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A comunidade de Newtown deu início nesta segunda-feira ao enterro das 26 vítimas do massacre na escola Sandy Hook School, no Estado americano de Connecticut.
Na última sexta-feira, um atirador abriu fogo dentro da instituição, matando 20 crianças e seis adultos. Mais cedo, a polícia de Connecticut disse que havia começado a analisar evidências - como o exame de balística - e que continuava ouvindo testemunhas da tragédia. O porta-voz da polícia, Paul Vance, disse que os adultos que sobreviveram ao tiroteio estavam se recuperando e que as escolas próximas reabririam na próxima terça-feira.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu para 2% sua previsão de crescimento do PIB brasileiro neste ano, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira. Mas além da estimativa sobre a economia do país, a entidade também destacou um problema crescente detectado no pagamento de benefícios sociais, como as aposentadorias.
Segundo organização, sistema de aposentadorias do país beneficia pessoas de renda mais alta "Uma grande e crescente parte dos benefícios sociais no Brasil é paga a famílias que não são pobres", afirma o estudo, para o qual o sistema previdenciário atual é favorável a pessoas com renda mais alta – ele cita as aposentadorias como um todo, não separando os regimes de trabalhadores públicos e privados. Segundo a entidade, o país deveria investir mais em programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e limitar aumentos daqueles que "na maioria da vezes" beneficiam a classe média. Em suas projeções anteriores para a economia brasileira, divulgadas em fevereiro em um relatório específico sobre o país, a organização previa que o PIB cresceria 2,2% em 2018. A estimativa da OCDE para o Brasil neste ano é menor do que a projeção do mercado: na última pesquisa Focus do Banco Central, divulgada após o início da greve dos caminhoneiros, a expectativa de expansão do PIB brasileiro, também reduzida, passou a ser de 2,37%. Já o presidente Michel Temer disse que o Brasil deve fechar o ano com crescimento de 2% a 2,5%, "se Deus quiser". Entidade está mais otimista com avanço da economia no ano que vem A OCDE, no entanto, melhorou seus números em relação à economia brasileira no próximo ano. O PIB do país deverá crescer 2,8% em 2019, segundo o estudo "Perspectivas Econômicas da OCDE". O documento, com previsões para a economia mundial, é publicado semestralmente. Em fevereiro, no relatório específico sobre o Brasil, que não é membro da OCDE, a organização havia projetado expansão de 2,4% da economia em 2019. A estimativa era levemente superior à do estudo semestral anterior, de novembro, que previa avanço do PIB de 2,3% no próximo ano. "A recuperação está se reforçando e o crescimento irá atingir 2,8% em 2019. Um sólido aumento do investimento reflete a melhoria na confiança graças às recentes reformas", diz a organização. O estudo também afirma que "calibrar" os gastos públicos assegura forte potencial para tornar o crescimento econômico mais inclusivo e reduzir a corrupção. Entidade defende investimento maior em programas como o Bolsa Família Bolsa Família De acordo com a OCDE, uma parte crescente do 15% do PIB gasto com benefícios sociais no Brasil é paga a famílias que não são de baixa renda. No sistema de aposentadoria, a diferença entre benefícios e contribuições é desequilibrada e vantajosa para pessoas com renda mais alta, afirma a organização. "Limitar aumentos futuros de benefícios sociais que na maioria das vezes beneficiam a classe média poderia financiar mais transferências de renda para os pobres, crianças e jovens, com um impacto mais forte na redução das desigualdades." A OCDE afirma que o Bolsa Família "é um exemplo de sucesso" de programas de transferência de renda e ressalta que ele representa apenas 0,5% do PIB. "Gastar mais com esse programa, aumentando os limites para ter direito e os níveis do benefício reduziria a pobreza e a desigualdade", diz o estudo. O "crescimento inclusivo", com melhor acesso à educação, emprego, saúde e moradia, é um dos temas da reunião ministerial da OCDE que começa nesta quarta-feira e coincide com o lançamento do estudo da organização. "Reforçar o foco nos gastos sociais para aqueles que mais precisam e redimensionar ineficazes isenções de impostos e subsídios para setores específicos da economia pode tornar os gastos públicos mais eficientes e mais inclusivos e frear oportunidades de corrupção", diz a OCDE sobre o Brasil. No estudo, a organização se refere a gastos fiscais e subsídios para empresas do setor privado que criaram um terreno fértil para a corrupção, "sem nenhum benefício aparente para o bem-estar ou a produtividade". Bolsa Família é o maior programa de transferência de renda do mundo – são 47 milhões de brasileiros inscritos, quase um quarto da população Metade da média mundial Ainda segundo a OCDE, a sustentabilidade fiscal e, consequentemente, a confiança dos investidores, permanece um risco sem a Reforma da Previdência. O documento afirma também que a taxa de desemprego no Brasil caiu e está abaixo de seu pico de 13% (12,9% no trimestre encerrado em abril, segundo o IBGE), mas ressalta que o crescimento do mercado de trabalho se deve mais ao emprego informal do que a postos de qualidade. Se a previsão da organização para o Brasil se confirmar neste ano, o país crescerá quase a metade da média mundial. A OCDE afirma que após um longo período de fraco crescimento, a economia global está "finalmente" crescendo por volta de 4%, média histórica das últimas décadas. O crescimento previsto do PIB mundial é de 3,8% neste ano e de 3,9% em 2019, segundo o "Perspectivas Econômicas" divulgado nesta quarta. O Brasil solicitou a adesão à OCDE no ano passado e o processo, previsto como rápido pelo governo brasileiro e pelo próprio secretário-geral da entidade, José Gurría, não avançou. Na reunião ministerial desta quarta e quinta, diferentemente dos anos anteriores, nenhum ministro brasileiro deve participar do encontro. Estão previstas as presenças apenas do subsecretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, Ronaldo Costa Filho, e do subchefe de Políticas Governamentais da Casa Civil, Marcelo Guaranys.
Em Manchester, a que não chamarei de “a Juiz de Fora inglesa”, no bairro de Hulme, nove cidadãos acham-se prisioneiros num campo de internamento erguido em nove dias. Passam horas encapuzados e com as mãos atadas às costas. Sua dieta é parca: mingau de manhã, sopa no almoço, feijão com arroz no jantar.
Nenhum deles é torturado ou forçado a dormir ao relento, embora os nove sejam acordados às 5 da manhã para as devidas orações e a subsequente cerimônia do içar da bandeira. Às 11 da manhã passam por uma inspeção médica e, de tarde, recebem correspondência, caso haja. No fim do dia são encarcerados no centro interrogatório e, às 9 da noite, apagam-se as luzes. Dorme quem conseguir. Não se trata de nova campanha na luta contra o crime, mas sim de arte. Arte que vai um pouco além da chamada instalação. Almeja à condição de escultura viva e foi projetada e construída, em terreno abandonado, por Jai Redman, de 32 anos, com doações e uma pequena subvenção do Conselho de Artes local. Nada de muito caro: coisa lá por volta de 5 mil dólares. No preço estão incluídos torre de observação, cerca, arame farpado, holofotes, uniformes cor de laranja e tendas. Os prisioneiros são nove corajosos e anônimos voluntários. O projeto – como muitos já devem ter percebido – é uma réplica, na medida do possível e do que se sabe, do Campo Raio-X, em Guantánamo, onde os americanos mantém prisioneiras mais de 600 pessoas capturadas na guerra contra o Afeganistão. O Campo Raio-X é tido por muitas autoridades jurídicas como uma violação dos direitos humanos e, consequentemente, das convenções de Genebra, o que em nada perturbou os americanos. Da instalação, ou escultura, de Redman – que deverá ficar mantendo sua pose por nove dias, claro –, espera seu responsável chamar a atenção do mundo para o que ele considera um verdadeiro escândalo. Os que notaram uma repetição do número nove nos vários itens da obra de arte, se assim a podemos chamar, saibam que se trata de uma alusão ao fato de que nove cidadãos britânicos estão entre os detidos. Como qualquer obra de arte moderna, discute-se sua identidade como tal. Como qualquer coisa ligada à guerra contra o Iraque, discute-se o mínimo possível.
No final de janeiro, a estudante macapaense Adrielly Gadelha Montoril, de 23 anos, se preparava para um final de semana tranquilo após sua rotina de hemodiálise. Três vezes por semana, ela era submetida à transfusão de sangue por meio de uma fístula arteriovenosa - ligação entre uma artéria e uma pequena veia feita em seu antebraço.
Uma das principais causas da resistência bacteriana é o uso excessivo de antibióticos, inclusive dentro do ambiente hospitalar A doença renal crônica que a acometia estava sob controle, e nada no horizonte indicava que ela precisaria de intervenções médicas emergenciais. Mas uma dor insuportável em seu braço, iniciada numa sexta-feira, deu o sinal de que algo poderia estar errado. "Eu peguei uma bactéria na fístula - não sabemos como. Fiquei em casa no final de semana chorando de dor, pedindo ajuda para meu pai. Meu braço queimava. Fiquei três dias tomando antibiótico, e ela só foi progredindo. Crescia. A gente pensava que ela estava morrendo. Eu tinha febre, aquela agonia no meu braço. Mas a gente não sabia o que era aquela bactéria", relembra. Na segunda-feira seguinte, quando Adrielly chegou ao hospital para uma nova sessão de hemodiálise, havia uma bolha negra em seu braço. "Os médicos se assustaram. Tiraram foto porque nunca tinham visto aquilo. Fui levada com urgência para a sala de cirurgia", relembra. "Meus pais não queriam acreditar. A fístula é um canal para o coração. Foi um milagre eu ter sobrevivido." Adrielly foi vítima de uma infecção por uma versão resistente da bactéria Staphylococcus aureus. Além de ter que se submeter a uma cirurgia para limpeza da área, a estudante perdeu a chance de continuar com as transfusões. Diante disso, a estudante teve que entrar de emergência na fila de transplante. Ela recebeu um novo órgão em abril. Após idas e vindas, teve alta definitiva na última terça-feira, mais de seis meses depois da infecção bacteriana. Assim como Adrielly, casos de pacientes infectados por bactérias resistentes vêm crescendo no Brasil e já causam ao menos 23 mil mortes por ano, estimam especialistas. Uma das principais causas da resistência bacteriana é o uso excessivo de antibióticos, inclusive dentro do ambiente hospitalar. Por esse motivo, hospitais brasileiros vêm implantando um novo sistema para controlar o consumo desses medicamentos e evitar abusos. "Há uma dificuldade estrutural para enfrentar a resistência antimicrobiana, mas hoje sabemos que é preciso implementar regras básicas para diminuir o uso de antimicrobianos. O paciente chega com um problema e o médico já prescreve o antibiótico," afirma Sylvia Lemos Hinrichsen, médica infectologista e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Desde o ano passado, Sylvia vem treinando hospitais brasileiros a racionalizar o uso de antibióticos, após estudar programas de gestão de uso desses medicamentos no Reino Unido. Gestão racional Chamadas de Antimicrobial Stewardship Program (ASM), as iniciativas começaram nos anos 2000 e se tornaram comuns na Europa e nos Estados Unidos com a preocupação crescente sobre superbactérias. No Brasil, programas para controle do uso de antibióticos também não são novos, mas as iniciativas ainda estão em fase inicial. O objetivo é que os médicos usem antibióticos de maneira mais precisa e evitem desperdícios. Quanto mais se usa um antibiótico sem necessidade, maior o risco de se criar uma superbactéria. Iniciativas para usar antibióticos de forma mais precisa ainda estão em fase inicial no Brasil, apesar de não serem novas De acordo com informações compiladas pelo Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos em 2014, cerca de 20% a 50% dos antibióticos prescritos em hospitais de cuidados intensivos naquele país são ou desnecessários ou foram prescritos incorretamente. No Brasil, as estatísticas não são melhores, segundo os médicos. "Costumávamos tratar pacientes antes mesmo da cirurgia. A pessoa ia tirar um dente e começava com o antibiótico dias antes. E isso traz riscos muito graves", explica a médica Maria Manuela Alves dos Santos, superintendente do Consórcio Brasileiro de Acreditação, que certifica a qualidade de hospitais em parceria com a Joint Commission International. Desde julho, a JC incluiu gestão racional de antibióticos como um dos requisitos para seu selo de qualidade. Para usar esses medicamentos de maneira mais eficiente, os hospitais precisam mapear os organismos infecciosos mais comuns em sua unidade e criar mecanismos para identificar rapidamente as reais causas das infecções em pacientes. "Da mesma forma que um hospital precisa de uma equipe de limpeza, precisa de uma equipe de microbiologia para saber sua realidade microbiológica. Porque é a partir disso que vou sugerir guias terapêuticos para os meus médicos", diz Pedro Mathiasi, infectologista do HCor, em São Paulo, que desde 2013 lidera um programa de gestão racional de uso de antibióticos. Demora Quando um doente chega ao hospital, os médicos muitas vezes não conseguem identificar prontamente a causa da infecção, mas colocam o paciente sob antibióticos, para evitar que a doença se alastre, enquanto colhem amostras para investigar o problema. Essa investigação é feita pelo laboratório de microbiologia, que determina quais bactérias, fungos ou vírus são a causa de determinada doença. Em países desenvolvidos, esses testes saem em até duas horas, mas, no Brasil, médicos relatam que resultados podem levar até sete dias para ficar prontos. "Se o laboratório de microbiologia dá retorno rápido, o médico ajusta o tratamento. Isso traz resultados melhores para o paciente e reduz o tempo dele no hospital", explica José Martins de Alcântara Neto, farmacêutico do Hospital Universitário Walter Cantídio, de Fortaleza, que em fevereiro desse ano também implantou um programa para racionalizar o uso de antibióticos. Porém, quanto mais esses testes demoram, maior o risco de pacientes receberem antibióticos fortes demais, que atacam múltiplas bactérias ao mesmo tempo. Chamados de amplo espectro, esses medicamentos são efetivos, mas selecionam mais bactérias resistentes. "Quando chega o resultado, vejo se posso diminuir o espectro do antibiótico, se posso dar uma dose mais branda. Esse é o pulo do gato. Porque às vezes você está dando um tiro de canhão na bactéria quando um tiro de chumbinho resolveria", compara Mathiasi. Desde 2014, o HCor diz ter reduzido em 60% o uso de antifúngicos e de carbapenêmicos, uma classe de antibióticos de amplo espectro. A queda foi registrada na UTI de cardiopediatria, que faz cirurgias de alta complexidade em crianças. A instituição também reduziu à metade casos de diarréia causadas pela bactéria Clostridium difficile, que é associada ao uso de antibióticos. "Conseguimos praticamente tudo: redução dos índices de resistência, de custo com antibióticos e de efeito adverso para os pacientes", enumera Mathiasi. Medicamentos que atacam múltiplas bactérias são efetivos, mas selecionam as mais resistentes A passos lentos O HCor faz parte de uma rede de 220 hospitais nacionais que têm sido treinados dentro de um programa internacional da empresa farmacêutica MSD. A companhia diz que já levou a iniciativa a 26 países. Oferecido gratuitamente, o programa faz parte dos esforços da companhia para que seus antibióticos durem mais. Com a capacidade de bactérias de se adaptar rapidamente aos medicamentos desenvolvidos para eliminá-las, remédios às vezes podem se tornar inúteis em poucos anos, gerando perdas às farmacêuticas. A ideia é elogiada por especialistas, mas ainda está longe de representar a realidade brasileira. "Não estamos onde deveríamos estar," resume Ana Gales, coordenadora do Comitê de Resistência Antimicrobiana da Sociedade Brasileira de Infectologia. "Um programa como esse deveria estar em todos os hospitais brasileiros. Mas, como país subdesenvolvido, temos instituições onde isso está completamente implantado, mas outras que ainda nem começaram", diz. Parte dos entraves é estrutural. O Brasil tem cerca de 6,2 mil hospitais, e nem todos possuem laboratórios de microbiologia, o que dificulta tratamentos precisos. Um levantamento preliminar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2015 indicou que o país tinha 660 laboratórios do gênero cadastrados em seu sistema - praticamente um para cada dez hospitais. A agência diz que abriu nova chamada para cadastrar essas instituições. Também não há ainda um guia nacional para as instituições hospitalares. Aqueles que adotaram tais iniciativas recorreram a publicações internacionais, como a da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA, na sigla em inglês). Em nota, a Anvisa informou que trabalha desde novembro em uma diretriz nacional para hospitais e que irá publicá-la até o final do ano. "Um modelo nacional vai sem dúvida estimular os hospitais a adotar o modelo", avalia Alcântara Neto, do Hospital Walter Cantídio. "Você imagina, vários hospitais do Ceará, trabalhando com uma mesma metodologia. Tem chance de dar resultados melhores." Lucro Outro entrave é comercial. Ainda perdura em muitos hospitais, principalmente privados, a visão de que usar antibióticos é uma prática lucrativa. As instituições, ao medicar pacientes, cobram dos convênios o uso desse medicamento, num modelo de revenda, no qual garantem margem de lucro. Mas especialistas dizem que a prática está cada vez mais em declínio. "A gente já identifica que esse pagamento por serviço de antibiótico está morrendo. Poucos hospitais ainda sobrevivem disso", diz Mathiasi, do HCor. Sylvia Hinrichsen, da UFPE, acredita que a mentalidade econômica do uso de antibióticos e a cultura de usar o medicamento em excesso precisam mudar por inteiro - e que o paciente também faz parte dessa mudança. "Essa cultura vai precisar mudar porque a própria população vai começar a entender que não é para tomar antibiótico por 21 dias, não é para tomar quatro tipos de antibióticos numa tacada só", diz. "Vai ser igual a quando começamos a usar cinto de segurança - vamos entender que o risco de não utilizar corretamente pode ser fatal."
O dólar registrou nesta quinta-feira novas baixas em relação ao euro em meio à incerteza sobre a possibilidade de uma intervenção da Europa e do Japão no mercado de câmbio.
No início da tarde desta quinta-feira, o euro era cotado a US$ 1,338. A moeda perdeu quase 10% de seu valor nos últimos meses. No Japão, autoridades mencionaram uma possível intervenção coordenada com a Europa, mas os investidores permaneceram impassíveis. O vice-ministro para assuntos internacionais do Japão, Hiroshi Watanabe, e a mais alta autoridade de câmbio do país disseram que o país está em contato muito próximo com a Europa e "pronto para agir". Porém, a afirmação não influenciou o mercado, que tem vendido grandes quantidades de dólar com base nos déficits registrados nos Estados Unidos e no desaquecimento do consumo. Os comentários de Watanabe divergem completamente dos realizados pelo Banco Central Europeu. O presidente do órgão, Jean-Claude Trichet, disse nesta quinta-feira que o banco está propenso a não intervir a favor do dólar.
Nunca tantos brasileiros chegaram às salas de aula das universidades, fizeram pós-graduação ou MBAs. Mas, ao mesmo tempo, não só as empresas reclamam da oferta e qualidade da mão-de-obra no país como os índices de produtividade do trabalhador custam a aumentar.
Número de instituições de ensino superior mais que dobrou desde 2001 Na última década, o número de matrículas no ensino superior no Brasil dobrou, embora ainda fique bem aquém dos níveis dos países desenvolvidos e alguns emergentes. Só entre 2011 e 2012, por exemplo, 867 mil brasileiros receberam um diploma, segundo a mais recente Pesquisa Nacional de Domicílio (Pnad) do IBGE. "Mas mesmo com essa expansão, na indústria de transformação, por exemplo, tivemos um aumento de produtividade de apenas 1,1% entre 2001 e 2012, enquanto o salário médio dos trabalhadores subiu 169% (em dólares)", diz Rafael Lucchesi, diretor de educação e tecnologia na Confederação Nacional da Indústria (CNI). Curtiu? Siga a BBC Brasil no Facebook e no Twitter. Leia também:5 aplicativos para aprender idiomas pelo celular Fim do Talvez também te interesse Leia também:Por que os alunos de uma das melhores universidades do mundo têm que jurar que não vão colar A decepção do mercado com o que já está sendo chamado de "geração do diploma" é confirmada por especialistas, organizações empresariais e consultores de recursos humanos. "Os empresários não querem canudo. Querem capacidade de dar respostas e de apreender coisas novas. E quando testam isso nos candidatos, rejeitam a maioria", diz o sociólogo e especialista em relações do trabalho da Faculdade de Economia e Administração da USP, José Pastore. Entre empresários, já são lugar-comum relatos de administradores recém-formados que não sabem escrever um relatório ou fazer um orçamento, arquitetos que não conseguem resolver equações simples ou estagiários que ignoram as regras básicas da linguagem ou têm dificuldades de se adaptar às regras de ambientes corporativos. "Cadastramos e avaliamos cerca de 770 mil jovens e ainda assim não conseguimos encontrar candidatos suficientes com perfis adequados para preencher todas as nossas 5 mil vagas", diz Maíra Habimorad, vice-presidente do DMRH, grupo do qual faz parte a Companhia de Talentos, uma empresa de recrutamento. "Surpreendentemente, terminanos com vagas em aberto." Outro exemplo de descompasso entre as necessidades do mercado e os predicados de quem consegue um diploma no Brasil é um estudo feito pelo grupo de Recursos Humanos Manpower. De 38 países pesquisados, o Brasil é o segundo mercado em que as empresas têm mais dificuldade para encontrar talentos, atrás apenas do Japão. É claro que, em parte, isso se deve ao aquecimento do mercado de trabalho brasileiro. Apesar da desaceleração da economia, os níveis de desemprego já caíram para baixo dos 6% e têm quebrado sucessivos recordes de baixa. Produtividade da industria aumentou apenas 1,1% na última década, segundo a CNI Mas segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulgado nesta semana, os brasileiros com mais de 11 anos de estudo formariam 50% desse contingente de desempregados. "Mesmo com essa expansão do ensino e maior acesso ao curso superior, os trabalhadores brasileiros não estão conseguindo oferecer o conhecimento específico que as boas posições requerem", explica Márcia Almstrom, do grupo Manpower. Causas Especialistas consultados pela BBC Brasil apontam três causas principais para a decepção com a "geração do diploma". A principal delas estaria relacionada a qualidade do ensino e habilidades dos alunos que se formam em algumas faculdades e universidades do país. Os números de novos estabelecimentos do tipo criadas nos últimos anos mostra como os empresários consideram esse setor promissor. Em 2000, o Brasil tinha pouco mais de mil instituições de ensino superior. Hoje são 2.416, sendo 2.112 particulares. "Ocorre que a explosão de escolas superiores não foi acompanhada pela melhoria da qualidade. A grande maioria das novas faculdades é ruim", diz Pastore. Tristan McCowan, professor de educação e desenvolvimento da Universidade de Londres, concorda. Há mais de uma década, McCowan estuda o sistema educacional brasileiro e, para ele, alguns desses cursos universitários talvez nem pudessem ser classificados como tal. "São mais uma extensão do ensino fundamental", diz McCowan. "E o problema é que trazem muito pouco para a sociedade: não aumentam a capacidade de inovação da economia, não impulsionam sua produtividade e acabam ajudando a perpetuar uma situação de desigualdade, já que continua a ser vedado à população de baixa renda o acesso a cursos de maior prestígio e qualidade." Para se ter a medida do desafio que o Brasil têm pela frente para expandir a qualidade de seu ensino superior, basta lembrar que o índice de anafalbetismo funcional entre universitários brasileiros chega a 38%, segundo o Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope. Especialistas questionam qualidade de novas faculdades no Brasil Na prática, isso significa que quatro em cada dez universitários no país até sabem ler textos simples, mas são incapazes de interpretar e associar informações. Também não conseguem analisar tabelas, mapas e gráficos ou mesmo fazer contas um pouco mais complexas. De 2001 a 2011, a porcentagem de universitários plenamente alfabetizados caiu 14 pontos - de 76%, em 2001, para 62%, em 2011. "E os resultados das próximas pesquisas devem confirmar essa tendência de queda", prevê Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do IPM. Segundo Lima, tal fenômeno em parte reflete o fato da expansão do ensino superior no Brasil ser um processo relativamente recente e estar levando para bancos universitários jovens que não só tiveram um ensino básico de má qualidade como também viveram em um ambiente familiar que contribuiu pouco para sua aprendizagem. "Além disso, muitas instituições de ensino superior privadas acabaram adotando exigências mais baixas para o ingresso e a aprovação em seus cursos", diz ela. "E como consequência, acabamos criando uma escolaridade no papel que não corresponde ao nível real de escolaridade dos brasileiros." Postura e experiência A segunda razão apontada para a decepção com a geração de diplomados estaria ligada a “problemas de postura” e falta de experiência de parte dos profissionais no mercado. "Muitos jovens têm vivência acadêmica, mas não conseguem se posicionar em uma empresa, respeitar diferenças, lidar com hierarquia ou com uma figura de autoridade", diz Marcus Soares, professor do Insper especialista em gestão de pessoas. "Entre os que se formam em universidades mais renomadas também há certa ansiedade para conseguir um posto que faça jus a seu diploma. Às vezes o estagiário entra na empresa já querendo ser diretor." As empresas, assim, estão tendo de se adaptar ao desafio de lidar com as expectativas e o perfil dos novos profissionais do mercado – e em um contexto de baixo desemprego, reter bons quadros pode ser complicado. Para Marcelo Cuellar, da consultoria de recursos humanos Michael Page, a falta de experiência é, de certa forma natural, em função do recente ciclo de expansão econômica brasileira. "Tivemos um boom econômico após um período de relativa estagnação, em que não havia tanta demanda por certos tipos de trabalhos. Nesse contexto, a escassez de profissionais experientes de determinadas áreas é um problema que não pode ser resolvido de uma hora para outra", diz Cuellar. Nos últimos anos, muitos engenheiros acabaram trabalhando no setor financeiro, por exemplo. "Não dá para esperar que, agora, seja fácil encontrar engenheiros com dez ou quinze anos de experiência em sua área – e é em parte dessa escassez que vem a percepção dos empresários de que ‘não tem ninguém bom’ no mercado", acredita o consultor. 'Tradição bacharelesca' Por fim, a terceira razão apresentada por especialistas para explicar a decepção com a "geração do diploma" estaria ligada a um desalinhamento entre o foco dos cursos mais procurados e as necessidades do mercado. De um lado, há quem critique o fato de que a maioria dos estudantes brasileiros tende a seguir carreiras das ciências humanas ou ciências sociais - como administração, direito ou pedagogia - enquanto a proporção dos que estudam ciências exatas é pequena se comparada a países asiáticos ou alguns europeus. "O Brasil precisa de mais engenheiros, matemáticos, químicos ou especialistas em bioquímica, por exemplo, e os esforços para ampliar o número de especialistas nessas áreas ainda são insuficientes", diz o diretor-executivo da Câmara Americana de Comércio (Amcham), Gabriel Rico. Segundo Rico, as consequências dessas deficiências são claras: "Em 2011 o país conseguiu atrair importantes centros de desenvolvimento e pesquisas de empresas como a GE a IBM e a Boeing", ele exemplifica. "Mas se não há profissionais para impulsionar esses projetos a tendência é que eles percam relevância dentro das empresas." Do outro lado, também há críticas ao que alguns vêem como um excesso de valorização do ensino superior em detrimento das carreiras de nível técnico. "É bastante disseminada no Brasil a ideia de que cargos de gestão pagam bem e cargos técnicos pagam mal. Mas isso está mudando – até porque a demanda por profissionais da área técnica tem impulsionado os seus salários", diz o consultor. Rafael Lucchesi concorda. "Temos uma tradição cultural baicharelesca, que está sendo vencida aos poucos”, diz o diretor da CNI – que também é o diretor-geral do Senai (Serviço Nacional da Indústria, que oferece cursos técnicos). Segundo Lucchesi, hoje um operador de instalação elétrica e um técnico petroquímico chegam a ganhar R$ 8,3 mil por mês. Da mesma forma, um técnico de mineração com dez anos de carreira poderia ter um salário de R$ 9,6 mil - mais do que ganham muitos profissionais com ensino superior. "Por isso, já há uma procura maior por essas formações, principalmente por parte de jovens da classe C, mas é preciso mais investimentos para suprir as necessidades do país nessa área", acredita.
As ações da Petrobras derreteram depois que o presidente Jair Bolsonaro decidiu mudar o comando da empresa. Na noite de sexta-feira (19/02), Bolsonaro anunciou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para substituir o atual presidente da estatal, Roberto Castello Branco, economista liberal e nome de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Perda de valor da Petrobras nos dois últimos pregões da Bolsa de Valores chegou a R$ 102,5 bilhões As ações preferenciais da estatal fecharam com queda de 21,5%, a R$ 21,45 nesta segunda-feira (22/02), após já terem recuado na sexta. Com isso, a perda de valor da empresa nos dois últimos pregões da Bolsa de Valores chegou a R$ 102,5 bilhões. Por trás da troca está a insatisfação do presidente da República com os recentes reajustes no preço da gasolina e do diesel, algo que bate direto no bolso de muitos brasileiros, impactando a popularidade do governo. Com os novos reajustes na semana passada, o preço da gasolina vendida nas refinarias pela Petrobras já subiu neste ano 34,78%, e o diesel, 27,72%. A decisão levou economistas e políticos a comparar Bolsonaro à ex-presidente Dilma Rousseff, que durante seu governo impediu reajustes nos preços dos combustíveis, de olho no controle da inflação, e causou perdas bilionárias à Petrobras. "A troca do presidente da Petrobras indica somente uma coisa: vão controlar o preço dos combustíveis na canetada. Vimos esse filme recentemente com a Dilma. O final a gente lembra: quebradeira na estatal", criticou no Twitter o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes dos protestos pelo impeachment da petista em 2016. Fim do Talvez também te interesse E como aconteceu na era Dilma, essa tentativa de Bolsonaro de conter a alta dos combustíveis pode ter o efeito oposto daquele desejado pelo presidente. Ao invés de resultar em queda da inflação, a medida pode levar a uma aceleração dos preços, devido à desvalorização do real frente ao dólar, como resultado do aumento da incerteza. Nesta segunda-feira, a expectativa do mercado para o IPCA (o índice de preços do IBGE) em 2021 subiu de 3,62%, na semana passada, para 3,82%. Com isso, o índice oficial de inflação fecharia o ano acima do centro da meta, que é de 3,75% para este ano. Até mesmo ex-integrantes do governo fizeram a crítica: "Nunca o governo Bolsonaro foi tão parecido com o governo Dilma como hoje", postou também Paulo Uebel, ex-Secretário Especial de Desburocratização do governo Bolsonaro. Entenda melhor a seguir em três pontos por que a política de combustíveis gera forte desgaste entre Palácio do Planalto e Petrobras há vários governos e como as políticas de combustível de Bolsonaro e Dilma se aproximam ou não. Por trás da troca no comando da Petrobras, está a insatisfação do presidente da República com os recentes reajustes no preço da gasolina e do diesel 1) Por que a interferência nos combustíveis gera tanta crítica? O preço dos combustíveis tem impacto direto na inflação, já que boa parte do transporte de carga no Brasil é feito por rodovias. Ou seja, quando o diesel fica mais caro, por exemplo, o custo do frete também aumenta e isso é repassado para o consumidor final. Além disso, o aumento do combustível também impacta o preço do transporte público, como ônibus, e pesa no bolso dos brasileiros que usam carro ou moto para se locomover. Por isso, o governo federal é pressionado por caminhoneiros e pela população em geral a agir contra o aumento do preço dos combustíveis. O problema é que os preços dos combustíveis vendidos pela Petrobras são impactados pela cotação internacional do petróleo e pela cotação do dólar, já que a estatal exporta parte do óleo bruto que extrai no Brasil e importa combustível refinado. Quando a empresa não repassa as oscilações da cotação de petróleo e da taxa de câmbio para o preço dos combustíveis, ela acaba tendo prejuízo. Quem defende que a estatal deve controlar os preços argumenta que a empresa é pública e deve estar a serviço dos brasileiros. Já os que defendem uma política de preços livres ressaltam que a empresa tem capital aberto — ou seja, embora o Estado brasileiro seja o maior acionista, há também investimento privado na estatal. Além disso, esse grupo argumenta que deixar a estatal no prejuízo vai afetar a sustentabilidade da empresa no longo prazo, limitando sua capacidade de investimento, algo que seria negativo para todos os brasileiros. Nesse contexto, intervenções na Petrobras tendem a influenciar a cotação do dólar ao aumentarem as incertezas sobre a economia (e a política econômica) do país, numa espécie de efeito cascata, inclusive afetando os mais pobres. E essa taxa de câmbio influencia o preço de todas as commodities, incluindo os alimentos vendidos no Brasil. Pesa ainda sobre os custos da indústria, que acabam sendo repassados ao consumidor ou prejudicando a saúde financeira das empresas. A piora na percepção de risco no país também tende a travar os investimentos das companhias tende a travar os investimentos das companhias, levando a uma redução das expectativas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. E, com a piora do quadro inflacionário, o Banco Central pode ser levado a antecipar a alta da taxa básica de juros (Selic), o que afetaria também as perspectivas para o desempenho da atividade econômica em 2022. 2) Dilma tentou usar Petrobras para segurar inflação no país Governo Dilma intensificou o controle de preços da Petrobras O governo Dilma Rousseff foi marcado por inflação alta — no seu primeiro mandato o IPCA, índice de preços do IBGE, teve média anual de 6,17%, acima do centro da meta de inflação do Banco Central, que era de 4,5%. Já em 2015, último ano antes do seu impeachment, a inflação bateu 10,67%. Foi nesse contexto que seu governo intensificou o controle de preços da Petrobras, impedindo que as oscilações do mercado internacional fossem repassadas ao mercado interno e pressionassem ainda mais a inflação. Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), as perdas acumuladas pela Petrobras entre 2011 e 2014 (primeiro mandato de Dilma) por causa dessa política de preços superaram R$ 70 bilhões. Com o impeachment da petista, o novo presidente, Michel Temer, adotou uma política bastante diferente, permitindo repasses diários da oscilação do mercado internacional para os preços dos combustíveis no mercado interno. Isso contribuiu para que a estatal se recuperasse financeiramente, mas culminou em uma forte greve de caminhoneiros em maio de 2018, que afetou o desempenho da economia naquele ano. Além de protestar contra os aumentos, a categoria reclamava que os reajustes diários impediam a previsibilidade do custo do frete. Para evitar novas paralisações, o governo estabeleceu temporariamente subsídios no preço dos combustíveis para os caminhoneiros. 3) Como tem sido a política de preços no governo Bolsonaro? O presidente foi eleito em 2018 com a promessa de uma gestão bastante liberal na economia, em que o ministro Paulo Guedes teria grande autonomia para conduzir a política econômica. Isso incluía manter a prática do governo Temer de permitir que a Petrobras reajustasse os combustíveis sempre que necessário para manter a lucratividade da empresa. No entanto, já em abril de 2019, poucos meses após Bolsonaro assumir o cargo, ele ligou para o presidente da estatal, Castello Branco, para vetar novo reajuste no preço do diesel. Isso fez os papéis da empresa recuarem mais 8% em um dia, o que significou uma perda de R$ 32 bilhões no valor de mercado da estatal. Com a repercussão negativa, logo depois o preço do diesel foi reajustado, mas em percentual um pouco abaixo do anunciado pela empresa inicialmente. Para agradar os caminhoneiros, o governo na ocasião anunciou uma linha de crédito para a categoria e investimentos para melhorar rodovias. Agora, a decisão do governo de trocar o comando da estatal vem em um novo momento de alta acentuada no preço dos combustíveis. Bolsonaro tem respondido às críticas à mudança na presidência da Petrobras lembrando que ele tem a prerrogativa de indicar o comando da empresa, já que a União é o maior acionista. "Dia 20 de março encerra o prazo da vigência do atual presidente (da Petrobras). É direito meu reconduzi-lo ou não. Ele não será reconduzido. Qual o problema? É sinal de que alguns do mercado financeiro estão muito felizes com a política que só tem um viés na Petrobras, atender aos interesses próprios de alguns grupos do Brasil, nada mais além disso", disse o presidente a apoiadores nesta segunda-feira (22/02). Em abril de 2019, poucos meses após assumir o cargo, Bolsonaro ligou para presidente da Petrobras para vetar novo reajuste no preço do diesel Ele também negou que esteja interferindo nos preços da estatal e disse que sua exigência é por "transparência e previsibilidade" nos preços. O especialista no setor de petróleo, David Zylbersztajn, professor da PUC-Rio, considera que ainda é cedo para dizer que Bolsonaro "dilmou" no comando da estatal, já que realmente não houve até o momento uma represamento no repasse da variação internacional para os preços domésticos. Ele ressalta, porém, o efeito negativo das falas do presidente, que tem constantemente criticado os reajustes da estatal. Isso, afirma Zylbersztajn, gera uma expectativa no mercado de que haverá uma mudança na política de preços. Segundo o professor da PUC-Rio, a forma como o presidente está conduzindo a questão também deve impactar negativamente os investimentos em refino de petróleo no Brasil. Desde de o governo Temer, a Petrobras tem um plano de venda de refinarias, para focar seus investimentos em extração de petróleo no pré-sal. A gestão Castello Branco tem dado andamento a esse processo, por considerar que as refinarias criadas nos governos PT foram um investimento ruim para a estatal. A perspectiva de que a Petrobras possa voltar a subsidiar os preços, porém, deixará investidores preocupados com a concorrência no mercado de combustíveis, diz Zylbersztajn. "Quem vai entrar com dinheiro para comprar uma refinaria, que é um investimento altíssimo, não pode correr riscos de amanhã você mudar a política de preços", ressalta. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Milhares de peruanos foram às ruas da capital do país, Lima, nesta sexta-feira, participar de uma manifestação a favor da introdução da pena de morte para integrantes do grupo revolucionário Sendero Luminoso.
Vários dos manifestantes levaram fotografias de parentes mortos pelo grupo. Na semana passada o presidente Alan García sugeriu que a constituição do país fosse alterada para permitir um referendo sobre o assunto, após o parlamento peruano ter rejeitado a proposta. Parlamentares peruanos dizem que introduzir a pena de morte no país iria ferir a Convenção Americana de Direitos Humanos, da qual o Peru é signatário. Pesquisas de opinião sugerem que a proposta de García tem grande apoio da população, mas o Congresso decidiu arquivar o projeto indefinidamente. O correspondente da BBC em Lima diz que a manifestação mostra que a memória da insurgência no Peru ainda está viva para muitos peruanos. Recentemente a Corte Inter-americana de Direitos humanos decidiu que o governo peruano deve pagar US$ 20 milhões para familiares de integrantes do Sendero Luminoso mortos durante a insurgência. Muitos peruanos se revoltaram com a decisão.
Novos conflitos ocorreram entre grupos armados e a polícia na península do Sinai, no Egito, de acordo com a TV estatal.
Policiais e militantes trocaram tiros em frente a uma delegacia, mas não há registros de mortos. Os confrontos ocorreram um dia depois que o Exército egípcio realizou uma ofensiva contra militantes islâmicos da região. A violência começou no último domingo, quando 16 guardas de fronteira foram mortos no pior ataque às tropas do Egito no Sinai nas últimas décadas. Localizada na fronteira entre o Egito e Israel, a península é tradicionalmente um ponto de tensão e conflitos na região.
Agosto já se revela um mês terrível para os Estados Unidos no Iraque.
São os números - tanto de baixas das tropas do Pentágono (já superaram 1,8 mil desde 2003), como nas pesquisas de opinião pública - que confirmam o crescente desencanto dos americanos com a situação. Para dar uma medida, em duas sondagens nos últimos dias, o apoio à linha oficial da Casa Branca caiu para menos de 40%, um nível sem precedentes desde a invasão. Uma resposta automática do presidente George W. Bush é insistir que o curso será mantido. Mas qual curso? Presença no Iraque A morte em uma explosão na semana passada de 14 fuzileiros navais de uma unidade reservista do Estado de Ohio reforçou as especulações de que o Pentágono irá implementar os planos para uma redução significativa, no ano que vem, das tropas no Iraque. Hoje, são 140 mil soldados no país. Bush bate na tecla que fixar um cronograma é premiar os insurgentes, mas estão aí os documentos vazados para a imprensa, e os sinais emitidos por oficiais do primeiro escalão. Um dos objetivos dos sinais é acalmar uma opinião pública cada vez mais inquieta. Um símbolo desta inquietação – que já denota uma certa insurgência contra a linha oficial – é a vigília antiguerra feita em Crawford, no Texas, pela mãe de um soldado morto no Iraque. É no Texas que está o rancho que serve de quartel-general para as férias presidenciais. Cindy Sheenan promete seguir Bush até receber uma resposta satisfatória que justifique a morte de seu filho no conflito iraquiano. Opiniões Mesmo congressistas republicanos (de olho nas eleições do ano que vem) denotam impaciência. Este estado de espírito reflete os desejos da opinião pública. Em uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira pela revista Newsweek, apenas um em quatro americanos disse ser necessário manter um contingente militar de peso no Iraque para alcançar os objetivos do governo Bush de pacificar o país e permitir a construção de novas instituições. A idéia popular entre os americanos é que os iraquianos cuidem dos seus próprios problemas. A chamada "saída honrosa" do Iraque significa acreditar nas avaliações irrealistas, como a do general David Petraeus, de que já existem mais de 170 mil soldados e policiais iraquianos "treinados e equipados" para conter a insurgência e a violência generalizada. A guerra do governo Bush no Iraque parece ser travada cada vez mais para o consumo interno do que em termos de objetivos estratégicos no Oriente Médio. Este desencanto da opinião pública americana tem um peso cada vez mais importante nas considerações, apesar da insistência oficial de que a Casa Branca não é guiada por pesquisas. Analistas conservadores, como Frederick Kagan, do American Enterprise Institute, advertem que a administração Bush deve ter a mesma perseverança dos insurgentes iraquianos e nem pensar em reduzir suas tropas nos próximos 18 meses. Kagan observa que uma saída honrosa prematura irá apenas fortalecer a insurgência e impossibilitar a consolidação de instituições no Iraque. Manter o curso, no entanto, é complicado para um governo que se enreda até na semântica. Cindy Sheenan, a mãe do soldado morto, quer respostas claras sobre o que está em jogo para as tropas americanas. Ela pôde basicamente acompanhar nos últimos dias um debate bizantino de definições de se os EUA estão travando uma "guerra global contra o terror" ou uma "luta global contra o extremismo violento". Esta última terminologia fora adotada recentemente pelo secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, e altos oficiais do Pentágono. Após dias de confusão, o comandante-em-chefe Bush impôs ordem. É guerra mesmo. O curso está mantido.
Papelões fazem as vezes de mantas para forrar o chão. Cobertores empilhados ajudam a formar uma espécie de colchão, mas o que mais faz a diferença nas madrugadas do inverno paulistano é a "montanha humana".
Nos últimos dias, São Paulo registrou as temperaturas mais baixas dos últimos três anos A reportagem da BBC News Brasil percorreu alguns bairros do centro de São Paulo para entender o que os moradores de rua fizeram nos últimos dias para se proteger do frio mais intenso dos últimos três anos, com temperaturas mínimas de até 6,5ºC e sensação térmica próxima de 0ºC, segundo medição do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Santana, na zona norte. "A gente dorme amontoado para esquentar um pouco mais. Fica bem juntinho e até se empilha mesmo. Claro que o álcool também dá uma boa ajuda para suportar a dor do frio e dar uma aquecida. Importante lembrar também do calor humano de quem passa para deixar um cobertor, oferecer um chá ou uma sopa para a gente sobreviver até o dia seguinte", afirmou Rogério César da Silva Ferreira, de 42 anos, que vive embaixo de um viaduto na praça Quatorze Bis, na Bela Vista. Nos últimos dias, foram registradas ao menos quatro mortes de pessoas em calçadas, praças e embaixo de viadutos da São Paulo. Não é possível afirmar se elas foram causadas somente pelo frio, mas quem mora nas ruas passa o dia pensando em estratégias para não morrer de frio, principalmente nas madrugadas. Ferreira conta que em dois anos vivendo na rua presenciou muitos de seus companheiros morrerem por conta do frio. A maior parte, lembra ele, era idoso. Fim do Talvez também te interesse "Não é que toda essa gente morre só de frio. Tem muitos velhinhos com tuberculose e doenças cardíacas que não aguentam mesmo. Isso acontece porque a pessoa já está fraca e o frio só termina tudo. Todo dia você ouve uma história de um companheiro que se foi", contou ele, enrolado em alguns cobertores. Secretário-adjunto diz que abrigos ficam com até 95% de sua taxa de ocupação nos dias mais frios Por outro lado, os próprios moradores de rua reconhecem que há vagas abertas em albergues municipais, que permitiriam que eles ficassem mais protegidos, pelo menos durante a noite. No local, eles ainda têm direito a fazer uma refeição e tomar um banho quente. Mas por que alguns moradores de rua ainda preferem passar frio e até correr o risco de morrer a aceitar pernoitar em um abrigo? Um grupo de amigos que vivem juntos na frente da estação Anhangabaú do metrô lista uma série de motivos para a recusa. 'É melhor na rua' O primeiro deles é a quantidade de regras impostas nos albergues, como o veto ao álcool e outras drogas. O mais citado, porém, é que a maior parte das vagas ofertadas fica em abrigos distantes da região onde vivem. Para chegarem até o abrigo, eles têm direito a transporte em kombis disponibilizadas pela prefeitura; mas a volta para as regiões em que eles mantêm vínculos de amizade e até eventuais bicos de trabalho precisaria ser a pé, por conta própria. "Geralmente, só tem vaga para o abrigo no Parque Novo Mundo, na zona norte. A prefeitura até leva a gente de Kombi até lá, mas temos de caminhar mais de duas horas (10 km) com cobertores e roupas nas costas para voltar. Ninguém quer isso", afirmou Tadeu Moreira Júnior, de 38 anos. Em entrevista à BBC News Brasil nesta terça-feira, o secretário-adjunto da secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, Marcelo Del Bosco, afirmou que a falta de oferta de vagas no centro, área que concentra metade dos moradores de rua segundo censo feito em 2015, é uma barreira para convencer parte dos moradores de rua a serem acolhidos. Afirmou, no entanto, que vai negociar um meio de transporte para que eles sejam levados de volta ao centro da capital. "Eu sei deste problema porque participei de acolhidas na Sé (centro). Quando a gente dizia que tinha vaga no Parque Novo Mundo, eles davam uma recuada. Algumas pessoas disseram que não podiam ir para lá porque trabalham descarregando mercadorias no Mercadão e não voltariam a tempo para o trabalho. Por isso, estamos estudando para oferecer esse retorno com ônibus. Hoje mesmo vou conversar com o secretário de Transporte e com presidente da SPTrans sobre isso", afirmou o secretário-adjunto. Amigos preferem ficar na rua a serem levados para abrigos distantes e terem de voltar a pé Segundo ele, hoje a capital paulista tem 18.500 vagas em abrigos para adultos e 2.335 para crianças e adolescentes. Os que têm mais vagas ficam fora do centro da cidade, região onde é mais difícil encontrar locais para construir ou montar albergues. Ainda assim, Del Bosco afirmou que nos dias mais frios os abrigos chegam a atingir 95% de sua taxa de ocupação. "Quero ressaltar que nossa prioridade é salvar vidas. Por isso orientamos que, mesmo que um morador de rua bata à porta de um abrigo lotado, os assistentes sociais devem recebê-lo com um chá ou algo quente até que ele seja levado para outra unidade", disse. Segundo o último censo feito em 2015 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), há 16 mil moradores de rua em São Paulo. A prefeitura, no entanto, não tem estimativas de qual o tamanho atual dessa população atualmente. No ano passado, porém, o prefeito Bruno Covas afirmou que a estimativa é de que a cidade tenha cerca de 20 mil moradores de rua. A administração municipal informou que um novo censo será feito ainda neste ano. Problemas crônicos de saúde Há cinco anos nas ruas, a constante escolha por não dormir num albergue causou diversas doenças respiratórias em Antonio Leandro da Silva, conhecido como Gigante, de 43 anos, que também vive na região do Anhangabaú. "Imagine passar várias noites lutando contra o frio em cima de um papelão e com alguns 'Tony Ramos' - como são chamados os cobertores entregues pela prefeitura - nas costas. Agora, pense em tomar banho numa fonte de água gelada na (avenida) 23 de Maio. As pessoas não têm ideia do que é sentir tanto frio. Tive princípio de pneumonia e agora o médico falou que eu vou ter de usar essas bombinhas até o fim da minha vida para tratamento de asma e bronquite", diz Gigante com as mãos cheias de remédios. Além da distância, os moradores de rua reclamam das condições de alguns abrigos da capital, principalmente da qualidade das refeições. Tadeu Moreira Junior, de 38 anos, conta que está há um ano e meio morando nas ruas e, com a experiência, diz que consegue avaliar a comida oferecida em cada abrigo. "Mesmo quando tem vaga, as pessoas pensam duas vezes antes de ir para o Centro Temporário de Acolhimento (CTA) do Anhangabaú porque a comida lá não é boa, não tem gosto e vem pouco. Já na Lapa a comida tem tempero, eles capricham mesmo, e dão uma quantidade boa para a gente suportar o frio. O problema é voltar de lá a pé. Demoro quase o dia inteiro", afirmou. O secretário-adjunto Marcelo Del Bosco disse à reportagem que desconhece essa diferença de qualidade entre as refeições, mas afirmou que vai investigar a denúncia feita pelos moradores de rua. "Sei que essa unidade não tem cozinha e recebe os marmitex de fora. Mas isso (má qualidade) não pode acontecer porque é o mesmo chamamento público, eles recebem o mesmo valor. Mas é bom ouvir isso para cobrar e verificar essas refeições. A gente sempre faz essa fiscalização para avaliar também a infraestrutura no centro de atendimento, como alimentação, papel higiênico e toalhas oferecidas. Toda crítica é importante para a gente saber e corrigir. E se não corrigir, vai ter penalidades. Eu vou cobrar isso daí hoje mesmo", afirmou. A constante escolha por não dormir num albergue causou diversas doenças respiratórias em Antonio Leandro da Silva, que mostra seus remédios Saída definitiva e oportunidades de trabalho Por mais que os moradores reconheçam que os serviços dos abrigos tenham melhorado nos últimos anos e façam constantes cobranças por melhorias, a vontade da maior parte é deixar as ruas de maneira definitiva. Para isso, eles querem ter uma oportunidade de emprego para retomar a sonhada independência financeira. "Eu só quero uma chance de ganhar o meu próprio dinheiro. Já trabalhei em várias áreas e meu último emprego foi de caseiro em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. Eu só quero uma oportunidade, nem que seja da prefeitura, para provar que eu posso sair dessa", afirmou o faxineiro Jonathan Medeiros de Souza, de 32 anos, que mora embaixo do viaduto na praça Quatorze Bis. O mesmo coro é feito por outros moradores da região, como o Tadeu Moreira Junior, que tem uma deficiência na mão direita, mas disse que aceita qualquer proposta de trabalho. "Eu topo fazer qualquer coisa. Pintar umas guias, pegar uma vassoura para tirar o lixo das ruas. Eu aceito qualquer oportunidade para sair dessa vida. Enquanto isso, vou me virando vendendo artesanato pedindo ajuda para outras pessoas", afirmou. O secretário Marcelo Del Bosco diz que a prefeitura tem programas de emprego ligados à Secretaria de Direitos Humanos. "Estamos aprimorando isso porque muitas vezes a pessoa entrou no programa, não se sustentou e saiu por conta da vulnerabilidade em que ela está. Estamos cientes disso e com apoio da iniciativa privada, estamos dando cada vez mais oportunidades", afirmou. Bosco diz que a prefeitura oferecerá 2.000 vagas em futuras repúblicas para moradores de rua. Esses espaços servem para que os moradores de rua convivam com outras pessoas e se readaptem a uma vida autônoma. Essas repúblicas são espaços que reúnem até cinco pessoas com mesmo perfil e são visitadas diariamente por um assistente social que as auxilia com as questões de finanças e sociais. A estimativa é que depois de seis meses essas pessoas estejam aptas a retomarem suas vidas de maneira independente, mas esse tempo pode ser prorrogado caso haja necessidade. Anjos da Noite Dezenas de grupos fazem trabalho voluntário para tentar conter o frio dos moradores. Todos sábado à noite, dezenas de voluntários deixam o bairro de Artur Alvim, na zona leste da capital paulista, para distribuir marmitex, água, roupas e cobertores a moradores de rua. Há um ano, a reportagem da BBC News Brasil acompanhou uma dessas saídas, iniciadas há 30 anos. Neste ano, o grupo, porém, diz que arrecadou menos do que o esperado, segundo o próprio fundador da ONG, Kaká Ferreira. "No último fim de semana, todo o estoque de roupas arrecadado foi distribuído a moradores do centro de São Paulo", afirmou Ferreira, que diz contar com mais doações para a próxima semana. Na página do Facebook do grupo há informações sobre como doar e acompanhar o grupo durante a distribuição aos moradores de rua. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (GCE), da prefeitura, a tendência é que as temperaturas aumentem gradativamente nos próximos dias. Segundo meteorologistas, a massa polar que causa frio na cidade vai perder força e ao longo da semana. Ainda assim, o frio não vai dar trégua durante as madrugadas. Na quarta-feira, os termômetros podem chegar a no mínimo 10ºC e, na quinta, as temperaturas podem chegar a 11ºC nas horas mais frias do dia. A prefeitura coloca suas equipes de apoio em alerta máximo sempre que as temperaturas ficam abaixo dos 13ºC e alerta que qualquer pessoa pode ligar para o telefone 156 para relatar caso presencie um morador de rua que precise de ajuda. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Corria o ano de 1976. Em plena madrugada, dois jovens cariocas perambulavam pela zona portuária de Santos, no litoral paulista. Ainda sob efeito dos drinques consumidos nos bares da região, decidiram atravessar a porta da loja de tatuagens. O dono, sujeito forte e calvo, de cabelos louros e pele bem clara, puxou conversa.
Nesta foto de 1939, os dois temas mais recorrentes da tatuagem brasileira: religiosidade e afeto Chamava-se Knud Gregersen e era dinamarquês. Na pele de um daqueles rapazes, traçou um sol estilizado. Diversas solicitações interromperam o serviço: uma prostituta erguia a saia, exigindo que lhe fizesse um coração no traseiro; próximos à entrada, marujos filipinos iam se aglomerando em filas. Gregersen se exasperou. Temia passar o resto da noite desenhando baleias. O mamífero aquático, afinal de contas, era mascote do Santos Futebol Clube, time que revelou Pelé. De tempos em tempos, marinheiros das mais variadas nacionalidades davam as caras no estabelecimento, decididos a homenagear o jogador. Daquela vez, resmungou Gregersen, não seria diferente. Ele contava quase cinco décadas de vida e sabia do que estava falando. Com o pai, aprendera o básico do ofício. Terminada a Segunda Guerra, mudou-se para Hamburgo e teve aulas com Christian Warlich, um dos mais importantes tatuadores da Alemanha. Depois, na companhia de um cachorro, deu a volta ao mundo. Tatuou na Austrália e boa parte da Europa Ocidental. Atendeu marujos nas Ilhas Canárias e trabalhou em feiras do continente africano. Contornou a Argentina, o Uruguai, e acabou se apaixonando pelo Brasil. Em 1959, desembarcou no porto de Santos e logo abriu um ateliê. Trazia consigo um artefato até então desconhecido por aqui — uma máquina elétrica, própria para tatuagens. Fim do Talvez também te interesse Tornava-se assim o primeiro (e, por muito tempo, o único) tatuador a possuir um estabelecimento do gênero no país. Sob o pseudônimo de Lucky Tattoo, angariou fama nacional nos anos 1960. Quando morreu, vitimado por um ataque cardíaco em 1983, já havia se convertido em figura de culto entre adeptos das artes corporais. Hoje, seu nome desponta como elo fundamental entre o passado e o presente da tatuagem brasileira. O dinamarquês Knud Gregersen, conhecido como Lucky Tattoo, chegou ao Brasil em 1959 "A tatuagem se desenvolvia em lugares de confinamento, como navios, quartéis e prisões", explica Silvana Jeha, doutora em História Social pela PUC-Rio. "Por outro lado, ela também aparecia na praça pública, na rua, no bar. Não existiam estúdios de tatuagem. Até então, o tatuador era um cara qualquer, que desenhava ali na esquina." O repertório iconográfico pouco diferia do atual. Há cem anos, a pele dos tatuados já ostentava âncoras, animais, mulheres nuas, símbolos políticos ou religiosos, personagens de histórias em quadrinhos, nomes e iniciais de pessoas queridas. Os traços, porém, evidenciavam certo amadorismo, ligado a uma prática quase ritualística, infinitamente mais bruta e perigosa que os procedimentos de hoje em dia. Agulhas, espinhos e cacos de vidro eram alguns dos apetrechos utilizados na feitura dos desenhos. Cinzas de cigarro, graxa de sapato, carvão vegetal, fuligem e nanquim compunham fórmulas de pigmentos improvisados. Aos arrependidos, sobravam métodos de remoção igualmente dolorosos, baseados em queimaduras de ácido ou de castanha de caju. "A tatuagem era uma prática horizontalizada e sofreu enorme discriminação. Perdemos o fio dessa meada e só retomamos muito tempo depois, via cultura pop", afirma Jeha, que pesquisou o tema por mais de cinco anos. No livro Uma História da Tatuagem no Brasil, publicado no final de 2019 pela editora Veneta, a historiadora compartilha suas descobertas e analisa as transformações sofridas por essa arte entre a primeira metade do século 19, período em que se firma como cultura popular urbana, e meados da década de 1970, quando cai no gosto da classe média. Imaginário "O livro é filho do meu doutorado", diz. A tese que defendeu em 2011 versa sobre a Marinha Imperial brasileira e as contribuições de seus recrutas para o desenvolvimento de uma cultura cosmopolita no país. "Eu entrei nessa onda do marinheiro ser um tipo meio extraordinário e mítico", afirma. Um livro de registros da fragata de guerra Imperatriz, contendo informações sobre 900 marujos, ganhou espaço na tese. Trata-se do documento mais antigo que a autora já encontrou acerca da presença de tatuados no Brasil. Os tripulantes que embarcaram no navio entre 1833 e 1835 foram catalogados em função de seus atributos físicos — altura, cor dos olhos e da pele, cicatrizes, formato da cabeça e, vez ou outra, desenhos descritos como "marcas" ou "sinais". A palavra "tatuagem" surgiria apenas algumas décadas depois. Mickey Mouse, icônico personagem de Walt Disney, tatuado nos braços de um marinheiro paulista na década de 1930 Intrigada, a historiadora decidiu iniciar uma pesquisa sobre o tema. "Eu não sabia muito bem como isso funcionava socialmente. Aliás, acho que quase ninguém sabia", diz. "Há um imaginário de que tatuagem era apenas coisa de marinheiros, bandidos e putas. Mas não foi bem assim." A pesquisa, financiada pela Biblioteca Nacional, se apoiou em duas fontes principais: a coleção de jornais da instituição e o acervo do Museu Penitenciário Paulista, que abriga 2.600 fotografias de detentos do Carandiru, tiradas entre as décadas de 1920 e 1940. Muitos desses indivíduos, ressalta Jeha, já chegaram tatuados ao complexo penitenciário. "É preciso entender que essas pessoas tiveram uma existência anterior à cadeia", diz. "Elas trabalharam, andaram pelo mundo, e, depois de presas, reafirmaram seu domínio sobre a única coisa que ainda tinham — o corpo." Cruzando informações de seus prontuários com textos encontrados nas páginas dos jornais, a autora pôde mapear os principais grupos envolvidos na difusão da tatuagem no Brasil e entender como foram vistos pela sociedade da época. Os marinheiros, como esperado, marcavam forte presença. "Os marujos não são necessariamente os pioneiros da tatuagem dita ocidental", esclarece a historiadora. "Mas foram eles que espalharam essa cultura pelo mundo." Eram sujeitos como Joaquim, que, tentando driblar uma rotina de castigos físicos, tatuou um crucifixo nas costas e a imagem de Cristo no peito. Segundo relatos de 1904, os capatazes do navio temiam agredi-lo — acreditavam que os golpes feriam Jesus. Ou como o idoso que, à beira da morte num leito de hospital, narrou a Jeha a origem da frase "Amor à Cuba", que trazia inscrita na mão. Por dois meses, seu navio permanecera atracado na ilha. Enquanto a embarcação sofria reparos, o tripulante saiu, dançou salsa e conheceu Fidel Castro. A tatuagem, garantiu o marinheiro à pesquisadora, seria uma "lembrança daqueles dias maravilhosos". Ariosto, detento do Carandiru, tinha na coxa o desenho de uma mulher nua. Ele fez a tatuagem em casa, no ano de 1934 Já nas páginas dos tabloides, manchetes sanguinolentas davam testemunho dos supostos vínculos entre a tatuagem e a criminalidade: "Tatuado no assalto ao armazém"; "Dois tatuados e um bicheiro assassinados a bala e faca"; "Massacre do homem tatuado só poupou um bebê"; "Jovem tatuado agonizava na rua com três rombos de bala na cabeça". Tangenciando ambos os universos, reportagens sobre prostituição documentavam as trajetórias erráticas de mulheres que transgrediam as normas de seu tempo. A alagoana Beatriz Barbosa, por exemplo, pautou dezenas de textos jornalísticos entre 1919 e 1948. Suas andanças pelo Rio de Janeiro, então capital federal, costumavam terminar em delegacias e faziam as delícias do noticiário sensacionalista. Foi presa mais de vinte vezes, sempre por delitos menores: furtos, brigas, bebedeiras, vadiagem, meretrício. Viciada em cocaína, chegou a ser descrita como "recordista de entradas na detenção e campeã de tatuagens". Fervor e pertencimento Nem só de mar, crime e sexo pago viviam os tatuados nos grandes centros urbanos. Militares de baixa patente, trabalhadores braçais, artistas circenses, imigrantes e degredados também ostentavam desenhos no corpo. Muitos soldados se tatuavam com bandeiras nacionais, siglas de batalhões, slogans ufanistas e emblemas patrióticos em geral. Outros, porém, escolhiam símbolos e imagens não vinculadas às questões bélicas. O praça Marcelino Bispo de Mello era um deles: possuía estrelas de cinco pontas tatuadas no peito, cotovelo e braço. Em novembro de 1897, ele assassinou o marechal Carlos Machado de Bittencourt, ministro da Guerra, num atentado contra Prudente de Morais, presidente da República. Os desenhos foram constatados no exame de corpo de delito e citados pela imprensa em janeiro do ano seguinte, após Marcelino cometer suicídio na cadeia, enforcando-se com um lençol. José, um estivador português, tatuou no braço a frase 'Tudo por São Paulo', lema da Revolução Constitucionalista de 1932, mas errou a data do levante, que teve início no dia 9 de julho daquele ano Não foi o único momento de turbulência a contar com a participação de tatuados: os levantes tenentistas da década de 1920, bem como as revoluções de 1930 e 1932, estimularam diversos trabalhadores a expressarem na pele suas convicções políticas. Outros perderam a vida, tendo seus corpos reconhecidos a partir das tatuagens que carregavam. O marceneiro Manoel Moreira da Costa, vulgo Costeleta, foi preso, torturado e morto em outubro de 1931, ao se manifestar contra o governo que Getúlio Vargas instituira no ano anterior. Seu cadáver degolado, disposto numa linha de trem em Recife, foi identificado pela mãe e pela namorada graças a uma inscrição contendo o nome de uma terceira mulher — Adélia. Também movido pelo repúdio ao getulismo, o estivador José tatuaria no braço a frase "Tudo por São Paulo", lema do movimento constitucionalista de 1932. Na outra ponta, alheios ao caos social e imersos em exotismo escapista, profissionais de freak shows empreendiam turnês internacionais que incluíam os circos, cinemas e teatros das cidades brasileiras. Em 1890, o greco-albanês George Costentenus, um dos mais célebres artistas itinerantes do século 19, chegou a participar de espetáculos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Às plateias, exibia seu corpo inteiramente tatuado e narrava as aventuras mirabolantes que teria vivido ao redor do globo. Trajetórias tão diversas, relata Jeha, transformaram radicalmente o seu olhar sobre o tema, culminando num processo de autoconhecimento. "Eu fiquei muito fascinada. Enquanto historiadora, sempre estive acostumada a estudar o outro", diz. "E, de repente, descobri que meus antepassados se tatuavam." Retrato do greco-albanês George Costentenus, artista circense que rodou o mundo exibindo seu corpo tatuado A pesquisadora, descendente de libaneses, soube que o avô de um primo possuía uma cruz tatuada na mão. O desenho cumpria um objetivo específico, confirmado por fotografias e depoimentos de patrícios: impossibilitar a negação da fé cristã em eventuais embates contra muçulmanos. "Há algo de emotivo, um sentimento incrível de saber que essa cultura também pertence a mim", diz. "Depois, fui percebendo que ela pertence a todo mundo que vive aqui. Portugueses, italianos, japoneses, alemães, indígenas, africanos." Se existe algum vínculo a unir todas essas pessoas, afirma Jeha, trata-se do terreno por onde elas se movem — uma tênue e ambígua fronteira entre as dimensões do erótico e do sagrado. "Embora se mostre tão escancarada atualmente, a tatuagem sempre foi algo muito íntimo. As mulheres tatuavam muito os seios, alguns homens chegavam ao extremo de tatuar o pênis", explica. "É uma prática relacionada ao fervor e às paixões. O nome da pessoa que você ama, os símbolos da sua religião, o time para o qual você torce." Um sinal de suspeição Para além dos registros policiais e jornalísticos, o universo literário forneceu pistas igualmente valiosas à historiadora. Nos escritos de Jorge Amado, Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Plínio Marcos e João do Rio, ou até mesmo do americano Herman Melville, Silvana Jeha encontrou dezenas de referências aos tatuados brasileiros. Adib, imigrante sírio-libanês, teve a mão tatuada com uma pequena cruz quando criança. Imigrantes de diversas nacionalidades contribuíram para o desenvolvimento da tatuagem brasileira "A literatura é o retrato de uma época", diz. "Acredito que os escritores possuem uma sensibilidade maior. Boa parte deles via a tatuagem com muita curiosidade, como uma cultura dotada de beleza própria. Eram muito mais atentos às nuances, se comparados aos demais narradores." Machado de Assis, o mais antigo escritor brasileiro a ser analisado pela pesquisadora, já descrevia tatuagens na novela O Alienista, de 1882. Em certo trecho da obra, protagonizada por um médico que inaugura um manicômio e se afunda na própria insanidade, o romancista carioca menciona brevemente uma estrela de cinco pontas "impressa no braço" de um personagem secundário. Treze anos depois, Manuel de Souza, imigrante português preso sob acusação de homicídio, seria retirado da delegacia onde cumpria pena e utilizado como modelo vivo numa aula da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Na ocasião, o professor Souza Lima, precursor da medicina legal no Brasil, expôs aos alunos as tatuagens do acusado. Baseando-se nelas, emitiu seu veredicto: ainda que não tivesse cometido crime algum, Manuel deveria ser tratado como um suspeito em potencial. Lauro, detento do Carandiru, tatuou no peito um coração trespassado por um punhal e o nome de sua amada Machado de Assis, então, retornou ao tema. Em crônica publicada pela Gazeta de Notícias no dia 23 de julho de 1895, disse: "Foram as tatuagens do corpo do homem que me deslumbraram. As tatuagens são todas ou quase todas amorosas. Braços e peitos estão marcados de nomes de mulheres e de símbolos de amor". Por fim, o escritor lançava um questionamento: como poderia "um homem tão dado a amores, que os escrevia em si mesmo", ser também um assassino? Jeha explica: "Nosso país sempre esbarrou em questões de classe e raça. Os cidadãos são discriminados pela cor, pela aparência, pela posição social. E a tatuagem, no contexto daquela época, se destacava como um sinal de suspeição. Era algo literalmente marcado na pele." A sorte que o Brasil do século 20 reservou aos seus tatuados não foi muito melhor. Na década de 1930, um trabalhador rural baiano, identificado apenas pelas iniciais J.R.B., tentaria a todo custo remover os desenhos que carregava na pele. Alegava que teriam lhe trazido "pinta de malandro". O sambista carioca Guilherme de Brito, parceiro de Nélson Cavaquinho, também se arrependeria de uma tatuagem feita na juventude — um índio, traçado no braço por um morador da favela do Tuiuti. Pelo resto da vida, o músico esconderia o membro tatuado — temendo represálias, nunca mais vestiu uma camisa de manga curta. Feminicídios e execuções policiais foram o destino final de alguns tatuados, mas o livro nem sempre expõe as circunstâncias de suas mortes. "Tentei descriminalizar a tatuagem", explica a autora. "Se o cara pertencia a uma escola de samba e torcia para um time de futebol, por que me referir a ele como o sujeito assassinado pelo Esquadrão da Morte? Os jornais costumam criar admiração e fascínio mórbido por notícias de crime, quando isso não passa de uma doença social." Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Os deputados federais Alessandro Molon (Rede-RJ) e João Henrique Caldas (PSB-AL) protocolaram pedidos de impeachment baseados na suposta gravação em que o presidente Michel Temer teria apoiado o pagamento de uma mesada a Eduardo Cunha para que ele se mantivesse "em silêncio" sobre casos de corrupção envolvendo o governo. No Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também protocolou um pedido na manhã desta quinta-feira.
Plenário da Câmara, nesta quarta-feira Molon foi o primeiro a protocolar o pedido de impeachment e justifica: "Isso fere direta e claramente a lei dos Crimes de Responsabilidade, que diz que ter comportamento incompatível com decoro do cargo é causa para cassação do mandato". O pedido se baseia no artigo nono da Lei 1079, que trata sobre crimes contra a probidade da administração. Enquanto isto, Caldas, conhecido como JHC, protocolou o pedido na Secretária Geral da Mesa da Câmara dos Deputados, com a mesma alegação. Segundo O Globo, Caldas comentou que Temer não tem "condições mínimas para liderar o país rumo à saída da maior crise econômica de sua história". Já para o Randolfe Rodrigues, o "o governo de Michel Temer acabou nesta quarta-feira às 19 horas e 20 minutos com a delação da JBS". "Não existe mais condição nenhuma de continuar. O país está sem governo e o país não pode ficar sem comando. O que resta de bom senso a Michel Temer imporia que ele renunciasse nesse momento." Ainda de acordo com o jornal carioca, Temer teria sido gravado por executivos da JBS, que negociam acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República. Em nota enviada à imprensa, o Palácio do Planalto disse que o presidente Michel Temer "jamais solicitou pagamento para obter o silêncio" de Cunha (leia texto integral ao fim desta reportagem). O Supremo Tribunal Federal não confirma se as delações da JBS foram homologadas. As portas do gabinete do ministro Edson Fachin, responsável pelos processos da operação Lava Jato, segundo jornalistas, foram fechadas. "O pedido de impeachment de Michel Temer tem base nesta denúncia, nesta delação, que trata do pedido de manutenção do pagamento de propina a Eduardo Cunha para que ele mantenha o seu silencio", afirmou Molon. "É o primeiro pedido de impeachment de Michel Temer com fundamentação nesses fatos, que devem levar a sua cassação o quanto antes", completou Molon. Os pedidos de impeachment ainda precisam ser analisados pelo presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (PMDB-RJ), aliado político de Temer. Até a publicação desta reportagem, o Palácio do Planalto não havia comentado as denúncias. Segundo o jornal O Globo, Temer teria indicado o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver "um assunto da J&F", holding que controla a JBS. Loures teria sido gravado em outro momento recebendo R$ 500 mil do empresário Joesley Batista, da JBS. Ao ouvir de Joesley sobre o pagamento de uma mesada a Cunha na prisão, Temer teria dito: "Tem que manter isso, viu?". Leia nota do Palácio do Planalto na íntegra "O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar. O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República. O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados."
