobre vacinas, pode contribuir para sanar dúvidas da população e aumentar a confiança das pessoas sobre as informações catalogadas nas pesquisas científicas. O Comprova já checou outros conteúdos falsos que distorciam fatos e colocavam em xeque a credibilidade dos imunizantes, como o áudio que fazia alegações de que as vacinas poderiam causar câncer, danos genéticos ou homossexualismo, a live disponibilizada no Youtube com afirmações de que médico teria morrido por conta de efeitos da vacina de Oxford e o post no facebook que induzia internautas a acreditar que a CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac com apoio do Instituto Butantan, teria matado mais de 2 mil voluntários e alterava o DNA das pessoas. Já mostrou também que é enganoso dizer que expor a população ao vírus é melhor para acabar com a pandemia do que a vacinação, que todas as vacinas em teste no Brasil passaram por fase pré-clínica, ao contrário do que diz médico e que tuíte engana ao sugerir que vacina contra a covid-19 é desnecessária. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-mst-tenha-destruido-estacao-de-energia-no-amapa/
COMPROVA
É falso que MST tenha destruído estação de energia no Amapá
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2020-12-02
As imagens de um vídeo que viralizou são de 2017, quando um grupo de agricultores invadiu uma fazenda em Correntina, na Bahia, para protestar contra obras de irrigação que reduziram o nível de um rio da região – eles não são ligados ao MST. Conteúdo verificado: Vídeo postado em diversas páginas do Facebook e do Twitter afirma que o MST destruiu estação de transmissão de energia no Amapá, insinuando que a organização teria responsabilidade pelo apagão recente no estado. É falso o vídeo que circula em diversos grupos no Facebook e no Twitter afirmando que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é responsável pelo apagão que ocorreu no Amapá, no mês passado. A gravação mostra um grupo de pessoas destruindo postes de energia em um lugar indefinido e traz como legenda: “Militantes do MST destruindo uma estação de transmissão no Amapá. Isso a mídia podre não mostra”. Não é verdade. Como mostrou reportagem da Globo, essas imagens são de 2017, quando um grupo de agricultores invadiu uma fazenda em Correntina, na Bahia, para protestar contra obras de irrigação que reduziram o nível de um rio da região – eles não são ligados ao MST. As causas do apagão, que se iniciou com um incêndio durante uma tempestade, ainda estão sendo investigadas, mas segundo o que o Governo do Amapá explicou ao Comprova, o vídeo não foi feito no estado e “não se tem nenhuma evidência de envolvimento do MST no apagão; trata-se de uma fake news”. Também contatado pela reportagem, o MST disse que as acusações são infundadas e que “essas pessoas e esse tipo de ataque não têm nenhuma relação com o movimento”. Como verificamos? Por meio da ferramenta InVID, que faz busca reversa de imagens em fotos e vídeos, conseguimos encontrar links de reportagens da Globo de 2017 que exibiam o mesmo conteúdo e explicava o contexto em que a gravação foi feita. Também nos apoiamos em checagens feitas por outras agências de fact-checking e pesquisamos em sites de veículos de comunicação as causas do recente apagão. Também pesquisamos os perfis que associaram o vídeo ao MST no Facebook e no Twitter e tentamos entrar em contato com algumas páginas, sem retorno. Por e-mail, contatamos a Secretaria de Estado da Comunicação do Amapá e, por WhatsApp, conversamos com a assessoria de imprensa do MST. Verificação Vídeo antigo A gravação da postagem verificada é do início de novembro de 2017, conforme mostrou uma busca na ferramenta InVID, que trouxe uma reportagem do G1 sobre um protesto de agricultores em uma fazenda da empresa Lavoura e Pecuária Igarashi Ltda., em Correntina, na Bahia. Os agricultores invadiram a propriedade em um ato contra obras de irrigação que reduziram o nível da água do rio Arrojado e, de acordo com o delegado ouvido na época pelo G1, eram ligados a “pequenas associações existentes nos povoados ao longo do Arrojado”. Ou seja, a derrubada dos postes de energia mostrada no vídeo não contou com a participação do MST e nada tem a ver com o recente apagão no Amapá. O Comprova consultou o governo do Amapá por e-mail para questionar as informações do vídeo e das postagens feitas nas redes sociais. A assessoria do governo do estado respondeu em nota confirmando que o vídeo não foi feito no Amapá e tratou a publicação como uma notícia falsa: “O vídeo não é no Amapá. Também não se tem nenhuma evidência de envolvimento do MST no apagão. Trata-se de uma fake news”. Em contato feito por Whatsapp, a assessoria de imprensa do MST também negou qualquer relação com o vídeo e com o apagão do Amapá. “Mais uma vez são acusações infundadas, essas pessoas e esse tipo de ataque não tem nenhuma relação com o Movimento”, diz um trecho da resposta ao Comprova. O apagão no Amapá No início de novembro, um incêndio atingiu uma subestação de energia em Macapá, capital do estado. Desde então, treze municípios da região ficaram sem luz. O racionamento de energia foi uma realidade vivida pelos moradores locais e a nova realidade gerou impacto na qualidade de vida dos amapaenses: também houve dificuldade em realizar compras que suprissem as necessidades básicas, já que, sem luz, os bancos não estavam disponíveis para sacar dinheiro e a maioria dos lugares não possuía sinal para compras no cartão. Além das atividades comuns, outro ponto de preocupação foi com a necessidade de manter os cuidados essenciais durante a pandemia. Na primeira semana após o incêndio, um dos transformadores danificados foi recuperado, o que resultou no restabelecimento parcial da energia. As investigações sobre o que de fato causou o incêndio ainda não foram finalizadas. Inicialmente, as informações apontavam que uma tempestade de raios teria sido a principal responsável pelo incêndio na unidade. No entanto, em um laudo recente, a Polícia Civil detalhou que o incêndio começou de forma interna, em uma bucha. A Isolux, empresa privada responsável pela unidade, vem enfrentando intimações da justiça federal para que o apagão no Amapá seja solucionado efetivamente. Revoltados com a situação, os moradores do Amapá compartilharam em suas redes sociais os valores que costumam pagar em suas contas de luz. Os altos valores geraram indignação nos internautas e levantaram questionamentos sobre o preço abusivo. Os autores O vídeo da derrubada de postes na Bahia voltou a circular nas redes sociais no dia 26 de novembro de 2020, desta vez com o texto sugerindo que se tratava de um ato de vandalismo de membros do MST no Amapá. Segundo a plataforma de monitoramento CrowdTangle, houve 110 postagens do vídeo em páginas e grupos do Facebook até o fim da tarde de 30 de novembro, com um total de 1,7 mil reações. As postagens aparecem em grupos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e a figuras ligadas ao governo federal como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Das 110 postagens identificadas na plataforma, 45 foram em grupos que tinham no nome menções a Bolsonaro ou ao grupo político Aliança pelo Brasil. Em pesquisa no próprio Facebook, aparecem ainda 80 publicações do vídeo feitas em perfis pessoais. As duas postagens com maior alcance apresentam no campo de busca um total de 3 mil e 2,7 mil visualizações, respectivamente. Os vídeos foram publicados também no Twitter, onde houve 47 publicações nos últimos sete dias de novembro, segundo o CrowdTangle. O Comprova tentou contato com alguns dos perfis que compartilharam esses vídeos com a afirmação de que se trataria de um ato do MST, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tenham ligação com políticas públicas do governo federal, com a pandemia e com as eleições municipais. É o caso das várias publicações deste vídeo nas redes sociais, que registrava 110 postagens e 1,7 mil reações no Facebook até o dia 30 de novembro. A falsa relação feita entre o vídeo filmado na Bahia em 2017 e uma suposta participação do MST no apagão do Amapá pode confundir a opinião pública sobre as causas do blecaute que deixou o Estado por mais de 20 dias com comprometimento no serviço de energia elétrica. Também pode reduzir a atenção à identificação de fragilidades no sistema de abastecimento do estado a fim de evitar repetições do mesmo problema. O vídeo investigado também já foi verificado por outros veículos de checagem como a Agência Lupa, Estadão Verifica, Fato ou Fake e E-Farsas. O Comprova já verificou outros conteúdos relacionados ao MST, como o que relacionava, sem provas, o movimento a queimadas na Amazônia e no Pantanal e o que afirmava que o Exército havia apreendido madeira ilegal ligada à organização – ambas as verificações foram classificadas como falsas. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C350&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/boulos-nao-prometeu-deixar-o-pais-depois-da-derrota-nas-eleicoes/
COMPROVA
Boulos não prometeu deixar o país depois da derrota nas eleições
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2020-12-01
Guilherme Boulos nega ter feito a promessa, o Comprova não encontrou nenhum registro de uma manifestação do político nesse sentido e o site responsável pela publicação não respondeu ao nosso contato para que apresentasse alguma prova. Conteúdo verificado: Link de um site compartilhado nas redes sociais afirma que, após serem derrotados nas eleições municipais em Porto Alegre e São Paulo, respectivamente, Manuela D’Ávila (PCdoB) teria chorado, e Guilherme Boulos (PSOL) anunciado que deixará o país. Não há indícios de que o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) tenha anunciado que deixaria o país após perder para o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) nas eleições do último domingo (29), como diz uma publicação que circula pelas redes sociais. Procurada, a assessoria de comunicação de Boulos negou o conteúdo. Em seu pronunciamento pós-eleições publicado no Youtube, Boulos não fez nenhuma menção a sair do país. Pelo contrário, disse ser “o começo de uma caminhada” e motivou as pessoas a continuarem lutando, quando reconheceu a derrota na noite de domingo (29). Além disso, o Comprova não encontrou qualquer entrevista em que o psolista afirme isso. O “Jornal 21 Brasil”, portal responsável pela publicação, afirma que “uma imprensa livre é a condição fundamental para que as sociedades resolvam seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam sua liberdade.” O site foi listado pela “CPI das fake news” do Congresso Nacional como um dos sites de “conteúdo inadequado” que recebeu anúncios do governo. Para a CPI, o site publica notícias falsas” e veiculou material de publicidade da campanha Nova Previdência. A CPI analisou o conteúdo publicado pelo site entre junho e julho de 2019. Outras publicações realizadas pelo portal já foram verificadas, como a afirmação de que o TSE teria mudado a empresa responsável pela divulgação da apuração. Entramos em contato com o Jornal 21 Brasil, mas, até o momento em que essa checagem foi publicada, não tivemos retorno. Como verificamos? Procuramos, por WhatsApp, a assessoria de comunicação de Boulos. Também verificamos os conteúdos publicados pelo candidato em suas redes sociais oficiais após o fim da apuração no domingo e matérias com entrevistas para verificar se ele havia feito alguma afirmação do tipo. Pesquisamos, ainda, checagens relacionadas a Boulos realizadas anteriormente. Verificação Não há indícios de que Boulos pretenda deixar o país Ao Comprova, a assessoria de Guilherme Boulos negou o conteúdo da corrente. A equipe disse que “a informação, evidentemente, não procede”. Ainda segundo a assessoria, a equipe do candidato já tinha conhecimento de que esse conteúdo estava circulando. Em seu pronunciamento pós-eleição, o candidato derrotado do PSOL também não disse nada sobre deixar o país. Pelo contrário. Em vídeo publicado em suas redes sociais na noite de domingo (29), ele falou em “começo de uma caminhada”. “Nós não vencemos essa eleição, mas ninguém perdeu a vontade de lutar por esse caminho, para a gente seguir nos próximos anos. Hoje não é o fim de uma caminhada, é o começo. Começo da vitória da solidariedade sobre a indiferença”, declarou Boulos, em publicação após o fim da apuração. Por que investigamos? Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições municipais de 2020, a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições. Neste caso, o post no Facebook que compartilha o link com a notícia falsa teve mais de 3,3 mil curtidas, 2,2 mil comentários e cerca de 500 compartilhamentos desde a noite de domingo. Esta já é a terceira corrente que o Comprova checa sobre Boulos. Durante as eleições de 2020, o Comprova desmentiu que ele havia cobrado aluguel de sem-tetos e que iria obrigar paulistanos a receber moradores de rua durante a pandemia. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/bolsonaro-nao-tem-presenca-confirmada-no-forum-economico-mundial-de-2021/
COMPROVA
Bolsonaro não tem presença confirmada no Fórum Econômico Mundial de 2021
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2020-12-01
Procurada pelo Comprova, a organização do Fórum Econômico Mundial disse que a lista dos convidados para a edição 2021 do evento ainda não foi divulgada. O Palácio do Planalto também informou que ainda não há confirmação da presença de Bolsonaro no fórum, no ano que vem. Conteúdo verificado: Post no Facebook diz que Bolsonaro vai ser a estrela do Fórum Econômico Mundial, em Davos, em 2021. É enganosa uma publicação afirmando que o presidente Jair Bolsonaro já teria sido escolhido como a estrela principal do próximo encontro do Fórum Econômico Mundial, realizado na Suíça. No Facebook, uma postagem afirma que ele terá “uma mesa só dele, para receber autoridades e investidores do mundo todo”, mas a organização do Fórum, procurada pelo Projeto Comprova, disse que a lista dos convidados para a edição 2021 do evento ainda não foi divulgada. O Palácio do Planalto também foi contatado pela nossa reportagem e disse que ainda não há confirmação da presença de Bolsonaro no fórum, no ano que vem. A imagem verificada foi publicada no Facebook no dia 25 de novembro. Originalmente, a imagem foi postada no Instagram, em 2019, um momento em que, de fato, o presidente do Brasil era um dos expoentes do evento na Suíça. Isso indica que o conteúdo foi retirado de contexto para afirmar que Bolsonaro desfruta de grande prestígio internacional. Como verificamos? O primeiro passo da investigação foi descobrir se a imagem já tinha sido publicada antes nas redes sociais. Como a imagem verificada tem um selo da página “Oposição Zuera”, buscamos essa página e encontramos, no Instagram, um perfil com o mesmo nome, que publica imagens com selo idêntico. Verificando as postagens feitas por essa conta, encontramos a foto em questão, com a mesma frase sobre o encontro em Davos, numa publicação de 2019. Contatamos a assessoria do Palácio do Planalto e a organização do Fórum Econômico Mundial, por e-mail, para saber mais sobre os planos para a próxima edição do encontro. Por fim, tentamos contato com a autora da postagem no Facebook, mas não tivemos resposta até o fechamento desta verificação. Verificação Estrela de Davos O Fórum Econômico Mundial é realizado desde 1971 e é mais conhecido por suas reuniões anuais em Davos, na Suíça. O evento reúne os principais líderes empresariais e políticos, além de intelectuais e jornalistas selecionados para discutir as questões mais urgentes enfrentadas mundialmente. A postagem verificada afirma que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) será a “atração principal” do encontro que é realizado anualmente em Davos. Porém, o texto que está na imagem não faz referência ao ano do evento. A postagem original, encontrada pela nossa reportagem, é de 2019, ano em que o chefe do executivo do Brasil realmente era tratado pela imprensa (inclusive internacional) como um dos destaques do Fórum. Na ocasião, Bolsonaro tinha acabado de tomar posse e ainda era desconhecido pelo resto do mundo. Além disso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não participaria do evento naquele ano. Na data do Fórum, o discurso do presidente Bolsonaro teve seis minutos de duração e tratou de propostas sobre a abertura da economia brasileira. Em 2020, Bolsonaro foi convidado a participar do evento, mas acabou cancelando sua ida no começo de janeiro. O Fórum em 2021 Em 2021, por causa da pandemia do novo coronavírus, a expectativa é de que o encontro presencial seja realizado entre os dias 18 e 21 de maio, na comuna de Lucerna, na Suíça. Em janeiro, líderes globais vão participar de um debate virtual para discutir as perspectivas para o ano. O Comprova entrou em contato com a assessoria do Fórum Econômico Mundial para confirmar se a lista de convidados do evento presencial já havia sido decidida. Por e-mail, o fórum respondeu que, “como a lista de participantes da reunião anual de 2021 ainda não foi publicada – e será disponibilizada duas semanas antes do evento -, não é possível confirmar as afirmações da postagem.” Também por e-mail, a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), que responde sobre a agenda e compromissos do presidente Jair Bolsonaro, declarou que “não há confirmação sobre a participação do presidente Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial 2021”. Por que investigamos? O Projeto Comprova está em sua terceira fase, que foca na investigação de conteúdos relacionados à pandemia da covid-19, às eleições municipais de 2020 e em políticas públicas do governo federal. O conteúdo verificado foi tirado de seu contexto original para passar a ideia de que o governo brasileiro desfrute de prestígio internacional atualmente, mas ignora que ele vem sendo criticado por veículos de mídia de outros países e por outros chefes de executivo – sobretudo pelas ações realizadas durante a pandemia da covid-19 e pela política ambiental adotada pelo governo federal. A postagem verificada teve mais de 4 mil interações no Facebook até o dia 30 de novembro. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-buzios-zerou-casos-de-covid-pos-carnaval-gracas-a-tratamento-precoce/
COMPROVA
É falso que Búzios zerou casos de covid pós-Carnaval graças a “tratamento precoce”
null
2021-03-03
Prefeitura de Búzios não adotou o chamado "tratamento precoce" para a covid-19, ao contrário do que afirmou o senador Flávio Bolsonaro em seu perfil no Instagram. Conteúdo verificado: Publicação no Instagram de Flávio Bolsonaro reproduz imagens de duas notícias sobre os casos de coronavírus em Búzios, no Rio de Janeiro, após o carnaval. Na legenda do post, o senador parabeniza o prefeito da cidade pela adoção do tratamento precoce contra a covid-19. É falso que a cidade de Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, zerou as internações de pacientes de covid-19 após o Carnaval devido à adoção de um tratamento precoce contra a doença, conforme compartilhou o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) em seu perfil no Instagram. A prefeitura de Búzios não adotou a medida, que, além disso, tem tido seu uso desestimulado em estudos recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS). No post de 22 de fevereiro, o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) destaca uma montagem com imagens de duas manchetes de grandes veículos da imprensa e cita a redução de internações na cidade. Em seu post, ele comemora a queda, atribuindo-a ao um suposto “tratamento precoce” implementado pela prefeitura.“Salvando vidas e desmascarando a ‘torcida da morte’! Parabéns ao Prefeito de Búzios pelo tratamento precoce contra #covid_19 que implementou em sua cidade!”, diz sua legenda. A primeira notícia é de 16 de fevereiro, com o título “Defensoria Pública de Saúde estima que Búzios terá aumento exponencial de casos de Covid-19 após o carnaval”. A segunda é do dia 18, com o título “Búzios zera número de pacientes internados com Covid-19 e não tem casos confirmados nas últimas 24 horas”. O senador erra ao afirmar que o prefeito da cidade, Alexandre Martins (Republicanos-RJ), adotou um protocolo de tratamento precoce, seja à base de medicações como cloroquina, ivermectina ou azitromicina – todos sem eficácia comprovada cientificamente, mas usados em diversas fake news, algumas desmentidas pelo Comprova. A informação foi negada pelo próprio prefeito durante entrevista concedida em 25 de fevereiro para o Portal RC24h. Questionado sobre a publicação, Alexandre Martins explicou que o uso da cloroquina ou outros medicamentos do chamado “tratamento precoce” não faz parte da estratégia adotada em Búzios para o tratamento da covid-19. Os médicos, conforme indica a legislação, têm autonomia para usar, mas esta não foi uma estratégia adotada na cidade. A matéria do G1, compartilhada no post de Flávio Bolsonaro, leva em consideração uma nota em que a prefeitura de Búzios afirma não ter registrado novos casos de infecção ou internação pela covid-19 durante 24 horas, entre os dias 16 e 17 de fevereiro. No mesmo dia da publicação, entretanto, o número de infecções voltou a subir. Segundo dados do boletim epidemiológico, entre o sábado de carnaval (12 de fevereiro) e o fechamento desta verificação, Búzios registrou 124 novos casos de covid-19. Como verificamos? Consultamos os dados dos boletins de evolução epidemiológica, no portal da transparência da Prefeitura de Búzios. Pesquisamos estudos internacionais publicados sobre o tempo médio de incubação do vírus, para entender seu contágio, e sobre a eficácia de tratamentos precoces contra a covid-19. Para falar disso, também conversamos com o infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Entramos em contato, em 23 de fevereiro, com a assessoria de imprensa da prefeitura de Búzios, por e-mail e pelo telefone, para questionar as medidas sanitárias ainda em vigor na cidade e saber por vias oficiais se a prefeitura adquiriu medicamentos para o tratamento precoce contra a covid-19, bem como o total desembolsado pelo órgão. O Comprova não obteve retorno. Em seguida, buscamos algumas repercussões na mídia sobre a postagem de Flávio Bolsonaro, e encontramos as declarações do prefeito. Procuramos ainda pela assessoria de imprensa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que fez a publicação, mas não houve retorno até o fechamento da verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 3 de março de 2021. Verificação Tratamento precoce Segundo o prefeito Alexandre Martins (Republicanos-RJ), o uso da cloroquina ou outros medicamentos do chamado “tratamento precoce” não faz parte da estratégia adotada em Búzios para o tratamento da covid-19. Em entrevista concedida em 25 de fevereiro para o Portal RC24h, o prefeito explicou que o atendimento adotado pela cidade se refere a um diagnóstico rápido da doença, viabilizado através da maior disponibilidade de Unidades Básicas de Saúde (UBS), leitos hospitalares e profissionais de saúde, o que permite um atendimento mais ágil da população. “Quando a gente fala em atendimento precoce, não é a medicação que se toma, mas o momento que se procura a Saúde para buscar um diagnóstico. Com atendimento precoce a gente trata mais rápido, já que é uma doença que evolui muito rápido. Isso, no nosso entendimento, é a peça chave fundamental”, esclarece. Questionado pela entrevistadora se a Secretaria de Saúde da cidade, comandada pelo médico Marcelo Amaral, está orientando que o médicos receitem medicações como a cloroquina, azitromicina, ivermectina e sulfato de zinco como tratamento no início dos sintomas da covid-19, o prefeito explicou que não há uma linha de atuação definida e repassada aos profissionais. Ele também esclarece que os médicos têm total liberdade para receitar remédios para seus pacientes. “Não tem um protocolo de atendimento. Óbvio que a gente sabe que hoje, o que mais se tem indicado, até por uma pesquisa que nós fizemos, é a azitromicina, ivermectina, vitamina C com zinco, é o que geralmente o que os médicos mais indicam. A cloroquina, eu particularmente não tenho visto nenhum médico indicar aqui em Búzios, e eu tenho conversado com muitos médicos.” Em outra reportagem, publicada no dia anterior pelo Portal RC24h, o prefeito foi mais direto sobre seu posicionamento quanto ao uso da cloroquina. “Estamos seguindo orientação do Conselho Federal de Medicina, cada médico receita os medicamentos de acordo com cada paciente. A cloroquina está descartada, ninguém mais usa essa porcaria”, afirmou ao jornal. Evolução da covid-19 em Búzios O Comprova analisou os dados sobre a covid-19 em Búzios, disponíveis no portal da transparência da prefeitura. Em 18 de fevereiro, a Prefeitura de Búzios divulgou em seus canais oficiais que não havia contabilizado novos casos de covid-19 ou internação naquele dia, informação que foi replicada pelo senador Flávio Bolsonaro dias depois. Os dados se referiam ao boletim do dia 17, que não registrou novos testes positivos nas 24 horas anteriores. Na ocasião, a cidade contabilizava um total de 3.132 casos desde o início da pandemia, 32 mortes, 114 pessoas em isolamento domiciliar e nenhum paciente internado. Já no dia 18, foram registradas 2 novas internações por covid-19. Na data da postagem de Flávio Bolsonaro, 22 de fevereiro, Búzios contabilizava 3.159 casos, com um paciente internado e 92 em isolamento domiciliar. No último boletim divulgado antes da publicação desta verificação, do dia 02 de março, o município registrava 74 pacientes em isolamento domiciliar e duas internações, além de um total de 3.238 casos e 32 óbitos desde o início da pandemia. Desde o carnaval (12/02), a cidade registrou 124 novos casos do novo coronavírus. Cedo para ter impacto O argumento base da publicação é que nos dias seguintes ao carnaval, findado no dia 16, os números da cidade fluminense não teriam crescido. No entanto, o tempo médio de incubação do vírus é de cerca de duas semanas e estima-se que os primeiros sintomas surjam, em média, dentro de cinco dias, de acordo com a universidade norte-americana Johns Hopkins, que acompanha a evolução global da pandemia. Ou seja, não é possível medir o impacto do contágio em apenas um ou dois dias, como leva a crer a postagem publicada por Flávio Bolsonaro, que se refere ao dia 18 de fevereiro. “É muito cedo para dizer. O período de incubação vai até duas semanas, em média de cinco a sete dias para aparecerem os sintomas. Pelo contrário: no [período do] Natal, após as festas de final de ano, [a praia de] Pipa [RN] teve diagnóstico de duas variantes simultâneas, provavelmente de pessoas que estiveram juntas naquela região vindo de locais diferentes. Qualquer tipo de aglomeração que possa ter ocorrido no carnaval, ela vai mostrar até duas semanas depois”, afirma o infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Segundo ele, este contágio gera ainda um “efeito cascata”. “A pessoa se infectou no carnaval. Os sintomas dela aparecem em até duas semanas, mas ela pode ter transmitido para outra pessoa no período de incubação. Esta, para outras e assim sucessivamente. Então, começa a ver de uma a duas semanas depois, mas o alcance disso, sem nenhuma medida restritiva, vai muito além”, explica. Não há tratamento precoce Além de encorajar aglomerações, a publicação busca ainda creditar o suposto sucesso do combate à pandemia na cidade ao “tratamento precoce” sob o argumento de que a cloroquina, hidroxicloroquina e outros medicamentos teriam prevenido o contágio. Não há provas disso. Na verdade, atualmente, o consenso internacional é de que o tratamento com cloroquina não tem eficácia em nenhum estágio do combate à covid-19, seja no uso precoce, no surgimento de sintomas, ou no estágio grave da doença. Pelo contrário. Nesta semana, a OMS publicou um relatório em que não só diz não recomendar o tratamento precoce com cloroquina como “aconselha fortemente contra” seu uso para tratar precocemente a covid-19. Segundo a organização, a droga “não é mais uma prioridade de pesquisa” e pesquisadores “deveriam focar em outras drogas”. “A droga anti-inflamatória hidroxicloroquina não deve ser usada para prevenir infecção em pessoas que não estão com covid-19”, diz o texto. A recomendação é baseada em um estudo feito com 6 mil pacientes e o resultado, mais uma vez, é que a droga não oferecia eficácia alguma para prevenir a doença. Em outubro do ano passado, um estudo global da OMS, com 11 mil pessoas, já havia concluído que hidroxicloroquina e o antiviral remdesivir são “decepcionantes” no combate à covid e não têm eficácia comprovada. “É mais uma fake news, um desserviço”, afirma Stanislau. “Evidentemente que não existe tratamento precoce nenhum. Isso é uma bobagem que só no Brasil ainda persiste.” Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre covid-19 e políticas públicas do Governo Federal que tenham grande potencial de viralização. A postagem do senador Flávio Bolsonaro obteve mais de 20,5 mil curtidas e endossa um tratamento sem comprovação científica. O Comprova já desmentiu diversas publicações que também estimulam a desinformação sobre a doença ao promover tratamentos sem eficácia, como o texto que afirma que cloroquina cura 98,7% dos pacientes com covid-19 e que o “tratamento precoce” com a droga evitou mortes em Porto Feliz, no interior paulista. Falso, para o Comprova, é o conteúdo que tenha sofrido edições com intuito de mudar o seu significado original.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-que-ponte-de-concreto-no-mt-seja-obra-do-governo-bolsonaro/
COMPROVA
É enganoso que ponte de concreto no MT seja obra do governo Bolsonaro
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2021-03-02
Obra na MT- 220 sobre o Rio Arinos, em Porto dos Gaúchos, é atribuída em vídeo ao governo Bolsonaro, mas na verdade é de responsabilidade do governo de Mato Grosso. Conteúdo verificado: vídeo publicado no TikTok atribui a execução da ponte de concreto do rio Arinos em Porto dos Gaúchos (MT) ao governo Bolsonaro. É enganoso um vídeo publicado no TikTok que atribui ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) a construção de uma ponte de concreto sobre o rio Arinos, em Porto dos Gaúchos, no Mato Grosso. A obra, iniciada em maio de 2020, é, na realidade, de responsabilidade do governo estadual e os recursos de R$ 18 milhões saíram do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) e do Fundo Estadual de Saúde. Os dois fundos contam com recursos da União, mas, de acordo com o próprio Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a obra é de responsabilidade do estado. O Fethab foi criado pela Lei Estadual 7.263 em 2010. Segundo o site da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística, os recursos financeiros do fundo são provenientes de commodities de algodão, madeira, soja, gado e óleo diesel e impostos. No Portal da Transparência do governo federal, há o repasse da União ao Fethab. Por exemplo, nos meses de novembro e dezembro de 2020, o órgão recebeu mais de R$ 300 mil para pagar taxas e pedágios no transporte de milho. No vídeo verificado, um homem transita por uma ponte de madeira sobre o rio Arinos, paralela às obras da ponte de concreto, e recomenda “aos petistas” para “limparem a boca” antes de criticarem o atual governo federal. Apontando para a construção da ponte de concreto, o homem diz que graças “ao nosso governo Bolsonaro” vai sair a ponte, que não foi feita “em 16 anos de PT”. Como verificamos? Primeiramente, buscamos a localização exata da ponte de acordo com que é falado no vídeo: ponte rio Arinos em Porto dos Gaúchos, município a 650 quilômetros de Cuiabá, no estado do Mato Grosso. O local não possui dados do Google Street View, mas conseguimos fazer um vídeo pelo Google Earth. As imagens, de outubro de 2020, mostram uma ponte de madeira e do lado a construção de uma nova ponte, de concreto. Entramos em contato com a prefeitura de Porto dos Gaúchos, com o governo do Mato Grosso e com o governo federal para esclarecer as possíveis responsabilidades de cada esfera. Buscamos notícias sobre o andamento das obras e fotos do lugar. Entramos em contato com o deputado federal Neri Geller (PP) e a deputada estadual Janaina Riva (MDB), citados em uma notícia sobre a obra publicada no site da prefeitura de Porto dos Gaúchos. Também procuramos o autor do vídeo, que se apresenta como Rudimar Martins da Silva, mas até o momento da publicação desta verificação ele não havia retornado. Em sua conta no TikTok, ele tem diversos vídeos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Verificação Sobre a ponte do rio Arinos em Porto dos Gaúchos O Rio Arinos corta o estado de Mato Grosso, tem extensão de 760 km e se une, ainda no território do estado, ao rio Juruena. O lugar onde ele é mais conhecido é chamado de Vale do Rio Arinos e envolve as cidades de Juara, Juina, Novo Horizonte do Norte e Porto dos Gaúchos. A ponte sobre o rio em Porto dos Gaúchos é parte da MT-220, uma rodovia estadual e, portanto, de responsabilidade do governo estadual. A necessidade de trocar a ponte de madeira por uma ponte de concreto é apontada há anos no noticiário local. Uma notícia de 2013 mostra a inauguração da reforma da ponte de madeira. Na ocasião, o ex-prefeito de Porto dos Gaúchos Baixinho Piovesan (PSB) afirmou que a licitação da ponte de concreto estava concluída e que a previsão era ser construída no ano seguinte. No entanto, outras reformas da ponte de madeira foram realizadas antes da construção da nova, em 2017 e 2018. Um vídeo de março de 2020 no Facebook da página “O Mato Grosso é nosso” mostra a travessia da ponte de madeira já bem danificada. Em agosto de 2013, o governo do Mato Grosso realizou uma licitação por concorrência pública com o objetivo de construir diversas pontes de concreto no estado. A empresa que ganhou a licitação foi a Arteleste Construções LTDA. No dia 5 de março de 2014, o Diário Oficial do Mato Grosso publicou o contrato com a construtora. Em contato com a empresa Arteleste Construções eles confirmaram serem responsáveis pela obra. Em contato com o Comprova, a assessoria de imprensa do governo do Mato Grosso confirmou que a obra é de responsabilidade estadual e afirmou que os recursos utilizados na obra são do Fethab, o Fundo Estadual de Transporte e Habitação. Segundo a assessoria, 68% da obra está sendo realizada e o prazo máximo para ela ser finalizada é abril de 2022. Reforçando a informação de que a obra não é do governo federal, como garante o vídeo verificado, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) afirmou, em email enviado ao Comprova, que a obra é de responsabilidade do governo do Mato Grosso e que não há participação do governo federal. A posição da Prefeitura Até a publicação desta verificação, o Comprova não havia recebido retorno da prefeitura de Porto dos Gaúchos. No site da administração municipal, encontramos uma nota publicada em maio de 2020, na qual o governo municipal agradece ao governo estadual pela construção da ponte de madeira. São mencionados na nota da prefeitura, também, os apoios do deputado federal Neri Geller e da deputada estadual Janaína Riva. Neri Geller (PP) é produtor rural, empresário e deputado federal no terceiro mandato pelo Mato Grosso. Foi ministro da Agricultura de março a dezembro de 2014, durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em um vídeo no Facebook, em maio de 2020, Geller menciona um repasse de R$ 10 milhões para a construção da ponte por emenda parlamentar. Em contato por telefone com o Comprova, o deputado explicou que seu apoio na verdade teria sido uma articulação com o governo do Mato Grosso. Ele argumentou que destinou parte do valor de uma emenda de bancada feita ao orçamento da União para a saúde do Estado e, como contrapartida, o governo mato-grossense usaria recursos estaduais de infraestrutura para executar a obra da ponte. O valor total da emenda seria de cerca de R$ 60 milhões, segundo o parlamentar, mas a parte indicada por ele nessa articulação seria de R$ 10 milhões — o valor que ele cita no vídeo. O Portal da Transparência apresenta uma emenda de bancada dos deputados federais do Mato Grosso no valor de R$ 61 milhões destinada a serviços de assistência hospitalar e ambulatorial na área da saúde, em 2020. O valor consta como pago ao Fundo Estadual de Saúde em 23 de junho de 2020. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet relacionados a políticas do governo federal e à pandemia de covid-19. Postado no TikTok, com mais de 26 mil visualizações, o vídeo em questão, que aborda a obra e melhorias como responsabilidade do governo Bolsonaro quando, na verdade, é de cunho estadual, já passou de 4,2 mil interações, contando com mais de 740 compartilhamentos e comentários de parabenização ao presidente pelo encaminhamento da obra. Enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/pai-de-presidente-da-oab-foi-vitima-do-regime-militar-e-nao-dos-proprios-companheiros/
COMPROVA
Pai de presidente da OAB foi vítima da ditadura e não dos próprios companheiros
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2019-07-31
Postagem no Twitter usa trecho de entrevista de um ex-guerrilheiro como sendo uma confissão do assassinato de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira Um trecho da entrevista para o programa Dossiê Globo News com o ex-guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN) Carlos Eugênio Paz foi utilizado em um post enganoso no Twitter como sendo uma confissão do assassinato de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira. Fernando desapareceu durante o regime militar e era pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. O Comprova verificou, no entanto, que o trecho da entrevista se refere à participação de Carlos Eugênio Paz na morte de Márcio Leite de Toledo, um dos dirigentes da ALN. A reportagem completa foi ao ar em julho de 2012, tem 51min26seg e mostra a entrevista concedida por Paz a Geneton Moraes Neto. Como verificamos O Comprova localizou a entrevista completa em uma busca pelos nomes “Geneton Eugênio Paz” no site da Globo News e assistiu ao trecho que contém as falas utilizadas na postagem no Twitter. Além disso, cruzou as informações relativas ao assassinato com a data e local do desaparecimento de Santa Cruz. O que consta na íntegra da entrevista O trecho referente ao assassinato de Márcio Leite de Toledo começa aos 38min36seg do vídeo e se estende até os 43min23seg. A partir de 38min49seg, Geneton pergunta: “Você participou no dia 23 de março de 1971 da execução de um militante da ALN, Márcio Leite de Toledo, que defendia uma pausa na luta armada e foi considerado inconfiável. Que argumento você usou na época para defender essa execução?”. Esse questionamento não aparece na versão reduzida do vídeo que viralizou. Nela há apenas parte da resposta. Na versão publicada no Twitter aparece a pergunta de Geneton feita no instante 42min39seg: “Você participou diretamente da execução então?”. A que Carlos Eugênio Paz responde: “(…) Participei, sim, da ação a tiros na rua, numa rua nos Jardins, num daqueles jardins lá de São Paulo. Como você disse, no dia 23 de março de 1971”. Dados oficiais sobre o desaparecimento de Santa Cruz Fernando Santa Cruz consta na lista de mortos e desaparecidos políticos do relatório final da Comissão da Verdade (CNV). De acordo com o documento, ele sumiu em 23 de fevereiro de 1974, quase três anos depois do assassinato de Márcio Leite de Toledo, do qual Carlos Eugênio Paz confessou ter participado. Além da discordância em relação ao ano de morte de Márcio Leite de Toledo, Santa Cruz desapareceu na cidade do Rio de Janeiro, enquanto o assassinato de Toledo, conforme mencionado na entrevista, ocorreu em São Paulo. No item “Circunstâncias de Desaparecimento e Morte” do relatório da CNV, consta que Santa Cruz foi visto pela última vez ao deixar a casa do irmão, no Rio de Janeiro. Ele disse à família que encontraria o amigo de infância Eduardo Collier Filho. Antes de sair, teria informado que, se não voltasse até o fim da tarde, provavelmente teria sido preso, já que o amigo passava por processo na Justiça Militar. Outro ponto divergente é que tanto Carlos Eugênio Paz quanto Toledo faziam parte da ALN, já Santa Cruz foi das organizações Ação Popular (AP) e Ação Popular Marxista Leninista (APML). Segundo consta na página 1.607 do relatório: “conclui-se que Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira foi preso e morto por agentes do Estado brasileiro e permanece desaparecido, sem que os seus restos mortais tenham sido entregues à sua família”. A Comissão da Verdade levanta duas hipóteses para seu desaparecimento. A primeira é de que ele e o amigo Eduardo Collier Filho teriam sido levados ao DOI-CODI, em São Paulo, e seus corpos tenham sido sepultados como indigentes no Cemitério Dom Bosco, na mesma cidade. A possibilidade é baseada em relatos de familiares, que afirmaram ter ouvido a informação de um funcionário do DOI-CODI. A outra hipótese é sustentada pelo depoimento prestado pelo ex-delegado do DOPS/ES, Claudio Guerra, que afirmou que os corpos dos dois militantes teriam sido incinerados na Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes (RJ). As conclusões estão nas páginas 1.603 e 1.604 do relatório final da comissão. Não consta na lista de mortos e desaparecidos políticos o nome do militante da ALN, Márcio Leite de Toledo, morto pelos militantes da ALN. Carlos Eugênio Sarmento da Paz morreu aos 69 anos, no dia 29 de junho deste ano, em Ribeirão Preto (SP). O vídeo fora de contexto foi postado no Twitter pelo perfil @Willianwallaci em 29 de julho e, no dia 30 às 17h30, possuía mais de 49 mil visualizações e 2.300 curtidas. A postagem no Twitter também foi verificada pelo G1. Contexto Na segunda-feira, 29 de julho, o presidente Jair Bolsonaro reclamou da atuação da OAB na investigação do caso de Adélio Bispo, autor do atentado à faca do qual foi alvo. Na ocasião, Bolsonaro disse que poderia explicar ao presidente da entidade, Felipe Santa Cruz, como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985). “O pai do Santa Cruz integrava a AP, a Ação Popular de Recife, era o grupo terrorista mais sanguinário que tinha. E esse pessoal tinha algumas ramificações pelo Brasil, tinha uma grande no Rio de Janeiro. E o pai dele veio para o Rio de Janeiro”, afirmou Bolsonaro em vídeo publicado em sua página no Facebook. Segundo ele, integrantes da AP decidiram “sumir o pai do Santa Cruz”. Questionado pelo fato de haver documentos públicos que mostram que o desaparecimento se deu após prisão pelo Estado, o presidente contestou a Comissão Nacional da Verdade (CNV), grupo criado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2011 para investigar violações aos direitos humanos ocorridos durante o regime. Saiba mais Leia a carta que as mães de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira e de Eduardo Collier Filho escreveram ao então Chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, em 27 de maio de 1974, apelando por ajuda para encontrar os filhos desaparecidos. Elio Gaspari: A realidade paralela de Bolsonaro (na Folha, para assinantes) Após ataque de Bolsonaro ao presidente da OAB, simpatizantes do governo espalham boatos infundados sobre Fernando Santa Cruz (no Estadão) O que dizem documentos oficiais sobre a morte de Fernando Santa Cruz (na Exame)
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['Projeto Comprova']
['Verificação']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/chuvas-nao-impedem-desmatamento-na-amazonia-saiba-como-sao-feitas-as-medicoes-do-inpe/
COMPROVA
Chuvas não impedem desmatamento na Amazônia; saiba como são feitas as medições do INPE
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2019-07-30
Ao contrário do que afirma um médico em vídeo publicado nas redes sociais, é possível desmatar a floresta em períodos chuvosos. Além disso, o período de chuvas na Amazônia vai de novembro a março enquanto os índices de desmatamento, medidos pelo INPE, cresceram de maio a julho deste ano. Em vídeo compartilhado no Facebook e em grupos no WhatsApp, um médico do Pará contesta dados de desmatamento na Amazônia divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Ele afirma que não é possível desmatar a floresta de janeiro a julho, pois estes são meses mais chuvosos e não permitem queimadas. Essa alegação, no entanto, é falsa. O período de chuvas na região da Amazônia é entre novembro e março, confirmam especialistas entrevistados pelo Comprova. Além disso, especialistas explicam que não é impossível desmatar a floresta com chuva. De acordo com eles, mesmo em estações chuvosas, há regiões mais secas, como o sul da Amazônia, próximo à transição com o Cerrado. Também é possível derrubar as árvores usando outros métodos, com tratores e motosserras, e esperar a estação seca para fazer queimadas que “limpem” o terreno. Dados preliminares coletados por satélites e divulgados pelo INPE no site Terra Brasilis mostram um aumento de 212,4% no desmatamento na Amazônia em julho de 2019 em relação ao mesmo período do ano anterior. Os números do INPE foram questionados também pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele contestou a veracidade dos dados, reclamou da divulgação e disse que as informações prejudicam o nome do Brasil no exterior. Como verificamos Para checar o conteúdo do vídeo, o Comprova entrevistou a professora Luciana Rizzo, do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Carlos Souza, geólogo do instituto de pesquisa Imazon. Consultamos ainda dados disponíveis publicamente do INPE, do Imazon e do MapBiomas, assim como estudos e reportagens sobre o assunto. A principal confusão de Marcos Andrade, o médico que aparece no vídeo, está em apontar o INPE como mentiroso por ter supostamente indicado alta do desmatamento na Amazônia no período da estação chuvosa — que geralmente dura de novembro a março. Informações do INPE (veja aqui como acessar) mostram que o desmate da floresta não aumentou nesses meses de 2019, mas em maio, junho e julho, que marcam o período de transição dos temporais para a estação seca. A área florestal perdida em meados de julho atingiu o valor mais alto em um mês desde 2015, primeiro ano da série histórica, segundo dados preliminares do Deter-B –um dos sistemas do órgão federal que observam a Amazônia. A plataforma TerraBrasilis, que exibe esses registros, mostra que de 1º a 25 de julho deste ano a perda pode ter atingido 1.864,1 km², área pouco maior que da cidade de São Paulo. Ainda em 2019, o sistema registrou 932 km² desmatados na Amazônia em junho (90% a mais que em junho de 2018) e 738 km² em maio (34% a mais). Já entre janeiro e abril, o desmate caiu em relação ao ano anterior. Desmatamento na Amazônia Legal Infogram Ainda que o médico fizesse referência aos dados corretos, a afirmação de que é “impossível” realizar queimadas — portanto, impossível desmatar — na Amazônia durante a estação chuvosa ainda seria falsa, disseram Luciana Rizzo e Carlos Souza ao Comprova. Apesar de o inverno (como é chamada a época de chuvas) ser de fato rigoroso na região, a distribuição das precipitações na floresta varia tanto entre os meses quanto no espaço — a Amazônia Legal ocupa 5,2 milhões km², divididos em zonas de diferentes microclimas. Um artigo científico de 2001 de José Marengo, climatologista indicado pelos pesquisadores, aponta diferentes padrões de chuva em diferentes zonas da Amazônia (norte, nordeste, sudeste, sudoeste, região central e foz), cujos picos de temporais variam entre os meses da estação chuvosa — os resultados por região são descritos a partir da terceira página do documento. Isso significa que, no início do ano, enquanto em uma região ao norte da floresta pode haver poucas queimadas por causa de chuvas intensas, ao mesmo tempo, ao sul, operações de desmatamento podem funcionar porque ali o microclima é mais seco. Além disso, Souza conta que, embora a queimada seja o método tradicional de limpeza de um terreno após a derrubada da floresta — portanto, prática geralmente inseparável do desmate —, uma estratégia às vezes usada nas operações de desmatamento baseia-se em derrubar as árvores durante a estação chuvosa, mas realizar a queimada meses depois, em tempos de seca. É uma maneira de acelerar essas operações ainda no início do ano, mesmo em lugares em que os temporais impedem que se finalize o procedimento. Um documento do INPE explica como é o processo (PDF). A extração inicial da madeira é seletiva: primeiro vão as árvores nobres, depois as utilizadas na construção civil e, por fim, as madeiras mais leves. Depois, são derrubadas as espécies de menor porte e destruída a vegetação rasteira. O fogo é utilizado posteriormente, em uma segunda “limpeza” da área. Essa operação pode levar alguns anos. Quem é o médico que aparece no vídeo Antes de conversar com os pesquisadores, o Comprova entrou em contato por telefone com Marcos Andrade, que preferiu não responder às perguntas enviadas pela reportagem. Morador de Santarém (PA) e médico registrado no Pará, ele defende o presidente Jair Bolsonaro (PSL) no vídeo enganoso. Marcos já gravou outros vídeos defendendo Jair Bolsonaro e criticando a mídia. Ele também já se posicionou de maneira contrária ao candidato à Presidência do PT nas últimas eleições, Fernando Haddad, e às políticas de redistribuição de renda do partido. O médico divulgou ainda uma gravação no ano passado em que acusa fraude nas urnas eletrônicas. No Facebook, ele publicou diversas postagens em apoio a Bolsonaro. A gravação de Marcos foi divulgada por páginas como DireitaConservador, que teve 16,9 mil compartilhamentos e 204 mil visualizações entre os dias 23 e 30 de julho, e Clarice Borsa Agnes, com 7,3 mil compartilhamentos e 70 mil visualizações entre os dias 23 e 30 de julho. O vídeo também foi sinalizado no Monitor de WhatsApp da Universidade Federal de Minas Gerais, que mapeia conteúdo viral em grupos públicos do aplicativo de mensagens. Após a publicação do primeiro vídeo, Marcos divulgou uma nova gravação em que diz que os índices do INPE podem ser fabricados. A fonte de suas informações, segundo ele, é sua “vivência da Amazônia”. Ele ainda canta uma música de Chitãozinho & Xororó, “Terra Tombada”, em que destaca os versos sobre queimadas na floresta no calor de agosto — e não nos meses de inverno (ou seja, nas chuvas de início de ano). Como o INPE monitora o desmatamento Instituído em 1971, para produzir ciência no Brasil na área espacial, o INPE monitora a Amazônia há mais de 30 anos. As imagens da floresta, obtidas via satélites, servem de base para quantificar o desmatamento local e embasar ações de fiscalização, controle e combate a ações ilegais, segundo o Ministério do Meio Ambiente. A precisão das imagens varia de 90% a 95%, segundo o instituto. Ao todo, três sistemas de monitoramento do INPE vigiam a Amazônia — a área observada é da Amazônia Legal, que abrange os estados do Norte mais parte do Mato Grosso, de Tocantins e do Maranhão. São eles o Prodes (Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite), que levanta as taxas anuais do desmate, o Deter-B (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), que emite alertas diários, e o TerraClass, criado em parceria com a Embrapa, que mapeia o uso da terra após o desmatamento. As informações recentes sobre o desmatamento em 2019 foram produzidas pelo Deter-B, criado em 2004 dentro do INPE para servir de suporte a ações do Ibama, autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente responsável por fiscalizar crimes ambientais. Usando dois sensores de dois satélites (o sino-brasileiro CBERS-4 e o indiano IRS), o sistema identifica o desmate ou degradação de áreas da floresta maiores que três hectares, partindo da detecção de padrões como cor, tonalidade, textura e forma da cobertura. Após registro das imagens e contabilização dos resultados, feita de forma automatizada, os dados do Deter-B são repassados ao órgão ambiental e disponibilizados na plataforma TerraBrasilis, do INPE, que também divulga dados do Prodes. “Estão abertos para todo mundo, todo mundo pode verificar”, disse o diretor do instituto, Ricardo Galvão, em entrevista ao Estadão. A partir de 2004, o INPE adotou uma política de transparência que permite que qualquer pessoa acesse informações dos monitoramentos no site do instituto, incluindo dados sobre os satélites e a metodologia de captação das imagens, diz o órgão. Por causa da cobertura de nuvens, que é variável de um mês para outro, e também da resolução espacial das imagens geradas pelos satélites do sistema, o INPE recomenda que a comparação entre dados de diferentes meses e anos obtidos pelo Deter seja feita com cautela. A cobertura de nuvens faz também diferença para a avaliação do desmatamento durante o período de chuvas, sobretudo entre janeiro em março — tradicionalmente, meses que registram a menor quantidade de alertas de desmate. A informação oficial do INPE para medir a taxa anual de desmatamento na floresta, diz o órgão, é fornecida pelo Prodes. Acumulado, o desmatamento na Amazônia chegou a 20% da floresta, segundo o Relatório Planeta Vivo 2018, da WWF. Após atingir em 2004 um dos pontos mais altos da série histórica, com mais de 27 mil km² destruídos em um ano — a taxa anual de desmate é medida pelo INPE desde 1988 —, a devastação passou a cair, atingindo 4,5 mil km² em 2012. Em 2015, no entanto, os dados voltaram a aumentar. Além do INPE, o Imazon, instituto de pesquisa não governamental, e a plataforma MapBiomas monitoram o desmatamento na Amazônia por sensoriamento remoto via satélites. As metodologias que ambos seguem difere em alguns pontos da que é usada pelo INPE, embora os três sistemas apresentem resultados semelhantes. Autoridades científicas internacionais, como a Nasa, dos EUA, consideram o INPE referência na área. Para saber mais O desmatamento da Amazônia. E o papel do INPE para barrá-lo (Nexo) Criticado por Bolsonaro, INPE é referência não só contra desmatamento (UOL) Destruir o Inpe é abrir mão de nossa soberania (Fernando Reinach, Estadão)
null
null
['Projeto Comprova']
['Verificação']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/foto-de-obra-na-br-163-usada-em-montagem-enganosa-como-sendo-do-governo-bolsonaro-e-dos-anos-lula/
COMPROVA
Foto de obra na BR-163 usada em montagem enganosa como sendo do governo Bolsonaro é dos anos Lula
null
2019-07-27
A imagem superior, do atoleiro, foi captada em 2017, durante o governo Temer; a imagem inferior, das obras, é de 2008, ano em que Lula era presidente Duas fotos autênticas da BR-163, rodovia que liga o município de Tenente Portela, no norte do Rio Grande do Sul, a Santarém, no Pará, estão sendo utilizadas em uma montagem enganosa que circula pelas redes sociais. A primeira fotografia mostra a estrada bastante enlameada e com ônibus e caminhões tendo dificuldade para se locomover. Os autores da montagem atribuem essa situação aos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), ambos do PT. O Comprova apurou que a foto foi capturada durante o governo de Michel Temer (MDB), em 2017. Na segunda imagem, máquinas trabalham no asfaltamento da pista, o que é creditado ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), iniciado em janeiro deste ano. O Comprova, no entanto, localizou um registro da foto em 2008, ano em que Lula era presidente. Como verificamos Para a realização desta verificação, o Comprova utilizou ferramentas de busca reversa, como o Google Image Search, para averiguar se as mesmas imagens já haviam sido publicadas anteriormente na internet. Como o post tem duas fotos, primeiramente separamos as imagens. Depois fizemos uma busca reversa e descobrimos que a foto da parte de cima foi publicada em 6 de fevereiro de 2017 no site paraense Folha do Progresso, ilustrando uma notícia com o seguinte título: “Atoleiros e buracos triplicam tempo de viagem pela BR-163 e 230 entre Novo Progresso, Altamira e Santarém”. A foto é de autoria do jornalista Juliano Simionato. Em entrevista ao Comprova, ele afirmou não se recordar exatamente do local do registro, mas disse suspeitar de que se trate de um trecho de estrada entre as cidades de Itaituba e Rurópolis, no Pará. Nesse trecho, a BR-163 e a BR-230 (Transamazônica) se sobrepõem. Segundo as regras do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), para nomes de rodovias federais, nos casos em que há superposição de estradas, “atualmente, já se adota como rodovia representativa do trecho superposto a rodovia de menor número” – no caso, a BR-163. Segundo Simionato, em fevereiro de 2017 – durante o mandato de Michel Temer (MDB) –, ele fez uma viagem de caminhonete de Santarém a Novo Progresso, passando tanto pela BR-163 como pela BR-230. Ambas, conta ele, estavam em situação muito ruim, com atoleiros. De acordo com o jornalista, o ônibus que aparece na imagem faria justamente trajetos no trecho entre Itaituba e Rurópolis. Já a foto da parte de baixo foi usada como imagem ilustrativa de uma nota no site do Superior Tribunal Militar (STM) publicada em setembro de 2017. A nota fala da condenação de envolvidos em um esquema de corrupção em uma obra da BR-163 que estava sob responsabilidade do Exército. A única informação sobre a foto disponível na nota do STM consiste na legenda “imagem ilustrativa – obras de engenharia do Exército”. A assessoria de comunicação do STM informou ao Comprova que se trata de uma foto publicada em 2017 no site do 8º BEC (Batalhão de Engenharia de Construção), que atua no Pará, e que o site não existe mais. O Comprova, no entanto, encontrou um registro ainda mais antigo dessa segunda imagem. A foto da estrada em obras também aparece no Flickr do Exército com a data de captura de 15 de dezembro de 2008 e a tag “Asfaltamento BR 163”. Naquele ano, Lula estava em seu segundo mandato como presidente do Brasil. A montagem enganosa é de autoria da página Geração Conservadora, cujo logo aparece no post. Por meio de uma busca manual no perfil do Instagram do grupo, foi possível encontrar o post, publicado pela primeira vez em 15 de março. O post teve mais de 22 mil curtidas. O Comprova procurou o administrador da página, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. Foi com a página O Mito, no Facebook, que o conteúdo teve grande alcance: publicada em 22 de julho, ela tinha 23 mil compartilhamentos, 673 comentários e 4,8 reações (curtidas) até a tarde desta sexta (26). Contexto Inaugurada em 20 de outubro de 1976 pelo então presidente, Ernesto Geisel, a BR-163 é uma importante via de escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste para portos fluviais do Norte. De acordo com reportagem do Estadão de dezembro de 2018, a rodovia ainda tinha 100 km de trechos sem asfalto. Em 2014, a presidente Dilma injetou recursos por meio do PAC. Com o fim de seu mandato, esses recursos cessaram. Em setembro de 2017, durante o governo Temer, o Exército foi designado para asfaltar 65 km da via, cujo trecho em questão (Trairão e Novo Progresso, no sudoeste do Pará) sofreu com fortes chuvas. Em janeiro deste ano, o ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro, Tarcísio Freitas, prometeu que o asfaltamento da BR-163 será concluído em 2019. Bolsonaro reiterou a promessa em discurso na abertura da Agrishow, um dos maiores eventos do agronegócio no Brasil, em abril. “Estamos fazendo com que a BR-163 seja completada ainda no corrente ano, uma rodovia que começou no governo Geisel e vai terminar em nosso governo, obra feita pelo nosso Exército Brasileiro”, afirmou o presidente. A pavimentação e duplicação da via é um tema recorrente em manifestações públicas de Bolsonaro. Entre fevereiro e julho deste ano, Bolsonaro publicou pelo menos cinco posts no Twitter sobre a BR-163, seja para comentar o andamento das obras na rodovia ou para falar do trabalho do Exército no apoio a caminhoneiros durante a época de chuvas mais intensas. Após período chuvoso no Pará, as obras de pavimentação na via foram retomadas em maio deste ano. Informações falsas sobre BR-163 são recorrentes A imagem que supostamente mostraria o antes e depois da BR-163 já foi assunto de verificação feita em maio pelo UOL. Na ocasião, o próprio Exército esclareceu que a imagem não mostrava os trabalhos feitos naquele momento pelos militares na rodovia. Não é a primeira vez em que obras na BR-163 são erroneamente atribuídas ao governo Bolsonaro. Em fevereiro, veículos de comunicação como Agência Lupa, Estadão, Aos Fatos, e-Farsas, e Boatos.org realizaram trabalhos de verificação sobre textos e imagens que usavam dados falsos ou fora de contexto com o objetivo de dizer que a atual administração iniciou os trabalhos na rodovia. Em maio, foi a vez de um vídeo feito em 2016 circular nas redes sociais como se fosse uma obra recente do governo Bolsonaro. A gravação mostrava o resultado do asfaltamento de um trecho da BR-163 no Mato Grosso. O conteúdo foi verificado por Agência Lupa, AFP e G1.
null
null
['Projeto Comprova']
['Verificação']
[]
2021-07-06
['Contexto errado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/postagens-atribuem-erroneamente-a-bolsonaro-suspensao-de-beneficio-bpc-ocorrida-no-governo-temer/
COMPROVA
Postagens atribuem erroneamente a Bolsonaro suspensão de benefício (BPC) ocorrida no governo Temer
null
2019-07-24
Em vídeo, uma mãe apela pela manutenção do Benefício de Prestação Continuada (BPC) que era pago ao filho portador de deficiência. A autora do vídeo original foi encontrada pelo Comprova. Ela confirmou a autoria e enviou cópias de documentos que comprovam a autenticidade das informações O vídeo de uma mãe que carrega o filho com deficiência no colo e protesta contra a suspensão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) que recebia está sendo utilizado de forma enganosa em redes sociais para acusar o governo Bolsonaro pelo fim do pagamento. O Comprova apurou que a suspensão foi determinada em 2018 e que Izabel Ferreira da Silva não gravou seu desabafo com o propósito de responsabilizar o atual governo. Como o vídeo trazia poucas informações que pudessem identificar quem de fato eram Izabel e seu filho Israel, o Comprova fez buscas no Facebook pela expressão “Israel BPC” e encontrou uma publicação da mãe datada de 29 de junho deste ano. Ela compartilhava o vídeo postado originalmente na página do filho no mesmo dia. A partir daí, o Comprova conversou por telefone com Izabel e entrou em contato com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), órgão responsável pelo repasse do BPC, para confirmar os dados informados por ela. A reportagem também consultou dados públicos sobre Izabel e o filho nos portais da transparência do governo federal e da prefeitura de Rondon do Pará (PA), uma cidade de 51 mil habitantes, distante 523 km de Belém, onde a família vive. Além disso, usou informações públicas do Ministério da Cidadania para verificar as regras do BPC. Ao Comprova, Izabel confirmou a autenticidade do conteúdo do vídeo. Disse que a suspensão do benefício, que concede um salário mínimo (R$ 998,00) a pessoas com deficiência de baixa renda, foi informada a ela pelo INSS em outubro de 2018, durante a gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB). Quando Israel nasceu, ele teve anóxia neonatal – falta de oxigênio no cérebro – e por isso hoje é totalmente dependente. Israel era beneficiário do BPC desde 2001, quando tinha dois anos. Hoje ele tem dezenove. A razão para a suspensão do benefício, segundo uma carta enviada a Izabel pelo INSS, seria a irregularidade do benefício. Ela encaminhou fotos do documento ao Comprova. Por e-mail, o INSS confirmou que a razão para a suspensão do benefício a Israel foi a renda familiar. Para receber o BPC, segundo a lei, o máximo que Izabel e o filho poderiam declarar seria R$ 450,00 — ¼ de salário mínimo mensal para cada um. Em 2018, a mãe informou que, com a remuneração como funcionária pública, recebia R$ 995,00 a mais que esse limite. Izabel, que é agente comunitária de saúde na prefeitura de Rondon do Pará, declarou em 2018 renda mensal de R$ 1.240,00 para sustento dela e do filho. Dividido por dois, o valor por pessoa (R$ 620,00) ultrapassa o teto de ¼ de salário mínimo (R$ 245,00) per capita definido na lei n. 8.742, de 1993, que estabelece os critérios para que uma pessoa tenha direito a receber o BPC. Depois de receber a carta do INSS, que dava à família a oportunidade de contestar a determinação, Izabel conta que apresentou recurso ao órgão defendendo que a remuneração que recebia, apesar de ultrapassar o limite legal do BPC, não era suficiente para sustentar os cuidados de que Israel necessita. O pedido de Izabel não foi aceito. Atualmente, de acordo com o portal da transparência de Rondon do Pará, sua remuneração é de R$ 1.730,29. No entanto, segundo Izabel, o valor não é suficiente para bancar os cuidados com o filho. Ela contou ao Comprova que gasta cerca de R$ 350,00 mensais para pagar uma cuidadora para o filho por meio período, enquanto está no trabalho. Outros R$ 350,00 são gastos em fraldas, e mais R$ 125,00 com farmácia –além dos gastos da casa. Apesar de ter sido anunciada em setembro, a suspensão do BPC começa de fato a partir de julho de 2019, segundo Izabel. Ao Comprova, ela disse que decidiu produzir o vídeo depois de um “momento de desespero” no último mês, quando viu que “a comida na geladeira estava acabando” e que ela estava prestes a usar o último pacote de fraldas. No vídeo, Izabel menciona incorretamente uma “mudança na lei” que teria levado à suspensão do benefício. Isso na verdade não ocorreu. O que aconteceu foi que em 2018 o governo Temer fez uma varredura nos cadastros dos beneficiários e suspendeu o BPC daqueles que não obedeciam às regras previstas em lei. Portanto, não houve alteração nas regras do subsídio. A primeira publicação do vídeo, que agora circula nas redes sociais, é do perfil no Facebook de Israel, de 16 de junho de 2019. Em seguida, o conteúdo foi compartilhado em dezenas de canais no YouTube e em contas de outras redes sociais por pessoas que, na maioria, demonstraram solidariedade com a história de Izabel e do filho. O pedido de ajuda de Izabel obteve maior alcance quando o vídeo foi divulgado, em meados de julho, por páginas no Facebook como Fora, Temer, Presidente Zé de Abreu e Não à Reforma da Previdência. As páginas atribuíram a suspensão do BPC de Israel a Bolsonaro, cujo governo foi chamado de “cruel e desumano”. As postagens somaram, respectivamente, 2,3 mil, 9,3 mil e 4 mil compartilhamentos. As medições são do dia 24 de julho de 2019. Izabel contou ao Comprova que sua intenção com o vídeo é fazer sua situação chegar a Bolsonaro, em quem confia para “fazer mudanças” na legislação, incluindo famílias como a dela e de Israel entre aquelas com direito ao BPC. No próprio vídeo, Izabel faz um apelo a Bolsonaro e diz que espera mudanças. Entenda o Benefício de Prestação Continuada (BPC) A suspensão do benefício de Israel, anunciada em outubro, coincidiu com um período em que o governo de Michel Temer concentrou esforços para identificar irregularidades no BPC e em outros programas sociais, a partir do segundo semestre de 2018. Uma notícia do portal G1 mostra que, em agosto do ano passado, o INSS havia detectado 151 mil casos como o da família de Israel — cuja renda mensal ultrapassava o teto de ¼ de salário mínimo per capita. Além de pessoas com deficiência, o BPC contempla idosos com idade de 65 anos ou mais, de baixa renda, que apresentam impedimentos de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. As regras do benefício estão definidas dos artigos 20 a 21-A da Lei Orgânica de Assistência Social (Lei n. 8.742, de 1993), que trata deste e de outros benefícios. Tanto a proposta de reforma da Previdência de Michel Temer, apresentada em 2017, quanto a de Jair Bolsonaro, apresentada em fevereiro de 2019, previam originalmente o endurecimento das regras do benefício. A mudança, no entanto, enfrentou resistência no Congresso desde o início, em ambos os governos. Em abril de 2019, referindo-se ao projeto de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que tinha certeza de que os líderes de partido na Casa derrubariam a ideia — o que realmente aconteceu. Após a votação em primeiro turno da reforma da Previdência na Câmara, em julho de 2019, mantiveram-se inalteradas as regras para se ter direito ao benefício. Nem a proposta de reforma original de Temer nem a de Bolsonaro têm influência em casos como o de Israel. Para saber mais O que é o BPC e quantas pessoas recebem esse benefício – Texto de Caroline Souza e Gabriel Zanlorenssi publicado no Nexo em 25 de junho de 2019.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Evidência comprovada']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/postagem-sobre-mortes-de-pedreiros-e-policiais-federais-minimiza-rotina-de-risco-dos-agentes/
COMPROVA
Postagem sobre mortes de pedreiros e policiais federais minimiza rotina de risco dos agentes
null
2019-07-23
A publicação apresenta dados próximos aos números encontrados pelo Comprova para policiais federais e para pintores e pedreiros Após a amenização de regras para aposentadoria de policiais na proposta de reforma da Previdência, o conteúdo de um tuíte que compara o número de mortes e o salário de pedreiros e servidores da Polícia Federal (PF) viralizou nas redes sociais. A publicação cita dados corretos sobre as duas profissões, mas há outros aspectos a considerar para analisar a periculosidade de ambas as atividades. Para realizar esta checagem, o Comprova conversou com o autor da postagem original no Twitter e analisou dados públicos da Polícia Federal, do Ministério da Economia e da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia. Também entramos em contato com as assessorias de imprensa da PF, do Ministério da Economia e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP). O tuíte informa que não houve mortes de policiais federais em 2017, enquanto no mesmo ano, apenas por conta de choques elétricos, morreram 85 pedreiros e pintores. De fato, na Galeria de Heróis da Academia Nacional de Polícia, o registro mais recente de óbito de policial federal é de 2015. Foi quando o agente Mário Henrique de Almeida Mattos foi baleado por traficantes em uma operação em Sinop, no Mato Grosso.* O Comprova também procurou em portais de notícias reportagens sobre mortes de agentes da PF, mas os casos mais recentes de violência encontrados não ocorreram em serviço. Consultamos ainda na segunda-feira, 15 de julho, a assessoria de imprensa da PF, mas não obtivemos resposta até a data desta publicação. O número de óbitos de pintores e pedreiros, por sua vez, aparece no anuário da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os perigos da Eletricidade). De acordo com a entidade, houve 18 mortes de pintores e ajudantes em choques elétricos e 67 fatalidades de pedreiros e ajudantes, totalizando 85 casos. Apenas esses dois dados, no entanto, não contam toda a história da periculosidade dessas duas profissões. No caso de policiais federais, vale ressaltar que o índice de suicídio na categoria é seis vezes maior do que do restante do país. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, são 5,8 suicídios a cada grupo de 100 mil habitantes. Somente na PF, a média sobe para 36,7. Entre 1999 e 2015, 42 agentes e delegados da Polícia Federal tiraram a própria vida. Esse número foi divulgado pelo Sindicato de Policiais Federais do Distrito Federal (Sindipol/DF) no 1º Encontro sobre Prevenção ao Suicídio, realizado em março de 2017. O evento teve cobertura da mídia, e o índice foi divulgado pelo portal R7, pelo jornal Diário da Manhã, de Goiânia (GO), e pela Agência Brasil. Na pesquisa Opinião dos Policiais Brasileiros sobre Reformas e Modernização da Segurança Pública, realizada em 2014 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os agentes relatam outros tipos de ameaça à saúde física ou mental. Dos policiais federais entrevistados, 33,9% disseram terem sido ameaçados de morte ou de sofrer violência física por condenados ou suspeitos de atividades ilícitas. Outros 18,9% afirmaram terem sido vítimas de violência física em serviço. Relataram ainda terem sido torturados durante treinamento policial 12,8% dos soldados federais. Os pedreiros também enfrentam vários riscos em sua profissão. De acordo com o Anuário Estatístico da Previdência Social mais recente, de 2017, foram registrados 30.025 acidentes de trabalho no setor da Construção, 5,4% do total contabilizado no ano (549.405 casos). Um estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no entanto, aponta que esse número é reconhecidamente subestimado, uma vez que considera apenas trabalhadores formais. Em um estudo publicado em 2012, pesquisadores da Universidade Metodista de Piracicaba e da Universidade de São Paulo (USP) entrevistaram pedreiros e destacaram como fatores de risco da profissão a exigência excessiva de esforço físico, as atividades em lugares altos, muitas vezes com condições improvisadas, e a exposição a intempéries, ruído e poeira. O artigo também ressalta a predominância de vínculos precários de trabalho e a estigmatização social dos trabalhadores. Remuneração O tuíte que viralizou cita ainda valores bem próximos aos salários das duas categorias. No caso da Polícia Federal, o salário inicial de agentes, escrivães e papiloscopistas é de R$ 12.522,50. O subsídio pode chegar a R$ 18.651,79. Essa informação está na Tabela de Remuneração dos Servidores Públicos Federais Civis e dos Ex-Territórios, documento publicado pelo Ministério do Planejamento em janeiro deste ano. Delegados e peritos criminais ganham remunerações ainda mais vantajosas, que variam de R$ 23.692,74 a R$ 30.936,91. Para entrar na carreira da PF, é preciso ter curso superior completo e passar em concurso público. Para pedreiros, o salário médio era de R$ 1.870,92 em dezembro de 2017, segundo os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do extinto Ministério do Trabalho. De acordo com a convenção coletiva do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP), o piso salarial na cidade de São Paulo para mão de obra qualificada, como pedreiro e carpinteiro, é de R$ 1.841,67. Para mão de obra não qualificada, como serventes e ajudantes, o piso é de R$ 1.513,92. O tuíte original foi publicado em 13 de julho pelo usuário Leonardo Siqueira, que afirmou ao Comprova que a postagem continha “apenas informações verdadeiras e verificadas”. Ele apresentou prints de pesquisas no Google sobre os salários dos profissionais e o link de uma matéria publicada pelo site Bem Paraná, que reproduz um comunicado da Abracopel. Desde então, o post obteve mais de 10,4 mil curtidas e 2,3 mil retweets. O conteúdo também foi republicado pela página Ranking dos Políticos no dia 15 de julho, com 10 mil curtidas e 3,1 mil compartilhamentos. As medições foram feitas no dia 22 de julho. Contexto No dia 12 de julho, a Câmara dos Deputados aprovou em primeiro turno a proposta da reforma da Previdência e de cinco destaques — alterações na proposição inicial. Para policiais federais da ativa, foi criada uma regra alternativa de transição. As idades mínimas para aposentadoria são menores do que as exigidas para o restante da população: 53 anos para homens e 52 anos para mulheres. Para conseguirem se aposentar com essa idade, os servidores da PF precisam cumprir um “pedágio” de 100% sobre o tempo de contribuição (30 anos para homens, e 25 anos para mulheres). Isso quer dizer que os policiais deverão trabalhar o dobro do tempo que falta para a aposentadoria. Se não cumprirem essa exigência, a idade mínima é de 55 anos. Para trabalhadores em geral, inclusive pintores e pedreiros, a idade mínima é de 65 anos para homens e 62 para mulheres. Essa regra especial também vale para policiais civis do Distrito Federal e agentes penitenciários e socioeducativos federais. A proposta de idades diferenciadas para essas categorias foi feita pelo partido Podemos e aprovada por 467 votos a 15. O relator da reforma da Previdência, deputado federal Samuel Moreira (PSDB-SP), comentou em entrevista à rádio Jovem Pan a aprovação de exigências mais amenas para policiais, citando a existência “de bancadas muito fortes”, como a chamada “bancada da bala”, que tem 102 parlamentares. Moreira ponderou ainda que, pela regra atual, não existe idade mínima para policiais. *Correção A cidade de Sinop está localizada no estado do Mato Grosso e não no Mato Grosso do Sul como foi publicado em uma versão anterior deste texto.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Evidência comprovada']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-reforma-da-previdencia-acaba-com-pensao-de-pessoas-com-deficiencia/
COMPROVA
É falso que reforma da Previdência acabe com pensão de pessoas com deficiência
null
2019-07-19
A redação mais recente da reforma da Previdência, aprovada em primeiro turno na Câmara, altera o cálculo da pensão por morte no regime geral, mas prevê uma ressalva para o dependente inválido, com deficiência grave, intelectual ou mental. Nesses casos, o benefício continuará a ser 100% da aposentadoria recebida pelo segurado Não é verdade que pessoas com deficiência deixarão de receber pensão por morte dos pais após a reforma da Previdência, diferentemente do que alega um post que viralizou no Facebook. Já a informação que consta no mesmo post de que filhas de militares continuarão recebendo pensão é verdadeira. Para verificar as alegações do post, o Comprova acessou dados na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência, no projeto de lei de reestruturação da carreira e do Sistema de Proteção Social das Forças Armadas, em relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado e em páginas do Governo Federal. Além disso, foram contatados o Ministério da Economia e o Ministério da Defesa. A redação mais recente da reforma da Previdência, aprovada em primeiro turno na Câmara, altera o cálculo da pensão por morte no regime geral, substituindo o benefício integral por uma soma de metade do valor da aposentadoria mais uma cota de 10% desse valor por cada dependente até o limite de 100% do valor do benefício. O texto, porém, prevê uma ressalva para o dependente inválido, com deficiência grave, intelectual ou mental. Nesses casos, o benefício continuará a ser 100% da aposentadoria recebida pelo segurado. Em um cenário hipotético no qual o segurado receba R$ 1 mil de aposentadoria e tenha um dependente com deficiência grave, intelectual ou mental, esse dependente continuará a receber R$ 1 mil se o segurado falecer. No entanto, no caso do falecimento de um segurado que também receba R$ 1 mil, mas que tenha somente dependentes que não se enquadrem na classificação anterior, o valor da pensão será a metade dos R$ 1 mil mais uma cota de 10% para cada dependente, ou seja, R$ 500 mais R$ 100 por dependente. Atualmente, a legislação brasileira considera dependentes com direito à pensão integral “o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave”. Com a reforma, o texto mantém o benefício a pessoas com deficiência e recalcula para os demais. O benefício, no entanto, não poderá ser menor que um salário mínimo se for a única fonte de renda do dependente. O primeiro texto da proposta de reforma da Previdência não trazia nenhuma ressalva para pessoas com deficiência, abrindo brecha para enquadrá-las no novo cálculo da pensão. No fim de março, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ter solicitado ao Ministério da Economia que a exceção a estes grupos fosse adicionada ao texto. A ressalva referente a pessoas com deficiência grave, intelectual ou mental foi incluída em 13 de junho pelo relator da reforma na Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), e se manteve na votação em primeiro turno no plenário. Segundo o texto, a condição da deficiência do dependente deverá ser reconhecida por meio de avaliação biopsicossocial realizada por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar. “Em algum momento terá que ser editado um decreto para regulamentar as particularidades e especificar com mais detalhes quais critérios serão usados para determinar as deficiências de grau leve ou moderado”, afirma o professor de direito previdenciário Jorge Boucinhas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Filhas de militares Em relação à pensão de filhas de militares, de fato, não há previsão de mudança nas regras de cálculo do benefício. Porém, tanto na regra atual quanto na proposta de reforma enviada à Câmara, a norma é igual para filhas, filhos e enteados: todos eles têm direito à pensão por morte até completarem 21 anos ou, caso estejam cursando universidade, até 24 anos. E, em caso de invalidez, enquanto ela durar. A postagem que circula nas redes possivelmente alude ao fato de que as filhas de militares tinham direito a pensão vitalícia no passado — diferentemente dos filhos, que, ao atingirem a maioridade, deixavam de ter direito ao benefício. Essa regra, no entanto, foi extinta em 2001, por meio de uma medida provisória que, entre outras mudanças, igualou as condições de direito ao benefício para filhos e filhas. Apesar da extinção da lei, a pensão vitalícia ainda pode ser concedida a filhas dos militares que eram da ativa ou da reserva até o fim de 2000, desde que tenham passado a contribuir mensalmente com uma taxa extra de 1,5% de seu salário. A proposta de reforma apresentada por Bolsonaro não altera essa regra. A reforma na Previdência dos militares — chamada de Sistema de Proteção Social dos Militares das Forças Armadas — foi entregue pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso em 20 de março. Diferentemente da reforma da Previdência do regime geral, que é uma PEC, a reforma dos militares tramita em separado como projeto de lei. Como ainda deve passar por comissões e pelo plenário da Câmara, o PL ainda pode sofrer alterações significativas durante a tramitação. Uma mudança prevista no projeto é que, atualmente, apenas o militar na ativa e na reserva contribui para custear as pensões, por meio de taxa de 7,5% que é descontada mensalmente de seu salário. A versão atual da reforma prevê aumentar esta taxa para 10,5% até 2022, e este valor passará a ser cobrado também dos beneficiários da pensão por morte, que hoje recebem o valor integral do subsídio, sem qualquer desconto. O texto proposto ainda estende o pagamento da taxa adicional de 1,5% ao beneficiário da pensão. Ou seja, para manter a pensão vitalícia, as filhas dos militares que optaram pelo benefício em 2001 pagarão um adicional de 1,5%, além dos 10,5% que passarão a ser descontados de todos os pensionistas, caso a redação atual do PL seja aprovada. O boato foi publicado em 14 de julho pela página de Facebook “Ciro Sincero”. Em 18 de julho, o post já havia acumulado mais de 9,5 mil interações, incluindo 4,8 mil compartilhamentos. Este conteúdo também foi desmentido pela Folha de S.Paulo em 12 de julho e pelo Extra em 15 de julho.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/nao-existe-consulta-publica-sobre-venda-do-aquifero-guarani-nem-bolsonaro-e-guedes-estao-envolvidos/
COMPROVA
Não existe consulta pública sobre venda do Aquífero Guarani, nem Bolsonaro e Guedes estão envolvidos
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2019-07-19
Não existe consulta pública para 'vender' aquífero Guarani; texto enganoso busca envolver Bolsonaro e Guedes em operação É enganosa a postagem que circula nas redes sociais sobre a suposta consulta pública do Senado Federal para permitir a venda do aquífero Guarani – manancial de água doce que abrange partes dos territórios do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai. O post em questão foi detectado pelo Comprova por meio do CrowdTangle, uma ferramenta de monitoramento de redes sociais. Em uma referência à política de privatização da equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro, a postagem de uma página no Facebook dizia que Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, só iriam parar quando “vendessem o país inteiro”. O post vinha acompanhado de uma reportagem de março de 2018 do site Hypeness, segundo a qual o Senado abriu uma consulta pública sobre venda do aquífero. A reportagem tem, no entanto, imprecisões. O que existe na casa Legislativa é uma consulta pública sobre uma possível mudança na lei que regula a política nacional dos recursos hídricos brasileiros. No entanto, ela é de 2017, época do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) e não diz respeito diretamente à venda do aquífero. A consulta versa sobre o projeto de lei n° 495, de 2017, de autoria do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Em 17 de julho de 2019, às 14h50, a votação estava em 1.163 votos a favor e 105.949 contra. De acordo com o registro mais antigo disponível no site Wayback Machine, que grava versões de páginas publicadas na internet, em 16 de agosto de 2018 a consulta pública já estava disponível no site do Senado Federal e contava com 838 votos a favor e 83.260 contra. O PL de Tasso Jereissati propõe a alteração da Lei nº 9.433, também conhecida como Lei das Águas, introduzindo no Brasil os “mercados de água”. O argumento utilizado por Jereissati para a implementação do mercado de água é que a alteração promoveria uma alocação “mais eficiente” dos recursos hídricos. O projeto ainda não foi votado e encontra-se parado no Senado. De acordo com a justificativa do projeto do senador, o chamado mercado de água existe nos Estados Unidos, Austrália, Chile e Espanha, “países que também possuem forte vocação agropecuária”. Segundo a legislação brasileira atual, para explorar mananciais é necessária uma autorização (outorga) concedida por órgãos públicos. A Lei das Águas define em seu artigo 18 que a outorga não implica a “alienação parcial das águas”, ou seja, o usuário que possui a outorga não é dono da água em si, ele apenas possui o direito de uso de determinada quantidade de água. O PL proposto por Tasso Jereissati prevê que os usuários de recursos hídricos com outorga possam vender o direito de uso a terceiros. No caso de um fazendeiro possuir autorização para captar 15 mil litros por hora de um manancial, por exemplo, mas só usar dez, pela lei atual ele não pode vender para um terceiro o direito de uso dos cinco mil litros que não utilizou. Com a aprovação do mercado de água, essa transação passaria a ser legal. O PL define também que os registros de tais transações sejam encaminhados ao órgão ou entidade pública responsável pela outorga, que deverá então avaliar a disponibilidade hídrica do manancial e concluir sobre a viabilidade da operação. Segundo a justificativa do PL, o mercado de água seria uma ferramenta útil para as regiões afetadas por secas e estiagens prolongadas. O texto traz como exemplo hipotético um prestador do serviço de abastecimento de água na bacia do São Francisco que, com o mercado de água, poderia comprar os direitos de uso de água de agroindústrias. Hoje, esse prestador de serviço teria como única opção solicitar uma outorga diretamente ao poder público. O Comprova entrou em contato com a assessoria de Tasso Jereissati por e-mail e telefone no dia 17 de julho para comentar a proposta de alteração da lei e sua relação com o aquífero Guarani. Mas não tivemos retorno até a conclusão deste texto. A água como bem público Em nota, a ANA (Agência Nacional de Águas) afirmou que mesmo que o PL fosse aprovado não haveria privatização do aquífero. A lei 9.433 continuaria a dispor que a água é um bem público. O projeto trata do mercado de água e das outorgas. “Assim, esta lei [9433/97] não traz em si a possibilidade de privatização das águas doces nem superficiais, nem subterrâneas”, comunicou a ANA.* Segundo Ricardo Hirata, vice-diretor do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas da USP, a criação de um mercado de água não consistiria em privatização da água, mas na privatização dos meios de obter água. “Tentar controlar os acessos à água através de regras de mercado funciona em alguns aspectos, mas há sérios problemas na questão social, de dar oportunidade aos grupos mais fracos entre os usuários”, afirmou ele. Já para o professor de manejo de bacias hidrográficas da UnB Henrique Marinho Leite Chaves, é preciso que tanto o Senado quanto a Câmara avaliem a constitucionalidade da medida. Segundo ele, não está claro se, de fato, o mercado de águas não configura privatização — o que é vedado pela Constituição Brasileira, segundo a qual a água é um bem de domínio público. A depender da forma como for aprovado e implementado, o mercado de águas poderia, segundo Chaves, aumentar a eficiência do uso de água em regiões de escassez. Mas o professor também declarou que há risco de formação de monopólios de títulos de água. O post verificado pelo Comprova foi divulgado em 16 de julho pela página de Facebook “Ciro Sincero”. Até 18 de julho, teve 5 mil interações, incluindo 2,3 mil compartilhamentos. A possível venda do aquífero Guarani é assunto na internet desde 2016, como mostram postagens encontradas no blog SandCarioca e na página Brasil247. Em 2018, o tema voltou a ser foco de discussões após um jantar do qual participaram o então presidente Michel Temer e o presidente da Nestlé, Paul Bulcke, em Davos, na Suíça, no mês de janeiro. Na época, o Uol, a BBC, a Gazeta do Povo e a AFP checaram detalhes do encontro e sua relação com o aquífero. Até a Coca-Cola buscou esclarecer o tema. * Esclarecimento Na primeira versão deste texto, incluímos por engano a primeira frase desse parágrafo [O projeto trata do mercado de água e das outorgas] como parte da declaração da Agência Nacional de Águas. A correção foi feita às 12h30 do dia 22 de julho.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/o-exemplo-do-chile-mistura-dados-falsos-e-verdadeiros-para-defender-previdencia-chilena-e-apoiar-guedes/
COMPROVA
“O exemplo do Chile” mistura dados falsos e verdadeiros para defender previdência chilena e apoiar Guedes
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2019-07-16
Texto mistura informações verdadeiras e falsas para concluir de forma enganosa que bons índices econômicos do Chile têm relação com uma "quase extinção dos socialistas" e contaram com a ajuda do atual ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes “O exemplo do Chile”, um texto que circula em redes sociais sobre a economia chilena, mistura informações verdadeiras e falsas para concluir de forma enganosa que os bons índices no país têm relação com uma “quase extinção dos socialistas” e contaram com a ajuda do atual ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes. O Comprova verificou item por item as informações que constam da publicação buscando os dados corretos em páginas e índices oficiais do governo do Chile e de organizações internacionais como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A verificação do Comprova segue a sequência apresentada no texto compartilhado nas redes e inclui todos os links para as fontes originais. Texto compartilhado pelo WhatsApp O texto afirma que “os socialistas quase foram extintos” no Chile, mas o Partido Socialista chileno continua sendo relevante na política local. O PS elegeu 19 deputados nas eleições de 2018 e é atualmente o terceiro partido com mais representação na Câmara de Deputados. A sigla governou o Chile entre 2000 e 2010, com Ricardo Lagos e Michelle Bachelet, e, entre 2014 e 2018, novamente com Bachelet. É verdade que o salário mínimo do Chile é de 301 mil pesos (R$ 1.662,00 em conversão no dia 16 de julho). Isso pode ser conferido no site da Dirección del Trabajo, um órgão ligado ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social do Chile que fiscaliza questões trabalhistas. O texto usa informações falsas sobre a previdência no Chile. Afirma, por exemplo, que o sistema de capitalização é “aprovado por maioria da população”. A realidade é justamente a oposta. Uma pesquisa feita pelo instituto Cadem, em junho, mostrou que 88% da população concorda com a necessidade de uma reforma no sistema de capitalização gerido por fundos de pensão. Em outra pesquisa local, publicada em maio pelo Centro de Estudos Públicos, o sistema de aposentadorias foi o segundo problema mais mencionado pelos entrevistados quando perguntados sobre quais os três problemas cuja resolução merecia maior esforço do governo. Também não é verdade que a aposentadoria tem como valor mínimo o salário mínimo. Segundo um estudo da Fundação Sol, organização dedicada a questões trabalhistas, em março de 2019, metade dos 708 mil aposentados que receberam uma aposentadoria por idade obtiveram menos de 151 mil pesos — equivalente a R$ 834,00. Das pessoas que contribuíram entre 30 e 35 anos, 50% receberam uma aposentadoria inferior a 293.300 pesos — equivalente a R$ 1.620,00. Esses valores são inferiores ao salário mínimo do Chile. Os beneficiários do sistema de Administradoras de Fundos de Pensões (AFP) que completarem 60 anos (mulheres) e 65 anos (homens) têm direito a pedir aposentadoria por idade. A poupança previdenciária é feita por meio de contribuições ou depósitos em uma conta das AFP de um montante equivalente a 10% da remuneração ou renda tributável do trabalhador. É falso, também, que pessoas físicas não pagam imposto de renda no Chile. De acordo com informações do Serviço de Impostos Internos (SII) do Chile e da Secretaria Geral de Governo, toda pessoa física com rendimento anual igual ou superior a 7.833.186 pesos (R$ 43.275,00) precisa fazer a declaração. Também é o caso de quem recebeu pagamentos de mais de um empregador, de mais de uma pensão ou de um empregador e uma pensão, entre outros casos. Também não é verdade que o Chile tenha um “imposto único”. De fato há um Imposto sobre Vendas e Serviços no Chile, o IVA, com alíquota de 19%, mas o site do Serviço de Impostos Internos mostra que há vários impostos diretos e indiretos no país. É falso, também, dizer que o Chile tem apenas quatro empresas estatais. Há dezenas delas, como mostra o site do Ministério da Fazenda chileno. Apenas no setor de transportes portuários constam 10 empresas 100% estatais. É verdade, no entanto, que não há um 13º salário no Chile. O que existe é um benefício chamado “Aguinaldo”, cujo pagamento não é obrigatório para empresas privadas. No setor público, ele é garantido pela Lei 20.313, que estabelece o direito ao bônus para todos os funcionários públicos e aposentados do Estado. Como mostra o site Tusalario, conectado à fundação holandesa WageIndicator e dedicado a dar transparência a questões laborais, o Aguinaldo é pago em setembro e em dezembro, com o objetivo de celebrar as Festas Pátrias e o Natal. O texto diz que o Chile tem deflação, com índices entre 0% e -1%. A informação é enganosa pois, ainda que em dois meses de 2019 o Chile de fato não tenha tido inflação (fevereiro e junho), em todos os outros meses do ano foram registrados índices positivos, que variaram de 0,1% em janeiro a 0,6% em maio. Este gráfico do Instituto Nacional de Estatísticas do Chile mostra isso. Além disso, o último ano em que o Chile teve inflação anual negativa foi 2009. Desde então, os índices ficaram entre 1,5% (em 2012) e 4,6% (em 2014). É verdade que há no Chile a possibilidade de abrir uma empresa em apenas um dia. O procedimento é explicado no site Chile Atiende, que detalha os serviços prestados pelo Estado. Essa modalidade de abertura de empresas requer o preenchimento de um formulário eletrônico e o envio da assinatura digital do solicitante. Também é verdade que os chilenos não precisam de visto para entrar nos Estados Unidos. O Chile é o único país latino-americano no Programa de Isenção de Vistos norte-americano. De qualquer forma, ainda é necessária permissão prévia, que checa se o solicitante tem antecedente criminal e episódios de deportação. O texto é enganoso quando afirma que “o governo enxuto” do Chile tem como consequência uma cobrança de “imposto baixo”. A afirmação de que a cobrança de impostos é baixa é verdadeira se analisarmos a relação da arrecadação de impostos com o PIB (Produto Interno Bruto), como é feito pela OCDE com seus países-membros. No Chile, os impostos são 20,2% do PIB, índice que só não é menor que o do México (16,2%) na pesquisa. Mas a apuração não encontrou evidências de que isso seja consequência de um “governo enxuto”. A estrutura de ministérios do Chile, por exemplo, é parecida com o Brasil (são 24 ministérios lá e 22 no Brasil). A postagem diz ainda que o mercado imobiliário é forte, o que impulsiona a construção civil. Mas a venda de imóveis no país sofreu forte impacto em 2016, segundo a Câmara Chilena da Construção, e vem se recuperando nos últimos anos. A queda nas vendas naquele ano alcançou 35% em relação a 2015, de acordo com boletim da entidade. Mesmo com o crescimento nos investimentos de até 6,4% previsto neste ano, a ocupação na construção civil tem crescido em ritmo mais lento. Entre abril de 2018 e abril de 2019, o aumento de vagas foi de 1% (695.326 em 2018 e 721.782 em 2019). Logo, é enganoso dizer que o setor imobiliário tem impulsionado a construção civil. Não é verdade que o ensino médio e o ensino superior são exclusivamente privados no Chile. O país possui escolas de ensino médio públicas. Até recentemente, elas eram administradas pelos municípios. Esse sistema foi alterado em 24 de novembro de 2017, com a publicação da lei nº 21.040. A legislação determinou a criação de um novo serviço dependente do Ministério da Educação para administrar as escolas públicas, visando “recuperar a educação pública como espaço de convivência e de formação cidadã”. O Chile também tem universidades públicas, mas diferentemente do que ocorre no Brasil, os estudantes pagam uma anuidade durante a graduação. O Estado, no entanto, tem programas que garantem a gratuidade para cidadãos de faixas econômicas mais baixas. Por fim, o texto também é falso ao afirmar que o atual ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, “ajudou a construir o ambiente fiscal” do Chile na década de 80, “a convite do governo chileno”. Segundo reportagens publicadas entre 2018 e 2019 por diferentes veículos de imprensa (BBC Brasil, El País Brasil, revista piauí e a revista chilena Capital), Paulo Guedes morou no Chile nos anos 1980, mas atuou como pesquisador e professor, e não no governo do país. Guedes trabalhou na Faculdade de Economia e Negócios da Universidade do Chile a convite de Jorge Selume Zaror, ex-diretor de Orçamento da ditadura comandada por Augusto Pinochet. Em entrevista ao El País Brasil publicada em 9 de outubro de 2018, o próprio Paulo Guedes não fala de nenhuma atuação no governo chileno. Na ocasião, o ministro disse que recebeu “um convite de tempo integral na Universidade do Chile”, onde ficou por seis meses. No perfil de Guedes publicado pela revista piauí em setembro de 2018, o ministro também confirmou que deu aulas na Universidade do Chile nos anos 1980, mas rechaçou qualquer associação de sua atuação com o governo ditatorial da época. O registro mais antigo de publicação deste texto enganoso encontrado pelo Comprova data de 7 de abril de 2019. Ele foi publicado pelo perfil Sabadini Motociclista no Facebook com um título diferente: “Visão econômica do Chile”. Essa publicação foi feita quatro dias depois de Paulo Guedes e deputados federais da oposição baterem boca durante audiência sobre a reforma da Previdência na Câmara. Na ocasião, oposicionistas criticaram o modelo chileno de previdência. Guedes já afirmou que o regime de capitalização, usado no Chile, fez o país virar a “Suíça da América Latina”, e o próprio presidente Jair Bolsonaro admitiu se inspirar no modelo chileno. Desde o início de abril, o texto vem sendo compartilhado em outras páginas e perfis de Facebook, em perfis de Instagram e em grupos de WhatsApp. O conteúdo também foi replicado em uma sequência de mensagens (thread) pela conta do Twitter @tinasouzario: a primeira delas alcançou, entre 8 e 15 de julho, 185 retweets e 489 curtidas. A publicação na página Ranking dos Políticos no Facebook, feita em 13 de julho de 2019, gerou até o dia 16 de julho 2,6 mil compartilhamentos. O Comprova também encontrou a publicação em um blog chamado Blog do Robson Sampaio. Atualização Depois da publicação desta verificação, a página Ranking dos Políticos incluiu uma errata em seu post de 13 de julho [Atualizado em 17 de julho de 2019].
