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Psicologia da forma
Psicologia da forma A psicologia da Gestalt, gestaltismo, guestaltismo, configuracionismo ou psicologia da forma é uma escola de psicologia que surgiu no início do século XX na Áustria e na Alemanha como uma teoria da percepção que era uma rejeição dos princípios básicos da psicologia elementalista e estruturalista de Wilhelm Wundt e Edward Titchener. Conforme usado na psicologia da forma, a palavra alemã "Gestalt" (, ; "forma") é interpretado como "padrão" ou "configuração". Os psicólogos da forma enfatizam que os organismos percebem padrões ou configurações inteiras, não apenas componentes individuais. A visão às vezes é resumida usando o ditado, "o todo é mais do que a soma de suas partes." A psicologia da forma foi fundada em obras de Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka. Origem e história. Max Wertheimer (1880–1943), Kurt Koffka (1886–1941) e Wolfgang Köhler (1887–1967) fundaram o guestaltismo no início do século XX. A visão dominante na psicologia na época era o estruturalismo, exemplificado pelo trabalho de Hermann von Helmholtz (1821–1894), Wilhelm Wundt (1832–1920) e Edward B. Titchener (1867–1927). O estruturalismo estava firmemente enraizado no empirismo britânico e era baseado em três teorias estreitamente inter-relacionadas: Juntas, essas três teorias dão origem à visão de que a mente constrói todas as percepções e até pensamentos abstratos estritamente a partir de sensações de nível inferior que estão relacionadas apenas por estarem intimamente associadas no espaço e no tempo. Os guestaltistas discordaram dessa visão "atomística" generalizada de que o objetivo da psicologia deveria ser quebrar a consciência em supostos elementos básicos. Em contraste, os guestaltistas acreditavam que dividir os fenômenos psicológicos em partes menores não levaria à compreensão da psicologia. Esses psicólogos acreditavam, em vez disso, que a maneira mais frutífera de ver os fenômenos psicológicos é como um todo organizado e estruturado. Eles argumentaram que o "todo" psicológico tem prioridade e que as "partes" são definidas pela estrutura do todo, e não vice-versa. Pode-se dizer que a abordagem foi baseada em uma visão macroscópica da psicologia, em vez de uma abordagem microscópica. As teorias da percepção da forma são baseadas na natureza humana sendo inclinada a entender os objetos como uma estrutura inteira, em vez da soma de suas partes. Wertheimer foi aluno do filósofo austríaco Christian von Ehrenfels (1859–1932), membro da Escola de Brentano. Von Ehrenfels introduziu o conceito de guestaltismo na filosofia e na psicologia em 1890, antes do advento da psicologia da forma como tal. Von Ehrenfels observou que uma experiência perceptiva, como perceber uma melodia ou uma forma, é mais do que a soma de seus componentes sensoriais. Ele afirmou que, além dos elementos sensoriais da percepção, há algo extra. Embora em certo sentido derivado da organização dos elementos sensoriais componentes, essa qualidade adicional é um elemento por direito próprio. Ele chamou isso de "Gestalt-qualität" ou "qualidade da forma". Fundamentos teóricos. Segundo a "Gestalt", existem quatro princípios a ter em conta para a percepção de objetos e formas: a tendência à estruturação, a segregação figura-fundo, a pregnância ou boa forma e a constância perceptiva. Outros conceitos dessa teoria são super-soma e transponibilidade. Super-soma refere-se à ideia de que não se pode ter conhecimento de um todo por meio de suas partes, pois o todo é maior que a soma de suas partes: "'A + B' não é simplesmente '(A + B)', mas sim um terceiro elemento 'C', que possui características próprias". Já segundo o conceito da transponibilidade, independentemente dos elementos que compõem determinado objeto, a forma se sobressai. "Uma cadeira é uma cadeira, seja ela feita de plástico, metal, madeira ou qualquer outra matéria-prima." Sete fundamentos básicos. Os sete fundamentos básicos da "Gestalt" - muito usado hoje em dia em profissões como design, arquitetura etc. - são: Aplicações. Enquanto isso, cada um diligencia, em seu setor de pesquisa, "espaço" disponível em que a gestalt possa se implantar legitimamente e contribuir com uma nova perspectiva. Podemos vê-la tentar conquistar seu espaço em contextos muitos variados: gestalt junto a crianças e adolescentes, casais em processos de divórcio e divorciados, celibatários ou solitários, expansão da sexualidade, grupos de mulheres, homossexuais etc. Preparação para a aposentadoria, acompanhamento dos últimos momentos da vida. Grupos especiais para: psicóticos, doenças psicossomáticas, cancerosos, alcoólicos, toxicômanos, bulímicos ou obesos, desempregados, imigrados etc. Além disso, vemos tentativas de associar a gestalt a outras abordagens, como: análise transacional, rebirthing, bioenergética, programação neurolinguística, psicodrama, ioga, rolfing, massagem, heptonomia, eutonia, astrologia, tarô, tudo isso com maior ou menor sucesso, conforme o caso. Registramos experiências de aplicação da gestalt em domínios variados: hospitais psiquiátricos, prisões, escolas, infância, pessoas desajustadas, serviços sociais, conselhos conjugais, terapia familiar, empresas, publicidade, agricultores, dentistas etc. Aplicações na arte. De acordo com a gestalt, a arte se funda no princípio da pregnância da forma. O importante é perceber a forma por ela mesma; vê-la como "todos" estruturados, resultados de relações. A Gestalt, após sistemáticas pesquisas, apresenta uma teoria nova sobre o fenômeno da percepção. Segundo esta teoria, o que acontece no cérebro não é idêntico ao que acontece na retina. A excitação cerebral não se dá por pontos isolados, mas por extensão. A primeira sensação já é de forma, já é global e unificada. O postulado da gestalt no que se refere às relações psicofisiológicas pode ser definido como: todo processo consciente, toda forma psicologicamente percebida, está estreitamente relacionada com as forças integradoras do processo fisiológico cerebral. A hipótese da gestalt para explicar a origem dessas forças integradoras, é atribuir, ao sistema nervoso central, um dinamismo autorregulador que, à procura de sua própria estabilidade, tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados. Essas organizações, originárias da estrutura cerebral, são espontâneas, independente da nossa vontade. Na realidade, a "psicologia da gestalt" não tentou integrar os fatos da motivação com os fatos da percepção e esta foi a grande contribuição de Frederick Perls que deu origem à gestalt-terapia. A tendência à estruturação, por exemplo, explica como os diferentes povos distinguem grupos de estrelas e reconhecem constelações no céu; a configuração ideal mais conhecida é a proporção áurea dos arquitetos e geômetras gregos, o que explica muitas das formas que se tornam agradáveis aos olhos humanos. As empresas de publicidade e os criadores de signos visuais (marcas) são grandes usuários da descoberta dos símbolos e de seu poder de atração (pregnância). Vários artistas se utilizaram das ilusões de óptica. Muitas delas são explicadas pela lei da segregação da figura e fundo, a exemplo das obras de Escher e Salvador Dalí ou dos discos ópticos de Marcel Duchamp. A ilusão de perspectiva e a proposição cubista de criação de uma cena com (sob) múltiplos pontos de vista também são explicados pela teoria da gestalt. Através dos estudos das teorias elaboradas pela gestalt no início do século XX referentes à psicologia das imagens, foi possível criar condições favoráveis para a racionalização na construção de projetos gráficos. Reforça-se a ideia de que o todo, é mais que a soma das suas partes, existindo um envolvimento psicológico e cultural. Compreender a construção de imagens é imprescindível para a elaboração e desenvolvimento de objetos visuais, viabilizando a ampliação do acervo de soluções gráficas. Gestalt-terapia. A partir da teoria da gestalt e da psicanálise, o médico alemão Fritz Perls (1893-1970) desenvolveu uma forma de psicoterapia de orientação gestáltica. A gestaltoterapia ou terapia gestalt orienta-se segundo o conceito que o desenvolvimento psicológico e biológico de um organismo se processa de acordo com as tendências inatas desse organismo, que tentam adaptá-lo harmoniosamente ao ambiente. A prática psicoterapêutica é, normalmente, realizada em grupo e, ao longo das suas sessões, destaca-se a realização de um conjunto de exercícios sensório-motores (que trabalham as áreas sensoriais e motoras do nosso corpo) e meditativos (de relaxamento). Estes exercícios pretendem, principalmente, que os indivíduos descubram novas forças existentes em si, para poderem ultrapassar as suas dificuldades. A gestalt-terapia, apesar da coincidência de nome, não está diretamente ligada à psicologia da gestalt. Ela foi criada pelo médico alemão Frederick Perls (1893-1970) em 1951. Perls atuou como psicanalista até 1941, mas sua formação é muito eclética e passou por importantes psicanalistas como Otto Fenichel e Karen Horney. Passou também por Wilhelm Reich e foi assistente de Kurt Goldestein, que pertencia ao grupo da psicologia da gestalt, e foi muito influenciado pela filosofia fenomenológica. Provavelmente, dessa relação, veio a inspiração para o nome da corrente. Com a aproximação da Segunda Guerra Mundial, Perls foi obrigado a se exilar e escolheu a África do Sul para morar, onde fundou o Instituto Sul-Africano de Psicanálise. No final da década de 1940, imigrou para os Estados Unidos e, lá, lançou a primeira publicação em gestalt-terapia. Apesar da experiência psicanalítica de Perls, a gestalt-terapia está muito mais próxima da fenomenologia que dos princípios de psicanálise. Em primeiro lugar, a gestalt-terapia não trabalha com o conceito de inconsciente, que é central na psicanálise. O que importa para essa corrente é o aqui-agora. A centralidade no presente, ao contrário da psicanálise, que busca no passado a elucidação do trauma, é a pedra de toque da gestalt-terapia. De acordo com Naranjo (1980), são três os princípios gerais da gestalt-terapia: "valorização da realidade: temporal (presente versus passado ou futuro); valorização da tomada de consciência e aceitação da experiência; valorização do todo ou responsabilidade". Aplicações na gestão de empresas. A análise gestalt é passível de incorporação na gestão das empresas. No seminário realizado a 20 de junho de 2012 no Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais sobre o tema "Pós-Capitalismo – Sociedade do Conhecimento", o doutor Amândio Silva transmite a ideia de que as empresas são mais do que uma simples adição dos seus diferentes sectores. Importa, ao gestor, ser capaz de olhar, avaliar e gerir de acordo com os padrões e configurações que detecta. A visão do todo, da forma que sobressai, é o elemento chave para a condução de uma gestão empresarial de sucesso, pois só assim é possível identificar a completa dimensão física, cultural e emocional da organização. Algo que a análise individualizada a cada sector se mostra incapaz de percepcionar. Críticas sobre a Gestalt. Embora a Gestalt seja considerada por muitos como um consenso alguns cientistas apontam fraquezas nessa teoria. Segundo o autor Johan Wagemans e seus colegas cientistas, a Gestalt possui alguns aspectos que poderiam ser esclarecidos. A Gestalt defende que as leis da percepção nascem com o ser humano ao invés de serem aprendidas com o passar dos anos. No entanto, estudos recentes com observadores adultos mostraram que a experiência passada pode influenciar a forma como percebemos a diferença entre a figura e o seu fundo. Peterson & Skow-Grant (2003) também compartilham dessa crítica. Wertheimer, um dos fundadores da teoria Gestalt, também falou sobre a influência da "experiência passada", mas o que ele disse não tem o mesmo sentido utilizado por outras correntes da psicologia. Para ele, a experiência prévia da pessoa não consegue alterar os princípios gerais da percepção (Luccio, 2011), mas não é isso que vemos acontecer na prática, quando mostramos uma imagem ambígua (com mais de uma interpretação) para diferentes pessoas. A teoria gestaltista nem sempre se verifica na prática. Um dos pilares da Gestalt é a teoria do campo elétrico, teoria que foi considerada morta e enterrada em 1950. A Gestalt oferece meras demonstrações, usando estímulos muito simples ou confusos, formulando leis com pouca precisão, ou adicionando "leis" para cada fator que parecesse ter alguma influência na percepção. Para evitar criar leis demais, foi proposta uma lei principal, chamada de Lei da Concisão ("Prägnanz"), mas sua explicação foi deixada "confusa" de propósito: "a organização psicológica será sempre tão boa quanto as condições permitirem". Sobre esse assunto, Bruce & Green (1990) escreveram: "algumas das suas 'leis' de organização perceptiva hoje parecem vagas e inadequadas. O que significa uma 'boa' ou 'simples' forma, por exemplo?". Os próprios gestaltistas admitem que este conceito é subjetivo (Koffka, 1975). Se observarmos a natureza, poucos objetos naturais têm uma estrutura regular. A maioria não tem forma ou tem uma forma imperfeita, de modo que poucos objetos têm uma "boa forma" de modo a serem "melhores" do que outros (Luccio, 2011). Todorovic (2008) explica ainda que, embora a Gestalt seja coberta de alguma forma na literatura científica como em Kubovy & van der Berg (2008), ainda resta detalhar como é que diferentes princípios gestaltistas interagem entre si e quais irão ser mais fortes em quais situações. Além dessas críticas, o psicólogo Skinner (1972) também questiona a base filosófica da Gestalt, chamada de teoria representacional ou "teoria da cópia" (a ideia de que nossa mente faz cópias do mundo), afirmando que fazer isso seria um desperdício de tempo para o cérebro. Somando a essas discussões, Dewey (2004) faz, ainda, uma declaração bastante séria: o conceito principal repetido nas aulas de Gestalt está errado ("o todo é maior do que a soma das partes"). Foi traduzido incorretamente do alemão para o inglês, algo que Kurt Koffa, um dos fundadores da Gestalt, criticou severamente. No seu texto original, estava dito que "o todo é diferente (ou independente) da soma das partes", no sentido de que o todo tem uma existência própria, que não depende das partes. Koffka não gostou da tradução e corrigia os alunos que usavam a palavra "maior" ao invés de "diferente" (Heider, 1977) . Segundo Koffa, não se trata de um princípio de "soma". O que o texto original da Gestalt queria dizer é que o todo tem uma existência independente no sistema perceptivo. Além disso, os fundamentos propostos pela Gestalt se baseiam em conceitos relativamente óbvios. Rock (1975) afirma que os princípios da Gestalt são baseados na nossa experiência com coisas e suas propriedades: objetos no mundo, geralmente, estão localizados na frente de algum fundo (figura fundo), têm uma textura diferente da textura desse fundo (similaridade), são feitos de partes que estão perto umas das outras (proximidade), se movem como um todo (destino comum), têm contornos fechados (fechamento) e esses são contínuos (continuidade) (Todorovic, 2008)[11] . O livro "História do "Design" Gráfico", de Philip Meggs, não cita a palavra Gestalt e faz menção a estudos de percepção apenas na história de Peter Behrens e da Nova Objetividade (Meggs, 2009).
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Guiana Francesa
Guiana Francesa A Guiana Francesa (, oficialmente apenas "Guyane") é um departamento ultramarino e região da França, na costa do Atlântico Norte da América do Sul, nas Guianas. Faz fronteira com o Brasil a leste e sul e com o Suriname a oeste. Desde 1981, quando Belize se tornou independente do Reino Unido, a Guiana Francesa tem sido o único território continental nas Américas que ainda está sob a soberania de um país europeu. Com uma área de 83 534 km², a Guiana Francesa é a segunda maior região da França e a maior região ultraperiférica dentro da União Europeia. Tem uma densidade populacional muito baixa, com apenas 3,6 habitantes por km². Metade de seus 301 099 habitantes em 2022 viviam na área metropolitana de Caiena, sua capital. Desde dezembro de 2015, tanto a região como o departamento têm sido governados por uma assembleia única no âmbito de uma nova coletividade territorial, a Coletividade Territorial da Guiana Francesa (em francês: "Collectivité Territoriale de Guyane"). Essa assembleia, a Assembleia da Guiana Francesa (em francês: Assemblée de Guyane), substituiu o antigo conselho regional e o conselho departamental, ambos desmembrados. A Assembleia da Guiana Francesa é responsável pelo governo regional e departamental. Antes do contato europeu, o território era originalmente habitado por nativos americanos, a maioria falantes do idioma arauaque, da família linguística arawakana. O povo foi identificado como Lokono. O primeiro estabelecimento francês está registrado em 1503, mas a França não estabeleceu uma presença durável até que os colonos fundaram Caiena em 1643. A Guiana foi desenvolvida como uma sociedade escravista, onde plantadores importavam africanos como trabalhadores escravizados em grandes açucareiros e outras plantações em número tal que aumentar a população. A escravidão foi abolida nas colônias na época da Revolução Francesa. A Guiana foi designada como um departamento francês em 1797. Mas depois que a França abandonou seu território na América do Norte, desenvolveu a Guiana como uma colônia penal, estabelecendo uma rede de campos e penitenciárias ao longo do litoral onde prisioneiros da França foram condenados a trabalhos forçados. Durante a Segunda Guerra Mundial e a queda da França para a Alemanha Nazista, o franco-guianense Félix Éboué foi um dos primeiros a apoiar o general Charles de Gaulle, da França Livre, em 18 de junho de 1940. A Guiana reuniu oficialmente a França Livre em 1943, e pouco depois, abandonou seu "status" de colônia e tornou-se novamente um departamento francês em 1946. Depois que De Gaulle foi eleito presidente da França, ele estabeleceu o Centro Espacial da Guiana em 1965. Ele agora é operado pelo CNES, pela Arianespace e pela Agência Espacial Europeia (ESA). No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, vários milhares de refugiados da etnia Hmong, oriundos do Laos, imigraram para a Guiana Francesa, fugindo do deslocamento após o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. No final da década de 1980, mais de 10 mil refugiados surinameses, em sua maioria quilombolas, chegaram à Guiana Francesa, fugindo da Guerra Civil do Suriname. Mais recentemente, a região recebeu um grande número de migrantes econômicos brasileiros e haitianos. Mineração de ouro ilegal e ecologicamente destrutiva por garimpeiros brasileiros é uma questão crônica na remota floresta tropical interna da Guiana Francesa. Totalmente integrada no Estado central francês, a Guiana faz parte da União Europeia, e sua moeda oficial é o euro. Uma grande parte da economia da Guiana deriva de empregos e negócios associados à presença do Centro Espacial da Guiana, hoje o principal local de lançamento da Agência Espacial Europeia, próxima à Linha do Equador. Como em outras partes da França, a língua oficial é o francês, mas cada comunidade étnica tem sua própria língua. O crioulo da Guiana Francesa, uma língua crioula com base francesa, é o idioma mais falado. Em comparação com a França metropolitana, a região enfrenta problemas como imigração ilegal significativa, infraestrutura mais pobre, custo de vida mais alto, taxas de criminalidade mais altas e agitação social mais comum. História. Povos nativos colonização europeia. A Guiana Francesa foi originalmente habitada por indígenas: calinas, aruaques, palicures, tekos, oiampis e uaianas. Antes da colonização europeia, o território era originalmente habitado por nativos americanos, a maioria falando a língua aruaque, da família linguística aruaque. O primeiro estabelecimento francês é registrado em 1503, mas a França não estabeleceu uma presença durável até que os colonos fundaram Caiena em 1643. A Guiana foi desenvolvida como uma sociedade escravista, onde os proprietários importavam africanos como trabalhadores escravos em grandes plantações de cana-de-açúcar e outras plantações em número que chegava a aumentar a população. O sistema de escravidão na Guiana Francesa continuou até a Revolução Francesa, quando a Convenção Nacional votou pela abolição do tráfico de escravos e da escravidão na nas colônias ultramarinas da França em fevereiro de 1794, meses depois de haitianos escravizados iniciarem uma rebelião de escravos na colônia de Saint-Domingue (atual Haiti). No entanto, o decreto de 1794 só foi implementado em Saint-Domingue, Guadalupe e Guiana Francesa, enquanto as colônias do Senegal, Maurícia, Reunião, Martinica e Índia Francesa resistiram à imposição dessas leis. Bill Marshall, professor de Estudos Culturais Comparados da Universidade de Stirling, escreveu sobre as origens da Guiana Francesa: A "Île du Diable" (Ilha do Diabo) era o local de uma pequena prisão, parte de um sistema penal maior com o mesmo nome, que consistia em prisões em três ilhas e três prisões maiores no continente. Funcionou de 1852 a 1953. Além disso, no final do século XIX, a França começou a exigir residências forçadas de prisioneiros que sobreviveram ao trabalho forçado. Uma esquadra naval luso-britânica tomou a Guiana Francesa em nome do Império Português em 1809, que foi devolvida à França com a assinatura do Tratado de Paris em 1814. Embora Portugal tenha devolvido a região à França, manteve uma presença militar até 1817. Depois que a Guiana Francesa foi estabelecida como colônia penal, as autoridades às vezes usavam presidiários para pegar borboletas. As penas dos condenados eram muitas vezes longas e as perspectivas de emprego muito fracas, de modo que os condenados pegavam borboletas para vender no mercado internacional, tanto para fins científicos quanto para coleta em geral. Uma disputa de fronteira com o Império do Brasil surgiu no final do século XIX por uma vasta área de selva, resultando no breve Estado pró-francês e independente de Counani no território disputado. Houve algumas lutas entre os colonos. A disputa foi resolvida em grande parte em favor do Brasil pela arbitragem do governo suíço. Séculos XX e XXI. O território de Inini consistia na maior parte do interior da Guiana Francesa quando foi criado em 1930. Foi abolido em 1946, ano em que a Guiana Francesa como um todo foi formalmente estabelecida como um departamento ultramarino da França. Em 1936, Félix Éboué, de Caiena, se tornou o primeiro homem negro a servir como governador em uma colônia francesa. Durante a Segunda Guerra Mundial e a queda da França para as forças alemãs nazistas, a Guiana Francesa tornou-se parte da França de Vichy. A Guiana se uniu oficialmente à França Livre em 16 de março de 1943. Abandonou seu "status" de colônia e mais uma vez se tornou um departamento francês em 19 de março de 1946. Após a retirada francesa do Vietnã na década de 1950 e a guerra subsequente conduzida na região pelos Estados Unidos, a França ajudou a reassentar centenas de refugiados hmong do Laos para a Guiana Francesa durante as décadas de 1970 e 1980, que fugiam do deslocamento após a tomada comunista do Laos por Pathet Lao em 1975. Em 1964, o presidente francês Charles de Gaulle decidiu construir uma base para viagens espaciais na Guiana Francesa. O objetivo era substituir a base do Saara na Argélia e estimular o crescimento econômico da Guiana Francesa. O departamento foi considerado adequado para o efeito porque está perto da linha do equador e tem amplo acesso ao oceano como zona tampão. O Centro Espacial da Guiana, localizado a uma curta distância ao longo da costa de Kourou, cresceu consideravelmente desde os primeiros lançamentos dos foguetes Véronique. Agora faz parte da indústria espacial europeia e teve sucesso comercial com lançamentos como o Ariane 4 e o Ariane 5. No final da década de 1980, mais de 10 mil refugiados surinameses, principalmente quilombolas, chegaram à Guiana Francesa, fugindo da Guerra Civil do Suriname. Mais recentemente, a Guiana Francesa recebeu um grande número de migrantes econômicos brasileiros e haitianos. A mineração ilegal e ecologicamente destrutiva de ouro por garimpeiros brasileiros é um problema crônico na remota floresta tropical do interior da Guiana Francesa. A região ainda enfrenta problemas como imigração ilegal, infraestrutura mais pobre do que a França continental, custos de vida mais elevados, além de níveis mais altos de criminalidade e agitação social. O Conselho Geral da Guiana adotou oficialmente uma bandeira departamental em 2010. Em um referendo naquele mesmo ano, a Guiana Francesa votou contra a autonomia. Em 20 de março de 2017, os trabalhadores da Guiana Francesa começaram a entrar em greve e a se manifestar por mais recursos e infraestrutura. No dia 28 de março de 2017 houve a maior manifestação já realizada na Guiana Francesa. A região foi severamente afetada pela pandemia de COVID-19, com mais de 1% da Guiana Francesa com testes positivos até o final de junho de 2020. Geografia. A Guiana Francesa está situada ao norte da América do Sul, sua extensão territorial é de (dos quais são a Guiana propriamente dita, o restante forma o território interno de Inini). Esse departamento delimita ao norte com o oceano Atlântico, ao sul e ao leste com o Brasil e a oeste com o Suriname. O perímetro de suas fronteiras soma e sua faixa litorânea mede . A Guiana Francesa é uma região plana com poucas colinas, a máxima altitude ocorre em Bellevue de Inini e é de 851 metros. O relevo eleva-se desde a faixa costeira até as terras altas do sul, passando por uma planície de transição (situada no centro do departamento), onde se combinam os granitos do escudo guianês (ou maciço das Guianas) e os depósitos fluviais. No extremo sul, estão localizadas as cadeias montanhosas Eureupogcigne e Oroye. Os rios são de escassa longitude, bastante caudalosos, de vital importância para chegar ao interior do departamento e desembocam no oceano Atlântico. Os rios mais importantes são: Mana, Sinnamary, Approuague e Oiapoque. Clima. O clima é tropical, portanto bastante chuvoso, quente e úmido na grande maior parte do ano. Os furacões que são gerados no oceano atlântico dificilmente chegam à Guiana Francesa. A temperatura média do território é de 27 °C e as precipitações superam os anuais. Um dia típico na floresta da Guiana Francesa é muito quente durante o dia e chuvoso no final da tarde. Tem clima equatorial de montanha (clima que se caracteriza por sua maior facilidade de percepção das estações, diferenciando-se assim do clima equatorial comum). A temperatura tem uma variação pequena, chegando a 303,15K (30 °C) e 298,15K (25 °C) no verão e no inverno respectivamente. A chuva ocorre nesse território durante todo o ano (mais frequentemente no verão), mas diferentemente do clima equatorial comum, que tem em média , com esse clima equatorial de montanha, vê-se apenas (um volume bem menor). Biodiversidade. A flora é característica da floresta tropical, quer dizer, extremamente diversificada e densa (como acontece no Brasil). A maior parte do departamento (mais de 90% da superfície) está coberta por uma floresta tropical densa que fica ainda mais impenetrável na proximidade dos rios. Calcula-se que existam na floresta equatorial mais de 60 000 espécies de árvores (algumas delas centenárias, como o ébano), com alturas que podem ultrapassar os 80 m. Os manguezais cobrem grande parte do litoral e, por tratar-se de um ecossistema extremamente frágil, o ecoturismo tem se desenvolvido lenta e planejadamente na região costeira. Existem quatro tipos diferentes de manguezais no departamento, dentre os quais o vermelho e o branco. Atrás do mangue, a planície litorânea alberga a palmeira tucum, seus frutos permitem a elaboração de caldo tradicionalmente consumido na época do Natal. Na fauna da Guiana Francesa é possível encontrar enormes variedades de peixes, aves, répteis, insetos e mamíferos, dentre os quais podemos destacar a onça-pintada, araras e papagaios, serpentes, antas, tatus, jacarés e macacos. Demografia. A população da Guiana Francesa de 301 099 habitantes (segundo estimativas de 2022). Acessado em 8 de outubro de 2021.</ref> a maioria dos quais vivem próximas do litoral, é muito diversificada etnicamente. No censo de 2014, 57,3% dos habitantes da Guiana Francesa nasceram na região, 9,3% nasceram na França metropolitana, 3,0% nasceram nos departamentos e coletividades do Caribe francês (Guadalupe, Martinica, São Martinho, São Bartolomeu). e 30,2% nasceram em países estrangeiros (principalmente Brasil, Suriname e Haiti). A expectativa de vida média é 79,8 anos. Línguas e religião. O francês é a língua oficial, e é o idioma predominante do departamento, mas outras línguas também são faladas. A principal língua falada pela sociedade franco-guianense é o Crioulo da Guiana Francesa, que é baseado no francês, inglês, português, espanhol e outros dialetos africanos e ameríndios. Seis línguas ameríndias, quatro dialetos quilombolas, bem como hmong. Outros idiomas falados incluem o português, hacá (um dialeto chinês), crioulo haitiano, espanhol, holandês e inglês. A principal religião praticada na Guiana Francesa é o catolicismo romano; os quilombolas e o povos ameríndios ainda mantêm suas próprias religiões tradicionais. Os hmong também são em grande parte católicos devido à influência de missionários que ajudaram a trazê-los para a Guiana Francesa. Política. A Guiana Francesa, como um coletividade da França, faz parte da União Europeia - é considerada o maior território da UE fora da Europa desde que a Groenlândia deixou a Comunidade Europeia em 1985, com uma das mais longas fronteiras externas da UE. É um dos três únicos territórios da União Europeia fora da Europa que não estão localizados em uma ilha (os outros são as cidades autônomas espanholas na África, Ceuta e Melilla). Como parte integrante da França, seu chefe de Estado é o presidente da França e seu chefe de governo é o primeiro-ministro da França. O governo francês e suas agências são responsáveis por uma ampla gama de questões reservadas ao poder executivo nacional, como a defesa e as relações externas. O Presidente da França nomeia um prefeito como seu representante para chefiar o governo local da Guiana Francesa. Há um órgão executivo local eleito, a Assembleia da Guiana Francesa ("Assemblée de Guyane"). A Guiana Francesa elege dois deputados para a Assembleia Nacional da França, um representando as comunas de Caiena e Macouria, e o outro representando o restante da Guiana Francesa. Este último eleitorado é o maior da República Francesa por área terrestre. A Guiana Francesa também elege dois senadores para o Senado francês. O Partido Socialista Guianês dominou a política na Guiana Francesa até 2010. Uma questão crônica que afeta a Guiana Francesa é o afluxo de imigrantes ilegais e garimpeiros clandestinos de ouro oriundos do Brasil e do Suriname. O rio Maroni, que é a fronteira natural com o Suriname, flui através da floresta tropical e é difícil para a Gendarmaria e a Legião Estrangeira Francesa patrulhar. Houve várias fases lançadas pelo governo francês para combater a mineração ilegal de ouro na Guiana Francesa, começando com a Operação Anaconda a partir de 2003, seguida pela Operação Harpie em 2008, 2009 e a Operação Harpie Reinforce em 2010. O coronel François Müller, comandante da Gendarmaria na Guiana Francesa, acredita que essas operações foram bem-sucedidas. No entanto, após o término de cada operação, retornaram os garimpeiros brasileiros. Logo após o início da Operação Harpie Reinforce, ocorreu uma confronto entre autoridades francesas e mineradores brasileiros. Em 12 de março de 2010, uma equipe de soldados franceses e policiais de fronteira foram atacados enquanto retornavam de uma operação bem-sucedida, durante a qual "os soldados prenderam 15 mineiros, confiscaram três barcos e apreenderam 617 gramas de ouro... atualmente valendo cerca de US$ 22 317". Os garimpeiros retornaram para recuperar seus saques e colegas perdidos. Os soldados dispararam tiros de advertência e balas de borracha, mas os mineiros conseguiram retomar um de seus barcos e cerca de 500 gramas de ouro. "A reação violenta dos garimpeiros pode ser explicada pela tomada excepcional de 617 gramas de ouro, cerca de 20% da quantidade apreendida em 2009 durante a batalha contra a mineração ilegal", disse Phillipe Duporge, diretor da polícia de fronteira da Guiana Francesa. uma conferência de imprensa no dia seguinte. Divisões administrativas. A Guiana Francesa é ao mesmo tempo uma região e um departamento francês de ultramar cuja prefeitura tem sede em Caiena. É dividida em dois "arrondissements" (de Caiena e Saint-Laurent-du-Maroni), dezesseis cantões e 22 comunas. "Arrondissement de Saint-Laurent-du-Maroni "Arrondissement" de Caiena Economia. A economia da Guiana Francesa é baseada principalmente na pesca e na extração mineral, principalmente aurífera. O departamento registra notável imigração ilegal, principalmente de brasileiros, haitianos e surinameses, atraídos pela possibilidade de obter renda em euros. Na segunda metade do século XX, a Guiana Francesa desenvolveu uma economia florescente, estimulada pela atividade no centro espacial de Kourou, conhecida por hospedar a base de lançamento de foguetes e satélites da Agência Espacial Europeia (ESA). O aluguel da base de lançamento rende dividendos à administração local. O Centro Espacial de Kourou, construído a partir de 1968 pela Agência Espacial Europeia, contribuiu decisivamente para o desenvolvimento econômico da Guiana Francesa, não só por gerar empregos, mas também por introduzir tecnologia de ponta e informática à região. O sistema de transportes concentra-se no litoral. Há um aeroporto internacional em Rochambeau, perto de Caiena. O programa denominado Plan Vert (Plano Verde) objetiva desenvolver a agricultura, a pecuária e a exploração florestal, e se baseia na imigração de colonos franceses. A pesca, principalmente de camarões, cresceu a partir de meados do século XX. As exportações incluem açúcar, mandioca, coco, banana, rum e madeira. A Guiana Francesa explora seus recursos minerais, sobretudo ouro e bauxita, porém, em baixo volume em comparação com o resto do mundo - o país extrai cerca de 1 a 2 toneladas de ouro por ano, e está longe de ser um dos maiores produtores do mundo tanto de ouro como de bauxita. Cultura. Festivais. O Carnaval é um dos eventos mais importantes da Guiana Francesa. Considerado o mais longo do mundo, acontece na tarde de domingo, entre Epifania no início de janeiro e quarta-feira de cinzas em fevereiro ou março. Grupos vestidos de acordo com a temática do ano desfilam em carros alegóricos decorados, ao ritmo de percussão e metais. A preparação dos grupos dura meses antes do carnaval. Os grupos desfilam diante de milhares de espectadores que se aglomeram nas calçadas e arquibancadas dispostas para a ocasião. Grupos de brasileiros idênticos aos do carnaval carioca, também são apreciados por seus ritmos e trajes sedutores. A comunidade chinesa de Caiena também participa dos desfiles dando seu toque característico, com os dragões. Depois, no início da noite, os Touloulous, personagens típicos do carnaval guianense, vão à discoteca para participar dos famosos Bailes de máscaras. Culinária. A culinária guianense é rica nas diferentes culturas que se misturam na Guiana Francesa. A arte culinária local originalmente reunia as culinárias Crioulo, Bushinengue e Indígena. Todas essas cozinhas têm vários ingredientes em comum: Na Páscoa, o povo guianense come um prato tradicional chamado Caldo de awara.
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Gamão
Gamão Gamão é um jogo de tabuleiro para dois jogadores, realizado num caminho unidimensional, no qual os adversários movem suas peças em sentidos contrários, à medida que jogam os dados e estes determinam quantas "casas" serão avançadas, sendo vitorioso aquele que conseguir retirar todas as peças primeiro (de onde pode ser tido como sendo também um "jogo de corrida" ou "de percurso"). Atividade lúdica de regras simples, o gamão desenvolve as relações lógico-matemáticas, com uso da estratégia: aprimora o senso matemático da subtração e adição não apenas pelas próprias jogadas, como ainda pela antecipação dos movimentos do adversário. É visto como um passatempo do qual se tira proveito prático, pois exercita a capacidade de elaborar pensamentos estratégicos, como o xadrez. Dele se diz que é "o rei dos jogos e o jogo dos reis". Histórico. Datado de cerca de 3500 a.C, o Senet era um jogo de tabuleiro praticado no Antigo Egito que remotamente é relacionado com o gamão; entretanto duvida-se que o gamão tenha se desenvolvido a partir dele, uma vez que não foram encontrados tabuleiros de Senet no período entre 1500 a.C a 200. Contudo, é considerado um predecessor do gamão. O Jogo Real de Ur foi descoberto por arqueólogos britânicos nos anos 1922 a 1934 na área que compreendia a antiga Mesopotâmia, na região de Ur (atual Iraque). Escavações em túmulos de antigos nobres sumérios revelaram diversos tabuleiros de madeira, ricamente ornados com lápis-lazúli e madrepérola, cuja reconstrução feita pelos pesquisadores do Museu Britânico revelou ser bastante parecido com o moderno gamão. Recentemente suas regras foram encontradas. Na Roma Antiga havia o "Ludus duodecim scriptorum", modernamente rebatizado com o nome de "jogo das doze linhas"; este possivelmente deriva do Senet egípcio, pois conserva a base similar de três por doze pontos. O autor H. J. R. Murray, no livro "A History of Board-Games other than Chess", é de opinião que este jogo seja uma cópia do grego "Kubeia", que Platão registrou ter origem no Egito, no seu diálogo socrático "A República", vol. X. Na Índia havia um jogo chamado "Parchessi", que parece ser o mais direto predecessor do gamão. Nele as peças ficavam fora do tabuleiro e tinham que percorrê-lo para saírem do lado oposto. O jogo chamado "Narde" era praticado na Pérsia antiga, com formato similar ao jogo romano, com a diferença de que eram usados dois dados para dirigir o movimento das peças. Tal como o moderno gamão, as peças tinham uma posição fixa para o início do jogo; o Narde é referido no Talmude babilônico, datado de cerca de 500 a.C; teria sido inventado por Artaxes I, fundador da Dinastia Sassânida e, como tal império se estendeu até a Índia, é possível que por tal motivo dão-no como originário daquele país. A partir do século IV a variante romana denominada "Tabula" já tinha, salvo algumas variações pequenas, as feições do gamão atual, e durante a Idade Média era comum a referência ao "jogo de tábula". O historiador Sir John L. Myers disse que boa parte dos registros escritos se referem às mudanças; as relações entre os jogos originais de tabuleiros e seus sucessores são paradigma de como os povos exercem influência cultural sobre os demais vizinhos; os jogos, assim passados ao longo do tempo, vão sofrendo metamorfoses até sua compleição moderna - tal como o xadrez moderno tem o mesmo ancestral comum com o "xadrez japonês", que é a modalidade chinesa antiga. O gamão, assim, experimentou tais transformações; sofreu a influência daqueles diversos jogos primitivos do oriente, até ser levado pelos romanos ao Ocidente na configuração do jogo da "tabula", cuja única diferença do "narde" era que o uso do primeiro desapareceu. As variantes orientais se propagaram junto com a expansão do Islã, até serem levadas novamente à Europa com as Cruzadas. Com as feições modernas de desenho e movimentação das peças acredita-se que tenha surgido em torno do século X. Na Canção de Rolando, poema épico francês do século XI, é dito que os soldados gostavam de jogar o gamão, enquanto os chefes preferiam o xadrez. A primeira normatização das regras do gamão foi publicada em 1743 pelo inglês Edmond Hoyle, no livro "A Short Treatise on the Game of Backgammon" ("Pequeno Tratado sobre o Jogo de Gamão", em livre tradução). A obra trazia ainda uma série de estratégias, que são válidas mesmo nos tempos atuais. A "leis do gamão", segundo Hoyle: 1. Se o jogador tocar numa peça ela deve ser movida, se possível; se for impossível uma jogada, não há penalidade.<br>2. Um jogador não conclui sua jogada até que coloque sua peça num ponto e a deixe lá. <br>3. Se o jogador deixa uma peça esquecida fora do jogo, não há penalidade. <br>4. Se o jogador move qualquer número de peças antes de entrar uma peça capturada, ele pode retornar esta peça mais tarde. <br>5. Se o jogador se enganou na sua movimentação, e o adversário já tiver lançado os dados, não há qualquer chance de o jogador alterar o erro, a menos que ambos concordem em permiti-lo. <br>6. Se um dos dados ficar "inclinado", i.e., não ficarem completamente pousados no tabuleiro, um novo lançamento é imperativo. O escritor e matemático britânico Lewis Carroll, autor do clássico infantil "Alice no País das Maravilhas", registrou diversas anotações em que jogava gamão, e ainda a elaboração de variantes para o jogo. Em 6 de janeiro de 1868 escreveu que havia experimentado com a irmã Margaret ""...um novo tipo de gamão, que estou pensando em chamar de 'gamão descoberto'". De fato, Carrol criou variantes do jogo, que batizara "gamão de três", "gamão cooperativo" e "gamão alemão cooperativo", inspirado o último em Enid Stevens. O seu "gamão cooperativo"" teve as regras publicadas em 6 de março de 1894 no jornal The Times, na seção de anúncios pessoais. Antes, contudo, ele anotara, em 4 de fevereiro daquele ano: "Ocorreu-me uma ideia para uma variação interessante de gamão, em que se jogam "três" dados e se escolhem dois dos "três" números: a "qualidade" média dos lances aumentaria enormemente. Calculo que a chance de sair 6 e 6 seria duas vezes e meia maior do que é hoje. Também constituiria um meio, semelhante à concessão de pontos no bilhar, de nivelar os dois jogadores: o mais fraco poderia usar três dados e o outro, dois. Estou pensando em chamá-lo 'Gamão de Três'". No século XX ocorre o chamado ""auge do gamão" quando, nos anos 1960, o príncipe russo Alexis Obolensky promove grande popularização do jogo e realiza o primeiro campeonato mundial. O ressurgimento da popularidade do gamão dura desde então, até os tempos atuais. Finalmente, graças ao desenvolvimento da rede neural, o primeiro sucesso na construção de um programa capaz de jogar o gamão e aprender com os erros foi concretizado com sucesso em 1989, por Gerald Tesauro, e desenvolvido mais tarde por ele, em 1994, numa das atividades que marcam o pioneirismo neste campo científico. O sistema operacional Windows, da Microsoft, incluía o gamão em suas primeiras versões e, a partir da versão Windows 2000, permitiu jogar online. No Brasil. Inventários registram a presença do jogo no país desde o século XVI, e os autos do Tribunal do Santo Ofício, na Bahia e Pernambuco, referiam-se às blasfêmias proferidas durante partidas. Assim, o gamão, tal qual os jogos de cartas, parece ter sido parte dos padrões de sociabilidade da época. Durante a Inconfidência Mineira, no final do século XVIII, dentre os bens confiscados do revoltoso José Ayres Gomes estava um "tabuleiro de jogar gamão com suas tabelas respectivas"; consta ainda que os inconfidentes em suas atividades sociais, festas e jogos, falavam muito quando bebiam, o que permitiu que as tramas do movimento fossem descobertas. Esses registros dão conta de que o jogo era bastante difundido na colônia. Etimologia. Gamão é uma palavra de origem incerta e controversa. Alguns autores, contudo, da língua inglesa, defendem que o termo derive das palavras galesa "bac" (ou "bach") e "gammon" (ou "cammaun") - que pode ser traduzida para "batalha", esta última. Oswald Jacoby e John R. Crawford, autores de "The Backgammon Book", defendem que a palavra deriva do inglês antigo, derivando da junção dos vocábulos "baec" ("costas") e "gamen" ("jogo"), significando "jogo da volta". Uma hipótese bastante provável para a origem do nome em inglês seja decorrente do fato de que os tabuleiros do gamão comumente serem colocados no verso do de xadrez - daí o termo "backgammon" (ou "back gammon", como se grafava) significar nada mais do que "o jogo do verso [do tabuleiro]"" - ou "the game on the back", no original. Descrição. O gamão é jogado num tabuleiro próprio e característico, composto por quatro fileiras com seis casas cada uma, sendo duas fileiras numa margem e duas na outra. Tradicionalmente as casas consistem de uma pintura em forma de flecha onde cada um dos dois jogadores dispõe suas quinze peças: oito nas duas fileiras do seu campo e sete nas do adversário. Além do tabuleiro o gamão compõe-se de um dado clássico (de seis faces) e trinta peças em formato circular (discos), sendo cada metade do total de peças em cores distintas da outra metade, uma é mais escura e a outra é mais clara, semelhante às do jogo de damas, e que pertencerão a cada um dos contendores. Para o lançamento dos dados os jogadores possuem um copo próprio e, opcionalmente, pode haver um dado para apostas (com numeração de 2, 4, 8, 16, 32 e 64 nas seis faces). Objetivo do jogo e desenvolvimento da partida. Inicialmente os contendores escolhem qual a cor das suas peças e para qual dos campos deverá conduzi-las, sendo este chamado de "campo-casa", nesta descrição; as quinze peças são então arrumadas da seguinte forma (o adversário fará o mesmo, nas casas opostas) para as peças vermelhas (de acordo com a figura), sendo oito nos dois campos inferiores e sete no campo oposto: O participante que irá iniciar o jogo é conhecido por meio do lançamento de um dado: ambos os adversários lançam um dos dados, e àquele que obtiver maior número caberá a jogada inicial, utilizando este mesmo resultado na primeira jogada. A consequência disto é que quem começa nunca o fará utilizando números iguais. O objetivo de cada participante é mover todas as suas quinze peças para o seu "campo-casa", deslocando-se cada peça de acordo com o resultado dos dados; uma vez conseguido isto, deve começar a retirá-las, vencendo aquele que primeiro o fizer. Deslocamento das peças. As peças devem ser movidas da seguinte forma: Comida de peça. Uma das estratégias do jogo é comer as peças do adversário, a fim de retardar seu avanço. Uma peça que for colocada sozinha numa casa pode ser tomada - o que não é obrigatório, pois pode ser desvantajoso taticamente - o processo de comer uma peça e seu retorno ao jogo ocorre da seguinte forma: Estratégias. Ao mover suas peças o jogador deve obedecer a dois princípios táticos iniciais: Na corrida das peças até seu campo-casa o jogador deve usar de prudência na captura das peças adversárias pois, retornando do princípio, esta peça pode por sua vez comer eventuais peças descobertas e obstar suas próprias manobras. Uma estratégia é defensiva quando o jogador procura arrumar suas peças sempre a formar casas; é dita agressiva quando se adota a tática de expor suas peças à captura, sendo essa escolha livre e podendo ocorrer em qualquer momento do jogo. A "arte do bloqueio" consiste no arranjar as casas fechadas de modo a evitar o avanço do adversário, impossibilitando-o de até mesmo marcar pontos. Encerramento. Uma vez colocadas todas as peças dentro do campo-casa, deve o jogador começar a retirá-las do tabuleiro, da seguinte forma: Uma vez retiradas todas as peças do tabuleiro antes que o adversário o faça este será vencedor e a partida termina. Se o fizer sem que nenhuma das peças do adversário seja retirada, diz-se que houve o gamão, a vitória máxima do jogo. Variantes. Duas variantes do gamão tiveram grande sucesso no século XIX: o triquetraque e o "chaquete" (adaptação no nome francês "Jacquet"); a variante estadunidense, criada no começo do século XX, passou a incorporar o dado de apostas, dando início às regras do gamão moderno. Uma variante praticada no Levante é o "Plakoto", onde todas as quinze peças de cada jogador são colocadas na primeira casa do campo-casa do adversário. Também se registram o "Chouette", jogado com três ou quatro participantes; o gamão com parceiro, gamão holandês (ou "Acey Deucey" como é chamado nas Forças Armadas dos Estados Unidos), gamão turco ou "Moultezim", o russo e outras adaptações locais. Triquetraque. O triquetraque é uma variante francesa do gamão. Durante o reinado de Luís XVI (século XVIII) o jogo tornou-se bastante popular; eram feitas mesas de jogo com uma tampa que muitas vezes tinha um tabuleiro de xadrez na face oposta; ao se remover a tampa, aparecia o tabuleiro de triquetraque. O nome é uma onomatopeia, ou seja, deriva do som que os dados fazem no copo de lançamento. Dominó-gamão. Uma tentativa por eliminar o fator sorte do jogo; os pontos são determinados pelas faces numeradas de um dominó, do qual foram retiradas as peças com marcação zero. Distribuídos os pontos entre os dois jogadores - um ficando com as pedras 6-6, 3-3, 1-1, 6-4, 6-2, 5-4, 5-3, 5-1, 4-2, 3-1, 2-1, e o outro com as restantes 5-5, 4-4, 2-2, 6-5, 6-3, 6-1, 5-2, 4-3, 4-1, 3-2; essas peças podem ser jogadas mais de uma vez, exceto os que contém dobra de pontos, que são usadas somente uma vez - depois do uso inicial: à medida que uma peça é usada para marcar os pontos, é colocada do lado oposto do tabuleiro e, finalizado o uso de todas elas, podem ser reutilizadas no mesmo processo. Clubes e torneios - gamão competitivo. Após a invenção do dado de apostas nos Estados Unidos, na década de 1920, o interesse pelo gamão ganhou novo impulso, e houve a formação de diversos clubes a reunir os adeptos, tanto naquele país quanto em outros. Em 1931 Wheaton Vaughan, presidente do comitê de gamão do "New York Racquet and Tennis Club", escreveu as regras que hoje são adotadas para as competições. Finalmente, por intercessão do Príncipe Alexis Obolensky foi organizado nas Bahamas em 1964 o primeiro campeonato internacional da modalidade; em 1973 ocorreu em Monte Carlo o primeiro grande torneio europeu de gamão. Obolensky sugeriu que houvesse um campeonato mundial, e o primeiro ocorreu em Las Vegas, no ano de 1967, sagrando o estadunidense Tim Holland como primeiro campeão; ele veio a vencer as duas edições seguintes: 1968 e 1970. De 25 a 27 de janeiro de 2007 o "Atlantis Resort" das Bahamas organizou uma competição de gamão com prêmio de um milhão de dólares, recebendo cobertura da televisão de vários países. No Brasil. No Brasil a modalidade é dirigida pela "Associação Brasileira de Gamão", com sede na cidade de São Paulo. Fundada em 1982, sem muito sucesso no início, a "ABG" em 1994 passou a ter uma sede, decorada por Tessa Palhano e com diversos tabuleiros para a prática do jogo. Além de organizar certames nacionais, a ela estão filiadas as instituições estaduais, como a Associação de Gamão do Estado do Rio de Janeiro (AGERJ) e a Associação Baiana de Gamão, que organizam torneios próprios e as etapas dos nacionais. Praticantes famosos e impacto cultural. A palavra persa "qafas" é raiz etimológica de outras passando, por exemplo, pelo grego κάῳα ("caixa"), pelo latim "capsus", raiz da portuguesa "cabaz", que define um cesto. O termo tem no seu significado original, entre outros, "casinha do jogo do gamão". O filósofo escocês David Hume do século XVIII declarou que toda especulação metafísica parece "fria, forçada e ridícula" se encetada após um bom jantar e uma partida de gamão. Do mesmo período é o poeta português Nicolau Tolentino de Almeida (1740-1811); suas "Obras poéticas" trazem várias citações ao gamão, sendo mesmo um dos poemas intitulado ""A Dois Velhos Jogando o Gamão", onde narra uma partida entre dois idosos numa botica na qual um dos jogadores, ao perder, atira o tabuleiro sobre o outro e, errando o golpe, acerta na melhor garrafa do boticário. Prosper Mérimée (1803-1870), célebre autor de Carmen, escreveu o conto "A partida de gamão", onde mantém a sua característica de narrar a história por um personagem que é estranho aos fatos. O conto relata como, para tirar os pontos 6 e 4 que lhe dariam a vitória e o resultado de vultosa aposta, um jovem trapaceia - e as tristes consequências deste ato. Charles Darwin, criador da teoria da evolução das espécies, tinha com a esposa Emma a tradição de jogar partidas de gamão. Em dado momento de sua velhice, Darwin brincava revelando ter ganho 2795 partidas, contra 2490 da esposa. Quando morando na cidade mineira de Campanha, o escritor brasileiro Euclides da Cunha fez amizade com um vizinho chamado Júlio Bueno; em suas partidas Cunha não admitia a derrota e, durante uma delas em que teve todas as suas peças presas, sem poder mover-se, exigiu que as regras fossem alteradas para que ele não mais se visse naquela situação. Ante o destempero do escritor, o vizinho aquiesceu e aquele acabou vitorioso e declarando: "Você vai aprender para jogar comigo. Fique sabendo que eu sou invencível no gamão."" Mais tarde Bueno publicou o relato num jornal local, e este foi usado por Dilermando de Assis como peça de defesa no seu julgamento pelo homicídio do autor de Os Sertões. Durante o "auge do gamão" na década de 1960 diversas celebridades ostentaram o gosto pelo jogo, como Aristóteles Onassis, Hugh Hefner (que promovia torneios na sua mansão), Lucille Ball, princesa Grace Kelly de Mônaco, entre outros. O agente do FBI, Joseph D. Pistone, que inspirou o filme Donnie Brasco, quando se infiltrou na máfia usando este pseudônimo nos anos 1970, relatou que precisou aprender a jogar gamão, pois era ""uma boa maneira de entrar, de conseguir uma introdução, de provocar alguma conversa com os frequentadores regulares" de um bar que lhe seria a porta de entrada no mundo dos mafiosos da família Bonanno. O humorista brasileiro Chico Anysio, no seu livro "A Curva do Calombo"", traz uma crônica intitulada "O Jogo de Gamão", onde descreve uma mãe enciumada das filhas, exercendo-lhes o controle e todos os dias chamando-as para jogar: ""Filha minha eu levo de rédea curta. No meu pasto cavalo não come. (...) Venha jogar um gamão. Não há argumento. Chamou, tem que ir."" Quando a velha morre, finalmente livres das peias maternas, o gamão serve para que finalmente encontrem novos parceiros de jogo e, talvez, pretendentes. No filme "007 contra Octopussy", de 1983, o vilão Kamal Khan perde para James Bond um Ovo Fabergé, fruto de seu roubo, numa partida de gamão. No seriado Lost (2004-2010) o personagem "John Locke" joga uma partida de gamão com "Walt Lloyd" ao tempo em que usa o jogo como alegoria para explicar a dualidade das coisas, como as cores das peças numa analogia ao bem e o mal, por exemplo.
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Galiza
Galiza A Galiza é uma comunidade autónoma da Espanha, considerada pelo respetivo estatuto de autonomia e pela constituição espanhola como nacionalidade histórica. Situada no noroeste da Península Ibérica, ocupa uma parte do território histórico da antiga Galécia e do Reino da Galiza . É formada pelas províncias da Corunha, Lugo, Ourense e Ponte Vedra. Geograficamente, limita a norte com o mar Cantábrico, ao sul com Portugal (Minho e Trás-os-Montes), a oeste com o oceano Atlântico e a leste com o Principado das Astúrias e Castela e Leão (províncias de Samora e de Leão). À Galiza pertencem o arquipélago das ilhas Cies, o arquipélago de Ons e o arquipélago de Sálvora, assim como as ilhas de Cortegada, Arouça, as Sisargas ou as Malveiras. A Galiza caracteriza-se, ao contrário de outras regiões espanholas, pela ausência de uma metrópole que domina o território. Com efeito, a rede urbana é constituída por sete cidades principais (as quatro capitais de província A Corunha, Ponte Vedra, Ourense e Lugo, a capital política Santiago de Compostela e as cidades industriais Vigo e Ferrol) e outras pequenas cidades. A Galiza possuía, em 2015, cerca de 2 726 291 de habitantes, com uma densidade demográfica elevada nas faixas entre a Corunha e Ferrol, a noroeste, e Ponte Vedra e Vigo a sudoeste. Santiago de Compostela é a capital política, com um estatuto especial, dentro da . É na sua capital que se situa um dos mais importantes santuários católicos do Ocidente, a Catedral de Santiago de Compostela. O hino da Galiza, "Os Pinos", elaborado por Eduardo Pondal, refere-se à Galiza como a nação de Breogão, herói da mitologia céltica. Topónimo. Origem e evolução. O nome para o território atual da Galiza deriva da palavra latina "Gallaecia" (ou "Callaecia"), que significa literalmente «terra dos galaicos». "Callaecia", «a terra dos Callaeci», poderia derivar de kallā- 'madeira', juntamente com o sufixo complexo local -āik. O topónimo transformou-se mais tarde em "Gallicia", e daí para as formas atuais. Os galaicos foram o povo mais numeroso do noroeste da Península Ibérica antes da sua integração no Império Romano no século I a.C., apesar de alguns autores considerarem que, originalmente, o termo «galaico» era empregue para denominar uma pequena tribo ao norte do Douro. Seja como for, o nome acabou por abarcar todo um grupo étnico de língua celta e culturalmente homogéneo, situado entre o Mar Cantábrico e o Rio Douro. A primeira referência histórica dos galaicos remonta-se ao ano 136 a.C., quando o general romano Décimo Júnio Bruto Galaico regressa a Roma — depois da sua vitoriosa campanha bélica contra dois povos previamente desconhecidos: os lusitanos e galaicos — recebendo do próprio Senado romano o título de "Gallaecus" ou "galaico" em honra pela dura expedição militar contra estes. Após estes primeiros contactos, o mundo grecolatino passa a denominar o seu país como "Gallaecia", tal como o fizeram Estrabão, Plínio e Apiano, entre outros. Será este nome, "Gallaecia," que irá evoluindo durante mais de treze séculos, e que acabará por adotar as formas «Galiza» e «Galicia». Mais controverso é, porém, o significado original do termo "Gallaicus" (galaico) e consequentemente de "Gallaecia". O primeiro autor que teorizou sobre isto foi Isidoro de Sevilha, que no século VII explicava que o nome "galaico" aludia à pele branca como o leite que tinham os seus habitantes, de jeito semelhante aos habitantes da Gália. Serão muitos autores posteriores os que tentem procurar o significado deste nome, tais como Afonso X o Sábio, Ramón Barros Sivelo ou Murguía, mas hoje tende a ser relacionado com étimos das línguas celtas, e indo-europeias em geral, de maneira que o significado exato da palavra é, hoje em dia, desconhecido. Formas atuais. O nome oficial da comunidade é "Galicia", forma considerada maioritária e preferente pela Real Academia Galega e também usada em castelhano. No entanto, a Real Academia Galega e o Instituto da Língua Galega admitiram tanto "Galiza" como "Galicia" na sua normativa de concórdia do verão de 2003. Sobre este assunto, concretamente, as normas ortográficas e morfológicas do idioma galego referem o seguinte:Por sua parte, a Associação Galega da Língua, inserida na corrente reintegracionista, admite apenas a forma "Galiza". O mesmo acontece no Brasil e em Portugal, onde as obras de maior renome, como os dicionários Aurélio, Houaiss, Michaelis, Caldas Aulete, e os Dicionários Porto Editora, apenas aceitam a forma "Galiza" para o nome da região em português, reservando o termo "Galícia" para a região da Polónia. Existem porém minidicionários, entre os quais o Minidicionário António Olinto, Soares Amora, Sacconi, ou Minidicionário Silveira Bueno, além de enciclopédias traduzidas, como a Grande Enciclopédia Larousse Cultural, a Enciclopédia Geográfica Universal, que dão os termos como sinónimos. Todavia, obras como o Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida ou «"A imprensa e o caos na ortografia»", de Marcos de Castro, afirmam, com veemência, a condição de barbarismo que representaria o uso do termo "Galícia" em detrimento do português "Galiza". Outras obras, como o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, nem mesmo registram o referido termo, cujo uso, segundo alguns autores, teria sido disseminado no Brasil como adaptação do topónimo mais comum na Galiza, "Galicia", por uma possível influência dos numerosos imigrantes galegos que chegaram ao país, ou, ainda, por influência do inglês ou do espanhol. História. Pré-história. Paleolítico. As primeiras provas líticas da presença humana na Galiza datam de há cerca de 300 mil anos, no Paleolítico Inferior, durante o Pleistoceno Médio. Deste período, que nesta zona perdura até cerca de 5000 a.C., existem diversos restos dos seus povoadores por todo o litoral, desde Ribadeu até à Guarda, que consistem em instrumentos líticos que demonstram uma indústria acheuliana à base de bifaces, fendedores e triedros feitos sobre uma base de quartzo ou quarcita. São também de destaque as descobertas na parte portuguesa do Rio Minho — de Caminha a Melgaço — e o da caverna Eirós, em Triacastela, no qual foram preservados restos de animais e líticos dos neandertais até ao Paleolítico Médio, graças ao seu ambiente básico. Também existem outras reservas deste período no Baixo Minho e na depressão de Ourense. Conhecem-se duas culturas, o Paleolítico Inferior Arcaico (ou "cultura dos cantos talhados", com uma técnica mais simples) e o Paleolítico Inferior Clássico. As indústrias são simples e o número de tipos reduzido. Cultura megalítica. A primeira grande cultura claramente identificada se caracterizava por sua capacidade construtora e arquitetónica, juntamente com o seu sentido religioso, fundamentado no culto aos mortos como mediadores entre o homem e os deuses. A sociedade estaria organizada num tipo de estrutura de clãs. Da época do megalítico depõe milhares de túmulos estendidos por todo o território, escondendo no seu interior uma câmara funerária de dimensões maiores ou menores, edificada com brames de pedra, conhecidas como dólmen. Idade do Bronze. É nesta época que se atinge o desenvolvimento metalúrgico, impulsionado pela riqueza mineira. Devido às mudanças climáticas, vários povos da meseta migraram para o território da Galiza, aumentando a população e os conflitos entre povos. É a época de produção de diversos utensílios e joias de ouro ou de bronze, que foram até levadas além-Pirenéus. Cultura céltica castreja. Corresponde ao período de tempo desde a chegada dos celtas e seu assentamento até à fortificação nos seus castros. Floresceu na segunda metade da Idade do Ferro, resultado da fusão com a cultura da Idade do Bronze e outros contributos posteriores, coexistindo em parte com a época romana. Os celtas trouxeram novas variedades de gado, o cavalo domesticado e provavelmente o centeio. O primeiro povo celta que invade Galiza é o dos Sefes, no . Submeterá os Estrímnios, mas este influirá no primeiro sobretudo no terreno da religião, da organização política e das relações marítimas com a Bretanha e a Inglaterra. Segundo Estrabão, a topografia predominantemente montanhosa da Galiza fez com que os galaicos fossem o povo mais difícil de vencer da Península Ibérica e tivessem derrotado grande parte dos povos da Lusitânia. É preciso dizer que a província romana dos galaicos, a Galécia (), ainda não estava constituída política e administrativamente. Os castros são recintos fortificados de forma circular, providos de um ou vários muros concêntricos, precedidos geralmente do seu correspondente fosso e situados, os mais deles, na cimeira de colina e montanhas. Entre os castros de tipo costeiro, destacam-se os de Fazouro, Santa Trega, Baronha e Neixão. No interior, podem mencionar-se os de Castromau e Viladonga. Comum a todos eles é o facto de que o homem se adapta ao terreno e não ao contrário. Quanto aos templos, a única construção encontrada é a de Elvinha. O de Meirãs conserva uma necrópole. Noutros castros existiam pequenas construções em forma de caixa onde eram guardadas as cinzas (cultura sorotápica, dos campos de enterro de furnas — "urnenfelder" em alemão). Existem também outras parcialmente enterradas, com um depósito para a água, nas quais os vestígios de fogo indicam que deveria ter como propósito a incineração de cadáveres. A partir dos finais do Megalítico, aparecem inscrições sobre rochas graníticas a céu aberto das quais atualmente se desconhece a sua origem e significado, sendo de nota as do Campo Lameiro. Século XIX. Até o século XIX, a Galiza estava dividida em sete províncias: Mondonhedo, Lugo, Ourense, Tui, Santiago, Corunha e Betanços. Desde essa época, as províncias foram reduzidas a apenas quatro e quatro capitais: Corunha, Ponte Vedra, Ourense e Lugo. Tinha órgãos de governo próprios, sendo eles, a Junta da Galiza () e o Parlamento Galego. Portugal foi um destino migratório para muitos galegos, desde o tempo da reconquista. Política e governo. Administração autonómica. O Estatuto de Autonomia da Galiza, comparável à constituição dum Land alemão, estabelece que os poderes da comunidade são executados por via do Parlamento, da Junta e da Presidência. Nacionalidade galega. O primeiro reconhecimento internacional da Galiza como nação terá ocorrido em 1933 no IX Congresso das Nacionalidades Europeias da Sociedade das Nações. O dia feriado de festejo da comunidade foi oficializado em 1979 logo nos primórdios da autonomia como "Dia Nacional da Galiza". O Estatuto de Autonomia de Galiza de 1981 define a Galiza como "nacionalidade histórica" em razão de ter aprovado em referendum um estatuto de autonomia em 1936, semanas antes do golpe militar da Guerra da Espanha. Ainda um documento intitulado "Defesa da Nacionalidade" foi assinado em público (Pacto de Governo), após o acordo de coligação BNG-PSdG em 2005 no governo bipartido (2005–2009). Geografia. O território galego confina-se entre 43º 48' N (Estaca de Bares) e 41º 49' N (Portela do Homem, na fronteira com Portugal) em latitude. Em longitude, entre 6º 44' O (limite entre Ourense e Samora) e 9º 18' O (cabo Tourinhão). A cidade mais populosa é A Corunha com habitantes, o concelho mais populoso é o de Vigo em Ponte Vedra com habitantes, e o menos povoado o de Negueira de Moniz com 215 habitantes em 2016. O concelho mais extenso é o da Fonsagrada, com uma superfície de 438,4 km², e o mais pequeno o de Mondariz-Balneário com 2,3 km². A Corunha é o concelho com maior densidade de população, com  hab./km² e Vilarinho de Conso é o que tem menor densidade de população com 2,92 hab./km² em 2016. Divisão administrativa. Durante a Idade Moderna e até à divisão territorial de Espanha em 1833, a Galiza esteve dividida em sete províncias: Corunha, Betanços, Lugo, Mondonhedo, Ourense, Santiago e Tui. Atualmente, a comunidade estrutura-se em quatro províncias, as da Corunha, Lugo, Ourense e Ponte Vedra. Estas, por sua vez, dividem-se em comarcas (53), concelhos (313), seguindo-se as paróquias (3 792) e, por último, as aldeias e lugares. A sua capital política é a cidade de Santiago de Compostela, na província da Corunha. Economia. Os têxteis, a pesca, a pecuária, a silvicultura, a venda a retalho e a indústria automóvel são os setores mais dinâmicos da economia galega. A cidade de A Corunha e a sua região metropolitana geram 70% da riqueza de Galiza, sendo o principal agente económico da região. Arteijo, um município industrial da área metropolitana da Corunha, é a sede da Inditex, o maior retalhista de moda do mundo. Das suas oito marcas, Zara é a mais conhecida; de facto, é a marca espanhola mais conhecida de qualquer tipo numa base internacional. Para 2007, a Inditex teve 9 435 milhões de euros em vendas para um lucro líquido de 1 250 milhões de euros. Demografia. Com uma população estimada (2016) de 2 718 525 habitantes, a Galiza é a quinta comunidade autónoma de Espanha em população. A sua densidade de população, de 92,94 hab./km², é ligeiramente superior à media espanhola e semelhante à europeia. A população concentra-se na sua maioria nas zonas costeiras, sendo as áreas das Rias Baixas e o Golfo Ártabro (áreas metropolitanas da Corunha e Ferrol) as de maior densidade de população. A Galiza conta com sete localidades consideradas cidades: as quatro capitais: Corunha, Ponte Vedra, Ourense e Lugo além de outras três cidades: Santiago de Compostela (capital administrativa) e as cidades industriais de Vigo e Ferrol. Assim, o país conta com outros cinco concelhos com mais de 30 mil habitantes, dez concelhos de entre 20 mil e 30 mil habitantes, e trinta e cinco de entre 10 mil e 20 mil. A cidade mais populosa é A Corunha com 213 418 habitantes e o concelho mais povoado é o de Vigo em Ponte Vedra, com 292 817 habitantes, enquanto que no extremo oposto se encontra o de Negueira de Moniz, com 216 habitantes. O mais extenso é o da Fonsagrada, que conta com uma superfície de 438,4 km², e o mais pequeno o de Mondariz-Balneário com 2,3 km². A Corunha é o concelho com maior densidade populacional ( hab./km²) e Vilarinho de Conso é o que conta com a menor densidade populacional da Galiza (2,92 hab./km²). Segundo o censo de 2014, o nível de fertilidade das galegas era de 1,07 filhos por mulher contra os 1,32 estatal e menor que a cifra de 2,1 filhos por mulher necessários para que se produza a substituição geracional da população. Entre as galegas, as ourensãs e as luguesas são as que menos filhos têm, com 0,99 e 1,04, sendo as primeiras das que menos filhos têm em Espanha só acima das asturianas. Em 2013 registaram-se na Galiza um total de nascimentos, o que supõe 1.362 a menos que em 2012, segundo o IGE. Efetivamente, nos últimos anos a Galiza vive uma diminuição paulatina do número absoluto de nascimentos desde o ano 2008, no qual houve 23.175 nascimentos, após um breve período de recuperação entre os anos 2002 e 2008. O crescimento natural, ou seja, a diferença entre o número de pessoas nascidas e as falecidas, é negativo na Galiza desde finais dos anos oitenta. Em 2013 houve um total de falecimentos pelo que a diferença entre falecimentos e nascimentos é de pessoas. Quanto à esperança de vida, os galegos tinham em 2013 uma esperança de vida ao nascer de 82,59 anos (79,48 anos para os homens e 85,59 anos para as mulheres). Desde 1981, ano em que a esperança de vida dos galegos era de 75,4 anos, esta cresceu em 7 anos, graças à melhoria da qualidade de vida. O envelhecimento da população também se manifesta no incremento de idosos de idade avançada que regista gradualmente a comunidade em cada período. A Galiza contava em 1996 com 226 pessoas com mais de cem anos. Dezoito anos depois, o número cresceu para galegos em 2014. Em 2014 residiam na Galiza 98.245 estrangeiros, o que supõe 3,57% do total da população. As nacionalidades predominantes são a portuguesa (19,03% do total de estrangeiros), a romena (9,36%) e a brasileira (8,34%). Cultura. Língua. A língua galega é a língua própria da Galiza, e assim foi reconhecida legalmente no seu Estatuto de Autonomia, tornando-se uma das suas línguas oficiais. É usada maioritariamente pelo povo galego, o 90% afirma usá-lo sempre ou frequentemente. A outra língua oficial é o castelhano, também muito utilizada, que mais do 96% afirma conhecer. Além disso, em várias comarcas de Leão e Astúrias, que limitam com o oriente da Galiza, comarcas, separadas da Galiza administrativa no , fala-se também galego. Estas comarcas são reivindicadas por uma parte do nacionalismo galego como pertencente à nação galega. Disputa linguística. A postura oficial na Galiza afirma a total distinção entre ambas línguas, não havendo nenhuma menção da sua semelhança no Estatuto Autonómico, ainda que se alude ao português, de facto, nas primeiras "Normas ortográficas e morfolóxicas do galego" "(1982)" quando se estabelece que: O Estatuto de Autonomia atribui apenas à Real Academia Galega competência para determinar a normativa da "língua própria" da Galiza. Apesar da aparente apatia do governo local até 2014, quando aprovou a "Lei 1/2014 para o aproveitamento da língua portuguesa e vínculos com a lusofonia", existe, na Galiza, um movimento reintegracionista que defende a tese de que a língua portuguesa e o galego nunca se separaram realmente, sendo variantes ou dialetos da mesma língua, tal como o português de Portugal e o português brasileiro. Denominam, à variante da Galiza, galego, galego-português, portugalego ou português da Galiza. Em 2008 foi constituída a Academia Galega da Língua Portuguesa. Símbolos. Bandeira. A atual bandeira galega foi criada em finais do século XIX pelos galeguistas históricos do Ressurgimento como insígnia nacional, e hasteia desde, pelo menos, 1891. Possui fundo branco e uma faixa azul entre os cantos superior esquerdo e inferior direito. A antiga bandeira possuía com fundo azul e cruzes douradas, com um cálice no centro. Durante a ditadura franquista, criou-se uma nova bandeira sem o cálice mas com uma estrela vermelha. Escudo. O cálice é a figura heráldica que representa a Galiza. Foi documentado pela primeira vez no escudo dos reis da Galiza do "Armorial Segar" da Inglaterra em 1282. Sofreu várias alterações ao longo da história. O atual escudo está descrito no artigo 3.º da Lei de Símbolos da Galiza: Hino. O hino galego, Os Pinos, é o símbolo acústico mais solene da Galiza. O texto consiste nas duas primeiras estrofes do poema "Queixumes dos pinos" de Eduardo Pondal, e a música foi composta por Pascual Veiga. A letra refere-se à Galiza como a nação de Breogão, um herói mítico celta. Foi interpretado pela primeira vez em Havana, Cuba, a 20 de dezembro de 1907. Internet. O domínio de internet proposto para a língua e cultura galegas é o ".gal". A proposta foi aprovada em Junho de 2013 pela Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números. O novo domínio é utilizado para "websites" com conteúdo majoritário em idioma galego, tal como está determinado nas normas da "Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números". Clubes de futebol. Salientam-se as equipas que jogaram na Primeira Divisão, especialmente o Real Club Celta de Vigo, única equipa galega na Primeira Divisão. Outras equipas são: Real Club Deportivo de La Coruña, hoje na Segunda Divisão, única equipa galega que possui títulos oficiais de importância: foi campeã do Campeonato Espanhol de Futebol (ano 2000) e campeã da Taça do Rei de Espanha por duas vezes, em 1995 e 2002, além de ganhar 3 títulos de Supertaça de Espanha nas únicas três vezes que a disputou; o Club Deportivo Lugo, a Sociedad Deportiva Compostela, o Pontevedra Club de Fútbol e o Racing Club de Ferrol.
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Galego
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Galego-português
Galego-português O termo galego-português é a designação contemporânea para a língua românica falada durante a Idade Média nas regiões de Portugal e da Galiza e o atual sistema linguístico que ocupa toda a faixa ocidental da Península Ibérica, incluindo os diversos dialetos das línguas portuguesa e galega, assim como as variedades próprias das Astúrias, Bierzo, Portelas, de Xálima, das Terras de Alcântara, de Olivença e de Barrancos. Para além destes territórios, as aldeias de Rio de Onor e Guadramil também podem ser incluidas nesta faixa, tendo sido até meados do século XX de fala leonesa. O idioma galego-português é o idioma ancestral comum às línguas galaico-portuguesas. Destacou-se pela sua utilização como idioma próprio da poesia trovadoresca não só nos reinos onde era nativa (Portugal, Galiza e Leão) mas também em Castela e, pontualmente, noutros locais da Europa. História. Origem. A língua desenvolveu-se no noroeste da Península Ibérica, na chamada Galécia, com o desenvolvimento do latim vulgar falado pelos conquistadores romanos a partir do Crê-se que pelo século VIII, seria já um idioma distinto. Embora, não tivesse um nome oficial. Documentos mais antigos em galego-português. Embora os documentos escritos em latim no noroeste da Península Ibérica, como a "Carta de Fundação da Igreja de Lardosa" (882 d.C.), anunciem já formas da língua vulgar falada na região, o galego-português surge apenas entre os anos de 1170 e 1220, aproximadamente, sobretudo em documentos de menor importância com palavras ou frases em romance inseridas num latim de pouca qualidade, com a notável exceção do Testamento de Afonso II, rei de Portugal, frequentemente considerado o mais antigo documento efetivamente escrito no que já se podia considerar uma língua nova, diferente do latim. Este conjunto de escassos documentos recebe o nome de "Produção Primitiva", cujos principais marcos históricos são os documentos constantes da lista abaixo. Não foram incluídos na lista documentos de que não existem originais, mas apenas cópias feitas muitas décadas ou séculos depois - como é o caso da "Carta de Doação à Igreja de Sozello ("ou "Souselo")"," cujo original frequentemente se afirma ter sido escrito em 870 a.C., mas do qual só existe uma cópia feita no século XI; ou o texto lírico "Ora faz host'o senhor de Navarra", reprodução de uma narrativa ora que frequentemente se afirma ser anterior a 1200, embora estudiosos considerem que seu primeiro exemplar escrito seja bastante posterior a 1215 (posterior, portanto, ao Testamento de dom Afonso II). Os documentos referidos estão conservados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa, com excepção do testemunho toledano do testamento régio de 1214, conservado no Arquivo da Sé de Toledo (Espanha), e do "Foro do bom burgo de Castro Caldelas" no Arquivo dos Duques de Alba (também na Espanha). A Cessão do mosteiro de Armeses não se conserva em versão original mas em duas cópias do séc. XVIII. Além do "Pacto dos irmãos Pais" (anterior a 15 de abril de 1175), e da Notícia de Fiadores, há outros documentos, também notariais, possivelmente também escritos ainda no século XI, como o "Testamento de Elvira Sanches", que o filólogo português Leite de Vasconcelos estimou ter sido escrito em 1193. Uma análise crítica do panorama completo dos primeiros escritos instrumentais galego-portugueses foi elaborada por José António Souto Cabo. Lírica Galaico-Portuguesa. No seu momento, foi língua culta fora dos reinos da Galiza e de Portugal, nos reinos vizinhos de Leão e Castela. Assim, o rei castelhano Afonso X o Sábio escreveu as suas Cantigas de Santa Maria em galego-português. A sua importância foi tal que é considerada a segunda literatura mais importante durante a Idade Média europeia, só perdendo para o occitano. O documento da lírica galego-portuguesa mais antigo parece ser a cantiga satírica "Ora faz ost'o senhor de Navarra" de João Soares de Paiva, datado de 1196 por alguns. As recompilações líricas medievais galego-portuguesas mais importantes são: Fragmentação. O galego-português, comum à Galiza e a Portugal, teve séculos de existência intermitente como língua nativa de uma comunidade linguística do noroeste peninsular, mas as derrotas que os nobres galegos sofreram no final do século XIV e princípios do século XV provocaram a assimilação da nobreza galega e a dominação castelhana, levando ao desaparecimento público, oficial, literário e religioso do galego como língua de cultura até o final do século XIX. São os chamados "Séculos Escuros". O português, por seu lado, desenvolveu-se livremente na sua deriva própria, pelo facto de Portugal ter sido o único território peninsular que ficou fora do domínio político do Reino de Leão e Castela e do domínio linguístico do castelhano. Controvérsia. Galego-português é um termo envolvido numa controvérsia, na qual participam os círculos académicos oficiais galegos e os grupos reintegracionistas galegos, que designam aos primeiros como isolacionistas. Os reintegracionistas defendem a existência, ainda na atualidade, de uma única língua românica que na Península Ibérica recebe os nomes de galego ou português. Tradição oral na cultura galego-portuguesa. O património cultural imaterial galego-português está presente nas tradições orais populares e é hoje um património em perigo de extinção, o que levou à sua candidatura conjunta pelos governos de Portugal e de Espanha à "Masterpiece of Oral and Intangible Heritage of Humanity" em 2005. O folclore galego-português é rico em tradições orais; estas incluem as "cantigas ao desafio" ou "regueifas", mitos e lendas, cantigas, ditados e lengalengas, além dos falares que retêm uma semelhança ao nível morfológico e sintáctico, no léxico e na fonética. A tradição oral está ligada a diversas actividades tradicionais que se transmitem oralmente, como as celebrações das festas populares tais como o entrudo, o magusto, as festas da coca, o São João, as festas marítimas, romarias, música e danças populares. Nos ofícios, como as actividades piscatórias, a agricultura e o artesanato, além de serem actividades que são transmitidas de geração em geração de forma verbal, cada actividade usa de um vocabulário específico. Também nos costumes, nos falares, nos bailes, nos rituais, na medicina tradicional e na farmacêutica popular, nas artes culinárias, nas superstições e crendices, existe todo um conhecimento que é transmitido oralmente,de geração em geração.
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Guy de Maupassant
Guy de Maupassant Henri René Albert Guy de Maupassant [gi d(ə) mo.pa.ˈsɑ̃] em francês, ou simplesmente Guy de Maupassant, Tourville-sur-Arques, Alta Normandia, 5 de Agosto de 1850—Paris, 6 de Julho de 1893), foi um escritor e poeta francês com predileção para situações psicológicas e de crítica social com técnica realista. Foi amigo do célebre escritor francês Gustave Flaubert, a quem se referia como "mestre". Além de romances e peças de teatro, Maupassant deixou 300 contos, todos obras de grande valor. Merecem destaque, entre os mais famosos, "Mademoiselle Fifi" e "Bola de sebo". "A Pensão Tellier" e "O Horla" podem ser considerados seus contos mais significativos. Faleceu no manicómio pouco antes de completar 43 anos, após tentativa de suicídio originada de perturbações causadas pela sífilis, que o atormentou por mais de uma década. Foi enterrado no cemitério de Montparnasse. Biografia. Henri-René-Albert-Guy de Maupassant foi o primeiro filho de Laure Le Poittevin e Gustave de Maupassant, de prósperas famílias burguesas. Quando Maupassant tinha onze anos e seu irmão Hervé tinha cinco anos, sua mãe, separou-se do marido. Em outubro de 1868, com a idade de 18 anos, salvou o poeta Algernon Charles Swinburne de afogamento na costa da Étretat na Normandia. Na escola secundária, ele conheceu o grande autor Gustave Flaubert. Ele entrou pela primeira vez um seminário em Yvetot mas foi expulso. A Guerra Franco-Prussiana eclodiu logo após sua formatura na faculdade em 1870, e Maupassant se alistou como voluntário. Posteriormente, em 1871, deixou Normandia e se mudou para Paris, onde passou dez anos como funcionário do Departamento da Marinha. Gustave Flaubert tomou-o sob sua proteção e atuou como uma espécie de tutor literário, guiando a sua estreia no jornalismo e na literatura. Foi na casa de Flaubert que conheceu Émile Zola e do romancista russo Ivan Turgenev. Em 1878, foi transferido para o Ministério da Instrução Pública e tornou-se editor de contribuição de vários jornais de referência como Le Figaro, Blas Gil, Le Gaulois e eco l'Paris. Ele dedicou seu tempo livre para escrever romances e contos. Em 1880 publicou o que é considerado sua obra-prima em primeiro lugar, " Boule de SUIF ", que se reuniu com um sucesso instantâneo. Esta foi primeira peça de Maupassant de ficção curta definida durante a Guerra Franco-Prussiana, e foi seguido por histórias curtas, como "Deux Amis", "Savage Mãe" e "Mademoiselle Fifi". A década de 1880-1891 foi o período mais fértil da vida de Maupassant. Tornou-se famoso pelo seu primeiro conto e trabalhou de forma metódica. Em 1881 publicou seu primeiro volume de contos sob o título de La Maison Tellier, que alcançou sua décima segunda edição dentro de dois anos; em 1883 terminou seu primeiro romance, Une Vie, 25 000 cópias que foram vendidos em menos de um ano. Nos seus romances, ele se concentrou todas as suas observações espalhadas em seus contos. Sua segunda novela Bel-Ami, que saiu em 1885, tinha trinta e sete edições em quatro meses. Seu editor, Havard, encomendou obras-primas e Maupassant continuou a produzi-los. Nesta época, ele escreveu o que muitos consideram ser o seu maior romance, Pierre et Jean. Com uma aversão natural à sociedade, ele amava o retiro, solidão e meditação. Ele viajou extensivamente na Argélia, Itália, Inglaterra, Grã Bretanha, Sicília, Auvergne, e de cada viagem trouxe um novo volume. Ele navegava em seu iate privado "Bel-Ami", o nome de seu romance. Conheceu Alexandre Dumas e Hippolyte Taine. Maupassant também escreveu sob vários pseudônimos, como Joseph Prunier, de Guy Valmont, e Maufrigneuse (que ele usou 1881-1885). Encontram-se contos da sua autoria na revista literária portuguesa "A Leitura" (1894-1896). Em seus últimos anos ele desenvolveu um constante desejo de solidão, uma obsessão para a autopreservação, e um medo de morte e paranoia de perseguição enlouquecida que veio da sífilis que contraiu na juventude. Em 2 de janeiro de 1892, Maupassant tentou cometer suicídio cortando sua garganta e estava internado no célebre asilo privado do Dr. Esprit Blanche, em Passy, em Paris, onde morreu de sífilis em 6 de julho de 1893. Era um grande autor e sempre será lembrado como um dos maiores escritores franceses de todos os tempos. Obras. (Por ordem alfabética):
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Giovanni Papini
Giovanni Papini Giovanni Papini (Florença, 9 de janeiro de 1881 – Florença, 8 de julho de 1956) foi um escritor italiano. Inicialmente cético, passou a católico fervoroso. Sua obra "O Diabo" foi tema de grandes discussões e controvérsias. A crítica europeia é de opinião que sua melhor obra é "Gog", uma coletânea de contos filosóficos, escritos num estilo satírico. Escreveu também "Um Homem Acabado" (autobiografia), "Palavras e Sangue" (traduzido no Brasil pelo poeta gaúcho Mario Quintana) e "Juízo Universal" (seu último livro, publicado postumamente). Entre as obras religiosas contam-se "História de Cristo", "Cartas do Papa Celestino VI", "O juízo final". Foi um dos fundadores e editor da revista "Il Leonardo", uma publicação importante do início do século XX na Itália, em que colaboraram grandes intelectuais da época. Dirigiu também as revistas "La Voce" (1908-1913), "Lacerba" (1913-1915) e "La Vera Italia" (1919-1920), todas elas consideradas publicações de vanguarda.
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Guiné-Bissau
Guiné-Bissau Guiné-Bissau, oficialmente República da Guiné-Bissau, é um país da África Ocidental que faz fronteira com o Senegal ao norte, Guiné ao sul e ao leste e com o Oceano Atlântico a oeste. O território guineense abrange km2 de área, com uma população estimada de 2 milhões de pessoas. A Guiné-Bissau fazia parte do Reino de Gabu, bem como parte do Império do Mali. Partes deste reino persistiram até o , enquanto algumas outras estavam sob domínio do Império Português desde o . No , a região foi colonizada e passou a ser referida Guiné Portuguesa. Após a independência, declarada em 1973 e reconhecida em 1974, o nome de sua capital, Bissau, foi adicionada ao nome do país para evitar confusão com a Guiné (a antiga Guiné Francesa) e a Guiné Equatorial (antiga Guiné Espanhola). Foi a primeira colónia portuguesa no continente africano a ter a independência reconhecida por Portugal. A Guiné-Bissau tem um histórico de instabilidade política desde a sua independência e apenas um presidente eleito, José Mário Vaz, conseguiu completar com sucesso um mandato completo de cinco anos. Apenas 60% da população fala português (primeira ou segunda língua), estabelecido como língua oficial durante o período colonial. A grande maioria da população (90,4%) fala kriol, uma língua crioula baseada no português, enquanto o restante dos habitantes falam uma variedade de línguas africanas nativas. As principais religiões são as religiões tradicionais africanas e o islamismo; há uma minoria cristã (principalmente católica romana). O produto interno bruto (PIB) "per capita" do país é um dos mais baixos do mundo. A Guiné-Bissau é membro da União Africana, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, Organização para a Cooperação Islâmica, União Latina, Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Francofonia e da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul. História. Primeiros povos e colonização portuguesa. Antes da chegada dos Europeus e até o , a quase totalidade do território da Guiné-Bissau integrava o Reino de Gabu, tributário do Império do Mali, dos mandingas, que florescera a partir de 1235 e subsistiu até o . Os grupos étnicos eram os balantas, os fulas e os malinquês. O primeiro navegador e explorador europeu a chegar à costa da actual Guiné-Bissau foi o português Nuno Tristão, em 1446. Foram instaladas diversas feitorias na costa da Guiné-Bissau com o objetivo de trocar o vinho, os cereais, o azeite e o sal português pelo ouro, pela malagueta e pelo marfim africano. A colonização só tem início em 1558, com a fundação da vila de Cacheu. A princípio somente as margens dos rios e o litoral foram exploradas. A colonização do interior só se dá a partir do . No XVII, foi instituída a Capitania-Geral da Guiné Portuguesa. Mais tarde, durante o Estado Novo de Salazar, a colónia passaria a ter o estatuto de província ultramarina, com o nome de Guiné Portuguesa. A vila de Bissau foi fundada em 1697, como fortificação militar e entreposto de tráfico de escravos. Posteriormente elevada a cidade, tornar-se-ia a capital colonial em 1941, estatuto que manteve após a independência da Guiné-Bissau. Independência. Em 1956, Amílcar Cabral liderou a fundação do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que, no início da década de 1960, iniciou a luta armada contra o regime colonial. Cabral foi assassinado em 1973, em Conacri, num atentado que o PAIGC atribuiu aos serviços secretos portugueses mas que, na verdade, fora perpetrado por um grupo de guineenses do próprio partido, que acusavam Cabral de estar dominado pela elite de origem cabo-verdiana. Apesar da morte do líder, a luta pela independência prosseguiu, e o PAIGC declarou unilateralmente a independência da Guiné-Bissau em . Nos meses que se seguiram, o ato foi reconhecido por vários países, sobretudo comunistas e africanos. Todavia Portugal só reconheceu a independência da Guiné-Bissau em , após a Revolução dos Cravos — esta devida, em larga medida, ao impasse em que caíra o esforço bélico português nas colónias africanas. Os portugueses começaram então a abandonar a capital, Bissau, ainda em seu poder. Era Vieira. Segundo o projecto político concebido pelo PAIGC, a Guiné e Cabo Verde, inicialmente constituídos como estados separados, tenderiam a formar uma unidade. Assim, após a independência, os dois países passaram a ser dirigidos por um único partido — o PAIGC — até 1980. Mas, em 14 de novembro de 1980, um golpe de estado, empreendido pelo chamado Movimento Reajustador, sob a liderança do Primeiro-Ministro João Bernardo Vieira (Nino Vieira), um prestigiado veterano da guerra contra Portugal, derrubou o primeiro Presidente da República da Guiné-Bissau, Luís Cabral, irmão do falecido Amílcar, e suspendeu a Constituição da República, instituindo o Conselho da Revolução, formado por militares e civis. Extinguia-se, assim, o projecto de unificação dos dois países. Dentre as razões alegadas para o golpe de Estado, foram apontadas: crise política interna do PAIGC e cerceamento de diálogo no interior do partido, crise económica e social no país, com escassez de alimentos básicos, como arroz, batata, óleo e açúcar; prisões e fuzilamentos de ex-comandos africanos, ex-milicianos e de alguns civis, acusados de terem pertencido ou apoiado o exército colonial português. Luís Cabral parte para Cuba e depois para o exílio em Portugal, enquanto que na Guiné eram mostradas valas comuns em Cumeré, Portogole e Mansabá, com os restos mortais de soldados guineenses que lutavam para o Exército Português, fuzilados em massa por ordem do antigo chefe de estado Luís Cabral. Após a derrubada de Luís Cabral, os dirigentes políticos cabo-verdianos decidiram desvincular-se do PAIGC, formando um novo partido, designado por PAICV (Partido Africano para a Independência de Cabo Verde), numa total ruptura política. Até 1984, o país foi controlado por um conselho revolucionário sob a chefia de Nino Vieira. Em 1989, o presidente Nino Vieira começa o esboço de um programa de reformas e liberalização política, abrindo caminho para uma democracia multipartidária. Eliminaram-se vários artigos da Constituição que privilegiavam o papel de liderança do PAIGC, e foram ratificadas leis que permitiam a formação de outros partidos políticos, liberdade de imprensa, sindicatos independentes e direito à greve. Guerra civil e período recente. Em 1994, tiveram lugar as primeiras eleições multipartidárias para a presidência e o parlamento da Guiné-Bissau. Em 1998, o presidente Nino Vieira foi derrubado por um golpe militar liderado pelo brigadeiro Ansumane Mané. Vieira parte para o exílio em Portugal, e, entre 1998 e 1999, o país mergulha praticamente numa guerra civil. Logo após a guerra civil, novas eleições foram convocadas, com a vitória do líder oposicionista Kumba Yalá e do seu partido, PRS (Partido para a Renovação Social). Yalá assume o cargo de presidente da República em 2000. Conhecido como "o homem do barrete vermelho", o novo presidente não tardou a revelar-se uma nulidade a todos os títulos e afinal foi deposto por novo golpe militar, em , sob a alegação de inépcia para resolver os problemas do país. Henrique Rosa assumiu o posto interinamente. Afinal, em , tiveram lugar as eleições legislativas, adiadas inúmeras vezes. Em outubro do mesmo ano, Ansumane Mané, comandante-mor das forças armadas, que nunca vira com bons olhos a ascensão de Kumba Yalá à presidência, protagonizou nova sublevação, mas acabou por ser morto por adversários (a pauladas, segundo fontes referidas por Jaime Nogueira Pinto na obra citada), o que causou uma forte comoção em todo o país. Ainda que envoltas em polémica, as eleições presidenciais de 2005 reconduziram Nino Vieira ao mais alto cargo da nação. A situação geral continuou a degradar-se em todos os domínios: a Guiné-Bissau transformou-se num entreposto do narcotráfico internacional, ponto de distribuição para a América Latina e para a Europa. A , Tagme Na Waie, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e antigo rival político de Nino Vieira, é assassinado num atentado bombista. Alguns militares que lhe eram próximos suspeitaram, embora sem provas, que o presidente estivesse envolvido neste atentado. Na manhã do dia seguinte, , atacaram o palácio presidencial e mataram Nino Vieira. A verdade é que Tagme Na Waie exigira repetidamente o desarmamento da milícia fiel a Nino Vieira, e que tinha havido uma rápida escalada nas disputas pelo governo da Guiné-Bissau. A cúpula militar, que muitos analistas consideram o verdadeiro poder neste pequeno e paupérrimo país, afirmou que os direitos democráticos seriam mantidos e que não se tratava de um golpe de Estado. Mas muitos governos de todo o mundo condenaram o assassinato de Nino Vieira (sem prejuízo de críticas e reservas à sua actuação) e exprimiram séria apreensão com referência à estabilidade política da Guiné-Bissau.. O Presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Raimundo Pereira, assumiu a presidência interinamente, e os partidos políticos guineenses marcaram eleições presidenciais antecipadas para , as quais foram vencidas por Malam Bacai Sanhá, que, anteriormente, foi presidente da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau de 1994 a 1999. Morreu na capital francesa, quando ainda era presidente, em 9 de janeiro de 2012, de causas desconhecidas. Interinamente, assumia o posto de presidente da República Raimundo Pereira, que já era o chefe de Governo em funções durante a enfermidade de Bacai Sanhá. A transição da Guiné-Bissau para a democracia continua, no entanto, dificultada pela debilidade da sua economia, pela devastação provocada pela guerra civil e pela instabilidade política. A , assistiu-se a uma nova tentativa de golpe de estado, desta vez contra o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e o chefe das Forças Armadas, tenente-general Zamora Induta. A partir de 2009, quando do assassinato do presidente da Guiné-Bissau, João Bernardo Vieira, o Brasil tem-se comprometido com a pacificação do país. O Brasil preside a Configuração Específica da Guiné Bissau da Comissão de Consolidação da Paz (CCP) das Nações Unidas, criada por iniciativa brasileira. Há, ainda, o Centro de formação para as forças de segurança da Guiné-Bissau, patrocinado pelo Brasil, para limitar o papel das forças armadas às questões militares. A cooperação técnica brasileira em ciclos eleitorais, uma das mais avançadas do mundo, tem sido prestada por meio de cooperação triangular, a exemplo do Memorando de Entendimento Brasil-Estados Unidos-Guiné Bissau para apoio a atividades parlamentares. Golpe de estado. A 12 de abril de 2012, uma acção militar levada a cabo por militares guineenses atacam a residência do ex-primeiro-ministro e candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior presidente do PAIGC, e ocuparam vários pontos estratégicos da capital da Guiné-Bissau, alegando defender as Forças Armadas de uma alegada agressão de militares angolanos, que segundo o autodenominado Comando Militar, teria sido autorizada pelos chefes do Estado interino e do Governo. No entanto, no imediato o panorama é dos mais confusos quanto a actores e motivações. Enquanto a ONU, a União Africana e a União Europeia exigiram a restauração imediata da ordem constitucional, a CEDEAO impôs em 11 de maio Manuel Serifo Nhamadjo, presidente da Assembleia Nacional, como Presidente Interino do país, com mandato para um ano. Geografia. Com uma área de 36 126 km², o país é maior que a Bélgica, Taiwan, Haiti ou mesmo os estados brasileiros de Alagoas e Sergipe. O país estende-se por uma área de baixa altitude. O seu ponto mais elevado está 300 metros acima do nível do mar. O interior é formado por savanas e o litoral por uma planície pantanosa. O período chuvoso alterna com um período de seca, com ventos quentes vindos do deserto do Sahara. O arquipélago dos Bijagós situa-se a pouca distância da costa. Clima. Situada aproximadamente a meia distância entre o equador e o Trópico de Câncer, a Guiné-Bissau tem clima tropical, caracteristicamente quente e húmido. Há duas estações distintas: a estação das chuvas e a estação seca. O território insular, composto por mais de 80 ilhas, exibe algumas das melhores praias da África Ocidental. A estação das chuvas estende-se de meados de maio até meados de novembro, com maior pluviosidade em julho e agosto. A estação seca corresponde aos restantes meses do ano. Os meses de dezembro e janeiro são os mais frescos. No entanto, as temperaturas são muito elevadas durante todo o ano. Áreas Protegidas. As áreas protegidas da Guiné-Bissau incluem várias tipologias de conservação, destacando-se a Reserva da Biosfera do Arquipélago dos Bijagós, classificada pela UNESCO em 1996. Demografia. Composição étnica. A população da Guiné-Bissau é etnicamente diversa e tem muitas línguas, costumes e estruturas sociais distintos. Ela pode ser dividida nos seguintes grupos étnicos: fulas e os povos de língua mandinga, que compõem a maior parte da população e estão concentrados no norte e nordeste do território; os balantas, que vivem nas regiões costeiras do sul; e os manjacos, que ocupam as áreas costeiras do centro e norte. A maioria do restante são mestiços, com ascendência mista de portugueses e africanos, além de uma minoria de Cabo Verde. Os nativos de Portugal compreendem atualmente uma percentagem muito pequena da população do país. Depois que Guiné-Bissau conquistou a independência, a maioria dos cidadãos portugueses deixou o país. O país tem uma pequena população de chineses. Estes incluem comerciantes de ascendência portuguesa e chinesa de Macau, uma antiga colónia portuguesa na Ásia. Idiomas. Apenas uma pequena minoria da população do país tem o português, língua oficial e idioma usado pelo governo desde os anos coloniais, como língua materna. Cerca de 60% dos guineenses conseguem falar este idioma, principalmente como segunda língua. Cerca de 90,4% da população fala kriol, uma língua crioula baseada no português e que é efetivamente a língua nacional de comunicação. O restante fala uma variedade de línguas africanas nativas das suas diferentes etnias que convivem no seu seio. A maioria dos portugueses e mestiços falam uma das línguas africanas e o crioulo como segunda língua. O francês é ensinado nas escolas, porque o país é cercado por nações de língua francesa, além de ser membro da Francofonia. Religião. Ao longo do , a maioria dos guineenses praticava alguma forma de animismo. No início do , muitos se converteram ao islamismo, que hoje é praticado por 46,1% da população do país. A maioria dos muçulmanos da Guiné-Bissau é da denominação sunita, sendo que cerca de 2% pertencem à seita Ahmadi. O cristianismo é seguido por cerca de 18,9% da população do país e 30,6% continuam a manter as crenças nativas. Essas estatísticas podem ser enganadoras, no entanto, como muitos moradores praticam formas sincréticas das religiões islâmica e cristã, combinando suas práticas com as crenças tradicionais africanas. Governo e política. A Guiné-Bissau é uma república. No passado, o governo havia sido altamente concentrado no governo central. A descentralização da administração não foi estabelecida até meados de 1991. O presidente é o chefe de Estado e o primeiro-ministro é o chefe de governo. O poder legislativo, a unicameral Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau é a instituição máxima e é composta por 100 membros. Eles são eleitos pelo voto popular a partir de círculos pronominais para um mandato de quatro anos. O sistema judicial é dirigido por um Supremo Tribunal da Justiça, composto por nove juízes nomeados pelo presidente. Estabilidade. A Guiné-Bissau tem uma história de fragilidade política e institucional que remonta ao tempo da sua independência de Portugal em 1974. É um dos países do mundo mais propício a golpes de estado e politicamente instável. Desde a independência, registaram-se quatro golpes de estado bem-sucedidos na Guiné-Bissau e outros 16 golpes tentados, planeados ou suspeitos. Para além dos golpes militares, as frequentes mudanças de governo são outra manifestação da instabilidade política do país. No entanto, nos últimos anos a situação tem vindo a mudar e os governos têm sido mais estáveis. A corrupção continua a ser um problema constante no governo da Guiné-Bissau. Histórico. João Bernardo "Nino" Vieira foi eleito em 2005 como presidente da Guiné-Bissau como um Estado independente, sendo vencedor declarado do segundo turno das eleições pelo Comité Nacional de Eleições. Vieira voltou ao poder em 2005, seis anos depois de ter sido afastado do cargo durante uma guerra civil. Anteriormente, ele ocupou o poder por 19 anos após a tomada do poder em 1980 em um golpe de Estado. Nessa ação, derrubou o governo de Luís Cabral. Vieira foi morto em 2 de março de 2009, possivelmente por soldados em retaliação pelo assassinato do General Batista Tagme Na Waie. A morte de Vieira não provocou violência generalizada, mas houve sinais de turbulência no país, de acordo com o grupo de defesa Swisspeace. Malam Bacai Sanhá foi eleito após uma transição. Na eleição de 2009 para substituir Vieira, Sanhá foi o candidato presidencial do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), enquanto Kumba Ialá foi o candidato presidencial do PRS. Em 2012, o presidente Malam Bacai Sanhá morreu. Ele pertencia ao PAIGC, um dos dois principais partidos políticos da Guiné-Bissau, juntamente com o PRS Partido de Renovação Social (PRS). Há outros 20 partidos menores. Após a morte de Sanhá, organizaram-se eleições presidenciais ainda durante o ano de 2012. Esse processo eleitoral não chegou a ser concluído, tendo o país entrado novamente em período de transição, que terminou com o acto eleitoral do dia 13 de abril de 2014. Nesse dia o povo guineense votou quer para as eleições presidenciais, quer para as eleições legislativas. José Mário Vaz, apoiado pelo Partido Africano da Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), obteve 61,9% dos votos na segunda volta das eleições presidenciais enquanto que o candidato Nuno Nabian, candidato independente apoiado pelo Partido da Renovação Social (PRS) recolheu 38,1%. Relativamente às eleições legislativas, o PAIGC conquistou a maioria absoluta, com 55 dos 102 lugares da Assembleia Nacional Popular. Em segundo lugar ficou o Partido da Renovação Social (PRS) elegendo 41 deputados. Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, tornou-se assim, por inerência, o primeiro-ministro. Após pouco mais de um ano em funções, o Governo de Domingos Simões Pereira foi demitido por decreto presidencial a 12 de agosto de 2015. A 20 de agosto de 2015 o presidente José Mário Vaz nomeia, à revelia do PAIGC, Baciro Djá como novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau. No entanto o Supremo Tribunal de Justiça (que na falta de um Tribunal Constitucional assume essas funções) julgou inconstitucional a nomeação de Baciro Djá, pelo que ele é exonerado de suas funções no dia 8 de setembro de 2015. A 17 de setembro de 2015 — e após intensas negociações entre o presidente da república e o PAIGC — Carlos Correia é nomeado Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, a 12 de outubro de 2015 e tomado posse no dia seguinte. Relações exteriores. Portugal. Guiné-Bissau mantém boas relações com Portugal, nos últimos anos, muitos guineenses da Guiné-Bissau têm emigrado para Portugal e a comunidade de imigrantes neste país já é relativamente grande. A maioria dos laços entre Portugal e Guiné-Bissau são económicos, quase 40% das importações da Guiné-Bissau provêm de Portugal. Nos últimos 5 anos, o comércio entre Portugal e a Guiné-Bissau tem aumentado muito. Em diversos setores económicos, Portugal está muito presente. Portugal é um dos maiores parceiros comerciais da Guiné-Bissau. EUA. As relações entre a Guiné-Bissau e os Estados Unidos, são fortes. Os EUA doaram milhões de dólares em ajuda alimentar e em construção de infraestruturas e serviços básicos. Desde 1990, que os EUA já financiaram programas para a desminagem, desativando minas terrestres. Além disso, a promoção da democracia e a indústria agrícola são alvos do investimento americano. China. Entre 1990 e 1998, a Guiné-Bissau reconheceu Taiwan como a China legítima, no entanto, em 1998, passou a reconhecer a República Popular da China. A China tem financiado algumas construções na Guiné-Bissau, como estádios desportivos e edifícios governamentais, em troca de direitos exclusivos sobre a pesca e a exploração florestal da Guiné-Bissau. A China também investiu no melhoramento nas telecomunicações na Guiné-Bissau. Rússia. A relação com a Federação Russa, vem dos tempos da União Soviética, em que a URSS financiou a Guiné-Bissau, principalmente fornecendo-lhes muito material militar. Vários acordos bilaterais foram assinados, principalmente nos setores culturais e de transportes. As relações esfriaram depois da queda da União Soviética. Cabo-Verde. A relação entre Cabo-Verde e Guiné-Bissau é antiga, ambos faziam parte da mesma administração portuguesa e do mesmo país até se separarem em 1980. Muitos turistas cabo-verdianos visitam a Guiné-Bissau e vice-versa. Ambos têm uma cultura, demografia e governo muito similares. Outros. Guiné-Bissau também tem uma relação boa com a Índia, que é o maior importador de produtos da Guiné-Bissau. O Brasil apoia muitos projetos na área da educação, saúde e agricultura na Guiné-Bissau. A Guiné-Bissau reconheceu a independência de Kosovo e o direito de ser um país soberano. Organizações internacionais. A Guiné-Bissau é membro das Nações Unidas, da União Africana e da CPLP. Subdivisões. A Guiné-Bissau é dividida em oito regiões e um sector autónomo: Economia. O produto interno bruto (PIB) "per capita" da Guiné-Bissau é um dos mais baixos do mundo, enquanto o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) também é um dos piores do planeta. Mais de dois terços da população vive abaixo da linha da pobreza. A economia depende principalmente da agricultura; peixes, castanha de caju e nozes moídas são os seus principais produtos de exportação. Um longo período de instabilidade política resultou em uma atividade econômica deprimida, na deterioração das condições sociais e no aumento dos desequilíbrios macroeconómicos. Leva mais tempo, em média, para registrar um novo negócio na Guiné-Bissau (233 dias ou cerca de 33 semanas) do que em qualquer outro país do mundo, exceto o Suriname. A Guiné-Bissau começou a mostrar alguns avanços econômicos depois que um pacto de estabilidade foi assinado pelos principais partidos políticos do país, levando a um programa de reforma estrutural que foi auxiliado pela Fundo Monetário Internacional (FMI). Os principais desafios para o país no período que se avizinha são atingir a disciplina fiscal, reconstruir a administração pública, melhorar o clima económico para o investimento privado e promover a diversificação económica. Depois que o país tornou-se independente de Portugal em 1974, devido à Guerra Colonial Portuguesa e a Revolução dos Cravos, o rápido êxodo de civis, militares e autoridades políticas portuguesas resultou em danos consideráveis ​​à infraestrutura econômica, ordem social e qualidade de vida do país. Após vários anos de recessão econômica e instabilidade política, em 1997, Guiné-Bissau entrou no sistema monetário Franco CFA, o que trouxe alguma estabilidade monetária interna. A guerra civil, que ocorreu em 1998 e 1999, e um golpe militar em setembro de 2003 novamente interromperam a atividade econômica, deixando uma parte substancial da infraestrutura econômica e social em ruínas e intensificando a pobreza já generalizada da população. Após as eleições parlamentares de março de 2004 e as eleições presidenciais em julho de 2005, o país está tentando se recuperar do longo período de instabilidade, apesar de situação política ainda frágil. O país também é membro da Organização para a Harmonização em África do Direito dos Negócios (OHADA). Por volta de 2005, os narcotraficantes com base na América Latina começaram a usar Guiné-Bissau, juntamente com várias nações da África Ocidental, como um ponto de transbordo de cocaína para a Europa. A nação foi mencionada por um funcionário das Nações Unidas por estar em risco para se tornar um "narco-Estado". O governo e os militares tem feito pouco para impedir o tráfico de drogas, que aumentou após o golpe de Estado de 2012. Infraestrutura. Saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que há menos de cinco médicos para cada grupo de no país. A prevalência de infecção pelo HIV entre a população adulta é de 1,8%, com apenas 20% das mulheres grávidas infectadas recebendo cobertura antirretroviral. Os casos de malária são ainda maiores, com 9% da população relatando infecção, sendo uma causa de mortalidade específica quase três vezes mais do que a AIDS. Em 2008, menos da metade das crianças com menos de cinco anos de idade dormia sob mosquiteiros ou tiveram acesso a antimaláricos. A esperança de vida ao nascer vem crescendo desde 1990, mas continua a ser baixa. De acordo com a OMS, a esperança de vida para uma criança nascida em 2008 era de 49 anos. Apesar da redução de casos em países vizinhos, taxas de cólera foram notificadas em novembro de 2012, com casos apresentados e 9 mortes. Uma epidemia de cólera em 2008 na Guiné-Bissau afetou 14 222 pessoas e matou outras 225. Em junho de 2011, o Fundo de População das Nações Unidas divulgou um relatório sobre o estado da obstetrícia do mundo, contendo dados sobre a força de trabalho e as políticas relacionadas com a mortalidade neonatal e materna em 58 países. Neste relatório foi apresentado que, em 2010, a taxa de mortalidade materna a cada 100 000 nascidos é de 1 000, na Guiné-Bissau. Educação. A educação é obrigatória a partir dos 7 anos de idade. A matrícula dos meninos é mais alta do que a de meninas. O trabalho infantil é muito comum no país. Em 2011, a taxa de alfabetização foi estimada em 55,3% (68,9% do sexo masculino, e 42,1% do sexo feminino). Por outro lado, Guiné-Bissau tem várias escolas secundárias (em geral, assim como técnica) e um surpreendente número de universidades privadas, sendo que as públicas, como a Escola Nacional de Administração, a Escola Superior de Educação e a Faculdade de Direito estão federadas dentro da Universidade Amílcar Cabral, enquanto a Faculdade de Medicina Raúl Diaz Arguelles está inclusa dentro da Escola Nacional de Saúde. Em 1998, a taxa de escolarização primária bruta era de 53,5%, com uma taxa maior para o sexo masculino (67,7%) em relação ao sexo feminino (40%). Desde 2001, a Guiné-Bissau tem se recuperado do conflito civil de 1999, mas a guerra civil e conflitos posteriores deslocaram um terço da população, destruíram muitas escolas e impediram que a maioria das crianças e jovens frequentassem a escola por, pelo menos, metade de um ano. Comunicações. O número de telemóveis registados cresceu de 20 000 para 40 000 entre janeiro de 2007 e janeiro de 2008, representando uma taxa de penetração de cerca de 3 por cento da população. Actualmente, operam no país 3 grandes empresas de telemóveis: a MTN (que substituiu a Areeba), a Orange e a Guine Tel. Na cidade de Bissau, são vendidos cartões pré-pagos e pacotes iniciais de todas as redes. As chamadas nacionais funcionam facilmente e com qualidade aceitável. Já as mensagens internacionais funcionam menos regularmente. Cultura. A Guiné-Bissau possui um património cultural bastante rico e diversificado. As diferenças étnicas e linguísticas produziram grande variedade a nível da dança, da expressão artística, das profissões, da tradição musical, das manifestações culturais. A dança é, contudo, uma verdadeira expressão artística dos diversos grupos étnicos. Os povos animistas caracterizam-se pelas belas e coloridas coreografias, fantásticas manifestações culturais que podem ser observadas correntemente por ocasião das colheitas, dos casamentos, dos funerais, das cerimónias de iniciação. O estilo musical mais importante é o gumbé. O Carnaval guineense, completamente original, com características próprias, tem evoluído bastante, constituindo uma das maiores manifestações culturais do País. Na literatura, ainda considerada incipiente, destacam-se os nomes de de Abdulai Silla, autor do primeiro romance de Guiné-Bissau, e Marinho de Pina. Música. A música da Guiné-Bissau é geralmente associada com o gumbé, um gênero polirrítmico, a principal exportação musical do país. No entanto, a agitação civil e outros fatores se combinaram ao longo dos anos para manter o gumbé e outros gêneros longe do público, mesmo nos países africanos, em geral sincretistas. O afoxé é o principal instrumento musical do país e é usado em extremamente rápida e ritmicamente complexa música de dança. As composições são quase sempre em kriol, uma língua crioula baseada no português, e são muitas vezes bem-humoradas, além de geralmente girar em torno de eventos e controvérsias atuais do país, especialmente a SIDA. A palavra "gumbé" às vezes é usado genericamente, para se referir a qualquer música do país, embora se refira mais especificamente a um estilo musical único que combina cerca de dez tradições da música popular do país. Tina e tinga são outros gêneros populares, enquanto tradições populares incluem músicas cerimoniais usada em funerais, iniciações e outros rituais, além da "brosca" e "kussundé" dos balantas, o "djambadon" dos mandingas e o "kundere" do Arquipélago dos Bijagós. Cinema. Flora Gomes é um director de cinema guineense de renome internacional; seu filme mais famoso é "Nha Fala" (2002). O filme "Mortu Nega" (1988), de Gomes, foi o primeiro filme de ficção e o segundo filme já feito na Guiné-Bissau. O primeiro longa-metragem foi "N'tturudu", do diretor Umban u'Kest em 1987. No FESPACO de 1989, "Mortu Nega" ganhou o prestigioso Prêmio Ganda Oumarou. "Mortu Nega" foi feito em crioulo com legendas em inglês. Em 1992, Gomes dirigiu "Udju Azul di Yonta", que foi exibido na mostra "Un certain regard", no Festival de Cannes de 1992. Gomes também atuou nos conselhos de muitos festivais de cinema da África Ocidental. Desporto. No desporto, destaca-se a Seleção Guineense de Futebol.
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Guglielmo Marconi
Guglielmo Marconi Guglielmo Marconi (Bolonha, – Roma, ) foi um físico e inventor italiano. Em língua portuguesa, é por vezes referido por "Guilherme Marconi." Carreira. Inventor do primeiro sistema prático de telegrafia sem fios (TSF), em 1896. Marconi se baseou em estudos apresentados em 1897 por Nikola Tesla para em 1899 realizar a primeira transmissão através do Canal da Mancha. A teoria de que as ondas electromagnéticas poderiam propagar-se no espaço, formulada por James Clerk Maxwell, e comprovada pelas experiências de Heinrich Hertz, em 1888, foi utilizada por Marconi entre 1894 e 1895. Tinha apenas vinte anos, em 1894, quando transformou o celeiro da casa onde morava em laboratório e estudou os princípios elementares de uma transmissão radiotelegráfica, uma bateria para fornecer eletricidade, uma bobina de indução para aumentar a força, uma faísca elétrica emitida entre duas bolas de metal gerando uma oscilação semelhante às estudadas por Heinrich Hertz, um Coesor, como o inventado por Édouard Branly, situado a alguns metros de distância, ao ser atingido pelas ondas, acionava uma bateria e fazia uma campainha tocar. Em 1896, foi para a Inglaterra, depois de verificar que não havia nenhum interesse por suas experiências na Itália. Em 1899, teve sucesso na transmissão sem fios do código Morse através do Canal da Mancha. Dois anos mais tarde, conseguiu que sinais radiotelegráficos (a letra S do código morse) emitidos de Inglaterra, fossem escutados claramente em St. John's (Terra Nova, hoje parte do Canadá), atravessando o Atlântico Norte. A partir daí, fez muitas descobertas básicas na técnica rádio. Em 1909, 1700 pessoas são salvas de um naufrágio graças ao sistema de radiotelegrafia de Marconi. Em 1912 a companhia Marconi já produzia aparelhos de rádio em larga escala, particularmente para navios. Em 1915, durante e depois da Primeira Guerra Mundial assumiu várias missões diplomáticas em nome da Itália e em 1919 foi o delegado italiano na Conferência de Paz de Paris. Em sua infância, passava muito tempo viajando com a sua mãe Anna, que adorava a região do porto de Livorno, na costa oeste da Itália, onde vivia sua irmã, dessas viagens a Livorno, surge o amor de Marconi pelo mar. Em Livorno estava instalada uma academia da marinha real italiana, a Regia Marina, Marconi tinha o incentivo do pai (Giuseppe) para entrar na academia naval, mas não conseguiu, no entanto, seu amor pelo mar o acompanhou durante toda a vida. Em 1920, partiu para a sua primeira viagem no "Elettra", um navio de 61 metros que comprou e equipou para ser seu laboratório no estudo de ondas curtas e também seu lar. Além de sua família, as cabines do "Elettra" recebiam visitantes ilustres, entre eles os reis da Itália, da Espanha e Jorge V e a rainha Maria de Teck. As festas no "Elettra" tornaram-se célebres pelas músicas transmitidas pelo rádio diretamente de Londres. A companhia Marconi montou o novo "Imperial Wireless Scheme", destinado a montar estações de ondas curtas em todo o território britânico. Em 1929, em reconhecimento por seu trabalho, recebeu do Vítor Emanuel III da Itália o título de marquês. Em 12 de outubro de 1931 acendeu, apertando um botão em Roma, as luzes do Cristo Redentor na noite de inauguração da estátua ("ver: Rádio no Brasil"). Em outubro de 1943, a Suprema Corte dos Estados Unidos considerou ser falsa a reclamação de Marconi que afirmava nunca ter lido as patentes de Nikola Tesla e determinou que não havia nada no trabalho de Marconi que não tivesse sido anteriormente descoberto por Tesla. Infelizmente, Tesla tinha morrido nove meses antes. No entanto, muito embora Marconi não tenha sido o inventor de nenhum dispositivo em particular (ao usar a bobina de Ruhmkorff e um faiscador, como antes o haviam feito De Forest e Tesla na emissão, repetiria Hertz, gerando as ondas hertzianas (Experimento de Hertz com um "Ressoador de Hertz") e usou o radiocondutor-detector Coesor de Branly na recepção, acrescentando a antena de Popov a ambos os casos) parece ser possível afirmar que Marconi é, na verdade, o inventor da rádio, (na forma da Radiotelegrafia e Radiotelefonia, Telefonia sem fio) visto que ninguém, antes dele, tivera a ideia de usar as ondas hertzianas com os objectivos de forma prática ou rotineira, de comunicação (exceto Landell de Moura). Lee de Forest o havia feito, mas apenas para testar a sua válvula eletrônica. Tendo seu valor reconhecido, Marconi foi agraciado em 1909, recebendo juntamente com o alemão Karl Ferdinand Braun o Nobel de Física. Braun é o descobridor dos semicondutores, dentre eles o sulfeto de chumbo natural, um mineral conhecido como galena, base do histórico rádio de galena.
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Grande Lisboa
Grande Lisboa Localização da Grande Lisboa A Grande Lisboa era uma sub-região estatística portuguesa NUTS 3, parte da atual região da Área Metropolitana de Lisboa (então designada de Região de Lisboa) e do Distrito de Lisboa. Limitava a norte com a sub-região do Oeste, a leste com a sub-região da Lezíria do Tejo, a sul com o Estuário do Tejo e, através dele, com a (igualmente extinta) sub-região da Península de Setúbal, e a oeste com o Oceano Atlântico. Tinha uma área de 1 381 km². A sub-região da Grande Lisboa compreendia 9 concelhos e uma população de 2 242 326 habitantes (censos de 2013). Os concelhos abrangidos eram: A sub-região compreendia ainda outras cidades: Agualva-Cacém e Queluz (no concelho de Sintra), Alverca e Póvoa de Santa Iria (no concelho de Vila Franca de Xira) e Sacavém (no concelho de Loures). Os municípios mais populosos eram Lisboa e Sintra, enquanto que as localidades mais populosas eram Lisboa, Queluz, Amadora, Algueirão-Mem Martins e Agualva-Cacém. Cultura. Na Grande Lisboa acontecia o Festival de Música de Sintra e o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.
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Graciosa
Graciosa A Graciosa é uma ilha situada no extremo noroeste do Grupo Central do arquipélago dos Açores, 37 km a nordeste da ilha de São Jorge e 60 km a noroeste da Terceira, com centro aproximadamente nas coordenadas geográficas 28° 05’ W e 39° 05’ N. Tem uma área aproximada de 60,66 km² e formato grosseiramente oval, com 12,5 km de comprimento e 7,5 km de largura máxima. É a menos montanhosa das ilhas açorianas, atingindo 405 metros de altitude máxima no bordo sul da Caldeira. Esta baixa elevação confere à ilha um clima temperado oceânico, caracterizado pela menor pluviosidade do arquipélago. A baixa pluviosidade leva à relativa secura da ilha, o que lhe dá no fim do estio uma tonalidade esbranquiçada, que associada ao casario branco das povoações lhe deu o epíteto de "ilha Branca", que lhe foi atribuído por Raul Brandão na obra "As Ilhas Desconhecidas" (1926). Tem 4 301 habitantes (2021), na maioria concentrados na sede do único concelho da ilha, a vila de Santa Cruz da Graciosa, cujo centro histórico constitui, pela riqueza e equilíbrio da sua arquitectura, uma zona classificada. No passado, quando a população foi muito superior à actual, a falta de água constituiu um sério problema, levando à construção de reservatórios (tanques) e cisternas de vária natureza e aos emblemáticos tanques ("pauis") que são hoje a marca da principal praça de Santa Cruz da Graciosa. A paisagem da Graciosa é de grande beleza, conjugando o verde das pastagens com o branco das casas isoladas e das povoações. Um dos "ex libris" da ilha é uma formação rochosa de grandes dimensões, em frente ao farol da Ponta da Barca, com uma configuração muito parecida com uma baleia vista de perfil. Possui campos férteis e aplainados que produzem milho, hortícolas, fruta (principalmente a meloa) e vinho (do qual se produzia uma aguardente licorosa designada por andaia) e onde se cria gado bovino, hoje a principal fonte de riqueza da ilha. Geomorfologia e geologia. A Graciosa situa-se no extremo noroeste da estrutura tectónica designada por rifte da Terceira, no fundo daquela zona do oceano Atlântico, com uma direcção geral sudeste-noroeste, coincidente com o eixo geral do arquipélago. Essa estrutura geológica conferiu à ilha uma configuração alongada ao longo do eixo do rifte, formando uma ovóide com 12,5 km de comprido por 7,5 km de largura máxima. A linha de costa, muito acidentada e recortada por pequenas calhetas, é em geral baixa, com excepção do troço noroeste, correspondente à Serra Branca, onde a falésia excede os 300 metros de altura. Na costa abrem-se duas baías pouco profundas, a sueste surge a baía da Praia, onde se situa o porto da Vila da Praia, porto comercial e de pescas da ilha, e a sudoeste surge a baía do Filipe. A nordeste na zona de Santa Cruz da Graciosa abrem-se algumas pequenas calhetas, muito expostas ao mar, onde se anicham o porto de Santa Cruz, hoje zona balnear, e o cais da Barra, antigo porto baleeiro e comercial, hoje reduzido ao recreio náutico. O território da ilha apresenta um relevo em geral aplainado, marcado por numerosos cones de escórias que lhe dão um carácter marcadamente vulcânico, com um relevo mais acentuado na parte meridional. A ilha pode ser dividida em cinco Complexo da Serra das Fontes. A Serra das Fontes ocupa a face norte da região central da ilha, apresentando um relevo complexo, muito alterado pela tectónica, com escarpas abruptas nos seus limites sudoeste e leste, sugerido a existência de falhas com um grande rejeito vertical. A altitude máxima deste maciço, 375 m apenas, é atingida no Pico do Facho, um cone de escórias bem conservado. O litoral sueste do maciço é marcado pelo Quitadouro, um cone de bagacina em parte desmantelado pela erosão marinha. Ao longo do vale que separa a Serra das Fontes do Maciço da Caldeira existe uma escoada basáltica recente (<3 900 anos) que forma o "mistério" que marca a periferia norte da vila da Praia. A complexidade do relevo e a pequenez das bacias hidrográficas leva a que nesta região a rede de drenagem superficial seja incipiente, não apresentado qualquer curso estruturado. A zona mais alta da Serra apresenta algumas camadas superficiais relativamente impermeáveis, resultantes de paleo-solos soterrados e da formação de horizontes plácicos cimentados por óxidos de ferro e de manganésio. Estas camadas menos permeáveis constituem os aquitardos que permitem o aparecimento de múltiplas pequenas nascentes, muito valorizadas dada a escassez hídrica da ilha, que deram ao maciço o nome de Serra das Fontes, dado seu aproveitamento para abastecimento de água. Complexo da Baía do Filipe. O Complexo da Baía do Filipe desenvolveu-se entre 472 000 e 433 000 anos de duas maneiras diferentes: a sudoeste (no mar) como um vulcão principal, e a noroeste, sobre os resquícios subaéreos do Complexo da Serra das Fontes, como edifícios vulcânicos secundários. As erupções foram inicialmente efusivas e produziram fluxos de lavas basálticas, e posteriormente evoluíram para fluxos de lavas traquíticas. Podemos observar resquícios de rochas traquíticas, testemunhos deste complexo vulcânico, na localidade de Pedras Brancas. Complexo da Serra Branca e Serra Dormida. O maciço da Serra Branca e da Serra Dormida é formado por duas linhas de relevo, as duas serras que lhe dão o nome, separadas por uma depressão quase linear de orientação noroeste-sueste. A Serra Dormida, que constitui o flanco norte do maciço, é um alinhamento de cones vulcânicos, com as respectivas crateras, formados essencialmente por bagacinas basálticas avermelhadas, que atinge a sua maior altitude no Pico Timão (398 m), um grande cone detrítico encimado por uma cratera bem definida. O flanco sul do maciço constitui a Serra Branca, também esta um conjunto de estruturas vulcânicas grosseiramente agrupadas em torno de um alinhamento paralelo ao eixo do Rifte da Terceira, com a sua cota máxima (375 m) na elevação onde se situa o Parque Eólico da Graciosa. As escarpas da Serra Branca constituem o troço mais elevado da costa da ilha, com uma falésia com mais de 300 m de altura, em grande parte compostas por depósitos espessos de traquito esbranquiçado, que dá o nome à Serra. A rede de drenagem desta região, apesar da pequenez das bacias drenantes, apresenta algum grau de organização. Complexo de Cobertura Basáltica (ex. Complexo Vulcânico da Vitória ou Plataforma de Santa Cruz). A plataforma de Santa Cruz é uma região aplainada, com cotas médias em torno dos 50 m, pontuada por cerca de 40 cones vulcânicos de bagacina basáltica, com grandes declives e crateras bem definidas. O mais alto desses cones é o pico das Caldeiras (181 m). De entre os cones destacam-se o Pico do Jardim e o Monte de Nossa Senhora da Ajuda, que flanqueiam a vila de Santa Cruz da Graciosa. Devido ao seu fraco declive, esta região da ilha é desprovida de rede de drenagem superficial, sendo uma área de grande infiltração, contribuindo para a produtividade do aquífero basal da ilha, o qual aflora ao longo do litoral e é captado em múltiplos poços de maré. Os solos desta região são de grande fertilidade, a que se associa a sua planura e baixa altitude, produzindo condições muito propícias à produção hortícola, com destaque para a produção de meloa e de alhos, produtos que dão fama à ilha. As zonas recobertas por lavas recentes são ocupadas por vinhedos, os quais foram em tempos a principal fonte de riqueza da ilha e que ainda justificam que a Graciosa seja uma região demarcada onde se fabricam vinhos licorosos de qualidade produzido em região determinada. Vulcão central (Maciço da Caldeira). O Maciço da Caldeira ocupa o terço sueste da ilha, com uma morfologia nitidamente diferenciada do resto do território, do qual está separado por um longo vale que se estende desde a vila da Praia até à Folga, seguindo pelas localidades da Canada Longa e das Pedras Brancas. Com a sua morfologia bem determinada pelo Rifte da Terceira, a maciço alonga-se ligeiramente no sentido sueste-noroeste, tendo no seu interior uma caldeira de bordos bem marcados, também ela ovóide, com cerca de 1 600 m de comprimento e 900 m de largura. No centro desta caldeira situa-se a Furna do Enxofre, uma cavidade vulcânica de grandes dimensões que contém no seu interior uma lagoa e um pequeno campo fumarólico. As vertentes do maciço são de forma regular, com um declive que se acentua com a aproximação do bordo da caldeira, o qual é marcadamente assimétrico, atingindo a cota máxima de 405 m (Pico do Coirão) acima do nível do mar no seu extremo sueste (o ponto mais elevado da ilha) contra apenas 250 m no bordo noroeste. Inserem-se nesta unidade geomorfológica os ilhéus da Praia e de Baixo, restos de cones periféricos, fortemente palagonitizados, muito desmantelados pela força erosiva do mar. Na costa sueste e sul do maciço encontra-se algumas nascentes termais, uma das quais, a do Carapacho, é aproveitada nas Termas do Carapacho, um dos mais antigos estabelecimentos termais dos Açores. A Furna do Enxofre é acessível por uma das duas aberturas no seu tecto, através de uma torre construída no interior da Furna. O tecto é uma imensa abóbada de basalto, da qual se desprenderam ao longo dos tempos grandes blocos que agora juncam o chão da gruta. O campo fumarólico sito nas imediações da torre, e a lama em ebulição que o rodeia, liberta grandes quantidades de gases, incluindo dióxido de carbono, que já causou algumas mortes entre os visitantes e obrigou à instalação de um sistema de monitorização de gases. Geologia. A ilha Graciosa é um edifício vulcânico composto por cinco, (1) Complexo da Serra das Fontes; (2) Complexo da Baía do Filipe; (3) Complexo da Serra Branca; (4) Complexo de Cobertura Basáltica (ex. Complexo Vulcânico da Vitória) e (5) Vulcão Central. O edifício é predominantemente basáltico, com características que indiciam um vulcanismo predominantemente de baixa explosividade, embora apareçam alguns depósitos de natureza traquítico que indiciam fases de alguma explosividade. A parte emersa da ilha terá sido iniciada há cerca de 1 050 000 anos ou mais de 700 000 anos com a formação de um vulcão em escudo, que ainda aflora no Complexo da Serra das Fontes, a parte mais antiga da ilha. A essa fase seguiram-se períodos de maior explosividade, associados às fracturas que percorrem a zona, que resultaram a formação de numerosos cones de escórias vulcânicas soldadas que constituem a maior parte das actuais Serra Dormida e Serra das Fontes. O tipo de vulcanismo alterou-se radicalmente há cerca de 330 000 anos, com a formação de um vulcão de tipo central com caldeira, ligado a uma câmara com magma diferenciado, do qual resultaram erupções de grande explosividade que deram origem aos espessos mantos de traquito que constituem a Serra Branca. Em período bem mais recente reactivou-se o vulcanismo basáltico, resultando na formação de um novo edifício vulcânico caracterizado pela sua baixa explosividade, que formou a Complexo de Cobertura Basáltica (ex. Complexo Vulcânico da Vitória), com os seus numerosos cones, e os numerosos mantos basálticos subaéreos que recobrem o centro e o norte da ilha. Esta fase evoluiu para sueste da ilha, dando origem ao maciço da Caldeira (Vulcão Central) e às estruturas que lhe estão associadas, bem como a diversas erupções surtseianas na periferia da ilha, das quais resultaram os actuais ilhéus e diversas estruturas submarinas próximas à costa. A última erupção desta fase ocorreu há cerca de 3 900 anos, dando origem ao Pico Timão e às escoadas basálticas que lhe estão associadas. Povoamento e demografia. O território da ilha Graciosa constitui um único concelho, o de Santa Cruz da Graciosa, dividido em quatro freguesias: A ilha Graciosa, tal como acontece com a generalidade do território açoriano, tem uma estrutura de povoamento que, apesar da sua dispersão aparente, é fortemente condicionada pela rede viária. Este povoamento "disperso orientado", típico da zonas de colonização recente, como são as ilhas, levou a que a estruturação urbana da Graciosa se tenha produzido ao longo de grandes eixos, correspondentes aos vales da ilha, e por consequência, às estradas que ao seu longo afluem às duas vilas da ilha. Em consequência surgiu um desenvolvimento urbano claramente condicionado pela geomorfologia, com os seguintes eixos: Estes quatro grandes eixos incluem mais de 80% da população da ilha, deixando de fora apenas alguns povoados marginais, em geral satélites das vilas. A evolução demográfica da ilha Graciosa entre 1844 e 2011 foi a seguinte: Ao longo dos últimos dois séculos a evolução demográfica da Graciosa apresenta os seguintes períodos distintos: História. Da Descoberta e Povoamento. Desconhece-se a data do seu primeiro avistamento mas, como as vizinhas ilhas do Grupo Central do arquipélago dos Açores, a Graciosa terá sido explorada por navegadores portugueses durante o primeiro quartel do século XV. A data de 2 de Maio de 1450, tradicionalmente assinalada como a de seu descobrimento, carece de suporte documental. É certo que, no início da década de 1440, por determinação do então donatário das ilhas, o Infante D. Henrique, já havia sido lançado gado miúdo na ilha, criando condições para um futuro povoamento. Desconhece-se ainda quem terão sido os seus primeiros povoadores, embora se admita que, por volta de 1450, tenham chegado à ilha, provavelmente arraia miúda e escravos. O primeiro grupo de colonos de que há notícia, enviados com sanção oficial do donatário, foi liderado por Vasco Gil Sodré, um "homem bom" natural de Montemor-o-Velho, que chegou à ilha acompanhado pela família e criados em meados da década de 1450. Estabeleceram-se no Carapacho, local onde terão aportado, uma zona de costa baixa e abrigada no extremo sudoeste da ilha, à vista da costa da ilha de São Jorge. Dada a baixa fertilidade dos solos na zona e a sua vulnerabilidade em relação ao mar, o povoamento foi-se internando para o interior, em busca de solos mais férteis e aplainados. Em poucos anos o principal núcleo populacional estava estabelecido na costa norte da ilha, aproveitando as facilidades de desembarque que as calhetas da Barra e de Santa Cruz ofereciam, e a facilidade com que era possível escavar poços de maré naquele litoral. Este foi o embrião da atual vila de Santa Cruz da Graciosa. Embora Vasco Gil Sodré tenha diligenciado no sentido de obter para si o cargo de capitão do donatário na ilha, e de ter mesmo chegado a construir um edifício para casa da alfândega, diligências em que foi sucedido por seu cunhado, Duarte Barreto do Couto, apenas logrou, e mesmo isso não é seguro, governar a parte sul da ilha, estruturada em torno do que viria a ser a vila da Praia. A capitania da parte norte da ilha, constituída por terras mais férteis e amplas, foi entregue a Pedro Correia da Cunha, natural da ilha do Porto Santo e co-cunhado de Cristóvão Colombo, que, a partir de 1485, obteve o cargo de capitão do donatário em toda a ilha, unificando-lhe a administração. Fixou-se com a família em Santa Cruz, o que fez com que este povoado, em pouco tempo, suplantasse a Praia como sede do poder administrativo na ilha. Logo no ano seguinte, Santa Cruz foi elevada a vila e sede de concelho, abrangendo todo o território da ilha e, com ele, as duas paróquias então existentes: Santa Cruz e São Mateus da Praia. Iniciado povoamento e estruturadas as primeiras povoações, como nas demais ilhas do arquipélago, registou-se um rápido aumento da população, graças ao sistema de datas que permitia aos capitães entregar parcelas de terra aos homens bons que as solicitasse e se comprometessem a tê-las desbravadas num período máximo de dois a cinco anos. Nesta fase, o influxo de povoadores fez-se, segundo alguns historiadores, das Beiras, do Minho e mesmo da Flandres, de modo a que, já em 1486, o povoado de Santa Cruz recebeu carta de foral, sendo elevado a vila, de acordo com frei Agostinho de Monte Alverne ("Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores"). A cabeça da outra capitania, o lugar de São Mateus da Praia também recebeu carta de foral, concedida por João III de Portugal, em 1 de abril de 1546. Com a criação do segundo concelho ficou completa a estruturação administrativa da ilha que ficou assim dividida: o concelho de Santa Cruz, abrangendo a vila do mesmo nome e os lugares da zona aplainada da metade noroeste da ilha que constituem a actual freguesia de Guadalupe; e o concelho da Praia, abrangendo a vila do mesmo nome e os povoados do Sul que constituem a actual freguesia da Luz. A estrutura administrativa bicéfala da ilha sobreviveu até ao século XIX, quando por força da reestruturação administrativa que se seguiu à aprovação do segundo código administrativo do liberalismo, o concelho da Praia foi extinto em 1855, sendo o seu território integrado no concelho de Santa Cruz da Graciosa. Embora o decreto de extinção tenha apenas sido executado em 1867, com a extinção do concelho, a Praia perdeu a categoria de vila, estatuto que só recuperaria em 2003, por força do Decreto Legislativo Regional n.º 29/2003/A, de 24 de Junho, aprovado pelo parlamento açoriano. Do povoamento aos nossos dias. Com costas baixas que permitem o desembarque em múltiplos pontos e uma população reduzida, a Graciosa foi durante os séculos XVI e XVII por diversas vezes atacada por corsários e piratas, que para além dos saques e destruição de edifícios civis e religiosos, fizeram diversas razias, levando cativos muitos habitantes. Para a sua defesa, foram erguidas diversas fortificações. Apesar desses contratempos, a ilha foi capaz de fixar uma população considerável, incluindo entre os seus povoadores famílias ligadas à pequena nobreza, com ligação preferencial à Terceira, cujos apelidos ainda hoje estão presentes entre as famílias da ilha. Como aconteceu nas demais ilhas açorianas, o povoamento e a economia da Graciosa foram baseados na agricultura, na pecuária e no plantio da vinha. Dada a fertilidade do solo e a orografia favorável, a ilha já desde o século XVI exportava trigo, cevada, vinho e aguardente, mantendo um activo comércio com a Terceira, ilha que, graças ao seu porto, frequentado por navios de grande porte, se constituía no centro económico e administrativo do arquipélago. Em meados do século XVIII inicia-se o aproveitamento terapêutico das águas termais do Carapacho. No século XIX, no contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), quando da ofensiva liberal do 7.º conde de Vila Flor, a ilha foi conquistada pelas tropas liberais (1831). Ao longo da sua história, passaram pela Graciosa algumas figuras de destaque, como por exemplo: Também ao longo dos séculos, a ilha foi por diversas vezes assolada por grandes catástrofes naturais. Entre os sismos, destacou-se o de 13 de Junho de 1730, que causou destruição generalizada na freguesia da Luz, danificando a maioria das habitações e arruinando a igreja paroquial. Outras crises sísmicas ocorrerem em Março de 1787 e em 1817 sem, contudo, causar danos consideráveis. Posteriormente, em 1837 houve na ilha "grande susto por causa dos terramotos que a visitaram de 12 de Janeiro aos fins de Fevereiro; o de 21 de Janeiro foi tão grande na vila da Praia que não deixou casa sem alguma ruína. A igreja da Luz ficou quase por terra". Ainda no século XIX, uma violenta seca no Verão de 1844 fez com que José Silvestre Ribeiro, então administrador geral do distrito de Angra do Heroísmo, procedesse ao envio, por navio, de 90 pipas de água para combater a sede que grassava na Graciosa. Além desse recurso emergencial, Silvestre Ribeiro determinou a abertura de poços e valas, até que, na noite de 20 de Agosto, uma forte chuva veio aliviar a crise. Mais recentemente, o Terramoto de 1980 fez-se sentir na freguesia da Luz, em especial no lugar do Carapacho, e em alguns lugares da freguesia de Guadalupe causando extensos danos materiais. Em termos de catástrofes humanas, ao anoitecer do dia 13 de Julho de 1929 durante uma aterragem de emergência, tentada nuns campos próximos do lugar da Brasileira, um avião biplano Amiot 123 que tentava fazer o primeiro voo transatlântico de leste para oeste, capotou. O major Ludwik Idzikowski pereceu no acidente e o co-piloto Kazimierz Kubala sofreu ferimentos ligeiros. O avião ardeu quando, durante a operação de resgate, alguém aproximou um archote dos destroços. Em nossos dias, um cruzeiro marca o lugar do acidente. Devido à emigração para os Estados Unidos durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, e à migração interna que ainda afecta a ilha, a Graciosa entrou num rápido processo de recessão demográfica que, na actualidade, condiciona em muito a sua sustentabilidade sócio-económica. Apesar disso, voltada para a agricultura, a pecuária e a produção de lacticínios, a Graciosa mantém as suas características de ilha rural e tranquila. A construção, na década de 1980 do aeródromo da Graciosa e do porto comercial da Praia, representaram um impulso à economia da ilha. Para além disso, a ilha tem sido recentemente beneficiada por um conjunto de investimentos estruturantes, que incluíram a requalificação da sua escola secundária, a construção de uma nova fábrica de lacticínios e de um porto de pescas e de recreio na Vila Praia. Está em curso o processo que levará à requalificação das Termas do Carapacho, à construção de um novo hotel e de um novo centro de saúde. Em setembro de 2007, na sequência de uma candidatura apresentada para esse fim pelo Governo Regional dos Açores, a ilha foi classificada pela UNESCO como Reserva da Biosfera. Esta classificação, aprovada pelo Bureau do Concelho Internacional de Coordenação do programa da UNESCO reunido em Paris, confirma a qualidade da biosfera da ilha, que se caracteriza por uma floresta típica da macaronésia. Esta, por sua vez, conduziu à criação do Parque Natural da Graciosa e de oito áreas protegidas, divididas em quatro categorias:
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Godos
Godos Os godos (; ; em Sueco antigo "Gutar"; ) eram uma tribo germânica, composta por uma amálgama de grupos e clãs com diversos líderes. A sua origem é objeto de controvérsias. Estão mencionados pela primeira vez em , como habitando a foz do Rio Vístula na atual Polónia. Por volta do ano 200 começaram a deslocar-se em direção ao Mar Negro, tendo-se fixado na atual Ucrânia e Bielorrússia. No encontro com o Império Romano no , os godos dividem-se em Ostrogodos e Visigodos. Os ostrogodos acabaram por se estabelecer na Península Itálica e na Panónia, e os visigodos na Gália e na Hispânia. No os ostrogodos são derrotados pelo Império Bizantino e no os visigodos pelos Árabes. História. Os testemunhos históricos conhecidos apresentam os godos, e os seus ramos ostrogodo e visigodo, como uma comunidade migrando desde o até o , e deslocando-se sucessivamente da foz do Rio Vístula na atual Polónia para as margens do Mar Negro, para a Itália e para a Península Ibérica. O mito da origem dos godos. No , o historiador gótico-bizantino Jordanes afirma na sua obra Gética que os godos tinham a sua origem numa ilha do Mar Báltico chamada Scandza, presumivelmente a Península da Escandinávia ou a ilha da Gotlândia. Estava assim lançada a hipótese da origem escandinava dos Godos, segundo a qual eles teriam emigrado por volta de da Escandinávia, atravessando o Mar Báltico em 3 barcos, e desembarcado na foz do rio Vístula, na Europa Continental, onde teriam atacado os rúgios, que viviam na costa, expulsando-os de seus domínios, e depois, derrotado os seus novos vizinhos, os vândalos. Não existe nenhuma fonte primária ou secundária que mencione esta longa migração, e as evidências arqueológicas não sustentam essa hipótese. Sabemos também que os barcos escandinavos dessa época longínqua eram rudimentares, movidos a remos e com pequenas tripulações. A teoria construída por Jordanes estava apoiada na ideia de que os os Godos eram o mesmo povo que os Gautas do Sul da Escandinávia e os Getas das margens do Mar Negro, visto terem nomes semelhantes. Na sua obra Gética, publicada em 551, Jordanes apoiava-se numa obra anterior chamada "História Gótica", escrita pelo escritor romano Cassiodoro por volta de 526-533, na qual este afirmava que os Godos eram originários de uma ilha do Mar Báltico chamada Scandza. Este livro de Cassiodoro perdeu-se, e Jordanes parece só ter tido acesso a ele durante três dias para consulta. O próprio Cassiodoro usou como fonte uma outra obra, igualmente perdida, do historiador romano Ablávio do , na qual este teria afirmado que os Godos teriam vindo de uma ilha do Mar Báltico, sem todavia indicar o nome. A elite gótica mantinha a sua posição através de alianças de famílias e de um mito de origem da comunidade gótica. Na qualidade de ministro do rei godo , Cassiodoro tinha conhecimento dos cânticos góticos que falavam das suas origens, e sabia como era apreciada a história de um passado gótico extraordinário e grandioso. E Jordanes, como funcionário do Império Romano, estava igualmente consciente do interesse dos romanos na reabilitação e elevação dos seus novos aliados godos, esquecendo o seu passado bárbaro. Hoje em dia, os historiadores pendem em geral para uma origem continental europeia, na costa do sul do mar Báltico, algures na Polónia dos nossos dias, de onde os Godos teriam migrado para o Sul, até se estabelecerem entre o rio Danúbio e o rio Don, onde acabaram por se dividir em dois ramos, chamados tervíngios e grutungos, com dinastias reais e territórios separados. Do Mar Báltico ao Mar Negro e ao Mar Mediterrâneo. As primeiras referências históricas aos Godos são feitas pelo historiador romano Tácito, em , pelo geógrafo grego Ptolemeu, no , e pelo naturalista romano Plínio, o Velho, no , colocando este povo na área do rio Vístula na atual Polónia. No , os Godos migram sucessivamente e em pequenos grupos para as margens do Mar Negro. Quando transpõem as fronteiras do Império Romano, os seus exércitos, compostos por variados grupos étnicos liderados por uma élite gótica, atacam cidades gregas e romanas, até que o imperador os enfrenta e derrota em 269 na batalha de Naísso. Com o exército godo destroçado, muitos dos seus guerreiros passam a servir como soldados no exército romano e como colonos no povoamento das terras fronteiriças do império. Todavia, muitos outros voltam a reagrupar-se, e voltam a atacar os romanos, juntamento com outros povos bárbaros. No , se dividem em dois grupos: os tervíngios, depois designados como visigodos ("os nobres godos"), habitando as margens do rio Danúbio na Roménia, e os grutungos, depois denominados como ostrogodos ("godos do sol nascente"), habitando as estepes da Ucrânia, junto ao Mar Negro. Os visigodos entram nessa altura na atual Roménia, onde ficam durante um século. Acossados pela invasão dos hunos, os visigodos fazem numerosas incursões no Império Romano no , tendo até saqueado Roma no . Depois de inúmeras confrontações com os romanos acabam por se estabelecer no sul da Gália no , como aliados dos mesmos romanos. Uma aliança de romanos e visigodos, consegue finalmente derrotar os hunos na batalha dos Campos Cataláunicos em 451. Com a derrocada do Império a decorrer, os visigodos conquistam por um lado uma parte da Hispânia e perdem por outro lado a Gália para os francos. O Reino Visigótico da Hispânia respeitou as leis e as instituições da população local, tendo durado até ao , quando foi invadido e ocupado pelos árabes. Os ostrogodos também entram em movimento, penetrando no na atual Ucrânia e subjugando vários povos locais. A invasão dos hunos - no - esmaga substancialmente os ostrogodos. Mas estes conseguem reerguer-se e recuperar a liberdade, e acabam conquistando a Itália no , onde fundam um reino. Um dos seus reis - Teodorico, o Grande - governa um reino onde há uma prosperidade e tolerância assinalável entre godos e romanos, entre cristãos e judeus. A atitude positiva dos ostrogodos para com a cultura romana e a língua latina, assim como a sua conversão ao cristianismo, deixaram rastro importante na integração da esfera germânica e latina na Europa. Todavia, o Império Romano do Oriente invade a Itália em meados do , e os ostrogodos são definitivamente vencidos pelos bizantinos na Guerra Gótica, desaparecendo da história. Arqueologia e culturas. Achados arqueológicos, permitem alguma associação dos Godos à Cultura de Vilemberga, assim como apoiam em alguma medida uma migração de Godos da região do rio Vístula em direção ao sul. Mas não permitem mais do que uma vaga associação à Escandinávia, baseada em algumas semelhanças em alguns montes funerários tardios. Os contactos entre a Escandinávia e o continente europeu existiram sobretudo na forma de intercâmbio comercial nos dois sentidos, e de migração de pequenos grupos de escandinavos, em que alguns se alistaram no exército romano, e alguns outros podem também ter entrado nas hostes godas. Fontes da história e mitologia dos Godos. Algumas das fontes invocadas para a história e mitologia dos Godos são credíveis e fidedignas, outras são fantasias literárias, e outras ainda, contêm tanto elementos credíveis como elementos fantasiosos. Línguas. O gótico é uma língua germânica oriental arcaica. É a única com alguns registros escritos dentro de essa família. Tem claro parentesco com as línguas germânicas da Europa Central e do Norte - por exemplo, o alemão, o inglês e o sueco. De acordo com a maior parte dos linguistas, está "grosso modo" tão perto das línguas germânicas ocidentais - p.ex alemão, holandês e inglês - como das línguas germânicas setentrionais - p.ex. sueco, dinamarquês e islandês. O fato é que virtualmente todas as características fonéticas e gramaticais que caracterizam as línguas germânicas setentrionais como um ramo separado da família de línguas germânicas (sem mencionar as características que distinguem os vários dialetos noruegueses) parecem ter se expandido em um estágio posterior àquele preservado no gótico. O gótico por sua vez, sendo uma forma extremamente arcaica do germânico em muitos aspectos, todavia desenvolveu características próprias que não são compartilhadas com outras línguas germânicas. No entanto, isto não exclui a possibilidade dos godos, dos "gutar" e dos "gautas" serem tribos relacionadas. Similarmente, os dialetos saxões da Alemanha são mais próximos do anglo-saxão que qualquer outra língua germânica ocidental que sofreu a mudança consonantal do alto alemão (ver lei de Grimm), mas as tribos são definitivamente idênticas. Os jutos (em dinamarquês "jyder") da Jutlândia (em dinamarquês "Jylland"), na Dinamarca Ocidental, são pelo menos etimologicamente idênticos aos jutos que partiram daquela região e invadiram a Grã-Bretanha junto com os anglos e saxões, no . No entanto, não há fontes escritas remanescentes que associem os jutos da Jutlândia com qualquer outro dialeto germânico setentrional, ou os jutos da Grã-Bretanha com qualquer dialeto germânico ocidental. Dessa forma, a língua nem sempre é o melhor critério para distinção étnica ou tribal e sua continuidade. Os gutas (gotlandeses) possuíam entre suas tradições orais histórias de uma migração em massa para o sul da Europa, escritas na Saga dos Gutas. Se os fatos estiverem relacionados, seriam um caso único de tradição oral que sobreviveu a mais de mil anos e que de fato antecede a maioria das principais divisões da família de línguas germânicas. Origem do nome "godo" (*Gut-). Os nomes "gutar" e "godos" são etimologicamente ditos sinónimos etnônimos. Próximo, mas não da mesma origem, é também o nome tribal escandinavo "gauta". Os godos e os "gutar" são derivados de "*Gutaniz" enquanto "gauta" é derivado do proto-germânico "*Gautoz" (plural "*Gautaz"). "*Gautoz" e "*Gutaniz" são duas apofonias de uma palavra proto-germânica ("*geutan") que significa "derramar, verter, espalhar" (sueco moderno "gjuta", alemão moderno "giessen", gótico "giutan") e que designa as tribos como "derramadores de sémen", ou seja, "homens". Gauti, o mais antigo herói gótico, registrado por Jordanes, é geralmente observado como uma corruptela de "Gaut". De forma interessante, registros em norueguês antigo não distinguem os godos dos gutar e ambos são chamados "Gotar" em norueguês antigo ocidental. O termo em norueguês antigo oriental para godos e gutar parece ter sido "Gutar" (por exemplo, na Gutasaga e na inscrição rúnica da Pedra de Rök). No entanto, os gautas são claramente distinguidos dos godos/gutar nas literaturas do norueguês antigo e do inglês antigo. Uma segunda teoria, de menor força, liga o povo com o nome de um rio que atravessa Gotalândia Ocidental na Suécia, o rio Gota, que escoa do lago Vener para a baía Categate. No período pré-histórico, esse rio tinha um fluxo maior que o atual. A interpretação, todavia, utiliza uma analogia de nomeação geral indo-europeia, tal como "Dutch, Deutsch, man, human", etc. e era a preferida de Jordanes, que via os godos com procedentes da Escandinávia. A raiz indo-europeia da derivação "espalhar" seria *gheu-d- como ela está catalogada no "The American Heritage Dictionary of the English Language" (AHD) ("Dicionário da Herança Americana da Língua Inglesa"). *gheud- é uma forma "centum". O AHD apóia-se em Julius Pokorny para a mesma raiz (p. 447). De acordo com as regras de apofonia indo-europeia, a graduação plena *gheud- pode ser substituída por *ghud- ou *ghoud-, relatando as várias formas para o nome. O uso de todas as três formas sugere que o nome derive de um estágio indo-europeu. Um nome composto, "Gut-þiuda", o "povo gótico", aparece no calendário gótico ("aikklesjons fullaizos ana gutþiudai gabrannidai"). Além dos godos, este jeito de nomear uma tribo é apenas encontrado na Suécia. Como mencionado acima, o nome dos godos é idêntico ao dos gutar, os habitantes de Gotlândia, uma ilha do mar Báltico. O número de similaridades que existiam entre a língua gótica e o gútnico antigo fez o proeminente linguista sueco Elias Wessén considerar o gútnico antigo como sendo uma forma de gótico. O mais famoso exemplo é que tanto o gútnico quanto o gótico usavam a palavra "lamb" para carneiros jovens e adultos. Ainda, alguns reivindicam que o gútnico não é mais próximo do gótico que qualquer outra língua germânica. Significado simbólico. A relação dos godos com a Suécia se tornou uma parte importante do nacionalismo sueco, e até o a opinião de que os suecos eram os descendentes diretos dos godos era comum. Hoje, acadêmicos suecos identificam isso como um movimento cultural chamado goticismo, o qual inclui um entusiasmo por assuntos em geral do norueguês antigo. Na Espanha medieval e moderna, os visigodos são considerados como sendo a origem da nobreza da Espanha. Por causa disto, no Chile, Argentina e Ilhas Canárias, "godo" era uma ofensa étnica usada contra espanhóis europeus, que no início do período colonial se sentiam superiores às pessoas nascidas nas colônias ("criollos"). Esta reivindicação espanhola de origens góticas conduziu a um confronto com a delegação sueca no Concílio de Basileia em 1434. Antes que a assembleia de cardeais e delegações pudessem iniciar as discussões teológicas, eles tinham que decidir como se sentar durante os procedimentos. As delegações das nações mais importantes estavam sentadas mais próximas ao papa, e havia também disputas para quem ficaria com as melhores cadeiras e quem teria seus assentos em esteiras. Neste conflito, o bispo de Växjö, Nicolaus Ragvaldi invocou que os suecos eram descendentes dos grandes godos, que o povo de Gotalândia Ocidental (Vestrogócia em latim) eram os visigodos e que o povo de Gotalândia Oriental (Ostrogócia em latim) eram os ostrogodos. A delegação espanhola então respondeu afirmando que apenas os godos "preguiçosos" e "sem iniciativas" haviam ficado na Suécia, enquanto que os godos "heroicos", por outro lado, tinham deixado a Suécia, invadido o Império Romano e se estabelecido na Espanha.
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Germanos
Germanos Povos germânicos ou germanos são um grupo etnolinguístico indo-europeu originário do norte da Europa e identificado pelo uso das línguas indo-europeias germânicas que se diversificaram do proto-germânico durante a Idade do Ferro pré-românica. Originados em cerca de a partir da cultura da cerâmica cordada na planície norte alemã, os povos germânicos expandiram-se para o sul da Escandinávia e para o rio Eurípedes durante a Idade do Bronze Nórdica, atingindo o baixo Danúbio em No , os teutões e cimbros entraram em confronto com Roma. Na época de Júlio César, um grupo de germânicos liderados pelo chefe suevo Ariovisto expandiu-se para a Gália, até ser detido por César nos Vosges em As tentativas subsequentes do imperador Augusto de anexar territórios a leste do rio Reno foram abandonadas, depois que o príncipe querusco Armínio aniquilou três legiões romanas na Batalha da Floresta de Teutoburgo no ano 9 d.C. No leste, as tribos que haviam migrado da Escandinávia para a parte inferior do Vístula foram em direção ao sul, pressionando os marcomanos a invadir a Itália em 166. Enquanto isso, os germanos sofreram influência através do alfabeto etrusco, que acabou originando o seu próprio alfabeto rúnico. Por volta do , os godos governaram uma vasta área ao norte do mar Negro, de onde cruzaram o baixo Danúbio ou viajaram pelo mar, invadindo a península Balcânica e a Anatólia, na altura do Chipre. Enquanto isso, as crescentes confederações de francos e alamanos romperam as fronteiras e se estabeleceram ao longo da fronteira do rio Reno, de forma contínua infiltrando-se na Gália e na Itália, enquanto os piratas saxões devastaram as costas da Europa Ocidental. Depois que os hunos, no , invadiram os territórios do rei godo Hermenerico que, em seu auge, estendiam-se entre o rio Danúbio e o Volga e do mar Negro ao mar Báltico, milhares de godos fugiram para os Bálcãs, onde infligiram uma grande derrota sobre os romanos na Batalha de Adrianópolis e saquearam Roma em 410 sob a liderança de Alarico I. Enquanto isso, várias tribos germânicas se converteram ao cristianismo ariano através do missionário Úlfilas, que inventou um alfabeto para traduzir a Bíblia para a língua gótica. Tendo derrotado os hunos nos Campos Cataláunicos e em Nedau, tribos germânicas migrantes invadiram o Império Romano do Ocidente e transformaram-no na Europa Medieval. No entanto, foi somente com a ajuda germânica que o império foi capaz de sobreviver tanto tempo como o fez, sendo que o exército romano era quase inteiramente composto por germanos por volta do . Por volta do ano 500, os anglo-saxões estavam na Grã-Bretanha e os burgúndios no vale do Ródano. Regidos por Teodorico, o Grande, os ostrogodos se estabeleceram na península Itálica, enquanto o líder vândalo Genserico saqueou Roma e fundou um reino na África. Em 507, os visigodos foram expulsos pelos francos da maioria de suas posses na Gália e depois governaram um estado na Hispânia. Em 568, o líder lombardo Alboíno invadiu a Itália e fundou um reino independente que em 774 foi derrubado por Carlos Magno, que foi coroado imperador dos romanos em 800. No , marinheiros germânicos escandinavos (comumente referidos como viquingues) iniciaram uma forte expansão, fundando importantes Estados na Europa Oriental e na França, enquanto colonizaram o Atlântico até a América do Norte. Posteriormente, as línguas germânicas se tornaram dominantes em vários países europeus, mas na Europa Meridional e na Europa Oriental, a elite germânica acabou por adotar os dialetos nativos eslavos ou latinos. Todos os povos germânicos acabaram sendo convertidos do paganismo para o cristianismo. Os povos germânicos modernos são os daneses, escandinavos, islandeses, finlandeses de língua sueca, luxemburgueses, belgas de língua alemã e holandesa (flamenga), suíços de língua alemã, alemães, holandeses, escoceses das terras baixas, ingleses e outros, que ainda falam línguas derivadas dos dialetos ancestrais germânicos. Etimologia. Várias etimologias para a designação latina GERMANI são possíveis. Como adjetivo, GERMANI é simplesmente o plural do adjetivo GERMANVS (a partir de "germen", "semear, disseminar", "desdobramento, enfiar"), que tem o sentido de "parente" ou "aparentado". Como um etnônimo, a palavra é comprovada pela primeira vez em na inscrição de "Fasti Capotolini", DE GALLEIS INSVBRIBVS ET GERM, onde ela simplesmente se refere a povos "próximos" ou relacionados aos gauleses. Se o nome próprio posterior GERMANI deriva desta palavra, a referência a este uso deve ser baseada na experiência romana de ver as tribos germânicas como aliadas dos celtas. O nome aparece sendo usado pela primeira vez com o sentido de "povos da "Germania", distintos dos gauleses" por Júlio César. Neste sentido, o nome deve ser um empréstimo do exônimo celta aplicado às tribos germânicas, baseado em uma palavra para "vizinho". Uma terceira sugestão deriva a palavra diretamente do nome da tribo dos "Hermunduri", que Tácito sugere possa ter sido o nome de uma tribo que mudou de nome após o domínio romano, mas não há indícios para isto. A sugestão que deriva o nome do termo gaulês para "vizinho" leva ao irlandês antigo "gair" e ao galês "ger", "próximo", ao irlandês "gearr", "uma distância curta", a partir do radical proto-celta "*gerso-s", também relacionado ao grego antigo "chereion", "inferior" e ao inglês "gash", "corte, arranhão". O radical proto-indo-europeu deveria ser da forma "khar-", "*kher-", "*ghar-", "*gher-", "corte, machucado", do qual também deriva o hitita "kar-", "corte, machucado", de onde também o grego "character". Aparentemente, as tribos germânicas possuíam uma autodenominação (endônimo) que incluía todos os povos germano-falantes e que excluía todos os povos não germânicos. Os povos não-germânicos (principalmente celtas, romanos e gregos, os cidadãos do Império Romano), por outro lado, eram chamados "*walha-" (esta palavra sobreviveu em nomes como "Wales" (Gales), "Welsh" (galês), "Cornwall" (Cornualha), "Wallons" (valões), "Vlachs" (valáquios), etc.). O termo genérico "*þiuda-" ("povo") ocorre em muitos nomes pessoais tais como "Thiud-reks" (Teodorico e também no etinônimo dos suecos a partir do cognato do inglês antigo "Sweo-ðēod") não é uma auto-designação. No entanto, o adjetivo derivado deste nome, "*þiudiskaz" ("popular"), foi usado em referência à língua do povo em oposição à língua latina (mais antigo exemplo registrado em 786). A palavra persiste no alemão "Deutsch" ("alemão"), no inglês "Dutch" ("neerlandês"), no neerlandês "Duits" ("alemão") e "Diets" (neerlandês medieval) e no dinamarquês "tysk" ("alemão"). A partir de c. 875, os escritores latinos referem-se à(s) língua(s) germânica(s) como "teutonicus" ("teutônico"). Daí o uso inglês da palavra "Teutons" ("teutões") em referência aos povos germânicos em geral, além da tribo específica dos teutões, derrotada na batalha de Águas Sêxtias em . Classificação. O conceito de "germânico" como uma identidade étnica distinta foi indicado primeiramente pelo geógrafo grego Estrabão , que diferenciou um grupo bárbaro no norte da Europa, que não era celta. No entanto, foi Posidônio o primeiro a usar o nome, por volta de em seu desaparecido 30º livro. O nosso conhecimento disto é baseado no 4º livro de Ateneu, que em cerca de 190 citou Posidônio: "Os GERMANI à tarde servem à mesa carne assada com leite, e bebem seu vinho não diluído". No , as obras de Júlio César, Tácito e de outros escritores da época indicam uma divisão dos povos germano-falantes em grupos tribais centralizados em: Origens. A principal teoria para a origem das línguas germânicas, sugerida por evidências arqueológicas, linguísticas e genéticas, postula uma difusão das línguas indo-européias da estepe pôntico-cáspia em direção ao norte da Europa durante o terceiro milênio a.C, por meio de contatos linguísticos e migrações da cultura da cerâmica cordada para a Dinamarca moderna, resultando em mistura cultural com a cultura Funnelbeaker anterior. Com respeito às origens étnicas, evidências desenvolvidas por arqueólogos e linguistas sugerem que um povo ou grupo de povos partilhando uma cultura material comum residia no norte da atual Alemanha e sul da Escandinávia durante o final da Idade do Bronze (). Essa cultura é chamada de Idade do Bronze Nórdica e abrange o sul da Escandinávia e o norte da Alemanha. A longa presença de tribos germânicas no sul da Escandinávia (uma língua indo-europeia chegou provavelmente por volta de ) e é também evidenciada pelo fato de que não tem sido encontrados nomes de lugares pré-germânicos na região. Os linguistas, trabalhando a partir das historicamente conhecidas línguas germânicas, sugerem que este grupo falava o idioma proto-germânico, um ramo distinto da família de línguas indo-europeias. As características culturais da época incluem povoações pequenas e independentes e uma economia fortemente baseada na pecuária. O deslocamento para o sul foi provavelmente influenciado por uma piora no clima da Escandinávia entre . O clima quente e seco do sul da Escandinávia (2 a 3 graus mais quente que hoje), piorou consideravelmente, o que não apenas modificou dramaticamente a flora, mas também forçou as pessoas a mudar seu modo de vida e abandonar suas povoações. Por volta dessa época, essa cultura descobriu como extrair ferro das jazidas nos pântanos de turfas. Sua tecnologia para obter minério de ferro deve tê-los ajudado na expansão para novos territórios. A cultura germânica cresceu para sudeste e para sudoeste, sem paradas repentinas, e pode ser diferenciada da cultura dos celtas que habitavam mais ao sul nas regiões do Danúbio e dos Alpes no mesmo período. Período histórico. Primeiros contatos. Os primeiros contatos dos germanos com os romanos ocorreram no ano , com derrotas para os romanos. Pouco depois, o general Mário mudou muito o exército e conseguiu algumas importantes vitórias sobre os germanos, de estatura muito superior aos romanos. Júlio César () escreveu alguma coisa sobre os germanos. Nesse período, as tribos germânicas viviam em aldeias rudimentares, praticando uma economia comunal baseada na agricultura, na pecuária e nas pilhagens. Quando as terras se esgotavam, partiam à procura de outras. As áreas cultiváveis e os bosques eram de uso comum aos habitantes das aldeias. Apenas os rebanhos permaneciam como propriedade particular, constituindo a principal riqueza dos guerreiros. A penetração germânica no Império Romano. Pode-se distinguir duas grandes fases da penetração dos povos germânicos no Império Romano: Pouco tempo depois, os próprios visigodos sofreriam ataques hunos sem conseguir deter seu avanço. O chefe dos visigodos solicitou, então, ao imperador romano permissão para penetrar nos domínios do império. Sem prever as consequências de seu ato, o imperador Valente autorizou a entrada de milhares de germanos, que, assim, atravessaram o rio Danúbio. Posteriormente, esses mesmos germanos decidiram avançar em direção ao Mediterrâneo, pilhando e saqueando aldeias e cidades. Inaugurava-se, desse modo, o período das grandes invasões. Pouco a pouco, os diversos povos germânicos foram dominando diferentes regiões do antigo Império Romano e organizando-se nos territórios conquistados. Já por volta do , quase todos os povos germânicos estavam estabelecidos em regiões da Europa. Por volta do , a "assembleia dos guerreiros" praticamente desaparecera entre os bárbaros, substituída por um "conselho de nobres". O contacto cada vez maior com o império levara-os a assimilar bastante a vida económica, a hierarquia social, a disciplina militar e a religião dos romanos (muitos bárbaros haviam-se convertido ao arianismo, ramo do cristianismo considerado herético pelo Primeiro Concílio de Niceia, realizado em 325). Mesmo assim, as suas comunidades ainda eram bem rudimentares e quase todas desconheciam a escrita. A partir de fins do , pressionados pelos hunos, povo nômade vindo da Ásia Central, as tribos germânicas migraram em massa e de uma forma não pacífica para o interior do Império Romano do Ocidente. Suevos, alanos, burgúndios, francos, vândalos e visigodos penetraram, saquearam e ocuparam a Gália, a Península Ibérica, a África e a península Itálica. Anglos, saxões e jutos tomaram a Britânia. Para defenderem Roma dos sucessivos ataques de determinadas tribos, os Imperadores recorriam ao auxílio de outros chefes bárbaros, ficando à sua mercê. As invasões germânicas trouxeram desordem, destruição, fome e pilhagem ao já decadente Império Romano, precipitando a sua desintegração no final do . Características. Os povos germânicos não estavam organizados socialmente em Estados, mas em comunidades tribais. A estrutura social básica era a família monogâmica, cujo poder absoluto era confiado ao pai. Depois, vinham os clãs, compostos pela reunião de famílias aparentadas, com ascendentes comuns. Finalmente, vinham as tribos, formadas pelo agrupamento de vários clãs. O órgão público mais importante de cada tribo era a "assembleia dos guerreiros", que deliberava sobre assuntos como a declaração de guerra ou de paz, a libertação de prisioneiros, os crimes de traição e a expulsão de membros da tribo. Nas tribos germânicas, os chefes (reis) exerciam funções religiosas, militares e judiciais. Embora sua autoridade se submetesse à assembleia, esses chefes assumiam poderes quase absolutos em tempos de guerra. Além disso, tinham o direito de manter uma tropa pessoal (séquito), composta de experientes e fieis guerreiros, que se tornou, com o tempo, cada vez mais numerosa. A partir do de nossa era, podem-se distinguir nessa sociedade quatro classes sociais: A base da organização social das tribos era a "sipe", espécie de clã formada por famílias ligadas por laços de parentesco. Os seus membros protegiam-se mutuamente e a ofensa a um deles atingia toda a sipe, que praticava a vingança coletiva. Na guerra, o exército era recrutado entre os homens da tribo, maiores de 16 anos. Os germanos não conheciam cidades nem Estado. A mais importante instituição política era a "assembleia dos guerreiros" da tribo, que decidia sobre a guerra, a paz, a libertação dos escravos e escolhia o rei, com função religiosa e militar. Os principais chefes desenvolveram o costume de manter uma "escolta" ou "séquito" de guerreiros, ligados ao líder por um juramento de fidelidade. Em caso de ataques e lutas, eram recompensados com o produto das pilhagens, dando origem a uma nobreza possuidora de terras e escravos. Estrutura econômica. Entre as principais atividades econômicas, destacavam-se a agricultura (trigo, cevada, centeio, legumes, etc.) e a pecuária (bois, carneiros). A princípio, a propriedade da terra pertencia a todo o clã, sendo que seus membros tinham o direito de usufruir determinadas áreas. Entretanto, em função das necessidades coletivas, os bosques, os pastos e a água eram explorados de forma comunitária. Era considerada propriedade individual apenas a casa familiar, pois representava o templo dos deuses domésticos e o lugar e veneração aos antepassados. Embora com produção modesta, os germanos dedicavam-se à indústria metalúrgica, fabricando belas e eficientes armas metálicas (lanças, longas espadas, machados). Produziam, também, objetos cerâmicos e peças de ourivesaria de grande valor. Vida cultural. Os germânicos imaginaram o mundo da seguinte forma: 1- Como um círculo rodeado pelas águas, nas quais vivia a serpente monstruosa Jörmungandr, Por debaixo de Midgard estava o Niflheim, e mais profundo ainda se localizava o país dos mortos que era úmido, glacial, sombrio e cuja entrada era guardada por um cão. 2- Como partes ou mundos distintos, todos eles sustentados pelo fresno Ygdrasil. O mundo situado mais acima era o de Asgard. O acesso a este mundo se realizava através do arco-íris, que imaginavam como um ponto estendido de um lado a outro do universo. Asgard era um recinto amuralhado no qual viviam todos os deuses, e no qual cada deus tinha uma grande mansão (exceto Odin que tinha três): A primeira mansão de Odin era Valaskialf, na que estava a sala do trono. A segunda era Gladsheim, na que estava a sala do conselho dos deuses. A terceira e mais bela era o Valhala, na qual Odin recebia todos os guerreiros mortos heroicamente e compartilhava com eles banquetes e jogos de guerra. No mundo de Midgard habitavam os homens e os elfos (dos quais havia duas classes, os elfos da luz que habitavam no Alfheim e os das trevas no Svarthalfheim). No mundo de Vanaheim viviam os Vanes. Os anões estavam nas regiões subterrâneas chamadas Nilfheim em cujas profundidades trabalhavam. Os gigantes viviam ao norte, nas regiões chamadas Jotunheim os gigantes da escarpa e na de Utgard os gigantes das montanhas. Os gigantes do fogo viviam ao sul, no Muspel, o país do fogo. O mundo mais profundo era o terrível país de Hel, mundo em perpétua escuridão, onde o gigantesco cão Garm guardava sua entrada, e que estava ocupado pelos mortos. Quanto ao fresno Yggdrasil, imaginaram que sua copa chegava ao céu, e suas raízes ao mundo subterrâneo. Junto à sua primeira raiz surgia a fonte Hvergelmir, origem de todos os rios. Junto a sua segunda raiz, que ia ao país dos gigantes, corria a fonte de Mimir que dava a sabedoria a quem dela bebesse. Sob a terceira estava a fonte da mais sábia das Nornas, Urd, e todos os dias as Nornas retiravam água desta fonte para regar o fresno. Sob o fresno estava oculto o corpo do deus Heimdall que um dia anunciaria o supremo combate entre os Ases e aqueles que lhes disputariam seu poder. Os maus espíritos roíam lentamente estas raízes e como o mundo não é eterno, algum dia o fresno morreria e com ele os deuses e os homens. Religião. Os germanos adoravam as forças da natureza (trovão, sol, raio, lua). Entre os principais deuses, encontravam-se: Odin, senhor dos mortos, do comércio, da guerra e das tempestades, Thor, protetor dos camponeses, cujos braços lançavam raios, e Tir, deus que comandava o céu e dirigia as assembleias. A cerimônia religiosa dos germanos era bastante simples. O culto era celebrado no alto de uma montanha sagrada, junto a uma árvore ou uma fonte ou em outros espaços naturais em florestas. Acreditavam na vida depois da morte e diziam que os guerreiros mortos nos campos da batalha eram levados pelas valquírias(deusas da guerra) até uma espécie de paraíso, denominado Valhala. Diziam, também, que aqueles que morriam de velhice ou por doença estavam destinados ao Hell. As mulheres iriam para o palácio da deusa Freia depois de mortas. Outro aspecto muito importante da religiosidade germânica eram os cultos relacionados a magia, entre os quais as de origem xamânico-finlandesa, especialmente importantes na Escandinávia da Era Viquingue. Direito. Não existiam, entre os germanos antes do início das grandes migrações, normas jurídicas escritas. As relações sociais eram regulamentadas por normas costumeiras, que se transmitiam oralmente de geração a geração. O ordálio era um tipo de prova judiciária frequentemente utilizada nos julgamentos e constituía em submeter o acusado ao suplício do fogo ou à imersão em água. Se o acusado resistisse ao suplício, era considerado inocente. Pensamento e artes. Os germanos eram em geral patriarcais sendo o chefe da família em geral o homem mais velho desta, ou o melhor guerreiro, o que aponta para outra característica germânica, o caráter guerreiro ou belicoso da sociedade onde a guerra era tida como importante aspecto social e que definia o status pessoal do homem. Outro aspecto era que esses povos defendiam que as terras conquistadas durante uma campanha militar deveriam ser divididas pelos melhores chefes de guerra (chefes de famílias que mandavam seus guerreiros em geral sobre seu comando a uma guerra) que participaram desta campanha. Eram governados em épocas de paz por uma assembleia de homens (chefes de família) que durante um guerra designavam um deles para ser o rei (função parecida com a do ditador romano escolhido pelo senado em épocas de guerra). Mesmo sendo uma sociedade patriarcal a mulher era respeitada e a monogamia era um traço da sociedade (que passou para os dia atuais). Absorvidos em tarefas imediatas, como a guerra, a agricultura e a caça, os germanos não se empenhavam em registrar de modo específico sua visão de mundo e seu pensamento social. Tinham uma escrita (runas), que se encontra gravada em joias e em armas, mas sua função era, basicamente, decorativa e mágica (proteger o dono do objeto). Já no plano artístico, os germanos deixaram importantes realizações no que se refere à ornamentação de objetos (armas, cinturões, braceletes, colares, anéis etc.). Os desenhos decorativos baseavam-se em animais estilizados e em motivos geométricos, sendo utilizadas, principalmente, a roda e a cruz. Os germanos não se dedicaram ao desenho da figura humana. Genética de populações. A partir da genética populacional, tem sido sugerido que a migração dos povos germânicos pode ser detectada na distribuição de corrente de linhagem masculina representada por haplogrupo de cromossoma chamado I1.