"A mulher moderna ─ dita independente, que nem de pai para seus filhos precisa mais, a não ser dos espermatozoides ─ assim só o é porque se frustrou como mulher. Tanto isto é verdade ─ respeitosamente ─ que aquela que encontrar o homem de sua vida, aquele que a satisfaça como ser e principalmente como ser sensual, tenderá a abrir mão de tudo (ou de muito), no sentido dessa 'igualdade' que hipocritamente se está a lhe conferir. A mulher quer ser amada. Só isso. Nada mais".
Aprovação da lei do feminicídio foi comemorada por bancada feminina Esse é um dos trechos de uma decisão de 2007 do juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues, de Sete Lagoas (MG), em que o magistrado qualifica a Lei Maria da Penha de "herética" e "anti-ética". A lei foi criada em 2006 com objetivo de reduzir a violência doméstica contra a mulher. Além de estabelecer punições, prevê também políticas públicas de prevenção e de melhoria do atendimento e da proteção das vítimas. Por essa decisão, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou em 2009 o afastamento de Rodrigues de sua função por dois anos. O juiz recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) e logo em seguida teve sua punição suspensa pelo ministro Marco Aurélio de Melo, que entendeu que deveria ser respeitada a liberdade de expressão de Rodrigues. Fim do Talvez também te interesse O caso ilustra um dos empecilhos apontados pelo movimento feminista para a eficácia de leis que protegem as mulheres: a cultura machista no Judiciário. Na semana passada, o Congresso aprovou o estabelecimento de penas mais altas para o assassinato de mulheres "por razões da condição de sexo feminino" – o chamado "feminicídio". A nova lei deve ser sancionada pela presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira. Ela inclui o feminicídio no Código Penal como homicídio qualificado, cuja pena pode variar de 12 a 30 anos – uma punição mais severa, portanto, do que a prevista para homicídio simples (de 6 a 20 anos). A inclusão desse novo crime no Código Penal foi amplamente comemorada por movimentos feministas, mas muitos acreditam que haverá dificuldades no cumprimento da lei. Segundo Ipea, lei Maria da Penha teria reduzido em 10% homicídios domésticos de mulheres Com uma redação curta e ampla, teme-se que sua aplicação dependa muito do entendimento subjetivo de cada magistrado. O texto aprovado diz apenas que "considera-se que há razões de condição de sexo feminino" quando o crime envolve "violência doméstica e familiar" e "menosprezo ou discriminação à condição de mulher". Além disso, a lei prevê que a pena pode ser elevada em até 50% se o crime for praticado enquanto a mulher estiver grávida; caso ela seja menor de 14 anos, maior de 60 anos ou deficiente; ou se o assassinato for cometido em frente aos filhos ou pais da vítima. Leia mais: Após suicídio de filho, britânica quer 'violência doméstica' em escolas Resistência O juiz Rumbelsperger Rodrigues falou à BBC sobre a polêmica em torno da sua decisão. Ele diz que, inicialmente, considerou a Lei Maria da Penha inconstitucional por dar tratamento diferenciado a mulheres ao classificar como violência doméstica atos de humilhação, manipulação, insulto, vigilância constante, chantagem, ridicularização, entre outros. Na sua opinião, esse tipo de violência atinge tanto homens como mulheres. "O homem xinga, a mulher xinga, o homem persegue por ciúmes, a mulher persegue por ciúmes", afirma. Ele reconhece que não aplicou as novas regras nos primeiros meses de vigência da lei, o que levou o Ministério Público a recorrer de suas decisões. Em vez da Lei Maria da Penha, o juiz diz que aplicava o Código Penal comum "para proteger as mulheres". Seis meses depois de sua manifestação polêmica, Rodrigues conta que evoluiu seu entendimento e passou a aplicar a nova legislação em casos de violência física, sexual e ameaças, que, segundo ele, correspondem a 90% dos processos envolvendo violência doméstica que passam por sua vara. Apesar da mudança, o magistrado diz que não se arrepende do que escreveu na decisão que levou a sua punição pelo CNJ e mantém a opinião de que a Lei Maria da Penha é "exagerada". "A mulher sofre desde que existe. Isso gera uma indignação, compreensível, mas que causa uma reação além da necessária. Quem nunca comeu chocolate quando come se lambuza", diz. Rodrigues considera que a criação de penas mais duras para o feminícido está correta e diz que aplicará a nova lei. Afirma, porém, ser a favor também de "punição exemplar" para mulheres que "se automutilam ou provocam seus maridos" para conseguir enquadrá-los na Lei Maria da Penha. Estatísticas Um estudo do Ipea divulgado na semana passada estimou que a Lei Maria da Penha teria reduzido em cerca de 10% os homicídios domésticos de mulheres, evitando milhares de mortes. Eduardo Cunha se nega a analisar a legalização do aborto, demanda histórica do movimento feminista De acordo com o Mapa da Violência, em uma comparação com 84 países feita com dados da Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o sétimo país com maior taxa de homicídio de mulheres: 4,4 assassinatos a cada 100 mil. A representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, considera que a "cultura do machismo" também pode atrapalhar a aplicação da nova lei do feminicídio. Segundo ela, o Brasil é o 16º país da América Latina a aprovar essa legislação e será o primeiro a receber um projeto piloto de qualificação de agentes do sistema judiciário, que investigam e julgam mortes violentas de mulheres por razões de gênero. Ainda não há previsão para seu início. No momento, um grupo de trabalho atua em conjunto com o Ministério da Justiça e a Secretaria de Políticas para Mulheres na sua implementação. "A lei do feminicídio é muito importante. Ela obriga os investigadores a buscarem esses sinais de ódio contra as mulheres (na execução do crime). Mas é uma investigação difícil, pois não há perspectiva de gênero dentro da polícia, do Ministério Público", ressalta Gasman. A coordenadora do Movimento Permanente de Combate à Violência Doméstica e Familiar do CNJ, Ana Maria Duarte Brito, reconhece que a descrição do crime do feminicídio na nova lei ficou "aberta". Ela diz, porém, que é comum que isso aconteça na formulação de legislação. "Com o tempo, as próprias decisões dos juízes (jurisprudência) vão estabelecendo os parâmetros de aplicação da lei", afirma. "É mais fácil aperfeiçoar a lei depois que ela já existe. Ela pode ser melhorada com a revisão do Código Penal (que está em análise no Congresso, sem previsão de conclusão)." Congresso conservador Parte do movimento feminista tem criticas a própria criação do crime de feminicídio porque considera que o Código Penal não é capaz de mudar mentalidades. "A tipificação de crimes e o aumento de penas não são a solução. O que precisamos é de uma mudança comportamental. O sistema penal individualiza os casos e o machismo no Brasil é de natureza estrutural", afirma Gabriela Ferraz, advogada-coordenadora na ONG Instituto Terra, Trabalho e Cidadania. Ela observa que a lei proposta pelo movimento feminista foi alterada no Congresso por iniciativa da bancada de parlamentares evangélicos, que substituiu a expressão "gênero" da proposta inicial por "sexo feminino", com objetivo de afastar a possibilidade de que transexuais fossem abarcados pela lei. A bancada feminina aceitou a mudança para viabilizar a aprovação do texto. Para Ferraz, esse movimento indica que demandas mais progressistas do movimento feminista não terão espaço na atual legislatura. A percepção é reforçada pelas palavras do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que rechaçou a possibilidade do Congresso analisar uma demanda histórica do movimento: a legalização do aborto "Aborto só vai à votação se passar pelo meu cadáver”, disse Cunha, no mês passado. Leia mais: Anistia: Pressão político-religiosa sobre gays e aborto no Brasil preocupa
O Vaticano disse nesta segunda-feira que espera que o papa João Paulo 2º possa retomar suas atividades a tempo de celebrar as missas que marcam a Semana Santa, no final de março.
Havia dúvidas sobre o retorno do papa para as celebrações da Semana Santa após a operação de emergência na garganta à qual ele foi submetido no mês passado. Desde a operação, o papa está internado em um hospital de Roma e ainda não há uma data prevista para ele receber alta. No domingo, o papa, de 84 anos, apareceu brevemente na janela de seu quarto de hospital para acenar para as pessoas que se aglomeravam em frente ao hospital. Saúde estável De acordo com o porta-voz do Vaticano, Joaquin Navarro-Valls, a saúde do papa segue estável desde a traqueotomia que ele realizou em 24 de fevereiro. Mas o porta-voz disse que os médicos pediram a João Paulo 2º que ele fale com moderação para não comprometer a sua recuperação. O papa, que sofre de mal de Parkinson, já havia sido internado no mesmo hospital em Roma no início de fevereiro.
O cerco financeiro contra o governo da Venezuela está se fechando e isso pode trazer graves consequências para a economia do país e para a crise política.
Após sanções americanas, governo Maduro terá que escolher entre pagar a dívida externa e garantir abastecimento de alimentos e medicamentos Na sexta-feira, o presidente americano Donald Trump impôs novas sanções ao que chama de "ditadura" na Venezuela com a intenção de "reestabelecer a democracia" no país sul-americano. "A nova medida do presidente proíbe realizar transações com títulos da dívida venezuelana e comprar bônus de sua empresa estatal petroleira (PDVSA)", diz o comunicado da Casa Branca. Isso é um golpe nas finanças de um país que arrecada, com a exportação de petróleo, US$ 96 de cada US$ 100 em divisas e que, por causa da necessidade de importar alimentos, medicamentos e bens de primeira necesssidade, depende muito do desempenho do petróleo no exterior. O presidente venezuelano Nicolás Maduro disse que uma primeira análise mostra que as sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos causarão uma interrupção da exportação de petróleo ao país. Fim do Talvez também te interesse Esta situação se aprofundou nos últimos anos. A queda dos preços do barril nos mercados internacionais e da produtividade do setor petroleiro interno são algumas das razões que explicam a gravde crise econômica de um país que, apesar de ter as maiores reservas de combustível do mundo, sofre com uma alta inflação e com a escassez de produtos básicos, já que o Estado tem menos recursos para importá-los. No último mês de janeiro, Maduro admitiu que as importações do país caíram mais de 50% em relação a 2015. A dependência externa aumenta porque a Venezuela tem muitos termos de confissão de dívida assinados por outros países, aos quais recorre para obter financiamento. 'Política pouco civilizada' Ao receber a notícia sobre a nova rodada de sanções, Maduro fez um pronunciamento em rede nacional para denunciar o que chamou de "ato ilegal de agressão". "A Venezuela nunca se renderá a nenhum poder imperial", afirmou. Horas antes, o ministro de Relações Exteriores da Venezuela Jorge Arreaza disse que os EUA estavam tentando promover uma crise humanitária. Arreaza também diz que seu país era vítima de "notícias falsas" que exageravam suas dificuldades econômicas. A inflação e a depreciação do bolívar, a moeda local, são dois dos gravez prolemas da economia venezuelana Os EUA acusam o governo Maduro de violações de direitos humanos e subversão da democracia. O ministro disse ainda que as sanções e "ameaças" dos EUA são "política pouco civilizada" e que Maduro não irá à Assembleia Geral da ONU em Nova York em setembro. Impacto No início do mês, o governo dos EUA já havia imposto sanções financeiras ao presidente Maduro e a alguns funcionários do governo que tinham contas e bens no país. Segundo o comunicado da Casa Branca, a nova ordem executiva de Trump também "proíbe as transações com certos bônus existentes que pertencem ao setor público venezuelano, assim como os pagamentos de dividendos ao governo da Venezuela". Por isso, as sanções terão um grande impacto na economia do país. Segundo o presidente Maduro, elas "afetam gravemente e ferem a economia em plena fase de recuperação". Mesmo assim, ele disse que não faltará nada para a população. Por causa do desabastecimento e dos preços regulados, os venezuelanos se acostumaram a esperar horas em filas para comprar produtos de primeira necessidade "A maior parte do sistema financeiro mundial tem atividades nos Estados Unidos. Por isso o Estado venezuelano vai ter muita dificuldade em conseguir novos financiamentos ou vender novos ativos", disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC Mundo, o economista venezuelano Alejandro Grisanti, especialista em dívida. Grisanti explica que as sanções também colocam o governo Maduro diante de uma escolha difícil: "Pagar a dívida externa ou importar mais alimentos e medicamentos". A própria esquerda venezuelana questionou a ideia de que um governo socialista privilegie o pagamento dos compromissos financeiros em vez de satisfazer demandas que poderiam acalmar a hostilidade da população em relação ao Executivo. Esse clima foi aproveitado nos últimos meses pela oposição, que não só culpa Maduro pela crise econômica, mas também o acusa de ser uma ditadura. Protestos recentes contra o governo deixaram mais de 120 mortos. Dívida externa Maduro se gaba de que a Venezuela paga sua dívida pontualmente. "Somos o país que mais pagou sua dívida externa per capita", disse recentemente, ao contabilizar US$ 65 milhões de pagamentos nos dois últimos anos. "Pagamos até o último centavo de dólar", afirmou novamente na sexta-feira. O presidente atribui a uma "guerra econômica" o fato de que, apesar dos pagamentos, a dívida venezuelana continua sendo vista como de alto risco, o que contribui para a situação econômica geral do país. Esse risco faz com que os bônus venezuelanos sejam muito valorizados pelos investidores porque dão uma alta rentabilidade. "A má gestão econômica de Maduro e a dilapidação dos ativos do país fizeram com que a Venezuela fique, inclusive, mais próxima da suspensão dos pagamentos", disse a Casa Branca na sexta-feira. Oposição venezuelana acusa governo de vender os ativos do país a preços muito baixos para conseguir manter o fluxo de caixa Um default, ou suspensão de pagamentos, seria fatal para um país que exporta petróleo para todo o mundo. Para evitar isso, a Casa Branca afirmou que os funcionários venezuelanos "estão apelando para mecanismos de financiamento muito pouco transparentes e vendendo os ativos do país a preços de liquidação". Esses "preços de liquidação" são os que provocaram a fúria da oposição no mês de maio, quando o banco Goldman Sachs comprou US$ 2,8 bilhões em bônus da petroleira estatal PDVSA do Banco Central da Venezuela. O banco investidor americano pagou apenas US$ 865 milhões por uma dívida que vence em 2022. A oposição afirma que o governo está vendendo mal os ativos do país para conseguir fluxo de caixa e diz que, se chegar ao poder, não reconhecerá uma dívida que não foi aprovada pelo Parlamento, de maioria opositora. Há três semanas, no entanto, a nova Assembleia Constituinte, controlada pelo governo e não reconhecida por um grande número de países, tem poderes absolutos, inclusive de aprovar um novo financiamento. Para proteger sua imagem, o Goldman Sachs teve que responder à polêmica. Este mês, o Credit Suisse, outro grande banco investidor, anunciou que estava proibindo a compra e a venda de certos bônus venezuelanos por causa do risco de que este dinheiro ajude a financiar violações de direitos humanos, como argumenta a oposição. Soluções Mas o que o governo Maduro pode fazer em relação a essa situação? "Preparei um conjunto de decisões e medidas para nos defender do bloqueio comercial, de petróleo e financeiro que Donald Trump vai decretar contra a Venezuela. Estamos preparados", disse Maduro na última semana, usando o termo "bloqueio", que Cuba também usou para se referir durante décadas ao embargo econômico e comercial dos EUA à ilha. Entre as consequências das sanções pode estar a impossibilidade de a PDVSA repatriar os lucros de sua filial nos Estados Unidos, a Citgo. "Trump praticamente decretou o financiamento da Citgo", disse o presidente venezuelano. Até o momento, Maduro não deu detalhes sobre as medidas que usará para proteger o país. Nas três semanas desde seu estabelecimento, a Assembleia Constituinte também não tomou nenhuma decisão econômica. A ajuda da China pode ser um fator chave para que a Venezuela consiga amortizar o impacto das sanções americanas A solução passaria por recorrer aos poucos grandes sócios que a Venezuela ainda tem: China e Rússia. "A Venezuela não está sozinha", disse o presidente, sem mencionar seus aliados tradicionais. Na última quinta-feira, o portal de notícias venezuelano El Estímulo disse que o governo venezuelano propôs ao governo chinês "a criação de um fundo binacional que se encarregue de comprar bônus da dívida com desconto". "A Venezuela pagaria a China com bônus de maior duração e com vencimento mais longo. É uma maneira de diferenciar os pagamentos", disse Grisanti, afirmando ainda que o país já fez a proposta outras vezes, mas que o gigante asiático hesita em aumentar seu risco na Venezuela. A Rússia, por sua vez, é um país com capacidade financeira muito menor do que a da China. O diretor da petroleira russa Rosneft, Igor Sechin (à esq.), tem uma relação próxima com Maduro, mas empresa anunciou que não adiantará mais dinheiro à Venezuela No início de agosto, a petroleira russa Rosneft, grande aliada da PDVSA, disse que havia adiantado um pagamento de US$ 6 bilhões a sua sócia, mas que não tinha a intenção de fazer mais adiantamentos de dinheiro. Apesar de admitir que o país sentirá as sanções financeiras, Maduro diz que tentará evitar seu impacto na população. Com menos acesso a dólares, o Executivo venezuelano deverá escolher com muito mais cuidado no que investi-los. Se não pagar a dívida, se aproximará o fantasma do default. Mas se aumentar o desabastecimento de produtos básicos, aumenta também a tensão social.
A morte do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega trouxe à tona suas ligações com a família do presidente Jair Bolsonaro e com a milícia do Rio de Janeiro.
Adriano da Nóbrega recebeu homenagens da família do presidente mesmo quando estava preso O ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi morto em operação policial na cidade de Esplanada, na Bahia. Conhecido como Capitão Adriano, Nóbrega estava foragido pelo menos desde o início de 2019, quando o Ministério Público do Rio pediu sua prisão acusando-o de chefiar uma milícia e um grupo de extermínio ligado a ela que atua na zona oeste da capital fluminense. Nóbrega foi expulso da corporação em 2014 por relações com o jogo do bicho. Nos últimos 20 anos, a trajetória de Nóbrega se cruzou com a de Flávio Bolsonaro algumas vezes. O filho de Jair Bolsonaro já fez homenagens ao ex-policial militar e empregou em seu gabinete a mãe e a mulher dele, esta por mais de uma década. Fim do Talvez também te interesse Essas ligações vieram a público no curso de investigações sobre um suposto esquema de "rachadinha" — prática ilegal em que funcionários repassam parte dos salários aos legisladores — no gabinete de Flávio Bolsonaro. Nóbrega era suspeito de se beneficiar financeiramente do esquema de repasses ilegais. Quando foi morto, em Esplanada, Nóbrega estava escondido no sítio do vereador baiano Gilsinho de Dedé, filiado ao PSL, partido pelo qual o presidente Bolsonaro foi eleito. Aos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, o vereador disse que não conhecia Nóbrega, que a propriedade estava vazia e que não sabe por que o foragido estava lá. A operação em que foi morto tem sido objeto de uma guerra de versões. De um lado, estão o advogado de Nóbrega, a família Bolsonaro e seu advogado, afirmando que o ex-capitão foi executado e colocando dúvidas sobre a investigação do caso; do outro, o governo da Bahia, que diz que Nóbrega foi morto em uma troca de tiros. Por suas relações com a milícia do Rio, o nome de Nóbrega é com frequência associado à investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, em 2018. A investigação tem milicianos no centro das suspeitas. No entanto, não emergiram sinais de que ele tenha participado das execuções, e as autoridades não o denunciaram por isso. Dois homens foram presos um ano após o crime, por supostamente terem executado os assassinatos; até o momento, nenhum mandante foi apontado. Afinal, quem era Adriano da Nóbrega e qual era sua relação com a família Bolsonaro e a milícia do Rio de Janeiro? Líder de milícia, segundo o Ministério Público Milícias são grupos armados irregulares formados muitas vezes por integrantes e ex-integrantes de forças de segurança do Estado, como policiais, bombeiros e agentes penitenciários. Os milicianos assumem por meio da força o controle territorial de áreas ou mesmo bairros inteiros, e coagem moradores e comerciantes. Segundo denúncia do Ministério Público do Rio, Nóbrega era líder de uma milícia que atua na zona oeste da capital, junto com outros dois membros da polícia, Major Ronald e o tenente reformado da PMERJ, Maurício Silva da Costa. Em janeiro de 2019, o MP deflagrou uma operação, batizada de Os Intocáveis, contra o grupo. Nóbrega era acusado de chefiar a milícia e o grupo de assassinos profissionais vinculado a ela, conhecido como Escritório do Crime, que executava assassinatos encomendados especialmente por contraventores ligados ao jogo do bicho. Segundo o MP, Nóbrega foi excluído dos quadros da Polícia Militar do Rio porque era segurança particular de um contraventor conhecido como "Zé Personal". De acordo com a denúncia feita pelo Ministério Público, pelo menos desde 2015, um grupo de 13 homens, liderados pelo ex-capitão e outros, associaram-se para lucrar ilegalmente com o mercado imobiliário e outros negócios, como cobranças de taxas. A denúncia diz que o grupo tem envolvimento com grilagem (apoderar-se de terras alheias apresentando documentos falsos), construção, venda e locação ilegais de imóveis e uso de "gatos" (ligações clandestinas de água e energia) para o abastecimento dos empreendimentos imobiliários. Cita também outros crimes, estes não relacionados ao mercado imobiliário, como receptação de carga roubada, posse e porte ilegal de arma de fogo, extorsão de moradores e comerciantes, ocultação de bens, pagamento de propina a agentes públicos, agiotagem e homicídio. O grupo mantém o controle por meio de ameaças e uso da força. O Ministério Público interceptou conversas telefônicas com autorização judicial. Elas mostram, de acordo com o MP, que membros da suposta quadrilha chamavam Nóbrega de "patrãozão". Para o MP, elas também mostram o envolvimento de Nóbrega com o ramo imobiliário. Na denúncia, que reproduz algumas conversas gravadas, um denunciado diz, em dado momento: "Eu tenho oito apartamentos naquele prédio, o resto é tudo do Adriano e do Maurício". O advogado de Nóbrega diz que ele afirmava ser inocente. "O processo não tem testemunha que diga que ele participou, não tem interceptação telefônica dele, a denúncia do MP, e falo isso com respeito, é amparada em ilações que não se comprovaram na instrução processual", diz o advogado. A região onde Nóbrega supostamente atuava foi uma das primeiras áreas do Rio a ser controlada por milícias O MP diz que esse grupo de milicianos controla principalmente os bairros vizinhos de Rio das Pedras e Muzema. Segundo o MP, um homem atuava como chefe dos negócios na Muzema, acompanhando-os e fazendo cobranças. O MP acusa o grupo de ameaçar moradores que atrasam o pagamento de taxas e aluguéis. A peça do MP diz também que o grupo sabia de antemão quando haveria operações de fiscalização de órgãos públicos, por intermédio de informantes. A associação de moradores da região era utilizada como base das operações, diz o MP. Era lá que o grupo realizava as transações de compra e venda dos imóveis construídos ilegalmente e manipulava documentos. O MP cita denúncias anônimas afirmando que os responsáveis pela associação vendiam espaços públicos em calçadas e praças, acobertavam foragidos da Justiça e ajudavam na cobrança de taxas. Relação com família Bolsonaro Nóbrega foi homenageado na Assembleia Legislativo do Rio (Alerj) em 2003 e 2004 por indicação do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho do hoje presidente Jair Bolsonaro. A família Bolsonaro tem um extenso histórico de homenagens a policiais e outros agentes de segurança em moções e condecorações concedidas pelo poder público. Dois dos que já foram homenageados pela família foram alvos da operação do Ministério Público do Rio que pediu a prisão de Nóbrega: ele próprio, que estava foragido desde então, e Ronald Paulo Alves Pereira, preso na ação. Em outubro de 2003, o filho do presidente propôs, "com orgulho e satisfação", uma moção de louvor a Nóbrega, que ao longo de vários anos de atividade policial desempenhou sua função com "excepcional comportamento", "dedicação, brilhantismo e galhardia". "Imbuído de espírito comunitário, o que sempre pautou sua vida profissional, atua no cumprimento do seu dever de policial militar no atendimento ao cidadão", afirma o texto da moção. A redação é a mesma usada em outra dezena de homenagens feitas por Flávio a policiais na Alerj. Dois anos depois, Nóbrega estava preso sob acusação de homicídio de um guardador de carros que havia denunciado policiais e recebeu uma nova homenagem de Flávio na Casa, desta vez com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa. Naquele ano, 2005, Nóbrega foi condenado pelo Tribunal do Júri, mas no ano seguinte conseguiu um novo julgamento e foi absolvido. Ex-oficial do Batalhão de Operações Especiais (Bope), ele sempre negou todas as acusações. Até novembro de 2018, o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, empregou em seu gabinete a mãe e a mulher do ex-capitão da PM Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o filho do presidente disse ter homenageado Nóbrega naquele ano porque acreditava que o policial era injustiçado ao ser acusado "de ter matado um trabalhador que, na verdade, era um traficante". "Resolvi abraçar aquela causa. Até homenageei ele depois como forma de mostrar que acreditava na palavra dele. Ele, agora, está sendo acusado de um monte de coisa. Se ele estiver errado, que a lei pese sobre ele. Como exigir de mim saber de algo que 15 anos depois veio à tona?", respondeu. Também em 2005, o então deputado federal Jair Bolsonaro saiu em defesa pública de Nóbrega. Em discurso na Câmara dos Deputados, ele disse ter presenciado integralmente pela primeira vez um Tribunal do Júri, onde "estava sendo julgado um tenente da Polícia Militar de nome Adriano". Segundo Bolsonaro, naquela ocasião, oficiais da PM estiveram ao lado da Promotoria o "acusando de tudo que foi possível, inclusive se esquecendo do fato de que ele sempre foi um brilhante oficial e foi, se eu não me engano, o primeiro na Academia da Polícia Militar". Bolsonaro demonstra irritação ao relatar que um outro PM, acusado de ter atirado contra a vítima, foi inocentado, mas Nóbrega, que liderava a ação, acabou condenado. "A quem interessa a condenação pura e simples de militares da polícia do Rio de Janeiro, sendo culpados ou não?", questiona o parlamentar. Em seguida, ele passa a acusar a família Garotinho, que comandava o Estado naquela época, de ceder à pressão de organizações internacionais pela punição de policiais violentos e de perseguir autoridades da PM que tentem defender esses agentes em processos judiciais. Parentes trabalhando para Flávio Até novembro de 2018, o agora senador Flávio Bolsonaro empregou em seu gabinete na Alerj a mãe e a mulher do ex-capitão da PM. Essas ligações vieram a público durante duas investigações: o suposto esquema de "rachadinha" e o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). A mãe de Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, foi assessora de Flávio e é citada no relatório do então Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que identificou movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, outro funcionário do gabinete. Queiroz passou a ser investigado pela Promotoria do RJ em 2018, depois que o Coaf identificou movimentação financeira atípica e incompatível com sua renda. O órgão, que atua na prevenção e combate à lavagem de dinheiro, apontou ao Ministério Público diversas transações suspeitas feitas por ele, incluindo uma centena de saques em dinheiro e um cheque de R$ 24 mil depositados na conta da hoje primeira-dama da República, Michelle Bolsonaro. O presidente disse que o amigo estava pagando de volta um empréstimo. Queiroz e Flávio são suspeitos de organizar o esquema de "rachadinha". Segundo o site G1 e o jornal O Estado de S. Paulo, a Promotoria identificou que Queiroz recebeu R$ 2 milhões por meio de 483 depósitos de dinheiro em espécie feitos por 13 assessores ligados ao gabinete do filho do hoje presidente da República. Segundo Flávio, a mãe de Nóbrega foi indicada e supervisionada por Queiroz, responsável por apresentá-lo a Adriano da Nóbrega em 2003. "Não posso ser responsabilizado por atos que desconheço, só agora revelados com informações desse órgão", afirmou Flávio, em referência ao relatório do Coaf. Para ele, o parentesco entre suas duas ex-assessoras e um acusado de comandar milícia é "mais uma ilação irresponsável daqueles que pretendem me difamar". E completa: "Aqueles que cometem erros devem responder por seus atos". Queiroz, por sua vez, disse sempre ter agido de "forma lícita". Segundo ele, funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro depositavam parte de seus salários em sua conta a fim de ampliar, informalmente e sem o conhecimento do parlamentar, a base de funcionários ligados ao então deputado estadual. Parentesco entre suas duas ex-assessoras e um acusado de comandar milícia é 'mais uma ilação irresponsável', disse Flávio Bolsonaro Ele também negou ter se "beneficiado de qualquer recurso público para si ou terceiro". Segundo sua defesa, a investigação do Ministério Público não conseguiu encontrar nenhuma irregularidade cometida por ele. Desde o fim de 2018, Flávio tem afirmado ser vítima de acusações infundadas e de uma "campanha difamatória com o objetivo de atingir o governo de Jair Bolsonaro". Disse ainda ter defendido e homenageado mais de uma centena de agentes de segurança ao longo de sua trajetória parlamentar. Em entrevista à Folha, o advogado de Flávio não negou que parentes de Nóbrega trabalhassem no gabinete do então deputado, mas disse que "precisamos saber das circunstâncias". Ele diz que "nunca existiu qualquer contato de Flávio ou Jair com Adriano, desde a época das medalhas e da homenagem". O avanço das investigações do Ministério Público sobre o suposto esquema de "rachadinha" no âmbito do gabinete de Flávio Bolsonaro indicou, no entanto, que a relação com Adriano da Nóbrega ia além das nomeações de duas parentes dele. Segundo a Promotoria, Fabrício Queiroz usou empresas controladas por Nóbrega para lavar parte dos recursos repassados por servidores do gabinete de Flávio. Estima-se que a mãe e a então mulher de Adriano, Danielle Mendonça, receberam mais de R$ 1 milhão de salários, e pelo menos quase R$ 200 mil foram repassados direta ou indiretamente para Queiroz. Raimunda, mãe de Adriano, é sócia de um restaurante em Rio Comprido, na zona norte do Rio, em frente a uma agência bancária na qual foram depositados R$ 91.760 em dinheiro vivo para Queiroz, separados em 18 depósitos. Segundo o Ministério Público, um celular de Mendonça apreendido durante as investigações continha troca de mensagens entre ela e Queiroz. Em uma delas, ele envia a ela seu contracheque para que fizesse seu Imposto de Renda, um forte indício, de acordo com investigadores, de que ela não trabalhava naquela função e somente servia de laranja no esquema. Queiroz também alerta Mendonça para ter "cuidado com o que vai falar no celular" e a orienta sobre eventuais depoimentos à Promotoria no âmbito da investigação da suposta "rachadinha". Segundo promotores, Nóbrega indicou em uma troca de mensagens com Mendonça que era beneficiado pelo esquema no gabinete de Flávio Bolsonaro: "Contava com o que vinha do seu tmbm". Ela ficou empregada ali entre setembro de 2007 e novembro de 2018, e acabou exonerada por Queiroz quando as investigações vieram a público. O nome de Nóbrega é com frequência associado à investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco, mas autoridades não o denunciaram por isso Relação com morte de Marielle Franco? É comum o nome de Nóbrega ser citado como suspeito da morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em 2018. Ao saber da morte de Nóbrega, o partido dela, PSOL, divulgou nota dizendo que "a milícia da qual fazia parte era suspeita de envolvimento no assassinato de nossa companheira Marielle Franco e Anderson Gomes". No entanto, ele nunca fui denunciado por ligação com o caso. Em março de 2019, um ano após as mortes, a Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público do Estado anunciaram a prisão de dois acusados. Possíveis mandantes ainda não foram identificados. O policial militar reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, de 46, foram denunciados pelos crimes de homicídio qualificado de Marielle e Anderson e por tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora de Marielle, que sobreviveu ao ataque. Segundo os investigadores, Lessa efetuou os disparos contra Marielle e Anderson, enquanto Élcio Queiroz dirigiu o carro usado durante o ataque. A relação desses dois com o Escritório do Crime, grupo de extermínio do qual Nóbrega é acusado de fazer parte, não é clara, tampouco a relação pessoal dos dois com Nóbrega. Os dois ex-policiais presos sob acusação dos homícidios negam ter cometido os crimes. Guerra de versões sobre sua morte Nóbrega foi morto em operação policial na cidade de Esplanada, na Bahia. Segundo a secretaria de Segurança da Bahia, ele reagiu à chegada dos agentes e foi morto numa troca de tiros. Dias antes de morrer, Nóbrega disse ao seu advogado, Paulo Emílio Catta Preta, que temia ser assassinado por "queima de arquivo", segundo afirmou seu defensor à BBC News Brasil. "Depois de outra operação onde tentaram prendê-lo, o Adriano me ligou e disse que estava convicto de que a operação não tinha a intenção de prendê-lo, mas de matá-lo. Eu disse a ele que voltasse para o Rio, que a acusação contra ele era frágil, mas ele falou, 'doutor, não posso, se for preso, serei morto no dia seguinte'. Ele estava convicto", diz o advogado. Segundo Catta Preta, Nóbrega disse que seria assassinado por "queima de arquivo", mas não explicou qual seria a motivação para isso. "É inaceitável que alguém seja vítima de execução sumária, mesmo que seja um foragido da polícia. As autoridades precisam investigar", diz o advogado. Também foi o que disse o advogado de Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro, Frederick Wassef, em entrevista à Folha de S.Paulo, ainda que ele não tenha tido acesso à investigação. Wassef disse que a morte de Nóbrega foi uma "execução" e acusou o governo da Bahia. Dias após a morte, Flávio Bolsonaro se pronunciou no Twitter. "Perícia da Bahia (governo PT) diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões", escreveu. O senador também postou um vídeo mostrando um cadáver com marcas de violência. A Secretaria de Segurança Pública da Bahia, no entanto, afirmou que o cadáver nas imagens não era Adriano da Nóbrega. O presidente Bolsonaro disse à imprensa que pedirá uma "perícia independente" e que a ele "não interessaria uma queima de arquivo". "Interessa a quem queima de arquivo? A mim? A mim, não. A mim, zero", disse. "Poderia interessar a alguém a queima de arquivo. O que ele teria para falar? Contra mim que não teria nada. Se fosse contra mim, tenho certeza que os cuidados seriam outros para preservá-lo vivo", acrescentou. Uma semana depois de sua morte, a revista Veja publicou fotos do seu corpo, tiradas logo depois da autópsia, que mostram que havia um ferimento na cabeça do ex-capitão, logo abaixo do queixo, queimaduras do lado esquerdo do peito e um corte na testa. A revista submeteu as imagens a um perito, que disse que os tiros que mataram Adriano — dois, um no tórax e um no pescoço — foram disparados a curta distância. A Secretaria de Segurança da Bahia foi procurada para comentar as acusações e as imagens reveladas pela revista, mas não havia respondido perguntas da BBC News Brasil até a publicação deste texto. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Aumentou os casos registrados de sarampo em São Paulo. Esse avanço da doença no Estado, no país e no mundo tem levado a uma série de dúvidas sobre o sarampo em si e a vacina, principal forma de prevenção.
Novo balanço da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo mostra um aumento de 36,4% nos casos Em São Paulo, balanço divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde mostra que houve aumento de 36,4% nos casos registrados. O número cresceu para 1.319 na última semana. A maioria dos casos suspeitos e confirmados, 90,9%, são residentes da grande São Paulo. O último boletim do Ministério da Saúde, de agosto, informa que foram confirmados 1.388 casos de sarampo nos Estados do Rio, São Paulo, Bahia e Paraná. Além disso, outros 66 casos foram confirmados em outros Estados. O surto é mundial. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o número de casos de sarampo no mundo triplicou nos primeiros sete meses de 2019, considerando o mesmo período do ano em 2018. Para saber mais sobre a doença, a BBC News Brasil conversou com Regiane de Paula, diretora do Cento de Vigilância Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, e Eliane Matos dos Santos, médica da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Fim do Talvez também te interesse 1 - Por que o sarampo voltou? A epidemia de sarampo é um fenômeno global. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostram que, em 2017, a doença foi responsável por 110 mil mortes. Este ano, ainda segundo as entidades, casos notificados no mundo triplicaram nos sete primeiros meses em comparação com o mesmo período de 2018. Só nas Américas, entre 1 de janeiro e 18 de junho de 2019, foram 1.722 confirmações em 13 países: Argentina (5 casos), Bahamas (1 caso), Brasil (122 casos), Canadá (65 casos), Chile (4 casos), Colômbia (125 casos), Costa Rica (10 casos), Cuba (1 caso), Estados Unidos da América (1.044 casos), México (2 casos), Peru (2 casos), Uruguai (9 casos) e República Bolivariana da Venezuela (332 casos). O Brasil, diz o Ministério da Saúde, vinha de um histórico de não registrar casos autóctones (adquiridos dentro do país) desde o ano 2000 - entre 2013 e 2015, ocorreram dois surtos, um no Ceará e outro em Pernambuco, a partir de casos importados. Neste ano, casos notificados de sarampo no mundo triplicaram nos primeiros sete meses em comparação com o mesmo período de 2018 Em 2018, no entanto, a doença reapareceu na região Norte, nos Estados do Amazonas, Roraima e Pará, trazida pelos venezuelanos que fugiam da crise. Já os vírus que atingiram São Paulo, este ano, vieram com pessoas que foram infectadas na Noruega, em Malta e em Israel. O problema é que a cobertura vacinal da patologia no país está abaixo do patamar ideal, que é acima de 95%. Pelas informações do Ministério da Saúde, em 2018, este índice, relacionado à vacina tríplice viral em crianças de um ano de idade, foi de 90,80%. Em 2015, chegou a 96,7%. E as razões para isso são várias, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem: medo de ter reação à imunização; desconhecimento de que existe um calendário de vacinação específico para adultos e idosos; falsa sensação de segurança, já que muitas doenças estão controladas; notícias falsas e grupos antivacina. 2 - O que é o sarampo? O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, altamente contagiosa e que pode ser contraída por pessoas de qualquer idade. Sua transmissão se dá de forma direta, de pessoa a pessoa, por meio das secreções expelidas pelo doente ao tossir, espirrar, respirar e falar. 3 - Quais são os sintomas? Os primeiros sintomas são febre alta, acima de 38,5°, com duração de quatro a sete dias, e manchas avermelhadas na pele (exantema maculopapular) - começam no rosto e atrás das orelhas, e depois, se espalham pelo corpo. Geralmente, aparecem entre 10 e 12 dias após o contato com o vírus e podem vir acompanhados de tosse persistente, irritação ocular, coriza e congestão nasal. Primeiros sintomas do sarampo são febre alta, acima de 38,5°, com duração de quatro a sete dias, e manchas avermelhadas na pele Pequenas manchas brancas dentro das bochechas também são comuns de se desenvolver no estágio inicial da doença. 4 - Quais as possíveis complicações? As mais comuns são infecções respiratórias (broncopneumonia e pneumonia, por exemplo), otites, diarreia grave e doenças neurológicas, como encefalite (inflamação do cérebro). Elas são mais frequentes em crianças de até dois anos de idade, sobretudo nas desnutridas, adultos jovens e indivíduos com imunodepressão ou em condições de vulnerabilidade, e podem deixar sequelas, tais como diminuição da capacidade mental, cegueira, surdez e retardo do crescimento. O agravamento da doença ainda pode levar à morte. 5 - Como é o tratamento? Não existe tratamento específico para o sarampo. Para os casos sem complicação, é importante manter uma boa hidratação, suporte nutricional e diminuir a hipertermia. Quando o quadro se agrava e surgem, por exemplo, diarreia, pneumonia e otite média, essas situações devem ser tratadas, normalmente, com o uso de antibioticoterapia. No caso de crianças acometidas pela enfermidade, a Organização Mundial da Saúde recomenda a administração de vitamina A, a fim de reduzir a ocorrência de casos graves e fatais. 6 - Como prevenir a doença? A vacina é a medida de prevenção mais eficaz contra o sarampo. 7 - Quem deve se vacinar contra o sarampo? Todo mundo que nunca tomou a vacina e todos aqueles que não têm certeza se já tomaram. Pelo Calendário Nacional de Vacinação, a tríplice viral, que ainda protege contra caxumba e rubéola, deve ser administrada aos 12 meses de vida, e a tetra viral - acrescenta varicela (catapora) à lista de doenças combatidas - aos 15 meses. Pessoas de 10 a 29 anos que não tomaram a vacina quando crianças precisam receber duas doses da tríplice viral. Na faixa etária de 30 a 49 anos, a dose é única. 8 - Por que os jovens de 15 a 29 anos são o foco das campanhas atuais? Pessoas de todas as faixas etárias precisam ter as duas doses da vacina, porém, os jovens desta faixa etária nasceram em uma época em que a segunda dose não fazia parte do Calendário Nacional de Vacinação, assim, muitos não a tomaram e, por isso, não estão totalmente protegidos. 9 - Quando há surto, é preciso se vacinar novamente? Não. Quem tiver se vacinado contra o sarampo conforme preconizado para sua faixa etária, não precisa receber a vacina novamente. Profissionais de 15 a 29 anos são o foco da campanha contra sarampo deste ano 10 - Para quem a vacina contra o sarampo não é indicada? Pessoas com alergia grave ao ovo, pacientes em tratamento com quimioterapia, gestantes, portadores de imunodeficiências congênitas ou adquiridas, quem faz uso de corticoide em doses altas, transplantados de medula óssea e bebês com menos de seis meses de idade. 11 - Quem já teve a doença precisa se vacinar? Não. Quem já foi infectado com o vírus desenvolveu anticorpos contra ele. Dessa forma, não precisa se vacinar e nem pegará a doença de novo. 12 - Do que a vacina é feita? A vacina é feita de vírus vivo atenuado (enfraquecido) e atua de forma a estimular o sistema imunológico a desenvolver anticorpos para combater os "invasores". Ela é administrada por injeção subcutânea. 13 - Quanto tempo ela demora para fazer efeito? Em torno de duas semanas. Quem vai viajar para locais com incidência da doença e não foi vacinado antes, deve procurar um posto de saúde, pelo menos, 15 dias antes da viagem. 14 - A vacina tem efeitos colaterais? Algumas pessoas podem ter reações, mas, no geral, elas são leves, benignas, de curta duração e autolimitadas. As mais comuns são dor e vermelhidão no local da aplicação e febre. 15 - Onde tomar a vacina? A vacina contra o sarampo está disponível gratuitamente o ano todo nas unidades básicas de saúde. Em São Paulo, por causa do surto atual, a aplicação também tem sido realizada em postos volantes instalados em estações do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), da ViaQuatro e da ViaMobilidade. Há ainda a opção de tomar a vacina em clínicas particulares, só que, nestes locais, ela é paga. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Em três temporadas na Premiership, o time do sul de Londres por enquanto apenas fez número – se não correu risco de cair, também não chegou perto de se classificar para nenhuma competição européia.
Sem grandes reforços para a temporada, é difícil ver como a situação pode mudar. TécnicoAlan Curbishley Goleiros1 - Dean Kiely13 - Paul Rachubka25 - Simon Royce Defesa2 - Radostin Kishishev3 - Chris Powell5 - Richard Rufus6 - Mark Fish12- Hermann Hreidarsson15 - Gary Rowett18 - Paul Konchesky19 - Luke Young23- Michael Turner24 - Jonathan Fortune28 - Osei Sankofa Meio-de-campo4 - Graham Stuart7 - Scott Parker8 - Matt Holland10 - Claus Jensen14 - Chris Bart-Williams21 - Jonatan Johansson22 - Jamal Campbell-Ryce26 - Adrian Deane27 - Mark Debolla29 - Neil McCafferty Ataque9 - Jason Euell11 - Paolo di Canio16- Kevin Lisbie17 - Shaun Bartlett20 - Matthias Svensson35 - Carlton Cole
Após deixar mais de 40 mortos ao passar pelo Caribe, o furacão Sandy ganhou força em sua trajetória rumo à costa leste dos Estados Unidos, onde deve chegar entre segunda-feira e terça-feira.
Embora tenha sido brevemente reduzido para a categoria de tempestade tropical, o Sandy rapidamente retomou intensidade e voltou a ser um forte ciclone. O fenômeno passou a ser chamado de "Frankenstorm" por combinar elementos de ciclones e de tempestades de inverno. Uma série de Estados americanos, entre eles Nova York e Pensilvânia, declararam estado de emergência e pediram que os moradores estoquem água e comida. A Marinha dos EUA fez um alerta para que todas as embarcações baseadas em Norfolk, na Virgínia, naveguem para alto mar para evitar a passagem do ciclone pela costa. Tópicos relacionados
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa nesta terça-feira o mais importante julgamento de sua história. No início da noite A corte começa a decidir se a chapa vitoriosa da eleição presidencial de 2014 - formada por Dilma Rouseff (derrubada por um processo de impeachment) e Michel Temer (eleito vice e hoje presidente do país) - deve ser cassada.
Ministros começam nesta terça-feira o julgamento da chapa Dilma-Temer A BBC Brasil preparou um perfil dos sete ministros titulares do tribunal e dos dois substitutos que possivelmente julgarão a chapa Dilma-Temer. Das sete vagas titulares do TSE, três sempre são ocupadas por ministros do STF, que cumprem mandatos de dois anos renováveis por mais dois. Atualmente, são Gilmar Mendes, que preside o tribunal, Luiz Fux e Rosa Weber. Outras duas são ocupadas por ministros do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em mandatos de dois anos não renováveis. Hoje são Herman Benjamin, relator da ação, e Napoleão Nunes. E as outras duas são ocupadas por juristas vindos da advocacia, no momento Henrique Neves e Luciana Lóssio, em mandatos de dois anos que podem também ser renovados uma vez. Como seus mandatos, já renovados, estão prestes a terminar em 16 de abril e 5 de maio, respectivamente, é possível que o processo venha a ser julgado pelos ministros substitutos Admar Gonzaga e Tarcisio Vieira. A tradição do TSE é que os ministros substitutos sejam promovidos quando os titulares concluem seus mandatos - Gonzaga inclusive já foi nomeado para suceder Neves. As vagas de ministros substitutos têm a mesma distribuição das de titular. As preenchidas por membros do STF e STJ seguem um rodízio por antiguidade dos ministros dessas cortes. Já no caso das preenchidas por advogados, para cada uma das vagas o STF elege uma lista com três indicações e a encaminha para o Presidente da República escolher um. Em geral, o primeiro da lista é nomeado para o TSE. Gilmar Mendes, ministro do STF e presidente do TSE O mato-grossense Gilmar Mendes é o atual presidente do TSE. Foi indicado ao STF em 2002 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, após ter sido advogado-geral da União no governo tucano. Respeitado por seu conhecimento jurídico, desperta críticas por uma suposta atuação política inadequada para um magistrado. Ele reconhece ser amigo de longa data de Temer, mesmo assim não vê constrangimento em julgá-lo. Gilmar Mendes garante que o julgamento do TSE será bem conduzido é "a institucionalidade do próprio tribunal" Em entrevista no início de março à BBC Brasil, disse que o que garante que o julgamento do TSE será bem conduzido é "a institucionalidade do próprio tribunal". Na ocasião, o ministro destacou que foi graças ao seu voto divergente que a ação que será julgada agora não foi arquivada em 2015. Naquele momento, porém, a presidente ainda era Dilma Rousseff, de modo que ela e o PT seriam os principais afetados por eventual cassação da chapa presidencial. Mendes é constantemente acusado de ser anti-PT, o que ele nega. Luiz Fux, ministro do STF e vice-presidente do TSE Luiz Fux foi nomeado ao STF em 2011 pela presidente Dilma Rousseff. Pessoas que acompanharam seu processo de escolha dentro do Ministério da Justiça contam que seu nome já vinha sendo sugerido desde o governo Lula, por diversas forças políticas. A amplitude do apoio a seu nome ficou evidente no largo placar de aprovação da sua indicação no Senado (68 votos favoráveis e apenas 2 contra). Luiz Fux foi nomeado ao STF em 2011 pela presidente Dilma Rousseff Antes de chegar ao Supremo, foi ministro do STJ, onde chegou em 2001, indicado por FHC. Carioca, se tornou juiz em 1983, ao passar em primeiro lugar no concurso da Justiça estadual do Rio. Recentemente, gerou polêmica o forte lobby que realizou em favor da indicação de sua filha, a advogada Marianna Fux, como desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio, aos 35 anos, uma idade considerada ainda jovem para o cargo. Rosa Weber, ministra do STF e do TSE Gaúcha, Rosa Weber também foi nomeada ao STF em 2011 por Dilma. Antes de chegar ao Supremo, fez toda sua carreira na Justiça do Trabalho, onde ingressou como juíza em 1976. Tornou-se desembargadora em 1991 e chegou a ministra do Tribunal Superior do Trabalho em 2006, nomeada por Lula. É vista como uma magistrada técnica, discreta e atenta aos impactos sociais de suas decisões. Rosa Weber fez toda sua carreira na Justiça do Trabalho até ser nomeada ao STF em 2011 por Dilma Herman Benjamin, ministro do STJ e relator da ação no TSE Como corregedor-geral da Justiça Eleitoral, o ministro Herman Benjamin herdou a relatoria da ação contra a chapa Dilma-Temer após o fim do mandato no TSE da ministra Maria Thereza de Assis Moura, em setembro de 2016. De acordo com a legislação eleitoral, o corregedor-geral (sempre o ministro mais antigo do STJ no TSE) é quem conduz as investigações de "abuso de poder econômico e políticos, e em detrimento da liberdade de voto", caso da ação contra a chapa Dilma-Temer. À frente do caso Dilma-Temer, Herman Benjamin imprimiu velocidade na fase final do processo À frente do caso, Benjamin imprimiu velocidade na fase final do processo, despertando críticas de que estaria atropelando a defesa. Sua preocupação parece ser garantir que os ministros Henrique Neves e Luciana Lóssio possam votar antes dos términos dos seus mandatos. O relator é tido como rigoroso e chegou a dar voz de prisão a umas das testemunhas que depôs na ação contra a chapa Dilma-Temer, Vivaldo Dias da Silva, porque estava se contradizendo sobre a real propriedade de uma das gráficas usadas na campanha. Testemunhas são obrigadas por lei a dizer a verdade. Paraibano, Benjamin tem mestrado pela University of Illinois College of Law. Foi membro do Ministério Público do São Paulo, promotor e procurador de Justiça, até ser indicado ao STJ por Lula em 2006. Napoleão Nunes Maia Filho, ministro do STJ e do TSE O cearense Napoleão Nunes Maia Filho chegou ao STJ em 2007, indicado por Lula. Antes de ingressar na Justiça Federal em 1991 no Ceará, como juiz de primeira instância, atuou como advogado em Fortaleza, procurador do Estado e integrou o Tribunal Regional Eleitoral cearense, na vaga dos juristas advogados. Há analistas que dão como certo que Napoleão Nunes Maia Filho pedirá vista do processo contra a chapa Dilma-Temer Nunes Maia é considerado um juiz garantista, ou seja, aquele que preza com mais atenção as garantias constitucionais dos acusados, sendo menos punitivista. Notícias veiculadas pela imprensa brasileira dão como certo que ele pedirá vista do processo contra a chapa Dilma-Temer, para analisar mais atentamente a ação. Em entrevista no ano passado ao portal jurídico Conjur, o ministro fala sobre como o "clamor público" pode conduzir "a uma solução injusta". "Os juízes do passado eram menos acossados, porque não havia redes sociais. Hoje com televisão, jornal, rádio e redes sociais é um circo danado. É fácil achar o juiz e pressioná-lo ou deixá-lo pouco à vontade para decidir. Mas em geral isso não é decisivo, não. Desconforta o juiz, claro, mas não impede que ele decida com a consciência", disse na entrevista. Admar Gonzaga, ministro substituto do TSE O carioca Admar Gonzaga, ministro substituto no TSE desde 2013, já foi nomeado por Temer para assumir a vaga de Henrique Neves, assim que ela vagar. Notícias na imprensa brasileira indicam que o Palácio do Planalto estaria otimista com a substituição, dando Gonzaga como voto mais provável contra a cassação. O ministro nega qualquer negociação a favor de sua indicação. Pela tradição do TSE, ele era o sucessor natural de Neves. Como advogado, Admar Gonzaga se tornou conhecido por atuação jurídica à frente da criação do PSD, partido fundado em 2011 por Gilberto Kassab, atual ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações Como advogado, o ministro se tornou conhecido por sua atuação jurídica à frente da criação do PSD, partido fundado em 2011 por Gilberto Kassab, atual ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações. Na eleição de 2010, atuou como consultor da campanha de Dilma. Em 2013, ao ser nomeado pela presidente para o tribunal, disse ao jornal Folha de S.Paulo que não iria se declarar impedido de julgar casos que envolvessem a candidatura de Dilma em 2014. "Não vejo razão (para suspeição). Já advoguei para PSDB, PMDB e PDT. Quando julgar, não vou olhar as partes, mas a tese em debate." Tarcisio Vieira, ministro substituto do TSE Tarcisio Vieira é o sucessor provável da ministra Luciana Lóssio Ministro substituto desde 2014, Tarcisio Vieira é o sucessor provável da ministra Luciana Lóssio. Se o desfecho do processo contra a chapa Dilma-Temer se alongar para maio, é possível que participe do julgamento. Antes de entrar no TSE, advogou para políticos de diferentes partidos, entre eles PT, PSDB e PMDB. Nascido no Rio de Janeiro, formou-se em direito na Universidade de Brasília, onde hoje é professor de Direito Público.
A implementação de escolas cívico-militares no ensino básico e médio é um dos principais projetos do governo Bolsonaro para a educação.
Alunos têm de se apresentar em posição de sentido em escola com parceria militar na Bahia Embora o governo tenha publicado o decreto de criação do programa com sua moldura básica, ainda se sabe muito pouco como esse plano funcionará, qual o seu escopo ou como será o financiamento. O plano prevê atuação de militares da reserva na administração de escolas, mas também não está claro qual será o nível de interferência deles na área pedagógica. Diferentemente das escolas totalmente militares, que são geridas somente pelo Exército e pensadas para os filhos de militares, nesse formato cívico-militar o currículo é determinado pelas secretarias de educação, mas os estudantes seguem regras definidas pelos militares. Fora essa ideia geral e o fato de que os Estados podem escolher participar — 16 unidades federativas aderiram —, o governo não determinou praticamente nenhum detalhe operacional do programa. Fim do Talvez também te interesse O governo não fez nenhum detalhamento sobre como a rotina da escola será alterada com administração militar Por exemplo, não se sabe ainda como o dinheiro anunciado para as escolas será usado, quantos militares haverá por escola ou a quem se recorre se houver algum problema. Não há informações detalhadas no decreto que criou o programa, nas notícias sobre o projeto no site oficial do Ministério da Educação, nem foi publicada uma portaria com regulamentações. O governo disse que irá liberar R$ 54 milhões anuais, o que dá R$ 1 milhão para cada uma das 54 escolas que pretende criar por ano — a ideia é criar 216 delas até 2023, diz o Ministério da Educação. Mas a pasta não anunciou qual será o uso desse dinheiro — se vai ser investido nas escolas ou se pagará o salário dos militares, por exemplo. Segundo informações obtidas pelo site Fiquem Sabendo via Lei de Acesso à Informação, o cálculo do valor foi feito visando somente a pagar o salário dos militares inativos que vão atuar nas escolas — que podem ser tanto bombeiros, policiais ou das Forças Armadas. Imposição ou escolha? Por enquanto, há dúvidas sobre os aspectos mais básicos do programa, como se as comunidades escolares nas unidades escolhidas para participar — alunos, pais e professores — poderão escolher aderir ou não. Inicialmente foi anunciado pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub, que a comunidade escolar seria consultada e a parceria cívico-militar só seria implementada onde pais, professores e alunos concordassem. Ou seja, a adesão seria voluntária não apenas para os Estados, mas também individualmente para cada comunidade. No entanto, após duas escolas em Brasília (de cinco que estavam sendo consideradas para o programa) votarem contra a implantação da parceria com os militares no local, o presidente Jair Bolsonaro defendeu "impor" o modelo. "Se aquela garotada está na quinta série e na prova do Pisa não sabe uma regra de três simples, não sabe interpretar um texto, não responde a uma pergunta básica de ciência, me desculpa, não tem que perguntar para o pai, irresponsável nesta questão, se ele quer ou não uma escola, de certa forma, com militarização. Tem que impor, tem que mudar", disse ele, em um evento. O governador do DF, Ibaneis Rocha, disse que iria implementar o modelo "de qualquer jeito", o que levou a atritos com o secretário da Educação, Rafael Parente. Pouco tempo depois o governador voltou atrás e decidiu só aplicá-lo nas escolas que o desejassem, mas Parente acabou exonerado. "Caso se deseje realmente fazer esse experimento, está bem claro que ele não pode ser imposto para a comunidade, tem que ser por adesão", afirma Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE), da Fundação Getulio Vargas (FGV), professora visitante na Faculdade de Educação de Harvard e ex-ministra de Administração e Reforma, no governo Fernando Henrique Cardoso. A BBC News Brasil perguntou ao Ministério da Educação se os Estados que aderiram ao programa receberam algum tipo de esclarecimento ou garantia extra além do decreto e das informações gerais já divulgadas, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Quem vai administrar os militares? A principal questão em aberto é sobre a governança das escolas e dos militares que irão atuar nelas. Sabe-se apenas que os militares atuarão na administração — nada mais. Não há regras sobre quem será o diretor (civil ou militar), como ele será escolhido, quantos militares vai haver por escola, se eles ficarão em todos os turnos, qual será seu papel, quem definirá esse papel, quem fará a governança dos militares das forças armadas, como será feito o planejamento, quem vai participar ou validá-lo etc. A BBC News Brasil enviou essas perguntas ao Ministério da Educação, mas a pasta não respondeu. O governo não definiu a quem os professores vão recorrer se tiverem problemas com a atuação dos militares "Essas perguntas sobre governança fazem todo sentido porque cada unidade federativa tem que olhar para sua rede e para as crianças e jovens no seu território e garantir que eles tenham acesso e tratamentos iguais", afirma Claudia Costin, da FGV. Também não está claro a quem a secretaria, os professores ou as escolas vão recorrer se tiverem problemas ou estiverem descontentes com a atuação dos militares. "Quem administra a rede? O secretário vai ter poder para divergir do comando da escola?", pergunta Costin. As Forças Armadas, de onde vem parte dos militares que atuarão nas escolas, e as secretarias de educação são instâncias federativas diferentes e autônomas, que não respondem umas às outras, portanto a interlocução entre elas pode ficar complicada, diz ela. Também não está claro como será a relação com a PM e os bombeiros, que são estaduais. Há dúvidas sobre como vai ser definida a hierarquia nas escolas, se os militares podem abandonar o programa a qualquer momento, se vai haver algum processo de seleção específico para os professores dessas escolas etc. O prazo para os Estados aderirem ao programa terminou no fim de setembro (27), e eles tiveram de tomar as decisões antes de diretrizes oficiais com esses detalhamentos serem publicadas. Até o dia 27, o Distrito Federal e 15 Estados resolveram aderir. Como será usado o dinheiro? Dúvidas como essas fizeram o Estado de São Paulo hesitar quanto à participação ou não no programa. No dia do encerramento do prazo, o secretário de Educação do Estado, Rossieli Soares da Silva, enviou um ofício ao governo federal pedindo uma extensão do prazo e fazendo mais de 20 perguntas justamente como essas sobre o funcionamento do programa. À Folha de S. Paulo, ele disse que é "difícil aderir a um programa que você não sabe o que é". No dia seguinte, no entanto, apareceu em um vídeo, divulgado pela deputada do PSL paulista Letícia Aguiar, dizendo que conversou com o MEC para esclarecer pontos do projeto e que o Estado desejava aderir ao programa. Não se sabe se haverá custos extras para as escolas e quem bancará esses gastos No ofício enviado ao governo no dia anterior, o secretário havia feito — além de diversas perguntas sobre governança — questionamentos sobre como o recurso para as escolas será recebido e de que forma seria transferido, se será anual, qual será a periodicidade do recebimento, se contempla o pagamento do salário dos militares, qual será a remuneração média dos militares que atuaram nas unidades e se recurso será o mesmo independentemente do tamanho das escolas. No ofício, também questionava por quanto tempo está previsto o recurso anunciado de R$ 1 milhão por escola. Também fazia questionamentos sobre aspectos pedagógicos que o governo ainda não definiu oficialmente, como qual a carga-horária diária que os alunos terão, se haverá disciplinas extras obrigatórias e se vai haver alguma mudança na rotina da escola. A BBC News Brasil reenviou as mesmas perguntas que estavam no ofício ao Ministério da Educação e perguntou quais os eventuais esclarecimentos feitos aos governadores dos Estados que decidiram aderir, mas não recebeu resposta da pasta. Frederico Amancio, Secretário de Educação de Pernambuco, um dos Estados que não aderiram, diz que a decisão de não participar do programa no momento veio em grande parte das dúvidas sobre como será o funcionamento das escolas. "Não teve uma apresentação ampla. Em educação a gente não muda só por uma ideia, precisa ter uma proposta, precisa ter a oportunidade de conhecer melhor. E por enquanto não existem evidências de resultados desse modelo cívico-militar", diz ele. "Não sabemos qual será a participação dos militares, quem vai dar apoio, nem quantos serão. Três pessoa na escola vai mudar as escolas? Como vai se dar o processo de gestão? Quem vai dar a última palavra?" Amancio diz que não descarta a participação no futuro quando tiver mais conhecimento do modelo. "O problema é que com as informações disponíveis hoje minha equipe técnica não sentiu segurança em aderir. Se eu entrasse também seria questionado do porquê." Custos extras O governo ainda não explicou se vai bancar eventuais custos extras que as escolas possam ter com as novas regras militares. Se os alunos tiverem de usar fardas, por exemplo — que custam mais caro que os uniformes normais das redes estaduais — não está claro se quem vai bancar é o governo federal ou as secretarias. "Nas escolas que atualmente adotam o modelo de parceria cívico-militar, fora do programa, na verdade as escolas acabaram gastando mais dinheiro", diz Costin, citando casos de unidades na Bahia e em Goiás. Nem o salário dos militares é pago pelo governo federal, é dinheiro do orçamentos locais que é utilizado. "Você desvia a política educacional, a energia e os recursos da educação que já são escassos para profissionais que não são da área", analisa Costin. "Hoje olhando para as 'receitas' e políticas adotadas nos 30 melhores sistemas educacionais do mundo, não tem em lugar nenhum a conclusão que precisa ter escolas cívico-militares", diz ela, que também foi Diretora Global de Educação do Banco Mundial entre 2014 e 2016. "Lógico que o Brasil pode fazer experiências e ver se o modelo funciona, mas é preciso que esteja claro o que será feito e que, acima de tudo, não seja imposto, porque quem vai ficar com os resultados disso é a comunidade escolar." Apenas após a publicação desta reportagem, o Ministério da Educação enviou uma séria de respostas às perguntas anteriormente enviadas pela BBC News Brasil. Abaixo, os esclarecimentos: 1) Como o recurso do governo federal será recebido? Ele é anual? Vai ser transferido com que periodicidade? O investimento anual do modelo por escola de 1.000 alunos será de R$ 1 milhão. Para o primeiro ano, em caráter piloto, para as 54 escolas fomentadas, o valor destinado será de R$ 54 milhões. O investimento para as escolas do Programa será financiado pelo Ministério da Educação, contando com uma contrapartida do estado que desejar aderir. 2) Ele será somente para o pagamento do salário dos militares? Não. O recurso será disponibilizado conforme modalidade de pactuação. O MEC repassará recursos ao Ministério da Defesa para pagamento de pessoal, que serão militares das Forças Armadas alocados na escola, em contrapartida, os estados ou os municípios farão adaptações nas instalações das escolas e providenciarão uniformes, materiais, laboratórios e tecnologias. 3) Qual será a média da remuneração dos militares que vão atuar nas escolas? Em relação aos militares estaduais (Polícia Militar e Bombeiros), a remuneração será realizada pelos estados. Para os militares inativos das Forças Armadas, que serão contratados na modalidade Prestadores de Tarefa por Tempo Certo - PTTC, a remuneração baseia-se em 30% dos valores que o militar recebe na reserva, independente da função que vai exercer ou exercia. 4) O recurso será o mesmo independentemente do tamanho das escolas? Não, os valores serão de acordo com a quantidade de alunos e militares que serão necessários na escola. O MEC calcula a necessidade de 18 militares para uma escola de mil alunos: a. 1 Oficial de Gestão Escolar - Oficial Superior b. 1 Oficial de Gestão Educacional - Oficial subalterno/intermediário c. 16 Monitores - 1º Sgt/ Suboficial/Subtenente 5) Qual será a função de cada um? • Gestão Escolar - o militar atuará em colaboração com os demais profissionais da escola nas áreas didático-pedagógica, educacional e administrativa; • Gestão Educacional - o militar atuará supervisionando os monitores escolares em apoio à área educacional; e • Monitoria Escolar - os militares atuarão sob a orientação do oficial de Gestão Educacional, nas áreas educacional e administrativa, em atividades externas à sala de aula, com o intuito de melhorar o ambiente escolar. 6) Quem será o Diretor da Escola? Ele será civil ou militar? Como será o processo de seleção do diretor? O Programa não interfere na escolha dos diretores. O processo de seleção será conduzido pelas secretarias de educação dos estados, municípios e do Distrito Federal, conforme legislação específica. 7) Quantos militares por escola? Eles ficarão nos 3 turnos? Os militares atuarão em 2 turnos. 8) Qual o papel dos militares? Quem definirá esse papel? O Decreto nº 10.004, de 05 de setembro de 2019, define os limites da atuação desses profissionais, e os demais normativos estabelecidos pelo MEC também regulamentarão as atividades dos militares. 9) Terá algum processo de seleção específico para os professores dessas escolas? Quais serão os critérios? A gestão dos profissionais da educação permanece sob a responsabilidade da secretaria de educação. 10) De quem será a governança dos militares das forças armadas? Como será o planejamento? Quem participa? Quem validará? A quem se recorre se algo não estiver ocorrendo bem já que são instâncias federativas diferente e autônomas? O Ministério da Defesa será o responsável pelo controle administrativo dos militares, e o diretor, pelas tarefas previstas no modelo de Ecim. 11) Os militares podem abandonar o programa a qualquer momento? A contratação do militar será regida por um contratado de trabalho (PTTC) assinado entre as partes, que abrange as regras e períodos em que o militar se compromete com o programa. 12) A escola continuará sendo de responsabilidade do governo estadual? Como será a relação com as forças armadas uma vez que são instâncias federativas autônomas? Como será definida a hierarquia? Sim, a escola continua sendo de responsabilidade do governo do estado ou do município. Nas atividades exercidas pelos militares, existe a hierarquia funcional nessa ordem: Oficial de Gestão Escolar; Oficial de Gestão Educacional e Monitores (a patente e a graduação dos selecionados indicarão essa hierarquia). 13) Escolas de qualquer região do estado poderão receber este Programa? Sim, preferencialmente, na capital do estado ou na respectiva região metropolitana. 14) Quais os critérios de vulnerabilidade vão ser usados para as escolas caso várias se interessem? A escolha das escolas ficará a cargo dos entes federativos, seguindo os critérios estabelecidos, conforme a realidade local. 15) Caso haja regras específicas que gerem custos, quem vai custear? Ou seja, vai haver custos extras para as escolas cujos recursos não virão do governo federal? O Pecim não prevê custos extras. 16) Por exemplo, os alunos terão que usar uniforme específico? Quem vai custeá-lo? O custeio do uniforme será definido conforme a modalidade pactuada, podendo ficar com o Governo Estadual/Municipal ou do Governo Federal. 17) Após o prazo de 10 anos a escola deixará de adotar o modelo cívico-militar? Os prazos de adoção do modelo cívico-militar serão estabelecidos em instrumento específico no momento da pactuação. 18) Qual a carga-horária diária que os alunos terão? Serão cinco horas diárias. 19) Haverá disciplinas - fora as regulares - que serão obrigatórias? Haverá alguma mudança na rotina da escola? Se sim, quais serão? A rotina diária dos alunos deve permanecer a mesma, com as aulas sendo ministradas durante as 5 horas previstas, incluídos os intervalos. Poderá haver a inserção de alguns eventos como formaturas, que não devem comprometer o planejamento de ensino. 20) Haverá seleção de estudantes ou prioridade de atendimento com base em critérios específicos? O governo pretende definir essas especificidades até quando? A escola continuará sendo gratuita e o ingresso será realizado pela Secretaria de Educação. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Um francês conseguiu mover seus quatro membros paralisados graças ao auxílio de um exoesqueleto controlado por sua própria mente.
Identificado apenas como Thibault, de 30 anos, ele disse que seus primeiros passos no equipamento o fizeram se sentir como o "primeiro homem na Lua". Seus movimentos, andar em particular, estão longe da perfeição, e a tecnologia só tem sido usada dentro do laboratório. Mas o grupo de pesquisadores franceses responsável pelo avanço científico disse que essa abordagem pode levar um dia à melhora da qualidade de vida de pacientes. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
A assessora de imprensa do ator Brad Pitt negou que ele tenha se casado com a atriz Angelina Jolie recentemente, conforme reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal britânico Daily Star.
Segundo o jornal, o casal teria se casado recentemente em uma cerimônia budista. Mas a agente de Pitt disse à BBC que o jornal usou uma foto do recente filme Sr. e Sra. Smith, protagonizado pelos dois, para ilustrar a história. "Simplesmente não há qualquer verdade na reportagem", disse ela. Ela se recusou a fazer qualquer outro comentário. Romance Segundo o Daily Star, Brad Pitt estaria usando uma aliança de ouro na mão esquerda desde a suposta cerimônia. O jornal também afirmou que o casal planeja tornar a relação pública depois de uma cerimônia legal nos Estados Unidos. A suspeita de um romance entre Brad Pitt e Angelina Jolie começou nas filmagens do filme Sr. e Sra. Smith, mas os dois lados têm negado que formam um casal. No início do ano, Brad Pitt terminou o casamento de quatro anos com a atriz de Friends, Jennifer Aniston.
Uma cobra píton da cidade de Ketchum, nos Estados Unidos engoliu um cobertor elétrico de casal e precisou ser submetida a uma cirurgia de duas horas para a retirada, de acordo com o jornal americano Idaho Mountain Express.
O raio-x mostrou o cobertor estendido por 2.6 m dos 3.6m da cobra de 18 anos de idade, batizada de Houdini. O dono do animal, Karl Beznoska, acredita que o cobertor ficou preso no coelho que havia sido servido para Houdini como refeição. Veterinários disseram que a cobra deve ter levado seis horas para engolir totalmente o cobertor. Celebridade O dono disse que o cobertor fica na jaula de Houdini para manter o animal aquecido. Na segunda-feira, a cobra não parecia bem e o cobertor havia desaparecido. Beznoska disse que o animal é bastante "amigável". O jornal afirma que Houdini é uma espécie de celebridade na cidade, sendo exibida de tempos em tempos por seu dono em bibliotecas locais e escolas.
"No pain, no gain" (algo como 'sem dor, sem ganho') é uma das frases que os preparadores físicos e personal trainers mais gostam de repetir sobre as dores que surgem depois de um treino de alta intensidade. Essa é uma dor considerada boa, devido aos benefícios que gera para o corpo. Mas, se não houver cuidado, pode facilmente se transformar em uma dor ruim.