https://i2.wp.com/projet…=455%2C623&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/mulher-atirando-com-fuzil-em-video-nao-e-greta-thunberg-mas-engenheira-sueca/
COMPROVA
Mulher atirando com fuzil em vídeo não é Greta Thunberg, mas engenheira sueca
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2019-12-10
Imagens foram compartilhadas como se fossem da ativista sueca, que tem feito alertas sobre as mudanças climáticas O vídeo de uma mulher atirando com um fuzil usado para prática esportiva está sendo compartilhado como se mostrasse a ativista sueca Greta Thunberg. Apesar das semelhanças, a gravação na verdade mostra uma mulher chamada Emmy, que também é da Suécia e confirmou ao Comprova ser a pessoa que aparece no vídeo. Emmy compartilhou a gravação em sua conta no Twitter no dia 7 de dezembro. Ela também publicou um segundo vídeo da mesma ocasião, filmado de outro ângulo, em que ficam mais claras as diferenças em relação a Greta. Nos comentários, ela chega a brincar com a semelhança com a ativista sueca. Em mensagem ao Comprova, ela comentou ser mais velha que Greta, que tem apenas 16 anos. “Aparentemente nós somos parecidas, mas sou 15 anos mais velha”, disse. Emmy contou que o vídeo foi feito durante um treinamento de tiro. Ela disse ter achado engraçada a repercussão de seu tuíte. “Espero que as pessoas realmente não pensem que sou ela. Não quero causar nenhum mal a Greta, acho ela muito legal”, afirmou. A sueca também tuitou brincando com o fato de ter virado “meme” no Brasil. No LinkedIn, Emmy se apresenta como engenheira em uma empresa em Estocolmo, na Suécia. O vídeo original foi encontrado por meio da busca reversa dos frames através da ferramenta InVid. A gravação publicada originalmente por Emmy tem 18 segundos e, ao final, é possível vê-la se levantando, momento em que se pode constatar que não se trata de Greta Thunberg. Os vídeos viralizados com a atribuição enganosa, por sua vez, têm somente 11 segundos, excluindo a parte em que ela se levanta. Emmy fez outras postagens em sua conta no Twitter em que aparecem armas. No dia 20 de novembro, ela postou uma foto que mostra o mesmo fuzil que aparece no vídeo sobre um sofá, ao lado de um gato e de um livro intitulado “Como falar com seu gato sobre segurança de armas”. A legenda da foto, que aparece num tuíte fixado, é “Assumi minha responsabilidade como proprietária de animais e armas”. A mesma arma já tinha aparecido em outra postagem do dia 16 de novembro, quando ela publicou uma foto de diversas armas com a legenda “Difícil pegar a arma errada quando você tem o AR-15 mais bonito do norte da Europa”. O mesmo fuzil rosa e azul que aparece no vídeo viralizado é mostrado no canto direito da foto. Contexto Greta voltou a ficar sob os holofotes nesta quarta (10), quando o presidente brasileiro Jair Bolsonaro a chamou de ‘pirralha’ depois que a ativista comentou declarações sobre o assassinato de dois indígenas da etnia Guajajara no Maranhão no último sábado (7). Thunberg mudou a descrição do seu perfil no Twitter para ‘pirralha’ após as declarações de Bolsonaro e o termo ficou nos Trending Topics do Brasil da rede social no dia. Em setembro, Greta já havia feito algo parecido após declarações do presidente dos EUA, Donald Trump. Na ocasião, a adolescente participava da Cúpula de Ação Climática da ONU e pediu que líderes globais tomassem medidas urgente contra o aquecimento global. Trump havia iniciado a retirada dos EUA do acordo mundial para a redução na emissão de gases efeito estufa e ironizou Greta dizendo que ela “parecia uma garota jovem e muito feliz que espera um futuro brilhante e maravilhoso.” Ela então trocou a descrição do seu perfil no Twitter e adicionou a fala do presidente norte-americano. Em setembro, Greta foi alvo de outros boatos que foram investigados pelo Comprova. Na ocasião, ela havia discursado na Cúpula de Ação Climática da ONU e chegou a ser atacada pelo filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
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null
['Projeto Comprova']
['Urgente']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/postagens-sobre-transposicao-do-sao-francisco-inflam-responsabilidade-de-governo-bolsonaro-por-andamento-das-obras/
COMPROVA
Postagens sobre transposição do São Francisco inflam responsabilidade de governo Bolsonaro por andamento das obras
null
2019-12-09
Obras realizadas este ano foram majoritariamente para corrigir problemas anteriores, não de avanço físico. Valores investidos na transposição do Rio São Francisco pelo governo federal são inferiores que os indicados na postagem e menores que os de outros anos. Diversas postagens enaltecendo a atuação do governo do presidente Jair Bolsonaro em relação à transposição do Rio São Francisco viralizaram nas redes sociais desde o início de novembro. Um dos vídeos que viralizou, e que é alvo desta checagem, afirma no título: “Bolsonaro desbanca Lula e coloca projeto no nordeste (sic) para funcionar”. No entanto, o contexto das postagens e do vídeo foi o religamento de uma bomba que já tinha sido colocada em funcionamento em 2017 e que permite que as águas cheguem ao município de Monteiro (PB) e à região de Campina Grande, também na Paraíba. A bomba em questão, localizada em Sertânia (PE), esteve desligada em dois períodos este ano: de abril a julho e de agosto a outubro, devido a vazamentos na barragem de Cacimba Nova. O trecho final do vídeo mostra o vereador de Campina Grande Sargento Neto (PRTB), presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Câmara Municipal, comemorando a retomada do bombeamento da água. O mesmo conteúdo foi publicado na página oficial do parlamentar no Facebook, no dia 11 de novembro, quando Jair Bolsonaro esteve na cidade. Apesar de inaugurada em março de 2017, no governo Temer, a obra apresenta vários problemas e até hoje não possui drenagem, por exemplo. No mesmo mês da inauguração, houve um rompimento que fez com que a operação fosse interrompida por cerca de duas semanas. À época, Lula e Dilma também fizeram uma inauguração simbólica da obra. O valor de R$ 1,4 bilhão divulgado no conteúdo verificado como sendo o investimento do governo Bolsonaro na transposição também está incorreto. Os gastos no projeto foram de R$ 582 milhões de janeiro a novembro — menos da metade do que o informado no vídeo, que incluiu na conta outras obras de segurança hídrica no Nordeste, além da transposição. Além disso, desse montante, segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), 40% foram gastos com manutenção e energia para o bombeamento, e não com obras efetivamente. Em nota, o órgão afirmou que o gasto anual com energia chega a R$ 300 milhões. Esta verificação analisou um vídeo do canal de Youtube “Notícias News N.N”. O Comprova entrou em contato com o canal, que afirmou ter usado um texto do site Conexão Política como fonte sobre os valores investidos. Quanto ao contexto das imagens no vídeo mostrando a chegada das águas, o canal não respondeu. De fato, o texto do Conexão Política mencionado tem o seguinte título: “Governo federal investe R$ 1,4 bilhão na transposição do São Francisco”. Apenas ao longo do texto é deixado claro que os valores investidos pelo governo englobam outros projetos que não somente a transposição. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos Para checar este vídeo, o Comprova pesquisou quais outras postagens têm sido feitas sobre o Rio São Francisco nas redes e leu notícias recentes e antigas sobre a obra para comparar com a cronologia nas redes sociais. A reportagem entrou em contato com o MDR para questionar os dados oficiais do governo, consultou textos publicados no site do órgão e pesquisou pedidos de informação antigos. Foram analisadas as conclusões do relatório de auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre a transposição, divulgado em abril de 2018. Também consultamos Francisco Sarmento, que é professor de engenharia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenou por 14 anos os estudos e planejamentos hidrográficos da transposição, para tirar dúvidas técnicas e entender melhor o histórico da obra. O que é a transposição do Rio São Francisco? As obras da transposição do rio São Francisco começaram em 2007, no segundo mandato de Lula. O objetivo do projeto é interligar, através de canais, a bacia do São Francisco com rios temporários (que secam em períodos de estiagem) de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. O São Francisco nasce em Minas Gerais e passa por Bahia, Pernambuco, Sergipe e termina em Alagoas. Os primeiros registros da proposta de construir canais para levar a água até o Ceará são do período do Império. Antecessores de Lula, Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco também fizeram projetos para a transposição, mas nenhum deles saiu do papel. Como a obra foi dividida? A transposição foi dividida em dois eixos, ambos começando em Pernambuco. O eixo leste tem início no município de Floresta e segue para o Agreste de Pernambuco e Paraíba. Entre as áreas beneficiadas estão centros urbanos como Campina Grande (PB) e Caruaru (PE). Já o eixo norte vai do município de Cabrobó e deve beneficiar o Sertão de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, beneficiando cidades como Fortaleza (CE), Juazeiro do Norte (CE) e Mossoró (RN). Em 2007, primeiro, coube ao Exército construir canais de aproximação, para ligar o rio às primeiras estações de bombeamento. O restante da execução do empreendimento foi dividido em 14 lotes. A partir de 2012, o governo deixou de usar a divisão de lotes e os transformou em seis metas de execução — três em cada um dos eixos. Para ver a imagem original. Eixo leste Qual a situação atual? O eixo leste foi inaugurado em março de 2017, durante o governo Temer, e desde então se encontra no que o governo chama de ‘pré-operação’. No mesmo mês da inauguração, ocorreu um rompimento na Barragem de Barreiros (Sertânia). As operações foram retomadas em 15 dias, e as reformas definitivas à época levaram cerca de cinco meses. Essa parte da obra foi recebida pelo governo Bolsonaro com 100% de execução. De acordo com o governo, essa contagem considera “o avanço físico e operacional” de cada meta. Não são consideradas, portanto, outras obras necessárias ao funcionamento efetivo do empreendimento. O que foi feito em 2019? Neste ano, o bombeamento do eixo leste foi interrompido por duas vezes: de abril a julho e de agosto a setembro. Segundo o MDR, isso aconteceu devido a vazamentos na barragem de Cacimba Nova. A bomba EBV-6 foi religada no início de novembro. E, em 20 de novembro, a água chegou novamente a Monteiro, na Paraíba. Questionado sobre o que foi feito no trecho, além da manutenção relativa ao vazamento, o MDR cita apenas a realização de inspeções, análises, estudo geofísico e monitoramento. De acordo com o governo, a empresa pré-operadora responsável pelo trecho retomou a operação da barragem Cacimba Nova com o nível do reservatório no mínimo necessário à passagem de água. O que ainda é preciso fazer? Nem a drenagem nem as muretas da obra foram feitas ainda. Segundo o governo, será preciso realizar novos contratos, pois os consórcios responsáveis abandonaram o trecho sem concluí-lo. Eixo norte Qual a situação atual? De acordo com o MDR, o eixo norte apresenta índice de conclusão de 97,35%. Desse montante, 1,3% corresponde a obras realizadas em 2019. Esse eixo tem três metas, e a terceira (3N) é a que está em estágio mais avançado. No entanto, a água ainda não chegou ao fim do trecho da primeira meta (1N), que vai de Pernambuco ao Ceará. Segundo estimativas do governo, isso deve acontecer até março de 2020. Meta 1N: 96,35% Cabrobó (PE) → Jati (CE) – 140 km Meta 2N: 99,2% Jati (CE) → Brejo Santo (CE) – 39 km Meta 3N: 98,8% Brejo Santo (CE) → Cajazeiras (PB) – 81 km O que foi feito em 2019? Em 30 de agosto deste ano, a estação de bombeamento EBI-3, que permite que a água siga rumo a Jati, no Ceará, foi ligada para testes. A bomba em questão tinha sido ligada em agosto de 2018, mas, de acordo com o governo, como foram identificadas “vazões anormais”, os testes foram interrompidos. As obras que permitiram a retomada da operação foram iniciadas em novembro de 2018. A meta 1N é levar água de Pernambuco a Jati, no Ceará, ao longo de um trecho de 140 km. De acordo com o governo, estão sendo construídos 2 km de canais para ligar um local ao outro, ou seja menos de 2% do total do trecho, e menos de 1% do total do empreendimento como um todo. Além disso, também segundo o governo, estão sendo feitas obras de drenagem, construção de muretas, instalação de instrumentos para monitoramento das barragens, ajustes em equipamentos e os programas de proteção ambiental. Quanto foi investido? O orçamento inicial de toda a obra de transposição saltou de R$ 4,5 bilhões para R$ 12 bilhões. Até o momento foram investidos R$ 10,7 bilhões. Desse montante, cerca de R$ 582 milhões (pouco mais de 5% do total) foram gastos na gestão de Jair Bolsonaro. Transposição do Rio São Francisco Infogram Obra nem foi finalizada e já deteriora A obra sempre foi apontada como a solução para a seca no Nordeste, a partir do beneficiamento de 12 milhões de pessoas e do impulsionamento de um novo modelo econômico. Porém, como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo em setembro, hoje a construção apresenta sinais visíveis de deterioração: paredes de concreto rachadas, estações de bombeamento paralisadas, barreiras de proteção rompidas, sistema de drenagem obstruído e assoreamento do canal em alguns trechos. Atualmente, são atendidas cerca de 1 milhão de pessoas na Paraíba e em Pernambuco, através do eixo leste. A obra só deve chegar a 12 milhões quando todas as obras complementares em cada um dos estados forem concluídas, mas o cronograma está atrasado. Em Pernambuco, por exemplo, onde está o maior trecho de canais do eixo leste, a água chega a apenas a 12 municípios, enquanto 34 são atendidos na Paraíba. O que impede o pleno funcionamento dos canais no estado são principalmente duas obras complementares, uma delas é o Ramal do Agreste, iniciativa federal que vai captar a água do São Francisco no município de Sertânia e tem previsão de entrega para 2021. A outra é a Adutora do Agreste, obra estadual realizada com recursos da União que, sem o ramal, passou a receber parte da água da transposição através de projetos alternativos. Problemas ainda sem solução Em 2018, um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que, ao priorizar a execução das obras da transposição, o então Ministério da Integração (que, em 2019, passou a integrar o MDR) postergou o planejamento de como se dariam a operação, manutenção e sustentabilidade do empreendimento. Entre os custos que ameaçam a sustentabilidade do projeto está o gasto com energia para bombeamento das águas, que, de acordo com o relatório, pode chegar a R$ 800 milhões anuais. Atualmente, o gasto com a pré-operação do eixo leste, que chega a R$ 300 milhões anuais segundo o MDR, é bancado pelo governo federal. Em 10 de novembro, o presidente Jair Bolsonaro tuitou que o ministro do MDR, Gustavo Canuto, pretende utilizar energia de placas solares, o que, segundo o tuíte, poderia reduzir o custo da operação em até 25%. A ideia de usar energias renováveis já está em estudo desde 2018. Ainda assim, além de o potencial custo da operação permanecer elevado, não há consenso de como ele seria dividido entre os estados. Um dos motivos é a diferença do consumo de energia para levar a água a cada um dos estados. Em agosto, o projeto entrou por decreto na lista de possíveis privatizações do presidente Jair Bolsonaro. Com isso, a manutenção e operação ficariam a cargo da iniciativa privada. A intenção de privatizar a operação da transposição foi anunciada em agosto de 2017, ainda no governo Michel Temer. Não há clareza de quanto dos custos da operação seriam repassados aos beneficiados pela chegada das águas. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O vídeo verificado teve, até a tarde de segunda-feira (9), mais de 114 mil visualizações no YouTube.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C813&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/outdoor-que-pede-fim-de-privilegios-para-deficientes-e-acao-de-marketing-de-2015/
COMPROVA
Outdoor que pede fim de “privilégios” para pessoas com deficiência é ação de marketing de 2015
null
2019-12-05
Uma publicação de 2015 que mostra uma mensagem ofensiva às pessoas com deficiência em um outdoor em Curitiba foi compartilhada agora sem informar que se tratava de uma ação de marketing para chamar a atenção para o tema Uma notícia do portal G1 de 2015 sobre um outdoor em Curitiba com a frase “pelo fim dos privilégios para deficientes” viralizou nas redes sociais nesta quinta-feira, 5. Os compartilhamentos mais recentes da notícia no Facebook não explicam que, apesar de ter gerado polêmica na época, no dia seguinte foi revelado que a peça publicitária era uma provocação, parte de uma campanha do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência da prefeitura da capital do Paraná. Depois que a notícia voltou a ser compartilhada, o G1 atualizou a matéria original, mostrando que, no dia 1º de dezembro de 2015, o outdoor ganhou uma nova mensagem: “se tantos se revoltaram, por que tantos ainda desrespeitam?”. Em uma página no Facebook, a entidade responsável pela campanha se explicou: “Esperamos que cada um que se revoltou, na internet, seja uma VOZ REAL na luta pelos nossos direitos. Que não se calem ao ver uma pessoa com deficiência sendo desrespeitada ou discriminada”. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado. Como verificamos O Comprova procurou em ferramentas de busca reportagens que explicassem a campanha sobre direitos de pessoas com deficiência. Também consultou a legislação brasileira sobre o assunto. Qual a história do outdoor? O outdoor com a mensagem contra “privilégios” de pessoas com deficiência foi colocado na rua Santa Cecília, no bairro Pilarzinho, no dia 30 de novembro de 2015. No mesmo dia, foi criada uma página no Facebook com o nome “Movimento pela Reforma de Direitos”. Na fanpage, não havia identificação dos criadores. O suposto movimento reivindicava a redução em 50% das vagas exclusivas em estacionamentos, filas e assentos; o fim das cotas em empresas e em concursos públicos; e o fim da isenção de impostos na compra de carro zero. Além da página no Facebook, o grupo também criou uma petição pública online endereçada ao governo federal. A mensagem contrária aos direitos de pessoas com deficiência gerou revolta nas redes sociais e manifestações de repúdio da Comissão de Acessibilidade da Ordem dos Advogados do Paraná (OAB-PR) e da Câmara dos Vereadores de Curitiba. O outdoor chegou a ser pichado com a palavra “vergonha”. No dia seguinte, porém, a mesma página publicou uma mensagem explicando a ação de marketing, com um vídeo da então presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Mirella Prosdócimo. O slogan da campanha era “não é privilégio, é direito”. A ação buscava conscientizar sobre o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, comemorado no dia 3 de dezembro, e o Dia Nacional da Acessibilidade, no dia 5 de dezembro. A página do “Movimento pela Reforma de Direitos” no Facebook não está mais no ar. Vários veículos de imprensa reportaram sobre a campanha curitibana: Estadão, Estado de Minas, Jovem Pan, Gazeta do Povo, UOL, Meio & Mensagem, A Gazeta, Diário de Pernambuco, entre outros. Contexto O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência é comemorado anualmente em 3 de dezembro e a campanha foi colocada no outdoor pouco antes desta data, em 30 de novembro de 2015. De acordo com o Ministério da Saúde, são consideradas pessoas com deficiências aquelas que “têm impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. Instituída por meio da portaria nº1.060, de 5 de junho de 2002, a Política Nacional de Saúde para Pessoas com Deficiência prevê que elas tenham direito integral à saúde e que possam procurar os serviços de saúde em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS), quando necessitarem de orientações ou cuidados, incluindo serviços básicos de saúde como imunização, assistência médica ou odontológica, ou ainda serviços de atenção especializada como reabilitação ou atenção hospitalar. As diretrizes dessa política visam a promoção da qualidade de vida das pessoas com deficiência; assistência integral à saúde da pessoa com deficiência; prevenção de deficiências; ampliação e fortalecimento dos mecanismos de informação; organização e funcionamento dos serviços de atenção à pessoa com deficiência; capacitação de recursos humanos. Em 6 de julho de 2015, foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, comumente chamado de Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146). Suas diretrizes previam “assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”. Esta lei aplica-se quando forem necessárias mudanças, projetos ou reformas para garantir a acessibilidade; para a extinção de barreiras urbanísticas, arquitetônicas, tecnológicas; e no transporte e meios de comunicação. Ela também garante o atendimento público gratuito e prioritário, conforme as disposições da Política Nacional de Saúde para Pessoas com Deficiência, além da garantia ao direito à reabilitação, educação, moradia e trabalho. Entre 4 e 10 de dezembro, é comemorada anualmente a “Semana Nacional da Acessibilidade e Valorização da Pessoa com Deficiência”, data instituída pelo Senado em 2008. Já em 5 de dezembro, é comemorado o Dia Nacional da Acessibilidade. Repercussão nas redes De acordo com a ferramenta CrowdTangle, ao menos 58 páginas de Facebook divulgaram o link antigo do G1 nesta quinta-feira e geraram mais de 31 mil interações (curtidas, comentários e compartilhamentos) na rede social. A página “Dilma mais que Bolada” comparilhou o link com a legenda “os sulizista” e teve 5,4 mil compartilhamentos. No grupo “Blog Vamos Discutir o Golpe”, uma publicação com a legenda “Curitiba é a capital do nazismo do País” teve 3,8 mil compartilhamentos. No Twitter, 428 perfis compartilharam a matéria e obtiveram 325 interações.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/curso-sobre-a-revolucao-socialista-na-ufsc-nao-foi-bancado-com-dinheiro-publico/
COMPROVA
Curso sobre a revolução socialista na UFSC não foi bancado com dinheiro público
null
2019-12-03
O evento de um dia ocorreu em um prédio abandonado da universidade, que tem sido utilizado por estudantes para atividades organizadas por eles. É falso que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tenha feito, no último sábado (30), um “curso preparatório para a revolução socialista” ou que impostos estejam sendo usados para “treinar revolucionários comunistas”. O evento chamado “Programa para a revolução socialista nos dias de hoje”, promovido pelo Partido da Causa Operária (PCO) de Santa Catarina, cujo logo aparece no rodapé do cartaz de divulgação, não contou com a participação institucional da universidade, embora tenha ocorrido no Centro de Convivência da UFSC. O espaço utilizado para o evento é, de acordo com a UFSC, um prédio que está abandonado por falta de recursos para reforma, mas que foi ocupado por estudantes. Por isso, não é necessária a autorização da universidade para a realização de eventos neste local. O Comprova já fez outra verificação envolvendo o mesmo Centro de Convivência da UFSC. Além disso, a proposta do evento não era preparar para uma “revolução socialista”, segundo explicou ao Comprova um dos organizadores. De acordo com Roberto Araújo, militante do partido no estado e um dos organizadores do encontro, o evento visava discutir, com a mediação de um palestrante, um texto de aproximadamente 200 páginas, escrito pelo revolucionário bolchevique Leon Trótski, em 1938, sobre a criação da IV Internacional Comunista. Em 29 de novembro, um dia depois de o cartaz do evento sobre Tróstki ser compartilhado no Twitter pela conta @LivreUFF, aconteceu, também na UFSC, o 1º Congresso Conservador – Liberdade e Democracia, organizado pelo grupo Coalizão Conservadora. O evento teve a participação de Olavo de Carvalho por videoconferência. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos Para essa verificação, o Comprova entrou em contato com a organização do evento, por meio dos telefones disponíveis no cartaz de divulgação, e conversou com o militante do PCO-SC Roberto Araújo. Também entramos em contato com a assessoria de imprensa da UFSC e com o chefe de gabinete da reitoria, professor Aureo Moraes. Além disso, procuramos o PCO, que respondeu ao Comprova com um texto opinativo no Jornal da Causa Operária. Também acessamos sua página no Facebook e ouvimos o autor do tuíte, o perfil do Twitter @LivreUff (UFF Livre Campos dos Goytacazes). O cartaz é real? Sim. O cartaz que foi compartilhado pelo menos 3,3 mil vezes num tuíte do perfil @LivreUff é real e anunciava um evento previsto para acontecer no último sábado, dia 30 de novembro, no Auditório Ovelha do Centro de Convivência da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Do que se tratou o evento? A ideia foi fomentar uma revolução socialista? De acordo com Roberto Araújo, militante do PCO em Santa Catarina e um dos responsáveis pela organização, o evento era uma aula sobre Leon Trótski e sobre o programa da IV Internacional Comunista. “É uma aula sobre o Trótski, sobre o programa da IV Internacional, e não tem treino para comunista nem para socialista. É um dia, vai ser uma aula sobre um texto que tem menos de 200 páginas, que é um programa que foi escrito por Trótski em 1938”, disse Roberto. Ainda segundo ele, sete pessoas participaram do curso. O chefe de gabinete da Reitoria da UFSC, professor Aureo Moraes, disse que o evento era dedicado à “leitura de textos sobre Marx” e que não vê nenhuma irregularidade nisso. “É comum que os alunos se reúnam para debater temas dos mais polêmicos e mais controversos. É uma leitura de textos, é um exercício da essência do que somos”, declarou. O professor também afirmou que não potencializa o evento como se a universidade estivesse “formando um núcleo de comunismo”. “Do nosso ponto de vista, não há nenhuma irregularidade (no evento), mas estamos vivendo um momento de intolerância — e não quero dizer que a intolerância venha apenas de um ou de outro lado —, e essas coisas têm ganhado mais destaque”, pontuou. A UFSC esteve envolvida no evento? A organização do encontro negou que a universidade tivesse qualquer envolvimento. “A universidade não participa em nada [na organização do evento], ela tem função de servir à comunidade. É um evento de um partido, mas qualquer outra instituição tem o direito de pedir e usar o espaço”, disse Roberto Araújo. Questionada pelo Comprova, a assessoria de imprensa da universidade informou que, para uso das dependências da universidade, é preciso que um professor ou funcionário esteja presente. Isso, no entanto, não se aplica ao Centro de Convivência porque ele funciona em um prédio que está abandonado pela instituição e ocupado por estudantes. “Esse é um espaço utilizado pelos estudantes, onde fica a sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE), então não é um espaço que precisa de autorização ou que alguém da comunidade tenha que estar presente. Foi um evento autônomo, isso é muito comum. Não é um evento institucional, é um evento que ocorre na universidade, nesses espaços de uso coletivo”, afirmou o professor Aureo Moraes. Houve dinheiro público envolvido na organização do evento? Há envolvimento do PCO? Na página oficial do PCO de Santa Catarina no Facebook não há um cartaz de divulgação do evento de sábado na UFSC, mas há uma fotografia postada no dia 18 de novembro informando que, no dia 10, “o Partido da Causa Operária, realizou o curso ‘O programa para revolução socialista nos dias de hoje’ na cidade de Sombrio-SC. Os cursos vão ocorrer até o início de dezembro em todo o estado”. Um evento criado pela página convida para o curso em Florianópolis, no dia 30 de novembro. O evento se chama “Curso de formação teórica marxista – O programa para a revolução socialista dos dias de hoje – O programa de transição da IV Internacional”. Logo abaixo, aparecem as logomarcas do PCO, do Acampamento de Férias, Universidade de Férias (da Fundação João Jorge Costa Pimenta), da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) – todas ligadas ao partido. Consultado pelo Comprova, o militante Roberto Araújo informou que não houve custos para a realização do evento por parte da universidade, que apenas cedeu o espaço, e nem para o partido, já que o palestrante convidado é integrante do PCO. Segundo Roberto, o partido recebe doações de simpatizantes, que custearam o material de divulgação. Assim como outros 13 partidos, o PCO está desde 1º de fevereiro impossibilitado de receber recursos do Fundo Partidário pois não alcançou a cláusula de barreira estabelecida para as eleições de 2018. O que diz o autor do post Procurado, o grupo “UFF Livre Campos de Goytacazes” afirmou que conhece o funcionamento interno de partidos revolucionários de esquerda e alegou que a palavra dessas organizações não pode ser tomada literalmente. Para o grupo, a leitura do texto de um revolucionário não pode ser tomada fora de contexto. “Imagine que fosse um grupo fascista lendo Mussolini. Um partido comunista está discutindo Trotski com qual intenção? Puramente acadêmica?”, afirmaram em resposta. Sobre a afirmação de que há recursos públicos, o argumento do grupo fluminense é que se o espaço é público, indiretamente há uso. “Se o evento acontece num prédio deles que é custeado com dinheiro público, é implícito que, se ocorre ali, há anuência ou concordância” afirmou a página da UFF Livre Campos de Goytacazes em resposta ao Comprova. Contexto No ano passado, operações da Justiça eleitoral buscaram coibir atividades políticas nas universidades públicas do país. Para especialistas, a ação atacava a liberdade de expressão nas instituições. Entre as ações, houve uma ordem para que fosse retirada da frente da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), a faixa com os dizeres “Direito UFF Antifascista”. Leon Trótski, revolucionário bolchevique e um dos líderes da revolução de 1917 que foi tema do curso promovido pelo PCO no último sábado (30), também já foi assunto na atual política brasileira depois que foi comparado, em maio deste ano, a Olavo de Carvalho. A comparação foi feita pelo ex-comandante do Exército Brasileiro general Eduardo Villas Bôas, ao dizer que Olavo era um “Trótski de direita” por não compreender que “substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções completas para os problemas brasileiros”. Esta reportagem da Folha de S. Paulo, parceira do Comprova, traçou um rápido perfil de Trótski à época da comparação. Trótski criou e comandou o Exército Vermelho, uma das organizações que teve papel fundamental na consolidação da União Soviética e, em 1938, fundou a IV Internacional Comunista — que é mencionada no cartaz do evento. A IV Internacional foi uma organização comunista fundada por Trótski como alternativa à III Internacional Stalinista. A fundação se deu 11 anos após ele ser julgado por traição e ser expulso do Partido Comunista por seu rival, Josef Stálin, que sucedeu Vladimir Lênin no comando da União Soviética e nele permaneceu até sua morte, em 1953. Para Trótski, a III Internacional seria incapaz de levar os trabalhadores ao poder político porque estava demasiadamente concentrada no stalinismo. O regime comandado por Stálin era totalitário e representava uma mudança radical no desenho do Estado soviético. Trótski foi assassinado em 1940, durante o exílio no México, pelo espião espanhol Ramón Mercader, a mando de Stálin. Ele foi morto com um golpe de picareta na cabeça. Repercussão nas redes A postagem verificada pelo Comprova foi feita no dia 28 de novembro no Twitter pelo perfil @LivreUff – UFF Livre Campos dos Goytacazes – que se autointitula “um movimento estudantil criado por alunos conservadores que combatem e denunciam o esquerdismo nas Universidade Públicas” -, e recebeu 3,3 mil curtidas, além de ter sido retuitada 1,5 mil vezes até a tarde desta terça-feira (3).
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-distorce-informacoes-sobre-o-uso-da-cloroquina-para-a-covid-19/
COMPROVA
Vídeo distorce informações sobre o uso da cloroquina para a covid-19
null
2020-05-29
Em vídeo compartilhado nas redes sociais, um homem sem formação na área de saúde exagera a eficácia da cloroquina e minimiza seus efeitos colaterais e diz que as notícias sobre esses efeitos fazem parte de uma luta contra o presidente da República É enganoso um vídeo que circula nas redes sociais e atribui notícias sobre os efeitos colaterais da cloroquina e da hidroxicloroquina a uma “luta contra o presidente Jair Bolsonaro”. Na realidade, os alertas sobre a utilização dessas substâncias contra a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, têm como base o fato de não existirem provas da eficácia da substância para tratar a doença. Como a cloroquina e a hidroxicloroquina podem gerar efeitos colaterais graves, autoridades sanitárias têm enfatizado os riscos de utilizá-las. No vídeo, um homem apresenta uma lista de efeitos colaterais de um remédio e, em seguida, diz ao espectador não se tratar de algo retirado da bula da hidroxicloroquina, mas sim da Novalgina, um dos nomes comerciais da dipirona sódica, medicamento destinado ao tratamento de dores e à redução da febre. O homem no vídeo acerta ao dizer que a cloroquina é usada contra a malária há 70 anos, mas engana ao insuflar sua eficácia e ao minimizar seus efeitos colaterais, o que pode causar danos à saúde de quem acreditar no que é dito no vídeo. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos que tenham muita viralização e repercussão nas redes sociais sobre a pandemia. O vídeo em questão se insere no contexto da disputa iniciada pelo presidente Jair Bolsonaro acerca do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina como tratamento para a covid-19. Assim como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Bolsonaro insiste na adoção dessas substâncias apesar da ausência de dados técnicos ou científicos que comprovem a afirmação. Além disso, os efeitos colaterais dessas substâncias podem ser graves, o que torna sua utilização arriscada em se tratando de uma doença para a qual elas não têm eficácia atestada. Para o Comprova, o conteúdo enganoso é aquele que foi retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? Foram realizadas pesquisas no Google, nas redes sociais Facebook e Instagram, resgatando informações sobre os envolvidos no vídeo, e buscas de artigos científicos no Brasil e pelo mundo, além de reportagens nacionais e internacionais. O Comprova também levantou documentos, recomendações e orientações das principais associações, instituições profissionais e científicas que discutem técnica e cientificamente o assunto. Os envolvidos na produção do vídeo foram entrevistados por e-mail, telefone e aplicativo de mensagens WhatsApp. Verificação Um dos responsáveis pelo vídeo, que aparece em frente à câmera, é identificado como José Renato Castro. Com uma simples busca no Google, o Comprova identificou essa pessoa. Ele é um ator, produtor cultural e musical que fez sucesso nos anos 1990, como integrante da dupla musical e humorística “Rosa e Rosinha”. Castro atua como o cantor “Rosa” desde 1993. José Renato diz que sentiu necessidade de se “afirmar politicamente” no vídeo devido à baixa qualidade das informações na internet. Ele afirmou querer alertar as pessoas que o uso de qualquer medicamento tem contraindicações e pode ser perigoso. A ideia “era falar sobre coisas verdadeiras” e, por isso, fez a parceria com seu amigo, o escritor Leo Reis, porque gosta dos textos produzidos por ele. Leo Reis é o corresponsável pelo vídeo. Eles foram parceiros musicais na dupla musical Rosa e Rosinha. Reis também foi médico da família de José Renato Castro. Ele afirma ser escritor, músico e compositor e explica que é formado em medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ao longo da carreira, foi dono de hospital, cirurgião, clínico geral e atuou na Amazônia tratando pacientes com malária usando a cloroquina. Há 20 anos trabalha como médico de diagnósticos por imagem. Tanto José Renato quanto Leo Reis acreditam que a hidroxicloroquina e a cloroquina têm efeito contra o novo coronavírus quando combinada com outros tratamentos, como a azitromicina, zinco ou a aplicação de plasma sanguíneo. José Renato admite, no entanto, que as substâncias não são a cura para a covid-19, mas diz acreditar que são um “fio de esperança”. Ambos ressaltaram ao Comprova a defesa do uso da medicação alegando ter amigos e colegas que fizeram uso das drogas com resultados positivos. Como o Comprova informou em outras verificações, experiências pessoais compartilhadas como verdade absoluta, sem pesquisa adequada e comprovação científica, podem causar danos. Leo Reis acrescenta ainda que o remédio só deve ser receitado na “primeira fase” da covid-19, “antes que os pulmões sejam atingidos”. Depois disso, o medicamento não teria mais efeito. Como também o Comprova já mostrou, não há evidência científica sobre a capacidade de nenhuma medicação impedir a evolução para a fase inflamatória da doença. Cloroquina e covid-19 Ao incentivar o uso da hidroxicloroquina, o vídeo engana os espectadores e pode levá-los a ter problemas de saúde para além da covid-19. No Brasil, desde o início da pandemia, diversas entidades fizeram alertas (ver abaixo) a respeito da falta de estudos sobre a eficácia da hidroxicloroquina e de seus potenciais efeitos colaterais. Originalmente, o Comprova destacou neste espaço um estudo publicado na revista The Lancet com 96 mil pacientes, que desqualificou a hidroxicloroquina como tratamento eficaz para a doença provocada pelo novo coronavírus e concluiu que a substância estaria relacionada a um aumento no risco de morte por problemas cardíacos. A pesquisa em questão promoveu o cancelamento de diversos ensaios clínicos envolvendo a hidroxicloroquina no mundo, mas dias depois a própria revista The Lancet disse que “sérias questões científicas” foram trazidas à sua atenção sobre a validade dos dados apresentados. Antes, a publicação havia corrigido dados de localização de alguns pacientes após críticas à sua metodologia, mas sem alterar as conclusões. Em 3 de junho, a Organização Mundial de Saúde retomou os testes com a hidroxicloroquina, destacando que isso não significa uma recomendação de uso, pois mais estudos são necessários para averiguar a eficácia contra a covid-19. Em 4 de junho, os responsáveis pelo estudo publicado na The Lancet pediram uma retratação, o que implicou na despublicação da pesquisa do site da revista. [Atualização em 4 de junho de 2020: os três parágrafos foram editados após a divulgação de questionamentos acerca do estudo citado] Os protocolos do Ministério da Saúde No Brasil, o uso da hidroxicloroquina para tratar a covid-19 é regulado pelo Ministério da Saúde. Em uma nota técnica de 27 de março, a pasta sugeriu, em seu primeiro protocolo sobre o tema, o uso da cloroquina para covid-19. É necessário que o paciente declare ciência dos efeitos colaterais do remédio. Na ocasião, o documento determinava que a substância deveria ser utilizada pelos médicos no tratamento apenas de pacientes graves e hospitalizados diagnosticados com a doença provocada pelo novo coronavírus. O protocolo reforçava que tanto a cloroquina quanto a hidroxicloroquina não eram indicadas para prevenir a doença nem tratar casos leves. Dois meses depois, em 20 de maio, o ministério publicou novas recomendações para ampliar o acesso ao medicamento por pacientes com covid-19. Desde então, o uso pode ser feito também por pacientes com sintomas leves, desde que no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento pode variar conforme os sintomas e a saúde do paciente e o acesso ao medicamento só pode ser feito por prescrição médica, com a concordância por escrito do paciente para o uso da medicação. O uso da cloroquina O vídeo acerta apenas ao afirmar que a cloroquina é usada contra a malária na região amazônica há 70 anos. Ocorre que, neste caso, há estudos que comprovam a eficácia da substância, ao contrário do que se pode constatar no caso da covid-19. A cloroquina foi descoberta em 1934, mas de início foi avaliada como uma droga muito tóxica e acabou rejeitada. Novos estudos realizados nos Estados Unidos e na Austrália mostraram que variações do medicamento eram possíveis para o tratamento de doenças, desde que a dose fosse ajustada. Em 1945, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a cloroquina para o tratamento da malária. O medicamento foi distribuído em massa na região amazônica e outras regiões do mundo com alta predominância de casos. Farmacêuticos e a cloroquina O vídeo engana, também, ao destacar que a cloroquina ou a hidroxicloroquina podem ser indicadas por farmacêuticos. No caso da covid-19, entidades que reúnem farmacêuticos têm feito alertas importantes a respeito disso. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) publicou um texto em seu portal, no dia 31 de março, explicando que o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina “não evita que pessoas fiquem doentes por coronavírus e, por isso, não devem ser usados para prevenir a covid-19”. No mesmo texto, o CFF ressalta que ainda não há um estudo definitivo e que o “uso se justifica apenas com prescrição e supervisão médica, com acompanhamento de profissionais de saúde, dentro de hospitais, como parte de um protocolo de pesquisa”. O Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP), por sua vez, publicou em 18 de maio uma nota técnica com diversos alertas à classe. O documento ressalta que, diante das orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS); da Lei 13.021/2014 sobre o uso racional de medicamentos; do código de ética do Conselho Federal de Farmácia (CFF); e de uma resolução do CFF de 2001, o farmacêutico só deve liberar a “cloroquina e outros medicamentos utilizados para a covid-19” diante da apresentação da “prescrição médica, ainda que não seja medicamento sob regime especial de controle”. Contexto Desde março, o presidente da República, Jair Bolsonaro, tornou-se um dos principais defensores do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19, mesmo sem confirmações científicas e após o apoio e recuo de líderes estrangeiros, como Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Por várias vezes, Bolsonaro defendeu o uso do medicamento em coletivas de imprensa, vídeos e textos publicados nas redes sociais e até mesmo em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão. A insistência no medicamento já provocou a saída de dois ministros da Saúde durante a pandemia do coronavírus – Henrique Mandetta e Nelson Teich. Ambos discordavam da indicação do presidente da República. O segundo protocolo do Ministério da Saúde, citado acima, só foi publicado após o general Eduardo Pazuello assumir interinamente a pasta. Com a defesa do presidente ao medicamento, muitos apoiadores, entre eles seus filhos, como o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, atacaram adversários, como o governador de São Paulo, João Doria, para apoiar o uso da cloroquina. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a Associação de Medicina Intensiva Brasileria (AMIB), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e a Associação Médica Brasileira (AMB) são algumas das organizações científicas e profissionais que publicaram orientações e recomendações reforçando que ainda não há evidências que comprovem a eficácia do medicamento, e que sua eventual aplicação seja feita conforme a situação ou protocolo determinado. Alcance O Comprova verificou que vídeo original foi publicado na página do Facebook de José Renato Castro no dia 19 de maio. Até 25 de maio, já foi visualizado mais de 90 mil vezes, com 74 comentários, 745 reações e mais de 5 mil compartilhamentos. No Instagram, o vídeo também já foi visualizado mais de 2 mil vezes.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/boato-usa-frase-de-doria-para-levantar-duvidas-sobre-a-extensao-da-pandemia/
COMPROVA
Boato usa frase de Doria para levantar dúvidas sobre a extensão da pandemia
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2020-05-29
Tuíte usa o a lista de membros da ONU, 193, para sugerir que o governador de São Paulo exagera os números de países afetados pela pandemia. Dória afirmou que 213 países enfrentam a pandemia de covid-19 em entrevista à Band TV. São, na realidade, 214 países e territórios afetados, segundo a OMS Publicação com grande circulação no Twitter sugere que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), inventou o número de países afetados pela pandemia do novo coronavírus em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, da Rede Bandeirantes. O boato afirma que o político teria citado 215, quando o número de países no mundo é de 193. A informação, no entanto, é enganosa. De fato, Doria erra ao falar sobre o cenário da pandemia no programa Brasil Urgente, em 11 de maio — mas o número não aparenta ser invenção. Na verdade, está bastante próximo à quantidade de áreas com casos confirmados de covid-19 até aquele momento, com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A entrevista está no Canal do Datena no YouTube e foi transmitida ao vivo na Band TV. O trecho citado pelas publicações no Twitter pode ser visto a partir de 8 minutos e 20 segundos de vídeo. Doria fala, primeiro, em 212 países enfrentando a pandemia, depois corrige o número para 213. “A pandemia é mundial, ela afeta o mundo: 213 países, neste momento, Datena, estão enfrentando a pandemia, estão perdendo vidas”, afirma o governador de São Paulo. A informação é imprecisa porque Doria relata casos do novo coronavírus em 213 países, quando a referência só é possível de ser feita quando somam-se tanto os países de reconhecimento pleno quanto outros tipos de território no mundo. Ainda assim, o número atualizado em 11 de maio, segundo a base da dados da OMS, era de 214 áreas com casos confirmados de covid-19. Desses, 180 eram países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) e 34 eram territórios dependentes e países de reconhecimento limitado, entre outros. Quanto ao número real de países, a principal referência para o dado é a lista de membros da ONU, com 193. A quantidade de nações permanece inalterada desde 2011. Esse também é o número que consta nas postagens do Twitter. Porém, mesmo essa informação é questionável em razão de disputas políticas em andamento. Taiwan e Kosovo, por exemplo, são considerados países de reconhecimento parcial, o que significa dizer que algumas nações as entendem como estados soberanos e outras, não. A ONU também conta com dois “estados observadores” em suas reuniões, Vaticano e Palestina. Esses quatro já aumentariam as nações para 197. O post mais antigo no Twitter com a descrição foi publicado no dia 26 de maio pelo perfil @Thacloroquina, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle. A autora se descreve como “católica, conservadora, anti-esquerda e robô do Bolsonaro com CPF”. A mensagem também aumenta o número dito por Doria na entrevista para 215, o que é incorreto. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos suspeitos que circulam nas redes sociais e alcançam grande audiência. Além disso, conteúdos que questionam a gravidade da pandemia são potencialmente prejudiciais à população. Ao acreditar em informações enganosas que desacreditam a crise mundial de saúde, as pessoas podem decidir tomar menos precauções, ficando assim expostas mais facilmente a uma doença que ainda não tem cura conhecida. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? Com base no texto do tuíte, o Comprova pesquisou sobre entrevistas recentes do governador João Doria ao jornalista José Luiz Datena. A reportagem encontrou trecho semelhante à descrição no vídeo “Lockdown não está descartado em SP, diz Doria em entrevista a Datena”, publicado no Canal do Datena no YouTube, referente à transmissão do programa Brasil Urgente, na Band TV, em 11 de maio. A seguir, o Comprova consultou a base de dados aberta da Organização Mundial da Saúde (OMS) para descobrir a quantidade de países e territórios com casos de covid-19 registrados até a data da entrevista. Por meio de um editor de planilhas, a reportagem filtrou os casos acumulados até o dia 11 de maio e elaborou uma lista por localidade informada. Finalmente, a reportagem procurou em notícias, artigos e outras fontes confiáveis a quantidade real de países no mundo. Entre os conteúdos, estava a lista de países membros da ONU informando o número alegado pela publicação, 193. As informações, então, foram comparadas com a planilha de casos registrados pela OMS. As localidades que não constavam na lista das Nações Unidas foram pesquisadas individualmente. Verificação O governador de São Paulo, João Doria, realmente fez uma declaração semelhante à apontada pelo boato em entrevista ao jornalista José Luiz Datena em 11 de maio, durante o programa Brasil Urgente, da Band TV. Doria respondia se estava perto ou não de tomar a decisão pelo lockdown em São Paulo e qual deveria ser a prioridade do governo durante a crise de saúde. O trecho sobre a situação da covid-19 no mundo aparece logo depois de o governador afirmar que não colocaria a economia “à frente da vida” e que o adversário não era a quarentena, mas a pandemia. Ele cita outros países do mundo para argumentar que as dificuldades econômicas não eram exclusividade de São Paulo. Doria falou, primeiro, em 212 países enfrentando a pandemia e depois alterou a informação. “A pandemia é mundial, ela afeta o mundo: 213 países, neste momento, Datena, estão enfrentando a pandemia, estão perdendo vidas”, disse o político. “Não é um tema local, não é um tema regional, não é um tema nacional — é um tema mundial”. A entrevista também contém diversas críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Quantos países existem no mundo? A principal referência para o dado é a lista de países-membros das Nações Unidas, organização internacional fundada em 1945. Atualmente, a lista conta com 193 países, entre eles o Brasil. Ela permanece inalterada desde 2011, com a entrada do Sudão do Sul. Entretanto, essa informação não é absoluta, em razão dos conflitos e disputas políticas que ocorrem hoje. Em entrevista à BBC, publicada pelo portal G1, o especialista em geografia história e política da Universidade de Leeds, na Inglaterra, Martin Purvis, disse que a existência de um país depende do contexto político. Purvis explica que, para ser considerada um país, uma região precisa ter um território definido; ser habitada com algum grau de permanência; ter instituições políticas e governo próprios; ter a independência reconhecida por outros estados soberanos; e interagir diplomaticamente. Dessa forma, existem diversos territórios que ficam no meio termo: é o caso daqueles que declararam independência e funcionam, em grande parte, como países, mas não tiveram a soberania reconhecida pela comunidade internacional. O que diz a base de dados da OMS? De acordo com os dados abertos da Organização Mundial da Saúde (OMS), 214 países, territórios e áreas tinham registros de casos confirmados do novo coronavírus em 11 de maio de 2020, quando o número de infectados era de 4 milhões de pessoas no planeta. Desses, 180 eram países membros da ONU e 34 eram territórios dependentes e países de reconhecimento parcial, entre outros. A OMS faz a contagem, separadamente, de uma série de arquipélagos e ilhas que pertencem a países como Reino Unido, Países Baixos, França, Dinamarca e Estados Unidos, por exemplo. Apenas o Caribe, região localizada na costa do continente americano, concentra 16 delas, todas com casos de covid-19: Anguilla, Aruba, Bermudas, Ilhas Cayman, Curaçao, Guadalupe, Martinica, Montserrat, Países Baixos Caribenhos, Porto Rico, São Bartolomeu, São Martinho Francês, São Martinho Neerlandês, Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas Virgens Britânicas e Ilhas Virgens Americanas. Os dois estados observadores da ONU — a Palestina, estado que reivindica a soberania sobre territórios no Oriente Médio, e o Vaticano, cidade-estado cercada por Roma, na Itália, e sede da Igreja Católica — também apresentam informações próprias. O mesmo acontece com Kosovo, país de reconhecimento limitado localizado na região dos Bálcãs, na Europa. Por outro lado, Taiwan — considerada província pelo governo chinês, mas que chegou a fazer parte da ONU até a década de 1970 —, é integrada à China pela OMS. Outras bases de dados, como a da Universidade Johns Hopkins, contabilizam Taiwan de forma separada. Os demais territórios na base de dados da OMS são Ilhas Falkland (Malvinas), Ilhas Faroé, Guiana Francesa, Polinésia Francesa, Gibraltar, Groenlândia, Guam, Guernsey, Ilha de Man, Jersey, Mayotte, Nova Caledônia, Ilhas Marianas do Norte, Ilha da Reunião e Saint-Pierre e Miquelon. A contagem também informa os casos acumulados em transporte internacional no navio de cruzeiro Diamond Princess, registrados entre fevereiro e março, no total de 712. Atualmente, o número de países afetados é de 181, com o primeiro caso em Lesoto confirmado em 14 de maio. Ao todo, foram confirmados 5,5 milhões de casos de covid-19 no mundo até quarta-feira, 27, segundo dados da OMS. Apenas 12 países da ONU não haviam divulgado casos da doença até esse dia: Coréia do Norte, Ilhas Marshall, Ilhas Salomão, Kiribati, Micronésia, Nauru, Palau, Samoa, Tonga, Turcomenistão, Tuvalu e Vanuatu. De acordo com informações da Reuters, outros 20 territórios também passam ilesos pela pandemia. Em seus boletins diários, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reúne as localidades em uma coluna denominada “países, territórios e áreas”. Abaixo das informações, a instituição esclarece que “as designações empregadas e a apresentação desses materiais não implicam a expressão de qualquer opinião da OMS sobre o status legal de qualquer país, território ou área ou de suas autoridades, ou ainda sobre a delimitação de suas fronteiras e limites.” Contexto São Paulo é o epicentro do novo coronavírus no Brasil, com o maior número de casos confirmados e de mortes por covid-19 — eram 6.712 óbitos e 89.483 pessoas infectadas até quarta-feira, 27. Outro dado preocupante é a taxa de ocupação dos leitos de terapia intensiva na região metropolitana da capital, que está em 91%, de acordo com estatísticas oficiais do estado. Diante do cenário, o governador João Doria adotou uma série de medidas para conter a disseminação do vírus, como o fechamento de estabelecimentos não essenciais ainda em março, como forma de reduzir a pressão sobre o sistema de saúde. Doria também vinha afirmando que não descarta estabelecer o lockdown, medida mais dura de controle sobre a circulação de pessoas e a operação de estabelecimentos comerciais, em algumas localidades, mas acabou anunciando um plano de flexibilização, incluindo abertura de shoppings e lojas na capital paulista, nesta semana. Esse discurso é contrário ao que defende o presidente da República, Jair Bolsonaro, com quem Doria rompeu politicamente meses depois da aliança “Bolsodoria” no segundo turno das eleições de 2018. Durante a crise do novo coronavírus, a rivalidade ganhou maiores proporções. O governador de São Paulo chegou a afirmar que o presidente “despreza vidas” e deveria começar “a ser um líder, se for capaz”. Bolsonaro, por outro lado, acusa Doria de usar a crise como palanque para as eleições de 2022. O presidente chamou o governador de São Paulo de “bosta” em reunião ministerial tornada pública por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e que foi analisada em meio ao inquérito que apura interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal. Alcance A mensagem circula no Twitter e no Facebook desde 26 de maio e teve mais de 8,6 mil curtidas e 1,6 mil compartilhamentos até a tarde desta quinta-feira, 28, de acordo com a plataforma de monitoramento de redes sociais CrowdTangle.
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['Projeto Comprova']
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2021-07-06
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COMPROVA
Vídeo “Plandemic” faz afirmações falsas sobre a COVID-19
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2020-05-26
“Plandemic” consiste em uma entrevista com a controversa pesquisadora Judy Mikovits, que reproduz informações erradas sobre a covid-19 e faz acusações sem provas de uma conspiração em torno da pandemia Apesar de ter sido retirado de sites como YouTube, Facebook e Vimeo por oferecer conselhos de saúde infundados, um vídeo de mais de 25 minutos repleto de alegações falsas sobre o novo coronavírus continua a circular online em plataformas de vídeo menos conhecidas. O vídeo “Plandemic” consiste em uma entrevista com a controversa pesquisadora Judy Mikovits, que reproduz informações erradas sobre a covid-19 e faz acusações sem provas de uma conspiração em torno da pandemia. Uma versão do vídeo com legendas em português acumulou mais de 901 mil visualizações ao longo de 18 dias. O filme foi produzido pela produtora californiana Elevate, dirigida pelo ex-modelo Mikki Willis, que também aparece no vídeo como entrevistador. Ele tem mais de 30 mil inscritos em seu canal de YouTube, onde publica conteúdo conspiratório. Em um vídeo, divulga a teoria sem provas de que o novo coronavírus teria sido vazado de um laboratório. A doutora Mikovits teve seu trabalho desacreditado em 2011, depois que a revista científica Science teve de publicar uma retratação sobre um estudo a respeito da síndrome da fadiga crônica. A pesquisa havia sido publicada em 2009, e ao longo dos dois anos seguintes os resultados foram questionados por outros pesquisadores, que não conseguiram replicar a experiência descrita por Mikovits e outros coautores. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos suspeitos que circulam nas plataformas de redes sociais e em aplicativos de mensagens e que alcançam uma grande audiência e muitas interações. O vídeo “Plandemic” foi colocado em suspeição, teve parte de seu conteúdo desmentido por diversas organizações internacionais de checagem e banido de plataformas como YouTube, Facebook e Vimeo. O Comprova optou por publicar também uma verificação ao encontrar em uma plataforma de vídeo uma versão legendada em português e com cerca de 900 mil visualizações. Além disso, o vídeo propaga ideias de uma pesquisadora controversa e que questiona temas sensíveis para a saúde como a eficácia das vacinas, a natureza do vírus, o uso de medidas protetivas e recomendação de uso de medicamentos cuja eficiência é questionada pelas autoridades de saúde. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos? O Comprova usou nesta verificação conteúdos investigados previamente pela AFP, que faz parte do projeto, consultou artigos já publicados pela imprensa sobre o caso Plandemic e conteúdos de outras verificações feitas pelo projeto. Os links de referência estão disponíveis no texto abaixo. A AFP entrevistou o pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina (Conicet, na sigla em espanhol) Juan Manuel Carballeda, especializado em Virologia Molecular e a médica Kathleen Montgomery, patologista da Universidade de Vanderbilt. Verificação Quem é Judy Mikovits? De acordo com a revista Science, Mikovits começou a carreira como técnica de laboratório no Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI, na sigla em inglês) em 1988. Sua formação acadêmica inclui um PhD em bioquímica e biologia molecular pela Universidade George Washington. Sua tese para conclusão do PhD de fato foi sobre HIV, como afirma o vídeo “Plandemic” — no entanto, a publicação não teve qualquer impacto sobre o tratamento da Aids. A Science também mostrou que não há evidências de que Mikovits tenha participado da equipe do NCI que isolou o vírus HIV em 1984. Em “Plandemic”, a cientista acusa o doutor Anthony Fauci, atual diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID, na sigla em inglês), de ter adiado a publicação de pesquisas sobre a Aids. Judy não fornece qualquer prova para a acusação e não existe qualquer indício de que seja verdade. Em 2009, ano em que publicou o desacreditado estudo sobre síndrome de fadiga crônica, Mikovits era diretora de pesquisa no Instituto Whittemore Peterson (WPI, na sigla em inglês). Ao contrário do que alega o vídeo “Plandemic”, o estudo publicado na Science não mostrava que uso de tecidos fetais causava doenças crônicas. Na realidade, a pesquisa sugeria que um vírus derivado de ratos, chamado XMRV, era a causa da síndrome de fadiga crônica. Posteriormente, outros pesquisadores mostraram que o vírus tinha sido criado acidentalmente em laboratório e que provavelmente nunca tinha infectado humanos. A própria Mikovits tentou replicar o achado científico em um estudo com amostras de sangue de 300 pessoas, metade delas pacientes da síndrome de fadiga crônica. O XMRV não foi encontrado em nenhum dos materiais analisados. A cientista se recusou a assinar a retratação na Science. Mikovits foi presa em 2011, depois de ter sido demitida do Instituto Whittemore Peterson (WPI), como ela própria admite no vídeo “Plandemic”. Ao contrário do que a pesquisadora afirma, porém, não é verdade que ela tenha sido presa sem acusações. De acordo com o Washington Post, Judy foi acusada pela procuradoria do condado de Washoe, no Estado de Nevada, de roubar dados de computadores e outros materiais do WPI. A acusação criminal foi retirada em junho de 2012. O New York Times reportou na época que, antes que a acusação fosse retirada, um funcionário do WPI disse em depoimento que ajudou Mikovits a retirar materiais do laboratório. Judy estaria se escondendo em um barco para evitar ser intimada pelo WPI. Em “Plandemic”, Mikovits acusa o doutor Fauci de ter subornado investigadores no caso da WPI. Novamente, ela não oferece qualquer prova disso. O site de fact-checking americano Snopes consultou vários documentos dos processos cível e criminal contra Mikovits que desmentem a acusação da doutora de conspiração promovida por Fauci. Procurado pelo Politifact, o NIAID, agência governamental dirigida por Fauci, informou que está “focado em pesquisas com o objetivo de pôr fim à pandemia da covid-19 e a prevenir novas mortes” e que não comentaria “táticas de pessoas que procuram impedir nossos esforços”. Como mostrou a AFP, a base de dados da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos aponta que Mikovits não publicou nem participou da produção de artigos científicos desde 2012. Vacinas já mataram milhões no mundo? No vídeo, Judy diz que vacinas mataram milhões de pessoas no mundo e que não há imunização para vírus RNA. São duas afirmações falsas. À AFP, o pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina (Conicet, na sigla em espanhol) Juan Manuel Carballeda, especializado em Virologia Molecular, disse que a declaração feita pela doutora Mikovits era uma das “mais insanas que já ouvi até hoje”. “Milhões de vidas humanas são salvas devido às vacinas para vírus de RNA”, indicou o pesquisador. “Penso na pólio, por exemplo, pronta para ser erradicada da face da Terra graças às vacinas Salk e Sabin. Outra vacina de sucesso, e a que mais se aplica no mundo, é a vacina da influenza, outro vírus de RNA”. RNA é uma sigla que significa ácido ribonucleico. De acordo com Carballeda, o fato de o vírus ser de RNA é relacionado à forma com que o genoma, código genético do vírus, é guardado. “A diferença principal é que o RNA, por ser uma molécula bem mais instável que o DNA (ácido desoxirribonucleico), tende a mudar mais. Ou seja, os vírus cujo genoma é RNA tendem a ter uma taxa de mutação mais alta que os vírus de DNA”, explicou o pesquisador à AFP. Em “Plandemic”, Mikovits afirma ainda que as vacinas contra gripe aumentaram em 36% as chances de infecção pelo novo coronavírus. No entanto, ela cita como referência um estudo sobre a temporada de influenza de 2017 a 2018. Os primeiros casos de covid-19 só foram identificados em 2019. A pesquisa, na verdade, faz referência aos quatro coronavírus que causam o resfriado comum. De acordo com a OMS, vacinas são seguras e seus efeitos colaterais geralmente são temporários, como dor local no braço ou febre branda. Efeitos colaterais mais graves são possíveis, mas extremamente raros, informa a entidade. Todas as vacinas licenciadas passam por múltiplas fases de testes antes de serem liberadas para o público. A segurança das imunizações é constantemente monitorada para evitar riscos à saúde. Como reforça a OMS: é muito mais provável que você fique doente por uma enfermidade que pode ser evitada por uma vacina do que pela imunização em si. Vírus foi criado em laboratório? No filme, Willis pergunta à doutora Mikovits se ela acredita que o novo coronavírus foi criado em laboratório, e a virologista responde que “é muito claro que o vírus foi manipulado”. Não é o que apontam estudos publicados até o momento sobre o assunto. Em 17 de março, a revista Nature divulgou pesquisa que analisou o genoma do SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19. “Nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus manipulado propositadamente”, afirmaram os autores. Autoridades como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, têm ventilado a teoria de que o vírus teria sido liberado do Instituto de Virologia de Wuhan, cidade chinesa onde foram registrados os primeiros casos da covid-19. Recentemente, a diretora da instituição, Wang Yanyi, negou os rumores, classificando-os como “pura fabricação”. Em março, a agência de inteligência do Departamento de Defesa dos Estados Unidos atualizou um relatório sobre o novo coronavírus para incluir a possibilidade de que ele tenha vazado acidentalmente de um laboratório. No entanto, essa chance é remota, de acordo com a comunidade científica. O The Washington Post mostrou que não há evidências de que um vazamento tenha ocorrido — porém, como o governo da China não forneceu informações suficientes para esclarecer os boatos, agências de inteligência ainda exploram a questão. Mikovits afirma ainda que o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID) financiou experimentos com o novo coronavírus em Wuhan e, por isso, seria responsável pela atual pandemia. À AFP, a médica Kathleen Montgomery, patologista da Universidade de Vanderbilt, disse que de fato os Estados Unidos estavam estudando a família de vírus dos coronavírus — que inclui organismos que podem causar resfriados até doenças mais graves, como a síndrome respiratória aguda severa (SARS). “[Mikovits] diz que os Estados Unidos estavam trabalhando com Wuhan para estudar os coronavírus há anos, como se isso fosse uma grande revelação. Sim, é claro que estávamos fazendo isso: a China é um foco de coronavírus e faz sentido estudar essa família de vírus onde ela surge naturalmente”, disse Montgomery por e-mail. Boatos que afirmam que o novo coronavírus é produto de manipulação humana são frequentes e o Projeto Comprova já desmentiu alguns exemplos (aqui, aqui e aqui). Usar máscaras e luvas diminui a imunidade? A alegação de que máscaras e luvas protetivas podem comprometer o sistema imunológico, divulgada em “Plandemic”, já foi desmentida pelo Projeto Comprova nesta checagem. Os três especialistas consultados pela reportagem confirmaram que o uso de equipamentos de proteção não diminui a imunidade. “A máscara vai evitar que você esteja exposto aos agentes infecciosos”, explicou o infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo. Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda o uso de máscaras de pano por toda a população, mesmo entre aqueles que não apresentem sintomas da covid-19. Essa medida deve ser aliada a outras precauções, como a lavagem correta das mãos e o distanciamento social. As máscaras devem ser higienizadas frequentemente. Hidroxicloroquina é tratamento mais efetivo contra covid-19? A hidroxicloroquina, medicamento que aparece em vários boatos sobre a covid-19, também é citada em “Plandemic”. O vídeo afirma que o fármaco tem funcionado “muito bem” no combate à doença causada pelo novo coronavírus, mas estudos recentes apontaram a ineficácia e o risco do tratamento com cloroquina. Uma pesquisa publicada na sexta-feira (22) na revista científica The Lancet mostrou que o remédio não apresentou benefícios no tratamento da covid-19, além de ter aumentado o risco de morte e de problemas cardíacos. O estudo foi realizado em 96 mil pacientes. A Sociedade Brasileira de Infectologia divulgou nota contra a recomendação médica da cloroquina para pacientes infectados pelo novo coronavírus. A OMS recomendou a suspensão de testes. O vídeo “Plandemic” também cita uma pesquisa feita com 6,2 mil médicos de 30 países. De uma lista com 15 medicamentos, 37% dos profissionais de saúde consultados apontaram a hidroxicloroquina como a mais eficaz contra o novo coronavírus. Como mostrou o site de fact-checking Aos Fatos, a enquete foi realizada por um fórum online chamado Sermo e não tem validade estatística. Além disso, o levantamento apenas reflete a percepção pessoal dos médicos entrevistados, o que não é suficiente para atestar a eficácia do medicamento. Outras checagens O vídeo “Plandemic” foi compartilhado ao redor do mundo, o que motivou desmentidos de diversas agências de checagem. Veja algumas das verificações produzidas: AFP Science Magazine Maldita.ES NPR Snopes FactCheck.Org The Journal Health Feedback Chequeado El Surti Tempo Fatabyyano Re:Check Politifact Alcance A publicação do vídeo analisada pelo Comprova obteve 901 mil visualizações ao longo de 18 dias. “Plandemic” foi republicado na plataforma de vídeos Brighteon, cujos termos de serviço asseguram que qualquer conteúdo postado está protegido pela liberdade de expressão.
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2021-07-06
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COMPROVA
Vídeo engana ao atribuir protesto na Bélgica a profissionais de saúde de São Paulo
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2020-05-26
Vídeo foi gravado na Bélgica e compartilhado nas redes sociais como se fosse um protesto de médicos e enfermeiros contra o prefeito de São Paulo, Bruno Covas O vídeo de um protesto de profissionais de Saúde em Bruxelas, na Bélgica, foi tirado de contexto para atacar o prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). As imagens gravadas mostram funcionários em uniforme hospitalar dando as costas para uma comitiva de carros que chega a um hospital. O conteúdo é acompanhado de um texto que diz: “O prefeito de SP Bruno Covas é recebido assim por enfermeiros e médicos: de costas no hospital. Parabéns a esses guerreiros”. O protesto na verdade aconteceu em Bruxelas, na Bélgica, no último dia 16 de maio. As pessoas que aparecem no vídeo eram funcionários do Hospital Saint-Pierre, como reportado por veículos internacionais, e fizeram o protesto silencioso durante visita oficial da primeira-ministra Sophie Wilmès. A Bélgica é o país da União Europeia com a maior taxa de mortes por grupo de um milhão de habitantes, 804, de acordo com o site worldometers. O governo belga tem sido alvo de duras críticas pela maneira como enfrenta a pandemia e a primeira-ministra Wilmès chegou a dizer que talvez estejam sendo apresentados números de casos maiores do que a realidade. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a covid-19 que sejam muito compartilhados e tenham repercussão significativa nas redes sociais. Este vídeo, com informações falsas, foi publicado em um momento de grande disputa política a respeito de como lidar com a pandemia do novo coronavírus. Enquanto o governo federal, comandado por Jair Bolsonaro, insiste na retomada completa de todas as atividades econômicas, governadores e prefeitos têm mantido orientações de distanciamento social, como a proibição de aglomerações e a obrigatoriedade de máscaras em lugares públicos. João Doria, governador de São Paulo, o estado mais atingido pela pandemia, contestou Bolsonaro diversas vezes e ambos trocaram farpas em público. Bruno Covas, prefeito da capital paulista e alvo do vídeo falso verificado aqui, é um aliado político de Doria. Na semana passada, com a divulgação do vídeo de uma reunião ministerial realizada em abril, foi possível confirmar a hostilidade de Bolsonaro em relação aos governadores. Diante de seus ministros, o presidente da República chamou Doria de “bosta” e Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, de “estrume”. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos? O Comprova utilizou o mecanismo de busca reversa do Google para localizar a origem do protesto. A pesquisa das imagens levou a diversas reportagens escritas por veículos de comunicação estrangeiros como a rede BBC e o jornal The Telegraph sobre o protesto belga. Também analisamos detalhes do vídeo, como aspectos das ambulâncias e placas dos carros. Em outra gravação, foi possível identificar detalhes escritos na roupa dos funcionários de saúde para comparar com o usado por esses profissionais na Bélgica. Verificação O jornal belga Le Soir publicou reportagem sobre o caso no sábado, 16 de maio. O texto diz que centenas de funcionários do hospital — entre enfermeiros, médicos, pessoal da limpeza e da área administrativa — protestaram contra dois decretos que permitiam a convocação dos profissionais em caso de uma emergência. Para os profissionais, eles já se dedicam suficientemente ao combate da pandemia e não seria preciso uma convocação. Ao procurar pelo hospital no Google Street View, foi possível encontrar edificações semelhantes às que aparecem no vídeo. Em certo momento, o vídeo foca em um dos carros da comitiva da primeira-ministra e é possível ver com clareza sua placa. O modelo, diferente do padrão brasileiro (composto de três letras e quatro números), é o mesmo adotado na Bélgica segundo o guia de regulamentos rodoviários belga (número, três letras e três números). Outro detalhe que chama a atenção é a cor das ambulâncias. Os veículos que aparecem no vídeo são amarelos e vermelhos, mesmo padrão dos veículos utilizados na Bélgica, além de possuir a inscrição do número “112”. Esse é o telefone de emergência no país europeu. Já em São Paulo, as ambulâncias são brancas e vermelhas com a inscrição do número para serviço de atendimento pré-hospitalar de urgência e emergência da Prefeitura de São Paulo, 192. Em outra gravação do mesmo episódio é possível ver que o uniforme de um dos profissionais contém as palavras “infirmier” e “verpleegkundige”, correspondentes em francês e holandês, respectivamente, para “enfermeiro”. Portanto, o vídeo não poderia ter sido gravado no Brasil. As duas línguas são faladas na Bélgica. Em seu Twitter, a primeira-ministra afirmou, sobre a visita ao hospital: “Foi um momento de encontros e de diálogo importante para os profissionais de saúde e para mim”. Les visites des hôpitaux Chirec-Delta et Saint-Pierre furent un moment de rencontres, dialogue important pour personnel soignant comme pour moi. Situation sanitaire, protections, charge mentale, valorisation du métier, financement des soins de santé, aucun sujet n’a été écarté. pic.twitter.com/8uJAuhn99V — Sophie Wilmès (@Sophie_Wilmes) May 16, 2020 Contexto O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), e o governador João Doria (PSDB) adotaram medidas como ampliação do rodízio de veículos na capital e antecipação de feriados no Estado para tentar aumentar a taxa de isolamento social. Ambos defendem que a medida é necessária para evitar um colapso no sistema de saúde pública. São Paulo lidera o ranking de mortes no Brasil, com 6.220 óbitos e 83.625 casos confirmados até segunda-feira, 25. A taxa de ocupação dos leitos em UTIs na região metropolitana da capital era de 91%. O governador e o prefeito tentam evitar o decreto de um “lockdown” — bloqueio total que obrigaria as pessoas a ficarem em casa. Enquanto especialistas afirmam que a medida será inevitável caso não haja redução na proporção de contágios e internações, os líderes do Executivo são alvos de protestos de caminhoneiros e outros setores que pedem pelo afrouxamento das medidas de distanciamento e pela reabertura do comércio. Alcance Um dos vídeos foi compartilhado em 20 de maio e já foi visto quase 100 mil vezes. Outra postagem se destacou com 20 mil compartilhamentos. O mesmo vídeo com a afirmação enganosa recebeu versões no Instagram, Twitter e YouTube. Este boato foi também checado pelo Fato ou Fake e pela AFP.
https://i2.wp.com/projet…=458%2C534&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
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COMPROVA
Médico confunde ao indicar cloroquina e criticar isolamento social e o uso de respiradores
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2020-05-22
Homem que aparece em vídeo faz afirmações sobre como lidar com a pandemia de coronavírus que não têm comprovação científica e são questionadas por diversas autoridades de saúde É enganoso o vídeo no qual um homem, que se identifica como médico, diz que os hospitais públicos estão intubando pacientes para “mostrar trabalho” e justificar a compra de ventiladores e respiradores artificiais. Ele é contra o procedimento e defende o uso de medicamentos, como a cloroquina, como alternativa ao tratamento da covid-19. O autor do vídeo também afirma que o vírus não mata pessoas fora do grupo de risco e que o uso de alguns medicamentos, na fase inicial da contaminação, pode levar à cura de pacientes em até quatro dias. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o momento não existe remédio ou cura comprovados para a doença causada pelo novo coronavírus. Além disso, no Brasil, 25% das pessoas que morreram por covid-19 não tinham comorbidades. O homem que aparece no gravação é João Carlos Luiz Vaz Marques Leziria, que de fato é médico, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele mistura diferentes tipos de informações, a maioria delas falsas, para confundir e enganar as pessoas. As afirmações que ele faz no vídeo não têm comprovação científica e são questionadas por diversas autoridades de saúde. De acordo com o médico, o vídeo foi originalmente compartilhado com um grupo de amigos, mas viralizou após ser publicado nas redes sociais. Uma das primeiras publicações foi feita no dia 7 de maio, por um perfil pessoal no Facebook. Por que investigamos isso? O Comprova verifica conteúdos de grande repercussão e que atinjam um alto número de interações nas redes sociais. No caso do vídeo em questão, ele foi compartilhado por diversos perfis, atingindo em um deles mais de 49 mil compartilhamentos. O fato de o autor do vídeo se identificar como médico e fornecer o telefone pessoal para “prestar atendimento” também chama atenção. Ele faz afirmações sobre assuntos amplamente questionados e debatidos por autoridades de saúde, como a eficácia de medicamentos como a cloroquina, além de incentivar a população a voltar a trabalhar. A ideia é contra as orientações do Ministério de Saúde e decretos estaduais. O autor também fala sobre um tema sensível, que é a aquisição de equipamentos para tratar a covid-19. Com a urgência no tratamento e contenção dos danos da doença, o governo permitiu a compra de respiradores por contratos com dispensa de licitação, e liberou verba para a compra de material necessário. Essa permissão de expandir os gastos públicos deve ser observada para evitar o desvio de verba ou o mau uso do dinheiro público. Nas últimas semanas, o Comprova verificou diversos conteúdos nessa linha. Um deles foi um vídeo contendo informações enganosas em que uma pessoa, sem formação na área de saúde, sugeria que o uso de determinados medicamentos curariam pacientes com coronavírus sem necessidade de internação. Um outro texto dizia que as mortes na Itália não teriam como causa o coronavírus, mas problemas de trombose, recomendando o uso de coagulantes para cura da doença. Enganoso para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? Apesar de o autor do vídeo não se identificar, alguns perfis que compartilharam a gravação atribuíam ao médico o nome Dr. João Vaz. O Comprova então buscou, no cadastro do Conselho Federal de Medicina, médicos que possuíam os dois nomes. Entre os listados estava João Carlos Luiz Vaz Marques Leziria. Ao verificar o nome completo em sites de pesquisa e redes sociais, foi possível encontrar fotos do médico que aparece no vídeo, confirmando que se tratava da mesma pessoa. Além disso, o Comprova entrou em contato com o número de telefone disponibilizado no vídeo. O médico não atendeu as ligações, mas respondeu aos questionamentos da equipe com um vídeo, no qual mostrava seu número de inscrição no CRM e fornecia informações pessoais e profissionais. Nesta investigação foram usadas reportagens sobre o remédio cloroquina e o apoio do presidente Jair Bolsonaro à medicação. A equipe também consultou o site da OMS para entender se o fármaco é recomendado pela instituição. Quem é o médico? João Vaz é um médico com número de inscrição regular no Conselho Regional de Medicina. Em vídeo encaminhado ao Comprova, Vaz diz que se formou em dezembro de 1971 na UFRJ e que possui quase 50 anos de profissão. Ele afirma que trabalhou por um período na Alemanha e que está acostumado a lidar com vírus. Ele não menciona sua área de especialidade, e esta também não é informada pelo CRM, mas Vaz diz que isso não faz diferença na Medicina. No vídeo divulgado nas redes sociais, João Vaz se posiciona contra a intubação de pacientes com a covid-19 e diz que o procedimento é “sinônimo de morte”. Segundo ele, os hospitais públicos no Brasil têm intubado pacientes para justificar os gastos com aparelhos. Como alternativa à intubação, o médico defende o uso de remédios como a cloroquina associada à azitromicina e também a manipulação de heparina, um anticoagulante. Ele se oferece para tirar as dúvidas das pessoas e se coloca à disposição de quem tem interesse em fazer uso dos remédios. O médico ainda critica o isolamento horizontal, incentiva as pessoas a voltarem ao trabalho e afirma que apenas pessoas com comorbidades morrem de covid-19. Como funciona a intubação e quando o paciente deve ser intubado? A intubação é um procedimento realizado em pacientes em estado de saúde grave para ventilar mecanicamente os pulmões por meio de aparelhos. A dificuldade de respirar é determinante para que os médicos decidam se irão intubar o paciente e usar os respiradores. Eles são um dos últimos recursos para pacientes com insuficiência respiratória grave após infecção pelo novo coronavírus. Estima-se que aproximadamente 5% dos pacientes com covid-19 sofram a chamada síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e precisem de respiradores mecânicos. O tratamento utiliza uma reserva de ar e oxigênio que é levada até os pulmões do paciente por meio de um tubo inserido pela boca, nariz ou pela traqueia, através de um corte na garganta. Estudos recentes, contudo, têm mostrado que a letalidade do novo coronavírus é alta mesmo com uso de respiradores e feito pesquisadores questionarem a eficácia da intubação. Ainda assim, as autoridades de saúde orientam para o uso de ventilação mecânica em casos de insuficiência respiratória. O que as autoridades dizem sobre os medicamentos indicados? O uso da cloroquina por pacientes infectados com o novo coronavírus segue sendo estudado por vários países. Nesta sexta-feira (22), uma pesquisa científica publicada pela revista “The Lancet” apontou que o uso da substância não apresenta benefícios no tratamento da covid-19. O estudo foi feito com 96 mil pacientes e os resultados mostram que não há melhora na recuperação de infectados que usaram cloroquina, e que existe risco maior de morte e piora cardíaca durante a hospitalização. A OMS recomendou que o medicamento não seja usado como tratamento, apenas em testes de ensaios clínicos, e alertou para os efeitos colaterais da cloroquina, que podem levar a disfunções graves dos órgãos e prolongar internações. O uso da cloroquina foi autorizado para casos leves em novo protocolo assinado pelo Ministério da Saúde na última quarta-feira (20). Para isso, os pacientes ou familiares devem assinar um termo de consentimento, estando cientes dos efeitos colaterais possíveis, como arritmia. A medida segue parecer do CFM (Conselho Federal de Medicina), que emitiu autorização no fim de abril para que médicos prescrevessem o medicamento para pacientes com sintomas leves e para uso domiciliar, mediante consentimento. A Sociedade Brasileira de Infectologia se manifestou contra a recomendação médica da cloroquina. A instituição afirmou que não há comprovação da eficácia do medicamento no tratamento do coronavírus, assim como de outras substâncias, como a azitromicina, indicada por Vaz em vídeos nas redes sociais. Recentemente, um estudo realizado pelo plano de saúde Prevent Senior verificou que o uso da hidroxicloroquina associada a azitromicina foi capaz de reduzir em mais de duas vezes o número de internações, comparado com pacientes que não tomaram os remédios. A pesquisa, contudo, tem uma série de limitações, como não saber se os pacientes que receberam o tratamento estavam infectados com o novo coronavírus nem ter sido aceita ainda em um periódico científico. Este estudo foi suspenso posteriormente porque os testes com pacientes foram iniciados antes de a empresa receber o aval para realização da pesquisa, o que é contra normas do país. Apesar de existirem resultados promissores em pesquisas com anticoagulantes como a heparina, mencionada pelo autor do vídeo, no tratamento da covid-19, pesquisadores acreditam que para comprovar a eficácia do medicamento ainda há necessidade de ensaios clínicos. Assim como a cloroquina e a azitromicina, a substância só deve ser ministrada com auxílio e orientação médica, pois pode colocar em risco a vida do paciente. A OMS e o Ministério da Saúde afirmam que nenhuma cura ou vacina foi encontrada até o momento contra a covid-19, que já matou mais de 330 mil pessoas no mundo. Isolamento social Medidas de isolamento social são apontadas pela OMS como a melhor alternativa contra o coronavírus. Um estudo recente feito no Brasil mostra que há uma tendência de diminuição do número de mortes pela covid-19 após a adoção de medidas restritivas à circulação de pessoas. A maioria dos médicos defende a adoção do isolamento horizontal nos municípios, que reduz ao máximo possível de circulação de pessoas. Isso, segundo cientistas, seria fundamental para achatar a curva de transmissão do coronavírus e diminuir o número de pessoas infectadas que necessitariam de um leito hospitalar. Atualmente, a quantidade de leitos disponíveis para a população tem preocupado os Estados. Para forçar o isolamento da população, diversos Estados decretaram o fechamento de comércios e suspenderam o funcionamento de atividades não essenciais. A ideia é que o máximo de pessoas fique em casa, saindo apenas para realizar atividades essenciais, reduzindo a propagação do vírus. A suspensão das atividades, apesar de necessária e recomendada pela OMS, provoca uma recessão na economia e por isso é criticada pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Na contramão da maioria dos líderes de outros países, Bolsonaro chegou a sugerir que o Brasil adotasse o método de isolamento vertical, em que apenas idosos e pessoas do grupo de risco ficam isoladas. A Suécia, citada por Bolsonaro como exemplo, adotou um modelo de isolamento mais relaxado. No país, escolas, restaurantes e bares ficaram abertos, por exemplo. O número de casos de infectados e mortos, no entanto, foi maior do que os registrados nos outros países nórdicos, que estabeleceram medidas mais severas, com confinamento obrigatório e paralisação de atividades econômicas. Esta semana a Suécia tornou-se o país com maior taxa de mortalidade pelo novo coronavírus no mundo. Contexto A prescrição livre da cloroquina para qualquer pessoa que esteja com os sintomas da covid-19 é feita por Vaz no momento em que o governo libera um protocolo que autoriza o uso do medicamento em pacientes com sintomas leves da doença. O documento não tem respaldo da OMS e é criticado pela Sociedade Brasileira de Infectologia. Pelo protocolo, o Sistema Único de Saúde (SUS) fica liberado para prescrever o remédio em qualquer fase do tratamento, com os sintomas em qualquer nível – embora ainda precisando da autorização do paciente. Antes, era apenas para casos graves. As declarações do médico a respeito da letalidade da doença se chocam com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde, que mostram que um quarto das pessoas que morreram vítimas do novo coronavírus não possuíam comorbidades. A orientação de Vaz para que as pessoas saiam às ruas, sem medo de se contaminar, é feita em um momento crítico da pandemia na América Latina, considerada pela a OMS como epicentro da doença e tendo o Brasil como caso mais preocupante. Até a manhã desta sexta-feira (22), a covid-19 já havia contaminado cerca de 315 mil pessoas e sido responsável por mais de 20 mil mortes no país. Nesta semana o Brasil registrou, pela primeira vez, mais de mil mortes em menos de 24 horas. Alcance Até esta quinta-feira (21), o vídeo publicado pelo perfil de Paula Silvestre Craveiro, no Facebook, tinha sido compartilhado por mais de 49 mil pessoas.