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Grande Porto
Grande Porto Localização do Grande Porto O Grande Porto era uma metrópole multimunicipal portuguesa, integrada na nova sub-região estatística (NUTS III) da Área Metropolitana do Porto, parte da Região Norte. Foi extinta na revisão das NUTS III de janeiro de 2015. Ocupava uma área total de 1174 km² e contava com aproximadamente habitantes (censos de 2011). O Grande Porto correspondia, aproximadamente, à cidade-metrópole que se foi desenvolvendo em redor da cidade do Porto que, com os seus exíguos 41,5 km² de área concelhia, não pôde (nem pode) comportar. Era uma cidade alargada, espaço de cidadãos que partilhavam e usavam um extenso território para residir, trabalhar ou estudar e que construíram um forte sentido de identidade. Geografia. O Grande Porto éra constituído por quinze concelhos: Todas as localidades acima mencionadas possuíam a categoria de cidade e sede de município (concelho). Outras cidades do Grande Porto que eram cidade: Alfena, Rio Tinto, Ermesinde, São Mamede de Infesta, Senhora da Hora, Rebordosa e Valbom. O Grande Porto era limitado a norte pela sub-região do Cávado, a leste pelo Ave e o Tâmega, a sul pelo Entre Douro e Vouga e o Baixo Vouga e a oeste pelo Oceano Atlântico. Os principais rios e afluentes eram:
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Galáxia
Galáxia Na cosmologia, uma galáxia (do grego "γαλαξίας", transli. "galaxias" ou "galaktikos": "leitoso", e "kyklos": "círculo") é um grande sistema, gravitacionalmente ligado, que consiste de estrelas, remanescentes de estrelas, um meio interestelar de gás e poeira, e um, importante mas insuficientemente conhecido, componente apelidado de matéria escura. O termo deriva do grego ‘’galaxias’’, literalmente "leitoso", em referência à galáxia Via Láctea. Estas variam desde as anãs, com até 10 milhões (107) de estrelas, até gigantes com cem trilhões (1014) de estrelas, todas orbitando o centro de massa da galáxia. As galáxias contêm quantidades variadas de sistemas e aglomerados estelares e de tipos de nuvens interestelares. Entre esses objetos existe um meio interestelar esparso de gás, poeira e raios cósmicos. A matéria escura parece corresponder a cerca de 90% da massa da maioria das galáxias. Dados observacionais sugerem que podem existir buracos negros supermaciços no centro de muitas, se não todas as galáxias. Acredita-se que eles sejam o impulsionador principal dos núcleos galácticos ativos – região compacta no centro de algumas galáxias que tem uma luminosidade muito maior do que a comum. A Via Láctea parece possuir pelo menos um desses objetos. As galáxias foram historicamente categorizadas segundo sua forma aparente, usualmente referida como sua morfologia visual. Uma forma comum é a galáxia elíptica, que tem um perfil de luminosidade em forma de elipse. Galáxias espirais têm forma de disco, com braços curvos. Aquelas com formas irregulares ou não usuais são conhecidas como galáxias irregulares e se originam tipicamente da disrupção pela atração gravitacional de galáxias vizinhas. Essas interações entre galáxias, que podem ao final resultar na sua junção, às vezes induzem o aumento significativo de incidentes de formação estelar, levando às galáxias starburst. Galáxias menores que não têm uma estrutura coerente são referidas como galáxias irregulares. Existem provavelmente cerca de 2 trilhões de galáxias no universo observável, contendo mais estrelas do que grãos de areia no planeta Terra. Em sua maioria elas possuem de 1 000 a 100 000 parsecs de diâmetro e são separadas por distâncias da ordem de milhões de parsecs. O espaço intergaláctico é preenchido com um gás tênue com uma densidade média de menos de um átomo por metro cúbico. A maior parte das galáxias está organizada numa hierarquia de associações conhecidas como grupos e aglomerados, os quais, por sua vez, formam superaglomerados maiores. Numa escala maior, essas associações são geralmente organizadas em filamentos e muralhas, que são circundados por vazios imensos. Etimologia. A palavra "galáxia" deriva do termo grego para a nossa galáxia, galaxias (γαλαξίας, "leitoso") ou "kyklos" ("círculo") galaktikos (leitoso)’’, pela sua aparência no céu. Na mitologia grega, Zeus coloca o filho que havia gerado com uma mulher mortal, o pequeno Hércules, no seio de Hera enquanto ela dorme de modo que o bebê, ao tomar o leite divino, também se torne imortal. Hera acorda durante a amamentação e percebe que está alimentando um bebê desconhecido; ela empurra o bebê e um jato do seu leite espirra no céu noturno, produzindo a tênue faixa de luz conhecida como Via Láctea. Quando William Herschel criou o seu catálogo de objetos celestes em 1786, ele usou o termo "nebulosa espiral" para alguns objetos, como M31 (Galáxia de Andrômeda). Eles seriam mais tarde reconhecidos como imensos aglomerados de estrelas, quando a verdadeira distância desses objetos começou a ser avaliada, e eles passaram a ser chamados "universos insulares". Entretanto, a palavra "Universo" era entendida como a totalidade da existência, o que fez esta expressão cair em desuso, preferindo-se usar o termo galáxia. História da observação. Via Láctea. O filósofo grego Demócrito de Abdera (450 – 370 a.C.) propôs que a faixa brilhante no céu noturno, conhecida como a Via Láctea, deveria consistir de estrelas distantes. Aristóteles (384 – 322 a.C.), entretanto, acreditava que a Via Láctea fosse causada pela “ignição da abrasadora exalação de algumas estrelas que eram grandes, numerosas e próximas” e que “a ignição ocorre na parte superior da atmosfera, na região do mundo que está continuamente com os movimentos celestiais.” O filósofo neoplatônico Olimpiodoro, o Jovem (c. 495 – 570 a.C.) era cientificamente crítico desta visão, argumentando que se a Via Láctea fosse sublunar ela deveria parecer diferente em diferentes horas e lugares da Terra, e que teria paralaxe, o que ela não tem. Em sua visão, a Via Láctea era celestial. Esta ideia seria influente mais tarde no mundo islâmico. De acordo com Mohani Mohamed, o astrônomo árabe Alhazen (965 – 1037) fez a primeira tentativa de observar e medir o paralaxe da Via Láctea, e ele “determinou que como a Via Láctea não tinha paralaxe, ela estava muito distante da Terra e não pertencia à atmosfera.” O astrônomo persa Abu Rayhan al-Biruni (973 – 1048) propôs que a Via Láctea era “uma coleção de incontáveis fragmentos com a natureza de estrelas turvas.” O astrônomo andaluz Ibn Bajjah (Avempace, m. 1138) propôs que a Via Láctea era feita de muitas estrelas que quase se tocavam umas nas outras e pareciam uma imagem contínua devido ao efeito da refração no material sublunar, citando sua observação da conjunção de Júpiter e Marte como uma evidência desta ocorrência quando dois objetos estão próximos. No século XIV, o sírio Ibn Qayyim Al-Jawziyya propôs que a Via Láctea era “uma miríade de pequenas estrelas empacotadas juntas na esfera das estrelas fixas.” A confirmação de que Via Láctea consiste de muitas estrelas veio em 1610, quando Galileu Galilei a observou com uma luneta e descobriu que ela era composta de um enorme número de estrelas fracas. Em 1750, Thomas Wright, na sua obra "Uma teoria original ou nova hipótese sobre o Universo", especulou (corretamente) que a galáxia deveria ser um corpo em rotação de um grande número de estrelas mantidas juntas por forças gravitacionais, de forma similar ao Sistema Solar, mas numa escala muito maior. O disco de estrelas resultante pode ser visto como uma faixa no céu devido a nossa perspectiva de dentro do disco. A primeira tentativa de descrever a forma da Via Láctea e a posição do Sol nela foi realizada por William Herschel em 1785, pela contagem cuidadosa do número de estrelas em diferentes regiões do céu. Ele construiu um diagrama da forma da galáxia, com o Sistema Solar próximo do centro. Utilizando uma abordagem refinada, Jacobus Kapteyn chegou em 1920 à figura de uma pequena (diâmetro de cerca de 15 mil parsecs) galáxia elipsoide, com o Sol próximo do centro. Um método diferente por Harlow Shapley, baseado na catalogação de aglomerados globulares, levou a um desenho radicalmente diferente: um disco plano com diâmetro de aproximadamente 70 mil parsecs e o Sol distante do centro. As duas análises falharam por não levarem em consideração a absorção da luz pela poeira interestelar presente no plano galáctico, mas depois que Robert Julius Trumpler quantificou este efeito em 1930 pelo estudo de aglomerados abertos, surgiu o atual desenho da Via Láctea. Distinção de outras galáxias. No século X, o astrônomo persa Abd al-Rahman al-Sufi (conhecido no ocidente como "Azophi") fez a mais antiga observação registrada da Galáxia de Andrômeda, descrevendo-a como uma “pequena nuvem”. Esta galáxia foi redescoberta independentemente por Simon Marius em 1612. Al-Sufi também identificou a Grande Nuvem de Magalhães, que é visível no Iêmen, embora não em Isfahan, a cidade da Pérsia em que ele vivia; esta galáxia não foi vista por europeus até a viagem de Fernão de Magalhães no século XVI. Estas são algumas das poucas galáxias que podem ser observadas da Terra sem o auxílio de instrumentos ópticos. Al-Sufi publicou seus achados no seu "Livro de Estrelas Fixas" em 964. No final do século XVIII, Charles Messier compilou um catálogo contendo as 109 mais brilhantes nebulosas (objetos celestes com uma aparência de nuvem), seguido mais tarde por um catálogo maior de 5 000 nebulosas reunidas por William Herschel. Em 1845, Lord Rosse construiu um novo telescópio e foi capaz de distinguir entre galáxias elípticas e espirais. Ele também conseguiu distinguir pontos individuais em algumas dessas nebulosas, dando crédito à conjectura anterior de Kant. Em 1912, Vesto Slipher fez estudos espectrográficos das nebulosas espirais mais brilhantes para determinar se elas eram compostas de substâncias químicas que seriam esperadas em um sistema planetário. Entretanto, Slipher descobriu que as nebulosas espirais tinham altos desvios para o vermelho, indicando que elas estavam se afastando a velocidades maiores do que a velocidade de escape da Via Láctea. Logo, elas não estavam gravitacionalmente ligadas à Via Láctea e provavelmente não faziam parte da galáxia. Em 1917, Heber Curtis tinha observado uma nova, a S Andromedae, dentro da “Grande Nebulosa de Andrômeda” (como era conhecida a Galáxia de Andrômeda, objeto Messier M31). Pesquisando o registro fotográfico, ele encontrou mais 11 novas. Curtis notou que essas novas eram, em média, 10 magnitudes mais fracas do que as que ocorriam em nossa galáxia. Como resultado, ele foi capaz de definir uma distância estimada de 150 000 parsecs. Ele se tornou um proponente da hipótese chamada “universos insulares”, que indica que as nebulosas espirais são na verdade galáxias independentes. Em 1920, teve lugar o chamado Grande Debate entre Harlow Shapley e Heber Curtis, a respeito da natureza da Via Láctea, as nebulosas espirais e as dimensões do Universo. Para apoiar sua tese de que a Grande Nebulosa de Andrômeda era uma galáxia externa, Curtis apontou a aparição de faixas escuras lembrando as nuvens de poeira da Via Láctea, além do significativo desvio Doppler. A matéria foi resolvida conclusivamente no início dos anos 1920. Em 1922, o astrônomo Ernst Öpik fez uma determinação de distância que apoiava a teoria de que a Nebulosa de Andrômeda é realmente um objeto extragaláctico distante. Usando o novo telescópio do Observatório Monte Wilson de 100 polegadas, Edwin Hubble foi capaz de definir as partes externas de algumas nebulosas espirais como coleções de estrelas individuais e identificou algumas variáveis Cefeidas, permitindo a ele estimar a distância para a nebulosa: elas estavam distantes demais para ser parte da Via Láctea. Em 1936, Hubble criou um sistema de classificação para galáxias que é usado até hoje, a sequência de Hubble. Pesquisa moderna. Em 1944, Hendrik van de Hulst predisse uma radiação de micro-ondas num comprimento de onda de 21 cm resultante de gás hidrogênio atômico interestelar; esta radiação foi observada em 1951. A radiação permitiu grande melhoria do estudo da Via Láctea, pois ela não é afetada pela absorção de poeira e o seu desvio Doppler pode ser usado para mapear o movimento do gás na galáxia. Essas observações levaram à postulação de uma estrutura de barra no centro da galáxia. Com o desenvolvimento dos radiotelescópios, o gás hidrogênio pôde ser pesquisado também em outras galáxias. Nos anos 1970, no estudo de Vera Rubin sobre a velocidade de rotação do gás em galáxias, descobriu-se que a massa total visível (das estrelas e do gás) não é compatível com a velocidade do gás em rotação. Acredita-se que este problema da rotação das galáxias seja explicado pela presença de grandes quantidades de matéria escura invisível. A partir dos anos 1990, o Telescópio Espacial Hubble permitiu o incremento das observações. Entre outras coisas, ele estabeleceu que a matéria escura em nossa galáxia não poderia consistir somente de estrelas pequenas e fracas. O Campo Profundo Observável do Hubble (Hubble Deep Field), uma exposição extremamente longa de uma parte do céu relativamente vazia, forneceu evidência de que há cerca de 125 bilhões de galáxias no universo. O desenvolvimento da tecnologia para detecção do espectro invisível para o homem (radiotelescópios, câmeras infravermelhas e telescópios de raios-X) permitiu a detecção de outras galáxias que não são detectáveis pelo Hubble. Particularmente, pesquisas na região do céu bloqueada pela Via Láctea revelaram certo número de novas galáxias. Rotação de galáxias. Um estudo, em 2019, parece ter encontrado a resposta sugerindo que uma galáxia gira sobre sua massa. Os cientistas estudaram dados de 1418 galáxias e descobriram que as pequenas provavelmente girarão em um eixo diferente das grandes. Eles até mediram a rotação de cada uma das galáxias alvo e mediram sua rotação para o filamento cósmico mais próximo. Eles concluíram que a coluna vertebral dos filamentos cósmicos é praticamente o caminho da migração galáctica, com muitas galáxias se encontrando e se fundindo ao longo do caminho. Tipos e morfologias. Existem três tipos principais de galáxias: elípticas, espirais e irregulares. Uma descrição ligeiramente mais extensa dos tipos de galáxias baseada em sua aparência é dada pela classificação de Hubble. Como esta classificação é totalmente baseada no tipo morfológico visual, ela pode desconsiderar algumas características importantes das galáxias, como a taxa de formação de estrelas (em galáxias starburst) e a atividade no núcleo (em galáxias ativas). Elípticas. O sistema de classificação de Hubble identifica as galáxias elípticas com base em sua elipticidade, variando de E0, quase esféricas, até E7, que são bastante alongadas. Essas galáxias têm um perfil elipsoidal, o que lhes confere uma aparência elíptica independentemente do ângulo de visão. A sua aparência mostra pouca estrutura e elas têm tipicamente pouca matéria interestelar. Consequentemente, essas galáxias também possuem uma porção pequena de aglomerados abertos e uma taxa reduzida de formação de novas estrelas. Em vez disso, elas são geralmente dominadas por estrelas mais velhas e evoluídas, que orbitam o centro comum de gravidade em direções aleatórias. Neste sentido, elas têm alguma similaridade com os muito menores aglomerados globulares. As maiores galáxias são elípticas gigantes. Acredita-se que muitas galáxias elípticas se formam devido à interação de galáxias, resultando em colisões e junções. Elas podem crescer a tamanhos enormes (comparados com os das galáxias espirais, por exemplo), e galáxias elípticas gigantes são frequentemente encontradas perto do núcleo de grandes aglomerados de galáxias. Galáxias starburst são o resultado de uma colisão galáctica, que pode levar à formação de uma galáxia elíptica. Espirais. Galáxias espirais consistem de um disco giratório de estrelas e meio interestelar, juntamente com um bulbo central destacado, composto geralmente de estrelas mais velhas. Estendendo-se para fora deste bulbo existem braços relativamente brilhantes. Na classificação de Hubble, as galáxias espirais são indicadas como tipo "S", seguido por uma letra ("a", "b" ou "c") que indica o grau de aperto dos braços espirais e o tamanho do bulbo central. Uma galáxia "Sa" tem braços apertados e pouco definidos, com uma região de núcleo relativamente grande. No outro extremo, uma galáxia "Sc" tem braços abertos e bem definidos e uma pequena região de núcleo. Uma galáxia com braços pouco definidos é às vezes chamada de "galáxia espiral floculenta", em contraste com as "galáxias espirais de grande desenho", que têm braços espirais proeminentes e bem definidos. Em galáxias espirais, os braços têm a forma aproximada de espirais logarítmicas, um padrão que pode ser teoricamente demonstrado como resultado de uma perturbação em uma massa de estrelas girando uniformemente. Como as estrelas, os braços espirais giram em torno do centro da galáxia, mas eles o fazem com velocidade angular constante. Acredita-se que os braços espirais sejam áreas de matéria de alta densidade, ou "ondas de densidade". À medida que as estrelas se movem através de um braço, a velocidade espacial de cada sistema estelar é modificada pela força gravitacional da maior densidade e a velocidade retorna ao normal depois que a estrela sai pelo outro lado do braço. Este efeito é similar a uma “onda” de desacelerações movendo-se ao longo de uma rodovia cheia de carros em movimento. Os braços são visíveis porque a alta densidade facilita a formação de estrelas, portanto eles abrigam muitas estrelas jovens e brilhantes. A maioria das galáxias espirais possui uma faixa linear de estrelas em forma de barra que se estende para fora de cada lado do núcleo e depois se junta à estrutura do braço espiral. Na classificação de Hubble, elas são designadas por um "SB", seguido de uma letra minúscula ("a", "b" ou "c") que indica a forma do braço espiral, da mesma forma como são categorizadas as galáxias espirais normais. Acredita-se que as barras sejam estruturas temporárias que podem ocorrer como resultado de uma onda de densidade irradiando-se para fora do núcleo, ou devido a uma interação de maré com outra galáxia. Muitas galáxias espirais barradas são ativas, possivelmente como resultado de gás sendo canalizado para o núcleo ao longo dos braços. A Via Láctea é uma grande galáxia espiral barrada em forma de disco, com cerca de 30 mil parsecs de diâmetro e mil parsecs de espessura. Ela contém cerca de 200 bilhões de estrelas. e tem uma massa total de 600 bilhões de vezes a massa do Sol. Outras morfologias. Galáxias peculiares são formações galácticas que desenvolvem propriedades não usuais devido a interações de maré com outras galáxias. Um exemplo disto é a galáxia em anel, que possui uma estrutura de estrelas e meio interestelar em forma de anel, circundando um núcleo vazio. Acredita-se que uma galáxia em anel acontece quando uma galáxia pequena passa pelo núcleo de uma galáxia espiral. Um evento desses pode ter afetado a Galáxia de Andrômeda, uma vez que ela apresenta uma estrutura multi-anel quando observada pela radiação infravermelha. Uma galáxia lenticular é uma forma intermediária que possui propriedades tanto de galáxias elípticas quanto de espirais. Elas são categorizadas como tipo S0 na classificação de Hubble e possuem braços espirais mal definidos, com um halo elíptico de estrelas. Galáxias lenticulares barradas são denominadas Sb0 na classificação de Hubble. Além das classificações mencionadas acima, existe um número de galáxias que não podem ser prontamente classificadas na morfologia espiral ou elíptica. Essas são classificadas como galáxias irregulares. Uma galáxia Irr-I possui alguma estrutura, mas não se alinha adequadamente com a classificação de Hubble. Galáxias Irr-II não possuem qualquer estrutura que se pareça com a classificação de Hubble e podem ter sido rompidas. Exemplos próximos de galáxias irregulares (anãs) são as Nuvens de Magalhães. Anãs. Apesar da proeminência das grandes galáxias elípticas e espirais, a maioria das galáxias no universo parecem ser anãs. Elas são relativamente pequenas quando comparadas com outras formações galácticas, tendo cerca de um centésimo do tamanho da Via Láctea e contendo apenas alguns bilhões de estrelas. Galáxias anãs ultra-compactas recentemente descobertas têm apenas 100 parsecs de largura. Muitas galáxias anãs podem orbitar uma galáxia maior; a Via Láctea tem pelo menos uma dúzia desses satélites, estimando-se que haja de 300 a 500 ainda desconhecidos. Galáxias anãs podem ser classificadas também como elípticas, espirais ou irregulares. Como as pequenas anãs elípticas têm pouca semelhança com as grandes elípticas, elas são frequentemente chamadas galáxias anãs esferoidais. Um estudo de 27 vizinhas da Via Láctea descobriu que em todas as galáxias anãs, a massa central é de aproximadamente 10 milhões de massas solares, independentemente de se a galáxia possui milhares ou milhões de estrelas. Isto levou à sugestão de que as galáxias são grandemente formadas por matéria escura e que o tamanho mínimo pode indicar uma forma de matéria escura morna, incapaz de coalescência gravitacional numa escala menor. Dinâmica e atividades incomuns. Interação. A separação média entre galáxias dentro de um aglomerado é de pouco mais de uma ordem de grandeza maior do que o seu diâmetro. Logo, as interações entre essas galáxias são relativamente frequentes e têm um papel importante em sua evolução. Pequenas distâncias entre galáxias resultam em deformações devido a interações de maré e podem causar trocas de gás e poeira. Colisões ocorrem quando duas galáxias passam diretamente uma através da outra e têm suficiente momento relativo para não se juntarem. As estrelas dentro dessas galáxias que interagem tipicamente passam direto sem colidirem, entretanto o gás e a poeira dentro das duas formas vão interagir. Isto pode aumentar a taxa de formação de estrelas, na medida em que o meio interestelar é rompido e comprimido. Uma colisão pode distorcer severamente a forma de uma ou de ambas as galáxias, formando barras, anéis ou estruturas similares a caudas. No extremo das interações estão as junções de galáxias. Neste caso, o momento relativo das duas galáxias é insuficiente para permitir que passem uma dentro da outra. Em vez disso, elas gradualmente se juntam para formar uma única galáxia maior. As junções podem resultar em mudanças significativas da morfologia, se comparada às das galáxias originais. Quando uma das galáxias tem massa muito maior, entretanto, o resultado é conhecido como canibalismo. Neste caso, a galáxia maior permanece relativamente inalterada pela junção, enquanto a menor é rasgada em pedaços. A Via Láctea está atualmente no processo de canibalizar a Galáxia Anã Elíptica de Sagitário e a Galáxia Anã do Cão Maior. Starburst. As estrelas são criadas no interior de galáxias a partir de uma reserva de gás frio que se transforma em nuvens moleculares gigantes. Observou-se que estrelas se formam numa taxa excepcional em algumas galáxias, as quais são chamadas starburst. Se elas continuassem nesse comportamento, entretanto, elas consumiriam sua reserva de gás em um tempo menor do que o tempo de vida de uma galáxia. Logo, a atividade de nascimento de estrelas dura normalmente cerca de dez milhões de anos, um período relativamente breve na história de uma galáxia. As galáxias starburst eram mais comuns no início da história do universo e estima-se que, atualmente, ainda contribuem com 15% da taxa total de produção de estrelas. As galáxias starburst se caracterizam pela concentração de gás e poeira e pela aparição de novas estrelas, inclusive estrelas massivas que ionizam as nuvens circundantes, criando regiões HII. Essas estrelas massivas produzem supernovas, resultando em remanescentes em expansão que interagem fortemente com o gás circundante. Essas explosões provocam uma reação em cadeia de criação de estrelas que se espalha por toda a região gasosa. Somente quando o gás disponível foi quase todo consumido ou disperso a atividade de criação de estrelas chega ao fim. A criação de estrelas está frequentemente associada com a junção ou interação de galáxias. Um exemplo típico de uma interação formadora de estrelas é M82, que passou por uma aproximação com a maior M81. Galáxias irregulares frequentemente exibem núcleos espaçados de atividade de formação de estrelas. Núcleo ativo. Uma parte das galáxias observáveis são classificadas como ativas, isto é, uma significativa porção da produção de energia da galáxia é emitida por uma fonte que não são as estrelas, a poeira e o meio interestelar. O modelo padrão para um núcleo galáctico ativo se baseia em um disco de acreção que se forma em torno de um buraco negro supermaciço na região do núcleo. A radiação de um núcleo galáctico ativo resulta da energia gravitacional da matéria do disco que cai no buraco negro. Em cerca de 10% desses objetos, um par diametralmente oposto de jatos de energia ejeta partículas do núcleo a velocidades próximas à velocidade da luz. O mecanismo de produção desses jatos ainda não é bem compreendido. Galáxias ativas que emitem radiação de alta energia na forma de raios-X são classificadas como galáxias Seyfert ou quasares, dependendo da luminosidade. Acredita-se que os blazares sejam galáxias ativas com um jato relativístico apontado na direção da Terra. Uma radiogaláxia emite frequências de rádio a partir de jatos relativísticos. Um modelo unificado desses tipos de galáxias ativas explica suas diferenças baseado no ângulo de visão do observador. Possivelmente associados a núcleos galácticos ativos (bem como a regiões de formação estelar) estão as regiões de linhas de emissão nuclear de baixa ionização ("low ionization nuclear emission-line regions" – LINERs). A emissão deste tipo de galáxia é dominada por elementos fracamente ionizados. Aproximadamente um terço das galáxias próximas são classificadas como contendo núcleos LINER. Formação e evolução. Formação. Os modelos cosmológicos atuais do início do universo são baseados na teoria do Big Bang. Cerca de 300 mil anos depois deste evento, átomos de hidrogênio e hélio começaram a se formar, num evento chamado “recombinação”. Quase todo o hidrogênio era neutro (não ionizado) e rapidamente absorveu luz, e nenhuma estrela tinha se formado ainda. Como resultado, este período foi chamado de “Eras Escuras”. Foi a partir de flutuações de densidade (ou irregularidades anisotrópicas) nesta matéria primordial que as estruturas maiores começaram a aparecer. Como resultado, massas de matéria bariônica começaram a se condensar dentro de halos de matéria escura fria. Essas estruturas primordiais acabaram se tornando as galáxias que vemos hoje. A evidência para o início da aparição de galáxias foi encontrada em 2006, quando se descobriu que a galáxia IOK-1 tem um desvio para o vermelho incomumente alto de 6,96, correspondendo a apenas 750 milhões de anos depois do Big Bang, fazendo dela a mais distante e primordial galáxia já vista. Enquanto alguns cientistas argumentam que outros objetos (como Abell 1835 IR1916) têm maiores desvios para o vermelho (e, portanto, são vistos em um estágio anterior da evolução do Universo), a idade e composição da IOK-1 foram estabelecidas com maior confiabilidade. A existência dessas protogaláxias iniciais sugere que elas devem ter crescido nas chamadas Eras Escuras. O processo detalhado pelo qual esta formação inicial de galáxias ocorreu é uma importante questão em aberto na astronomia. As teorias podem ser divididas em duas categorias: de cima para baixo e de baixo para cima. Nas teorias de cima para baixo (como o modelo de Eggen-Lynden-Bell-Sandage [ELS]), as protogaláxias se formam num colapso simultâneo de larga escala que dura cerca de cem milhões de anos. Nas teorias de baixo para cima (como o modelo de Searle-Zinn [SZ]), estruturas pequenas como os aglomerados globulares se formam primeiro, e depois um número de tais corpos acretam para formar uma galáxia maior. Uma vez que as protogaláxias começaram a se formar e contrair, as primeiras estrelas do halo (chamadas estrelas da População III) apareceram dentro delas. Estas eram compostas quase inteiramente de hidrogênio e hélio, e podem ter sido massivas. Se isto aconteceu, essas estrelas enormes consumiram rapidamente seu suprimento de combustível e se tornaram supernovas, liberando elementos pesados no meio interestelar. Esta primeira geração de estrelas reionizou o hidrogênio neutro circundante, criando bolhas de espaço em expansão, através das quais a luz poderia viajar facilmente. Evolução. Um bilhão de anos após o início da formação de uma galáxia, as estruturas chaves começam a aparecer. Formam-se aglomerados globulares, o buraco negro supermaciço central e um bulbo galáctico de estrelas da População II, pobres em metal. A criação de um buraco negro supermaciço parece deter um papel relevante de regular ativamente o crescimento de galáxias, por limitar a quantidade total de matéria acrescentada. Durante este período inicial, as galáxias passam por um grande aumento de formação de estrelas. Durante os dois bilhões de anos seguintes, a matéria acumulada se dispõe em um disco galáctico. Uma galáxia continua a absorver matéria proveniente de nuvens de alta velocidade e de galáxias anãs por toda a sua vida, que se constitui principalmente de hidrogênio e hélio. O ciclo de nascimento e morte estelar aumenta lentamente a abundância de elementos pesados, permitindo ao fim a formação de planetas. A evolução das galáxias pode ser afetada significativamente por interações e colisões. Junções de galáxias foram comuns na época inicial, e a maioria das galáxias tinha uma morfologia peculiar. Tendo em vista as distâncias entre as estrelas, a grande maioria dos sistemas estelares em galáxias que colidem não é afetada. Entretanto, a remoção gravitacional do gás e poeira interestelares que formam os braços espirais produz uma longa cadeia de estrelas conhecida como caudas de maré. Exemplos dessas formações podem ser vistos em NGC 4676 e NGC 4038. Como exemplo de tais interações, a Via Láctea e a vizinha Galáxia de Andrômeda estão se movendo uma em direção à outra a cerca de 130 km/s e – dependendo dos movimentos laterais – as duas podem colidir dentro de cinco a seis bilhões de anos. Embora a Via Láctea nunca tenha colidido com uma galáxia tão grande quanto a de Andrômeda, há crescentes evidências de ela ter colidido no passado com galáxias anãs. Interações de grande escala como esta são raras. À medida que o tempo passa, junções de sistemas do mesmo tamanho ficam menos comuns. A maioria das galáxias brilhantes permaneceu basicamente inalterada nos últimos bilhões de anos, e a taxa global de formação de estrelas provavelmente teve seu pico há aproximadamente dez bilhões de anos. Tendências para o futuro. Atualmente, a maior parte da formação de estrelas ocorre em galáxias menores, onde o gás frio não está esgotado. Galáxias espirais, como a Via Láctea, só produzem novas gerações de estrelas enquanto têm nuvens moleculares densas de hidrogênio interestelar nos seus braços espirais. As galáxias elípticas já estão desprovidas deste gás, portanto não formam novas estrelas. O suprimento de material para formação de estrelas é finito; quando as estrelas tiverem convertido o estoque disponível de hidrogênio em elementos mais pesados, a formação de novas estrelas chegará ao fim. Acredita-se que a atual era de formação de estrelas vai continuar por até cem bilhões de anos, e então a “era estelar” se concluirá depois de cerca de dez trilhões a cem trilhões de anos, quando as menores e mais longevas estrelas, as pequenas anãs vermelhas, começarem a morrer. Ao final da era estelar, as galáxias serão compostas por objetos compactos: anãs marrons, anãs brancas que estão se resfriando ou frias (“anãs negras”), estrelas de nêutrons e buracos negros. Ao final, como resultado do relaxamento gravitacional, todas as estrelas cairão nos buracos negros supermaciços ou serão arremessadas para o espaço intergaláctico, como resultado de colisões. Estruturas de grande escala. Pesquisas nas profundezas do céu revelam que as galáxias são frequentemente encontradas em associações relativamente próximas com outras galáxias. São relativamente raras as galáxias solitárias que não tenham interagido significativamente com alguma outra galáxia de massa comparável no último bilhão de anos. Somente cerca de 5% das galáxias pesquisadas foram caracterizadas como verdadeiramente isoladas; entretanto, mesmo essas podem ter interagido ou mesmo se juntado com outras galáxias no passado, e podem ainda ser orbitadas por galáxias satélites menores. Galáxias isoladas podem produzir estrelas a uma taxa mais alta que o normal, pois o seu gás não é removido por outras galáxias próximas. Em escala maior, o universo está continuamente se expandindo, resultando no aumento médio da separação entre galáxias individuais (ver Lei de Hubble-Humason). Associações de galáxias podem superar esta expansão em escala local por meio da sua atração gravitacional mútua. Essas associações se formaram cedo no universo, quando pedaços de matéria escura forçaram a aproximação das suas respectivas galáxias. Mais tarde, grupos vizinhos se juntaram para formar aglomerados em escala maior. Este processo de junção, assim como o influxo de gás, aquece o gás intergaláctico dentro do aglomerado a temperaturas muito altas, atingindo 30–100 megakelvins. Entre 70 e 80% da massa dos aglomerados está na forma de matéria escura, enquanto 10 a 30% consiste deste gás aquecido e o pequeno percentual remanescente está na forma de galáxias. A maioria das galáxias no universo está gravitacionalmente ligada a outras galáxias. Elas formam uma hierarquia de estruturas aglomeradas semelhante a fractais, sendo as menores dessas associações chamadas de grupos. Um grupo de galáxias é o tipo mais comum de aglomerado galáctico, e essas formações contêm a maioria das galáxias (bem como a maior parte da massa bariônica) do universo. Para permanecer gravitacionalmente ligado a este grupo, cada membro da galáxia deve ter uma velocidade suficientemente baixa para impedir que ele escape (ver Teorema do virial). Se não houver energia cinética suficiente, porém, o grupo pode evoluir para um número menor de galáxias por meio de junções. Estruturas maiores contendo muitos milhares de galáxias comprimidas numa área de alguns megaparsecs de largura são chamadas aglomerados. Aglomerados de galáxias são frequentemente dominados por uma única galáxia elíptica gigante, a galáxia mais brilhante do aglomerado, a qual, com o tempo, devido à força de maré destrói suas galáxias satélites e soma as suas massas à sua própria. Os superaglomerados contêm dezenas de milhares de galáxias, que são encontradas em aglomerados, grupos e às vezes individualmente. Na escala do superaglomerado, as galáxias são dispostas em lâminas e filamentos circundando vastos espaços vazios. Acima desta escala, o universo parece ser isotrópico e homogêneo. A Via Láctea é membro de uma associação chamada Grupo Local, um grupo relativamente pequeno de galáxias, com um diâmetro de aproximadamente um megaparsec. A Via Láctea e a Galáxia de Andrômeda são as duas galáxias mais brilhantes dentro do grupo; muitas das outras galáxias membros são companheiras anãs dessas duas galáxias. O próprio Grupo Local é parte de uma estrutura semelhante a uma nuvem dentro do Superaglomerado de Virgem, uma grande estrutura de grupos e aglomerados de galáxias centrada no Aglomerado de Virgem. Observação com múltiplos comprimentos de onda. A poeira presente no meio interestelar é opaca à luz visível. Ela é mais transparente ao infravermelho distante, que pode ser usado para observar as regiões interiores de nuvens moleculares gigantes e núcleos galácticos em grande detalhe. O infravermelho também é usado para observar galáxias distantes, com desvio para o vermelho, que foram formadas muito mais cedo na história do universo. Vapor d’água e dióxido de carbono absorvem porções úteis do espectro infravermelho, portanto telescópios de grande altitude ou espaciais são usados para a astronomia infravermelha. O primeiro estudo não-visual de galáxias, particularmente de galáxias ativas, foi feito usando frequências de rádio. A atmosfera é quase transparente ao rádio entre 5 MHz e 30 GHz (a ionosfera bloqueia sinais abaixo desta faixa). Grandes interferômetros de rádio foram usados para mapear os jatos ativos emitidos pelos núcleos ativos. Radiotelescópios também podem ser usados para observar hidrogênio neutro (radiação de 21 cm), potencialmente incluindo a matéria não ionizada no universo primordial que mais tarde colapsou para formar galáxias. Telescópios de ultravioleta e de raios-X podem observar fenômenos galácticos de alta energia. Um clarão ultravioleta foi observado quando uma estrela de uma galáxia distante foi despedaçada pelas forças de maré de um buraco negro. A distribuição de gás quente em aglomerados galácticos pode ser mapeada por raios-X. A existência de buracos negros supermaciços nos núcleos de galáxias foi confirmada pela astronomia de raios-X.
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Gil Eanes
Gil Eanes Gil Eanes (em português arcaico "Gil Eannes") foi um navegador português do século XV, ficou conhecido por ter dobrado o Cabo Bojador em 1434, um importante marco dos Descobrimentos Portugueses. Biografia. Nasceu em Lagos, sendo parte de uma família nobre daquele concelho. Foi escudeiro de D. Henrique, tendo sido navegador da casa do Infante. Em 1433 D. Henrique ofereceu-lhe a capitania de uma barca, de forma a dobrar o Cabo Bojador, que era o ponto mais a Sul que os portugueses conheciam da costa ocidental africana, devido às dificuldades em ultrapassá-lo. Com efeito, a navegação na zona do Cabo Bojador era perigosa e difícil, uma vez que estava rodeado de recifes, além de ter uma grande tendência para a formação de nevoeiro. O cronista Gomes Eanes de Azurara descreveu o cabo na sua obra "Crónica dos Feitos da Guiné": «"o mar é tão baixo que a uma légua de terra não há de fundo mais do que uma braça. As correntes são tamanhas que navio que lá passe jamais poderá tornar."».Por este motivo, ganhou uma reputação lendária entre os navegantes, tanto cristãos como islâmicos, que acreditavam que seria habitado por monstros marinhos. Segundo o historiador Damião Peres, baseado numa carta régia do Século XV, foram feitas quinze tentativas para dobrar o Cabo Bojador, todas sem sucesso. Na sua primeira viagem, Gil Eannes falhou passou pelo Arquipélago das Canárias, onde fez alguns prisioneiros, tendo depois rumado para o cabo, que falhou em ultrapassar, regressando depois a Portugal. Também em 1433, Gil Eanes recebeu uma carta de mercê para o ofício de escrivão dos navios que utilizassem o Porto de Lisboa. Por exortação do Infante, fez uma nova viagem até ao Cabo Bojador em 1434, tendo desta vez sido bem sucedido, como relatou o cronista Gomes Eanes de Zurara: «"Daquela viagem, menosprezando todo o perigo, dobrou o cabo a além, onde achou as cousas muito pelo contrário do que ele e os outros até ali presumiam"». Conseguiu navegar durante algumas milhas até a Sul do cabo, onde colheu algumas flores silvestres, conhecidas como "Rosas de Santa Maria" para provar que tinha chegado até ali. Este feito foi considerado um dos mais importantes marcos dos Descobrimentos Portugueses, uma vez que permitiu a continuação da exploração da costa africana. Na realidade, o Infante sabia, desde a tomada de Ceuta em 1415, quando falou com os mercadores árabes que traficavam ouro e escravos com a África Equatorial havia séculos, que nada das lendas era verdade. O problema eram os ventos, que durante todo o ano empurravam os navios a vela para o sul, tornando quase impossível regressar, como se vê nesta carta dos ventos: Segundo Gago Coutinho, desde a ocupação da Madeira, em 1418, os navegadores do Infante aperfeiçoaram a técnica de navegar no mar largo, procurando ventos favoráveis, ao mesmo tempo que desenvolviam os instrumentos de navegação que permitiam não ficarem perdidos quando deixavam de ver terra. Esta busca durou 12 anos, até que descobriram os Açores, em 1431, e a partir daí tinham sempre vento favorável para voltar a Portugal. Só depois dos Açores é que se atreveram a passar o Cabo Bojador, em 1434. O navio de Gil Eanes era uma barca, sem velas latinas, nem podia bolinar contra o vento, pelo que Gago Coutinho propõe a seguinte rota de retorno: Em 1435 fez uma nova viagem para Sul, em conjunto com Afonso Gonçalves Baldaia, tendo atingido uma área conhecida como Angra dos Ruivos ou dos Cavalos, que ficava a cerca de 50 léguas a Sul do Cabo Bojador. Em 1444 acompanhou Lançarote de Lagos na expedição às ilhas de Tíder e Naar, e em 1445 esteve no Arquipélago das Canárias e chegou ao Cabo Verde, na costa africana. Homenagem. Em 1994, um aluno de dez anos da Escola de Barrancos, José Luís Coelho, inspirou-se no navegador para dar o nome de "Gil" à mascote oficial da Exposição Mundial de 1998, que foi organizada em Lisboa.
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Gases Nobres
Gases Nobres
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House music
House music House é um gênero musical caracterizado por uma batida repetitiva no padrão four-on-the-floor e um andamento típico de 120 bpm. Foi criado no início dos anos 1980 por DJs e produtores musicais afro-estadunidenses pertencentes à cultura club underground de Chicago, nos Estados Unidos, que começaram a alterar as músicas disco para dar a elas uma batida mais mecânica. Frankie Knuckles, Ron Hardy, Jesse Saunders, Chip E., Joe Smooth, Steve "Silk" Hurley, Farley "Jackmaster" Funk, Marshall Jefferson, Phuture, entre outros, são tidos como pioneiros da house music. O gênero inicialmente se expandiu internacionalmente, para Londres, antes de se expandir para outras cidades estadunidenses, como a cidade de Nova Iorque, e, por fim, acabar virando um fenômeno mundial. A música house tem um grande efeito na música pop, especialmente no subgênero dance-pop. Foi incorporada à obras de grandes artistas internacionais, incluindo Whitney Houston, Janet Jackson, Madonna, Pet Shop Boys, Kylie Minogue e Lady Gaga, e também produziu muitos sucessos mainstream, como "Pump Up the Jam" do Technotronic e "Show Me Love" da Robin S. Muitos DJs de house também fizeram e continuam fazendo remixes para artistas pop. A house music permaneceu popular no rádio e nos clubes, mantendo uma posição tanto no mainstream quanto nas cenas underground em todo o mundo, originando vários subgêneros. Características musicais. Em sua forma mais típica, o gênero é caracterizado por ritmos four-on-the-floor repetitivos que incluem bumbo, chimbal off-beat, caixa, palmas e/ou estalar de dedos em um andamento entre 120 e 130 batidas por minuto; riffs de sintetizadores; linhas de baixo profundas; e frequentemente, mas não necessariamente, vocais cantados, falados ou sampleados. Na música house, o bumbo é geralmente tocado nas batidas um, dois, três e quatro, e a caixa, palmas ou outra percussão mais aguda nas batidas dois e quatro. As batidas de bateria são quase sempre fornecidas por uma "drum machine", geralmente uma Roland TR-808, TR-909, ou uma TR-707. Palmas, chocalhos, caixas ou sons de chimbal são usados para adicionar sincopação. Um dos riffs rítmicos característicos, especialmente no início do house de Chicago, é construído no padrão de clave. Congas e bongôs podem ser adicionados para um som africano, ou percussão metálica para um toque latino. Às vezes, os sons de bateria são "saturados" ao aumentar o ganho para criar um som mais agressivo. Um subgênero clássico, o acid house, é definido pelos sons espremidos e borbulhantes criados pelo sintetizador de baixo Roland TB-303. A música house podia ser produzida em "equipamentos eletrônicos baratos e amigáveis ao consumidor" e equipamentos de som usados, o que facilitou a criação de faixas por gravadoras e DJs independentes. As baterias eletrônicas e outros equipamentos usados por DJs e produtores de house eram anteriormente considerados "muito baratas" por músicos "de verdade". Os produtores de house music normalmente usam instrumentos sampleados, em vez de trazer músicos de sessão para um estúdio de gravação. Embora um elemento-chave da produção de house seja a sobreposição de sons, como batidas, samples, linhas de sintetizadores e assim por diante, a "textura geral... é relativamente esparsa". Ao contrário das canções pop, que enfatizam sons mais agudos como a melodia, na house music, o registro dos graves mais graves é o mais importante. As faixas de house geralmente envolvem uma introdução, um refrão, várias seções de versos, uma seção intermediária e uma breve saída. Algumas faixas não possuem verso, tirando parte vocal do refrão e repetindo o mesmo padrão. As canções geralmente são baseadas em seções de oito compassos que são repetidas. Elas geralmente são construídas em torno de loops ou linhas de baixo com graves potentes produzidas por um sintetizador e/ou em torno de samples de músicas disco, soul ou funk. DJs e produtores que criam uma faixa house para ser tocada em clubes podem fazer uma "mixagem de sete ou oito minutos para um compacto duplo"; se a faixa for tocada no rádio, uma edição para as rádios de "três minutos e meio" é usada. As faixas house são construídas lentamente, adicionando camadas de som e textura que aumentam seu volume. Faixas do gênero podem ter vocais como uma música pop, texturas e ritmos complexos ou acordes épicos, mas, de modo geral, estruturalmente são "músicas instrumentais completamente minimalistas". Se uma faixa house tiver vocais, as linhas vocais também podem ser simples "palavras ou frases" que são repetidas. Etimologia. A origem do termo "house" (em inglês: "casa""") é contraditória. A teoria mais aceita é, que o termo originou da abreviação de um clube noturno na cidade de Chicago, chamado "The Warehouse", que existiu entre 1977 e 1982, conhecida por ter a maioria do público formado por: negros, LGBT e, latinos, que dançavam a disco desempenhada pelo DJ Frankie Knuckles. Embora este tenha deixado o clube em 1982, que trocou de nome anos depois, o termo "house" tornou-se popular na cidade como sinônimo das seleções musicais de Knuckles. História. House music é um estilo de música eletrônica surgido em clubes de dança underground de Chicago (estado de Illinois), no inicio da década de 1980. Mas há muitos mitos sobre como ocorreu o nascimento da house music, mas de fato não apresentam fontes e não indicam quais os produtores que trabalharam no desenvolvimento da cultura house music. Muitos dizem que a house music é uma vertente da disco music e da electropop da década de 1970, pois foram estilos musicais quase que contemporâneos. Frankie Knuckles é aclamado por muitos como o "pai" da House Music, ele que é um dos pioneiros deste gênero juntamente com outros nomes como Tony Humphries. A maioria dos projetos (desenvolvidos por DJs, produtores e grupos musicais) têm como origem os seguintes países: Países Baixos, Itália, Alemanha, Bélgica, Estados Unidos e, Reino Unido. Este estilo chegou ao cenário da música contemporânea, ganhando popularidade além dos clubes e festivais, mas também na vida cotidiana através de filmes e rádios. Atualmente existem muitos subgêneros da house, dependendo das regiões onde é produzido, tais como: funky-house, tech-house, disco-house, progressive house, electro-house, acid house, soulful house, neo-jazz-house, entre outros. Onde o elemento comum dos subgêneros é o uso da batida 4/4 gerada por uma bateria eletrônica, completada com uma linha de baixo (na maioria também gerada eletronicamente), ou acréscimos de "samplers" e pequenas porções de voz ou de instrumentos de outros estilos. No Brasil a House Music somente destronou outros ritmos em 1989, quando a música Pump Up the Jam do grupo Technotronic invadiu os clubes do mundo, tornando a Dance Music uma mania. A House ficou popularmente conhecida pelo termo pejorativo de "poperô". Em 1996 essa música retornou às paradas de sucesso no filme Space Jam, provando que a House Music tinha muito mais fôlego que os críticos poderiam imaginar. Muitos, na época, falaram que a House era um estilo passageiro e que seria apenas mais um modismo, mas passados 20 anos, o ritmo dançante da house music continua intacto e parece até com mais vigor, agora com o apoio de ritmos que originaram dela, como o Acid House, Deep House, Progressive House, Tech House, Electro House e vários outros. Hoje no Brasil a House Music tem se difundido cada vez mais. Inúmeras casas noturnas do país fazem sucesso tocando música House e convidando inclusive vários DJ's de renome internacional que passaram a tocar em terras brasileiras. Além disso é um dos estilos mais tocados em festas caseiras, entre amigos (chill-out). Variações. Acid house. O Acid House é o estilo mais radical de House music. Fabricado em estúdio, este surgiu de uma brincadeira de Dj Pierre, com o sintetizador analógico Roland TB-303, máquina essa que veio a caracterizar toda uma sonoridade que saiu em bastantes discos e gêneros posteriores. O resultado dessa experimentação resultou a faixa 'Acid Trax', considerada o marco zero da Acid House. Na verdade, sons da TB 303 já haviam aparecido em composições anteriores, mas forma de comportadas linhas de baixo. Na Acid House, a 303 cria ruídos corrosivos, distorcidos, cibernéticos e futuristas. A sustentação rítmica do acid é feita por contrabaixos eletrônicos e baterias programadas. Esses instrumentos são misturados com o auxílio de computadores a amostras diversas, como sons distorcidos de guitarras dos anos 60, orgasmos femininos repetidos e seqüenciados, metralhadoras, explosões e diálogos de filmes, sempre organizados de maneira rítmica e cíclica. Alguns atribuem o nome "acid" ao consumo de LSD conhecido vulgarmente por "ácido" e, sobretudo, Ecstasy, entre os frequentadores das casas londrinas que tocavam este gênero de música. Ainda de acordo com esta explicação, a alusão ao Ecstasy, ou apenas 'E', aparece também em muitos nomes de canções acid. Os conhecedores do estilo atribuem o termo "acid" ao som característico emitido pelo sintetizador de baixo TB-303 ao ter seus botões de controle de efeitos girados pelo artista na hora da execução de alguma linha melódica. No verão de 1987, esse peculiar estilo de House Music deixa sua Chicago natal e aporta no balneário espanhol de Ibiza, muito popular entre os veranistas vindos de toda a Europa, sobretudo ingleses. É ali que a Acid House deixa de ser um estilo da House de Chicago para se transformar em um fenômeno cultural. Os DJs locais dão uma forma mais radical ao estilo, enfatizando o lado eufórico e, sobretudo, psicodélico da música. No verão seguinte é levada para Londres por DJs ingleses, e logo vira hit. É o chamado 'Verão do Amor', estopim de uma revolução cultural jovem no Reino Unido. Roupas fluorescentes e coloridas, além de uma atitude ao mesmo tempo amistosa, libertária e energética, dão o tom do movimento. O smiley, um sorriso dentro de uma bola amarela, vira emblema dos adeptos da acid house e é estampado em camisetas. Do Reino Unido, o fenômeno se espalha rapidamente pelos países vizinhos, sobretudo Alemanha, Itália e Países Baixos.. Um dos álbuns que marcam a efervescência acid foi Wanted, de Yazz puxado pelo hit "The Only Way is Up" e "Stand up", chega às primeiras posições da parada de sucessos inglesa e rende a Yazz o título de rainha da house. Também fazem sucesso Into the Dragon, do Bomb the Bass e Jack the Tab cujas músicas supostamente interpretadas por vários grupos – na verdade fictícios, criados pelos computadores do produtor musical Genesis P. Orridge. A Acid House como vertente da E-Music praticamente foi deixada de lado a partir de 1989, quando se desdobra em outros sub-gêneros, sendo que alguns deles começaram a dominar o mainstream. Entretanto, os ecos do boom acid inicial ainda estão presentes na raiz de diversas produções atuais. Acid Break. O Acid Break é a fusão do Acid House com suas sustentação rítmica feita por contrabaixos eletrônicos, sons distorcidos de guitarras dos anos 60 e baterias programadas, normalmente criado com o TB303 (baixo) e o TR808 (bateria) da Roland, com as batidas quebradas do Breakbeat. Soulful House. O Souful House é um estilo de House music com forte influencia da Soul Music americana. Herdeiro do Garage House, tem nos DJs de New York seus maiores representantes. Deep House. O Deep House é um dos estilos mais introspectivos de House music, geralmente utiliza a faixa de 118-128 bpm e às vezes usa vocais. Como o nome indica, baseia-se em sons profundos e calmos, sobre a batida 4/4 característica do estilo. É representado por diversas escalas com referências diferentes, do mais orgânico (West Coast) ao sintético (Berlin, Londres). Tropical House. O subgênero Tropical House é comum em Miami e Ibiza. Tem um ritmo mais lento, geralmente mais melódico e mais uso de vocais do que a Deep House. French House. A expressão "French house" (do francês, "French touch") designa grande parte da música eletrônica francesa produzida na década de 1990 - em particular, nos estilos House music e "downtempo". Embora baseado no ritmo "house" clássico, o gênero deve a sua originalidade à utilização de samples filtrados provenientes maioritariamente do "Funk" e da "Disco music". Artistas como: Daft Punk e Justice possuem grande reconhecimento na cena. Electro House. O Electro House é um estilo de House music com timbres sujos, sintéticos e sombrios e com linhas de baixo ácidas,característica emprestada do electro da década de 80. Tribal House. O uso de sons tribais (sons da selva) normalmente na área da percussão, que é exaustivamente trabalhada na Tribal House. Pensa-se que o tribal surgiu de uma ligação entre a música africana e a electrónica. Pode-se dizer que o Tribal é o casamento da House Music com ritmos africanos, gerando uma mistura de sons e efeitos. Observa-se também mistura de instrumentos de sopro como o saxofone na famosa track de Laurent Wolf - Saxo. Progressive House. Estilo de House que surgiu no início dos anos 90. O Progessive House foi o subgênero do House music que mais se aproximou do Trance Europeu e do Techno. Consiste numa batida 4 por 4, com uma melodia mais elaborada e profunda criando uma atmosfera emocional, podendo ter variados humores (moods). As mudanças na música ocorrem pouco a pouco de forma progressiva. Tech House. O Tech House é o estilo de House music que vem da mistura do techno com a house, sendo no caso um meio termo entre ambos. Podendo também certas vezes misturado com o deep house, resultando no Deep & Tech House. Exemplo de produtores: -Billy kenny -Fisher,e outros Dirty House. O Dirty House é um estilo de House Music desenvolvido na Europa, principalmente na França e nos Países Baixos (então, é também conhecido como Dutch House), ao longo dos anos 2000. Consiste numa grande mistura de várias características dos outros estilos de house, principalmente batidas de Progressive House; misturadas com sons e sínteses sonoras que usam, por exemplo, os efeitos do Portamento e de Eco, que dão origem a uma espécie de música psicodélica. Seus principais nomes são, Afrojack e Sidney Samson, entre outros. Flash House. O Flash House é um termo generalista dado aos vários estilos de house music que foram muito sucesso nas décadas de 1980 e 1990 nos quais o acid house, Progressive House e um pouco de Dirty House. Também tem muito de synth-pop dançante. Na realidade, praticamente quase toda house music que ficou na história passa a se chamar flash house, mas predomina os sucessos entre os anos 80 e 90. Low House. O Low House é um gênero da House music, gerado a partir da fusão de Deep House na harmonia e o Tech House no BPM 127 E 128, reforço no grave e utilização de vários elementos de percussão, aos 2 minutos da música em geral ela se modifica completamente dando ideia de 2 em 1, utilizando notas de músicas consagradas... sintetinzadas e modificadas... acompanhada de um pequeno refrão ou frase de efeito...uma espécie de dejavu musical... extremamente dançante e para cima embora o nome sugere algo lento... é o lento em 127 BPM. House Dance. O House Dance é uma social dance dançada inicialmente seguindo as batidas da chamada house music a qual tem suas raízes nos clubes de Chicago e Nova Iorque. Os elementos principais da dança são "Footwork" e "Jacking". House dance é uma dança mais improvisada do que coreografada com ênfase em movimentos de pernas rápidos e complexos combinados com movimentos fluidos do tronco. Nesse estilo, os braços não têm muita importância. Alguns dançarinos de house também se utilizam de um estilo de dança chamado Lofting, uma mistura de Capoeira de Angola com movimentos de solo do Jazz. Todavia, apesar de oferecer mais elementos à dança, o lofting não é obrigatório para se dançar a house dance. O Lofting era dançando antes do house dance nas festas do DJ Mancuso The Lofting no Paradise Garage. House Dance é um amálgama das danças disco com um movimento de tronco chamado Jacking. Esse movimento surgiu nos clubes de Chicago e era realizado quando muitos dos frequentadores já estavam sob influência de drogas. A dança House retira seus movimentos de outros estilos, principalmente da salsa, tap, hip hop, afro e jazz. Todavia, por ter sido uma dança surgida nos clubes, há também os elementos pessoais de cada dançarino envolvidos. Por existirem dançarinos de diversas origens compartilhando a mesma pista, houve (e há, ao menos em Nova Iorque) muitas trocas de informações na origem desse estilo de dança. A House Dance é uma dança social antes de ser uma dança de competições. Se presta antes à união e à diversão do que ao virtuosismo e demonstração de habilidades. Se um dançarino esquece-se da música para fazer movimentos de dificuldade elevada, não está dançando house. Nesse estilo, há uma ênfase nos ritmos sutis e refrões da música com os movimentos de perna seguindo-os de perto Entre os pioneiros da House Dance temos Ejoe Wilson, Brian "Footwork" Green, Tony McGregor, Marjory Smarth, Caleaf Sellers, "Brooklyn" Terry Wright, Shannon Mabra, Tony "Sekou" Williams, Shannon Selby (aka Shan S), Voodoo Ray, Chris Sawyer e muitos outros. Alguns antes deles como Bravo, Karate Kris, Archie Burnett, Manny bem como muitos lofters e pessoas comuns que frequentaram festas como Paradise Garage, Studio 54 e The Loft. Italo-house. O Italo-house é um etilo de House music fundado na Itália, e uma vertente da Italo disco. O italo house teve suas criações através de samplers. Checco Bontempi, Gianfranco Bortolloti, Pierre Feroldi foram os mais destacados nas produções do italo house.
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História
História História (do grego antigo ἱστορία, transl.: "historía", que significa "pesquisa", "conhecimento advindo da investigação") é a ciência que estuda o ser humano e sua ação no tempo e no espaço concomitantemente à análise de processos e eventos ocorridos no passado. O termo "História" também pode significar toda a informação do passado que foi guardada em todas as línguas por todo o mundo, por intermédio de registos históricos. A palavra "história" tem sua origem nas "investigações" de Heródoto; em grego antigo, o termo "História" é "Ἱστορίαι" ("Historíai"). Todavia, será Tucídides o primeiro a aplicar métodos críticos, como o cruzamento de dados e uso de diversas fontes diferentes. O estudo histórico começa quando o ser humano encontra os elementos de sua existência nas realizações dos seus antepassados. Esse estudo, do ponto de vista europeu, divide-se em dois grandes períodos: "Pré-história" e "História". Os historiadores usam várias fontes de informação para construir a sucessão de processos históricos, como, por exemplo, escritos, gravações, entrevistas (História oral) e achados arqueológicos. Algumas abordagens são mais frequentes em certos períodos do que em outros e o estudo da História também acaba apresentando costumes e modismos (o historiador procura, no presente, respostas sobre o passado, ou seja, é influenciado pelo presente). Os eventos anteriores aos registos escritos pertencem à Pré-história. As sociedades sem escrita, mas sobre as quais há registos escritos por povos que já conheciam a escrita e que coexistiam com elas, são descritas pela Proto-história (é o caso, por exemplo, dos povos celtas da cultura de La Tène). Historiador. O indivíduo que estuda e escreve sobre a história e é considerado uma autoridade neste campo, é denominado historiador. Historiadores se preocupam com a narrativa contínua e metódica, e também com a narrativa que pode ser descontínua e subjetiva, bem como a pesquisa dos eventos passados relacionados ao ser humano, e o estudo dos eventos ocorridos ao longo do tempo e também no espaço. Embora o termo "historiador" possa ser usado para descrever tanto os profissionais quanto os amadores da área, costuma ser reservado para aqueles que obtiveram uma graduação acadêmica na disciplina. Alguns historiadores, no entanto, são reconhecidos unicamente com mérito em seu treinamento e experiência no campo. Tornou-se uma ocupação profissional no fim do . As concepções da História. As concepções formais da História. Em sua evolução, a História se apresentou pelo menos de três formas. Do simples registro à análise científica houve um longo processo. São elas: As concepções filosóficas da História. Ainda no surgiu a discussão em torno da natureza dos fenômenos históricos. A que espécie de preponderância estariam ligados? Aos agentes de ordem espiritual ou aos de ordem material? Antes disso, a fundamental teológica fez uma festa na mente cordata do povo. Documentos e fontes históricas. O fato histórico é estudado através de vestígios e documentos. As fontes históricas são constituídas por elementos das quais o homem fez e deixou no passado. Os fatos históricos influenciam o futuro, ou seja, o atual mundo é composto dos acontecimentos e feitos anteriores. Os monumentos, templos, esculturas, pinturas e outros objetos em geral são considerados "vestígios"; as "tradições" (oral) são lendas, canções, narrações e outras formas de manifestações culturais expressas na oralidade; e os "documentos escritos" são todos aquelas fontes escritas, como leis, livros e relatórios. Porém, por diversas vezes é difícil saber se a fonte histórica é original, se não foi modificada ou falsificada, por isso existe uma ciência especial, a Heurística, só para cuidar da verificação e investigação da autenticidade das fontes históricas. Sobre fontes e documentos é feita a crítica histórica: Periodização histórica. O passado da humanidade se divide em dois grandes grupos: a "Pré-história" e a "História". Pré-história. A pré-história é o período que se inicia com o surgimento do ser humano anterior à escrita, inventada na Mesopotâmia, a cerca de Caracteriza-se pelo nomadismo e atividades de caça, em sua maior parte. Surge a agricultura e a pecuária, os quais levaram os homens pré-históricos ao sedentarismo e a criação das primeiras cidades. A Pré-história divide-se em três períodos: História. A História divide-se em quatro períodos: A era cristã e a divisão da História. A referência de maior aceitação para se contar o tempo, atualmente, é o nascimento de Cristo. Porém, já houve outras referências importantes no Ocidente: os gregos antigos tinham como base cronológica o início dos jogos olímpicos; os romanos antigos, a fundação de Roma. Outras culturas diferentes da ocidental podem utilizar outras referências — por exemplo, os árabes contam seu tempo pela Hégira, a emigração (não fuga) de Maomé de Meca para Medina ("ver: Calendário islâmico").
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Heródoto
Heródoto Heródoto (em grego, Ἡρόδοτος — Hēródotos, na transliteração) foi um historiador e geógrafo grego sucessor dos primeiros que escreveram em prosa sobre geografia e história, Anaximandro e seu provável discípulo, Hecateu de Mileto. Herodoto nasceu no século V a.C. em Halicarnasso (hoje Bodrum, na Turquia). Foi o autor da história da invasão persa da Grécia, ocorrida no final do século V a.C., conhecida simplesmente como "As histórias de Heródoto". Esta obra foi reconhecida como uma nova forma de literatura pouco depois de ser publicada. Antes de Heródoto, tinham existido crônicas e épicos, e também estes haviam preservado o conhecimento do passado, mas a maioria deles tratava apenas do passado em uma cidade ou região. Heródoto foi o primeiro a combinar essas narrativas locais para elaborar uma narrativa mais ampla sobre os fatos do passado e a mostrar como sua pesquisa poderia ser importante para a compreensão do presente. A sua criação fez com que lhe fosse concedido o título de "pai da história", pelo orador romano Cícero, embora criticasse o grego no mesmo texto por contar o que chamava de "histórias fabulosas". A palavra que utilizou para denominar sua obra, "historie", que previamente tinha significado simplesmente "pesquisa", tomou a conotação atual de "história". Heródoto foi acusado, desde a Antiguidade, de ter inventado fatos que narra em sua obra e de não ter submetido as informações que recebeu de forma oral a um exame crítico e de plausibilidade. Contudo, o respeito pelo seu rigor tem aumentado desde a última metade do século XX, sendo atualmente reconhecido não apenas como pioneiro na história, mas também na geografia, etnografia e antropologia. Vida. Como acontece com muitos casos de personalidades antigas, os dados disponíveis sobre a vida de Heródoto são poucos e controversos. A fonte mais extensa, a enciclopédia bizantina Suda, do século X, também é a mais distante no tempo, tendo sido escrita cerca de 1.500 anos após a vida do historiador grego, e contém muitas afirmações que não são confirmadas por outras fontes. A maioria dos estudiosos aceita a tradição de que Heródoto nasceu cerca de 485 a.C. em Halicarnasso, o que significa que ele nasceu após o fim das Guerras Médicas, assunto central de sua obra. Entretanto, quanto a sua cidadania, deve-se entrever que Aristóteles menciona Heródoto como cidadão da colônia de Túrios ("Retórica," 1402 a 32). Heródoto viajou extensamente pelo Egito, Oriente Médio e Mediterrâneo pesquisando para sua obra, mas existem dúvidas se ele esteve pessoalmente em todos os lugares para os quais afirma que viajou. Depois de uma passagem por Atenas, onde provavelmente fez leituras públicas de trechos de sua obra, Heródoto seguiu com colonos gregos para Túrio, no sul da Itália, onde teria terminado a redação de seu livro e permanecido até sua morte, embora outras tradições apontem para locais diferentes de morte. Como trechos das "Histórias" se referem a eventos ocorridos no início da Guerra do Peloponeso (até 425 a.C.), o consenso é que ele estava vivo pelo menos até esse ano. A respeito de sua rede de sociabilidade, é provável que Heródoto manteve alguma amizade com Sófocles. A maioria das tradições coloca sua data de morte como em torno de 420 a.C., mas a historiadora Elisabeth Irwin defende, a partir de indícios extraídos da própria obra de Heródoto, que ele teria visto o fim da Guerra do Peloponeso, em 404 a.C., e incorporado essa informação em sua obra. As Histórias. Provavelmente escritas durante um longo espaço de tempo, as "Histórias" foram posteriormente divididas em 9 livros, intitulados com os nomes das musas, por eruditos do período helenístico. F. Jacoby estabeleceu como datas limitantes para a publicação de "Historias" entre 430 e 424 a.C ("Griechische Historiker," 1956). É possível perceber vários trechos de sua obra que podem ser lidos de maneira isolada, provavelmente marcadores para a realização de leituras públicas, a maneira mais comum de se "ler" um livro na época de Heródoto. "Histórias" de Heródoto apresenta em seu aspecto estilístico e narratológico uma evolução na prosa pois ele ao lado de se guiar pela retórica comum para tal gênero de texto, o que requereria a mimesis da personagem para presentificar a ação, ele também coloca a sua própria pessoa em discurso de diálogo direto com o leitor/ouvinte, referindo a si próprio como testemunho da história. As muitas referências a costumes, histórias e fábulas de outros povos feitas nas "Histórias" são resultado de extensas viagens feitas por Heródoto, desde a sua juventude. Chama atenção a importância que ele dava às fontes orais, ao contrário da tradição posterior da historiografia, que seria de dar maior importância às fontes escritas. Embora haja dúvidas se Heródoto realmente chegou a conhecer todos os países que menciona na sua obra, pelo menos em relação ao Egito, à antiga Fenícia, Pérsia e talvez até à cidade da Babilônia, os indícios são de que ele realmente os visitou. O primeiro livro da obra, nomeado Clio, introduz a história do surgimento e do crescimento do Império Aquemênida. Inicialmente, Heródoto fala do primeiro monarca asiático que obrigou as cidades-estado gregas a lhe pagarem tributo, Creso da Lídia. Creso foi derrotado por Ciro, o Grande, o fundador do Império Aquemênida, e, a partir daí, o primeiro livro conta o reinado de Ciro, até sua morte em 530 a.C. O segundo livro, Euterpe, antes de apresentar o reinado do filho e sucessor de Ciro, Cambises, faz uma longa digressão para apresentar a história, geografia e costumes do Egito, que foi conquistado por Cambises para o Império Persa. O breve reinado de Cambises é o assunto da primeira parte do terceiro livro, Thalia, que segue apresentando a subida ao trono de Dario I. A tentativa de Dario de conquistar os nômades citas é o centro do quarto livro, Melpomene, que apresenta uma seção extensa sobre os costumes dos citas. Os dois livros seguintes, Terpsicore e Erato, se concentram na revolta das cidades gregas da Jônia contra Dario, que, após derrotar a rebelião, organiza um exército para invadir a Grécia continental. O sexto livro se encerra com a famosa derrota dos persas em 490 a.C., na Batalha de Maratona. Os últimos três livros (Polímnia, Urania e Calíope) descrevem a tentativa do rei persa Xerxes I, filho de Dario, de vingar dez anos mais tarde a derrota persa em Maratona e absorver a Grécia no Império Aquemênida. "As Histórias" acabam em 479 a.C. com a derrota definitiva persa na batalha de Plateias e o recuo da fronteira do Império Aquemênida para a linha costeira da Anatólia. Algumas traduções modernas de Heródoto. Traduções do grego para o português: HERÓDOTO. História. Trad. Mario da Gama Kury. Brasilia: UnB, 1988. HERÓDOTO. Histórias. Livro I ao VIII. Introd. geral Maria Helena da Rocha Pereira. Vários tradutores. Lisboa, Edições 70, 1997–2007 (cada livro de Heródoto foi publicado como um volume independente; a coleção não está completa, faltam os Livros II, VII e IX). HERÓDOTO. Histórias. Livro I ao VI. Tradução, introdução e notas de Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo: Edipro, 2015–2022 (cada livro de Heródoto foi publicado como um volume independente) (tradução em andamento). Traduções do grego para o espanhol: HERÓDOTO. História. Obra completa. 5 volumes, com texto original em grego. Madrid: Editorial Gredos, 1987–1992 HERÓDOTO. História. Trad. Manuel Balasch. Madrid: Editorial Cátedra, 2018. Traduções do grego para o inglês: HERODOTUS. "The Persian Wars: stories". Trad. A. D. Godley. 4 volumes, com texto original em grego. Loeb Classical Library, Harvard University Press, 1920–1925. HERODOTUS. "The Histories". Trad. Aubrey de Selincourt. Harmondsworth: Penguin Classics, 1954 (revisada por John Marincola em 1996). HERODOTUS. "The Histories". Trad. Robin Waterfield. Oxford and New York: Oxford University Press (Oxford World Classics), 1998. HERODOTUS. "The Landmark Herodotus". Trad. Andrea L. Purvis. Ed. Robert Strassler. New York: Pantheon, 2007. Bibliografia. Bakker, Egbert J.; De Jong, Irene; van Wees, Hans (Ed.). 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História do Antigo Egito
História do Antigo Egito A História do Antigo Egito é um período histórico que compreende em torno de três mil anos da história humana, desde os assentamentos pré-históricos nas margens norte do vale do rio Nilo até a anexação do Egito pelos Romanos em . O período faraônico, em que o Egito foi governado por um faraó, é datado do século XXXII a.C., quando o Alto e Baixo Egito foram unificados, até a conquista Macedônica em , trezentos anos antes dos romanos. Períodos da história do Antigo Egito. Os historiadores dividem a história do Antigo Egito em vários períodos baseando-se em dois critérios. O primeiro fundamenta-se no sistema de Manetão, um sacerdote egípcio do , autor de uma história do Egito, na qual dividia os soberanos do país em trinta dinastias. A outra divisão habitual é em três períodos principais, denominados de "impérios" que correspondem a épocas de prosperidade, intercalados por três épocas de decadência social, cultural e política, conhecidas como "períodos intermediários" (ou intermédios). A estes seis períodos juntam-se o período pré-dinástico (anterior ao surgimento das dinastias) e protodinástico, o período arcaico e a era greco-romana. Período pré-dinástico. Em tempos pré-dinástico e dinástico, o clima egípcio era muito menos árido do que é hoje. Grandes regiões do Egito, estavam cobertas de savanas arborizadas e eram atravessadas por rebanhos de pastagens ungulados. Fauna e flora eram muito mais prolíficas em todos os arredores e na região do Nilo havia grandes populações de aves aquáticas. A caça teria sido comum para os egípcios e este é também o período em que muitos animais foram domesticados pela primeira vez. Por volta de 5500 a.C, pequenas tribos que viviam no vale do Nilo haviam se desenvolvido em uma série de culturas demonstrando o firme controle da agricultura e pecuária, e são identificável pela sua cerâmica e objetos pessoais, como pentes, pulseiras e colares. No Norte as culturas que mais se destacaram foram a cultura Faium A que começou a tecer e a cultura El-Omari, já que foi nela que surgiram os cemitérios. E no sul do Egito, a Badariana, era conhecida por sua cerâmica de alta qualidade, ferramentas de pedra e seu uso de cobre. No sul do Egito, a cultura Badariana foi sucedida pelas culturas Amratiana e Gerzeana, que apresentaram uma série de melhoras técnicas. No período Gerzeano, evidências iniciais existem a respeito do contato com Canaã e a costa de Biblos. No sul do Egito, A cultura de Nacada, semelhante a Badariana, começou a se expandir ao longo do Nilo por cerca de 4000 a.C Quando mais cedo o período , os egípcios pré-dinásticos importavam obsidiana da Etiópia, usados para dar forma a lâminas e outros objetos a partir de lascas. Durante um período de cerca de 1000 anos, a cultura de Nacada se desenvolveu em uma poderosa civilização cujos líderes estavam em completo controle das pessoas e dos recursos do vale do Nilo. O estabelecimento de um centro de poder em Hieracômpolis e, posteriormente, em Abidos, líderes de expandiram seu controle sobre o Norte do Egito ao longo do Nilo. Eles também negociaram com a Núbia, ao sul, os oásis do deserto ocidental, a oeste, e as culturas do Mediterrâneo Oriental, ao leste. A cultura de Nacada fabricou uma gama diversificada de bens materiais, reflexo do crescente poder e da riqueza da elite, que inclui pintura, cerâmica de alta qualidade, vasos de pedra decorados com motivos geométricos e animais estilizados, paletas de cosméticos e joias feitas de ouro, lápis-lazúli e marfim. Eles também desenvolveram um esmalte cerâmico conhecido como faiança, que foi bem usado no período romano para decorar copos, amuletos e figurinhas. Durante a última fase do período pré-dinástico, a cultura de Nacada começou a usar símbolos escritos que acabariam por evoluir para um sistema cheio de hieróglifos para escrever a antiga língua egípcia. Época Tinita. No , o sacerdote Manetão agrupou uma linha do tempo dos faraós de Menés aos do seu tempo em 30 dinastias, um sistema ainda em uso hoje. Ele escolheu para começar a sua história oficial o rei chamado "Meni" (em grego, "Menés") que se acredita que foi o unificador dos reinos do Alto e Baixo Egito (c. de 3100 a.C). A transição para um estado unificado realmente aconteceu de forma mais gradual do que os escritores egípcios nos querem fazer crer, e não há registro contemporâneo de Menés. Alguns estudiosos acreditam agora que, no entanto, que o mítico faraó Menés pode realmente ter sido o faraó Narmer, que é retratado vestindo trajes reais sobre a cerimonial Paleta de Narmer em um ato simbólico de unificação, ou então o faraó Atótis. O período tinita, c. de 3150 a.C, o primeiro dos faraós solidificou seu controle sobre o Alto Egito mudando a capital de Tinis para a recém-fundada Mênfis, a partir da qual eles poderiam controlar a força de trabalho e a agricultura do fértil Delta, bem como as rotas do lucrativo e fundamental comércio com o Levante. O crescente poder e da riqueza dos faraós durante o período dinástico se refletiu em suas mastabas elaboradas e em estruturas de culto mortuário em Abidos, que foram utilizadas para celebrar o faraó endeusado após sua morte. A forte instituição da realeza desenvolvida pelos faraós serviu para legitimar o controle estatal sobre a terra, trabalho e recursos que foram essencialmente para a sobrevivência e o crescimento da antiga civilização egípcia. Durante o período tinita os faraós realizaram ataques contra os núbios, líbios e beduínos, assim como realizaram incursões contra o Sinai em busca de cobre e turquesa e no Mar Vermelho para exploração das minas locais. Também comercializaram com a região Síria e Palestina de onde obtinham a madeira de cedro. Império Antigo. Impressionante avanço na arquitetura, arte e tecnologia foram feitos durante o Império Antigo, alimentado pelo aumento da produtividade agrícola possível graças a uma administração central bem desenvolvida. Sob a direção do vizir, os impostos arrecadados pelos funcionários do Estado, coordenados projetos de irrigação para melhorar o rendimento da cultura, camponeses recrutados para trabalhar em projetos de construção, e o estabelecimento de um sistema de justiça pode manter a ordem e a paz. Com o excedente dos recursos disponibilizados por uma economia produtiva e estável, o Estado foi capaz de patrocinar a construção de monumentos colossais e à excepcional comissão de obras de arte para as oficinas reais. Durante o Império Antigo, houve uma tendência para a construção de pirâmides como monumentos fúnebres para os faraós. Entre as mais proeminentes pode-se citas as pirâmides de Djoser (Pirâmide de degraus), Seneferu (Pirâmide de Meidum, Pirâmide Romboidal e Pirâmide Vermelha), Quéops (Pirâmide de Quéops), Quéfren (Pirâmide de Quéfren e a Esfinge de Guizé) e Miquerinos (Pirâmide de Miquerinos). Os faraós Djedefre (Pirâmide de Abu Roach), Chepseskaf (Pirâmide Purificada), Userquerés (Pirâmide de Userquerés), Sefrés (Pirâmide de Sefrés), Neferircaré (Pirâmide de Neferircaré), Neferefré (Pirâmide de Nedefefré), Raturés (Pirâmide de Raturés), Tanquerés (Pirâmide de Tanquerés), Unas (Pirâmide de Unas), Teti (Pirâmide de Teti), Pepi I (Pirâmide de Pepi I), Merenré I (Pirâmide de Merenré) e Pepi II (Pirâmide de Pepi II) também empreenderam a construção de outras pirâmides. O Império Antigo é caracterizado por um crescente comércio com o Líbano, Palestina, Mesopotâmia e Punt, assim como por expedições comerciais para exploração mineral nas minas do Sinai e Mar Vermelho (Deserto Oriental) e por campanhas militares contra núbios e líbios. Com suas campanhas militares e comerciais o Egito além de criam acampamentos estratégicos também adquiriu ouro, cobre, turquesa, madeira de cedro, mirra, malaquita e eletro. Sob Sefrés, com o crescente comércio, foi criada a primeira frota marítima egípcia. Junto com a crescente importância de uma administração central surgiu uma nova classe de educados escribas e funcionários que receberam propriedades do faraó em pagamento a seus serviços. Os faraós também fizeram concessões de terras para seus cultos mortuários e templos locais para assegurar que estas instituições teriam recursos necessários para a adoração do faraó após a sua morte. Até o final do Império Antigo, cinco séculos de práticas feudais corroeram o poder econômico do faraó, que já não podia dar o luxo de suportar uma grande administração centralizada. Como o poder do faraó diminuiu, governantes regionais chamados nomarcas começaram a desafiar a supremacia do faraó. Isso, juntamente com secas severas entre 2200 e 2150 a.C., em última análise, fizeram o país entrar num período de 140 anos de fome e conflitos conhecidos como o Primeiro Período Intermediário. Primeiro Período Intermediário. Depois que o governo central do Egito entrou em colapso no final do Império Antigo, o governo não podia mais suportar ou estabilizar a economia do país. Os líderes regionais não podiam contar com o faraó para ajudar em épocas de crise, e a consequente escassez de alimentos e as disputas políticas se transformaram em situações de fome e em pequena, de guerras civis. No entanto, apesar dos problemas, os líderes locais, não devendo tributo ao faraó, usaram sua independência para estabelecer uma cultura próspera nas províncias. Uma vez no controle dos seus próprios recursos, as províncias tornaram-se economicamente mais ricas, fato demonstrado por enterros maiores e melhores entre todas as classes sociais. Em surtos de criatividade, os artesãos das províncias adotaram e adaptaram motivos culturais antes restritos à realeza do Antigo Império, e os escribas desenvolveram estilos literários que expressam o otimismo e a originalidade do período. Livres de sua lealdade ao faraó, os governantes locais começaram a competir uns contra os outros para o controle territorial e poder político. Até 2160 a.C., os governantes de Heracleópolis controlavam o Baixo Egito, enquanto um clã rival, baseado em Tebas, a família Intefe, assumiu o controle do Alto Egito. Como os Intefes cresceram em poder e expandiram seu controle para o norte, um confronto entre as duas dinastias rivais tornou-se inevitável. Cerca de 2055 a.C. as forças de Tebas sob Mentuotepe II, finalmente derrotaram os governantes de Heracleópolis, reunindo as Duas Terras e inaugurando um período de renascimento econômico e cultural conhecido como o Império Médio. Império Médio. Vick e Wall, Os faraós do Império Médio restauraram a prosperidade do país e a estabilidade, estimulando um renascimento da arte, literatura e projetos grandiosos de construção. Mentuotepe II e seus sucessores da XI dinastia governaram de Tebas, mas o vizir Amenemés I, ao assumir ao trono dando início a XII dinastia por volta de 1985 a.C., mudou a capital do país para a cidade de Iti-Taui, localizada no Faium. De Iti-Taui, os faraós da XII dinastia comprometeram-se a realizarem uma recuperação de áreas degradadas e melhorar o sistema de irrigação para aumentar a produção agrícola na região. Além disso, houve a reconquista militar de toda a Núbia, rica em pedreiras e minas de ouro, enquanto que trabalhadores construíram uma estrutura defensiva no Delta Oriental, chamada "Muros-do-Rei", para defender o Egito contra os ataques estrangeiros. Tendo garantido a segurança militar e política e a riqueza agrícola assim como uma vasta quantidade de minerais, a população, a arte e a religião floresceram. Em contraste com a atitude elitista do Império Antigo para os deuses, o Império Médio teve um aumento nas expressões da piedade pessoal o que poderia ser chamado de democratização da vida após a morte, em que todas as pessoas possuíam uma alma e poderiam ser recebidos na companhia dos deuses após a morte. A literatura do Império Médio destaca temas sofisticados e os caracteres escritos em um estilo confiante e eloquente, e a escultura em relevo e retrato capturou a sutileza, detalhes individuais que atingiram um novo patamar da perfeição técnica. Todos os governantes do Império Médio erigiram pirâmides. Durante o Império Médio, como forma de assegurar a sucessão ainda em vida, foi comum os faraós dividirem o trono com seus sucessores, mantendo-os como co-faraós. Durante este período foi mantido relações comerciais com a Fenícia, com Creta e houve expedições comerciais a Punt. O último grande governante do Império Médio, Amenemés III, permitiu colonos asiáticos na região do Delta para fornecer uma força de trabalho suficiente para sua especialmente ativa mineração e campanhas de construção. Estas ambiciosas atividades de mineração e construção, porém, combinadas com inadequadas inundações do Nilo em seu reinado, fragilizaram a economia e precipitaram um lento declínio no Segundo Período Intermediário durante as posteriores dinastias XIII e XIV. Durante esse declínio, os colonos asiáticos começaram a assumir o controle da região do Delta, acabando por chegar ao poder, como os hicsos. Segundo Período Intermediário. Por volta de 1785 a.C., com o poder dos faraós do Império Médio enfraquecido, os imigrantes asiáticos residentes na cidade do Delta Oriental Aváris assumiu o controle da região e forçou o governo central a se retirar para Tebas, onde o faraó era tratado como um vassalo e esperava-se pagamento de tributo. Os hicsos ("Heka-khasut", governantes estrangeiros) imitaram o modelo egípcio de governo e se apresentaram como faraós, integrando elementos egípcios na sua cultura da Idade do Bronze Médio. Após sua retirada, os reis de Tebas se viram presos entre os hicsos no norte e os aliados núbios dos hicsos, os cuxitas, ao sul. Após anos de inação tênue, Tebas reuniu forças suficientes para desafiar os hicsos em um conflito que duraria mais de 30 anos, até 1555 a.C. Os faraós Tao II e Camés acabaram por serem capazes de derrotar os núbios, mas foi o sucessor de Camés, , que empreendeu como sucesso uma série de campanhas que permanentemente erradicaram a presença dos hicsos no Egito. No Império Novo que se seguiu, os militares se tornaram uma prioridade central para os faraós que procuraram expandir as fronteiras do Egito e garantir o domínio completo do Oriente Próximo. Os hicsos introduziram elementos novos na civilização egípcia como o cavalo, os carros de guerra, novos métodos de fiação e tecelagem e novos instrumentos musicais. Império Novo. Os faraós do Império Novo estabeleceram um período de prosperidade sem precedentes, ao assegurar suas fronteiras e reforçar os laços diplomáticos com seus vizinhos. Campanhas militares sob Tutemés I e seu neto Tutemés III, estenderam a influência dos faraós para o maior império que o Egito já havia visto. Quando Tutemés morreu em 1425 a.C, o Egito se estendia de Niya no norte da Síria até a quarta catarata do Nilo, na Núbia, cimentando lealdades e abrindo acesso às importações essenciais, como bronze e madeira. Os faraós do Império Novo começaram uma campanha de construção em grande escala para promover o deus Amom, cujo culto foi crescendo com base em Carnaque. Eles também construíram monumentos para glorificar suas próprias realizações, tanto reais como imaginárias. A faraó feminina Hatexepsute usou como propaganda para legitimar sua pretensão ao trono. Seu reinado bem sucedido foi marcado por expedições comerciais em Punte, um templo mortuário elegante, um par de obeliscos colossais e uma capela em Carnaque. Apesar de suas realizações, o sobrinho e enteado de Hatexepsute, Tutemés III tentou apagar o seu legado perto do fim de seu reinado, possivelmente em represália por usurpar seu trono. Sob Tutemés IV (1397-1388 a.C.) realizou uma aliança com Mitani para empreender ataques contra os hititas. Durante Amenófis III foram edificados os templos de Luxor, o palácio de Malaqata e o Templo de Milhões de Anos, do qual atualmente só restam os conhecidos "Colossos de Memnon"; também mandou ampliar o templo de Amom em Carnaque. Cerca de 1350 a.C, a estabilidade do Império Novo foi ameaçada quando Amenófis IV subiu ao trono e instituiu uma série de reformas radicais e caóticas. Mudando seu nome para "Aquenaton" ("O Esplendor de Aton"), ele classificou o anteriormente obscuro deus sol Aton como a divindade suprema, suprimindo o culto de outras divindades, e atacando o poder do estabelecimento sacerdotal. Mudando a capital para a nova cidade de "Aquetáton" ("Horizonte de Áton", atual Amarna), Aquenáton tornou-se desatento aos negócios estrangeiros deixando-se absorver pela devoção a Aton e a sua personalidade de artista e pacifista. Após sua morte, o culto de Aton foi rapidamente abandonado, e os faraós Tutancâmon, Aí e Horemebe apagaram todas as referências a heresia de Aquenáton, agora conhecida como Período de Amarna. Sob Seti I, o Egito controlou revoltas e conquistou a cidade de Kadesh e da região vizinha de Amurru, ambas localidades palestinas. Cerca de 1279 a.C, Ramessés II também conhecido como "Ramessés, o Grande" ascendeu ao trono, e passou a construir mais templos, erguer mais estátuas e obeliscos, além de ter sido o faraó com a maior quantidade de filhos da história. Ramessés II também mudou a capital do império de Tebas para Pi-Ramessés no Delta Oriental. Ousado líder militar, Ramessés II levou seu exército contra os hititas na Batalha de Cadexe em 1274 a.C e depois de um empate, assinou, em 1258 a.C, o primeiro tratado de paz da história, onde ambas as nações comprometiam-se a se ajudaram mutuamente contra inimigos internos ou externos. O tratado foi selado com o casamento de Ramessés II e a filha mais velha do imperador Hatusil III. A riqueza do Egito fez dele um alvo tentador para uma invasão, em especial de líbios e dos povos do mar. Sob Merneptá o Egito começou a enfrentar a ameaça dos povos do mar. Aliaram-se com os líbios planejando atacar o Egito, assim como incitaram os núbios a revolta, no entanto, Merneptá conseguiu suplantar os revoltosos na medida em que repeliu os invasores. Durante o reinado de Ramessés III o faraó conseguiu em duas grandes batalhas expulsando os povos do mar para fora do Egito, no entanto, eles acabariam por se assentarem na costa palestina e durante o reinado de seus sucessores tomariam por completo a região. No entanto, o império não estava enfrentando apenas problemas no exterior. Após a morte de Ramessés II e a subida ao trono de seu filho Merneptá, uma terrível instabilidade política assolou o Egito. Diversos golpes de Estado depuseram muitos faraós em pouco tempo. Além disso diversos distúrbios civis, corrupção, revoltas de trabalhadores e roubos de túmulos também assolaram o país. Durante o início da XX dinastia, como forma de ganhar popularidade, concedeu muitas terras, tesouros e escravos para os templos de Amom, o que fortaleceu o poder destes, e seu crescente poder, fragmentou o país durante o Terceiro Período Intermediário. Terceiro Período Intermediário. Após a morte re Ramessés XI em 1070 a.C, Esmendes assumiu a autoridade sobre a parte norte do Egito governando a partir da cidade de Tânis. O sul foi efetivamente controlado pelos sumos sacerdotes de Amom em Tebas, que reconheceram Esmendes apenas nominalmente. O sacerdote Pianque conseguiu deter a expansão do Reino de Cuxe que havia dominado boa parte do Alto Egito. Durante este tempo, os líbios tinham se instalado no Delta Ocidental, e os chefes destes colonos começaram a aumentar sua autonomia. Os príncipes líbios assumiram o controle do delta sob Sisaque I em 945 a.C, fundando a dinastia chamada Líbia ou Bubastilas que governaria por cerca de 200 anos. Sisaque também ganhou o controle do sul do Egito, colocando seus familiares em importantes cargos sacerdotais, como forma de controlar o poder dos sacerdotes de Amom de Tebas. Sisaque também invadiu a Palestina durante o reinado do rei Roboão assim como também restaurou o comércio com Biblos, aumentando a prosperidade da dinastia. Sob Osocor II, o Egito auxiliando os reinos Sírio-Palestinos repudiou as primeiras expedições assírias. Muitas guerras civis se seguiram o que causou a divisão do Egito sob várias dinastias. O controle líbio começou a ruir quando duas dinastias rivais surgiram, uma centrada em Leontópolis (XIII dinastia) e outra em Saís (XXIV dinastia). No entanto, a constante ameaça cuxita do sul forçou as três dinastias se unirem para combatê-los. Cerca de 727 a.C, o rei cuxita Piiê derrotou um exército de oito mil soldados egípcios, invadindo o norte, tomando o controle de Tebas e, eventualmente, do Delta, formando a XXV dinastia. O prestígio de longa data do Egito diminuiu consideravelmente até o final do Terceiro Período Intermediário. Seus aliados estrangeiros haviam caído sob a esfera de influência assíria, e em 700 a.C., a guerra entre os dois países era inevitável. O faraó Xabataca empreendeu uma batalha contra os assírios saindo vitorioso. Seu sucessor, Taraca, incentivou revoltas na Palestina assíria assim como conseguiu, em 673 a.C. expulsar os assírios das redondezas. No entanto, entre 671 e 667 a.C., os assírios começaram seus ataques contra o Egito. Os reinados dos reis cuxitas Taraca como Tantamani, estavam cheios de constantes conflitos com os assírios, contra quais os governantes núbios gozaram de várias vitórias. Por fim, os assírios empurraram os cuxitas para a Núbia, ocupando Mênfis, e saqueando os templos de Tebas. Época Baixa. Sem planos de conquista permanente, os assírios deixaram o controle do Egito para uma série de reis vassalos que se tornaram conhecidos como reis saítas da XVI dinastia. Até 653 a.C, o rei Psamético I foi capaz de expulsar os assírios com ajuda de mercenários gregos, que foram recrutados para dar forma a primeira marinha do Egito. A influência grega expandiu-se muito com a cidade de Náucratis que se tornou o lar dos gregos no Delta. Os reis saítas com base na nova capital de Saís testemunharam um ressurgimento breve, da economia, sociedade e cultura, mas em 525 a.C, os poderosos persas, liderados por Cambises II, começaram sua conquista do Egito, eventualmente, capturando o faraó Psamético III na Batalha de Pelúsio. Cambises II, em seguida, assumiu o título formal de faraó, governando o Egito de Susa, deixando o Egito sob o controle de uma satrapia. Poucas revoltas bem sucedidas contra os persas marcaram o Egito no , mas nunca foram capazes de derrubar definitivamente os persas. Após a sua anexação pela Pérsia, o Egito juntamente com Chipre e a Fenícia foram aglomerados na sexta satrapia dos persas aquemênidas. Este primeiro período de domínio persa sobre o Egito, também conhecido como XXVII dinastia, terminando em 402 a.C, e de 380-343 a.C a XXX dinastia governou como a casa real nativa do Egito dinástico, que terminou com o reinado de Nectanebo II. Uma breve restauração do domínio persa, às vezes conhecida como XXXI dinastia, começou em 343 a.C., mas pouco depois, em 332 a.C, o governante persa Mazaces entregou o Egito sem luta para Alexandre, o Grande. Dinastia Ptolomaica. Em 332 a.C, Alexandre, o Grande conquistou o Egito com pouca resistência dos persas e foi bem recebido pelos egípcios como um libertador. A administração estabelecida pelos sucessores de Alexandre, os Ptolomeus, foi baseada no modelo egípcio com a capital estabelecida na recém-erigida Alexandria. A cidade foi para mostrar o poder e o prestígio do governo grego, e se tornou um lugar de aprendizado e cultura, centrada na famosa Biblioteca de Alexandria. O Farol de Alexandria iluminou o caminho para os muitos navios que mantiveram comércio com a cidade, como os Ptolomeus faziam comércio e as empresas geradoras de receitas, como a fabricação de papiros, a sua principal prioridade. A cultura grega não suplantou a cultura egípcia, com os Ptolomeus apoiando as tradições antigas em um esforço para garantir a lealdade da população. Eles construíram novos templos em estilo egípcio, apoiados pelos cultos tradicionais, e retratando-se como faraós. Algumas tradições fundidas, como os deuses gregos e egípcios sincretizados em divindades compostos, tais como Serápis, e formas clássicas da escultura grega influenciando tradicionais motivos egípcios. Apesar de seus esforços para apaziguar os egípcios, os Ptolomeus foram desafiados pela rebelião nativa, amargas rivalidades familiares e a poderosa máfia de Alexandria, que havia se formado após a morte de Ptolomeu IV. Além disso, como Roma foi uma forte importadora de grãos do Egito, os romanos tomaram grande interesse pela situação política do Egito. Contínuas revoltas egípcias, políticos ambiciosos e poderosos oponentes sírios tornou a região instável, levando Roma a enviar forças para proteger o país como uma província de seu império. Domínio romano. O Egito tornou-se uma província do Império Romano em 30 a.C, após a derrota de Marco Antônio e Cleópatra VII por Otaviano (posterior o imperador Augusto) na Batalha de Áccio. Os romanos dependiam fortemente das remessas de grãos do Egito, e o exército romano, sob o controle de um prefeito nomeado pelo imperador, reprimiu revoltas, aplicando estritamente a cobrança de pesados impostos, e impediu os ataques de bandidos, que havia se tornado um problema notório durante o período. Alexandria se tornou um centro cada vez mais importante na rota de comércio com o Oriente, como luxos exóticos que estavam em alta demanda em Roma. Embora os romanos tivessem uma atitude mais hostil do que os gregos para os egípcios, algumas tradições, como a mumificação e o culto dos deuses tradicionais continuaram. A arte de retratar as múmias floresceu, e alguns dos imperadores romanos tinham-se retratado como faraós, embora não na medida dos Ptolomeus. Os primeiros moravam fora do Egito e não desempenharam funções cerimoniais da realeza egípcia. A administração local tornou-se romana em grande estilo e fechando os nativos egípcios. A partir de meados do , o cristianismo se enraizou em Alexandria, sendo visto como outro culto, que poderia ser aceito. No entanto, era uma religião inflexível que procurou ganhar pessoas para converter do paganismo ameaçando as tradições religiosas populares. Isso levou à perseguição dos convertidos no cristianismo, que culminou com o grande expurgo de Diocleciano a partir de 303, mas, eventualmente, o cristianismo venceu. Em 391 o imperador cristão Teodósio I introduziu uma legislação que proibiu ritos pagãos e os templos foram fechados. Alexandria tornou-se palco de grandes protestos antipagãos, com público e imagens privadas destruídas. Como consequência, a cultura do Egito pagão estava continuamente em declínio. Enquanto a população nativa continuou a falar sua linguagem, a capacidade de ler e escrever hieróglifos desapareceu lentamente com o papel dos sacerdotes e sacerdotisas dos templos egípcios diminuindo. Os templos eram, às vezes convertidos em igrejas ou abandonados no deserto. Fontes de estudo. As fontes para o estudo da história do Antigo Egito podem ser escritas,arqueológicas e artísticas. Entre as principais fontes podemos citar:
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História das ciências e da tecnologia
História das ciências e da tecnologia
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História da Albânia
História da Albânia O nome Albânia deriva de uma tribo, os Albanoi, antepassados dos Albaneses atuais. "Shqiperia" é o nome do país em albanês. A Albânia tem origem no antigo Reino da Ilíria. Conquistada pelos romanos em 168 a.C., é incorporada ao Império Bizantino em 395. No século XV cai em poder dos turcos otomanos, que convertem a população ao islamismo e adotam uma política despótica, despertando o nacionalismo albanês, duramente reprimido. Antes do século XX, a Albânia foi sempre dominada por estrangeiros, excepto entre 1443 e 1478, durante a revolta contra o Império Otomano. A Albânia declarou sua independência durante a Primeira Guerra dos Bálcãs, em 1912 e permaneceu independente após a Primeira Grande Guerra em grande parte devido à intervenção do Presidente Americano Woodrow Wilson na Conferência de Paz de Paris (1919). Em 1939, a Itália, sob comando de Benito Mussolini, anexa a Albânia. Com o render das tropas italianas em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, tropas germânicas ocuparam o país. Guerrilheiros, incluindo os da comunista Frente Libertação Nacional (FLN), ganharam o controle em 1944, após a retirada dos alemães. Desde a intervenção dos comunistas da Jugoslávia na criação do Partido Comunista Albanês do Operariado em Novembro de 1941, o regime da FLN, liderado por Enver Hoxha, tornou-se num satélite virtual juguslavo até ao rompimento entre Tito e Stalin em 1948. Consequentemente, o comunismo linha-dura começou a ter dificuldades crescentes com a União Soviética sob o comando de Nikita Khrushchov, tendo seu ápice em 1961 quando os líderes soviéticos abertamente denunciaram a Albânia em um congresso de partido. Os dois estados quebraram relações diplomáticas naquele ano; entretanto, a Albânia continuou membro nominal do Pacto de Varsóvia até a invasão da Checoslováquia em 1968. Em 1945, uma missão não oficial dos Estados Unidos foi enviada à Albânia para estudar a possibilidade de estabelecer relações com o regime. Entretanto, o regime negou-se a reconhecer a validade dos tratados pré-guerra, aumentando as hostilidades com a missão americana até a sua retirada em novembro de 1946. O governo dos EUA não manteve contato com o governo da Albânia entre 1946 e 1990. Durante os anos 1960, a República Popular da China emergiu como leal aliada da Albânia e fonte primária de assistência econômica e militar. Entretanto, esse relacionamento próximo caiu em 1970, quando a China decidiu introduzir algumas reformas de mercado e procurar uma reaproximação com os EUA. Depois de anos de relações sólidas, a ruptura aberta veio em 1978, quando o governo chinês terminou seu programa de ajuda e cortou todo o comércio. O embargo econômico de outros países resultou na ruína financeira para a Albânia. Por volta de 1990, mudanças em todos os lugares do bloco comunista começaram a influenciar o pensamento na Albânia. O governo começou a procurar laços com o Ocidente para melhorar as condições econômicas no país. A Assembleia do Povo aprovou uma constituição interina em abril de 1991. Governos de curta duração. Introduziram reformas democráticas iniciais no decorrer de 1991. Em 1992, o vitorioso Partido Democrata sob o governo do presidente Sali Berisha começou um programa mais deliberado de reformas econômicas e democráticas. O progresso parou em 1995, resultando em um declínio da confiança pública no governo e uma crise econômica encorajou a proliferação e colapso de muitos esquemas financeiros. A crise de autoridade no começo de 1997 alarmou o mundo, trazendo intensa mediação e pressão internacionais. Eleições antecipadas realizadas em junho de 1997 trouxeram à vitória uma coalizão de partidos liderados por socialistas. Os observadores internacionais julgaram as eleições legislativas em 2001 aceitáveis e um passo em direção ao desenvolvimento democrático, mas identificaram sérias deficiências que devem ser sanadas com reformas no código eleitoral albanês. Em 2009, a Albânia (juntamente com a Croácia), tornaram-se membros da OTAN. Pré-história. Os Ilírios surgem da presença Indo-Europeia do lado oeste dos balcãs. A sua formação pode ser assumida como coincidente com o início da Idade do Ferro nos Balcãs, no primeiro milénio antes de Cristo. Os arqueologistas associam os Ilírios com a cultura Hallstatt, um povo da Idade do Ferro conhecida pela sua produção de ferro, espadas em bronze com punhos em forma de asas, e pela domesticação de cavalos. É importante delinear as tribos Ilírias do Pelo-Balcãs no sentido estrito linguístico, mas áreas incluídas sob os "Ilírios" da Idade do Ferro nos Balcãs incluem a área dos rios Sava, Danúbio e o Morava até ao Mar Adriático e as Montanhas Shar. Antiguidade. Colónias gregas. Com início no século VII foram estabelecidas colónias na costa Ilíria, sendo as mais importantes as colónias de Apolônia, Avlona (atualmente Vlorë), Epidamno (atualmente Durrës), e Lisso (atualmente Lezhë). A redescoberta da cidade Grega de Butroto (actualmente Butrint) é provavelmente mais significativo hoje em dia do que quando Júlio César a utilizou como depósito de provisões para as suas tropas durante as suas campanhas no Século I a.C.. Na época não era um local importante, na sombra de Apolônia e Epidamno. Ilírios. Na antiguidade, o território da Albânia era sobretudo habitado por povos Ilírios, que, tal como outros povos antigos, estavam subdivididos em tribos e clãs. A região encontrava-se igualmente habitada por bríges, e por caônios, um povo grego da Antiguidade. No Século IV a.C. o rei Ilírio Bardílis I uniu várias tribos Ilírias e entrou em conflito com os macedónios a sudeste, mas foi derrotado. Bardílis foi sucedido por Grabos e depois por Bardílis II, e depois por Cleito o Ilírio, que foi derrotado por Alexandre o Grande. Em 229 a.C., a Rainha Teuta dos ardieus enfrentou os Romanos, iniciando a Primeira Guerra Ilíria, a primeira das Guerras Ilírias que resultaram em derrota e no fim da independência Ilíria (por volta de 168 a.C.), quando o rei Gêncio foi derrotado por um exército Romano.
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Historiografia
Historiografia Historiografia (de "historiógrafo", do grego , de , "História" e , da raiz de , "escrever": "o que escreve, ou descreve, a História") é uma palavra polissémica e designa não apenas o registro escrito da História, a memória estabelecida pela própria humanidade através da escrita do seu próprio passado, mas também a ciência da História. A historiografia como meta-história. Se a História é uma ciência (cujo objecto é o homem no tempo), tem que submeter-se, como toda a ciência, ao método científico. Ainda que este não possa ser integralmente aplicado a todos os campos das ciências experimentais, pode-se fazê-lo a um nível equiparável ao das chamadas Ciências Sociais ("ver: Método histórico, Metodologia e Metodologia nas ciências sociais"). Um terceiro conceito confluente no momento de definir-se a História como fonte de conhecimento é a chamada Teoria da História, também denominada como "historiologia" (termo cunhado por José Ortega y Gasset)), cujo papel é o de estudar "a estrutura, leis e condições da realidade histórica" ("DRAE"); enquanto que o da "historiografia" é o de relato em si mesmo da história, da arte de escrevê-la ("DRAE"). É impossível acabar com a polissemia e com a superposição destas três acepções, mas de maneira simplificada, pode-se admitir: a história é o estudo dos homens no tempo e seus feitos; a historiografia é a ciência da história e a historiologia a sua epistemologia. A Filosofia da História é o ramo da filosofia que concerne ao significado da história humana, se é que o tem. Especula acerca de um possível fim teleológico de seu desenvolvimento, ou seja, pergunta-se se há um esboço, um propósito, princípio director ou finalidade no processo da história humana. Não deve confundir-se com os três conceitos anteriores, dos quais se separa claramente. Se o seu objecto é a verdade ou o dever ser, se a história é cíclica ou linear, ou se nela existe a ideia de progresso, são matérias das quais trata esta disciplina, alheias à história e à historiografia propriamente ditas. Um enfoque intelectual, que tampouco contribui muito para entender a ciência histórica como tal, é a subordinação do ponto de vista filosófico à historicidade, considerando toda a realidade como produto de um devir histórico: esse seria o lugar do historicismo, corrente filosófica que pode estender-se a outras ciências, como a Geografia. Uma vez despojada da questão meramente nominal, resta para a historiografia, portanto, a análise da história escrita, das descrições do passado; especificamente dos enfoques na narração, interpretações, visões de mundo, uso das evidências ou documentos e os métodos de sua apresentação pelos historiadores; e também o estudo destes, por sua vez sujeitos e objectos da ciência. A historiografia, de maneira restrita, é a maneira pela qual a história foi escrita. Em um sentido mais amplo, a historiografia refere-se à metodologia e às práticas da escrita da historia. Em um sentido mais específico, refere-se a escrever sobre a história em si. Fontes historiográficas e seu tratamento. É importante distinguir a matéria-prima do trabalho dos historiadores (a fonte primária) do produto acabados ou semiacabado (fonte secundária e fonte terciária). Do mesmo modo, importa notar a diferença entre a fonte e o documento e o estudo das fontes documentais: a sua classificação, prioridade e tipologia (escritas, orais, arqueológicas); o seu tratamento (reunião, crítica, contraste), e manter o devido respeito a essas fontes, principalmente com a sua citação fiel. A subjetividade é uma singularidade da ciência histórica. Historiografia como produção historiográfica. Historiografia é o equivalente a qualquer parte da produção historiográfica, ou seja: ao conjunto dos escritos dos historiadores acerca de um tema ou período histórico específico. Por exemplo, a frase: "é muito escassa a historiografia sobre a vida cotidiana no Japão na Era Meiji" quer dizer que existem poucos livros escritos sobre esta questão, uma vez que até ao momento ela não recebeu atenção por parte dos historiadores, e não porque esse objecto de estudo seja pouco relevante ou porque haja poucas fontes documentais que proporcionem documentação histórica para fazê-lo. No que diz respeito à difusão e divulgação da produção historiográfica, seria bom que cumprisse os mesmos requisitos a que se submetem as demais publicações científicas (ver publicação). Também se utiliza o vocábulo "historiografia" para falar do conjunto de historiadores de uma nação, por exemplo, em frases como esta: "a historiografia espanhola abriu os seus braços e os seus arquivos a partir da década de 1930 para os hispanistas franceses e anglo-saxões, que renovaram a sua metodologia." É necessário diferenciar os dois termos utilizados acima: "produção historiográfica" e "documentação histórica", ainda que em muitos casos coincida que os historiadores utilizem como documentação histórica precisamente a produção historiográfica anterior. Por exemplo: sobre um conjunto de documentos de arquivo da Casa de Contratação em Sevilha que foi produzido apenas para fins de contabilidade; ou qualquer material arqueológico que esteja em uma escavação no Peru, e se depositou sem a intenção de que alguém o encontrasse; um historiador americanista terá de usar a "Brevíssima Relação da Destruição das Índias", que foi escrita por Frei Bartolomé de Las Casas com um afã histórico indubitável, além de com fins da defesa de um interesse ou do seu próprio ponto de vista. Com este último vemos outra insuperável característica da História que a peculiariza como ciência: nenhum historiador, por mais objectivo que pretenda ser, não é alheio aos seus próprios interesses, ideologia ou mentalidades, nem pode subtrair-se ao seu ponto de vista particular. Quando muito, pode tentar a intersubjetividade, ou seja, ter em conta a existência de múltiplos pontos de vista. Para o caso do exemplo em tela, contrastar as fontes de Bartolomé de las Casas com as demais vozes que se ouviram na Junta de Valladolid, entre as quais se destacou a de seu rival, Juan Gines de Sepulveda, ou inclusive com a chamada "voz dos vencidos", que raramente é preservada, mas às vezes sim, como acontece com a "Nueva Crónica y Buen Gobierno" do inca Guaman Poma de Ayala. A reflexão sobre a possibilidade ou impossibilidade de um enfoque objectivo conduz à necessidade de superar a oposição entre a objectividade (a de uma inexistente ciência "pura", que não seja contaminada pelo cientista) e subjectividade (implicada nos interesses, ideologia e limitações do cientista), com o conceito de intersubjectividade, que obriga a considerar a tarefa do historiador, como o de qualquer cientista, como um produtor social, inseparável do restante da cultura humana, em diálogo com os demais historiadores e com toda sociedade como um todo. Historiografia e perspectiva: o objecto da História. A história não tem outra opção senão seguir a tendência de especialização de qualquer disciplina científica. O conhecimento de toda a realidade é epistemologicamente impossível, ainda que o esforço de conhecimento transversal, humanístico, de todas as partes da história, seja exigível a quem verdadeiramente queira ter uma visão correcta do passado. A História, portanto, deve segmentar-se, não apenas porque a perspectiva do historiador esteja contaminada com subjectividade e ideologia, mas porque ele deve optar, necessariamente, por um ponto de vista, do mesmo modo que um cientista: se quiser observar o seu objecto, deve optar por usar um telescópio ou um microscópio (ou, de forma menos grosseira, que tipo de lente irá aplicar). Com o ponto de vista determina-se a selecção da parte da realidade histórica que se toma como objecto, e que, sem dúvida, dará tanto a informação sobre o objeto estudado como sobre as motivações de um historiador que o estuda. Essa visão preferencial pode ser consciente ou inconsciente, assumida com maior ou menor cinismo pelo historiador, e é diferente para cada época, para cada nacionalidade, religião, classe social ou âmbito no qual o historiador pretenda situar-se. A inevitável perda que supõe a segmentação, compensa-se pela confiança em que outros historiadores farão outras selecções, sempre parciais, que devem complementar-se. A pretensão de conseguir uma perspectiva holística, como o pretende a História total ou a História das Civilizações, não substitui a necessidade de todas e cada uma das perspectivas parciais como as que se tratam a seguir: Recortes temporais. A Escola dos Annales foi uma das origens da fixação da memória dos feitos históricos em muitas culturas (veja-se em seu verbete próprio e mais abaixo em "Historiografia de Roma"). As crónicas (que em seu nome já indicam a intenção do recorte temporal) são usadas como reflexo dos acontecimentos notáveis de um período, habitualmente um reinado (veja-se no verbete próprio e mais abaixo em Historiografia da Idade Média e Historiografia em Espanha). A arcontologia seria a limitação do registro histórico à lista de nomes que ocupavam determinados cargos de importância ordenados cronologicamente. De fato, a mesma cronologia, disciplina auxiliar da história, nasce em muitas civilizações, associada ao cômputo do tempo passado que se fixa na memória escrita pelos nomes dos magistrados, como ocorria em Roma, onde era mais comum citar um ano por ser o dos cônsules tais ou quais. No Egito, a localização do tempo se fazia pelos faraós e dinastias. É muito significativo que nas culturas não históricas, que não fixam mediante a escrita a memória do seu passado, é muito frequente que não se mantenha a duração concreta do tempo passado mais do que uns poucos anos, que podem ser inclusive menos do que os que dura uma vida humana. Tudo o que ocorre fora dele é referido como "faz muito tempo", ou como no "tempo dos antepassados", que passa a ser um tempo mítico, "anistórico"." O tratamento cronológico é o mais utilizado pela maioria dos historiadores, pois é o que corresponde à narrativa convencional, e o que permite ligar as causas passadas com os efeitos no presente ou no futuro. No entanto, ele é usado de várias maneiras: por exemplo, o historiador deve sempre optar por um tratamento síncrono ou diacrónico do seu estudo dos factos, ainda que muitas vezes se façam os dois. Períodos ou momentos especialmente atraentes para os historiadores acabam convertendo-se, pela intensidade do debate e do volume de produção em verdadeiras especialidades, tais como a história da Guerra Civil Espanhola, a história da Revolução Francesa a da Guerra da Independência dos Estados Unidos, ou a da Revolução Soviética, por exemplo. Também devem ser consideradas as diferentes concepções de tempo histórico, que, de acordo com Fernand Braudel vão da longa duração ao evento pontual, passando pela conjuntura. Recortes metodológicos: as fontes não escritas. <noinclude> No caso do período pré-histórico, a diferença radical entre fontes e método (assim como a divisão burocrática das cátedras universitárias) fazem com que seja uma ciência muito distante daquela feita pelos historiadores, sobretudo quando tais fontes e métodos se prolongam, dando primazia à utilização das fontes arqueológicas e ao estudo da cultura material em períodos para os quais já existam fontes escritas, falando-se então não da Pré-história, mas sim propriamente da Arqueologia com as suas próprias periodizações (Arqueologia clássica, Arqueologia Medieval e mesmo Arqueologia Industrial). Uma diferença menor pode ser encontrada com o uso de fontes orais, no que é chamado de História Oral. Não obstante, há que recordar o que foi dito (ver acima recortes temporais) acerca da primazia das fontes escritas e o que estas determinam à ciência historiográfica e à própria consciência da história em seu protagonista, que é toda a humanidade. Recortes espaciais. São exemplos de recortes espaciais a História continental, a História nacional e a História regional. O papel da história nacional na definição das próprias nações é inegável (para a Espanha, por exemplo, desde as crónicas medievais até à História do Padre Mariana; veja-se ainda nacionalismo). Também como exemplo, veja-se em A história da História) como os historiadores se agrupam distintamente por nacionalidade, por época ou por tendência. A Geografia dispõe de conceitos não tão potentes porém não menos arbitrários, que têm permitido edificar o prestigioso ramo da Geografia regional. A História local é, sem dúvida, a de mais fácil justificação e de validade universal, sempre que supere o nível da simples erudição (que ao menos sempre servirá como fonte primária para obras de maior ambição explicativa). Recortes temáticos. São os que dão lugar a uma história sectorial, presente na historiografia desde a antiguidade, como ocorre com a: Uma das formas de se perguntar qual é o "objecto" da História é através da escolha do que é que merece ser mantido na memória, quais são os factos memoráveis. São todos, ou são apenas aqueles que o historiador considera transcendentais? Na lista acima, temos algumas respostas que cada um pode dar. Algumas destas denominações encerram não uma simples divisão, mas sim visões metodológicas opostas ou divergentes, que se têm multiplicado nos últimos cinquenta anos. A história é hoje mais plural do que nunca, dividida em uma multiplicidade de especialidades tão fragmentada que muitos dos seus ramos não se comunicam entre si, sem ter sujeito e objecto comuns: Ciências auxiliares da História. A fragmentação do objecto histórico pode induzir, em algumas ocasiões, a uma limitação muito forçada da perspectiva historiográfica. Levada a um extremo, pode-se reduzir a história à ciência auxiliar daquela de que se serve para encontrar explicação para os factos do passado, como por exemplo a Economia, a Demografia, a Sociologia, a Antropologia ou a Ecologia. Em outras ocasiões, a limitação do campo de estudo produz realmente um "género historiográfico": Géneros historiográficos. Pode assinalar-se que há "géneros historiográficos" que participam da História mas que podem chegar a aproximar-se mais ou menos dela: num extremo encontram-se os terrenos da ficção ocupados pela novela histórica, cujo valor desigual não diminui a sua importância. Outro extremo é ocupado pela Biografia e um género anexo, sistemático e extraordinariamente útil para a história geral como é a Prosopografia. Vinculada à história desde o começo do registro escrito, uma de suas principais preocupações no momento de estabelecer os dados foi o que hoje chamamos Arcontologia (as listas de reis e dirigentes). Correntes historiográficas: o sujeito da História. De modo mais explícito, as "correntes historiográficas" normalmente explicitam a sua metodologia de uma forma combativa, como o Providencialismo, de origem Cristã (convém recordar que, para além da tradição historiográfica grega Heródoto e Tucídides, a origem da nossa historiografia é a História sagrada) ou o Materialismo histórico de origem marxista (que triunfou nos ambientes intelectuais e universitários europeus e americanos em meados do , permanecendo adormecido desde a queda do Muro de Berlim). Às vezes a rotulação das correntes é obra de seus detractores, com o que os historiadores ali identificados podem ou não concordar com o modo pelo qual foram definidos. Este tipo de coisa poderia ser dito do próprio providencialismo, mas seria mais apropriado para correntes mais modernas, como o positivismo burguês, a história dos eventos (dos acontecimentos) e outras. É sempre necessário interpretar a historiografia como parte da atmosfera intelectual da época em que se coloca. Qualquer produção cultural é dependente do modelo cultural existente, chamando-se a isso moda, estilo ou paradigma dominante na arte ou na filosofia, e é evidente que o registro da história é uma produção cultural. A desconstrução, o pensamento débil ou a pós-modernidade, conceitos do final do , foram a incubadora da actual desconstrução da história, que para alguns é apenas uma narrativa. Uma boa maneira de distinguir a interpretação da história que tem uma determinada corrente historiográfica actual é perguntar-lhe a quem considera "sujeito histórico" ou verdadeiro protagonista da história. Agrupamentos de historiadores. Grupos de historiadores que partilham metodologias (e se autopromovem conjuntamente com o poderoso mecanismo publicação-citação) surgem por vezes em torno de revistas, como a escola francesa dos Annales, a inglesa Past and Present ou a italiana Quaderni Storici; grupos de investigação ou as próprias cátedras universitárias, que são a cúspide da reprodução das elites historiográficas, através do clientelismo e do reconhecimento entre pares ("peer review"). A história da História. O surgimento da História é equivalente ao da escrita, mas a consciência de estudar o passado ou de deixar para o futuro um registro da memória é uma elaboração mais complexa do que as anotações dos templos da Suméria. As estelas e relevos comemorativas de batalhas na Mesopotâmia e no Egito já são algo mais aproximado. As demais civilizações asiáticas alcançaram a escrita e a história em seu próprio ritmo, pela compilação das suas fontes teológicas sob a forma de livros sagrados - por vezes com trechos históricos (como a Bíblia hebraica) ou sofisticações cronológicas (como os Vedas hindu) -, registram os seus próprios anais e finalmente a sua própria historiografia, em especial na China, que tem o seu Heródoto em Sima Qian ("Memórias históricas", 109 a.C. – 91 a.C.) e alcançou uma definição clássica de história tipificada, oficial, com o "Livro dos Han" de Ban Gu (), que estabeleceu um padrão repetido sucessivamente pelos historiadores dos períodos seguintes, de vinte e cinco "histórias tipificadas" até 1928, data em que apareceu a última dessa monumental série. No continente americano, salvo a civilização Maia, não há textos, de forma alguma, comparáveis. No entanto, o desenvolvimento e a variedade que a historiografia alcançou na Civilização Ocidental é de um nível diferente a todas elas. Grécia. Os primeiros Gregos, que se interessaram sobretudo sobre os mitos de criação (os logógrafos), já praticavam a recitação dos eventos. A sua narração podia apoiar-se em escritos, como foi o caso de Hecateu de Mileto, na segunda metade do . No Heródoto de Halicarnasso diferenciou-se deles pela sua vontade de distinguir o verdadeiro do falso; por isso, realizou a sua "investigação" (etimologicamente "História"). Uma geração mais tarde, com Tucídides, esta preocupação tornou-se crítica, com base na confrontação de diferentes fontes orais e escritas. A sua ""História da Guerra do Peloponeso" pode ser vista como a primeira obra verdadeiramente historiográfica. Os seguidores do novo género literário inaugurado por Heródoto e Tucídides foram muito numerosas na Grécia Antiga e, entre eles contam-se Xenofonte (autor do "Anábase"), Posidónio Ctésias, Apolodoro de Artémis, Apolodoro de Atenas e Aristóbulo de Cassandreia, entre outros (Ver literatura grega e historiografia helenística) No Políbio, em sua obra "Pragmateia"" (traduzido também como "História"), talvez tentando escrever uma obra de Geografia, abordou a questão da sucessão dos regimes políticos para explicar como é que o seu mundo entrou na órbita romana. Ele foi o primeiro a procurar causas intrínsecas para o desenvolvimento da história, mais do que invocar princípios externos. Nesta fase do período helenístico, a biblioteca e o Museu de Alexandria representavam o ápice do afã grego em preservar a memória do passado, o que significa a sua valorização como uma ferramenta útil para o presente e o futuro. Roma. A civilização romana dispõe, à semelhança dos gregos Homero e Hesíodo, de mitos de origem recolhidos por Virgílio que os poetizou na "Eneida" como um elemento do programa ideológico desenhado por Augusto. Também, pelo menos desde a república, teve um cuidado especial pela recopilação de feitos em anais, a legislação escrita e os arquivos vinculados ao sagrado dos templos. Até às guerras púnicas a recopilação dos principais sucessos ocorridos estava a cargo dos pontífices, sob a forma de crónicas anuais. A primeira obra histórica latina completa é "As Origens" de Catão, o Velho, do . O contacto de Roma com o mundo Mediterrâneo, primeiro com Cartago, mas sobretudo com a Grécia, o Egito e o Oriente, foi fundamental para ampliar a visão e utilidade do seu género histórico. Os historiadores (quer romanos quer gregos) acompanharam os exércitos nas campanhas militares, com o objectivo declarado de preservar a sua memória para a posteridade, de recolher informações úteis e de justificar as suas acções. A língua culta, o idioma grego, foi utilizado para este género, a par da mais sóbria, o Latim. Salústio, o Tucídides romano, escreveu "De Coniuratione Catilinae" (A conjuração de Catilina, da qual foi contemporâneo, no ano de 63 a.C.). Faz um extenso relato das causas remotas da conjuração, assim como das ambições de Catilina, retratado como um nobre degenerado e sem escrúpulos. Em "Bellum Ingurthinum" ("A Guerra de Jugurta" rei dos númidas, ), denuncia um escândalo colonial. "Historiae" foi a sua obra mais ambiciosa e madura, parcialmente conservada que abrange, em cinco livros, os doze anos transcorridos após a morte de Sila em até . Não e a precisão histórica que lhe interessa e sim a narração de alguns factos com as suas causas e consequências, assim como a oportunidade de esclarecer o processo de degeneração em que a República se viu imersa. Além dos indivíduos, o objecto da sua observação centra-se nas classes sociais e nas facções políticas: idealiza um passado virtuoso, e detecta um processo de decadência que atribui aos vícios morais, à discórdia social e ao abuso do poder pelas diferentes facções políticas. Cícero (106-43 a.C.) defendeu a incorporação de elementos retóricos às narrativas históricas, sem os quais o registro dos acontecimentos passados não teria utilidade pública. Júlio César com o seu ""Commentarii Rerum Gestarum", acerca de duas das maiores operações militares que conduziu, as Guerras da Gália ("De Bello Gallico") e a guerra civil ("De Bello Civili"). Tito Lívio , com os cento e quarenta e dois livros de "Ab Urbe Condita"", divididos em grupos de dez livros, conhecidos como "Décadas", actualmente perdidos em sua maior parte, escreveu uma grande História nacional, cujo único tema é Roma ("fortuna populi romani"), e cujos únicos actores são o Senado e as pessoas de Roma (""senatus populusque romanus", SPQR). O seu objectivo geral é ético e didáctico; os seus métodos foram os do grego Isócrates do : é dever da História dizer a verdade e ser imparcial, mas a verdade deve apresentar-se de uma maneira elaborada e literária. Ele utilizou como fonte os primeiros analistas e Políbio, mas o seu patriotismo levou-o a distorcer a realidade em detrimento do exterior e a um espírito crítico pobre. É um historiador de gabinete, não viaja nem conhece pessoalmente os cenários dos eventos que descreve. Tácito , o grande historiador do Império sob os Flávios, é, acima de tudo, um investigador das causas. A lista de historiadores da época romana é vasta, tanto em língua latina (Plínio, o velho, Suetónio e outros ou grega (Estrabão, Plutarco). Na decadência de Roma, o Cristianismo virá a dar uma mudança metodológica radical, introduzindo o providencialismo de Agostinho de Hipona. É exemplo Orósio, presbítero hispânico de Braga ("Historiae adversum paganus"). Idade Média. Dentre os primeiros historiadores desse período, merecem destaque: Naquela época, o predomínio das concepções religiosas fazia com que os livros de história fossem classificados como "profecias". A biblioteca da Universidade de Sorbonne somente começou a contar com a seção "História" em 1338, mas naquela seção encontravam-se obras sobre a história bíblica e na seção das crônicas estavam incluídas as hagiografias. A historiografia medieval é feita principalmente por hagiógrafos, cronistas, membros do clero episcopal próximos ao poder, ou pelos monges. Escrevem-se genealogias, áridos anais, listas cronológicas de acontecimentos ocorridos nos reinados dos seus soberanos (anais reais) ou da sucessão de abades (anais monásticos); "vidas" (biografias) de carácter edificante, como as dos santos Merovíngios, ou, mais tarde, dos reis da França), e "histórias" que contam o nascimento de uma nação cristã, exaltam uma dinastia ou, inversamente, fustigam os ignóbeis de uma perspectiva religiosa. Esta história, de que são exemplos Beda, o venerável (""História Ecclesiástica Gentis Anglorum", ) ou Isidoro de Sevilha ("Etimologias" e "Historia Gothorum""), é providencialista, de inspiração agostiniana, e circunscreve as acções dos homens nos desígnios de Deus. É preciso esperar até ao para que os cronistas se interessem pelo povo, o grande ausente da produção deste período, como por exemplo, a do francês Jean Froissart ou do florentino Matteo Villani. Idade Moderna. Estudiosos como Peter Burke e Georges Lefebvre apontam Petrarca como o primeiro historiador renascentista. Também merecem destaque, pelo pioneirismo: Maquiavel, que escreveu: "A História de Florença" e Francesco Guicciardini, que escreveu: "História da Itália". Jean Bodin, na obra "Método para uma fácil compreensão da história", afirmou que graças a história é possível compreender melhor o presente e prever o futuro. Henri de La Polinière, em "História das histórias, com a ideia da História perfeita", afirmou que o papel do historiador era explicar os fatos e não somente descrevê-los e que deveria recusar as lendas e os milagres das crônicas medievais e seguir o método rigoroso e imparcial dos filólogos e juristas, Durante o Renascimento, o Humanismo trouxe um gosto renovado pelo estudo dos textos antigos, gregos ou latinos, mas também pelo estudo de novos suportes: as inscrições (epigrafia); as moedas (numismática) ou as cartas, diplomas e outros documentos (diplomática). Estas novas ciências auxiliares da era moderna contribuíram para enriquecer os métodos dos historiadores: em 1681 Dom Mabillon indicou os critérios para determinar a autenticidade de um registro, pela comparação de diferentes fontes em ""De Re Diplomática". Em Nápoles, mais de duzentos anos antes, Lorenzo Valla, a serviço de Afonso V de Aragão tinha conseguido demonstrar a falsidade da Doação de Constantino. Giorgio Vasari com a obra "As vidas"" ofereceu, por sua vez, uma fonte e um método historiográfico para a História da Arte. Neste período a história não é diferente da geografia e nem mesmo das ciências naturais. É dividida em duas partes: a história geral (actualmente denominada simplesmente como "história") e a história natural (actualmente as ciências naturais e a geografia). Este sentido amplo de história pode ser explicado pela etimologia da palavra (ver História). A questão da unidade do reino que se colocou pelas guerras de religião na França no , deu origem a trabalhos de historiadores que pertencem à corrente chamada de "história perfeita", que mostra que a unidade política e religiosa da França moderna é necessária, ao derivar-se de origens Gaulesas (Etienne Pasquier, ""Recherches de la France"). O providencialismo de autores como Jacques-Bénigne Bossuet ("Discurso sobre a história universal"", 1681), tende a desvalorizar o significado de qualquer mudança histórica. Ao mesmo tempo, a história se mostra como um instrumento de poder: põe-se ao serviço dos príncipes, desde Nicolau Maquiavel até aos panegiristas de Luís XIV de França, entre os quais se incluiu Jean Racine. A própria hagiografia procurou adotar critérios mais científicos a partir das contribuições do jesuíta Jean Bolland e seus seguidores, conhecidos como bolandistas, tais como o jesuíta Daniel van Papenbroeck e o beneditino Jean Mabillon. O Iluminismo. René Descartes foi um crítico da produção dos historiadores de sua época que tinham pouco rigor científico. Alguns historiadores foram resistentes às críticas de Descartes, como Jacob Perizonius, que defendia os textos humanistas com elementos retóricos dos escritores latinos e gregos. Por outro lado, Jean Le Clearc destacou-se entre aqueles que defenderam a produção de obras históricas com os padrões de cientificidade defendidos por Descartes. Existiam duas visões contrárias para o alcance do conhecimento da História: A erudição dos antiquários se destacou entre os beneditinos da Congregação de São Mauro (Saint Maur), que escreveram obras sobre a História das Províncias Francesas como: Essas eram obras que apenas acumulavam conhecimentos sobre fatos, mas desprovidas de reflexão. Esse tipo de obra foi criticado por Jean le Rond d’Alembert que sustentou que "quando a ciência da história não é auxiliada pela filosofia, é o último dos conhecimentos humanos.". No , ocorreu uma mudança fundamental: as abordagens intelectuais do Iluminismo por um lado, e a descoberta de um "outro" em culturas fora da Europa (o exotismo, o mito do "bom selvagem") por outro, suscitam um novo espírito crítico (embora, na realidade, fossem circunstâncias semelhantes às que se podiam observar em Heródoto). São postos em questão os prejuízos culturais e o universalismo clássico. A descoberta de Pompeia renovou o interesse pela Antiguidade clássica (neoclassicismo) e fornece os materiais que inauguram uma ciência emergente da arqueologia. As nações europeias distantes do mar Mediterrâneo buscam as suas origens históricas nos mitos e lendas que, por vezes, foram inventadas (como em ""Ossian" de James Macpherson, que simulou ter encontrado o Homero celta). Também se interessam pelos costumes nacionais os franceses François Fénelon, Voltaire ("História do império russo sob Pedro, o Grande" e "O século de Luís XIV", 1751) e Montesquieu, que teorizou sobre ele em "O Espírito das Leis". Na Inglaterra, Edward Gibbon escreveu a sua monumental obra "História do declínio e queda do Império Romano" (1776-1788), onde fez da precisão um aspecto essencial do trabalho do historiador. Os limites da historiografia no são a submissão à moral e a inclusão de juízos de valores, de modo que o seu objectivo continua limitado. Na Espanha destaca-se a publicação de "España Sagrada", do padre agostiniano Enrique Flórez, recompilação de documentos de história eclesiástica, expostos com critério ultraconservador (1747 e continuada após a sua morte, até ao ) e a "Historia crítica de España" do jesuíta desterrado Juan Francisco Masdeu; a partir de uma perspectiva mais ilustrada temos o regalista Melchor Rafael de Macanaz, o crítico Gregorio Mayans y Siscar (um dos seus discípulos, Francisco Cerdá y Rico, tentou imitar Lorenzo Valla ao discutir a veracidade do voto de Santiago medieval), e mais tarde, nesse mesmo século, ao próprio Gaspar Melchor de Jovellanos, Juan Sempere y Guarinos, Eugene Larruga y Boneta ("Memorias políticas y económicas"), e ao excelente documento recompilatório que é "Viaje de España" de Antonio Ponz. A meio caminho entre as duas tendências encontra-se o exemplo de Juan Pablo Forner, casticista na sua famosa "Oración apologética por España y su mérito literiario"" (1786) e reformista em outras obras, publicadas após a sua morte. No , surgiu a tendência de se utilizar o racionalismo, que buscava fundamentar os direitos universais dos homens, como fio condutor da narrativa histórica, em substituição às concepções religiosas, adotadas na Idade Média, e à legitimação do absolutismo monárquico, adotado no início da Idade Moderna. Desse modo a profecia (fim da história no período medieval) foi substituída pela utopia. Classificação proposta por Collingwood. Segundo Robin George Collingwood, na época do iluminismo, a busca pelo conhecimento da história tinha duas vertentes: Nessa perspectiva, dentre os representantes da primeira vertente estariam: Dentre os representantes da segunda vertente estaria Voltaire, que tentou conciliar erudição e reflexão filosófica, buscou construir um conhecimento histórico explicativo/estrutural, não se limitando à narração dos fatos políticos, pois procurou integrar o conhecimento sobre economia ao conhecimento histórico. Voltaire acreditava que por meio do conhecimento histórico, a humanidade poderia eliminar a ignorância e a superstição. Portanto, tal conhecimento não deveria se restringir à narrativa descritiva de fatos históricos, pois trata-se de conhecimento que deveria ser condutor de uma mudança social e, por isso, deveria abranger deveria haver uma investigação mais rigorosa dos contextos sociais e culturais nos quais estavam inseridos os fatos históricos. O : a História, ciência erudita. O foi um período rico em mudanças, tanto na maneira de conceber a história como na de escrevê-la. Na Alemanha, esta evolução havia se produzido antes, e já estava presente nas universidades da Idade Moderna. Agora, a institucionalização da disciplina deu lugar a vastos corpos que reuniam e transcreviam as fontes, sistematicamente. Entre estes, o mais conhecido é o ""Monumenta Germaniae Historica", a partir de 1819. A História ganha uma dimensão de erudição, mas também de actualidade. Pretende rivalizar com as demais ciências, sobretudo com o grande desenvolvimento que estas atravessam, à época. Theodor Mommsen contribui para dar à erudição as suas bases críticas, em seu "Römische Geschischte"" ("História de Roma", 1845-1846), além de ter colaborado no citado ""Monumenta Germaniae Historica" e no "Corpus Inscriptionum Latinarum". Na França, foi considerada como uma disciplina intelectual distinta de outros géneros literários desde o começo do século, quando os historiadores profissionalizaram-se e fundaram os arquivos nacionais franceses (1808). Em 1821 fundou-se a "Ècole nationale des Chartes", primeira grande instituição para o ensino da História no país. A partir da década de 1860, o historiador Fustel de Coulanges escreveu "a história não é uma arte, é uma ciência pura, como a física ou a geologia"". Sem dúvida, a história implica o debate da sua época e é influenciada pelas grandes ideologias, como o liberalismo de Alexis de Tocqueville e François Guizot. Sobretudo deixou-se influenciar pelo nacionalismo e mesmo pelo racismo. Coulanges e Mommsen transladaram para o debate historiográfico o enfrentamento da Guerra franco-prussiana de 1870. Cada historiador tende a encontrar as qualidades de seu povo (o "génio"). É o momento de fundação das grandes histórias nacionais. Os historiadores românticos, como Augustin Thierry e Jules Michelet, mantendo a qualidade da reflexão e a exploração crítica das fontes, sem receando espraiar-se no estilo, mantiveram-na como uma arte. Os progressos metodológicos não impediram contribuir para as ideias políticas de seu tempo. Michelet, em sua ""História da Revolução Francesa" (1847-1853), contribuiu igualmente para a definição da nação francesa contra a ditadura dos Bonaparte, assim como para o revanchismo antiprussiano (faleceu pouco depois da batalha de Sedan). Com a Terceira República Francesa, o ensino da História conformou-se a um instrumento de propaganda a serviço da formação dos cidadãos, e continuou a sê-lo durante todo o . Outro dos fundadores da historiografia no foi Leopold Von Ranke, que se destacou pela sua elevada crítica com as fontes usadas na História. Adepto das análises e das racionalizações, o seu lema era "escrever a História tal como foi". Desejava relatos de testemunhas visuais, enfatizando sobre o seu ponto de vista. Hegel e Karl Marx introduziram o viés social na História. Os historiadores anteriores haviam-se concentrado nos ciclos ciclos de apogeu e crise dos governos e das nações. Uma nova disciplina emergente trouxe a análise e a comparação em grande escala: a Sociologia. A partir da História da Arte, estudos como o de Jacob Burckhardt sobre o Renascimento converteram-se na referência para entender os fenómenos culturais. A Arqueologia pôs em contacto o mito com a realidade histórica, tanto no Egito como na Mesopotâmia e Grécia (Heinrich Schliemann em Troia, Micenas e Tirinto, e mais tarde Arthur Evans em Creta); tudo isso em um ambiente romântico e aventureiro que lentamente foi-se depurando para tornar-se científico, ainda que não desapareça, como demonstra a tardia aparição de de Howard Carter (Tutancâmon) e a imagem popular dos arqueólogos que se perpetua no cinema (Indiana Jones). A Antropologia aplicada à explicação dos mitos produziu o monumental trabalho de James George Frazer ("The Golden Bough; a Study in Magic and Religion"" ("O ramo de ouro", 1890), a partir do qual os historiadores puderam repensar o seu ponto de vista sobre a relação das sociedades humanas de todas as épocas com a magia, a religião e inclusive a ciência. Durante o , a Espanha conseguiu preservar o seu património documental com a criação da Biblioteca Nacional de Espanha e do Arquivo Histórico Nacional da Espanha, mas não se distinguiu por uma grande renovação da sua historiografia que, salvo o arabismo de Pascual de Gayangos, ou da historia económica de Manuel Colmeiro, aparece dividida entre uma corrente liberal (Modesto Lafuente y Zamalloa, Juan Valera), e outra reaccionária, cujo expoente, o erudito e polígrafo Marcelino Menéndez y Pelayo ("Historia de los heterodoxos españoles"), é uma digna continuação da tradição que nasceu com Santo Isidoro e passou pela "Historia" do Padre Mariana e pela "España Sagrada" do Padre Flórez. O. A história vai se afirmando como uma ciência social, uma disciplina científica envolvida com a sociedade. Nos princípios do , a história já havia adquirido uma dimensão científica incontestável. A história, entre o positivismo e o ensaísmo. Instalado no mundo académico, erudito, a disciplina foi influenciada por uma versão empobrecida do positivismo de Auguste Comte. Pretendendo objectividade, a história limitou o seu objecto: o fato ou evento isolado, o centro do trabalho de um historiador, é considerado como a única referência para responder correctamente ao imperativo da objectividade. Tampouco se ocupa por estabelecer relações de causalidade, substituindo por retórica o discurso que se pretendia científico. Simultaneamente, e em contraste, desenvolvem-se disciplinas similares, que tendem à generalização como a história cultural e a história das ideias, com Johan Huizinga (""O Outono da Idade Média") ou Paul Hazard ("A crise da consciência europeia") entre os seus iniciadores. Ensaístas como Oswald Spengler ("O Declínio do Ocidente"), e Arnold J. Toynbee ("Um Estudo da História"") em controvérsia famosa, publicam profundas reflexões sobre o próprio conceito de civilização, que juntamente com a "Revolta das Massas" ou ""España invertebrada", de José Ortega y Gasset obtiveram extraordinária divulgação, como um reflexo do pessimismo intelectual do entre-guerras. Mais próximo ao método do historiador, e não menos profundo, é o trabalho de seus contemporâneos, o Belga Henri Pirenne ("Mohammed e Charlemagne"", em português, "Maomé e Carlos Magno"), ou o australiano Vere Gordon Childe (pai do conceito "Revolução Neolítica"). Contudo, a grande transformação na história dos eventos vem de contribuições externas: Por um lado, o materialismo histórico de inspiração marxista, que introduz a economia nas preocupações do historiador. Por outro lado, a perturbação provocadas pela historiografia pelos desenvolvimentos políticos, técnicos, económicos ou sociais vividos pelo mundo, sem esquecer os conflitos mundiais. Novas ciências auxiliares surgem ou desenvolvem-se consideravelmente: a Arqueologia, a Demografia, a Sociologia e a Antropologia, sob a influência do estruturalismo. A Escola dos Annales. Uma escola de pensamento conhecida como Escola dos Annales formou-se em torno da revista "Annales d'histoire économique et sociale", fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch em 15 de janeiro de 1929 editado pela Librairie Armand Colin em Paris. Essa revista trimestral aparece com uma proposta mais abrangente tanto temporariamente quanto aos novos objetos de estudo e novas abordagens, e portanto uma nova metodologia que se enveredasse nas interdisciplinaridades para passar de discursos teóricos para a prática, como uma maneira de redescobrir o homem. Alargou o âmbito da disciplina, solicitando a confluência das outras ciências, em particular a da Sociologia, e, de maneira mais geral transforma a história ampliando o seu objeto para além do evento e inscrevendo-o na longa duração ("longue durée"). Cabe ainda lembrar da influência da psicologia, uma ciência que chamava a atenção dentre historiadores do início do século e a luta contra o que Febvre chamava de a história "Historicisante", ou seja, a história política, diplomática e militar feita até então. No ano em que a revista foi lançada, a situação europeia não era das melhores pois havia uma grave crise econômica e política, como reflexo do fim da Primeira Guerra Mundial 1929. Após o hiato da Segunda Guerra Mundial, Fernand Braudel continuou a editar a revista e recorreu, pela primeira vez, à geografia, à economia e à sociologia para desenvolver a sua tese de "economia-mundo" (o exemplo clássico é "O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Filipe II"). O papel do testemunho histórico muda: permanece no centro das preocupações do historiador, mas já não é o objecto, senão o que se considera como um útil para construir a história, útil que pode ser obtido em qualquer domínio do conhecimento. Uma constelação de autores mais ou menos próximos à "Annales" participa dessa renovação metodológica que preenche as décadas centrais do (Georges Lefebvre, Ernest Labrousse). A visão da Idade Média mudou completamente após uma releitura crítica das fontes, que têm a sua melhor parte justamente no que não mencionam (Georges Duby). Privilegiando a longa duração ao tempo curto da história dos eventos, muitos historiadores propõem repensar o campo da história a partir dos "Annales", entre eles Emmanuel Le Roy Ladurie ou Pierre Goubert. "Nova História" é a denominação, popularizada por Pierre Nora e Jacques Le Goff ("Fazer a História", 1973), que designa a corrente historiográfica que anima a terceira geração dos "Annales". A nova história trata de estabelecer uma história serial das mentalidades, ou seja, das representações colectivas e das estruturas mentais das sociedades. Outros historiadores franceses, alheios aos "Annales" como Philippe Ariès, Jean Delumeau e Michel Foucault, este último nas fronteiras da filosofia, descrevem a história dos temas da vida quotidiana, como a morte, o medo e a sexualidade. Querem que a história escreva sobre todos os temas, e que todas as perguntas sejam respondidas. De uma orientação completamente oposto (a da direita católica), Roland Mousnier realizou uma contribuição decisiva para a História Social do Antigo Regime, negando a existência de luta de classes e inclusive dessas mesmas classes, em benefício do que descreve como uma sociedade de ordens e relações clientelistas. A historiografia francesa repensa a sua Revolução. Foi dito que cada geração tem o direito de reescrever a história. Na esfera académica, a revisão das maneiras de compreender o passado é parte da tarefa do historiador profissional. Até que ponto é que essa revisão surge cientificamente, como uma distorção das certezas anteriormente estabelecidas (Karl Popper) e não pseudo-cientificamente, como faria o que se denomina pejorativamente de revisionismo historiográfico, é algo difícil de avaliar. Uma prova de toque seria detectar se o revisionista é um estranho ao mundo académico, que se dedicada ao uso político da história, o que aliás é um vício comum: a história sempre foi usada como uma arma para a transformação social e os meios académicos nunca foram uma excepção. Na historiografia, ciência social, é difícil perceber se nos encontramos diante de uma mudança de paradigma como os que estudou Thomas Kuhn para as ciências experimentais ("História das Revoluções Científicas"), principalmente porque nunca há um consenso tão universalmente partilhado como para entender que o desvio dele seja uma revolução. Uma das grandes polémicas revisionistas (no bom sentido) veio com as comemorações do segundo centenário da Revolução Francesa (1989). Assim como o próprio movimento revolucionário, também são díspares e controversas as avaliações que são feitas sobre a Revolução, que recebeu diversas alcunhas: “esplêndida aurora” (Georg Wilhelm Friedrich Hegel), “equivalente aos mitos e epopeias da Grécia antiga” (Thomas Carlyle), “a maior catástrofe que caiu sobre a raça humana” (Goldwin Smith), “mãe de todos nós” (Albert Soboul) ou “centro estratégico da história moderna” (Alfred Cobban). Autores de tendência estruturalista, próximos à "Annales" (François Furet ou Denis Richet), sintetizaram os estudos das décadas de 1970 e 1980, em que se pretendia ser um novo paradigma interpretativo alternativo ao marxismo que havia dominado a história social do período: Albert Soboul, Jacques Godechot, e, mais recentemente Claude Mazauric, Michel Vovelle ou Crane Brinton (""Anatomia de uma Revolução"). Distante de ambas as tendências, Simon Schama e os novos narrativistas fazem uma história cultural do político e muito narrativa, antiestructuralista e de tintas tendencialmente conservadoras (iniciada por Richard Cobb já na década de 1970). Além disso, mantém à frente a "Nouvelle Histoire Politique"" de René Rémond. Arno Mayer lamenta que a revisão haja dado lugar um uso político da história, no qual se condenam, "a priori", as revoluções como intrinsecamente perversas. Um subgénero: as comemorações. Por outro lado, a utilização da história para celebrar acontecimentos que atendam a anos "redondos" (centenários, decenários, etc.) constitui-se numa oportunidade de destaque profissional para os historiadores, de aproximação da disciplina do grande público e de álibi para diferentes tipos de justificações. O bicentenário dos Estados Unidos (1976) havia sido um precedente difícil de superar, em termos de cobertura mediática e custos económicos. A mais recente, no caso da Espanha foi a da Guerra Civil Espanhola (1976, com a inovadora exposição do "Palácio de Cristal" do Retiro da qual foi curador Javier Tusell; 1986, o cinquentenário que se aproveitou para recordar, particularmente, a Machado e a Garcia Lorca com a esquerda no poder; 1996; 2006, com discussões sobre a memória histórica), Carlos III de Espanha (1988, na emulação da paralela preparação do bicentenário francês), o ""Quinto Centenario del Encuentro entre dos Mundos" (1992), Cánovas (1998), o "Año Quijote" (2005). Existe mesmo a "Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales", que mantém um movimentado calendário. Sem a necessidade de celebrar algo mais concreto do que a sua próprio intemporalidade, mas com o mesmo zelo justificativo (no que leva milénios de vantagem), a Igreja Católica espanhola tem feito o mais notável conjunto de exposições: "Las Edades del Hombre", uma revisão temática dos assuntos religiosos ilustrada sucessivamente com diferentes suportes histórico-artísticos elegantemente seleccionados e expostos (livros, músicas, esculturas, etc.) de maneira itinerante pelas catedrais de Castilla y León, as quais em si mesmas já justificam as visitas. O mesmo formato e curador teria "Imaculada", para assinalar os 150 anos de aniversário do dogma (Catedral da Almudena, Madrid, 2006) e que serviu para compensar a recente inauguração do edifício, de gosto e decoração discutíveis. Inspirada nelas foi realizado pelo Governo de Navarra a exposição "Las Edades de un Reino" (Pamplona 2006, coincidindo com o centenário de São Francisco Xavier em Javier). A historiografia anglo-saxónica. Os Estados Unidos são muito pródigos na experimentação de novas abordagens metodológicas, entre as quais: Também é digno de nota o papel dos Estados Unidos como anfitrião dos intelectuais europeus antes e depois da Segunda Guerra Mundial, como foi o caso de Mircea Eliade, o maior renovador da história das religiões ou história das crenças ("O sagrado e o profano", "O mito do eterno retorno"). Mas a grande contribuição dos historiadores ingleses, que têm publicações comparáveis à da "Revue des Annales" ("Past and Present"), está no cerne da principal corrente de produção historiográfica, no caso desta revista, de tendência marxista, entre cujos destaques se incluem autores da estatura de E. P. Thompson, Eric Hobsbawm, Perry Anderson, Maurice Dobb, Christopher Hill, Rodney Hilton, Paul Sweezy, John Merrington e outros, que, de modo algum devemos entender como uma tendência unitária, uma vez que, nos anos da Segunda Guerra Mundial e nos do pós-guerra (em que muitos deles funcionaram como o "Grupo de Historiadores do Partido Comunista da Grã-Bretanha") foram se afastando entre si e das posições marxistas ortodoxas, dando origem ao que tem sido chamado de tendência "marxiana"". As polémicas entre eles e com autores não-marxista como H. R. Trevor-Roper, tornaram-se, merecidamente, famosas. Cada autor deve ser visto através de sua posição pessoal, como a do estadunidense Immanuel Wallerstein (também no domínio da história económica e social, que tem desenvolvido um conceito de "sistema mundial" na linha de Fernand Braudel), o britânico Steven Runciman (medievalista imprescindível para o estudo das Cruzadas), ou dos já mencionados Arno Mayer, Richard Cobb, Crane Brinton ou Simon Schama. A historiografía italiana. A partir do fim do , na Itália, um grupo de historiadores desenvolveu, em torno da revista ""Quaderni Storici", uma extensão inovadora da história social, a que se denominou Micro-história (Giovanni Levi, Carlo Ginzburg). Com alguma aproximação a este método, Carlo M. Cipolla faz, sobretudo, uma história económica de grande envergadura, assim como reflexões metodológicas interessantes (a paródia "Allegro ma non troppo""). Os hispanistas. A disponibilidade de matéria-prima documental nos arquivos espanhóis atrai profissionais formados nas universidades europeias e estadunidenses, em uma espécie de "fuga de cérebros" ao contrário, que renovou a metodologia e as perspectivas dos historiadores espanhóis. Maurice Legendre foi um dos iniciadores do hispanismo francês através da ""Casa de Velazquez", seguido por uma lista impressionante: Marcel Bataillon (com o seu imprescindível "Erasmo na Espanha"), Pierre Vilar ("Cataluña en la España Moderna" e a sua breve mas influente "Historia de Espanha"), Bartolomé Bennassar (um modelo de como a história local pode ser integrada na corrente central da historiografia de vanguarda com o seu "Valladolid en el siglo de oro""), Georges Demerson, Joseph Pérez (autoridades para as Comunidades, a Inquisição, os judeus…), Jean Sarrailh (exemplo de síntese de uma época com ""La España ilustrada de la segunda mitad del siglo XVIII"). O hispanismo anglo-saxão tem como um dos seus decanos Gerald Brenan (observador do "El laberinto español" desde a sua posição estratégica nas Alpujarras), secundado por uma lista não menos impressionantes que a dos franceses: Hugh Thomas (durante muito tempo o autor mais citado em sua especialidade com "Spanish Civil War"), John Elliott (com "El Conde-Duque de Olivares" deu mostras de como uma biografia pode reflectir uma época), John Lynch, Henry Kamen, Ian Gibson (Irlandês nacionalizado espanhol, autor de biografias imprescindíveis dos principais gigantes culturais do ), Paul Preston, Gabriel Jackson, Stanley G. Payne, Raymond Carr, Geoffrey Parker, Edward Malefakis e outros. Historiografia espanhola contemporânea. Entretanto, as universidades espanholas viram-se esvaziadas pela Guerra Civil Espanhola e pelo exílio interno e externo. Na metade do , espalhados pelo mundo, figuram: Ramón Menéndez Pidal, Américo Castro, Claudio Sánchez Albornoz, Julio Caro Baroja José Antonio Maravall, Jaume Vicens Vives (a quem se deve, entre outras contribuições, a criação do "Índice Histórico Español"" em 1952), Antonio Domínguez Ortiz, Luis García de Valdeavellano, Ramon Carande y Thovar… No pós-guerra foi fundado o CSIC, em cujo organograma se incluem departamentos da história. A requisição dos documentos por parte do lado vencedor, com a finalidade de repressão política e a sua concentração permitiram o funcionamento de uma secção do "Archivo Histórico Nacional" em Salamanca, especializado na Guerra Civil Espanhola (desde 1999 denominado de "Archivo General de la Guerra Civil Española"). Foi o centro de uma polémica que ultrapassou o âmbito do historiográfico para entrar plenamente no do político, muito intensa entre 2004 e 2006, para a devolução à Generalitat de Catalunha dos originais dessa instituição e de outras Catalãs (os chamados "papéis de Salamanca"), que se pode considerar como parte da controvérsia simultânea em torno da recuperação da chamada memória histórica. Na segunda metade do produziu-se uma forte renovação metodológica em todos os ramos da ciência história, e multiplicaram-se os departamentos universitários. Alguns historiadores retornaram do exílio, onde haviam mantido como referenciais para uma forma de fazer história não submetida à censura. É o caso de Manuel Tuñón de Lara, preocupado com a reflexão metodológica (materialismo histórico) uma vez que mantém uma postura militante na política. É de se destacar o trabalho realizado, também em França, pela Editorial Ruedo Ibérico, cujos livros foram distribuídos de forma semiclandestina, assim como de algumas no México (Fondo de Cultura Económica). Há uma clara divisão entre uma minoria de historiadores conservadores (Luis Suárez Fernández, Ricardo de la Cierva) e uma maioria receptiva às novas tendências, que não forma uma corrente historiográfica unida. A esse respeito, veja-se Gonzalo Anes, Julio Aróstegui, Miguel Artola, Ángel Bahamonde, Bartolomé Clavero, Manuel Espadas Burgos, Manuel Fernández Álvarez Emiliano Fernández de Pinedo, Josep Fontana, Jordi Nadal, Gabriel Tortella, Javier Tusell, Julio Valdeón e outros. Também são dignas de nota as figuras destacadas em campos de estudo concretos: a de Francisco Tomás y Valiente e Alfonso García-Gallo na História do Direito, a de Emilio García Gómez no Arabismo, e a de Guillermo Céspedes del Castillo no Americanismo, a de Antonio García y Bellido e a de Antonio Blanco Freijeiro na Arqueologia, as de Pedro Bosch Gimpera, Luis Pericot, Juan Maluquer ou Emiliano Aguirre na Pré-história (a deste último vinculada ao início do excepcional depósito de Atapuerca, cujo estudo é continuado por Juan Luis Arsuaga, Eudald Carbonell e José María Bermúdez de Castro que puseram a pré-história espanhola no centro das atenções mundiais). História excêntrica. A mistificação. Falsear a história. Não pode deixar de referir-se o que poderia ser chamado de "história excêntrica", ou fora do "consenso" ou campo central do trabalho dos historiadores "oficiais". Sempre existiu literatura semelhante e poderia ser recordado um exemplo notável, como Ignacio Olagüe e o seu livro "A Revolução Islâmica no Ocidente", que pretendeu provar a inexistência da invasão árabe no , e que obteve alguma repercussão nas décadas de 1960 e 1970. Actualmente, o debate sobre a Segunda República Espanhola, a Revolução de Outubro de 1934 e a Guerra Civil Espanhola, que afecta inclusive questões como que data assumir como o início da mesma, está enchendo as prateleiras dos supermercados com uma literatura que alguns chamam de revisionismo histórico, em paralelo com o negacionismo do Holocausto. Não é a espanhola a única historiografia que se defronta com a excentricidade: o caso mais chamativo dos últimos anos foi, seguramente, a da atribuição da descoberta da América ao almirante chinês Zheng He. Ultrapassar a fronteira da história excêntrica é ingressar em cheio na fraude histórica, terreno em que há egrégios precedentes: a partir da "Doação de Constantino" (que pretendia justificar o poder temporal dos papas) ao "Os Protocolos dos Sábios de Sião" (que alimentaram o antissemitismo e estão na origem da Conspiração Judaico-Maçónica). O caso estapafúrdio mais recente (sem lograr alcançar o sucesso dos anteriores, na medida do possível, em comparação com as tentativas fracassadas de falsificação da história, como os plomos del Sacromonte), e o dos casos famosos (e falsos) dos "Diários de Hitler", publicados pela revista alemã Stern em 1983, com os que um historiador tão sério como Trevor Roper foi enganado ou deixou-se enganar. A utilização da historiografia para falsear a história é tão antiga como a própria disciplina (que teria que remontar pelo menos a Ramessés II e à Batalha de Cadexe), mas no a capacidade que o Estado e os meios de comunicação de massa (chamados de quarto poder) alcançaram, permitiram aos regimes totalitários jogar com a capacidade de mudar a história, não só em direcção ao futuro, mas para o passado. A novela "Nineteen Eighty-Four" de George Orwell (1948) é um testemunho de que isso era credível. As fotografias retocadas foram uma especialidade, não apenas de Stálin contra Trotsky, mas de Franco com Hitler. O próprio Winston Churchill tinha claro, mesmo dentro da democracia, que ""a História será amável comigo porque tenho a intenção de escrevê-la". Reflectir sobre se a história é escrita pelos vencedores é uma tarefa mais própria da filosofia da história. A verdade é que, na história, tudo muda, nada é permanente, e muito menos a sua ocultação, como evidenciado pelo debate sobre a escalada da malignidade, entre a esquerda e a direita, que ainda dará tantos livros como o de Stéphane Courtois ("O Livro Negro do Comunismo", 1997). Historiografia em Portugal. Na historiografia em Portugal podem ser identificados três grandes géneros de produção literária que correspondem a períodos históricos sucessivos: Uma geração mais tarde, Oliveira Martins (1845-1894) representa, na literatura portuguesa, a conjunção da inspiração literária com os objetivos históricos, em obras como Portugal Contemporâneo (1881), e Os Filhos de D. João I (1891).
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Hotel Central (Lisboa)
Hotel Central (Lisboa) O Hotel Central é um dos cenários de vários romances de Eça de Queiroz, como "Os Maias", situando-se na Praça do Duque da Terceira, entre a Avenida Ribeira das Naus e a Rua do Arsenal, em Lisboa. O jantar de Ega ao banqueiro Cohen, que ocorre neste cenário, ocupa um total de 28 páginas da obra. Relevância. Este edifício reveste-se de especial interesse para a acção: Caracterização. A ambiência caracterizada por: Representa uma crítica:
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Harri Lorenzi
Harri Lorenzi Harri Lorenzi (Corupá, Santa Catarina, 1949), é um engenheiro agrônomo e botânico brasileiro, autor de dezenas de artigos e livros sobre plantas e fundador do Instituto Plantarum. Biografia. Harri Lorenzi graduou-se engenheiro agrônomo em 1973 pela Universidade Federal do Paraná e pós graduou-se, em nível de mestrado, em 1979 pela Universidade do Tennessee. Trabalhou como pesquisador no Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e no Centro de Tecnologia Copersucar. Em 1998 foi pesquisador convidado da Universidade Harvard. Instituto Plantarum. Em 1981, Lorenzi fundou o Instituto Plantarum de Estudos da Flora que, além de uma editora, conta com uma vasta biblioteca; um laboratório; um jardim botânico com mais de cinco mil espécies vegetais, sobretudo espécies nativas do Brasil; um herbário com 20 mil exsicatas; e uma carpoteca. Expedições. Realizou várias expedições de identificação e coleta de sementes, além de material para herbários e fotos, das várias regiões do Brasil, incluindo todos os ecossistemas. Nestas viagens encontrou várias espécies desconhecidas para a ciência e outras tantas ameaçadas, inclusive algumas que já eram consideradas extintas. As viagens incluem idas à Amazônia, ao Brasil Central, à Zona da Mata Mineira, ao sertão da Bahia e à Serra do Espinhaço.
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Hipertexto
Hipertexto Hipertexto é o termo que remete a um texto ao qual se agregam outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas, no meio digital denominadas hiperligações. Estas hiperligações ocorrem na forma de termos destacados no corpo de texto principal, ícones gráficos ou imagens e têm a função de interconectar os diversos conjuntos de informação, oferecendo acesso sob demanda às informações que estendem ou complementam o texto principal. O conceito de "linkar" ou de "ligar" textos foi criado por Ted Nelson nos anos 1960 e teve como influência o pensador e sociólogo francês Roland Barthes, que concebeu em seu livro S/Z o conceito de "Lexia", que seria a ligação de textos com outros textos. Em termos mais simples, o hipertexto é uma ligação que facilita a navegação dos internautas. Um texto pode ter diversas palavras, imagens ou até mesmo sons que, ao serem clicados, são remetidos para outra página onde se esclarece com mais precisão o assunto do link abordado. O sistema de hipertexto mais conhecido atualmente é a World Wide Web, no entanto a Internet não é o único suporte onde este modelo de organização da informação e produção textual se manifesta. Etimologia. O prefixo "hiper-" (do grego "υπερ-", sobre, além) remete à superação das limitações da linearidade, ou seja, não sequencial do antigo texto escrito, possibilitando a representação do nosso pensamento, bem como um processo de produção e colaboração entre as pessoas,ou seja, uma (re)construção coletiva. O termo hipertexto, cunhado em 1965, costumeiramente é usado onde o termo hipermídia seria mais apropriado. O filósofo e sociólogo estadunidense Ted Nelson, pioneiro da tecnologia da informação e criador de ambos os termos escreveu: Podemos dizer que hipertexto é um texto dentro de outro texto. Outro conceito que ilustra bem a ideia de hipertexto é a de Mise en abyme,o termo deriva do francês e significa literalmente "colocar o infinito", na arte é colocar o próprio objeto infinitamente dentro de si, no hipertexto poderíamos aproximar a ideia dos infinitos links que vão se refinando por um único caminho. O Hipertexto pode ser entendido como o inconsciente coletivo, de onde se pode buscar a clareza de conhecimentos já vistos, mas não claros no momento. História. A ideia de hipertexto não nasce com a Internet, nem com a web. De acordo com Burke (2004) e Chartier (2002) as primeiras manifestações hipertextuais ocorrem nos séculos XVI e XVII através de manuscritos e "marginalia". Os primeiros sofriam alterações quando eram transcritos pelos copistas e assim caracterizavam uma espécie de escrita coletiva. Os segundos eram anotações realizadas pelos leitores nas margens das páginas dos livros antigos, permitindo assim uma leitura não-linear do texto. Essas "marginalia" eram posteriormente transferidas para cadernos de lugares-comuns para que pudessem ser consultadas por outros leitores. Provavelmente, a primeira descrição formal da ideia apareceu em 1945, quando Vannevar Bush publicou na "The Atlantic Monthly", "As We May Think", um ensaio no qual descrevia o dispositivo "Memex". Neste artigo, a principal crítica de Bush era aos sistemas de armazenamento de informações da época, que funcionavam através de ordenações lineares, hierárquicas, fazendo com que o indivíduo que quisesse recuperar uma informação tivesse que percorrer catálogos ordenados alfabetica ou numericamente ou então através de classes e subclasses. De acordo com Bush, o pensamento humano não funciona de maneira linear, mas sim através de associações e era assim que ele propunha o funcionamento do Memex. O dispositivo nunca chegou a ser construído, mas hoje é tido como um dos precursores da atual web. A tecnologia usada seria uma combinação de controles eletromecânicos, câmeras e leitores de microfilme, todos integrados em uma grande mesa. A maior parte da biblioteca de microfilme estaria contida na própria mesa com a opção de adicionar ou remover rolos de microfilme à vontade. A mesa poderia também ser usada sem a criação de referências, apenas para gerar informação em microfilme, filmando documentos em papel ou com o uso de uma tela translúcida sensível ao toque. De certa forma, o Memex era mais do que uma máquina hipertexto. Era precursor do moderno computador pessoal embora baseado em microfilme. O artigo de Novembro de 1945 da revista Life que mostrava as primeiras ilustrações de como a mesa do Memex podia ser, mostrava também ilustrações de uma câmera montada sobre a cabeça, que o cientista podia usar enquanto fazia experiências, e de uma máquina de escrever capaz de reconhecimento de voz e leitura de texto por síntese de voz. Juntas, essas máquinas formariam o Memex, provavelmente, a descrição prática mais antiga do que é chamado hoje o Escritório do Futuro. Não se pode deixar de citar outro personagem de grande importância histórica que é Douglas Engelbart diretor do Augmentation Research Center (ARC) do Stanford Research Institute, centro de pesquisa onde foram testados pela primeira vez a tela com múltiplas janelas de trabalho; a possibilidade de manipular, com a ajuda de um mouse, complexos informacionais representados na tela por um símbolo gráfico; as conexões associativas (hipertextuais) em bancos de dados ou entre documentos escritos por autores diferentes; os grafos dinâmicos para representar estruturas conceituais (o "processamento de ideias" os sistemas de ajuda ao usuário integrados ao programa). O trabalho de Ted Nelson e muitos outros sistemas pioneiros de hipertexto com o "NLS", de Douglas Engelbart, e o HyperCard, incluído no Apple Macintosh, foram rapidamente suplantados em popularidade pela World Wide Web de Tim Berners-Lee, embora faltasse a esta muitas das características desses sistemas mais antigos como links tipados, transclusão e controle de versão. Hipertexto e Internet. Uma das maiores controvérsias a respeito deste conceito é sobre sua vinculação obrigatória ou não com a internet e outros meios digitais. Alguns autores defendem que o hipertexto acontece apenas nos ambientes digitais, pois estes permitem acesso imediato a qualquer informação. A internet, através da WWW, seria o meio hipertextual por excelência, uma vez que toda sua lógica de funcionamento está baseada nos links. Outros pesquisadores acreditam que a representação hipertextual da informação independe do meio. Pode acontecer no papel, por exemplo, desde que as possibilidades de leitura superem o modelo tradicional contido das narrativas contínuas (com início, meio e fim). Uma enciclopédia é um clássico exemplo de hipertexto baseado no papel, pois permite acesso não-linear aos verbetes contidos em diferentes volumes. Um exemplo de hipertexto tradicional são as anotações de Leonardo Da Vinci e também a Bíblia, devido sua forma não-linear de leitura. Hipertexto e Educação. Um tópico relevante é a utilização da ferramenta de hipertexto na Educação. O trabalho com hipertexto pode impulsionar o aluno à pesquisa e à produção textual. O hipertexto como ferramenta de ensino e aprendizagem facilita um ambiente no qual a aprendizagem acontece de forma incidental e por descoberta, pois ao tentar localizar uma informação, os usuários de hipertexto, participam ativamente de um processo de busca e construção do conhecimento, forma de aprendizagem considerada como mais duradoura e transferível do que aquela direta e explícita. A relação entre Educação e mídias digitais se faz a partir da popularização da internet, mediante o uso intenso da linguagem html, que possibilitou a montagem de rede hipertextuais, com links. Com o uso de hipertexto, conexões disponibilizam material de referência, independente do tema de interesse, com construção de base de dados cujo acesso associativo forma uma verdadeira rede de conceitos e exemplos. No meio acadêmico-científico, a organização das informações são artificiais, pois tendem a uma hierarquização forjada. A disposição das informações no meio reticular da internet, com o auxílio dos hiperlinks, disponibiliza os conteúdos relacionados conforme seu desenvolvimento, a partir da ideia de que hipertextos transformam automaticamente palavra em texto escrito. Dessa maneira, são como as associações na mente humana, que se movimenta de uma representação para outra ao longo de uma rede intricada. Conforme Pierre Lévy, os conteúdos tendem à digitalização, que conecta numa mesma rede o cinema, o jornalismo, a música e as telecomunicações, deixando o tratamento físico dos dados em segundo plano. Assim, "ao entrar em um espaço interativo e reticular de manipulação, associação e leitura, a imagem e o som adquirem um estatuto de quase-textos", o que amplia as ferramentas de ensino e discussão. Hipertexto e Jornalismo. Primeira Geração: Jornalismo impresso No jornalismo, o hipertexto não passou a ser usado somente a partir do advento do jornalismo online. Ao invés da tecnologia dos links, o jornal impresso desenvolveu técnicas análogas que podem quebrar a linearidade da leitura. Ele pode ser encontrado no meio impresso, por exemplo, através de índices, rodapés, remissões, legendas, boxes, caixas de diálogo, gráficos, entre outros. Nos índices dos jornais e revistas, o leitor tem conhecimento do que encontrará na publicação, sendo direcionado para as matérias de seu interesse. A divisão em editorias também tem esse papel, fazendo com que o leitor não precise ler o jornal na íntegra, o que caracteriza uma leitura não-linear. Já as notas de rodapé desviam o olhar do leitor e o direcionam para outra informação que complementa ou esclarece algo citado no texto, recurso comum em livros. As remissões são utilizadas para remeter o leitor a outras matérias, seja para facilitar o entendimento daquela lida no momento ou para complementar o assunto. Um recurso que também é comum nos jornais é o box. Ele pode conter um histórico da situação abordada na matéria, uma informação adicional, uma curiosidade, ou mesmo uma prestação de serviço. Para isso, palavras podem ser destacadas para que assim remetam a uma outra informação contida no box, funcionando como um link no papel. Segunda Geração: Jornalismo online A internet começou a ser utilizada com finalidade jornalística de forma expressiva em meados dos anos 90, com o desenvolvimento da Web. A partir daí, uma nova forma de informar e de se relacionar com o público surgiu: o jornalismo online. Num primeiro momento, esse jornalismo não passava de uma transposição das matérias do jornal impresso para o meio digital. Em uma segunda fase, os textos começam a investir nas tecnologias informáticas, nas quais o link confere velocidade à conexão entre diferentes notícias. Os e-mails surgem como forma de comunicação com o leitor. O webjornalismo desponta definitivamente com o surgimento de projetos editoriais voltados exclusivamente para a internet. Esse atual jornalismo possui características específicas: interatividade, customização de conteúdo, hipertextualidade e multimidialidade (Bardoel e Deuze, 2000). A interatividade faz com que o leitor se sinta parte do processo e possa enviar sugestões/opiniões aos jornalistas. O conteúdo é customizado a partir de sites configurados de acordo com os interesses do leitor, que já o direcionam para suas áreas preferenciais. Já a multimidialidade se refere à mistura de diferentes mídias tradicionais (imagem, texto e som) para narrar um fato. Terceira Geração: Jornalismo colaborativo O jornalismo colaborativo dá um passo a frente do webjornalismo, na medida em que quebra as barreiras entre jornalista/leitor. Surge a Web 2.0, termo que descreve o atual período da rede cuja ênfase passa da publicação para a colaboração. Nela, a abertura dos hipertextos é levada ao limite: os envolvidos compartilham a construção comum do texto.O melhor exemplo é a Wikipedia, que permite a invenção coletiva ao mesmo tempo que cria links entre seus próprios verbetes. Nos diversos sites colaborativos, como o WikiNews e o Slashdot, o jornalista não mais detém o poder da escrita. Eles permitem que o leitor se coloque como repórter e mande sua própria matéria. O jornalista coreano Oh Yeon Ho, ao criar o OhMyNews, decreta que "todo cidadão é um repórter" Além disso, sites jornalísticos tradicionais vem apostando na interação com o leitor permitindo que este envie matérias, vídeos, fotos e informações que possam colaborar na construção da notícia, como o Vc Repórter, do Portal Terra, e o Eu-repórter, do Jornal O Globo. Conferências Acadêmicas. Uma das principais conferências sobre novas pesquisas em hipertexto é a Conference on Hypertext and Hypermedia (HT), realizada anualmente pela ACM. The International World Wide Web Conferences Steering Committee inclui muitos artigos de interesse. Há também uma lista com links para todas as conferências da série. Hipertexto como rizoma virtual. O hipertexto existe pelos avanços da tecnologia, através da organização das informações digitais, com conexões e ligações que formam um processo de leitura não linear. Como um rizoma, que cresce e se ramifica em diferentes direções para que novas sejam criadas, "não se deve confundir tais linhas ou lineamentos com linhagens de tipo arborescente, que são somente ligações localizáveis entre pontos e posições. (…) O rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga. São os decalques que é preciso referir aos mapas e não o inverso." (DELEUZE e GUATTARI, 2004, p. 32-33). Assim, “a estrutura do hipertexto em rede permite o livre caminhar por links, experimentando a não-linearidade (ou multilinearidade), a multiplicidade e a heterogeneidade de pontos de vistas. Trata-se de uma nova experiência quotidiana criada a partir da interligação dos espaços em redes telemáticas, não como experiência de privação, isolamento ou desrealização, mas como forma de construir e inventar o dia-a-dia.” (LEMOS, 2010). Segundo Landau e Liefchitz (2004), “devemos abandonar sistemas conceituais fundados nas ideias de margem, hierarquia e linearidade e substituí-los por outros de multilinearidade, nós, links e redes. Quase todos os estudiosos dessa mudança de paradigma, que marca uma revolução no pensamento humano, percebem a escrita eletrônica como uma resposta para as forças e fraquezas do livro impresso.”
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Hypertext Transfer Protocol
Hypertext Transfer Protocol O , sigla HTTP (em português Protocolo de Transferência de Hipertexto) é um protocolo de comunicação (na camada de aplicação segundo o Modelo OSI) utilizado para sistemas de informação de hipermídia, distribuídos e colaborativos. Ele é a base para a comunicação de dados da World Wide Web. Hipertexto é o texto estruturado que utiliza ligações lógicas (hiperlinks) entre nós contendo texto. O HTTP é o protocolo para a troca ou transferência de hipertexto. Coordenado pela World Wide Web Consortium e a Internet Engineering Task Force, culminou na publicação de uma série de "Requests for Comments"; mais notavelmente o RFC 2616, de junho de 1999, que definiu o HTTP/1.1. Em Junho de 2014 foram publicados 6 RFC's para maior clareza do protocolo HTTP/1.1. Em Março de 2015, foi divulgado o lançamento do HTTP/2. A atualização deixará o navegador com um tempo de resposta melhor e mais seguro. Ele também melhorará a navegação em smartphones. Os trabalhos no HTTP/3 já começaram e suas versões beta estão em teste por grandes empresas. Para acedermos a outro documento a partir de uma palavra presente no documento actual podemos utilizar hiperligações (ou âncoras). Estes documentos se encontram no sítio com um endereço de página da Internet – e para acessá-los deve-se digitar o respectivo endereço, denominado URI ("Universal Resource Identifier" ou Identificador Universal de Recurso), que não deve ser confundido com URL ("Universal Resource Locator" ou Localizador Universal de Recurso), um tipo de URI que pode ser directamente localizado. Visão técnica geral. O HTTP funciona como um protocolo de requisição-resposta no modelo computacional cliente-servidor. Um navegador web, por exemplo, pode ser o "cliente" e uma aplicação em um computador que hospeda um sítio da web pode ser o "servidor". O cliente submete uma mensagem de "requisição" HTTP para o servidor. O servidor, que fornece os "recursos", como arquivos HTML e outros conteúdos, ou realiza outras funções de interesse do cliente, retorna uma mensagem "resposta" para o cliente. A resposta contém informações de estado completas sobre a requisição e pode também conter o conteúdo solicitado no corpo de sua mensagem. Um navegador web é um exemplo de agente de usuário (AU). Outros tipos de agentes de usuário incluem o software de indexação usado por provedores de consulta (web crawler), navegadores vocais, aplicações móveis e outros software que acessam, consomem ou exibem conteúdo web. O HTTP é projetado para permitir intermediações de elementos de rede para melhorar ou habilitar comunicações entre clientes e servidores. Sites web de alto tráfego geralmente se beneficiam dos servidores de cache web que entregam conteúdo em nome de servidores de upstream para melhorar o tempo de resposta. Navegadores web armazenam os recursos web acessados anteriormente e reutilizam-nos quando possível para reduzir o tráfego de rede. Servidores proxy HTTP nas fronteiras de redes privadas podem facilitar a comunicação para o cliente sem um endereço globalmente roteável, transmitindo mensagens com servidores externos. Basicamente, o HTTP define como clientes Web requisitam páginas Web aos servidores e como elas as transferem a clientes. Quando um usuário solicita uma página Web (acessa uma URL), o navegador envia ao servidor mensagens de requisição HTTP para os objetos da página. O servidor, por sua vez, recebe estas requisições e responde com mensagens de resposta HTTP que contém os objetos (...). O protocolo HTTP utiliza por padrão a porta 80 para comunicação (MACEDO et al., 2018). História. O HyperText Transfer Protocol é um protocolo de aplicação responsável pelo tratamento de pedidos e respostas entre cliente e servidor na World Wide Web. Ele surgiu da necessidade de distribuir informações pela Internet e para que essa distribuição fosse possível foi necessário criar uma forma padronizada de comunicação entre os clientes e os servidores da Web e entendida por todos os computadores ligados à Internet. Com isso, o protocolo HTTP passou a ser utilizado para a comunicação entre computadores na Internet e a especificar como seriam realizadas as transações entre clientes e servidores, através do uso de regras básicas. Este protocolo tem sido usado pela WWW desde 1990. A primeira versão de HTTP, chamada HTTP/0.9, era um protocolo simples para a transferência de dados no formato de texto ASCII pela Internet, através de um único método de requisição, chamado codice_1. A versão HTTP/1.0 foi desenvolvida entre 1992 e 1996 para suprir a necessidade de transferir não apenas texto. Com essa versão, o protocolo passou a transferir mensagens do tipo MIME44 ("Multipurpose Internet Mail Extension") e foram implementados novos métodos de requisição, chamados codice_2 e codice_3. No HTTP/1.1, versão do protocolo descrito na RFC 2616, foi desenvolvido um conjunto de implementações adicionais ao HTTP/1.0, como por exemplo: o uso de conexões persistentes; o uso de servidores "proxy" que permitem uma melhor organização da "cache"; novos métodos de requisições; entre outros. Afirma-se que o HTTP também é usado como um protocolo genérico para comunicação entre os agentes de utilizadores e "proxies"/"gateways" com outros protocolos, como o SMTP, NNTP, FTP, Gopher, e WAIS, permitindo o acesso a recursos disponíveis em aplicações diversas. O HTTP/2 foi publicado como RFC 7540 em maio de 2015. Sessão HTTP. Uma sessão HTTP é uma sequência de transações de rede de requisição-resposta. Um cliente HTTP inicia uma requisição estabelecendo uma conexão Transmission Control Protocol (TCP) para uma porta particular de um servidor (normalmente a porta 80. Veja Lista de portas dos protocolos TCP e UDP). Um servidor HTTP ouvindo naquela porta espera por uma mensagem de requisição de cliente. Recebendo a requisição, o servidor retorna uma linha de estado, como "HTTP/1.1 200 OK", e uma mensagem particular própria. O corpo desta mensagem normalmente é o recurso solicitado, apesar de uma mensagem de erro ou outra informação também poder ser retornada. Cookies. O termo cookie é derivado do inglês que significa biscoito. Recebeu esse nome de uma antiga gíria usada pelos programadores que consistia em um programa que chamava um procedimento e recebia de volta algo que seria necessário apresentar novamente mais tarde para realizar algum trabalho. Foi criado pela Netscape para solucionar o problema do envio e solicitação de arquivos, que eram esquecidos pelo servidor e que poderiam ser usados por outros computadores com o mesmo IP conforme (TANEMBAUM, 2003), o que causava problemas, pois não se sabia na realidade se era ou não aquele usuário mesmo. Os cookies são arquivos ou strings e não são programas executáveis. Eles são tratados como dados pelo navegador, não existe nenhuma maneira dele ser usado como vírus, apesar de que podem ser explorados bugs no servidor e causar a ativação de um cookie como vírus, por um hacker. Basicamente ele é um grupo de dados trocados entre o servidor de páginas e o navegador colocado em um ficheiro criado no computador do usuário. Serve para manter a persistência das sessões HTTP. Ele funciona da seguinte forma: Um usuário solicita uma página da Web, nisso o servidor pode fornecer informações adicionais acompanhando a página solicitada. Essas informações podem incluir um cookie, um pequeno arquivo ou string (com quatro KB no máximo). Este cookie pode ter até 5 campos (figura abaixo): Domain, Path, Content, Expires, Secure. Domain informa de onde veio o cookie. O navegador confirma que os servidores estão enviando dados fieis a respeito de seu domínio. Cada domínio pode armazenar no máximo 20 cookies por cliente. O campo Path é um caminho na estrutura de diretórios do servidor que identifica as partes da árvore de arquivos do servidor que podem usar o cookie. Frequentemente, ele obtém o símbolo / (barra), que representa a árvore inteira. O campo Content utiliza a forma nome = valor, podendo o servidor definir da maneira que quiser tanto o valor quanto o nome, e é nele que fica armazenado o conteúdo do cookie. Expires é o campo que faz o cookie persistir, nele contém a data e o horário, e se ele estiver ausente o navegador descartara automaticamente após o termino da sessão. O último campo define se ele é seguro ou não. Figura x: Alguns exemplos de cookie.↵Fonte: (TANEMBAUM, 2003). O cookie é usado para identificar um usuário que configurou uma página web, para que na próxima vez que ele entrar ela esteja configurada do modo em que ele deixou. Pode ser usado também quando se faz a solicitação de armazenamento de senha, na vez posterior em que entrar no site, a sua senha será lembrada. É usado também em sites de compra, como e-commerce, armazenando os produtos que o cliente colocou no carrinho para que no final da compra não necessite fazer todo o processo novamente. Funcionamento. Um sistema de comunicação em rede possui diversos protocolos que trabalham em conjunto para o fornecimento de serviços. Para que o protocolo HTTP consiga transferir seus dados pela Web, é necessário que os protocolos TCP e IP ("Internet Protocol", Protocolo de Internet) tornem possível a conexão entre clientes e servidores através de "sockets" TCP/IP. De acordo com Fielding, o HTTP utiliza o modelo cliente-servidor, como a maioria dos protocolos de rede, baseando-se no paradigma de requisição e resposta. Um programa requisitante (cliente) estabelece uma conexão com um outro programa receptor (servidor) e envia-lhe uma requisição, contendo a URI, a versão do protocolo, uma mensagem MIME (padrão utilizado para codificar dados em formato de textos ASCII para serem transmitidos pela Internet) contendo os modificadores da requisição, informações sobre o cliente e, possivelmente, o conteúdo no corpo da mensagem. O servidor responde com uma linha de status ("status line") incluindo sua versão de protocolo e com os códigos de erro informando se a operação foi bem sucedida ou fracasso, seguido pelas informações do servidor, metainformações da entidade e possível conteúdo no corpo da mensagem. Após o envio da resposta pelo servidor, encerra-se a conexão estabelecida. Mensagem HTTP. O protocolo HTTP faz a comunicação entre o cliente e o servidor por meio de mensagens. O cliente envia uma mensagem de requisição de um recurso e o servidor envia uma mensagem de resposta ao cliente com a solicitação. Segundo Foscarini, os dois tipos de mensagens existentes no protocolo utilizam um formato genérico, definido na RFC 822, para a transferência de entidades. Uma mensagem, tanto de requisição quanto de resposta, é composta, conforme definido na RFC 2616, por uma linha inicial, nenhuma ou mais linhas de cabeçalhos, uma linha em branco obrigatória finalizando o cabeçalho e por fim o corpo da mensagem, opcional em determinados casos. Nessa sessão serão apresentados os campos que compõem uma mensagem mais detalhadamente; ou seja, o HTTP apresenta o sítio ou local onde está a página da Internet. Cabeçalho da mensagem. O cabeçalho da mensagem ("header") é utilizado para transmitir informações adicionais entre o cliente e o servidor. Ele é especificado imediatamente após a linha inicial da transação (método), tanto para a requisição do cliente quanto para a resposta do servidor, seguido de dois pontos (:) e um valor. Existem quatro tipos de cabeçalhos que poderão ser incluídos na mensagem os quais são: "general-header", "request-header", "response-header" e "entity-header". Esses cabeçalhos são utilizados para enviar informações adicionais sobre a mensagem transmitida ("general-header"), a requisição e os clientes ("request-header") que comunicam suas configurações e os formatos de documentos desejados como resposta. Além disso, são utilizados pelo servidor ao retornar o recurso no qual foi requisitado pelo cliente, para transmitir informações que descrevem as configurações do servidor e do recurso identificado pelo URI de requisição, e que não pertence à linha de status ("response-header"). Na RFC 2616, estão descritos todos os campos que pertencem a esses cabeçalhos. Corpo da mensagem. Uma mensagem HTTP pode conter um corpo de dados que são enviados abaixo das linhas de cabeçalho. Em uma mensagem de resposta, o corpo da mensagem é o recurso que foi requisitado pelo cliente, ou ainda uma mensagem de erro, caso este recurso não seja possível. Já em uma mensagem de requisição, o corpo pode conter dados que serão enviados diretamente pelo usuário ou um arquivo que será enviado para o servidor. Quando uma mensagem HTTP tiver um corpo, poderão ser incluídos cabeçalhos de entidades que descrevem suas características, como por exemplo, o "Content-Type" que informa o tipo MIME dos dados no corpo da mensagem e o "Content-Length" que informa a quantidade de bytes que o corpo da mensagem contém. A tabela ao lado apresenta alguns tipos MIME. Requisição. De acordo com Fielding, uma mensagem de requisição do cliente é composta pelos seguintes campos: uma linha inicial ("Request-Line"); linhas de cabeçalhos ("Request-header"); uma linha em branco obrigatória e um corpo de mensagem opcional. A linha inicial de uma requisição é composta por três partes separadas por espaços: o método ("Method"), a identificação do URI ("Request-URI") e a versão do HTTP ("HTTP-Version") utilizado. Segundo Bastos & Ladeira, "Request-URI" é um "identificador uniforme de recurso" (Uniform Resource Identifier) que identifica sobre qual recurso será aplicada a requisição. No protocolo HTTP, o tipo de URI utilizado é chamado de URL (Uniform Resource Locator), composto pela identificação do protocolo, pelo endereço do computador servidor e pelo documento requisitado. Métodos de solicitação. O protocolo HTTP define oito métodos (GET, HEAD, POST, PUT, DELETE, TRACE, OPTIONS e CONNECT) que indicam a ação a ser realizada no recurso especificado. Conforme Bastos e Ladeiras, o método determina o que o servidor deve fazer com o URL fornecido no momento da requisição de um recurso. Um servidor HTTP deve implementar ao menos os métodos GET e HEAD. Os métodos GET e POST são os que aparecem mais comumente durante o desenvolvimento web. Uma solicitação HTTP, ou "HTTP Request" é uma maneira do navegador mostrar uma página da internet utilizando um dos oito métodos de solicitação do protocolo HTTP. Além de solicitar um determinado arquivo, envia várias informação para o servidor, sendo elas: o seu IP, a versão do navegador que está usando, que página utilizou para pedir a "HTTP Request" e a idioma que você usa, entre outros. GET. O método GET requisita uma representação do recurso especificado. Requisições usando GET devem apenas recuperar dados e não devem ter qualquer outro efeito. (Isto também é verdade para alguns outros métodos HTTP.) O W3C publicou princípios de orientações sobre esta distinção, "O projeto de aplicações web devem ser informados pelos princípios acima, mas também por limitações relevantes." Abaixo segue um exemplo de uma comunicação entre um cliente e um servidor HTTP. O servidor possui a URL codice_4, porta 80. O "pedido do cliente" (seguido por uma linha em branco, de maneira que o pedido termina com um "newline" duplo, cada um composto por um "carriage return" seguido de um "Line Feed"): GET /index.html HTTP/1.1 Host: www.exemplo.com O cabeçalho codice_5 reconhece vários diferentes nomes DNS que tenham o mesmo IP. A "resposta do servidor" (seguida por uma linha em branco e o texto da página solicitada): HTTP/1.1 200 OK Date: Mon, 23 May 2005 22:38:34 GMT Server: Apache/1.3.27 (Unix) (Red-Hat/Linux) Last-Modified: Wed, 08 Jan 2003 23:11:55 GMT Etag: "3f80f-1b6-3e1cb03b" Accept-Ranges: bytes Content-Length: 438 Connection: close Content-Type: text/html; charset=UTF-8 HEAD. Variação do codice_1 em que o recurso não é retornado. É usado para obter metainformações por meio do cabeçalho da resposta, sem ter que recuperar todo o conteúdo. POST. Envia dados para serem processados (por exemplo, dados de um formulário HTML) para o recurso especificado. Os dados são incluídos no corpo do comando. Sua utilização em uma requisição ocorre quando é necessário enviar dados ao servidor para serem processados, geralmente por um programa "script" identificado no "Request-URI". Uma requisição por meio desse método sempre requer que as informações submetidas sejam incluídas no corpo da mensagem e formatadas como uma "query string", além de conter cabeçalhos adicionais especificando seu tamanho (codice_7) e seu formato (codice_8). Por isso, esse método oferece uma maior segurança em relação aos dados transferidos, ao contrário do método codice_1 que os dados são anexados a URL, ficando visíveis ao usuário. Por exemplo: POST /index.html HTTP/1.0 Accept: text/html If-modified-since: Sat, 29 Oct 1999 19:43:31 GMT Content-Type: application/x-www-form-urlencoded Content-Length: 41 Nome=NomePessoa&Idade=99&Curso=Computacao PUT. O método PUT envia os dados de forma semelhante ao POST, através do corpo do HTTP a diferença entre os 2 métodos é semântica. Por exemplo: Caso você necessite atualizar os dados de um usuário, utilizando o método PUT você pode os atualizar diversas vezes, pois o PUT vai sobrescrever os dados com isso ficará somente com um único registro atualizado. Se você executasse este mesmo procedimento utilizando o método POST, você criaria diversos registros para cada requisição realizada. DELETE. Exclui o recurso. TRACE. Ecoa o pedido, de maneira que o cliente possa saber o que os servidores intermediários estão mudando em seu pedido. OPTIONS. Recupera os métodos HTTP que o servidor aceita. CONNECT. Serve para uso com um "proxy" que possa se tornar um túnel SSL e TLS (um túnel pode ser usado, por exemplo, para criar uma conexão segura). Códigos de estado. Do HTTP/1.0 em diante, a primeira linha da resposta HTTP é chamada "linha de estado" e inclui um "código de estado" numérico (como "404") e uma "frase de razão" textual (como "Not Found" - Não Encontrado). A maneira que o agente de usuário manipula a resposta depende primeiramente do código e secundariamente nos cabeçalhos de resposta. Códigos de estado personalizados podem ser usados, uma vez que, se o agente de usuário encontrar um código que ele não reconheça, ele pode usar o primeiro dígito do código para determinar a classe geral da resposta. Da mesma forma, as "frases de razão" padrões são apenas recomendações e podem ser substituídas com "equivalentes locais" a critério do desenvolvedor web. Se o código de estado indicou um problema, o agente de usuário pode mostrar a "frase de razão" para o usuário, para que sejam fornecidas informações adicionais sobre a natureza do problema. O padrão também permite que o agente de usuário tente interpretar a "frase de razão", apesar disto poder ser imprudente uma vez que o padrão especifica explicitamente que os códigos de estado são legíveis por máquina e as "frases de razão" são legíveis por homens. Conexões persistentes. No HTTP/0.9 e 1.0, a conexão é fechada após um único par de requisição/resposta. No HTTP/1.1 um mecanismo de persistência de vida (keep-alive) foi introduzido, onde uma conexão pode ser reutilizada para mais de uma requisição. Tais "conexões persistentes" reduzem a latência de requisição perceptível, pois o cliente não precisa renegociar a conexão TCP após a primeira requisição ter sido enviada. Outro efeito colateral positivo é que em geral a conexão se torna mais rápida com o tempo devido ao mecanismo de início-lento do TCP. A versão 1.1 do protocolo também faz melhoras na otimização de comprimento de banda para o HTTP/1.0. Por exemplo, o HTTP/1.1 introduziu a codificação de transferência em partes para permitir que o conteúdo em conexões persistentes sejam transmitidos em vez de armazenados temporariamente para posterior transmissão. O pipelining HTTP reduz ainda mais o tempo de atraso, permitindo que os clientes enviem várias requisições antes de esperar por cada resposta. Outra melhoria para o protocolo foi o byte serving, onde um servidor transmite apenas a porção de um recurso solicitado explicitamente por um cliente. Estado de sessão HTTP. O HTTP é um protocolo sem estado. Um protocolo sem estado não exige que o servidor HTTP retenha informações ou estado sobre cada usuário para a duração de várias solicitações. Entretanto, algumas aplicações web implementam estado ou sessões do lado servidor usando um ou mais de um dos métodos a seguir: Resposta. Para Fielding, uma mensagem de resposta do servidor é composta pelos seguintes campos: uma linha inicial ("Status-Line"); linhas de cabeçalhos ("Responseheader"); uma linha em branco obrigatória e um corpo de mensagem opcional. A linha inicial de uma resposta, chamada de linha de status, possui por sua vez três partes separadas por espaços: a versão do protocolo HTTP ("HTTP-Version"), um código de status ("Status-Code") da resposta, que fornece o resultado da requisição, e uma frase de justificativa ("Reason-Phrase") que descreve o código do status. Códigos de retorno. A linha inicial de uma resposta HTTP indica ao cliente se sua requisição foi bem sucedida ou não. Essa situação é fornecida através de um código de retorno ("Status-Code") e uma frase explicativa ("Reason-Phrase"). De acordo com Fielding, o código de status é formado por três dígitos e o primeiro dígito representa a classe que pertence classificada em cinco tipos: O protocolo HTTP define somente alguns códigos em cada classe descritos na RFC 2616, mas cada servidor pode definir seus próprios códigos. Conexões. Segundo Hirata, o HTTP/1.0 é um protocolo sem estado. Isto significa que as conexões entre um cliente e um servidor são encerradas após o envio de cada requisição ou resposta. Cada vez que uma conexão é estabelecida ou encerrada, é consumida uma grande quantidade de tempo da CPU, de largura de banda e de memória. Na maioria das vezes, para se obter o resultado esperado, é necessário realizar mais de uma solicitação de recursos através de várias conexões. Por exemplo, no caso de uma página Web, que consiste de diversos arquivos (.html, .gif, .css, etc.) é preciso que sejam feitas várias requisições para compor a página, uma conexão não-persistente. O ideal seria que apenas uma conexão fosse utilizada para os pedidos e as respostas HTTP, diminuindo, assim, a sobrecarga ocasionada pelas conexões, uma conexão persistente. A conexão persistente, implementada como conexão padrão no protocolo HTTP/1.1, possibilita que uma conexão seja estabelecida para enviar várias requisições em seqüência sem a necessidade de esperar por cada resposta, no qual serão recebidas na mesma ordem em que as solicitações foram enviadas, um processo chamado de "pipelining". Pode também dar-se o caso de ser estabelecida uma conexão sem "pipelining", em que o cliente só faz nova requisição quando o servidor lhe envia a resposta, ou seja, o servidor fica inactivo até o objecto (.html, .gif, .css, etc) atingir o seu destino no cliente. Se uma requisição incluir o cabeçalho codice_10, a conexão será encerrada após o envio da resposta correspondente. Utiliza-se este cabeçalho quando não há suporte a conexões persistentes, quando for a última requisição a ser enviada nesta conexão, ou ainda, sempre que quiser encerrar a conexão mesmo que nem todas as requisições tenham sido completadas. Além disso, o servidor pode fechar uma conexão se estiver ociosa por um determinado período de tempo. Outros protocolos. Existem outros tipos de protocolos como o FTP (File Transfer Protocol, ou Protocolo de Transferência de Arquivos), usado para envio de arquivos do computador para um servidor na Web, o SMTP (Simple Mail Transfer Protocol, ou Protocolo de Transferência de Correio Simples), protocolo usado para correio eletrônico, entre outros protocolos. Esquema de comunicação. Pedido básico de HTTP cliente-servidor: GET <ficheiro> HTTP/1.1 Host: <ip> User-Agent: <Agente> Connection: <tipo> O agente é quem faz a ligação ao servidor, normalmente um navegador. O tipo indica como o servidor deve proceder com a conexão. É comumente utilizado para requisições persistentes. Uma requisição completa pode exigir muitas informações. A requisição abaixo - utilizando o método POST - fora retirada do Mozilla Firefox v3.6b5 (pt-BR, para Windows): POST /diretorio/arquivo.html HTTP/1.1 Host: www.exemplo.com User-Agent: Mozilla/5.0 (Windows; U; Windows NT 6.1; pt-BR; rv:1.9.2b5) Gecko/20091204 Firefox/3.6b5 Accept: text/html,application/xhtml+xml,application/xml;q=0.9,*/*;q=0.8 Accept-Language: pt-br,pt;q=0.8,en-us;q=0.5,en;q=0.3 Accept-Encoding: gzip,deflate Accept-Charset: ISO-8859-1,utf-8;q=0.7,*;q=0.7 Keep-alive: 115 Cookie: nome=valor; nome2=valor2 Connection: keep-alive Content-Length: 28 usuario=exemplo&senha=123456
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Passatempo
Passatempo Passatempo ou o estrangeirismo original hobby é a denominação dada a uma atividade de entretenimento livre que o indivíduo desenvolve sozinho ou coletivamente. Um passatempo pode manifestar-se de várias formas: atividade prática (culinária, esporte, modelagem, pintura) ou pura e simples atividade intelectual (escrever, ler, filosofar). O passatempo não deve ser confundido com jogo, que é uma diversão envolvendo regras predeterminadas e determinados objetivos. Etimologia. Passatempo é uma palavra justaposta, junção das palavras passar e tempo. No século XVI, o termo inglês "hobyn" significava "pequeno cavalo ou pônei". No mesmo século, a expressão "hobby horse" designava um cavalo feito de madeira usado para a diversão de crianças. A partir dos séculos seguintes, o termo passou a ser associado a lazer.
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Hardware
Hardware O hardware ( ) é um termo técnico (e anglicismo de engenharia eletrônica) que foi traduzido para a língua portuguesa como equipamento, e pode ser definido como um termo geral da língua inglesa, que se refere à parte física de computadores e outros sistemas microeletrônicos. No âmbito eletrônico, o termo ""hardware" é bastante utilizado, principalmente na área de engenharia de computação, e se aplica à unidade central de processamento, à memória e aos dispositivos de entrada e saída, bem como a todos os componentes físicos de computadores. O termo "hardware" é usado para fazer referência a detalhes específicos de um dado equipamento eletrônico, incluindo-se seu projeto lógico pormenorizado bem como a tecnologia de seus componentes. O conceito de recursos de hardware engloba todos os dispositivos e equipamentos utilizados no processamento de informações. O "software" é a parte lógica, o conjunto de instruções e dados processados pelos circuitos eletrônicos do "hardware". Toda interação dos usuários de computadores modernos é realizada através do "software", que é a camada colocada sobre o "hardware" que transforma o computador em algo útil para o ser humano. O termo "hardware"" não se refere apenas aos computadores pessoais, mas também aos equipamentos embarcados em produtos que necessitam de processamento computacional, como os dispositivos encontrados em equipamentos hospitalares, aparelhos celulares (em Portugal telemóveis), ou seja, todas a mídias de dados, objetos tangíveis nos quais são registrados dados desde folhas de papel até discos magnéticos entre outros. Alguns exemplos de hardware em sistema de informação computadorizados podem ser definidos em dois tipos: Sistemas de computadores, que consistem em unidades de processamento central contendo microprocessadores e uma multiplicidade de dispositivos periféricos interconectados. Periféricos de computador, que são dispositivos como um teclado ou mouse para entrada de comandos, um monitor de vídeo ou impressora para saída de informação e discos magnéticos ou óticos para armazenamento de recursos de dados. Na ciência da computação, a disciplina que trata das soluções de projeto de "hardware" é conhecida como arquitetura de computadores. Para fins contábeis e financeiros, o "hardware" é considerado um bem de capital. História do "hardware". A Humanidade tem utilizado dispositivos para auxiliar a computação há milênios. Pode se considerar que o ábaco, utilizado para fazer cálculos, tenha sido um dos primeiros hardwares usados pela humanidade. A partir do século XVII, surgem as primeiras calculadoras mecânicas. Em 1623, Wilhelm Schickard construiu a primeira calculadora mecânica. A Pascalina de Blaise Pascal (1642) e a calculadora de Gottfried Wilhelm von Leibniz (1670) vieram a seguir. Em 1822, Charles Babbage apresenta sua máquina diferencial e, em 1835, descreve sua máquina analítica. Esta máquina tratava-se de um projeto de um computador programável de propósito geral, empregando cartões perfurados para entrada e uma máquina de vapor para fornecer energia. Babbage é considerado o pioneiro e pai da computação. Ada Lovelace, filha de "lord" Byron, traduziu e adicionou anotações ao Desenho da Máquina Analítica. Conexões do "hardware". Uma conexão para comunicação em série é feita através de um cabo ou grupo de cabos utilizados para transferir informações entre a CPU e um dispositivo externo como o "mouse" e o teclado, um "modem", um digitalizador (scanner) e alguns tipos de impressoras. Esse tipo de conexão transfere um "bit" de dado de cada vez, muitas vezes de forma lenta. A vantagem de transmissão em série é que é mais eficaz a longas distâncias. Uma conexão para comunicação em paralelo é feita através de um cabo ou grupo de cabos utilizados para transferir informações entre a CPU e um periférico como "modem" externo, utilizado em conexões discadas de acesso a rede; alguns tipos de impressoras; um disco rígido externo; dentre outros. Essa conexão transfere oito "bits" de dado de cada vez, ainda assim hoje em dia sendo uma conexão mais lenta que as demais. Uma conexão para comunicação USB é feita através de um cabo ou um conjunto de cabos que são utilizados para trocar informações entre a CPU e um periférico como webcams, teclado, mouse, câmera digital, pda, "mp3 player". Ou que se utilizam da conexão para armazenar dados como por exemplo um pen drive. As conexões USBs se tornaram muito populares devido ao grande número de dispositivos que podiam ser conectadas a ela e a utilização do padrão PnP (Plug and Play). A conexão USB também permite prover a alimentação elétrica do dispositivo conectada a ela. Arquiteturas de computadores. A arquitetura dos computadores pode ser definida como "as diferenças na forma de fabricação dos computadores". Com a popularização dos computadores, houve a necessidade de um equipamento interagir com o outro, surgindo a necessidade de se criar um padrão. Em meados da década de 1980, apenas duas "arquiteturas" resistiram ao tempo e se popularizaram foram: o PC ("Personal Computer" ou em português Computador Pessoal), desenvolvido pela empresa IBM e Macintosh (carinhosamente chamado de Mac) desenvolvido pela empresa Apple Inc.. Como o IBM-PC se tornou a arquitetura "dominante" na época, acabou tornando-se padrão para os computadores que conhecemos hoje. Arquitetura fechada. A arquitetura fechada consiste em não permitir o uso da arquitetura por outras empresas, ou senão ter o controle sobre as empresas que fabricam computadores dessa arquitetura. Isso faz com que os conflitos de "hardware" diminuam muito, fazendo com que o computador funcione mais rápido e aumentando a qualidade do computador. No entanto, nesse tipo de arquitetura, o utilizador está restringido a escolher de entre os produtos da empresa e não pode montar o seu próprio computador. Neste momento, a Apple não pertence exatamente a uma arquitetura fechada, mas a ambas as arquiteturas, sendo a única empresa que produz computadores que podem correr o seu sistema operativo de forma legal, mas também fazendo parte do mercado de compatíveis IBM.
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Humberto Maturana
Humberto Maturana Humberto Maturana (Santiago, 14 de setembro de 1928 – 6 de maio de 2021) foi um neurobiólogo chileno, crítico do realismo matemático e criador da teoria da autopoiese e da biologia do conhecer, junto a Francisco Varela. É um dos propositores do pensamento sistêmico e do construtivismo radical. Biografia. Maturana concluiu seus estudos no Liceo Manuel de Salas em 1947 para logo ingressar na carreira médica da Universidade do Chile. Em 1954 seguiu para a University College of London para estudar anatomia e neurofisiologia, graças à bolsa da Fundação Rockefeller. Em 1959 obteve o Doutorado em Biologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Posteriormente, registrou pela primeira vez a atividade de uma célula direcional de um órgão sensorial, junto ao cientista Jerome Lettvin do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT). Pela condução desta investigação ambos foram candidatos ao Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, ainda que não obtivessem a premiação. Em 1960 voltou ao Chile para desempenhar a função de professor adjunto na disciplina de Biologia da Escola de Medicina da Universidade do Chile. Fundou o Instituto de Ciências e a Faculdade de Ciências da Universidade do Chile em 1965. Em 1970 criou e aprimorou o conceito de Autopoiese, que explica como se dá o fechamento dos sistemas vivos em redes circulares de produções moleculares, em que as moléculas produzidas com suas interações constituem a mesma rede que as produziu e especificam seus limites. Ao mesmo tempo, os seres vivos se mantém abertos ao fluxo de energia e matéria, enquanto sistemas moleculares. Assim, os seres vivos são "máquinas" que se distinguem de outras por sua capacidade de auto produzir-se. Desde então, Maturana tem desenvolvido a Biologia do conhecimento. Em 1990 foi designado Filho Ilustre da comunidade de Ñuñoa (Santiago do Chile). Além disso, foi declarado doctor honoris causa pela Université Libre de Bruxelles. Em 1992, junto ao biólogo Jorge Mpodozis, gera a ideia da evolução das espécies por meio da deriva natural, baseada na concepção neutralista de que a maneira em que os membros de uma linhagem realizam sua autopoiese se conserva transgeracionalmente, em um modo de vida ou fenótipo ontogênico particular, que depende de sua história de interações, e cuja inovação conduziria à diversificação das linhagens. Em 27 de setembro de 1994 recebeu o Prêmio Nacional de Ciência no Chile graças a suas investigações no campo da percepção visual dos vertebrados e a seus modelos conceituais a respeito da teoria do conhecimento. Foi co-fundador e docente da Escola Matríztica de Santiago, na capital Santiago - Chile, onde trabalhou com Ximena Davila (co-fundadora e docente) no desenvolvimento da dinâmica da Matriz Biológico-cultural da Existência Humana. A proposta do instituto é explicar as experiências desde as experiências, como um fazer próprio do modo de viver humano (cultura), em um fluir no entrelaçamento do linguajar e do emocionar (conversar), que é desde onde surge todo o humano. Uma das reflexões principais proposta por Maturana é o resgate das emoções nesta deriva cultural que as tem escondido. A evolução natural do ser humano, como um ser vivo particular, é centrada na emoção que determina esta deriva. E é a partir do amor, que permite as recorrências de encontros na aceitação do outro como legítimo outro, dando, por sua vez, origem à convivência social e, portanto, a possibilidade de constituição da linguagem, que surgimos como seres humanos. Maturana morreu em 6 de maio de 2021, aos 92 anos de idade. Trabalho e linha de pensamento. A epistemologia de Maturana se desenvolveu, e denota um evidente traço marcante que a diferencia de outras, a partir do estudo e explicação do ser vivo que produz o conhecimento. Focado no ser humano, e explicando-o como um sistema autoconstrutivo, permeado de emoções e incapaz de distinguir entre percepção e ilusão, Maturana traça um caminho desde a explicação do agente para poder chegar à explicação do conhecimento científico, na qual o agente tem papel central. Autopoiese. Característica de um sistema capaz de se autodefinir, autoconstruir e frequentemente se renovar a partir dessas duas primeiras ações. Ou seja, existe autonomia no estabelecimento de duas constituintes básicas de um sistema: estrutura e organização. Além desses dois constituintes, ainda temos um terceiro: o meio. Mas este depende intimamente do ser que responde aos estímulos que provoca, sendo os estímulos respondidos de acordo com relações internas do ser perante esse estímulo externo. Ou seja, o estímulo parte de fora, mas a reação parte de relações internas do ser. Maturana atribuiu essa característica ao processo cognitivo, contrapondo ao que é (ou era) tido como o tradicional, de que o estímulo externo da experiência que define o processo de aprendizado, dizendo que são as correlações internas a partir dessa experiência que definem o aprendizado. A filosofia da ciência e epistemologia de Maturana foi desenvolvida a partir da descrição daquele que sofre esse processo de aprendizado e que produz o conhecimento: o ser humano. Para Maturana, o ser humano é um sistema que define, constrói e modifica sua própria organização a partir de seu comportamento e suas ideias, sendo autoconsistente e autopoiético. Podemos traçar analogias com sistemas biológicos como células, que produzem internamente suas componentes, mas no caso específico do humano estamos tratando mais no campo dos pensamentos, e portanto da biologia da cognição. Normalmente a organização é invariante, mas a partir da validação do observador, sendo essa o seu entendimento, pode sofrer modificações. Dentro dessa ideia, existem quatro domínios de estrutura: Como os estímulos externos surgem a todo momento, então o ser está sempre respondendo a esses estímulos de acordo com suas relações internas e frequentemente se renovando e sofrendo mudanças, ao histórico dessas mudanças chama-se ontogenia. A autopoiese, ou biologia da cognição ou biologia do conhecer é a gênese da epistemologia de Maturana, a partir dessa característica que define e explica o ser no qual se materializa o fenômeno do conhecer, toda a sua linha de pensamento é traçada. Ilusão e percepção. Não somos capazes de distinguir diante da experiência o que é percebido do que é ilusório. Aquilo que percebemos ou sentimos define a experiência englobando o que é ilusão e o que é realidade. Se algo foi vivido como real, então é uma verdade, se não foi vivido como real é uma mentira, de forma que a verdade engloba o que é real e a ilusão percebida como real. Já a mentira engloba tudo que não se encaixa nesse contexto. Assim, verdade e mentira são identificadas pelo que se acredita durante a experiência de viver. O erro é a afirmação pós-experiência que desmente uma experiência que vivemos como válida sendo uma ilusão, se não vivemos como válida, nunca poderá ser tida como um erro. Explicações. Para explicar o conhecer é necessário explicar o conhecedor, entendido como sistema autopoiético. A ideia é explicar o observador e o observar, mas nesse ponto é preciso deixar clara a distinção entre explicar e experiência, ou seja, a explicação da experiência é diferente da experiência e então a explicação do observar é diferente do observar. A explicação é uma abordagem no sentido de traduzir o porquê de estar sentindo, e não estritamente o que se está sentindo. A explicação é uma, pois existem diversas maneiras de fazê-lo, reformulação da experiência aceita por um observador, aceitação que pode se manifestar de diversas formas. Tudo isso extremamente cotidiano e usual. A explicação e a experiência se dão na linguagem, tida como uma espécie de substrato básico da existência. Para Maturana, a ciência consiste em um modo particular, rigoroso e preciosista de explicar, no sentido que o cientista é um apaixonado por um explicar segundo um critério de validação bem determinado. Portanto a ciência é uma glorificação da vida cotidiana. Duas formas de aceitar explicações. Maturana subdivide as maneiras de aceitar explicações em duas categorias: a objetividade sem parênteses e a objetividade com parênteses. Realidade. A definição de duas possíveis formas de aceitação do explicar nos levam a dois conceitos diferentes de realidade. Na objetividade sem parênteses, a realidade é independente do observador, e ele garante um acesso privilegiado a ela para explicar o que pretende, justificando-se na independência dessa realidade quanto a ele ou ao seu interlocutor. Entretanto, a objetividade com parênteses a realidade depende do observador e das suas relações cognitivas operacionais internas para existir, portanto se há uma discordância com o interlocutor isso não significa que o outro está errado, apenas que ele se encontra em um outro domínio da realidade, e ele vive como válidas e explica as situações de acordo com suas relações cognitivas internas. Ou seja, a existência de uma realidade não implica na não existência da outra, ambas coexistem e são legítimas. Emoções. Corriqueiramente na vida cotidiana transicionamos de uma forma para outra de explicar guiados pelas emoções, mudando de critérios e linhas de raciocínio. Contudo, quando pretendemos que haja concordância com o que falamos, usamos do subterfúgio ou do caminho da racionalidade, com uma linha clara e objetiva, que pretende ser inatacável, firme. Nisso se consiste a ciência, e os cientistas defendem que a mesma deve ser feita sem interferência de emoções e predileções que distorçam o explicar em sua linha objetiva e admitem a falha que cometem ao deixarem essa interferência ocorrer. Mas Maturana defende que toda a ciência é baseada em motivações particulares que levam os cientistas a fazerem determinadas perguntas. Portanto a ciência se sustenta nas emoções, mas se pratica de modo emocionado uma forma imparcial, racional e objetiva de explicar. Ciência. A ciência e o cientista são absolutamente cotidianos no sentido de que estão inseridos em um contexto que depende da linguagem e que são extremamente universais, então o que faz da ciência tão especial, ou melhor, específica? É o modo apaixonado de explicar - que é uma atividade cotidiana - ter um critério de validação específico que se baseia numa forma aceita amplamente. Ou seja, a ciência não é a verdade, mas se encontra em um domínio da verdade que é bem aceito por uma comunidade considerável de pessoas, aqueles que a aceitam.