O corpo está mais propenso a sentir dores com exercícios de alta intensidade | Foto: Getty Images O problema está em saber identificar qual é qual. "Em algumas situações, é difícil diferenciar uma da outra", reconhece Juan Francisco Marco, professor do Centro de Ciência do Esporte, Treinamento e Fitness Alto Rendimento, na Espanha. "A dor boa é aquela que associamos ao exercício físico, que não limita (o movimento) e permite continuar (a se exercitar) até o momento em que o músculo fica realmente esgotado e não trabalha mais", explica. É importante detectar qual é o tipo de dor que você está sentindo, para evitar ter problemas mais sérios | Foto: Getty Images Para Francisco Sánchez Diego, diretor do centro de treinamento Corpore 10, "a dor boa se sente no grupo muscular que você trabalhou, tanto durante o treinamento como nos dias seguintes". "Está claro que quem está começando está mais exposto a ter essa sensação dolorida, mas isso não quer dizer que seja algo ruim". Segundo ele, o que ocorre são "microrupturas nas fibras que não conseguem aguentar o esforço a que o corpo está sendo submetido, obrigando-a a substituí-las por fibras melhores". Desta maneira, o músculo vai se desenvolvendo constantemente, adquirindo mais resistência e força. As dores ruins impedem que o corpo chegue na fase de esgotamento durante um treino | Foto: Getty Images Descanso Há um ponto de transição depois da chamada dor boa, que geralmente passa despercebido, e que pode levar a uma dor ruim. "É quando se submete o corpo ao exercício em excesso e não se permite que ele tenha o tempo de recuperação de que precisa", ressalta Sánchez Diego. Músculos, tendões, ligamentos, cartilagens e ossos formam a estrutura do corpo que reage ao estresse do exercício físico. Se este estresse aumenta muito rapidamente, o organismo pode não responder de maneira efetiva e é necessário um tempo de repouso para se recuperar. Quando não se respeita este tempo de recuperação, se produz um excesso de fadiga e estresse, o que pode resultar em uma dor má. "Uma diferença é que a dor boa vai surgindo gradativamente durante o exercício. Em comparação, a dor má começa praticamente no começo do exercício, quando o músculo está frio. À medida que o treinamento vai avançando, a dor má vai diminuindo porque o músculo vai aquecendo e a articulação vai se lubrificando. Mas é uma dor que persiste e com o tempo te obriga a parar", descreve o professor Franscisco Marco. "As pontadas comuns devem durar pouco tempo e acontecer durante o movimento dos músculos exercitados. As ruins são sentidas inclusive quando se está parado, sem necessidade de ativar a musculatura". É normal que se sinta dor durante e depois do exercício, devido ao esforço a que o corpo foi submetido | Foto: Getty Images Perigo Os dois treinadores ressaltam a importância de conhecer o tipo de dor e como como o corpo reage à carga de exercício a que está sendo submetido. Uma dor, no fim das contas, não deve durar muito tempo ou impedir de realizar o treino físico desejado. Muito menos deveria afetar a vida diária de uma pessoa ao caminhar ou dormir. Desta maneira, se poderá evitar uma lesão mais severa que obrigue o corpo a parar - ou, no pior dos casos, requeira a intervenção de um médico ou especialista. "É como um ciclo. Primeiro, se sente uma dor boa. Mas, ao não dar o descanso necessário ao músculo, pode se transformar em uma dor ruim, que está destruindo toda a musculatura", alerta o diretor do centro Corpore 10.
O então superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, apresentou uma denúncia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e o senador Telmário Mota (Pros) em 14/04. A acusação foi feita com base em uma investigação que terminou com a apreensão de mais de 200 mil metros cúbicos de madeira, avaliados em cerca de R$ 130 milhões, no fim de 2020.
Ricardo Salles fez declarações contra a operação e até mesmo visitou a área onde a madeira foi apreendida Em entrevista à BBC News Brasil, o delegado Alexandre Saraiva disse ter encontrado evidências de que Ricardo Salles e Telmário Mota tentaram prejudicar as investigações do caso. As principais evidências, diz ele, surgiram depois de analisar documentos recebidos de madeireiros. A intenção deles era provar que a maior apreensão de madeira feita até hoje pela PF era, na verdade, legal. "Mas o que encontramos foram fraudes muito claras e muito graves. Em razão disso, quando acontece um crime, devemos tomar as medidas previstas em lei. Quando a pessoa tem foro privilegiado, devemos comunicar a corte que tem atribuição para investigar aquele delito e foi o que fizemos", afirmou Saraiva referindo-se aos indícios de crimes cometidos pelo ministro e pelo senador. Na quarta-feira, Saraiva enviou ao Supremo Tribunal Federal a notícia-crime contra Ricardo Salles e Telmário Mota. O delegado diz ter encontrado provas de três crimes: atrapalhar a fiscalização ambiental, advocacia administrativa e embaraçar investigação destinada a combater uma organização criminosa. Fim do Talvez também te interesse Questionado, ele disse que não se recorda "em detalhes" do conteúdo dos documentos que incriminariam Ricardo Salles e que "cabe ao STF fazer qualquer juízo" em relação a eles. De acordo com o ex-superintendente da Polícia Federal, Salles e o senador causaram "obstáculos à investigação de crimes ambientais e buscar patrocínio de interesses privados e ilegítimos perante a Administração Pública''. Agora, o STF vai analisar o documento e decidir se abre uma investigação a partir das acusações ou arquiva a denúncia. Interferência ministerial A denúncia do ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas se baseia nas investigações que ocorreram após a apreensão de 200 mil metros cúbicos de madeira, avaliados em cerca de R$ 130 milhões na operação Handroanthus GLO. Ela é considerada pela PF a maior da história. Desde a apreensão histórica, o ministro Ricardo Salles fez críticas à operação e, recentemente, até mesmo visitou a área entre os Estados do Pará e Amazonas, onde a madeira foi apreendida e continua parada. Salles se reuniu com madeireiros da região e demonstrou acreditar na legalidade da madeira apreendida e na inocência dos madeireiros. O delegado Alexandre Saraiva identificou 3 crimes cometidos pelo ministro e o senador O ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas disse à BBC News Brasil que "não imagina o motivo" desse posicionamento e vê a interferência do ministro "com muita preocupação". "Por isso fizemos a comunicação ao STF. Também há o fato de que o Ibama está sempre ao nosso lado com a parte administrativa em todas as operações que fizemos. Mas isso não aconteceu na operação Handroanthus e isso deve ser explicado", disse Saraiva. 'Provas contundentes' O ex-superintendente da Polícia Federal disse ter certeza de que ocorreram crimes logo após o ministro Ricardo Salles fazer um chamamento para que os madeireiros apresentassem documentos que provassem que eles exerciam uma atividade legal. "Depois disso, foram apresentadas duas caixas de documentos para a gente no sábado (10/4). A gente trabalhou o fim de semana inteiro para analisá-los, pois estávamos preocupados em dar uma resposta rápida ao pedido", contou o delegado da PF à BBC News Brasil. Saraiva disse que já havia indícios de crimes e interferências cometidas em momentos anteriores, mas que ele ainda não tinha provas contundentes para fazer uma denúncia ao STF. "Alguns episódios vinham acontecendo, mas que no nosso entender não chegavam a esse ponto. Eu preciso ter um grau de certeza grande para fazer uma denúncia. Não pode ser algo sondado. E só domingo, após a análise desses documentos, tivemos essa convicção", afirmou Saraiva. Já na quinta-feira (15/4) começaram a surgir rumores de que o superintendente pode ser substituído do cargo após apresentar a notícia-crime contra o ministro. Denúncia teve origem durante investigação de apreensão recorde de madeira pela PF A Polícia Federal disse à BBC News Brasil que não comenta essas trocas, mas ressaltou que há dez dias houve uma troca na direção da Polícia Federal e que é normal que ocorram mudanças a partir da nova gestão. Saraiva disse que não recebeu nenhum comunicado ou publicação no Diário Oficial e que não se manifestaria "sobre uma notícia que está na imprensa". O senador Telmário Mota informou por meio de nota que "Alexandre Saraiva, mais uma vez busca os holofotes com uma notícia-crime patética, sem fundamento e elaborada apenas para ganhar espaço na mídia e nas redes sociais". Mota afirma ainda que o "delegado cria suas próprias leis criminalizando todo um setor, sem distinção de quem está dentro da legalidade ou não, causando assim, a falência de diversas empresas e deixando mais de 15 mil trabalhadores desempregados, apenas em Roraima, numa época de crise mundial." O senador diz ainda que "em momento algum pratiquei as condutas descritas. Como parlamentar, apenas denunciei os procedimentos ilegais cometidos pelo delegado, que sistematicamente utiliza da PF para sua própria promoção pessoal. Estou convicto que a notícia-crime será arquivada de plano pelo MPF." Procurado, o Ministério do Meio Ambiente informou que "a resposta será dada em juízo". Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
A ascensão relâmpago do Estado Islâmico (EI), o grupo jihadista que conquistou grandes partes da Síria e do Iraque, teve impacto não só em toda a região como também além dela, levando aliados e rivais a ter que decidir como lidar com a ameaça.
Estado Islâmico é inimigo comum, mas países lidam com ameaça de formas diferentes Em entrevista à rede americana NBC divulgada neste domingo, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que lançará seu "plano de ação" contra o Estado Islâmico em um discurso na quarta-feira, um dia antes do aniversário dos atentados de 11 de setembro. Ele afirmou que os EUA irão diminuir o território dominado pelo EI e derrotá-lo. Mas, apesar de o EI ser visto como um inimigo comum, as inimizades históricas e a complexa situação no Oriente Médio significam que elaborar uma estratégia única para diversos países enfrentarem o Estado Islâmico está longe de ser simples. Veja como se posicionam os países-chave no conflito: Estados Unidos Os Estados Unidos expressaram abertamente sua preocupação sobre EI dizendo que o grupo estava "além de qualquer coisa" que tenham visto antes. Os EUA iniciaram ataques aéreos contra o EI no norte do Iraque em 9 de agosto - a pedido do governo iraquiano -, mas disseram que será necessária uma "ampla coalizão internacional" para derrotá-lo. Embora tenha se comprometido a intensificar o apoio ao Iraque se o país formar um governo unificado e inclusivo, o presidente Obama tem repetido que não vai mandar tropas terrestres. Além de não querer repetir os erros de 2003, quando os EUA invadiram o Iraque, Obama sabe que mandar tropas terrestres poderia agravar a precária situação política do Iraque e arriscar uma piora da relação com os árabes sunitas. Muitos deles apoiaram a rebelião liderada pelo EI contra o ex-governo. Em vez disso, os EUA têm mostrado vontade de trabalhar com o seu inimigo histórico, o Irã. O general americano Martin Dempsey alertou que o EI não pode ser derrotado sem que suas fortalezas na Síria sejam atacadas. Isso levou a um questionamento sobre uma possível cooperação com o presidente sírio, Bashar al-Assad, que se ofereceu para auxiliar a comunidade internacional na luta contra o EI. Barack Obama diz que o EI só pode ser derrotado por uma coalizão internacional No entanto, Washington ainda quer Assad fora do poder. Obama autorizou voos de reconhecimento sobre a Síria para monitorar o EI, mas até agora não autorizou ataques aéreos por causa do risco representado pelo avançado sistema de defesa aérea sírio, pelo direito internacional e pelo fato de que esses ataques podem beneficiar Assad. Em vez disso, o presidente parece estar contando com rebeldes sírios para lutar com o EI. Irã O ramo dominante de fé islâmica no Irã é o xiita, e o Irã viu o EI - cujos combatentes veem os xiitas como hereges que deveriam ser mortos - avançar a 40 quilômetros de sua fronteira. Apesar de, em relação à Síria, o Irã estar do lado oposto de grande parte da comunidade internacional, ele defende a cooperação contra a EI. O ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, disse que a ameaça do EI "nos obriga a trabalhar em conjunto e buscar soluções comuns". Ele estendeu a mão a Arábia Saudita - potência sunita líder e rival regional do Irã - e fez vista grossa para as ações dos EUA no Iraque, às quais se opõe historicamente. No Iraque, os próprios iranianos têm desempenhado um papel fundamental na luta contra o EI. Guardas Revolucionários Iranianos têm aconselhado as forças de segurança iraquianas, pilotos iranianos realizaram ataques aéreos, milícias xiitas apoiadas pelo Irã se mobilizaram e o Irã diz que tem enviado armas e conselheiros para o Curdistão iraquiano. O rompimento do cerco de Amerli viu aviões dos EUA agindo em aparente coordenação com combatentes xiitas em solo, apesar da inimizade profunda e antiga entre os EUA e o Irã. Teerã também se juntou a Washington em retirar o apoio ao premiê iraquiano, Nouri Maliki, em agosto, obrigando-o a se demitir e permitir que um candidato de consenso fosse nomeado para substituí-lo. O presidente iraniano, Hassan Rouhani, já disse que o Irã "não hesitará em proteger santuários xiitas" no Iraque, que o EI ameaçou destruir, embora ele tenha dito que seria "muito improvável" que o Irã envie suas forças para o local. Turquia A Turquia tem sido um dos maiores críticos do presidente sírio Assad. Tornou-se a principal porta de entrada para os estrangeiros que querem ir para a Síria lutar ao lado dos rebeldes, muitos deles jihadistas. No entanto, o rápido avanço do EI no território ao longo das fronteiras turcas com a Síria e o Iraque levou Ancara a tentar conter o fluxo de jihadistas. Mais de 450 combatentes estrangeiros foram detidos ou deportados desde o início do ano e as forças de segurança turcas tentaram fechar as rotas de contrabando que permitiram que jihadistas evitassem pontos de checagem e vender petróleo a partir de territórios sob seu controle. No entanto, a capacidade da Turquia para reprimir o EI tem sido limitada pelo sequestro de 49 diplomatas turcos e suas famílias, em Mosul, em junho. Enquanto isso, os membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), reconhecidos como um grupo terrorista por Ancara, a OTAN e a UE, devido à sua história de ataques contra a Turquia, têm lutado contra o EI no Iraque. Arábia Saudita Poder sunita regional, a Arábia Saudita tem sido uma das principais apoiadoras de forças rebeldes sírias, incluindo grupos islâmicos de linha dura, mas rejeitou a acusação iraniana de que tenha apoiado diretamente o EI. No entanto, sauditas ricos enviaram doações para o grupo e cerca de 2.500 homens sauditas viajaram para a Síria para lutar. A Arábia Saudita mandou milhares de tropas para suas fronterias com o Iraque As autoridades sauditas estão preocupadas com a possibilidade de que o EI inspire jihadistas sauditas a contestar a legitimidade da monarquia e tentar derrubá-la. O rei Abdullah pediu uma ação "rápida" e alertou que "o terrorismo não conhece fronteiras". Em julho, Riad usou 30 mil tropas para reforçar a segurança ao longo da fronteira com o Iraque, e no mês seguinte recebeu o vice-chanceler do Irã quando os dois rivais regionais concordaram em cooperar. Jordânia A Jordânia, aliada dos EUA, tem serviços de segurança e militares que poderiam apoiar os esforços para combater a EI. O grupo ameaçou "romper" as fronteiras da Jordânia, embora não seja provável que lancem um ataque tão cedo. As forças militares jordanianas duplicaram, porém, sua presença militar ao longo da fronteira com o Iraque. O rei Abdullah 2 participou do encontro da OTAN no País de Gales, em setembro, onde a aliança discutiu como lidar com o EI. Dentro da própria Jordânia, o EI conta com o apoio de um número crescente de pessoas -algumas organizaram manifestações na cidade de Maan, em junho, e acredita-se que mais de 2.000 cidadãos jordanianos viajaram para a Síria para lutar. O rei há muito tempo pede que o presidente da Síria, Assad, deixe o governo, e já teria permitido que a Jordânia se tornasse uma plataforma para os rebeldes e seus apoiadores estrangeiros. Líbano O Líbano ficou profundamente dividida pelo conflito na Síria, e teve de lidar com um transbordamento da violência e um enorme afluxo de refugiados. Mais de 20 membros das forças de segurança libanesas foram sequestrados pelo EI Em agosto, militantes do EI baseados na Síria invadiram a cidade fronteiriça de Arsal, matando e sequestrando dezenas de agentes de segurança libaneses. Militantes jihadistas também realizaram uma série de atentados mortais em Beirute e em outros lugares, principalmente visando o Hezbollah e as instalações iranianas. O primeiro-ministro libanês, Tammam Salam, alertou que a propagação do EI representa "um grande teste do qual depende o nosso destino". Facções religiosas e políticas de seu país foram aconselhadas a deixar de lado suas diferenças para garantir que o grupo não estabelecerá um ponto de apoio no local. Catar O Catar rejeitou acusações de líderes xiitas do Iraque de que tenha fornecido apoio financeiro ao EI. No entanto, acredita-se que indivíduos ricos do emirado tenham feito doações e que o governo tenha dado dinheiro e armas para grupos islâmicos radicais na Síria. Também acredita-se que Doha tenha ligações com a Frente al-Nusra, afiliada da Al-Qaeda. Desde que o EI lançou sua ofensiva no norte do Iraque em junho, há relatos de que autoridades do Catar restabeleceram relações com outros países do Golfo que acusavam o país de ter se intrometido em seus assuntos. Rússia A Rússia é um dos mais importantes aliados do presidente Assad, dando-lhe apoio diplomático e militar. Vetou várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU condenando a repressão mortal à dissidência pacífica e continua a fornecer armas e aeronaves para militares sírios. Ações de Moscou levaram lutadores do EI a prometem derrubar o presidente Vladimir Putin e "libertar" o norte do Cáucaso. Serviços de segurança russos acreditam que centenas de militantes da Chechênia e de outras repúblicas do Cáucaso se uniram ao EI, incluindo o proeminente comandante Omar al-Shishani. Em julho, a Rússia entregou o primeiro lote de 25 caças Sukhoi para o Iraque para ajudar a aumentar o poder de fogo de sua força aérea. União Europeia Reino Unido, França, Alemanha e Itália têm enviado armas para as forças curdas Peshmerga, bem como ajuda para as centenas de milhares de pessoas deslocadas no norte do Iraque. A França é um dos países que envia armas para que curdos do Iraque lutem contra o EI O governo alemão disse que tem uma "responsabilidade humanitária [...] de ajudar aqueles que sofrem e parar o EI". O presidente francês, François Hollande, apelou pela união das potências do mundo frente à ameaça do EI e sugeriu que uma ação militar na Síria pode ser necessária. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que não descarta ataques aéreos contra o EI, que está com um refém britânico, mas disse que qualquer ação não deve ser "a intervenção ocidental passando por cima dos Estados vizinhos".
Ao longo de uma madrugada da última semana, a Câmara alterou o pacote anticorrupção proposto pelo Ministério Público Federal e desencadeou (mais) uma crise institucional.
Câmara aprovou pacote anticorrupção após mudanças feitas em comissão Desde então, os procuradores da Lava Jato ameaçaram abandonar a operação caso o novo texto, aprovado na Casa, obtenha aval no Senado e seja sancionado pelo presidente Michel Temer. Para a Procuradoria, os deputados aprovaram uma "pálida sombra" da proposta inicial, defendida neste domingo em protestos pelo Brasil. Mas, na opinião de juristas ouvidos pela BBC Brasil, as medidas estavam longe de ser unanimidade antes mesmo de chegarem ao Congresso como projeto popular apoiado por mais de dois milhões de assinaturas. Segundo os entrevistados, a maioria das propostas dos procuradores é "autoritária" e aposta na filosofia do "prender primeiro, perguntar depois". Fim do Talvez também te interesse Alguns dos juristas vão além: dizem que as modificações feitas pela Câmara, principalmente a supressão de vários trechos, são "menos piores" que a proposta original. No entanto, todos reprovam a emenda que estabelece crime de responsabilidade para juízes e integrantes do Ministério Público, inserida no pacote pelos parlamentares. A versão original das "Dez Medidas Contra a Corrupção" inclui questões polêmicas, como a criação de um "teste de integridade" para provar a retidão de funcionários públicos e a hipótese de uma "prisão extraordinária" para permitir a localização de bens desviados. Nesse caso, não seria necessário provar que o acusado está escondendo os bens, como acontece hoje com a prisão preventiva. Juristas criticam a hipótese de uma "prisão extraordinária" Os deputados rejeitaram essas partes, mantendo apenas itens como a criminalização do caixa 2 em campanha eleitoral, o aumento de punição para crime de corrupção e a limitação de recursos em processos. "O projeto original era horroroso e o que passou também é bem ruim. Mas, se você analisar em termos do respeito aos direitos e às garantias fundamentais, o atual é menos pior", afirma o juiz Rubens Casara, professor de Processo Penal da Escola de Magistratura do Estado do Rio. "Tinha um projeto que era um zumbi fascista e foi transformado num Frankenstein esquizofrênico", compara. Presunção de inocência Para Casara, instrumentos como a prisão extraordinária representam um "tremendo retrocesso", pois passariam por cima de direitos fundamentais como a presunção de inocência. Outros juristas reforçam o argumento de que, no afã de punir os culpados, o pacote anticorrupção levaria junto inocentes. O juiz federal Flávio Antônio da Cruz, do Paraná, ressalta que o direito penal também serve para proteger quem não tem culpa, o que seria prejudicado no plano no Ministério Público Federal. Para ilustrar sua opinião, ele cita a medida que fala sobre a criminalização do enriquecimento ilícito. Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato, ameaçou renúncia coletiva se texto modificado for sancionado No pacote original, o enriquecimento seria punido, mesmo que não fosse possível "descobrir ou comprovar quais foram os atos específicos de corrupção praticados". Para evitar a pena, os investigadores ou o próprio suspeito precisariam mostrar que o dinheiro é lícito. "Ninguém é obrigado a provar sua inocência. Imagina que alguém não consiga mostrar a origem do dinheiro, mas também não existam indícios de que o valor é ilícito. O juiz pode condenar sem provas da corrupção", diz Cruz. Procurado pela BBC Brasil, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, procurador Deltan Dallagnol, afirma a possibilidade de prisão extraordinária já existe, mas se tornaria mais específica. "A lei já permite que alguém seja preso quando a liberdade do réu representa um risco para a aplicação da lei, inclusive no tocante ao produto e proveito do crime, e quando ele está ocultando e dissimulando patrimônio." Ele nega que a proposta de criminalização do enriquecimento ilícito prejudique a presunção de inocência. Isso porque, diz ele, cabe ao Ministério Público provar que há uma diferença entre o patrimônio total de uma pessoa e os recursos e bens que têm origem lícita. "Além disso, a dúvida sempre favorece o réu", acrescenta Dallagnol. Punição Segundo os magistrados, a proposta dos procuradores vai contra estudos internacionais que mostram que o aumento de punição não é o melhor caminho para combater um delito. Eles citam o caso da Lei de Crimes Hediondos, de 1990, que elevou as penas, mas não diminuiu a violência. Para juristas, modificações feitas pela Câmara deixaram pacote "menos pior" "Foi o maior fracasso. Aumentaram-se as penas, a população carcerária dobrou e a criminalidade não baixou. Ao contrário, cresceu com a criação das facções", diz Marcelo Semer, ex-presidente da Associação de Juízes para a Democracia. O ideal, afirmam, seria trabalhar na prevenção desses atos, mudando processos administrativos como as licitações públicas. Eles argumentam que a corrupção é sistêmica, influenciada por fatores sociais e econômicos, e precisa de mais do que leis. Em resposta, Dallagnol defende a punição como instrumento importante para enfrentar a corrupção. Ele cita estudiosos do tema como Suzan Rose-Ackerman, da Universidade de Yale, que adotam a mesma linha de raciocínio. "Quem decide se corromper pesa em sua decisão, num prato da balança, os benefícios do crime, como o dinheiro desviado e que hoje é difícil de ser recuperado, e, no outro prato, os custos, que são a probabilidade da punição e o montante da punição, que são mínimos no Brasil. A equação favorece a corrupção." O procurador afirma também que o pacote anticorrupção original prevê campanhas de marketing e projetos de pesquisa, que ajudariam na prevenção. O advogado e professor de Direito da USP Modesto Carvalhosa concorda com Dallagnol. Para ele, as ações punitivas previstas no pacote são necessárias e não impedem a aplicação de ações preventivas. "Você pune e previne, pune e educa. Se não houvesse punição, os crimes seriam maiores. À medida que você aumenta as penas, inibe os delitos." Procuradores se reuniram com membros de comissão da Câmara, que depois fez alterações no texto Contaminação de outros processos Outra crítica dos entrevistados é que a proposta da Procuradoria seria muito abrangente. Ao não focar em delitos ligados à corrupção, o Ministério Público Federal abriria espaço para que esse caráter de punição contaminasse outros processos. Semer diz que as "Dez Medidas" misturavam mudanças no Código de Processo Penal para todos os crimes com alterações no Código Eleitoral e no Código de Processo Civil. "Como o projeto era amplo, tudo cabia dentro dele." Professor de Direito da FGV e um dos editores do site Supremo em Pauta, Rubens Glezer afirma que, com uma abordagem tão ampla, o tom das medidas poderia afetar quem mais sofre dentro do sistema legal: pobres e negros. "O projeto não restringe essas ações ao grupo de privilegiados, que se mantém acima da lei. E vai acabar prejudicando quem está abaixo dela." Esse "efeito cascata" aconteceria, diz o professor, porque as medidas oferecem soluções simples demais, que valem para tudo. Ele exemplifica: em vez de valer para todos os crimes, a prisão extraordinária poderia ser aplicada apenas nos casos de desvio de verba pública. "Você pode matar uma mosca com uma bala de bazuca, mas destrói o que está ao redor." Em defesa dessa chamada amplitude das medidas, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato lista regras gerais do sistema de Justiça Criminal que afetam os casos de corrupção, como a possibilidade de entrar com vários recursos. "Por isso, não há como resolver o problema da impunidade da corrupção sem alterar aspectos específicos do sistema penal e processual que se aplicam a variados crimes. Isso não traz nenhum prejuízo aos réus." O juiz Sérgio Moro criticou mudanças "da meia-noite" feitas no pacote anticorrupção Força da instituição As críticas são feitas também dentro do Ministério Público Federal. A subprocuradora Ela Wiecko Volkmer de Castilho, que pediu exoneração do cargo de vice-procuradora-geral da República em agosto, concorda que o pacote é "punitivista" e não seria eficaz para superar a corrupção. Segundo Wiecko, as propostas não foram discutidas abertamente dentro da instituição. Mas, uma vez lançadas, "foram aplaudidas pela maioria dos integrantes" e tornaram-se indiscutíveis - "tudo ou nada". Ela vê uma eventual aprovação do projeto resultando numa "instituição que impõe temor". Para os entrevistados, o pacote tem uma relação íntima com os interesses do órgão. "Preocupa-me a satanização da política e a substituição dela por uma ideia de corporações fortes. O problema não é a força em si, mas o seu uso, que pode ser na defesa dos interesses próprios", diz o juiz Flavio Antônio da Cruz. Marcelo Semer vê as propostas são um projeto de poder, para aumentar as competências do Ministério Público (a acusação), diminuir as atribuições dos juízes e "esmagar" a defesa. Dallagnol, porém, rebate: as mudanças não feririam a defesa, mas protegeriam as vítimas da corrupção. "Precisamos de um direito penal e de um processo penal equilibrados, que protejam não só os direitos dos réus, mas também os das vítimas." Popularidade Os juristas veem com apreensão a popularidade do órgão e de seus procuradores nos últimos meses. O aval popular é perigoso, dizem - poderia fazer a Procuradoria ganhar a queda de braço com o Congresso, mas também pode torná-la refém das preferências do público. "O MPF sempre precisou ficar nessa área meio cinzenta, entre mobilizar a população e fazer o que ela quer", diz Rubens Glezer, da FGV. Tentando se equilibrar nesse limiar, os procuradores vão assumindo um protagonismo político que seria estranho a suas funções, afirma o professor Salah H. Khaled, da Universidade Federal do Rio Grande (RS). "Não é papel do Ministério Público propor projeto de lei e coletar assinaturas de pessoas com essa finalidade. Igualmente censurável é a manifestação do Juiz Sérgio Moro: juízes não são agentes políticos e não devem interferir no processo legislativo." Manifestação neste domingo a favor da Lava Jato e do pacote anticorrupção em Brasília Dallagnol argumenta que as punições propostas existiriam para proteger a sociedade, e não para fortalecer a instituição. "A sociedade espera que promotores, procuradores e juízes construam um arranha-céu, chegando ao último andar da cadeia criminosa. Ao mesmo tempo, o legislador nos dá tábuas, martelos e pregos. (...) As 10 medidas dão instrumentos adequados ao Ministério Público e, especialmente, à Justiça para que o interesse da própria sociedade seja satisfeito." Os juristas entrevistados criticam a fala do chefe da força-tarefa da Lava Jato à imprensa logo após a aprovação do pacote anticorrupção na Câmara. Em uma entrevista coletiva na quarta-feira, Dallagnol ameaçou, junto a outros procuradores, abandonar a operação caso a versão modificada fosse sancionada. À BBC Brasil, ele voltou a dizer que os deputados praticaram uma "completa desfiguração" das medidas. E argumentou que, ao falar com a população, permitiu que ela fiscalizasse os governantes, contribuindo para uma democracia mais forte. "Informar a sociedade de que os trabalhos serão inviabilizados não é ameaça, mas sim permitir que a sociedade conheça o risco real que corre a operação." Para o juiz Rubens Casara, esse tipo de declaração não ajuda na construção de uma sociedade democrática e tem, sim, fins políticos. "Me parece que foi mais uma vez manifestação querendo alcançar o imaginário da população. (O que aconteceu) faz parte da divisão de poderes. Cabe ao Congresso a elaboração das leis e ao procurador e ao juiz, a aplicação dela."
A proximidade das festas de fim de ano, que tradicionalmente envolvem muitas viagens, festas longas e reuniões de grupos grandes de pessoas, têm colocado líderes globais e autoridades de saúde em alerta para picos futuros de covid-19 — potencialmente ainda maiores e mais mortíferos dos que estão em curso atualmente.
Teme-se que festas de Natal e Ano Novo provoquem o aumento nas viagens e nas aglomerações pelo mundo Em diversos países, governos têm emitido advertências contra aglomerações e deslocamentos nos períodos festivos. No Brasil, embora não haja recomendações oficiais específicas para as datas festivas, infectologistas se preparam para a possibilidade de, poucas semanas após as festas, o país se ver diante de novos aumentos de casos e mortes. "Se fossemos reproduzir os encontros natalinos da forma que tradicionalmente ocorrem, neste momento epidemiológico (de alta dos casos), o que espero é um repique brutal no número de casos, devido à contaminação que vai ocorrer neste momento", diz à BBC News Brasil Jaques Sztajnbok, supervisor da UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, sugerindo que as pessoas evitem festas de fim de ano em 2020. "Por maior que seja o cuidado que se tome, há sempre o risco de contágio." Fim do Talvez também te interesse A sensação de que estamos mais próximos de ter uma vacinação em massa também pode levar as pessoas a relaxarem seus cuidados em relação ao coronavírus, na avaliação dos médicos ouvidos pela BBC News Brasil. Mas eles alertam que a perspectiva de ter uma vacina no futuro não muda o cenário atual, de que a covid-19 continua se espalhando e fazendo muitas vítimas. "Estamos perto da vacina, mas infelizmente temos pessoas perdendo o jogo na prorrogação — são mortes desnecessárias", afirma Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia. "Precisamos aguentar (em isolamento) esse último terço de caminhada até a vacina." "Se fossemos reproduzir os encontros natalinos da forma que tradicionalmente ocorrem, neste momento epidemiológico (de alta dos casos), o que espero é um repique brutal no número de casos (de covid-19)", diz Sztajnbok Sztajnbok também alerta para esse risco. "A perspectiva de ter uma vacina leva as pessoas a dizerem 'ah, que bom' e relaxarem. Mas até chegar lá, a pandemia está aí. A gente pode morrer na praia." Nesse cenário, na Europa e na América do Norte, também há pedidos para que as pessoas restrinjam suas festas de fim de ano. América do Norte Nos EUA, os Centros de Controles de Doenças (CDCs, na sigla em inglês) haviam pedido, em 19 de novembro, que os americanos evitassem viagens no tradicional feriado de Ação de Graças, que seria celebrado uma semana depois. Naquele dia, os EUA haviam registrado um número recorde de 183 mil novos casos de covid-19 em um só dia. "À medida que os casos continuam a aumentar rapidamente pelos EUA, a forma mais segura de celebrar a Ação de Graças é em casa, com as pessoas com quem você já mora", dizia o guia dos CDCs, com recomendações de segurança para quem mesmo assim decidisse viajar. "Reuniões com familiares e amigos que não moram com você aumentam a chance de transmissão da covid-19 e da gripe." O país continua vivendo seu momento mais grave da pandemia: na última quarta-feira (3/12), registrou um recorde de 2.760 mortes diárias por covid-19. E o vizinho de cima, Canadá, foi apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um exemplo dos riscos trazidos pelas celebrações de fim de ano. Lá, o feriado de Ação de Graças é celebrado em 12 de outubro. E o Canadá, que já vinha em uma trajetória de alta da covid-19, viu o número de casos diários bater recordes em diversas cidades e províncias nas semanas seguintes à festividade. Aeroporto nos EUA com pessoas viajando para o feriado de Ação de Graças; feriado já havia provocado alta no contágio no vizinho Canadá Avaliação e minimização de risco Porta-vozes da OMS afirmam que evitar reuniões familiares seria a "aposta mais segura" para este Natal, mas que caberá a cada país pesar os prós e contras de se aliviar ou não as restrições de circulação de pessoas durante as festividades de fim de ano. "Cada governo terá de decidir sua política, baseado na avaliação entre risco epidemiológico versus o risco social e econômico de continuar a manter as pessoas em uma situação de restrição durante o período de festas, o que de fato gera muita frustração, mais fadiga e resistência", admitiu Mike Ryan, diretor de Emergências da OMS, em entrevista coletiva no final de novembro. "A questão é: você (país) tem a doença suficientemente sob controle e pode dar às pessoas um pouco mais de liberdade durante o Natal, gerando senso de confiança e alegria na comunidade — algo que as pessoas estão precisando —, sem deixar o vírus avançar novamente? É uma troca (trade-off) entre essas duas coisas." "Há (iniciativas) de baixo risco ou alto risco — mas sempre há um risco", agregou Maria Van Kerkhove, líder técnica da covid-19 na OMS. Ela defendeu que as famílias prefiram reuniões virtuais neste ano. "É incrivelmente difícil porque, principalmente durante as festas, nós queremos muito estar com a família. Mas, em algumas situações, a decisão difícil de não ter um encontro familiar é a aposta mais segura". Pessoas e famílias terão de tomar essa decisão, prosseguiu Kerkhove, avaliando a chance de estar, inadvertidamente, causando situações de alto contágio. A agência também adverte contra o relaxamento por causa da iminência da chegada da vacina. Testagem da covid-19 na Escócia; OMS defende que evitar reuniões familiares seria a "aposta mais segura" para este Natal, mas que caberá a cada país pesar os prós e contras disso "Vacinas não significam zero covid-19", afirmou Ryan, lembrando que muitos países sequer iniciarão suas vacinações no início do ano que vem. "A vacinação será uma ferramenta muito, muito poderosa. Mas sozinha não vai (eliminar a pandemia)." No mundo, a covid-19 já infectou oficialmente 66 milhões de pessoas e matou mais de 1,5 milhão. Como reduzir riscos no Natal A mensagem dos médicos é clara: qualquer encontro, por mais cuidado que se tenha, representa um risco de transmitir e contrair coronavírus. Para quem decidir, mesmo assim, fazer um encontro presencial e quiser minimizar os riscos, especialistas ouvidos pela reportagem indicam muito cuidado principalmente com a quantidade de pessoas (menor número de convidados possível, evitando os que não coabitam a mesma casa) e com a ventilação do ambiente. A recomendação é aproveitar qualquer espaço ao ar livre: jardim, laje, varanda. Se não for possível, recomendam deixar todas as janelas da casa abertas. Outros cuidados sugeridos pelos médicos são reduzir a duração das festas e usar máscaras todo o tempo possível, evitando gritar, cantar ou falar muito alto — para evitar espalhar mais gotículas potencialmente infectadas. Eles também dizem para manter a maior distância possível daqueles que não vivem na mesma casa que você, mesmo usando máscara. Na hora de comer, eles propõem um rodízio para sentar à mesa. Se houver duas pessoas que moram na mesma casa e outras duas que moram em outra, por exemplo, a sugestão é que comam em momentos separados. Enquanto uma dupla que vive junto estiver comendo, sem máscara, os demais ficam afastados e de máscara. Depois, trocam. Se houver duas mesas e dois núcleos familiares, a sugestão é que sentem cada núcleos em uma mesa, já que será necessário retirar a máscara para comer. Homem passa por publicidade natalina na Itália; não se recomenda que pessoas de diferentes núcleos familiares passem as festas juntas Antes do encontro, é recomendada atenção redobrada aos sintomas. Além disso, ficar 14 dias antes do encontro em quarentena é o ideal, segundo os médicos. Se não for possível todo esse tempo, uma semana já ajudaria a diminuir riscos, segundo eles. Outra sugestão, quando possível, é fazer o exame PCR 72 horas antes da festa, para garantir que não é uma pessoa infectada assintomática. A recomendação também é não viajar. Se for, priorize ir de carro. Europa: restrições às viagens e ao tamanho das festas Na Europa, alguns países impuseram restrições para evitar uma nova alta de casos — embora alguns países planejem aliviar as medidas nos dias próximos ao Natal, segundo levantamento da agência Reuters. A Espanha determinou que só serão permitidas dez pessoas reunidas por casa no Natal e no Ano Novo, e viagens entre as regiões espanholas serão proibidas entre 26 de dezembro e 6 de janeiro, exceto para pessoas que vão visitar parentes. Haverá restrições a viagens também na Itália, onde a recomendação é de que as comemorações sejam restritas aos núcleos familiares. Missas de Natal tampouco serão abertas. Na França, o governo planeja permitir viagens pelo país a partir de 15 de dezembro só se os novos casos diários caírem para cerca de 5 mil. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel entrou em acordo com líderes dos 16 Estados do país para endurecer as regras do lockdown no país até 20 de dezembro. Mas a ideia é aliviar as restrições no Natal, para permitir que as famílias e amigos possam celebrar juntos. O limite é de dez pessoas (sem contar crianças) por festa. No Reino Unido, as quatro nações (Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte) concordaram em permitir que pessoas de no máximo três lares diferentes se juntem nas festas caseiras, entre 23 e 27 de dezembro. Serão permitidas comemorações e missas em lugares abertos apenas. Estação de trem na Alemanha, em foto de 29 de novembro; governos europeus estão adotando diferentes medidas restritivas para conter alta no contágio 'Verdadeiro espírito natalino' O período de Natal e Ano Novo causa preocupação nos especialistas por serem festas que costumam congregar um número grande de pessoas de diferentes casas, regiões ou mesmo países em um só lugar durante várias horas. Isso, em espaços fechados, mal ventilados e com aglomerações regadas a álcool (que tende a nos fazer relaxar nas medidas de precaução), é uma receita perigosa para o alastramento da covid-19. "Temos que pensar em evitar encontros com muitas pessoas. É momento para encontrarmos famílias nucleares. Não é momento de fazer grandes encontros de família, com reuniões com mais de dez pessoas", defende Juliana Lapa, infectologista e professora da Universidade de Brasília. Nas festas, explica o infectologista Jaques Sztajnbok, é comum que "ao comer, todo mundo esteja sem máscara, conversando, falando alto, rindo e próximo — modos pelos quais a disseminação aumenta mais ainda. É um cenário perfeito para o contágio. Você acaba encontrando pessoas que não conviviam entre si, então a troca aumenta." "Se não houver segurança nesses encontros, que não sejam feitos. No fim das contas, o que interessa é a segurança e a saúde de todo mundo. Quando um familiar diz que o Natal é muito importante e quer muito encontrar a avó que não vê há muito tempo, eu falo: tudo bem, mas você quer que ela morra 15 dias depois, de uma doença evitável? Neste momento, quando a taxa de contágio está alta, eu acho que qualquer evento social — Natal incluído — não deve ser realizado da forma como fazíamos pré-pandemia. O risco é altíssimo. (...) O que eu desejo é que as pessoas sejam imbuídas do que deveria ser o verdadeiro espírito natalino: o bem-estar e a segurança de todos. Essa é maior manifestação de apreço e amor que um pode dar ao outro neste momento." Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
De um lado, o dinheiro emergencial pago a moradores de distritos cobertos pela lama em Mariana. De outro, o decreto presidencial que libera o uso de fundos do FGTS para trabalhadores formais afetados. No vácuo entre eles, estão pescadores, quilombolas, índios e pequenos agricultores que perderam suas fontes de sustento - e não recebem qualquer apoio financeiro desde então.
Foto de Benilde Madeira com os olhos cheios d'água às margens do rio Doce foi compartilhada por milhares de brasileiros na semana passada É o caso do pescador Benilde Madeira, cuja foto em preto e branco com os olhos cheios d'água, vidrados, às margens do rio Doce, foi compartilhada por milhares de brasileiros na semana passada. Após a repercussão da imagem, a BBC Brasil localizou o pescador, que vive em Aimorés (MG), com o filho e a mãe de 81 anos. Com voz fraca e melancólica, ele comenta os impactos da tragédia e fala sobre dor, impotência e revolta. "A primeira coisa que me veio quando vi aqueles peixes morrendo foi que minha vida acabou e meu rio morreu", disse em entrevista por telefone. "O culpado era uma grande mineradora, e por mais que eu pudesse lutar contra ela, não tem como (lutar) com um gigante desses. Mesmo que eu quisesse lutar, seria inútil, eu perderia essa batalha." O pescador disse ter ido recolher peixes mortos porque achava que ninguém acreditaria nele se contasse que a vida no rio estava acabando Sem trabalho ou renda, Madeira diz que tem buscado "bicos", como a limpeza de terrenos baldios. "Me sinto como um cachorrinho que caiu da mudança. Perdido", diz. "Não sei como vou pagar minhas contas, não sei como vou viver, eu não sei, eu não sei, eu simplesmente não sei." Fim do Talvez também te interesse À reportagem, o procurador do Trabalho Geraldo Emediato de Souza, do Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais, disse que espera que a Samarco pague pelo menos um salário mínimo, mais 20% por dependente, para os pescadores e ribeirinhos A BBC Brasil procurou a Samarco, a Casa Civil, a secretaria da Pesca e o Ministério Público de Minas Gerais em busca de respostas sobre a situação de Benilde e outros que não tiveram as casas soterradas pela lama, nem têm recursos no FGTS, por falta de trabalho formal, mas que perderam sua fonte de renda após a "morte" do rio Doce. Leia também: Procurador ameaça pedir bloqueio de bens de Vale e BHP para financiar pescadores As respostas não são animadoras: nenhum dos órgãos entrevistados tem um plano com soluções imediatas para estes afetados. 'Ele é apenas um exemplo' Fotos: Instituto Últimos Refúgios A Samarco, dona da barragem de rejeitos de mineração que se rompeu há quase um mês, disse que "está profundamente consternada por todos os impactos causados por esta situação tão triste" e que "Benilde é apenas um exemplo de tantas pessoas que foram impactadas de forma tão inesperada". Sem informar prazos ou valores, a empresa diz estar fazendo um "cadastramento de famílias diretamente impactadas, como pequenos agricultores, pescadores e areieiros" para "subsidiar temporariamente as famílias que tiveram seu recursos de subsistência afetados". Em nota enviada à reportagem, a mineradora controlada pela Vale e pela BHP Billiton diz que "diariamente, mais de 700 pessoas de várias áreas social e ambiental da empresa atuam nos municípios atingidos, oferecendo às pessoas atingidas algum conforto, seja ele de forma material ou psicológica" (veja o texto completo abaixo). Já o ministério da Agricultura, responsável pela secretaria da Pesca (que perdeu status de ministério), pediu desculpas e informou que está com "a equipe desfalcada" e não conseguiu "ninguém para responder à demanda". A pasta conduzida pela ministra Katia Abreu (PMDB-TO) foi procurada porque suspendeu, em outubro, o pagamento do seguro defeso, uma espécie de "seguro desemprego" que garante um salário mínimo mensal a pescadores durante o período de reprodução dos peixes. Leia também: Haitianos graduados têm mais dificuldade para se empregar que outros imigrantes, diz FGV O corte fez parte do ajuste fiscal anunciado pelo governo para reequilibrar as contas públicas. Decreto Benilde Madeira: 'Preciso abandonar minha casa, meu canto e procurar outro rio para poder trabalhar' Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff assinou o Decreto 8.572/2015, que "libera o saque do FGTS às vítimas do rompimento de barragens em Mariana (MG)". Segundo o governo, "o saque é opcional e limitado a R$ 6.220 do saldo do trabalhador no fundo". Mas o que acontece com quem não tem fundos do FGTS? A BBC Brasil fez a pergunta à Casa Civil, que disse que "o governo está estudando como encaminhar a reposição de prejuízos econômicos e sociais aos que perderam tudo e aos que não tem como sobreviver em consequência da lama". A pasta, que não quis comentar o caso específico do pescador Benilde, promete "fechar uma posição esta semana sobre o impacto do desastre sobre os prejuízos econômicos e sociais à população". A Casa Civil não sabe quantas pessoas foram afetadas direta ou indiretamente pela lama e diz que "caberá às prefeituras das localidades fazer o levantamento e o cadastramento das pessoas necessitadas". Já o procurador do Trabalho Geraldo Emediato de Souza, do Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais, disse que se reunirá na próxima sexta-feira com representantes da Samarco e da Vale para definir o valor da ajuda financeira destinada aos ribeirinhos - e o prazo para pagamento. Leia também: Como se chegou à pior recessão desde os anos 90? "Estamos falando de 5 de novembro. O valor que for definido será retroativo até esta data", diz Souza. 'Abandonar minha casa' Fotos: Instituto Últimos Refúgios Hoje, o pescador Benilde lembra com tristeza do rio onde aprendeu a pescar com o pai, ainda criança. "(Pescar) era meu lazer, era a minha vida, né? Conviver ali na natureza, comer peixe que você sabe que não tem toxina... Por menos que eu retirasse do rio, (a pesca) era minha sobrevivência, minha autonomia." "Eu chorei naquele momento de tristeza, de revolta", diz. "Agora não tenho como sobreviver no meu próprio país, no meu território, nem como tomar um banho sequer no meu rio." O futuro é incerto. "Preciso abandonar minha casa, meu canto e procurar outro rio para poder trabalhar", diz. "Acho que o rio não vai voltar como era. Eu perdi as esperanças aqui. E chorei por causa disso. Mas eu espero um dia me reerguer". Nota enviada à reportagem pela mineradora Samarco: A Samarco reforça que está profundamente consternada por todos os impactos causados por esta situação tão triste. Diariamente mais de 700 pessoas de várias áreas social e ambiental da empresa que atuam nos municípios atingidos, oferecendo às pessoas atingidas algum conforto, seja ele de forma material ou psicológica. O Benildes é apenas um exemplo de tantas pessoas que foram impactadas de forma tão inesperada. A empresa informa que foram iniciados os trabalhos de levantamento de impactos socioeconômicos ao longo da Bacia do Doce. A empresa reforça que não está medindo esforços para que esse processo aconteça no menor prazo possível. Para este levantamento, a Samarco contratou a Golder Associates, empresa reconhecida internacionalmente. Uma das etapas do trabalho consta do cadastramento de famílias diretamente impactadas, como pequenos agricultores, pescadores e areieiros. As informações serão “cruzadas” com as bases oficiais já disponibilizadas pelas prefeituras, associações e colônias de pescadores. O cadastro está sendo realizado em parceria com a empresa Praxis. Além das duas empresas contratadas, os representantes da Samarco não medem esforços para agilizar o processo. A empresa esclarece ainda que irá subisidiar temporariamente as famílias que tiveram seu recursos de subsistência afetados pelo deslocamento da pluma de turbidez no Rio Doce. Paralelamente, a Samarco desenvolve um plano de mitigação dos impactos sociais e ambientais, com ações de curto, médio e longo prazos. *Colaborou Thiago Guimarães, da BBC Brasil em Londres
Dados oficiais do governo chinês divulgados nesta terça-feira mostram um aumento de 13% no número de pessoas infectadas com o vírus HIV no país este ano em relação a 2011.
Já são quase meio milhão de chineses soropositivos. O vice-premiê Li Kegiang, que será o primeiro-ministro no ano que vem, se comprometeu a autorizar que ONGs tenham uma maior atuação nesse setor. Em uma reportagem da TV estatal, ele apareceu dando a mão a pacientes, algo pouco comum em um país em que pessoas com Aids se queixam de sofrer preconceito constante. Tópicos relacionados
Jon Henley é jornalista. Em 1987, cansou-se da Inglaterra. E da Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales. Cansou-se, enfim, da Grã-Bretanha, à época uma Grã-Bretanha da primeira-ministra Margaret Thatcher, que acabara de ser eleita para o cargo pela terceira vez consecutiva.
Jon Henley exercia as funções de professor e, recentemente qualificado, lecionava numa escola pública de um bairro assim-assim de Londres. Eles chamam de inner cities. Subúrbios barra pesada, diria eu. Morava num pequeno apartamento de quarto e sala em outro bairro subúrbio assim, Acton, que, segundo suas palavras, ainda não beirava a afluência, tal como agora. Jon Henley olhou, olhou, pensou, pensou e chegou a uma conclusão: isso não era vida para ele, para um homem de seus talentos. No ano anterior, 1986, Thatcher abolira o conselho que zelava pela cidade e, no entender do então jovem professor, Londres estava caindo aos pedaços. Londres era uma cidade suja e deprimente. Ele lembra que uma manchete no Le Monde dizia: “Londres se tiersmondise”, ou seja, “Londres vira país do terceiro mundo”. Jon Henley fez as malas, pegou o rumo da estação Victoria e, de lá, se mandou para a Holanda. Não tinha idéia do que iria fazer. O importante era deixar Londres sem sequer olhar para trás. Passou vinte anos entre Amsterdã, Helsinki e, por quase uma década, Paris, onde constituiu família. De emprego em emprego, ou biscate em biscate, mais ou menos ligado ao ensino, próximo ao jornalismo, Henley foi se mantendo. Londres? Nem para as férias. Agora, passados vinte anos, Jon Henley está de volta e escreveu, para o jornal The Guardian, uma longa matéria sobre as mudanças por ele encontradas e sentidas na cidade. Conheço a sensação do agora jornalista, embora eu não exerça a profissão. Em janeiro, completarei 30 anos seguidos de Londres, apenas interrompidos por 10 dias em 2006 com um pulinho ao Rio de Janeiro. O que interessa são as impressões de Henley. Dou umas dicas, deixo as minhas de lado, já que, para variar, eu não venho ao caso, conforme é de meu hábito e tradição. Só os que se consideram verdadeiros jornalistas é que vêm ao caso e adoram falar de si próprios, do que acham e não acham. A Jon Henley, pois, e suas impressões. Londres não é mais a mesma A rigor, nenhuma cidade do mundo é a mesma, passados vinte anos. Começo a opinar. Mau sinal. Vamos ao que interessa, ao que saltou aos olhos e outros sentidos do agora jornalista formado e informado do Guardian. Na Londres de 1987 não havia chance de se encontrar um café decente. Chá, sim. Café, não. Hoje só dá café. Há cafeterias em todos os quarteirões de todas as ruas oferecendo dezenas de variações do que nossos beletristas já chamaram de “a preciosa rubiácea”. Agora é latte pra cá e machiatto pra lá. Ponto para Londres. O primeiro. Sempre segundo Henley. Na Londres de 1987, uma pessoa motorizada podia e conseguia estacionar o carro bem em frente de onde morasse. Bastava não ser em cima de uma linha amarela na rua. Agora, Henley (e toda população com carro da cidade) tem de pagar mais de 150 dólares por mês pelo que se tornou um privilégio. Londres sob água e terra Jon Henley acha que o metrô londrino continua a mesma josta de sempre. Linha por linha, da Central à Piccadilly passando pela District, tudo a mesma coisa para ele: trens feios, sujos, sempre atrasados. Um pesadelo. Tenho que morder a língua (a rigor os dedos) e me conter: discordo solenemente. Deixo de parênteses e volto à condição de mero leitor, que até que não é das piores. Uma boa notícia para Londres e londrinos e quem acredita em opinião de jornalista pago: os ônibus são sensacionais. Henley elogia a enorme quantidade de ônibus existentes e nem menciona os (olha eu não me agüentando e dando palpite de novo) os vastos ônibus de um andar só e ligados por uma sanfona. Também não se refere ao congestionamento de trânsito (e subseqüente imposto a carro que circula no Centro da cidade) por eles causado. Henley admite que só reparou como tem gente que não acaba mais comendo e deixando os restos pelos assentos dos baita ônibus por que uma amiga chamou sua atenção para o fato. O agora jornalista concorda: desde quando se tornou aceitável fazer a principal refeição do dia no segundo andar de um ônibus da linha 43, por exemplo? Juventude perdida Para Henley, jovens com menos de 25 anos passam por um ritual obrigatório que os bota para vomitar e capotar na calçada toda sexta-feira à noite. Segundo ele, na Acton de seu tempo, isso não acontecia. Nem mesmo na porta dos pubs, que, então, fechavam obrigatoriamente às onze da noite. Nada tem a ver com o que foi dito acima, mas Henley ficou espantado, em matéria de preço (e o preço de tudo em Londres é de causar espanto e até mesmo horror, na impressão deste leigo que vos fala) do que o quanto os dentistas estão cobrando. Terá achado o resto normal? Mais: a televisão piorou horrores. Baixou a um nível comparável ao francês, segundo ele, o que não é brincadeira, minha gente. Os preços. Ah, os preços de tudo. Mas Henley só menciona as residências. Não há jeito do pobre do Henley conseguir, com seu salário, comprar uma casa. Na época da lamentável, segundo ele, Thatcher, era mole. E também por que se fala tanto em educação, nos problemas da instrução? Adivinha, Jon Henley, adivinha! O agora jornalista Jon Henley não deve ter ganho o suficiente com seu texto de quatro páginas para o Guardian que desse para comprar um apartamento. Talvez o suficiente para pagar o estacionamento por uma semana de seu Fiat. O que me traz, e aos leitores, à sua ponderação final: por que tanto Porsche dando sopa nas ruas? Alguém anda faturando alto, meu querido, mas alto para valer. Seguramente não são as levas e mais levas dos ubíquos emigrantes recém-chegados e instalados. Que fim levaram os ingleses, os britânicos, esquece-se de perguntar. Encerro com uma observação minha e só minha: por que é que os jornalistas que passam vinte anos sem botar os pés em Londres não notam, ou mencionam, o misterioso desaparecimento de tanto, mas tanta gente? Por que só dá figurinhas feito eu? Uma estrangeirada danada de alienígena.
O bairro de Deodoro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, tem obras e instalações olímpicas com características que o tornam o núcleo de competições dos Jogos do Rio com as maiores dificuldades para o controle do mosquito Aedes aegypti, diz Marcus Vinicius Ferreira, coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
Controle do Aedes no Sambódromo do Rio nesta terça; obras ainda em curso e até a presença de cavalos preocupam chefe de combate ao mosquito Encarregado de chefiar os esforços de combate ao mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus no Rio, ele diz que embora o chamado Índice de Infestação Predial (IIP) do bairro seja baixo, há uma série de fatores que elevam o nível de preocupação. "O que mais me preocupa é a grande quantidade de obras ainda em curso no local, o fato de serem obras mais complexas do que as dos outros núcleos, e de que muitas instalações lá são a céu aberto, diferente da Barra, onde a maioria é coberta", indica, em referência a instalações como a pista de mountain bike, o estádio de canoagem slalom e o circuito de BMX. Ferreira ressalta que há outros motivos que tornam a região complicada, como as obras do BRT, muito próximas, as instalações militares no entorno e o centro de hipismo. "Alguns dos piores lugares que eu tenho aqui no Rio para combater o mosquito são o colégio militar e o jóquei. Lugares com a presença de cavalos são complicadíssimos, por causa da água usada nas baias, que fica parada. Ou seja, é mais difícil controlar", explica. Fim do Talvez também te interesse Ele afirmou, no entanto, que todas as áreas olímpicas estão recebendo "atenção constante" e igual da prefeitura, independentemente dos desafios. Ferreira conversou com a BBC Brasil nesta terça-feira, durante ação de controle do mosquito no sambódromo do Rio incluindo o "fumacê", dedetização com uma caminhonete e com agentes. Deve haver mais uma ação semelhante antes do Carnaval e outra entre os desfiles. Números , ‘bairros olímpicos’ e alto risco A pedido da BBC Brasil, o encarregado do combate ao mosquito Aedes aegypti no Rio informou o Índice de Infestação Predial dos quatro bairros que sediarão provas dos Jogos Olímpicos. Ele explica que um IPI de 0,4%, por exemplo, representa que a cada mil casas inspecionadas, quatro mostraram presença do mosquito. Quanto às escalas, ele explica que um índice de até 1% é considerado de "baixo risco", e um índice de até 3,9% é visto como de "médio risco" e quando a medição ultrapassa os 3,9% já é classificada como de "alto risco". No bairro da Barra da Tijuca, onde estão localizados o Parque Olímpico e a Vila dos Atletas, além do centro de mídia, o IPI é de 0,4%. Em Copacabana, onde há várias provas de rua, o índice é de 0,4% numa parte do bairro e de 1% em outra (onde está localizado o Morro do Cantagalo). Já no Maracanã a medição está em 0,5% e em Deodoro o IPI é de 0,2%. Ferreira também adiantou à BBC Brasil que a cidade tem atualmente duas regiões de "alto risco": nos bairros de Irajá, na Zona Norte, com IPI de 4,5%, e de Pechincha, na Zona Oeste, com índice de 4,4%. Marcus Vinicius Ferreira disse que a Barra possui características que facilitam o controle do Aedes aegypti. "Na Barra, os mangues, as áreas alagadas e a mata são habitados por outra espécie de mosquito, o Culex (pernilongo). Como o Aedes tende a preferir áreas de maior densidade populacional, não há tanta incidência (dele) na Barra", diz, acrescentando que no Parque Olímpico um dos focos do controle do Aedes será no centro de mídia, onde centenas de jornalistas transitarão diariamente. Mas Mario Alberto Cardoso da Silva Neto, professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ que pesquisa o Aedes aegypti, afirma que há mais fatores a serem avaliados. O especialista diz que é preciso levar em consideração que as áreas urbanizadas da Barra também podem trazer riscos e que "a distribuição do mosquito depende, sim, em áreas urbanizadas, da prevenção feita pelos cidadãos e pelas autoridades responsáveis". Outro fator, segundo ele, é que "as obras do Parque Olímpico em si afetam o papel estrutural da área e eventualmente desalojam criadouros ou podem até criar outras áreas". Exército, reforços e estrangeiros Sobre as medidas de controle ao mosquito específicas com relação aos Jogos, adiantadas pela BBC Brasil no último fim de semana, Ferreira disse que a 30 dias do início das Olimpíadas uma medição da quantidade de mosquitos em cada local de competição definirá a necessidade de dedetizações com "fumacê". "Posso mudar a minha estratégia de combate em cada um desses bairros devido aos resultados desta medição vetorial", diz. Questionado sobre o anúncio do Ministério da Saúde, que prometeu enviar 220 mil homens das Forças Armadas a diversas cidades do país para combater o mosquito, Ferreira disse que o Rio não deve receber nenhum e que o contingente de 3,3 mil agentes de monitoramento cobrem as necessidades da cidade. "Não vamos receber, não precisamos. Temos até mais agentes do que o necessário. O que eu tenho aqui dá conta. Não teremos contratações, não há necessidade de reforço, nem mesmo durante os Jogos." Apesar dos alertas das agências de saúde de Estados Unidos, Canadá e União Europeia, que pediram a mulheres grávidas que evitem viajar ao Brasil e outros países da América Latina que enfrentam epidemias de zika vírus, e da atenção internacional que o assunto tem recebido, Ferreira disse que não vê problemas para a vinda de turistas estrangeiros para os Jogos. "Na época da Olimpíada dificilmente teremos forte incidência do mosquito, até por conta do frio. Aqui no Rio, mesmo quando houve epidemia, os números foram menores nos meses de julho e agosto, quando serão realizados os Jogos", explica. Para o especialista da UFRJ, o frio realmente tem um impacto na incidência do mosquito. "Sim de fato, no inverno do Rio de Janeiro em geral o desenvolvimento da população de Aedes e sua distribuição são significativamente menores. Nesse caso a série histórica de temperaturas mais baixas sem dúvida será um fator positivo a favor de uma diminuição significativa na população de mosquitos e na eventual transmissão de arboviroses em julho e agosto", opina. Questionado se será seguro para os turistas estrangeiros virem ao Brasil, o encarregado do combate ao mosquito diz: "Podem vir. Eu falei isso na Copa do Mundo e duvidaram de mim. Podem vir sim".
O presidente do Timor Leste, Xanana Gusmão, disse nesta quinta-feira à agência de notícias portuguesa Lusa que renunciaria ao cargo se o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, não deixar o governo.
"Eu vou enviar uma carta ao Parlamento informando a eles que vou renunciar à Presidência porque estou envergonhado do que o estado está fazendo com o povo e não tenho coragem de encarar as pessoas", disse Gusmão. Xanana Gusmão havia sugerido na terça-feira que o primeiro-ministro deixasse o cargo ou arriscasse ser demitido, já que havia perdido a confiança nele. Muitas pessoas no Timor Leste responsabilizam Alkatiri por não ter sido capaz de controlar a violência étnica que já deixou 21 mortos no país. O primeiro-ministro também é acusado de recrutar e armar uma milícia paramilitar para tentar eliminar rivais políticos, alegação que ele negou repetidas vezes. Depois do ultimato de Xanana Gusmão, Mari Alkatiri se reuniu com integrantes de seu partido para discutir seu futuro político e aparentemente recebeu o apoio deles. De acordo com agência Lusa, Gusmão fará um pronunciamento à nação, no qual pedirá que Alkatiri se responsabilize pela crise no país "em nome da sobrevivência do estado democrático de direito".
Representantes de países do continente americano estão reunidos em Puebla, no México, decidindo o que entra na pauta de negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), mas já se sabe que dois temas ausentes - subsídios agrícolas e dumping - esvaziam bastante o interesse brasileiro no encontro.
"O tema dos subsídios agrícolas é um dos mais graves, e na reunião (ministerial da Alca) em Miami, os Estados Unidos já haviam deixado claro que não queriam conversar nem sobre isso, nem sobre o dumping, que também interessa muito aos países em desenvolvimento", disse o co-presidente pelo Brasil das negociações da Alca, embaixador Adhemar Bahadian. "Temos outros temas muito importantes que serão discutidos aqui, mas sem dúvida a ausência destes temas reduz muito o escopo da reunião." Questionado sobre o orçamento americano divulgado na segunda-feira - que aumentou em cerca de US$ 300 milhões os recursos disponíves para subsídios - , o embaixador disse que "certamente não é uma boa notícia para quem defende o livre comércio". Equilíbrio Mas o embaixador diz que o Brasil também fez questão de eliminar da pauta de negociações temas que interessam aos países desenvolvidos. "Também não vamos discutir investimentos, compras governamentais e temas ligados à propriedade intelectual", disse. O embaixador espera que após as reuniões os dois lados saiam com um acordo que respeite os temas mais sensíveis nos diferentes países. "Esperamos completar a listagem de temas pedida na reunião de Miami para que possamos avançar nas negociações tarifárias da Alca", disse. Mas apesar das limitações, o embaixador Bahani destaca alguns pontos onde as negociações podem avançar. "Na área de agricultura acho que podemos negociar as barreiras fitossanitárias, que também constituem uma grande preocupação dos países em desenvolvimento", disse.
Ela se apresentava como Anna Delvey, herdeira alemã de uma fortuna de 60 milhões de euros (cerca de R$ 261 milhões), e em pouco tempo conquistou a alta sociedade de Nova York. Morava em hotéis cinco estrelas, frequentava festas exclusivas, vestia roupas de grife, viajava em jatos privados e distribuía gorjetas de US$ 100 (R$ 388).
A 'falsa alemã' Anna Sorokin foi condenada de quatro a 12 anos de prisão Mas segundo o gabinete do procurador de Manhattan, Cyrus Vance, seu nome verdadeiro é Anna Sorokin, ela tem 28 anos, nasceu na Rússia e não tem dinheiro algum. A trajetória da falsa herdeira que virou queridinha da elite nova-iorquina e ao longo de dez meses deixou um rastro de vítimas de calotes no valor de US$ 275 mil (cerca de R$ 1,06 milhão) tem sido detalhada em reportagens na imprensa americana e em breve deve virar série da Netflix criada por Shonda Rhimes, a produtora por trás de sucessos como Grey's Anatomy e Scandal. "Sua suposta conduta criminal vai de fraude com cheques a centenas de milhares de dólares furtados por meio de empréstimos e inclui esquemas que resultaram em uma viagem gratuita ao Marrocos e voos em jatos privados", disse Vance ao apresentar acusação formal contra Sorokin, em outubro de 2017, quando a falsária foi presa. Sorokin foi considerada culpada de vários crimes e pode pegar até 12 anos de prisão Presa desde 2017 na ilha de Rikers, onde fica o principal complexo penitenciário de Nova York, ela agora foi julgada e considerada culpada de uma série de acusações de fraude – como furto qualificado. Fim do Talvez também te interesse "Como provado no julgamento, Anna Sorokin cometeu verdadeiros crimes de colarinho branco durante sua longa farsa", afirmou Cyrus Vance, no comunicado em que anunciou a condenação em 26 de abril de 2019. Pedido de desculpas Sorokin, que optou por não testemunhar durante o julgamento e se declarou inocente, foi condenada a um mínimo de quatro e máximo de 12 anos de prisão, – o tempo total dependerá de seu comportamento. A sentença foi divulgada no dia 9 de maio e ela também foi multada em US$ 24 mil (o equivalente a R$ 94 mil) e condenada a pagar restituição de US$ 199 mil (R$ 785 mil). "Peço desculpas pelos erros que cometi", disse Anna Sorokin, pouco antes de saber a pena. O tempo que ela vai ficar atrás das grades depende de fatores como comportamento. Também deve ser descontado o período em que ela ficou presa antes de saber o tamanho da pena. Ela também corre o risco de ser deportada para a Alemanha, onde morava anteriormente, por ter permanecido nos Estados Unidos após o fim de seu visto. Sinatra x Bruce Springsteen Na audiência, a juíza Diane Kiesel rejeitou a alegação dos advogados de defesa que disseram que Sorokin estava apenas tentando conseguir ganhar a vida em Nova York, usando palavras da música de Frank Sinatra sobre a cidade. A juíza disse que o caso Sorokin lembrava a música de Bruce Springsteen, Blinded by the Light. "Ela ficou cega pelo brilho e glamour da cidade de Nova York", disse, segundo o site de notícias Buzzfeed. Anna Sorokin (à direita) morava em hotéis cinco estrelas, frequentava festas exclusivas, viajava em jatos privados e distribuía gorjetas de US$ 100 Série de golpes Segundo o gabinete do procurador de Manhattan, Sorokin lesou hotéis, empresas, bancos e amigos em uma série de golpes entre novembro de 2016 e agosto de 2017. Ela circulava com desenvoltura pelo mundo da moda e das artes plásticas e dizia ter planos de criar um clube privado de artes, que se chamaria Fundação Anna Delvey. Ao justificar a necessidade de empréstimos, alegava dificuldades burocráticas de movimentar sua fortuna da Europa para os Estados Unidos. Em novembro de 2016, usou extratos e documentos bancários falsos na tentativa de obter empréstimo de US$ 22 milhões (cerca de R$ 85 milhões) para abrir o clube de artes em Manhattan. O valor foi negado, mas ela obteve um adiantamento de US$ 100 mil (cerca de R$ 387 mil). Sorokin usava cheques sem fundo para movimentar dinheiro entre contas de bancos diferentes e então fazer retiradas antes que o cheque fosse devolvido. Em certa ocasião alugou um jato particular no valor de US$ 35 mil (cerca de R$ 136 mil) e nunca pagou a empresa proprietária. O nome verdadeiro de Anna Delvey é Anna Sorokin; ela tem 28 anos, nasceu na Rússia e não tem dinheiro algum Uma de suas vítimas, Rachel Williams, relatou em artigo para a revista New York Magazine como foi convidada por Sorokin para uma viagem ao Marrocos com todas as despesas pagas. Quando o cartão de débito de Sorokin foi recusado, e ela pediu a Williams que usasse o seu, prometendo que reembolsaria a amiga. Williams pagou mais de US$ 62 mil (cerca de R$ 240 mil) durante a viagem, incluindo o aluguel de uma vila de luxo com piscina privada e mordomo. Nunca foi reembolsada. Defesa Anna Sorokin tem mais de 55 mil seguidores no Instagram Durante o julgamento em Nova York, que durou quase um mês, o advogado de defesa, Todd Spodek, disse ao júri que sua cliente estava apenas buscando ganhar tempo até que pudesse criar um negócio bem-sucedido e pagar suas dívidas. Sorokin chamou a atenção pelas roupas que usou no tribunal, de grifes como Yves Saint Laurent e Miu Miu. Segundo relatos da imprensa, ela conta com a ajuda da estilista Anastasia Walker. Em duas ocasiões, chegou a se atrasar em meio a uma crise por não concordar com as roupas que recebeu para vestir, e foi repreendida pela juíza. * Este artigo foi publicado originalmente em 8 de abril de 2019 e foi atualizado. A última atualização é do dia 10 de maio de 2019, com a notícia da sentença de até 12 anos de prisão contra Anna Delvey. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
A polícia de Madison, no Estado americano de Wisconsin, divulgou um vídeo de uma fuga desastrada.
Um suspeito tentou escapar dos policiais roubando um caminhão de entrega de donuts. Na fuga, ele deixou cair várias caixas do doce e, em uma atrapalhada marcha a ré, bateu o caminhão no carro da polícia. O suspeito foi preso e agora enfrenta processo pelo incidente.
A revendedora de cosméticos Maria Aparecida Pereira Toscana, de 56 anos, não sabe até quando vai ocupar o espaço de 13 m² na Galeria Nova Perdizes, em São Paulo.