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['Projeto Comprova']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-engana-ao-sugerir-tratamento-sem-internacao-e-sem-sofrimento-para-covid-19/
COMPROVA
Vídeo engana ao sugerir tratamento “sem internação e sem sofrimento” para covid-19
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2020-05-21
Em vídeo, pessoa sem formação na área de saúde mistura dados falsos e verdadeiros sobre os remédios atualmente indicados para o tratamento da doença provocada pelo novo coronavírus e divulga informações sem comprovação científica Um vídeo publicado no YouTube confunde ao dizer que há medicamentos que curam a covid-19 e impedem a evolução da doença para fases mais graves caso sejam receitados no início dos sintomas. O material mistura dados falsos e verdadeiros sobre os remédios atualmente indicados para tratamento e contém informações sem comprovação científica. Há também ataques contra as medidas de isolamento social utilizadas para reduzir a velocidade de contágio da doença. O conteúdo foi postado por Silvana Conte em seu canal no YouTube e já teve mais de 270 mil visualizações. No vídeo, ela diz fazer um relato pessoal citando uma lista de medicamentos que o marido teria tomado antes mesmo de ter o diagnóstico positivo para covid-19, como antibióticos receitados logo no início dos sintomas. Ela também fala sobre o uso autorizado da hidroxicloroquina por médicos na Itália e ainda afirma que “o isolamento não salva vidas”. Até o momento, não há medicamento que cure a doença. Alguns estão sob testes clínicos, mas ainda não apresentaram eficácia contra o vírus em concentração que não seja prejudicial à saúde. Além disso, especialistas ressaltam que entre 80% e 85% dos pacientes infectados pela covid-19 serão assintomáticos ou terão sintomas leves —- semelhantes aos de uma gripe —, portanto não precisarão ser submetidos a medicações que podem causar efeitos colaterais. O acompanhamento médico é essencial principalmente para o grupo de risco, aquelas pessoas que podem evoluir para uma forma mais grave da doença e terão de ser submetidas a tratamentos de suporte como o uso de oxigênio. Silvana diz que mora em Bergamo, na Itália, e que o marido ficou doente após uma viagem ao Rio de Janeiro. Ela, que admite não ser médica, acusa profissionais de saúde e hospitais de serem negligentes “ao orientar a procura de médicos apenas quando a pessoa sentir falta de ar”. Os protocolos de Brasil e Itália para o atendimento de pacientes infectados pelo novo coronavírus recomendam o acompanhamento médico desde os primeiros sintomas, o que não quer dizer que todos precisarão de variados tipos de medicação para superar a doença. Por que checamos isto? O Comprova realiza verificações de conteúdos que viralizam nas redes sociais, como é o caso em questão. Esta verificação foi realizada pois o vídeo é um entre vários que apresentam pessoas sem qualificação profissional na área da saúde fazendo recomendações sanitárias para lidar com o novo coronavírus e a covid-19, doença provocada por ele. Tais recomendações são danosas pois poluem o debate público e, no limite, podem ser prejudiciais à saúde das pessoas. Recentemente, o Comprova verificou, por exemplo, um vídeo no qual uma pessoa argumentava que o uso de máscaras reduziria a imunidade e potencializaria a infecção. Isso não é verdade. Pesquisadores e autoridades sanitárias confirmam que a máscara pode, de fato, proteger as pessoas. Do mesmo modo, o Comprova também verificou conteúdos que afirmavam que medidas de isolamento social seriam inúteis ou prejudiciais. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos O Comprova entrou em contato com dois especialistas para checar a veracidade das informações técnicas sobre a covid-19 presentes no vídeo. Consultamos o Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus na Atenção Primária à Saúde e questionamos o Ministério da Saúde italiano sobre as práticas e recomendações adotadas no país. O órgão compartilhou um link com dúvidas e respostas mais comuns para a doença na Itália. Após a publicação desta verificação, Silvana entrou em contato com o Comprova. Suas alegações e nossos comentários estão na seção Atualização (abaixo). O Comprova ainda acessou os protocolos brasileiro e italiano de prescrição da hidroxicloroquina. Verificação Silvana afirma que o vídeo é opinativo e que não é médica. Segundo ela, trata-se da experiência vivenciada pelo marido ao viajar de Bergamo, na Itália, onde moram, para o Rio de Janeiro. Silvana conta que o marido apresentou sintomas de pneumonia e foi atendido por um médico que receitou o antibiótico levofloxacina. Como o marido não melhorou, a família foi submetida a testes de covid-19, e o resultado dele deu positivo. Ele ainda teria tomado, por prescrição médica, o anti-alérgico Allegra e os medicamentos Fluimucil, Deocil e paracetamol. Silvana compartilhou o tratamento com amigos de Bergamo e teria identificado a capacidade de “cura” desse tratamento aliado a outros medicamentos, como os antibióticos azitromicina e amoxicilina. Ela apresenta um protocolo que diz ter recebido de um médico da Lombardia chamado Marcelo Contini que recomenda o tratamento com os medicamentos usados pelo marido, e ainda sugere a medicação da hidroxicloroquina. Silvana insiste na importância do uso de “medicação forte para bloquear a inflamação” nos primeiros dias de sintomas para impedir a evolução do quadro baseada em fato pessoal. [Atualizado em 27 de maio de 2020 – O parágrafo acima foi atualizado para corrigir uma informação sobre o protocolo que Silvana Conte disse ter recebido no vídeo. Na verdade, ela se referiu ao médico Marcelo Cotini e não a Stefano Manera, como estava escrito na primeira versão da verificação] O Comprova ouviu médicos sobre a “necessidade de tratar pacientes leves com medicação para impedir que os sintomas se agravem”. Guilherme Spaziani, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, explica que as complicações decorrem de uma inflamação exacerbada cujas causas ainda são investigadas. Esse quadro de evolução da doença é observado principalmente nas pessoas do grupo de risco, como idosos, cardiopatas e obesos. “Cerca de 55% dos infectados pela covid-19 apresentam a forma leve da doença, com sintomas gripais. Outros 30% sequer apresentam sintoma algum. Isto quer dizer que apenas 15% dos doentes evoluem para a forma grave e, destes, um em cada três precisam do tratamento intensivo”, diz Guilherme Spaziani. “Não há evidência científica sobre a capacidade de nenhuma medicação que possa ser prescrita nos primeiros dias de sintomas para impedir a evolução para a fase inflamatória”, afirma o infectologista. Gerson Salvador, médico infectologista do Hospital Universitário da USP e associado da Sociedade Paulista de Infectologia, ressalta o perigo de pessoas usarem uma grande quantidade de medicamentos. “Quando a pessoa usa um número grande de medicamentos de maneira desorganizada, aumentam as chances de efeitos adversos, que podem ser graves dependendo da condição de saúde da pessoa. O que recomendamos é o tratamento sintomático para casos leves e tratamento de suporte para casos graves.” Protocolo do Ministério da Saúde abrange orientação de atendimento de sintomas mais leves a graves O Comprova pediu ao Ministério da Saúde explicações mais claras sobre o protocolo de manejo clínico de pacientes com a covid-19 ou de casos suspeitos, que está no site da entidade, mas não teve retorno. Foi questionado quando alguém deve procurar uma Unidade Básica de Saúde, quais medicamentos são indicados e a orientação para o tratamento em casa. A versão atualizada do documento, disponível no site do Ministério, tem 41 páginas e detalha como deve ser a ação médica e como as Unidades Básicas de Saúde devem trabalhar, dos casos com sintomas leves aos graves. Diferentemente do que sugere o vídeo de Simone Conte, o Ministério da Saúde não fala em “esperar pela falta de ar” para tratamento. Pelo contrário, ressalta a importância do acompanhamento de quem apresenta os sintomas leves, principalmente pessoas com mais de 60 anos ou com outros fatores de risco. A entidade orienta para o seguimento do tratamento domiciliar com monitoramento médico por telefone a cada 24 ou 48 horas, inclusive para casos não confirmados. O arquivo traz na página 17 a sugestão de prescrição de dipirona e paracetamol, medicamentos analgésicos que aliviam sintomas como dores no corpo, mal-estar e febre. Eles não têm propriedades de cura. Há ainda o remédio oseltamivir, um antiviral usado para combater o vírus da gripe. Seu uso, porém, é encerrado quando o teste de gripe dá negativo ou quando o da covid-19 dá positivo, já que ele não tem ação comprovada contra o novo coronavírus. São determinadas ainda medidas de suporte e conforto, isolamento domiciliar e monitoramento até a alta médica. O protocolo de uso da hidroxicloroquina foi acrescentado na quarta, 20, entre os documentos do site do Ministério da Saúde que orientam uso de medicamentos contra a covid-19 no sistema público de saúde. O comunicado está entre as “orientações gerais” de tratamentos da doença e recomenda o remédio inclusive em casos leves. O documento sobre o uso da hidroxicloroquina diz que, até o momento, não há dados científicos que apontem um determinado tratamento farmacológico e que o uso ou não do remédio está condicionado à decisão do médico e à autorização por escrito do paciente. O protocolo também fala de contra indicação em pacientes com doenças cardíacas, como a comunidade científica vem ressaltando há tempos. Em 18 de maio, a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, divulgaram o documento “Diretrizes para o Tratamento Farmacológico da Covid-19”, contra o uso da hidroxicloroquina. O texto foi produzido por 27 especialistas e ressalta, principalmente, a falta de provas científicas de que o medicamento é eficaz e o perigo dos seus efeitos colaterais. Depois do novo protocolo divulgado pelo Ministério da Saúde, a Sociedade Brasileira de Infectologia voltou a se manifestar sobre os riscos associados à utilização de um medicamento que não tem eficácia científica comprovada e pela recomendação de uso apenas para pesquisa clínica. No mesmo dia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que a cloroquina e a hidroxicloroquina sejam usadas nos hospitais apenas em estudos clínicos. O diretor-executivo Michael Ryan ressaltou a falta de evidências científicas sobre a eficácia dos remédios e lembrou os efeitos colaterais da droga. Recomendação na Itália é tratamento de sintomas e cuidado com hidroxicloroquina O vídeo sugere que médicos italianos que usaram hidroxicloroquina em pacientes no início dos sintomas tiveram sucesso com a redução de internações na Itália. De fato, o medicamento está entre aqueles com uso autorizado no país, inclusive para pacientes com sintomas leves e em tratamento domiciliar. No entanto, a Agência Italiana de Fármacos alerta para a importância de que a hidroxicloroquina seja receitada por um médico e com autorização do paciente, por se tratar de medicamento sem eficácia científica comprovada. A entidade também alerta para seus efeitos colaterais cardíacos e os perigos de sua utilização em altas doses em cardiopatas. A principal orientação do Ministério da Saúde italiano sobre o tratamento de covid-19, atualizada em 11 de maio, é similar à feita no Brasil: cuidar dos sintomas apresentados pelos pacientes com terapias de suporte, como uso de oxigênio; descansar; continuar isolado em casa; comer bem e beber bastante água. Isolamento não salva vidas? “Isolamento não salva a vida de ninguém. Pode até diminuir o contágio, porém não vai salvar a vida das pessoas”, fala Silvana. Ela acredita que o foco de governos no combate à pandemia de covid-19 não deveria estar no isolamento social, mas sim na prescrição de medicamentos para pacientes ainda na fase inicial da doença. O infectologista Guilherme Spaziani diz que caso não seja encontrada uma vacina, o mesmo número de pessoas será infectado com ou sem a adoção do isolamento social. No entanto, a medida de distanciamento evita que as pessoas sejam contagiadas em um curto espaço de tempo e, com isso, sejam esgotados os recursos hospitalares, médicos e de insumos necessários a um suporte adequado. Isto é, o isolamento social permite o serviço hospitalar para cada paciente, inclusive aqueles que estiverem em estado grave. Medicamentos citados não combatem o coronavírus Especialistas ressaltam não haver um remédio que cure a covid-19. Por isso, é importante o cuidado na divulgação de um determinado tratamento. O vídeo cita diversos remédios que vão de antibióticos (contra bactérias) a remédios usados para tratamentos antiparasitários (contra vermes). A covid-19 é uma doença causada por um vírus. Gerson Salvador, infectologista do Hospital Universitário da USP, ressalta que o passo a passo de orientação médica depende de cada paciente. “Antibióticos agem contra bactéria e não têm atividade antiviral. Ivermectina e nitazoxanida são antiparasitários e não têm atividades contra vírus. Os dois últimos apresentaram efeito antiviral in vitro no laboratório, mas isso nunca se reproduziu num organismo vivo. Portanto, seu uso não está liberado. Eles estão sob estudos, mas a possibilidade de funcionar não é elevada”, diz o médico. Salvador completa: é importante que o médico fique atento principalmente a doentes com fatores de risco. “No caso do coronavírus depende mais da resposta imunológica [de cada um] do que do vírus. Nas pessoas que têm doenças crônicas, quando apresentarem sonolência, desconforto ou incapacidade de realizar suas atividades usuais, é necessário fazer avaliação e tratamento de suporte, oferecendo oxigênio no tempo certo. Também é preciso controlar doenças como diabetes, asma ou doenças cardíacas que podem estar em crise. Por isso é importante fazer esse tipo de suporte médico.” Atualização Após a publicação da verificação, o Comprova foi contactado por Silvana Conte, que fez algumas argumentações a respeito do texto. Abaixo, seguem os pontos de contestação levantados por ela que ainda não tinham sido abordados no texto e, na sequência, os comentários do Comprova. Silvana respondeu ao Comprova no último dia 21 de maio. Desde então, questiona a reportagem sobre a classificação de seu vídeo no site do projeto. O Comprova manteve a etiqueta “Enganoso”, que é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. A partir de agora, o Comprova abre espaço para os pontos questionados por Silvana Conte e os responde. Silvana: “Meu marido e mais de 30 pacientes do médico Erverton Andrade e mais 28 da médica Alessandra Almeida foram curados sem hospitalização e sem sofrimento”. Comprova: Ainda não há um tratamento específico para a doença, ou seja, algo que funcione para todas as pessoas infectadas. Assim, não é possível, por enquanto, falar em “cura” de covid-19. Como o Comprova ressaltou através de especialistas ouvidos, apenas 15% dos infectados desenvolvem casos mais graves da doença e precisarão da hospitalização e medicações fortes. Desses 85% que passam tranquilamente pela doença, nem todos vão desenvolver sintomas ou precisar de qualquer tipo de medicação. É importante ressaltar que todos os remédios usados, quando necessários, são para tratamento de sintomas e infecções paralelas que a pessoa possa vir a ter. Remédios para febre e antibióticos, por exemplo. Alguns pacientes infectados podem desenvolver pneumonia bacteriana e é por isso que é preciso a utilização de antibióticos. O painel de covid-19 do Ministério da Saúde não utiliza o termo ‘curados’, mas sim recuperados, para informar sobre as pessoas que sobreviveram à doença. Silvana: “Os protocolos estão sim, em uso na Lombardia e na Toscana e na Itália de forma geral.” Comprova: Silvana enviou ao Comprova o documento “Indicações terapêuticas para PCS com pneumonia COVID GERIDO EM CASA”. O documento é assinado pelo médico Roberto Moretti. Este documento informa em seu primeiro parágrafo que se trata de “sugestões derivadas da prática hospitalar” uma vez que “não existem LGs validados no tratamento farmacológico e não farmacológico de pacientes com ‘pneumonia’ covid-19”. Silvana também enviou o documento “Indicazioni per i medici di medicina generale sulle terapie dei pazienti affetti da COVID-19” (“Indicações para clínicos gerais sobre as terapias de pacientes com COVID-19”). Assinado por dez médicos, é datado de 20 de abril de 2020 e, segundo Silvana, seria da Lombardia. Não há no documento, no entanto, nada que confirme essa informação. O documento também não fala que é importante dar os medicamentos na “primeira fase da doença”, apenas fornece um guia de medicamentos para tratar os sintomas da covid-19. Silvana: “O Dr. Stefano Manera declara a divisão das fases e a Itália recomenda o tratamento na fase viral, que é a primeira.” Comprova: Os dois médicos especialistas consultados pela reportagem preferem não propor uma divisão de fases, uma vez que uma pequena parcela dos infectados passará por um agravamento dos sintomas. Os outros sequer terão sintomas. Silvana: “Fui absolutamente surpreendida de vocês, sem falar comigo, retirarem meu vídeo do ar, me declararem enganosa sem ao menos checar as fontes que eu dei” Comprova: O Projeto Comprova entrou em contato com Silvana Conte pelo Facebook na terça-feira, 19. Como ela é ativa no Facebook e não tínhamos outra forma de contato, achamos que seria a melhor forma de chegar até ela. Silvana respondeu às mensagens da reportagem na quinta-feira, 21, após a publicação da verificação. O Projeto Comprova ressalta que não tem poder para retirar conteúdos do ar. Silvana: “Escrevendo um texto com várias informações erradas citando o vídeo, que , pelo jeito, vocês não viram.” Comprova: O Comprova assistiu ao vídeo várias vezes após receber um pedido de checagem por meio de seus leitores. As afirmações contidas no material foram anotadas e compartilhadas com dois infectologistas. Além disso, os protocolos utilizados no Brasil e na Itália foram consultados. Silvana: “Essa doença é brutal, mas segundo o meu médico que inclusive pegou covid e usou azitromicina + axetilcefuroxima + ivermectina + zinco e está bem … curado sem sofrimento e sem hospitalização. Temos de 3 a 4 dias para bloquear a infecção. Entre a ciência e a experiência, fico com a experiência”. Comprova: Nossa reportagem reforça que é preciso apontar quando um determinado tratamento não possui comprovação científica. A azitromicina e a ivermectina são drogas que apresentaram bom resultado em laboratório, isto é, nos testes in vitro, mas ainda não possuem eficácia comprovada em seres humanos. A experiência pessoal de uma pessoa compartilhada como verdade absoluta e sem comprovação científica pode causar danos como a automedicação. Contexto Remédios como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina e remdezivir passam por testes clínicos para averiguar sua eficácia e segurança no combate à covid-19. Embora eles apresentem bons resultados em testes de laboratório — os chamados testes in vitro — o mesmo não ocorreu em seres humanos. Além disso, pesquisas apontam para os riscos à vida de alguns pacientes por causa dos efeitos colaterais, como é o caso já citado da hidroxicloroquina. Embora faltem pesquisas e estudos científicos que comprovem a eficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina e a azitromicina no tratamento de pacientes com a covid-19, prefeituras e empresas já se mobilizam para fornecer os medicamentos. Em Belém, a operadora de planos de saúde Unimed distribuiu gratuitamente um kit com azitromicina, cloroquina e ivermectina aos beneficiários que apresentaram um receituário médico. No interior de São Paulo, o prefeito de Guaratinguetá, Marcus Soliva (PSB), anunciou que pacientes com sintomas leves da covid-19 serão atendidos em casa com o tratamento de hidroxicloroquina aliada à azitromicina. “Evitamos a ida aos hospitais, já que o tratamento pode ser feito em casa por um profissional da rede de saúde pública”, anunciou o político em seu Facebook. Mesmo com a falta de eficácia comprovada, a cloroquina se tornou o ponto central da disputa ideológica em torno da pandemia de covid-19. O remédio foi motivo de desgastes que levaram à demissão dos ex-ministros da Saúde Henrique Mandetta e Nelson Teich. Eles se negaram a editar um protocolo de prescrição da cloroquina para pacientes na fase leve da doença, o que acabou ocorrendo sob a gestão do chefe interino da pasta, General Eduardo Pazuello. Alcance O vídeo publicado inicialmente no canal do YouTube de Silvana Conte no dia 23 de abril já foi visto mais de 278 mil vezes até 21 de maio. Ele foi compartilhado no Facebook pela página “TV Médica” e foi visto mais de 1,3 milhão de vezes.
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['Projeto Comprova']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/policia-dos-eua-nao-ve-relacao-entre-morte-de-cientista-chines-e-pesquisa-sobre-mecanismo-de-infeccao-pelo-novo-coronavirus/
COMPROVA
Polícia dos EUA não vê relação entre morte de cientista chinês e pesquisa sobre mecanismo de infecção pelo novo coronavírus
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2020-05-20
Segundo autoridades americanas, a morte do homem está provavelmente relacionada a uma briga pessoal, envolvendo um caso amoroso. Post investigado pelo Comprova também exagera ao dizer que o cientista “estava prestes a fazer descobertas” sobre o novo coronavírus Texto do site Conexão Política, publicado no dia 18 de maio, confunde o leitor ao relacionar o assassinato de um cientista sino-americano ao seu trabalho de pesquisa com o novo coronavírus. Segundo autoridades americanas, a morte do homem está provavelmente relacionada a uma briga pessoal, envolvendo um parceiro(a) íntimo(a). Bing Liu, de 37 anos, foi morto a tiros dentro de casa na cidade de Ross Township, no estado americano da Pensilvânia. Ele era pesquisador do Departamento de Biologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, tinha pós-doutorado em Ciências da Computação e sua pesquisa se concentrava em sistemas computacionais aplicados à Biologia. O trabalho consistia em desenvolver modelos de simulação e análises técnicas para estudar a dinâmica de processos biológicos. De acordo com um comunicado divulgado pelo Departamento de Biologia da universidade, Liu estava concentrado em entender como o SARS-CoV-2, o novo coronavírus, age para infectar as células e as complicações que causa no organismo. Liu foi encontrado pela esposa na tarde de 2 de maio, baleado na cabeça, pescoço e tórax. As portas da casa estavam abertas e nada foi levado. Perto dali, o corpo de um engenheiro de software de origem chinesa naturalizado americano, Hao Gu, de 46 anos, foi encontrado dentro de um carro. As autoridades policiais de Ross Township concluíram que Gu matou Liu e se suicidou em seguida. “Nossa investigação aponta que os acontecimentos de 2 de maio envolvendo as mortes de Bing Liu e Hao Gu são resultado de uma longa disputa entre os dois homens envolvendo um parceiro (a) íntimo (a)”, informa uma declaração publicada na página de Facebook do Departamento de Polícia de Ross Township no dia 6. “Encontramos ‘zero’ evidências de que esse evento trágico tenha alguma relação com o trabalho (de Bing Liu) na Universidade de Pittsburgh, com qualquer pesquisa sendo conduzida na Universidade de Pittsburgh e com a crise sanitária que, no momento, afeta os Estados Unidos e o mundo”, completa o comunicado. O conteúdo verificado também relembra as mortes de outros profissionais que não têm qualquer ligação com Bing Liu, como o suicídio de uma médica que trabalhava no combate à covid-19 em um hospital de Nova Iorque e acidentes envolvendo três médicos russos. Por que investigamos isso? O Comprova verifica conteúdos que tenham grande viralização, caso do texto em questão, que registrou dezenas de milhares de interações desde a sua publicação. Esse conteúdo se insere em uma lista com diversas teorias conspiratórias envolvendo o novo coronavírus, que têm como destaque a China, país onde as primeiras infecções ocorreram. Desde o início da pandemia, o Comprova verificou postagens que alegavam, falsamente, que as maiores cidades da China não tiveram infecções pelo coronavírus, que o vírus causador da covid-19 seria artificial, que a China teria contaminado máscaras e que essas seriam distribuídas em São Paulo. O Comprova também verificou uma teoria conspiratória segundo a qual a vacina para o novo coronavírus teria um microchip para rastrear a população. Todos esses conteúdos eram falsos. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? Buscamos informações na imprensa local e no Departamento de Polícia de Ross Township para saber se a morte de Bing Liu tinha realmente ocorrido, e em quais circunstâncias. Também entramos em contato, por e-mail, com o detetive que investiga o caso, o Sargento Brian Kohlhepp. Em seguida, procuramos informações no site da Universidade de Pittsburgh sobre o currículo do cientista e seu trabalho com Ciência da Computação aplicada à Biologia. Também tentamos conversar com a supervisora de Liu na Universidade de Pittsburgh, Ivet Bahar. Até o momento da publicação, nem Bahar e nem o Sargento Kolhepp tinham respondido. Por último, fomos atrás de detalhes sobre as outras mortes citadas no texto. Encontramos relatos publicados na imprensa americana e entrevista com a família de uma das vítimas, a médica Lorna Breen. Verificação O texto publicado pelo site Conexão Política reúne informações coletadas em veículos de imprensa americanos, como a emissora de televisão WTAE, afiliada da ABC para a região de Pittsburgh. Mas traz alguns erros de informação, como a profissão da vítima: ele era formado e tinha doutorado em Ciências da Computação, não em Biologia. O conteúdo ainda confunde o nome da rua em que Liu morava, Elm Court, com a cidade, Ross Township, município residencial perto de Pittsburgh, Pensilvânia. Por fim, o carro com o corpo de Hao Gu não foi encontrado em frente à casa de Liu. O trecho sobre a pesquisa de Liu veio do comunicado oficial da universidade, mas exagera ao dizer que ele “estava prestes a fazer descobertas” sobre o novo coronavírus. Quem é Bing Liu? Pesquisador e professor-assistente do Departamento de Biologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, Bing Liu era natural da China. Formado em Ciências da Computação e com doutorado (PhD) pela Universidade Nacional de Singapura, fez pós-doutorado no Departamento de Ciência da Computação da Carnegie Mellon University, nos Estados Unidos. Desde 2016, trabalhava na Universidade de Pittsburgh, sob a supervisão de Ivet Bahar. Liu foi co-autor de mais de 30 artigos, quatro deles só em 2020. Sua pesquisa se concentrava em sistemas computacionais aplicados à Biologia. O trabalho consistia em desenvolver modelos de simulação e análises técnicas para estudar a dinâmica de processos biológicos. De acordo com Bahar, Liu estava começando a trabalhar em um modelo de computador para entender o comportamento do SARS-CoV-2 no organismo. “Ele começava a ter resultados interessantes, tentando entender o mecanismo da infecção. Vamos continuar o que estava fazendo”, disse em entrevista ao jornal Pittsburgh Post-Gazette. O que diz a polícia? A polícia foi chamada pela mulher de Bing Liu, que encontrou o corpo do marido ao voltar para casa na tarde do sábado, 2 de maio. Ele estava sozinho na residência do casal. Fazia um dia ameno de primavera e, por isso, as portas da casa estavam abertas, o que facilitou o acesso do assassino. Não havia sinal de luta e nenhum objeto foi roubado. A autópsia concluiu que Liu havia sido baleado na cabeça, no pescoço e no tórax. Já o corpo de Hao Gu estava dentro do carro dele, a cerca de 900 metros da casa de Liu. A perícia determinou que Gu havia cometido suicídio. Autoridades policiais concluíram que os dois homens se conheciam e apontam como causa do crime uma disputa amorosa. As autoridades locais informaram o FBI e o consulado chinês sobre o caso por envolver um cidadão estrangeiro. A polícia de Ross Township é categórica ao afirmar que a morte não tem relação com o trabalho de pesquisa de Bing Liu com o novo coronavírus, tanto na declaração oficial quanto em entrevistas à imprensa local do policial responsável pelo caso, o sargento Brian Kohlhepp. Esta posição aparece, inclusive, na reportagem para a WTAE-ABC citada pelo Conexão Política, mas o texto não informa isso ao leitor em nenhum momento. Houve outras mortes? Outras mortes de profissionais da saúde também são citadas no artigo como sendo “misteriosas”. Uma delas é a da doutora Lorna Breen, 49 anos, médica chefe do pronto-socorro do NewYork-Presbyterian Allen Hospital, em Manhattan, e que tratava de pacientes com o novo coronavírus. Ela foi encontrada morta na casa onde estava com a família após ter contraído e se recuperado da covid-19. Apesar de trágica, a morte da médica não é misteriosa. Tanto o pai dela quanto a polícia afirmam que ela se suicidou. A família enfatiza, contudo, que foi o estresse relacionado ao trabalho da médica durante a pandemia que a levou a se matar. Já na Rússia, há dúvida sobre a morte de três profissionais da saúde que “caíram” de janelas desde o início da pandemia. Dois deles morreram e um foi internado em estado grave. Não há muitas informações sobre a circunstância de cada queda por conta da pouca transparência do governo russo. Por isso, há especulações de que essas pessoas podem ter sido assassinadas por criticar ou discordar da maneira como o governo tem lidado com o novo coronavírus. Especialistas ouvidos pela CNN e pela Vox ressaltaram que aquelas pessoas estavam sob grande pressão por conta do trabalho durante a pandemia. Todas elas haviam sido diagnosticadas com covid-19 na ocasião do incidente. Por isso, há também a possibilidade de terem se suicidado. Contexto O assassinato do pesquisador ocorre em um momento de significativa tensão nas relações entre os Estados Unidos e a China a respeito de responsabilidades sobre a pandemia do novo coronavírus. A animosidade teve um desdobramento importante na terça-feira, 19 de maio, quando o governo de Donald Trump ameaçou cortar o financiamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) em virtude da acusação de que a entidade teria favorecido a China e ignorado alertas a respeito do início da pandemia do novo coronavírus. Páginas e contas em redes sociais que apoiam Trump têm divulgado teorias conspiratórias sobre o novo coronavírus, o que, como destacado acima, tem fomentado uma série de boatos a respeito da pandemia. Mesmo com as declarações das autoridades policiais norte-americanas, grande parte dos mais de 113 comentários feitos no post publicado na página do Departamento de Polícia de Ross desconfia da morte de um pesquisador envolvido com estudos sobre o novo coronavírus. As dúvidas se repetem nos comentários de publicações aqui no Brasil, no momento em que a pandemia alimenta um debate político sobre a necessidades de políticas de distanciamento social e o uso de medicamentos, como a cloroquina. Soma-se à discussão o racismo que envolve muito do que é dito a respeito do novo coronavírus. O Comprova já desmentiu boatos de que o vírus teria sido fabricado por laboratórios na China em mais de uma ocasião. Como no caso de Liu vítima e assassino são de origem chinesa, as especulações sobre a “morte misteriosa” aumentam. Ao se referir ao SARS-CoV-2 como “coronavírus chinês”, o texto publicado pelo site Conexão Política reforça esse viés preconceituoso. Alcance O texto foi publicado pelo Conexão Política e divulgado pelas redes sociais do site de direita. Até o dia 20 de maio, data de publicação desta verificação, o conteúdo teve 2,7 mil interações. No Twitter, foram 6,1 mil curtidas. Um dos editores da página, Davy Albuquerque, também divulgou o link para o texto em seu perfil pessoal no Twitter, com 5,6 mil curtidas. O maior engajamento aconteceu no Instagram, com mais de 21,3 mil curtidas. O perfil Direita Oficial também compartilhou uma imagem com o título do texto no Instagram e teve 1,7 mil curtidas.
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['Projeto Comprova']
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2021-07-06
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COMPROVA
Texto engana ao afirmar que autópsias na Itália teriam indicado que ‘problema principal não era o coronavírus’
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2020-05-20
Estudos em hospitais de Bérgamo e Milão sugerem terapia adicional com anticoagulantes para evitar trombose, mas não há comprovação de que esta seja a única causa de morte e nem que tratamento possa ser feito em casa Texto em circulação nas redes sociais engana ao afirmar que autópsias realizadas em Bérgamo, na Itália, teriam indicado que “o problema principal não era o coronavírus”, em referência à causa da morte dos pacientes por covid-19. A publicação diz também que “a cura já foi encontrada”. O conteúdo mistura informações verdadeiras com outras falsas ou sem sustentação científica para sugerir aos leitores que os óbitos estariam relacionados apenas com um distúrbio na circulação sanguínea, a ser tratado em casa. O conteúdo foi publicado pelo site Oriundi.net e é a tradução de um texto em italiano assinado por Cesare Sacchetti em blog pessoal. O autor afirma que “a comunidade médico-científica” chegou a essas conclusões após serem realizadas 50 autópsias no Hospital Papa Giovanni XXIII, em Bérgamo, e 20 no Hospital Luigi Sacco, em Milão. Com base em declarações de um médico chamado Giampaolo Palma em post no Facebook, o texto expõe a teoria de que a covid-19 mata em razão da “microtrombose venosa” no organismo — obstrução de veias por pequenos coágulos que se formam em resposta à infecção — e que só depois o vírus agrediria os pulmões. Por esse ponto de vista, tanto o diagnóstico quanto o tratamento da doença estariam errados. Esse não é o entendimento dos órgãos de saúde até o momento. Apesar de existirem resultados promissores em pesquisas com anticoagulantes no tratamento de pacientes com covid-19, ainda não é possível dizer que essa é a “cura”, como aponta o texto, nem que os pacientes podem ser tratados em casa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde afirmam que ainda não há medicamento com eficácia comprovada para tratamento ou prevenção da doença. Pacientes com sintomas graves devem receber suporte médico em hospitais. O próprio diretor do departamento de anatomia patológica do Papa Giovanni XXIII, Andrea Gianatti, responsável pelas autópsias no hospital de Bérgamo, afirma que esse tipo de terapia “parece absolutamente útil” como complemento a outras, mas é cauteloso ao analisar os resultados. “Estamos ainda na fase de definição, isto é, ainda não existem certezas”, comentou em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, publicada em 7 de maio. Gianatti também contrapõe o argumento presente no texto de que “o coronavírus não ataca os pulmões primeiro, mas afeta principalmente os vasos sanguíneos, impedindo o fluxo regular de sangue” e de que bastaria resolver o problema para prevenir a letalidade. Ao Corriere della Sera, o patologista relatou que a trombose nos pacientes analisados “geralmente ocorreu após a fase mais aguda da pneumonia, isto é, depois dos sintomas mais típicos causados pelo coronavírus”. Ou seja, mesmo quando a anomalia está presente, os pacientes ainda precisam de outros cuidados, considerando que a trombose não é a única complicação possível da doença. O Comprova pediu a opinião de outros dois especialistas sobre o assunto. Para a pneumologista do Hospital Sírio-Libanês e livre docente da Universidade de São Paulo (USP) Elnara Marcia Negri, a formação descontrolada de coágulos que podem obstruir as veias e levar à morte está associada a uma “tempestade inflamatória” no organismo, causada após a entrada do vírus pelo sistema respiratório e a sua agressão a estruturas dos pulmões. A médica afirma que, em alguns casos, a causa da morte realmente é a insuficiência respiratória em razão da trombose, mas esta não é a única causa, nem a principal. Pedro Silvio Farsky, cardiologista do Hospital Albert Einstein e do Instituto Dante Pazzanese, relata o mesmo mecanismo de ação, mas faz a ressalva: “Tudo isso é objeto de grande pesquisa, e os mecanismos exatos ainda estão por ser elucidados”. Quanto à hipótese de que a incidência de trombose nos pacientes seria anterior a complicações como a pneumonia — e que resolvê-la “curaria” os pacientes — o médico considera a teoria ainda “pouco provável”. “Não me parece lógico, especialmente porque vemos alterações radiológicas acometendo o pulmão sem que tenha aumento no dímero D (resultado da degradação de fibrina, um marcador de trombose)”. O Comprova também entrou em contato, por e-mail, com Andrea Gianatti, do Papa Giovanni XXIII. Gianatti respondeu que eram “apenas boatos” e que as informações corretas constam em relatório preliminar (preprint) que está sendo revisado para publicação na revista Lancet. O texto do Oriundi.net ainda traz uma série de afirmações duvidosas, como a de que os ventiladores mecânicos “pioraram as coisas”, e insinuações de que a pandemia seria uma “operação de terrorismo psicológico” motivada por interesses políticos. Em outro trecho, o boato alega que a imunização contra o novo coronavírus “seria completamente desnecessária e potencialmente prejudicial”, ao distorcer resultados de estudo científico anterior à pandemia de covid-19. Por que checamos isto? O Comprova faz verificações que atinjam grande número de compartilhamentos nas rede sociais, caso deste conteúdo, que registrou mais de 33 mil interações no Facebook. Esta verificação foi realizada pelo Comprova pois ela se insere na disputa política que se instalou no Brasil diante da pandemia. Sites e pessoas apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro, têm utilizado diferentes artifícios para tentar minimizar os problemas provocados pelo novo coronavírus, bem como para propagar a ideia de que uma cura para a doença é iminente. Nas últimas semanas, o Comprova verificou diversos conteúdos nessa linha, como o boato de que caixões vazios estavam sendo enterrados em Manaus e outro segundo o qual os números de óbitos registrados em cartório colocariam em dúvida o número de mortes divulgadas. Também circulou a mensagem de que a rotina de enterros em um cemitério de São Paulo estava normal, o que não é verdade. O Comprova também mostrou que uma descoberta de pesquisadores israelenses não significa, ao menos por enquanto, a cura para a covid-19 e que informações sobre um protocolo de tratamento no Piauí foram deturpadas para insuflar a ideia de que curar a doença é simples. A distribuição desse tipo de conteúdo é um desdobramento da disputa a respeito das medidas de isolamento social. Bolsonaro é contrário a essas medidas, enquanto os governadores, que seguem as recomendações das autoridades sanitárias e da Organização Mundial da Saúde, continuam impondo tais ações. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? O Comprova realizou essa checagem por meio de pesquisas a artigos científicos e outras fontes confiáveis da área médica, leitura de reportagens jornalísticas e entrevistas com especialistas. A primeira ação foi identificar a origem do boato. O texto no site Oriundi.net tinha a indicação de autoria de “Cesare Sacchetti” com o nome do blog “La cruna dell’ago” (“O olho da agulha”, em tradução livre) no rodapé da página. Ao encontrar o texto na internet, observamos que o artigo em português era apenas uma tradução do conteúdo e que o boato já circulava na Itália antes de chegar a sites brasileiros. Feita a leitura do texto, o Comprova elencou uma série de informações duvidosas presentes e pesquisou sobre cada uma delas, incluindo as supostas declarações dos médicos Giampaolo Palma e Cameron Kyle-Sidell. A reportagem encontrou post no Facebook de Giampaolo Palma, publicado em 9 de abril, e vídeo no YouTube de Cameron Kyle-Sidell, de 31 de março, sobre o assunto. Ao buscar informações sobre autópsias de pacientes de covid-19 na Itália, o Comprova chegou a artigo da Nature que apontava o médico Andrea Gianatti como uma das lideranças da área no Hospital Papa Giovanni XXIII. A reportagem encontrou o e-mail do médico em um artigo divulgado na plataforma medRxiv e entrou em contato pedindo esclarecimentos. Em meio a pesquisa pelo nome, também foi analisada reportagem do jornal Corriere della Sera com declarações de Gianatti, que informava sobre preprint em análise pela Lancet. O Comprova encontrou o relatório preliminar e verificou os resultados obtidos. Por fim, o Comprova pediu a opinião de dois médicos brasileiros que já haviam comentado sobre o aumento de coágulos em pacientes com covid-19 em reportagem e verificação recentes. A conversa ocorreu por mensagens e telefone. Qual a relação da covid-19 com a trombose? Uma série de estudos científicos vêm alertando para o risco de pacientes de covid-19 desenvolverem trombose, problema que consiste na formação de coágulos que obstruem os vasos sanguíneos. A situação motivou médicos do mundo inteiro a introduzirem terapia com anticoagulantes, além de estudos clínicos e in vitro com medicamentos como a heparina. Uma das pesquisas, feita no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, foi abordada em artigo recente da Science. Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descobriram, em outra experiência, que a heparina reduziu em 70% a infecção de células provenientes do rim do macaco-verde africano em laboratório. No entanto, a relação entre a covid-19 e a trombose ainda não está clara para os cientistas. Uma das possibilidades levantadas é de que, para entrar no corpo humano, o novo coronavírus utiliza receptores chamados de ACE2, que geralmente são encontrados no endotélio, espécie de tecido que reveste vasos sanguíneos e a parte interna do coração que influencia o controle da coagulação no sangue. Outra teoria afirma que o aumento da coagulação pode ser resultado de uma resposta inflamatória excessiva do organismo à infecção. Ela ocorreria a partir de uma “tempestade de citocinas”, proteínas conhecidas por enviarem mensagens às células e modularem o ataque organizado pelo sistema imunológico ao vírus. Autópsias de Bérgamo O texto enganoso de Cesare Sacchetti afirma, por outro lado, que autópsias realizadas na Itália apontam para a “cura” da doença e que a periculosidade do novo coronavírus “basicamente desapareceu” com a descoberta, o que não é verdade, segundo instituições de referência como a OMS. O autor também sugere que a principal causa de morte dos pacientes “não é o coronavírus” — o que é impreciso, no mínimo, diante do fato de que é a infecção viral que gera as complicações nos pacientes. Apoiado na opinião do médico cardiologista italiano Giampaolo Palma em post no Facebook, o autor afirma que os pacientes devem ser tratados em casa, com remédios, dispensando suporte hospitalar. Porém, a tromboembolia não é a única complicação presente nos casos graves de covid-19 que necessita de tratamento. “Essa doença pode atacar quase tudo no corpo com consequências devastadoras”, disse o cardiologista da Universidade de Yale Harlan Krumholz à revista científica americana Science. O Comprova encontrou dois artigos científicos com resultados de autópsias nos hospitais Papa Giovanni XXIII, de Bérgamo, e Luigi Sacco, de Milão. O primeiro foi publicado em 22 de abril na plataforma medRxiv (sem revisão por pares) e apresenta relatório de 38 casos. O segundo é de 6 de maio e foi baseado na análise de 35 pessoas que morreram no Papa Giovanni XXIII — é este que está com revisão pendente para publicação na Lancet. A primeira pesquisa mostra que 33 vítimas (86%) nesses dois hospitais apresentaram coágulos em pequenos vasos sanguíneos nos pulmões, o que poderia explicar a falta de oxigênio no sangue dos pacientes. “Nossos dados apoiam fortemente a hipótese proposta por estudos clínicos recentes de que a covid-19 é complicada ou está, de alguma forma, estritamente relacionada com coagulopatia (distúrbios na coagulação) e trombose”, escrevem os pesquisadores. “Por essas razões, o uso de anticoagulantes foi recentemente sugerido como potencialmente benéfico para pacientes em quadros graves, ainda que a eficácia e segurança ainda não esteja demonstrada.” Já o segundo artigo aponta que foram feitas 75 autópsias em pacientes com covid-19 no Papa Giovanni XXIII entre 19 de março e 9 de abril. Foram considerados 35 análises para o estudo. Destes, 10 (29%) foram diagnosticados com eventos tromboembólicos ainda no hospital durante o tratamento. Na autópsia, todos apresentavam tromboses em três ou mais órgãos, principalmente pulmões, coração, rins e fígado. O preprint destaca que esse problema pode ser ocasionado por diferentes processos patológicos, como a coagulação intravascular disseminada (CID), mas todas as hipóteses propostas foram descartadas com base no histórico hospitalar ou em testes posteriores. Os autores concluem que é difícil categorizar esses eventos trombóticos em doenças convencionais, mas que a condição pode estar sendo subestimada nos hospitais. No entanto, em nenhum momento, nos dois artigos, os pesquisadores afirmam que encontraram a “cura” da covid-19 ou que os resultados mostram que o perigo da doença não está mais presente. Tampouco apontam que os pacientes poderiam ser tratados em casa, sem a necessidade de internações, como defende o boato. Respiradores são inúteis? Em outro trecho, o texto argumenta que o uso de respiradores artificiais é inútil e prejudicaria os pacientes, citando declarações do médico Cameron Kyle-Sidell, do Maimonides Medical Center, de Nova York. No entanto, apesar de realmente estar ocorrendo uma discussão sobre a eficácia do equipamento, não é possível afirmar que os itens são dispensáveis. Em muitos casos, são a única maneira de manter vivo um paciente com perda da função respiratória. De fato, Kyle-Sidell afirmou, em vídeo no YouTube, que os ventiladores mecânicos poderiam “estar causando mais danos do que ajudando os pacientes de covid-19” e que acreditava estar “tratando a doença errada” nas unidades de tratamento intensivo. O texto omite, porém, que o médico declarou a seguir que não é possível abrir mão dos respiradores no suporte aos pacientes em estado crítico. “Nós, com certeza, precisamos de ventiladores. Eles são a única maneira, até o momento, de dar um pouco mais de oxigênio para aqueles pacientes que precisam”, afirma. De acordo com reportagem da revista Time, existe um “debate acalorado” sobre a utilização de respiradores artificiais na comunidade médica, que está ligado a dados de eficiência do método. Enquanto para outras síndromes respiratórias graves a taxa de recuperação após esse tipo de suporte invasivo está em torno de 50%, estudos na China, em Nova York e no Reino Unido apontam que a covid-19 leva a óbito de 66% a 80% dos pacientes que passam pelo procedimento. Por outro lado, alguns especialistas acreditam que esses percentuais podem estar sendo afetados por outros fatores, como a pressão sobre as unidades hospitalares. A ventilação mecânica pode estar sendo utilizada muito cedo, quando outros métodos menos invasivos poderiam funcionar, ou os hospitais podem estar destinando profissionais menos treinados para a função diante do cenário caótico, por exemplo. Outro apontamento diz respeito aos grupos de risco da doença, como idosos, que tendem a reagir pior a esse tipo de procedimento. Vacinas aumentam o risco de infecção? No final do texto, Sacchetti afirma que um “estudo científico do Pentágono relatou que as vacinas aumentam o risco de infecção por coronavírus em 36%” para dizer que não há mais necessidade de vacina contra o Sars-Cov-2 e que esta seria “potencialmente prejudicial”. Esse boato foi desmentido recentemente pelo FactCheck.org, projeto do Centro de Políticas Públicas Annenberg da Universidade da Pensilvânia. De acordo com a verificação, o boato começou a circular após uma postagem da organização Children’s Health Defense, fundada por Robert F. Kennedy Jr., conhecido pelo ceticismo sobre vacinas. O estudo citado foi realizado pelo setor de vigilância das Forças Armadas dos Estados Unidos e traz dados de 2017 e 2018, portanto, antes do surgimento do novo coronavírus. A tese é que a vacinação contra a influenza pode aumentar o risco de infecção por outros vírus respiratórios, em um processo chamado de “interferência viral”. Porém, não há consenso entre o meio científico, pois outras pesquisas indicaram que essa relação não existe. De qualquer forma, não é correto estender as conclusões para o Sars-Cov-2 — a pesquisa envolveu outros tipos de coronavírus. Em resposta ao FactCheck.org, o Sistema de Saúde Militar dos Estados Unidos declarou que estudo utiliza informações coletadas dois anos antes do surgimento da covid-19 e que a pesquisa “não mostra ou sugere que a vacinação contra a influenza predispõe, de qualquer maneira, o potencial para infecções por formas mais severas de coronavírus, como a covid-19”. Para a instituição, “continua sendo essencial que as pessoas obtenham a vacina sazonal contra a gripe a cada ano, assim que ela se torna disponível”. Origem do boato O texto original foi publicado, em italiano, no blog “La cruna dell’ago” (“O olho da agulha”, em tradução livre), no dia 25 de abril. O autor é Cesare Sacchetti, que se descreve no Twitter como um “jornalista politicamente incorreto”. O blog tem como proposta publicar “notícias e opiniões” que desviem “da linha de mídia dominante em favor da ideologia globalista e imigratória”. O conteúdo enganoso passou a circular no Brasil após ser traduzido e divulgado pelo site Oriundi.net, lançado em 2003. O site se apresenta como uma “revista digital sobre a Itália e a cultura italiana”. Contexto Conteúdos que tentam minimizar os efeitos da pandemia de covid-19 têm sido compartilhados à exaustão por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Esses textos, fotos e imagens são parte da disputa política entre Bolsonaro e os governadores estaduais a respeito de como lidar com o novo coronavírus. O grande ponto de contenção são as medidas de isolamento social, aplicadas pelos governos, mas criticadas por Bolsonaro. Assim como os conteúdos que minimizam a pandemia, têm circulado diversos materiais que apontam para uma suposta ineficácia de medidas de distanciamento. Recentemente, o Comprova verificou, por exemplo, um texto que afirmava, enganosamente, que dados de Nova York apontariam para riscos maiores de infecção caso as pessoas cumprissem as medidas. Também foram verificados um artigo que exagerava as falas de um médico alemão e um vídeo que inventava uma crítica do médico David Uip às políticas de isolamento social aplicadas em São Paulo. Alcance O link do site verificado pelo Comprova teve, até 20 de maio, mais de 36 mil interações no Facebook de acordo com a ferramenta de monitoramento de redes sociais CrowdTangle. O link foi postado pela página Aliança pelo Brasil e em um grupo que homenageia Alexandre Garcia.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/site-exagera-falas-de-medico-alemao-sobre-medidas-rigidas-contra-o-novo-coronavirus/
COMPROVA
Site exagera falas de médico alemão sobre medidas rígidas contra o novo coronavírus
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2020-05-18
Frase atribuída a médico alemão em site brasileiro não foi dita de forma literal pelo pesquisador. Ele fala, na verdade, sobre como as medidas mais rígidas de contenção à doença afetam outros setores da vida da sociedade, mas também não diz ser contra a quarentena O título de um artigo publicado no site Conexão Política com a tradução de uma entrevista do médico alemão Gérard Krause tem confundido as pessoas ao atribuir a frase “Medidas de bloqueio matam mais que o próprio coronavírus” ao especialista sem considerar o contexto em que ela foi dita. O conteúdo viralizou no Facebook na última semana. O texto publicado no dia 13 de maio é baseado em entrevista dada por Gérard Krause em 29 de março ao canal de televisão alemão ZDF. No conteúdo original, o médico falou sobre o combate à covid-19 na Alemanha, dizendo que as medidas prolongadas de isolamento rígido podem causar outras doenças, como as mentais, e mortes na população. “Temos que manter essas medidas sociais sérias o mais curtas e menores possível, porque elas podem causar mais doenças e mortes do que o próprio coronavírus”, disse Krause, ressaltando que é preciso considerar o impacto da covid-19 em outras áreas da sociedade e não apenas nas vítimas do novo coronavírus. Na entrevista original, Krause defende que as medidas de isolamento sejam empregadas pelo menor tempo possível, considerando atenção especial ao grupo de risco e a outras áreas da sociedade, como a área econômica. No entanto, não se diz contra a quarentena. O médico alemão propõe uma organização “para que aconteça um afrouxamento cedo e com cautela ao mesmo tempo”. O Comprova tentou contato com Gérard Krause por e-mail, mas o médico não retornou até a publicação do texto. Por que investigamos isso? O Comprova fez esta verificação porque ela diz respeito a um dos temas que tem gerado mais comoção durante a pandemia: a aplicação e a extensão das medidas de isolamento social como forma de mitigar os efeitos do novo coronavírus. No Brasil, este debate tem sido protagonizado pelo presidente Jair Bolsonaro, que defende firmemente a retomada de diversas atividades econômicas. Essa proposta é rechaçada por autoridades sanitárias, uma vez que poderia ampliar a contaminação pelo vírus e levar ao colapso dos sistemas de saúde. Assim, governos estaduais estão adotando o isolamento social como uma medida central nas políticas públicas contra a pandemia. O conteúdo sobre as falas do médico alemão se junta a diversos outros que têm sido espalhados para reforçar o posicionamento de Bolsonaro. São, muitas vezes, textos que trazem frases ou fatos fora de contexto ou deturpados para criticar as políticas de isolamento social. Foi o caso, por exemplo, de um texto que, enganosamente, tentou fazer o público crer que a Organização Mundial da Saúde (OMS) era contrária ao isolamento, o que não é verdade. Foi, também, o caso de um vídeo com declarações do governador de Nova Iorque , nos Estados Unidos, que tentava indicar que o distanciamento social seria prejudicial por, supostamente, facilitar infecções – isso também não é verdade. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor. Como verificamos? Acessamos a entrevista original, concedida por Krause ao canal ZDF, para comparar com a versão em português publicada pelo site Conexão Política. Em seguida, buscamos notas técnicas e estudos divulgados pelos pesquisadores do Centro de Pesquisas de Infecções Helmholtz, onde Krause trabalha, e pela Organização Mundial da Saúde. Matérias jornalísticas publicadas desde o início da pandemia também serviram de base para a apuração do Comprova. Verificação O médico Gérard Krause concedeu entrevista ao canal alemão ZDF, em 29 de março, sobre as medidas de combate ao novo coronavírus no país, e se mostrou a favor de que as medidas rígidas de isolamento social, adotadas para diminuir a taxa de transmissão da doença e não sobrecarregar hospitais, sejam coordenadas para que possam durar o menor tempo possível, de modo que áreas como a economia não sejam tão afetadas. A Alemanha adotou o lockdown em 22 de março e começou, nas últimas semanas, uma reabertura cautelosa do isolamento obrigatório. O país tem um dos números de mortes mais baixos entre os locais com mais casos confirmados de covid-19, 7.988 até o dia 18 de maio. Inclusive menor que o do Brasil, com 16.196 em 18 de maio. A entrevista foi parcialmente traduzida para o português pelo site Conexão Política e publicada com um título mais incisivo do que o tom adotado pelo médico alemão. A frase “medidas de bloqueio matam mais que o próprio coronavírus” não foi dita de forma literal pelo médico, que fala, na verdade, sobre como as medidas mais rígidas de contenção à doença afetam outros setores da vida da sociedade. Krause não se mostra a favor de medidas rígidas de isolamento, mas também não diz ser contra a quarentena. Ele defende um “afrouxamento precoce”, porque acredita que essas restrições por um período muito longo podem gerar impactos que vão além dos causados pela própria doença. Ao longo da entrevista original, Krause ressaltou que é necessário ter cautela ao mesmo tempo em que as medidas são afrouxadas e admite que, mesmo protegendo grupos de risco, “ainda haverá doenças e mortes entre os jovens”. Também afirmou que é preciso continuar estudando a doença paralelamente às medidas de isolamento porque “isso ajudará a reduzir essas medidas muito gerais e a fortalecer e manter as medidas focadas e direcionadas”. Segundo ele, a preocupação vai além da área da saúde. Para o médico, entre as outras consequências preocupantes, está a crise econômica e doenças mentais que podem ser causadas pelo isolamento prolongado. “Sabemos que o desemprego, por exemplo, causa doenças e até aumento da mortalidade. Também pode levar as pessoas ao suicídio. Restringir a liberdade de circulação provavelmente terá um impacto negativo adicional para a saúde pública. Não é tão fácil calcular essas consequências diretamente, mas elas ainda acontecem e podem ser mais graves do que as consequências das próprias infecções”, falou na entrevista. Quem é Gérard Krause O médico Gérard Krause ocupa, há 20 anos, o cargo de chefe do Departamento de Epidemiologia do Centro de Pesquisas de Infecções Helmholtz, uma das maiores instituições acadêmicas direcionadas exclusivamente a pesquisas de infecções da Alemanha. De acordo com o currículo de Krause apresentado na ResearchGate, uma rede social de pesquisadores e profissionais da área da ciência, sua pesquisa é focada no desenvolvimento da cibermedicina e estudos de eficácia para intervenções de saúde pública na área de doenças infecciosas. Para Krause, as medidas de isolamento social adotadas por países atingidos pela pandemia devem ser eficazes e impostas com menor duração possível para que os impactos em outras áreas, como a econômica, sejam minimizados. Ele ressalta, no entanto, que é preciso preparar o sistema de saúde e ficar atento aos grupos de risco. Sua visão é totalmente focada no caso da Alemanha. O Helmholtz, no entanto, publicou um pronunciamento em 13 de abril, no qual afirma que as medidas rígidas de distanciamento social adotadas na Alemanha desde março foram determinantes para a diminuição das taxas de transmissão do novo coronavírus no país e que é preciso cautela no processo de reabertura. O Comprova escreveu e-mails para Krause e para a assessoria de imprensa do Helmholtz, mas não teve retorno. Gérard Krause coordena três projetos de combate à pandemia. O primeiro, e o mais conhecido, trata de testes de anticorpos para detectar quem já foi infectado e possui defesa contra a covid-19 e, por isso, pode voltar a exercer suas atividades normalmente. A ideia do projeto é que as pessoas, principalmente os profissionais essenciais como médicos e enfermeiros, retornem o mais rápido possível à linha de frente de combate após terem adquirido a doença, com uma espécie de “passaporte de imunidade”. Ele propõe uma testagem em massa para detectar quem já tem anticorpos, para que essas pessoas sejam liberadas das medidas restritivas. Atualmente, a Alemanha registra mais de 150 mil recuperados de covid-19. O segundo projeto é a utilização de um aplicativo criado em 2014, chamado de SORMAS, para controle de doenças e avaliação de riscos. No caso da pandemia, o aplicativo permite a detecção precoce de casos e monitoramento das pessoas infectadas e daquelas que tiveram contato com elas. O aplicativo gera dados em tempo real para que sejam avaliados os riscos nas regiões onde está sendo usado. Por fim, o médico faz parte do projeto de cooperação europeu para aumentar a comunicação entre países no que se refere a informações clínicas, epidemiológicas e imunológicas sobre a pandemia. A iniciativa também tem pesquisadores da Holanda, Suíça e países de fora da Europa como a China. O foco é colher dados para que sejam avaliadas as medidas tomadas contra o novo coronavírus e sua disseminação. O “passaporte de imunidade” e o que pensa o centro de pesquisas do qual ele faz parte A ideia de um “passaporte de imunidade”, concedido às pessoas que já se infectaram pelo novo coronavírus e possuem, depois de curadas, anticorpos contra a doença, começou a ser discutida no mundo no final de março. Na época, foi lançado na Alemanha, pelo instituto Helmholtz, um estudo sobre a abrangência da imunização ao novo coronavírus. O Dr. Gérard Krause estava entre os participantes da pesquisa. Em 23 de abril, o Instituto publicou uma atualização das ações que estavam sendo realizadas naquele momento pelos pesquisadores, e a imunidade de quem já teve covid-19 é um dos objetos de estudo. Segundo a publicação, uma das ideias seria identificar indivíduos para quem as restrições a viagens e atividades poderiam ser suspensas — basicamente o que propõe o chamado “passaporte de imunidade”. A Organização Mundial da Saúde publicou, em 24 de abril, um comunicado sobre os tais passaportes. Para a OMS, não existem evidências suficientes para garantir que as pessoas que se recuperaram da infecção pelo novo coronavírus e possuem anticorpos estão imunes a uma segunda contaminação. “Muitos países estão agora testando para os anticorpos da SARS-CoV-2 em toda a população ou grupos específicos, como profissionais da saúde […]. A OMS apoia esses estudos, que são cruciais para o entendimento da extensão — e os fatores de risco associados — da infecção. Esses estudos vão fornecer dados sobre porcentagem de pessoas com anticorpos detectáveis da covid-19, mas a maioria não foi criada para determinar se essas pessoas são imunes a infecções secundárias”, diz o comunicado, em tradução livre. Em meio ao anúncio de gradual reabertura da Alemanha nas últimas semanas, o Centro de Pesquisas Helmholtz, do qual Gérard Krause é pesquisador, soltou um posicionamento em 13 de maio juntamente com o Ifo Institute, que gerencia pesquisas na área econômica, defendendo a abertura limitada do país após o sucesso das medidas de isolamento. Ou seja, oficialmente, a entidade é cautelosa sobre o relaxamento das medidas restritivas em favor da economia e alerta que uma abertura rápida no curto prazo pode aumentar custos gerais e prolongar a fase de restrições. “É do interesse comum de nossa saúde e da economia ser cautelosos em relaxar as restrições e monitorar de perto como as taxas de infecção se desenvolvem”, diz um trecho do comunicado, se referindo ao número R, que determina o potencial de propagação do novo coronavírus. Se o número foi superior a um, significa que cada contaminado é capaz de transmitir a doença para pelo menos mais uma pessoa. “Se as restrições em vigor até 20 de abril de 2020 forem mantidas, o número previsto de mortes adicionais será de 5 mil. Esse número diminui apenas um pouco em um número baixo de reprodução, mas aumenta acentuadamente a uma taxa de 0,9 ou mais, atingindo mais de 20.000 mortes adicionais a 1,0”, ressalta o texto. Contexto O texto sobre o médico alemão circula em meio à crescente tensão entre Jair Bolsonaro e os governadores a respeito do isolamento social. O presidente da República tem defendido de maneira enfática o fim das medidas e a abertura da economia. Na quinta-feira 14, Bolsonaro reafirmou sua posição em um encontro com empresários. “O governo federal, se depender de nós, estava tudo aberto com isolamento vertical e ponto final”, afirmou Bolsonaro. O “isolamento vertical” citado por Bolsonaro consiste na estratégia de resguardar apenas as pessoas mais suscetíveis ao coronavírus, liberando todas as outras para o trabalho: países como Holanda e o Reino Unido chegaram a implantar essas medidas, mas desistiram diante de estudos que indicam a possibilidade de essa medida ter efeitos catastróficos. Na mesma reunião com empresários, Bolsonaro afirmou que a disputa a respeito do isolamento social “é guerra” e que o setor empresarial precisa “jogar pesado” com os governadores para reabrir todas as atividades econômicas. Alcance Publicado no dia 13 de maio, o texto enganoso a respeito das declarações do médico alemão teve mais de 87 mil interações no Facebook de acordo com a ferramenta de análise de dados CrowdTangle.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/infectologista-david-uip-apoia-politicas-de-distanciamento-social-do-governo-paulista/
COMPROVA
Infectologista David Uip apoia políticas de distanciamento social do governo paulista
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2020-05-15
Ao contrário do que afirma um youtuber, o infectologista David Uip não deixou o governo paulista por discordar das políticas de isolamento social, mas por problemas de saúde. As informações publicadas no vídeo sobre transferências de pacientes para o interior também não são verdadeiras É falsa a declaração de um youtuber de que o infectologista David Uip deixou o governo paulista por não concordar com as políticas de isolamento social estabelecidas pelo governador João Doria (PSDB). O vídeo foi postado na última segunda-feira, dia 11 de maio, três dias depois do anúncio do afastamento do médico. No vídeo, o youtuber Fabiano Guiguet afirma que o médico era o secretário da Saúde do Estado e que foi afastado por não concordar com a quarentena decretada pelo governo. Essas informações são falsas. O secretário estadual da Saúde é o médico José Henrique Germann Ferreira. Uip coordenava o Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo, criado em fevereiro para desenvolver ações contra a propagação da covid-19. Foi o próprio comitê que recomendou as medidas de isolamento social adotadas pelo Estado. Na semana passada, Uip alegou problemas cardíacos em uma carta endereçada ao governador e encaminhada para a imprensa. No texto, afirmou que voltará às atividades quando estiver restabelecido. O médico foi substituído pelo infectologista Dimas Covas. O youtuber também alega que pacientes com a covid-19 estão sendo levados da capital para o interior do estado, por ordem do governador, para “aumentar os números e ele poder dar a desculpa de continuar na quarentena”. Mas os dados de transferência de pacientes desmentem essa afirmação. Por que checamos isto? O Comprova verificou este conteúdo porque ele se insere no contexto de crescente tensão entre o governo federal e os governos estaduais a respeito de como lidar com a pandemia do novo coronavírus. O presidente Jair Bolsonaro é contrário às medidas de distanciamento social, enquanto os governadores, João Doria entre eles, têm imposto essas medidas, seguindo orientações de suas respectivas autoridades sanitárias, do Ministério da Saúde e da OMS. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original ou que tenha sido divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos? Procuramos o doutor David Uip para esclarecer as afirmações do vídeos. Desde que deixou o governo, no dia 8 de maio, o médico parou de dar entrevistas e respondeu, apenas, através da assessoria de imprensa. Também entramos em contato com as assessorias de comunicação do governo de São Paulo e da Secretaria Estadual da Saúde para esclarecer o afastamento de David Uip e entender as políticas de transferência de pacientes com covid-19 no Estado. Buscamos dados de infecção pelo novo coronavírus com a prefeitura de São José do Rio Preto, cidade que é citada no vídeo. Por fim, tentamos contato com o youtuber Fabiano Guiguet para entender as razões que o levaram a gravar e publicar o vídeo. Verificação No dia 8 de maio, o médico infectologista anunciou que se afastaria temporariamente do Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo após sentir um mal-estar, com alterações cardiológicas e clínicas. Ele tem histórico de problemas cardíacos. Dentro do governo, Uip era um dos principais apoiadores da quarentena imposta pelo governo estadual. Na carta em que anunciou o afastamento, disse que estava entristecido por não estar fisicamente presente neste momento. “No entanto, tenho a plena convicção de que São Paulo está no caminho certo. E está salvando vidas”, escreveu. Uip ainda garante que a saída não é definitiva: “Fico temporariamente afastado e espero estar recuperado, para retomar minha contribuição ao Centro de Contingência do Coronavírus”. Na entrevista coletiva em que anunciou a saída de Uip, o governador João Doria lamentou e agradeceu aos profissionais de saúde: “Em respeito, principalmente, à medicina, aos médicos, aos paramédicos, aos enfermeiros, àqueles que atuam na saúde como o doutor David Uip, que têm sacrificado a sua vida, têm sacrificado parte da sua saúde para ajudar milhões de brasileiros em São Paulo”. No mesmo evento, Doria anunciou a prorrogação da quarentena no Estado até o dia 31 de maio. Quem é David Uip? David Uip tem 67 anos e é médico especialista em doenças infecciosas. Ele trabalha em dois dos maiores hospitais particulares da capital paulista, o Sírio-Libanês e o Hospital Israelita Albert Einstein. Uip foi secretário Estadual da Saúde na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), de 2013 a 2018, e desde o dia 26 de fevereiro coordenava o Comitê de Saúde do Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo. Em 23 março, Uip foi diagnosticado com a covid-19. “Foram duas semanas de agonia”, disse ao descrever os sintomas. Permaneceu duas semanas afastado das atividades do comitê, mas não chegou a ser internado. E, diferentemente do que afirma o vídeo verificado, ele não confirmou se foi tratado com a cloroquina, medicamento defendido, sem comprovação científica, pelo presidente Bolsonaro e seus apoiadores como a “cura” para a covid-19. Uip não acredita que os problemas cardíacos que levaram ao seu afastamento no dia 8 de maio tenham relação com eventuais sequelas deixadas pelo novo coronavírus. “É muito mais pelos meus antecedentes, três stents no coração. (…) Tem que investigar para ver o que é.” O médico passou mal no dia 6 de maio e, orientado pelo cardiologista Roberto Kalil, decidiu deixar as atividades no comitê. Qual é a situação em São José do Rio Preto? No vídeo, o youtuber Fabiano Guiguet ainda acusa o governo estadual de transferir pacientes com covid-19 para inflar o número de casos no interior. E dá o exemplo de São José do Rio Preto, onde os casos teriam sido multiplicados por dez em apenas dois dias. A informação não é verdadeira. No dia 11 de maio, data da publicação do vídeo, a cidade registrava 308 casos confirmados de covid-19, com dez mortes, segundo dados da prefeitura. Três dias antes, no dia 8 de maio, eram 236 casos, com as mesmas dez mortes. O secretário Municipal de Saúde, Aldenis Borim, atribuiu o crescimento no número de pessoas infectadas na cidade ao desrespeito à quarentena. “Nas duas últimas semanas essa curva se coloca quase vertical, ou seja, o aumento de casos está muito preocupante para a Secretaria de Saúde. Se deve, na maioria das vezes, devido ao isolamento que não está sendo cumprido adequadamente. Se isso continuar dessa maneira, no futuro próximo poderá inclusive apertar este isolamento”, disse. Questionamos a política de gestão de pacientes da Secretaria Estadual de Saúde. Por e-mail, a assessoria explicou que as transferências entre hospitais e municípios “serão feitas se e quando houver necessidade, pela Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross), sistema online que funciona 24 horas por dia e verifica vagas disponíveis em hospitais do SUS em São Paulo”. Até o momento não houve transferências para São José do Rio Preto. Quem é o youtuber? O vídeo foi publicado no canal de YouTube Pais e Filhos, mantido por Fabiano Guiguet desde 2017. Os primeiros vídeos eram sobre produtos que ele comprava, como capas de piscina e relógios. Em 2018, o youtuber postou um vídeo criticando o jornal Folha de S. Paulo e, desde então, quase todas as publicações têm conteúdo político, com apoio declarado ao presidente Jair Bolsonaro e ataques a tudo e todos que as redes bolsonaristas enxergam como “inimigos”: o governador João Doria, a Rede Globo, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), e, mais recentemente, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (que tinha sido chamado de “o maior ministro que o Brasil já teve” no começo do canal). Os vídeos são monetizados, o que significa que Guiguet recebe um valor do YouTube a cada visualização. Ele ganhou uma placa comemorativa do site quando chegou a 100 mil seguidores (até o dia 14 de maio esse número já chegava a 396 mil) e agradeceu o presidente Bolsonaro pela conquista. O Comprova tentou contato com Guiguet para esta verificação através do e-mail que ele disponibiliza no canal de Youtube. Mas, até a data da publicação, não houve resposta. Contexto Como destacado acima, esse vídeo foi publicado em meio à contínua tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores, em especial João Doria, percebido por Bolsonaro como um adversário político para 2022. Na quinta-feira, 14, Bolsonaro aproveitou uma conferência com grandes empresários para estimular que eles pressionem os governadores a reabrir o comércio. “Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado. Jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra”, afirmou Bolsonaro. Doria rebateu: “O presidente Jair Bolsonaro despreza vidas. Ele prefere fazer comícios, andar de jet ski, treinar tiros e fazer churrasco. Enquanto isso, milhares de brasileiros estão morrendo todos os dias”, disse. Com isso, apoiadores do presidente elegeram Doria como alvo preferencial durante a pandemia do novo coronavírus. O governador de São Paulo foi um dos primeiros a colocar em vigor medidas severas de distanciamento social, como a quarentena, decretada no dia 22 de março e prorrogada até o dia 31 de maio. Desde 7 de maio os paulistas também são obrigados a usar máscaras em lugares públicos para tentar reduzir a contaminação. A informação falsa a respeito de David Uip é relevante, pois o médico é uma figura estratégica na política de isolamento adotada pelo Estado. Alcance O vídeo com informações falsas publicado no canal de YouTube Pais e Filhos teve 139 mil visualizações até a publicação desta verificação.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/nem-todos-pacientes-de-covid-19-de-hospital-do-piaui-receberam-alta-apos-tratamento-com-cloroquina/
COMPROVA
Nem todos pacientes de covid-19 de hospital do Piauí receberam alta após tratamento com cloroquina
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2020-05-14
Textos omitem que ainda há pacientes em tratamento domiciliar e também em leitos ambulatoriais no hospital e o próprio médico que aparece no vídeo diz que as informações foram distorcidas. Além disso, não existe nenhum registro científico ou comparativo de que a melhora clínica dos pacientes foi exclusivamente por conta das medicações Faltam informações nas publicações que dizem que um hospital no Piauí curou pessoas com covid-19 e esvaziou UTIs com uso da medicação cloroquina. O conteúdo usa um vídeo verdadeiro, gravado pelo médico oncologista Saba Vieira em 8 de maio, no qual ele relata um protocolo adotado pelo médico Justino Moreira, diretor clínico do Hospital Regional Tibério Nunes, em Floriano, para o tratamento precoce de pacientes com o novo coronavírus. Mas os textos omitem que ainda há pacientes em tratamento domiciliar e também em leitos ambulatoriais no hospital. Além disso, não existe nenhum registro científico ou comparativo de que a melhora clínica dos pacientes foi exclusivamente por conta das medicações. No vídeo, Vieira diz que no tratamento oferecido pelo hospital há “duas janelas de oportunidade” para quem contraiu a doença. A primeira é a aplicação de cloroquina com azitromicina em pacientes que apresentaram sintomas de um a sete dias. A segunda é o uso de corticoides em pacientes que apresentam sintomas depois de sete a doze dias. Com a repercussão do vídeo, o médico que fez a gravação compartilhou em seu Facebook uma das publicações e escreveu que “o conteúdo e o título estão distorcidos”. Ele não atendeu às solicitações de entrevista feitas pelo Comprova. Justino confirmou que desde 2 de maio vem adotando essas duas abordagens para pacientes que estão com comprometimento pulmonar e não têm comorbidades. Ao todo, 15 pessoas foram submetidas ao protocolo, com prognóstico positivo, mas ainda não há evidências suficientes para dizer que estão curadas. Isso porque, apesar de os pacientes terem apresentado melhora clínica, apenas cinco já tiveram alta. Quatro ainda estão em tratamento domiciliar e os outros seis seguem internados em leitos clínicos. Nem todos passaram pelos exames necessários de radiografia para receber o laudo de alta da covid-19. A OMS (Organização Mundial da Saúde) também não reconhece nenhum medicamento ou vacina para a covid-19. Justino afirmou que reavaliaria o caso das pessoas tratadas nesta quinta-feira, 14, último dia do tratamento experimental. Também é importante destacar que a experiência no hospital do Piauí não tem um grupo de controle. Ou seja, não há pacientes que não fizeram uso do tratamento para fins científicos de comparação. O próprio Justino ressalva que o número de pessoas tratadas em Floriano é pequeno e ainda não serve como evidência científica para a eficácia da cloroquina ou do corticoide contra a covid-19. De acordo com o médico, as publicações que divulgaram o uso de cloroquina não citam que pacientes ainda estão em tratamento e que há ao menos seis pessoas internadas com covid-19 nos leitos ambulatoriais. Justino afirmou que o uso de corticoide é o que mais tem dado resultado. “Não gosto da forma com que foi colocada [na notícia] a cloroquina como solução. O foco é a corticoterapia”, disse ao Comprova. A medicação, segundo afirma Justino, tem evitado que a doença se agrave a ponto de necessitar de intubação e, consequentemente, internação na UTI. O Hospital Regional Tibério Nunes, localizado no interior do Piauí, tem 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva e 15 leitos de ambulatório destinados à covid-19. Até esta quinta-feira, 14, não havia pacientes em estado grave na UTI. No ambulatório há pacientes internados, mas nem todos têm indicação para receber o tratamento, por estarem em fases diferentes da infecção ou apresentarem outras doenças prévias. Apesar de o tratamento estar em curso, até agora, o governo do Piauí não divulgou nenhum protocolo público para adoção dessa modalidade para pacientes com a doença. O hospital também não têm evidências científicas que comprovem a “cura”, como afirmam as publicações, por conta exclusivamente dos medicamentos. Apenas nesta quarta-feira, 13, o governo do Piauí anunciou a criação de um comitê médico para estudar, avaliar e definir o uso de cloroquina, hidroxicloroquina e corticoides, entre outros medicamentos que auxiliem no tratamento. O Comprova questionou o governo do Estado sobre o tratamento adotado e a falta de acompanhamento técnico dos protocolos, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem. Os protocolos que têm sido utilizados no Hospital Regional Tibério Nunes foram estabelecidos por uma médica que nasceu em Floriano, no Piauí, mas atualmente trabalha no hospital HM Puerta del Sur, localizado em Madrid, na Espanha. Ela compartilha documentos e vídeos em seu Instagram sobre as dicas para o uso do corticoide contra a covid-19. Recentemente, o YouTube retirou do ar um de seus vídeos indicando a medicação. O Comprova confirmou em mensagem enviada ao Twitter do hospital espanhol que ela é funcionária, mas não obteve resposta sobre os protocolos de tratamento utilizados. Por que investigamos isso? O Comprova investiga conteúdos suspeitos compartilhados nas redes sociais sobre o novo coronavírus e a covid-19 que tenham grande viralização. O conteúdo desta verificação foi sugerido por dezenas de leitores que receberam o link por WhatsApp ou se depararam com ele em redes sociais. Um único link foi compartilhado no Facebook mais de 500 vezes. Muitas das informações enganosas que o Comprova tem verificado estão relacionadas a tratamentos com drogas que ainda estão em fase de testes sem que haja consenso sobre benefícios no combate à covid-19. Boatos e informações descontextualizadas sobre medicamentos podem levar à automedicação e provocar danos à saúde ou relaxamento dos cuidados com a higiene pessoal e isolamento social recomendadas pelas autoridades de saúde como medidas essenciais para diminuir a velocidade de transmissão do novo coronavírus. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor, que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? O Comprova entrou em contato com o governo do Piauí para chegar ao diretor clínico do Hospital Regional Tibério Nunes, Justino Madeiro. Em conversa por telefone, o médico explicou como tem sido o tratamento de pacientes em Floriano, interior do Estado. A equipe também consultou a Secretaria de Saúde da cidade. Além disso, entrevistamos Gerson Salvador, infectologista associado da Sociedade Paulista de Infectologia e médico do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP). Verificação Após a repercussão do vídeo de Sabas Vieira, o Ministério Público Federal do Piauí cobrou que o governo do Estado e a prefeitura da capital, Teresina, adotassem o protocolo aplicado no hospital de Floriano. Vieira é citado pelo MPF como um dos principais defensores do tratamento. Corticoides são potentes anti-inflamatórios e são muito usados para tratamento de doenças autoimunes, aquelas em que o próprio corpo produz uma resposta contra o organismo, como lúpus. O uso dos corticoides para pneumonias virais, no entanto, não se mostrou eficaz em estudos anteriores à pandemia do novo coronavírus. Para a covid-19 ainda não há nenhum estudo científico comprovado que possa ser usado para defender ouso, como explica Gerson Salvador, infectologista associado da Sociedade Paulista de Infectologia e médico do Hospital Universitário da USP. “Os corticoides foram estudados e estão em estudo na covid-19, mas em estudos de pneumonias virais (influenza e outras causadas por outros tipos de coronavírus) anteriores foram vistos dois efeitos: alguns aumentam mortalidade, após altas doses por tempo prolongado, e também aumenta o tempo em que a carga viral é detectável, o vírus fica mais tempo no organismo”, explica. O infectologista alerta, ainda, para efeitos colaterais vistos em pacientes com pneumonias virais tratados com corticoides, tais como: hiperglicemia e psicose (alterações psiquiátricas). O especialista ressalta que para a covid-19 ainda não há uma conclusão sobre o uso dos corticoides. “O médico que quer fazer esse estudo tem que submeter ao Comitê de Ética primeiro”, completa. O uso de corticoides também está sendo testado em pacientes do Vila Nova Star, hospital de São Paulo. Ainda não foi publicado estudo que comprove a eficácia deste tratamento. Recentemente, o Hospital Sírio Libanês também iniciou protocolo de pesquisa com o medicamento dexametasona, um tipo de corticoide. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) recomenda cuidado para pessoas que já se medicavam com corticoides e apresentam sintomas da covid-19. Para os pacientes que usam a substância como terapia anti-inflamatória e imunossupressora, é recomendado avaliar com o médico a redução no uso. Contexto A cloroquina tem sido citada em vários conteúdos enganosos online como a cura para a covid-19. No entanto, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde esclarecem que ainda não há um tratamento comprovadamente eficaz contra a doença causada pelo novo coronavírus. A cloroquina e a hidroxicloroquina passaram a protagonizar desinformação nas redes sociais após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apontar o medicamento como possível cura da covid-19. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores também têm insistido na eficácia do remédio contra a doença, sem comprovação científica. Uma análise do site de checagem Aos Fatos mostrou que vários congressistas da base de apoio de Bolsonaro divulgaram informações incorretas sobre o medicamento — o principal deles foi o ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS). Alcance O conteúdo verificado pelo Comprova foi sugerido pelos leitores. Ele foi publicado em sites e compartilhado em diversas páginas de redes sociais e em aplicativos de mensagens. Apenas uma dessas postagens foi compartilhada no Facebook mais de 500 vezes e somava 436 mil interações até esta quinta-feira, 14 de maio.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/sepultamentos-cresceram-47-no-cemiterio-vila-formosa-em-sao-paulo-entre-marco-e-abril/
COMPROVA
Sepultamentos cresceram 47% no cemitério Vila Formosa em São Paulo entre março e abril
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2020-05-14
Homem que aparece em vídeo que viralizou no Facebook mostrando covas vazias e dizendo que o número de sepultamentos está normal não é funcionário do governo. As imagens foram captadas em uma das unidades do cemitério da Vila Formosa, em São Paulo, em um dia em que não havia sepultamentos no local Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, um homem que se apresenta como funcionário do governo diz que o cemitério da Vila Formosa tem covas abertas, mas não está realizando mais sepultamentos do que antes da pandemia do novo coronavírus. O Comprova apurou que o vídeo foi realmente gravado no Complexo Cemiterial Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, mas traz informações erradas. O complexo é dividido em dois cemitérios – Vila Formosa I e Vila Formosa II – e as duas unidades alternam os dias de enterros. Assim, enquanto em uma unidade estão sendo feitos os sepultamentos, na outra são realizados somente os serviços de limpeza e de exumação de corpos. O vídeo foi gravado no cemitério da Vila Formosa l em um dia em que os sepultamentos estavam sendo feitos na segunda unidade. Além disso, o homem que aparece dando informações não é funcionário do Serviço Funerário, que é de responsabilidade da Prefeitura Municipal de São Paulo. Ao contrário do que afirma o narrador do vídeo, houve 47% de aumento no número de pessoas enterradas de março a abril deste ano. Ou seja, depois que o país começou a lutar contra a pandemia de covid-19 – doença causada pelo novo coronavírus. Por que checamos isto? No monitoramento que faz de mensagens suspeitas que circulam em redes sociais e aplicativos de mensagens sobre o novo coronavírus e a covid-19, o Comprova vem observando um crescimento na circulação de boatos sobre números de mortes causadas pela doença, falseamento de atestados de óbitos e conteúdos falsos sobre caixões e sepultamentos. Tais boatos tentam minimizar os efeitos da pandemia e podem fazer com que as pessoas que neles creem relaxem os cuidados com a higiene pessoal e o distanciamento social, ações de contenção do espalhamento do vírus recomendadas pelas autoridades de saúde. O cemitério de Vila Formosa se transformou em um dos principais alvos desses boatos depois que a prefeitura da capital paulista anunciou a abertura de 8 mil novas valas. Como verificamos? Procuramos pela publicação original usando a plataforma de monitoramento de conteúdo Crowdtangle e chegamos a um perfil pessoal no Facebook. Entramos em contato com o usuário em um número de telefone disponível em seu feed de notícias. Perguntamos sobre a autoria do vídeo e ele negou. Informou que recebeu o vídeo em um grupo de WhatsApp e o publicou no Facebook. Entramos em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal das Subprefeituras da Cidade de São Paulo (SMSUB), responsável pelo Serviço Funerário Municipal. Também consultamos o Plano de Contingenciamento Funerário para confirmar as informações prestadas. Verificação O vídeo que circula pelas redes sociais mostra um homem vestido com o que parece um uniforme falando com outro, que está dentro de um carro e que grava a conversa. Não é possível ler as informações do crachá, mas o homem que grava a cena o identifica como “funcionário do governo” e diz que ele trabalha no cemitério, onde não estariam ocorrendo mais enterros que o normal. A Prefeitura de São Paulo, responsável pelo Complexo Cemiterial Vila Formosa, nega que ele seja funcionário do Serviço Funerário e afirma que houve aumento no número de sepultamentos em toda a cidade. Na conversa, o autor do vídeo pergunta qual a média de enterros por dia. O homem responde: “Até agora não vi nenhum (…) As covas estão abertas, mas não tem ninguém morrendo nem enterrando ninguém. É uma jogada política. O que morre de gente é o dia-a dia normal e as covas estão todas abertas sem ninguém. Todas abertas para deixar o pessoal em pânico”, disse na conversa. A assessoria de comunicação da Secretaria Municipal das Subprefeituras da Cidade de São Paulo (SMSUB), da Prefeitura de São Paulo, nega a falta de enterros. O órgão, responsável pelo Serviço Funerário Municipal, explicou ao Comprova que o Complexo Cemiterial Vila Formosa é o maior da América Latina e é dividido em Vila Formosa I e Vila Formosa II. De acordo com a Secretaria, o vídeo foi gravado no cemitério da Vila Formosa l, em frente à área onde ocorrem os velórios. Ainda segundo a assessoria, os sepultamentos são feitos em dias alternados em Vila Formosa I e II. Isto quer dizer que todo dia um dos cemitérios fica sem sepultamentos para que sejam realizados os serviços de limpeza e de exumação de corpos. Além disso, afirmou que houve aumento de enterros. Em março deste ano foram registrados 1.131 e em abril foram 1.668 — crescimento de 47%. Pensando na maior demanda de sepultamentos durante a pandemia da covid-19, a prefeitura elaborou um Plano de Contingenciamento Funerário para garantir o funcionamento adequado do Serviço Funerário Municipal. Entre as medidas do Plano, anunciadas em 23 de abril, estavam a abertura de 8 mil valas no cemitério da Vila Formosa, 3 mil no São Luiz e 2 mil no Vila Nova Cachoeirinha. São essas valas anunciadas no cemitério que aparecem abertas no vídeo. Contexto O vídeo foi publicado em um momento em que há divergência de opiniões sobre o isolamento social. O presidente da República, Jair Bolsonaro, defende a retomada das atividades econômicas, assim como muitos dos seus apoiadores. Essa visão contraria as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, que recomendam políticas de distanciamento social para evitar a disseminação do novo coronavírus e, consequentemente, o aumento do número de casos da covid-19. Os governos estaduais mantêm o isolamento em seus Estados. De acordo com a Constituição Federal, em casos de saúde pública, como a pandemia de covid-19, não há hierarquia entre os entes da federação. Ou seja, um decreto federal não vale mais que um estadual. Cabe ao Poder Judiciário decidir qual política pública obedece melhor às leis. Contestar os números oficiais de óbitos é uma das táticas utilizadas por disseminadores de desinformação para causar indignação na população. Uma corrente falsa de whatsapp utilizou dados falsos de óbitos por covid-19 para erroneamente dizer que teriam morrido menos pessoas no começo de 2020 em comparação ao mesmo período de 2019. Já no Amazonas, onde foi preciso adotar os sepultamentos coletivos para atender à demanda de enterros, o governo foi acusado de enterrar caixões vazios para causar pânico na população. No mesmo estado, um boato nas redes sociais dizia que o número de mortes teria caído depois de uma visita do ministro da Saúde Nelson Teich. Alcance O vídeo ganhou grande repercussão com a sua postagem numa conta pessoal no Facebook. A publicação, do dia 2 de maio, já passa de 62 mil compartilhamentos e teve aproximadamente 620 mil visualizações até o dia 12 de maio. O conteúdo foi republicado por páginas como “Metralhando a Corrupção” e “Nas Ruas”.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/mascaras-nao-reduzem-imunidade-e-ajudam-no-combate-ao-novo-coronavirus/