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Histologia
Histologia Histologia (do grego "hystos" = tecido + "logos" = estudo, conhecimento) é também denominada Anatomia Microscópica ou Biologia Tecidual. Estas denominações se referem ao ramo da Biologia que estuda a estrutura microscópica e as funções das células, tecidos e órgãos que compõem os organismos animais e vegetais. Um setor da Histologia dedicado especificamente ao estudo das células, denominado antigamente Citologia, desenvolveu-se em um importante ramo da ciência denominado Biologia Celular. A Histologia uma importante disciplina de Graduação e de Pós-graduação das áreas de Ciências Biológicas e da Saúde. Além disso é uma relevante área de pesquisa que contribuiu e contribui significativamente com importantes descobertas científicas no conhecimento de Biologia e Saúde. A Histologia pode ser conceitualmente classificada em Histologia Animal, com enfoque em animais, Histologia Humana, com enfoque em seres humanos, Histologia Vegetal, com enfoque em vegetais, dentre outras. Os primeiros microscópios - do sec. 16 ao sec. 19. A Histologia surgiu como um resultado da invenção do microscópio óptico, também denominado microscópio de luz ou microscópio fotônico. Este instrumento utiliza iluminação por luz visível e lentes que produzem uma imagem aumentada de um objeto. Os microscópios mais primitivos, denominados microscópios simples, são constituídos por uma única lente, em contraposição aos microscópios formados por pelo menos dois sistemas de lentes, denominados microscópios compostos.  A invenção do microscópio é uma questão obscura. Teria ocorrido entre 1590 e 1619 sendo atribuída a várias pessoas, dentre as quais os fabricantes de lentes holandeses Zacharias Janssen (1585 –1632) e Hans Lippershey ou Lipperhey (1570 –1619).   As primeiras descrições publicadas sobre células e outras estruturas microscópicas se devem a Robert Hooke (1635 –1703) e a Anton van Leeuwenhoek (1632 - 1723), ambos membros da Royal Society de Londres. O inglês Robert Hooke era um arquiteto e cientista que se dedicou a pesquisas em Física e Astronomia. Em 1665 publicou um livro denominado "Micrographia" no qual relata que utilizou um microscópio composto (construído pelo fabricante de instrumentos Christopher Cock) para estudar diversos objetos de pequeno tamanho.  Nesta obra mostra imagens de delegados cortes de cortiça e descreve pequenos espaços delimitados tendo pela primeira vez utilizado a denominação "células".  Estes espaços representam as células da cortiça envolvidas pelas suas paredes celulares. Leeuwenhoek foi um holandês comerciante de tecidos, de pouca instrução especializada, mas que em certo momento de sua vida aprendeu a polir lentes. Construiu centenas de microscópios dotados de uma única lente, pequena e quase esférica, porém que forneciam grandes ampliações. Por meio desses microscópios simples observou e descreveu detalhadamente a partir de 1674 diversos tipos de materiais biológicos, como protozoários, embriões de plantas, glóbulos vermelhos do sangue e espermatozoides presentes no sêmen de animais. Foi Leeuwenhoek quem descobriu a existência dos micróbios, como eram antigamente chamados os seres microscópicos atualmente conhecidos como micro-organismos. Os primeiros microscópios chamados microscópios simples e por uma única lente geralmente forneciam aumentos relativamente pequenos e com imagens de baixa qualidade e resolução, mas mesmo assim permitiram a Leeuwenhoek a observação adequada de muitos objetos microscópicos. Um grande progresso foi o desenvolvimento dos microscópios dotados de dois ou mais sistemas de lentes, os microscópios compostos. Neste tipo de microscópio, as lentes situadas próximas aos objetos são denominadas lentes objetivas. As lentes situadas próximas aos olhos ou a um sistema de captação de imagens são denominadas lentes oculares. As lentes objetivas são as mais importantes do sistema óptico, pois fornecem um aumento inicial do objeto que é em seguida ampliado pelas lentes oculares.  As lentes objetivas são as maiores responsáveis pela obtenção de imagens com altas resoluções, qualidade que permite a observação de grande número de detalhes dos objetos. Estas lentes, isoladas ou em associação de duas, três ou quatro, permitiram o exame cada vez mais preciso das estruturas que compõem os seres vivos. A grande evolução dos microscópios compostos nos séculos seguintes resultou principalmente da pesquisa em busca de melhores lentes objetivas. Estas são as lentes cruciais para a produção de uma boa imagem, enquanto que as lentes oculares são mais simples e de fabricação mais fácil. No início da fabricação dos microscópios, as lentes objetivas padeciam de muitos defeitos, que em óptica são denominados aberrações. Exemplos são a aberração cromática e a aberração da esfericidade, que produzem grande deterioração da imagem. Um outro fator de grande importância para a obtenção de uma imagem de boa qualidade é o poder de resolução das lentes. O poder de resolução é fundamental para fornecimento de detalhes, especialmente importante quando se estudam objetos microscópicos. O inglês (1786 - 1869) era um negociante de vinho em Londres e apaixonado por História Natural. No entanto, ficava muito insatisfeito por que os microscópios à sua disposição não produziam imagens adequadas para a boa observação de espécimes vegetais e animais. Lister decidiu pesquisar a fabricação de melhores lentes de vidro para o instrumento. Além de construir lentes de alta qualidade, ele associou lentes em conjuntos de duas ou três e também desenhou e mandou fabricar o suporte para o microscópio que acabou se tornando padrão para estes instrumentos por 150-200 anos. Lister foi o principal responsável por transformar o microscópio composto em um instrumento de alta qualidade. Lister publicou os detalhes de seu microscópio em 1830 fato que desencadeou a produção de excelentes microscópios na Inglaterra e no continente europeu.  Na Alemanha a fábrica de microscópios de introduziu em 1863 o dispositivo para mudança de posição das lentes objetivas, utilizado até a atualidade. Em 1866 Carl Zeiss contratou o físico Ernst Abbe para sua companhia de produtos ópticos. Abbe introduziu novos conceitos sobre a definição da resolução óptica das lentes, sobre a fabricação de lentes e inventou um componente para a iluminação adequada dos microscópios, o condensador de Abbe. Na década de 1880, a fabricação das lentes dos microscópios ópticos compostos atingiu o limite da resolução possível nestes instrumentos. Portanto, o microscópio óptico composto, inicialmente bastante simples e rudimentar, foi sendo progressivamente aperfeiçoado e a partir dos modelos iniciais muitos tipos de microscópios foram desenvolvidos, por exemplo microscópio estereoscópico (também denominado lupa estereoscópica), microscópio de polarização, microscópio de contraste de fase, microscópio invertido, microscópio de fluorescência, microscópio confocal de varredura a laser e vários outros instrumentos. Os microscópios eletrônicos pertencem a uma outra família de microscópios. Caracterizam-se por utilizarem um feixe de elétrons para obtenção de imagens em vez de luz visível. Suas lentes são bobinas eletromagnéticas em vez de lentes de vidro. Ernst Ruska e Max Knoll trabalhando na firma Siemens na Alemanha construíram o primeiro protótipo de um microscópio eletrônico de transmissão, que foi apresentado em 1931. O tipos de microscópios eletrônicos mais utilizados são o microscópio eletrônico de transmissão e o microscópio eletrônico de varredura. Desenvolvimento inicial da Histologia do sec. 16 ao sec. 19. Marcello Malpighi (1628 –1694) foi um médico italiano que dedicou a maior parte de sua vida a um grande número de estudos sobre a anatomia microscópica de animais e vegetais. Pode ser considerado o pai da Histologia. Em animais examinou órgãos sadios e patológicos e descreveu um grande número de estruturas, várias das quais receberam o seu nome, como por exemplo os corpúsculos de Malpighi presentes no baço, uma das camadas da epiderme e os corpúsculos de Malpighi dos rins, atualmente denominados corpúsculos renais. Malpighi estudou a circulação sanguínea nos pulmões de ovelhas e sapos. Nestes últimos observou a presença de uma rede de minúsculos vasos sanguíneos, mais tarde denominados capilares sanguíneos, elucidando interpretações errôneas existentes na época sobre o mecanismo da respiração. Esta foi também uma importante contribuição para entender o mecanismo da circulação sanguínea inicialmente apresentada por Harvey, pois a descoberta de Malpighi demonstrou a conexão entre o sistema arterial e o sistema venoso e comprovou que a circulação sanguínea ocorre em um compartimento fechado.  Dedicou-se também a estudos sobre Embriologia, pela sua observação do desenvolvimento de embriões de galinha. O termo tecido já havia sido introduzido por volta de 1800 pelo anatomista, patologista e cirurgião francês Marie François Xavier Bichat (1771-1802) ). Bichat não utilizava microscópios, mas por meio da dissecção de corpos humanos percebeu que os diversos órgãos não eram entidades únicas e homogêneas, mas que eram formados por diversos constituintes. Alguns destes constituintes tinham formatos de membranas e, talvez por esta razão, os denominou tecidos. Outra importante contribuição de Bichat foi sua proposta de que as doenças poderiam ser causadas por alterações dos tecidos componentes dos órgãos. (1787 - 1865) deu o nome de Histologia em 1819, à disciplina que descreve a estrutura microscópica dos tecidos e órgãos dos animais. O desenvolvimento subsequente da Histologia esteve principalmente relacionado à pesquisa biológica sobre estrutura e funções das células, tecidos e órgãos assim como à pesquisa ligada à Patologia humana e animal. Este desenvolvimento dependeu da introdução de metodologias para a preparação de tecidos e órgãos para serem observados ao microscópio. Gradualmente foram aperfeiçoados os métodos para: A introdução por Ferdinand Blum em 1894 da solução de formaldeído para a preservação de tecidos animais desencadeou um grande avanço no estudo de tecidos e órgãos ao microscópio, devido à excelente qualidade da preservação das estruturas dos tecidos em comparação com os procedimentos usados anteriormente. A fixação de células, tecidos e órgãos por solução de formaldeído, também denominada formalina, ainda se constitui na maneira mais usada para preparação de tecidos para estudo em microscopia óptica, pois mantém a estrutura e muito da composição química dos tecidos. Outras soluções fixadoras, além da formalina, foram sendo propostas mais tarde. Para se obter fatias muito delgadas de tecidos e órgãos, denominados cortes histológicos, da ordem de 5 a 10 μm (micrometros) de espessura (5 a 10 milésimos de milímetro), é necessário que os fragmentos de tecidos e órgãos sejam suportados por um substrato relativamente rígido. A introdução por volta de 1860 da técnica de embebição dos fragmentos de órgãos por parafina, atribuída ao bacteriologista suíço Edwin Klebs quando trabalhava na Universidade de Berna, possibilitou um enorme avanço para a obtenção de cortes histológicos. O instrumento utilizado para obtenção de cortes histológicos é denominado micrótomo. Sua denominação deriva do grego "micros" (pequeno) e "temnein" (cortar). Os primeiros micrótomos foram inventados em 1770 por George Adams, Jr. (1750–1795) e por Alexander Cummings. Estes micrótomos, no entanto, forneciam cortes relativamente espessos que não permitiam a observação detalhada das estruturas dos tecidos. Mais tarde surgiram melhoramentos importantes para obtenção de um instrumento adequado a fornecer cortes mais delgados.  Um destes instrumentos aperfeiçoados foram desenvolvidos em 1865 pelo anatomista suíço Wilhelm His, um estudioso do sistema nervoso. Jan Evangelista Purkynje  (1787- 1869) um importante anatomista e fisiologista tcheco foi um dos primeiros a utilizar o micrótomo para obter cortes histológicos. Entre outras descobertas, Purkinje descreveu as células do cerebelo que receberam seu nome (células de Purkinje), as fibras do sistema de condução dos impulsos cardíacos (fibras de Purkinje), os cílios móveis presentes na superfície das células dos epitélios que revestem dutos genitais e o aparelho respiratório. A Edwin Klebs é atribuída construção do primeiro micrótomo de congelação (1871), instrumento aperfeiçoado e utilizado até hoje em pesquisa em laboratório e em diagnóstico durante atos cirúrgicos. Como a maior parte das estruturas celulares é incolor, a observação de cortes histológicos ao microscópio óptico depende da introdução de cor a estas estruturas por meio do processo de coloração. Um dos primeiros corantes utilizados tanto para estruturas vegetais foi o Carmim. Este corante é uma substância de cor vermelha com um pequeno toque de azul, extraída de um inseto, a cochonilha. A hematoxilina, usada por Wilhelm von Waldeyer em 1863 e associada à eosina por Bohner (1865), é a combinação de corantes mais usada até os dias de hoje para coloração de cortes histológicos. A síntese de anilina efetivada por William Perkin (1838 - 1907) em 1856 e aplicada inicialmente a tintura de tecidos, desencadeou a pesquisa pela síntese muitos outros corantes principalmente pela indústria química inglesa e alemã dentre os quais podem ser citados os corantes alizarina, acridina, índigo (anil), fucsina, safranina sintetizados por Heinrich Caro e Adolf von Baeyer. Desde então estes e muitos outros corantes foram aplicados para coloração de cortes histológicos. A fluoresceína, uma substância fluorescente ainda largamente usada em técnicas imuno-histoquímicas na atualidade, também foi sintetizada no século XIX. Uma grande variedade de corantes, isoladamente ou em combinações de corantes, foram capazes de revelar toda a riqueza de componentes que constituem a estrutura das células e tecidos do corpo. Técnicas de impregnação metálica permitiram grandes descobertas, principalmente sobre a estrutura do sistema nervoso. Dentre os maiores histologistas do século XIX merece ser citado Albert von Kölliker (1817-1905) pelos seus estudos embriológicos e de tecidos animais, identificação no músculo esquelético dos corpúsculos mais tarde denominados mitocôndrias, demonstração da continuidade dentre os neurônios e as fibras nervosas contribuindo para a  confirmação da Teoria neuronal  proposta por Ramón y Cajal e, além disso, desenvolveu muitas técnicas de preparação de tecidos para obtenção de cortes histológicos. Publicou entre 1852 e 1854 o primeiro grande tratado de Histologia denominado "Handbuch der Gewebelehre des menschen für Aertze und Studierende". Muitas metodologias foram desenvolvidas para obter informações de cortes histológicos, como a Radioautografia in situ, a Histoquímica, a Imunocitoquímica, a Hibridização in situ, a Estereologia. Estas metodologias fizeram com que a Histologia passasse a investigar cada vez mais profundamente o funcionamento das células que constituem os tecidos e órgãos. Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1906 pelas suas investigações sobre a estrutura e funções do tecido nervoso. Nos séculos XX e XXI o conhecimento sobre a estrutura e função das células, tecidos e órgãos se ampliou muito pela introdução de variadas metodologias para preparação e coloração de tecidos, técnicas para detecção de moléculas em células isoladas e em cortes histológicos por citoquímica e imunocitoquímica. Paralelamente foram desenvolvidos diversos tipos de microscópios ópticos e microscópios eletrônicos que permitiram aprofundar conhecimentos anteriores e descobrir novas estruturas e funções das células e tecidos. Graças aos aperfeiçoamentos destas metodologia as pesquisas em Histologia permitiram desvendar a estrutura e a função dos tecidos e órgãos animais e geraram conhecimentos que levaram à grande revolução ocorrida nos últimos 100 anos na Biologia animal, Medicina Humana e Medicina Veterinária. Métodos de estudo de células, tecidos e órgãos animais por microscópios. Na maioria dos tipos de microscópios um feixe luminoso deve atravessar o objeto para se formar uma imagem. Por esta razão, os objetos que queremos observar necessitam ser muito delgados e transparentes ou translúcidos. Células isoladas espalhadas sobre uma lâmina de vidro são delgadas e transparentes. Não oferecem obstáculo relevante para a passagem de um feixe luminoso e para a formação de uma boa imagem. Por outro lado, tecidos e órgãos animais são espessos e opacos. Para que estes possam ser observados por microscópios necessitam ser cortados em fatias muito delgadas. Células espalhadas sobre uma lâmina de vidro, a lâmina histológica, ou cortes de tecidos ou órgãos colocados sobre a lâmina de vidro constituem o que se denomina preparado histológico. As células e os cortes são protegidos por uma delgada lâmina de vidro denominada lamínula. A seguir serão descritos resumidamente alguns procedimentos necessários para confecção e coloração de fatias delgadas de tecidos e órgãos animais, denominados cortes histológicos. O conjunto destas metodologias é chamado Técnicas Histológicas. Os cortes histológicos são obtidos em um instrumento de precisão denominado micrótomo. Para obter cortes muito delgados da ordem de 5 a 10 μm (micrometros) os fragmentos necessitam ser rígidos.  Há várias maneiras de obter cortes histológicos. A maneira mais comum é pela utilização do micrótomo de parafina. Para essa finalidade os fragmentos de tecidos e órgãos são colocados no interior de parafina, material que fornece um suporte rígido para a obtenção de fatias de 5 a 10 um (micrometros) de espessura. Antes de serem embebidos em parafina os fragmentos de tecidos e órgãos necessitam passar por uma série de tratamentos. A confecção de cortes histológicos se inicia pelo procedimento denominado fixação. A fixação tem como finalidades principais o endurecimento e a preservação da estrutura e da composição química das células, tecidos e órgãos. Nesta etapa fragmentos de tecidos ou órgãos são geralmente mergulhados durante um certo tempo em líquidos chamados fixadores histológicos. Um exemplo de fixador muito usado é o formol. Em seguida os fragmentos são submetidos à retirada de seu componente aquoso (desidratação) que é seguida pela diafanização ou clareamento dos fragmentos e, finalmente, eles são colocados em um meio que depois permitirá o corte dos fragmentos dos tecidos e órgãos. A substância mais utilizada para esta finalidade é a parafina aquecida ao ponto de se tornar líquida. Deixando-se a parafina voltar depois à temperatura ambiente ela se solidifica e oferece um suporte rígido adequado para a próxima etapa que é a confecção dos cortes dos tecidos em um micrótomo. Os cortes são colocados sobre pequenas lâminas de vidro que medem geralmente 25 x 75 mm, nas quais ficam aderidos. As células, tecidos e órgãos animais são em sua maioria incolores. Para produzirem uma imagem em um microscópio necessitam quase sempre serem corados. Para isso a parafina deve ser inicialmente solubilizada e retirada e o corte mergulhado em vários líquidos até ser finalmente colocado em soluções corantes. Após a coloração os cortes são protegidos com delgadas lâminas de vidro (as lamínulas) e podem ser finalmente observados ao microscópio. A técnica de coloração mais usada em Histologia utiliza os corantes hematoxilina e a eosina. Esta coloração define bastante bem vários componentes das células e da matriz extracelular. A hematoxilina cora o núcleo, nucléolo e ergastoplasma, assim como componentes ácidos presentes na matriz extracelular. A eosina cora o citoplasma e suas várias organelas, assim como componentes da matriz extracelular de caráter neutro e menos ácido. Diversas organelas e componentes da matriz extracelular necessitam de colorações específicas para serem evidenciados. Cortes por congelação. Há maneiras rápidas de se obter cortes delgados além da descrita acima.  Por exemplo, para o exame microscópico de órgãos durante um ato cirúrgico que necessita um diagnóstico anatomopatológico feito naquele momento.  Neste caso os fragmentos de órgãos são congelados e seccionados em um micrótomo especial que fornece cortes que podem ser imediatamente corados e examinados ao microscópio. São os chamados cortes de congelação. Cortes por congelação também são utilizados em laboratórios de pesquisa para procedimentos que revelam a presença de moléculas nas estruturas presentes nos cortes. Conceito de tecido animal. Há centenas de tipos celulares em um organismo multicelular complexo como o nosso. Todas estas células são derivadas de uma única célula, o ovócito fertilizado ou zigoto. Este, no decorrer do desenvolvimento, se multiplicou por inúmeros ciclos mitóticos. Durante o desenvolvimento embrionário e fetal as células indiferenciadas e totipotentes gradativamente passam por um processo chamado diferenciação, durante o qual alguns genes são silenciados ou reprimidos e outros ativados. Grupos de células que passaram pela ativação de determinados genes ou de conjuntos de genes começam a produzir proteínas novas ou aumentam muito a produção de proteínas pré-existentes. Devido a esses processos estes grupos de células adquirem propriedades estruturais e funcionais características (a sua morfologia, tipo de organização, sua função), resultando na formação de famílias de células. As famílias de células com estrutura, função e comportamento semelhantes constituem os tecidos do corpo. Estes tecidos foram classificados com base em sua morfologia, localização, funções e origem embriológica. Há quatro tecidos básicos: tecido epitelial, tecido conjuntivo, tecido muscular e tecido nervoso. Esta classificação é útil do ponto de vista da sistematização dos tecidos e do ponto de vista didático. Com o correr do tempo e em consequência dos progressos havidos nos conhecimentos das células e da matriz extracelular, percebeu-se que esta classificação rígida das células em tecidos pode não mais ser aplicada indiscriminadamente. Um exemplo é o termo célula secretora, que antigamente era aplicado às células glandulares do tecido epitelial, pois se pensava que eram as únicas células que exerciam a função de secreção. Hoje sabe-se que muitos tipos de células, tanto epiteliais como do tecido conjuntivo, muscular e nervoso também são secretoras.
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História da biologia
História da biologia A história da biologia traça o estudo do meio vivo desde a Antiguidade até aos tempos modernos. Embora o conceito de "biologia" enquanto campo científico único e coeso só tenha surgido no século XIX, as ciências biológicas têm origem nas práticas ancestrais de medicina e de história natural que remontam à Ayurveda, à medicina do Antigo Egito e às obras de Aristóteles e Galeno durante a Antiguidade clássica. Esta tradição pioneira continuou a ser aperfeiçoada durante a Idade Média por médicos islâmicos e académicos como Avicena. Durante o Renascimento e no início da Idade Moderna, o raciocínio científico na Europa foi drasticamente alterado com a introdução do empirismo e com a descoberta de inúmeras formas de vida. Entre as figuras de relevo deste movimento destacam-se Andreas Vesalius e William Harvey, introdutores do experimentalismo e da observação científica na fisiologia, e naturalistas como Carolus Linnaeus e Buffon, pioneiros da classificação das espécies e dos registos fósseis, para além de obras no comportamento e desenvolvimento dos seres vivos. A microscopia veio revelar o até então desconhecido mundo dos microorganismos, fornecendo as bases para a teoria celular. A importância crescente da teologia natural, em parte como resposta à ascensão da filosofia mecânica, veio a potenciar o crescimento da história natural, embora assumisse ainda o argumento teleológico do criacionismo. Ao longo dos séculos XVIII e XIX, as ciências biológicas como a botânica e a zoologia tornam-se campos de estudo cada vez mais profissionais. Inúmeros cientistas, como Lavoisier, começam a estabelecer ligações entre o mundo vivo e a matéria inanimada através da física e da química. Exploradores-naturalistas como Alexander von Humboldt investigam a interação entre os seres vivos e o seu meio físico, e a forma como esta relação é afetada pela geografia, estabelecendo as bases para a biogeografia, ecologia e etnologia. Os naturalistas começam a rejeitar o essencialismo e levam em conta a importância da extinção e da mutabilidade das espécies. A teoria celular forneceu uma nova perspetiva sobre os pilares fundamentais da vida. Estes progressos, em conjunto com as conclusões obtidas nos campos da embriologia e paleontologia, foram resumidos na teoria da evolução através da seleção natural de Charles Darwin. O fim do século XIX assistiu ao declínio da teoria da geração espontânea e à ascensão da teoria microbiana das doenças, embora o mecanismo da hereditariedade tivesse permanecido um mistério. No início do século XX, a redescoberta do trabalho de Gregor Mendel levou a progressos imediatos no campo da genética, sobretudo através de Thomas Hunt Morgan e dos seus alunos. Durante a década de 1930, a conjugação dos conceitos patentes na genética populacional e na seleção natural dá origem à síntese neodarwiniana. Estas novas disciplinas científicas desenvolvem-se rapidamente, sobretudo depois de Watson e Crick terem revelado a estrutura do ADN. Após a instituição do "Dogma Central" e da descodificação do código genético, a biologia foi separada entre "biologia organismal" - que lida com organismos completos e grupos de organismos - e as áreas relacionadas com a biologia celular e molecular. Já no fim do século XX, novas áreas como a genómica e a proteómica vieram inverter esta tendência, já que biólogos "organismais" empregam técnicas moleculares, e biólogos moleculares e celulares investigam também as interações entre os genes e o meio ambiente, assim como a genética das populações naturais de organismos. Etimologia de "biologia". A palavra "biologia" é formada através da conjugação do grego βίος (bios), que significa "vida", com o sufixo "-logia", que significa "ciência de", "conhecimento de" ou "estudo de", com base no verbo grego λέγειν (legein), ou "seleccionar", "colectar" (cf. o substantivo λόγος, (logos), "mundo"). O termo "biologia" na sua acepção contemporânea parece ter sido introduzido de forma independente na literatura científica por Thomas Beddoes em 1799, Karl Friedrich Burdach em 1800, Gottfried Reinhold Treviranus em 1802 em "Biologie oder Philosophie der lebenden Natur" e Jean-Baptiste Lamarck, igualmente em 1802 na obra "Hydrogéologie". A palavra em si aparece no título do III volume da "Philosophiae naturalis sive physicae dogmaticae: Geologia, biologia, phytologia generalis et dendrologia", publicado em 1766 por Michael Christoph Hanow. Anteriormente à aceitação do vocábulo "biologia", os campos de estudo dos animais e plantas recorriam a vários termos. A "história natural" referia-se aos aspectos descritivos da biologia, embora também incluísse mineralogia e outras áreas de estudo para além da biologia. A partir da Idade Média e ao longo do Renascimento, as ciências associadas à história natural são unificadas segundo o conceito da "scala naturæ". A "filosofia natural" e a "teologia natural" abrangiam as bases conceptuais e metafísicas da vida animal e vegetal, debruçando-se sobre os temas da razão da existência e comportamento dos seres vivos, embora também englobassem áreas que hoje são dos domínios da geologia, física, química e astronomia. Por sua vez, a fisiologia e a farmacologia pertenciam ao domínio da medicina. Nos séculos XVIII e XIX, e ainda anteriormente à aceitação alargada do termo "biologia", a botânica, a zoologia e, no caso dos fósseis a geologia, vêm substituir a "história natural" e a "filosofia natural". Os termos "botânica" e "zoologia" continuam a ser amplamente usados na actualidade, embora a par de outras sub-disciplinas da biologia como a micologia e a biologia molecular. Conhecimento antigo e medieval. Civilizações antigas. Os primeiros humanos demonstram ter possuído e transmitido entre si conhecimentos básicos sobre plantas e animais de forma a melhor garantir a sua própria sobrevivência. Isto pode ter incluído noções de anatomia humana e animal e alguns aspectos essenciais do comportamento animal, como os padrões migratórios. Contudo, o primeiro grande momento de transição no conhecimento biológico teve lugar durante a revolução neolítica há cerca de 10 000 anos, quando o Homem iniciou a domesticação de plantas e animais, através das práticas da agricultura e da pastorícia que acompanharam e possibilitaram a sedentarização populacional. As culturas mesopotâmica, egípcia, chinesa e do subcontinente indiano, entre outras, viram nascer cirurgiões e teóricos das ciências naturais como Sushruta e Zhang Zhongjing, reflexo de um já avançado sistema de pensamento no campo da filosofia natural. No entanto, as raízes da biologia moderna são frequentemente contextualizadas na tradição secular da Filosofia Greco-Romana. Um dos mais antigos sistemas organizados de medicina que se conhece teve lugar no subcontinente indiano sob a forma do Ayurveda, com origem por volta de 1500 a.C. a partir do Atarvaveda, um dos quatro mais antigos livros da cultura indiana. A tradição egípcia produziu igualmente textos influentes como o papiro de Edwin Smith. É também célebre pelo desenvolvimento de técnicas avançadas de embalsamamento, usadas no processo de mumificação, de forma a preservar os cadáveres da decomposição. No contexto da antiga tradição chinesa, podem ser observados vários tópicos referentes à biologia dispersos por diferentes disciplinas, nos quais se incluem os trabalhos sobre fitoterapia, medicina, alquimia e filosofia. As práticas taoistas da alquimia chinesa, por exemplo, podem ser consideradas parte integrante das ciências da vida, devido à ênfase na sua relação com a saúde e na sua procura utópica pelo "Elixir da Longa Vida". A ordem da medicina tradicional chinesa normalmente refletia a teoria do Yin-yang e dos cinco elementos. Os filósofos taoistas, como Chuang-Tzu no século IV a.C., revelaram também propostas intrínsecas da evolução, como a negação da imutabilidade das espécies biológicas, e propondo que cada espécie teria desenvolvido determinada característica em resposta a determinados fatores ambientais. A tradição ayurveda indiana propôs o conceito dos três humores, à semelhança dos quatro humores da medicina grega, embora o sistema ayurvédico fosse mais elaborado, definindo o corpo humano como composto por cinco elementos e sete tipos básicos de tecido. Os escritores ayurvédicos classificaram também os seres vivos em quatro categorias a partir do método de nascimento – ventre, ovos, calor e sementes – e explicaram em detalhe a concepção de um feto. Foram também autores de progressos significativos no campo da cirurgia, sem recorrer à dissecação humana ou vivissecção animal. Um dos mais antigos tratados ayurvédicos que se conhece é a obra "Sushruta Samhita", atribuída a Sushruta e datada do século VI a.C.. Foi também uma das primeiras obras de "materia medica", descrevendo em detalhe 700 plantas com propriedades medicinais, 64 preparados de base mineral e 57 de base animal. A tradição Grega. Os filósofos pré-socráticos interrogavam-se sobre inúmeros aspetos ligados à vida, mas não foram capazes de produzir conhecimento sistemático significativo dentro do campo da biologia, embora os esforços dos atomistas para explicar a vida em termos puramente físicos tenha sido a partir de então recorrente na história da biologia. No entanto, as teorias formuladas por Hipócrates e pelos seus seguidores exerceram uma influência significativa, sobretudo o humorismo. Aristóteles foi o mais influente académico durante a Antiguidade Clássica. Embora as suas primeiras obras de filosofia natural tenham sido fundamentalmente especulativas, os seus manuscritos posteriores revelam uma formulação empírica, focando as causas e diversidade biológicas. Realizou inúmeras observações do mundo natural, relativas sobretudo aos hábitos e atributos das plantas e animais à sua volta, sobre os quais efetuou também um amplo trabalho de categorização. No total, Aristóteles classificou 540 espécies animais, tendo dissecado pelo menos 50 delas. Acreditava que todos os processos naturais eram regidos por causas formais, e que o que diferenciaria, por exemplo, um homem de uma estátua seria a presença de uma alma. Aristóteles, a par de praticamente todos os académicos ocidentais que se lhe seguiram até ao século XVIII, acreditavam que os seres vivos estariam organizados segundo uma escala de perfeição, desde as plantas, menos perfeitas, até aos humanos: a "scala naturæ". Teofrasto, sucessor de Aristóteles no Liceu, escreveu uma série de livros sobre botânica – "Historia Plantarum" – hoje considerados como o mais relevante contributo da Antiguidade para a botânica, influentes ainda durante a Idade Média. Muitas das designações por si atribuídas continuam a ser usadas na atualidade, como "carpos" para a fruta, e "pericarpion" para o invólucro das sementes. Plínio, o Velho foi também notável pela produção de conhecimento sobre botânica e o mais prolífico compilador de descrições zoológicas da Antiguidade. Alguns académicos do período helenístico durante a dinastia ptolemaica, sobretudo Herófilo e Erasístrato, trabalharam na revisão nas obras de fisiologia aristotélica, realizando inclusive vivissecções experimentais. Galeno viria a ser considerado a maior autoridade em medicina e anatomia. Embora alguns atomistas da Antiguidade como Lucrécio tivessem já posto em causa o ponto de vista aristotélico de que todos os aspetos da vida são consequência de um desígnio ou finalidade, a teleologia e, depois da ascensão do Cristianismo, a teologia natural, permaneceriam como elementos centrais do pensamento científico até aos séculos XVIII e XIX. Ernst Mayr defendeu que "Nada com impacto significativo aconteceu na biologia depois de Lucrécio e Galeno até ao Renascimento". O conhecimento expresso durante a Antiguidade sobreviveu ao tempo; no entanto, durante a Idade Média era aplicado de forma acrítica e sem o natural questionamento capaz de produzir novo conhecimento. Prática medieval e islâmica. O declínio do Império Romano trouxe consigo o desaparecimento ou destruição de muita da literatura científica, embora os praticantes de medicina mantivessem vivas as tradições herdadas da Antiguidade grega através da prática quotidiana. No Império Bizantino e no mundo islâmico, muitas das obras gregas foram traduzidas para a língua árabe e preservadas muitas das obras de Aristóteles. Os médicos, cientistas e filósofos islâmicos ofereceram contributos significativos para a ciência entre os séculos VIII e XIII, durante o que se convencionou chamar de "Idade de ouro islâmica" ou "revolução agrícola islâmica". Na área da zoologia, por exemplo, o académico Al-Jahiz (781-869) propôs uma série de conceitos precursores da evolução, como a luta pela sobrevivência. Sugeriu igualmente a noção de cadeia alimentar, e foi um dos precursores do determinismo ambiental. O biólogo persa Al-Dinawari (828-896) foi o autor do "Livro de Plantas", no qual descreveu pelo menos 637 espécies botânicas e apresentou noções sobre o crescimento, morfologia, e produção de flores e frutos. O polímata persa Al-Biruni descreveu a noção de seleção artificial e argumentou que a natureza funciona de maneira muito semelhante, o que tem sido comparado com a teoria da seleção natural das espécies. No campo da investigação médica, o médico persa Avicena (980-1037) introduziu na obra "O Cânone da Medicina" os conceitos de ensaio clínico e farmacologia, texto que se assumiu como referência durante toda a educação médica europeia até ao século XVII. O andaluz Ibn Zuhr (1091-1161) foi um dos primeiros partidários da autópsia e dissecação experimentais, que levou a cabo para demonstrar que a sarna tinha origem num parasita, uma descoberta que viria a pôr em causa a teoria humoral. Foi também um precursor da cirurgia experimental, em que são testadas técnicas cirúrgicas em animais antes de serem aplicadas em humanos. Durante uma carestia no Egipto em 1200, Abd-aI-Latif ao observar e examinar um número elevado de esqueletos, confirmou as afirmações de Galeno quanto à formação dos ossos do maxilar e do sacro. No início do século XIII, o biólogo do al-Andalus Abu al-Abbas al-Nabati concebeu um método científico para ser aplicado em botânica, introduzindo técnicas empíricas e experimentais no exame, descrição e identificação de "materia medica", e fazendo a distinção clara entre as afirmações não comprovadas e as que têm como base exames e observações verídicas. Um dos seus alunos, Ibn al-Baitar (m. 1248), escreveu uma enciclopédia farmacêutica onde são descritas mais de 1400 plantas, alimentos e drogas, 300 das quais descobertas por si. Uma tradução em latim desta obra continuou a ser usada por biólogos e farmacêuticos europeus até ao século XIX. O médico árabe Ibn Nafis (1213-1288) foi igualmente um dos precursores da dissecação e autópsias experimentais, tendo descoberto em 1242 a circulação pulmonar e a circulação coronária, que são a base do sistema circulatório. Descreveu também o conceito de metabolismo, e desacreditou as teorias incorretas de Galeno e Avicena sobre os quatro humores. Ao longo da Alta Idade Média, alguns académicos europeus como Hildegarda de Bingen, Alberto Magno e Frederico II alargaram o cânone da história natural. A ascensão das universidades europeias, embora fundamental para o desenvolvimento da física e da filosofia, pouca influência exerceu no ensino da biologia. Do Renascimento à Idade Moderna. O Renascimento na Europa veio renovar o interesse pela fisiologia e pela história natural empírica. Em 1543, Andreas Vesalius publica o tratado "De humani corporis fabrica", fundamentado nas dissecações de corpos por si realizadas, e que inaugura a era moderna da medicina ocidental. Vesalius foi o primeiro de uma série de anatomistas que gradualmente fizeram a transição entre a escolástica e o empirismo na fisiologia e na medicina, fundamentando-se em estudos em primeira mão em vez de nas autoridades e raciocínios abstratos. A medicina, cujos tratamentos dependiam em grande parte dos fármacos obtidos pela ervanária, veio igualmente tornar urgente um renovado estudo científico das plantas. Otto Brunfels, Hieronymus Bock e Leonhart Fuchs foram autores de extensas obras de plantas selvagens e marcam o início de uma abordagem científica que se estenderia mais tarde à totalidade da flora. Os bestiários, um género literário que combina informações naturais e figurativas dos animais, tornam-se mais detalhados e precisos, sobretudo com as obras de William Turner, Pierre Belon, Guillaume Rondelet, Conrad Gessner e Ulisse Aldrovandi. Os próprios artistas, como Albrecht Dürer ou Leonardo da Vinci, trabalhando em parceria com naturalistas, mostravam igualmente interesse nos corpos humanos e animais, estudando minuciosamente a sua anatomia e contribuindo para a divulgação de modelos visuais. A prática da alquimia, sobretudo através do trabalho de Paracelso, foi também uma importante fonte de contribuições para o estudo do meio vivo através da experimentação livre de interações entre matéria orgânica e fármacos biológicos e minerais. Estes eventos fazem parte de um contexto maior, a ascensão do mecanicismo que, até ao século XVII, representou uma alteração profunda na perspetiva científica à medida que a metáfora "natureza como organismo" foi sendo substituída pela metáfora "natureza como máquina". Séculos XVII e XVIII. A classificação e nomenclatura das espécies foram dominantes na história natural ao longo de maior parte dos séculos XVII e XVIII. Carolus Linnaeus publicou em 1735 uma taxonomia elementar do mundo natural que constitui ainda hoje a base do trabalho científico nesta área e, na década de 1750, apresentou a nomenclatura binomial para todas as espécies por si estudadas. Enquanto que Linnaeus via as espécies como peças imutáveis de uma hierarquia rígida, outro notável naturalista do século XVIII, Buffon, encarou as espécies como categorias artificiais e os organismos como maleáveis, sugerindo até a possibilidade de origem comum. Embora se opusesse à evolução, Buffon é uma figura-chave na história do pensamento evolutivo, cuja obra viria a influenciar as teorias evolucionistas de Lamarck e Darwin. A descoberta, descrição e coleção de novas espécies tornou-se um passatempo entre a sociedade influente e uma lucrativa fonte de receitas para os mais aventureiros. Inúmeros naturalistas percorreram o mundo à procura de aventura e de novo conhecimento científico. Vários filósofos naturalistas, entre os quais William Harvey, prosseguiram o trabalho iniciado por Vesalius, investigando as funções do sangue, veias e artérias, recorrendo também a experiências em organismos vivos tanto animais como humanos. A sua publicação de "De motu cordis" (1628) marcou o princípio do fim da teoria de Galeno e, a par do estudo de Santorio Santorio sobre o metabolismo, foi o mais influente modelo para a abordagem quantitativa da fisiologia. Durante o início do século XVII, o mundo da biologia começa a desenvolver-se. Alguns fabricantes de lentes e filósofos naturalistas tinham já vindo a criar microscópios rudimentares desde o fim do século XVI e Robert Hooke havia publicado em 1665 a obra seminal "Micrographia", baseada em observações feitas por si com o seu próprio microscópio. Mas seria apenas com as inovações na óptica introduzidas por Anton van Leeuwenhoek na década de 1670, possibilitando uma ampliação até 200 vezes numa única lente, que os investigadores puderam descobrir a existência de espermatozoides, bactérias, infusórios e toda a diversidade inédita da vida microscópica. Investigações semelhantes levadas a cabo por Jan Swammerdam renovaram o interesse na entomologia e permitiram elaborar as técnicas básicas de coloração e dissecação microscópicas. Nesta época, é notável a descoberta de novos organismos, enviados de barco para as capitais europeias a partir de qualquer canto do mundo. Botânicos como John Ray trabalham na incorporação desta afluência de novos elementos numa taxonomia coerente. Sistematiza-se também a paleontologia: em 1669 Nicholas Steno publica um ensaio sobre como os restos mortais dos organismos podiam ser aprisionados entre camadas de sedimentos e mineralizados de forma a produzir fósseis. Embora a teoria de Steno sobre a fossilização fosse bastante conhecida e debatida entre filósofos naturalistas, a afirmação de que todos os fósseis tinham origem orgânica só seria aceite por todos os naturalistas no fim do século XVIII, muito devido ao debate filosófico e teológico motivado pelas questões da idade da Terra e da extinção. Século XIX: surgem as disciplinas biológicas. Até ao século XIX, o âmbito do que hoje entendemos como biologia dividia-se entre a medicina, que lidava com as questões da fisiologia, e a história natural, que se debruçava com a biodiversidade e interações entre as diferentes formas de vida. Por volta de 1900, estes domínios tinham já dado lugar a disciplinas científicas especializadas como a citologia, bacteriologia, morfologia, embriologia, geografia e geologia. História natural e filosofia natural. O grande número de expedições levadas a cabo por naturalistas na primeira metade do século XIX trouxe consigo novas informações sobre a diversidade e distribuição das espécies. Nesta área, destaca-se o trabalho de Alexander von Humboldt, que analisou a relação entre organismos e o seu habitat (ou seja, no domínio da história natural) recorrendo à abordagem quantitativa da filosofia natural (ou seja, física e química). A obra de Humboldt lançou as bases para o estabelecimento da biogeografia e serviu como inspiração a gerações de investigadores. Geologia e paleontologia. A emergência da geologia aproximou também a história natural e a filosofia natural. A adopção da carta estratigráfica permitiu estabelecer relações entre a distribuição espacial dos organismos com a sua distribuição cronológica, precursor fundamental dos conceitos relativos à evolução. Durante a última década do século XVIII e princípio do século XIX, investigadores como Georges Cuvier contribuíram com avanços significativos na anatomia comparada, que possibilitaram as reconstruções paleontológicas dos organismos aos quais pertenciam os fósseis até então descobertos. Por meio destas reconstruções, Cuvier convenceu a comunidade científica da ocorrência do fenômeno da extinção, durante a história da Terra, o qual era negado por naturalistas que acreditavam que os fósseis de organismos desconhecidos, seriam os restos mortais de organismos que ainda poderiam ser encontrados vivos nalguma parte da Terra. Os avanços da anatomia comparada de Georges Cuvier consequentemente possibilitaram que os organismos extintos, somente encontrados em sua forma fóssil, passassem a ser classificados taxonomicamente em conjunto com os organismos atuais, o que foi fundamental para a compreensão e a descrição da história da vida na Terra. Os fósseis descobertos e descritos por Gideon Mantell, William Buckland, Mary Anning e Richard Owen, entre outros, ajudou a determinar que teria existido uma "idade dos répteis" anterior aos próprios animais pré-históricos. Estas revelações suscitaram o interesse e a imaginação da sociedade, contribuindo imenso para a percepção pública da história da vida na Terra. A maior parte destes geólogos identificava-se com a teoria do catastrofismo, no entanto a obra seminal de Charles Lyell "Princípios da Geologia", publicada em 1830, veio popularizar o uniformitarismo de James Hutton, uma teoria que explicava o passado e presente geológicos em termos semelhantes. Evolução e biogeografia. A mais significativa teoria evolucionista anterior a Darwin foi a de Jean-Baptiste Lamarck, fundamentada na herança de caracteres adquiridos, mecanismo hereditário plenamente aceite até ao século XX, e que descrevia uma cadeia evolutiva desde os micróbios mais simples até aos humanos. O naturalista britânico Charles Darwin, tendo como base a abordagem biogeográfica de Humboldt, o uniformitarismo geológico de Lyell, os textos sobre o crescimento populacional de Thomas Malthus, e a sua própria perícia no campo da morfologia, foi o autor de uma nova teoria da evolução por meio de seleção natural, que viria a ser aceite pela maior parte dos cientistas até aos dias de hoje, e que causou um impacto profundo nas ciências naturais. As mesmas premissas levaram a que Alfred Russel Wallace chegasse à mesma conclusão. A publicação da teoria de Darwin em 1859, no livro A Origem das Espécies, é hoje vista como o acontecimento determinante na história da biologia moderna. A reputação de Darwin como naturalista, o tom moderado do texto, e sobretudo a solidez e quantidade das provas apresentadas, permitiram à obra alcançar um grande sucesso, quando comparada com teorias evolucionistas anteriores, como o anónimo "Vestiges of the Natural History of Creation". A maior parte dos cientistas estaria convicta dos princípios da evolução e da origem comum por volta do fim do século XIX. No entanto, a explicação da seleção natural como o principal mecanismo de evolução só seria plenamente aceite em meados do século XX, uma vez que a teoria de variação aleatória mostrava ser incompatível com a maior parte das teorias sobre hereditariedade da época. Wallace, retomando trabalhos anteriores de de Candolle, Humboldt e Darwin, contribuiu de forma significativa para a zoogeografia. Em função do seu interesse pela hipótese da transmutação, prestou particular atenção à distribuição geográfica de espécies próximas durante expedições à América do Sul e ao Arquipélago malaio. Durante a sua estadia nesta última região, identificou ao longo das Ilhas Molucas o que viria a ser a Linha de Wallace, e que divide a fauna do arquipélago entre a zona Asiática e a zona da Nova Guiné. A sua questão fundamental, o porquê da fauna em climas semelhantes ser tão diferente, apenas poderia ser respondida considerando a sua origem. Em 1876 escreveu "The Geographical Distribution of Animals", que seria a obra de referência na área por mais de meio século, e uma sequela em 1880 intitulada "Island Life", centrada na biogeografia das ilhas. Complementou também o sistema de seis zonas, inicialmente desenvolvido por Philip Sclater para descrever a distribuição geográfica de aves, alargando-o a todas as espécies de animais. O seu método de tabulação de dados em grupos de animais por zonas geográficas fez sobressair as várias descontinuidades e a sua percepção da evolução permitiu-lhe sugerir várias explicações racionais até então inéditas. O estudo científico da hereditariedade desenvolveu-se depois da publicação da "Origem das Espécies" e sobretudo através do trabalho de Francis Galton no campo da biometria. A origem da genética é frequentemente atribuída à obra de 1866 de Gregor Mendel, ao qual são creditadas as leis da hereditariedade. No entanto, o seu trabalho só seria reconhecido como relevante 35 anos após a sua publicação. Durante esse período, foram debatidas uma série de teorias sobre a hereditariedade baseadas na pangénese, ortogénese ou ainda em outros mecanismos. Fisiologia. Ao longo do século XIX, o âmbito da fisiologia humana foi alargado, a partir de um campo orientado fundamentalmente para a medicina, em direção a uma investigação em larga escala dos processos físicos e químicos da vida, incluindo plantas, animais e até microorganismos para além do ser humano. A metáfora "organismos como máquinas" tornou-se dominante na cultura científica. Teoria celular, embriologia, e teoria microbiana. Os progressos na microscopia exerceram também um impacto profundo no raciocínio lógico no campo da biologia. No início do século XIX, uma série de biólogos fizeram notar a importância crucial das células. Em 1838 e 1839, Schleiden e Schwann promoveram as noções da célula como a unidade básica do organismo e de que cada célula individual contém todas as características essenciais à vida, embora se tenham inicialmente oposto à ideia de que todas as células nascem a partir da divisão de outras células. Contudo, graças ao posterior trabalho de Robert Remak e Rudolf Virchow, na década de 1860, estas três premissas eram já consensuais entre a comunidade científica e estariam na origem do que viria a ser a teoria celular. A teoria celular fez com que os investigadores encarassem os organismos individuais como conjugações interdependentes de células individuais. Os cientistas que atuavam no novo campo da citologia, dotados de microscópios com um cada vez maior poder de ampliação e novos métodos de coloração, cedo concluíram que mesmo as próprias células eram muito mais complexas do que os compartimentos homogéneos e contentores de líquido descritos pelos primeiros microscopistas. Robert Brown tinha já descrito o núcleo celular em 1831 e, por volta do fim do século, os citologistas tinham já identificado vários dos componentes essenciais das células: cromossomas, centrossomas, cloroplastos e outras estruturas observadas com recurso à coloração. Entre 1874 e 1884 Walther Flemming descreveu as várias etapas da mitose, demonstrando que não se tratavam de artefactos devido à coloração, mas que ocorriam em células vivas, e demonstrando também que o número de cromossomas duplica imediatamente antes da célula se dividir e de ser produzida uma célula nova. Grande parte destas pesquisas sobre reprodução celular foram sistematizadas por August Weismann na sua teoria da hereditariedade: identificou o núcleo, sobretudo os cromossomas, como o material genético, propôs a diferenciação entre célula somática e célula germinativa, e adoptou a teoria da pangénese de Hugo de Vries. O Weismannismo foi uma corrente extremamente influente, sobretudo no novo campo da embriologia experimental. Em meados da década de 1850, a teoria miasmática tinha já sido amplamente suplantada pela teoria microbiana, levando a um acréscimo de interesse nos microorganismos e na sua interação com outras formas de vida. Durante a década de 1880, a bacteriologia tornava-se já uma disciplina coesa, sobretudo devido ao trabalho de Robert Koch, que apresentou métodos para a criação de culturas puras contendo nutrientes específicos em placas de Petri. A ideia enraizada de que os organismos vivos podiam ter facilmente origem em matéria inorgânica, ou geração espontânea, foi desmistificada numa série de experiências levadas a cabo por Louis Pasteur. Ao mesmo tempo, continuaram os debates que opunham o mecanicismo ao vitalismo, uma questão permanente desde a época de Aristóteles. A ascensão da química orgânica e da fisiologia experimental. Um dos principais problemas apresentados pela química era a difícil diferenciação entre substâncias orgânicas e inorgânicas, sobretudo no contexto de alterações orgânicas como a fermentação ou a putrefação. Desde Aristóteles que estes processos tinham sido considerados como essencialmente biológicos. No entanto, Friedrich Wöhler, Justus Liebig e outros pioneiros do campo da química orgânica, demonstraram a partir do trabalho de Lavoisier que o mundo orgânico podia em grande parte ser analisado recorrendo a métodos da química e da física. Em 1828 Wöhler demonstrou que a ureia, uma substância orgânica, podia ser obtida a partir de processos químicos que não envolviam vida, o que desafiou a teoria vigente do vitalismo. Foram também descobertos extratos celulares capazes de agir sobre alterações químicas, tal como demonstrado pela diastase em 1833. Por volta do fim do século, o conceito de enzima encontrava-se já plenamente aceite, embora as equações de cinética química só tenham sido aplicadas às reações enzimáticas no início do século seguinte. Alguns fisiologistas como Claude Bernard investigaram as funções químicas e físicas dos organismos vivos, recorrendo a métodos experimentais como a vivissecção e lançando as fundações da biomecânica e da endocrinologia, disciplina em rápida ascensão depois da descoberta da primeira hormona em 1902. As suas descobertas foram igualmente fundamentais para a investigação da nutrição e digestão. A importância e diversidade dos métodos experimentais de fisiologia, tanto na medicina como na biologia, desenvolveu-se durante a segunda metade do século XIX. O domínio e manipulação dos processos da vida tornaram-se uma preocupação fundamental e o experimentalismo foi colocado no centro da formação em biologia. A biologia no século XX. No início do século XX, a pesquisa biológica era ainda feita segundo os preceitos da história natural, que colocava a ênfase nas análises morfológicas e filogenéticas. No entanto, fisiologistas e embriologistas que se posicionavam contra o vitalismo, sobretudo na Europa, tornavam-se cada vez mais influentes. O enorme sucesso da abordagem experimentalista ao desenvolvimento, hereditariedade e metabolismo durante as décadas de 1900 e 1910 demonstrou o poder do experimentalismo na biologia. Nas décadas que se seguiram, o método experimental substituiu em definitivo a história natural como dominante na investigação. Ecologia e ciências ambientais. Durante as primeiras décadas do século, os naturalistas confrontaram-se com a necessidade de incluir na sua metodologia maior rigor e de preferencialmente recorrer ao experimentalismo, tal como havia acontecido nas novas disciplinas da biologia que cada vez mais recorriam ao trabalho de laboratório. A ecologia surgiu a partir da conjugação da biogeografia com o conceito de ciclo biogeoquímico, promovido pela comunidade de químicos. Os biólogos de campo introduziram vários métodos de análise quantitativa, como a quadrícula, adaptando também instrumentos e câmaras de laboratório às condições de exterior, afastando-se assim da concepção tradicional da história natural. Zoólogos e botânicos fizeram o que estava ao seu alcance para mitigar os efeitos da imprevisibilidade do meio vivo, recorrendo sobretudo a experiências de laboratório e estudos em ambientes naturais semi-controlados como os jardins. Novas instituições científicas de ponta, como os pioneiros Cold Spring Harbor Laboratory e Marine Biological Laboratory, vieram disponibilizar uma variedade ainda maior de ambientes controlados para o estudo de organismos ao longo de todo o seu ciclo de vida. O conceito de sucessão ecológica, promovido nas décadas de 1900 e 1910 por Henry Chandler Cowles, Eugenius Warming e Frederic Clements, desempenhou um papel importante nos primórdios da ecologia. Papel igualmente pioneiro, entre os sucessivos métodos quantitativos que dominaram as especialidades ecológicas então em desenvolvimento, tiveram as equações predador-presa de Alfred Lotka; as pesquisas sobre limnologia, ou biogeografia e estrutura biogeoquímica dos cursos de água, de G. E. Hutchinson; e as pesquisas sobre a cadeia alimentar animal de Charles Elton e Raymond Lindeman. A ecologia tornou-se uma disciplina autónoma durante as décadas de 1940 e 1950, depois de Eugene Odum ter sintetizado muitos dos conceitos relativos à ecologia do ecossistema, centrando o campo de estudo nas relações entre grupos de organismos, sobretudo as relações de ordem material e de energia. Na década de 1960, à medida que os teóricos evolucionistas anteviam a possibilidade de haver múltiplas unidades de seleção, a comunidade ecológica fomentou sobretudo abordagens evolucionistas. No campo da ecologia da população o debate esteve centrado na questão da seleção de grupo, levando a que já em 1970 a maior parte dos biólogos tivesse concordado que a seleção natural raramente era eficaz num nível superior ao do organismo individual. A evolução dos ecossistemas viria a tornar-se um dos principais e permanentes focos de investigação. A partir de finais da década de 1960, assiste-se a uma assinalável expansão da ecologia em consequência da ascensão do movimento ambientalista. O Programa Biológico Internacional procurou implementar na ecologia dos ecossistemas e do ambiente os mesmos métodos já usados em programas científicos de grande escala realizados durante o pós-guerra, em face do enorme avanço que representaram na área da física. Projetos independentes e de menor escala, como a biogeografia insular e a Hubbard Brook Experimental Forest vieram também contribuir para redefinir o âmbito de uma disciplina cada vez mais diversificada. Genética clássica, a síntese moderna e a teoria evolucionária. O ano de 1900 marcou a chamada "redescoberta de Mendel". Hugo de Vries, Carl Correns, e Erich von Tschermak-Seysenegg, ainda que autonomamente, elaboraram as leis de Mendel, que não estavam ainda explícitas na obra do próprio. Pouco tempo depois, citologistas propõem que o material hereditário está presente nos cromossomas. Thomas Hunt Morgan, com base nas anteriores hipóteses e apoiado pelos próprios resultados de ensaios laboratoriais com "Drosophila" realizados entre 1910 e 1915, viria a propor a teoria cromossomática da hereditariedade. Morgan quantificou o fenómeno das ligações genéticas e postulou que os genes residem nos cromossomas, lançando também a hipótese da existência de um cruzamento cromossómico que explicasse a ligação entre si e fazendo ainda o primeiro mapa genético da "Drosophila melanogaster", que viria a ser um dos mais recorrentes organismos-modelo. Hugo de Vries tentou estabelecer uma ligação entre a evolução e a genética, disciplina que então dava os seus primeiros passos. Fundamentando-se no seu trabalho sobre hereditariedade e hibridismo, propôs uma teoria sobre o mutacionismo, que viria a alcançar consenso entre a comunidade científica no início do século XX. O lamarquismo contava igualmente com imensos proponentes. No entanto, o darwinismo era ainda visto como incompatível com os caracteres hereditários estudados em biometria, que pareciam ser herdados apenas de forma parcial. Nas décadas de 1920 e 1930 surge a disciplina da genética populacional, fruto sobretudo do trabalho de R. A. Fisher, J. B. S. Haldane e Sewall Wright, que unificaram a noção de evolução através de seleção natural com a genética mendeliana, dando origem à síntese evolutiva moderna. A herança de caracteres adquiridos foi rejeitada, ao passo que o mutacionismo foi sendo suplantado pelas teorias genéticas. Na segunda metade do século, os conceitos de genética populacional começaram também a ser aplicados nas novas disciplinas da genética comportamental, sociobiologia e, sobretudo nos humanos, da psicologia evolucionista. Na década de 1960 W. D. Hamilton elaborou métodos similares à teoria dos jogos que pudessem explicar o altruísmo de uma perspetiva evolucionista através da seleção de parentesco. A possível origem de organismos complexos através da endossimbiose, e as diferentes abordagens à evolução molecular entre a visão da evolução centrada nos genes e a teoria naturalista da evolução, estiveram na origem de permanentes debates sobre o real papel do adaptacionismo e da eventualidade na teoria evolucionista. Na década de 1970 Stephen Jay Gould e Niles Eldredge propuseram a teoria do equilíbrio pontuado, que sustenta que a estase genética é a característica fundamental do registo fóssil, e que grande parte das alterações evolucionárias ocorre muito rapidamente em períodos de tempo relativamente curtos. Em 1980 Luis Alvarez e Walter Alvarez lançaram a hipótese que um evento de impacto teria sido o responsável pela extinção do Cretáceo-Peleogeno. Também na mesma década, a análise estatística do registo fóssil de organismos marinhos publicada por Jack Sepkoski e David M. Raup, veio proporcionar uma melhor compreensão da importância dos eventos de extinção em massa para a história da Terra. Bioquímica, microbiologia e biologia molecular. No fim do século XIX tinha já sido descoberta a maior parte dos mecanismos de metabolismo das drogas, dos contornos do metabolismo das proteínas e ácidos gordos, e sido feita a síntese da ureia. Durante as primeiras décadas do século XX começaram a ser isoladas e sintetizadas as vitaminas. Progressos nas técnicas laboratoriais, como a cromatografia e a eletroforese possibilitaram a rápidos avanços na química fisiológica que, tal como a bioquímica, começava a autonomizar-se em relação à medicina que esteve na sua génese. Durante as décadas de 1920 e 1930 um grupo de bioquímicos liderado por Hans Krebs, Carl e Gerty Cori descodificou várias das vias metabólicas do organismo: o ciclo do ácido cítrico, a glicogénese e a glicólise, bem como a síntese dos esteroides e das porfirinas. Entre as décadas de 1930 e 1950, Fritz Lipmann viria a determinar o papel do ATP como o principal portador de energia nas células, e da mitocôndria como a sua principal fonte energética. A pesquisa em bioquímica seria um dos campos mais ativos na biologia até à atualidade. A origem da biologia molecular. A evolução da genética clássica levou a que uma nova vaga de biólogos se voltasse para as questões dos genes e da sua natureza física. Durante as décadas de 1930 e 1940, a Fundação Rockefeller financiou grande parte das mais significativas descobertas na área da biologia. Warren Weaver, diretor da divisão científica da fundação, foi o promotor inúmeras bolsas de incentivo à pesquisa que aplicasse os métodos da física e da química às questões elementares da biologia, introduzindo em 1938 o termo "biologia molecular" para definir esta nova abordagem. Tal como aconteceu em bioquímica, durante o início do século XX assistiu-se a uma cada vez maior sobreposição de competências da bacteriologia e da virologia, mais tarde conjugadas na "microbiologia". O isolamento dos bacteriófagos por Félix d'Herelle durante a Primeira Guerra Mundial marcou o início de uma longa série de pesquisas sobre os vírus fagos e as bactérias por si infetadas. A criação de organismos padrão e geneticamente uniformes para que se pudesse obter resultados de laboratório em condições semelhantes foi crucial para o desenvolvimento da genética molecular. Após investigações iniciais com amostras de "Drosophila" e milho, a adopção de modelos científicos mais simples, como o bolor do pão "Neurospora crassa" tornou possível correlacionar a genética com a bioquímica, sobretudo a partir da hipótese de "um gene-uma enzima" formulada por Beadle e Tatum em 1941. A investigação genética em sistemas ainda mais simples como no vírus do mosaico do tabaco e nos bacteriófagos, aliada a inovações tecnológicas como o microscópio eletrónico e a ultracentrifugação, vieram colocar em questão o próprio conceito de "vida". A hereditariedade dos vírus e a reprodução de estruturas celulares nucleoproteicas no exterior do núcleo vieram também questionar os pressupostos da teoria Mendeliana dos cromossomas. Oswald Avery tinha já postulado em 1943 que o material genético dos cromossomas estaria contido no ADN, e não na sua proteína. A hipótese seria definitivamente confirmada em 1952 através da experiência de Hershey–Chase, uma de várias contribuições do "Phage Group", centrado na figura de Max Delbrück. Em 1953, James D. Watson e Francis Crick, com base no trabalho de Maurice Wilkins e Rosalind Franklin, sugeriram que a estrutura do ADN seria uma dupla hélice. No seu célebre artigo "Molecular Structure of Nucleic Acids", os autores fazem notar que "Não pudemos deixar de observar que o par por nós postulado sugere de forma direta a existência de um possível mecanismo de cópia do material genético". Após a confirmação da replicação semi-conservativa do ADN, demonstrada na experiência de Meselson-Stahl realizada em 1958, tornou-se claro para a maior parte dos biólogos que a sequência de ácido nucleico deveria de alguma forma determinar a sequência dos aminoácidos nas proteínas. George Gamow propôs que um código genético estático ligaria as proteínas e o ADN. Entre 1953 e 1961, embora houvesse ainda poucas sequências biológicas conhecidas, havia já uma série de sistemas de codificação propostos, situação que se tornaria ainda mais complexa à medida que se investigava o papel intermédio do ARN. Para decifrar completamente o código, foram levadas a cabo entre 1961 e 1966 uma série de experiências em bioquímica e genética bacterial, entre as quais se destacam os resultados de Nirenberg e Khorana. O desenvolvimento da biologia molecular. No fim da década de 1950, os maiores centros de investigação em biologia molecular são a Divisão de Biologia no Instituto de Tecnologia da Califórnia, o Laboratório de Biologia Molecular da Universidade de Cambridge e o Instituto Pasteur. Os investigadores em Cambridge, sob a direção de Max Perutz e John Kendrew, focam a sua atenção no campo da biologia estrutural, conjugando a cristalografia de raios X com a modelagem molecular e as novas possibilidades de cálculo com o advento da computação digital. Um grupo de bioquímicos orientado por Frederick Sanger juntar-se-ia mais tarde ao laboratório, integrando o estudo das funções e estruturas macromoleculares. No Instituto Pasteur, François Jacob e Jacques Monod publicam uma série de artigos sobre o operon lac, que estariam na origem do conceito da regulação genética e na identificação do que viria a ser designado por ARN mensageiro. Em meados da década de 1960, o modelo fundamental do metabolismo e reprodução em biologia molecular estava já definido. Para a biologia molecular, o fim da década de 1959 e o início da década de 1970 representam um período de investigação exaustiva e de acreditação institucional, numa área que apenas muito recentemente se tinha tornado numa disciplina coerente. Durante aquilo que Edward Osborne Wilson viria a chamar de "Guerra Molecular", os métodos e o número de investigadores dedicados à biologia molecular cresceram exponencialmente, chegando mesmo a dominar departamentos ou disciplinas por inteiro. A molecularização assumia um papel particularmente importante para a genética,imunologia, embriologia e neurobiologia. A noção da vida como sendo controlada por um programa genético, uma metáfora introduzida por Jacob e Monod a partir da cibernética e da ciência da computação, viria a tornar-se uma perspetiva bastante influente na biologia. A imunologia em particular viria a estreitar laços com a biologia molecular, com pontos de inovação comuns: a teoria da seleção clonal, proposta por Niels Jerne e Frank Macfarlane Burnet na década de 1950, foi fundamental na compreensão dos mecanismos gerais de síntese proteica. A crescente influência da biologia molecular foi alvo de alguma resistência, evidente sobretudo na biologia evolutiva. O sequenciação das proteínas encerrava um potencial imenso para o estudo quantitativo da evolução, através da hipótese do relógio molecular, mas a relevância da biologia molecular na resposta às grandes questões das causas evolutivas era posta em causa pelos biólogos evolutivos de topo. À medida que os biólogos organicistas afirmavam a sua independência, assiste-se à fraturação crescente entre os departamentos e disciplinas. Neste contexto que Theodosius Dobzhansky publica a sua famosa declaração de que "nada na biologia faz sentido excepto à luz da evolução" como resposta às interrogações levantadas pela biologia molecular. O assunto tornou-se ainda mais fraturante em 1968, quando a teoria neutralista da evolução de Motoo Kimura sugere que a seleção natural não seria a causa universal e única da evolução, pelo menos a nível molecular, e de que a evolução molecular poderia ser um processo completamente diferente da evolução morfológica. Biotecnologia, engenharia genética e genómica. A biotecnologia tem sido um campo importante da biologia desde o fim do século XIX. Com a industrialização da agricultura e do processo de fabrico de cerveja, os biólogos tomaram consciência do enorme potencial dos processos biológicos controlados. A fermentação, em particular, foi um dos grandes catalisadores da indústria química. Por volta do início da década de 1970, estavam já em desenvolvimento uma série de biotecnologias, desde drogas como a penicilina ou esteroides e alimentos como a "Chlorella", até uma série de culturas agrícolas híbridas que estiveram na origem da Revolução Verde. ADN Recombinante. A concepção contemporânea da engenharia genética tem início na década de 1970 com a criação de técnicas de ADN recombinante. As enzimas de restrição tinham já sido descobertas no final da década de 1960, em sequência do isolamento, duplicação e síntese dos genes virais. Uma sequência de investigações iniciada no laboratório de Paul Berg em 1972, com o apoio do laboratório de Herbert Boyer e do estudo sobre as ligases de Arthur Kornberg, culminaria na produção dos primeiros organismos transgénicos. Esta inovação seria pouco tempo depois complementada pela adição de genes de resistência antibiótica e de plasmídeos, aumentando de forma muito significativa a sua eficácia. Conscientes dos potenciais perigos inerentes, sobretudo a possível proliferação de uma bactéria portadora de um gene cancerígeno viral, tanto a comunidade científica como vastos setores da sociedade reagiram apreensivamente a estas descobertas. Vários biólogos moleculares de topo sugeriram que fosse imposta uma moratória temporária na investigação de ADN recombinante até que pudessem ser analisados todos os eventuais perigos e criadas leis que regessem a atividade. A Conferência de Asilomar, realizada em 1975, concluiu que o uso da tecnologia seria seguro, definindo também a respetiva regulação da atividade. Após a conferência, assistiu-se a um surto de novas técnicas e aplicações da engenharia genética. O trabalho pioneiro de Frederick Sanger e Walter Gilbert produziu avanços significativos nos métodos de sequenciação de ADN, a par de novas técnicas de transfecção e síntese de oligonucleotídeos. A investigação descobriu como controlar a expressão de transgenes, o que levou a uma competição acentuada, tanto no contexto académico como industrial, para a criação de organismos capazes de expressar genes humanos tendo em vista a produção de hormonas humanas. No entanto, isto revelar-se-ia mais complexo do que as previsões iniciais; o percurso de investigação entre 1977 e 1980 revelou que, devido ao fenómeno de "splicing", os organismos maiores possuíam um sistema de expressão génica muito mais complexo do que os modelos de bactéria usados nos primeiros estudos. A síntese da insulina humana, conseguida nos laboratórios da Genentech, marca simultaneamente a primeira vitória na corrida às patentes e o início do "boom" da biotecnologia, com uma intensidade e sobreposição nunca antes vistas entre biologia, indústria e legislação. Sistemática molecular e genómica. Na década de 1980, o sequenciação de proteínas tinha já levado a alterações nos métodos de classificação científica de organismos, tendo os investigadores também começado a usar sequências de ADN e ARN como caráteres. Isto levou ao alargamento da acepção de evolução molecular dentro da biologia evolucionista, já que os resultados da filogenética molecular podiam ser comparados com as árvores filogenéticas tradicionais assentes na morfologia. A própria divisão da árvore da vida foi revista, em resposta às ideias pioneiras de Lynn Margulis patentes na teoria da endossimbiose, que sustenta que partes das organelas das células eucariotas tiveram origem nos organismos procariontes através de relações de simbiose. Durante a década de 1990, os cinco domínios (Animalia, Fungi, Plantae, Protista, Monera) deram lugar a apenas três (Archaea, Bacteria e Eukarya), em função do trabalho pioneiro de Carl Woese no campo da filogenética molecular com a sequenciação do ARN ribossomal 16S. O desenvolvimento e popularização da reação em cadeia da polimerase (PCR) em meados da década de 1980, liderada por Kary Mullis, marcou outro momento de charneira na história contemporânea da biotecnologia, aumentando de forma exponencial a facilidade e rapidez da análise genética. A par do uso de marcadores de sequência expressa, a PCR possibilitou a descoberta de um número imenso de genes do que aqueles que podiam ser encontrados através dos métodos genéticos tradicionais, abrindo o caminho para a sequenciação de genomas completos. A aparente unidade na morfogénese dos organismos desde o óvulo fertilizado até à fase adulta começou a ser posta em causa depois da descoberta dos genes homeobox, primeiro em moscas da fruta, depois noutros insetos e animais, incluindo os humanos. Estes dados possibilitaram avanços no campo da biologia evolutiva do desenvolvimento em direção à compreensão de como é que os diferentes panos corporais do filo animal evoluíram e qual a relação entre si. O Projeto Genoma Humano, o maior e mais caro estudo biológico alguma vez feito, teve início em 1988 sob a orientação de James D. Watson, depois de estudos preliminares com organismos modelo geneticamente simples como a "E. coli", "S. cerevisiae" e "C. elegans". A introdução do método de "shotgun sequencing" e de vários métodos de análise promovidos sobretudo por Craig Venter, e a promessa de compensações financeiras com o registo de patentes, levaram a uma competição acérrima entre entidades públicas e privadas que culminaria com a primeira publicação da sequência do ADN humano anunciada em 2000.
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História da Química
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Hidrogénio
Hidrogénio O (pronuncia-se /idɾɔˈʒɛnju/ ou /idɾoˈʒenju/ de hidro + génio/gênio, ou do fr. "hidrogène" e admitindo-se a grafia dupla pelo acordo ortográfico) é um elemento químico com número atómicoPE ou atômico PB 1, representado pelo símbolo H. Com uma massa atómica de aproximadamente 1,0 u, o hidrogénio é o elemento menos denso. Ele geralmente apresenta-se em sua forma molecular, formando o gás diatômico (H2) nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP). Este gás é inflamável, incolor, inodoro e insolúvel em água. O hidrogénio, por possuir propriedades distintas, não se enquadra claramente em nenhum grupo da tabela periódica, sendo muitas vezes colocado no grupo 1 (anteriormente chamado de 1A) por possuir apenas 1 eletrão na camada de valência (ou última camada). O hidrogénio é o mais abundante dos elementos químicos, constituindo aproximadamente 75% da massa elementar do Universo. Estrelas na sequência principal são compostas primariamente de hidrogénio em seu estado de plasma. O Hidrogénio elementar é relativamente raro na Terra, e é industrialmente produzido a partir de hidrocarbonetos presentes no gás natural, tais como metano, após o qual a maior parte do hidrogénio elementar é usada "em cativeiro" (o que significa localmente no lugar de produção). Os maiores mercados do mundo usufruem do uso do hidrogénio para o aprimoramento de combustíveis fósseis (no processo de hidrocraqueamento) e na produção de amoníaco (maior parte para o mercado de fertilizantes). O hidrogénio também pode ser obtido por meio da eletrólise da água, porém este processo é atualmente dispendioso, o que privilegia sua obtenção a partir do gás natural. O isótopo do hidrogênio que possui maior ocorrência, conhecido como prótio, é formado por um único protão, não possuindo nenhum neutrão. Em compostos iônicos pode ter uma carga positiva (se tornando um catião) ou uma carga negativa (se tornando o anião conhecido como hidreto). Também pode formar outros isótopos, como o deutério, com apenas um neutrão, e o trítio, com dois neutrões. Em 2001, foi criado em laboratório o isótopo 4H e, a partir de 2003, foram sintetizados os isótopos 5H até 7H. O elemento hidrogénio forma compostos com a maioria dos elementos, está presente na água e na maior parte dos compostos orgânicos. Possui um papel particularmente importante na química ácido-base, na qual muitas reações envolvem a troca de prótons entre moléculas solúveis. Como o único átomo neutro pelo qual a Equação de Schrödinger pode ser resolvida analiticamente, o estudo energético e de ligações do átomo hidrogênio teve um papel principal no desenvolvimento da mecânica quântica. A solubilidade e características do hidrogénio com vários metais são muito importantes na metalurgia (uma vez que muitos metais podem sofrer fragilidade em sua presença) e no desenvolvimento de maneiras seguras de estocá-lo para uso como combustível. É altamente solúvel em diversos compostos que possuem Terras-raras e metais de transição e pode ser dissolvido tanto em metais cristalinos e amorfos. A solubilidade do hidrogénio em metais é influenciada por distorções ou impurezas locais na estrutura cristalina do metal. História. Origem e evolução. Segundo a teoria Alpher-Bethe-Gamov, o hidrogénio formou-se na época da nucleossíntese primordial, quando o Universo expandiu e arrefeceu o suficiente para permitir a ligação entre eletrões e protões. O deutério formou-se por captura de neutrões. A junção de mais neutrões e subsequente decaimento formula_1 levou à formação de hélio e lítio. Uma parte de elementos mais pesados foi formada, mas a principal fonte destes elementos provém da nucleossíntese estelar. Descoberta e uso. O gás hidrogénio, H2, foi o primeiro produzido artificialmente e formalmente descrito por T. Von Hohenheim (também conhecido como Paracelso, 1493–1541) por meio da reação química entre metais e ácidos fortes. Paracelso não tinha o conhecimento de que o gás inflamável produzido por esta reação química era constituído por um novo elemento químico. Em 1671, Robert Boyle redescobriu e descreveu a reação entre limalhas de ferro e ácidos diluídos, o que resulta na produção de gás hidrogênio. Em 1766, Henry Cavendish foi o primeiro a reconhecer o gás hidrogênio como uma discreta substância, ao identificar o gás de uma reação ácido-metal como "ar inflamável" e descobrindo mais profundamente, em 1781, que o gás produz água quando queimado. A ele geralmente é dado o crédito pela sua descoberta como um elemento químico. Em 1783, Antoine Lavoisier deu ao elemento o nome de hidrogênio (do grego "υδρώ" (hydro), água e "γένος-ου" (genes), gerar) quando ele e Laplace reproduziram a descoberta de Cavendish, onde água é produzida quando hidrogênio é queimado. Lavoisier produziu hidrogénio pelas suas experiências sobre conservação de massa fazendo reagir um fluxo de vapor de metal por meio de um tubo de ferro aquecida ao fogo. A oxidação anaeróbica de ferro pelos protões da água a alta temperatura pode ser esquematicamente representada pelo conjunto das seguintes reações: Muitos metais, tais como o zircónio são submetidos a uma reacção semelhante com água o que conduz à produção de hidrogénio. A primeira célula de combustível foi desenvolvida em fins da década de 1830 por William Robert Grove. Em 1932, Francis Thomas Bacon desenvolveu com sucesso uma célula de combustível estacionária de 5 kW. No início dos anos 1990, Roger Billings desenvolveu a primeira célula de combustível a hidrogênio para automóveis. Hidrogênio foi liquefeito pela primeira vez por James Dewar em 1898 ao usar resfriamento regenerativo e sua invenção se aproxima muito daquilo que conhecemos como garrafa térmica nos dias de hoje. Ele produziu hidrogênio sólido no ano seguinte. O deutério foi descoberto em dezembro de 1931 por Harold Urey, e o trítio foi preparado em 1934 por Ernest Rutherford, Marcus Oliphant, e Paul Harteck. A água pesada, que possui deutério no lugar de hidrogênio regular na molécula de água, foi descoberta pela equipe de Urey em 1932. François Isaac de Rivaz construiu o primeiro dispositivo de combustão interna movido por uma mistura de hidrogênio e oxigênio em 1806. Edward Daniel Clarke inventou o cano de sopro de gás hidrogênio em 1819. A lâmpada de Döbereiner e a Luminária Drummond foram inventadas em 1823. O enchimento do primeiro balão com gás hidrogênio, foi documentado por Jacques Charles em 1783. O hidrogênio provia a subida para a primeira maneira confiável de viagem aérea seguindo a invenção do primeiro dirigível decolado com hidrogênio em 1852, por Henri Giffard. O conde alemão Ferdinand von Zeppelin promoveu a ideia de usar o hidrogênio em dirigíveis rígidos, que mais tarde foram chamados de Zeppelins; o primeiro dos quais teve seu voo inaugural em 1900. Voos programados regularmente começaram em 1910 e com o surgimento da Primeira Guerra Mundial em agosto de 1914, eles haviam transportado 35.000 passageiros sem qualquer incidente sério. Dirigíveis levantados por hidrogênio foram usados como plataformas de observação e bombardeadores durante a guerra. O primeiro cruzamento transatlântico sem escalas foi realizado pelo dirigível britânico "R34" em 1919. Com o lançamento do Graf Zeppelin nos anos 1920, o serviço regular de passageiros prosseguiu até meados dos anos 1930 sem nenhum acidente. Com a descoberta de reservas de um outro tipo de gás leve nos Estados Unidos, o hélio, esse projeto deveria sofrer modificações, já que o outro elemento prometia um aumento na segurança, mas o governo dos E.U.A. se recusou a vender o gás para este propósito. Sendo assim, H2 foi usado no dirigível "Hindenburg", o qual foi destruído em um incidente em pleno voo sobre Nova Jérsia no dia 6 de maio de 1937. O incidente foi transmitido ao vivo no rádio e filmado. A ignição do vazamento de hidrogênio foi atribuída como a causa do incidente, porém, investigações posteriores apontaram à ignição do revestimento de tecido aluminizado pela eletricidade estática. Papel na teoria quântica. Devido a sua estrutura atômica relativamente simples, consistindo somente de um próton e um elétron, o átomo de hidrogênio, junto com o espectro de luz produzido por ele ou absorvido por ele, foi de suma importância ao desenvolvimento da teoria da estrutura atômica. Além disso, a simplicidade correspondente da molécula de hidrogênio e o cátion correspondente H2+ permitiu um total entendimento da natureza da ligação química, que seguiu pouco depois do tratamento mecânico quântico do átomo de hidrogênio ter sido desenvolvido na metade dos anos 1920. Um dos primeiros efeitos quânticos a ser explicitamente notado (mas não entendido naquela época) foi a observação de Maxwell envolvendo hidrogênio, meio século antes da teoria da mecânica quântica completa aparecer. Maxwell observou que o calor específico de H2 inexplicavelmente se afasta daquele de um gás diatômico abaixo da temperatura ambiente e começa a parecer gradativamente com aquele de um gás monoatômico em temperaturas criogênicas. Segundo a teoria quântica, este comportamento surge do espaçamento dos níveis de energia rotativos (quantificados), os quais são particularmente bem espaçados em H2 por causa de sua reduzida massa. Estes níveis largamente espaçados inibem partições iguais da energia de calor em movimentos rotativos em hidrogênio sob baixas temperaturas. Gases diatômicos compostos de átomos mais pesados não possuem níveis tão largamente espaçados e não exibem o mesmo efeito. Ocorrência natural. Hidrogênio é o elemento mais abundante no universo, compondo 75% da matéria normal por massa e mais de 90% por número de átomos. Este elemento é encontrado em grande abundância em estrelas e planetas gigantes de gás. Nuvens moleculares de H2 são associadas a formação de estrelas. O elemento tem um papel vital em dar energia às estrelas através de cadeias próton-próton e do ciclo CNO de fusão nuclear. Pelo universo, o hidrogênio é geralmente encontrado nos estados atômico e plasma, cujas propriedades são bem diferentes das do hidrogênio molecular. Como plasma, o elétron e o próton de hidrogênio não estão ligados, resultando em uma condutividade elétrica elevada e alta emissividade (produzindo a luz do Sol). As partículas carregadas são altamente influenciadas por campos elétricos e magnéticos. Por exemplo, no vento solar elas interagem com a magnetosfera da Terra, fazendo surgir as correntes de Birkeland e a aurora. Hidrogênio é encontrado em estado atômico neutro no meio interestelar. Acredita-se que a grande quantidade de hidrogênio neutro encontrado nos sistemas úmidos Lyman-alfa domina a densidade cosmológica bariônica do Universo até o desvio para o vermelho "z"=4. Em condições normais de temperatura e pressão na Terra, o hidrogênio existe como um gás diatômico, H2 (para dados ver tabela). Entretanto, o gás de hidrogênio é muito raro na atmosfera da Terra (1 ppm volume) devido à sua pequena densidade, o que o possibilita escapar da gravidade da Terra mais facilmente que gases mais pesados. Entretanto, o hidrogênio (na forma combinada quimicamente) é o terceiro elemento mais abundante na superfície da Terra. A maior parte do hidrogênio da Terra está na forma de compostos químicos tais como hidrocarbonetos e água. O gás de hidrogênio é produzido por algumas bactérias e algas, e é um componente natural do flato. Metano é uma fonte de hidrogênio de crescente importância. Propriedades. Combustão. Gás hidrogênio (dihidrogênio) é altamente inflamável e queima em concentrações de 4% ou mais H2 no ar. A entalpia de combustão para o hidrogênio é −286 kJ/mol; ele queima de acordo com a seguinte equação balanceada. Quando misturado com oxigênio por entre uma grande variedade de proporções, o hidrogênio explode por ignição. Hidrogênio queima violentamente no ar, tendo ignição automaticamente na temperatura de 560 °C. Chamas de hidrogênio-oxigênio puros queimam no alcance de cor ultravioleta e são quase invisíveis a olho nu, como ilustrado pela faintness da chama das turbinas principais do ônibus espacial (ao contrário das chamas facilmente visíveis do foguete acelerador sólido). Então ele necessita de um detector de chama para detectar se um vazamento de hidrogênio está queimando. A explosão do dirigível "Hindenburg" foi um caso infame de combustão de hidrogênio; a causa é debatida, mas os materiais combustíveis na pele do dirigível foram responsáveis pela coloração das chamas. Outra característica dos fogos de hidrogênio é que as chamas tendem a ascender rapidamente com o gás no ar, como ilustrado pelas chamas do "Hindenburg", causando menos dano que fogos de hidrocarboneto. Dois terços dos passageiros do "Hindenburg" sobreviveram ao incêndio, e muitas das mortes que ocorreram foram da queda ou da queima do combustível diesel. H2 reage diretamente com outros elementos oxidantes. Uma reação violenta e espontânea pode ocorrer em temperatura ambiente com cloro e flúor, formando os haletos de hidrogênio correspondentes: Cloreto de hidrogênio e fluoreto de hidrogênio. Níveis de energia do elétron. O nível de energia em estado fundamental do elétron de um átomo de hidrogênio é −13,6 eV, o que é equivalente a um fóton ultravioleta de aproximadamente 92 nm. Os níveis de energia do hidrogênio podem ser calculados razoavelmente com precisão usando o modelo de Bohr para o átomo, o qual conceitualiza o elétron como "orbitando" o próton em analogia à órbita da Terra em relação ao Sol. Entretanto, a força eletromagnética atrai elétrons e prótons para cada um, enquanto planetas e objetos celestiais são atraídos uns aos outros pela gravidade. Por causa da discretização do momento angular postulado por Bohr no começo da mecânica quântica, o elétron no modelo de Bohr pode somente ocupar certas distâncias permitidas do próton, e portanto, somente certas energias permitidas. Uma descrição mais precisa do átomo de hidrogênio parte de um tratamento puramente mecânico quântico que utiliza a equação de Schrödinger ou a equivalente integração funcional de Feynman para calcular a densidade de probabilidade do elétron perto do próton. Formas moleculares elementais. Existem duas moléculas diatômicas diferentes de isômeros spin de hidrogênio que diferem pelo spin relativo de seu núcleo. Na forma de orto-hidrogênio, os spins dos dois prótons são paralelos e formam um estado triplo; na forma de para-hidrogênio, os spins são antiparalelos e formam um singular. Nas condições normais de temperatura e pressão, o gás hidrogênio contém aproximadamente 25% da forma para- e 75% da forma orto-, também conhecido como a "forma normal". A taxa de equilíbrio de orto-hidrogênio para para-hidrogênio depende da temperatura, mas já que a forma orto- é um estado excitado e possui energia mais alta que a forma para-, é instável e não pode ser purificado. Em temperaturas muito baixas, o estado de equilíbrio é composto quase exclusivamente da forma para-. As propriedades físicas do para-hidrogênio puro diferem ligeiramente daquelas da forma normal. A distinção orto-/para- também ocorre em outros grupos funcionais ou moléculas que contêm hidrogênio, como água e metileno. A interconversão não-catalisada entre para- e orto- H2 aumenta com a temperatura crescente; portanto, H2 rapidamente condensado contém grandes quantidades da forma orto- de alta energia que convertem para a forma para- muito lentamente. A taxa orto-/para- no H2 condensado é uma consideração importante na preparação e armazenagem do hidrogênio líquido: a conversão de orto- para para- é exotérmica e produz calor suficiente para evaporar o hidrogênio líquido, levando a perda do material liquefeito. Catalisadores para a interconversão orto-/para-, como o óxido férrico, carbono ativado, asbesto platinizado, raros metais alcalinos-terrosos, compostos de urânio, óxido crômico, ou compostos de níquel, são usados durante o resfriamento de hidrogênio. Uma forma molecular chamada hidrogênio protonado molecular, ou H3+, é encontrado no meio interestelar, onde ele é gerado pela ionização do hidrogênio molecular dos raios cósmicos. Também tem sido observado na atmosfera mais alta do planeta Júpiter. Esta molécula é relativamente estável no ambiente do espaço sideral devido a baixa temperatura e densidade. H3+ é um dos íons mais abundantes no Universo, e possui um papel notável na química do meio interestelar. Compostos. Compostos orgânicos e covalentes. Apesar do hidrogênio, em sua forma gasosa (H2) não reagir muito nas CNTP, em sua forma atômica ele está combinado com a maioria dos elementos da Tabela Periódica, formando compostos com diferentes propriedades químicas e físicas. Ele pode formar compostos com elementos mais eletronegativos, tais como os do grupo 17 da Tabela Periódica (halogênios: (F, Cl, Br, I); nestes compostos, o hidrogênio é marcado por atrair para si uma carga parcial positiva. Quando unido a flúor, oxigênio, ou nitrogênio, o hidrogênio pode participar na forma de forte ligação não-covalente chamada ligação de hidrogênio, que é essencial à estabilidade de muitas moléculas biológicas. Hidrogênio também forma compostos com menos elementos eletronegativos, como metais e semimetais, nos quais gera uma carga parcial negativa. Estes compostos são geralmente conhecidos como hidretos. Quando o hidrogênio se combina com o carbono, ele pode formar uma infinidade de compostos. Devido à marcante presença destes compostos nos organismos vivos, estes vieram a ser chamados de compostos orgânicos e considerados os principais elementos CHONPS (os seis elementos fundamentais para a vida na Terra); o ramo da química que estuda as propriedades destes compostos é conhecido como Química Orgânica e seu estudo no contexto de organismos vivos é conhecido como bioquímica. Por algumas definições, compostos "orgânicos" necessitam apenas da condição de conter carbono. Entretanto, a maior parte destes compostos também contém o hidrogênio e, uma vez que é a ligação carbono-hidrogênio que dá a esta classe de compostos suas características químicas particulares, isso faz com que algumas definições de "Química Orgânica" incluam a presença de ligações químicas entre carbono-hidrogênio. Na Química Inorgânica, hidretos podem também servir como ligantes de ponte, responsáveis pelo elo entre dois centros metálicos em um composto de coordenação. Esta função é particularmente comum em elementos do grupo 13, especialmente em boranos (hidretos de boro) e complexos de alumínio, assim como em carboranos agrupados. Na natureza conhece-se milhões de hidrocarbonetos mas eles não são formados pela reação direta do gás hidrogênio com o carbono (apesar da produção de gás de síntese segundo o processo de Fischer-Tropsch para criar hidrocarbonetos ter chegado próxima de ser uma exceção, uma vez que isto inicia-se com carvão e o hidrogênio elementar é gerado no local). Hidretos. Compostos de hidrogênio são frequentemente chamados de hidretos, um termo que é usado bem livremente. Para químicos, o termo "hidreto" geralmente implica que o átomo H adquiriu um caráter negativo ou aniônico, denotados H−. A existência do ânion hidreto, sugerida por Gilbert N. Lewis em 1916 para hidretos similares ao sal nos grupos I e II, foi demonstrada por Moers em 1920 com a eletrólise de hidreto de lítio (LiH) derretido, que produziu uma quantidade de hidrogênio estequiométrica no ânodo. Para outros hidretos além dos metais de grupo I e II, o termo é bem enganoso, considerando a eletronegatividade de hidrogênio baixa. Uma exceção nos hidretos do grupo II é BeH2, o qual é polimérico. No hidreto de alumínio e lítio, o ânion AlH4− carrega centros hidreticos firmemente ligados ao Al(III). Ainda que hidretos podem ser formados com quase todos os elementos do grupo principal, o número e combinação de possíveis compostos varia vastamente; por exemplo, existem mais de 100 hidretos binários de borano conhecidos, mas somente um hidreto binário de alumínio. Hidreto binário de índio ainda não foi identificado, apesar de complexos mais largos existirem. Prótons e ácidos. Oxidação de hidrogênio, a fim de remover seu elétron, formalmente gera H+, não contendo elétrons e um núcleo, que é geralmente composto de um próton. É por isso que H+ é frequentemente chamado de próton. Esta espécie é central à discussão de ácidos. Sob a teoria de Brønsted-Lowry, ácidos são doadores de prótons, enquanto bases são receptores de prótons. Um próton H+ puro não pode existir em solução devido a sua forte tendência de se ligar a átomos ou moléculas com elétrons. Entretanto, o termo 'próton' é usado livremente para se referir ao hidrogênio de carga positiva ou catiônico, denotado H+. Para evitar a ficção conveniente do "próton em solução" nu, soluções ácidas aquáticas são às vezes consideradas a conter o íon hidrônio (H3O+), que é organizado em grupos para formar H9O4+. Outros íons oxônio são encontrados quando a água está em solução com outros solventes. Ainda que exóticos na terra, um dos íons mais comuns no universo é o íon H3+, conhecido como hidrogênio protonado molecular ou cátion trihidrogênio. Isótopos. O isótopo mais comum do hidrogênio não possui nêutrons, existindo outros dois, o deutério (D) com um e o trítio (T), radioativo com dois. O deutério tem uma abundância natural compreendida entre 0,0184 e 0,0082% (IUPAC). O hidrogênio é o único elemento químico que tem nomes e símbolos químicos distintos para seus diferentes isótopos. O hidrogénio possuiu ainda outros isótopos altamente instáveis (do 4H ao 7H) e que foram sintetizados em laboratório, mas nunca observados na natureza. O hidrogénio é o único elemento que possui diferentes nomes comuns para cada um de seus isótopos (naturais). Durante o começo dos estudos sobre a radioactividade, a alguns isótopos radioactivos pesados foram-lhes atribuídos nomes, mas nenhum deles se continua a usar). Os símbolos D e T (em lugar de ²H e ³H) usam-se às vezes para referir-se ao deutério e ao trítio, mas o símbolo P corresponde ao fósforo e, portanto, não pode usar-se para representar o prótio. A IUPAC declara que ainda que o uso destes símbolos seja comum, ele não é aconselhado. Reações biológicas. H2 é um produto de alguns tipos de metabolismo anaeróbico e é produzido por vários microorganismos, geralmente via reações catalisadas por enzimas contendo ferro ou níquel chamadas hidrogenases. Essas enzimas catalisam a reação redox reversível entre H2 e seus componentes, dois prótons e dois elétrons. A criação de gás hidrogênio ocorre na transferência para reduzir equivalentes produzidos durante fermentação do piruvato à água. A separação da água, na qual a água é decomposta em seus componentes prótons, elétrons, e oxigênio, ocorre na fase clara em todos os organismos fotossintéticos. Alguns organismos — incluindo a alga "Chlamydomonas reinhardtii" e cianobactéria — evoluíram um passo adiante na fase escura na qual prótons e elétrons são reduzidos para formar gás H2 por hidrogenases especializadas no cloropultimoo. Esforços foram feitos para modificar geneticamente as hidrogenases das cianobactérias para sintetizar o gás H2 eficientemente mesmo na presença de oxigênio. Esforços também foram tomados com algas geneticamente modificadas em um biorreator ("ver: Produção biológica de hidrogénio"). Produção. O gás H2 é produzido em laboratórios de química e biologia, muitas vezes como sub-produto da desidrogenação de substratos insaturados; e na natureza como meio de expelir equivalentes redutores em reações bioquímicas. De acordo com a matéria-prima do qual é produzido, o hidrogênio é classificado por "cores": "preto", "marrom", "cinza", "azul", "roxo", "rosa", "turquesa", "amarelo", "branco", e "verde". Classifica-se como hidrogênio "verde" aquele produzido de fontes de energia sustentáveis e/ou não poluentes como: eólica, solar, biomassa (bioenergia), etc. Laboratório. No laboratório, o gás H2 é normalmente preparado pela reacção de ácidos com metais tais, como o zinco, por meio do aparelho de Kipp. Zn + 2 H+ → Zn2+ + H2 O alumínio também pode produzir H2 após tratamento com bases: 2 Al + 6 H2O + 2 OH- → 2 Al(OH)4- + 3 H2 A electrólise da água é um método simples de produzir hidrogénio. Uma corrente elétrica de baixa voltagem corre através da água, e oxigénio gasoso forma-se no ânodo enquanto que hidrogénio gasoso forma-se no cátodo. Tipicamente, o cátodo é feito de platina ou outro metal inerte (geralmente platina ou grafite) quando se produz hidrogénio para armazenamento. Se, contudo, o gás destina-se a ser queimado no local, é desejável haver oxigénio para assistir à combustão, e então ambos os eléctrodos podem ser feitos de metais inertes (eletrodos de ferro devem ser evitados, uma vez que eles consumiriam oxigênio ao sofrerem oxidação). A eficiência máxima teórica (electricidade usada "versus" valor energético de hidrogénio produzido) está entre 80 e 94%. 2H2O(aq) → 2H2(g) + O2(g) Em 2007, descobriu-se que uma liga de alumínio e gálio em forma de pastilhas adicionada a água podia ser usada para gerar hidrogénio. O processo também produz alumina, mas o gálio, que previne a formação de uma película de óxido nas pastilhas, pode ser reutilizado. Isto tem potenciais implicações importantes para a economia baseada no hidrogénio, uma vez que ele pode ser produzido no local e não precisa de ser transportado. Industrial. O hidrogénio pode ser preparado por meio de vários processos mas, economicamente, o mais importante envolve a remoção de hidrogénio de hidrocarbonetos. Hidrogénio comercial produzido em massa é normalmente produzido pela reformação catalítica de gás natural.. A altas temperaturas (700- °C), vapor de água reage com metano para produzir monóxido de carbono e H2 CH4 + H2O → CO + 3 H2 Esta reacção é favorecida a baixas pressões mas é no entanto conduzida a altas pressões (20 atm) uma vez que H2 a altas pressões é o produto melhor comercializado. A mistura produzida é conhecida como "gás de síntese" porque é muitas vezes usado directamente para a produção de metanol e compostos relacionados. Outros hidrocarbonetos além do metano podem ser usados para produzir gás de síntese com proporção de produtos variáveis. Uma das muitas complicações para esta tecnologia altamente optimizada é a formação de carbono: CH4 → C + 2 H2 Por consequência, a reformação catalítica faz-se tipicamente com excesso de H2O. Hidrogénio adicional pode ser recuperado do vapor usando monóxido de carbono através da reacção de mudança do vapor de água, especialmente com um catalisador de óxido de ferro. Esta reacção é também uma fonte industrial comum de dióxido de carbono: CO + H2O → CO2 + H2 Outros métodos importantes para a produção de H2 incluindo oxidação parcial de hidrocarbonetos: 2 CH4 + O2 → 2 CO + 4 H2 e a reacção de carvão, que pode servir como prelúdio para a "reacção de mudança" descrito acima C + H2O → CO + H2 Hidrogénio é por vezes produzido e consumido pelo mesmo processo industrial, sem ser separado. No processo de Haber para a produção de amoníaco, é gerado hidrogénio a partir de gás natural. Electrólise de salmoura para produzir cloro também produz hidrogénio como produto secundário. Termoquímicos solares. Existem mais de 200 ciclos termoquímicos que podem ser utilizados para a separação da água, cerca de uma dúzia de esses ciclos, tais como o ciclo do óxido de ferro, ciclo do óxido cério (III)-óxido cério(IV), ciclo do óxido de zinco-zinco, ciclo do enxofre-iodo, o ciclo do cobre-cloro e ciclo híbrido do enxofre estão sob investigação e em fase de testes para a produção de hidrogênio e oxigênio da água e calor sem o uso da eletricidade. Alguns laboratórios (incluindo França, Alemanha, Grécia, Japão e os EUA) estão a desenvolver métodos termoquímicos para produzir hidrogénio a partir de energia solar e água. Aplicações. Grandes quantidades de H2 são necessárias nas indústrias de petróleo e química. A maior aplicação de H2 é para o processamento ("aprimoramento") de combustíveis fósseis, e na produção de amoníaco. Os principais consumidores de H2 em uma fábrica petroquímica incluem hidrodesalquilação, hidrodessulfurização, e hidrocraqueamento. H2 também possui diversos outros usos importantes. H2 é utilizado como um agente hidrogenizante, particularmente no aumento do nível de saturação de gorduras insaturadas e óleos (encontrado em itens como margarina), e na produção de metanol. É semelhantemente a fonte de hidrogênio na manufatura de ácido clorídrico. H2 também é usado como um agente redutor de minérios metálicos. Além de seu uso como um reagente, o H2 possui amplas aplicações na física e engenharia. É utilizado como um gás de proteção nos métodos de soldagem como soldagem de hidrogênio atômico. H2 é usado como cooler de geradores em usinas, por que tem a maior conductividade térmica de qualquer gás. H2 líquido é usado em pesquisas criogênicas, incluindo estudos de supercondutividade. Uma vez que o H2 é mais leve que o ar, tendo um pouco mais do que 1/15 da densidade do ar, foi certa vez vastamente usado como um gás de levantamento em balões e dirigíveis. Em aplicações mais recentes, o hidrogênio é utilizado puro ou misturado com nitrogênio (às vezes chamado de forming gas) como um gás rastreador para detectar vazamentos. Aplicações podem ser encontradas nas indústrias automotiva, química, de geração de energia, aeroespacial, e de telecomunicações. Hidrogênio é um aditivo alimentar autorizado (E 949) que permite o teste de vazamento de embalagens, entre outras propriedades antioxidantes. Os isótopos mais raros do hidrogênio também possuem aplicações específicas para cada um. Deutério (hidrogênio-2) é usado em aplicações de fissão nuclear como um moderador para neutrons lentos, e nas reações de fusão nuclear. Compostos de deutério possuem aplicações em química e biologia nos estudos da reação dos efeitos de isótopos. Trítio (hidrogênio-3), produzido em reatores nucleares, é utilizado na produção de bombas de hidrogênio, como um selo isotópico nas ciências biológicas, e como uma fonte de radiação em pinturas luminosas. A temperatura de equilíbrio do hidrogênio em ponto triplo é um ponto fixo definido na Escala Internacional de Temperaturas de 1990 (ITS-90) a 13,8033 kelvin. É um possível combustível para uso no transporte, através de queima direta abastecendo motores de combustão interna ou, gerando energia para motores elétricos, através de células de combustível que utilizam o H2 da água. Células de combustível também podem gerar eletricidade do H2 contido no etanol (álcool combustível). Portador de energia. Hidrogênio não é um recurso de energia, exceto no contexto hipotético das usinas comerciais de fusão nuclear usando deutério ou trítio, uma tecnologia atualmente longe de desenvolvimento. A energia do Sol origina-se da fusão nuclear de hidrogênio, mas este processo é difícil de alcançar controlavelmente na Terra. Hidrogênio elementar de fontes solares, biológicas ou elétricas requerem mais energia para criar do que é obtida ao queimá-lo, então, nestes casos, o hidrogênio funciona como um portador de energia, como uma bateria. Ele pode ser obtido de fontes fósseis (como metano), mas estas fontes são insustentáveis. A densidade de energia por unidade "volume" de ambos hidrogênio líquido e gás de hidrogênio comprimido em qualquer pressão praticável é significantemente menor do que aquela de fontes tradicionais de combustível, apesar da densidade de energia por unidade "massa" de combustível é mais alta. Todavia, o hidrogênio elementar tem sido amplamente discutido no contexto da energia, como um possível "portador" de energia futuro em uma grande escala da economia. Por exemplo, CO2 sequestramento seguido de captura e armazenamento de carbono poderia ser conduzido ao ponto da produção de H2 a partir de combustíveis fósseis. O hidrogênio usado no transporte queimaria relativamente limpo, com algumas emissões de NOx, porém sem emissões de carbono. Entretanto, os custos de infraestrutura associados com a conversão total a uma economia de hidrogênio seria substancial. Indústria de semicondutores. Hidrogênio é empregado para saturar ligações quebradas de silício amorfo e carbono amorfo que ajudam a estabilizar propriedades materiais. É também um potencial doador de elétron em vários materiais óxidos, incluindo ZnO, SnO2, CdO, MgO, ZrO2, HfO2, La2O3, Y2O3, TiO2, SrTiO3, LaAlO3, SiO2, Al2O3, ZrSiO4, HfSiO4, e SrZrO3. Segurança e precauções. O hidrogênio gera vários perigos à segurança humana, de potenciais detonações e incêndios quando misturado com o ar a ser um asfixiante em sua forma pura, livre de oxigênio. Em adição, hidrogênio líquido é um criogênico e apresenta perigos (como congelamento) associados a líquidos muito gelados. O elemento dissolve-se em alguns metais, e, além de vazar, pode ter efeitos adversos neles, como a fragilização por hidrogênio. O vazamento de gás hidrogênio no ar externo pode espontaneamente entrar em combustão. Além disso, o fogo de hidrogênio, enquanto sendo extremamente quente, é quase invisível, e portanto pode levar a queimaduras acidentais. Até mesmo interpretar os dados do hidrogênio (incluindo dados para a segurança) é confundido por diversos fenômenos. Muitas propriedades físicas e químicas do hidrogênio dependem da taxa de para-hidrogênio/orto-hidrogênio (geralmente levam-se dias ou semanas em uma dada temperatura para alcançar a taxa de equilíbrio, pelo qual os resultados usualmente aparecem. os parâmetros de detonação do hidrogênio, como a pressão e temperatura críticas de fundição, dependem muito da geometria do contentor.
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História do Brasil
História do Brasil A História do Brasil começa com a chegada dos primeiros humanos na América do Sul há pelo menos anos AP. Em fins do século XV, quando do Tratado de Tordesilhas, toda a área hoje conhecida como Brasil era habitada por tribos seminômades que subsistiam da caça, pesca, coleta e agricultura. Em 22 de abril de 1500, Pedro Álvares Cabral, capitão-mor de expedição portuguesa a caminho das Índias, chegou em Porto Seguro na Bahia, tornando a região colônia do Reino de Portugal. Na década de 1530, a Coroa Portuguesa implementou uma política de colonização para a terra recém-descoberta que se organizou por meio da distribuição de capitanias hereditárias a membros da nobreza, porém, esse sistema malogrou, uma vez que somente as capitanias de Pernambuco e São Vicente prosperaram. Em 1548, é criado o Estado do Brasil, com consequente instalação de um governo-geral e, no ano seguinte, é fundada a primeira sede colonial, Salvador. A economia da colônia, iniciada com o extrativismo do pau-brasil e as trocas entre os colonos e os índios, gradualmente passou a ser dominada pelo cultivo da cana-de-açúcar com o uso de mão de obra escrava, inicialmente indígena e, depois, africana. No fim do século XVII, foram descobertas, através das bandeiras, importantes jazidas de ouro no interior do Brasil que foram determinantes para o seu povoamento e que pontuam o início do chamado ciclo do ouro, período que marca a ascensão da Capitania de Minas Gerais, desmembrada da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, na economia colonial. Em 1763, a sede do Estado do Brasil foi transferida para o Rio de Janeiro. Em 1808, com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, fugindo da possível subjugação da França, consequência da Guerra Peninsular travada entre as tropas portuguesas e as de Napoleão Bonaparte, o Príncipe-regente Dom João de Bragança, filho da Rainha Dona Maria I, abriu os portos da então colônia, permitiu o funcionamento de fábricas e fundou o Banco do Brasil. Em 1815, o então Estado do Brasil foi elevado à condição de reino, unido aos reinos de Portugal e Algarves, com a designação oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, tendo Dona Maria I de Portugal acumulado as três coroas. Em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro de Alcântara proclamou a Independência do Brasil em relação ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e fundou o Império do Brasil, sendo coroado imperador como Dom Pedro I. Ele reinou até 1831, quando abdicou e passou a Coroa brasileira ao seu filho, Dom Pedro de Alcântara, que tinha apenas cinco anos. Aos catorze anos, em 1840, Dom Pedro de Alcântara (filho) teve sua maioridade declarada, sendo coroado imperador no ano seguinte como Dom Pedro II. Em 1888, sua filha, a Princesa Isabel, assinou o decreto que extinguiu a escravidão no Brasil, conhecido como Lei Áurea. No dia 15 de novembro de 1889 ocorreu a Proclamação da República pelo Marechal Deodoro da Fonseca, dando início à chamada República Velha, que só veio a terminar em 1930 com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. A partir daí, têm destaque na história brasileira a industrialização do país; sua participação na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Estados Unidos; a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília; e o Golpe Militar de 1964, quando o general Castelo Branco assumiu a Presidência. A ditadura militar, a pretexto de combater a subversão e a corrupção, suprimiu direitos constitucionais, perseguiu e censurou os meios de comunicação, extinguiu os partidos políticos e criou o bipartidarismo. Após o fim do regime militar, os deputados federais e senadores se reuniram no ano de 1988 em Assembleia Nacional Constituinte e promulgaram a nova Constituição, que amplia os direitos individuais. O país se redemocratiza, avança economicamente e cada vez mais se insere no cenário internacional. Periodização. A periodização tradicional divide a História do Brasil normalmente em quatro períodos gerais: Período pré-descobrimento (até 1500). Em 1500, quando o Brasil foi descoberto pelos europeus, estima-se que a costa oriental da América do Sul era habitada por cerca de dois milhões de indígenas, do norte ao sul. A população ameríndia era repartida em grandes nações indígenas compostas por vários grupos étnicos entre os quais se destacam os grandes grupos tupi-guarani, macro-jê e aruaque. Os primeiros eram subdivididos em guaranis, tupiniquins e tupinambás, entre inúmeros outros. Os tupis se espalhavam do atual Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte de hoje. Segundo Luís da Câmara Cascudo, os tupis foram "a primeira raça indígena que teve contacto com o colonizador e (…) decorrentemente a de maior presença, com influência no mameluco, no mestiço, no luso-brasileiro que nascia e no europeu que se fixava". A influência tupi se deu na alimentação, no idioma, nos processos agrícolas, de caça e pesca, nas superstições, costumes, folclore, como explica Câmara Cascudo: Do lado europeu, a descoberta do Brasil foi precedida por vários tratados entre Portugal e Espanha, estabelecendo limites e dividindo o mundo já descoberto do mundo ainda por descobrir. Destes acordos assinados à distância da terra atribuída, o Tratado de Tordesilhas (1494) é o mais importante, por definir as porções do globo que caberiam a Portugal no período em que o Brasil foi colônia portuguesa. Estabeleciam suas cláusulas que as terras a leste de um meridiano imaginário que passaria a 370 léguas marítimas a oeste das ilhas de Cabo Verde pertenceriam ao rei de Portugal, enquanto as terras a oeste seriam posse dos reis de Castela (atualmente Espanha). No atual território do Brasil, a linha atravessava de norte a sul, da atual cidade de Belém do Pará à atual Laguna, em Santa Catarina. Quando soube do tratado, o rei de França Francisco I teria indagado qual era "a cláusula do testamento de Adão" que dividia o planeta entre os reis de Portugal e Espanha e o excluía da partilha. Período Colonial (1500–1815). A chegada dos europeus. O período compreendido entre o Descobrimento do Brasil em 1500, (chamado pelos portugueses de "Achamento do Brasil"), até a Independência do Brasil, é chamado, no Brasil, de "Período Colonial". Os portugueses, porém, chamam este período de "A Construção do Brasil", e o estendem até 1825 quando Portugal reconheceu a independência do Brasil. O Brasil foi descoberto em 22 de abril de 1500 pelo capitão-mor duma expedição portuguesa em busca das Índias, Pedro Álvares Cabral, que chegou ao litoral sul da Bahia, na região da atual cidade de Porto Seguro, mais precisamente no distrito de Coroa Vermelha. Na verdade, quem chegou ao Brasil primeiro foi o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón, que no dia 26 de janeiro de 1500 desembarcou no cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco. Entretanto, a navegação de navios castelhanos ao longo da costa americana não produziu consequências. A chegada de Pinzón pode ser vista como um simples incidente da expansão marítima espanhola. No dia 9 de março de 1500, o português Pedro Álvares Cabral, saindo de Lisboa, iniciou viagem para oficialmente descobrir e tomar posse das novas terras para a Coroa, e depois seguir viagem para a Índia, contornando a África para chegar a Calecute. Levava duas caravelas e 13 naus, e por volta de 1 500 homens — entre os mais experientes Nicolau Coelho, que acabava de regressar da Índia; Bartolomeu Dias, que descobrira o cabo da Boa Esperança, e seu irmão Diogo Dias, que mais tarde Pero Vaz de Caminha descreveria dançando na praia em Porto Seguro com os índios, "ao jeito deles e ao som de uma gaita". As principais naus se chamavam "Anunciada", "São Pedro", "Espírito Santo", "El-Rei", "Santa Cruz", "Fror de la Mar", "Victoria" e "Trindade". O vice-comandante da frota era Sancho de Tovar e outros capitães eram Simão de Miranda, Aires Gomes da Silva, Nuno Leitão, Vasco de Ataíde, Pero Dias, Gaspar de Lemos, Luís Pires, Simão de Pina, Pedro de Ataíde, de alcunha "o inferno", além dos já citados Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias. Por feitor, a armada trazia Aires Correia, que havia de ficar na Índia, e por escrivães Gonçalo Gil Barbosa e Pero Vaz de Caminha. Entre os pilotos, que eram os verdadeiros navegadores, vinham Afonso Lopes e Pero Escobar. Diz a "Crônica do Sereníssimo Rei D. Manuel I": Âncoras levantadas em Lisboa, a frota passou por São Nicolau, no arquipélago de Cabo Verde, em 16 de março. Tinham-se afastado da costa africana perto das Canárias, tocados pelos ventos alísios em direção ao ocidente. Em 21 de abril, da nau capitânia avistaram-se no mar, boiando, plantas. Mais tarde surgiram pássaros marítimos, sinais de terra próxima. Ao amanhecer de 22 de abril ouviu-se um grito de "terra à vista", pois se avistou o monte que Cabral batizou de Monte Pascoal, no litoral sul da atual Bahia. Ali aportaram as naus, discutindo-se até hoje se teria sido exatamente em Porto Seguro ou em Santa Cruz Cabrália (mais precisamente no ilhéu de Coroa Vermelha, no município de Santa Cruz Cabrália), e fizeram contato com os tupiniquins, indígenas pacíficos. A terra, a que os nativos chamavam Pindorama ("terra das palmeiras"), foi a princípio chamada pelos portugueses de Ilha de Vera Cruz e nela foi erguido um padrão (marco de posse em nome da Coroa Portuguesa). Mais tarde, a terra seria rebatizada como Terra de Santa Cruz e posteriormente Brasil. Estava situada 5 000 km ao sul das terras descobertas por Cristóvão Colombo em 1492 e 1 400 quilômetros aquém da Linha de Tordesilhas. Sérgio Buarque de Holanda descreve, em "História Geral da Civilização Brasileira": No dia 26 de abril, um domingo (o de Pascoela), foi oficiada a primeira missa no solo brasileiro por frei Henrique Soares (ou frei Henrique de Coimbra), que pregou sobre o Evangelho do dia. Batizaram a terra como Ilha da Vera Cruz no dia 1 de maio e numa segunda missa Cabral tomou posse das terras em nome do rei de Portugal. No mesmo dia, os navios partiram, deixando na terra pelo menos dois degredados e dois grumetes que haviam fugido de bordo. Cabral partiu para a Índia pela via certa que sabia existir a partir da costa brasileira, isto é, cruzou outra vez o Oceano Atlântico e costeou a África. O rei D. Manuel I recebeu a notícia do descobrimento por cartas escritas por Mestre João, físico e cirurgião de D. Manuel e Pero Vaz de Caminha, semanas depois. Transportadas na nau de Gaspar de Lemos, as cartas descreviam de forma pormenorizada as condições geográficas e seus habitantes, desde então chamados de índios. Atento aos objetivos da Coroa na expansão marítima, Caminha informava ao rei: Damião de Góis narra o descobrimento em sua língua renascentista: Além das cartas acima mencionadas, outro importante documento sobre o descobrimento do Brasil é o Relato do Piloto Anônimo. Expedições exploratórias. Em 1501, uma grande expedição exploratória, a primeira frota de reconhecimento, com três naus, encontrou como recurso explorável apenas o pau-brasil, de madeira avermelhada e valiosa usada na tinturaria europeia, mas fez um levantamento da costa. Comandada por Gaspar de Lemos, a viagem teve início em 10 de maio de 1501 e findaria com o retorno a Lisboa em 7 de setembro de 1502, depois de percorrer a costa e dar nome aos principais acidentes geográficos. Sobre o comandante, podem ter sido D. Nuno Manuel, André Gonçalves, Fernão de Noronha, Gonçalo Coelho ou Gaspar de Lemos, sendo este último o nome mais aceito. Alguns historiadores negam a hipótese de Gonçalo Coelho, que só teria partido de Lisboa em 1502. O Barão do Rio Branco, em suas "Efemérides", fixa-se em André Gonçalves, que é a versão mais comumente aceita. Mas André Gonçalves fazia parte da armada de Cabral, que retornou a Lisboa quando a expedição de 1501 já partira para o Brasil e com ela cruzou na altura do arquipélago de Cabo Verde. Assim, diversos historiadores optam por Gaspar de Lemos, que entre junho e julho de 1500 havia chegado a Portugal com a notícia do descobrimento. O florentino Américo Vespúcio vinha como piloto na frota (e por seu nome seria batizado todo o continente, mais tarde). Depois de 67 dias de viagem, em 16 de agosto, a frota alcançou o que hoje é o cabo de São Roque (Rio Grande do Norte) e, segundo Câmara Cascudo, ali plantou o marco de posse mais antigo do Brasil. Houve, na ocasião, contatos entre portugueses e os índios potiguaras. Ao longo das expedições, os portugueses costumavam batizar os acidentes geográficos segundo o calendário com os nomes dos santos dos dias, ignorando os nomes locais dados pelos nativos. Em 1 de novembro (Dia de Todos os Santos), chegaram à baía de Todos-os-Santos, em 21 de dezembro (dia de São Tomé) ao cabo de São Tomé, em 1 de janeiro de 1502 à baía de Guanabara (por isso batizada de "Rio de Janeiro") e no dia 6 de janeiro (Dia de Reis) à angra (baía) batizada como Angra dos Reis. Outros lugares descobertos foram a foz do rio São Francisco e o cabo Frio, entre vários. As três naus que chegaram à Guanabara eram comandadas por Gonçalo Coelho, e nela vinha Vespúcio. Tomando a estreita entrada da barra pela foz de um rio, chamaram-na Rio de Janeiro, nome que se estendeu à cidade de São Sebastião que ali se ergueria mais tarde. Em 1503 houve nova expedição, desta vez comandada (sem controvérsias) por Gonçalo Coelho, sem ser estabelecido qualquer assentamento ou feitoria. Foi organizada em função um contrato do rei com um grupo de comerciantes de Lisboa para extrair o pau-brasil. Trazia novamente Vespúcio e seis navios. Partiu em maio de Lisboa, esteve em agosto na ilha de Fernando de Noronha e ali afundou a nau capitânia, dispersando-se a armada. Vespúcio pode ter ido para a Bahia, passado seis meses em Cabo Frio, onde fez entrada de 40 léguas terra adentro. Ali teria deixado 24 homens com mantimentos para seis meses. Coelho, ao que parece, esteve recolhido na região onde se fundaria depois a cidade do Rio de Janeiro, possivelmente durante dois ou três anos. Nessa ocasião, Vespúcio, a serviço de Portugal, retornou ao maior porto natural da costa brasileira, a baía de Todos-os-Santos. Durante as três primeiras décadas, o litoral baiano, com suas inúmeras enseadas, serviu fundamentalmente como apoio à rota da Índia, cujo comércio de produtos de luxo — seda, tapetes, porcelana e especiarias — era mais vantajoso que os produtos oferecidos pela nova colônia. Nos pequenos e grandes portos naturais baianos, em especial no de Todos-os-Santos, as frotas se abasteciam de água e de lenha e aproveitavam para fazer pequenos reparos. No Rio de Janeiro, alguns navios aportaram no local que os índios chamavam de "Uruçu-Mirim", a atual praia do Flamengo. Junto à foz do rio Carioca (outrora abundante fonte de água doce) foram erguidas uma casa de pedra e um arraial, deixando-se no local degredados e galinhas. A construção inspirou o nome que os índios deram ao local ("cari-oca", "casa dos brancos"), que passaria a ser o gentílico da cidade do Rio. O arraial, no entanto, foi logo destruído. Outras esquadras passariam pela Guanabara: a de Cristóvão Jacques, em 1516; a de Fernão de Magalhães (que chamou o local de "baía de Santa Luzia"), em 1519, na primeira circum-navegação do mundo; outra vez a de Jacques, em 1526, e a de Martim Afonso de Sousa, em 1531. Outras expedições ao litoral brasileiro podem ter ocorrido, já que desde 1504 são assinaladas atividades de corsários. Holanda, em "Raízes do Brasil", cita o capitão francês Paulmier de Gonneville, de Honfleur, que permaneceu seis meses no litoral de Santa Catarina. A atividade de navegadores não portugueses se inspirava doutrina da liberdade dos mares, expressada por Hugo Grotius em "Mare liberum", base da reação europeia contra Espanha e Portugal, gerando pirataria alargada pelos mares do planeta. Extração de pau-brasil. O pau-brasil era a principal riqueza de crescente demanda na Europa. Estima-se que havia, na época do descobrimento, mais de 70 milhões de árvores do tipo, abundando numa faixa de 18 km do litoral do Rio Grande do Norte até a Guanabara. Quase todas foram derrubadas e levadas para aquele continente. A extração foi tanta que atualmente a espécie é protegida para não sofrer extinção. Para explorar a madeira, a Coroa adotou a política de oferecer a particulares, em geral cristãos-novos, concessões de exploração do pau-brasil mediante certas condições: os concessionários deveriam mandar seus navios descobrirem 300 léguas de terra, instalar fortalezas nas terras que descobrissem, mantendo-as por três anos; do que levassem para o Reino, nada pagariam no primeiro ano, no segundo pagariam um sexto e no terceiro um quinto. Os navios ancoravam na costa, algumas dezenas de marinheiros desembarcavam e recrutavam índios para trabalhar no corte e carregamento das toras, em troca de pequenas mercadorias como roupas, colares e espelhos (prática chamada de "escambo"). Cada nau carregava em média cinco mil toras de 1,5 metro de comprimento e 30 quilogramas de peso. Em 1506, a terra do Brasil, arrendada pela coroa a Fernão de Noronha (ou Loronha) e outros cristãos-novos, produzia por volta de 20 mil quintais de madeira vermelha. Segundo Capistrano de Abreu, em "Capítulos da História Colonial", cada quintal era vendido em Lisboa por 21/3 ducados, mas levá-lo até lá custava apenas meio ducado. Os arrendatários pagavam 4 mil ducados à Coroa. Comerciantes de Lisboa e do Porto enviavam embarcações à costa para contrabandearem pau-brasil, aves de plumagem colorida (papagaios, araras), peles, raízes medicinais e índios para escravizar. Surgiram, assim, as primeiras feitorias. Além dos portugueses, seus rivais europeus, principalmente franceses, passaram a frequentar a costa brasileira para contrabandear a madeira e capturar índios. Estimulados por seu rei, corsários passam a frequentar a Guanabara à procura de pau-brasil e outros produtos. Ganharam a simpatia dos índios tamoios, que a eles se aliaram durante décadas contra os portugueses. Portugal, verificando que o litoral era visitado por corsários e aventureiros estrangeiros, resolveu enviar expedições militares para defender a terra. Foram denominadas expedições guarda-costas, sendo mais marcantes as duas comandadas por Cristóvão Jacques, de 1516–1519 e 1526–1528. Suas expedições tinham caráter basicamente militar, com missão de aprisionar os navios franceses que, sem pagar tributos à coroa, retiravam grandes quantidades do pau-brasil. A iniciativa teve poucos resultados práticos, considerando a imensa extensão do litoral e, como solução, Jacques sugeriu à Coroa dar início ao povoamento. A expedição enviada em 1530 sob a chefia de Martim Afonso de Sousa tinha por objetivos explorar melhor a costa, expulsar os franceses que rondavam o sul e as cercanias do Rio de Janeiro e estabelecer núcleos de colonização ou feitorias, como a estabelecida em Cabo Frio. Em 1532, Martim Afonso fundou o núcleo de São Vicente, primeira vila do Brasil. Administração colonial. Capitanias do Mar (1516–1532). A administração das terras ultramarinas, que a princípio foi arrendada a Fernão de Noronha, agente da Casa Fugger (1503–1511), ficou a cargo direto da Coroa, que não conseguia conter as frequentes incursões de franceses na nova terra. Por isso, em 1516, D. Manuel I e seu Conselho criam nos Açores e na Madeira as chamadas "capitanias do mar", por analogia com as estabelecidas no Oceano Índico. O objetivo fundamental era garantir o monopólio da navegação e a política do "mare clausum" (mar fechado). De dois em dois anos, o capitão do mar partia com navios para realizar um cruzeiro de inspeção no litoral, defendendo-o das incursões francesas ou castelhanas. No Brasil, teriam visitado quatro armadas. As armadas de Jacques assinaram-se com insistência no rio da Prata. Também em 1516 ocorre a primeira tentativa de colonização metódica e aproveitamento da terra com base na plantação da cana (levada de Cabo Verde) e na fabricação do açúcar. Já devia ter havido algumas tentativas de capitanias e estabelecimentos em terra, pois em 15 de julho de 1526 o rei D. Manuel I autorizou Pero Capico, "capitão de uma capitania do Brasil", a regressar a Portugal porque "lhe era acabado o tempo de sua capitania". A Capico, que era técnico de administração colonial, tinha sido confiada a Feitoria de Itamaracá, no atual estado de Pernambuco. Roberto Simonsen comenta: João Ribeiro, diz que: Capitanias hereditárias (1532–1549). A apatia só iria cessar quando D. João III ascendeu ao trono. Na década de 1530, Portugal começava a perder a hegemonia do comércio na África Ocidental e no Índico. Circulavam insistentes notícias da descoberta de ouro e de prata na América Espanhola. Então, em 1532, o rei decidiu ocupar as terras pelo regime de capitanias, mas num sistema hereditário, pelo qual a exploração passaria a ser direito de família. O capitão e governador, títulos concedidos ao donatário, teria amplos poderes, dentre os quais o de fundar povoamentos (vilas e cidades), conceder sesmarias e administrar a justiça. O sistema de capitanias hereditárias implicava na divisão de terras vastíssimas, doadas a capitães-donatários que seriam responsáveis por seu controle e desenvolvimento, e por arcar com as despesas de colonização. Foram doadas aos que possuíssem condições financeiras para custear a empresa da colonização, e estes eram principalmente "membros da burocracia estatal" e "militares e navegadores ligados à conquista da Índia" (segundo Eduardo Bueno em "História de Brasil"). De acordo com o mesmo autor, a sugestão teria sido dada ao rei por Diogo de Gouveia, ilustre humanista português, e respondia a uma "absoluta falta de interesse da alta nobreza lusitana" nas terras americanas. Foram criadas, nesta divisão, quinze faixas longitudinais de diferentes larguras que iam de acidentes geográficos no litoral até o Meridiano das Tordesilhas, e foram oferecidas a doze donatários. Destes, quatro nunca foram ao Brasil; três faleceram pouco depois; três retornaram a Portugal; um foi preso por heresia (Tourinho) e apenas dois se dedicam à colonização (Duarte Coelho na Capitania de Pernambuco e Martim Afonso de Sousa na Capitania de São Vicente). Das quinze capitanias originais, apenas as capitanias de Pernambuco e de São Vicente prosperaram. As terras brasileiras ficavam a dois meses de viagem de Portugal. Além disso, as notícias das novas terras não eram muito animadoras: na viagem, além do medo de "monstros" que habitariam o oceano (na superstição europeia), tempestades eram frequentes; nas novas terras, florestas gigantescas e impenetráveis, povos antropófagos e não havia nenhuma riqueza mineral ainda descoberta. Em 1536, chegou o donatário da capitania da Baía de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, que fundou o Arraial do Pereira, na futura cidade do Salvador, mas se revelou mau administrador e foi morto pelos tupinambás. Tampouco tiveram maior sucesso as capitanias dos Ilhéus e do Espírito Santo, devastadas por aimorés e tupiniquins. Governo-Geral (1549–1580). Tomé de Sousa (1549–1553). Após o fracasso do projeto de capitanias, o rei João III unificou as capitanias sob um Governo-Geral do Brasil e em 7 de janeiro de 1549 nomeou Tomé de Sousa para assumir o cargo de governador-geral. A expedição do primeiro governador chegou ao Brasil em 29 de março do mesmo ano, com ordens para fundar uma cidade para abrigar a sede da administração colonial. O local escolhido foi a baía de Todos-os-Santos e a cidade foi chamada de São Salvador da Baía de Todos os Santos. A excelente posição geográfica entre as capitanias de Pernambuco e São Vicente e num ponto mais ou menos equidistante das extremidades do território, as favoráveis condições de assentamento e defesa, o clima quente e o solo fértil fizeram com que o rei decidisse reverter a capitania para a Coroa (expropriando-a do donatário Pereira Coutinho). As tarefas de Tomé de Sousa eram tornar efetiva a guarda da costa, auxiliar os donatários, organizar a ordem política e jurídica na colônia. O governador organizou a vida municipal, e sobretudo a produção açucareira: distribuiu terras e mandou abrir estradas, além de fazer construir um estaleiro. Desse modo, o Governo-Geral centralizou a administração colonial, subordinando as capitanias a um só governador-geral que tornasse mais rápido o processo de colonização. Em 1548, elaborou-se o Regimento do Governador-Geral, que regulamentava o trabalho do governador e de seus principais auxiliares — o ouvidor-mor (Justiça), o provedor-mor (Fazenda) e o capitão-mor (Defesa). O governador também levou ao Brasil os primeiros missionários católicos, da ordem dos jesuítas, como o padre Manuel da Nóbrega. Por ordens suas, ainda, foram introduzidas na colônia as primeiras cabeças de gado, de novilhos levados de Cabo Verde. Ao chegar à Bahia, Tomé de Sousa encontrou o velho Arraial do Pereira com seus moradores, e mudaram o nome do local para Vila Velha. Também moravam nos arredores o náufrago Diogo Álvares "Caramuru" e sua esposa Paraguaçu (batizada como Catarina), perto da capela de Nossa Senhora das Graças (hoje o bairro da Graça, em Salvador). Consta que Tomé de Sousa teria pessoalmente ajudado a construir as casas e a carregar pedras e madeiras para construção da capela de Nossa Senhora da Conceição da Praia, uma das primeiras igrejas erguidas no Brasil. Tomé de Souza visitou as capitanias do sul do Brasil, e, em 1553, criou a Vila de Santo André da Borda do Campo, transferida em 1560 para o Pátio do Colégio dando origem à cidade de São Paulo. Duarte da Costa (1553–1558). Em 1553, a pedidos, Tomé de Sousa foi exonerado do cargo e substituído por Duarte da Costa, fidalgo e senador nas Cortes de Lisboa. Em sua expedição foram também 260 pessoas, incluindo seu filho, Álvaro da Costa, e o então noviço José de Anchieta, jesuíta basco que seria o pioneiro na catequese dos nativos americanos. A administração de Duarte foi conturbada. Já de início, a intenção de Álvaro em escravizar os indígenas, incluindo os catequizados, esbarrou na impertinência de Dom Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil. O governador interveio a favor do filho e autorizou a captura de indígenas para uso em trabalho escravo. Disposto a levar as queixas pessoalmente ao rei de Portugal, Sardinha partiu para Lisboa em 1556 mas naufragou na costa de Alagoas e acabou devorado pelos caetés antropófagos. Durante o governo de Duarte da Costa, uma expedição de protestantes franceses se instalou permanentemente na Guanabara e fundou a colônia da França Antártica. Ultrajada, a Câmara Municipal da Bahia apelou à Coroa pela substituição do governador. Em 1556, Duarte foi exonerado, voltou a Lisboa e em seu lugar foi enviado Mem de Sá, com a missão de retomar a posse portuguesa do litoral sul. Mem de Sá (1558–1572). O terceiro Governador-Geral, Mem de Sá (1558–1572), deu continuidade à política de concessão de sesmarias aos colonos e montou ele próprio um engenho, às margens do rio Sergipe, que mais tarde viria a pertencer ao conde de Linhares (Engenho de Sergipe do Conde). Para enfrentar os colonos franceses estabelecidos na França Antártica, aliados aos tamoios na baía de Guanabara, Mem de Sá aliou-se aos Temiminós do cacique Arariboia. O seu sobrinho, Estácio de Sá, comandou a retomada da região e fundou a cidade do Rio de Janeiro a 20 de Janeiro de 1565, dia de São Sebastião. União Ibérica (1580–1640). Com o desaparecimento de D. Sebastião e posteriormente a morte de D. Henrique I, Portugal ficou sob união pessoal com a Espanha, e foi governada pelos três reis Filipes (Filipe II, Filipe III e Filipe IV, dos quais se subtrai um número quando referentes a Portugal e ao Brasil). Isso virtualmente acabou com a linha divisória do meridiano das Tordesilhas e permitiu que o Brasil se expandisse para o oeste. Várias expedições exploratórias do interior (chamado de "os sertões") foram organizadas, fosse sob ordens diretas da Coroa ("entradas") ou por caçadores de escravos paulistas ("bandeiras", donde o nome "bandeirantes"). Estas expedições duravam anos e tinham o objetivo principalmente de capturar índios como escravos e encontrar pedras preciosas e metais valiosos, como ouro e prata. Foram bandeirantes famosos, entre outros, Fernão Dias Paes Leme, Bartolomeu Bueno da Silva ("Anhanguera"), Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho, Borba Gato e Antônio Azevedo. A União Ibérica também colocou o Brasil em conflito com potências europeias que eram amigas de Portugal mas inimigas da Espanha, como a Inglaterra e a Holanda. Já em 1595, durante a Guerra Anglo-Espanhola, o almirante inglês James Lancaster tomou de assalto o porto do Recife, onde permaneceu por quase um mês pilhando as riquezas transportadas do interior, no episódio conhecido como Saque do Recife, única expedição de corso da Inglaterra que teve como objetivo principal o Brasil, e que representou o mais rico butim da história da navegação de corso do período elisabetano. A Holanda, por sua vez, atacou e invadiu extensas faixas do litoral nordestino, fixando-se principalmente em Pernambuco por vinte e quatro anos. Estado do Maranhão e Estado do Brasil (1621–1755). Das mudanças administrativas durante o domínio espanhol, a mais importante sucedeu em 1621, com a divisão da colônia em duas administrações independentes: o Estado do Brasil, que abrangia de Pernambuco à atual Santa Catarina, e o Estado do Maranhão, do atual Ceará à Amazônia. A razão se baseava no destacado papel assumido pelo Maranhão como ponto de apoio e de partida para a colonização do norte e nordeste. O Maranhão tinha por capital São Luís, e o Estado do Brasil sua capital em Salvador. Nestes dois estados, os súditos eram cidadãos portugueses (chamados de "portugueses do Brasil") e sujeitos aos mesmos direitos e deveres, e as mesmas leis as quais estavam submetidos os residentes em Portugal, entre elas, as Ordenações manuelinas e as Ordenações Filipinas. Quando o rei Filipe III (IV da Espanha) separou o Brasil e o Maranhão, passaram a existir três capitanias reais: Maranhão, Ceará e Grão-Pará, e seis capitanias hereditárias. Em 1737, com sua sede transferida para Belém, o Maranhão passou a ser chamado de Grão-Pará e Maranhão. Tal instalação era efeito do isolamento do extremo norte do Estado do Brasil, pois o regime de ventos impedia durante meses as comunicações entre São Luís e a Bahia. No século XVII, o Estado do Brasil se estendia do atual Pará até o Rio Grande do Norte e deste até Santa Catarina, e no século XVIII já estariam incorporados o Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul e as regiões mineiras e parte da Amazônia. O Estado do Maranhão foi extinto na época de Marquês de Pombal. Invasão holandesa (1630–1654). A invasão holandesa no Nordeste brasileiro foi um importante capítulo da Guerra Luso-Holandesa. Em 1630, a Capitania de Pernambuco foi invadida pela Companhia das Índias Ocidentais. Por ocasião da União Ibérica (1580–1640), a Holanda, antes dominada pela Espanha tendo depois conseguido sua independência através da força, vê em Pernambuco a oportunidade para impor um duro golpe no reino de Filipe IV, ao mesmo tempo em que tiraria o prejuízo do fracasso na Bahia, uma vez que Pernambuco era o maior produtor de açúcar do Brasil Colônia. Em 26 de dezembro de 1629 partia de Cabo Verde em direção a Pernambuco uma poderosa esquadra com 67 navios e cerca de 7 mil homens, a maior já vista na colônia, sob o comando do almirante Hendrick Lonck. Os holandeses, desembarcando na praia de Pau Amarelo, conquistaram a capitania em fevereiro de 1630 e estabeleceram a colônia Nova Holanda. A frágil resistência portuguesa na passagem do Rio Doce foi derrotada, e os holandeses invadiram sem grandes contratempos Olinda. Os moradores, em pânico, fugiram levando o que puderam. Alguns bolsões de contenção foram eliminados, destacando-se a brava luta do capitão André Temudo em defesa da Igreja da Misericórdia. Em poucos dias, Olinda e o seu porto, Recife, foram tomados. Em 17 de outubro de 1641, já depois da Restauração da Independência Portuguesa uma frota holandesa tenta desembarcar no que é hoje Pernambuco. Esta esquadra constituída por 83 navios e cerca de 9 mil homens teria como missão invadir partes do norte do que é hoje o Brasil e continuar jornada sendo o objetivo final a importante cidade de Macau, na altura rica colónia de Portugal e muito cobiçado pelos holandeses. Esta frota acabou por ser intersetada por Alfredo Chícharo o almirante da frota Portuguesa estacionada em Pernambuco que contava apenas com 1300 homens originários dos Algarves (atual região da republica Portuguesa). As embarcações Portuguesas ao ouvir do aproximar da marinha Holandesa partiram ao seu encontro visto que o forte de Pernambuco estava a ser na altura reconstruído para melhor defender a costa brasileira contra corsários holandeses e ingleses e, por isso, bastante ineficaz. Contra o espanto de todos a frota Portuguesa conseguiu afugentar os holandeses em grande vantagem numérica. Assegurando assim o domínio Português no sul de Pernambuco e a continuação de Macau no império português. O conde Maurício de Nassau desembarcou na "Nieuw Holland", a Nova Holanda, em 1637, acompanhado por uma equipe de arquitetos e engenheiros. Nesse ponto começa a construção de Mauritsstad (atual Recife), que foi dotada de pontes, diques e canais para vencer as condições geográficas locais. O arquiteto Pieter Post foi o responsável pelo traçado da nova cidade e de edifícios como o Palácio de Friburgo, sede do poder de Nassau na Nova Holanda, que tinha um observatório astronômico — o primeiro do Hemisfério Sul —, e abrigou o primeiro farol e o primeiro jardim zoobotânico do continente americano. Em 28 de fevereiro de 1643 o Recife (atualmente o bairro do Recife) foi ligado à Cidade Maurícia com a construção da primeira ponte de grande porte da América Latina. Durante o governo de Nassau, Recife foi considerada a mais cosmopolita cidade da América, e tinha a maior comunidade judaica de todo o continente, que construiu, à época, a primeira sinagoga do Novo Mundo, a Kahal Zur Israel, bem como a segunda, a Maguen Abraham. Na Nova Holanda foram cunhadas as primeiras moedas em solo brasileiro: os florins (ouro) e os soldos (prata), que continham a palavra Brasil. Por diversos motivos, sendo um dos mais importantes a exoneração de Maurício de Nassau do governo da capitania pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, o povo de Pernambuco se rebelou contra o governo, juntando-se à fraca resistência ainda existente, num movimento denominado Insurreição Pernambucana. Insurreição Pernambucana (1645–1654). Em 15 de maio de 1645, reunidos no Engenho de São João, 18 líderes insurretos pernambucanos assinaram compromisso para lutar contra o domínio holandês na capitania. Com o acordo assinado, começa o contra-ataque à invasão holandesa. A primeira vitória importante dos insurretos se deu no Monte das Tabocas (hoje localizado no município de Vitória de Santo Antão), onde 1 200 insurretos mazombos armados de armas de fogo, foices, paus e flechas derrotaram numa emboscada 1 900 holandeses bem armados e bem treinados. O sucesso deu ao líder Antônio Dias Cardoso o apelido de "Mestre das Emboscadas". Os holandeses que sobreviveram seguiram para Casa Forte, sendo novamente derrotados pela aliança dos mazombos, índios nativos e escravos negros. Recuaram novamente para as fortificações em Cabo de Santo Agostinho, Pontal de Nazaré, Sirinhaém, Rio Formoso, Porto Calvo e Forte Maurício, sendo sucessivamente derrotados pelos insurretos. Cercados e isolados pelos rebeldes numa faixa que ficou conhecida como Nova Holanda, indo do Recife a Itamaracá, os invasores começaram a sofrer com a falta de alimentos, o que os levou a atacar plantações de mandioca nas vilas de São Lourenço, Catuma e Tejucupapo. Em 24 de abril de 1646, ocorreu a famosa Batalha de Tejucupapo, onde mulheres camponesas armadas de utensílios agrícolas e armas leves expulsaram os invasores holandeses, humilhando-os definitivamente. Esse fato histórico consolidou-se como a primeira importante participação militar da mulher na defesa do território brasileiro. Com a chegada gradativa de reforços portugueses, os holandeses por fim foram expulsos em 1654, na segunda Batalha dos Guararapes. A data da primeira das Batalhas dos Guararapes é considerada a origem do Exército Brasileiro. Tomada a colônia holandesa, os judeus receberam um prazo de três meses para partir ou se converter ao catolicismo. Com medo da fogueira da Inquisição, quase todos venderam o que tinham e deixaram o Recife em 16 navios. Parte da comunidade judaica expulsa de Pernambuco fugiu para Amsterdã, e outra parte se estabeleceu em Nova Iorque. Através deste último grupo a Ilha de Manhattan, atual centro financeiro dos Estados Unidos, conheceu grande desenvolvimento econômico; e descendentes de judeus egressos do Recife tiveram participação ativa na história estadunidense: Gershom Mendes Seixas, aliado de George Washington na Guerra de Independência dos Estados Unidos; seu filho Benjamin Mendes Seixas, fundador da Bolsa de Valores de Nova Iorque; Benjamin Cardozo, juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos ligado a Franklin Roosevelt; entre outros. Devido à Primeira Guerra Anglo-Neerlandesa, a República Holandesa não pôde auxiliar os holandeses no Brasil. Com o fim da guerra contra os ingleses, a Holanda exige a devolução da colônia em maio de 1654. Sob ameaça de uma nova invasão do Nordeste brasileiro, Portugal firma acordo com os holandeses e os indeniza com quatro milhões de cruzados e duas colônias: o Ceilão (atual Sri Lanka) e as ilhas Molucas (parte da atual Indonésia). Em 6 de agosto de 1661, a Holanda cede formalmente a região ao Império Português através da Paz de Haia. Economia colonial. O Ciclo do açúcar. A economia da colônia, iniciada com o puro extrativismo de pau-brasil e o escambo entre os colonos e os índios, gradualmente passou à produção local, com o cultivo da cana-de-açúcar. Pernambuco foi o primeiro núcleo econômico do Brasil Colonial, uma vez que se destacou na extração do pau-brasil (a madeira pernambucana regulava o preço no comércio europeu) e foi a primeira capitania onde a cultura da cana-de-açúcar desenvolveu-se efetivamente. O engenho de açúcar constituiu a peça principal do mercantilismo português, organizado em grandes propriedades. Estas, como se chamou mais tarde, eram latifúndios, caracterizados por terras extensas, abundante mão de obra escrava, técnicas complexas e baixa produtividade. Para sustentar a produção de cana-de-açúcar, os portugueses começaram, a partir de meados do século XVI, a importar africanos como escravos. Eles eram pessoas capturadas entre tribos das feitorias europeias na África (às vezes com a conivência de chefes locais de tribos rivais) e atravessados no Atlântico nos navios negreiros, em péssimas condições de asseio e saúde. Ao chegarem à América, essas pessoas eram comercializadas como mercadoria e obrigadas a trabalhar nas plantações e casas dos colonizadores. Dentro das fazendas, viviam aprisionados em galpões rústicos chamados de senzalas, e seus filhos também eram escravizados, perpetuando a situação pelas gerações seguintes. Nas feitorias, os mercadores portugueses vendiam principalmente armas de fogo, tecidos, utensílios de ferro, aguardente e tabaco, adquirindo escravos, pimenta, marfim e outros produtos. Até meados do século XVI, os portugueses possuíam o monopólio do tráfico de escravos. Depois disso, mercadores franceses, holandeses e ingleses também entraram no negócio, enfraquecendo a participação portuguesa. Em 1549, Pernambuco já possuía trinta engenhos-banguê, a Bahia, dezoito, e São Vicente, dois. A lavoura da cana-de-açúcar era próspera e, meio século depois, a distribuição dos engenhos de açúcar perfazia um total de 256. Houve ainda engenhos na capitania do Rio de Janeiro que cobriam cem léguas e, assim como na capitania de São Vicente, couberam a Martim Afonso de Sousa. Este receberia o apoio de João Ramalho e de seu sogro Tibiriçá. Em São Sebastião do Rio de Janeiro funcionava o engenho de Rodrigo de Freitas, nas margens da lagoa que hoje leva seu nome. Ao entrar o século XVII, o açúcar brasileiro era produto de importação nos portos de Lisboa, Antuérpia, Amsterdã, Roterdã, Hamburgo. Sua produção, muito superior à das ilhas portuguesas no Atlântico, supria quase toda a Europa. Discorrendo sobre o centro da economia colonial, o padre Fernão Cardim disse que em "Pernambuco se acha mais vaidade que em Lisboa", opulência que parecia decorrer, como sugere Gabriel Soares de Sousa em 1587, do fato de, então, ser a capitania "tão poderosa (...) que há nela mais de cem homens que têm de mil até cinco mil cruzados de renda, e alguns de oito, dez mil cruzados. Desta terra saíram muitos homens ricos para estes reinos que foram a ela muito pobres". Soares de Sousa também comentava o luxo reinante na Bahia e Cardim exaltava suas capelas magníficas, os objetos de prata, as lautas refeições em louça da Índia, que servia de lastro nos navios: "Parecem uns condes e gastam muito", reclamava o padre. Em meados do século XVII, o açúcar produzido nas Antilhas Holandesas começou a concorrer fortemente na Europa com o açúcar do Brasil. Os holandeses tinham aperfeiçoado a técnica, com a experiência adquirida no Brasil, e contavam com um desenvolvido esquema de transporte e distribuição do açúcar em toda a Europa. Portugal foi obrigado a recorrer à Inglaterra e assinar diversos tratados que afetariam a economia da colônia. Em 1642, Portugal concedeu à Inglaterra a posição de "nação mais favorecida" e os comerciantes ingleses passaram a ter maior acesso ao comércio colonial. Em 1654 Portugal aumentou os direitos ingleses, que poderiam negociar diretamente vários produtos do Brasil com Portugal e vice-versa, excetuando-se alguns produtos como bacalhau, vinho, pau-brasil. Em 1661 a Inglaterra se comprometeu a defender Portugal e suas colônias em troca de dois milhões de cruzados, obtendo ainda as possessões de Tânger e Bombaim. Em 1703 Portugal se comprometeu a admitir no reino os panos dos lanifícios ingleses, e a Inglaterra, em troca, a comprar vinhos portugueses. Data da época o famosíssimo Tratado de Methuen, do nome de seu negociador inglês, ou tratado dos Panos e Vinhos. Na época, satisfazia os interesses dos grupos dominantes mas teria como consequência a paralisação da industrialização em Portugal, canalizando para a Inglaterra o ouro que acabava de ser descoberto no Brasil. No nordeste brasileiro se encontrava a pecuária, tão importante para o domínio do interior, já que eram proibidos rebanhos de gado nas fazendas litorâneas, cuja terra de "massapê" era ideal para o açúcar. A conquista do sertão, povoado por diversos grupos indígenas foi lenta e se deveu muito à pecuária (o gado avançou ao longo dos vales dos rios) e, muito mais tarde, às expedições dos Bandeirantes que vinham prear índios para levar para São Paulo. O Ciclo do ouro. No final do século XVII foi descoberto, pelos bandeirantes paulistas, ouro nos ribeiros das terras que pertenciam à capitania de São Paulo e mais tarde ficaram conhecidas como Minas Gerais. Descobriram-se depois, no final da década de 1720, diamante e outras gemas preciosas. Esgotou-se o ouro abundante nos ribeirões, que passou a ser mais penosamente buscado em veios dentro da terra. Apareceram metais preciosos em Goiás e no Mato Grosso, no século XVIII. A Coroa cobrava, como tributo, um quinto de todo o minério extraído, o que passou a ser conhecido como "o quinto". Os desvios e o tráfico de ouro, no entanto, eram frequentes. Para coibi-los, a Coroa instituiu toda uma burocracia e mecanismos de controle. Quando a soma de impostos pagos não atingia uma cota mínima estabelecida, os colonos deveriam entregar jóias e bens pessoais até completar o valor estipulado — episódios chamados de derramas. O período que ficou conhecido como ciclo do ouro iria permitir a criação de um mercado interno, já que havia demanda por todo tipo de produtos para o povoamento das Minas Gerais. Era preciso levar, Serra da Mantiqueira acima, escravos e ferramentas, ou, rio São Francisco abaixo, os rebanhos de gado para alimentar a verdadeira multidão que para lá acorreu. A população de Minas Gerais rapidamente se tornou a maior do Brasil, sendo a única capitania do interior do Brasil com grande população. A essa época maioria da população de Minas Gerais, aproximadamente 78%, era formada por negros e mestiços. A população branca era formada em grande parte por cristãos-novos vindos do norte de Portugal e das Ilhas dos Açores e Madeira. Os cristãos novos foram muito importantes no comércio colonial e se concentraram especialmente nos povoados em volta de Ouro Preto e Mariana. Ao contrário do que se pensava na Capitania do Ouro a riqueza não era mais bem distribuída do que em outras partes do Brasil. Hoje se sabe que foram poucos os beneficiados no solo mais rico da América no século XVIII. As condições de vida dos escravizados na região mineira eram particularmente difíceis. Eles trabalhavam o dia inteiro em pé, com as costas curvadas e com as pernas mergulhadas na água. Ou então em túneis cavados nos morros, onde era comum ocorrerem desabamentos e mortes. Os negros escravizados não realizavam apenas tarefas ligadas à mineração. Também transportavam mercadorias e pessoas, construíam estradas, casas e chafarizes, comerciavam pelas ruas e lavras. Alguns proprietários alugavam seus escravos a outras pessoas. Esses trabalhadores eram chamados de "escravos de aluguel". Outro tipo de escravo era o "escravo de ganho", por exemplo, as mulheres que vendiam doces e salgados em tabuleiros pelas ruas. Foi relativamente comum este tipo de escravo conseguir formar um pecúlio, que empregava na compra de sua liberdade, pagando ao senhor por sua alforria. A Sociedade Mineradora e as Camadas Médias. O Brasil passou por sensíveis transformações em função da mineração. Um novo polo econômico cresceu no Sudeste, relações comerciais inter-regionais se desenvolveram, criando um mercado interno e fazendo surgir uma vida social essencialmente urbana. A camada média, composta por padres, burocratas, artesãos, militares, mascates e faisqueiros, ocupou espaço na sociedade. A população mineira, salvo nos principais centros Vila Rica, Mariana, Sabará, Serro e Caeté, era essencialmente pobre. O custo de vida altíssimo e a falta de gêneros alimentícios uma constante. As minas propiciaram uma diversificação relativa dos serviços e ofícios, tais como comerciantes, artesãos, advogados, médicos, mestre-escolas entre outros. No entanto foi intensamente escravagista, desenvolvendo a sociedade urbana às custas da exploração da mão de obra escrava. A mineração também provocou o aumento do controle do comércio de escravos para evitar o esvaziamento da força de trabalho das lavouras, já que os escravos eram os únicos que trabalhavam. Os escravos mais hábeis para a mineração eram os "Minas" trazidos da Costa ocidental africana, onde eram mineradores de ouro, e saídos do porto de Elmina, em Gana, onde ficavam no Castelo de São Jorge da Mina. Foi muito comum a fuga de escravos e a formação de muitos quilombos em Minas Gerais, sendo o mais importante foi o "Quilombo do Ambrósio". Também foi responsável pela tentativa de escravização dos índios, através das bandeiras, que com intuito de abastecer a região centro-sul promoveu a interiorização do Brasil. Apesar de modificar a estrutura econômica, manteve a estrutura de trabalho vigente, beneficiando apenas os ricos e os homens livres que compunham a camada média. Outro fator negativo foi a falta de desenvolvimento de tecnologias que permitissem a exploração de minas em maior profundidade, o que estenderia o período de exploração (e consequentemente mais ouro para Portugal). Assim, o eixo econômico e político se deslocou para o centro-sul da colônia e o Rio de Janeiro tornou-se sede administrativa, além de ser o porto por onde as frotas do rei de Portugal iam recolher os impostos. A cidade foi descrita pelo padre José de Anchieta como "a rainha das províncias e o empório das riquezas do mundo", e por séculos foi a capital do Brasil. Conflitos coloniais. O início da colonização portuguesa no território brasileiro foi a primeira invasão estrangeira da história do país, então denominado pelos nativos tupis como Pindorama, que significa "Terra das Palmeiras". A resposta imediata foi de longos embates, entre eles a Guerra dos Bárbaros. Houve ainda disputas com os franceses, que tentavam se implantar na América pela pirataria e pelo comércio do Pau-Brasil, chegando a criar uma guerra luso-francesa. Tudo isso culminou com a expulsão dos franceses trazidos por Nicolas Durand de Villegagnon, que haviam construído Forte Coligny no Rio de Janeiro, estabelecendo-se em definitivo a hegemonia portuguesa. A época colonial foi marcada por vários conflitos, tanto entre portugueses e outros europeus, e europeus contra nativos, como entre os próprios colonos. O maior deles, sem dúvida, foi a Insurreição Pernambucana, que marca a expulsão dos holandeses do Nordeste do Brasil. A insatisfação com a administração colonial provocou a Revolta de Amador Bueno em São Paulo e, no Maranhão, a Revolta de Beckman. Os colonos enchiam os navios que aportavam no Brasil, esvaziando o reino, e foram apelidados "emboabas" porque andavam calçados contra a maioria da população, que andava descalça. Contra eles se levantaram os paulistas, nas refregas do início do século XVIII que ficariam conhecidas como Guerra dos Emboabas e paulistas e ensanguentaram o rio que até hoje se chama Rio das Mortes. Em Pernambuco, a disputa política e econômica entre mercadores e canavieiros, após a expulsão dos holandeses, levou à Guerra dos Mascates. Os escravos negros que fugiam das fazendas se refugiavam nas serras do interior nordestino e lá fundavam quilombos, dos quais o mais importante foi o de Palmares, liderado por Ganga Zumba e seu sobrinho Zumbi, que foi destruído durante a Guerra dos Palmares. No sul, a tentativa de escravizar indígenas levou a confrontos com os missionários jesuítas, organizados nas "reduções" (missões) de catequese com os guaranis. As Guerras Guaraníticas duraram, intermitentemente, de 1750 a 1757. Já no ciclo do ouro, a Capitania de Minas Gerais sofreu a Revolta de Filipe dos Santos e a Inconfidência Mineira, seguida pela Conjuração Baiana na Capitania da Bahia. Esses movimentos ficaram marcados por terem a intenção de proclamar a independência. Nos últimos anos do período colonial ocorre a Revolução Pernambucana, que chegou a proclamar a República de Pernambuco. O movimento foi derrotado após forte repressão organizada por D. João VI. Guerras Luso-Espanholas. O problema fundamental entre Portugal e a Espanha na América do Sul era o da delimitação das fronteiras do Tratado de Tordesilhas, que dera parte do continente sul-americano a Portugal. Não se sabia na época como determinar com rigor a longitude e por isso, nos mapas portugueses o meridiano de Tordesilhas (47°34'W) era sempre ― e erradamente ― indicado de forma a abranger o Rio da Prata, onde já no reinado de D. João III uma expedição tinha colocado padrões na margem norte do rio como demarcação. Em 1680 o governador do Rio de Janeiro, seguindo as determinações da Coroa Portuguesa fundou, na margem esquerda do rio da prata, a Colônia do Sacramento, fronteiro a Buenos Aires, na margem oposta. A fundação de Sacramento teve grande apoio dos comerciantes do Rio de Janeiro, desejosos de consolidar os seus já expressivos negócios com a América Espanhola. Os colonos espanhóis de Buenos Aires nunca viram com bons olhos a presença portuguesa naquela região e esse foi o motivo de diversos conflitos que vieram a acontecer nos anos seguintes. Em 1705 colonos portugueses e espanhóis voltam a se enfrentar no Rio da Prata devido à participação portuguesa na Guerra de Sucessão Espanhola. A Colônia do Sacramento é tomada pelos espanhóis e devolvida em 1715, em decorrência do tratado de Utrecht. Em 1723 brasileiros vindos do Rio de Janeiro, seguindo ordens do rei D. João V, fundaram o povoado de Montevidéu, que foi tomado pelos espanhóis de Buenos Aires logo no ano seguinte. Em 1736, em decorrência de uma crise diplomática entre as coroas de Espanha e Portugal, D. João V envia uma poderosa esquadra para o sul do Brasil, para garantir a segurança da colônia do Sacramento na Campanha do Rio da Prata. Visando evitar a ocupação espanhola do sul do Brasil e o consequente isolamento da Colônia do Sacramento, Portugal inicia uma colonização de povoamento nessa região e cria as capitanias de Rio Grande de São Pedro (1737) e Santa Catarina (1738). Em 1762 Portugal entra na guerra dos sete anos ao lado da Inglaterra contra a Espanha e França, em consequência disso, o governador de Buenos Aires, Pedro de Cevallos invade a Colônia do Sacramento e o Rio Grande (Guerra hispano-portuguesa de 1762–1763). Ao final dessa guerra Sacramento é devolvida aos portugueses, mas o Rio Grande permanece ocupado pelos espanhóis. Entre 1776 e 1777 ocorre mais uma guerra entre portugueses e espanhóis no sul do Brasil (Guerra hispano-portuguesa de 1776–1777). A guerra começou quando os colonos brasileiros iniciaram a retomada de Rio Grande expulsando os espanhóis. Em resposta o rei da Espanha Carlos III enviou uma expedição militar ao sul do Brasil que conquistou Santa Catarina e Sacramento. A guerra terminou com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso que garantiu a soberania espanhola sobre a Colônia do Sacramento e as Missões Orientais, mas a Espanha foi forçada a devolver Santa Catarina e o território de Rio Grande, a leste da Banda Oriental. Uma das consequências dessa guerra foi que Portugal permaneceu neutro quando a Guerra de Independência dos Estados Unidos se transformou em uma guerra mundial com a entrada da França em 1778 e da Espanha em 1779. Os portugueses foram obrigados a ajudar os britânicos devido à aliança entre os dois, mas decepcionados com a falta de apoio britânico contra a Espanha, Portugal não entrou nessa guerra. No século XIX, já no contexto das Guerras Napoleônicas, Tropas coloniais luso-brasileiras ainda lutaram na Guerra de 1801 contra os colonos espanhóis, na Guerra de 1809 contra os franceses e novamente contra os colonos espanhóis da Banda Oriental (atual Uruguai) na invasão de 1811 e na invasão de 1816. Inconfidência Mineira. A Inconfidência Mineira foi um movimento que partiu da elite de Minas Gerais. Com a decadência da mineração na segunda metade do século XVIII, tornou-se difícil pagar os impostos exigidos pela Coroa Portuguesa. Além do mais, o governo português pretendia promulgar a derrama, um imposto que exigia que toda a população, inclusive quem não fosse minerador, contribuísse com a arrecadação de 20% do valor do ouro retirado. Os colonos se revoltaram e passaram a conspirar contra Portugal. Em Vila Rica (atual Ouro Preto), participavam do grupo, entre outros, os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o padre Rolim, o cônego Luís Vieira da Silva, o minerador Inácio José de Alvarenga Peixoto e alferes Joaquim José da Silva Xavier, apelidado Tiradentes. A conspiração pretendia eliminar a dominação portuguesa e criar um país livre. Pela lei portuguesa a conspiração foi classificada como "crime de lesa-majestade", definida como "uma traição contra a pessoa do rei" nas Ordenações Afonsinas. A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, inspirados pelas ideias iluministas da França e da recente independência norte-americana. Traídos por Joaquim Silvério dos Reis, que delatou os inconfidentes para o governo, os líderes do movimento foram detidos e enviados para o Rio de Janeiro, onde responderam pelo crime de inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Em 21 de abril de 1792, Tiradentes, de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por enforcamento. Sua cabeça foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi esquartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais. Era o cruel exemplo que ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder de Portugal. Apesar de considerada cruel hoje o enforcamento e esquartejamento do corpo, no contexto da época a pena foi menos cruel que a pena aplicada, naquela mesma época, à família Távora, no Caso Távora, por igual crime de lesa-majestade, foi condenação à fogueira. O crime de lesa-majestade era o mais grave dos regimes monarquistas absolutistas e era definido pelas Ordenações Filipinas, como "traição contra o rei". Crime este comparado à hanseníase pelas Ordenações Filipinas, no livro V, item 6:""Lesa-majestade quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado, que é tão grave e abominável crime, e que os antigos Sabedores tanto estranharam, que o comparavam à lepra; porque assim como esta enfermidade enche todo o corpo, sem nunca mais se poder curar, e empece ainda aos descendentes de quem a tem, e aos que ele conversam, pelo que é apartado da comunicação da gente: assim o erro de traição condena o que a comete, e empece e infama os que de sua linha descendem, posto que não tenham culpa"."O caso específico de crime de lesa-majestade praticado pelos inconfidentes foi o caso número 5, previsto nas Ordenações Filipinas, que diz: "Se algum fizesse conselho e confederação contra o rei e seu estado ou tratasse de se levantar contra ele, ou para isso desse ajuda, conselho e favor". Conjuração Baiana. A Conjuração Baiana foi um movimento que partiu da camada humilde da sociedade da Bahia, com grande participação de negros, mulatos e alfaiates, por isso também é conhecida como Revolta dos Alfaiates. Os revoltosos pregavam a libertação dos escravos, a instauração de um governo igualitário (onde as pessoas fossem promovidas de acordo com a capacidade e merecimento individuais), além da instalação de uma República na Bahia. Em 12 de Agosto de 1798, o movimento precipitou-se quando alguns de seus membros, distribuindo os panfletos na porta das igrejas e colando-os nas esquinas da cidade, alertaram as autoridades que, de pronto, reagiram, detendo-os. Tal como na Inconfidência Mineira, interrogados, acabaram delatando os demais envolvidos. Centenas de pessoas foram denunciadas — militares, clérigos, funcionários públicos e pessoas de todas as classes sociais. Destas, 49 foram detidas, a maioria tendo procurado abjurar a sua participação, buscando demonstrar inocência. Mais de 30 foram presos e processados. Quatro participantes foram condenados à forca e os restos de seus corpos foram espalhados pela Bahia para assustar a população. Principado do Brasil. O Principado do Brasil era um título nobiliárquico que existiu em Portugal entre 1645 a 1815, se referindo ao Estado do Brasil, instituído em 1549. Tendo sido o Brasil uma colônia do Império Português, careceu de bandeira própria por mais de trezentos anos. Não era costume, na tradição vexilológica lusitana, a criação de bandeiras para suas colônias, quando muito de um brasão. Hasteava-se no território a bandeira do reino, ou do representante direto do monarca, como o governador-geral ou o vice-rei. Ainda que não seja considerada uma bandeira "brasileira", visto que seu uso era exclusivo aos herdeiros aparentes do trono português, o pavilhão dos príncipes do Brasil pode ser tido como a primeira representação flamular do Brasil. Sobre campo branco — cor relacionada à monarquia — inscreve-se uma esfera armilar — objeto que viria a ser, por muito tempo, o símbolo do Brasil. Já no de D. Manuel I, aparece este que foi um objeto crucial para viabilizar as explorações marítimas de Portugal. Mudança da Corte e Abertura dos Portos. Em novembro de 1807, as tropas de Napoleão Bonaparte obrigaram a coroa portuguesa a procurar abrigo no Brasil. Dom João VI (então Príncipe-Regente em nome de sua mãe, a Rainha Maria I) chegou ao Rio de Janeiro em 1808, abandonando Portugal após uma aliança defensiva feita com a Inglaterra, que escoltou os navios portugueses no caminho. Os portos brasileiros foram abertos às nações amigas — designadamente, a Inglaterra. A abertura dos portos se deu em 28 de janeiro de 1808 por outra carta régia de D. João, influenciado por José da Silva Lisboa. Foi permitida a importação "de todos e quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transportadas em navios estrangeiros das potências que se conservavam em paz e harmonia com a Real Coroa" ou em navios portugueses. Os gêneros molhados (vinho, aguardente, azeite) pagariam 48%; outros mercadorias, os secos, 24% "ad valorem". Podia ser levado pelos estrangeiros qualquer produto colonial, exceto o pau-brasil e outros notoriamente estancados, que eram produzidos e armazenados na própria colônia. Era efeito também da expansão do capital; e deve-se recordar a falência dos recursos coatores portugueses e a tentativa de diminuir, abrindo os portos, a total dependência de Portugal da Inglaterra. No Reino, desanimaram os que se haviam habituado aos generosos subsídios, às 100 arrobas de ouro anuais, às derramas, às tentativas de controle completo. Um autor português do século XIX comenta que foi D. João, sua família e comitiva (a Corte), distribuídos por diversos navios, chegaram ao Rio de Janeiro em 7 de março de 1808. Foram acompanhados pela Brigada Real da Marinha, criada em Portugal em 1797, que deu origem ao Corpo de Fuzileiros Navais brasileiros. Instalaram-se no Paço da Cidade, construído em 1743 pelo Conde de Bobadela como residência dos governadores. Além disso, a Coroa requisitou o Convento do Carmo e a Cadeia Velha para alojar os serviçais e as melhores casas particulares. A expropriação era feita pelo carimbo das iniciais PR, de Príncipe-Regente, nas portas das casas requisitadas, o que fazia o povo, com ironia, interpretar a sigla como "Ponha-se na Rua!". A abertura foi acompanhada por uma série de melhoramentos introduzidos no Brasil. No dia 1 de abril do mesmo ano, D. João expediu um decreto que revogava o alvará de 5 de janeiro de 1785 pelo qual se extinguiam no Brasil as fábricas e manufaturas de ouro, prata, seda, algodão, linho e lã. Depois do comércio, chegava "a liberdade para a indústria". Em 13 de maio, novas cartas régias (decretos) determinaram a criação da Imprensa Nacional e de uma Fábrica de Pólvora, que até então era fabricada na Fábrica da Pólvora de Barcarena, desde 1540. Em 12 de outubro foi fundado o Banco do Brasil para financiar as novas iniciativas e empreitadas. Tais medidas do Príncipe fariam com que se pudesse contar nesta época os primórdios da independência do Brasil. Em represália à França, D. João ordenou ainda a invasão e anexação da Guiana Francesa, no extremo norte, e da banda oriental do rio Uruguai, no extremo sul, já que a Espanha estava então sob o reinado de José Bonaparte, irmão de Napoleão, e portanto era considerada inimiga. O primeiro território foi devolvido à soberania francesa em 1817, mas o Uruguai foi mantido incorporado ao Brasil sob o nome de Província Cisplatina. Em 9 de fevereiro de 1810, no Rio de Janeiro, foi assinado um Tratado de Amizade e comércio pelo Príncipe Regente com Jorge III, rei da Inglaterra. Enquanto isso, na Espanha, os liberais, ainda acostumados com certa liberdade econômica imposta por Napoleão enquanto ocupara o país, de 1807 a 1810, se revoltaram contra os restauradores Bourbon, dinastia à qual pertencia a Carlota Joaquina, esposa de D. João, e impuseram-lhes a Constituição de Cádiz em 19 de março de 1812. Em reação, o rei Fernando VII, irmão de Carlota, dissolveu as cortes em 4 de maio de 1814. A resposta viria em 1820 com a vitória da Revolução Liberal (ou constitucional). Por isso, D. João e seus ministros se ocuparam das questões do Vice-Reinado do Rio da Prata, tão logo puseram os pés no Rio de Janeiro, surgindo assim a questão da incorporação da Cisplatina. É importante lembrar que apesar de ser elevado a Principado em 1645, tendo sido o Brasil uma colônia do Império Português, careceu de bandeira própria por mais de trezentos anos. Não era costume, na tradição vexilológica lusitana, a criação de bandeiras para suas colônias, quando muito de um brasão. Visto que seu o título uso era exclusivo aos herdeiros aparentes do trono português, o pavilhão dos príncipes do Brasil pode ser tido como a primeira representação flamular do Brasil. Sobre campo branco — cor relacionada à monarquia — inscreve-se uma esfera armilar — objeto que viria a ser, por muito tempo, o símbolo do Brasil. Já no de D. Manuel I, aparece este que foi um objeto crucial para viabilizar as explorações marítimas de Portugal. Contudo, como Principado, não possui nenhum privilégio administrativo, militar, econômico ou social, pois ainda era visto como uma colônia portuguesa. Reino (1815–1822). Elevação a Reino Unido. No contexto das negociações do Congresso de Viena, o Brasil foi elevado à condição de Reino dentro do Estado português, que assumiu a designação oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 16 de dezembro de 1815. A carta de lei foi publicada na "Gazeta do Rio de Janeiro" de 10 de janeiro de 1816, oficializando o ato. O Rio de Janeiro, por conseguinte, subia à categoria de Corte e capital, as antigas capitanias passaram a ser denominadas províncias (hoje, os estados). No mesmo ano, a rainha Maria I morreu e D. João foi coroado rei como João VI. Deu ao Brasil como brasão de armas a esfera manuelina com as quinas, encontradas já no século anterior em moedas da África portuguesa (1770). Revolução no Porto e Retorno de D. João VI. D. João VI deixaria o Brasil em 1821. Em agosto de 1820 houvera no Porto uma revolução constitucionalista (revolução liberal portuguesa de 1820), movimento com ideias liberais que ganhou adeptos no reino. Em setembro de 1820, uma Junta Provisória de Governo obrigou os portugueses a jurarem uma Constituição provisória, nos moldes da Constituição espanhola de Cádiz, até redação de uma constituição definitiva. Em janeiro de 1821, em Portugal, aconteceu a solene instalação das Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, encarregadas de elaborar a constituição, mas sem representantes brasileiros. Em fevereiro, D. João VI ordenou que deputados do Brasil (bem como dos Açores, Madeira e Cabo Verde) participassem da assembleia. Em março, as Cortes em Portugal expediram decreto com as bases da constituição política da monarquia. No Rio de Janeiro, outro decreto comunicava o retorno do rei para Portugal e ordenava que, "sem perda de tempo", fossem realizadas eleições dos deputados para representarem o Brasil nas Cortes Gerais convocadas em Lisboa. Chegaria em abril a Lisboa um delegado da Junta do Pará, Filipe Alberto Patroni, que por exceção conseguiu discursar e foi o primeiro brasileiro a falar perante aquela Assembleia. Em abril, na cidade do Rio de Janeiro, realizou-se a primeira assembleia de eleitores do Brasil, que resultou em confronto com mortos, pois as tropas portuguesas dissolveram a manifestação. No dia seguinte, cariocas afixaram à porta do Paço um cartaz com a inscrição "Açougue do Bragança", referindo-se ao Rei como carniceiro. D. João VI partiu para Portugal cinco dias depois, em 16 de abril de 1821, deixando seu primogênito Pedro de Alcântara como Príncipe-Regente do Brasil. Em 1821, o Brasil elegeu seus representantes em número de 97 entre deputados e suplentes para as Constituintes em Lisboa. Em agosto de 1821, as Cortes apresentariam três projetos para o Brasil que irritaram os representantes brasileiros com medidas recolonizadoras que estes se recusavam a aceitar. Depois de Maciel Parente, o monsenhor Francisco Moniz Tavares, deputado pernambucano, seria o primeiro brasileiro a discursar oficialmente, em vivo debate com os deputados portugueses Borges Carneiro, Ferreira Borges e Moura, contra a remessa de mais tropas para Pernambuco e a incômoda presença da numerosa guarnição militar portuguesa na província. A separação do Brasil foi informalmente realizada em janeiro de 1822, quando D. Pedro declarou que iria permanecer no Brasil ("Dia do Fico"), com as seguintes palavras: Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico. Agora só tenho a recomendar-vos união e tranquilidade. Porém, a separação do Brasil se é dada no dia 7 de setembro de 1822, com o "grito do Ipiranga" que foi romantizado, apesar da separação anteriormente. Império (1822–1889). Primeiro Reinado (1822–1831). Após a declaração da independência, o Brasil foi governado por Dom Pedro I até o ano de 1831, período chamado de Primeiro Reinado, quando abdicou em favor de seu filho, Dom Pedro II, então com cinco anos de idade. Logo após a independência, e terminadas as lutas nas províncias contra a resistência portuguesa, foi necessário iniciar os trabalhos da Assembleia Constituinte. Esta havia sido convocada antes mesmo da separação, em julho de 1822; foi instalada, entretanto, somente em maio de 1823. Logo se tornou claro que a Assembleia iria votar uma constituição restringindo os poderes imperiais (apesar da ideia centralizadora encampada por José Bonifácio e seu irmão Antônio Carlos de Andrada e Silva). Porém, antes que ela fosse aprovada, as tropas do exército cercaram o prédio da Assembleia, e por ordens do imperador a mesma foi dissolvida, devendo a constituição ser elaborada por juristas da confiança de Dom Pedro I. Foi então outorgada a constituição de 1824, que trazia uma inovação: o Poder Moderador. Através dele, o imperador poderia fiscalizar os outros três poderes. Surgiram diversas críticas ao autoritarismo imperial, e uma revolta importante aconteceu no Nordeste: a Confederação do Equador. Foi debelada, mas Dom Pedro I saiu muito desgastado do episódio. Outro grande desgaste do Imperador foi por o Brasil na Guerra da Cisplatina, onde o país não manteve o controle sobre a então região de Cisplatina (hoje, Uruguai). Também apareciam os primeiros focos de descontentamento no Rio Grande do Sul, com os farroupilhas. Em 1831 o imperador decidiu visitar as províncias, numa última tentativa de estabelecer a paz interna. A viagem deveria começar por Minas Gerais; mas ali o imperador encontrou uma recepção fria, pois acabara de ser assassinado Líbero Badaró, um importante jornalista de oposição. Ao voltar para o Rio de Janeiro, Dom Pedro deveria ser homenageado pelos portugueses, que preparavam-lhe uma festa de apoio; mas os brasileiros, discordando da festa, entraram em conflito com os portugueses, no episódio conhecido como Noite das Garrafadas. Dom Pedro tentou mais uma medida: nomeou um gabinete de ministros com suporte popular. Mas desentendeu-se com os ministros e logo depois demitiu o gabinete, substituindo-o por outro bastante impopular. Frente a uma manifestação popular que recebeu o apoio do exército, não teve muita escolha, assim criou o quinto poder. Mas não deu certo a ideia, e não restou nada ao imperador a não ser a renúncia, no dia 7 de abril de 1831. Período Regencial (1831–1840). Durante o período de 1831 a 1840, o Brasil foi governado por diversos regentes, encarregados de administrar o país enquanto o herdeiro do trono, D. Pedro II, ainda era menor. A princípio a regência era trina, ou seja, três governantes eram responsáveis pela política brasileira, no entanto com o ato adicional de 1834, que, além de dar mais autonomia para as províncias, substituiu o caráter tríplice da regência por um governo mais centralizador. O primeiro regente foi o Padre Diogo Antônio Feijó, que notabilizou-se por ser um governo de inspirações liberais, porém, devido às pressões políticas e sociais, teve que renunciar. O governo de caráter liberal caiu para dar lugar ao do conservador Araújo Lima, que centralizou o poder em suas mãos, sendo atacado veementemente pelos liberais, que só tomaram o poder devido ao Golpe da Maioridade. Destacam-se neste período a instabilidade política e a atuação do tutor José Bonifácio, que garantiu o trono para D. Pedro II. Teve início neste período a Revolução Farroupilha, em que os gaúchos revoltaram-se contra a política interna do Império, e declararam a República Piratini. Também neste período ocorreram a Cabanada, de Alagoas e Pernambuco; a Cabanagem, do Pará; a revolta dos Malês e a Sabinada, na Bahia; e a Balaiada, no Maranhão. Segundo Reinado (1840–1889). O Segundo Reinado teve início com o Golpe da Maioridade (1840), que elevou D. Pedro II ao trono, antes dos 18 anos, com quinze anos. A economia, que teve como base principal a agricultura — tornando-se o café o principal produto exportador do Brasil durante o reinado de Pedro II, em substituição à cana-de-açúcar —, apresentou uma expansão de 900%. A falta de mão de obra, na época chamada de "falta de braços para a lavoura", em consequência da libertação dos escravos foi solucionada com a atração de centenas de milhares de imigrantes, em sua maioria italianos, portugueses, espanhóis e alemães. Nesse período, foi construída uma ampla rede ferroviária, sendo o Brasil o segundo país latino-americano a implantar este tipo de transporte, e, durante a Guerra do Paraguai, foi possuidor da quarta maior marinha de guerra do mundo. A mão de obra escrava, por pressão interna de oligarquias paulistas, mineiras e fluminenses, manteve-se vigente até o ano de 1888, quando caiu na ilegalidade pela Lei Áurea. Entretanto, havia-se encetado um gradual processo de decadência em 1850, ano do fim do tráfico negreiro, por pressão da Inglaterra, além de que o Imperador era contra a escravidão, pela opção dos produtores de café paulistas que preferiam a mão de obra assalariada dos imigrantes europeus, pela malária que dizimou a população escrava naquela época e pela guerra do Paraguai quando os negros que dela participaram foram alforriados. A partir de 1870 assistiu-se ao crescimento dos movimentos republicanos no Brasil. Em 1889 um golpe militar tirou o cargo de primeiro-ministro do visconde de Ouro Preto, e, por incentivo de republicanos como Benjamin Constant Botelho Magalhães, o Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República e enviou ao exílio a Família Imperial. Diversos fatores contribuíram para a queda da Monarquia, dentre os quais: a insatisfação da elite agrária com a abolição da escravatura sem que os proprietários rurais fossem indenizados pelos prejuízos sofridos, o descontentamento dos cafeicultores do Oeste Paulista que se tornaram adeptos do Partido Republicano Paulista e da abolição pois usavam apenas mão de obra europeia dos imigrantes, e perdendo apoio dos militares, especialmente do exército que se sentiam desprestigiados entendendo que o imperador preferia a marinha do Brasil e que almejavam mais poder, e as interferências do Imperador em assuntos da Igreja. Não houve nenhuma participação popular na proclamação da República do Brasil. O que ocorreu, tecnicamente foi um golpe militar. O povo brasileiro apoiava o Imperador. O correspondente do jornal "Diário Popular", de São Paulo, Aristides Lobo, escreveu na edição de 18 de novembro daquele jornal, sobre a derrubada do império, a frase histórica: Para poupar conflitos, não houve violência e a Família Imperial pôde exilar-se na Europa em segurança. D. Pedro II assinou sua renúncia com a mesma assinatura de seu pai ao abdicar em 1831: Pedro de Alcântara. O período pode ser divido em três etapas principais: Libertação dos escravos. Os primeiros movimentos contra a escravidão foram feitos pelos missionários jesuítas, que combateram a escravização dos indígenas mas toleraram a dos africanos. O fim gradual do tráfico negreiro foi decidido, no Congresso de Viena, em 1815. Desde 1810, a Inglaterra fez uma série de exigências a Portugal, e passou, a partir de 1845, a reprimir violentamente o tráfico internacional de escravos, amparada na lei inglesa chamada Lei Aberdeen. Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós aboliu o tráfico internacional de escravos no Brasil. Em 1871 o Parlamento Brasileiro aprovou e a Princesa Isabel sancionou a Lei 2.040, conhecida como Lei Rio Branco ou Lei do Ventre Livre, determinando que todos os filhos de escravos nascidos desde então seriam livres a partir dos 21 anos. Em 28 de setembro de 1885 promulgou-se uma outra lei, a Lei dos Sexagenários (Lei Saraiva–Cotegipe) que determinava a "extinção gradual do elemento servil" e criava fundos para a indenização dos proprietários de escravos e determinava que escravos a partir de 60 anos poderiam ser livres. Assim, com estas duas leis (Ventre Livre e Sexagenários), a abolição dos escravos seria gradativa, com os escravos sendo libertos ao atingirem a idade de 60 anos. Em 1880 fora criada a "Sociedade Brasileira Contra a Escravidão" que, juntamente com a "Associação Central Abolicionista" e outras organizações, passou a ser conhecida pela Confederação Abolicionista liderada por José do Patrocínio, filho de uma escrava negra com um padre. Em 1884, os governos do Ceará e do Amazonas aboliram, em seus territórios, a escravidão, no que foram pioneiros. As fugas de escravos aumentaram muito, após 1885, quando foi abolida a pena de açoite para os negros fugidos, o que estimulou as fugas. O exército se negava a perseguir os negros fugidos. Há que lembrar ainda os Caifases, liderados por Antônio Bento, que promoviam a fuga dos negros, perseguiam os capitães-do-mato e ameaçavam os senhores escravistas. Em São Paulo, a polícia, em 1888, também não ia mais atrás de negros fugidos. A abolição definitiva era necessária. Há divergências sobre o número de escravos existentes em 1888. Havia, segundo alguns estudiosos, 1,4 milhão de escravos para população de 14 milhões habitantes: cerca de 11%. Porém, segundo a matrícula de escravos, concluída em 30 de março de 1887, o número de escravos era apenas 720 mil. Finalmente, o presidente do Conselho de Ministros do "Gabinete de 10 de março", João Alfredo Correia de Oliveira, do Partido Conservador, promoveu a votação de uma lei que determinava a extinção definitiva da escravidão no Brasil. Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel sancionou a Lei Áurea, que já havia sido aprovada pelo Parlamento, abolindo toda e qualquer forma de escravidão no Brasil. Logo após a Princesa assinar a Lei Áurea, ao cumprimentá-la, João Maurício Wanderley, o barão de Cotegipe, o único senador que votou contra o projeto da abolição da escravatura, profetizou: A aristocracia escravista, oligarquia rural arruinada com a abolição sem indenização, culpou o governo e aderiu aos vários partidos republicanos existentes, especialmente ao Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro, que faziam na oposição ao regime monárquico, assim, uma das consequências da abolição seria a queda da monarquia. Pequenos proprietários que não podiam recorrer a mão de obra assalariada fornecida pelos imigrantes europeus também ficaram arruinados. Apenas a economia cafeeira do oeste paulista, porém, quando comparada à de outras regiões, não sofreu abalos, pois já se baseava na mão de obra livre, assalariada. Muitos escravos negros permaneceram no campo, praticando uma economia de subsistência, em pequenos lotes, outros buscaram as cidades, onde entraram num processo de marginalização. Desempregados, passaram a viver em choças e barracos nos morros e nos subúrbios. E de acordo com a análise de Everardo Vallim Pereira de Souza, reportando-se às consideração do Conselheiro Antônio da Silva Prado, as consequências da abolição dos escravos, em 13 de maio de 1888, deixando sem amparo os ex-escravos, foram das mais funestas: O Brasil foi o último país independente do continente americano a abolir a escravatura. O último país do mundo a abolir a escravidão foi a Mauritânia, somente em 9 de novembro de 1981, pelo decreto de número 81.234. República (1889–presente). Primeira República (1889–1930). Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca decretou o fim do período imperial em um golpe militar de Estado sob a forma de uma quartelada quase sem força política e nenhum apoio popular, e o início de um período republicano ditatorial, destituindo o último imperador brasileiro, D. Pedro II, que teve de partir em exílio para a Europa. O nome do país mudou de Império do Brasil para Estados Unidos do Brasil. A primeira constituição da República do Brasil foi feita dia 15 de novembro de 1890. Após quatro anos de ditadura com um caos e várias mortes de federalistas, negros lutando por seus direitos, entre outros, iniciou-se a era civil da República Velha, com a chamada República Oligárquica. O Visconde de Ouro Preto, presidente do conselho de ministro deposto em 15 de novembro, entendia que a proclamação da república fora um erro e que o Segundo Reinado tinha sido bom, e, assim se expressou em seu livro "Advento da ditadura militar no Brasil": Conflitos. O período foi marcado por inúmeros conflitos, de naturezas distintas. Externamente destacam-se apenas 2: a Revolução Acreana, que foi o processo político-social que levou à incorporação do território do atual estado do Acre ao Brasil; e o envolvimento do país na I Guerra Mundial, na qual apesar da participação militar do país ter sido insignificante para o resultado geral do conflito, tendo se restringido basicamente ao envio de uma esquadra naval para participar da guerra anti-submarina no noroeste da África e mediterrâneo, em 1918; a mesma deu ao Brasil o direito a participar da conferência de Versalhes em 1919. Já no plano interno, este primeiro período republicano foi marcado por graves crises econômicas, como a do encilhamento, que contribuíram para acirrar ainda mais a instabilidade geral. No âmbito político-social, por exemplo, entre 1891 e 1927 ocorreram várias revoltas e conflitos no país, tanto militares como (por exemplo): a 1ª Revolta da Armada em 1891, a 2ª Revolta da Armada em 1893, a Revolução Federalista entre 1893–95, Revolta da Chibata em 1910, a Revolta dos tenentes em 1922, a Revolta de 1924 que se desdobrou na Coluna Prestes; quanto civis, como (por exemplo): a Guerra de Canudos 1893–97, a Revolta da Vacina em 1904, a Guerra do Contestado entre 1912–16 e os movimentos operários de 1917–19. Também neste período, ocorreu o auge do cangaço, tendo sido seu expoente mais famigerado Virgulino Ferreira da Silva, popularmente conhecido como "Lampião". Embora todos esses eventos tenham sido controlados pelo governo central e a maioria fosse de caráter localizado, o acúmulo dessas tensões sociais e econômicas foi pouco a pouco minando o regime, o que somado aos efeitos causados pelas crises da depressão de 1929 e das eleições federais de 1930, acabaram levando ao movimento de 1930 que pôs um fim a este primeiro período da república no Brasil. República do Café com Leite. Entre 1889 e 1930, o governo foi oficialmente uma democracia constitucional e, a partir de 1894, a Presidência alternou entre os estados dominantes da época, São Paulo e Minas Gerais. Como os paulistas eram grandes produtores de café, e os mineiros estavam voltados à produção leiteira, a situação política do período ficou conhecida como Política do Café-com-Leite. Esse equilíbrio de poder entre os estados, foi uma política criada pelo presidente Campos Sales, chamada de Política dos Estados ou Política dos governadores. A República Velha terminou em 1930, com a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, um civil, instituindo-o "Governo Provisório", até que novas eleições fossem convocadas. Sobre sua política, Campos Sales disse: E esse seu pensamento foi definido assim por ele: Era Vargas (1930–1945). O período que vai de 1930 a 1945, a partir da derrubada do presidente Washington Luís em 1930, até a volta do país à democracia em 1945, é chamado de Era Vargas, em razão do forte controle na pessoa do caudilho Getúlio Dorneles Vargas, que assumiu o controle do país, no período. Neste período está compreendido o chamado Estado Novo (1937–1945). A Revolução de 1930 e o Governo Provisório. Em 1 de março de 1930 ocorre a última eleição presidencial da República Velha. Disputaram essa eleição o presidente de São Paulo (hoje se diz governador) Júlio Prestes de Albuquerque apoiado pelo presidente Washington Luís e por 17 estados contra o candidato Getúlio Vargas apoiado apenas por três estados: Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. Júlio Prestes é eleito e aclamado presidente, porém os perdedores não reconheceram sua vitória. Assim, em 1930, acontece a Revolução de 1930 iniciada a 3 de outubro. Quando as tropas revolucionárias marcharam para o Rio de Janeiro, então capital federal, ocorre a 24 de outubro um golpe militar que depõe e presidente Washington Luís, que fora antes presidente de São Paulo. Washington Luís foi deposto e exilado, Júlio Prestes é impedido de tomar posse como presidente da república e também é exilado. É formada uma Junta Militar Provisória, que então passa o poder a Getúlio Dorneles Vargas, em 3 de novembro de 1930, encerrando a República Velha e iniciando o Governo Provisório que tem Getúlio Vargas como seu chefe. Logo após a tomada do poder em novembro de 1930, Getúlio Vargas nomeou interventores federais para governar os estados. Para São Paulo, por exemplo, foi nomeado o tenente João Alberto Lins de Barros, um pernambucano, sendo que a maioria dos líderes paulistas foram exilados. Na Bahia, foi nomeado um cearense, Juracy Magalhães — e assim por diante. Do exílio em Portugal, Júlio Prestes escreve, já em 1931, acreditando ele que a situação da ditadura estava se tornando insustentável: Ao se iniciar o ano de 1932, crescem os reclamos dos políticos paulistas que se uniram na Frente Única Paulista, em prol do fim da interferência dos tenentes em São Paulo e pela instalação de uma assembleia nacional constituinte que poria fim ao Governo Provisório, o qual era chamado pelos paulistas de "ditadura". Uma previsível reação dos paulistas a um conluio contra São Paulo e seus interesses já fora percebida, em 1929, pelo senador fluminense Irineu Machado, que afirmou: Os paulistas, que mantinham um esquema de domínio político junto com Minas Gerais durante a primeira república, tentam articular uma revolução em 1932 para depor Getúlio Vargas. A justificativa encontrada pelas oligarquias locais para buscar apoio do povo é que o país precisava de uma Constituição, pois, desde 1930, Getúlio Vargas dizia que "assumia provisoriamente" a Presidência e que o mais cedo possível entregaria uma nova Constituição ao país, com a subsequente realização de eleições para presidente. Daí o nome de Revolução Constitucionalista de 1932, deflagrada a 9 de julho. Os paulistas foram apoiados pelo sul estado do Mato Grosso onde foi criado o Estado de Maracaju, mas as tropas federais, ajudadas pelas tropas gaúchas e mineiras, garantiram uma vitória de Getúlio Vargas depois de três meses de luta, a qual foi a maior guerra civil brasileira de todos os tempos. Finalmente, em 3 de maio de 1933, são feitas eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte que em 1934 elege Getúlio Vargas presidente da república. O período constitucional de Getúlio Vargas. Em 1934, no entanto, o país ganha uma Constituição. Getúlio Vargas é eleito presidente. Este governo constitucional durou três anos até 1937. Foram anos conturbados, em que ocorre certa polarização na política nacional. De um lado ganha força a esquerda, representada principalmente pela Aliança Nacional Libertadora (ANL) e pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB); de outro a direita, que ganha forma num movimento de inspiração fascista chamado Integralismo. Uma articulação revolucionária de esquerda é tentada em 1935, chamada de Intentona Comunista, por parte de um setor das forças armadas e de alguns indivíduos ligados a URSS. Um dos principais líderes desse movimento foi o ex-tenente do exército Luís Carlos Prestes, que fica preso e ficou incomunicável por oito anos. Sua mulher, a comunista e judia Olga Benário, tem um destino pior: O Supremo Tribunal Federal a expatriou para a Alemanha Nazista, seguindo os acordos de extradição vigentes entre Brasil e Alemanha que mantinham relações diplomáticas normais. Olga acaba morrendo no campo de extermínio de Bernburg. O Estado Novo. Graças ao clima de pânico provocado pela polarização política (os integralistas tentam um "putsch" algum tempo depois, em 1938), Getúlio Vargas articula uma situação que lhe permite decretar um golpe de estado dois meses antes da eleição presidencial marcada para janeiro de 1938. Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas anuncia o Estado Novo. A justificativa primária do golpe é a existência de um plano comunista para a tomada do poder, "apoiado por Moscou" — é o chamado Plano Cohen. Posteriormente descobriu-se que o plano foi uma armação dos agentes de Getúlio Vargas. O apoio militar e o apoio da classe média garante o sucesso do golpe, pois há algum tempo cresciam os temores de que o comunismo poderia promover uma revolução no Brasil. Getúlio Vargas consegue prolongar seus anos na Presidência até 1945. É emblemático notar que uma das figuras mais conhecidas de seu governo foi o chefe de polícia Filinto Muller. A censura oprime a expressão artística e científica: em 1939 é criado o DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda. Além da censura, o DIP atuava na propaganda pró-Vargas e contrária à República Velha, fazendo com que a imagem do presidente fosse exaltada ao extremo. Por essas características é que, iniciada a Segunda Guerra Mundial, não se sabia se Getúlio Vargas apoiaria o Eixo (com quem parecia ter mais afinidade) ou os Aliados. Os EUA tinham planos para invadir o nordeste (com o codinome "Plan Rubber"), caso o governo Vargas insistisse em manter o Brasil neutro. O clima de tensão culminara na adesão aos países aliados em 1942, após ataques alemães em navios mercantes brasileiros que resultaram na morte de dezenas de pessoas. A barganha getulista obtivera vantagens econômicas e militares: instituiu-se um acordo econômico com os Estados Unidos que possibilitara a implantação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Além disso, outro acordo possibilitara o reaparelhamento das forças armadas brasileiras. Além da CSN, houve outras importantes conquistas feitas pelo Estado Novo tais como: o Ministério da Aeronáutica, a Força Aérea Brasileira, o Conselho Nacional do Petróleo, o Departamento Administrativo do Serviço Público, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Nacional de Álcalis, a Companhia Vale do Rio Doce, o Instituto de Resseguros do Brasil, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a estrada Rio-Bahia, o Código Penal, o Código de Processo Penal Brasileiro e a Consolidação das Leis do Trabalho, a Justiça do Trabalho, o salário mínimo e a estabilidade no emprego do trabalhador, após de dez anos no emprego. A pressão popular pela criação de uma força expedicionária torna-se concreta, mesmo contra a vontade de Vargas, que afirmara que o envio de tropas brasileira ocorreria quando "a cobra fumar". Posteriormente, percebendo a crescente pressão interna (camadas médias urbanas) e externa (os Estados Unidos temiam uma possível desestabilização de poder no Brasil, não desejosa em tempos de guerra), Vargas cedeu, criando a Força Expedicionária Brasileira (FEB); cujo lema fora "A Cobra Vai Fumar". A compensação à ajuda financeira deu-se de forma logística e material: garantiu-se o suprimento de matérias-primas aos aliados (segundo ciclo da borracha), e permitiu-se a instalação de uma base militar na região Nordeste (Rio Grande do Norte), garantido o domínio logístico e militar dos aliados sobre o atlântico sul. Ao término da guerra, fazia pouco sentido que Getúlio Vargas continuasse no poder. O fascismo fora derrotado, e os brasileiros notaram isso. Getúlio Vargas é forçado a renunciar em 29 de outubro de 1945 pelas forças armadas, seguindo para seu estado natal, o Rio Grande do Sul, e elegendo-se senador da república. República Nova (1945–1964). O período conhecido como República Nova ou República de 46 inicia com a renúncia forçada de Vargas, em outubro de 1945. O General Eurico Gaspar Dutra foi o presidente eleito e empossado no ano seguinte. Em 1946 foi promulgada nova Constituição, mais democrática que a anterior, restaurando direitos individuais. Em 1950, o Brasil recebe a Copa do Mundo de Futebol. Apesar de perder a final para o Uruguai, por 2 a 1, coloca o país definitivamente em destaque no cenário internacional, bate todos os recordes e deixa como legado o Estádio do Maracanã, o maior do país. Ainda em 1950, o maior comunicador brasileiro do século XX, Assis Chateaubriand, inaugurou a TV Tupi São Paulo, que no início chamava-se "PRF-3". Sua cadeia de rádio, jornais e televisão crescia a olhos vistos. Nesse ano, Getúlio Vargas foi mais uma vez eleito presidente, desta vez pelo voto direto. Em seu segundo governo foi criada a Petrobrás, fruto de tendências nacionalistas que receberam suporte das camadas operárias, dos intelectuais e do movimento estudantil. Porém, os tempos não eram mais os mesmos, e Getúlio não conseguiu conduzir tão bem o seu governo. Pressionado por uma série de eventos, em 1954 Getúlio Vargas comete suicídio dentro do Palácio do Catete. Assume o vice-presidente, João Fernandes Campos Café Filho. Em 1955, Juscelino Kubitschek foi eleito presidente e tomou posse em janeiro de 1956, ainda que tenha enfrentado tentativas de golpe. Seu governo caracterizou-se pelo chamado desenvolvimentismo, doutrina que se detinha nos avanços técnico industriais como suposta evidência de um avanço geral do país. O lema do desenvolvimentismo sob Juscelino foi "50 anos em 5". Em 1960, Kubitschek inaugurou Brasília, a nova capital do Brasil. Já em 1961, Jânio Quadros, eleito em 1960, assumiu a presidência, mas renunciou em agosto do mesmo ano. Jânio, um ex-professor sul-matogrossense radicado em São Paulo pregava a moralização do governo, iniciou sua carreira política no PDC e se elegeu com o apoio da UDN, fez um governo contraditório: ao lado de medidas polêmicas (como a proibição de lança perfume e da briga de galo), o presidente condecorou o revolucionário argentino Ernesto Che Guevara, para a surpresa da UDN. Com a condecoração, Jânio tentava uma aproximação com o bloco socialista para fins estritamente econômicos, mas assim não foi a interpretação da direita no Brasil, que passou a alardear o pânico com a "iminência" do comunismo. O vice-presidente João Goulart, popularmente conhecido como "Jango", assumiu em 7 de setembro de 1961 a presidência, após uma crise política: os militares não queriam aceitá-lo na presidência, alegando o "perigo comunista", ou seja que Jango era simpatizante do comunismo e mantinha vários comunistas em seu governo. Além de ex-ministro trabalhista, Goulart encontrava-se na China quando da renúncia de Jânio Quadros. Uma solução intermediária é acertada e instala-se o parlamentarismo no Brasil. Em 1963, entretanto, João Goulart recuperou a chefia de governo com o referendo que aprovou a volta do presidencialismo. João Goulart governou até 1 de abril de 1964, quando se refugiou no Uruguai deposto pelo Golpe Militar de 1964. No seu governo houve constantes problemas criados pela oposição militar, em parte devido a seu nacionalismo e posições políticas radicais como a do Slogan "Na lei ou na marra", em relação à reforma agrária. O maior protesto dos setores conservadores da sociedade contra seu governo ocorreu nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, em 19 de março de 1964, com a chamada Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Regime Militar (1964–1985). O governo de João Goulart foi marcado por alta inflação, estagnação econômica e uma forte oposição da Igreja Católica e das forças armadas que o acusavam de permitir a indisciplina nas Forças Armadas e de fazer um governo de caráter esquerdista. Em 31 de março de 1964, as Forças Armadas realizam um Golpe Militar de 1964, destituindo João Goulart que se exilou no Uruguai. Os líderes civis do golpe, foram os governadores dos estados do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, de Minas Gerais, Magalhães Pinto e de São Paulo, Adhemar de Barros. A maioria dos militares que participaram do golpe de estado eram ex-tenentes da Revolução de 1930, entre os quais, Juraci Magalhães, Humberto de Alencar Castelo Branco, Juarez Távora, Médici, Geisel e Cordeiro de Farias. Foram cinco os presidentes da república, todos generais de exército, durante o regime militar: o General Humberto de Alencar Castelo Branco, seguido pelo General Arthur da Costa e Silva (1967–1969), eleitos pelo Congresso Nacional. O General Emílio Garrastazu Médici (1968–74) foi escolhido pela Junta Militar que assumira o poder com a morte de Costa e Silva em 1969 e eleito por um colégio eleitoral. O General Ernesto Geisel (1974–79) e o General João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979–84) também foram eleitos por colégios eleitorais formados pelo Congresso Nacional mais representantes das assembleias legislativas dos estados. Entre as características adquiridas pelos governos decorrentes do golpe militar, autointitulado de "Revolução de 1964" e de "Contra-Revolução de 1964", destacam-se o combate à subversão praticadas por guerrilhas de orientação esquerdista, a supressão de alguns direitos constitucionais dos elementos e instituições ligados à suposta tentativa de golpe pelos comunistas, e uma forte censura à imprensa, após a edição do AI-5 de 13 de dezembro de 1968. O golpe de estado foi autointitulado de "Contra-Revolução de 1964" porque os golpistas construíram uma narrativa de que havia uma iminente ameaça de uma revolução comunista prestes a desencadear no país. Em 1965, pelo Ato Institucional n.º 2, todos os partidos políticos então existentes são declarados extintos, e teve início a intensificação da repressão política aos comunistas. Somente dois partidos eram permitidos, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que veio a servir de refúgio a toda a esquerda e extrema esquerda política. Em 1967, o nome do país foi alterado para República Federativa do Brasil Foram criados a Bandeira vice-presidencial do Brasil e o Mastro especial da Praça dos Três Poderes. Configurando uma época de forte civismo, também foi definido o atual formato de posse dos presidentes. Em 15 de março de 1967, promulgada a sexta Constituição Brasileira pelo Congresso, institucionalizando o movimento e estabelecendo eleições indiretas para presidente, realizada via colégio eleitoral, este eleito diretamente. A partir daquele dia ficavam revogados os atos institucionais baixados desde 1964. Nesse mesmo dia, diante do crescimento dos movimentos de contestação ao regime militar, o General Arthur da Costa e Silva assumiu a Presidência da República. Porém esta normalidade institucional dada pela constituição de 1967 durou pouco. Em 13 de dezembro de 1968, Costa e Silva fechou o Congresso Nacional e decretou o Ato Institucional n.º 5, o AI-5, que lhe deu o direito de fechar o Parlamento, cessar direitos políticos e suprimir o direito de "habeas corpus". Em 1969, é feita uma ampla reforma da constituição de 1967, conhecida como emenda constitucional n.º 1, que a torna mais autoritária. Neste período, intensificou-se a luta armada nas cidades e no campo em busca da derrubada do governo militar. Praticamente, tudo teve início com o atentado no Aeroporto Internacional dos Guararapes, em Recife, em 1966, com diversos mortos e feridos, e em diversos outros pontos do país, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Foi após a configuração desta conjuntura de terror e justiçamentos da parte dos grupos comunistas que a censura teve sua implantação consolidada. Em 1969, Costa e Silva sofreu uma trombose e ficou incapacitado; uma junta militar formada pelos comandantes das Forças Armadas assumiu o poder. Em outubro, o General Médici tomou posse como presidente eleito pelo Congresso Nacional que ele pediu que fosse reaberto. Médici comandou o período de maior repressão aos grupos esquerdistas que combatiam a ditadura militar, em especial, a repressão aos grupos de revolucionários e guerrilheiros marxistas, com suspeitos e colaboradores sendo presos, ocasionalmente exilados, torturados e/ou mortos em confrontos com as forças policiais do Estado. Em 1969, os guerrilheiros atacaram o Quartel General do II Exército, atual Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, quando morreu o soldado Mário Kozel Filho. No governo Médici teve início o movimento guerrilheiro no Araguaia e a realização de sequestros de embaixadores estrangeiros e assaltos a bancos comerciais por grupos de esquerda. Estes sequestros eram usados, em sua maioria, como forma de pressionar o governo militar a libertar presos políticos. Após a redemocratização do país, contabilizou-se mais de trezentos mortos, de ambos os lados. Em 1974, o General Ernesto Geisel assumiu a presidência, tendo que enfrentar grandes problemas econômicos, causados pela dívida externa criada pelo governo Médici, agravados pela crise internacional do petróleo, e uma alta taxa de inflação. Geisel iniciou a abertura democrática "lenta, gradual e segura", que foi continuada pelo seu sucessor, o General Figueiredo (1979–85). Figueiredo não só permitiu o retorno de políticos exilados ou banidos das atividades políticas durante os anos 1960 e 1970. Foram anistiados os militantes das guerrilhas do tempo de governo Médici. Figueiredo também autorizou que estes anistiados concorressem às eleições municipais e estaduais em 1982. O regime militar termina com as eleições indiretas para presidente em 1984, com Paulo Maluf concorrendo pelo PDS e Tancredo Neves pelo PMDB apoiado pela Frente Liberal, dissidência do PDS liderada por José Sarney e Marco Maciel. Venceu Tancredo Neves, na eleição indireta de 15 de janeiro de 1985, para governar por seis anos, a partir de 15 de março de 1985, até 1991. Essas eleições, as últimas eleições indiretas da história brasileira, foram precedidas de uma enorme campanha popular em favor de eleições diretas, levada a cabo por partidos de oposição, à frente o PMDB, que buscava a aprovação pelo Congresso Nacional da Emenda Constitucional que propunha a realização de eleições diretas. A campanha foi chamada de "Diretas já", e tinha à frente o deputado Dante de Oliveira, criador da proposta de Emenda. Em 25 de abril de 1984, a emenda foi votada e obteve 298 votos a favor, 65 contra, três abstenções e 112 deputados não compareceram ao plenário no dia da votação. Assim a emenda foi rejeitada por não alcançar o número mínimo de votos para a aprovação da emenda constitucional. As principais realizações dos governos militares foram: a Ponte Rio-Niterói, os metrôs de São Paulo e Rio de Janeiro, a usina hidrelétrica de Itaipu, a barragem de Sobradinho, a Açominas, a Ferrovia do Aço, a rodovia Transamazônica, o FGTS, o BNH, a reforma administrativa através de decreto-lei n.º 200, o Banco Central do Brasil, a Polícia Federal (até então Departamento Federal de Segurança Pública), a Embrapa, o Incra e o sistema DDI. Durante o período também foram instaurados o Código Tributário Nacional, o Código de Mineração, o atual Código Eleitoral brasileiro, o Estatuto da Terra, o Estatuto do Índio, o Código Penal Militar, a Ordem de Precedência no Brasil, a antiga Lei de Segurança Nacional e a Lei do Divórcio (Lei n.º 6.515). Algumas superintendências de desenvolvimento foram fundadas (SUDECO, SUDESUL, SUFRAMA, SUDAM e CODEVASF), projetos como o Rodon e o Grande Carajás, instituições voltadas à previdência (INPS, IAPAS, INAMPS, SIMPAS e Dataprev), houve uma política de integração nacional, com o Plano de Integração Nacional, e uma valorização do álcool, com o Proálcool. Nova República (1985–presente). O primeiro presidente civil eleito desde o golpe militar de 1964 foi Tancredo Neves. Ele não chegou a assumir, sendo operado no dia 14 de março de 1985 e contraindo infecção hospitalar. No dia da posse, 15 de março de 1985, assume então José Sarney de modo interino, e após 21 de abril, data do falecimento de Tancredo Neves, como presidente em caráter pleno. A democracia foi restabelecida em 1988, quando a atual Constituição Federal foi promulgada. Fernando Collor foi eleito em 1989, na primeira eleição direta para Presidente da República desde 1964. Seu governo perdurou até 1992, quando renunciou devido a processo de "impugnação" movido contra ele. O processo de afastamento ocorreu em decorrência de uma série de denúncias envolvendo o Presidente Collor em esquemas de corrupção, que seriam comandados pelo seu ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias. O vice-presidente, Itamar Franco, assume em seu lugar. No governo de Itamar Franco é criado o Plano Real, articulado por seu Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC). O governo Itamar contou com a presença de vários senadores como ministros. FHC foi eleito em 1994 e reeleito em 1998. Cumpre dois mandatos e transmite a faixa presidencial ao seu sucessor em 1.º de janeiro de 2003. O candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, foi eleito presidente com aproximadamente 61% dos votos válidos. Lula repetiria o feito em 2006, sendo reeleito no segundo turno disputado contra Geraldo Alckmin, do mesmo PSDB. Durante a primeira década do Século XXI, o Brasil foi classificado juntamente com China, Rússia, Índia e África do Sul pelo grupo financeiro Goldman Sachs num grupo denominado BRICS, que reuniria os mercados emergentes mais promissores para o século. De fato, o Brasil teve um grande crescimento nas exportações a partir 2004, e, mesmo com um real valorizado e a crise internacional, atingiu em 2008 exportações de US$ 197,9 bilhões, importações de US$ 173,2 bilhões, ficando entre os 19 maiores exportadores do planeta na época. No dia 1 de janeiro de 2011, Dilma Rousseff assumiu a Presidência da República, tornando-se, até hoje, a única mulher a assumir o posto de chefe de Estado, e também de governo, em toda a história do Brasil. Seu governo começou a perder popularidade a partir de 2013, em meio às Jornadas de junho, protestos direcionados a ela mas também a toda a classe política brasileira, tendo como causa imediata o aumento nas tarifas de transporte público nas grandes cidades. Ainda assim, nas Eleições presidenciais brasileiras de 2014, Dilma conseguiu se reeleger vencendo o candidato Aécio Neves no segundo turno por uma estreita margem (51,64% a 48,36%). No início de seu segundo mandato sua rejeição atingiu quase 70% graças a medidas impopulares, e em meio a protestos populares após revelações de que políticos de diversos partidos estavam sendo investigados pela Polícia Federal por esquemas de propinas envolvendo estatais e empreiteiras. O início do segundo mandato de Dilma foi também marcado pelo início da crise político-econômica de 2014. Em 2 de dezembro de 2015, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acolheu um pedido de "impeachment" contra Rousseff com base nas chamadas "pedaladas fiscais" cometidas pelo governo, que, segundo os juristas responsáveis, desrespeitaram a Lei de Responsabilidade Fiscal; e no dia 29 de março de 2016, o partido do vice-presidente do país e do presidente da Câmara anunciou o seu rompimento oficial com o governo Dilma. Em 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados aprovou o início do processo de "impeachment", e no dia 12 de maio, por decisão do Senado, a mandatária foi afastada do cargo. Dilma Rousseff foi deposta em 31 de agosto de 2016, assumindo, então, o vice-presidente Michel Temer. Nas eleições de 2018 foi eleito Jair Bolsonaro, derrotando Fernando Haddad, candidato apoiado por Lula e Dilma Rousseff, por 55,13% a 44,87% dos votos válidos. Com Bolsonaro, o Brasil volta a ter um presidente egresso das Forças Armadas 33 anos após o fim do Regime Militar. O governo Bolsonaro foi marcado principalmente pela Pandemia de COVID-19, na qual o Brasil foi duramente afetado. A gestão do governo brasileiro foi muito criticada nacional e internacionalmente, tendo sido até o final de 2022 o segundo país com maior número absoluto de óbitos em decorrência da doença, atrás apenas dos EUA. Outros fatos que marcaram o governo foram os constantes embates entre os poderes da República. Bolsonaro se tornou o primeiro presidente do Brasil que não conseguiu se reeleger desde quando a reeleição foi aprovada, havendo perdido para o ex-presidente Lula na eleição de 2022, por uma diferença de menos de 2% de votos válidos.