A vendedora Maria Aparecida Pereira Toscana pensa em fechar sua loja: 'Os clientes não voltaram' Hoje, ela passa grande parte do dia de braços cruzados na loja que montou há seis anos perto de um complexo de torres comerciais. "A maioria das minhas clientes está em home office", diz Cida, como a ex-secretária é conhecida. Há dez anos, ela passou a se dedicar integralmente à venda de cosméticos. Quando fechou as portas, no fim de março, ela achava que estaria de volta em duas semanas. Mas o tempo passou, a loja seguiu parada, e as contas foram chegando. Foi quando ela decidiu correr o risco de vender de porta em porta, fazendo entregas de ônibus ou a pé. Fim do Talvez também te interesse Ainda assim, as vendas eram 80% menores do que antes da pandemia. Cida finalmente reabriu a loja no final de julho, mas o público não veio junto. "O pessoal das torres (comerciais) não voltou. Boa parte nem vai voltar, porque foi mandado embora ou vai ficar trabalhando em casa direto. Outros voltam só em fevereiro", afirma. Ela diz que os donos do imóvel foram "muito bacanas", porque não cobraram o aluguel enquanto a loja estava fechada por causa da quarentena. Mas, agora, com pouquíssimas vendas, ela não tem como arcar com a despesa de R$ 3,5 mil por mês. "Vou ficar até liquidar o estoque", diz Cida, que está usando o Facebook, o Instagram e o WhatsApp para anunciar os produtos. "Minha esperança é que volte (o movimento). Adoro lidar com o público, minhas clientes são minhas amigas. Mas não sei, o clima é de muita incerteza. Talvez fique mais um ou dois meses." Nesta crise, nem o 'efeito batom' salva A história de Cida, uma das cerca de 2 milhões de revendedoras das marcas Natura e Avon no país, está longe de ser um caso isolado. Desde janeiro, as duas marcas se tornaram uma única empresa, sob o guarda-chuva da Natura &Co, multinacional que também é dona da inglesa The Body Shop e da australiana Aesop. Hoje, é a maior companhia de cosméticos e higiene pessoal do Brasil e a quarta do mundo. O mercado brasileiro movimentou no ano passado quase R$ 117 bilhões, segundo dados da Euromonitor, dos quais pouco mais de R$ 31 bilhões foram por meio da venda direta (quando uma pessoa compra produtos das fabricantes para revender ao público). A maioria dessa força de vendas são mulheres. Não há vínculo empregatício entre elas e as marcas. A pandemia foi para essas profissionais um desafio triplo, que a cada dia parece mais difícil de ser vencido. Além da crise econômica que veio a reboque do isolamento social, o negócio das revendedoras foi afetado pelo uso das máscaras faciais, o que levou as mulheres a usarem menos maquiagem. Ao mesmo tempo, muitas agora trabalham de casa e não se maquiam mais todos os dias, exceto para alguma reunião virtual. Segundo a Euromonitor, o mercado de maquiagem vai encolher mais de 12% este ano no Brasil, para R$ 8,8 bilhões, e deve permanecer neste patamar pelos próximos quatro anos. Em outras crises, a indústria era salva pelo "efeito batom": com pouco dinheiro no bolso, as mulheres compravam um batom para elevar a autoestima. Mas, desta vez, mesmo esse produto, o principal desse mercado, vai perder mais de R$ 300 milhões em vendas neste ano, embora ainda deva faturar R$ 2,33 bilhões. Vera Lúcia Cardoso de Mendonça e Amélia da Silva Netto trabalham juntas vendendo cosméticos Pandemia leva a reinvenção de negócios e de vendedoras A pandemia também acelerou a substituição dos catálogos impressos por revistas eletrônicas, que são compartilhadas por redes sociais e WhatsApp. "É um momento de tempestade perfeita para as revendedoras. Elas estão enfrentando muitos fatores contrários ao mesmo tempo", diz o consultor em varejo Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial. Segundo ele, a venda direta, como outros modelos de negócio, está passando por uma reinvenção por causa da pandemia. Na opinião do consultor, a revendedora vai continuar a existir, "porque faz a diferença para quem compra". Elas vendem parcelado para quem não tem cartão de crédito ou fiado para quem só vai ter dinheiro para pagar mais pra frente. Mas essa atividade, como um "bico" que apenas complementa a renda e demanda pouco esforço, deve desaparecer, diz o consultor. "As revendedoras precisarão aumentar a produtividade, uma vez que, para as grandes empresas, uma revendedora esporádica, de pequeno porte, tem o mesmo custo de uma grande revendedora." Esse processo de reinvenção demanda um investimento em redes sociais e outras ferramentas digitais. Mas, no Brasil, esses recursos estão restritos a apenas uma parte destas profissionais. Vera Lúcia Cardoso de Mendonça, de 59 anos, não tem WhatsApp, por exemplo. As clientes ligam para o seu celular — que não é um smartphone — quando querem ver as revistas de cosméticos e dos catálogos de roupas e lingerie. "Deixo a revista (com a cliente) dois ou três dias e depois volto para buscar. Sou muito conhecida aqui no bairro. Quando alguém precisa de alguma coisa, me chama", diz a moradora do Parque Cocaia, no Grajaú, zona sul de São Paulo. Revendedora há 20 anos, ela se desdobrou durante a pandemia para tentar manter sua renda mensal, que gira em torno de R$ 600. "Muita cliente minha trabalha com faxina e ficou parada ou foi mandada embora", diz. O alívio veio com o auxílio emergencial. Muitas clientes deixaram de comprar maquiagem, mas passaram a pedir creme para os pés ("vendi um monte, muita gente ficou com o pé rachado em casa, sem ir ao salão") e colônias. Ela é uma das 300 revendedoras que trabalham com Amélia da Silva Netto, de 62 anos, dona da Talismã, distribuidora de produtos por catálogo de Cidade Dutra, na zona sul de São Paulo. Vera poderia comprar os itens direto das fabricantes para receber comissão maior, mas prefere trabalhar com Amélia, pela confiança. "Ela entende a gente", afirma. "A gente sempre leva calote de alguma cliente, e ela parcela o pagamento." É um benefício que as multinacionais não concedem às suas "consultoras de beleza". "Cinco vizinhas minhas já ficaram com o nome sujo depois que seus produtos foram roubados", lembra Vera. Ineide Pessoa viu seu faturamento cair 80% na pandemia Prêmios para quem vende mais Ela se orgulha de seu desempenho. "Sempre estou entre as dez melhores da Talismã. Nestes 20 anos, já ganhei geladeira, fogão, duas TVs, bicicleta, jogo de jantar", diz Vera, enumerando os prêmios que a distribuidora concede todo ano às profissionais que mais vendem. Neste mês, Amélia prepara uma confraternização surpresa para as 60 melhores revendedoras da Talismã. "A maioria é do grupo de risco, mas muitas não pararam na quarentena", diz ela, que recebe 35% de comissão sobre os produtos da Natura e 30% sobre os da Avon e repassa 20% para as revendedoras. "Elas me ajudam, e eu as ajudo." Amélia diz que as vendas de cosméticos caíram 7% na pandemia — e a queda só não foi maior porque muita gente usou o auxílio emergencial para comprar mais xampu, sabonete, cremes e perfumes, diz ela. Já as vendas de utilidades domésticas e roupas aumentaram 34% entre abril e agosto, em comparação com o mesmo período do ano passado. "Muitas lojas ficaram fechadas. Isso ajudou a gente a vender", afirma Amélia. Ela criou a Talismã há 21 anos e diz que já foi uma das 25 maiores revendedoras da Avon no país, o que lhe rendeu prêmios valiosos: de máquina de lavar a carro zero quilômetro. Conta que repassou quase tudo ao seu time, para incentivar as vendas. Ela diz que a Natura a sondou para abrir uma franquia, mas Amélia descartou a ideia. "Esse modelo exige exclusividade para a marca, e eu não quero", diz. Além disso, ela afirma que, onde abre uma franquia da Natura, toda a venda direta do entorno perde. "Isso prejudica muito as revendedoras." Amélia também acha que a abertura nos últimos anos das chamadas lojas de pronta entrega — uma loja comum, com um grande volume de itens, mas sem a exclusividade que uma franquia exige — também prejudicou o trabalho das revendedoras, que eram até então praticamente o único canal de vendas da marca. A própria Amélia abriu uma loja assim há cinco anos. "Mas as revendedoras dão um retorno financeiro melhor." Mas a empresária diz que também teve o ônus de deixar de figurar entre as maiores revendedoras de Avon depois que as lojas de pronta entrega foram abertas. "É muita concorrência." A dona da Talismã diz que foi convidada pela Natura a abrir uma loja virtual. Neste modelo de negócio, a empresa paga uma comissão menor, de 20%, mas se encarrega de toda a logística de entrega. Amélia não aceitou essa proposta. "Para mim, não funciona. Sou à moda antiga. Nem todo mundo tem habilidade para vender pela internet." A Natura afirma ter adotado medidas práticas para apoiar as revendedoras no período de quarentena Vendas pelas redes sociais Ineide Luzia Darin Pessoa, de 82 anos, sabe bem disso. Dona de um salão de beleza na Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, ela viu o faturamento cair 80% durante a pandemia. Na quarentena, pediu a uma das netas para vender encomendas feitas e que não foram pagas. "Ela vendeu tudo rapidinho, pelo celular", diz Ineide, que trabalha há cerca de 30 anos com a revenda de cosméticos. "Se eu soubesse vender pelo celular, ganharia dinheiro, mas do jeito que está, vou parar de vender." Grande parte das clientes de cosméticos de Ineide estava no próprio salão ou no comércio ao redor. "A loja de sapatos aqui perto vai fechar, a padaria mandou embora metade da equipe, a maioria das clientes do salão sumiu, não tenho como continuar", diz ela, que vendia parcelado em até três vezes, sem entrada. "No começo da pandemia, muita gente deixou de me pagar. Tive que pegar emprestado para pagar a Natura e até hoje estou enrolada por conta disso", diz. A empresa prorrogou por 30 dias o prazo de pagamento das revendedoras no início da pandemia. "Mas foi só durante um mês, não me aliviou em nada", afirma Ineide, que desistiu da Avon. "A venda é muito picada, de baixo valor, mas a cobrança é à vista." Nos últimos seis meses, a Natura &Co afirma ter adotado uma série de medidas para apoiar as revendedoras. Além de prorrogar pagamentos, isentou de juros os boletos vencidos, igualou a comissão de vendas online e por catálogo e criou um fundo de R$ 2 milhões para vendedoras que tivessem contraído covid-19 e perdido renda — a Avon criou um fundo semelhante, de R$ 1,7 milhão. Mas a companhia reconhece que as vendas digitais agora são o foco do seu modelo de negócios. A aposta ficou clara em agosto, quando a Natura &Co anunciou um investimento de R$ 400 milhões em comunicação digital e venda online. Foram criadas revistas digitais interativas, além de peças de divulgação para as revendedoras usarem nas redes sociais. "A pandemia nos mostrou que este foi o canal de vendas mais conveniente", diz Cida Franco, diretora de vendas da Natura no Brasil. Embora afirme que tenha 1 milhão de lojas online de consultoras, a maioria criada após a pandemia, a Natura soma, com a Avon, cerca de 2 milhões de consultoras no Brasil. Isso significa que ao menos metade da força de vendas está fora dessa transformação digital. 'Nós, revendedoras, somos como diaristas dessas empresas, que são exploradoras, mas ajudam a complementar a nossa renda', diz Wilma Cândida de Souza 'Vendo até carro pegando fogo' Mas a tecnologia nem sempre é uma garantia. Delma Wilma Bezerra, de 51 anos, diz que vem usando intensamente as redes sociais e participa de cinco grupos de WhatsApp que reúnem cerca de 270 pessoas, e ainda assim teve uma queda de 60% nas revendas durante a pandemia. Além das marcas de cosméticos com que trabalha há cerca de dez anos, ela passou a vender nos últimos meses utensílios de plástico, suplementos alimentares, móveis de fibra sintética e pão de queijo congelado. "Estou vendendo qualquer coisa que me pedirem. Se alguém quiser um carro pegando fogo, dou um jeito", diz Delma. Ela não gostou da iniciativa da Natura de vender pela internet. "Eles se tornaram concorrentes da gente", afirma. Nos últimos anos, as fabricantes de cosméticos deixaram de investir só na venda direta e diversificaram seus canais de venda, diz Marília Borges, analista da Euromonitor. Isso amplia as possibilidades de contato entre o consumidor e a marca e vem sendo aplicado por várias varejistas e indústrias, não só a de cosméticos. Um bom exemplo é a própria Natura: seus produtos eram comprados apenas por meio das revendedoras há 15 ou 20 anos, mas hoje são encontrados no site da marca, nas franquias, lojas multimarcas, na rua e no shopping, no Facebook e no Instagram. Com a pandemia, o digital foi o que mais se desenvolveu. "As empresas têm incentivado revendedoras a construir relacionamentos via redes sociais. Essa tendência não tem volta", diz Marília. Com 5 milhões de revendedoras no mundo, a Avon sabe que precisa modernizar as ferramentas usadas pela força de vendas. "É um período de aprendizagem e transformação", diz Pedro Gonzáles, diretor-executivo de vendas da empresa no Brasil. Das 1,3 milhão de revendedoras brasileiras da Avon, só 57 mil mantêm uma loja virtual da marca. No Facebook da marca, 270 mil revendedoras estão conectadas. "É uma jornada, um processo de inclusão digital", afirma Gonzáles. "Embora o nosso modelo seja multicanal, a revendedora continua sendo o ponto central do nosso negócio." 'Diaristas' das empresas de beleza Em Beberibe, no litoral do Ceará, Maria José Valentim, a Bia, de 55 anos, viu na revenda de cosméticos uma oportunidade, depois de deixar de ser faxineira por causa de um problema de saúde, há quatro anos. Ela conta que as vendas caíram com a pandemia, mas que continuou a atender pelo celular. A cliente tira foto do que quer e lhe manda. "Eu vou entregar de máscara e álcool em gel. Deus me livre de pegar essa doença", diz Bia. Por sua vez, Wilma Cândida de Souza, de 56 anos, diz que só conseguiu manter o nível de vendas durante a pandemia graças ao seu trabalho como auxiliar de enfermagem no Hospital das Clínicas em Marília, no interior de São Paulo. "Minha maior clientela está no hospital", diz Wilma, que é formada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e começou a revender cosméticos em 1998. "Nós, revendedoras, somos como diaristas dessas empresas, que são exploradoras, mas ajudam a complementar a nossa renda", conta Wilma, que hoje faz uma formação na área de estética. "Meu salário é de R$ 1,6 mil, mas com a venda de cosméticos consigo pagar meu condomínio, abastecer o carro, estudar e pagar uma faxineira a cada 15 dias." Já Adriane de Macedo Ribeiro, de 32 anos, precisou reduzir seu padrão de consumo nos últimos meses, mesmo trabalhando como manicure e revendendo produtos da Avon e da Natura. Ela é casada e mora em Embu das Artes, na Grande São Paulo. Seu marido ficou desempregado, mas já conseguiu um novo trabalho. Ainda assim, a renda do casal não permite mais a compra de algumas "besteirinhas", como queijo e salame. "O pessoal não se arruma para ficar em casa. Nem perfume as pessoas estão passando. No começo (da pandemia), tinha muito medo de ficar saindo. Mas eu preciso trabalhar", diz Adriane. Maria Helena Souza, de 69 anos, revende cosméticos há mais de 30 anos e diz que nunca viu uma crise como essa. Sua clientela está principalmente na Brasilândia, na zona norte de São Paulo, onde ela mora. E que já esteve entre os bairros mais afetados pela covid-19. Maria Helena decidiu ficar em casa e só vender no seu quarteirão. As entregas mais distantes são feitas pelo filho, que é motorista de Uber. "Minha renda caiu pela metade", diz ela. "Muita cliente ficou desempregada, algumas receberam auxílio emergencial. Mas o dinheiro mal dá para a despesa de casa, comida, aluguel, luz", diz Maria Helena. Ela diz que que a Natura ofereceu uma loja online. "Mas eu não quis, não uso internet. Tem cliente que só pede com a revista nas mãos, nem adianta mandar a revista online pelo WhatsApp." 'Minhas vendas aumentaram' Daniele Cristine de Souza diz que as suas vendas dobraram na pandemia Mas houve quem teve a experiência contrária e viu as vendas crescerem durante a pandemia. Das 12 revendedoras com quem a reportagem conversou, três disseram ter sido esse o seu caso, justamente as que apostaram na internet. As vendas de Daniele Cristine de Souza, de 48 anos, dobraram na pandemia. Ela criou uma loja digital da Natura e passou a anunciar no Instagram. "Muita gente comprou produto de higiene pessoal e álcool em gel comigo. Ninguém queria sair de casa para se expor", afirma Daniele, que também trabalha como auxiliar administrativa em um hospital em São Paulo. Em Torres, cidade no litoral gaúcho, Bianca dos Santos Godim, de 25 anos, levou um susto no começo da pandemia. Ela ficou uns 15 dias sem vender praticamente nada, e muitas vendas foram canceladas. "Mas aqui tivemos um longo período de lojas fechadas e isso me ajudou, porque as pessoas não queriam sair", afirma Bianca. Ela diz que, durante a pandemia, com a ajuda do Instagram e do WhatsApp, seu faturamento cresceu 30%. Bianca aproveitou para desengavetar um antigo projeto: uma loja online de roupa infantil. "Com base nas vendas de cosméticos, vi que as pessoas continuaram gastando na quarentena." Roseane Ferreira Lima, de 33 anos, vende cosméticos do Parque São Domingos, zona noroeste da capital paulista, e notou o mesmo movimento. "Como tudo ficou fechado no começo, sempre que alguém precisava comprar um presente me procurava", diz ela. Auxiliar em uma escola de educação infantil em São Paulo, Roseane teve o salário reduzido durante a pandemia e decidiu apostar na venda de cosméticos, que completava sua renda há três anos. Montou um estoque com as promoções feitas pelas marcas e viu as vendas aumentarem 40% na pandemia. "A sala da minha casa virou uma loja", diz ela, que também montou um site e divulga seus cosméticos, perfumes e utilidades domésticas nas redes sociais. Mas Roseane acredita que ela tem uma vantagem em relação às lojas ou sites das marcas: a intimidade entre vendedora e cliente e as condições de compra imbatíveis que só uma relação assim permite. "A maioria das minhas clientes não tem cartão de crédito, e para elas eu vendo fiado. Quando alguém não pode pagar porque teve um imprevisto, me avisa", diz Roseane. "Eu nunca levei calote."
O Brasil deverá chegar às eleições municipais de 2020 enfrentando problemas muito parecidos com aqueles da disputa nacional de 2018, no que diz respeito à desinformação e à propagação de notícias falsas, segundo especialistas no tema consultados pela BBC News Brasil.
Senado deve votar nesta quinta (25) o projeto de lei 'anti fake news' Apesar de iniciativas das próprias empresas de redes sociais e de regulamentações feitas pela Justiça Eleitoral, o país ainda deixa a desejar nos esforços para coibir a disseminação de boatos e mentiras na internet, segundo estudiosos e profissionais. O impacto pode ser ainda maior nas eleições municipais deste ano: com a pandemia do novo coronavírus, a campanha eleitoral deve se tornar ainda mais virtual do que foi em 2018, com maior quantidade de dinheiro despejada nos meios eletrônicos. No fim de 2019, o Congresso também aumentou o volume de recursos disponíveis para as campanhas. Só o chamado 'Fundão Eleitoral' distribuirá R$ 2,03 bilhões aos partidos este ano. Na tarde desta quinta-feira (25/06), o Senado pode votar um projeto de lei cujo objetivo é coibir a disseminação das chamadas fake news - a proposta, no entanto, vem enfrentando críticas de empresas do setor, de influenciadores digitais e de parlamentares. Formalmente, o PL 2630 de 2020 foi batizado de Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Fim do Talvez também te interesse A aprovação de uma lei para coibir as fake news é defendida pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) - e, no entanto, mesmo que o projeto em votação no Senado seja aprovado, dificilmente poderá ser aplicado já nas eleições deste ano. Cadastro e rastreamento O projeto de lei sofreu várias modificações desde o começo da sua tramitação. A última vez em que os senadores trataram do assunto foi em 2 de junho deste ano, quando a votação acabou adiada. A versão atual do projeto foi apresentada no fim da tarde da quarta-feira (24) pelo relator da proposta, o senador Angelo Coronel (PSD-BA). Ao longo dos últimos dias, o político baiano divulgou diferentes versões preliminares do projeto. Apesar de ter modificado vários aspectos, a versão do "PL das fake news" que pode ser votada hoje manteve ao menos dois pontos considerados críticos: a coleta de dados dos usuários das redes sociais por meio de um cadastro; e o armazenamento e rastreamento massivo das mensagens enviadas em serviços como o WhatsApp. "Essa versão atual (do projeto) mantém muitos dos problemas do texto original, apesar de ter largado mão da parte criminal, que era muito complicada", diz Francisco Brito Cruz, doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor do InternetLab, um centro de pesquisa em Direito e internet. "Mas os dois principais problemas persistem", diz ele. "O primeiro é um 'super cadastro', onde você tem de dar o CPF e o número de telefone para ter conta em rede social. Isso inclusive vai ter impacto na inclusão digital, porque se a operadora suspender o chip (de telefone), a pessoa perde o acesso", explica Francisco. "O outro problema é o do Artigo 10º, que manteve a coleta massiva de dados (de mensagens) no WhatsApp (permitindo o rastreamento das mensagens por até três meses). É aquela linha de fazer a coleta antes mesmo de que exista qualquer suspeita sobre o conteúdo", diz o especialista. O texto original do PL das fake news foi apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), em parceria com os deputados Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tabata Amaral (PDT-SP) - mas guarda pouca relação com o texto atual. Na manhã desta quinta-feira, um grupo formado por pesquisadores, organizações da sociedade civil e empresas divulgou nota criticando a nova versão do projeto de lei, e pedindo para que a votação seja novamente postergada. "Nesta nova versão do relatório, o PL 2630/2020 tornou-se um projeto de coleta massiva de dados das pessoas, pondo em risco a privacidade e segurança de milhões de cidadãos. Sem tempo hábil para debate e amadurecimento, o texto pode resultar numa lei que instaure um novo marco regulatório de Internet baseado na identificação massiva e na vigilância e inviabilize o uso das redes sociais e de aplicativos de comunicação", diz o texto. Texto original do PL das Fake News foi apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), em parceria com os deputados Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tabata Amaral (PDT-SP) "Além disso, o projeto atinge em cheio a economia e a inovação, em um momento crucial em que precisamos unir esforços para a recuperação econômica e social do país", afirma a nota, que é assinada por dezenas de entidades e empresas - entre elas a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações (FNDC), a Transparência Brasil, o Twitter, o WhatsApp e o Google. A organização Avaaz, conhecida por mover abaixo-assinados na internet, também enviou nota aos senadores com críticas ao texto. A reportagem da BBC News Brasil procurou o senador Angelo Coronel para comentar o assunto, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem. O impacto das fake news em 2018 O compartilhamento em massa de mensagens via WhatsApp e a difusão de notícias falsas marcaram a eleição nacional de 2018 - o assunto continua sendo investigado até hoje, inclusive por meio de ações judiciais no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em pelo menos seis dessas ações na corte eleitoral, o alvo é a chapa formada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e o vice, Hamilton Mourão. Especialistas e profissionais ouvidos pela BBC News Brasil lembram que, apesar disso, o país não aprovou qualquer lei nova para o assunto - as reações institucionais se limitaram a mudanças na Resolução do TSE que disciplina as eleições municipais. Além disso, as próprias empresas, como o Facebook (que também é dono do WhatsApp) e o Twitter introduziram algumas mudanças para tentar conter a disseminação do conteúdo falso. O Twitter, por exemplo, passou a marcar conteúdo suspeito divulgado na rede - inclusive em perfis de autoridades. O WhatsApp, por sua vez, passou a limitar o encaminhamento de conteúdos que foram compartilhados em massa. "A gente está basicamente na mesma, né?", diz Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP. "O que aconteceu, basicamente, foi o WhatsApp tomar algumas medidas para tentar atenuar o problema. Não sei se são suficientes, mas podem atenuar", diz ele. "Por outro lado, teremos esse problema adicional. Como não vamos ter campanha física, todo mundo vai meio que jogar as cartas na campanha digital. Então, esses problemas que já existem podem ser agravados", diz. Para a jornalista Tai Nalon, fundadora da agência de checagem Aos Fatos, o país ficou para trás diante das mudanças ocorridas na forma como a desinformação se propaga. "Eu acho que a gente avançou pouco no entendimento sobre o que é desinformação e como os atores de desinformação atuam. Não em relação a 2018, mas em relação à própria evolução da desinformação", diz ela. "A gente falou muito sobre WhatsApp em 2018, falou muito sobre Facebook, mas hoje a gente vê uma institucionalização da desinformação a partir de sites de notícias falsas, que naquele momento não eram tão bem estabelecidos, e hoje são. E batem recordes atrás de recordes de audiência", explica a jornalista. Veiculação de notícias falsas nas eleições vencidas por Bolsonaro é apurada no Congresso "Acho que talvez a gente esteja ainda tentando resolver problemas de 2018 em 2020, quando o cenário já é diferente", resume. Segundo Tai Nalon, o TSE tem se mostrado especialmente ativo nessa discussão - inclusive porque a Corte e o processo de votação por meio das urnas eletrônicas foram alvos preferenciais de fake news desde 2018. A corte inclusive fez parcerias com agências de checagem. "O que a gente tem que entender é que a desinformação faz parte da retórica política, sempre fez parte, e o que a gente vê hoje não vai embora. A desinformação não vai embora das redes, seja com uma canetada ou com uma diretriz geral do TSE", pondera ela. Francisco Brito, do InternetLab, diz que há dois pontos principais nas novas regras criadas pelo TSE para as eleições municipais deste ano. Por um lado, ficou proibido o disparo em massa de mensagens eletrônicas, sem a anuência do destinatário; por outro, as empresas foram proibidas de doar bases de dados para as campanhas eleitorais. "E tem um outro ponto sobre desinformação, que é dizer que os candidatos são responsáveis por atestar a fidedignidade dos conteúdos que eles estão compartilhando. Que é uma ideia de que ele não pode só apertar o botão de 'compartilhar' sem maiores consequências", diz Francisco. "Não acho que essas coisas vão resolver completamente o problema, não. Mas acho que o TSE se mostrou preocupado sim, de 2018 para 2020", diz ele. Quais os principais pontos do projeto? No projeto formulado por Angelo Coronel, há alguns pontos que são considerados consensuais entre pesquisadores e sociedade civil - por exemplo, a exigência de maior transparência por parte das redes sociais sobre conteúdos com impulsionamento pago. No entanto, vários outros dispositivos do texto são considerados polêmicos. Eis alguns deles: - Rastreamento de mensagens: conteúdos encaminhados "em massa" em aplicativos de mensagens como o WhatsApp precisam ficar armazenados por pelo menos três meses, para que seja possível rastrear a origem dos mesmos. - Cadastro de usuários: para possuir uma conta em rede social, o usuário precisaria fornecer um número de CPF e um número de telefone válido no país. Em tese, a ideia é permitir que as autoridades saibam exatamente quem são os autores de perfis anônimos nas redes. - Exigência de que os bancos de dados fiquem no Brasil: exige que os serviços que operam no país mantenham suas bases de dados relativas a usuários brasileiros em bancos de dados localizados no país. Empresas do setor criticam este dispositivo, alegando que se trata de uma espécie de barreira comercial. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Em discurso à nação, a presidente Dilma Rousseff prometeu fazer um pacto, com governadores e prefeitos, focado nas áreas de transporte, educação e saúde. A declaração foi uma resposta à onda de manifestações que se alastrou pelo país desde a semana passada. A presidente também afirmou que receberá os líderes das manifestações. Leia a íntegra do pronunciamento pré gravado e exibido em rede nacional, que durou cerca de 10 minutos.
Dilma afirmou que receberá líderes de manifestações,mas criticou danos ao patrimônio "Minhas amigas e meus amigos, todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar. Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas. Mas se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita a coisa a perder. Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia. O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo. Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia - o poder cidadão e os poderes da república. Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo. De propor e exigir mudanças. De lutar por mais qualidade de vida. De defender com paixão suas idéias e propostas. Mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira. O Governo e sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos. Essa violência, promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático. Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil. Todas as instituições e os órgãos da Segurança Pública devem coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo. Com equilíbrio e serenidade, porém, com firmeza, vamos continuar garantindo o direito e a liberdade de todos. Asseguro a vocês: vamos manter a ordem. Brasileiras e brasileiros, as manifestações dessa semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor destas manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira. A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada. E ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros. Sou a presidenta de todos os brasileiros. Dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática. Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão. Esta mensagem exige serviços públicos de mais qualidade. Ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança. Ela quer mais. E para dar mais, as instituições e os governos devem mudar. Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos esforços. Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que priviligie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de 100% do petróleo para a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do SUS. Anuncio que vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências. De sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente. Brasileiras e brasileiros, precisamos oxigenar o nosso velho sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e acima de tudo mais permeáveis à influência da sociedade. É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar. Quero contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular. É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático. Temos de fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus representantes. Precisamos muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção. A Lei de Acesso à Informação, sancionada no meu governo, deve ser ampliada para todos poderes da república e instâncias federativas. Ela é um poderoso instrumento do cidadão para fiscalizar o uso correto do dinheiro público. A melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor. Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas, é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e governos que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação. Na realidade, nós ampliamos bastante os gastos com Saúde e Educação. E vamos ampliar cada vez mais. Confio que o Congresso nacional aprovará o projeto que apresentei para que todos os royalties do petróleo sejam gastos exclusivamente com a Educação. Não posso deixar de mencionar um tema muito importante, que tem a ver com a nossa alma e o nosso jeito de ser. O Brasil, único país que participou de todas as Copas, cinco vezes campeão mundial, sempre foi muito bem recebido em toda parte. Precisamos dar aos nossos povos irmãos a mesma acolhida generosa que recebemos deles. Respeito, carinho e alegria. É assim que devemos tratar os nossos hóspedes. O futebol e o esporte são símbolos de paz e convivência pacifica entre os povos. O Brasil merece e vai fazer uma grande Copa. Minhas amigas e meus amigos, eu quero repetir que o meu governo está ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança. Eu quero dizer a vocês que foram, pacificamente, às ruas: Eu estou ouvindo vocês! E não vou transigir com a violência e a arruaça. Será sempre em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país. Boa noite"
Há décadas o mundo tenta entender o segredo por trás do sucesso da Suécia em áreas como transparência, inovação, saúde, bem-estar social e igualdade de gênero.
Resultados das eleições realizadas no país no fim de semana passado parecem indicar que nem tudo são flores no país escandinavo No entanto, os resultados das eleições realizadas no país no fim de semana passado parecem indicar que nem tudo são flores no país escandinavo. O Partido Democrata Sueco, com plataforma anti-imigração, foi o terceiro colocado no pleito, abocanhando 18% dos votos - em comparação com 12,9% na eleição anterior. Muitos interpretarão os resultados dessa eleição como um voto de protesto do povo sueco, o que confirmaria opiniões de quem questiona a imagem modelo do país escandinavo. O presidente americano, Donald Trump, já fez críticas à Suécia, e o político anti-imigração britânico Nigel Farage afirmou que a cidade sueca de Malmo "é hoje a capital do estupro na Europa". Fim do Talvez também te interesse Pessoas como Trump e Farage tentam difundir a noção de que a Suécia é um país onde uma política de portas abertas para o mundo e valores liberais criariam um pesadelo que hoje colocaria esses mesmos valores em risco. País modelo ou país em processo de falência - qual narrativa está correta? Ponte Øresund, que liga a Dinamarca à cidade sueca de Malmo, onde índice de crimes preocupa os moradores... Por trás dos índices de assassinatos A famosa ponte Øresund, com quase 8 km de comprimento, conecta a Dinamarca à cidade sueca de Malmo. A ponte é bem conhecida por fãs de seriados de suspense escandinavos. Mas é o crime na vida real que preocupa os moradores de Malmo. E para alguns deles, a culpa é dos imigrantes. Durante a crise de imigração na Europa em 2015, a Suécia foi um dos países da UE que mais receberam refugiados. Ela acolheu, per capita, mais migrantes do que a Alemanha, por exemplo. Segundo a Eurostat, agência que coleta dados estatísticos dos países-membros, foram mais de 162 mil pedidos de refúgio em 2015. Ou seja, 1.667 pedidos de refúgio para cada 100 mil suecos. Encorajados pelos portões abertos e pelo generoso auxílio financeiro oferecido pelo Estado sueco, centenas de milhares de imigrantes seguiram para o país. Muitos se acomodaram em uma área de Malmo chamada Rosengard, que já abrigava um grande número de imigrantes. No passado, a região já tinha sido palco de revoltas que deixaram um legado de destruição e carros queimados. E, no início deste ano, uma delegacia foi alvo de ataque a bomba. Tudo isso levou a polícia sueca a designar uma parte de Rosengard como "área vulnerável" - uma entre 23 áreas desse tipo existentes na Suécia hoje. Alguns dizem que o termo "área vulnerável" é um eufemismo. Para eles, o local é hoje, na verdade, uma região a ser evitada, um gueto onde o crime está aumentando e fugindo do controle das autoridades. O principal problema são a proliferação de drogas e armas. Desde o início desse ano, dez pessoas foram assassinadas em Malmo. ... Mas Glen Sjogren (à esquerda) em entrevista ao repórter da BBC Gabriel Gatehouse, afirma que "o número de crimes cometidos em Malmo está diminuindo" e que "o que está aumentando é o número de 'tiroteios espetaculares'" Em entrevista à BBC, um membro de alto escalão da polícia sueca, Glen Sjogren, explica que o último tiroteio em Rosengard ocorreu há poucas semanas. "Acho que sabemos quem foi", diz Sjogren. Mas acrescenta que o suspeito ainda não foi preso. Quando perguntado sobre o perfil das pessoas envolvidas na onda de crimes, ele admite que a maioria dos autores não parece ser de origem étnica sueca. No entanto, Sjogren, que trabalha há 40 anos na polícia de Malmo, nega que a imigração esteja por trás do aumento na criminalidade na área. Vamos aos fatos. Dez assassinatos em nove meses é um índice preocupante para os padrões escandinavos, mas o que muita gente não sabe é que o número de crimes ocorridos na cidade de Malmo não está aumentando. O policial explica: "O número de crimes cometidos em Malmo está diminuindo", diz. "O que está aumentando é o número de 'tiroteios espetaculares'", entre membros de gangues e com grande atenção midiática. O jovem assassinado recentemente em Rosengard, por exemplo, morava no local. "Ele era traficante. Todos os que morreram em Malmo eram criminosos conhecidos." "Essas pessoas não se saíram bem na escola, não têm emprego. Claro que são imigrantes, mas de segunda e terceira geração. Na verdade, são suecos." Ulrika Rogland afirma que, com falta de estrutura da polícia, casos de estupro ficam empilhados, têm de esperar, mas índices desse tipo de crime não estão mais altos Por trás dos índices de estupros Em anos recentes, houve um aumento no número de acusações de estupro e outros crimes sexuais Críticos dizem que a polícia não está conseguindo dar conta dos casos. A advogada Ulrika Rogland diz à BBC que isso é verdade. A polícia de Malmo está sobrecarregada. "Temos policiais trabalhando em casos de estupro e temos vários tiroteios em Malmo. Então, os oficiais têm de ser retirados das investigações de estupro para trabalhar nos assassinatos a tiro. Isso significa que os casos de estupro ficam empilhados, têm de esperar." Novamente, vamos aos fatos: em 2013, a Suécia ampliou a definição legal de estupro. "Acho que (os índices de estupro) estão mais altos, mas é muito difícil saber por quê. Acho bom que estejam mais altos porque isso significa que mais pessoas estão reportando (os casos à polícia)", diz Rogland. Mas ela não acha que mais pessoas estejam sendo vítimas de crimes sexuais na Suécia atualmente. "Sabemos há muitos anos que muitas pessoas não reportam (crimes sexuais), especialmente (os cometidos) em casa, onde a maioria dos crimes acontece." Segundo dados do Conselho Nacional para a Prevenção do Crime na Suécia (BRA), os índices de estupro ns Suécia atingiram seu pico em 2014, portanto antes da chegada da grande onda de refugiados. Em 2015, ano em que o maior número de refugiados entrou no país, os índices de denúncias de crimes sexuais na verdade diminuíram. E segundo a BRA, o número de denúncias de estupro em Malmo não aumentou desde a chegada do maior grupo de migrantes. Na verdade, o pico nos índices de denúncias desse tipo na cidade ocorreu entre os anos 2008 e 2011. Além disso, os números de denúncias de estupro não são mais altos em Malmo do que em outras grandes cidades suecas, como Estocolmo e Gotemburgo. É tudo, na verdade, uma questão de qual narrativa você extrai dos dados. Cartazes são as boas vindas a refugiados na cidade de Malmo, na Suécia: Índices de estupro no país atingiram seu pico em 2014, antes da chegada da grande onda de refugiados Suécia: a construção do mito Para entendermos a origem da imagem da Suécia como um país de progressistas e liberais, é preciso voltarmos a meados do século 20. Nesse período, a política sueca era dominada pelo Partido Social Democrata, com raízes no movimento trabalhista. Usando um modelo ousado que combinava socialismo e liberalismo, o partido parecia estar alcançando grandes resultados. Para o resto do mundo, os suecos eram o povo mais rico do planeta. Tinham o padrão de vida mais alto e um Estado de bem-estar social que havia abolido a pobreza e eliminado as greves. E a Suécia virou um "país modelo". Uma sociedade onde "tudo funcionava e todos trabalhavam". "O único país no mundo onde crianças de sete anos de idade tinham aulas de educação sexual e onde o divórcio acontecia por consentimento mútuo". Claro que, já na década de 1960, já havia quem questionasse essa versão idílica do país escandinavo. O preço da globalização Hoje, a Suécia ainda chega perto do topo nos rankings internacionais que medem felicidade e prosperidade. No entanto, o país gasta menos do que gastava em bem-estar social e serviços públicos. As discrepâncias entre a Suécia do imaginário e a Suécia real são cada vez maiores. Analistas apontam que os anos dourados do socialismo liberal na Suécia se foram. Antigas indústrias morreram. Outras tomaram seu lugar. A transição para uma economia mais globalizada - e uma mão de obra mais educada - foi boa para alguns, mas não para todos. A economia globalizada produziu uma Suécia menos igualitária - e menos homogênea, dizem. Frisa Svensson: "Agora, começamos a ver dificuldades na nossa sociedade. E elas não tem necessariamente a ver com imigração" Da população, percepções distintas Entrevistada pela BBC, a ativista Frida Svensson compara o passado ao presente na Suécia. E vê mudanças claras. "Tivemos muita sorte", opina Frida. "Agora, começamos a ver dificuldades na nossa sociedade. E elas não têm necessariamente a ver com imigração. Agora, as pessoas pensam, 'eu tenho um emprego, eu trabalho o dia todo, pago meus impostos, estou fazendo tudo certo e ainda assim a escola dos meus filhos não está boa, meus pais idosos não estão sendo bem cuidados, os ônibus não estão chegando no horário'. Então, eu acho que as pessoas sentem que não estão recebendo de volta do Estado o que costumavam receber antes." O funcionário da construção civil Morgan Nilson também não está feliz com os rumos tomados por seu país. Ele mora no interior, a uma hora de distância de Malmo. "Trabalho desde os 18 anos de idade e agora tenho 52. Trabalhei na construção minha vida inteira. E todo mundo votava nos social democratas e era membro do sindicato." Morgan Nilson discorda. Para ele, política de portas abertas à imigração não foi boa para os trabalhadores suecos Hoje, no entanto, Nilson diz que ele e seus colegas abandoram a centro-esquerda e agora estão com os democratas suecos, de extrema-direita. Nilson diz que optou pelo partido porque a política de portas abertas à imigração não foi boa para os trabalhadores suecos. A entrada dos estrangeiros no mercado diminuiu salários e baixou preços. "Não temos condições de competir." E quando a reportagem pergunta se ele gostaria de que a Suécia saísse da União Europeia, Nilson responde que sim. "Eu não acredito em fronteiras abertas. Não conseguimos impedir que as pessoas entrem aqui, não sabemos quem está no país." Nilson admite que a Suécia é um país com alto padrão de vida. Então, qual é o problema? – pergunta a reportagem. "Não sei qual é o problema. Eu tenho uma vida boa e muitas pessoas têm vidas boas. Mas não cuidamos dos verdadeiros doentes, dos verdadeiros pobres e dos mais velhos." Para Nilson, a Suécia que ocupa o topo dos rankings internacionais de bem-estar não soa verdadeira. Já não é a Suécia justa e igualitária que costumava ser. "Eu acredito nas políticas dos Democratas da Suécia, de manter a Suécia como ela era antes." A Suécia também deixou de ser a "boa Suécia" para o filho de imigrantes libaneses Hussein, morador de Rosengard, em Malmo Uma outra pessoa para quem a Suécia deixou de ser a "boa Suécia" é o filho de imigrantes libaneses Hussein, morador de Rosengard, em Malmo. "É difícil explicar. Dizem que é gostoso viver aqui, mas as pessoas não se sentem bem mentalmente. Talvez seja o clima." Hussein chegou à Suécia ainda menino. Está desempregado há três anos. Melhor país para refugiados Uma pesquisa publicada no ano passado classificou a Suécia como o melhor país do mundo para se viver se você é um refugiado. Essa é uma imagem da Suécia que há décadas vem sendo reforçada por políticos e pela mídia do país. O depoimento do refugiado sírio Abdurauf al Absi, que vive na Suécia há cinco anos, confirma essa imagem. "Este é um país justo", disse Al Absi à BBC. Segundo o refugiado, todos são tratados com igualdade na Suécia. Hussein, por sua vez, diz que muitos suecos se ressentem de refugiados como Al Absi. "Muitos suecos dizem, '(os refugiados) vêm de sua guerra e recebem tudo'. Enquanto nós (suecos), quando estamos doentes, não podemos trabalhar e não recebemos dinheiro." Para o sírio Al Absi, que vive na Suécia há cinco anos, "esse é um país justo" para refugiados A não integração e o politicamente correto Para completarmos o quadro, voltemos a ouvir o policial Glen Sjoguen. "É preciso ser direto e falar o que está causando o problema: não estamos integrando as pessoas o bastante", diz o policial. "Você consegue viver aqui sua vida inteira sem (precisar) falar sueco." Ele calcula que o índice de desemprego em Rosengard - onde quase todo mundo é imigrante ou descende de imigrantes - seja dez vezes a média nacional, possivelmente mais. Muitos suecos reconhecem que a integração no país tem sido um difícil. Mas, até recentemente, falar sobre isso era tabu. Sjoguen acrescenta, porém, que não seria bem visto tocar nesse assunto entre policiais e a sociedade de Malmo. "Eu provavelmente seria chamado de racista (ao falar em integração). Talvez de nazista. Não sei por quê. Estou apenas falando a verdade." Será que, ao adotar posturas politicamente corretas, a Suécia estaria, na verdade, fazendo um desserviço, e até causando mal, a pessoas como o jovem morto no tiroteio? "De certa forma, sim", diz Sjogren. "É preciso ver o problema como ele é. Para depois fazer algo a respeito." Muitos veem a Suécia como uma estrela guia em um mundo polarizado. E visitam o país em busca de uma confirmação daquela antiga imagem, do país mais bem resolvido do mundo. A moral desta história é que é tudo mais complexo - e que é preciso ter cuidado com narrativas simplistas.
O cliente reclama que seu ingresso de cinema foi carimbado como um alerta sobre conteúdo gay de um filme. Os donos da sala negam e dizem que o carimbo serve de controle para meias-entradas. Um grande jornal do Rio de Janeiro primeiro endossa a versão do cliente e, horas depois, atualiza o texto com a versão do cinema. A produtora do filme embarca no falatório e cria "memes" para atrair mais público. O público, alheio à discussão, cria novas páginas e fotos ironizando a polêmica.
O filme Praia do Futuro contém cenas de conteúdo homoerótico No vaivém de boatos nas redes sociais, cliente, cinema, imprensa, produtora e público têm falado idiomas diferentes no suposto episódio de homofobia que estourou nesta quarta-feira, em João Pessoa (PB). Na falta de dados concretos, a verdade parece ser o que menos importa num dos assuntos mais comentados da semana. O bate-boca começou quando administrador Iarlley Araujo, 34, publicou uma foto no Facebook que mostrava o termo "Avisado", carimbado em seu ingresso do filme Praia do Futuro. Na imagem, vê-se que a sessão do filme acontecia numa das salas da rede Cinépolis. Selecionada para o festival de Berlim deste ano, a fita traz cenas de sexo entre os personagens de Wagner Moura e do alemão Clemens Schick. "Fui a este mesmo cinema três vezes esse mês e nunca carimbaram minha entrada. Agora só fizeram isso depois de me perguntarem se 'eu tinha certeza de que queria ver aquele filme', por causa das cenas homossexuais", reclamou Iarlley à BBC Brasil. Ele sugere que o carimbo seria uma garantia para o cinema no caso de clientes consevadores pedirem o dinheiro de volta após assistir ao conteúdo do filme. "Por isso postei a foto do ingresso, achei uma afronta", continuou o administrador. "É como se dissessem ‘olha, você vai ver um filme de viado, tudo bem?". Em nota, o cinema nega o bafafá. "A utilização do carimbo 'AVISADO' faz parte da política da Cinépolis para notificar o usuário da obrigação de apresentação da carteira de estudante para comprovar o direito à meia-entrada em suas sessões." Nas redes sociais, usuários se confrontam - de um lado, os que defendem o cinema e dizem já ter recebido ingressos carimbados e, de outro, os juram nunca terem visto tal marca, mesmo em bilhetes de meia-entrada. A rede de cinemas ainda diz que "não tem o objetivo de notificar o espectador sobre o conteúdo e cenas contidas nos filmes". Troca-troca Entre uma versão e outra, na tarde desta quinta-feira, o jornal carioca O Globo publicou uma notícia com o seguinte título: "Cinema alerta público sobre filme com sexo gay com Wagner Moura". O texto endossava a versão de Iarlley e sugeria que "um funcionário não identificado" teria confirmado a história. Foi quando os produtores do filme decidiram embarcar na polêmica. No Facebook, eles postaram uma imagem que afirmava: "Sim, há cenas de sexo gay em Praia do Futuro, elas são maravilhosas, o filme está em cartaz nos cinemas". Depois de 3,6 mil curtidas e mil compartilhamentos, a produção publicou nova foto, dessa vez com o diretor do filme e uma faixa com a hashtag #homofobianaoéanossapraia. Foi o ponto de partida para que dezenas de anônimos começassem a postar fotografias com a mesma frase. Tumblrs Depois da polêmica, internautas criaram sites parodiando o carimbo Outros usuários também decidiram embarcar na boataria. Dois deles tiveram a mesma ideia: criar Tumblrs (sites constituídos basicamente por fotos e legendas) ironizando o ''carimbo gay''. Autor do Tá Avisado, o publicitário mineiro Eduardo Noronha, 27, ganhou quase mil seguidores em menos de 24 horas. Na página, ele publica fotos de outros filmes e seus respectivos ''avisos''. Ao lado do cartaz de Esqueceram de Mim, filme dos anos 1990 com o ator Macaulay Culkin, está o alerta: “O senhor está ciente de que este filme possui cenas de abandono de menor?”. Ironizando o caso, o tumblr "Tá avisado" ganhou quase mil seguidores em 24h Junto à imagem de Harry Potter, lê-se: “O senhor está ciente de que não tem mais idade para usar fantasia?”. "A ideia é ironizar o aviso prévio. Mas eu acho a versão do cinema pertinente. Provavelmente é verdade, mas ainda assim não vou apagar a página porque a discussão continua importante." Criador do Tem que Avisar, que funciona nos mesmos moldes, o servidor público carioca Victor Ribeiro, 22, diz usar a página como "protesto". "No calor da discussão vale a pena optar por uma ferramenta efêmera como o Tumblr", diz. "Mesmo que a história não seja verdade, as imagens fazem as pessoas se questionarem e rirem um pouco da situação."
Minutos finais da semifinal de São Paulo. Um jogo com poucas chances de gol, quase nenhuma. Mas a Holanda, finalmente, encontra Robben na posição que ele gosta. O atacante, talvez melhor jogador da Copa, invade a área e prepara o tiro fatal. Mas aparece um corpo voando, um bico de chuteira, e a bola sai para escanteio.
Mascherano é o grande destaque da Argentina "Pensei que ele ia chutar, pensei que não ia alcançar, pensei que ia travar, pensei um monte de coisas… e graças a Deus ele chutou, graças a Deus eu cheguei, graças a Deus não foi gol". Quem conta é Javier Mascherano, o homem que salvou o dia argentino na quarta-feira. A travada sobre Robben foi a cereja do bolo após três jogos em que o grande destaque da Argentina foi o jogador menos badalado do Barcelona. Se a primeira fase foi de Messi, o mata-mata foi de Mascherano até agora. "Foram muitos anos, mas chegou a hora. Nossa bandeira volta a brilhar em uma final do mundo. Só temos que estar à altura das circunstâncias, será o jogo mais importante das nossas carreiras. É um orgulho que nos enche a alma, algo que não podemos explicar", falou o volante argentino. "Mascherano é nosso líder, trabalha 100% o tempo todo. É o técnico no campo, sempre falando sobre os adversários, posicionamento, parte tática. Quando ele vê que alguém está cansado, ele vai lá cobrir. Não tenho palavras para descrever o que ele significa para a gente", comentou outro dos líderes do time, o lateral Pablo Zabaleta. Antes da Copa do Mundo e mesmo durante os primeiros jogos, a imprensa mundial analisava a Argentina como uma seleção fortíssima no ataque, com o quarteto formado por Messi, Di María, Aguero e Higuaín, mas pouco confiável atrás. "Precisamos mostrar que somos favoritos, porque ainda não mostramos que somos um time sólido", falou à BBC Brasil o ex-lateral Juan Pablo Sorín, duas semanas antes da abertura. O ceticismo em relação à defesa ganhou força após os 3 a 2 sobre a Nigéria, no último jogo da fase de grupos. Problemas atrás, Messi resolvendo na frente. Já nas oitavas, contra a Suíça, a Argentina sofreu pouco na defesa, ainda que os suíços pouco tenham buscado o ataque. Para o jogo seguinte, o técnico Alejandro Sabella mudou duas peças: Biglia, um volante mais defensivo, no lugar de Gago, e Demichelis, mais experiente, no lugar de Fernandez na zaga. A lesão de Di María gerou a entrada no time de Enzo Pérez, um jogador que defende mais que ataca. O fato é que o time mostrou-se compacto e sólido contra Bélgica e Holanda, cedendo raríssimas ocasiões de gol e contando com um Mascherano monstruoso nos momentos de necessidade. "Eles foram muito sólidos, realmente", disse à BBC Brasil o veterano holandês Dirk Kuyt. "É para calar um pouco as críticas e mostrar que este é um time, não somos quatro ou cinco jogadores", falou o zagueiro Garay, respondendo aos que diziam que a Argentina era pouco mais do que seu quarteto ofensivo. "A defesa começa com os atacantes, que também estão fazendo as coisas bem", disse Biglia. "Seis jogos, três gols. Se tínhamos sido primeiros nas eliminatórias era também pelo grande trabalho da defesa, e agora estão demonstrando novamente. Só posso agradecer a eles por poder jogar uma final", falou o atacante Higuaín. Espírito coletivo O ex-jogador Daniel Passarella, que levantou a taça como capitão em 1978, reconhece que o sistema defensivo está surpreendendo a todos de forma positiva. "Quando a Argentina finalizou as eliminatórias, todo mundo dizia que o problema era a defesa e o goleiro (Sergio Romero). O goleiro está tendo uma Copa excelente, e a nossa zaga também. Hoje a Argentina tem um time equilibrado, uma zaga mais segura, e Mascherano é o líder do time", analisou no canal Sportv. Espírito coletivo domina o discurso da seleção argentina Romero fez duas defesas na disputa de pênaltis contra a Holanda mas, mais que isso, contribuiu com participações essenciais nos jogos do mata-mata. Dando o tom do espírito coletivo que domina o discurso da seleção argentina, ele divide os méritos com todos os outros. "Eu fico ali embaixo do gol e eles correm, correm, correm. Meu trabalho é não deixar a bola entrar, mas preciso dividir tudo isso com meus companheiros, que se matam em campo. Antes dos pênaltis, Mascherano me disse que 'a história ia mudar', que ia ser meu momento. Me deu muita confiança. O trabalho que estamos fazendo é incrível na defesa, tudo está saindo como planejamos", contou Romero à BBC Brasil. A Argentina ficou quatro jogos, dos seis que fez, sem tomar gols na Copa. Uma campanha que, de alguma forma, lembra a da Espanha em 2010. Na Copa passada, os espanhóis não tomaram um gol sequer na fase eliminatória do torneio. Na semifinal, fizeram 1 a 0 sobre uma Alemanha que havia marcado quatro contra Inglaterra e a própria Argentina nos jogos anteriores. É a Alemanha, que não vence uma Copa desde 1990 e uma Eurocopa desde 1996, o último obstáculo para a Argentina, que vive uma fila ainda maior. Ganhou a última Copa em 1986 e a última Copa América em 1993. Os alemães eliminaram os argentinos das últimas duas Copas, sempre na fase de quartas de final. "É um timaço, que joga de forma formidável, tem técnica, potência, jogo, que fez o que fez com o Brasil. Temos que estar concentrados e não dar espaço, porque com espaço são perigosíssimos", alertou Mascherano. "Temos trabalhado muito um pelo outro, com linhas compactas. Temos generosidade, espírito, entrega, estamos sólidos taticamente. Não damos espetáculo, mas valorizamos a entrega, o trabalho como equipe, e assim será na final", disse Zabaleta. "Vamos enfrentar um dos melhores times do mundo, mas eles também terão certa preocupação de enfrentar essa Argentina, pois sabem que somos um time de entrega, solidário e com jogadores lá na frente que podem desequilibrar. Sofremos derrotas importantes para eles. Temos que ser honestos e pensar que perdemos porque o rival teve mais mérito, mas agora é uma final, e em uma final tudo pode acontecer." A Alemanha chega como favorita essencialmente pelos 7 a 1 impostos sobre o Brasil, anfitrião do Mundial. Tem média de 2,8 gols por jogo (fez 17) e já se mostrava avassaladora nas eliminatórias: 36 gols em 10 jogos (3,6 por jogo). No Mundial, é o time que mais trocou passes, com sucesso de 82%. Contra o Brasil, os alemães encontraram todo o espaço que queriam para fazer o jogo de controle e associações no meio, com Kroos, Schweinsteiger e Khedira alimentando Ozil, Muller e Klose. Contra a Argentina de Mascherano, a tendência é que não seja tão fácil.
O diretor do zoológico de Berlim, na Alemanha, que ajudou a transformar o filhote de urso polar Knut em celebridade internacional, está sendo pressionado a deixar o cargo depois que um político do Partido Verde apresentou uma queixa-crime contra ele por suposta venda ilegal de animais para sacrifício, de acordo com o site da revista alemã Spiegel.
Bernhard Blaszkiewitz nega a acusação com veemência. As principais alegações contidas na queixa de Claudia Hämmerling, membro da Assembléia de Berlim e especialista em direitos dos animais, são de que mais animais do que o necessário são criados no zoológico Tierpark Berlin com a certeza de que os excedentes terão que ser vendidos para sacrifício, diz a revista. Entre os exemplos citados, segundo a Spiegel Online, estão um hipopótamo-pigmeu e uma família de ursos negros asiáticos que, supostamente, foram vendidos em duas ocasiões diferentes em meados dos anos 90. "Hämmerling também alega que o zoológico criou um (filhote) 'bastardo' mestiço de uma pantera e um leopardo de Java, e que tigres e jaguares foram vendidos para a China, onde supostamente acabaram sendo usados em remédios para curar impotência", disse a publicação. As alegações teriam sido apoiadas em documentos obtidos com um proeminente ativista alemão pelos direitos dos animais, Frank Albrecht, de acordo com a Spiegel Online. "Os documentos, que foram colocados no website de Hämmerling, aparentemente mostram que o hipopótamo e os ursos todos acabaram na cidade belga de Wortel, perto de Antuérpia, depois que o Tierpark Berlin livrou-se deles", diz o site da revista. "De acordo com uma carta de um negociante de animais raros, os ursos foram para um zoológico em Wortel, e um trecho de um livro de registro supostamente mostra que os hipopótamos também acabaram em Wortel. Mas outros documentos no website de Hämmerling buscam mostrar que Wortel nunca teve um zoológico, mas na verdade tem um abatedouro." Diretor nega O pedido de renúncia de Blaskiewitz foi feito pelo presidente da Liga Alemã de Proteção aos Animais, Wolfgang Apel, caso seja provado que os animais acabaram em um abatedouro, diz o artigo no site noticioso da Alemanha. Mas a acusação é negada categoricamente pelo diretor do zoológico de Berlim em uma entrevista por telefone concedida à Spiegel Online. Blaszkiewitz nega que o zoológico esteja criando um excedente de animais deliberadamente. "Todos os animais são planejados", disse o diretor, explicando que o zoológico ainda está esperando em vão por filhotes de várias espécies, de acordo com o artigo da publicação alemã. O artigo da Spiegel Online diz: "Blaszkiewitz disse que o hipopótamo-pigmeu mencionado na queixa foi vendido para um negociante alemão de animais exóticos idôneo que ele conhecia há 30 anos, em um acordo completamente transparente. O animal foi então para um zôo em Ghent, na Bélgica, que depois fechou." Os três ursos foram doados a outro negociante idôneo na Alemanha, segundo o diretor do zôo de Berlim, que diz não saber para onde eles foram depois. Sobre o cruzamente dos felinos, que Blaszkiewitz afirmou serem da mesma espécie, ele disse que teriam ido para a China com a permissão da Agência Federal para a Conservação da Natureza da Alemanha. Blaszkiewitz qualificou as acusações de Hämmerling de ter objetivos políticos, segundo a Spiegel Online. A assessora de imprensa do escritório da promotoria pública de Berlim, Simone Herbeth, confirmou para a Spiegel Online que as queixas de Hämmerling estão sendo verificadas para que se decida se justificam uma investigação mais ampla. Segundo a publicação, Herbeth afirmou que a venda de animais de zoológico sem razões suficientes é um crime passível de multa ou pena de prisão de até três anos. A própria criação de Knut, por mãos humanas depois que o urso foi rejeitado pela mãe, atraiu críticas de ativistas pelos direitos dos animais em 2007. Desde então o animal cresceu e tornou-se uma das maiores atrações do zôo de Berlim.
Sempre fiz questão de desconhecer solenemente a existência das vacas.
Servem de paisagem rural e, não estou bem certo, parece que leite e uma porção de seus derivados, inclusive o filé com fritas, têm algo a ver com os bucólicos e meio tolos animais irracionais. Minha indiferença às vacas só era comparável à minha indiferença aos ministérios da fazenda de países do Terceiro Mundo. Eu disse “era”. Agora, graças aos progressos da ciência, empombei para valer com as vacas. A ciência, mediante seus derivados, os cientistas, informa a quem quiser saber, em belíssimas publicações especializadas, que as vacas são responsáveis por boa parte do efeito estufa que, todo mundo sabe, é o responsável pelas mudanças climatéricas que deverão ter início, em todo o globo terrestre, a partir das 13 horas do dia 23 de abril do ano de 2786, quando as coisas – todas as coisas – vão, para recorrer a um lugar-comum, esquentar para valer. E grande parte dessa catástrofe se deve a… a… às vacas. Não só às suas bestíssimas ruminações idiotas nos campos deste pobre planeta, mas às suas flatulências. É oficial, é científico: as flatulências vacais contribuem com seu metano e seu dióxido de carbono para o esquentamento planetal que se avizinha. Parem de culpar carros e caminhões, usinas de energia e os pobres dos combustíveis de fósseis. Nós, humanos racionais, somos 6,5 bilhões neste planeta sem graça. Elas, as vacas irracionais, são 1,4 bilhão. Flatulando o tempo todo. Parem com isso, vaquinhas! Mais “muu” e menos “braap”. Curioso o cinema não ter se aproveitado das vacas e suas flatulências para fazer um desses filmes de hecatombe terrestre. Mais curioso ainda: e nós, 6 bilhões e 500 mil, com nossas flatulências? Seremos tão superiores assim, tão isentos de culpa, quanto as débeis mentais das vaquinhas? Gente ou vaca, eu quero é ver o filme.
No meio de um gramado há alguns arbustos de aproximadamente um metro de altura.
Os cemitérios forenses prestam serviços às autoridades que tentam esclarecer os crimes Eles são um pouco mais altos que os demais, porque o pedaço de terra em que crescem se alimenta de substâncias liberadas por cadáveres humanos que apodrecem por várias semanas. De longe, o local parece um campo ideal para dar um passeio, mas quando você entra nos arbustos, um forte mau cheiro de morte faz seus olhos lacrimejarem. O dia está ensolarado e a temperatura chega a 30º - o ar é úmido e pesado. Neste terreno de pouco mais de um hectare existem 15 corpos humanos espalhados. Eles estão todos nus, alguns trancados em jaulas de metal. Alguns estão cobertos com um plástico azul, outros enterrados e outros diretamente ao ar livre. Fim do Talvez também te interesse Cada corpo forma uma silhueta que parece um montinho de grama morta, mas então, naquele mesmo pedaço de terra, um arbusto vigoroso crescerá, mais alto que os outros. Erin Kimmerle estuda corpos do momento da morte até restarem apenas os ossos Esse local aberto é um laboratório de antropologia forense da Universidade do Sul da Flórida, que opera desde 2017 no condado de Pasco, a 25 minutos da cidade de Tampa. O campo fica em uma zona rural, próximo de um presídio. As pessoas comumente chamam o local de "fazenda de cadáveres", embora os cientistas prefiram chamá-lo de cemitério forense ou laboratório de tafonomia, área da ciência que estuda o que acontece a um organismo após sua morte. Na verdade, essa "fazenda" inicialmente seria localizada no condado de Hillsborough, a cerca de 80 km de Pasco, mas os vizinhos se opuseram ao projeto porque temiam a desvalorização de suas propriedades diante do fedor de corpos em decomposição. As críticas a este tipo de laboratório não vêm apenas de pessoas que não querem viver perto de pessoas mortas. Mesmo dentro da comunidade científica há aqueles que são céticos sobre a necessidade e o valor científico das fazendas de cadáveres. Mas como são essas fazendas, para que servem e por que geram tanta controvérsia? Alguns dos corpos são protegidos por gaiolas para evitar que sejam alvos de aves de rapina Corpos em decomposição A fazenda de cadáveres da Universidade do Sul da Flórida é uma das sete existentes nos Estados Unidos. Também há algumas na Austrália. Países como Canadá e Reino Unido têm planos para abrir seus primeiros campos do tipo neste ano. Os cadáveres que estão na fazenda da universidade americana são de pessoas que antes de morrer decidiram doar voluntariamente seus corpos para a ciência. Em outros casos, são os parentes do falecido que decidem dar o corpo à perícia. O objetivo principal desses lugares é entender como o corpo humano se decompõe e o que acontece no ambiente que o rodeia durante esse processo. A compreensão desse processo fornece dados para a resolução de crimes ou para a melhora das técnicas de identificação de pessoas. "Quando alguém morre ocorrem muitas coisas ao mesmo tempo (no corpo)", diz Erin Kimmerle, diretora do Instituto de Antropologia Forense da Universidade do Sul da Flórida. "Ocorre desde a decomposição natural, até a chegada de insetos e mudanças na ecologia." Os dados coletados pela perícia são úteis na reconstrução de cadáveres não identificados Kimmerle e sua equipe consideram que a melhor maneira de entender o processo de decomposição é observá-lo em tempo real, com corpos reais em um ambiente real. Segundo Kimmerle, em geral o corpo humano passa por quatro etapas depois da morte. Na primeira, chamada de "corpo fresco", a temperatura do cadáver cai e o sangue deixa de circular - ele também se concentra em certas partes do corpo. Então, durante a "decomposição inicial", as bactérias começam a consumir os tecidos - a cor da pele também começa a mudar. No terceiro estágio, a "decomposição avançada", os gases se acumulam, o corpo incha e os tecidos se rompem. Finalmente, inicia-se a "esqueletização", que se evidencia pela primeira vez no rosto, nas mãos e nos pés. Em algumas condições de umidade e outros fatores, o corpo pode ser naturalmente mumificado. Esses estágios, no entanto, são influenciados pelo ambiente em que o corpo está - e isso é de interesse para a ciência forense. Dados valiosos Na fazenda, alguns corpos ficam dentro de uma cerca de metal para que animais carnívoros, como aves de rapina, não os ataquem. A gaiola impede que eles sejam comidos por gambás e abutres, então, a perícia pode estudar como ocorre a decomposição tecidual. Os cientistas também observam a ação dos vermes, que se alimentam dos órgãos internos do cadáver. A decomposição dos corpos afeta a terra onde eles se encontram Por outro lado, outros corpos estão totalmente expostos, à mercê dos animais que chegam em bandos. Eles fazem buracos na pele, rasgam músculos e tecidos e até mesmo rodeiam o corpo para comer o máximo que podem. Enquanto isso, os pesquisadores visitam a fazenda todos os dias para tirar fotos e filmar, observar como a decomposição evolui e comparar o processo de cada um de acordo com as condições do local onde estão. Geólogos e geofísicos trabalham em conjunto com a perícia para analisar o solo, a água, o ar e a vegetação. Eles estão interessados ​​em saber como as substâncias liberadas pelo corpo mudam as propriedades do local onde ele se decompõe. "Tentamos obter o máximo de informações de cada indivíduo", diz Kimmerle. Quando os corpos já são apenas esqueletos, eles são transportados para o que a perícia chama de "laboratório seco", onde limpam os ossos e os armazenam para que estejam disponíveis para estudantes e pesquisadores. Crimes não resolvidos Os dados coletados por pesquisadores de tafonomia são úteis para investigações de medicina legal e forense. A maneira pela qual um corpo é decomposto serve para refinar a estimativa de há quanto tempo uma pessoa está morta ou se o corpo foi movido ou enterrado. Los investigadores toman datos para ver cómo cambian los cuerpos durante varias semanas. As substâncias que o cadáver libera e o estado do corpo também dão pistas sobre a origem da pessoa. Isso, somado a outros dados genéticos e análise óssea, fornece informações que podem ser aplicadas em casos criminais que ainda não foram resolvidos. É por isso que parte da missão dessas fazendas é prestar serviços às autoridades que tentam esclarecer homicídios. Para muitos pode parecer chocante trabalhar diariamente com a morte e ver corpos humanos em um estado que normalmente preferimos esconder. Para Kimmerle, no entanto, essa questão não é a que causa maior perturbação. "Como profissional da ciência, a gente separa essa conexão", diz ele, referindo-se ao tabu que muitas vezes acompanha o tema da morte. "Trabalhamos com muitas investigações de homicídios, então, o maior desafio é encarar histórias realmente trágicas. Para mim, o mais tenebroso é ver o que uma pessoa é capaz de fazer com a outra", diz Kimmerle. Ele também afirma que é um desafio confrontar as histórias de famílias que perderam seus filhos 20 ou 30 anos atrás e ainda estão procurando por seus restos mortais. Para ela, seu trabalho faz sentido na medida em que ajuda a esclarecer alguns dos quase 250 mil crimes não resolvidos que existem nos Estados Unidos desde 1980. Os geólogos coletam amostras de solo para aprender como sua composição muda com as substâncias liberadas pelos cadáveres humanos De onde vêm os cadáveres? Desde a sua inauguração em outubro de 2017, o cemitério forense recebeu 50 corpos de doadores e tem uma lista de 180 pré-doadores, isto é, pessoas vivas que já decidiram que quando morrerem querem se entregar, literalmente, à ciência. Os doadores são em sua maioria idosos que já estão planejando seus últimos anos de vida. "É como planejar sua profissão post-mortem", diz Kimmerle. "É como se os doadores ajudassem a resolver crimes após a morte." Entre as restrições que existem para doar o corpo estão doenças infecciosas que possam colocar em risco as pessoas que posteriormente estudarão o corpo. Uma ciência emergente As fazendas de cadáveres fornecem dados para a ciência, mas também têm limitações. Patrick Randolph-Quinney, um antropólogo biológico da Universidade Central de Lancashire, no Reino Unido, se diz a favor deste tipo de laboratório, mas afirma que as pesquisas na área ainda são uma ciência emergente. Alguns cientistas têm críticas à existência dos cemitérios forenses "O problema com essas instalações abertas é que existe uma série de variáveis que não se pode controlar, mas apenas monitorar", disse Randolph-Quinney à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC. "Isso torna os dados que eles produzem muito mais difíceis de interpretar, porque eles não se prestam facilmente para fazer previsões." Para o antropólogo, o desafio dos cemitérios forense é encontrar novos padrões para coletar informações e compartilhá-las com outros pesquisadores para obter resultados de maior significância estatística. Sue Black, antropóloga forense da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, também expressa suas reservas. Em um artigo na revista Nature, Black questiona o valor científico dessas fazendas, já que seus estudos são baseados em pequenas amostras e resultados altamente variáveis. A revista também cita um livro que Black publicou em 2018, no qual ela se refere às fazendas de cadáveres como "um conceito espantoso e macabro". Kimmrle, por sua vez, vê um futuro promissor para esses laboratórios e acredita que no futuro haverá novas unidades ao redor do mundo. "Quem entende esse tipo de pesquisa, a profundidade delas e sua importância em aplicações práticas, verá que elas são muito necessárias", conclui Kimmerle. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Você já experimentou colocar uma bala de Mentos dentro de uma garrafa de Coca-Cola? A mistura se transformou em torneio, realizado no fim de semana na cidade holandesa de Breda.
"Todo o dióxido de carbono presente na Coca-Cola é atraído para a superfície da bala tão rapidamente que pode criar um chafariz de até dez metros", afirma um dos participantes. A brincadeira parece ter virado mania e ganhou inclusive uma competição. Apesar de ser popular principalmente entre crianças, o torneio também contou com a participação de muitos adultos.
Inspirado pela natureza, o artista italiano Johannes Stoetter transforma seres humanos em animais e camufla suas obras no ambiente.
Stoetter também é músico e combina arte e música em projetos sociais. Ele é um autodidata que desenvolveu um estilo próprio de pinturas de corpos e atua na comunidade internacional de pintura de corpos desde 2009. Desde então, ele já venceu uma série de prêmios, como o campeonato mundial de pintura corporal, em 2012. Em 2013, tornou-se famoso mundialmente pela criação de um sapo tropical formado por cinco corpos humanos. O artista conversou com a BBC sobre seu trabalho e as mensagens de sua arte. Vídeo: Ashleigh Nghiem, da BBC
Assim que se depara com brasileiros que visitam o local onde vive, a favela de Cité Soleil, a maior de Porto Príncipe, Fabio Loubert, de 12 anos, procura demonstrar seus conhecimentos de português e até entoa versos de uma das mais célebres canções de Roberto Carlos: ''Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada.''
Em português, Fabio conta que pretende demonstrar seus dotes vocais e sua destreza no português para o presidente Lula, durante a visita do líder brasileiro à capital haitiana. Ele espera conhecer o presidente quando ele for ao Batalhão Brasileiro da Minustah, nesta quarta-feira. Fabio conta que a vida ''tá melhor, está mais segura'' em Cité Soleil, que abriga cerca de 250 mil moradores. Violência A Cité Soleil foi cenário de alguns dos mais violentos combates travados pelos militares brasileiros na capital haitiana, desde o início da missão militar no país, em 2004. O local era dominado por gangues, que aterrorizavam os moradores, mas desde o ano passado os soldados do país deixaram os veículos blindados de lado e passaram a fazer patrulhas a pé pelas estreitas ruas da favela. Muitos dos que habitam por lá atribuem a maior segurança à ação dos brasileiros. ''Eles fizeram um trabalho formidável. As coisas estão melhores'', afirma um dos moradores da favela, Jean François Eugène. ''Existe mais segurança hoje em dia'', reforça outro morador, Mascal Ybrenice. 'Dinheilô' Bandeiras do Brasil são vistas em diversos quiosques, e camisas da Seleção Brasileira estão por toda parte em Cité Soleil. As crianças são as que tendem a assimilar termos em português com mais facilidade, saudando os visitantes brasileiros aos gritos de ''beleza'' e ''amigo''. Como um triste lembrete de que mais de 80% da população haitiana se encontra abaixo da linha de pobreza, um dos termos mais repetidos pelos moradores que encontram brasileiros é ''dinheilô''. ''Não existe trabalho. Está tudo muito caro, a comida está cara demais'', diz Mascal Ybernice. Recentemente, a alta de preços de alimentos provocou uma série de protestos populares e até ataques contra o Palácio Presidencial, que levaram à queda do primeiro-ministro Jacques-Edouard Alexis.
Novas nomeações para cargos na Polícia Federal (PF) anunciadas nesta segunda-feira (4) mostram que o presidente Jair Bolsonaro não desistiu de reformar o perfil da corporação mesmo após os revezes da semana anterior, como o pedido de demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e suas declarações sobre uma suposta tentativa de interferência política por parte do Planalto em investigações em curso.