COMPROVA
É falso que máscaras reduzam imunidade e potencializem a proliferação de bactérias
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2020-05-13
Ao contrário do que diz um vídeo publicado no YouTube e verificado pelo Comprova, tanto máscaras cirúrgicas quanto artesanais, feitas de pano, dispõem de filtros que permitem a passagem do oxigênio e filtram partículas que possam estar infectadas pelo novo coronavírus. Usadas em acordo com as recomendações médicas, as máscaras são recomendadas para reduzir as taxas de transmissão do novo coronavírus São falsas as informações divulgadas em um vídeo no YouTube segundo o qual as máscaras de proteção de pano e de uso profissional recomendadas por autoridades sanitárias prejudicam a imunidade dos usuários. As máscaras são classificadas pelos órgãos de saúde como importantes instrumentos para diminuir as taxas de transmissão do novo coronavírus. O vídeo de oito minutos foi gravado e divulgado por Daniél Rocha em seu canal no YouTube no dia 6 de maio e teve mais de 33 mil visualizações. Nas imagens, Rocha faz diversas afirmações contra o uso de máscaras, como a de que o aparato diminui a imunidade, aumenta a inspiração de dióxido de carbono e potencializa a proliferação de bactérias. Nenhuma das alegações é verdadeira. Por que checamos isto? O Comprova fez essa verificação pois o conteúdo do vídeo é potencialmente danoso à saúde pública, tendo em vista que diversas autoridades sanitárias têm recomendado o uso das máscaras para reduzir a possibilidade de contaminação pelo novo coronavírus. Em circulação desde o fim de 2019, o novo coronavírus já matou mais de 290 mil pessoas no mundo, segundo a Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos. Como verificamos? O Comprova selecionou afirmações do vídeo sobre o uso das máscaras para o combate ao novo coronavírus e questionou três médicos infectologistas sobre o assunto. A reportagem ainda tentou falar com Daniél Rocha, mas não obteve retorno. Também consultamos a Organização Mundial de Saúde (OMS), citada no vídeo. O que dizem os especialistas O Comprova questionou três infectologistas sobre as afirmações do vídeo e a eficácia do uso de máscaras contra o novo coronavírus: Jean Gorinchteyn e Guilherme Spaziani, do Instituto de Infectologia Hospital Emílio Ribas, de São Paulo; e Antonio Carlos Bandeira, integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia. Primeiro, a filmagem afirma que “se você usa máscara, você vai respirar menos oxigênio ainda, você vai respirar mais dióxido de carbono”. Segundo os três especialistas, isso é falso. Gorinchteyn explica que as máscaras têm pequenos filtros, que impedem a passagem de gotículas e partículas maiores, mas permitem a troca do ar. Segundo o infectologista, o grau de proteção depende do material utilizado na produção do equipamento de proteção. Mas, tanto as máscaras cirúrgicas quanto as artesanais, feitas de pano, não impedem a respiração. “Os poros não evitam a passagem do ar, são filtros, filtram partículas. Os gases têm tamanho muito menor e conseguem passar”, ressaltou o médico. Antonio Carlos Bandeira destaca que os tecidos habitualmente usados nas máscaras artesanais não impedem a respiração. Ele recomenda que a confecção seja com algodão: “Tem que ter cuidado de não usar um tecido com gramatura tão alta que impeça o indivíduo de respirar. Se for de algodão, ou com a gramatura adequada, são mais fáceis de ventilar porque as aberturas são maiores. Só teria uma situação assim (de dificuldade de respirar) se for um tecido super fechado. Mas não é o que a gente vê que está sendo usado”. O vídeo também diz que “pessoas que usam máscara terão mais bactérias na boca, mais bactérias na gengiva, mais bactérias atacando seus dentes, no trato respiratório e, consequentemente, nos pulmões”. Guilherme Spaziani explicou que o ser humano já tem bactérias próprias da mucosa e de outros lugares do corpo, mas que o uso da máscara de proteção não aumenta o número desses organismos. “Não é porque tem o anteparo na frente do rosto que vamos ter mais bactérias. Essas bactérias precisam estar lá no nosso organismo e ficam na mesma quantidade”, disse. Gorinchteyn lembra que, apesar de as máscaras não aumentarem a quantidade de bactérias na boca, é preciso trocá-las em um intervalo regular: de 2 h para máscaras cirúrgicas e de 1h30 para equipamentos de pano. “Elas ficam úmidas, pelo ato de falar, transpirar e acabam perdendo o papel de proteção”, completou. Por fim, os três especialistas destacam que o uso de máscara não diminui a imunidade. “A imunidade é composta por proteínas que são anticorpos e não vai ser prejudicada por usar um objeto na frente do rosto, seja de pano ou hospitalar”, comentou Spaziani. Jean Gorinchteyn ressaltou que a máscara protege de infecções. “A máscara vai evitar que você esteja exposto aos agentes infecciosos”. Os três médicos reforçam a importância do uso de máscaras para as pessoas que precisam sair de casa, mas ressaltam que são necessárias outras medidas para evitar o contágio pelo novo coronavírus. “A máscara não é um passaporte para andar na rua, até porque tem outros tipos de contágio, como pelo toque. É preciso lavar sempre as mãos”, completou o doutor Spaziani. A Sociedade Brasileira de Infectologia criou programas de conscientização sobre a importância do uso de máscaras por quem precisa sair de casa. O “Máscara para Todos” é um deles. “A gente tem procurado estimular o uso de máscaras pela população para que as pessoas saiam de máscara e voltem de máscara, usando continuamente e respeitando o tempo de uso. A ideia é que isso, somado ao distanciamento social e outras medidas, ajude a reduzir as taxas de transmissão do coronavírus”, finalizou Antonio Carlos Bandeira. Quem é Daniél Rocha? Daniél Rocha é o dono do canal do YouTube “Daniél Rocha – Alkaline Man”, com 120 mil seguidores. Não há indicação no canal ou em seu site oficial sobre a formação profissional de Rocha. No site, Daniél vende livros e seminários sobre emagrecimento com saúde. Ele se descreve como “difusor da Alimentação Alcalina no Brasil”. No texto de apresentação, o youtuber diz ser “referência em Emagrecimento, sem intervenções cirúrgicas, pesquisador empírico, renomado como Mestre do Emagrecimento e Desintoxicação no Brasil”. No YouTube, Daniél Rocha publica conteúdos sobre alimentação e, mais recentemente, sobre o novo coronavírus. Um deles, publicado há três meses, com o título “A farsa do coronavírus”, tem 159 mil visualizações. O Comprova entrou em contato com Daniél por e-mail, questionando quais eram as fontes das afirmações do vídeo, mas não obteve resposta. George Soros não comanda a OMS No vídeo, Rocha afirma, ainda, que o megainvestidor George Soros, fundador da organização filantrópica Open Society Foundation, “comanda a OMS (Organização Mundial da Saúde) e tem interesse na redução populacional”. Ao Comprova, a OMS informou que Soros não tem qualquer relação com a entidade, seja como empregado ou como embaixador. A reportagem não encontrou indícios de que o bilionário húngaro-estadunidense tenha relação com a instituição. A OMS é parte do complexo de agências das Nações Unidas e foi criada pela Conferência Internacional de Saúde, realizada em 22 de julho de 1946, após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a chancela de 61 países. A entidade começou a funcionar em 7 de abril de 1948. O diretor-geral da OMS, atualmente, é o etíope Tedros Adhanom. Soros anunciou que doará US$ 130 milhões para o combate à pandemia, principalmente em regiões mais afetadas nos Estados Unidos, como o Estado de Nova Iorque. Segundo reportagem da BBC Brasil de 2018, Soros é criticado pela direita por financiar ONGs de defesa de direitos humanos. O bilionário é personagem frequente de boatos falsos online, como o que ele é avô da ativista Greta Thunberg, que investiu na “destruição” do presidente Jair Bolsonaro e que empregava o presidente do partido Novo, João Amoêdo. As orientações da OMS para o uso de máscaras estão neste link. Contexto Vários Estados e municípios tornaram obrigatório o uso de máscaras de proteção em ambientes públicos a partir de abril, seguindo recomendação do Ministério da Saúde. O aparato passou a ser considerado importante para prevenção, mesmo entre pessoas sem sintomas da covid-19. Em São Paulo, por exemplo, Estado com o maior número de casos do novo coronavírus, o item é obrigatório para quem sai na rua desde o dia 7 de maio. A recomendação mudou após especialistas identificarem grande transmissão da doença entre pessoas assintomáticas. A máscara funciona, segundo especialistas, como uma barreira física. “O uso da máscara de pano de algodão de duas camadas é recomendado a todo momento na rua. Ela não vai te proteger, ela vai proteger o outro”, explicou o médico Guilherme Spaziani. Alcance O vídeo publicado no canal do Youtube de Daniél Rocha teve 33 mil visualizações com mais de 800 comentários sobre o tema.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/cloroquina-nao-e-alvo-de-conspiracao-a-favor-do-remdesivir/
COMPROVA
Cloroquina não é alvo de conspiração a favor do remdesivir
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2020-05-13
Há estudos em andamento para verificar a eficiência de ambas as drogas no tratamento de pacientes com covid-19 e governantes que defendem abertamente o uso de cloroquina, caso de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Além disso, não há registro de que o homem que aparece no vídeo verificado pelo Comprova esteja envolvido no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus Em um vídeo que circula na internet, um homem que se identifica como médico especialista em ortopedia afirma que a cloroquina é alvo de uma conspiração, por parte de governos e da indústria farmacêutica, que teriam interesse na utilização de uma droga chamada remdesivir – muito mais cara – no tratamento dos pacientes com a covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Na postagem, que é o trecho de uma transmissão ao vivo de mais de uma hora de duração, Cláudio Agualusa afirma que a cloroquina já é usada sem restrições há anos, no tratamento de outras doenças, e que a relutância na adoção de um protocolo que inclua a substância é uma tentativa de ampliar a comercialização de uma droga desenvolvida por um laboratório americano, que custaria “milhões”. As alegações são enganosas. Primeiro, há governantes que defendem abertamente o uso da cloroquina, casos de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Segundo, o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a covid-19 ainda é objeto de estudos clínicos em todo o mundo, inclusive em uma iniciativa liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a coordenação é da Fiocruz. Do mesmo modo, o remdesivir ainda está sendo avaliado no combate à doença. Por que checamos isto? O Comprova monitora conteúdos duvidosos sobre o novo coronavírus e sobre a covid-19 compartilhados nas redes sociais e aplicativos de mensagens que tenham grande alcance nas redes sociais. O vídeo investigado pelo Comprova alcançou 44 mil compartilhamentos em somente uma das publicações encontradas. A cloroquina e a hidroxicloroquina têm estado no centro de inúmeros rumores que circulam, em especial, nos Estados Unidos e no Brasil. Muitos desses boatos dizem que essas substâncias seriam a “cura” para a covid-19, o que poderia desmobilizar a sociedade no enfrentamento da pandemia. Além disso, a cloroquina e a hidroxicloroquina só podem ser usadas sob orientação médica, pois têm efeitos colaterais significativos. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? Para esta verificação, buscamos dados da Food and Drug Administration (FDA), órgão sanitário dos Estados Unidos, estudos recentes envolvendo o tratamento da covid-19 com hidroxicloroquina e contatamos um especialista em infectologia. Buscamos o vídeo original com as falas de Agualusa, publicado originalmente numa transmissão ao vivo no Facebook dele e entramos em contato com os municípios onde o médico diz atuar e com o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro. Também foram consultadas matérias jornalísticas, de veículos nacionais e internacionais, com informações sobre o tema. Verificação No vídeo, que circula pelas redes sociais e pelo Youtube, o médico Cláudio Agualusa defende a utilização de um protocolo barato para o tratamento de pacientes com a covid-19: administração do antibiótico azitromicina, de cloroquina ou hidroxicloroquina e de sulfato de zinco. Apesar do baixo custo, o médico afirma que o tratamento não é adotado porque “eles” estão aguardando a possibilidade de utilização de um medicamento muito mais caro, o remdesivir. A conspiração, segundo o médico, não é política, mas sim em prol do lucro da indústria farmacêutica, já que cada dose do medicamento custaria “milhões de dólares”. O remdesivir Trata-se, realmente, de um tratamento antiviral em investigação, administrado por infusão diária. Segundo anúncio do governo americano, no último dia 29, é o primeiro remédio capaz de melhorar a situação dos doentes de covid-19. O FDA, que regula os medicamentos nos Estados Unidos, autorizou o uso de remdesivir em emergências, o que possibilita entrada da droga no mercado americano sem a exigência de dados completos sobre segurança e eficácia. A droga, até então era classificada como uma “medicação órfã”, assim como apontado por Agualusa. Essa é uma forma de elencar fármacos destinados ao diagnóstico, prevenção e tratamento de uma doença rara ou negligenciada, cuja produção não é economicamente viável. Há dentro do FDA, o órgão instituído para promover a pesquisa e o desenvolvimento de drogas órfãs é o Office of Orphan Products Developement (OOPD). Segundo o laboratório Gilead Science, que é responsável pelo desenvolvimento do remdesivir, a droga é fruto de uma pesquisa desenvolvida há mais de uma década e sua aplicação já foi testada em doenças como a Ebola, por exemplo. Em entrevista à NPR, National Public Radio, organização de mídia parcialmente financiada pelo governo dos EUA, uma representante do laboratório disse que o medicamento ainda não tem um preço definido, mas que um suprimento inicial, de 1,5 milhão de doses da droga, foi doado para o tratamento de pacientes com covid-19. Em um modelo apresentado pelo Institute for Clinical and Economical (ICER) – entidade voltada para a precificação e análise da efetividade clínica de medicamentos, localizada em Boston (EUA) –, o tratamento com o remdesivir deve custar entre 10 e 4,5 mil dólares. A estimativa leva em conta o custo de produção e a efetividade do medicamento. Apesar do valor máximo ser alto – mais de R$ 26 mil, considerada a cotação do dólar americano no dia 12 de maio –, a quantia está bem distante dos “milhões de reais” a que Agualusa se refere no vídeo. Sobre a utilização do medicamento no Brasil, que, segundo Claudio Agualusa, só começaria depois de um número muito maior de mortes, o ministro da Saúde, Nelson Teich, disse, na segunda-feira, 11 (portanto, depois da realização da live), que está condicionada à realização de estudos clínicos que comprovem a sua eficácia nos casos do novo coronavírus. A cloroquina O vídeo de Claudio Agualusa sugere a existência de campanha contra a hidroxicloroquina e a cloroquina, realizada pela indústria farmacêutica e governos, por conta do custo baixo do medicamento e do tratamento com seu uso associado. As pesquisas mais recentes, publicadas em periódicos médicos importantes como o Journal of the American Medical Association e o The New England Journal of Medicine, não encontraram redução de mortalidade por covid-19 entre pessoas que foram medicadas com hidroxicloroquina. O uso do medicamento em pacientes com o novo coronavírus, portanto, apesar de autorizado no Brasil, não é uma unanimidade. O Comprova entrou em contato com Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e Membro do Comitê de Enfrentamento à covid-19 de Belo Horizonte, que disse que não procede a crença de Agualusa na existência de uma conspiração contra a cloroquina. “Não existe nenhuma normatização ainda. Existem pouco remédios cientificamente testados, os usos empíricos são baseados em trabalhos muito frágeis”, afirmou. Segundo Urbano, “a cloroquina está muito longe de ser comprovada como uma droga efetiva, e é por isso que ela não é, ainda, um consenso. Embora possa ter também seu papel, não é mais do que uma inferência, ainda, muito frágil.” O tratamento sugerido por Cláudio Agualusa, inclusive, é o mesmo sugerido por um médico de Nova Iorque, e, como apurado pelo Comprova, ainda não tem comprovação científica. Cláudio Agualusa O homem que aparece no vídeo é o médico fluminense Cláudio Agualusa. Ele possui registro ativo junto ao Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, e aparece em catálogos online, como o Doctoralia, e o CatálogoMed como especialista em Ortopedia e Traumatologia. Na live, aliás, ele também se identifica como ortopedista, diz já ter receitado cloroquina e hidroxicloroquina a pacientes com “artrites severas”. Não há qualquer indicação de que Agualusa esteja atuando diretamente no tratamento de pacientes com a covid-19. Agualusa foi candidato a Deputado Estadual, no Rio de Janeiro, em 2018, pelo PRB. Em 2016, já havia se candidatado a prefeito de Búzios, pelo PRP. Não se elegeu em nenhuma das duas ocasiões. O médico mantém um perfil ativo e uma fanpage no Facebook, onde publica vídeos e textos sobre o novo coronavírus e a covid-19. Ele também já realizou várias transmissões ao vivo — de mais de uma hora de duração — sobre o tema. Nas postagens, Agualusa defende a importância do isolamento social, fala sobre a higienização das mãos e de produtos e, principalmente, trata dos benefícios do tratamento realizado com a cloroquina. O Comprova tentou entrar em contato com Agualusa, por meio de seu perfil no Facebook, mas não recebemos uma resposta. Na página oficial dele, não há a possibilidade de envio de mensagens privadas. Contexto Desde março, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem incentivando o uso da cloroquina e a hidroxicloroquina, normalmente prescritas no tratamento de doenças como malária, artrite e lúpus. No mesmo mês, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também passou a fazer o mesmo. Bolsonaro anunciou o aumento da produção da droga no país em 21 de março, e sua campanha em favor da substância foi um dos pontos de desentendimento com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que não recomendava o uso indiscriminado do medicamento. Desde então, apoiadores de Trump e Bolsonaro passaram a defender firmemente o uso das substâncias, cuja eficácia continua sob análise. Alcance Até as 16h30 do dia 12 de maio, o vídeo havia sido assistido 936 mil vezes vezes na página “Muda Ibertioga”, no Facebook, e 94 mil vezes no canal do YouTube associado à mesma página.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/dois-tercos-dos-nova-iorquinos-infectados-estavam-em-casa-mas-dado-nao-comprova-falhas-no-distanciamento-social/
COMPROVA
Dois terços dos nova-iorquinos infectados estavam em casa, mas dado não comprova falhas no distanciamento social
null
2020-05-08
Vídeo compartilhado nas redes sociais apresenta somente parte de uma entrevista do governador de Nova York para afirmar que o isolamento foi em vão. Ainda que os dados apresentados sejam verdadeiros, o vídeo omite a parte em que Andrew Cuomo diz que o número de casos começou a cair no estado depois das medidas de isolamento social É verdadeira a pesquisa que afirma que, de cada três novos pacientes de covid-19 no Estado de Nova Iorque, dois estavam em casa. Mas, ao contrário do que sugerem publicações divulgadas em redes sociais aqui no Brasil, é enganoso afirmar que o distanciamento social determinado pelo estado norte-americano tenha falhado. Os dados foram divulgados em uma entrevista coletiva do governador Andrew Cuomo, no dia 6 de maio. A pesquisa foi realizada pelas autoridades de saúde do Estado em 113 hospitais ao longo de três dias. O levantamento apontou que, entre as 600 novas internações por Covid-19, 66% dos doentes foram infectados em casa. Um vídeo com parte da coletiva do governador Cuomo foi editado e legendado em português e publicado no Jornal da Cidade Online e em perfis e páginas de Twitter e Facebook, acompanhado de textos que afirmam que os dados da pesquisa seriam uma prova de que o lockdown decretado pelo Estado de Nova Iorque falhou. Mas a edição omite a parte em que Cuomo fala da queda no número de novas infecções, sugerindo que as políticas de distanciamento social estão funcionando. “Tudo está fechado, o governo fez tudo o que podia, a sociedade fez tudo o que podia. Agora depende de você”, afirmou. Por que investigamos isso? Grupos contrários às políticas de distanciamento social têm compartilhado nas redes sociais conteúdos enganosos ou fora de contexto que minimizam ou questionam os efeitos do isolamento na redução da velocidade de contágio da covid-19. Tais narrativas acabam encontrando receptividade nas pessoas afetadas pelo isolamento, sobretudo pelos prejuízos econômicos causados pela pandemia. O Comprova verificou conteúdos enganosos semelhantes recentemente. O Comprova monitora conteúdos duvidosos sobre o novo coronavírus e sobre a covid-19 compartilhados nas redes sociais e aplicativos de mensagens que tenham grande alcance nasd redes sociais. O vídeo investigado pelo Comprova alcançou 54 mil interações em dois dias somente em uma das páginas que o compartilhou. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? A equipe do Comprova foi em busca da fala original de Andrew Cuomo, para conferir se as legendas em português estavam corretas e se a edição deixou alguma informação de fora. Também buscamos os dados da pesquisa. Por fim, entramos em contato com a assessoria de imprensa do governo do Estado de Nova Iorque para saber qual é a conclusão das autoridades de saúde sobre os dados divulgados. Verificação Os Estados Unidos são o país mais atingido pela pandemia do novo coronavírus atualmente. Levantamento da Universidade Johns Hopkins mostra que 1.268.520 pessoas contraíram a covid-19 nos EUA e 76.101 haviam morrido até o dia 8 de maio. Só o Estado de Nova Iorque tem 327.000 casos e 20.828 mortes. No dia 6 de maio, o governador Andrew Cuomo deu uma entrevista coletiva para falar sobre os dados coletados pelo Departamento Estadual de Saúde. Foram mais de 1.300 pacientes internados em 113 hospitais de todo o Estado ao longo de três dias. O levantamento desenhou o perfil dos pacientes infectados nesse período: pessoas com mais de 51 anos (73%), negras (25%) ou latinas (20%) e que estavam isoladas em casa. “Essa é a surpresa: a grande maioria das pessoas estava em casa. Houve muita especulação sobre isso”, disse Cuomo, “Essas pessoas estavam, literalmente, em casa. Estavam trabalhando? Não. Estavam aposentados ou desempregados”. A entrevista de Cuomo foi editada e legendada pelo canal de YouTube brasileiro Legendando. O conteúdo da entrevista coletiva não foi adulterado, mas trechos importantes ficaram de fora, como a ressalva de que a amostragem da pesquisa foi relativamente pequena. Ou o trecho em que o governador afirma que o número de casos começou a cair no Estado depois das medidas de isolamento social, colocadas em vigor no dia 22 de março, e sugere que a população está relaxando com os cuidados: “Você está usando a máscara? Está lavando as mãos? Tem pessoas mais jovens visitando você?”, questionou Cuomo. “É uma questão de comportamento”. Na tela em que os dados são divulgados aparece o slogan do governo no combate à pandemia, que reforça a importância do isolamento: “Fique em casa. Pare a contaminação. Salve vidas”. Essa frase também aparece na versão legendada e editada divulgada nas redes sociais brasileiras. Mas em nenhum momento ela é traduzida. Procuramos o Departamento de Saúde do Estado de Nova Iorque para saber qual é a leitura que as autoridades sanitárias fazem dos dados. Por e-mail, a assessoria de imprensa declarou que os pacientes que pegaram o novo coronavírus em casa “claramente tiveram contato com pessoas infectadas”. A assessoria de imprensa do gabinete do governador respondeu que os dados divulgados não significam que a política de isolamento falhou. E destaca a entrevista de Andrew Cuomo para a rede americana CBS, no dia 7 de maio. “A taxa de infecção só está aumentando entre as pessoas que estão em casa, mostrando que o isolamento está funcionando. Estamos em um nível que depende apenas de comportamento pessoal. São pessoas que estão em casa, não estão trabalhando e nem usando o transporte público. É a única população em que os índices estão crescendo, e essa é uma boa notícia”, disse ao apresentador Stephen Colbert. Contexto Críticas às políticas de isolamento adotadas para o combate à covid-19 têm sido um discurso comum entre influenciadores de direita. Ecoando declarações do presidente Jair Bolsonaro, muitas pedem a retomada de atividades econômicas. Essa visão contraria orientações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde, que recomendam políticas de distanciamento social para evitar a disseminação do novo coronavírus. Num primeiro momento, tanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quando o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, também resistiram às restrições de circulação. Mas com o aumento no número de casos de covid-19, ambos precisaram voltar atrás. Um decreto entrou em vigor no Estado de Nova Iorque no dia 22 de março, determinando o fechamento de escolas e de toda a atividade não essencial, a proibição de reuniões, o distanciamento de um metro e meio entre pessoas em ambientes públicos e a medidas de higiene, como o uso de álcool gel. Quem tem mais de 70 anos ou doenças crônicas foi orientado a ficar em casa e evitar contato com pessoas de fora do círculo familiar. No dia 7 de maio, Cuomo criticou quem coloca a saúde pública contra a economia, alegando que não existe essa oposição. O governador acredita que a redução no número de casos aponta que a política de isolamento social adotada pelo Estado está funcionando. “Você tira Nova Iorque (da estatística) e os números (de casos) do resto do país estão aumentando. Nós estamos reduzindo. Então o que estamos fazendo está funcionando. E quando está funcionando, mantenha em curso”, sugeriu. No dia seguinte, Cuomo destacou o grande número de casos entre comunidades negras e latinas, que tendem a ser mais pobres. E afirmou que só vai reabrir escolas e o comércio quando houver garantia de que o número de casos não vai aumentar. “Se abrirmos de maneira irresponsável, vamos ver esse número de novas infecções aumentar”, disse. “Nós reduzimos a curva (de novos casos), mais ninguém. E nós vamos determinar como vai ser o ritmo de novas infecções daqui para frente”. Alcance O vídeo editado ganhou grande repercussão entre os dias 6 e 8 de maio, geralmente acompanhado de textos que afirmavam que a quarentena falhou em Nova Iorque. Ele foi publicado na página de Facebook do Jornal da Cidade Online e somou mais de 54 mil interações até o dia 8. Outros usuários da rede também postaram o vídeo, com menos viralização. O Twitter também foi usado para disseminar o conteúdo. O usuário Rafael Glau teve 3,5 mil curtidas e mais de 32 mil visualizações em sua publicação na rede social. Uma arte com a arroba dele foi colocada sobre a imagem de Andrew Cuomo, junto com as legendas em português. Outra publicação que teve grande alcance no Twitter foi de Arthur Weintraub, assessor especial do presidente da República e irmão do ministro da Educação Abraham Weintraub. Foram 8,3 mil curtidas e 44,5 visualizações até o dia 8 de maio. No post, ele alega que “o isolamento, na prática e estatisticamente, não funcionou!”, diferentemente do que afirma o governador de Nova Iorque.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C362&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/descoberta-de-anticorpo-em-israel-ainda-nao-significa-cura-para-coronavirus/
COMPROVA
Descoberta de anticorpo em Israel ainda não significa cura para coronavírus
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2020-05-08
Laboratório ligado ao governo israelense conseguiu isolar um anticorpo que neutraliza o novo coronavírus, mas um tratamento baseado nesta pesquisa ainda deve levar vários meses para se tornar realidade É falso que Israel tenha descoberto a cura para o novo coronavírus, ao contrário do que afirma o título de um vídeo com mais de 580 mil visualizações no YouTube. A descoberta a que o vídeo se refere é, na verdade, de um anticorpo que neutraliza o SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19, em estudo do Instituto de Pesquisas Biológicas (IIBR) do Ministério da Defesa israelense. A instituição anunciou o achado científico como um avanço significativo, mas enfatizou que ainda trabalha em uma patente e que ainda não é uma “vacina para toda a população”. Nesta quinta-feira, 7, o ministro da Defesa de Israel, Naftali Bennett, divulgou a descoberta de mais três anticorpos no mesmo instituto. Ele comemorou o avanço, mas ressaltou que ainda seria necessária “uma série de testes complexos e um processo de aprovação regulatória”, o que pode levar “vários meses”. Por que checamos isto? O Comprova verificou este vídeo porque conteúdos que anunciam a descoberta de curas ou de vacinas para a covid-19 podem ter como um de seus efeitos desmobilizar a sociedade a respeito da necessidade de se proteger da doença. Pesquisas estão sendo realizadas em diversas partes do mundo tanto para desenvolver uma vacina contra o vírus quanto para encontrar um possível tratamento para a doença que ele provoca. Em um cenário em que o mundo ainda não tem cura ou vacina para a covid-19, que é altamente contagiosa, entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) orientam os países a realizar um ativo processo de testagem para rastrear os doentes, mas também recomendam o distanciamento social e o isolamento das pessoas infectadas. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos? O Comprova consultou o site oficial do IIBR e do Ministério da Defesa de Israel. Também acessamos as redes sociais das duas instituições e do ministro da pasta, Naftali Bennett. Os links utilizados como fonte estão no texto abaixo. Verificação O Ministério da Defesa de Israel, pasta à qual o Instituto Israelense de Pesquisa Biológica (IIBR) é subordinado, anunciou em suas redes sociais em inglês e em hebraico, na terça-feira, 5, que o laboratório isolou um anticorpo que “neutraliza” o coronavírus SARS-COV-2, causador da covid-19. Segundo o comunicado, o IIBR é “a primeira instituição a alcançar um avanço científico que atende simultaneamente” três parâmetros importantes: é capaz de neutralizar o novo coronavírus; foi testado especificamente no novo coronavírus que causa a covid-19; e é “monoclonal”, o que significa que não tem proteínas adicionais que podem causar complicações para os pacientes. Na versão em hebraico do comunicado, que pode ser traduzida para diversos idiomas usando ferramentas como o Google Tradutor, o Ministério da Defesa afirma que o instituto está “atualmente trabalhando em uma patente” para a descoberta e depois vai entrar em contato com farmacêuticas internacionais. O comunicado enfatiza que o anticorpo “tem o potencial de desenvolver uma cura”, mas que “não é uma vacina para toda a população”. Ainda segundo o Ministério da Defesa de Israel, a descoberta será seguida por uma “série complexa de experimentos e um processo de aprovação regulatória”. De acordo com os cientistas do IIBR, diz a nota, a natureza da descoberta pode reduzir esse trâmite, “que pode se prolongar por vários meses”. Contexto A divulgação do vídeo com informações falsas se dá em meio à continuidade da tensão no Brasil a respeito das divergências sobre como lidar com a pandemia. Enquanto os governos estaduais adotaram, em diferentes intensidades, as medidas de isolamento social, o presidente Jair Bolsonaro continua a ser uma das poucas lideranças políticas no mundo que se posiciona contra tais medidas. O vídeo afirma que, com a suposta cura, “a esquerda perdeu novamente”, ecoando parte da estratégia política de Bolsonaro de classificar todos seus eventuais adversários como esquerdistas. “Se a esquerda pensava que o Brasil ia parar e o governo de Jair Bolsonaro seria abalado, estão muito enganados (sic). A boa notícia chegou hoje e já podemos comemorar”, afirma o locutor do vídeo. Na sequência, o locutor pede o compartilhamento das imagens “pois o Brasil precisa ouvir isso”. E emenda uma frase que reitera a argumentação de Bolsonaro nos últimos meses, afirmando que “vamos voltar a produzir, a trabalhar e a crescer novamente”. De acordo com a agência Reuters, Israel foi um dos primeiros países do mundo a fechar as fronteiras e a impor restrições na circulação de pessoas para evitar a disseminação do novo coronavírus. Até esta quinta-feira, 7, foram registrados 16.346 casos da covid-19 no país, com 239 mortos pela doença, segundo a Universidade Johns Hopkins. Alcance O vídeo com título “Até que enfim… Desc0berta cura para cor0navírus! Bolsonaro fica mais f0rte e esquerd4 perdeu…” obteve 588,7 mil visualizações desde o dia 5 de maio. O conteúdo foi publicado pelo canal DR News, que tem 989 mil inscritos no YouTube. Leitores solicitaram a checagem do vídeo por meio do WhatsApp do Comprova (11 97795-0022).
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/registro-de-numero-de-mortes-nao-diminuiu-no-amazonas-apos-visita-do-ministro-da-saude/
COMPROVA
Registro de número de mortes não diminuiu no Amazonas após visita do ministro da Saúde
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2020-05-07
Ao contrário do que afirma uma publicação no Twitter, não é verdade que o número de mortes causadas pelo novo coronavírus tenha reduzido no Amazonas depois da visita de Nelson Teich. O estado também registrou recorde de óbitos pela covid-19 em um único dia quando o ministro deixou a capital Não é verdade que o número de mortes causadas pelo novo coronavírus tenha reduzido no Amazonas depois da visita do ministro da Saúde, Nelson Teich, ao estado. Uma publicação compartilhada nas redes sociais diz que, antes da visita do ministro, o governo registrava 140 óbitos diários, mas, com a chegada de Teich, o número caiu para 46, sendo apenas dois por covid-19. O conteúdo dessa mensagem é falso. Ao contrário do que afirma a publicação, o Amazonas registrou recorde de óbitos em um único dia na última terça-feira (05), quando o ministro deixou a capital, Manaus. Por que investigamos isso? O Comprova monitora conteúdos duvidosos sobre o novo coronavírus e sobre a covid-19 compartilhados nas redes sociais e aplicativos de mensagens. A decisão pela checagem considerou três aspectos: Muitos boatos têm sido compartilhados nas redes sociais com conteúdos enganosos que negam os números da pandemia, minimizam os efeitos da covid-19 ou que questionam as decisões de governadores que adotam medidas de isolamento social. Nesta semana, o Brasil teve recorde de mortes pela por covid-19 em um único dia – foram 615, entre terça e quarta-feira. No Amazonas, o número de óbitos causados pela covid-19 também aumentou, e o Estado enfrenta um colapso do sistema de saúde e do sistema funerário. Medidas restritivas têm sido adotadas para diminuir a velocidade de contágio e, assim, reduzir a pressão sobre esses sistemas. O Comprova verifica a veracidade de conteúdos suspeitos que tenham grande viralização. O texto verificado foi curtido e retweetado milhares de vezes pelo Twitter e apareceu no monitoramento do Comprova em publicações no Facebook e no WhatsApp. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos? O Comprova acessou dados do Ministério da Saúde sobre o número de casos de infecção pelo novo coronavírus no Amazonas. Também utilizamos dados relacionados ao repasse de verbas do ministério para o estado e entramos em contato com as assessorias de imprensa das secretarias de saúde do governo do Amazonas e da cidade de Manaus. O Comprova ainda consultou matérias publicadas na imprensa sobre a situação da pandemia no Amazonas e tentou fazer contato com o responsável pela publicação, no Twitter. Você pode refazer o caminho da verificação acessando os links que oferecemos nesta reportagem. Recorde de mortes no Amazonas Uma das primeiras publicações foi feita pelo perfil @GrimoaldoL, no Twitter, na tarde de terça-feira (05). A mensagem havia sido compartilhada por 1,6 mil pessoas e curtida por 4,2 mil até o dia 7 de maio, quando esta verificação foi concluída. Na publicação, o autor afirma que no dia 4 de maio, quando o ministro da Saúde realizava visitas a hospitais de Manaus, 46 pessoas haviam morrido em todo Estado, sendo apenas duas delas por covid-19. Diz, ainda, , que no dia 5 de maio, quando a mensagem foi compartilhada, haviam sido registradas 39 mortes. A afirmação é falsa. De acordo com dados divulgados pelo governo do Amazonas, no dia 4 de maio foram registradas 36 novas mortes só por covid-19 no Amazonas, sendo 22 delas em Manaus. Já no dia 5 de maio, o Estado bateu recorde diário no número de mortes registradas por coronavírus, com 65 óbitos — 41 na capital. Outro trecho da mensagem que circula pelo Twitter afirma que, antes da visita do ministro, o governo de Manaus dizia que morriam 140 pessoas por dia no estado. A prefeitura da capital negou a informação. Por e-mail, o município disse que “o recorde de óbitos no sistema público funerário ocorreu no dia 26 de abril, quando 120 sepultamentos e duas cremações foram realizadas”. Além disso, “a média de sepultamentos e cremações no sistema público funerário nos cinco primeiros dias de maio segue muito acima da média diária de todo o ano de 2019, que foi de 28,3 sepultamentos”, informou a prefeitura. O Comprova entrou em contato com o autor da publicação no Twitter, para saber a fonte das informações que divulgou. Ele respondeu que havia lido uma notícia sobre o assunto e que encaminharia o link da reportagem. Contudo, isso não foi feito até o momento da publicação desta checagem. Uma outra versão do texto falso, que também circulou pela internet, dizia que houve redução de 1000% no número de mortes no Estado em dois dias, o que, além de não fazer sentido, matematicamente, não se confirma em nenhum aspecto. O Amazonas registrou um aumento de 38% no número de mortes entre o domingo (3) e terça-feira (5), período da visita do ministro ao estado. Manaus é uma das cidades mais atingidas pela covid-19 no país, registrando um aumento de 60% no número de casos confirmados da doença na última semana. A taxa de mortalidade do coronavírus no Estado é a mais alta do país e já fez com que a Prefeitura de Manaus abrisse uma vala em um cemitério público da cidade para conseguir realizar todos os sepultamentos. Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde no dia 7 de maio mostram que o Amazonas registra 9.243 casos da covid-19 e 751 mortes. A visita do ministro O Amazonas é o primeiro Estado visitado pelo ministro da Saúde, Nelson Teich, durante a pandemia. Na visita, que durou dois dias, Teich conheceu hospitais em Manaus e anunciou a chegada de 267 profissionais de saúde para reforçar o enfrentamento ao coronavírus no estado. Ao todo, são 37 médicos, 118 enfermeiros, 57 técnicos em enfermagem, 26 fisioterapeutas, 12 farmacêuticos e 17 biomédicos, que vão atuar em todo o Amazonas. Desde o início da pandemia, o Ministério da Saúde destinou R$ 68,8 milhões ao Estado para o fortalecimento da rede hospitalar e de vigilância, além do envio de 1,5 milhão de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e de 90 respiradores. Contexto Os dados sobre a dimensão da pandemia do novo coronavírus no Brasil vem sendo constantemente questionados por grupos contrários às medidas de isolamento social e podem ser prejudiciais no combate à doença no país. O texto verificado sugere, de forma equivocada, que, com a presença do ministro da Saúde, dados que estariam inflados passaram a ser registrados da forma correta. Alcance A mensagem havia sido compartilhada por 1,6 mil pessoas e curtida por 4,2 mil, no Twitter, até o dia 7 de maio, quando esta verificação foi concluída. O conteúdo desta verificação também foi checado por Aos Fatos.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/ao-contrario-do-que-afirma-blog-oms-recomenda-isolamento-como-uma-das-medidas-de-combate-ao-novo-coronavirus/
COMPROVA
Ao contrário do que afirma blog, OMS recomenda isolamento como uma das medidas de combate ao novo coronavírus
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2020-05-06
Declaração de uma porta-voz da OMS foi tirada de contexto para dar a entender que a organização não recomenda o confinamento como ferramenta de combate ao novo coronavírus. O Comprova verificou a declaração original e está claro que a recomendação é que não se utilize o isolamento como única medida de combate É enganosa a afirmação de que a OMS (Organização Mundial da Saúde) não recomenda o confinamento como estratégia de combate ao novo coronavírus. Ela foi divulgada pelo blog Estibordo, que tem uma seção dedicada a traduzir artigos de viés político de direita. O texto, compartilhado pela página do grupo no Facebook, foi baseado na entrevista de Margaret Harris, porta-voz da OMS, para o jornal The Sydney Morning Herald, sobre o afrouxamento da quarentena na Austrália. O título “OMS diz que nunca aconselhou a aplicação de confinamento como medida para o combate ao coronavírus” desinforma o leitor, já que ao longo do texto fica claro que a declaração da representante da OMS é no sentido de que a organização não recomenda o isolamento como a única medida de combate à pandemia. Por que investigamos isso O Comprova monitora conteúdos duvidosos sobre coronavírus e sobre a covid-19 e encontrou o link para esse texto sendo compartilhado nas redes sociais. Também recebeu de seus leitores solicitações de checagem. A decisão pela checagem considerou dois aspectos: Um estudo feito por pesquisadores brasileiros apontou que o Brasil deve ser o próximo epicentro de contágio do novo coronavírus no mundo. Como ainda não há medicamento para tratar a covid-19 nem vacina para preveni-la, medidas de isolamento e distanciamento social são apontadas por autoridades sanitárias como as únicas maneiras de reduzir a contaminação do novo coronavírus. O Comprova verifica a veracidade de conteúdos suspeitos sobre coronavírus e a covid-19 que tenham grande viralização. O texto verificado está presente em mais de uma centena de postagens no Twitter e no Facebook. Enganoso para o Comprova é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor. Como verificamos Começamos com o artigo original citado no texto do Estibordo, uma reportagem do jornal australiano The Sydney Morning Herald. Também entramos em contato com o escritório da Organização Mundial da Saúde no Brasil para confirmar que a entrevistada, Margaret Harris, trabalha como porta-voz da organização e quais são as diretrizes para o isolamento social recomendadas pela OMS. Por fim, procuramos informações sobre o combate ao novo coronavírus nos site do Ministério da Saúde da Austrália e na imprensa local. O que consta na declaração original O texto publicado no blog Estibordo foi traduzido de um artigo originalmente publicado em francês pelo site russo Sputnik. Na página “Quem somos?”, a Sputnik se identifica como uma agência de notícias da Rússia e afirma que pertence à Empresa Federal Estatal Agência Internacional de Notícias Rossiya Segodnya. Tanto o artigo em francês quanto a tradução brasileira usam a palavra “nunca” no título (“OMS diz que nunca aconselhou a aplicação de confinamento como medida para o combate ao coronavírus”) e, com isso, passam a impressão de que a organização é contra as medidas de isolamento em geral. A declaração da porta-voz da Organização Mundial da Saúde foi tirada de contexto. A matéria original, publicada pelo jornal The Sydney Morning Herald, é sobre o afrouxamento das medidas de isolamento na Austrália. Na entrevista, Margaret Harris afirma que a Austrália e a Nova Zelândia são exemplos de combate à pandemia porque fizeram uma quarentena rigorosa e colocaram em prática medidas para identificar a disseminação do novo coronavírus entre a população. “Nunca dissemos façam lockdown — dissemos identifiquem, façam o rastreamento e acompanhem o desenvolvimento dos casos, isolem e tratem os doentes”, disse Harris. O texto também confunde ao misturar conceitos diferentes: distanciamento social, isolamento e lockdown. Para a OMS, distanciamento social são as medidas aplicadas a entornos sociais específicos, ou à sociedade em sua totalidade, para reduzir o risco de adquirir ou difundir a covid-19. O lockdown é a forma mais radical, quando as pessoas são proibidas de sair de casa — salvo exceções como atendimento médico. Já o isolamento (também chamado de “confinamento”) é a separação de pessoas que já estão doentes para não propagar a infecção ou contaminação. De acordo com a assessoria de imprensa da OPAS, braço pan-americano da OMS, “distanciamento social e isolamento são algumas das medidas não farmacológicas recomendadas no contexto da covid-19”. A crítica de Harris, da OMS, é aos países que implantaram políticas de lockdown inspiradas nas medidas colocadas em prática em Wuhan, primeira cidade onde o novo coronavírus foi detectado na China, sem a aplicação de outras políticas de controle, como o rastreamento de todos que tiveram contato com doentes para o isolamento dessas pessoas e o testes realizados em massa na população. “É muito mais do que apenas fechar tudo”, disse Harris. Situação na Austrália A Austrália conseguiu achatar a curva da doença. O país estava mais vulnerável pela proximidade (geográfica e comercial) com a China e pelos navios de cruzeiro que circulam por lá. Os resultados positivos se devem a uma ação rápida do governo logo que os primeiros casos foram confirmados, em 20 de janeiro. Até o dia 05 de maio, o país tinha registrado 6.849 pessoas infectadas pela covid-19 e apenas 96 mortes. A porta-voz da OMS também elogiou a forma como o país, e a Nova Zelândia, “levaram a pandemia realmente a sério, insistindo que era um caso grave, e comunicando isso para a população”, disse ao The Sydney Morning Herald. As medidas de distanciamento social na Austrália foram estabelecidas pelos estados. Mas todas tinham em comum o rigor. As autoridades de saúde rastrearam os doentes, que ficaram isolados. Quem teve contato com pessoas infectadas ou chegou ao país depois do dia 15 de março também teve que ficar confinado. Além disso, foram realizados testes em massa na população. Com a redução no número de os casos, a partir da última semana de abril os estados tiveram a autorização do governo federal para começar uma volta gradual à normalidade. Contexto Textos afirmando que medidas de isolamento social e quarentena são ineficazes têm se espalhado por veículos e grupos de mensagem de direita, muitas vezes acompanhados de mensagens que estimulam a volta das atividades econômicas. O Projeto Comprova já verificou conteúdo com informações da OMS divulgadas de maneira enganosa em outra ocasião. O blog Estibordo divulga conteúdos de direita, muitas vezes já publicados fora do Brasil. “Nesta seção trazemos traduções feitas por nossa equipe dos maiores escritores ao redor do mundo defendendo a causa da direita no cenário político atual”, diz a descrição da seção “Tradutores de Direita”, que também dá nome ao grupo de Facebook ligado ao blog. Os posts mais recentes do grupo trazem críticas ao governador de São Paulo, João Doria, e às medidas de isolamento adotadas pelo Estado. Esses questionamentos aparecem, inclusive, na publicação com o link do texto, embora o conteúdo não tenha nada a ver com as políticas paulistas. O Comprova entrou em contato com os autores do blog pelo Facebook, mas não obteve resposta. Alcance A publicação do blog Estibordo divulgada no grupo de Facebook Tradutores de Direita teve 623 compartilhamentos até o dia 05 de maio. No Facebook, encontramos outras 60 postagens do mesmo conteúdo. No post que mais viralizou no Twitter, o texto traduzido foi curtido 564 vezes até a mesma data e tuitado por outros 45 perfis. Mas uma publicação da mesma usuária com a versão do conteúdo em francês, publicada pela agência Sputnik, teve muito mais alcance, com mais de cinco mil curtidas.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/registros-de-obitos-em-cartorios-confirmam-dados-da-pandemia-no-brasil/
COMPROVA
Registros de óbitos em cartórios confirmam dados da pandemia no Brasil
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2020-05-05
Texto de corrente de WhatsApp diz que "não há epidemia" e mostra números que seriam do Portal da Transparência. O Comprova verificou, no entanto, que esses números não condizem com os verdadeiros dados disponíveis na plataforma Uma corrente de Whatsapp utiliza falsos dados de óbitos por covid-19 – doença causada pelo novo coronavírus – para contestar a dimensão real da pandemia. O texto diz que os números são do Portal da Transparência, mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), mas eles não condizem com os verdadeiros dados disponíveis na plataforma. Na primeira frase da mensagem falsa, a publicação diz que não há “epidemia”. Tal desinformação é perigosa uma vez que pode corroborar com teorias conspiratórias sobre um “falso alarde” relacionado à doença. A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou em 11 de março que a propagação do novo coronavírus caracteriza uma pandemia, ou seja, que o vírus se alastra mundialmente. De acordo com o site Worldometer, até as 14:40 de 5 de maio a doença já havia infectado 3.693.797 pessoas no mundo e registrou 255.595 óbitos. A mentira sobre a covid-19 não existir também pode influenciar as pessoas a descumprirem medidas de isolamento social, impostas para tentar frear as infecções do vírus, e saírem de casa, aumentando a propagação da doença. Por que checamos isto? O número de mortos pela covid-19 e a quantidade de novos casos são fundamentais para se compreender a progressão da doença. Os dados dão norte às autoridades públicas para adotar medidas de prevenção e combate ao avanço das infecções. Boatos que questionam sem comprovação os números de mortes divulgados pelo Ministério da Saúde podem levar as pessoas a adotar comportamentos que as coloquem em risco e ajudem a disseminar ainda mais a doença. Falso para o Comprova é o conteúdo que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos? Para escrever esta reportagem o Comprova contatou a assessoria dos Cartórios, consultou o regulamento sobre o procedimento para registrar mortes no Brasil e reportagens sobre a covid-19. Também conferiu o número de óbitos registrados em 2019 e os comparou com os de 2020, assim como faz a publicação falsa. O que dizem os dados do Portal da Transparência do Registro Civil Ao receber o alerta sobre a viralização do texto, o Comprova acessou o Portal da Transparência do Registro Civil para conferir os dados e verificar a autenticidade da plataforma. A ferramenta foi lançada em 2018 para disponibilizar o número de óbitos, nascimentos e casamentos registrados no país. Ela é abastecida diretamente pelos dados da Central de Informações do Registro Civil (CRC), estabelecida em 2015. O Portal da Transparência elaborou uma página exclusiva com informações sobre a covid-19. Nela, estão disponíveis dados de óbitos com causa suspeita ou confirmada pelo novo coronavírus, insuficiências respiratórias e pneumonia, divididos por data da morte e do registro em cartório. Os dados podem diferir um pouco dos apresentados pelo Ministério da Saúde por causa dos prazos legais estabelecidos por lei e normas do Poder Judiciário. A família do falecido tem até 24h para registrar o óbito em cartório. Este, por sua vez, deve efetuar o registro em até cinco dias e, dentro de oito dias, enviar o ato feito à Central Nacional de Informações do Registro Civil, que atualiza a plataforma. A assessoria de comunicação da associação de cartórios disse que os grandes centros atualizam os dados “em tempo próximo do real”. Já municípios menores ou afastados podem demorar mais, mas prestam as informações dentro do prazo legal. Assim, a plataforma é atualizada “à medida que os dados são lançados no portal, inclusive de forma retroativa”. Os números presentes nesta verificação foram consultados às 14h50 de 5 de maio. Insuficiência respiratória e pneumonia O Comprova verificou os dados sobre mortes por insuficiência respiratória no período de 1º de janeiro a 21 de abril de 2019 e 2020. Segundo o texto falso compartilhado nas redes sociais, os óbitos registrados teriam sido “mais de 4.600” em 2019, enquanto o número no mesmo período deste ano seria de “cerca de 4.200”. Os número não são verdadeiros e, mesmo que fossem, significariam uma redução de 8,6%, e não de 9,5% como a falsa publicação afirma. O Portal da Transparência registra 45.468 casos de insuficiência respiratória entre 1º de janeiro e 21 de abril de 2019 e 46.440 no mesmo período deste ano — aumento de 2,1%. Os números de óbitos registrados com causa de pneumonia também estão errados no texto falso. Enquanto o texto compartilhado nas redes sociais inclui a enfermidade entre os óbitos computados dentro da categoria “insuficiência respiratória”, o Portal da Transparência classifica esta causa de morte de forma separada e aponta aumento de 0,7% no período de 1º de janeiro a 21 de abril de 2020 com relação ao mesmo período no ano passado (variação de 59.618 para 60.038). Covid-19 O texto que viralizou nas redes sociais também traz dados equivocados sobre o número de mortes pela covid-19. Ele afirma que “o pior dia da pandemia” teria sido 20 de abril, quando teriam morrido “mais de 300” pessoas com a doença, ao passo que nos cartórios constaria o registro de apenas 21 mortes. Os dados oficiais disponíveis no portal da covid-19 do Ministério da Saúde mostram que entre 19 e 21 de abril foram confirmadas 279 mortes. Já os dados do portal dos cartórios mostra que em 20 de abril foram 302 mortos confirmados ou com suspeita da covid-19 como causa. Enquanto os dados do Ministério da Saúde apontam óbitos com causa confirmada no período de 24 horas, os cartórios disponibilizam os números pela data da morte. A corrente do Whatsapp segue com a falsa informação que os cartórios registraram “um único óbito como suspeito de covid-19” no Estado de São Paulo e acusa a imprensa de “alardear a existência de uma mortandade avassaladora no estado”. Na verdade, o portal dos cartórios mostra 102 mortes em São Paulo no mesmo dia. Quanto a Manaus, o texto compartilhado nas redes sociais diz que “enquanto a televisão anunciava 136 sepultamentos somente em 21 de abril, os cartórios registraram apenas oito óbitos”. Este número aponta o total de sepultamentos, não apenas os confirmados ou com suspeita de covid-19. Consulta ao Portal da Transparência mostra que, na verdade, as mortes com suspeita ou confirmação de coronavírus foram 17. Caso se leve em consideração a data do registro das mortes, foram nove em 21 de abril. Manaus é uma das cidades mais prejudicadas pela covid-19 no Brasil. O Amazonas foi o primeiro estado brasileiro a ter colapso no sistema de saúde. Atualmente, contabiliza 6.683 casos da covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde. Contexto Os dados sobre as mortes de covid-19 tornaram-se alvo de desinformação para questionar a dimensão da pandemia e a real necessidade do fechamento do comércio e estabelecimentos e da restrição da circulação de pessoas. Este tipo de dado sofre diferentes formas de ataques. O Projeto Comprova já verificou, por exemplo, que uma foto antiga foi tirada de contexto para dizer que governos estariam enterrando caixões vazios para aumentar o número de sepultamentos e instigar pânico na população. Outro boato acusava o governador da Bahia, Rui Costa (PT), de solicitar a prefeitos que mentissem com relação aos números. Alcance A corrente do Whatsapp chegou a ser repercutida pelo blog RVCHUDO nesse sábado, 2. O texto foi postado no Facebook e recebeu mais de 10 mil compartilhamentos e 172 mil visualizações.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
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COMPROVA
Áudio de médico é verdadeiro, mas opinião sobre origem do coronavírus não tem respaldo científico
null
2020-05-05
O áudio foi realmente gravado por Roberto Zeballos Áudio em circulação no WhatsApp traz afirmações duvidosas ditas pelo imunologista Roberto Zeballos e endereçadas a outro médico, Lucas Barbieri, sobre a origem do novo coronavírus. A conversa sobre as possibilidades de tratamento da covid-19 — doença causada pelo vírus — foi registrada na quarta-feira, 29 de abril, e viralizou pelo aplicativo. O Comprova confirmou a autenticidade do material com as duas fontes. No início da gravação, Zeballos afirma que o novo coronavírus “veio de um laboratório ao lado de Wuhan” e que o governo da China estaria escondendo a informação. Segundo ele, uma pesquisadora chinesa estaria utilizando o vírus para estudos sobre inflamação pulmonar quando um “acidente” teria dado início à pandemia. As afirmações, no entanto, não apresentam respaldo científico. Estudo publicado pelo periódico médico Nature Medicine, em 17 de março, concluiu que “claramente” o vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, “não é uma construção de laboratório ou um vírus propositalmente manipulado”. Segundo os pesquisadores, as características genéticas do novo coronavírus indicam que ele é fruto da seleção natural, ocorrida em um animal ou uma pessoa. Em entrevista ao Comprova, Roberto Zeballos disse que o áudio é “opinião pessoal” e que a colocação é “irrelevante” porque não pode provar. Ele justifica o conteúdo pelas declarações recentes do virologista francês Luc Montaigner, vencedor do Prêmio Nobel de Medicina em 2008, e entende que é “muita coincidência” a localização do laboratório de Wuhan próxima ao epicentro da pandemia. Por que checamos isto? O Comprova recebeu diversos pedidos de leitores para verificação do áudio nos últimos dias, o que indica forte circulação do material no WhatsApp. Chamou a atenção que o suposto autor do áudio era o médico Roberto Zeballos, cuja entrevista à Rede Record sobre tratamento de covid-19 com corticoides e antibióticos foi distorcida em boato que afirmava ter sido encontrada a “cura oficial” da doença ao longo do mês de abril. Além disso, postagens falsas sobre a origem do novo coronavírus são comuns nas redes sociais, acompanhando embates entre líderes políticos mundiais e teorias infundadas de que a China teria “fabricado” o vírus por razões econômicas. Tais afirmações fragilizam a relação entre o Brasil e a China — principal parceiro comercial brasileiro. O Comprova já fez outras verificações sobre o mesmo assunto. Comprovado, para o Projeto Comprova, faz referência a fatos verdadeiros, eventos confirmados, localização comprovada ou conteúdo original publicado sem edição. A etiqueta foi escolhida com base no último critério. Enganoso, para o Comprova, é um conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? O autor do áudio se apresenta como “doutor Zeballos”. A reportagem entrou em contato por telefone com o médico Roberto Zeballos, que havia sido fonte em verificação recente e confirmou a autoria. Ele também explicou o contexto da gravação, respondeu perguntas sobre o conteúdo e confirmou o nome do destinatário. Com base no conteúdo do áudio, o Comprova pesquisou o nome do destinatário, Lucas Barbieri, no LinkedIn, e encontrou o perfil de um cirurgião cardiovascular com atuação em São Paulo. Ele foi contatado por e-mail e mensagens, bem como telefone da clínica, e confirmou o recebimento da mesma gravação na semana passada. Por fim, o Comprova realizou a transcrição do áudio e verificou as afirmações com base em notícias, pesquisas e verificações feitas anteriormente acerca de boatos sobre a origem do novo coronavírus. Do que se trata o áudio? O autor do áudio que circula no WhatsApp é o médico Roberto Zeballos, que atua em consultório próprio, em São Paulo, e nos hospitais Vila Nova Star, Sírio-Libanês e Albert Einstein. Recentemente, Zeballos concedeu entrevista à Rede Record afirmando ter obtido resultados clínicos animadores com o tratamento de pacientes com covid-19. Uma cópia desse vídeo viralizou nas redes sociais e a ela foi agregada por um perfil no Facebook uma descrição falsa de que teria sido encontrada a “cura oficial” para a doença, boato que o Comprova desmentiu em abril. De acordo com relato de Zeballos, confirmado pelo Comprova com o interlocutor da conversa, o áudio em circulação foi encaminhado ao cirurgião cardiologista Lucas Barbieri por intermédio de um paciente em comum, no dia 29 de abril. Barbieri atua nas instituições Beneficência Portuguesa de São Paulo, HCOR, Hospital Alemão Oswaldo Cruz e Hospital Santa Catarina (ACSC). Zeballos afirma que a intenção era compartilhar com o colega experiências que estariam dando certo no tratamento de seus pacientes, enquanto aguarda a finalização de estudo, o que deve ocorrer apenas em junho. Segundo ele, a ideia era “ver se eles incluem o protocolo que a gente está fazendo”. Barbieri disse que contatos do tipo entre profissionais da saúde são comuns nessa pandemia, principalmente pelo fato de que a covid-19 é um desafio novo e os casos aumentam a cada dia. Ele não atua, porém, diretamente no atendimento a pacientes com a doença. Conteúdo enganoso Antes da descrição do tratamento que defende, Zeballos faz afirmações duvidosas no áudio sobre a origem do novo coronavírus. “Esse vírus veio lá da China, de um laboratório ao lado de Wuhan, onde tem uma chinesinha que pesquisava inflamação pulmonar com o vírus. O coronavírus era um vírus bom, porque ele infectava os animais, e ela estudava”, diz o médico. “Esse laboratório está a 200 metros de Wuhan, então houve um acidente […] Houve um acidente, saiu e espalhou.” No entanto, não há respaldo científico de que o novo coronavírus seja artificial ou tenha sido fabricado. Pelo contrário: estudo publicado pelo conceituado periódico médico Nature Medicine, em 17 de março, analisou o genoma do vírus que provoca a covid-19 (SARS-CoV-2) e concluiu que “claramente não é uma construção de laboratório ou um vírus propositadamente manipulado”. Segundo os pesquisadores, as características genéticas do vírus, o sétimo coronavírus a infectar seres humanos, indicam que ele é fruto de seleção natural, ocorrida em um animal ou em uma pessoa. Em 19 de fevereiro, 27 cientistas publicaram uma declaração de apoio aos profissionais da China contra a covid-19 no periódico The Lancet. O texto afirma, entre outros tópicos, que o trabalho estava sendo “ameaçado por rumores e desinformação” sobre a origem da pandemia e que o grupo “condena fortemente teorias da conspiração sugerindo que a covid-19 não tem origem natural”. Além do estudo do Nature Medicine, foram citadas outras oito pesquisas com conclusões semelhantes. A hipótese de “acidente” no Instituto de Virologia de Wuhan também foi negada pela virologista Shi Zhengli, que lidera pesquisas sobre diferentes tipos de coronavírus a partir de amostras coletadas de morcegos desde 2003, quando a Ásia foi afetada pela epidemia de SARS. Em entrevista à revista Scientific American, ela disse que o laboratório verificou as sequências genéticas dos vírus circulando na China e nenhuma delas coincidiu com a dos vírus com que sua equipe trabalhava. Pesquisadores ouvidos pela Vox ainda rejeitam a teoria de acidente em laboratório ao afirmar que as probabilidades de contaminação no meio selvagem são muito maiores. O ecologista de doenças Peter Daszak cita estudo de 2018 na província de Yunnan, na China, em que descobriu que 2,7% da população próxima a cavernas havia desenvolvido anticorpos. “Se você extrapolar para a população presente em todo o Sudeste Asiático, são 1 milhão a 7 milhões de pessoas por ano sendo infectadas por vírus de morcegos.” Outro argumento é que não existe evidência de que os cientistas de Wuhan estariam trabalhando com o novo coronavírus — o mais próximo que estes descobriram, segundo estudos publicados, foi o vírus RaTG13, que compartilha 96% do genoma com o SARS-CoV-2. Porém, os pesquisadores entrevistados pela Vox afirmam que uma diferença de 4% é “enorme em termos evolutivos”. Zeballos também cita no áudio uma declaração recente do virologista francês Luc Montaigner de que o vírus teria sido criado em meio ao desenvolvimento de vacina contra o HIV no local, versão contestada por outros especialistas e pelo diretor da unidade de virologia e imunologia do Instituto Pasteur, da França, Olivier Schwartz. Argumenta ainda que o fato de o novo coronavírus ser transmitido “em qualquer clima” seria um indício de artificialidade — o Comprova não encontrou referências ou estudos que embasem essa teoria. No áudio, o médico também afirma que teria recomendado tratamento ao cardiologista Roberto Kalil Filho, do Hospital Sírio-Libanês. “Conversei com o Kalil ontem, ele me autorizou a falar que fui que falei para ele tomar o metilprednisolona que salvou ele”. Procurado pela reportagem, Zeballos negou a prescrição, disse que apenas conversou com o médico por mensagens, e que o tratamento foi decidido pelos médicos que o atendiam. Sobre a eficácia do medicamento, diz que é sua “impressão” e que “aguarda estudos”. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada em 10 de abril, Kalil Filho declarou ter sido tratado com cloroquina, antibióticos, corticoides e anticoagulantes e que “não dá para saber o que fez mais efeito ou se foi o conjunto”. Outro ponto confuso do áudio é o trecho em que o Hospital Israelita Albert Einstein é citado. Zeballos diz o seguinte: “[…] quem tiver menos resistência não aguenta ficar muito tempo no tubo. As pessoas jovens aguentam. Tanto que, no Einstein, a gente entubou mais de 40 pessoas. No Vila Nova, os meus casos não precisaram ser entubados”. A instituição questionou o número de pacientes atendidos e o médico justificou que, ao falar “a gente”, fazia referência à classe médica. A nota do Hospital Israelita Albert Einstein, divulgada em 4 de maio, afirma que o protocolo mencionado no áudio para tratamento de pacientes com covid-19 “não é o utilizado pela organização, pois todas as diretrizes adotadas pelo Einstein baseiam-se em evidências científicas e não na experiência isolada de um médico” e que “o profissional (Zeballos) não cuidou de número expressivo de pacientes no hospital conforme comenta em seu áudio.” Contexto Boatos sobre a origem do novo coronavírus na China são comuns nas redes sociais. Recentemente, o Comprova mostrou que o Nobel de Medicina Tasuku Honjo nunca disse que o coronavírus é artificial e esclareceu que reportagem de TV italiana sobre vírus criado em laboratório chinês não tem relação com a covid-19, por exemplo. As notícias falsas também refletem críticas e acusações de líderes políticos, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em 1º de maio, questionado por jornalistas se estava vendo algo que o deixasse altamente confiante de que a origem do vírus seria o Instituto de Virologia de Wuhan, Trump respondeu: “Sim, eu tenho”, sem detalhar o comentário. O presidente norte-americano disse ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) “deveria se envergonhar por agir como agência de relações públicas da China”. A suspeita emergiu com a revelação de observações de diplomatas dos Estados Unidos em 2018. De acordo com a coluna do jornalista Josh Rogin, do jornal The Washington Post, diplomatas alertaram há dois anos sobre a precariedade dos níveis de segurança de pesquisas com coronavírus de morcego realizadas no Instituto de Virologia de Wuhan. Órgãos de inteligência, no entanto, afirmaram na sexta-feira (30) que concordam “com o amplo consenso científico de que o vírus da covid-19 não foi feito pelo homem ou geneticamente modificado”. Em 18 de março, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho 03 do presidente Jair, causou tensão entre o Brasil e a China ao culpar o país asiático pela pandemia. No Twitter, a embaixada da China rebateu as acusações e disse que Eduardo fazia acusações irresponsáveis. Apesar de as evidências apontarem para origem natural do vírus, cientistas ainda estão pesquisando de que forma ele entrou em contato, pela primeira vez, com humanos. Relatórios de autoridades de saúde chinesas e da Organização Mundial da Saúde (OMS) trabalhavam com a hipótese de que a doença se alastrou a partir de um mercado de frutos do mar da cidade de Wuhan. No entanto, estudo publicado no The Lancet em 24 de janeiro mostra que 13 dos 41 primeiros casos registrados não tinham relação com o mercado, enfraquecendo a tese. Especialistas ainda realizam pesquisas para descobrir se existiu algum hospedeiro intermediário. Alcance O Comprova recebeu de seus leitores diversas solicitações de verificação. O áudio tem sido compartilhado pelo WhatsApp e também foi encontrado em perfis no Twitter.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Comprovado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/foto-de-caixao-vazio-nao-e-atual-nem-foi-tirada-no-amazonas/
COMPROVA
Foto de caixão vazio não é atual nem foi tirada no Amazonas
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2020-05-04
Imagem que circula nas redes sociais é de 2017, foi tirada em São Paulo e publicada em uma reportagem que denunciava um golpe para resgate de seguro de vida Uma publicação que contém a foto de um caixão aberto com um travesseiro dentro tem sido compartilhada nas redes sociais denunciando que caixões vazios estão sendo enterrados no estado do Amazonas. A imagem, contudo, não foi feita no Amazonas e nem mesmo no contexto da pandemia do coronavírus. A foto foi tirada em 2017 pelo repórter fotográfico Milton Rogério, do portal São Carlos Agora, e publicada em uma reportagem sobre golpe de seguro de vida. Além da foto do caixão aberto, a publicação também mostra a imagem de um cemitério em Manaus, com uma fileira de caixões em uma vala, e afirma que a denúncia foi divulgada pelo Jornal da Band. A Prefeitura de Manaus garantiu que caixões não estão sendo enterrados vazios no município e que foi necessário abrir trincheiras em um dos cemitérios da cidade devido ao alto número de óbitos. A TV Band negou que tenha veiculado qualquer reportagem com o conteúdo da mensagem. Por que investigamos isso? O Comprova recebeu o conteúdo para investigação via WhatsApp e alguns motivos foram considerados para abrir uma verificação: Mensagens que tentam minimizar os efeitos da pandemia e questionam informações fornecidas por órgãos oficiais têm se tornado frequentes no Brasil. A mensagem viralizou em diferentes redes sociais, inclusive com versões adaptadas. Um post no Facebook publicado em um perfil pessoal no dia 23 de abril foi compartilhado por 12 mil pessoas. No instagram, a mensagem compartilhada pelo perfil “foracorruptosoficial”, que tem 107 mil seguidores, tinha 2.223 curtidas até esta sexta-feira (01). O Amazonas tem a maior taxa de mortalidade pelo coronavírus no país. Na capital, Manaus, a prefeitura precisou abrir uma vala para conseguir realizar os sepultamentos. Na última semana, mais de 100 pessoas foram sepultadas em um único dia. Diante desta situação crítica, a acusação de que caixões estariam sendo sepultados vazios é grave. A publicação contém uma foto curiosa, de um caixão com um travesseiro, o que levaria muitas pessoas a acreditar no conteúdo da mensagem. Além disso, o texto afirma que a informação foi divulgada por uma emissora de TV. Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado. Como verificamos? Para verificar a origem das fotos, o Comprova usou o Google Imagens para fazer uma pesquisa reversa e descobriu que a foto que mostra o travesseiro dentro de um caixão foi publicada em 2017, em uma reportagem do portal São Carlos Agora que denunciava um golpe de seguro de vida. A matéria contava a fraude orquestrada por uma família de São Carlos, interior de São Paulo, que teria enterrado um caixão com apenas um saco de serragem dentro, para forjar uma morte e obter indenizações de seguradoras. Com a viralização da mensagem, o portal São Carlos Agora publicou uma nota explicando a origem da foto e afirmou que ela está sendo usada para espalhar informações falsas. O Comprova também entrou em contato com a rede Bandeirantes e com a Prefeitura de Manaus, que administra o cemitério onde a segunda foto foi tirada. Por mensagem, a Band Amazonas disse que “tem produzido matérias diariamente para o Jornal da Band falando da situação da saúde no estado do Amazonas, mas em nenhuma das reportagens relatou que caixões estavam sendo enterrados vazios”. Já a prefeitura de Manaus afirmou, por e-mail, que “não estão sendo enterrados caixões vazios nos cemitérios públicos da cidade”. Segundo a prefeitura, o sistema de valas foi adotado em um dos cemitérios do município devido ao aumento do número de sepultamentos na capital. “O número de sepultamos mais que triplicou nas últimas semanas, saindo de uma média diária de 30 sepultamentos antes da pandemia de covid-19 e já ultrapassando os 100 enterros por dia”, informou a prefeitura. A covid-19 no Amazonas Com alto pico de casos de coronavírus e unidades de tratamento intenso apenas em Manaus, o Amazonas foi o primeiro estado brasileiro a ver o sistema de saúde entrar em colapso. Atualmente o Amazonas contabiliza 6.683 casos da covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde. Em números absolutos, o Estado ocupa o quinto lugar no ranking de mortes causadas pela Covid-19 no Brasil – eram 548 até a manhã desta segunda-feira (04). O Estado tem a maior taxa de mortalidade da doença, de 132 por 1 milhão de habitantes. Muitos pacientes têm morrido em casa, a espera de leito. Só em Manaus foram registradas 396 mortes, segundo o boletim divulgado pelo governo do Estado. O alto número de mortes na capital levou a Prefeitura de Manaus a abrir valas em um cemitério da cidade para sepultar os caixões. Em abril, o município registrou 2.435 sepultamentos, um aumento de 179,5% em relação ao mesmo período do ano passado. A situação crítica do Amazonas tem preocupado o Ministério da Saúde, que enviou médicos, respiradores e equipamentos para o Estado, além de abrir vagas para contratação temporária de profissionais de saúde. Neste domingo (03), o ministro da Saúde, Nelson Teich, desembarcou em Manaus com um reforço de profissionais para ajudar no combate do coronavírus. Alcance Até esta segunda-feira (04), a publicação no Facebook tinha sido compartilhada por 12 mil pessoas, mas já havia sido sinalizada como falsa pelo Facebook em parceria com a Agência Lupa, que realizou a checagem do conteúdo. No instagram, uma versão adaptada da mensagem tinha sido curtido por 2.223 seguidores do perfil ForaCorruptosOficial. Esta verificação também foi feita por Aos Fatos, Boatos.org, O Globo, e Agência Lupa.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-usa-informacoes-falsas-para-dizer-que-lockdown-foi-inutil-e-pico-de-covid-19-ficou-para-tras/
COMPROVA
Vídeo usa informações falsas para dizer que lockdown foi inútil e pico de covid-19 ficou para trás
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2020-05-01
Teoria é baseada em estudo publicado por pesquisador israelense no Facebook, sem passar por revisão, mas instituições como OMS, Imperial College London e Universidade Johns Hopkins apontam o contrário. Brasil registrou recorde de novos casos nesta quinta-feira (30) Vídeo publicado no YouTube engana ao afirmar que “dados confirmam” que o pico da covid-19 no mundo já passou e o lockdown adotado por alguns países foi inútil. A afirmação é baseada em estudo de um professor israelense da Universidade de Tel Aviv, publicado em sua conta pessoal no Facebook, sem passar pela revisão de outros especialistas. O vídeo, inclusive, diz que o Brasil já atingiu o pico da doença e que o número de casos está em queda. A afirmação é falsa. O país registrou recorde de novos casos nesta quinta-feira (30), com 7.218 novas confirmações da doença e 435 novas mortes registradas. Em todo o mundo, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, o número de casos confirmados apresentou uma estabilização, mas ainda não apresenta sinais de queda. Relatório publicado na terça-feira (28) pelo Imperial College London afirma que apenas quatro países devem ter queda no número de casos na próxima semana, enquanto nove (incluindo o Brasil) devem ter aumento expressivo. Quanto ao lockdown e outros tipos de regras de isolamento social, a Organização Mundial da Saúde defende ser uma medida necessária para controlar a disseminação do novo coronavírus e evitar o colapso dos sistemas de saúde. Estudo do Imperial College London afirma que as medidas restritivas evitaram até 120 mil mortes na Europa. O autor faz outras afirmações falsas ao longo do vídeo, como a de que o governo de Israel não teria adotado o lockdown, que o Brasil apresentaria o menor número de casos por milhão no mundo e que a Coreia do Sul teria zerado a epidemia. O Comprova entrou em contato com o autor do vídeo, que preferiu não conversar com a reportagem. Por que investigamos esse conteúdo? O Comprova recebeu pedidos de leitores para verificação do conteúdo. A decisão levou em conta três aspectos. Boatos que diminuem a gravidade da pandemia de covid-19 e se mostram contrários a medidas de isolamento social podem ser prejudiciais à saúde das pessoas. Elas podem acreditar em informações falsas e tomar menos precauções. Chamou a atenção ainda o fato de que estudos e pesquisas têm sido distorcidas com frequência durante a pandemia do novo coronavírus, na tentativa de conferir “peso científico” a argumentos pessoais. Recentemente, o Comprova verificou conteúdos que distorciam conclusões de pesquisa de Harvard e inventavam que estudo brasileiro teria encontrado a “cura oficial” para a covid-19, por exemplo. O Comprova verifica somente conteúdos suspeitos sobre a covid-19 e o novo coronavírus que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O vídeo investigado obteve quase 300 mil visualizações no YouTube até esta quinta-feira (30). Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? O Comprova fez uma lista das afirmações feitas no vídeo e verificou cada uma delas, buscando fontes originais e acessando estudos de universidades reconhecidas, conteúdo jornalísticos e dados oficiais da epidemia do novo coronavírus no mundo. Por meio de pesquisas no Google, a reportagem encontrou o perfil do professor Isaac Ben-Israel no site da Universidade de Tel Aviv e o estudo em inglês, publicado pelo The Times of Israel. Também confirmou que ele havia divulgado o texto antes, em hebraico, em sua conta pessoal do Facebook. O Comprova então fez a leitura do conteúdo e comparou com as afirmações do vídeo. A reportagem acessou informações públicas oficiais, sites de universidades e notícias para verificar as medidas de prevenção adotadas e o cenário da pandemia nos seguintes países citados no vídeo: Israel, Reino Unido, Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos e Brasil. Foram consultados artigos da Organização Mundial da Saúde, da Universidade Johns Hopkins e do Imperial College London, entre outros. O Comprova também pesquisou arquivos da BBC News Brasil e da revista Veja para verificar a teoria do autor de que a mídia estaria “mudando o discurso” com as supostas descobertas recentes. O que diz o estudo de Isaac Ben-Israel? O estudo mencionado no vídeo de fato existe e foi publicado por Isaac Ben-Israel em seu perfil no Facebook, no dia 12 de abril. O artigo não apresenta referências bibliográficas, nem cita a origem dos dados utilizados para a elaboração dos gráficos. Também não foram encontrados indícios de que tenha sido submetido à revisão por pares, termo que se refere ao processo de validação científica dos métodos e conclusões por outros especialistas da área. Ben-Israel argumenta que as estatísticas dos casos de infecção pelo novo coronavírus apresentam um padrão comum entre os países, independentemente se eles tomaram medidas severas, como o lockdown, ou moderadas. O padrão seria de que, após o primeiro registro, a infecção alcança um pico de novos casos em cerca de 6 semanas para então iniciar o declínio, chegando a zero em cerca de 10 semanas. A conclusão do autor é de que o lockdown pode ser interrompido “dentro de poucos dias” e substituído por uma política moderada de distanciamento social a partir de então. É enganoso afirmar, porém, que os dados contidos no estudo “confirmam” que o pico da covid-19 teria passado e o lockdown foi inútil. Fontes de referência na área, como o Imperial College London, têm relatórios que apontam o contrário, assim como estatísticas oficiais de países como o Brasil. Lockdown foi inútil? Apesar de as medidas de restrição de circulação de pessoas e o isolamento social dividirem a população e governantes de vários países, a estratégia é vista pela OMS como uma das mais eficazes para a contenção do vírus e diminuir, ou retardar, o pico de contágio da doença — possibilitando que os sistemas de saúde dos países possam se preparar de forma adequada. “Além das medidas de lockdown, precisamos de estratégias abrangentes baseadas em vigilância, em intervenção de saúde pública, testes, quarentena, e fortalecer os sistemas de saúde para absorver o golpe”, disse Michael Ryan, diretor executivo de emergências sanitárias da OMS em 1 de abril. Os países que mais tiveram sucesso para conter o número de casos adotaram algum tipo de medida de restrição de circulação e incentivo ao distanciamento social. Prova disso é Hong Kong, que apesar de não ter determinado lockdown, fechou escolas, universidade e proibiu viagens. Por outro lado, Itália e Espanha são considerados países exemplos de terem tomado medidas de restrição de forma tardia, o que acelerou o contágio, as mortes e colapsou o sistema de saúde. Apenas depois de semanas de lockdown as coisas começaram a melhorar. Um estudo do Imperial College London publicado em 30 de março ainda mostra que as medidas de isolamento social impostas na Europa evitaram até 120 mil mortes no continente. Esse relatório também refuta o argumento no vídeo de que não existiria “nenhuma confirmação” de que o lockdown tenha influenciado no número de casos. Pico de casos não ficou para trás O vídeo ainda aponta que o pico de casos no mundo ficou para trás, o que não é verdade, segundo o relatório publicado nesta terça-feira (29) pelo Imperial College London, sobre previsões de curto-prazo para a transmissão do novo coronavírus. O estudo aponta que quatro países devem ter queda de casos na próxima semana (República Dominicana, França, Itália e Espanha). Contudo, outros nove países (Brasil, Canadá, Índia, Irlanda, México, Paquistão, Peru, Polônia, Rússia) devem ter aumento expressivo. A inclusão do Brasil nessa lista do relatório ainda faz cair outra afirmação da publicação no Youtube: a de que o país já alcançou o pico da doença. O Ministério da Saúde afirma que não é possível determinar uma data para quando o Brasil alcançará o pico e chegará ao fim. Além disso, os números diários de casos e mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil mostram que o país ainda não chegou ao pico de contágio. Em 29 de abril o Brasil superou a China em número de mortes, chegando a 5.513. No dia seguinte, um recorde de novos casos confirmados: 7.218 em 24 horas. Em 30 de abril, o país soma 85.380. Segundo o Imperial College London, no Brasil, são esperadas cerca de 5,6 mil mortes para a próxima semana. Para os Estados Unidos, o prognóstico é de mais de 13 mil novas mortes no mesmo período. Em 23 países, é esperado que haja estabilização do número de casos. Segundo a plataforma de casos de Covid-19 no mundo da Universidade Johns Hopkins, ainda que o número de casos confirmados diariamente tenha apresentado uma estabilização, ainda não há sinal de queda. Israel adotou o lockdown Ao contrário do que afirma o vídeo, Israel adotou medidas rígidas de controle da doença, como proibição de aglomerações e fechamento de comércio. O próprio artigo de Isaac Ben-Israel defende o fim da política de lockdown do país. O Comprova consultou o site oficial do governo do país, disponível em inglês, para verificar as normas vigentes. Em 30 de abril, de acordo com artigo de referência contendo as diretrizes da polícia local (que é atualizado a cada alteração), estava proibida a visita a parques e praias e a operação de estabelecimentos como shoppings, bares, boates, academias, piscinas, zoológicos, cinemas, teatros, livrarias, museus e outras instituições de cultura e espaços de turismo. Restaurantes e cafés eram permitidos somente caso vendessem para consumo fora do estabelecimento, com pedidos pelo telefone ou pela internet. Segundo notícia do The Times of Israel, o governo local estabelece medidas de restrição à circulação desde 19 de março. Além disso, algumas escolas foram fechadas em 12 de março e só retornarão às atividades no próximo domingo. Coreia do Sul impôs isolamento e monitoramento da população É falso o trecho do vídeo que afirma que a Coreia do Sul não impôs nenhum tipo de distanciamento social. O país é considerado exemplo de contenção do vírus justamente por ter adotado tais medidas de forma precoce, quando os primeiros casos começaram a ser confirmados. Exemplo disso é o alerta à cidade sul-coreana de Daegu, onde surgiram os primeiros doentes. A maior parte dos casos iniciais foram de pessoas ligadas a uma igreja messiânica local. Após a confirmação, o prefeito da cidade pediu que todos ficassem em casa em um isolamento voluntário e recomendou o uso de máscaras para quem precisasse sair. O pedido foi atendido pela população, fato determinante para a contenção do vírus. Em todo o país também foram adotadas medidas como fechamento de escolas, aplicação massiva de testes, monitoramento da localização de pessoas contaminadas e multas para quem furava quarentena (contaminados ou que tivessem contato com contaminados). O país chegou a produzir 100 mil testes por dia. Com as pessoas sendo testadas com frequência, foi possível tratar aquelas com sintomas leves e reduzir a taxa de mortalidade. Isso aconteceu logo no início da pandemia. Uma semana depois do primeiro caso confirmado, ainda no final de fevereiro, milhares já eram testados. Em 29 de abril, o país registrou nove casos e duas mortes pela doença. Apesar do número baixo de novas confirmações de Covid-19, o sinal de alerta ainda está ligado e as restrições seguem valendo por medo de um segundo surto de contaminação. Viajantes que chegam à Coreia do Sul são obrigados a cumprir quarentena. Japão adotou medidas de distanciamento social após surto Apesar dos baixos números de casos e mortes confirmadas a partir de fevereiro, quando as primeiras confirmações da doença em território japonês foram feitas, o país sofreu um grande aumento de infectados entre março e abril. Sem medidas para restringir o isolamento social, o país viu uma nova onda de casos de coronavírus. A pressão da imprensa, de especialistas e de outros políticos fez com que o primeiro-ministro Shinzō Abe decretasse o estado de emergência em províncias do país em 7 de abril, e a medida foi estendida para todo o território japonês em 16 de abril. Dia 5 de abril, foram confirmados mais de 500 novos casos no país. Em 11 de abril, mais de 700. O estado de emergência não chega a ser um lockdown, mas permite que autoridades proponham fechamento de colégios, bares, lojas e parques. O governo também pediu para que a população evite viagens e saídas de casa desnecessárias, mas não há multa para quem descumprir as recomendações. O Japão também tem meta alta de índice de isolamento social. O governo quer atingir 80%, principalmente no feriado prolongado de 29 de abril a 6 de maio. Estados Unidos e Reino Unido: demora para impor medidas e recorde de casos Dois exemplos de países que praticaram medidas de restrição mais tardias são os Estados Unidos e o Reino Unido, que atualmente apresenta o maior número de óbitos por dia na Europa. Os dois países têm em comum ainda que seus líderes minimizaram inicialmente a gravidade da doença. De um lado, Donald Trump dizia que “tudo estava sob controle” e por outro, o primeiro-ministro Boris Johnson evitava determinar o lockdown. Os Estados Unidos são os primeiros da lista de número de casos do novo coronavírus, ultrapassando a marca de 1 milhão no país. As altas taxas de infecção e de letalidade se dão por vários fatores, como a demora do governo para agir contra a doença, falta de um sistema de saúde público acessível à população mais pobre e a diferença na situação de cada estado do território americano. Enquanto Nova York é considerada epicentro no país, estados como a Califórnia vivem situação menos alarmante até o momento. Foram registrados 50.740 casos na Califórnia contra 309.696 em Nova York até dia 1º de maio. A imprensa norte-americana coloca o presidente Donald Trump como um dos maiores responsáveis pelas altas taxas no país. Trump demorou a aceitar a gravidade da doença e agir, segundo especialistas. A rede americana CNN chegou a publicar um texto culpando o presidente. “Trump falhou na preparação para a pandemia mesmo depois dos alarmes. Ele ignorou os sinais dizendo repetidamente que tudo estava sob controle”. O sistema de saúde dos Estados Unidos também é diferente. Não há tratamento de graça e milhões de pessoas não têm um plano de saúde, o que faz com que elas evitem ir aos hospitais quando estão doentes Depois de falhas, o país passou a submeter grande quantidade de pessoas ao teste para covid-19, o que fez o número de casos saltar. Hoje o país é o que mais aplica testes no mundo, com mais de 6 milhões. A proporção de exames para cada milhão de habitantes, no entanto, ainda é baixa e fica na faixa de 18 mil, atrás de países como Alemanha, Espanha, Itália e Rússia. Enquanto isso, o Reino Unido decretou lockdown em 23 de março. Em 16 de abril, as restrições foram estendidas por pelo menos mais três semanas, segundo pronunciamento do ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab, que substituiu o primeiro-ministro Boris Johnson, afastado por ter contraído covid-19. De volta ao trabalho no dia 27 de abril, Johnson afirmou que ainda não é o momento para abrir mão das medidas de restrição. Entre as restrições, estão a proibição de aglomerações (mais de duas pessoas), ordem de sair apenas quando necessário, para compras de alimentos ou remédios, e ir ao trabalho apenas se for “absolutamente necessário”. Todo comércio considerado não-essencial foi fechado, assim como teatros e outros locais de aglomeração. O Primeiro Ministro autorizou que as medidas fossem fiscalizadas pela polícia, que pode multar em caso de descumprimento. Brasil não é o país com menos casos por milhão O autor do vídeo afirma falsamente que o Brasil é o país com menos casos de covid-19 por milhão. A China, por exemplo, apresenta cerca de um sétimo do número de casos por milhão registrado no Brasil — enquanto no país asiático são 59,9 casos confirmados a cada um milhão de habitantes, no Brasil são 401,7 casos. O Comprova calculou os valores com base na estimativa de população de China e Brasil em 2020 pelo Banco Mundial e no número de casos de covid-19 registrados nos dois países até 30 de abril, segundo a Universidade Johns Hopkins. Neste momento, os dois países apresentam número parecido de casos, mas a população da China é de 1,4 trilhão, contra 212 milhões do Brasil. A própria fonte utilizada pelo autor do vídeo (o Google Notícias, abastecido pela Wikipedia) mostra que ele está errado. Além da China, apresentam menos casos por milhão países como Índia, México, Paquistão, Japão, Polônia, Coreia do Sul, Ucrânia e Indonésia, todos com mais de 10 mil casos da doença em 30 de abril. A mídia mudou o discurso? O autor do vídeo no YouTube sugere que a mídia estaria “mudando o discurso” em razão de supostas descobertas recentes. Os artigos que ele usa de exemplo, porém, não afirmam em nenhum momento que o pico da covid-19 tenha passado ou que as medidas de restrição não tenham sido eficientes em algum local do mundo. Além disso, por meio de busca avançada no Google, o Comprova não encontrou menções anteriores a Isaac Ben-Israel e sua pesquisa publicada no Facebook. A reportagem da BBC News Brasil mencionada no vídeo, de 17 de abril, afirma que alguns países estavam adotando ou discutindo regras diferentes de flexibilização do isolamento social naquela época, entre eles Dinamarca, Coreia do Sul, Espanha, Itália, Alemanha, Áustria, República Tcheca e a cidade de Wuhan, na China. Porém, o texto também cita países que não tinham perspectiva de aliviar as medidas até o mês de maio — como Reino Unido, França e Estados Unidos — e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para reduzir os riscos de “reaparição mortal” do novo coronavírus caso as nações optem por relaxar a quarentena. A matéria da revista Veja, publicada no dia 20 de abril e também citada, informa a existência de um estudo de pesquisadores norte-americanos que aponta alto índice de subnotificação de casos nos Estados Unidos entre 8 e 28 de março. Os autores sustentam que, com a entrada desses registros nas estatísticas oficiais, a taxa de mortalidade poderia diminuir, indicando a possibilidade de ela “não ser tão grave”. Por meio de ferramentas de busca avançada no Google, o Projeto Comprova pesquisou menções a Isaac Ben-Israel nos sites da BBC News Brasil e da Veja. Quanto ao primeiro, não há registro do nome em qualquer data. A Veja o publicou uma única vez, no dia 23 de abril de 2020 (data posterior à matéria mencionada), em nota sobre a participação do israelense em evento na internet. A ausência de referências anteriores ao professor e sua pesquisa torna improvável a teoria de que os veículos teriam “mudado o discurso” após a publicação do estudo, como sugere o vídeo. Quem é o autor do vídeo? O vídeo foi postado originalmente no canal do Youtube de Anderson Von Almeida. Antes da pandemia, a página tratava principalmente de assuntos ligados às criptomoedas. No entanto, nos últimos meses, há diversas postagens sobre coronavírus e política em geral. O Comprova entrou em contato com Anderson via e-mail, mas ele se recusou a comentar sobre o vídeo. “Meu trabalho vem sendo justamente o de combater a histeria criada por vocês. E ao que parece, modéstia parte, é algo que venho conseguindo e graça a nova mídia: a internet”, escreveu. Contexto As medidas de isolamento defendidas por autoridades sanitárias como única maneira de frear o avanço do novo coronavírus têm sido fortemente criticadas por parte da população e alguns governantes que as consideram autoritárias. O presidente Jair Bolsonaro já se declarou reiteradamente contra ações de controle de circulação de pessoas, como fechamento do comércio, afirmando que são catastróficas para a economia do país e do mundo. “Vai quebrar tudo”, disse, no dia 3 de abril. Essa narrativa tem reverberado entre seus seguidores e se traduzido em carreatas e protestos pela volta das atividades econômicas por todo o país. Contudo, como ainda não há vacina e nem remédio para o novo coronavírus, especialistas insistem que apenas o isolamento social é eficaz para atrasar as transmissões e dar tempo para que governos ampliem a capacidade de atendimento do sistema de saúde. Alcance Até 30 de abril, o vídeo publicado do Youtube de Anderson Von Almeida tinha 297 mil visualizações.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-sao-paulo-e-rio-de-janeiro-tenham-taxas-de-letalidade-10-vezes-maiores-que-minas-gerais/