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Hans Janssen
Hans Janssen
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Hans Christian Andersen
Hans Christian Andersen Hans Christian Andersen (2 de abril de 1805 – 4 de agosto de 1875) foi um autor dinamarquês. Embora seja um escritor prolífico de peças, relatos de viagem, romances e poemas, ele é mais lembrado por seus contos de fadas literários. Os contos de fadas de Andersen, compostos por 156 histórias em nove volumes, foram traduzidos para mais de 125 idiomas. Eles se tornaram culturalmente incorporados na consciência coletiva do Ocidente, facilmente acessíveis às crianças, mas apresentando lições de virtude e resiliência em face da adversidade também para leitores maduros. Seus contos de fadas mais famosos incluem "A Roupa Nova do Rei", "A Pequena Sereia", "O Rouxinol e o Imperador da China", "O Soldadinho de Chumbo", "Os Sapatinhos Vermelhos", "A Princesa e a Ervilha", "A Rainha da Neve", "O Patinho Feio", "A Pequena Vendedora de Fósforos" e "A Polegarzinha". Suas histórias inspiraram balés, peças teatrais e filmes de animação e live-action. Infância e juventude. Hans Christian Andersen nasceu em Odense, na Dinamarca, em 2 de abril de 1805. Ele tinha uma meia-irmã chamada Karen. Seu pai, também chamado Hans, considerava-se parente da nobreza (sua avó paterna havia dito a seu pai que sua família pertencia a uma classe social mais alta, mas algumas investigações refutaram essas histórias). Embora tenha sido contestado, uma especulação persistente sugere que Andersen era um filho ilegítimo do rei Cristiano VIII da Dinamarca. O historiador dinamarquês Jens Jørgensen apoiou essa ideia em seu livro "H.C. Andersen, en sand myte" [H.C. Andersen, um verdadeiro mito]. Hans Christian Andersen foi batizado em 15 de abril de 1805, na Igreja de Saint Hans (Igreja de São João), em Odense, na Dinamarca. Sua certidão de nascimento só foi redigida em novembro de 1823, segundo a qual seis padrinhos estiveram presentes na cerimônia de batismo: Madame Sille Marie Breineberg, a donzela Friederiche Pommer, o sapateiro Peder Waltersdorff, o carpinteiro oficial Anders Jørgensen, o porteiro do hospital Nicolas Gomard e o chapeleiro real Jens Henrichsen Dorch. O pai de Andersen, que chegou a fazer o ensino fundamental, apresentou seu filho à literatura, lendo para ele as "Mil e Uma Noites". A mãe de Andersen, Anne Marie Andersdatter, era uma lavadeira analfabeta. Após a morte de seu marido em 1816, ela se casou novamente em 1818. Andersen foi enviado para uma escola local para crianças pobres, onde recebeu educação básica e teve que se sustentar, trabalhando como aprendiz de tecelão e, posteriormente, de alfaiate. Aos quatorze anos, mudou-se para Copenhague para procurar emprego como ator. Tendo uma excelente voz de soprano, ele foi aceito no Royal Danish Theatre, mas sua voz logo mudou. Um colega de teatro disse a ele que considerava Andersen um poeta. Levando a sugestão a sério, Andersen começou a se concentrar na escrita. Jonas Collin, diretor do Royal Danish Theatre, tinha grande afeição por Andersen e o enviou para uma escola secundária em Slagelse, persuadindo o rei Frederico VI da Dinamarca a pagar parte da educação do jovem. Andersen já havia publicado sua primeira história, "The Ghost at Palnatoke's Grave" (1822). Apesar de não ser um aluno excelente, ele também frequentou a escola em Elsinore até 1827. Desde a tenra infância, Andersen se destacava como um tanto excêntrico. Desproporcionalmente alto, desengonçado e deturpado, ele se mostrava assombrosamente efeminado. Enquanto os demais rapazes se divertiam ao ar livre, ele preferia recluir-se no lar, confeccionando indumentárias para bonecas e ensaiando minuciosamente com seu teatro de marionetes. Mais tarde, ele disse que seus anos nesta escola foram os anos mais sombrios e amargos de sua vida. Em uma escola particular, ele morava na casa de seu professor. Lá ele foi abusado e informado que o crime foi feito para "melhorar seu caráter". Mais tarde, ele disse que o corpo docente o desencorajou a escrever, o que resultou em depressão. Carreira. Primeiros trabalhos. Um conto de fadas muito antigo de Andersen, "A Vela de Sebo" (dinamarquês: Tællelyset), foi descoberto em um arquivo na Dinamarca, em outubro de 2012. Trata-se do primeiro texto inédito de Hans Christian Andersen descoberto em quase cem anos, já que a última obra inédita do autor "O livro da minha vida" () tinha sido encontrado na Real Biblioteca da Dinamarca pelo escritor Hans Brix em meados de 1920. A história, escrita na década de 1820, é sobre uma vela que não era apreciada. Foi escrito enquanto Andersen ainda estava na escola e dedicado a um de seus benfeitores. A história permaneceu em posse daquela família até que apareceu entre outros papéis da família, em um arquivo local. Em 1829, Andersen teve um sucesso considerável com o conto "Uma Jornada a Pé do Canal de Holmen Até o Ponto Leste de Amager" (localizações do centro e de algumas milhas a leste de Copenhaga). Seu protagonista conhece personagens que vão desde o apóstolo Pedro até um gato falante. Andersen seguiu esse sucesso com uma peça teatral, "Amor na Torre da Igreja de São Nicolau", e um pequeno volume de poemas. Ele fez pouco progresso na escrita e a publicação imediatamente após a publicação desses poemas, mas recebeu uma pequena bolsa de viagem do rei em 1833. Isso lhe permitiu partir na primeira de muitas viagens pela Europa. Em Jura, perto de Le Locle, na Suíça, Andersen escreveu a história "Agnete og Havmanden". No mesmo ano passou uma noite na vila costeira italiana de Sestri Levante, lugar que inspirou o título de "The Bay of Fables". Ele chegou a Roma em outubro de 1834. As viagens de Andersen na Itália foram refletidas em seu primeiro romance, uma autobiografia ficcional intitulada "O Improvisatore" (Improvisatoren), publicada em 1835 com aclamação instantânea. Contos de fadas literários. Contos de Fadas Contados para Crianças. Primeira coleção. (dinamarquês: "Eventyr, fortalt para Børn. Første Samling".) é uma coleção de nove contos de fadas de Hans Christian Andersen. Os contos foram publicados em uma série de três capítulos por C. A. Reitzel, em Copenhague, na Dinamarca, entre maio de 1835 e abril de 1837, e representam a primeira aventura de Andersen no gênero conto de fadas. A primeira parcela de sessenta e uma páginas não encadernadas foi publicada em 8 de maio de 1835 e continha "The Tinderbox", "Little Claus e Big Claus", "A Princesa e a Ervilha" e "Little Ida's Flowers". Os três primeiros contos foram baseados em contos populares que Andersen ouviu em sua infância, enquanto o último conto foi totalmente criação de Andersen e criado para Ida Thiele, filha do antigo benfeitor de Andersen, o folclorista Just Mathias Thiele. Reitzel pagou a Andersen trinta rixdólares pelo manuscrito, e o livreto custou vinte e quatro xelins. O segundo livreto foi publicado em 16 de dezembro de 1835 e continha "A Polegarzinha", "The Naughty Boy" e "The Traveling Companion". "A Polegarzinha" foi totalmente criação de Andersen, embora inspirada em "Tom Thumb" e outras histórias de pessoas em miniatura. "The Naughty Boy" foi baseado em um poema de Anacreonte sobre Cupido, e "The Traveling Companion" foi uma história de fantasmas que Andersen experimentou no ano de 1830. O terceiro livreto continha "A Pequena Sereia" e "A Roupa Nova do Rei", e foi publicado em 7 de abril de 1837. "A Pequena Sereia" foi totalmente criação de Andersen, embora influenciado por "Undine" de De la Motte Fouqué (1811) e o conhecimento sobre sereias. Este conto estabeleceu a reputação internacional de Andersen. O único outro conto no terceiro livreto foi "A Roupa Nova do Rei", baseado em uma história espanhola medieval com fontes árabes e judaicas. Na véspera da publicação da terceira edição, Andersen revisou a conclusão de sua história (o imperador simplesmente caminha em procissão) para o agora familiar final de uma criança gritando: "O imperador não está vestindo nenhuma roupa!". As resenhas dinamarquesas dos dois primeiros livretos apareceram pela primeira vez em 1836 e não foram entusiásticas. Os críticos não gostaram do estilo tagarela e informal e da imoralidade que ia contra suas expectativas. A literatura infantil era mais para educar do que para divertir. Os críticos desencorajaram Andersen de seguir esse tipo de estilo. Andersen acreditava que estava trabalhando contra as noções preconcebidas dos críticos sobre os contos de fadas e voltou temporariamente a escrever romances. A reação dos críticos foi tão severa que Andersen esperou um ano inteiro antes de publicar seu terceiro volume. Os nove contos dos três livretos foram combinados e depois publicados em um volume e vendidos por setenta e dois xelins. Uma página de título, um sumário e um prefácio de Andersen foram publicados neste volume. Em 1868, Horace Scudder, o editor da "Riverside Magazine For Young People", ofereceu a Andersen $500 por uma dúzia de novas histórias. Dezesseis das histórias de Andersen foram publicadas na revista americana, e dez delas apareceram lá antes de serem impressas na Dinamarca. Diários de bordo. Andersen era um ávido viajante cujas jornadas eram tanto fascinantes quanto essenciais em sua vida. Cada viagem que empreendia despertava em Andersen a necessidade irresistível de registrar suas experiências. Ele meticulosamente anotava suas impressões e observações em seus diários pessoais, bem como em suas correspondências abundantes enviadas aos amigos mais próximos. Consequentemente, essas narrativas de viagem foram posteriormente compiladas e publicadas como livros, um valioso testemunho das suas explorações e descobertas. Os livros de viagens de Andersen representam uma notável extensão das suas vivências no papel. Ao longo do tempo, suas obras foram editadas e aprimoradas, proporcionando aos leitores uma visão envolvente e detalhada de cada local que ele visitou. Em seu notável trabalho autobiográfico, intitulado "Mit Livs Eventyr" [A Narrativa da Minha Vida], também encontramos referências e trechos das suas viagens, enriquecendo ainda mais a compreensão de sua persona e trajetória. A primeira menção documentada de uma viagem de Andersen ocorreu em 1826. Nessa ocasião, ele descreveu minuciosamente sua jornada em uma carta enviada a Raasmus Nyerup, que prontamente a publicou. Esse relato de viagem foi intitulado "Fragment af en Reise fra Roeskilde til Helsingør" [Fragmento de uma Viagem de Roskilde a Elsinore]. Essa primeira incursão literária no gênero das viagens marcou o início de uma prolífica carreira de Andersen como escritor viajante. Em 1831, Andersen publicou seu primeiro livro de viagens, intitulado "Skyggebilleder af en Reise til Harzen" [Silhuetas de uma Viagem à Montanha do Harz]. Essa obra singular captura suas impressões e percepções durante sua primeira visita à Alemanha, revelando seu talento distinto em retratar não apenas os aspectos físicos dos lugares, mas também as emoções e reflexões que surgem em meio às experiências de viagem. Em "A Visit to Portugal in 1866", ele descreve sua visita aos amigos portugueses Jorge e José O'Neill, que foram seus amigos em meados da década de 1820, quando ele morava em Copenhague. Na década de 1840, a atenção de Andersen voltou novamente ao palco do teatro, mas com pouco sucesso. Ele teve mais sorte com a publicação do "Picture-Book without Pictures" (1840). Uma segunda série de contos de fadas foi iniciada em 1838 e uma terceira série em 1845. Andersen agora era celebrado em toda a Europa (exceto na Dinamarca que ainda mostrava resistência as suas obras). As famílias reais do mundo eram patronas dos escritos, incluindo a monarquia da Dinamarca, a Casa de Eslésvico-Holsácia-Sonderburgo-Glücksburgo. Um convite inesperado do rei Cristiano IX da Dinamarca para o palácio real não só consolidaria o folclore de Andersen na realeza dinamarquesa, mas seria inexplicavelmente transmitido à dinastia Romanov, na Rússia. Entre 1845 e 1864, ele viveu em Nyhavn 67, Copenhagen, onde uma placa memorial foi colocada em um prédio. Vida pessoal. Soren Kierkegaard. Em "Andersen as a Novelist", Søren Kierkegaard observa que Andersen é caracterizado como, "...uma possibilidade de uma personalidade, envolta em uma teia de humor arbitrário e movendo-se através de uma escala duodecimal elegíaca [ou seja, uma escala cromática incluindo sustenidos e bemóis, associada mais ao lamento ou elegia do que a uma escala comum] de tons quase sem eco, que são tão facilmente despertados quanto contidos, e que, para se tornar uma personalidade, precisa de um forte desenvolvimento da vida.". Encontros com Charles Dickens. Em junho de 1847, Andersen fez sua primeira visita à Inglaterra, desfrutando de um sucesso social triunfal durante este verão. A condessa de Blessington o convidou para suas festas onde pessoas intelectuais se encontravam, e foi em uma dessas festas que ele conheceu Charles Dickens pela primeira vez. Eles apertaram as mãos e caminharam até a varanda, sobre a qual Andersen escreveu em seu diário: "Estávamos na varanda e fiquei muito feliz em ver e falar com o escritor que agora vive na Inglaterra, a quem mais amo". Os dois autores respeitavam o trabalho um do outro e, como escritores, compartilhavam algo importante em comum: representações dos pobres e da subclasse que muitas vezes tiveram vidas difíceis afetadas tanto pela Revolução Industrial quanto pela pobreza abjeta. Na era vitoriana, havia uma crescente simpatia pelas crianças e uma idealização da inocência da infância. Dez anos depois, Andersen visitou a Inglaterra novamente, principalmente para conhecer Dickens. Ele estendeu a breve visita planejada à casa de Dickens em Gads Hill Place para uma estada de cinco semanas, para grande angústia da família de Dickens. Depois que Andersen foi instruído a ir embora, Dickens gradualmente interrompeu toda a correspondência entre eles, para grande decepção e confusão de Andersen, que gostou bastante da visita e nunca conseguiu entender por que suas cartas ficaram sem resposta. Vida amorosa. Em relação ao início da vida de Andersen, seu diário particular registra sua recusa em ter relações sexuais. Andersen experimentou atração pelo mesmo sexo; ele escreveu, em carta, à Edvard Collin: "Eu sofro por você como por uma bela moça da Calábria ... meus sentimentos por você são os de uma mulher. A feminilidade de minha natureza e nossa amizade devem permanecer um mistério." Collin, que preferia mulheres, escreveu em suas próprias memórias: "Eu me descobri incapaz de corresponder a esse amor e isso causou muito sofrimento ao autor." A paixão de Andersen por Carl Alexander, o jovem duque hereditário de Saxe-Weimar-Eisenach, resultou em um relacionamento: O Grão-Duque Herdeiro caminhou de braços dados comigo pelo pátio do castelo até o meu quarto, beijou-me carinhosamente, pediu-me para amá-lo sempre, embora eu fosse apenas uma pessoa comum, pediu-me para ficar com ele neste inverno... Senti-me adormecido com a sensação melancólica e feliz de ser o hóspede deste estranho príncipe em seu castelo e amado por ele... É como um conto de fadas. Há uma forte divisão de opinião sobre a realização física de Andersen na esfera sexual. O Centro Hans Christian Andersen, da Universidade do Sul da Dinamarca, e o biógrafo Jackie Wullschlager têm opiniões contraditórias. A biografia de Wullschlager afirma que ele possivelmente foi amante do dançarino dinamarquês Harald Scharff e "The Snowman" de Andersen foi inspirado por seu relacionamento. Scharff conheceu Andersen quando este estava na casa dos cinquenta. Andersen estava claramente apaixonado, e Wullschlager vê seus diários como implicando que o relacionamento deles era sexual. Scharff teve vários jantares a sós com Andersen e seu presente de uma escova de dentes de prata para Andersen em seu quinquagésimo sétimo aniversário marcou o relacionamento deles como incrivelmente próximo. Wullschlager afirma que no inverno de 1861-62 os dois homens iniciaram um caso de amor completo que lhe trouxe "alegria, algum tipo de realização sexual e um fim temporário para a solidão". Ele não foi discreto em sua conduta. com Scharff, e exibiu seus sentimentos muito abertamente. Os espectadores consideraram o relacionamento impróprio e ridículo. Em seu diário de março de 1862, Andersen se referiu a esse período de sua vida como seu "período erótico". Em 13 de novembro de 1863, Andersen escreveu: "Scharff não me visita há oito dias; com ele acabou". Andersen aceitou o fim com calma e os dois se encontraram em círculos sociais sobrepostos sem amargura, embora Andersen tenha tentado reacender seu relacionamento várias vezes sem sucesso. Em contraste com as afirmações de Wullschlager estão Klara Bom e Anya Aarenstrup do H. C. Andersen Center da University of Southern Denmark. Eles afirmam que: "é correto apontar para os elementos muito ambivalentes (e também muito traumáticos) na vida emocional de Andersen em relação à esfera sexual, mas é decididamente errado descrevê-lo como homossexual e sustentar que ele teve relações físicas com homens. Ele não o fez. Na verdade, isso teria sido totalmente contrário às suas idéias morais e religiosas, aspectos que estão totalmente fora do campo de visão de Wullschlager e seus semelhantes." Andersen também se apaixonou por mulheres inatingíveis, e muitas de suas histórias são interpretadas como referências. A certa altura, ele escreveu em seu diário: "Deus Todo-Poderoso, só a ti tenho; tu guias meu destino, devo me entregar a ti! Dê-me um sustento! Dê-me uma noiva! Meu sangue quer amor, assim como meu coração!" Uma de suas histórias, "The Nightingale", foi escrita como uma expressão de sua paixão por Jenny Lind e se tornou a inspiração para seu apelido, "Swedish Nightingale". Andersen costumava ser tímido com as mulheres e tinha extrema dificuldade em propor casamento a Lind. Quando Lind estava embarcando em um trem para ir a um concerto de ópera, Andersen deu a Lind uma carta de proposta. Seus sentimentos por ele não eram os mesmos; ela o via como um irmão, escrevendo para ele em 1844: "adeus... Deus abençoe e proteja meu irmão é o desejo sincero de sua afetuosa irmã, Jenny". Sugere-se que Andersen expressou sua decepção ao retratar Lind como a anti-heroína homônima de sua Rainha da Neve. Morte e funeral. No início de 1872, aos 67 anos, Andersen caiu da cama e ficou gravemente ferido; ele nunca se recuperou totalmente dos ferimentos resultantes. Logo depois, ele começou a mostrar sinais de câncer de fígado. Ele morreu em 4 de agosto de 1875, em uma casa chamada Rolighed (literalmente: calma), perto de Copenhague, a casa de seus amigos íntimos, o banqueiro Moritz G. Melchior e sua esposa. Pouco antes de sua morte, Andersen consultou um compositor sobre a música para seu funeral, dizendo: "A maioria das pessoas que caminharão depois de mim serão crianças, então faça a batida manter o ritmo com pequenos passos." Seu corpo foi enterrado no Assistens Kirkegård na área de Nørrebro em Copenhague, no jazigo da família dos Collins. Em 1914, no entanto, a pedra foi transferida para outro cemitério (hoje conhecido como "Frederiksbergs ældre kirkegaard"), onde os membros mais jovens da família Collin foram enterrados. Por um período, os túmulos dele, de Edvard Collin e de Henriette Collin não foram marcados. Uma segunda pedra foi erguida, marcando H.C. O túmulo de Andersen, agora sem nenhuma menção ao casal Collin, mas os três ainda compartilham o mesmo enredo. Na época de sua morte, Andersen era reverenciado internacionalmente, e o governo dinamarquês pagou a ele um estipêndio anual como um "tesouro nacional". Obras. Entre os contos de Andersen destacam-se:
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Henrique I de Inglaterra
Henrique I de Inglaterra Henrique I (Selby, ca. – Lyons-la-Forêt, ), também conhecido como Henrique Beauclerc, foi o Rei da Inglaterra de 1100 até sua morte, em 1135. Era o quarto filho de Guilherme I de Inglaterra e foi educado em latim e artes liberais. Quando seu pai morreu em 1087, seus irmãos mais velhos Guilherme, o Ruivo e Roberto Curthose herdaram a Inglaterra e a Normandia, respectivamente, e nada ficou com Henrique. Ele acabou comprando de Roberto o Condado de Cotentin no leste da Normandia, porém seus irmãos o depuseram em 1091. Henrique gradualmente reconstruiu seu poder em Cotentin e aliou-se com Guilherme contra Roberto. Ele estava presente quando o irmão morreu em um acidente de caça em 1100, tomando rapidamente o trono inglês e prometendo corrigir muitas das políticas impopulares de Guilherme. Henrique casou-se com Edite da Escócia, porém continuou a ter várias amantes, com quem teve vários filhos ilegítimos. Roberto disputou o trono com Henrique, invadindo a Inglaterra em 1101. Essa campanha militar terminou com um acordo que confirmava Henrique como rei. A paz durou pouco, desta vez com o rei invadindo o Ducado da Normandia em 1105 e 1106, finalmente derrotando Roberto na Batalha de Tinchebray. Ele manteve o irmão como prisioneiro pelo resto da vida. Seu controle da Normandia foi desafiado por Luís VI de França, Balduíno VII de Flandres e Fulque V de Anjou, que incentivaram a pretensão de Guilherme Clito, filho de Roberto, e apoiaram uma grande rebelião no ducado entre 1116 e 1119. Um favorável acordo de paz foi estabelecido com Luís em 1120 após a vitória de Henrique na Batalha de Brémule. Considerado por seus contemporâneos como um governante severo e eficiente, Henrique habilidosamente manipulou os barões ingleses e normandos. Na Inglaterra, ele se baseou no já existente sistema jurídico anglo-saxão, nos governos locais e nos impostos, porém também fortaleceu outras instituições, como o erário público real e as justiças itinerantes. A Normandia também era governada através de um sistema de justiças e um erário público. Muitos dos oficiais que cuidavam do sistema de Henrique eram "homens novos", indivíduos de nascimento relativamente baixo que subiram na sociedade como administradores. O rei encorajava a reforma eclesiástica, porém ficou envolvido em 1101 em uma séria disputa com o arcebispo Anselmo da Cantuária, algo que foi resolvido em 1015 através de uma solução de compromisso. Ele apoiava a Ordem de Cluny e teve papel importante na escolha do alto clero na Inglaterra e Normandia. Guilherme Adelino, o único filho e herdeiro legítimo de Henrique, morreu no "Barco Branco" em 1120, colocando em dúvida a sucessão real. Henrique casou-se novamente na esperança de ter outro filho, porém não conseguiu. Em resposta, o rei declarou sua filha Matilde como herdeira e a casou com Godofredo V de Anjou. A relação de Henrique com o casal ficou ruim e um confronto começou na fronteira de Anjou. O rei morreu em 1 de dezembro de 1135 depois de ter ficado doente por algumas semanas. Apesar de seus planos para Matilde, ele foi sucedido como rei por Estêvão de Blois, seu sobrinho, resultando no período de guerra civil conhecido como a Anarquia. Início de vida. Infância. Henrique provavelmente nasceu na Inglaterra em 1068, no verão ou nas últimas semanas do ano, possivelmente na cidade de Selby em Yorkshire. Seu pai era Guilherme, originalmente Duque da Normandia e então Rei da Inglaterra após a invasão de 1066, com suas terras chegando até o País de Gales. A invasão criou uma elite anglo-normanda, muitos com propriedades dos dois lados do Canal da Mancha. Esses barões anglo-normandos tinham ligações com o Reino da França, que na época era uma coleção de condados e organizações públicas menores sob o controle mínimo de um rei. Matilde de Flandres, a mãe de Henrique, era a neta de Roberto II de França, e provavelmente nomeou o filho em homenagem ao seu sobrinho Henrique I de França. Henrique era o filho mais novo de Guilherme e Matilde. Fisicamente era parecido com seus irmãos mais velhos, Roberto Curthose, Ricardo e Guilherme, o Ruivo; o historiador David Carpenter o descreve como sendo "baixo, encorpado e de peito largo" e com cabelos pretos. Henrique provavelmente conviveu pouco com os irmãos por causa da diferença de idade e pela morte prematura de Ricardo. Ele provavelmente era mais próximo de sua irmã Adela já que tinham quase a mesma idade. Existem poucos documentos sobre sua infância; os historiadores Warren Hollister e Kathleen Thompson sugerem que ele cresceu principalmente na Inglaterra, enquanto que Judith Green fala que ele inicialmente cresceu na Normandia. Ele provavelmente foi educado pela igreja, possivelmente pelo Bispo Osmundo, o chanceler do rei, na Catedral de Salisbúria; não é claro se isso indica uma intenção por parte de seus pais que Henrique entrasse para o clero. Também não é claro a extensão de sua educação, porém provavelmente sabia ler latim e tinha algum conhecimento de artes liberais. Ele foi treinado em artes militares por Roberto Arcardo, sendo feito cavaleiro pelo pai em 24 de maio de 1086. Herança. Em 1087, Guilherme foi fatalmente ferido em campanha na região de Vexin. Em setembro, Henrique encontrou com o pai em Ruão, onde o rei partilhou suas posses com os filhos. As regras de sucessão no oeste da Europa não eram claras na época; em algumas partes da França, a primogenitura estava ganhando popularidade. Em outras partes da Europa, como na Normandia e na Inglaterra, a tradição mandava as terras serem divididas, com o filho mais velho recebendo as terras patrimoniais – geralmente consideradas as mais valiosas – e os mais novos recebiam terras e propriedades menores ou recém adquiridas. Ao dividir suas terras, Guilherme aparentemente seguiu a tradição normanda, fazendo uma distinção entre a Normandia, que ele herdou, e a Inglaterra, que ele conquistou através da guerra. O segundo filho de Guilherme, Ricardo, havia morrido em um acidente de caça, deixando Henrique e seus irmãos para herdar as propriedades do rei. Roberto, o mais velho, apesar de travar uma rebelião armada contra o pai na época de sua morte, recebeu a Normandia. A Inglaterra foi entregue a Guilherme, o Ruivo, que era mais bem visto pelo pai. Henrique recebeu uma grande quantia, supostamente cinco mil libras, com a expectativa de também receber as terras modestas da mãe em Buckinghamshire e Gloucestershire. O funeral de Guilherme em Caen foi marcado por reclamações de um homem furioso, e Henrique supostamente foi o responsável por resolver a disputa ao pagar prata para o homem ir embora. Roberto voltou para a Normandia, tendo esperado receber a Inglaterra também, descobrindo que Guilherme havia cruzado o Canal da Mancha e fora coroado rei como Guilherme II. Os dois irmãos discutiram sobre a herança e Roberto começou a planejar uma invasão, auxiliado por uma rebelião de nobres contra o novo rei. Henrique ficou na Normandia e assumiu um papel na corte do Roberto, possivelmente por não querer se aliar abertamente com Guilherme ou porque Roberto poderia aproveitar para roubar seu dinheiro se ele partisse. Guilherme tomou as terras de Henrique na Inglaterra, deixando o irmão sem propriedades. Em 1088, os planos de Roberto para invadir a Inglaterra começaram a ruir, e ele pediu ajuda a Henrique, propondo que o irmão lhe emprestasse parte de sua herança; Henrique disse não. Os dois então bolaram um novo acordo, em que Roberto nomearia Henrique conde do oeste da Normandia em troca de três mil libras. As terras de Henrique eram um novo condado baseado numa delegação da autoridade ducal em Cotentin, porém se estendia por Avranchin, controlando bispados dos dois. Isso também lhe dava influência sobre dois grandes líderes normandos, Hugo d'Avranches e Ricardo de Redvers, além da abadia de Monte Saint-Michel, cujas terras se espalhavam por todo o ducado. A força de invasão de Roberto não conseguiu deixar a Normandia e Guilherme ficou seguro na Inglaterra. Conde de Cotentin. Henrique rapidamente se estabeleceu e construiu um rede de seguidores que ia do oeste da Normandia até o leste da Bretanha; o historiador John Le Patourel chamou esses homens de a "Gangue de Henrique". Seus primeiros apoiadores incluíam Rogério de Mandeville, Ricardo de Redvers, Ricardo de Avranches e Roberto FitzHamon, além do clérigo Rogério de Salisbury. Roberto tentou voltar atrás no acordo e retomar o condado, porém Henrique já era forte o bastante para impedi-lo O reinado de Roberto no ducado foi caótico e certas terras de Henrique se tornaram praticamente independentes do controle central em Ruão. Parece que Guilherme e Roberto nunca confiaram em Henrique nesse período. Este voltou a Inglaterra em julho de 1088 depois do fim da rebelião contra o rei. Ele se encontrou com Guilherme, porém não conseguiu persuadi-lo a entregar as propriedades da mãe e voltou para a Normandia no outono. Entretanto, enquanto esteve fora, o bispo Odão de Bayeux, que o considerava um competidor em potencial, convenceu Roberto que o irmão estava conspirando contra ele junto com Guilherme. Henrique foi preso por Odão ao desembarcar e levado até Neuilly-la-Forêt, e Roberto tomou de volta o Condado de Cotentin. Ele ficou preso durante o inverno, porém os nobres normandos prevaleceram sobre Roberto e Henrique foi solto na primavera de 1089. Henrique continuou a controlar o oeste da Normandia apesar de não ser mais oficialmente o Conde de Cotentin. A luta entre Henrique e seus irmãos continuou. Guilherme continuou a derrotar suas resistências na Inglaterra e começou a construir várias alianças com barões normandos contra Roberto. Roberto se aliou a Filipe I de França. No final de 1090, Guilherme convenceu Conan Pilatos, um poderoso burguês de Ruão, a se rebelar contra Roberto; ele foi apoiado pela maior parte da cidade e apelou para que as guarnições ducais vizinhas trocassem de lado também. Roberto pediu ajuda aos barões, e Henrique foi o primeiro a chegar em Ruão no mês de novembro. A violência começou, levando a lutas nas ruas enquanto os dois lados tentavam tomar a cidade. Roberto e Henrique deixaram o castelo para entrarem na batalha, porém Roberto recuou e Henrique continuou lutando. A batalha foi vencida pelas forças ducais e Henrique prendeu Conan. Ele ficou furioso porque Conan se rebelou contra seu lorde feudal. Henrique o levou para o topo do Castelo de Ruão e o atirou para a morte, mesmo Conan se oferecendo a pagar uma grande quantia em dinheiro. Contemporâneos consideram que ele fez a coisa certa ao transformar Conan em exemplo, e Henrique acabou ficando famoso por suas proezas na batalha. Ascensão e queda. Roberto forçou Henrique deixar Ruão, provavelmente porque o papel do irmão na luta foi maior que o dele, possivelmente também porque Henrique pediu para voltar a ser Conde de Cotentin. No começo de 1091, Guilherme invadiu a Normandia com um exército grande o bastante para que Roberto negociasse. Os dois assinaram um tratado em Ruão, garantindo ao rei várias terras e castelos na Normandia. Em troca, ele prometeu ajudar Roberto a reconquistar o condado vizinho de Maine e readquirir o controle do ducado, incluindo as terras de Henrique. Se nomearam herdeiros da Inglaterra e Normandia, excluindo Henrique de qualquer sucessão enquanto ainda eram vivos. Uma guerra começou entre Henrique e seus irmãos. Esse mobilizou um exército mercenário no oeste da Normandia, porém as forças de Guilherme e Roberto avançaram e sua rede de barões ruiu. Ele centrou suas forças restantes em Monte Saint-Michel, onde foi cercado provavelmente em março de 1091. O local era de fácil defesa, porém não tinha água fresca. O cronista Guilherme de Malmesbury sugeriu que quando a água de Henrique acabou, Roberto deu ao irmão novos suprimentos, gerando conflitos com Guilherme. Não são claros os eventos dos dias finais do cerco: os sitiantes estavam discutindo a estratégia da campanha, porém Henrique abandonou a fortaleza, provavelmente como parte de um acordo de rendição. Ele foi para a Bretanha e então para o centro da França. Seus movimentos seguintes não são bem documentados; o cronista Orderico Vital sugere que ele viajou por mais de um ano com um grupo pequeno de seguidores por Vexin, ao longo da fronteira com a Normandia. No final do ano, Roberto e Guilherme desentenderam-se novamente e o Tratado de Ruão foi abandonado. Em 1092, Henrique e seus seguidores tomaram a cidade normanda de Domfront. Ela era controlada por Roberto de Bellême, porém seus habitantes não gostavam dele e convidaram Henrique a tomar a cidade, que ele fez sem matar ninguém. Nos dois anos seguintes ele restabeleceu sua rede de apoiantes no oeste da Normandia. Em 1094, ele estava distribuindo castelos e terras para seus seguidores como Duque da Normandia. Guilherme passou a apoiá-lo com dinheiro, encorajando uma campanha contra Roberto. Henrique usou parte do dinheiro para construir um castelo em Domfront. Guilherme foi para a Normandia em 1094 para guerrear com Roberto; quando o avanço parou, ele pediu a ajuda de Henrique. Ele respondeu, mas viajou para Londres ao invés de se juntar à campanha principal no leste da Normandia, possivelmente por pedido do rei, que de qualquer forma abandonou a luta e voltou para a Inglaterra. Nos anos seguintes, Henrique fortaleceu sua base de poder na Normandia, visitando a Inglaterra ocasionalmente para participar da corte de Guilherme. Em 1095, o Papa Urbano II convocou a Primeira Cruzada, encorajando cavaleiros de toda a Europa. Roberto se juntou a cruzada com dinheiro emprestado de Guilherme, em troca garantindo ao rei a custódia temporária de parte do ducado. Guilherme parecia confiante em reconquistar o resto da Normandia, e Henrique parecia estar mais próximo do rei. Os dois fizeram campanha por Vexin entre 1097 e 1098. Início de reinado. Tomada do trono. Henrique se tornou Rei da Inglaterra depois de Guilherme morrer enquanto caçava. Na tarde de , o rei foi caçar na Nova Floresta, acompanhado por um grupo de caçadores e vários nobres normandos, incluindo Henrique. Uma flecha foi disparada, possivelmente pelo barão Walter Tirel, que acertou e matou Guilherme. Várias teorias da conspiração foram colocadas sugerindo que o rei foi morto deliberadamente; a maioria dos historiadores modernos rejeitam isso, já que caçar era uma atividade bem perigosa e acidentes eram comuns. O caos se espalhou e Tirel fugiu para a França, por ter disparado o tiro fatal ou por ter sido incorretamente acusado e temia virar bode expiatório da morte. Henrique foi para Winchester, onde uma discussão começou sobre quem tinha a melhor reivindicação ao trono. Guilherme de Breteuil defendeu os direitos de Roberto, que ainda estava fora do país retornando da cruzada, e a quem Henrique e os barões haviam prestado homenagem nos anos anteriores. Henrique afirmava que, diferentemente do irmão, ele havia nascido quando seus pais já eram rei e rainha, dando-lhe uma reivindicação melhor. Os ânimos se exaltaram, porém Henrique, com o apoio de Henrique de Beaumont e Roberto de Meulan, manteve-se e persuadiu os barões a segui-lo. Ele ocupou o Castelo de Winchester e tomou o tesouro real. Henrique foi rapidamente coroado em 5 de agosto na Abadia de Westminster por Maurício, Bispo de Londres, já que Anselmo, Arcebispo da Cantuária, havia sido exilado por Guilherme e Tomás, Arcebispo de Iorque, estava no norte em Ripon. De acordo com a tradição inglesa e para legitimar seu reinado, Henrique emitiu uma carta régia fazendo várias promessas. O novo rei se apresentou como tendo restaurado a ordem a um país devastado por dificuldades. Ele anunciou que iria abandonar as políticas de Guilherme em relação a igreja, que eram vistas como opressivas pelo clero; Henrique prometeu evitar os abusos reais dos direitos de propriedade dos barões, garantindo uma volta aos costumes gentis de Eduardo, o Confessor. Ele afirmou que iria "estabelecer uma paz firme" por toda a Inglaterra, ordenando "que esta paz passará a ser mantida". Além de seu existente círculo de apoiadores, muitos dos quais foram recompensados com novas terras, Henrique rapidamente cooptou muito da administração existente em sua nova criadagem real. Guilherme Gifardo, chanceler de Guilherme II, foi nomeado Bispo de Winchester e os proeminentes xerifes Urso de Abetot, Haimo Dapifer e Roberto FitzHamon continuaram a ter papéis importantes no novo governo. Em contraste, o impopular Ranulfo Flambardo, o Bispo de Durham, e outros importantes membros do reinado anterior, foram aprisionados na Torre de Londres e acusados de corrupção. Guilherme havia deixado muitos cargos clericais em aberto, e Henrique começou a nomear novos ocupantes num esforço para construir uma base de apoio maior em seu governo. As nomeações precisavam ser consagradas, e o rei escreveu a Anselmo se desculpando por ter sido coroado enquanto o arcebispo estava na França, pedindo seu retorno. Casamento com Edite. Em 11 de novembro de 1100, Henrique se casou com Edite, filha do rei Malcolm III da Escócia. Henrique tinha por volta de 31 anos de idade. Os dois provavelmente se conheceram na década anterior, possivelmente sendo apresentados pelo bispo Osmundo de Salisbúria. O historiador Warren Hollister diz que Henrique e Edite eram próximos, porém a união também foi motivada pela política. Edite era membro de uma família real, sobrinha de Edgar de Wessex, bisneta de Edmundo II de Inglaterra e descendente de Alfredo de Inglaterra. Para Henrique, casar-se com Edite deu maior legitimidade ao seu reinado, e para Edite, uma mulher ambiciosa, a oportunidade de uma posição mais alta e poder na Inglaterra. Porém, Edite foi educada em vários conventos e pode ter proferido votos para se tornar formalmente uma freira, algo que formaria um obstáculo para o casamento. Ela não desejava ser freira e apelou para Anselmo a fim de conseguir permissão para se casar com Henrique, e o arcebispo estabeleceu um conselho para julgar a questão no Palácio de Lambeth. Apesar de algumas objeções, o conselho concluiu que apesar de Edite ter vivido em conventos, ela não tinha se transformando em uma freira e estava livre para se casar, um julgamento que Anselmo então afirmou, permitindo que o casamento fosse adiante. Edite mostrou-se uma boa rainha para Henrique, atuando como regente em uma ocasião, falando e presidindo conselhos e apoiando as artes. O casal teve dois filhos, Matilde, nascida em 1102, e Guilherme Adelino, nascido em 1103; é possível que também tiveram um filho chamado Ricardo, que morreu jovem. Após o nascimento dos filhos, Edite preferiu permanecer em Westminster enquanto Henrique viajava pela Inglaterra e Normandia, por motivos religiosos ou por gostar de se envolver na máquina do governo real. Henrique tinha um apetite sexual considerável e gostava de um grande número de parceiras, resultando em muitos filhos ilegítimos, pelo menos nove filhos e treze filhas, vários dos quais ele aparentemente reconheceu e apoiou. Era normal para nobres anglo-normandos solteiros terem relações sexuais com prostitutas e mulheres locais, e também era esperado que os reis tivesse amantes. Algumas dessas relações ocorreram antes de Henrique se casar, porém várias outras ocorreram após seu casamento com Edite. Ele teve várias amantes vindas de diferentes lugares, e aparentemente as relações foram conduzidas de forma relativamente aberta. Henrique talvez tenha escolhido algumas de suas amantes nobres por motivos políticos, porém não há muitas evidências para apoiar essa teoria. Tratado de Alton. No início de 1101, o novo regime de Henrique já estava estabelecido e funcionando, porém muitos da elite anglo-normanda ainda apoiavam Roberto ou estavam preparados a trocar de lado se parecesse que ele estava ganhando poder na Inglaterra. Em fevereiro, Ranulfo Flambardo escapou da Torre de Londres e cruzou o Canal da Mancha até a Normandia, onde injetou nova força e energia às tentativas de Roberto de mobilizar uma força de invasão. Em julho, Roberto já tinha uma frota e um exército preparando-se para agir contra Henrique. Aumentando as expectativas do conflito, Henrique tomou as terras de Flambardo e, com a ajuda de Anselmo, o removeu de sua posição de bispo. Henrique realizou uma corte em abril e junho, onde a nobreza renovou seus juramentos de lealdade, porém seu apoio parecia parcial e incerto. Com a iminente invasão, Henrique mobilizou suas forças e frota do lado de fora de Pevensey, perto do antecipado local de desembarque de Roberto, treinando pessoalmente alguns dos homens em como contra-atacar cavalarias. Apesar de ingleses recrutados e cavaleiros devendo serviço militar a igreja terem aparecido em grande número, muitos de seus barões não compareceram. Anselmo interveio com alguns dos céticos, enfatizando a importância religiosa de sua lealdade a Henrique. Roberto desembarcou inesperadamente mais ao norte em Portsmouth no dia 20 de julho, tendo consigo uma força modesta de algumas centenas de homens, porém logo foram acompanhados por muitos dos barões na Inglaterra. Ao invés de marchar para Winchester e tomar o tesouro real, Roberto parou e deu tempo para o rei chegar no leste e interceptar a força invasora. Os dois exércitos se encontraram em Alton e começaram negociações de paz, iniciadas por Henrique e Roberto e provavelmente apoiadas por Flambardo. Os irmãos concordaram com o Tratado de Alton, em que Roberto liberou Henrique de seu juramento de homenagem e o reconhecia como rei; Henrique renunciou à sua reivindicação ao oeste da Normandia, exceto Domfront, e concordou em pagar duas mil libras à Roberto durante um ano; se um dos dois morresse sem herdeiros homens, o outro herdaria suas terras; os barões cujas terras haviam sido apreendidas pelo rei e ou pelo duque por apoiar o rival as teriam de volta e Flambardo voltaria a ser bispo; os dois também fariam campanha juntos para defender seus territórios na Normandia. Roberto permaneceu na Inglaterra com Henrique por mais alguns meses antes de voltar. Mesmo com o tratado, Henrique passou a infligir várias penalidades aos barões que ficaram contra ele durante a invasão. Guilherme de Warenne, o Conde de Surrey, foi acusado de crimes da carne, que não era coberto pela anistia de Alton, sendo assim banido da Inglaterra. Em 1102, Henrique se virou contra Roberto de Bellême e seus irmãos, o mais poderoso dos barões, o acusando de 45 crimes diferentes. Roberto conseguiu escapar e pegou em armas contra o rei. Henrique cercou os irmãos de Roberto nos castelos de Arundel, Tickhill e Shrewsbury, indo para o sudoeste para atacar Bridgnorth. Sua base de poder na Inglaterra quebrou e Roberto aceitou a oferta de banimento e foi para a Normandia. Conquista da Normandia. A rede de aliados de Henrique ficou mais forte em 1103. Ele casou Juliana, uma de suas filhas bastardas, com Eustácio de Bretuil, e uma outra filha ilegítima, Matilde, com Rotrou III de Perche, na fronteira com a Normandia. O rei também tentou conquistar os membros da nobreza normanda e entregou propriedades inglesas e ofertas lucrativas para senhores normandos. O duque Roberto continuou a lutar contra Roberto de Bellême, porém sua posição piorou até 1104, quando precisou se aliar com Bellême para poder sobreviver. Afirmando que o irmão havia quebrado os termos do tratado, Henrique cruzou o Canal da Mancha até Domfront, onde se encontrou com importantes barões de toda Normandia querendo se aliar a ele. Henrique confrontou Roberto e o acusou de aliar-se com seus inimigos, retornando então para a Inglaterra. A Normandia continuou a se desintegrar em caos. Em 1105, Henrique enviou seu amigo Roberto FitzHamon e uma força de cavaleiros para o ducado, aparentemente para provocar um confronto com o duque Roberto. FitzHamon foi capturado e o rei usou isso como desculpa para uma invasão, prometendo restaurar a ordem e paz. Henrique teve o apoio da maioria dos outros condados perto das fronteiras normandas e o rei Filipe I de França foi persuadido a ficar neutro. Ele ocupou o oeste da Normandia e avançou para o leste até Bayeux, onde estava FitzHamon. A cidade se recusou a se render, então Henrique a cercou e a queimou. A cidade de Caen, temendo o mesmo destino, mudou de lado e se entregou, permitindo que Henrique avançasse até Falaise, que ele tomou com algumas perdas. A campanha empacou e o rei começou negociações de paz com Roberto. As conversas foram inconclusivas e os confrontos estenderam-se até o natal, quando Henrique voltou para a Inglaterra. Henrique invadiu novamente em julho de 1106 esperando provocar uma batalha decisiva. Após um sucesso tático inicial, ele foi para o sudoeste rumo ao castelo de Tinchebray. Ele cercou o castelo e o duque Roberto, apoiado por Roberto de Bellême, avançaram de Falaise para confrontá-lo. Depois das negociações de paz falharem, ocorreu a Batalha de Tinchebray provavelmente no dia 28 de setembro. A batalha durou uma hora, e começou com um ataque da cavalaria do duque Roberto; a infantaria e os cavaleiros desmontados dos dois lados então entraram no combate. As reservas de Henrique, lideradas por Elias I do Maine, e Alano IV, Duque da Bretanha, atacaram os flancos inimigos, primeiro roteando as tropas de Bellême e depois o grosso das forças ducais. O duque Roberto foi feito prisioneiro, porém Bellême escapou. Henrique varreu a resistência restante na Normandia e Roberto ordenou que suas guarnições se entregassem. Ao chegar em Ruão, Henrique reafirmou as leis e costumes normandos e recebeu homenagem de vários barões e cidadãos. Os prisioneiros menos valiosos feitos em Tinchebray foram soltos, porém Roberto e outros grandes nobres permaneceram presos indefinidamente. Guilherme Clito, seu sobrinho e filho de Roberto, tinha apenas três anos de idade e foi libertado para ser cuidado por Helias de Saint-Saens, um barão normando. O rei se reconciliou com Roberto de Bellême, que entregou as terras ducais que havia tomado, e retornou para a corte real. Henrique não tinha meios de legalmente tirar o ducado de seu irmão, e inicialmente evitou usar o título de "duque", enfatizando que, como Rei da Inglaterra, ele estava apenas agindo como guardião do agitado ducado. Governo, família e criadagem. Governo, leis e corte. Henrique herdou o Reino da Inglaterra de Guilherme II, lhe dando uma reivindicação de suserania sobre Gales e a Escócia, também adquirindo o Ducado da Normandia, uma entidade complexa com fronteiras conturbadas. As fronteiras entre a Inglaterra e a Escócia ainda eram incertas durante seu reinado, com a influência anglo-normanda indo para o norte até Cúmbria, porém a relação de Henrique com o rei escocês era geralmente boa parcialmente por causa de seu casamento com Edite. Em Gales, o rei usava seu poder para coagir e encantar os príncipes galeses locais enquanto nobres normandos pressionavam até os vales de Gales do Sul. A Normandia era controlada através de uma rede de contratos ducais, familiares e eclesiásticos entrelaçados, apoiados por uma linha cada vez maior de importantes castelos ao longo das fronteiras. Alianças e relações com os condados vizinhos eram importantes para manter a estabilidade do ducado. Henrique governava a Inglaterra e Normandia através de vários lordes e barões, quem ele manipulava habilmente para efeito político. Amizades políticas, denominadas "amicitia" em latim, eram importantes durante o e Henrique mantinha várias, mediando entre seus amigos em várias facções por todo o reino quando necessário e recompensando aqueles que eram leais. Ele também tinha a reputação de punir os barões que lhe eram contra, mantendo uma efetiva rede de informantes e espiões que lhe relatavam os eventos. Henrique era um governante severo e firme, porém não excessivamente para os padrões da época. Com o passar do tempo, ele aumentou seu controle sobre os barões, removendo seus inimigos e fortalecendo os amigos até a "baronagem reconstruída", como o historiador Warren Hollister descreve, ser predominantemente leal e dependente ao rei. A corte itinerante de Henrique era composta por várias partes. No centro estava a criadagem do rei, chamada "domus"; um conjunto mais amplo foi denominado "familia regis", e os encontros formais da corte eram chamados de "curia". O "domus" era dividido em várias partes. A capela, liderada pelo chanceler, cuidava dos documentos reais, a câmara era encarregada dos assuntos financeiros e o mestre-marechal era responsável pelas viagens e acomodações. A "familia regis" incluía a maioria das tropas montadas da criadagem de Henrique, que vinham de diferentes origens sociais e podiam ser enviados se necessário para toda Inglaterra e Normandia. Inicialmente Henrique continuou a prática do pai de realizar cerimônias na "curia" usando a coroa, porém elas ficaram menos frequentes com o passar dos anos. Sua corte era grandiosa e pomposa, financiando a construção de novos edifícios e castelos com uma variedade de preciosos presentes em exposição, incluindo o jardim zoológico particular do rei, que ele mantinha no Palácio de Woodstock. Apesar de ser uma comunidade viva, a corte de Henrique era mais rigidamente controlada que aquelas de reis anteriores. Firmes regras controlavam o comportamento e proibiam membros de saquear vilarejos vizinhos, como era a norma sob Guilherme II. Henrique foi o responsável por um crescimento substancial do sistema judiciário. Na Inglaterra, ele se baseou no já existente sistema jurídico anglo-saxão, governos locais e impostos, porém os fortaleceu com mais instituições governamentais centrais. Rogério de Salisbúria começou a desenvolver um tesouro real depois de 1100, usando-o para recolher receitas de auditoria dos xerifes do rei nos condados. Justiças itinerantes começaram a surgir sob Henrique, viajando pelo país com tribunais de correição e com muitas leis sendo formalmente registradas. O rei arrecadou rendas cada vez maiores da expansão da justiça real, tanto de multas e de taxas. O rolo de papel de registros financeiros mais antigo que já foi encontrado data de 1130, relatando gastos reais. Henrique reformou a cunhagem em 1107, 1108 e 1125, infligindo severas punições corporais nos batedores ingleses que foram considerados culpados de rebaixar a moeda. Na Normandia, Henrique restaurou a lei e a ordem após 1106, operando através do corpo judicial normando e um sistema de tesouro similar ao inglês. As instituições da Normandia cresceram em escala e amplitude com Henrique, apesar de em um ritmo mais lento do que na Inglaterra. Muitos dos oficiais que cuidavam dos sistemas do rei foram chamados de "novos homens", indivíduos de nascimento relativamente baixo que cresceram pelas posições sociais como administradores, cuidado da justiças e das rendas reais. Relações com a igreja. Rei e igreja. A habilidade de Henrique de governar estava intimamente ligada com a igreja, que formava a chave para a administração tanto da Inglaterra quanto da Normandia; essa relação mudou consideravelmente durante seu reinado. Guilherme I havia reformado a Igreja da Inglaterra com o apoio de Lanfranco de Cantuária, que se tornou um colega próximo e conselheiro do rei. Sob Guilherme II, esse acordo ruiu, o rei e o arcebispo Anselmo da Cantuária se distanciaram com o clérigo indo para o exílio. Henrique também acreditava na reforma religiosa, porém ao assumir o poder acabou se envolvendo na controvérsia da investidura. A questão envolvia quem deveria investir um novo bispo com seu báculo e anel: tradicionalmente, isso era realizado pelo rei em uma demonstração simbólica do poder real, porém o Papa Urbano II havia condenado essa prática em 1099 afirmando que apenas o papado podia realizar essa tarefa, também declarando que o clero não deveria prestar homenagem aos seus governantes terrenos. Anselmo voltou para a Inglaterra do exílio em 1100 sabendo dos pronunciamentos de Urbano, informando Henrique que seguiria os desejos do papa. O rei ficou em uma posição difícil. De um lado, o simbolismo e homenagem eram importantes para ele; por outro, ele precisava do apoio de Anselmo em sua luta contra seu irmão Roberto. Anselmo seguiu o decreto papal a risca, apesar das tentativas de Henrique de persuadi-lo a lhe dar uma vaga garantia de um compromisso real no futuro. A questão escalou, com Anselmo voltando para o exílio e o rei confiscando seus bens e propriedades. Anselmo o ameaçou com excomungação, porém os dois acabaram negociando uma solução em julho de 1105. Foi criada uma distinção entre os poderes secular e eclesiástico dos prelados, segundo o qual Henrique entregava seu direito de investir o clero, mas mantinha o costume de exigir que ele lhe prestasse homenagem para temporalidades, suas terras mantidas na Inglaterra. Apesar dessa discordância, os dois trabalharam juntos, unindo-se para combater a invasão de Roberto em 1101 e realizando grandes conselhos reformistas em 1102 e 1108. Uma disputa de longa data entre os arcebispos da Cantuária e Iorque incendiou com Raul d'Escures, sucessor de Anselmo. A Cantuária, tradicionalmente a mais graduada das duas, há muito afirmava que o Arcebispo de Iorque deveria prometer formalmente obediência ao seu arcebispo, porém Iorque discutia que os dois episcopados eram independentes dentro da Igreja da Inglaterra e que tal promessa era desnecessária. Henrique apoiava a preeminência da Cantuária para garantir que a Inglaterra ficasse sob uma única administração eclesiástica, porém o papa preferia Iorque. A questão se complica com a amizade pessoal do rei com Turstin, o Arcebispo de Iorque, e seu desejo de evitar que o caso chegasse em uma corte papal, além do controle real. Henrique precisava muito do apoio papal em sua luta contra o rei da França, e assim permitiu que Turstin comparecesse ao Conselho de Rheims em 1119, onde o clérigo foi consagrado pelo papa sem menção a deveres para a Cantuária. O rei acreditava que isso era contra as garantias que Turstin havia feito antes de partir e acabou exilando-o da Inglaterra até terem negociado uma solução no ano seguinte. Mesmo depois da disputa da investidura, o rei continuou a ter um papel importante na seleção dos novos bispos e arcebispos ingleses e normandos. Henrique nomeou muitos de seus oficiais para bispados e, como o historiador Martin Brett sugere, "alguns de seus oficiais podiam esperar uma mitra com absoluta confiança". Seus chanceleres, e os de suas rainhas, tornaram-se bispos de Durham, Hereford, Londres, Lincoln, Winchester e Salisbúria. Henrique recorreu cada vez mais a uma ampla gama desses bispos e conselheiros – particularmente Rogério de Salisbúria – quebrando a tradição anterior de recorrer principalmente ao Arcebispo da Cantuária. O resultado foi um corpo coeso de administradores através dos quais o rei podia exercer grande influência, realizando conselhos gerais para discutir questões políticas chave. A estabilidade mudou um pouco depois de 1125, quando Henrique começou a injetar vários candidatos em posições graduadas da igreja, frequentemente com visões mais reformistas, e o impacto dessa geração seria sentido nos anos posteriores a morte do rei. Crenças e religiosidade. Henrique doava à igreja e era patrono de várias comunidades religiosas, como outros governantes do período, porém crônicos contemporâneos não o consideravam geralmente um rei devoto. Sua crenças pessoais e religiosidade podem ter se desenvolvido durante sua vida. Ele sempre se interessou por religião, porém em seus anos finais pode ter ficado cada vez mais preocupado com questões espirituais. Assim, suas grandes mudanças de pensamento parecem ter ocorrido depois de 1120, quando seu filho Guilherme Adelino morreu, e em 1129, quando o casamento de sua filha Matilde oscilava à beira do colapso. Como proponente de uma reforma religiosa, Henrique apoiou extensivamente grupos reformistas de dentro da igreja. Era um grande apoiador da Ordem de Cluny, provavelmente por motivos intelectuais. Ele próprio doava dinheiro a ordem, generosamente construindo para a Cluny a Abadia de Reading. As construções começaram em 1121, com o rei dotando-a de ricas terras e extensos privilégios, transformando-a em um símbolo de suas linhas dinásticas. Ele também concentrou seus esforços em promover a conversão de comunidades de caixeiros ao cânone anglicano, em fundar hospitais para a lepra, expandir o fornecimento de conventos e apoiar as ordens de Savigny e Tiron. Henrique era um ávido colecionador de relíquias, enviando um embaixador para Constantinopla em 1118 para coletar itens bizantinos, com alguns sendo doados a Abadia de Reading. Reinado posterior. Políticas continentais e galesas. A Normandia começou a enfrentar depois 1108 uma ameaça cada vez maior vinda França, Anjou e Flandres. Luís VI ascendeu ao trono francês em 1108 e começou a reafirmar o poder real. Luís exigia que Henrique lhe prestasse homenagem e que os castelos disputados ao longo da fronteira normanda fossem colocados sob castelões neutros. Henrique recusou e Luís respondeu mobilizando seu exército. Os dois negociaram uma trégua após algumas discussões e recuaram sem lutar, deixando questões subjacentes sem resolução. Fulque V assumiu o poder em Anjou no ano seguinte e começou a restaurar a autoridade angevina. Fulque também herdou Maine, porém se recusou a reconhecer Henrique como senhor feudal e se aliou a Luís. Roberto II de Flandres brevemente fez parte da aliança antes de morrer em 1111. Henrique prometeu em 1108 seu filha de oito anos, Matilde, a Henrique da Germânia. Para o rei, esse era um casamento prestigioso; para o germânico, era uma oportunidade de restaurar sua situação financeira e financiar uma expedição na Itália, tendo recebido da Inglaterra e Normandia um dote de £ . Arrecadar o dinheiro foi difícil e precisou da implementação de uma "ajuda" especial, ou taxa, na Inglaterra. Henrique da Germânia ascendeu a Sacro Imperador Romano-Germânico em 1110 como Henrique V, e Matilde foi coroada sua imperatriz. Henrique respondeu à ameaça francesa e angevina expandindo sua própria rede de apoiadores além das fronteiras normandas. Alguns barões normandos considerados duvidosos foram presos ou depostos, com o rei usando suas propriedades apreendidas para subornar aliados em potencial nos territórios vizinhos, particularmente no Maine. Por volta de 1100, Henrique tentou prender o jovem Guilherme Clito, porém os mentores do rapaz o levaram para segurança em Flandres antes dele ser pego. Nessa época também Henrique começou a se chamar de Duque da Normandia. Roberto de Bellême se virou contra o rei novamente, sendo preso ao aparecer em 1112 na corte de Henrique como embaixador francês. Entre 1111 e 1113 rebeliões estouraram na França e em Anjou, e Henrique cruzou a fronteira para apoiar seu sobrinho Teobaldo de Blois, que havia se aliado contra Luís VI. Em uma tentativa para isolar diplomaticamente o rei francês, Henrique prometeu seu filho Guilherme Adelino a filha de Fulque, Matilde, e casando sua filha ilegítima Matilde com Conan III, o Duque da Bretanha, criando respectivamente alianças com Anjou e a Bretanha. Luís voltou atrás em março de 1113 e se encontrou com Henrique em Gisors para um acordo de paz, entregando a Henrique as fronteiras disputadas e confirmando sua suserania no Maine, Bêlleme e Bretanha. Enquanto isso, a situação em Gales se deteriorava. Henrique havia conduzido uma campanha no Sul de Gales em 1108, implementando o poder real na região e colonizando a área perto de Pembroke. Em 1114, alguns residentes normandos foram atacados, enquanto que no Centro de Gales, Ovaino ap Cadwgan cegou um de seus reféns, e no norte Grufudo ap Cynan ameaçou o poder do Conde de Chester. Henrique enviou três exércitos para Gales no mesmo ano, com Gilberto FitzRichard liderando uma força vinda do sul, Alexandre I da Escócia vindo do norte e o próprio Henrique avançando pela região central. Ovaino e Grufudo pediram a paz e Henrique aceitou um acordo político. Ele reforçou as Bordas Galesas com seus homens, fortalecendo os territórios próximos da fronteira. Rebelião. Preocupado com sua sucessão, Henrique procurou persuadir Luís VI em aceitar seu filho Guilherme Adelino como o legítimo Duque da Normandia, em troca Adelino prestaria homenagem ao rei francês. Henrique foi para a Normandia em 1115 e reuniu barões normandos para jurarem lealdade; ele quase conseguiu negociar um acordo com Luís, afirmando o direito de Adelino ao ducado por uma grande quantia de dinheiro, porém a negociação não deu certo e Luís, apoiado por Balduíno de Flandres, ao invés disso declarou que Guilherme Clito era o herdeiro legítimo do ducado. Conflitos começaram e Henrique voltou para a Normandia com um exército para apoiar Teobaldo de Blois, que estava sendo atacado por Luís. Henrique e Luís atacaram as cidades do outro ao longo da fronteira, com um conflito mais amplo começando em 1116. Henrique foi obrigado a tomar uma atitude defensiva quando forças francesas, flamencas e angevinas começaram a pilhar a zona rural normanda. Amalrico III de Monforte e muitos outros barões levantaram-se contra Henrique, existindo uma tentativa de assassinato vinda de dentro de sua própria criadagem. Sua esposa Edite morreu no início de 1118, porém a situação na Normandia era muito crítica e o rei não conseguiu retornar para a Inglaterra para seu funeral. Henrique respondeu armando campanhas contra os barões rebeldes e aumentando sua aliança com Teobaldo. Balduíno de Flandres foi ferido em batalha e morreu em setembro de 1118, aliviando a pressão no nordeste da Normandia. Henrique tentou esmagar a revolta em Alençon, porém foi derrotado por Fulque e o exército angevino. Forçado a recuar, sua posição muito se deteriorou enquanto seus recursos ficavam cada vez mais escassos e mais barões abandonavam sua causa. No início de 1119, Eustácio de Breteuil e Juliana, filha de Henrique, ameaçaram entrar na revolta baronial. Reféns foram trocados em troca de uma tentativa de evitar um conflito, porém as relações falharam e ambos os lados mataram seus cativos. Henrique atacou e capturou a cidade de Breteuil, apesar da tentativa de Juliana de matar seu pai com uma besta. Após isso, Henrique tirou quase todas as terras normandas do casal. Sua situação melhorou em maio de 1119 quando Henrique fez com que Fulque mudasse de lado ao finalmente concordar em casar Guilherme Adelino com a filha do conde, Matilde, e pagando uma grande quantia em dinheiro. Fulque foi para Levante e deixou o Condado de Maine aos cuidados de Henrique, e o rei ficou livre para se focar em esmagar seus inimigos restantes. Henrique avançou para Vexin no verão, onde encontrou o exército de Luís, resultando na Batalha de Brémule. Ele aparentemente enviou batedores e depois cuidadosamente organizou suas tropas em várias linhas de cavaleiros desmontados. Os franceses permaneceram montados; eles avidamente avançaram contra as posições anglo-normandas, quebrando através das primeiras defesas mas depois sendo estrangulados pela segunda linha de cavaleiros de Henrique. Cercado, o exército francês começou a ruir. No "mêlée", Henrique foi atingido por um ataque de espada, porém sua armadura o protegeu. Luís e Guilherme Clito escaparam da batalha, deixando Henrique para retornar a Ruão em triunfo. A guerra lentamente definhou após essa batalha, e Luís levou a disputada sobre a Normandia até o conselho do Papa Calisto II em Reims no mês de outubro. Henrique enfrentou várias queixas francesas sobre sua aquisição e subsequente administração do condado e, apesar de defendido por Godofredo Brito, Arcebispo de Ruão, seu caso foi vaiado por elementos pró-franceses no conselho. Porém, Calisto se recusou a apoiar Luís e meramente aconselhou os dois reis a procurarem a paz. Amalrico de Monforte chegou a um acordo com Henrique, porém o rei e Guilherme Clito não conseguiram chegar a um acordo mutualmente satisfatório. Em junho de 1120, Henrique e Luís formalmente fizeram a paz em termos vantajosos para o rei inglês: Adelino prestou homenagem ao monarca francês e em troca Luís confirmou seus direitos ao ducado. Crise da sucessão. Seus planos para a sucessão foram jogados no caos em no naufrágio do "Barco Branco". Henrique havia deixado o porto de Barfleur pela manhã em direção da Inglaterra, deixando Guilherme Adelino e muitos dos jovens membros da corte para partirem durante a noite em uma embarcação separada, o "Barco Branco". Tanto os passageiros quanto a tripulação estavam bêbados e, logo na saída do porto, o navio atingiu uma rocha submersa. O "Barco Branco" afundou, matando pelo menos trezentas pessoas, com o único sobrevivente sendo um açougueiro de Ruão. A corte inicialmente ficou com medo para relatar a morte de Adelino ao rei. Quando finalmente soube, ele caiu no chão chorando. O desastre deixou Henrique sem filhos legítimos, com seus vários sobrinhos sendo seus herdeiros masculinos mais próximos. Ele anunciou que tomaria uma nova esposa, Adeliza de Lovaina, abrindo a possibilidade de um novo filho, e os dois se casaram no Castelo de Windsor em janeiro de 1121. O rei aparentemente escolheu Adeliza por ser atraente e oriunda de uma linhagem nobre prestigiada. Ela parece ter gostado de Henrique e o acompanhava em suas viagens, provavelmente para maximizar a chance de conceber um filho. O naufrágio do "Barco Branco" iniciou um novo conflito em Gales, onde o afogamento de Ricardo de Chester encorajou uma rebelião liderada por Maredudo ap Bleddyn. Henrique interveio no Norte de Gales no verão com um exército e, apesar de ter sido atingido por uma flecha galesa, conseguiu reafirmar o poder real pela região. Com Guilherme morto, a aliança de Henrique com Anjou – que era baseada no casamento de seu filho com a filha de Fulque – começou a se desintegrar. Fulque voltou de Levante e exigiu que o rei devolvesse Matilde e o dote, além de várias fortificações e propriedades no Maine. Matilde partiu para Anjou, porém Henrique afirmou que o dote na verdade originalmente pertencia a ele antes de ser de Fulque, também recusando a entregar as propriedades de volta para Anjou. Fulque casou sua filha Sibila com Guilherme Clito, lhe garantindo o Maine. Conflitos estouraram mais uma vez quando Amalrico de Monforte aliou-se com Fulque e liderou uma revolta pela fronteira em 1123. Amuri recebeu o auxilio de vários outros barões normandos, liderados por Valerano de Beaumont, um dos filhos de Roberto de Meulan, um dos antigos aliados do rei. Henrique enviou para a Normandia Roberto, 1º conde de Gloucester, e Ranulfo, o Mesquinho, conde de Chester, e depois interveio pessoalmente no final de 1123. O rei começou um processo de cercar castelos rebeldes antes da passagem do inverno no ducado. Na primavera, a campanha começou. Ranulfo recebeu a informação que os rebeldes estavam voltando para suas bases em Vatteville, permitindo uma emboscada no meio do caminho em Rougemontiers; Valerano atacou as forças reais, porém seus cavaleiros foram abatidos pelos arqueiros de Ranulfo e os rebeldes logo sucumbiram. Valerano foi capturado, porém Amalrico escapou. Henrique varreu o restante da rebelião, cegando alguns dos líderes rebeldes – considerada na época uma forma mais branda de punição do que a execução – e recuperou os castelos restantes. Henrique pagou ao Papa Calisto uma grande quantia em dinheiro em troca do papado anular o casamento de Guilherme Clito com Sibila alegando consanguinidade. Planejando a sucessão. Henrique e Adeliza não tiveram nenhum filho, gerando lascivas especulações para uma possível explicação, com o futuro da dinastia entrando em perigo. Henrique começou a olhar entre seus sobrinhos por um possível herdeiro. Ele pode ter considerado Estêvão de Blois como uma possível opção e, talvez em preparação para isso, arranjou o beneficial casamento de Estêvão com a rica herdeira Matilde de Bolonha. Teobaldo de Blois, seu grande aliado e irmão de Estêvão, também pode ter sido considerado. Guilherme Clito, a escolha de Luís, permaneceu contra Henrique e dessa forma era inadequado. Henrique também pode ter considerado seu próprio filho ilegítimo, Roberto de Gloucester, como um possível candidato, porém as tradições e costumes ingleses não seriam favoráveis. Seus planos mudaram quando o marido de Matilde, o imperador Henrique V, morreu em 1125. O rei chamou sua filha de volta para a Inglaterra no ano seguinte e declarou que, se ele morresse sem herdeiros homens, ela seria sua sucessora por direito. Os barões anglo-normandos foram reunidos no natal de 1126 e juraram reconhecer Matilde e quaisquer herdeiros legítimos que ela poderia ter. Colocar uma mulher como potencial herdeira era incomum: a oposição a Matilde existia dentro da corte inglesa e Luís era veementemente contra sua candidatura. Novos conflitos começaram em 1127 quando Carlos de Flandres, que não tinha herdeiros, foi assassinado, iniciando uma crise da sucessão local. Apoiado por Luís, Guilherme Clito foi escolhido pelos flamencos como o novo governante. Esse desenvolvimento potencialmente ameaçava a Normandia e Henrique começou a financiar a distância uma guerra em Flandres, promovendo as reivindicações dos rivais de Guilherme. Henrique montou um ataque contra a França em 1128 numa tentativa de atrapalhar a aliança francesa com Guilherme, forçando Luís a cortar sua ajuda ao aliado. Guilherme morreu repentinamente em julho, removendo o último grande desafiante ao governo de Henrique e parando a guerra em Flandres. Sem Guilherme, a oposição baronial na Normandia não tinha um líder. Uma nova paz foi feita com a França e o rei finalmente pôde soltar os últimos prisioneiros da revolta de 1123, incluindo Valerano de Meulan, que foi reabilitado na corte real. Enquanto isso, Henrique refez sua aliança com Fulque de Anjou, desta vez casando Matilde com o filho mais velho de Fulque, Godofredo. Os dois foram prometidos em 1127 e se casaram no ano seguinte. Não se sabe se Henrique pretendia que Godofredo tivesse alguma reivindicação futura a Inglaterra e Normandia, provavelmente mantendo a situação de seu genro deliberadamente incerta. Similarmente, apesar de Matilde ter recebido vários castelos normandos como parte de seu dote, não foi especificado quando o casal tomaria posse deles. Fulque foi para Jerusalém em 1129, declarando que Godofredo era o Conde de Anjou e Maine. O casamento mostrou-se difícil já que o casal não gostava particularmente do outro, com os castelos sendo um ponto de disputas, resultando na volta de Matilde a Normandia mais tarde naquele ano. Henrique parece ter culpado Godofredo pela separação, porém o casal se reconciliou em 1131. Para o grande prazer e alívio do rei, Matilde deu à luz em sequência a dois meninos: Henrique em 1133 e Godofredo em 1134. Morte e legado. Morte. As relações entre Henrique, Matilde e Godofredo pioraram cada vez mais durante os últimos anos do rei. O casal suspeitava que não possuíam apoio genuíno na Inglaterra. Eles pediram em 1135 para que Henrique lhes entregasse os castelos reais na Normandia enquanto ainda estivesse vivo, insistindo que a nobreza normanda jurasse fidelidade a ela, dessa forma dando ao casal uma posição mais forte após a morte de Henrique. Ele ferozmente se recusou, provavelmente preocupado que Godofredo tentaria tomar o poder na Normandia. Uma nova rebelião estourou entre os barões no sul da Normandia, liderada por Guilherme III de Ponthieu, onde Godofredo e Matilde intervieram do lado dos rebeldes. Henrique fez campanha no outono, fortalecendo a fronteira no sul, então viajou para Lyons-la-Forêt em novembro para poder caçar um pouco, ainda aparentemente em boa saúde. Lá ele adoeceu – de acordo com Henrique de Huntingdon, o rei comeu lampreias em excesso contra os conselhos de seu médico – e sua condição piorou durante a semana. Quando a condição pareceu terminal, Henrique se confessou e chamou o arcebispo Hugo de Amiens, que foi acompanhado por Roberto de Gloucester e outros membros da corte. De acordo com o costume, preparações foram feitas para liquidar as dívidas pendentes de Henrique e para revogar sentenças pendentes de caducidade. O rei morreu em , com seu corpo sendo levado a Ruão acompanhado por barões, onde foi embalsamado; suas vísceras foram enterradas localmente na Abadia de Notre-Dame Port du Salut e o corpo preservado foi levado a Inglaterra onde foi enterrado na Abadia de Reading. Apesar de seus esforços, a sucessão foi disputada. Quando as notícias de sua morte se espalharam, Godofredo e Matilde estavam em Anjou apoiando os rebeldes em sua campanha contra o exército real, que incluía vários dos apoiadores de Matilde como Roberto de Gloucester. Muitos desses barões haviam jurado permanecer na Normandia até o rei ser enterrado propriamente, o que os impedia voltar para a Inglaterra. A nobreza normanda discutiu declarar Teobaldo de Blois como rei. Porém, Estêvão, irmão mais novo de Teobaldo, rapidamente foi de Bolonha-sobre-o-Mar para a Inglaterra acompanhado de sua criadagem militar. Com a ajuda de seu irmão Henrique de Blois, ele tomou o poder na Inglaterra e foi coroado rei em 22 de dezembro. Matilde não abriu mão de sua reivindicação a Inglaterra e Normandia, levando a um extenso período de guerra civil entre 1139 e 1153 conhecido como a Anarquia. Historiografia. Historiadores tem se baseado em vários fontes sobre Henrique, incluindo relatos de crônicos e outras evidencias documentais como rolos de papel e a arquitetura de construções da época. Os três cronistas principais que descreveram os eventos da vida de Henrique foram Guilherme de Malmesbury, Orderico Vital e Henrique de Huntingdon, porém cada um incorporava extensos comentários sociais e morais em seus relatos e usavam uma gama de recursos literários e eventos estereotipados de outras obras populares. Outros crônicos incluem Eadmer de Cantuária, Hugo, o Chantre, e o abade Suger de Saint-Denis, além da galesa "Brut y Tywysogion". Nem todos os documentos do período sobreviveram, porém existem vários atos reais, cartas régias, decretos e cartas, junto com alguns relatos financeiros. Foi descoberto que alguns foram falsificados, alterados ou adulterados. Historiadores medievais posteriores usaram os relatos de crônicos seletos sobre a educação de Henrique e lhe deram o título de "Beauclerc", um tema ecoado por análises de historiadores vitorianos e eduardianos como Francis Palgrave e Henry Davis. O historiador Charles David rejeitou esse argumento em 1929, mostrando que as afirmações mais extremas da educação de Henrique eram sem fundamentos. Historiadores modernos começaram com o trabalho de Richard Southern no início da década de 1960, seguido por extensas pesquisas durante o restante do em vários temas e áreas de seu reinado na Inglaterra, além de estudos mais limitados sobre seu governo na Normandia. Apenas duas grandes biografias modernas foram escritas sobre Henrique, uma de C. Warren Hollister em 2001 e uma de Judith Green em 2006. Interpretações sobre a personalidade de Henrique variaram com o tempo. Os primeiros historiadores como Austin Lane Poole e Richard Southern o consideravam um governante cruel e dracônico. Historiadores mais recentes, como Hollister e Green, viram sua implementação da justiça de forma mais simpática, particularmente quando comparadas com os padrões da época, porém até Green notou que Henrique era "em muitos aspectos altamente desagradável", e Alan Cooper observou que muitos crônicos contemporâneos provavelmente tinham medo do rei para criticá-lo abertamente. Historiadores também debateram a extensão cujas reformas administrativas genuinamente constituíram a introdução do termo "monarquia administrativa", cunhado por Hollister e John Baldwin, ou se sua visão permaneceu fundamentalmente tradicional. Descendência. Legítimos. Henrique e Edite, sua primeira esposa, tiveram pelo menos dois filhos: Henrique e Adeliza, sua segunda esposa, não tiveram filhos. Ilegítimos. Henrique teve vários filhos bastardos com várias amantes. Ligações externas. ! colspan="3" style="background: #FBEC5D;" | Henrique I de InglaterraCasa da Normandiac. 1068 – 1 de dezembro de 1135
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História do Japão
História do Japão A é a sequência de eventos ocorridos no arquipélago japonês, com o surgimento de factos únicos influenciados pela sua natureza geográfica enquanto nação insular, assim como por eventos inculcados por influência do império Chinês que definiram a sua língua, a sua escrita e também a sua cultura política. Por outro lado, o Japão foi ainda influenciado pelo Ocidente, convertendo-se numa nação industrial, mas manteve os laços com a tradição cultural do país. Exerceu uma influência significativa e expansão territorial na região do Pacífico, mas após a Segunda Guerra Mundial estacou. Após a última idade do gelo, por volta de  AEC, o rico ecossistema do arquipélago japonês promoveu o desenvolvimento humano. O aparecimento das primeiras pessoas no Japão data do Paleolítico, há cerca de anos. Entre e 500 AEC, estes povos desenvolveram um tipo de cerâmica designada de "Jomon", a qual é considerada das mais antigas do mundo. Posteriormente surgiu uma cultura conhecida como "Yayoi", onde a produção de ferramentas de metal, assim como o cultivo do arroz, foram um importante progresso. Neste período existiram várias tribos, porém foi no período Yamato que se fez notar maior predominância de povos. Séculos depois, os governantes deste período reforçaram a posição do país e começaram a disseminar-se por todo o arquipélago sob um sistema centralizado, comprimindo as inúmeras tribos existentes e alegando a própria ascendência divina. Entretanto, o governo central havia começado a assimilar os costumes próprios da Coreia e da China. Esta rápida imposição de tradições estrangeiras, contudo, produziu uma certa tensão na sociedade japonesa e, no ano 794, a corte imperial fundou uma nova capital, Heian-kyō (actual Quioto), dando origem a uma cultura aperfeiçoada da aristocracia. Apesar disso, o sistema centralizado fracassou nas províncias e iniciou-se um processo de privatização de terras, dando origem a um colapso na administração e ordem públicas. A aristocracia necessitava então da ajuda de guerreiros para proteger a suas propriedades - mais tarde denominada a classe samurai. Em 1192, Minamoto no Yoritomo foi nomeado xogum (ditador militar) do Japão pelo imperador, marcando o início do regime feudal xogunato (ou bakufu) Kamakura, uma instituição militar permanente que governaria durante quase setecentos anos. A corte viu assim o seu poder transferir-se para os samurais sob tal regime militar. A eclosão da Guerra de Ōnin em 1467 provocou uma série de guerras que se estenderam por todo o Japão, num período que culminou em 1573, quando Oda Nobunaga iniciou uma unificação do país que não foi concluída devido à traição de um dos seus principais generais. O imperador foi morto e Toyotomi Hideyoshi vingou a sua morte, completando a unificação em 1590. Depois disto, o país ficou novamente dividido em dois lados: os que apoiavam o seu filho Toyotomi Hideyori e os que apoiavam um dos principais daimyos, Tokugawa Ieyasu. As duas vertentes enfrentaram-se então durante a Batalha de Sekigahara, da qual Ieyasu saiu vencedor e foi oficialmente nomeado xogum em 1603, instaurando-se o Xogunato Tokugawa. O período Edo caracteriza-se por ter sido uma época de paz e pela implementação de uma nova política de relações internacionais que evitou o contacto com o exterior. Este isolamento teve o seu término em 1853, quando Matthew Calbraith Perry forçou o Japão a abrir portas e assinar uma série de tratados com as grandes potências estrangeiras (tratados desiguais), causando desconforto entre alguns samurais que apoiavam o imperador a favor da retomada do seu papel na política. O último xogum Tokugawa renunciou ao cargo em 1868, dando início à era Meiji, em homenagem ao imperador Meiji que havia assumido o poder político. Iniciou-se então a modernização do país com a evacuação do sistema feudal e dos samurais, e com a transferência da capital para Tóquio. Um forte processo de ocidentalização teve lugar, e o Japão emergiu no mundo enquanto primeiro país asiático industrializado. O país encontrava-se num processo de expansionismo territorial sobre as nações vizinhas, o que originou conflitos com o Império Russo e o Império Chinês. Com a morte do imperador Meiji, o país havia se convertido numa nação moderna, industrializada, com um governo central, assim como uma superpotência na Ásia que rivalizava com o ocidente. Isto reflectiu-se numa explosão social devido ao crescimento económico e populacional. O império começou a conquistar terreno sob o extremismo político, sendo que em 1930 a expansão militar se acelerou e o país confrontou a China pela segunda vez. Após a eclosão da guerra na Europa, o Japão aproveitou-se da situação para ocupar outras áreas territoriais da Ásia. Durante o ano de 1941, as relações diplomáticas entre o Japão e os Estados Unidos complicaram-se quando o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, interrompeu o fornecimento de petróleo para o Japão e congelou todos os créditos japoneses nos Estados Unidos. A 7 de dezembro de 1941 o Japão atacou Pearl Harbor, levando o país para a Segunda Grande Guerra enquanto parte das "Potências do Eixo". Apesar de uma série de vitórias iniciais, o Japão veio a sofrer derrotas frente aos aliados, como na Batalha de Midway, alterando consequentemente os papéis na Guerra do Pacífico. Depois dos violentos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, o Japão apresentou a sua incondicional rendição, uma vez que estava sob ocupação das forças estadunidenses, as quais desmantelaram o exército, libertaram as zonas ocupadas, o poder político do Imperador foi suprimido e o primeiro-ministro eleito pelo parlamento. Em 1952 o Japão havia recuperado a sua soberania após a assinatura do Tratado de San Francisco, crescendo economicamente com a ajuda da comunidade internacional. Politicamente, o Partido Liberal Democrata do Japão, de tendência conservacionista, governou quase ininterruptamente no pós-guerra. Com o início da era Heisei, o Japão sofreu uma crise económica nos anos de 1990, enfrentando um declínio da taxa de natalidade e um rápido envelhecimento da população. Em princípios do , o Japão começou a reformar as práticas que regiam desde o pós-guerra a sociedade, o governo e a economia, o que resultou numa significante mudança política em 2009, com a tomada do poder por parte do Partido Democrático do Japão. Contudo, em finais de 2012, o poder voltou para as mãos do Partido Liberal Democrata. Periodização. A história do Japão divide-se em períodos importantes relativamente à produção artística, assim como a relevantes acontecimentos políticos. A classificação geralmente varia dependendo dos critérios do autor, contudo muitos dos períodos podem ser subdivididos. Eras do Japão. Segundo o imperador reinante, os (eras do Japão) possuem outra divisão periódica na sua história. O sistema de classificação por eras (ou períodos) fundamenta-se no nome do respectivo imperador, ou seja, pelo ano correspondente ao seu mandato. Como exemplo, o ano 1948 corresponde ao ano "Shōwa 23". Atualmente é utilizado tanto o calendário Gregoriano como o sistema de "nengō". História. Período paleolítico japonês. A data aproximada do início do período paleolítico é motivo de alguma controvérsia, embora seja geralmente aceita que este período se defina entre / AP, quando surgiram as primeiras ferramentas de pedra, e / AP, que corresponde ao início do Mesolítico. Por definição, o período paleolítico do Japão terminou com o aparecimento das primeiras técnicas de cerâmica durante o final do último período glacial, entre e anos AP Este período situa-se nos finais do Pleistoceno. Existem poucas evidências que comprovem o estilo de vida das pessoas que viviam no Japão durante este período, assim como quanto à presença de seres humanos antes de AP, o que continua a ser algo controverso. A transição entre este período e o período seguinte foi gradual, não tendo sido encontradas evidências de uma clara ruptura ou diferenciação entre as duas culturas. Sabe-se que os primeiros habitantes eram caçadores-coletores vindos do continente. Embora trabalhassem a pedra, desconheciam a tecnologia da cerâmica e não tinham práticas agrícolas que indicassem sedentarização. Este período agrupa as mais antigas ferramentas de pedra polida conhecidas no mundo, datadas por volta de AEC. O paleolítico superior, documentado aquando realizada a escavação no sítio arqueológico de Iwajuku em 1949, e que veio a permitir várias conclusões a partir da década de 1960, é geralmente dividido pelas seguintes fases e tradições: Através da datação por radiocarbono, concluiu-se que os primeiros ossos humanos descobertos em Hamamatsu, Shizuoka datam de a AP. Período Jomon. A transição do paleolítico para o teve início com a introdução da cerâmica na região a par de culturas agrícolas ainda incipientes. A primeira civilização japonesa Jomon ocupou as ilhas nipónicas em finais da quarta glaciação por volta de 14 mil AEC. Durante os primeiros dez mil anos desde o aparecimento dos primeiros povos, aproximadamente entre e 500 AEC, a sobrevivência dos habitantes dependia principalmente da caça, pesca e colecta. O nome do período provém do tipo de cerâmica desenvolvida, que significa "marca de corda" - um cunho distinto deixado pelas cordas na argila ainda crua, que se formava a partir de tiras de barro cozido a baixas temperaturas. De acordo com a sua datação, a cerâmica deste período é das mais antigas cerâmicas conhecidas no mundo. Período Yayoi. A cultura do caracteriza-se por ter sido a fase de implementação de métodos de cultivo de arroz e do trabalho em metal, apesar de, em arqueologia, ser classificado segundo a identificação de determinados artefactos, especialmente de diversos estilos de cerâmica. Considera-se que esta época está definida desde 500 AEC até 300 EC. Os membros pertencentes à cultura "Yayoi" tinham características físicas distintas das dos povos de Jomon, o que sustenta três hipóteses quanto à origem dos "Yayoi". A primeira afirma que os povos deste período eram descendentes dos "Jomon", tendo, no entanto, sofrido alterações fisiológicas devido a mudanças na dieta e estilo de vida. Outra teoria afirma que eram imigrantes do continente (Coreia). A terceira hipótese sustenta que os povos "Yayoi" eram descendentes do cruzamento entre os "Jomon" e os imigrantes provenientes do continente. As aplicações da tecnologia metalúrgica diversificaram-se, passando a ser comum o fabrico de ferramentas agrícolas, espadas de bronze, armas de ferro e espelhos para o uso em rituais religiosos. Com a divisão do trabalho surgiu também uma profunda estratificação da sociedade, fazendo com que se estabelecessem classes dominantes e respectivos feudatários, dando origem à divisão territorial por caciques. Durante o final deste período existia já um número significativo de caciques. Um dos mais importantes foi Yamatai-koku, que estabeleceu bases para a nação emergente do período seguinte. As Crónicas de Wei descrevem a existência desse território; uma nação conhecida na China como "Wa" (primeiro registo escrito do nome do Japão), a qual era liderada por uma mulher chamada Himiko, provavelmente a imperatriz-consorte Jingo. De acordo com Wei Zhi, um reino poderoso ganhou ascendência sobre todos os outros; este reino era chamado Yamatai-koku e situava-se em Wa (Japão). Período Kofun. O período Kofun data entre 250 e 300, com a construção do primeiro "kofun", e 538 e 552, época em que se considera que o budismo foi introduzido no Japão. Vários historiadores e arqueólogos, como Charles T. Keally, prorrogam o prazo até 710, por forma a que os períodos Asuka e Hakuhō sejam considerados subperíodos do "Kofun". Este período adquiriu o mesmo nome das mamoas funerárias onde os membros da classe aristocrática eram enterrados juntamente com as suas armas, armaduras e escudos de bronze - . A área destes túmulos varia de tamanho, chegando a dimensões semelhantes às pirâmides do Egito, o que reflete a magnitude de poder dos governantes. O período Kofun marca o fim da pré-história. Uma vez que não existem registos japoneses, a história deste período dependeu de fontes externas (inicialmente de documentos coreanos e posteriormente de chineses), assim como dos manuscritos do início do período Nara, por volta do . Apesar de não existirem registos de origem chinesa que mencionem o Japão entre os anos 266 e 413, as escrituras coreanas do proporcionam uma vasta informação das actividades do reino de "Wa" na península coreana. Por outro lado, os registos chineses do demonstram uma relação muito próxima entre a China e o emergente governo Yamato (localizado na atual província de Nara). Entre 413 e 502, os "Cinco Reis de Wa" - nome que menciona os cinco monarcas do Japão - mantiveram uma estreita relação com o dito país, enviando continuamente emissários ao território chinês. Durante este período, o Japão teve um contacto significativo com a China e, sobretudo, com a Coreia. No ano 400, a infantaria do exército japonês acudiu em socorro o reino de Baekje, no sudeste da península da Coreia, tendo contudo sofrido uma significativa derrota nas mãos da cavalaria do reino de Koguryo, proveniente do norte da península. O governo da corte de Yamato focou-se num e, a partir do , o mandatário passou a ser chamado . O termo , o qual é empregue atualmente, foi utilizado a partir do mandato do Imperador Tenmu. Período Asuka. O teve início com a introdução do budismo no Japão, no ano 552. A introdução do budismo esteve na origem de uma série de conflitos por todo o país. Alguns membros da corte viram com bons olhos a difusão desta religião, ao considerar que a sua implementação poderia contribuir para a unidade nacional e facilitaria o estabelecimento de uma nova hierarquia religiosa sob a autoridade de uma divindade omnipotente (Buda), ao contrário das centenas de "kami" do "xintoísmo". O conflito terminou com a vitória de Soga no Umako em 587, assim como com a implementação do budismo enquanto religião oficial, atribuída pelo príncipe Shōtoku Taishi e pela Imperatriz Suiko em 593. Apesar do tudo, o budismo não se chegou a sobrepor por completo ao xintoísmo e ambas as religiões coexistiram pacificamente ao longo da história do Japão. O príncipe Shōtoku estabeleceu também um governo central. A corte financiou a construção de vários templos e palácios, inspirando-se em modelos arquitectónicos coreanos e chineses. O príncipe, admirador profundo da cultura destas nações, fomentou o recurso a caracteres chineses (que estão na origem dos kanji); lançou bases para o desenvolvimento de códigos de conduta e ética de governo fundamentados no budismo (constituição dos dezassete artigos, 604); e enviou inúmeras missões japonesas à China Imperial durante a dinastia Sui (600-618), com o intuito de estabelecer firmes relações diplomáticas. Em 602, o príncipe Kume liderou uma expedição à Coreia, acompanhado por cerca de 120 a 150 caciques locais ("Kuni ni Miyatsuko"). Cada cacique foi escoltado por um exército pessoal, cujo número dependia da riqueza de cada feudo. Estas tropas formaram o protótipo de um exército, que viria a ser conhecido nos séculos posteriores por samurai. A arte deste período incorpora os temas de arte budista. Uma das obras mais notórias é o templo budista de "Horyu-ji", encomendado pelo príncipe Shōtoku no início do , sendo a mais antiga estrutura de madeira do mundo. Período Hakuhō. Após a morte do príncipe Shōtoku em 621, surgiu dentro da corte um novo clã chamado Soga, que foi gradualmente tomando o controlo político, o que constituiu uma forte ameaça para o governo imperial. Em 645, face à urgência da situação, o príncipe Naka no Ōe (626-672), conjuntamente com outros membros, organizou um grupo e assassinou o líder do clã, Soga no Iruka, em plena audiência com a Imperatriz Kogyoku (Incidente de Isshi). A imperatriz abdicou do trono em favor do seu segundo filho, o Imperador Kōtoku (596-654), ao mesmo tempo que o clã Soga foi debelado. Em 646, o novo imperador, juntamente com Nakatomi no Kamatari e o príncipe Naka no Ōe, redigiu uma série de leis designadas de "Reformas Taika", com o propósito de fortalecer o poder central, as quais implementaram uma reforma agrária e reestruturaram a corte imperial segundo o modelo chinês da Dinastia Tang. A corte impulsionou ainda o envio de embaixadas e estudantes para a China a fim de assimilar aspectos culturais dessa região, afectando de forma radical a cultura e sociedade japonesas. A este período deu-se o nome de . Após as mortes do Imperador Kotoku (em 654) e da Imperatriz Kogyoku (que retomou o trono com o nome de Imperatriz Saimei, vindo a morrer em 661), o príncipe Naka no Ōe assumiu o poder sob o nome de Imperador Tenji. Durante o seu reinado foram promulgados o primeiro ritsuryo (uma compilação de leis baseada na filosofia de Confúcio e em leis chinesas) e o Código Omi em 669. Nakatomi no Kamatari, que escreveu o código, foi recompensado pelo imperador Tenji, recebendo o sobrenome de Fujiwara, que posteriormente veio a fundar o clã Fujiwara. No ano 618 a dinastia Tang tomou o poder na China e aliou-se ao reino coreano de Silla, com o propósito de atacar o reino de Paekche. Os japoneses enviaram três exércitos expedicionários (em 661, 662 e 663) em auxílio do reino de Paekche. Durante o conflito, o Japão sofreu uma das mais significativas derrotas na sua história antiga, perdendo cerca de 10 mil homens, um número significativo de barcos de grande porte e inúmeros cavalos de guerra. Receando uma invasão por parte da nova aliança entre Silla e a China, o Japão iniciou uma militarização progressiva. Em 670 foi ordenado um recenseamento demográfico tendo em vista o recrutamento de população para o exército japonês. Toda a costa norte de Kyushu foi fortificada, ao longo da qual se edificaram postos de vigia, e se construíram torres de sinalização com fogueiras na costa das ilhas Tsushima e Iki. Após a morte do Imperador Tenji em 671, os seus dois sucessores disputaram o trono na Guerra Jinshin. Após a vitória do Imperador Tenmu em 684, este decretou que todos os elementos policiais civis e militares dominassem as artes marciais. Em 702, os sucessores do Imperador Tenmu culminaram com as reformas militares através do , conseguindo assim a vantagem de um imenso e estável exército conforme o sistema chinês. Cada "heishi" (soldado japonês) era atribuído a um "gundan" (regimento), durante uma determinada parte do ano, enquanto que os restantes soldados dedicavam-se à agricultura. Os soldados estavam individualmente equipados com arcos, uma aljava e um par de espadas. Estabelecimento do sistema imperial. No , os governantes do período Yamato ordenaram que a sua inclusão nos mitos e lendas japonesas fosse consumada, por forma a se legitimarem perante a população. Uma das mais importantes lendas refere-se à origem do Japão, atribuída aos "kami" Izanagi e Izanami. Segundo a lenda, foi a partir destes dois que nasceram os três "kami" maiores: Amaterasu, deusa do Sol e senhora dos céus; Susanoo, deus dos oceanos; e Tsukuyomi, o deus da escuridão e da Lua. Em determinado dia, Amaterasu e Susanoo discutiram e, embriagado, Susanoo destruiu tudo à sua passagem. Amaterasu ficou tão assustada que se escondeu numa caverna, recusando-se a sair, tendo o mundo ficado privado de luz. Com o propósito de fazê-la sair, um "kami" feminino, Ame-no-Uzume-no-Mikoto, realizou uma dança erótica acompanhada pelo regozijo da miríade dos deuses reunidos em assembleia. No momento em que Amaterasu perguntava o que tinha acontecido, revelaram-lhe a existência de uma "kami" mais poderosa, Ame-no-Uzume, que tinha pendurado um espelho numa árvore, por forma a que Amaterasu ficasse atraída por ele. Lentamente ela se aproximou do espelho que tinham colocado à sua frente. A surpresa de ver o seu próprio reflexo foi tão grande que Amaterasu ficou deslumbrada e algum tempo depois a luz voltou a iluminar a Terra. Assim, o espelho Yata no Kagami passou a fazer parte da Regalia Imperial do Japão. O segundo elemento das três joias da coroa japonesa é descrito posteriormente na mesma lenda. Susanoo foi banido pelos distúrbios que havia causado e, enquanto caminhava pelas terras de Izumo, ouviu uma cobra (ou dragão) de oito cabeças, chamada Yamata no Orochi, que atormentava os moradores locais. Susanoo assassinou a cobra embriagando-a com saque e de seguida cortando-lhe as cabeças. Na cauda da cobra, Susanoo encontrou uma espada e decidiu oferecer à sua irmã em sinal de paz. Esta espada é, pois, o segundo ícone das insígnias imperiais. A terceira e última insígnia é uma magatama (miçanga em forma de curva) que Amaterasu deu ao seu neto Ninigi-no-Mikoto, quando este recebeu o cargo de governar o submundo. A joia, por sua vez, foi entregue ao seu neto, o imperador Jimmu, o primeiro imperador do Japão. Desta forma, subvencionados na crença popular, os governantes de Yamato legitimaram o processo pelo qual o Japão seria governado sob um sistema imperial, fortemente apoiado pela crença no xintoísmo. Período Nara. O teve origem em 710, quando a capital foi transferida para Heijō-kyō - próxima da província de Nara - prolongando-se até finais de 794, quando a capital foi novamente transferida para Heian-kyō, atual Quioto. A nova capital foi inspirada em Changan, antiga capital da China durante a dinastia Tang. Neste período, o governo financiou a construção de inúmeros templos na capital e na província, com o intuito de obter apoio religioso. Assim, a implementação em definitivo do budismo e do confucionismo foi imposta. A influência cultural chinesa tornou-se mais evidente, refletindo-se na literatura. É nesta época que surgem os primeiros registos históricos compilados pela corte imperial - o Kojiki (712) e o Nihonshoki (720). Nasce então a poesia japonesa, o "waka", e em 759 é compilada a primeira coleção de poesia do Japão, o "Man'yōshū". Apesar de tudo, o novo sistema chinês não foi bem recebido pela sociedade japonesa. Disputas entre os membros da família imperial, o clã Fujiwara e os monges budistas eram frequentes. Fujiwara no Fuhito, filho de Kamatari e burocrata supremo dentro da corte, compilou então o Código Yoro em 720, por forma a revisar o anterior Código Taihō. Contudo, no mesmo ano, o burocrata morreu, gerando uma fragmentação de poderes entre os seus filhos, o que adiaria a publicação do código para o ano de 757. Esta mudança de poderes foi a fonte de conflitos entre o príncipe Nagaya e os quatro filhos de Fuhito (Muchimaro, Fusasaki, Maro e Umakai). Em 729, estes acusaram falsamente Nagaya de corrupção, e ele foi condenado à pena de morte, vindo posteriormente a cometer suicídio. Os filhos de Fuhito morreram após um surto de varíola, que foi atribuída a uma suposta maldição lançada pelo príncipe antes de morrer. Isto fez com que o Imperador Shomu se transferisse para várias cidades, declaradas sucessivamente capitais do país entre 740 e 745. Após a abdicação do trono por parte do imperador Shomu em 749, o clero budista tomou o poder com o apoio da Imperatriz Koken, que, apesar de ter abdicado do trono em 758, continuou a exercer controlo sobre a corte, favorecida por um importante monge chamado Dokyo, ao qual outorgava poder político. Isso fez com que o clã Fujiwara e o imperador Junnin intentassem um golpe de estado em 764, tentativa esta falhada, provocando a deposição do imperador e a execução de Fujiwara no Nakamaro, líder da conspiração. A imperatriz retomou então o trono com o nome Imperatriz Shotoku, continuando com a permuta de poder para Dokyo, que chegou inclusive a ser nomeado por um oráculo como sucessor a imperador. Mais tarde, em 770, a imperatriz morreu de varíola e Dokyo fugiu para o exílio, o que motivou profundas alterações políticas. Os monges budistas foram, entretanto, excluídos do governo, seguindo-se a suspensão dos apoios governamentais à religião. As medidas impostas pelo imperador Konin (770-781), assim como pelo imperador Kanmu (781-806), fizeram com que a corte imperial abandonasse Nara, com o intuito de se afastar dos templos budistas. A corte foi então transferida para Nagaoka-kyō em 784. Passados dez anos, esta foi novamente deslocada para a nova capital Heian-kyō ("Capital da Paz e Tranquilidade"). Com o nascimento do estado unificado de Silla, a ameaça de uma invasão da Coreia contra o Japão desvaneceu-se, e então a corte de Nara focou a sua atenção nos habitantes do nordeste de Honshu, designados de , com quem tiveram numerosas altercações. Em 774, eclodiu uma grande revolta, conhecida como a guerra dos trinta e oito anos. Nela, os "emishi" empregaram um sistema de "guerra de guerrilhas" e o uso de uma espada com lâmina curva, que lhes conferia uma significante vantagem de combate - com um melhor desempenho rotativo, ao contrário da espada reta do exército da corte imperial de Nara, tornando-se assim mais eficientes. Em 796, com ajuda de Sakanoue no Tamuramaro, os "emishi" conseguiram a vitória sobre a corte imperial. Sakanoue recebeu então o nome de , - expressão mais tarde empregue para designar o líder dos samurais. O sistema de recrutamento de camponeses terminou em 792, ao se reconhecer que a principal força militar viera dos chefes e dos seus soldados e não dos camponeses, que não possuíam a formação adequada e disciplina suficientes para os campos de batalha. Período Heian. O teve início em 794, indo até 1185, com o estabelecimento do primeiro regime xogum na história do país - Xogunato Kamakura. Consolidação da aristocracia. Neste período, a rede estatal chinesa foi adaptada às necessidades japonesas, e uma cultura própria e sofisticada emergiu. Com o declínio do sistema burocrático dos códigos Taika e Taihō, a instituição imperial foi fortalecida durante os primeiros anos do reinado do Imperador Kanmu. Contudo, depois da sua morte em 806, a assimilação cultural com a China foi progressivamente desprezada e em 838 deram-se como finalizadas quaisquer relações com a Dinastia Tang. Além disso, com o desaparecimento do antigo sistema político, o clã Fujiwara começou um novo processo de adopção dos altos escalões hierárquicos do governo, estabelecendo estreitos laços matrimoniais com a família imperial a partir da primeira metade do . Líderes do clã posicionaram-se de forma a se tornarem regentes (Sesshō e Kanpaku) dos imperadores, enquanto que outros membros do clã Fujiwara conseguiram monopolizar altos cargos, como o Conselho de Estado (Daijō-kan). Os oficiais de gama média e baixa foram distribuídos hereditariamente por outros clãs aristocráticos. Em finais do e começos do , os Fujiwara governaram de facto o Japão e apenas uma pequena percentagem de imperadores regeram por conta própria, uma vez que quando assumiam o trono, eram forçados pelos líderes do clã a abdicar do mesmo ainda muito jovens, cedendo assim as decisões administrativas aos regentes e ao Daijō-kan. O budismo esotérico das escolas de Tendai e Shingon tornou-se bastante popular durante este período, levando a que aristocratas procurassem a "salvação" através de cerimónias e rituais budistas em tais instituições religiosas. Até então, mobilizada pela escrita chinesa, a cultura japonesa sofreu um significativo aprimoramento, tendo como ponto central a corte imperial. O aperfeiçoamento literário foi expressivo com a criação do "Kana", uma escrita silábica, que se ajustava com a fonética japonesa. Novos géneros literários foram estabelecidos como romances ("monogatari") - salientando-se o livro "Genji Monogatari" de Murasaki Shikibu escrito por volta do ano 1000 - seguidos pelos jornais, ensaios e outros documentos pessoais feitos por cortesãos como Makura no Soshi e Sei Shonagon, escrito também por volta do ano 1000. Em 860 já poderia ser vista grande parte das características dos futuros samurais nos campos de batalha - hábeis cavaleiros no uso do arco e flecha, bem como de katanas. Estes militares a cavalo possuíam total confiança do "Trono do Crisântemo, estando encarregues da segurança das cidades, assim como dos confrontos contra as revoltas que se sucedessem. No entanto, o sistema público de terras que se estendia sobre as províncias estava prestes a entrar em colapso. Em inúmeros locais foram criadas terras privadas ("shōen"), as quais eram utilizadas em primeira instância pela aristocracia e pelos grandes templos. Com a suspensão de registos familiares e a alocação de terras de cultivo no , os terrenos do estado foram ultimados enquanto áreas privadas. Assim, os proprietários destes terrenos elegiam os clãs e camponeses locais como seus administradores, o que resultou na transferência do poder das terras para estes. Contudo, a existência de numerosas propriedades privadas reduziu significativamente os impostos, chegando ao ponto em que a própria família imperial se viu forçada a adquirir terras privadas para assegurar a sua renda. Ascensão da classe samurai. O processo de descentralização sofrido pelo governo fez com que a administração local apresentasse dificuldades, resultando numa quebra da lei e ordem públicas. Durante o , o Japão sofreu uma grave crise económica e social como resultado de pragas e fomes acompanhadas pela má nutrição em massa, epidemias e aumento da mortalidade. Com isto, numerosos distúrbios, motins e revoltas começaram a surgir em inícios do . O governo tomou então a decisão de conceder amplos poderes aos governantes de cada região, sendo que estes passaram a ter permissão para recrutar tropas de combate, que faziam uso do sabre japonês ("katana"), de arqueiros (Kyujutsu) e cavalaria, alistando ainda agricultores enquanto seus simpatizantes que atuavam contra as crescentes rebeliões conforme sua vontade. Isto veio a conceder um enorme poder político aos governadores. Foi durante este período que se documentou pela primeira vez a palavra "samurai", ou seja, “aqueles que servem”, isto num contexto puramente militar. O primeiro grande teste de equilíbrio sobre o sistema ocorreu no ano de 935, quando uma revolta contra o governo central de Quioto, liderada pelo samurai Taira no Masakado, descendente do príncipe Takamochi, começou a tomar graves proporções. A princípio, a corte Heian considerou que o incidente que envolvia Masakado seria apenas uma revolta da localidade, até que este veio a auto-proclamar-se "o novo imperador". Respondendo a tal situação, a corte enviou um exército provincial para sufocar a revolta, originando na morte do líder por decapitação em 940. A partir deste momento e dependendo da sua origem social, estes líderes de guerreiros começaram a definir uma aristocracia em cada região, sendo-lhes confiado o poder, o qual passou a ser dominado por um grupo elitista de guerreiros. Alguns aristocratas que não conseguiram cargos importantes no poder viram-se forçados a emigrar para outras províncias, assumindo a liderança sobre os guerreiros samurai do respectivo local. Um exemplo foram os clãs Taira, Minamoto e Fujiwara, que exerciam na capital. Estes possuíam guerreiros que os protegiam - tal como nos templos budistas, onde existiam monges armados (sohei) que guardavam defensivamente as suas próprias propriedades. Minamoto no Yoriyoshi, viu-se envolvido num marcante conflito da época denominado de Guerra Zenkunen ou "guerra dos primeiros nove anos" entre 1051 e 1062. Esta foi a primeira guerra que ocorreu no país desde a batalha contra os "emishi". A disputa começou quando Abe no Yoritoki, descendente dos "emishi" e membro do clã Abe, não entregou os impostos à corte imperial. Yoriyoshi teria sido enviado para resolver o problema pessoalmente. Yoriyoshi e Yoritoki chegaram de forma pacifica a um acordo, contudo um conflito interno eclodiu no clã Abe e Yoritoki foi morto. Com este facto, foi declarada guerra entre Abe no Sadato, filho de Yoritoki, e Minamoto. Só em 1062 é que Yoriyoshi conseguiu vencer os Abe na batalha de Kawasaki, tendo transportado a cabeça do rebelde até Quioto como sinal de vitória. Minamoto no Yoshiie, filho de Yoriyoshi, combateu lado a lado com o seu pai durante todo o conflito, ganhando grande reputação pelas suas proezas militares. Isso lhe valeu o apelido de "Hachimantarō" ou "o filho primogénito de Hachiman, o deus da guerra". Enquanto que a crise económica e a instabilidade política iam causando confrontações entre os clãs Fujiwara, Taira e Minamoto, tanto dentro como fora da corte, na segunda metade do , a família imperial restaurou o seu poder político com a ascensão ao trono do Imperador Go-Sanjo (1068 - 1073). Este impediu o clã Fujiwara do controlo de decisões administrativas; regulou os "shōen"; decidiu implementar reformas económicas sobre os obsoletos "ritsuryo"; e estabeleceu um sistema monárquico designado de "insei" ("governo enclaustrado"), em que o governante nominal de todos os governos e unidades administrativas não possuía um poder prático, senão o de simplesmente articular todos os processos. Apenas os conselheiros detinham o poder real. O imperador, ao momento de abdicar do trono, retirar-se-ia para um templo budista, contudo mantinha a posição de regente sobre o seu sucessor, preenchendo o vazio de poder que deixava o clã Fujiwara entre disputas internas e faccionárias. O seu sucessor, o Imperador Shirakawa (1073 - 1087), foi quem aplicou o sistema "insei" na sua máxima expressão ao governar enquanto imperador aposentado por mais de quarenta anos até 1129. Assim, Shirakawa governava sobre três imperadores que não passavam de títeres do governo. O imperador Toba (1107 - 1123) havia também adoptado o sistema "insei", administrando o país por mais de três décadas até à sua morte em 1156. Toba exerceu influência sobre outros três imperadores. Neste período houve, contudo, contradições entre o imperador reinante e o aposentado, dando lugar à autoridade militar para governar o país sobre a autoridade civil. Em 1083 eclodiu novamente um conflito armado em que Minamoto estaria envolvido, agora na Guerra Gosannen, que teve origem sobre as diferenças entre os líderes dos antigos dirigentes e aliados dos clãs Minamoto e Kiyowara. Depois de uma feroz batalha por três anos consecutivos, em que a corte se recusou a auxiliar o clã Minamoto, este conseguiu, contudo, sair vitorioso. Quando Yoshiie foi a Quioto com a finalidade de conseguir uma recompensa, tal desejo foi recusado pela corte, que recriminou os impostos em atraso que o mesmo devia, dando assim início a um claro distanciamento entre a corte e Yoshiie. Enquanto isso, os seus rivais, os Taira, desfrutavam cada vez mais de uma boa relação com a corte imperial devido às suas façanhas na região oeste do país. A rivalidade entre os clãs Minamoto e Taira foi se intensificando e tornou-se cada vez mais evidente. Em 1156, depois da morte do imperador Toba, teve início um conflito entre os dois clãs, quando Minamoto no Yoshitomo se juntou a Taira no Kiyomori contra o seu pai Minamoto no Tameyoshi e o seu irmão Minamoto no Tametomo, durante a revolta de Hogen. A batalha foi breve, Tameyoshi acabou por ser executado e Tametomo castigado com o desterro. Esta revolta pôs em causa o poder do sistema "insei", quando o retirado Imperador Sutoku foi vencido pelo governante Imperador Go-Shirakawa, e também sentenciou o destino final do clã Fujiwara, que foi banido do poder. Assim, o domínio foi monopolizado exclusivamente pelos clãs Taira e Minamoto. Em 1159, houve outro confronto, conhecido como Rebelião Heiji, onde Yoshitomo enfrentou Kiyomori. A superioridade do clã Taira era de tal forma proeminente que os membros do clã Minamoto fugiram para se salvarem. Os Taira perseguiram-nos e Yoshimoto foi capturado e morto. Dos membros do grupo inicial da família Minamoto, restava um número insignificante deles, tendo o clã sido aniquilado quase por completo. Em 1167 Taira no Kiyomori recebeu do imperador o título de Daijō Daijin (Primeiro Ministro), o qual constituía o mais alto posto que o imperador poderia conceder, tornando-se então o governante do país e o primeiro governador militar da história do Japão. Entretanto, na tentativa de aderir ao poder, Kiyomori entrou um conflito com o imperador Go-Shirakawai, que intentava exercer controlo através do sistema "insei", em 1158. No ano 1177, o imperador planeou um golpe de estado que acabou por fracassar, o que resultou consequentemente no seu exílio e na supressão do seu poder político. Kiyomori nomeou em 1178 como herdeiro ao trono o seu neto ainda criança, que em 1180 assumiu o poder com o nome de imperador Antoku. Isto motivou a ira dos opositores do clã Taira, dando origem às Guerras Genpei. Guerras Genpei. As foram uma série de guerras civis que evolveram os clãs mais influentes da acção política do país, designadamente os clãs Taira e Minamoto. Estas guerras ocorreram entre 1180 e 1185. Em 1180, instalaram-se no país duas revoluções independentes, que envolveram duas gerações distintas do clã Minamoto. Uma das revoluções sucedeu-se em Quioto e foi chefiada pelo veterano Minamoto no Yorimasa, enquanto que a outra ocorreu na província de Izu, comandada pelo jovem Minamoto no Yoritomo. Ambas as revoltas foram apaziguadas com relativa facilidade. Na província de Izu, Yoritomo foi forçado a fugir de Kanto, enquanto que em Quioto, Yorimasa foi vencido na batalha de Uji, onde cometeu seppuku antes de ser capturado. Durante dois anos, ambos os lados foram se envolvendo em pequenos conflitos. Em 1183, os Taira decidiram enfrentar Minamoto no Yoshinaka, primo de Yoritomo. Depois de derrotar os Taira na batalha de Kurikara, Yoshinaka dirigiu-se com o seu exército para o local onde se encontrava Yoritomo. As tropas de Yoshinaka e de Yoritomo estavam envolvidas na batalha de Uji em 1184. Yoshinaka perdeu o confronto e tentou escapar, contudo foi capturado em Awazu, onde foi decapitado. Com esta vitória, o corpo principal dos Minamoto focou os seus esforços em derrotar os seus principais inimigos, os Taira. Yoshitsune dirigiu então o seu exército ao encontro do clã em nome do seu irmão mais velho, Yoritomo, que permanecera em Kamakura. Por fim, Minamoto reivindicou a vitória na Batalha de Dan no Ura. Entretanto, Yoritomo ordenou que os seus homens perseguissem o seu irmão Minamoto no Yoshitsune, pois este era considerado como uma forte ameaça e essencialmente um rival. Yoshitsune foi derrotado e morto na batalha de Koromogawa em 1189. Período Kamakura. Em 1192, Minamoto no Yoritomo auto-proclamou-se xogum - denominação esta que até então tinha sido apenas temporária, e tornou-se um título militar de alto nível. Com isto foi instituiu o xogunato enquanto figura permanente, que duraria cerca de 700 anos até à restauração Meiji. Com o novo ideal xogum, o imperador converteu-se num mero espectador quanto às questões políticas e económicas do país, enquanto que os samurais se tornaram efectivos. Yoritomo estabeleceu o povo costeiro de Kamakura como a principal sede do xogunato, tendo assim este período recebido o seu nome. A corte imperial concedeu a Yoritomo o poder de nomear os seus próprios vassalos de protectores provinciais ("Jito") e mordomos ("shugo"), responsáveis pela gestão das propriedades privadas. Em paralelo, a corte imperial continuou elegendo funcionários provinciais, assim como proprietários de imóveis enquanto administradores da respectiva terra. Posto isto, a estrutura política durante o período Kamakura apresentou uma dualidade, pois enquanto a administração civil era subvencionada pela corte imperial, a administração feudal era custeada pelo xogunato. Após apenas três xoguns do clã Minamoto, e depois da morte do último, o clã não possuía outros herdeiros. Hōjō Masako, viúva de Yoritomo, tomou então a decisão de adoptar uma criança de um ano de idade, descendente de uma família do clã Fujiwara, e nomeou-o xogum. Assim, o clã Hōjō se perpetuaria no poder por várias décadas ao eleger uma criança a xogum a qual foi descartada assim que cumpriu vinte anos de idade, aproveitando-se de um estado fantoche para exercer o controlo do país. Por este motivo, em 1219, o aposentado imperador Go-Toba, que procurava restaurar o poder imperial que detinham antes do estabelecimento do xogunato, acusou os Hōjō de malfeitoria. As tropas imperiais mobilizaram-se, dando lugar à guerra Jōkyū (1219-1221), a qual culminaria com a terceira batalha de Uji. Durante este conflito, as tropas imperiais foram derrotadas e o imperador Go-Toba exilado. Com a derrota de Go-Toba, confirmou-se o governo dos samurais sobre o país. Invasões mongóis do Japão. Depois de Kublai Khan reclamar o título de imperador da China, decidiu invadir o Japão com a finalidade de submeter o país ao seu domínio. Esta foi a primeira oportunidade dos samurais para testarem as suas forças contra inimigos estrangeiros. A primeira invasão ocorreu em 1274, quando as tropas mongóis desembarcaram em Hakata (actual Fukuoka). Durante esta batalha as tropas japonesas enfrentaram uma técnica bastante diferente no uso do arco e flecha daquilo a que estavam acostumados. Os mongóis arremessavam flechas a grandes distâncias, gerando "nuvens de setas", enquanto que os arqueiros japoneses efectuavam um tiro único e de curta distância contra os oponentes. Outra grande diferença entre as duas formas de combate encontrava-se no uso de catapultas do exército mongol. Entretanto, durante a noite do dia da batalha, uma forte tempestade danificou significativamente a frota invasora, obrigando-a a regressar à Coreia para rearmar o seu exército. Depois da retirada do exército inimigo, os japoneses tomaram uma série de medidas preventivas, como foi exemplo a construção de muros nos pontos mais vulneráveis da costa, assim como o posicionamento de um guarda efectivo em cada um deles. A segunda tentativa de invasão teve lugar em 1281. Os samurais efectuaram ataques aos navios inimigos, tais como a pequenas balsas que tinham uma capacidade limitada de transportar cerca de doze guerreiros, isto com o propósito de impedir que as tropas inimigas apeassem na costa. Após uma semana de combates, um emissário imperial foi requerido para solicitar a Amaterasu, a deusa do sol, que intercedesse pelo exército japonês. Um tufão atingiu a frota mongol e a afundou quase por completo. Isso deu origem ao mito do , considerado como um sinal de que o Japão teria sido escolhido pelos deuses e, portanto, estes seriam responsáveis pela sua segurança e sobrevivência das forças japonesas. Os poucos sobreviventes mongóis decidiram aposentar-se, determinando a vitória do Japão. Restauração Kemmu. No início do o clã Hōjō, que se encontrava em decadência, enfrentou uma tentativa de restauração imperial, agora sob a figura do imperador Go-Daigo (1318-1339). Tendo conhecimento de tais eventos políticos, o clã Hōjō enviou um exército de Kamakura, para impedir o sucesso do imperador. Frente a esta situação Go-Daigo fugiu para Kasagi, levando a regalia imperial com ele. O imperador Go-Daigo procurou refugio por entre os monges guerreiros que o acolheram e se prepararam para um possível ataque inimigo. Após tentativas de negociação entre os Hōjō e o imperador para que este abdicasse do poder, e uma vez a sua recusa, decidiu-se então que outro membro da família imperial subisse ao trono. Contudo, visto que o imperador havia levado consigo a insígnia real, não foi possível realizar a tradicional cerimónia. Kusunoki Masashige - um importante guerreiro samurai que veio a tornar-se um modelo de referência para os futuros samurais da época - combateu contra o imperador Go-Daigo num "yamashiro" (castelo japonês). No entanto, com a superioridade numérica do exército do imperador somada à vantagem da topografia do local, foi possível constituir uma eficaz defesa contra o ataque. Em 1332, o castelo desmoronou e Masashige decidiu retirar-se para dar continuidade à batalha no futuro. O imperador foi capturado e levado para a sede dos Hōjō localizada em Quioto, tendo sido mais tarde exilado nas ilhas Oki. Construído um castelo em Chihaya, o qual possibilitava uma defesa superior comparada com o último, o exército liderado por Masashige foi atacado pelos Hōjō, porém a ofensiva do clã foi imobilizada. A forte defesa de Masashige motivou o imperador Go-Daigo a retomar novamente a batalha em 1333. Tomando conhecimento do retorno do imperador, os Hōjō decidiram enviar um dos seus principais generais, Ashikaga Takauji. Porém, Ashikaga decidiu aliar-se ao exército do imperador e definiu o lançar de um ataque juntamente com o exército ao quartel-general dos Hōjō em Rokuhara. A traição de Ashikaga trouxe graves consequências aos regentes, e o exército do general foi dizimado. Entretanto, golpe definitivo surgiu pouco depois, quando um guerreiro chamado Nitta Yoshisada se uniu aos partidários imperiais, aumentando as suas forças. Nitta e o seu exército partiram para Kamakura e venceram os Hōjō. Período Muromachi. O envolve a era do , sob o regime militar feudal que se encontrava em vigor desde 1336 até 1573. O referente período deve o seu nome à área onde o terceiro xogum Yoshimitsu havia estabelecido a sua residência. Depois de ter auxiliado o imperador Go-Daigo a conquistar novamente o seu trono, Ashikaga Takauji acreditava receber uma recompensa substancial pelos seus serviços. No entanto, por considerar que a retribuição não seria o suficiente e tendo em conta a insatisfação da classe samurai com este novo governo, decidiu então revoltar-se. Descendente do clã Minamoto, Ashikaga podia ascender ao trono imperial. Assim, com o intento de impedir tal acontecimento, o imperador decidiu agir rapidamente, enviando um exército contra Takauji, que o seguiu até à ilha Kyushu. Porém Takauji não foi derrotado e regressou ao trono em 1336. O imperador ordenou então que Masashige enfrentasse as tropas rebeldes em Minatogawa (agora Kobe), mas foi novamente derrotado, resultando na vitória decisiva para Takauji. Masashige decidiu cometeu seppuku antes de ser capturado pelo exército de Takauji. Entretanto, o xogum nomeou o príncipe imperial Yutahito de imperador (Imperador Komyo). Go-Daigo foi para a cidade de Yoshino e, durante os seguintes 50 anos, duas cortes imperiais foram efetivas: a Corte do Sul em Yoshino e a Corte do Norte em Kyoto. Esta pendência ficou conhecida como . A situação durou até 1392, graças às habilidades diplomáticas de um dos maiores governantes da história do Japão, o xogum Ashikaga Yoshimitsu, quando as duas linhagens se reconciliaram e a Corte do Sul cedeu. Com a divisão do governo imperial perdeu-se todo o poder político efetivo, uma vez que a Corte do Norte recebia o apoio do xogunato e a Corte do Sul controlava apenas alguns territórios do Japão. O Xogunato Ashikaga erigiu enquanto governo central, apesar de ter sido um governo bastante débil, ao contrário do Xogunato Kamakura. Isto deveu-se ao facto de os guardas das províncias do Japão não serem simples oficiais, pois tinham poder suficiente para organizarem grupos elitistas de samurais e exércitos baseados no conceito entre senhor e vassalo, que foi progredindo até aos senhores feudais que detinham um controlo independente sobre várias regiões. Este novo tipo de líder foi chamado de . Período Sengoku (1467-1568). Após um breve período de relativa estabilidade, desenvolveu-se uma certa abstinência política durante o xogunato de Ashikaga Yoshimasa, neto do famoso Yoshimitsu Ashikaga. Yoshimasa havia-se dedicado por longo prazo às questões artísticas e culturais, pelo que se encontrava completamente ignoto sobre a situação económica e política do país. Com isto, os proprietários aproveitaram-se deste oportuno momento e começaram uma disputa interna pelo poder e pelas terras, acontecimento que ficou conhecido como a . De uma disputa entre Hosokawa Katsumoto e Sōzen Yamana escalou para uma guerra que envolveu todo o país, incluindo o Xogunato Ashikaga e uma série de daimyos de várias regiões do Japão. Este período da história que se estabeleceu entre 1467 e 1568 ficou conhecido como o período Sengoku (japonês: 戦国時代, "sengoku jidai"). É justamente neste clima de instabilidade e inúmeros conflitos que a participação dos samurais teve significante importância. Das figuras mais importantes deste período destacam-se Takeda Shingen e Uesugi Kenshin, cuja lendária rivalidade serviu de inspiração para várias obras literárias. Os exércitos de Shingen e Kenshin enfrentaram-se nas famosas batalhas de Kawanakajima (1553 - 1564). Apesar de a maioria das batalhas não passarem de meras guerrilhas, a quarta batalha de Kawanakajima, que ocorreu em 1561, teve grande importância na aplicação de várias tácticas de combates. Esta batalha resultou em grandes perdas para ambos os lados, distinguindo-se de qualquer outra batalha do período Sengoku. O confronto corpo a corpo entre os dois líderes resultou num desfecho em igualdade de circunstâncias no final do combate. A guerra derrubou a ordem do estado antigo, assim como o sistema de territórios privados, contudo esclareceu a capacidade da classe guerreira e camponesa perante tais eventualidades, uma vez que teriam sido instituídas entidades autónomas locais. Da mesma forma, as cidades edificadas nas principais vias de circulação do Japão passaram a ser administradas por cidadãos armados. Os daimyos que conseguiram agrupar estas localidades autónomas ao seu poder político obtinham um maior estatuto e poder. Esta dinâmica, com o surgimento de novos centros políticos e económicos através do país, fez com que a sociedade do período Sengoku se tornasse bastante diferente da que anteriormente existia, onde o poder estava antes concentrado apenas na capital. Com estes excessivos confrontos internos pelo desejo de mais poder e mais terras, era só uma questão de tempo até que um poderoso daimyo tentasse alcançar Kyoto, com o objetivo de derrubar o xogum, como aconteceu em 1560. Acompanhado por um imenso exército, Imagawa Yoshimoto (1519-1560) marchou em direcção à capital com a finalidade de derrubar o então líder. No entanto, ele não contava em enfrentar as tropas de Oda Nobunaga, um daimyo secundário que se encontrava em desvantagem em relação a Imagawa numa proporção de doze soldados para um. Yoshimoto, confiante do seu poder militar, havia celebrado a vitória antes mesmo de a batalha terminar. Oda Nobunaga conseguiu atacá-lo quando este se encontrava desprevenido durante uma das suas habituais celebrações na Batalha de Okehazama. Enquanto Yoshitomo saia da sua tenda justo à causa da agitação que ocorria no exterior, foi capturado e em seguida morto nesse mesmo local. Nobunaga passou então de um simples daimyo para uma figura de destaque na conjuntura política e militar do país. Desenvolvimento cultural e contacto com o ocidente. Apesar do proeminente estado de guerra, o desenvolvimento de vários factores culturais no Japão foi evidente neste período na arquitetura, pintura, música e poesia. O terceiro xogum Yoshimitsu foi um importante promotor das artes no Japão, aspecto este fulcral que estimulou a origem da cultura Kitayama durante o seu reinado, que perdurou entre a segunda metade do e inícios do . Este período ficou marcado pelo surgimento dos teatros "Noh" e "Kyogen" e pela distinta construção do pavilhão Kinkaku-ji (em japonês 金閣寺, "Templo do Pavilhão Dourado"). Na segunda metade do , o oitavo xogum, Ashikaga Yoshimasa, promoveu a cultura Higashiyama, onde o zen budismo e a estética wabi-sabi influenciaram a harmonização cultural entre a corte imperial e a classe samurai, assim como incentivaram o florescimento de expressões artísticas, como o surgimento da cerimónia do chá ("chadō" ou "sadō"), a "Ikebana", o "Kōdō", o "renga", entre outras. Durante a fase final do período de Sengoku deu-se a chegada dos primeiros europeus, oriundos de Portugal, ao Japão. Isto ocorreu em 1543, quando um navio de portugueses aportou na costa da ilha de Tanegashima (a sul de Kyushu). As armas de fogo trazidas pelos exploradores portugueses foram as primeiras a serem introduzidas no Japão. Em 1549, o jesuíta espanhol Francisco Xavier chegou a Kyushu e destacou-se como um importante difusor do cristianismo no Japão. Nos anos seguintes, comerciantes portugueses, holandeses, ingleses e espanhóis chegaram ao Japão enquanto missionários jesuítas, franciscanos e dominicanos. Com isto, os visitantes europeus denominados de "nanban" (南蛮 literalmente: "Bárbaros do Sul") desembarcaram na região sul do arquipélago japonês e rapidamente desenvolveram um conceito elementar relativamente aos japoneses, considerando-os enquanto sociedade feudal, providos de um grande desenvolvimento urbanístico e uma sofisticada tecnologia pré-industrial. As armas de fogo trazidas pelos portugueses foram uma importante inovação tecnológica e militar que ocorreu neste período. A produção deste tipo de armas começou a ser efectiva em inúmeras áreas do Japão, tendo sido um factor decisivo com a utilização do Arcabuz na batalha de Nagashino em 1575. O cristianismo espalhou-se pelo país muito rapidamente, sobretudo a oeste do arquipélago, refletindo-se na conversão religiosa por parte de alguns daimyos da região. No entanto, as autoridades japonesas consideraram o cristianismo como uma eventual ameaça, que poderia facilmente desencadear uma possível conquista europeia sobre o Japão. Assim, foi proibida a prática desta doutrina religiosa em toda a nação, recorrendo-se à violência como método exemplar e impiedoso. Isto resultou no corte gradual entre as relações comerciais do Japão com o resto do mundo (excepto com a China e Países Baixos) nos começos do período Edo. Período Azuchi-Momoyama. Em 1573 Oda Nobunaga (1534 - 1582) marchou em direção a Kyoto para derrotar o xogum Ashikaga Yoshiaki. Este acontecimento marcou o início do que é denominado de , o qual recebeu o nome de dois emblemáticos castelos da época, nomeadamente os castelos Azuchi-jō e Fushimi-Momoyama. Uma semana depois, após conseguir a retirada do xogum Yoshiaki, Oda Nobunaga convenceu o imperador a alterar o nome da era para "Tenshō" enquanto símbolo do estabelecimento de um novo sistema político. Da mesma forma, o imperador concedeu-lhe o título de tendo assim permanecido por quatro anos. Oda Nobunaga. Nobunaga nasceu em 1534 na província de Owari e até 1560 havia sido um daimyo secundário. Em 1560, alcançou fama e reconhecimento ao vencer o vasto exército de Imagawa Yoshimoto durante a batalha de Okehazama. Depois de colaborar com a ascensão de Yoshiaki ao poder, Nobunaga lançou uma campanha com o propósito de tomar o controlo da parte central do país. Em 1570 derrotou os clãs Azai e Asakura, durante a batalha de Anegawa, e em 1575 derrotou a lendária cavalaria do clã Takeda na batalha de Nagashino. Outros dos seus principais inimigos foram os monges guerreiros Ikko-ikki, membros da seita budista de Jōdo-Shinshu, uma rivalidade que perdurou durante doze anos, dez dos quais persistiu o mais duradouro cerco da história, o cerco da fortaleza Ishiyama Hongan-ji. Em 1576, Nobunaga mandou construir o castelo de Azuchi, o qual se veio a tornar o seu local de operações militares. Em 1582, Oda dominava quase toda a parte central do Japão e as suas principais vias, entre as quais as estradas Tōkaidō e Nakasendo. Assim, decidido a estender o seu domínio territorial para oeste, dois dos seus principais generais ficaram encarregues de completar a tarefa; enquanto que Toyotomi Hideyoshi pacificaria a parte sul da costa oeste do Mar Interior de Seto, em Honshu, Akechi Mitsuhide marchou para o litoral norte do Mar do Japão. Durante o verão do mesmo ano, Hideyoshi encontrava-se detido no cerco do Castelo de Takamatsu, controlado pelo clã Mōri. Hideyoshi solicitou reforços a Nobunaga, que respondeu à solicitação e ordenou que Mitsuhide avançasse com o seu exército para apoiar Hideyoshi. Contudo, contrariamente ao acordo inicial, Nobunaga permaneceu no templo Honnō-ji para sua própria segurança. Ocorrente da situação Mitsuhide, decidiu então regressar a Kyoto para atacar e incendiar o templo no que ficou conhecido como o Incidente de Honnō-ji. Como resultado, Nobunaga acabou por cometer "seppuku". Toyotomi Hideyoshi. Toyotomi Hideyoshi (1536 - 1598) teve um importante papel político e militar no Japão. Distinto pela sua destreza no campo de batalha, acabou por se tornar num dos principais generais do clã Oda. Durante o Incidente de Honnō-ji, Hideyoshi encontrava-se no castelo Takamatsu quando recebeu a notícia da morte do seu mestre. Imediatamente realizou tréguas com o clã Mori e regressou a Kyoto numa marcha forçada para defrontar o exército do recém auto-nomeado xogum Akechi Mitsuhide. O confronto ocorreu nas margens do rio Yodo, perto do pequeno povoado designado Yamazaki, onde a batalha recebeu o seu nome. Hideyoshi saiu vitorioso e Mitsuhide foi obrigado a partir em retirada, porém acabou por ser assassinado por um grupo de camponeses, pondo fim ao seu governo de apenas 13 dias. O facto de ter vingado a morte do seu antigo mestre concedeu-lhe a previsível oportunidade de se tornar a mais alta autoridade militar do país. Derrotou e enfrentou todos os rivais que contra ele se opuseram, por cerca de dois anos. Em 1585, e depois de ter garantido o controlo sobre o centro do Japão, dirigiu-se para oeste, conquistando territórios para além do escopo que Nobunaga havia conseguido. Em 1591, depois de unificar o Japão, Hideyoshi tentou conquistar a China. Para isso, o regente solicitou o apoio da dinastia Joseon da Coreia, para que garantisse uma passagem segura até à China. Porém, o governo coreano negou tal assistência. A Coreia foi então palco de duas invasões massivas por parte das tropas japonesas entre 1592 e 1598, originando na morte de Hideyoshi, que durante todo esse tempo havia permanecido no Japão. Uma vez que Hideyoshi não possuía descendência real e nem sequer provinha de qualquer um dos históricos clãs japoneses, não lhe foi nunca concedido o título de xogum. Em compensação, recebeu uma designação de menor importância em 1595, nomeadamente a de e posteriormente a de em 1586. Finalmente adoptou o título de . Tokugawa leyasu. Tokugawa Ieyasu (1542-1616) passou a maior parte da sua infância como refém na corte de Imagawa Yoshimoto, uma vez que o seu clã era feudatário dos Imagawa. Após a vitória de Oda Nobunaga sobre Yoshimoto, inúmeros daimyo retiraram-se do país e outros tornaram-se independentes ou declararam-se aliados do clã Oda, como o ocorrido com o próprio Ieyasu. Sob as ordens de Nobunaga em 1564, leyasu combateu contra os "Ikko-Ikki" da província de Mikawa. Em 1570 lutou na batalha de Anegawa ao lado das forças de Nobunaga. Em 1572 foi obrigado a participar na batalha de Mikatagahara - um dos seus maiores desafios da sua vida militar - onde o seu exército foi derrotado pela cavalaria de Takeda Shingen, que viria a morrer no ano seguinte depois de sofrer um tiro de arcabuz. Em 1575, Tokugawa Ieyasu esteve presente na batalha de Nagashino onde o clã Takeda foi derrotado e, a partir de então, concentrou-se somente na consolidação da sua posição militar, mesmo depois de Toyotomi Hideyoshi adquirir o controlo do país. Uma vez que o feudo de Ieyasu se situava no centro do Japão, este evitou assistir a campanhas de pacificação em Shikoku e Kyushu. Apesar de tudo, foi forçado a enfrentar o no Cerco de Odawara (1590). Alcançada a vitória sobre os Hōjō, Hideyoshi concedeu a Ieyasu as terras penhoradas, transferindo a capital para Edo, actual Tóquio). A sua nova localização em Kyushu, possibilitou-lhe evitar participar nas invasões japonesas na Coreia, guerra esta que exauriu significativamente os exércitos dos seus principais rivais. Batalha de Sekigahara. Após a morte de Hideyoshi, Tokugawa Ieyasu começou a estabelecer uma série de alianças com importantes figuras do país através de casamentos combinados. Contudo, Ishida Mitsunari, um dos cinco , desenvolveu alianças contra Ieyasu. A 22 de agosto de 1599, enquanto Ieyasu se preparava para enfrentar o clã de um rebelde daimyo chamado Uesugi Kagekatsu, Mitsunari decidiu agir sob a ajuda de vários apoiantes, incluindo outros "bugyō" e três dos quatro . Assim, haviam criado uma suposta conspiração contra Ieyasu para o assassinarem, acusando-o de treze distintas funções ilegais e condenáveis. Entre as acusações destacam-se acções ilícitas, dando em matrimónio filhos e filhas com poder político. Ieyasu foi inclusivamente incriminado de ter tomado posse do castelo de Osaka, antiga residência de Hideyoshi, como que se a ele pertencesse. Enviada uma carta a Ieyasu, este interpretou-a como uma declaração de guerra. Praticamente todos os daimyos do país se alistaram para o confronto, tanto o "Exército do Oeste" de Mitsunari como o "Exército do Leste" de Ieyasu. Os dois exércitos enfrentaram-se naquela que é conhecida a , que teve lugar na vila Sekigahara (da província de Gifu) a 21 de outubro (15 de setembro) no antigo calendário chinês. Ieyasu saiu vitorioso, depois de vários generais do "Exército do Leste" decidirem mudar de lado no decorrer do conflito. Ishida Mitsunari foi forçado a fugir, no entanto acabou por ser capturado e decapitado em Kyoto. Com esta vitória, Ieyasu tornou-se a maior figura política e militar do país. Período Edo. O , também conhecido como é um período da história do Japão que se estende desde 1603 até 1868. Esta época define o Xogunato Tokugawa, também denominado pelo seu nome original japonês , o qual foi o último xogunato que deteve poder no Japão. Em 1603, Ieyasu foi oficialmente nomeado xogum pelo imperador Go-Yozei, ocupando o lugar por apenas dois anos, pois em 1605 havia decidido abdicar da posição em favor do seu filho Hidetada. Adquirindo o título de , Ieyasu manteve assim o controlo governamental do país. Enquanto isso, Ōgosho foi compelido a enfrentar a ameaça de Toyotomi Hideyori, uma vez que alguns partidários alegavam que este seria o legítimo sucessor do governo. Assim, inúmeros samurais e ronins se aliaram a Hideyori, contrapondo-se ao xogunato, o que resultou em duas batalhas abreviadas do "Cerco de Osaka". Em 1614, sob a liderança de "Ōgosho Ieyasu" e "Xogum Hidetada", os Tokugawa comandaram um imenso exército até ao castelo de Osaka, acontecimento este denominado de "O cerco de inverno de Osaka". Sugere-se que Ieyasu havia realizado um acordo com Yodogimi, mãe de Hideyori, consentindo que as tropas de Tokugawa regressassem a Sunpu. Contudo, Hideyori recusou-se a abandonar novamente o castelo, tendo sido cercado, situação esta que ficaria conhecida como "Cerco de verão de Osaka". Por fim, em finais de 1615, o castelo de Osaka foi destruído durante a batalha de Tennōji, onde inúmeros defensores morreram no confronto, incluindo o próprio Hideyori, que cometeu "seppuku". Com o clã Toyotomi exterminado, o domínio dos Tokugawa sobre o Japão estava agora livre de sérias ameaças. A unificação do país durante o período Azuchi-Momoyama permitiu ao Japão tornar-se um país mais pacífico. No período Edo a estrutura social havia-se consolidado, estabelecendo-se três classes sociais; a classe samurai governante, a agrícola e a do cidadão (artesãos, mercadores e comerciantes). A partir do período Momoyama, a pacificação e o aumento de produção de ouro e prata concederam condições de vida mais estáveis sobre as classes sociais por cerca de dois séculos e meio, beneficiando um desenvolvimento de habilidades profissionais sobre a população em geral. A classe samurai foi organizada de acordo com um sistema administrativo eficiente e legal, assegurando avanços em vários campos da erudição, enquanto que os agricultores e cidadãos comuns adquiriram condições de vida mais favoráveis. No , a produção de arroz duplicou e tornou-se significante a sua extensão no mercado de cada cidade. Com o desenvolvimento industrial, foi alcançado um elevado nível de prosperidade em inúmeras cidades e o poder económico dos comerciantes depressa ultrapassou o dos samurais. Sakoku. Quando Ieyasu assumiu o poder, o Japão encontrava-se no esplendor do período comercial Nanban, e apesar do comércio com a Europa ter sido autorizado, as acções políticas do governante encontravam-se sob conspecto. Em 1614, Ieyasu realizou a primeira viagem transoceânica para o Ocidente com a embarcação à vela galeão San Juan Bautista, numa missão liderada por Hasekura Tsunenaga. Entre 1604 e 1636, o xogunato havia então permitido várias permutas comerciais em diversas regiões da Ásia, utilizando-se de 350 "Shuinsen". Contudo, a contínua expansão do cristianismo era considerada um "problema" por parte do xogunato, visto serem cada vez mais evidentes as relações comerciais entre daimyos cristãos de Kyushu e comerciantes europeus. Assim, a percepção de que a presença espanhola e portuguesa no Japão iria facilmente desencadear um processo de conquista semelhante ao ocorrido no Novo Mundo era manifestamente provável. Calculoso, o xogunato considerou que a atividade dos europeus era um frontispício que ocultaria a intenção de uma conquista política. Em 1612, o regime obrigou a que os vassalos e residentes de propriedades do clã Tokugawa repudiassem o cristianismo. Então, em 1616 foi restringido o comércio fora das cidades de Hirado e Nagasaki; em 1622 foram executados 120 missionários; em 1624 os espanhóis foram desapossados do arquipélago do Japão e em 1629 foram executados milhares de pessoas que se converteram ao cristianismo. Durante o governo do terceiro xogum Tokugawa, Iemitsu, foi registada a primeira grande fome do período, que perdurou desde 1630 até 1640 e 1641. Isto resultou em inúmeros protestos por parte dos agricultores em 1632, 1633 e 1635. A rebelião Shimabara de 1637 até 1638 foi a consequência mais dramática da deteriorada relação com o governo devido a esta crise, onde camponeses católicos enfrentaram o numeroso exército do governo. No entanto, e apesar deste protesto não se fundamentar em motivos religiosos nem políticos, este acontecimento aparentemente motivou Iemitsu a restringir definitivamente o cristianismo no Japão, ao emitir uma ordem em 1639 que proibiu a prática da religião no país. Assim, sacerdotes portugueses ficaram impedidos de entrar no Japão, assim como japoneses interditos de saírem do país - processo este controlado sob a consequência de pena de morte. Durante este período de isolamento, conhecido como , as relações comerciais com todas as nações europeias foram obstruídas, com excepção dos Países Baixos, que permitiria comércio ativo apenas em Dejima. Todavia, o Japão continuou a manter relações comerciais com a China e Coreia, ainda que limitadas. Sociedade e política. Com o xogunato, Tokugawa estabeleceu uma estrutura de poder equilibrada, conhecida como "Bakuhan" (o xogunato e os feudos), em que o referente regime governava diretamente a cidade de Edo (sede do governo militar), enquanto que os daimyos governavam os seus feudos. Depois da pacificação, vários samurais haviam perdido os seus bens essenciais e suas terras, o que refletiu numa redução do número de daimyos (cerca de 260 até ao ), uma vez consideradas as limitadas escolhas a eles disponíveis - ou deixavam suas espadas tornando-se agricultores, ou se tornavam vassalos de um daimyo ou de um xogum ("hatamoto"). Os daimyos foram também parcialmente controlados pelo xogunato quando imposta a política "Sankin-kōtai" (1635-1862), em que as famílias dos daimyos eram obrigadas a viver na cidade de Edo, enquanto que estes estariam submetidos ao dever de alternar as suas residências anualmente entre Edo e o seu feudo, causando custos adicionais para manter duas habitações e compensando distâncias significantes entre estas. Assim, os daimyos estavam limitados no poder económico e militar, evitando-se assim qualquer tentativa de revolta contra o xogunato. Além dos membros do "bakuhan", o imperador e os cortesãos ("kuge") tiveram também uma posição privilegiada. Abaixo destes encontravam-se as , ou seja, os samurais no topo da tabela (com cerca de 5% da população), depois os agricultores (com cerca de 80%), seguindo-se os artesãos e por último os comerciantes. Os agricultores eram forçados a viver nos campos, enquanto que os samurais, os artesãos e os comerciantes viviam nas cidades ("jōkamachi") que se situavam ao redor do castelo do daimyo, estando subordinados ao seu feudo. À parte deste sistema existiam ainda os "eta" e os "hinin", que eram vistos como os "Dalit" (os "intocáveis" ou "impuros"). Cultura. O Japão foi parcialmente influenciado pelas técnicas e ciências ocidentais do a partir de fontes bibliográficas que os holandeses deixaram na ilha de Dejima. Os campos de estudo envolviam a medicina, geografia, astronomia, arte, ciência, línguas, física e mecânica. Durante o governo do xogum Tokugawa Yoshimune em 1720, houve uma proeminente flexibilização na introdução de livros estrangeiros no país, o que proporcionou a tradução destes para a língua japonesa, levando consequentemente ao aumento adicional desta área de estudo. No início do existiu uma proeminente troca cultural entre o Japão e a Holanda. Um exemplo encontra-se num facto conhecido em que o Dr. Philipp Franz von Siebold havia ensinado medicina ocidental pela primeira vez em 1824 a estudantes japoneses, com permissão do xogunato. Contudo, este decidiu reverter o seu apoio aos estudos ocidentais ("rangaku") em 1839, ao promulgar o decreto de lei bansha no goku. Isto provocou a repressão de vários estudiosos que questionavam os efeitos do "sakoku" e do edital de repulsão de embarcações estrangeiras em 1825. Em 1842, estes editais expiraram, e o "rangaku" passou a ser ensinado novamente, até se tornar obsoleto com a abolição do "sakoku" uma década depois. Nesta época, o neoconfucionismo tornou-se o principal movimento intelectual uma vez adoptado pelo xogunato. Esta filosofia exerceu uma maior atenção na vida secular do homem e da sociedade, tendo como resultado um pensamento racionalista e humanista. Em meados do este sistema filosófico chinês tornar-se-ia na principal corrente filosófica do país, estabelecendo bases nas escolas que rejeitavam o estudo de textos budistas e chineses, favorecendo antes a investigação filosófica dos clássicos japoneses. Com a expansão do neoconfucionismo a classe samurai mostrou um maior interesse na história japonesa e no cultivo das artes, dando origem ao "bushido" (caminho do guerreiro). Houve também um florescimento cultural da classe trabalhadora, através do "chōnindō", onde a educação, a alfabetização e o estudo da aritmética se estenderam para a população em geral. Uma das consequências deste estilo de vida mais culto foi o surgimento do , um estilo de vida adoptado pela classe média que valorizava a diversão e o entretenimento como meios pelos quais se alcançava o prazer e o bem-estar, o qual produziu um florescimento cultural na era Genroku (1688 - 1704 conhecida também como cultura Genroku): onde o bunraku , o kabuki , a gueixa , a cerimónia do chá, a música, a poesia e a literatura se converteram numa parte desse mundo, originando também representações artísticas como o ukiyo-e. Este estilo teve início no através de Hozumi Harunobu, e teve como principais representantes Kitagawa Utamaro e Torii Kiyonaga, conseguindo o seu esplendor com pintores como Utagawa Hiroshige e Katsushika Hokusai na primeira metade no . Entre os principais expoentes da literatura deste período, encontram-se o dramaturgo Chikamatsu Monzaemon e o poeta Matsuo Bashō, que escreveu a poesia haiku durante a sua viagem a diversos locais no Japão em finais do . Início do declive. No , houve um significativo aumento do tráfego de mercadorias nas zonas urbanas e rurais. Isso teve como consequência o facto de que tanto o xogunato como os daimyos acondicionassem uma situação desfavorável, onde os impostos de renda sobre a produção de arroz tornaram-se insuficientes para cobrir as despesas em constante acréscimo anual. Com vista a solucionar o problema, o aumento dos impostos foi adotado pelo xogunato. Todavia, as rebeliões tornaram-se veementes por parte da classe agrária, adicionadas ao surgimento de inúmeras fomes e desastres naturais que assolaram o país, como são exemplo o Grande incêndio de Meireiki de 1657, o terremoto de Genroku de 1703 e a erupção do Monte Fuji em 1707, que provocaram milhares de mortes. Com isto, o xogunato desenvolveu várias reformas, a fim de conter a queda da governação do país - entre as quais as reformas Kyōhō (1717—1744), que visaram à solvência financeira do governo; as reformas Kansei (1787—1793), que solucionaram vários problemas sociais provocados pela grande fome de Tenmei, ocorrida entre 1782 e 1788, revertendo algumas decisões do governo; as reformas Tenpo (1830—1842), que se destinaram ao controle do caos social causado pela grande fome de Tenpō, em que a imigração a Edo foi proibida, tal como o método "rangaku" e a formação de sociedades, sendo que o alcance dessas reformas se estendeu a nível militar, religioso, financeiro e agrícola; e por fim, as reformas Keiō (1866—1867), que foram projectadas com o objetivo de conter a crescente rebelião que existia nos domínios de Satsuma e Chōshū, sem sucesso algum. Apesar do governo intentar conter os problemas, estes tornaram-se cada vez mais evidentes com o desejo do povo pela transformação ante a inação do xogunato. Um destes casos veio a evidenciar-se quando o samurai Ōshio Heihachirō, um oficial do xogunato em Osaka, pediu aos seus superiores que apoiassem as vítimas de fome durante a grande fome de Tenpo. Dada a recusa destes, Heihachirō vendeu seus livros com o nobre propósito de ajudar as pessoas, e, seguindo os preceitos neoconfucionistas, acusou o xogunato de corrupção. Heihachirō criou um exército com agricultores, estudantes neoconfucionistas e outros plebeus, suscitando subsequentemente numa rebelião em 1837, que destruiu parte da cidade antes das tropas do governo se terem antecipado ao ataque. O samurai cometeu "seppuku" quando foi capturado. Em paralelo com o que se sucedia dentro do Japão, alguns países estrangeiros começaram a pressionar o xogunato a abandonar a política de relações internacionais, "sakoku". Em finais do , vários exploradores russos chegaram às ilhas Curilas e a Hokkaido (Pavel Lebedev-Lastochkin em 1778 e Adam Laxman em 1792) com o objectivo de desobstruir o comércio com o Japão. Esta tarefa foi atribuída sem êxito por Nikolai Rezanov em 1804, assim que o Império Russo enfrentou o xogunato numa disputa sobre as ilhas de Sacalina e Kuriles na primeira metade do . Em 1808, a fragata britânica HMS Phaeton entrou no porto de Nagasaki, comprometendo as autoridades de Dejima e do xogunato ao exigir forçosamente suprimentos com a ameaça de disparos de canhão sobre as embarcações japonesas e chinesas lá presentes. O Nagasaki bugio (oficial do xogunato da cidade, Matsudaira Yashuide), solicitou inicialmente reforços, contudo diante da demora destes, acabou por concordar com as exigências impostas pelos ingleses. Após o incidente, Yasuhide cometeu "seppuku", alertando as autoridades do xogunato sobre a presença de barcos estrangeiros, o que incentivou ao "édito de repulsão de embarcações estrangeiras", criado em 1825. O incidente de Morrison de 1837 deu-se quando um navio mercante dos Estados Unidos, liderado por Charles W. King, que, para além de intenções comerciais, tencionava entregar náufragos japoneses que haviam sido encontrados em Macau, foi bombardeado pelos japoneses, no âmbito do "édito de repulsão de embarcações estrangeiras". Esta situação dramática, juntamente com a derrota do Império Chinês na Guerra do Ópio, em 1842, marcou um ponto de viragem na situação internacional do Extremo Oriente, pondo em causa a política de privacidade do xogunato. Como resultado, foi abolido o édito de repulsão de navios estrangeiros em 1842; efectivou-se a moratória sobre as execuções de estrangeiros que chegavam ao país; e foram promovidos suprimentos para os seus navios. Com isto, os baleeiros de Inglaterra, Estados Unidos e outros países passaram a aportar na costa do Japão para se abastecerem de água e comida. Apesar de esta abolição das regras não apresentar fins comerciais, algumas nações insistiram em abrir o comércio do país. Em 1846, o comandante americano James Biddle, que assumiu o primeiro tratado entre os EUA e a China, tentou, sem sucesso, abrir o comércio com o Japão. Em 1848, o capitão James Glynn conseguiu a primeira negociação bem sucedida com o xogunato, tendo sido a pessoa que recomendou ao Congresso dos Estados Unidos a negociação com o Japão, se necessário através da força, sendo este um dos propósitos da expedição de Comodoro Perry em 1853. "Bakumatsu" e Restauração Meiji. O sistema político estabelecido por Ieyasu e aperfeiçoado pelos seus sucessores (Tokugawa Hidetada e Iemitsu Tokugawa) permaneceu praticamente intacto até meados do . Distintas alterações políticas, sociais e económicas abrangeram o ineficiente governo Tokugawa, levando posteriormente ao seu colapso. A partir de meados do o xogunato e os daimyos sofreram sérias dificuldades financeiras justo à riqueza da sociedade comerciante das zonas urbanas do Japão. O crescente descontentamento entre os fazendeiros e os samurais motivou o governo à tentativa de solucionar a grave situação do país através de diversas medidas, das quais nenhuma surtiu efeito. Concomitantemente com as questões internas, a situação do país piorou justo às distintas pressões por parte de potências estrangeiras que pressionaram o governo a abrir o país para o comércio internacional. Este período, entre 1853 e 1867, ficou conhecido como . Abertura do Japão ao Ocidente. Em julho de 1853 o comodoro estadunidense Matthew Calbraith Perry chegou à baía de Tóquio com uma frota de navios conhecidos pelos japoneses como os , e exigiu ao Japão que quebrasse o isolamento num prazo de um ano, com a ameaça de que, caso o Japão recusasse o seu pedido, Edo seria atacado pelos sofisticados canhões Paixhans que armavam as suas embarcações.* Apesar da precaução por parte dos japoneses contra o retorno dos americanos - tendo inclusivamente sido criadas as ilhas-fortaleza de Odaiba, assim como construído o navio Shōhei Maru segundo textos do "rangaku" e também criado um forno para a produção de canhões -, quando a frota de Perry regressou em 1854, esta não se deparou com a esperada resistência do oficial do xogunato, Abe Masahiro. Sem qualquer tipo de experiência quanto à segurança nacional e incapaz de chegar a um consenso entre as várias facções (Corte Imperial, xogunato e daimyos) Abe Masahiro acabou por aceitar unilateralmente as exigências impostas por Perry e permitir a abertura de vários portos, assim como o comissionamento de um embaixador dos Estados Unidos no Japão, com o tratado de Kanagawa de março de 1854, pondo fim à política formal do "sakoku" que governou o Japão por mais de dois séculos. Apesar de o xogunato estar relutante em assimilar relações com potências estrangeiras, o comércio foi por fim consentido, após serem assinados uma série de tratados conhecidos como "Tratados desiguais", (entre os quais o Tratado de amizade anglo-japonês, o Tratado Harris e o Tratado de amizade e comércio anglo-japonês) durante a convenção de Kanagawa. Porém, tudo isto ocorreu sem o consentimento da casa imperial, o que gerou algum desequilíbrio na relação entre ambos A decisão de Abe prejudicou significativamente a estabilidade do xogunato. Apesar da tentativa de ajuda militar por parte dos Países Baixos e da procura sobre um consenso entre os "shinpan" e "tozama daimyo", isto abespinhou os "fudai daimyo", que possuíam os mais altos cargos políticos. Assim, o oficial Abe Masahiro foi substituído por Hotta Masayoshi. Contudo, alguns oficiais como Tokugawa Nariaki, seguidor da escola Mito, fundada sob os ideais do neoconfucionismo e do "kokugaku", opuseram-se contra a presença estrangeira, apelando à reverência do imperador e consideraram então que o xogunato Tokugawa já não era uma instituição confiável. Este pensamento nacionalista ficou conhecido como o lema , proposto pelo pensador Aizawa Seishisai da escola Mito, num livro publicado em 1855. Hotta procurou apoio da Corte Imperial para a ratificação dos novos tratados, sem sucesso, o que provocou uma crise política entre o xogunato e a Corte. Em 1858, a situação piorou com a morte do xogum Tokugawa Iesada, que não havia deixado herdeiro algum como seu sucessor. Naraki, juntamente com os "shinpan" e os "tozama daimyo", apoiaram Tokugawa Yoshinobu, enquanto que os "fudai daimyo" apoiaram Tokugawa Iemochi, conseguindo por fim a aprovação deste último pela Corte Imperial. O líder da facção Ii Naosuke tornou-se "tairō", tendo sido o arquitecto de um expurgo de importantes membros da oposição à assinatura dos tratados. Este evento, conhecido como a purga Ansei, colocou sob prisão domiciliar Nariaki, Yoshinobu, vários membros do xogunato e inúmeros "han", incluindo Yoshida Shōin, um intelectual do "sonnō jōi". Em 1858, foram assinados cinco tratados comerciais designados de Tratados Ansei, permitindo, em 1859, a abertura dos portos de Nagasaki, Hakodate e Yokohama. No entanto, isto causou um crescente atrito entre os estrangeiros e os samurais, agravando ainda mais a situação ao ponto de serem regularmente assassinados tanto estrangeiros como colaboradores japoneses. Ii Naosuke foi morto em março de 1860, durante o Incidente Sakuradamon (1860), pondo fim ao expurgo. Tanto o ataque em 1861 à embaixada britânica em Edo como o Incidente de Namamugi em 1862 foram justificados às potências ocidentais como se não passassem de intervenções militares contra os samurais. Em março de 1863, o Imperador Komei rompeu o papel cerimonial que os imperadores tiveram por vários séculos e ingressou ao cenário político ao emitir a . O domínio Chōshū obedeceu à ordem e decidiu atacar os navios estrangeiros no estreito de Shimonoseki. Outros domínios como o Satsuma e Tosa, contrários ao xogunato, decidiram aliar-se seguindo o edital. Dado que o xogunato foi incapaz de controlar tais incidentes, países estrangeiros - como Estados Unidos, Reino Unido, França e Países Baixos - tomaram a iniciativa com represálias contra o movimento nacionalista. Em 16 de julho de 1863, teve ocorrência a batalha de Shimonoseki entre os EUA e o domínio de Chōshū. Quatro dias depois, a França bombardeou Shimonoseki, que foi seguidamente bombardeada pelos aliados da coligação a 5 e 6 de setembro de 1864, resultando na derrota iminente de Chōshū. Em agosto de 1863, o Reino Unido bombardeou Kagoshima, causando a derrota do domínio de Satsuma. Entre maio de 1864 e janeiro de 1865, o xogunato combateu contra os samurais e seguidores do "sonnō jōi" na rebelião de Mito, na qual o xogunato saiu vitorioso. Durante a rebelião Hamaguri, a 20 de agosto de 1864, defensores do "sonnō jōi" e membros do domínio Chōshū tentaram apoderar-se do Palácio Imperial em Kyoto, sem êxito. Em finais de 1864, através dos confrontos, o xogunato conseguiu neutralizar o movimento xenófobo e movimentos nacionalistas como o "Ishin Shishi", o qual foi brutalmente reprimido. O imperador Kōmei decidiu alterar a sua atitude em não desenvolver tratados com as potências estrangeiras, sendo que mais tarde, em novembro de 1865, vários navios de guerra aliados foram estacados nos portos de Hyogo e Osaka, com o propósito de convencer o imperador a ratificar os acordos comerciais com os Estados Unidos. A partir desse momento, a filosofia de "expulsar os bárbaros" perdeu o seu ímpeto, visto que era algo irrealizável, especialmente quando as potências ocidentais conseguiram severamente suprimir aqueles que os desafiaram. No entanto, o ónus económico que se impôs sobre o Japão ao ser vencido nestas batalhas (indemnizações, novos tratados, abertura de mais portos e mais privilégios para as potências), demonstrou que a estrutura do xogunato era obsoleta e precisava de um novo tipo de liderança, apresentando como figura máxima o imperador. O crepúsculo do xogunato. O Chōshū manteve uma posição beligerante frente ao xogunato e, em junho de 1866, o governo enviou uma expedição punitiva contra o domínio. Esta operação militar não foi bem sucedida, pois o domínio Chōshū havia reforçado o seu exército, o que impediu que a operação acabasse com o domínio feudal. A derrota forçou o xogunato a uma modernização no sistema com o envio de alguns praças para o estrangeiro, correspondido pela França numa missão militar em 1867. Após a morte prematura do xogum Iemochi em finais de 1867, Tokugawa Yoshinobu sucedeu-o ao fim de tantos anos de espera. Em janeiro de 1867, o imperador Kōmei morreu e foi sucedido pelo príncipe Mutsuhito, Imperador Meiji. Yoshinobu tentou aparentemente manter relações cordiais com o novo imperador, porém na realidade não existia qualquer conformidade entre ambos os governantes. Entretanto, o descontentamento dos daimyos que se encontravam em oposição ao xogunato era veemente e, a 9 de novembro de 1867, o imperador ordenou sigilosamente aos líderes do Chōshū e Satsuma que eliminassem o xogum. Contudo, a pedido do daimyo de Tosa, Yoshinobu decidiu voluntariamente entregar a sua autoridade e poder ao imperador, resolvendo convocar uma assembleia geral de daimyos com o propósito de criar um novo governo. Apesar de a renúncia de Yoshinobu ter originado uma certa instabilidade no governo, o xogunato prevalecia impositivo. Além disso, o governo do xogunato e, em particular, a família de Tokugawa, prevaleciam enquanto uma importante força na nova ordem, pois mantinham um enorme poder político, o que continuaria a ser um aspecto que os mais intransigentes membros de Satsuma e Chōshū consideravam inaceitável. Os resultados foram precipitados quando, a 3 de janeiro de 1868, este último assumiu o controle do palácio imperial de Kyoto e, no dia seguinte, fez com que o imperador Meiji, de apenas 15 anos de idade, declarasse a restauração do seu poder absoluto, pondo fim ao regime Tokugawa e ao governo dos xoguns no país, que prevaleceram por mais de sete séculos. Período Meiji. Com a queda do xogunato, o imperador foi erigido enquanto símbolo de unidade nacional e deu início a uma série de reformas significativamente radicais. A primeira consistiu na promulgação da de 1868, que teve como objetivo elevar a moral e obter apoio financeiro para o novo governo. Guerra Boshin. Embora Yoshinobu tivesse aceitado as reivindicações dos seguidores do imperador, a 18 de janeiro de 1868 declarou que não aceitaria os termos da restauração imperial. A 24 de janeiro, decidiu lançar um ataque em Kyoto contra os exércitos de Satsuma e Chōshū, enquanto que em Edo, este se encontrava sob pressão e ataques da parte dos rebeldes contra o xogunato. Os samurais que permaneciam leais ao governo xogum acabaram por se revoltar na guerra civil conhecida como . A 27 de janeiro do mesmo ano, teve lugar a , em que as forças pró-imperiais do Chōshū, Satsuma e de Tosa lideradas por Komatsu Akihito, conseguiram vencer o exército do xogunato. A principal razão que motivou tal derrota encontra-se no facto de várias facções que apoiavam o xogunato terem mudado de posição, atendendo ao apoio oficial do imperador sobre Satsuma e Chōshū. Yoshinobu foi forçado a aposentar-se de Edo, enquanto que as tropas imperiais dirigidas por Saigō Takamori se aproximavam lentamente da cidade, conseguindo inclusivamente ocupá-la em maio. A resistência do xogunato em Edo cedeu rapidamente após a batalha de Ueno a 4 de julho, quando as forças imperiais tomaram a cidade nesse mesmo mês e Yoshinobu foi condenado à prisão domiciliar no templo Kan'ei-ji. Vários anos após ter sido despojado da sua terra, o xogum Tokugawa foi finalmente libertado. A 3 de setembro, depois de alterado o nome de Edo para Tóquio, o imperador Meiji transferiu a capital de Kyoto para Tóquio, apoderando-se do castelo Edo enquanto novo palácio imperial. Porém, alguns partidos mostraram-se relutantes em se transigirem a tal mudança, como foi exemplo a coligação Ōuetsu Reppan Dōmei. No entanto, a baixa sofisticação das tropas da aliança determinou o progressivo avanço do exército imperial, que saiu vitorioso. Em outubro de 1868, deu-se a batalha de Aizu, fazendo com que parte do exército do xogunato abandonasse o confronto por mar em direção a Hokkaido. Após um mês de cerco, a 6 de novembro, Aizu rendeu-se. Ao chegar à ilha de Hokkaido, Enomoto reorganizou o exército e estabeleceu um governo independente, proclamando a em 25 de dezembro de 1868 uma vez eleito presidente. Enomoto tentou, sem sucesso, obter reconhecimento internacional, contudo nem mesmo a aprovação do novo governo imperial japonês em ceder Hokkaido ao xogunato Tokugawa foi capaz de lograr. As forças navais japonesas chegaram a Hokkaido em março de 1869 com cerca de 7 mil homens das tropas imperiais que abeiraram sobre a ilha, na batalha naval da Miyako Bay. Estes foram tomando paulatinamente várias posições estratégicas e destruíram as defesas da República de Ezo durante a batalha de Hakodate. A 17 de março de 1869, depois de perder inúmeros homens e quase todos os seus navios, Ezo aceitou a rendição. Com o fim da guerra Boshin, o governo imperial passou a controlar todo o Japão, sem que qualquer força rival interna se contrapusesse. Com a guerra garantida, foram abolidos privilégios da classe samurai. Os nacionalistas, que inicialmente apoiavam o imperador, assim como a filosofia de "sonnō jōi", sentiram-se fortemente traídos sobre tal derrogação. Governo Meiji. O novo governo assegurou às potências estrangeiras que os tratados assinados durante o xogunato Tokugawa seriam atendidos pelas leis internacionais. A capital havia sido transferida de Kyoto para Edo, a qual foi renomeada Tóquio, e o sistema feudal foi abolido em 1871, dando origem ao sistema de prefeituras, para além de ter sido legalizada a propriedade de terras. O novo governo enfatizou também a prática do xintoísmo, a religião que teve apoio estatal. Apesar de vários protestos, os líderes do governo continuaram com uma forte modernização do país: foram colocados cabos telegráficos nas principais cidades, construídos vias-férreas, estaleiros, fábricas de munições e têxteis. Todas estas medidas de modernização conduziram o Japão a se tornar no primeiro país industrializado da Ásia. Com a preocupação sobre a segurança nacional, inúmeros esforços para amodernar o exército foram desenvolvidos, ou seja, realizaram-se estudos sobre os sistemas de armas estrangeiras; foram contratados conselheiros de outros países para o exército; os cadetes foram enviados para países da Europa e Estados Unidos; foi estabelecido um exército permanente com uma grande quantidade de reservas; e o serviço militar tornou-se obrigatório. Rebelião Satsuma. Saigō Takamori, um dos líderes mais antigos do governo Meiji, lutava contra a corrupção política no país. Após várias altercações com o governo, renunciou ao cargo e aposentou-se ao domínio Satsuma. Fundou academias onde todos os estudantes adquiriam formação e treinos de guerra práticos. Esta notícia anunciada por Saigō em Tóquio foram encaradas com grande inquietação por parte da sociedade. Em 12 de setembro de 1877, Saigō reuniu-se com os seus proprietários de terras Kirino Toshiaki e Shinohara Kunimoto e anunciou uma investida em marcha até Tóquio para conversações com o governo Meiji. A 14 de fevereiro, as tropas de Saigō chegaram a Kumamoto, onde atacaram o castelo da própria província. A 19 de fevereiro sucederam-se os primeiros disparos por parte dos defensores, quando as unidades de Satsuma tentaram forçar a entrada no castelo. Em 22 de fevereiro, a armada principal de Satsuma acercou e atacou a fortaleza, numa batalha que se prolongou durante a noite até que as forças imperiais acabadas de chegar se retiraram. Não conseguindo apossar-se do castelo mesmo depois de infrutíferos ataques, o exército de Satsuma escavou um fosso em volta da fortaleza e posteriormente incendiaram-na. Durante o cerco, muitos dos ex-samurais desertaram para o lado de Saigō. Enquanto isso, a 9 de março, Saigō, Kirino e Shinohara foram despojados dos seus cargos e títulos políticos de Tóquio. Sob o comando do general Kuroda Kiyotaka e com a ajuda de Yamakawa Hiroshi, a 12 de abril de 1877, o principal contingente do exército imperial chegou a Kumamoto para auxílio dos ocupantes do castelo. Isto resultou numa supremacia numérica por parte dos defensores, em oposição à significante desvantagem a que as tropas de Satsuma se condicionaram, forçando-os a fugir. Depois de uma constante perseguição, Saigō e os restantes samurais foram impingidos a regressar a Kagoshima, dando origem ao confronto final, a Batalha de Shiroyama. As tropas do exército imperial japonês, comandadas pelo general Yamagata Aritomo, e os fuzileiros navais, comandados pelo almirante Kawamura Sumiyoshi excederam as forças de Saigō com evidente superioridade numérica de sessenta soldados para um. O exército imperial precisou de sete dias para finalizar a construção e desenvolvimento dos sistemas de barragens e muros que serviram de obstáculo para impedirem que as tropas de Satsuma escapassem. Cinco navios de guerra uniram-se ao poder da artilharia de Yamagata enfrentando o posicionamento dos rebeldes e reduzindo o seu número. Após Saigō rejeitar uma carta de solicitação à própria rendição, a 24 de setembro de 1877 Yamagata ordenou um ataque directo contra o exército de Saigō. Após seis horas consecutivas apenas quarenta rebeldes se encontravam com vida, entre os quais Saigō já perto da morte. Os seus seguidores argumentaram que um deles, Beppu Shinsuke, se encarregou ao papel de "kaishakunin", ajudando Saigō a cometer "seppuku" antes de ser capturado. Depois da morte de Saigō, Beppu e o último samurai ergueram as suas espadas e dirigiram-se pela costa abaixo, até serem abatido pelos disparos das metralhadoras Gatling. Depois de todas estas mortes, a rebelião deu-se por terminada. Criação de um governo representativo. A maior conquista institucional após a rebelião de Satsuma teve lugar quando se insurgiram com intenções de criar um governo representativo por parte dos cidadãos que haviam sido relegados do governo. Uma das principais figuras deste movimento foi Itagaki Taisuke, um importante líder da Província de Tosa. Em 1875, este fundou o partido político Aikokusha, que, em 1878, viria a pressionar fortemente o governo do país. Em 1881, Itagaki formou o , o qual possuía alguns dos principais ideais da política francesa. No ano seguinte Ōkuma Shigenobu fundou o , que revogou pelo estabelecimento de um sistema constitucional democrático tal como o sistema inglês. Em resposta, os membros do governo formaram, em 1882, o . Após o surgimento destes partidos, muitos outros movimentos emergiram, alguns até de uma forma violenta. Finalmente, em 1889, a Constituição do Império do Japão, também conhecida como (Constituição Meiji), contemplou uma dieta imperial composta pela Câmara dos Deputados eleitos popularmente, acompanhada pela Câmara dos Pares que possuía um número de representantes extremamente baixo, composta pela nobreza num sistema designado de "kazoku". As primeiras eleições foram realizadas em 1890, ao serem eleitos trezentos membros da Câmara dos Representantes do Japão. Expansionismo. Guerra Sino-Japonesa. Durante o , a península da Coreia era uma forte atracção à qual o Japão não foi indiferente, considerando a sua posição geográfica que poderia eventualmente proporcionar um ponto estratégico para a defesa do arquipélago japonês. Um breve conflito com a Coreia havia sido resolvido temporariamente após assinado o Tratado de Kanghwa em 1876, através do qual os japoneses passaram a ter acesso aos portos da Coreia. Em 1894, foi precipitada uma crise política quando um líder coreano pró-Japão foi morto em Xangai. A situação piorou quando o exército chinês abateu a rebelião Tonghak no próprio solo coreano, apesar de que na Convenção Tianjin tanto a China como o Japão haviam consentido na retirada dos seus respectivos exércitos da península coreana, afastando o apoio aos diversos partidos contendores do país. O Japão respondeu rapidamente à invasão chinesa, saindo vitorioso naquela que é conhecida como a Primeira Guerra Sino-Japonesa, que terminou em 1895, quando foi realizado o chamado cessar-fogo. O conflito terminou com a assinatura do Tratado de Shimonoseki, pelo qual foi reconhecida a independência da Coreia, deixando de ser, portanto, um estado tributário. Com isto, foram exigidos 200 milhões de taéis de indemnização à Coreia; o comércio aos japoneses pelo rio Yangtze foi consentido; o direito dos investidores japoneses em negociar com a China foi permitido; tal como aceite a tomada de relações de Taiwan, das ilhas Pescadores e da península de Liaodong com o Japão. Contudo, pela oposição da Rússia, Alemanha e França, Liaodong foi replicada. Guerra Russo-Japonesa. As ambições imperiais tanto da Rússia, que estava interessada em manter o controle da China, como do Japão, que ambicionava o controle da Coreia, levaram a que ambos os países se defrontassem em 1904. Em 1902, o Reino Unido assinou com o Japão a Aliança Anglo-Japonesa, através da qual os britânicos reconheceram os interesses japoneses pela Coreia. Contudo, ambos se comprometeram em manter-se neutros sobre o caso de uma possível guerra com a Rússia, "a menos que outra potência se aliasse a estes e se assim possível encararem um papel mais ativo." Esta aliança presumiu uma evidente ameaça para os russos, que procuraram um método mais conciliador do que haviam anteriormente empregue, prometendo inclusivamente o retiro das tropas em 1903. Depois de o Japão interpor uma queixa devido ao incumprimento russo sobre a retirada das suas tropas, a Rússia propôs dividir paralelamente a Coreia, considerando o controle do sul por parte do Japão, sendo que a zona norte se encontrava independente. Porém a Rússia assegurou que a Manchúria estaria fora da esfera de influência japonesa. A guerra eclodiu em 8 de fevereiro de 1904, quando a Marinha Imperial Japonesa lançou um ataque surpresa à frota russa ancorada em Port Arthur. Após uma série de vitórias japonesas tanto em terra como navais, (Batalha de Tsushima em maio de 1905), foi levada a cabo uma conferência de paz com os Estados Unidos enquanto mediador, onde a Rússia reconheceu a primazia dos interesses japoneses sobre a Coreia e Manchúria. Foram então cedidos ao Japão a locação de Dalian, os seus territórios adjacentes e a ferrovia, assim como a parte sul da ilha Sacalina, proporcionando direitos de pesca no mar de Okhotsk e no mar de Bering, depois de ambos os lados finalmente concordarem em evacuar a Manchúria. Esta guerra marcou o reconhecimento do Japão como potência imperialista pelas diversas nações da Europa, enquanto a derrota russa, por sua vez, patenteou a fraqueza do regime czarista e iniciou a sua queda concretizada na Revolução de 1917. Teve então início uma nova fase de expansão continental do Japão e, em 1910, a Coreia foi anexada ao Império Japonês. Período Taishō. O período Meiji terminou com a morte do imperador em 1912 e com a subsequente ascensão ao trono do imperador Taishō. O novo imperador tinha vários problemas de saúde, - homem débil tanto física como mentalmente - pelo que, durante o seu mandato, este manteve-se longe de questões políticas. As decisões do governo recaíram sobre a "Dieta" e o seu secretariado. Consequência da sua deficiência, o seu filho Hirohito foi nomeado "Príncipe Regente" em 1921. Primeira Guerra Mundial. Procurando fortalecer a sua esfera de influência na Ásia e suas participações territoriais no Pacífico, o Japão aproveitou-se da condição da Alemanha, que se encontrava bastante ocupada com o cenário europeu, e em agosto de 1914 declarou guerra às Potências Centrais, junto com os seus aliados. A marinha japonesa, actuando praticamente independente do governo civil, ocupou as colónias alemãs da Micronésia, a província de Shandong na China e as ilhas Marianas, ilhas Carolinas e ilhas Marshall, no Oceano Pacífico. Enquanto os seus aliados estavam concentrados na guerra, o Japão tentou consolidar a sua posição perante a China fazendo com que esta assinasse as impostas, que incluía a não concessão das ilhas ou costas a terceiros. Em 1917, os Estados Unidos entraram na guerra como aliados dos japoneses, apesar dos atritos causados pela situação na China assim como pela competição por adquirir influência no Pacífico. Num esforço de evitar a tensão existente, foi assinado em novembro do mesmo ano, o . Recebendo o reconhecimento oficial como um dos "cinco grandes" países da nova ordem internacional, em 1919 o Japão encontrava-se ao lado das maiores potências militares e industriais do mundo durante a conferência de paz de Versalhes. Foi-lhe concedido um lugar permanente na Sociedade das Nações, com a transferência dos direitos tidos anteriormente pela Alemanha sobre Shandong. Finalmente, num Mandato da Sociedade das Nações, decidiu-se que as ilhas do Pacífico ao norte do Equador, outrora ocupadas pela Alemanha, estariam agora sob comando japonês (Mandato do Pacífico Sul). Democracia. Desde a criação de um novo sistema político, com a Constituição Meiji, apenas membros da elite aristocrática possuíam acesso aos elevados cargos políticos, ao conselho de ministros, à Câmara dos Pares ou a conselheiros do imperador. Contudo, entre 1918 e 1932, a situação política do país alterou-se. Apesar dos partidos políticos serem liderados pela elite, os políticos viram-se obrigados a trabalhar em coordenação com a corte, a burocracia e os militares, causa da consciência agora mais democrática das massas que se começaram a unir, sobretudo estudantes, que se tornaram politicamente mais ativos. Em consequência, os partidos desempenharam um papel de liderança sobre a política nacional. Outra importante alteração teve lugar em 1925, quando se estabeleceu o sufrágio universal para os homens, o que aumentou a base eleitoral em mais de 12 milhões de pessoas. Grande sismo de Kantō. A 1 de setembro de 1923, pouco antes do meio-dia, ocorreu na região de Kanto um dos sismos mais devastadores da história, com uma magnitude de 8.3 graus na escala de Richter. O movimento de placas tectónicas causou um tsunami. Em Kamakura, as ondas chegaram a atingir cinco metros de altura, enquanto que em Atami, foram registadas ondas com treze metros. Estima-se que cerca de 110 mil pessoas perderam a vida, quer pelos efeitos do sismo como pelo subsequente tsunami e inúmeros incêndios que se perduraram por vários dias. A perda de vidas humanas deve-se à causa adicional de várias ondas de violência que se desenvolveram após a tragédia, contra activistas políticos coreanos e chineses por parte de civis, polícias e militares. Período Shōwa. Em 25 de dezembro de 1926, após um breve reinado, o imperador Taishō morreu e o príncipe regente foi empossado como o novo imperador do Japão, começando assim o período Shōwa. Em 1922, com o Tratado Naval de Washington, o número de navios da Marinha Imperial Japonesa viu-se limitado frente às frotas norte-americana e britânica, aumentando as dificuldades existentes no Japão por este ter sido forçado a deixar as colónias obtidas na China durante a guerra russo-japonesa. O Japão foi significativamente prejudicado quando as potências estrangeiras ocuparam aquilo que consideravam a sua esfera de influência governamental. A única área significativamente extensa onde lhes foi possível obter as matérias-primas necessárias para o desenvolvimento da sua economia sem depender das importações, era a China. Em 1931, o Japão decidiu invadir e ocupar Manchúria e posteriormente a China em 1937. A invasão sobre esta última desencadeou a Segunda Guerra Sino-Japonesa que se desenrolou por mais de oito anos. Segunda Guerra Sino-Japonesa. Neste período, as tropas japonesas controlavam as vias ferroviárias da Manchúria, pois, através destas, diversos recursos eram transportados para os portos na Coreia, de onde eram enviados para o Japão. Em setembro de 1931 explosivos foram detonados nessas estradas de ferro do sul da província, as quais eram de propriedade japonesa - "Incidente de Mukden". Com isto, o governo japonês decidiu enviar tropas para ocupar toda a Manchúria, formando assim um regime fantoche designado de Manchukuo, sob o comando nominal do imperador Pu Yi. Nos anos seguintes, confrontos menores ocorreram na província, contudo em 1937, após o incidente da Ponte Marco Polo, tropas japonesas foram atacadas nos arredores de Pequim, iniciando-se abertamente a guerra com a China. Depressa o Japão atacou as principais cidades costeiras e, em dezembro desse mesmo ano, as tropas japonesas tinham já ocupado Nanquim, Hangchow e Cantão. Quando Nanquim se rendeu perante os invasores, o exército imperial japonês realizou atos de suma crueldade contra a população civil em eventos conhecidos como o "massacre de Nanquim", onde cerca de 300 mil soldados chineses, assim como civis, foram mortos. A essa altura, o Japão já fazia parte do chamado Eixo, através do Pacto AntiKomintern realizado com a Alemanha e mais tarde com a Itália. Esses acordos foram substituídos pelo Pacto Tripartite de setembro de 1940, pelo qual as potências do Eixo reconheciam o Japão como líder de uma nova ordem na Ásia. As primeiras vitórias japonesas foram seguidas por um período de estagnação, e em 1938 a guerra encontrava-se num impasse. Esta situação prolongou-se até 1941, quando os japoneses entraram no palco da Segunda Guerra Mundial. Este tremendo conflito terminou em 1945, após o Japão anunciar a sua rendição incondicional frente aos aliados. Segunda Guerra Mundial. As relações com o ocidente deterioraram-se em finais da década de 1930. Em 1940, foi nomeado para primeiro ministro o príncipe Konoe, que veio a formar um conselho de ministros nacionalista, defensor da expansão da área com recurso à força. A essa altura, o Japão já fazia parte do chamado Eixo. A 27 de setembro desse mesmo ano, o ministro das relações externas, Yosuke Matsuoka, realizou um novo acordo substituindo os anteriores pelo Pacto Tripartite de setembro de 1940, em que as potências do Eixo reconheciam o Japão como líder de uma nova ordem na Ásia. Depois de formada a chamada "Esfera de Coprosperidade da Grande Ásia Oriental", o Japão invadiu o norte da Indochina Francesa e em julho de 1941 introduziu tropas a sul da Indochina. Isto fez com que países como os Estados Unidos, Inglaterra e Holanda retaliassem. Os EUA impuseram um obstáculo comercial ao Japão, que se viu privado de cerca de 90% do suprimento de petróleo e, no comércio, limitado ao exterior em cerca de 75%. No gabinete japonês eram então debatidas as próximas acções a serem seguidas, figurando com proeminência Hideki Tojo, ministro da defesa, um grande defensor da guerra que serviu durante a maior parte da Segunda Guerra Mundial. Enquanto a maior força do Pacífico, o Japão possuía praticamente o dobro dos navios que os Estados Unidos; o seu exército contava com soldados; e a sua força era superior a todos os outros países do mundo. A 5 de novembro, o Imperador Shōwa e o seu governo decidiram entrar na guerra caso até finais do mês os EUA não levantassem o embargo económico. Contudo a resposta do governo dos EUA chegou a 26 de novembro, quando através do seu Secretário de Estado foi confirmada a demanda norte-americana de que as tropas japonesas se retirassem da Manchúria, China e Indochina, para além da renúncia do Japão ao Pacto Tripartite. Ataque a Pearl Harbor. No mesmo dia de 26 de novembro, uma frota japonesa partiu das ilhas Curilas com destino a Pearl Harbor, para destruir a frota estadunidense do Pacífico. Realizou-se então o primeiro ataque com mais de 189 aviões a 7 de dezembro às 7:55 pm, tendo sido destruídos seis navios de guerra, três cruzadores e quatro outros navios, para além de aniquilados 188 aviões norte-americanos. Este ataque de surpresa ocasionou 2 403 mortos. O segundo e último ataque ocorreu às 8:45 da manhã e terminou às 10:00 horas. Neste assalto, as defesas americanas estavam já melhor preparadas e Nagumo cancelou o terceiro ataque previamente programado. No dia seguinte, o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, dirigiu-se ao congresso solicitando que se declarasse guerra ao Japão, num dos discursos mais famosos da história. Frente do Pacífico em finais de 1941. No dia seguinte ao ataque a Pearl Harbor, as forças japonesas iniciaram um tipo de batalha Blitzkrieg no Pacífico, em que a Malásia, Hong Kong, Filipinas, Ilha Wake, Birmânia e Tailândia foram atacados quase em simultâneo com o objetivo de conseguir pontos estratégicos favoráveis. Em 16 de dezembro, o Japão conseguiu ocupar as Índias Orientais Holandesas, proporcionando assim uma importante fonte de recursos ao país. Frente do Pacífico em 1942. Durante a primeira metade do ano, as forças do império do Japão foram vitoriosas em quase todas as frentes; a 7 de fevereiro a sua frota saiu vencedora frente aos aliados na Batalha do Mar de Java e no dia 15 do mesmo mês as forças aliadas entregaram Singapura. A segunda metade do ano representou um ponto de viragem na guerra. Forças estadunidenses desalojaram os japoneses de Guadalcanal e conseguiram uma importante vitória na Batalha de Midway, onde os japoneses perderam metade da sua frota de porta-aviões e cerca de 150 aeronaves. Tentativa de defesa do anel defensivo. Durante 1944 os esforços japoneses limitaram-se a tentar manter um anel defensivo, contudo viram-se obrigados a recuar na Nova Guiné e nas Ilhas Salomão. O Japão sofreu significantes derrotas nas ilhas Gilbert, no entanto manteve um constante avanço ofensivo na Birmânia e na fronteira com a Índia. Neste ano o Japão sofreu graves derrotas navais, como na Batalha do Mar de Bismarck, que ocorreu entre 2 e 5 de março, e na Batalha do Mar de Bering, a 26 de março. Em 1944 a situação tornou-se insustentável para o Japão, uma vez que grande parte da sua frota foi destruída durante a Batalha do Mar das Filipinas, quando tropas norte-americanas desembarcaram nas ilhas Marshall, ilhas Gilbert e nas Filipinas. A partir dos aeródromos nas Filipinas, deu-se início ao bombardeamento do Japão. A 18 de julho o general Tōjō renunciou do poder juntamente com o seu gabinete de estado. Até finais de outubro deste ano, os japoneses perderam mais uma importante batalha marítima, a batalha do Golfo de Leyte. Nesta fase surgiram os primeiros grupos suicidas comummente conhecidos como "kamikazes". Kamikazes. Desde 1942 foram desenvolvidas diferentes doutrinas dentro do exército japonês num esforço de implementar tácticas suicidas na guerra. Unidades especiais suicidas foram finalmente implementadas em terra (como no caso da "carga banzai") e no mar (com os barcos "Shin'yō"). Finalmente, em meados de 1944, o primeiro-ministro Hideki Tōjō garantiu instruções para que os Corpos de Ataque Aéreo organizassem uma unidade especial, a chamada com a abreviatura de , mais conhecidos no ocidente por "kamikaze". A primeira missão oficial da unidade especial ocorreu no dia 25 de outubro, sucedendo-se inúmeros ataques semelhantes até ao término da Segunda Grande Guerra. 1945. Em fevereiro de 1945, a Alemanha estava praticamente derrotada. Porém, durante a Conferência de Yalta, Stalin comprometeu-se a declarar guerra ao Japão nos dois meses seguintes da derrota definitiva das forças alemãs. A 19 de fevereiro, após 72 dias de intenso bombardeio na ilha, teve início a invasão de Iwo Jima por parte das tropas norte-americanas. Passados quatro dias caiu o Monte Suribachi, acontecimento este capturado na famosa fotografia "Raising the Flag on Iwo Jima", de Joe Rosenthal. Durante o conflito, os Estados Unidos perderam 6 821 soldados, enquanto que no Japão estima-se que cerca de 22 mil homens foram mortos. Outra sangrenta frente de batalha teve lugar em Okinawa. A invasão ocorreu a 1 de abril com a "Operação Iceberg". A 5 de abril o primeiro-ministro Kuniaki Koiso renunciou ao seu cargo enquanto a guerra se aproximava das principais ilhas do Japão. Durante a invasão morreram mais de 12 mil norte-americanos, enquanto que no exército japonês foi estimado um número de 110 mil mortes. Para além disso, os Estados Unidos perderam 36 navios e 368 foram danificados, a maioria fruto de ataques realizados por "kamikazes". Okinawa caiu finalmente em 21 de junho, oferecendo aos aliados uma importante base de operações. Durante a Conferência de Potsdam, Winston Churchill e Franklin D. Roosevelt concordaram com a utilização da bomba atómica. Uma declaração solicitando a rendição incondicional do Japão foi enviada, porém, esta foi rejeitada dois dias depois pelo governo japonês. Bombardeios atómicos de Hiroshima e Nagasaki. Após a autorização de Harry Truman e de seis meses de bombardeios intensivos em 67 cidades, os bombardeamentos atómicos foram realizados a 6 e 9 de agosto de 1945. A bomba atómica "Little Boy" foi lançada sobre Hiroshima na segunda-feira de 6 de agosto de 1945, seguida pela detonação da bomba "Fat Man" na quinta-feira de 9 de agosto em Nagasaki. Até à data estes bombardeios constituem os únicos ataques nucleares da história. Estima-se que até finais de 1945, as bombas haviam matado cerca de 140 mil pessoas em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, em que apenas metade morreu no próprio dia do atentado. Nas duas cidades, a maioria das mortes afectaram civis. Rendição. A 8 de agosto, a União Soviética declarou guerra ao Japão e iniciou-se uma breve batalha na Manchúria, onde cerca de 80 mil soldados japoneses perderam a vida. A 15 de agosto, o imperador Shōwa quebrou o silêncio imperial e emitiu por rádio a rendição incondicional do Japão frente aos aliados (a primeira vez que a grande maioria dos japoneses pôde ouvir a voz do imperador), solicitando ao seu povo que não oferecessem resistência, pois as suas tropas haviam entregue as suas armas, rendendo-se. Dois dias depois, o príncipe Higashikini foi nomeado primeiro-ministro, numa tentativa de supervisionar a rendição do país, a qual foi oficializada a 2 de setembro a bordo do USS "Missouri", pondo fim tanto à Guerra do Pacífico como à Segunda Guerra Mundial. Estima-se que no total o Japão perdeu cerca de soldados e 900 mil civis, principalmente no último ano, devido aos atentados de incêndios e atómicos. Ocupação do Japão. O general Douglas MacArthur foi nomeado comandante supremo e coube-lhe o papel de responsável por supervisionar a ocupação do Japão, a qual perdurou até 1952. Durante os primeiros dois anos foi realizado um processo de democratização, no qual foram abolidos o exército e a armada, destruíram-se munições e armas, e fábricas de armamento foram convertidas para uso da população. O xintoísmo estatal foi eliminado, dando lugar a reformas políticas, económicas e sociais. Japão pós-ocupação. Política. Praticamente no início da ocupação do Japão começaram a surgir vários partidos políticos. Os antigos "Rikken Seiyūkai" e o "Rikken Minseitō" ressurgiram, enquanto Nihon e Jiyūtō e Nihon Shinpotō, respectivamente. As primeiras eleições pós-guerra realizaram-se em 1949 e marcaram o primeiro momento em que foi concedido o direito ao voto das mulheres, onde Yoshida Shigeru foi eleito primeiro-ministro. Nas eleições do ano seguinte, opositores de Yoshida deixaram o "Jiyūtō" e uniram forças com o "Shinpotō", dando início ao "Minshuto" impulsionando a ascensão do partido socialista "Nihon Shakai-tō", o qual formou um conselho de ministros, até que o seu poder decaiu novamente. Yoshida retornou como primeiro-ministro em 1948, cargo este que desempenhou até 1954. Sucessivas divisões dentro dos partidos políticos, assim como a sucessão de governos por parte das minorias políticas, levaram a que membros conservadores formassem em novembro de 1955 o "Jiyū Minshutō" ou Partido Liberal Democrata (entre 1955 e 1993). Depois de várias reorganizações nas forças armadas, em 1954 foram formadas as Forças de Autodefesa, sob controle civil. A situação mundial, condicionada pela Guerra Fria e pela Guerra da Coreia, estimulou o desenvolvimento económico, assim como a supressão do socialismo sob influência norte-americana. Desenvolvimento económico. Com o decorrer da época do pós-guerra, a economia japonesa começou a crescer contrariando todas as expectativas, com o chamado "milagre económico japonês". Rapidamente, o país se comparava ao Ocidente, tanto no comércio exterior, (produto interno bruto), como na qualidade de vida. As conquistas foram marcadas pelos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964 (a primeira Olimpíada realizada na Ásia), assim como pela inauguração da primeira linha ferroviária de "shinkansen". A isto somou-se a Expo 1970 realizada em Osaka, além de ter sediado os Jogos Olímpicos de Inverno de 1972, na cidade de Sapporo (a primeira Olimpíada de Inverno realizada no continente asiático). A partir da segunda metade do , o Japão passou a ser reconhecido pela sofisticada tecnologia. Com o crescimento económico, tornou-se a potência mais importante do mundo a nível de exportações, com prevalência nas áreas da electrónica, informática, robótica, indústria automobilística e bancária. Os benefícios económicos foram significativos para o país. Porém, tal crescimento somado à tranquilidade política em meados da década de 1960, foram interrompidos pela súbita subida de preços do petróleo decretado pela OPEP em 1973, o que provocou a primeira recessão no Japão desde a Segunda Guerra Mundial. O ano de 1987 foi um significante passo para o Japão. Os preços dos imóveis encontravam-se em constante crescimento, a inflação alcançou o seu ponto mais alto desde 1975, o desemprego atingiu o valor recorde de 3,2%, e existia um grande descontentamento em relação ao governo de Yasuhiro Nakasone. Finalmente, embora que por alguns meses a economia tivesse aparentemente melhorado, em 20 de outubro do mesmo ano, a Bolsa de Valores de Tóquio sofreu uma queda profunda e inesperada do preço da acções. Relações internacionais. A maior crise política do pós-guerra aconteceu em 1960, quando da revisão do Tratado de Mútua Cooperação e Segurança, que originou manifestações massivas nas ruas como sinal de rejeição. O conselho de ministros renunciou um mês depois da aprovação do novo tratado. Após sucessivas manifestações durante vários anos, a opinião geral dos cidadãos japoneses sobre os Estados Unidos melhorou em 1972, quando Okinawa foi colocado novamente sob a soberania japonesa. O Japão renovou as relações com a República Popular da China no final da Segunda Guerra Mundial, contudo por causa do apoio obsequiado ao governo nacionalista exilado em Taiwan, foram gerados atritos com o governo chinês. A relação com este país foi novamente restabelecida em 1972. O relacionamento com a União Soviética tem sido problemático, visto que o Japão reivindicou como suas próprias ilhas aquelas ocupadas por este país durante os últimos dias da guerra, nomeadamente as ilhas Iturup e Kunashir, Shikotan e Khabomai. Período Heisei. O Período Heisei começou a 8 de janeiro de 1989, um dia depois da morte do imperador Shōwa, com a subsequente ascensão ao trono do príncipe Akihito. Durante esta época a bolha financeira e imobiliária do Japão eclodiu, e em finais de 1987, os preços das acções do sector imobiliário ficaram inflacionados e, juntamente com as taxas de juros baixas, desenvolveu-se uma bolha especulativa. Após a queda do dólar americano durante a "segunda-feira negra", os investidores japoneses começaram a comprar propriedades e empresas dos Estados Unidos, o que obrigou o sistema de reserva federal a encarar novas medidas para combater a política económica japonesa. Durante maio de 1989, o banco do Japão elevou as taxas de juros por quatro vezes e a partir do ano seguinte a bolha económica começou a entrar em colapso. Em 1993, por meio de acusações de corrupção dentro do partido liberal democrata, uma coligação liderada por Morihiro Hosokawa tomou o poder momentaneamente. Enquanto isso a sua falta de unidade era evidente, agravada pelo Sismo de Kobe, que destruiu Kobe, matando mais de 6 400 pessoas e causou prejuízos de 102,5 mil milhões de dólares em 1995 e, posteriormente, pelo ataque com gás sarin ao Metro de Tóquio por um culto apocalíptico nesse mesmo ano. Em 1996, o governo de coligação sofreu uma derrota frente ao Partido Liberal Democrático, que elegeu Ryūtarō Hashimoto como primeiro-ministro. No entanto, devido à instabilidade económica, o primeiro-ministro foi substituído por Keizō Obuchi em 1998. Este propiciou a estabilização da economia, porém morreu em 2000, como resultado de um acidente vascular cerebral. Yoshiro Mori sucedeu Obuchi, no entanto, considerado impopular pelos vários erros no governo, foi substituído por Junichiro Koizumi em 2001. Koizumi implementou uma série de reformas económicas que incidiram sobre a dívida pública e conseguiu deter a crise económica e propiciar um aumento de popularidade do governo. Koizumi permaneceu no cargo até renunciar do mesmo em 2006. Antes, em 2005, o Partido Liberal Democrata obteve uma vitória esmagadora nas eleições legislativas. Durante o governo de Koizumi foi aprovado em 2004 o envio de um contingente com seiscentos soldados das Forças de Autodefesa do Japão para o Iraque sem o aval da Organização das Nações Unidas, a fim de apoiar a sua reconstrução. Isto marcou a primeira actuação de um grande contingente militar fora do país desde o término da Segunda Guerra Mundial, o que levou ao surgimento de uma controvérsia sobre a interpretação do artigo 9 da constituição do Japão, onde foram proibidos atos de guerra por parte do estado. O ano de 2004 foi marcado por uma série de catástrofes naturais, em que um número recorde de dez tufões num ano atingiu o Japão, em particular durante o mês de outubro, onde 94 pessoas morreram ou desapareceram vitimas de tais desastres. As fortes chuvas e inundações que afetaram as prefeituras de Niigata, Fukushima e Fukui resultaram na morte de vinte pessoas. No mesmo mês de outubro, um terremoto atingiu a região centro de Niigata, no qual 64 pessoas perderam a vida, mais de 4 800 ficaram feridas e 100 mil pessoas foram evacuadas. Este terremoto ocasionou também no descarrilamento de Shinkansen - o primeiro acontecimento do género em quarenta anos. Após a renúncia de Koizumi, surgiu uma série de débeis e fracos governos: Shinzo Abe, sucessor de Koizumi, renunciou ao cargo em setembro de 2007 por uma série de escândalos de corrupção, resultado da sua fraca liderança. Este foi sucedido por Yasuo Fukuda, que também foi incapaz de governar de forma eficaz e abandonou a sua função em setembro de 2008. Foi sucedido por Tarō Asō, considerado um dos membros mais carismáticos dentro do Partido Liberal Democrata, que contudo não pôde concertar as diversas facções quando assumiu a liderança do governo, uma vez que a sua procura por antecipar as eleições legislativas, antes de solucionar a crise económica derivada do caos financeiro dos Estados Unidos, originou numa drástica queda da sua popularidade. Nas eleições de 2009, a coligação do Partido Democrático do Japão, do Partido Social Democrata do Japão e do Novo Partido Popular venceu as eleições, sendo que Yukio Hatoyama foi eleito primeiro-ministro e sucessor de Tarō Asō, pondo fim a mais de 50 anos de domínio hegemónico do Partido Liberal Democrático. Não obstante, o governo de Hatoyama foi breve, com uma duração de oito meses depois deste reafirmar a presença do exército dos EUA em Okinawa, apesar da rejeição por parte da população japonesa. Isto originou uma fractura na aliança do governo e na posterior demissão de Hatoyama a junho de 2010. Este foi substituído por Naoto Kan, também do Partido Democrático, que se assumiu como primeiro-ministro a 8 de junho. Kan seria substituído por Yoshihiko Noda, outro dirigente do Partido Democrático, a setembro de 2011. Atualmente o Japão possui a terceira maior economia do mundo desde 2009 (atrás da China, que ocupa o segundo lugar depois dos Estados Unidos), onde a sua taxa de desemprego é de 5,7%, a mais alta desde a Segunda Guerra Mundial. Sismo e tsunami de 2011 e acidente nuclear em Fukushima. Numa sexta-feira, 11 de março de 2011, às 05:56 UTC (14:56 no horário local), ocorreu um sismo de magnitude de 9,1 MW com epicentro ao largo da costa do Japão, que afectou especialmente o nordeste do arquipélago, mais concretamente a região Tohoku, com uma série de ondas tsunami com altura máxima de 40,5 metros. O epicentro do terror deu-se no mar, frente à costa de Honshu, a 130 km a leste de Sendai na província de Miyagi. A magnitude de 9.1 MW converteu-o no sismo no mais poderoso já alguma vez registado no país e o quarto mais poderoso do mundo de todos os sismos medidos até à data. A Agência da Polícia Nacional japonesa confirmou 15 845 mortes, 380 pessoas desaparecidas e 5 893 feridos em 18 prefeituras do Japão. O Ministério dos Assuntos Exteriores do Japão confirmou a morte de dezanove estrangeiros de nacionalidade americana, canadense, chinesa, coreana (do Norte e do Sul), paquistanesa e filipina. A agência de polícia afirmou que a 3 de abril de 2011, cerca de prédios foram destruídos e foram danificados pelo tsunami e pelo sismo. Danos em edifícios abrangeram 29 500 estruturas em Miyagi, em Iwate e em Fukushima. Trezentos hospitais de Tohoku foram danificados pelo desastre, onze dos quais foram completamente destruídos. Foi declarado um estado de emergência na Central Nuclear de Fukushima I da empresa "The Tokyo Electric Power Company" por causa da falha dos sistemas de refrigeração dos reatores. Foram registados níveis de radiação oito vezes mais elevados do que o normal, existindo a possibilidade de uma fusão do núcleo. Abdicação de Akihito. Em 8 de agosto de 2016, o imperador Akihito anunciou problemas de saúde ao público por meio de um discurso em canal aberto, demonstrando intenção de abdicar. Em seguida, começaram os preparativos para permitir tal abdicação por meio de uma emenda legislativa. Em 8 de junho de 2017, a Dieta do Japão aprovou a emenda e deu sinal verde ao governo para fazer os preparativos para a transição imperial, a primeira em dois séculos. A abdicação ocorreu em 30 de abril de 2019, quando Akihito assumiria o título de "imperador emérito" ("Jōkō") e no dia seguinte o príncipe herdeiro Naruhito assumiu o título de imperador, encerrando a era Heisei. Período Reiwa. O período Reiwa começou a 1 de maio de 2019, com a ascensão de Naruhito como o 126º Imperador do Japão, apesar de a sua coroação ter ocorrido oficialmente em 22 de outubro. Esta era começou politicamente com o poder consolidado de Shinzo Abe, que governou o Japão continuamente desde 2012. Em 4 de julho de 2019, o país entrou numa guerra comercial com a Coreia do Sul, depois que este país deu luz verde para pessoas processarem extraterritorialmente as empresas japonesas por danos durante o período de ocupação. Em 18 de julho de 2019, ocorreu o ataque incendiário contra a Kyoto Animation, o maior massacre após o fim da Segunda Guerra Mundial, matando 36 pessoas. Em 12 de outubro de 2019, o tufão Hagibis atingiu a região de Kanto, matando 83 pessoas e tornando-se o ciclone mais forte a atingir a capital do Japão desde 1958. Em 8 de julho de 2022, enquanto fazia um discurso público na cidade de Nara, o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe foi baleado duas vezes e morreu horas depois. Em 24 de agosto de 2023, o Governo do Japão iniciou o processo de descarga da água tratada e diluída da usina nuclear de Fukushima I no Oceano Pacífico.