PF apura um suposto esquema de fake news para atacar autoridades, que seria promovido por grupos ligados ao presidente Nesta segunda-feira, foi nomeado como novo diretor-geral da PF Rolando Souza, antes secretário de Planejamento e Gestão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na gestão de Alexandre Ramagem na agência. De acordo com a coluna Painel, do jornal Folha de S.Paulo, Souza já está fazendo alterações também em cargos-chave pelo país. Carlos Henrique Oliveira, atual comandante da PF no Rio de Janeiro - base política da família Bolsonaro e onde correm investigações envolvendo alguns de seus representantes - foi convidado para assumir em Brasília o cargo de diretor-executivo, número 2 na hierarquia da corporação. Isso implica que haverá em breve uma nova nomeação para o comando da PF no Rio de Janeiro, onde há diversas apurações envolvendo Bolsonaro, seus filhos e aliados (confira abaixo). Informações de bastidores indicam que o presidente não estava satisfeito com Carlos Henrique Oliveira ocupando o posto no Rio de Janeiro. Ramagem era o nome preferencial de Bolsonaro para assumir a direção geral da PF no lugar de Marcelo Valeixo, mas sua nomeação foi suspensa por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na última quarta-feira (29). Fim do Talvez também te interesse Moraes considerou, para barrar a nomeação de Ramagem, as denúncias de interferência política de Bolsonaro na PF feitas pelo agora ex-ministro Moro, que anunciou sua saída do governo no dia 24. De acordo com Moro, Bolsonaro desejava a troca no comando da Polícia Federal para ter acesso a informações sigilosas e interferir no andamento de investigações. "O presidente me disse, mais de uma vez, que ele queria ter uma pessoa do contato dele que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, colher relatórios de inteligência", afirmou Moro em coletiva de imprensa ao anunciar sua saída do governo. Ex-juiz da Lava Jato, Moro anunciou sua demissão do governo e acusou o presidente Bolsonaro de tentar interferir em investigações No mesmo dia do anúncio da saída de Moro, o presidente discursou negando ter cometido qualquer irregularidade. "Quero um delegado, que eu sinta que eu possa interagir com ele. Por que não? Interajo com os homens da inteligência das Forças Armadas, interajo com a Abin. (...) Eu nunca pedi para ele o andamento de qualquer processo. Até porque, com ele, a inteligência perdeu espaço na Justiça." Nesta segunda-feira (4), o procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou ao STF a autorização para realizar perícias e colher depoimentos de ministros com o objetivo de apurar as denúncias de Moro. Veja, a seguir, 6 casos que envolvem pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro e que passam pela Polícia Federal. 1. CPMI das fake news Dois filhos do presidente Jair Bolsonaro - Carlos Bolsonaro, vereador do Rio, e Eduardo Bolsonaro, deputado federal - são investigados pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News. Depoimentos à comissão denunciaram a participação de Carlos e Eduardo em campanhas na internet para atacar adversários políticos, com uso frequente de notícias falsas. Alvo de ataques em sites e redes sociais, a deputada federal e ex-líder do governo Joice Hasselmann (PSL-SP) apresentou um dossiê à comissão e acusou Carlos e Eduardo Bolsonaro de impulsionar os ataques. Outro deputado federal, Alexandre Frota (PSDB-SP), também alvo de ataques e outro ex-aliado, fez acusações semelhantes. Frota disse que documentos enviados pelo Facebook à Câmara implicavam Eduardo Guimarães, um assessor de Eduardo, no esquema de ataques virtuais. Segundo Frota, os documentos revelaram que o computador de Guimarães está vinculado à conta do Instagram Bolsofeios, que faz vários ataques contra jornalistas e críticos do governo. Eduardo Bolsonaro disse desconhecer qualquer vínculo entre seu assessor e a conta. A BBC News Brasil perguntou ao gabinete de Carlos qual sua posição em relação às denúncias, mas não obteve resposta. O trabalho da CPMI foi reforçado, desde o fim do ano passado, por um delegado e um perito criminal especializados em crime cibernético. Em 22 de abril, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), determinou a suspensão dos prazos da comissão durante a pandemia do coronavírus. Com a decisão, que contraria os interesses da família Bolsonaro, os congressistas terão mais tempo para investigar o tema. O presidente da CPI Mista das Fake News, senador Angelo Coronel (PSD-BA), já disse que pretende convocar Moro para falar à comissão. 2. Inquérito das fake news O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a abertura de uma investigação sobre ataques a membros da corte e do Congresso. A investigação, que tramita em sigilo, teve acesso às informações colhidas pela CPMI das Fake News e pode se tornar outra fonte de preocupação para Eduardo e Carlos Bolsonaro. Embora a tramitação seja sigilosa, alguns resultados já foram divulgados pela imprensa. Segundo a Folha de S.Paulo, a Polícia Federal identificou Carlos Bolsonaro como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news. E, segundo o Estadão, foram identificados empresários bolsonaristas que estariam financiando ataques contra ministros da Corte nas redes sociais. Após a saída de Moro com acusações contra Bolsonaro, o ministro do STF Alexandre de Moraes, que é relator do caso, determinou que o comando da Polícia Federal mantenha nos postos os delegados da PF que trabalham nesse caso. A medida foi vista como uma forma de evitar que uma eventual substituição na direção-geral da PF influencie a investigação. Boudens, da Fenapef, diz que o ministro do Supremo foi ágil. "Podemos até questionar constitucionalmente aquilo, porque a PF que teria que decidir sobre seus próprios coordenadores, mas entendo que ele acertou ao tomar a medida como preventiva". Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro 3. Investigação de atos pró-golpe O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou a abertura de inquérito para investigar as manifestações realizadas no dia 19 de abril. O pedido de investigação foi feito pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, para apurar se houve ato contra a democracia por deputados federais, o que justifica a competência do STF no caso. Este inquérito também está sob sigilo. Nessa data, o presidente Jair Bolsonaro fez pronunciamento a manifestantes em frente ao Quartel General do Exército. Entre os manifestantes, havia defensores do fechamento do Congresso, do STF e de um novo AI-5, o ato institucional que endureceu o regime militar e suprimiu direitos e liberdades. O presidente não está no pedido de inquérito. Também em relação a essa investigação, o ministro Alexandre de Moraes, que é relator e responsável por coordenar as investigações junto à Polícia Federal, determinou que a PF mantenha nos postos os delegados que já trabalham no caso. 4. Caso Queiroz e a Superintendência da PF no Rio Em agosto de 2019, Bolsonaro anunciou a troca de superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro: Ricardo Saadi foi substituído por Carlos Henrique Oliveira. O presidente mencionou problemas de "gestão e produtividade", mas a instituição negou problemas de desempenho da chefia. Embora o superintendente da PF no Rio não tivesse ingerência sobre casos envolvendo a família Bolsonaro, houve uma avaliação de que Bolsonaro trocou o superintendente porque a atuação de Saadi estava em sintonia com autoridades que lidavam com o Caso Queiroz — que investiga supostos elos entre milícias do Rio de Janeiro — no âmbito estadual, com o Ministério Público do Rio de Janeiro. Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e amigo de Jair Bolsonaro desde a década de 1980, passou a ser investigado em 2018 depois que o Coaf (atual Unidade de Inteligência Financeira) identificou diversas transações suspeitas. Segundo o órgão, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, valor que seria incompatível com seu patrimônio e ocupação, e recebeu transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio. Essas movimentações atípicas, que vieram à tona num braço da Operação Lava Jato, levaram a uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro. Há a suspeita de que as transferências se devessem a um esquema de "rachadinha", no qual parte dos salários dos assessores seria devolvida a Flávio ou destinada a outro fins, o que Flávio nega. Flávio recorreu ao Supremo Tribunal Federal para barrar a apuração, mas foi derrotado, e as investigações foram retomadas por decisão do ministro Gilmar Mendes. Na semana passada, em outro revés para o senador, o ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negou um pedido para que as investigações fossem suspensas. Para os investigadores, Flávio Bolsonaro é chefe de uma organização criminosa que atuou em seu gabinete na Assembleia Legislativa entre 2007 e 2018, e parte dos recursos movimentados no esquema foi lavada em uma franquia de chocolate da qual ele é sócio. Promotores investigam ainda se a "rachadinha" teria sido usada para financiar uma milícia que era comandada pelo ex-policial Adriano Nóbrega, morto em fevereiro. Danielle Mendonça, ex-mulher de Nóbrega, trabalhou como assessora de Flávio. Em conversas de WhatsApp acessadas pelos investigadores, ela disse que o ex-marido ficava com parte do salário que ela recebia do gabinete. Flávio é investigado sob suspeita de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Não há informações detalhadas sobre os próximos passos nem previsão de conclusão porque os processos correm sob sigilo. O senador nega ter cometido qualquer ilegalidade no caso. "Fabricio Queiroz trabalhou comigo por mais de dez anos e sempre foi da minha confiança. Nunca soube de algo que desabonasse sua conduta", disse, no Twitter, quando o caso veio à tona. "Tenho meu passado limpo e jamais cometi qualquer irregularidade em minha vida. Tudo será provado em momento oportuno dentro do processo legal", afirmou Flávio em nota. No domingo (26/04), em meio às negociações sobre novos nomes para assumir a PF e o Ministério da Justiça, Bolsonaro recebeu no Palácio da Alvorada o advogado Frederick Wassef, que advoga para Flavio Bolsonaro no caso Queiroz. Não houve declaração à imprensa. 5. Adélio Bispo No pronunciamento em que rebateu acusações de Moro, Bolsonaro disse que o ex-ministro se preocupou mais com o caso do assassinato da vereadora Marielle Franco do que com o atentado sofrido por ele durante campanha presidencial. A pressão de Bolsonaro sobre o caso Adélio Bispo, autor do atentado a faca, será o primeiro problema para o novo diretor da PF. Segundo a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, a avaliação interna entre os policiais federais é que já houve intensa investigação neste caso, mas que não foi encontrado um mandante. Ainda está pendente, no entanto, a decisão do STF de autorizar ou não investigações em documentos e equipamentos recolhidos com advogados de Adélio. Caberá aos ministros do Supremo decidir se, neste caso, a PF terá permissão para periciar um celular e outros materiais apreendidos no escritório do advogado Zanone Manuel de Oliveira, que defende Adélio. A investigação dos materiais que estavam com Zanone foi suspensa após a Justiça atender a um pedido da Ordem dos Advogados do Brasil, que argumentou que vasculhar informações de um advogado violaria o sigilo profissional garantido pela Constituição. Bolsonaro e seus advogados defendem que essa perícia poderia ajudar a elucidar o episódio. Adélio está preso desde o atentado, em setembro de 2018. 6. Secretário de Comunicação de Bolsonaro No início deste ano, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar supostas irregularidades cometidas pelo secretário de Comunicação Social da Presidência da República, Fábio Wajngarten. O inquérito também tramita em sigilo. O pedido do Ministério Público Federal diz que o objetivo é investigar indícios de corrupção, peculato e advocacia administrativa (quando o gestor usa cargo público para defender interesses privados). O caso de Wajngarten veio à tona a partir de uma série de reportagens publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo desde meados de janeiro. O veículo revelou que ele, mesmo com cargo público, segue como o principal sócio de uma empresa que presta consultoria e recebe dinheiro de TVs e empresas de publicidade contratadas pela secretaria comandada por ele. Esse cenário implicaria conflito de interesse. Wajngarten nega todas as acusações e diz que a investigação servirá para provar sua inocência. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
O ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, disse que houve "hipocrisia" na decisão tomada pela União Européia (UE) na quinta-feira de suspender as sanções impostas contra a ilha há cinco anos.
"Desejo manifestar meu desprezo pela enorme hipocrisia" dessa decisão, disse em artigo assinado que aparece no site oficial www.cubadebate.cu. A iniciativa não vai ter impacto econômico em Cuba, porque o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos continua em vigor, disse o líder cubano. A União Européia afirmou que a decisão tem o objetivo de encorajar mudanças na ilha caribenha depois da substituição de Castro pelo irmão, Raúl, no início do ano. Não houve reação oficial de Raúl Castro ou de outras autoridades cubanas até o momento. Castro afirmou que a "hipocrisia" da União Européia fica "ainda mais evidenciada quando coincide com a medida européia brutal de expulsar os imigrantes não autorizados procedentes dos países latino-americanos". Esta foi uma referência às novas medidas anunciadas pelo Parlamento Europeu.
Um exame desenvolvido pelo Brasil e que deve ser distribuído na rede pública de saúde até o fim do ano pode revelar um número maior de casos de microcefalia ligada ao zika, diz Wilson Savino, diretor do Instituto Oswaldo Cruz e integrante do gabinete de emergência formado pela instituição para enfrentar a epidemia.
Cientista trabalha em kit de diagnóstico do zika; governo brasileiro desenvolve exame mais preciso e que pode revelar número maior de casos de microcefalia relacionada ao vírus Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia e com mais de 30 anos de experiência na área, o imunologista carioca está à frente do Oswaldo Cruz, vinculado ao Ministério da Saúde, desde 2013. Atualmente ajuda a coordenar os esforços nacionais de combate à epidemia de zika, dengue e chikungunya. Ele explica que o exame molecular, único disponível no momento para o diagnóstico de zika no país, identifica a presença do vírus na corrente sanguínea, o que dificulta a precisão, pois o zika surge e desaparece do sangue em poucos dias. Já o exame sorológico, que deve ficar pronto no início do segundo semestre e que poderia chegar à rede pública até o final do ano, não busca o vírus, e sim os anticorpos que o organismo produz contra ele, que podem ser detectados muitos meses após a infecção. "Por conta disso, grande parte dos testes em mulheres com sintomas de zika que tiveram crianças com microcefalia não levou à detecção do vírus, mas isso não quer dizer que não tenham sido infectadas. Em alguns casos não se está identificando o vírus em mães de bebês com suspeita de microcefalia somente porque ainda não temos o exame sorológico. É algo muito importante", diz. Fim do Talvez também te interesse Embora Savino ressalte que os cientistas ainda não possuem comprovação da relação de causalidade entre o zika e a microcefalia, há muitos indícios apontando nesta direção. Para Wilson Savino, ausência de exame específico pode estar motivando subnotificação de casos de microcefalia ligada ao zika vírus "Uma vez que tenhamos o exame sorológico, acho muito plausível que haja aumento no número de casos de microcefalia ligados ao zika vírus. Acho que os números serão muito mais contundentes. Embora neste ano já tenha o dobro dos casos de microcefalia do ano passado, a ausência do exame sorológico ainda mantém a discrepância entre avaliação clínica e diagnóstico", afirma. Em entrevista à BBC Brasil, Savino também comentou o alerta global emitido pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que passou a considerar a epidemia de zika vírus uma emergência de saúde pública mundial. "Soar este alarme vai possibilitar decisões mais rápidas nos 20 países afetados, e torna mais evidente que o que está acontecendo no Brasil pode acontecer em qualquer país da região, além de mostrar que estávamos certos ao considerar a epidemia situação de emergência nacional já no ano passado", avalia. Veja os principais trechos da entrevista: Savino - Um dos trabalhos incluídos nesta primeira fase de enfrentamento à epidemia, absolutamente necessário, é que o sistema de saúde brasileiro seja capaz de identificar a infecção pelo zika vírus. Para isso, a Fiocruz desenvolveu uma versão do teste molecular, chamada triviral, que permite identificar dengue, chikungunya e zika no mesmo exame. A intenção é que 50 mil kits deste teste estejam prontos para serem distribuídos daqui a dois meses, e a Fiocruz Paraná tem condições de produzir 500 mil por ano. Esse vírus tem uma característica que dificulta o diagnóstico, por deixar de circular na corrente sanguínea muito rapidamente. E aí entra a importância da segunda maneira de detectá-lo, com o exame sorológico, que ao invés de buscar o agente infeccioso, detecta os anticorpos que o nosso organismo produz quando somos infectados. Neste momento não há testes sorológicos comerciais e a Fiocruz Paraná está desenvolvendo um teste desse tipo, que também é muito mais barato do que o molecular, e com ele saberemos se a pessoa foi infectada há 15 dias, três meses ou seis meses. Teremos muito mais precisão. Savino - Ele ainda está sendo desenvolvido, e uma das principais dificuldades é a similaridade dos anticorpos, sobretudo da dengue e do zika. Mas existem formas de testar simultaneamente se determinado anticorpo reconhece só zika, e você faz uma espécie de peneira e seleciona apenas estes. A questão é que isso demora. Não é uma dificuldade especial, é trabalho comum, mas é uma questão de tempo. Não há nada, em princípio, que nos leve a pensar que seja impossível fazer isso. É questão de trabalhar com rigor científico e de maneira que ao final deste trabalho você tenha um produto que possa, efetivamente, ser útil. E isso leva tempo. A chance de não termos esse teste é quase nenhuma. O prazo é que no final do primeiro semestre e início do segundo semestre possamos ter o teste sorológico pronto para ser produzido em larga escala, e que mais para o final do ano ele possa ser distribuído. Vai demorar um pouco, mas a ideia é que seja usado ainda neste ano. Claro que tudo pode correr bem, mas algumas coisas podem não correr tão bem, quando você desenvolve um produto. Por mais que a sociedade tenha pressa nestas respostas, não podemos nos precipitar. Savino - Do ponto de vista dos reagentes que vão compor o exame sorológico, é a Fiocruz do Paraná que trabalha nisso. Agora, para que a gente valide esses testes, é preciso ter soros de pessoas que foram infectadas, em grande escala. É preciso também ter o vírus produzido em grande escala. E aí a gente envolve outras unidades. Aqui no Rio de Janeiro, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF) e o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) estão começando a colher material de mulheres grávidas, com ou sem sintomas de zika, com ou sem suspeitas de microcefalia, para que a gente tenha o que se chama de um painel de amostras sabidamente infectadas por zika e outras sabidamente não infectadas. Assim podemos fazer os testes de validação. BBC Brasil - Um laboratório alemão chamado Euroimmum diz já ter um exame sorológico para zika. Até que o teste brasileiro desenvolvido pela Fiocruz possa ser distribuído, não seria o caso de o governo federal comprar esse teste europeu que já poderia ser comercializado, segundo a empresa? Savino - O que a Fiocruz vem fazendo é testar a especificidade desses testes que existem no comércio e o que eu posso dizer é que até agora o diagnóstico que eles apresentam cruza com o de dengue, e não isola especificamente o zika, que é o que precisamos. Então por isso talvez seja melhor andar com mais calma, para não gastar dinheiro com algo e depois termos que gastar novamente. Savino - Na verdade esse teste sorológico ainda não foi testado pela Fiocruz. Mas acho que, por outro lado, uma informação importante é que o CDC, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, por enquanto não sugere nenhum desses testes sorológicos que existem atualmente no mercado para comercialização. BBC Brasil - O senhor considera que a resposta do governo brasileiro está sendo adequada? Houve críticas a algumas declarações polêmicas do ministro da Saúde e há quem avalie que o governo poderia ter sido mais incisivo nos alertas às mulheres grávidas, em vez de apenas sinalizar que é um assunto a ser discutido entre a mulher e seu médico. Savino - Quando você vive uma crise que nunca houve na história da humanidade, é difícil avaliar este tipo de questionamento. Eu estou dramatizando, mas é verdade. Nunca houve epidemia de zika relacionada a tantos casos de microcefalia, então não temos conhecimento de base, há muito pouco conhecimento disponível, e a questão fundamental aqui é o processo. Do ponto de vista do processo, do que vem acontecendo e sendo feito desde o ano passado, eu acho que estamos dando uma boa resposta. Fiocruz espera poder distribuir exame sorológico para detecção de infecção por zika a partir do final de 2016 BBC Brasil - Um artigo da revista científica Nature levantou dúvidas sobre os números da epidemia no Brasil e disse que o fato de estarmos olhando os casos de microcefalia mais de perto pode ter gerado uma atenção maior e por isso haveria maior registro de casos. Como o senhor recebeu esta análise? Savino - A primeira coisa é a pertinência da análise, e a análise é bastante pertinente. Quando você quer investigar algo, você olha com mais atenção para aquilo, é claro. Mas mesmo peneirando uma peneira fina, na associação de casos confirmados de microcefalia, nós já temos o dobro de 2014. Outro ponto é que, apesar de ainda não termos evidência científica, muito provavelmente temos a ligação entre o zika vírus e os casos de microcefalia. Não há dúvida de que os números precisam ser revistos, mas o fato é que a quantidade de indivíduos com confirmação de microcefalia e sintomas clínicos de zika também aumentou. Apenas no IFF, aqui no Rio já temos 12 casos com esta relação, o que é mais do que o dobro do registrado no ano passado inteiro. Se não forem os 4.180 casos suspeitos de microcefalia, que sejam 300. De qualquer forma é maior do que a série histórica. É algo de novo que está acontecendo, e que precisamos entender.
Os números do milagre chinês das últimas três décadas são contundentes. Com um crescimento econômico anual de 10%, o gigante asiático converteu-se no principal exportador e importador do planeta, na nação com maiores reservas em nível mundial e está prestes a ultrapassar os EUA como o maior mercado interno global. A nova liderança chinesa, que assume nesta semana, deve acelerar algumas dessas mudanças.
Da BBC Mundo Mas o milagre tem um lado sombrio. A coluna vertebral deste salto econômico são mais de 200 milhões de migrantes que abandonaram o campo para buscar trabalho na cidade. Esses migrantes constituem um terço da população economicamente ativa (de 15 a 65 anos de idade) e não têm acesso a saúde ou educação. Para eles, o milagre chinês é uma utopia. A BBC Mundo entrevistou a escritora Hsiao Hung-pai, autora de "Scattered Sands" e "Chinese Whispers", dois estudos-chave sobre o fenômeno da migração chinesa. BBC – Em Scattered Sands a Sra. descreve uma situação de marginalização e grande vulnerabilidade dos migrantes, seja no setor de mineração – onde mais de 3 mil morrem por ano em acidentes –, nas fábricas ou nas construções. Podemos dizer que os migrantes chineses são o novo proletariado? Hsiao Hung-pai – Os trabalhadores migrantes ganham a metade do salário típico urbano e não têm nenhuma proteção trabalhista ou legal. Não têm contrato, as condições de segurança são precárias ou inexistentes, o salário é baixo e, dada a ausência de direitos trabalhistas, muitas vezes simplesmente não são pagos. A isso se soma o tema do registro domiciliar, o Hukou, que dá acesso à saúde e à educação públicas. Um camponês não pode transferir seu Hukou para a cidade. Consegue uma permissão temporária de residência. Se ficar doente, deve pagar como paciente particular ou voltar a sua região de origem para ser atendido. Uma operação de emergência pode ser uma tragédia não só no nível físico, mas também financeiro. Em resumo, estes mais de 200 milhões de migrantes internos são fantasmas que circulam pelas cidades chinesas sem qualquer tipo de direitos. Tudo isso lhes é negado pela sociedade e pelo governo. Aos olhos dos vencedores – a classe média e os ricos – os migrantes são camponeses que vivem nessas condições por sua ignorância e falta de cultura. BBC – É uma situação terrível, mas se eles migram deve ser porque estão melhor na cidade do que no campo. Hsiao – É uma escolha sem liberdade. Trata-se de uma decisão desesperada. Uma causa típica da migração é o tema da saúde. A saúde está nas mãos do Estado, mas desde que Deng Xiaoping lançou sua Gaige Kaifan – a abertura pró-capitalista da economia – é gerenciada com critérios privados de benefício econômico, com o que o atendimento médico é caro e não é acessível para muitos. Um dos muitos casos que investiguei em meu livro foi o de um jovem camponês chamado Peng, que teve de migrar para pagar o tratamento médico de seu tio. Peng acabou trabalhando na capital, Pequim, na construção e na indústria de segurança, duas atividades com muito trabalho informal. Muitas vezes, simplesmente não lhe pagavam por seu trabalho, mas não pensava em voltar porque sua família dependia desse pouco que ganhava. Outra razão típica da migração é o confisco de terra. A terra pertence ao Estado, que a cede por períodos normalmente de 30 anos aos camponeses. Mas devido ao desenvolvimento e à enorme especulação imobiliária, as autoridades municipais costumam confiscar a terra e muitas vezes não pagam a compensação correspondente de acordo com a lei. Sem essa terra que apenas lhes dava a subsistência, os camponeses decidem migrar para a cidade. BBC – Qual a lógica político-social do Hukou? Hsiao – O governo introduziu o Hukou em 1958 para controlar a migração do campo para a cidade e promover uma industrialização acelerada, financiada com os impostos e o sacrifício dos camponeses. Na prática o sistema funciona hoje como o sistema de imigração de um país estrangeiro. Cada autoridade local tem seu próprio sistema. Em Xangai e Guanzhou, dois centros-chave do crescimento econômico chinês, há um sistema de pontuação semelhante ao que a Grã-Bretanha tem para aceitar imigrantes. Leva-se em conta idade, educação, emprego, capacitação e o tipo de experiência profissional daqueles que solicitam o Hukou. Somente os que têm pontuação mais alta conseguem o Hukou e se beneficiar da política pública de habitação, saúde e educação. O restante consegue, no melhor dos casos, uma permissão de residência temporária ou ficam em situação ilegal. Em ambos os casos, estão condenados a uma existência semi marginal. BBC – No entanto, houve experimentos para mudar o Hukou, assim como para universalizar as pensões e o acesso à saúde e à educação. Hsiao – O governo de Sichuan iniciou uma reforma do Hukou, que deve ser finalizada neste ano, pela qual um camponês pode transferir seu Hukou do campo para a cidade. Mas há uma condição. O camponês deve abandonar o direito que tem sobre a terra que está cultivando. Isso fez com que a reforma fracassasse, porque os camponeses consideravam um confisco indireto da terra. Como não confiam nas autoridades, acreditam que vão perder o pouco que têm e que além disso não vão receber a compensação que lhes corresponde. BBC – Ao mesmo tempo, a política oficial desde 2010 é que a China tem que passar de uma economia exportadora a uma mais baseada no consumo. Para isso, precisa de consumidores que, se não tiverem acesso à saúde e à educação, terão de economizar em vez de consumir. Por simples peso numérico – mais de 200 milhões de pessoas – os migrantes deveriam ser fundamentais para essa mudança. Hsiao – Essas mudanças não vão ocorrer simplesmente por um imperativo econômico. Na China não existe o conceito de que esses camponeses são cidadãos. Só quem vive na cidade é. Um morador de Pequim pode mudar o seu Hukou para Xangai ou para o campo sem problemas. Um camponês não. Na saúde, a situação é particularmente dramática, porque quando em 1982 se aboliram as comunas, que forneciam saúde gratuita para todos, os camponeses ficaram sem cobertura médica. Em 2006, 26 anos depois, segundo dados oficiais, menos de 10% da população rural tinha seguro médico. Os planos anteriores para resolver essa situação, anunciados com grande pompa, fracassaram. Sobre a última reforma, lançada em 2010, só se pode dizer por enquanto que é um plano: é preciso ver como vai se traduzir na realidade. BBC – Na China não há sindicatos independentes. Mas o grau de conflitos sindicais é muito alto. Surgiram organizações independentes para representar os migrantes? Hsiao – Com a crise econômica de 2008 houve uma crescente atitude militante dos trabalhadores. No sul, milhões perderam seus empregos, muitas vezes sem que lhes pagassem o que lhes deviam. Segundo as autoridades, houve uma média de 80 mil incidentes por ano desde 2008, entre eles distúrbios, protestos, greves e ocupações. Como o sindicato oficial não apenas não representa os trabalhadores mas também se opõe a qualquer tipo de protesto, os trabalhadores se organizaram informalmente de diversas maneiras e obtiveram várias vitórias. Mas na China não é possível ter organizações independentes. Cerca de 80% das ONGs são ilegais. Às vezes a única maneira de ter uma organização é montar uma companhia limitada, com todas as restrições que isso implica. BBC – Quais as perspectivas com a troca da guarda da cúpula comunista em novembro? Hsiao – Não há mudança à vista. As mudanças não podem ocorrer de cima para baixo, quando a própria população não está incluída de nenhuma maneira. BBC – Não é uma ironia que depois de mais de 60 anos de uma revolução encabeçada pelos camponeses, eles sejam os grandes excluídos? Hsiao – Os camponeses foram sempre relegados em relação à industrialização da China. Durante (o governo de) Mao, a coletivização do campo serviu para manter o crescimento industrial e a população urbana. Com Deng Xiaoping, ocorreu o mesmo com o Gaige Kaifang que privatizou a exploração da terra e eliminou a rede de atenção sanitária e benefícios sociais da era maoísta. O mundo fala de um milagre chinês. Mas se alguém vai aos mercados de trabalho informais que existem nas grandes cidades, a história que ouve é totalmente diferente. Os migrantes falam da exploração, da corrupção, da discriminação e da marginalização em que vivem. É um mundo totalmente diferente que afeta mais de 200 milhões de pessoas. Como é possível considerar milagroso um modelo que explora um terço de sua população economicamente ativa? Leia mais sobre esse assunto Tópicos relacionados
Por volta de 1870 a.C., na cidade de Assur, no norte do atual Iraque, uma mulher chamada Ahaha descobriu um caso de fraude financeira.
Cartas de mulheres assírias encontradas em escavações revelam sua atuação nas redes de comércio da época Ahaha havia investido no comércio de longa distância entre Assur e a cidade de Kanesh, onde fica hoje a Turquia. Ela e outros investidores juntaram prata para financiar uma caravana de mulas para transportar estanho e tecidos para Kanesh, onde as mercadorias seriam trocadas por mais prata, gerando um lucro considerável. Mas a participação de Ahaha nos lucros parecia ter desaparecido — possivelmente desviado por um de seus próprios irmãos, Buzazu. Então, ela pegou um estilete de junco e uma tábua de argila e escreveu uma carta para outro irmão, Assur-mutappil, implorando por ajuda: "Não tenho mais nada além desses fundos", redigiu ela em escrita cuneiforme. Fim do Talvez também te interesse "Trate de agir para que eu não seja arruinada!" Ela instruiu Assur-mutappil a recuperar sua prata e atualizá-la rapidamente. "Faça uma carta detalhada sua chegar até mim na próxima caravana, dizendo se eles pagaram a prata", escreveu ela em outra tabuleta. "Agora é a hora de me fazer um favor e me salvar das dificuldades financeiras!" As cartas de Ahaha estão entre as 23 mil tabuletas de argila escavadas nas últimas décadas nas ruínas das casas de mercadores em Kanesh. Elas pertenciam a expatriados assírios que haviam se estabelecido em Kanesh e mantinham uma correspondência intensa com suas famílias em Assur, que ficava a seis semanas de distância de mula. Um novo livro dá uma visão sem precedentes de um grupo notável dentro desta comunidade: mulheres que aproveitaram as novas oportunidades oferecidas pela mudança social e econômica e assumiram funções que costumavam ser ocupadas por homens na época. Elas se tornaram as primeiras empresárias, banqueiras e investidoras que se tem conhecimento na história da humanidade. 'Fortes e independentes' A maior parte das cartas, contratos e decisões judiciais encontrados em Kanesh datam de cerca de 1900-1850 a.C., período em que a rede de comércio dos assírios estava florescendo, trazendo prosperidade para a região e dando origem a muitas inovações. Os assírios inventaram certas formas de investimento e também foram os primeiros homens e mulheres a escrever suas próprias cartas, em vez de ditá-las a escribas profissionais. É graças a essas cartas que podemos ouvir um coro vibrante de vozes femininas nos dizendo que mesmo em um passado distante, o comércio e a inovação não eram dominados exclusivamente pelos homens. Enquanto seus maridos estavam na estrada ou fechando negócios em algum assentamento comercial distante, essas mulheres cuidavam de seus negócios em casa. Mas também acumulavam e administravam sua própria riqueza e, gradualmente, ganhavam mais poder em suas vidas pessoais. "Essas mulheres eram realmente fortes e independentes, porque estavam sozinhas, eram as chefes da família enquanto o marido estava fora", diz Cécile Michel, pesquisadora sênior do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), na França, e autora do livro Women of Assur and Kanesh ("Mulheres de Assur e Kanesh", em tradução literal). Por meio de mais de 300 cartas e outros documentos, o livro conta uma história incrivelmente detalhada das lutas e triunfos dessas mulheres. Embora repletas de drama e aventura, as cartas de argila em si são minúsculas, do tamanho da palma de uma mão. A história dessas empreendedoras está ligada à da comunidade mercantil assíria como um todo. Em seu apogeu, os assírios estavam entre os comerciantes mais bem-sucedidos e bem relacionados do Oriente Próximo. Suas caravanas de até 300 mulas cruzavam montanhas e planícies desabitadas, transportando matérias-primas, artigos de luxo e, claro, cartas de argila. "Era um braço de uma enorme rede internacional, que começou em algum lugar da Ásia Central, com lápis-lazúli do Afeganistão, cornalina do Paquistão e o estanho que pode ter vindo do Irã ou mais para o leste", afirma Jan Gerrit Dercksen, assiriologista da Universidade de Leiden, na Holanda, que também estudou as tabuletas de Kanesh. Comerciantes estrangeiros levavam essas mercadorias para os portões de Assur, junto com tecidos da Babilônia, no sul do Iraque. Eles eram vendidos aos assírios, que os empacotavam em caravanas com destino a Kanesh e outras cidades na região de Anatólia, na Turquia, onde eram vendidos por ouro e prata. Instrumentos financeiros complexos facilitavam esse comércio, como o "naruqqum", que significa literalmente "bolsa". Uma referência à sociedade anônima na qual os investidores assírios juntavam sua prata para financiar as caravanas lideradas por mercadores durante muitos anos. Os comerciantes também desenvolveram um intenso jargão comercial. As cartas, embora minúsculas, continham uma riqueza de detalhes sobre essa antiga rede de comércio "A tabuleta está morta" significava que uma dívida foi paga e o contrato da tabuleta de argila que registrava isso havia, portanto, sido cancelado. "Prata faminta" se referia à prata que não estava sendo investida, parada ociosa em vez de gerar lucro. As mulheres assírias contribuíram para essa rede comercial movimentada, produzindo tecidos para exportação, emitindo empréstimos a comerciantes, comprando e vendendo casas e investindo em esquemas de naruqqum. Suas habilidades como tecelãs permitiram a elas ganhar sua própria prata. Elas estavam atentas à moda estrangeira e às tendências do mercado para garantir os melhores preços, assim como aos impostos e outros custos que afetavam seus lucros. "Elas eram verdadeiras contadoras. Sabiam perfeitamente o que deviam receber em troca dos seus tecidos. E quando ganhavam dinheiro com a venda dos tecidos, pagam pela comida, pela casa, pelos gastos cotidianos, mas também investiam", diz Michel, que também é cocriadora de um documentário sobre essas mulheres. 'Guardiães dos arquivos' Essa perspicácia comercial permitiu que algumas assumissem posições incomuns para as mulheres da época, atuando como sócias de confiança dos maridos nos negócios. Os comerciantes, por sua vez, se beneficiavam de ter esposas alfabetizadas e versadas nos números que podiam ajudar no dia a dia dos negócios, assim como em emergências. Um comerciante assírio escreve para sua esposa, Ishtar-bashti: "Urgente! Remova suas mercadorias excepcionais. Recolha o ouro do filho de Limishar e envie para mim... Por favor, coloque todas as minhas tabuletas em um lugar seguro." Outros pedem às esposas que consultem tabuletas específicas dos arquivos privados que ficavam na casa para encontrar informações financeiras ou resolver um assunto comercial. "Como eram elas que ficavam em casa, eram as guardiães dos arquivos", diz Michel. "É preciso lembrar que esses contratos representavam muito dinheiro, por exemplo, os contratos de empréstimo e assim por diante." As mulheres, por sua vez, não hesitavam em enviar instruções e advertências a seus maridos ou irmãos. "O que é isso que vocês nem me mandam uma tabuleta com dois dedos de boas notícias suas?", uma mulher assíria chamada Naramtum escreveu a dois homens. Ela reclama sobre uma disputa envolvendo dívidas e mercadorias perdidas e incita os homens a resolvê-la, encerrando de forma descontraída: "Me enviem o preço dos tecidos. Me deixem alegre!" Outra repreendeu o irmão pela falta de pagamento: "Não seja tão ganancioso a ponto de me arruinar!" A antiga cidade de Kanesh, também conhecida como monte Kültepe, onde hoje é a Turquia A independência dessas mulheres contrastava fortemente com algumas outras sociedades do antigo Oriente Próximo, como a Babilônia, no sul do Iraque. Michel lembra que em Assur, como em Kanesh, tanto a esposa quanto o marido podiam pedir o divórcio — e seriam tratados da mesma forma no processo. "Mas exatamente ao mesmo tempo na Babilônia, no sul da Babilônia, a mulher não podia pedir o divórcio, e no norte da Babilônia, se ela ousasse pedir, seria condenada à morte." Com o fortalecimento da influência econômica, vieram melhores condições de vida a nível pessoal para as mulheres. Várias acrescentaram cláusulas aos contratos de casamento que proibiam os homens de arrumarem uma segunda esposa ou viajarem sozinhos, como neste exemplo: "Assur-malik se casou com Suhkana, filha de Iram-Assur. Aonde quer que Assur-malik vá, ele a levará com ele. Ele não se casará com outra mulher em Kanesh." Em algum momento, por razões um tanto obscuras, o comércio entre Assur e Kanesh diminuiu. Por fim, Kanesh estava deserta. Outras cidades e comunidades assumiram as rédeas do comércio, da criatividade e do intercâmbio cultural. Mas as tabuletas de argila das mulheres, endurecidas pelas fogueiras, permaneceram nas casas abandonadas para serem descobertas milhares de anos depois. Elas capturam uma experiência feminina tão raramente documentada na história — não de rainhas ou altas sacerdotisas, mas de mulheres trabalhadoras se perguntando como sobreviver ao dia seguinte. Como Michel diz, em outras cidades da Mesopotâmia, cartas escritas por mulheres também foram encontradas, "mas não há tantas. [Kanesh] é única por isso". E como cerca de metade das tabuletas de Kanesh ainda não foram decifradas, certamente há muito mais segredos aguardando para serem revelados. Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Work Life. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
A população uruguaia , de cerca de 3,5 milhões de habitantes, é praticamente a mesma há 30 anos e equivale quase à metade do número de habitantes da cidade do Rio de Janeiro.
Novo governo prometeu pacote para flexibilizar regras que permitem residência no Uruguai Um dos primeiros planos anunciados pelo presidente eleito, Luis Lacalle Pou, que toma posse em 1º de março, é o de tentar elevar o tamanho da população, facilitando a entrada de residentes estrangeiros. Na semana passada, Lacalle Pou (centro-direita) afirmou que lançará um pacote de medidas para "flexibilizar" as regras atuais de residência, tanto burocráticas como fiscais, de forma a atrair moradores do exterior para o país, que é vizinho do Brasil e tem uma das menores populações da América do Sul. "O Uruguai sempre foi um país de braços abertos para países que expulsam seus habitantes, como venezuelanos, cubanos e de outros lugares da América Latina", declarou. "Mas também é um lugar para as pessoas que não estão com problemas (em seus países de origem), dizem que aqui é um lugar onde se respeita o investimento, onde podem trazer suas famílias, onde há segurança jurídica." As declarações de Lacalle Pou geraram críticas de setores da Frente Ampla (que passará do governo à oposição). O atual ministro da Economia, Danilo Astori, afirmou que as iniciativas poderiam fazer o país "retroceder" e voltar a ser um "paraíso fiscal", como ocorreu no passado. Fim do Talvez também te interesse Outros críticos afirmaram que Lacalle Pou pretende atrair "principalmente os ricos" para estimular a economia uruguaia. Por sua vez, o presidente Tabaré Vázquez disse que "não é fácil" implementar a iniciativa do seu sucessor, mas agregou, segundo a imprensa local, "que seria muito melhor termos 6 milhões de habitantes (como) um motor para impulsionar a economia". Além disso, empresários ouvidos pelo jornal argentino Perfil se dizem céticos quanto à capacidade de a medida promover crescimento econômico no Uruguai, em um momento em que o desemprego beira a casa de 9%. Ainda assim, assessores de Lacalle Pou apontam para as "oportunidades econômicas" que os investidores estrangeiros que residam no país podem criar "porque a economia local", entendem, estaria "melhor" do que a da vizinha argentina e com "boas alternativas" para o empresariado brasileiro. Críticos afirmaram que Lacalle Pou pretende atrair "principalmente os ricos" para tentar animar a economia uruguaia Exemplo de Portugal Em entrevista à BBC News Brasil, o futuro ministro do Turismo do governo de Lacalle Pou, Germano Cardoso, disse que o Uruguai se inspira em países da União Europeia (UE), especialmente Portugal, para aumentar sua população e "ativar" sua economia, sem "prejudicar" a idoneidade fiscal do país. "Não queremos capitais ilícitos, mas sim famílias e investidores, que comprovem seus recursos, que queiram morar e prosperar no nosso país", diz Cardoso, por telefone. Segundo ele, o Uruguai pode ser definido como "uma ilha de prosperidade e de tranquilidade" por oferecer "escolas e universidades de qualidade", "índices de segurança pública superiores aos de países da região" e "qualidade de vida". Atualmente, o Uruguai exige que um estrangeiro que queira obter residência invista cerca de US$ 1,8 milhão (R$ 7,5 milhões) em uma propriedade ou negócio uruguaio, e permaneça no país por no mínimo seis meses consecutivos. Para Cardoso, tais exigências "dificultam" a atração de moradores de outros países. O ministro diz que a equipe econômica da nova administração prepara um conjunto de projetos de lei que serão enviados com "pedido de urgência e consideração" — para acelerar sua tramitação — ao Congresso Nacional. Um residente estrangeiro, explica ele, ainda deverá comprovar que quer investir e se estabelecer no país, mas sem a obrigação de passar seis meses sem viajar ao exterior. "Atualmente, a exigência fiscal é de cerca de US$ 1,8 milhão. Achamos que podemos reduzir esse patamar aos níveis de Portugal, por exemplo, que é em torno de US$ 500 mil, dependendo do caso", diz Cardoso. La Rambla, região costeira de Montevidéu; Uruguai tem se mantido com a mesma - baixa - população há cerca de três décadas O ministro diz que o objetivo, caso o pacote de medidas seja aprovado, é que se analise o conjunto de iniciativas de um candidato à residência no Uruguai — por exemplo, se matriculou filhos em escolas ou universidades uruguaias, em um sinal de que tem a intenção de permanecer no país. "As regras atuais dificultam que possamos atrair mais moradores. O que queremos é flexibilizar, sem ferir princípios internacionais e com regras claras", prosseguiu o ministro. "Aqui no Uruguai temos a característica de respeitar as normas, mesmo com mudanças de linha ideológica no governo. O que queremos é flexibilizar para que mais habitantes venham. Será bom para o Uruguai, será bom para a economia e será bom para quem vier." 'Mais vacas que humanos' A intenção do Uruguai de ampliar sua população não é nova, como observaram historiadores e analistas entrevistados pela BBC News Brasil. No país, chamado por seus habitantes de "paisito", costuma-se afirmar, inclusive, que "há mais vacas do que humanos" — a proporção é de mais de três bovinos por habitante, segundo levantamento recente do jornal El Observador. Organizadora do programa de estudo populacional do Uruguai, fundado nos anos 1990, para analisar a problemática demográfica do país, a historiadora uruguaia Adela Pellegrino, professora aposentada da Universidade da República, destacou alguns dos fatores que explicariam a baixa densidade populacional do país. "O Uruguai fez um caminho parecido ao europeu, que chamamos de transição demográfica. Quando a mortalidade começa a cair, no longo prazo a fecundidade também cai e a população fica estável (e mais idosa). Além disso, o nível de educação contribui. Aqui, no caso uruguaio, entendemos que a educação da mulher, tanto de escolaridade como de cidadania, também acabou contribuindo para a menor fecundidade", explica Pellegrino à BBC News Brasil. Segundo ela, não deixa de ser, porém, "intrigante", que o Uruguai tenha atraído imigrantes em uma trajetória semelhante à da Argentina, no século 19, mas não tenha tido aumento populacional como seu vizinho ou como o Brasil. Segurança pública foi um dos temas que mais mobilizaram uruguaios na última eleição; índice de homicídios, porém, é muito inferior ao brasileiro "A questão da urbanização e da industrialização contou (no caso do Brasil e da Argentina), sem dúvida", disse. Ela agrega que não é a primeira vez que um governo uruguaio tenta atrair migrantes: "nossa pouca população e seus efeitos é uma realidade. E cada governo que chega tem um projeto. Mas muitos projetos não foram eficientes. Vamos ver o que acontecer (com a proposta de Lacalle Pou)", diz Pellegrino. O Uruguai, inclusive, possui uma lei de 2008 que, também para atrair habitantes do exterior, facilitou os trâmites de residência, lembra Luciana Méndez, economista e pesquisadora da Faculdade de Ciências Econômicas e Administração da Universidade da República. "O Uruguai é um país muito aberto aos imigrantes e o trâmite de residência é simples e ágil, sendo necessário provar coisas básicas, como não ter antecedente criminal", disse Méndez. "A lei de 2008 prevê, por exemplo, que os moradores que cheguem do exterior tenham os mesmos direitos que os uruguaios de acesso à saúde e à educação pública e para trabalhar, já que com o documento de identidade provisório já se pode entrar no mercado de trabalho." Ela acha, porém, que a política migratória do novo governo deveria levar em conta também os cerca de 13% da população uruguaia que moram no exterior. "São muitas pessoas qualificadas, com doutorado e outras qualificações, que deixaram o país na ditadura militar, nos anos 1970, ou que foram, de certa forma, expulsas, por causa da crise econômica de 2001. Uma política migratória completa e séria deveria incluí-los também, seja em termos de vínculos econômicos ou acadêmicos", opinou. Para Méndez, a chegada de estrangeiros tem efeitos positivos tanto no âmbito econômico como cultural, mas ela acha que ainda faltam esclarecimentos para que a politica migratória de Lacalle Pou tenha caráter mais amplo. "O Uruguai tem boas condições em relação aos vizinhos da América Latina e estrutura e qualidade de vida para atrair os residentes estrangeiros. Mas esse deveria ser um olhar mais global", disse. Ministro afirmou que Portugal (acima) é inspiração para mudança em política migratória uruguaia Segurança pública Eleita após 15 anos de governo da Frente Ampla, a coalizão de Lacalle Pou defendeu maior rigor no combate à criminalidade, tendo a segurança pública como uma de suas bandeiras. O tema de fato é hoje uma das maiores preocupações dos uruguaios, principalmente daqueles que moram no interior do país, explica Gerardo Caetano, professor de Ciências Políticas da Universidade da República. Cardoso, o futuro ministro do Turismo, diz à BBC News Brasil que, apesar de a "deterioração" na área de segurança pública ter sido um dos motivos por trás da eleição de Lacalle Pou, o país "ainda é muito seguro, comparado a outros da região, e combater o problema é prioridade do governo". De acordo com dados oficiais, o Uruguai passou a ocupar o quarto posto na América do Sul em número de homicídios, com uma taxa de 11,8 por cada 100 mil habitantes, atrás da Venezuela, do Brasil (com cerca de 31 mortes por 100 mil habitantes, segundo o Atlas da Violência 2017) e da Colômbia, aponta o jornal uruguaio El País. Outros rankings internacionais, como da consultoria Mercer, por sua vez, apontam a capital uruguaia como "a melhor para se viver" na América Latina. Segundo o futuro ministro, os brasileiros formam o segundo maior grupo de turistas estrangeiros no Uruguai, com cerca de 400 mil visitantes por ano, atrás apenas dos argentinos.
O governo da Holanda quer proibir a venda de cogumelos alucinógenos no país, depois que acidentes relacionados ao produto, principalmente envolvendo turistas, quase dobraram nos últimos quatro anos.A expectativa é que a proposta conte com o apoio da maioria do parlamento. Mas o prefeito de Amsterdã, Job Cohen, da oposição, é contra a proposta.
Os cogumelos são vendidos na Holanda nas chamadas Smart Shops, que vendem drogas “herbais”, como guaraná e gingko biloba, entre outras. A associação dos proprietários das Smart Shops acredita que a proibição à venda dos cogumelos, conhecidos na Holanda como paddos, vai ter efeitos adversos. De acordo com o Instituto de Saúde Mental, os proprietários alegam que os cogumelos – que contêm o ingrediente alucinógeno psilocibina – só são perigosos quando tomados junto com álcool ou outras drogas. A decisão do governo foi tomada depois que uma jovem francesa de 17 anos morreu ao pular de uma ponte em Amsterdã, no ano passado - mas não foi estabelecida nenhuma ligação formal entre a morte da menina e os cogumelos. A proibição do cultivo e do uso dos cogumelos significa que a maioria das Smart Shops terá que fechar, já que, segundo os proprietários, os usuários vão passar a comprar os cogumelos desidratados, que já são ilegais no país. O prefeito Cohen propôs um meio-termo: os turistas teriam que pegar informações sobre os cogumelos nas Smart Shops, e só três dias depois seriam autorizados a comprá-los nas lojas. Com a informação, eles saberiam dos riscos de consumir o cogumelo com álcool e outras drogas, diz o prefeito.
Em menos de uma semana, o conflito entre Israel e os palestinos escalou dramática e violentamente. É a situação mais grave em cinco anos, e a Organização das Nações Unidas teme uma "guerra em grande escala".
Os cristãos que vivem nos territórios palestinos são cerca de 1% da população Em meio a essa crise, uma minoria observa como um conflito - que está sem solução há quase 70 anos - coloca em risco sua própria existência. São os cristãos que residem nos territórios palestinos. Moradores milenares dessa região, os cristãos palestinos representam 1% da população. Para muitos, a única opção é emigrar, abandonar sua nação. Os que ficam sofrem com o conflito que atravessa o território. "Não somos apenas cristãos. Somos acima de tudo árabes, palestinos. E tudo o que acontece aqui nos afeta diretamente", diz Bandak Saleh, cristão ortodoxo que mora em Belém, na Cisjordânia, à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC. "Se o conflito não for resolvido, não haverá cristãos na terra onde Cristo nasceu", diz ele. Fim do Talvez também te interesse A maioria dos cristãos que vivem em Jerusalém são palestinos. A BBC Mundo consultou vários líderes e membros de igrejas cristãs que residem nos territórios palestinos para descobrir como eles veem esta crise, a escala da violência e seu futuro na região. Muitos cristãos temem que em poucos anos sua comunidade desapareça da chamada Terra Santa 1. "Uma 'ideologia extremista' sangra a Cidade Santa" Atualmente, a população cristã nos territórios palestinos é de cerca de 50 mil pessoas (apenas 1%), distribuídas nas cidades de Belém, Ramallah e Jerusalém, além dos residentes na Faixa de Gaza. Do total, 48% pertencem à Igreja Ortodoxa Grega, 38% à Igreja Católica e o restante a Igrejas Protestantes, Presbiterianas e Ortodoxas de outros ritos (Síria e Armênia). Nessas cidades estão alguns dos centros de peregrinação de suas crenças religiosas: os lugares onde Jesus nasceu, pregou e morreu, de acordo com o relato bíblico e a tradição cristã. Os líderes cristãos da região criticam as ações do governo israelense, parte de "uma tentativa, inspirada em uma ideologia extremista, que nega o direito de existir a quem mora em suas próprias casas", como disse o bispo católico Pierbattista Pizzaballa de Jerusalém em uma declaração recente. "E isso sangra a alma da Cidade Santa", acrescentou. Nos territórios palestinos há presença de igrejas ortodoxas, evangélicas e católicas Por sua vez, para o secretário-geral do Conselho das Igrejas Cristãs do Oriente Médio, Michel E. Abs, há uma consequência clara: "Qualquer conflito, guerra, confronto político sempre causa deslocamento. As pessoas têm que sair do lugar onde vivem", disse ele à BBC Mundo. Para Abs, como os cristãos são minoria, essa ameaça subjacente os coloca em maior risco de desaparecer se o conflito continuar. "Os árabes cristãos que precisam fugir não têm muitos países ou comunidades próximas para se estabelecer e, sendo uma minoria, não têm as mesmas possibilidades de apoio que os árabes muçulmanos, que são a maioria." Isso pode condenar a comunidade que habita a região palestina há séculos, disse o secretário do conselho. "A ameaça é constante. Você não pode crescer ou ter uma vida tranquila se houver constantemente uma entidade que quer te tirar de sua casa, derrubar a árvore que está em seu quintal ou que não te deixa andar quieto" ele diz. Um ponto chave para os cristãos tem sido a ajuda de cristãos palestinos que vivem fora dos territórios - em outros países, outros continentes - e que têm fortalecido a rede de apoio criada por centros comunitários, especialmente na Cisjordânia. "O papel que os líderes religiosos cristãos têm desempenhado tem sido mais eficaz no nível micro: apoiar as suas comunidades através das paróquias, de forma espiritual, independentemente de o beneficiário ser cristão ou não", conclui. "A comunidade cristã tem um peso simbólico, mas é muito pequeno", diz o analista Mariano Aguirre, especialista em questões do Oriente Médio do instituto Chatham House, em Londres. O conflito afeta fortemente todos aqueles que vivem em Jerusalém, especialmente na parte chamada Cidade Velha e em Jerusalém Oriental, de onde os palestinos são constantemente deslocados e onde dizem se sentir perseguidos pelos colonos israelenses. Estima-se que 50 mil cristãos habitem os territórios palestinos. A comunidade cristã, em particular, é muito afetada por duas razões. Primeiro, pelo crescente assédio por parte dos colonos israelenses às comunidades cristãs ortodoxas e seus representantes religiosos. Em segundo lugar, porque dos aproximadamente 16 mil cristãos que vivem em Jerusalém, cerca de 13 mil são palestinos. A comunidade cristã em Jerusalém é muito pequena. Tem um peso simbólico e uma forte presença religiosa, mas sua capacidade de influenciar politicamente o conflito israelense-palestino é limitada. 2. "Se houver conflito, não há economia" Em Jerusalém, empresários de turismo denunciaram entidades israelenses por um suposto lobby para confiscar vários hotéis na Cidade Velha que pertencem a igrejas cristãs. A Igreja Ortodoxa Grega denunciou fortes pressões para que deixasse Jerusalém Walid Dajani é dono do Imperial Hotel, que fica em um prédio que pertence à Igreja Ortodoxa Grega e está localizado no bairro cristão da parte velha. Dajani diz que testemunhou a pressão de grupos radicais israelenses para que ele deixasse esses lugares e abrisse mão da posse. "Foi um pesadelo. Este prédio pertence à Igreja Ortodoxa Cristã há séculos e, devido a decisões judiciais que não entendemos, ela está prestes a perder esse controle", disse Dajani à BBC Mundo. "Para isso, eles tomaram uma série de decisões: aumento de impostos sobre igrejas, agressões verbais e até propostas para aprovar a desapropriação de nossas propriedades", diz. Muitos cristãos palestinos foram forçados a deixar sua nação O governo da cidade de Jerusalém e o de Israel negaram, em diferentes declarações sobre o tema, que haja uma campanha para tomar o controle dos prédios das igrejas cristãs. Uma das entidades israelenses indicadas por trás dessa pressão é a organização Ateret Cohanim, que negou as acusações de "assédio" e de ataques verbais a padres ortodoxos. "As alegações ou acusações do Patriarcado grego sobre 'colonos radicais' atacando seus padres com abuso verbal, etc. são absurdas, inaceitáveis ​​e vergonhosas", disse Daniel Luria, porta-voz de Alteret Cohanim, ao jornal britânico The Guardian. "Ateret Cohanim acredita na coexistência com cristãos e muçulmanos, vivendo lado a lado sem cercas ou fronteiras, vivendo em qualquer bairro de Jerusalém", acrescentou. A verdade é que a grande maioria dos cristãos que residem nos territórios palestinos vive da indústria do turismo. Principalmente em Belém. Muitos cristãos nos territórios palestinos encontraram refúgio em suas paróquias No centro desta cidade, o Grand Hotel se destaca com seus sete andares de altura. E há anos vem sofrendo as consequências do conflito e agora da pandemia de covid-19. "Tínhamos conseguido sobreviver à pandemia e quando os potenciais visitantes começaram a fazer reservas novamente e vimos a luz no fim do túnel, essa escalada nos obrigou a fechar novamente", conta à BBC Mundo Fares Bandak, cristão ortodoxo e dono do Grand Hotel. "E sempre foi assim: é impossível pensar que alguém vai fazer uma viagem se tem que viver as férias com a sensação de que pode haver um bombardeio. Sem estabilidade é muito difícil construir uma comunidade." Para Bandak, este é um dos grandes problemas: o turismo depende totalmente do que Israel permite. "Não temos aeroporto, ou seja, as viagens para Belém ou Jerusalém dependem principalmente do Ben Gurion (aeroporto internacional localizado próximo a Tel Aviv, em território israelense)." E acrescenta que enquanto em Israel avança uma grande campanha de vacinação contra o coronavírus que tem permitido a reativação do turismo, nos territórios palestinos ela está apenas começando. A maioria dos cristãos palestinos pede o fim do conflito Ele também está ciente de que do lado palestino existem obstáculos para se chegar a um acordo de paz. E um muito específico é o Hamas, a principal organização militante palestina que controla a Faixa de Gaza. "Não faço parte do Hamas porque é uma organização muçulmana e, embora tenha uma posição extremista, não acho que seja uma organização terrorista como Israel aponta", diz ele. "É claro que o Hamas é um obstáculo para se chegar a um acordo de paz, mas eles estão buscando defender os interesses de todos os palestinos contra a ocupação e o constante assédio de Israel", acrescenta. 3. "Não podemos visitar igrejas" Saleh Bandak foi preso várias vezes. Passou vários dias em prisões israelenses. Após vários anos de ativismo político, ele agora está no ramo de alimentos. Bandak mora em Belém, onde tem um restaurante próximo à Basílica da Natividade, um dos principais pontos de visitação da chamada "Terra Santa". "Eu sou um cristão ortodoxo e muitas vezes quando quero ir orar no templo de Maria Madalena, que é um dos templos sagrados que existem em Jerusalém, eles não me deixam passar. Eu não posso", diz Saleh à BBC Mundo. Para ele, isso pode piorar no futuro, a ponto de não haver mais cristãos nos territórios palestinos. "Ninguém quer viver assim. As pessoas querem viver em paz. Se querem ir rezar, que é uma coisa cotidiana, deveriam poder fazer isso sem ter que apresentar documentos no caminho para a igreja", afirma. "Tenho dito: se o conflito continuar, não haverá mais cristãos na terra de Cristo. Onde Jesus nasceu e morreu", diz ele. Quando questionado sobre o Hamas como um possível obstáculo para se chegar a um acordo de paz na região, ele aponta para o contrário. "O Hamas não é nosso inimigo. Pelo contrário, tenho vários amigos que são ativos no Hamas. Eles nunca foram uma ameaça para os cristãos na Palestina", diz ele. Como Saleh, Bandak não é otimista quanto ao futuro. "Não é apenas porque afeta os cristãos na Palestina. Não estou otimista sobre o que acontecerá aos palestinos em geral. Há cada vez mais ameaças e mais perseguições de Israel", diz ele. "E não vejo como o conflito vai acabar." Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
O secretario de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, reiterou nesta terça-feira em Brasília que o programa nuclear brasileiro não preocupa os Estados Unidos como o de outros países, como o Irã.
Powell, que se encontrou com o presidente Lula, também repetiu uma afirmação anterior, em que disse que o Brasil é um forte candidato a uma vaga permanente do Conselho de Segurança da ONU. No entanto, o secretário disse que os Estados Unidos devem esperar um relatório que a ONU está preparando com a proposta de reforma do Conselho antes de se pronunciar. As afirmações foram feitas em uma coletiva no Itamaraty, da qual também participou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Colin Powell e o chanceler brasileiro também revelaram ter conversado sobre a situação no Haiti e sobre negociações comerciais.
As tropas de paz da ONU foram proibidas de ter relações sexuais com a população local na República Democrática do Congo depois que várias acusações de exploração sexual de mulheres e crianças vieram à tona.
A determinação foi revelada em uma carta do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, ao Conselho de Segurança. Annan também pediu mais 100 policiais do Exército e investigadores francófonos para "erradicar" o abuso. As denúncias de abuso sexual de meninas de até 13 anos foram reveladas no início do ano passado. As vítimas normalmente recebiam comida ou algum dinheiro em troca de sexo, segundo um relatório de janeiro do órgão que fiscaliza a ONU, o Escritório de Serviços de Supervisão Interna. A ONU investigou 150 alegações, entre elas uma de estupro grupal que teria sido feita contra 50 soldados baseados na cidade de Bunia, no nordeste do Congo. "Eu reitero a minha posição, que sei que é compartilhada pelo conselho, de que não podemos tolerar nem um só soldado de paz da ONU vitimizando os mais vulneráveis", diz a carta da Annan. Atualmente, há mais de 12 mil soldados a serviço da ONU na República Democrática do Congo.
As princesas britânicas Beatrice e Eugenie foram alvo de inveja das milhares de meninas que aglomeraram-se em Leicester Square, no centro de Londres, para assistir à pré-estréia de O Aviador, com Leonardo Di Caprio.
Beatrice, de 16 anos, e Eugenie, de 14, foram à pré-estréia com a sua mãe, Sarah Ferguson. O pai das meninas, o príncipe Andrew, não compareceu à festa. As primas dos príncipes Harry e William conversaram com Di Caprio e posaram para fotos ao lado do ídolo. Em O Aviador, o ator americano interpreta o lendário Howard Hughes. A direção do filme é de Martin Scorcese. Orgulho Além das princesas britânicas, Kate Beckinsale e Cate Blanchett foram destaque na pré-estréia. Elas interpretam, respectivamente, as atrizes Ava Gardner e Katherine Hepburn, que participaram da vida boêmia de Hughes. Di Caprio conversou por vários minutos com os fãs, classificando o novo papel como o "mais desafiante" de sua carreira até hoje. "É um personagem fascinante. Me preparei para este filme como nunca em minha vida e estou muito orgulhoso", disse Di Caprio. O Aviador ganhou seis indicações para o Globo de Ouro e é um dos favoritos a receber múltiplas indicações ao Oscar. O Aviador deve estrear no Brasil em fevereiro.
Depois de morrer, que tal voltar à vida na forma de um avatar?
E se você pudesse "falar" digitalmente com seus descendentes, não apenas aparecer nos álbuns de foto? Seu fantasma digital poderia logar no Facebook e entrar em uma discussão animada sobre o seriado Friends, ou fazer postagens no Instagram lembrando daquela viagem de carro pela Itália que você fez com um(a) ex. Ter uma sobrevida digital pode parecer estranho - tema de um possível episódio da série Black Mirror, talvez - mas algumas startups estão investindo tempo e dinheiro nesse conceito. E apostam que a indústria da morte deve ser sacudida por essa tendência em breve. A empresa Eternime, por exemplo, planeja combinar suas pegadas online - tudo que você já postou nas redes sociais, seus pensamentos, fotos do seu smartphone e todo o resto - com inteligência artificial para criar uma versão digital de você mesmo. Esse representante digital poderia interagir com seus entes queridos - e seus descendentes - muito depois da sua morte. "Dependendo dos fatos coletados, o avatar poderá oferecer qualquer coisa, desde dados biográficos básicos até ter um papo envolvente", diz Marius Ursache, fundador da Eternime. Um avatar de alguém amado poderia ser um 'companheiro de conversas', diz Marius Ursache O produto deve ser lançado no próximo ano e, de acordo com a Eternime, mais de 37 mil pessoas já se cadastraram no serviço. Se você acha que ter essa versão digital pode ser um pouco demais - senão assustador -, pode optar por criar algumas mensagens para que sejam publicadas nas redes sociais depois da sua morte por meio do DeadSocial.org. Mas, para evitar sustos, pode ser melhor contar suas intenções às pessoas mais próximas. Planejamento Falando de uma forma pragmática, a tecnologia já está ajudando as pessoas a organizar seus funerais antes mesmo de morrer. Moradora de Los Angeles, a consultora de viagens Rebekah Doran tem apenas 28 anos, mas já planejou o seu com uma empresa chamada Cake. Na ocasião, serão servidos frango e waffles acompanhados de vinho francês aos convidados - como trilha sonora, será tocado música folk. "Ter um plano para o fim da vida é ainda mais importante para os jovens porque, caso o impensável aconteça, somos o grupo com menor probabilidade de estar preparado", diz ela. Frango e waffles estarão no menu do funeral de Rebekah Doran A companhia Cake, com base em Boston, permite que seus clientes programem suas preferências para o fim da vida, desde o funeral até o que acontece com sua página no Facebook. Toda informação é guardada na nuvem ou compartilhada com família e amigos. "Como parte das gerações de nativos digitais, é inevitável que as pessoas busquem uma solução para o planejamento do fim de suas vidas", diz a cofundadora da Cake, Suelin Chen. "Os planos para o fim da vida são exatamente o tipo de informação que você quer manter com segurança na nuvem, onde eles podem ser acessados e atualizados de qualquer lugar, e não apenas pedaços de papel guardados em uma gaveta em algum lugar", acrescenta. Comparação de preços Os negócios em torno da morte de modo geral não eram conhecidos pela sua inovação tecnológica. Sim, temos a possibilidade de jogar nossas cinzas no espaço e de usar caixões e urnas biodegradáveis (algumas contendo sementes), mas um número crescente de startups por todo o mundo acredita que essa indústria precisa ser sacudida. No Brasil, o mercado funerário fatura R$ 7 bilhões por ano com aproximadamente 5,5 mil funerárias, de acordo com o Sindicato dos Cemitérios Particulares do Brasil (Sincep). No Reino Unido, duas empresas - Cooperativa Funeralcare e Dignity - dominam o mercado de funerais de 1,7 bilhão de libras (R$ 6,8 bilhões) com fatias de 25,2% e 18,4%, respectivamente. Isso é ruim para a competição no mercado, pensou a Funeralbooker, empresa que então desenvolveu um serviço para comparar os preços dos funerais por todo o Reino Unido. "Até lançarmos o serviço, havia zero transparência dos preços online", diz o executivo-chefe da Funeralbooker, Ian Strang. "A única maneira de você comparar os preços era virar a cidade e barganhar com vários agentes funerários, cada um com um esquema diferente de valores." A Funeralbooker não apenas permite que os seus clientes paguem pelo serviço no conforto do lar, diz ele, mas também dá a oportunidade a agentes funerários independentes de ter "uma presença coletiva online para contrabalancear o poder aquisitivo das grandes cadeias". Desde que a empresa foi lançada, em novembro, "vários milhares" de pessoas usaram o serviço, diz Strang. Nos Estados Unidos, o site Parting oferece uma busca de funerárias por código postal, enquanto em Estocolmo a planejadora online de funerais Fenix organiza cerimônias em toda a Suécia pela internet ou por telefone. Um serviço de testamento online pode ser uma 'ferramenta pragmática de organização', diz Alice Walsh Herança Fazer um testamento também é uma dessas tarefas que muitos de nós adiamos. Mas Alice Walsh, de 37 anos, usou o Farewill, um site que oferece a preparação de um testamento e serviços para planejar um funeral por apenas 50 libras (R$ 200). "Meu marido e eu planejamos fazer um testamento há cinco anos, mas nunca conseguimos", diz ela, que administra sua marca de acessórios e joias. "Se eu estou satisfeita administrando minha conta bancária na internet, fazendo compras na internet e tocando meu negócio na internet, então ter meu testamento online é algo óbvio", explica. Claro, esses serviços de preparação simples e online de testamentos pode não ser apropriada para pessoas em estados complexos de saúde e crianças de múltiplos casamentos, mas, como diz Walsh, no seu caso isso ajudou a riscar uma tarefa desagradável de sua lista de maneira rápida e fácil. Dan Garrett, fundador e executivo-chefe da Farewill, diz que um de seus clientes "insistiu que sua mulher usasse crocs verdes em seu funeral, já que ela os odeia tanto". "Para mim, isso é amor de verdade, o tipo de desejo após a morte que faz você rir e chorar ao mesmo tempo quando você lida com ele na vida real", diz ele. De funerais ao vivo até avatares digitais pós-vida, está claro que a tecnologia está se infiltrando até mesmo nos setores considerados mais sem graça. "A tecnologia está chegando e tornando a indústria mais transparente em vários sentidos, desde encontrar um agente funerário até a reflexão sobre o fim da vida", diz Louise Winter, agente funerária da empresa de funerais Poetic Endings, em Londres, e ex-editora do Good Funeral Guide ("Guia do Bom Funeral"). Mas ela acredita que é preciso inovar ainda mais. Strang concorda. "Outros setores, como saúde e inteligência artificial, são mais interessantes para investidores no momento", diz.
Na noite da última quinta-feira (27/08), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) iniciou mais uma de suas tradicionais "lives" nas redes sociais. Além do mandatário, estão no vídeo a intérprete de libras, Elizângela Castelo Branco, e a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.