COMPROVA
É falso que São Paulo e Rio de Janeiro tenham taxas de letalidade 10 vezes maiores que Minas Gerais
null
2020-05-01
Minas Gerais tem uma taxa de letalidade menor da doença provocada pelo novo coronavírus, mas as diferenças são muito menores do que as apontadas por um texto publicado nas redes sociais. O Comprova verificou ainda que há outros erros no texto que viralizou É falso que a taxa de letalidade da covid-19 em Minas Gerais seja “mais de 11 vezes menor que em São Paulo, 10 vezes menor que no Ceará e mais de 31 vezes menor que no Rio de Janeiro”, ao contrário do que afirma um texto compartilhado no Facebook. De fato, Minas Gerais tem uma taxa de letalidade menor da doença provocada pelo novo coronavírus, mas as diferenças são muito menores do que as apontadas pelo texto. A conta feita na postagem do Facebook tem vários erros. Em primeiro lugar, calcula a letalidade de acordo com a população de cada Estado, e não levando em conta o número de casos confirmados da covid-19. Além disso, a comparação é feita entre locais que estão em diferentes estágios de contágio — São Paulo, por exemplo, registrou infecções pelo novo coronavírus muito antes do que as outras unidades da federação citadas. Por último, a ideia de “onze vezes menor” é matematicamente incorreta: qualquer quantidade “uma vez menor” já é zero. Por que investigamos esse conteúdo? O Comprova encontrou o conteúdo desta investigação no monitoramento que faz sobre postagens que tratam de coronavírus e covid-19 e considerou três pontos para abrir a investigação: Muitos boatos têm circulado nas redes sociais e em aplicativos de mensagens favoráveis ou contrários a políticas de contenção da transmissão do novo coronavírus adotadas por governadores, o que leva o Comprova a prestar atenção em conteúdos associados a este tema. O Comprova verifica somente conteúdos suspeitos sobre a covid-19 e o novo coronavírus que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O post que é alvo dessa verificação havia sido compartilhado 1,3 mil vezes quando foi encontrado pelo nosso monitoramento. O conteúdo investigado é a reprodução de um outro post feito em um perfil pessoal no Facebook. Ao buscar por esse post, o Comprova não o encontrou no perfil indicado. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos? Para fazer esta verificação, o Comprova analisou os dados de casos registrados oficialmente da covid-19, bem como de óbitos provocados pela doença. Além disso, consultamos o epidemiologista Fernando Carvalho, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Qual é a melhor forma de comparar a evolução da covid-19 em MG e nos outros estados? A taxa de letalidade de uma doença é calculada com um conta simples, a divisão do número de óbitos pelo número de casos registrados, e não pelo número de pessoas que vive numa determinada região geográfica, como fez o autor do texto verificado. De acordo com o epidemiologista Fernando Carvalho, dividir o número de mortes pela população resulta na taxa de mortalidade — são dois conceitos distintos da epidemiologia. Desde 29 de abril, o Ministério da Saúde passou a usar a mortalidade, e não mais a letalidade, para comparação entre diferentes Estados em seu painel de monitoramento. Segundo o especialista, um dos desafios de comparar a evolução da covid-19 nos diferentes Estados brasileiros está na diferença do nível de testagem da população. Um levantamento recente feito pelo portal R7 apontou que Minas Gerais era uma das unidades da federação que menos fez testes para diagnosticar pacientes com coronavírus. “A dificuldade de medir a letalidade da covid-19 é que o diagnóstico é limitado pelos testes, que são feitos em número pequeno e tem qualidade questionável”, explica Carvalho. Dessa forma, o epidemiologista sugere comparar o volume total de óbitos em cada Estado. “Eu prefiro comparar o número total de mortos, nem mortalidade nem letalidade”, diz Carvalho. “Se possível, incluir (na comparação) as mortes por síndrome respiratória aguda grave, pois provavelmente esses casos foram covid-19 não testados. O número de mortos dá uma ideia do impacto total sobre o sistema de saúde”. O epidemiologista também ressalta que é preciso levar em conta o estágio de disseminação do novo coronavírus em cada Estado. São Paulo foi o primeiro a registrar um caso de infecção, no dia 26 de fevereiro. Entre as unidades da federação citadas, Ceará foi o último a contabilizar pacientes da covid-19 — os cinco primeiros foram no dia 17 de março. Seguimos as recomendações de Carvalho para comparar o número de óbitos em cada Estado. Veja o resultado abaixo: Qual a taxa de letalidade da covid-19 em MG, SP, CE e RJ? Comparando-se as taxas de letalidade, verificamos que a de Minas Gerais é, de fato, menor, que as de Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo, mas não tanto quanto o texto afirma. Até 30 de abril, Minas tinha 82 mortes provocadas pelo novo coronavírus e 1.827 casos, uma taxa de letalidade de 4,5%. Dos três estados comparados no texto verificado, o que tem uma taxa de letalidade menor é o Ceará. São, também até 30 de abril, 482 mortes em 7606 caso, com uma taxa de letalidade de 6,3%, ou cerca de um terço maior (35% mais alta) que a de Minas Gerais e não “10 vezes maior” (1000% mais alta), como afirmava o texto verificado. Rio de Janeiro e São Paulo, por sua vez, têm taxas de letalidade duas vezes maior (100% mais alta) e quatro quintos maior (82% mais alta) que as de Minas Gerais. País/Estado* Número de casos Número de óbitos Taxa de letalidade Brasil 85.380 5.901 6,9% Minas Gerais 1.827 82 4,5% Ceará 7.606 482 6,3% Rio de Janeiro 9.453 854 9% São Paulo 28.698 2.375 8,2% * Tabela elaborada com os dados oficiais do Ministério da Saúde Como Minas Gerais tem lidado com a pandemia de covid-19? Em um encontro na Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 29 de março, especialistas apontaram para um problema no enfrentamento à covid-19 no Estado: o baixo número de testes realizados. “Com um número de testes tão baixo, a amostragem pode ficar comprometida”, disse a professora Cristina Alvim, presidente do Comitê Permanente de Acompanhamento das Ações de Prevenção e Enfrentamento do Novo Coronavírus, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De acordo com o boletim mais recente do governo mineiro, o Estado tinha 1.827 casos confirmados, além de 84.994 casos suspeitos de covid-19. Minas havia registrado 82 óbitos pela doença provocada pelo novo coronavírus e 81 mortes ainda estavam em investigação, ou seja, aguardando exames laboratoriais. Assim como a maior parte dos estados, Minas Gerais adotou, a partir de março, uma série de medidas de isolamento social para combater a propagação do novo coronavírus. Em sua conta oficial no Twitter, o próprio governador, Romeu Zema, anunciou em 21 de março medidas de restrição, como o fechamento do comércio. Ainda segundo ele, a Polícia Militar seria responsável por “fazer cumprir as regras”. Em 13 de abril, o secretário de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, anunciou que as medidas seriam mantidas pelo menos até junho. “Não dá para pensarmos em voltar a uma vida normal antes de junho”, afirmou ele. Dez dias depois, no entanto, o governo de Minas Gerais lançou o programa “Minas Consciente”, que reúne protocolos para a retomada das atividades econômicas no estado e tem o objetivo de servir como uma forma de auxiliar prefeituras sem capacidade técnica para lidar com a situação. Romeu Zema pretende que o governo estadual preste esse auxílio às prefeituras, mas transferiu aos prefeitos a responsabilidade de reduzir ou não os protocolos de isolamento social. Segundo ele, não se trata de uma abertura completa da economia do estado. “ Vale lembrar que não é liberdade total”, disse. “Nós teremos aqui um protocolo que vai fazer com que a reativação da economia seja gradual, segura, criteriosa, colocando a preservação da vida acima de tudo”, disse. Desde então, o estado passou a ter situações diferentes conforme a cidade. Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, flexibilizou a abertura do comércio da cidade em 27 de abril. No mesmo dia, a cidade teve movimentação normal, com ônibus cheios, por exemplo, e pessoas circulando sem máscaras de proteção. Em contrapartida, em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil afirmou, em um pronunciamento pelo Twitter em 28 de abril, que não há previsão para a sua administração reabrir o comércio na cidade. E criticou outros prefeitos. “Tem cidade que fez abertura irresponsável aqui perto que não tem um respirador”, afirmou ele. Contexto O post com os dados falsos circula em um momento de crescente tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e os governos estaduais. Desde o início da pandemia, Bolsonaro, repetidas vezes, se manifestou contra as medidas de isolamento social e tentou impedir sua continuidade. Muitos governadores, por sua vez, decidiram enfrentar Bolsonaro. Este embate teve um pico em 19 de abril, quando o presidente da República participou de uma manifestação de apoiadores que defendiam a realização de um golpe de Estado no Brasil, o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e faziam críticas ao isolamento social. Em resposta a Bolsonaro, 20 governadores divulgaram uma carta a Bolsonaro de apoio ao Congresso. Zema não assinou o documento e afirmou que há “pessoas que estão adotando um totalitarismo contra o presidente“. Alcance Até a publicação desta verificação, o post de Facebook que compartilhou o conteúdo teve 1,4 mil compartilhamentos. A Agência Lupa também desmentiu esse texto.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/nao-e-verdade-que-mascaras-contaminadas-serao-distribuidas-para-a-populacao-de-sao-paulo/
COMPROVA
Não é verdade que máscaras contaminadas serão distribuídas para a população de São Paulo
null
2020-05-01
O Comprova verificou que não há previsão de distribuição de máscaras para a população por parte dos órgãos de saúde do estado e o próprio autor do vídeo se retratou nas redes sociais de uma afirmação que fez sobre a chegada ao porto de Santos de máscaras contaminadas por covid-19 vindas da China Não é verdade que máscaras de proteção contaminadas estariam sendo distribuídas pelo sistema de saúde em cidades da Baixada Santista, em São Paulo. A informação foi divulgada por um homem que se identifica como “Pastor Róbson” em suas redes sociais e que, posteriormente, publicou um vídeo se retratando da declaração. O Comprova confirmou também com órgãos de saúde do estado que não há previsão de distribuição de máscaras para a população. Procurado pelo Comprova, o pastor se pronunciou por meio de sua assessoria de imprensa e disse que teria se “confundido” e produzido o vídeo inicial por estar “assustado” e “alarmado” com a informação que recebeu por meio de áudios e vídeos em um grupo no Whatsapp. Por que investigamos esse conteúdo? O Comprova recebeu o link para o vídeo por sugestão de leitores e também encontrou a publicação no monitoramento que faz das redes sociais. A decisão por investigar considerou dois pontos: Esta não é a primeira vez que circulam informações sobre a suposta contaminação de máscaras, e o Comprova já checou outros vídeos e áudios sobre o tema. O Comprova verifica somente conteúdos suspeitos sobre a covid-19 e o novo coronavírus que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O post que é alvo dessa verificação obteve mais de 500 mil visualizações. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e que divulgue uma mentira. Como verificamos? Para fazer esta verificação, localizamos, por meio de buscas no Google, Facebook e Instagram, o pastor que aparece nas imagens. Na perfil dele no Instagram, há um número de telefone e entramos em contato por Whatsapp. A assessoria de imprensa do pastor Róbson nos respondeu e informou que ele já havia se retratado pelo vídeo publicado. Além disso, entramos em contato, por email, com o Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo e as Secretarias de Saúde do Guarujá e de Itanhaém, cidades mencionadas no vídeo, para checar se havia alguma previsão de distribuição de máscaras. Pastor se retratou das declarações Em um vídeo publicado no Facebook, o pastor Róbson Pentecoste diz que recebeu informações sobre um carregamento contaminado de máscaras de proteção que teriam chegado ao Brasil pelo Porto de Santos (SP). Segundo ele, os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) seriam distribuídos por agentes de saúde e nos postos. Ele alega que o mesmo tipo de material de proteção individual teria sido entregue nos Estados Unidos, e provocado vários casos da doença no país – o FBI teria recolhido parte do material. O Comprova entrou em contato com o pastor, e a assessoria de imprensa dele nos enviou uma série de links com notícias sobre problemas com máscaras produzidas na China. A seleção mistura informações de vários portais – alguns mais e outros menos conhecidos -, mas nenhuma fala efetivamente sobre contaminação de nenhum tipo. Questionamos, especificamente, sobre as alegações do vídeo divulgado, e fomos então informados de que o autor do vídeo já se retratou sobre o conteúdo no próprio Facebook. Esta correção foi feita em um stories no dia seguinte ao do primeiro vídeo e já não está mais disponível. Nele, o pastor disse que foi alertado por várias pessoas de que a suposta contaminação das máscaras não era verdade. “Ele não costuma se pronunciar a respeito desse tipo de coisa”, afirmou a assessora de imprensa. Segundo ela, o pastor “se confundiu” se baseou em informações que recebeu em um grupo no Facebook, do qual participa. Apesar da alegação, há outros vídeos e posts do pastor, em seu Facebook, a respeito do novo coronavírus. Entrega de máscaras para a população Mesmo com a retratação publicada pelo autor do vídeo, o Comprova decidiu checar algumas das informações divulgadas por ele, que se repetem em outros conteúdos que circulam pela internet. A respeito da chegada de máscaras pelo Porto de Santos (SP), a assessoria do porto respondeu que não possui a informação. Procuramos a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, que nos informou, por telefone, que não há previsão de entrega de máscaras para a população do estado. Segundo a pasta, o equipamento de proteção individual adquirido pelo governo é destinado aos profissionais da saúde e de outros serviços essenciais da administração. As Secretarias de Saúde de Guarujá e Itanhaém, cidades citadas no vídeo e que ficam na Região Metropolitana da Baixada Santista, também foram contatadas pelo Comprova. Os órgãos nos informaram, por e-mail, que não há previsão de distribuição de máscaras para os moradores. Máscaras novas podem estar contaminadas? O Ministério da Saúde já desmentiu informações sobre máscaras chinesas contaminadas, e afirma que, em função do tempo gasto para a chegada do material ao Brasil, mesmo que as máscaras saíssem contaminadas da China, o vírus não sobreviveria ao longo trajeto. “O vírus só é transmitido entre humanos e não sobrevive mais de 24 horas fora do organismo humano ou de algum animal”, diz a publicação no site do Ministério. FBI não apreendeu máscaras O Pastor disse que havia publicado o conteúdo após ver um vídeo que mostra o FBI recolhendo máscaras contaminadas nos Estados Unidos. Este material já foi checado pelo Estadão e pela Agência Lupa, e classificado como falso. Contexto O rumor sobre as supostas máscaras contaminadas circula em um momento de elevada tensão nas relações entre os Estados Unidos e a China a respeito de responsabilidades sobre a pandemia de covid-19. Agências de inteligência norte-americanas estão, atualmente, analisando a possibilidade de o vírus causador da doença ter começado a circular a partir de um laboratório da cidade de Wuhan que pesquisa diversos tipos de coronavírus. Alcance O vídeo original foi removido das redes sociais do pastor, mas a versão encontrada pelo Comprova, publicada no último dia 23 de abril, supera as 500 mil visualizações.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/governador-da-bahia-nao-pediu-a-prefeitos-para-inventarem-casos-de-covid-19/
COMPROVA
Governador da Bahia não pediu a prefeitos para inventarem casos de covid-19
null
2020-05-01
Vídeo publicado no YouTube e Facebook foi tirado de contexto. Nas imagens, o governador da Bahia, Rui Costa, discute com prefeitos sobre o crescimento de casos de covid-19 na região do extremo sul do estado. Em nenhum momento, ao longo da conversa, ele pede para que casos da doença sejam “inventados em Porto Seguro”. Não é verdade que o governador da Bahia, Rui Costa (PT), tenha pedido para a prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira (PSD-BA), “inventar” 200 casos de covid-19. O vídeo que circula nas redes sociais, acompanhado do texto “governador Rui Costa pede para a prefeita de Porto Seguro inventar 200 doentes para receber verba de Bolsonaro”, foi retirado de contexto. As imagens foram extraídas de uma videoconferência, realizada no dia 23 de abril, na qual o governador discute com prefeitos de 10 cidades sobre o crescimento de casos de covid-19 na região do extremo sul do estado. Em nenhum momento, ao longo da conversa, Rui Costa pede para que casos da doença sejam “inventados em Porto Seguro”. A postagem original pode ser encontrada na página do Facebook da prefeita Cláudia Oliveira. O governador desmentiu o boato em vídeo publicado no Facebook e no Instagram. Por que checamos isto? O Comprova recebeu o link para o conteúdo desta investigação por WhatsApp e considerou dois pontos para abrir uma investigação. Muitos boatos têm circulado nas redes sociais e em aplicativos de mensagens tendo como alvo as políticas de contenção da transmissão do novo coronavírus adotadas por governadores. Redes contrárias a essas políticas têm compartilhado informações falsas ou enganosas para desestabilizar as ações dos estados, o que leva o Comprova a prestar atenção em conteúdos com esse tema. O Comprova verifica somente conteúdos suspeitos sobre a covid-19 e o novo coronavírus que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O vídeo verificado foi publicado na página do Movimento do Povo Brasileiro no Facebook e estava com 78 mil visualizações somente oito horas depois de publicado. Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado. Como verificamos? Para verificar o vídeo, entramos em contato com a assessoria de comunicação do Governo da Bahia. A equipe informou que “a questão foi completamente retirada de contexto da fala do governador durante a reunião virtual com prefeitos aqui da região do extremo sul da Bahia. Em momento nenhum o governador fala em aumentar números de infectados ou menos ainda em distorcer os dados (sic)”. Em seguida, entramos nas páginas oficiais do governador da Bahia e da Prefeitura de Porto Seguro. No Facebook, Rui Costa publicou no dia 29 de abril um vídeo em que nega ter solicitado invenção de 200 casos do novo coronavírus em Porto Seguro. O conteúdo foi enviado para a equipe do Comprova pelo assessor do governo e postado no Instagram. Na página oficial da prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira (PSD-BA) encontramos o vídeo original, postado no dia 23 de abril, às 19h06. Também entramos em contato com a Prefeitura de Porto Seguro. Em nota, a assessoria de comunicação afirmou que está “juntando forças para investigar e encaminhar para punição os responsáveis” pelo compartilhamento do vídeo fora de contexto. Videoconferência discutiu avanço de coronavírus no Sul da Bahia O vídeo foi gravado durante uma reunião do governador Rui Costa (PT) com 10 prefeitos da região do extremo sul da Bahia, realizada no dia 23 de abril. Conforme publicação da página do governo da Bahia no dia da reunião, o objetivo era “abordar as ações de combate à pandemia do novo coronavírus implementadas pelo governo do estado, além de ouvir as demandas dos representantes municipais”. Participaram os líderes do executivo municipal das cidades de Belmonte, Eunápolis, Itabela, Itapebi, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Itamaraju, Medeiros Neto, Prado e Teixeira de Freitas. A conversa foi para atualizar a quantidade de casos de covid-19 nessas cidades, dimensionar a necessidade ou não de abertura de novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e outras medidas. No vídeo original, gravado dentro do gabinete da prefeita de Porto Seguro, são repassados por ela ao governador os dados atualizados até então da quantidade de casos positivos, curados e em isolamento na cidade. “Dezessete deram positivo, 11 curados e seis em isolamento”, contabiliza Cláudia Oliveira. De acordo com o governador, os 10 leitos de UTI existentes na cidade somente estariam ocupados se houvesse, simultaneamente, 200 pessoas com a doença ativa na cidade. Em nenhum momento ele pede para que sejam inventados 200 registros da doença em Porto Seguro, como diz texto que acompanha a publicação dos vídeos tirados de contexto. “Se você tem 11 curados e seis ativos, então normalmente você precisa de 5% da estatística para leitos de UTI”, diz. “Então para ocupar os leitos de UTI aí precisavam ter 200 pessoas simultaneamente ativas com a doença. Para ocupar os 10 leitos de UTI, a conta é essa que estamos fazendo”. A estatística citada por Rui Costa faz referência a um estudo do Chinese Center for Disease Control and Prevention. Publicado no dia 24 de fevereiro no periódico médico Jama Network, o relatório analisou 44.415 casos confirmados da covid-19 na China e concluiu que 5% deles atingiram um estágio grave, com insuficiência respiratória, choque ou falência múltipla de órgãos. O mesmo dado está disponível nas diretrizes publicadas pela Associação Médica Brasileira (AMB). A preocupação de Cláudia Oliveira em relação à necessidade de abertura de novos leitos de UTI fica evidente em outro trecho da conversa, também publicado em sua página no Facebook. A gravação é de um momento anterior ao vídeo descontextualizado nas redes sociais e foi postada às 18h49 do dia 23 de abril. Nas imagens, a prefeita pergunta se haverá ampliação de leitos na UTI do Hospital Regional Deputado Luís Eduardo Magalhães, em Porto Seguro. A unidade funciona com cinco leitos, de acordo com o Governo da Bahia. “A ideia é, sim, acrescentar mais cinco leitos, numa área reservada, e disponibilizar 10 leitos para a região”, respondeu o governador. “Você hoje tem 10 leitos. Se a gente abrir mais cinco, você fica com 10 para covid e cinco para atender a região.” Na página do Facebook de Cláudia, também é possível encontrar um resumo da reunião, em um vídeo publicado no dia 23, às 21h17. Contexto A Bahia tem 2.867 casos confirmados de covid-19, 7.929 casos descartados e 14.497 notificações, conforme boletim epidemiológico divulgado no dia 30 de abril. No estado, 106 morreram vítimas de coronavírus. O sul do estado tem sido motivo de preocupação das autoridades, por causa da rápida disseminação do coronavírus. A região somava até o dia 28 de abril 20% das mortes por covid-19 no estado. De acordo com os atuais dados, é responsável por 18% das mortes no estado. Entre os dias 20 e 27 de abril, foi registrado em Itabuna – maior município da região – um crescimento de 260% na quantidade de infectados pelo novo coronavírus. Em Ilhéus, os casos cresceram 130% no mesmo período. Ilhéus é um dos municípios na lista das cinco cidades com maior coeficiente de incidência de covid-19 da Bahia, superando a capital, com 124,44 casos a cada 100 mil de habitantes. Outras cidades do sul – como Uruçuca (107,21 casos por 100 mil hab), Coaraci (76,50 casos por 100 mil hab) e Gongogi (56,11 casos por 100 mil hab) – aparecem no topo do ranking. Salvador tem 62,10 casos por 100 mil habitantes. O primeiro caso do novo coronavírus na Bahia foi de uma moradora da cidade de Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador, que havia viajado para a Itália. A análise do teste feito na paciente confirmou o diagnóstico no dia 6 de março. A região sul, entretanto, ganhou destaque antes mesmo da primeira notificação de covid-19 na Bahia, quando convidados de um casamento realizado em um resort na cidade de Itacaré começaram a apresentar sintomas da doença. Porto Seguro tem 21 casos confirmados e outros 32 aguardando o resultado dos exames. Duas pessoas estão internadas. A situação da região sul e extremo sul da Bahia levou o governador Rui Costa a considerar o lockdown — bloqueio total dos fluxos de deslocamento — em Itabuna e Ilhéus. Uma das preocupações é a limitação da rede de saúde das regiões, o que motivou o governador a realizar uma série de videoconferências com os prefeitos. Na quarta-feira (22), a conversa foi com 12 prefeitos das regiões do Médio Rio de Contas, Vale do Jiquiriçá e Baixo Sul. Na terça-feira (21), com 11 prefeitos da região Sul. A conversa registrada com a prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira, fez parte desse ciclo de discussões sobre a realidade local. Alcance O vídeo foi publicado no YouTube pela conta Movimento do Povo Brasileiro e não está mais disponível na plataforma. As mesmas imagens foram postadas na página do Movimento do Povo Brasileiro no Facebook e estavam com 78k visualizações oito horas depois de publicadas, mas também foram deletadas. Na página Aliança Pelo Brasil Santo André-SP, a publicação tinha 13 mil visualizações até o dia 29. Na página Marcos Mendes Santo André São Paulo, chegou a 33 mil visualizações. A agência Aos Fatos e os sites Boatos.org e Bahia Notícias também checaram este conteúdo.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-atribui-a-bolsonaro-obras-em-estradas-no-mt-feitas-tambem-por-outros-governos/
COMPROVA
Vídeo atribui a Bolsonaro obras em estradas no MT feitas também por outros governos
null
2021-02-25
Vídeo atribuiu exclusivamente ao governo Bolsonaro atos que também são da gestão estadual. E credita ao governo federal obras de pavimentação realizadas em governos anteriores. Conteúdo verificado: Vídeo publicado no Facebook que atribui a pavimentação de uma estrada que liga cinco municípios no Mato Grosso ao governo do presidente Bolsonaro. Em vídeo publicado no Facebook, um caminhoneiro diz que está numa estrada asfaltada que liga Comodoro, no Mato Grosso, a outros quatro municípios do estado e que isso seria obra do governo Bolsonaro. Ele diz também que os caminhoneiros precisam propagar, porque “a mídia não vai divulgar o que o presidente está fazendo”. O vídeo, que já foi compartilhado 56 mil vezes desde sua publicação em 29 de agosto de 2020 no perfil de uma pastora da Assembleia de Deus que mora no Pará, é enganoso. O trajeto mencionado pelo narrador tem cerca de 582 km e usa três rodovias, somente uma delas federal, a BR-364. E, embora alguns trechos tenham recebido obras de restauração durante o governo Bolsonaro, a pavimentação já havia sido feita bem antes do atual presidente ser empossado. Procurado pelo Comprova, o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) informou que, em 2020, foram restaurados 78,8 quilômetros da BR-364/MT, com investimento de R$ 37 milhões, mas não precisou quando os trechos mencionados no vídeo foram pavimentados. O órgão argumentou que, como uma rodovia nunca é entregue ao tráfego de uma só vez, não tem o histórico. “Os trechos são pavimentados ao longo de muitos anos. Esta rodovia, especificamente, tem 4.141,5 km de extensão, com início em Limeira (SP) e final na fronteira com o Peru”, descreveu o órgão, na nota. O Comprova encontrou registros da pavimentação nos trechos mencionados no vídeo. O Diário de Cuiabá já mencionava obras de pavimentação da BR-364 na região em 2001. Outra notícia, publicada em 2006 no site do governo de Mato Grosso, relata a inauguração de três trechos da estrada, entre Comodoro e Diamantino, da qual participaram o então presidente Lula e o governador do MT à época, Blairo Maggi. As rodovias MT-170 e MT-235, que estão no trajeto entre Comodoro e Juína, são estaduais. O governo do Mato Grosso afirmou que realizou obras de restauração de 75,5 quilômetros entre o entroncamento da MT-249 até o município de Campo Novo do Parecis. O Comprova entrou em contato com a pastora Agricola Neta de Aquino Carrera, autora da primeira postagem do vídeo no Facebook. Ela reside na cidade paraense de Ananindeua, localizada ao norte de Belém. Em entrevista por WhatsApp, ela contou que recebeu o vídeo de um caminhoneiro que conheceu em um grupo de Facebook e que ele seria o autor. Agricola, no entanto, diz não lembrar do nome, que já teria apagado o registro e a gravação de seu celular e que não tem certeza da veracidade do conteúdo, pois apenas compartilhou o vídeo. Como verificamos? Entramos em contato com as prefeituras das cidades citadas, com o governo do estado do Mato Grosso e com o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT). Analisamos as imagens para verificar se as placas poderiam auxiliar na identificação dos trechos mostrados da gravação, com ajuda do Google Maps e outras ferramentas. Utilizamos o Google Maps para ver se os trechos citados no vídeo conferiam com o posicionamento do governo de Mato Grosso. Com os locais informados e identificando alguns elementos no vídeo que pudessem auxiliar na localização em que a gravação foi realizada, como a ponte com placas pela qual o motorista passa, próximo a um campo aberto, chegou-se a um possível local no Google Maps e confirmando que o vídeo foi gravado na BR-364. Captura de um trecho do vídeo Captura do Google Maps da ponte sobre o Rio Juína, na BR-364 Captura de um trecho do vídeo, após o motorista passar pela ponte Captura do Google Maps do trecho logo após a ponte sobre o Rio Juína, na BR-364 Verificação O vídeo verificado mostra um homem dirigindo e exibindo uma estrada à sua frente. Ele afirma que a rodovia é obra da administração de Jair Bolsonaro e faz agradecimentos à gestão, citando também o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. O homem menciona ainda que a estrada garante acesso do município de Comodoro até Campos de Júlio, Sapezal, Campo Novo e Juína, todos no estado do Mato Grosso. Na legenda, o post critica a imprensa por não mostrar a obra, e reforça que Bolsonaro está garantindo auxílio e fortalecendo o agronegócio. As estradas Para ir de Comodoro a Juína, passando por Campos de Júlio, Sapezal e Campo Novo, municípios citados no vídeo, é necessário utilizar três rodovias, uma delas federal e as outras duas, estaduais. O trajeto entre Comodoro e Campos de Júlio é feito pela BR-364 e tem 74 km. Para ir de Campos de Júlio a Sapezal são 57 km, também pela BR-364. De Sapezal a Campo Novo do Parecis são 108 km feitos pela MT-235. De Campo Novo a Juína são 344 km e para fazer esse trajeto, o motorista deve transitar por 242 km da MT-170 e outros 103 km da BR-364. O que dizem os governos Em contato com os governos estadual e federal, o Comprova confirmou que houve obra de recuperação em 2020 em trechos citados no vídeo, mas as intervenções não foram feitas exclusivamente pela administração de Bolsonaro. O DNIT informou, em nota, que o trecho da BR-364 tem um serviço de manutenção contratado por licitação, que realiza as obras à medida que surgem demandas para garantir condições de trafegabilidade e segurança. E que, quando o contrato está próximo de ser encerrado, é realizado outro processo de licitação para sempre ter uma empresa responsável pelos trechos das rodovias sob sua administração. A rodovia federal é uma das estradas que liga as cidades de Comodoro, Campos de Júlio, Sapezal, Campo Novo e Juína, citadas no vídeo. Em 2020, foram realizadas obras de restauração de 78,8 km da BR-364/MT, com investimentos de R$ 37 milhões. Questionado sobre a pavimentação da estrada, o DNIT informou que, como uma rodovia nunca é entregue ao tráfego de uma só vez, não tem o histórico. “Os trechos são pavimentados ao longo de muitos anos. Esta rodovia, especificamente, tem 4.141,5 km de extensão, com início em Limeira [SP] e final na fronteira com o Peru”, descreveu o órgão, na nota. Já entre Sapezal e Campo Novo do Parecis a rodovia é a MT-235, sob responsabilidade do governo de Mato Grosso. A administração estadual afirmou em nota, que nessa rodovia foi realizada a restauração de 75,5 km do entroncamento da MT-249 até o município de Campo Novo do Parecis. Os serviços foram entregues em maio de 2020, com investimento de R$ 4,34 milhões. A MT-235 foi pavimentada em 2009, na gestão do então governador Blairo Maggi (2003-2010). Quem é a autora da publicação Agricola Neta de Aquino Carrera tem 47 anos, é pastora da Assembleia de Deus no Pará e foi candidata a vereadora em 2020 pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), do vice-presidente Hamilton Mourão, na cidade de Ananindeua, no Pará. Em entrevista por WhatsApp, ela contou ao Comprova que um caminhoneiro em um grupo de Facebook do Mato Grosso do Sul pediu apoio para compartilhar o vídeo. A pastora garante que foi o próprio autor quem enviou o vídeo para o seu celular. Mas ela não lembra o nome do homem e apagou os registros do aparelho. Perguntada se poderia confirmar a veracidade do conteúdo que publicou, ela disse não ter certeza, pois apenas compartilhou o vídeo. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre Covid-19 e políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O vídeo verificado pelo Comprova foi publicado em agosto de 2020 por um perfil pessoal no Facebook. Desde então foi compartilhado 56 mil vezes. Recentemente foi compartilhado pelo grupo de Facebook Fechados com Bolsonaro 2022 e nele alcançou 5,8 mil curtidas e 3,2 compartilhamentos na rede social. O Comprova já fez verificações anteriores a respeito de publicações sobre obras e outros possíveis feitos por parte do governo federal, como sobre uma obra na rodovia Transamazônica durante o governo Bolsonaro, imagens antigas com obras atribuídas ao presidente e fotos fazendo uma comparação da situação da rodovia BR-163 nos governos petistas e no atual. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i2.wp.com/projet…=512%2C378&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/foto-de-ciclovia-construida-em-2016-circula-fora-de-contexto-para-promover-tarcisio-gomes-de-freitas/
COMPROVA
Foto de ciclovia construída em 2016 circula fora de contexto para promover Tarcísio Gomes de Freitas
null
2021-02-23
Montagem publicada no Twitter compara imagens de duas ciclovias. A imagem de uma ciclovia danificada, atribuída ao ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad é verdadeira e é de 2015. A segunda é de 2016 e sua construção foi falsamente atribuída ao ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas. Conteúdo verificado: Tuíte compara a gestão Tarcísio Freitas à frente do Ministério da Infraestrutura, no governo Bolsonaro, com a gestão Haddad na prefeitura de São Paulo, por meio de duas imagens de ciclovias supostamente construídas por cada um. É falsa a informação compartilhada no Twitter que atribui ao atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, a execução de uma ciclovia em Boa Vista, capital de Roraima. O post utiliza duas fotografias de ciclovias diferentes: a primeira, tomando os dois lados do canteiro central de uma grande avenida, fica em Boa Vista. Já a segunda, entre um canal e uma avenida, fica em São Paulo. O autor do tuíte diz que a primeira é a “magnífica ciclovia” do ministro Tarcísio. Sobre a segunda imagem, diz que é a ciclovia do “Poste”, se referindo ao ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato à Presidência da República Fernando Haddad (PT), e acrescenta que comparar as duas é uma “humilhação”. A segunda imagem é, de fato, de uma ciclovia de São Paulo durante a gestão de Fernando Haddad, mas a primeira ciclovia não tem qualquer relação com o ministro Tarcísio Gomes de Freitas, nem foi inaugurada por ele. A ciclovia de Boa Vista foi inaugurada em 1º de abril de 2016 pela Prefeitura Municipal da cidade em um convênio firmado com a Caixa Econômica Federal por intermédio do Ministério das Cidades. Na época – tanto da assinatura do contrato, em 2015, quanto da inauguração da obra, em 2016 -, o ministro das Cidades era Gilberto Kassab, do governo Dilma Rousseff (PT). Já Tarcísio Gomes de Freitas foi nomeado ministro da Infraestrutura em dezembro de 2018 pelo presidente Jair Bolsonaro. De setembro de 2011 até janeiro de 2015, ele era diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), então vinculado ao Ministério dos Transportes. Como verificamos? Utilizamos o mecanismo de busca reversa do Google para achar a origem das duas fotos. Uma delas de fato mostra uma ciclovia em São Paulo, e foi publicada inicialmente pelo jornal Folha de S. Paulo, em 7 de julho de 2015. Segundo a legenda da imagem, que é de Luiz Carlos Marauskas, o trecho é na Avenida do Estado, próximo ao shopping Central Plaza, no bairro Bom Retiro. A outra foto que está no tuíte foi publicada inicialmente pela comunicação social da Prefeitura de Boa Vista, na conta da gestão no Flickr, na inauguração do trecho da ciclovia, no dia 1º de abril de 2016. Antes de localizar a foto original, ampliamos a imagem do post e conseguimos identificar uma placa no canteiro central, entre os dois ciclistas, com o nome de Boa Vista. Também ampliando a imagem, identificamos uma placa vertical vermelha do Roraima Garden Shopping. Então, buscamos seu endereço no Google Maps e pudemos confirmar que a ciclovia citada pela prefeitura é a mesma utilizada no tuíte viral. Em seguida, buscamos informações sobre a ciclovia na Avenida Ville Roy e encontramos uma publicação da prefeitura da cidade com uma fotografia do mesmo local, mas de um ângulo diferente. Em seguida, procuramos por fotos de ciclovias no Flickr oficial da prefeitura de Boa Vista e localizamos a mesma imagem utilizada no tuíte. As informações da foto mostram que ela foi feita no dia 1º de abril de 2016. Entramos em contato com a prefeitura por e-mail, para confirmar a data da foto e saber se o Ministério da Infraestrutura, chefiado por Tarcísio Gomes de Freitas, teria alguma relação com a construção da ciclovia – fato negado pela prefeitura. Também entramos em contato com o perfil MITO2022, que publicou o tuíte, mas não obtivemos resposta até a publicação desta checagem. Verificação A Ciclovia de Boa Vista A ciclovia que é creditada no tuíte ao ministro Tarcísio Gomes de Freitas fica na Avenida Ville Roy, em Boa Vista, Roraima. A Secretaria Municipal de Comunicação explicou ao Comprova que a obra foi finalizada e inaugurada em abril de 2016, e que ela fez parte do projeto de Mobilidade Urbana de Boa Vista. Além do trecho em questão, a iniciativa – custeada por meio de um convênio com a Caixa Econômica Federal, intermediado pelo então Ministério das Cidades – incluiu a construção de 40 quilômetros de ciclovias na capital roraimense. O município, na época, era governado pela prefeita Teresa Surita (PMDB), enquanto o ministro das Cidades era, até meados de abril de 2016, Gilberto Kassab, escolhido pela então presidente Dilma Rousseff. Ministro Tarcísio Gomes de Freitas Uma busca com a palavra-chave “ciclovia” na conta oficial do Twitter do ministro Tarcísio Gomes de Freitas mostrou que no mesmo dia da postagem viral, 11 de fevereiro, ele compartilhou um vídeo divulgando a “restauração da travessia urbana de Itaperuna”, no Rio de Janeiro. Esta obra foi feita pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT, vinculado ao Ministério da Infraestrutura) e conta com uma ciclovia de 2,4 km. Tarcísio compareceu à cerimônia de inauguração, informou a Agência Brasil. Ciclovia da gestão Haddad em São Paulo O petista Fernando Haddad foi prefeito de São Paulo de 2013 a 2016. Um dos marcos de sua gestão na área de mobilidade foi a implantação de ciclofaixas. O balanço final do plano de metas da prefeitura aponta que foram implantados 447,4 km de ciclovias (pista segregada fisicamente do restante da via) e ciclofaixas (sem segregação física do restante da via). Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova checa conteúdos virais sobre a pandemia de covid-19 ou sobre políticas públicas do governo federal. Este tuíte teve 6.936 reações e foi compartilhado ao menos 1.543 vezes. Tarcísio Gomes de Freitas é um dos ministros mais badalados pelo presidente Jair Bolsonaro e a execução de obras de infraestrutura se tornou uma das principais bandeiras do governo federal. O Comprova já desmentiu que um vídeo de vagões com contêineres empilhados seria do primeiro trem no trajeto do MT ao porto de Santos, como informavam diversas postagens. Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C424&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/projeto-de-autonomia-do-banco-central-nao-preve-indicacao-de-diretores-pelo-mercado-financeiro/
COMPROVA
Projeto de autonomia do Banco Central não prevê indicação de diretores pelo mercado financeiro
null
2021-02-18
Autor do tuíte que relaciona autonomia aprovada para o Banco Central à indicação dos diretores pelo mercado financeiro disse ao Comprova que a afirmação é uma interpretação e não deve ser entendida literalmente. Conteúdo verificado: Tuíte diz que a autonomia aprovada para o Banco Central significa que “diretores indicados pelo mercado financeiro vão decidir o destino da economia”. Ao contrário do que sugere um tuíte verificado pelo Comprova, o projeto de autonomia do Banco Central, recentemente aprovado no Congresso Nacional, não prevê indicação de diretores do BC pelo mercado financeiro. O próprio autor do tuíte, o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo em 2020, pelo PSOL, e coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), Guilherme Boulos, afirmou ao Comprova que ela é uma interpretação e que não deve ser entendida literalmente. Essa verificação foi feita atendendo a solicitação de leitores. Especialistas ouvidos pelo Comprova explicaram que a diretoria do Banco Central – órgão responsável pela emissão de moeda, definição da taxa de juros e fiscalização do sistema financeiro no país – vai continuar sendo indicada pelo presidente da República, mas, agora, terá que passar pelo crivo do Senado, e só poderá ser removida do cargo com a anuência do Legislativo. Isso, segundo o economista Hélio Berni, da faculdade IBMEC de Belo Horizonte, significa que o órgão terá mais espaço para implementar políticas mais duradouras. Além disso, o professor Flávio Constantino, do Departamento de Economia da PUC Minas, lembra que a possibilidade de pressão do mercado financeiro sobre o Banco Central já existia, independentemente da aprovação do projeto de autonomia. “Se o sistema financeiro cobrar do presidente da República, e se o presidente da República ceder a essas pressões, aí corremos o risco, sim, do Banco Central fazer políticas voltadas para o mercado, que vão beneficiar instituições financeiras, por exemplo”, pondera. Contatado pelo Comprova, Guilherme Boulos disse que a postagem tem caráter de análise política, e não é literal. “É uma análise dessa relação já existente das nomeações no banco com os interesses do mercado, com as vontades do mercado, ela só vai se aprofundar, porque você vai reduzir os mecanismos de controle democrático”, afirmou. Como verificamos? Procuramos Guilherme Boulos, e pedimos uma explicação mais detalhada sobre o que ele quis dizer com o tuíte. Para entender melhor o funcionamento do Banco Central e como funciona o projeto de autonomia, entrevistamos o professor Flávio Constantino, do Departamento de Economia da PUC Minas, e o professor Hélio Berni, do IBMEC-BH. Também buscamos informações nos sites oficiais da Câmara e do Senado, sobre a tramitação do texto aprovado pelos parlamentares, e consultamos matérias publicadas em diversos veículos de imprensa sobre a iniciativa e a relação dela com o governo Bolsonaro. Verificação O que prevê o projeto de Autonomia do BC O PL 19/2019, de autoria do Senador Plínio Valério (PSDB-AM) foi aprovado na Câmara dos Deputados, em segundo turno, neste mês de fevereiro. Até a publicação desta verificação, o texto aguardava apenas a sanção presidencial para entrar em vigor. A principal mudança prevista no texto é na forma de indicação dos diretores e da presidência do Banco Central – que passa a ocorrer a partir do terceiro ano de mandato do presidente da República. Os nomes devem passar por uma sabatina no Senado, e tem um período fixo no comando do BC, de quatro anos. Atualmente, o cargo é de livre nomeação do chefe do executivo. O presidente do banco já precisa ser aprovado pelo Senado, mas pode ser escolhido pelo governo federal em qualquer ponto do mandato, e também pode ser demitido sem restrições. O professor Flávio Constantino, do Departamento de Economia da PUC Minas, ouvido pelo Comprova, explica que o Banco Central tem como atribuições cuidar da moeda, da taxa de juros e da supervisão do mercado financeiro. As políticas decididas pelo órgão, segundo o professor, precisam levar em consideração a possibilidade de aumento da inflação ou de criação de uma recessão econômica, caso sejam equivocadas, e ainda lidam com as expectativas e pressões do governo – que controla o Ministério da Economia (ou Fazenda, em gestões anteriores) – e da sociedade. A ideia de ampliar a autonomia do Banco Central existe no Brasil desde os anos 1970, e se respalda, entre seus apoiadores, em experiências adotadas em outros países. Segundo Flávio Constantino, nações como Reino Unido, Estados Unidos, Nova Zelândia e Alemanha realmente conseguiram, por exemplo, reduzir a inflação no longo prazo, com a adoção dos modelos de independência. Isso não significa, porém, que o mesmo resultado será alcançado no Brasil, já que toda a conjuntura econômica é relevante. “Esses países não tinham uma preocupação, como temos no Brasil, de um quadro de forte desigualdade – a diferença de quem é mais rico no Brasil supera mais de vinte vezes [em renda] quem é mais pobre, enquanto nesses países isso não passa de oito, nove vezes – então é um quadro social diferente do que nós temos no nosso país”, explica. Crítica Política Segundo o autor do post, Guilherme Boulos (PSOL), o post tem caráter de análise política das consequências da autonomia do Banco Central. “Na prática, hoje, os diretores do Banco Central já são indicados pelo mercado financeiro, obviamente não é indicação formal, não vai existir nunca lei como atribuição para o mercado financeiro indicar os diretores. Então, não dá pra ler com literalidade aí”, explica. O ex-candidato avalia que na atual conjuntura da autarquia já há uma ‘tradição dos presidentes serem indicados numa porta giratória pelo financeiro e de boa parte da diretoria também’, usando como exemplo o atual presidente Roberto Campos Neto, que teve passagem pelo Banco Santander. O Banco Central no governo Bolsonaro A intenção de ampliar a independência do Banco Central foi manifestada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) logo no primeiro ano de mandato à frente do Executivo, e o governo chegou a enviar um projeto de lei ao Congresso Nacional sobre o tema. Recentemente, o presidente disse que o projeto – que faz parte da pauta liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes – era importante, mas que iria analisar o texto final, acordado entre os congressistas durante a tramitação, e que poderia vetar parte do conteúdo aprovado. O autor do post O autor do tuíte verificado, Guilherme Boulos, é integrante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e foi candidato, pela legenda, à prefeitura de São Paulo, nas eleições de 2020. Boulos também é o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST). No dia 15 de fevereiro, Boulos reiterou as críticas ao projeto de autonomia do BC em um artigo publicado na Folha de S. Paulo. Durante a campanha política, no ano passado, ele foi alvo de boatos que diziam que ele obrigaria moradores de São Paulo a receber moradores de rua em casa e que ele sairia do país, se não fosse eleito. Os dois conteúdos foram checados pelo Comprova, e classificados como falsos. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus que têm grande alcance nas redes sociais. A postagem de Guilherme Boulos alcançou 14 mil curtidas e 2.119 compartilhamentos até o fechamento desta checagem, e a verificação do conteúdo foi sugerida por leitores ao Comprova. Apesar de ser uma análise política, não é possível avaliá-la como informação precisa, e alguns leitores entenderam o tuíte de forma literal. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-manipulado-deturpa-entrevista-de-presidente-da-anvisa-para-sugerir-risco-sanitario-grave-na-vacinacao/
COMPROVA
Vídeo manipulado deturpa entrevista de presidente da Anvisa para sugerir “risco sanitário grave” na vacinação
null
2021-02-18
Em vídeo postado no Twitter, Antônio Barra Torres aparece dizendo que a população “corre risco sanitário grave”, mas as imagens foram editadas para fazer parecer que ele se referia às vacinas já aprovadas. Conteúdo verificado: vídeo publicado no Twitter, em que o presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, aparece dizendo que a vacina contra a covid-19 não é segura e que a população está correndo um “risco sanitário grave”. É falso o conteúdo de um post publicado no Twitter segundo o qual a população brasileira “corre risco grave ao tomar a vacina” contra covid-19. O tuíte traz uma informação inverídica e, para embasá-la, utiliza-se de um vídeo manipulado de uma entrevista de Antônio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As vacinas aprovadas pela Anvisa até aqui – a de Oxford em parceria com a AstraZeneca e a CoronaVac – são seguras e eficazes para lidar com a pandemia. O Comprova concluiu que o vídeo postado no Twitter foi editado e retirado do contexto. O conteúdo faz parte de uma entrevista concedida à emissora CNN Brasil, em 10 de fevereiro de 2021, dentro da programação do jornal matinal Novo Dia, apresentado por Rafael Colombo, Elisa Veeck e Luciana Barreto. No vídeo, Barra Torres aparece dizendo que a população “corre risco sanitário grave”, mas as imagens foram montadas de tal modo a fazer parecer que ele se referia às vacinas. Na realidade, o presidente da Anvisa estava, naquele trecho, descrevendo sua preocupação em relação a um artigo incluído à Medida Provisória (MP) 1.003/2020, que reduz a autonomia da Anvisa sobre a análise e aprovação de novas vacinas. O vídeo foi organizado de maneira que a real motivação das falas fosse ocultada. Dessa forma, quem assiste ao vídeo sem saber o contexto em que a entrevista foi concedida é induzido à ideia de que a emenda à MP já está em vigor, quando na realidade ela ainda não havia sido sancionada pelo presidente no momento em que foi feita a gravação. Além disso, da maneira como foi montado, o vídeo pode sugerir que as vacinas em uso hoje no Brasil, que passaram por análise técnica e pela aprovação emergencial da Anvisa, não são seguras. Mas na realidade a fala do presidente da Agência indica para uma situação futura, ou seja, o que Antônio Barra Torres queria dizer é que caso a Medida Provisória seja sancionada na íntegra pelo presidente, os brasileiros correm um “risco sanitário grave”, já que as novas vacinas não passariam por uma avaliação técnica tão criteriosa como a que é feita atualmente. Como verificamos? Primeiro, pesquisamos no canal do YouTube da CNN Brasil, programas apresentados pelos jornalistas que aparecem no vídeo (Rafael Colombo, Elisa Veeck e Luciana Barreto), para identificar de qual programa jornalístico o vídeo poderia ter sido retirado. Após identificarmos o jornal Novo Dia, consultamos as edições exibidas antes da data da postagem feita no Twitter, com intuito de confirmar se a entrevista feita com o presidente da Anvisa havia realmente sido realizada pela emissora CNN Brasil. Ao chegarmos na edição do dia 10 de fevereiro, constatamos que a entrevista havia sido realizada ao vivo, durante a exibição do jornal matinal. Ao encontrar o material com a reportagem oficial, assistimos aos dois vídeos, – a entrevista completa da CNN Brasil e o vídeo postado no Twitter – comparando trecho a trecho até que fosse possível identificar todos os pontos editados da versão original. Também consultamos o site do Congresso Nacional para acompanhar a tramitação da Medida Provisória, e constatamos que, após a aprovação do texto pelo Senado Federal para transformá-la em lei, a proposta foi encaminhada para a sanção presidencial, o que até o fechamento desta reportagem não ocorreu. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de fevereiro de 2021. Verificação O vídeo verificado inicia com uma fala do presidente da Anvisa, afirmando que, se a MP for aprovada com o texto atual, a agência não fará mais a análise dos pedidos de aprovação de vacinas, mas irá apenas conceder a liberação, deixando assim de exercer o seu papel técnico. O Comprova verificou que a primeira parte da entrevista, concedida em 10 de fevereiro de 2021 para a CNN, foi excluída da versão publicada no Twitter, o que pode comprometer o entendimento sobre o conteúdo originalmente apresentado. A reportagem original começa com o âncora do jornal matinal Novo Dia, Rafael Colombo, falando sobre a decisão da Anvisa de liberar as vacinas distribuídas pelo consórcio da OMS, o Covax Facility, sem a necessidade de nenhum registro ou aprovação emergencial específica para uso no Brasil. Na sequência, o jornalista chama a analista política Basília Rodrigues para uma entrada ao vivo com Antônio Barra Torres para falar sobre uma reunião que o entrevistado havia acabado de ter com o presidente Jair Bolsonaro. O encontro teve como pauta a Medida Provisória, que foi modificada pelo Congresso Nacional para incluir no texto a redução do tempo de análise da agência para liberação de vacinas contra a covid-19. A reunião se deu porque o trecho ainda pode ser vetado pelo presidente. Na sequência, no vídeo original, o presidente da Anvisa explica que foi chamado por Bolsonaro para apresentar seus argumentos, para que o chefe do executivo pudesse compreender a necessidade do veto no texto da MP. O vídeo publicado no Twitter começa no meio da fala de Antônio Barra Torres, ou seja, a parte introdutória foi ocultada nessa versão. Também foi verificado um corte no vídeo publicado no Twitter, no segundo 57, que excluiu a pergunta da repórter – o que novamente pode provocar erro de entendimento. No trecho retirado, a jornalista pergunta: ”Por que o senhor tem essa avaliação de que a Medida Provisória tira a competência de análise da Anvisa? O senhor explicou isso para o presidente?” A resposta de Antônio Barra Torres também foi editada no vídeo postado no Twitter, inclusive o trecho em que ele diz: “(…) E não é possível, os nossos servidores concursados eles têm essa capacidade de trabalho e é pra isso que eles estão lá. Então não é razoável, diante de uma pandemia, onde medicamentos estão sendo desenvolvidos, inclusive em moldes especiais, não haja uma análise de quem tem competência para isso. Foi esse o nosso assessoramento, e o senhor presidente ele reiterou mais uma vez aquilo que tem dito sempre à imprensa, de que o Ministério da Saúde não comprará produtos que não sejam analisados pela Anvisa. Então eu entendo isso como uma sinalização bastante significativa. É claro que eu não vou ser antiético de antecipar qualquer tipo de decisão, até porque essa decisão é do presidente da República e ele tem o seu prazo para fazê-lo. Agora ele mais uma vez reiterou o que vem dizendo, que aquisição de vacinas se dará desde que haja aprovação da Anvisa. A aprovação, é claro, mediante a análise, não uma aprovação tácita ou automática”. Após um grande corte, a entrevista prossegue com a pergunta da apresentadora Luciana Barreto, trecho que também foi manipulado. Na pergunta completa, a jornalista diz: “Queria que o senhor explicasse para quem está nos vendo agora e nos ouvindo agora e tentando entender o que realmente está acontecendo. Todos nós desejamos a chegada da vacina, mais doses da vacina com mais celeridade, mas há o risco desse artigo 5º que o senhor falou agora e da retirada da autonomia da Anvisa, na prática a população corre algum risco?” Na sequência, o presidente da Anvisa afirma que sim, a população corre “risco sanitário grave”, mas a afirmativa, que também aparece no vídeo publicado no Twitter, está relacionada diretamente à aprovação integral do texto da MP e não às vacinas já aprovadas. O Comprova concluiu que o vídeo postado no Twitter foi montado apenas com trechos de falas que descrevem a preocupação do presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, em relação a uma possível sanção do presidente Jair Bolsonaro sobre a MP, que foram organizadas de maneira em que a real motivação das falas fosse ocultada. Dessa forma, quem assiste ao vídeo sem saber o contexto em que a entrevista foi concedida pode ter a impressão de que a lei que reduz a autonomia da Agência reguladora na análise para aprovação de novas vacinas já está em vigor, quando na realidade o presidente tem até o dia 1º de março para dar seu parecer de veto ou sanção para converter a MP em lei. Medida Provisória Apesar de as Medidas Provisórias (MPs) serem editadas pelo presidente da República, e terem efeitos imediatos quando publicadas, elas precisam ser apreciadas pelo Congresso Nacional para que sejam convertidas em leis. O prazo de vigência da MP é de 60 dias, podendo ser prorrogado por igual período. Do contrário, perdem a validade. No caso da MP 1.003/2020, a que se refere o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, a aprovação do texto pelo Senado Federal ocorreu no dia 4 de fevereiro. No texto original, publicado em 24 de setembro de 2020 e que ainda está em vigor, não consta o artigo 5º que foi apresentado como emenda, em plenário, também no dia 4 de fevereiro pelo senador Rodrigo Cunha (PSDB/AL). A movimentação mais recente é do dia 9 de fevereiro, quando foi encaminhada à secretaria-geral da Presidência da República a mensagem para sanção presidencial do Projeto de Lei de Conversão 43/2020 (derivado da MP 1.003/2020). Liberação das vacinas do Covax Facility O texto do Projeto de Lei de Conversão 43/2020 trata da autorização para o governo federal aderir ao Instrumento de Acesso Global de Vacinas Covid-19 (Covax Facility), além de estabelecer diretrizes para imunização da população. O trecho que causa preocupação ao presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, e que foi motivo de audiência com Jair Bolsonaro, conforme registrado na reportagem da CNN, está contido no artigo 5º. Nele, além de estabelecido o período de cinco dias para análise de novas vacinas pela agência – um prazo reduzido, na avaliação de Barra Torres – um termo denota que a Anvisa perderia a sua atribuição técnica. O texto diz que a “Anvisa concederá autorização temporária de uso emergencial”. Para Barra Torres, isso significaria que a agência teria apenas uma função cartorária, de checagem de documentos, em vez de efetivamente fazer uma análise técnica. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet relacionados a políticas do governo federal, à pandemia ou às eleições municipais de 2020. Apesar de o vídeo verificado ter sido postado por um perfil com menos de 2 mil seguidores, ele foi visualizado 24,8 mil vezes. Dessa forma, por se tratar de um conteúdo importante, ligado diretamente à confiança das pessoas em relação às vacinas contra a covid-19 e por conta da grande repercussão, a verificação se torna fundamental para esclarecer dúvidas relacionadas ao trabalho da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e também essencial para reforçar sobre a eficácia e segurança das vacinas já aprovadas para uso emergencial no Brasil. Falso, para o Comprova, é o conteúdo que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i0.wp.com/projet…=562%2C322&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-post-no-facebook-sobre-morte-de-medico-por-covid-19-apos-tomar-a-vacina/
COMPROVA
É enganoso post no Facebook sobre morte de médico por covid-19 após tomar a vacina
null
2021-02-17
Publicação no Facebook de um link que exibe apenas foto, título e uma linha de texto induz a interpretações erradas ao atrelar a morte de um médico à vacina contra covid-19. Conteúdo verificado: Post em uma página no Facebook sobre a morte de diretor de hospital municipal em João Pessoa, na Paraíba, sugere na chamada da notícia que a morte por covid-19 ocorreu mesmo após o médico tomar a vacina. Publicação feita na página do Facebook do site Pleno News induz a um engano ao atrelar a morte de um médico à vacina contra covid-19. No Facebook, o post traz apenas uma foto, o título e uma linha de texto que coloca em dúvida a eficácia da vacina. Nos comentários do post, diversos leitores interpretaram a publicação como uma evidência de que as vacinas não funcionam, o que não é verdade. O post em questão se refere ao caso do médico Fernando Ramalho Diniz, diretor do Hospital Santa Isabel, na cidade de João Pessoa, na Paraíba. Ele morreu em 13 de fevereiro, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em decorrência da covid-19. O cirurgião-geral tomou apenas a primeira dose da CoronaVac no dia 20 de janeiro. A aplicação da segunda dose em profissionais de saúde no hospital em que ele trabalhava estava prevista para os dias 15 e 16 de fevereiro, seguindo as recomendações da bula da CoronaVac. O fato de Diniz ter tomado uma dose da vacina e ter sido vítima de covid-19 não significa que a vacina não funcione. Especialistas procurados pelo Comprova reiteram que a CoronaVac precisa de uma segunda dose e destacam que, mesmo assim, é preciso manter as medidas de proteção até que haja a imunização coletiva, ou de rebanho, da população. Com apenas uma dose, portanto, o médico não estava protegido. Após a aplicação da primeira dose, a produção de anticorpos no organismo é mais intensa a partir do décimo-quarto dia e, após a segunda dose, o auge dessa produção é atingida também depois de 14 dias, totalizando, em média, 36 dias para a proteção primária contra a covid-19. Mesmo depois da vacinação é, no entanto, necessário manter o distanciamento físico, o uso de máscaras e a higienização frequente das mãos. Isso porque a imunização contra uma doença como a covid-19 se dá de maneira coletiva e não individual. Confusões como a causada pela postagem verificada são comuns nas redes sociais. Elas ocorrem quando os títulos não são fiéis ao conteúdo de notas e reportagens ou quando valorizam apenas uma parte do conteúdo, provocando interpretações erradas ou enviesadas especialmente naqueles leitores que não acessam os links para obter informação mais detalhada e o devido contexto. Como verificamos? Procuramos informações sobre a morte de Fernando Ramalho Diniz em portais como G1 e Paraíba Online, além do site da prefeitura de João Pessoa (PB), que confirmam a causa como AVC em decorrência da covid-19, bem como a internação do médico pela doença 10 dias antes do falecimento. Consultamos o Vacinômetro da cidade paraibana, que confirmou que Fernando Ramalho recebeu a primeira dose da vacina em 20 de janeiro. Por WhatsApp, entramos em contato com o Pleno News. Os responsáveis pelo site fizeram diversos comentários sobre iniciativas de verificação de informações, mas não entraram no mérito do post verificado. Retomamos verificação anterior do Comprova e falas de especialistas sobre a necessidade de tomar os cuidados de prevenção contra o coronavírus antes da segunda dose e até que se atinja a imunidade de rebanho. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de fevereiro de 2021. Verificação AVC em decorrência da covid-19 O médico Fernando Ramalho Diniz faleceu no dia 13 de fevereiro, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em decorrência da covid-19. Segundo o jornal Paraíba Online, o médico ficou internado durante 10 dias no Hospital Unimed, após ser diagnosticado com covid-19. O mesmo veículo afirma que ele recebeu a primeira dose da CoronaVac em janeiro. Primeira dose da CoronaVac A prefeitura de João Pessoa disponibiliza no portal de transparência um “Vacinômetro”, com dados dos vacinados no município. Os dados confirmam que Fernando Ramalho Diniz recebeu a primeira dose da vacina no dia 20 de janeiro no Hospital Santa Isabel. Outra matéria no site da Prefeitura de João Pessoa confirma que o Hospital Santa Isabel, do qual Fernando era diretor, recebeu doses da vacina CoronaVac nos dias 20 e 21 de janeiro para aplicação nos profissionais de saúde. O texto fala ainda da importância de não “baixar a guarda” após a vacinação. A segunda dose da CoronaVac começou a ser aplicada em João Pessoa no dia 15 de fevereiro, conforme o cronograma de vacinação do município. Segundo a Secretaria de Saúde de João Pessoa, a previsão para administração da segunda dose no Hospital Santa Isabel ocorre entre 16 e 17 de fevereiro. O cronograma segue as recomendações da bula da CoronaVac, que indica que a segunda dose pode ser aplicada entre 2 e 4 semanas após a primeira. Imunização individual e coletiva Segundo publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma vacina tem o papel de reduzir o risco de contágio de uma doença por meio da indução de uma defesa natural do corpo humano. A partir do momento em que a vacina é aplicada, inicia-se um ciclo de imunização que passa por três etapas principais: o reconhecimento do antígeno, podendo ser um vírus ou uma bactéria; a produção de anticorpos para atacar o corpo estranho; e o desenvolvimento de uma memória celular no sistema imunológico que seja capaz de inocular a doença da próxima vez em que o indivíduo seja exposto àquele vírus ou bactéria. Isso acontece porque o sistema de defesa humano trabalha com mecanismos de memória celular. Uma vez expostos a uma ou mais doses de uma vacina, uma pessoa pode, a depender da vacina, ficar protegida contra uma doença durante anos, décadas ou mesmo uma vida inteira. No lugar de tratar os sintomas de uma doença após sua ocorrência, as vacinas impedem que o corpo adoeça. Esse procedimento é válido para todas as vacinas, e não somente contra a covid-19. As células que indicam essa proteção são chamadas de IgG (imunoglobulina G). Trata-se de uma classe de anticorpos que, quando detectados, indicam contato prévio com o micro-organismo em algum momento da vida, mas não permite dizer se é recente ou antigo. Em alguns casos, sua presença pode significar proteção se houver novo contato. No caso do coronavírus, pode aparecer tardiamente ou nem aparecer, segundo informações de Weissmann. Somente a partir do décimo-quarto dia da aplicação da primeira dose da vacina contra a covid-19, o organismo começa com mais intensidade o anticorpo IgG. No caso da CoronaVac, ministrada no médico Fernando Ramalho Diniz, a segunda dose é aplicada com intervalo de 2 a 4 semanas da primeira dose, conforme a bula do fabricante disponível no site do Ministério da Saúde . Após esse período, a produção de IgG também terá seu auge a partir do décimo quarto dia. O processo completo de imunização dura 36 dias, em média, a partir da aplicação da primeira dose. De acordo com Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), “a imunidade primária só ocorre após a segunda dose. Mas já há uma proteção parcial após duas semanas da primeira dose”, explica. Essa proteção primária não exclui a necessidade de se manter as medidas de prevenção, seja durante a imunização individual, ou durante a imunização coletiva. Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), também afirma que a imunização está relacionada a uma proteção individual e coletiva. “Nenhuma vacina tem 100% de eficácia e protege todas as pessoas”, afirmou ele em uma verificação publicada pelo Comprova neste mês. Deste modo, uma parte das pessoas vacinadas não desenvolverá a proteção individual e só estará protegida com o acúmulo de pessoas vacinadas, o que, com o passar do tempo, reduzirá a circulação do vírus. Por isso, ele recomenda manter as demais regras de prevenção enquanto não se alcança a imunidade coletiva (ou de rebanho): distanciamento físico, uso de máscara e higienização frequente das mãos. Weissmann explica ainda que a imunidade coletiva é configurada quando um grande percentual de uma população se torna imune a um determinado agente infeccioso. Tradicionalmente, isso ocorre através de vacinação. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados a informações sobre a pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A publicação analisada teve mais de 800 compartilhamentos e 600 comentários, a maioria colocando em dúvida a eficácia da vacina. Os imunizantes e a vacinação contra a covid-19 são alvos frequentes de desinformação. Compartilhamentos como este visam desacreditar a estratégia de imunização e colocar em xeque a eficácia das vacinas, algumas cientificamente comprovadas, como a CoronaVac. O Comprova já desmentiu um post que afirmava haver risco da imunogenicidade da CoronaVac, e um outro que utilizava vídeo de 2018 para enganar sobre morte de idosa após vacinação. Enganoso para o Comprova é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/medidas-de-protecao-contra-a-covid-19-ainda-deverao-ser-mantidas-apos-o-recebimento-das-doses-da-vacina/
COMPROVA
Medidas de proteção contra a covid-19 ainda deverão ser mantidas após o recebimento das doses da vacina
null
2021-02-15
É correta a afirmação de um médico cujo vídeo viralizou no Instagram de que as medidas protetivas, como uso de máscara, lavagem das mãos e distanciamento social devem ser mantidas depois do recebimento da primeira dose, mas elas se referem à proteção individual. Especialistas alertam que esses cuidados devem ser tomados por todos os vacinados até que o país alcance a imunização coletiva. Conteúdo verificado: Em vídeo reproduzido no Instagram, um médico afirma que uma única dose da vacina contra covid-19 não é suficiente para assegurar a exposição em atividades e locais com ampla circulação de pessoas e aglomerações em geral. É verdade que as pessoas imunizadas apenas com a primeira dose das vacinas contra covid-19 não estão totalmente imunes contra a doença. A afirmação consta em um vídeo do infectologista Marcius Burgarelli, que viralizou nas redes sociais e foi objeto de questionamento por parte de leitores do Comprova. No vídeo, Burgarelli explica que uma única dose da vacina não é suficiente para assegurar a exposição a atividades e locais com ampla circulação de pessoas e aglomerações em geral, e recomenda que sejam mantidas as medidas de proteção contra o vírus, como uso de máscara e de álcool. No mesmo vídeo, Burgarelli sugere ainda que as pessoas devem manter as condutas de proteção “até pelo menos 14 dias depois da segunda dose”. Na realidade, os especialistas alertam que as medidas de proteção devem ser mantidas até que grande parte da população esteja imunizada com as duas doses da vacina. O vídeo foi publicado por Burgarelli em seu perfil no Instagram em 3 de fevereiro deste ano e compartilhado no perfil do homeopata Alberto Almeida em 7 de fevereiro. Nele, o médico explica que o processo de produção de anticorpos, chamados IgG, só é iniciado 14 dias após a primeira dose, mas que ainda não se pode considerar uma imunidade, já que esse ciclo de imunização só é completo depois de passados mais 14 dias depois da aplicação da dose de reforço – geralmente aplicada 21 dias depois da primeira dose, a depender da vacina. Logo, o processo completo levaria em torno de 36 dias. Antes desse período, é possível que a pessoa vacinada com a primeira dose ainda seja contaminada com o coronavírus e transmita para outras pessoas que ainda não foram imunizadas. O Comprova ouviu dois especialistas, além da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que confirmaram a veracidade das informações expostas no vídeo, mas reforçaram que os períodos de proteção podem variar de acordo com cada fabricante. Como verificamos? Primeiro, encontramos por meio de busca no Google o vídeo original publicado no perfil do instagram do médico Marcius Kleber Nunes Burgarelli, e pesquisamos seu registro no Conselho Federal de Medicina (CRM), que consta com as especialidades de psiquiatria e infectologia, conforme informado em seu instagram. Entramos em contato com a assessoria de imprensa da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e com a assessoria do Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar de enfrentamento à covid-19 da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para solicitar a avaliação de um infectologista sobre as afirmações contidas no vídeo investigado pela reportagem. Em resposta, o GT encaminhou contato do infectologista e professor Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) e integrante do grupo, e a SBI respondeu aos questionamentos com base na análise do infectologista e consultor Leonardo Weissmann. A reportagem também procurou o autor do vídeo por meio do Facebook para esclarecer se o vídeo trata de algum imunizante em específico ou de todos até o momento aprovados pela Anvisa, e se teria interesse em comentar essa demanda de verificação recebida pelo Comprova e sua veracidade. Por fim, fizemos contato por telefone com seu consultório, em Uberlândia, Minas Gerais, onde atende como psiquiatra, infectologista e imunologista, conforme informações de sua secretária. Até o fechamento da reportagem não obtivemos retorno. Também enviamos email para a assessoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para mais esclarecimentos sobre a especificações de cada vacina já aprovada no Brasil e o impacto destas na imunização coletiva (de rebanho). O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de fevereiro de 2021. Verificação Vacinas aprovadas no Brasil Até a publicação desta reportagem, apenas duas vacinas receberam autorização da Anvisa para a campanha de imunização no Brasil: a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a Covishield, produzida pela Universidade de Oxford e laboratório Astrazeneca em parceria com a Fiocruz. O Comprova procurou a Anvisa para esclarecer a importância da aplicação da segunda dose da vacina como garantia de uma proteção eficaz contra a covid-19. A agência explicou que a aprovação dos imunizantes no Brasil é baseada nos estudos de eficácia apresentados pelas fabricantes, que alcançaram a proteção contra a covid-19 após as duas dosagens. “A bula aprovada para as vacinas em uso emergencial indica a administração de duas doses e a aprovação da Anvisa está baseada nos dados dos estudos apresentados”, afirma. O órgão ainda reforça: “a Anvisa recomenda que o intervalo aprovado seja seguido”. A agência informou ainda que os estudos disponíveis trazem resultados de eficácia para os intervalos disponíveis nas bulas, e que não foi apresentada nenhuma pesquisa divergente que trate de outros intervalos. Abaixo, segue a descrição enviada pela Anvisa sobre a aplicação das duas vacinas aprovadas para uso emergencial no Brasil: Bula do Butantan (CoronaVac): O esquema de imunização contra covid é de 2 doses de 0,5 mL com intervalo de 2-4 semanas entre as doses. Bula da Fiocruz (Covishield/Oxford): A segunda dose deve ser administrada entre 4 e 12 semanas após a primeira dose. Outras informações sobre as vacinas como características e as bulas completas podem ser encontradas no site do Ministério da Saúde. Como funcionam as vacinas? Segundo publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma vacina tem o papel de reduzir o risco de contágio de uma doença por meio da indução de uma defesa natural do corpo humano. A partir do momento em que a vacina é aplicada, é iniciado um ciclo de imunização que passa por três etapas principais: o reconhecimento do antígeno, podendo ser um vírus ou uma bactéria; a produção de anticorpos para atacar o corpo estranho; e o desenvolvimento de uma memória celular no sistema imunológico que seja capaz de inocular a doença da próxima vez em que o indivíduo seja exposto àquele vírus ou bactéria. Isso acontece porque o sistema de defesa humano trabalha com mecanismos de memória celular. Uma vez expostos a uma ou mais doses de uma vacina, uma pessoa pode, a depender da vacina, ficar protegida contra uma doença durante anos, décadas ou mesmo uma vida inteira. No lugar de tratar os sintomas de uma doença após sua ocorrência, as vacinas impedem que o corpo adoeça. Esse procedimento é válido para todas as vacinas, e não somente contra a covid-19. As células que indicam essa proteção são chamadas de IgG (imunoglobulina G). Trata-se de uma classe de anticorpos que, quando detectados, indicam contato prévio com o micro-organismo em algum momento da vida, mas não permite dizer se é recente ou antigo. Em alguns casos, sua presença pode significar proteção se houver novo contato. No caso do coronavírus, pode aparecer tardiamente ou nem aparecer. O consultor da SBI Leonardo Weissman explica que a detecção de anticorpos protetores acontece entre 2 a 4 semanas após a vacinação. “Quando se fala em imunização, pensa-se na proteção individual e coletiva. Nenhuma vacina tem 100% de eficácia e protege todas as pessoas. Por esse motivo, orienta-se manter as demais regras de prevenção enquanto não se alcança a imunidade coletiva (ou de rebanho): distanciamento físico, uso de máscaras, higienização frequente das mãos”, afirma Weissman. No vídeo, Bugarelli concentra sua fala na importância da segunda dose para assegurar a imunização contra a covid-19 e na necessidade de se manter as medidas de proteção nesse período. “Tome a vacina, mas continue suas condutas de proteção, até pelo menos 14 dias após a segunda dose. A vacina funciona e precisa ser feita”. De forma didática, Bugarelli apresenta no vídeo um gráfico desenhado por ele para explicar como funciona a produção de anticorpos IgG e a imunização no indivíduo, da primeira à segunda dose, com uma escala crescente. Apontando para a ilustração, ele diz: “se eu tomar a vacina hoje e for para uma festa e pegar o vírus da covid, eu vou ter a doença. Não quer dizer que a vacina não funcionou. Quer dizer que você não deixou a vacina funcionar”. Ele reforça que é preciso aguardar mais 14 dias, após a segunda dose, que dura, em média, 36 dias, desde a primeira dose. “Não se exponham antes de ter resposta à vacina”, afirma Bugarelli. Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCHH/UFRJ), reitera a informação, destacando que “a imunidade primária só ocorre após a segunda dose. Mas já há uma proteção parcial após 2 semanas da primeira dose”. O autor do vídeo verificado afirma que a partir do primeiro dia o corpo já inicia a produção de anticorpos, mas que o auge é somente em 14 dias. Nesse período, há risco de contaminação. Weissman atenta que após a vacinação não é recomendado fazer sorologia ou qualquer exame, “pois isso pode causar somente mais confusão”. Isso porque, de acordo com Bugarelli, somente no 14º dia depois da aplicação da primeira dose, o organismo começa a produzir anticorpos IgG (imunoglobulina G). “Quando detectado, indica contato prévio com o micro-organismo em algum momento da vida, mas não permite dizer se recente ou antigo. Em alguns casos, sua presença pode significar proteção se houver novo contato. No caso da covid-19, pode aparecer tardiamente ou nem aparecer”, explica Weissman, da SBI. Imunidade de rebanho De acordo com Leonardo Weissman, a imunidade coletiva ou de rebanho é configurada quando um grande percentual de uma população se torna imune a um determinado agente infeccioso. Tradicionalmente, isso ocorre através de vacinação. O assunto já foi tratado em outras verificações. Em artigo publicado em outubro de 2020, o professor Fernando Barros, da UFPel, explicou ao Comprova que a imunidade coletiva ocorre “quando o vírus já não consegue mais circular em uma comunidade porque faltam pessoas suscetíveis” a ele. Segundo Barros, essa terminologia deriva de processos imunizadores que envolvem vacinações em massa. “A imunidade de rebanho se dá quando os níveis de imunização chegam em uma determinada proporção na população; por exemplo, em torno de 90% no caso do sarampo”, diz. “Diante disso, esses 10% das crianças que não estão vacinadas com frequência não se contaminam porque o vírus deixa de circular”, afirma. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet relacionados a políticas do governo federal e à pandemia de covid-19. O Comprova recebeu de leitores solicitação para verificar a veracidade do vídeo publicado originalmente pelo médico Marcius Kleber Nunes Burgarelli em seu perfil pessoal do Instagram. O vídeo foi posteriormente reproduzido pelo médico homeopata Alberto Almeida, também no Instagram, sendo visualizado mais de 16 mil vezes até a publicação desta verificação. Comprovado para o Comprova é um fato verdadeiro ou conteúdo original publicado sem edição.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Comprovado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-engana-ao-comparar-dois-trechos-diferentes-da-transamazonica-para-elogiar-governo-bolsonaro/
COMPROVA
Vídeo engana ao comparar dois trechos diferentes da Transamazônica para elogiar governo Bolsonaro
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2021-02-15