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Hitler (desambiguação)
Hitler (desambiguação) Hitler é o apelido (sobrenome) de uma família e pode se referir a:
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História da África
História da África A História da África é conhecida no Ocidente por escritos que datam da Antiguidade Clássica. O homem passou a estar presente na África durante os primeiros anos da era quaternária ou os últimos anos da era terciária. A maioria dos restos de hominídeos fósseis que os arqueólogos encontraram, australopitecos, atlantropos, homens de Neandertal e de Cro-Magnon, em lugares diferenciados da África é a demonstração de que essa parte do mundo é importante no processo evolutivo da espécie humana e indica, até, a possível busca das origens do homem nesse continente. As semelhanças comparáveis da história da arte que vai entre o paleolítico e o neolítico são iguais às das demais áreas dos continentes europeu e asiático, com diferenças focadas em que regiões estão desenvolvidas. A maioria das zonas do interior do continente, meio postas em isolamento, em contraposição ao litoral, ficaram permanentes em estágios do período paleolítico, apesar da neolitização ter sido processada no início em , com uma diversidade de graus acelerados. O Norte da África é a região mais antiga do mundo. A civilização egípcia floresceu e inter-relacionou-se com as demais áreas culturais do mundo mediterrâneo, motivos pelas quais essa região foi estreitamente vinculada, há milhares de séculos, depois que a civilização ocidental foi geralmente desenvolvida. As colônias pertencentes à Fenícia, Cartago, a romanização, os vândalos aí fixados e o Império Bizantino influente são os fatores pelos quais foi deixada no litoral mediterrâneo da África uma essência da cultura que posteriormente os árabes assimilaram e modificaram. Na civilização árabe foi encontrado um campo de importância em que foi expandido e consolidada a cultura muçulmana no Norte da África. O islamismo foi estendido pelo Sudão, pelo Saara e pelo litoral leste. Nessa região, o islamismo é a religião pela qual foram sendo seguidas as rotas de comércio do interior da África (escravos, ouro, penas de avestruz) e estabelecidos encraves marítimos (especiarias, seda) no Oceano Índico. Simultaneamente, na África negra foram conhecidos vários impérios e estados que aí floresceram. Estes impérios e estados nasceram de grandes clãs e tribos submetidos a um só soberano poderoso com características próprias do feudalismo e da guerra. Entre esses impérios de maior importância figuram o de Axum, na Etiópia, que teve sua chegada ao apogeu no ; o de Gana, que desenvolveu-se do ao XI e os estados muçulmanos que o sucederam foram o de Mali (do ao XV) e o de Songai (do ao XVI); o Reino de Abomei do Benim (); e a confederação zulu do sudeste africano (). Durante o os exploradores vindos da Europa chegaram primeiramente no litoral da África Ocidental. O estímulo dado a essa exploração foi uma forma de buscar novos caminhos para as Índias, após o comércio ser fechado por parte dos turcos no leste do Mar Mediterrâneo. Os colonizadores de Portugal, da Espanha, da França, da Inglaterra e dos Países Baixos foram os competidores do novo caminho a fim de ser dominado por meio de feitorias no litoral e portos de embarque para comercializar os escravos. Concomitantemente, foram realizadas as primeiras viagens científicas que adentraram o interior do continente: Charles-Jacques Poncet na Abissínia, em 1700; James Bruce em 1770, procurando o local onde nasce o Nilo; Friedrich Konrad Hornermann viajando no deserto da Líbia sobre a garupa de um camelo, em 1798; Henry Morton Stanley e David Livingstone na bacia do Congo, em 1879. A partir do , as potências europeias interessadas política e economicamente representavam estímulo para que o interior da África seja penetrado e colonizado. As potências europeias desejavam a criação de impérios que fossem estendidos de litoral a litoral, mas isso fez com que o Reino Unido (pelo qual foi conseguida a ocupação de uma faixa de norte a sul, do Egito à África do Sul, além de demais zonas colonizadas no golfo da Guiné), a França (que estabeleceu-se no noroeste da África, em parte do equador africano e em Madagascar) e, em quantidade pequena, Portugal (Angola, Moçambique, Guiné e uma diversidade de ilhas estratégicas), Alemanha (Togo, Tanganica e Camarões), Bélgica (Congo Belga), Itália (Líbia, Etiópia e Somália) e Espanha (parte do Marrocos, Saara Ocidental e encraves na Guiné) brigassem entre si. A partilha da África foi formalmente consumada na Conferência de Berlim de 1884-1885, na qual firmou-se o princípio da ocupação efetiva como forma de legitimar as colônias empossadas. Devido ao regime colonialista estabelecido no continente, foram destruídas e modificadas as estruturas sociais, econômicas, políticas e religiosas da maioria do território da África negra. As colônias que proclamaram sua independência, processo emancipatório que iniciou-se após a Segunda Guerra Mundial e concluiu-se principalmente de 1960 até 1975, estiveram sob ameaça da gravidade de problemas de integração nacional, que resultaram das fronteiras arbitrárias como legado do sistema colonialista, além da pobreza (o rápido crescimento da população africana é mais elevado do que o número de alimentos produzidos). Como dependem econômica e politicamente das antigas metrópoles, a ineficiência da administração, as tribos e as ideologias conflitantes entre si, todos esses fatores agravantes fizeram com que a população das cidades crescesse. Estas são as principais barreiras que impedem que os novos países desenvolvam-se. Os governos desses países, majoritariamente com características de forças armadas ou de presidencialismo, têm tendência à adoção de políticas de socialização que garantem a libertação dos países das potências estrangeiras. A cooperação coletiva para a solução desses problemas deu origem a uma diversidade de organizações supranacionais que baseiam-se na ideia do pan-africanismo, ou a totalidade dos povos africanos unidos no entorno dos interesses comuns; a de maior importância é a Organização da Unidade Africana (OUA). A discussão deste artigo em linhas gerais é uma referência à história da África. Para uma história específica dos países em que é dividido o continente, veja os verbetes sobre cada um deles ou também os . Sobre o papel que a África exerce na atualidade, veja os verbetes Movimento Não Alinhado, Segunda Guerra Mundial e História do mundo. Paleontologia. A partir dos primeiros tempos da história, a África é o berço da humanidade. A crença dos cientistas é de que a possibilidade evolutiva do homem vem desde um dentre a diversidade tipológica de macacos humanoides que têm vagado pelos prados orientais e centrais da África, há mais de 2 500 000 anos. A descoberta dos arqueólogos é a primeira prova evidente de uma cultura da Antiga Idade da Pedra que residia na diversidade de sítios arqueológicos na Grande Fossa Africana da parte oriental da África. A crença dos arqueólogos é a distribuição desta forma pré-histórica cultural da Idade da Pedra pela quase totalidade da África e para os demais continentes. O início da utilização do fogo pelos seres humanos ocorreu na África há mais de 50 mil, ou 60 mil anos. Há mais ou menos 35 mil a 40 mil anos teve início o aparecimento do primeiro "Homo sapiens sapiens" (o homem moderno) na África. Durante a Idade da Pedra, os homens-macaco estavam ameaçados de serem extintos e somente restou o "Homo sapiens sapiens" na África. Surgimento da Agricultura. Teve início a introdução da atividade agrícola e do trabalho de domesticar animais na África por volta de , quando vieram do Oriente Médio. Os primeiros agricultores do Saara passaram a conhecer estas atividades na totalidade da Norte da África e do Saara, que não era ainda considerado uma extensa área desértica. Os primeiros agricultores do Saara, propriamente ditos, eram parecidos com os negros do que é hoje a África Ocidental. Entretanto, a atividade agrícola só foi atingida pela floresta tropical por volta do tempo de Jesus Cristo. Os povos da parte meridional do Saara não tinham conhecimento dos povos agricultores da parte setentrional, e não tinham os instrumentos que necessitavam para cultivar na densidade da floresta da África Central. Além disso, os produtos que os agricultores cultivavam na parte setentrional provavelmente não se adequavam aos tipos climáticos com mais umidades da parte meridional. Também há possibilidade de que a riqueza dos solos da África Central já fosse propícia à produção de alimento suficiente, com o extrativismo animal e o extrativismo vegetal. Em , o clima africano foi atingindo pela seca e teve início a transformação do Saara numa extensa área desértica. Os agricultores negros do Saara tiveram a necessidade de deslocamento para os prados meridionais. Em , teve início por esses agricultores o cultivo de alimentos a serem produzidos, como o arroz e alguns tipos de inhame cujos solos tanto dos prados como das florestas eram propícios a esses tipos de cultivos. Pelos agricultores das montanhas da Etiópia, na parte oriental da África, teve início o desenvolvimento de novas culturas razoavelmente na mesma época. Os povos da parte meridional, atual centro do Quênia, praticavam o trabalho de rebanhar o gado domesticado, ou seja, a pecuária. Relações entre África e Ásia por meio da agricultura. Por muito tempo o papel da África no desenvolvimento da agricultura, suas técnicas e seus recursos, foi minimizado e por vezes ignorado devido a preconceitos coloniais e a falta de conhecimento da origem de vários cultigenos africanos e da própria pré-história do continente. No entanto, o desenvolvimento de técnicas agrícolas, através dos chamados “berços agrícolas” (berço afro-mediterraneo, afro-oriental, afro-ocidenta, Nilo-abissinio e afro-central), teve papel importante na agricultura mundial, que se manifestaram em outras partes do globo. As difusões que se deram por meio do berço agrícola e pastoril do oriente próximo mesopotâmico desempenhou um  papel importante na história antiga da agricultura na África. Exemplo disso é a história das relações antigas entre África e Ásia, que aconteceram por meio de uma via sabeia do sul da Arábia e leste da África. Essa via possibilitou o intercâmbio de vegetais domésticos africanos como sorgo e cultigenos do oriente próximo entre plantas vinda do sudeste tropical da Ásia (a bananeira, o inhame grande, o taro a cana-de-açúcar). Além disso, também houve um intercâmbio de animais domésticos, isso porque certas espécies de suínos da África Oriental parecem relacionados aos suínos domesticados na Ásia. A Idade do Bronze e a Idade do Ferro. Nos últimos dois mil anos anteriores à época em que nasceu Jesus Cristo, teve início o desenvolvimento das cidades e da atividade comercial por mar no Norte da África. Coisas inventadas pelo homem como o bronze e a escrita tiveram penetração no Norte da África, quando vieram do Oriente Médio. A parte meridional do Saara não foi atingida por essas invenções, e por esse motivo, naquela região da África não existia ainda Idade do Bronze. Mas, a entrada da região na parte meridional do Saara ocorreu na Idade do Ferro pouco após a descoberta do trabalho de ser utilizado o ferro no Oriente Médio. A introdução do trabalho de utilizar o ferro ocorreu desde o Egito para o sul, dirigindo-se ao Reino de Cuxe, onde é hoje o Sudão, por volta de No tempo em que viveu Cristo, ocorreu a entrada da Etiópia e da região de savanas da África Ocidental na Idade do Ferro. Migrações para o Sul. Os negros que falavam as línguas bantos, cujas atividades econômicas eram a agricultura, e que sabiam usar o ferro, ficaram conhecidos por realizarem uma das maiores correntes migratórias do mundo, ao longo de três milénios, tendo espalhado línguas bantu (línguas nigero-congolesas) em praticamente toda a África subsaariana. Fizeram o deslocamento desde a área do que é hoje a República dos Camarões, indo para dentro das florestas com povoamento escasso da África Central, e ali foram responsáveis pela introdução da atividade agrícola e do trabalho de instrumentos de ferro. Depois que passaram cerca de mil anos, eles atingiram a parte meridional, realizando a ocupação da quase totalidade do cone sul da África. Quando caminharam para a parte meridional, povos caçadores foram encontrados pelos povos bantos, como os pigmeus, os bosquímanos e os hotentotes. Os bantos se casavam com os caçadores, ou então os caçadores foram forçados a fazer a entrada pela floresta ou pelo deserto do Calaari. Por certos povos, como os hotentotes, foi adotado o "modus vivendi" banto e os hotentotes, propriamente ditos, foram convertidos em agricultores. Entretanto, à medida da aproximação dos povos bantos em direção ao sul, iam ficando isolados do desenvolvimento das coisas inventadas pelo homem no Norte da África e no Oriente Médio. Desde então, sempre se progrediram através das próprias coisas que inventaram. Enquanto do deslocamento dos povos bantos em direção ao sul, outros tiveram movimentação das savanas para as florestas do litoral da África Ocidental. Continuou a circulação das ideias nas rotas comerciais rastreadas, através do Saara e no talvegue do rio Nilo, do norte da África até a região logo na parte meridional do Saara. Além disso, a navegação feita pelos comerciantes no mar Vermelho e do o golfo Pérsico até a região onde é hoje o Moçambique tem levado para os povos do litoral oriental da África as notícias contando que o Norte da África estava se progredindo. As rotas comerciais fizeram com que os povos logo na parte meridional do Saara se contatassem com o Império Romano. A totalidade do Norte da África foi dominada pelo Império Romano após Axum e Núbia. O Império de Axum e a Núbia foram ambas as regiões logo na parte meridional do Saara onde o Império Romano influenciou mais, durante os primeiros séculos depois que nasceu Jesus Cristo. O Reino de Axum era situado na região atualmente correspondente à parte norte-oriental da Etiópia. O Reino de Axum tornou-se rico através do fato de que os romanos e as Índias comerciavam, ou seja, realizaram trocas comerciais. O povo foi convertido para o cristianismo quando se iniciou o Muitos de seus descendentes tiveram a continuação de serem convertidos ao cristianismo. Muitos pequenos reinos núbios que ficavam no vale do rio Nilo, no atual Sudão, entravam em negócios com o Egito quando o país mais antigo do mundo pertencia ao Império Romano. Os núbios que comerciavam e influenciavam foram além do vale do Nilo, tendo extensão para o ocidente, até chegar ao lago Chade. Foram convertidos pelos missionários egípcios que os núbios se tornassem cristãos no . Durante o , o Norte da África foi invadido pelos vândalos, um povo germânico, dando contribuição para que fosse exterminado o cristianismo romano que influenciou a África. O reino vândalo declinou-se no , e o Norte da África passou a pertencer ao Império Bizantino. O Surgimento do Islão. Nos últimos anos do ocorreu à união de um grupo de árabes em volta de um movimento religioso que Maomé fundou. Maomé chamou a religião de islão e seus seguidores passaram a se conhecerem pelo nome de muçulmanos. Foi convertida ao islão a maior parte da população do Egito e das terras hoje pertencentes ao Iraque, à Palestina, ao Irão e à Síria. As conquistas do islão foram estendidas no decorrer do tempo ao litoral norte da África, onde hoje existem a Líbia. a Tunísia, a Argélia e Marrocos, e os muçulmanos até conquistaram a Península Ibérica. O islão passou a influenciar também parte da África ao sul do Saara. Foram convertidos pelos comerciantes muçulmanos que os povos das cidades portuárias da parte oriental da África, nos atuais países da Somália, do Quênia, da Tanzânia e do norte de Moçambique, onde a língua de comunicação era e é o suaíli, que passou a ser escrita em letra árabe.. Registou-se também uma forte penetração do Islão na África Oriental, nas áreas que hoje correspondem ao Mali, ao Senegal, a Burquina Fasso e o norte da Costa do Marfim, do Gana e da Nigéria. Impérios da África Ocidental. O florescimento dos impérios da África Ocidental ocorreu no ano 1000. A opinião de alguns historiadores é de que eles têm se organizado pouco após o tempo em que viveu Jesus Cristo. A opinião de outros autores é de que eles são da mais alta antiguidade. Um dos impérios, que se chamava Canem, estava localizado nas imediações do lago Chade. Outro, que se chamava Império do Gana, era situado na extremidade ocidental, onde está localizado o Mali e a parte meridional da Mauritânia. Tacrur estava localizado nos atuais países do Senegal e a Mauritânia. A aparência política de Gana era a de um Estado que mais se fortaleceu dentre os impérios durante vários períodos de cem anos, mas seu poder entrou em declínio no . No , um império que se chamava Mali, que se localizava nos atuais países de Guiné e de Mali, substituiu Gana como o império que mais se fortaleceu na África Ocidental. Nos últimos anos do e primeiros anos do , o Império Songai fez a substituição do Império do Mali como o império que mais se fortaleceu. A atividade comercial no Saara era uma das coisas mais importantes que esses impérios se interessavam. Em direção para a parte setentrional ia o ouro e demais coisas produzidas na África ocidental, que os negociantes trocavam pelo sal e demais coisas produzidas no Norte da África e na Europa, mais precisamente nas cidades às margens do Saara. Para que tivessem força, os impérios da África Ocidental eram obrigados a se responsabilizarem pelo controle dessas cidades. Eles se tornavam mais fortes quando têm conquistado o controle das rotas comerciais da extensa área desértica e fronteiras do Norte da África. Entretanto, quando foram reduzidos à maior fraqueza, os responsáveis pela pilhagem dos impérios da África Ocidental foram os nômades que caçavam os ricos valores econômicos da África Ocidental. Foi levado pelos mercadores muçulmanos o islamismo à África ocidental, durante longas viagens pelas rotas comerciais do Saara. Os conquistadores no Oriente Médio tiveram o islamismo como religião, mas os comerciantes na África ocidental também tiveram essa religião. A importância exercida pelo islamismo na África ocidental foi a de influir espiritualmente a população, e foram trazidas pela religião as coisas novas que se conheciam do mundo de fora e foi responsável pela introdução do ato de ler e escrever. O árabe tem se tornado uma língua internacionalmente difundida na época. Sul das florestas centrais. Na parte meridional das florestas centrais, foram formados, de 1000 até 1500, reinos que foram responsáveis pelo controle de áreas que assemelhavam às da maioria dos países da Europa. O Reino do Congo, que se localizava na foz do rio Congo e em Angola, era um dos grandes reinos. Era existente ainda o Reino Luba, que se situava onde é hoje a parte meridional da República Democrática do Congo, e um grupo de Estados que ficavam ao redor dos grandes lagos dos países que são hoje Burundi, Ruanda, Tanzânia e Uganda. O Reino do Caranga, que se chamava às vezes de Império de Muanamutapa, estava localizado onde é hoje o Zimbábue. Sua capital era a Grande Zimbábue. Era vendido pelo Reino do Caranga o ouro para os comerciantes que viviam no litoral oriental, e era o único reino da parte meridional que se contatava com o mundo exterior. Foram isolados pelas regiões de clima parcialmente seco e de pouco povoamento os outros reinos meridionais do fato de contatar com os grandes centros onde se desenvolvia a África. Assim, estes reinos foram desenvolvidos sem precisar saber escrever e de outras coisas inventadas que tiveram importância nas demais partes da África. Colonização portuguesa. Em oposição ao oceano Índico, onde ocorre a mudança do vento de acordo com as estações, o oceano Atlântico, no decorrer do litoral da África Ocidental, existe a força dos ventos e as correntes que percorrem a descida desde a parte meridional durante o ano inteiro. Até a metade do , os navios europeus não tinham a possibilidade de descida do litoral da África Ocidental e de retorno à Europa. Somente após a construção feita pelos portugueses de navios que tinham capacidade de navegação com retorno pelo litoral da África Ocidental, na metade do , é que eles tiveram a possibilidade de qualquer ponto da África. De 1497 até 1498, foi comandada por Vasco da Gama uma expedição portuguesa que percorreu o contorno do cabo da Boa Esperança com destino às Índias. Inicialmente, os portugueses tiveram interesse principal em comerciar o ouro de Gâmbia, da Costa do Ouro (atual Gana), e do Império Caranga. Também a tentativa feita pelos portugueses era a conversão ao cristianismo dos governantes dos reinos do Congo, Benim, no sul da Nigéria, e Uolofe, no Senegal. Logo foi descoberto pelos portugueses que a África tropical era muito perigosa para aqueles que chegaram recentemente. Frequentemente, mais de 50% dos grupos de colonizadores vindos da Europa que chegaram recentemente à África perderam a vida dentro de um ano ou dois, por apresentarem sintomas de doenças tropicais como a malária e a febre amarela. Nestas situações condicionais, somente que um negócio comercial que lucrava em grande quantidade teria a possibilidade de atração dos mercadores europeus. Os escravos e o ouro têm se tornado o único negócio comercial que lucrava com suficiência para os mercadores europeus serem atraídos para África. O Tráfico de Escravos. Na metade do , teve início a compra e a venda feita pelos portugueses de alguns escravos na Europa. Entretanto, o tráfico de escravos ganhou real importância depois que Cristóvão Colombo descobriu a América. A morte dos habitantes dos povos indígenas da América tropical ocorreu por serem vítimas pelas doenças europeias, e a opinião dos europeus era de que eles próprios não tiveram salvação das doenças tropicais da região do Caribe. Assim, foram trazidos pelos europeus africanos que tinham imunidade parcial à malária e à febre amarela para servirem como trabalhadores braçais na América. Os europeus tinham o direito de compra de escravos no litoral da África porque seus prisioneiros de guerra foram escravizados pelos africanos - como pelos muçulmanos e pelos cristãos do litoral que viviam no Mar Mediterrâneo, na época. Teve crescimento o tráfico de escravos africanos à medida em que o estabelecimento feito pelos portugueses e pelos espanhóis foi a importância de se plantar cana-de-açúcar no Brasil ("ver: Tráfico de escravos para o Brasil") e na região do Caribe, durante o . Na metade do , os colonizadores vindos do Reino Unido, dos Países Baixos e da França têm entrado no tráfico de escravos. De 1450 até 1865, com o comércio atlântico de escravos, foram trazidos pelos europeus dez milhões de escravos para as Américas, que se originaram da parte do litoral da África Ocidental entre o Senegal e Angola. Foi estimulado pelo tráfico de escravos que os governantes africanos realizassem a venda de prisioneiros a fim de trocar roupas, armas de fogo e ferro da Europa. Ao invés do aprendizado da fabricação desses produtos, foi considerada pelos africanos uma facilidade muito grande na obtenção de vender escravos. Dessa forma, que se deve, em parte, ao negócio de traficar escravos, a África ficou atrasada em se desenvolver industrialmente em relação à Europa. Razoavelmente, de 1780 e 1880, foi iniciado pelos árabes e pelos africanos um negócio de traficar escravos no litoral da África Oriental. Os escravos da África Oriental entraram em embarcações marítimas com destino para Zanzibar ou para os países localizados no mar Vermelho e no golfo Pérsico. Influência europeia. Nos anos de 1580, foram controladas pelos turcos otomanos muitas partes do Norte da África, entre o Egito e onde é hoje a Argélia. Entretanto, de 1580 até 1800, o fato de os otomanos controlarem o Norte da África entrou em declínio, e o comércio e a força militar dos adeptos europeus do cristianismo teve crescimento no Norte da África. Foi estabelecido pelos holandeses um entreposto de comércio localizado na Cidade do Cabo, na parte meridional da África, em 1652. Houve crescimento da população branca no lugar, e seus descendentes passaram a se conhecer pelo adjetivo de africânderes. Exceto o tráfico de escravos, tudo aquilo que a Europa influiu não teve muita grandeza na África tropical até após 1800. O tráfico de escravos entrou em declínio nos primeiros anos do , e teve início na Europa a necessidade de alimentos produzidos na África como o amendoim e o azeite de dendê, para serem industrializados. Os agricultores da África Ocidental tiveram o início da grande dependência de comercialização desses produtos aos europeus do que a sua dependência anterior com o comércio de escravos. Após 1800, foi compreendido por alguns daqueles governantes da África que, se forem copiados os métodos militares europeus, teriam a possibilidade de conquista dos seus vizinhos. Foram importados pelo Egito armas de fogo e funcionários europeus para o auxílio na conquista de um grande império, no atual Sudão. Foi assumido por Zanzibar o fato de controlar uma parte da África Oriental, que tinha extensão até o ponto de encontro da atual parte oriental da República Democrática do Congo. Foram conquistados pelos africânderes da parte meridional da África os africanos da região nas imediações da parte setentrional e foi fundada a independência de duas repúblicas, que se chamam Transvaal e Estado Livre de Orange. Revoluções Religiosas. Entre os séculos XII e XIII ocorreu a penetração do islamismo na região dos prados da África Ocidental, na parte meridional do Saara. Mas pelos governantes desta área jamais foi imposta totalmente a lei islâmica, de modo que os credos da mistura feita pelo povo foram as religiões tradicionais africanas e o islamismo. Nos últimos anos do , foi iniciada pelos líderes muçulmanos da África Ocidental a pregação de reformar a religião e a exigência de que fossem criados Estados muçulmanos autênticos. A maioria desses líderes foram comandantes de "guerras santas" em luta contra os governantes africanos da área e foram fundados novos impérios muçulmanos. Em 1860, os novos impérios foram os controladores da quase totalidade da região de savanas da África Ocidental. Exploração europeia. Teve início a exploração europeia na década de 1770. Até então, os europeus permaneceram nas imediações da faixa litorânea, mas o fato de interessarem no comércio e o trabalho missionário acarretaram gradualmente o deslocamento forçado para o interior do continente. Na década de 1770, foi financiado pelos governos e sociedades missionárias e científicas da Europa que as expedições realizassem explorações na África. Nos anos 1880, ocorreu o crescimento do fato de os países europeus serem rivais uns aos outros. Teve início a reclamação dos governos europeus das partes do território do litoral da África. O desejo dos governos da Europa foi definido como a garantia de ter direito às áreas que tiveram maior lucro, antes que isso fosse feito por seus rivais. Por volta de 1914, os europeus tinham feito a divisão entre si da totalidade do território africano, deixando somente a independência nacional da Etiópia e a Libéria. A Bélgica, a França, a Alemanha, a Grã-Bretanha, a Itália, a Espanha e a Turquia têm feito a sua auto reclamação de partes da África. Como a Europa reconheceu esses territórios reivindicados, teve início o estabelecimento feito pelos poderes coloniais europeus do seu poder real na África. Foram reconhecidos por alguns governantes africanos que as armas europeias são superiores e sua rendição pacífica ao domínio europeu. Mas foram feitas pelos outras guerras de resistência, que geralmente que os europeus trataram como rebeliões. O período da conquista europeia foi estendido da década de 1880 até a década de 1930, mas na metade da década de 1920 foram controladas pelos europeus já com firmeza muitas das partes da África. Domínio colonial. A duração do domínio colonial sobre muitas das partes da África foi entre 1900 e 1960. Hoje em dia, a consideração feita pelos africanos é a de que esse período foi uma experiência que humilhou. Mas foi também um período em que se progrediu muito. Nunca tantos africanos foram educados para que se contatassem com o restante do mundo. Foi trazido por novas rodovias e ferrovias que a África se desenvolvesse economicamente, apareceu o surgimento de novas cidades. Variou muito o domínio colonial na diferença de partes da África. Na parte meridional da África, foi tomada pelos colonizadores brancos a excelente qualidade das terras e foi construída uma sociedade industrial que foi responsável pela exclusão dos africanos da totalidade das ocupações que não tivessem maior humildade possível. Na África tropical, os comerciantes ou funcionários europeus foram os implantadores de seu domínio com os líderes africanos que ajudaram. De maneira ocasional, os europeus foram os governantes dos países através da eleição de políticos africanos. Problemas pós-coloniais. Um dos resultados do colonialismo é o da dificuldade de cooperação entre os novos Estados africanos. Um dos problemas é a questão das fronteiras arbitrárias, que em sua maioria assinalam a extensão das conquistas coloniais ou da expansão imperial e que geralmente não têm qualquer relação com as fronteiras naturais, geográficas ou étnicas. O colonialismo gerou também uma identificação política e econômica com a metrópole colonial, particularmente forte no caso das ex-colônias francesas, e que persiste até hoje, resultando inclusive um certo grau de dependência. Muitos líderes africanos têm-se esforçado por promover soluções pan-africanas para os problema do continente. Um dos principais resultados desses esforços foi a criação, em maio de 1963, da Organização da Unidade Africana (OUA) com sede em Adis Abeba. A Organização da Unidade Africana foi substituída pela União Africana em 9 de julho de 2002. A OUA teve êxito na mediação da disputa entre Argélia e Marrocos (1964-65), e nos litígios de fronteiras entre Etiópia e Somália (que tornaram a eclodir em 1977) e entre Quênia e Somália (1965-67), fracassando, porém, em impedir a guerra civil na Nigéria (1968-70). Movimento de independência. O início do movimento de independência remonta ao período anterior aos últimos anos do . Os povos africanos do Egito, da Costa do Ouro (hoje Gana), da Nigéria e da África do Sul tiveram início da grande exigência governamental de serem livres. Entretanto, o que se exigia de governo próprio só foi convertido num movimento africano de massa após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Quando isto foi dado, os poderes coloniais eram obrigados a fazer escolha entre suas colônias tornarem-se independentes, ou declaração de uma guerra cara para a continuação de suas colônias a serem controladas. A luta dos franceses foi durante mais de oito anos para a continuação da Argélia a ser controlada, mas a Argélia proclamou sua independência em 1962. Outras colônias francesas tornaram-se independentes pacificamente. A Bélgica e o Reino Unido deram o estatuto de país independente às muitas de suas colônias por em 1961. O mais importante movimento de autogoverno problemático era a parte meridional da África. A África do Sul declarou por completo a sua independência do Reino Unido em 1931, mas somente os brancos tinham direito de voto e de exercício de altos cargos públicos. Na opinião dos africanos, isto era um colonialismo especial. Na ex-Rodésia (atual Zimbábue), a tentativa dos brancos era continuidade de controlar o país declarando a sua independência do Reino Unido em 1965. Entretanto, a consideração dos países africanos e o Reino Unido é que o fato de declarar um país independente é uma ilegalidade. A luta de Portugal contra os movimentos africanos de resistência ocorreu durante a década de 1960 e primeiros anos da década de 1970, para a continuidade de controlar suas colônias. A Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau) declarou-se independente em 1974. Angola e Moçambique, e mais as colônias portuguesas das ilhas de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, obtiveram sua independência em 1975. Pela independência não foram resolvidos a totalidade dos problemas africanos. Na maioria das novas nações não existiam líderes com experiência própria. No Congo (Leopoldville), atual República Democrática do Congo, o governo teve queda imediata depois que o país declarou-se independente, em junho de 1960. Pediu para que a Organização das Nações Unidas ajudasse para o restabelecimento da ordem, depois da declaração de independência da província congolesa de Catanga, em julho de 1960. Entre 1960 e 1965, o Congo teve uma diversidade de revoltas armadas, e foram estabelecidos a maioria dos governos provisórios, até a tomada de posse feita pelos líderes militares do controle do governo. Ocorreu a tomada de posse feita pelos líderes militares do governo numa variedade dos demais países da África. Os grupos políticos e culturalmente diferenciados têm causado guerras civis numa variedade de países. Desenvolvimento recente. Foi trazido pelos anos 1970 um novo sentimento de nacionalismo à maioria das nações da África. Gana, Uganda e uma diversidade de outros países estavam engajadas no empenho de libertação em relação aos estrangeiros que influenciaram, dando a expulsão a muitos estrangeiros que residiam. Certos países como a atual República Democrática do Congo, têm feito campanhas para a substituição dos nomes estrangeiros de lugares e de pessoas por nomes africanos. Nos últimos anos da década de 1960 e primeiros anos da década de 1970, as escassas chuvas foram o agente causador do drama de uma crise na vastidão de uma área na parte meridional do Saara. Nesta área, que se chama Sael, estão incluídas partes do Chade, do Mali, da Mauritânia, do Níger, do Senegal, do Sudão, de Burquina Fasso, e outras nações. Na metade da década de 1970, foi agravado o fato de que os brancos e negros conflitaram entre si na África do Sul e na ex-Rodésia e foi intensificado o que antigamente se exigia que o domínio da África do Sul eliminasse o território do Sudoeste Africano. Em 1976, anunciou-se um plano para que esse território declarasse independente. Mas, nas eleições que se realizaram em dezembro de 1978, foi rejeitada pela África do Sul que a Organização das Nações Unidas supervisionasse, a qual foi denunciado o plano de independência, alegando que a pretensão daquele país era a continuidade de influir e a restrição do fato de que os namíbios participassem do governo. Na Rodésia, tomou posse, em maio de 1979, um governo majoritariamente negro embora a oposição de nacionalistas negros deu veto ao acordo que o novo governo e a minoria branca negociaram. Os negros e brancos mantiveram a continuidade de lutar até os últimos dias de 1979, quando pelos representantes do governo e das forças guerrilheiras, depois do patrocínio feito pelo Reino Unido do conversarem diplomaticamente, foi aceito um governador inglês para a organização de outros períodos eleitorais e a direção do país até que o novo governo empossasse. Este, uma coalizão dos dois mais relevantes partidos políticos de guerrilha, empossou em março de 1980 e, em abril, foi proclamada a independência da ex-Rodésia com o nome de República do Zimbábue. Nos anos 1980, foram continuadas pela Organização das Nações Unidas e a África do Sul que conversassem diplomaticamente sobre a independência da Namíbia. Na África do Sul foi crescente a luta contra a apartheid, que cada vez mais apoiou a opinião pública e os governos de todo o mundo. Finalmente, o apartheid foi abolido na África do Sul por Nelson Mandela entre 1990 e 1994 e dois anos depois foi promulgada a nova constituição do país. A classificação das línguas africanas. No que tange a classificação das línguas africanas, esta é chamada de classificação genética. Há um tronco de onde saem diversas ramificações, e destas ramificações, saem outras. Dessa forma, existem grupos e subgrupos linguísticos. Essa classificação demonstra os diferentes desdobramentos históricos entre os povos a partir da língua. Tal classificação é interessante pelo fato dela permitir que línguas diferentes sejam comparadas, auxiliando em uma reconstrução da história das línguas de diferentes sociedades. Ajuda a entender também a história cultural não linguística. Portanto, as línguas africanas se classificam em quatro famílias principais: A primeira é a das Línguas Afro-asiáticas. Também podem ser chamadas de línguas camito-semíticas. Os que falam essas línguas estão em toda a África do Norte, quase todo o chifre da África (Etiópia e Somália); e o ramo cuxítico, um galho da família, tem falantes do sul até a Tanzânia. Além do cuxítico, o tronco das Línguas Afro-asiáticas tem mais quatro ramos: o berbere, o egípcio antigo, o semítico e o chádico.  Há ainda uma discussão acerca de um sexto galho, que seria o omótico ou ari-banna, que na classificação de apenas cinco ramificações vem do cuxítico-ocidental, que está dentro do cuxítico.  A segunda família é a Níger-Kordofaniana. Desse tronco saem dois galhos. Eles são bem diferentes em número de falantes e localização geográfica. O primeiro galho, o Níger-congo, tem falantes em grande parte da África ao sul do Saara, quase toda a África Ocidental, partes do Sudão e, um galho que sai dele, o banto, por exemplo, tem falantes em grande parte da África central, oriental e meridional. O segundo galho, o níger-cordofanês, tem falantes apenas na região do Cordofão, no Sudão. A terceira família é a Nilo-Saariana. É falada ao norte e a leste das línguas níger-congo e seus falantes ocupam principalmente o vale superior do Nilo, as porções orientais do Saara e do Sudão. Tem falantes também na parte ocidental do songai, baixo vale do Níger. Dela saem muitos ramos: o songai; o saariano; o mabã; o furiã; o chari-nilo e o comã. A quarta e última família é a Família Khoisan. Este grupo tem falantes principalmente na África do Sul, mas é possível encontrar ramificações desta família ao norte, na Tanzânia. Assim, o tronco Khoisan tem três ramos: o hatsa, o sandauê e o coissã sul-africano. Algumas línguas faladas no continente africano não são originárias deste. Um exemplo é o malgaxe, falando em algumas regiões de Madagáscar. Esta língua, segundo o autor, pertence à família austronesiana, sendo malaio-polinésia. Existem também as línguas europeias e indianas que, impostas recentemente, são faladas no continente africano, como o inglês, que inclusive é falado na forma crioula (krio) em Freetown; há o africâner, que é parente do neerlandês, na África do Sul; existe um bom número de falantes de línguas francesas, espanhola e italianas no norte da África; uma forma crioula do português é falada na Guiné e outras regiões; e existem línguas indianas faladas na África oriental: línguas arianas e dravidianas, como o gujarati. O número de pessoas que ocupam o continente africano é menor se formos comparar com o resto do mundo. Mas, mesmo assim, a África possui um número de línguas gigantesco, maior do que qualquer outro continente. Por isso, é difícil fazer um mapa linguístico detalhado, apesar de que seria de grande ajuda para historiadores e outros estudiosos. Só que, de qualquer forma, para conseguir juntar todas as línguas do continente em uma imagem, seria necessária uma simplificação. Os estudiosos têm tentado criar este mapa linguístico, e este é especificamente linguístico, não étnico. Para ajudar a esclarecer um pouco o mapa linguístico, este é estudado pelas suas características mais simples. A primeira é a divisão entre grupos de línguas que têm relações uns com os outros e possuem uma unidade entre si (que o autor chama de unidades complexas); e as línguas diferentes que não estão em nenhum desses grupos (unidades simples). As unidades complexas e simples, somadas, chegam a 120, em toda a África. Mais de 100 dessas unidades estão em uma só localização, que começa no litoral senegalês, no oeste, e vai até os planaltos etíopes e da África oriental, no leste. Dois terços das línguas africanas são falados nessa faixa, que é chamada de zona de fragmentação subsaariana por causa de sua localização geográfica. Bibliografia. 2003 Lisboa: Edições 70, 2004. África IV. A África do século XII ao XVI. São Paulo: Ática/UNESCO, 1980, coordenador do volume D.T. Niane, pp.353-384.
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Hidrocarboneto
Hidrocarboneto Na química, um hidrocarboneto é um composto químico constituído por átomos de carbono e de hidrogênio unidos tetraedricamente por ligação covalente assim como todos os compostos orgânicos. Os hidrocarbonetos naturais são compostos químicos constituídos apenas por átomos de carbono (C) e de hidrogênio (H), aos quais se podem juntar átomos de oxigênio (O), azoto ou nitrogênio (N) e enxofre (S), dando origem a diferentes compostos de outros grupos funcionais. São conhecidos alguns milhares de hidrocarbonetos. As diferentes características físicas são uma consequência das diferentes composições moleculares. Contudo, todos os hidrocarbonetos apresentam uma propriedade comum: oxidam-se facilmente, liberando calor. Além de usá-los como combustível, os hidrocarbonetos também são importantes materiais de partida na indústria química. Por exemplo, etano e propano são convertidos para syngas ou para etileno e propileno. Estas olefinas são precursores de polímeros, incluindo polietileno, poliestireno, acrilatos, polipropileno, etc. Outra classe de hidrocarbonetos é a chamada fração BTX que é uma mistura de benzeno, tolueno e os três isómeros de xileno. Os hidrocarbonetos naturais formam-se a grandes pressões no interior da terra (abaixo de 150 km de profundidade) e são trazidos para zonas de menor pressão através de processos geológicos, onde podem formar acumulações comerciais (petróleo, gás natural, carvão, etc.). As moléculas de hidrocarbonetos, sobretudo as mais complexas, apresentam alta estabilidade termodinâmica. Apenas o metano, que é a molécula mais simples (CH4), pode-se formar em condições de pressão e temperatura mais baixas. Os demais hidrocarbonetos não são formados espontaneamente nas camadas superficiais da terra. Cadeias carbônicas do hidrocarboneto. Os hidrocarbonetos têm uma série de cadeias, sendo divididos em: Ligações entre os hidrocarbonetos. Os hidrocarbonetos tem uma série de divisões sendo: O número de átomos de hidrogênio em hidrocarbonetos pode ser determinado, se o número de átomos de carbono for conhecido, utilizando as seguintes equações: Hidrocarbonetos geralmente líquidos geologicamente extraídos são chamados de petróleo (literalmente "óleo de pedra") ou óleo mineral, enquanto hidrocarbonetos geológicos gasosos são chamados de gás natural. Todos são importantes fontes de combustível. Hidrocarbonetos são de grande importância econômica porque constituem a maioria dos combustíveis minerais (carvão, petróleo, gás natural, etc.) e biocombustíveis como o plásticos, ceras, solventes e óleos. Na poluição urbana, esses compostos - juntamente com NOx e a luz solar - contribuem para a formação do ozônio troposférico.
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H
H H ("agá") é a oitava letra do alfabeto latino. É a única letra do alfabeto que, em palavras nativas da língua portuguesa, não tem valor fonético, ou seja, não tem som algum. Entretanto, brasileiros costumam pronunciar o «h» em empréstimos recentes vindos de línguas estrangeiras onde essa letra é pronunciada como semiconsoante – hashi", hikikomori", "jihad", hijab", high-tech", Halloween", "Ohio", happy hour", handebol", "Valhalla, Helheim, Muspelheim" (Note que nas palavras nórdicas as letras «l» e «h» não formam o dígrafo habitual, mas são pronunciadas separadamente), etc. –, usando-se do fonema (Foneticamente costuma ocorrer como [ʀ̥], [h] ou [ɦ], daí a associação), o som de «r» inicial ou «rr» em palavras nativas, também usado para outros sons guturais como o J castelhano, usado em mais empréstimos como jalapeño", "Guadalajara", "Jerez", "Don Juan, etc. Na maioria dos dialetos do português europeu, o som mais próximo do «h» semiconsoante gutural de outras línguas, além do fonema representado pelo «rr» (geralmente uvular em Portugal, outros países lusófonos, no Rio de Janeiro e entre uma minoria de falantes em outros estados do Centro-Sul), seria o «g», , em "trigo" ou "seguro" (um som que provavelmente seria identificado como «rr» por brasileiros), porém os portugueses costumam "nunca" pronunciar a letra agá. História. Historiadores acreditam que essa letra surgiu inicialmente de um hieróglifo egípcio que representava uma peneira. Mil anos depois os sumérios usariam a mesma letra para designar um som gutural. Os fenícios a chamaram de "heth (cerca)", porque seu desenho se assemelhava a essa forma. Por volta de 900 a.C. os gregos adotaram a letra e como não pronunciavam a primeira parte desta, a denominaram simplesmente de "êta". Seu formato já era bastante semelhante ao H moderno. Fonética e códigos. "H" não é propriamente consoante e nem vogal, porque não tem valor algum de som ou ruído, sendo assim, tornando impossível a existência de fonemas que apontem para ela. Oficialmente, esta letra é apenas classificada como letra diacrítica, pois é, propriamente dita, a segunda letra de um dígrafo. Só tem valor na indicação das palavras: "ch" (chave), "lh" (palha), "nh" (manhã). Conserva-se no início e no fim das interjeições como acento de aspiração: "ah!", "eh!", "ih!", "oh!", "uh!", "hem!, (ou hein!)", "hum!". Não confundir com onomatopeia. Conserva-se nas palavras que exigem ampla etimologia: hoje, homem, hora, haver, etc. Conserva-se nos termos compostos quando os elementos estão ligados por hífen: "anti-histamínico", "pré-histórico", "sobre-humano". Quando os elementos estão justapostos, a letra desaparece: "desarmonia", "desumano", "reaver", "lobisomem".
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História da Europa
História da Europa A História da Europa descreve a passagem no tempo desde os primeiros humanos que habitaram o continente europeu até a atualidade. A primeira evidência do "Homo sapiens" na Europa data de O relato mais antigo feito sobre o continente é a Ilíada, de Homero, da Grécia Antiga, que data de A República Romana foi estabelecida em , e transformada no Novo Império de Augusto na primeira metade do . A religião cristã foi adotada no . Confrontado com migrações bárbaras e a praga, o império foi dividido entre Leste e Oeste e a Idade Média se instalou no coração da Europa Ocidental. O Império Bizantino manteve a luz da civilização acesa no Leste. A Igreja Oriental e Ocidental confrontaram-se por séculos sobre o meio de governo eclesiástico, provocando o cisma em 1054, que aconteceu em seguida à divisão anterior de 451, e foi prosseguida das Cruzadas do oeste para recuperar o leste da Invasão dos Muçulmanos. A sociedade feudal começava a ruir enquanto os invasores mongóis carregavam a peste negra com eles. Os muros de Constantinopla caem em 1453, e ainda o Novo Mundo é descoberto em 1492, por iniciativa de Portugueses e Espanhóis. A Europa acorda do período medieval através do redescobrimento do ensinamento clássico. O Renascimento foi seguido da Reforma Protestante, do frade alemão Martinho Lutero, que atacou a autoridade papal. A Guerra dos Trinta Anos, a Paz de Vestfália e a revolução Gloriosa deram a base para uma nova era de expansão e o iluminismo. A revolução industrial, começando na Grã-Bretanha, permitiu às pessoas, pela primeira vez, não dependerem mais de material de subsistência. O recente Império Britânico dividiu-se assim como suas colônias na América revoltadas para estabelecer um governo representativo. Uma mudança política na Europa aconteceu a partir da Revolução Francesa, quando as pessoas gritavam "Liberté, Egalité, Fraternité". O líder francês seguinte, Napoleão Bonaparte, conquistou e reformou a estrutura social do continente através de guerras até 1815 Quanto mais e mais donos de pequenas propriedades ganhavam poder de voto, na França e no Reino Unido, a atividade socialista e dos sindicatos desenvolveu-se e a revolução se instalou na Europa em 1848. Os últimos vestígios de servidão foram abolidos do Império Austríaco no mesmo ano. A servidão russa foi abolida em 1861. As nações balcânicas começaram a ganhar suas independências do Império Otomano. Depois da Guerra Franco-Prussiana, o Reino de Itália e o Império Alemão foram formadas de grupos de principados em 1870 e 1871. Conflitos desencadearam-se ao redor do globo, em uma série de impérios, até que a procura do lugar ao sol acabou com o início da Primeira Guerra Mundial. No desespero da guerra, a Revolução Russa prometia ao povo "paz, pão e terra". Além de humilhada com o Tratado de Versalhes, a Alemanha tem sua economia destruída com a grande depressão e uma nova grande guerra. Com a vitória do capitalismo e do comunismo sobre o fascismo, começou uma nova ordem mundial conhecida como guerra fria. A Europa Ocidental formou uma área de livre comércio, dividida pela Cortina de Ferro da União Soviética. Quando o muro de Berlim caiu em 1989, a Europa assinou um novo tratado de união, que em 2007, compreendia 27 países. Pré-história. Os "Homo erectus" e os Neanderthalis habitavam a Europa bem antes do surgimento dos humanos modernos, os "Homo sapiens". Os ossos dos primeiros europeus foram achados em Dmanisi, Geórgia, e datados de 1,8 milhões de anos. O primeiro aparecimento do povo anatomicamente moderno na Europa é datado de Evidências de assentamentos permanentes datam do na Bulgária, Romênia e Grécia. O período neolítico chegou na Europa central no e em partes da Europa Setentrional no V e A civilização Tripiliana (5508-) foi a primeira grande civilização da Europa e uma das primeiras do mundo; era localizada na Ucrânia moderna e também na Moldávia e Romênia. Foi provavelmente mais antiga que os Sumérios no Oriente Próximo, e tinha cidades com habitantes que cobriam 450 hectares. Começando no Neolítico, tem-se a civilização dos Camunos no Val Camonica, península Itálica, que deixou mais de petróglifos, o maior sítio arqueológico da Europa. Também conhecido como Idade do Cobre, o Calcolítico europeu foi um tempo de mudanças e confusão. O fato mais relevante foi a infiltração e invasão de imensas partes do território por povos originários da Ásia Central, considerado pelos principais historiadores como sendo os originais indo-europeus, mas há ainda diversas teorias em debate. Outro fenômeno foi a expansão do megalitismo e o aparecimento da primeira significante estratificação econômica e, relacionado a isso, as primeiras monarquias conhecidas da região dos Balcãs. A primeira civilização bem conhecida da Europa foi as do Minoicos da ilha de Creta e depois os Micenas em adjacentes partes da Grécia, no começo do Embora o uso do ferro fosse de conhecimento dos povos egeus por volta de , não chegou à Europa Central antes de , levando ao início da Cultura de Hallstatt, uma evolução da Idade do Ferro (que até então se encontrava na Cultura dos Campos de Urnas). Provavelmente como subproduto desta superioridade tecnológica, pouco depois os indo-europeus consolidam claramente suas posições na península Itálica e na Península Ibérica, penetrando profundamente naquelas penínsulas (Roma foi fundada em ). Mundo Clássico. Os gregos e romanos deixaram um legado na Europa que é evidente nos pensamentos, leis, mentes e línguas atuais. A Grécia Antiga foi uma união de cidades-Estado, na qual uma primitiva forma de democracia se desenvolveu. Atenas foi sua cidade mais poderosa e desenvolvida, e um berço de ensinamento nos tempos de Péricles. Fóruns de cidadãos aconteciam e o policiamento do estado deu ordem ao aparecimento dos mais notáveis filósofos clássicos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Como rei do Reino Grego da Macedônia, as campanhas militares de Alexandre o Grande espalharam a cultura helenística e os ensinamentos até as nascentes do rio Indo. Mas a República Romana, alicerçada pela vitória sobre Cartago nas Guerras Púnicas, estava crescendo na região. A sabedoria grega passada às instituições romanas, assim como a própria Atenas foi absorvida sob a bandeira do senado e do povo de Roma. Os romanos expandiram seu Estado desde a Arábia até a Britânia. Em , seu líder, Júlio César foi morto sob suspeita de estar corrompendo a república para se tornar um ditador. Na sucessão, Otaviano assumiu o poder e, embora tenha mantido as instituições republicanas, inclusive o senado romano, de fato concentrou o poder no seu cargo de príncipe do senado e adotou o título de "augusto", transformando a república para no Império Romano. Grécia Antiga. A civilização helênica tinha a forma de um conjunto de cidades-Estado, ou pólis (as mais importantes eram Atenas, Esparta, Tebas, Corinto e Siracusa), tendo diferentes tipos de governo e culturas, incluindo o desenvolvimento de filosofias, ciências, matemática, políticas, esportes, teatro e música. Atenas, a cidade-estado mais poderosa, era governada com um tipo primitivo de democracia direta fundada pelo nobre ateniense Clístenes. Na democracia ateniense, os cidadãos votavam neles mesmo para cargos executivos e legislativos. Na Grécia também surgiu Sócrates, considerado um dos fundadores da filosofia ocidental. Sócrates também criou o método socrático, um tipo de pedagogia usada até hoje no aprendizado filosófico, na qual uma série de questões é feita não apenas para obter respostas individuais, mas também para encorajar a compreensão fundamental dos problemas. Devido a essa filosofia, Sócrates foi condenado à morte por estar "corrompendo a juventude" ateniense com suas discussões que entravam em conflito com as crenças religiosas da época. Platão, um pupilo de Sócrates e fundador da Academia Platônica, escreveu sobre esse episódio em suas escrituras, e desenvolveu sua própria filosofia, o platonismo. As cidades-Estado helênicas fundaram um grande número de colônias nas costas do mar Negro e no mar Mediterrâneo, Ásia Menor, Sicília e no sul da península Itálica (Magna Grécia), mas no , sua expansão rumo ao leste levou a uma retaliação do Império Aquemênida. Nas guerras greco-persas, as cidades-estado helênicas formaram uma aliança e derrotaram o Império Aquemênida na Batalha de Plateias, afastando os invasores. Os gregos formaram a Confederação de Delos para continuar lutando contra a Pérsia, mas a posição de Atenas como líder desta liga levou Esparta a criar a rival Liga do Peloponeso. As duas ligas começaram então a Guerra do Peloponeso pela liderança da Grécia, sendo a Liga do Peloponeso vitoriosa. Descontente com a hegemonia espartana sobre a Grécia deu-se início a Guerra Corintiana, onde uma aliança liderada por Tebas bateu Esparta na batalha de Leuctra. As contínuas batalhas helênicas tornaram a Grécia alvo fácil para o rei , que uniu Macedônia e Grécia sob o mesmo domínio. As campanhas de seu filho Alexandre, o Grande espalharam a cultura grega pela Pérsia, Egito e Índia, mas também permitiu o contato com os antigos ensinamentos desses países, abrindo uma nova era de desenvolvimento, conhecido como helenismo. Alexandre morreu em , decompondo o seu império em diversas civilizações helenísticas. A ascensão de Roma. Muito do ensinamento grego foi assimilado pelo então novo Estado romano, assim que ele se espalhou pela península Itálica, aproveitando-se da vantagem da não união de seus inimigos: o único desafio real da ascendente Roma foi a colônia fenícia de Cartago, e sua derrota no fim do marcou o início da hegemonia romana. Primeiro governado por reis, depois por uma república senatorial (a República Romana), Roma finalmente tornou-se um império no fim do , sob Augusto e seus sucessores. O Império Romano teve seu centro no mar Mediterrâneo, controlando todos os países margeados por ele; o limite norte do território era marcado pelos rios Reno e Danúbio. Sob Trajano (), o império alcançou o máximo de sua expansão territorial, controlando aproximadamente  km², incluindo a Britânia, Romênia e partes da Mesopotâmia. O império trouxe paz, civilização e um eficiente governo centralizado para os territórios dominados, porém no uma série de guerras civis começaram a ameaçar sua força econômica e social. No , Diocleciano e Constantino foram capazes de diminuir o processo de declínio dividindo o império em uma parte Ocidental e outra Oriental. Diferentemente de Diocleciano, que condenava ferozmente o cristianismo, Constantino declarou o fim da perseguição dos cristãos em 313 com o Édito de Milão, prosseguindo assim com a oficialização do cristianismo como religião oficial do império. Idade Média. Quando o imperador Constantino derrotou Magêncio e conquistou Roma sob a bandeira da Cruz em 312, ele rapidamente editou o Édito de Milão em 313, declarando legal o cristianismo no Império Romano. Além disso, Constantino mudou oficialmente a capital do império, Roma, para a colônia grega de Bizâncio, que ele renomeou para Constantinopla ("Cidade de Constantino"). Teodósio I, que tornou o cristianismo religião oficial do Império Romano, foi ser o último imperador a comandar o Império Romano em toda a sua unidade, que depois de sua morte, em 395), foi dividido em duas partes: O Império Romano do Ocidente, centrado em Ravena, e o Império Romano do Oriente (depois referido pela historiografia como Império Bizantino) centrado em Constantinopla. A parte ocidental foi seguidamente atacada por tribos nômades germânicas, e em 476 finalmente caiu sob a invasão dos Hérulos comandados por Odoacro. A autoridade romana no Oeste entrou em colapso e as províncias ocidentais logo tornaram-se pedaços de reinos germânicos. Entretanto, a cidade de Roma, sob o comando da Igreja Católica Romana permaneceu como um centro de ensino, e fez muito para preservar o pensamento clássico romano na Europa Ocidental. Nesse meio-tempo, o imperador romano em Constantinopla, Justiniano, conseguiu com sucesso, montar toda a lei romana no Código de Justiniano . Por todo o , o Império Bizantino esteve envolvido em uma série de conflitos sangrentos, primeiro contra o Império Sassânida, depois pelo Califado Ortodoxo. Em 650, as províncias do Egito, Palestina e Síria foram perdidas para forças muçulmanas. Na Europa Ocidental, uma estrutura política surgia: no vácuo do poder deixado pelo colapso de Roma, hierarquias locais foram construídas sob a união das pessoas nas terras que eram trabalhadas. Dízimos eram pagos ao senhor da terra, e este senhor devia tributos ao príncipe regional. Os dízimos eram usados para financiar o estado e as guerras. Esse foi o sistema feudal, no qual novos príncipes e reis apareceram, no qual o maior deles foi o líder franco Carlos Magno. Em 800, Carlos Magno, após suas grandes conquistas territoriais, foi coroado "Imperador dos Romanos" ("Imperator Romanorum") pelo papa Leão III, afirmando efetivamente seu poder na Europa Ocidental. O reinado de Carlos Magno marcou o começo de um novo império germânico no oeste, o Sacro Império Romano. Além de suas fronteiras, novas forças estavam crescendo. A Rússia de Quieve estava delimitando seu território, a Grande Morávia estava crescendo, enquanto os anglos e os saxões estavam confirmando suas fronteiras. Uma luz bizantina. Constantino é considerado o primeiro imperador bizantino. Foi ele que mudou a capital do império em 324 de Nicomédia (atual İzmit na Turquia) para Bizâncio, refundada como Constantinopla, ou "Nova Roma". A cidade de Roma não servia como capital desde o reinado de Diocleciano. Alguns consideram o começo do império no reinado de Teodósio quando o cristianismo substituiu a religião pagã romana, ou sua posterior morte em 395, quando a divisão política entre leste e oeste se tornou permanente. Outros ainda colocam 476 como o início, quando Rômulo Augusto, tradicionalmente considerado como o último imperador, foi deposto, deixando a única autoridade imperial no Leste. Outros apontam ainda para a reorganização do império nos tempos de Heráclio quando os usos e títulos latinos foram oficialmente trocados pelas suas versões gregas. Em todo caso, a mudança foi gradual desde 330, quando Constantino inaugurou a nova capital, o processo de helenização e a crescente cristianização estavam acontecendo. O império é geralmente dado como acabado com a queda de Constantinopla frente aos turco-otomanos em 1453, o que também foi considerado pela historiografia como o fim da Idade Média. A praga de Justiniano foi uma pandemia que afetou o Império Bizantino, incluindo sua capital, Constantinopla, nos anos de 541 e 542. Estima-se que a praga matou mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo. Causou também a queda da população europeia em 50% entre 541-700. e também deve ter contribuído para o sucesso das conquistas árabes. O crescimento do sistema feudal. O Sacro Império Romano Germânico surgiu no ano 800, quando Carlos Magno, rei dos francos, foi coroado pelo papa como imperador. Seu império, baseado na moderna França, Países Baixos e Alemanha, expandiu-se para os atuais territórios de Hungria, Itália, Boêmia, Baixa Saxônia e Espanha. Ele e seu pai receberam uma substancial ajuda de uma aliança com o papa, que pediu ajuda contra os lombardos. O papa era oficialmente um vassalo do Império Bizantino, mas o imperador bizantino nada podia fazer contra os lombardos. No leste, o Primeiro Império Búlgaro foi estabelecido em 681 e tornou-se o primeiro país eslavo. O poderoso Império Búlgaro foi o principal rival de bizâncio no controle dos Bálcãs por séculos e desde o tornou-se o centro cultural da Europa eslava. Dois estados, a Grande Morávia e a Rússia de Quieve emergiam respectivamente dentre os eslavos ocidentais e orientais ainda no . No final do mesmo século e no seguinte, o norte e o oeste da Europa perderam seu crescente poder e influência aos viquingues que invadiram, conquistaram e se estabeleceram rápida e eficientemente com seus avançados barcos de guerra, que já eram tão avançados como caravelas. Os húngaros pilharam os principais territórios da Europa, enquanto os pechenegues invadiram a Europa Oriental e os árabes o sul. No , reinos independentes foram estabelecidos na Europa Central, por exemplo, a Polônia e o Reino da Hungria. Nisso os húngaros pararam com as suas campanhas devastadoras e relevantes nações como a Croácia e a Sérvia surgiram nos Bálcãs. O período seguinte, que acabou por volta do ano 1000, viu o crescimento do feudalismo, que enfraqueceu o Sacro Império Romano Germânico. Alto feudalismo. A adormecida era medieval foi sacudida pela crise na Igreja. Em 1054, um cisma acontece entre os dois centros cristãos remanescentes, em Roma e Constantinopla. A Igreja dividida. Do ao XI foram numerosas as rupturas seguidas de reconciliação entre as igrejas do Ocidente e Oriente. O principal conflito era o método de governo da Igreja, enquanto o Oriente sustentava a Igreja como uma Pentarquia dentro do Império Bizantino, comandada pelos patriarcas de suas cinco cidades mais importantes: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém; no Ocidente os Papas, invocavam jurisdição sobre todos os assuntos da Igreja e o direito de julgar até mesmo os patriarcas, em cerca de 446 o Papa Leão I tinha expressamente reivindicado autoridade sobre toda a Igreja: "O cuidado da Igreja universal, deve convergir para a cadeira de Pedro, e nada deve ser separado de sua cabeça"". Desde a metade do , as fronteiras do Império Bizantino enfrentavam uma iminente expansão islâmica. Antioquia voltou ao controle bizantino por volta de 1045, mas o ressurgente poder dos sucessores romanos no ocidente passou a postular por seus direitos e sua autoridade nos lugares perdidos na Ásia e África. Então, em 1054 os legados romanos do papa Leão IX, viajaram para Constantinopla para insistir no reconhecimento da primazia papal, o patriarca de Constantinopla se recusou a reconhecer sua autoridade e se excomungaram mutuamente, posteriormente a separação entre Ocidente e Oriente se desenvolveu quando todos os outros patriarcas orientais apoiaram Constantinopla, no evento do Grande Cisma. Mudanças posteriores ocorreram com uma redivisão da Europa. , duque da Normandia, invadiu a Inglaterra em 1066. A conquista normanda foi crucial na história inglesa por diversas razões. Essa conquista aproximou a Inglaterra da Europa continental com a introdução da aristocracia normanda e, portanto, diminuindo a influência escandinava. Assim criou-se uma das mais poderosas monarquias europeias em um sofisticado sistema governamental. Guerras santas. Depois do Grande Cisma do Oriente, a cristandade ocidental foi adotada nos recém-criados reinos da Europa Central: Polônia, Reino da Hungria e o Reino da Boêmia. A Igreja Católica tornou-se muito poderosa, levando a vários conflitos entre o Papa e o Imperador. Em 1129, a Igreja Católica estabeleceu o uso da Inquisição para conservar a sua ortodoxia doutrinária no Ocidente católico. A Inquisição punia e exortava todos aqueles que praticavam a heresia para se arrependerem e se converterem. Caso não o fizessem, a punição poderia ser a morte. Durante este tempo muitos senhores e nobres se converteram ao cristianismo. Os Monges de Cluny batalharam para instituir a igreja onde nobres não o faziam. O continuou o trabalho dos monges com mais dois objetivos alcançados, libertar a igreja do controle de reis e nobres e aumentar o poder do papado. A área de influência da Igreja Católica aumentou enormemente devido às conversões de reis pagãos (Escandinávia, Lituânia, Polônia e Hungria) à reconquista da Península Ibérica e às Cruzadas. A maior parte da Europa era católica no . Sinais do renascimento da civilização na Europa ocidental começaram a aparecer já no com o início do comércio ainda na península Itálica, levando a um crescimento cultural e econômico de cidades-estado independentes como a República de Veneza e a República Florentina; no mesmo tempo estados-nação começaram a formar-se como França, Inglaterra, Espanha e Portugal, mas o processo de formação, em geral, demorou séculos. Essas nações criadas começaram a se comunicar com seus idiomas culturais, em vez do tradicional latim. Figuras notáveis do movimento incluem Dante Alighieri e Cristina de Pisano, primeiro escritora em italiano, que depois de sua mudança de Veneza para a França, escreveu em francês. Por outro lado, o Sacro Império Romano-Germânico, essencialmente baseado na Alemanha e na península Itálica, esteve fragmentado em um conjunto de principados e pequenas cidades-estado, cuja subjugação ao imperador era apenas formal. Durante os séculos XIII-XIV, o Império Mongol subiu ao poder. Os exércitos mongóis expandiram-se em direção ao oeste sob o comando de Batu Cã. Suas conquistas no ocidente incluíram quase toda a Rússia (salvo Novgorod, que se tornou um vassalo), Quipechaco, a Hungria e a Polônia (que permaneceu como um estado autônomo). Documentos mongóis sugerem que Batu Cã estaria planejando a completa conquista dos poderes europeus remanescentes, começando com um ataque no inverno sobre a Áustria, península Itálica e Alemanha, quando foi chamado de volta para a Mongólia devido a morte do grão-cã Oguedai. Muitos historiadores acreditam que sua morte preveniu a conquista completa da Europa. Na Rússia entretanto, os mongóis da Horda Dourada governaram por quase 250 anos. A Peste Negra. Uma das maiores catástrofes que atingiu a Europa foi a Peste Negra. Diversas epidemias da peste ocorreram ao longo dos tempos, mas a pior de todas foi na metade do e estima-se que tenha matado um terço da população europeia. No começo do , o mar Báltico tornou-se uma das rotas comerciais mais importantes. A Liga Hanseática, uma aliança entre cidades comerciais, facilitou a absorção de vastas áreas da Polônia, Lituânia e outros países bálticos para a economia europeia. Isso alimentou o crescimento de poderosos estados na Europa Oriental como Polônia, Reino da Hungria, Reino da Boêmia e a Moscóvia. O fim da Idade Média é relacionado com a queda de Constantinopla e do Império Bizantino pelos turcos otomanos em 1453. Os turcos fizeram a cidade capital do Império Otomano, que sobreviveu até 1922 e incluía Egito, Síria e grande parte dos Bálcãs. As "guerras otomanas na Europa", também referidas como "guerras turcas", marcaram uma essencial parte da história do sudeste europeu. O despertar da Europa. Renascimento. O Renascimento foi um movimento cultural que afetou profundamente a vida intelectual europeia no seu período pré-moderno. Começando na península Itálica, e espalhando-se de norte a oeste, o renascimento durou aproximadamente 250 anos e sua influência afetou a literatura, filosofia, arte, política, ciência, história, religião entre outros aspectos de indagação intelectual. O italiano Francesco Petrarca, suposto primeiro legítimo humanista, escreveu na década de 1330: "Estou vivo agora, ainda que eu prefira ter nascido em outro tempo". Ele era um entusiasta da antiguidade romana e grega. Nos séculos XV e XVI, o contínuo entusiasmo pela Antiguidade Clássica foi reforçado pela ideia de que a cultura herdada estava se dissipando e de que havia um conjunto de ideias e atitudes com que seria possível reconstruí-la. Matteo Palmieri escreveu em 1430: "Agora, com certeza, todo espírito pensante deve agradecer a Deus, porque a ele foi permitido nascer em uma nova era". O renascimento fez nascer uma nova era em que aprender era muito importante. O renascimento foi inspirado pelo crescimento dos estudos de textos latinos e gregos e a admiração da era greco-romana como uma época de ouro. Isso incitou muitos artistas e escritores a tomar emprestados exemplos gregos e romanos para suas obras, mas também existiram muitas inovações nesse período, especialmente através de artistas multifacetados tais quais Leonardo da Vinci e Leon Battista Alberti. Muitos textos gregos e romanos ainda existiam na Idade Média europeia, devido ao trabalho inestimável dos monges católicos, que copiaram e recopiaram os textos antigos e os guardaram por todo um milênio. Muitos outros foram descobertos com a migração de estudiosos gregos, assim como de textos gregos clássicos, para a Itália, após a queda de Constantinopla, enquanto outros textos gregos e romanos chegaram através de fontes islâmicas, que os herdaram através das conquistas, e até mesmo fazendo tentativas de melhorar alguns deles. Com o orgulho natural de pensadores avançados, os humanistas viram o ressurgimento desse grande passado como uma renascença – o renascimento da própria civilização. Importantes precedentes políticos aconteceram neste período. Nicolau Maquiavel escreveu "O Príncipe" que influenciou o posterior absolutismo e a política pragmática. Também foram importantes os diversos líderes que governaram estados e usaram a arte da Renascença como um sinal de seus poderes. Reformas. Durante esse período, a corrupção da Igreja Católica levou a uma dura reação, na Reforma Protestante. E ela ganhou muitos seguidores, especialmente entre príncipes e reis buscando um estado forte para acabar com a influência da Igreja Católica. Figuras como Martinho Lutero começaram a surgir, assim também como João Calvino com o seu calvinismo que teve influência em muitos países e o rei que rompeu com a Igreja Católica e fundou a Igreja Anglicana. Essas divisões religiosas trouxeram uma onda de guerras inspiradas e conduzidas religiosamente, mas também pela ambição dos monarcas na Europa Ocidental que se tornavam cada vez mais centralizadas e poderosas. A Reforma Protestante também levou a um forte movimento reformista na Igreja Católica chamado Contrarreforma, que tinha como objetivo reduzir a corrupção, assim como aumentar e fortalecer a doutrina católica. Um importante grupo da Igreja Católica que surgiu nessa época foram os jesuítas, que ajudaram a manter a Europa Oriental na linha católica de pensamento. Mesmo assim, a Igreja Católica foi fortemente enfraquecida pela Reforma protestante e grande parte do continente europeu não estava mais sob sua influência e os reis nos países que continuaram no catolicismo começaram a anexar as terras da igreja para seus próprios domínios. Diferentemente da Europa Ocidental, os países da Europa Central, a Comunidade Polaco-Lituana e a Hungria, foram mais tolerantes. Enquanto se aumentava a predominância do catolicismo, eles ainda permitiam que um grande número de minorias religiosas cultivasse suas crenças. Assim, a Europa Central manteve-se dividida entre católicos, protestantes, ortodoxos e judeus. Outro importante acontecimento desta época foi o crescimento do sentimento de união do povo europeu. Émeric Crucé (1623) formulou a ideia do Conselho Europeu, com a intenção de acabar com as guerras na Europa; visto que a última tentativa de criar paz na Europa não obteve sucesso quando todos os países europeus (exceto o Império Russo e o Império Otomano, vistos como estrangeiros) fizeram um tratado de paz em 1518 no Tratado de Londres. Muitas guerras estouraram de novo em poucos anos. A reforma proporcionou a paz impossível na Europa por muitos séculos ainda. Outro desenvolvimento foi a ideia da superioridade europeia. O ideal de civilização foi baseado nos antigos gregos e romanos: disciplina, educação e viver em uma cidade eram requeridos para tornar o povo civilizado; europeus e não europeus eram julgados por sua civilidade. Serviços postais eram encontrados por todas as regiões, o que permitiu uma rede humanística de intelectuais interconectados pela Europa, mesmo com as divisões religiosas. Entretanto, a Igreja Católica Romana proibiu e baniu muitos trabalhos científicos promissores; isso trouxe uma vantagem aos países protestantes, onde o banimento de livros era organizado regionalmente. Francis Bacon e outros líderes da ciência tentaram criar uma unidade na Europa focando-se na unidade pela natureza. No , com o fim da Idade Média, poderosos estados apareceram, construídos por novos monarcas, que centralizaram o poder na França, Inglaterra e Espanha. Por outro lado, o parlamento da Comunidade Polaco-Lituana ganhou poder, tirando os direitos legislativos do rei polonês. O poder do novo estado foi contestado por parlamentares em outros países, especialmente a Inglaterra. Novos tipos de estados surgiam com a cooperação entre governantes de terras, cidades, repúblicas de fazendas e guerreiros. A Era dos Descobrimentos. As numerosas guerras não impediram que os novos estados explorassem e conquistassem largas porções do mundo, particularmente na Ásia (Sibéria) e a recém-descoberta América. No , Portugal liderou a exploração geográfica, seguido pela Espanha no começo no . Eles foram os primeiros estados a fundar colônias na América e estações de troca nas costas da África e da Ásia, porém logo foram seguidos pela França, Inglaterra e Países Baixos. Em 1552, o czar russo Ivan, o Terrível conquistou os dois maiores canatos tártaros, Kazan e Astracã, e a viagem de Yermak em 1580, que levou a anexação da Sibéria pela Rússia. A expansão colonial prosseguiu-se nos anos seguintes (mesmo com alguns empecilhos, como a Revolução Americana e as guerras pela independência em muitas colônias americanas). A Espanha controlou parte da América do Norte e grande parte da América Central e do Sul, o Caribe e Filipinas.; Portugal teve em suas mãos o Brasil e vários territórios costeiros em África e na Ásia (Índia, Macau, Timor Português, etc.); os britânicos comandavam a Austrália, Nova Zelândia, maior parte da Índia e grande parte da África e América do Norte; a França comandou partes do Canadá e da Índia (porém quase tudo foi perdido para os britânicos em 1763), a Indochina, grandes terras na África e Caribe; os Países Baixos ficaram com as Índias Orientais (hoje Indonésia) e algumas ilhas no Caribe; países como Alemanha, Bélgica, Itália e Rússia conquistaram colônias posteriormente. Essa expansão ajudou a economia dos países que a fizeram. O comércio prosperou, por causa da menor estabilidade entre os impérios. No final do , a prata americana era responsável por um quinto de todo o comércio da Espanha. Os países europeus travaram guerras que foram pagas através do dinheiro conseguido com a exploração das colônias. No entanto, os lucros com o tráfico de escravos e as plantações das Índias Ocidentais, a mais rentável das colônias britânicas naquele momento, representavam apenas 5% de toda a economia do Império Britânico no final do , tempo da Revolução Industrial. Iluminismo. A partir do início deste período, o capitalismo substituía o mercantilismo como principal forma de organização econômica, ao menos no oeste da Europa. A expansão das fronteiras coloniais resultou em uma Revolução Comercial. Nota-se no período o crescimento da ciência moderna e a aplicação de suas descobertas em melhorias tecnológicas, que culminaram com a revolução Industrial. Descobertas ibéricas do Novo Mundo, que começaram com a jornada de Cristóvão Colombo ao oeste com a busca de uma rota fácil para as Índias Orientais em 1492, foram logo adaptadas por explorações inglesas e francesas na América do Norte. Novas formas de comércio e a expansão dos horizontes fizeram necessária uma mudança no direito internacional. A reforma protestante produziu efeitos profundos na unidade europeia. Não apenas dividindo as nações uma das outras pela sua orientação religiosa, mas alguns estados foram afetados internamente por lutas religiosas, fortemente encorajadas por seus inimigos externos. A França viveu essa situação no com uma série de conflitos, como as guerras religiosas na França, que culminaram no triunfo da Dinastia Bourbon. A Inglaterra preveniu-se desse fato com a consolidação sob a Rainha Elizabeth do moderado Anglicanismo. Quase toda parte da atual Alemanha estava dividida em inúmeros estados sob o comando teórico do Sacro Império Romano Germânico, que também estava dividido dentro do próprio governo. A única exceção a isso era a Comunidade Polaco-Lituana, uma união criada pela União de Lublin, expressando uma grande tolerância religiosa. Esse embate religioso aconteceu até a Guerra dos Trinta Anos quando o nacionalismo substituiu a religião como principal motor dos conflitos na Europa. A Guerra dos Trinta Anos aconteceu entre 1618 e 1648, principalmente no território da atual Alemanha, e envolveu as principais potências europeias. Começou como um conflito religioso entre protestantes e católicos no Sacro Império Romano Germânico, e gradualmente desenvolveu-se em uma guerra geral, envolvendo boa parte da europa, por razões não necessariamente ligadas à religião. O maior impacto da guerra, na qual exércitos de mercenários foram largamente utilizados, foi a devastação de regiões inteiras na busca do exército inimigo. Episódios como a disseminação da fome e das doenças devastaram a população dos estados germânicos e, em menor grau, dos Países Baixos e da península Itálica, onde levaram à falência muito dos poderes regionais envolvidos. Entre um quarto e um terço da população alemã pereceu por causas diretamente ligadas à guerra ou ainda de doenças e miséria causadas pelo conflito armado. A guerra durou trinta anos, mas os conflitos que ela deu início ainda continuaram sem solução por muito tempo. Depois da Paz de Vestfália, que permitiu aos países que eles escolhessem sua orientação religiosa, o absolutismo tornou-se o padrão do continente, enquanto a Inglaterra caminhava rumo ao liberalismo com a Guerra Civil Inglesa e a Revolução Gloriosa. Os conflitos militares na Europa não acabaram, mas tiveram menos impacto na vida de seus cidadãos. No noroeste, o iluminismo deu a base filosófica para um novo ponto de vista na sociedade, e a contínua difusão da literatura foi possível com a invenção da prensa, criando novas formas de avanço do pensamento humano. Ainda, nesse segmento, a Comunidade Polaco-Lituana foi uma exceção, com sua quase democrática "liberdade dourada". A Europa Oriental era uma arena de conflito disputada por Suécia, a Comunidade Polaco-Lituana e o Império Otomano. Nesse período observou-se um gradual declínio destes três poderes que foram eventualmente substituídos pelas novas monarquias absolutistas do Império Russo, do Reino da Prússia e da Monarquia de Habsburgo. Na virada para o , eles tornaram-se as novas potências, dividindo a Polônia entre si, com Suécia e Império Otomano perdendo territórios substanciais para o Império Russo e Monarquia de Habsburgo, respectivamente. Uma grande parte de judeus poloneses emigrou para a Europa Ocidental, fundando comunidades judaicas em lugares de onde foram expulsos durante a Idade Média. Revolução e nacionalismo. Revolução Industrial. A Revolução Industrial foi um período compreendido entre o fim do e o começo do , no qual ocorreram grandes mudanças na agricultura, manufatura e transporte e foi produzido um profundo efeito socioeconômico e cultural na Grã-Bretanha, que posteriormente se espalhou por toda a Europa, América do Norte, e depois para todo o mundo, em um processo que ainda continua: a industrialização. Na parte final dos anos de 1700, a economia baseada na força manual no Reino da Grã-Bretanha começou a ser substituída por outra dominada pela indústria e pelas máquinas. Começou com a mecanização das indústrias têxteis, o desenvolvimento de técnicas avançadas de produção de ferro e o aumento do uso de carvão refinado. A expansão do comércio foi possibilitada com a introdução de canais, rodovias e auto-estradas. A introdução das máquinas a vapor (abastecidas primeiramente com carvão) e maquinaria bruta (principalmente na manufatura têxtil) deram a base para grandes aumentos na capacidade produtiva inglesa. O desenvolvimento de máquinas de ferramentas nas duas primeiras décadas do facilitou a produção de mais máquinas para serem utilizadas em outras indústrias. Durante o , a industrialização se alastrou pelo resto da Europa Ocidental e América do Norte, afetando posteriormente grande parte do mundo. Revoluções políticas. A intervenção francesa na Guerra de Independência dos EUA levou o estado francês à falência. Depois de diversas tentativas falhas de uma reforma financeira, Luís XVI foi forçado a reavivar a Assembleia dos Estados Gerais, um corpo representativo do país feito pelas três classes do estado: o clero, os nobres e o povo. Os membros dos Estados-Gerais reuniram-se no Palácio de Versalhes em maio de 1789, mas o debate e a forma de votação que seria usada criaram um impasse. Veio junho, e o terceiro estado, associado a membros dos dois outros estados, declarou-se uma Assembleia Nacional e prometeu não se dissolver até que a França tivesse uma constituição e criasse, em Julho, uma Assembleia Nacional Constituinte. No mesmo tempo, os parisienses revoltaram-se, celebremente derrubando a prisão da Bastilha em 14 de julho de 1789. Nesse tempo, a assembleia criou uma monarquia constitucional, e nos dois anos que se passaram várias leis foram criadas como a Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão, a abolição do feudalismo e uma mudança fundamental das relações entre a França e Roma. No início, o rei continuou no trono ao longo dessas mudanças e gozou de uma popularidade razoável com o povo, mas a anti-realeza crescia com o perigo de uma invasão estrangeira. Então o rei, sem poderes, decidiu fugir com a sua família, mas ele foi reconhecido de volta a Paris. Em 12 de janeiro de 1793, sendo convicta sua traição, ele foi executado. Em 20 de setembro de 1792, a convenção nacional aboliu a monarquia e declarou a França uma república. Devido à eminência das guerras, a convenção nacional criou o Comitê de Salvação Pública controlado por Maximilien Robespierre do partido dos jacobinos, para atuar como executivo do país. Sob Robespierre o comitê iniciava o Reino do Terror, no qual cerca de pessoas foram executadas em Paris, na maioria nobres, apesar de, frequentemente, faltarem evidências. Por todo o país, insurreições contra-revolução foram brutalmente reprimidas. O regime foi posto abaixo no golpe de 9 Termidor (27 de julho de 1794) e Robespierre foi executado. O regime que se seguiu acabou com o Terror e afrouxou a maioria das regras extremas de Robespierre. Napoleão Bonaparte foi o general francês que mais obteve sucesso nas guerras da revolução, tendo conquistado muitos dos Estados da península Itálica e forçado os austríacos à paz. Em 1799, retornou do Egito e em 18 de Brumário (9 de novembro) subjugou o governo, substituindo-o pelo seu Consulado, do qual tornou-se o primeiro Cônsul. Em 2 de dezembro de 1804, depois duma tentativa de assassinato, ele coroou-se imperador. Em 1805, Napoleão planejou invadir a Grã-Bretanha, mas a recém-criada aliança entre britânicos, russos e austríacos (Terceira Coalizão) forçou-o a direcionar a atenção para o continente, quando ao mesmo tempo ele tinha falhado em desviar a Armada Superior Britânica para longe do Canal da Mancha, ocasionando uma decisiva derrota francesa na batalha de Trafalgar em 21 de outubro, e colocando um fim em suas esperanças de invadir a Grã-Bretanha. Em 2 de dezembro de 1805, Napoleão derrotou o exército austro-russo, numericamente superior, em Austerlitz, forçando a Áustria desistir da coalizão e levando à fragmentação do Sacro Império Romano-Germânico. Em 1806, a Quarta coalizão foi formada; em 14 de outubro Napoleão derrotou os prussianos na Batalha de Jena-Auerstedt, marchando através da Alemanha e derrotando os russos em 14 de junho de 1807 em Friedlândia. Os Tratados de Tilsit dividiram a Europa entre França e Rússia e criaram o Ducado de Varsóvia. Em 12 de junho de 1812, Napoleão invadiu a Rússia com sua Grande Armée de aproximadamente soldados. Após as vitórias em Smolensk e Borodino, Napoleão ocupou Moscou, apenas para encontrá-la queimada pelo exército russo em retirada. Assim, ele foi forçado a bater com seu exército em retirada. Na volta seu exército foi arrasado pelos cossacos e sofreu de doenças, fome e com o rigoroso inverno russo. Apenas soldados sobreviveram a essa campanha. Em 1813, começou o declínio de Napoleão, sendo derrotado pelo Exército das Sete Nações na Batalha de Leipzig em outubro de 1813. Ele foi forçado a abdicar depois da Campanha dos Seis Dias e a ocupação de Paris. Sob o Tratado de Fontaineblau ele foi exilado na ilha de Elba. Retornou à França em 1º de março de 1815 e convocou um exército leal, mas foi compreensivelmente derrotado por forças britânicas e prussianas na Batalha de Waterloo em 18 de junho de 1815. A formação dos estados modernos. Depois da derrota da revolucionária França, outras grandes forças tentaram restaurar a situação existente antes de 1789. Em 1815, no Congresso de Viena, as maiores forças da Europa se organizaram para produzir um pacífico equilíbrio de poder entre os impérios depois das Guerras Napoleônicas (embora estivessem ocorrendo movimentos internos revolucionários) sob o sistema de Matternich. Entretanto, seus esforços foram incapazes de parar a propagação de movimentos revolucionários: a classe média foi profundamente influenciada pelos ideais de democracia da Revolução Francesa, a revolução Industrial trouxe importantes mudanças sócio-econômicas, as classes baixas começaram a ser influenciadas pelas ideias socialistas, comunistas e anarquistas (especialmente unidas por Karl Marx no Manifesto Comunista), e a preferência dos novos capitalistas era o liberalismo. Uma nova onda de instabilidade veio da formação de diversos movimentos nacionalistas (na Alemanha, Itália, Polônia, etc.), buscando uma unidade nacional e/ou liberação do domínio estrangeiro. Como resultado, o período entre 1815 e 1871 foi palco de um grande número de conflitos e guerras de independência. Napoleão III, sobrinho de Napoleão I, retornou do exílio na Inglaterra em 1848 para ser eleito pelo parlamento francês, como o então "Presidente-Príncipe" e num golpe de estado eleger-se imperador, aprovado depois pela grande maioria do eleitorado francês. Ele ajudou na unificação da Itália lutando contra o Império Austríaco e lutou a Guerra da Crimeia com a Inglaterra e o Império Otomano contra a Rússia. Seu império ruiu depois de uma infame derrota para a Prússia, na qual ele foi capturado. A França então se tornou uma fraca república que recusava-se a negociar e foi derrotada pela Prússia em poucos meses. Em Versalhes, o rei Guilherme I da Prússia foi proclamado Imperador da Alemanha. Mesmo que a maioria dos revolucionários tenha sido derrotada, muitos estados europeus tornaram-se monarquias constitucionais, e em 1871 Alemanha e Itália se desenvolveram em estados-nação. Foi no também que se observou o Império Britânico emergir como o primeiro poder global do mundo devido, em grande parte, à Revolução Industrial e a vitória nas Guerras Napoleônicas. Impérios. A paz iria apenas durar até que o Império Otomano declinasse suficientemente para se tornar alvo de outros. Isso incitou a Guerra da Crimeia em 1854, e começou um tenso período de pequenos conflitos entre as nações dominantes da Europa que deram o primeiro passo para a posterior Primeira Guerra Mundial. Isso mudou uma terceira vez com o fim de várias guerras que transformaram o Reino da Sardenha e o Reino da Prússia nas nações da Itália e da Alemanha, mudando significativamente o balanço do poder na Europa. A partir de 1870, a hegemonia do Reino da Prússia com o chanceler Otto Von Bismarck na Europa pôs a França em uma situação crítica. Ela devagar reconstruiu suas relações internacionais, buscando alianças com a Grã-Bretanha e Rússia, para controlar o crescente poder da Alemanha sobre a Europa. Desse modo, dois lados opostos se formaram na Europa, incrementando suas forças militares e suas alianças ano a ano. Guerras e paz. Guerras mundiais. Depois da relativa paz na maior parte do , a rivalidade entre as potências europeias explodiu em 1914, quando a Primeira Guerra Mundial começou. Mais de 60 milhões de soldados europeus foram mobilizados entre 1914 e 1918. De um lado estavam Alemanha, Áustria-Hungria, o Império Otomano e a Bulgária (Poderes Centrais/Tríplice Aliança), enquanto que no outro lado estavam a Sérvia e a Tríplice Entente – a elástica coalizão entre França, Reino Unido e Rússia, que ganhou a participação do Reino de Itália em 1915 e dos Estados Unidos em 1917. Embora o Império Russo tenha sido derrotado em 1917 (a guerra foi uma das maiores causas da Revolução Russa, levando à formação da comunista União Soviética), a Entente finalmente prevaleceu no outono de 1918. No Tratado de Versalhes (1919) os vencedores impuseram severas condições à Alemanha e aos novos estados reconhecidos (tais como Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Áustria, Iugoslávia, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia) criados na Europa Central a partir dos extintos impérios Alemão, Austro-Húngaro e Russo, supostamente na base da auto-definição. A maioria desses países entraria em guerras locais, sendo a maior delas a Guerra Polaco-Soviética (1919-1921). Nas décadas seguintes, o medo do comunismo e a Grande Depressão (1929-1943) levaram grupos extremistas nacionalistas - sob a categoria do fascismo – na Itália (1922), Alemanha (1933), Espanha (depois da guerra civil, terminada em 1939) e em outros países como a Hungria. Depois de aliar-se com a Itália de Benito Mussolini no Pacto de Aço e assinar o pacto de não-agressão com a União Soviética, o ditador alemão Adolf Hitler começou a Segunda Guerra Mundial em 1º de setembro de 1939 invadindo a Polônia, depois de uma expansão militar ocorrida no final da década de 1930. Após sucessos iniciais (principalmente a conquista do oeste da Polônia, grande parte da Escandinávia, França e os Balcãs antes de 1941), as forças do Eixo começaram a enfraquecer-se em 1941. Os principais oponentes ideológicos de Hitler eram os comunistas da Rússia, mas por causa da falha alemã em derrotar o Reino Unido e das falhas italianas no norte da África e no Mediterrâneo, as forças do Eixo se resumiram à Europa Ocidental, Escandinávia, além de ataques a África. O ataque feito posteriormente à União Soviética (que junto com a Alemanha dividiu a Europa central em 1939-1940) não foi feito com a força necessária. Apesar de um sucesso inicial, o exército alemão foi parado perto de Moscou em dezembro de 1941. Apenas no ano seguinte o avanço alemão foi parado e começaram as derrotas, como por exemplo, nas batalhas de Stalingrado e Kursk. Nesse interim, o Japão (aliado de Alemanha e Itália desde setembro de 1940) atacou os britânicos no Sudeste Asiático e os Estados Unidos no Havaí em 7 de dezembro de 1941; a Alemanha então completou sua expansão declarando guerra aos Estados Unidos. A guerra aumentou a tensão entre o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e os Aliados (Reino Unido, União Soviética e os Estados Unidos). As forças aliadas venceram no norte da África e invadiram a Itália em 1943, e a ocupada França em 1944. Na primavera de 1945, a Alemanha foi invadida pelo leste pela União Soviética e pelo oeste pelos Aliados; Hitler cometeu suicídio e a Alemanha se rendeu no começo de maio acabando com a guerra na Europa. O período foi marcado também por um industrializado e planejado genocídio de mais de 11 milhões de pessoas, incluindo a maioria dos judeus da Europa e ciganos, assim como milhões de poloneses e eslavos soviéticos. O sistema soviético de trabalho forçado, as expulsões da população da União Soviética e a grande fome da Ucrânia tiveram semelhante carga de mortes. Durante e depois da guerra, milhões de civis foram afetadas pelas forçadas transferências da população. Guerra Fria. A Primeira e especialmente a Segunda Guerra Mundial acabaram com a preponderante posição da Europa Ocidental. O mapa do continente foi redesenhado na Conferência de Yalta e dividido se tornou a principal zona de contenção na Guerra Fria entre dois blocos, os países ocidentais e o bloco Oriental. Os Estados Unidos e a Europa Ocidental (Reino Unido, França, Itália, Países Baixos, Alemanha Ocidental, etc.) estabeleceram a aliança da OTAN como proteção contra uma possível invasão soviética. Depois, a União Soviética e o Leste Europeu (Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária e Alemanha Oriental) estabeleceram o Pacto de Varsóvia como proteção contra uma possível invasão dos Estados Unidos. Na mesma época, a Europa Ocidental lentamente começou um processo de integração política e econômica, desejando um continente unido e integrado para prevenir outra guerra. Esse processo resultou naturalmente no desenvolvimento de organizações como a União Europeia e o Conselho da Europa. O movimento Solidarność que aconteceu na década de 1980 enfraqueceu o governo comunista na Polônia, foi o começo do fim do domínio comunista na Europa Oriental e o declínio da União Soviética. O líder soviético Mikhail Gorbachev instituiu a Perestroika e a Glasnost, que enfraqueceram oficialmente a influência soviética na Europa Oriental. Os governos que davam suporte aos soviéticos entraram em colapso e a Alemanha Ocidental anexou a Alemanha Oriental em 1990. Em 1991, a própria União Soviética] ruiu, dividindo-se em 15 estados, com a Rússia tomando o seu lugar no Conselho de Segurança da ONU. Entretanto, a separação mais violenta aconteceu na Iugoslávia, nos Balcãs. Quatro (Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina e Macedônia do Norte) das seis repúblicas iugoslavas declararam independência e para a maioria delas uma violenta guerra se seguiu, em algumas partes até 1995. Em 2006, Montenegro se separou e declarou independência, seguido por Kosovo, formalmente uma província autônoma da Sérvia, em 2008, e descaracterizando completamente o antigo mapa da Iugoslávia. Na era pós-guerra fria, OTAN e a União Europeia foram gradualmente admitindo a maioria dos antigos estados membros do Pacto de Varsóvia. Reunificação e integração. Em 1992, o Tratado de Maastricht foi assinado pelos então membros da União Europeia. Isso transformou o "Projeto Europeu" de ser uma comunidade econômica com certos aspectos políticos, numa união com uma intensa cooperação e prosperidade baseada em uma união de soberanias nacionais. Em 1985, o Acordo de Schengen estabeleceu uma área sem fronteiras e sem controle de passaporte entre os estados que o assinaram. Uma moeda comum para a maioria dos estados membros da União Europeia, o euro, foi estabelecida eletronicamente em 1999, oficialmente partilhando todas as moedas de cada participante com os outros. A nova moeda foi posta em circulação em 2002 e as velhas foram retiradas dos mercados. Apenas três países dos quinze Estados-membros decidiram não aderir ao euro (Reino Unido, Dinamarca e Suécia). Em 2004, a UE deu ordem à sua maior expansão, admitindo 10 novos membros (oito dos quais antigos estados comunistas). Outros dois ingressaram no grupo em 2007, num total de 27 nações. Um tratado estabelecendo uma constituição para a UE foi assinado em Roma em 2004, com a intenção de substituir todos os antigos tratados com apenas um só documento. Entretanto, sua ratificação nunca foi feita devido à rejeição de franceses e holandeses via referendo. Em 2007, concordou-se em substituir aquela proposta com um novo tratado reformado, o Tratado de Lisboa, que iria entrar como uma emenda ao invés de substituir os tratados existentes. Esse tratado foi assinado em 13 de dezembro de 2007, e vai entrar em vigor em janeiro de 2009, se ratificado até essa data. Isso dará a União Europeia seu primeiro presidente permanente e ministro de relações exteriores. Os Balcãs são a parte da Europa que mais deseja aderir à União Europeia, com a adesão da Croácia em 2013 a ser a mais recente.
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Hipótese de Riemann
Hipótese de Riemann Em matemática, a hipótese de Riemann é uma conjectura de que a função zeta de Riemann tem os seus zeros somente nos números inteiros pares negativos e em números complexos com parte real  . Muitos consideram que este é o problema não resolvido mais importante da matemática pura . Ela é de grande interesse em teoria de números, porque implica resultados sobre a distribuição dos números primos. Ela foi proposta por , de quem recebe o nome. A hipótese de Riemann e algumas de suas generalizações, juntamente com a conjectura de Goldbach e a conjectura dos primos gêmeos, compõem o oitavo problema na lista de 23 problemas não-resolvidos de David Hilbert; também é um dos Problemas do Prémio Millennium do Clay Mathematics Institute. O nome também é usado para alguns análogos intimamente relacionados, tais como a hipótese de Riemann para curvas definidas sobre corpos finitos. A função zeta de Riemann ζ("s") é uma função cujo argumento "s" pode ser qualquer número complexo diferente de 1, e cujos valores também são complexos. Ela tem zeros nos inteiros negativos pares; isto é, ζ("s") = 0 quando "s" é um dos números -2, -4, -6, ... Estes são chamados de seus "zeros triviais". No entanto, os números inteiros negativos pares não são os únicos valores para os quais a função zeta é zero. Os outros são chamados de "zeros não-triviais". A hipótese de Riemann diz respeito à localização destes zeros não-triviais, e afirma que: Assim, se a hipótese estiver correta, todos os zeros não-triviais estarão sobre a linha crítica que consiste de números complexos onde "t" é um número real e "i" é a unidade imaginária. Existem vários livros não-técnicos, sobre a hipótese de Riemann, como , , (Sabbagh , 2003a, 2003b), . Os livros , , , e dão uma introdução matemática, enquanto que , e são monografias avançadas. Função Zeta de Riemann. A função zeta de Riemann é definida para o complexo "s" com parte real maior do que 1 pela série infinita absolutamente convergente Leonhard Euler já havia considerado esta série na década de 1730, para valores reais de s, em conjunto com a sua solução para o problema de Basileia. Ele também provou que ela é igual ao produto de Euler onde o produto infinito se estende a todos os números primos "p". A hipótese de Riemann discute os zeros fora da região de convergência desta série e produto de Euler. Para entender a hipótese, é necessário estender analiticamente a função para obter uma forma que seja válida para todo complexo "s". Isso é permitido porque a função zeta é meromorfa, portanto, tem-se a garantia de que a sua extensão analítica é única e formas funcionais equivalente, ao longo de seus domínios. Começa-se por mostrar que a função zeta e a função eta de Dirichlet satisfazem a relação Mas a série à direita converge não apenas quando a parte real de "s" é maior do que um, mas, mais geralmente, sempre que "s" tem parte real positiva. Assim, esta série alternativa estende a função zeta de para o domínio maior , excluindo os zeros formula_4 de formula_5 em que formula_6 é qualquer inteiro não nulo (ver função eta de Dirichlet). A função zeta também pode ser estendida para esses valores tomando limites, dando um valor finito para todos os valores de "s" com parte real positiva, exceto para o polo simples em "s" = 1. Na faixa a função zeta satisfaz a equação funcional Pode-se então definir ζ("s") para todos os números complexos "s" não nulos restantes ( e "s" ≠ 0) aplicando-se esta equação fora da faixa, e fazendo com que ζ("s") seja igual ao lado direito da equação, sempre que "s" tiver parte real não positiva (e "s" ≠ 0). Se "s" é um número inteiro negativo, então ζ("s") = 0, porque o fator sin(π"s"/2) desaparece; estes são os "zeros triviais" da função zeta. (Se "s" é um número inteiro positivo, este argumento não se aplica porque os zeros da função seno são cancelados pelos da função gama, já que leva argumentos negativos.) O valor de ζ(0) = -1/2 não é determinado pela equação funcional, mas é o valor limite de ζ("s") quando "s" tende a zero. A equação funcional implica também que a função zeta não tem zeros com parte real negativa além dos zeros triviais, de modo que todos os zeros não-triviais encontram-se na faixa crítica em que "s" tem parte real entre 0 e 1. Origem. A declaração de Riemann sobre a hipótese de Riemann, de . (Ele estava discutindo uma versão da função zeta, modificada para que suas raízes (seus zeros) fossem reais em vez de estar sobre a linha crítica.) A motivação original de Riemann para o estudo da função zeta e seus zeros foi a ocorrência dos mesmos em sua fórmula explícita para o número de primos ("x") menores ou iguais a um determinado número "x", que ele publicou em seu artigo de 1859 "On the Number of Primes Less Than a Given Magnitude". A sua fórmula foi dada em termos da função relacionada que conta os primos e potências de primos até "x", contando uma potência de primo "p""n" como 1/n. O número de primos pode ser recuperado a partir dessa função usando a fórmula de inversão de Möbius, em que "μ" é a função de Möbius. A fórmula de Riemann é então onde a soma é sobre os zeros não triviais da função zeta e onde Π0 é uma versão ligeiramente modificada de Π que substitui o seu valor em seus pontos de descontinuidade, pela média de seus limites superiores e inferiores: A soma na fórmula de Riemann não é absolutamente convergente, mas pode ser avaliada tomando os zeros ρ, por ordem de valor absoluto de sua parte imaginária. A função li que aparece no primeiro termo é a função logarítmica integral (não deslocada), dada pelo valor principal de Cauchy da integral divergente Os termos li("x""ρ") que envolvem os zeros da função zeta precisam de algum cuidado na sua definição j que li tem pontos de ramificação em 0 e 1, e são definidos (para "x" > 1) por continuação analítica na variável complexa "ρ" na região em que Re("ρ") > 0, ou seja, eles devem ser considerados como . Os outros termos também correspondem aos zeros: o termo dominante li("x") vem do polo em "s" = 1, considerado como um zero de multiplicidade -1, e os termos pequenos restantes vêm dos zeros triviais. Para alguns gráficos da soma dos primeiros termos da série, ver ou . Esta fórmula diz que os zeros da função zeta de Riemann controlam as oscilações dos primos em torno de suas posições "esperadas". Riemann sabia que os zeros não-triviais da função zeta estavam simetricamente distribuídos sobre a reta e ele sabia que todos os seus zeros não-triviais deviam estar no intervalo Ele verificou que alguns dos zeros estavam situados na linha crítica com parte real 1/2 e sugeriu que todos eles estivessem; esta é a hipótese de Riemann. Consequências. Os usos práticos da hipótese de Riemann incluem muitas proposições que se sabe serem verdadeiras caso a hipótese de Riemann o seja, e algumas que se demonstra serem equivalentes à hipótese de Riemann. A distribuição dos números primos. A fórmula explícita de Riemann para o número de primos menores do que um determinado número em termos de uma soma sobre os zeros da função zeta de Riemann diz que a magnitude das oscilações de primos em torno de sua posição esperada é controlada pelas partes reais dos zeros da função zeta. Em particular, o termo de erro no teorema do número primo está intimamente relacionado com a posição dos zeros. Por exemplo, se β é o limite superior das partes reais dos zeros, então , Já se sabe que 1/2 ≤ β ≤ 1 . Von Koch (1901) provou que a hipótese de Riemann implica a "melhor cota possível" para o erro do teorema do número primo. Uma versão precisa do resultado de Koch, devida a , diz que a hipótese de Riemann implica em que π("x") é a função de contagem de números primos, e ln("x") é o logaritmo natural de "x". também mostrou que a hipótese de Riemann implica em que ψ("x") é a segunda função de Chebyshev. demonstrou que a hipótese de Riemann implica que para todo formula_16 há um primo formula_17 satisfazendo Esta é uma versão explícita de um teorema de Cramér. Crescimento de funções aritméticas. A hipótese de Riemann tem como consequência fortes limitações sobre o crescimento de muitas outras funções aritméticas, além da função de contagem de primos citada anteriormente. Um exemplo envolve a função de Möbius μ. A declaração de que a equação é válida para todo "s" com parte real maior do que 1/2, com a soma do lado direito convergindo, é equivalente à hipótese de Riemann. A partir disso, também se pode concluir que, se a função de Mertens é definida por então, a alegação de que para todo ε positivo é equivalente à hipótese de Riemann (J. E. Littlewood, 1912; ver, por exemplo: o parágrafo 14.25 em ). (Para o significado desses símbolos, consulte sobre a notação grande-O.) O determinante da matriz de Redheffer de ordem "n" é igual a "M"("n"), então a hipótese de Riemann também pode ser expressa como uma condição para o crescimento desses determinantes. A hipótese de Riemann coloca uma limitação bastante apertada sobre o crescimento de "M", desde que desmentiu a conjectura de Mertens, que era um pouco mais forte A hipótese de Riemann é equivalente a muitas outras conjecturas sobre a taxa de crescimento de outras funções aritméticas além de μ("n"). Um exemplo típico é o teorema de Robin , que afirma que, se σ("n") é a função divisor, dada por então, para todo "n" > 5040 se, e somente se, a hipótese de Riemann é verdadeira, em que γ é a constante de Euler–Mascheroni. Outro exemplo foi encontrado por Jérôme Franel, e estendido por Landau (ver ). A hipótese de Riemann é equivalente a várias afirmações mostrando que os termos da sequência de Farey são bastante regulares. Uma tal equivalência é como segue: se "F""n" é a sequência de Farey de ordem "n", começando com 1/"n" e até 1/1, então, a alegação de que para todo ε > 0 é equivalente à hipótese de Riemann. Aqui é o número de termos da sequência de Farey de ordem "n". Para um exemplo da teoria dos grupos, se "g"("n") é função de Landau dada pela ordem maximal dos elementos do grupo simétrico "S""n" de grau "n", então mostraram que a hipótese de Riemann é equivalente à limitação para todo "n" suficientemente grande. Hipótese de Lindelöf e o crescimento da função zeta. A hipótese de Riemann tem várias consequncias mais fracas; uma é a hipótese de Lindelöf sobre a taxa de crescimento da função zeta na linha crítica, que diz que, para qualquer "ε" > 0, quando formula_30. A hipótese de Riemann também implica limitações bastante acentuadas para a taxa de crescimento da função zeta em outras regiões da faixa crítica. Por exemplo, ela implica que assim, a taxa de crescimento de ζ(1+"it") e sua inversa seria conhecida exceto por um fator de 2 . Conjetura dos grandes intervalos entre primos. O teorema do número primo implica que, em média, o intervalo entre o primo "p" e o próximo primo é log "p". No entanto, alguns intervalos entre primos podem ser muito maiores do que a média. Cramér provou que, assumindo a hipótese de Riemann, cada lacuna é "O"( log "p"). Este é um caso em que até mesmo a melhor limitação que pode ser provada usando a hipótese de Riemann é muito mais fraca do que o que parece ser verdade: a conjectura de Cramér implica que cada intervalo é "O"((log "p")2), o que, embora maior do que o intervalo médio, é muito menor do que o limite implicado pela hipótese de Riemann. Evidências numéricas apoiam a conjectura de Cramér . Critérios analíticos equivalentes à hipótese de Riemann. Foram encontradas muitas afirmações equivalentes à hipótese de Riemann, apesar de nenhuma delas ter resultado em muito progresso no sentido de provar (ou refutar) a conjectura. Alguns exemplos típicos são apresentados a seguir. (Outras envolvem a função divisor σ("n").) O critério de Riesz foi apresentado por , garantindo que vale para qualquer ε > 0 se, e somente se, a hipótese de Riemann for válida. , provou que a hipótese de Riemann é verdadeira se, e somente se, o espaço de funções de forma em que ρ("z") é a parte fracionária de "z", , e é denso no espaço de Hilbert "L"2(0,1) de funções quadrado-integráveis no intervalo unitário. estendeu esse fato, mostrando que a função zeta não tem zeros com parte real maior do que 1/"p" se, e somente se, este espaço de funções é denso em "Lp"(0,1) mostrou que a hipótese de Riemann é verdadeira se, e somente se, a equação integral não tem soluções limitadas não-triviais formula_37 para formula_38. O critério de Weil é a afirmação de que a positividade de uma determinada função é equivalente à hipótese de Riemann. Um critério relacionado é o critério de Li, uma afirmação de que a positividade de uma determinada sequência de números é equivalente à hipótese de Riemann. , provou que a hipótese de Riemann é equivalente à afirmação de que formula_39, a derivada de formula_40, não tem zeros na faixa A afirmação de que formula_40 tem apenas zeros simples na linha crítica é equivalente a sua derivada não ter zeros na linha crítica. A sequência de Farey fornece duas equivalências, devido a Jerônimo Franel e Edmund Landau, em 1924. Consequências da hipótese de Riemann generalizada. Vários aplicações utilizam a hipótese de Riemann generalizada para séries L de Dirichlet ou funções zeta de corpos numérico em vez de apenas a hipótese de Riemann. Muitas propriedades básicas da função zeta de Riemann podem ser generalizadas facilmente para todas as séries K de Dirichlet, o que torna plausível que um método que comprove a hipótese de Riemann para a função zeta de Riemann também funcione para a hipótese de Riemann generalizada para funções L de Dirichlet. Vários resultados demonstrados primeiramente utilizando a hipótese generalizada de Riemann foram, mais tarde, demonstrados incondicionalmente sem usá-la, embora estas demonstrações geralmente tenham sido muito mais difíceis. Muitas das consequências na lista a seguir foram tiradas de . Terceiro excluído. Algumas consequências da hipótese de Riemann também são consequências de sua negação e, portanto, são teoremas. Em sua discussão sobre o teorema de Hecke, Deuring, Mordell, Heilbronn, dizemÉ preciso ter cuidado para compreender o que significa dizer que a hipótese de Riemann generalizada é falsa: deve-se especificar exatamente que classe de séries de Dirichlet tem um contra-exemplo. Teorema de Littlewood. Este teorema diz respeito ao sinal do erro no teorema do número primo. Foi calculado que π("x") < li("x") para todo "x" ≤ 1025 (consulte esta tabela), e não se conhece nenhum valor de "x" para o qual π("x") > li("x"). Em 1914 Littlewood provou que há valores arbitrariamente grandes de "x" para os quais e também que há valores arbitrariamente grandes de "x" para os quais Assim, a diferença π("x") − li("x") muda de sinal infinitas vezes. O número de Skewes é uma estimativa do valor de "x" correspondente à primeira mudança de sinal. A prova de Littlewood é dividida em dois casos: um em que a hipótese de Riemann é assumida como falsa (cerca de metade de uma página de ), e o outro em que ela é assumida como verdadeira (cerca de uma dúzia de páginas). Stanisław Knapowski deu continuidade a ela ao publicar um artigo sobre o número de vezes que formula_46 muda de sinal no intervalo formula_46. Conjectura do número de classe de Gauss. Esta é a conjectura (considerada pela primeira vez no artigo 303 do "Disquisitiones Arithmeticae," de Gauss) de que há apenas um número finito de corpos quadráticos imaginários com um número de classe dado. Uma maneira de provar isso seria demonstrar que quando o discriminante "D" → −∞ o número de classe "h"("D") → ∞. A seguinte sequência de teoremas envolvendo a hipótese de Riemann é descrito na :Teorema (Hecke; 1918). Seja "D" < 0 o discriminante de um corpo quadrático imaginário "K". Suponha que seja verdadeira a hipótese de Riemann generalizada para "L"-funções de todos os caracteres de de Dirichlet quadráticos imaginários. Então, existe uma constante absoluta "C," tal que Teorema (Deuring; 1933). Se a hipótese de Riemann é falsa, então "h"("D") > 1, para |"D"| suficientemente grande.(Na obra de Hecke e Heilbronn, as únicas "L"-funções que ocorrem são aquelas ligadas aos caracteres quadráticos imaginários, e as suposições a respeito da validade ou falsidade da hipótese de Riemann generalizada referem-se apenas a tais "L"-funções; uma falha da hipótese de Riemann generalizada para uma "L"-função de um caractere de Dirichlet cúbico significaria, a rigor, que a hipótese de Riemann generalizada é falsa, mas este não era o tipo de falha que Heilbronn tinha em mente, assim, sua suposição era mais restrita do que simplesmente dizer que a "hipótese de Riemann generalizada" "é falsa".) Em 1935, Carl Siegel, mais tarde, obteve um resultado mais forte sem fazer qualquer uso da hipótese de Riemann ou de sua generalização. O crescimento da função totiente de Euler. Em 1983, J. L. Nicolas provou que para uma infinidade de valores de "n", em que φ("n") é a função totiente de Euler e γ é a constante de Euler-Mascheroni. Ribenboim observa que: Generalizações e análogos. Séries L de Dirichlet e outros corpos numéricos. A hipótese de Riemann pode ser generalizada substituindo a função zeta de Riemann pelas L-funções, que são formalmente similares, mas muito mais gerais. Neste contexto mais amplo, espera-se que os zeros não-triviais das "L"-funções globais tenham parte real 1/2. São estas conjecturas, ao invés da hipótese de Riemann clássica que considera apenas a função zeta de Riemann especificamente, que são responsáveis pela verdadeira importância da hipótese de Riemann em matemática. A hipótese de Riemann generalizada estende a hipótese de Riemann para todas as funções L de Dirichlet. Em particular, ela implica a conjectura de que os zeros de Siegel (zeros de "L"-funções entre 1/2 e 1) não existem. A hipótese de Riemann estendida estende a hipótese de Riemann para todas as funções zeta de Dedekind de corpos numéricos algébricos. A hipótese de Riemann estendida para extensões abelianas dos racionais é equivalente à hipótese de Riemann generalizada. A hipótese de Riemann também pode ser estendida para as "L"-funções de caráter de Hecke de corpos numéricos. A grande hipótese de Riemann é uma extensão a todas as funções zeta automórficas, tais como as transformadas de Mellin de autoformas de Hecke. Corpos de funções e funções zeta de variedades definidas sobre corpos finitos. introduziu funções zeta globais de corpos de funções (quadráticos) e conjecturou um análogo da hipótese de Riemann para elas, que foi demonstrado por Hasse no caso de genus 1 e por no caso geral. Por exemplo, o fato de que a soma de Gauss, do caráter quadrático de um corpo finito de tamanho "q" (com "q" ímpar), tem valor absoluto formula_50 é na verdade uma instância da hipótese de Riemann no contexto dos corpos de funções. Isso levou a conjecturar algo similar para todas as variedades algébricas; as conjecturas de Weil resultantes foram provadas por . Funções zeta aritméticas de esquemas aritméticos e seus fatores L. As funções zeta aritméticas generalizam as funções zeta de Riemann e Dedekind, bem como as funções zeta de variedades em campos finitos para todo esquema aritmético ou um esquema de tipo finito sobre números inteiros. A função zeta aritmética de um esquema aritmético equidimensional conectado regular com dimensão de Kronecker "n" pode ser fatorada como um produto de fatores L definidos adequadamente e um fator auxiliar (). Assumindo uma equação funcional e continuação meromorfa, a hipótese de Riemann generalizada para o fator L afirma que seus zeros dentro da faixa crítica formula_51 estão na reta central. Da mesma forma, a hipótese de Riemann generalizada para a função zeta aritmética de um esquema aritmético equidimensional conectado regular afirma que seus zeros dentro da faixa crítica estão nas retas verticais formula_52 e seus pólos dentro da faixa crítica estão nas retas verticais formula_53 . Isso é conhecido para esquemas em característica positiva e segue de , mas permanece totalmente desconhecido em característica zero.
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Hidrodinâmica
Hidrodinâmica A hidrodinâmica (ou dinâmica de fluidos) é sub-área da hidráulica. Sendo esta a ciência que trata da mecânica dos fluidos, a hidrodinâmica refere-se especificamente a ciência que trata do movimento dos fluidos — fluxo de líquidos e gases. Refere-se à variáveis que atuam sob os líquidos em movimento, tais quais velocidade, aceleração e força. Tem várias aplicações, incluindo a aerodinâmica, a engenharia naval e dimensionamentos hidráulicos. Devido as características complexas dos fluidos reais, e a consequente dificuldade de equacioná-los, a hidrodinâmica passou a trabalhar com o chamado fluido perfeito — fluido sem atrito, viscosidade, coesão ou elasticidade. Devido a essas simplificações, a hidrodinâmica era, inicialmente, uma ciência com aplicações práticas limitadas. Entretanto, com o desenvolvimento de fórmulas empíricas a partir da experimentação e com o avanço de tecnologias que possibilitaram trabalhar com equações bastante complexas, a hidrodinâmica passou a ser um instrumento de valor prático indiscutível. Modelagem hidrodinâmica. É o ramo da modelagem ambiental e computacional que, usando equações e conceitos da mecânica dos fluidos e da hidráulica, visa representar a dinâmica do escoamento de fluidos em meios naturais e/ou modificados e as diferentes características (velocidade, vazão, coluna d'água, propagação da onda do fluido) do escoamento do fluido nesses meios. Estes modelos quando completos, consistem num agregado de equações diferenciais parciais que, devido à presença de termos não lineares, só admitem soluções analíticas em casos muito simplificados. Os modelos hidrodinâmica, e eles são divididos em:
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Hugh Walpole
Hugh Walpole Hugh Seymour Walpole (13 de Março de 1884 - 1 de Junho de 1941), foi um romancista inglês. Walpole nasceu em Auckland, na Nova Zelândia e estudou em Cambridge na Inglaterra. Antes de se dedicar a tempo inteiro à escrita foi professor. O seu primeiro romance foi "The Wooden Horse" (1909), mas foi com "Fortitude" (1913) que alcançou o seu primeiro grande sucesso. Trabalhou para a Cruz Vermelha na Rússia durante a Primeira Guerra Mundial, em cujas experiências se inspirou para as suas obras "The Dark Forest" (1916) e "The Secret City" (1919), pela qual foi galardoado com o prémio da primeira edição do James Tait Black Memorial Prize. Walpole viveu em Brackenburn Lodge, nas encostas dos "Catbells", no Lake District em Inglaterra, desde 1924 até à sua morte em 1941. Aí escreveu a maior parte das suas obras mais conhecidas, incluindo a saga de família "The Herries Chronicle", de que fazem parte "Rogue Herries" (1930), "Judith Paris" (1931), "The Fortress" (1932) e "Vanessa" (1933), considerada a sua melhor obra. Outro conto dos Herries, "The Church in the Snow", foi publicada no "The Queen's Book of the Red Cross". "Farthing Hall" (1929) foi escrita em colaboração com J.B. Priestley. As suas obras distinguem-se pelo vigor do estilo e pela interessante narrativa. Walpole foi muito popular e obteve com isso enormes recompensas financeiras. Foi um escritor prolífico que abarcou uma grande quantidade de géneros incluindo, contos, romances de escola ("Mr Perrin and Mr Traill", 1911, e a trilogia "Jeremy") que aprofundam a psicologia juvenil, romances de terror góticos ("Portrait of a Man with Red Hair", 1925 e "The Killer & The Slain", 1942), biografia (of Joseph Conrad em 1916, James Branch Cabell em 1920 e Anthony Trollope em 1928), teatro e um guião de cinema ("David Copperfield" de George Cukor, 1935). Walpole foi um membro chave de um exclusivo grupo homossexual da Londres dos anos 1930s, que incluía Noel Coward e Ivor Novello. W. H. Auden também o visitou na década de 1930. Morreu em 1941, quando fazia trabalho voluntário durante a Segunda Guerra Mundial. "Catarina Cristina" é uma obra póstuma. Referências. "Hugh Walpole," por Sir Rupert Hart-Davis, Macmillan & Co, London, 1952
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Heinrich Hertz
Heinrich Hertz Heinrich Rudolf Hertz (Hamburgo, — Bonn, ) foi um físico alemão. Hertz demonstrou a existência da radiação eletromagnética, criando aparelhos emissores e detectores de ondas de rádio. Em sua homenagem a unidade de frequência no Sistema Internacional de Unidades é denominada "hertz" (abreviada como "Hz"). Hertz pôs em evidência em 1888 a existência das ondas eletromagnéticas imaginadas por James Maxwell em 1873. Biografia. Hertz nasceu em Hamburgo a 22 de fevereiro de 1857. Interessou-se desde muito cedo pela construção de mecanismos, tema que sempre o atraiu, mesmo enquanto trabalhou na área da física. Levado por essa sua apetência, frequentou uma faculdade de engenharia durante dois anos. No entanto, a sua vontade de levar a cabo investigação científica fê-lo optar pela física, tendo ingressado na Universidade Humboldt de Berlim em 1878. Obteve, em 1880, num trabalho proposto por Hermann von Helmholtz, seu professor, intitulado "Sobre a Energia Cinética da Electricidade", um resultado excepcional, dada a pesquisa original que efetuara. Torna-se, nesse mesmo ano, assistente de von Helmholtz, ocupação durante a qual estuda a elasticidade dos gases e a propagação de descargas elétricas através deles. Três anos mais tarde, torna-se professor na Universidade de Quiel, onde inicia investigações sobre a eletrodinâmica de Maxwell, a qual se opunha à eletrodinâmica mecanicista e a anteriores teorias sobre a natureza da acção a distância. Muda-se novamente em 1885, desta vez para Karlsruhe, onde lecionou na Escola Politécnica. Casa-se, um ano mais tarde, com Elisabeth Doll, filha de um seu colega professor. A partir de 1883, ano da sua mudança para Quiel, descobre a produção e propagação das ondas eletromagnéticas bem como formas de controlar a frequência das ondas produzidas. Todas essas experiências permitiram-lhe demonstrar a existência de radiação eletromagnética, tal como previsto teoricamente por Maxwell. A respeito das propriedades das ondas eletromagnéticas, que Heinrich Rudolf Hertz passa a estudar, descobriu que a sua velocidade de propagação é igual à velocidade da luz no vácuo, que têm comportamento semelhante ao da luz, e que oscilam num plano que contém a direcção de propagação. Demonstrou também a refracção, a reflexão e a polarização das ondas. Em 1888, apresentou os resultados das suas experiências à comunidade científica, os quais obtiveram o sucesso merecido. Cinco anos mais tarde, no início de 1893, Hertz adoece e é operado de um tumor na orelha. No entanto, no final desse ano, adoece de novo e, no dia 1 de Janeiro de 1894, antes de completar 37 anos, morre de bacteremia. Está sepultado no Cemitério de Ohlsdorf, Hamburgo, Alemanha.
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Hans Christian Ørsted
Hans Christian Ørsted Hans Christian Ørsted (Rudkøbing, — Copenhaga, ) foi um físico e químico dinamarquês. É conhecido sobretudo por ter descoberto que uma corrente elétrica DC pode desviar a agulha magnética de uma bússola colocada nas suas proximidades, o que marca o início do Eletromagnetismo. As suas descobertas moldaram a filosofia pós-kantiana e os avanços na ciência durante o final do século XIX. Foi também o primeiro pensador moderno a descrever explicitamente e denominar a experiência mental. Juventude e estudos. Ørsted desenvolveu o seu interesse pela ciência enquanto jovem devido ao seu pai, Søren Christian Ørsted, que era dono de uma farmácia. Ele e o seu irmão, Anders Sandøe Ørsted, receberam a maior parte da sua educação inicial em casa como autodidatas, partindo para Copenhague em 1793 com o fim de realizar os exames de entrada na Universidade de Copenhague. Ambos os irmãos passaram e distinguiram-se academicamente na Universidade. Por volta de 1796, Ørsted recebeu honrarias pelos seus artigos sobre estética e física. Em 1801, Hans recebeu uma bolsa de estudo para viajar e um subsídio estatal que lhe possibilitaram passar três anos viajando pela Europa. Na Alemanha conheceu Johann Wilhelm Ritter, um físico que acreditava na existência de uma ligação entre electricidade e magnetismo. A existência dessa ligação fez sentido para Ørsted, uma vez que acreditava na unidade da natureza, e, como tal, que haveria necessariamente uma ligação entre muitos fenómenos naturais. As conversações entre ambos levaram Ørsted ao estudo da física. Tornou-se professor na Universidade de Copenhague em 1806 e continuou a sua pesquisa sobre a corrente eléctrica e a acústica. Sob a sua orientação, a Universidade desenvolveu um programa de física e química ampliado e instituiu novos laboratórios. Electromagnetismo. Enquanto se preparava para uma palestra na tarde de 21 de abril de 1820, Ørsted desenvolveu uma experiência que forneceu evidências que o surpreenderam. Enquanto preparava os seus materiais, reparou que a agulha de uma bússola deflectia do norte magnético quando a corrente eléctrica da bateria que estava a usar era ligada e desligada. Esta deflexão convenceu-o que os campos magnéticos radiam a partir de todos os lados de um fio carregando uma corrente eléctrica, tal como ocorre com a luz e o calor, e que isso confirmava uma relação directa entre electricidade e magnetismo. À época desta descoberta, Ørsted não sugeriu nenhuma explicação satisfatória para o fenómeno, nem tentou representá-lo numa estrutura matemática. No entanto, três meses mais tarde deu início a investigações mais intensivas. Pouco depois publicou as suas descobertas, provando que a corrente eléctrica produz um campo magnético à medida que flui através de um fio. A unidade CGS da indução eletromagnética (Oersted) foi assim designada em honra dos seus contributos no campo do electromagnetismo. As suas descobertas resultaram numa pesquisa intensa em electrodinâmica por parte da comunidade científica, influenciando o desenvolvimento de uma forma matemática única que representasse as forças magnéticas entre condutores portadores de corrente por parte do físico francês André-Marie Ampère. As descobertas de Ørsted representaram também um grande passo em direcção a um conceito de energia unificado. Alumínio. Em 1825, Ørsted deu um contributo significativo à química ao produzir alumínio pela primeira vez. Embora uma liga metálica alumínio-ferro tenha sido anteriormente desenvolvida pelo cientista e inventor britânico Humphry Davy, Ørsted foi o primeiro a isolar o elemento através da redução do cloreto de alumínio. Poesia. Ørsted foi também um poeta e escritor com obras publicadas. A sua série poética "Luftskibet" ("A Aeronave") foi inspirada pelos voos de balão do seu amigo físico e mágico de cena Étienne-Gaspard Robert. Morte e legado. Ørsted morreu em 1851, e foi enterrado no Cemitério Assistens em Copenhaga. A nota de 100 coroas dinamarquesas lançada de 1950 a 1970 apresenta uma gravura de Ørsted. Actualmente, os edifícios que abrigam o Departamento de Química e o Instituto de Ciências Matemáticas da Universidade de Copenhaga são designados por "Instituto Hans Christian Ørsted" em sua homenagem. O primeiro satélite dinamarquês, lançado em 1999, foi designado 'Danny Kaye' Ørsted também em sua honra. Em 14 de agosto de 2009 o Google comemorou o seu nascimento apresentando um logótipo temático dedicado a Christian Ørsted.
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Hertz
Hertz O hertz (símbolo Hz) é a unidade de medida de frequência derivada do Sistema Internacional (SI), a qual expressa, em termos de ciclos por segundo, que descreve qualquer evento periódico, oscilações (vibrações) ou rotações por segundo (formula_1−1 ou formula_2). Um dos seus principais usos é descrever ondas senoidais, como as de rádio ou sonoras. O seu nome foi em homenagem ao físico alemão Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894). Definição. 1 Hz significa 1 ciclo (oscilação) por segundo, 100 Hz significa 100 ciclos por segundo, e assim por diante; a frequência de uma onda só muda se houver alterações na fonte. Conforme o Comitê Internacional de Pesos e Medidas (do francês: "Comité International des Poids et Mesures"), o padrão empregado é a transição entre níveis hiperfinos F = 4, M = 0 e F = 3, M = 0 no estado fundamental S do átomo césio 133 sem perturbação de campos externos, a essa frequência de transição é atribuído o valor de  hertz", assim definindo "hertz" e "segundo" simultaneamente. O hertz aplica-se à descrição de qualquer evento periódico. Por exemplo, o coração de um humano saudável em repouso bate a aproximadamente 1,2 Hz (1,2 batidas por segundo). A "frequência" de eventos estocásticos aperiódicos, como decaimento radioativo, é expressa em Becquerel. Mesmo que velocidade angular e hertz tenham dimensão de 1/segundo, velocidade angular não é medida em hertz, mas em uma unidade apropriada para velocidade angular de radianos por segundo. Um disco que tenha uma frequência de rotação medida em 60 RPM (Rotações por minuto), pode ter sua frequência de rotação expressa por 1 Hz ou 2π rad/s, onde rads/segundo expressa a velocidade angular e Hz o número de voltas completas em 1 segundo. A conversão entre frequência f em hertz e velocidade angular ω em radianos por segundo é: formula_3 formula_4. Escrita. Em português a forma "hertz" é aplicável tanto no singular como no plural. Como em todas as unidades do SI, cujo nome é derivado de um nome próprio de uma pessoa, a primeira letra do símbolo é maiúscula (Hz). Quando escrito por extenso, a primeira letra é minúscula a não ser em início de frase ou por outro motivo, como fazer parte do título, por exemplo. Note que "graus Celsius" está em conformidade com a regra, pois o g de grau está em minúsculo. O Acordo Ortográfico de 1990, em concreto a parte relativa à utilização do hífen, parece indicar que os múltiplos e submúltiplos de "hertz" passaram a ser hifenizados. Por exemplo, "mega-hertz", e não "megahertz". História. O hertz é nomeado em homenagem ao físico alemão Heinrich Rudolf Hertz, que fez grandes contribuições científicas na área do eletromagnetismo. O nome da unidade foi estabelecido na Comissão Eletrotécnica Internacional ("International Electrotechnical Commission") em 1930 e foi adotado na Conferência Geral de Pesos e Medidas ("Conférence générale des poids et mesures") em 1960 substituindo, assim, o nome 'ciclos por segundo' (CPS), juntamente com seus múltiplos, quilociclos por segundo (kc/s), megaciclos por segundo (Mc/s) e assim por diante. O termo ciclos por segundo foi amplamente substituído por "hertz" apenas na década de 1970. Principais aplicações. Vibração. O som viaja numa onda que nada mais é que oscilação de pressão. Os humanos percebem a frequência de vibração das ondas sonoras como um tom. Cada nota musical corresponde a uma frequência em particular, que pode ser medida em hertz. O ouvido de um bebê percebe frequências entre 20 Hz até  Hz; enquanto o ouvido de um humano adulto percebe entre 20 Hz e  Hz. O ultrassom, o infrassom e outras vibrações físicas como vibrações moleculares encontram-se fora deste intervalo. Radiação eletromagnética. A radiação eletromagnética muitas vezes é descrita por sua frequência — número de oscilações elétricas e magnéticas perpendiculares por segundo — expressa em hertz. As frequências das ondas eletromagnéticas de rádio normalmente são medidas em quilo-hertz, mega-hertz ou giga-hertz; então as emissoras de rádio são normalmente rotuladas com kHz, MHz e GHz. A luz também é radiação eletromagnética, tendo frequências no campo das dezenas aos milhares de tera-hertz (infravermelha e ultravioleta nos respectivos extremos). Radiações eletromagnéticas com frequências de poucos tera-hertz (entre as frequências mais altas de rádio e as mais baixas de luz infravermelha) muitas vezes é chamada de radiação tera-hertz. Existem frequências ainda mais altas que a luz ultravioleta, como os raios gamma, que pode ser medido em exa-hertz. Computação. Em computação, a maioria das unidades de processamento central (CPU) são classificadas em termos de número de "clock", normalmente medida em mega-hertz ou giga-hertz. Esse número refere a frequência do sinal temporizador mestre. Esse sinal é uma voltagem elétrica que muda de baixa pra alta e diminui de novo em intervalos regulares. O "clock" medido em hertz se tornou, para o senso comum, a principal unidade para medir desempenho de um processador, mas a maioria dos especialistas critica essa visão. Os processadores passaram de apenas 1 mega-hertz nos anos 70 para até 6 GHz no presente (processadores IBM POWER). Outros componentes de computador, como northbridge e memórias também operam em frequências que podem ser medidas em mega-hertz. Monitores CRT tem taxas de renovação de tela medidas em hertz, sendo o ideal 60 hertz ou mais. Múltiplos. Sendo uma unidade do SI pode receber prefixação:
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História da China
História da China Os primeiros registros escritos conhecidos da história da China datam de 1250 a.C., da Dinastia Shang. Textos históricos antigos como os Registros do Grande Historiador (c. 100 a.C.) e os Anais do Bambu (296 a.C.) descrevem uma Dinastia Xia (c. 2070–1600 a.C.) antes dos Shang, mas nenhuma escrita é conhecida do período, e os escritos de Shang não indicam a existência da Dinastia Xia. Documentos que datam do século XVI a.C. em diante é que demonstram que aquele país é uma das civilizações mais antigas do mundo com existência contínua. Os estudiosos entendem que a civilização chinesa surgiu em cidades-Estado no vale do rio Amarelo. O ano 221 a.C. costuma ser referido como o momento em que a China foi unificada na forma de um grande reino ou império, apesar de já haver vários estados e Dinastias antes disso. As Dinastias sucessivas desenvolveram sistemas de controle burocrático que permitiriam ao imperador chinês administrar o vasto território que viria a ser conhecido como a China. A fundação do que hoje se chama a civilização chinesa é marcada pela imposição de um sistema de escrita comum, criado pela Dinastia Qin no século III a.C., e pelo desenvolvimento de uma ideologia estatal baseada no confucionismo, no século II a.C. Politicamente, a China alternou períodos de unidade e fragmentação, sendo conquistada algumas vezes por potências externas, algumas das quais terminaram assimiladas pela população chinesa. Influências culturais e políticas de diversas partes da Ásia, e mais tarde algumas da Europa levadas por ondas sucessivas de imigrantes, fundiram-se para criar a imagem da atual cultura chinesa. Pré-história. Na pré-história, a China foi habitada, entre 550 mil a 300 mil anos antes de Cristo, pelo "Homo erectus", antepassado do Homo sapiens cujo um dos espécimes mais famoso é o Homem de Pequim, descoberto em 1927 em Zhoukoudian que usava instrumentos de pedra e o fogo. Os primeiros indícios de fogo são de 460 mil anos atrás pelo Homo Erectus, sessenta mil anos depois alimentavam-se de carne, nozes e bagas. Também foram descobertos restos de alimentos de frutos selvagens, especialmente ginginha do rei, juntamente com rebentos de plantas e tubérculos, insetos, répteis, aves, ovos, ratos e grandes mamíferos. Viviam em grutas, em abrigos nos rochedos e acampamentos ao ar livre. Os caçadores-coletores primitivos de 200 mil anos atrás moviam-se de um sítio a outros aproveitando os diversos e diferentes recursos sazonais Entre 200 a 50 mil anos a.C. o Homo sapiens passou a habitar algumas regiões do que hoje conhecemos como China e o mais recente, o Homo Sapiens Sapiens esteve em Zhoukoudian 40 mil anos a.C.. Também esteve no mesmo sítio o Homo Erectus, há meio milhão de anos. Os Homo sapiens fixaram-se no nordeste da China há cerca de 25 mil anos, após a parte mais quente do sul já ter sido explorada. Neolítico. No início do período Neolítico, que na China é entre 8000 e 2000 a.C, o clima da Ásia Oriental era tropical. O Norte chinês possuía densas florestas, onde havia crocodilos e elefantes. Descobertas arqueológicas recentes revelaram que várias culturas regionais efetuaram separadamente a transição da recoleção para a produção de alimentos. Nelas incluem-se as culturas de Yangshao no curso médio do rio Amarelo, que cultivava painço e outros cereais a 6500 a.C, talvez 7000 e também tinha galinhas e porcos, a Dawenkou em Shandong. Os agricultores do norte chinês tinham de enfrentar secas e cheias frequentes, apesar dessas dificuldades a sofisticada cultura da aldeia de Yangshao usava uma forma primitiva de irrigação, estava florescente em 5000 a.C. e tinha 100 casas. A Majiabang no curso inferior do rio Yangzi (Iansequião) e a Dapenkeng ao longo da costa sul e de Taiwan. A cultura Majiabang emergiu no sexto milénio a.C. e caracterizou-se pelo cultivo de arroz, cerca de 6500 a.C., apesar de já o terem aclimatado 1500 anos antes e de se pensar que já era cultivado em 8500 a.C.. A agricultura chinesa tornou-se bem organizada e intensiva ao longo dos séculos seguintes, especialmente no sul. já possuindo porcos e búfalos aquáticos e pelo uso da cerâmica com motivos gravados por incisão. Perto da costa chinesa o cultivo de tubérculos como o inhame e o taro foi acompanhado pelo surgimento de alfaias mais complexas para cavar e pintar. Em Hemudu. No sudeste da China, em Hemudu tinha sido descoberta uma povoação neolítica de 5000 a.C.. As descobertas incluem peças de terracota, artigos de madeira e osso e ossadas de porcos e búfalo, havia igualmente apitos feitos com ossos de aves, possivelmente destinados a atrair pássaros a armadilhas. A descoberta com maior importância foi a de que o povo de Hemedu se dedicava à orizicultura. Em Bampo. O sítio arqueológico mais conhecido em Bampo, perto de Xi'an e foi ocupado a partir de 4500 a.C.. até 3750 a.C. Bampo tinha 45 casas, mais ou menos, e os seus habitantes cultivavam painço, possuíam cães e porcos e produziam cerâmica que além de decorada ocasionalmente possuía marcas gravadas. Cerâmica. Como marcas iguais têm sido descobertas em cerâmicas em outros locais da região, foi sugerido que elas não seriam simples marcas de oleiro mas um estágio inicial da criação de caracteres chineses, sugestão algo polémica. Também foram descobertos fragmentos de outro tipo de cerâmica, conhecida como cerâmica de Longshan, descoberta em Chengziyai, no noroeste da província de Shadong. Em vez de ser vermelha e às vezes pintada com representações estilizadas de pássaros e flores como a de Yangshao, não era pintada, era mais delicada e elevada numa base circular ou assente em três pés. O provável é que as duas culturas se desenvolveram isoladamente e que a cultura de Longshan, que se espalhou largamente na Ásia Oriental, se espalhou lentamente até à Planície Central, onde a tradição da cerâmica pintada já começara a esmorecer. Abrigos. Os agricultores iniciais do norte da China construíram aldeamentos semi-permanentes, movendo-se quando precisavam de novas terras e voltando mais tarde a seguir da terra recuperar a fertilidade. As casas, em concavidades ou ao nível do solo, redondas ou quadradas, como paredes de taipa e telhados de colmo feitos de camadas canas e argila e hastes de painço, sustentados por traves. Ornamentos de osso. No norte chinês e na Manchúria os primeiros ornamentos pessoais são de cerca de 7500 a.C.. Os caçadores que os criaram faziam agulhas e furadores de ossos de tigre, de leopardo, de urso e de veado e inscreviam desenhos em bocados de chifre. Perfuravam dentes de texugo e de outros animais, fazendo colares com eles, medalhões e brincos. História antiga. Dinastia Xia. A Dinastia Xia é algo mítico. A tradição chinesa diz que os humanos têm a sua origem nos parasitas do corpo do criador, Pangu. A seguir ao seu óbito governantes sábios introduziram as invenções e instituições fundamentais da sociedade humana. O primeiro governante chamava-se Fuxi, que domesticou os animais e instituiu o casamento. Depois foi Shennong, que introduziu a agricultura, a medicina e o comércio. Mais tarde veio Huangdi, o Imperador Amarelo, a quem foi atribuída a invenção da escrita, da cerâmica e do calendário. Séculos mais tarde surgiu o imperador Yao que governou sabiamente e introduziu o controle de cheias. O seu feito mais notório foi a sua decisão de não eleger o filho como futuro imperador, por não o considerar digno, mas um sábio humilde de nome Shun. Os reinados de Shun e Yao seriam mais tarde admirados como uma idade dourada. Voltando ao tema, Shun nomeou por sua vez o seu fiel ministro Yu como sucessor. É nesta altura que a pré-história da China se funde com a história. O reinado de Yu teve segundo a tradição início em 2205 a.C., Yu terá alegadamente fundado a Dinastia Xia, a primeira das três Dinastias da China antiga: Xia, Shang e Zhou. Quando as escavações arqueológicas se iniciaram, na década de 20 do século passado, a visão tradicional da Dinastia Xia foi desafiada e Yu foi reduzido a figura mítica. Mais recentemente, a posição da Dinastia Xia foi restaurada, não como a primeira de uma série de Dinastias mas como o mais poderoso de muitos pequenos estados existentes ao longo do vale do rio Amarelo, coexistindo com os estados Shang e Zhou iniciais. O estado Xia que existiu aproximadamente entre 1900 e 1350 a.C., foi identificado com a localidade de Erlitou, na província de Henan, local onde têm sido escavados edifícios apalaçados e túmulos e os mais antigos recetáculos de bronze até hoje conhecidos foram encontrados. A árvore genealógica dos seus governantes foi mantida nos "Shiji", os "Registos Históricos" compilados por Sima Qian, grande historiador chinês, e futuramente provados por inscrições em ossos oraculares. Em 1900 a.C. foi o ano das primeiras cidades descobertas na China. Diz-se que Jie, o último rei da Dinastia, foi um rei corrupto. Ele foi deposto por T'ang, o lider do povo de Shang, localizado mais ao leste. Dinastia Shang. O registro mais antigo do passado da China data da Dinastia Shang (ou Chang), possivelmente no século XIII a.C., na forma de inscrições divinatórias em ossos ou carapaças de animais, segundo a tradição chinesa começou em 1766 e acabou em 1122 a.C. A Dinastia Shang teve uma série de capitais das quais a mais importante era Zhengzhou, capital durante o período inicial e intermédio da Dinastia que tinha uma muralha com cerca de 6,4 km de comprimento e 10 metros de altura que protegia um grande povoado, e Anyang ocupada entre 1300 e 1050 a.C.. As casas e oficinas ali (em Zhengzhou) encontradas indicam que a sociedade Shang era altamente organizada e socialmente estratificada. Nos arredores de Anyang, em Xiaotun, foram descobertos indícios do que teria sido o centro cerimonial e administrativo do estado Shang na sua fase tardia. Em Xibeigang, 3 quilómetros a norte foram descobertos 11 grandes túmulos cruciformes que podiam pertencer aos 11 monarcas Shang, que segundo os registos existentes teriam reinado em Anyang. Governantes Shang. Os governantes Shang faziam um importante papel cerimonial, mas também se ocupavam da administração do estado e eram servidos por funcionários com funções especializadas. Eram apoiados por vários clãs aristocráticos com os quais tinham relações de parentesco ou de matrimónio. A aristocracia dedicava-se a artes militares e lutava com carros puxados a cavalo. A relação entre os Shang e os clãs era pessoal mas formalizada através de cerimónias de investidura, nos quais o rei podia pedir serviços aos clãs, laborais e militares. Os Shang bem como os seus apoiantes da aristocracia levavam a cabo campanhas agressivas contra os vizinhos, obtendo prisioneiros e saques. Também se expandiam graças a mandatos para a criação de novos povoados e da disponibilização de novas zonas para a agricultura. Com estes meios o estado Shang expandiu-se do seu núcleo territorial junto ao rio amarelo até ao vale do rio Wei até a atual província de Shanxi. Relações dos Shang com outros. Os Shang formaram relações com um estado chamado Shu, o que talvez signifique que uma cultura se desenvolveu de forma independente na província de Sichuan. Economia Shang. A base económica do estado Shang era a agricultura e a sua colheita mais importante era o milhete (ou painço). O clima da planície do norte chinês era então mais tropical e arborizado, necessitando assim de uma grande quantidade de mão de obra para a libertar para a agricultura. Afirma-se muitas vezes, especialmente por historiadores marxistas, como Guo Moruo, que a mão de obra utilizada normalmente era escrava e que a sociedade Shang devia ser considerada como o estágio esclavagista da evolução social chinesa. Tal ideia tem sido motivada por indícios de sacrifícios humanos que faziam parte das cerimónias funébres da realeza, e por certas inscrições oraculares. Há pouco tempo Jun Li sugeriu que não a maioria da população não era composta por escravos, no sentido de serem comprados e vendidos, e que esta usufruía de liberdade individual. No entanto era obrigada a trabalhos coercivos, como a construção de muralhas e tarefas agrícolas, sendo também recrutada para serviços militares. Fragmentos de ossos oraculares. Muita da informação disponível da sociedade Shang chegou até nós graças a inscrições feitas em omoplatas de bovinos, ou com menos regularidade, em carapaças de tartarugas. Diziam que eram "ossos de dragão" e eram reduzidos a pó para fins medicinais. Foram descobertos mais 200 mil fragmentos do ossos oraculares em Xiaotun. Os osso oraculares revelam nos as mais variadas coisas sobre o estado Shang. Usavam de 3 mil grafemas diferentes e incluíam uma semana de dez dias e um ciclo de 60 dias. Metalurgia chinesa Shang. Os indícios acumulados nos últimos anos apoiam a teoria da descoberta independente da metalurgia na China e da rápida transferência de técnicas cerâmicas para a manufatura de objetos em bronze. A produção e utilização do bronze era controlada pelo rei. A quantidade de objetos encontrados demonstra que a extração de minério e a manufatura de peças constituíam grandes indústrias. Os recipientes Shang iniciais eram fundidos em moldes distintos sendo as várias partes posteriormente unidas. Uma indústria em pequena escala surgiu em Gansu por volta do ano 2000 a.C.. Este método foi a base sobre o qual se desenvolveu a produção de bronze em grande escala. Túmulos. Os reis Shang eram sepultados em grandes túmulos cruciformes, cuja escavação exigia o trabalho de centenas de pessoas. Os cadáveres eram postos em caixões de madeira rodeados por objetos funerários. Nas rampas que conduziam ao fundo do túmulo encontravam-se cadáveres humanos e de cavalos. No complexo de túmulos em Anyang, onde estão os cemitérios de Xibeigang e Xiaotun, pode-se perceber uma expessão clara da capacidade organizacional da sociedade Shang para fins de sepultamento ritual, assim como expressões da estratificação social da sociedade Shang. Acredita-se, por exemplo, que não apenas o tamanho dos túmulos, mas também seu formato (retangular ou cruciforme), o número de rampas e até mesmo a proximidade para com as tumbas dos reis representavam complexas relações de hierarquização da sociedade Shang. Dentre as tumbas encontradas no complexo de Anyang, a que deixou maior vestigío material foi a tumba de , pois foi a única tumba de alguém próximo à realeza que sobreviveu intacta, até 1975, quando foi escavada. A tumba é de uma das eposas do rei Wu Ding. Dentre os objetos encontrados na tumba estavam 195 vasos rituais de bronze, 271 armas, ferramentas e outros objetos com um peso combinado de cerca de 1600kg, 755 jades, 564 objetos de osso entalhado, 499 presilhas de osso, dois copos de marfim, entre outros objetos. Religião. Graças as provas pode se ter uma ideia da religião Shang. O povo Shang adorava vários deuses, dos quais muitos eram ascendentes da realeza. Outros eram espíritos da Natureza, e ainda outros possivelmente derivassem de mitos populares ou de cultos locais. O culto dos ancestrais era praticado por grande parcela da população e permaneceu uma parte essencial do culto religioso até os tempos modernos. Um estudo recente mostra que Di significava "deuses" coletivamente e apenas com os Zhous surgiria a ideia de um deus principal. Os indícios descobertos nos túmulos mostra-se claro que acreditavam na vida depois da morte, e as perguntas oraculares podem ter sido dirigidas a antepassados falecidos. A corte Shang pode ter sido frequentada por Xamãs e, possivelmente, o próprio rei fosse um líder religioso, de forma similar ao que ocorria com outras civilizações antigas da mesma época, como os reis mesopotâmicos e faraós do Antigo Egito. Se estas opiniões estiverem certas o caráter da religião Shang era muito diferente da abordagem racional das escolas filosóficas que tornariam-se preponderantes durante o período Zhou. Os historiadores chineses de períodos posteriores habituaram-se à noção de que uma Dinastia sucedia a outra, mas sabe-se que a situação política na China primitiva era muito mais complexa. Alguns acadêmicos sugerem que os xias e os shangs talvez fossem entidades políticas que co-existiram, da mesma maneira que os zhous foram contemporâneos dos shangs. Alimentação. A soja foi introduzida em 1200 a.C.. Dinastia Zhou. Segundo a tradição a Dinastia Zhou reinou entre 1122 e 256 a.C.. Este período enorme é divido em Zhou Ocidental, de 1122 a 771 a.C., e Zhou Oriental, estando este ainda subdivido nos períodos de Primavera e Outono, de 771 a 481 a.C., e dos Estados Combatentes, de 481 a 221 a.C.. A capital dos Zhou era perto da atual Xi'an. No apogeu do poder dos Zhou a China chegava tão a norte como a Mongólia. Na tradição historiográfica chinesa, os líderes de Zhou dissiparam a família Yin (Shang) e legitimaram seu domínio invocando o Mandato do Céu - noção segundo a qual o rei (o " filho do céu ") governava por direito divino, mas a perda do trono indicaria que ele havia perdido o tal direito. O Mandato do Céu estabelecia que os Zhou assumiam ascendência divina (Tian-Huang-Shangdi) sobre a ascendência divina dos Shang (Shangdi). A doutrina explicava e justificava o fim da Dinastia Xia e Dinastia Shang, ao mesmo tempo que dava suporte à legitimidade dos governantes atuais e futuros. A Dinastia Zhou foi fundada pela família Ji e tinha sua capital na cidade de Hao (ou Haojing, próxima da atual Xi'an). Possuindo o mesmo idioma e uma cultura similar à dos Shang, os primeiros reis Zhou, através da conquista e colonização, gradualmente estenderam a cultura chinesa pelas terras bárbaras das Planíces Centrais. Segundo o "Shujing, o Livro dos Documentos" a queda dos Shang foi devida aos erros do seu último governante, Zhou. Resultante da queda dos Shang o Mandato do Céu foi-lhes retirado. O rei Wen passou a ser considerado um expoente de virtude e o seu filho, o rei Wu, venceu os Shang numa batalha num sítio chamado Muye. Os documentos indicam que os Zhou faziam parte uma aliança de oito nações e eles ganharam porque as tropas Shang se revoltaram por causa da crueldade do seu líder. Tudo isto se passou cerca de 1045 a.C., cerca de 80 anos depois da data do costume considerada como a queda dos Shang. Um pouco mais tarde, possivelmente em 1043 a.C., o rei Wu faleceu, sucedendo-lhe o filho, decisão diferente da adotada na Dinastia Shang, onde a sucessão era feita por um irmão. Os Zhou tem sido considerados feudais. Na historiografia Ocidental, o período Zhou é usualmente descrito como feudal, pois o descentralizado sistema dos Zhou se assemelhava ao sistema medieval europeu. Entretanto, historiadores debatem acerca do termo "feudal", surgido para referir-se a um contexto puramente e especificamente europeu. Portanto, o termo mais apropriado para classificar o sistema político dos Zhou seria da própria língua chinesa: sistema "Fengjian". A organização do território era feita com base em estados subordinados, governados por homens eleitos pelo rei, geralmente conselheiros e generais de confiança, e por seus herdeiros. Os estados pagavam tributos à capital, onde o Filho do Céu governava como monarca absoluto. Também deviam fornecer soldados em tempo de guerra. No entanto, toda essa organização existiu de fato apenas durante o Período Zhou Ocidental, após o qual perdeu sua relevância com o declínio do poder real diante dos estados ascendentes. Origem e localização. Muito tempo antes da queda dos Shang, os Zhou apareceram como um estado poderoso a ocidente do principal centro de atividades Shang. A origem do povo Zhou não é clara. Segundo Mêncio, um discípulo de Confúcio, "o rei Wen era um bárbaro ocidental", a teoria que os Zhou teriam origem turca tem ganho algum apoio. No entanto não há apoios linguísticos que assinalem uma origem distante. Uma teoria mais equilibrada sugere que a sua origem seria o vale do rio Fen, na província de Shanxi, tendo os Zhou migrado mais tarde para o vale do rio Wei, a oeste de Xi'an, na adjacente província de Shanxii. Lá, na proximidade do estado Shang, eles acabaram por adotar muitos aspectos da cultura vizinha, um processo que lhes permitiu adquirir técnicas administrativas que tornou mais fácil a tomada de poder. Período das Primaveras e dos Outonos. No século VIII a.C., o poder político tornou-se descentralizado, durante o chamado Período das Primaveras e dos Outonos, cujo nome advém dos Anais das Primaveras e dos Outonos. Naquele período, chefes militares locais empregados pelos Zhous começaram a agir com autonomia e a disputar a hegemonia. A situação agravou-se com a invasão de outros povos a partir de nordeste, como os qins (ou chins), o que forçou os Zhous a mover sua capital a leste, para Luoyang. Isto marca a segunda grande fase da Dinastia Zhou: os Zhous Orientais. Em cada uma das centenas de Estados que vieram a surgir (alguns meros vilarejos com um castelo), potentados locais detinham a maior parte do poder político e sua subserviência aos reis Zhous era apenas nominal. Este período foi marcado por batalhas e anexações entre uns 170 pequenos estados. O lento progresso da nobreza resultou num aumento na alfabetização; o incremento na alfabetização estimulou a liberdade de pensamento e o avanço tecnológico. Este período viu surgir movimentos intelectuais e filosóficos influentes como o confucionismo, o taoísmo, o legalismo e o moísmo, parcialmente como reação às mudanças políticas da época. Para efeito comparativo este período poderia ser comparado com o período das cidades-estados da Grécia Antiga da mesma época, devido a descentralização política e grande desenvolvimento de escolas filosóficas. À medida que a era continuava, estados maiores e mais poderosos anexavam ou reivindicavam suserania sobre os menores. Por volta do século VI a.C, a maioria dos pequenos estados havia desaparecido e apenas alguns grandes e poderosos principados dominavam a China. Alguns estados do sul, como Chu e Wu, reivindicaram a independência dos Zhou, com seus líderes se auto-proclamando reis, o que levou os Zhou a reagirem empreendendo guerras contra alguns deles (Wu e Yue). Período dos reinos combatentes. Após um processo de consolidação política, restavam, no final do século V a.C., sete Estados proeminentes. A fase durante a qual estas poucas entidades políticas combateram umas contra as outras é conhecida como o Período dos Reinos Combatentes. Durante este período, existiam sete reinos combatentes: Qin, Qi, Zhao, Han, Wei, Chu e Yan. Além desses sete estados principais, outros estados menores sobreviveram no período. Eles incluem: o Território Real do Rei Zhou e os estados de Yue, Zhongshan, Song, Lu, Zheng, Wey, Teng e Zou e no extremo sudoeste, os estados não-Zhou de Ba e Shu. O Reino de Qin acabou por conquistar todos no final do período, ficando a China unificada sob um mesmo governo e o mesmo sistema de escrita e de pesos e medidas. A figura de um rei zhou continuou a existir até 256 a.C., mas apenas como chefe nominal, sem poderes concretos. A fase final deste período começou durante o reinado de Ying Zheng, rei de Qin. Após lograr a unificação dos outros seis Estados e anexar outros territórios nos atuais Zhejiang, Fujian, Guangdong e Guangxi em 214 a.C., proclamou-se o Primeiro Imperador (Qin Shi Huangdi). China Imperial. Dinastia Qin (221 – 206 a.C.). Os historiadores costumam denominar de China Imperial o período entre o início da Dinastia Qin (também chamada Dinastia Chin) (século III a.C.) e o fim da Dinastia Qing (no começo do século XX). Em 230 a.C, o Estado Qin iniciou as várias campanhas que levaram à unificação da China. Os outros estados formaram alianças para tentarem impedir o seu avanço, e em 227 a.C. houve uma tentativa de assassinato do rei Ying Zheng. Os esforços de resistência fraquejaram e em 221 a.C o rei Zheng do estado Qin assumiu o título de Qin Shi Huangdi, primeiro imperador da Dinastia Qin. Embora seu reinado sobre uma China unificada tenha durado apenas doze anos, o imperador Qin logrou subjugar grande parte do que se constitui no cerne das terras hans chinesas e uni-las sob um governo altamente centralizado com sede em Xianyang (a atual Xian). A doutrina do legalismo, pela qual se orientava o imperador, enfatizava a observância estrita de um código legal e o poder absoluto do monarca. Tal filosofia, embora muito eficaz para expandir o império pela força, mostrou-se inservível para governar em tempo de paz. Os qins promoveram o silenciamento brutal da oposição política, cuja epítome foi o incidente conhecido como a queima de livros e o sepultamento de acadêmicos (vivos). A Dinastia Qin é famosa por ter iniciado a Grande Muralha da China, que foi posteriormente ampliada e aperfeiçoada durante a Dinastia Ming. Incluem-se entre as demais contribuições dos qin a unificação do direito chinês, da linguagem escrita e da moeda da China, bem-vindas após as tribulações dos períodos da Primavera e do Outono e dos Reinos Combatentes. Até mesmo algo tão prosaico como o comprimento dos eixos das carroças teve que ser uniformizado de modo a permitir um sistema comercial viável que abrangesse todo o império. Muitos autores defendem que a reunificação da China sob um governo burocrático nessa ocasião se deveu em certa medida aos constantes ataques das tribos nômades do norte dirigidos para pilhar os bens da civilização chinesa, que aumentaram consideravelmente a partir do século III a.C.. Com apenas 13 anos o imperador Qin Shi Huangdi ordenou a construção de sua própria tumba, apresentando um complexo tumular embaixo do monte Li a cerca de 25 km de de Xi'an. Nesse complexo é onde está localizado o exército de terracota, composto por três covas, contendo ao todo cerca de 8000 figuras de terracota - originalmente pintadas -, sendo entre estas: soldados, músicos, acrobatas, arqueiros e cavalos em diversos postos hierárquicos. Essas estatuas são de tamanho real apresentando, estando em formação de batalha, possuindo armas reais de bronze. Segundo Sima Qian foi necessário cerca de 700 mil homens para trabalhar nessa construção, sendo entre artesãos e escravos de outras regiões. O sistema burocrático do Estado legalista foi aplicado para a construção do Mausoléu, tendo um controle de qualidade sobre as produções das estatuas. Uma parte da população era alfabetizada, como artesãos, assinando suas obras como uma forma de selo para o controle de qualidade do Estado. Exatamente pela forma de governo instituída pelos Qin, extremamente centralizada na pessoa do imperador, as coisas deixaram de funcionar com a morte de Zheng em 210 a.C. O sucessor legítimo do primeiro imperador foi assassinado por seu irmão mais jovem. O Segundo Imperador, Qin Er Shi, por sua vez, foi assassinado por um de seus ministros, Li Si em 208 antes de Cristo. Li Si foi morto em 207 a.C., assim como o ministro e o imperador que assumiram posteriormente. A massa campesina e alguns dos antigos nobres, diante dessa situação, participaram de sublevações contra o governo. Liu Bang (mais conhecido como Gaozu), um funcionário do Império, derrubou o governo da família Ying (Dinastia Qin) e declarou-se imperador sob a Dinastia de Han em 202 a.C.. Dinastia Han (202 a.C. – 220 d.C.). A Dinastia Han emergiu em 202 a.C., como a primeira a adotar a filosofia do confucionismo, que se tornou a base ideológica de todos os regimes chineses até o fim da China Imperial. A Dinastia Han foi governada pela família conhecida como o clã de Liu. Durante esta fase dinástica, a China logrou grandes avanços nas artes e nas ciências. O Imperador Wu consolidou e ampliou o império ao expulsar os "xiongnus" (que alguns identificam com os hunos) para as estepes do que é hoje a Mongólia Interior, tomando-lhes o território correspondente às atuais províncias de Gansu, Ningxia e Qinghai. Isto permitiu abrir as primeiras ligações comerciais entre a China e o Ocidente: a Rota da Seda. Durante a Dinastia Han, a China transformou-se oficialmente num estado confucionista e progrediu em questões internas: a agricultura, o artesanato e o comércio floresceram, e a população chegou a 55 milhões. A Dinastia Han foi notável também pela sua aptidão militar. O império expandiu-se para o oeste à bacia do Tarim (na região autónoma moderna de Sinquião), com expedições militares para o oeste, assim como além-Mar Cáspio, tornando possível o tráfego mercantil através da Ásia central, desenvolvendo o comércio inclusive com os romanos. Os trajetos do tráfego vieram a ser conhecidos como "a estrada de seda" porque a rota foi usada para exportar a seda chinesa. Os exércitos chineses também invadiram e anexaram partes da Coreia setentrional (Wiman Joseon) (assim como o estabelecimento de colónias) e o norte do Vietname no final do século II d.C. As fronteiras perto dos territórios periféricos eram frequentemente tensas por possíveis conflitos com outros estados. Para assegurar a paz com os poderes não Chineses, a corte de Han desenvolveu "um sistema tributário mutuamente benéfico". Foi permitido aos estados não chineses permanecer autónomos em troca da aceitação simbólica da autoridade dos Han. Os laços tributários foram confirmados e reforçados. Entretanto, internamente, as aquisições de terras pelas elites gradualmente causaram uma crise tributária. Em 9 d.C., o usurpador Wang Mang fundou a breve Dinastia Xin ("nova") e deu início a um amplo programa de reformas agrária e econômica. As famílias proprietárias de terras jamais apoiaram as reformas, que favoreciam os camponeses e a pequena nobreza, e a instabilidade causada por sua oposição levou ao caos e a rebeliões. Isso foi agravado pela inundação em massa do rio Amarelo; o acúmulo de lodo fez com que ele se dividisse em dois canais e deslocasse um grande número de agricultores. O usurpador Wang Mang acabou sendo morto no Palácio Weiyang por uma turba camponesa enfurecida em 23 d.C.. O Imperador Guangwu reinstituiu a Dinastia Han, sediada agora em Luoyang, próximo a Xian, com o apoio das famílias proprietárias e mercantis. Alguns denominam este período Dinastia Han Oriental. O poder dos hans declinou em meio a aquisições de terras, invasões e rixas entre clãs consortes (isto é, clãs a que pertenciam a consorte do imperador) e eunucos. Invasões dos homens das estepes, revoltas internas da nobreza e a Rebelião do Turbante Amarelo, protagonizado pelos camponeses, que estalou em 184 d.C, resultou numa era de chefes guerreiros. No caos subseqüente, três Estados buscaram a preeminência durante o chamado Período dos Três Reinos. Período dos Três Reinos. No século II d.C, o império havia declinado em crises tributária em meio a aquisições de terras pela elite, invasões de povos estrangeiros e disputas entre clãs da nobreza e os eunucos. A Rebelião do Turbante Amarelo eclodiu em 184 d.C, inaugurando uma era de senhores da guerra. Na turbulência que se seguiu, três estados tentaram ganhar predominância no período dos Três Reinos. Este período de tempo foi muito romantizado em obras como Romance dos Três Reinos. Depois que Cao Cao reunificou o norte em 208, seu filho Cao Pi forçou o Imperador Xian de Han a abdicar, após isso se auto-proclamou imperador e inaugurou a Dinastia Wei (liderada pelo clã Cao) em 220. Logo, os rivais de Wei, Shu (liderado pelo família imperial deposta, o clã de Liu) e Wu (liderado pelo clã de Sun) proclamaram sua independência, levando a China para o período dos Três Reinos (Wei, Shu e Wu). O termo próprio “três reinos” é um tanto inexpressivo, sendo que cada estado foi dirigido eventualmente por um Imperador que reivindicou a sucessão legítima da Dinastia Han, não por reis. Não obstante o termo tornou-se padrão entre sinologistas e será usado neste artigo. Este período foi caracterizado por uma gradual descentralização do estado que havia existido durante as Dinastias Qin e Han, e um aumento no poder das grandes famílias. Em 266, a Dinastia Jin (fundada pela família Sima) derrubou a Dinastia Wei e depois reunificou o país em 280, mas essa união durou pouco. Dinastia Jin. Embora os três grupos tenham sido temporariamente unificados em 278 pela Dinastia Jin, esta foi severamente enfraquecida por conflitos internos entre príncipes imperiais e perdeu o controle do norte da China depois que colonos chineses não-han se rebelaram e capturaram Luoyang e Chang'an. Em 317, um príncipe Jin em Nanjing tornou-se imperador e continuou a Dinastia, agora conhecida como Jin Oriental, que ocupou o sul da China por mais um século. O norte da China se fragmentou em uma série de reinos independentes, a maioria dos quais foi fundada por governantes dos povos Xiongnu, Xianbei, Jie, Di e Qiang. Os grupos étnicos não-hans controlavam boa parte do país no início do século IV. Em 303, o povo "di" revoltou-se, capturou Chengdu e estabeleceu o Estado de Cheng Han. Os "xiongnus", chefiados por Liu Yuan, rebelaram-se também e fundaram o Estado de Han Zhao. Seu sucessor, Liu Cong, capturou e executou os dois últimos imperadores jins ocidentais. O Período dos Dezesseis Reinos assistiu a uma pletora de breves Dinastias não-chinesas que, a partir de 303, governaram o norte da China. Os grupos étnicos ali presentes incluíam os ancestrais dos turcos, mongóis e tibetanos. A maioria daqueles povos nômades, relativamente pouco numerosos, já havia sido achinesada muito antes de sua ascensão ao poder. Na verdade, alguns deles, em especial os chiangs e os "xiongnus", já habitavam as regiões de fronteira no interior da Grande Muralha desde o final da Dinastia Han, com o consentimento desta. Durante o período dos Dezesseis Reinos, a guerra devastou o norte e provocou migrações de hans em grande escala para a margem sul do YangTzé. O colapso da Dinastia Jin Ocidental e a ascensão de regimes bárbaros na China durante este período se assemelha ao declínio e queda do Império Romano do Ocidente em meio a invasões pelos hunos e tribos germânicas na Europa, que também ocorreram nos séculos IV e V. Dinastias do Norte e do Sul. No início do século V a China entrou num período conhecido como as Dinastias do Norte e do Sul, em que os regimes paralelos dominaram as metades norte e sul do país. No sul, os Jin Orientais deram lugar as Dinastias Liu Song (família Liu), Qi Meridional e Liang (ambas governadas pela família Xiao) e finalmente Chen (família Chen). Cada uma dessas Dinastias do sul foi liderada por famílias governantes chinesas Han e usou Jiankang (moderna Nanjing) como a capital. Eles detiveram ataques do norte e preservaram muitos aspectos da civilização chinesa, enquanto os regimes bárbaros do norte começaram a significar. No norte, o último dos Dezesseis Reinos foi extinto em 439 pelo Reino de Wei, um reino fundado pelos Xianbei, um povo nômade que unificou o norte da China. O Reino de Wei finalmente se dividiu em Wei Oriental e Ocidental, que então se tornou Qi do Norte e o Zhou do Norte. Esses regimes eram dominados pelos xianbei ou chineses han que haviam se casado com famílias xianbei. Durante esse período, a maioria dos Xianbei adotou os sobrenomes Han, levando a completa assimilação dos Han. Apesar da divisão do país, o budismo se espalhou por toda a terra. No sul da China, debates ferozes sobre se o budismo deveria ser permitido eram realizados com frequência pela corte e pelos nobres reais. No final da era, budistas e taoístas tornaram-se muito mais tolerantes uns com os outro. Dinastia Sui: reunificação. A Dinastia "Sui" (família Yang) logrou reunificar o país em 581, após quase quatro séculos de fragmentação política na qual o norte e o sul se desenvolveram independentemente. Do mesmo modo que os soberanos qin haviam unificado a China após o Período dos Reinos Combatentes, os "Suis" uniram o país e criaram diversas instituições que terminaram por ser adotadas por seus sucessores, os "Tangs". Fundada pelo imperador Wen em 581 em sucessão ao Zhou do Norte, os Sui conquistaram os Chen em 589 para reunificar a China, encerrando três séculos de divisão política. Os Sui foram pioneiros em muitas novas instituições, incluindo o sistema governamental de Três Departamentos e Seis Ministérios, concursos públicos para selecionar funcionários públicos entre os plebeus, melhorou os sistemas de recrutamento do exército e adotou um sistema de igualdade de distribuição de terras. Essas políticas, que foram adotadas por Dinastias posteriores, trouxeram um enorme crescimento populacional e acumularam riqueza excessiva para o Estado. A cunhagem padronizada foi aplicada em todo o império unificado. O budismo criou raízes como uma religião proeminente e foi apoiado oficialmente. A China era conhecida por seus numerosos projetos de mega-construções. Destinado a embarques de grãos e transporte de tropas, o Grande Canal da China foi construído, ligando as capitais Daxing (Chang'an) e Luoyang à região sudeste, e em outra rota, à fronteira nordeste. A Grande Muralha também foi ampliada, enquanto séries de conquistas militares e manobras diplomáticas pacificaram ainda mais suas fronteiras. No entanto, as invasões maciças da Península Coreana durante a Guerra Goguryeo-Sui falharam desastrosamente, provocando revoltas generalizadas que levaram à queda da Dinastia. Dinastia Tang: o retorno da prosperidade. Em 18 de junho de 618, Gaozu tomou o poder e estabeleceu a Dinastia Tang (família Li). Iniciou-se então uma era de prosperidade e inovações nas artes e na tecnologia. O budismo, que se havia instalado gradualmente na China a partir do século I, tornou-se a religião predominante e foi adotada pela família imperial e pelo povo. Os "Tangs", da mesma forma que os Hans, mantiveram abertas as rotas comerciais para o Ocidente e para o sul; diversos comerciantes estrangeiros fixaram-se na China. O segundo imperador, Taizong, é amplamente considerado como um dos maiores imperadores da história chinesa, que lançou as bases para a Dinastia florescer durante séculos além de seu reinado. Combinações de conquistas militares e manobras diplomáticas foram implementadas para eliminar ameaças de tribos nômades, estender a fronteira e submeter estados vizinhos a um sistema tributário. As vitórias militares na bacia do Tarim mantiveram a Rota da Seda aberta, ligando Chang'an à Ásia Central e áreas mais a oeste. No sul, rotas lucrativas de comércio marítimo começaram a partir de cidades portuárias como Guangzhou. Houve comércio extensivo com países estrangeiros distantes, e muitos comerciantes estrangeiros se estabeleceram na China, incentivando uma cultura cosmopolita. A cultura Tang e os sistemas sociais foram observados e imitados pelos países vizinhos, mais notavelmente o Japão. Internamente, o Grande Canal ligava o centro político de Chang'an aos centros agrícolas e econômicos nas partes leste e sul do império. Subjacente à prosperidade da antiga Dinastia Tang havia uma forte burocracia centralizada com políticas eficientes. O governo foi organizado como "Três Departamentos e Seis Ministérios" para elaborar, revisar e implementar políticas separadamente. Esses departamentos eram dirigidos por membros da família imperial, bem como funcionários acadêmicos selecionados por exames imperiais. Essas práticas, que amadureceram na Dinastia Tang, foram continuadas pelas Dinastias posteriores, com algumas modificações. Sob o "sistema de campo igual" todas as terras eram de propriedade do Imperador e concedidas a pessoas de acordo com o tamanho da casa. Os homens que receberam terras foram recrutados para o serviço militar por um período fixo a cada ano, uma política militar conhecida como "sistema Fubing". Essas políticas estimularam um rápido crescimento da produtividade e um exército significativo sem muita carga para o tesouro do estado. No ponto médio da Dinastia, no entanto, os exércitos permanentes haviam substituído o recrutamento, e a terra caía continuamente nas mãos de proprietários privados A Dinastia continuou a florescer sob o domínio da imperatriz Wu Zetian, a única imperatriz reinante na história chinesa, e atingiu o seu apogeu durante o longo reinado do imperador Xuanzong, que supervisionou um império que se estendia do Pacífico ao Mar de Aral com pelo menos 50 Milhões de pessoas. Havia criações artísticas e culturais vibrantes, incluindo obras dos maiores poetas chineses, Li Bai e Du Fu. A partir de cerca de 860, a Dinastia Tang começou a declinar, devido a uma série de rebeliões internas e de revoltas de Estados clientes. Um chefe guerreiro, Huang Chao, capturou Guangzhou em 879 e executou a maioria dos seus habitantes. Em 880, Luoyang caiu-lhe nas mãos e, em 881, Changan. O Imperador Xizong fugiu para Chengdu e Huang estabeleceu um governo que, embora posteriormente destruído por forças "Tangs", lançou o país num novo período de caos político. A maioria dos chineses considera a Dinastia Tang (618-907) como o ponto alto da China Medieval, tanto política como culturalmente. O império atingiu seu tamanho máximo antes da Dinastia manchu Qing, tornando-se o centro de um mundo do Leste Asiático ligado por religião, escrita e muitas instituições econômicas e políticas. Além disso, os escritores Tang produzem a melhor poesia na grande tradição lírica da China. Cinco Dinastias e dez reinos. Ao interregno entre a "Dinastia Tang" e a "Dinastia Sung", caracterizado pela fragmentação política, dá-se o nome de Período das Cinco Dinastias e dos Dez Reinos. Com duração de pouco mais de meio século, entre 907 e 960, esta fase histórica viu a China tornar-se uma pluralidade de estados. Cinco Dinastias (a saber, Liang, Tang, Jin, Han e Zhou) sucederam-se rapidamente no controle do tradicional coração territorial do país, no norte, enquanto que dez regimes mais estáveis ocupavam porções do sul e oeste da China. Em meio ao caos político no norte, as dezesseis prefeituras estratégicas (região ao longo da Grande Muralha de hoje) foram cedidas à emergente Dinastia Liao, que enfraqueceu drasticamente a defesa da China contra os impérios nômades do norte. Ao sul, o Vietnã conquistou uma independência duradoura depois de ser uma prefeitura chinesa por muitos séculos. Com as guerras dominando o norte da China, houve migrações em massa para o sul do país, o que aumentou ainda mais a mudança para o sul dos centros culturais e econômicos na China. A era terminou com o golpe de Zhao Kuangyin, general dos Zhou, e o estabelecimento da Dinastia Song em 960, que acabou aniquilando os restos dos "Dez Reinos" e reunificou a China. Divisão política: os Liaos, os Sungs, os Xias Ocidentais e os Jins. Em 960, a Dinastia Sung (família Zhao) (960–1279) logrou controlar a maior parte da China e escolheu Kaifeng para sua capital, dando início a um período de prosperidade econômica, enquanto que a Dinastia Liao (família Yelu) dos quitais governava a Manchúria e a Mongólia, Enquanto isso, no que hoje são as províncias de Gansu, Shaanxi e Ningxia, no noroeste do país, as tribos Tangut fundaram a Dinastia Xia Ocidental (família Lǐ) de 1032 a 1227. Em 1115, subiu ao poder a Dinastia Jin (1115-1234) (família Waynan), do povo jurchen e, em dez anos, aniquilou a Dinastia Liao. Tomou a China setentrional e Kaifeng das mãos da Dinastia Sung, forçando-a a transferir sua capital para Hangzhou e a reconhecer os Jins como soberanos. A China encontrava-se, então, dividida entre a Dinastia Jin, ao norte, a Dinastia Sung Meridional, ao sul e os Xias Ocidentais, a oeste. Os sungs meridionais passaram por um período de grande desenvolvimento tecnológico, possivelmente devido, em parte, à pressão militar que sofriam na sua fronteira setentrional. A economia Song, facilitada pelo avanço da tecnologia, atingiu um nível de sofisticação provavelmente nunca visto na história mundial antes de sua época. A população aumentou para mais de 100 milhões e os padrões de vida das pessoas comuns melhoraram tremendamente devido a melhorias no cultivo de arroz e à ampla disponibilidade de carvão para a produção. As capitais de Kaifeng e, posteriormente, Hangzhou foram as cidades mais populosas do mundo para o seu tempo, e encorajaram sociedades civis vibrantes, incomparáveis ​​com Dinastias chinesas anteriores. Embora as rotas de comércio terrestres para o extremo oeste fossem bloqueadas por impérios nômades, havia um extenso comércio marítimo com os estados vizinhos, o que facilitou o uso da moeda Song como moeda de troca. Navios de madeira gigantes equipados com bússolas viajavam pelos mares da China e pelo norte do Oceano Índico. O conceito de seguro era praticado pelos comerciantes para cobrir os riscos de tais embarques marítimos de longa distância. Com prósperas atividades econômicas, a primeira utilização histórica do papel-moeda surgiu na cidade de Chengdu, no oeste, como um complemento às moedas de cobre existentes. A Dinastia Song também foi um período de grande inovação na história da guerra. A pólvora, embora tenha sido inventada na Dinastia Tang, foi usada pela primeira vez em campos de batalha pelo exército Song, inspirando uma sucessão de novos projetos de armas de fogo e motores de cerco. Durante a Dinastia Song do Sul, como sua sobrevivência dependia decisivamente da proteção do rio Yangtze e Huai contra as forças de cavalaria do norte, a primeira marinha da China foi montada em 1132, com a sede do almirante estabelecida em Dinghai. Navios de guerra com rodas de pás podiam lançar bombas incendiárias feitas de pólvora e cal, como registrado na vitória de Song sobre as forças invasoras Jin na Batalha de Tangdao no Mar da China Oriental, e a Batalha de Caishi no Rio Yangtze em 1161. Os avanços na civilização durante a Dinastia Song chegaram a um fim abrupto após a devastadora conquista mongol, durante a qual a população diminuiu drasticamente, com uma contração acentuada da economia. Os mongóis e a Dinastia Yuan. O Império Jin foi derrotado pelos mongóis, que em seguida subjugaram os sungs meridionais ao cabo de uma guerra longa e cruenta, a primeira na qual as armas de fogo desempenharam um papel importante. Com isto, a China foi mais uma vez unificada, mas agora como parte de um vasto Império Mongol. Neste período, Marco Polo visitou a corte imperial em Pequim. Os mongóis dividiam-se então entre os que preferiam manter sua base nas estepes e aqueles que desejavam adotar os costumes dos chineses hans. Um destes era Cublai Cã, neto de Gêngis Cã e fundador da Dinastia Yuan (clã Borjiguim), a primeira a governar toda a China a partir de Pequim. A Dinastia também controlava diretamente o coração da Mongólia e outras regiões, herdando a maior parte do território do dividido Império Mongol, que aproximadamente coincidia com a área moderna da China e regiões próximas no leste da Ásia. A expansão posterior do império foi interrompida após derrotas nas invasões do Japão e do Vietnã. Pela primeira e única vez na história, a Rota da Seda foi controlada inteiramente por um único estado, facilitando o fluxo de pessoas, comércio e intercâmbio cultural. Rede de estradas e um sistema postal foram estabelecidos para conectar o vasto império. O comércio marítimo lucrativo, desenvolvido a partir da Dinastia Song anterior, continuou a florescer, com Quanzhou e Hangzhou emergindo como os maiores portos do mundo. A Dinastia Yuan foi a primeira economia antiga, onde o papel-moeda, conhecido na época como Chao, era usado como meio de troca predominante. Sua emissão irrestrita no final da Dinastia Yuan infligiu hiperinflação, que acabou provocando a queda da Dinastia. Os governantes mongóis posicionaram todos os mongóis no extrato superior da sociedade, conferindo-lhes isenção de impostos e direitos de propriedade. Em seguida vinham os funcionários públicos. Kublai Khan havia abolido a tradição do concurso público para a seleção de chineses para compor o corpo burocrático do Império. A decisão de abolir os concursos teve consequências sociais a longo prazo. Até então, muitos jovens de famílias abastadas esforçavam-se para passar nesses exames, para ter uma vida cômoda na administração. Com a abolição dos concursos, estes jovens passaram a procurar outras saídas profissionais, resultando no crescimento do número de professores e de médicos, por exemplo. Ademais, a supressão dos exames também teve repercussões a nível linguístico. Ao não haver os concursos, deixaram de estudar os textos clássicos, e com isso declinou o conhecimento do chinês clássico, fazendo crescer o uso da língua vernácula como meio escrito. A ineficiência dos mongóis em operar a máquina administrativa de uma civilização tão antiga e complexa fez com que os mongóis importassem, principalmente, turcos e persas para compor a burocracia imperial, e estes estrangeiros, conhecidos como "os de olhos coloridos", compunham a segunda classe social mais importante. Os chineses nativos, a grande maioria da população, encontravam-se nas classes mais baixas. Durante toda a Dinastia Yuan, houve algum sentimento geral entre a população contra o domínio mongol. Os fracassados programas econômicos que geraram um esvaziamento do tesouro imperial, aliado às rixas entre os sucessores do Imperador (invariavelmente homens fracos e de competência administrativa duvidosa), assim como a situação servil do povo chinês em suas próprias terras foram o rastilho para o surgimento dos movimentos nacionalistas durante a primeira metade do Século XIV. No entanto, em vez da causa nacionalista, foram principalmente as catástrofes naturais e a governação incompetente que desencadearam revoltas camponesas generalizadas desde a década de 1340. Após o massivo envolvimento naval no Lago Poyang, Zhu Yuanzhang prevaleceu sobre outras forças rebeldes no sul. Ele proclamou-se imperador e fundou a Dinastia Ming em 1368. No mesmo ano, seu exército de expedição do norte capturou a capital Khanbaliq. Os remanescentes de Yuan fugiram de volta para a Mongólia onde continuaram a reinar. Dinastia Ming: nova hegemonia dos hans. O forte sentimento popular hostil ao governo "estrangeiro" levou a rebeliões camponesas que terminaram por repelir os mongóis de volta às estepes e a instituir a Dinastia Ming em 1368. Durante o governo mongol, a população havia sido reduzida em 30 por cento, para um total estimado em 60 milhões de pessoas (no século XIV, a China sofreu com epidemias de peste negra, estima-se que matou 25 milhões de pessoas, 30% da população da China). Dois séculos depois, a população dobrara de tamanho, o que deu causa a uma maior urbanização e à maior complexidade da divisão do trabalho. Surgiram pequenas indústrias, dedicadas à produção de papel, seda, algodão e porcelana, em especial em grandes centros urbanos como Pequim e Nanquim. Prevaleciam, porém, as pequenas cidades com mercados que comerciavam principalmente comida mas também alguns itens manufaturados, como alfinetes e azeite. Apesar da xenofobia e da introspecção intelectual característica do neo-confucionismo, uma escola crescentemente popular, a China do início da Dinastia Ming não se isolara. O comércio exterior e outros contatos com o mundo externo, em especial com o Japão, cresceram bastante. Mercadores chineses exploraram todo o Oceano Índico e atingiram a África Oriental com as viagens de Zheng He. Zhu Yuanzhang (ou Hongwu), fundador da Dinastia Ming (família Zhu), lançou as bases de um Estado menos interessado em comércio do que em extrair recursos do setor agrícola. Talvez devido ao passado camponês do imperador, o sistema econômico ming enfatizava a agricultura, ao contrário do que fizeram as Dinastias Sung e Mongol, cujas finanças se baseavam no comércio. As grandes propriedades rurais foram confiscadas pelo governo, divididas e arrendadas. Proibiu-se a escravidão privada, o que fez com que os camponeses com a posse da terra predominassem na agricultura, após a morte do Imperador Yongle. Tais políticas permitiram aliviar a pobreza causada pelos regimes anteriores. A Dinastia possuía um governo central forte e complexo que unificou o império. O papel do imperador passou a ser mais autocrático, embora Zhu Yuanzhang precisasse lançar mão dos chamados "Grandes Secretários" para auxiliá-lo a lidar com a enorme burocracia, a qual mais tarde causaria o declínio da Dinastia, por impedir o governo de se adaptar às mudanças sociais. O Imperador Yongle procurou ampliar a influência da China além de suas fronteiras, ao exigir que outros governantes lhe enviassem embaixadores para pagar tributo. Construiu-se uma grande marinha, inclusive navios de quatro mastros com deslocamento de 1 500 t. Criou-se um exército regular de um milhão de homens. As forças chinesas conquistaram parte do que é hoje o Vietnã, enquanto que a frota imperial navegava pelos mares da China e o Oceano Índico, chegando até a costa oriental da África. Os chineses estenderam sua influência até o Turquestão. Diversas nações asiáticas pagaram tributo ao imperador. Internamente, o Grande Canal foi ampliado, com impacto positivo sobre o comércio. Produziam-se mais de t de ferro por ano. Imprimiam-se livros com o uso da tipografia. O palácio imperial da Cidade Proibida atingiu então ao seu atual esplendor. Durante as Dinastias Ming o mosquete com fecho de mecha era usado na China. Os chineses usavam o termo "arma de pássaro" para se referir aos mosquetes. Enfim, o período Ming parece ter sido um dos mais prósperos para a China. Também foi naquela época que o potencial do sul da China veio a ser totalmente explorado. O período Ming testemunhou a última ampliação da Grande Muralha da China. Dinastia Qing: Domínio Manchu. A Dinastia Qing (clã Aisin Gioro) (1644–1911) foi fundada após a derrota dos Mings, a última Dinastia han chinesa, pelas mãos dos manchus. Estes, anteriormente conhecidos como "jurchens", invadiram a China a partir do norte no final do século XVII. Embora os manchus fossem conquistadores estrangeiros, adotaram rapidamente as tradicionais regras de governo confucianas e terminaram por governar na mesma linha das Dinastias nativas anteriores. O sistema de governo seguia os princípios da monarquia absoluta. O imperador tinha o poder supremo em todas as coisas temporais e espirituais, mas seu autoritarismo era consideravelmente limitado pelos ministros e outros funcionários da alta de hierarquia que de fato dirigiam o Estado. Pessoa do imperador era sagrada e inviolável. O imperador promulgava as leis, sem entretanto legislar pois todas propostas eram feitas por seus ministros. Os manchus obrigaram os hans a adotar o seu estilo de penteado e de vestimenta, sob pena de morte. O Imperador Kangxi ordenou a criação do mais completo dicionário de caracteres chineses até então. Durante o reinado do Imperador Qianlong, compilou-se um catálogo das obras mais importantes sobre cultura chinesa. Para evitar uma assimilação completa pela sociedade chinesa, os manchus estabeleceram um sistema de "oito estandartes" (ou "bandeiras"), divisões administrativas - oriundas de tradições militares manchus - nas quais as famílias manchus se distribuíam. Os manchus na China empregavam a sua própria língua, mantinham suas tradições, como o tiro com arco e o hipismo, e detinham privilégios econômicos e legais nas cidades chinesas. Os manchus não podiam empreender comércio ou trabalho manual; eles tinham que pedir para serem removidos do status da bandeira. Eles eram considerados uma forma de nobreza e recebiam tratamento preferencial em termos de pensões anuais, terras e loteamentos de roupas. Entre 1673 e 1681, o Imperador Kangxi suprimiu a Revolta dos Três Feudatórios, uma revolta de três generais no sul da China a quem foi negado o domínio hereditário de grandes feudos concedidos pelo imperador anterior. Em 1683, os Qing realizaram um ataque anfíbio ao sul de Taiwan, derrubando o rebelde Reino de Tungning, que foi fundado em 1662 pelo lealista Ming Koxinga (Zheng Chenggong), após a queda da Dinastia Ming, e que servia como base para o conflito de resistência contínua Ming no sul da China. Os Qing derrotaram os russos em Albazin, resultando no Tratado de Nerchinsk. Ao longo do meio século seguinte, dominaram completamente o território antes pertencente aos Mings e conquistaram Xinjiang, o Tibete e a Mongólia. Durante a Dinastia Qing, culturas alimentares estrangeiras, como a batata, foram introduzidas durante o século XVIII em larga escala. Estas culturas, juntamente com a paz generalizada do século 18, encorajou um aumento dramático na população, de aproximadamente 150-200 milhões durante os Ming para mais de 400 milhões durante os Qing. Durante o século XVIII, os mercados continuaram a se expandir como no final do período Ming. Para dar às pessoas mais incentivos para participar do mercado, os Qing reduziram a carga tributária em comparação com os Ming tardios e substituíram o sistema Corvée por um imposto principal usado para contratar trabalhadores. A China continuou a exportar chá, seda e manufaturas, criando uma grande balança comercial favorável com o Ocidente. Revertendo uma das tendências do Mings, o governo Qing interferiu muito na economia. O monopólio do sal foi restaurado e se tornou uma das maiores fontes de receita para o estado. Os funcionários da Dinastia Qing tentaram desencorajar o cultivo de culturas de rendimento a favor dos cereais. Desconfiados do poder dos comerciantes ricos, os governantes Qing limitavam suas licenças comerciais e geralmente lhes recusavam permissão para abrir novas minas, exceto em áreas pobres. As corporações mercantis proliferaram em todas as cidades chinesas em crescimento e freqüentemente adquiriram grande influência social e até mesmo política. Mercadores ricos com conexões oficiais construíram enormes fortunas e patrocinaram a literatura, o teatro e as artes. Produção de tecidos e artesanato cresceu. No final do século XVIII a China dominava mais de um terço da população mundial, possuía a maior economia do mundo e, por área, era um dos maiores impérios de todos os tempos. Porém após a morte do imperador Qianlong a economia chinesa começou a declinar devido a corrupção e desperdício em sua corte e a uma sociedade civil estagnada. O século XIX testemunhou o enfraquecimento do governo Qing, em meio a grandes conflitos sociais, estagnação econômica e influência e ingerência ocidentais. O interesse britânico em continuar o comércio de ópio com a China colidiu com éditos imperiais que baniam aquela droga viciante, o que levou à Primeira Guerra do Ópio, em 1840. O Reino Unido e outras potências ocidentais, inclusive os Estados Unidos, ocuparam "concessões" à força e ganharam privilégios comerciais. Hong Kong foi cedida aos britânicos em 1842 pelo Tratado de Nanquim. Também ocorreram naquele século a Rebelião Taiping (1851–1864) e o Levante dos Boxers (1899–1901). Em muitos aspectos, as rebeliões e os tratados que os Qings se viram forçados a assinar com potências imperialistas são sintomáticos da incapacidade do governo chinês em reagir adequadamente aos desafios que enfrentava a China no século XIX. Para se ter ideia da estagnação tecnológica da China (o país inventor da pólvora), armas de fecho de mecha ainda estavam sendo usadas por soldados do exército imperial em meados do século XIX, enquanto os europeus já haviam abandonado esta tecnologia em favor da pederneira e estavam começando a utilizar a tecnologia do mecanismo de percussão, com o advento dos cartuchos. O sistema de estandartes que os Qings haviam confiado por tanto tempo fracassou: as forças imperiais não conseguiram reprimir os rebeldes e o governo convocou autoridades locais nas províncias, que levantaram "Novos Exércitos" (com treinamento e equipamento militar em estilo ocidental), que esmagaram com sucesso os desafios à autoridade Qing. A China Imperial jamais reconstruiu um forte exército central, situação que persistiu após a proclamação da república e até meados do século XX. Muitas autoridades locais tornaram-se senhores da guerra que usavam o poder militar para governar de maneira independente em suas províncias. A Renda per capita chinesa caiu implacavelmente durante a Dinastia Qing. Em 1620, era aproximadamente a mesma de 980. Em 1840, havia caído quase um terço. O declínio da monarquia. As duas Guerras do Ópio e o tráfico daquela droga foram custosos para a Dinastia Qing e o povo chinês. O tesouro imperial quebrou duas vezes, por conta do pagamento de indenizações devidas às guerras e à grande evasão de prata causada pelo tráfico de ópio. A China sofreu duas fomes extremas vinte anos após cada uma das Guerras do Ópio nos anos 1860 e 1880, quando a Dinastia Qing se mostrou incapaz de acudir a população. Tais eventos tiveram um profundo impacto ao desafiar a hegemonia de que os chineses gozavam na Ásia há séculos e mergulharam o país no caos. Uma vasta revolta, a Rebelião Taiping, fez com que cerca de um terço do país passasse ao controle de um movimento religioso pseudo-cristão chefiado pelo "Rei Celestial" Hong Xiuquan. Somente ao cabo de catorze anos é que as forças qings lograram destruir o movimento, em 1864. Estima-se que a rebelião teria causado entre vinte e cinquenta milhões de mortos. Os líderes qing suspeitavam da modernidade e dos avanços sociais e tecnológicos, que viam como ameaças ao seu controle absoluto sobre a China. Por exemplo, a pólvora, que havia sido largamente empregada pelos exércitos das Dinastias Sung e Ming, fora proibida pelos qings ao assumirem o controle do país. Por este e outros motivos, a Dinastia encontrava-se despreparada para lidar com as invasões ocidentais. As potências ocidentais intervieram militarmente para reprimir o caos doméstico, como nos casos da Rebelião Taiping e do Levante dos Boxers. Nos anos 1860, a Dinastia Qing logrou sufocar revoltas, com enorme custo e perda de vidas. Isto minou a credibilidade do regime qing e contribuiu para o surgimento de senhores da guerra locais. O Imperador Guangxu procurou lidar com a necessidade de modernizar o país por meio do Movimento de Auto-Fortalecimento. O objetivo era modernizar o império, com ênfase primordial no fortalecimento das forças armadas. No entanto, a reforma foi minada por funcionários corruptos, cinismo e brigas dentro da família imperial. A partir de 1898, a Imperatriz regente Cixi manteve Guangxu preso sob a alegação de "deficiência mental", após um golpe militar por ela orquestrado com o apoio da facção conservadora, contrária às reformas. Guangxu faleceu um dia antes da imperatriz regente (segundo alguns, por ela envenenado). Os "novos exércitos" qings (treinados e equipados conforme o modelo ocidental) foram fragorosamente derrotados na Guerra Sino-Francesa (1883–1885) e na Guerra Sino-Japonesa (1894–1895). No início do século XX, o Levante dos Boxers, um movimento conservador antiimperialista que pretendia fazer o país regressar a um estilo de vida tradicional, ameaçou o norte da China. A imperatriz regente, provavelmente com o fito de garantir o seu controle sobre o governo, apoiou os boxers quando estes avançaram sobre Pequim. Em reação, a chamada Aliança dos Oito Estados invadiu a China. Composta de tropas britânicas, japonesas, russas, italianas, alemãs, francesas, norte-americanas e austro-húngaras, a aliança derrotou os boxers e exigiu mais concessões do governo qing. Muitos setores da "classe média" chinesa eram a favor de uma necessidade de reformas políticas que permitissem à China conseguir o desenvolvimento econômico e social que havia atingido as potências ocidentais e o Japão. O Japão havia conseguido um desenvolvimento econômico destacado após a restauração Meiji, e muitos intelectuais chineses defendiam a necessidade de que a Dinastia Qing, empreendesse também reformas necessárias para se atingir um modelo de monarquia constitucional, mantendo-se assim a tradição imperial e, ao mesmo tempo, adotando um sistema político moderno, imprescindível para que a China pudesse acompanhar as revoluções industrial e tecnológica, saindo, dessa forma, de seu estado relativamente atrasado. Frente à estas correntes, outros reformadores mais radicais propunham, inclusive, a necessidade de destronar a Dinastia Qing, vista por muitos como uma Dinastia "estrangeira", devido à sua origem manchu, e proclamar uma república A República da China. Frustrados com a resistência da corte qing em reformar o país e a fraqueza da China, jovens funcionários, oficiais militares e estudantes - inspirados nas ideias revolucionárias de Sun Yat-sen - começaram a defender a derrubada da Dinastia Qing e a proclamação da república. Um levante militar, conhecido como Levante Wuchang, iniciou-se em 10 de outubro de 1911 em Wuhan, e levou à formação de um governo provisório da República da China em Nanquim, em 12 de março de 1912. Sun Yat-sen foi o primeiro a assumir a presidência, mas viu-se forçado a entregar o poder a Yuan Shikai, que comandara o Novo Exército (tropas chinesas treinadas e equipadas à maneira ocidental) e fora primeiro-ministro durante a era qing, como parte do acordo para a abdicação do último monarca da Dinastia. Nos anos seguintes, Shikai aboliu as assembleias nacional e Provinciais e declarou-se imperador em 1915. Suas ambições imperiais encontraram forte oposição por parte de seus subordinados, de modo que terminou por abdicar, morrendo em 1916 e deixando um vácuo de poder na China. Com o governo republicano em frangalhos, o país passou a ser administrado por coligações variáveis de chefes militares provinciais. Um evento pouco notado, ocorrido em 1919 - o Movimento do Quatro de Maio -, haveria de ter repercussões a longo prazo para o restante da história da China no século XX. O movimento teve início como uma resposta ao que teria sido um insulto imposto à China pelo Tratado de Versalhes, que encerrara a Primeira Guerra Mundial, mas tornou-se um movimento de protesto contra a situação interna do país. Entre os intelectuais chineses, a adoção de ideias mais radicais seguiu-se ao descrédito da filosofia liberal ocidental, o que resultaria no conflito irreconciliável entre a esquerda e a direita na China que dominaria a história do país pelo restante do século. Na década de 1920, Sun Yat-sen estabeleceu uma base revolucionária no sul da China e lançou-se à unificação de seu fragmentado país. Com auxílio da União Soviética (recém estabelecida por Vladimir Lenin), ele aliou-se ao Partido Comunista da China (PCC). Após a sua morte por câncer em 1925, um de seus protegidos, Chiang Kai-shek, assumiu o controle do direitista Kuomintang (Partido Nacionalista, ou KMT) e logrou reunir sob seu governo a maior parte do sul e do centro da China numa campanha militar conhecida como a Expedição do Norte. Após derrotar os líderes militares daquelas regiões, Chiang obteve a fidelidade nominal dos líderes do norte. Em 1927, voltou-se contra o PCC e expulsou os exércitos comunistas e seus chefes de suas bases no sul e no leste da China. Em 1934, as tropas do PCC empreenderam a Longa Marcha, através da região mais inóspita da China a noroeste, onde estabeleceram uma base guerrilheira em Yan'an, na província de Shanxi.Durante a Longa Marcha, os comunistas reorganizaram-se sob um novo chefe, Mao Tse-tung. Assim como Mao, Chiang Kai-shek é considerado uma figura controversa. Seus apoiadores o creditam por ter desempenhado um grande papel durante a vitória dos Aliados da Segunda Guerra Mundial e ter unificado a nação, sendo também um símbolo nacional e uma figura importante na resistência contra os japoneses, os soviéticos e comunistas. Detratores e críticos o denunciam como um ditador, um autocrata autoritário que reprimiu e expurgou seus opositores a todo o custo, com prisões arbitrárias, torturas e assassinatos a todos que não apoiavam o Kuomintang e outros. O conflito entre o KMT e o PCC continuou, aberta ou clandestinamente, ao longo dos catorze anos da invasão japonesa, apesar da aliança nominal entre ambos os partidos para opor-se aos japoneses em 1937. As forças japonesas cometeram numerosas atrocidades de guerra contra a população civil, incluindo guerra biológica (ver Unidade 731) e a Política dos Três Todos (Sankō Sakusen), sendo os três todos: "Matem Todos, Queimem Todos e Saquem Todos". A guerra civil chinesa continuou após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial em 1945, após tentativas fracassadas de reconciliação e de solução negociada entre o KMT e o PCC. Em 1949, o PCC já ocupava a maior parte do país. Westad diz que os comunistas venceram a Guerra Civil porque cometeram menos erros militares do que Chiang, e porque em sua busca por um poderoso governo centralizado, Chiang antagonizou muitos grupos de interesse na China. Além disso, seu partido foi enfraquecido na guerra contra os japoneses. Enquanto isso, os comunistas disseram a diferentes grupos, como os camponeses, exatamente o que eles queriam ouvir, e se cobriram na capa do nacionalismo chinês. Durante a guerra civil, tanto os nacionalistas quanto os comunistas realizaram atrocidades em massa, com milhões de não-combatentes mortos por ambos os lados.Estes incluíram mortes por recrutamento forçado e massacres. Chiang Kai-shek refugiou-se, com o resto de seu governo, em Taiwan, onde declarou Taipé a capital provisória da República da China. O governo de Chiang em Taiwan foi ditatorial, ele impôs a lei marcial e perseguiu todos os socialistas, críticos e opositores do seu regime na ilha no que ficou conhecido como "Terror Branco". Após evacuar para Taiwan, o governo de Chiang e seus apoiadores continuaram a declarar sua intenção de, um dia, retomar a China dos comunistas. Chiang Kai-shek faleceu em 1975 (um ano antes da morte de seu rival Mao) e foi sucedido pelo filho, Chiang Ching-kuo, que iniciou uma política de liberalização. Em 1977, foi abolida a lei marcial (em vigor desde 1946) e autorizado o funcionamento de outros partidos. A morte de Chiang Ching-kuo, em 1988, acelerou a abertura do regime, sob o comando de Lee Teng-hui. O Kuomintang venceu as eleições de 1992, as primeiras com a participação da oposição. Taiwan é uma democracia semipresidencialista e com sufrágio universal desde o final da década de 1980. A Era dos Senhores da Guerra e Guerra Civil acelerou o declínio da economia chinesa, que rapidamente declinou em comparação com o produto interno bruto mundial. Embora o padrão de vida dessa era fosse baixo, a taxa de numeramento da população chinesa - um índice que mede as habilidades numéricas de uma sociedade e mostra uma forte correlação com o desenvolvimento econômico posterior - era comparável àquelas dos países do noroeste da Europa e, portanto, entre o mais alto do mundo. A diferença entre o potencial do capital humano do povo chinês e o comparativamente baixo padrão de vida enfatiza o impacto negativo dessa era política e social instável sobre a economia chinesa e também fornece uma explicação para o crescimento econômico explosivo que aparece sempre que a China desfruta de um período de paz interior. A China do presente. Com a proclamação da República Popular da China (RPC) em 1 de outubro de 1949, o país viu-se novamente dividido entre a RPC, no continente, e a República da China (RC), em Taiwan e outras ilhas. Cada uma das partes se considera o único governo legítimo da China e denuncia o outro como ilegítimo. A RPC foi moldado por uma série de campanhas e planos de cinco anos. O plano econômico e social conhecido como Grande Salto Adiante foi um fracasso e causou uma estimativa de 45 milhões de mortes (Grande Fome Chinesa). O governo de Mao realizou execuções em massa de proprietários de terras, instituiu a coletivização e implementou o sistema de campos de Laogai. Execução, mortes por trabalho forçado e outras atrocidades resultaram em milhões de mortes sob Mao. Em 1966, Mao e seus aliados lançaram a Revolução Cultural, que continuou até a morte de Mao, uma década depois. A Revolução Cultural, motivada pelas lutas pelo poder dentro do Partido e pelo medo da União Soviética, levou a uma grande reviravolta na sociedade chinesa. Os alvos da Revolução eram membros do partido mais alinhados com o Ocidente ou com a União Soviética, funcionários burocratas, e, sobretudo, intelectuais (anti-intelectualismo). Como na intelectualidade se encontravam alguns dos potenciais inimigos da revolução, o ensino superior foi praticamente desativado no país durante a revolução. Foi neste período que se alavancou a produção e distribuição de O Livro Vermelho, a coletânea de citações de Mao que exaltam sua ideologia e professam uma forma de culto à sua personalidade Em 1972, no auge da ruptura sino-soviética, Mao e Zhou Enlai encontraram-se com o presidente dos EUA, Richard Nixon, em Pequim, para estabelecer relações com os Estados Unidos. No mesmo ano, a RPC foi admitida nas Nações Unidas no lugar da República da China, com filiação permanente ao Conselho de Segurança da ONU. Uma luta pelo poder seguiu a morte de Mao em 1976. A Camarilha dos Quatro foi presa e culpada pelos excessos da Revolução Cultural, marcando o fim de uma turbulenta era política na China. Deng Xiaoping superou o presidente sucessor de Mao, Hua Guofeng, e gradualmente emergiu como líder de fato nos próximos anos. Deng Xiaoping foi o líder supremo da China de 1978 a 1992, embora nunca tenha se tornado o chefe do partido ou estado, e sua influência dentro do Partido levou o país a reformas econômicas significativas. O Partido Comunista, em seguida, afrouxou o controle governamental sobre as vidas pessoais dos cidadãos e as comunas foram desmanteladas com muitos camponeses que receberam vários arrendamentos de terra, o que aumentou muito os incentivos e a produção agrícola. Além disso, havia muitas áreas de livre mercado abertas. As áreas de livre mercado de maior sucesso foram Shenzhen. Está localizado em Guangdong e a área livre de impostos ainda existe hoje. Esta reviravolta marcou a transição da China de uma economia planificada para uma economia mista com um ambiente de mercado cada vez mais aberto, um sistema denominado por alguns como "socialismo de mercado" e oficialmente pelo Partido Comunista da China como "Socialismo com características chinesas". O PRC adotou sua constituição atual no dia 4 de dezembro de 1982. Politicamente, o governo deixou de ser heterodoxamente comunista após a morte de Mao Zedong em 1976, apesar do Partido Comunista continuar no poder. Deng Xiaoping, mesmo não sendo o presidente de direito, foi de fato quem comandou a China durante a década de 1980. Em 1991 Jiang Zemin assumiu a presidência do país, governando até 2003, quando entregou o poder ao seu sucessor, Hu Jintao. Em 1989, a morte do ex-secretário geral Hu Yaobang ajudou a desencadear os protestos na Praça Celestial naquele ano, durante os quais estudantes e outros fizeram campanha durante vários meses, denunciando a corrupção e a favor de uma reforma política maior, incluindo direitos democráticos e liberdade de expressão. No entanto, eles acabaram sendo derrubados em 4 de junho, quando as tropas e veículos do exército e entraram e forçaram a retirada da praça, com muitas fatalidades. Esse evento foi amplamente divulgado e trouxe condenação e sanções contra o governo em todo o mundo. Um incidente filmado envolvendo um um rebelde desconhecido foi visto em todo o mundo. O secretário geral do PCC e presidente da RPC, Jiang Zemin, e o primeiro-ministro da China, Zhu Rongji, ambos ex-prefeitos de Xangai, lideraram a República Popular da China pós-Praça Celestial na década de 1990. Sob os dez anos de administração de Jiang e Zhu, o desempenho econômico da RPC retirou cerca de 150 milhões de camponeses da pobreza e sustentou uma taxa média anual de 11,2% de crescimento do produto interno bruto. O país aderiu formalmente à Organização Mundial do Comércio em 2001. Desde os anos 1990, a RC tem procurado obter maior reconhecimento internacional, enquanto que a RPC se opõe veementemente a qualquer envolvimento internacional e insiste na "Política de uma China". Xi Jinping assumiu o cargo de Presidente da China no dia 15 de março de 2013, sucedendo Hu Jintao, na principal sessão legislativa do Congresso Nacional Popular. Em 2013, anunciou a Iniciativa do Cinturão e Rota, um projeto de investimentos em projetos de infraestrutura em diversos países da Ásia, África e Europa, com o objetivo de aumentar a influência econômica da China. Em 2017, foi eleito pelo "The Economist" o homem mais poderoso do mundo. O conceito de "Sonho Chinês" de Xi Jinping, foi descrito como uma expressão de neonacionalismo. Sua forma de nacionalismo enfatiza o orgulho da histórica civilização chinesa, adotando os ensinamentos de Confúcio e de outros antigos sábios chineses, rejeitando assim a campanha anti-Confúcio de Mao Tsé-Tung. Em 2018, o parlamento chinês aprovou o mandato vitalício para Xi Jinping. Embora a RPC necessite de crescimento econômico para estimular seu desenvolvimento, o governo começou a se preocupar com o rápido crescimento econômico que estava degradando os recursos e o meio ambiente do país. Outra preocupação é que certos setores da sociedade não estão se beneficiando suficientemente do desenvolvimento econômico da RPC; Um exemplo disso é a grande diferença entre as áreas urbanas e rurais. Como resultado, segundo o ex-secretário geral do PCC e ex-presidente Hu Jintao e o ex-primeiro-ministro Wen Jiabao, a RPC iniciou políticas para tratar de questões de distribuição equitativa de recursos, mas o resultado não era conhecido a partir de 2014. Mais de 40 milhões de agricultores foram deslocados de suas terras, geralmente para o desenvolvimento econômico, contribuindo para manifestações e tumultos em toda a China em 2005. Para grande parte da população da RPC, os padrões de vida melhoraram muito substancialmente e a liberdade aumentou, mas os controles políticos permaneceram apertados e as áreas rurais pobres. Para a história da China após a Guerra Civil Chinesa, ver "História da República Popular da China" e "História de Taiwan".