Em menos de dois anos de gestão, Damares foi de assessora parlamentar a estrela do bolsonarismo Bem no começo do vídeo, Bolsonaro comemora o fato de que direitos humanos, em seu governo, significam algo "bem diferente" do que costumavam ser em governos anteriores — ao que Damares concorda balançando a cabeça. O presidente deu quase uma hora para a ministra, que escolheu o combate à pedofilia como tema principal. De janeiro de 2019 até agora, Damares deixou a posição de figura menor dentro da Esplanada, comandando uma pasta quase sem dinheiro, para o palco principal. Além dos afagos presidenciais, como o da última quinta, a ministra também é bem vista pelos generais palacianos e passou a coordenar a ações de governo envolvendo órgãos de outras pastas, como a Saúde e a Justiça. No começo da gestão de Jair Bolsonaro, Damares era vista como uma figura excêntrica da "ala ideológica" do governo. Costumava ser citada na imprensa por causa de falas polêmicas, como a de janeiro de 2019 que mencionava uma "nova era" no Brasil, na qual "menino veste azul e menina veste rosa". Fim do Talvez também te interesse Agora, Damares não só participa das concorridas "lives" de Bolsonaro, como recebe elogios do chefe. "Só uma pessoa como ela para resolver aquele assunto. Não existe melhor pessoa que a Damares naquele ministério", disse o presidente em outra live, em meados de agosto. Segundo analistas, assessores e políticos ouvidos pela BBC News Brasil, a força de Damares está ligada à habilidade da ministra para capitalizar politicamente com pautas que mobilizam a militância bolsonarista — como o combate à pedofilia e à chamada ideologia de gênero, por exemplo. Se deve também à popularidade da ministra com o público evangélico: um segmento com que somava 42,3 milhões de brasileiros em 2010, segundo o último Censo, e que tem cada vez mais influência política. Ao mesmo tempo em que recebe elogios dentro do governo, opositores da ministra a acusam de promover um desmonte da política de direitos humanos no país — inclusive desidratando conselhos de representação da sociedade civil, considerados fundamentais para a atuação do governo no tema. Além disso, a gestão dela estaria sendo inócua, segundo ativistas, em um dos temas mais caros para a ministra: a proteção aos povos indígenas. A ministra passou a frequentar as concorridas 'lives' do presidente, e se dá bem com Michelle Bolsonaro Nos últimos dias, a ministra também foi alvo de críticas depois que assessores da pasta comandada por ela foram ao Espírito Santo para acompanhar o caso da menina de 10 anos de idade que teve de realizar um aborto. A criança sofreu anos de abuso sexual por parte de um tio. Agora, o Ministério Público Estadual capixaba suspeita que os assessores possam ter acessado informações sobre a menina — dados da criança foram divulgados na internet pela ativista de direita Sarah Giromini, também conhecida como Sarah Winter. A pasta nega envolvimento com o vazamento de dados, e diz que determinou uma investigação sobre o assunto. De assessora de Magno Malta a estrela do bolsonarismo Coube ao atual ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, apresentar Damares Alves como a futura titular da pasta de Mulheres, Família e Direitos Humanos, ainda em dezembro de 2018. Na época, Damares era assessora parlamentar do pastor e ex-senador Magno Malta (2003-2019). Malta recusou o convite de Bolsonaro para a vice-presidência, em nome de tentar a reeleição no Senado. Acabou derrotado. Embora fosse desconhecida do grande público, Damares já estava no radar de quem acompanhava a cena do ativismo conservador e religioso, diz o pesquisador Lucas Bulgarelli. Em seu doutorado em antropologia social na Universidade de São Paulo (USP), ele estuda a disseminação do conceito de "ideologia de gênero" no Brasil. Coube a Onyx Lorenzoni (esq.) apresentar Damares Alves como futura ministra dos Direitos Humanos, ainda em 2018 Bulgarelli lembra que Damares é próxima dos fundadores da Associação Nacional de Juristas Evangélicos, a Anajure — ela estava presente no evento de fundação da entidade, em 2012. Após a publicação desta reportagem, a Anajure procurou o pesquisador para esclarecer que Damares não é formalmente uma fundadora da entidade. Além disso, Damares também tinha uma atuação em questões indígenas — a ministra é fundadora da Atini, uma ONG que atua junto às tribos. "Ela era uma pessoa que já tem bastante influência, quando surge (no cenário político). E aí], talvez para muita gente de esquerda, fica essa impressão 'de onde que essa mulher surgiu?'. Mas já era uma figura bastante influente nos nichos onde o ativismo religioso ou conservador tem força", diz Bulgarelli. "E no governo, ela passa a ter uma atuação bastante central, porque é a principal ministra que articula bastante desse conteúdo que fideliza essa base mais radical do Bolsonaro. Então, ela é um pouco o fiel da balança quando o governo sai da linha e passa a atuar em dissonância com o que a base espera", diz o pesquisador. Um exemplo desse papel "moderador" de Damares foi visto na reunião ministerial do dia 22 de abril, que teve sua íntegra divulgada por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF): em vários momentos do encontro, Damares cobra dos demais ministros que ajam de forma coerente com os "valores" do governo Bolsonaro, diz Bulgarelli. Crianças no foco Damares escolheu o combate à pedofilia como um dos principais temas de sua gestão "Damares, tem uma coisa aqui que a gente não consegue nem falar, né? Não consegue acreditar. Estupro de bebês. De crianças. Como é isso?", perguntou Bolsonaro à ministra, na live da última quinta-feira. "Presidente, a maior violência no Brasil hoje, registrada, é contra criança. O nosso disque-100, que é o que recebe todas as denúncias de violações de direitos humanos, em primeiro lugar, disparado, é a violência contra a criança. Em segundo lugar, contra o idoso", responde Damares. "E aí presidente, tem gente falando por aí que essa história de pedofilia é um papo furado da direita. Chegaram a dizer que eu e o senhor estamos inventando que existe pedofilia, que é o novo discurso da direita. Leiam o relatório do Disque-100. A pedofilia é de verdade no Brasil", diz ela, referindo-se a críticos que a acusam de usar a pauta do combate à pedofilia como plataforma política. "Não estou fazendo o enfrentamento à pedofilia porque sou sua ministra não. Já fazia isso há muito tempo atrás", diz ela, no vídeo transmitido ao vivo. A escolha do tema, que dominou a maior parte da live com o presidente, não foi casual. Os próprios assessores de Damares afirmam que o assunto é a prioridade da pasta. É raro o dia no qual a ministra não fala sobre o combate à pedofilia em sua conta no Twitter. A cientista política norte-americana Amy Erica Smith estuda o Brasil e o papel da religião na política brasileira. Segundo ela, os temas "morais" escolhidos por Damares estão entre os que mais ressoam com o eleitorado brasileiro, o que ajudaria a explicar a proeminência da ministra. "Para os evangélicos, a preocupação com o cuidado das crianças, em termos da sexualidade, é importantíssima. Claro, todos se preocupam com a proteção das crianças. Mas dentro do mundo evangélico isso é um assunto que realmente importa, que desperta muita emoção", diz ela. "De todos os assuntos políticos, esse é o que mais mobiliza. Um exemplo: o 'kit gay'. Apesar de ser fake news, foi algo muito poderoso, justamente porque essa questão é muito importante para o público evangélico", diz a pesquisadora, referindo-se ao boato que governos do PT tinham planejado a distribuição de materiais que faziam "propaganda" da homossexualidade nas escolas. "Uma parte do poder dela tem a ver com características pessoais dela. Mas a outra parte deve ser pelo que ela representa no mundo evangélico", diz Amy, que é professora da Universidade do Estado de Iowa e autora do livro Religion and Brazilian Democracy: Mobilizing the People of God (Religião e Democracia Brasileira: Mobilizando o Povo de Deus, em tradução livre). Segundo a antropóloga Jacqueline Moraes Teixeira, outra faceta da atuação de Damares é a inclusão do termo "Família" no nome do ministério. A mudança faria parte de um movimento que vai além das fronteiras brasileiras. "E um projeto de direita cristã internacional que a gente vê em vários países, inclusive nos Estados Unidos (...), (no qual se busca fazer a) disputa da família, e da ideia de família como sujeito de direitos, e de direitos humanos", diz ela, que é professora da Faculdade de Educação da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). "Tanto que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos criou o Observatório da Família, órgão de pesquisa ligado à Secretaria da Família, (que também só passou a existir no governo Bolsonaro) e que estabelece parcerias com outros institutos internacionais (de defesa da família)", diz ela. Afagos de militares e candidatura ao Senado Aos 56 anos, Damares Alves mantém um ritmo pesado de trabalho no ministério: segundo relatos, começa o dia por volta das 9h, e raramente deixa o prédio onde despacha, na Esplanada, antes das 21h. Na terça-feira (25), por exemplo, o dia começou com uma reunião às 10h, e se estendeu até as 21h. Na agenda da ministra são frequentes os encontros com congressistas — ela trabalhou como assessora de deputados e senadores durante quase vinte anos, de 1999 até 2018. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) descreve Damares como uma pessoa "acessível, de fácil trato" e "mega trabalhadora". "Ela age conforme as suas convicções religiosas. E isso não quer dizer que o ministério dela não seja laico. O ministério é laico. Só que... as atitudes dela são tomadas a partir de pensamentos cristãos. De empatia, de se colocar no lugar do outro, de não fazer o mal pro próximo, de não fazer para o próximo o que não gostaria que fizesse com ele... enfim. Ela segue todos os parâmetros cristãos", diz Zambelli, que é uma das principais defensoras do governo no Congresso. Dentro da Esplanada, Damares é bem vista pelos ministros militares que despacham no Palácio do Planalto. Também se dá bem com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. A popularidade da ministra também começou a chamar a atenção de atores políticos fora do governo: ao menos dois partidos a convidaram para ser candidata ao Senado em 2022, pelo Estado do Sergipe. Natural de Paranaguá (PR), Damares morou em Sergipe quando criança — o pai era pastor evangélico, e a família se mudava com frequência por causa do trabalho dele. Um dos partidos que convidou Damares foi o PP, uma das principais siglas do "Centrão". Ela é filiada à legenda desde 1995. Adversários da ministra dizem que sua gestão está desarticulando a política de direitos humanos Missões no governo Recentemente, o novo prestígio de Damares dentro do governo passou a se traduzir em missões repassadas ao seu ministério — tarefas que envolvem, inclusive, coordenar esforços com órgãos ligados a outras pastas. Ficou para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos a tarefa de organizar o plano de contingência do governo federal para atender aos grupos vulneráveis durante a pandemia da covid-19, por exemplo. Em abril, uma medida provisória deu ao MMFDH mais R$ 45 milhões para organizar a resposta à pandemia entre os vulneráveis. Por envolver comunidades tradicionais e povos indígenas, a pasta de Damares coordenou inclusive os esforços da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, e da Fundação Nacional do Índio (Funai), ligada ao Ministério da Justiça. Mais recentemente, o ministério também recebeu a missão de coordenar um plano de proteção às comunidades indígenas durante a pandemia da covid-19 — a construção desse plano foi determinada em um julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), no começo de agosto. Neste caso, porém, a tarefa não tinha sido foi cumprida a contento, segundo o relator do caso no Supremo, o ministro Luís Roberto Barroso. O plano apresentado pela pasta era mais um relatório das ações já feitas pelo ministério, e não exatamente um planejamento detalhado dos próximos passos. Para Luiz Eloy Terena, advogado da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) que representou a entidade no julgamento do STF, o plano era "totalmente inviável". "O ministro (Barroso) mandou complementar, especialmente agregando os comentários dos especialistas (independentes) que participaram (das discussões)." Na semana passada, o governo apresentou um novo plano, parcialmente homologado, na segunda-feira (31/08), pelo ministro Barroso, que determinou ajustes, entre eles, que barreiras sanitárias fossem adotadas ainda em setembro em algumas terras indígenas, como a ianomâmi. Para Terena, a gestão de Damares fez pouco pela proteção dos direitos indígenas. "Em janeiro de 2019, a PGR chamou uma reunião para a gente iniciar um diálogo. Entre o governo e o movimento indígena, mediado pela PGR. E a Damares participou, ela e a sua secretária de (Políticas de Promoção da) Igualdade Racial, a Sandra Terena. Lá, elas apresentaram slides falando de uma atuação que eles teriam", diz. "Só que já estamos terminando o segundo ano de governo, e de fato o que a gente tem observado é que nós não temos nenhuma política pública de proteção para os povos indígenas" , critica o advogado. Política de Direitos Humanos foi desmontada, diz ex-ministra Adversários de Damares dizem que o governo Bolsonaro está desmantelando a política de Direitos Humanos do país — e que a pasta comandada por ela é parte desse processo. "A minha crítica não é pessoal, faço questão de dizer isso. Não faço uma abordagem pessoal. Faço uma crítica à política de direitos humanos do governo", diz a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Ela foi ministra-chefe da antiga Secretaria Especial de Direitos Humanos durante o governo de Dilma Rousseff (PT), de 2011 a 2014. "Está claro que o governo não tem iniciativas para preservar os direitos humanos no Brasil. Todos os governos enfrentam situações de violação (de direitos humanos). A diferença é como enfrentam. Esse governo naturaliza (as violações). A começar por quem presidente o país. E nesse sentido, a pasta de direitos humanos é inoperante", diz Maria do Rosário à BBC News Brasil. "Um dos vários aspectos que eu poderia citar (de desmonte) é o ataque permanente aos conselhos de representação da sociedade, como o Conanda (Conselho Nacional dos direitos da Criança e do Adolescente), o Conselho Nacional de Direitos Humanos" diz a ex-ministra. Damares também mudou a composição do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR). Em agosto deste ano, a pasta retirou do conselho 14 representantes do movimento negro e de entidades de esquerda, como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). "Isso desarticula a política de direitos humanos do país, porque ela é toda centrada na participação da sociedade", diz a deputada petista. "Fora o desmonte do Disque-100 que está em curso, a redução de recursos das políticas para mulheres. Há um conjunto de ações que mostram que os objetivos de fato da pasta foram desvirtuados", diz Maria do Rosário. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
O ciclista americano Floyd Landis deve perder o título da Volta da França, conquistado no mês passado, e pode ser suspenso do esporte por um período de até dois anos após um exame ter confirmado níveis excessivos de testosterona no seu sangue.
A Federação Internacional de ciclismo confirmou neste sábado que a segunda amostra coletada de Landis teve o mesmo resultado que a primeira. Landis, de 30 anos, negou ter se dopado e afirmou que o alto nível do hormônio masculino em seu sangue era uma “ocorrência natural”. Ele será o primeiro vencedor da Volta da França a perder seu título, que passará ao segundo colocado, o espanhol Oscar Pereiro. Além da perda do título e do prêmio de US$ 575 mil (R$ 1,25 milhão), Landis também deverá ser despedido pela equipe Phonak. O teste positivo ocorreu depois do estágio 17 da prova, no dia 21 de julho, um estágio emocionante vencido por Landis depois de o ciclista sofrer um colapso na subida final no dia anterior.
Palco de tensões desde a semana passada, quando um líder indígena morreu em meio a relatos de uma invasão de garimpeiros, a Terra Indígena Wajãpi desperta interesses por seus recursos minerais desde os anos 1960 e ocupa parte da Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados) - área na divisa do Pará e do Amapá que ganhou os holofotes em 2017, quando o então presidente Michel Temer (MDB) tentou extingui-la.
Garimpo na região do rio Cupixi, nas proximidades da Terra Indígena Wajãpi, no Amapá O conflito ocorre num momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) defende liberar a exploração mineral em terras indígenas brasileiras e em meio à expansão do garimpo ilegal por vários desses territórios, conforme mostrado por uma reportagem da BBC News Brasil na última quinta-feira (25/7). O potencial minerário da área wajãpi é objeto de grande especulação. Embora seja cobiçado por garimpeiros, o subsolo da região jamais foi estudado em profundidade, e o relevo acidentado do território tende a dificultar operações mais vultosas. Criação da Renca Quando a Reserva Nacional do Cobre e Associados foi criada, em 1984, a Terra Indígena Wajãpi ainda não havia sido demarcada, o que só aconteceu em 1996. A criação da reserva travou as pesquisas minerais na região. Em 2017, dias após o governo Temer extinguir a reserva numa tentativa de abrir o território para a mineração, a BBC entrevistou o geólogo Breno Augusto dos Santos, um dos maiores especialistas na área. Santos coordenava as pesquisas que a Vale, então uma empresa estatal, realizava no território nos anos 1980. Fim do Talvez também te interesse Após a criação da Renca, a Vale teve de suspender os trabalhos, pois a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), ligada ao Ministério de Minas e Energia, ganhou exclusividade para trabalhar no local. Mapa mostra sobreposição entre a Renca e unidades de conservação, como a Terra Indígena Wajãpi e a Terra Indígena Paru d'Este Mas Santos disse que as pesquisas nunca avançaram. "Desde que criaram a Renca, nunca houve ali pesquisa mineral. Não se sabe qual o potencial real daquela área - ainda é uma grande incógnita", ele afirmou à BBC, após a extinção da reserva. Criticado por indígenas e ambientalistas, que temiam uma exploração desenfreada da região, Temer revogou em poucas semanas o decreto que acabava com a Renca. Com isso, a possibilidade de explorar legalmente minérios na reserva segue bloqueada. Mineração em terras indígenas A criação da Terra Indígena Wajãpi, em 1996, impôs outra barreira à pesquisa mineral no trecho da Renca que se sobrepõe ao território, pois a mineração em terras indígenas é hoje ilegal. Segundo a Constituição de 1988, a liberação da atividade depende da aprovação de leis específicas pelo Congresso, o que nunca ocorreu. Mesmo ao tentar extinguir a Renca, em 2017, o governo Temer disse que a mineração continuaria proibida nas duas terras indígenas que compõem a reserva (além da área Wajãpi, o território agrega parte da Terra Indígena Paru d´Este, das etnias Aparai e Wayana). Muito do que se sabe sobre o potencial da região se deve à ação de garimpeiros. Sabe-se que há ouro, por exemplo, porque garimpeiros já extraíram o metal do território. Segundo Breno Santos, há ainda duas reservas com potencial para exploração de titânio e fosfato em trechos da Renca fora do território wajãpi - o que poderia indicar a presença dos materiais também dentro da terra indígena. Santos diz que, ironicamente, as pesquisas jamais detectaram a presença de cobre, metal que deu nome à reserva. Extração de tantalita Outra reserva existente no território wajãpi é a de tantalita, mineral composto nióbio e tântalo na mesma proporção que é usado pelas indústrias eletrônica e de vidro e que tem suas maiores reservas conhecidas no Brasil. Dominique Tilkin Gallois, professora de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP) que trabalha junto aos wajãpi desde os anos 1970, diz à BBC que garimpeiros já extraíram tantalita no norte da terra indígena, atividade que teria provocado o envenenamento de membros da etnia. Outros pontos do território sofreram com a ação de garimpeiros que buscavam ouro - e que começaram a transitar pelas bacias dos rios Jari e Amapari nos anos 1960. Os wajãpi tinham o costume de amarrar invasores e entregá-los à Polícia Federal, e hoje estão organizados num conselho com diretoria e site Na década de 1970, a mineradora Icomi (Indústria de Comércio e Minérios) também se interessou pela área. Durante trabalhos de prospecção, técnicos a serviço da empresa se depararam com indígenas wajãpi até então isolados. Epidemia de sarampo Inicialmente apoiado pelos indígenas, o avanço do garimpo pela região do rio Karapanaty provocou um episódio traumático para a comunidade, conta Gallois no livro "Terra Indígena Wajãpi: da demarcação às experiências de gestão territorial". Ela diz que, nos anos 1970, os garimpeiros disseminaram o sarampo por cinco aldeias. A doença matou mais de 80 indígenas, segundo a antropóloga. Em 1973, novas invasões de garimpeiros foram facilitadas pelas obras da estrada Perimetral Norte, com a qual a ditadura militar pretendia conectar o Amapá a Roraima, atravessando partes do Pará e do Amazonas. A estrada cortou parte do território wajãpi, que ficava num dos extremos do projeto, mas foi abandonada antes de ser concluída. Segundo Gallois, as experiências trágicas fizeram com que os indígenas se tornassem avessos ao garimpo. "Eles estão denunciando e procurando as autoridades porque temem que essa experiência traumática seja vivida outra vez", ela afirma à BBC. Morte violenta de líder Em nota divulgada no domingo (28/7), o Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina) diz que o líder Emyra Wajãpi "foi morto de forma violenta" perto de sua aldeia na última segunda-feira (22/7), quando não era acompanhado por outros indígenas. Segundo a nota, parentes do líder "encontraram rastros e outros sinais de que a morte foi causada por pessoas não indígenas". O texto diz que, na sexta-feira (26/7), membros da comunidade encontraram um grupo de não-índios armados, que teriam se instalado em uma aldeia e ameaçado os moradores. Nesta segunda-feira, a Funai divulgou uma nota na qual diz que sua coordenadoria no Amapá encaminhou para a presidência do órgão um memorando "informando sobre um possível ataque de garimpeiros à Terra Indígena Wajãpi". A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar a morte do líder. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
As novas regras para a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), anunciadas pelo governo nesta quarta-feira, permitirão saques de até R$ 500 de contas ativas e inativas do fundo a partir de setembro e criam uma nova modalidade de liberação anual: o "saque-aniversário".
O FGTS é um direito do trabalhador que trabalha com carteira assinada Batizada de $aque Certo, a medida provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro também aumenta o repasse do rendimento obtido pelo fundo aos trabalhadores e permite que o saldo nas contas do FGTS seja usado como garantia para pegar empréstimos. O governo também anunciou uma nova liberação para saques do fundo PIS/Pasep. De acordo com o governo, 80% das contas existentes no FGTS têm saldo de até R$ 500, valor fixado para o saque que será permitido a partir de setembro. A medida poderá beneficiar 96 milhões de trabalhadores, segundo o governo. O Ministério da Economia estima que as medidas permitam liberar cerca de R$ 30 bilhões na economia neste ano (R$ 280 bilhões do FGTS e R$ 2 bilhões do PIS/Pasep), e possam incrementar o crescimento em 0,35 ponto percentual ao longo de doze meses. A expectativa é que a injeção de recursos ajude a aquecer a economia, após o PIB encolher 0,2% o primeiro trimestre. O ex-presidente Michel Temer também usou a liberação de recursos da do FGTS para tentar estimular a economia - em dezembro de 2016, anunciou um saque "fora de época" de contas inativas, em um total de R$ 44 bilhões. Fim do Talvez também te interesse As novas regras, entretanto, se estendem às ativas, e criam mecanismos para retiradas graduais, permitindo ao trabalhador realizar saques anualmente. Com a expectativa que havia sido gerada em torno do anúncio das novas medidas, muitos trabalhadores têm recorrido à internet preocupados em saber quanto têm de verba no fundo. Buscas para entender como consultar seu saldo é uma das principais na internet relacionadas ao termo "FGTS". Nos oito tópicos abaixo, a BBC News Brasil explica o que muda com o novo sistema, como funciona o FGTS e como consultar o valor de suas contas ativas e inativas. 1. Até R$ 500 por conta O primeiro efeito das novas regras começará a ser sentido em setembro, mês a partir do qual trabalhadores poderão fazer um saque imediato de até R$ 500 por conta ativa e inativa no FGTS. Se o trabalhador tiver mais de uma conta, o que acontece quando já teve carteira assinada em empregos diferentes, poderá sacar até R$ 500 de cada uma. O governo elaborou um cronograma para os saques entre setembro de 2019 e março de 2020, que será divulgado pela Caixa Econômica Federal. Correntistas do banco terão o saque feito automaticamente e depositado em suas contas, a não ser que informe ao banco que prefere manter os recursos no fundo. Detentores do Cartão Cidadão poderão fazer o saque no caixa automático. Saques de menos de R$ 100 poderão ser feitos em casas lotéricas, mediante apresentação de carteira de identidade e CPF. 2. Saque-aniversário A partir do ano que vem, o governo vai permitir que trabalhadores saquem um percentual de seu saldo no FGTS em seu mês de aniversário, medida que poderá ser repetida nos anos subsequentes. O percentual de saque permitido depende o saldo de cada conta, variando de 5% a 50% do total. Quanto maior o valor no fundo, menor o percentual, ou seja, a população de baixa renda poderá sacar porcentagens maiores do dinheiro que tiver no fundo. Além disso, no mesmo saque anual o trabalhador poderá sacar uma parcela adicional, que também varia de acordo com o volume contido no saldo. Se o valor no fundo estiver entre R$ 500 e R$ 1 mil, essa pessoa poderá sacar 40% do valor e uma parcela adicional de R$ 50. Já se tiver mais de R$ 20 mil, poderá sacar 5% e uma cota extra de R$ 2.900. Para ter acesso a esses saques anuais, entretanto, o trabalhador precisará migrar para esta modalidade, comunicando a mudança à Caixa a partir de outubro de 2019. Ao optar por sacar esses valores anuais, o trabalhador perde o direito de efetuar o sacar seu FGTS de uma vez caso seja demitido sem justa causa. Ele poderá migrar de volta para o sistema antigo se quiser, mas terá que esperar dois anos depois que solicitar a mudança. A migração não é obrigatória, e as regras antigas continuarão valendo para quem não aderir. Governo anunciou a criação de uma nova modalidade de liberação anual, o 'saque-aniversário' 3. Rendimento e crédito Além das liberações previstas, o governo anunciou que o lucro do fundo passará a ser integralmente repassado aos trabalhadores. Desde 2017, o percentual de rendimento do FGTS destinado ao cotista é de 50%, com base nos lucros obtidos no ano anterior à distribuição. No novo modelo, passará a ser de 100%, o que, segundo o governo, "impactará na rentabilidade do fundo e beneficiará o trabalhador". Além disso, o titular da conta poderá usar o seu saldo como garantia para contratar empréstimos com instituições financeiras. "Tal medida deve ampliar o acesso ao crédito para o trabalhador, reduzindo o seu custo, com taxas de juros inferiores às modalidades usualmente destinadas a pessoas físicas", diz o governo. 4. Como ficam as regras antigas para saque do FGTS? As regras vigentes antes do anúncio da equipe de Jair Bolsonaro permitiam o saque em uma lista de circunstâncias específicas, que continuam valendo. São elas: a compra de um imóvel; quando o trabalhador fica afastado do regime do FGTS por três anos consecutivos; além de casos em que o trabalhador ou dependentes forem portadores do vírus HIV, de câncer ou quando estiverem em estágio terminal devido a uma doença grave. Porém, até agora a aposentadoria e a demissão com justa causa eram os momentos mais conhecidos de saque do FGTS. Isso vai mudar para trabalhadores que migrarem para o sistema do saque-aniversário e optarem por liberar parcelas do fundo anualmente. Na aposentadoria, o trabalhador seguirá podendo sacar toda a verba que tem no fundo, mas a flexibilização dos saques fará com que muitos possam ter acesso aos recursos antes disso. Já a demissão sem justa causa dava ao trabalhador acesso a toda a verba que tivesse no fundo, além de uma multa de 40% sobre esse valor, paga pelo empregador. A partir de agora, se optar pelo saque-aniversário, o trabalhador deixa de ter acesso a sacar o dinheiro do fundo se for demitido sem justa causa. A multa de 40% a ser paga pelo empregador continua a valer. Se não migrar para o novo sistema, continua a valer a regra antiga, ou seja, o trabalhador tem acesso a 100% de seu FGTS se for demitido sem justa causa. A reforma trabalhista sancionada pelo então presidente Michel Temer também criou a possibilidade de rescisão por acordo entre o trabalhador e a empresa. Nesse caso, ele tem direito de sacar 80% do saldo da conta do FGTS e a multa do empregador é de 20% sobre esse valor. 5. Quem tem direito ao FGTS? O fundo de garantia é um direito do trabalhador que tem emprego formal - ou seja, que trabalha com carteira assinada. As empresas têm a obrigação de depositar, mensalmente, o equivalente a 8% do valor do salário do trabalhador para a conta dele no fundo. 6. Como ver o saldo do FGTS? As informações sobre o FGTS devem ser dadas pela Caixa, que é o chamado agente operador do FGTS - ou seja, é responsável por controlar as contas ativas e inativas e gerir aplicações financeiras, entre outros. Além de buscar uma agência da Caixa ou de esperar comunicações pelo correio, é possível consultar o saldo do FGTS pela internet: no site da Caixa ou por meio do aplicativo "FGTS", disponível no Google Play, Apple Store e Windows Store. Ao acessar o aplicativo, se você ainda não tem uma senha cadastrada, clique em "primeiro acesso", na parte inferior da tela. Para isso, você deve ter em mãos o número do NIS (Número de Inscrição Social), que é o mesmo do PIS (Programa de Integração Social). Esse número pode ser encontrado na carteira de trabalho, no Cartão Cidadão, junto ao empregador ou em extratos anteriores do FGTS. Após criar a senha, você pode fazer o login. O aplicativo pedirá para você confirmar ou atualizar seu endereço residencial. Em seguida, você conseguirá acessar suas contas do FGTS. Se você teve mais de um empregador, terá mais de uma conta - todas registradas sob o seu PIS/NIS. As chamadas contas inativas se referem a empregos anteriores e as ativas são aquelas relativas a contratos em vigor. Você pode consultar, pelo aplicativo, o extrato detalhado de cada uma dessas contas. Também encontrará opção para fazer download do extrato e salvar o arquivo em formato PDF. No mesmo aplicativo, você pode encontrar pontos de atendimento da Caixa próximos a você, se precisar comparecer pessoalmente. Algumas operações podem ser feitas na internet ou pelo aplicativo 7. Como cadastrar o telefone para receber o saldo do FGTS por SMS? Em vez de receber, a cada dois meses, um extrato do FGTS no endereço residencial, o trabalhador pode optar por ser informado sobre o saldo por SMS. Estes avisos trazem informações sobre o valor do depósito mensal feito pelo empregador; o saldo atualizado com juros e correções monetárias; e, quando houver, mostram a liberação de saque ou ajustes na conta, segundo a Caixa. A adesão a esse serviço pode ser feita pela internet. É preciso informar o número do NIS/PIS e digitar a senha da internet previamente cadastrada. 8. Quando e por que o FGTS foi criado? O FGTS foi criado em 1966, durante a ditadura militar, e hoje está previsto como um direito dos trabalhadores na Constituição Federal. O fundo foi criado como alternativa à chamada estabilidade decenal, que previa que o empregado com mais de 10 anos de serviço na mesma empresa não poderia ser despedido se não fosse por "falta grave ou circunstância de força maior, devidamente comprovadas". A ideia era compensar a mudança nas regras que acabaram com essa estabilidade com uma proteção financeira ao trabalhador, criando essa poupança forçada para momentos de necessidade. A quantidade de contas supera 780 milhões, e o total de ativos do FGTS somava R$ 496,85 bilhões no fim de 2017, segundo o relatório mais recente. De acordo com a Caixa, 84% das contas com saldo têm um valor de até um salário mínimo (R$ 998). O trabalhador tem uma conta para cada emprego formal que tem ou teve. Como os recursos dos trabalhadores depositados no fundo são usados para financiar a juros baixos obras de habitação, saneamento e infraestrutura, o retorno também é menor que o de outras aplicações. O rendimento é de 3% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR), calculada pelo Banco Central. Além de ser operado pela Caixa, o fundo é administrado por um conselho tripartite - ou seja, composto por representantes dos trabalhadores, dos empregadores e representantes do governo federal. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
O mais importante líder da oposição boliviana, o deputado indígena Evo Morales, tem toda a certeza de que será o próximo presidente da República. Em entrevista exclusiva à BBC Brasil, ele disse que não há qualquer possibilidade de "barrar a vontade popular".
De acordo com o líder sindical dos mais de 30 mil plantadores de coca da região do Chaparre, oeste da Bolívia, o seu partido, o Movimento Ao Socialismo (MAS), chegará ao poder pela via democrática. Ele lembra que, no ano passado, quase chegou lá. Não foi eleito presidente porque o Congresso optou por Gonzalo Sánchez de Lozada. Morales, que defende há mais de 20 anos a produção de coca dos indígenas bolivianos, não se sente representado pelo novo presidente, Carlos Mesa. No entanto, Morales promete não enfrentá-lo. Mas alerta que setores da população boliviana estão se preparando para uma luta armada. BBC Brasil – Que avaliação pode ser feita da posse do presidente Carlos Mesa? Seu partido, o MAS, está satisfeito com as medidas anunciadas por ele? Evo Morales – Não estamos verdadeiramente satisfeitos, porque ele não pertence a nenhuma organização social. Ele fazia parte do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), o mesmo partido do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. Mas esta era a única saída constitucional para o país. Há certa satisfação, sim, porque conseguimos fazer Gonzalo Sánchez de Lozada, símbolo do neoliberalismo e da corrupção, renunciar. BBC Brasil – Em inúmeras ocasiões, o senhor tem afirmado que acredita apenas em um governo do povo. De que maneira o povo pode chegar a ser governo na Bolívia? Morales – Nós vamos chegar ao governo pelas vias democráticas. Isso é possível porque no ano passado ganhamos as eleições. Mas, lamentavelmente, roubaram nosso triunfo. No Congresso, Sánchez de Lozada acabou sendo eleito. BBC Brasil – Carlos Mesa conseguirá governar sem a participação dos partidos políticos? Morales – Isso é um pouco difícil, não? Mas precisamos acreditar na sua boa intenção. A bancada do MAS vai fiscalizar o poder Executivo e os partidos seguirão participando do poder Legislativo. Mas o mais importante vai ser o controle social do povo. BBC Brasil – Antes da renúncia de Gonzalo Sánchez de Lozada, o senhor estava defendendo um governo indígena-parlamentar. Segue com a mesma proposta, ou o MAS sente-se representado no governo de Carlos Mesa? Morales – Não nos sentimos representados, mas não vamos enfrentar o governo de Carlos Mesa. Queríamos a renúncia de Sánchez de Lozada e, de acordo com a nossa Constituição, Mesa teria de assumir a Presidência. Como acreditamos no processo democrático, nos temas sociais e estruturais, vamos apresentar projetos, porque a posição do MAS é a de governar desde o Congresso. BBC Brasil – Uma das principais bandeiras do presidente Carlos Mesa é comandar a realização de um referendo, para que a população decida se quer ou não exportar o gás natural boliviano. O senhor acredita que esta seja a melhor solução para resolver este problema? Morales – O referendo é esta grande mobilização que expulsou Gonzalo Sánchez de Lozada da Presidência e fez com que ele fugisse para os Estados Unidos. Este é o melhor referendo. Se vamos aos Estados Unidos pelo Chile, se vendemos ao Chile, precisamos nos decidir. A idéia é que consigamos definir as perguntas de forma consensual. As pessoas deverão responder por onde, quando e como vamos vender isso. BBC Brasil – O MAS está defendendo uma revisão dos contratos de venda do gás natural. Neste contexto, o senhor acredita que os contratos firmados com a Petrobras no governo de Fernando Henrique Cardoso também passarão por uma revisão? Morales – A informação que tenho é que a Petrobras é uma empresa do Estado brasileiro. A Petrobras não é uma transnacional. Então, o Estado boliviano deve manter esta classe de contrato com os Estados correspondentes. Acho que o Estado boliviano pode dar, inclusive, uma espécie de contrato com as transnacionais, de maneira que elas não sejam donas do gás e do petróleo. BBC Brasil – Algumas pessoas na Bolívia o comparam ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senhor se sente incomodado com as comparações? Morales – Li em uma reportagem que os pais dele eram analfabetos. Isso é uma coincidência, porque meus pais também eram analfabetos. Meu pai escrevia e lia um pouco, mas minha mãe é analfabeta. Lula vem da luta dos trabalhadores, e eu, da luta dos camponeses e indígenas. Então, há sim coincidências entre nossas vidas e, talvez por isso, penso que estou preparado para ser presidente. Eu não sei se gosto desse tipo de comparação, mas elas me confortam. Não acredito que um presidente precise ser um general, um médico, um advogado, um jornalista. Mas, sim, um camponês, porque somos nós que conhecemos a vida do povo. Não apenas conhecemos, mas temos vivido com o povo. BBC Brasil – Durante as recentes manifestações populares, o senhor afirmou que, caso Gonzalo Sánchez de Gonzalez não renunciasse, haveria a possibilidade de ser iniciada uma luta armada no país. O que está ocorrendo na Bolívia? O povo já está armado? Morales – Se o império ou alguns militares tivessem buscado uma saída autoritária a esse conflito, acredito que poderia ter se iniciado uma guerra civil na Bolívia. Eu tenho muito medo. Não estou de acordo e nunca defendi a luta armada. Mas, em alguns setores, como em La Paz, alguns companheiros estão falando muito em luta armada. Eu tenho muito medo de que o governo dos Estados Unidos busque uma saída autoritária, porque, eleitoralmente, não há mais quem possa nos parar. Tudo que está acontecendo agora está criando mais consciência na população. Vamos seguir nesta luta pacífica, porque acreditamos ser importante chegarmos primeiro às estruturas do Estado para depois transformá-las. Nós não pensamos em fazer a revolução primeiro, ou nos armar. Jamais disse que vamos fazer uma luta armada. Tenho medo de que, com uma saída autoritária, não vá mais haver Parlamento, nem as instituições democráticas, nem a resistência. Eu estou seguro de que o povo pode levantar-se. Tenho conversado com alguns companheiros, jovens principalmente, que estão defendendo a luta armada para que os ricos jamais tenham o poder. Nossa luta é eleitoral, mas sem estar colocando freio neste tipo de lutas que defendem alguns companheiros do campo. BBC Brasil – O senhor continua recebendo ameaças de morte? Morales – Tenho ouvido muitos companheiros jovens que dizem ter escutado que há muitas ameaças contra a minha vida. Eles dizem: se matam Evo, os primeiros que vamos matar aqui é o prefeito e o padre. Com certeza, há padres muito inclinados à direita. E é assim. Esse é o tipo de mensagem dos jovens no campo. É bárbaro. Outros companheiros dizem: Evo, se te matam, vai haver luta armada. Vamos fazer o maior levante da história deste país. Mas eu não tenho guardas-costas, sou uma pessoa sozinha, sou solteiro. BBC Brasil – Na sua opinião, os Estados Unidos ficaram satisfeitos com o desfecho que foi dado ao recente conflito? Morales – Quando as democracias não servem às políticas do império, o próprio império incentiva um golpe de Estado. Agora que nós, índios e indígenas somos poder político e estamos crescendo como poder político, é possível que eles façam alguma coisa contra a nossa democracia. As ditaduras sempre estiveram a serviço dos Estados Unidos. Na Venezuela, por exemplo, a todo momento querem derrocar Hugo Chávez, e tudo é feito a partir dos Estados Unidos. Agora, eles estão acompanhando muito o que está ocorrendo na Bolívia. BBC Brasil – O senhor pretende concorrer às próximas eleições presidenciais? Morales – Evo Morales será presidente. O MAS será governo e teremos o poder que necessariamente tem de ser do povo. Acredito muito no poder do povo e nos movimentos sociais. Para isso, tem de haver transparência dos ativistas do Estado, participação efetiva, uma democracia participativa que decida, que todos tenham o direito de decidir mediante um referendo, uma consulta. BBC Brasil – O MAS é um movimento marxista? Morales – Eu resgato muito alguns princípios do marxismo e do leninismo. Mas aqui não queremos importar ideologias. Trata-se de recuperar as formas de vivência dos povos indígenas. No movimento indígena, vive-se em coletividade, ou em comunidade de reciprocidade e solidariedade, na redistribuição da riqueza. BBC Brasil – Como o senhor avalia o governo do presidente Lula no Brasil? Morales – Estive na posse do Lula, conversei com ele em duas ocasiões, durante o Fórum Social Mundial de Porto Alegre e também nos encontramos em Cuba. Parece um governo muito interessante. Lula e seu gabinete estão decididos a defender os pobres, com a aplicação do programa Fome Zero. A posição do Brasil com relação à Organização Mundial do Comércio (OMS) também merece nosso apoio. BBC Brasil – Os brasileiros não têm esta tradição, esta cultura de usar a folha de coca? Por que a coca é tão importante para os bolivianos? Morales – A coca é um produto tão essencial, tão sagrado para as culturas indígenas bolivianas. A coca é praticamente a essência da nossa cultura. A coca, em seu estado natural, não causa dano à saúde humana. Isso diz a Organização Mundial da Saúde, a Universidade Harvard dos Estados Unidos, onde mais de 300 médicos dizem que ela deve ser industrializada para fins médicos. O problema é que, nas últimas décadas, a estão transformando em cocaína. Planejam acabar com as plantações, porque acreditam que, com coca zero, seria também droga zero. Não concordamos com a cocaína, mas com o uso tradicional da folha de coca. Jamais vai haver coca zero. Querem arrancar nossas raízes culturais com a folha de coca. É necessário que seja legalizada a produção de coca por família, que se produza apenas para o consumo legal.
A Procuradoria Geral da Bolívia voltou a exigir que o ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e todos os integrantes de seu gabinete sejam julgados.
O procurador-geral, Oscar Crespo Soliz, disse que Sánchez de Lozada deveria ir a julgamento por tentar violar direitos constitucionais durante manifestações no ano passado. Dezenas de pessoas morreram durante as manifestações. Os protestos levaram à renúncia do presidente, no dia 17 de outubro. A Suprema Corte da Bolívia rejeitou uma pedido anterior para o julgamento do ex-presidente, alegando que os promotores apresentaram provas contraditórias. A agência de notícias espanhola EFE afirma que o ex-presidente Sánchez de Lozada está nos Estados Unidos desde que deixou o poder, assim como seu então ministro da Defesa, Carlos Sánchez Berzaín. Os demais integrantes do gabinete de Lozada estão na Bolívia.
De empreendimentos de luxo a abrigos para sem-teto, as chamadas microcasas, popularizadas nos EUA a partir da crise econômica de 2008, continuam ganhando visibilidade em várias cidades americanas. Mas os adeptos desse estilo de moradia, geralmente definido como residências de até 46 m², costumam esbarrar em alguns problemas comuns.
As chamadas microcasas, popularizadas nos Estados Unidos a partir da crise econômica de 2008, continuam ganhando visibilidade em várias cidades americanas Como várias prefeituras proíbem moradias muito pequenas, alguns optam por microcasas sobre rodas, que são consideradas veículos recreativos ou residências móveis (como trailers). Mas mesmo esse tipo de unidade é alvo de restrições legais em muitas cidades, o que torna difícil encontrar um lugar para instalar a casa. Além disso, as condições de financiamento para essa categoria são similares às oferecidas para veículos, com prazos e taxas menos vantajosos do que os disponíveis para residências tradicionais. Foi com esse cenário em mente que os idealizadores de uma comunidade de microcasas na cidade texana de Austin decidiram oferecer contratos que garantem o direito de utilização do terreno onde a residência será instalada por um período de 99 anos. Em comparação, a maioria dos empreendimentos do tipo oferece contratos de curto prazo, em torno de um ano. "A principal diferença é a natureza permanente do nosso empreendimento. É importante que as pessoas possam criar raízes, planejar o futuro", disse à BBC News Brasil o responsável pelo projeto, James Stinson, CEO da empresa Tiny Dwelling Co. São conhecidas como "microcasas" as residências com menos de 46 m² "Com o contrato de longo prazo, os proprietários conseguem melhores condições de financiamento para as casas. O prazo maior (para pagar) ajuda a reduzir custos mensais." Os futuros moradores da comunidade, chamada Constellation ATX, poderão escolher entre 82 lotes com mensalidades de 725 dólares (cerca de R$ 2,7 mil) a 1.025 dólares (cerca de R$ 3,8 mil), dependendo da localização e do tamanho do terreno. Só serão aceitas casas de fabricantes pré-aprovados, entre eles Kasita e I. M. Home, com preço em torno de 140 mil dólares (cerca de R$ 520 mil). Segundo Stinson, os valores ficam abaixo do que um proprietário gastaria para comprar um terreno e construir uma casa. "Em Austin, um lote básico custa em torno de 250 mil dólares. Isso sem contar gastos com infraestrutura e todo o planejamento necessário para a construção", afirma. "Com o contrato de longo prazo, os custos ficam semelhantes aos de aluguel, mas em vez disso você tem o direito de uso do terreno por 99 anos, e é transferível. Pode vender a casa e ter lucro, o que não ocorre no caso de aluguel." Modelos Os nove modelos de casas disponíveis variam de 37 m² a 65 m², talvez maiores do que a imagem que o termo microcasa evoca, mas ainda assim bem menores do que o tamanho médio das residências americanas, que fica em torno de 245 m². Todas vêm equipadas com eletricidade, água quente, wifi, lavadora e secadora de roupas. Algumas têm máquina de lavar louça e garagem. Stinson ressalta que "truques" como pé direito alto, janelas grandes e uso de armários para criar diferentes cômodos e espaços de armazenamento escondidos fazem o espaço parecer maior. Alguns truques arquitetônicos ajudam a tornar as pequenas casas mais confortáveis, como pé-direito alto "Apesar do preço mais baixo, a ideia não é de austeridade, e sim ter uma casa pequena com talvez até mais comodidade do que uma residência tradicional", diz Stinson. A área inclui piscina, clube e cozinha comunitária e fica perto de cafés e restaurantes, ao contrário da maioria dos empreendimentos do tipo, que, devido a restrições legais, costumam ser localizados em áreas remotas e sem opções de entretenimento. Stinson salienta que um dos focos do projeto é incentivar o senso de comunidade entre os moradores, que devem chegar em 2019 e são, em sua maioria, jovens profissionais. "Muitos viajam bastante por conta do emprego, não estão em Austin o tempo todo. Alguns dizem ser atraídos pela diferença de preço, dizem que com o dinheiro economizado podem viajar mais ou se aposentar mais cedo", diz. Projetos Microcasas costumam atrair desde pessoas que querem aderir a um estilo de vida menos consumista até aqueles que pretendem evitar as dívidas e altos custos de uma residência tradicional, em um momento em que muitas cidades americanas enfrentam escassez de moradia com preços acessíveis. Segundo relatório da Universidade de Harvard publicado neste ano, em quase um terço dos lares americanos os moradores gastam mais de 30% de sua renda em moradia. Em 11 milhões de lares os moradores gastam mais de metade da renda em aluguel. Diante da crise habitacional, microcasas despontam como alternativa em várias cidades. Em Nova York, há oferta de microapartamentos de luxo a partir de 24m2. No Arizona, está em desenvolvimento uma comunidade de microcasas exclusiva para professores que, de outra maneira, não teriam como pagar por moradia perto da escola. Em Portland, no Estado de Oregon, há um hotel composto por microcasas, para quem quer experimentar esse estilo de moradia. Esse tipo de residência existe em cidades como Chicago, Baltimore e Nashville Cidades como Chicago, Baltimore, Providence, Nashville, Madison e muitas outras abrigam projetos de microcasas destinadas a trabalhadores de baixa renda ou sem-teto. Ao contrário dos empreendimentos de luxo, essas unidades geralmente são menores e mais básicas, muitas vezes com uso compartilhado de chuveiros, cozinha, lavanderia e outras comodidades nas áreas comuns. "Vários acampamentos de sem-teto evoluíram para comunidades de microcasas, não necessariamente porque os moradores preferem microcasas, mas porque em muitas cidades esse tipo de comunidade é mais aceita e tolerada (do que acampamentos)", disse à BBC Brasil o arquiteto Roland Graf, professor da Escola de Arte e Design da Universidade de Michigan. Solução Alguns críticos questionam se microcasas podem realmente ser uma solução duradoura para a crise habitacional e não apenas servir como moradia temporária. Entre as limitações está o fato de que os moradores costumam ser jovens solteiros ou casais sem filhos, e há dúvidas se esse modelo é viável para famílias maiores. Para Graf, há basicamente três tipos de usuários: "os sem-teto, as pessoas que querem economizar e os hipsters com muito dinheiro, que simplesmente querem demonstrar suas habilidades em design e arquitetura construindo microcasas em áreas remotas". Elas são populares entre 'sem-tetos', hipsters e pessoas que querem economizar para investir em algo específico Graf ressalta que faz parte da cultura americana morar em casas enormes, e pode ser difícil convencer uma família de classe média a viver em 65 m2. "Acho uma boa ideia reduzir o tamanho das residências, não apenas para torná-las mais acessíveis, mas também para reduzir o impacto ambiental", observa.
O Brasil atingiu a marca de 200 mil mortes por covid-19 no dia 7 de janeiro de 2021. Os 300 mil óbitos foram registrados 77 dias depois, em 25/03.
Na visão da diretora-executiva da ong, pandemia no Brasil teve características totalmente diferentes em relação ao que aconteceu no resto do mundo Para alcançar as 400 mil vítimas da infecção pelo coronavírus, o prazo foi cortado pela metade: bastaram 35 dias para que, neste 29/04, o país fatalmente se aproximasse do número e ficasse à beira de se tornar o segundo lugar do mundo a quebrar essa barreira (após os Estados Unidos). Para Ana de Lemos, diretora-executiva da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Brasil, a pandemia no país é completamente diferente do que acontece no resto do mundo. "A situação é extrema e, um ano depois que tudo começou, ainda não temos uma resposta nacional. As unidades de saúde são deixadas à própria sorte, sem protocolos de prevenção, equipamentos de proteção, oxigênio, insumos e remédios", aponta. "Muitas vidas que perdemos poderiam ter sido salvas se tivéssemos estrutura e organização", completa. Fim do Talvez também te interesse Nascida em Angola e cidadã portuguesa, Lemos é formada em Publicidade e Relações Públicas e fez pós-graduação em Gestão Ambiental, Estudos de Paz e Resolução de Conflitos, Relações Internacionais e Geopolítica. Ana de Lemos já trabalhou em nove países e é diretora-executiva do MSF no Brasil desde 2018 A especialista entrou para o MSF em 2000 e trabalhou em crises sanitárias e humanitárias em várias partes do mundo, com passagens por Hungria, Libéria, Moçambique, Nigéria, Palestina, Quênia, Sudão, Tanzânia e Zimbábue. Ela está desde 2017 no Brasil, quando passou a atuar como diretora de comunicação da ONG e foi promovida ao cargo de diretora-executiva a partir de 2018. Recado que vem de fora O posicionamento de Lemos está em consonância com um manifesto internacional, que foi assinado pelas altas esferas do MSF. O texto, divulgado no site e nas mídias sociais da entidade, critica duramente a atuação do governo brasileiro durante a pandemia e classifica a situação no país como uma "catástrofe humanitária". "Mais de um ano desde o início da epidemia de covid-19 no Brasil, ainda não foi colocada em prática por parte do poder público uma resposta efetiva, centralizada e coordenada à doença. A falta de vontade política de reagir de maneira adequada à emergência sanitária está causando a morte de milhares de brasileiros", escrevem os autores. Em outro trecho, os líderes da entidade fazem um apelo urgente para que as autoridades nacionais reconheçam a gravidade da crise e organizem uma "resposta centralizada e coordenada". "O governo federal praticamente se recusou a adotar diretrizes de saúde pública de alcance amplo e com base em evidências científicas, deixando às dedicadas equipes médicas a tarefa de cuidar dos doentes em unidades de terapia intensiva, tendo que improvisar soluções na falta de disponibilidade de leitos", aponta no texto o médico grego Christos Christou, presidente internacional do MSF. "Isto colocou o Brasil em um estado de luto permanente e o sistema de saúde do país à beira do colapso", completa o especialista. Mais à frente, a carta critica a politização das medidas preventivas cientificamente comprovadas, como o uso de máscaras e o distanciamento físico. "Alimentando o ciclo de doença e morte no Brasil está o grande volume de desinformação que circula pelas comunidades do país. Uso de máscaras, distanciamento físico e restrição de movimentos e de atividades não essenciais são rejeitados e politizados". Brasil será o segundo país do mundo a superar a marca das 400 mil mortes por covid-19 Christou finaliza pedindo um "recomeço" no enfrentamento da pandemia: "A recusa em colocar em prática medidas de saúde pública baseadas em evidências científicas resultou na morte prematura de muitas pessoas. A resposta à pandemia precisa urgentemente de um recomeço, baseado em conhecimentos científicos e bem coordenado, para evitar mais mortes desnecessárias e a destruição de um sistema de saúde conceituado e prestigiado." Lemos revela que a carta teve uma grande repercussão internacional. "Recebemos ligações e contatos de pessoas de vários países, que se mostraram bastante preocupadas com a situação". Já no Brasil, não houve nenhuma resposta formal do Ministério da Saúde ou do Governo Federal. "Já havíamos enviado outros comunicados para o ministério e tentamos reuniões. Mas entendemos que as autoridades devem estar bastante ocupadas neste momento e esperamos que estejam trabalhando para resolver os problemas", diz. Crise sem precedentes Lemos, que acompanha de perto o trabalho dos voluntários do MSF e tem a experiência de atuar em outros nove países , diz que não consegue comparar a situação brasileira com outros lugares do planeta. "A sensação que tenho é que a pandemia no Brasil foi diferente do resto do mundo", avalia. A diretora relata que a ONG começou a reforçar o enfrentamento da covid-19 no Brasil ainda em abril de 2020, com foco na população de rua, migrantes, refugiados, usuários de drogas, idosos e pessoas privadas de liberdade da cidade de São Paulo. Em 2021, o trabalho dos voluntários está mais focado na Região Norte, especialmente em Rondônia, Roraima e Amazonas. "Damos apoio ao Sistema Único de Saúde, o SUS, especialmente em áreas de comunidades indígenas e imigrantes", diz. No momento, o MSF foca seus esforços em três estados da Região Norte do país Nos últimos meses, um dos focos do trabalho é justamente fomentar o treinamento dos profissionais da saúde que estão na linha de frente. "Muitos médicos e enfermeiros que atuavam nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) tiveram que transformar rapidamente as instalações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Só o fato de ter uma equipe extra ajudando a organizar os fluxos, os protocolos de atendimento e toda essa estrutura, já faz toda a diferença", acredita. Oportunidades desperdiçadas Lemos é testemunha ocular de como as informações fazem toda a diferença durante uma crise sanitária. A diretora lembra que o MSF foi fundado em 1971 na França por um grupo de médicos e jornalistas. A entidade, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1999, sempre entendeu a comunicação como um dos pontos-chave de sua atuação. Ela se recorda que, durante experiências passadas, as equipes e as instalações da entidade chegaram a ser atacadas pela população local durante surtos e epidemias. "Em muitos locais, tínhamos que restringir o acesso aos centros de tratamento ou aos funerais, pois a transmissão de doenças infecciosas era dramática", relata. "Se as pessoas não forem comunicadas e não entenderem a importância daquelas medidas, fica impossível trabalhar durante essas crises", ensina. E, de acordo com a visão dela, foi justamente isso o que não ocorreu no Brasil durante os últimos meses: sem uma coordenação nacional e com tantas mensagens contraditórias, as pessoas não captaram a real gravidade da covid-19. "Ainda hoje vemos indivíduos que acreditam e usam cloroquina e ivermectina, como se elas pudessem ter algum efeito contra o coronavírus. As UTIs estão cheias de pacientes que acreditaram no kit covid", observa. "Enquanto isso, sofremos com a falta de oxigênio, sedativos e outros remédios tão necessários para os casos mais graves", lamenta. Aprendizados e próximos passos A diretora do MSF no Brasil espera que as autoridades tenham entendido que a prevenção da covid-19 depende mais de ações comunitárias do que da abertura de novos leitos hospitalares. "Não se para uma pandemia na UTI, porque os hospitais são sempre o último recurso. Precisamos atuar contra a transmissão de pessoa para pessoa, com restrição da mobilidade e fechamento de todas as atividades não essenciais", sugere. A especialista também aponta a necessidade de reforçar o uso de máscaras e de criar políticas massivas de testagem e isolamento de casos confirmados. "Boa parte do mundo já faz isso há tempos e os resultados são claros", atesta. Ana de Lemos aponta que falta de comunicação foi fator decisivo para agravamento da pandemia no país E os exemplos positivos não vêm apenas de lugares ricos ou desenvolvidos: a diretora do MSF destaca o trabalho feito em nações africanas durante os últimos meses. "A despeito da subnotificação e da existência de outras doenças infecciosas impactantes, os países da África tiveram governos e políticas muito bem coordenadas, com o fechamento de fronteiras, o incentivo ao uso de máscaras e uma comunicação muito clara com os cidadãos", descreve. Por fim, Lemos entende que o encerramento da pandemia está necessariamente vinculado à vacinação e aposta que não há solução sem cooperação internacional. "Nós defendemos, inclusive, a quebra temporária das patentes de vacinas, tratamentos e testes de diagnóstico para que se amplie o acesso a esses recursos", revela. "Espero que as pessoas entendam que a covid-19 só estará controlada quando houver imunidade global. Enquanto tivermos pessoas desprotegidas, ninguém estará verdadeiramente a salvo", finaliza. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Dezenas de recados colados pelas paredes, um entra e sai constante de pessoas observadas por um segurança na porta. Em outubro de 2015, era assim a recepção do edifício Wilton Paes de Almeida, antigo prédio do INSS e da Polícia Federal no Largo do Paissandú, centro de São Paulo, que desabou em um incêndio na madrugada de terça-feira.
Área interna de um dos quartos da ocupação; em 2015, moradores relataram que pagavam entre R$ 150 a R$ 200 para viver em prédio no Largo do Paissandu Na época, eu era repórter da Folha de S.Paulo e subi os 24 andares do prédio sem me identificar, como se tivesse interessado em morar no local. A visita fazia parte da produção de uma reportagem para o jornal sobre ocupações que cobravam aluguel dos sem-teto. Na época, os moradores relataram que pagavam entre R$ 150 e R$ 200. Um cartaz colado na portaria de uma das maiores ocupações verticais da cidade deixava claro que atrasos não seriam perdoados: "Senhores moradores, precisamos acertar a contribuição até o dia 25/08/2015. Caso contrário, iremos pedir para deixar o espaço"; Moradores diziam que, em caso de atraso do aluguel, eles sofriam sanções, como corte de água e luz. Caso o pagamento não fosse feito por dois meses consecutivos, a família era expulsa. Cartazes definiam normas do prédio, como a proibição de bebidas alcoólicas e drogas e indicações de vestimenta Ao lado, regras de convivência escritas à mão em pedaços de papel diziam ser proibido usar drogas dentro do edifício, "ficar embriagado na recepção" e "espancar ou bater em crianças e mulheres". Também era não era permitido que homens circulassem sem camisa no prédio e que mulheres usassem roupas curtas. Fim do Talvez também te interesse O entra e sai de ambulantes era constante - muitos deles, com carrinhos para vender milho cozido e frutas no centro histórico da capital paulista. No térreo, ficavam estacionados os carros dos coordenadores do Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM), que administrava a ocupação. No mesmo pavimento, havia ainda um cofre com mais de um metro de altura, usado frequentemente por crianças como esconderijo para brincadeiras. Ocupação tinha várias regras de convivência Os líderes do movimento social disseram que o aluguel pago mensalmente era usado integralmente para fazer a manutenção e limpeza do prédio. Em duas visitas, presenciei apenas uma faxineira e um porteiro no local. Em uma delas, a portaria era controlada pela própria coordenadora do movimento social. Quarto visitado por repórter tinha forte cheiro de urina e fezes, além de um sofá sujo e roupas abandonadas No entanto, ao subir todos os andares do edifício, era possível observar que alguns deles estavam tomados por lixo produzido pelos moradores e entulho deixado durante a desocupação dos escritórios que funcionavam no local. Havia roupas, preservativos, seringas, embalagens plásticas e muitos móveis amontoados. O forro do teto estava destruído, e havia vazamentos nas tubulações de água. Boa parte das paredes e janelas do imóvel tinha pichações. Vista interna de um dos quartos da ocupação; entra e sai de ambulantes no prédio era constante Uma das responsáveis pela ocupação mostrou cinco quartos disponíveis para locação. O primeiro tinha um forte cheiro de urina e fezes, além de um sofá sujo e roupas abandonados. Fotos eram proibidas no local. Argumentei que precisava fazer as imagens para mostrar o ambiente à pessoa com quem dividiria o cômodo. A coordenadora disse que mostraria um quarto mais arrumado após perceber que eu tinha "demonstrado educação e disciplina". A melhor opção tinha cerca de 20 metros quadrados, estava limpa e não tinha nenhum móvel. O quarto não era muito disputada porque ficava no 20º andar, e poucos estavam dispostos a subir tantos andares de escada, principalmente para fazer a mudança. Uma das portas no 8º andar tinha uma pichação com o número 1533 - uma das principais referências à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) Nos corredores da ocupação, os varais se multiplicavam. Também havia caixas d'água em alguns pavimentos - motivo de preocupação de uma idosa que vivia no 8º andar. Para ela, era muito arriscado ter tanta água perto de fiações precárias. A grande maioria dos apartamentos não tinha pia, armário ou fogão. Eles consistiam em apenas um quadrado com paredes de madeirite. Em outubro de 2015, repórter visitou ocupação no edifício Wilton Paes de Almeida A água para as necessidades dos moradores era, em geral, retirada da caixa d'água instalada no corredor de cada andar. Alguns cozinhavam usando fogões de acampamento, abastecidos por um pequeno botijão. Só não ficava um forte cheiro de comida nos corredores porque o prédio tinha janelões que garantiam a circulação do ar. Uma das portas no mesmo andar tinha uma pichação com o número 1533 - uma das principais referências à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Salas de escritório foram divididas com tapumes de madeirite e transformadas em quartos Cada piso era habitado por mais de dez famílias e tinha uma rotatividade alta. "As pessoas não pagam ou fazem muita bagunça, e a gente pede para que elas saiam", disse na época uma das administradoras do local. Na época, me foram oferecidos cômodos em cinco andares diferentes. Cada pavimento tinha um banheiro, limpo pelos próprios moradores em forma de rodízio - um dos principais motivos de briga entre eles, segundo uma das coordenadoras do MLSM. Cada piso era habitado por mais de dez famílias e tinha rotatividade alta Ainda assim, quase todos os banheiros da ocupação estavam alagados, com o vaso sanitário entupido e com as paredes mofadas. Os moradores relataram que ratos, baratas e aranhas eram vistos com frequência. A fiação de todo o prédio ficava exposta e tinha diversas emendas, devido às ligações clandestinas feitas pelos moradores. Eles disseram que a energia que abastecia o edifício era desviada de semáforos da região. Havia tantos moradores no prédio que alguns aproveitavam para oferecer serviços, como cabeleireiro, manicure e venda de alimentos, como geladinho e marmitex. Um dos quartos oferecidos para o repórter; entre moradores, havia taxistas, vendedores, garotas de programa e motoboys Entre os moradores, havia taxistas, vendedores, garotas de programa e motoboys. Entre os motivos para viver no local, eles citavam a proximidade com o centro, já que grande parte morava na periferia e demorava até duas horas para chegar ao trabalho. Mas todos tinham o mesmo sonho de conseguir uma moradia popular. Por isso, participavam mensalmente de reuniões internas e com representantes da prefeitura - alguns, durante anos. Ninguém sabia quando nem se realmente conseguiriam uma casa, mas insistiam naquela que era tida como a única forma de conseguir um teto.
O presidente Barack Obama afirmou que considerará uma grande variedade de opções se for estabelecido de forma conclusiva que o governo sírio usou armas químicas contra a população.
Obama disse que ainda não sabe como as armas teriam sido usadas, assim como o autor do possível ataque e suas motivações. Ele disse que, se o caso for comprovado, a atitude dos EUA em relação à guerra civil no país pode mudar. O presidente americano disse ter pedido ao Pentágono que analise como o país responderia ao fato. O uso de armas químicas foi negado por Bashar Ja’afari, o embaixador da Síria na ONU.
Está lá na gravação clássica de um clássico de nosso cancioneiro, a Aquarela do Brasil, do Ary Barroso, na voz de Francisco Alves, o propalado (quando cantor ainda propalava) “Rei da Voz”. Primeiro, os acordes famosos do arranjo, também clássico, de Radamés Gnatalli, e, logo em seguida, Chico Viola (propalemos menos e com mais intimidade) começando a cantar: “Brasil, meu Brasil brasileiro, meu mulato rizoneiro…”.
A coisa nascera tão clássica, mas tão clássica, que mereceu uma bolacha de 78 rotações com dois lados, o A e o B – e se pudesse e houvesse tecnologia, teria também um lado C. Quem quiser conferir pode ir lá e ouvir com os próprios ouvidos que nossa terra generosa há de comer: “mulato rizoneiro”. Ora, já tinha muita gente, e gente preciosa, que implicava na época com o “Brasil brasileiro”, argumentando que não poderia ser “Brasil argentino” ou, muito menos, “Brasil estadunidense”. Como disse, uns preciosos. No “rizoneiro”, a coisa toda muda, para citar, meio cifrado, outro samba da época. “Rizoneiro” não tem. Não existe. Não está nos dicionários. Não se ensinava nos colégios. O “Rei da Voz”, armado com a letra do Ary, em forma de partitura ou, quiçá (quiçá era um quitute muito popular na época), batida à máquina, olhou, viu escrito lá “inzoneiro”, ou mesmo “enzoneiro” (conferir no dicionário Houaiss), que também existe, e deu um dó de peito lá para seus botões, “O Ary bobeou. Ou então é erro da gráfica ou de quem datilografou. Não pode ser isso.” O mistério se aprofunda Aí começam as especulações. Ou o “Rei da Voz” não sabia coisa alguma da língua portuguesa, ou sabia demais. Como uma simples verificação de seu legado como letrista confirmará (nunca vi ninguém o acusar de comprador de música. Também nunca vi ninguém botando a mão no fogo por ele), Francisco Alves compôs (ou comprou, como querem as más línguas) coisa que não acaba mais. E tudo coisa fina, do bom e do melhor. Portanto, não é preciso ser um Sherlock Holmes para se concluir que Chico Viola sabia que “inzoneiro” não podia ser, conforme o prestimoso Houaiss informa - “inzoneiro”, ou “enzoneiro”, conforme disse acima, quer dizer sonso, manhoso, enganador. Ninguém, nem mesmo em 1939, ano pródigo em ditaduras e racismos assumidos (Hitler, Getúlio, Mussolini), assinaria um desaforo desses logo no começo do que deveria ser um hino de exaltada e patriótica louvação. Seria uma burrice e uma contradição, mesmo com os coqueiros dando cocos e não jacas e as onças bebendo água de fonte lado a lado com brasileiros “inzoneiros”, “enzoneiros” ou “rizoneiros”. O “Rei da Voz” mostrou seu sangue azul como letrista e improvisador e, na hora de gravar, tacou lá “meu mulato rizoneiro”. O querido intérprete tirou do bolsinho de cima do paletó de brim branco, aquele onde ficava o lenço, o “rizoneiro” e foi em frente, sem desafinar, ao que parece. Uma especulação e um esclarecimento Não é preciso cantar feito o Francisco Alves, nem mesmo a capella: rizoneiro. Ri-zo-nei-ro. Ouvindo assim, e principalmente em voz de rei, só pode ser algo, ou melhor alguém, de peito nu, bronzeado, com um sorriso alegre nos lábios, apesar de dar duro de 8 da matina às 8 da noite. Ri-zo-nei-ro. Claro, mulato e brasileiro, só pode ser “rizoneiro”. Quanto à cor da pele, na época muito chamada de “tez”, não havia o menor desmerecimento. Getúlio nem pensou em instituir ministério para a promoção da igualdade racial. Valia mulato e, graças ao improviso de Francisco Alves, digno de um grande músico de jazz, passou a valer o “rizoneiro”. Infelizmente não pegou, apesar de, em nosso Brasil, que continua brasileiro, apesar dos pessimistas, existirem mulatos rizoneiros em atraente e, para muitos, tentadora profusão.
Não bastasse o aumento de preços dos alimentos, da gasolina e do gás de botijão neste início de ano, agora as contas de luz também poderão ficar mais salgadas a partir de maio.
Especialistas acreditam que a Aneel pode acionar a bandeira vermelha já no próximo mês, com cobrança adicional nas contas de luz Diante do baixo nível dos reservatórios hidrelétricos, após um período chuvoso que ficou aquém da média histórica, especialistas acreditam que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) pode acionar a bandeira vermelha 1 já no próximo mês. A medida acrescenta um custo de R$ 4,169 a cada 100 kWh (quilowatt-hora) consumidos. Com isso, alguns economistas têm ajustado para cima suas expectativas para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em maio. Até março, o índice oficial de inflação do país acumula alta de 6,10% em 12 meses, acima da meta de inflação para este ano, que é de 3,75%. O dado de abril será divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no dia 11 de maio. Há quem acredite que a bandeira em maio possa ainda continuar no patamar amarelo (com cobrança adicional de R$ 1,343 a cada 100 kWh). Mas mesmo esses mais otimistas avaliam que o país não escapará da bandeira vermelha nos meses seguintes, até dezembro. Fim do Talvez também te interesse Criado em 2015, o sistema de bandeiras tarifárias das contas de luz é uma forma de sinalizar para os consumidores que os reservatórios hidrelétricos estão em baixa e que está sendo necessário o acionamento de usinas termelétricas, que produzem energia mais cara. É uma maneira de estimular o consumidor a economizar, em momentos em que a energia hidrelétrica - que representa cerca de 65% da capacidade de geração de eletricidade no Brasil - está mais escassa, devido à falta de chuvas. A Aneel divulga a bandeira das contas de luz que irá vigorar em maio nesta sexta-feira (30/04). 'Em abril do ano passado, o reservatório do sistema interligado estava em 59,47% . Hoje, está em 44,81%', diz Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia Reservatórios em baixa "A previsão para maio é que a gente vá ter bandeira vermelha patamar 1", afirma Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc Energia. As comercializadoras são empresas que compram energia dos geradores e vendem aos consumidores livres, que são aqueles que não são atendidos pelas distribuidoras, como indústrias de vários segmentos, grandes comércios, shoppings, hospitais, supermercados, agronegócio etc. Como trabalham com compra e venda de energia, as comercializadoras acompanham muito de perto as flutuações de preço e as condições de geração do setor elétrico. "O nível dos reservatórios está mais baixo do que em outros anos", diz Vlavianos. "No dia 29 de abril do ano passado, o reservatório do sistema interligado estava em 59,47% da capacidade. Hoje [28/04], ele está em 44,81%." O Sistema Interligado Nacional é o sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil. Ele é composto por quatro subsistemas (Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e a maior parte da região Norte), conectados entre si, o que permite mandar energia de um para outro, aproveitando os diferentes regimes de chuva e de vazão dos rios do país. Maior uso de termelétricas Gustavo Carvalho, gerente de preços e estudos de mercado da Thymos Energia, afirma que o modelo da consultoria também aponta para bandeira vermelha patamar 1 em maio. "O Brasil é um país de matriz elétrica predominantemente hidráulica e o despacho [acionamento] das usinas é realizado de maneira centralizada", explica. "O ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico] executa um modelo de otimização para ver o quanto de térmica e de hidrelétricas precisam ser despachadas, de forma a atender a demanda prevista, tentando preservar o nível dos reservatórios, para ter a melhor operação possível em termos de custos e segurança do sistema." "O que a gente vem observando, de um tempo para cá, é que o comportamento hidrológico do país tem mudado bastante e nenhuma das usinas hidrelétricas tem gerado bem", observa o gerente da Thymos. "Qual é o impacto disso e por que isso tem a ver com as bandeiras da conta de luz? É que, quanto menos hidrelétrica gerar, mais térmica eu vou ter que usar para complementar e as térmicas vão sendo acionadas gradativamente, das mais baratas para as mais caras." Bandeiras suspensas em 2020 Além desse problema estrutural, de uma mudança do regime de chuvas do país que tem sido observada nos últimos 10 a 15 anos, há um outro fator de curto prazo que contribuiu para o baixo nível dos reservatórios, observa Étore Sanchez, economista-chefe da gestora Ativa Investimentos. No ano passado, entre maio e novembro, a Aneel suspendeu o acionamento das bandeiras tarifárias, deixando as contas sem sobretaxas, como uma forma de aliviar os gastos dos consumidores em meio à pandemia da covid-19. Com isso, o operador buscou minimizar o acionamento das termelétricas, que têm custo de geração mais caro. Mas, ao fim de novembro, a agência reguladora teve que voltar atrás na decisão de suspender as bandeiras até o fim do ano, devido à piora das condições hidrológicas. Assim, o país passou o período entre janeiro e março de 2021, que é o mais chuvoso, já com a bandeira amarela acionada, quando o normal para essa época em que os reservatórios atingem sua capacidade máxima seria a bandeira verde. E agora, já em maio, apenas no início do período seco, o país pode entrar antes do que seria esperado na bandeira vermelha. Gustavo Ayala, presidente da comercializadora Bolt Energias, acredita que ainda é possível a manutenção da bandeira amarela em maio. "Só deve permanecer amarelo em maio porque tem chovido bastante na região Norte e esse sistema está com bastante geração, exportando essa energia para o Sudeste", afirma Ayala. "Mas nossa expectativa, de junho em diante, é que vá para bandeira vermelha. Isso até novembro, pelo menos", diz o especialista. "O verde nesse período é pouquíssimo provável, mas a amarela pode acontecer, se tiver uma chuva no Sul do Brasil perto da normalidade." 'Com as mudanças climáticas, há uma tendência geral de longo prazo para a América do Sul de que os episódios de chuva sejam cada vez mais concentrados em menos dias', diz meteorologista da Climatempo E por que está chovendo pouco esse ano? Filipe Pungirum, meteorologista da Climatempo, explica que o Brasil passou por um período úmido no verão de 2020/2021 que acumulou poucas chuvas nas principais bacias brasileiras - as dos rios Paraná, Grande, Parnaíba e do Alto Tocantins. "A configuração de temperaturas do oceano Atlântico permaneceu desfavorável a essa chuva durante todo o período úmido e agora, no início do período seco, ela continua desfavorável e nós teremos também um início de período seco de chuvas abaixo da média", diz o meteorologista. Pungirum explica que a costa brasileira, entre o Sul e o Sudeste, ficou muito aquecida durante o período úmido. "Isso acaba favorecendo com que os grandes movimentos de ascendência de ar que provocam chuvas ocorressem sobre o oceano e não sobre o continente. Anos de verão em que a temperatura do Atlântico está mais baixa, geralmente são anos mais chuvosos." No período seco, são as frentes frias e o avanço de ciclones que possibilitam a chuva no Sudeste. "Esses sistemas precisam de diferenças de temperatura entre o Sul e o Norte para poderem avançar", explica o especialista da Climatempo. "O que acontece agora é que temos uma grande região de águas mais aquecidas entre o Sudeste do país e o Sul da América do Sul, então a diferença entre Norte e Sul está menor do que a média histórica, o que resulta em menos energia disponível para formação, manutenção e movimentação desses sistemas. Então, por isso, a expectativa agora no início do período seco também é de chuvas abaixo da média no Centro-Sul do país." O meteorologista destaca que o Brasil está entrando no período seco com níveis de reservatórios similares ao da última crise hídrica, que aconteceu entre 2014 e 2015. No entanto, ele destaca que a operação do Sistema Interligado Nacional é muito mais robusta hoje em dia do que naquela época, com um leque de possiblidades maior para preservar os reservatórios, o que resulta em uma baixa probabilidade de racionamento. Pungirum confirma que, pelo menos nos últimos dez anos, o nível de abastecimento dos reservatórios hidrelétricos está menor do que na série histórica. "Existem estudos que dizem que, com as mudanças climáticas, há uma tendência geral de longo prazo para a América do Sul de que os episódios de chuva sejam cada vez mais concentrados em menos dias." "Ou seja, mais eventos severos, e maior ocorrência de secas, com maior número de dias sem chuva." Com bandeira vermelha já em maio, Ativa Investimentos revisou a estimativa para o IPCA do mês de uma alta de 0,46% para 0,64% A alta das contas de luz na inflação Diante da probabilidade de acionamento da bandeira vermelha patamar 1 já em maio, Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, revisou sua estimativa para o IPCA daquele mês de uma alta de 0,46% para 0,64%, uma aumento de 0,18 ponto percentual. "Ainda vejo a possibilidade de termos em maio a bandeira amarela, mas tenho como cenário-base o acionamento da vermelha 1", pondera o economista. Segundo ele, caso a bandeira vermelha não se confirme nesta sexta-feira, e a amarela seja mantida, esse efeito inflacionário deve ser adiado para junho. Diante do baixo nível dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste, Sanchez também alterou sua expectativa para a bandeira que deve vigorar em dezembro, de amarela para vermelha 1. Com isso, o analista elevou sua projeção para a inflação em 2021, de uma alta de 4,9% para 5,1%. No boletim Focus do Banco Central mais recente (de 26/04), a mediana do mercado apontava para um IPCA em alta de 5,01% este ano e de 3,60% em 2022. No início do ano, a expectativa dos analistas era de altas de 3,32% e 3,50% para o IPCA neste e no próximo ano, respectivamente. O economista-chefe da Ativa Investimentos começou o ano prevendo um avanço de 3,5% do índice oficial de inflação em 2021, desacelerando da alta de 4,52% registrada em 2020. Mas, ao longo dos meses, foi elevando gradualmente sua projeção para este ano. "Era esperada uma queda de preços das commodities, mas pelo contrário, houve avanço desses itens. O preço da carne subiu, o preço do minério de ferro subiu, o preço do petróleo explodiu. E tudo isso precisou ser incorporado às projeções." Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
O Escritório de Investigações e Análises da França (BEA, na sigla em francês) declarou à BBC Brasil estar ''chocado'' com o que chamou de ''informações sensacionalistas e não confirmadas” publicadas pelo jornal Le Figaro, dizendo que as análises das caixas-pretas do avião indicam que o acidente com o voo 447 da Air France teria sido causado por erros dos pilotos.