Montagem de vídeo usa imagens de dois trechos diferentes da rodovia, um asfaltado e outro por pavimentar, como se fossem registros de um mesmo local em momentos diferentes. Na realidade, o trecho que aparece no vídeo como um lamaçal continua sem pavimentação e o outro já estava asfaltado quando o governo Bolsonaro tomou posse. Conteúdo verificado: vídeo com uma estrada não asfaltada seguido de um vídeo de uma estrada asfaltada indica que o mesmo trecho mudou radicalmente após a eleição de Bolsonaro É enganosa uma montagem de vídeos que circula nas redes sociais com uma suposta comparação de um mesmo trecho da rodovia Transamazônica, a BR-230, durante o período dos governos do PT com os primeiros meses do governo Bolsonaro. A montagem usa duas gravações, feitas em locais diferentes. Na primeira parte do vídeo, que seria dos governos do PT, motoristas e motociclistas tentam ultrapassar um lamaçal em uma rodovia. A gravação mostra a região de Ladeira da Onça, em Brasil Novo, no Pará, que ainda não foi asfaltada. Na segunda parte, um motorista trafega por uma estrada asfaltada e em boas condições. Ao contrário do que diz o vídeo, esse trecho da BR-230/PA que aparece em boas condições não foi asfaltado durante o governo Bolsonaro, mas antes de 2019. Como verificamos? Em uma busca reversa de imagens com prints do vídeo, encontramos o vídeo original, gravado em 2018. O vídeo viralizou como peça de humor em diversas páginas (veja abaixo), algumas alegando ter sido gravado em locais diferentes. Em uma das buscas, encontramos a reportagem do Bom Dia Pará, jornal da Rede Liberal (afiliada à Globo), que veiculava o nome do local do primeiro vídeo como “Ladeira da Onça”, no município de Brasil Novo (PA). Buscamos o local nas ferramentas de geolocalização Google Maps e Google Street View. Nas imagens, é possível ver a mesma cerca azul e branca, confirmando que o vídeo realmente foi gravado na Rodovia Transamazônica, na altura do km 48. Entramos em contato com Valdemídio Silva, morador de Brasil Novo, que confirmou o local do primeiro vídeo como a Ladeira da Onça. A imagem do Google Street View é de 2019 e é possível ver que a estrada não havia sido asfaltada naquele ano. Já a foto de satélite do Google Maps é de 2021, e indica que o trecho da Ladeira da Onça ainda é de estrada de terra. Entramos em contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para obter informações sobre o km 110 da rodovia Transamazônica, mas não tivemos resposta até a publicação. Consultamos notícias no portal do Governo Federal sobre o asfaltamento da BR-230 confirmadas por verificações da Agência Lupa, Estadão e Aos Fatos sobre o mesmo vídeo, verificando que o trecho km 110 foi asfaltado anos atrás, antes do governo Bolsonaro. Contatamos o deputado Anderson Moraes (PSL- RJ) para obter informações sobre a fonte do vídeo, mas não tivemos resposta. Verificação O vídeo que viralizou é formado por duas partes. No primeiro trecho, motociclistas e caminhoneiros tentam subir uma ladeira de lama. No segundo, um motorista dirige por uma estrada asfaltada, alegando ser o km 110 da Transamazônica. A união dos vídeos dá a entender que o motorista está andando pelo mesmo trecho que antes era cheio de lama, o que não é verdade. Ladeira da onça Em uma reportagem do Bom Dia Pará, de dezembro de 2018, há a informação de que a primeira parte do vídeo foi gravada na altura do km 48 da Transamazônica (BR-230) no Pará, local conhecido como Ladeira da Onça, no município de Brasil Novo (PA). A localização é incompatível com o km 110 da Transamazônica, como afirma o autor do segundo vídeo, na estrada asfaltada. O Comprova entrou em contato com o repórter e locutor Valdemídio Silva, morador da cidade de Brasil Novo (PA) há 36 anos, que confirmou que o primeiro vídeo foi gravado na Ladeira da Onça, e circula há cerca de 2 anos. Outros vídeos da mesma época mostram o sofrimento dos usuários da via. Vídeo bloqueado em perfil de deputado O vídeo que viralizou foi publicado originalmente pelo deputado Anderson Moraes (PSL-RJ) no Facebook em 17 de janeiro de 2020, e contém a marca d’água com nome e foto do deputado na parte inferior. O Facebook classificou o vídeo como “Informação Falsa” e bloqueou sua exibição na plataforma. Recentemente, o vídeo foi compartilhado por uma usuária no Twitter e voltou a circular. O Comprova entrou em contato com o deputado, que não retornou. O governo atual fez obras na Transamazônica? A rodovia Transamazônica é a terceira maior do Brasil, com 4260 km de extensão implantada, cortando os estados da Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. Em nota à agência Lupa, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou que o km 110 da BR-230/PA não foi asfaltado em 2019, como sugere o vídeo, mas “anos antes”. O DNIT também informou que em 2019, durante o governo Bolsonaro, foi concluída e inaugurada a pavimentação entre os km 0 e 12,1 da Transamazônica no Pará. Em maio de 2020, o Governo Federal informou que concluiu a pavimentação de 32 quilômetros, entre o km 235 e o km 267 da rodovia. A nota promete a pavimentação de 101,9 quilômetros da rodovia federal, com investimento de R$ 219 milhões. Segundo o balanço anual do Ministério de Infraestrutura do Governo Federal, a pavimentação de 32 km entre Itupiranga e Novo Repartimento, no Pará, e 3 pontes de concreto foram as únicas obras na Transamazônica em 2020. Em apresentação sobre as obras da BR-230/PA no ano de 2015, o então secretário de Gestão dos Programas de Transportes do Governo Dilma Rousseff, Miguel de Souza, informou que o segmento entre os km 12 e 134,9 da Transamazônica no Pará foi pavimentado durante a gestão petista. Por que investigamos? Atualmente em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que dizem respeito a políticas públicas do governo federal e à pandemia de covid-19. As verificações são feitas em conteúdos que viralizam de forma significativa, caso do vídeo investigado aqui. A postagem falsa referenciada teve quase 3 mil interações no Twitter no mês de fevereiro e o conteúdo já viralizou por publicações de outros autores uma dezena de vezes desde 2019, incluindo pelo deputado citado na verificação. Supostas realizações do governo Bolsonaro na área de infraestrutura têm sido objeto de desinformação. Agência Lupa, Estadão e Aos Fatos já verificaram o conteúdo. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Esta verificação contou com o apoio de estudantes de jornalismo do programa de estágio firmado com a FAAP.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C142&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-post-que-atribui-morte-de-idoso-a-coronavac/
COMPROVA
É enganoso post que atribui morte de idoso à CoronaVac
null
2021-02-12
A pessoa que morreu tinha covid-19, havia sido hospitalizada e, como a vacina é de vírus inativado, ela não poderia ter desencadeado a doença Conteúdo verificado: em um post no Facebook, um homem dizia que seu pai, um idoso, teria morrido por conta da CoronaVac É enganoso um post no Facebook em que um usuário alega que a CoronaVac, vacina de covid-19 produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, tenha provocado a morte de seu pai. Publicada no dia 6 de fevereiro, a mensagem já havia sido compartilhada mais de 25 mil vezes na plataforma até esta quinta-feira, 11, antes de ser removida da rede social. Conforme apurou o Comprova, a publicação se refere ao óbito de um idoso de 76 anos na cidade de Guaratinguetá, no interior de São Paulo. Por telefone, o autor do post, Samuel Abreu Batista, afirmou que seu pai recebeu a primeira dose da vacina em 25 de janeiro, posteriormente apresentou sintomas semelhantes aos da covid-19 e faleceu no sábado, 6. Segundo ele, na certidão de óbito consta morte por choque séptico com suspeita de covid-19. A prefeitura de Guaratinguetá confirmou à reportagem as datas de vacinação e falecimento do idoso. A relação do óbito com a vacina, porém, foi descartada pela administração municipal após exames de diagnóstico confirmarem que o pai de Samuel apresentava quadro de infecção de covid-19 no dia anterior ao óbito, posteriormente à vacinação. Porém, ao passo que a CoronaVac é um imunizante de vírus inativado, a vacina não poderia ter desencadeado a doença. Além disso, uma apuração da prefeitura indicou um surto de infecções pelo novo coronavírus na casa de repouso Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis, onde o idoso morava. Como verificamos? O Comprova acessou o perfil de Samuel Batista, autor do post, no Facebook e verificou que o usuário era pastor na Comunidade Evangélica Projeto Vida em Cunha, São Paulo. A reportagem obteve o número de telefone de Batista e entrou em contato com ele por chamada telefônica e WhatsApp. A partir do relato do pastor, apuramos o nome do idoso e a cidade em que morava. O passo seguinte foi questionar a Prefeitura Municipal de Guaratinguetá e o Instituto Butantan para averiguar mais informações sobre o caso. A administração da cidade retornou ainda na segunda-feira, 8. Já o Instituto Butantan ainda não havia sido notificado naquela data. A reportagem ainda consultou o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais Flavio Fonseca Guimarães para confirmar se o exame positivo de covid-19 do idoso de fato exclui a possibilidade de efeitos adversos da vacina. Também entramos em contato com a Santa Casa Guaratinguetá para confirmar as datas do envio de resultados dos exames do idoso. Ainda tentamos conversar com representantes da instituição de longa permanência em que o falecido residia, mas não conseguimos nos comunicar com representantes da entidade beneficente, que também não responderam aos e-mails enviados pela reportagem. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de fevereiro de 2020. Verificação De acordo com a prefeitura municipal de Guaratinguetá, um exame RT-PCR coletado no dia 5 de fevereiro, cujo resultado foi confirmado à pasta no dia 9, apontou que o pai do autor da publicação investigada pelo Comprova estava infectado com a doença quando ocorreu o óbito. O filho revelou à reportagem que o idoso era residente do Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis de Guaratinguetá, onde recebeu a primeira dose da CoronaVac em 25 de janeiro. A instituição de longa permanência consta no cadastro estadual de entidades do estado de São Paulo. Um comunicado da prefeitura atualizado no dia 10 de fevereiro afirma que a apuração da equipe técnica da secretaria de saúde do município constatou que o idoso foi hospitalizado com sintomas de covid-19 e que o mesmo ocorreu com outros idosos que moravam na mesma instituição. “Durante a investigação também recebemos informações de que funcionários da instituição estavam afastados por suspeita de contaminação pelo covid-19, sendo que já foi possível constatar que três dos funcionários afastados testaram positivo recentemente, o que possibilitou estabelecer uma linha do tempo de contágio e vínculo epidemiológico e consequentemente resultou na abertura de um registro de surto por covid-19 na referida instituição”, diz o comunicado. Com o diagnóstico de covid-19 confirmado, a prefeitura descartou as hipóteses de um evento adverso da vacina, “pois caso fosse reação vacinal não haveria presença de vírus na amostra coletada, uma vez que a vacina CoronaVac é inativada e não pode causar a doença”. Ao Comprova, o virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG Flávio Fonseca afirmou que a nota da prefeitura é precisa. Ele explica que o teste RT-PCR detecta o RNA do vírus na amostra do paciente, mas o vírus inativo aplicado na vacina não contém o RNA viral. Dessa forma, a inoculação do imunizante não permitiria ao exame detectar o material do coronavírus. Imunidade não é imediata Fonseca ainda destaca que somente a primeira dose não confere imunidade. Ele alerta que após vacinadas as pessoas ainda precisam manter a “guarda elevada” contra o vírus e seguir regras de prevenção, como o uso de máscaras e a prática do distanciamento social. O site do Instituto Butantan também ressalta que, mesmo após a segunda aplicação, a imunidade contra o novo coronavírus não é desencadeada imediatamente. “Caso uma pessoa tenha covid-19 logo após se imunizar, isso não significa que a vacina não funcionou, mas que seu o sistema imunológico ainda não teve tempo para criar a resposta imune”, diz o instituto paulista. A página reafirma a necessidade de manter medidas de segurança, como o uso de máscara e a higienização constante das mãos. Nesta quarta-feira, 10, o Butantan também emitiu uma nota destacando que a morte do idoso ocorrida em Guaratinguetá não tem relação com a CoronaVac. Resultado No primeiro contato com a reportagem, no dia 8 de fevereiro, embora já tivesse publicado o post, Samuel Batista afirmou que ainda aguardava os resultados do exame de covid-19 e que a depender do apontamento pretendia ingressar com uma ação judicial para suspender a vacinação de idosos. Segundo ele, a Santa Casa de Guaratinguetá havia dado um prazo de dez dias para informar a conclusão dos exames. Em nota ao Comprova enviada na quinta-feira, 11, o hospital afirmou que envia as amostras a um laboratório parceiro credenciado. O prazo médio de resultado, segundo a instituição, corresponde a quatro dias, “a depender da demanda do prestador do serviço”. A Santa Casa disse ainda que o resultado do exame de covid-19 do idoso foi notificado ao hospital e repassado aos familiares na quarta-feira, dia 10. A prefeitura, no entanto, já havia confirmado o diagnóstico positivo à reportagem na tarde do dia 8 e novamente em nota no dia 9 de fevereiro, conforme mostra o e-mail abaixo. A assessoria de imprensa justificou que o laboratório responsável pela análise enviou o resultado do exame diretamente à Secretaria Municipal de Saúde. Em novo contato com Samuel Batista nesta sexta-feira, 12, o pastor disse que foi notificado sobre o exame. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados a informações sobre a pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A publicação investigada nesta reportagem alcançou mais de 25 mil compartilhamentos, quase 10 mil interações e foi replicada em outras páginas na rede social. Os imunizantes e a vacinação contra a covid-19 são alvos frequentes de desinformação. O comprova já desmontou um boato enganoso que usava vídeo de 2018 para afirmar que idosa morreu após tomar vacina, outro afirmava que a imunogenicidade da CoronaVac apresentava riscos à saúde de pacientes. Também desmentimos uma mensagem enganosa repercutida por um assessor da Presidência da República com informações incorretas sobre a eficácia do imunizante. Enganoso, para o Comprova é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-eua-estejam-distribuindo-ivermectina-e-leite-condensado-a-vacinados/
COMPROVA
É falso que EUA estejam distribuindo ivermectina e leite condensado a vacinados
null
2021-02-09
Vídeo que circula pelas redes sociais foi gravado em Miami Beach, mas a prefeitura da cidade norte-americana informou que não existe distribuição desses itens. Além disso, protocolos oficiais nos EUA não incluem o medicamento como tratamento contra a covid-19. Conteúdo verificado: Em vídeo compartilhado nas redes sociais, um homem exibe um kit que teria recebido nos EUA, após ser vacinado, e que continha uma marmita, uma caixa de ivermectina e uma lata de leite condensado Ele diz que essa seria uma nova política de Biden. Em vídeo compartilhado em grupos de WhatsApp e no Facebook, um homem, que se apresenta como um brasileiro de mais de 50 anos que acabara de se vacinar, afirma que o governo de Joe Biden está distribuindo ivermectina e leite condensado para quem for vacinado contra a covid-19 nos EUA. Essa afirmação é falsa. Usando ferramentas de verificação de imagens, o Comprova descobriu o lugar onde foi realizada a gravação, um condomínio em Miami Beach, e entrou em contato com a prefeitura de Miami, responsável pela vacinação no local. A administração da cidade norte-americana informou que o vídeo se trata de uma farsa, que não há distribuição de ivermectina ou leite condensado e que a faixa etária para grupo de risco é acima de 65 anos. O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, em suas diretrizes sobre o tratamento da covid-19, não recomenda o uso de agentes como a hidroxicloroquina e a ivermectina contra a doença e informa que ainda não há dados suficientes para a recomendação do uso da ivermectina no tratamento da doença. A agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), equivalente à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), informa em seu site que embora existam usos aprovados para ivermectina, a droga não foi aprovada para a prevenção ou tratamento da covid-19. No final do vídeo, de quase seis minutos, o homem diz “desculpa aí a brincadeira”, dando a entender que se trata de uma peça de humor. Mas como o Comprova não conseguiu contato com o autor do vídeo e muitas das páginas que o reproduziram levaram o conteúdo a sério, consideramos o conteúdo como falso. Como verificamos? Inicialmente, buscamos informações sobre o autor da postagem no Facebook e o homem que aparece no vídeo. Para identificar o local onde o video foi gravado, foi feita uma captura de tela do vídeo verificado para começar a busca do local de gravação. Depois, utilizamos o aplicativo do Google Fotos e uma das ferramentas disponíveis para o usuário, o Google Lens, que oferece a possibilidade de selecionar um pedaço da foto para fazer uma busca mais detalhada. Utilizando essa ferramenta, chegamos ao campo de pesquisa do Google Imagens, que trouxe uma foto que se assemelhava muito ao local onde fora feito o vídeo verificado. O resultado da busca era uma imagem com o detalhe da fachada do prédio que nos permitiu identificar a construção. Abaixo da imagem, havia o nome do lugar – North Beach Senior Center / Unidad of Miami Beach – com um link que nos levou para um site que exibia novamente a mesma fachada, mas agora ampliada. A foto trazia, no entanto, a inscrição “ em breve” (coming soon em inglês), o que poderia indicar se tratar apenas de uma imagem feita no computador. Uma busca semelhante no Google retornava, no entanto, um texto informando sobre a inauguração deste centro, em julho de 2010. Na sequência, tomamos dois caminhos. Primeiro, buscamos no Google Maps o endereço disponível na imagem: 7251 Collins Ave, Miami Beach, FL 33141, EUA. Utilizando a ferramenta do Google Street View, encontramos o prédio, mas a partir de um local mais distante. Fotos do local disponíveis no Google Street View traziam, no entanto, indícios de que realmente era esse o prédio. O Google Street View mostrou, também, que havia uma longa faixa de areia bem à frente do condomínio. Isso era consistente com o reflexo nos óculos escuros do homem responsável pelo vídeo, que aparentava mostrar areia. Em paralelo, jogamos no Google o nome do local e chegamos ao site da Plaza Constructions, uma construtora com sete escritórios nos Estados Unidos. No site da construtora é possível ver uma série de imagens do empreendimento, mas de ângulos que não permitiam uma confirmação com certeza a respeito do local da gravação. O site da construtora trazia, no entanto, uma outra informação importante, o nome do escritório responsável pelo projeto – Rene Gonzalez Architects. No Google, encontramos a página do escritório no Instagram e, buscando nas imagens disponíveis, encontramos uma imagem do local publicada em 13 de março de 2020, que mostra a fachada e traz elementos que permitem a confirmação do prédio como sendo aquele em que a pessoa no vídeo estava. A imagem abaixo mostra as diversas imagens que encontramos e a comparação com as capturas de tela do vídeo verificado: Consultamos também o site da Itambé, marca do leite condensado exibido no vídeo, e entramos em contato com o departamento de marketing da indústria, para confirmar se o produto é exportado para os Estados Unidos. Por fim, entramos em contato com o departamento de comunicação e marketing da prefeitura de Miami, que nos retornou informando que o vídeo se trata de uma farsa, que não há distribuição de ivermectina e que a faixa etária para grupo de risco é acima de 65 anos. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de fevereiro de 2020. Verificação Houve vacinação no local em que o vídeo foi gravado? Apesar do local não fazer parte da lista de postos de vacinação informados pelo governo da Flórida, uma busca no Instagram revelou que o prédio da uma localização nomeada como “UNIDAD of Miami Beach (Senior Employment Program) realmente foi usado para essa finalidade pela prefeitura de Miami. Nas imagens mais recentes, é possível encontrar uma foto que mostra bombeiros de Miami vacinando pessoas. A imagem foi postada por Michael C. Gongora, commissioner (o equivalente a vereador, representa um distrito determinado nas comissões que administram os condados nos Estados Unidos) de Miami Beach. Ao divulgar a mesma coleção de fotos, o Twitter de Gongora, marcou diversas contas que divulgam notícias de Miami. Uma delas era a @MiamiBeachNews, conta oficial da cidade de Miami Beach. Um dos tweets divulgados por esta conta nos levou a um vídeo de 6 minutos postado em 1º de fevereiro por Dan Gelber, prefeito da cidade. Aos 2min40s, Gelber destaca que o posto de vacinação no “Unidad” foi montado pela prefeitura comandada por ele. Por email, Melissa Berthier, uma das responsáveis pelo departamento de comunicação e marketing da prefeitura de Miami Beach, confirmou que a cidade está realizando a vacinação, com o imunizante da Moderna, e informou que não há distribuição de ivermectina ou leite condensado pela prefeitura da cidade. Além disso, ela destacou que o suprimento de vacinas é limitado e que, portanto, apenas pessoas com mais de 65 anos estão sendo vacinadas no momento. Os EUA com Biden anunciaram o chamado “tratamento precoce” com ivermectina e cloroquina? Segundo as últimas atualizações das diretrizes do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos publicadas no dia 14 de janeiro de 2021, sobre o uso de ivermectina para o tratamento da covid-19, os estudos realizados com a ivermectina em pacientes infectados se mostraram inconclusivos e foi determinado que não há dados suficientes para recomendar a favor ou contra o uso de ivermectina para o tratamento da doença. Assim como a FDA avisa em seu site que “embora existam usos aprovados para a ivermectina em pessoas e animais, ela não está aprovada para a prevenção ou tratamento de covid-19. Você não deve tomar nenhum medicamento para tratar ou prevenir covid-19, a menos que tenha sido prescrito por seu médico e obtido de uma fonte legítima”. No site criado especificamente para informar sobre a pandemia, o estado da Flórida também não indica a ivermectina ou qualquer outro medicamento como tratamento precoce em caso de infecção pelo vírus. O medicamento sequer é mencionado na página. Leite condensado, kiwi e uvas No vídeo o homem afirma que o “novo protocolo do novo presidente dos EUA, que é o Biden” inclui a entrega de um kit com uma marmita com camarão, além de frutas como kiwi e uva. Na sequência, o homem mostra a marmita, sem mostrar seu conteúdo, e diz que, com a marmita, veio uma caixinha do “ivermedicina, o remédio do Bolsonaro”. A caixa do remédio é, no entanto, um genérico de fabricação brasileira. O homem diz que, após receber a vacina, foi chamado por um oficial das Forças Armadas (ele menciona que havia militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica na sala de vacinação) que lhe entregou o brinde. Ele exibe também, como sendo um dos itens do kit, uma lata de leite condensado da Itambé com rótulo bilíngue, com inscrições em português e em inglês. Segundo o site da Itambé, a marca exporta o produto regularmente para os Estados Unidos e pode ser comprado com facilidade pela Amazon ou em lojas especializadas em produtos brasileiros. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, que tenham alcançado grande repercussão nas redes sociais. O vídeo sobre o suposto kit de ivermectina e leite condensado, oferecido após a vacinação em um posto de Miami, nos Estados Unidos, foi compartilhado no WhatsApp e em milhares de páginas, grupos e perfis do Facebook. Segundo a ferramenta de monitoramento CrowdTangle, o vídeo teve mais de 736 mil visualizações até o dia 9 de fevereiro. Uma das páginas que publicou o vídeo, cujo post foi compartilhado 24 mil vezes, acrescentou um texto fazendo referência ao presidente Jair Bolsonaro: “veja nesse vídeo pq o homem (presidente) mais uma vez tem razão!!” Apesar do conteúdo apresentar elementos de uma sátira, o vídeo foi compartilhado por muitas páginas como informação verdadeira. E como o Comprova não localizou o homem que aparece na gravação para apurar a intenção do autor, considerou as informações apresentadas na gravação como falsas. Falso, para o Comprova, é um conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Esta verificação contou com o apoio de estudantes de jornalismo do programa de estágio Comprova/FAAP.
https://i1.wp.com/projet…576%2C1024&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/facebook-restaurou-post-sobre-hidroxicloroquina-mas-mantem-politica-de-remocao-de-desinformacao-sobre-a-covid-19/
COMPROVA
Facebook restaurou post sobre hidroxicloroquina, mas mantém política de remoção de desinformação sobre a covid-19
null
2021-02-09
Um comitê independente formado pelo Facebook, de fato, solicitou a restauração de um post feito por um usuário na França, mas o Facebook informou que não "admitiu erro" como fazem crer publicações nas redes sociais. Conteúdo verificado: Publicações nas redes sociais que afirmam que o Facebook teria reconhecido que errou ao censurar postagens sobre o tratamento com hidroxicloroquina. São enganosas as publicações no Facebook e no Twitter que afirmam que o Facebook admite que “cometeu um erro” ao “censurar a hidroxicloroquina”. A rede social realmente restaurou um post específico feito por um usuário da França em outubro de 2020, em que ele criticava o governo francês por ter se recusado a autorizar o uso combinado de hidroxicloroquina com azitromicina para tratamento da covid-19. No entanto, esta decisão não altera a postura da plataforma em relação à desinformação sobre a covid-19. O Facebook argumentou que o usuário francês falou em cura pela hidroxicloroquina ao criticar a postura do governo da França, e que o conteúdo foi removido com base numa política da empresa contra conteúdos que possam causar danos no mundo atual. Após a decisão do Comitê de Supervisão – grupo criado e financiado pelo Facebook para analisar de forma independente alguns casos de remoção de conteúdo da plataforma -, o post foi restaurado, no último dia 28 de janeiro. O grupo entendeu que o usuário não incentivava as pessoas a comprar ou tomar o medicamento sem receita. O estatuto do Comitê estabelece que as decisões são vinculantes – ou seja, elas são cumpridas pela empresa, a menos que violem a lei. O Facebook emitiu um comunicado informando que restabeleceu o post, mas não “admitiu erro” e informou que a atual abordagem para esses casos vai continuar enquanto durar a pandemia. A abordagem, segundo a plataforma, é baseada em “extensas consultas com cientistas reconhecidos, incluindo do Centre for Disease Control (CDC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS)”. As postagens verificadas pelo Comprova foram compartilhadas pelos perfis no Facebook de Priscila Costa (vereadora de Fortaleza pelo PSC) e Esquerdopatia Política. Elas tomam como base um tuíte da médica norte-americana Simone Gold. Ela ficou conhecida por ser uma das defensoras do uso da hidroxicloroquina e esteve entre o grupo de pessoas que invadiu o Capitólio no dia 6 de janeiro deste ano para tentar interromper a certificação da eleição presidencial de 2020 dos Estados Unidos. No post, a médica diz que o Facebook admitiu que cometeu um erro ao censurar estudos que mostravam que a hidroxicloroquina salvava vidas, o que não é verdade. A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) também fez uma publicação sobre o mesmo assunto no Twitter. Em contato com a assessoria de imprensa da parlamentar, o Comprova recebeu a informação de que ela se baseou numa informação publicada pela colunista de finanças Patrícia Lages, do portal R7. Como verificamos Fizemos contato com a assessoria do Facebook para questionar se a rede de fato admitiu erro ao tirar o post do ar, quais são as políticas adotadas para as postagens e como funciona o Conselho de Supervisão da rede. Em seguida, consultamos o site do Comitê de Supervisão do Facebook a respeito da decisão sobre a postagem do usuário francês. Também entramos em contato com a assessoria de imprensa da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e com os perfis no Facebook Esquerdopatia Política e Priscila Costa. Apenas os dois primeiros responderam. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de fevereiro de 2020. Verificação O que diz o post removido e depois restaurado? Em outubro de 2020, um usuário do Facebook na França fez uma postagem em um grupo público sobre a covid-19 em que denunciava o que chamava de “escândalo da Agence Nationale de Sécurité du Médicament” (agência francesa responsável pela regulamentação dos produtos para a saúde), que se recusou a autorizar no país o uso combinado da hidroxicloroquina com a azitromicina no tratamento da covid-19, ao mesmo tempo em que havia autorizado e promovido o remdesivir. O remdesivir é um antiviral aplicado por via intravenosa, usado originalmente para combater o ebola, que foi bastante citado no início da pandemia como promissor no tratamento da covid-19. Em novembro do ano passado, a OMS informou que não recomendava o uso do medicamento contra a covid-19 por falta de evidências de que ele tivesse efeitos significativos. Já a hidroxicloroquina é um medicamento usado no tratamento de doenças reumáticas, como lúpus, e também contra a malária. A OMS informou que a hidroxicloroquina também não funciona contra a covid-19. O uso da cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid-19 apareceu em um estudo inicial feito pelo médico francês Didier Raoult, que apontou o medicamento como a cura para a doença. O usuário autor do post que acabou restaurado pelo Facebook criticou a falta de estratégia em saúde na França e afirmou que “a cura de [Didier] Raoult” estava sendo usada em outros lugares para salvar vidas. No dia 4 de janeiro, o médico e sua equipe publicaram um artigo no International Journal of Antimicrobial Agents reconhecendo pela primeira vez que o medicamento não tinha eficácia no tratamento contra a covid-19, mas voltou atrás do reconhecimento após a repercussão em jornais por todo o mundo. Por que o post foi removido? A postagem foi removida pelo Facebook com base na política contra a desinformação da rede social, por contribuir para o “risco de dano físico iminente”. A empresa explicou ao Comitê de Supervisão – criado e financiado pelo Facebook para analisar de forma independente alguns casos de remoção de conteúdo da rede social – que removeu a postagem porque ela afirmava que existiria uma cura para a covid-19, fato negado pelas principais autoridades sanitárias do mundo, e concluiu que isso poderia levar as pessoas a ignorar as orientações de saúde ou a tentarem se automedicar. O que disse o Comitê de Supervisão? O caso do post feito na França em outubro do ano passado foi submetido ao Comitê de Supervisão, que decidiu, no último dia 28 de janeiro, anular a remoção do conteúdo. Para o Comitê, o usuário que fez o post se opunha a uma política governamental na França – a de não autorizar o uso combinado de hidroxicloroquina e azitromicina – e pretendia mudá-la. “A combinação de medicamentos que o post afirma constituir uma cura não está disponível sem receita na França e o conteúdo não incentiva as pessoas a comprar ou tomar medicamentos sem receita”, afirma o texto publicado pelo comitê. Para os membros do comitê, o Facebook não demonstrou que a postagem elevaria o risco de dano iminente, exigido pela própria regra dos Padrões da Comunidade. Eles também apontaram que a decisão do Facebook não está em conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos sobre a liberdade de expressão. Como o Facebook tem uma gama de ferramentas para lidar com a desinformação, a empresa não conseguiu demonstrar porque não escolheu uma punição menos invasiva do que remover o conteúdo, diz o comitê. Os membros também consideraram vaga a regra sobre desinformação e dano iminente, o que torna difícil para os usuários entenderem o que podem e o que não podem postar. Na decisão, o grupo determinou que o Facebook restaurasse a postagem que foi removida e recomendou que a empresa crie um novo Padrão da Comunidade sobre desinformação em saúde; adote meios menos invasivos para aplicar as políticas de desinformação em saúde; e aumente a transparência sobre como modera a desinformação em saúde. Postagem foi restaurada No mesmo dia 28 de janeiro, o Facebook se pronunciou sobre as primeiras decisões tomadas pelo Comitê de Supervisão e informou que a postagem havia sido restaurada. A vice-presidente de Políticas de Conteúdo do Facebook, Monika Bickert, comentou o caso da hidroxicloroquina: “O comitê corretamente levanta preocupações de que podemos ser mais transparentes sobre nossas políticas de desinformação em relação à covid-19. Concordamos que essas políticas podem ser mais claras e pretendemos publicar políticas de desinformação de COVID-19 atualizadas em breve”. O texto, publicado na Newsroom do Facebook, acrescenta que a abordagem para remoção de conteúdo sobre a covid-19 irá se manter enquanto durar a pandemia. Por meio de porta-voz, o Facebook informou ao Comprova que seguiu a recomendação e restaurou a postagem, mas reafirmou ser fundamental que as pessoas tenham acesso a informações precisas durante a pandemia. “Seguindo o compromisso com o Comitê de Supervisão, restauramos o post sobre Covid-19. Porém, acreditamos ser fundamental que as pessoas tenham acesso a informações precisas na nossa plataforma e sabemos que isso é ainda mais crítico durante uma pandemia. Mantemos nossa abordagem de remover desinformação sobre coronavírus que possa levar danos às pessoas no mundo real, com base em extensas consultas a grupos científicos como o Centro de Prevenção de Doenças dos EUA e a Organização Mundial da Saúde”. O que é o Comitê de Supervisão? De acordo com o Facebook, o Comitê de Supervisão é formado por um conjunto diversificado de especialistas, responsável por analisar de forma independente alguns conteúdos que tenham sido removidos da rede. Os membros são representantes de diversas partes do mundo e formam uma equipe independente. O financiamento inicial para a formação do Comitê foi de mais de US$ 130 milhões para cobrir custos operacionais, como espaço de escritório, equipe e despesas de viagem, e permitir que o comitê opere pelo menos nos seus dois primeiros mandatos completos, aproximadamente seis anos. O site oficial do comitê informa que, “para garantir uma perspectiva global, o Comitê de Supervisão tem membros de diversas origens culturais e profissionais”. O site acrescenta que “esses membros foram escolhidos porque têm experiência em deliberar de forma ponderada e colegiada, demonstram habilidade para tomar e explicar decisões com base em um conjunto de políticas ou princípios e estão familiarizados com o conteúdo e a governança digitais”. Atualmente, o comitê tem 20 membros que tomam decisões colegiadas, independente do local onde o post tenha sido feito. Os casos a serem analisados são enviados pelo próprio Facebook ou por usuários. As decisões do Comitê estão disponíveis na íntegra. Também entramos em contato com a assessoria da deputada federal Bia Kicis. Segundo a equipe, Kicis retirou a informação de uma matéria publicada no portal R7 assinada pela comentarista de finanças Patrícia Lages. O texto afirma que, de fato, o Facebook recomendou a criação de novo padrão de classificação das informações postadas, e que a empresa “reconhece que ‘cometeu um erro’”, mas não há um posicionamento da empresa, além da recomendação do comitê. Autores das publicações Em contato com moderação da página Esquerdopatia Política, questionamos quais foram as fontes usadas para a publicação. A resposta foi a sugestão de checarmos as fontes usadas pela página. O primeiro mostra a postagem da Dra. Simone Gold em sua conta no Twitter, onde afirma que o Facebook ‘admitiu erro ao censurar estudos mostrando que a hidroxicloroquina salva vidas’; outro link trata de um estudo sobre covid-19 no mundo e o uso da hidroxicloroquina; o seguinte é uma publicação de um site cujo fundador teve a conta no Twitter suspensa por divulgação de notícias falsas; o próximo link trata de um estudo publicado no The American Journal of Medicine, que defende o uso preventivo no tratamento da covid-19 com base no uso da hidroxicloroquina; e o último traz o link já colocado nesta verificação, referente à decisão do Comitê de Supervisão do Facebook sobre a publicação do usuário francês. Após o contato, a página Esquerdopatia Política fez uma nova postagem com o print do contato feito pelo Comprova. “Olha o nível do “jornalismo investigativo”. São incapazes de chegar na fonte primária…”. A vereadora Priscila Costa não retornou o contato até a publicação desta verificação. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados a informações sobre a pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. O Facebook publicou, no dia 28 de janeiro, a respeito de um conjunto de decisões sobre postagens escolhidas para avaliação. Dentre elas, postagens sobre discurso de ódio e desinformação sobre saúde estão elencadas. Uma das postagens, da página da vereadora Priscila Costa, teve 1,5 mil compartilhamentos no Facebook. Postada no dia 31 de janeiro, uma publicação da deputada federal Bia Kicis (PSL), em referência ao mesmo conteúdo, teve quase 10 mil interações no Twitter até o fechamento desta verificação. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/ao-contrario-do-que-afirma-deputado-doria-nao-recebeu-r19-bilhoes-da-uniao-para-o-combate-a-covid-19/
COMPROVA
Ao contrário do que afirma deputado, Doria não recebeu R$19 bilhões da União para o combate à covid-19
null
2021-02-05
Em vídeo publicado no Facebook, deputado federal de Minas Gerais ignora que mais da metade da quantia citada por ele foi encaminhada a administrações municipais e, portanto, não é de competência do governador paulista. Conteúdo verificado: Vídeo publicado no perfil do Facebook de um deputado federal em que ele afirma que o governador de São Paulo, João Doria, recebeu R$ 19,5 bilhões de Bolsonaro para o combate à covid-19. É enganosa a afirmação do deputado federal Leo Motta (PSL-MG) de que o presidente Jair Bolsonaro destinou R$ 19,5 bilhões ao governo do estado de São Paulo para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Em vídeo viral no Facebook, o parlamentar omite que mais da metade da quantia citada por ele foi encaminhada a administrações municipais e, portanto, não é de competência do governador paulista João Doria. Motta ainda reproduz uma alegação já desmentida pelo Comprova de que o estado do Amazonas teria recebido “quase R$ 10 bilhões” para combater à covid-19. O Comprova já mostrou que apenas uma pequena parte desse valor era destinado ao enfrentamento da crise sanitária. Questionado pelo Comprova, o gabinete de Motta enviou por e-mail um boletim da Secretaria Especial de Assuntos Federativos com a descrição de recursos do Governo Federal destinados ao estado de São Paulo e municípios no âmbito da pandemia. Divulgados em novembro de 2020, os relatórios de cada unidade federativa do país estão disponíveis no site do Governo Federal. O documento informa um repasse total de R$ 19,347 bilhões, com base em dados do Tesouro Nacional, do Fundo Nacional de Saúde e do Ministério da Cidadania. Desse montante, porém, R$ 10,05 bilhões foram destinados a governos municipais. O mandato de Leo Motta não quis se manifestar sobre os apontamentos do Comprova até a publicação desta reportagem. Como verificamos Procuramos o deputado Léo Motta, por meio dos contatos de e-mail e telefone informados no site da Câmara dos Deputados, para questionar a fonte usada por ele para as afirmações. A assessoria do deputado enviou em resposta apenas uma apresentação em PDF, produzida pela Secretaria Especial de Assuntos Federativos, do Governo Federal. Em seguida, buscamos, nos Portais da Transparência da União e do estado de São Paulo, além do Portal Siga Brasil, do Senado Federal, os dados sobre repasses enviados ao governo paulista para o combate à covid-19, desde o início da pandemia. Os dados listados em cada site possuíam algumas divergências entre as rubricas, e, por isso, procuramos, por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Fazenda de SP e o Ministério da Economia. As duas pastas disseram que os valores nos portais estão atualizados e enviaram o caminho para o acesso às informações. Para saber mais sobre a compra de respiradores e insumos para o combate à pandemia em São Paulo, mencionados pelo deputado, consultamos o Portal da Transparência estadual, que possui uma seção dedicada aos gastos relacionados ao novo coronavírus, bem como os sites do Ministério Público de Contas de SP e do Tribunal de Contas do Estado. Acessamos, ainda, reportagens publicadas sobre possíveis irregularidades na aquisição desses equipamentos. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 5 de fevereiro de 2021. Verificação O boletim da Secretaria Especial de Assuntos Federativos aponta cinco origens de repasses ao estado de São Paulo destinados especificamente para combate à pandemia. A primeira delas consiste na transferência da ordem de R$ 1,618 bilhão provinda do Fundo Nacional de Saúde, que é o órgão federal responsável por gerir recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). É importante ressaltar, porém, que o relatório considera dados de janeiro a novembro de 2020. Em nota ao Comprova, a Secretaria da Fazenda de São Paulo informou que a quantia atualizada corresponde a R$ 1,78 bilhão. O valor também consta no portal de transparência da pasta. De acordo com o boletim do Governo Federal, a União também repassou R$ 69,53 milhões como parte do programa de compensação do Fundo de Participação dos Estados (FPE) em meio à pandemia. O repasse obedece à lei 14.041/2020, que foi constituída a partir de uma medida provisória assinada por Bolsonaro. O FPE recebe 21,5% dos tributos arrecadados pela União por meio do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos e Serviços (IPI). Esse valor é distribuído aos 26 estados e ao Distrito Federal, conforme parâmetros previstos em lei. O programa do Governo Federal instituído durante a pandemia cobre a diferença negativa entre os valores destinados ao fundo entre março a junho de 2020, com a arrecadação do mesmo período no ano anterior. Uma planilha disponível no site do Tesouro Nacional permite a qualquer cidadão verificar a quantia encaminhada a todos os estados e o Distrito Federal. A maior parte dos recursos destinados pela União ao combate à covid-19 no estado, no entanto, corresponde ao Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus (PFEC). Dos R$ 19,4 bilhões de repasses incluindo os municípios paulistas, R$ 12,7 bilhões são oriundos do auxílio, dos quais R$ 7,6 bilhões foram destinados ao governo estadual. O programa segue a lei complementar 173/2020, que teve origem em um projeto de lei do senador Antonio Anastasia (PSD-MG). O portal da Fazenda do governo Doria descreve a verba em duas categorias: as receitas referentes ao “Inciso I” da legislação, na ordem de R$ 988 milhões, e ao inciso II, de R$ 6,61 bilhões. Ambos os valores são nominais, ou seja, não estão corrigidos pela inflação. A distinção acontece porque a lei determina no art 5º inciso I que parte do valor deve ser destinado obrigatoriamente ao apoio de sistemas de saúde e assistência social na linha de frente do combate à pandemia. Já o restante referente ao inciso II pode ser aplicado livremente pelos poderes estaduais beneficiados como, por exemplo, para compensar perdas fiscais. Na seção “Auxílio Financeiro de que trata o art. 5º da Lei Complementar nº 173, de 27 de maio de 2020” da página informativa do site do Tesouro é possível baixar a planilha com detalhes de cada uma das quatro parcelas do auxílio. A apresentação do Governo Federal ainda aponta uma última categoria chamada “outros repasses” na ordem de R$ 927 mil. Somando todos os recursos expostos no relatório, o governo estadual de São Paulo recebeu aproximadamente R$ 9,3 bilhões, já os municípios paulistas obtiveram cerca de R$ 10,05 bilhões. Portanto, é equivocado afirmar que o governador João Doria ganhou R$ 19,5 bilhões do Governo Federal para investir em medidas de combate à pandemia, como sugere o deputado Leo Motta no vídeo. Além disso, nem todas as verbas partiram de iniciativas do presidente Jair Bolsonaro. Amazonas não recebeu R$ 8,9 bilhões para enfrentamento da Covid-19 Leo Motta ainda erra ao insinuar que a União teria repassado quase R$ 10 bilhões ao Amazonas para enfrentar a pandemia. Como mostra uma verificação anterior do Comprova, o repasse de R$ 8,9 bilhões do Governo Federal ao estado em 2020 não foi exclusivo para o combate à Covid-19. Na verdade, as transferências relativas à crise sanitária contabilizam cerca de R$ 1,38 bilhão. Vale destacar ainda que os boletins da Secretaria Especial de Assuntos Federativos que embasam as declarações do parlamentar sobre os repasses para o Governo de São Paulo também contradizem o deputado no que toca ao Amazonas. O último relatório sobre o estado indica que os auxílios para o governo amazonense somados às verbas distribuídas a municípios não chegavam a R$ 2,4 bilhões em novembro do ano passado. Gastos com respiradores No vídeo, ao questionar o governador de São Paulo sobre os gastos públicos para o enfrentamento à pandemia da covid-19, o deputado federal Léo Motta menciona, de forma vaga, a compra de respiradores e máscaras, e indaga o valor pago pelo estado. Perguntamos ao deputado se ele teve acesso a algum tipo de denúncia específica de problemas nessas aquisições, mas a assessoria não respondeu a esse questionamento. No Portal da Transparência do governo estadual, é possível pesquisar o valor pago a fornecedores de materiais e serviços contratados no âmbito da pandemia do novo coronavírus. Segundo a plataforma, o governo estadual empenhou R$ 235 milhões na aquisição de equipamentos – no caso, respiradores – junto a empresa Hichens Harrison Partners. O contrato, porém, estava inacessível no portal durante a consulta do Comprova em 5 de fevereiro. O acordo previa inicialmente a negociação de 3 mil aparelhos pelo valor de US$ 100 milhões, cerca de R$ 550 milhões quando a operação foi anunciada. Diante de atrasos nos prazos de entrega dos respiradores, o Governo de São Paulo decidiu cancelar o contrato e restringiu a compra a 1.280 unidades. Em junho de 2020, o Ministério Público de Contas de São Paulo abriu um procedimento para investigar os valores pagos pela Secretaria Estadual de Saúde na compra dos equipamentos. O órgão apontou suspeitas de sobrepreço na aquisição. Segundo a representação enviada ao Tribunal de Contas do Estado, “O procedimento interno de investigação foi instaurado após denúncia formulada pelo Excelentíssimo Senador da República Major Olímpio perante este órgão ministerial. Sua Excelência narrou a existência de eventuais irregularidades no procedimento de aquisição de ventiladores pulmonares pelo Governo do Estado de São Paulo. O senador Major Olímpio (PSL-SP) é o líder do partido – pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu – no Senado, mas rompeu publicamente com o chefe do executivo no primeiro semestre do ano passado. A consulta pública ao andamento processual no site do TCE mostra que o caso ainda está ativo no Tribunal, e que foi enviado a um dos conselheiros no começo de fevereiro. Na mesma página, porém, o último documento disponibilizado é um despacho, de 10 de junho de 2020, que dá aos envolvidos o prazo de 15 dias para o envio de justificativas sobre o caso em apuração. Além disso, o próprio TCE determinou que os municípios paulistas e alguns órgãos e secretarias do governo estadual preencham um questionário com informações sobre os gastos no combate à pandemia do novo coronavírus. O prazo para a entrega dos dados, que serão posteriormente analisados pelo Tribunal, termina nesta sexta-feira, 5 de fevereiro. A apuração dos gastos, portanto, ainda está em andamento, e é realizada pelos órgãos estaduais competentes. Quem é o deputado e qual sua relação com Doria? Eliel Márcio do Carmo, conhecido como Leo Motta, é deputado desde 2019 pelo Partido Social Liberal- PSL de Minas Gerais, com mandato até 2023. Segundo o site da Câmara Legislativa, o deputado também preside a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. Leo Motta, mesmo após a saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL, continuou sendo um grande defensor do governo como ficou explícito nas suas redes sociais. O Comprova entrou em contato com o deputado por e-mail, questionando as fontes usadas para afirmar o destino dos 19 bilhões. Em resposta, a assessoria do deputado apenas encaminhou o documento pelo qual se basearam, o boletim Segov Estadual de São Paulo. O Comprova não encontrou nenhuma ligação de Leo Motta com o governador de São Paulo, João Doria. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A postagem no perfil do Facebook do deputado ultrapassa as 460 mil visualizações e foi compartilhada quase 50 mil vezes até a publicação desta checagem. Com uma interpretação equivocada dos dados disponibilizados pelo Governo Federal, o deputado contribuiu ainda mais para a desinformação em torno de temas que envolvem a pandemia da covid-19. O Comprova já verificou outras publicações que envolviam os recursos destinados aos municípios para o combate da Covid-19, como a que checou que o repasse de R$ 8,9 bilhões do governo federal ao Amazonas não foi exclusivo para combate à pandemia. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i2.wp.com/projet…=640%2C352&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-dizer-que-video-de-vagoes-com-conteineres-empilhados-seja-do-primeiro-trem-no-trajeto-do-mt-ao-porto-de-santos/
COMPROVA
É enganoso dizer que vídeo de vagões com contêineres empilhados seja do primeiro trem no trajeto do MT ao porto de Santos
null
2021-02-05
Ao contrário do que afirmam publicações nas redes sociais, o trem que aparece nas imagens não é o primeiro a trafegar pela ferrovia. O primeiro trecho da Ferronorte foi inaugurado em 1999 e o mais recente foi entregue em 2013. A operação dos vagões double stack, que transportam dois contêineres empilhados, começou em julho de 2019. Conteúdo verificado: Vídeo compartilhado no WhatsApp, Tik Tok e no Facebook mostra um comboio transportando contêineres sobrepostos afirmando, na legenda, que esse seria o “primeiro trem saindo do estado do Mato Grosso para Santos” e que a imprensa não iria divulgar. Um vídeo que mostra um comboio da Rumo Logística, com contêineres de sua subsidiária, a Brado, saindo de Alto Taquari (MT) supostamente rumo ao Porto de Santos (SP), foi tirado de contexto e entrega conteúdo enganoso. A legenda das publicações, que viralizou em mais de uma rede social, engana ao afirmar que trata-se do primeiro trem a percorrer o trajeto entre o Mato Grosso e o porto de Santos. O vídeo foi originalmente publicado pelo entusiasta de trens e ferrovia Jeferson da Luz no dia 24 de novembro de 2020, em seu canal no Youtube, Ferrovia Sul. As imagens foram tiradas de contexto no dia 2 de fevereiro de 2021, por publicações na conta do Tik Tok. O primeiro trecho da Ferronorte, entre Santa Fé do Sul, no estado de São Paulo, e Alto Taquari, foi inaugurado em 1999, ao passo que o trecho mais recente foi entregue em 2013. Assim, é errado afirmar que o trem mostrado no vídeo seria o primeiro. Por sua vez, a operação dos vagões double stack, estes que aparecem no vídeo com contêineres empilhados, começou em 19 de julho de 2019. Portanto, elas já estavam em funcionamento havia quase um ano quando o vídeo foi gravado. Como verificamos? O Projeto Comprova utilizou a ferramenta InVID para identificar outras vezes em que este vídeo foi postado. A busca levou para uma publicação na conta oficial no Facebook do ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), sem a legenda enganosa. A postagem do ministro dava crédito para o canal no YouTube chamado Ferrovia Sul, administrado por Jeferson da Luz. Conversamos com Jeferson por meio de mensagens no Instagram, e ele nos confirmou a autoria do vídeo, o local e a data em que foi gravado. Por outro lado, negou que tenha escrito a legenda compartilhada nas redes sociais de forma viral. Também entramos em contato por e-mail com o Ministério da Infraestrutura do governo federal e a Secretaria de Infraestrutura do Mato Grosso (Sinfra), que também negaram a veracidade de que o trem gravado fosse o “primeiro saindo de Mato Grosso para Santos”. Por fim, falamos pelo WhatsApp com a empresa Rumo, responsável pelo trem mostrado no vídeo. Verificação O autor do vídeo O Projeto Comprova encontrou o autor do vídeo: Jeferson da Luz, que trabalha no setor ferroviário e é um entusiasta de trens e ferrovias. Ele posta suas fotos e vídeos em seu canal no Youtube, o Ferrovia Sul, e também em suas contas pessoais no Instagram (@polaticus) e no Facebook. Jeferson conta que o vídeo e as fotos do comboio que viralizaram neste início de fevereiro foram registrados em Alto Taquari (MT) no dia 24 de novembro de 2020, em uma viagem que ele fez de Curitiba (PR) para Rondonópolis, para visitar seu tio. Ele diz que jamais imaginou que o vídeo viralizasse. “Falar que é o primeiro trem do Mato Grosso para o Porto de Santos? Já está errado”, informa Jeferson da Luz. Ele lembra que a Ferronorte existe desde a década de 1990. “E as operações double stack, até onde eu tenho conhecimento, é de meados de 2019”, complementa. As datas condizem com as informações fornecidas pelo Ministério da Infraestrutura (mais informações abaixo). O trabalhador do setor ferroviário descreve como captou as imagens: “Eu estava apressando minha viagem porque queria registrar o trem double stack né? Moro em Curitiba, e aqui não temos esse tipo de trem, que é a grande atração da Malha Norte (trecho da antiga Ferronorte)”, relembra. Hobby Sobre as contas no Facebook, Instagram e YouTube, Jeferson afirma que trata-se de um hobby. “Registro imagens de trens e ferrovias desde 2004, e agora com a pandemia, resolvi juntar todo esse material e passar para frente”. Voltando à cena em que filmou o trem double stack da Rumo Logística em Alto Taquari (MT), Jeferson disse que estava de férias na ocasião. “Como é um hobby meu, eu só juntei o útil com o agradável”, afirma. Ele enviou à reportagem uma foto de seu equipamento montado no exato momento em que registrava a passagem do trem. A Ferronorte Conforme a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a Ferronorte atualmente tem 735 km de extensão entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Por meio de e-mail, a Secretaria de Infraestrutura e Logística do Mato Grosso (Sinfra) informou que o terminal ferroviário de Alto Taquari foi inaugurado em 1999, o trecho de Alto Araguaia em 2002 e o trecho complementar entre Itiquira e Rondonópolis em 2013. “Desde então nenhum terminal ferroviário foi reformado ou construído em Mato Grosso”, diz a nota. Conforme contou Jeferson, o vídeo mostra uma operação chamada “double stack”, na qual dois vagões são empilhados um em cima do outro. O Ministério da Infraestrutura informou ao Comprova que este tipo de operação foi iniciado em 2019, após reformas no traçado e adaptação da linha férrea. “O primeiro trem double stack a circular foi em junho de 2019, partindo de Sumaré (SP) até Rondonópolis (MT) e descendo novamente ao ponto de origem”, diz a nota. Por meio de nota, a concessionária Rumo confirmou que a operação “double stack” teve início em 19 de junho de 2019. Explicou que a operação consiste em contêineres de dois níveis, “sendo dois de 40 pés ou um de 40 pés e dois de 20 pés”. A empresa não informou quantos vagões têm a composição. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova checa conteúdos virais sobre a pandemia de covid-19 e sobre políticas públicas do governo federal. O vídeo tirado de contexto e com a legenda enganosa foi compartilhado em mais de uma rede social, com alto engajamento no TikTok (ao menos 20,1 mil interações). Ele também foi postado no Twitter pelo deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e teve ao menos 5.495 impressões e 1.333 retuítes. Investimento em infraestrutura e a inauguração de obras entraram para o foco do governo de Jair Bolsonaro.. O próprio vídeo de Jeferson da Luz foi compartilhado na página oficial do presidente, sem a legenda falsa. Não é a primeira vez que a operação “double stack” é alvo de desinformação. O Comprova publicou checagem em outubro de 2019 na qual mostrava ser enganoso afirmar que o investimento no transporte de contêineres empilhados na Ferronorte teria relação com o governo Bolsonaro. Este conteúdo também foi checado por Boatos.org. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C538&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/postagem-usa-video-de-2018-para-afirmar-que-idosa-morreu-apos-tomar-vacina/
COMPROVA
Postagem usa vídeo de 2018 para afirmar que idosa morreu após tomar vacina
null
2021-02-04
Retirado de contexto, vídeo que viralizou em um perfil no Facebook corta propositadamente os trechos nos quais as palavras "gripe" e "H1N1" são mencionadas. Ainda assim, o laudo de óbito não indica relação entre a morte da idosa e a vacina contra a gripe. Conteúdo verificado: Postagem em um perfil pessoal no Facebook de uma reportagem da TV Record sobre uma idosa que morreu após ser vacinada É enganoso um vídeo publicado no Facebook que sugere que uma idosa morreu após ser vacinada contra a covid-19. A postagem usa somente um trecho de uma reportagem, veiculada na TV Record em 2018, com a legenda “mulher morre imediatamente depois da vacina”. A matéria trata da morte de uma mulher de 71 anos por infarto, após a vacinação contra a gripe Influenza A (H1N1), naquele mesmo ano (e antes do surgimento da covid-19), na cidade de Goiânia (GO). O vídeo que viralizou nesta semana corta propositalmente os trechos em que as palavras “gripe” e “H1N1” são mencionadas. A matéria original foi veiculada em 18 de abril de 2018, e em determinado momento da reportagem, a então coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Grécia Pessoni, ressalta que o laudo de óbito não indica relação entre a morte da idosa e a vacina contra a gripe. “A suspeita é de um infarto agudo do miocárdio”, disse à equipe de TV. Em outra reportagem, um membro da família também descarta a correlação. Como verificamos? Analisando o vídeo, notamos que as pessoas não utilizam máscara na rua nem no posto de saúde, dando a impressão de que se trata de um material antigo. Para verificar a data do vídeo, o Comprova foi atrás do conteúdo original e de outras notícias que tratassem sobre o mesmo caso. Algumas informações disponíveis no vídeo são o sobrenome da vítima, “Batista da Silva”, narrado pelo jornalista no começo do vídeo, e o bairro “Ville de France”, que também aparece na placa do posto de saúde. Ao buscar no Google os termos “batista da silva ville de france”, o Comprova encontrou uma notícia do Jornal Opção de 19 de abril de 2018 como quinto resultado. Na notícia, conseguimos mais informações sobre o caso, como o nome completo, “Maria Batista da Silva”, a data e a informação de que o óbito teria ocorrido após a vacinação contra H1N1. Outra informação disponível no vídeo é a tarja animada da matéria, em azul na parte inferior do vídeo: “Outra mulher morreu depois de tomar vacina”. Procurando pela frase no YouTube, o primeiro resultado é o vídeo completo no canal da Record TV Goiás. Vídeo editado Nota-se que o vídeo original tem 4:40 minutos de duração, e o que viralizou, 2:47 minutos. Comparando as duas versões, notamos que o vídeo foi editado para excluir referências à vacina contra H1N1 e informações sobre o laudo de óbito de Maria Batista da Silva, que indica morte por infarto. O Comprova ainda entrou em contato com a autora da postagem por meio do Messenger do Facebook, mas não obteve retorno. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de fevereiro de 2020. Verificação A reportagem original foi exibida pela Record TV Goiás em 18 de abril de 2018, e está disponível no canal da emissora no YouTube. A matéria trata da morte de Maria Batista da Silva, aos 71 anos, por infarto, após a vacinação contra a gripe Influenza A (H1N1), em 2018. Não há, portanto, relação com a vacina contra o coronavírus, como tenta indicar o vídeo que viraliza no Facebook. Em reportagem do jornal O Popular, de 20 de abril de 2018, o filho de Maria Batista da Silva, Paulo Henrique da Silva, afirmou que não associava a morte da mãe ao fato dela ter tomado o imunizante. Segundo ele, a mãe se vacinava todos os anos e não apresentava reações. “A vacina é de extrema importância”, afirmou na época. No vídeo completo da TV Record, a então coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Grécia Pessoni, ressalta que o laudo do Serviço de Verificação de Óbito (SVO) não indica relação entre a morte de Maria Batista da Silva e a vacina contra a gripe. “A suspeita é de um infarto agudo do miocárdio”, disse. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. É importante investigar conteúdos duvidosos sobre vacinação e pandemia, pois é justamente o trabalho da ciência que garante a erradicação de doenças e a preservação da vida. Compartilhamentos como este visam desacreditar a vacinação ao redor do mundo, colocando em xeque a eficácia das vacinas, cientificamente comprovadas no caso de Moderna, Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford e CoronaVac. Até o fechamento da publicação, a conta que publicou o vídeo fora de contexto teve mais de 43 mil compartilhamentos de uma única postagem. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
https://i1.wp.com/projet…=512%2C326&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/jogador-de-beisebol-dos-eua-hank-aaron-morreu-de-causas-naturais-e-nao-por-conta-da-vacina/
COMPROVA
Jogador de beisebol dos EUA, Hank Aaron morreu de causas naturais e não por conta da vacina
null
2021-02-03
O boato de que haveria relação entre a imunização e a morte do ex-jogador foi propagado por um conhecido ativista do movimento antivacina dos EUA Conteúdo verificado: tuíte sugere que Hank Aaron, 86 anos, falecido 17 dias depois de tomar vacina, morreu em decorrência da vacina contra Covid-19 É falso que Hank Aaron, ex-jogador norte-americano de beisebol, morreu por um efeito adverso da vacinação contra a covid-19, conforme sugerem publicações no Twitter nos Estados Unidos e no Brasil. Aaron tomou a vacina da farmacêutica Moderna no dia 5 de janeiro no Morehouse School of Medicine, em Atlanta, na Geórgia, e morreu 17 dias depois, de causas naturais, segundo verificações da imprensa dos Estados Unidos. A vacinação de Aaron, um ícone do esporte, foi usada para estimular a imunização nos Estados Unidos. Após sua morte, postagens nas redes sociais começaram a ligar o acontecimento à vacinação e veículos do país fizeram a checagem. À rede NBC, a equipe de legistas que examinou o corpo do ex-jogador afirmou que ele morreu de “causas naturais”. Em um comunicado, o Atlanta Braves, time de beisebol pelo qual Hank jogou, disse que ele morreu “pacificamente, enquanto dormia”. Ao Comprova, o infectologista Evaldo Stanislau, da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que, embora as vacinas possam apresentar efeitos adversos, como qualquer medicação, não há estudos que revelem relação de causa e efeito entre a vacinação e este tipo de morte Como verificamos? Pesquisamos sobre Hank Aaron, sua história, luta e os recordes conquistados. Buscamos matérias publicadas em portais de notícias para entender as circunstâncias de sua morte. Também buscamos o contato do local em Fulton County responsável pela autópsia, mas não encontramos as informações. Conversamos com o professor-doutor Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas, em São Paulo, para tirar dúvidas sobre reações adversas de vacinas e o tempo médio de resposta do corpo para a imunização após tomar a vacina. Procuramos ainda a Moderna, farmacêutica responsável pela vacina aplicada em Aaron, por meio do seu e-mail internacional, mas não tivemos resposta até o fechamento da verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 2 de fevereiro de 2020. Verificação Aaron morreu de “causas naturais” Hank Aaron tomou a vacina da Moderna em 5 de janeiro no Morehouse School of Medicine, em Atlanta, na Geórgia. Dezessete dias depois, em 22 de janeiro, ele morreu, aos 86 anos. Como aqui no Brasil, grupos antivacina começaram a levantar relações entre a vacinação e a morte do ex-jogador, visto que sua imagem foi utilizada para estimular a imunização no país. À NBC News, o grupo médico que examinou o corpo do ex-jogador afirmou que ele morreu de “causas naturais”. Da mesma forma, por meio de comunicado, o Atlanta Braves, seu time de beisebol, lamentou o ocorrido e disse que ele morreu “pacificamente, enquanto dormia”. Ao jornal The New York Times, que também desmentiu a corrente, os responsáveis pela autópsia em Fulton County afirmaram que sua morte “não teve nada a ver” com a vacina. Segundo eles, não havia nenhum elemento que sugerisse que Aaron teve qualquer tipo de reação alérgica ou anafilática à vacina. No dia em que foi vacinado, Aaron escreveu no Twitter: “Fiquei orgulhoso de receber a vacina COVID-19 hoje cedo na Morehouse School of Medicine”. “Espero que você faça o mesmo!” Em entrevista à Associated Press, ele afirmou se sentir maravilhoso ao ser vacinado. Além dele, foram vacinados o ex-embaixador da Organização das Nações Unidas (ONU) e líder dos direitos civis Andrew Young e o ex-secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA Louis Sullivan. A estratégia foi incentivar a vacinação das pessoas no estado da Geórgia. “Causas naturais” não têm relação com vacinação De acordo com o professor e infectologista Evaldo Stanislau, toda vacina tem uma quarta fase de testes que se dá exatamente no período de vacinação. O objetivo é acompanhar os vacinados e descobrir se eles apresentam alguma resposta padrão. Morrer de causas naturais, no entanto, não é uma delas. “Nessa fase, a gente observa coisas que eventualmente não foram confirmadas nos estudos. Em teoria, se você vê algo que ocorre com muita frequência, pode analisar causa e efeito [entre a vacinação e a resposta]. Aí, nesse caso, me parece uma casualidade”, afirmou o médico. Segundo Stanislau, o tempo médio para que um imunizante faça efeito é de 15 dias. Neste período, uma pessoa pode, sim, contrair a doença e sofrer suas enfermidades – mas não foi o caso do ex-jogador. “Qual a função da vacina? Induzir nosso sistema imunológico a produzir uma defesa contra o agente. O efeito de uma vacina é ensinar o sistema imunológico e produzir defesas. São como patrulhas que ficam no nosso corpo. Se o vírus entra em contato com o organismo, essa patrulha vai crescer, proliferar e impedir, mas perceba que isso leva um tempo para se consolidar, não é imediato. Demora, em média, pelo menos duas semanas”, explicou o especialista. Ele alerta que é preciso seguir tomando precauções mesmo após a vacinação. “Tomar vacina e ser infectado pouco depois é possível, sim, porque o corpo ainda não está imune. Por isso, é importante que a pessoa, quando tomar vacina, continue se protegendo”, alertou o infectologista. Quem foi Hank Aaron? Henry Louis Aaron, nome completo de Hank Aaron, nasceu no dia 5 de fevereiro de 1934, em uma região pobre de Mobile, no Alabama. Terceiro de oito filhos de Estella e Herbert Aaron, um assistente de caldeireiro, estudou o ensino médio no Central High School. Além de jogador, Hank Aaron foi empresário e filantropo. Desde a infância, Aaron desenvolveu uma habilidade e gosto para o beisebol. Aaron foi um dos principais esportistas das Ligas Negras e se tornou um ícone da Liga Principal do Beisebol. Começou na carreira aos 20 anos, em 1954, sendo rebatedor ativo no Milwaukee e Atlanta Braves até 1976. Aaron bateu recorde de 755 home runs (uma rebatida que permite ao autor marcar um ponto e, potencialmente, fazer com que outros companheiros marquem); foi eleito para o Hall da Fama do Beisebol em 1982. Quem é Robert F. Kennedy Jr. O tuíte é de autoria de Robert F. Kennedy Jr. e foi reproduzido no Brasil por grupos que também costumam questionar as vacinas. Kennedy é um advogado e ambientalista norte-americano, filho do senador Robert F. Kennedy e sobrinho do presidente John F. Kennedy, ambos já falecidos. Apesar de não ser um profissional da saúde, Kennedy é conhecido pelo ativismo contra as vacinas nos Estados Unidos. Em suas redes sociais, como Instagram e Twitter, há postagens criticando as vacinas em fase de desenvolvimento e sua utilização contra o novo coronavírus. Em sua própria família, uma das mais influentes na política norte-americana, sua postura já foi criticada. Kennedy foi verificado em agosto de 2020 pelo Comprova após um post do blog católico Mater Salutis viralizar nas redes alegando que as vacinas contra a covid-19 podem provocar dano genético irreversível e são um crime contra a humanidade. O advogado foi investigado, pois o texto seria uma mensagem assinada por ele. Dias depois o post foi retirado do ar por não ser possível comprovar a autoria, segundo um administrador do blog católico. Na verificação feita em 2020, o Comprova mostrou que antes do início da pandemia, uma reportagem afirmava que Robert F. Kennedy Jr. era um dos dois maiores patrocinadores de anúncios com desinformação sobre vacinas no Facebook. O tuíte do advogado foi compartilhado por diversas páginas no Brasil, inclusive por páginas já verificadas anteriormente pelo Comprova. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. É importante investigar conteúdos duvidosos sobre vacinação e pandemia, pois é justamente o trabalho da ciência que garante a erradicação de doenças e a preservação da vida. Compartilhamentos como este visam descredibilizar a vacinação ao redor do mundo colocando em xeque a eficácia das vacinas, dados cientificamente comprovados no caso de Moderna, Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford e CoronaVac. Até o fechamento da publicação, as duas contas de Twitter que tuitaram sobre o conteúdo falso tiveram 27 mil interações. Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/gastos-com-leite-condensado-e-outros-alimentos-sao-de-todo-executivo-e-nao-apenas-de-bolsonaro/
COMPROVA
Gastos com leite condensado e outros alimentos são de todo Executivo e não apenas de Bolsonaro
null
2021-02-01
Vídeos publicados no TikTok atribuíam, erradamente, os gastos ao "consumo próprio" do presidente da República Conteúdo verificado: Publicações na rede social Tik Tok afirmam que os gastos públicos revelados em reportagem do portal Metrópoles foram de consumo do presidente Jair Bolsonaro. São enganosas as informações de vídeos publicados no TikTok que atribuem ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) os gastos de R$ 1,8 bilhão em alimentos com base em reportagem do portal Metrópoles. Publicada em 24 de janeiro, a reportagem traz dados sobre as despesas com alimentos de todos os órgãos do poder Executivo no ano de 2019 pagas em 2020. Os gastos com itens como biscoitos, sorvete, massa de pastel e, sobretudo, leite condensado, viralizaram nas redes sociais e causaram revolta, gerando uma onda de críticas de milhares de usuários sobre os supostos gastos e estilo de vida de Jair Bolsonaro. Um dos vídeos verificados, publicado no TikTok em 26 de janeiro, afirma que o governo Bolsonaro gastou R$ 1,8 bilhão “para consumo próprio”. Outro vídeo, publicado no mesmo dia, mostra cenas de Bolsonaro, segundo o autor, “dando uma de humilde” e depois afirma que “o verdadeiro Bolsonaro” “gasta R$ 15 milhões em leite condensado”. Os altos valores revelados pelo Metrópoles são despesas pagas com recursos da União, destinados a suprir gastos de todo Executivo. Segundo reportagem do Poder360, os principais destinos dos alimentos comprados pelo governo federal são o Ministério da Defesa e o Ministério da Educação. Isso porque os órgãos citados são responsáveis pela administração dos insumos destinados a quartéis, escolas, universidades federais e hospitais universitários que oferecem refeições em restaurantes tipo bandejão. De acordo com o portal UOL, os gastos abordados na reportagem são referentes ao ano de 2019, pagas em 2020. Isso porque o valor que foi efetivamente gasto é diferente daquele que foi empenhado. O valor empenhado em 2019 corresponde à previsão orçamentária. Já o pago, é quanto foi desembolsado de fato no ano de 2020. Como verificamos? Procuramos a repórter do jornal brasiliense Metrópoles, que publicou a primeira reportagem a respeito dos gastos do governo, Rafaela Lima, para verificar como foi feita a apuração e extração dos dados mencionados na matéria, no Portal de Compras do Ministério da Economia. Averiguamos todos os dados apurados pela repórter e colocados na reportagem e as notas emitidas pelos ministérios da Defesa e da Educação. Pesquisamos também outras verificações a respeito, como do AosFatos, Estadão Verifica, do portal de notícias UOL e do Poder 360. As matérias averiguaram a que esfera e segmento pertencem os gastos publicados na reportagem do Metrópoles. Outro caminho abordado foi o próprio portal Painel de Compras. Porém, publicações na imprensa nos últimos dias mostraram que há imprecisão nos dados, além de alteração na navegação do Painel de Compras . Verificação Acessamos a reportagem do portal Metrópoles a respeito dos gastos públicos. Segundo matéria assinada pela repórter Rafaela Lima, as despesas reveladas se referem a todos os órgãos do Executivo, não somente à Presidência da República. Não são gastos, portanto, para “consumo próprio” do presidente. Do valor de R$15,6 milhões em leite condensado mencionado na reportagem, R$ 14,2 milhões foram empregados pelo Ministério da Defesa. Em seguida, vêm os ministérios da Educação (R$ 1 milhão), da Justiça (R$ 327 mil) e da Saúde (R$ 61 mil). Ao Metrópoles, a Defesa afirmou que os gastos com alimentação são maiores porque o órgão é responsável pela comida do efetivo das Forças Armadas, referente a cerca de 370 mil pessoas. Em nota, o Ministério da Defesa alega que a compra de alimentos leva em consideração o fornecimento de uma dieta adequada para deixar seu efetivo num “estado nutricional saudável para a realização de suas atividades laborais”. O órgão argumenta ainda que “com disponibilidade permanente e dedicação exclusiva, os militares realizam atividades inerentes à profissão militar e que possuem exigências físicas específicas em diferentes áreas de atuação e nas mais diferentes regiões do território nacional”. Informa que também é fornecida “diariamente alimentação para militares e servidores civis que permaneceram com atividades essenciais ao cumprimento de sua missão institucional, mesmo durante a pandemia, por meio de suas Unidades Gestoras”. Com relação à compra, o Ministério da Defesa diz que “existem processos de licitação em fase inicial de compra tipo Registro de Preços, que se trata de um edital para pregão, sem, contudo, haver sido consumada a compra dos itens discriminados.” Registro de Preço é um procedimento que permite que os órgãos públicos realizem suas compras a preços acessíveis através das modalidades de licitação de Concorrência Pública e Pregão (eletrônico ou presencial), nas quais é selecionada a proposta mais vantajosa, pressupondo o fiel princípio da isonomia, pois sua compra é projetada para uma futura contratação. O Ministério da Educação (MEC) também emitiu nota onde ressalta que “é uma pasta complexa, à qual estão vinculadas autarquias, empresa pública, universidades federais, institutos federais e hospitais universitários, com atividades em todo território nacional”. A rede de ensino federal é formada por Universidades Federais e seus campi, onde são mantidos Restaurantes Universitários (RU’s) que servem refeições para a comunidade acadêmica (discentes, docentes e servidores). Compõem também o sistema federal de ensino Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), além do Colégio Pedro II. Além das instituições federais de ensino, o MEC esclarece que as compras de gêneros alimentícios também abastecem os hospitais universitários, sendo que os insumos são “destinados” à alimentação de pacientes, profissionais de saúde e colaboradores, sendo regulamentado o fornecimento de refeições. A rede é formada por 50 hospitais vinculados a universidades federais, e destes, cinco são maternidades. Em 2020, essas unidades foram responsáveis por mais de 4 milhões de atendimentos, entre consultas, exames e cirurgias”. Buscamos também referência na verificação de outros veículos da imprensa. Apesar das postagens afirmarem que os gastos são da Presidência, o Painel de Compras não mostrou despesas alimentares deste órgão pagas em 2020, conforme apurou o Estadão Verifica. O Comprova conseguiu contato com os autores dos vídeos por meio do Instagram. Eles afirmaram que sabiam que os gastos são de todos os órgãos do Executivo, mas que não estavam cientes de que as despesas citadas na reportagem do Metrópoles referem-se a gastos de 2019, não de 2020. Por que investigamos? A publicação do portal Metrópoles, através da checagem de seu núcleo de jornalismo de dados, gerou repercussão em diversos outros veículos da imprensa brasileira. No último dia 27, o próprio presidente Jair Bolsonaro se manifestou a respeito, atacando a imprensa em meio a um almoço com apoiadores. A repercussão chegou nas redes sociais, como em postagens de vídeos no Tik Tok. O vídeo do canal Tony Devito, um dos verificados aqui, teve mais de 104 mil visualizações um dia após a postagem, chegando a 3.060 compartilhamentos e 3.615 curtidas até o fechamento desta reportagem. Na mesma rede social, um vídeo publicado por Camila Moreno que atribuiu os gastos revelados a consumo próprio do presidente teve 470 mil visualizações, com 96 mil likes e 12 mil compartilhamentos até hoje (01/02). Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/estudo-italiano-e-verdadeiro-mas-pesquisadores-nao-propoem-uso-da-hidroxicloroquina-como-potencial-tratamento-para-covid-19/
COMPROVA
Estudo italiano é verdadeiro, mas pesquisadores não propõem uso da hidroxicloroquina como potencial tratamento para covid-19
null
2020-08-31
Estudo realizado na Itália e que apontou um risco de morte menor entre pacientes que receberam hidroxicloroquina é verdadeiro, mas pesquisadores não propõem que a droga seja usada como potencial tratamento para a covid-19 Conteúdo verificado: Artigo no site Conexão Política afirma que estudo italiano feito entre fevereiro e maio com cerca de 3,4 mil pacientes apontou risco de morte 30% menor em quem foi recebeu hidroxicloroquina. É verdadeira a publicação do site Conexão Política que descreve um estudo realizado por pesquisadores italianos que observou uma taxa menor de mortalidade nos pacientes hospitalizados com covid-19 que tomaram hidroxicloroquina. Ainda que as informações estejam de acordo com o que foi publicado no estudo, a pesquisa não traz nenhum dado conclusivo sobre a eficácia da hidroxicloroquina. Por se tratar de um estudo observacional, não foi oferecido placebo para o grupo de controle, o que permitiria comparar os resultados dos dois grupos. A pesquisa também não seguiu o modelo duplo cego randomizado, em que os participantes de um grupo que recebe o remédio e do grupo de controle são sorteados aleatoriamente, para evitar que fatores externos, como idade, influenciem nos resultados. Estudos observacionais podem apontar possíveis tratamentos a serem estudados mais a fundo, mas não permitem atestar a eficácia de drogas. A própria conclusão do estudo italiano traz ressalvas sobre a aplicação prática de seus resultados. Além disso, pesquisadores brasileiros ouvidos pelo Comprova destacaram que o estudo italiano tem uma série de limitações e não acrescenta novidades na literatura já disponível sobre o medicamento. O site brasileiro erra ao afirmar que os autores do estudo propõem o uso da hidroxicloroquina para tratar pacientes com o novo coronavírus, o que não condiz com os resultados da pesquisa. O artigo científico italiano afirma somente que os dados do levantamento “não desencorajam” o uso da droga. Tentamos contato por e-mail com o Conexão Política, mas não recebemos resposta até a publicação desta checagem. Como verificamos? Para confirmar a existência e validade de pesquisa, recorremos à ferramenta de busca do Google. Em uma segunda etapa, acionamos pesquisadores da área da saúde para entender o peso deste estudo italiano e a credibilidade da plataforma onde as informações estão disponibilizadas. Pedimos ajuda, ainda, a uma profissional de Farmácia para interpretar o estudo italiano. A professora de farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ana Paula Herrmann foi quem nos auxiliou. O estudo também foi avaliado pelo médico Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, e pelo professor de medicina da UFRGS e chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Eduardo Sprinz. Por fim, buscamos informações sobre o uso da cloroquina e a da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 em verificações anteriores do Comprova. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 31 de agosto de 2020. Verificação O texto veiculado na página Conexão Política tem como base um estudo italiano dentro do projeto CORIST (Covid-19 Risk and Treatments, em inglês, ou Covid-19 Riscos e Tratamentos, em tradução livre). A forma como os resultados da pesquisa foram retratados no texto está correta, mas a conclusão está distorcida. O estudo italiano analisou mais de 3,4 mil pacientes hospitalizados com covid-19. Segundo os pesquisadores, o uso de hidroxicloroquina foi associado a um risco de óbito 30% menor neste grupo de pessoas. Esta é a parte do texto do Conexão Política que está fidedigna ao estudo. O Conexão Política afirma, no entanto, que “os pesquisadores propõem que a hidroxicloroquina (HCQ) seja usada como potencial tratamento para a covid-19”, o que não é verdade. Os pesquisadores não propõem o uso da substância; apenas dizem que seus dados “não desencorajam” seu uso. Mesmo assim, fazem ressalvas. “Na ausência de resultados claros de ensaios clínicos randomizados controlados, nossos dados não desencorajam o uso de HCQ em pacientes internados com COVID-19. Dado o desenho observacional de nosso estudo, entretanto, esses resultados devem ser transferidos com cautela para a prática clínica”, dizem. A pesquisa italiana foi publicada em 25 de agosto no periódico European Journal of Internal Medicine e disponibilizada na mesma data no repositório Science Direct, que contempla publicações da editora Elsevier (com foco em materiais científicos). O texto do Conexão Política é datado de 26 de agosto. Além de comparar o texto do Conexão Política com o texto original do estudo, o Comprova consultou especialistas que pudessem esclarecer a pertinência desta pesquisa para o debate sobre o uso da hidroxicloroquina. Avaliação de especialistas Para Ana Paula Herrman, professora de farmacologia da UFRGS, o estudo não muda nada do que se sabe sobre a hidroxicloroquina porque já há ensaios clínicos randomizados dizendo que o medicamento não funciona para pacientes internados. O estudo randomizado é considerado superior a um estudo observacional pois nele os participantes são escolhidos de forma aleatória. “A maioria desses 3 mil e tantos pacientes que foram analisados nesse estudo observacional recebeu a hidroxicloroquina e somente 817 não receberam”, afirma. Segundo ela, no estudo observacional há fatores de confusão que podem explicar a diferença no desfecho da mortalidade. “No grupo que não recebeu a hidroxicloroquina, os pacientes eram mais velhos. E sabe-se que, quanto mais avançada a idade, maior o risco de mortalidade por covid-19. Eles tinham mais doenças isquêmicas-cardíacas, isso também é um fator de risco. Eles tinham maior prevalência de câncer, de doença renal avançada. E os pacientes que receberam a hidroxicloroquina também receberam outros antivirais”, destaca ela. O infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp, também afirma que os resultados dessa pesquisa não trazem novidade sobre o que se sabe em relação à eficácia da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19. Segundo ele, o estudo teria sido mais eficaz se houvesse, além do grupo tratado com hidroxicloroquina, um grupo de controle tratado com placebo; se fosse um estudo “cego”, em que tanto o pesquisador quanto o paciente não podem saber o que o paciente está tomando, e se houvesse sorteio a respeito de qual paciente ficaria em cada grupo. Segundo Barbosa, o fato de o artigo ser recente não significa que tenha mais valor. “A última evidência não significa que mudam as coisas. Às vezes você vai publicando mais artigos, mas o assunto já está resolvido”, diz. “E a hidroxicloroquina não funciona para paciente hospitalizado em enfermaria e não funciona para paciente hospitalizado em UTI. A única dúvida é para pacientes com tratamento leve. E a gente (Unesp) já está fazendo o estudo (para verificar isso)”, afirma. Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, reforça que os artigos mais indicados são relacionados a ensaios clínicos randomizados, pois o acaso se encarrega na equiparação dos grupos. “Um estudo retrospectivo e observacional possui inúmeras lacunas”, diz. Nesses casos, afirma ele, o “que se faz é uma série de testes matemáticos, quando possível, para tentar trazer uma semelhança entre os grupos”. Sprinz nota, ainda, que o estudo italiano deixa em aberto questões importantes, como os motivos de uma minoria não ter recebido a hidroxicloroquina. “O estudo não especifica quem recebeu ou não na hospitalização a medicação em estudo. Ou de que forma foram escolhidos para receberem a cloroquina. O nome disso é viés de seleção”, afirma. A hidroxicloroquina O Comprova já mostrou em outras checagens que nem a cloroquina, tampouco seu derivado, a hidroxicloroquina, têm eficácia atestada por autoridades no combate ao novo coronavírus. Entre as verificações envolvendo esse fármacos estão a que revela que estudo da revista científica The Lancet não fez com que Estados e municípios deixassem de receitar cloroquina e a que investigou a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que a cloroquina poderia ter evitado 100 mil mortes no país. O médico francês Didier Raoult publicou em março deste ano um estudo afirmando que o uso da cloroquina teria curado 75% dos pacientes com covid-19 em seis dias. A pesquisa foi alvo de críticas da revista Science, referência em estudos científicos, e seus resultados foram questionados e considerados incompletos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o National Health Service, do Reino Unido, abandonaram estudos com cloroquina e hidroxicloroquina. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe, em julho, no qual pontua ser “urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da covid-19” diante das evidências científicas. Conforme a OMS, não há, até o momento, tratamento efetivo ou drogas comprovadas contra o novo coronavírus. Essa posição é ratificada por autoridades sanitárias como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a norte-americana Food and Drug Administration (FDA). Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados às políticas públicas e à pandemia do novo coronavírus. No caso da covid-19, mentiras e boatos que se espalham pelas redes sociais são ainda mais perigosos porque podem custar vidas. Quando se trata de medicações para o tratamento do novo coronavírus, essas verificações se tornam ainda mais importantes porque o uso de drogas sem comprovação científica pode colocar em risco a saúde dos pacientes. Por isso, é necessário cautela ao afirmar a proposição de um tratamento, como é o caso do conteúdo analisado nesta verificação. O estudo do país europeu afirma não desencorajar o uso da hidroxicloroquina (“our data do not discourage the use of HCQ in inpatients with COVID-19”), mas não indica que o medicamento seja usado como potencial tratamento, como escreve o portal Conexão Política no trecho “ os pesquisadores propõem que a hidroxicloroquina (HCQ) seja usada como potencial tratamento para a covid-19”. O Comprova já mostrou que, mesmo sendo adotada com ressalvas pela China, a cloroquina continua sem comprovação científica, além de não ser recomendada pela autoridade sanitária dos Estados Unidos. Também demonstrou ser enganoso que que a cloroquina seja capaz de curar 98,7% dos pacientes com covid-19. O material verificado, que foi publicado na página Conexão Política, chegou a ser compartilhado em perfis do deputado federal Daniel Silveira (PSL). Ele teve mais de 8,3 mil interações no Facebook, segundo a ferramenta de monitoramento CrowdTangle. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado, que induz a uma interpretação diferente da intenção do seu autor, ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C281&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/viaduto-na-br-277-em-foz-do-iguacu-nao-tem-relacao-com-o-governo-bolsonaro/
COMPROVA
Viaduto na BR-277 em Foz do Iguaçu não tem relação com o governo Bolsonaro
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2020-08-28