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Interpretação de Copenhaga
Interpretação de Copenhaga A é a interpretação mais comum da Mecânica Quântica e foi desenvolvida por Niels Bohr e Werner Heisenberg que trabalhavam juntos em Copenhaga em 1927. Pode ser condensada em três teses: A complexidade da mecânica quântica (tese 1) foi atacada pela experiência (imaginária) de Einstein-Podolsky-Rosen, que pretendia mostrar que têm que existir variáveis escondidas para evitar "efeitos não locais e instantâneos à distância". A desigualdade de Bell sobre os resultados de uma tal experiência foi derivada do pressuposto de que existem variáveis escondidas e não existem "efeitos não-locais". Em 1982, Alain Aspect levou a cabo a experiência e descobriu que a desigualdade de Bell era violada, rejeitando interpretações que postulavam variáveis escondidas e efeitos locais. Esta experiência foi alvo de várias críticas e novas experiências realizadas por Weihs e Rowe confirmaram os resultados de Aspect. Muitos físicos e filósofos notáveis têm criticado a interpretação de Copenhaga, com base quer no fato de não ser determinista quer no fato de propor que a realidade é criada por um processo de observação não físico. As frases de Einstein "Deus não joga aos dados" e "Pensas mesmo que a Lua não está lá quando não estás a olhar para ela?" ilustram a posição dos críticos. A experiência do Gato de Schroedinger foi proposta para mostrar que a Interpretação de Copenhaga é absurda. A alternativa principal à Interpretação de Copenhaga é a Interpretação de Everett dos mundos paralelos.
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Igreja
Igreja Igreja, no sentido genérico religioso, tem várias acepções ou usos dependendo do contexto: Em primeiro lugar, e mais elementar, se refere ao "conjunto, reunião, congregação ou assembleia" de cristãos. Segundo, pode designar de forma geral a "igreja universal" composta por todos os cristãos de todos os tempos e lugares. Em terceiro lugar, pode designar um conjunto particular de cristãos de uma cidade ou localidade como vemos nas diversas cartas do Novo Testamento escritas para uma igreja em uma localidade. Em quarto, pode se referir a uma denominação ou seita cristã onde seus fiéis ou membros formam uma comunidade ligada pelos mesmos laços de doutrina de fé e submissos a uma determinada liderança local ou mundial. Em quinto, e como desdobramento histórico da anterior, pode designa uma instituição organizada formal e civilmente, separada ou não do Estado dependendo do país e época. Por último, igreja pode se referir ao prédio de reunião e culto cristão, por extensão da igreja enquanto pessoas que congregam naquele local. Todas essas acepções do termo "igreja" dentro do cristianismo são legítimas e usadas normalmente nos diferentes ramos e denominações. Etimologia. A palavra portuguesa IGREJA provém do substantivo composta grega ἐκκλησία [Ekklesía] que por sua vez é a combinação da preposição ἐκ [ek] ou εξ [ex] com o verbo καλέω [kaléo], sendo que ek ou ex tem o sentido de "para fora" e kaléo o sentido de "eu chamo" ou "eu convoco". O resultado seria o substantivo ἐκκλησία [Ekklesia] com o sentido etimológico de "chamados para fora" ou "convocados para fora". Contudo, para se entender o significado corretamente, é de extrema importância compreender que essa palavra teve origem no contexto da democracia ateniense grega, portanto, era uma palavra originalmente de uso político. Naquele contexto político, o sentido de "ekklesia" (chamados para fora) era que os cidadãos eram "chamados para fora de suas casas particulares para se reunirem publicamente na praça (em grego, "ἀγορά" [agorá]) para tratarem e deliberarem sobre a administração da cidade --- lembrando que em Atenas a democracia era direta. Os cidadãos que não "saiam para fora de suas casas" para se reunirem na praça eram chamados de "ἰδιώτης" [idiótes, de onde provém "idiota" em português], cujo sentido original era "o de “homem privado”, isto é, metido com seus próprios afazeres, afastado da gestão da coisa pública." Portanto, ekklesia (ou igreja em português) designava simplesmente a "assembleia" ou "congresso" "público" de cidadãos gregos (veja Atos dos Apóstolos 19.32,39,41). A Bíblia usa ekklesia" ou igreja no sentido simples geral de: "assembleia, congresso, congregação, reunião" "etc," sem conotações políticas e "os escritores do NT não parecem ter tido em mente a ideia de “convocados” quando falavam da "ekklēsía"". É importante saber a origem para não se cair em "falácias etimológicas" que fazem um malabarismo com a palavra igreja (ekklesia) como a que diz que "o cristão é chamado para fora do mundo", o que é um engano. Foi nesse sentido que a palavra grega ekklesia foi escolhida pelos tradutores da Septuaginta (a tradução grega da Bíblia Hebraica ou Antigo Testamento) para traduzir o substantivo hebraico קָהָל [qāhāl] usado pelos judeus para designar a "congregação" ou "assembleia" geral do "povo do deserto", reunida por Moisés. Segundo K. L. Schmidt:"A LXX usa ekklēsía cerca de 100 vezes, na maior parte para qāhāl. O termo ekklēsía tem o sentido básico de “assembleia” (cf. Dt 9.10; 1Rs 8.65); apenas o acréscimo de "kyríou" [do Senhor] dá a ele um sentido teológico (cf. Dt 23.2ss., etc.), ou uma expressão como “de Israel” (1Rs 8.14) ou “dos santos” (Sl 89.5, etc.) O uso de synagōgḗ [sinagoga] é similar. Este, também, é muitas vezes usado para qāhāl, e tem tanto um sentido geral (“assembleia”) quanto um sentido técnico (“congregação de Israel”)."Portanto, tanto em grego (Septuaginta e Novo Testamento) como em hebraico (Antigo Testamento), "igreja" tem o significado genérico de "assembleia, congregação, reunião etc", podendo ser usada, dependendo do contexto, em sentido religioso ou profano/secular de um simples ajuntamento com outras finalidades (veja Atos dos Apóstolos 19.32,39,41)."Dicionários gerais definem ekklēsía como 1. “assembleia” e 2. “igreja”. Léxicos do NT distinguem entre igreja como a. todo o corpo e b. a congregação local ou igreja na casa. A ênfase difere de acordo com a denominação, embora, por vezes, a unidade básica seja percebida. Visto que o NT usa um único termo, as traduções deveriam tentar fazer o mesmo, mas isso levanta a questão quanto a se “igreja” ou “congregação” é sempre adequado, especialmente em vista do uso do AT para Israel e do subjacente hebraico e aramaico. Deve-se também indagar o motivo pelo qual a comunidade do NT evita um termo cultual para si mesma e escolhe um termo mais secular. “Assembleia”, então, seria talvez o melhor termo, especialmente por possuir tanto um sentido concreto quanto abstrato, ou seja, tanto para o ato de congregar quanto para a assembleia."Discutindo as vantagens e desvantagens de qual terminologia na tradução seria preferível no uso da língua comum, Schmidt diz queA palavra “igreja” sugere o aspecto universal e, etimologicamente, o fato de pertencer ao Senhor (kyriakón), mas ela tem a desvantagem de ter adquirido uma nuança hierárquica. A palavra “congregação” destaca o fato de que a pequena irmandade já é igreja, e salienta o aspecto de reunião, mas tem a desvantagem de chamar a atenção para o grupo individual, por vezes num sentido sectário. “Comunidade eclesiástica” poderia ser recomendado como possível alternativa para ambas. Origem. No contexto bíblico, o termo "igreja" designa normalmente a reunião do povo de Deus no Antigo ou Novo Testamento. Na Bíblia, encontramos muitas imagens que mostram aspectos complementares do mistério da Igreja. O Antigo Testamento privilegia imagens como: povo (de Deus), rebanho, escolhidos, oliveira; o Novo Testamento usa imagens como: corpo de Cristo na terra, imagem pastoral (aprisco, rebanho, ovelhas), agrícola (campo, oliveira, vinha), de habitação (morada, pedra, templo), familiar (esposa, mãe, família, filhos). No Antigo Testamento. Embora o Novo Testamento acrescente um sentido mais profundo ao conceito de "igreja de Deus" ou "assembleia de Deus", contudo, deve ser compreendido que o NT não inventou o conceito de "igreja" ou "assembleia", antes o desenvolveu a partir de sua base veterotestamentária. "A LXX usa ekklēsía cerca de 100 vezes, na maior parte para qāhāl. O termo ekklēsía tem o sentido básico de “assembleia” (cf. Dt 9.10; 1Rs 8.65); apenas o acréscimo de "kyríou" [do Senhor] dá a ele um sentido teológico (cf. Dt 23.2ss., etc.), ou uma expressão como “de Israel” (1Rs 8.14) ou “dos santos” (Sl 89.5, etc.) O uso de synagōgḗ [sinagoga] é similar. Este, também, é muitas vezes usado para qāhāl, e tem tanto um sentido geral (“assembleia”) quanto um sentido técnico (“congregação de Israel”). [...] Enquanto ekklēsía é quase sempre usado para qāhāl, qāhāl é traduzido por ekklēsía apenas em alguns livros (p. ex., Deuteronômio, Josué, Juízes, Samuel, Reis, Crônicas, Esdras, Neemias, Salmos). Em outros lugares, synagōgḗ é usado como equivalente, ocasionalmente também outros termos como óchlos ou sýstasis. Synagōgē, diferentemente de ekklēsía, também é usada para ‘ēḏâ, comum em Êxodo, Levítico e Números." No Novo Testamento. A palavra "Igreja" aparece no Novo Testamento pela primeira vez no livro em , no evento conhecido como Confissão de Pedro. O termo pode ser a uma certa localidade como, por exemplo, as sete Igrejas do Apocalipse, ou pode se referir à igreja universal (católica) como um todo unificado como em Mateus 18.15-17. Em , no chamado "Discurso sobre a Igreja", encontramos as seguintes palavras de Jesus: História. Inicialmente, a organização das comunidades locais é centrada principalmente nos presbíteros ou anciãos e nos diáconos a serviço da caridade. Posteriormente, desenvolveu-se a liderança dos bispos distintamente dos presbíteros. Os contornos das várias funções dos bispos, presbíteros e diáconos são difíceis de determinar com precisão e muitos usam alguns desses termos de forma sobreposta ou intercambiável. Em 325, no Primeiro Concílio de Niceia, uma estrutura hierárquica aparece com um bispo à frente de uma província que tem presbíteros (sacerdotes ou pastores), e diáconos. Termos distintivos da igreja. Existe uma terminologia tradicionalmente usada por todos os ramos principais do cristianismo para descrever e distinguir a Igreja de Cristo no seu sentido mais elementar, sem contudo, especificar um grupo ou ramo cristão em detrimento dos outros. 1. Una, santa, católica* e apostólica. As quatro marcas da Igreja ou quatro características da Igreja são um grupo de quatro adjetivos ou "atributos" considerados como características que descrevem a Igreja de Jesus Cristo, sendo elas – "una, santa, católica e apostólica". Estes atributos foram definidos oficialmente no Credo Niceno-Constantinopolitano, no ano de 381, o qual professa: "Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica". Essas quatro atributos, considerados em sentido "lato" (amplo), são admitidos e professados por todos os ramos do cristianismo e igrejas cristãs históricas. Por exemplo, essa crença é partilhada pela Igreja Católica Romana, ortodoxas bizantinas, nestoriana, ortodoxas orientais, Presbiteriana, Anglicana e demais do protestantismo histórico, comumente chamadas de a"tributos da igreja". 2. Igreja militante e igreja triunfante. A igreja universal (católica) é dividida em duas partes: igreja militante e igreja triunfante. A distinção entre igreja militante e igreja triunfantes significa que há um grupo de cristãos verdadeiros na terra que ainda lutam contra o pecado, o mundo e o diabo, e um grupo de cristãos verdadeiros nos céus que já venceram o pecado, o mundo e o diabo e agora estão com Cristo em glória aguardando a ressurreição do corpo físico. 3. Igreja visível e igreja invisível. Essa distinção entre igreja visível e igreja invisível foi primeiramente desenvolvida em profundidade por Agostinho e se tornou consagrada no cristianismo em geral. Essa distinção foi feita por Agostinho porque ele percebeu que a igreja, como observada humanamente, é um "corpus permixtum" (i.e., corpo misto), onde há uma mistura de cristãos verdadeiros e falsos. A igreja enquanto grupo de pessoas ou instituição organizada, possui um conjunto de membros ou fiéis visível na terra, contudo, nosso conhecimento humano de quem compõe a igreja de Cristo é imperfeito, pois, hora consideramos como cristão aquele que de fato não o é, e hora consideramos como não cristão aquele que de fato o é. Essa seria a igreja visível. Por isso, Agostinho também estabeleceu o conceito de "igreja invisível", que se refere à igreja como conhecida perfeitamente por Deus. Somente o Senhor da Igreja vê e conhece perfeitamente aqueles que são seus, pois ele vê o coração e espírito. Segundo Agostinho, a igreja invisível é encontrada substancialmente dentro da igreja visível, como se fossem dois círculos concêntricos no qual o maior círculo é a igreja visível e o menor interior, é a igreja invisível. A igreja verdadeira invisível sempre terá uma manifestação visível e conhecida nesse mundo, contudo essa visibilidade é sempre imperfeita. Principais ramos do cristianismo. Igreja Católica Apostólica Romana. No Catolicismo, a Igreja Católica Romana, com uma administração centralizada no Vaticano, é a representação da Igreja. A Igreja é "o povo que Deus convoca e reúne de todos os confins da Terra, para constituir a assembleia daqueles que, pela fé e pelo Batismo, se tornam filhos de Deus, membros do Corpo de Cristo e templo do Espírito Santo". Os católicos acreditam que a única Igreja fundada e encabeçada por Jesus Cristo, ""como sociedade constituída e organizada no mundo, subsiste ("subsistit in") na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele" Segundo a Tradição Católica, a Igreja está alicerçada sobre o Apóstolo Pedro, a quem Cristo prometeu o Primado, ao afirmar que "sobre esta pedra (do grego "petros") edificarei a minha Igreja" e que "dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus"" (cf. Mt 16, 17-20). Algumas igrejas orientais particulares "sui iuris" com autonomia de governo, tradições e liturgia próprias, mas reconhecendo a autoridade papal e em plena comunhão com a Igreja de Roma. Entre elas: Igreja Católica Eritreia, Igreja Católica Etíope e Igreja Católica Copta. A Igreja Católica afirma ser a detentora na plenitude dos sete sacramentos e dos outros meios necessários para a salvação, dados por Jesus à Igreja. Tudo isto para reunir, santificar, purificar e salvar toda a humanidade e para antecipar a realização do Reino de Deus, cuja semente é necessariamente a Igreja.. Por esta razão, a Igreja, guiada e protegida pelo Espírito Santo, insiste na sua missão de anunciar o Evangelho a todo o mundo, sendo aliás ordenada pelo próprio Cristo: "ide e ensinai todas as nações, batizando-as no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" ("Mt 28,19") A Igreja, mediante os sacramentos do Batismo e da Reconciliação, tem, também, "a missão e o poder de perdoar os pecados, porque o próprio Cristo lho conferiu"". No Credo niceno-constantinopolitano, são atribuídas, à Igreja, as propriedades de "una, santa, católica e apostólica". Além disto, ela é, também, chamada de "Esposa de Cristo", "Templo do Espírito Santo" e "Corpo de Cristo", sendo este último revestido de um significado importante e especial para a Igreja. Este último nome assenta na crença de que a Igreja não é apenas uma simples instituição, mas um corpo místico constituído por Jesus, que é a cabeça, e pelos fiéis, que são membros deste corpo inquebrável, através da fé e do sacramento do Batismo. Este nome é assente também na crença de que os fiéis são unidos intimamente a Cristo por meio do Espírito Santo, sobretudo no sacramento da Eucaristia. Igreja Católica Apostólica Ortodoxa. A Igreja Ortodoxa ou Igreja Católica Ortodoxa, reúne as Igrejas autocefálicas que escolhem seu próprio primata. São igrejas que de origem bizantina que romperam com Roma no Grande Cisma em 1054, deixando de reconhecer a primazia do Papa e reconhecendo apenas o primado de honra do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. As Igreja Católica Ortodoxa, assim como a Católica Romana, possui uma forte hierarquia episcopal (governada por bispos) e centralizada no Patriarca de Constantinopla. As igrejas autônomas têm um arcebispo. Por causa de sua influência ou importância histórica, uma igreja autocéfala pode ostentar o título de patriarcado ou de arcebispado e, portanto, ser liderada por um patriarca ou um arcebispo. Igrejas Ortodoxas Orientais. As chamadas igrejas ortodoxas orientais devem ser distinguidas das igrejas ortodoxas bizantinas (ver acima) que aceitam a doutrina do Concílio de Calcedónia (451 d.C.) sobre as duas naturezas de Cristo, doutrina que é aceita pelos católicos romanos e católicos ortodoxos bizantinos e protestantes históricos. As igrejas ortodoxas orientais rejeitam, portanto, o Credo Calcedoniano, mas aceitam os três primeiros Concílios Ecumênicos e seus credos. O Conselho Mundial de Igrejas lista seis igrejas ortodoxas orientais: Igreja Ortodoxa Copta, Igreja Ortodoxa Síria, Igreja Apostólica Armênia, Igreja Ortodoxa Etíope, Igreja Ortodoxa Eritreia e Igreja Ortodoxa Indiana. Igrejas evangélicas históricas. Os termos "protestantes" ou "evangélicos" são intercambiáveis, sendo que o primeiro tem caído em desuso. Motomura "afirma que: "Em alguns países, especialmente no Brasil, o termo 'protestante' foi substituído por 'evangélico', retirando a conotação polêmica da palavra e dando uma característica mais positiva e universal."" A distinção que se faz entre "protestante" e "evangélico" como se fossem grupos diferentes é meramente popular e não é correta historicamente, pois, desde a Reforma do século XVI, esse foi o termo "evangélico(a)" foi adotado por Martinho Lutero, enquanto "protestante" foi um termo aplicado pelos católicos anos depois do início da reforma em 1529. O mais exato seria fazer a distinção entre protestantes/evangélicos históricos e modernos, ou entre evangélicos históricos, pentecostais e neopentecostais. As igrejas protestantes ou evangélicas. históricas abrangem as denominações ou igrejas nacionais originadas no movimento da Reforma do século XVI como consequência das ideias de Martinho Lutero e outros reformadores: Igreja Evangélica na Alemanha (Evangelische Kirche in Deutschland, de confissão luterana), Igreja Episcopal Anglicana, Igreja Reformada da Suíça, Igreja Reformada dos Países Baixos, Igreja da Escócia (presbiteriana), igrejas independentes (hoje chamadas de igrejas congregacionais) e, posteriormente, as igrejas batistas Essas denominações ou igrejas originais se espalharam pelo mundo e passaram por desdobramentos e divisões. No protestantismo histórico, normalmente as igrejas são nacionais e autônomas, não possuindo um governo ou concílio mundial como no Catolicismo Romano. Mas existem organizações internacionais que promovem a fraternidade e comunhão das diferentes igrejas nacionais. Por exemplo: a Comunhão Anglicana, a Federação Luterana Mundial e a Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas. A organização das igrejas nacionais variam bastante dependendo da denominação. Algumas igrejas se organizam em concílios e sínodos que têm autoridade normativa sobre as igrejas ou paróquias locais como as igrejas luteranas, reformadas e presbiterianas. Outras igrejas são independentes de uma hierarquia ou sínodo como: as igrejas independentes ou congregacionais e batistas históricos. No primeiro caso é dito que são igrejas conciliares, no último caso são igrejas congregacionais. Contudo, mesmo as igrejas independentes ou congregacionais formam "convenções" (ou "comunhão") com a finalidade de manterem comunhão e cooperação mútua das igrejas afiliadas facultativamente, mas sem autoridade e interferência nas igrejas afiliadas. Quanto ao governo ou liderança das igrejas protestantes, também há bastante diversidade. Algumas denominações são "episcopais" com uma hierarquia de bispos sobre "presbíteros" e "diáconos" como as luteranas, anglicanas e metodistas. Outras denominações são "não-hierárquicas" com um único tipo ou nível de liderança composta de presbíteros (indistinto de bispos ou pastores) e diáconos como no caso das igrejas reformadas, presbiterianas, congregacionais e batistas. Quanto a doutrina, há um conjunto de verdades centrais compartilhadas historicamente com o catolicismo romano como as doutrinas dos Credos Universais (Apostólico, Niceno, Niceno-Constantinopolitano, Atanasiano e o de Calcedônia), e doutrinas centrais peculiares do protestantismo compartilhadas entre as igrejas evangélicas históricas. As igrejas evangélicas, exceto a Ala Alta da Igreja Anglicana, possuem apenas dois sacramentos ou ordenanças, a saber, o Batismo e a Santa Ceia (Eucaristia). Muitas igrejas aderem a documentos confessionais (Confissão de Fé e Catecismos) e regulamentos comuns que explicitam suas crenças bíblicas. Igrejas evangélicas pentecostais. As igrejas denominadas pentecostais, surgiram nos EUA a partir dos batistas e metodistas. Essas igrejas conservam as mesmas características e variedade de organização, governo e doutrina centrais das "igrejas evangélicas históricas", mas se distinguem delas quanto à doutrina dos dons ou carismas extraordinários como: falar em línguas (glossolalia), profecias, revelações e dons de curar. A Assembleia de Deus é tida como a maior igreja pentecostal do mundo, se bem que a rigor não é uma igreja unificada, já que oficialmente seu governo é congregacional independente, e possui várias divisões ou "ministérios" como normalmente são chamados. Outras igrejas pentecostais bastante difundidas no Brasil são: Igreja do Evangelho Quadrangular e Congregação Cristã no Brasil. Igrejas evangélicas neopentecostais. As igrejas evangélicas classificadas no meio acadêmico e eclesiástico como "neopentecostais" (embora não sejam nomeadas oficialmente com esse termo), têm origem na "Terceira Onda" do pentecostalismo no final da década de 70 nos EUA.. Os "neopentecostais, conservam muitas crenças e práticas do pentecostalismo, mas a principal característica dos neopentecostais é se distanciarem da moral e costumes rígidos dos pentecostais e tradicionais, e, por outro lado, enfatizarem a teologia da prosperidade ou "confissão positiva" (prosperidade material, econômica e saúde física), a batalha espiritual (exorcismos, demônios territoriais, maldição hereditária, quebra de maldição). "Ainda segundo Mariano, quanto a essa nova roupagem do protestantismo no Brasil, podemos afirmar que as Igrejas Neopentecostais realizaram as mais profundas acomodações à sociedade (se pensarmos em termos de mutações do protestantismo através dos tempos), abandonando vários traços sectários, hábitos ascéticos e o velho estereótipo pelo qual os “crentes” eram reconhecidos e, implacavelmente, estigmatizados, abolindo certas marcas distintivas e tradicionais de sua religião, propondo novos ritos, crenças e práticas, dando ares mais brandos aos costumes e comportamentos como em relação às vestimentas. O prefixo “neo” é utilizado para marcar sua recente formação, bem como seu caráter de “novidade” dentro do protestantismo, mais especificamente do pentecostalismo." Como as pentecostais, essas igrejas também variam bastante quanto à organização (podendo ter ou não ter uma organização e um líder mundial) e quanto à forma de governo, sendo comum haver uma forte hierarquia: apóstolos, bispos, pastores (presbíteros), diáconos, evangelistas, missionários, obreiros etc. As principais igrejas neopentecostais no Brasil são: Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Mundial do Poder de Deus, Igreja Renascer em Cristo, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Igreja Bola de Neve, etc. Arquitetura das igrejas (templos). O termo igreja é usado para nomear e descrever não apenas uma comunidade religiosa cristã (pessoas) e organizações, mas também para nomear a construção, igreja (edifício), usada para serviços religiosos públicos ou culto cristão. A arquitetura das igrejas variam bastante dependendo da época, lugar ou grupo cristão. Também há bastante variedade quanto aos adornos, símbolos e imagens utilizadas em seu exterior e interior.
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Internet
Internet A Internet é um sistema global de redes de computadores interligadas que utilizam um conjunto próprio de protocolos ("Internet Protocol Suite" ou TCP/IP) com o propósito de servir progressivamente usuários no mundo inteiro. É uma rede de várias outras redes, que consiste de milhões de empresas privadas, públicas, acadêmicas e de governo, com alcance local e global e que está ligada por uma ampla variedade de tecnologias de rede eletrônica, sem fio e ópticas. A internet traz uma extensa gama de recursos de informação e serviços, tais como os documentos inter-relacionados de hipertextos da World Wide Web (WWW), redes ponto-a-ponto ("peer-to-peer") e infraestrutura de apoio a correio eletrônico (e-mails). As origens da internet remontam a uma pesquisa encomendada pelo governo dos Estados Unidos na década de 1960 para construir uma forma de comunicação robusta e sem falhas através de redes de computadores. Embora este trabalho, juntamente com projetos no Reino Unido e na França, tenha levado à criação de redes precursoras importantes, ele não criou a internet. Não há consenso sobre a data exata em que a internet moderna surgiu, mas foi em algum momento em meados da década de 1980. O financiamento de uma nova estrutura principal de informática (dita "backbone"), para os Estados Unidos pela Fundação Nacional da Ciência nos anos 1980, bem como o financiamento privado para outros similares "backbones" comerciais, levou à participação mundial no desenvolvimento de novas tecnologias de rede e da fusão de muitas redes distintas. Embora a internet seja amplamente utilizada pela academia desde os anos 1980, a comercialização da tecnologia na década de 1990 resultou na sua divulgação e incorporação da rede internacional em praticamente todos os aspectos da vida humana moderna. Em junho de 2012, mais de 2,4 bilhões de pessoas — mais de um terço da população mundial — usaram os serviços da internet, cerca de 100 vezes mais do que em 1995. O uso da internet cresceu rapidamente no Ocidente entre da década de 1990 a início dos anos 2000 e desde a década de 1990 no mundo em desenvolvimento. Em 1994, apenas 3% das salas de aula estadunidenses tinham internet, enquanto em 2002 esse índice saltou para 92%. A maioria das comunicações tradicionais dos meios de comunicação (ou mídia), como telefone, música, cinema e televisão estão a ser remodeladas ou redefinidas pela internet, dando origem a novos serviços, como o protocolo de internet de voz (VoIP) e o protocolo de internet de televisão (IPTV). Jornais, livros e outras publicações impressas estão-se adaptando à tecnologia "web" ou têm sido reformulados para "blogs" e "feeds". A internet permitiu e acelerou a criação de novas formas de interações humanas através de mensagens instantâneas, fóruns de discussão e redes sociais. O comércio on-line tem crescido tanto para grandes lojas de varejo quanto para pequenos artesãos e comerciantes. "Business-to-business" e serviços financeiros na internet afetam as cadeias de abastecimento por meio de indústrias inteiras. A essa agregação de funcionalidades por meio dum núcleo comum (Internet, no caso), tem-se usado chamar convergência tecnológica ou, simplesmente, quando não for ambíguo, convergência. A internet não tem governança centralizada em qualquer aplicação tecnológica ou políticas de acesso e uso; cada rede constituinte define suas próprias políticas. Apenas as definições de excesso dos dois principais espaços de nomes na internet — o espaço de endereçamento Protocolo de Internet e Domain Name System — são dirigidos por uma organização mantenedora, a Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números (ICANN). A sustentação técnica e a padronização dos protocolos de núcleo (IPv4 e IPv6) é uma atividade do Internet Engineering Task Force (IETF), uma organização sem fins lucrativos de participantes internacionais vagamente filiados, sendo que qualquer pessoa pode se associar contribuindo com a perícia técnica. Terminologia. O termo "internet", como um sistema global específico de redes de IPs interconectados, é um nome próprio. A Internet também é muitas vezes referida como "Net". A palavra "internet" foi utilizado historicamente, com inicial minúscula, logo em 1883 como um verbo e adjetivo para se referir a movimentos interligados. No início dos anos 1970, o termo internet começou a ser usado como uma forma abreviada do conjunto de redes técnicas, o resultado da interligação de redes de computadores com "gateways" especiais ou roteadores. Ele também foi usado como um verbo que significa "conectar", especialmente redes. Os termos "internet" e "World Wide Web" são frequentemente usados como sinônimos na linguagem corrente, é comum falar-se de "navegar na internet", em referências ao navegador web para exibir páginas web. No entanto, a internet é uma rede mundial de computadores especial conectando milhões de dispositivos de computação, enquanto a World Wide Web é apenas um dos muitos serviços que funcionam dentro da internet. A Web é uma coleção de documentos interligados (páginas web) e outros recursos da internet, ligadas por hiperlinks e URLs. Além da "web", muitos outros serviços são implementados através da internet, como e-mail, transferência de arquivos, controle remoto de computador, grupos de notícias e jogos online. Todos esses serviços podem ser implementados em qualquer intranet, acessível para os usuários da rede. História. A pesquisa sobre a comutação de pacotes começou na década de 1960 e redes de comutação de pacotes, como Mark I, no NPL no Reino Unido, ARPANET, CYCLADES, Merit Network, Tymnet e Telenet, foram desenvolvidas em final dos anos 1960 e início dos anos 1970, usando uma variedade de protocolos. A ARPANET, em particular, levou ao desenvolvimento de protocolos para "internetworking", onde várias redes separadas poderiam ser unidas em uma rede de redes. Os dois primeiros nós do que viria a ser a ARPANET foram interconectados entre o Network Measurement Center de Leonard Kleinrock na Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas da UCLA e o sistema NLS de Douglas Engelbart no SRI International (SRI), em Menlo Park, Califórnia, em 29 de outubro de 1969. O terceiro nó da ARPANET era o Culler-Fried Interactive Mathematics Center da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e o quarto era o Departamento Gráfico da Universidade de Utah. Em um sinal precoce de crescimento futuro, já havia quinze sites conectados à jovem ARPANET até o final de 1971. Em Dezembro de 1974, o "RFC 675 - Specification of Internet Transmission Control Program", de Vinton Cerf, Yogen Dalal e Carl Sunshine usou o termo "internet" como uma abreviação para "internetworking" e RFCs posteriores repetiram esse termo. O acesso à ARPANET foi ampliado em 1981, quando a Fundação Nacional da Ciência (NSF), desenvolvido a Computer Science Network (CSNET). Em 1982, o Internet Protocol Suite (TCP/IP) foi padronizada e o conceito de uma rede mundial de redes TCP/IP totalmente interligadas chamado de internet foi introduzido. O acesso à rede TCP/IP expandiu-se novamente em 1986, quando o National Science Foundation Network (NSFNET) proveu acesso a sites de supercomputadores nos Estados Unidos a partir de organizações de pesquisa e de educação, o primeiro a 56 kbit/s e, mais tarde, 1,5 Mbit/s e 45 Mbit/s. A Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN) foi a responsável pela invenção da World Wide Web, ou simplesmente a "Web", como hoje a conhecemos. Corria o ano de 1990, e o que, numa primeira fase, permitia apenas aos cientistas trocar dados, acabou por se tornar a complexa e essencial Web. O responsável pela invenção chama-se Tim Berners-Lee, que construiu o seu primeiro computador na Universidade de Oxford, onde se formou em 1976. Quatro anos depois, tornava-se consultor de engenharia de software no CERN e escrevia o seu primeiro programa para armazenamento de informação – chamava-se Enquire e, embora nunca tenha sido publicada, foi a base para o desenvolvimento da Web. Em 1989, propôs um projecto de hipertexto que permitia às pessoas trabalhar em conjunto, combinando o seu conhecimento numa rede de documentos. Foi esse projecto que ficou conhecido como a World Wide Web. A Web funcionou primeiro dentro do CERN, e no Verão de 1991 foi disponibilizada mundialmente. A internet foi totalmente comercializada nos Estados Unidos em 1995, quando a NSFNET foi desmantelada, removendo as últimas restrições sobre o uso da internet para transportar o tráfego comercial. A internet começou uma rápida expansão para a Europa e Austrália em meados da década de 1980 e para a Ásia no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Desde meados da década de 1990 a internet teve um enorme impacto sobre a cultura e o comércio mundiais, como pelo aumento da comunicação instantânea através de e-mails, mensagens instantâneas, "telefonemas" VoIP, chamadas de vídeo interativas, com a World Wide Web e seus fóruns de discussão, blogs, redes sociais e sites de compras online. Quantidades crescentes de dados são transmitidos em velocidades cada vez mais elevadas em redes de fibra óptica operando a 1 Gbit/s, 10 Gbit/s, ou mais. A internet continua a crescer, impulsionando quantidades cada vez maiores de informações "on-line" e de conhecimento, comércio, entretenimento e redes sociais. Durante a década de 1990, estimou-se que o tráfego na internet pública cresceu cerca 100% ao ano, enquanto estima-se que o crescimento anual do número de usuários seja de algo entre 20% e 50%. Este crescimento é muitas vezes atribuído à falta de uma administração central, que permita o crescimento orgânico da rede, bem como pela natureza não-proprietária e aberta dos protocolos de internet, o que incentiva o fornecedor de interoperabilidade e impede qualquer empresa de exercer muito controle sobre a rede. Em 31 de março de 2011, o número total estimado de usuários da internet foi de cerca de 2 bilhões de pessoas (ou cerca de 30% da população mundial). Estima-se que em 1993 a internet realizou apenas 1% do fluxo de informações através de duas vias de telecomunicações; em 2000 este valor tinha aumentado para 51% e, até 2007, mais do que 97% de todas as informações telecomunicadas foi realizada através da rede mundial. No Brasil. No Brasil existe desde 1995 o Comitê Gestor da Internet, órgão responsável por estebelecer as diretrizes estratégicas para a navegação na internet do Brasil.Em 2005 a tarefa de liberar os registros da internet no Brasil deixou de ser da FAPESP, que até então foi responsável pela liberação dos domínios .br( ponto br),e passou a ser responsabilidade do NIC.br, entidade criada pelo Comitê Gestor da Internet. Em 2012 foi atingida a marca de três milhões de dominios .br (ponto br) registrados. Em setembro de 2022 os domínios .br alcançaram a marca de 5 milhões. No final de 1997, o Comitê Gestor passou a liberar os novos domínios de segundo nível. Antes desses e além o domínio de primeiro nível .br, o Brasil tinha apenas cinco domínios de segundo nível. Em 23 de abril de 2014 foi sancionada a Lei Federal 12 965, do Marco Civil da Internet, que estabeleceu os princípios, garantias, direitos e deveres para a utilização da internet no Brasil. Arquitetura. Muitos cientistas de computação veem a Internet como o "maior exemplo de sistema de grande escala altamente engenharizado, ainda muito complexo". A Internet é extremamente heterogênea, por exemplo, as taxas de transferências de dados e as características físicas das conexões variam grandemente. A Internet exibe "fenômenos emergentes" que dependem de sua organização de grande escala. Por exemplo, as taxas de transferências de dados exibem autossimilaridade temporal. Adicionando ainda mais à complexidade da Internet, está a habilidade de mais de um computador de usar a Internet através de um elo de conexão, assim criando a possibilidade de uma sub-rede profunda e hierárquica que pode teoricamente ser estendida infinitivamente, desconsiderando as limitações programáticas do protocolo IPv4. Os princípios desta arquitetura de dados se originam na década de 1960, que pode não ser a melhor solução de adaptação para os tempos modernos. Assim, a possibilidade de desenvolver estruturas alternativas está atualmente em planejamento. De acordo com um artigo de junho de 2007, na revista Discover, o peso combinado de todos os elétrons que se movem dentro da Internet num dia é de 2−6 gramas. Outras estimativas dizem que o peso total dos elétrons que se movem na Internet diariamente chega a 2 gramas. Existem muitas análises da Internet e de sua estrutura. Por exemplo, foi determinado que tanto a estrutura de rotas IP da Internet quanto as ligações de hipertexto da World Wide Web são exemplos de redes de escala livre. Semelhantemente aos provedores comerciais de Internet, que se conectam através de pontos neutros, as redes de pesquisa tendem a se interconectar com subredes maiores, como GEANT; GLORIAD; Internet2 (conhecido anteriormente como Rede Abilene) e JANET (A Rede Nacional de Pesquisa e Educação do Reino Unido). Essas, então, são construídas em torno de redes relativamente menores. Diagramas de redes de computador representam frequentemente a Internet usando um símbolo de nuvem, pelo qual as comunicações de rede passam. Protocolos. Para o funcionamento da Internet existem três camadas de protocolos. Na camada mais baixa está o Protocolo de Internet ("Internet Protocol"), que define datagramas ou pacotes que carregam blocos de dados de um nó da rede para outro. A maior parte da Internet atual (2007) ainda utiliza a IPv4, quarta versão do protocolo, apesar de o IPv6 já estar padronizado, sendo usado em algumas redes específicas somente. Independentemente da arquitetura de computador usada, dois computadores podem se comunicar entre si na Internet, desde que compreendam o protocolo de Internet. Isso permite que diferentes tipos de máquinas e sistemas possam conectar-se à grande rede, seja um PDA conectando-se a um servidor WWW ou um computador pessoal executando Microsoft Windows conectando-se a outro computador pessoal executando Linux. Na camada média está o TCP, UDP e ICMP. Esses são protocolos no qual os dados são transmitidos. O TCP é capaz de realizar uma conexão virtual, fornecendo certo grau de garantia na comunicação de dados. Na camada mais alta estão os protocolos de aplicação, que definem mensagens específicas e formatos digitais comunicados por aplicações. Alguns dos protocolos de aplicação mais usados incluem DNS (informações sobre domínio), POP3 (recebimento de "e-mail"), IMAP (acesso de "e-mail"), SMTP (envio de "e-mail"), HTTP (documentos da WWW) e FTP (transferência de dados). Todos os serviços da Internet fazem uso dos protocolos de aplicação, sendo o correio eletrônico e a World Wide Web os mais conhecidos. A partir desses protocolos é possível criar aplicações como listas de discussão ou "blogs". Tipos de conexão. Os meios de acesso direto à Internet são a conexão dial-up, a banda larga (em cabos coaxiais, fibras ópticas ou cabos metálicos), Wi-Fi, satélites e telefones celulares com tecnologia 3G, 4G e o 5G. Há ainda aqueles locais onde o acesso é provido por uma instituição ou empresa e o usuário se conecta à rede destas que provêm então acesso a Internet. Entre esses locais, encontram-se aqueles públicos com computadores para acesso à Internet, como centros comunitários, centros de inclusão digital, bibliotecas e cyber cafés, além de pontos de acesso à Internet, como aeroportos e outros. Alguns desses locais limitam o uso por usuário a breves períodos de tempo. Para nomear estes locais, vários termos são usados, como "terminal de acesso público", "quiosques de acesso a Internet", "LAN houses" ou ainda "telefones públicos com acesso à Internet". Muitos hotéis também têm pontos públicos de conexão à Internet, embora na maior parte dos casos, é necessário pagar pelos momentos de acesso. Existem, ainda, locais de acesso à Internet sem fio (Wi-Fi), onde usuários precisam trazer seus próprios aparelhos dotados de tecnologia Wi-Fi, como laptops ou PDAs. Estes serviços de acesso a redes sem fio podem estar confinados a um edifício, uma loja ou restaurante, a um campus ou parque inteiro, ou mesmo cobrir toda uma cidade. Eles podem ser gratuitos para todos, livres somente para clientes, ou pagos. Iniciativas "grassroots" levaram à formação de redes de comunidades sem fio. Serviços comerciais Wi-Fi já estão cobrindo grandes áreas de cidades, como Londres, Viena, Toronto, San Francisco, Filadélfia, Chicago e Pittsburgh. A Internet pode ser acessada nessas cidades em parques ou mesmo nas ruas. Impacto social. A Internet tem possibilitado a formação de novas formas de interação, organização e atividades sociais, graças as suas características básicas, como o uso e o acesso difundido. Redes sociais, como Facebook, Instagram, MySpace, Orkut, Twitter, entre outras, têm criado uma nova forma de socialização e interação. Os usuários desses serviços são capazes de adicionar uma grande variedade de itens as suas páginas pessoais, de indicar interesses comuns, e de entrar em contato com outras pessoas. Também é possível encontrar um grande círculo de conhecimentos existentes, especialmente se o site permite que usuários utilizem seus nomes reais, e de permitir a comunicação entre os grandes grupos existentes de pessoas. Uso mundial. O uso geral da internet tem tido um enorme crescimento. De 2000 a 2009, o número de usuários da rede mundial no mundo subiu de 394 para 1,858 bilhão. Em 2010, 22% da população mundial tinha acesso a computadores, tendo ocorrências no mesmo ano de cerca de 1 bilhão de buscas no Google todos os dias, 300 milhões de usuários de internet lendo blogs e 2 bilhões de vídeos assistidos diariamente no YouTube. Por comparação, em 2008, as 10 línguas mais usadas na World Wide Web são o inglês (28,6%), o chinês (20,3%), espanhol (8,2%), japonês (5,9%), francês (4,6%), português (4,6%), alemão (4,1%), árabe (2,6%), russo (2,4%) e coreano (2,3%). Também em 2008, por região, 41% dos usuários de Internet do mundo estavam localizados na Ásia, 25% na Europa, 16% na América do Norte, 11% na América Latina e Caribe, 3% na África, 3% no Oriente Médio e 1% na Austrália. Controle e censura. Em sociedades democráticas, a Internet tem alcançado uma nova relevância como uma ferramenta política. A campanha presidencial de Barack Obama em 2008 nos Estados Unidos ficou famosa pela sua habilidade de gerar doações por meio da Internet. Muitos grupos políticos usam a rede global para alcançar um novo método de organização, com o objetivo de criar e manter o ativismo na Internet. Governos de países como Arábia Saudita, Bielorrússia, China, Coreia do Norte, Cuba, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã, Mianmar, Paquistão, Rússia, Síria, Tunísia, Turcomenistão, Turquia, Uzbequistão, Vietnã e Zimbábue, restringem o que as pessoas em seus países podem acessar na Internet, especialmente conteúdos políticos, de direitos humanos, e religiosos. Isto é conseguido por meio de softwares que filtram determinados domínios e conteúdos. Assim, esses domínios e conteúdos não podem ser acessados facilmente sem burlar de forma elaborada o sistema de bloqueio. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, "esses países transformaram a internet em uma intranet, para que os usuários não obtenham informações consideradas indesejáveis”. Além do mais, todas essas nações têm em comum governos autoritários, que se mantêm no poder por meio de um controle ideológico". A Coreia do Norte por exemplo é o país que possui apenas dois websites registrados: o órgão de controle de uso da rede (Centro Oficial de Computação) e o portal oficial do governo. Para população, é completamente vetado o uso de internet até porque não existem provedores no país. Existem cyber’s autorizados pelo governo, com conteúdo controlado e ainda assim as idas e vindas dos policiais são indispensáveis. Apenas os governantes tem acesso a conexão via-satélite. Já em Cuba, existe apenas um cyber e o preço para acessar sites estrangeiros (e controlado) é de cerca de 6 dólares por hora, sendo que o salário médio da população é de 17 dólares por mês. Com a velocidade da informação que a internet proporciona, os governantes desses países omitem informações da população, pois elas não tem acesso a esse emaranhado de notícias em tempo real. Na Noruega, Dinamarca, Finlândia e na Suécia, grandes provedores de serviços de Internet arranjaram voluntariamente a restrição (possivelmente para evitar que tal arranjo se torne uma lei) ao acesso a sites listados pela polícia. Enquanto essa lista de URL proibidos contém supostamente apenas endereços URL de sites de pornografia infantil, o conteúdo desta lista é secreta. Muitos países, incluindo os Estados Unidos, elaboraram leis que fazem da posse e da distribuição de certos materiais, como pornografia infantil, ilegais, mas não bloqueiam estes sites com a ajuda de softwares. Há muitos programas de software livres ou disponíveis comercialmente, com os quais os usuários podem escolher bloquear websites ofensivos num computador pessoal ou mesmo numa rede. Esses softwares podem bloquear, por exemplo, o acesso de crianças à pornografia ou à violência. Publicidade. A publicidade na Internet é um fenômeno bastante recente, que transformou em pouco tempo todo o mercado publicitário mundial. Hoje, estima-se que a sua participação em todo o mercado publicitário é de 10%, com grande potencial de crescimento nos próximos anos. Todo esse fenômeno ocorreu em curtíssimo espaço de tempo: basta lembrar que foi apenas em 1994 que ocorreu a primeira ação publicitária na Internet. O primeiro anúncio foi em forma de banner, criado pela empresa Hotwired para a divulgação da empresa norte-americana AT&T, que entrou no ar em 25 de outubro de 1994. Crimes. Os crimes mais usuais na rede incluem o envio de e-mails com falsos pedidos de atualização de dados bancários e senhas, conhecidos como phishing. Da mesma forma, e-mails prometendo falsos prêmios também são práticas onde o internauta é induzido a enviar dinheiro ou dados pessoais. Também há o envio de arquivos anexados contaminados com vírus de computador. Em 2004, os prejuízos com perdas on-line causadas por fraudes virtuais foram de 80% em relações às perdas por razões diversas. A praticidade em disseminar informações na Internet também contribui para que as pessoas tenham o acesso a elas, sobre diversos assuntos e diferentes pontos de vista. Mas nem todas as informações encontradas na Internet podem ser verídicas. Existe uma grande força no termo "liberdade de expressão" quando se fala de Internet, e isso possibilita a qualquer indivíduo publicar informações ilusórias sobre algum assunto, prejudicando, assim, a consistência dos dados disponíveis na rede. Um outro facto relevante sobre a Internet é o plágio, já que é muito comum as pessoas copiarem o material disponível. "O plagiador raramente melhora algo e, pior, não atualiza o material que copiou. O plagiador é um ente daninho que não colabora para deixar a Internet mais rica; ao contrário, gera cópias degradadas e desatualizadas de material que já existe, tornando mais difícil encontrar a informação completa e atual".
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Imperador Adriano
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Imperador Anastácio
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Imperador Andrónico
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Italia
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Fundamentalismo islâmico
Fundamentalismo islâmico Fundamentalismo islâmico é um termo utilizado para definir a ideologia política e religiosa fundamentalista que sustenta o Islão. De origem midiática, este termo define o Islã não apenas como uma religião, mas um sistema que também governa os imperativos políticos, econômicos, culturais e sociais do estado, quebrando o paradigma de estados laicos, comum nesta parte do planeta. Um objetivo crucial do fundamentalismo islâmico é a tomada de controle do Estado de forma a implementar o sistema islamista, ou seja, que abriga e coordena todos os aspectos sociais de uma sociedade através da xaria islâmica. No seguimento dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, ocorridos nos Estados Unidos o fundamentalismo islâmico e outros movimentos políticos inspirados por Osama bin Laden ganharam uma crescente atenção por parte dos meios de comunicação ocidentais, originando-se daí esta definição. O termo "fundamentalista" ("usuli") existe no islão há séculos, a palavra designa no sentido tradicional apenas os académicos da "ilm al-usul", a ciência que se dedica ao estudo do "fiqh" (direito islâmico). Controvérsia. O termo "fundamentalismo islâmico" é muitas vezes criticado. Bernard Lewis, um importante historiador do Islã, tinha a dizer contra ele: Em 1988, a Universidade de Chicago, apoiada pela Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos, lançou O Projeto Fundamentalismo, dedicado a pesquisar o fundamentalismo nas principais religiões do mundo, cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo, budismo e confucionismo. E definiu o fundamentalismo como ""abordagem, ou um conjunto de estratégias, pelo qual os crentes sitiados na tentativa de preservar a sua identidade distinta como um povo ou grupo... por uma recuperação seletiva de doutrinas, crenças e práticas de um passado sagrado." História. Os movimentos fundamentalistas islâmicos desenvolveram-se antes do século XX em reação a vários acontecimentos. Depois da Primeira Guerra Mundial, a dissolução do Império Otomano e do califado por Mustafá Kemal Atatürk (fundador da Turquia), alguns muçulmanos sentiram a sua identidade religiosa ameaçada pela influência das ideias ocidentais, como consequência do domínio económico e militar dos países ocidentais. Durante a década de 1960, a ideologia predominante no mundo árabe era o Pan-arabismo que punha menor ênfase na religião e se empenhava na criação de um estado secular socialista, inspirado mais no nacionalismo árabe que no Islão. Uma das figuras de proa desta ideologia foi o sírio Michel Aflaq, o fundador do partido Baath, que estudou na Sorbonne nos anos 30, tempos das lutas ideológicas na Europa. Ficou fascinado pelo Regime nazista, o pangermanismo de Adolf Hitler. Ele cunhou como poucos a ideologia do Pan-arabismo, que pretende a união dos países de língua árabe sob um comando único. Vários governos baseados no nacionalismo árabe debateram-se muitas vezes com problemas de estagnação económica e conflitos sociais. Alguns muçulmanos culpam os males das suas sociedades no influxo de ideias "estrangeiras". Um regresso aos princípios do Islão é percebido por eles como a cura natural. Um tema islâmico persistente é que os muçulmanos são perseguidos pelo ocidente e outros estrangeiros. Neste fundo geral, as ideias fundamentalistas desenvolveram-se em diferentes cenários. O fundamentalismo se baseia em uma interpretação literal dos vários livros sagrados e se afasta de uma interpretação mais mística. Após o surgimento e disseminação de lógica moderna, baseada no pensamento durante e depois do iluminismo (1650 - 1800) no mundo ocidental eram fundamentalistas religiosos literalmente ao interpretar os textos. O movimento deobandi. Na Índia, o movimento deobandi foi uma reacção às acções do Reino Unido contra muçulmanos e a influência de Syed Ahmed Khan, que era um defensor da reforma e modernização do Islão. O movimento recebe o nome da cidade de Deoband, onde ele surgiu, tendo sido construído à volta de escolas islâmicas (sobretudo a de Darul Uloom) e ensinava uma interpretação do Islão que encoraja a subserviência da mulher, desencorajando o uso de muitas formas de tecnologia e de entretenimento, e acreditava que apenas o conhecimento "revelado" ou inspirado por Deus deveria ser seguido. Apesar da filosofia deobandi ser puritana e desejar remover quaisquer influência não-muçulmana (i.e. hindu e ocidental) das sociedade muçulmanas, não foi particularmente violenta ou prosélita, confinando a sua actividade sobretudo no estabelecimento de madraças, escolas religiosas muçulmanas. Estas escolas chegam agora às dezenas de milhar por toda a Ásia, sobretudo no Paquistão e Índia, e permanecem o centro do movimento Deobandi. Elas são um dos grandes componentes do Islão na região (os seguidores de Sayed Ahmad Khan são uma minoria que no entanto é relevante dentro deste grupo). O movimento Talibã no Afeganistão é um produto da filosofia Deobandi e das madraças. Sayed Abul ala Maududi. Sayed Abul Ala Maududi ( grafias alternativasː Maudoodi, Mawdudi e Modudi ) foi uma figura importante nos princípios do século XX na Índia, e depois da Independência da Índia, no Paquistão. Fortemente influenciado pela ideologia deobandi, ele defendia a criação de um estado islâmico que aplicasse a xaria, (a lei islâmica), como interpretada pelos conselhos xura. Mawdudi fundou a Jamaat-e-Islami em 1941 e foi o seu líder até à sua morte em 1972. O seu livro muito influente, "Para melhor compreender o Islão" ("Risalah Diniyat" em árabe), teorizava o Islão no contexto moderno e permitiu não apenas aos conservadores ulema mas também modernizadores liberais tais como Al-Faruqi, cujo livro "Islamização do Conhecimento" completava alguns dos princípios fundamentais de Maududi, entre os quais a compatibilidade básica do islão com uma visão ética científica. Citando da própria obra de Mawdudi: Inerente a esta visão está uma total intolerância por não-muçulmanos. Crentes de outras fés só poderiam coexistir como “protegidos” - os dhimmi - com um estatuto inferior. Quanto aos apóstatas, devem ser executados. A Irmandade Muçulmana. As ideias de Mawdudi influenciaram fortemente Sayyid Qutb no Egipto. Qutb foi um dos principais filósofos do movimento da "Sociedade de irmãos muçulmanos" (Irmandade Muçulmana), que começou no Egipto em 1928 e que foi banido (mas que continua a existir ilegalmente) após confrontações com o presidente Egípcio Gamal Abdel Nasser, que mandou executar Qutb e muitos outros. A irmandade muçulmana (fundada por Hassan al-Banna) defendia um regresso à xaria por causa daquilo que era por eles percebido como a incapacidade de os valores ocidentais assegurarem a harmonia e a felicidade dos muçulmanos. Partindo do pressuposto que apenas a providência divina poderia levar os humanos a serem felizes, concluiu-se que os Muçulmanos deveriam evitar a democracia e viver de acordo com a doutrina por Deus inspirada (xaria). A Irmandade foi um dos primeiros grupos a invocar a "jihad" contra todos aqueles que não fossem seguidores do Islão. Nas palavras de al-Banna: Movimentos da Jihad Islâmica. Esta exortação foi seguida pela organização egípcia Jihad Islâmica Egípcia, responsável pelo assassinato de Anwar Sadat, mas com uma peculiaridade: a Jihad Islâmica focou os seus esforços em líderes "apóstatas" (seculares) de estados islâmicos, aqueles que foram seculares e introduziram ideias ocidentais às sociedades islâmicas. As suas visões ficaram patentes num panfleto escrito por "Muhammad Abd al-Salaam Farag", que disse: "...não há dúvida de que o primeiro campo de batalha para a jihad é o extermínio destes líderes infieis e a sua substituição por uma completa ordem islâmica..." Um outro movimento da Jihad islâmica surgiu na Palestina como um desdobramento do grupo egípcio, e iniciou actividade militar contra o Estado de Israel. Uaabismo. Outro ramo influente do pensamento islamista veio do movimento uaabita na Arábia Saudita. O movimento uaabita (termo ocidental midiático) surgiu no baseado fundamentalmente no monoteísmo do Alcorão e da suna, resgatado por Maomé ibne Abdal Uaabe. Neste resgate, levantou-se a questão que seria necessário viver de acordo com os ditames estritos do islão, que eles interpretavam como a vida de acordo com os ensinamentos do profeta Maomé e os seus seguidores durante o século VII em Medina. Consequentemente, eles opunham-se a muitas inovações desenvolvidas desde esse tempo, incluindo o minarete, orações perante a sepulturas de seus antepassados, considerando atos de idolatria, e mais tarde televisões e rádios. Maomé ibne Abdal Uaabe, também nesse resgate, considerou que aqueles muçulmanos que violam as interpretações da suna e do Alcorão são heréticos, e que estes deveriam sofrer punições. Quando o rei Abdul Aziz al-Saud fundou a Arábia Saudita, ele trouxe consigo os resgates que Maomé ibne Abdal Uaabe realizou para o poder. Com o crescer da proeminência Saudita, este movimento espalhou-se, em especial após a Crise do petróleo de 1973 e o consequente acréscimo da riqueza da Arábia Saudita. Atualmente o movimento uaabita continua sendo um dos mais fanáticos; na Somália, seus adeptos impõem sua orientação pela força, proibindo filmes, jogos de futebol, e qualquer forma de música, mesmo em telefones. No Sudão, seguindo a mesma orientação extremista, a policia prende as mulheres vestidas com calças compridas obrigando-as a pedir desculpas em público por este ato considerado por eles ofensivo. Fundamentalismo islâmico moderno. O fundamentalismo islâmico conheceu vários desenvolvimentos políticos e filosóficos na parte inicial do século XX, mas não foi até aos anos da década de 1980 que ganhou destaque na arena internacional. A revolução do aiatolá Khomeini no Irão, apesar do seu carácter xiita, ofereceu uma inspiração a muitos radicais islamistas e serviu como um exemplo de como um estado islâmico é estabelecido. Durante o conflito com a União Soviética, no Afeganistão, muitos muçulmanos juntaram-se para combater aquilo que eles viam como uma força invasora ateísta. Esta confluência resultou nas muitas alianças que foram feitas entre grupos de ideologias semelhantes. Entre as ocorrências dignas de nota, Osama bin Laden, um saudita influenciado pelo uaabismo e pelos escritos de Sayed Qutb, juntou forças com a Jihad Islâmica Egípcia sob a influência de Ayman al-Zawahiri para formar aquilo que hoje se chama de Al-Qaeda. Na sequência dessa luta contra a União Soviética surgiu o movimento Deobandi Talibã, o qual bin Laden ajudou a influenciar para tomar direções mais radicais, após a sua chegada ao Afeganistão de 1996. Fundamentalistas islâmicos também estão activos na Argélia, nos territórios palestinianos, Sudão, Nigéria e Mali. Muita da atividade fundamentalista islâmica tem sido dirigida contra governos de sociedades muçulmanas aos quais os fundamentalistas se opõem por eles não seguirem a xaria. Um esforço considerável foi dirigido também ao combate de alvos ocidentais, especialmente os Estados Unidos. Os EUA em particular são um alvo da ira dos fundamentalistas islâmicos pelo seu apoio ao Estado de Israel e o seu apoio a regimes aos quais os fundamentalistas se opõem. Adicionalmente, alguns fundamentalistas concentraram a sua atividade contra Israel e quase todos veem Israel com hostilidade. Osama bin Laden, pelo menos, acreditava que isto era uma necessidade devido ao conflito histórico entre muçulmanos e judeus e considerava que existia uma aliança judaico-americana contra o islão. Há algum debate quanto à questão de saber em que medida os movimentos fundamentalistas islâmicos permanecem influentes. Alguns acadêmicos afirmam que o fundamentalismo islâmico é o movimento de uma minoria, que está diminuindo, como se pode ver na falha clara de governos fundamentalistas islâmicos como no Sudão, o regime saudita uaabista e o Talibã, em melhorar a qualidade de vida dos muçulmanos. Outros (por exemplo Ahmed Rashid), no entanto, acham que os fundamentalistas ainda recebem apoio popular considerável, citando o fato de que candidatos fundamentalistas no Paquistão e Egito regularmente obtêm entre 10 e 30 por cento de sondagens eleitorais (as quais muitos acham que sejam manipuladas contra eles).
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Inconfidência Mineira
Inconfidência Mineira Inconfidência Mineira, também referida como Conjuração Mineira, foi uma conspiração de natureza separatista que ocorreu na então capitania de Minas Gerais, Estado do Brasil, entre outros motivos, contra a execução da derrama e o domínio português, sendo reprimida pela Coroa portuguesa em 1789. Sedições nas Minas. Desde a primeira metade do século XVIII ocorreram na capitania de Minas Gerais sucessivos motins. As razões para tais ocorrências variavam em torno de questões como tributação, abastecimento de alimentos e ações das autoridades, com destaque para a Guerra dos Emboabas e a Revolta de Filipe dos Santos. Enquanto alguns levantes buscavam apenas a restauração de um equilíbrio de poder, outros afrontaram a imposição da soberania régia. Foi o caso da sedição do sertão do rio São Francisco, ocorrida em 1736 e que se voltou contra as autoridades reais e a capitação — cobrança dos quintos reais realizada com base no número de escravos. Durante o reinado de D. José I (1750–1777), eclodiram inconfidências em locais isolados de Minas — Curvelo (1760-1763), Mariana (1769), Sabará (1775) e de novo Curvelo (1776) —, sempre em função de atritos com autoridades e seus aliados. Ao contrário da Inconfidência Mineira, esses motins anteriores implicavam manifestações concretas de violência, com a população na rua, arruaças, vivas à liberdade e referência a apoios de outras potências colonizadoras. Desde meados do século XVIII fazia-se sentir o declínio da produção aurífera nas Minas Gerais. Por essa razão, na segunda metade desse século, a Coroa portuguesa intensificou o controle fiscal sobre a sua colônia na América do Sul, proibindo, em 1785, as atividades fabris e artesanais na colônia e taxando severamente os produtos vindos da metrópole. Antecedentes. Vila Rica. Os principais acontecimentos da Inconfidência Mineira ocorreram em Vila Rica. Consta que as primeiras pessoas ali chegaram por volta do final do século XVII, sendo que o primitivo arraial tomou grande impulso entre os anos de 1700 a 1705. Em 1711, os diversos agrupamentos populacionais da região acabaram sendo reunidos num só núcleo, sendo elevado à categoria de “vila” com o nome de Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Albuquerque, em homenagem a António de Noronha de Albuquerque, que ocupava o cargo de governador da recém-fundada capitania de São Paulo e das Minas do Ouro. Dom João V, que passara a ocupar o trono português a partir do início de 1707 no lugar de seu pai, Pedro II de Portugal, abreviou-lhe o nome apenas para Vila Rica. Em pouco tempo, Vila Rica cresceu enormemente e, em 1723, já havia se tornado a capital das Minas Gerais. Por volta da metade do século XVIII, haveria de se transformar na maior cidade brasileira e o principal centro econômico da América portuguesa. Os homens mais ricos da colônia fariam da cidade o local de suas residências, bem como os mais destacados intelectuais. Existiam muitas construções de dois andares, as ruas centrais eram pavimentadas com pedras, ao contrário da maior parte das cidades do Brasil, e as igrejas apresentavam altares revestidos com ouro. Em 1786 apenas vinte e sete estudantes brasileiros estudavam na Universidade de Coimbra, sendo doze deles oriundos da capitania das Minas. Casas de Fundição. Todas as terras do Brasil pertenciam ao Reino de Portugal, personificado pela pessoa de seu rei. Este permitiria a qualquer súdito explorar as suas riquezas, exigindo em troca apenas uma pequena parcela para si, ou seja, o quinto. O grande problema era a forma como se procedia à arrecadação. Ninguém poderia sair da capitania, levando ouro que não tivesse sido quintado. Aliás, a partir do início do funcionamento das casas de fundição, ninguém mais poderia carregar ouro em pó. Esta medida provocou enorme descontentamento na população, pois nem todos tinham ouro suficiente para ser transformados em barras, como os mais pobres, que nunca juntavam o suficiente e, por isso, continuaram vivendo como se a lei não os alcançasse. Além do mais, tal proibição acabou gerando problemas sérios no comércio, uma vez que o ouro em pó constituía-se na principal moeda de troca da época, pois era fácil pesar e fragmentar. Em setembro de 1717, o Conde de Assumar criou a primeira casa de fundição em Minas. Até a construção delas, os mineradores que pagavam os impostos sobre a extração do ouro recebiam certificados de pagamento. Quem não exibisse este documento, teria todo seu ouro confiscado. A 11 de fevereiro de 1719, Dom João V assina uma lei criando as casas de fundição, mudando novamente as regras para a cobrança do imposto. Proibia-se terminantemente a circulação de ouro em pó. Quem fosse apanhado com isso e não estivesse se dirigindo para as Casas de Fundição seria tratado como contrabandista, teria seus bens confiscados e poderia, até mesmo, ser deportado para a África. Era mais uma tentativa que visava acabar com o contrabando e que, evidentemente, não deu certo. Todo o ouro extraído das minas deveria ser levado até as casas de fundição, onde seria pesado e transformado em barras, recebendo o selo real. Neste processo, descontavam-se automaticamente não só os vinte por cento referentes ao quinto, como também todas as despesas da própria fundição. Tão logo as casa de fundição começaram a funcionar, Dom João V teve a grata satisfação de ver a sua receita real aumentar enormemente. Em 1724 foram arrecadadas em torno de 36 arrobas de ouro. No ano seguinte, a arrecadação deu um salto extraordinário, subindo para 133 arrobas. Capitação e Derrama. Após a euforia inicial dos primeiros anos, Dom João V, passou a achar que seus leais súditos estavam sonegando os impostos e lesando a Real Fazenda. Não importava quanto ouro arrecadassem. Para a corte portuguesa, as minas eram infinitas e, se não se alcançava a quantia desejada, era porque os mineradores empalmavam a parte que cabia ao rei por direito. As casas de fundição não serviam mais para seus intentos. Então, a Coroa decidiu acabar com elas, substituindo-as por um novo sistema de arrecadação: a Capitação, no qual os impostos eram "pagos por cabeça". O plano foi colocado em prática após o novo governador, Dom André de Melo e Castro, Conde de Galveias, tomar posse a 1 de setembro de 1732. Estipulou-se que o valor pago seria da ordem de 17 gramas de ouro por escravo a cada seis meses. A arrecadação real em 1749 tinha sido de quase 1800 quilos de ouro. Porém, a coroa portuguesa não estava satisfeita e decidiu restabelecer o regime dos quintos arrecadados nas casas de fundição. Em 1783 foi nomeado para governador da capitania de Minas Gerais D. Luís da Cunha Meneses, reputado pela sua arbitrariedade e violência. Sem compreender a real razão do declínio da produção aurífera - o esgotamento das jazidas de aluvião - e atribuindo o fato ao "descaminho" (contrabando), Meneses estabeleceu uma cota mínima a ser paga por ano: cem arrobas de ouro. Caso este valor não fosse atingido, a Coroa lançava a derrama, uma contribuição coletiva, rateada entre todos os moradores da capitania, mineradores ou não, para cobrir os prejuízos do rei. Até 1766, a cota foi sempre atingida. Contudo, com o esgotamento das minas, os mineiros não conseguiram mais pagar o tributo, que foi se acumulando ano a ano. Então, por volta de 1788, começa-se a se falar que a derrama seria cobrada e todos iriam à falência. O movimento. Durante o período colonial do Brasil, a classe mais abastada de Minas Gerais, composta por proprietários rurais, comerciantes, intelectuais, clérigos e militares, estava descontente com a dominação portuguesa. Alguns dos indivíduos insatisfeitos, em sua maioria membros desta classe abastada, começaram a se reunir em conspiração contra o domínio colonial. Entre os conspiradores destacavam-se nomes como João Rodrigues de Macedo, Domingos de Abreu Vieira, os padres José da Silva e Oliveira Rolim, Manuel Rodrigues da Costa, Carlos Correia de Toledo e Melo, cônego Luís Vieira da Silva, os poetas Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga, coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, capitão José de Resende Costa e seu filho José de Resende Costa (filho), sargento-mor Luiz Vaz de Toledo Piza e alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como "Tiradentes". A intenção dessa conspiração, conhecida como Inconfidência Mineira, era libertar Minas Gerais do domínio português e estabelecer um país independente. No entanto, naquele momento, não havia uma intenção de libertar toda a colônia brasileira, pois a identidade nacional ainda não havia se consolidado. Inspirados pelos ideais iluministas da França e pela independência dos Estados Unidos da América, os conspiradores optaram pela forma de governo republicana. É importante ressaltar que não havia a intenção de abolir a escravidão, uma vez que muitos dos participantes do movimento eram proprietários de escravizados. As reuniões conspiratórias ocorriam em diferentes locais, incluindo as casas de Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, onde foram discutidos os planos e as leis para a nova ordem. Foi nesse contexto que a bandeira da nova República foi concebida: um pavilhão branco com um triângulo e a inscrição em latim "Libertas Quæ Sera Tamen", que os poetas inconfidentes interpretaram como "liberdade ainda que tardia", tendo parte desse verso sido adaptada da primeira écloga de Virgílio. No entanto, o novo governador das Minas Gerais, Luís António Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro, visconde de Barbacena, foi enviado com ordens expressas para impor a derrama, um tributo que despertava grande insatisfação entre a população. Os conspiradores decidiram que a revolução deveria ocorrer no dia em que a derrama fosse decretada, na esperança de contar com o apoio do povo descontente e de tropas sublevadas, almejando assim a vitória do movimento. Prisões e julgamentos. A conspiração foi desmantelada em 1789. O movimento foi traído por Joaquim Silvério dos Reis, que fez a denúncia para obter perdão de suas dívidas com a Coroa. O visconde de Barbacena mandou abrir, em junho de 1789, a sua Devassa com base nas denúncias de Silvério dos Reis, Basílio de Brito Malheiro do Lago, Inácio Correia Pamplona, tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Domingos de Abreu Vieira e de Domingos Vidal Barbosa Lage. Os réus foram acusados do crime de "lesa-majestade" como previsto pelas Ordenações Filipinas, Livro V, título 6, materializado em "inconfidência" (falta de fidelidade ao rei): Os líderes do movimento foram detidos e enviados para o Rio de Janeiro. Ainda em Vila Rica (atual Ouro Preto), Cláudio Manuel da Costa morreu na prisão na Casa dos Contos, onde estava preso assim como outros conspiradores com altos títulos sociais, e onde se acredita que tenha sido assassinado, suspeitando-se, em nossos dias, que a mando do próprio Governador. Durante o inquérito judicial, todos negaram a sua participação no movimento, menos o alferes Joaquim José da Silva Xavier, que assumiu a responsabilidade de chefia do movimento. Em 18 de abril de 1792 foi lida a sentença no Rio de Janeiro. Doze dos inconfidentes foram condenados à morte. Mas, em audiência no dia seguinte, foi lido decreto de Maria I de Portugal pelo qual todos, à exceção de Tiradentes, tiveram a pena comutada. Os degredados civis e militares foram remetidos para as colônias portuguesas na África, e os religiosos recolhidos a conventos em Portugal. Entre os primeiros, viriam a falecer pouco depois de terem chegado à África, o contratador Domingos de Abreu Vieira, o poeta Alvarenga Peixoto e o médico Domingos Vidal Barbosa Lage. Os sobreviventes reergueram-se integrados no comércio e na administração local, alguns mesmo tendo se reintegrado na vida política brasileira. Condenados à morte. As penas de morte foram comutadas em pena de degredo, exceto a de Joaquim José da Silva Xavier, executado em 21 de abril de 1792. Execução de Tiradentes. Tiradentes foi o único condenado à morte por enforcamento, sendo a sentença executada publicamente em 21 de abril de 1792, no Campo da Lampadosa. Outros inconfidentes haviam sido condenados à morte, mas tiveram suas penas comutadas para degredo. Após a execução, o corpo foi levado em uma carreta do Exército para a Casa do Trem (hoje parte do Museu Histórico Nacional), onde foi esquartejado. O tronco do corpo foi entregue à Santa Casa da Misericórdia, sendo enterrado como indigente. A cabeça e os quatro pedaços do corpo foram salgados, para não apodrecerem rapidamente, acondicionados em sacos de couro e enviados para as Minas Gerais, sendo pregados em pontos do Caminho Novo onde Tiradentes pregou suas ideias revolucionárias. A cabeça foi exposta em Vila Rica (atual Ouro Preto), no alto de um poste defronte à sede do governo. O castigo era exemplar, a fim de dissuadir qualquer outra tentativa de questionamento do poder da metrópole. Inconfidência e os Estados Unidos. Em outubro de 1786, Thomas Jefferson, então embaixador dos Estados Unidos na França, recebeu uma correspondência oriunda da Universidade de Montpellier, assinada com o pseudônimo de Vendek. O missivista dizia ter assunto muito importante a tratar, porém queria que Jefferson recomendasse um canal seguro para a correspondência. Jefferson procurou fazer imediatamente, sendo que em maio do ano seguinte, 1787, a pretexto de visitar as antiguidades de Nîmes, Jefferson acertou um encontro com Vendek. Jefferson comunicou a sua conversa com Vendek à comissão para a correspondência secreta do congresso continental americano: "Eles consideram a Revolução Norte-Americana como um precedente para a sua", escreveu o embaixador; ""pensam que os Estados Unidos é que poderiam dar-lhes um apoio honesto e, por vários motivos, simpatizam conosco (...) no caso de uma revolução vitoriosa no Brasil, um governo republicano seria instalado"." Vendek era José Joaquim Maia e Barbalho, estudante da Universidade de Coimbra (1782–1785) e da Universidade de Montpellier (1786–1787). Jefferson respondeu a Maia que não tinha autoridade para assumir um compromisso oficial, mas que uma revolução vitoriosa no Brasil, obviamente, disse ele, ""não seria desinteressante para os Estados Unidos, e a perspectiva de lucros poderia, talvez, atrair um certo número de pessoas para a sua causa, e motivos mais elevados atrairiam outras"." mostra-se. O episódio ficou conhecido como "Missão Vendek". Domingos Vidal Barbosa Lage confessou que José Joaquim Maia e Barbalho teria ficado profundamente decepcionado com a atitude de Thomas Jefferson, que aconselhara o Brasil a conquistar sua liberdade através das próprias forças, sem oferecer apoio logístico. José Joaquim Maia e Barbalho disse que o embaixador norte-americano havia o julgado “pela casca”, ou seja, por sua aparência e pelas suas roupas. Um relatório minucioso dos comentários de Jefferson pode ter chegado ao Estado do Brasil pelas mãos de Domingos Vidal Barbosa Lage, médico formado na Universidade de Montpellier. Legados. A Inconfidência Mineira transformou-se em símbolo máximo de resistência para os mineiros, a exemplo da Guerra dos Farrapos para os gaúchos, da Conjuração Baiana para os baianos, da Revolução Constitucionalista de 1932 para os paulistas, da Revolução Pernambucana de 1817 e Confederação do Equador de 1824 para os Pernambucanos. A bandeira idealizada pelos inconfidentes foi adotada por Minas Gerais. Tiradentes foi alçado pela República Brasileira à condição de mártir da independência do Brasil e como um dos precursores da República no país. Dia da Liberdade. O Dia da Liberdade ou Dia Nacional da Liberdade foi instituído no Brasil através da Lei nº 13 117, de 7 de maio de 2015. A data já era comemorada nos Estados de Minas Gerais. e do Rio de Janeiro O Dia Nacional da Liberdade remete à data do batismo de Joaquim José da Silva Xavier (12 de novembro de 1746).
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Insurreição Praieira
Insurreição Praieira
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IPAQ
IPAQ iPAQ foi uma linha inicialmente de "personal digital assistants" ("assistente pessoal digital") e posteriormente de smartphones, inicialmente desenvolvida pela Compaq e posteriormente continuada pela Hewlett-Packard após a compra daquela por esta. Os primeiros modelos utilizavam processadores StrongARM da Intel e sistema operacional Pocket PC 2000/2002 (baseado no Windows CE 3.0), enquanto os seguintes modelos possuiam tanto processadores Intel como Samsung, e os sistemas operacionais Pocket PC 2003SE e Windows Mobile 5 (baseados no Windows CE 4.21 e 5.0, respectivamente). Séries. Em geral, costuma-se dividir a linha Ipaq em séries, sendo, fora de ordem cronológica: Cada série foca um determinado mercado, possuindo os aparelhos várias semelhanças entre si. Por exemplo, a Série 19xx é em geral formada por aparelhos pequenos, leves e de custo menor, ao contrário dos aparelhos pertencentes à série 5xxx, notadamente maiores, com mais funções e mais caros. Também digna de nota é a distinção feita entre aparelhos destinados ao mercado doméstico e corporativo, onde o dígito final 5 é reservado aos aparelhos dedicados ao mercado corporativo. Por exemplo, o modelo Ipaq H1930 é estritamente igual ao modelo Ipaq H1935, porém enquanto aquele destina-se ao usuário doméstico, este tem como nicho o meio corporativo. Compaq iPAQ. Compaq iPAQ refere-se ao iPAQ Pocket PC e um assistente pessoal digital primeiro revelada pela Compaq em abril de 2000; o nome foi retomado do anterior da Compaq iPAQ computadores pessoais. Desde Hewlett-Packard a aquisição da Compaq, o produto foi comercializado pela HP. O dispositivo era a principal competição para o Palm, mas fornecia mais capacidades multimídia utilizando uma interface do Microsoft Windows. Para além deste, existiam diversas distribuições Linux que também funcionavam em alguns desses dispositivos. Anteriormente, eram unidades modulares. "Sleeve" acessórios, tecnicamente chamado casacos, que deslize ao redor da unidade e adicionar funcionalidades tais como um leitor de cartão de rede sem fios, GPS, e até mesmo extra baterias foram utilizadas. Os iPAQs têm a maior parte desses recursos integrados na base do próprio dispositivo
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Internet Relay Chat
Internet Relay Chat O Internet relay chat ("IRC") é um sistema de bate-papo baseado em texto que permite discussões entre qualquer número de participantes nos chamados canais de conversação, bem como discussões entre apenas dois parceiros (em diálogos de perguntas e respostas, por exemplo). Qualquer participante pode abrir um novo canal de conversa e, um único usuário de computador pode, participar de vários canais simultâneos. Para estabelecer ou participar de um bate-papo, um programa de rede conhecido como cliente "IRC", conectando-se a um servidor, é necessário para acessar um canal. O cliente "IRC" pode ser um programa independente no computador local ("mIRC" e "XChat", por exemplo) ou assumir a forma de uma interface de usuário especial de dentro de um programa maior, como um navegador de . Por exemplo, o navegador "Opera" inclui um cliente "IRC" e clientes como o "Mibbit", o "IRCCloud", o "KiwiIRC" e o "The Lounge Chat" do "MIT" podem funcionar em conexão com muitos navegadores populares. Uma rede "IRC" de servidores interconectados que operam como estações de retransmissão é usada para mediar as chamadas no "IRC". O recurso essencial desta rede é sua topologia de comunicação "BITNET", que permite apenas um caminho de comunicação entre dois participantes. Historicamente, isso garantiu comunicação eficiente porque, nos primeiros dias do "IRC", as linhas intercontinentais de dados tinham uma capacidade muito limitada. A topologia permitiu que mensagens de um cliente em um continente não fossem enviadas individualmente para cada cliente em outro continente mas apenas uma vez para um servidor local que então as distribui para os clientes. Apesar das capacidades de gerenciamento limitadas, foram possíveis "paisagens de bate-papo". A desvantagem é a falta de redundância, que se manifesta nos chamados "s": se algum servidor falha, a rede divide automaticamente as peças separadas até que uma nova conexão seja estabelecida entre as partes. As maiores redes "IRC" consistem em várias dezenas de servidores "IRC" que conectam simultaneamente mais de 100.000 usuários e gerenciam dezenas de milhares de canais em que milhares de pessoas podem participar simultaneamente. Apesar dessas enormes proporções, o atraso em um texto enviado é na ordem de décimos de segundo e raramente excede o tempo de um segundo. A utilização do "IRC" vem, desde 2003, diminuindo constantemente. Os números apontam uma perda de 60% dos usuários (de 1 milhão em 2003 para cerca de 400 mil em 2021) e mais de metade dos canais (de meio milhão em 2003 para menos de 200 mil em 2021). Em abril de 2011, hospedando centenas de milhares de canais e operando em um total de aproximadamente 1.500 servidores (além de aproximadamente 3.200 servidores "IRC" em todo o mundo), as 100 principais redes "IRC" serviam mais de meio milhão de usuários. Em junho de 2021, existiam 481 diferentes redes "IRC" conhecidas por estarem operando. Dentre tais redes, a "Libera Chat" de código aberto (fundada em maio de 2021) tem a maioria dos usuários, com 21.348 canais em 15.433 servidores. Também entre elas, as 100 melhores compartilhavam 188.336 canais operando em 96.708 servidores. Do ponto de vista técnico, o é implementado como um protocolo de camada de aplicação para facilitar a comunicação na forma de texto. O processo de funciona em um modelo de rede cliente-servidor. Conforme já discutido, os clientes "IRC" podem ser programas de computador autônomos ou aplicativos baseados na executados localmente no navegador ou em um servidor de terceiros. Esses clientes se comunicam com servidores de para transferir mensagens para outros clientes. O "IRC" é projetado principalmente para comunicação em grupo (em fóruns de discussões chamados de canais) mas também permite comunicação um-para-um por meio de mensagens privadas, bem como bate-papo e transferência de dados (incluindo compartilhamento de arquivos). O cliente está disponível para todos os principais sistemas operacionais que oferecem suporte ao acesso à . História. O "IRC" foi criado por Jarkko Oikarinen em agosto de 1988 para substituir um programa chamado "MUT" ("MultiUser Talk") em um "BBS" chamado "OuluBox" na Universidade de Oulu na Finlândia, onde ele trabalhava no departamento de ciência de processamento de informação. Jarkko pretendia estender o "BBS" que administrava, para permitir notícias no estilo "Usenet", discussões em tempo real e recursos "BBS" semelhantes. A primeira parte que ele implementou foi a parte do , que ele fez com partes emprestadas escritas por seus amigos Jyrki Kuoppala e Jukka Pihl. A primeira rede "IRC" estava rodando em um único servidor chamado tolsun.oulu.fi. Oikarinen encontrou inspiração em um sistema de bate-papo conhecido como "Bitnet Relay", que operava na "BITNET". Jyrki Kuoppala pressionou Oikarinen para pedir à Universidade de Oulu que liberasse o código do "IRC" para que ele também pudesse ser executado fora de Oulu e, depois que eles finalmente o liberaram, Jyrki Kuoppala imediatamente instalou outro servidor. Esta foi a primeira "rede "IRC"". Oikarinen conseguiu que alguns amigos da Universidade de Helsinque e da Universidade de Tampere começassem a rodar servidores "IRC" quando seu número de usuários aumentou e outras universidades o seguiram. Nesse momento, Oikarinen percebeu que o restante dos recursos do "BBS" provavelmente não caberiam em seu programa. Oikarinen entrou em contato com pessoas da Universidade de Denver e da Universidade do Estado de Oregon. Eles tinham sua própria rede "IRC" funcionando e queriam se conectar à rede finlandesa. Eles haviam obtido o programa de um dos amigos de Oikarinen, Vijay Subramaniam (a primeira pessoa não finlandesa a usar o "IRC"). O "IRC" cresceu , foi usado em toda a rede nacional finlandesa ("Funet") e então conectado à "NORDUnet", a ramificação escandinava da . Em novembro de 1988, o "IRC" se espalhou pela e, em meados de 1989, haviam cerca de 40 servidores em todo o mundo. "EFnet". Em agosto de 1990, o primeiro grande desacordo ocorreu no mundo "IRC". A "A-net" (rede anarquia) incluía um servidor chamado eris.berkeley.edu. Estava tudo aberto, não exigia senhas e não tinha limite para o número de conexões. Como Greg "wumpus" Lindahl explica: "ela tinha uma linha de servidor curinga, então as pessoas estavam conectando servidores e colidindo com todo mundo". A "Rede Livre Eris" ("EFnet") fez a máquina eris ser a primeira do "IRC" a ser alinhada como Q (Q para quarentena). Nas palavras de wumpus novamente: ""Eris" se recusou a remover essa linha, então formei a "EFnet". Não foi muito difícil, consegui todos os s para entrar e quase todo mundo foi levado junto." A "A-net" foi formada com os servidores eris, enquanto a "EFnet" foi formada com os servidores não-eris. A história mostra que a maioria dos servidores e usuários usam a "EFnet". Assim que a "A-net" se desfez, o nome "EFnet" perdeu o sentido e mais uma vez existia uma única rede "IRC". Naquela época, o "IRC" foi usado para relatar a tentativa de golpe de Estado na União Soviética em 1991 durante um apagão da mídia. Anteriormente, ele havia sido usado de forma semelhante durante a Guerra do Golfo. Registros de bate-papo desses e de outros eventos são mantidos no arquivo "ibiblio". Bifurcação "Undernet". Outra tentativa de bifurcação, a primeira que realmente fez uma grande e duradoura diferença, foi iniciada por "Wildthang" nos Estados Unidos da América em outubro de 1992 (saiu da "EFnet" "ircd" versão 2.8.10). Era para ser apenas uma rede de teste para desenvolver s, mas rapidamente cresceu para uma rede "para amigos e seus amigos". Na Europa e no Canadá uma nova rede separada estava sendo trabalhada e em dezembro os servidores franceses se conectaram aos canadenses. No final do mês, as redes francesa e canadense foram conectadas à dos Estados Unidos da América, formando a que mais tarde veio a ser chamada de "a Undernet". Os "undernetters" queriam levar o "ircd" mais longe, na tentativa de torná-lo menos consumidor de largura de banda e tentar resolver o caos de canais ("s" e "s") que a "EFnet" começou a sofrer. Para o último propósito, a "Undernet" implementou "s", novo roteamento e ofereceu o "CService" (um programa que permitia aos usuários registrar canais e então tentava protegê-los de criadores de problemas). A primeira lista de servidores apresentada, de 15 de fevereiro de 1993, incluia os servidores dos Estados Unidos da América, do Canadá, da França, da Croácia e do Japão. Em 15 de agosto, o novo registro de contagem de usuários foi estabelecido para 57 usuários. Em maio de 1993, a RFC 1459 foi publicada e detalhou um protocolo simples para operações de clientes, servidores, canais, conversas um para um e um para muitos. É notável que um número significativo de extensões como o "CTCP", as cores, os formatos e a codificação de caracteres não estavam incluídas nas especificações do protocolo e isso levou várias implementações de servidores e clientes à divergências. Na verdade, a implementação do variava significativamente de uma rede para outra e cada uma delas implementava suas próprias políticas e seus próprios padrões em suas próprias bases de código. Bifurcação "DALnet". Durante o verão de 1994 a "Undernet" foi bifurcada e a nova rede, formada para melhor serviço de usuário e mais proteções de usuários e canais, foi chamada de "DALnet". Uma das alterações mais significativas nessa nova rede, foi o uso de apelidos mais longos (o limite original do "ircd" sendo 9 letras). As modificações no "ircd" foram feitas por Alexei "Lefler" Kosut e a "DALnet" foi, portanto, baseada no servidor "ircd" da "Undernet" (embora os pioneiros da "DALnet" fossem pessoas que deixaram a "EFnet"). De acordo com James Ng, os pioneiros da "DALnet" foram ""ops" do canal #"startrek" que estavam cansados de constantes divisões ("s"), colisões, atrasos ("s"), aquisições ("s") e etc". A "DALnet" prontamente ofereceu: Muitas das novas funções da "DALnet" foram escritas por Brian "Morpher" Smith, no início de 1995, e permitem que os usuários possuam apelidos, controlem canais, enviem memorandos e mais. Bifurcação "IRCnet". Em julho de 1996, após meses de guerras inflamadas e discussões em listas de "s", houve outra divisão devido ao desacordo sobre como deveria evoluir o desenvolvimento do "ircd". Mais notavelmente, o lado "europeu" (a maioria desses servidores estavam na Europa) que mais tarde se autodenominou "IRCnet" argumentou sobre atrasos de e canal, enquanto o lado "EFnet" argumentou sobre os "s". Também haviam desacordos sobre as políticas: o lado europeu havia começado a estabelecer um conjunto de regras que direcionavam o que os "IRCops" podiam e não podiam fazer e o lado americano se opôs à tal ponto de vista. A maioria (não todos) dos servidores "IRCnet" estavam na Europa e a maioria dos servidores "EFnet" estavam nos Estados Unidos da América. Este evento também é conhecido como "a grande divisão" em muitas sociedades "IRC". A "EFnet", desde então (em agosto de 1998), cresceu e ultrapassou o número de usuários que tinha na época. No outono (do norte) de 2000, a "EFnet" tinha cerca de 50.000 e a "IRCnet" tinha cerca de 70.000. "IRC" moderno. O "IRC" mudou muito ao longo de sua vida na . O novo de servidor adicionou uma infinidade de novos recursos. Após sua era de ouro durante a década de 1990 e início de 2000 (240.000 usuários na "QuakeNet" em 2004), o "IRC" teve um declínio significativo. Perdeu cerca de 60% dos usuários entre 2003 e 2012, os usuários mudaram para plataformas de mídia social mais recentes (como o "Facebook" ou o "Twitter") e também abriram plataformas como o "XMPP" (desenvolvido em 1999). Certas redes, como a "Freenode", não seguiram a tendência geral e mais do que quadruplicaram de tamanho durante o mesmo período. No entanto, a "Freenode" (que em 2016 tinha cerca de 90.000 usuários) desde então diminuiu para cerca de 65.000 usuários. As maiores redes de "IRC" têm sido tradicionalmente agrupadas como as "quatro grandes ()", uma designação para redes que encabeçam as estatísticas. As quatro grandes redes mudam periodicamente, mas devido à natureza comunitária do "IRC", há um grande número de outras redes para os usuários escolherem. Historicamente, as "quatro grandes" eram: O "IRC" atingiu 6 milhões de usuários simultâneos em 2001, 10 milhões de usuários em 2003 e caiu para 371 mil em 2018. Em outubro de 2018, as maiores redes de IRC são: Hoje, as 100 principais redes "IRC" têm cerca de aproximadamente 370 mil usuários conectados nos horários de pico. Linha do tempo. Linha do tempo dos principais servidores: Informação técnica. O IRC é um protocolo aberto que usa TCP e, opcionalmente, TLS. Um servidor IRC pode se conectar a outros servidores IRC para expandir a rede IRC. Os usuários acessam redes IRC conectando um cliente a um servidor. Existem muitas implementações de cliente (como mIRC, HexChat e irssi) e implementações de servidor (por exemplo, o IRCd original). A maioria dos servidores IRC não exige que os usuários registrem uma conta, mas um apelido é necessário antes de se conectar. O IRC era originalmente um protocolo de texto simples (embora posteriormente estendido) que, a pedido, foi atribuído a porta TCP 194 pela IANA. No entanto, o "padrão de fato" sempre foi executar o IRC em TCP 6667 e números de porta próximos (por exemplo, portas TCP 6660-6669 e 7000) para evitar ter que executar o software IRCd com privilégios de root. O protocolo especificava que os caracteres eram de 8 bits, mas não especificava a codificação de caracteres que o texto deveria usar. Isso pode causar problemas quando os usuários que usam clientes e (ou) plataformas diferentes desejam conversar. Todos os protocolos IRC (cliente para servidor) em uso hoje descendem do protocolo implementado na versão irc 2.4.0 do servidor IRC2 e documentado na RFC 1459. Desde a publicação da RFC 1459, os novos recursos na implementação do irc 2.10 levaram à publicação de vários documentos de protocolo revisados (RFC 2810, RFC 2811, RFC 2812 e RFC 2813). No entanto, essas alterações de protocolo não foram amplamente adotadas entre outras implementações. Embora muitas especificações sobre o protocolo IRC tenham sido publicadas, não há uma especificação oficial, pois o protocolo permanece dinâmico. Praticamente nenhum cliente e muito poucos servidores confiam estritamente nas RFCs acima como referência. A Microsoft fez uma extensão para o IRC em 1998 através do proprietário IRCX. Posteriormente, eles pararam de distribuir software que suportasse o IRCX e desenvolveram o proprietário MSNP. A estrutura padrão de uma rede de servidores IRC é uma árvore. As mensagens são encaminhadas apenas para os ramos necessários da árvore, mas o estado da rede é enviado para cada servidor e geralmente há um alto grau de confiança implícita entre os servidores. Essa arquitetura tem, no entanto, vários problemas. Um servidor mal-intencionado ou com comportamento inadequado pode causar grandes danos à rede e quaisquer mudanças na estrutura, sejam intencionais ou resultado de condições na rede subjacente, requerem uma divisão de rede e junção de rede. Isso resulta em muito tráfego de rede, falsas mensagens (de entrada saída) para os usuários e perda temporária de comunicação com os usuários nos servidores de divisão. Adicionar um servidor a uma grande rede significa uma grande carga de largura de banda em segundo plano na rede e uma grande carga de memória no servidor. Uma vez estabelecida, no entanto, cada mensagem para vários destinatários é entregue de maneira semelhante a multicast, o que significa que cada mensagem viaja por um link de rede exatamente uma vez. Isso é um ponto forte em comparação aos protocolos 'não multicast', como o Simple Mail Transfer Protocol (SMTP) ou o Extensible Messaging and Presence Protocol (XMPP). Um daemon IRC também pode ser usado em uma rede local (LAN). O IRC pode, portanto, ser usado para facilitar a comunicação entre as pessoas dentro da rede local (comunicação interna). Comandos e respostas. O IRC tem uma estrutura baseada em linha. Os clientes enviam mensagens de linha única para o servidor recebem respostas para essas mensagens e cópias de algumas mensagens enviadas por outros clientes. Na maioria dos clientes, os usuários podem inserir comandos prefixando-os com '/'. Dependendo do comando, eles podem ser manipulados inteiramente pelo cliente ou, geralmente para comandos que o cliente não reconhece, passados diretamente para o servidor (possivelmente com alguma modificação). Devido à natureza do protocolo, os sistemas automatizados nem sempre emparelham corretamente um comando enviado com sua resposta com total confiabilidade e estão sujeitos a adivinhação. Canal. O meio básico de comunicação com um grupo de usuários em uma sessão de IRC estabelecida é através de um "canal". Canais em uma rede podem ser exibidos usando o comando "LIST", que lista todos os canais atualmente disponíveis que não têm os modos +s ou +p definidos nessa rede específica. Os usuários podem "ingressar" em um canal usando o comando "JOIN", disponível na maioria dos clientes como "/join" #nome do canal. As mensagens enviadas aos canais associados são, então, retransmitidas à todos os outros usuários. Os canais que estão disponíveis em uma rede "IRC" inteira são prefixados com um '#', enquanto aqueles locais para um servidor usam '&'. Outros tipos de canais menos comuns incluem canais '+' (canais "modeless", sem operadores) e canais '!' (uma forma de canal "timestamped" em redes normalmente sem "timestamped". Modos. Usuários e canais podem ter "modos" que são representados por letras simples, que diferenciam maiúsculas de minúsculas e são configurados usando o comando "MODE". Modos de usuário e modos de canal são separados e podem usar a mesma letra para significar coisas diferentes (por exemplo, o modo de usuário "i" é o modo invisível, enquanto o modo de canal "i" é o que define que apenas convidados podem ingressar no canal.) Os modos são, geralmente, configurados ou não configurados usando o comando de modo que pega um alvo (usuário ou canal), um conjunto de modos para configurar (+) ou desconfigurar (-) e quaisquer parâmetros que os modos precisem. Alguns modos de canal usam parâmetros e outros modos de canal se aplicam a um usuário em um canal ou adicionam ou removem uma máscara (por exemplo, uma máscara de proibição) de uma lista associada ao canal em vez de aplicar ao canal como um todo. Os modos que se aplicam à usuários em um canal têm um símbolo associado que é usado para representar o modo nas respostas de nomes (enviada aos clientes na primeira entrada em um canal e no uso dos comandos de nomes) e, em muitos clientes, é usado também para representá-los na lista de usuários exibida pelo cliente em um canal ou para exibir um indicador próprio para os modos de um usuário. A fim de analisar corretamente as mensagens do modo de entrada e rastrear o estado do canal, o cliente deve saber qual modo é de qual tipo e, para os modos que se aplicam a um usuário em um canal, qual símbolo vai com qual letra. Nas primeiras implementações do "IRC", isso tinha que ser codificado no cliente. Mas agora, existe uma extensão padrão de fato para o protocolo chamado "ISUPPORT" que envia essas informações ao cliente no momento da conexão usando o 005 numérico. Há uma pequena falha de design no "IRC" em relação aos modos que se aplicam aos usuários nos canais: a mensagem de nomes usada para estabelecer o estado inicial do canal pode enviar apenas um modo por usuário no canal mas vários desses modos podem ser definidos em um único usuário. Por exemplo, se um usuário mantém o status de operador (+o) e o status de voz (+v) em um canal, um novo cliente não será capaz de ver o modo com menos prioridade (ou seja, o de voz). Soluções alternativas para isso são possíveis no lado do cliente e do servidor mas nenhuma é amplamente implementada. Modos do padrão (RFC 1459). Muitos daemons e redes adicionaram modos extras ou modificaram o comportamento dos modos na lista acima. Operadores de canal. Um "operador de canal" é um cliente em um canal IRC que gerencia o canal. Operadores de canal de IRC podem ser facilmente vistos por um símbolo ou ícone próximo ao seu nome (varia de acordo com a implementação do cliente, normalmente um prefixo de símbolo "@", um círculo verde ou uma letra latina "+o" ou "o"). Na maioria das redes, um operador pode: Operadores IRC. Também há usuários que mantêm direitos elevados em seu servidor local ou em toda a rede, são chamados de operadores "IRC" e, às vezes, abreviados para "IRCops" ou "Opers" (não devem ser confundidos com operadores de canal). Como a implementação do "IRCd" varia, também variam os privilégios do operador de "IRC" no "IRCd" fornecido. A "RFC 1459" afirma que os operadores de "IRC" são "um mal necessário" para manter um estado limpo da rede e, como tal, precisam ser capazes de desconectar e reconectar servidores. Além disso, para evitar que usuários mal-intencionados ou mesmo programas automatizados prejudiciais entrem no "IRC", os operadores de "IRC" geralmente têm permissão para desconectar clientes e proibir completamente endereços "IP" ou sub-redes completas. Redes que transportam serviços geralmente permitem que seus operadores de "IRC" lidem com questões básicas de "propriedade" também. Outros direitos privilegiados podem incluir a anulação de proibições (ser capaz de entrar em canais que não teriam permissão para entrar se não fossem operadores), se promover a operador (sem ser operador do canal), "auto-op" e etc. Máscara de "host". Uma máscara de "host" é um identificador único de um cliente "IRC" conectado a um servidor "IRC". Servidores, serviços e outros clientes (incluindo "bots") "IRC" podem usá-la para identificar uma sessão de "IRC" específica. O formato de uma máscara de "host" é codice_1. A máscara de "host" é semelhante, mas não deve ser confundida com, um endereço de "e-mail". A parte do apelido é o apelido escolhido pelo usuário e pode ser alterado durante a conexão. A parte do usuário é o nome de usuário relatado pelo protocolo "ident" no cliente. Se o "ident" não estiver disponível no cliente, o nome de usuário especificado quando o cliente conectou-se é usado após ser prefixado com um til. A parte do "host" é o "hostname" do qual o cliente está se conectando. Se o endereço "IP" do cliente não puder ser resolvido para um "hostname" válido pelo servidor, ele (o endereço de "IP") será usado em vez do nome do "host". Devido às implicações de privacidade de expor o endereço "IP" ou o nome de "host" de um cliente, alguns "daemons IRC" também fornecem recursos de privacidade como o "InspIRCD" ou o modo "+ x" do "UnrealIRCd". Isto criptografa um endereço de "IP" do cliente ou mascara parte do nome do "host" de um cliente (tornando-o ilegível para usuários que não sejam "IRCops"). Os usuários também podem ter a opção de solicitar um ""host" virtual" (ou "vhost"), exibido na máscara de "host" para permitir maior anonimato. Algumas redes "IRC", como a "Freenode", os usam como "disfarces" para indicar que um usuário é afiliado a um grupo ou projeto. Esquema URI. Existem três esquemas "URI" reconhecidos para o "IRC": "codice_2, codice_3", e "codice_4". Quando suportados, eles permitem ligações de várias formas, incluindo: irc://<host>[:<porta>]/[<canal>[?<senha do canal>]] ircs://<host>[:<porta>]/[<canal>[?<senha do canal>]] irc6://<host>[:<porta>]/[<canal>[?<senha do canal>]] Os itens entre colchetes são opcionais para serem usados (se necessário) para se conectar ao "host" especificado (ou rede, se conhecido do cliente "IRC") e ingressar no canal especificado. Isso pode ser usado no próprio cliente ou em outro aplicativo (como um navegador da "web"). O "URI" padrão é "irc". O "irc6" especifica uma conexão a ser feita usando "IPv6" e o "ircs" especifica uma conexão segura. De acordo com a especificação, o usual símbolo "hash" (#) prefixado em nomes de canais que começam com um caractere alfanumérico permite que eles sejam omitidos. Algumas implementações (por exemplo, "mIRC") farão isso "incondicionalmente", resultando em um (geralmente não intencional) extra (por exemplo, canal ##), se incluído na "URL". Algumas implementações permitem que vários canais sejam especificados (separados por vírgulas). Desafios. Os problemas no "design" original do "IRC" eram a quantidade de dados de estado compartilhados sendo uma limitação em sua escalabilidade, a ausência de identificações de usuário exclusivas levando ao problema de colisão de apelidos, falta de proteção de divisões de redes por meio de roteamento cíclico, a compensação em escalabilidade por causa das informações de presença do usuário em tempo real, fraquezas do protocolo fornecendo uma plataforma para mau uso, nenhuma passagem de mensagem transparente e otimizável e ausência de criptografia. Algumas dessas questões foram tratadas no ""IRC" moderno". Ataques. Como as conexões "IRC" podem não ser criptografadas e normalmente se estendem por longos períodos, elas são um alvo atraente para ataques "DoS/DDoS" e "hackers". Por causa disso, uma política de segurança cuidadosa é necessária para garantir que uma rede "IRC" não seja suscetível a um ataque como uma guerra para assumir o controle. As redes "IRC" também podem listar em "linha K" ou "linha G" usuários ou servidores que tenham um efeito prejudicial. Alguns servidores "IRC" suportam conexões "SSL/TLS" para fins de segurança. Isso ajuda a interromper o uso de programas analisadores de pacotes para obter as senhas de usuários de "IRC", mas tem pouco uso além desse escopo devido à natureza pública dos canais de "IRC". As conexões "SSL" requerem suporte ao cliente e ao servidor (que pode exigir que o usuário instale binários "SSL" e patches ou módulos específicos do cliente "IRC" em seus computadores). Algumas redes também usam "SSL" para conexões servidor a servidor e fornecem um sinalizador de canal especial (como codice_5) para permitir apenas usuários conectados por "SSL" no canal, enquanto proíbe a identificação do operador em texto não criptografado, para melhor utilizar as vantagens que o "SSL" oferece. O "IRC" serviu como um primeiro laboratório para muitos tipos de ataques na "internet", como o uso de inacessíveis falsas mensagens "ICMP" para quebrar as conexões "IRC" baseadas no TCP ("nuking") para incomodar os usuários ou facilitar assumir o controle ("takeover"). Prevenção de mau uso. Uma das questões técnicas mais controversas em torno das implementações de "IRC", que sobrevive até hoje, é o mérito dos protocolos "nick/channel delay vs. timestamp". Ambos os métodos existem para resolver o problema de ataques de negação de serviço, mas têm abordagens muito diferentes. O problema com o protocolo "IRC" original implementado era que, quando dois servidores se dividiam e se juntavam, os dois lados da rede simplesmente fundiam seus canais. Se um usuário entrarasse em um servidor "dividido", em um canal (que existia do outro lado da rede) vazio e obtivesse o "status" de operador, ele se tornaria um operador de canal do canal "combinado" após o término do "netsplit". Se um usuário pegasse um apelido que existia do outro lado da rede, o servidor "mataria" os dois usuários ao reingressarem (ou seja, "colisão de apelidos"). Isso era freqüentemente usado para "matar em massa" todos os usuários em um canal, criando canais "opless" (onde nenhum operador estava presente para lidar com o mau uso). Além de causar problemas dentro do "IRC", isso encorajou as pessoas à conduzirem ataques de negação de serviço contra servidores "IRC" para causar "netsplits" (dos quais elas, então, se aproveitariam para mau uso). As estratégias de "nick delay" e "channel delay" visam prevenir mau uso (atrasando reconexões e renomeações). Depois que um usuário termina a sessão e o apelido fica disponível, ou um canal deixa de existir porque todos os seus usuários partiram (como freqüentemente acontece durante uma divisão de rede), o servidor não permite que usuário algum use aquele apelido ou entre naquele canal, até que um certo período de tempo (o "atraso") tenha passado. A ideia por trás disso é que, mesmo que ocorra uma divisão de rede, é inútil para os usuários "mal-intencionados" porque eles não podem pegar o apelido ou obter "status" de operador em um canal por meio da vulnerabilidade anteriormente mencionada (portanto, a colisão de um apelido ou a "fusão" de um canal não pode acontecer). Até certo ponto, isso é inconveniente para os usuários legítimos, que podem ser "forçados (ou induzidos)" à usar, brevemente, um nome (apelido) diferente após o retorno (anexar um sublinhado é prática comum nesses casos). O protocolo "timestamp" é uma alternativa, aos atrasos de apelido/canal, que resolve colisões usando a prioridade de "timestamp". Cada apelido e canal na rede são atribuídos a um "timestamp" com a data e a hora em que foram criados. Quando ocorre um "netsplit", dois usuários de cada lado são livres para usar o mesmo apelido ou canal, mas quando os dois lados são unidos, apenas um pode "sobreviver". No caso de apelidos, o usuário mais novo, de acordo com seu "timestamp", é "morto". Quando um canal colide, os membros (usuários no canal) são mesclados, mas os operadores de canal no lado "perdedor" da divisão perdem seu "status" de operador de canal. O "TS" ("timestamp") é um protocolo muito mais complicado do que o "ND" ("nick delay")/"CD" ("channel delay"), tanto em "design" como em implementação. Apesar de ter passado por várias revisões, algumas implementações ainda têm problemas com "dessincronização" (onde dois servidores na mesma rede discordam sobre o estado atual da rede), permitindo muita clemência no que seria permitido pelo lado "perdedor". Sob os protocolos "TS" originais, por exemplo, não havia proteção contra usuários definindo banimentos ou outros modos no canal perdedor (que seriam então mesclados na fusão quando a divisão ("netsplit") terminasse, mesmo que os usuários que configuraram esses modos perdessem seus "status" de operador de canal). Alguns servidores "IRC" modernos baseados em "TS" também incorporaram alguma forma de "ND"/"CD", além da marcação de tempo, em uma tentativa de conter ainda mais o mau uso. A maioria das redes hoje usa a abordagem de carimbo de data/hora. Os desacordos de "TS versus ND/CD" fizeram com que vários servidores se separassem da "EFnet" e formassem os mais novos "IRCnets". Após a divisão, a "EFnet" mudou para um protocolo "TS", enquanto a "IRCnet" optou pelo "ND"/"CD". Em versões recentes do "ircd IRCnet", bem como "ircds" usando o protocolo "TS6" (incluindo "Charybdis"), o "ND" foi estendido/substituído por um mecanismo chamado "SAVE". Este mecanismo atribui um identificador exclusivo à cada cliente (ao se conectar a um servidor "IRC"). Este "ID" começa com um número, é proibido em apelidos ("nicknames") (embora alguns "ircds", nomeadamente "IRCnet" e "InspIRCd", permitam que os clientes usem o próprio "UID" como apelido). Se dois clientes com o mesmo apelido se juntam de lados diferentes de um "netsplit" ("colisão de apelidos"), o primeiro servidor a ver esta colisão "força ambos" os clientes à mudarem seu apelido ("nickname") para seu "UID"( evitando assim que ambos os clientes sejam desconectados). Na "IRCnet", o apelido também ficará bloqueado por algum tempo ("ND") para evitar que ambos os clientes voltem ao apelido original, colidindo novamente. Clientes. "Software" cliente. O "software" cliente existe para vários sistemas operacionais ou pacotes de "software", bem como jogos baseados na "web" ou internos. Muitos clientes diferentes estão disponíveis para os vários sistemas operacionais, incluindo "Windows", "Unix" e "Linux", "Mac OS X" e sistemas operacionais móveis (tais como "iOS" e "Android"). No "Windows", "mIRC" é um dos clientes mais populares. Alguns programas extensíveis através de "plug-ins" também servem como plataformas para clientes "IRC". Por exemplo, um cliente chamado "ERC", escrito inteiramente em "Emacs Lisp", está incluído na versão 22.3 do "Emacs". Portanto, qualquer plataforma que pode executar o "Emacs" pode executar o "ERC". Vários navegadores têm clientes "IRC" integrados (como o "Opera" versões 12.18 e anteriores e o complemento "ChatZilla" para "Mozilla Firefox" (56 e anteriores) incluído como um componente integrado do "SeaMonkey"). Clientes baseados na Web, como "Mibbit" e "KiwiIRC" de código aberto, podem ser executados na maioria dos navegadores. Jogos como "War§ow", "Unreal tournament" (até o "Unreal tournament 2004"), "Uplink", jogos baseados em "Spring engine", "0 A.D." e "ZDaemon" têm o "IRC" incluído. A interface de chat do "Ustream" é "IRC" com autenticação personalizada, bem como a do Twitch (anteriormente Justin.tv). "Bots". Um uso típico de "bots" no "IRC" é o de fornecer serviços ou funcionalidades específicas dentro de um canal, como hospedar um jogo baseado em "chat" ou fornecer notificações de eventos externos. No entanto, alguns "bots IRC" são usados para lançar ataques maliciosos, como negação de serviço, "spamming" ou exploração. "Bouncer". Um programa que é executado como um "daemon" em um servidor e funciona como um "proxy" persistente é conhecido como "BNC" ou bouncer. O objetivo é manter uma conexão com um servidor "IRC", atuando como um retransmissor entre o servidor e o cliente, ou simplesmente atuar como um "proxy". Caso o cliente perca a conectividade de rede, o "BNC" pode permanecer conectado e arquivar todo o tráfego para entrega posterior, permitindo ao usuário retomar sua sessão de "IRC" sem interromper sua conexão com o servidor. Além disso, como forma de obter um efeito semelhante ao do bouncer, um cliente "IRC", normalmente baseado em texto (como o "Irssi" por exemplo), pode ser executado em um servidor sempre ativo ao qual o usuário se conecta via "SSH". Isso também permite que dispositivos que têm apenas a funcionalidade ssh, mas nenhum cliente de "IRC" real instalado, se conectem ao "IRC" e permite o compartilhamento de sessões de "IRC". Para evitar que o cliente "IRC" feche quando a conexão ssh for fechada, o cliente pode ser executado dentro de um terminal multiplexador, como "GNU Screen" ou "tmux", mantendo-se assim constantemente ligado à(s) rede(s) "IRC", podendo registar as conversações nos canais de interesse do utilizador e manter a presença nos canais na rede. Modelado a partir dessa configuração, em 2004 um cliente "IRC" seguindo o modelo cliente-servidor, chamado "Smuxi", foi lançado. Mecanismos de pesquisa. Existem vários motores de busca disponíveis para ajudar o usuário a encontrar o que procura no "IRC". Geralmente, o mecanismo de pesquisa consiste em duas partes, um "back-end" (ou "spider"/"crawler") e um "mecanismo de pesquisa" "front-end". O "back-end" ("spider" /"webcrawler") é o cavalo de batalha do mecanismo de pesquisa. É responsável por rastrear servidores "IRC" para indexar as informações enviadas por eles. As informações indexadas, geralmente, consistem apenas no texto do canal (texto que é exibido publicamente em canais públicos). O "mecanismo de busca" "front-end" é a interface do usuário para o banco de dados. Ele fornece aos usuários uma maneira de pesquisar o banco de dados de informações indexadas para recuperar os dados que estão procurando. Esses mecanismos de pesquisa "front-end" também podem ser codificados em várias linguagens de programação. A maioria dos mecanismos de pesquisa tem seu próprio "spider", que é o único aplicativo responsável por rastrear o "IRC" e indexar os próprios dados; entretanto, outros são indexadores "baseados no usuário". Os últimos contam com os usuários para instalarem seu "complemento" em seu cliente "IRC"; o add-on é o que envia as informações de canal de quaisquer canais em que o usuário esteja ao banco de dados. Muitos usuários implementaram seus próprios motores de busca "ad hoc" usando os recursos de registro embutidos em muitos clientes "IRC". Esses mecanismos de pesquisa são geralmente implementados como "bots" e dedicados a um determinado canal ou grupo de canais associados. Codificação de caracteres. O "IRC" ainda carece de uma única convenção padrão globalmente aceita para transmitir caracteres fora do repertório "ASCII" de 7 "bits". Os servidores "IRC" normalmente transferem mensagens de um cliente para outro cliente como sequências de "bytes", sem nenhuma interpretação ou recodificação de caracteres. O protocolo "IRC" (ao contrário, por exemplo, do "MIME" ou "HTTP") carece de mecanismos para anunciar e negociar opções de codificação de caracteres. Isso colocou a responsabilidade de escolher o "codec" de caractere apropriado no cliente. Na prática, os canais de "IRC" têm usado amplamente as mesmas codificações de caracteres que também foram usadas pelos sistemas operacionais (em particular os derivados "Unix") nas respectivas comunidades linguísticas: Hoje, a codificação "UTF-8" de "Unicode"/"ISO/IEC 10646" seria a candidata mais provável para uma única codificação de caracteres padrão futura para todas as comunicações "IRC", se tal padrão já relaxou a restrição de tamanho de mensagem de 510 "bytes". O "UTF-8" é compatível com o "ASCII" e cobre o superconjunto de todos os outros conjuntos de caracteres codificados padrões comumente usados. Compartilhamento de arquivos. Muito parecido com o convencional compartilhamento de arquivos "P2P", os usuários podem criar servidores de arquivos que lhes permitem compartilhar arquivos uns com os outros usando "bots" ou "scripts" personalizados para seu cliente. Freqüentemente, os usuários se agrupam para distribuir "warez" por meio de uma rede de "bots IRC". Tecnicamente, o "IRC" não fornece mecanismos de transferência de arquivo. O compartilhamento de arquivos é implementado pelos "clientes" "IRC", normalmente usando o protocolo "DCC", no qual as transferências de arquivos são negociadas por meio da troca de mensagens privadas entre clientes. A grande maioria dos clientes de "IRC" oferece suporte para transferências de arquivos "DCC", daí a visão de que o compartilhamento de arquivos é um recurso integral do "IRC". O uso comum desse protocolo, entretanto, às vezes também causa "spam" de "DCC". Os comandos "DCC" também têm sido usados para explorar clientes vulneráveis para executar uma ação, como desconectar do servidor ou sair do cliente.
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Inglaterra
Inglaterra Inglaterra () é uma das nações constituintes do Reino Unido. O país faz fronteira com a Escócia ao norte e com o País de Gales a oeste; o Mar da Irlanda está a noroeste, o Mar Celta está a sudoeste, enquanto o Mar do Norte está a leste e o Canal da Mancha, ao sul, a separa da Europa continental. A maior parte da Inglaterra compreende a parte central e sul da ilha da Grã-Bretanha, no Atlântico Norte. O país também inclui mais de 100 ilhas menores, como as Ilhas Scilly e a Ilha de Wight. A área agora chamada de Inglaterra foi habitada por seres humanos pela primeira vez durante o período Paleolítico Superior, mas o seu nome vem dos anglos, uma das tribos germânicas que se estabeleceram durante os séculos V e VI na região. A Inglaterra tornou-se um Estado unificado em 927 d.C., e desde a Era dos Descobrimentos, que começou durante o século XV, a nação passou a ter um impacto cultural e jurídico significativo sobre o resto do mundo. O idioma inglês, a Igreja Anglicana e o direito inglês (base para os sistemas legais de "common law" de muitos outros países ao redor do mundo) desenvolveram-se na Inglaterra, e o sistema de governo parlamentar do país tem sido amplamente adotado por outras nações. A Revolução Industrial começou na Inglaterra do século XVIII, transformando sua sociedade na primeira nação industrializada do mundo. A "Royal Society" da Inglaterra lançou as bases da ciência experimental moderna. O território da Inglaterra é, em sua maioria, composto por pequenas colinas e planícies, especialmente no centro e no sul do país. No entanto, existem planaltos no norte (por exemplo, "Lake District", Peninos e "Yorkshire Dales") e no sudoeste (por exemplo, Dartmoor e Cotswolds). A antiga capital da Inglaterra era Winchester até Londres assumir o posto em 1066. Hoje Londres é a maior área metropolitana no Reino Unido. A população inglesa é de cerca de 51 milhões de pessoas, cerca de 84% da população do Reino Unido é majoritariamente concentrada em Londres, no sudeste e em aglomerações nas "Midlands", no noroeste, no nordeste e em Yorkshire, regiões industriais que se desenvolveram durante o século XIX. O Reino da Inglaterra, que depois de 1284 incluiu o País de Gales, era um Estado soberano até 1 de maio de 1707, quando os Atos de União colocaram em prática os termos acordados no Tratado de União do ano anterior, resultando em uma união política com o Reino da Escócia para criar o novo Reino da Grã-Bretanha. Em 1801, a Grã-Bretanha se uniu com o Reino da Irlanda através de outro ato da união para se tornar o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Em 1922, o Estado Livre Irlandês foi estabelecido como um domínio separado, mas uma lei de 1927 reincorporou ao reino seis condados irlandeses para criar oficialmente o atual Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, ou simplesmente Reino Unido. Etimologia. O nome Inglaterra é derivado do inglês antigo "Englaland" (England), que significa "terra dos anglos". Os anglos foram uma das tribos germânicas que se estabeleceram na Inglaterra durante a Alta Idade Média. Segundo o Dicionário Oxford, o primeiro uso conhecido de "Inglaterra" para se referir à parte sul da ilha da Grã-Bretanha ocorreu em 897, e sua ortografia moderna foi usada pela primeira vez em 1538. História. Pré-História e Antiguidade. O mais antigo fóssil humano descoberto no território foi datado em mais de 700 mil anos. A descoberta foi feita no que é hoje Norfolk e Suffolk. O homem moderno chegou ao território há cerca de 35 mil anos, mas devido às condições difíceis da última Era Glacial, fugiu da Grã-Bretanha para as montanhas do sul da Europa. Apenas os grandes mamíferos, como mamutes, bisões e rinocerontes, permaneceram. Há cerca de 11 mil anos, quando o gelo começou a derreter, os seres humanos voltaram a ocupar a área. Uma pesquisa genética mostrou que eles vieram do norte da Península Ibérica. O nível do mar era mais baixo do que agora, e a Grã-Bretanha estava ligada por terra à Irlanda e a Eurásia. Quando o mar subiu, há anos, foi separado da Irlanda, e da Eurásia meio século mais tarde. A Cultura do Vaso Copaniforme chegou por volta de 2500 a.C., e a elaboração de navios construídos a partir de barro e de cobre foi introduzida. Foi nessa época que os grandes monumentos do Neolítico, como Stonehenge e Avebury foram erigidos. Durante a Idade do Ferro, os Celtas chegaram da Europa Central. O desenvolvimento de fundição de ferro permitiu a construção de arados melhores, o avanço da agricultura (por exemplo, com os campos Celtas), bem como a produção de armas mais eficazes. A sociedade era tribal, e de acordo com Ptolomeu havia cerca de 20 tribos diferentes na área, as divisões são desconhecidas. Tal como outras regiões na fronteira do Império, a Grã-Bretanha tinha apreciado por muito tempo relações comerciais com os romanos. Os romanos conquistaram a Bretanha em 43, durante o reinado do imperador Cláudio, e a área foi incorporada ao Império Romano como província da Britânia. Em 410, com o declínio do Império Romano, os romanos deixaram a ilha para defender suas fronteiras na Europa continental. Idade Média. As retiradas militares romanas deixaram a Grã-Bretanha aberta à invasão de guerreiros pagãos e marítimos do noroeste da Europa continental, principalmente os anglo-saxões, jutos e frísios, que haviam invadido as costas da província romana e começaram a se estabelecer, inicialmente na parte oriental da Europa. Seu avanço foi contido por algumas décadas após a vitória dos britânicos na Batalha do Monte Badon, mas subsequentemente recomeçou, dominando as planícies férteis da Grã-Bretanha e reduzindo a área sob controle britânicos a uma série de enclaves distintos. O país acidentado a oeste até o final do século VI. Os textos contemporâneos que descrevem esse período são extremamente escassos, dando origem à sua descrição como Idade das Trevas. A natureza e a progressão do assentamento anglo-saxão da Grã-Bretanha estão consequentemente sujeitas a um desacordo considerável. O cristianismo dominado pelos romanos, em geral, desapareceu dos territórios conquistados, mas foi reintroduzido por missionários de Roma liderados por Agostinho a partir de 597. As disputas entre as formas de cristianismo dominadas por romanos e celtas terminaram em vitória para a tradição romana no Concílio de Whitby (664), que era ostensivamente sobre cortes de cabelo e a data da Páscoa, mas mais significativamente, sobre as diferenças de formas de autoridades romanas e celtas, teologia e prática religiosa. Durante o período de colonização, as terras governadas pelos visitantes parecem ter sido fragmentadas em numerosos territórios tribais, mas no século VII, quando evidências substanciais da situação novamente se tornaram disponíveis, elas se fundiram em cerca de uma dúzia de reinos, incluindo Nortúmbria, Mércia, Wessex, East Anglia, Essex, Kent e Sussex. Nos séculos seguintes, esse processo de consolidação política continuou. O século VII viu uma luta pela hegemonia entre a Nortúmbria e a Mércia, que no século VIII deu lugar à preeminência mércia. No início do século IX, Mércia foi substituída por Wessex como o primeiro reino. Mais tarde naquele século, ataques crescentes dos dinamarqueses culminaram na conquista do norte e leste da Inglaterra, derrubando os reinos da Nortúmbria, Mércia e East Anglia. Wessex sob comando de Alfredo, o Grande, foi deixado como o único reino inglês sobrevivente e, sob seus sucessores, expandiu-se constantemente às custas dos reinos de Danelaw. Isso provocou a unificação política da Inglaterra, realizada pela primeira vez sob o comando de Etelstano em 927 e definitivamente estabelecida após novos conflitos de Edredo em 953. Uma nova onda de ataques escandinavos do final do século X terminou com a conquista deste reino unido por Sueno I em 1013 e novamente por seu filho Canuto II, em 1016, transformando-o no centro de um império de curta duração do Mar do Norte, que também incluía a Dinamarca e a Noruega. No entanto, a dinastia real nativa foi restaurada com a adesão de Eduardo, o Confessor, em 1042. A Inglaterra foi conquistada em 1066 por um exército liderado por Guilherme, o Conquistador, Duque da Normandia, um feudo do Reino da França. Os normandos originaram-se na Escandinávia e se estabeleceram na Normandia alguns séculos depois. O primeiro duque da Normandia foi Rollo, um ancestral de Guilherme, e fundador da Dinastia normanda. Eles introduziram o feudalismo e mantiveram o poder através de barões, que construíram castelos na Inglaterra. O período viu mudanças no comércio e na legislação, incluindo a assinatura da Carta Magna, uma carta jurídica utilizada para limitar o poder soberano por lei e proteger os privilégios dos homens livres. O monasticismo católico floresceu, as universidades de Oxford e Cambridge foram fundadas com o patrocínio real. Durante o século XIV, a Inglaterra e a França se enfrentaram na Guerra dos Cem Anos. A epidemia da Peste negra atingiu a Inglaterra, a partir de 1348, e matou metade dos seus habitantes. De 1453–1487 uma guerra civil entre dois ramos da Dinastia Plantageneta, a Casa de Iorque e a Dinastia de Lencastre, ficou conhecida como a Guerra das Rosas. A Guerra se resolveu quando o último rei da Casa de York, Ricardo III, foi morto na Batalha de Bosworth Field, ocorrida em 22 de agosto de 1485, pelas forças de Henrique Tudor, Conde de Richmond, da Casa de Tudor, com descendência galesa, sendo que o ancestral de Henrique, Owen Tudor, era o fundador da Dinastia através de seu casamento com Catarina de Valois, a viúva do rei Henrique V e mãe do rei Henrique VI. Idade Moderna. Durante o período Tudor, o Renascimento chegou à Inglaterra através dos cortesãos italianos, que reintroduziram o debate artístico, educacional e acadêmico da antiguidade clássica. A Inglaterra começou a desenvolver habilidades navais, e a exploração para o Ocidente se intensificou. Henrique VIII rompeu a comunhão com a Igreja Católica, por questões relacionadas ao seu divórcio, sob os Atos da Supremacia em 1534, que proclamavam o chefe monarca da Igreja da Inglaterra. Em contraste com grande parte do protestantismo europeu, as raízes da cisão eram mais políticas do que teológicas. Ele também incorporou legalmente sua terra ancestral Gales no Reino da Inglaterra com os atos de 1535 a 1542. Houve conflitos religiosos internos durante o reinado das filhas de Henrique, Maria I e Isabel I. O primeiro levou o país de volta ao catolicismo, enquanto o último o rompeu novamente, afirmando vigorosamente a supremacia do anglicanismo. Competindo com a Espanha, a primeira colônia inglesa nas Américas foi fundada em 1585 pelo explorador Walter Raleigh, na Virgínia, e recebeu o nome de Roanoke. A colônia de Roanoke falhou e é conhecida como a colônia perdida depois que foi encontrada abandonada no retorno do navio de suprimentos que chegava tarde. Com a Companhia das Índias Orientais, a Inglaterra também competiu com os holandeses e franceses no Oriente. Durante o período elisabetano, a Inglaterra estava em guerra com a Espanha. Uma armada partiu da Espanha em 1588 como parte de um plano mais amplo de invadir a Inglaterra e restabelecer uma monarquia católica. O plano foi frustrado por má coordenação, tempestade e ataques bem-sucedidos por uma frota inglesa sob o comando de Lorde Howard, de Effingham. Esse fracasso não acabou com a ameaça: a Espanha lançou mais duas armadas, em 1596 e 1597, mas ambas foram recuadas por tempestades. A estrutura política da ilha mudou em 1603, quando o rei dos escoceses, Jaime VI, um reino há muito rival dos interesses ingleses, herdou o trono da Inglaterra como Jaime I, criando assim uma união pessoal. Ele se denominou rei da Grã-Bretanha, embora isso não tivesse base na lei inglesa. Sob os auspícios do rei Jaime VI e I, a versão autorizada da Bíblia Sagrada do rei Jaime foi publicada em 1611. Ela não só foi classificada com as obras de Shakespeare como a maior obra-prima da literatura na língua inglesa, mas também foi a versão padrão da Bíblia lida pela maioria dos cristãos protestantes por quatrocentos anos, até que as revisões modernas foram produzidas no século XX. Com base em posições políticas, religiosas e sociais conflitantes, a Guerra Civil Inglesa foi travada entre os apoiadores do Parlamento e os do rei Carlos I, conhecidos coloquialmente como Roundheads e Cavaliers, respectivamente. Essa foi uma parte entrelaçada das Guerras multifacetadas mais amplas dos Três Reinos, envolvendo a Escócia e a Irlanda. Os parlamentares foram vitoriosos, Carlos I foi executado e o reino substituído pela Commonwealth. Líder das forças do Parlamento, Oliver Cromwell declarou-se Lorde Protetor em 1653; seguiu-se um período de regra pessoal. Após a morte de Cromwell e a renúncia de seu filho Richard como Lorde Protetor, Carlos II foi convidado a retornar como monarca em 1660, em um movimento chamado Restauração. Após a Revolução Gloriosa de 1688, foi estabelecido constitucionalmente que o Rei e o Parlamento deveriam governar juntos, embora o Parlamento tivesse o poder real. Isso foi estabelecido com a Declaração de Direitos em 1689. Entre os estatutos estabelecidos, a lei só podia ser feita pelo Parlamento e não podia ser suspensa pelo rei, e também que o rei não podia impor impostos ou criar um exército sem a prévia autorização e aprovação do Parlamento. Também desde então, nenhum monarca britânico entrou na Câmara dos Comuns quando está sentado, que é comemorado anualmente na abertura do Parlamento pelo monarca britânico quando as portas da Câmara dos Comuns são batidas em face de o mensageiro do monarca, simbolizando os direitos do Parlamento e sua independência do monarca. Com a fundação da Royal Society em 1660, a ciência foi muito incentivada. Em 1666, o Grande Incêndio de Londres destruiu a Cidade de Londres, mas foi reconstruído pouco depois com muitos edifícios significativos projetados por Sir Christopher Wren. No Parlamento, duas facções surgiram — os Conservadores e os Whigs. Embora os Conservadores tenham inicialmente apoiado o rei católico Jaime II, alguns deles, juntamente com os Whigs, durante a Revolução de 1688 convidaram o príncipe holandês William de Orange a derrotar Jaime e, finalmente, a se tornar Guilherme III da Inglaterra. Alguns ingleses, especialmente no norte, eram jacobitas e continuaram a apoiar Jaime e seus filhos. Depois que os parlamentos da Inglaterra e Escócia concordaram, os dois países aderiram à união política, para criar o Reino da Grã-Bretanha em 1707. Para acomodar a união, instituições como a lei e as igrejas nacionais de cada um permaneceram separadas. Idade Contemporânea. Sob o recém-formado Reino da Grã-Bretanha, a produção da Royal Society e outras iniciativas inglesas combinadas com o Iluminismo escocês para criar inovações em ciência e engenharia, enquanto o enorme crescimento do comércio exterior britânico protegido pela Marinha Real abriu o caminho para o estabelecimento do Império Britânico. Internamente, impulsionou a Revolução Industrial, um período de profundas mudanças nas condições socioeconômicas e culturais da Inglaterra, resultando em agricultura industrializada, manufatura, engenharia e mineração, além de novas e pioneiras redes rodoviárias, ferroviárias e hidráulicas para facilitar sua expansão e desenvolvimento. A abertura do Canal Bridgewater, no noroeste da Inglaterra, em 1761, deu início à era do canal na Grã-Bretanha. Em 1825, a primeira ferrovia de passageiros permanente transportada por locomotiva a vapor do mundo — a Ferrovia Stockton e Darlington — foi aberta ao público. Durante a Revolução Industrial, muitos trabalhadores mudaram-se do campo da Inglaterra para áreas industriais urbanas novas e em expansão para trabalhar em fábricas, por exemplo, em Birmingham e Manchester, apelidadas de "Oficina do Mundo" e "Cidade do Armazém", respectivamente. Inglaterra manteve relativa estabilidade durante toda a Revolução Francesa; William Pitt, o Jovem, foi o primeiro-ministro britânico para o reinado de George III. Durante as guerras napoleônicas, Napoleão planejava invadir a partir do sudeste. No entanto, isso não se manifestou e as forças napoleônicas foram derrotadas pelos britânicos no mar por Lorde Nelson e em terra pelo duque de Wellington. As guerras napoleônicas promoveram um conceito de britanismo e um povo britânico nacional unido, compartilhado com os escoceses e galeses. Londres se tornou a maior e mais populosa área metropolitana do mundo durante a era vitoriana, e o comércio dentro do Império Britânico, assim como a posição das forças armadas e da marinha britânicas, era de prestígio. A agitação política em casa de radicais como os cartistas e os sufragistas permitiu a reforma legislativa e o sufrágio universal. Mudanças de poder na Europa centro-leste levaram à Primeira Guerra Mundial; centenas de milhares de soldados ingleses morreram lutando pelo Reino Unido como parte dos Aliados. Duas décadas depois, na Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido foi novamente um dos Aliados. No final da Guerra Falsa, Winston Churchill tornou-se o Primeiro Ministro da guerra. A evolução da tecnologia de guerra viu muitas cidades danificadas por ataques aéreos durante o Blitz. Após a guerra, o Império Britânico experimentou uma descolonização rápida e houve uma aceleração das inovações tecnológicas; os automóveis se tornaram o principal meio de transporte e o desenvolvimento do motor a jato levou a viagens aéreas mais amplas. Os padrões residenciais foram alterados na Inglaterra por veículos particulares e pela criação do Serviço Nacional de Saúde (NHS) em 1948. O NHS do Reino Unido fornecia assistência médica com fundos públicos a todos os residentes permanentes do Reino Unido gratuitamente no ponto de necessidade, sendo pagos tributação geral. Combinadas, essas mudanças levaram à reforma do governo local na Inglaterra em meados do século XX. Desde o século XX, houve um movimento populacional significativo para a Inglaterra, principalmente de outras partes das Ilhas Britânicas, mas também da Commonwealth, particularmente do subcontinente indiano. Desde a década de 1970, houve uma grande mudança na fabricação e uma ênfase crescente na indústria de serviços. Como parte do Reino Unido, a área aderiu a uma iniciativa comum de mercado chamada Comunidade Econômica Europeia, que se tornou a União Europeia. Desde o final do século XX, a administração do Reino Unido mudou-se para uma governança descentralizada na Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Inglaterra e o País de Gales continuam a existir como jurisdição no Reino Unido. A devolução estimulou uma ênfase maior em uma identidade e patriotismo mais específicos do inglês. Não existe um governo inglês desconcentrado, mas uma tentativa de criar um sistema semelhante em uma base sub-regional foi rejeitada por referendo. Geografia. Geograficamente, a Inglaterra inclui os dois terços central e sul da ilha da Grã-Bretanha, além de ilhas marítimas como a Ilha de Wight e as Ilhas Scilly. Faz fronteira com outros dois países do Reino Unido: ao norte pela Escócia e a oeste pelo País de Gales. A Inglaterra está mais perto do que qualquer outra parte da Grã-Bretanha continental do continente europeu. É separado da França (Hauts-de-France) por uma lacuna marítima de 34 km, embora os dois países estejam conectados pelo Canal da Mancha perto de Folkestone. A Inglaterra também tem margens no mar da Irlanda, no mar do Norte e no Oceano Atlântico. Os portos de Londres, Liverpool e Newcastle ficam nos rios das marés Tamisa, Mersey e Tyne, respectivamente. A 350 km, o Severn é o rio mais longo que flui pela Inglaterra. Deságua no Canal de Bristol e é notável por seu Severn Bore (um furo de maré), que pode atingir 2 metros (6,6 pés) de altura. No entanto, o rio mais longo da Inglaterra é o Tamisa, com 346 km de comprimento. Existem muitos lagos na Inglaterra; o maior é Windermere, no apropriadamente chamado Lake District. A maior parte da paisagem da Inglaterra consiste em colinas e planícies baixas, com terras altas e montanhosas no norte e oeste do país. As terras altas do norte incluem os Peninos, uma cadeia de terras altas que divide o leste e o oeste, as montanhas do distrito do lago em Cumbria e as colinas de Cheviot, situando-se na fronteira entre a Inglaterra e a Escócia. O ponto mais alto da Inglaterra, a 978 metros (3 209 pés), é Scafell Pike, no Lake District. As colinas de Shropshire estão perto do País de Gales, enquanto Dartmoor e Exmoor são duas áreas de montanha no sudoeste do país. A linha divisória aproximada entre os tipos de terreno é frequentemente indicada pela linha Tees-Exe. Em termos geológicos, os Peninos, conhecidos como "espinha dorsal da Inglaterra", são a cordilheira mais antiga do país, originada no final da Era Paleozóica, há cerca de 300 milhões de anos. Sua composição geológica inclui, entre outros, arenito e calcário, e também carvão. Existem paisagens cársticas em áreas de calcita, como partes de Yorkshire e Derbyshire. A paisagem Penina é um pântano alto em áreas de montanha, recortado por vales férteis dos rios da região. Eles contêm dois parques nacionais , o Yorkshire Dales e o Peak District. No Oeste, Dartmoor e Exmoor da Península Sudoeste incluem pântanos montanhosos sustentados por granito e desfrutam de um clima ameno; ambos são parques nacionais. As terras baixas inglesas estão nas regiões central e sul do país, consistindo em colinas verdes, incluindo as colinas de Cotswold, Chiltern Hills, North e South Downs; onde encontram o mar, formam exposições de rochas brancas, como os penhascos de Dover. Isso também inclui planícies relativamente planas, como a planície de Salisbury, os níveis de Somerset, a planície da costa sul e os Fens. Clima. A Inglaterra tem um clima marítimo temperado: é ameno com temperaturas não muito inferiores a 0 °C (32 °F) no inverno e não muito acima de 32 °C (90 °F) no verão . O clima é úmido com relativa frequência e é instável. Os meses mais frios são janeiro e fevereiro, este último particularmente na costa inglesa, enquanto julho é normalmente o mês mais quente. Meses com clima ameno a quente são maio, junho, setembro e outubro. As chuvas são espalhadas de maneira bastante uniforme ao longo do ano. Influências importantes no clima da Inglaterra são a proximidade com o Oceano Atlântico, a latitude norte e o aquecimento do mar pela corrente do Golfo. As chuvas são maiores no oeste, e partes do distrito dos lagos recebem mais chuva do que em qualquer outro lugar do país. Desde o início dos registros climáticos, a temperatura mais alta registrada foi de 38,7 °C (101,7 °F) em 25 de julho de 2019 no Jardim Botânico de Cambridge, enquanto a mais baixa foi de -26,1 °C (-15,0 °F) em 10 de janeiro de 1982 em Edgmond, Shropshire. Demografia. Segundo o censo de 2011, a população oficial do país era de mais de 53 milhões de habitantes, sendo o mais populoso do Reino Unido, contando com cerca de 84% do total de habitantes. A vigésima maior do mundo. Racialmente, 85,4% são brancos (37,6 milhões sendo etnicamente ingleses), 7,8% asiáticos, 3,5% são negros, 2,3% são de raças misturadas e 0,4% são de origem árabe. Quase 10% da população da Inglaterra, no começo da década de 2010, não nasceram no país. População. Com mais de 53 milhões de habitantes, a Inglaterra é de longe o país mais populoso do Reino Unido, representando 84% do total combinado. A Inglaterra, tomada como uma unidade e medida em relação aos estados internacionais, seria o 25º maior país em população do mundo. Com uma densidade de 424 hab./km2, O povo inglês é um povo britânico. Algumas evidências genéticas sugerem que 75 a 95% descem na linha paterna de colonos pré-históricos originários da Península Ibérica, bem como uma contribuição de 5% de Anglo-Saxões e um elemento escandinavo (Vikings). No entanto, outros geneticistas colocam a estimativa germânica na metade. Com o tempo, várias culturas foram influentes: pré-histórica, britônica, romana, anglo-saxônica, viking (norte da Alemanha), culturas gaélicas, bem como uma grande influência de Normandos. Existe uma diáspora inglesa em partes anteriores do Império Britânico; especialmente os Estados Unidos, Canadá, Austrália, África do Sul e Nova Zelândia. Desde o final dos anos 90, muitos ingleses migraram para a Espanha. Em 1086, quando o "Livro Domesday" foi compilado, a Inglaterra tinha uma população de dois milhões. Cerca de 10% viviam em áreas urbanas. Em 1801, a população era de 8,3 milhões e, em 1901, 30,5 milhões. Devido, em particular, à prosperidade econômica do sudeste da Inglaterra, recebeu muitos migrantes econômicos de outras partes do Reino Unido. Houve uma migração irlandesa significativa. A proporção de residentes etnicamente europeus é de 87,50%, incluindo alemães e poloneses. Outras pessoas de muito mais longe nas ex-colônias britânicas chegaram desde a década de 1950: em particular, 6% das pessoas que vivem na Inglaterra têm origens familiares no subcontinente indiano, principalmente Índia, Paquistão e Bangladesh. 2,90% da população é negra, da África e do Caribe, especialmente ex-colônias britânicas. Há um número significativo de chineses e chineses britânicos. Em 2007, 22% das crianças da escola primária na Inglaterra eram de famílias de minorias étnicas, e em 2011 esse número era de 26,5%. Cerca de metade do aumento da população entre 1991 e 2001 foi devido à imigração. O debate sobre imigração é politicamente proeminente; 80% dos entrevistados em uma pesquisa de 2009 do Home Office queriam limitar. O ONS projetou que a população crescerá nove milhões entre 2014 e 2039. A Inglaterra contém uma minoria nacional indígena, o povo da Cornualha, reconhecido pelo governo do Reino Unido sob a Convenção-Quadro para a Proteção das Minorias Nacionais em 2014. Urbanização. A área construída da Grande Londres é de longe a maior área urbana da Inglaterra e uma das cidades mais movimentadas do mundo. É considerada uma cidade global e possui uma população maior que outros países do Reino Unido, além da própria Inglaterra. Outras áreas urbanas de tamanho e influência consideráveis ​​tendem a estar no norte da Inglaterra ou nas Midlands inglesas. Existem 50 assentamentos que foram designados como status de cidade na Inglaterra, enquanto o Reino Unido em geral tem 66. Embora muitas cidades na Inglaterra sejam bastante grandes, como Birmingham, Sheffield, Manchester, Liverpool, Leeds, Newcastle, Bradford, Nottingham, o tamanho da população não é um pré-requisito para o status da cidade. Tradicionalmente, o status era dado às cidades com catedrais diocesanas, então existem cidades menores como Wells, Ely, Ripon, Truro e Chichester. Religião. No censo de 2011, 59,4% da população da Inglaterra especificou sua religião como cristã, 24,7% responderam que não tinham religião, 5% especificaram que eram muçulmanos, enquanto 3,7% da população pertence a outras religiões e 7,2% não deu uma resposta. O cristianismo é a religião mais praticada na Inglaterra, como tem sido desde o início da Idade Média, embora tenha sido introduzida pela primeira vez muito antes nos tempos gaélico e romano. Esta igreja celta foi gradualmente unida à hierarquia católica após a missão gregoriana do século VI a Kent liderada por Santo Agostinho. A igreja estabelecida da Inglaterra é a Igreja da Inglaterra (Igreja Anglicana), que deixou a comunhão com Roma na década de 1530 através do ato do parlamento, quando Henrique VIII foi excomungado pelo papa após ter anulado seu casamento com a tia do rei da Espanha, Catarina de Aragão. A igreja se considera católica e protestante. Existem tradições litúrgicas chamadas da Igreja Alta e da Igreja Baixa e algumas paróquias possuem as duas tradições, seguindo o movimento tratado. O monarca do Reino Unido é o Governador Supremo da Igreja da Inglaterra, que tem cerca de 26 milhões de membros batizados. Faz parte da Comunhão Anglicana, com o Arcebispo de Canterbury atuando como seu líder espiritual em todo o mundo. Muitas catedrais e igrejas paroquiais são edifícios históricos de importância arquitetônica significativa, como a Abadia de Westminster, a Catedral de York, a Catedral de Durham e a Catedral de Salisbury. A segunda maior prática cristã é o rito latino da Igreja Católica. Desde sua reintrodução após a Emancipação Católica, a Igreja se organizou eclesiástica na Inglaterra e no País de Gales, onde existem 4,5 milhões de membros (a maioria dos quais são ingleses ou imigrantes). Houve um papa da Inglaterra até hoje, Adriano IV; enquanto os santos Beda Venerável e Anselmo são considerados doutores da Igreja. Uma forma de protestantismo conhecida como metodismo é a terceira maior prática cristã e surgiu do anglicanismo por meio de John Wesley. Ganhou popularidade nas cidades moinho de Lancashire e Yorkshire e entre os mineiros de estanho da Cornualha. Existem outras minorias não conformistas, como batistas, quakers, congregacionalistas, unitaristas e o exército de salvação. O santo padroeiro da Inglaterra é São Jorge; sua cruz simbólica está incluída na bandeira da Inglaterra e na bandeira da União como parte de uma combinação. Existem muitos outros ingleses e santos associados; alguns dos mais conhecidos são: Cuteberto, Edmundo, Albano, Wilfrid, Edano, Eduardo, o Confessor, John Fisher, Thomas More, Petroc, Piran, Margaret Clitherow e Thomas Becket. Existem religiões não-cristãs praticadas. Os judeus têm uma história de uma pequena minoria na ilha desde 1070. Eles foram expulsos da Inglaterra em 1290 após o Edito de Expulsão, apenas para serem permitidos em 1656. Especialmente desde a década de 1950, as religiões das ex-colônias britânicas cresceram em número devido à imigração. O Islã é o mais comum deles, agora representando cerca de 5% da população na Inglaterra. Hinduísmo, sikhismo e budismo são os próximos em número, totalizando 2,8% combinados, introduzidos na Índia e no sudeste da Ásia. Uma pequena minoria da população pratica religiões pagãs antigas. O neopaganismo no Reino Unido é representado principalmente pelas religiões Wicca e Bruxaria, Druidra e Germânico. De acordo com o Censo do Reino Unido em 2011, existem aproximadamente 53 172 pessoas que se identificam como pagãs na Inglaterra, e 3 448 no País de Gales, incluindo 11 026 Wiccans na Inglaterra e 740 no País de Gales. Governo e política. Como parte do Reino Unido, o sistema político básico na Inglaterra é uma monarquia constitucional e um sistema parlamentar. Não existe um governo da Inglaterra desde 1707, quando os Atos da União de 1707, que entraram em vigor os termos do Tratado da União, se uniram à Inglaterra e à Escócia para formar o Reino da Grã-Bretanha. Antes da união, a Inglaterra era governada por seu monarca e pelo Parlamento da Inglaterra. Hoje, a Inglaterra é governada diretamente pelo Parlamento do Reino Unido, embora outros países do Reino Unido tenham descentralizado governos. Na Câmara dos Comuns, que é a câmara baixa do Parlamento Britânico, com sede no Palácio de Westminster, existem 532 membros do Parlamento (MPs) para distritos eleitorais na Inglaterra, do total de 650. Desde as eleições gerais de 2019 no Reino Unido, a Inglaterra é representada por 345 parlamentares do Partido Conservador, 179 do Partido Trabalhista, sete dos Democratas Liberais, um do Partido Verde e a presidente Lindsay Hoyle. Desde a devolução, em que outros países do Reino Unido — Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, cada um tem seu próprio parlamento ou assembleias desconcentrados para questões locais, houve um debate sobre como contrabalançar isso na Inglaterra. Originalmente, estava previsto que várias regiões da Inglaterra seriam desconcentradas, mas após a rejeição da proposta pelo Nordeste em um referendo de 2004, isso não foi realizado. Uma questão importante é a questão de West Lothian, na qual parlamentares da Escócia e do País de Gales são capazes de votar em legislação que afeta apenas a Inglaterra, enquanto os parlamentares ingleses não têm direito equivalente de legislar sobre questões desconcentradas. Este, quando colocado no contexto da Inglaterra, é o único país do Reino Unido a não ter tratamento gratuito do câncer, prescrições, atendimento residencial para idosos e taxas universitárias gratuitas de recarga, levou a um aumento constante no nacionalismo inglês. Alguns sugeriram a criação de um parlamento inglês desconcentrado, enquanto outros propuseram simplesmente limitar a votação da legislação que afeta apenas a Inglaterra aos deputados ingleses. Lei. O sistema jurídico da lei inglesa, desenvolvido ao longo dos séculos, é a base do sistema jurídico comum usado na maioria dos países da Commonwealth (exceto Quebec) e nos Estados Unidos (exceto Louisiana). Apesar de agora fazer parte do Reino Unido, o sistema jurídico dos tribunais da Inglaterra e do País de Gales continuou, sob o Tratado da União, como um sistema jurídico separado daquele usado na Escócia. A essência geral do direito inglês é que ele é feito por juízes em tribunais, aplicando seu senso comum e conhecimento de precedentes legais — "stare decisis" — aos fatos que lhes são apresentados. O sistema judicial é dirigido pelos Tribunais Superiores da Inglaterra e do País de Gales, constituídos pelo Tribunal de Apelação, o Tribunal Superior de Justiça para casos civis e o Tribunal da Coroa para casos criminais. A Suprema Corte do Reino Unido é a mais alta corte para processos criminais e civis na Inglaterra e no País de Gales. Foi criado em 2009 após mudanças constitucionais, assumindo as funções judiciais da Câmara dos Lordes. Uma decisão da Suprema Corte vincula todos os outros tribunais da hierarquia, que devem seguir suas instruções. O crime aumentou entre 1981 e 1995, mas caiu 42% no período 1995–2006. A população prisional dobrou no mesmo período, dando-lhe a maior taxa de encarceramento na Europa Ocidental, com 147 por 100 mil. O Serviço Penitenciário de Sua Majestade, subordinado ao Ministério da Justiça, administra a maioria das prisões, abrigando mais de 85 mil condenados. Subdivisões. As subdivisões da Inglaterra consistem em até quatro níveis de divisão subnacional, controlados por vários tipos de entidades administrativas criadas para os propósitos do governo local . O nível mais alto do governo local foram as nove regiões da Inglaterra: Nordeste, Noroeste, Yorkshire e Humber, East Midlands, West Midlands, Leste, Sudeste, Sudoeste e Londres. Eles foram criados em 1994 como escritórios do governo, usados pelo governo do Reino Unido para fornecer uma ampla gama de políticas e programas regionalmente, mas não há órgãos eleitos nesse nível, exceto em Londres, e em 2011 os escritórios do governo regional foram abolidos.Depois que a devolução começou a ocorrer em outras partes do Reino Unido, foi planejado que referendos para as regiões da Inglaterra fossem realizados para suas próprias assembleias regionais eleitas como contrapeso. Londres aceita em 1998: a Assembleia de Londres foi criada dois anos depois. No entanto, quando a proposta foi rejeitada pelo referendo de devolução no nordeste da Inglaterra em 2004 no nordeste, outros referendos foram cancelados. As assembleias regionais fora de Londres foram abolidas em 2010 e suas funções transferidas para as respectivas agências de desenvolvimento regional e para um novo sistema de conselhos de líderes das autoridades locais. Abaixo do nível regional, toda a Inglaterra é dividida em 48 condados cerimoniais. Estes são usados principalmente como um quadro geográfico de referência e se desenvolveram gradualmente desde a Idade Média, com alguns estabelecidos até 1974. Cada um tem um Lorde Tenente e Alto Xerife; esses postos são usados para representar o monarca britânico localmente. Fora da Grande Londres e das Ilhas Scilly, a Inglaterra também é dividida em 83 condados metropolitanos e não metropolitanos; estes correspondem às áreas usadas para os propósitos do governo local e podem consistir em um único distrito ou ser divididos em vários. Existem seis condados metropolitanos baseados nas áreas mais urbanizadas, que não possuem conselhos municipais. Nessas áreas, as principais autoridades são os conselhos das subdivisões, os bairros metropolitanos. Em outros lugares, 27 condados não-metropolitanos têm um conselho do condado e são divididos em distritos, cada um com um conselho distrital. São tipicamente, embora nem sempre, encontrados em áreas mais rurais. Os demais condados não metropolitanos pertencem a um único distrito e geralmente correspondem a grandes cidades ou municípios pouco povoados; eles são conhecidos como autoridades unitárias. A Grande Londres possui um sistema diferente para o governo local, com os 32 bairros de Londres, além da Cidade de Londres, cobrindo uma pequena área no centro governada pela Corporação da Cidade de Londres. No nível mais localizado, grande parte da Inglaterra é dividida em paróquias civis com conselhos; na Grande Londres, apenas um, o Queen's Park, existe a partir de 2014 depois que foram abolidos em 1965, até que a legislação permitisse sua recreação em 2007. Atualmente a Inglaterra se divide em quatro níveis de subdivisões administrativas: Porém tradicionalmente, a Inglaterra se divide em condados ("shires"), de constituição que tem sido algo variável. Os condados podem ser definidos para várias razões. Os condados cerimoniais são definidos pelo governo e a cada um é designado um "Lorde-Tenente". A maioria refere a um grupo de autoridades locais e frequentemente com referência geográfica. Economia. A economia da Inglaterra é uma das maiores do mundo, com um PIB médio per capita de £ 28 100 ou $ . Geralmente considerada uma economia de mercado mista, adotou muitos princípios de livre mercado, mas mantém uma infraestrutura avançada de bem-estar social . A moeda oficial da Inglaterra é a libra esterlina, cujo código ISO 4217 é GBP. Os impostos na Inglaterra são bastante competitivos quando comparados a grande parte do resto da Europa — a partir de 2014 a taxa básica de impostos pessoais é de 20% sobre a renda tributável até 31 865 £ acima da dedução isenta de impostos (normalmente £ 10 000) e 40% em ganhos adicionais acima desse valor. A economia da Inglaterra é a maior parte da economia do Reino Unido, que possui o 18º maior PIB per capita do mundo . A Inglaterra é líder nos setores químico e farmacêutico e nas principais indústrias técnicas, particularmente aeroespacial, indústria de armas e setor de manufatura da indústria de software. Londres, sede da London Stock Exchange, a principal bolsa de valores do Reino Unido e a maior da Europa, é o centro financeiro da Inglaterra, com 100 das 500 maiores empresas da Europa sediadas no país. Londres é o maior centro financeiro da Europa e, a partir de 2014, é o segundo maior do mundo. O Banco da Inglaterra, fundado em 1694 pelo banqueiro escocês William Paterson, é o banco central do Reino Unido. Originalmente estabelecido como banqueiro privado para o governo da Inglaterra, desde 1946 é uma instituição estatal. O banco detém o monopólio da emissão de notas na Inglaterra e no País de Gales, embora não em outras partes do Reino Unido. O governo devolveu a responsabilidade ao Comitê de Política Monetária do banco para gerenciar a política monetária do país e estabelecer as taxas de juros. A Inglaterra é altamente industrializada, mas desde os anos 70 houve um declínio nas indústrias pesadas e manufatureiras tradicionais e uma ênfase crescente em uma economia mais orientada para a indústria de serviços. O turismo tornou-se uma indústria significativa, atraindo milhões de visitantes para a Inglaterra a cada ano. A parte de exportação da economia é dominada por produtos farmacêuticos, carros (embora muitas marcas inglesas agora sejam de propriedade estrangeira, como Land Rover, Lotus, Jaguar e Bentley), o petróleo bruto e petróleo das partes inglesas do petróleo do Mar do Norte, juntamente com Wytch Fazenda, motores de aeronaves e bebidas alcoólicas. A maior parte da indústria aeroespacial de £ 30 bilhões do Reino Unido é baseada principalmente na Inglaterra. A oportunidade de mercado global para os fabricantes aeroespaciais do Reino Unido nas próximas duas décadas é estimada em 3,5 trilhões de libras. A GKN Aerospace — um especialista em aeroestruturas metálicas e compostas está envolvido em quase todas as aeronaves civis e militares de asa fixa e rotativa em produção na sede do Redditch. A BAE Systems faz grandes seções do Typhoon Eurofighter em sua fábrica de submontagem em Salmesbury e monta a aeronave para a RAF em sua fábrica de Warton, perto de Preston. É também um subcontratado principal do F35 Joint Strike Fighter — o maior projeto de defesa única do mundo, para o qual projeta e fabrica uma variedade de componentes, incluindo fuselagem traseira, ponteiras verticais e horizontais de cauda e asa e sistema de combustível. Também fabrica o Hawk, o avião de treinamento a jato mais bem-sucedido do mundo . A Rolls-Royce PLC é o segundo maior fabricante de motores aeronáuticos do mundo. Seus motores alimentam mais de 30 tipos de aeronaves comerciais e atualmente possui mais de 30 mil motores em serviço nos setores civil e de defesa. Com uma força de trabalho de mais de 12 mil pessoas, Derby tem a maior concentração de funcionários da Rolls-Royce no Reino Unido. A Rolls-Royce também produz sistemas de energia de baixa emissão para navios; fabrica equipamentos e sistemas de segurança críticos para a indústria nuclear e alimenta plataformas offshore e os principais oleodutos da indústria de petróleo e gás. Grande parte da indústria espacial do Reino Unido está centrada no EADS Astrium, com sede em Stevenage e Portsmouth. A empresa constrói os ônibus — a estrutura subjacente na qual os sistemas de carga e propulsão são construídos — para a maioria das naves espaciais da Agência Espacial Europeia, bem como para os satélites comerciais. A líder mundial em sistemas compactos de satélite, a Surrey Satellite Technology, também faz parte da Astrium. Reaction Engines Limited, a empresa que planeja construir o Skylon, um avião espacial de estágio único em órbita usando seu motor de foguete SABRE, um sistema de propulsão de foguete de ciclo combinado e respiração de ar é baseada em Culham. A agricultura é intensiva e altamente mecanizada, produzindo 60% das necessidades alimentares com apenas 2% da força de trabalho. Dois terços da produção são dedicados ao gado, o outro às culturas arvenses. Infraestrutura. Educação. O Departamento de Educação é o departamento governamental responsável por questões que afetam as pessoas na Inglaterra até os 19 anos de idade, incluindo a educação. As escolas estatais e financiadas pelo estado são frequentadas por aproximadamente 93% das crianças em idade escolar inglesas. Destas, uma minoria são as escolas religiosas (principalmente as da Igreja da Inglaterra ou as católicas romanas). As crianças entre 3 e 5 anos de idade frequentam o berçário ou uma unidade de recepção do Early Years Foundation Stage dentro de uma escola primária. Crianças de 5 a 11 anos de idade frequentam a escola primária e a escola secundária é frequentada por crianças de 11 a 16 anos. Após concluir o ensino obrigatório, os alunos fazem os exames GCSE. Os alunos podem optar por continuar os estudos por dois anos. As faculdades de educação continuada (particularmente as faculdades do sixth form) costumam fazer parte de um site da escola secundária. Os exames de nível A são realizados por um grande número de estudantes de ensino superior e, muitas vezes, formam a base de uma inscrição na universidade. Embora a maioria das escolas secundárias de inglês seja abrangente, em algumas áreas existem escolas de gramática seletiva, às quais a entrada está sujeita à aprovação no exame de onze ou mais. Cerca de 7,2% dos alunos de inglês frequentam escolas particulares, que são financiadas por fontes privadas. As normas nas escolas estaduais são monitoradas pelo Escritório de Normas em Educação e nas escolas particulares pela Inspeção de Escolas Independentes. Os estudantes do ensino superior normalmente frequentam a universidade a partir dos 18 anos, onde estudam para obter um diploma acadêmico. Existem mais de 90 universidades na Inglaterra, todas, exceto uma, instituições públicas. O Departamento de Negócios, Inovação e Habilidades é o departamento do governo responsável pelo ensino superior na Inglaterra. Os estudantes geralmente têm direito a empréstimos estudantis para cobrir o custo das propinas e dos custos de vida. O primeiro diploma oferecido aos graduandos é o diploma de bacharel, que geralmente leva três anos para ser concluído. Os alunos podem então trabalhar para uma pós-graduação, que geralmente leva um ano, ou para um doutorado, que leva três ou mais anos. Desde o estabelecimento do Bedford College (Londres), Girton College (Cambridge) e Somerville College (Oxford) no século XIX, as mulheres também podem obter um diploma universitário. As universidades da Inglaterra incluem algumas das universidades mais bem classificadas do mundo; Universidade de Cambridge, Universidade de Oxford, Imperial College London, University College London e King's College London são classificadas entre as 30 melhores do mundo no "QS World University Rankings de" 2018. A London School of Economics foi descrita como a principal instituição de ciências sociais do mundo para ensino e pesquisa. A London Business School é considerada uma das principais escolas de negócios do mundo e, em 2010, seu programa de MBA foi classificado como o melhor do mundo pelo "Financial Times." Os graus acadêmicos na Inglaterra geralmente são divididos em classes: primeira classe (1ª), segunda classe superior (2: 1), segunda classe inferior (2: 2), terceira (terceira) e não classificadas. A King's School em Cantuária e a King's School, Rochester são as escolas mais antigas do mundo de língua inglesa. Muitas das escolas mais conhecidas da Inglaterra, como Winchester College, Eton, St Paul's School, Harrow School e Rugby School são instituições pagadoras de taxas. Saúde. O National Health Service (NHS: Serviço Nacional De Saúde) é o sistema de saúde com financiamento público na Inglaterra, responsável por fornecer a maioria dos serviços de saúde no país. O NHS (National Health Service) começou em 5 de julho de 1948, pondo em prática as disposições da Lei do Serviço Nacional de Saúde de 1946. Foi baseado nas conclusões do Relatório Beveridge, preparado pelo economista e reformador social William Beveridge. O NHS é amplamente financiado por impostos gerais, incluindo pagamentos pelo Seguro Nacional , e fornece a maioria de seus serviços gratuitamente no ponto de uso, embora haja algumas taxas para algumas pessoas por exames oftalmológicos, atendimento odontológico, prescrições e aspectos de cuidados pessoais. O departamento do governo responsável pelo NHS é o Departamento de Saúde, chefiado pelo Secretário de Estado da Saúde, que fica no Gabinete Britânico. A maioria das despesas do Departamento de Saúde é gasta no NHS — £ 98,6 bilhões foram gastos em 2008–2009. Nos últimos anos, o setor privado tem sido cada vez mais utilizado para fornecer mais serviços do NHS, apesar da oposição de médicos e sindicatos. A expectativa média de vida das pessoas na Inglaterra é de 77,5 anos para homens e 81,7 anos para mulheres, o mais alto dos quatro países do Reino Unido. O sul da Inglaterra tem uma expectativa de vida mais alta que o norte, no entanto, as diferenças regionais parecem estar se estreitando lentamente: entre 1991–1993 e 2012–2014, a expectativa de vida no nordeste aumentou 6,0 anos e no norte Oeste em 5,8 anos, o aumento mais rápido em qualquer região fora de Londres e a diferença entre a expectativa de vida no Nordeste e Sudeste é agora de 2,5 anos, abaixo dos 2,9 em 1993. Ciência e Tecnologia. Figuras proeminentes em inglês do campo da ciência e da matemática incluem Sir Isaac Newton, Michael Faraday, Charles Darwin, Robert Hooke, James Prescott Joule, John Dalton, Lord Rayleigh, JJ Thomson, James Chadwick, Charles Babbage, George Boole, Alan Turing e Tim Berners-Lee, Paul Dirac, Stephen Hawking, Peter Higgs, Roger Penrose, John Horton Conway, Thomas Bayes, Arthur Cayley, GH Hardy, Oliver Heaviside, Andrew Wiles, Francis Crick, Joseph Lister, Joseph Priestley, Thomas Young, Christopher Wren e Richard Dawkins. Alguns especialistas afirmam que o primeiro conceito de sistema métrico foi inventado por John Wilkins, o primeiro secretário da Royal Society, em 166. Como o berço da Revolução Industrial, a Inglaterra foi o lar de muitos inventores significativos durante o final do século XVIII e início do século XIX. Os engenheiros ingleses famosos incluem o Isambard Kingdom Brunel, mais conhecido pela criação da Great Western Railway, uma série de navios a vapor famosos e inúmeras pontes importantes, revolucionando o transporte público e a engenharia moderna. O motor a vapor de Thomas Newcomen ajudou a gerar a Revolução Industrial. O pai das ferrovias, George Stephenson, construiu a primeira linha ferroviária pública entre cidades do mundo, a Liverpool e a Manchester Railway, inaugurada em 1830. Com seu papel na comercialização e fabricação do motor a vapor e na invenção das moedas modernas, Matthew Boulton (parceiro de negócios de James Watt) é considerado um dos empreendedores mais influentes da história. Diz-se que a vacina contra varíola do médico Edward Jenner "salvou mais vidas ... do que foram perdidas em todas as guerras da humanidade desde o início da história registrada". As invenções e descobertas dos ingleses incluem: o motor a jato, a primeira máquina de fiação industrial, o primeiro computador e o primeiro computador moderno, a World Wide Web juntamente com o HTML, a primeira transfusão de sangue humano bem-sucedida, o aspirador motorizado, o cortador de grama, o cinto de segurança, o hovercraft, o motor elétrico, os motores a vapor e teorias como a teoria da evolução darwiniana e a teoria atômica. Newton desenvolveu as ideias da gravitação universal, da mecânica newtoniana e do cálculo, e Robert Hooke, sua lei de elasticidade nomeada de maneira homônima. Outras invenções incluem a ferrovia de chapa de ferro, o termossifão, o asfalto, a faixa de borracha, a ratoeira, o marcador de olho de gato, desenvolvimento conjunto da lâmpada, locomotivas a vapor, a moderna semeadora e muitas técnicas e tecnologias modernas usadas com precisão na engenharia. Transportes. O Departamento de Transportes é o órgão governamental responsável pela supervisão do transporte na Inglaterra. Existem muitas rodovias na Inglaterra e muitas outras estradas principais, como a A1 Great North Road, que atravessa o leste da Inglaterra de Londres a Newcastle (grande parte dessa seção é de autoestrada) e segue até a fronteira escocesa. A auto-estrada mais longa da Inglaterra é a M6, do Rugby ao noroeste até a fronteira anglo-escocesa, a uma distância de 373 km. Outras rotas principais incluem: o M1 de Londres para Leeds, o M25 que circunda Londres, o M60 que circunda Manchester, o M4 de Londres para o sul de Gales, o M62 de Liverpool via Manchester para East Yorkshire e o M5 de Birmingham para Bristol e o sudoeste. O transporte de ônibus em todo o país é amplo; As principais empresas incluem National Express, Arriva e Go-Ahead Group. Os ônibus vermelhos de dois andares em Londres se tornaram um símbolo da Inglaterra. A Rota Nacional do Ciclo oferece rotas de ciclismo nacionalmente. Existe uma rede de trânsito rápido em duas cidades inglesas: o metrô de Londres; e o Tyne and Wear Metro em Newcastle, Gateshead e Sunderland. Existem várias redes de bonde, como o bonde de Blackpool, Manchester Metrolink, Sheffield Supertram e Midland Metro, e o sistema Tramlink centralizado em Croydon, no sul de Londres. O transporte ferroviário na Inglaterra é o mais antigo do mundo: as ferrovias de passageiros se originaram na Inglaterra em 1825. Grande parte da rede ferroviária de 16 000 km da Grã-Bretanha fica na Inglaterra, cobrindo o país de maneira bastante extensa, embora uma alta proporção de ferrovias as linhas foram fechadas na segunda metade do século XX. Existem planos para reabrir linhas como a Varsity Line entre Oxford e Cambridge. Essas linhas são principalmente de bitola padrão (faixa simples, dupla ou quádrupla), embora também existam algumas linhas de bitola estreita. Há acesso de transporte ferroviário à França e à Bélgica por meio de uma ligação ferroviária submarina, o Túnel da Mancha, que foi concluída em 1994. A Inglaterra possui extensos links de aviação doméstica e internacional. O maior aeroporto é Heathrow, que é o aeroporto mais movimentado do mundo, medido pelo número de passageiros internacionais. Outros grandes aeroportos incluem o aeroporto de Manchester, o aeroporto de Stansted, o aeroporto de Luton e o aeroporto de Birmingham. Cultura. Arquitetura. Muitos monumentos antigos de pedra foram erguidos durante o período pré-histórico; Entre os mais conhecidos estão Stonehenge, Devil's Arrows, Rudston Monolith e Castlerigg. Com a introdução da arquitetura romana antiga, houve um desenvolvimento de basílicas, banhos, anfiteatros, arcos triunfais, casas de campo, templos romanos, estradas romanas, fortes romanos, paliçadas e aquedutos. Foram os romanos que fundaram as primeiras cidades como Londres, Bath, York, Chester e St. Albans. Talvez o exemplo mais conhecido seja a Muralha de Adriano, que se estende pelo norte da Inglaterra. Outro exemplo bem preservado são os banhos romanos em Bath, Somerset. Os edifícios seculares da arquitetura medieval antiga eram construções simples, principalmente usando madeira com palha para telhados. A arquitetura eclesiástica variou de uma síntese do monasticismo hiberno-saxão, à basílica e arquitetura cristã primitiva caracterizada por faixas de pilastra, arcadas em branco, flechas balaústres e aberturas triangulares. Após a conquista normanda em 1066, vários castelos na Inglaterra foram criados para que os senhores da lei pudessem defender sua autoridade e no norte para se proteger da invasão. Alguns dos castelos medievais mais conhecidos são a Torre de Londres, o Castelo de Warwick, o Castelo de Durham e o Castelo de Windsor. Durante a era Plantageneta, uma arquitetura gótica inglesa floresceu, com exemplos excelentes, incluindo as catedrais medievais, como a Catedral de Canterbury, a Abadia de Westminster e a Catedral de York. Expandindo na base normanda, havia também castelos, palácios, grandes casas, universidades e igrejas paroquiais. A arquitetura medieval foi concluída com o estilo Tudor do século XVI; o arco de quatro centros, agora conhecido como arco de Tudor, era uma característica marcante, assim como as casas de pau-a-pique internamente. Após o Renascimento, surgiu uma forma de arquitetura que lembra a antiguidade clássica sintetizada com o cristianismo, sendo particularmente defendido o estilo barroco inglês do arquiteto Christopher Wren. A arquitetura georgiana seguiu com um estilo mais refinado, evocando uma forma simples dos paladianos; o Royal Crescent em Bath é um dos melhores exemplos disso. Com o surgimento do romantismo durante o período vitoriano, foi lançado um renascimento gótico. Além disso, na mesma época, a Revolução Industrial abriu caminho para edifícios como o Palácio de Cristal. Desde a década de 1930, surgiram várias formas modernistas cuja recepção é muitas vezes controversa, embora os movimentos de resistência tradicionalistas continuem com apoio em lugares influentes. Folclore. O Folclore inglês desenvolvido ao longo de muitos séculos. Alguns dos personagens e histórias estão presentes em toda a Inglaterra, mas a maioria pertence a regiões específicas. Seres folclóricos comuns incluem duendes, gigantes, elfos, bicho-papões, trolls, duendes e anões. Enquanto se pensa que muitas lendas e costumes populares são antigos, por exemplo, os contos que caracterizam, outros datam de após a invasão normanda; Robin Hood e seus Merry Men of Sherwood e suas batalhas com o xerife de Nottingham sendo, talvez, os mais conhecidos. Durante a Alta Idade Média, os contos originários das tradições britônicas entraram no folclore inglês e se desenvolveram no mito arturiano. Estes foram derivados de fontes anglo-normandas, galesas e francesas, apresentando o rei Arthur, Camelot, Excalibur, Merlin e os Cavaleiros da Távola Redonda, como Lancelot. Essas histórias são mais centralmente reunidas na "Historia Regum Britanniae" de Geoffrey of Monmouth ("História dos Reis da Grã-Bretanha"). Outra figura antiga da tradição britânica, o rei Cole, pode ter sido baseada em uma figura real da Grã-Bretanha sub-romana. Muitos dos contos e pseudo-histórias fazem parte da matéria mais ampla da Grã-Bretanha, uma coleção de folclore britânico compartilhado. Algumas figuras folclóricas são baseadas em pessoas históricas semi ou reais cuja história foi passada séculos; Dizem que Lady Godiva cavalgou nua a cavalo por Coventry; Herevardo, o Vigilante era uma figura inglesa heróica que resistia à invasão normanda; Herne the Hunter é um fantasma equestre associado à Floresta de Windsor e ao Great Park; e Mãe Shipton é a bruxa arquetípica. Em 5 de novembro, as pessoas fazem fogueiras, acendem fogos de artifício e comem maçãs de caramelo em comemoração ao fracasso da trama da pólvora, centrada em Guy Fawkes. O bandido cavalheiresco, como Dick Turpin, é um personagem recorrente, enquanto Barba Negra é o pirata arquetípico. Atualmente, existem várias atividades folclóricas nacionais e regionais, como Morris, Maypole, Rapper Sword no Nordeste, Long Sword Dance em Yorkshire, Mummers Plays, chute de garrafa em Leicestershire e queijos em Cooper's Hill. Não existe traje nacional oficial, mas alguns estão bem estabelecidos, como o Pearly Kings and Queens associado a cockneys, a Guarda Real, o traje Morris e Beefeaters. Culinária. Desde o início do período moderno, a comida da Inglaterra tem sido historicamente caracterizada por sua simplicidade de abordagem e confiança na alta qualidade dos produtos naturais. Durante a Idade Média e durante o período do Renascimento, a culinária inglesa desfrutou de excelente reputação, embora um declínio tenha começado durante a Revolução Industrial com o afastamento da terra e o aumento da urbanização da população. A culinária da Inglaterra, no entanto, sofreu recentemente um renascimento, que tem sido reconhecido pelos críticos de comida com algumas boas classificações no melhor restaurante do restaurante nas paradas mundiais. Um livro antigo de receitas em inglês é o "Forme of Cury," da corte real de Ricardo II. Exemplos tradicionais de comida inglesa incluem o assado de domingo, com uma junta assada (geralmente carne, cordeiro, frango ou porco) servida com legumes variados, pudim de Yorkshire e molho. Outras refeições de destaque incluem peixe e batatas fritas e o café da manhã inglês completo (geralmente composto de bacon, salsichas, tomates grelhados, pão frito, pudim preto, feijão, cogumelos e ovos). Várias tortas de carne são consumidas, como torta de carne e rim, torta de carne e cerveja, torta caseira, torta de porco (geralmente consumida a frio) e o pastel da Cornualha. As salsichas são comumente consumidas, como salsichas e purê ou sapos no buraco. O hotpot de Lancashire é um ensopado bem conhecido originário do noroeste. Alguns dos queijos mais populares são Cheddar, Red Leicester, Wensleydale, Double Gloucester e Blue Stilton. Muitos pratos híbridos anglo-indianos, caril, foram criados, como frango tikka masala e balti. Os pratos de sobremesa tradicionais ingleses incluem torta de maçã ou outras tortas de frutas; pau manchado — tudo geralmente servido com creme; e, mais recentemente, pudim de caramelo. Doces incluem tortas (simples ou com frutas secas) servidas com geléia ou creme, pães de frutas secas, bolos Eccles e tortas de carne moída, além de uma grande variedade de biscoitos doces ou condimentados. Bebidas não alcoólicas comuns incluem chá, cuja popularidade foi aumentada por Catarina de Bragança, e café; as bebidas alcoólicas frequentemente consumidas incluem vinho, sidra e cerveja inglesa, como cerveja amarga, suave, forte e marrom. Artes visuais. Os primeiros exemplos conhecidos são as obras de arte rupestre e caverna pré-históricas, mais proeminentes em North Yorkshire, Northumberland e Cumbria, mas também aparecem mais ao sul, por exemplo, em Creswell Crags. Com a chegada da cultura romana no século I, várias formas de arte, como estátuas, bustos, vidrarias e mosaicos, eram a norma. Existem inúmeros artefatos sobreviventes, como os de Lullingstone e Aldborough. Durante o início da Idade Média, o estilo favoreceu cruzes e marfim esculpidos, pintura manuscrita, jóias de ouro e esmalte, demonstrando o amor por desenhos intrincados e entrelaçados, como o Staffordshire Hoard descoberto em 2009. Alguns desses estilos gaélicos e anglicanos misturados, como os Evangelhos de Lindisfarne e o Saltério Vespasiano. Mais tarde, a arte gótica era popular em Winchester e Canterbury, sobrevivem exemplos como Benedictional of St. Æthelwold e Luttrell Psalter. A era Tudor viu artistas proeminentes como parte de sua corte, a pintura de retrato que continuaria sendo uma parte duradoura da arte inglesa, foi impulsionada pelo alemão Hans Holbein, nativos como Nicholas Hilliard construídos sobre isso. Sob os Stuarts, os artistas continentais foram influentes, especialmente os flamengos; exemplos do período incluem Anthony van Dyck, Peter Lely, Godfrey Kneller e William Dobson. O século XVIII foi um período de importância com a fundação da Royal Academy, prevaleceu um classicismo baseado no Alto Renascimento, com Thomas Gainsborough e Joshua Reynolds se tornando dois dos artistas mais apreciados da Inglaterra. A Norwich School continuou a tradição da paisagem, enquanto a Irmandade Pré-Rafaelita, liderada por artistas como Holman Hunt, Dante Gabriel Rossetti e John Everett Millais, reviveu o estilo do início da Renascença com seu estilo vívido e detalhado. Entre os artistas do século XX, destaque foi Henry Moore, considerado a voz da escultura britânica e do modernismo britânico em geral. Os pintores contemporâneos incluem Lucian Freud, cujo trabalho "Benefits Supervisor Sleeping," em 2008, estabeleceu um recorde mundial de valor de venda de uma pintura de um artista vivo. Literatura, poesia e filosofia. Autores antigos, como Beda e Alcuin, escreveram em latim. O período da literatura inglesa antiga forneceu o poema épico "Beowulf" e a prosa secular da "Crônica Anglo-Saxônica", juntamente com escritos cristãos como "Judith", o "hino de" Cædmon e hagiografias. Após a conquista normanda, o latim continuou entre as classes educadas, bem como uma literatura anglo-normanda. A literatura inglesa média surgiu com Geoffrey Chaucer, autor de "The Canterbury Tales", junto com Gower, o Pearl Poet e Langland. Guilherme de Ockham e Roger Bacon, que eram franciscanos, foram os principais filósofos da Idade Média. Juliana de Norwich, que escreveu "Revelações do Amor Divino", era uma mística cristã proeminente. Com a literatura renascentista inglesa no estilo inglês moderno adiantado apareceu. William Shakespeare, cujas obras incluem "Hamlet", "Romeu e Julieta", "Macbeth" e "Sonho de uma noite de verão", continua sendo um dos autores mais campeões da literatura inglesa. Christopher Marlowe, Edmund Spenser, Philip Sydney, Thomas Kyd, John Donne e Ben Jonson são outros autores estabelecidos da era elisabetana. Francis Bacon e Thomas Hobbes escreveram sobre empirismo e materialismo, incluindo método científico e contrato social. Filmer escreveu sobre o direito divino dos reis. Marvell foi o poeta mais conhecido da Commonwealth, enquanto John Milton foi o autor de "Paradise Lost" durante a Restauração. Alguns dos filósofos mais importantes do Iluminismo foram John Locke, Thomas Paine, Samuel Johnson e Jeremy Bentham. Os elementos mais radicais foram posteriormente contestados por Edmund Burke, que é considerado o fundador do conservadorismo. O poeta Alexander Pope, com seu verso satírico, tornou-se bem visto. Os ingleses tiveram um papel significativo no romantismo: Samuel Taylor Coleridge, Lord Byron, John Keats, Mary Shelley, Percy Bysshe Shelley, William Blake e William Wordsworth foram figuras importantes. Em resposta à Revolução Industrial, os escritores agrários procuraram um caminho entre liberdade e tradição; William Cobbett, GK Chesterton e Hilaire Belloc foram os principais expoentes, enquanto o fundador do socialismo da guilda, Arthur Penty, e o defensor do movimento cooperativo GDH Cole estão um pouco relacionados. O empirismo continuou por John Stuart Mill e Bertrand Russell, enquanto Bernard Williams estava envolvido em análises. Autores de toda a era vitoriana incluem Charles Dickens, as irmãs Brontë, Jane Austen, George Eliot, Rudyard Kipling, Thomas Hardy, HG Wells e Lewis Carroll. Desde então, a Inglaterra continuou produzindo romancistas como George Orwell, DH Lawrence, Virginia Woolf, CS Lewis, Enid Blyton, Aldous Huxley, Agatha Christie, Terry Pratchett, JRR Tolkien e JK Rowling. Música. A música folclórica tradicional da Inglaterra tem séculos de idade e contribuiu para vários gêneros com destaque; principalmente barracões do mar, gabaritos, hornpipes e dance music. Possui variações próprias e peculiaridades regionais. As baladas de Robin Hood do século XVI, impressas por Wynkyn de Word , são um artefato importante, assim como as coleções "The Dancing Master", de John Playford, e as coleções "Roxburghe Ballads, de" Robert Harley. Algumas das músicas mais conhecidas são "Greensleeves", "Pastime with Good Company", "Maggie May" e "Spanish Ladies," entre outras. Muitas rimas de berçário são de origem inglesa, como "Mary, Mary, Muito Contrário", "Roses são vermelhas", "Jack e Jill", "London Bridge Is Falling Down, O Grão-Duque de York, Hey Diddle Diddle" e "Humpty Dumpty". As canções de Natal tradicionais inglesas incluem "We Wish You a Merry Christmas", "The First Noel", “I Saw Three Ships” e "God Rest You Merry, Gentlemen". Os primeiros compositores ingleses de música clássica incluem os artistas renascentistas Thomas Tallis e William Byrd, seguidos por Henry Purcell do período barroco. George Frideric Handel, nascido na Alemanha, passou a maior parte de sua vida de compositor em Londres e tornou-se um ícone nacional na Grã-Bretanha, criando algumas das obras mais conhecidas da música clássica, especialmente seus oratórios ingleses, "The Messiah", "Salomon", "Water Music" e "Music. para o Royal Fireworks" . Um de seus quatro hinos da coroação, "Zadok", "o sacerdote", composto para a coroação de Jorge II, foi realizado em todas as coroações britânicas subsequentes, tradicionalmente durante a unção do soberano. Houve um renascimento no perfil dos compositores da Inglaterra no século XX, liderado por Edward Elgar, Benjamin Britten, Frederick Delius, Gustav Holst, Ralph Vaughan Williams e outros. Os compositores atuais da Inglaterra incluem Michael Nyman, mais conhecido por "The Piano", e Andrew Lloyd Webber, cujos musicais alcançaram enorme sucesso no West End e no mundo. No campo da música popular, muitas bandas inglesas e artistas solo foram citados como os músicos mais influentes e mais vendidos de todos os tempos. Atos como The Beatles, Led Zeppelin, Pink Floyd, Elton John, Queen, Rod Stewart e The Rolling Stones estão entre os artistas mais vendidos do mundo. Muitos gêneros musicais têm origem na (ou fortes associações com) a Inglaterra, como invasão britânica, rock progressivo, hard rock, Mod, glam rock, heavy metal, Britpop, rock indie, rock gótico, shoegazing, acid house, garage, trip hop, drum and bass e dubstep. Grandes festivais de música ao ar livre no verão e outono são populares, como Glastonbury, V Festival e os festivais de Reading e Leeds. A casa de ópera mais proeminente da Inglaterra é a Royal Opera House, em Covent Garden. O Baile de Formatura — uma temporada de concertos de orquestra clássica realizados principalmente no Royal Albert Hall, em Londres — é um grande evento cultural no calendário inglês e acontece anualmente. O Royal Ballet é uma das principais companhias de ballet clássico do mundo, com reputação construída em duas figuras proeminentes da dança do século XX, a bailarina Margot Fonteyn e o coreógrafo Frederick Ashton. Cinema. A Inglaterra (e o Reino Unido como um todo) teve uma influência considerável na história do cinema, produzindo alguns dos maiores atores, diretores e filmes de todos os tempos, incluindo Alfred Hitchcock, Charlie Chaplin, David Lean, Laurence Olivier, Vivien Leigh, John Gielgud, Peter Sellers, Julie Andrews, Michael Caine, Gary Oldman, Helen Mirren, Kate Winslet e Daniel Day-Lewis. Hitchcock e Lean estão entre os cineastas mais aclamados pela crítica. O primeiro thriller de Hitchcock, "" (1926), ajudou a moldar o gênero de suspense no cinema, enquanto seu filme de 1929, "Blackmail", é frequentemente considerado o primeiro longa-metragem de som britânico. Os principais estúdios de cinema na Inglaterra incluem Pinewood, Elstree e Shepperton. Alguns dos filmes de maior sucesso comercial de todos os tempos foram produzidos na Inglaterra, incluindo duas das franquias de filmes com maior bilheteria ("Harry Potter" e "James Bond"). A Ealing Studios, em Londres, afirma ser o mais antigo estúdio de cinema que trabalha continuamente no mundo. Famosa por gravar muitas trilhas sonoras de filmes, a Orquestra Sinfônica de Londres apresentou pela primeira vez a música cinematográfica em 1935. Os filmes Hammer Horror, estrelados por Christopher Lee, viram a produção dos primeiros filmes de terror sangrentos mostrando sangue e tripas em cores. Os 100 filmes britânicos da BFI incluem "Life of Brian" (1979), de "Monty Python", um filme eleito regularmente o mais engraçado de todos os tempos pelo público do Reino Unido . Os produtores ingleses também atuam em coproduções internacionais e atores, diretores e equipe ingleses aparecem regularmente em filmes americanos. O conselho de cinema do Reino Unido classificou David Yates, Christopher Nolan, Mike Newell, Ridley Scott e Paul Greengrass os cinco diretores ingleses de maior sucesso comercial desde 2001. Outros diretores contemporâneos ingleses incluem Sam Mendes, Guy Ritchie e Richard Curtis. Os atores atuais incluem Tom Hardy, Daniel Craig, Benedict Cumberbatch, Emma Watson e Tom Holland. Aclamado por seu trabalho de captura de movimento, Andy Serkis abriu o Imaginarium Studios em Londres em 2011. A empresa de efeitos visuais Framestore em Londres produziu alguns dos efeitos especiais mais aclamados pela crítica no cinema moderno. Muitos filmes de sucesso de Hollywood foram baseados em ingleses, histórias ou eventos. O 'Ciclo Inglês' dos filmes de animação da Disney inclui "Alice no País das Maravilhas", "O Livro da Selva", "Winnie the Pooh" e "Peter Pan". Esportes. A Inglaterra tem uma forte herança esportiva e, durante o século XIX, codificou muitos esportes que agora são praticados em todo o mundo. Os esportes originários da Inglaterra incluem futebol de associação, críquete, união de rugby, liga de rugby, tênis, boxe, badminton, squash, rounders, hóquei, sinuca, bilhar, dardos, tênis de mesa, boliche, netball, corridas de cavalos puro-sangue, corridas de galgos e caça a raposas. Ajudou o desenvolvimento do golfe, vela e Fórmula 1. O futebol é o mais popular desses esportes. A equipe nacional de futebol da Inglaterra, cuja sede é o Estádio de Wembley, jogou na Escócia no primeiro jogo internacional de futebol de 1872. Referida como a "casa do futebol" pela FIFA, a Inglaterra sediou a Copa do Mundo de 1966 e venceu o torneio derrotou a Alemanha Ocidental por 4 a 2 na final, com Geoff Hurst marcando um hat-trick. Com um pico de audiência na televisão britânica de 32,30 milhões de telespectadores, a final é o evento de televisão mais assistido de todos os tempos no Reino Unido. No nível de clubes, a Inglaterra é reconhecida pela FIFA como o berço do futebol de clubes, porque o Sheffield FC, fundado em 1857, é o clube mais antigo do mundo. A Associação de Futebol é o órgão mais antigo do esporte, com as regras do futebol elaboradas pela primeira vez em 1863 por Ebenezer Cobb Morley. A FA Cup e a Football League foram as primeiras competições da copa e da liga, respectivamente. Nos dias modernos, a Premier League é a liga de futebol mais assistida do mundo, mais lucrativa e entre a elite. Como é o caso em todo o Reino Unido, o futebol na Inglaterra é notável pelas rivalidades entre clubes e pela paixão dos torcedores, que inclui uma tradição de cânticos de futebol. A Copa da Europa (hoje Liga dos Campeões da UEFA) foi conquistada por vários clubes ingleses. O time de futebol inglês mais bem-sucedido na Copa da Europa / Liga dos Campeões da UEFA é o Liverpool FC, que venceu a competição em seis ocasiões. Outro sucesso inglês veio do Manchester United FC, vencendo a competição em 3 ocasiões; O Chelsea e o Nottingham Forest FC venceram em duas ocasiões, o Aston Villa FC venceu o troféu uma vez. O Grande Prêmio da Inglaterra de 1950 em Silverstone foi a primeira corrida do recém-criado Campeonato Mundial de Fórmula 1. Desde então, a Inglaterra produziu alguns dos maiores pilotos do esporte, incluindo; John Surtees, Stirling Moss, Graham Hill (único piloto que venceu a Tríplice Coroa), Nigel Mansell (único homem que conquistou títulos de F1 e IndyCar ao mesmo tempo), Damon Hill, Lewis Hamilton e Jenson Button. Alguns dos carros de corrida mais avançados tecnicamente, e muitas das empresas de corrida de hoje escolhem a Inglaterra como sua base de operações por seu conhecimento e organização de engenharia. McLaren Automotive, Williams F1, Team Lotus, Honda, Brawn GP, Benetton, Renault e Red Bull Racing estão todos, ou foram, localizados no sul da Inglaterra. A Inglaterra também tem uma rica herança no Grand Prix de motociclismo, o principal campeonato de motociclismo, e produziu vários Campeões do Mundo em todas as classes: Mike Hailwood, John Surtees, Phil Read , Geoff Duke e Barry Sheene.