BEA apresenta caixas-pretas recuperadas à imprensa "Nós nem começamos a analisar os dados das caixas-pretas do avião. Essas informações (dados das caixas-pretas) serão cruzadas com a perícia das peças resgatadas do avião e outros elementos e esse processo todo vai durar meses", disse à BBC Brasil a porta-voz do BEA, Martine Del Bono. "Temos, em uma das caixas-pretas, 1,3 mil parâmetros técnicos do voo para estudar, que serão cruzados com as duas horas de gravações das conversas dos pilotos e dos sons da cabine da outra caixa-preta, além da análise das peças que será realizada", diz a porta-voz. Em artigo intitulado "A pista do erro da tripulação se confirma", publicado em seu site nesta terça-feira, o Le Figaro afirma deter informações sobre a análise das caixas-pretas “dadas a conta-gotas” por investigadores do BEA e por fontes do governo francês. Segundo o jornal, os primeiros elementos das caixas-pretas indicam "para os investigadores que teria havido um erro da tripulação da Air France", e "isentam a Airbus de responsabilidade na tragédia que matou 228 pessoas". “É insensato dizer que em apenas 24 horas após ter recuperado os dados das caixas-pretas os investigadores já teriam as conclusões das causas do acidente. Isso é desonesto e é irresponsável em relação às famílias das vítimas”, afirma Del Bono. Suposta prova O Le Figaro afirma que uma prova de que as investigações apontariam para erros dos pilotos seria o fato de a Airbus, fabricante do avião, ter enviado uma nota às companhias aéreas nesta terça-feira, dizendo que "após as análises preliminares das caixas-pretas", em termos de segurança aérea, a empresa"não tem nenhuma recomendação imediata” a fazer a seus clientes. "Utilizar a palavra 'análise' das caixas-pretas não está correto. Esse documento não quer dizer nada. Os aviões da Airbus continuam voando 23 meses após o acidente e eles apenas quiseram dizer às companhias aéreas que não há nenhum elemento novo", diz o BEA. A porta-voz explica que somente a análise de todos os dados coletados pelos investigadores permitirá descobrir a sequência de eventos do voo que acarretaram o acidente. “Um acidente é causado por uma sucessão de eventos. Isso exige uma análise complexa e minuciosa. Só assim poderemos entender quais são as causas da catástrofe”, diz ela. Um relatório preliminar com os primeiros elementos constatados pelos investigadores franceses deverá ser publicado em agosto, diz ela. Mas o relatório final, sobre as causas do acidente que matou 228 pessoas, só será divulgado no primeiro trimestre de 2012. Em um comunicado, o BEA informa ter “quase certeza” de que as causas do acidente poderão ser desvendadas e afirma ainda “que qualquer informação divulgada por outra fonte e não confirmada pelo BEA não tem nenhuma validade”. Os investigadores franceses conseguiram, neste último final de semana, recuperar os dados das duas caixas-pretas do avião. Em um e-mail enviado ao BEA nesta terça-feira, o diretor-executivo da Associação de Famílias das Vítimas do Voo AF 447, Maarten Van Sluys, afirma que a informação do Le Figaro acusando “a tripulação sem defesa do AF 447 é inaceitável”. Sluys diz ainda que a notícia do jornal foi “certamente causada pelo fato de que técnicos da Airbus estão envolvidos nas investigações, o que representa um claro conflito de interesses”.
Na vizinhança onde mora o carioca Herbert Veloso, de 20 anos, pedir comida por aplicativo é difícil: poucos entregadores e empresas aceitam chegar até os endereços que ficam no Complexo do Alemão, que abriga um dos maiores conjuntos de favelas da Zona Norte do Rio e que, não raramente, atrai atenção no noticiário nacional em episódios relacionados a crimes, assassinatos e operações policiais.
Oferta de serviços como aplicativos de entrega é limitada para moradores de favelas em diversas cidades do país São problemas sociais que atingem, além do Alemão, muitas outras favelas e periferias de cidades em todo o país, mas viraram oportunidade de negócios para o programador, que pretende lançar até dezembro a versão definitiva do aplicativo de entregas Brotaki, "mistura de Rappi e iFood", na definição dos criadores. Voltada para os clientes e comerciantes da favela em que ele vive e trabalha, a ferramenta já está em fase de testes. "Tem muita gente na favela que tem necessidade de ser atendida e não tem ninguém oferecendo o serviço. O buraco dessa exclusão gera um nicho de negócio absurdo", diz Herbert, um dos sócios fundadores da startup de tecnologia Agência Cptech, formada por jovens desenvolvedores. A empresa funciona no contêiner da ONG Educap, que oferece oportunidades de educação para os moradores e foi onde os empreendedores estudaram programação no Alemão. Fim do Talvez também te interesse A ideia do Brotaki é resolver dois problemas importantes: aumentar as vendas dos comerciantes locais e possibilitar um serviço, até então, inacessível aos moradores da favela. "A gente viu que muito comerciante trabalhava com esses aplicativos e depois acabava saindo do aplicativo, porque não dava certo. Pensamos: qual o problema?", diz o sócio da startup, que também cria e gerencia perfis nas redes sociais para as empresas da região, além de prestar outros serviços em tecnologia, como a criação de sites corporativos. "No prazo de um ano estaremos rodando 100% do nosso produto, mostrando que nasce muita coisa boa dentro da favela. Soluções que resolvem não só o problema da favela, mas que podem ser levadas para outras regiões", diz o empreendedor, que acaba de ganhar um apoio para o crescimento da Agência Cptech. Herbert Veloso, (segundo da esq. para direita) e colegas na Agência Cptech, que funciona na ONG Educap, no Complexo do Alemão A startup foi um dos 16 projetos selecionados pelo Investe Favela, fundo criado a partir do investimento de empresários e gerenciado por líderes comunitários do Complexo do Alemão e de Paraisópolis, voltado a financiar startups das favelas de todo o país. E a ideia, daqui em diante, é começar a buscar mais projetos como estes: no dia 23 de novembro, um evento em Paraisópolis batizado de Slum Summit lançará oficialmente o G-10 das favelas, bloco que, assim como os países ricos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) do G-7, unirá forças em prol do desenvolvimento econômico e protagonismo de seus membros. No mesmo evento, mais empreendedores das comunidades do G-10 poderão candidatar seus projetos de startups a financiamentos. "O G-7 e o G-20 não juntam os países em blocos para decidirem os rumos deles? Queremos decidir os nossos próprios rumos", compara Gilson Rodrigues, 35, presidente da União dos Moradores de Paraisópolis desde 2009. Foi ele quem liderou na última década, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, o movimento de urbanização de Paraisópolis, favela na Zona Sul da capital paulista onde vivem cerca de 100 mil pessoas e funcionam 12 mil estabelecimentos comerciais. As obras pararam em 2015, sob a justificativa de restrição fiscal, e não foram retomadas até hoje. Durante a crise econômica, encolheram também os lucros das empresas e, por consequência, o tamanho das doações das companhias parceiras direcionadas às favelas. Fintech para ambulantes e camelôs O caxiense Hugo Miranda, de 34 anos, não tinha ideia de quanto dinheiro circulava entre os comerciantes da periferia até prestar atenção ao mercado para criar a Silicon Pay, máquina de cartões de débito e crédito voltada para camelôs e mercado informal. Estudo do Instituto Locomotiva divulgado em agosto, por exemplo, aponta que o Brasil ainda tem 45 milhões de pessoas vivendo totalmente excluídas do sistema bancário, movimentando fora dos bancos um total anual estimado em R$ 820 bilhões, especialmente no mercado informal, historicamente ignorado pelos grandes bancos no país. "É um volume muito alto, eu não tinha ideia do quanto se transacionava dentro do setor informal e dentro das comunidades", afima Miranda, nascido e criado em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense que fica a cerca de 15 km do Complexo do Alemão. "Atendemos o cliente que não sabe usar a máquina e tem vergonha de falar, está com nome sujo ou o comerciante que dá o cartão para os funcionários que pedem para receber em dinheiro porque a conta (bancária) está com uma pendência e precisam levar dinheiro para casa. A gente ensina a mexer em tudo e dá um cartão preto pra ele, um cartão black pré-pago de crédito, para elevar a autoestima dele", diz o CEO da fintech. Hugo Miranda: 'Eu não tinha ideia do quanto se transacionava dentro do setor informal e dentro das comunidades' Miranda afirma ser esse o diferencial de sua empresa em relação aos concorrentes. "É o valor que damos ao cliente. No cartão pré-pago você bancariza ele de novo", diz Miranda, que tomou dinheiro emprestado para comprar a primeira leva de máquinas e contou com o investimento de um empresário para comprar o segundo lote. Criada há um ano, a Silicon Pay tem 400 clientes cadastrados em Caxias e no Complexo do Alemão, com transações mensais que giram em torno de R$ 2 milhões, segundo Miranda. A estimativa do empresário é de que, só no Alemão, existam 2 mil pontos comerciais com potencial para virarem clientes. A meta da Silicon Pay — nome inspirado no Silicon Valley berço das startups e empresas globais de tecnologia nos Estudos Unidos — é chegar a R$ 10 milhões em transações só no Alemão em até um ano. Miranda mora sozinho e paga as próprias contas desde os 14 anos, mas demorou a se sentir empreendedor de verdade. Formou-se em Marketing estudando à noite e vendendo sacolas plásticas no Ceasa durante o dia, mas diz que aprendeu mesmo sobre o mundo dos negócios convivendo com empresários que o inspiram e que ele considera mentores, como Luciano Vital e Daniel Orlean, com quem diz ter conhecido a "a rotina dos empreendedores de alto padrão" para entrar no mundo das fintechs. "O cara que cria uma startup na favela quer ser tratado como empreendedor, porque ele é. É muito mais difícil para ele empreender do que para o cara que nasceu do lado do Shopping Leblon com o investimento inicial do pai dele. O cara começa do zero e tem que vender para pagar salário. Fica endividado, sem credibilidade nenhuma", diz Miranda, que não vê como exclusão a ausência das grandes empresas nas favelas, mas reconhece que elas estão perdendo uma enorme oportunidade de negócios, o que abre espaço para empreendedores locais. "Naturalmente acho que eles preferem atuar em áreas melhores, com mais segurança, mais pavimentação. Destesto vitimismo", diz. "Os empresários têm que começar a prestar atenção nessas startups que estão crescendo nas comunidades. Verdadeiros heróis, sem estrutura", acrescenta. Ele cita o exemplo da Cptech, de Herbert, de quem Miranda se diz grande admirador. Como muitos fundadores de startups do Vale do Silício, Miranda faliu sua primeira empresa aos 24 anos, mas, em seu novo empreendimento, acaba de receber um sonhado "capital anjo" no valor de R$ 100 mil do Investe Favela, o que ajudará a crescer em larga escala, como se exige das startups. Desenvolvedores trabalham na Agência Cptech, que funciona em um contêiner no complexo do Alemão Mercado bilionário O "G-10 das favelas" tem na lista as comunidades da Rocinha (RJ), Rio das Pedras (RJ), Heliópolis (SP), Paraisópolis (SP), Cidade de Deus (AM), Baixadas da Condor (PA), Baixadas da Estrada Nova Jurunas (PA), Casa Amarela (PE), Coroadinho (MA) e Sol Nascente (DF). A ideia de criar o grupo surgiu a partir de uma pesquisa divulgada no ano passado pela Outdoor Social, empresa de impacto social voltada para classes populares que prevê que em 2019 o potencial de consumo das 10 maiores comunidades e periferias é de mais de R$ 7 bilhões. Para chegar a esses números, a pesquisa cruzou informações sobre hábitos de consumo da Pesquisa de Orçamento Familiar, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados de endividamento das famílias da Serasa Experian e do Banco Central. Na Silicon Pay, do empreendedor Hugo Miranda (sentado, de camisa azul), o foco é bancarizar as transações do mercado informal "A maioria dos executivos das grandes multinacionais tende a focar suas ações de marketing nas classes de maior poder aquisitivo. Os hábitos de consumo dos moradores das periferias são pouco conhecidos e sobre eles se criaram muitos mitos e paradigmas", diz Emília Rabello, fundadora do Outdoor Social. A exemplo dos grandes blocos econômicos, o G-10 terá encontros regulares e termos de cooperação voltados a ampliar o impacto social de suas parcerias. "Vamos reunir dados e bolar estratégias para que as comunidades realmente se tornem polos de negócios sustentáveis", diz o advogado Daniel Cavaretti, 35 anos, membro da comissão organizadora do G-10. "Podem sair grandes empreendimentos e 'unicórnios' da favela", diz, em referência ao nome dado na linguagem das startups a empresas avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais. A ideia do G-10, diz Gilson Rodrigues, de Paraisópolis, é inspirar o Brasil inteiro a olhar para a favela. "As pessoas acham que a favela é 'coitadinho'. A gente quer mostrar que é uma potência, dá para ganhar dinheiro, dá para crescer. Não estamos em situação de ficar refém de ninguém; nem da polícia, nem de bandido, nem de político", afirma. "Queremos ser agentes da nossa própria transformação e com o tempo vamos nos libertar de todos esses problemas", diz Rodrigues, que lidera a iniciativa junto com Reginaldo Lima, do Alemão, e afirma que já estão confirmados para o encontro de novembro representantes de Ceará, Rio e São Paulo, mas a ideia é estender o convite a todas as comunidades do país. "Queremos aumentar para G-20, G-30", diz. Um ponto importante para os organizadores da iniciativa é deixar claro que o objetivo não é arrecadar doações ou patrocínio, mas investimentos que gerem tanto retorno ao investidor quanto o desenvolvimento econômico das comunidades. O capital será devolvido pelo empreendedor em um prazo de três a cinco anos, e o investidor tem direito a compra de participação minoritária no empreendimento. "Tem uma relação saudável do capitalista que investe para a gente, colocou o dinheiro em uma área que tem preconceito, mas ele continua sendo o capitalista de sempre", define Lima. Analfabeto até os 25 anos, ele aprendeu a ler em materiais que coletava no lixo de um prédio nos arredores do Alemão e sabe o valor da oportunidade. "Catava o lixo de um prédio e tinha um lixo de textos que me deixavam confusos. Um dia eu vi que eram de um professor de filosofia e (aquilo) começou a me provocar. Professor Paulo estava passando por um câncer super agressivo. Nos meses de vida dele, por quatro ou cinco meses, eu tive uma imersão no mundo da filosofia', conta Reginaldo que, aos 53 anos, se tornou autodidata. Liza Simões (de branco, no meio), do Investe Favela, em encontro com os fundadores da Cptech (à esquerda) e da Silicon Pay (à direita) Formato financeiro No evento do dia 23, empreendedores das comunidades poderão fazer um "pitch" — como é chamado na linguagem dos negócios o discurso de "venda" para convencer os investidores — a dois fundos: o Investe Favela e o Fundo Alicerce. Enquanto o primeiro é liderado por Gilson e Reginaldo e criado a partir do dinheiro de empresários que preferem não terem seus nomes divulgados, o segundo é liderado pelo empresário Paulo Nogueira Batista, do grupo Alicerce Educação, e por Gilson, de Paraisópolis, que são sócios no fundo. Batista, 35, advogado com carreira no mercado financeiro, fundou há cerca de um ano a startup de impacto social voltada a reforço educacional justamente para as periferias. "Oferecemos educação de alta qualidade, com os melhores modelos de fora do país, por R$ 150 por mês, no contraturno da escola para famílias de classe média e mais pobres", explica o empresário, que já tem 12 unidades em bairros como Brasilândia, Grajaú e Vila Prudente, e deve abrir mais 40 até 2020, inclusive em Paraisópolis. O Fundo Alicerce destinará R$ 2 milhões na primeira etapa a 17 empreendimentos da periferia, que ainda serão selecionados. O critério de seleção priorizará iniciativas que vendam produtos ou serviços nos bairros do centro expandido, ou substituam produtos que a favela compra desses bairros, para melhorar a "balança comercial" das comunidades. "Acho que a parte do empresariado que não conhece a periferia e não sabe as oportunidades que existem lá certamente tem medo de investir", diz Batista. "Mas quem já abriu os olhos vê que é plenamente seguro. Tem muita oportunidade de ganhar dinheiro nas favelas." Os projetos selecionados para receber aporte dos fundos precisam, além do impacto social, darem lucro, e serem sustentáveis sem depender de doações. "Tem que vender, não adianta ser um projeto cool, um projeto bonito, que não dê dinheiro. Não adianta ser um PPT sem o XLS", brinca o empresário. A mineira Liza Vasconcelos Simões, 27 anos, diretora executiva do Investe Favela, diz que a diferença em investir em empresas da favela é que muitas vezes os empreendedores tiveram menos oportunidade de acesso à educação de qualidade. "O acesso à educação nas favelas é muitas vezes interrompido, é recorrente abandonarem a escola com 13, 14 anos para começarem a trabalhar e trazer dinheiro para casa. Aí depois ficam desempregados e não têm como voltar para a escola, ficam nesse limbo", diz, explicando que tal situação cria um abismo que afasta os jovens da periferia das aceleradoras de startups. "É um processo pedagógico, são quase dois mundos diferentes. Uma realidade injusta, e aí você vai lá e encontra tantos empreendedores maravilhosos", diz. "O relacionamento (entre) favela e asfalto é absolutamente difuso, o que cria um mercado paralelo, completamente potente." 'Às vezes nós não podemos ir até o nosso local de trabalho por violência', diz empreendedor do Alemão; acima, protesto de moradores do complexo após a morte da menina Agatha Félix E a violência? Na sexta-feira (04/10), enquanto a reportagem conversava com alguns moradores por telefone sobre os empreendimentos, o Alemão vivia mais um dia de tiroteios entre facções. Vídeos espalhados pela internet mostravam tiros cruzando o céu e corpos de pessoas mortas durante os tiroteios na guerra daquela semana. No dia 1 de outubro, a favela também ficou cheia de policiais ao ser palco da reconstituição da morte de Ágatha Félix, de 8 anos, que morreu baleada no dia 20 de setembro quando voltava para casa com a mãe em uma Kombi no Alemão. "Fundei a empresa à base de muito tiroteio de madrugada, muita briga de tráfico entre facções. Criando o nome da empresa, o branding, a gente dentro. E não falo só do complexo, falo de periferia em geral', diz Hugo Miranda, da Silicon Pay. Herbert, da Cptech, também passou por experiências semelhantes. "Nossa sede é na ONG Educap, no Complexo do Alemão, e às vezes nós não podemos ir até o nosso local de trabalho por violência", diz. No dia em que a reportagem conversou com Herbert, eles preferiram não ir até o escritório porque ocorria a reconstituição de um crime. "A nossa vantagem é que trabalhamos com tecnologia, e podemos trabalhar de qualquer lugar", diz. Gilson, de Paraisópolis, diz que muitos investidores que deixam de aplicar dinheiro em startups nas favelas têm ideias equivocadas sobre o impacto da violência nos negócios, e a ideia é que um modelo com lideranças claras aproxime mais o capital das comunidades. "Tem muita gente que acha que para investir na favela tem de pagar pedágio para o tráfico", diz, acrescentando que tal problema não faz parte da rotina de Paraisópolis e de muitas outras favelas. Capital anjo e banco na favela Além da Cptech e da Silicon Pay, do Alemão, outro projeto que receberá investimentos na incubadora é o Banco de Paraisópolis, que terá não só conta digital, mas unidade física para também servir de efeito "pedagógico" para uma população que nunca teve conta em banco, e trabalha na maioria no setor de serviços, como faxina e portaria. "O perfil da comunidade é um cara que guarda o dinheiro no colchão. Ele quer ver o boleto pago e guardar cinco anos para não dar problema. Então esse processo de mudança para o digital vai demorar um pouquinho", diz Gilson Rodrigues. O banco será criado em modelo de Empresa Simples de Crédito (ESC), por meio de uma holding que deve estar operante dentro de 20 dias. E terá também plataforma digital e um cartão pré-pago em três categorias: um sem valor mínimo, um para quantias a partir de R$ 500 e um cartão black, de R$ 1.000. Empreendedores afirmam que potencial de consumo nas favelas nunca esteve adormecido, como pensam muitos investidores 'do asfalto' Os ricos pioneiros da favela Mas se engana quem pensa que é nova a ideia de que se pode ganhar dinheiro na periferia. Empresários mais antigos, que vieram do Nordeste nos anos 90 sem família e sem ter onde morar, lidam hoje com a fama de "milionários" da região e servem de inspiração para os jovens empreendedores. Manuel Cícero, por exemplo, e José Flavio de Souza Soares, ambos com 47 anos, têm histórias parecidas; sem concluir o ensino básico e sem apoio financeiro ou orientação, ambos alcançaram uma vida muito mais confortável do que imaginariam. As decisões, para eles, eram de curtíssimo prazo: embora não tivessem recursos para a sobrevivência, usavam o dinheiro de uma venda para comprar o próximo estoque, e iam crescendo a partir daí. "Já nasci com o dom para ganhar dinheiro desde que era criança em Triunfo, Pernambuco. Deixei minha família, meu pai, depois fui buscando um a um. Vim com o intuito de ganhar dinheiro", diz Cícero, que hoje tem três unidades da loja de material de construção Três Irmãos em Paraisópolis. Soares, que hoje é conhecido na favela como referência de empresário bem-sucedido na comunidade, diz que já quebrou muitas barreiras que hoje são hoje mais suaves para os novos empreendedores. "Quando eu comecei a comprar dos grandes distribuidores, quando chegavam na favela não queriam entregar. Muitos motoristas chegavam, não entravam e falavam que foram ameaçados. Já tive que pegar mercadoria na avenida Francisco Morato, na avenida Giovanni Gronchi (vizinhas a Paraisópolis, no bairro do Morumbi) e os caminhões paravam lá. Fui quebrando esses paradigmas", diz o dono da ESPan, loja de produtos para embalagens com 20 funcionários registrados em carteira assinada. Na época, não havia também um plano de negócio. Soares vendia o que conseguia comprar, sacolas plásticas aqui e ali, e ia tendo ideias criativas pelo caminho. "Quando eu juntava dinheiro para fazer um pedido mínimo eu fazia, inventava outra mercadoria", lembra o empresário, que muitas vezes se viu endividado, sem capital de giro ou apoio de mentores ou investidores. "Hoje o preconceito é bem menor, e a favela é essa potência." Para Gilson Rodrigues, casos como esses mostram que o potencial de consumo nas favelas nunca esteve adormecido, como pensam muitos investidores "do asfalto". "Nos eventos que participo sobre empreendedorismo, muitas vezes, o tema consumo nas periferias é tratado como 'potencial adormecido' e eu sempre digo que quem está dormindo é quem não está investindo nas favelas." Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Em meio à crise econômica do Rio de Janeiro, o retorno de cenas de tiroteio e confrontos e à mudança em toda a cúpula de segurança pública do Estado, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) tendem a ser o termômetro do sucesso ou fracasso da nova gestão.
Com 38 unidades em diferentes favelas da cidade, o programa de UPPs tem mais de 9 mil policiais e enfrenta dificuldades Vista anos atrás como um grande sucesso, a iniciativa enfrenta seu momento mais frágil. Com 38 unidades em diferentes favelas da cidade, o programa tem mais de 9 mil policiais e enfrenta críticas de moradores, denúncias de abuso policial e dificuldades com a falta de recursos e a impossibilidade de aumento de efetivo. O novo secretário estadual da Segurança, Roberto Sá - substituto de José Mariano Beltrame, que ficou no cargo por quase dez anos -, afirmou que as UPPs serão mantidas e que não haverá redução. Mas disse, porém, que o projeto deve passar por ajustes, incluindo realocar policiais de unidades mais tranquilas para aquelas onde há mais problemas. Segundo ele, a secretaria está fazendo um diagnóstico dos índices criminais de cada unidade para determinar como devem ser feitos esses ajustes. A BBC Brasil conversou com dois especialistas e dois moradores de UPPs sobre o futuro do programa. Confira os depoimentos: Fim do Talvez também te interesse Ana Paula Oliveira, ativista e moradora da UPP de Manguinhos "Eu digo com propriedade que a UPP é um extermínio de favelados", diz moradora Quando criaram a UPP, em 2012, eu vi como positivo o fato de não vermos mais armas. A gente sabia que os traficantes ainda estavam ali, mas não víamos mais aquelas armas pesadas. A questão é que rapidamente isso foi substituído pelo armamento pesado da polícia, e aos poucos ficou claro que a UPP não traria projetos sociais nem a paz, mas sim apenas uma forte militarização controlando tudo que os moradores fazem. Logo no ano seguinte veio a primeira morte provocada por policiais da UPP, em março de 2013, e em outubro a segunda, um garoto espancado até a morte pela polícia. Sete meses depois foi o meu filho, morto com um tiro nas costas. Não adianta mudar nomenclatura e cor do uniforme. É toda a estrutura e o treinamento da Polícia Militar que precisa mudar. Eles vêm para cá com ódio. Na visão deles, o pobre e favelado é o inimigo que precisa ser exterminado. Fico revoltada ao ver que nossos filhos morreram em nome de um projeto racista, classista, excludente e de mentira. Eles estão buscando a segurança de quem? Eu digo com propriedade que a UPP é um extermínio de favelados. É mesmo. A maioria das pessoas são mortas com tiro nas costas ou na cabeça. Para ser justa, nos últimos anos ganhamos a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e a Clínica da Família, mas dentro da comunidade é só a polícia mesmo. Para nós ficou claro que a UPP é uma farsa. A ideia de pacificação e proximidade é uma grande mentira. No cenário atual eu acho que as coisas só vão piorar. Não tenho nenhuma expectativa positiva. Se antes eles tinham dinheiro e nada deu certo, imagina agora, em crise? Eu acho que infelizmente dias sombrios nos esperam. E mesmo que houvesse muito dinheiro para investir, de nada adiantaria se você continua com uma Polícia Militar que vê o morador de favela como inimigo. Nós não precisamos de mais e mais policiais, precisamos de saúde, educação, lazer e cultura, e não mais morte e violência. Ana Paula Oliveira nasceu e cresceu na favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio. Seu filho Johnatha foi morto com um tiro nas costas disparado por um policial da UPP em maio de 2014, e desde então tornou-se ativista de grupos de mães que perderam filhos devido à violência policial. Sua luta já a levou a Washington, Genebra e outros países da Europa. Pedro Strozenberg, pesquisador e ex-membro do Conselho Nacional de Segurança Pública "Houve acertos e erros, mas tratar a política como algo fracassado de forma geral não trará benefícios à segurança pública", diz especialista Nesse momento de crise, eu acho que é muito importante que não haja maniqueísmos ao falar do programa das UPPs. Houve acertos e erros, mas tratar a política como algo fracassado de forma geral não trará benefícios à segurança pública. Eu vejo que deu certo uma mudança de mentalidade, dessa lógica de enfrentamento, e de uma nova maneira de selecionar e treinar policiais, com capacitação direcionada para o policiamento de proximidade. Por outro lado a velocidade de expansão fez com que o projeto fosse enfraquecido também no treinamento de efetivo. Os pontos negativos foram tratar as favelas de forma muito semelhante, quando elas possuem diferenças enormes entre si, e a falta das políticas de Estado, das iniciativas da prefeitura, dos projetos e melhorias que haviam sido incluídas no projeto inicial. Faltou também um sistema de monitoramento de problemas, de abusos. Obviamente você não pode tolerar 15 pessoas mortas num ano numa comunidade em que há um projeto de polícia comunitária, como o que ocorre no Complexo do Alemão. Algo está errado e precisava ter havido um controle sobre isso, uma intervenção atuando sobre o que está errado. Nesse cenário caótico do RJ no momento, sem dúvida as UPPs se encontram numa situação crítica e muito delicada. Possivelmente vão reduzir efetivo em algumas unidades e reforçar em outras. Vai ser necessário uma aliança com os governos municipal e federal. O mais importante é perceber que das 38 unidades há dez em estado crítico. Não se pode dizer que o projeto fracassou, pois há o risco de retrocedermos a um nível em que os avanços feitos sejam desqualificados. Sobre a ausência dos projetos sociais e um monitoramento mais rígido dos desvios de conduta dos policiais eu acho que são duas bandeiras das quais não se pode desistir. É necessário bater nessa tecla até que isso aconteça. Pedro Strozenberg é pesquisador da área de segurança pública do Instituto de Estudos da Religião (Iser), e ex-membro do Conselho Nacional de Segurança Pública. Também atuou no Conselho Estadual de Direitos Humanos e de Segurança Pública do Estado do RJ e foi subsecretário de Direitos Humanos do Estado do RJ. Thainã Medeiros, comunicador, ativista e morador da UPP do Complexo do Alemão "Eu acho que a situação atual no Complexo do Alemão é o resultado de uma série de equívocos", diz morador Eu acho que a situação atual no Complexo do Alemão é o resultado de uma série de equívocos, começando com a ocupação com o Exército, em 2010. Para ser justo, no início havia uma expectativa muito positiva. Muitos moradores estavam animados e os militares entregavam bilhetes que falavam de um novo tempo, de mudanças. E foram três anos sem tiroteio. Ouvíamos tiros, mas não tinha tiroteio, confronto. Por outro lado tinha a opressão da Polícia Militar, que transformou hábitos e a cultura da favela, com revistas, intimidações e proibições, como os bailes funk, que passaram a ser vetados. Por um lado eu podia sair de casa e ir trabalhar sem medo de tiroteio, mas outro se estivesse na rua depois das 22h poderia levar um tapa na cara e ser chamado de vagabundo por policiais da UPP. Mas tudo mudou em maio de 2013, quando a corrida da paz, da qual participava o ex-secretário de segurança José Mariano Beltrame, foi interrompida por cinco minutos de tiros. Foi um sinal, um recado bem claro, de que as coisas iam começar a mudar. A UPP tem que sair, eles têm que ir embora do Alemão. Há iniciativas lá de saúde, educação, cultura, de autogestão, criados por moradores, e eles atrapalham. Se não tem dinheiro para as políticas sociais e nem para uma polícia bem treinada, a presença deles lá só está alimentando a guerra. São forças inimigas no mesmo território e inocentes morrendo no meio. Thainã Medeiros nasceu e cresceu no Complexo do Alemão. Desde o final de 2013 integra o Coletivo Papo Reto Comunicação Independente, que tornou-se uma referência de comunicação e monitoramento da violência policial e já levou seus integrantes à sede das Nações Unidas, em Nova York, para debates e encontros sobre o tema. Luiz Eduardo Soares, pesquisador, antropólogo e ex-secretário nacional de Segurança Pública "É claro que há situações e situações, mas de forma geral é uma iniciativa fracassada", afirma sociólogo A essa altura muitos já reconhecem, inclusive autoridades, que o projeto de pacificação como concebido inicialmente fracassou. É claro que há situações e situações, mas de forma geral é uma iniciativa fracassada. E isso ocorreu basicamente por duas razões: não houve reforma das polícias e não houve a entrada de políticas sociais junto com os policiais de UPPs. Não tem como você levar adiante um projeto de policiamento comunitário com uma polícia violenta e corrupta. Era previsível que houvesse uma série de abusos e de corrupção levando a uma desmoralização que finalmente traria de volta o tráfico. A formação que era dada a esses policiais de UPPs era muito breve, muito incipiente. A tradição e os hábitos da Polícia Militar nunca mudaram. A ausência de políticas sociais enfraqueceu demais o projeto, assim como a expansão e a escolha dos locais que recebiam UPP não com base num diagnóstico da situação, mas sim as mais próximas da Zona Sul do Rio e de locais com movimentação de turistas visando a Copa do Mundo e as Olimpíadas, tentando mostrar à classe média e aos turistas que o problema estava resolvido. Não vejo saída em meio à crise atual no Rio de Janeiro. Eu acho que as UPPs vão falir uma a uma, indo ao fundo do poço e se corroendo. Os policiais de UPPs trabalham em condições análogas à escravidão, segundo o Ministério Público do RJ, e realocar efetivo vai descobrir uma parte para cobrir outra, sem sucesso. Diante disso é óbvio que o tráfico está se reorganizando, disputando quem vai ficar com que morro, com que território, nessa retomada de poder. Luiz Eduardo Soares é mestre em antropologia, doutor em ciência política e pós-doutor em filosofia política. Assumiu a Secretaria Nacional de Segurança Pública em 2003 eera coordenador de segurança, justiça e cidadania do Estado do RJ. É professor da UERJ e já foi pesquisador das universidades de Columbia e Harvard.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, autorizou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sair da prisão nesta quarta-feira para se encontrar com familiares após a morte de seu irmão, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Genival Inácio da Silva, o Vavá, morreu em decorrência de um tumor no pulmão.
Ex-presidente foi autorizado pelo STF a se encontrar com familiares após enterro do irmão, mas ele decidiu não ir mais A decisão de Toffoli foi emitida minutos antes do enterro de Vavá, que ocorreu por volta das 13h no cemitério Pauliceia. A concessão do habeas corpus é contrária às decisões da Polícia Federal e das instâncias inferiores. A PF havia negado ontem a saída de Lula da prisão com base em diversos argumentos, entre eles: risco de fuga ou resgate, indisponibilidade de transporte aéreo em tempo hábil para a chegada antes do sepultamento (as aeronaves da PF estão em Brumadinho), riscos no trajeto de carro entre o local de pouso do helicóptero e o cemitério, falta de agentes de segurança para garantir ordem pública e segurança e, por fim, perturbações à tranquilidade da cerimônia fúnebre. O pedido de saída foi negado pela juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução da pena de Lula. Ela afirmou não ser "insensível à natureza do pedido formulado pela defesa", mas disse haver "concreta impossibilidade logística de proceder-se ao deslocamento" e de assegurar "a preservação da segurança pública e da integridade física do próprio preso. Presidente do STF, Toffoli concedeu a Lula direito de sair da prisão para se encontrar com familiares A juíza citou também a vigília em torno da PF em Curitiba, que no Ano Novo teve presença de 2.000 pessoas, que deram um "abraço" em volta do prédio onde Lula está preso. A decisão cita também o risco de fuga de Lula no deslocamento; de atentados contra a vida dele e de protestos em favor dele. O despacho de Lebbos foi confirmado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, mas reformado pelo STF. Fim do Talvez também te interesse As razões de Toffoli Em sua decisão, o presidente do STF afirmou que as "eventuais intercorrências apontadas no relatório policial" não devem impedir o cumprimento de um direito previsto pela Lei de Execução Penal. O Artigo 120 diz que "condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta" em caso de "falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão". Toffoli determinou o cumprimento, ainda "que de forma parcial, vale dizer, do direito de o requerente encontrar-se com familiares em local reservado e preestabelecido para prestar a devida solidariedade aos seus, mesmo após o sepultamento, já que não há objeção da lei". Segundo o presidente da Corte, "prestar a assistência ao preso é um dever indeclinável do Estado (art. 10, da Lei nº 7.210/84), sendo certo, ademais, que a República Brasileira tem como um de seus pilares fundamentais a dignidade da pessoa humana". Toffoli concedeu "o direito de se encontrar exclusivamente com os seus familiares, na data de hoje, em unidade militar na região, inclusive com a possibilidade do corpo do de cujos ser levado à referida unidade militar, a critério da família". O ministro do STF vetou, no entanto, o "uso de celulares e outros meios de comunicação externo, bem como a presença de imprensa e a realização de declarações públicas", a fim de "garantir a segurança dos presentes, do requerente, e dos agentes públicos que o acompanharem". Lula não vai mais Segundo lideranças do PT, Lula decidiu não ir até São Bernardo encontrar com seus parentes após a liberação do Supremo. "É lamentável que a decisão só tenha saído a essa hora. É totalmente inviável. Não era pra vir ver o corpo do Vavá, era para falar com a família. O Lula com muita dignidade agradeceu, mas não vem, não faz sentido mais", afirmou o ex-ministro Gilberto Carvalho ao site de notícias G1. Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, afirmou ao G1 que a decisão de Toffoli apresenta uma "crítica correta à crueldade da juíza, ao cinismo da Polícia Federal que alegou razões logísticas e de segurança para impedir um direito do presidente Lula". Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
A nova versão da famosa árvore de Natal do Rockfeller Centre, em Nova York, foi inaugurada nesta quarta-feira.
Desta vez, a prioridade dos organizadores foi diminuir o consumo de energia. Um pinheiro de 26 metros de altura ganhou 30 mil lâmpadas ecológicas, além de painéis solares para auxiliar na iluminação. Com as lâmpadas diodo, os organizadores esperam economizar mais de 2 mil quilowatts-hora por dia. Depois do Natal, os painéis solares instalados no teto do complexo comercial serão incorporados ao prédio para diminuir o consumo de eletricidade. A praça do Rockfeller Center exibe a decoração de Natal desde 1933.
Uma das maiores barreiras para acabar com a pandemia não é médica nem logística. É a desinformação sobre as vacinas contra a covid-19.
Vacinação já está em andamento em diversos países, mas ainda há muitas dificuldades A demanda por vacinas atualmente supera a oferta, mas também há muitas pessoas que não têm certeza se devem tomar o imunizante ou, mesmo, se opõem fortemente a isso. Frequentemente, isso ocorre por causa de informações incorretas sobre a vacina ou seus efeitos. Muitos especialistas estimam que entre 70% e 90% da população precise ser vacinada para interromper a disseminação do vírus e obter a chamada "imunidade de rebanho", que ocorre quando há um número suficiente de indivíduos imunes a uma doença, evitando sua disseminação. E para que essa imunidade de grupo seja alcançada, é importante acabar com os mitos para que, quando houver amplo acesso à vacina, as pessoas não hesitem em recebê-la. Fim do Talvez também te interesse Confira algumas das verdades por trás dos mitos comuns que ouvimos sobre as vacinas contra a covid-19 de pacientes, amigos e familiares. 1. Vacinas foram rigorosamente testadas e consideradas seguras A tecnologia de mRNA usada nas vacinas Pfizer / BioNTech e Moderna existe há mais de uma década e não é nova no campo do desenvolvimento de vacinas. Além disso, as vacinas de mRNA aprovadas foram submetidas a rigorosos testes e ensaios clínicos que demonstram sua segurança e eficácia em pessoas. Todas as vacinas licenciadas foram rigorosamente testadas Mais de 90 mil pessoas se voluntariaram para esses testes com vacinas. A vacina Pfizer-BioNTech teve eficácia de 95% e a vacina Moderna, de 94%, depois que os voluntários completaram duas doses. O desenvolvimento, os testes clínicos e a aprovação aconteceram mais rápido do que as vacinas anteriores, mas há várias razões para isso. Em primeiro lugar, a tecnologia de mRNA para outras doenças virais (vírus zika, vírus da raiva, vírus sincicial respiratório) foi estudada nos últimos anos. Os cientistas foram capazes de aplicar essa tecnologia familiar ao vírus SARS-CoV-2 imediatamente após sua descoberta. Em segundo lugar, o financiamento e as parcerias do governo e de empresas privadas permitiram que muitas das fases dos ensaios clínicos ocorressem em paralelo, em vez de em série, que é o desenho típico do ensaio. Isso acelerou significativamente o processo. Aos poucos, vacinas começaram a chegar a quase todas as pessoas. Terceiro, a maior parte do custo do desenvolvimento de vacinas, que demanda muito tempo, é aumentar a fabricação e a produção comercial, além de garantir o controle de qualidade. Isso normalmente acontece após a conclusão dos testes de eficácia de fase 3. Devido à urgência da pandemia de covid-19, a fabricação em escala comercial e a produção dessas vacinas começaram ao mesmo tempo que os testes clínicos de segurança em humanos. Ou seja, uma vez que as vacinas provaram ser seguras e eficazes, havia um grande estoque pronto para distribuição ao público. 2. Vacinas não têm efeito sobre o material genético dos receptores O DNA é encontrado dentro do núcleo de uma célula. E o RNA mensageiro, ou mRNA, usado pelas vacinas entra na célula, mas não em seu núcleo. As instruções do mRNA são então usadas para fazer a proteína spike, que o corpo reconhece como estranha, e isso evoca uma resposta imunológica. E, depois de lidas, essas moléculas de vacina de mRNA se degradam rapidamente por meio de processos celulares normais. As vacinas de mRNA da covid-19 produzem apenas a proteína spike e não podem produzir as enzimas que facilitam a integração da célula hospedeira. Portanto, não há alteração do DNA. 3. Vacinas de mRNA não podem espalhar covid-19 As vacinas de MRNA não podem causar doenças porque não contêm um vírus vivo. A maioria das pessoas apresenta efeitos colaterais leves, como dor no braço, calafrios e febre após a vacinação. Esses sintomas são reações saudáveis e esperadas à vacina e geralmente desaparecem em poucos dias. Vacinas de MRNA não usam vírus vivos Também houve alguns relatos de efeitos colaterais mais graves. Em 18 de janeiro, as taxas de anafilaxia, uma reação alérgica com risco de morte, eram de 1 em 212 mil entre aqueles que receberam a vacina Pfizer e 1 em 400 mil entre aqueles que receberam a vacina Moderna. Ninguém morreu de anafilaxia. Houve relatos de mortes, mas não parecem ser devido à vacina. Essas mortes ocorreram principalmente em idosos, uma população com maiores taxas de mortalidade. Todas essas mortes estão sendo investigadas, mas agora estão sendo atribuídas a doenças subjacentes. Uma coisa a ter em mente é que quanto mais pessoas forem vacinadas, haverá mais casos de doenças incidentais. Essas são doenças que deveriam ocorrer em uma determinada taxa em uma grande população, mas podem não estar relacionadas ao recebimento da vacina. 4. Mulheres grávidas ou amamentando podem escolher ser vacinadas com segurança O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) declara que pacientes grávidas ou amamentando podem escolher ser vacinadas se forem elegíveis. Estar grávida ou amamentando não é razão para não tomar a vacina Mulheres grávidas ou amamentando foram excluídas dos ensaios iniciais, levando a Organização Mundial da Saúde (OMS) a recomendar inicialmente a vacinação apenas em gestantes ou lactantes de alto risco. Mas essa recomendação polêmica foi revertida após críticas das principais organizações de saúde materna, incluindo o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologias e a Sociedade de Medicina Materno-Fetal, que observou que o risco de covid-19 é maior nas populações grávidas. Devido aos dados limitados, as sociedades e organizações profissionais demoraram a fazer recomendações claras, apesar do fato de os especialistas concordarem que o risco de infecção por covid-19 supera qualquer risco potencial e teórico da vacinação. Estudos preliminares em animais não mostraram efeitos prejudiciais e, até o momento, não houve relatos de danos ao feto ou problemas com o desenvolvimento de qualquer uma das vacinas de mRNA. No Brasil, o Ministério da Saúde lembra que "a segurança e eficácia das vacinas não foram avaliadas nos grupos de gestantes, puérperas e lactantes". A pasta recomenda que "para as mulheres, pertencentes a um dos grupos prioritários, que se apresentem nestas condições, a vacinação poderá ser realizada após avaliação cautelosa dos riscos e benefícios e com decisão compartilhada, entre a mulher e o médico prescritor". 5. As vacinas contra covid-19 não têm efeito sobre a fertilidade Algumas pessoas temem que as vacinas possam causar infertilidade, o que não é verdade. Esse mito se originou porque uma curta sequência de aminoácidos que compõem a proteína spike SARS-CoV-2, necessária para infectar células humanas, também é compartilhada com uma proteína chamada sincitina que está presente na placenta, órgão vital para o desenvolvimento fetal. No entanto, a semelhança de sequência é muito curta para desencadear uma reação imunológica perigosa que leva à infertilidade, de acordo com especialistas que estudam essas proteínas. Infertilidade é outro mito associado às vacinas Covid-19 Além disso, há registros de gestações bem-sucedidas após a infecção por SARS-CoV-2, sem evidência de aumento de abortos espontâneos ocorridos no início da gravidez. A resposta imune ao vírus não parece afetar a fertilidade. Embora as gestantes tenham sido excluídas dos ensaios da vacina, 23 participantes do ensaio Pfizer / BioNTech engravidaram depois de receber a vacina e não houve aborto espontâneo naquelas que a receberam. Embora seja um número pequeno em comparação com as mais de 40 mil pessoas inscritas no estudo, isso aumenta as evidências de que não há necessidade de se preocupar com a infertilidade. 6. Aqueles que pegaram covid-19 se beneficiarão da vacinação Estima-se que os anticorpos contra a infecção por covid-19 durem cerca de dois a quatro meses, portanto, aqueles que tiveram uma infecção anterior ainda precisam ser vacinados. O CDC afirma que as pessoas que tiveram infecção pelo coronavírus podem escolher esperar 90 dias após infecção porque se espera que sejam protegidos por anticorpos naturais durante esse período de três meses. No entanto, é seguro receber a vacina assim que o período de quarentena terminar. Quem teve covid-19 tem que se vacinar Quem recebeu anticorpos monoclonais, que são anticorpos sintéticos feitos em laboratório, deve esperar pelo menos 90 dias antes de receber a vacina. Com as novas informações divulgadas dia após dia e as recomendações mudando rapidamente, é difícil acompanhar. Portanto, é essencial que dados precisos sobre vacinas contra covid -19 estejam amplamente disponíveis para que qualquer pessoa tenha acesso às informações necessárias e consiga tomar uma decisão informada. *Sarah Lynch é professora de Prática Farmacêutica na Universidade de Binghamton, ligada à Universidade do Estado de Nova York. Kanneboyina Nagaraju é professor de Farmácia e Ciências Farmacêuticas na Universidade de Binghamton, ligada à Universidade do Estado de Nova York. Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation. Clique aqui para ler o artigo original em espanhol. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
A ministra do Exterior de Israel, Tzipi Livni, venceu as prévias do partido Kadima com uma vantagem de apenas 1,1% sobre seu adversário, o atual ministro dos Transportes e ex-chefe do Estado Maior, Shaul Mofaz.A vitória apertada no partido deverá dificultar as tentativas de Livni de compor uma nova coalizão governamental, condição necessária para que ela se torne a próxima primeira-ministra de Israel.
Ao contrário de todas as pesquisas, que previam uma vantagem significativa, de pelo menos 10% em favor de Tzipi Livni, a diferença entre os votos obtidos pela chanceler e os de seu adversário, o general da reserva Shaul Mofaz, foi mínima, apenas 1,1% - cerca de 430 votos. Os simpatizantes de Mofaz acusam Livni de ter “roubado” a eleição, por ter conseguido um prolongamento de meia hora no horário da abertura das urnas. Logo depois da confirmação dos resultados, Livni declarou que sua primeira missão será unificar o partido para criar uma “estabilidade política” no país. “Temos várias ameaças para enfrentar”, disse Livni, “além da instabilidade econômica... tentarei formar rapidamente uma coalizão que possa se confrontar com esses desafios”. Colizão A vitória controvertida de Livni deverá dificultar ainda mais seus esforços para compor uma nova coalizão governamental. De acordo com a lei em Israel, depois da renúncia do atual primeiro-ministro, Ehud Olmert, prevista para a próxima semana, o presidente Shimon Peres deverá incumbir a nova líder do Kadima a formar uma nova coalizão e Livni terá 28 dias para compor um governo que tenha o apoio de pelo menos 61 entre os 120 membros do Parlamento. Livni terá que negociar os termos da nova coalizão com os partidos que participam do governo atual – o Partido Trabalhista, o partido ultra-ortodoxo Shas e o partido dos Aposentados. A negociação mais problemática deverá ser com o Shas, que exige a revisão do orçamento de 2009 e o acréscimo de verbas para benefícios a famílias numerosas. A maioria dos eleitores do Shas tem famílias numerosas que sofreram com os cortes realizados nos benefícios sociais. Além das dificuldades dentro de seu próprio partido, com uma forte oposição dos simpatizantes de Mofaz, e das dificuldades previstas nas negociações com os outros partidos, o fato de Livni ser a segunda mulher que chega ao poder em Israel (a primeira foi Golda Meir, que foi primeira-ministra de 1969 a 1974) deverá ser um problema a mais para a chanceler de Israel. Durante a campanha, Livni foi acusada de não ter “experiência em assuntos de segurança”, como os generais da reserva Mofaz e Ehud Barak, líder do partido Trabalhista. 'Revolução' Para a escritora Avirama Golan, a vitória de uma mulher, que em breve poderá ser a primeira-ministra de Israel, representa uma “revolução” no país. “O significado é que em Israel ocorrem processos semelhantes àqueles que já aconteceram no mundo inteiro, nos quais chegam ao poder pessoas que há 20 ou 30 anos não tinham chance... como mulheres, membros de grupos marginalizados, filhos de imigrantes ou de famílias pobres”, escreve Golan em artigo no jornal Haaretz. Se conseguir formar uma nova coalizão governamental, Livni deverá seguir a linha política de Ehud Olmert e tentar seguir adiante com as negociações de paz com os palestinos. Seu principal adversário nas prévias do Kadima, Shaul Mofaz, criticou as negociações.
Um hospital do Cairo se especializou em cuidar de animais de carga.
Os burros e jumentos que trabalham nas ruas da cidade recebem tratamento contra vários males - de hematoma à depressão. O hospital para animais Brooke é gratuito e atua em cinco países. No Egito, milhares de animais de carga transitam pelas ruas e sofrem, segundo os especialistas do hospital, os mais diferentes tipos de agressões.
O último grupo de soldados japoneses de um contingente enviado ao Iraque retornou ao seu país, pondo fim à primeira missão militar japonesa em uma zona de combate desde a Segunda Guerra Mundial.
Um total de 5,5 mil soldados foram enviados ao país em grupos de 600 para uma missão de dois anos e meio. As forças japonesas forneceram suprimentos e assistência médica a moradores do sul do Iraque, mas foram proibidos de usar suas armas e se apoiaram em outros soldados da coalizão internacional no país para a sua segurança. Representantes do governo japonês indicaram que o país vai continuar a operar uma missão de sua força aérea no Kuwait, transportando carga e pessoal à capital iraquiana, Bagdá. Segundo correspondentes, a decisão de enviar tropas ao Iraque rendeu muitas críticas ao primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi em seu país. Mas ele recebeu muitos elogios nos Estados Unidos por seu apoio à intervenção liderada por forças americanas no Iraque.
O Exército de Israel anunciou que um de seus aviões lançou um míssil contra um grupo de palestinos supostamente armados na Faixa de Gaza.
Um dos homens ficou ferido. Trata-se do primeiro ataque das forças israelenses contra palestinos desde a trégua anunciada em fevereiro. Os militares de Israel afirmaram que o grupo estava preparando um ataque a morteiro contra um assentamento judeu próximo. Horas antes, membros do grupo militante palestino Hamas disparou vários foguetes contra assentamentos judeus, também na Faixa de Gaza, dizendo se tratar de uma retaliação pela morte de outro membro da organização por Israel, na noite de terça-feira.
Em discurso no Dia do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira que não descuidará do controle da inflação, que classificou como uma "luta constante, imutável e permanente", informa a Agência Brasil.
"Este governo vai continuar sua luta firme pela redução de impostos e de custos para o produtor e para o consumidor, mesmo que tenha que enfrentar interesses poderosos", disse a presidente. No discurso, Dilma afirmou também que enviou ao Congresso uma nova proposta determinando que todos os royalties, participações especiais do petróleo e recursos do pré-sal sejam aplicados exclusivamente na área de educação. O anúncio foi feito em pronunciamento oficial em rede nacional de rádio e TV.
Pelo menos oito pessoas morreram em um ataque a um ônibus supostamente realizado pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na província de Caquetá, no sul do país, segundo informações dos militares colombianos.
Rebeldes teriam atirado nos pneus do ônibus, fazendo com que o veículo batesse, e depois teriam disparado contra os passageiros e tentado colocar fogo no veículo. O ônibus viajava em um comboio escoltado pelo Exército, mas tinha ficado prá trás ao parar para pegar passageiros. As Farc têm tentado impedir o movimento de todo tipo de veículo na província nos últimos 10 dias. Escolta O ataque ocorreu em uma remota estrada perto de Puerto Rico, 310 Km ao sudeste da capital Bogotá. As Farc disseram que a tentativa de parar o tráfego tem, em parte, o objetivo de protestar contra a candidatura à reeleição do presidente Alvaro Uribe. Uribe, que prometeu acabar com o grupo rebelde através da ação militar, é o favorito para vencer as eleições de maio. Vários veículos que tentaram furar o bloqueio das Farc foram atacados a tiros, o que fez com que o Exército iniciasse a escolta de alguns deles.
A partir de terça-feira (24/3), por determinação do governador João Doria, estabelecimentos comerciais não essenciais como bares, baladas, cafés e restaurantes estão proibidos de funcionar com atendimento presencial no Estado. São permitidas apenas vendas por delivery e aplicativos.
Fechamento de estabelecimentos comerciais 'não essenciais' já está em vigor na capital paulista A medida tem como objetivo conter a disseminação do novo coronavírus no Estado, que já tem 631 casos confirmados. Na capital, que concentra 22 das 25 mortes pela Covid-19 no país, os estabelecimentos estão obrigatoriamente fechados desde sexta-feira, por decreto assinado pelo prefeito Bruno Covas. Três bares que costumam funcionar lotados no circuito alternativo paulistano, o Cama de Gato, no Centro, o FFFront, na Vila Madalena, e o Scar, na Barra Funda, se anteciparam às medidas e baixaram as portas dias antes do anúncio. Com o caixa vazio e pagamentos a fazer (salário de funcionários, aluguel, fornecedores), a saída foi pedir um adiantamento. Não ao banco, mas aos clientes. O Cama de Gato e o FFFront estão usando a mesma ferramenta: uma plataforma que que promove campanhas de arrecadação online. Fim do Talvez também te interesse Cada um tem uma página com um texto introdutório (no qual explicam o contexto do pedido) e, ao lado, um menu com variações de bebidas, comidas, ingressos para shows e o que mais cada casa oferece hoje, mas para ser consumido no futuro. Na página do Cama de Gato há 10 opções que vão de R$ 50 (o cliente recebe R$60 de crédito antecipado para consumir no local e tem o nome colocado no post de agradecimento da campanha) a R$ 10 mil (o cliente tem direito a uma festa open bar para até cem convidados). Na do FFFront há 14 opções com preços que variam entre R$ 20 (um drink ou três cervejas ou entrada para um show) e R$ 10 mil (dando direito a uma festa open bar com cem pessoas e uma foto na parede do local). Apelo à clientela fiel O Cama de Gato foi o primeiro a subir a página. O bar funcionou até o dia 16/03; na manhã do dia seguinte a campanha estava no ar. "A ideia veio nessa madrugada desesperada, pensando em como pagar minha equipe, que é minha prioridade", conta Bruno Bocchese, um dos donos do estabelecimento, que tem sete funcionários. "Vendo meu capital financeiro ruir pensei 'o que me sobra?' e a resposta é 'minha rede, meus clientes e amigos, que estão sempre comigo'. Daí para a campanha foi um pulo." 'Vaquinha' do FFFront: 'Não é doação, é venda antecipada' A iniciativa do Cama de Gato serviu de estímulo para que o FFFront, que emprega quatro pessoas, fizesse o mesmo poucas horas depois. Os donos do local, Daniel Pereira e Paulo Fioratti, já tinham cogitado a ideia, mas estavam receosos. "Sempre tivemos muita ressalva de pedir as coisas porque fazemos tudo de forma muito independente, não temos sócio investidor e bancamos os gastos dos nossos próprios bolsos", diz. "Quando o Bruno divulgou a plataforma, vimos que era uma saída legal por ser uma pré-venda com consumo." O esquema escolhido por Guilherme Scarano, do Scar, foi livremente inspirado nos bares dos amigos e é a venda de vouchers nos valores de R$ 20, R$ 50, R$ 100 ou R$ 200. O negócio é feito via mensagem privada nas redes sociais, onde a campanha está sendo veiculada desde o dia 18/03. Escolhido o voucher, o cliente faz o depósito e o valor é registrado por Scarano em uma planilha. O crédito será utilizado à vontade assim que a casa, que emprega três funcionários, voltar a funcionar. Scarano diz ter ficado surpreso com a repercussão. "Muita gente que nunca foi ao bar mandou mensagem dizendo 'meu amigo compartilhou, gostei da iniciativa, quero comprar um voucher para conhecer o bar quando reabrir'", fala. O Cama de Gato e o FFFront estipularam julho como último mês da campanha na plataforma online, embora tanto o decreto municipal quanto o estadual estabeleçam, a princípio, o fechamento do setor por 15 dias (a contar das datas de início). Em coletiva de imprensa, o governador Doria disse que, embora a medida vá até dia 7 de abril, pode ser renovada conforme a necessidade. Quebradeira e desemprego Percival Maricato, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) de São Paulo, diz que, entre os estabelecimentos pequenos, apenas os que têm alguma reserva conseguirão sobreviver durante cerca de 15 dias. "Pelo menos 10% devem quebrar esta semana, se é que já não quebraram, por causa do encerramento das atividades. Isso significa cerca de 37 mil funcionários sem emprego na cidade". Avenida Paulista vazia no domingo; existe preocupação com a sustentação de pequenos negócios durante a pandemia O período de tempo coincide com o que ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chamou de "início do redemoinho" de transmissão do novo coronavírus em São Paulo. "A gente imagina que ela vai pegar velocidade e subir nas próximas semanas, 10 dias. A gente deve entrar em abril e iniciar a subida rápida, isso vai durar os meses de abril, maio, junho, quando ela vai começar a ter uma tendência de desaceleração". A declaração foi feita na sexta-feira (20), em videoconferência ao lado do presidente Jair Bolsonaro com empresários. O maior problema do setor de bares e restaurantes, segundo Maricato, é a folha de pagamento de funcionários, que corresponde a cerca de 30% do passivo de um estabelecimento, e que a solução depende de ajuda do governo federal. "A prefeitura e o estado pouca coisa podem fazer a esse respeito. Desde o início da crise, a Abrasel nacional reivindica ação do governo federal nesse sentido e está aguardando retorno." Na sexta-feira (20), Paulo Solmucci, presidente da Abrasel nacional, gravou um áudio no WhatsApp, enviado a cerca de 300 empresários associados, pedindo que não se precipitassem com demissões e férias coletivas e dizendo que há uma promessa do governo federal de até a terça-feira (24) apresentar uma solução capaz de arcar com os salários dos funcionários. "A ideia vai na linha de pagar um salário mínimo por funcionário durante o período de dois, três meses, enquanto durar a crise", diz o áudio. E segue: "Somente com um apoio ao pagamento de salário em condições de fundo perdido, ou seja, que a gente não tenha que pagar mais à frente, seria uma solução para evitar o caos social que isso provocaria e uma desestruturação definitiva no setor de bares e restaurantes em todo o país." Reação positiva do público As campanhas dos bares Cama de Gato, FFFront e Scar estão sendo divulgadas nas redes sociais das casas e disparadas em grupos de WhatsApp de amigos. Até agora, o Cama de Gato já arrecadou R$ 17.900, o FFFront R$ 4.770 e o Scar, aproximadamente R$ 2 mil. É unânime entre os três que as iniciativas são importantes, mas estão longe de cobrir as despesas e é preciso pensar em outras soluções. Bocchese, do Cama de Gato, diz que a quantia arrecadada permite o pagamento dos funcionários por apenas um mês e que está buscando apoio de grandes marcas já parceiras no dia a dia. "Espero que também sejam parceiras neste momento catastrófico porque não sei por quanto tempo a ação vai se sustentar". 'A ideia veio em uma madrugada desesperada, pensando em como pagar minha equipe, que é minha prioridade', diz Bruno Bocchese, do Cama de Gato A maior preocupação de Scarano é sobre o período de duração do lockdown. "A campanha vai nos salvar por uma semana. Até aqui é uma novidade, as pessoas acham legal e aderem. Mas não se sustenta por muito tempo", fala. Para Pereira, do FFFront, a campanha está dando um fôlego mínimo para pagar as contas — a previsão é de 15 dias de cobertura — mas é preciso uma ajuda mais efetiva do governo, como isenção fiscal. "Vamos ver se acontece porque a prorrogação de imposto não melhora nada". O empresário se refere à resolução aprovada no dia 18, pela Receita Federal, para minimizar os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus. A medida permite que optantes pelos modelos de tributação Simples Nacional e microempreendedores individuais sejam dispensados de pagar agora os tributos federais apurados durante três meses da crise. Dessa forma, os vencimentos de abril, maio e junho serão adiados, respectivamente, para outubro, novembro e dezembro deste ano. Os tributos que vencem em 20 de março precisam ser pagos na data original. Maricato diz que que a medida dá fôlego para que os empresários sigam abertos durante esse tempo. "No fim do ano, vamos ter mais chance de lutar para acabar de vez com o problema. Se bares e restaurantes fecharem, perde o governo, perdem grandes empresas, prestadores de serviços, grandes setores", fala. "O governo não pode matar sua galinha dos ovos de ouro." O presidente Bolsonaro tem afirmado ser contra o fechamento de comércios decretado também no Rio de Janeiro, Goiás, Santa Catarina e Minas Gerais. Para o presidente, as medidas são exageradas e prejudicam a economia. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
No próximo mês vai entrar em cartaz em Ohio, nos Estados Unidos, um musical que traz um personagem inspirado na boneca Barbie como protagonista, informou seu fabricante, a empresa Mattel.
No espetáculo Fairtropia, Barbie será vivida pela atriz Erin Coors, de 24 anos de idade. "Não é apenas viver um personagem, mas lembrando de tudo o que ela representou para mim quando era pequena", disse ela. A trama gira em torno das aventuras vividas por Barbie ao tentar salvar um reino encantado de fadas. Queda nas vendas Além de músicas próprias, o show vai contar com 45 kg de purpurina como parte da decoração. Fairtropia deve embarcar em uma turnê pelos Estados Unidos em 2008. O diretor de entretenimento da Mattel, Barry Waldo, disse que "o espetáculo ao vivo vai personalizar a experiência de uma forma totalmente inédita". A Barbie foi lançada em 1959 e ainda é a boneca mais vendida em todo o mundo. O produto vem apresentando, no entanto, uma queda nas vendas por três anos consecutivos.
A crise na Venezuela ganhou um novo capítulo após o presidente Nicolás Maduro assinar, na noite de segunda-feira, um decreto convocando uma Assembleia Constituinte, para "reformar o Estado e redigir uma nova Constituição".
Protestos, muitos deles com enfrentamentos violentos, se transformaram em rotina na Venezuela A convocação vem no momento de intensificação de uma nova onda de protestos contra o governo e poucos dias depois de o país anunciar sua saída da Organização dos Estados Americanos (OEA). A Assembleia Constituinte terá 500 membros, metade formada por representantes eleitos, segundo Maduro, "pela base da classe operária, comunas, missões e movimentos sociais", e a outra, por representantes eleitos por "municípios e territórios". O presidente não detalhou como seria o processo de escolha. A oposição descreveu a medida como "consumação do golpe de Estado contínuo de Maduro contra a Constituição" que deve intensificar a crise política no país. As medidas ocorrem em um cenário de mais protestos, com enfrentamentos entre forças de segurança, opositores e simpatizantes do governo, e que já levaram à morte de 20 pessoas. Fim do Talvez também te interesse São as maiores manifestações já registradas desde dezembro de 2014, quando a oposição também foi às ruas para pedir a saída de Maduro, que é sucessor do ex-presidente Hugo Chávez e integrante do PSUV, partido há 18 anos no comando da Venezuela. A BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, explica o que está por trás dos protestos, por que essas manifestações são diferentes das anteriores e o que se pode esperar desse novo capítulo da prolongada crise política venezuelana. 1- Como seria formada a nova Constituinte? A atual Constituição venezuelana, aprovada em 1999 após a chegada de Hugo Chávez ao poder, define que o Presidente tem poder para convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, embora não possa vetar a Constituição que resulte do processo. Segundo Maduro, a Constituinte seria formada por 500 membros eleitos, metade escolhida por setores sociais, e a outra, por municípios e territórios. Ainda não foram divulgados detalhes e datas das eleições. Segundo o constitucionalista José Ignacio Hernández, a Assembleia deveria "ser formada por cidadãos que, mediante o voto direto, secreto e universal, são eleitos constituintes". Líderes da oposição reagiram dizendo que a convocação seria "a consumação do golpe de Estado contínuo de Maduro contra a Constituição". "Maduro acaba de matar e assassinar o legado de Hugo Chávez à Venezuela, que era a Constituição", disse o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges. Borges disse que uma Constituinte comunitária não seria "eleita pelo povo" e, portanto, não teria "os poderes que são do povo". "Vão querer materializar um golpe de Estado com uma Constituinte comunitária para darem um salto tipo Cuba", afirmou o presidente da Assembleia, para quem a iniciativa do governo visa "fugir do voto universal, direto e secreto do povo que nas ruas exige respeito à Constituição. 2 - Como a Venezuela vai sair da OEA? O país será o primeiro a anunciar a saída da OEA por conta própria. O processo deve levar cerca de dois anos e possivelmente estará condicionada à quitação da dívida que a Venezuela tem com a organização, da ordem de US$ 8 milhões. Mas a OEA pode expulsar o país antes, se quiser. Isso só aconteceu duas vezes na história: com Cuba (1962) e Honduras (2009). Os dois países já voltaram a fazer parte da organização. 3 - Quando começaram os protestos? Na Venezuela, governo e oposição parecem viver em permanente enfrentamento, mas essa nova onda de protestos tem uma data inicial: 31 de março de 2016. Uma decisão do TSJ, na qual a corte assumia as funções do Legislativo na Venezuela, desencadeou uma nova onda de manifestações Dois dias antes dessa data, o Tribunal Supremo de Justiça venezuelano - visto pela oposição como alinhado ao governo de Maduro - emitiu uma sentença assumindo as funções da Assembleia Nacional, onde a oposição tem maioria, enquanto o Legislativo estivesse "em desacato". Quando essa decisão do TSJ venezuelano veio a público, opositores a Maduro não hesitaram em classificá-la de "golpe de Estado". Deu-se início a uma mobilização que nem mesmo o recuo da alta corte ao reverter a própria sentença foi capaz de conter. As pessoas foram às ruas e os enfrentamentos começaram. 4 - O que há de novo ou de diferente no enfrentamento de agora? A Suprema Corte venezuelana atribuiu à Assembleia a situação de desacato porque o Legislativo decidiu incorporar, em agosto de 2016, três deputados do Estado do Amazonas mesmo depois de a eleição dos mesmos, em dezembro do ano anterior, ter sido impugnada. O TSJ já tinha passado a considerar nulas as ações do Legislativo que, pela primeira vez desde a chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1999, passou a contar com maioria oposicionista. Por isso, na opinião de muitos analistas, a sentença na qual o TSJ assumiria as funções da Assembleia pouco mudava, na prática, a situação na Venezuela. Mas, para a oposição, a decisão da mais alta corte venezuelana foi a prova definitiva do rompimento da ordem democrática e representava a disposição de "passar por cima" da vontade popular expressada nas urnas. A mais alta corte venezuelana reverteu a sentença que motivou a ida de pessoas às ruas, mas os protestos continuaram "É um golpe de Estado. Até agora, o Tribunal anulava as decisões da Assembleia, mas agora assumiu as competências do Legislativo. Fechou o Parlamento. Não é o mesmo, é completamente diferente", disse à BBC Mundo o líder opositor Henrique Capriles, quando o TSJ anunciou sua decisão de assumir o papel de Legislativo. Além disso, o novo embate entre oposição e governo se dá num momento em que não é mais possível, pelos prazos previstos na Constituição, de chamar uma consulta popular para revogar o mandato de Nicolás Maduro. O Conselho Nacional Eleitoral - que a oposição afirma estar controlado pelo governo - fechou as portas para essa possibilidade. Esse momento se difere também porque, com o aprofundamento da crise econômica venezuelana, há sinais de enfraquecimento do apoio entre os mais pobres ao governo bem como de possíveis fraturas internas do chavismo. 5 - Qual é o pano de fundo dos protestos? Simpatizantes do governo Maduro também estão nas ruas Há na Venezuela uma prolongada crise econômica, que colocou a maioria dos venezuelanos numa situação muito pior que a vivenciada na época dos protestos de 2014. A queda dos preços do petróleo - que representa aproximadamente 96% da renda do país - tem reduzido ainda mais os recursos do Estado e agravando ainda mais a escassez de alimentos e produtos de primeira necessidade. Isso gerou um desabastecimento quase crônico que, junto à maior inflação do mundo, fez com que grande parte da população tenha problemas para conseguir comida. Além da crise, há uma intensa disputa política. A Venezuela está dividida entre os chamados chavistas - como são conhecidos os simpatizantes das políticas socialistas do ex-presidente Hugo Chávez -, e os opositores, que esperam o fim dos 18 anos de poder do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Depois da morte de Chávez, em 2013, Nicolás Maduro, também integrante do PSUV, foi eleito presidente com a promessa de dar continuidade às políticas do antecessor. Nicolás Maduro acusa a oposição de "golpe de Estado" E, de acordo com pesquisas, a crise tem provocado queda na popularidade do presidente Maduro, uma das razões pelas quais a oposição insiste em antecipar as eleições. O governo continua responsabilizando a oposição por agravar a crise e dividir o país. E o fato de não terem sido realizadas as eleições regionais previstas para o ano passado privou aos venezuelanos de indicar qual das duas posições políticas conta, no momento, com apoio da maioria dos eleitores no país. 6 - O que a oposição quer? A principal demanda dos que se opõem ao governo de Maduro é antecipar as eleições presidenciais, originalmente previstas para outubro de 2018. Mas eles também querem um pleito regional, que deveria ter ocorrido no ano passado, e um municipal, este, previsto para este ano. Na última semana, Nicolás Maduro se mostrou favorável à realização das eleições locais, mas não as convocou. Venezuela tem a maior inflação do mundo: 2.200% no final de 2017, segundo previsão do FMI Os oposicionistas também querem a libertação de políticos presos - a maioria deles foi detida depois dos protestos de janeiro de 2014. Há também a demanda pela devolução das competências da Assembleia Nacional e pela renovação dos outros poderes do Estado, como o Tribunal Supremo de Justiça e o Conselho Nacional Eleitoral, que, de acordo com a oposição, contam com juízes alinhados com o governo. A principal demanda da oposição é realização de eleições municipais, regionais e presidenciais 7 - O que diz o governo? O governo de Nicolás Maduro tem classificado as ações da oposição venezuelana como uma ofensiva golpista. Em relação às denúncias de excessos na repressão policial feitas pela oposição, o Executivo tem respondido acusando os oposicionistas de fomentar a violência, de praticar "terrorismo" e de querer preparar o terreno para uma eventual intervenção estrangeira. Ao mesmo tempo em que ataca os adversários, Nicolás Maduro chamou os líderes da oposição para iniciar um diálogo "para que depois não reclamem". Durante sua participação semanal num programa de televisão, o presidente respaldou a ideia de realizar eleições para escolher governadores e prefeitos. Mas nada falou sobre uma nova disputa pela cadeira presidencial. "Estou ansioso para que venham as eleições dos governadores e, quando chegar as de prefeitos, que venham as eleições de prefeitos. Estou ansioso porque nosso terreno natural é de luta de ideias [no campo] eleitoral", declarou Maduro. "Estou pronto para que o poder eleitoral disser e minha busca será pela paz. Estou pronto para o diálogo", disse o presidente, emendando que quer "construir caminhos de paz" para que os opositores "abandonem os caminhos da violência e o golpismo". 8 - Quais são os possíveis cenários daqui para frente? O cenário mais provável, ao menos a curto prazo, é a manutenção dos protestos Apesar de serem consideradas pequenas as possibilidade de as negociações entre governistas e oposicionistas alcançarem resultados concretos, como a definição de um calendário eleitoral ou a liberação de alguns políticos presos, não se pode descartá-las por completo. Mas o fracasso das tentativas de diálogo em 2014 alimenta o ceticismo. Por isso, ainda que os dois lados se sentem à mesa para negociar, dificilmente a oposição sairá completamente das ruas. Por ora, parece pouco provável que o governo concorde com a realização de eleições presidenciais antecipadas, uma condição da qual a oposição não abre mão. Ao assinar o decreto da convocação da Constituinte, Maduro voltou a descartar o adiantamento das eleições presidenciais, marcadas para dezembro de 2018. Assim, um segundo cenário, com escalada de manifestações e de violência, parece bastante provável, ao menos a curto prazo. Permanece, contudo, a dúvida sobre se os protestos eventualmente perderão força e desaparecerão sem provocar mudanças, como aconteceu em 2014, ou se conseguirão fazer com que o governo ceda, como quer a oposição venezuelana. *Texto originalmente publicado no dia 27 de abril e atualizado após anúncio da convocação da Assembleia Constituinte.