Obra na BR-277 em Foz do Iguaçu foi atribuída à gestão Bolsonaro em uma publicação no Facebook. A obra, no entanto, foi feita integralmente com recursos do governo do Paraná Conteúdo verificado: Vídeo que circula no Facebook afirmando que um viaduto inaugurado na BR-277 no município de Foz do Iguaçu (PR) foi obra do governo de Jair Bolsonaro. São falsas as afirmações feitas em um vídeo que circula no Facebook e atribui ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) a construção de um viaduto entre a BR-277 e a Avenida Costa e Silva, no município de Foz do Iguaçu (PR). No vídeo, um homem destaca a rapidez com que a obra foi concluída, insinuando que essa seria uma marca do atual governo, e afirma que sua realização não teria sido possível sem a Operação Lava Jato. Na realidade, a obra foi feita pelo governo do Estado do Paraná, integralmente com recursos próprios, e não tem nenhuma relação com o governo federal, como confirmaram ao Comprova o governo paranaense e o próprio Ministério da Infraestrutura. O Comprova não identificou nenhuma relação entre o viaduto e a Operação Lava Jato, como a que foi citada no vídeo. Acordos de leniência fechados pela força-tarefa da Lava Jato no Paraná de fato resultaram em valores destinados a obras viárias no estado, mas não foi o caso do viaduto em questão. Segundo a própria força-tarefa, é o governo estadual o responsável por destinar os recursos dos acordos de leniência. Ao Comprova, o governo do Paraná disse que a relação entre a Lava Jato e esse viaduto “não se aplica”. O comprova tentou contato com a página do Facebook que publicou o conteúdo e com a página “Zap Bolsonaro”, cuja marca d’água aparece no vídeo, mas não obteve resposta. Como verificamos? O ponto de partida para a verificação foi um trecho da fala contida no vídeo, na qual um homem informa que está no município de Foz do Iguaçu em uma sexta-feira, dia 6, às 16h05. Fizemos uma busca com esses termos no Google, cujo resultado apontou para uma nota do governo estadual do Paraná informando a inauguração de um viaduto na cidade no dia 6 de dezembro de 2019, uma sexta-feira. Outras informações do vídeo, como a citação da BR-277 e da Avenida Costa e Silva, confirmaram que se tratava da mesma obra. Além disso, analisamos alguns frames do vídeo e comparamos com imagens do Google Street View para verificar se o local em que o homem fez o vídeo é, de fato, o viaduto na BR-277. As imagens mais recentes do banco de dados do Google datam de dezembro de 2018, antes, portanto, da conclusão do viaduto, mas é possível localizar nelas dois prédios e um outdoor que também aparecem no vídeo, como mostra a imagem abaixo. Com isso, procuramos a assessoria de imprensa da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Estado do Paraná e o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR) para entender de quem é a responsabilidade pela obra e verificar a veracidade das alegações feitas no vídeo. Também procuramos o Ministério da Infraestrutura, do governo federal, a assessoria de imprensa da Presidência e da força-tarefa da Operação Lava Jato. Por fim, enviamos uma mensagem para a página do Facebook que publicou o conteúdo, mas não obtivemos resposta. Também procuramos a página Zap Bolsonaro, cuja marca d’água aparece no vídeo, mas não houve resposta. Você também pode refazer o caminho da verificação acessando os links disponíveis na reportagem. Verificação O viaduto A obra que aparece no vídeo é um viaduto localizado no quilômetro 725 da rodovia federal BR-277. Localizada em Foz do Iguaçu, no oeste paranaense, a ponte foi construída para desafogar o trânsito no cruzamento da rodovia com a avenida Costa e Silva, facilitando o acesso aos bairros da região norte e central da cidade e agilizando o tráfego de caminhões que seguem em direção às fronteiras com o Paraguai e a Argentina. O Ministério da Infraestrutura informou que o “governo federal não tem relação com a obra na BR-277, em Foz do Iguaçu”. A Secretaria de Infraestrutura e Logística, do governo do Paraná, confirmou que a obra não teve participação de outras autoridades e foi realizada inteiramente com recursos estaduais. O viaduto, que tem duas pistas com acostamento e 22 metros de largura, recebeu um investimento total de R$ 18,4 milhões. Operação Lava-Jato No vídeo, um homem afirma sucessivas vezes que a inauguração do viaduto não teria sido possível sem a Operação Lava Jato. As falas sugerem que a obra foi realizada sem que houvesse corrupção dos agentes envolvidos em sua construção – segundo o vídeo, diferentemente do que acontecia nos governos anteriores. O homem que narra o vídeo chega a afirmar que Fernando Haddad (PT), candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2018, teria prometido acabar com a Lava Jato caso fosse eleito. O Comprova encontrou manifestações públicas de Haddad que mostram o contrário. Em outubro daquele ano, o petista disse que iria dar apoio a Lava Jato. “Reitero a você: PF, MP, Poder Judiciário receberão apoio para fazer o que viemos fazendo até aqui: não vamos botar sujeira para debaixo do tapete. Vamos continuar as investigações em busca da verdade”, afirmou em entrevista à Rádio Jornal Caruaru, de Pernambuco. Dias depois, Haddad também disse, em entrevista ao SBT, que o ex-juiz Sergio Moro fez um bom trabalho na condução da operação, mas que a sentença contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi “um erro que vai ser corrigido pelos tribunais superiores porque ele não apresentou provas contra o presidente”. Em contato com o Comprova, a assessoria de comunicação do governo paranaense informou, por mensagem, que a obra do viaduto não tem nenhuma relação com a Operação Lava Jato. A Lava Jato e o Paraná Em agosto de 2019, a força-tarefa da Lava Jato do Ministério Público Federal (MPF) firmou um acordo de leniência com a empresa Ecorodovias, controladora das concessionárias Ecovia e Ecocataratas, que atuam no Paraná. O acordo é referente a diversos atos de corrupção e lavagem de dinheiro relacionados a contratos firmados entre a empresa e órgãos públicos. A Ecorodovias reconheceu o pagamento de propinas para obter modificações benéficas à concessionária em contratos desde o ano 2000. Com a leniência, a empresa deverá pagar R$ 400 milhões até o fim das concessões, que se encerram em 2021. Do total, R$ 30 milhões foram pagos como multa. Os outros R$ 370 milhões serão utilizados para reparação de danos, dos quais R$ 220 milhões para a redução do preço de pedágio de todas as praças da Ecorodovias e R$ 150 milhões serão destinados à execução de obras nas rodovias. No dia 9 de dezembro de 2019, o governo do Paraná anunciou quais obras seriam beneficiárias do valor recebido graças ao acordo com o MPF. São elas: o Trevo Cataratas da BR-277 em Cascavel; melhorias nas vias marginais na BR-277, em Foz do Iguaçu, e terceiras faixas entre Cascavel e Guarapuava; e a duplicação da rodovia PR-407 no entroncamento com a PR-412. Uma dessas melhorias, de acordo com a Agência de Notícias do Governo do Paraná, deve acontecer em Foz do Iguaçu, nas vias marginais entre o Trevo Charrua e o Viaduto Costa e Silva, que já havia sido concluído e liberado para tráfego. Vale ressaltar que as obras do viaduto entre a BR-277 e a Avenida Costa e Silva, alvos da investigação, foram concluídas no dia 6 de dezembro de 2019. Já o anúncio das obras que iriam receber a verba do acordo de leniência foi feito no dia 9 de dezembro de 2019 — três dias depois. Ou seja, o recurso proveniente do acordo não foi utilizado na obra verificada pelo Comprova. A assessoria de imprensa do Ministério Público Federal no Paraná, responsável pela força-tarefa da Operação Lava Jato afirmou em nota que a destinação de recursos recuperados no âmbito da operação não é de competência da força-tarefa. Informou, também, que em 2019 assinou os acordos de leniência citados acima e sugeriu que os questionamentos sobre a obra na BR-277 fossem direcionados ao governo do Paraná. Páginas que reproduziram o vídeo A página “Intervenção constitucional militar já brasil clama Fortaleza-ce”, que publicou o vídeo falso analisado pelo Comprova, tem 38 mil curtidas e 122 mil seguidores. Em geral, ela publica conteúdos a favor de Bolsonaro, contra a imprensa e pedindo o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). O próprio nome da página pede uma intervenção militar constitucional o que, como mostrou o Aos Fatos, não é possível. O vídeo possui uma marca d’água com os dizeres “Zap Bolsonaro” e o endereço de um site. Nas redes sociais, o blog citado publica notícias envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e conteúdos correlatos. Além disso, os administradores do site possuem diversos grupos no WhatsApp para a divulgação dos mesmos conteúdos e afirmam, no site, que “os grupos são somente para distribuição de informações pré-conferidas, para evitar FAKE NEWS” e que os grupos não são abertos para discussões ou bate-papo. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos sobre políticas públicas do governo federal que possam provocar desinformação nas redes sociais. É o caso do vídeo objeto desta verificação, que faz afirmações falsas sobre uma obra pública para atribuir sua realização ao presidente Jair Bolsonaro. Segundo dados da plataforma CrowdTangle, até a data de fechamento deste texto, o vídeo somava mais de 177 mil interações no Facebook, tendo sido compartilhado 89.351 vezes. Com a proximidade das eleições municipais, vídeos como esse podem contribuir negativamente para os debates políticos no país. Quando a desinformação passa a integrar o cenário eleitoral, discussões sobre os projetos e agendas dos candidatos são prejudicadas, dificultando a escolha dos eleitores. Postagens contendo informações falsas ou enganosas sobre obras públicas frequentemente viralizam nas redes sociais. O Comprova já verificou um boato que atribuiu erroneamente a construção de uma ponte entre os estados do Acre e Rondônia apenas ao governo Bolsonaro, uma postagem que usou fotos de outras estradas para afirmar que o Exército realizou reparos na rodovia Transamazônica e uma sequência de imagens que conferiam ao governo Bolsonaro a responsabilidade sobre obras realizadas em governos anteriores. Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C625&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/nao-ha-provas-de-que-rompimento-em-barragem-da-transposicao-no-ceara-tenha-sido-causado-por-sabotagem/
COMPROVA
Não há provas de que rompimento em barragem da transposição no Ceará tenha sido causado por sabotagem
null
2020-08-27
O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho divulgou, no dia 1º de dezembro, os resultados da perícia sobre as causas do rompimento. O laudo atesta ser completamente infundada a alegação de que o rompimento teria sido provocado por tentativa de sabotagem com o uso de explosivos. Conteúdo verificado: Postagens no Twitter e no Facebook que afirmam que o acidente na barragem de captação de águas do Rio São Francisco em Jati no Ceará foi sabotagem Postagens em redes sociais como Facebook e Twitter sobre o rompimento de uma tubulação da barragem de Jati, no município homônimo, no sul do Ceará, em 21 de agosto, usam informações sem comprovação para afirmar que o dano foi provocado por uma bomba e que o caso é fruto de uma “ação de sabotagem”. Algumas publicações também dizem que a Polícia Federal (PF) está apurando o suposto atentado ao equipamento da transposição do São Francisco. A informação não é confirmada pela PF. As causas do vazamento na barragem ainda estão sendo apuradas, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional, responsável pela estrutura danificada. Portanto, não há como assegurar o que motivou a ocorrência. O órgão também não cogitou publicamente que o vazamento seja fruto de uma ação criminosa deliberada como um atentado a bomba. O Comprova verificou que as imagens compartilhadas, em que aparecem os danos à barragem após o vazamento, são do local da ocorrência. Mas não encontrou evidências que confirmem as afirmações feitas nos textos que acompanham as imagens. Algumas publicações usam como fonte o deputado estadual do Ceará Francisco de Assis Cavalcante Nogueira (PSL), conhecido como Delegado Cavalcante. Ele afirmou em postagens e entrevista ter ocorrido uma sabotagem com explosivos no duto. A equipe do Comprova entrou em contato com a assessoria do deputado e foi informada de que “ele iria pensar se responderia”. Até a publicação desta checagem, não houve resposta. O Comprova tentou falar com o perfil de Twitter @RaquelBlak que publicou conteúdo similar. Após a tentativa de contato, o tuíte foi apagado. Atualização (em 2 de dezembro de 2020) Após mais de três meses do vazamento na barragem de Jati, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho divulgou, no dia 1º de dezembro, os resultados da perícia sobre as causas do rompimento. A perícia, segundo o Ministério, constatou que houve falha na montagem e operação das válvulas da barragem. Os erros são atribuídos pelo Governo Federal ao consórcio CMT/FAHMA, responsável pela operação do equipamento, à época do incidente. O laudo reforça os argumentos que haviam sido levantados na verificação feita pelo Comprova, em agosto, e mais do que isso, atesta ser completamente infundada a alegação de que o rompimento teria sido provocado por tentativa de sabotagem com o uso de explosivos. “A perícia descartou a possibilidade de sabotagem na tubulação”, ressalta a nota do Ministério. Com isso, o Comprova mudou sua conclusão para Falso. Como verificamos? Por meio de busca reversa de imagens no Google e da ferramentas de monitoramento de redes sociais CrowdTangle, o Comprova pesquisou as primeiras postagens que sugerem a suposta sabotagem no rompimento do duto da barragem. As publicações mais antigas encontradas são do deputado estadual Delegado Cavalcante (PSL) que publicou as imagens e menciona em seu texto que havia indícios de sabotagem. O Comprova entrou em contato com a assessoria de Cavalcante para saber a fonte das suspeitas do parlamentar, mas não teve retorno até o fechamento dessa verificação. Falamos com uma familiar de Raquel Blak,a titular de um dos perfis que publicou o conteúdo investigado, mas ela informou que Raquel não tinha interesse em conversar com a imprensa. Em paralelo, a equipe procurou o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), a Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH) e a Prefeitura de Jati (CE) para entender a competência sob o equipamento danificado e as medidas que foram tomadas após o incidente, bem como esclarecer se os órgãos públicos suspeitam de sabotagem no duto. Também questionou a Polícia Federal e o Ministério Público Federal no Ceará (MPF) sobre possíveis investigações em curso após a ocorrência. O Comprova também ouviu duas entrevistas do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e levantou informações sobre o evento em veículos de imprensa cearenses. Por fim, ouvimos o engenheiro civil Antônio Nunes de Miranda, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em segurança de barragens, para entender que hipóteses técnicas poderiam explicar o rompimento da tubulação em Jati. Verificação Ocorrência O vazamento foi registrado na tubulação de concreto da barragem de Jati, localizada em município de mesmo nome no sul do Ceará, no dia 21 de agosto por volta das 17h. Na ocorrência, segundo declaração do ministro Rogério Marinho, houve o rompimento de um duto que emite água para o Eixo Norte da transposição do São Francisco, em direção à Paraíba e ao Rio Grande do Norte. Essa barragem faz parte do eixo inaugurado no dia 26 de junho pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e, além de ser um reservatório para as águas do Rio São Francisco, é o ponto inicial de outro projeto de transposição — o Cinturão das Águas do Ceará (CAC) — que é executado pelo Governo do Ceará com recursos da União. O trecho 1 do CAC, da qual a barragem de Jati faz parte, ainda está em fase de testes. A estrutura danificada integra a obra de competência federal. Após o ocorrido, Marinho disse que o vazamento foi em decorrência de “algum problema mecânico” no duto. O rompimento ocorreu um dia após o ministro ter acionado a comporta que libera água da barragem de Jati para o Cinturão das Águas do Ceará. Nesta etapa do CAC, o eixo emergencial de 53 quilômetros deve assegurar segurança hídrica à Região Metropolitana de Fortaleza. A água correrá nos leitos dos rios Salgado e Jaguaribe até chegar ao Açude Castanhão, que abastece a capital e as cidades próximas. A estimativa dos governos estadual e federal é que cerca de 4,5 milhões de moradores sejam beneficiados pela obra. No dia 21 de agosto, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e o secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, foram a Jati. Na ocasião, Teixeira explicou que “na ombreira direita, tem uma tubulação que se inicia em concreto e depois um bloco, onde está a emenda da tubulação em concreto com a tubulação em aço. Então, parece que nessa emenda houve um rompimento, um vazamento da tubulação. Então, esse jato d’água é devido à pressão”. A água que jorrou causou um pequeno processo de erosão na barragem, mas não comprometeu a estrutura. O vazamento foi contido algumas horas após a ocorrência. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, havia uma dificuldade de avaliação técnica da estrutura por causa da falta de iluminação naquele momento. Em razão do rompimento, por medida preventiva, duas mil pessoas residentes no raio de dois quilômetros da barragem de Jati foram evacuadas na noite de sexta-feira e madrugada de sábado. O Ministério do Desenvolvimento Regional e o governo estadual afirmam que não houve danos estruturais à barragem. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, o bombeamento no Eixo Norte da transposição foi temporariamente interrompido devido à ocorrência. O site do órgão informa que a “barragem Jati foi executada pela empresa Serveng-Civilsan, no período entre janeiro de 2013 e março de 2018”. No Portal da Transparência consta que o contrato da obra no lote 5 do Eixo Norte da transposição foi assinado pelo governo federal em outubro de 2012 e teve 15 aditivos no decorrer dos últimos anos. O custo da obra passou de R$ 518.070.114,88 para R$ 895.112.734,85. A acusação Nas redes sociais inúmeras postagens afirmam ter ocorrido uma sabotagem com explosivos no duto. As imagens compartilhadas, em que aparecemos danos à barragem após o vazamento são, de fato, do local da ocorrência. Mas os textos são inverídicos. Algumas publicações usam como fonte o deputado estadual Delegado Cavalcante. A primeira menção de Cavalcante ao tema ocorreu no dia 22, durante a vistoria feita pelo ministro Rogério Marinho, em Jati. Em vídeo publicado no Facebook, Cavalcante aparece questionando o ministro sobre a hipótese de “sabotagem” ou “mão humana” no incidente, alegando que a obra hídrica era importante para a popularidade do presidente Jair Bolsonaro na região. Na ocasião, o ministro respondeu que uma análise técnica deve indicar o motivo do rompimento. “Esse laudo é o que vai permitir, inclusive, que nós, enquanto Estado brasileiro, nos posicionemos para saber quem deu causa ao problema. E quem deu causa, certamente, vai ressarcir o Estado brasileiro. Então, pode ficar tranquilo porque nós vamos usar todos os meios aí para encontrar as causas e torná-las transparentes para todo mundo”, afirmou Marinho. Apuração da ocorrência Em entrevista à CNN no dia 22, o ministro Rogério Marinho disse que uma análise técnica identificará em até 40 dias se houve erro na engenharia, na execução ou no material usado na obra. O ministro não citou bombas ou suspeita de sabotagem. “A pressão da água de alguma forma desregulou o sistema, deve ter fechado o duto embaixo e isso explodiu a tubulação de cimento”, disse. Perguntada por e-mail pelo Comprova sobre a suspeita de uso de bomba, a assessoria do Ministério do Desenvolvimento Regional retornou com uma nota que se limita a detalhar os pedidos de avaliação técnica do caso. Segundo o texto, em 24 de agosto, o ministério solicitou às empresas responsáveis pela execução testes e comissionamento da obra que “relatórios técnicos sejam apresentados até o dia 28 de agosto sobre cada etapa de funcionamento desde a última quinta-feira (20), quando foram abertas as comportas”. O ministério diz que só com os relatórios feitos pelas empresas envolvidas na Barragem Jati será possível avaliar as causas do rompimento. O órgão também afirmou que irá contratar uma consultoria independente, com definição até esta sexta-feira, 28 de agosto. Nas postagens também consta que a suposta sabotagem estaria sendo investigada pela Polícia Federal. Procurada pelo Comprova, a prefeita de Jati, Maria de Jesus Diniz (PSD), se limitou a dizer que agentes da PF estiveram na cidade para uma investigação. Questionada sobre a suspeita de bomba, a PF respondeu ao Comprova que “não divulga a existência ou não de possíveis investigações em andamento”. O órgão ainda complementa que “qualquer informação que circule nas redes sociais em nome da Polícia Federal que não tenha partido de nossos canais oficiais é de total responsabilidade de quem a divulgou.” Por envolver o uso de recursos federais, o Comprova também contactou, via e-mail, o Ministério Público Federal no Ceará para saber se o órgão foi acionado para desenvolver ou abriu alguma investigação sobre o suposto atentado a bomba. A assessoria de Comunicação Social do MPF informou, que “realizou levantamento não identificando, até a presente data, procedimento instaurado ou representação (denúncia) recebida pela instituição sobre suposta sabotagem à barragem em Jati”. Embora a estrutura danificada seja de competência da gestão federal, o Comprova consultou também à Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará sobre o assunto. O órgão foi questionado, via e-mail, se acompanhou os desdobramentos da situação após o rompimento da estrutura e se é possível apontar hipóteses do que tenha provocado a ocorrência. Além disso, a SRH foi indagada se solicitou alguma investigação oficial sobre um suposto uso de bomba na estrutura que teria provocado uma explosão local. Por e-mail, a SRH reitera a competência do governo federal sobre a estrutura afetada e diz que “cabe ao Governo Federal qualquer investigação”. A nota também afirma que o secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, esteve no local e “descarta completamente a hipótese de atentado”. O texto acrescenta que “o mesmo, que é engenheiro e atua no serviço hídrico há várias décadas, garante que o acontecido foi um evento isolado ocorrido em função de algum problema de projeto, execução da obra ou operação”. A secretaria também informou que o rompimento da estrutura não afetou o cronograma do Cinturão das Águas, que segue em fase de testes. Análise técnica O Comprova também entrevistou por telefone, o engenheiro civil, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em segurança de barragens Antônio Nunes de Miranda. Ele explica que a avaliação para apontar as causas desse tipo de ocorrência, geralmente, dura cerca de um mês. Na inspeção, são analisadas as estruturas de controle da água. “No caso lá de Jati, existe uma válvula dispersora e uma válvula de controle. Esses dois equipamentos é que deixam a água passar. No final da tomada de água, onde forma o chamado véu de noiva, aquela água como um jato, há válvula dispersora. Então, se houver algum problema ali, isto pode ser uma das causas”, aponta. Antônio menciona alguns possíveis motivos para o ocorrido. Um deles, um defeito de funcionamento na tubulação e nas válvulas, que não é comum “porque são equipamentos muito robustos, próprios para durar muito tempo e para não dar problemas”. Outra possibilidade é de ordem operacional: a válvula pode ter sido fechada bruscamente. Isso geraria acúmulo de água, o que resultaria em estrangulamento de uma parte mais sensível da tubulação. O controle de válvulas geralmente é automatizado. Um erro na operação pode ocorrer, mas, na análise do engenheiro, também é raro. Outra hipótese é que algum entulho, madeira ou resto de obra, tenha ficado na tubulação e provocado a obstrução da água, o que resultaria no estouro. Além disso, ele pondera que no final da tubulação em concreto há uma ancoragem no tubo de aço — para fazer a mudança de direção do fluxo da água — e esse bloco pode ter sofrido um rebaixamento. “Se tiver ocorrido, pode afetar a tubulação de concreto e provocar a ruptura”, completa. O fenômeno que provavelmente ocorreu na barragem, segundo Antônio, é chamado na engenharia de “golpe de aríete”. Na prática é a resposta da água quando vem se deslocando em uma tubulação de grande extensão e algo a obstrui de repente. “É como se fosse um trem em alta velocidade que você parasse a locomotiva bruscamente. Os outros vagões vão se amontoar, pode engavetar. O mesmo acontece com a água. Quando você veda a tubulação de repente, toda aquela água que estava se deslocando para e cria uma onda de pressão que volta no sentido contrário ao fluxo. Essa onda pode destruir um ponto fraco da tubulação”. O engenheiro acha improvável o ato ter sido sabotagem. O “golpe de aríete” não é um fenômeno comum, mas é muito estudado na engenharia, que trabalha justamente para evitar que ocorra. Até a causa ser descoberta, a tubulação não pode ser consertada. Os reparos que estão sendo executados em Jati são do “pé da barragem”, que sofreu pequena erosão devido o jato de água. Por que investigamos? Nesta terceira fase do Comprova, o projeto retomou o monitoramento e a investigação de conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal de ampla repercussão em redes sociais. As publicações verificadas são sobre a maior obra de infraestrutura hídrica do país, o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF). Por isso, checar a veracidade desse conteúdo é tão relevante. Desde que o trecho Leste foi inaugurado pelo presidente Jair Bolsonaro, em junho diversos boatos surgiram nas redes sociais. O Comprova já mostrou recentemente ser falso um vídeo que sugeria que o Governo do Ceará havia “sabotado” o canal da transposição inaugurado por Bolsonaro; que o Exército não refez todo o trecho da transposição do São Francisco inaugurado por Temer e Lula e que não há indícios de que a família Gomes tenha negócios no setor de transporte de água, sendo prejudicada pela inauguração da obra da transposição. A desinformação sobre o ocorrido em Jati é prejudicial porque, além da ausência de fundamentação, impulsiona teorias conspiratórias e gera na sociedade um clima de desconfiança sobre o funcionamento de uma obra tão expressiva. A transposição do Rio São Francisco sofre grandes atrasos de entrega, e um dano a sua estrutura deve ser apurado com seriedade e resolvido de forma mais ágil e eficaz. As publicações falsas sobre o tema ultrapassam 20 mil compartilhamentos. O tuíte do perfil @MBColunista foi compartilhado 2,5 mil vezes. Conteúdo semelhante teve 3,7 mil compartilhamentos em um dos perfis pessoais verificados pelo Comprova. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-vacina-contra-covid-19-cause-danos-irreversiveis-ao-dna/
COMPROVA
É falso que vacina contra covid-19 cause danos irreversíveis ao DNA
null
2020-08-26
As vacinas de mRNA são desenvolvidas para não interferir no DNA humano e não há qualquer evidência de que sejam capazes de causar danos genéticos. Além disso, o site que havia publicado o artigo verificado pelo Comprova não conseguiu confirmar a autoria do texto e excluiu a página Conteúdo verificado: Post do blog católico Mater Salutis alega que as vacinas contra a covid-19 podem provocar dano genético irreversível e são um crime contra a humanidade. O texto seria uma mensagem de Robert F. Kennedy Jr. e foi publicado em 13 de agosto. No dia 26, o material foi excluído do site. É falso que as vacinas em teste contra a covid-19 possam causar “danos irreversíveis” ao DNA das pessoas imunizadas. As alegações são de um post do blog católico Mater Salutis, publicado no dia 13 de agosto. Um texto atribuído a Robert F. Kennedy Jr. fala das vacinas de mRNA que estão sendo testadas contra o novo coronavírus. “Um sintoma de vacinação se desenvolver após uma vacinação de mRNA, nem eu nem qualquer outro terapeuta podemos ajudá-lo, porque os danos causados pela vacinação serão geneticamente irreversíveis. Na minha opinião, essas novas vacinas representam um crime contra a humanidade que nunca foi cometido de maneira tão ampla na história”, diz a publicação. Essas declarações são falsas. As vacinas de mRNA são desenvolvidas para não interferir com o DNA humano e são incapazes de causar danos genéticos. “Biologicamente, não tem evidência nenhuma disso. No caso das vacinas de mRNA, tudo é transparente, tudo é publicado. Os dados estão aí para serem analisados. E um cara que faz uma alegação dessas basicamente não leu a literatura. É muito importante explicar para as pessoas que isso é impossível”, alerta Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI). O texto seria assinado por Robert F. Kennedy Jr. e começa com a frase “Caros pacientes”, dando a entender que se trata de um médico. Kennedy é uma pessoa real. É um advogado e ambientalista norte-americano, filho do senador Robert F. Kennedy e sobrinho do presidente John F. Kennedy, ambos já falecidos. É dele a foto que ilustrava a publicação e havia um link para sua página na Wikipedia em inglês. Embora não seja um profissional da saúde, Kennedy é conhecido pelo ativismo contra as vacinas nos Estados Unidos. Em suas redes sociais, como Instagram e Twitter, há postagens criticando as vacinas em desenvolvimento contra o novo coronavírus. Sua postura é criticada dentro da própria família, umas das mais influentes na política norte-americana. Mas nada do que ele postou se assemelha ao texto publicado pelo blog brasileiro. Entramos em contato com um dos responsáveis pela página, que assina como Tomás de Aquino. Ele admitiu que não tinha certeza da autoria e disse que tirou o texto de uma página da Wikipedia em português. “Não foi traduzido por nós. E parece que a fonte não é confiável e parece que Robert F. Kennedy Jr. não é o autor da matéria. Parece ser fake. Estamos procurando a fonte original e, caso consigamos identificar, comunicamos”, disse Aquino por e-mail. Depois de conversar com a equipe do Comprova, o site excluiu a publicação. Como verificamos? A equipe do Comprova começou a verificação procurando o nome “Robert F. Kennedy Jr.” no Google. Encontramos informações sobre sua vida, carreira como advogado e ambientalista e militância no movimento antivacinação. Uma busca reversa de imagens mostrou que a foto que ilustrava a publicação era mesmo de Kennedy. Também encontramos os perfis do advogado no Instagram e no Twitter, tentando identificar conteúdos semelhantes ao que foi publicado em português. Sem sucesso, fizemos uma busca no Google com os principais termos do texto verificado em inglês e em português. Mais uma vez, não foi possível identificar a origem do material. Por isso, entramos em contato com os responsáveis pelo blog católico Mater Saluti por e-mail. Tomás de Aquino contou que pegou o conteúdo em uma página da Wikipedia em português e admitiu que não tinha certeza da autoria. Então, pedimos que mandasse o link do original. “Parece que o texto em português também foi excluído da Wikipedia e, como não podemos identificar a fonte, tiramos o texto do ar”, explicou. Para saber como as vacinas funcionam e se trazem algum risco para os pacientes, buscamos informações no site da Organização Mundial da Saúde (OMS) e em veículos de imprensa. Também conversamos por telefone com a professora universitária e pesquisadora Cristina Bonorino, que explicou como funcionam as vacinas do tipo mRNA. Por fim, monitoramos o desempenho do texto verificado nas redes sociais com as ferramentas CrowdTangle e TweetDeck. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 26 de agosto de 2020. Verificação Vacinas mRNA Há 173 vacinas para a covid-19 em estudo, de acordo com um levantamento da OMS. Pelo menos 20 delas usam tecnologia mRNA e duas já estão na fase 3 de testes em humanos: a da Moderna, em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID), e a da Pfizer em parceria com a BioNtech. Normalmente, as vacinas usam o vírus desativado ou pedaços de proteínas do vírus para provocar uma resposta imune no organismo. As vacinas de mRNA têm pedaços do código genético do vírus, o RNA. Esse material é introduzido nas células do paciente dentro de lipossomos — pequenas bolhas de gordura — e faz com que o próprio corpo humano passe a produzir essas proteínas do vírus. A pesquisadora Cristina Bonorino explica que a tecnologia está em estudo há mais de duas décadas, mas a pandemia acelerou o debate. “As de covid-19 vão ser as primeiras [vacinas produzidas com essa tecnologia]. Já fazia muito tempo que essa discussão estava em andamento para liberar essas vacinas porque tem evidência robusta de que ela funciona e ela não tem efeitos adversos graves”, lembra. As vacinas mRNA têm um custo menor e podem ser produzidas mais rapidamente. Outra vantagem é que elas são sintéticas, ou seja, não manipulam vírus vivo, apenas parte do seu material genético. Grupos antivacina Em novembro do ano passado, antes do início da pandemia, uma reportagem mostrou que Robert F. Kennedy Jr. era um dos dois maiores patrocinadores de anúncios com desinformação sobre vacinas no Facebook. Em maio deste ano, já com o novo coronavírus circulando, a família do advogado falou abertamente que ele fazia uma campanha de desinformação em relação à vacina. Dois de seus irmãos e uma sobrinha publicaram um texto intitulado “Ele está tragicamente errado sobre vacinas”. O movimento antivacina é tão forte nos Estados Unidos, onde é chamado de anti vaxxer, que tem preocupado autoridades sanitárias. Segundo uma pesquisa da Associated Press em parceria com a Universidade de Chicago realizada em maio, 20% dos norte-americanos disseram que não tomariam a vacina contra o SARS-CoV-2 e 31% não tinham certeza. Para frear o vírus e acabar com a pandemia, estima-se que cerca de 70% da população deva estar imunizada. Na Europa, esse movimento também é forte e bem organizado. Em maio, alemães contrários à imunização fizeram protestos na cidade de Colônia. No início de agosto, cerca de 17 mil pessoas se reuniram em Berlim contra as medidas de prevenção ao vírus. No Brasil, pesquisa Datafolha publicada em 15 de agosto mostrou que 9 em cada 10 brasileiros pretendem ser vacinados contra o novo coronavírus. Apesar do número alto de pessoas a favor da imunização, os grupos antivacina começam a se fortalecer por aqui. Dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI) mostraram que pais e mães que se recusam a imunizar os filhos são vistos como uma das razões para o retorno de doenças que já estavam erradicadas no país, como o sarampo. Um levantamento recente da União Pró-Vacina, da USP, mostrou que grupos antivacina brasileiros aumentaram em 383% a quantidade de notícias falsas espalhadas no Facebook de maio a julho. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Conteúdos que trazem desinformação relacionada à covid-19, como o verificado aqui, são ainda mais perigosos pois colocam a saúde da população em risco e podem custar vidas. Uma vacina é a forma mais eficiente de imunizar a população e esforços estão sendo feitos em todo planeta para chegar a essa solução. A postagem em questão gera medo e desconfiança e pode levar pessoas a decidirem não se vacinar quando a proteção estiver disponível para os brasileiros. O texto atribuído a Robert F. Kennedy, Jr. teve mais de 40 mil interações até o dia 25 de agosto, antes de ser retirado do ar. No Twitter, alcançou 1.282 interações, entre repostagens e curtidas. No Facebook, foram 15 compartilhamentos até 26 de agosto. O texto do blog católico também foi verificado pelo Boatos.org, que concluiu que as informações são falsas. A Agência Lupa e a Reuters checaram conteúdos semelhantes sobre as vacinas de mRNA. Publicações que tentam desacreditar a importância da vacina já foram verificadas pelo Comprova, como o tuíte que afirmava que vacinas usam células de fetos abortados e uma teoria conspiratória segundo a qual a proteção teria um microchip para rastrear a população. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/cloroquina-foi-adotada-pela-china-mas-continua-sem-comprovacao-cientifica-fda-nao-a-recomenda/
COMPROVA
Cloroquina foi adotada pela China, mas continua sem comprovação científica; FDA não a recomenda
null
2020-08-25
A Comissão Nacional de Saúde da China anunciou em um novo protocolo que a cloroquina, em sua forma de fosfato, pode ser usada como droga experimental no tratamento da covid-19 por pacientes entre 18 e 65 anos, no período máximo de sete dias. O órgão, no entanto, reforça que não há nenhum medicamento antiviral com eficiência cientificamente comprovada no combate à doença. A FDA, ao contrário do que afirma a publicação verificada pelo Comprova, não recomenda o uso do medicamento para a doença Conteúdo verificado – Tuíte que afirma: “China e FDA aprovaram o uso da Cloroquina como 100% eficiente na cura do Covid. Vou processar muita gente”. Um tuíte que viralizou nas redes sociais engana ao afirmar que “China e FDA aprovaram o uso da cloroquina como 100% eficiente na cura da covid”. FDA é a sigla da Food and Drug Administration, autoridade sanitária dos Estados Unidos, que não recomenda o medicamento contra o novo coronavírus sob a alegação de que “os benefícios não superam os riscos conhecidos e potenciais para o uso autorizado”. Já a Comissão Nacional de Saúde da China anunciou em um novo protocolo que a cloroquina, em sua forma de fosfato, pode ser usada como droga experimental no tratamento da covid-19. O órgão, no entanto, reforça que não há nenhum medicamento antiviral com eficiência cientificamente comprovada no combate à doença. No texto, publicado no dia 19 de agosto, a autoridade chinesa faz algumas ressalvas: a droga pode ser usada apenas por pacientes entre 18 e 65 anos, no período máximo de sete dias e com um médico acompanhando o caso de perto para que, se surgir algum efeito colateral grave, possa parar a administração da droga imediatamente. A notícia sobre a recomendação da cloroquina foi comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em uma de suas lives nas redes sociais. Ao comentar o protocolo chinês, ele mostrou uma caixa de hidroxicloroquina, um derivado da cloroquina que não é recomendado pelo país asiático. Como verificamos? O Comprova vem publicando desde o início de junho conteúdos relacionados à pandemia, e em verificações recentes já abordou o posicionamento da FDA em relação à cloroquina. Para esse texto, pesquisamos no site do órgão para investigar se havia ocorrido alguma atualização, mas não encontramos nada que indicasse isso. Para saber se houve alguma novidade em relação a tratamentos na China, usamos como fonte de informação inicial uma reportagem da Folha de S.Paulo, que afirma que o país recomenda a cloroquina. A reportagem cita o South China Morning Post, jornal da nação asiática. Pelo Twitter, tentamos entrar em contato com a repórter que assina a matéria e enviamos dois e-mails com pedidos de entrevista a um professor que foi consultado para a elaboração do texto do jornal chinês. Nenhum dos dois retornou os nossos contatos. Em pesquisa no site da Comissão Nacional de Saúde da China, encontramos a publicação sobre as novas diretrizes – o órgão republicou uma reportagem do jornal China Daily, controlado pelo governo. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 25 de agosto de 2020. Verificação Protocolo chinês Na primeira atualização de suas diretrizes de tratamento contra a covid-19 desde março, a Comissão Nacional de Saúde da China afirma que o “fosfato de cloroquina ainda pode ser usado como droga experimental para pacientes entre 18 e 65 anos, e o tratamento não deve exceder sete dias”. O texto ainda informa que um médico pessoal deve acompanhar de perto o paciente e interromper a administração da droga imediatamente, caso surjam efeitos colaterais sérios. O protocolo faz outra ressalva: “alguns medicamentos podem demonstrar um certo grau de eficácia para o tratamento em estudos de observação clínica (considerados os mais confiáveis), mas não existem medicamentos antivirais eficazes confirmados por ensaios clínicos duplo-cegos e controlados por placebo (quando, para evitar vieses, nem os pesquisadores nem os participantes sabem quem recebeu placebo)”. As novas diretrizes afirmam ainda que “outros medicamentos antivirais recomendados incluem interferon e arbidol, e a ribavirina deve ser usada com lopinavir ou ritonavir”. De acordo com a Comissão, a hidroxicloroquina – outra variante da cloroquina em uso no Brasil – não é recomendada. O protocolo, de 19 de agosto, cita o risco de o novo coronavírus se espalhar novamente no país, “já que a pandemia global ainda está ocorrendo e a situação pode persistir por um tempo” e reforça que diagnosticar a doença logo no começo, fazer quarentena e tratamento são ações cruciais para melhorar os índices de cura e reduzir a taxa de mortalidade. FDA Já a FDA, agência americana responsável por controlar a segurança de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, revogou em junho deste ano a autorização emergencial para o uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Segundo o órgão, nenhuma das drogas têm efeito antiviral satisfatório. “Além disso, à luz de eventos adversos cardíacos graves em curso e outros efeitos colaterais graves, os benefícios conhecidos e potenciais de CQ (cloroquina) e HCQ (hidroxicloroquina) já não superam os riscos conhecidos e potenciais para o uso autorizado”, afirma o comunicado. Até então, o uso era permitido apenas em pacientes hospitalizados quando não havia disponibilidade ou viabilidade de ensaios clínicos. Em julho, o FDA publicou um resumo de análises de segurança sobre o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de covid-19 nos Estados Unidos. O documento inclui relatos de problemas cardíacos graves, lesões renais e insuficiência hepática. Cloroquina no Brasil O presidente da República, Jair Bolsonaro, é defensor do uso da cloroquina e de seu derivado, a hidroxicloroquina, mesmo sem comprovação científica. Ele ordenou que o Laboratório do Exército produzisse os medicamentos e a pressão pela adoção das substâncias custou o cargo de dois ministros da Saúde: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Em maio, o Ministério da Saúde, já sob a gestão do interino Eduardo Pazuello, alterou o protocolo e ampliou a possibilidade do uso dos medicamentos para pacientes com sintomas leves da covid-19 – até então, eram recomendados apenas em casos graves e com monitoramento em hospitais. Em suas lives, Bolsonaro costuma defender o uso das drogas. No início de agosto, ao ao lado de Pazuello, disse: “Quem não quer tomar cloroquina, não tente proibir, impedir quem queira tomar, afinal de contas, ainda não temos uma vacina e não temos um remédio comprovado cientificamente”. Mais recentemente, logo após a publicação das novas diretrizes do governo chinês, afirmou em sua live semanal: “A nossa cloroquina chegou na China. Vamos ver o que a grande mídia vai falar sobre isso aqui”. Um dia depois, a hashtag #mandettagenocida ficou entre os trending topics no Twitter. Apoiadores do presidente atacaram o ex-ministro da Saúde porque ele resistiu a adotar a cloroquina e a hidroxicloroquina no protocolo da doença, como era a vontade de Bolsonaro. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados às políticas públicas e à pandemia do novo coronavírus. No caso da covid-19, mentiras e boatos que se espalham pelas redes sociais são ainda mais perigosos porque podem custar vidas. Mesmo havendo pesquisas amplamente divulgadas apontando os efeitos colaterais perigosos da cloroquina e da hidroxicloroquina, o uso delas é endossado tanto pelo presidente brasileiro quanto pelo americano, Donald Trump. A Organização Mundial de Saúde também não recomenda o uso dos dois medicamentos fora dos testes clínicos. Contudo, desde o início da pandemia, eles vêm sendo usados politicamente tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a despeito das evidências científicas quanto à sua eficácia. O Comprova já publicou algumas verificações relacionadas a essas duas drogas, como a do post que engana ao dizer que a cloroquina cura 98,7% dos pacientes com o vírus e a da frase do presidente Bolsonaro, que disse que o medicamento teria salvado 100 mil vidas no Brasil. A postagem verificada aqui foi curtida 2,6 mil vezes e compartilhada outras 698 no Twitter até o dia 25 de agosto. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado ou aquele que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor, intencionalmente ou não.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-reporter-tenha-falado-em-visitar-filha-de-bolsonaro-na-cadeia/
COMPROVA
É falso que repórter tenha falado em visitar filha de Bolsonaro na cadeia
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2020-08-24
Trecho de um vídeo que mostra a ameaça do presidente a um repórter de O Globo está sendo compartilhado com uma legenda falsa para impor uma outra versão ao episódio Conteúdo verificado: Vídeo do episódio em que Bolsonaro ameaça repórter do jornal O Globo com uma legenda que muda a narrativa do caso para mostrar que o presidente foi atacado pelo jornalista antes de responder. O vídeo no qual o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se irrita e ameaça agredir um repórter do jornal O Globo foi compartilhado no Twitter com uma falsa legenda para sugerir que Bolsonaro teria sido provocado pelo profissional antes de atacar. Segundo essa versão, o jornalista teria dito: “Vamos visitar sua filha na cadeia”. Isso não aconteceu. Embora a legenda afirme se tratar de uma provocação ao presidente, o áudio permite ouvir que a frase dita foi: “Vamos visitar nossa feirinha na catedral, presidente”. Quem faz o convite é um homem que está no meio das pessoas que seguem o presidente. O episódio ocorreu durante visita de Bolsonaro à Catedral Metropolitana de Brasília neste domingo, 23. A versão falsa está viralizando nas redes sociais e foi publicada também por blogs como Terra Brasil Notícias e Senso Incomum, que, posteriormente, reconheceram a divergência – o último tirou o conteúdo do ar. O próprio presidente e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), compartilharam um vídeo do incidente – sem a legenda falsa, mas com a descrição: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, em referência a um versículo bíblico utilizado pelo presidente em contexto eleitoral. Como verificamos? Fazendo uma busca pelas palavras Bolsonaro e cadeia no TweetDeck, chegamos a um post que questiona o ataque do presidente publicado em um perfil no dia 23, às 23h09. Segundo o TweetDeck, o post era um fio (thread), mas, ao entrar na página pelo Twitter, havia apenas a postagem inicial, que dizia: “Um homem que ver (sic) sua mulher sendo injustiçada, acusada, sendo exposta… Resolve assim! ‘Minha vontade é encher tua boca na porrada’ Pq Bolsonaro é homem!!! Cabra macho. Passar Bem”. Em resposta a um usuário, que alerta que a voz não teria falado sobre uma visita à cadeia e, sim, sobre um convite para o presidente ir à feirinha da catedral, a autora diz que apagou o vídeo. Assim, não foi possível encontrar quem postou o vídeo com a legenda falsa pela primeira vez. Fizemos novas buscas e encontramos o perfil de @SamPancher, que postou o vídeo às 16h56 do dia 23. Em sua publicação, ele legenda apenas o trecho em que o presidente insulta o repórter – “Vontade de encher sua boca com a porrada, tá? Seu safado”. Por mensagem, Samuel Pancher, dono do perfil, nos informou seu telefone e fizemos uma entrevista com ele. Pancher não soube informar quem gravou as imagens, mas pela plataforma InVid é possível verificar que o vídeo postado por Bolsonaro é o mesmo que ele postou. Consultamos ainda reportagens publicadas no dia anterior, em que veículos afirmaram terem presenciado a agressão de Bolsonaro. A redação do Globo publicou o áudio gravado por seu repórter (para assinantes) envolvido no incidente. Ao ouvi-lo, é perfeitamente possível concluir que ninguém falou em visitar a filha do presidente na cadeia. Verificação Como foi? Bolsonaro estava fazendo uma visita à Catedral Metropolitana de Brasília no domingo (23), quando foi interpelado por um grupo de repórteres. Um profissional do jornal O Globo questionou o presidente sobre repasses de R$ 89 mil feitos por Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), à primeira-dama Michelle Bolsonaro. Os documentos fazem parte de uma investigação sobre suposta prática de rachadinha envolvendo o filho mais velho do presidente. Além dos repórteres, o presidente era seguido por apoiadores. Uma das pessoas que estava ao seu redor gravou um vídeo com a resposta do presidente, que ameaçou o jornalista: “Vontade de encher tua boca de porrada”. Questionado por outros repórteres se isso seria uma ameaça, não comentou. O assunto foi um dos mais comentados no Twitter no domingo. Usuários postaram a pergunta feita pelo repórter como forma de pressionar o presidente e se posicionar de forma contrária à agressão verbal. Apoiadores do presidente Amparando-se nesta versão falsa, ao menos uma dezena de sites publicou matérias acusando o repórter de ameaçar o presidente. O blog Senso Incomum publicou o texto “Checamos: Bolsonaro respondeu a repórter que disse ‘Vamos visitar sua filha na cadeia’”. A versão com a legenda falsa se refere à filha de 9 anos do presidente com Michelle. O texto já foi retirado do ar, e nas redes sociais o site afirmou: “Apagamos o post sobre a fala do presidente, já que alguns internautas ouviram ‘visitar nossa feirinha na catedral’, e não ‘filha na cadeia’, como entendemos. Reafirmamos que sempre cobramos Flávio Bolsonaro sobre Queiroz e comemoramos sua quebra de sigilo que ensejou sua prisão.” O blog Terra Brasil Notícias, por sua vez, mantém no ar o texto “Vídeo: repórter ataca filha de Bolsonaro e presidente reage; ‘vontade de encher sua boca de porrada’”. O portal publicou um segundo texto com uma errata na qual reconhece que “o repórter de O Globo não se dirige para a filha do presidente Jair Bolsonaro. A reação de Bolsonaro é por conta da insistência do jornalista em indagar sobre um suposto envolvimento da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, com o caso Queiroz”. Perfis nas redes sociais seguiram técnica semelhante: postaram o vídeo e depois apagaram, mas continuaram afirmando que o presidente foi atacado e estava se defendendo. Desta forma, o conteúdo viralizou sem a inclusão da gravação. Marca d’água No vídeo postado pelo presidente há uma marca d’água que aparece embaçada, mas é possível verificar ser a de @SamPancher, um dos primeiros perfis a publicar o vídeo no Twitter – sem a legenda falsa. Em entrevista ao Comprova, Samuel Pancher, estudante de jornalismo paulista, disse que costuma publicar conteúdos relacionados ao presidente e que, por isso, recebe mensagens de seguidores com sugestões de conteúdos para postar. Pancher contou que apenas recebeu o vídeo e legendou a fala do presidente. “Não sabia que iam pegar o que o ambulante falou para criar uma narrativa”, afirmou. “Eu me preocupei em legendar (apenas) o que ele (Jair Bolsonaro) falou.” Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica a veracidade de conteúdos suspeitos sobre as políticas públicas do governo federal que viralizam nas redes sociais. O vídeo que deu origem a esta investigação foi visto 4,7 mil vezes e compartilhado 57 vezes no Twitter até 24 de agosto. Um dos textos com o mesmo conteúdo, o do site Terra Brasil Notícias, foi compartilhado 849 vezes no Facebook. Na página de Bolsonaro, o vídeo (sem a legenda falsa) teve mais de 120 mil visualizações e 18 mil likes até a data. Esse conteúdo também foi checado por Aos Fatos, Fato ou Fake, Poder 360 e Estadão, que também concluíram que a legenda é falsa. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/relacao-entre-vibracao-alta-e-covid-19-nao-tem-comprovacao-cientifica/
COMPROVA
Relação entre vibração alta e covid-19 não tem comprovação científica
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2020-08-21
Não há nenhuma comprovação científica de que frequência, ânimo ou sentimentos sejam capazes de enfraquecer ou evitar a contaminação pelo novo coronavírus Conteúdo verificado: Texto que circula na internet e pelo WhatsApp afirma que o novo coronavírus vibra em 5,5 hz e morre acima de 25,5 hz. Material ainda sugere que ânimo e sentimentos são capazes de eliminar o vírus. Texto que circula em sites relacionados à autoajuda ou tratamentos alternativos, redes sociais e plataformas de troca de mensagens como WhatsApp usa informações sem comprovação científica para alegar que a “covid tem uma vibração de 5,5 hz e morre acima de 25,5 hz”. O material também sugere que ânimo e sentimentos são capazes de enfraquecer o SARS-CoV-2: “Para os seres humanos com vibração mais alta, o vírus é uma gripe simples”. A equipe do Comprova entrou em contato com a psicóloga Eluise Dorileo, autora de um texto publicado em 29 de junho que parece ser uma das fontes do conteúdo que circula atualmente por WhatsApp. Ela admitiu que “não há comprovação, (…) apenas estudos baseados em frequência energética base”. Quando enviamos questionamentos sobre o que é frequência energética base e quem são alguns autores mencionados por ela, escreveu: “Por gentileza, vá pesquisar”. A pesquisa sobre a frequência de sentimentos e emoções nos levou até o trabalho do autor de autoajuda norte-americano David R. Hawkins. Ele é o criador da escala Hawkins, que classifica sensações como raiva, amor, ódio, paz, orgulho e vergonha em hertz — unidade de medida de frequência na Física. A tabela está no livro Poder vs Força. O trabalho de Hawkins não é reconhecido pela comunidade acadêmica. O texto sobre a relação entre o novo coronavírus e a frequência dos sentimentos não é recente. Em maio, a Associação Brasileira dos Terapeutas Holísticos (Abrath) já havia publicado um alerta nas redes sociais sobre o material. Como verificamos? A primeira ação do Comprova foi tentar compreender o conteúdo dos posts sobre a relação entre covid-19 e frequência de sentimentos. Para isso, foi usada a ferramenta de busca do Google. Por meio desse recurso, chegamos a publicações da psicóloga Eluise Dorileo. Em uma delas, a autora usa frases como “quanto mais cai a vibração, mais risco temos de nos contaminar”, “nossas emoções influenciam diretamente nossas células e, por conseguinte, determinam a nossa frequência vibratória, pois no Universo, tudo é vibração” e “vibrar em alta frequência é o melhor antídoto que existe para aumentar nossa imunidade.” Conversamos com Eluise por WhatsApp. Buscamos informações sobre o autor David R. Hawkins no Google, Google Scholar e PubMed. Assim, chegamos a uma página dedicada a ele no Facebook e conversamos por mensagem com um dos administradores. Em seguida, buscamos contato com profissionais da psicologia, biomedicina, física e da engenharia para entender se as teorias fazem sentido. Nenhum deles tinha sequer ouvido falar de Hawkins. Contamos, então, com o apoio dos professores Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP), e Juan Pablo Raggio Quintas, do curso de Engenharia Mecânica da Universidade Rio Grande do Sul (UFRGS), para esclarecer dúvidas sobre frequência e como ela se relaciona ao corpo humano. Por fim, monitoramos a viralização do texto pelas redes sociais com as ferramentas CrowdTangle e TweetDeck. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de agosto de 2020. Verificação O texto verificado afirma que é possível evitar o novo coronavírus com emoções positivas. O material sugere ainda que ânimo e sentimentos de “alta frequência” são capazes de enfraquecer o vírus. Na Física, a frequência representa o número de repetições de um evento (um ciclo, uma volta ou uma oscilação) em determinado intervalo de tempo. A medição é feita em hertz (Hz), que equivale à quantidade de ciclos em um segundo. Ou seja, se uma onda sonora vibra 60 vezes em um segundo é possível dizer que ela vibra 60 Hz. “Na Engenharia medem-se frequências relacionadas a componentes ou estruturas: máquinas, estruturas civis (edifícios, viadutos, etc.) e até do corpo humano”, explica o engenheiro mecânico Juan Pablo Raggio Quintas, da UFRGS. “Por exemplo, pode-se medir, num estádio de futebol, a frequência natural de um trecho da arquibancada, no corpo humano as frequências do punho de um motorista com o veículo em movimento. Na Engenharia trabalha-se com fatos concretos, que podem ser medidos. Números que representam grandezas físicas: velocidade, aceleração, força, deformações, etc. As emoções não são grandezas físicas”, pontuou. Não há comprovação científica Para Glaucius Oliva, da USP, o texto verificado não tem qualquer base científica. “Usa termos da física para parecer verdadeiro, mas não tem nenhuma evidência experimental. Este assunto vem sendo, inclusive, utilizado por espertalhões inescrupulosos que vendem seus ‘serviços’ de terapia ‘energética’”, alerta. Em maio, um terapeuta foi acusado de cobrar R$ 2,4 mil por um acompanhamento para evitar a infecção pelo novo coronavírus. Na época, a Associação Brasileira dos Terapeutas Holísticos (Abrath) alertou: “Estão compartilhando milhares de mensagens falando que padrões vibratórios altos imunizam todos os tipos de doença e a covid-19, isso é uma informação INCORRETA”. Perguntamos à psicóloga Eluise como a mensuração de sentimento pode ser feita, quais ferramentas são usadas, mas ela não retornou. David R. Hawkins O norte-americano David R. Hawkins era psiquiatra e trabalhou em hospitais da costa leste dos Estados Unidos entre os anos de 1950 e 1980. Não há nenhuma publicação de sua autoria no PubMed, site que reúne publicações acadêmicas da área de medicina. Nos anos 1980, passou a se dedicar aos livros de autoajuda. Em 1995, publicou o livro Poder vs. Força, em que desenvolve o “Map of Consciousness”, tabela que atribui medidas de frequência em hertz a diversos sentimentos. Essa parece ser a fonte de parte do conteúdo que viralizou. Mas de onde vem a “medida de vibração” do novo coronavírus? Hawkins faleceu em 2012, mais de sete anos antes do surgimento do SARS-CoV-2. Uma página de Facebook dedicada ao autor, mantida por uma editora que publica seus livros, o descreve como “palestrante, pesquisador, médico, psiquiatra e professor espiritual reconhecido internacionalmente”. Um dos administradores, que se identificou apenas como “Jeremy”, disse ao Comprova que “Doc” [apelido de Hawkins] falava sobre o “poder da mente e do carma de afetar resfriados e vírus”. Ele explicou que os sentimentos são medidos pelos reflexos que causam nos músculos do corpo. E completou: “[Hawkins] também ensinava que tudo é físico, mental e espiritual e que tentar lidar com alguma coisa com apenas um [desses aspectos] é possível, mas não recomendável. Ele falava muito sobre a culpa subconsciente, que era uma abertura para a entrada de vírus no organismo”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos sobre as políticas públicas do governo federal e a pandemia do novo coronavírus, que custou a vida mais de 112 mil brasileiros até o dia 21 de agosto, de acordo com o Ministério da Saúde. Ainda não há cura ou vacina para a covid-19. Nesse contexto, a desinformação sobre o SARS-CoV-2 é perigosa porque pode prejudicar a saúde da população. É o caso do texto que afirma ser possível combater o vírus “vibrando” em altas frequências. Por mais que traga conselhos positivos — como comer bem e fazer exercícios —, o material pode levar uma pessoa desinformada a descuidar de outras medidas que de fato são eficientes contra o novo coronavírus, como o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) , braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas, também recomenda cuidados com a saúde mental. A sugestão de verificar o texto partiu de um leitor, que recebeu o material por WhatsApp e encaminhou à equipe do Comprova. Não é possível verificar a disseminação do conteúdo pelo aplicativo de mensagens, mas conteúdo semelhante circulou em outras redes sociais. No Facebook, uma publicação verificada teve 1,1 mil interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos até o dia 21. A desinformação também circulou pelo Twitter e pelo Instagram, mas com menor alcance. O Comprova já mostrou que outras “curas” para a covid-19 não têm respaldo científico, como a mistura de bicarbonato de sódio com limão. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdoinventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-tira-de-contexto-frase-de-damares-sobre-abuso-infantil/
COMPROVA
Post tira de contexto frase de Damares sobre abuso infantil
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2020-08-20
A frase é verdadeira mas a postagem omite o contexto. O trecho foi retirado de uma entrevista concedida à BBC na qual a ministra Damares Alves dizia que mulheres vítimas de abuso sexual na infância não deveriam acreditar no discurso do abusador de que elas são culpadas por aqueles atos Conteúdo verificado: Post no Facebook atribui à ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) a seguinte afirmação: “tem abuso que é prazeroso para a criança, porque o pedófilo sabe como tocar, onde tocar”. Postagem feita no Facebook omite o contexto de uma fala de Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, em 2019. Ao afirmar que “tem abuso que é prazeroso para a criança”, a ministra tentava incentivar mulheres vítimas de abuso sexual na infância a não acreditarem no discurso do abusador de que elas são culpadas por aqueles atos. Sem essa informação, muitos dos leitores acreditaram que Damares havia tentado justificar o abuso de crianças. “Nem sempre o abuso é como no meu caso, com dor, com sangue, com violência. Tem abuso que é prazeroso para a criança, porque o pedófilo sabe como tocar, onde tocar, e às vezes desperta prazer. O nosso corpo foi feito pelo prazer. Eu encontro muitos adultos, especialmente mulheres, que se sentem culpadas porque sentiram prazer. Eu digo que não se sintam culpadas, eram crianças e não tinham controle sobre seus corpos”, afirmou a ministra em entrevista para a BBC Brasil, publicada em 18 de dezembro de 2019. Após o conteúdo viralizar, Damares cobrou pelo Twitter que a fala fosse colocada no seu contexto original. Como verificamos? Primeiramente, fizemos uma busca no Google pela frase que foi postada no Facebook ao lado do nome da ministra Damares Alves, o que nos levou ao link da entrevista dela à BBC Brasil. Depois, utilizamos a busca reversa de imagem para tentar saber se a montagem já havia sido postada antes nas redes sociais. O resultado dessa pesquisa foi uma publicação da própria ministra no Twitter em que ela explica o contexto da afirmação e dá o link onde é possível assistir à íntegra da entrevista para a BBC Brasil. Por fim, tentamos contato com o responsável por postar a frase no Facebook, mas não tivemos retorno até o fechamento dessa verificação. Verificação A frase que viralizou foi retirada de uma entrevista de mais de 30 minutos, concedida pela ministra à BBC Brasil em dezembro de 2019. Dentre vários assuntos abordados, Damares foi questionada sobre o abuso sexual que sofreu quando tinha 10 anos. O vídeo com a íntegra da entrevista está disponível no YouTube. Aos 26 minutos e 2 segundos, a ministra fala sobre o combate à exploração sexual de crianças. “O cara que abusou de mim aos seis anos olhou nos meus olhos e disse que o seduzi, que eu era culpada, e me fez sentir culpada por anos. A culpa me levou à tentativa de suicídio. Ele dizia que eu era suja, imunda e pecadora”, responde a ministra, visivelmente emocionada. “É isso que eles fazem, o abusador destrói sonhos, interrompe o destino. E hoje, no Brasil, fica-se culpando meninas e meninos. A criança não é culpada”, argumenta. É nesse contexto em que Damares afirma que, em alguns casos, há um elemento adicional que faz com que as pessoas se sintam culpadas: o fato de elas terem sentido prazer. Segundo a ministra, alguns abusos provocam dor, mas em outros a pessoa é capaz de sentir prazer por questões fisiológicas. E reforça que essa reação não significa consentimento: “Eu digo que não se sintam culpadas, eram crianças e não tinham controle sobre seus corpos”. O assunto voltou a viralizar no momento em que ganhou repercussão nacional o caso de uma menina de dez anos de idade, do Espírito Santo, que engravidou após ser abusada sexualmente por um tio desde os seis. Ela conseguiu interromper a gravidez, apesar da pressão de grupos contrários ao aborto, que fizeram tumulto em frente à unidade de saúde em que o procedimento foi realizado, no Recife. Em seu perfil no Twitter, Damares explicou que falava sobre as dificuldades de identificar os casos de violência sexual contra crianças, já que elas nem sempre demonstram sinais claros de sofrimento ou percebem o quanto a situação é abusiva. Segundo a ministra, é preciso que os pais não tenham vergonha de conversar com as crianças sobre abusos sexuais desde cedo para protegê-las. Ela também pediu às pessoas que tenham conhecimento de casos de abuso infantil que denunciem por meio do Disque 100, do aplicativo Direitos Humanos Brasil ou do site do ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Por que investigamos? O Comprova verifica a veracidade de conteúdos suspeitos sobre as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. É o caso da postagem feita por um perfil no Facebook, que teve 1,5 mil interações. A imagem foi compartilhada em páginas contrárias ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A publicação levou vários internautas a criticarem Damares, acreditando que ela estaria justificando o abuso sexual de crianças. Desde que o caso da garota de dez anos ganhou repercussão nacional, o tema do abuso sexual de crianças e o debate sobre o aborto legal no Brasil voltaram à agenda pública. Desde 2014, o país registrou 1.284 casamentos de meninas menores de 15 anos. Ao mesmo tempo, só no primeiro semestre de 2020, o Sistema Único de Saúde (SUS) já realizou 80,9 mil procedimentos após abortos mal sucedidos, além de pouco mais de mil interrupções de gravidez previstas em lei. O Estadão Verifica checou a mesma frase e concluiu que ela estava fora de contexto. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado ou que confunde, com ou sem a intenção de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/assessor-de-bolsonaro-utiliza-informacao-desatualizada-para-insinuar-fraude-no-registro-de-obitos-causados-pela-covid-19/
COMPROVA
Assessor de Bolsonaro utiliza informação desatualizada para insinuar fraude no registro de óbitos causados pela covid-19
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2020-08-20
Publicação no Twitter de um assessor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi feita dois dias depois de o registro do óbito ter sido alterado Conteúdo verificado: Tweet de um assessor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que destaca uma nota desatualizada da prefeitura de Paulistana (PI) para insinuar que há fraudes nos registros de mortes por covid-19. Uma publicação feita no Twitter por Arthur Weintraub, assessor especial do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, usou informações desatualizadas para insinuar uma fraude no registro de óbitos causados pela covid-19. Ele contestou o fato de uma morte por acidente de trânsito em Paulistana, no Piauí, ter entrado no painel epidemiológico do estado como morte causada pelo novo coronavírus. A postagem de Weintraub foi feita, no entanto, dois dias depois de o registro do óbito ter sido alterado. A Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente de Paulistana, a Secretaria do Estado de Saúde do Piauí e o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) concordaram em colocar a morte nas estatísticas de acidentes de trânsito após a repercussão que a nota teve nas redes sociais. A última atualização da cidade de Paulistana no painel epidemiológico do Piauí mostra 62 pessoas contaminadas com covid-19, sem nenhuma morte. “Ele entrou no sistema como óbito por covid, mas foi retirado depois de um entendimento entre o CIEVS e a Secretaria Municipal de Saúde, já que a causa mortis base foi traumatismo. O covid foi apenas um agravante do quadro clínico”, explicou a assessoria da Secretaria Estadual. O protocolo do Ministério da Saúde, editado pelo próprio governo federal, determina que a covid-19 conste na declaração de óbito, mesmo que a doença não tenha sido a causa principal da morte. O Comprova fez diversas tentativas de contato com Arthur Weintraub. O assessor da Presidência, no entanto, não respondeu até o fechamento deste texto. Como verificamos? Para apurar a veracidade das informações da postagem de Arthur Weintraub, contatamos, em primeiro lugar, a Secretaria de Estado de Saúde do Piauí. A assessoria de imprensa confirmou que o caso compartilhado por Weintraub realmente aconteceu, mas que as informações que constam na nota republicada por ele estão desatualizadas. Acessamos, também, o protocolo do Ministério da Saúde para o registro de óbitos causados por covid-19 para compreender qual é a orientação da pasta e como se dão eventuais correções nos registros efetuados em desconformidade com ela. Por fim, procuramos o autor da postagem por dois e-mails oficiais da comunicação do governo, mas ele não nos retornou. Por telefone, a Secretaria de Comunicação transferiu a ligação três vezes, mas nenhuma das pessoas que atendeu disse ser responsável pela assessoria de Arthur Weintraub. O assessor especial da Presidência tem dois registros na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), um ativo e um cancelado. Ligamos para os telefones que apareciam nos dois, mas nenhum era de Weintraub. Por último, enviamos uma mensagem pelo Instagram, mas não obtivemos resposta até o fechamento deste texto. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 20 de agosto de 2020. Verificação Entenda o caso A morte do homem de 33 anos foi divulgada no dia 12 de agosto, por meio de uma nota oficial da Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente de Paulistana (PI). Nela, o órgão afirmava que a vítima havia sofrido um grave acidente de moto e sido levada para o Hospital Regional Mariana Pires Ferreira, na região central da cidade. Na sequência, ele foi transferido duas vezes até dar entrada em um hospital em Teresina. Ao chegar, o homem foi submetido ao teste rápido da covid-19 e diagnosticado com a doença. O acidente de trânsito foi considerado a causa principal da morte, com o novo coronavírus sendo incluído como “causa contribuinte”. Dois dias depois, a Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente de Paulistana divulgou uma nova nota (verso da nota), afirmando que a inclusão do óbito no registro epidemiológico havia sido responsabilidade da Secretaria de Estado de Saúde do Piauí. Em contato com o Comprova, a assessoria da Secretaria de Estado de Saúde do Piauí afirmou que a morte foi retirada do registro epidemiológico em consenso com a Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente de Paulistana e com o CIEVS. “O rapaz morreu com covid, mas não por covid. O óbito foi para as estatísticas de acidentes de trânsito”, explicou o órgão. A cidade de Paulistana, agora, não tem nenhuma morte por covid-19 até 18 de agosto, data da última atualização do painel epidemiológico do Piauí. O município tem 62 casos confirmados da doença. Registro de óbitos por covid-19 Em 4 de maio, o Ministério da Saúde publicou um documento com orientações para o preenchimento de declarações de óbito no contexto da pandemia de covid-19. Ele determina que a doença seja registrada no atestado médico de causa de morte para todos os casos em que o novo coronavírus tenha causado ou contribuído para o óbito. O documento prevê que em algumas situações, de acordo com o julgamento do médico, a covid-19 pode não fazer parte da cadeia principal de causas que levaram ao óbito, mas pode ser descrita na segunda parte da declaração de óbito, no campo que registra as comorbidades que contribuíram para a morte. O próprio documento dá o exemplo (figura abaixo) de um homem de 75 anos que esteja cumprindo quarentena domiciliar após o diagnóstico confirmado da covid-19, que tinha sintomas típicos da doença e que sofreu uma queda por escorregão dentro do banheiro. No exemplo dado pelo Ministério da Saúde, esse homem é atendido pelo serviço de resgate e encaminhado ao hospital, passa por uma cirurgia em virtude de traumatismo cranioencefálico, mas morre após dois dias. Mesmo que a causa principal da morte seja o traumatismo em decorrência da queda, a orientação é que a covid-19 seja registrada no campo destinado a outras condições significativas que contribuíram para a morte. Dias depois da publicação desse material, em 11 de maio, o Ministério da Saúde lançou uma nova cartilha com orientações para codificação das causas de morte no contexto da covid-19. Ela atualiza o documento anterior com os códigos internacionais de doença com os quais devem ser registradas as mortes do SARS-CoV-2. Esse texto afirma que, para óbitos por causa externa, a investigação médica definirá se a covid-19 foi a causa direta do falecimento ou apenas contribuiu para o óbito. De acordo com o Ministério da Saúde, são considerados casos confirmados de covid-19 aqueles em que o paciente se submeta a um exame, seja ele laboratorial ou de imagem. A pasta admite o uso do critério clínico apenas para pacientes que apresentem síndrome gripal ou síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e que tenham tido contato com caso confirmado de covid-19 nas últimas duas semanas ou que apresentem anosmia (perda do olfato) e ageusia (perda do paladar) sem nenhuma outra causa pregressa. Quem é o assessor especial do presidente? Arthur Bragança de Vasconcellos Weintraub é advogado e, atualmente, ocupa o cargo de assessor-chefe adjunto da Presidência da República. Ele é irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Segundo seu perfil na plataforma de currículos Lattes, mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Arthur dá aula de Direito Previdenciário e Direito Atuarial na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele é graduado em direito pela Universidade de São Paulo (USP), mesma instituição onde fez mestrado e doutorado, ambos com pesquisa na área de Direito Previdenciário. Assim como o irmão, Arthur Weintraub coleciona declarações polêmicas sobre a pandemia do novo coronavírus. Em um seminário promovido pela Fundação Alexandre Gusmão no mês de junho, insinuou que a China estaria se beneficiando da emergência de saúde mundial — em abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) abriu um inquérito para investigar se houve crime de racismo por declaração semelhante feita por Abraham Weintraub. Arthur também é um defensor da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19, mesmo sem o medicamento ter eficácia comprovada. Em entrevista a um programa no YouTube do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, Arthur afirmou que Bolsonaro pedia a ele que lesse estudos sobre a medicação publicados em inglês. “Se consigo ler um artigo científico de epilepsia, consigo ler alguma coisa de covid. Comecei a ler. Passando para o seu pai, ele entendeu. Eu mandava PDFs de 20 páginas. Chegava no dia seguinte e estava impresso na mesa dele, grifado”, contou. Durante um seminário da Fundação Alexandre Gusmão, Arthur também afirmou que a prescrição do medicamento poderia ter evitado um grande número de óbitos e que “um tribunal de Nuremberg no futuro vai ver toda essa maldade [de não prescrever a hidroxicloroquina]”. O tribunal de Nuremberg julgou os crimes cometidos por lideranças nazistas após o fim da 2º Guerra Mundial. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre políticas públicas do governo federal e a pandemia de covid-19. É o caso da publicação sobre o registro de mortes pela doença feita por Arthur Weintraub. A postagem no Twitter teve 7,5 mil curtidas e 2,5 mil compartilhamentos e comentários e também foi reproduzida no Facebook, com viralização menor. Verificar publicações sobre o novo coronavírus é ainda mais importante porque informações equivocadas podem levar as pessoas a colocarem as próprias vidas em risco ao relaxar medidas de prevenção eficazes recomendadas por autoridades de saúde, como o distanciamento social e a higienização das mãos. Desde o início da pandemia, o Brasil já registrou 111,1 mil mortes provocadas pela covid-19 e 3,4 milhões de infectados pelo SARS-CoV-2. Nos últimos dias, o Comprova mostrou ser falsa uma fala de Bolsonaro de que a cloroquina, um remédio sem comprovação científica, teria salvado 100 mil vidas no Brasil. Também mostrou que outros políticos apresentaram dados enganosos sobre o número de mortes na pandemia e e citarem informações de apenas um hospital para indicar que a infecção pelo novo coronavírus está em queda. Além disso, têm viralizado publicações que distorcem dados para negar as mais de 100 mil mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado de forma a induzir a uma interpretação diferente ou que confunde com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C241&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/enfermeiro-distorce-dados-para-dizer-que-ivermectina-evita-mortes-pela-covid-19/
COMPROVA
Enfermeiro distorce dados para dizer que ivermectina evita mortes pela covid-19
null
2020-08-19
Não há nenhuma pesquisa que tenha comprovado o sucesso da ivermectina para salvar vidas de pacientes com covid-19. Tampouco Etiópia e Austrália distribuíram o medicamento para a população, como mencionado em vídeo investigado pelo Comprova Conteúdo verificado: Vídeo postado no Facebok em que enfermeiro afirma que a ivermectina está evitando mortes por covid-19 na Etiópia e na Austrália. Na legenda, ele escreve que a droga “salva sua vida, sim”. São falsas as afirmações de um enfermeiro em um vídeo no Facebook sobre o uso da ivermectina no combate à covid-19. Ele diz que a droga salva vidas, que há estudos que provam sua eficácia e que a Etiópia e a Austrália têm poucos casos do novo coronavírus porque fazem o uso profilático do remédio. Não há nenhuma pesquisa que tenha comprovado o sucesso da ivermectina para salvar vidas de pacientes com covid-19 – o estudo que o enfermeiro cita no vídeo ainda nem chegou à fase de teste em humanos, conforme a Universidade Monash, responsável pelo ensaio, informou ao Comprova. Tampouco Etiópia e Austrália distribuíram ivermectina para a população, como mencionado na gravação. Os governos dos dois países não indicam a droga no combate à doença e decretaram diversas medidas contra o vírus, como isolamento social e restrição de viagens. Em contato com o Comprova, o enfermeiro Anthony Ferrari Penza, autor do vídeo, disse que “as evidências sobre a ivermectina estão nos estudos in vitro que deram resultados e também na pesquisa observacional em pacientes que pelo uso do medicamento contraíram a covid-19 e foram assintomáticos ou tiveram sintomas leves”. A equipe pediu que ele enviasse as pesquisas que concluem que a ivermectina é eficaz contra a covid-19, mas ele enviou apenas um documento, que não prova a eficácia da droga. O vídeo foi retirado da plataforma. Como verificamos? O primeiro passo foi buscar a verificação que o Comprova havia publicado sobre Penza anteriormente, para ver o que ele já havia falado sobre o novo novo coronavírus. A equipe também pesquisou em outras investigações e no Google informações sobre pesquisas feitas com a ivermectina e sobre o uso da droga nos países citados por ele, Etiópia e Austrália. As afirmações do enfermeiro sobre um estudo feito na Austrália levaram à conclusão de levaram à conclusão de que ele se refere à se refere à pesquisa da Universidade Monash. A partir daí, o Comprova procurou a instituição, por e-mail, para saber em que fase está o estudo e se ele chegou a chegou a alguma conclusão. Também foram usados como fonte os sites dos governos dos países mencionados que reúnem informações sobre a covid-19 e da Universidade Johns Hopkins, referência em estatísticas mundiais da pandemia. Por último, como a equipe já possuía o telefone de Penza, a entrevista foi feita por WhatsApp. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 19 de agosto de 2020. Verificação Etiópia e Austrália No vídeo, Penza afirma que o governo etíope distribui ivermectina aos cidadãos desde 1997 e que “o resultado disso é que, em maio, havia seis mortes de covid-19 e, hoje, são menos de 80 casos de mortos”, o que não é verdade. Primeiramente, segundo o Ministério da Saúde do país africano, o total de mortes até o dia 19 de agosto chegava a 600. Além de não haver um número tão baixo de óbitos, é falso que o país tenha controlado a pandemia com a ivermectina. Segundo verificação do Comprova publicada em 10 de julho, as autoridades sanitárias da Etiópia não indicam a ivermectina para a prevenção ou tratamento da covid-19 e tomaram diversas medidas não farmacológicas para controlar o contágio, como fechamento de escolas e restaurantes, proibição de aglomerações e decreto de quarentena obrigatória para todos que chegassem ao país. O governo também decretou estado de emergência. O enfermeiro também afirma, falsamente, que “todos na Austrália tomaram ivermectina” e que, com isso, o país “reduziu a praticamente zero”. Ele pode estar falando de mortes ou do contágio – qualquer uma das informações está errada. Conforme o Comprova também já investigou, o único tratamento contra a doença aprovado no país foi o antiviral remdesivir, que só é prescrito para pacientes graves. Antes disso, a Austrália adotou medidas como distanciamento social, higienização das mãos, restrição de viagens e lockdown. De acordo com o governo australiano, o país registrou 23.993 infectados e 450 mortes até 19 de agosto. Estudo australiano Ele cita ainda que a Austrália fez “um estudo com células contaminadas com covid-19 in vitro“, ou seja, em laboratório, para testar a eficácia da ivermectina e que “em 48 horas, não existia mais vírus da covid-19”. Penza não cita qual é a pesquisa, tampouco a mencionou quando questionado, mas, em verificações anteriores, o Comprova já citou um estudo da Universidade Monash, em Melbourne, que mostrou que o medicamento erradicou em 48 horas todo o material genético do vírus em experimento em laboratório. Entretanto, a universidade, que lidera a pesquisa sobre o uso da droga contra o novo coronavírus no país, afirma, em novo contato, que os testes ainda estão na fase pré-clínica e não foram iniciados em humanos. Ou seja, não há nenhuma comprovação de que a ivermectina seja eficaz contra a covid-19. Outra afirmação falsa de Penza no vídeo é que, a partir do estudo (ainda não concluído), a Food and Drug Administration (FDA) aprovou o tratamento com o remédio para a população australiana. A FDA é um órgão sanitário norte-americano e não recomenda o uso de ivermectina. A ivermectina Pedimos a Penza comprovações científicas da eficácia da ivermectina no tratamento da covid-19. O único estudo científico enviado pelo enfermeiro ao Comprova foi o artigo “Remdesivir, nitazoxanida e ivermectina na covid-19”, publicado em julho na Unilakes Journal of Medicine, da Unilagos — União das Faculdades dos Grandes Lagos. Trata-se de um estudo revisional, que avalia os resultados obtidos por outros pesquisadores. Na conclusão, os próprios autores afirmam que “outros compostos como nitazoxanida e ivermectina, apesar dos efeitos amplos antivirais, até o momento, mostraram atividade contra o SARS-CoV-2 apenas in vitro. Um único trabalho com ivermectina em pacientes encontra-se ainda em fase de avaliação, mostra a eficácia do medicamento na diminuição de mortalidade, nos casos severos da doença, porém a qualidade científica muito baixa compromete os resultados obtidos.” E o texto finaliza esclarecendo que “até o momento, não há nenhum fármaco eficaz para o tratamento da covid-19”. Em uma busca sobre a ivermectina e sua eficácia contra o novo coronavírus no Google Scholar, plataforma que reúne artigos científicos disponíveis on-line, um dos principais resultados foi um artigo de junho, publicado no periódico “Antiviral Research”. O texto fala apenas de resultados observados in vitro. Em julho, uma pesquisa da Universidade de São Paulo também encontrou os resultados positivos em observação no laboratório, mas concluiu que a ação do fármaco não seria suficiente para combater a infecção. Em entrevista ao Jornal da USP, o coordenador do laboratório onde o estudo foi realizado, Lucio Freitas Junior, disse que “nossos resultados sugerem que essas drogas [a ivermectina e a nitazoxanida] são pouco específicas e não atendem aos critérios necessários para testes in vitro com modelos animais”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda o uso da ivermectina nos casos de covid-19. Segundo o órgão, não existem medicamentos que possam prevenir ou tratar a infecção pelo novo coronavírus. Em junho, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia publicou um posicionamento sobre a profilaxia e tratamento da covid-19, firmando que “não existem evidências científicas de que quaisquer das medicações disponíveis no Brasil, tais como ivermectina, cloroquina ou hidroxicloroquina, isoladas ou associadamente, sejam capazes de evitar a instalação da doença em indivíduos não infectados. Isso também é verdade para vitaminas, como, por exemplo, a C e D, e suplementos alimentares contendo zinco ou outros nutrientes.” No Brasil, a ivermectina não faz parte do protocolo de tratamento precoce com medicamentos da covid-19. O texto fala, entre outros, do uso de derivados da cloroquina — droga que também não tem eficácia contra o novo coronavírus. Em 10 de julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota afirmando que as indicações aprovadas para o uso da ivermectina são aquelas descritas na bula do medicamento, ou seja, “para o tratamento de várias condições causadas por vermes ou parasitas”. No final de julho, a agência determinou que a ivermectina (assim como outras drogas que vinham sendo usadas de forma indiscriminada e sem comprovação científica de eficácia para prevenir a infecção pelo novo coronavírus) passasse a ser vendida apenas com apresentação de receita médica em duas vias,. Quem é o enfermeiro? Nascido no Rio de Janeiro, Anthony Ferarri Penza se formou em enfermagem em 2014, na Universidade Veiga de Almeida, e vive em Cabo Frio. Antes da graduação, Anthony foi dono de um jornal, o “Diário Cabofriense”, que declarou ter vendido “em 2012 ou 2013” em entrevista realizada em junho, quando apareceu em uma verificação do Comprova classificada como falsa. Ele acusava governos municipais e estaduais, dizendo que “corpos de vítimas da covid-19 são vendidos por milhões”. Politicamente, o enfermeiro diz que não é nem de direita, nem de esquerda. Mas, nos vídeos, costuma chamar políticos de esquerda de “canalhas”. Na gravação verificada aqui, ao criticar o que estaria acontecendo no Brasil, chega a mencionar, sem terminar a frase: “Isso porque eles estão embutindo na cabeça do cidadão brasileiro, algumas pessoas de esquerda, gente…”. Em seguida, Penza diz que sua guerra “não é para manter Bolsonaro ou para tirar Bolsonaro ou para fazer a, b ou c”; segundo ele, é uma “guerra a favor da vida”. No jaleco que usa em gravações, há a inscrição “Doutor Anthony Ferreira Enfermeiro”. Em comentários, alguns internautas questionam o uso do título “doutor”, mas a Resolução 256/2001 do Conselho Federal de Enfermagem autoriza tal utilização por enfermeiros. No início da pandemia, Penza defendia o isolamento social, mas mudou de postura no decorrer dos meses. Ao ser questionado pelo Comprova, em junho, sobre a mudança, respondeu: “Ali era importante. Não sabemos como vai ser o vírus no Brasil e como o Brasil vai se comportar. Tanto que no Brasil como é que se comportaram estados e municípios? Apenas com corrupção”. O Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ) instaurou, no início de julho, um processo contra Penza, após ter recebido “várias denúncias por e-mail” . Caso ele seja declarado culpado, as penalidades aplicadas pelo Coren-RJ podem ser advertência verbal, censura, multa e suspensão do exercício profissional. Para o Comprova, Penza levantou vários outros pontos que já foram objeto de outras verificações, como a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, o questionamento das mortes registradas pela doença e a utilização das máscaras e das medidas de isolamento social. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados à pandemia que viralizaram nas redes sociais. Como ainda não há vacina ou cura, muitas das verificações têm sido sobre medicamentos que supostamente combatem a covid-19. O tema é de extrema importância porque a automedicação, sem orientação médica, pode colocar a saúde das pessoas em risco. Nesse contexto, a ivermectina tem sido muito citada em conteúdos que sugerem seu uso preventivo, ainda que, como explicado anteriormente, não exista nenhuma comprovação científica da sua eficácia. Nos últimos meses, o Comprova já mostrou que não havia provas de que o medicamento funcionasse, que entrevistas sobre o remédio estavam sendo tiradas de contexto, e que as autoridades médicas não recomendam a automedicação. Até 18 de agosto, o vídeo de Penza havia sido visualizado 3,1 milhões de vezes – um dia depois, a gravação foi tirada do ar. Contatamos o Facebook para saber o motivo, mas, até a publicação deste texto, não obtivemos resposta. O enfermeiro afirmou não ter sido o responsável pela retirada do conteúdo do ar, mas disse, em mensagem de áudio enviada ao Comprova, que é perseguido por veículos de imprensa e que “fica um monte de esquerdopatas denunciando o vídeo e a gente que luta pela vida não tem espaço na mídia”. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para modificar o seu significado original e divulgado de maneira deliberada para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/estudo-da-usp-analisa-eficacia-da-colchicina-contra-a-covid-19-e-nao-da-hidroxicloroquina/
COMPROVA
Estudo da USP analisa eficácia da colchicina contra a covid-19 e não da hidroxicloroquina
null
2020-08-18