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Ido
Ido O ido é uma língua auxiliar, possivelmente a segunda língua construída mais usada do mundo atrás do esperanto, com o qual tem uma grande diferença no número de falantes. É uma versão restaurada do esperanto (idioma criado por L. L. Zamenhof) que em 1907 foi oficialmente escolhida pela "Délégation pour l'Adoption d'une Langue Auxiliaire Internationale" (Delegação para a Adoção de uma Língua Auxiliar Internacional) como o melhor projeto de língua internacional de todos os propostos até meados do século XX. Foi considerada uma língua morta por uns anos, até que, pelo advento da Internet, a língua começou a renascer. Diversas obras literárias foram publicadas e traduzidas para Ido, incluindo O Pequeno Príncipe, o Evangelho Segundo São Lucas, Pinóquio, Romeu e Julieta e O Guardador de Rebanhos. A partir do ano 2000, estima-se que havia aproximadamente de 100 a 200 falantes de ido no mundo. Introdução. O ido apareceu pela primeira vez em 1907 como resultado de um desejo de reformar as falhas constatadas no esperanto, que seus defensores acreditavam ser um obstáculo na sua propagação como uma língua fácil de aprender. Muitos outros projetos de reforma apareceu depois do Ido, como por exemplo, o Novial mas caíram no esquecimento. Atualmente, o Ido, junto com o esperanto e Interlingua, são as únicas línguas auxiliares com algum peso na literatura e com uma base relativamente grande de falantes. O nome do idioma tem sua origem em "I.D.O.", acrônimo de "Idiomo di Omni" (idioma de todos) ou no sufixo '-ido' da palavra "esperantido", que literalmente significa “descendente do esperanto”. O ido usa as vinte e seis letras latinas utilizadas no alfabeto latino, sem sinais diacríticos. Sem deixar de ser simples e regular gramaticalmente falando, Ido assemelha-se as línguas românicas na aparência e à primeira vista. É, por vezes, confundido com o italiano ou espanhol. O ido é amplamente acessível aos falantes de esperanto, embora haja algumas diferenças na formação de gramática, vocabulário e algumas palavras de função gramatical diferente, ido é mais do que um projeto de reforma, é uma língua independente. Após o início, ganhou amplo apoio da comunidade esperantista que queria reformas no esperanto (estimativas falam de cerca de 20%). Mas desde então, com a morte repentina de um dos seus autores (Louis Couturat em 1914) o surgimento de dissidências com outras reformas, bem como a ignorância do Ido, era um candidato a língua internacional enfraquecido. O movimento idista não foi ativo até o surgimento da Internet, quando começou a recuperar a sua dinâmica anterior. História. A ideia de uma segunda língua universal não é nova, e línguas artificiais não são um fenômeno recente. A primeira língua construída conhecida foi a "Lingua Ignota", criada no século XII. Mas a ideia não cativou até o idioma Volapük ter sido criado em 1879. O Volapük foi muito popular durante algum tempo e aparentemente teve alguns milhares de usuários, mas foi posteriormente eclipsado pela popularidade do rsperanto, que surgiu em 1887. Várias outras línguas, como Latino sine flexione e Idiom Neutral também tinham sido apresentadas. Foi nessa época que o matemático francês Louis Couturat formou a Delegação para a Adoção de uma Língua Auxiliar Internacional. Esta delegação fez um pedido formal à International Association of Academies (Associação Internacional das Academias) em Viena para selecionar e aprovar uma língua internacional; o pedido foi rejeitado maio de 1907. Da Delegação reuniu-se então como um comitê em Paris em outubro de 1907 para discutir a adoção de uma língua padrão internacional. O comitê concluiu que não havia nenhuma língua que atendia as expectativas, mas que o esperanto podia ser o mais aceito, devido à uma série de elementos que faziam dele uma língua aceitável, com algumas condições A comunidade atual de falantes. A grande maioria dos falantes de ido conheceu o esperanto primeiro, então o percentual de idistas que sabem esperanto é muito maior do que o contrário. O maior número de concentração de falantes estão na Alemanha, França e Espanha, mas na verdade pode-se encontrar os fãs desta língua em quase 30 países dos cinco continentes, segundo a lista de pessoas que representam as organizações de ido em seus países que aparece atualizada em cada edição do órgão oficial da organização mundial idista. Por se tratar de uma língua artificial, é extremamente difícil saber o número exato de falantes. Porém, estima-se que possa haver de 100 a 200 e a Internet tem permitido um renovado interesse nos últimos anos. Em comparação, o esperanto tem, pelo menos, centenas de milhares. O psicólogo aposentado Sidney S. Culbert, que liderou um estudo global, estimou que o número de falantes chega aos 2 milhões, mas muitos esperantistas não acreditam que este número seja real e é um pouco exagerado. Agora, é imprescindível distinguir o números de "falantes" de ido, com o número de "seguidores" ou "simpatizantes" do idioma. Muitos esperantistas procuram aprender o ido mais como curiosidade, preferindo apoiar o movimento esperantista, por ser mais conhecido. É possível encontrar pela Internet fóruns trilingues Ido-Esperanto-Língua Mãe, em que diferentes interlocutores se comunicam quase sem problemas. Vocabulário. O vocabulário do ido baseia-se em línguas indo-europeias. Durante a sua criação, as primeiras cinco mil raízes do ido foram analisadas e comparadas com o vocabulário inglês, francês, espanhol, alemão, russo e italiano e os resultados foram os seguintes: Além disso, uma comparação do vocabulário das seis línguas do ido acima mostra os seguintes percentuais de similaridade: Isso faz com que o ido algumas vezes seja confundido a primeira vista com francês, italiano ou espanhol. A tabela seguinte compara algumas palavras de ido com as línguas em que se fez referência acima. Pode-se notar a grande semelhança em alguns casos: <br style="clear: both"> O vocabulário do ido é expandido com o acréscimo de prefixos e sufixos nas palavras existentes. Isto pode assumir e modificar palavras existentes para criar um neologismo e é entendido por toda a comunidade, sem ter que ser previamente explicado pelo seu criador. Sistema de numeração. Grupos de números grandes em ido Notas: Exemplos do uso da língua ido. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos ("Universal Deklaro di Homal Yuri", em ido) La Princeto. CHAPITRO XVII Mea vido-cirklo (horizonto). Tradução da música do poeta russo Alexandr Sukhanov, Yunna Morits. <br> Pai-Nosso. <br> Literatura e publicações. O ido tem algumas publicações de assinatura ou que podem ser baixadas da Internet gratuitamente na maioria dos casos. Quase todos os itens publicações atende os mais variados assuntos, e algumas páginas dedicadas à situação em que o movimento se encontra, bem como notícias relacionadas. "Kuriero Internaciona" é uma revista feita na França por mês. "Adavane!" é outra publicação editada a cada dois meses na Espanha pela Sociedad Española de Ido contendo uma série de artigos de interesse geral e sobre uma dúzia de páginas de livros traduzidos de outras línguas. "Progreso" é um órgão oficial do Movimento e sua voz oficial desde 1908. A literatura atual em ido é muito pobre e apenas alguns livros são publicados a cada ano com poucas páginas. Há poucos leitores, escritores e tradutores, mas é esperado um aumento, embora um pouco lento, também pode crescer literatura em Ido.
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Isaac Newton
Isaac Newton Isaac Newton PRS (Woolsthorpe-by-Colsterworth, 25 de dezembro de 1642jul./ 4 de janeiro de 1643greg. – Kensington, 20 de março de 1727jul./ 31 de março de 1727greg) foi um matemático, físico, astrônomo, teólogo e autor inglês (descrito em seus dias como um "filósofo natural") que é amplamente reconhecido como um dos cientistas mais influentes de todos os tempos e como uma figura-chave na Revolução Científica. Seu livro "Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica" ("Princípios Matemáticos da Filosofia Natural"), publicado pela primeira vez em 1687, lançou as bases da mecânica clássica. Newton também fez contribuições seminais à óptica e compartilha crédito com Gottfried Wilhelm Leibniz pelo desenvolvimento do cálculo infinitesimal. Em "Principia", Newton formulou as leis do movimento e da gravitação universal que criaram o ponto de vista científico dominante até serem substituídas pela teoria da relatividade de Albert Einstein. Newton usou sua descrição matemática da gravidade para provar as leis de movimento planetário de Kepler, explicar as marés, as trajetórias dos cometas, a precessão dos equinócios e outros fenômenos, erradicando a dúvida sobre a heliocentricidade do Sistema Solar. Demonstrou que o movimento dos objetos na Terra e nos corpos celestes poderia ser explicado pelos mesmos princípios. A inferência de Newton de que a Terra é um esferoide oblato foi posteriormente confirmada pelas medidas geodésicas de Maupertuis, La Condamine e outros, convencendo a maioria dos cientistas europeus da superioridade da mecânica newtoniana em relação aos sistemas anteriores. Newton construiu o primeiro telescópio refletor prático e desenvolveu uma teoria sofisticada da cor com base na observação de que um prisma separa a luz branca nas cores do espectro visível. Seu trabalho sobre a luz foi coletado em seu livro altamente influente "Ótica", publicado em 1704. Também formulou uma lei empírica do resfriamento, fez o primeiro cálculo teórico da velocidade do som e introduziu a noção de um fluido newtoniano. Além de seu trabalho sobre cálculo, como matemático Newton contribuiu para o estudo de séries de potências, generalizou o teorema binomial a expoentes não inteiros, desenvolveu um método para aproximar as raízes de uma função e classificou a maioria das curvas do plano cúbico. Newton era membro do Trinity College e o segundo professor de matemática lucasiano na Universidade de Cambridge. Foi um cristão devoto, mas pouco ortodoxo, que rejeitava, em particular, a doutrina da Trindade. Também se recusava a receber ordens sagradas na Igreja da Inglaterra, o que era incomum para um membro da faculdade de Cambridge da época. Além de seu trabalho nas ciências matemáticas, Newton dedicou grande parte de seu tempo ao estudo da alquimia e da cronologia bíblica, mas a maior parte de seu trabalho nessas áreas permaneceu inédita até muito tempo após sua morte. Politicamente e pessoalmente vinculado ao partido Whig, Newton serviu dois breves mandatos como membro do Parlamento da Universidade de Cambridge, em 1689-1690 e 1701-02. Foi cavaleiro da rainha Ana em 1705 e passou as últimas três décadas de sua vida em Londres, servindo como diretor (1696-1700) e mestre (1700-1727) da Casa da Moeda Real, bem como presidente da Royal Society (1703–1727). Biografia. Juventude. Isaac Newton nasceu (de acordo com o calendário juliano, em uso na Inglaterra na época) no dia de Natal, 25 de dezembro de 1642 (ou 4 de janeiro de 1643) "uma ou duas horas depois da meia-noite", no Woolsthorpe Manor em Woolsthorpe-by-Colsterworth, uma aldeia no condado de Lincolnshire. Seu pai, também chamado Isaac Newton, morreu três meses antes. Nascido prematuramente, Newton era uma criança pequena; sua mãe Hannah Ayscough disse que ele caberia dentro de uma caneca de cerveja. Quando Newton tinha três anos, sua mãe se casou novamente e foi morar com o novo marido, o reverendo Barnabas Smith, deixando o filho sob os cuidados de sua avó materna, Margery Ayscough (Blythe quando solteira). Newton não gostava de seu padrasto e mantinha alguma inimizade em relação a sua mãe por se casar com ele, como revelado por essa nota em uma lista de pecados cometidos até os 19 anos de idade: "Ameaçar meu pai (Smith) e minha mãe a queimar eles e a casa acima deles". A mãe de Newton teve três filhos (Mary, Benjamin e Hannah) de seu segundo casamento. Dos doze anos até os dezessete anos, Newton foi educado na escola The King's School, em Grantham, que ensinava latim e grego e provavelmente transmitia uma base significativa de matemática. Foi removido da escola e retornou a Woolsthorpe-by-Colsterworth em outubro de 1659. Sua mãe, viúva pela segunda vez, tentou fazer dele um fazendeiro, uma ocupação que ele odiava. Henry Stokes, mestre da Escola King, convenceu sua mãe a mandá-lo de volta à escola. Newton voltou à escola motivado em parte pelo desejo de vingança contra um valentão que havia se tornado o aluno mais bem classificado, se destacando principalmente pela construção de relógios de sol e modelos de moinhos de vento. Em junho de 1661 foi admitido no Trinity College, Cambridge, por recomendação de seu tio, Rev. William Ayscough, que havia estudado lá. Começou como um tipo de bolsista, pagando seus estudos ao cumprir as funções de criado particular - até receber uma bolsa de estudos em 1664, garantindo-lhe mais quatro anos até conseguir seu diploma de mestrado. Naquela época, os ensinamentos da faculdade eram baseados nos de Aristóteles, que Newton complementou com filósofos modernos como Descartes e astrônomos como Galileu e Thomas Street, através dos quais ele aprendeu sobre o trabalho de Kepler. Colocou em seu caderno uma série de "Quaestiones" (questões) sobre a filosofia mecânica. Em 1665 descobriu o teorema binomial generalizado e começou a desenvolver uma teoria matemática que mais tarde se tornou o cálculo. Logo depois que Newton obteve seu diploma de bacharel em agosto de 1665, a universidade fechou temporariamente como precaução contra a Grande Praga. Apesar de ter sido indistinguível como estudante de Cambridge, os estudos privados de Newton em Woolsthorpe ao longo dos dois anos seguintes viram o desenvolvimento de suas teorias em cálculo e outras áreas. Em abril de 1667 retornou a Cambridge e em outubro foi eleito membro da Trinity. Foi necessário que os bolsistas se tornassem sacerdotes ordenados, embora isso não tenha sido cumprido nos anos de restauração, sendo uma afirmação de conformidade com a Igreja da Inglaterra suficiente. No entanto, em 1675, isto não poderia ser evitado. Seus estudos impressionaram o professor lucasiano Isaac Barrow, que estava mais ansioso para desenvolver seu próprio potencial religioso e administrativo (ele se tornou mestre de Trinity dois anos depois); em 1669, Newton o sucedeu, apenas um ano após receber seu mestrado. Foi eleito membro da Royal Society (FRS) em 1672. Anos intermediários. Matemática. Dizem que o trabalho de Newton "avança claramente todos os ramos da matemática estudados". Seu trabalho sobre o assunto geralmente referido como fluxões ou cálculo, visto em um manuscrito de outubro de 1666, agora publicado entre os trabalhos matemáticos de Newton. O autor do manuscrito "De analysi per aequationes numero terminorum infinitas", enviado por Isaac Barrow a John Collins em junho de 1669, foi identificado por Barrow em uma carta enviada a Collins em agosto daquele ano como "[...] de um extraordinário gênio e proficiência nessas coisas". Seu trabalho usa extensivamente o cálculo na forma geométrica, com base nos valores-limite das proporções de quantidades extremamente pequenas: nos próprios "Principia", Newton demonstrou isso sob o nome de "o método da primeira e da última proporções" e explicou por que ele colocou suas exposições dessa forma, comentando também que "por meio disso é realizada a mesma coisa que pelo método dos indivisíveis". Por causa disso, os "Principia" foram chamados "um livro denso com a teoria e a aplicação do cálculo infinitesimal" nos tempos modernos e no tempo de Newton "quase tudo sobre cálculo". Seu uso de métodos que envolvem "uma ou mais ordens do infinitamente pequeno" está presente em "De motu corporum in gyrum" de 1684 e em seus artigos sobre movimento "nas duas décadas anteriores a 1684". Newton relutou em publicar seu cálculo porque receava controvérsias e críticas. Ele era próximo do matemático suíço Nicolas Fatio de Duillier. Em 1691, Duillier começou a escrever uma nova versão dos "Principia" de Newton e se correspondeu a Leibniz. A partir de 1699, membros da Royal Society acusaram Leibniz de plágio. A disputa começou com força total em 1711, quando a Royal Society proclamou em um estudo que era Newton quem era o verdadeiro descobridor e classificou Leibniz como uma fraude; mais tarde, verificou-se que Newton escreveu as considerações finais do estudo sobre Leibniz. Assim começou a amarga controvérsia que estragou a vida de Newton e Leibniz até a morte deste em 1716. Newton é geralmente creditado com o teorema binomial generalizado, válido para qualquer expoente. Descobriu as identidades de Newton, o método de Newton, classificou as curvas do plano cúbico (polinômios de três graus em duas variáveis), fez contribuições substanciais à teoria das diferenças finitas e foi o primeiro a usar índices fracionários e a empregar geometria analítica para derivar soluções para as equações diofantinas. Aproximou somas parciais da série harmônica por logaritmos (um precursor da fórmula de soma de Euler) e foi o primeiro a usar as séries de potência. O trabalho de Newton em séries infinitas foi inspirado nos decimais de Simon Stevin. Quando Newton recebeu seu mestrado e se tornou membro do "Colégio da Santíssima Trindade Indivisível" em 1667, ele assumiu o compromisso de que "definirei a teologia como objeto de meus estudos e tomarei as ordens sagradas conforme o tempo prescrito por estes estatutos [7 anos] chega, ou irei me demitir da faculdade". Foi nomeado Professor Lucasiano de Matemática em 1669, por recomendação de Barrow. Durante esse período, qualquer membro de uma faculdade em Cambridge ou Oxford era obrigado a receber ordens sagradas e se tornar um sacerdote anglicano ordenado. No entanto, os termos da cátedra lucasiana exigiam que o portador não fosse ativo na igreja - presumivelmente para ter mais tempo para a ciência. Newton argumentou que isso o isentaria da exigência de ordenação, e Carlos II, cuja permissão era necessária, aceitou esse argumento. Assim, um conflito entre as visões religiosas de Newton e a ortodoxia anglicana foi evitado. Óptica. Em 1666, Newton observou que o espectro de cores que sai de um prisma na posição de desvio mínimo é oblongo, mesmo quando o raio de luz que entra no prisma é circular, ou seja, o prisma refrata cores diferentes por ângulos diferentes. De 1670 a 1672, Newton deu palestras sobre óptica. Durante esse período investigou a refração da luz, demonstrando que o espectro multicolorido produzido por um prisma poderia ser recomposto em luz branca por uma lente e um segundo prisma. Estudos modernos revelaram que a análise e ressíntese da luz branca de Newton devem uma dívida à alquimia corpuscular. Mostrou que a luz colorida não altera suas propriedades separando um feixe colorido e brilhando-o em vários objetos e que, independentemente de refletida, dispersa ou transmitida, a luz permanece da mesma cor. Assim, ele observou que a cor é o resultado de objetos que interagem com a luz já colorida, em vez de objetos gerando a própria cor. Isso é conhecido como teoria da cor de Newton. A partir deste trabalho, concluiu que as lentes de qualquer telescópio refratário sofriam com a dispersão da luz em cores (aberração cromática). Como prova do conceito, construiu um telescópio usando espelhos reflexivos em vez de lentes como objetivo de contornar esse problema. A construção do projeto, o primeiro telescópio refletor funcional conhecido, hoje chamado de telescópio Newtoniano, envolveu a solução do problema de um material de espelho e uma técnica de modelagem adequados. Newton retocou seus próprios espelhos a partir de uma composição personalizada de metal especular altamente refletivo, usando os anéis de Newton para julgar a qualidade da óptica de seus telescópios. No final de 1668, ele foi capaz de produzir este primeiro telescópio refletor. Tinha cerca de oito centímetros de comprimento e gerava uma imagem mais clara e ampliada. Em 1671, a Royal Society pediu uma demonstração de seu telescópio refletor. O interesse deles o encorajou a publicar suas anotações, "Of Colors", que mais tarde ele expandiu para o trabalho "Opticks". Quando Robert Hooke criticou algumas das ideias de Newton, ele ficou tão ofendido que se retirou do debate público. Em sua "Hypothesis of Light" de 1675, Newton postulou a existência do éter para transmitir forças entre as partículas. O contato com o filósofo platônico Henry More ressuscitou seu interesse pela alquimia. Substituiu o éter por forças ocultas baseadas em ideias herméticas de atração e repulsão entre partículas. John Maynard Keynes, que adquiriu muitos dos escritos de Newton sobre alquimia, afirmou que "Newton não era o primeiro da era da razão: ele era o último dos mágicos". O interesse de Newton pela alquimia não pode ser isolado de suas contribuições para a ciência. Em 1704, Newton publicou o "Opticks", no qual expôs sua teoria corpuscular da luz. Considerava a luz composta de corpúsculos extremamente sutis, que a matéria comum era composta de corpúsculos mais grossos e especulava que, através de um tipo de transmutação alquímica, "Não são os corpos e a luz brutos conversíveis entre si ... e não podem os corpos receber grande parte de sua atividade das partículas de luz que entram em sua composição?" Newton também construiu uma forma primitiva de um gerador eletrostático de atrito, usando um globo de vidro. Em seu livro "Opticks", Newton foi o primeiro a mostrar um diagrama usando um prisma como um expansor de feixe e também o uso de matrizes de prisma múltiplo. Cerca de 278 anos após a discussão de Newton, os expansores de feixe de prisma múltiplo tornaram-se centrais para o desenvolvimento de lasers ajustáveis. Além disso, o uso desses expansores prismáticos de feixe levou à teoria da dispersão de prisma múltiplo. Depois de Newton, muito foi alterado. Young e Fresnel combinaram a teoria das partículas de Newton com a teoria das ondas de Huygens para mostrar que a cor é a manifestação visível do comprimento de onda da luz. A ciência também lentamente percebeu a diferença entre a percepção da cor e a óptica matematizável. O poeta e cientista alemão Goethe não conseguiu abalar a fundação newtoniana, mas "um buraco Goethe encontrou de fato na armadura de Newton, ... Newton havia se comprometido com a doutrina de que a refração sem cor era impossível. Ele, portanto, pensava que as objetivas dos telescópios deviam permanecer imperfeitas para sempre, sendo incompatíveis o acromatismo e a refração. Esta inferência foi provada por Dollond como errada". Mecânica e gravitação. Em 1679, Newton voltou ao seu trabalho sobre mecânica celeste, considerando a gravitação e seu efeito nas órbitas dos planetas, com referência às leis de Kepler. Isto foi estimulado por uma breve troca de cartas entre 1679 a 1680 com Hooke, nomeado para administrar a correspondência da Royal Society, e que abriu uma correspondência destinada a obter contribuições de Newton para as transações da Royal Society. O interesse de Newton em assuntos astronômicos recebeu mais estímulos pelo aparecimento de um cometa no inverno de 1680-1681, enquanto se correspondia com John Flamsteed. Após as trocas com Hooke, Newton descobriu que a forma elíptica das órbitas planetárias resultaria de uma força centrípeta inversamente proporcional ao quadrado do vetor do raio. Newton comunicou seus resultados a Edmond Halley e à Royal Society em "De motu corporum in gyrum", um folheto escrito em cerca de nove folhas que foram copiadas no Livro de Registro da Royal Society em dezembro de 1684. O "Principia" foi publicado em 5 de julho de 1687 com o apoio e a ajuda financeira de Edmond Halley. Neste trabalho, Newton declarou as três leis universais do movimento. Juntas, essas leis descrevem a relação entre qualquer objeto, as forças que atuam sobre ele e o movimento resultante, estabelecendo as bases para a mecânica clássica. Eles contribuíram para muitos avanços durante a Revolução Industrial que logo se seguiram e não foram aprimorados por mais de 200 anos. Muitos desses avanços continuam sendo os fundamentos das tecnologias não relativísticas no mundo moderno. Usou a palavra latina "gravitas" (peso) para o efeito que seria conhecido como gravidade e definiu a lei da gravitação universal. No mesmo trabalho, Newton apresentou um método de cálculo como análise geométrica usando 'primeira e última razão', deu a primeira determinação analítica (baseada na lei de Boyle) da velocidade do som no ar, inferiu o achatamento da figura esferoidal da Terra, responsável pela precessão dos equinócios como resultado da atração gravitacional da Lua sobre o achatamento terrestre, iniciou o estudo gravitacional das irregularidades no movimento da Lua, forneceu uma teoria para a determinação das órbitas dos cometas e fez muito mais. Newton deixou claro sua visão heliocêntrica do Sistema Solar - desenvolvida de maneira um tanto moderna, porque já em meados da década de 1680 reconheceu o "desvio do Sol" em relação ao centro de gravidade do Sistema Solar. Para Newton, não era precisamente o centro do Sol ou de qualquer outro corpo que pudesse ser considerado em repouso, mas "o centro de gravidade comum da Terra, do Sol e de todos os planetas deve ser estimado como o Centro do Mundo" e esse centro de gravidade "está em repouso ou avança uniformemente em linha reta" (Newton adotou a alternativa "em repouso" em vista do consentimento comum de que o centro, onde quer que estivesse, estava em repouso). O postulado de Newton de uma força invisível capaz de agir por longas distâncias o levou a ser criticado por introduzir "agências ocultas" na ciência. Mais tarde, na segunda edição dos "Principia" (1713), Newton rejeitou firmemente essas críticas em um General Scholium conclusivo, escrevendo que bastava que os fenômenos implicassem uma atração gravitacional, como o fizeram; mas até agora não indicaram sua causa e era desnecessário e impróprio enquadrar hipóteses de coisas que não estavam implícitas nos fenômenos. Com os "Principia", Newton tornou-se reconhecido internacionalmente. Adquiriu um círculo de admiradores, incluindo o matemático nascido na Suíça Nicolas Fatio de Duillier. Classificação de cúbicos. Newton encontrou 72 das 78 "espécies" de curvas cúbicas e as classificou em quatro tipos. Em 1717, e provavelmente com a ajuda de Newton, James Stirling provou que todo cúbico era um desses quatro tipos. Newton também afirmou que os quatro tipos poderiam ser obtidos por projeção plana de um deles e isto foi comprovado em 1731, quatro anos após sua morte. Velhice. Na década de 1690, Newton escreveu uma série de folhetos religiosos que tratavam da interpretação literal e simbólica da Bíblia. Um manuscrito que Newton enviou a John Locke no qual disputou a fidelidade de 1 João 5:7 - a vírgula joanina - e sua fidelidade aos manuscritos originais do Novo Testamento, permaneceu inédito até 1785. Newton também foi membro do Parlamento da Inglaterra pela Universidade de Cambridge em 1689 e 1701, mas, segundo alguns relatos, seus únicos comentários foram reclamar de uma corrente de ar frio na câmara e solicitar que a janela fosse fechada. Foi, no entanto, observado pelo diarista de Cambridge, Abraham de la Pryme, por ter repreendido estudantes que eram assustadores locais ao alegar que uma casa estava assombrada. Newton mudou-se para Londres para assumir o cargo de diretor da Casa da Moeda Real em 1696, uma posição que obteve através do patrocínio de Charles Montagu, 1º conde de Halifax, então chanceler do Tesouro da Inglaterra. Ele se encarregou da cunhagem de moedas e garantiu o emprego de vice-controlador da filial temporária de Chester para Edmond Halley. Newton tornou-se talvez o mestre mais conhecido da Casa da Moeda após a morte de Thomas Neale em 1699, cargo que Newton ocupou nos últimos 30 anos de sua vida. Como diretor, e depois como mestre, da Casa da Moeda Real, Newton estimou que 20 por cento das moedas recunhadas durante o Grande Recunhagem de 1696 eram falsificadas. A falsificação era alta traição, punível com o crime ser enforcado, arrastado e esquartejado. Apesar disto, condenar até os criminosos mais flagrantes poderia ser extremamente difícil. No entanto, Newton se mostrou digno da tarefa. Disfarçado em bares e tabernas, ele próprio reuniu muitas dessas evidências. Apesar de todas as barreiras impostas à acusação e da separação dos ramos do governo, a lei inglesa ainda possuía costumes antigos e formidáveis de autoridade. O próprio Newton havia feito justiça à paz em todos os condados domésticos. Um rascunho da carta sobre o assunto está incluído na primeira edição pessoal de Newton da "Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica", que ele deveria estar alterando na época. Então ele conduziu mais de 100 interrogatórios de testemunhas, informantes e suspeitos entre junho de 1698 e Natal de 1699. Newton processou com êxito 28 cunhadores. Newton foi nomeado presidente da Royal Society em 1703 e associado da Académie des Sciences francesa. Em sua posição na Royal Society, Newton tornou-se inimigo de John Flamsteed, o Astrônomo Real, publicando prematuramente a "Historia Coelestis Britannica", de Flamsteed, que Newton havia usado em seus estudos. Em abril de 1705, a rainha Ana tornou Newton um cavaleiro durante uma visita real ao Trinity College, Cambridge. É provável que a cavalaria tenha sido motivada por considerações políticas relacionadas às eleições parlamentares em maio de 1705, em vez de qualquer reconhecimento do trabalho ou serviços científicos de Newton como Mestre da Casa da Moeda. Newton foi o segundo cientista a ser cavaleiro, depois de Sir Francis Bacon. Como resultado de um relatório escrito por Newton em 21 de setembro de 1717 aos Comissários Lordes do Tesouro de Sua Majestade, a relação bimetálica entre moedas de ouro e moedas de prata foi alterada pela proclamação real em 22 de dezembro de 1717, proibindo a troca de guinéus de ouro por mais de 21 xelins de prata. Isto inadvertidamente resultou em uma escassez de prata, pois as moedas de prata eram usadas para pagar as importações, enquanto as exportações eram pagas em ouro, efetivamente transferindo a Grã-Bretanha do padrão-prata para o padrão-ouro. É uma questão de debate sobre se Newton pretendia causar isto ou não. Argumentou-se que Newton concebeu seu trabalho na Casa da Moeda como uma continuação de seu trabalho alquímico. Newton investiu na South Sea Company e perdeu cerca de 20 000 libras esterlinas (3 milhões de dólares em 2003) quando ela entrou em colapso por volta de 1720. No final de sua vida, Newton passou a residir em Cranbury Park, perto de Winchester, com a sobrinha e seu marido, até sua morte em 1727. Sua meia sobrinha, Catherine Barton Conduitt serviu como anfitriã em assuntos sociais em sua casa na Jermyn Street, em Londres; ele era seu "tio muito amoroso", acordo com sua carta para ela quando ela estava se recuperando da varíola. Morte. Newton morreu dormindo em Londres em 20 de março de 1727. Seu corpo foi enterrado na Abadia de Westminster. Voltaire pode ter estado presente em seu funeral. Solteirão, ele havia cedido grande parte de seus bens a parentes durante seus últimos anos e morreu sem testamento. Seus papéis foram para John Conduitt e Catherine Barton. Após sua morte, o cabelo de Newton foi examinado e descobriu-se que continha mercúrio, provavelmente resultante de suas atividades alquímicas. O envenenamento por mercúrio pode explicar a excentricidade de Newton na idade avançada. Relações pessoais. Embora tenha sido afirmado que ele já foi noivo, Newton nunca se casou. O escritor e filósofo francês Voltaire, que estava em Londres na época do funeral de Newton, disse que ele "nunca foi sensível a nenhuma paixão, não estava sujeito às fragilidades comuns da humanidade, nem tinha comércio com mulheres — uma circunstância que era me assegurada pelo médico e cirurgião que o atendeu em seus últimos momentos". A crença generalizada de que ele morreu como um virgem foi comentada por escritores como o matemático Charles Hutton, o economista John Maynard Keynes e o físico Carl Sagan. Newton tinha uma estreita amizade com o matemático suíço Nicolas Fatio de Duillier, que conheceu em Londres por volta de 1689 — parte da correspondência entre eles sobreviveu. Seu relacionamento chegou a um fim abrupto e inexplicável em 1693 e, ao mesmo tempo, Newton sofreu um colapso nervoso, que incluiu o envio de cartas acusatórias loucas a seus amigos Samuel Pepys e John Locke — sua nota para este último incluía a acusação de que Locke "se esforçou para me envolver com mulheres". Após a morte. Fama. O matemático Joseph-Louis Lagrange disse que Newton foi o maior gênio que já viveu e, certa vez, acrescentou que Newton também era "o mais afortunado, pois não podemos encontrar mais de uma vez um sistema de mundo para estabelecer". O poeta inglês Alexander Pope escreveu o famoso epitáfio: Newton era relativamente modesto sobre suas realizações, escrevendo em uma carta a Robert Hooke em fevereiro de 1676: Dois escritores acham que a citação acima, escrita em uma época em que Newton e Hooke estavam em disputa por descobertas ópticas, foi um ataque oblíquo a Hooke (dito ter sido baixo e corcunda), em vez de — ou além de — uma declaração de modéstia. Em um livro de memórias posterior, Newton escreveu: Em 1816, um dente que se dizia pertencer a Newton foi vendido por 730 libras (3 633 dólares) em Londres a um aristocrata que o colocou em um anel. O "Guinness World Records 2002 o" classificou como o dente mais valioso da história, que valeria aproximadamente 25 mil libras (35 700 dólares) no final de 2001. Albert Einstein mantinha uma foto de Newton em sua parede de estudos, ao lado de Michael Faraday e James Clerk Maxwell. Em uma pesquisa realizada em 2005 com membros da Royal Society do Reino Unido (anteriormente chefiada por Newton) que perguntava quem teve maior efeito na história da ciência, Newton ou Einstein, os membros consideraram que Newton teve a maior contribuição geral. Em 1999, uma pesquisa de opinião de 100 dos principais físicos elegeu Einstein o "melhor físico de todos os tempos", com Newton como o segundo colocado, enquanto uma pesquisa paralela de físicos com base no site PhysicsWeb deu o primeiro lugar a Newton. Comemorações. O monumento de Newton (1731) pode ser visto na Abadia de Westminster, ao norte da entrada do coro, perto de sua tumba. Foi executado pelo escultor Michael Rysbrack (1694-1770) em mármore branco e cinza, com design do arquiteto William Kent. O monumento mostra uma figura de Newton reclinada em cima de um sarcófago, o cotovelo direito apoiado em vários de seus grandes livros e a mão esquerda apontando para um pergaminho com um desenho matemático. Acima dele, há uma pirâmide e um globo celeste, mostrando os signos do zodíaco e o caminho do cometa de 1680. Um painel de relevo mostra putto usando instrumentos como telescópio e prisma. A inscrição latina na base é traduzida como: De 1978 a 1988, uma imagem de Newton desenhada por Harry Ecclestone apareceu nas notas de banco da Série D uma libra esterlina emitidas pelo Banco da Inglaterra (as últimas notas de uma libra emitidas pelo Banco da Inglaterra). Newton era mostrado no verso das notas, segurando um livro e acompanhado por um telescópio, um prisma e um mapa do Sistema Solar. Visões religiosas. Embora nascido em uma família anglicana, aos trinta anos, Newton mantinha uma fé cristã que, se tivesse sido tornada pública, não seria considerada ortodoxa pelo cristianismo convencional, sendo que um historiador o rotulou de "herege". Em 1672 começou a registrar suas pesquisas teológicas em cadernos que não mostrava a ninguém e que apenas recentemente foram examinados. Eles demonstram um amplo conhecimento dos escritos da Igreja primitiva e mostram que no conflito entre Atanásio e Ário, que definiu o Credo, ele ficou do lado de Ário, o perdedor, que rejeitava a visão convencional da Trindade. Newton "reconhecia Cristo como um mediador divino entre Deus e o homem, subordinado ao Pai que o criou". Estava especialmente interessado em profecias, mas, para ele, "a grande apostasia era o trinitarismo". Newton tentou, sem sucesso, obter uma das duas bolsas que isentavam o titular da exigência de ordenação. No último momento, em 1675, recebeu uma dispensa do governo que isentava a ele e a todos os futuros detentores da cátedra lucasiana. Aos olhos de Newton, adorar a Cristo como Deus era idolatria, para ele o pecado fundamental. Em 1999, o historiador Stephen D. Snobelen escreveu: "Isaac Newton era um herege. Mas ... ele nunca fez uma declaração pública de sua fé particular - que os ortodoxos teriam considerado extremamente radical. Ele escondeu sua fé tão bem que os estudiosos ainda estão revelando suas crenças pessoais". Em uma posição minoritária, T. C. Pfizenmaier oferece uma visão mais sutil, argumentando que Newton se aproximou da visão semiariana da Trindade de que Jesus Cristo era de uma "substância semelhante" (homoiousios) do Pai, em vez da visão ortodoxa de que Jesus Cristo é da "mesma substância" do Pai (homoousios) como endossada pelos modernos ortodoxos orientais, católicos romanos e protestantes. No entanto, esse tipo de visão "perdeu apoio ultimamente com a disponibilidade dos trabalhos teológicos de Newton" e agora a maioria dos estudiosos identifica Newton como um monoteísta antitrinitário. Embora as leis do movimento e da gravitação universal tenham se tornado as descobertas mais conhecidas de Newton, ele advertiu contra usá-las para interpretar o Universo como uma mera máquina, como se fosse semelhante a um grande relógio. Ele disse: "Então a gravidade pode colocar os planetas em movimento, mas sem o Poder Divino, nunca poderia colocá-los em um movimento circulante, como ocorre com o Sol". Junto com sua fama científica, os estudos de Newton sobre a Bíblia e os pais da Igreja primitiva também foram dignos de nota. Newton escreveu trabalhos sobre crítica textual, principalmente "Um Relato Histórico de Duas notáveis Corrupções das Escrituras" e "Observações sobre as profecias de Daniel e o Apocalipse de São João". Ele datava a crucificação de Jesus Cristo em 3 de abril de 33 d.C., que concorda com uma data tradicionalmente aceita. Acreditava em um mundo racionalmente imanente, mas rejeitava o hilozoísmo implícito em Leibniz e Baruch Spinoza. O Universo ordenado e informado dinamicamente pode ser entendido e deve ser entendido por uma razão ativa. Em sua correspondência, Newton afirmou que, ao escrever os "Principia," "eu estava de olho sobre tais Princípios que pudessem funcionar à consideração dos homens para a crença de uma Deidade". Viu evidências de desígnio no sistema do mundo: "Uma uniformidade tão maravilhosa no sistema planetário deve ter sido efeito de escolha". Mas Newton insistiu que eventualmente seria necessária uma intervenção divina para reformar o sistema, devido ao lento crescimento de instabilidades. Para isso, Leibniz o satirizou: "Deus Todo-Poderoso quer dar corda no seu relógio de vez em quando: caso contrário, deixaria de se mover. Ele não tinha, pelo que parece, providência suficiente para torná-lo um movimento perpétuo". A posição de Newton foi defendida vigorosamente por seu seguidor Samuel Clarke em uma famosa correspondência. Um século depois, a obra de Pierre-Simon Laplace, "Mécanique céleste", tinha uma explicação natural do porquê as órbitas do planeta não requerem intervenção divina periódica. O contraste entre a visão de mundo mecanicista de Laplace e a de Newton é o mais estrito, considerando a famosa resposta que o cientista francês deu a Napoleão, que o criticou pela ausência do Criador na "Mécanique céleste": "Sire, j'ai pu me passer de cette hyphotese"("Eu não preciso de tal hipótese"). Os estudiosos debatem há muito tempo se Newton contestava a doutrina da Trindade. Seu primeiro biógrafo, Sir David Brewster, que compilou seus manuscritos, interpretou Newton como questionador da veracidade de algumas passagens usadas para apoiar a Trindade, mas afirma que ele nunca negou a doutrina da Trindade como tal. No século XX, manuscritos criptografados escritos por Newton e comprados por John Maynard Keynes (entre outros) foram decifrados e tornou-se conhecido que Newton realmente rejeitava o trinitarismo. Efeito no pensamento religioso. A abordagem de Newton e Robert Boyle à filosofia mecânica foi promovida por panfletistas racionalistas como uma alternativa viável aos panteístas e entusiastas, e foi aceita hesitantemente por pregadores ortodoxos, bem como por pregadores dissidentes, como os latitudinaristas. A clareza e simplicidade da ciência eram vistas como uma maneira de combater os superlativos emocionais e metafísicos do entusiasmo supersticioso e da "ameaça" do ateísmo. Os ataques feitos contra o "pensamento mágico" pré-iluminista e os elementos místicos do cristianismo foram fundados com a concepção mecânica de Boyle do Universo. Newton deu às ideias de Boyle sua conclusão por meio de provas matemáticas e, talvez mais importante, teve muito sucesso em popularizá-las. Contato com movimentos filosóficos. A sociedade secreta rosa-cruz foi possivelmente a que exerceu maior influência sobre Newton. Apesar de o movimento rosa-cruz ter causado uma grande curiosidade entre os acadêmicos europeus durante o século XVII, na época de Newton já havia atingido a maturidade e se tornara algo menos sensacionalista. O movimento teve uma profunda influência sobre Newton, particularmente nas pesquisas sobre alquimia e filosofia. Newton foi também contemporâneo dos Platonistas de Cambridge e amplamente influenciado por esse movimento, sendo muito evidente o seu contato com os pensamentos de Platão, citados em suas obras. Oculto. Em um manuscrito que escreveu em 1704 (que nunca teve a intenção de publicar), menciona a data de 2060, mas não é dada como uma data para o fim dos dias. Isto foi falsamente relatado como uma previsão."Então, o tempo, tempos e metade de um tempo são 42 meses ou 1 260 dias ou três anos e meio, correspondendo doze meses a um ano e 30 dias a um mês, como foi feito no Calendário do ano primitivo. E os dias de bestas de curta duração sendo colocados para os anos de reinos de longa duração, o período de 1 260 dias, se datado da conquista completa dos três reis em 800 a.C., terminará em 2060. Pode terminar mais tarde, mas não vejo razão para seu término mais cedo". "Isto eu menciono para não afirmar quando será o tempo do fim, mas para acabar com as conjecturas precipitadas de homens fantasiosos que frequentemente predizem o tempo do fim e, ao fazê-lo, desacreditam as profecias sagradas com a mesma frequência conforme suas previsões falham. Cristo vem como um ladrão durante a noite, e não é para nós conhecermos os tempos e as épocas que Deus pôs em seu próprio seio". Alquimia. No personagem de Morton Opperly em "Poor Superman" (1951), o autor de ficção Fritz Leiber diz sobre Newton: "Todo mundo conhece Newton como o grande cientista. Poucos se lembram de que ele passou metade da vida se confundindo com a alquimia e procurando pela pedra filosofal. Essa era a pedra à beira-mar que ele realmente queria encontrar". Das cerca de dez milhões de palavras escritas nos trabalhos de Newton, cerca de um milhão trata de alquimia. Muitos dos escritos de Newton sobre alquimia são cópias de outros manuscritos, com suas próprias anotações. Os textos alquímicos misturam o conhecimento artesanal com a especulação filosófica, muitas vezes escondida por trás de camadas de jogo de palavras, alegorias e imagens para proteger os segredos da alquimia. Ao morrer, a biblioteca de Newton apresentava 169 livros sobre o tópico da alquimia, e acreditava-se que teria consideravelmente mais livros durante os anos de formação em Cambridge, embora possivelmente os tenha vendido antes de mudar-se para Londres em 1696. Em 1888, depois de passar dezesseis anos catalogando os trabalhos de Newton, a Universidade de Cambridge manteve um pequeno número deles e devolveu o restante ao conde de Portsmouth. Em 1936, um descendente ofereceu os papéis à venda na Sotheby's. A coleção foi dividida e vendida por um total de cerca de 9 mil libras. John Maynard Keynes foi um dos cerca de três dúzias de licitantes que obtiveram parte da coleção em leilão. Keynes remontou metade da coleção de artigos de Newton sobre alquimia antes de doar sua coleção para a Universidade de Cambridge em 1946. Todos os escritos conhecidos de Newton sobre alquimia estão atualmente sendo colocados online em um projeto realizado pela Universidade de Indiana: "The Chymistry of Isaac Newton" e resumidos em um livro. Charles Coulston Gillispie contesta que Newton já praticou alquimia e diz que "sua química estava no espírito da filosofia corpuscular de Boyle". Em junho de 2020, duas páginas não publicadas das anotações de Newton sobre o livro de Jan Baptist van Helmont sobre a praga, "De Peste", estavam sendo leiloadas online pela Bonham's. A análise de Newton deste livro, que ele fez em Cambridge enquanto se protegia da Grande Praga de Londres de 1665-1666, é a declaração escrita mais substancial que se sabe que ele fez sobre a praga, segundo Bonham. No que diz respeito à terapia, Newton escreve que "o melhor é um sapo suspenso pelas pernas em uma chaminé por três dias, que finalmente vomitaria terra com vários insetos em um prato de cera amarela e logo depois morreria. A combinação das excreções e soro é transformada em pastilhas e usada na área afetada, o que afasta o contágio e retira o veneno". Filósofos iluministas. Os filósofos do Iluminismo escolheram uma breve história dos predecessores científicos - principalmente Galileu, Boyle e Newton - como os guias e garantidores de suas aplicações do conceito singular de natureza e lei natural a todos os campos físicos e sociais da época. Nesse sentido, as lições da história e as estruturas sociais construídas sobre ela poderiam ser descartadas. Foi a concepção de Newton do universo, baseada em leis naturais e racionalmente compreensíveis, que se tornou uma das sementes da ideologia do Iluminismo. Incidente da maçã. O próprio Newton costumava contar a história que se inspirou a formular sua teoria da gravitação assistindo a queda de uma maçã de uma árvore. Acredita-se que a história tenha passado para o conhecimento popular depois de ter sido relatada por Catherine Barton, sobrinha de Newton, a Voltaire. Embora tenha sido dito que a história da maçã é um mito e que ele não chegou à sua teoria da gravidade em nenhum momento específico, conhecidos de Newton (como William Stukeley, cujo relato manuscrito de 1752 foi disponibilizado por Royal Society) de fato confirmam o incidente, embora não a versão apócrifa de que a maçã realmente atingiu a cabeça de Newton. Stukeley gravou em suas "Memoirs of Sir Isaac Newton" uma conversa com Newton em Kensington em 15 de abril de 1726. John Conduitt, que foi assistente de Newton na Casa da Moeda Real e marido da sobrinha do cientista, também descreveu o evento quando escreveu sobre a vida de Newton: Sabe-se que em seus cadernos Newton estava lidando, por volta do final da década de 1660, com a ideia de que a gravidade terrestre se estende, numa proporção inversa ao quadrado, à Lua; no entanto, ele levou duas décadas para desenvolver a teoria plenamente. Alega-se que várias árvores são "a" macieira descrita por Newton. A The Kings's School afirma que a árvore foi comprada pela escola, arrancada e transportada para o jardim do diretor alguns anos depois. Os funcionários da (agora) Mansão Woolsthorpe, de propriedade do National Trust, contestam isto e afirmam que uma árvore presente em seus jardins é a descrita por Newton. Uma descendente da árvore original pode ser visto crescendo do lado de fora do portão principal do Trinity College, em Cambridge, abaixo da sala em que Newton morava quando estudou lá.
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Informática
Informática Informática (do frances: ""informatique", do alemã "informatik""; composição: "informação" e "automática") é um termo usado para descrever o conjunto das ciências relacionadas à coleta, armazenamento, transmissão e processamento de informações nos meios digitais, estando incluídas neste grupo: a ciência da computação, os sistemas de informação, a teoria da informação, o processo de cálculo, a análise numérica e, os métodos teóricos da representação dos conhecimentos e da modelagem dos problemas. Mas também, resumidamente, a informática é a ciência que estuda o conjunto de informações e conhecimentos por meios digitais. O termo informática, sendo dicionarizado com o mesmo significado amplo nos dois lados do Atlântico, assume em Portugal o sentido sinônimo da ciência da computação, enquanto que no Brasil é habitualmente usado para rever especificamente o processo de tratamento da informação por meio de computadores. O estudo da informação começou na matemática quando nomes como Alan Turing, Kurt Gödel e Alonzo Church começaram a estudar que tipos de problemas poderiam ser resolvidos, ou computados, por elementos humanos que seguissem uma série de instruções simples, independentemente do tempo requerido para isso. A motivação por trás destas pesquisas era o avanço durante a revolução industrial e da promessa que máquinas poderiam futuramente conseguir resolver os mesmos problemas de forma mais rápida e mais eficaz. Do mesmo jeito que as indústrias manuseiam matéria-prima para transformá-la em um produto final, os algoritmos foram desenhados para que um dia uma máquina pudesse tratar informações. Etimologia. O termo surge em meados do século XX, uma referência do termo francés ""informatique", um derivado da junção das palavras "information"" (em português: "informação") e "automatique" (em portugues: "automática"), estabelecida pelo cientista Philippe Dreyfus (1925-atual), derivado do termo alemão "informatik", criado pelo alemão Karl Steinbuch (1917-2005) em 1957 no trabalho denominado "Informatik"; a informática surgiu devido a necessidade de se fazer um processamento da informação de forma automatizada, processamento por meios automáticos analógicos ou digitais (quer sejam binários, ou não como o bit quântico). O meio mais comum da utilização de informática são os computadores que tratam informações de maneira automática. A "informática" é a disciplina que lida com o tratamento racional e sistemático da "informação" por meios automáticos e eletrônicos. Representa o tratamento automático da informação. Constitui o emprego da ciência da informação através do computador. Embora não se deva confundir "informática" com computadores, na verdade ela existe porque estes existem. Origem e concepção. Em 1956, o cientista da computação alemão Karl Steinbuch publicou o periódico "" (em português: "Informática: processamento automático de informação"), a palavra se estabeleceu como o termo alemão para a ciência da computação, uma disciplina progenitora para o campo mais vasto da informática. Em 1966, o pesquisador russo Alexander Mikhailov, junto com colaboradores, chegou a utilizar o conceito "Informatika" relacionado a uma disciplina que estuda, organiza e dissemina a informação científica (ligada a Ciência da Informação). Entretanto, essa definição ficou restrita à antiga União Soviética e aos países do Bloco comunista.
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Inhame
Inhame Inhame é o nome comum um tubérculo cultivável pertencente a várias espécies da família das dioscoreáceas e das aráceas. Aos seus tubérculos também se chama inhame. Dependendo do local, é comum referir-se a espécies dos géneros "Alocasia", "Colocasia" (taro), "Xanthosoma" e "Ipomoea" (batata-doce) também como inhame"". Essas plantas são muito cultivadas na África, América Latina, Ásia, Oceania e nas ilhas da Macaronésia, desempenhando um papel importante na alimentação dessas regiões. Nomes comuns. Em Portugal, a espécie "Colocasia esculenta", que é a variedade mais comum de inhame, dá ainda pelos seguintes nomes comuns: taro, cíamo, fava-do-egipto, coco (em várias zonas do grupo central dos Açores) e minhoto (na ilha de São Miguel, nos Açores). No Brasil, onde há um vasto leque de espécies conhecidas como inhames, também se usam os seguintes nomes comuns: cará, caranambu, caratinga, cará-de-folha-colorida, cará-liso, cará-de-pele-branca ou inhame-cará. Etimologia. O vocábulo "inhame" origina das línguas do oeste da África. A palavra "yam", do inglês, vem do uolofe "nyam", que significa "a amostra" ou "sabor"; em outras línguas africanas, a palavra utilizada para inhame também pode significar "comer", como, por exemplo, "yamyam" e "nyama", em hauçá. Já a palavra "cará" vem do termo tupi "ka'rá". "Caratinga" vem do termo tupi "aka'ratin'ga", que significa "cará branco". O nome «coco», usado ainda hoje em dia no grupo central dos Açores para aludir aos inhames da espécie "Discoracea esculenta", já era usado no final do século XV e início do séc. XVI por Valentim Fernandes. Provém do mesmo étimo que o termo inglês «cocoyam», por alusão a inhames que, historicamente, cresciam ao pé das lavras de coqueiros e tinham uma feição mais arredondada. Crê-se que o termo «minhoto», usado para estes inhames, poderá ter a sua origem no francês mignon ou mignonne, que significa «bonito». Espécies e denominações regionais. O significado específico dos sobreditos nomes varia de região para região, dentro do mundo lusofono. Cará. No Sudeste do Brasil, sobretudo nas capitais e em textos técnicos, o inhame é conhecido como cará. Nos estados brasileiros da Paraíba e Pernambuco, usa-se "inhame" para as espécies de "Dioscorea" que produzem tubérculos grandes, como o inhame-da-costa ("Dioscorea cayennensis") e o inhame-de-são-tomé ("Dioscorea alata" L.), e "cará" para as espécies que produzem tubérculos pequenos (como o cará-nambu). Algumas espécies dos gêneros "Alocasia" e "Xanthosoma" (família Araceae) têm nomenclatura oposta: "inhame" no Sudeste e "cará" no Nordeste do Brasil. Taro. Na ilhas da Madeira e de Porto Santo, a espécie "Colocasia esculenta" (ou "Colocasia antiquorum)" além de ser conhecida como «inhame», também é conhecida como taro. É extensamente cultivada nestas ilhas e foi durante séculos, juntamente com a batata e o trigo, a base da alimentação do povo madeirense. Coco ou minhoto. Nalgumas ilhas do grupo Central dos Açores dá-se aos inhames, da espécie "Colocasia esculenta (ou" C"olocasia antiquorum)," o nome de «cocos». Nome esse que já remonta aos finais do séc. XV e início do século XVI, em relatos de Valentim Fernandes: No séc. XVII, há outros relatos onde esta designação volta a surgir, com efeito, na obra «Espelho Cristalino» do Frei Frei Diogo das Chagas, datada entre 1640 e 1646. Na ilha de São Miguel, porém, dá-se ainda o nome «minhoto» a uma certa variedade de inhames, por sinal mais pequenos, e popularmente tidos como mais apetitosos. Crê-se que o termo «minhoto», usado para estes inhames, poderá ter a sua origem no francês mignon ou mignonne, que significa «bonito». Batata-doce. A batata-doce, tubérculo comestível produzido pelas plantas do género "Ipomoea", também é chamada, em alguns lugares do Brasil, de inhame, inhame-doce ou cará-doce, embora esses nomes sejam mais corretamente usados para a espécie "Dioscorea trifida". História. Sob a designação comum de «inhames», diversas plantas, muitas vezes sem se conhecer a espécie em causa, foram sendo referidas ao longo da história como tendo sido utilizadas na Ásia, África e América. Há inúmeras espécies dos géneros "Colocasia" e "Dioscorea" que são de origem asiática, ao passo que outras são africanas e outras ainda americanas. Uma das mais importantes do primeiro do género referido é a "Colocasia esculenta (L.) Schott", conhecida por «taro» e «cocoyam», que alguns autores admitem ter constituído a base da alimentação dos povos orientais antes da utilização do arroz, que veio a substituir a primeira nos campos armados em terraços para permitirem uma cultura exigente em água. Esta espécie estava muito difundida em África, pelo menos nas terras do Vale do Nilo onde já tinha chegado, e foi muito difundida pelos portugueses. Nos Açores foi muito utilizada para a produção de álcool e ainda hoje constitui, tal com na ilha da Madeira, uma cultura alimentar importante. Estas espécies e outras de origem asiática foram trazidas nas embarcações portuguesas com suprimento de alimento fresco. As descrições da época, como as de Frei João dos Santos referentes à Etiópia Oriental, várias vezes referem os «inhames» ou o «inhame» como base de alimentação de muitos dos povos com os quais contactaram, pese embora não seja possível apurar a concreta espécie de inhame, com base nessas descrições. Dada a alternância entre o uso do singular (inhame) e do plural (inhames), há autores que aventam que tal pode indicar o cultivo de várias espécies com o mesmo nome. Também de origem oriental e introduzido em África é a "Dioscorea polystachya" (ou "Dioscorea batatas)," conhecida como «inhame-da-china». Valentim Fernandes, nos seus relatos sobre África nos princípios do século XVI, já estabelece diferenças entre «inhames» pertencentes ao género Dioscorea, que naquele período já existiam no continente. Descreve uns como tendo: Segundo o mesmo autor, na costa ocidental africana, a população: De acordo com José Eduardo Mendes Ferrão, o «coco» ou «erva-coco», mencionado por Valentim Fernandes será a "Colocasia esculenta", ainda hoje conhecida no grupo central do Açores com esse nome. Açores. A cultura do inhame nos Açores, designadamente à variedade de inhame da espécie C"olocasia antiquorum (ou Colocasia esculenta)," remonta, pelo menos, ao século XVI. Com efeito, na obra «Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores» de Frei Diogo das Chagas, e datado de 1646, consta a seguinte alusão à cultura do inhame nos Açores: Posteriormente, em 1661, consta, a folhas 147, do Livro de Correições da Câmara Municipal do Concelho de Vila Franca do Campo, a seguinte consideração histórica sobre a cultura dos inhames e do seu papel social, para a população mais pobre: Também digno de nota foi a ocorrência, em 1694, na ilha de S. Jorge, da «revolta dos inhames» que consistiu, essencialmente, na recusa dos inhameiros em pagar o dízimo sobre a produção. Em 1830, ainda sob a vigência do dízimo sobre os inhames, há ainda nota de, em 14 de Dezembro desse ano, a Câmara Municipal do concelho de S. Sebastião da ilha Terceira ter remetido à rainha D.ª Maria II uma queixa, onde constava os seguintes dizeres: Historicamente, as populações destas ilhas receberam o nome «inhameiros» como alcunha, por virtude, não só, da grande abundância dessa espécie vegetal, mas também porque causa do grande consumo que deles se fazia. Com efeito, nota disso mesmo, encontra-se em várias obras literárias de época, como sejam os versos de 1880, compostos por José Pacheco da Achadinha, onde se lê que: Mais tarde, na década de 40 do séc. XX, Vitorino Nemésio na obra «Mau tempo no Canal»,escreve também a respeito desta alcunha, oriunda na cultura do inhame que: Brasil. Os portugueses levaram para o Brasil os inhames e falsos-inhames que conheciam das terras africanas, fundamentalmente para alimentar os escravos. Os navios portugueses abasteciam-se nas ilhas africanas a caminho de Lisboa com este inhame quando iam à ilha de São Tomé carregar açúcar. O padre José de Anchieta (1534-1597) menciona o cará nos seus escritos, louvando seus valores. Como hortaliça, o cará é um alimento energético. Também se destaca como fonte de vitaminas do complexo B. Na sua carta sobre o descobrimento do Brasil, o escrivão Pero Vaz de Caminha chamou a mandioca de "inhame": "Muito inhame e outras sementes que na terra há e eles comem". Madeira. O inhame, na variedade dada pela espécie "Colocasia antiquorum", foi introduzido na Madeira por volta de 1640. Esta variedade de inhame teve, antanho, substancial consumo na ilha, tratando-se de um dos alimentos de uso diário mais comum pelos camponeses, durante a estação própria. Numa inscrição de 1710, surge sob a designação «maná desta terra», numa mesa estilizada com tampo de ardósia e incrustações coloridas, existente na sacristia da Igreja de S. Pedro no Funchal. Consta ainda, num relato de George Forster sobre a Madeira da segunda metade do século XVIII, contido na obra «Cousas e Lousas das Cozinhas Madeirenses» que:
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Irlanda
Irlanda A Irlanda (; e , ou ), por vezes chamada (de maneira não oficial, para diferenciá-la da ilha de mesmo nome, que divide com a Irlanda do Norte) República da Irlanda ( e ) ou então Eire, é um estado soberano da Europa que ocupa cerca de cinco sextos da ilha homônima. É uma república constitucional governada como uma democracia parlamentar, com um presidente eleito para servir como chefe de Estado. Considerada um país desenvolvido, a Irlanda tem o terceiro maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, além de ótimas classificações em índices que medem o grau de democracia e liberdades como a de imprensa, econômica e política. Além da União Europeia (UE), a Irlanda também é membro do Conselho da Europa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da Organização das Nações Unidas (ONU). Sua capital é Dublin e a população do país é estimada em 4,8 milhões de habitantes. O Estado moderno irlandês foi fundado em 1922 como o Estado Livre Irlandês, um domínio dentro do Império Britânico, na sequência do Tratado Anglo-Irlandês que pôs fim à Guerra de Independência da Irlanda. A partição da Irlanda já havia sido prevista na legislação britânica anterior a 1921, como forma de resposta à oposição irlandesa ao "Home Rule" britânico ou aos movimentos de independência de unionistas, que formaram uma maioria na parte nordeste do país. Seis dos nove condados da província nortista do Ulster foram então estabelecidos como a Irlanda do Norte, uma parte do Reino Unido, com o qual o Estado irlandês divide a sua única fronteira terrestre. A Irlanda é cercada pelo Oceano Atlântico, com o mar Céltico ao sul, o Canal de São Jorge a sudeste e o Mar da Irlanda a leste. Em 1801, os reinos da Irlanda e da Grã-Bretanha, anteriormente em uma união pessoal, foram unidos para formar o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Após uma uma revolta fracassada em 1916, em 1919 os parlamentares nacionalistas irlandeses apoiaram a criação da República Irlandesa e formaram um parlamento separatista, enquanto o Exército Republicano Irlandês lançou uma guerra de guerrilha para realizar a independência. O Tratado Anglo-Irlandês de 1922 concluiu essa guerra e estabeleceu o Estado Livre da Irlanda como um domínio de auto-governado dentro da "Commonwealth" britânica. A Irlanda do Norte optou por permanecer como parte do Reino Unido. O estado independente aumentou a sua soberania através do Estatuto de Westminster, em 1931, e com a crise de abdicação de 1936. Uma nova constituição, em 1937, declarou um Estado soberano chamado "Irlanda" (Éire). O Ato da República da Irlanda proclamou a Irlanda como uma república em 1949, removendo os direitos remanescentes dos monarcas. O país, consequentemente, retirou-se da "Commonwealth" britânica. Apesar de atualmente estar entre os países mais ricos do mundo em termos de PIB "per capita", a Irlanda foi uma das nações mais pobres na Europa enquanto esteve sob domínio do Reino Unido e durante décadas após a sua independência. O protecionismo econômico foi desmantelado no final dos anos 1950 e a Irlanda aderiu à Comunidade Econômica Europeia em 1973. O liberalismo econômico a partir do final dos anos 1980 em diante resultou em uma rápida expansão da economia do país, particularmente de 1995 a 2007, o que ficou conhecido como o período do Tigre Celta. Uma crise financeira sem precedentes, a partir de 2008, prejudicou esta era de rápido crescimento econômico; porém, a partir de 2012, a economia irlandesa voltou a crescer e, em 2017, a Irlanda cresceu três vezes mais que qualquer outro país europeu. Etimologia. O artigo 4.º da Constituição irlandesa, que foi adotada em 1937, declara que "o nome do estado é "Éire", ou, no idioma inglês, "Ireland"". Para todos os fins oficiais, inclusive nos tratados internacionais e em outros documentos legais, onde a linguagem dos documentos é o inglês, o governo irlandês usa o nome "Ireland". O mesmo é utilizado em relação ao nome "Éire" nos documentos escritos em gaélico. As Instituições da União Europeia seguem a mesma prática. Desde que a língua irlandesa se tornou uma das línguas oficiais da UE, em 1 de janeiro de 2007, o nome das chapas que identificam os membros representantes do Estado irlandês durante as reuniões da UE, têm escrito "Éire - Ireland", tal como é feito nos passaportes irlandeses. Desde 1949, o Acto da República da Irlanda, tem o nome de "República da Irlanda" como "designação" oficial para o Estado. A lei destinava-se principalmente a declarar que a Irlanda era uma república em vez de uma monarquia constitucional. Previa-se a "designação" oficial passar a ser o seu "nome" oficial, mas isso não aconteceu. Em 1989, o Supremo Tribunal de Justiça irlandês rejeitou um mandado de extradição do uso de "República da Irlanda". Nas palavras do Presidente do Tribunal, Sir Nicholas Walsh, "se os tribunais de outros países que procuram a ajuda deste país não estão dispostos a dar esse Estado constitucional, em corrigir o seu nome reconhecido internacionalmente, devem, em seguida, na minha opinião, os mandados serem devolvidos a esses países, até eles serem corrigidos". O que é agora "Irlanda" tem sido conhecida por uma série de outros nomes, de todos os que ainda são utilizados, por vezes, de forma oficiosa. Toda a ilha da Irlanda foi, unilateralmente, proclamada uma república independente pelos rebeldes em 1916, e denominada como o "República da Irlanda" (em irlandês: "Poblacht na hÉireann", posteriormente "Saorstát Éireann"). Na sequência da eleição geral de 1918, a proclamação foi ratificada pelos deputados do seu primeiro Parlamento. Entre 1921 e 1922, quando o governo britânico legislou estabelecer o que é hoje a "Irlanda", como uma região autónoma do Reino Unido, foi chamado "Irlanda do Sul". Na sequência do Tratado Anglo-Irlandês, a partir de 1922 e até 1937, como um domínio da Comunidade Britânica das Nações, que foi denominado como "Estado Livre Irlandês" (em irlandês: "Saorstát Éireann"). Esse nome foi abolido com a aprovação da actual Constituição irlandesa. Outros nomes, tais como o "Estado Livre", "Vinte e seis condados do Sul" e "O Sul" (um nome frequentemente usado por pessoas da Irlanda do Norte) também são frequentemente utilizados. A Escócia leva o nome de "Scotus", termo latino que significa "irlandês" (a forma plural é "Scoti"). Refere-se aos colonizadores gaélicos da Irlanda, um país que os romanos inicialmente chamaram de "Scotia" (forma derivada de "Scotus"). Os irlandeses que colonizaram a Escócia atual eram conhecidos como "escoceses". Os romanos da fase do baixo império usavam o nome "Caledonia" para se referir à Escócia atual. História. Pré-história e Idade Antiga. O primeiro assentamento conhecido na Irlanda surgiu por volta de 8000 a.C., quando os caçadores-coletores chegaram da Europa continental, provavelmente através de uma ponte terrestre. Os primeiros celtas chegaram por volta de 1600 a.C., data de fundação da Irlanda Céltica. Politicamente, os celtas dividiram a Irlanda em quatro províncias: Leinster, Munster, Ulster e Connacht. Antes de sua chegada, as unidades básicas da sociedade irlandesa eram os Tuatha, ou pequenos reinos, cada um dos quais era bastante pequeno, aproximadamente 150 tuathas para uma população de menos de 500 mil pessoas. Todo o território era governado por um monarca chamado Grande Rei da Irlanda. A lista tradicional daqueles nomeados com o título de "Rei Supremo da Irlanda" data de milhares de anos, desde meados do II milênio a.C., embora as primeiras partes da lista sejam bastante míticas. Não há certeza em que ponto da lista começa a se referir a indivíduos históricos e também em que ponto esses indivíduos podem ser chamados de "Rei Supremo", no sentido subsequente da palavra. Essa estrutura social foi adaptada ao estilo de vida celta, sempre predisposto a se organizar em unidades tribais relativamente pequenas e autônomas. Os Anais dos Quatro Mestres (em irlandês, "Annala Rioghachta Éireann") são uma crônica da história da Irlanda. As entradas abrangem datas entre 2242 a.C. e 1616 d.C., embora se acredite que as primeiras entradas se refiram a datas em torno de 550 a.C.. Eles são uma compilação de anais anteriores, embora existam alguns trabalhos originais. Eles foram coletados entre 1632 e 1636 no mosteiro franciscano do condado de Donegal. Beltane ou Bealtaine (em irlandês "Buenfuego") era um feriado irlandês antigo comemorado em 1º de maio. Para os celtas, Beltane marcava o início da temporada de verão pastoral, quando rebanhos de gado eram levados para pastagens de verão e para montanhas. No irlandês moderno, "Mi na Bealtaine" (mês de Bealtaine) é o nome do mês de maio. Muitas vezes, o nome do mês é abreviado como Bealtaine, conhecendo o feriado como "Lá Bealtaine". Uma das principais atividades do feriado foi acender fogueiras nas montanhas e colinas com significado político e ritual em "Oidhche Bhealtaine" (véspera de Bealtaine). Em irlandês escocês moderno, utilizado sozinho "Lá Bealtaine Buidhe" (amarelo dia Bealltain) para descrever o primeiro dia de maio. San Patricio (384-461), um arcebispo e missionário de "Scotland", mudou-se para a Irlanda para converter os habitantes ao cristianismo. Inicialmente, ele conseguiu fazer conversões importantes nas famílias reais e, através das escolas monásticas, introduziu a palavra escrita (em latim). Com a morte de St. Patrick, a elite irlandesa já era instruída e registrou sua história por escrito. A Irlanda se tornou quase exclusivamente cristã e um centro de estudos e cultura, mas a maior parte desse legado foi destruído durante os ataques vikings dos séculos IX e X. Idade Média e Moderna. Em torno de 800, mais de um século de invasões viquingues trouxeram o caos sobre à cultura monástica e às várias dinastias regionais da ilha, no entanto ambas as instituições provaram-se fortes o suficiente para sobreviver e assimilar os invasores. A vinda de mercenários cambro-normandos sob o controle de Richard de Clare, apelidado de Strongbow, em 1169 marcou o início de mais de 700 anos de domínio inglês, e, mais tarde, britânico da Irlanda. Em 1177, o príncipe João Sem Terra foi feito Senhorio da Irlanda por seu pai Henrique II da Inglaterra, no Conselho de Oxford. A Coroa não tentou afirmar o controle total da ilha até o repúdio de Henrique VIII à autoridade papal sobre Igreja da Inglaterra e a subsequente Reforma Inglesa, que não vingou na Irlanda. Dúvidas sobre a lealdade dos vassalos irlandeses deram o impulso inicial para uma série de campanhas militares na Irlanda entre 1534 e 1691. Este período também foi marcado por uma política de plantação da Coroa que levou à chegada de milhares de colonos protestantes ingleses e escoceses e o consequente deslocamento do plantio dos então proprietários católicos. Como a derrota militar e política da Irlanda Gaélica tornou-se mais pronunciada no início do século XVII, o papel da religião como um novo elemento de divisão na Irlanda tornou-se mais evidente. A partir deste período, o conflito sectário se tornou um tema recorrente na história da Irlanda. A derrubada, em 1614, da maioria católica no parlamento irlandês foi realizada principalmente através da criação de inúmeros novos bairros, que foram dominados pelos novos colonos. Até o final do século XVII, os católicos romanos, que representavam cerca de 85% da população da Irlanda, foram banidos do parlamento irlandês. O poder político repousava inteiramente nas mãos de uma minoria anglicana, enquanto os católicos e membros de denominações protestantes dissidentes sofreram graves privações políticas e econômicas nas mãos das Leis Penais. Século XIX. O parlamento irlandês foi dissolvido em 1801, na esteira da republicana Rebelião Irlandesa de 1798, e a Irlanda tornou-se parte integrante do novo Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda através do Ato de União. Embora prometida a revogação do Ato de Prova, aos católicos não foram garantidos plenos direitos até a Emancipação Católica ser atingida em todo o novo Reino Unido em 1829. Grande Fome. A grande fome de 1845–1849 na Irlanda foi um período de fome, doenças e emigração em massa entre 1845 e uma data variável entre 1849 e 1852, em que a população da Irlanda se reduziu entre 20 e 25 por cento. A fome provocou a morte a cerca de um milhão de pessoas e forçou mais de um milhão a emigrar da ilha principalmente para os Estados Unidos e o Canadá. A causa mais próxima da fome foi uma doença provocada pelo oomiceto "Phytophthora infestans", que contaminou em larguíssima escala as batatas em toda a Europa durante a década de 1840. Apesar de a Europa inteira ter sido atingida, um terço de toda a população da Irlanda dependia unicamente de batatas para sobreviver, e o problema foi exacerbado por vários fatores ligados à situação política, social e econômica que ainda são matéria de debate na comunidade acadêmica. A fome foi um choque social na história da Irlanda: os efeitos alteraram para sempre o plano demográfico, político e cultural irlandês. Entrou para a memória popular, sendo desde então um dos pontos mais lembrados pelos movimentos nacionalistas irlandeses. A história da Irlanda geralmente é dividida entre os períodos "pré-fome" e "pós-fome". A grande fome é também recordada como a maior catástrofe demográfica a atingir a Europa entre a Guerra dos Trinta Anos e a Primeira Guerra Mundial, com um excesso de mais de um milhão de mortes na Irlanda em relação ao expectável se não tivesse existido. A fome foi responsável por um aumento significativo da emigração da Irlanda, entre 45% e 85%, dependendo do ano e do condado, mas não foi a única causa. Não foi esta sequer a época em que a emigração em massa da Irlanda começou. A emigração pode ser datada de meados do século XVIII, quando um quarto de milhão de pessoas deixou a Irlanda em direção ao Novo Mundo, por um período de 50 anos. Da derrota de Napoleão até ao inicio da fome, um período de 30 anos, "pelo menos possivelmente , emigraram". Porém, na pior parte da fome, a emigração atingiu cerca de em apenas um ano, com a maioria dos emigrantes saindo da Irlanda Ocidental. Século XX. A Irlanda é o sucessor do Estado Livre Irlandês. Este domínio foi constituído quando toda a ilha da Irlanda se separou do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda em 6 de dezembro de 1922. No entanto, no dia seguinte, o Parlamento da Irlanda do Norte exerceu o seu direito ao abrigo do Tratado Anglo-Irlandês, e optou por voltar a pertencer ao Reino Unido. Esta acção, conhecida como a Partição da Irlanda, seguiu-se a quatro tentativas para introduzir o governo autónomo de toda a ilha da Irlanda (em 1886, 1893, 1914 e 1920). O Estado Livre Irlandês foi abolido quando a Irlanda foi formalmente criada em 29 de dezembro de 1937, o dia em que a sua Constituição entrou em vigor. A independência Irlandesa da Grã-Bretanha em 1922 foi precedida pela Guerra de Independência da Irlanda e pela Revolta da Páscoa de 1916, quando voluntários irlandeses e membros do Exército Civil Irlandês tomaram o controlo de lugares em Dublin e Galway sob os termos expressos na Proclamação da República da Irlanda. Os sete signatários desta proclamação, Patrick Pearse, Thomas MacDonagh, Clarke Thomas, Sean MacDiarmada, Joseph Plunkett, Eamonn Ceannt e James Connolly, foram executados, juntamente com outras nove pessoas, e milhares foram internados, precipitando a Guerra de Independência da Irlanda. Estatuto "Home Rule". A partir do Acto da União em 1 de Janeiro de 1801, e até 6 de Dezembro de 1922, a Irlanda fez parte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Durante a Grande Fome, de 1845 a 1849, a população da ilha, que contava com oito milhões de habitantes, caiu 30 por cento. Sob domínio britânico, um milhão de irlandeses morreram de inanição e outro milhão e meio emigraram, opção que definiu o padrão de emigração para o século que se seguia e teria como resultado um declínio constante da população até à década de 1960. A partir de 1874, mas especialmente a partir de 1880, no mandato de Charles Stewart Parnell, o Partido Parlamentar Irlandês alcançou proeminência através de generalizada agitação agrária que ganhou reformas agrárias para inquilinos e com as suas tentativas de ganhar a aprovação de duas propostas de lei ("Home Rule Bills"), que teriam concedido à Irlanda limitada autonomia nacional dentro do Reino Unido. Estes, no entanto, levaram as "camadas populares" a controlar os assuntos nacionais sob Acto do Governo da Irlanda de 1898, anteriormente nas mãos de grande júris dominados por proprietários de terras. O "Home Rule" parecia certo, em 1911, quando a Câmara dos Lordes perderam o seu veto e John Redmond garantiu o terceiro lugar no Ato do Governo da Irlanda de 1914. O Movimento Unionista, no entanto, tinha vindo a crescer desde 1886 entre os irlandeses protestantes, após a introdução do projecto de uma Casa de Governo, temendo que eles enfrentassem discriminação e perder privilégios económicos e sociais se irlandeses católicos fossem realizar uma verdadeira força política. Embora o sindicalismo irlandês existisse em toda a Irlanda, ainda no final do e início do , o sindicalismo foi particularmente forte em partes de Ulster, onde a industrialização foi mais comum em contraste com a maioria agrária do resto da ilha. Além disso, a população protestante localizava-se principalmente em Ulster, com maiorias sindicalistas existentes em cerca de quatro condados. Revolução. Sob a liderança de Dublin, Sir Edward Carson do Partido Unionista Irlandês e os habitantes do Norte, apoiados por Sir James Craig do Partido Unionista de Ulster, tornaram-se fortemente militantes, a fim de se oporem à "Coerção de Ulster". Depois do Artigo Principal que passou no Parlamento em Maio de 1914, para evitar a rebelião com Ulster, o Primeiro-Ministro britânico H. H. Asquith, introduziu uma regra ratificativa, relutantemente, admitindo a liderança por parte da Irlanda, que prevê a exclusão temporária do Ulster, a partir do funcionamento por um período experimental de seis anos, como ainda indecisos com o novo conjunto de medidas a adoptar para a área. Apesar de ter recebido o Royal Assent e de ser colocado sobre o estatuto, o terceiro Acto do Governo Irlandês de 1914, foi suspenso até depois da Primeira Guerra Mundial. Para assegurar a aplicação da lei no final da guerra, Redmond e os seus voluntários irlandeses apoiaram os Aliados na Primeira Guerra Mundial, juntando 175 000 membros do regimento irlandês à 10.ª e à 16.ª Divisão Irlandesa do Reino Unido, enquanto que os Unionistas ingressaram na 36.ª Divisão de Ulster do Novo Exército Britânico. Em Janeiro de 1919, após as eleições gerais de 1918, 73 dos 106 membros eleitos para o Parlamento eram do Sinn Féin, que se recusou a tomar os seus lugares na Câmara dos Comuns, no Reino Unido. Em vez disso, eles criaram um Parlamento irlandês chamado Dáil Éireann. Este, emitiu em Janeiro de 1919, uma Declaração de Independência e proclamaram a República da Irlanda. A declaração foi principalmente uma reafirmação da Proclamação de 1916, com a disposição adicional que a Irlanda não era mais um território pertencente ao Reino Unido. A nova República da Irlanda só foi reconhecida internacionalmente pela República Socialista Federativa Soviética Russa. A República do Aireacht (ministério) enviou uma delegação ao abrigo do ceann Comhairle Seán T. O'Kelly para a Conferência de Paz de Paris de 1919, mas não foi admitido. Após lutarem amargamente na Guerra da Independência e, após terem sido dominados em Julho de 1921, representantes do governo britânico e delegados irlandeses para o Tratado, liderados por Arthur Griffith, Robert Barton e Michael Collins, negociaram o Tratado Anglo-Irlandês, em Londres, de 11 de Outubro a 6 de Dezembro de 1921. Os delegados irlandeses criaram uma sede em Hans Place, em Knightsbridge, e ali estiveram reunidos em privado até que às 11h15 da manhã do dia 5 de Dezembro, tomaram a decisão de recomendar o Tratado ao Dáil Éireann. De acordo com o Tratado, os britânicos concordaram com a criação de um Estado independente irlandês, através do qual o Estado Livre Irlandês tinha o estatuto de domínio. Segundo o Segundo Dáil Éireann, o tratado foi restritivamente ratificado. O Tratado não era inteiramente satisfatório para ambos os lados. Deu mais concessões para os irlandeses do que os britânicos tinham intenção de dar, mas não foi suficientemente longe para satisfazer as aspirações republicanas. O novo Estado Livre Irlandês, em teoria, cobria toda a ilha, sujeita à condição de que os seis condados do nordeste, denominados "Irlanda do Norte", que tinha sido criado em 1920, poderia optar por sair e escolher permanecer parte integrante do Reino Unido, o que eles fizeram. Os restantes vinte e seis condados (originalmente "Irlanda do Sul", no âmbito da Lei) tornou-se o Estado Livre Irlandês, uma monarquia constitucional sobre a qual o monarca britânico reinava (a partir de 1927 com o título "Rei da Irlanda"). Ele tinha um Governador-Geral, uma Parlamento bicameral, um gabinete chamado de "Conselho Executivo" e um primeiro-ministro, chamado Presidente do Conselho Executivo. Guerra Civil. A Guerra Civil Irlandesa foi uma consequência directa da criação do Estado Livre Irlandês. As forças do AntiTratado, lideradas por Éamon de Valera, opôs-se ao facto de que a aceitação do Tratado abolir a "República da Irlanda", para o qual tinham jurar lealdade em 1919, argumentando apoio público para a resolução de que as "pessoas que não têm o direito de fazer errado". A maior parte opõe-se ao facto de que o Estado continue a fazer parte da Comunidade Britânica de Nações e que o Teachtaí Dala (membros da legislatura) terem de jurar um "juramento de fidelidade" a Jorge V do Reino Unido e seus sucessores. As forças Pro-Tratado, lideradas por Michael Collins, defendeu que o Tratado deu "não a derradeira liberdade que todos aspiram para desenvolver a Nação, mas a liberdade para alcançá-la". No início da guerra, o Exército Republicano Irlandês (IRA) dividiu-se em dois campos opostos: uma pró-IRA e outra antiIRA. O pró-IRA (que apoiava o Tratado) dissolveu-se e ingressou na Exército Irlandês. No entanto, graças à falta de uma estrutura de comando eficaz, o antiIRA (que não apoiava o Tratado), e as suas tácticas defensivas durante toda a guerra, Michael Collins e a sua Força pró-Tratado, foram capazes de criar um exército com muitas dezenas de milhares de veteranos da Primeira Guerra Mundial, a partir de 1922, que dissolveu o regimento irlandês do Exército britânico, capaz de "esmagar" os antiTratado. Suprimentos britânicos de artilharia, aviões, máquinas-metralhadoras e munições, impulsionaram as forças pró-tratado, e a ameaça de um regresso às forças da Coroa pro parte do Estado Livre, foram dissipadas. A falta de apoio público para as forças antiTratado (muitas vezes chamadas de "Irregulares") e da determinação do Governo para superar essas forças, contribuiu significativamente para a sua derrota. A destruição causada pela guerra causou prejuízos económicos consideráveis para o Estado Livre nos primórdios da sua existência, e os Unionistas da Irlanda do Norte endureceram-se em distanciar-se do Estado Livre. Constituição de 1937. Em 29 de dezembro de 1937, uma nova Constituição, a Constituição da República da Irlanda (em irlandês: "Bunreacht na hÉireann"), entrou em vigor. Ela substituiu a Constituição do Estado Livre Irlandês e criaram um novo estado chamado simplesmente "Éire", ou, no idioma inglês, "Ireland". O antigo Governo do Estado Livre tomou medidas para abolir formalmente o Gabinete de Governador-Geral, alguns meses antes da nova Constituição entrar em vigor. Apesar da Constituição da Irlanda criar o cargo de Presidente da República da Irlanda, entre 1937 e 1949, a Irlanda não era tecnicamente uma república. Isto porque o principal papel possuído por um Chefe de Estado, que representa simbolicamente a Irlanda, permaneceu internacionalmente adquirido ao abrigo da "lei ordinária do Rei da Irlanda como um órgão do Governo irlandês". O período de neutralidade irlandesa durante durante a Segunda Guerra Mundial, foi descrito como "A emergência". A posição do Rei da Irlanda cessou com a passagem do Ato de 1948 da República da Irlanda, que entrou em vigor em 18 de abril de 1949, quando o cargo de Presidente da Irlanda substituiu o do Rei da Irlanda. A lei declarou que o país poderia ser descrito como uma república. Mais tarde, o Ato da Coroa da Irlanda, na Irlanda, foi formalmente revogada pela Lei de Revisão do Estatuto (Estatuto da Pré-União Irlandesa) no Ato de 1962. A Irlanda manteve-se no Commonwealth após a independência e até à declaração de uma república em 18 de abril de 1949. Sob o regime da Commonwealth, na altura, uma declaração de uma república, rescindia automaticamente um Estado membro da Commonwealth. Por isso, a Irlanda deixou imediatamente de ser um membro e decidiu não se recandidatar posteriormente á adesão à Commonwealth, quando mais tarde esta mudou as suas regras para permitir que repúblicas pudessem aderir à Commonwealth. A Irlanda aderiu às Nações Unidas em 1955 e à União Europeia em 1973. Os governos irlandeses vêm buscando a unificação pacífica das Irlandas e cooperaram com o governo britânico contra a violência entre os grupos parlamentaristas e os grupos norte-irlandês conhecidos como "The Troubles" ("Os Problemas"). Um acordo de paz foi aprovado em 1998, conhecido como Acordo da Sexta-feira Santa ou Acordo de Belfast (Capital da Irlanda do Norte), tendo sido votado em ambas as Irlandas, sendo implantado atualmente. Geografia. A ilha da Irlanda tem uma extensão de mais , dos quais cinco sextos pertencem à República, constituindo o restante a Irlanda do Norte. É banhada a oeste pelo oceano Atlântico, a nordeste pelo canal do Norte, a leste pelo mar da Irlanda e a sudeste e sul pelo canal de São Jorge e pelo mar Céltico. A costa ocidental da Irlanda consiste principalmente de arribas, colinas e montanhas baixas (o ponto mais elevado é o Carrauntoohil, com 1 041 m). O interior do país é predominantemente composto por terras agrícolas relativamente planas, atravessadas por rios como o Shannon e ponteado por vários lagos grandes, os "loughs". O centro do país faz parte da bacia hidrográfica do rio Shannon, e contém grandes áreas de paul, usados para a produção de turfa. O clima temperado da ilha é modificado pela corrente do Atlântico Norte e é relativamente suave. Os verões raramente são muito quentes, faz frio no inverno, algumas vezes chega a nevar. A precipitação é muito comum, com até 275 dias de chuva por ano em algumas partes do país. As cidades principais são a capital, Dublin, na costa oriental, Cork no sul, Galway e Limerick na costa ocidental e Waterford na costa sueste. Geomorfologia. A Irlanda se constitui de uma planície no centro da ilha, limitada por uma moldura irregular e pouco montanhosa, com exceção da parte oriental, na região de Dublin, logo na chegada ao mar. A distância leste-oeste da planície é de 200 km e de 150 km de norte a sul, com 100 metros de altitude média. As rochas encontradas no subsolo da Irlanda são de origem calcária, com exemplos comuns de rios que correm debaixo da terra e lagos que secam com facilidade. Os maciços montanhosos abrigam muitos e diversos terrenos, a saber: granitos, xistos e quartzitos nos alterosos Montes Wicklow, que alcançam uma altitude média 1 000 metros na de Leinster; arenitos, nas aplainadas cadeias de Munster; calcários, nas regiões altas localizadas no Condado de Clare, no litoral oeste; quartzitos, nos picos localizados a noroeste; basaltos, localizados a nordeste e xistos localizados nos Montes Sperrin. O ponto mais alto da ilha da Irlanda é o Carrauntoohill, com metros. O Carrauntoohill está localizado nas Montanhas de Kerry. Tanto as montanhas como as planícies sofreram a ação intensa de geleiras que existiam no passado geológico, das quais se testemunharam a dos vastos vales em U ("glens"), as extensas e as linhas curvas de cristas ("eskers"), as quais ocasionalmente são alongadas por quilômetros, e as típicas colinas em formato de ovo ("drumlins"). Os depósitos glaciais decompostos haviam dado à Irlanda a grande fertilidade de solos em relação ao que seria esperado por seu subsolo e por seu clima. As planícies ocupam quase todo o centro da Irlanda. estendendo-se de um lado a outro do país. Compõem-se de ondulados campos de cultivo, pastagens, bosques e grandes pântanos ou "turfeiras" (depósitos de plantas em decomposição). As turfeiras cobrem um sexto da Irlanda. A maioria se encontra a oeste do rio Shannon. A maior parte dos montes irlandeses ergue-se próximo ao litoral e circunda as planícies. As principais cadeias são as montanhas Donegal, no noroeste, as montanhas de Mayo e as montanhas de Connemara, no oeste, as montanhas de Kerry, no sudoeste, as montanhas Wicklow, no leste. O ponto culminante da Irlanda, Carrantuohill () ergue-se nas montanhas de Kerry. Muitos golfos e baías penetram profundamente na costa ocidental da Irlanda. Por isso, nenhum lugar do país se encontra a mais de 110 km do mar. Partes da costa apresentam altos penhascos de rocha pura. Duas amplas baías no litoral ocidental, a baía de Galway e a foz do rio Shannon, formam os portos de Galway e Limerick. Outras importantes baías no litoral ocidental são Bantry, Clew, Dingle, Donegal, Dunmanus e Sligo. Centenas de ilhotas ficam próximas à costa ocidental. No litoral sul, os portos de Cork e Waterford encontram-se em excelentes abrigos naturais. A baía de Dublin formou o porto de Dublin, o principal da costa leste. Hidrografia. O rio Shannon, na Irlanda, é o mais extenso das ilhas Britânicas. O Shannon, importante via de navegação, nasce no noroeste da Irlanda e percorre 360 km para o sudoeste, até alcançar o oceano Atlântico. O rio Liffey também é navegável. Nasce nas montanhas Wicklow, corre para o noroeste por 121 km, e deságua no mar da Irlanda, em Dublin. Sua foz forma a baía de Dublin. Outros rios irlandeses importantes são o Barrow, Nore e Suir, no sudoeste, o Boyne, no nordeste, e o Moy, no noroeste. A maioria dos lagos da Irlanda fica no oeste. Os lagos são chamados "loughs" (pronúncia "lacs") em gaélico. O rio Shannon forma vários lagos, como o "lough" Derg e o "lough" Ree, ambos no centro-oeste da Irlanda. Os lagos de Killarney, no sudoeste, são famosos pela beleza. São eles os lagos Lower (Inferior), Muckross e Upper (Superior). Clima. A Irlanda tem um clima úmido e ameno. As temperaturas médias são de 4 °C no inverno e 16 °C no verão, aproximadamente. O clima sofre grandemente a influência da corrente do Golfo, uma corrente oceânica quente que sobe do equador e passa pelas ilhas Britânicas. No inverno, ventos do oeste, soprando por cima das águas, ajudam a manter amena a temperatura. Os ventos oceânicos também carregam muita chuva para a Irlanda. As chuvas mais intensas caem nas regiões montanhosas perto do litoral ocidental. A média pluviométrica (de chuva) nessa região é de cerca de 1 500 mm por ano, havendo alguns pontos que alcançam 2510 mm por ano. As planícies recebem cerca de 760 mm de chuva por ano. As inundações constituem problema em algumas partes do país, nas estações chuvosas. O sul e o oeste da Irlanda constituem o mais longo período propício de cultivo agrícola nas ilhas Britânicas, devido ao seu clima moderado e chuvas abundantes. Em muitas áreas dessa região, as pastagens chegam a poder ser utilizadas durante o inverno. Fauna e flora. Quase toda a vida animal e a vegetação da ilha provêm de migrações posteriores às glaciações, originárias do norte da Europa. A vegetação natural predominante é de árvores de folhas perenes, como carvalhos e faias. São abundantes os bosques de coníferas, introduzidas pelo homem. Não é grande a variedade de espécies animais; só aves e dois tipos de pequenos roedores, como coelhos e esquilos, além de um tipo de lagarto, são nativos. Não há cobras, o que, segundo antiga lenda, se deve à intervenção milagrosa de são Patrício, padroeiro da ilha. Uma característica típica da vegetação da Irlanda são as turfeiras, pelas quais quase 20% da ilha é revestida. A maioria da planície carateriza-se pelos abundantes trevos e por toda a parte crescem musgos e hera. Os bosques naturais estão quase ameaçados de extinção, transformando-se em pastagens e campinas. Os únicos animais vivos na natureza são aves e roedores de menor porte, apesar de que a Irlanda fosse habitada, nos demais tempos, por ursos, lobos e por uma espécie de alce conhecida pela grandeza de seus chifres. Na água dos rios são principalmente abundantes trutas e salmões, além de demais peixes. Não há cobras na ilha, a única espécie de réptil é de um lagarto. Meio ambiente. O país tornou-se o primeiro do mundo a introduzir um imposto ecológico para sacolas plásticas em 2002 e a proibição de fumar público em 2004. A reciclagem na Irlanda realiza-se extensivamente e o país tem a segunda maior taxa de reciclagem de embalagens na União Europeia. Foi também o primeiro país da Europa a proibir lâmpadas incandescentes em 2008. Demografia. A população da ilha da Irlanda é de aproximadamente 6,5 milhões (2016). Na República Irlandesa, em 2011, a população total era de 4 588 252 pessoas, um crescimento de 8,2% desde 2006. Em 2011, a Irlanda tinha uma das maiores taxas de natalidade da União Europeia (16 nascimentos por 1 000 habitantes). Línguas. As línguas oficiais são o irlandês, a língua celta nativa, e o inglês, que constitucionalmente é descrito como uma língua oficial secundária. Aprender irlandês é obrigatório no ensino do país, mas o inglês é amplamente prevalente. A sinalética é geralmente bilíngue, que também existe na mídia nacional irlandesa. As pessoas pertencentes à comunidades de língua predominantemente irlandesa (o Gaeltacht) existem principalmente na costa ocidental da ilha. Composição étnica. A Irlanda tem sido habitada há pelo menos 9 000 anos, embora pouco se saiba sobre as pessoas da era do Paleolítico e do Neolítico que habitaram a ilha. Os registos históricos e genealógicos revelam a existência de diversos povos (Cruithne, Atácotos, Conmaicne, Eóganachta, Érainn, Soghain, e outros). Durante os últimos 1 000 anos, foram influenciados pelos viquingues, que fundaram vários portos, incluindo o de Dublin, e também pelos Normandos. No entanto, a maioria (80%) da população é descendente de que os primeiros habitantes da ilha tenham a habitando a partir do final da Idade do Gelo. Muitos, na Irlanda do Norte, são descendentes dos colonos de Inglaterra, especialmente dos da Escócia. De acordo com um estudo genético de 2015, a população irlandesa descende, em sua quase totalidade, de movimentos migratórios durante a idade do Bronze. Essa ancestralidade é composta de dois componentes: um componente do Neolítico (descendente de agricultores do Oriente Médio que se deslocaram para a Europa à época do Neolítico ), majoritário; e um outro, de pastoralistas das estepes russas, o qual estaria relacionado com as línguas indo-europeias, e, por conseguinte, com as línguas célticas, línguas faladas na Irlanda antes da introdução do inglês. A atual composição étnica é a seguinte: europeus: 96,0% (88,8% irlandeses + 7,2% de outros países europeus); asiáticos: 1,1% (principalmente chineses); africanos: 0,8% (na maioria nigerianos); americanos: 0,5% (na maioria estadunidense); australianos e neozelandeses: 0,1%; outros: 1,5%. Imigração. Após séculos de apenas emigração líquida para quase todos os continentes do mundo, com excepção da "plantação" de protestantes em resultado da conquista da Irlanda por Oliver Cromwell, o bom desempenho económico dos últimos quinze anos tem vindo a inverter esta situação, transformando-a numa imigração líquida. Segundo o último censo de 2006, aproximadamente 10% da população era de origem estrangeira. Mais de 112 000 são britânicos, que é a maior nacionalidade estrangeira na Irlanda, representando mais de 25% de todos os estrangeiros. Existem ainda 63 000 da Polónia, 25 000 da Lituânia, 13 000 da Letónia e 10 000 da Alemanha. Além disso, cerca de 52 000 habitantes são provenientes do resto dos países da União Europeia, e mais de 24 000 dos restantes países da Europa. Cerca de 35 000 são provenientes de outros países, nomeadamente de África. Destes, 16 000 são naturais da Nigéria. Cerca de 11 000 vêm da China e 38 000 do resto dos países da Ásia. Mais de 12 000 são dos Estados Unidos e 9 000 de outros países da América. Desde a entrada da Polónia na União Europeia, os polacos foram a maior fonte de migrantes provenientes da Europa Central, seguido por outros migrantes da Lituânia, República Checa e Letónia. A economia estável, os altos salários e a elevada qualidade de vida, atrai muitos novos imigrantes provenientes dos países da União Europeia: a Irlanda registou um significativo número de migrantes provenientes da Roménia na década de 1990. Nos últimos anos, os chineses também migraram para a Irlanda em números significativos. Os nigerianos, juntamente com pessoas de outros países africanos, fazem parte de um grande número de imigrantes de países que não pertencem à União Europeia. Religião. Na República da Irlanda, 78,3% da população é Católica, religião introduzida por São Patrício, mas tem havido um enorme declínio na participação em serviços religiosos. Entre 1996 e 2001, a presença regular na missa, já em declínio anteriormente, havia diminuído de 60% para 48% (em 1973 excedeu os 90%), existindo apenas dois seminários em todo o país. A imagem da Igreja também foi danificada na década de 1990 por causa de uma série de escândalos sexuais e encobrimentos dentro da própria hierarquia. Nos últimos anos, a imagem da Irlanda como um país devotamente católico tem sido modificada, porquanto a influência da Igreja é cada vez menor. Em 1995, na sequência de um embargo de cerca de 60 anos, os eleitores irlandeses escolheram voltar a legalizar o divórcio na República, em votação apertada, com 50,28% de votos favoráveis. Por sua vez, em referendo de 2015, os irlandeses votaram pela legalização do casamento "gay", com 62,1% de votos favoráveis. Foi a primeira vez no mundo que o casamento "gay" foi legalizado por voto popular. Em referendo de 2018, o aborto foi legalizado no país, com 66,4% da população votando favoravelmente. A Irlanda ainda é um dos países mais religiosos da Europa Ocidental, atrás de apenas Itália e de Portugal. A segunda igreja cristã com maior número de praticantes, é a Igreja da Irlanda, que, depois de experimentar uma queda durante a maior parte do , tem vindo a crescer o seu número de participantes, de acordo com o censo de 2002, como já tem acontecido com outras religiões cristãs e islâmicas. Algumas comunidades judaicas viviam na Irlanda durante a Idade Média e uma comunidade de sefarditas fixou-se em Dublin em 1660. De acordo com o censo de 2016, o número de pessoas que afirmaram não pertencer a nenhuma religião foi de (10,1% da população). Direitos LGBT e igualdade de gênero. A pena de morte é constitucionalmente proibida no país, enquanto a discriminação com base em características como idade, sexo, orientação sexual, estado civil ou familiar, religião ou raça é ilegal. A legislação que proibia atos homossexuais foi revogada em 1993. Em 2010, foi reconhecida a união civil entre casais do mesmo sexo. Em maio de 2015, a Irlanda se tornou o primeiro país a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo através do voto popular. A Irlanda ocupa o quinto lugar no mundo em termos de igualdade de gênero. Em 2011, o país foi classificado como o mais caridoso da Europa e o segundo do mundo. A contracepção foi controlada na Irlanda até 1979, no entanto, o declínio da influência da Igreja Católica tornou a sociedade cada vez mais secularizada. Em 1983, mudanças constitucionais asseguraram "o direito à vida do nascituro", sujeito a qualificações em matéria de "igualdade de direito à vida" da mãe. A proibição de divórcio na Constituição de 1937 foi revogada em 1995. Cidades mais populosas. Depois de Dublin (com habitantes na área metropolitana), as maiores cidades da Irlanda são Cork (380 mil habitantes na área metropolitana), Limerick ( habitantes na área metropolitana), Galway ( habitantes na cidade) e Waterford ( habitantes na cidade). Política. Governo. A Irlanda é uma democracia parlamentar. O poder legislativo é exercido pelo Parlamento ("Oireachtas"), constituído pelo Presidente e duas câmaras: o Dáil Éireann (Câmara dos Deputados) e o Seanad Éireann (Senado). Os 166 membros do Dáil são eleitos por sufrágio universal, por um período máximo de cinco anos, segundo o sistema de representação proporcional. O Senado compõe-se de 60 membros, dos quais 11 são nomeados pelo Primeiro-Ministro ("Taoiseach"), 43 são eleitos pelos membros do Dáil, do anterior Seanad e das autoridades locais a partir de listas de candidatos que pertencem a cinco sectores essenciais da sociedade: educação, agricultura, trabalhadores, indústria e comércio e administração. As universidades elegem seis membros do Senado. Qualquer proposta de lei de revisão constitucional necessita do acordo das duas câmaras e de ser ratificada por referendo. O Presidente, que é eleito directamente por sete anos, nomeia, sob proposta do Dáil, o Primeiro-Ministro e sob proposta deste e o acordo prévio do Dáil, os ministros. O Dáil Éireann pode ser convocado ou dissolvido pelo Presidente, após parecer do Primeiro-Ministro. O Governo é constituído por um máximo de 15 membros, dos quais dois devem pertencer ao Senado e os restantes ao Dáil. O presidente atua como chefe de Estado e é eleito para um mandato de sete anos e pode ser reeleito uma vez. O presidente é essencialmente uma figura simbólica, mas a ele é confiado com certos poderes constitucionais com o parecer do Conselho de Estado. O escritório tem absoluta discrição em algumas áreas, como refere um projeto de lei para o Supremo Tribunal para um julgamento sobre sua constitucionalidade. Michael D. Higgins tornou-se o nono presidente da Irlanda em 11 de novembro de 2011. Relações internacionais. As relações externas são substancialmente influenciadas pela adesão à União Europeia, embora as relações bilaterais com o Reino Unido e os Estados Unidos também sejam importantes. Exerceu a Presidência do Conselho da União Europeia em seis ocasiões, mais recentemente de janeiro a junho de 2013. A Irlanda tende à independência na política externa; assim, o país não é membro da OTAN e tem uma política de neutralidade militar de longa data. Essa política ajudou as Forças de Defesa da Irlanda a serem bem-sucedidas em suas contribuições para as missões de manutenção da paz com as Nações Unidas desde 1960, durante a Crise do Congo e, posteriormente, em Chipre, Líbano e Bósnia e Herzegovina. Apesar da neutralidade irlandesa durante a Segunda Guerra Mundial, a Irlanda teve mais de 50 mil participantes na guerra através do alistamento nas forças armadas britânicas. Durante a Guerra Fria, a política militar irlandesa, embora ostensivamente neutra, foi tendenciosa em relação à OTAN. Durante a crise dos mísseis de Cuba, Seán Lemass autorizou a busca de aeronaves cubanas e checoslovacas passando por Shannon e passou as informações para a CIA. As instalações aéreas da Irlanda foram usadas pelos militares dos Estados Unidos para a entrega de militares envolvidos na invasão do Iraque em 2003 pelo aeroporto de Shannon. O aeroporto já havia sido usado para a invasão do Afeganistão em 2001, bem como a Primeira Guerra do Golfo. Desde 1999, a Irlanda é membro do programa de Parceria para a Paz da OTAN (PfP) e do Conselho de Parceria Euro-Atlântico (EAPC) da OTAN, que visa criar confiança entre a OTAN e outros estados da Europa e da antiga União Soviética. Forças armadas. A Irlanda é um país neutro e possui regras de "tripla trava" que governam a participação das tropas irlandesas em zonas de conflito, pelas quais a aprovação deve ser dada pela ONU, pelo Dáil e pelo governo. Consequentemente, seu papel militar é limitado à autodefesa nacional e à participação nas operações de paz das Nações Unidas. As Forças de Defesa são compostas pelo Exército, Serviço Naval, Corpo Aéreo e Força de Defesa da Reserva. As forças são pequenas, mas bem equipadas, com quase 10 mil militares em tempo integral e mais de 2 mil em reserva. O destacamento diário das Forças de Defesa cobre a ajuda às operações de energia civil, proteção e patrulha das águas territoriais irlandesas e da ZEE pelo Serviço Naval Irlandês e missões de manutenção da paz das Nações Unidas, UE e PfP. Em 1996, mais de 40 mil militares irlandeses haviam servido em missões internacionais de manutenção da paz da ONU. O Corpo Aéreo Irlandês é o componente aéreo das Forças de Defesa e opera dezesseis aeronaves de asa fixa e oito helicópteros. O Serviço Naval Irlandês é a marinha da Irlanda e opera oito navios de patrulha e um número menor de barcos infláveis ​​e embarcações de treinamento, e possui embarcações armadas capazes de apreender um navio e uma unidade especial de homens-rã. As forças armadas incluem as Forças de Defesa da Reserva (Reserva do Exército e Reserva de Serviço Naval) para reservistas de meio período. As forças especiais da Irlanda incluem o Army Ranger Wing, que treina e opera com unidades internacionais de operações especiais. O presidente é o comandante supremo formal das forças de defesa, mas, na prática, essas forças respondem ao governo por meio do ministro da defesa. Em 2017, a Irlanda assinou o Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares. Subdivisões. A República da Irlanda tinha tradicionalmente vinte e seis municípios, e estes ainda são utilizados em contextos culturais e desportivos. Eles também são utilizados para fins postais. Os círculos eleitorais do Dáil são obrigados por lei a seguir os limites dos concelhos, tanto quanto possível. Daí, os municípios com maior população têm vários círculos eleitorais (por exemplo, Limerick Leste/Oeste) e alguns círculos eleitorais compostos por mais de um concelho (por exemplo, Sligo-Leitrim Norte), mas de uma maneira geral, as fronteiras não são reais. No entanto, já existiu um processo de reestruturação, como a abolição de Condado de Dublin, distribuindo-o entre os três novos concelhos municipais na década de 1990 e de Condado de Tipperary, tendo sido, administrativamente, dois condados distintos desde a década de 1890. Actualmente, existe um total de vinte e nove concelhos administrativos e cinco cidades. As cinco cidades — Dublin, Cork, Limerick, Galway e Waterford (Kilkenny é uma cidade, mas não possui um conselho municipal) — são administradas separadamente do restante dos seus respectivos municípios. Existe ainda cinco vilas — Clonmel, Drogheda, Kilkenny, Sligo e Wexford — que têm um nível de autonomia dentro do concelho. Os municípios estão agrupados em regiões para fins estatísticos. Eis a lista de condados da República da Irlanda: Economia. Desde os anos 1980, a economia irlandesa deixou de ser predominantemente agrícola e transformou-se em uma economia moderna focada em indústrias de alta tecnologia e serviços. O país adotou o euro em 2002, juntamente com onze outros Estados-membros da UE. O país é fortemente dependente de investimento estrangeiro direto e tem atraído várias empresas multinacionais, devido a uma força de trabalho altamente qualificada e uma taxa de impostos baixa. Algumas empresas, como a Intel, investiram na Irlanda durante o final dos anos 1980, mais tarde seguida pela Microsoft e pelo Google. A Irlanda é classificada como sétima economia mais livre no mundo, segundo o Índice de Liberdade Econômica. Em termos de PIB "per capita", a Irlanda é um dos países mais ricos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da União Europeia (UE). No entanto, o país está abaixo da média da OCDE em termos de PNB per capita. O PIB é significativamente maior que o PNB devido à grande quantidade de empresas multinacionais com sede na Irlanda. A partir no início dos anos 1990, o país experimentou um crescimento econômico sem precedentes que foi alimentado por um aumento dramático em construção, gastos do consumidor e investimento, o que ficou conhecido como o período do Tigre Celta. O ritmo de crescimento abrandou em 2007 e levou à explosão de uma bolha imobiliária que havia se desenvolvido ao longo do tempo. A queda abrupta dos preços das propriedades revelou a sobre-exposição da economia sobre a construção e tem contribuído para a manutenção da crise bancária irlandesa. A Irlanda entrou oficialmente em recessão em 2008, após vários meses consecutivos de contração econômica. A economia do país se contraiu -1,7% em 2008, -7,1% em 2009 e -1% em 2010. O país saiu oficialmente da recessão em 2010, quando foi auxiliado por um forte crescimento, de 6,9%, nas exportações do primeiro trimestre. No entanto, devido a um aumento significativo no custo dos empréstimos e recapitalização bancária, a Irlanda aceitou de euros do programa de assistência da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de empréstimos bilaterais do Reino Unido, Suécia e Dinamarca. Algumas previsões estimam que a Irlanda irá crescer 0,9% em 2011 e 2,2% em 2012. Embora as corporações multinacionais dominem setor de exportações da Irlanda, esse setor econômico contribui significativamente para a renda nacional. O país é um dos maiores exportadores de produtos farmacêuticos, "softwares" e serviços relacionados no mundo, além de ser o sétimo maior produtor de concentrados de zinco e o décimo segundo maior produtor de concentrados de chumbo. O país também tem depósitos significativos de gipsita, calcário e quantidades menores de cobre, prata, ouro, barita e dolomita. Outras exportações incluem produtos agro-alimentares, gado, carne, produtos lácteos e alumínio. As principais importações da Irlanda incluem equipamentos de informática, produtos químicos, petróleo e produtos petrolíferos, têxteis e vestuário. A diferença entre as exportações (€ 89,4 bilhões) e importações (€ 45,5 bilhões) resultou em um superávit comercial anual de € 43,9 bilhões em 2010, o maior superávit comercial em relação ao PIB alcançado por qualquer Estado-membro da UE. A UE é de longe o parceiro comercial mais importante do país, respondendo por 57,9% das exportações e 60,7% das importações irlandesas. O Reino Unido é o parceiro comercial mais importante no âmbito da UE, respondendo por 15,4% das exportações e 32,1% das importações. Fora da UE, os Estados Unidos responderam por 23,2% das exportações e 14,1% das importações em 2010. Infraestrutura. Saúde. O Ministro da Saúde tem a responsabilidade de definir a política geral do serviço de saúde. Toda pessoa física residente na Irlanda tem o direito de receber cuidados de saúde através do sistema público de saúde, que é gerido pelo Serviço Executivo de Saúde e financiado por impostos gerais. Uma pessoa pode ser obrigada a pagar uma taxa subsidiada pela assistência médica recebida, o que depende de fatores como renda, idade, tipo de doença ou incapacidade. Todos os serviços de maternidade são fornecidos gratuitamente para crianças com idade de até 6 meses. Cuidados de emergência são fornecidos gratuitamente para qualquer pessoa admitida através dos serviços de urgência. No entanto, aos visitantes dos departamentos de Acidente e Emergência, em situações não emergenciais que não são referidas pelo médico da família, pode incorrer uma taxa de € 100. Em algumas circunstâncias essa taxa não é paga ou pode ser dispensada. Qualquer pessoa que tenha um Cartão Europeu de Seguro de Doença tem o direito de livre manutenção e tratamento em leitos públicos no sistema público de saúde e em hospitais privados. Serviços ambulatoriais também são fornecidas gratuitamente. No entanto, a maioria dos pacientes com renda média ou acima são obrigados a pagar as despesas hospitalares subsidiadas. Os seguros privados de saúde estão disponíveis à população para aqueles que querem usar esse tipo de serviço. A expectativa de vida na Irlanda é 79,2 anos, sendo 76,8 anos para os homens e 81,6 anos para as mulheres. O país tem a maior taxa de natalidade na União Europeia (16,8 nascimentos por habitantes, contra uma média europeia de 10,7) e uma taxa de mortalidade infantil muito baixa (3,5 por nascidos vivos). Educação. A Irlanda tem três níveis de ensino: primário, secundário e superior. Os sistemas de ensino estão, em grande parte, sob a orientação do governo através do Ministro da Educação e Habilidades. Escolas primárias e secundárias reconhecidas devem aderir ao currículo estabelecido pelos órgãos competentes. O ensino é obrigatório entre as idades de 6 e 15 anos e todas as crianças até a idade de 18 anos devem completar os três primeiros anos do ensino secundário, incluindo uma sessão do exame de "Certificado Júnior". Há aproximadamente escolas primárias na Irlanda. A grande maioria (92%) estão sob o patrocínio da Igreja Católica. As escolas mantidas por organizações religiosas, mas que recebem dinheiro público e reconhecimento, não podem discriminar alunos com base na religião ou a ausência dela. Existe um sistema sancionado de preferência, onde os alunos de uma determinada religião podem ser aceitos diante daqueles que não compartilham os princípios da escola, num caso em que a cota de uma escola já foi atingida. No ensino superior, cerca de 37% da população da Irlanda tem uma graduação, índice que está entre os maiores percentuais no mundo. O "Leaving Certificate", que é aplicado após dois anos de estudo, é o exame final do sistema de ensino secundário. Aqueles que pretendem prosseguir para o ensino superior, normalmente fazem este exame, com acesso a cursos de terceiro nível, geralmente dependendo dos resultados obtidos a partir das seis melhores disciplinas cursadas, numa base competitiva. Prêmios de terceiro nível de educação são conferidos por mais de 38 instituições de ensino superior, incluindo a "University College Dublin"', a Universidade de Dublin, o Instituto de Tecnologia de Dublin, a Universidade Nacional da Irlanda, o Instituto de Tecnologia de Cork, o Instituto de Tecnologia de Waterford e a Universidade de Limerick. Estas são as autoridades que conferem o grau de aprovação pelo governo e podem conceder prêmios em todos os níveis acadêmicos. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), atualmente classifica a educação da Irlanda como a 20ª melhor do mundo entre os países participantes em áreas como ciência, sendo significativamente maior do que a média da OCDE. Em 2006, os estudantes irlandeses com quinze anos tiveram o segundo maior nível de literacia em leitura na União Europeia. Os níveis de ensino primário, secundário e superior são todos gratuitos na Irlanda para todos os cidadãos da União Europeia. Transportes. Os três principais aeroportos internacionais da República da Irlanda são Dublin, Shannon e Cork, que servem muitas rotas europeias e intercontinentais com voos regulares e fretados. A rota Londres-Dublin é a rota aérea internacional mais movimentada da Europa, sendo que 4,5 milhões de pessoas voaram entre as duas cidades em 2006. A Aer Lingus é a companhia aérea de bandeira irlandesa, embora a Ryanair seja a maior companhia aérea do país. A Ryanair é a maior companhia aérea de baixo custo da Europa, a segunda maior em termos de número de passageiros e a maior do mundo em termos de número de passageiros internacionais. Os serviços de transporte ferroviário são fornecidos pela Iarnród Éireann, que opera todos os serviços ferroviários suburbanos intermunicipais internos e de mercadorias no país. Dublin é o centro da rede com duas estações principais, as estações Heuston e Connolly, que liga a cidades às principais cidades do país. Auto-estradas, estradas nacionais primárias e secundárias são geridas pela Autoridade Nacional de Estradas, enquanto estradas regionais e locais são geridas pelas autoridades locais em cada uma das suas respectivas áreas. A rede rodoviária é focada principalmente na capital, Dublin, mas auto-estradas estão atualmente a serem ampliadas a outras cidades, como parte do programa de investimento "Transporte 21", que pretende expandir significativamente e melhorar a rede de transportes da Irlanda no período entre 2006 e 2015. Por fim, na Irlanda também há serviço de transporte marítimo via balsas oferecido pela Irish Ferries, que conecta o país ao Reino Unido e à França. Cultura. Na cultura irlandesa, destacam-se os escritores Jonathan Swift, Oscar Wilde e James Joyce, para além dos quatro Nobel da Literatura: George Bernard Shaw, W. B. Yeats, Samuel Beckett e Seamus Heaney. Apenas um irlandês ganhou o Nobel da Física, por Ernest Walton, em 1951. Para além desses, também deram contributo William Thompson, importante naturalista, e William Rowan Hamilton, foi um renomado físico e matemático do . Uma das mais lotadas áreas de Dublin é o chamado Temple Bar (a antiga área onde é possível encontrar pessoas de todo o mundo) ou em locais diversos como a moderna Thunder Road Cafe. Na dança destaca-se o Riverdance. O primeiro médico com título nobiliárquico, Sir Hans Sloane, foi um médico irlandês cujo "hobby" era a botânica e cuja colecção é o núcleo do Museu Britânico. O dia nacional é a 17 de março para homenagear o padroeiro da Irlanda: São Patrício, que promoveu o Cristianismo na ilha. Diz-se que expulsou as cobras de todas as partes do território. A harpa, que aparece na crista da província de Leinster e o trevo de três folhas, também são identificados como símbolos da Irlanda. O trevo de três folhas é um símbolo do país, porque é dito que São Patrício o utilizou para explicar a Santíssima Trindade. A cor verde também é a cor mais associada à Irlanda, e está presente na bandeira nacional representando os cristãos da Irlanda. O verdadeiro amor e amizade são selados com o Claddagh Ring. Este anel místico tem a sua origem há 300 anos numa antiga aldeia de pescadores em Claddagh, nos arredores da cidade de Galway, na costa oeste da Irlanda. O anel é entregue como um símbolo de amizade ou como anel de noivado. O dia 26 de dezembro é celebrado com dia de Santo Estevão. A 1 de fevereiro é celebrada a festa céltica Imbolc, a festa da fertilidade da terra e da deusa Brid, a deusa do fogo. Hoje é chamada de festa de Santa Brígida, segundo o padrão do país. Os irlandeses colocam uma imagem de Santa Brígida nos cruzamentos e nas suas casas para evitar incêndios. Outras celebrações pré-cristãs mantêm os seus nomes pagãos em irlandês e são hoje nomes de alguns dos meses do ano: Bealtaine (Maio), comemora o início do Verão, Moon (Agosto) a festa da colheita e Samhain (Novembro), a festa dos mortos e do novo ano. Este último, à semelhança da festa de Todos os Santos. Uma parte da mitologia do povo irlandês na narração arturiana com a princesa irlandesa Isolda de Irlanda (também conhecida como "Isolda, a Justa" e "Isolda, a Bela"), filha de Augusto e Isolda, a Rainha Mãe. É uma das principais personagens do poema "Tristão" de Béroul, Thomas da Grã-Bretanha e Gottfried von Strassburg. Outra das lendas da mitologia da ilha é constituída pelo místico Leprechaun, um rico e sábio duende que caso seja apanhado, ele doa o seu ouro para ser libertado. Literatura. A Irlanda é famosa pelo Book of Kells, também conhecido como o Grande Evangelho de São Columba, que é um manuscrito ilustrado com motivos decorativos, feito por monges célticos até ao ano de 800. A principal peça do cristianismo irlandês e da arte-saxónica irlandesa, é, apesar de estar inacabada, um dos mais sumptuosos manuscritos iluminados que sobreviveram desde a Idade Média. Devido à sua grande beleza e excelente acabamento técnico, este manuscrito é considerado por muitos especialistas como um dos mais importantes vestígios da arte religiosa medieval. Escrito em latim, "o Livro de Kells" contém quatro Evangelhos do Novo Testamento. A poesia irlandesa representa a mais antiga poesia vernácula na Europa. Os primeiros exemplos datam do , e são geralmente pequenas obras de poesia lírica, que abordam questões de carácter religioso ou naturalista. Eram muitas vezes compostas por escribas, à margem dos manuscritos iluminados que eles próprios copiaram. Na Irlanda nasceram escritores como Jonathan Swift, Brendan Behan, Douglas Hyde, Flann O'Brien, Sheridan Le Fanu, Sean O'Casey, George Berkeley, James Joyce, George Bernard Shaw, Richard Brinsley Sheridan, Oliver Goldsmith, Oscar Wilde, Bram Stoker, W. B. Yeats, Samuel Beckett, Seamus Heaney, Herminie T. Kavanagh, Eoin Colfer, C. S. Lewis, Marian Keyes, entre outros. Cinema e música. Existem várias figuras internacionais naturais da Irlanda e que têm triunfado no mundo cinematográfico: Maureen O'Hara, Barry Fitzgerald, George Brent, Arthur Shields, Maureen O'Sullivan, Richard Harris, Peter O'Toole, Pierce Brosnan, Gabriel Byrne, Brendan Gleeson, Colm Meaney, Colin Farrell, Jamie Dornan, Brenda Fricker, Jonathan Rhys Meyers, Stuart Townsend, Cillian Murphy, Liam Neeson, Evanna Lynch e Andrew Scott. Outros nomes, como Neil Jordan e Jim Sheridan, também se notabilizaram no mundo do cinema como directores de produção. Vários filmes foram filmados na Irlanda, tais como "Braveheart", "Excalibur", "P.S. I Love You", "", "Saving Private Ryan" e "Ballykissangel." Também filmes relembram a história do país, como "Michael Collins" baseado na vida do revolucionário irlandês. Os irlandeses interessam-se muito pela música tradicional irlandesa, mas também para a música do , interpretada por Christy Moore, Pat Ingolsbhy, Shane MacGowan e Sinéad O'Connor. Destaca-se também a banda de rock U2, The Cranberries, The Corrs, Bob Geldof, Gary Moore, Thin Lizzy, Horslips, Rory Gallagher, Westlife, Chris de Burgh, Van Morrison, entre muitos outros. De uma forma mais tradicional, a música interpretada por Enya, The Dubliners, Tara Blaise, The Chieftains e Celtic Woman, entre outros, além de James Galway (flautista clássico). O país venceu 7 vezes o Festival Eurovisão da Canção, detendo o recorde de país com mais vitórias no festival. Johnny Logan, cantor irlandês venceu o festival 2 vezes, sendo o único participante que venceu mais de uma vez. Gastronomia. Exemplos de alguns pratos típicos da cozinha irlandesa são o guisado irlandês, e também o toucinho com couve (cozidos juntos). O Boxty é um prato tradicional, que consiste num pastel feito de batata. Em Dublin é muito popular o "coddle", que é feito com linguiça de porco cozida. A Irlanda é famosa pelo seu pequeno-almoço irlandês, que é servido principalmente com carne de porco e pode incluir batata frita. Uma das bebidas mais associadas á Irlanda é o Guinness, que é frequentemente servido em pub's, mas também é popular a "Smithwicks". Esta é uma tradição irlandesa, de se tomar sidra, para além do Whiskey de malte e do café irlandês. Desde 1974, a Irlanda produz um dos mais famosos licores, o Bailey's Irish Cream, que consiste numa mistura de natas com uísque irlandês, que alcoólicas atingem os 17% de volume. Desporto. O futebol é um dos desportos mais praticados e com o maior número de adeptos em toda a Irlanda e tem o seu próprio campeonato nacional, o Irish Football League. A Seleção Irlandesa de Futebol classificou-se em três ocasiões no Campeonato Mundial, obtendo o seu melhor resultado em 1990 onde foi eliminado nos quartos-de-final. Também há muitos adeptos de críquete, destacando a presença da equipa nacional na Copa do Mundo de Críquete de 2007 onde passou a primeira fase, eliminando o Paquistão. Outros desportos de alto perfil no país são o futebol gaélico, o hurling ou Camogie, que são parte integrante da Gaelic Athletic Association. O rugby também é um dos desportos favoritos em que a sua equipa nacional tem conseguido se destacar em prestigiados torneios como o Torneio das Seis Nações. Também notável foi Dave Finlay, famoso lutador da WWE, o antigo campeão mundial de snooker, Ken Doherty, o primeiro campeão dos pesos pesados do boxe, John L. Sullivan, também o campeão do mundo do boxe, Barry McGuigan e Steve Collins ou o primeiro irlandês a vencer a Tour de França, Stephen Roche. Além disso, é de salientar a ex-equipa da , Jordan Grand Prix, que ganhou várias competições mundiais e a realização do Rally da Irlanda em 2007, que fazia parte do World Rally Championship, com uma afluência de público de aproximadamente 200 mil espectadores.
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Ipatinga
Ipatinga Ipatinga é um município brasileiro no interior do estado de Minas Gerais, Região Sudeste do país. Localiza-se no Vale do Rio Doce e pertence à Região Metropolitana do Vale do Aço, estando situado a cerca de a leste da capital do estado. Ocupa uma área de pouco mais de , sendo aproximadamente em área urbana, e sua população em 2022 era de habitantes, posicionando-se então como o mais populoso do Vale do Aço e o décimo primeiro do estado mineiro. A sede do município localiza-se nas proximidades do local em que as águas do rio Piracicaba se encontram com o rio Doce. A exploração da região da atual cidade teve início no século XIX, quando bandeirantes estiveram na região. No entanto, o povoamento só se intensificou entre as décadas de 1910 e de 1920, com a locação da EFVM. Em 1953, houve a criação do distrito, subordinado a Coronel Fabriciano, que na mesma década foi escolhido para sediar o núcleo industrial da Usiminas, acarretando um rápido crescimento populacional por pessoas vindas de várias partes do país. A pedido da empresa foram construídos os primeiros bairros de Ipatinga, destinados a seus trabalhadores, culminando na emancipação em 1964. Paralelo à original "Vila Operária", o crescimento da população não industrial induziu o surgimento de novas divisões sem relação com o núcleo da Usiminas no decorrer da segunda metade do século XX, apesar da indústria ainda representar a principal fonte de renda municipal. A manutenção da atividade industrial na região contribuiu para a formação da Região Metropolitana do Vale do Aço, que corresponde a um dos principais polos urbanos do interior do estado. Ipatinga tem um papel fundamental como empregador para as cidades a seu redor e gera mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) metropolitano. Tradições culturais como o artesanato e o congado das comunidades rurais se fazem presentes no município, bem como atrativos recreativos, a exemplo do Parque Ipanema, do Shopping Vale do Aço e da Usipa. Parte do entretenimento em Ipatinga é fruto de investimentos da Usiminas destinados à comunidade, cabendo ressaltar nesse ponto o Centro Cultural Usiminas, que sedia espetáculos culturais de relevância regional ou mesmo nacional. Etimologia. A origem do nome "Ipatinga" varia conforme a fonte. Uma versão defende que seja um termo da língua tupi que significa "pouso de água limpa". Já segundo Eduardo Navarro em seu "Dicionário de Tupi Antigo" (2013), o nome significa "lagoa clara" ("upaba", lagoa e "tinga", clara). Outra versão afirma que se trata de um arranjo elaborado pelo engenheiro Pedro Nolasco, responsável pelo projeto da Estrada de Ferro Vitória a Minas, aproveitando os elementos "Ipa" (da cidade de Ipanema) e "tinga" (de Caratinga). História. Colonização da região. A exploração da região conhecida inicialmente como "Sertões do Rio Doce" teve início no final do século XVI, em expedições à procura de metais preciosos, no entanto o desbravamento dessas terras foi proibido no começo do século XVII, a fim de evitar contrabando do ouro extraído nas redondezas de Diamantina. O povoamento foi liberado em 1755 e no século XIX, durante mandato de Dom Pedro I do Brasil, bandeirantes estiveram na região, onde constataram a presença de indígenas. Ainda assim, até o século XX a área de Ipatinga não reportou uma significativa colonização. Por volta de 1920, já existiam pequenos núcleos habitacionais nos atuais bairros Barra Alegre, Ipaneminha, Taúbas e Bom Jardim, frutos de apossamentos de terras ou, no caso do Ipaneminha, pontos de parada de uma estrada por onde passavam tropeiros rumo a Ouro Preto e Diamantina. A locação da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) pelo leste mineiro, no entanto, vinha estimulando o desenvolvimento populacional nas áreas próximas das margens dos rios Doce e Piracicaba, assim como viria a ocorrer na região do Vale do Aço. Em 1º de agosto de 1922, foi inaugurada a Estação Pedra Mole, próxima ao atual bairro Cariru, e no mesmo ano foi construída a Estação Nossa Senhora, onde surgiu o povoado de Córrego de Nossa Senhora ou Horto de Nossa Senhora, no atual bairro Horto. Nesse local, foi criada a primeira farmácia da atual Região Metropolitana do Vale do Aço, pelo farmacêutico (e futuro político) Raimundo Alves de Carvalho. A Estação Pedra Mole foi desativada poucos anos depois de sua inauguração, devido a uma alteração no traçado da EFVM, e um novo terminal foi construído no atual Centro de Ipatinga. Em 1924, houve a fundação da Estação do Calado, em Coronel Fabriciano, onde se instalou a Companha Siderúrgica Belgo-Mineira na década de 1930. Vastas áreas foram adquiridas com objetivo de centralizar a extração de madeira da empresa pela região, visando a alimentar seus fornos em João Monlevade. Todavia, apenas Coronel Fabriciano experimentou um desenvolvimento populacional e urbano entre as décadas de 30 e 40, intensificado com a instalação da Acesita em 1944, culminando em sua emancipação do município de Antônio Dias em 1948. Pela Lei nº 1.039, de 12 de dezembro de 1953, o povoado de Ipatinga foi elevado a distrito de Fabriciano. A presença das carvoarias da Belgo-Mineira e da Acesita incentivou o fluxo comercial da localidade, que também foi beneficiada pela construção da Usina Hidrelétrica de Salto Grande, situada no município de Braúnas. O maquinário destinado às obras desse complexo era descarregado no povoamento, onde era armazenado e aos poucos transportado até a barragem. Mesmo assim, o distrito de Ipatinga atraiu pouca atenção da sede até o final da década de 1950. Até então, suas principais atividades econômicas ainda foram ligadas à agricultura e à pecuária. Expansão econômica e siderúrgica. Em 1956, uma comissão japonesa visitou o então distrito de Ipatinga, sendo escolhido como sede da instalação da Usiminas. Para essa decisão, foram levados em conta a topografia apropriada, pequena distância entre as fontes de matéria prima e os centros consumidores, disponibilidade de recursos hídricos, abundância de energia elétrica, malha ferroviária local e proximidade com outros centros siderúrgicos. Com as notícias da construção da siderúrgica que se instalaria na região, foi grande a chegada de novos moradores, antes de sua instalação. Isso aumentou a necessidade de um planejamento urbano para a cidade. Com a instalação da Usiminas em Ipatinga, houve a construção de bairros inteiros destinados a servir de abrigo aos seus trabalhadores, sendo o Horto o primeiro deles. Até essa ocasião, o povoamento contava com cerca de 60 casas e 300 habitantes. A elaboração do primeiro plano urbanístico da atual cidade, então chamada de Vila Operária, projetado pelo arquiteto Raphael Hardy Filho em 1958, possibilitou a locação dos primeiros bairros do atual município. Os conjuntos habitacionais da antiga Vila Operária encontram-se localizados entre o rio Piracicaba e a usina e foram distribuídos de acordo com a hierarquia da empresa, distinguindo-se entre engenheiros, técnicos, operários e chefes. A Usiminas entrou em operação em 26 de outubro de 1962, após o então presidente do Brasil João Goulart acender o alto-forno pela primeira vez, permitindo a primeira corrida de gusa. Contudo, os investimentos do Estado, responsável por 55% do capital estatal da Usiminas — outros 5% pertenciam a empresários nacionais e 40% a japoneses —, restringiam-se aos arredores da empresa e pouco levavam em consideração o município de Coronel Fabriciano como um todo, cuja administração havia isentado a Usiminas de impostos. Além disso, a infraestrutura disponibilizada pela empresa se mostrava insuficiente para atender à demanda de operários da região ou que vinham de diferentes áreas do Brasil à procura de trabalho, tampouco àqueles que não se empregavam na indústria. Em Ipatinga, os alojamentos se tornaram poucos e os índices de violência eram elevados. Conflitos urbanos e emancipação. Protestos de trabalhadores da Usiminas contra as más condições de moradia e trabalho, além de agravantes como a humilhação que sofriam ao serem revistados antes de entrar e sair da empresa, reforçaram a opressão de tropas militares sob ordens do governador mineiro José de Magalhães Pinto. Em 7 de outubro de 1963, cerca de seis mil trabalhadores em greve à frente da portaria da empresa foram alvo de 19 soldados no alto de um caminhão que puseram-se a disparar contra os operários. O episódio, conhecido como Massacre de Ipatinga, resultou oficialmente em oito mortes e 79 feridos, apesar de tais números sempre ter sido contestados. Houve, nos meses seguintes ao massacre, aumentos salariais, a substituição do quadro de vigilantes e a condenação dos soldados envolvidos em agressões e no massacre. O Golpe de Estado no Brasil em 1964, no entanto, derrubava o então presidente e sindicalista João Goulart, dando início ao regime militar brasileiro. Isso culminou na prisão de sindicalistas e líderes de movimentos trabalhistas locais e na absorção dos policiais envolvidos. A construção dos conjuntos habitacionais também foi intensificada no decorrer da década de 1960. Anteriormente ao massacre, já existia um ressentimento de insatisfação da população de Ipatinga com a administração de Coronel Fabriciano, devido à distância até a sede municipal e à relativa sensação de isolamento, o que levou à formação de uma comissão pró-emancipação do então distrito em 1962. Assim como ocorreu com o distrito de Timóteo, o desmembramento de Ipatinga chegou a ser aprovado pela Câmara Municipal de Coronel Fabriciano e efetivado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) mediante a lei estadual nº 2.764, de 30 de dezembro de 1962, mas foi vetado pelo governador Magalhães Pinto sob influência de uma aliança política com o então prefeito fabricianense Cyro Cotta Poggiali. A prefeitura de Fabriciano não queria perder a renda originada pela Acesita (em Timóteo) e Usiminas e o governador afirmava que pretendia manter uma unidade política, administrativa, econômica e financeira desse polo siderúrgico. Havia cerca de 20 mil habitantes no distrito em 1962. Sob influência do massacre de 1963 e de uma quebra de aliança entre o prefeito fabricianense e Magalhães Pinto, no entanto, uma nova comissão conseguiu a aprovação da emancipação de Ipatinga pela Secretaria de Interior do estado em 28 de abril de 1964. No mesmo processo também houve a emancipação do distrito de Timóteo, desmembrado de Coronel Fabriciano, além de João Monlevade e Bela Vista de Minas. A notícia da independência de Ipatinga e Timóteo foi anunciada em um palco montado no Centro de Fabriciano por volta do meio-dia da mesma data, sendo oficializada com a publicação no Diário Oficial do dia seguinte, 29 de abril. José Orozimbo da Silva foi empossado como intendente, sendo posteriormente substituído por Délio Baêta Costa, porém Fernando Santos Coura foi o primeiro prefeito eleito e veio a assumir o cargo em 4 de dezembro de 1965. Consolidação urbana. Até 1967, encontravam-se implantados na Vila Operária os bairros Amaro Lanari, Bom Retiro, Cariru, Castelo, Horto, Imbaúbas e Vila Ipanema. Dentre outros bens infraestruturais básicos, foram construídos o Colégio São Francisco Xavier (1962) e o Hospital Márcio Cunha (1967). Ainda sob influência do massacre de 1963, a Usiminas adotou a partir da década de 1960 ações de recursos humanos e políticas de assistência social, tendo em vista que ser empregado na siderúrgica era garantia de acesso à habitação, infraestrutura e saúde. Com objetivo de controlar a compra e venda de residências e terrenos e evitar que características originais do projeto da cidade original fossem rompidas, Rafael Hardy Filho criou um plano habitacional em 1965, no qual fora definido que qualquer obra que fosse realizada nos complexos residenciais devia receber a aprovação de um Departamento de Habitação e Urbanismo da empresa. Entre as décadas de 70 e 80, foram construídos cemitérios, salas de cinema, fundações culturais e teatrais, o terminal rodoviário e o Ipatingão. Paralelo à original Vila Operária, o crescimento da população não industrial induziu o surgimento de novas divisões sem relação com a empresa, em especial na periferia da cidade, no decorrer da segunda metade do século XX. O crescimento desordenado, aliado às condições naturais, proporcionou tragédias da natureza das enchentes de 1979. Em fevereiro daquele ano, enchentes, quedas de pontes e barreiras deixaram a cidade isolada após dias seguidos de chuvas intensas que atingiram toda a bacia do rio Doce. Somente em Ipatinga as chuvas deixaram cerca de 10 mil desabrigados e 42 mortos, grande parte no deslizamento da chamada grota do Iapi, local situado entre os atuais bairros Cidade Nobre e Esperança. A Avenida 28 de Abril (antiga Rua do Comércio ou Rua do Buraco), no Centro de Ipatinga, também ficou inundada durante as chuvas de 1979. A via é outro exemplo onde o desenvolvimento ocorreu de forma desorganizada e com uma considerável presença de cortiços, fazendo com que a área configurasse como uma zona de altos índices de violência e prostituição, além dos problemas com enchentes. No começo da década de 1990, a efervescência da atividade comercial incentivou a estruturação dessa região, com parte de sua população sendo remanejada para casas populares. Mesmo com a concretização de projetos habitacionais, de regularização fundiária e de aquisição de lotes, a presença de aglomerados subnormais em Ipatinga ainda é relevante entre as décadas de 2000 e 2010, posicionando a cidade entre as maiores porcentagens de habitantes vivendo em favelas no estado de Minas Gerais. A privatização da Usiminas, no início da década de 90, ajudou a desvincular a administração pública com foco à empresa para priorizar a cidade como um todo. O Plano Diretor Municipal, elaborado em 1991, enaltece as metas de "evidenciar a história da cidade e dos espaços, propor formas de integrá-la no seu cotidiano, permitir a criação de referências coletivas e o reconhecimento e apropriação da cidade pela população". Após sua privatização, a empresa intensificou os investimentos em arte e equipamentos culturais com objetivo de manter sua credibilidade frente aos acontecimentos no passado, como exemplo a fundação do Teatro Zélia Olguin em 1994 e do Centro Cultural Usiminas em 1998. Ser fichado na Usiminas também era garantia de acompanhamento odontológico gratuito a toda a família, o que fez com que Ipatinga registrasse um índice de 0,3 problemas com dentes cariados, perdidos ou obturados por habitante segundo informações de 2001, frente a médias de 4,9 do Brasil e 1,2 da Finlândia (país com o menor índice do mundo de acordo com a ONU). Seus funcionários arrecadavam 10% do capital da empresa com direito a participação nos lucros. Em 2002, investimentos de recursos do município, dos governos federal e estadual e da Usiminas tornaram Ipatinga em uma das primeiras cidades de seu porte na América Latina a ter 100% de suas águas residuais tratadas. História recente. Ipatinga e o Vale do Aço iniciam o século XXI com destaque à vocação industrial já conhecida, mas com setores de comércio e prestação de serviços em desenvolvimento, caracterizando-se como polo regional para vários municípios do leste de Minas. Pesquisas econômicas recorrentemente citam Ipatinga, como a que foi realizada pelo SEBRAE, apontando quais as melhores cidades de cada estado para se abrir um negócio em 2012, e os 100 melhores municípios do Brasil para investir em imóveis em 2015. Em 2016, figurou na 48ª posição dentre as cidades mais inteligentes do Brasil, segundo o "ranking" da Bloomberg Philanthropies que pontua inovações em projetos das administrações públicas que visem a sanar problemas sociais. Sob os reflexos da Grande Recessão global que teve início em 2008, no entanto, houve uma relevante diminuição da demanda por aço e posteriormente de sua produção em todo o Brasil, a exemplo do Vale do Aço. Registra-se a partir de então uma considerável queda da população industrial local em função do fechamento de postos de trabalho e cortes de investimentos, com impactos diretos nos setores de serviços e comércio. Geografia. A área do município é de , representando 0,0282% do território mineiro, 0,0179% da área da região Sudeste do Brasil e 0,0019% de todo o território brasileiro. Desse total estão em área urbana. De acordo com a divisão regional vigente desde 2017, instituída pelo IBGE, o município pertence às Regiões Geográficas Intermediária e Imediata de Ipatinga. Até então, com a vigência das divisões em microrregiões e mesorregiões, fazia parte da microrregião de Ipatinga, que por sua vez estava incluída na mesorregião do Vale do Rio Doce. Relevo e hidrografia. Ipatinga está inserida na depressão interplanáltica do Vale do Rio Doce, cujo relevo é resultado de uma dissecação fluvial atuante nas rochas granito-gnáissicas do período Pré-Cambriano. O conjunto apresenta rochas do complexo gnáissico-magmático-metamórfico, que incluem biotita-gnaisse, rochas graníticas e granito-gnaisse. O relevo é heterogêneo, sendo 55% do território ipatinguense plano, enquanto que 30% são de terras onduladas e nos 15% restantes os terrenos são montanhosos. As maiores elevações podem ser encontradas a noroeste, na região dos maciços da Serra dos Cocais, onde a altitude chega aos metros. Por outro lado, as menores altitudes são notadas nas margens dos rios, ao passo que a altitude mínima, de 235 metros, está localizada na foz do rio Piracicaba no rio Doce. A posição do rio Piracicaba e o relevo plano em suas proximidades serviram como pretexto para a instalação da Estrada de Ferro Vitória a Minas e da Usiminas e, posteriormente, para o estabelecimento do perímetro urbano de Ipatinga, que foi forçado a se expandir em direção às altitudes mais elevadas. Dessa forma, é considerável a ocupação e o surgimento de bairros, em especial de classes baixas, em áreas com forte declividade. O município se encontra na bacia do rio Doce e é abrangido pela sub-bacia do rio Piracicaba. A foz do rio Piracicaba no rio Doce se encontra próxima ao bairro Cariru, na divisa com Timóteo. No subsolo, abaixo da foz do rio Piracicaba, está localizado um aquífero aluvionar, que é de onde é extraída a água utilizada para o suprimento da maior parte do Vale do Aço. De forma geral, a principal sub-bacia contida no território municipal é a do ribeirão Ipanema, que tem cerca de e cujo curso principal corta a cidade antes de alcançar sua foz no rio Doce, após percorrer . Além do ribeirão Ipanema, outros cursos hídricos da zona urbana são os córregos Bom Jardim, Forquilha, Madalena, Novo, Pedra Branca, Taúbas e Vaga-lume. A zona rural municipal, no entanto, abriga muitos pequenos cursos hidrográficos e mais de 320 nascentes. Municípios limítrofes e região metropolitana. Ipatinga faz limites com Mesquita e Santana do Paraíso a norte, Caratinga a leste, Timóteo a sul e Coronel Fabriciano a oeste. O intenso crescimento da região tem tornado inefetivas as fronteiras políticas entre seus municípios, formando-se a Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), envolvendo Ipatinga juntamente com as cidades de Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso e Timóteo, além dos outros 24 municípios que fazem parte do chamado colar metropolitano. O município, como sede da Usiminas e outras empresas metal-mecânicas, tem um papel fundamental como empregador para as cidades a seu redor e em 2011, gerava 68,9% do Produto Interno Bruto (PIB) metropolitano. A região se tornou conhecida internacionalmente em virtude das grandes empresas que sedia, a exemplo da Cenibra (em Belo Oriente), Aperam South America (em Timóteo) e Usiminas (Ipatinga), todas com um considerável volume de produtos exportados, e apesar de seu povoamento recente, corresponde a um dos principais polos urbanos do interior do estado. Clima. O clima ipatinguense é caracterizado como tropical quente semiúmido (tipo "Aw" segundo Köppen), com temperatura média compensada anual de e pluviosidade média de , concentrados entre os meses de outubro e abril. A estação chuvosa compreende os meses mais quentes, enquanto que a estação seca abrange os meses mornos. Outono e primavera, por sua vez, são estações de transição. A passagem entre os períodos seco e chuvoso é marcada por tempestades e amplitude térmica elevada, sobretudo entre o fim do inverno e a primavera. As precipitações caem principalmente sob a forma de chuva e, esporadicamente, de granizo, com registro desse fenômeno em 4 de setembro de 2006 e 17 de dezembro de 2012. As chuvas podem ainda vir acompanhadas de descargas elétricas e fortes rajadas de vento. De acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (ELAT/INPE) em 2018, o município apresenta uma densidade de descargas de 2,947 raios por km²/ano, estando na 278ª posição a nível estadual e na ª a nível nacional. Com mais de horas de insolação por ano, a umidade do ar média anual é de 84%, contudo baixos índices de umidade podem ser registrados durante a estação seca ou em longos veranicos. Nesses períodos, o ar seco em associação à poluição favorece a concentração de poluentes na atmosfera, contribuindo com a piora da qualidade do ar. Nevoeiros ocorrem quando há combinação de alta umidade e baixas temperaturas. O vento dominante é originado na direção leste e, no período mais ventoso do ano, entre os dias 3 de agosto e 6 de dezembro, a velocidade média é de 10,6 quilômetros, tendo uma ligeira concentração entre setembro e outubro. Na época mais calma, de março a junho, a velocidade média varia entre 8 e 9 quilômetros por hora. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), referentes aos períodos de 1961 a 1962, 1979 a 1983, 1985 a 1988, 1990 e 1992 a 2005, a temperatura mínima absoluta registrada em Ipatinga, na antiga estação meteorológica da Usiminas, foi de em 1º de junho de 1979 e a maior atingiu em 29 de novembro de 1993. O menor índice de umidade relativa do ar foi de 21% em 21 de novembro de 1982. O maior acumulado de precipitação em 24 horas, por sua vez, foi de milímetros (mm) em 14 de novembro de 1981. Outros grandes acumulados (completando os cinco maiores) foram em 16 de dezembro de 1988, em 20 de novembro de 1998, em 20 de março de 1979 e em 10 de dezembro de 1980. Medições da Usiminas posteriores a este período registraram máxima recorde de em 31 de outubro de 2012 e umidade mínima absoluta de 16% em 10 de setembro de 2012. Ecologia e meio ambiente. A vegetação nativa pertence ao domínio florestal Atlântico (Mata Atlântica), restando poucas regiões fragmentadas em meio a áreas reflorestadas, pastagens e ao perímetro urbano. A monocultura de reflorestamento com eucalipto, no entanto, apresenta uma considerável relevância e ocupa área maior que o bioma original, tendo como finalidade a produção de matéria-prima para a fábrica de celulose da Cenibra, localizada em Belo Oriente. Em 2009, os plantios de eucalipto ocupavam hectares ou 18,36% do território de Ipatinga. Nesse mesmo ano, hectares (0,31%) eram cobertos por cursos hídricos e hectares (19,82%) eram áreas urbanizadas. Em 2014, as plantações de eucalipto ocupavam (19,5% da área do município), enquanto que a Mata Atlântica nativa abrangia (3,65% da área total). Ipatinga conta com uma área de proteção ambiental (APA) e duas reservas particulares do patrimônio natural (RPPN), que aliadas a áreas de preservação vizinhas, como a Serra dos Cocais em Coronel Fabriciano e a APA de Santana do Paraíso, constituem um corredor ecológico até o Parque Estadual do Rio Doce (PERD), que por sua vez faz limite com o município e é considerado o maior remanescente de Mata Atlântica de Minas Gerais e um dos principais sistemas lacustres do estado. Parte das áreas de preservação locais, no entanto, é usada para pastagens ou cultivo de eucalipto. A APA Ipanema, como é denominada, foi criada em 1997 e abriga remanescentes de Mata Atlântica que atuam como mata ciliar para a região da nascente do ribeirão Ipanema e de outros cursos hidrográficos menores. As RPPNs Fazenda Córrego da Bucaina e Sítio do Zaca são propriedades particulares, mas ambas têm registro em âmbito estadual como áreas de conservação. O município administra cinco parques municipais, sendo eles: Ipanema, Samambaias, Parque das Montanhas, Parque Ecológico das Águas e Parque da União. Dentre esses se destaca o Parque Ipanema, que é a maior área verde urbana de Minas Gerais, com cerca de 1 milhão de m². O Parque Municipal Samambaia, que está situado no bairro Bom Jardim e foi criado em 2000, possui um lago e um remanescente de Mata Atlântica. Também em 2000, houve a criação do Parque da União, localizado no Veneza. Os demais tiveram suas demarcações pelo Plano Diretor Municipal em 2014. A prefeitura também mantém um viveiro municipal, onde são cultivadas as mudas frutíferas, ornamentais, arbóreas e medicinais utilizadas nos logradouros ou que podem ser adquiridas pela população. O Centro de Biodiversidade da Usipa (CEBUS), que é administrado sob intermédio da Usiminas, conta com um mini-jardim zoológico, um viveiro de mudas e uma área de conservação, atendendo às escolas e à comunidade da região com visitas, atividades ecológicas e dinâmicas. Ipatinga é considerada uma das cidades mais arborizadas do Brasil, contando com mais de de área verde por habitante. Segundo a prefeitura, havia cerca de 100 mil árvores plantadas em áreas públicas da cidade em 2014, com presença de espécies típicas locais, como mognos, pinheiros, palmeiras, cajás, mangueiras, goiabeiras e o ipê-amarelo. No mesmo ano, existiam de áreas gramadas em praças e parques, de jardins e cerca de 100 praças públicas e áreas verdes, os quais são ornamentados com aproximadamente 20 espécies típicas, dentre elas: trapoeraba-roxa, clorofito, "coleus", "erica", ixora, onze-horas, vinca e margarida-branca. Sabiá-laranjeira, sanhaço, tico-tico, rolinha, saíra e bem-te-vi são aves típicas da fauna local, ao passo que animais silvestres podem ser encontrados sobretudo em áreas de florestas remanescentes, a exemplo de gato-do-mato, tatu, paca, raposa e rato silvestre. Problemas ambientais. Alguns dos principais problemas ambientais que a cidade sofre são as enchentes, que no período chuvoso provocam grandes estragos nas áreas mais baixas e populosas, e os deslizamentos de terra nos morros e encostas. Existem pontos com deficiências de drenagem, impedindo o devido escoamento da água das chuvas em direção aos cursos hidrográficos. Entretanto, as áreas de risco de escorregamentos de encostas no município são proporcionalmente pequenas em relação à extensão do perímetro urbano, levando em consideração que o relevo da zona urbana é relativamente menos acidentado e que grandes parcelas do território municipal são administradas pela Usiminas. Mesmo assim há um Plano de Risco Municipal a fim de identificar áreas propícias a sofrerem danos. As queimadas florestais destroem a mata nativa, comprometendo a qualidade do solo e prejudicando ainda a qualidade do ar, sendo que a cidade também é afetada pela poluição atmosférica gerada nas usinas do Vale do Aço. Ipatinga conta com painéis de qualidade do ar instalados em alguns bairros, com objetivo de informar o índice de poluição. A poluição hídrica se mostra amenizada pela existência de estações de tratamento de águas residuais da Copasa e da Usiminas, que atendem a mais de 99% da população. A poluição visual, por sua vez, é intensa em diversos locais do perímetro urbano, sendo considerável a presença de cartazes com anúncios fixados sem controle em orelhões, postes e placas, situação que é agravada pelas pichações em muros e portões de casas e lojas. Demografia. Em 2022, a população foi estimada em habitantes pelo censo daquele ano, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que representa uma queda em relação a 2010, quando foram contabilizados moradores. Segundo o censo de 2010, habitantes eram homens (48,53%) e habitantes mulheres (51,47%). Ainda segundo o mesmo censo, habitantes viviam na zona urbana e na zona rural. Da população total em 2010, habitantes (21,85%) tinham menos de 15 anos de idade, habitantes (71,89%) tinham de 15 a 64 anos e pessoas (6,26%) possuíam mais de 65 anos, sendo que a esperança de vida ao nascer era de 76,9 anos e a taxa de fecundidade total por mulher era de 1,6. Havia habitantes no distrito-sede (62,15% da população municipal), enquanto que o distrito Barra Alegre possuía residentes (37,85%). Segundo o IBGE em 2020, Ipatinga é considerada uma capital regional na hierarquia urbana brasileira, ao exercer influência econômica e de prestação de serviços preponderante sobre um arranjo populacional que abrange outros nove municípios: Belo Oriente, Bugre, Coronel Fabriciano, Ipaba, Jaguaraçu, Marliéria, Naque, Santana do Paraíso e Timóteo. Esse conjunto, por sua vez, gera relações de atração e deslocamento com cidades maiores, a exemplo de Belo Horizonte. Indicadores e desigualdade. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de Ipatinga é considerado alto pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), sendo que seu valor é de 0,771 (o 220º maior do Brasil e o 16° maior de Minas Gerais). A cidade possui a maioria dos indicadores próximos à média nacional segundo o PNUD. Considerando-se apenas o índice de educação o valor é de 0,705, o valor do índice de longevidade é de 0,864 e o de renda é de 0,752. De 2000 a 2010, a proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo reduziu em 61,6% e em 2010, 93,5% da população vivia acima da linha de pobreza, 4,7% encontrava-se na linha da pobreza e 1,7% estava abaixo e o coeficiente de Gini, que mede a desigualdade social, era de 0,524, sendo que 1,00 é o pior número e 0,00 é o melhor. A participação dos 20% da população mais rica da cidade no rendimento total municipal era de 57,0%, ou seja, 14,1 vezes superior à dos 20% mais pobres, que era de 4,0%. No mesmo ano, segundo a Fundação Gorceix, havia um déficit de domicílios, enquanto que imóveis estavam desocupados. Em 2010, Ipatinga possuía a 15ª maior porcentagem de residências em aglomerados subnormais dentre os municípios mineiros, com 4,9% de seus domicílios situados em favelas, englobando habitantes. Nesse ano, havia oito locais identificados como aglomerados subnormais pelo IBGE. Mesmo com a construção de conjuntos habitacionais planejados para abrigar a população industrial na ocasião da instalação da Usiminas, a presença de favelas se deve à ocupação do solo sem controle pela população atraída pelo progresso local. Apesar da parcela relativamente alta, o município apresenta taxas menores de residências em aglomerados subnormais que Coronel Fabriciano (19,7%, primeiro colocado do estado) e Timóteo (14,8%, quarto colocado), onde o desenvolvimento das favelas tem relação com crescimento desordenado em função da presença das indústrias locais. Também cabe ressaltar que o percentual de habitações em favelas em Ipatinga apresentou redução em relação a 2000, quando o índice era de 8,74%. Projetos habitacionais, de regularização fundiária e de aquisição de lotes contribuem para a melhoria da gestão de políticas a respeito. Etnias e religião. Em 2010, a população era composta por brancos (41,04%), negros (8,26%), amarelos (0,80%), pardos (49,79%) e 301 indígenas (0,13%). Considerando-se a região de nascimento, eram nascidos no Sudeste (97,64%), 525 na Região Norte (0,22%), no Nordeste (1,31%), 321 no Centro-Oeste (0,31%) e 582 no Sul (0,24%). habitantes eram naturais de Minas Gerais (94,23%) e, desse total, eram nascidos em Ipatinga (50,45%). Entre os naturais de outras unidades da federação, Espírito Santo era o estado com maior presença, com pessoas (1,40%), seguido por São Paulo, com residentes (1,16%), e pelo Rio de Janeiro, com habitantes residentes no município (0,85%). De acordo com dados do censo de 2010 realizado pelo IBGE, a população municipal está composta por: católicos (47,09%), evangélicos (40,17%), pessoas sem religião (9,70%) e os 3,04% estão divididos entre outras religiões. O município faz parte da Região Pastoral III da Diocese de Itabira-Fabriciano e está dividido em um total de 10 paróquias, sendo elas: Cristo Libertador, Cristo Rei, Cristo Redentor, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Esperança, Sagrada Família, Sagrado Coração de Jesus, São Geraldo Magela, São Pedro e Senhor do Bonfim. Política e administração. A administração municipal se dá pelos Poderes Executivo e Legislativo. O Executivo é exercido pelo prefeito, auxiliado pelo seu gabinete de secretários. O primeiro representante do Poder Executivo do município foi José Orozimbo da Silva, nomeado como intendente pelo governador José de Magalhães Pinto após a emancipação política, no entanto Fernando Santos Coura foi o primeiro prefeito eleito, tendo assumido o cargo em 4 de dezembro de 1965. O prefeito que venceu as eleições municipais de 2020 foi Gustavo Morais Nunes, eleito pelo Partido Social Liberal (PSL) com 40,90% dos votos válidos ao lado de Alexsandro Espirito Santo Oliveira (PSL) como vice-prefeito. O Poder Legislativo, por sua vez, é constituído pela câmara, composta por dezenove vereadores. Cabe à casa elaborar e votar leis fundamentais à administração e ao Executivo, especialmente o orçamento participativo (lei de diretrizes orçamentárias). Em complementação ao processo Legislativo e ao trabalho das secretarias, existem também conselhos municipais em atividade, entre os quais direitos da criança e do adolescente (criado em 1995), tutelar (2008), direitos do idoso (2000), direitos da pessoa com deficiência (2007) e políticas para mulheres (2005). Ipatinga se rege por sua lei orgânica, promulgada em 1º de maio de 1990, e abriga uma comarca do Poder Judiciário estadual, de entrância especial, que funciona no Fórum Doutora Valéria Vieira Alves e tem como termos os municípios de Ipaba e Santana do Paraíso. O município possuía, em novembro de 2020, eleitores, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que representa 1,097% do eleitorado mineiro. Subdivisões. Em 2010, Ipatinga era composta por 35 bairros oficiais distribuídos entre suas nove regionais. Segundo o IBGE, o bairro mais populoso era o Canaã, reunindo habitantes. Os bairros das regionais V, VII, VIII e IX, além do Cidade Nobre (Regional III) e Taúbas (Regional VI), formam o distrito Barra Alegre, que possui , enquanto que os demais fazem parte do distrito-sede, que abrange . O bairro com a maior área é o Ipaneminha (), sendo que a Regional IX, na qual está situado, compõe a zona rural ipatinguense. A atual divisão de Ipatinga segue uma legislação de 1980 e, apesar de ser o município mais populoso da Região Metropolitana do Vale do Aço, é o que possui a menor quantidade de bairros dentre as três principais cidades (aquém de Coronel Fabriciano e Timóteo). Nota-se que é relativamente pequena a disponibilidade de áreas para a expansão do perímetro urbano de Ipatinga, o que pode ser refletido na densidade demográfica elevada e na desaceleração do crescimento populacional a partir da década de 1990. Com o esgotamento imobiliário na cidade os investidores passaram a utilizar as regiões limítrofes ao perímetro urbano de Ipatinga no município de Santana do Paraíso, onde existem grandes áreas propícias a receber investimentos imobiliários ao mesmo tempo de situarem-se próximas à região do Centro de Ipatinga e ao complexo da Usiminas, gerando uma grande quantidade de loteamentos e novas construções no território vizinho e posteriormente uma conurbação entre as duas cidades. Economia. No Produto Interno Bruto (PIB) de Ipatinga, destaca-se o setor industrial. De acordo com dados do IBGE, relativos a 2020, o PIB a preços recorrentes do município era de R$ . eram de impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes e o PIB "per capita" era de R$ . Em 2010, 65,23% da população maior de 18 anos era economicamente ativa, enquanto que a taxa de desocupação era de 8,77%. Cabe ressaltar, no entanto, que em 2010, cerca de 10% da população se deslocava para outro município para trabalhar, dadas a proximidade e o fácil acesso aos demais municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço. Em 2014, salários juntamente com outras remunerações somavam reais e o salário médio mensal de todo município era de 2,8 salários mínimos. Havia unidades locais e empresas atuantes. Segundo o IBGE, 49,92% das residências sobreviviam com menos de um salário mínimo mensal por morador ( domicílios), 36,82% sobreviviam com entre um e três salários mínimos para cada pessoa ( domicílios), 6,37% recebiam entre três e cinco salários ( domicílios), 4,09% tinham rendimento mensal acima de cinco salários mínimos ( domicílios) e 2,80% não tinham rendimento ( domicílios). Ipatinga foi apontada como a sétima melhor cidade para iniciar uma empresa em Minas Gerais, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) em 2012, porém a redução da demanda por aço no mercado nacional e internacional culminou em demissões e cortes de investimentos e salários pelas indústrias locais nos primeiros anos da década de 2010. Somente no município, vagas na área da indústria foram eliminadas de 2011 a 2013, gerando impactos diretos também nos setores comercial e de prestação de serviços locais. Foi registrado um total de demissões em todos os setores entre janeiro e março de 2015, sendo a maior parte delas () na construção civil, e 25% dos cargos comissionados da prefeitura haviam sido suspensos até dezembro de 2015. Agropecuária. Em 2020, a pecuária e a agricultura acrescentavam reais na economia de Ipatinga, enquanto que em 2010, 0,75% da população economicamente ativa do município estava ocupada no setor. Segundo o IBGE, em 2014 o município possuía um rebanho de bovinos, 78 equinos, 388 suínos e aves, entre estas galinhas. Neste mesmo ano, a cidade produziu litros de leite de 790 vacas, 9 mil dúzias de ovos de galinha e quilos de mel de abelha. Em 2015, Ipatinga configurava-se como o segundo maior município exportador internacional de mel de Minas Gerais, perdendo apenas para Timóteo. Na lavoura temporária, em 2014, foi reportada a produção de toneladas e 137 hectares cultivados de milho. Já na lavoura permanente, destacavam-se a banana (325 toneladas produzidas e 25 hectares cultivados), o café (24 toneladas e 20 hectares) e a laranja (cinco toneladas e dois hectares). Indústria e prestação de serviços. A indústria, em 2020, era o setor mais relevante para a economia do município. reais do PIB municipal eram do valor adicionado bruto do setor secundário. Boa parte desse valor se deve à presença da Usiminas, com um considerável volume de produtos exportados, destacando-se em relação à produção de aço, aço inoxidável e produtos metalmecânicos. O estabelecimento do complexo industrial é o responsável por atrair empresas fornecedoras, complementares e de prestação de serviços às atividades produtivas tanto em Ipatinga quanto nos municípios ao redor. Ipatinga também possui um distrito industrial, que é administrado pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), foi estruturado em 1998 e conta com área de cerca de . Dentre outros ramos industriais, fazem-se presentes em Ipatinga a confecção de artigos e acessórios de vestuário, extração e manipulação de minerais não-metálicos, fabricação de móveis e artefatos mobilísticos, produção de alimentos e bebidas e fabricação de produtos oriundos da metalurgia, além da extração de eucalipto destinado a abastecer a usina de celulose da Cenibra, situada no município de Belo Oriente. Em 2012, de acordo com o IBGE, foram extraídos metros cúbicos de madeira em tora, sendo 100% desse total destinado à produção de papel e celulose. Segundo estatísticas do ano de 2010, 0,39% dos trabalhadores do município estavam ocupados no setor industrial extrativo e 21,42% na indústria de transformação. Em 2010, 8,91% da população ocupada estava empregada no setor de construção, 1,02% nos setores de utilidade pública, 18,41% no comércio e 41,89% no setor de serviços e em 2020, reais do PIB municipal eram do valor adicionado bruto do setor de serviços e reais do valor adicionado da administração pública. O movimento comercial em Ipatinga possui uma representatividade especial na região da Avenida 28 de Abril (antiga Rua do Comércio), no Centro, que foi revitalizada na década de 1990. Assim como parte do Centro, as regiões dos bairros Bom Retiro, Canaã, Horto e Veneza são consideradas centralidades metropolitanas que exercem um considerável grau de polarização na RMVA, em função da presença de serviços públicos e comércio que atraem consumidores das cidades próximas. Em alguns bairros também funcionam feiras livres regulares, a exemplo da Feira do Ipatingão, que acontece no estacionamento do Estádio Municipal João Lamego Netto. O Shopping Vale do Aço, por sua vez, está localizado próximo ao bairro Horto e constitui um dos maiores centros de compra do interior mineiro. Infraestrutura. Saúde. A rede de saúde de Ipatinga inclui 22 unidades básicas de saúde, três postos de saúde, dois hospitais gerais e dois centros de atenção psicossocial (CAPS), segundo informações de 2018. Havia, em 2010, 0,52 enfermeiros, 1,07 dentistas e 1,5 médicos para cada mil habitantes, frente a médias nacionais de 0,69, 0,54, e 1,5, respectivamente. O Hospital Municipal de Ipatinga é o principal hospital da rede pública que realiza atendimentos de emergência e disponibiliza leitos para internação. O Hospital Márcio Cunha, que é administrado pela Fundação São Francisco Xavier (FSFX), órgão da Usiminas, é referência em serviços de alta complexidade, como oncologia e hemodiálise e também disponibiliza atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, trata-se do único centro transplantador do leste e nordeste de Minas, atendendo a diversas cidades dessas regiões. Nas dependências do Hospital Márcio Cunha ainda se encontra implantado desde o primeiro semestre de 2017 o primeiro e único centro oncológico infantil do leste do estado (hospital do câncer infantil), que se tornou a partir desta implantação, referência para a macrorregião com 86 municípios, atendendo inclusive a pacientes do SUS, e evitando deslocamentos até Belo Horizonte. Ipatinga conta com quatro cemitérios, sendo o principal deles o Parque Senhora da Paz, no bairro Veneza II. Os demais estão localizados nos bairros Barra Alegre, Bom Jardim e Ipaneminha. Em 2017, foram registrados óbitos por morbidades, dentre os quais as doenças do sistema circulatório representaram a maior causa de mortes (26,54%), seguida pelos tumores (19,53%). Ao mesmo tempo, foram registrados nascidos vivos, sendo que o índice de mortalidade infantil no mesmo ano foi de 8,89 óbitos de crianças menores de um ano de idade a cada mil nascidos vivos. Cabe ressaltar que 1,24% das meninas de 10 a 17 anos tiveram filhos em 2010. Educação. Na área da educação, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) médio entre as escolas públicas de Ipatinga era, no ano de 2019, de 5,4 (numa escala de avaliação que vai de nota 1 a 10), sendo que a nota obtida por alunos do 5º ano do ensino fundamental foi de 6,6, do 9º ano do ensino fundamental foi de 5,3 e do 3º ano do ensino médio foi de 4,4; o valor das escolas públicas de todo o Brasil era de 4,73. Em 2010, 2,15% das crianças com faixa etária entre sete e 14 anos não estavam cursando o ensino fundamental. A taxa de conclusão, entre jovens de 15 a 17 anos, era de 56,2% e o percentual de alfabetização de jovens e adolescentes entre 15 e 24 anos era de 99,2%. Em 2013, a distorção idade-série entre alunos do ensino fundamental, ou seja, com idade superior à recomendada, era de 7,7% para os anos iniciais e 16,1% nos anos finais e, no ensino médio, a defasagem chegava a 18,4%. Dentre os habitantes de 25 anos ou mais, em 2010, 57,76% tinham completado o ensino fundamental, 39,71% o ensino médio e 11,35% o ensino superior, sendo que a população tinha em média 9,68 anos esperados de estudo. Em 2010, de acordo com dados da amostra do censo demográfico, da população total, habitantes frequentavam creches e/ou escolas. Desse total, frequentavam creches, estavam no ensino pré-escolar, na classe de alfabetização, 535 na alfabetização de jovens e adultos, no ensino fundamental, no ensino médio, na educação de jovens e adultos do ensino fundamental, na educação de jovens e adultos do ensino médio, na especialização de nível superior, em cursos superiores de graduação, 202 em mestrado e 43 em doutorado. pessoas não frequentavam unidades escolares, sendo que nunca haviam frequentado e haviam frequentado no passado. Em 2018, havia matrículas nas instituições de educação infantil e ensinos fundamental e médio da cidade. Cabe ressaltar que 5,6% dos estudantes de Ipatinga frequentam a escola em outra cidade, enquanto que é considerável a demanda de alunos nas instituições de ensino do município que residem nas cidades vizinhas. Na classificação geral do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2016, o Colégio Fibonacci obteve média de 720,21 nas provas objetivas e 827,65 na redação, posicionando-se na segunda colocação do "ranking" estadual e na sexta a nível nacional. Em 2013, o município dispunha de nove unidades de ensino técnico e sediava nove instituições particulares de ensino superior, sendo algumas delas os "campi" do Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais (Unileste), da Faculdade Pitágoras, da Faculdade de Direito de Ipatinga (FADIPA) e da Faculdade de Medicina do Vale do Aço (FAMEVAÇO). Em 2014, houve a instalação de um "campus" do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) e em 2015, foi anunciada a criação de um "campus" da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Serviços e habitação. No ano de 2010, Ipatinga possuía domicílios particulares permanentes. Desse total, eram casas, 246 casas de vila ou em condomínio, apartamentos e 731 eram habitações em casas de cômodos ou cortiço. Do total de domicílios, eram próprios, sendo que eram próprios já quitados; próprios em aquisição e eram alugados; imóveis foram cedidos, sendo que 406 haviam sido cedidos por empregador e foram cedidos de outra maneira. Os 161 restantes foram ocupados de outra forma. O atual Plano Diretor Municipal está em vigor desde 2014, em substituição a legislações anteriores, e rege os parâmetros geográficos e urbanísticos para a construção de residências, prédios e estabelecimentos comerciais. Dentre diversos pontos o novo plano diretor diz respeito a controlar a ocupação e a verticalização da cidade, no entanto existem bairros, como o Cariru, Castelo e das Águas, que possuem legislações específicas a respeito que proíbem a construção de prédios altos. Os serviços de abastecimento de água e coleta de esgoto da cidade são feitos pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), sendo que em 2008 havia unidades consumidoras e eram distribuídos em média de água tratada por dia. Em 2010, segundo o IBGE, 98,1% dos domicílios eram atendidos por água encanada e 99,79% possuíam esgotamento sanitário. A água utilizada para o suprimento da região do Vale do Aço é originada de um aquífero aluvionar localizado no subsolo, sendo extraída e tratada na estação de tratamento de água da Copasa localizada no bairro Amaro Lanari, em Coronel Fabriciano. Ipatinga conta com serviço de tratamento de esgoto, possível por meio de quatro estações de tratamento de águas residuais distribuídas pelo município. O serviço de abastecimento de energia elétrica é feito pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que atende ainda a boa parte do estado de Minas Gerais. No ano de 2003, existiam consumidores e foram consumidos KWh de energia, sendo que em 2010, 99,9% dos domicílios possuía acesso à rede elétrica, de acordo com o IBGE. Cerca de 99,9% do município é atendido pelo serviço de coleta de lixo, que é de responsabilidade da Vital Engenharia Ambiental. Até 1988, os resíduos da cidade eram descartados em um lixão a céu aberto, cuja área passou a ser tratada e então aterrada. Em 2003, foi inaugurada a Central de Resíduos do Vale do Aço (CRVA), que está localizada em Santana do Paraíso e recebe o lixo produzido em Ipatinga e em outros municípios do Vale do Aço e da região. Há um sistema de coleta seletiva de material reciclável mantido informalmente pelos catadores de lixo. Segurança e criminalidade. A provisão de segurança pública de Ipatinga é dada por diversos organismos. A Polícia Militar, uma força estadual, é a responsável pelo policiamento ostensivo das cidades, o patrulhamento bancário, ambiental, prisional, escolar e de eventos especiais, além de realizar ações de integração social. Ipatinga é uma sede da 12ª Região da Polícia Militar e abriga um Batalhão da PMMG. Já a Polícia Civil tem o objetivo de combater e apurar as ocorrências de crimes e infrações e é representada em Ipatinga pela 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, à qual estão subordinadas Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP) compostas por municípios da região. A cidade é a sede de um Batalhão do Corpo de Bombeiros e também há a atuação da defesa civil, subordinada à prefeitura. Em 2013, a Polícia Militar registrou um total de crimes violentos, sendo 927 roubos (85,8%), 100 tentativas de homicídio (9,3%) e 45 homicídios (4,2%). Os 0,7% restantes corresponderam a casos de sequestros, extorsão mediante sequestro e estupros. Em 2014, foi registrada uma taxa de 28,5 homicídios para cada 100 mil habitantes, índice que era o maior dentre os municípios do Vale do Aço e estava acima da média nacional, que era de 25,2 mortes por cada grupo de 100 mil habitantes em 2013. A maior parte dos homicídios está relacionada ao tráfico de drogas, que também contribui com a prática de outros delitos, visto que os usuários normalmente furtam e roubam para sustentar seus vícios. Boa parte da população carcerária é abrigada no Centro de Remanejamento de Presos (CERESP), que, no entanto, já foi denunciado como um local de tortura e maus tratos a apenados, além de ter sido palco de rebeliões e depredações promovidas por delinquentes. Comunicações. Ipatinga possuía orelhões em agosto de 2015, segundo dados da Oi, empresa que administra esse serviço de telefonia fixa, apesar de sua depreciação frente ao avanço da telefonia móvel. O código de área (DDD) de Ipatinga é 031 e o Código de Endereçamento Postal (CEP) da cidade vai de 35150-001 a 35169-999. Em janeiro de 2009, a Região Metropolitana do Vale do Aço passou a ser servida pela portabilidade, assim como as outras cidades de mesmo DDD. O serviço postal é atendido por agências da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos funcionando na cidade nos bairros Betânia, Bom Jardim, Bom Retiro, Cariru, Centro, Horto, Iguaçu e Veneza. Em relação à mídia, Ipatinga destaca-se por ser uma das sedes da InterTV dos Vales, afiliada à TV Globo, cuja programação é gerada em Governador Valadares. Sua cobertura alcança quase todo o Vale do Rio Doce e parte do Vale do Mucuri. A TV Cultura Vale do Aço, filiada à TV Cultura e à Rede Minas, também tem sede em Ipatinga e abrange parte da RMVA e seu colar metropolitano. Dentre os jornais locais com circulação diária, destacam-se o "Diário do Aço" e "Diário Popular". A cidade também conta com diversas emissoras de rádio, destacando-se a Grande Vale FM, Itatiaia Vale do Aço, Jovem Pan FM, Líder FM e Vanguarda. Em 2012, segundo a Praxis Pesquisa, cerca de habitantes de Ipatinga com idade superior a 16 anos ouviam rádios (74% da população dessa faixa etária). Nas mídias online, o portal Plox se destaca entre os veículos de maior volume de buscas no Google com cobertura de fatos locais. Transportes. Ipatinga é atendida pela Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), administrada pela Vale, configurando-se dessa forma como uma das principais formas de escoamento da produção da Usiminas até o Porto de Tubarão, no Espírito Santo. A Estação Intendente Câmara, localizada no bairro Ferroviário, possibilita o transporte de passageiros por meio das paradas diárias das composições que circulam entre as regiões metropolitanas de Vitória e Belo Horizonte. Dentre as alternativas de transporte coletivo regulares, a EFVM é a via de viagem mais barata e segura possível para várias cidades que contam com estações. O transporte ferroviário em Ipatinga se faz presente desde seus primórdios, com a construção da Estação Pedra Mole, próxima ao bairro Cariru, em 1922. Uma alteração do traçado da EFVM levou à construção de um novo terminal no Centro da cidade para substituir o primeiro em 1930, porém uma nova alteração na localização das linhas da ferrovia culminou em sua desativação em 1951 e na instalação da atual Estação Intendente Câmara em 1960. A Estação Pedra Mole foi tombada como patrimônio cultural em 1996, mas permaneceu abandonada até 2019, quando suas ruínas foram abertas para visitação. A antiga Estação Ipatinga, na região central, por sua vez, também foi tombada como patrimônio cultural em 1991 e transformada em museu em 1992. O transporte aeroviário do município é possível por meio do Aeroporto de Ipatinga , denominado Aeroporto Regional do Vale do Aço (antigo Aeroporto da Usiminas), que se encontra no município vizinho de Santana do Paraíso. Construído pela Usiminas, está localizado a cerca de do Centro de Ipatinga e beneficia a Região Metropolitana do Vale do Aço com voos diários para a Região Metropolitana de Belo Horizonte, além da possibilidade de diversas conexões, apesar de já ter ofertado outros destinos no passado. O terreno do terminal ocupa uma área de cerca de e sua pista é asfáltica, com de extensão e de largura, enquanto que a estrutura de pátio de manobras tem dimensões de x . Ipatinga conta com um dos maiores terminais rodoviários da região, que está localizado no Centro e é atendido com saídas diárias regulares para as principais cidades de Minas Gerais e mesmo para fora do estado. A cidade é cortada pela BR-381, principal acesso à capital mineira e ao Espírito Santo; e é onde se inicia a BR-458, ligação do Vale do Aço até a BR-116, e a MG-232, acesso a Santana do Paraíso e até à MG-010. A BR-381 foi disposta paralela ao traçado da EFVM e o eixo formado por ambas serviu para orientar o processo de ocupação e expansão do perímetro urbano no decorrer da segunda metade do século XX. A via é duplicada no trecho urbano que corta o município, no entanto a ausência de duplicação na maior parte de sua extensão é um fator que dificulta o acesso à cidade, tendo em vista o tráfego intenso. A frota municipal no ano de 2015 era de veículos, sendo automóveis, caminhões, 613 caminhões-trator, caminhonetes, caminhonetas, 624 micro-ônibus, motocicletas, motonetas, 651 ônibus, 636 utilitários, 51 tratores e classificados como outros tipos de veículos. O crescimento no número de veículos de Ipatinga causa um tráfego cada vez mais lento de carros, principalmente na região central do município. Próximo aos núcleos comerciais, a disponibilidade de vagas para estacionar por vezes é escassa, o que gera prejuízos no comércio. Sendo assim, medidas como a adoção do sistema de estacionamento rotativo vêm sendo adotadas. O fluxo intenso na Avenida Pedro Linhares Gomes, trecho urbano da BR-381 que corta a cidade, faz com que a via concentre as maiores quantidades de acidentes no município, apesar de ser duplicada. O transporte coletivo do município é de responsabilidade da Saritur, que mantém 55 linhas urbanas e rurais cobertas por 108 veículos, segundo informações de julho de 2015. A Viação Univale, por sua vez, fornece linhas intermunicipais que conectam Ipatinga aos demais municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço e algumas localidades do colar metropolitano. A cidade também conta com uma considerável malha cicloviária, que era calculada em cerca de 40 quilômetros, segundo dados da prefeitura em 2015. A infraestrutura das calçadas, no entanto, é deficiente em muitos bairros, sendo notados problemas com irregularidades, obstáculos e falta de continuidade no piso. Cultura. Na ocasião da instalação da Usiminas as únicas opções de lazer existentes em Ipatinga se restringiam a pequenos bares. Os trabalhos pesados na usina, as longas filas para os restaurantes, as diferenças culturais e a distância das famílias contribuíam para que as relações entre os habitantes não fossem boas, haja vista a concentração de residentes oriundos de diferentes regiões do país. Esse conjunto de fatores foi um dos pretextos para as revoltas que culminaram no Massacre de Ipatinga, em 1963, e somente então foram adotadas políticas de assistência social visando a minimizar os conflitos entre as relações de trabalho, incluindo a expansão dos investimentos em lazer. A pontuação de políticas culturais do município para o cálculo do ICMS Cultural, válida para exercício em 2024, foi de 3,60 em uma escala que vai de 0 a 4. A pontuação total, considerando variantes como conservação, despesas e quantidade de bens tombados e/ou registrados, foi de 16,84. Apesar da administração pública do setor cultural, a Usiminas também mantém investimentos em arte e equipamentos culturais, incluindo sob recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Ipatinga conta com um conselho municipal de cultura e conselho de preservação do patrimônio, sendo previstos tombamentos de bens materiais e imateriais. Segundo informações de 2020, eram bens materiais tombados: a Igreja São Vicente de Paulo (Igreja do Ipaneminha), o Clube Dançante Nossa Senhora do Rosário (sede do Congado do Ipaneminha), a Fazendinha no bairro Ferroviário, a ruína da antiga Estação Pedra Mole, a Antiga Estação Ferroviária de Ipatinga (Estação Memória Zeza Souto), o Pontilhão sobre o ribeirão Ipanema entre o Centro e o Veneza (Pontilhão de Ferro), as Casas dos Ferroviários no Veneza, a Igreja Nossa Senhora da Esperança (Igrejinha do Horto), o Teatro Zélia Olguin, a árvore "Ficus elastica" do Cariru, o prédio do antigo Grande Hotel Ipatinga no Castelo, a Academia Olguin, o Parque Ipanema e o complexo da Estação Pouso de Água Limpa. O Congado Nossa Senhora do Rosário (Congado do Ipaneminha) era o único bem imaterial tombado. Manifestações e espaços culturais. A cidade possui um folclore rico e diversificado. Há existência de equipes artísticas de teatro, dança, coral, folclore e grupos musicais de acordo com o IBGE em 2012. Uma de suas principais manifestações culturais é o Congado do Ipaneminha, um tradicional grupo de marujada que canta marchas em homenagem à Nossa Senhora do Rosário em ocasiões festivas. Foi fundado por descendentes de tropeiros que herdaram uma tradição de origem africana em 1925. A Folia de Reis, a Festa do Divino, a Festa do Rosário, o bumba meu boi, as festas juninas e o Festival da Banana são outros exemplos de manifestações culturais populares que podem ser encontradas no município. No dia de Corpus Christi, tapetes são confeccionados nas ruas dos bairros por algumas paróquias. O artesanato também é uma das formas mais espontâneas da expressão cultural ipatinguense, sendo que, segundo o IBGE, as principais atividades artesanais desenvolvidas são o bordado e trabalhos que envolvem o couro e metal. Dentre os espaços culturais destinados à manutenção e à preservação das manifestações populares, destaca-se a existência de bibliotecas mantidas pelo poder público municipal, teatros, estádios, ginásios poliesportivos, salas de cinema, clubes e associações recreativas, segundo o IBGE em 2005 e 2012. A antiga estação ferroviária do Centro de Ipatinga foi inaugurada em 1930 e desativada em 1951, porém seu prédio foi reinaugurado como um museu em 1992. Chamado de Estação Memória Zeza Souto, desde então abriga atividades culturais e documentos relativos à história da cidade. Sob recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Usiminas, em parceria com a prefeitura, ocasionalmente organiza uma programação diversificada que envolve a realização de oficinas, espetáculos culturais e cinema. Esses eventos ocorrem tanto nas escolas quanto nas principais praças da cidade, abertos para a população em geral. A prefeitura mantém programas como a Escola de Música Tenente Oswaldo Machado e a Escola Municipal de Iniciação Teatral Sete de Outubro, que possuem turmas de várias idades. A Usiminas, por meio do Instituto Usiminas, atua como um agente promotor de projetos e mantenedor de espaços que versam as artes na região, como é o caso do Centro Cultural Usiminas, que tem uma abrangência regional e disponibiliza para os habitantes oficinas culturais e uma programação teatral diversificada, possibilitando também acesso a uma galeria de arte e biblioteca. Situado em anexo ao Shopping Vale do Aço, seu teatro é considerado um dos mais modernos do Brasil e em 2015 recebeu a certificação "Herity", que é reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e tem como critérios aspectos que envolvem conservação, qualidade e relevância. O Teatro Zélia Olguin, situado no bairro Cariru, também é administrado pelo Instituto Usiminas. O prédio do Grande Hotel Ipatinga, no bairro Castelo, foi aproveitado pela empresa para a instalação do Centro de Memória Usiminas, inaugurado em 2021. Além de sediar o Centro Cultural Usiminas, o Shopping Vale do Aço é considerado o maior equipamento de lazer e entretenimento da Região Metropolitana do Vale do Aço e suas salas de cinema são as principais da região. Os espaços culturais de Ipatinga recorrentemente são sede de eventos de relevância regional ou mesmo nacional, a exemplo das atrações da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança e o Ipatinga Live Jazz. Na Usipa ocorrem regularmente o Projeto Xerimbabo (voltado ao meio ambiente e à conscientização ambiental) e a Expo Usipa (exposição de negócios locais). De acordo com a Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais, as intensas manifestações, grupos teatrais e eventos diversos fazem da cidade um dos principais polos culturais do estado. Marcos e atrativos. Ipatinga faz parte do Circuito Turístico Mata Atlântica de Minas Gerais, que foi oficializado em 2010 pela Secretaria de Estado de Turismo com o objetivo de estimular o turismo nas cidades integrantes. Segundo o Ministério do Turismo (MTur) em 2015, o município, juntamente com outras 166 cidades brasileiras, é classificado na categoria hierárquica "B", de uma escala que vai de "A" para os melhores municípios avaliados em quesitos de desenvolvimento econômico, estabelecimentos no setor de hospedagem e fluxo de turistas a "E" para os piores. Os principais atrativos naturais são as diversas trilhas, matas, lagoas e cachoeiras existentes na zona rural, alguns equipados com infraestrutura para os frequentadores. Nesse ponto cabe ser ressaltado o Parque das Cachoeiras, de administração particular, que possui cerca de 5 milhões de m² e também dispõe de área de "camping", chalés para hospedagem e restaurante. De forma especial na região das áreas de preservação ambiental e nascentes da sub-bacia do ribeirão Ipanema, existem outros sítios e pousadas que propiciam o turismo rural e o ecoturismo, ramos os quais recebem apoio da Associação dos Empreendedores do Turismo Rural de Ipatinga (AETRI). A zona urbana também concentra uma gama de equipamentos de lazer que por vezes atraem frequentadores de outras cidades. Exemplo disso é o Parque Ipanema, que é uma das maiores áreas verdes do país situadas dentro de um perímetro urbano e foi um dos últimos projetos do paisagista Roberto Burle Marx, contando com mais de 1 milhão de m² e 12 mil árvores plantadas. O interior do parque abrange diversos instrumentos de lazer, como o Parque da Ciência, onde são apresentados fenômenos físicos, biológicos, químicos ou astronômicos que podem ser observados ou interagidos pelo visitante, além de "playground", quadras poliesportivas, campos de futebol, pista de caminhada, ciclovias e anfiteatro. Entretanto, seu conjunto integra bens no entorno como o Viveiro Municipal, o Kartódromo Emerson Fittipaldi, o Centro Esportivo e Cultural Sete de Outubro e o Estádio Municipal João Lamego Netto ("Ipatingão"). A Estrada de Ferro Caminho das Águas, com seus de extensão, liga o Parque Ipanema à Estação Pouso de Água Limpa, uma estação de trem de pequeno porte construída para uso turístico. A Usipa, além de seu Centro de Biodiversidade equipado com mini-jardim zoológico e jardim botânico, também abriga trilhas ecológicas, parque aquático, áreas esportivas, lanchonetes e área de lazer para as crianças. O Shopping Vale do Aço, por sua vez, configura-se como o maior centro de compras do leste mineiro e entre os maiores do interior do estado, conforme já citado, e é considerado o principal equipamento de lazer e entretenimento em âmbito metropolitano. No bairro Cariru está localizado o acesso às ruínas da Estação Pedra Mole, que foram abertas à visitação após o restauro da antiga edificação em 2019. O local possui uma trilha com totens informativos, as ruínas que restaram da antiga estação e um mirante para contemplação da foz do rio Piracicaba no rio Doce. Esportes. Ipatinga disponibiliza uma série de espaços e equipamentos destinados às práticas esportivas. Cabe ser ressaltada a Associação Esportiva e Recreativa Usipa, que dispõe de parque aquático com piscina olímpica aquecida, estádio de futebol, quadras poliesportivas, um ginásio coberto e pista de atletismo, além de área de lazer para as crianças. A instituição também oferece formação de atletas do esporte especializado e futebol. Dentre os atletas que obtiveram reconhecimento nacional e mesmo internacional estão os nomes da judoca Edilene Andrade, da corredora Lucimar Aparecida de Moura, da nadadora Flávia Delaroli e dos futebolistas Somália e Edivaldo. O Centro Esportivo e Cultural Sete de Outubro, localizado no bairro Veneza, oferece projetos sociais na área esportiva e cultural e conta com quadras esportivas propícias às práticas de basquetebol, futsal, handebol e caratê, além de campos de futebol. O Kartódromo Emerson Fittipaldi (Kart Clube Ipatinga), que foi inaugurado em 1982, ocasionalmente sedia etapas estaduais ou nacionais de competições de kart. Os Jogos Escolares de Ipatinga (JEI), realizados pela Prefeitura de Ipatinga sob recursos da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, reúnem anualmente alunos de escolas públicas e particulares que se enfrentam em partidas de diversos esportes, como atletismo, basquete, handebol, vôlei e xadrez. A mesma lei beneficia a organização de outros eventos esportivos no município, inclusive aqueles organizados pela iniciativa privada. O Estádio Municipal João Lamego Netto é o principal estádio da cidade e do Vale do Aço e tem capacidade para até 23 mil pessoas. O "Ipatingão", como também é conhecido, é considerado a "casa" do Ipatinga Futebol Clube, o time de futebol mais bem sucedido da região, com participações nas divisões principais dos campeonatos Brasileiro e Mineiro. Em 2010, com a reforma do Estádio Governador Magalhães Pinto (o Mineirão, em Belo Horizonte) para a Copa do Mundo FIFA de 2014, o Ipatingão passou a sediar alguns dos jogos das principais equipes da capital mineira (Cruzeiro e Atlético). O Estádio Amaro Lanari Júnior, como é chamado o estádio da Usipa, foi inaugurado em 7 de setembro de 1961 e seu centro de treinamento já foi utilizado por clubes de futebol da elite nacional e mesmo internacional, como Atlético Mineiro, São Paulo e San Lorenzo da Argentina. Outro time da cidade que obteve ascensão é o Ideal Futebol Clube, que disputou divisões inferiores do Campeonato Mineiro e revelou jogadores para clubes de elite. O Estádio João Teotônio Ferreira ("Ferreirão"), que pertence à prefeitura mas é administrado pelo Ideal, tem capacidade para cerca de 3 mil pessoas e já foi usado para partidas de divisões inferiores do Campeonato Mineiro e de clássicos de clubes amadores da região. O Novo Esporte Clube Ipatinga, criado em 2012, chegou a disputar a segunda divisão do Campeonato Mineiro de 2013, mas foi eliminado ainda na primeira fase. A Liga Desportiva de Ipatinga comanda as competições de futebol amador do município de todas as categorias (divididas por idades), que em alguns anos movimentam mais de 10 mil atletas. Feriados. Em Ipatinga há três feriados municipais e oito feriados nacionais, além dos pontos facultativos. Os feriados municipais são o dia do aniversário da cidade, comemorado em 29 de abril; o Corpus Christi, que em é celebrado no dia ; e a Assunção de Nossa Senhora, em 15 de agosto.