A série Mundo de Extremos da BBC investiga diferenças globais em reportagens de rádio, TV e internet. Ao longo dos próximos meses, jornalistas da BBC estarão explorando temas como a educação de crianças, e como o crime é combatido em diferentes partes do mundo.
Para o primeiro tema - "Quente e Frio" - o jornalista Adam Mynott visitou a cidade russa de Oymyakon, oficialmente o lugar desabitado mais frio do planeta. Lá, a temperatura média em janeiro é de -46ºC. A menor temperatura já registrada na Terra foi de -89.2ºC na estação de Vostok, na Antártica, no dia 21 de julho de 1983. O lugar desabitado mais quente da Terra é um pequeno assentamento chamado Dallol, na Etiópia, onde as temperaturas médias são de 34.4ºC durante todo o ano. No entanto, relatos recentes sugerem que não há mais moradores permanentes em Dallol. A área é extremamente remota e só se pode chegar a ela em caravanas de camelos, que ainda viajam ao local para recolher sal. El Aziza, na Líbia, é oficialmente o lugar mais quente do planeta, tendo registrado máxima de 57.7ºC em setembro de 1922.
Os frequentadores do famoso bar Stonewall Inn, no bairro de East Village, em Nova York, se surpreenderam na virada de 2018 para 2019 ano quando uma mãe e seu filho adolescente subiram ao palco do local após a meia-noite para apresentar um número musical.
A Parada do orgulho LGBT de São Paulo reúne milhões de pessoas; neste ano, o evento homenageou os 50 anos da revolta de Stonewall Antes de entoar os versos de Material Girl com David Banda, seu filho de 13 anos ao violão, Madonna fez um discurso explicando por que estava ali naquela noite de Réveillon. "Estou aqui orgulhosamente no lugar onde o Orgulho começou, o lendário Stonewall Inn, no nascimento de um novo ano. Unimo-nos esta noite para celebrar os 50 anos da revolução!", falou, gravada por muitos celulares. "Nunca vamos nos esquecer dos motins de Stonewall e daqueles que se levantaram e disseram 'Basta!'" E prosseguiu: "Nossos irmãos e irmãs antes de nós não eram livres para celebrar como estamos fazendo hoje à noite, e nunca devemos esquecer isso. Stonewall foi um momento decisivo na história, catapultando os direitos LGBT em conversas públicas e despertando o ativismo gay". O orgulho o qual a cantora se referia era o gay e a revolução, a revolta de Stonewall, que, em 2019, completa 50 anos. Fim do Talvez também te interesse Esse evento ocorrido no bar Stonewall Inn em Nova York, nos EUA, em 28 de junho de 1969, é considerado o marco do movimento de liberação gay e o momento em que o ativismo pelos direitos LGBT ganha o debate público e as ruas. É por causa da revolta de Stonewall que o orgulho LGBT (Lésbico, Gay, Bissexual, Transexual, Travesti) é celebrado em junho - o Dia do Orgulho é na mesma data em que aconteceu o levante em Nova York, no 28. Entre junho e julho, as principais cidades do mundo apresentam suas paradas gay, com multidões nas ruas levantando a bandeira do arco-íris (símbolo do orgulho LGBT). No primeiro ano da revolta de Stonewall, houve manifestações LGBT em Nova York, Los Angeles, San Francisco e Chicago, para relembrar a data. Em Nova York, os manifestantes caminharam 51 quarteirões, do East Village até o Central Park. No ano seguinte, a marcha para relembrar Stonewall chegaria à Europa, acontecendo também em Londres, em Paris, na parte ocidental de Berlim e em Estocolmo. Neste ano, as principais paradas gay do mundo - como a de São Paulo, que aconteceu no dia 23 de junho - decidiram homenagear os 50 anos do acontecimento dessa revolta. Em 2015, o bar Stonewall Inn foi declarado monumento histórico de Nova York; em 2016, tornou-se o primeiro monumento nacional aos direitos dos LGBT nos EUA "Stonewall funda um novo tipo de movimento LGBT. Criou essa ideia do orgulho, das pessoas LGBT ocupando o espaço público, assumindo suas identidades e se orgulhando dessas identidades e de práticas de sexualidade e de gênero", afirma à BBC News Brasil Renan Quinalha, professor de direito da USP (Universidade Federal de São Paulo), ativista de direitos humanos e um dos autores do livro A História do Movimento LGBT no Brasil. Mas o que foi a revolta ou rebelião de Stonewall, citada inclusive pelo ex-presidente dos EUA Barack Obama em seu discurso de posse? O bar Stonewall Inn Na Nova York daquele ano de 1969, o bar Stonewall Inn, no East Village, era ponto de encontro dos marginalizados da sociedade - em sua maioria, gays. Até 1962, relações entre pessoas do mesmo sexo eram consideradas crime em todos os Estados americanos. Naquele ano, pela primeira vez, um Estado, o de Illinois, alterou seu Código Penal e a homossexualidade deixou de ser crime. Apenas em 1972 outros Estados começaram a fazer a mesma coisa. Em Nova York, isso aconteceria nos anos 1980. Somente em 2003 essa lei seria abolida de vez. Nos anos 1960, o Stonewall Inn era um dos mais conhecidos bares gay de Nova York. Diferentemente de outros lugares que também recebiam o público LGBT na cidade, ali a maioria dos frequentadores eram jovens da periferia, sem-teto (muitos que haviam deixado suas famílias por causa de preconceito, segundo relatos em livros) e drag queens. A polícia fazia vista grossa ao estabelecimento porque seus donos, que tinham relação com a máfia, pagavam propina para que ele funcionasse. Estes donos também aproveitavam para chantagear os frequentadores famosos ou com mais dinheiro. O local não tinha licença para a venda de bebida alcoólica e não respondia a uma série de outras regulamentações como ter saída de emergência. E várias batidas policiais estavam sendo feitas em bares naquela época, principalmente para controlar quem podia vender álcool. As paradas do orgulho LGBT que acontecem todos os anos nas principais cidades do mundo começaram por causa da revolta de Stonewall Revolta ou Rebelião de Stonewall Na madrugada do dia 28 de junho de 1969, a polícia resolveu fazer mais uma batida no bar. Era a terceira vez em um espaço curto de tempo que policiais faziam essa ação em bares gays daquela área. Nove policiais entraram no local e, sob a alegação de que a venda de bebida alcoólica era proibida ali, prenderam funcionários e começaram a agredir e a levar sob custódia alguns frequentadores travestis e ou drag queens que não estavam usando ao menos três peças de roupa "adequadas" a seu gênero, como mandava a lei. Treze pessoas foram detidas. Algumas, ao serem levadas para a viatura, decidiram provocar os policiais fazendo caras e bocas para a multidão. A polícia então começou a usar de mais violência para fazê-las entrar nos carros. A partir daquele momento, a multidão fora do Stonewall Inn começou a jogar moedas nos policiais e, em seguida, garrafas e pedras. Também tentaram virar de cabeça para baixo uma viatura. Os policiais fizeram uma espécie de barricada para se defender dos manifestantes e acabaram sendo encurralados dentro do bar. Alguém atirou um pedaço de jornal com fogo dentro do Stonewall Inn, e começou um incêndio. Os policiais, que usavam uma mangueira para conter as chamas, decidiram também usar aquela água contra a multidão. A partir deste momento, parte da comunidade gay de Nova York, que até então se escondia, foi às ruas protestar nos arredores do Stonewall Inn durante seis dias. Pela manhã, quando o último policial deixou o Stonewall Inn, a gerência do bar colocou um aviso de que o local voltaria a funcionar normalmente, e assim o fez. Mas os manifestantes foram para as ruas novamente protestar por seus direitos naquela e nas noites seguintes. Os manifestantes demonstravam orgulho de ser quem eram e provocavam a ordem e a polícia, como relata o jornalista Lucian Truscott IV, na reportagem sobre a revolta publicada no jornal Village Voice. "Mãos dadas, beijos e poses acentuavam cada um dos aplausos com uma libertação homossexual que havia aparecido apenas fugazmente na rua antes", escreveu ele. Em 2015, a Prefeitura de Nova York tornou o bar monumento histórico da cidade. Um ano depois, o ex-presidente Barack Obama decretou que o bar seria o primeiro monumento nacional aos direitos dos LGBTQ. Coral de homens gay de São Francisco se apresenta em frente ao Stonewall Inn em Nova York Importância para o movimento LGBT A revolta ou rebelião de Stonewall foi um momento decisivo para o movimento de liberação gay. Seis meses após ela ocorrer, surgiriam as primeiras organizações nos EUA, como a Frente de Liberação Gay. "Essa revolta acabou assumindo a imagem de um mito fundador pro movimento LGBT", diz Renan Quinalha, da USP. "Não foi a primeira vez que houve assédio e violência policial contra a população LGBT. Esse é um problema crônico. É constitutivo da identidade LGBT essa relação com a violência de Estado, a violência LGBTfóbica diluída na sociedade." Segundo Quinalha, o contexto histórico daquele momento nos Estados Unidos contribuiu para o levante em Stonewall. "Stonewall reúne singularidades importantes. Acontece em 1969 após o movimento de libertação sexual, com uma série de condições específicas de Nova York, uma sociedade extremamemnte desenvolvida com uma série de contradições naquele momento. E acontece numa região do East Village que de fato era um bolsão, onde havia uma diversidade grande de pessoas, de migrantes, de latinos. Havia também (à época) um caldeirão em relação à desigualdade. Teve também a questão da mobilização contra a Guerra do Vietnã", explica. "Uma série de condições faz com que Stonewall vire um episódio signficativo e bastante singular em relação ao que havia antes (no movimento LGBT). Havia lutas e resistência anteriores, havia o Mattachine Society, em São Francisco." Stonewall repercutiu no Brasil? Quando a revolta de Stonewall aconteceu, o Brasil passava por um dos piores momentos da ditadura militar. Menos de um ano antes, em dezembro de 1968, havia sido outorgado o Ato Institucional nº 5, que retirava uma série de liberdades civis e de direitos individuais e que fez aumentar a censura. Naquele momento, Stonewall não fazia sentindo nenhum para o Brasil, segundo Quinalha. "A ditadura acabou atrasando em dez anos a emergência do movimento LGBT no Brasil", fala. "Era um período de emergência de movimentos LGBT em países latinos e o Brasil também poderia (fazer parte), porque tinha condições pra que emergissem esses grupos, mas isso acaba não acontecendo por conta da repressão" O autor e ativista diz que apenas em 1978 começa uma organização mais efetiva do movimento LGBT no país, no período de liberalização da ditadura. Quinalha também conta que não havia um local no Brasil como o Stonewall Inn, que reunisse a comunidade daquela maneira. "Havia lugares de sociabilidade LGBT, de pegação, de interação, mas não havia um lugar que centralizasse tudo isso." Do ponto de vista simbólico, no entanto, ele acredita que alguns episódios ocorridos no país possam ter uma espécie de vínculo com Stonewall. Por exemplo: quando no Dia do Trabalho de 1980 um grupo LGBT se une à classe trabalhadora num ato do movimento sindical, que estava sob intervenção da ditadura, na Vila Euclides, em São Bernardo do Campo (SP). O outro aconteceria em 13 de junho de 1980, quando várias pessoas protestaram contra a violência policial e o delegado José Wilson Richetti, que comandava ações de repressão. "Foi uma aparição pública forte do movimento LGBT." 'Pequeno Stonewall Inn' brasileiro Quatorze anos depois da revolta de Stonewall haveria uma relação mais direta daquele evento com o movimento LGBT brasileiro. Em 19 de agosto de 1983, um protesto que ocorreria em um bar frequentado por mulheres gay em São Paulo, o Ferros's Bar, ganharia o nome de "O pequeno Stonewall Inn" brasileiro. Na véspera, o dono do bar no centro de São Paulo (anos depois o local abrigaria outro famoso ponto da noite paulistana, o Xingu), que era referência para a comunidade lésbica, havia chamado a polícia e impedido algumas mulheres de vender no local uma publicação chamada "ChanacomChana", porque esta "atentava contra os bons costumes". No dia seguinte, várias frequentadoras e ativistas invadiram o Ferro's para ler ali um manifesto em defesa dos direitos das lésbicas. Em 2003, a data deste protesto, 19 de agosto, se tornaria o Dia do Orgulho Lésbico no Brasil. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Débora se sentia linda naquela noite de início de 2012. Ela estava em uma confraternização com a família, quando usou os óculos do primo e fez uma selfie com o celular. A jovem, na época com 15 anos, compartilhou a fotografia em seu perfil no Facebook. O registro feito em um momento de alegria se tornou um dos maiores traumas de sua vida.
Débora se tornou 'meme' de internet ao fazer uma selfie com óculos de sol A princípio, após publicar a selfie na rede social, a imagem ganhou likes de amigos da jovem. Mas dias depois, Débora notou que desconhecidos estavam compartilhando a fotografia. Os inúmeros compartilhamentos da selfie entristeceram Débora, pois ela descobriu que havia se tornado meme - como são chamadas as imagens de humor replicadas exaustivamente em redes sociais - em razão de sua aparência. Em tom jocoso, ela passou a ser chamada nas redes sociais de "diva da Oakley", em alusão à marca dos óculos que ostenta na fotografia. Enquanto a selfie arrancava risadas daqueles que compartilhavam a imagem, Débora chorava em seu quarto, no bairro Chácara Santana, na periferia da zona sul de São Paulo (SP). A repercussão da imagem fez com que a garota evitasse sair de casa para não ser reconhecida. "Eu me sentia muito feia, muito humilhada e inferior às outras meninas. Nos comentários sobre os memes com a minha foto, falavam muito sobre a minha aparência e isso me chateava", conta Débora, atualmente com 22 anos, à BBC News Brasil. Fim do Talvez também te interesse Na época, ela abandonou a escola, deixou de sair de casa e chegou a tentar o suicídio. "Não tinha forças pra nada. Só chorava e me culpava por ter tirado aquela foto." Semanas atrás, mais de sete anos depois dos primeiros compartilhamentos da foto, Débora viu sua imagem voltar a ser utilizada como meme nas redes sociais. "As pessoas tinham parado de compartilhar a selfie. Mas, recentemente, muitas páginas de Facebook, e algumas do Instagram, resgataram aquela foto e fizeram chacota. Foi como se tudo tivesse voltado." Hoje, ela é mãe de um garoto de três anos, trabalha como atendente em uma farmácia de São Paulo e tem tentado fazer com que a situação não a afete como antes. E também decidiu não se esconder como anos atrás. Em seu perfil no Facebook, ela afirmou que irá processar as páginas que compartilharem a fotografia. "Hoje, entendo que o problema não está em mim. Não vou aceitar que façam tudo aquilo comigo de novo." Nos memes, Débora é classificada como um exemplo de mulher feia. A selfie Quando publicou a selfie que se tornou meme, Débora acreditava que ganharia inúmeros elogios. "Pensava que estava maravilhosa. Eu tinha uma autoestima muito grande", relata. Ela comenta que a imagem passou a repercutir na internet após um rapaz, que tinha amigos em comum com a jovem, compartilhar a foto. "Ele viu um colega curtindo a minha foto e compartilhou a imagem, tirando sarro de mim", relembra. A jovem pediu que o rapaz excluísse a fotografia. Ele deletou a imagem de seu perfil, mas incontáveis páginas já haviam compartilhado a selfie. Na primeira vez em que saiu de casa após o fato, Débora notou que muitas pessoas haviam visto os memes feitos com ela. "Não tinha ideia da repercussão. Quando fui a um estabelecimento, perto de casa, muitas pessoas me reconheceram. Alguns meninos começaram a rir de mim. Foi horrível", diz. "Muita gente apontava para mim e ria. Eu passei a acreditar que qualquer pessoa que risse perto de mim, era porque tinha visto o meu meme." Os memes começaram no período de férias escolares. Quando Débora voltou ao colégio, descobriu que os colegas também haviam visto as publicações. "Muitos alunos me reconheceram e começaram a tirar sarro de mim." Em poucos dias, a jovem, que na época estava no nono ano do ensino fundamental, abandonou os estudos. A mãe de Débora, a aposentada Eliana dos Santos, relembra que a filha passou a se isolar. "Eu não sabia o que fazer. Eu tentava ajudá-la, mas não tinha nada que a gente pudesse fazer. A minha filha sofreu muito com tudo isso." "As redes sociais podem ter peso muito grande na vida da pessoa. Essa ridicularização de um indivíduo, antes poderia ser feita em uma dimensão menor. Hoje, tem proporções maiores, porque basta um clique para compartilhar com inúmeras pessoas, em qualquer lugar do mundo", pontua o psicólogo Marck de Souza. "Como o conteúdo pode viralizar e não ser mais permitido apagar totalmente das redes, o indivíduo acaba não podendo se desligar daquilo. Então, a ridicularização na internet pode ficar presente para sempre", acrescenta. Em meados de 2012, Débora quis morrer. "Eu não tinha mais motivo nenhum para viver. Eu estava com depressão e arrasada com tudo o que tinha acontecido comigo", revela. Ela tomou diversos remédios que encontrou em casa. "Fui socorrida por parentes e contei que tinha tomado os remédios. Se tivesse algum veneno em casa naquele momento, eu tomaria. Só queria me livrar daquilo tudo o que estava vivendo", diz. Por sorte, os remédios que ela tomou não chegaram a colocar a vida dela em risco. Recomeço Em meados de 2014, o cyberbullying - hostilização por meio da internet - praticado contra Débora cessou. "Com o tempo, a minha selfie foi perdendo a graça para as pessoas e elas pararam de compartilhar. Então, fui voltando a viver a minha vida normalmente", diz. A jovem passou a se olhar no espelho com mais tranquilidade. "Minha autoestima foi melhorando." De volta à sala de aula, Débora concluiu o ensino médio em 2016, por meio do programa Educação para Jovens e Adultos (EJA) - modalidade de ensino mais rápida, destinada a alunos que estão atrasados. "Concluir os estudos foi um passo importante pra recomeçar a minha vida", diz. Em 2015, ela começou a namorar. No ano seguinte, pouco antes de concluir o ensino médio, descobriu que estava grávida. Ela e o pai da criança não estão mais juntos, mas "ele foi importante para que eu pudesse voltar a acreditar em mim". 'Sempre colocam as garotas brancas como as bonitas e eu como a feia', diz Débora O retorno dos memes No início deste mês, Débora se surpreendeu ao descobrir que sua selfie novamente voltou a se tornar meme nas redes sociais. Em publicações de diversas páginas de Facebook, as características físicas dela voltaram a ser motivo de chacota. Ela enviou mensagens aos donos das páginas que compartilharam memes com sua foto e pediu que excluíssem as publicações. "Um garoto até disse que pensava que eu tinha morrido e por isso compartilhavam a minha foto, por achar que ninguém se incomodaria." Para Débora, o fato de ter se tornado meme nas redes sociais mostrou um tema que ela até então não se preocupava: o racismo. "Desde que começaram os compartilhamentos da minha foto, leio muitos comentários racistas sobre mim. Por eu estar com blusa preta na selfie, chegaram a dizer que eu estava nua. Antes, eu não me aceitava, então não entendia muito sobre racismo. Hoje, entendo melhor e tenho orgulho da minha pele." "Nesses memes que fizeram comigo recentemente, é possível ver racismo porque sempre colocam as garotas brancas como as bonitas e eu como a feia. Poderiam colocar uma mulher negra como bonita, mas não fazem isso. Por tudo isso que passei e continuo passando, sei que é fundamental lutar contra o racismo." O principal passo que Débora pretende dar sobre sua exposição nas redes sociais é processar por injúria os donos de perfis e páginas que mantêm os memes com ela, mesmo com o pedido da jovem para que o conteúdo fosse excluído. "Vou tomar as providências cabíveis, se a pessoa não quiser excluir a foto. Ninguém tem o direito de me expor assim." Por meio de nota à BBC News Brasil, o Facebook informou que bullying e assédio violam os padrões da comunidade da rede social. No comunicado, a empresa solicita que as pessoas denunciem conteúdos que acharem que não deveriam estar na plataforma. Débora, porém, afirma que desde 2012 tem denunciado todos os memes com sua selfie e também pede para amigos reportarem o caso ao Facebook. No entanto, diz que as imagens nunca foram excluídas. "Eu só consegui que as fotos fossem apagadas quando pedi diretamente ao dono do perfil ou da página", diz. O Facebook declarou, em comunicado, que a rede social tem atuado cada vez mais para coibir os casos de bullying. Em 2018, lançou uma ferramenta de revisão de fotos, vídeos ou postagens, na qual é possível pedir que determinada denúncia, caso não tenha tido resultados esperados, seja reavaliada. O Instagram informou à BBC News Brasil que tem ferramentas para combater e prevenir o bullying. Os casos devem ser denunciados à rede social, para que sejam avaliados. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Um incêndio em um hospital na cidade iraquiana de Nassíria matou pelo menos 12 pessoas e feriu outras 75.
O Corpo de Bombeiros local disse que acredita-se que o fogo tenha sido causado por um problema elétrico. Autoridades dizem que não há razão para suspeitar que o incêndio tenha sido resultado de um ataque de insurgentes. Tropas italianas baseadas na região estão usando ambulâncias militares para ajudar a transferir pacientes para outro lugar. As eleições no Iraque estão marcadas para o próximo domingo, e fortes medidas de segurança foram tomadas para evitar ataques de insurgentes.
A escritora Claudine Monteil é testemunha próxima de uma história de amor do século passado que move a imaginação das pessoas até hoje.
Beauvoir e Sartre na praia de Copacabana, no Rio; segundo escritora, eles eram tratados como 'estrelas de cinema' Trata-se da relação entre Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, dois dos maiores intelectuais daquele tempo. Fundadora de importantes movimentos feministas da França, Monteil conheceu o casal nos anos 1970, quando tinha 20 anos. Mais tarde, escreveu diversos livros sobre seus amigos. Em entrevista ao programa Witness, da BBC, a escritora contou detalhes do cotidiano e das trocas intelectuais e afetivas deste par pouco convencional à época - além de nunca terem se casado, algo então escandaloso, eles tinham um relacionamento aberto, o que era ainda mais inesperado. Claudine Monteil já escreveu alguns livros sobre o casal "Hoje em dia, tendemos a esquecer quão glamurosos e famosos eram, tal qual estrelas do cinema", diz Monteil. Fim do Talvez também te interesse Na França dos anos 1970, "um escritor era um astro": "Eram recebidos pelo mundo como líderes de Estado". BBC - A senhora conheceu Sartre em um protesto em Paris e teve um episódio envolvendo histórias em quadrinhos. O que aconteceu? Claudine Monteil - Foi extraordinário porque eu havia sonhado conhecer Sartre e ter uma reunião muito intelectual e séria com ele. Você sabe, coisas que você pensa quando é uma estudante de 20 anos, que vai conhecer um grande filósofo como ele. Sartre me perguntou quais livros eu tinha comigo. Estava tão envergonhada de trazer aquelas leituras não intelectuais...Fiquei vermelha e quase chorei, mas tive que mostrar a ele. Jean-Paul Sartre (1905-1980) é considerado o fundador do existencialismo Então, de repente, Sartre abre um enorme sorriso e diz: "Você gosta de quadrinhos? Eu também!". Começamos a falar sobre isso, o quanto gostávamos dessas histórias, e no final ele declarou: "Você é uma jovem estudante muito interessante". BBC - Com base nessa conversa, ele se ofereceu para apresentá-la a Simone de Beauvoir, que era sua heroína. E a senhora foi encontrá-la acompanhada de uma delegação de mulheres que faziam campanha para legalizar o aborto na França. Monteil - Fui à casa deles e éramos cerca de oito mulheres, todas pelo menos 10, 20 ou 30 anos mais velhas do que eu. Quando cheguei e sentei em frente a ela, estava esperando ouvi-la, mas ela me olhou e disse: "Qual é o seu ponto de vista e o que você sugere como uma estratégia para a campanha de legalização do aborto?" Tive que responder logo e Hélène de Beauvoir, sua irmã, me disse depois: "Você fez a coisa certa respondendo. Caso não o fizesse, não existiria mais para ela (Simone de Beauvoir)". BBC - Como eram Sartre e Beauvoir? Monteil - Ao conhecer Sartre, a primeira coisa que chamava a atenção era o quanto ele era mais feio pessoalmente do que nas fotos. Ele não era um homem atraente, por assim dizer. Mas tinha a voz mais extraordinária e quente que já ouvi. Quando ele falava, te fazia sentir como se fosse a única pessoa que interessava no mundo. Simone de Beauvoir me tratou com dignidade quando eu era jovem... Eu diria que ela era uma pessoa muito direta. E, para mim, eles eram o melhor casal do mundo: estavam unidos pela maneira de ver o mundo e pela escrita. "Quando a conheci, tive a sensação de ter o melhor relacionamento que poderia ter com alguém", disse-me Sartre. Era um relacionamento completo que implicava uma igualdade total. Simone de Beauvoir (1908-1986) é até hoje um ícone do feminismo BBC - Ela se tornou sua amiga e a Sra a visitava uma ou duas vezes por semana. Com base nessa proximidade, a Sra diz ter percebido que era difícil para ela dividir Sartre com as muitas outras mulheres de sua vida. Monteil - Ela aceitara o pacto segundo o qual eles compartilhavam o amor mais essencial de suas vidas, mas, ao mesmo tempo, tinham amantes. Ela também teve amantes de que gostava muito, como o escritor americano Nelson Algren e o escritor francês Claude Lanzmann. Mas, quando os conheci nos anos 1970, foi um choque porque Sartre tinha uma agenda de uma hora para essa mulher, uma hora para esta, e depois ele destinava refeições e noites para Simone de Beauvoir. Esse não era meu ideal de relacionamento e pude ver que, na realidade, Simone de Beauvoir estava sofrendo. BBC - Ele tentou te seduzir? Monteil - Ele nunca tentou me seduzir, mas uma vez ele me convidou para almoçarmos sozinhos. Então, alguém próximo a mim recomendou que eu não fosse, porque todos pensariam que eu estaria tentando seduzi-lo. Assim, cancelei o almoço e Sartre entendeu muito bem. E, desde então, Simone de Beauvoir sabia que eu nunca tentaria seduzir Sartre. Isso criou um laço muito especial entre nós. Intelectuais tinham pacto segundo o qual compartilhavam o amor mais essencial de suas vidas, mas, ao mesmo tempo, tinham amantes BBC - O casal compartilhava a paixão pelas ideias e pela escrita, mas ela podia ser uma crítica muito difícil, certo? Monteil - Quando Simone de Beauvoir lia um dos textos (de Sartre), era como uma professora rígida, mas ele adorava isso. Sartre nunca publicou nada sem que Simone de Beauvoir lesse palavra por palavra. Uma vez, ele pediu que ela voltasse mais cedo dos Estados Unidos apenas para revisar um manuscrito. Hélène de Beauvoir me contou que, certa tarde, Simone disse a Sartre: "Esse texto é muito pobre, você não pode publicá-lo". Ela rasgou os papéis. Ele estava acostumado com suas críticas, mas a essa altura estava perdendo a visão e escrever era muito difícil. Ele retrucou: "Te odeio, castor" (como Sartre chamava-a, brincando com a semelhança entre o sobrenome dela e a palavra que remete ao animal em inglês, beaver). Então, ela respondeu: "Sim, você me odeia hoje, mas amanhã de manhã você voltará ao seu manuscrito". E tudo estava bem. Era amor. BBC - Como eles eram juntos? Monteil - Simone de Beauvoir era mais alta do que Sartre e colocava a mão no ombro dele o tempo todo, era um gesto muito terno. E ele sempre olhava para ela, embora não conseguisse enxergar muito bem no final. Às vezes, também terminavam as frases um do outro. Sartre contou-me que, na primeira vez que falou com ela, ficou fascinado por sua beleza e inteligência. "Sempre achei que era bonita", ele me disse, "mesmo quando a conheci... e estava usando um chapéu muito feio!" "A coisa maravilhosa sobre Simone de Beauvoir - afirmou ele - é que ela tem a inteligência de um homem (...) e a sensibilidade de uma mulher". Beauvoir desmaiou e precisou ser hospitalizada após o funeral de Sartre BBC - Sartre morreu em 15 de abril de 1980, quando tinha 74 anos de idade. Como foi a perda para ela? Monteil - Ele morreu logo depois que ela saiu do hospital. Isso partiu seu coração (de Beauvoir). Outra coisa que partiu o coração dela foi ter que organizar o funeral. O governo francês ofereceu um cordão policial para acompanhar todo do trajeto do hospital ao cemitério, mas Simone de Beauvoir rejeitou tudo isso. Ela disse: "Não, Sartre não queria reconhecimento oficial, só queria que as pessoas estivessem lá". E eu disse a ela: "Mas você não vai ter ninguém te protegendo e haverá milhares de pessoas". E foi o que aconteceu: acho que o número oficial de comparecimento ao funeral foi de 50 mil pessoas. Havia mais de 2 km de pessoas, ao longo de três avenidas (se dirigindo à homenagem). Quando chegamos ao cemitério, não havia proteção ao redor do túmulo. Os jornalistas, especialmente os de televisão, começaram a me empurrar com as câmeras, buscando uma melhor imagem de Simone de Beauvoir. Ela começou a perder a cor e depois desmaiou em casa. Ficou hospitalizada em estado de emergência por duas semanas. Foi terrível. Chorava o tempo todo, mas o que salvou sua vida foi escrever: ela decidiu escrever a história dos últimos anos de Sartre. Nesse mesmo livro, publicou 100 páginas de entrevistas com Sartre sobre assuntos que ele não pôde publicar. São discussões entre eles sobre a escrita, a vida e a noção de liberdade de Sartre, que são extremamente emocionantes e belas. Sartre y de Beauvoir, unidos aún después de la muerte. Sartre e Beauvoir se conheceram em Paris, no ano de 1929. Eram dois jovens e brilhantes estudantes de filosofia. Durante seus anos juntos, Sartre escreveu sobre filosofia, criou peças de teatro, romances e tratados. Ele também ganhou o Nobel de Literatura em 1964, mas o rejeitou porque "consistentemente rechaçou todas as honras oficiais", segundo diz o próprio site do prêmio. De Beauvoir escreveu sobre ética, filosofia e o lugar das mulheres no mundo, obras que inspiraram uma geração pós-guerra dominada pela cena intelectual francesa. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Como toda figura cuja história atravessa séculos, é difícil separar o que é lenda e o que é fato na vida desse antigo bispo de Mira, na velha região da Lícia, hoje Turquia.
Nicolau, inscrito no Martirológio Romano como santo a ser celebrado no dia 6 de dezembro, é desses personagens que transcenderam o catolicismo: sua fama de bondoso com as crianças extrapolou a religião e acabou sendo a inspiração para a criação do velhinho bonachão que presenteia no Natal, o Papai Noel. Mas se no Brasil os presentes são restritos ao 25 de dezembro, em muitos locais da Europa a memória de São Nicolau se soma ao próprio Natal. As crianças não reclamam da duplicidade, é claro: ganham mimos de fim de ano também em 6 de dezembro, data do santo. A tradição é mantida em países como Alemanha, Áustria, Itália e Eslovênia. "Embora São Nicolau seja muito admirado e venerado, sobretudo nas tradições da Igreja Católica Romana, no Brasil a celebração de seu onomástico não ganhou corpo, diferentemente da Europa", afirma à BBC News Brasil o pesquisador Ítalo Francisco Curcio, pedagogo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Do período em que viveu em Portugal, onde fez pós-doutorado na Universidade do Minho, recorda-se das festas em honra a São Nicolau na cidade de Guimarães. "Conhecidas como Festas Nicolinas, ocorrem desde 1664. São realmente empolgantes e tradicionais", relata. Fim do Talvez também te interesse "Particularmente, penso que no Brasil a figura do Papai Noel acabou se sobrepondo à imagem original de São Nicolau, por conta da massiva publicidade que se deu ao bom velhinho, como um personagem mítico que presenteia as crianças que praticam o bem", comenta o professor. "O comércio, por sua vez, passou a explorar este mito e acabou por encantar a nação brasileira com esta imagem. Também penso que a própria Igreja Católica no Brasil acabou divulgando pouco a figura de São Nicolau, destacando outros santos para serem venerados." Hagiografia Acredita-se que Nicolau tenha nascido na antiga cidade de Patara, na Ásia Menor, que fica na atual Turquia. Não há registros sobre a data do nascimento, mas acredita-se que seja em torno do ano de 275. Foi sagrado bispo da Igreja Católica em Mira, cidade da mesma região. Morreu por volta do ano de 350 — pela tradição, em um 6 de dezembro, daí a data comemorativa. Conforme enfatiza o livro Il Santo Del Giorno ('Um Santo Para Cada Dia', na versão em português), de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini, sobre São Nicolau há "grande número de notícias, mas é difícil distinguir as autênticas das abundantes lendas que germinaram em torno deste santo muito popular". Os autores frisam que sua imagem foi "reproposta por comerciantes" como Papai Noel, "um velho corado de barba branca, trazendo às costas um saco cheio de presentes". Ícone russo de São Nicolau Segundo a hagiografia, sua vocação religiosa já se apresentava tão logo ele nasceu — filho de uma rica família católica da região. Conta-se que, recém-nascido, quando tomou o primeiro banho levantou-se sozinho da bacia, impressionando a todos. De acordo com o livro Il Santo Del Giorno, foi um "menino de excelentes qualidades e já inclinado à ascese" e, "nas quartas e nas sextas-feiras rejeitava o leite materno" — praticando jejum. "Ficando um pouquinho maior desprezava os divertimentos e vaidades e frequentava mais a igreja", aponta o texto. Adulto, tornou-se sacerdote e acabou sendo nomeado bispo. Era visto como um homem muito bondoso. "Contam seus biógrafos que ele salvou da prostituição três moças, jogando-lhes, à noite, pelas janelas, três sacos de ouro como dote de casamento", conta à BBC News Brasil o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Junior, chefe do departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O episódio teria a ver com um vizinho que, em extrema pobreza, resolveu mandar que suas três filhas virgens se tornassem prostitutas. Com as moedas de ouro dadas pelo religioso, elas teriam conseguido bons maridos. Já a fama de protetor das crianças é devida a outra lenda. "O bispo teria ressuscitado três meninos, mortos por um açougueiro para fazer tenros filés", narram Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini. "Nicolau era originário de família rica, portanto, uma pessoa de muitas posses. Todavia, motivado pela mensagem do Evangelho Cristão, se despojou destas posses, ajudando pessoas necessitadas, especialmente viúvas, idosos e crianças", acrescenta Curcio. "Ele ficou conhecido como taumaturgo, ou seja, fazedor de milagres, ainda em vida, por isso, foi venerado desde cedo." "Durante o século 4, esse homem de fé marcante foi transformado em papai universal e providente que oferece à crianças presentes, brinquedos e os carinhos de um sábio da terceira idade, o bom velhinho", diz Altemeyer. Mas essa veneração era ainda muito regional. A fama passou a ganhar o continente europeu apenas a partir de 1087, quando 62 soldados roubaram seus restos mortais de Mira e levaram para a cidade de Bari, localizada no atual território italiano. Aos poucos, a data de sua morte foi ganhando os contornos da lenda. "Dizia-se que São Nicolau passaria de telhado em telhado depositando presentes nas meias, colocadas nas paredes das chaminés. Estaria acompanhado de um 'homem mau', encarregado de punir as crianças desobedientes", afirma Altemeyer. Segundo o teólogo, editor e tradutor Joaquim Pereira, autor do livro É Natal!, foi da península itálica que a popularidade de Nicolau se espalhou — até hoje são muitas as igrejas dedicadas a São Nicolau sobretudo no sul do país. "Considera-se o santo que inspirou a lenda do Papai Noel na Itália. E, daí, passou para a Alemanha e outros países da Europa, a mesma lenda", diz à BBC News Brasil. "Hoje em dia, o Papai Noel é um acontecimento público que abarca praticamente quase todos os países." Durante a Idade Média, relatos de milagres atribuídos a ele só aumentavam. "Isto foi o mote para se ter um dia para troca de presentes, adotando-se o dia de sua morte, 6 de dezembro, para esta prática, que tornou-se hábito e tradição em toda a Europa, vigendo até os dias atuais em alguns países", pontua Curcio. Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini contam que o personagem se tornou protagonista recorrente em encenações teatrais medievais, disseminando sua fama. Para o teólogo Altemeyer, não importa saber o que é verdade e o que é ficção na biografia de Nicolau. "A verdade é que existiu um bispo Nicolau. Não há mentiras em legendas. Elas falam de signos e sentidos e não de verdades científicas ou teológicas. São forças profundas. Arquétipos", argumenta ele. Em evento em 2019, homem caracterizado de São Nicolau entrega presentes para crianças em festa tradicional em Bled, na Eslovênia Transformação do personagem "Hoje, sob as falsas vestes do Papai Noel, são Nicolau nos lembra o grande comandante do amor", diz o livro Il Santo Del Giorno. Mas como teria ocorrido essa transformação do personagem? Para Altemeyer, gradualmente o catolicismo foi mesclando a ideia de presentear as crianças com a data do 25 de dezembro, quando se recorda o nascimento de Jesus. "Unindo os contos às lendas nórdicas, renas, trenós de neve e gnomos míticos, temos os ingredientes do conto infantil do hemisfério norte, capaz de comover adultos que recordam da infância", pontua. "Na antiguidade, havia a tradição de se trocar presentes na festa do solstício de inverno, como um sinal de renovação", prossegue o teólogo. "Em Roma, se festejava a deusa Strenia. Nos países nórdicos, o deus Odin a cavalo sobre uma nuvem trazia para as crianças recompensas ou punições face ao seu comportamento." Mas o bom velhinho de roupas vermelhas e faces rechonchudas só seria criado no século 19, nos Estados Unidos. Conforme diz Altemeyer, "como um Nicolau transformado em duende e, depois, em simpático velhinho morador do Polo Norte". "Existem algumas versões, mas, a mais aceita dá conta de que a figura deste bondoso homem, idoso, de grande porte físico, longa barba branca, e que caminha com um saco cheio de presentes, apareceu a partir de um poema do escritor norte-americano, de tradição protestante, episcopal, Clement Clark Moore, no ano de 1822. Por estar próximo ao dia do Natal cristão, a tradição da troca de presentes teria passado para esta data", pontua Curcio. "Quanto à imagem da indumentária vermelha e seu deslocamento com o uso de um trenó, puxado por renas, esta remete à obra do cartunista Thomas Nast, em 1 de janeiro de 1863", prossegue o pesquisador. "E foi impulsionada por uma matéria publicitária da fabricante de refrigerantes Coca-Cola, em 1931, idealizada pelo ilustrador Haddon Sundblom, que associou o bom velhinho às memórias de São Nicolau e ao personagem do espírito de Natal, descrito pelo escritor inglês Charles John Huffam Dickens em seu conto 'A Christmas Carol', traduzido para o português como 'Um conto de Natal'." Este Papai Noel contemporâneo foi introduzido na Europa somente no século 20. "E se impôs pela pressão comercial de quem pretende festejar o Natal sem as referências cristãs", explica Altemeyer. "É tal qual uma paganização invertida." Se na maior parte do mundo houve uma mescla, uma simbiose de figuras culminando no Natal contemporâneo, alguns países europeus ainda preservam o 6 de dezembro como uma data de também presentear as crianças — geralmente com pequenos mimos, como chocolates. Em Bled, na Eslovênia, tradicionalmente os menores de sete anos são convidados a uma festa em que um homem devidamente caracterizado como São Nicolau chama as crianças, uma a uma, e dá uma sacola cheia de doces e livros infantis. Neste ano, por conta da pandemia do coronavírus, a ação vai ser diferente: na semana passada, pais receberam um e-mail pedindo os endereços das residências. E, como surpresa, na noite do dia 5, tal e qual a lenda, São Nicolau vai passar de casa em casa trazendo os presentes. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Eu nunca liguei muito para água de coco.
Meu paladar sempre foi mais afeito a outros líquidos doces. Sucos e refrigerantes, que fique claro, para que correspondente americano nenhum faça qualquer jogada baseada em esquema especulatório. Eu ia principalmente de refresco de groselha e, em matéria de refrigerante gasoso, guaraná, embora quase que nenhum deles pudesse passar pela minha frente e sair incólume do confronto. Grapette, Fanta, tudo isso eu deitava goela abaixo com a fúria e a ânsia de um náufrago perdido no deserto. Sim, eu sei: lugar de náufrago é no mar, como um personagem de canção do Caymmi, e não tem nada a ver com deserto, onde quem se perde é beduíno míope e meio retardado. Mas o despropósito sintático tem sua razão de ser. Eu cultivava uma sede permanente não só insaciável como incurável. Aquilo só podia ser doença. E era. Chamava-se juventude e dava no Rio de Janeiro. Perto ou distante das praias. No centro, naqueles dias de 40º, eram duas as soluções: a laranjada Americana, na Galeria Cruzeiro, ou o imbatível, o inesquecível refresco de coco da Simpatia. Todos dois na avenida Rio Branco, que cismam de chamar de avenida Central. Na Simpatia, valia também o refresco de tamarindo, mas para valer, titular mesmo, só o de coco. Pela água de coco propriamente dita, eu não morria de amores. Não era só o gosto, que me parecia natural demais, não reunindo as necessárias condições de artificialidade, de aditivos químicos, conservadores etc., todas essas coisas, enfim, com que os ignorantes – deles seja o Reino dos Céus – gostam de implicar. Um caboclo armado de peixeira decapitando o cocão verde dava um excelente cartão postal, mas não resolvia meu caso. Apareceu agora, aqui em Londres, uma água de coco em embalagem de, acho, cartolina forrada de kriptonita. São 330 ml esterilizados “ready to drink chilled” conforme diz um adesivo colado no recipiente original. Original, aliás, de Itapipoca, no Ceará. Aderi como um louco. Só louco (olha o Caymmi, de novo) para descobrir, depois de velho, água de coco. Só agora também entendo a popularidade do dito produto. E, ainda, só garanto uma coisa: no estrangeiro, caro, difícil de achar e destituído de suas origens naturais, melhora muito. Como melhoram o que ficou por aí e que não se quer mais nem ver ou pensar, para não saber o que fizeram ou o que ficou daquilo tudo que um dia foi… foi… ah, sei lá.
Uma das grandes questões do maior acidente nuclear da história parece ter encontrado uma resposta, 35 anos depois.
Estudo foi o primeiro a realizar análise genética massiva em filhos de sobreviventes do acidente nuclear Quando o reator número quatro da usina de Chernobyl explodiu na madrugada de 26 de abril de 1986, a cidade do norte da Ucrânia se tornou uma cidade fantasma e a vida de dezenas de milhares de pessoas foi marcada pelo desastre atômico. Desde então, muitos dos sobreviventes tiveram que lidar com doenças ligadas à radiação a que foram expostos e com a incerteza do que poderia acontecer com seus descendentes, os chamados "filhos de Chernobyl". Uma das questões que intrigam cientistas e sobreviventes há décadas é se os efeitos da radiação nuclear poderiam passar para os descendentes. Agora, pela primeira vez, um estudo genético lança luz sobre o assunto e seus resultados acabam de ser publicados na revista Science. Fim do Talvez também te interesse A pesquisa, liderada pela professora Meredith Yeager, do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI), se concentrou nos filhos de trabalhadores que se alistaram para ajudar a limpar a área altamente contaminada ao redor da usina nuclear (os chamados "liquidantes"). Descendentes de evacuados da cidade abandonada de Pripyat e outras localidades em um raio de 70 km ao redor do reator também foram estudados. Os participantes, todos concebidos após o desastre e nascidos entre 1987 e 2002, tiveram seus genomas completos examinados. E o resultado do estudo foi uma surpresa para muitos dos envolvidos: não foram identificados "danos adicionais ao DNA" de crianças nascidas de pais que foram expostos à radiação da explosão de Chernobyl antes de elas serem concebidas. "Mesmo quando as pessoas foram expostas a doses relativamente altas de radiação, em comparação com a radiação de fundo, isso não teve efeito em seus futuros filhos", explicou a professora Gerry Thomas, do Imperial College London, à jornalista da BBC Victoria Gill. Thomas, que passou décadas estudando a biologia do câncer, particularmente os tumores que estão ligados a danos por radiação, explicou que este estudo foi o primeiro a mostrar que não há dano genético hereditário após a exposição à radiação. Os liquidantes eram as pessoas chamadas para ajudar com a operação de limpeza que se deu após o desastre "Muitas pessoas ficaram com medo de ter filhos depois das bombas atômicas (lançadas pelos americanos em Nagasaki e Hiroshima). E também pessoas que ficaram com medo de ter filhos depois do acidente em Fukushima (no Japão) porque pensavam que seus filhos seriam afetados pela radiação a que eles foram expostos ", lembra. "É muito triste. E se pudermos mostrar que não tem efeito, esperamos poder aliviar esse medo." Thomas não participou do estudo, embora ela e seus colegas tenham conduzido outras pesquisas sobre cânceres relacionados a Chernobyl. Sua equipe estudou o câncer de tireoide, porque se sabe que o acidente nuclear causou cerca de 5.000 casos, a grande maioria dos quais foram tratados e curados. O estudo Um dos principais pesquisadores do estudo, Stephen Chanock, também do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, explicou à BBC que a equipe de pesquisa recrutou famílias inteiras para que os cientistas pudessem comparar o DNA da mãe, do pai e do filho. "Aqui não estamos olhando para o que aconteceu com aquelas crianças que estavam [no útero] no momento do acidente; estamos olhando para algo chamado 'mutações de novo'." Estas são novas mutações no DNA — elas ocorrem aleatoriamente em um óvulo ou esperma. Dependendo de onde no projeto genético de um bebê uma mutação surge, ela pode não ter impacto ou pode ser a causa de uma doença genética. "Existem entre 50 e 100 dessas mutações em cada geração e são aleatórias. De certa forma, são os blocos de construção da evolução. É assim que novas mudanças são introduzidas em uma população", explica Chanock. "Nós olhamos os genomas das mães e pais e depois da criança. E passamos mais nove meses procurando por qualquer sinal no número dessas mutações que estava associado à exposição dos pais à radiação. Não encontramos nada." Isso significa, dizem os cientistas, que o efeito da radiação no corpo dos pais não tem impacto nas crianças que eles eventualmente vão conceber no futuro. Dúvidas em torno do total de afetados pelo acidente de Chernobyl Demorou um dia e meio até que a evacuação de 49.614 pessoas tivesse início. Mais tarde, outras 41.986 pessoas foram evacuadas de um perímetro de 30 km ao redor da usina. Por fim, cerca de 200.000 pessoas foram deslocadas em razão do acidente. Algumas das pessoas que viviam mais perto da usina receberam doses de radiação em suas glândulas tireoides de até 3.9Gy - cerca de 37 mil vezes a dose de um raio-x de tórax - depois de respirar material radioativo e comer alimentos contaminados. Pripyat era a casa de 50 mil pessoas antes do acidente nuclear De acordo com os dados oficiais, o número de mortos reconhecido internacionalmente aponta que apenas 31 pessoas morreram como resultado imediato de Chernobyl, enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 50 mortes podem ser diretamente atribuídas ao desastre. Em 2005, previa que mais 4 mil poderiam eventualmente ter morrido como resultado da exposição à radiação. Nas semanas e meses que se seguiram ao desastre de Chernobyl, centenas de milhares de bombeiros, engenheiros, tropas militares, policiais, mineiros, faxineiros e integrantes da equipe médica foram enviados para a área imediatamente ao redor da usina destruída em um esforço para controlar o fogo e o núcleo colapsado, e evitar que o material radioativo se espalhe ainda mais pelo ambiente. Essas pessoas — que ficaram conhecidas como "liquidantes" devido à definição oficial soviética de "participante na liquidação das consequências do acidente da usina nuclear de Chernobyl" — receberam um status especial que, na prática, significava receber benefícios como cuidados médicos extras e indenizações. Registros oficiais indicam que 600 mil pessoas receberam o status de liquidante. Mas um relatório publicado por membros da Academia Russa de Ciências, que foi alvo de controvérsia, indica que poderia haver até 830 mil pessoas nas equipes de limpeza de Chernobyl. Eles estimaram que entre 112.000 e 125.000 destes — cerca de 15% — haviam morrido até 2005. Muitos dos números presentes desse estudo, no entanto, foram contestados por cientistas do Ocidente, que questionaram sua validade científica. As autoridades ucranianas, no entanto, fizeram um registro de seus próprios cidadãos afetados pelo acidente de Chernobyl. Em 2015, havia 318.988 trabalhadores de limpeza ucranianos no banco de dados, embora, de acordo com um relatório recente do Centro Nacional de Pesquisa Médica de Radiação na Ucrânia (NRCRM), 651.453 trabalhadores de limpeza foram examinados em razão da exposição à radiação entre 2003 e 2007. A Bielorrússia registrou 99.693 trabalhadores de limpeza, enquanto outro registro incluiu 157.086 liquidantes russos. Na Ucrânia, as taxas de mortalidade entre esses indivíduos aumentaram entre 1988 e 2012, passando de 3,5 para 17,5 mortes por mil pessoas. A incapacidade entre os liquidantes também disparou. Em 1988, 68% deles eram considerados saudáveis, enquanto 26 anos depois apenas 5,5% ainda eram saudáveis. A maioria - 63% - sofria de doenças cardiovasculares e circulatórias, enquanto 13% tinham problemas com o sistema nervoso. Na Bielorrússia, 40.049 liquidantes foram diagnosticados com câncer até 2008, além de outros 2.833 da Rússia. Viktor Sushko, vice-diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa Médica de Radiação, descreve o desastre de Chernobyl como o "maior desastre antropogênico da história da humanidade". O órgão estima que cerca de 5 milhões de cidadãos da antiga União Soviética, incluindo 3 milhões na Ucrânia, tenham sido afetados pelo desastre de Chernobyl. Na Bielorrússia, outras 800 mil pessoas também foram atingidas pela radiação. Atualmente, o governo ucraniano paga pensões a 36.525 viúvas de homens que são considerados vítimas do acidente de Chernobyl. Quando os cientistas e engenheiros viram a cena situação a partir de um helicóptero, eles entenderam que era muito grave Em janeiro de 2018, 1,8 milhão de pessoas na Ucrânia, incluindo 377.589 crianças, tinham o status de vítimas do desastre, segundo Sushko. Houve um rápido aumento no número de pessoas com deficiência entre esta população, passando de 40.106 em 1995 para 107.115 em 2018. Impacto histórico do acidente Quando o reator número quatro explodiu, espalhando nuvens radioativas no hemisfério norte da Terra, da Checoslováquia ao Japão, e liberando na atmosfera o equivalente a 500 bombas de Hiroshima, o Partido Comunista da União Soviética tentou controlar informações para criar sua própria versão dos fatos. Eram 5h da manhã quando Mikhail Gorbachev, o último líder da URSS, recebeu um telefonema. Ele foi informado de que havia ocorrido uma explosão na usina nuclear de Chernobyl, mas, aparentemente, o reator estava intacto. "Nas primeiras horas e até mesmo no dia seguinte ao acidente, não se sabia que o reator havia explodido e que havia acontecido uma enorme emissão de material nuclear na atmosfera", disse o próprio Gorbachev mais tarde. O país levou 18 dias para falar sobre isso na televisão. O governo soviético também não queria que as más notícias se espalhassem tão rapidamente quanto a radiação. Por isso, cortou as redes de telefonia, e os engenheiros e funcionários da usina nuclear foram proibidos de compartilhar informações sobre o que aconteceu com seus amigos e familiares. O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev (ao centro) e sua esposa Raisa Gorbacheva (à esq.) visitaram a usina em 1989 "A maneira como a União Soviética entrou em colapso não pode ser realmente entendida sem a história de Chernobyl", disse o historiador ucraniano Serhii Plokhii no livro Chernobyl: the History of a Nuclear Catastrophe (Chernobyl: a História de uma Catástrofe Nuclear, em tradução livre 2018). Ele também é diretor do Instituto Ucraniano de Pesquisa da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. "A lição mais importante que Chernobyl nos deixa é o problema de confiar demais na tecnologia — as pessoas acreditavam que um acidente daquela escala era impossível mesmo após ter ocorrido — e também que uma cultura que nega evidências científicas e é baseada em mentiras e sigilo não é segura para ninguém", afirma Adam Higginbotham, autor de Midnight in Chernobyl (Meia-noite em Chernobyl, em tradução livre, 2019), que reúne testemunhos sobre o desastre. Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
O maior e mais grave ataque terrorista da história recente colombiana não mudou apenas a vida das duas centenas de vítimas, 38 mortos e mais de 160 feridos, e de seus familiares. Um ano depois do atentado a bomba contra o clube El Nogal, em Bogotá, a população ainda convive com as medidas preventivas adotadas para evitar que tragédias semelhantes ocorram novamente.
Centros comerciais, estacionamentos públicos, clubes e lugares com grandes aglomerações mantiveram as revistas a carros, bolsas e pessoas - com equipamentos e cães treinados para detectar explosivos -, adotadas depois do incidente, em 7 de fevereiro do ano passado. No início, a estudante Andréa Arismendez criticou o excesso de cuidado destes lugares. Hoje, ela acredita que as revistas são necessárias. "Pode ser um pouco entediante que olhem sua bolsa toda vez que você precisa entrar num centro comercial", afirmou. "Mas sabemos que isto é para garantir a nossa segurança porque, a qualquer momento, em qualquer lugar, pode ocorrer um incidente como o do Nogal." Rotina Raquel Gomez, gerente comercial de um dos maiores shopping centers de Bogotá, diz que agora as pessoas entendem melhor a importância da prevenção. "Nós mantivemos nossa estratégia de segurança para gerar mais confiança nas pessoas", assinalou. "Hoje, todo mundo já se acostumou, se tornou um hábito de vida." Conforme o coronel William René Salamanca, diretor da Superintendência de Vigilância e Segurança Privada, o setor está vivendo uma de suas melhores fases. "Depois do que ocorreu com o Nogal, a demanda por cães para detectar explosivos aumentou imediatamente", disse. De acordo com ele, o número de farejadores teve um crescimento de 100%, o de escoltas, 40%, e o de guardas particulares, 17%. Apesar de todas as medidas para garantir a segurança da população, Beatriz Miranda, diretora acadêmica do Instituto de Cultura Brasil-Colômbia, não está tranqüila. "Com o que ocorreu no Nogal, sentimos pela primeira vez que o conflito interno colombiano tinha chegado a Bogotá, e a cidade não estaria mais protegida", disse a mineira que vive há seis anos na capital colombiana. "Isso causou uma mudança nos hábitos da maioria das pessoas. Eu já não vou mais com tanta freqüência aos centros comerciais e deixei de levar meu filho num dos parques mais visitados de Bogotá." Sentimento nacional Segundo Daniel García-Peña, professor de Ciências Políticas da Universidade Nacional, o atentado contra o clube El Nogal, símbolo da elite colombiana, consolidou um sentimento nacional em favor da política de segurança e de luta contra o terrorismo do presidente Álvaro Uribe. "Pensamos que depois deste atentado ocorreria uma ofensiva terrorista urbana no país. Mas nada disso aconteceu, nem em Bogotá, nem em outro lugar", explicou. "Em parte, isso responde aos atos da Polícia e do Exército para prevenir esta classe de ações." O analista político Antonio Sanguino concorda com García-Peña. Na avaliação dele, com este atentado, os autores intelectuais, sejam eles guerrilheiros, paramilitares ou narcotraficantes, também puderam constatar que um ataque como este jamais receberá apoio popular. "Este ato gerou um alto nível de reações dos cidadãos e uma maior disposição de colaborar com os organismos de segurança do estado, para evitar que este tipo de ato lamentável siga ocorrendo", afirmou Sanguino. Investigação Além de ter mudado os hábitos da população, o atentado contra o clube El Nogal também será lembrado por ter tido uma das investigações mais polêmicas e confusas ocorridas no país. Apesar da Procuradoria Geral da Nação, órgão responsável pelas investigações, ter concluído que não há qualquer dúvida de que os autores intelectuais do ataque foram os guerrilheiros marxistas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), os tropeços do processo fizeram com que muita gente desconfiasse dos resultados. Os investigadores chegaram a esta conclusão cruzando os depoimentos de alguns guerrilheiros capturados em 2003 e de outros que abandonaram voluntariamente as Farc. No entanto, muitas dúvidas, mistérios e divergências surgidos durante a investigação ainda não foram solucionados. Os fiscais não conseguiram esclarecer, por exemplo, se houve ou não participação de narcotraficantes no ataque e qual foi o motivo que levou as Farc a planejar o incidente. No processo, há uma versão afirmando que o ataque era contra Salvatore Mancuso, líder dos paramilitares colombianos, que tinha saído do clube duas horas antes da explosão. Em estranhas circunstâncias, saiu da Colômbia, em julho do ano passado, Amelia Pérez, a primeira encarrega pela investigação. Três meses antes, ela denunciou ter sido afastada do caso por se recusar a apontar as Farc como culpadas. Na ocasião, ela disse à BBC Brasil que, enquanto esteve à frente das investigações, não conseguiu encontrar nenhuma prova conclusiva de que a guerrilha estava por trás do ataque. Mais grave que a situação de Amelia Pérez foi a do fiscal Germán Camacho, que a substituiu e acabou assassinado. "Estamos certos de que foram as Farc", disse o fiscal geral, Luis Camilo Osorio, que determinou a abertura formal da investigação contra toda a direção guerrilheira, além de um processo interno para averiguar a fiscal Amelia Pérez. O analista García-Peña diz que é difícil concordar com as conclusões da Procuradoria. De acordo com ele, ainda existem muitas dúvidas para afirmar que as Farc foram os autores, quando a própria guerrilha nega. "As provas, as evidências apresentadas, são insuficientes", afirmou. "Um ano depois, acredito que ainda continua sendo válido tentar descobrir quem realmente cometeu este atentado. Há muitas perguntas e interrogações pendentes. Ainda não podemos dizer com certeza quem são os reponsáveis." Imprensa A imprensa colombiana já apresenta como definitiva a responsabilidade das Farc. No entanto, diverge sobre os rumos da investigação. No último domingo, por exemplo, as duas revistas semanais de informação destacaram pontos de vista diferentes nas reportagens que fizeram sobre o primeiro aniversário do atentado contra o clube El Nogal. Enquanto uma apresentou uma série de versões que não foram confirmadas nem desmentidas pelos responsáveis do caso, a outra garantiu que a investigação passará à história como exemplo de eficiência e agilidade.
Primeiro de maio. Eleições. Só em Londres. Para prefeito.
É preciso prestar muita atenção, senão elas passam despercebidas e os candidatos – que os há – terão de resolver a questão na base da cara ou coroa. A única vantagem do processo democrático é poder passar por cima dessas frescuras desconhecendo-as solenemente. Eu não tomo conhecimento de qualquer eleição. Principalmente de eleição para prefeito de Londres. As eleições, por sua vez, felizmente não tomam conhecimento de mim. Sei que elas estão aí. Porque há algumas páginas dos 13 jornais nacionais (Londres não é tão nacional assim) que dão uma vaga atenção, em duas ou três colunas, mais ou menos, ao aborrecido assunto. Na televisão também, os candidatos puderam ser vistos discutindo e sendo arguidos. Puderam ser vistos – mas não por mim. Nesse tempinho que antecedeu o democrático evento (resisti à tentação das aspas), dei uma zapeada firme no controle remoto e passei célere para a primeira das infinitas séries americanas sobre assassinos seriais, seqüenciais e até mesmo cereais. Em suma: escapei, e ileso, das campanhas. Não houve, nem pode haver, muro pichado ou furgão com alto-falante berrando inanidades democráticas. Eleição aqui é em voz bem baixinha. Que fique claro: não é feriado. Nem ponto facultativo. Se um dever cívico aflige um cidadão compenetrado, antes ou depois do trabalho, ele passa no posto eleitoral logo ali pertinho de sua casa – em geral um colégio ou uma igrejinha – e escrutiniza firme. Depois, aquela esparrela de sempre: um cara é eleito para representar… Paremos por aí. É isso mesmo: representar. Ponto. Não precisa ser um Laurence Olivier. Um Hugh Grant basta. A única coisa que se pede dos escolhidos pelo povo é que falem pouco e sem levantar a voz. Os candidatos Como tenho mais de 30 anos de jornalismo ativo e passivo, estudei longamente por cerca de 10 minutos os candidatos a prefeito de Londres. São muitos. Para dissecar, fiquei com apenas quatro dos mais cotados. O primeiro deles é o atual prefeito, Ken Livingstone, que concorre ao trono de um terceiro mandato. Foi o primeiro prefeito eleito de Londres e pelo visto quer ser o único. Além de uma série de medidas, controvertidas e não controvertidas, conforme os casos, o fato mais importante em seu currículo é que ele é fanho. Nessa condição, pertenceu primeiro ao partido aqui chamado, com muita graça, de Labour, que nós diríamos, sem nenhuma graça, “trabalhista”. Depois de se desentender com o então primeiro-ministro Tony Blair, candidatou-se ao segundo mandato como independente. O que também tem graça. Tomou uma porção de providências, conforme é comum nos prefeitos. Não vem ao caso o mérito das tais providências. Politização exige um mínimo de limites. O outro candidato é do partido Conservador. Nome dele é Boris Johnson. Onde vamos nos deparar com o primeiro erro. Ninguém chamado Boris pode ser eleito coisíssima alguma em Londres. Ou qualquer outra cidade do mundo ocidental. Apesar da desvantagem onomástica, ele também tem sua graça. Loirão despenteado, bem fornido, sotaque “bem” como não fabricam mais, chegado a dar tremendas ratas, no que se assemelha ao seu rival fanhoso. Boris, com uma ligeira mão-de-obra, poderia perfeitamente passar por um urso panda de circo. Preferiu os desatinos da política aos do jornalismo, que até bem pouco praticava. Saiu perdendo a política, saiu perdendo o jornalismo. Boris, no entanto, é agradável de se ver. Por um máximo de 3 minutos, é claro. Pegando placé Correndo por fora, em terceiro lugar, temos, ou eles têm, o ilustre Brian Paddick, que defende as cores do partido Liberal Democrata. Foi chefe de polícia ou coisa semelhante. Bem apanhado e é a favor de muita coisa e contrário a outras tantas. Brian Paddick é abertamente gay. No que faz muito bem e tem toda razão. Brian Paddick acha que todas as comunidades londrinas precisam, porque precisam, sentir que a polícia está do lado delas. Um parêntese: nada mais detestável do que falar em comunidades. Sempre que alguém menciona “comunidades” é um tal de correr gente para tudo quanto é lado. Ninguém quer fazer parte de uma comunidade. As comunidades, além do mais, dão azar a quem a elas faz parte ou o comunitarismo pratica. Verdes Ah. Tem um verde também. Aliás, uma verde. Sian Berry. Cujo primeiro nome deve ser pronunciado assim: “shón”. Sian Berry é a favor de que as diversas regiões administrativas da cidade se responsabilizem pelas necessidades dos que aqui vêm buscar asilo. Também busca justiça global e é contra a venda de armamentos. Contra a guerra, qualquer guerra, nem é preciso dizer. Ela diz ser a favor de uma Londres que receba de braços abertos os imigrantes. E que a diversidade deve ser encarada e celebrada como um benefício para toda a população londrina. Eu procurei, procurei mas não consegui achar uma fotografia da candidata. Não sei se Sian Berry, como classificaríamos nós brasileiros, em nossa auri-verde metodologia antropomorfológica, é mulher-melancia, mulher-melão, mulher-provolone ou mulher-salaminho. O meu voto Se eu não votava no Brasil, onde era obrigado, por que raios iria eu votar aqui, onde não posso? Ora!
Os EUA voltaram a desafiar Pequim.
Os protestos são intensos em Hong Kong há semanas O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou na quarta-feira (27/05) ao Congresso que Hong Kong "já não é politicamente autônoma" da China e, portanto, deixará de receber um tratamento especial do governo dos EUA. A decisão pode ter graves consequências para o comércio entre Hong Kong e os EUA e para investimentos futuros na ex-colônia britânica, que tem mais liberdades que o resto da China. "Nenhuma pessoa pode assegurar hoje que Hong Kong mantém um alto grau de autonomia da China, dados os acontecimentos no local", afirmou Pompeo em um comunicado. Suas declarações são uma resposta à controversa nova lei de segurança para Hong Kong, aprovada pelo Parlamento chinês nesta quinta-feira após anos de intensos protestos no território contra o papel de Pequim e por maiores liberdades. Fim do Talvez também te interesse Classificada em Hong Kong como "o assunto mais controverso desde a transferência do poder" britânico, em 1997, a lei causou forte indignação e manifestações com centenas de detidos. Os enfrentamentos se acirraram novamente na quarta-feira, enquanto se debatia a medida. O que significa o anúncio de Pompeo O status especial de Hong Kong perante o governo americano proporciona ao território condições comerciais favoráveis. As condições passaram a vigorar após a ex-colônia britânica voltar a mãos chinesas, em 1997. Mas esse status especial tem como condição que o secretário de Estado dos EUA confirme a cada ano que Hong Kong mantém autonomia em relação à China. Manifestantes pró-democracia foram às ruas pela nova lei de segurança Se não houver essa confirmação, o Congresso dos EUA pode revogar o tratamento especial à região. Isso significaria que Hong Kong passaria a ser tratada da mesma maneira que a China para questões comerciais, o que colocaria em risco um comércio no valor de bilhões de dólares entre Hong Kong e os EUA e afastar investidores do território. Também prejudicaria a China continental, que usa Hong Kong como uma intermediária nas suas relações com o resto do mundo. Impacto entre empresas Empresas chinesas ou multinacionais usam a região como sua base regional ou global. Pouco após as declarações de Pompeo, o proeminente ativista pró-democracia Joshua Wong pediu aos líderes dos EUA, Europa e Ásia que seguissem o gesto do secretário de Estado e reconsiderassem o status especial comercial de Hong Kong se Pequim impusesse sua lei de segurança. Xi Jinping é o líder mais poderoso da China em décadas "Uma vez que a lei seja implementada, Hong Kong será integrada ao regime autoritário chinês, tanto em questões de proteção do Estado de Direito como dos direitos humanos", afirmou. No entanto, ainda há margem de manobra, diz Bonnie Glaser, conselheira sênior para Ásia e diretora do Projeto o Poder Chinês do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês) de Washington. O parlamento chinês, o Congresso Nacional do Povo, debate a lei de segurança nacional a ser aplicada em Hong Kong "A China pôs em marcha um processo, e agora os EUA fizeram o mesmo. Não há nada automático sobre os próximos passos que cada um tomará", ela diz à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC. Pequim, por um lado, ainda deve redigir a versão final da lei, promulgá-la e implementá-la, enquanto o Departamento de Estado dos EUA ainda tem de mandar um informe ao Congresso revogando o status especial de Hong Kong. No caso da China, "ainda temos de ver o que fará e em que ritmo", diz Glaser. "O mesmo ocorre com os EUA", acrescenta. Ativistas do movimento pró-democracia de Hong Kong temem que este seja o fim do modelo "um país, dois sistemas" Se o Departamento de Estado der o próximo passo, os "EUA então terão de decidir como revisarão a maneira como tratam Hong Kong em várias áreas (...) e políticas que os Estados Unidos aplicaram na China continental poderiam ser usadas com Hong Kong, como barreiras alfandegárias, controles à exportação, restrições a investimentos...". Há outro passo que Washington também poderia dar separadamente: optar por impor sanções sobre entidades chinesas ou indivíduos que estejam descumprindo a Lei Básica — a mini-Constituição de Hong Kong — ou o acordo sino-britânico de 1997, acrescenta Glaser. "O futuro ainda está por ser escrito." Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!