Ao contrário do que diz publicação compartilhada por procurador da República, pesquisa não comprova a eficácia da hidroxicloroquina contra a doença provocada pelo novo coronavírus Conteúdo verificado: Publicação feita em site de notícias focado nos tratamentos sem validação científica e compartilhado por procurador da República afirma erroneamente que pesquisa da USP comprova eficácia da hidroxicloroquina no combate à covid-19. É falsa a publicação intitulada “Estudo da USP confirma eficácia da hidroxicloroquina. Nome do medicamento é suprimido nas manchetes” que circula na internet. O texto, inicialmente publicado no blog Quinina, distorce dados de pesquisa da Universidade de São Paulo para defender medicamentos sem comprovação funcional no tratamento da covid-19. A publicação foi compartilhada pelo procurador da República Ailton Benedito, aumentando seu alcance. O foco do estudo citado são os possíveis benefícios da colchicina para o tratamento da covid-19. Por isso, uma parte dos voluntários recebeu a droga e a outra, não. Isso serve para comparar os resultados obtidos por ambos os grupos. Ou seja, esse era o objeto do estudo. A hidroxicloroquina junto com a azitromicina, medicamentos citados pelo blog, foram prescritas a todos os voluntários porque esse era o protocolo de tratamento padrão adotado no hospital onde e quando o estudo foi feito. Ao Comprova, os autores disseram que “é errôneo dizer que o presente estudo avaliou eficácia da hidroxicloroquina, da azitromicina ou da heparina”. Tentamos contato com o editor do blog, J. A. Campetti Nieto, e com o procurador Ailton Benedito. O primeiro disse que o artigo não era de sua autoria e que repassou as perguntas do Comprova a quem escreveu. O segundo não retornou até a publicação desta checagem. Como verificamos? Para dar início à investigação, o Comprova entrou em contato com a Universidade de São Paulo (USP) para verificar a existência da pesquisa, entender do que se trata e conhecer suas conclusões. Dois dos autores nos responderam por e-mail. Também procuramos o site Quinina, que lançou o artigo usando informações manipuladas. Conseguimos falar com o editor por meio de mensagens na página do Facebook. Embora seu nome apareça no alto da publicação, ele alegou não ser o autor do texto: “No caso de seu questionamento, acredito ser válido. Como é um texto de opinião, sobre a pesquisa de Ribeirão Preto, enviei seus questionamentos ao autor, solicitando os apontamentos necessários que você solicita.” Entramos em contato com o procurador da República que compartilhou o conteúdo, mas não obtivemos resposta. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de agosto de 2020. Verificação O estudo O artigo veiculado pelo site Quinina usa erroneamente dados de um estudo da USP disponibilizado em 12 de agosto na plataforma Medrxiv — que hospeda versões de artigos sobre ciências da saúde que ainda precisam ser submetidas à revisão dos pares (outros pesquisadores que podem validar o estudo). O nome original da publicação é Beneficial effects of colchicine for moderate to severe COVID-19: an interim analysis of a randomized, double-blinded, placebo controlled clinical trial (em tradução livre: Efeitos benéficos da colchicina para COVID-19 moderada a grave: uma análise provisória de ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo). Foram convocados 38 pacientes, dos quais 35 permaneceram no estudo até o final. Parte dos voluntários tomou a colchicina além do tratamento padrão, enquanto a outra parte tomou o tratamento padrão e um placebo, substância sem efeito. Isso é importante para se avaliar qual foi o impacto da medicação analisada no tratamento. Os integrantes de cada segmento foram escolhidos de forma aleatória, e inicialmente nem os pesquisadores nem os voluntários sabiam de qual grupo se tratava. Isso é utilizado na ciência para melhor identificar a relação entre as variáveis que influenciam o resultado de um estudo. O texto publicado no blog Quinina engana já no título ao destacar que o “estudo da USP confirma eficácia da hidroxicloroquina” no tratamento da covid-19. De acordo com o médico e professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, Paulo Louzada Junior, um dos autores do artigo, é errado dizer que foi avaliada a eficácia da hidroxicloroquina, da azitromicina ou da heparina. Isso porque todos os participantes receberam a droga, uma vez que já faziam parte do então tratamento padrão no hospital. Sem um grupo de controle, isto é, um grupo que recebeu o placebo em vez da droga, não é possível comparar a diferença e o impacto da hidroxicloroquina no tratamento. “O que pode ser dito, e de fato é dito no artigo, é que não houve evento adverso grave (arritmia, por exemplo) pelo uso combinado dessas medicações”, falou Louzada Junior ao Comprova. Ele revelou que o estudo teve início em abril deste ano. Atualmente, a hidroxicloroquina não é mais empregada no protocolo da Instituição para o tratamento de pacientes internados com COVID-19. “Se este ensaio clínico tivesse iniciado hoje, não contaria a hidroxicloroquina no tratamento padrão institucional, que consiste de corticoides e heparina”, garantiu o médico. Louzada reforçou que o resultado da pesquisa tem relação apenas com a colchicina: “A conclusão final do estudo foi que a adição da colchicina ao tratamento padrão da covid-19 levou à redução do tempo de uso de oxigênio suplementar, bem como redução do tempo de internação”. O pesquisador complementou que não é possível compreender um ensaio clínico, com suas limitações e importância, somente pela leitura do resumo. E sugeriu “a leitura completa do texto, antes da divulgação inapropriada dos seus resultados”. O que é colchicina? A colchicina é um anti-inflamatório utilizado no tratamento da gota. Entre as motivações para o estudo está o fato de não haver remédio que combata a infecção causada pelo novo coronavírus, apenas cuidados médicos para evitar a reação do corpo que gera um quadro inflamatório. “A dose empregada (na pesquisa) foi a que se utiliza para o tratamento das crises, pois já se tem bem estabelecido estudos de segurança para o seu emprego em pacientes”, ressaltou Louzada Junior. Ele complementou: “A colchicina é um inibidor do inflamassoma, que é uma plataforma de estruturas intracelulares que se organizam para produzir duas citocinas pró-inflamatórias. Como já existiam estudos prévios que indicavam que estas citocinas poderiam estar envolvidas no estado hiper inflamatório presente nos pacientes com covid-19, esta foi a justificativa que embasou o seu uso como possível tratamento para os pacientes internados com pneumonia secundária a infecção pelo SARS-CoV-2.” Hidroxicloroquina e azitromicina O Comprova já mostrou em outras checagens que nem a cloroquina, tampouco seu derivado, a hidroxicloroquina, têm eficácia atestada por autoridades no combate ao novo coronavírus. Duas das mais recentes verificações envolvendo esse fármacos são a que revela que estudo da revista científica The Lancet não fez com que Estados e municípios deixassem de receitar cloroquina e a que investigou a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que a cloroquina poderia ter evitado 100 mil mortes no país. O médico francês Didier Raoult — mencionado pelo Quinina — publicou em março deste ano um estudo afirmando que o uso da cloroquina teria curado 75% dos pacientes com covid-19 em seis dias. A pesquisa foi alvo de críticas da revista Science, referência em estudos científicos, e seus resultados foram questionados e considerados incompletos. Pesquisas em padrão ouro para avaliação de medicamentos — que exige testes com grupos de controle e o uso de placebos — publicadas no Journal of the American Medical Association (Jama) e no British Medical Journal (BMJ) – apontaram que pacientes tratados com cloroquina e hidroxicloroquina não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios. Uma pesquisa realizada em 55 hospitais brasileiros e publicada no New England Journal of Medicine (NEJM) chegou às mesmas conclusões. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o National Health Service, do Reino Unido, abandonaram estudos com cloroquina e hidroxicloroquina. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe, em julho, no qual pontua ser “urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da covid-19” diante das novas evidências científicas. O Ministério da Saúde já distribuiu 5 milhões de comprimidos de cloroquina e ainda tem mais 4 milhões em estoque. Enquanto sobra cloroquina, faltam insumos para pacientes internados nas UTIs, como sedativos, anestésicos, analgésicos e bloqueadores neuromusculares. Esses medicamentos são fundamentais para os pacientes em estado grave que precisam ser intubados. A azitromicina, também citada pelo blog Quinina, é um antibiótico. Medicamentos desse tipo podem ser prescritos por médicos para tratar infecções oportunistas (que se aproveitam da fragilidade do corpo dos doentes) causadas por bactérias. Mas a covid-19 é uma doença causada por um vírus, o SARS-CoV-2, e não pode ser curada por um antibiótico. Conforme a OMS, não há, até o momento, tratamento efetivo ou drogas comprovadas contra o novo coronavírus. Essa posição é ratificada por autoridades sanitárias como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a norte-americana Food and Drug Administration (FDA). O site Quinina e seu editor Na seção “sobre”, o site afirma que o editor é J. A. Campetti Nieto, descrito como “graduado em Gestão Ambiental, empresário da comunicação há 20 anos em Minas Gerais.” Pelo Facebook, em resposta ao Comprova, o editor descreveu o Quinina da seguinte forma: “Um site criado com objetivo inicial de reunir bibliografia científica e jornalística sobre os derivados da quinina, utilizados no combate ao covid-19. Com a evolução dos conhecimentos sobre o coronavírus, o Quinina passou a acompanhar a aplicação dos protocolos de tratamento precoce da doença.” Em seu perfil no Twitter, Nieto descreve-se como “jornalista dissidente sem diploma, fotógrafo e catador de coquinhos”. Seus posts, geralmente, são favoráveis à cloroquina e em defesa das ações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Atualização Após a publicação desta verificação, o autor do texto respondeu ao Comprova reafirmando o conteúdo do que publicou. Ele também acrescentou que, no registro do estudo, os pesquisadores nomearam o ensaio como “Estudo clínico sobre o tratamento da COVID-19 com Cloroquina e Colchicina” e que, ao publicar os resultados, teriam suprimido a palavra cloroquina do título. O Comprova, então, retomou o contato com os pesquisadores da USP responsáveis pelo estudo. Por email, Paulo Louzada Júnior destacou que a palavra cloroquina segue no título do ensaio clínico e explicou por qual motivo ela aparece lá. “Este ensaio clínico foi elaborado nos meses de fevereiro e março de 2020, época em que a cloroquina era considerada como uma (talvez a única) opção terapêutica para a covid-19. Assim, na elaboração do ensaio, não cabia, naquele momento, ter um grupo de estudo que não fosse tratado com a cloroquina”. Louzada Júnior reafirmou, ainda, que o estudo não verifica a eficácia da cloroquina, uma vez que todos os pacientes fizeram uso desta substância, sendo impossível, portanto, medir o efeito da cloroquina [atualização publicada em 20 de agosto de 2020]. Por que investigamos? O Comprova, em sua terceira fase, verifica conteúdos relacionados a políticas públicas e à pandemia do novo coronavírus que viralizaram nas redes sociais. Este texto do site Quinina foi compartilhado 385 vezes no Facebook. Também foi postado no Twitter pelo procurador da República Ailton Benedito, ampliando o seu alcance. No caso da covid-19, mentiras e boatos que se espalham pelas redes sociais são ainda mais perigosos porque podem custar vidas. A falsa noção de segurança causada pela ideia de um tratamento sem comprovação científica pode levar a população a não seguir as recomendações das autoridades médicas, como lavar as mãos, usar máscara e manter distanciamento social. No caso das publicações do Quinina, o texto pode induzir ao uso de medicamentos sem comprovação validada cientificamente, colocando pacientes em risco. O Comprova já verificou diversos conteúdos com desinformação sobre o uso da cloroquina no tratamento da covid-19, como estudos sem comprovação científica, textos falando do uso da droga em outros países e declarações polêmicas de médicos. Comentários do presidente Bolsonaro e seus apoiadores sobre a pandemia também já foram checadas. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-de-deputado-apresenta-dados-enganosos-sobre-numero-de-mortes-por-outras-doencas-na-pandemia/
COMPROVA
Post de deputado apresenta dados enganosos sobre número de mortes por outras doenças na pandemia
null
2020-08-18
Ministério da Saúde divulga informações consolidadas somente até 2018, o que torna impossível as comparações de óbitos de 2019 e 2020. Dados de cartórios apresentam limitações como atualização constante de registros. Comprova identificou recentemente alterações mesmo no número de óbitos ocorridos no ano passado Conteúdo verificado: Post do Deputado Federal Daniel Silveira (PSL-RJ) no Facebook sugere que o número de mortes registradas por covid-19 no país está supervalorizado, incluindo óbitos por pneumonia, AVC e infarto. Uma postagem do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) engana ao sugerir que óbitos por outras doenças, como pneumonia, infarto e AVC, estariam sendo contabilizados como covid-19 no Brasil. Ele sustenta a versão com uma suposta queda no número de mortes dessas três doenças entre 2019 e 2020, que chegaria a 30 mil no caso da pneumonia. As mortes confirmadas pelo novo coronavírus só entram nas estatísticas após resultado positivo do teste, segundo o Ministério da Saúde. A pasta afirmou à reportagem os dados consolidados mais recentes sobre mortalidade no país são de 2018. O Portal da Transparência do Registro Civil aponta, de fato, para a redução no número de mortes nas três causas: pneumonia (-20.569), AVC (-1.385) e infarto (4.361). O Comprova consultou a base de dados no dia 17 de agosto, considerando o período de 1º de janeiro a 31 de julho. A data final foi escolhida com base na recomendação da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) para que seja respeitado intervalo de, no mínimo, 15 dias, por causa dos prazos legais de registro. Esses dados, no entanto, não comprovam fraude nas estatísticas da pandemia. Como demonstrou o Comprova em outra verificação recente, o Portal da Transparência do Registro Civil apresenta revisões até de informações relativas ao ano passado. Além disso, a mesma pesquisa, em 17 de agosto, mostrou acréscimos em causas de morte como Síndrome Respiratória Aguda Grave (+10.330), entre outras. O número de vítimas de covid-19 informado na página era de 92.193, com excesso de mortes calculado em 82.073 pessoas. Como verificamos? O Comprova pediu dados atualizados sobre mortalidade de covid-19 e outras doenças ao Ministério da Saúde. A pasta respondeu por e-mail que as informações consolidadas mais recentes são de 2018 e não forneceu dados relativos a 2019 e 2020, sob a justificativa de que eram “muito preliminares e sujeitos a alterações”. O Portal da Transparência do Registro Civil, que traz comparativo entre mortes por causas respiratórias e cardíacas no período, foi consultado a seguir. O resultado da pesquisa apresentou diferenças quanto à alegação do deputado Daniel Silveira. A reportagem, então, procurou entender as limitações das informações dos cartórios. Foram utilizadas verificações anteriores do Comprova e matérias publicadas na imprensa. A equipe também pediu a opinião de dois especialistas sobre os dados e a confiabilidade das estatísticas de covid-19, o infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e o coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), Domingos Alves. Também entramos em contato com o deputado Daniel Silveira, por meio da assessoria de imprensa dele, para saber sobre a fonte das informações que constam na postagem. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de agosto de 2020. Verificação As mortes por covid-19 Daniel Silveira publicou o post em sua conta no Facebook em 11 de agosto. A peça afirma que “o número de mortos por pneumonia em 2020 tem 30 mil ocorrências a menos em relação a 2019” e que “o mesmo ocorreu com AVC e infarto”, sem citar fontes. A conclusão do texto é que “apontamentos e estatísticas não são claros ou confiáveis, pois atendem unicamente ideias políticos [sic] cumprindo uma agenda específica”. As estatísticas de mortes por covid-19 consideram apenas casos que tiveram resultado positivo em teste. Em checagem de junho, o Ministério da Saúde afirmou ao Comprova que os números divulgados diariamente de casos e óbitos por covid-19 são informados pelos estados por meio do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe). A confirmação é feita por meio de exames RT-PCR coletados nos pacientes e encaminhados a laboratório. A orientação também consta em nota técnica publicada em 4 de maio. No documento, o Ministério da Saúde solicita aos médicos que registrem a covid-19 como causa da morte apenas quando o paciente tiver confirmação por exame laboratorial. Se o teste ainda não estiver pronto, o termo registrado deve ser “suspeita de covid-19”. Esse paciente é considerado como um caso em investigação e não entra na contagem até que se tenha conhecimento do resultado. Até segunda-feira, 17 de agosto, o Brasil contabilizava 108.536 vítimas do novo coronavírus, de acordo com informações do Ministério da Saúde. Foram confirmados mais de 3,3 milhões de casos no país, sendo em torno de 19 mil apenas nas últimas 24 horas. Dados de mortalidade por outras doenças O Comprova pediu dados de mortalidade por pneumonia, AVC e infarto nos anos de 2019 e 2020 ao Ministério da Saúde. Por e-mail, a pasta esclareceu que “os dados consolidados de mortalidade mais recentes são de 2018, retirados do Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM)”. A ausência de dados mais recentes é justificada pelo fato de estes serem “muito preliminares e sujeitos a alterações”, segundo a pasta. A origem da alegação de Silveira é outra: um vídeo gravado pela jornalista Cristina Graeml, da Gazeta do Povo, em 2 de agosto. Dois dias antes, Silveira publicou trecho de vídeo do jornalista Guilherme Fiuza com uma legenda semelhante. Fiuza, por sua vez, menciona o levantamento da repórter para alegar a redução de 30% nos casos de pneumonia. A assessoria do deputado também confirmou ao Comprova, por e-mail, que a postagem se baseou nesse conteúdo. Graeml compara informações do Portal da Transparência do Registro Civil e afirma que, de março a julho de 2019, houve 90.052 mortes por pneumonia, enquanto neste ano foram registrados 61.000 óbitos. Em outro momento, diz que “praticamente todas as causas mortis diminuíram nesse primeiro semestre”, incluindo infarto e AVC. Esse levantamento, no entanto, desconsidera o atraso no registro de mortes dos cartórios. A recomendação da Arpen-Brasil, associação responsável pela página, é de se respeitar uma distância mínima de 15 dias entre a data final do intervalo de pesquisa e o dia da coleta. Isso porque os registros dos cartórios obedecem aos seguintes prazos legais: 24 horas para comunicação do falecimento em cartório pela família, cinco dias para o cartório efetuar o registro de óbito e oito dias para envio do ato à Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional). Porém, não é raro que os registros demorem mais do que duas semanas. Em outra verificação publicada recentemente, o Comprova pesquisou informações, dentro de um mesmo intervalo, em três momentos diferentes. Os gráficos mostram que não apenas os dados de 2020 foram alterados, mas também os do ano passado. A inconsistência foi demonstrada ainda em reportagens do jornal Folha de S.Paulo e do portal Núcleo. Além da velocidade de atualização desigual entre cidades do país, a plataforma ainda sofreu com “apagões” de dados em mais de uma ocasião, o que praticamente inviabiliza análises sobre o avanço da pandemia. Em agosto, o pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Otavio Ranzani afirmou que os registros de Minas Gerais sumiram durante dois meses, distorcendo os dados. Os números só foram atualizados nesta segunda-feira, 17. O especialista aponta ainda que a interiorização da covid-19 favorece atrasos nos registros, porque os municípios menores apresentam maiores dificuldades na transmissão das informações. Em consulta feita no dia 17 de agosto — considerando intervalo de 1º de janeiro a 31 de julho, portanto, respeitando a recomendação da Arpen-Brasil —, a plataforma apontava para redução do número de mortes por pneumonia, AVC e infarto. Por outro lado, essa mesma pesquisa indicava aumento no número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), causas cardiovasculares específicas e por motivo indeterminado. Para especialistas, registros de cartórios não provam fraude Ainda que as informações atuais do Portal de Transparência do Registro Civil fossem definitivas e o Brasil realmente apresentasse redução no número de casos de pneumonia, infarto e AVC, especialistas avaliam que a situação não provaria fraude alguma nas estatísticas de covid-19. Em checagem recente do site Aos Fatos, o médico do Centro de Pesquisas Clínicas Epidemiológicas do Hospital Universitário da USP (Universidade de São Paulo) Márcio Sommer Bittencourt destacou que a diminuição de mortes por outras causas pode estar relacionada a menor procura por atendimento médico. Na falta de diagnóstico preciso, aumentam os registros genéricos quando, em condições normais, a causa seria especificada. Para o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), é possível que a covid-19 absorva mortes de pessoas suscetíveis que aconteceriam eventualmente por meio das outras causas mencionadas. Porém, entende que os dados dos cartórios não são capazes de confirmar essa relação, que também não diminui a gravidade da doença. “No final das contas, teremos um incremento absurdo [de mortes] por conta da pandemia”, afirma. Barbosa acredita que o número de mortos por covid-19 no Brasil está subestimado, e não o contrário. “Vemos lugares em que pessoas com Síndrome Respiratória Aguda Grave acabam morrendo sem diagnóstico. É muito mais provável que esses números estejam subestimados — e que 100 mil óbitos esteja abaixo do que realmente aconteceu — do que superestimados”, argumenta. O coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), Domingos Alves, também entende dessa forma. Ele lembra que, entre os resultados de testes laboratoriais de pacientes com SRAG para algum vírus respiratório, 96,9% são referentes ao Sars-CoV-2. Em relação aos óbitos, o número chega a 99,1%. O Brasil teve 144.663 óbitos por SRAG neste ano, dos quais 98.195 (67,9%) foram confirmados para covid-19. Só que 41.998 (29%) não foram especificados e podem ter sido ignorados nas estatísticas da pandemia, enquanto 3.575 (2,5%) estavam com investigação em andamento. Os dados aparecem em boletim semanal da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 11 de agosto, e em boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, do dia seguinte. Quem é o deputado Daniel Silveira? Daniel Silveira foi eleito como deputado federal pela primeira vez em 2018, pelo PSL do Rio de Janeiro. Segundo o portal da Câmara dos Deputados, Silveira é titular nas Comissões Especiais do Fundo de Desenvolvimento do Norte Fluminense e da Política da Mobilidade Urbana, além da Subcomissão de Energia Elétrica. Nas Comissões Especiais sobre competência legal para investigação policial, do Código de Trânsito Brasileiro, e no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, Silveira é membro suplente. No perfil publicado no próprio site, Daniel Silveira afirma ser policial militar e que sua atuação no Congresso é em nome de “uma política de tolerância zero contra criminosos, aumentando penas para crimes hediondos e contra a administração pública, especialmente a corrupção. Na segurança pública, o deputado Daniel Silveira defende mais estrutura de trabalho para policiais e bombeiros”. O texto ainda diz que Silveira defende a família e é contra a “ideologia de gênero” e a “doutrinação nas escolas”. Em 2018, na época da campanha eleitoral, Silveira ficou conhecido por um vídeo em que aparece ao lado do então candidato a deputado estadual no Rio, também pelo PSL, Rodrigo Martins, quebrando uma placa que homenageava a vereadora Marielle Franco, do PSOL, assassinada meses antes. Quem também aparece nas imagens é o atual governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). Na época, ele fazia campanha eleitoral, e discursava no palco quando a homenagem foi destruída. Em um perfil publicado na Revista piauí, em 2019, Silveira defendeu a própria atitude: “O recado era muito simples: não permitir que, em nome de uma ideologia, possam vandalizar e tomar um território público.” Segundo a mesma reportagem, o deputado deixou de ser policial militar do Rio de Janeiro em 2018, depois de sete anos de atuação. Em 2020, o deputado assinou 34 propostas legislativas, como autor, e, até a publicação deste texto, não havia relatado nenhum projeto. De acordo com as informações oficiais da Câmara, o deputado conseguiu aprovar 8 emendas ao orçamento da União em 2020 – duas delas destinaram um total de R$ 9.740.454,00 aos serviços de assistência hospitalar e ambulatorial e de atenção à saúde básica do Estado do Rio de Janeiro. Em junho, em meio aos protestos realizados no país contra o governo Bolsonaro e liderados por grupos antifascistas, o parlamentar apresentou uma proposta de alteração na Lei Antiterrorista, para incluir os “antifas” e criminalizar o movimento. Silveira é alvo de um inquérito aberto pelo Ministério Público Federal em julho, que apura suspeita de improbidade administrativa. Nesta semana, o site The Intercept Brasil publicou uma reportagem que afirma que o deputado teria sido preso administrativamente, quando era policial militar, e que teria usado licenças médicas indevidas para driblar um processo administrativo que poderia impedir a sua candidatura, por causa da Lei da Ficha Limpa. O deputado negou as acusações em uma live na internet. Em junho, depois de dizer que o novo coronavírus “idiotiza as pessoas”, o deputado foi diagnosticado com a covid-19. Em sua conta verificada no Twitter, o deputado já fez publicações sobre a pandemia em tom conspiratório, já minimizou os impactos da doença e criticou as medidas de isolamento, já atacou veículos de imprensa e agências e projetos de checagem, por causa de conteúdos a respeito do novo coronavírus, e já defendeu o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como a ivermectina e a hidroxicloroquina. O vídeo publicado pelo deputado para defender a segunda droga, inclusive, já foi alvo de verificação pelo Comprova. Silveira é um dos alvos dos inquéritos que apuram a organização e financiamento de atos antidemocráticos e o disparo de notícias falsas, ofensas e ameaças contra autoridades, ambos conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista ao Estadão, ele negou envolvimento na organização dos protestos e disse desconhecer a existência de uma centralização na “coordenação ou financiamento” de grupos bolsonaristas. Por que investigamos? O Comprova, nesta terceira fase, verifica conteúdos relacionados à pandemia da covid-19 que viralizaram nas redes sociais. A postagem de Daniel Silveira teve 16,8 mil interações no Facebook até o dia 17 de agosto. Postagens como a do deputado têm sido comuns nos últimos dias, e outras publicações que distorciam dados para negar as mortes por coronavírus já foram checadas pelo Comprova. No caso desta publicação, o deputado Daniel Silveira é uma figura pública, que já minimizou a pandemia e questionou dados oficiais e publicados por veículos de imprensa. Só na página dele no Facebook, a postagem soma mais de 16 mil interações, entre comentários, curtidas e compartilhamentos. As informações que minimizam a pandemia — que já matou mais de 770 mil pessoas no mundo, segundo a Universidade Johns Hopkins — são perigosas porque podem levar as pessoas a descumprir determinações sanitárias de prevenção à doença, ou questionar o isolamento social. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/estudo-da-lancet-nao-levou-estados-e-municipios-a-deixarem-de-receitar-cloroquina/
COMPROVA
Estudo da Lancet não levou estados e municípios a deixarem de receitar cloroquina
null
2020-08-17
Não há nenhuma comprovação de que governos estaduais ou prefeituras, no Brasil, tenham restringido o uso de cloroquina durante período em que esteve publicado um estudo na revista Lancet. Além disso, não existe comprovação científica de que a cloroquina tenha eficácia contra o novo coronavírus Conteúdo verificado: Vídeo em que um médico diz que vários estados e prefeituras deixaram de prescrever a cloroquina por causa do estudo da Lancet, retratado em junho, o que teria causado a morte de pacientes com covid-19. São falsas as afirmações feitas pelo médico Wagner Malheiros em um vídeo postado no Facebook e republicado no YouTube em que ele atrela um estudo publicado pela revista científica The Lancet a mortes por covid-19. No vídeo, Malheiros destaca a publicação do fim de maio que, 11 dias depois, foi removida, para defender o uso da cloroquina no tratamento da covid-19. O médico argumenta que governos deixaram de receitar a droga por causa desse texto e isso teria causado mortes. Não há nenhuma comprovação de que governos estaduais ou prefeituras, no Brasil, tenham restringido o uso de cloroquina durante esse período. Além disso, não existe comprovação científica de que a cloroquina tenha eficácia contra o novo coronavírus. No vídeo, Malheiros também cita um estudo publicado no início de julho pela instituição norte-americana Henry Ford Health System para defender a cloroquina. A pesquisa, como o Comprova já mostrou, é insuficiente para provar a eficácia da droga. Malheiros ainda acusa a Sociedade Brasileira de Infectologia de ter relações com o PT. A afirmação também não é verdadeira. Como verificamos? Em primeiro lugar, o Comprova usou a busca reversa de imagens para descobrir a origem no vídeo e quem era o homem que falava nele. Depois, buscamos os registros do médico no Conselho Federal de Medicina, pesquisamos matérias sobre ele no Google e procuramos seu perfil no Facebook. Enviamos mensagem para um amigo de Malheiros que havia postado um novo vídeo dele após o perfil do médico no Facebook ser bloqueado. Por meio deste amigo, conseguimos o número de WhatsApp do autor do vídeo para obter mais informações sobre as alegações feitas no vídeo. Para checar o que o médico alega, procuramos a Prefeitura de Cuiabá e o governo do Mato Grosso. Também pesquisamos sobre o estudo da Lancet que foi mencionado e sobre a situação da pandemia na Suíça, citada por Malheiros em contato com o Comprova. Por fim, levantamos informações de verificações anteriores do Comprova sobre a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina para prevenir mortes por covid-19 e sobre o estudo da Henry Ford Health System. Ainda entramos em contato com a Sociedade Brasileira de Infectologia para checar a acusação feita por Malheiros, sobre uma relação do órgão com o Partido dos Trabalhadores. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de agosto de 2020. Verificação Quem é o médico? O médico que aparece no vídeo se chama Wagner Malheiros. Ele começou a atuar em 1996 no Rio de Janeiro. Desde fevereiro de 1999, seu registro foi transferido para o Conselho Regional de Medicina do Mato Grosso (CRMMT). Ele trabalha em Cuiabá e é especialista em pneumologia e clínica médica. No perfil do Facebook, ele se descreve como “aluno relapso do Olavo de Carvalho”, ideólogo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em junho, Olavo criticou o presidente publicamente. A imagem de capa do perfil de Malheiros no Facebook é uma foto de Bolsonaro. O vídeo verificado foi postado originalmente no Facebook em 03 de agosto de 2020 e, atualmente, está com o selo de “informação falsa” dado pelo Facebook. As últimas postagens de Malheiros na rede social são desta data. Segundo o site Repórter MT, a conta dele na rede social foi suspensa por 30 dias por causa das afirmações sobre a cloroquina. Estudo da Lancet A Lancet é uma renomada revista científica. No dia 22 de maio, uma publicação feita nela dizia que um estudo com 96 mil pacientes apontou que a hidroxicloroquina e a cloroquina não apresentavam benefícios no tratamento do novo coronavírus. O texto ainda alertava para um risco maior de morte e piora cardíaca durante a hospitalização. Onze dias depois da divulgação, a própria Lancet manifestou preocupações em relação ao estudo. A publicação informou que “importantes questões científicas foram levantadas sobre os dados relatados” e faria uma auditoria independente dos dados. No dia seguinte, a Lancet publicou uma nota de retratação dos autores do estudo. Eles diziam não poder mais garantir a veracidade dos dados usados para fundamentar a pesquisa. Na nota de retratação, os responsáveis pelos estudos afirmaram que nem todos os autores tiveram acesso aos dados brutos envolvidos na pesquisa. Por causa disso, não poderiam validar as principais fontes que compuseram o artigo. Os dados analisados pertenciam à “Surgisphere”, empresa de um dos autores. Ela, porém, não liberou as informações completas para uma auditoria independente afirmando que violaria o acordo de confidencialidade feito com os clientes. Ao contrário do que afirma o vídeo verificado, o pedido de desculpas não se trata de uma novidade. Todo o processo de retratação ocorreu no início de junho, há mais de dois meses, portanto. O estudo publicado pela Lancet fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendesse os estudos com as drogas, mas as pesquisas foram retomadas assim que a retratação da revista foi divulgada. Em 17 de junho, a OMS anunciou que estava encerrando definitivamente os estudos com a cloroquina e a hidroxicloroquina. Desta vez, a decisão foi baseada nos resultados obtidos pelas pesquisas “Recovery”, do Reino Unido, e Solidariedade, que englobou 3,5 mil pacientes em 35 países. No vídeo, Malheiros ainda cita um editorial feito pela Lancet com críticas a Jair Bolsonaro. O texto, publicado em 9 de maio, apontava o presidente como a maior ameaça à luta contra a covid-19 no Brasil. Na época, o país somava pouco mais de 9 mil mortes pela doença, e Bolsonaro foi criticado por responder um questionamento sobre o aumento de casos dizendo: “E daí? Lamento, quer que eu faça o quê?”. Estudo da Henry Ford Health System Durante o vídeo, Malheiros cita um estudo da Henry Ford Health System, uma organização de assistência médica sem fins lucrativos, dos Estados Unidos, para defender o uso da cloroquina no tratamento do novo coronavírus. Como o Comprova já mostrou, a pesquisa é insuficiente para provar a eficácia da droga. Na conclusão do próprio artigo que, segundo Malheiros, comprovaria a eficácia da cloroquina, os médicos responsáveis pelo estudo ressaltam que os resultados precisam ser confirmados por meio de outros testes que permitam avaliar “rigorosamente” a eficácia do tratamento. A pesquisa chegou a receber críticas da comunidade científica, como mostrado em uma reportagem da CNN norte-americana. Governos pararam de usar cloroquina por causa da Lancet? No vídeo, Malheiros diz que vários estados e municípios deixaram de prescrever a cloroquina por causa do estudo da Lancet; o que teria provocado mortes. Não há, no entanto, comprovação científica do uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Recentemente, o Comprova classificou como falso que o remédio teria evitado as 100 mil mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil. Em áudio enviado ao Comprova pelo WhatsApp, o médico disse não lembrar a fonte dessa informação. Mas afirmou que a medida havia sido adotada em Cuiabá. Também disse que o número de casos voltou a crescer na Suíça depois que o país suspendeu o tratamento com cloroquina por causa do estudo da Lancet. O Comprova procurou a Prefeitura de Cuiabá, que não respondeu até o fechamento dessa verificação. O governo do Mato Grosso afirmou que os médicos dos hospitais estaduais e do centro de triagem da covid-19 têm liberdade para prescrever a medicação que entenderem como mais eficaz para o quadro clínico do paciente. A Secretaria Estadual de Saúde afirmou que segue o protocolo do Ministério da Saúde, que autoriza o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em pessoas hospitalizadas ou com diagnóstico da covid-19, desde que recomendado pelo médico e autorizado pelo paciente ou responsável. Segundo a pasta, não houve mudança no protocolo de uso do medicamento por causa do estudo da Lancet. A Suíça, citada por Malheiros em conversa com o Comprova, deu início em junho à reabertura, inclusive permitindo a entrada de estrangeiros para estimular o turismo, setor de peso importante na economia local. A partir do final daquele mês, porém, vários surtos da doença começaram a ser registrados no país. Essas novas infecções ainda estão sendo registradas e o país teme uma segunda onda da doença. Oficialmente, a Suíça considera que não há tratamento para o novo coronavírus, sendo possível, apenas, suavizar os sintomas até que o paciente se recupere. Sociedade Brasileira de Infectologia Malheiros acusa na publicação uma “sociedade de medicina” de ser ligada ao PT. Em outro vídeo publicado no Facebook, diz que “a Sociedade de Infectologia foi a que mais combateu o uso da cloroquina aqui no Brasil. E nós sabemos que a Sociedade de Infectologia é dominada, inteirinha, por ‘vermelhinhos’”. Em contato por telefone, ele confirmou que, ao dizer “sociedade de medicina”, se referia à Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Não encontramos, no entanto, nenhuma prova de uma possível relação da entidade com o PT. O presidente da SBI, Clóvis Arns da Cunha, é primo do senador Flávio Arns, esse com passagem pelo PT e pelo PSDB – atualmente é filiado à Rede. Não há nenhum indício de que a relação familiar de Clóvis e Flávio represente uma ligação da SBI com o Partido dos Trabalhadores. Questionada por mensagem, a entidade disse que não se pronuncia “sobre esse tipo de vídeo”. Por que investigamos? A terceira fase do Comprova verifica conteúdos relacionados às políticas públicas e à pandemia do novo coronavírus. No caso da covid-19, mentiras e boatos que se espalham pelas redes sociais são ainda mais perigosos porque podem custar vidas. O vídeo de Wagner Malheiros engana ao dizer que estados e municípios deixaram de utilizar a cloroquina no combate ao novo coronavírus após o estudo da Lancet. Não há nenhuma comprovação de que algo do tipo aconteceu. Além disso, a decisão da Organização Mundial da Saúde de encerrar os testes com cloroquina e da posição da Sociedade Brasileira de Infectologia de pedir para que o uso da droga no tratamento da covid-19 fosse interrompido não tiveram como base o estudo da Lancet. Foram pesquisas posteriores que concluíram que a droga não tem eficácia. A publicação feita por Malheiros no YouTube atingiu mais de 77 mil pessoas até o dia 17 de agosto. O mesmo vídeo teve mais de 14 mil compartilhamentos no Facebook. A Agência Lupa verificou o mesmo vídeo e classificou as informações como exageradas ou falsas. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/posts-distorcem-dados-de-2019-e-2020-para-negar-as-mais-de-100-mil-mortes-por-covid-19/
COMPROVA
Posts distorcem dados de 2019 e 2020 para negar as mais de 100 mil mortes por covid-19
null
2020-08-14
Publicações omitem a informação de que os dados do Portal da Transparência do Registro Civil não têm atualização imediata e que medidas como o isolamento social podem ter reduzido o número de falecimentos por outras causas em 2020. No estado de São Paulo, por exemplo, o número de mortes no trânsito de janeiro a junho caiu 11%, em comparação a 2019 Conteúdo verificado: Posts que comparam número de mortos em 2019 e 2020 e, a partir dos resultados, insinuam que a pandemia é uma farsa ou histeria. São enganosos os textos que, ao comparar números de óbitos em 2019 e 2020, colocam em dúvida as mais de 106 mil mortes por covid-19 no Brasil. As postagens, que viralizaram em redes sociais como Facebook, Twitter e WhatsApp, ignoram que os dados utilizados, do Portal da Transparência do Registro Civil, estão em constante atualização e incluem a informação – mesmo que não consolidada – sobre vítimas do novo coronavírus. Nesta sexta-feira, 14 de agosto, a ferramenta contabilizava 96.844 mortes que tiveram como causa principal a covid-19 no país. O número total de óbitos de janeiro a julho é 798.352 — 66.741 mortes a mais do que no mesmo período do ano passado. Mais uma vez, é importante reforçar que estes dados estão em constante atualização. Número de mortes mês a mês Outro fato desconsiderado nas postagens é que medidas como o isolamento social podem ter reduzido o número de falecimentos por outras causas em 2020, já que há menos pessoas saindo de casa. No estado de São Paulo, por exemplo, o número de mortes no trânsito de janeiro a junho caiu 11%, na comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito de São Paulo (Infosiga), foi o menor número de óbitos desde o início da série histórica, em 2015. Como verificamos? O primeiro passo foi verificar os dados no Portal da Transparência do Registro Civil, plataforma virtual aberta à consulta pública. Em seguida, o Comprova entrou em contato com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), que mantém o Portal e respondeu por e-mail alguns questionamentos sobre a atualização dos números. Para compreender melhor os dados, a equipe entrevistou por telefone e WhatsApp Fatima Marinho, epidemiologista e consultora-sênior da organização global de saúde pública Vital Strategies, que, com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), auxiliou a Arpen-Brasil no desenvolvimento do painel sobre causas respiratórias e total de mortes do Portal da Transparência. Também conversou por telefone com o epidemiologista Fernando Carvalho, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Para visualizar os dados, a equipe usou a ferramenta Flourish, de produção de gráficos. Por fim, o Comprova tentou contato com internautas que postaram o conteúdo e tiveram bastante viralização. Eliane Maris, que compartilhou um post no Facebook, conversou com a equipe por telefone. O responsável pela página @LuizCamargoVlog no Twitter, cujo post viralizou na rede social, foi contatado por e-mail, mas não respondeu até a publicação deste texto. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de agosto de 2020. Verificação Atualização constante O Comprova analisou duas versões de postagens que comparavam o número de óbitos registrados em cartórios no país em 2019 e 2020. Uma das publicações colocava lado a lado apenas mortes ocorridas em julho de cada ano; outros posts comparavam também registros de abril, maio e junho. Os números são similares aos verificados na aba “Registros” do Portal da Transparência – nessa seção, é possível acessar o número de falecimentos por causas naturais e violentas. No entanto, nenhuma das postagens enganosas analisadas continha a ressalva de que os números do Registro Civil estão em constante atualização. Em nota, a Arpen-Brasil afirmou que o site é alimentado de “hora em hora” em dias úteis. A entidade diz que a recomendação é de que em análises dos dados disponíveis sejam considerados os números anteriores a um intervalo de 15 dias — contados retroativamente a partir do dia presente. O Portal da Transparência informa que “a atualização pelos registros de óbitos lavrados pelos Cartórios de Registro Civil obedece a prazos legais”. Esse prazo leva em conta que “a família tem até 24 horas após o falecimento para registrar o óbito em cartório que, por sua vez, tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito”. Considera que o cartório tem ainda oito dias para enviar o registro à Central Nacional de Informações do Registro Civil, que atualiza o portal. No total, oficialmente, são 14 dias. A Lei de Registros Públicos prevê exceções que podem aumentar esse prazo. Como destacou a Agência Lupa, se o local da morte ficar a mais de 30 quilômetros de um cartório, a família pode registrar o falecimento em até três meses. O que acontece na prática, como o Comprova já verificou, é que mortes ocorridas há muito mais de duas semanas continuam sendo atualizadas no sistema do Portal. Há óbitos ocorridos em 2019 que ainda estão entrando na plataforma, conforme mostra o gráfico a seguir: Em nota, a Arpen-Brasil disse que “regras excepcionais, adotadas pontualmente por estados e pelo Poder Judiciário, em razão da crise de saúde pública causada pelo novo coronavírus, podem estender o prazo previsto em lei para registro de óbito e, também, influenciar os dados encontrados no Portal da Transparência”. Análises de dados publicadas pela Folha de S.Paulo, em maio deste ano, e pelo portal Núcleo, em julho, apontam outras inconsistências nos números divulgados na plataforma. Um exemplo foi o “sumiço”, em 14 de maio, de 500 mil registros de óbitos de 2016, 2017 e 2018. A Arpen informou ao Núcleo ter removido esses dados por não estarem padronizados. Em 27 de maio, novo “sumiço”: dessa vez, de 3 milhões de óbitos, que posteriormente foram adicionados novamente à plataforma. A Folha mostrou haver diferenças significativas na contagem de mortes entre as 518 cidades presentes na plataforma. Na comparação entre o número de óbitos de 2019 e 2020, capitais como Belém, Manaus e Porto Velho apresentaram padrão errático de registros de janeiro a abril. Em Goiânia, Campo Grande, Brasília e Cuiabá, uma expressiva diminuição no número de falecimentos em abril indicava falta de atualização dos registros. Segundo a epidemiologista Fatima Marinho, consultora-sênior da Vital Strategies, a subnotificação também ocorre porque, “muitas vezes, as famílias deixam de fazer a certidão de óbito, principalmente em regiões mais pobres”. Ainda de acordo com a especialista, os dados de Minas Gerais estão muito defasados no Portal da Transparência – como verificado no gráfico abaixo. Segundo ela, quando esses números forem incluídos, haverá um salto no excesso de mortes (comparação entre o número de óbitos esperado a partir de uma série histórica e a quantidade observada em um determinado período). No gráfico, é possível identificar como o registro de mortes varia em cada estado do país. Repare que, além dos de Minas, outros dados apresentam inconsistências, como os de Rondônia. Falsa equalização O epidemiologista da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Fernando Carvalho reforça que os dados do Registro Civil devem ser analisados com desconfiança. “São dados que ainda não estão consolidados e estão sendo usados de forma errada”, diz ele. De acordo com o especialista, é mais indicado utilizar os números compilados pelas secretarias estaduais de Saúde ou pelo Ministério da Saúde. Carvalho explica que esses órgãos seguem protocolos para registrar os óbitos, que normalmente passam por uma investigação rigorosa sobre suas causas. Além da demora na contabilização dos mortos no Registro Civil, ainda há outras possíveis explicações para a diferença entre o número de falecimentos entre 2019 e 2020. Segundo o epidemiologista, as medidas adotadas no combate ao novo coronavírus podem ter impacto sobre outras mortalidades. Por exemplo, mortes causadas por acidentes de trânsito e por violência podem ter diminuído em meio às iniciativas de isolamento social. Há ainda o fato de que, com a pandemia, o número de procedimentos cirúrgicos eletivos foi reduzido. No estado de São Paulo, por exemplo, o número de mortes no trânsito de janeiro a junho caiu 11%, na comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito de São Paulo (Infosiga), foi o menor número de óbitos desde o início da série histórica, em 2015. Por fim, Carvalho aponta que os registros de óbitos causados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e por causas indeterminadas subiram – na data da publicação deste texto, o Portal registrava 11.425 casos de SRAG de 1º de janeiro a 14 de agosto de 2020 e 932 no mesmo período do ano passado . “Muitas pessoas não estão indo ao hospital”, afirma. “Pode ser que demore a ter um diagnóstico. Tem gente que morreu sem procurar serviço médico”, acrescenta. De acordo com Fatima Marinho, há outro fator a ser considerado: todo ano há um aumento de mortes por causas naturais, devido ao envelhecimento da sociedade, mas a covid-19 já superou a mortalidade esperada para 2020. Para ilustrar, ela mostrou um gráfico produzido pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass). “Normalmente, não temos esse excesso de óbitos no Brasil. Tivemos na época do H1N1, mas foi pequeno. É algo visto em países que têm desastres naturais, como terremotos e tsunamis”, afirma. “Então, estamos atribuindo esse excesso de mortes verificado no Brasil à covid-19.” A epidemiologista explica: “o que podemos afirmar com certeza é que o número de mortes entre 15 de março e até 26 de junho subiu 23% acima do esperado para esse período”. Postagem A aposentada Eliane Marins, que mora em Caçador, em Santa Catarina, repostou um conteúdo com números do Portal da Transparência, afirmando: “Não existe a menor condição de ter morrido 100 mil pessoas no Brasil pela covid-19. A menos que tenham encontrado a cura para as demais doenças. Faça sua própria pesquisa e tire suas conclusões”. Contatada pelo Comprova, ela disse que “cada um que posta a opinião de cada um”. Questionada se não é perigoso afirmar que as mortes pelo novo coronavírus não estão ocorrendo, respondeu: “Tão maléfico é fazer sensacionalismo em cima de uma doença; é tão maléfico quanto a própria doença”. Recentemente, Eliane postou outros conteúdos enganosos, como o que afirma que o governador de São Paulo, João Doria, teria tomado a vacina contra a covid-19 – verificado pelo Comprova como falso –, e o que informa, erroneamente, que Bill Gates disse que a vacina contra a doença altera o DNA dos imunizados para sempre. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos suspeitos a respeito do novo coronavírus desde março deste ano, quando foi decretada pandemia. Desde então, outros conteúdos que usam os dados do Registro Civil de forma enganosa foram desmentidos. Um deles, uma publicação que distorceu dados do Portal da Transparência para alegar falsamente que a pandemia estaria em declínio e que o Brasil teria zerado “o excesso de mortes em junho”. As informações utilizadas à época, assim como agora, desconsideravam a atualização constante dos números. Em maio, uma corrente de WhatsApp atribuiu a registros de cartórios números falsos, que buscavam negar a pandemia no Brasil. Os números verdadeiros confirmavam a gravidade da disseminação da covid-19. Outras agências de checagem também desbancaram postagens enganosas sobre dados do Registro Civil, como Estadão Verifica, AFP, Agência Lupa e Aos Fatos. O uso de dados públicos de forma inadequada provoca avaliações descontextualizadas e alerta sobre o riscos gerados por essas análises incoerentes e irresponsáveis. Neste momento específico de crise sanitária é mais comprometedor ainda, pois evidencia o grau de negacionismo da gravidade pandemia, o que torna os impactos da desinformação ainda mais severos e distorce a real finalidade da transparência dos dados públicos. Além da amplificar os malefícios da desinformação, insinuar que a pandemia – que já matou mais de 106 mil pessoas apenas no Brasil – é uma farsa ou tentar diminuir seu efeito por meio de cálculos e dados imprecisos, sob o argumento de que o número de mortes não é tão elevado, é reprovável também por ser uma atitude que acarreta prejuízos humanos e sociais à coletividade. A gravidade destes fatores leva o Comprova a averiguar conteúdos que apresentam ampla viralização nas redes sociais, a exemplo das postagens em questão, que até o dia 14 de agosto somavam mais de 12 mil interações no Facebook e Twitter, de acordo com a medição da plataforma CrowdTangle. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado de forma a induzir a uma interpretação diferente.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C233&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganosa-postagem-que-questiona-etica-dos-testes-em-humanos-de-vacinas-para-covid-19/
COMPROVA
É enganosa postagem que questiona ética dos testes em humanos de vacinas para covid-19
null
2020-08-14
Post em uma página de Facebook ignora que as vacinas precisam necessariamente de testes prévios em seres humanos para serem liberadas para uso e usa uma imagem antiga do governador baiano, Rui Costa, para relacioná-lo aos chineses Conteúdo verificado: Postagem no Facebook questiona ética da testagem de vacinas contra covid-19 em humanos. Para isso, usa a afirmação feita por um médico baiano que também defende uso de medicamentos sem comprovação científica no tratamento da doença. É enganosa a postagem feita por uma página no Facebook que diz que não é ético e nem humano o uso da “vacina chinesa que Rui Costa (PT) quer testar na população baiana”. O texto diz também que é um absurdo que as pessoas sejam feitas cobaias de laboratório do governo comunista chinês. O post reproduz uma afirmação do urologista Modesto Jacobino, médico que defende uso de drogas sem comprovação científica no tratamento da covid-19. Especialistas consultados pelo Comprova refutaram a declaração feita pelo urologista. O texto não menciona que, para serem aprovadas pelos órgãos regulatórios, todas as vacinas devem passar por uma fase de testes em humanos. No Brasil, os testes precisam passar pela aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). No meme que ilustra a postagem, o governador baiano Rui Costa (PT) aparece ao lado de Wang Dongfeng, prefeito da cidade chinesa Tianjin. A assessoria do governo da Bahia informou que a imagem é de 2017, quando Costa visitou o porto do município chinês. O autor do post e o médico citado na publicação foram procurados pelo Comprova, mas não responderam ao nosso pedido de entrevista. Como verificamos? Fizemos buscas no Facebook, Instagram e LinkedIn para descobrir informações sobre o autor do post e sobre o médico Modesto Jacobino. Na página de Facebook do homem que fez a postagem, cujo nome é Leandro de Jesus, descobrimos um número de telefone e um email. Enviamos mensagem em suas redes sociais, mas não obtivemos retorno. No Google, encontramos o telefone de um escritório de advocacia com o nome do autor da postagem, mas ao ligar, uma gravação avisava que o número não está disponível. Tentativas de contato com Dr. Modesto Jacobino também foram feitas via Facebook, em sua página pessoal e profissional, mas as mensagens não foram respondidas. Também usamos o Google para encontrar reportagens sobre as vacinas chinesas que estão sendo testadas no Brasil e sobre o medicamento russo que ganhou destaque recentemente. A ferramenta de busca serviu também para descobrirmos que a foto original usada no boato estava fora de contexto. Confirmamos com a assessoria do governo baiano que a imagem é de setembro de 2017. Por fim, ouvimos o professor de bioética da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Alcino Bonella, e o médico infectologista da Comissão de Covid-19 da Secretaria Municipal de Ibirité, Leandro Curi, em Minas Gerais. Os especialistas refutaram a afirmação feita por Modesto Jacobino. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de agosto de 2020. Verificação A página de Facebook que critica a testagem da vacina chinesa em humanos reproduz uma afirmação do urologista Modesto Jacobino, da clínica Lithor Center, em Salvador. A declaração foi retirada de uma matéria do site Farol da Bahia. Jacobino diz que, como médico, tem “papel de conscientizar a população sobre os riscos de se submeter a testagem de vacinas contra a covid-19” e questiona: “Não é ético e nem humano. Ao tomar a vacina, o indivíduo vai receber o vírus para se verificar a imunidade. Como desenvolver uma doença nas pessoas que não tem nenhum medicamento e tratamento?” Em julho o médico já havia defendido no mesmo portal o uso precoce de azitromicina, ivermectina e hidroxicloroquina para tratar covid-19, alegando que “não tem tempo a perder com Lancet [revista científica] e OMS”. A Organização Mundial da Saúde interrompeu as pesquisas com cloroquina e hidroxicloroquina após concluir que elas não têm eficácia no tratamento da doença. A azitromicina é um antibiótico e não tem comprovação científica contra covid-19, apenas é prescrita de maneira experimental no tratamento do novo coronavírus. Sobre a ivermectina, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ressalta que “não existem estudos conclusivos que comprovem o uso desse medicamento para o tratamento da covid-19, bem como não existem estudos que refutem esse uso”. Conforme a OMS, não há, até o momento, tratamento efetivo ou drogas comprovadas contra o novo coronavírus. Essa posição é ratificada por autoridades sanitárias como Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Sociedade Brasileira de Infectologia e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Quais são as vacinas testadas no Brasil? Existem duas vacinas chinesas em teste ou com previsão de testagem no Brasil. No dia 21 de julho, iniciou em São Paulo a fase de testes da CoronaVac, criada pelo laboratório Sinovac Biotech. A estimativa do governo do estado é testá-la em um grupo de 9 mil voluntários. A vacina teve sucesso em estudos clínicos e avançou para a testagem em humanos. Conforme divulgou a OMS, o medicamento está na terceira etapa de testes. O Instituto Butantan, órgão do governo de São Paulo, confirmou que há possibilidade de iniciar a vacinação contra o novo coronavírus em janeiro de 2021. Isso porque foi fechado um acordo com a farmacêutica chinesa para testar e produzir em larga escala a vacina. Outras cinco unidades da federação também participam desta fase da pesquisa: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Distrito Federal. O imunizante que pode ser testado na Bahia é do Grupo Farmacêutico Nacional da China (Sinopharm), que fechou parceria com o governo do Paraná. A expectativa é de que seja assinado um protocolo de cooperação entre o governo baiano e a empresa em breve. Contudo, para validar o acordo, é necessária a aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) da Anvisa. Se validada a parceria, testes devem começar em setembro. Foram desenvolvidas duas versões do fármaco pela estatal chinesa usando material genético desativado do vírus. As versões já estão sendo testadas desde julho nos Emirados Árabes, em um estudo com 15 mil participantes. A razão dos experimentos fora da China é que o país tem atualmente poucos casos da doença. O Paquistão também deve receber doses. Além do acordo com a China, houve também uma articulação com a embaixada da Rússia no dia 30 de julho. Em uma videoconferência com o chanceler russo, Sergey Akopov, e o secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, foi discutida uma possível parceria entre os centros científicos russos e as instituições de pesquisas baianas para a testagem da vacina. A possibilidade de incluir outros estados e municípios também foi discutida. A Sputnik V, segundo o presidente Vladimir Putin, seria primeira vacina contra covid-19. Conforme a agência de notícias russa Interfax, a dose passou nos testes necessários e a vacinação será “exclusivamente voluntária”. Porém, a comunidade científica alega que a substância não está dentro das especificações adequadas e a vê com ceticismo. O que dizem os especialistas? Ao contrário da declaração feita pelo urologista da Bahia, o infectologista da Comissão de covid-19 da Secretaria Municipal de Ibirité (MG), Leandro Curi, não enxerga a possibilidade da testagem de vacinas causar mal às pessoas. Ele explica que há três tipos de vacina. Uma é feita com fragmentos do vírus morto. Outra é produzida a partir do vírus atenuado, com menor capacidade de infecção. É o caso das vacinas para febre amarela e o sarampo, por exemplo. O terceiro tipo usa recombinação genética, ou seja, tipos diferentes de vírus são combinados para produzir a vacina — é o caso da vacina contra o SARS-CoV-2 que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca. “O que é uma vacina? Nada mais, nada menos que um truque que a gente faz no nosso organismo. A gente injeta o antígeno, ou seja, o germe agressor — inteiro, fraco ou uma parte genética dele — e engana nosso sistema imunológico para ele criar os anticorpos, que seriam a defesa contra aquele agressor. (…) Ao entrar no corpo já vai ter a defesa armada”, explica o infectologista. O médico também esclareceu sobre o processo que ocorre quando vacinas ou medicamentos estão em fase de teste. Segundo ele, são desenvolvidas fórmulas e moléculas até que se chegue à molécula efetiva, considerada o resultado final. O processo é feito durante meses ou anos em diferentes fases de teste, que acontecem primeiro in vitro, depois com animais e só então são feitos estudos com seres humanos, em que cada vez mais pessoas recebem a dosagem para garantir que a vacina é eficaz e segura. O Comprova também entrou em contato com o professor de bioética da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Alcino Bonella, para comentar sobre como a medicina tem lidado com o fato de as vacinas serem testadas em humanos. O professor argumenta que não faz sentido apontar o procedimento adotado como antiético e desumano. “Vacinas não existiriam, e ainda não podem existir, sem testes em pessoas. Os testes podem ser, e em geral são, feitos de maneira ética e humana (respeitando o consentimento livre e esclarecido dos participantes e com ponderação do menor risco)”, explica. Bonella acrescenta que antiético seria desincentivar testes sob o risco de não ter vacinas. “Só podem ser feitos com avaliação prévia dos dados e projetos e aprovação prévia pela Comissão Nacional de ética na pesquisa (Conep). Pelo que se sabe publicamente, todas essas [vacinas] em andamento no Brasil obtiveram ou estão obtendo tal aprovação antes de se começar os testes”, diz Bonella. O autor e sua fonte Na página do Facebook, Leandro de Jesus se descreve como “advogado que é da direita, conservador, também formado em gestão pública, inimigo declarado da esquerda e que fala verdades sem rodeios.” As postagens, basicamente, são de ataque a políticos — como o governador Rui Costa — e em defesa do presidente Jair Bolsonaro. Em uma busca feita no Google aparece um escritório de advocacia com o nome do titular da pagina. Leandro é pré-candidato a vereador e se define ainda gestor público. No dia 13 de maio deste ano, em publicação no Facebook, lamenta que o Aliança Pelo Brasil, partido que o presidente tenta formar, não tenha ficado pronto antes do período eleitoral. Contudo, conseguiu filiação no partido do vice-presidente da República Hamilton Mourão, o PRTB. Além de uma página com quase 90 mil curtidas e mais de 120 mil seguidores no Facebook, o autor do post verificado pelo Comprova tem um blog em que divulga informações sobre a extrema direita. Por que investigamos? O Comprova, em 2020, está em sua terceira fase. Neste ciclo, a equipe verifica conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. No caso da covid-19, mentiras e boatos que se espalham pelas redes sociais são ainda mais perigosos porque podem custar vidas. A postagem de Leandro de Jesus, gera desconfiança e tem capacidade de fomentar movimentos que desestimulam voluntários a participar de testes importantes para que se encontre uma vacina capaz de frear o novo coronavírus. Além do mais, desinforma ao usar uma imagem fora do seu contexto e um argumento carente de validade científica e filosófica. O post feito pelo pré-candidato a vereador no Facebook tinha 2,9 mil reações, 695 comentários e 2,6 mil compartilhamentos até o dia 14 de agosto. O mesmo conteúdo foi encontrado no Instagram com viralização menor. Enganosos, para o Comprova, são os conteúdos retirados do contexto original e usados em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induzem a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdos que confundem, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-cloroquina-teria-salvado-100-mil-vidas-no-brasil-como-diz-bolsonaro/
COMPROVA
É falso que cloroquina teria salvado 100 mil vidas no Brasil, como diz Bolsonaro
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2020-08-14
Ao contrário do que afirma o presidente da República, não há comprovação científica de que a cloroquina e a hidroxicloroquina possam evitar a morte de pessoas com covid-19 Conteúdo verificado: Texto publicado pela página Pública Brasil repercute uma fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em que ele afirma que é a prova de que a cloroquina funciona contra a covid-19 e afirma que o medicamento teria evitado 100 mil mortes no Brasil. É falso que o uso da cloroquina poderia ter salvado as mais de 100 mil vidas perdidas no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. A afirmação foi feita pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Não há, no entanto, comprovação científica da eficácia da droga no tratamento da doença. O teste “Recovery”, feito pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, classificou como “inútil” a utilização da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Os resultados não mostraram uma diferença considerável na taxa de mortalidade após 28 dias e no tempo em que os pacientes ficaram internados. De cada quatro pacientes que tomaram a medicação, um morreu. A declaração de Bolsonaro foi feita durante um evento no Pará. Em sua fala, ele chegou a dizer que era “a prova viva que deu certo”. O presidente disse, no dia 7 de julho, que havia sido diagnosticado com covid-19. Em declarações posteriores, afirmou que havia se tratado com cloroquina e hidroxicloroquina. Bolsonaro disse ter tido sintomas leves da doença. Pacientes com casos assim costumam levar entre uma e duas semanas para desenvolverem anticorpos e se curarem da doença, sem a necessidade de um remédio específico. A média da covid-19 no mundo é de que 80% das pessoas infectadas apresentam sintomas leves ou são assintomáticos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em torno de 14% têm quadros mais severos, que precisam de atendimento ambulatorial. Apenas 6% são casos críticos, de acordo com estudo feito com pacientes da China em fevereiro. A cloroquina e a hidroxicloroquina são defendidas por Jair Bolsonaro desde o início da pandemia do novo coronavírus. A OMS, no entanto, interrompeu definitivamente seus estudos com a droga após atestar que elas não têm eficácia no tratamento da doença. Como verificamos? Com a viralização do texto publicado pela página Pública Brasil, procuramos via Google a declaração de Jair Bolsonaro para saber se era verdadeira e quando foi feita. Os primeiros resultados trouxeram as notícias da revista “Exame” e do portal “UOL”, que deram detalhes de que o discurso havia acontecido em um evento no Pará, no dia 13 de agosto. Em outras verificações feitas pelo Comprova, encontramos as informações sobre a falta de eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Na sequência, procuramos com a ferramenta CrowdTangle posts que pudessem ter viralizado nas redes sociais. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de agosto de 2020. Verificação Jair Bolsonaro O presidente da República é abertamente defensor do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, mesmo sem comprovação científica. Ele ordenou que o Laboratório do Exército produzisse os medicamentos e a pressão pela adoção das substâncias custou o cargo de dois ministros da Saúde: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Em maio, o Ministério da Saúde, já sob a gestão do interino Eduardo Pazuello, alterou o protocolo e ampliou a possibilidade do uso dos medicamentos para pacientes com sintomas leves da covid-19 – até então, elas eram previstas apenas em casos graves e com monitoramento em hospitais. Na última semana, Bolsonaro participou de uma live ao lado de Pazuello, e voltou a defender o uso das drogas. “Quem não quer tomar cloroquina, não tente proibir, impedir quem queira tomar, afinal de contas, ainda não temos uma vacina e não temos um remédio comprovado cientificamente”, disse. Cloroquina e hidroxicloroquina Apesar da propaganda do presidente, não há comprovação científica da eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento ou prevenção da covid-19. A ideia de que as drogas — indicadas para o tratamento da malária e de doenças autoimunes, como lúpus — pudessem ser prescritas para pacientes infectados pelo novo coronavírus surgiu por causa de uma pesquisa de 2005, que indicava efeitos positivos contra outros tipos de coronavírus em laboratório. Mas os testes em humanos nunca aconteceram. Em março de 2020, já com a pandemia se espalhando pelo planeta, o médico francês Didier Raoult publicou um estudo afirmando que o uso da cloroquina teria curado 75% dos pacientes com covid-19 em seis dias. A pesquisa foi alvo de críticas da revista Science, referência em estudos científicos, e seus resultados foram questionados e considerados incompletos. Estudos realizados de acordo com o padrão ouro para pesquisa com medicamentos — que exige testes com grupos de controle e o uso de placebos — publicados no Journal of the American Medical Association (Jama) e no British Medical Journal (BMJ) – apontaram que pacientes tratados com cloroquina e hidroxicloroquina não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios. Uma pesquisa realizada em 55 hospitais brasileiros e publicada no New England Journal of Medicine (NEJM) chegou às mesmas conclusões. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o National Health Service, do Reino Unido, cancelaram estudos com cloroquina e hidroxicloroquina. E, em julho, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe em que afirma ser “urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da covid-19” diante das novas evidências científicas. O Ministério da Saúde já distribuiu 5 milhões de comprimidos de cloroquina e ainda tem mais 4 milhões em estoque. Enquanto sobra cloroquina, faltam insumos para pacientes internados nas UTIs, como sedativos, anestésicos, analgésicos e bloqueadores neuromusculares. Esses medicamentos são fundamentais para os pacientes em estado grave que precisam ser intubados. Por que investigamos? Em 2020, o Comprova está na sua terceira fase. Nesta etapa, a equipe verifica conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. No caso da covid-19, mentiras e boatos que se espalham pelas redes sociais são ainda mais perigosos porque podem custar vidas. O Brasil é o segundo país mais atingido pela pandemia no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, já foram confirmados 3.164.785 casos da doença e 104.201 pessoas morreram. Mais que uma questão de saúde pública, a covid-19 virou tema de debates políticos no Brasil. Muitos governadores e prefeitos defendem medidas não farmacológicas recomendadas pela OMS, como o distanciamento social, o uso de máscaras e a higiene das mãos. Do outro lado, o presidente Jair Bolsonaro, que defende uma retomada imediata da economia e minimiza os efeitos da doença. Bolsonaro chegou a chamar a covid-19 de “gripezinha”. O texto sobre a declaração no Pará foi publicado pela página Pública Brasil no dia 13 de agosto e teve 1,6 mil interações em menos de 24 horas. O site se descreve como “independente” e afirma que publica notícias e opiniões “com coragem para críticas isentas doa a quem doer” em seu perfil no Twitter. Mas boa parte do conteúdo repete o discurso de Bolsonaro e seus apoiadores. A Pública Brasil chegou a compartilhar o conteúdo no Twitter e no Facebook, com um alcance bem menor. O texto da Pública Brasil credita parte das informações sobre o discurso de Bolsonaro ao Pleno News. O site também dá destaque à declaração sobre as 100 mil mortes que teriam sido evitadas com a cloroquina. No perfil do site no Facebook, o texto teve mais de 13,2 mil interações — 1,4 mil comentários, 1,8 mil compartilhamentos e 10 mil reações. Já o Jornal da Cidade Online trouxe um vídeo com o discurso do do presidente, em que ele diz que é a “prova viva” da eficácia da droga. O conteúdo também viralizou no perfil do site no Facebook, com um total de 1,5 mil interações. Tanto o Jornal da Cidade Online quanto o Pleno News costumam publicar conteúdo favorável às políticas de Bolsonaro e já foram alvo de verificações do Comprova. O Comprova já verificou diversos conteúdos que defendiam o uso da cloroquina, como estudos sem comprovação científica, textos falando do uso da droga em outros países e declarações polêmicas de médicos. Declarações de Bolsonaro e seus apoiadores sobre a pandemia também já foram checadas. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/senador-engana-ao-usar-falas-antigas-de-drauzio-varella-sobre-pandemia/
COMPROVA
Senador engana ao usar falas antigas de Drauzio Varella sobre pandemia
null
2020-08-13
Trechos de vídeo gravado por Drauzio Varella antes do alastramento da pandemia de covid-19 na Europa e no Brasil foram tirados de contexto por Marcos do Val Conteúdo verificado: Post do senador Marcos do Val (Podemos-ES) no Facebook utiliza trechos de um vídeo gravado no início da pandemia, e que já foi tirado do ar, pelo médico Drauzio Varella para tentar minimizar a gravidade da emergência sanitária. Um vídeo postado na página de Facebook do senador Marcos do Val (Podemos-ES) engana ao reproduzir trechos de uma fala do médico Drauzio Varella no início da pandemia da covid-19. O vídeo destaca, em um tom irônico, que Varella minimizou a gravidade da emergência sanitária, mas omite que o médico já afirmou publicamente ter subestimado a doença e que, atualmente, se posiciona de maneira contrária. A postagem do senador não informa que as declarações de Drauzio Varella são de janeiro, quando o epicentro da doença ainda era a China e o segundo país com mais casos tinha apenas 14 infectados. Elas já haviam viralizado em março após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, publicá-las no Twitter. Naquela oportunidade, a rede social apagou as mensagens de Salles, alegando que as postagens do ministro poderiam colocar a saúde das pessoas em risco. A publicação do senador Marcos do Val compara as falas com outro vídeo publicado por Varella em março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia reconhecido a doença como uma pandemia e, no Brasil, o Ministério da Saúde anunciava transmissão comunitária do vírus — isto é, ele já circulava livremente em território nacional. Como verificamos? Para apurar a publicação do senador Marcos do Val fizemos, em primeiro lugar, uma busca reversa por imagens no Google. Por meio da pesquisa, localizamos um vídeo de autoria do site Programa Resumo do Dia, postado no YouTube em março — mesmo mês em que um pronunciamento de Drauzio Varella sobre a pandemia foi tirado de contexto e viralizou nas redes sociais. Recuperamos verificações que outras agências fizeram naquele momento para checar se o vídeo postado pelo senador teria alguma relação com o conteúdo que viralizou em março. Além disso, contatamos as assessorias de Drauzio Varella e do senador Marcos do Val. Procuramos, ainda, o site responsável pelo vídeo, que até o fechamento desta verificação não retornou o contato. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de agosto de 2020. Verificação O primeiro vídeo O vídeo compartilhado pelo senador Marcos do Val é, na verdade, uma edição com trechos pinçados de duas gravações antigas, postadas por Drauzio Varella em seu canal no YouTube. A mais antiga é a que aparece do lado direito na postagem do senador. Nela, Varella tenta tranquilizar as pessoas sobre o novo coronavírus com frases como “claro que vou (continuar andando na rua)”. As declarações, porém, foram dadas quando a doença estava em um estágio muito inicial. O vídeo havia sido publicado em 30 de janeiro, praticamente um mês antes de o Brasil confirmar o primeiro caso da doença. Naquela data, a AFP informou existirem 7,7 mil pessoas contaminadas em todo o mundo e a China ainda era o epicentro da doença. O segundo país com mais casos até então era a Tailândia, com 14 pessoas infectadas. Essas declarações do médico viralizaram pela primeira vez no dia 22 de março, quando o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o senador Flávio Bolsonaro compartilharam o conteúdo sem especificar a data em que ele foi gravado. A manifestação levou a equipe de Drauzio Varella a retirar o vídeo do ar. O Twitter apagou as mensagens de Salles e o ministro pediu desculpas publicamente, afirmando que não tinha o objetivo de desinformar, mas de “demonstrar que o tema é dinâmico, complexo e comporta discussões e opiniões distintas”. O segundo vídeo Um dia depois, em 23 de março, Drauzio publicou no YouTube o segundo vídeo usado na postagem de Do Val, o que aparece do lado esquerdo. Em trechos excluídos da publicação do senador, o médico afirma que não é hora de “politizar” a questão e afirma que é necessário seguir as orientações da ciência. Quando esse segundo vídeo foi gravado, o cenário da covid-19 se agravava no Brasil e no mundo. Poucos dias antes, em 20 de março, o Ministério da Saúde havia anunciado a existência de transmissão comunitária do SARS-CoV-2 no Brasil. Ou seja, a partir daquele momento, o vírus estava circulando livremente no país e não era mais possível identificar a origem das infecções. O Brasil tinha, até então, 904 casos confirmados e 11 mortes pela covid-19. No dia 11 de março, a Organização Mundial da Saúde havia declarado uma pandemia em função da “disseminação geográfica rápida” da doença em uma “escala de tempo muito curta” com “níveis alarmantes de contaminação” e “falta de ação dos governos”. Até a data de publicação do segundo vídeo, 353 mil pessoas em todo o mundo haviam sido diagnosticadas com o novo coronavírus e 15 mil pessoas já haviam morrido de covid-19, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. Esse número é 43,5 vezes maior do que o registrado em 30 de janeiro, quando Drauzio publicou o primeiro vídeo. O que Drauzio Varella diz Em março, quando autoridades postaram o vídeo pela primeira vez, o portal Drauzio Varella publicou uma nota classificando as publicações como “desserviço”. “No início deste ano, a pandemia não havia chegado ao Brasil, portanto, produzimos conteúdo para acalmar a população que, à época, não tinha motivos para alterar o ritmo de vida diário”, explica o texto. Segundo a nota, a mudança de tom nos vídeos se deve à “mudança drástica” na situação da pandemia. “Orientações antigas não servem para este momento”, argumenta o texto. Em abril, em entrevista ao UOL, o médico admitiu ter subestimado a gravidade da doença em âmbito mundial. “Não só eu, muitos [especialistas] subestimaram o que estava acontecendo. E o que aconteceu é que nenhum país se preparou no Ocidente. A Itália não se preparou, a Espanha não se preparou, os Estados Unidos não se prepararam”, afirmou Drauzio na ocasião. A assessoria do médico destacou, em e-mail enviado ao Comprova, que — em se tratando de ciência — a mudança de posicionamento é natural. “É justamente assim que a ciência funciona. Fazendo deduções embasadas no conhecimento científico prévio, testando hipóteses, descobrindo que deduções anteriores estavam equivocadas, identificando onde está o equívoco e corrigindo”, afirma. A nota ressaltou ainda que, na época, a opinião de Drauzio sobre a covid-19 era a mesma de outras autoridades médicas, como do infectologista americano Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos. “Em janeiro, a doença não havia chegado àquele país, e só nos últimos dias daquele mês chegaria à Itália. Foi a situação italiana que tornou mais evidente para o mundo o potencial da doença”, argumenta. Em relação à postagem do senador Marcos do Val, a assessoria considera que os trechos dos vídeos do médico foram usados de maneira indevida, e reitera que tirá-los do contexto é um “desserviço” à saúde. A nota afirma ainda que “tal conduta mostra que o compartilhamento é feito por alguém que, nitidamente, tem pouco ou nenhum conhecimento sobre ciência, ou tem propósitos que desconhecemos”. Quem é e o que diz Marcos do Val Marcos do Val foi eleito senador pelo Espírito Santo em 2018, e cumpre atualmente seu primeiro mandato. Ex-militar, o parlamentar é vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e titular de outras sete comissões no Senado. Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, o senador destinou a municípios do Espírito Santo mais de R$ 10 milhões para a compra de medicamentos sem comprovação científica para a cura ou a prevenção do coronavírus — como a ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina (todos já foram objeto de verificações do Comprova). Os recursos advieram da portaria 1.666/20, por meio da qual o governo federal concedeu R$ 13,8 bilhões para ações de enfrentamento à pandemia. Procurado pelo Comprova, o senador afirmou que, em ambos os vídeos, a fala comprovadamente é de Drauzio Varella. Segundo Do Val, ninguém falou pelo médico ou forjou o vídeo. “Se o médico, que é uma pessoa pública e sabe das suas responsabilidades perante a sociedade, fez mesmo assim os vídeos e depois achou conveniente ‘retirar’ do ar, não significa que não seja verdadeiro, portanto não compreendemos o seu questionamento”, afirmou o senador, por meio de nota. Recentemente, o senador esteve envolvido em outro caso de promoção de desinformação nas redes sociais. No dia 6 de agosto, a Justiça do Rio de Janeiro ordenou, em decisão liminar, que Do Val excluísse publicações consideradas ofensivas e difamatórias contra o ex-deputado Jean Wyllys (PSOL). Nas postagens, o senador relacionou, sem apresentar qualquer prova, Wyllys a Adélio Bispo — que cometeu um atentado contra o presidente Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos sobre a pandemia de covid-19 que tenham viralizado nas redes sociais. É o caso desse vídeo, que teve mais de 53 mil interações na página do senador Marcos do Val no Facebook e 28.887 visualizações no Youtube. O conteúdo tem sido compartilhado em páginas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas redes sociais, segundo dados da ferramenta CrowdTangle. Verificações como esta são importantes porque o compartilhamento de conteúdos enganosos ou fora de contexto sobre a pandemia de covid-19 pode levar as pessoas a avaliarem mal o risco de infecções, e fazer com que elas se exponham a contaminação. O fato de o médico Drauzio Varella ser conhecido nacionalmente é um agravante nesse contexto. Desde o início da pandemia, mais de 20,7 milhões de pessoas em todo o mundo foram diagnosticadas com o novo coronavírus. Dessas, 751,4 mil faleceram em decorrência da covid-19, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. No Brasil, o Ministério da Saúde já registrou mais de 3,1 milhões de infectados e 104,2 mil óbitos pelo Sars-CoV-2. Quando o vídeo com as falas do médico Drauzio Varella viralizou pela primeira vez, em março, a AFP, a Folha de S.Paulo, o Estadão Verifica e a Agência Lupa classificaram o conteúdo como enganoso ou fora de contexto. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado ou o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C285&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-joao-doria-tomou-vacina-chinesa-contra-a-covid-19/
COMPROVA
É falso que João Doria tomou vacina chinesa contra a covid-19
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2020-08-13
Ao contrário do que escreveu no Twitter um pré-candidato a vereador, o governador de São Paulo, que está com coronavírus, não tomou a vacina da farmacêutica Sinovac Biotech, que ainda está em testes Conteúdo verificado: Uma postagem feita no Twitter por Carmelo Neto, pré-candidato a vereador em Fortaleza (CE), insinua que João Doria tomou a vacina chinesa contra o novo coronavírus ao afirmar “João Doria pegou coronavírus. Não foi ele que tomou e defendeu a vacina chinesa?”. É falso que João Doria (PSDB), governador de São Paulo, tenha tomado a vacina chinesa CoronaVac, da farmacêutica Sinovac Biotech. O boato foi publicado por Carmelo Neto (Republicanos), pré-candidato a vereador em Fortaleza (CE), no Twitter, no Facebook e no Instagram. O post foi feito depois de Doria ter anunciado que foi diagnosticado com a covid-19. Ao insinuar que o governador já havia sido vacinado, Neto levantou dúvidas sobre a contaminação e sobre a eficácia da proteção. Pelo Twitter, João Doria chamou de “fake news” as insinuações de que teria tomado a vacina. “Estou indignado com posturas extremistas e mentirosas, que em nada contribuem para o combate à pandemia. Lamentável que uma minoria tente politizar algo que pode salvar milhões de vidas. O Brasil precisa de união e compaixão”, escreveu. O Comprova já verificou um vídeo falso que supostamente mostrava João Doria tomando a vacina chinesa contra a covid-19. A imagem, na verdade, era de uma reportagem da Globo, em março, quando o governador tomou a vacina anual da gripe. Em contato por mensagem com o Comprova, Carmelo disse ter feito um questionamento. “O governo de São Paulo iniciou os testes com a vacina chinesa e algumas imagens do governador João Doria, como se estivesse em uma fila, circularam na internet. Fiz a postagem em tom de questionamento.” A vacina da Sinovac ainda está em fase de testes. A farmacêutica chinesa está trabalhando em parceria com o governo paulista e o Instituto Butantan. A expectativa de Dimas Covas, diretor do órgão, é de que a vacinação no Brasil comece em janeiro do próximo ano, caso os testes comprovem a eficácia da imunização. Como verificamos? No primeiro passo de verificação, o Comprova procurou por notícias envolvendo a vacina chinesa. Os resultados mostraram uma entrevista de Dimas Covas para a revista “Veja” em que fala sobre as 15 milhões de doses que chegarão ao país até o fim do ano. Em outra entrevista, para a “Folha de S.Paulo”, o diretor do Butantan afirma esperar que os testes se encerrem em setembro. Por meio de outras verificações feitas pelo Comprova, encontramos as explicações para as informações falsas que estavam no post, envolvendo uma suposta vacinação de João Doria. Tentamos contato com Carmelo Neto por dois números de telefone, sendo um deles o divulgado pelo pré-candidato em seu Facebook. Realizamos uma entrevista por mensagem. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de agosto de 2020. Verificação Vacina chinesa O Estado de São Paulo é parceiro nas pesquisas com a CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech. No fim de julho, o governador João Doria (PSDB) anunciou a chegada de 20 mil doses que seriam usadas no estudo experimental, comandado no país pelo Instituto Butantan. O último teste que será realizado, o chamado “ensaio clínico”, envolverá 9 mil voluntários em 12 de centros de pesquisa de seis estados (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Distrito Federal). O Instituto Butantan espera até setembro vacinar todos os voluntários e ter a demonstração de eficácia entre outubro e novembro. “Se a gente terminar a inclusão dos 9 mil até setembro, e esse é o plano, é grande a probabilidade de termos em outubro ou novembro a demonstração de eficácia. Paralelamente, existe uma manifestação da Anvisa de que haverá um processo acelerado de análise. Quando eu falo que podemos ter de fato uma vacinação inicial em janeiro, ela não é fora da análise crua do cenário”, disse Dimas Covas, diretor do Butantan. Apesar da expectativa de Dimas Covas, a revista “Piauí” mostrou que o acompanhamento dos voluntários que participam dos testes só terminaria em outubro de 2021. A data é estimada pelo próprio Instituto Butantan, que afirmou que as declarações de Covas e Doria “traduzem a expectativa positiva dos pesquisadores”. Covas disse que a previsão é de que as 15 milhões de doses iniciais da vacina cheguem a São Paulo até dezembro deste ano. Os lotes seriam enviados em grupos de 5 milhões por mês, a partir de outubro, já prontos para uso. A expectativa do governo paulista é de iniciar a vacinação em janeiro do ano que vem. A vacina da Sinovac foi uma das que tiveram sucesso nos estudos clínicos e avançaram para a testagem em humanos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacina chinesa está na terceira etapa de testes. Recentemente, o Comprova mostrou ser falsa a afirmação de que João Doria teria firmado uma parceria com a Sinovac no ano passado, antes do início da pandemia. A assinatura do contrato foi feita em 10 de junho de 2020. Carmelo Neto Filiado ao Republicanos, Carmelo tem 18 anos e é pré-candidato a vereador em Fortaleza. Ativista nas redes sociais desde a campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff, foi coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL) e hoje defende as políticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No Facebook, possui 264 mil seguidores; no Twitter, 120 mil; e no Instagram, 108 mil. Após ser procurado pela reportagem, Carmelo deletou as postagens no Facebook e no Instagram, mas manteve a do Twitter, até o fechamento deste texto. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos que apresentam informações suspeitas sobre a pandemia do novo coronavírus e alcançam um grande número de pessoas nas redes sociais. É o caso da postagem em questão. Até a data da publicação da verificação, menos de doze horas após as postagens no Twitter e no Facebook nas páginas de Carmelo, já superavam 5 mil compartilhamentos. A postagem ainda foi reproduzida no seu Instagram, com mais de 2 mil interações. Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i1.wp.com/projet…=640%2C344&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']