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Identidade visual
Identidade visual Identidade visual é o conjunto de elementos formais que representa visualmente, e de forma sistematizada, um nome, ideia, produto, empresa, instituição ou serviço. Esse conjunto de elementos costuma ter como base o logotipo, um símbolo visual que se complementa nos códigos de cores, das tipografias, nos grafismos, em personagens, nas personalidades e outros componentes que reforçam o conceito a ser comunicado através dessa imagem como o Slogan ou Tag lines, que cumprem este papel. Resumidamente a Identidade Visual é a imagem ampliada da marca. A confecção de um logótipo ou de um símbolo visual capaz de representar a assinatura institucional da empresa deve ser estabelecido através de um documento técnico ao qual os designers nomearam de manual da identidade visual. Esse documento serve para estabelecer normas e critérios técnicos de reprodução da marca nos mais variados suportes existentes no atual estado da técnica como por exemplo: suportes gráficos (impressão) e suportes eletrônicos (interfaces). Manual de identidade visual. O manual de identidade visual deve conter: Elementos principais da identidade visual. No processo de criação de identidade visual, diversos elementos / peças, podem estar contempladas no processo. Estão mencionados abaixo os mais comummente encontrados: - Logotipo; - Catálogos e apresentações; - Website; - Materiais gerais de papelaria, como envelope, cartão e pasta; - Uniforme e frota personalizada de veículos; - Dentre muitos outros.
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Iluminismo
Iluminismo O Iluminismo, também conhecido como Século das Luzes e Ilustração, foi um movimento intelectual e filosófico que dominou o mundo das ideias na Europa durante o século XVIII, "O Século da Filosofia". O Iluminismo incluiu uma série de ideias centradas na razão como a principal fonte de autoridade e legitimidade e defendia ideais como liberdade, progresso, tolerância, fraternidade, governo constitucional e separação Igreja-Estado. Na França, as doutrinas centrais dos filósofos do Iluminismo eram a liberdade individual e a tolerância religiosa em oposição a uma monarquia absoluta e aos dogmas fixos da Igreja Católica Romana. O Iluminismo foi marcado por uma ênfase no método científico e no reducionismo, juntamente com o crescente questionamento da ortodoxia religiosa — uma atitude capturada pela frase "Sapere aude" (). Os historiadores franceses tradicionalmente colocam o período do Iluminismo entre 1715 (o ano em que Luís XIV morreu) e 1789 (o início da Revolução Francesa). Alguns historiadores recentes, no entanto, defendem o período da década de 1620, com o início da Revolução Científica. "Les philosophes" (francês para "os filósofos") do período circularam amplamente suas ideias através de encontros em academias científicas, lojas maçônicas, salões literários, cafés e em livros impressos e panfletos. As ideias do Iluminismo minaram a autoridade da monarquia e da Igreja e prepararam o caminho para as revoluções políticas dos séculos XVIII e XIX. Uma variedade de movimentos do século XIX, incluindo o liberalismo e o neoclassicismo, rastreiam a sua herança intelectual ao Iluminismo. A Era da Iluminação foi precedida e estreitamente associada à Revolução Científica. Filósofos anteriores cujo trabalho influenciaram o Iluminismo incluíram Francis Bacon, René Descartes, John Locke e Baruch Spinoza. As principais figuras do Iluminismo incluíram Cesare Beccaria, Voltaire, Denis Diderot, Jean-Jacques Rousseau, David Hume, Adam Smith e Immanuel Kant. Alguns governantes europeus, incluindo Catarina II da Rússia, José II da Áustria e Frederico II da Prússia, tentaram aplicar o pensamento iluminista sobre a tolerância religiosa e a política, o que se tornou conhecido como "absolutismo esclarecido". Benjamin Franklin visitou a Europa repetidamente e contribuiu ativamente para os debates científicos e políticos e trouxe as novas ideias de volta à Filadélfia. Thomas Jefferson seguiu de perto as ideias europeias e depois incorporou alguns dos ideais do Iluminismo na Declaração da Independência dos Estados Unidos (1776). Um de seus pares, James Madison, incorporou esses ideais na Constituição dos Estados Unidos durante a sua concepção em 1787. A publicação mais influente do Iluminismo foi "Encyclopédie" (Enciclopédia). Publicado entre 1751 e 1772 em 35 volumes, foi compilado por Denis Diderot, Jean le Rond d'Alembert (até 1759) e um grupo de 150 cientistas e filósofos. Isto ajudou a espalhar as ideias do Iluminismo em toda a Europa e além. Outras publicações de referência foram o "Dictionnaire philosophique" de Voltaire (Dicionário filosófico, 1764) e "Cartas Filosóficas" (1733); "Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens" de Rousseau (1754) e "Do Contrato Social" (1762); "A Riqueza das Nações" de Adam Smith (1776); e o "O Espírito das Leis" de Montesquieu (1748). As ideias do Iluminismo desempenharam um papel importante na inspiração da Revolução Francesa, que começou em 1789. Após a Revolução, o Iluminismo foi seguido pelo movimento intelectual conhecido como romantismo. Definição. Ainda que importantes contemporâneos venham ressaltando as origens do iluminismo no século XVII tardio, não há consenso abrangente quanto à datação do início da era do iluminismo. Boa parte dos acadêmicos simplesmente utiliza o início do século XVIII como marco de referência, aproveitando a já consolidada denominação "Século das Luzes". O término do período é, por sua vez, habitualmente assinalado em coincidência com o início das Guerras Napoleônicas (1804-1815). "Iluminismo" é um conceito que sintetiza diversas tradições filosóficas, sociais, políticas, correntes intelectuais e atitudes religiosas. Pode-se falar mesmo em diversos "microiluminismos", diferenciando especificidades temporais, regionais e de matiz religioso, como nos casos de "iluminismo tardio", "iluminismo escocês" e "iluminismo católico". O iluminismo é, para sintetizar, uma atitude geral de pensamento e de ação. Os iluministas admitiam que os seres humanos estão em condição de tornar este mundo um lugar melhor mediante introspecção, livre exercício das capacidades humanas e engajamento político-social. Immanuel Kant, como resposta à questão "O que é o iluminismo?", descreveu, de maneira lapidar, a mencionada atitude: Fases do iluminismo. Os pensadores iluministas tinham, como ideal, a extensão dos princípios do conhecimento crítico a todos os campos do mundo humano. Supunham poder contribuir para o progresso da humanidade e para a superação dos resíduos de tirania e superstição que creditavam ao legado da Idade Média. A maior parte dos iluministas associava ainda o ideal de conhecimento crítico à tarefa do melhoramento do estado e da sociedade. O uso do termo "iluminismo" na forma singular justifica-se, contudo, dadas certas tendências gerais comuns a todos os iluminismos, nomeadamente, a ênfase nas ideias de progresso e perfectibilidade humana, assim como a defesa do conhecimento racional como meio para a superação de preconceitos e ideologias tradicionais. Entre o final do século XVII e a primeira metade do , a principal influência sobre a filosofia do iluminismo proveio das concepções mecanicistas da natureza que haviam surgido na sequência da chamada revolução científica do século XVII. Neste contexto, o mais influente dos cientistas e filósofos da natureza foi, então, o físico inglês Isaac Newton. Em geral, pode-se afirmar que a primeira fase do iluminismo foi marcada por tentativas de importação do modelo de estudo dos fenômenos físicos para a compreensão dos fenômenos humanos e culturais. No entanto, a partir da segunda metade do , muitos pensadores iluministas passaram a afastar-se das premissas mecanicistas legadas pelas teorias físicas do século XVII, aproximando-se então das teorias vitalistas que eram desenvolvidas pelas nascentes ciências da vida. Boa parte das teorias sociais e das filosofias da história desenvolvidas na segunda metade do , por autores como Denis Diderot e Johann Gottfried von Herder, entre muitos outros, foram fortemente inspiradas pela obra de naturalistas tais como Buffon e Johann Friedrich Blumenbach. Os iluminismos regionais. Alemanha. No espaço cultural alemão, um dos traços distintivos do iluminismo ("Aufklärung") é a inexistência do sentimento anticlerical que, por exemplo, deu a tônica ao iluminismo francês. Os iluministas alemães possuíam, quase todos, profundo interesse e sensibilidade religiosas, e almejavam uma reformulação das formas de religiosidade. O nome mais conhecido da "Aufklärung" foi Immanuel Kant. Outros importantes expoentes do iluminismo alemão foram: Johann Gottfried von Herder, Gotthold Ephraim Lessing, Moses Mendelssohn, entre outros. Escócia. A Escócia, curiosamente um dos países mais pobres e remotos da Europa ocidental no , foi um dos mais importantes espaços de produção de ideias associadas ao iluminismo. Empirismo e pragmatismo foram as tendências mais marcantes do iluminismo escocês. Dentre os seus mais importantes expoentes, destacam-se, entre outros: Adam Ferguson, David Hume, Francis Hutcheson, Thomas Reid e Adam Smith. Estados Unidos. Nas colônias britânicas que formariam os futuros Estados Unidos da América, os ideais iluministas chegaram por importação da metrópole, mas tenderam a ser redesenhados com contornos religiosos e politicamente mais radicais. Ideias iluministas exerceram uma enorme influência sobre o pensamento e prática política dos chamados "founding fathers" (pais fundadores) dos Estados Unidos, entre eles: John Adams, Samuel Adams, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Alexander Hamilton e James Madison. A fermentação política nas colônias norte-americanas ocorria no contexto do iluminismo, o movimento de transformação intelectual que se espalhou por toda a Europa e pelo Novo Mundo. A Declaração de Independência foi inspirada nas ideias Iluministas — e também serviu para lhes dar forma. Jefferson e Franklin são considerados os principais expoentes desse pensamento, e a Declaração é um de seus textos canônicos. Os iluministas americanos ficaram famosos por criticarem a concentração de renda e o voto censitário. Um dos pilares do iluminismo americano foi o pacifismo. Apesar disso ele foi o sustentáculo ideológico para o extermínio dos povos nativos. França. A França é considerada, por muitos, o país que liderou intelectualmente o iluminismo europeu. Durante o século XVIII, os intelectuais franceses foram os primeiros a promover os valores iluministas. Eles eram conhecidos como "Philosophes" (filósofos), dentre os quais os mais famosos foram Voltaire, Diderot e Montesquieu. Tiveram papel fundamental pois, vivendo numa época em que a França ainda era um Estado católico sob autoridade religiosa de Roma, transformaram-se em mártires do iluminismo devido à sua luta contra a censura e intolerância. Os "Philosophes" eram, por toda parte, inimigos do cristianismo. Mesmo assim, suas ideias e crenças traziam a marca indelével da religião perseguida. Na França, país de tradição católica, mas onde as correntes protestantes, nomeadamente os huguenotes, também desempenharam um papel dinamizador, havia uma tensão crescente entre as estruturas políticas conservadoras e os pensadores iluministas. Rousseau, por exemplo, originário de uma família huguenote e colaborador da "Encyclopédie", foi perseguido e obrigado a exilar-se na Inglaterra. O conflito entre uma sociedade feudal e católica e as novas forças de pendor protestante e mercantil, irá culminar na Revolução Francesa. Madame de Staël, com o seu salão literário, onde avultam grandes nomes da vida cultural e política francesa, será uma grande referência. Voltaire é retratado como um dos maiores filósofos iluministas da história. Inglaterra. Na Inglaterra, a influência católica havia sido definitivamente afastada do poder político em 1688, com a Revolução Gloriosa. A partir de então, nenhum católico voltaria a subir ao trono — embora a Igreja da Inglaterra tenha permanecido bastante próxima do catolicismo em termos doutrinários e de organização interna. Sem o controle que a Igreja Católica exercia em outras sociedades, a exemplo da espanhola ou a portuguesa, foi no Reino Unido que figuras como John Locke e Edward Gibbon dispuseram da liberdade de expressão necessária ao desenvolvimento de suas ideias. Portugal. Em Portugal, uma figura marcante desta época foi o Marquês de Pombal. Tendo sido embaixador em Londres durante 7 anos (1738-1745), o primeiro-ministro de Portugal ali teria recolhido as referências que marcaram a sua orientação como primeiro responsável político em Portugal. O Marquês de Pombal foi um marco na história portuguesa, contrariando o legado histórico feudal e tentando por todos os meios aproximar Portugal do modelo da sociedade inglesa. Entretanto, Portugal mostrara-se por vezes hostil à influência daqueles que em Portugal eram chamados pejorativamente de estrangeirados — fato pretensamente relacionado à influência Católica. As Colónias Americanas e o Império Português. Nas colônias americanas do Império Português, foi notável a influência de ideais iluministas sobre os escritos econômicos tanto de José de Azeredo Coutinho quanto de José da Silva Lisboa. Também se podem considerar como "iluministas" diversos dos intelectuais que participaram de revoltas anticoloniais no final do , tais como Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Crítica ao mercantilismo. Toda a estrutura política e social do absolutismo foi violentamente atacada pela revolução intelectual do iluminismo. O mercantilismo, doutrina econômica típica da época, também foi condenado e novas propostas, mais condizentes com a nova realidade do capitalismo, foram teorizadas. Os primeiros contestadores do mercantilismo foram os fisiocratas. Para os fisiocratas, a riqueza viria da natureza, ou seja, da agricultura, da mineração e da pecuária. O comércio era considerado uma atividade estéril, já que não passava de uma troca de riquezas. Outro aspecto da fisiocracia contrariava o mercantilismo: os fisiocratas eram contrários à intervenção do Estado na economia. Esta seria regida por leis naturais, que deveriam agir livremente. A frase que melhor define o pensamento fisiocrata é: "Laissez faire, laissez passer" (Deixai fazer, deixai passar). A fisiocracia influenciou pensadores como Adam Smith, pai da economia clássica. A economia política como ciência autônoma não existia naquela época. O pensamento econômico era fruto do trabalho assistemático de intelectuais que, ocasionalmente, se interessavam pelo problema: um dos principais teóricos da escola fisiocrata era um médico, François Quesnay. Impacto. O "iluminismo" exerceu vasta influência sobre a vida política e intelectual da maior parte dos países ocidentais. A época do iluminismo foi marcada por transformações políticas tais como a criação e consolidação de estados-nação, a expansão de direitos civis e a redução da influência de instituições hierárquicas como a nobreza e a Igreja. O iluminismo forneceu boa parte do fermento intelectual de eventos políticos que se revelariam de extrema importância para a constituição do mundo moderno, tais como a Revolução Francesa, a Constituição polaca de 1791, a Revolução Dezembrista na Rússia em 1825, o movimento de independência na Grécia e nos Balcãs, bem como, naturalmente, os diversos movimentos de emancipação nacional ocorridos no continente americano a partir de 1776. Muitos autores associam, ao ideário iluminista, o surgimento das principais correntes de pensamento que caracterizariam o século XIX, a saber, liberalismo, socialismo, e social-democracia.
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Itália
Itália Itália ( ), oficialmente República Italiana , é uma república parlamentar unitária localizada no centro-sul da Europa. Ao norte, faz fronteira com França, Suíça, Áustria e Eslovênia ao longo dos Alpes. A parte sul consiste na totalidade da península Itálica, Sicília, Sardenha, as duas maiores ilhas no mar Mediterrâneo, e muitas outras ilhas menores ficam no entorno do território italiano. Os Estados independentes de San Marino e do Vaticano são enclaves no interior da Itália, enquanto Campione d'Italia é um exclave italiano na Suíça. O território do país abrange cerca de km² e a maior parte do seu território tem um clima temperado sazonal. Com 60,8 milhões de habitantes em 2015, é a quinta nação mais populosa da Europa e a 23.ª do mundo. Roma, a capital italiana, foi durante séculos o centro político e religioso da civilização ocidental como capital do Império Romano e como sede da Santa Sé. Após o declínio do Império Romano, a Itália sofreu inúmeras invasões de povos estrangeiros, desde tribos germânicas, como os lombardos e ostrogodos, aos bizantinos e, mais tarde, os normandos, entre outros. Séculos mais tarde, Itália tornou-se o berço das repúblicas marítimas e do "Renascimento", um movimento intelectual extremamente frutífero que seria fundamental na formação subsequente do pensamento europeu. Durante grande parte de sua história pós-romana, a Itália foi fragmentada em vários reinos (tais como o Reino da Sardenha; o Reino das Duas Sicílias e o Ducado de Milão, etc.) e cidades-Estado, mas foi unificada em 1861, após um período tumultuado da história conhecido como "Il Risorgimento" ("O Ressurgimento"). Entre o final do e o fim da Segunda Guerra Mundial, a Itália possuiu um império colonial que estendia seu domínio até à Líbia, Eritreia, Somália, Etiópia, Albânia, Dodecaneso e uma concessão em Tianjin, na China. A Itália moderna é uma república democrática, classificada como o 24.º país mais desenvolvido do mundo e com índice de qualidade de vida entre os dez primeiros do planeta. O país goza de um alto padrão de vida e tem um elevado PIB nominal "per capita". É um membro fundador da União Europeia e parte da Zona Euro, além de ser membro do G7, G20, OTAN, OCDE, Organização Mundial do Comércio (OMC), Conselho da Europa, União da Europa Ocidental e das Nações Unidas. A Itália tem a quarta maior reserva de ouro, o oitavo maior PIB nominal, o décimo maior PIB (PPC) e o sexto maior orçamento público do mundo. A República Italiana tem o nono maior orçamento de defesa do mundo, acesso às armas nucleares da OTAN e um papel proeminente nos assuntos militares, culturais e diplomáticos europeus e mundiais, o que a torna uma das principais Potências Médias do mundo e uma Potência Regional de destaque na Europa. O país tem um elevado nível de escolaridade pública e é uma nação altamente globalizada. Etimologia. Várias hipóteses para o nome da Itália foram formuladas. Umas delas teoriza que o nome se origina de um empréstimo linguístico. Quando a hegemonia etrusca ia chegando a seu ocaso com a expansão dos latinos, os povos do Sul, em particular os oscos, úmbrios e outros povos do centro e Sul da península Itálica possuíam um numeroso rebanho bovino. Na língua dos oscos, o acusativo ‘"vitluf"’ (aos bezerros) deu lugar em latim a ‘"vitellus"’ (bezerrinho), palavra proveniente de "vitulos" (bezerro de entre um e dois anos) e similarmente no úmbrio como "vitlo". Estas palavras se derivaram do indo-europeu ‘"wet-olo"’ (de um ano cumprido), formada por sua vez a partir de ‘"wet-"‘ (ano), também presente nos vocábulos "veterano" e "veterinário". O gado era tão importante para esses povos que adotaram como emblema a imagem de um touro jovem, que aparece em algumas moedas da época, com o nome de "vitalos", que em pouco tempo converteu-se em ‘"italos"’, nome com que se denominou as tribos do sul. De acordo com Antíoco de Siracusa, a porção sul da península Bruttium (moderna Calábria: província de Régio da Calábria, e parte das províncias de Catanzaro e Vibo Valentia). Mas no seu tempo, Itália e Enótria já haviam se tornado sinônimos, e o nome também era aplicado à maior parte da (atual Basilicata). Os gregos gradualmente aplicaram o nome Itália para uma região maior, mas foi durante o reino do imperador Augusto (fim do ) que o termo foi expandido para cobrir toda a península até os Alpes e ‘"itali – orum"’ foi usado como gentílico para seus habitantes. O historiador grego Dionísio de Halicarnasso regista essa versão, junto com a lenda de que a Itália devia o seu nome a Ítalo, um rei lendário dos enótrios, o que também é mencionado por Aristóteles e Tucídides. História. A história da Itália influenciou fortemente a cultura e o desenvolvimento social, tanto na Europa como no resto do mundo. Foi o berço da civilização etrusca, da Magna Grécia, da civilização romana, da Igreja Católica, das repúblicas marítimas, do humanismo, do Renascimento e do fascismo. Foi o lugar de nascimento de muitos artistas, cientistas, músicos, literatos, exploradores. Pré-história e Antiguidade. As escavações em toda a Itália revelaram uma presença de neandertais que remonta ao período paleolítico, cerca de 200 mil anos atrás. Os humanos modernos apareceram há cerca de 40 mil anos na região. Os sítios arqueológicos deste período incluem locais como Ceprano e Gravina in Puglia. Civilizações importantes que desapareceram há milhares de anos nasceram na Itália, como a civilização de Nurago, da Sardenha. Durante a Idade do Ferro existiram várias culturas que podem ser diferenciadas em três grandes núcleos geográficos, a do Lácio Antigo, a da Magna Grécia e a da Etrúria. Uma dessas culturas, os lígures, foram um enigmático povo que habitava o norte da Itália, Suíça e sul de França. Entre os diversos povos da Antiguidade destacam-se os lígures, os vênetos e os celtas no norte, os latinos, etruscos e samnitas no centro, enquanto no sul prosperaram colônias gregas (Magna Grécia), e na Sardenha desde o floresceu a antiga civilização dos sardos. Roma antiga. Uma das mais importantes culturas antigas desenvolvidas em solo italiano foi a etrusca (a partir do ), que influenciou profundamente Roma e sua civilização, na qual muitas tradições importantes de origem mediterrânica e eurasiática encontraram a mais original e duradoura síntese política, econômica e cultural. Nascida na península Itálica, Roma, um assentamento em um vau no rio Tibre, com fundação convencional em Foi regida por um período de 244 anos por um sistema monárquico, inicialmente com soberanos de origem das tribos latina e sabina, depois por reis etruscos. A tradição conta sete reis: Rômulo, Numa Pompílio, Túlio Hostílio, Anco Márcio, Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo. Em , os romanos expulsam o último rei da sua cidade e estabelecem a República Romana.Desde sempre terra de origem e de encontro entre diversos povos e culturas, a civilização romana foi capaz de explorar as contribuições provenientes dos etruscos e de outros povos itálicos, da Grécia e de outras regiões do Mediterrâneo Oriental (Palestina — o berço do cristianismo — Síria, Fenícia e Egito). Graças ao seu império, Roma difundiu a cultura heleno-romana pela Europa e pelo Norte de África, que foram os limites de sua civilização. O Império Romano estava entre as forças econômicas, culturais, políticas e militares mais poderosas do mundo de seu tempo. Foi um dos maiores impérios da história mundial. Em seu auge, sob o governo de Trajano, cobriu 5 milhões de quilômetros quadrados. O legado romano influenciou profundamente a civilização ocidental, moldando a maior parte do mundo moderno; entre os muitos legados do domínio romano estão o uso generalizado das línguas românicas derivadas do latim, do sistema numérico, do alfabeto, do calendário do Ocidente e da transformação do cristianismo em uma religião mundial importante. Em um lento declínio desde o , o Império dividiu-se em dois no ano de 395. O Império Ocidental, sob a pressão das invasões bárbaras, entrou em colapso em 476, quando seu último imperador foi deposto pelo chefe germânico Odoacro, enquanto o Império Oriental ainda sobreviveria por mais mil anos. Idade Média. Após a queda do Império Romano do Ocidente, o território da península se dividiu em vários Estados, alguns independentes, alguns parte de estados maiores (inclusive fora da península Itálica). O mais duradouro entre eles foram os Estados Pontifícios, que resistiram até a tomada italiana de Roma em 1870 e que foi mais tarde reconstituído como o Vaticano, no coração da capital italiana. Depois da queda do último imperador romano do Ocidente, seguiu-se a o domínio dos hérulos e, em seguida, dos ostrogodos. A reanexação da Itália ao Império Romano do Oriente realizada por Justiniano no decurso das Guerras Góticas, na primeira metade do , foi curta, uma vez que entre 568 e 570 os lombardos, povos germânicos provenientes do território da atual Hungria, ocuparam parte da península, reduzindo os domínios bizantinos na Itália ao Exarcado de Ravena, mas representaram uma formidável continuidade política e cultural e a garantia da prosperidade económica da península e de toda a Europa por muitos anos. Depois, a área sob domínio romano-bizantino foi sujeita a fragmentações territoriais, mas conseguiu resistir até o final do , enquanto os lombardos tiveram que se submeter aos francos comandados por Carlos Magno a partir da segunda metade do . Os francos ajudaram na formação dos Estados Papais e no ano 800, a Itália central tornou-se parte do Sacro Império Romano-Germânico. Até o a política italiana foi dominada pela relação entre os imperadores do Sacro Império e os papas, com a maioria das cidades italianas se aliando com os primeiros (gibelinos) ou com os últimos (guelfos) de acordo com a conveniência do momento. Foi durante essa época caótica que as cidades italianas viram a ascensão de uma instituição peculiar, as comunas medievais. Devido ao vácuo de poder causado pela extrema fragmentação territorial e a luta entre o império e a Santa Sé, as comunidades locais buscaram maneiras autônomas de manter a lei e a ordem. A Questão das Investiduras, um conflito sobre duas visões radicalmente diferentes sobre as autoridades seculares tais como reis, condes ou duques, terem qualquer papel legítimo no apontamento de instituições eclesiásticas tais como bispados, foi finalmente resolvida pela Concordata de Worms. Em 1176, uma liga de cidades estado, a Liga Lombarda, derrotou o imperador germânico Frederico Barbarossa na Batalha de Legnano, assim certificando a independência efetiva para a maioria das cidades do centro e norte da Itália. Nas áreas costeiras e do sul, as repúblicas marítimas cresceram para finalmente dominarem o Mediterrâneo e monopolizar as rotas de comércio com o Oriente. Elas eram cidades-estados talassocráticas e independentes, ainda que a maioria delas tenha tido origem em territórios que pertenciam ao Império Bizantino. Durante o tempo em que foram independentes, todas essas cidades tiveram sistemas de governo similares, nos quais a classe mercante detinha praticamente todo o poder. Na prática, as repúblicas eram oligárquicas e pouco se assemelhavam a democracias modernas. A relativa liberdade política que nelas se vivia contribui decisivamente para o avanço acadêmico e artístico. As quatro mais proeminentes repúblicas marítimas foram a Veneza, Gênova, Pisa e a Amalfi, enquanto que as menos conhecidas são a Ragusa, Gaeta, Ancona e Noli. Veneza e Gênova eram portas de entrada da Europa para o comércio com o Oriente, além de produtoras de vidro fino, enquanto que a Florença foi a capital da seda, lã, bancos e joalheria. A riqueza desses negócios trazidos à Itália significou o patrocínio público e privado de grandes projetos artísticos. As repúblicas estiveram pesadamente envolvidas com as Cruzadas, providenciando suporte mas especialmente, tomando vantagem das oportunidades políticas e de comércio resultante dessas guerras. No sul, a Sicília se tornou um emirado islâmico no , prosperando até que os ítalo-normandos o conquistaram no fim do junto com a maioria dos principados lombardos e bizantinos no sul da Itália. Por uma série de eventos complexos, o sul da Itália desenvolveu um reino unificado, primeiro sob a Dinastia de Hohenstaufen, depois sob a Casa capetiana de Anjou e a partir do com reis aragoneses. Na Sardenha, as antigas províncias bizantinas se tornaram estados independentes conhecidos como "giudicati", embora algumas partes da ilha se tornaram controladas por Gênova ou Pisa até à anexação aragonesa no . A pandemia de Peste Negra de 1348 deixou a sua marca na Itália ao matar talvez cerca de um terço da população. Contudo, a recuperação da praga levou ao ressurgimento das cidades, comércio e economia, que permitiu o florescimento do humanismo e da Renascença, que depois se espalhou pela Europa. Era moderna. Nos séculos XIV e XV, o centro-norte da Itália foi dividida em várias cidades-Estados em guerra, sendo o restante da península ocupada pelos Estados Papais e pelo Reino da Sicília, até então designado Reino de Nápoles. Embora muitas dessas cidades tenham sido muitas vezes subordinadas formalmente a governantes estrangeiros, como no caso do Ducado de Milão, que era oficialmente um Estado constituinte do Sacro Império Romano-Germânico, elas geralmente conseguiram manter a independência que haviam conquistado em terras italianas após o colapso do Império Romano do Ocidente. As cidades-Estados mais poderosas absorveram gradualmente os territórios que as circundavam, dando origem às "signorie" (singular: "signoria"), estados regionais frequentemente liderados por famílias mercantes que fundaram dinastias locais. A guerra entre as cidades-Estados era endêmica e principalmente lutada por exércitos de mercenários conhecidos como "condottieri", grupos de soldados provenientes de toda a Europa, especialmente da Alemanha e da Suíça, liderados em grande parte por capitães italianos. Após décadas de luta, Florença, Milão e Veneza emergiram como as potências dominantes que assinaram o Tratado de Lodi em 1454, que trouxe calma relativa para a região pela primeira vez em séculos. Esta paz vigoraria nos quarenta anos seguintes. O Renascimento, um período de vigoroso renascimento das artes e da cultura, originou-se na Itália graças a uma série de fatores, como a grande riqueza acumulada pelas cidades mercantes, o mecenato de suas famílias dominantes e a imigração de estudiosos e textos gregos para a Itália após a conquista de Constantinopla pelo Império Otomano. O Renascimento italiano atingiu o apogeu em meados do , enquanto as invasões estrangeiras mergulhavam a região na turbulência das Guerras Italianas. Os Médici se tornaram a principal família de Florença e fomentaram e inspiraram o nascimento do Renascimento italiano, juntamente com outras famílias da Itália, como os Visconti e Sforza de Milão, os Este de Ferrara e os Gonzaga de Mântua. Os melhores artistas, como Leonardo da Vinci, Brunelleschi, Botticelli, Michelangelo, Giotto, Donatello, Ticiano e Rafael produziram trabalhos inspirados — sua pintura era mais realista do que tinha sido criada por artistas medievais e suas estátuas de mármore rivalizavam e às vezes superavam as da Antiguidade Clássica. O historiador humanista Leonardo Bruni também dividiu a história na Antiguidade, na Idade Média e Idade Moderna. As ideias e ideais do Renascimento logo se espalharam para França, Inglaterra e grande parte da Europa. Enquanto isso, no entanto, a descoberta da América, as novas rotas para a Ásia encontradas pelos portugueses e o surgimento do Império Otomano, foram fatores que corromperam com o tradicional domínio italiano no comércio com o Oriente e provocaram um longo declínio econômico na península. Após as Guerras Italianas (1494 a 1559), provocadas pela rivalidade entre a França e a Espanha, as cidades-estados perderam gradualmente sua independência e sofreram a dominação estrangeira, primeiro pela Espanha (1559 a 1713) e depois pela Áustria (1713 a 1796). Em 1629-1631, uma nova explosão de peste afetou cerca de 14% da população da Itália. Além disso, à medida que o Império Espanhol começou a declinar no , suas posses em Nápoles, Sicília, Sardenha e Milão também entraram em decadência. Em particular, o sul da Itália foi empobrecido deixou de ter relevância na corrente principal de eventos na Europa. No , como resultado da Guerra da Sucessão Espanhola, a Áustria substituiu a Espanha como poder estrangeiro dominante, enquanto a Casa de Saboia surgiu como uma potência regional que se expandiu para o Piemonte e para a Sardenha. No mesmo século, o declínio de 200 anos foi interrompido pelas reformas econômicas e políticas levadas a cabo em diversos estados pelas elites governantes. Durante as Guerras Napoleônicas, o norte e o centro da Itália foram invadidos e reorganizados como um novo Reino da Itália, um Estado cliente do Império Francês, enquanto a metade sul da península era administrada primeiro por José Bonaparte e depois por Joachim Murat, respetivamente irmão e cunhado de Napoleão, que foram coroados como reis de Nápoles. O Congresso de Viena de 1814 restaurou a situação que era vigente no final do , mas os ideais da Revolução Francesa não puderam ser erradicados e pouco depois ressurgiram durante as convulsões políticas que caracterizaram a primeira parte do . Unificação. A Itália contemporânea nasceu como um Estado unitário quando, em 17 de março de 1861, a maioria dos estados da península e as duas principais ilhas foram unidas sob o governo do rei da Sardenha da Casa de Saboia. O arquiteto da unificação da Itália foi o primeiro-ministro da Sardenha, conde Camillo Benso de Cavour, que apoiou (embora não reconhecendo diretamente) Giuseppe Garibaldi, permitindo a anexação do Reino das Duas Sicílias pelo Reino da Sardenha-Piemonte. O processo de unificação teve a ajuda da França, que — juntamente com o Reino Unido — tinha interesse em criar um estado anti-Habsburgo liderado por uma dinastia amiga (Saboia) e capaz de impedir o surgimento de um estado republicano e democrático na Itália, desejado por alguns "patriotas", como Mazzini e como já tinha acontecido em parte, em Roma, Milão, Florença e Veneza durante o movimento revolucionário de 1848. A primeira capital do reino foi Turim, a antiga capital do Reino da Sardenha e ponto de partida do processo de unificação da Itália. Depois da convenção de setembro de 1864, a capital foi transferida para Florença. Em 1866, a Itália anexou o Vêneto, até então na posse do Império Austríaco, na sequência da terceira guerra de independência, na qual a Itália foi aliada da Prússia de Bismarck. A unificação não incluiu a Córsega, a região de Nice, cidade natal de Garibaldi, nem Roma e os territórios vizinhos, que estavam sob o controle do Papa e protegidos por tropas de . Graças à derrota da França pelos prussianos, após uma rápida ação militar em 20 de setembro de 1870, Roma também foi anexada e proclamada a capital do reino. Mais tarde, com o Tratado de Latrão, em 1929, o Papa obteve a soberania da Cidade do Vaticano. Outra entidade autônoma dentro das fronteiras italianas é a República de San Marino. Mas mesmo após a conquista de Roma em 1870, a unificação da Itália ainda não estava completa, pois faltavam ainda as chamadas "terras irredentas": o Trentino, Trieste, a Ístria e a Dalmácia, que os nacionalistas clamavam como pertencentes à Itália. O Trentino, Trieste, a Ístria e Fiume foram anexados depois dos tratados de paz, após a Primeira Guerra Mundial, impostos pela França, Reino Unido e Estados Unidos aos Impérios Centrais, perdedores da guerra. Fascismo. A turbulência que se seguiu à devastação da Primeira Guerra Mundial, inspirada pela Revolução Russa de 1917, levou à turbulência e anarquia. O governo liberal, temendo uma revolução socialista, começou a apoiar o pequeno Partido Nacional Fascista, liderado por Benito Mussolini. Em outubro de 1922, as milícias fascistas camisas negras tentaram um golpe de Estado (a "Marcha sobre Roma"), que apesar de ter falhado, levou o rei a nomear Mussolini como primeiro-ministro. Nos anos seguintes, Mussolini proibiu todos os partidos políticos e liberdades pessoais, instituindo assim uma ditadura. Em 1935, Mussolini invadiu a Etiópia, resultando em um isolamento internacional e levando à retirada da Itália da Liga das Nações. Subsequentemente, a Itália deu forte apoio a Franco na Guerra Civil Espanhola e mais tarde aliou-se com a Alemanha nazista e com o Império do Japão. Em 1939, a Itália ocupou a Albânia, um protetorado italiano "de facto" durante décadas e entrou na Segunda Guerra Mundial em junho de 1940 ao lado das potências do Eixo. Mussolini, querendo uma vitória rápida como a "blitzkriegs" de Adolf Hitler na Polônia e na França, invadiu a Grécia em outubro de 1940, mas foi forçado a aceitar um empate humilhante depois de alguns meses. Ao mesmo tempo, a Itália, depois de inicialmente conquistar a Somalilândia Britânica e partes do Egito, sofreu um contra-ataque dos Aliados que acabou com todas as suas possessões no Corno de África e no Norte da África. A Itália foi invadida pelos Aliados em julho de 1943, levando ao colapso do regime fascista e à queda de Mussolini. Em setembro de 1943, a Itália se rendeu. O país foi palco de combates durante o resto da guerra, enquanto os Aliados estavam avançando a partir do sul e o norte era a base para as forças leais ao regime fascista e às forças alemãs. Os combates tiveram a participação do movimento de resistência italiano. As hostilidades terminaram em 2 de maio de 1945. Quase meio milhão de italianos (incluindo civis) morreram no conflito e a economia italiana tinha sido completamente destruída; a renda "per capita" em 1944 estava em seu ponto mais baixo desde o início do . República. A Itália se tornou uma república, após um referendo realizado em 2 de junho de 1946, um dia comemorado desde então como o Dia da República. Esta foi também a primeira vez que as mulheres italianas tiveram direito ao voto. O filho de Vítor Emmanuel III, Humberto II, foi forçado a abdicar e foi exilado. A constituição republicana entrou em vigor em 1 de janeiro de 1948. Nos termos dos Tratados de Paz de Paris de 1947, a área da fronteira oriental foi perdida para a Iugoslávia e, mais tarde, o Território Livre de Trieste foi dividido entre os dois Estados. O medo no eleitorado italiano de uma possível tomada comunista provou ser crucial para o resultado da primeira eleição com sufrágio universal em 18 de abril de 1948, quando os democratas-cristãos, sob a liderança de Alcide De Gasperi, obtiveram uma vitória esmagadora. Consequentemente, em 1949, a Itália tornou-se membro da OTAN. O Plano Marshall ajudou a reavivar a economia italiana, que, até final dos anos 1960, desfrutou de um período de crescimento econômico sustentado, o que foi comumente chamado de "Milagre Econômico". Em 1957, a Itália foi um membro fundador da Comunidade Econômica Europeia (CEE), que posteriormente se tornou a União Europeia (UE) em 1993. Do final dos anos 1960 até o início dos anos 1980, o país experimentou os "anos de chumbo", um período caracterizado pela crise econômica (especialmente após a crise do petróleo de 1973), generalizados conflitos sociais e massacres terroristas realizados por grupos extremistas opostos, com o suposto envolvimento dos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Os anos de chumbo culminaram com o assassinato do líder democrata-cristão Aldo Moro em 1978, um evento que afetou profundamente todo o país. Na década de 1980, pela primeira vez desde 1945, dois governos foram conduzidos por primeiros-ministros que não eram democratas-cristãos: um liberal (Giovanni Spadolini) e um socialista (Bettino Craxi), o Partido Democrata Cristão permaneceu, no entanto, como o principal partido do governo. Durante o governo Craxi, a economia recuperou e a Itália se tornou a quinta maior nação industrial do mundo, ganhando ingresso no G7. No entanto, como resultado de suas políticas de gastos, a dívida nacional italiana disparou durante a era Craxi, passando de 100% do produto interno bruto (PIB) pouco depois. No início de 1990, a Itália enfrentou desafios significativos, devido aos eleitores — desencantados com a paralisia política, a dívida pública enorme e extensa corrupção do sistema (conhecida como "Tangentopoli") descoberto pela "Operação Mãos Limpas" — exigirem reformas radicais. Os escândalos envolveram todos os principais partidos, mas especialmente os da coalizão de governo: o partido democrata-cristão, que governou durante quase 50 anos, sofreu uma grave crise e acabou por ser dissolvido em 1994, dividindo-se em várias facções. Os comunistas reorganizaram-se como uma força social-democrata. Durante os anos 1990 e 2000, a centro-direita (dominada pelo magnata da mídia Silvio Berlusconi) e coalizões de centro-esquerda governaram alternadamente o país, que entrou em um período prolongado de estagnação econômica. Geografia. A Itália está localizada no sul da Europa e compreende a península Itálica e uma série de ilhas, incluindo as duas maiores, Sicília e Sardenha. Situa-se entre as latitudes 35° e 47° N e longitude 6° e 19° E. Embora o país compreenda a totalidade península e a maior parte da bacia alpina meridional, alguns do território da Itália se estendem além da bacia alpina e algumas ilhas estão localizadas fora da plataforma continental da Eurásia. Esses territórios são as comunas de Livigno, Sesto, Innichen, Dobbiaco (em parte), Chiusaforte, Tarvisio, Curon Venosta (em parte), que fazem parte da bacia do rio Danúbio, enquanto o Val di Lei constitui parte do bacia do Reno e as ilhas de Lampedusa e Lampione estão na plataforma continental africana. A área total do país é de , dos quais são terra e água. Incluindo as ilhas, a Itália tem um litoral e uma fronteira de nos mares Adriático, Jônico e Tirreno (740 km) e as fronteiras comuns com a França (488 km), Áustria (430 km), Eslovênia (232 km) e Suíça; San Marino (39 km) e Cidade do Vaticano (3,2 km), ambos enclaves, também entram como fronteiras. Os Apeninos formam a espinha dorsal da península e os Alpes formam a sua fronteira natural a norte, onde está o ponto mais alto da Itália, o monte Branco (). O Pó, maior rio da Itália (652 km), flui dos Alpes na fronteira oeste com a França e atravessa a planície da Padânia em seu caminho para o mar Adriático. Os cinco maiores lagos são (em ordem de tamanho decrescente): Garda (367,94 km²), Maggiore (212,51 km²), Como (145,9 km²), Trasimeno (124,29 km²) e Bolsena (113,55 km²). O país está situado no ponto de encontro da placas tectônicas eurasiática e africana, levando a uma atividade sísmica e vulcânica considerável. Existem 14 vulcões na Itália, três dos quais estão ativos: Etna (o tradicional local de forja de Vulcano), Stromboli e Vesúvio. Este último é o único vulcão ativo da Europa continental e é o mais famoso pela destruição de Pompeia e Herculano. Várias ilhas e colinas foram criadas pela atividade vulcânica e ainda há uma grande caldeira ativa, os Campos Flégreos, no noroeste de Nápoles. Clima. Graças à grande extensão longitudinal da península e a conformação interna principalmente montanhosa, o clima da Itália é altamente diversificado. Na maior parte das regiões setentrionais e centrais do interior, o clima varia de subtropical úmido a continental e oceânico úmido. Em particular, o clima da região geográfica da Planície Padana é predominantemente continental, com invernos rigorosos e verões quentes. As áreas costeiras da Ligúria, Toscana e a maioria do Sul geralmente se encaixam no estereótipo do clima mediterrâneo (classificação climática de Köppen, "Csa"). As condições nas áreas costeiras peninsulares podem ser muito diferentes dos terrenos e vales mais altos do interior, particularmente durante os meses de inverno, quando as altitudes mais altas tendem a ser frias, úmidas e muitas vezes com neve. As regiões costeiras têm invernos suaves e verões quentes e geralmente secos, embora os vales das planícies possam ser bastante quentes no verão. As temperaturas médias no inverno variam de 0 °C nos Alpes a 12 °C na Sicília, assim como as temperaturas médias no verão variam de 20 °C a mais de 25 °C. Os invernos podem variar muito em todo o país com períodos frios, nevoentos e com neve no norte e condições mais amenas e ensolaradas no sul. Os verões são geralmente quentes e úmidos em todo o país, especialmente no sul, enquanto as áreas norte e central podem experimentar fortes tempestades ocasionais da primavera ao outono. Ambiente. Depois do seu rápido crescimento industrial, a Itália levou um longo tempo para confrontar os seus problemas ambientais. Depois de várias melhorias, ela agora se posiciona na 84.ª posição no mundo com relação a sustentabilidade ecológica. Parques nacionais cobrem cerca de 5% do país. Na década de 2010, a Itália se tornou um dos líderes do mundo em produção de energia renovável, sendo o país com a quarta maior capacidade instalada de energia solar no mundo em 2010 e um dos países com a maior penetração de energia solar. além de ter a sexta maior capacidade instalada de energia eólica em 2010. No entanto, a poluição atmosférica continua sendo um problema severo, especialmente no norte industrializado, atingindo o décimo maior nível mundial de emissão de dióxido de carbono industrial no anos 1990. Em 2009, a Itália era o 16.° maior lançador global de dióxido de carbono na atmosfera. Tráfico intenso e congestão nas maiores áreas metropolitanos continuam a causar severos problemas ambientais e de saúde pública, mesmo que os níveis de "smog" tenham diminuído dramaticamente entre os anos 1970 e 1980, com a presença de "smog" se tornando um fenômeno cada vez mais raro e os níveis de dióxido de enxofre estavam diminuindo no início da década de 1990. Muitos cursos de água e seções costeiras tem sido contaminados pela atividade industrial e agricultural, enquanto que em decorrência dos níveis crescentes da água, Veneza tem sido regularmente inundada em anos recentes. Lixo e contaminantes da atividade industrial nem sempre foram descartados por meios legais e têm levado a problemas permanentes de saúde na população das áreas afetadas, como no caso do acidente de Seveso. O país também operou várias usinas nucleares entre 1963 e 1990, mas após o desastre de Chernobyl e um o programa nuclear civil foi terminado. Essa decisão foi revogada pelo governo em 2008, que planeava construir até quatro usinas nucleares com tecnologia francesa. O que por sua vez foi cancelado após o referendo sobre a questão nuclear logo depois do desastre de Fukushima. Desmatamento, construção ilegal e políticas deficientes de manejo do solo levaram a erosão significativa de todas as regiões montanhosas da Itália, levando a desastres ecológicos de grandes proporções como a transposição da barragem de Vajont em 1963, deslizamentos de terra em 2008 em Sarno e em 2010, em Messina. Demografia. Em 2009, a população italiana passou de 60 milhões, a quarta maior da União Europeia, e em 2017 era a 23.ª maior do mundo. Em 2020, o país tinha habitantes (), o quinto maior da União Europeia, sendo o norte a parte mais densa. Depois da Segunda Guerra Mundial, a Itália passou por um grande crescimento econômico que levou a população rural a mover-se para as cidades, e ao mesmo tempo passou de uma nação caracterizada por massiva emigração a um país receptor de imigrantes. A alta fertilidade persistiu até à década de 1970, e depois passou para abaixo da taxa de reposição — em 2007, um em cada cinco italianos era aposentado. Apesar disso, graças principalmente à imigração das décadas de 1980 e 1990, nos anos 2000 a Itália viu um acréscimo populacional natural pela primeira vez em anos. Grupos étnicos. Cerca de 92% da população italiana tem origem na península Itálica. Os italianos são descendentes de uma grande quantidade de povos que se estabeleceram na península ao longo da história. Os italianos são uma mistura de povos que já viviam na região, incluindo os povos latinos (a oeste), os sabinos (no vale superior do Tibre), os úmbrios (no centro), os samnitas (no sul), oscos, entre outros, como os etruscos que se estabeleceram no centro do país, os gregos no sul e os celtas no norte. Posteriormente, estabeleceram-se no norte povos germânicos (ostrogodos, visigodos, lombardos) e, no sul, sarracenos (de origem árabe e norte-africana) e os normandos (de origem escandinava). Esses últimos deixaram uma menor influência na população italiana. Emigração e imigração. Do final do até a década de 1960, a Itália era um país de emigração em massa. Entre 1898 e 1914, os anos de pico da diáspora italiana, aproximadamente italianos emigravam do país a cada ano. A diáspora atingiu mais de 25 milhões de italianos e é considerada a maior migração em massa da época contemporânea. Como resultado, atualmente mais de 4,1 milhões de cidadãos italianos estão vivendo no exterior, enquanto pelo menos 60 milhões de pessoas com ascendência italiana total ou parcial vivem fora da Itália, principalmente na Argentina, Brasil, Uruguai, Venezuela, Estados Unidos, Canadá, Austrália e França. Em 2016, a Itália tinha cerca de 5,05 milhões de residentes estrangeiros, representando 8,3% da população total. Os números incluem mais de meio milhão de crianças nascidas na Itália de pais estrangeiros — imigrantes de segunda geração, mas excluem os estrangeiros que posteriormente adquiriram a cidadania italiana. Em 2016, cerca de pessoas adquiriram a cidadania italiana e em 2014). Os números oficiais também excluem imigrantes ilegais, que, em 2008, foram estimados em pelo menos pessoas. A partir do início da década de 1980, até então uma sociedade linguisticamente e culturalmente homogênea, a Itália começou a atrair fluxos substanciais de imigrantes estrangeiros. Depois da queda do Muro de Berlim e, mais recentemente, dos alargamentos de 2004 e 2007 da União Europeia, grandes ondas de migração se originaram dos antigos países socialistas da Europa Oriental (especialmente Romênia, Albânia, Ucrânia e Polônia), mas também de países da Ásia, como a China. Atualmente, cerca de um milhão de cidadãos romenos (cerca de 10% dos quais pertencentes à etnia cigana) estão oficialmente registados como residentes em Itália, representando assim o mais importante país de origem, seguido por albaneses e marroquinos com cerca de pessoas cada. O número de romenos não registrados é difícil de estimar, mas a Rede de Relatórios Investigativos dos Bálcãs sugeriu em 2007 que talvez houvesse meio milhão de pessoas ou mais. Idioma. O idioma oficial é o italiano, falado por quase toda a população. O italiano padrão é uma língua derivada do dialeto da Toscana, sobretudo aquele falado na região de Florença. Existem diversas línguas e dialetos falados no dia a dia pela população italiana, como o sardo (na Sardenha), napolitano (em Campânia), calabrês em duas variações (na Calábria), vêneto (no Vêneto), friulano (em Friuli-Venezia Giulia), francês (no Vale d'Aosta), alemão (na Província autónoma de Bolzano), esloveno (em Trieste), entre outras. A Itália, ainda hoje, pode ser considerada um país de bilíngues. Em muitas regiões do país a diglossia é predominante, pois o uso dos dialetos no cotidiano não foi eliminado, inclusive entre a população mais culta. Religião. O Catolicismo Romano é a maior religião do país e embora a Igreja Católica não seja mais a religião oficial do estado, 87,8% dos italianos identificam-se como católicos romanos. Contudo apenas um terço descrevem-se como membros ativos (36,8%). A sede mundial da Igreja Católica situa-se no Vaticano desde o , quando o bispo de Roma passou a ser considerado bispo supremo e recebeu o título "papa". Historicamente, a Igreja exerceu grande influência na vida política e social dos italianos. Embora continue influente, nos últimos anos, com o aumento da secularização, a religião vem perdendo força na Itália, como em outros países desenvolvidos. Em pesquisa de 2012, 73% dos italianos se disseram religiosos, 15% não religiosos, 8% ateus convictos e 4% não responderam. Apenas 25% dos católicos italianos dizem que a religião "é muito importante" e 31% dizem que rezam todos os dias, embora 95% da população em 2010 fosse batizada na igreja. Uma pesquisa feita em 2012 mostrou que, apesar de 30,1% da população italiana afirmar que comparecia à missa todos os domingos, o comparecimento real foi de 18,5%. Outros grupos cristãos na Itália incluem mais de 700 000 cristãos ortodoxos, incluindo 470 000 imigrantes, e por volta de 180 000 gregos ortodoxos, 550 000 pentecostais e evangélicos (0,8%) (dos quais 400 000 são membros da Assembleia de Deus da Itália), 245 657 Testemunhas de Jeová (0,4%), e 104 000 de outras religiões. A minoria religiosa mais antiga do país é a comunidade judaica, que compreende por volta de pessoas, mas não é mais o maior grupo não cristão da Itália. Como resultado da significante imigração de outras partes do mundo, muçulmanos (1,4% da população total) moram no país, mas apenas são cidadãos italianos. Há também budistas (0,2%), siques, e hindus (0,1%). Política e justiça. A constituição italiana de 1948 estabeleceu um parlamento bicameral, que é formado por uma câmara de deputados ("Camera dei Deputati") e de um senado ("Senato della Repubblica") além de um sistema judiciário; e um sistema executivo composto de um conselho de ministros ("Consiglio dei Ministri"), encabeçado pelo primeiro-ministro ("Presidente del consiglio dei ministri"). O presidente da república ("Presidente della Repubblica") tem um mandato de sete anos. O presidente escolhe o primeiro-ministro, e este propõe os outros ministros, que são aprovados pelo presidente. O conselho de ministros precisa ter apoio ("fiducia" - confiança) de ambas as casas do parlamento. Os deputados que são eleitos para o parlamento são eleitos diretamente pela população. De acordo com a legislação italiana de 1993, a Itália tem membros únicos de cada distrito do país, para 75% dos postos no parlamento. Os outros 25% dos postos parlamentares são distribuídos regularmente. A câmara de deputados possui oficialmente 630 membros (mas de fato, são apenas 619 depois das eleições italianas de 2001). O senado é composto por 315 senadores, eleitos pelo voto popular, bem como ex-presidentes e outras pessoas (não mais que cinco), indicadas pelo presidente da república, de acordo com provisões constitucionais especiais. Ambos, a câmara de deputados e o senado, são eleitos para um mandato de no máximo cinco anos de duração, mas eles podem ser dissolvidos antes do término do mandato. Leis podem ser criadas na câmara de deputados ou no Senado, e para serem aprovadas, precisam da maioria em ambas as câmaras. O sistema judiciário italiano é baseado nas leis romanas, modificadas pelo Código Napoleônico e outros estatutos adicionados posteriormente. Há também um tribunal constitucional ("Corte Costituzionale"), uma inovação posterior à Segunda Guerra Mundial. Forças armadas. O exército, marinha, força aérea, Arma dos Carabineiros ("Carabinieri") e a Guarda de Finanças coletivamente formam as forças armadas italianas, sob o comando do Conselho Supremo de Defesa, presidido pelo Presidente da República Italiana. Desde 1999, o serviço militar é voluntário. Em 2010, o exército italiano tinha 293 202 soldados ativos, dos quais 114 778 na guarda nacional. Os gastos militares italianos totais em 2010 foram os décimos maiores do mundo, situando-se em de dólares, equivalente a 1,7% do PIB nacional. A Itália faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar entre países da América do Norte e da Europa; fazendo parte do Quinteto da OTAN, um diretório informal das grandes potências que compõem a organização. Como parte da partilha estratégia de armas nucleares da OTAN, a Itália também abriga 90 bombas nucleares B61 dos Estados Unidos, localizadas nas bases aéreas de Ghedi e Aviano, e destinadas a serem usadas pelos caças-bombardeiros Panavia Tornado e futuramente F-35 Lightning II da força aérea. O Exército Italiano é a força de defesa terrestre nacional. Dentre os seus veículos de combate estão o veículo de combate de infantaria Dardo, o Centauro B1 na função de destruidor de tanques e o tanque Ariete. Dentre as suas aeronaves estão o helicóptero de ataque Agusta A129 Mangusta que foi empregado em missões da União Europeia, OTAN e da ONU. A Marinha Italiana possui em 2018 cerca de 118 embarcações à sua disposição, a sua frota possui dois porta-aviões, três pequenas docas de transporte anfíbio de toneladas, quatro contra-torpedeiros de defesa aérea, quatro fragatas de propósito geral, 10 fragatas anti-submarinas e oito submarinos de ataque. Unidades de guerra litorânea e patrulha incluem uma fragata leve de patrulha, 10 navios de patrulha e duas corvetas. No suporte da frota estão dez navios de contra medidas a minas, quatro barcos de patrulha costeira e vários navios auxiliares. A marinha passou por um extenso processo de renovação, com o resto da sua frota remanescente da Guerra Fria de 50 navios sendo substituída por 30 navios maiores e em geral, polivalentes. Também é considerada como uma marinha de alto mar. A Força Aérea Italiana é uma das maiores forças aéreas da OTAN. Em 2016 tinha a sua disposição 85 caças Eurofighter Typhoon, 9 F-35 e 56 Panavia Tornado, além de 53 AMXs na função de ataque ao solo, configurando 202 aeronaves de combate a jato, de um número total de 716 aeronaves. A função de transporte aéreo é realizada pelos C-130 Hercules e Alenia C-27J Spartan, o último de fabricação italiana. Um corpo autônomo das forças militares, os carabineiros, são a gendarmaria e a polícia militar da Itália, policiando a população civil e militar junto dos . Enquanto que diferentes ramos dos carabineiros reportam para ministros diferentes para cada uma das suas funções individuais, para as funções de manutenção da segurança e ordem pública, os corpos reportam para o Ministros do Interior. Crime e aplicação da lei. A aplicação da lei na Itália é providenciada por múltiplas forças policiais, cinco das quais são agências nacionais italianas. A Polícia do Estado ("Polizia di Stato") é a polícia civil nacional da Itália. Junto com os deveres de patrulha, investigação e aplicação da lei, ela patrulha as autoestradas da Itália e vigia a segurança das ferrovias, pontes e cursos de água. Os "carabinieri", nome comum para a Arma dos Carabineiros que também fazem parte das Forças Armadas da Itália, também têm deveres de polícia, atuando como a polícia militar da Itália. Outro ramo das forças armadas, a Guarda de Finanças também atua com funções policiais. A Polícia Penitenciária ("Polizia Penitenciaria") opera no sistema prisional italiano e manejam o transporte dos presos. O sistema judiciário italiano é baseado no direito Romano, modificada pelo código napoleônico e estatutos posteriores. A Suprema Corte de Cassação é a mais alta corte da Itália para recurso tanto em casos civis quanto criminais. A Corte Constitucional da República Italiana ("Corte Costituzionale") julga em conformidade com as leis da constituição. Desde a sua aparição no meio do , o crime organizado italiano tem se infiltrado na vida social e econômica de muitas regiões no Sul da Itália. A mais notória organização é a "Cosa nostra", conhecida como Máfia siciliana, que também se expandiu para outras paragens em diferentes países, incluindo os Estados Unidos. Segundo estimativas dos anos 2007 a 2010, as receitas da máfia eram equivalentes a 6% a 9% do PIB do PIB da Itália. Um relatório de 2009, identificou 610 comunas com forte presença da máfia, onde 13 milhões de italianos vivem e 14,6% do PIB italiano é produzido. A 'Ndrangheta, na Calábria, é provavelmente a organização criminosa mais poderosa atualmente na Itália, possuindo poder sobre 3% do PIB do país. No entanto, com 0,013 homicídios por habitantes, a Itália tem somente o 47.ª maior taxa de homicídios (em um grupo de 62 países) e a 43.ª maior taxa de estupros por habitantes (em um grupo de 65 países), índices relativamente baixos entre países desenvolvidos. Relações exteriores. A Itália foi um membro fundador da Comunidade Econômica Europeia, agora União Europeia (UE), cujo tratado constituinte foi assinado em Roma em 1957. A Itália foi aceita nas Nações Unidas em 1955 e é um membro e um forte braço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio/Organização Mundial do Comércio (GATT/OMC), a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), e o Conselho da Europa. A Itália apoia as Nações Unidas e as suas atividades internacionais de segurança. O país já forneceu tropas de apoio a missões de paz da ONU na Somália, Moçambique, e em Timor-Leste e dá suporte para operações da OTAN e da ONU na Bósnia, Kosovo e Albânia. A Itália mobilizou também mais de soldados para o Afeganistão, em apoio à Operação Liberdade Duradoura (OEF, do inglês "Operation Enduring Freedom") em fevereiro de 2003 e apoia ainda os esforços internacionais para reconstruir e estabilizar o Iraque, mas o país retirou o seu contingente militar de cerca de soldados em novembro de 2006, mantendo apenas trabalhadores humanitários e pessoal civil. Em agosto de 2006, a Itália enviou cerca de soldados para o Líbano a serviço das Nações Unidas em uma missão de paz, a FINUL. Economia. A Itália tem uma economia de mercado caracterizada por um elevado PIB "per capita" e taxas de desemprego baixas. Em 2010, era a oitava maior economia do mundo e a quarta maior da Europa em termos de PIB nominal. Por paridade do poder de compra (PPC), o país possui o décimo maior PIB do mundo e o quinto maior da Europa. Após a Segunda Guerra Mundial, a Itália foi rapidamente transformada de uma economia baseada na agricultura para um dos países mais industrializados do mundo e um país líder em comércio mundial e exportações. É um país desenvolvido, com a oitava melhor qualidade de vida do mundo e o 23º melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Apesar da recente crise econômica global, o PIB "per capita" italiano em PPC mantém-se aproximadamente igual à média da União Europeia (UE), enquanto a taxa de desemprego (8,5%) se destaca como uma das mais baixas da UE. O país é bem conhecido por seu setor de negócios econômicos influente e inovador, um setor trabalhista e agrícola competitivo (a Itália é o maior produtor mundial de vinho) e por seus automóveis, indústria, eletrodomésticos e "design" de moda de alta qualidade. A Itália tem um número menor de empresas multinacionais globais quando comparada a outras economias de tamanho similar, mas há um grande número de pequenas e médias empresas, notoriamente agrupadas em vários distritos industriais, que são a espinha dorsal da indústria italiana. Isso produziu um setor industrial focado principalmente na exportação de nicho de mercado e produtos de luxo, que, se por um lado é menos capaz de competir em quantidade, do outro é mais capaz de enfrentar a concorrência da China e de outras economias emergentes da Ásia com base em custos laborais mais baixos e com produtos de maior qualidade. Em 2009, o país era o sétimo maior exportador do mundo, caindo para 10º lugar em 2020, tanto nas exportações, quanto nas importações. Existem fortes laços comerciais da Itália com outros países da União Europeia, com quem realiza cerca de 59% seu comércio total. Seus maiores parceiros comerciais da UE, em termos de quota de mercado, são a Alemanha (12,9%), França (11,4%) e Espanha (7,4%). Finalmente, o turismo é um dos setores de maior crescimento e rentabilidade da economia nacional: com 43,6 milhões de chegadas de turistas internacionais e receitas totais estimadas em de dólares em 2010, a Itália é ao mesmo tempo o quinto país mais visitado e que mais lucra com o turismo no mundo. Apesar dessas importantes conquistas, a economia italiana hoje sofre de muitos e relevantes problemas. Depois de um forte crescimento do PIB, entre 5 e 6% ao ano, da década de 1950 aos anos 1970 e um abrandamento progressivo nas décadas de 1980 e 1990, as taxas médias de crescimento anual da Itália tiveram uma performance ruim, de 1,23%, em comparação com uma média taxa de crescimento anual de 2,28% em toda a UE. Diante da estagnação econômica, os esforços do governo para reavivar a economia através de maciços gastos públicos a partir dos anos 1980, geraram um forte aumento da dívida pública. De acordo com estatísticas do Eurostat, a dívida pública italiana ficou em 116% do PIB em 2010 — a segunda maior relação dívida/PIB, somente superada pela Grécia, com 126,8%. No entanto, a maior fatia da dívida pública italiana é de propriedade de italianos, o que é uma grande diferença entre a Itália e a Grécia. Além disso, os padrões de vida dos italianos também têm uma considerável desigualdade entre as regiões norte e sul do país. A média do PIB per capita no norte excede em muito a média da União Europeia, enquanto que muitas regiões do sul italiana têm uma renda dramaticamente baixa. A Itália tem sido muitas vezes referida o "homem doente da Europa", caracterizado pela estagnação econômica, instabilidade política e problemas em realizar programas de reforma. Mais especificamente, a Itália sofre de deficiências estruturais, devido à sua conformação geográfica e a falta de matérias-primas e recursos energéticos: em 2006 o país importou mais de 86% do seu consumo total de energia (99,7% dos combustíveis sólidos, 92,5% de petróleo, 91,2% de gás natural e 15% da electricidade). A economia italiana está enfraquecida pela falta de desenvolvimento da infraestrutura, reformas de mercado e investimento em pesquisa, além de um também elevado déficit público. No Índice de Liberdade Econômica de 2008, o país ocupou o 64º lugar no mundo e o 29º na Europa, a classificação mais baixa da Zona Euro. A Itália ainda recebe a ajuda ao desenvolvimento da União Europeia a cada ano. Entre 2000 e 2006, a Itália recebeu 27,4 bilhões de euros da UE. O país tem uma burocracia estatal ineficiente, baixa proteção aos direitos de propriedade e altos níveis de corrupção política, além de uma tributação pesada e gastos públicos que em 2008 representavam cerca da metade do PIB nacional. Além disso, os gastos do país em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em 2006 foram equivalentes a 1,14% do PIB, abaixo da média da UE de 1,84% e do alvo Estratégia de Lisboa de dedicar 3% do PIB para atividades de P&D. De acordo com um relatório de 2007 dos "Confesercenti", uma associação empresarial importante na Itália, o crime organizado na Itália representava o "maior segmento da economia italiana", respondendo por 90 bilhões de € em receitas e 7% do PIB da Itália. Turismo. O turismo também é muito importante para a economia italiana: com mais de 37 milhões de turistas por ano em 2004, a Itália é classificada como o quinto principal destino turístico do mundo. Em 2006, Roma era a terceira cidade mais visitada da União Europeia, sendo constantemente considerada como uma das mais belas cidades antigas do mundo. Veneza também é considerada a cidade mais bonita do mundo, segundo o "New York Times", que descreve a cidade como "sem dúvida a mais bela cidade construída pelo homem". O país também foi classificado com tendo a sexta melhor reputação internacional de 2009. Infraestrutura. Transportes. Em 2004 o setor de transporte na Itália gerou um valor de negócios de de euros, empregando pessoas em empresas. Com relação a rede nacional de estradas, haviam de rodovias utilizáveis na Itália, incluindo de autoestradas, possuídas pelo estado italiano mas operados pela empresa privada da Atlantia. Em 2005, havia na Itália cerca de carros de passageiros (590 carros por pessoas). As linhas férreas na Itália totalizam , a 17ª maior rede ferroviária do mundo, e são operadas pela Ferrovie dello Stato. trens de alta velocidade incluem os da classe ETR, dos quais o viaja a 300 km/h. Em 1991, a Treno Alta Velocità SpA (TAV) foi criada, uma sociedade de propósito específico pertencente à RFI (controlada pela Ferrovie dello Stato) para o planejamento e construção de linhas para trem de alta velocidade ao longo das linhas mais importantes e saturadas da Itália. O objetivo da construção do TAV é de melhorar a viagem ao longo das linhas ferroviárias mais saturadas da Itália e adicionar novos trilhos a estas linhas, notadamente nos eixos Milão-Nápoles e Turim-Milão-Veneza. Existem cerca de 133 aeroportos na Itália, incluindo os dois "hubs" de Malpensa Internacional (perto de Milão) e o Internacional Leonardo Da Vinci-Fiumicino (perto de Roma). O país tem 27 grandes portos, sendo o maior em Gênova, que também é o segundo maior do mar Mediterrâneo, depois de Marselha. de hidrovias passam pela Itália. Educação, ciência e tecnologia. A educação na Itália é gratuita e obrigatória entre os 6 e 16 anos de idade e consiste em cinco fases: ensino infantil ("scuola" "dell'infanzia" ), escola primária ("scuola primaria"), ensino secundário de primeiro grau ("scuola secondaria di primo grado"), ensino secundário de segundo grau ("scuola secondaria di secondo grado") e universidade ("Università"). A educação primária dura oito anos. Os alunos recebem uma educação básica em inglês, matemática, ciências naturais, história, geografia, estudos sociais, educação física e artes visuais e musicais. O ensino secundário tem a duração de cinco anos e inclui três tipos tradicionais de escolas voltadas para diferentes níveis de ensino: o liceu prepara os alunos para os estudos universitários com um currículo clássico ou científico, enquanto o "istituto tecnico" e o "istituto professionale" preparam os alunos para o ensino profissional. No avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2012, o ensino secundário italiano foi classificado como ligeiramente abaixo da média da OCDE, mas registava-se uma melhoria forte e constante nas notas de ciências e matemática desde 2003; No entanto, existe uma grande diferença entre as escolas do Norte, que tiveram um desempenho significativamente melhor do que a média nacional (entre os melhores do mundo em alguns casos), e as escolas no Sul, que tiveram resultados muito mais pobres. O ensino superior na Itália é dividido entre as universidades públicas, universidades privadas e as prestigiadas e seletivas escolas de graduação superior, como a Escola Normal Superior de Pisa. O sistema universitário na Itália é geralmente considerado como pobre para uma potência cultural mundial do nível do país, sem universidades classificadas entre as 100 melhores do mundo e apenas 20 entre as 500 melhores em 2018 no Ranking de Xangai. No entanto, em 2015, o governo tinha agendadas grandes reformas e investimentos a fim de melhorar a internacionalização e a qualidade global do sistema. A Itália é o sexto maior produtor de artigos científicos do mundo gerando mais de 155 mil documentos científicos no ano de 2020 comparados com os mais de 125 mil em 2019 e cerca de 1,8 milhão de documentos gerados entre 1996 e 2019, tendo ultrapassado a França em 2019 e o Japão em 2020, além de cerca de 2 milhões de documentos gerados entre 1996 e 2020. Entre os cientistas italianos se destacam, entre outros, Galileo Galilei, o fundador da ciência moderna, e Leonardo da Vinci, um dos grandes gênios da humanidade; pintor, escultor, engenheiro, arquiteto, anatomista, musicista e inventor, que representa no Renascimento Italiano, o espírito universalista que o leva a maiores formas de expressão nos diversos campos da arte e do conhecimento. Saúde. O Estado italiano mantém um sistema de saúde pública universal desde 1978. No entanto, ele é fornecido a todos os cidadãos e residentes através de um sistema misto público-privado. A parte pública é o "Servizio Sanitario Nazionale", que é organizado no âmbito do Ministério da Saúde e administrado numa base regional desconcentrada. As despesas de saúde na Itália foram responsáveis por 9,2% do PIB nacional em 2012, muito próximo da média dos países da OCDE de 9,3%. Em 2000, o sistema de saúde italiano foi classificado como o segundo melhor do mundo. A expectativa de vida na Itália era de 80 anos para os homens e 85 anos para as mulheres em 2007, colocando o país no sexto lugar do mundo em expectativa de vida. Em comparação com outros países ocidentais, a Itália tem uma taxa relativamente baixa de obesidade adulta (abaixo de 10%), provavelmente graças aos benefícios de saúde da dieta mediterrânica. A proporção de fumantes diários foi de 22% em 2012, abaixo dos 24,4% em 2000, mas ainda ligeiramente acima da média da OCDE. Fumar em locais públicos, incluindo bares, restaurantes, discotecas e escritórios tem sido restrito a quartos especialmente ventilados desde 2005. Em 2013, a UNESCO acrescentou a dieta mediterrânica da Itália (promotor), Marrocos, Espanha, Portugal, Grécia, Chipre e Croácia à lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Energia. Com relação a outros países da União Europeia, a Itália apresenta uma dependência maior da importação de matérias primas e de hidrocarbonetos (gás e petróleo). Em 2016, a Itália produziu barris de petróleo diariamente, enquanto que o consumo diário era de barris. Os depósitos de Val d'Agri são os maiores da Europa continental. Com relação ao consumo de energia elétrica, a Itália em 2014 consumiu (), o consumo residencial foi de . O país é um importador líquido de eletricidade, importando e exportando em 2014; a produção bruta no mesmo ano foi de , com as principais fontes de energia sendo a queima de gás e a hidroeletricidade. A energia nuclear na Itália é um tópico controverso. Apesar de ter sido uma das primeiras nações a produzir energia nuclear no início dos anos 1960, todas as usinas nucleares foram fechadas em 1990, na sequência de um referendo em 1987 em que a população italiana escolheu se opor a energia nuclear. Uma tentativa para mudar essa decisão ocorreu em 2008 pelo governo, que classificou o fim da produção de energia nuclear como um "grande erro, cujos custos totalizam mais de de euros". O Ministro do Desenvolvimento Econômico Claudio Scajola propôs construir até 10 novos reatores, com o objetivo da energia nuclear passar a representar cerca de 25% da demanda de eletricidade da Itália por volta de 2030. No entanto, o acidente nuclear de Fukushima em 2011 levou o governo italiano a declarar uma moratória de um ano nos planos de reutilização da energia nuclear. Em 11 e 12 de junho de 2011, o povo italiano votou no referendo para cancelar os planos para novos reatores A Itália tinha uma meta programada pela União Europeia de atingir em 2020 17% de cobertura por energias renováveis do seu consumo energético total, no entanto excedeu essa porcentagem em 2014, alcançando 17,1%. O consumo bruto de energia de fontes renováveis aumentou de 17,36 tep em 2010 para 21,14 tep no fim de 2015. A maior parte do crescimento se deu na eletricidade, no qual o setor aumentou em 58,3%. Em 2015, o setor termal registrou um aumento de 5,7% enquanto que o de transporte mostrou uma queda de 16,9%. Em 2021, a Itália tinha, em energia elétrica renovável instalada, em energia hidroelétrica (11º maior do mundo), em energia eólica (11º maior do mundo), em energia solar (6º maior do mundo), e em biomassa, além de em energia geotérmica. Cultura. Por séculos dividida pela política e pela geografia até sua unificação em 1861, a Itália desenvolveu uma cultura única, moldada por uma infinidade de costumes regionais e centros locais de poder e mecenato. Durante a Idade Média e a Renascença, várias cortes magníficas competiram por atrair os melhores arquitetos, artistas e estudiosos, produzindo assim um imenso legado de monumentos, pinturas, música e literatura. A Itália tem mais sítios classificados como Patrimônio Mundial pela UNESCO (53 em 2018) do que qualquer outro país do mundo e possui importantes coleções de arte, cultura e literatura de muitos períodos diferentes. O país teve uma ampla influência cultural em todo o mundo, também porque vários italianos emigraram para outros lugares durante a diáspora italiana. Além disso, a nação tem, em geral, cerca de monumentos de todos os tipos (museus, palácios, edifícios, estátuas, igrejas, galerias de arte, casas de campo, fontes, casas históricas e vestígios arqueológicos). Literatura. A literatura italiana começou após a fundação de Roma no A literatura latina era, e ainda é, altamente influente no mundo, com vários escritores, poetas, filósofos e historiadores, tais como Plínio, o Velho, Plínio, o Jovem, Virgílio, Horácio, Propércio, Ovídio e Lívio. Os romanos também eram famosos por sua tradição oral, poesia, drama e epigramas. Nos primeiros anos do , São Francisco de Assis foi considerado o primeiro poeta italiano pelos críticos literários, com sua canção religiosa "Cântico das Criaturas". Outra voz italiana originou-se na Sicília. Na corte do imperador Frederico II, que governou o reino siciliano durante a primeira metade do , as letras modeladas em formas e temas eram escritas em uma versão refinada do vernáculo local. O mais importante desses poetas foi o notário Giacomo da Lentini, inventor do soneto, embora o mais famoso sonetista primitivo seja Petrarca. Guido Guinizelli é considerado o fundador do "Dolce Stil Novo", uma escola literária que acrescentou uma dimensão filosófica à poesia amorosa tradicional. Essa nova compreensão do amor, expressa num estilo suave e puro, influenciou Guido Cavalcanti e o poeta florentino Dante Alighieri, que estabeleceu a base da moderna língua italiana; sua maior obra, a "Divina Comédia", é considerada uma das principais declarações literárias produzidas na Europa durante a Idade Média; além disso, o poeta inventou a complicada "terza rima". Os dois grandes escritores do , Petrarca e Giovanni Boccaccio, procuraram e imitaram as obras da antiguidade e cultivaram suas próprias personalidades artísticas. Petrarca alcançou fama através de sua coleção de poemas, "". A poesia de amor de Petrarca serviu de modelo durante séculos. Igualmente influente foi "Decamerão", de Boccaccio, uma das mais populares coleções de contos de todos os tempos. Os autores do Renascimento italiano produziram vários trabalhos importantes. ', de Nicolau Maquiavel, é um dos ensaios mais famosos do mundo sobre ciência política e filosofia modernas, no qual a verdade efetiva é considerada mais importante do que qualquer ideal abstrato. Outro importante trabalho desse período, "Orlando Furioso", de Ludovico Ariosto, a continuação do romance inacabado de Matteo Maria Boiardo, "Orlando Innamorato", é talvez o maior poema de cavalaria alguma vez escrito. ', de Baldassare Castiglione, descreve o ideal do perfeito cavalheiro da corte e da beleza espiritual. O poeta lírico Torquato Tasso, em "Jerusalém Libertada", escreveu um épico cristão, fazendo uso da oitava rima. Giovanni Francesco Straparola e Giambattista Basile, que escreveram "As noites agradáveis" e "Il Pentamerone" (1634), respectivamente, publicaram algumas das primeiras versões conhecidas de contos de fadas na Europa. No início do , algumas obras literárias foram criadas, como o longo poema mitológico de Giambattista Marino, "L'Adone". O período barroco também produziu a clara prosa científica de Galileu, bem como "A Cidade do Sol", de Tommaso Campanella, uma descrição de uma sociedade perfeita governada por um filósofo-sacerdote. No final do , os arcadianos começaram um movimento para restaurar a simplicidade e a contenção clássica à poesia, como nos heroicos melodramas de Metastasio. No , o dramaturgo Carlo Goldoni criou peças escritas completas, muitas retratando o cotidiano de sua época. O romantismo coincidiu com algumas ideias do "Risorgimento", o movimento patriótico que trouxe a unidade política da Itália e a liberdade da dominação estrangeira. Escritores italianos abraçaram o romantismo no início do . A época do renascimento da Itália foi anunciada pelos poetas Vittorio Alfieri, Ugo Foscolo e Giacomo Leopardi. As obras de Alessandro Manzoni, o principal autor romântico italiano, são um símbolo da unificação italiana por sua mensagem patriótica e por seus esforços no desenvolvimento da moderna e unificada língua italiana; sua obra "" foi o primeiro romance histórico italiano a glorificar os valores cristãos da justiça e da providência, sendo considerado o romance em língua italiana mais famoso e mais lido. No final do , um movimento literário realista chamado verismo desempenhou um papel importante na literatura italiana; Giovanni Verga e Luigi Capuana foram seus principais expoentes. No mesmo período, Emilio Salgari, escritor de literatura de capa e espada e pioneiro da ficção científica, publicou sua série "Sandokan". Em 1883, Carlo Collodi também publicou o romance "As Aventuras de Pinóquio", o clássico infantil de um autor italiano mais celebrado mundialmente e o livro não religioso mais traduzido do mundo. O movimento chamado futurismo influenciou a literatura italiana no início do . Filippo Tommaso Marinetti escreveu o "Manifesto Futurista", clamando pelo uso de linguagem e metáforas que glorificavam a velocidade, o dinamismo e a violência da era da máquina. Até 2018, seis autores literários foram distinguidos com Prêmio Nobel: Giosuè Carducci em 1906, a escritora realista Grazia Deledda em 1926, o dramaturgo e poeta Luigi Pirandello em 1934, os poetas Salvatore Quasimodo em 1959 e Eugenio Montale em 1975 e o autor satírico e teatral Dario Fo em 1997. Arquitetura. A arquitetura italiana apresenta numerosos estilos, muito diversificados entre si, que não podem ser simplesmente classificados por período, mas também por região, devido à divisão da Itália em várias cidades-Estado até 1861, o que originou uma gama muito diversificada e eclética em projetos arquitetônicos. O país é conhecido por suas consideráveis realizações arquitetônicas, como a construção de arcos, cúpulas e estruturas afins durante a Roma antiga, ser o fundador do movimento arquitetônico renascentista do final do ao e a terra natal do Palladianismo, um estilo de construção que inspirou movimentos como o da arquitetura neoclássica e influenciou o desenho usado nas casas de campo de nobres em todo o mundo, nomeadamente no Reino Unido, Austrália e Estados Unidos desde o final do até o início do . Várias das mais belas obras da arquitetura ocidental, como o Coliseu, a Catedral de Milão, a Catedral de Florença, a Torre de Pisa ou os projetos de construção de Veneza, encontram-se na Itália. A arquitetura italiana influenciou amplamente a arquitetura mundial. O arquiteto britânico Inigo Jones, inspirado pelos projetos de edifícios e cidades italianas, nomeadamente de Andrea Palladio, levou para a Inglaterra do as ideias de arquitetura renascentista italiana para, sendo. Além disso, a arquitetura italiana era popular em áreas exteriores desde o , especialmente em projetos com inspiração na arquitetura renascentista. Na primeira metade do , é construído o exemplo mais significativo do barroco tardio e rococó: a Palazzina di caccia di Stupinigi, projetado por Filippo Juvarra. Ao mesmo tempo, no Reino de Nápoles, Luigi Vanvitelli inicia em 1752 a construção do "Reggia di Caserta", a última grande criação do barroco italiano. Após a segunda metade do , a arquitetura neoclássica italiana, mesmo na sua variante neogrega, produziu várias obras valiosas, tais como a grande Basílica de São Francisco de Paula, em Nápoles. Com a unificação da Itália, o que prevaleceu foi o estilo neorenascentista ou, mais comumente, o ecletismo. Artes visuais. A história das artes visuais italianas faz parte da história da pintura ocidental. A arte romana foi influenciada pela da Grécia Antiga e pode, em parte, ser tomada como um descendente da pintura grega antiga. No entanto, a pintura romana tem importantes características únicas; as sobreviventes são pinturas murais, muitas delas das vilas da Campânia, no sul da Itália. Essa pintura pode ser agrupada em 4 "estilos" ou períodos principais e pode conter os primeiros exemplos de "trompe-l'oeil", pseudo-perspectiva e paisagem pura. A pintura em painel torna-se mais comum durante o período românico, sob a forte influência de ícones bizantinos. Em meados do , a arte medieval e a pintura gótica tornaram-se mais realistas, com o início do interesse na representação de volume e perspectiva na Itália com Cimabue e, em seguida, seu aluno Giotto. De Giotto em diante, o tratamento da composição pelos melhores pintores também foi muito mais livre e inovador. Eles são considerados os dois grandes mestres da pintura na cultura ocidental. O Renascimento italiano é apontado por muitos como a era de ouro da pintura; aproximadamente, abrangendo o até meados do , com uma influência significativa também fora das fronteiras da Itália moderna. Artistas como Paolo Uccello, Fra Angelico, Masaccio, Piero della Francesca, Andrea Mantegna, Filippo Lippi, Giorgione, Tintoretto, Sandro Botticelli, Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti, Rafael, Giovanni Bellini e Ticiano elevaram a pintura italiana renascentista a um nível superior o uso da perspectiva, o estudo da anatomia e a proporção humana, além do desenvolvimento de um refinamento sem precedentes nas técnicas de desenho e pintura. Michelangelo foi um escultor ativo de cerca de 1500 a 1520 e fez grandes obras, como "David", "Pietà", "Moisés". Outros proeminentes escultores renascentistas incluem Lorenzo Ghiberti, Luca Della Robbia, Donatello, Filippo Brunelleschi e Andrea del Verrocchio. Nos séculos XV e XVI, a Alta Renascença deu origem a uma arte estilizada conhecida como maneirismo, que buscava instabilidade, artifício e dúvida. Os rostos e gestos imperturbáveis de Piero della Francesca e as tranquilas Virgens de Rafael são substituídos pelas expressões conturbadas de Pontormo e pela intensidade emocional de El Greco. No , entre os maiores pintores do barroco italiano estão Caravaggio, Annibale Carracci, Artemisia Gentileschi, Mattia Preti, Carlo Saraceni e Bartolomeo Manfredi. Posteriormente, no , o rococó italiano foi inspirado no rococó francês, já que a França era a nação fundadora desse estilo em particular, com artistas como Giovanni Battista Tiepolo e Canaletto. Escultura neoclássica italiana focada, com os nus de Antonio Canova, no aspecto idealista do movimento. No , os principais pintores românticos italianos eram Francesco Hayez, Giuseppe Bezzuoli e Francesco Podesti. O impressionismo foi trazido da França para a Itália pelos "Macchiaioli", liderados por Giovanni Fattori e Giovanni Boldini; o realismo por Gioacchino Toma e Giuseppe Pellizza da Volpedo. No , com o futurismo, principalmente através das obras de Umberto Boccioni e Giacomo Balla, a Itália ressurgiu como um país seminal para a evolução artística da pintura e da escultura. O futurismo foi sucedido pelas pinturas metafísicas de Giorgio de Chirico, que exerceram forte influência sobre os surrealistas e gerações de artistas a seguir. Música. Da folclórica à clássica, a música sempre desempenhou um papel importante na cultura italiana. Instrumentos associados à música clássica, incluindo o piano e o violino, foram inventados na Itália, e a origem de muitas das formas de música clássica predominantes, como a sinfonia, o concerto e sonata, remontam às inovações de música italiana dos séculos XVI e XVII. Os compositores mais famosos da Itália incluem os compositores renascentistas Palestrina, Monteverdi e Gesualdo, os compositores barrocos Scarlatti, Corelli e Vivaldi, os compositores clássicos Paisiello, Paganini e Rossini, e os compositores românticos Verdi e Puccini. Os compositores italianos modernos, como Berio e Nono, mostraram-se significativos no desenvolvimento da música experimental e eletrônica. Apesar da tradição da música clássica ainda se manter forte na Itália, como evidenciado pela fama de suas inúmeras casas de ópera, como o Teatro alla Scala de Milão e o Teatro San Carlo de Nápoles (o mais antigo local continuamente ativo para ópera pública no mundo), e de artistas como o pianista Maurizio Pollini e o falecido tenor Luciano Pavarotti, os italianos não têm menos apreço por sua próspera cena musical contemporânea. A Itália é amplamente conhecida por ser o berço da ópera. Acredita-se que a ópera italiana tenha sido fundada no início do , em cidades italianas como Mântua e Veneza. Mais tarde, obras e peças compostas por compositores italianos do e início do , como Rossini, Bellini, Donizetti, Verdi e Puccini, estão entre as mais famosas óperas já escritas e hoje são apresentadas em óperas do mundo todo. Cantores famosos de ópera italiana incluem Enrico Caruso e Alessandro Bonci. Introduzido no início da década de 1920, o "jazz" ocupou uma posição particularmente forte na Itália e permaneceu popular apesar das políticas culturais xenófobas do regime fascista. Hoje, os mais notáveis centros do "jazz" italiano incluem Milão, Roma e Sicília. Mais tarde, a Itália esteve na vanguarda do movimento rock progressivo e do "pop" dos anos 1970, com bandas como Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso, Le Orme, Goblin e Pooh. O mesmo período viu a diversificação no cinema da Itália e os filmes da Cinecittà incluíam partituras complexas de compositores como Ennio Morricone, Armando Trovaioli, Piero Piccioni e Piero Umiliani. No início dos anos 1980, a primeira estrela a emergir da cena do "hip hop" italiano foi o cantor Jovanotti. Bandas de metal italianas populares como Rhapsody of Fire, Lacuna Coil, Elvenking, Forgotten Tomb e Fleshgod Apocalypse também são vistas como pioneiras de vários subgêneros de "heavy metal". Teatro. O teatro italiano pode ser rastreado até à tradição romana. O teatro da Roma Antiga era uma forma de arte diversificada e próspera, variando de apresentações em festivais de teatro de rua, dança nua e acrobacia, até à encenação das comédias de Plauto, até as tragédias de alto estilo e elaboradas verbalmente de Sêneca. Embora Roma tivesse uma tradição nativa de representação, a helenização da cultura romana no teve um efeito profundo e energizante no teatro romano e encorajou o desenvolvimento da literatura latina da mais alta qualidade para o palco. Como muitos outros gêneros literários, os dramaturgos romanos eram fortemente influenciados ou tendiam a se adaptar ao grego. Por exemplo, a "Fedra" de Sêneca foi baseada em "Hipólito", de Eurípides, e muitas das comédias de Plauto foram traduções diretas de obras de Menandro. Durante o e até o XVIII, a "Commedia dell'arte" era uma forma de teatro improvisado e ainda hoje é realizada. Grupos de músicos itinerantes montavam um palco ao ar livre e divertiam o público com malabarismo, acrobacias e, mais tipicamente, peças humorísticas baseadas em um repertório de personagens estabelecidos com um enredo difícil, chamado "canovaccio". As peças não se originaram de dramatizações escritas, mas de roteiros chamados "lazzi", que eram estruturas soltas que forneciam as situações, complicações e resultados da ação, em torno dos quais os atores improvisavam. Os personagens da "commedia" geralmente representam tipos sociais fixos e personagens de ações, cada um com um traje distinto, como velhos tolos, servos desonestos ou oficiais militares muito fanfarrões. As principais categorias desses personagens incluem servos, velhos, amantes e capitães. Carlo Goldoni, que escreveu alguns roteiros a partir de 1734, substituiu a comédia de máscaras e a comédia de intriga por representações da vida e das maneiras reais através dos personagens e de seus comportamentos. Ele sustentava, com razão, que a vida e as maneiras italianas eram suscetíveis de tratamento artístico, o que não tinha sido explorado antes. O Teatro San Carlo, em Nápoles, é o mais antigo local continuamente ativo para a ópera pública do mundo, inaugurado em 1737, décadas antes dos teatros La Scala de Milão e La Fenice de Veneza. Moda e "design". A moda italiana tem uma longa tradição e é considerada uma das mais importantes do mundo. Milão, Florença e Roma são as principais capitais da moda da Itália. De acordo com o Top Global Fashion Rankings 2013 da Global Language Monitor, Roma ficou em sexto lugar no mundo, enquanto Milão estava em décimo segundo lugar. As grandes grifes italianas, como Gucci, Armani, Prada, Versace, Valentino, Dolce & Gabbana, Missoni, Fendi, Moschino, Max Mara, Trussardi e Ferragamo, para citar algumas, são consideradas das melhores casas de moda do mundo. Além disso, a "Vogue Italia" é considerada uma das mais conceituadas revistas de moda do mundo. A Itália também é proeminente no campo do "design", notavelmente design de interiores, design arquitetônico, design industrial e design urbano. O país produziu alguns renomados designers de móveis, como Gio Ponti e Ettore Sottsass, e frases em italiano como "Bel Disegno" e "Linea Italiana" entraram no vocabulário do "design" de móveis. Exemplos de peças clássicas de móveis e móveis brancos italianos incluem as máquinas de lavar e geladeiras da Zanussi, os sofás "New Tone" da Atrium e a estante pós-moderna de Ettore Sottsass, inspirada na música "Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again", de Bob Dylan. Hoje, Milão e Turim são líderes do país em design arquitetônico e design industrial. A cidade de Milão recebe a Fiera Milano, a maior feira de design da Europa. Milão também hospeda grandes eventos e locais relacionados a design e arquitetura, como o "Fuori Salone" e o Salone del Mobile, além de abrigar os designers Bruno Munari, Lucio Fontana, Enrico Castellani e Piero Manzoni. Culinária. A culinária italiana se desenvolveu através de séculos de mudanças sociais e políticas, com raízes desde o A cozinha local, por si só, sofre influências diversas, incluindo de etruscos, gregos antigos, romanos antigos, bizantinos e judeus. Mudanças significativas ocorreram com a descoberta do Novo Mundo com a introdução de itens como batatas, tomates, pimentões e milho, agora centrais para a culinária italiana, mas não introduzidos em quantidade significativa até o . A comida do país é conhecida por sua diversidade regional, abundância de gostos, além de ser conhecida por ser uma das mais populares do mundo, exercendo forte influência no exterior. A dieta mediterrânica constitui a base da cozinha italiana, rica em massas, peixe, frutas e vegetais e caracterizada pela sua extrema simplicidade e variedade, com muitos pratos com apenas quatro a oito ingredientes. Os cozinheiros italianos confiam principalmente na qualidade dos ingredientes e não na preparação elaborada. Pratos e receitas são muitas vezes derivados da tradição local e familiar, em vez de criados por chefs. Muitas receitas são ideais para cozinhar em casa, sendo esta uma das principais razões por trás da crescente popularidade mundial da culinária italiana, da América à Ásia. Um fator chave no sucesso da culinária italiana é sua forte dependência de produtos tradicionais; o país possui as especialidades mais tradicionais protegidas pela legislação da UE. Queijos, frios e vinho (que são uma parte importante da culinária italiana, com muitas declinações regionais e rótulos de denominação de origem protegida ou indicação geográfica protegida) e junto com o café (especialmente café expresso) compõem uma parte muito importante da cultura gastronômica italiana. Sobremesas têm uma longa tradição de fusão de sabores locais, como frutas cítricas, pistache e amêndoas ,com queijos doces como mascarpone e ricota ou sabores exóticos como cacau, baunilha e canela. Gelato, tiramisù e cassata estão entre os exemplos mais famosos de sobremesas, bolos e confeitaria italianas. Cinema. A história do cinema italiano começa alguns meses depois dos Irmãos Lumière fazerem as primeiras exibições de filmes. O primeiro filme italiano tinha apenas alguns segundos, mostrando o dando uma bênção em frente à câmera. A indústria de filmes italianos nasceu entre 1903 e 1908 com três empresas: a Società Italiana Cines, a Ambrosio Film e a Itala Film. Outras empresas logo as seguiram em Milão e Nápoles. Em pouco tempo essas primeiras empresas atingiram bons níveis de qualidade em suas produções e seus filmes logo foram vendidos fora da Itália. O cinema foi depois usado por Benito Mussolini, que fundou o renomado estúdio Cinecittà em Roma, para a produção de propaganda fascista até à Segunda Guerra Mundial. Depois da Guerra, filmes italianos foram amplamente reconhecidos e exportados até um declínio artístico por volta dos anos 1980. Diretores de filmes italianos notáveis incluem Vittorio De Sica, Federico Fellini, Sergio Leone, Pier Paolo Pasolini, Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni e Roberto Rossellini, alguns dos quais são reconhecidos entre os maiores e mais influentes produtores de filmes de todos os tempos. Dentre os filmes, incluem-se tesouros do cinema mundial como "Ladri di biciclette", "La dolce vita", "8½", "Il buono, il brutto, il cattivo" e "C'era una volta il West". Entre meados da década de 1940 e início dos anos 1950 foi o apogeu do cinema neorrealista italiano, refletindo as condições pobres da Itália do pós-guerra. Conforme o país se tornava mais próspero nos anos 1950, uma forma de neorrealismo conhecido como neorrealismo pink se sucedeu, e outros gêneros de filmes, como peplum e ´"spaghetti western" foram populares nas décadas de 1960 e 1970. Atrizes como Sophia Loren, Giulietta Masina e Gina Lollobrigida alcançaram estrelato internacional durante esse período. Suspenses eróticos italianos, ou "giallos", produzidos por diretores como Mario Bava e Dario Argento nos anos 1970 também influenciaram o gênero do horror mundialmente. Em anos recentes, as produções italianas tem recebido atenção internacional apenas ocasionalmente com filmes como "A Vida é Bela" dirigida por Roberto Benigni, "Il Postino" com Massimo Troisi e "A Grande Beleza" dirigida por Paolo Sorrentino. O já mencionado estúdio Cinecittà é hoje a maior instalação de produção de filmes e programas televisivos na Europa Continental e o centro do cinema italiano, onde os filmes com os maiores orçamentos são filmados e uma das maiores comunidades produtoras de filmes no mundo. Nos anos 1950, o número de produções internacional lá feitas levaram Roma a ser apelidada de "Hollywood do Tibre". Das mais de produções da Cinecittà, 47 foram galadoardas com pelo menos um Oscar e outras 43 foram nomeadas para esse prêmio, em diversos gêneros e épocas, desde o cinema clássico a filmes mais recentes ("Ben-Hur", "Romeu e Julieta", "O Paciente Inglês", "Gladiador", "A Paixão de Cristo", e "Gangs of New York"). A Itália é o país com mais oscares de melhor filme estrangeiro, com 14 prêmios ganhos, 3 premiações no Oscar Honorário e 31 nomeações. Por volta de 2016, filmes italianos já haviam vencido 12 Palmas de Ouro (o segundo país com mais prêmios), 11 Leões de Ouro e 7 Ursos de Ouro. Feriados. Os feriados celebrados na Itália incluem observâncias religiosas, nacionais e regionais. O Dia Nacional da Itália, a "Festa della Repubblica Italiana", é celebrada em 2 de junho de cada ano e comemora o nascimento da República Italiana em 1946. O Dia de Santa Luzia, que acontece no dia 13 de dezembro, é muito popular entre as crianças de algumas regiões italianas, onde ela desempenha um papel semelhante ao do Papai Noel. Além disso, a Epifania na Itália é associada à figura folclórica da Befana, uma velha de cabo de vassoura que, na noite entre 5 e 6 de janeiro, traz presentes e doces a bons filhos, mas carvão ou sacos de cinzas para os ruins. A Assunção de Maria coincide com o Ferragosto em 15 de agosto, o período de férias de verão que pode ser um fim de semana prolongado ou a maior parte do mês. Cada cidade ou vila celebra também um feriado público por ocasião do festival do santo padroeiro local, por exemplo: Roma em 29 de junho (São Pedro e São Paulo) e Milão em 7 de dezembro (Santo Ambrósio). Há muitos festivais e festividades no país. Alguns deles incluem a corrida de cavalos Palio di Siena, os ritos da Semana Santa, a Justa do Sarraceno, o Dia de São Ubaldo em Gubbio, a Giostra della Quintana em Foligno e o Calcio Fiorentino. Em 2013, a UNESCO incluiu no Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade alguns festivais e andores, como a Varia di Palmi, a Macchina di Santa Rosa em Viterbo, a Festa dei Gigli em Nola e a "faradda di li candareri" em Sassari. Outros festivais incluem os carnavais de Veneza, Viareggio, Satriano di Lucania, Mamoiada e Ivrea, conhecido principalmente por sua . O prestigioso Festival Internacional de Cinema de Veneza, que premia o "Leão de Ouro" e é realizado anualmente desde 1932, é o mais antigo festival de cinema do mundo. Esportes. O esporte mais popular na Itália é, de longe, o futebol. A equipe nacional de futebol da Itália (apelidada de "Gli Azzurri") é uma das equipes mais bem sucedidas do mundo, já que venceu quatro Copas do Mundo da FIFA (1934, 1938, 1982 e 2006). Os clubes italianos conquistaram 48 grandes troféus europeus, o que torna o país o segundo mais bem-sucedido no futebol europeu. A principal liga de futebol de clubes da Itália é chamada de Serie A e é considerada a terceira melhor da Europa e é seguida por milhões de fãs em todo o mundo. Outros esportes coletivos populares na Itália incluem vôlei, basquete e rugby. Os times masculino e feminino de vôlei nacional da Itália são frequentemente apresentados entre os melhores do mundo. Os melhores resultados do time nacional de basquete italiano foram o ouro no EuroBasket de 1983 e no EuroBasket de 1999, assim como a prata nas Olimpíadas de 2004. A Lega Basket Serie A é amplamente considerada uma das mais competitivas da Europa. O rugby goza de um bom nível de popularidade, especialmente no norte do país. A seleção da Itália compete no campeonato das Seis Nações e é regular na Copa do Mundo de Rugby. A Itália é classificada como uma nação de primeira linha pelo World Rugby. A Itália tem uma tradição longa e bem sucedida em esportes individuais também. As competições de ciclismo são um esporte muito familiar no país. Os italianos venceram o Campeonato Mundial de Ciclismo em Estrada mais do que qualquer outro país, exceto a Bélgica. O Giro d'Italia é uma corrida de ciclismo realizada todo mês de maio e constitui uma das três Grandes Voltas, juntamente com o Tour de France e a Vuelta a España, cada um dos quais duram aproximadamente três semanas. O esqui alpino também é um esporte muito difundido na Itália e o país é um destino popular de esqui internacional, conhecido por suas estações de esqui. Os esquiadores italianos alcançaram bons resultados nos Jogos Olímpicos de Inverno, na Copa do Mundo de Esqui Alpino e no Campeonato Mundial de Esqui Alpino. O tênis tem um número significativo de seguidores no país, sendo o quarto esporte mais praticado entre os italianos. Os esportes motorizados também são extremamente populares. A Itália venceu, de longe, o maior número de campeonatos mundiais de MotoGP. A italiana Scuderia Ferrari é a mais antiga equipe sobrevivente nas corridas de Grand Prix (desde 1948) e, estatisticamente, é a equipe de de maior sucesso na história, com um recorde de 228 vitórias.
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Imperialismo cultural
Imperialismo cultural Imperialismo cultural é um conjunto de políticas que têm por objetivo ampliar a esfera de influência geopolítica de um país sobre outro (ou outros), impondo-lhe(s) a sua cultura. Conceito. Herbert Schiller era professor da Universidade da Califórnia quando definiu um conceito de "imperialismo cultural". Segundo Schiller, imperialismo cultural é "o conjunto dos processos pelos quais uma sociedade é introduzida no sistema moderno mundial, e a maneira pela qual sua camada dirigente é levada, por fascínio, pressão, força ou corrupção, a moldar as instituições sociais para que correspondam aos valores e estruturas do centro dominante do sistema, ou ainda para lhes servir de promotor dos mesmos". O termo "imperialismo" vem do latim e remete ao sentido de "ter o poder de mandar", o que implica uma dominação, um controle direto ou indireto sobre o outro. Essa ação de poder antagoniza os interesses sobre os quais incide e não pode ser vista apenas como um processo de dominação política e econômica de uma nação mais rica e poderosa sobre uma região ou um país mais pobre. Há também outra forma de dominação: o imperialismo cultural, ou seja, a imposição de valores, hábitos de consumo e influências culturais que se tornam uma espécie de padrão cultural a ser seguido pelo país dominado. Muitas vezes, o imperialismo cultural assume a forma de injetar a cultura ou a língua natural de uma nação em outra. Geralmente a primeira é uma grande potência militar ou economicamente poderosa nação. Imperialismo cultural pode se referir a uma política ativa e formal ou de uma atitude geral. O termo é geralmente usado em um sentido pejorativo, juntamente com uma chamada de rejeição à influência estrangeira. Os impérios durante toda a história foram estabelecidos usando a guerra e o imperialismo militar. As populações conquistadas tenderam a ser absorvidas pela cultura dominante, ou adquirir seus atributos indiretamente. O imperialismo cultural é uma forma de influência cultural distinguida de outras pelo uso de força, tal como a militar ou econômica. A influência cultural é um processo que sempre ocorre entre todas as culturas que têm contato uma com a outra. Por exemplo: as tradições musicais africanas influenciaram a música afro-americana, que, por sua vez, influenciou a música dos Estados Unidos - mas o imperialismo cultural não tem nada a ver com essa transmissão. Similarmente, a ascensão da popularidade da ioga indiana em nações ocidentais nunca dependeu de qualquer tipo de força. Do mesmo modo, os povos de estados, nações e culturas mais pobres ou menos poderosos adaptam frequente e livremente práticas e artefatos culturais de sociedades mais poderosas e mais ricas sem nenhuma força estar sendo necessariamente aplicada. Quando os povos adotam livremente as práticas culturais de outros, o uso da frase pejorativa "imperialismo cultural" se torna problemático. Quando força é ausente da influência cultural, o uso do termo "imperialismo cultural" pode facilmente transformar-se uma tática de debate que envolve radicalismo, a xenofobia e o nacionalismo latentes - as respostas emocionais à influência cultural que é presente em todas as culturas que já tiveram contato com outras em algum período da história. O cenário para o desenvolvimento dessa teoria é a percepção de um conflito internacional de categorias sociais, a existência de combate psicopolítico e a noção de hegemonia. Capitalismo e cultura. Para compreender a relação entre cultura e imperialismo é necessário compreender a relação entre cultura e capitalismo, tendo em vista que a cultura é um elemento essencial para a propagação das relações capitalistas, sejam estas nacionais ou internacionais. Pois essas relações se reproduzem por meio de ideias, valores e doutrinas organizados pelo modo capitalista de produção. Política cultural imperialista. A política cultural do imperialismo começou a se tornar hegemônica após a Segunda Guerra Mundial e se fundamenta em relações sociais econômicas e políticas baseadas na troca de mercadorias e relações de compra e venda relacionadas à propriedade privada. Seus objetivos centrais são produzir convicções nos grupos sociais. Cultura dominada (Dominação Cultural). A formação cultural dominada está voltada para aquelas culturas que tem poucas possibilidades de crescimento em relação à nação que a domina. Sendo assim, não dispõem de uma cultura própria e nem profissões habilitadas a levar adiante suas formas de formação, multiplicando-as e renovando-as. Cultura dominante. Cultura dominante é a nação que exerce hegemonia sobre outras, impondo a sua cultura, tradição, crença, ideologia etc. Essas potências têm o poder de estabelecer seu domínio sobre os povos pelos mais diversos motivos, sejam por fatores econômicos, políticos ou ideológicos. Exemplos. Exemplos de imperialismo cultural podem ser encontrados desde a Antiguidade, como a dominação da cultura grega sobre as demais durante o Império de Alexandre Magno (processo conhecido como Helenismo). Muitas vezes o processo de dominação de uma cultura acaba culminando em novos processos em outras culturas como, por exemplo, a dominação de Napoleão Bonaparte sobre o território europeu durante o século XIX e a imposição do bloqueio continental, está ligada a imposição da cultura Portuguesa no Brasil após a vinda da família Real em 1808. A dominação britânica sobre a Índia utilizava-se dos mesmos argumentos de superioridade cultural, que mais adiante no século XX serviram de base para as ideologias nazistas de Adolf Hitler. Em épocas contemporâneas, imperialismos culturais são geralmente associados ao imperialismo político, militar e econômico (caso das potências europeias na África e na Ásia). No século XX, durante a Guerra Fria, as duas superpotências rivais (EUA e URSS) disputaram áreas de influência cultural, exportando filmes, livros e música, além de produtos da indústria cultural. Por exemplo, em países como Cuba, livros e escolas em língua russa foram introduzidos. No entanto, como a indústria cultural no sistema capitalista é mais desenvolvida, os EUA conseguiram expandir sua influência cultural mais expressivamente. O imperialismo cultural dos EUA atua sobre o mundo inteiro, mas é melhor observado em países em desenvolvimento, como o Brasil. Filmes, alimentos, expressões, termos e roupas são exemplos da influência exercida pelos norte-americanos no país. A indústria cultural traz muitos lucros para os EUA e outros países "produtores de cultura". A influência cultural é um processo que ocorre todas as vezes em que há contato entre culturas. Quando a força é ausente da influência cultural, o uso do termo “imperialismo cultural” é uma tática de argumentação que envolve xenofobia e nacionalismo - respostas à influência cultural que existe entre centro e periferia. Cultura repressiva. A indústria cultural capitalista impõe seus objetivos para manipular das mais variadas formas o pensamento dos grupos sociais menos favorecidos, induzindo o pensamento e o expressionismo pela transmissão da informação e pelos sistemas de comunicação como, por exemplo: jornais, revistas, propagandas. A cultura repressiva compreende os produtos, os processos e a comercialização de mercadorias culturais que cercam a população, que são desenvolvidos e disseminados pelo próprio governo e que consideraram os interesses específicos e necessidades de cada faixa etária e categorias sociais, adotando uma ação não ostensiva, mas muito influente. Imperialismo cultural estadunidense. Na relação entre os Estados Unidos e os países da América Latina, os problemas culturais sempre estiveram presentes. Visando a lidar com esta questão, são feitos acordos, tratados, pactos e programas com o objetivo de solucionar os problemas de cooperação cultural, isto é, de cooperação nos campos da educação, ciência e cultura. Visando a esta problemática, o sistema interamericano possui um Departamento de Assuntos Culturais denominado Pan-Americana. A conferência de Punta Del Este, realizada no ano de 1961, dá início a um programa comum entre os Estados Unidos e os países da América Latina cujo objetivo é fazer face às repercussões da vitória do socialismo em Cuba. Para isso, foi aprovada a Carta de Punta Del Este. Nesta conferência, foram aprovadas resoluções que tratam das questões relacionadas à cultura. Assim, recomenda-se que os países da América Latina adotem programas de educação e tratem também da importância da mobilização da opinião pública nos países latino-americano tendo em vista a realização dos princípios formulados naquela conferência e consubstanciados na referida carta. Em 1969, Nelson Rockefeller realizou um relatório apresentando, ao presidente dos Estados Unidos Richard M. Nixon, um diagnóstico dos problemas relacionados à educação, ciência e cultura nos países da América Latina, fazendo também sugestões práticas de como resolver esses problemas. Diante disso, pode-se perceber que este relatório apresenta uma parte importante da política cultural que os Estados Unidos têm procurado sugerir e impor aos países latino-americanos. A Carta da Organização dos Estados Americanos relata os propósitos do Conselho Interamericano de Cultura, onde este tem, por objetivo, promover relações entre os povos americanos através do incentivo com relação ao intercâmbio educacional, científico e cultural, isto é, intensificar o intercâmbio de estudantes, professores, pesquisadores etc. a fim de utilizar os recursos disponíveis para ensino e pesquisa. Os programas estabelecidos pelos Estados Unidos se propõe oficialmente a auxiliar o desenvolvimento econômico e político dos governos latino-americanos. Outro aspecto da cooperação cultural entre os Estados Unidos e os países da América Latina é a difusão dos valores que correspondem aos interesses predominantes no governo e nas grandes empresas norte-americanas. Existem outras formas de relações culturais entre os Estados Unidos com os países da América Latina. Dentre essas relações, podem-se citar o poder que as cadeias publicitárias possuem e o poder que as empresas têm para auxiliar na produção e difusão de programas de televisão, filmes, livros, jornais etc. Mostrando-se, assim, que, na maioria dos países da América Latina, o conteúdo dos meios de comunicação de massa é produzido pelos Estados Unidos. Tal fato mostra a força que o imperialismo cultural norte-americano tem perante os países latino-americanos. Contradições do pensamento Imperialista. A indústria cultural do imperialismo reflete as inconsistências e as contradições das relações econômicas, políticas e militares, além de expressar sistematicamente a agressividade do capitalismo monopolista. A dominação imperialista não é totalmente homogênea, monolítica, nem preponderante; ela não pode ser homogênea ou monolítica por causa da multiplicidade e devido à divergência dos interesses dos vários grupos em que se subdividem as burguesias em cada país dependente. Na prática, ela se divide em forças divergentes e facções e estilos distintos. As relações imperialistas refletem inclusive os antagonismos de classes em escala nacional e internacional. Nos últimos anos, devido à expansão dos investimentos das empresas norte-americanas nos países dependentes, têm havido frequentes protestos de sindicatos operários dos Estados Unidos contra esses investimentos. Os mesmos alegam que os investidores buscam fontes de mão de obra mais barata e, assim, enfraquecem as condições de reivindicação dos operários industriais naquele país. Isto tudo indica situações, relações econômicas e políticas que influenciam direta e indiretamente a operação da indústria cultural do imperialismo. As dificuldades do imperialismo norte-americano em países dependentes mostram que a própria cultura do imperialismo é incapaz de interpretar adequadamente as condições verdadeiras da sua dominação.
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Interlíngua
Interlíngua A interlíngua é uma língua auxiliar internacional baseada na existência de um vasto vocabulário comum compartilhado por línguas de grande difusão mundial. São palavras como "abreviação, abdicação, abdução, abjuração, abolição, abominação, aborígene, absoluto, absorção, abstenção, abstração, acácia", etc. Essas palavras geralmente são greco-romanas em sua origem, mas há palavras internacionais de outras origens: "iglu", "quimono", "vodca", "jaguar", "vis-à-vis", "software", etc. A interlíngua veio a público em 1951 pela "International Auxiliary Language Association" (IALA), após mais de duas décadas de estudos linguísticos, com a publicação das suas duas obras básicas que são: "Interlingua–English Dictionary", com 27.000 palavras, e "Interlingua Grammar". Outra língua auxiliar, o Latino sine Flexione de Giuseppe Peano foi chamada anteriormente de Interlingua, com a Academia de Interlingua de Peano autorizando o uso do nome para o projeto da IALA. História. Após a Primeira Guerra Mundial teve um crescente interesse na ideia de uma língua auxiliar internacional. Muitos linguistas, intérpretes e pesquisadores interessados ​em desenvolver uma linguagem óptima auxiliar. Com seu apoio a International Auxiliary Language Association foi formada em 1924 com financiamento de Alice Vanderbilt Morris para resolver este problema. Finalmente, depois de não conseguir obter compromissos existentes de línguas auxiliares, IALA decidiu criar sua própria língua ajuda a utilizar princípios científicos. A ideia era inventar uma língua auxiliar, baseada em um vocabulário internacional de palavras comuns entre as principais línguas europeias e padronizá-la. Como afirmou: "Não é necessário inventar um assistente linguístico. O que é necessário é apenas removê-lo." Desenvolvimento de pesquisa começou em 1936 em Liverpool, Inglaterra, mas com a ameaça de guerra, mudou sua operação de pesquisa IALA para Nova Iorque em 1939 sob a direcção de E. Clark Stillman. Naquele ano, montou uma equipe de linguistas para executar a tarefa. Em 1934, E. Clark Stillman e seu assistente Alexander Gode terminaram um manual de "Padronização interlinguística" que descreve o seu conceito de como extrair as palavras dos idiomas que acreditavam que continha a maior concentração de palavras internacionais: Inglês, Francês, Italiano e Espanhol / Português (os dois últimos são agrupados em um único idioma). O trabalho continuou durante a Segunda Guerra Mundial, mas Stillman saiu da IALA em 1943 para servir o governo dos Estados Unidos. Gode ​​se tornou o director de pesquisa. Em 1945, um general da IALA relatório revelou que a equipe produziu um vocabulário de mais de 20.000 palavras internacionais. A investigação e pesquisa foram investigadas várias variantes de língua auxiliar internacional usando o vocabulário internacional. Estas variantes foram: Em 1946 um famoso linguista francês André Martinet foi contratado como diretor de pesquisa para produzir um dicionário e uma forma final para o idioma auxiliar. Martinet realizou uma pesquisa sobre como a língua auxiliar, e os resultados indicaram que uma linguagem entre a variante totalmente naturalista e minimamente regularizada variante seria favorecida por mais pessoas. No final de 1948 Alexander Gode assumiu a responsabilidade final para produzir um dicionário da língua quando Martinet retornou à Universidade de Columbia. Alice V. Morris, que era o director financeiro IALA, morreu em agosto de 1950, quando a forma final do dicionário estava se preparando para imprimir. Alexander Gode foi um dos principais promotores deste esforço. Publicou um resumo da gramática, um dicionário unidireccional (Interlíngua para Inglês), e um livro introdutório com o título de "Interlingua a Prime Vista". Alexander Gode e Hugh Blair, que foi o assistente pessoal Alice Morris em sua própria pesquisa sobre línguas auxiliares, publicaram simultaneamente uma gramática da Interlíngua para dar forma concreta à língua internacional. A gramática e o vocabulário da Interlingua foram publicados em 1951 por Gode​​, financiado por ele mesmo. O Dicionario Interlingua-Inglês de 1951 continha 27.000 palavras, cuja forma é intermediária entre as formas variantes do protótipo e puramente a variante com ajuste mínimo. Vocabulário. Uma palavra é adotada em interlíngua desde que ela seja comum a pelo menos 3 das 4 línguas nacionais escolhidas como fonte: português/espanhol (tratados como um só), italiano, francês e inglês; alemão e russo podem vir a ser considerados. A forma da palavra é a forma do protótipo, isto é, a forma que deu origem às diferentes formas das línguas nacionais. Assim, embora a palavra portuguesa "olho" possa ser bastante diferente do espanhol "ojo", do italiano "occhio" e do francês "oeil", todas se originaram de uma forma latina anterior "oculus", que sobrevive na composição de palavras internacionais como "oculista", "ocular", etc. Portanto, "olho" em interlíngua é "oculo" (; a sílaba tônica sendo o primeiro "o"). Gramática. Eis uns poucos pontos que diferem entre a interlíngua e o português. Poucos, mas que fazem um diferença enorme no tempo de aprendizado da língua. Só há um artigo definido, "le", e um indefinido, "un", invariáveis em gênero e número. Os verbos não têm conjugação por pessoa ("io ama, tu ama, ille ama, nos ama, vos ama, illes ama"). Os verbos assumem apenas sete formas diferentes: infinitivo ("amar"), presente/imperativo ("ama"), passado ("amava"), futuro ("amara", acentuado no último "a"), condicional ("amarea", acentuado no "e"), particípio passado ("amate"), particípio presente ("amante"). Assim, verbos "difíceis" em português, como "vir", ficam muito mais fáceis de aprender (apenas "venir, veni, veniva, venira, venirea, venita, veniente"). Os adjetivos também não se alteram, não importando se o substantivo que ele qualifica está no singular ou no plural ("grande casa; grande casas"), nem se ele é masculino, feminino ou neutro (sem sexo) ("Petro es belle, Maria es belle, le casa es belle"). Exemplo. Tente entender esta frase por conta própria antes de ler a tradução em português abaixo. Padre nosso:
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Idade Média
Idade Média A Idade Média (adj. medieval) é um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna. A Idade Média é o período intermédio da divisão clássica da História ocidental em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna, sendo frequentemente dividido em Alta e Baixa Idade Média. Durante a Alta Idade Média verifica-se a continuidade dos processos de despovoamento, regressão urbana, e invasões bárbaras iniciadas durante a Antiguidade Tardia. Os ocupantes bárbaros formam novos reinos, apoiando-se na estrutura do Império Romano do Ocidente. No , o Norte de África e o Médio Oriente, que tinham sido parte do Império Romano do Oriente tornam-se territórios islâmicos depois da sua conquista pelos sucessores de Maomé. O Império Bizantino sobrevive e torna-se uma grande potência. No Ocidente, embora tenha havido alterações significativas nas estruturas políticas e sociais, a rutura com a Antiguidade não foi completa e a maior parte dos novos reinos incorporaram o maior número possível de instituições romanas pré-existentes. O cristianismo disseminou-se pela Europa ocidental e assistiu-se a um surto de edificação de novos espaços monásticos. Durante os séculos VII e VIII, os Francos, governados pela dinastia carolíngia, estabeleceram um império que dominou grande parte da Europa ocidental até ao , quando se desmoronaria perante as investidas de Víquingues do norte, Magiares de leste e Sarracenos do sul. Durante a Baixa Idade Média, que teve início depois do ano 1000, verifica-se na Europa um crescimento demográfico muito acentuado e um renascimento do comércio, à medida que inovações técnicas e agrícolas permitem uma maior produtividade de solos e colheitas. É durante este período que se iniciam e consolidam as duas estruturas sociais que dominam a Europa até ao Renascimento: o senhorialismo – a organização de camponeses em aldeias que pagam renda e prestam vassalagem a um nobre – e o feudalismo — uma estrutura política em que cavaleiros e outros nobres de estatuto inferior prestam serviço militar aos seus senhores, recebendo como compensação uma propriedade senhorial e o direito a cobrar impostos em determinado território. As Cruzadas, anunciadas pela primeira vez em 1095, representam a tentativa da cristandade em recuperar dos muçulmanos o domínio sobre a Terra Santa, tendo chegado a estabelecer alguns estados cristãos no Médio Oriente. A vida cultural foi dominada pela escolástica, uma filosofia que procurou unir a fé à razão, e pela fundação das primeiras universidades. A obra de Tomás de Aquino, a pintura de Giotto, a poesia de Dante e Chaucer, as viagens de Marco Polo e a edificação das imponentes catedrais góticas estão entre as mais destacadas façanhas deste período. Os dois últimos séculos da Baixa Idade Média ficaram marcados por várias guerras, adversidades e catástrofes. A população foi dizimada por sucessivas carestias e pestes; só a peste negra foi responsável pela morte de um terço da população europeia entre 1347 e 1350. O Grande Cisma do Ocidente no seio da Igreja teve consequências profundas na sociedade e foi um dos fatores que estiveram na origem de inúmeras guerras entre estados. Assistiu-se também a diversas guerras civis e revoltas populares dentro dos próprios reinos. O progresso cultural e tecnológico transformou por completo a sociedade europeia, concluindo a Idade Média e dando início à Idade Moderna. Desde o Renascimento a Idade Média tem sido repetidamente condenada como uma era de obscurantismo, tirania, violência, declínio econômico, degeneração moral e confusão política. A partir do Romantismo, no século XIX, o período passou a ser reavaliado e muitos dos seus aspectos têm sido revalorizados, mas nem sempre com um juízo crítico imparcial e objetivo, persistindo muitos dos estereótipos e preconceitos que caracterizaram a historiografia ao longo dos séculos precedentes, e que ainda definem em larga medida a visão sobre a Idade Média na cultura popular. Leituras distorcidas e falseadas de seus valores, costumes e tradições também têm sido usadas para legitimar ideologias messiânicas, pseudocientíficas, reacionárias e extremistas de natureza política, étnica, religiosa, social e cultural. Apesar dessas distorções, os assuntos medievais têm atraído uma legião de simpatizantes entre o público leigo, têm dado inspiração para romances, filmes, documentários e outras produções, o acervo de arte e arquitetura medieval se tornou uma importante atração turística em muitos países, e o tema já produziu uma vasta bibliografia acadêmica, que não cessa de crescer. Etimologia e periodização. A Idade Média é um dos três grandes períodos definidos pelo mais comum quadro de análise de história europeia: a Idade Antiga, ou "Antiguidade", a Idade Média e a Era Moderna, que compreende as idades Moderna e Contemporânea. Evolução do conceito. Os escritores medievais dividiam a História em períodos como as "Seis Épocas", e consideravam a sua a última época antes do fim do mundo, e denominavam-na "moderna". Na década de 1330, o poeta e humanista Petrarca denominava a era anterior ao cristianismo por "antiqua" (ou "antiga") e o período cristão por "nova". O primeiro historiador a definir a periodização tripartida foi Leonardo Bruni na sua "História do Povo Florentino" em 1442. Bruni, e historiadores posteriores, argumentaram que Itália se tinha desenvolvido significativamente desde o tempo de Petrarca e acrescentaram um terceiro período à sua divisão. O mais antigo registo conhecido do termo "Idade Média" data de 1469, sendo grafado como "media tempestas" ou "tempos médios". Durante a sua introdução, foi comum a coexistência de várias variantes, como "medium aevum", registada em 1604, ou "media scecula", registada em 1625. A periodização tripartida tornar-se-ia padrão após a publicação em 1683 da obra "História Universal Dividida nos Períodos Antigo, Medieval e Novo" da autoria do historiador alemão Christoph Cellarius. Datas de início e fim. A data consensual para o início da Idade Média é 476, definida pela primeira vez por Bruni, e que representa o ano em que é deposto o último imperador romano do Ocidente. No contexto europeu, considera-se normalmente o fim da Idade Média no ano 1500, embora não haja um consenso universal alargado sobre a data. Dependendo do contexto, podem ser considerados como eventos de transição a primeira viagem de Cristóvão Colombo às Américas em 1492, a conquista de Constantinopla pelos Turcos em 1453, ou a Reforma Protestante em 1517. Por outro lado, os historiadores ingleses normalmente referem-se à batalha de Bosworth em 1485 como referência para o fim do período. Em Espanha, é comum o recurso ao ano de 1516, aquando a morte do rei Fernando II de Aragão, ou o ano da morte da rainha Isabel I de Castela em 1504, ou ainda a conquista de Granada em 1492. Os historiadores de línguas românicas tendem a dividir a Idade Média em duas partes: um primeiro período, a Alta Idade Média (do século V até o século X) e um segundo período, a Baixa Idade Média (do século XI até o século XV). Os historiadores anglo-saxónicos dividem normalmente a Idade Média em três segmentos: "Early Middle Ages", ou "idade média arcaica", definido entre 476 e o ano 1000; "High Middle Ages", ou "alta idade média", entre o ano 1000 e 1300; e "Late Middle Ages" ou "Idade média tardia" entre 1300 e 1453. Os termos foram popularizados durante o início do pelo historiador belga Henri Pirenne e pelo holandês Johan Huizinga. Durante todo o , a Idade Média era frequentemente referida como a "Idade das trevas", mas com a criação de subdivisões o uso do termo ficou restrito ao período arcaico. Queda do Império Romano. O Império Romano atingiu o seu apogeu e máxima extensão territorial durante o , mas durante os dois séculos seguintes verificar-se-ia o lento declínio do domínio territorial romano sobre os seus territórios. A crise económica, refletida na inflação, e instabilidade nas fronteiras motivada pela pressão de povos invasores, estiveram na origem da crise do terceiro século, períodos em que um vasto número de imperadores ascendia ao trono apenas para ser rapidamente substituído por novos usurpadores. O orçamento militar aumentou constantemente ao longo de todo o terceiro século, sobretudo na sequência de uma nova guerra contra o Império Sassânida, iniciada em meados do século. A necessidade de receitas levou à aplicação de uma sobretaxa fiscal e ao declínio em massa da classe média, proprietária de terrenos e unidades de produção, extinguindo-se assim o financiamento das estruturas administrativas de cada povoação. No ano de 286, o imperador Diocleciano divide o império em duas metades, oriental e ocidental, administradas separadamente. No entanto, os próprios cidadãos e administradores públicos não viam o seu império como dividido, e as promulgações legais e administrativas de uma parte eram consideradas válidas na outra. Este sistema, que viria a ter dois coimperadores seniores (augustos) e dois coimperadores juniores (césares), seria conhecido como tetrarquia. Em 330, depois de um período de guerra civil, o imperador Constantino tornar-se-ia imperador único e refundaria a cidade de Bizâncio como Constantinopla, a nova e renovada capital oriental. As reformas de Diocleciano criaram uma administração pública forte, a reforma da cobrança de impostos, e o fortalecimento do exército, o que permitiu ganhar algum tempo mas não resolveu por completo os problemas que enfrentava: tributação excessiva, queda da taxa de natalidade e pressão fronteiriça. Em meados do , tornou-se constante a deflagração de guerras civis entre imperadores rivais, retirando forças das fronteiras e dando espaço à infiltração de bárbaros. No , a sociedade romana era já bastante diferente da do período clássico, assistindo-se ao aumento das desigualdades sociais e ao declínio de vitalidade das cidades pequenas. O império converte-se também ao cristianismo, um processo gradual que decorreu entre os séculos II e V. Em 376, os Ostrogodos, em debanda dos Hunos, são autorizados pelo imperador romano Valente a estabelecer-se na província romana de Trácia, nos Balcãs. O processo não decorreu de forma pacífica, e quando os administradores romanos perderam o controlo da situação, os Ostrogodos deram início a uma série de pilhagens e vandalismos no território. Valente, numa tentativa de fazer cessar a violência, foi morto em combate na batalha de Adrianópolis em agosto de 378. Para além da ameaça bárbara do norte, constituíram também ameaças à estabilidade as divisões internas dentro do próprio império, sobretudo dentro da Igreja Cristã. No ano 400, os Visigodos sob Alarico invadem o Império do Ocidente e, embora inicialmente repelidos de Itália, em 410 saqueiam a cidade de Roma. A par destes eventos, Alanos, Vândalos e Suevos resolvem atravessar o Reno em 406, dominando o território da Gália até 409, quando atravessam os Pirenéus, instalando-se também na Península Ibérica. Vários outros grupos bárbaros tomam igualmente parte nas intensas migrações deste período. Os Francos, Alamanos e Burgúndios têm como destino o norte da Gália enquanto que os Anglos, Saxões e Jutos se estabelecem nas Ilhas Britânicas. Os Hunos, liderados pelo rei Átila, o Huno, organizam invasões aos Balcãs em 442 e 447, à Gália em 451, e a Itália em 452. A ameaça dos Hunos prolongou-se até à morte de Átila em 453, quando a confederação por si liderada se fragmenta. Estes movimentos levados a cabo pelas várias tribos reorganizaram de forma dramática o mapa político e demográfico do que tinha sido o Império Romano do Ocidente. Por volta do fim do , a parte ocidental do império estava já dividida em pequenas unidades políticas, governadas pelas tribos que as haviam ocupado durante o início do século. O último imperador do Ocidente, Rómulo Augusto, foi deposto em 476, evento que leva à adoção consensual desse ano como o fim do Império Romano do Ocidente. O Império Romano do Oriente, referido como "Império Bizantino" depois da queda do seu correspondente ocidental, mostrou pouca eficácia no controlo dos territórios ocidentais perdidos. Embora os imperadores bizantinos tenham mantido pretensões territoriais e afirmado que nenhum rei bárbaro podia ousar tornar-se imperador do Ocidente, não conseguiam de forma alguma sustentar qualquer domínio a Ocidente, excetuando-se a reconquista temporária da península Itálica e da periferia mediterrânea por Justiniano I. Alta Idade Média. Novas sociedades. A estrutura política da Europa Ocidental alterou-se significativamente com o fim da união do Império Romano. Embora as atividades dos povos bárbaros sejam frequentemente descritas como "invasões", não se trataram de meras campanhas militares, mas sim migrações de populações inteiras para o território do império. A migração foi facilitada pela recusa das elites romanas em financiar o seu exército. Os imperadores do eram na maior parte dos casos controlados por militares influentes como Estilicão, Ricímero, Gundebaldo ou Áspar, quase sempre estrangeiros ou de ascendência estrangeira. Após a interrupção da linha de sucessão, muitos dos reis que os substituíram provinham igualmente de forças militares. Era também comum o casamento entre os novos reis e as elites romanas locais. Isto deu origem a uma incorporação gradual dos hábitos das tribos invasoras na cultura romana, incluindo assembleias populares que permitiram aos líderes tribais ter uma voz ativa em matérias políticas. Os artefactos deixados por Romanos ou pelos invasores são na sua maioria similares, sendo nítida a inspiração dos objetos tribais nos modelos romanos. De igual modo, a maior parte da cultura intelectual dos novos reinos baseava-se directamente nas tradições intelectuais romanas. No entanto, uma diferença substancial foi a perda gradual de rendimento tributário em função das novas políticas. Muitas das novas instituições governativas já não financiavam os seus exércitos com o dinheiro proveniente de impostos, mas com a atribuição de terras ou senhorios. Isto levou ao desaparecimento do sistema de colecta de impostos, uma vez que deixou de haver necessidade para cobranças ou cálculos de grande envergadura. O belicismo era comum entre reinos e dentro dos próprios reinos. A escravatura entrou também em declínio, à medida que a oferta se reduzia e a sociedade se tornava cada vez mais rural. Entre os séculos V e VIII, uma nova vaga de governantes preenche o vazio político deixado pela administração central romana. Os Ostrogodos estabelecem-se na província romana de Itália no fim do , sob o comando de Teodorico, e dão início a um reino notável pela cooperação entre Itálicos e Ostrogodos, pelo menos durante o seu reinado. Os Burgúndios estabelecem-se na Gália, e depois de um primeiro reino dizimado pelos Hunos em 436, formam um novo na década de 440 entre a atual Genebra e Lyon, e que durante o início do se viria a tornar num dos mais influentes reinos da região. No norte da Gália, os Francos e os Bretões formam pequenos reinos. O Reino Franco centra-se no noroeste da Gália e o primeiro reinante do qual se possui informação relevante é , que viria a morrer em 481. Durante o reinado do seu filho, , o reino franco expande-se e converte-se ao cristianismo. Os Bretões, procedentes da Britânia, estabelecem-se no que é hoje a Bretanha. Os Visigodos estabelecem o seu reino em grande parte da Península Ibérica, sendo o noroeste peninsular ocupado pelo Reino Suevo e o norte de África pelo Reino Vândalo. Durante o , os Lombardos estabelecem-se no norte de Itália, substituindo o Reino Ostrogótico por um grupo de ducados responsáveis pela eleição de um rei comum. Por volta do fim do , este sistema foi substituído por uma monarquia permanente. A migração europeia significou uma alteração profunda do mapa demográfico da Europa, embora o povoamento não tenha sido homogéneo. Algumas regiões, como a Península Ibérica, albergaram um número de colonos muito maior quando comparado com outras regiões. A ocupação da Gália foi também superior e em maior densidade no noroeste do que no sudeste. Os povos Eslavos ocuparam a Europa Central e de Leste até à península Balcânica. Esta migração foi também acompanhada por alterações profundas na língua. O latim, língua oficial do Império Romano do Ocidente, foi gradualmente substituído por várias línguas de raiz latina, embora já bastante distintas, denominadas coletivamente por línguas românicas. No entanto, a evolução do latim para as novas línguas como o francês, português ou romeno foi um processo que ocorreu ao longo de séculos, e atravessou uma série de fases. O grego permaneceu como língua oficial do Império Bizantino, mas as migrações dos Eslavos permitiram a assimilação de línguas eslavas no leste europeu. Império Bizantino. À medida que a Europa Ocidental assistia à formação de novos reinos, o Império Romano do Oriente manteve-se intacto, chegando até a verificar-se um renascimento económico que perdurou até ao início do . Na parte oriental houve menos tentativas de invasão, e a maioria centrou-se sobretudo na zona dos Balcãs. Durante todo o , a paz foi constante com o Império Sassânida (persa), oponente ancestral de Roma no domínio territorial da região. Assistiu-se também ao estreitamento de relações entre a governação política e a Igreja Cristã, tendo no Oriente as questões doutrinais assumido um relevo sem paralelo na Europa ocidental. A nível jurídico, procedeu-se à codificação do direito romano, tendo sido completado o Código de Teodósio em 438. No reinado de Justiniano procede-se a uma compilação ainda mais detalhada, conhecida como "Corpus Juris Civilis". Justiniano impulsionou também a edificação da Santa Sofia em Constantinopla e a reconquista do Norte de África aos Vândalos e de Itália aos Ostrogodos, sob o comando de Belisário. A conquista de Itália sofreu um revés devido à deflagração de uma pandemia em 542, que levou à concentração dos recursos na defesa do território já conquistado. A progressiva infiltração dos povos Eslavos nos Balcãs trouxe consigo dificuldades acrescidas. Embora tenha começado por pequenas invasões, por volta de 540 as tribos eslavas encontravam-se já na Trácia e na Ilíria, e em 551 viriam a derrotar um dos exércitos imperiais perto de Adrianópolis (atual Edirne). Durante a década de 560, os Ávaros iniciam uma expansão territorial a partir da margem Norte do rio Danúbio, e por volta do fim do até ao fim do são já a força dominante na Europa Central e capazes de exigir aos imperadores Orientais o pagamento de tributos. Outro dos mais notáveis problemas enfrentados pelo império foi o envolvimento do imperador Maurício na política persa, ao intervir numa disputa sucessória. Embora a ascensão de Cosroes II ao trono persa tenha significado um breve período de paz, a sua subsequente deposição levou a uma nova guerra com os Persas, que, durante o reinado de Heráclio, dominavam já grande parte do império a oriente, incluindo as províncias do Egito, da Síria e da Ásia, quando Jerusalém caiu, em 614 . Mais tarde, em 628, Heráclio assinaria um tratado de paz que restauraria as anteriores fronteiras imperiais. Fervor religioso e expansão islâmica. Durante os séculos VI e VII é frequente a permeabilidade de credos religiosos entre o Império Sassânida e o Império Bizantino. O judaísmo era uma fé missionária ativa, e a cristandade possuía missões que competiam com o zoroastrismo persa na procura de conversões, sobretudo entre habitantes da península da Arábia. Com a emergência do Islão na Arábia durante a vida de Maomé, assistir-se-ia à unificação religiosa da região. Depois da morte de Maomé em 632, as forças islâmicas conquistaram grande parte do Império Oriental, bem como o Império Sassânida, começando com a conquista da Síria em 634-635 e mais tarde de todo o território até ao Egito em 640-641, a própria Pérsia entre 637 e 642, o Norte de África no fim do e a Península Ibérica em 711. Em 714, as forças islâmicas controlavam já a maior parte da Península, região que denominaram por Alandalus. A expansão islâmica atingiu o apogeu em meados do . A derrota das forças muçulmanas na batalha de Poitiers em 732 proporcionou a reconquista do sul de França pelos Francos, embora o principal fator para a interrupção da expansão islâmica na Europa tenha sido a deposição da dinastia omíada e a sua substituição pela dinastia abássida. Os Abássidas transferiram a sua capital para Bagdade e concentraram o seu interesse no Médio Oriente em desfavor da Europa, ao mesmo tempo que perdiam o domínio de uma vasta extensão territorial. Os descendentes dos Omíadas obtiveram o domínio da Península Ibérica, os Aglábidas do norte de África e os Tulúnidas passaram a governar o Egito. Em meados do , assiste-se ao renascimento e aparecimento de novas rotas comerciais no Mediterrâneo, tendo as antigas rotas romanas sido substituídas pelo comércio entre os reinos dos Francos e dos Árabes. Os francos negociavam madeiras, peles, armamento e escravos para os Árabes, em troca de sedas e vários géneros de tecidos, especiarias e metais preciosos. O primeiro registo de venda de escravos ao mundo muçulmano - pelos venezianos - data a cerca de 748. Durante os dois séculos seguintes, o tráfico de escravos iria tornar-se um negócios lucrativo tanto para europeus como para árabes, apesar da desaprovação da Igreja. Comércio e economia. As migrações bárbaras dos séculos IV e V interromperam grande parte das rotas comerciais no Mediterrâneo, o que fez cessar a exportação de mercadorias africanas para a Europa. Por volta do início do , apenas em algumas cidades costeiras como Roma e Nápoles era possível encontrar ainda bens importados, embora ao longo de todo o século as conquistas muçulmanas fizessem cessar em definitivo as trocas comerciais de longo curso, fazendo com que durante a Alta Idade Média aumentasse a procura pela produção local, sobretudo nas áreas afastadas do Mediterrâneo. Os bens importados encontrados nos vestígios arqueológicos são fundamentalmente artigos de luxo. Na Europa do Norte, não só as rotas comerciais eram locais, como os bens transportados eram artigos comuns, com poucos objetos cerâmicos ou produtos transformados. Em redor do Mediterrâneo, contudo, o comércio de cerâmica foi comum e realizado a alguma distância, e não apenas de produção local. Os vários estados germânicos no Ocidente cunhavam moeda segundo os modelos romano e bizantino. O ouro continuou a ser usado até finais do , até ser substituído por moedas de prata. A unidade elementar da moeda de prata Franca era o dinheiro, enquanto que os anglo-saxões usavam o pêni, moedas que se disseminaram pela Europa entre os séculos VII e X. Nem o bronze nem o cobre eram usados na cunhagem, e o ouro só continuou a ser usado na Europa do Sul. Também não eram cunhadas moedas com valores múltiplos. Igreja e monaquismo. A cristandade foi o fator determinante de unidade entre a Europa oriental e ocidental antes da conquista árabe; no entanto, a perda do domínio do Mediterrâneo viria a estagnar as rotas comerciais marítimas entre as duas regiões. A própria Igreja Bizantina, que viria a tornar-se na Igreja Ortodoxa, era distinta em termos de práticas, liturgia e língua da sua congénere ocidental, que viria a tornar-se na Igreja Católica. As diferenças teológicas e políticas tornam-se cada vez mais vincadas, e em meados do a abordagem de matérias como a iconoclastia, o casamento de sacerdotes e a separação de poderes entre a Igreja e o Estado era de tal forma contrastante que as diferenças culturais e religiosas eram já em maior número do que as semelhanças. A separação formal ocorre em 1054, quando o Papado de Roma e o patriarcado de Constantinopla se confrontam abertamente e se excomungam mutuamente, facto que está na origem da cisão da cristandade em duas igrejas – a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental. A estrutura eclesiástica do Império Romano no ocidente sobreviveu relativamente intacta às invasões bárbaras, mas o papado pouca autoridade exercia, sendo raros os bispos ocidentais que procuravam no papa liderança religiosa ou política. A maior parte dos papas anteriores a 750 debruçava-se sobretudo sobre questões bizantinas e teológicas orientais. A grande maioria das mais de 850 cartas hoje conservadas do papa Gregório I dizem respeito a assuntos em Itália ou Constantinopla. A única região da Europa Ocidental onde o papado exercia influência era a província romana da Britânia, para onde Gregório envia em 597 a missão gregoriana com o intuito de converter os Anglo-saxões ao cristianismo. Os missionários irlandeses, que entre os séculos V e VII foram os mais ativos na Europa ocidental, foram autores de várias campanhas de cristianização, primeiro nas Ilhas Britânicas e depois no continente. Contando entre si monges como São Columba e São Columbano, não só fundaram um imenso número de mosteiros, mas também foram os responsáveis pela divulgação do latim e do grego e autores profícuos de obras seculares e religiosas. Durante a Alta Idade Média assiste-se à implementação do monaquismo no Ocidente, inspirado sobretudo pela tradição monástica dos Padres do Deserto Sírios e Egípcios. São Pacómio foi durante o um dos pioneiros do cenobitismo, o monaquismo praticado em redor de uma comunidade espiritual. Os ideais monásticos são rapidamente difundidos do mediterrâneo para a Europa durante os séculos V e VI através da documentos hagiográficos como a "A Vida de Antão". São Bento de Núrsia foi o autor da Regra de São Bento, extremamente influente no monaquismo ocidental durante todo o , onde são descritas em detalhe as responsabilidades administrativas e espirituais de uma comunidade de monges, liderada por um abade. Os mosteiros exerceram uma influência profunda na vida religiosa e política da Alta Idade Média, tutelando vastas regiões em nome de famílias poderosas, atuando como centros de propaganda e de apoio monárquico em regiões recentemente conquistadas, e organizando missões de evangelização. Eram também o principal, e por vezes único, centro de educação e literacia em determinada região, copiando também muitos dos manuscritos sobreviventes dos clássicos romanos. Os monges, como São Beda, foram também autores de inúmeras novas obras de história, teologia, botânica e vários outros temas. A Europa Carolíngia. Sob o domínio da dinastia merovíngia durante os séculos VI e VII, o reino dos Francos no norte da Gália segmentar-se-ia nos reinos da Austrásia, da Nêustria e Borgonha. O representou um período instável de guerra civil entre a Austrásia e a Nêustria. A situação foi explorada por Pepino de Landen, mordomo do palácio que se tornaria governante "de facto" nos bastidores da coroa. A sua linhagem herdou sucessivamente o cargo, atuando como conselheiros e regentes. Um dos seus descendentes, Carlos Martel, liderou a vitória na batalha de Poitiers em 732, contendo o avanço muçulmano nos Pirenéus. O exército muçulmano tinha já conquistado por completo o reino Visigótico de Hispânia em 719, depois de derrotar o último monarca visigodo, Rodrigo, durante a batalha de Guadalete em 711. As Ilhas Britânicas encontravam-se divididas em vários estados de pequena dimensão, dominados pelos reinos da Nortúmbria, Mércia, Wessex e Anglia Oriental, descendentes dos ocupantes Anglo-saxões. Alguns reinos de menores dimensões, no que é hoje a Escócia e o País de Gales, encontravam-se ainda sob domínio dos nativos britânicos e dos Pictos. A Irlanda estava dividida em unidades políticas de ainda menor dimensão, controladas por reis locais. Estima-se que tenha havido a determinado ponto cerca de 150 reinos locais apenas na Irlanda, de importância e dimensão variável. A dinastia carolíngia, como são referidos os sucessores de Carlos Martel, apoderou-se oficialmente dos reinos da Austrásia e da Nêustria em 753 durante um golpe de Estado liderado por Pepino III. Uma crónica contemporânea afirma que Pepino recebeu autorização para o golpe do Papa Estêvão II. O golpe foi apoiado por propaganda que retratava os Merovíngios como governantes cruéis e inaptos, exaltando as virtudes de Carlos Martel e da piedade da sua família. Depois da morte de Pepino, o reino é herdado pelos seus dois filhos, Carlos e Carlomano. Quando Carlomano morreu de causas naturais, Carlos impediu a sucessão do seu filho menor e coroou-se a si próprio como rei da Austrásia e Nêustria unidas. Carlos, que viria a ser conhecido como Carlos, o Grande ou Carlos Magno, iniciou em 774 uma série de expansões sistemáticas que unificariam grande parte da Europa, chegando a dominar toda a extensão territorial no que é atualmente a França, norte de Itália e Saxónia. Ainda em 774, conquista os lombardos, libertando o papado dos receios de uma conquista lombarda e dando início aos Estados Papais. A coroação de Carlos Magno como imperador, no dia de Natal do ano 800, é vista pelos historiadores como um dos grandes momentos de charneira na história medieval, marcando a restauração do Império Romano do Ocidente, uma vez que o novo imperador governava a maior parte do território anteriormente controlado pelos imperadores ocidentais. Marca também uma alteração significativa na relação de poderes entre Carlos Magno e o Império Bizantino, ao tornar claro que a obtenção do título de imperador afirmava a sua equivalência perante a contraparte oriental. No entanto, existiam diferenças significativas entre o novo Império Carolíngio e tanto o Império Bizantino como o antigo Império Romano do Ocidente. Os territórios francos eram essencialmente rurais, existindo muito poucos núcleos urbanos, e os existentes eram de pouca dimensão. As técnicas agrícolas eram rudimentares, e a maior parte dos habitantes eram camponeses em explorações minifundiárias. O comércio era incipiente e na sua maioria virado para as Ilhas Britânicas ou para os territórios escandinavos, ao contrário do antigo Império Romano, que dispunha de uma vastíssima rede de comércio centrada no Mediterrâneo. A administração do império estava centrada numa corte itinerante que acompanhava o imperador, e o poder local estava nas mãos de cerca de 300 oficiais designados por condes, administrando cada um dos condados em que o território fora repartido. Os bispos e o próprio clero podiam exercer funções administrativas, e o poder de supervisão estava também delegado nos "missi dominici", homens de confiança da corte que serviam de intermediários entre o poder local e central. Renascimento Carolíngio. A corte de Carlos Magno em Aquisgrano foi o centro de um movimento de revitalização cultural denominado "Renascimento Carolíngio". Durante este período assiste-se a um aumento expressivo da literacia, ao florescimento da arte e da arquitectura, a um elevado número de iniciativas legislativas e a uma maior expressão da produção escrita. Alcuíno de Iorque foi convidado para a corte, trazendo consigo a educação clássica em latim dos mosteiros da Nortúmbria. Foi implementada a minúscula carolíngia, uma nova forma caligráfica unificada que melhorou substancialmente a comunicação escrita em grande parte do território europeu. Carlos Magno impôs também às igrejas a liturgia romana e o canto gregoriano como forma unificada de celebração. A comunidade académica foi autora de muitos trabalhos de cópia, correção e divulgação de obras de referência de temas religiosos e seculares, com o intuito de encorajar a aprendizagem. São também produzidas imensas obras originais, sobretudo livros de ensino e sobre temas religiosas. Os linguistas do período adaptam a língua latina, transformando o latim clássico do Império Romano numa forma mais flexível. Durante o reino de Carlos Magno, a língua era já tão divergente da forma clássica que mais tarde se convencionaria denominar por latim medieval. Desagregação do Império Carolíngio. Apesar de Carlos Magno ter previsto manter a tradição franca da partilha do reino por todos os herdeiros, apenas um dos seus filhos, Luís I, o Piedoso, se encontrava vivo em 813. No mesmo ano, Carlos Magno coroa Luís como seu sucessor, tendo morrido no ano seguinte. O seu longo reinado de 26 anos seria marcado por várias divisões internas do império entre os seus filhos e, após 829, por várias guerras civis entre grupos de alianças de pais e filhos contra outros herdeiros, em disputa sobre o domínio de várias partes do império. A determinada altura, Luís reconheceu como imperador o seu filho mais velho e cedeu-lhe o território de Itália. Luís distribuiu o restante império entre Lotário e , o seu filho mais novo. Lotário assumiu o domínio da Frância Oriental, a leste do Reno, deixando a Carlos a Frância Ocidental, o território a oeste da área do Reno e dos Alpes. Ao filho do meio, Luís o Germânico, que havia iniciado disputas constantes, foi-lhe permitida a regência da Baviera, ainda que sob tutela do seu irmão mais velho. Esta divisão viria mais tarde a ser contestada. , neto do imperador, rebelou-se na tentativa de conquistar a Aquitânia, enquanto que Luís o Germânico tentou anexar a Frância Oriental. Luís I morreria em 840, com o império em convulsão. À sua morte seguiu-se uma guerra civil de três anos, que culminaria com a assinatura do Tratado de Verdun em 843. O tratado determinou a criação de um reino entre os rios Reno e o Ródano administrado por Lotário em conjunto com as suas posses de Itália, e o reconhecimento do seu título imperial. Luís o Germânico assumiu o controlo da Baviera e das terras orientais da atual Alemanha. Carlos recebeu o território ocidental franco, no que é hoje grande parte da França. Os netos e bisnetos de Carlos Magno dividiriam por sua vez os seus reinos pelos seus descendentes, o que viria a desagregar toda a coesão interna alcançada neste período. A desagregação do Império Carolíngio foi acompanhada por invasões, migrações e incursões de forças externas. As costas atlântica e norte foram cobiçadas pelos Víquingues, que já se haviam instalado no norte das Ilhas Britânicas e na ilha da Islândia. Em 911, o líder víquingue Rolão recebeu permissão do rei franco Carlos, o Simples para estabelecer uma colónia no território que viria a ser a Normandia. Os territórios orientais dos reinos francos, sobretudo a Alemanha e a Itália, estiveram sob constante ataque dos povos Magiares até à sua derrota na batalha de Lechfeld em 955. A fragmentação do Califado Abássida trouxe consigo a desagregação do mundo islâmico numa série de pequenos estados políticos, alguns dos quais que viriam a expandir-se para a Itália e Sicília, chegando mesmo a instalar colónias nos Pirenéus e em áreas nas fronteiras a sul dos reinos francos (Fraxineto, por exemplo). Os novos reinos e o renascimento do Império Bizantino. Os esforços dos reinos locais para repelir os invasores levaram à formação de novas entidades políticas. Em Inglaterra, o rei Alfredo obteve no final do um acordo com os invasores Víquingues, que previa o estabelecimento de colónias dinamarquesas na Nortúmbria, Mércia e partes da Ânglia Oriental. Em meados do , os descendentes de Alfredo tinham já reconquistado a Nortúmbria e restabelecido o domínio inglês sobre a maior parte do Sul da ilha. A Norte, Kenneth I uniu os Pictos e os Escoceses no Reino da Escócia. Durante o início do , a dinastia otoniana dominava já a Germânia e procurou repelir as invasões magiares. O restabelecimento do território culminou com a coroação de como imperador em 962. Em 972, Otão garantiu o reconhecimento do título pelo Império Bizantino, e legitimou o facto com o casamento do seu filho com Teofânia Escleraina, filha do anterior imperador Bizantino . Depois de um período de instabilidade, o Reino Itálico seria colocado sob influência otoniana em finais do . A Frância ocidental fragmentou-se ainda mais, e embora "de jure" tenha existido uma corte, grande parte do poder estava entregue a senhores locais. Ao longo dos séculos IX e X os reinos escandinavos da Suécia, Dinamarca e Noruega foram conquistando território e influência. Alguns dos monarcas converteram-se ao cristianismo, fruto do esforço missionário do mesmo período, embora o processo de cristianização só tenha sido completo por volta do ano 1000. Os reinos escandinavos continuaram também a estabelecer colónias ao longo do território europeu; para além das já existentes na Irlanda, Inglaterra e Normandia, colonizaram também a Islândia e em territórios que viriam a fazer parte da Rússia. Mercadores suecos chegaram a estabelecer-se nos rios das estepes russas e mesmo a tentar cercar Constantinopla em 860 e 907. A Espanha cristã, inicialmente confinada a um pequeno território a norte depois da conquista muçulmana, começou a reconquistar território a sul durante os séculos IX e X, estabelecendo durante o processo os reinos das Astúrias e de Leão. Na Europa de Leste, o Império Bizantino assistiu a um novo período de apogeu durante o reinado de e dos seus descendentes e , membros da dinastia macedónica. O comércio intensificou-se e implementou-se uma reforma administrativa uniforme a todas as províncias do império. O exército foi reorganizado, o que permitiu aos imperadores e alargar a sua extensão territorial em todas as frentes. A corte imperial foi o centro do revivalismo clássico, momento que viria a ficar conhecido como Renascimento macedónico. Os esforços missionários tanto de clérigos orientais como ocidentais estiveram na origem da conversão dos Morávios, Búlgaros, Boémios, Polacos, Magiares e os povos eslavos do Rússia de Quieve. A cristianização destes povos viria a contribuir para a fundação dos estados políticos no território destes povos – a Grande Morávia, o Império Búlgaro, a Boémia, Polónia, Hungria e a própria Rússia de Quieve. Arte e arquitectura. Aos programas das grandes basílicas do sucede-se um período de súbita diminuição de escala nas edificações que se prolongará até ao , sendo muito raros os programas de grandes edifícios. Por outro lado, verifica-se um surto construtivo de edifícios de pedra de menor escala durante os séculos VI e VII. Por volta do , a forma basilical é recuperada para os templos religiosos no Império Carolíngio. A mais significativa inovação formal foi a introdução do transepto, o corpo saliente perpendicular à nave que confere à planta a sua forma de cruz. São também introduzidas as torres de cruzeiro e um pórtico monumental de entrada no templo, normalmente na fachada ocidental do edifício. A produção de arte carolíngia estava restrita a um pequeno grupo de encomendadores na corte, e aos mosteiros e igrejas dos quais eram mecenas ou patronos. Foi marcada por um esforço em fazer reviver a dignidade e classicismo da Roma imperial e da arte bizantina, e influenciada em simultâneo pela arte insular das Ilhas Britânicas, conjugando os motivos ornamentais celtas e germânicos com formas e suportes mediterrânicos, e definindo já grande parte das formas artísticas que permaneceriam na arte Ocidental até o fim da Idade Média. Até os nossos dias chegaram sobretudo iluminuras e entalhes em marfim, inicialmente adornos de objetos metálicos. As peças em metais preciosos estavam entre as mais prestigiadas formas artísticas, mas fruto sobretudo da necessidade de metal que levou à sua fundição, são poucos os exemplos que chegaram até nós, sendo os mais comuns algumas cruzes como a Cruz de Lotário, vários relicários e alguns sítios arqueológicos extremamente ricos em artefactos de metal como Sutton Hoo em Inglaterra, Gourdon em França, Guarrazar em Espanha e Nagyszentmiklós na fronteira do Império Bizantino. Há ainda vários exemplares de broches presentes em fíbulas, peça fundamental de adorno pessoal das elites. Os livros com a maior riqueza decorativa eram sobretudo evangeliários, tendo chegado até nós uma quantidade assinalável de exemplares, como o Livro de Kells ou os Evangelhos de Lindisfarne, ou o Código Áureo de São Emeram, um dos poucos a conservar intacta a sua encadernação de ouro cravejado de pedras preciosas. Foi também durante a corte de Carlos Magno que terá sido admitida a escultura monumental na arte cristã, uma alteração crucial e que se manifestaria já no fim do período na presença comum de estatuária em tamanho real nas igrejas, como a Cruz de Gero. Progresso tecnológico e militar. Ao longo do final do Império Romano, os principais progressos militares consistiram na tentativa de criação de uma força de cavalaria eficiente e no desenvolvimento de grupos altamente especializados no seio das forças militares. A criação de cavaleiros protegidos por armadura, semelhantes aos catafractários persas, teve lugar no . As diversas tribos invasoras possuíam exércitos bastante distintos; por exemplo, os exércitos anglo-saxónicos que invadiram as ilhas britânicas eram constituídos fundamentalmente por infantaria, enquanto que os Vândalos e Visigodos tinham uma percentagem muito grande de cavalaria. Durante o início das migrações o estribo ainda não tinha sido introduzido no exército, o que limitava a utilidade da cavalaria enquanto tropa de choque por não ser possível aplicar a totalidade da força do cavalo e do cavaleiro. A mais profunda alteração militar durante o período das migrações foi a adoção do arco composto huno em substituição da versão cítia, mais fraca. Outra inovação foi a adoção progressiva do montante, da cota de malha e da armadura lamelar. A infantaria e a cavalaria ligeira perderam progressivamente importância durante o início do período carolíngio. Inversamente, a cavalaria pesada foi ganhando cada vez mais importância nos exércitos. Durante este período, diminuiu também o recurso a grupos de milícias, recrutados à força entre a população livre. Embora muitos dos exércitos carolíngios fossem montados, pensa-se que uma grande proporção tenha sido apenas infantaria montada, e não verdadeira cavalaria. A nível tecnológico, uma das principais mudanças durante o fim da Alta Idade Média foi o reaparecimento da besta e a introdução do estribo. Outro avanço tecnológico, com implicações muito para além do campo militar, foi a introdução da ferradura, que permitiu usar cavalos em terreno rochoso. Sociedade ocidental. Na Europa ocidental, grande parte das antigas famílias das elites romanas desapareceu, ao mesmo tempo que outras se envolviam cada vez mais com assuntos religiosos e menos com matérias seculares. Os valores ligados à educação e literacia latinas praticamente desapareceram e, embora a literacia continuasse a ser importante, torna-se uma competência prática em vez de um símbolo de estatuto social. No , Jerónimo sonhou que Deus o tinha repreendido por gastar mais tempo a ler Cícero do que a Bíblia. No , Gregório de Tours afirmava que tinha tido um sonho semelhante, sendo castigado por tentar aprender estenografia. Em finais do , os principais meios de instrução religiosa são já a música e a arte, em vez do livro. Grande parte da produção literária reproduzia obras clássicas, embora tenham sido criadas inúmeras obras originais e composições orais, atualmente desaparecidas. Entre as obras proeminentes deste período estão as de Sidónio Apolinário, Cassiodoro e Boécio. A cultura aristocrática também sofreu alterações. A cultura literária perde significado enquanto estatuto social. Os laços familiares entre as elites eram importantes, assim como os valores de lealdade, coragem e honra. Estes laços estão na origem e prevalência de um grande número de disputas na Europa ocidental, embora muitos terminassem rapidamente contra o pagamento de uma compensação. A nobreza apoiava a formação de grupos de guerreiros (comitato) destinados a ser a elite dos exércitos. A sociedade camponesa está muito menos documentada do que a nobreza. Grande parte do conhecimento atual deve-se à arqueologia, sendo raros os documentos escritos sobre a vida das classes inferiores anteriores ao . As principais fontes são os códigos de direito ou as crónicas das classes superiores. A distribuição de terras no Ocidente não era uniforme, havendo áreas muito fragmentadas enquanto noutras existiam blocos contíguos de grande dimensão. Estas diferenças permitiram o desenvolvimento de sociedades camponesas muito diferentes entre si, umas controladas pela aristocracia, enquanto outras com elevado nível de autonomia. A distribuição populacional também variava significativamente. Algumas comunidades rurais chegavam a ter 700 habitantes, enquanto outras consistiam apenas num pequeno número de famílias ou quintas isoladas. Diferente do que ocorria no período romano, não havia um vínculo legal relativo ao estatuto social e era possível a uma família camponesa ascender à aristocracia, por exemplo, ao longo de várias gerações de serviço militar dedicado a um senhor influente. A vida nas cidades e a cultura urbana sofreu um declínio acentuado a partir da queda do Império Romano. Embora as cidades italianas continuassem a ser povoadas, o número de habitantes diminuiu drasticamente. Roma, por exemplo, passou de uma população de centenas de milhar para apenas habitantes no final do . Os templos e basílicas foram convertidos em locais de culto cristãos. Na Europa do Norte, as cidades também se contraíram, ao mesmo tempo que monumentos e espaços públicos eram destruídos para obtenção de materiais de construção. No entanto, a instituição de novos reinos muitas vezes proporcionava o crescimento das cidades escolhidas para capital. Baixa Idade Média. Sociedade e economia. Durante toda a Baixa Idade média, e até ao surto epidémico do , a população Europeia cresceu a um ritmo sem precedentes. As estimativas apontam para um crescimento de 35 para 80 milhões entre os anos 1000 e 1347. Têm sido identificadas como causas prováveis a melhoria nas técnicas agrícolas, a relativa paz e ausência de invasões, o declínio da escravatura e um extenso período de clima moderado e aumento da temperatura média. Apesar deste crescimento, cerca de 90% da população era ainda eminentemente rural embora, de forma progressiva, as quintas isoladas tenham dado lugar a pequenas comunidades como aldeias ou vilas, e tenha sido comum a agregação em volta de propriedades senhoriais. A população urbana, ainda muito escassa durante a Alta Idade Média, cresce assinalavelmente durante os séculos XII e XIII, a par da expansão urbana e da fundação de imensos centros populacionais, embora ao longo de todo o período seja provável que nunca tenha excedido os 10% da população total. A estrutura social e económica tinha por base as relações feudais. Embora não fosse proprietária, a nobreza detinha os direitos de exploração e tributação de grande parte dos terrenos agrícolas. Os servos obtinham o direito a cultivar e habitar as terras de determinada família nobre mediante o pagamento de uma renda na forma de trabalho, géneros ou moeda. Em troca, recebiam proteção económica e militar. Ao longo dos séculos XI e XII, estas terras, ou feudos, tornam-se hereditárias. Em muitas regiões, ao contrário do que acontecia na Alta Idade Média, a dificuldade em dividi-las pelos herdeiros faz com que passem a ser herdadas apenas pelo primogénito. Dentro da própria nobreza, verifica-se a existência de uma hierarquia de vassalagem através da suserania, onde são concedidas terras ou estruturas de importância económica para exploração a um nobre menor, em troca da sua vassalagem e fidelidade. O domínio da nobreza durante este período deve-se em grande parte ao controlo das terras agrícolas e dos castelos, ao serviço militar na cavalaria pesada e às várias isenções de impostos ou obrigações de que desfrutavam. A introdução da cavalaria pesada na Europa teve origem nos catafractários persas dos séculos V e VI, mas será a introdução do estribo no que virá permitir fazer uso de todo o potencial de combate destas unidades. Em resposta aos vários tumultos dos séculos IX e X, assiste-se a um surto construtivo de castelos, local de refúgio da população em tempos de ataque. O clero dividia-se entre o secular, parte da comunidade local, e o regular, que vivia numa comunidade fechada segundo uma ordem religiosa e era normalmente constituído por monges. A maior parte dos membros do clero regular, assim como as hierarquias de topo do clero secular, era de origem nobre. Os párocos locais provinham na maior parte das vezes do povo. Na Flandres e no Norte e Centro de Itália, o crescimento de cidades que eram, até certo ponto, autónomas, proporcionou um significativo desenvolvimento económico e criou uma situação favorável ao aparecimento de novos modelos comerciais. As potências económicas ao longo do Báltico estabeleceram uma série de acordos que deram origem à Liga Hanseática, e as cidades-Estado italianas como Veneza, Génova e Pisa criaram uma imensa rede de rotas comerciais por todo o Mediterrâneo. Para além do desenvolvimento comercial, as inovações agrícolas e tecnológicas deste período vieram permitir o aumento da produtividade das explorações agrícolas, levando à criação de excedentes em abundância para trocas comerciais. Surgem também novos processos financeiros. Procede-se novamente à cunhagem de moeda em ouro, inicialmente em Itália e mais tarde em França e no resto da Europa. Surgem novas formas de contratos comerciais, permitindo a gestão de risco entre os mercadores. São aperfeiçoados os métodos de contabilidade e introduzidas as cartas de crédito que vieram permitir a rápida transação monetária nas redes comerciais. Ao longo da Idade Média, exigia-se que a mulher assumisse um papel de subordinação a um elemento masculino – o pai, o marido ou outro parente. Embora às viúvas fosse permitida bastante autonomia, existiam ainda algumas restrições legais. O trabalho da mulher era na sua maioria ligado às tarefas domésticas. As camponesas assumiam frequentemente a educação das crianças, a jardinagem e a criação de animais nos arredores da casa, podendo complementar o rendimento familiar com fiação fabrico de cerveja em casa. Durante as colheitas, esperava-se que ajudassem no trabalho de campo. A mulher urbana, tal como a camponesa, era responsável pela gestão doméstica, podendo também exercer algumas das atividades comerciais, dependendo do país e do período. As mulheres nobres tinham permissão para governar as terras na ausência do elemento masculino, embora normalmente lhes fosse vedada a participação em assuntos militares e governativos. Entre o clero, apenas podiam assumir o papel de freiras, uma vez que só os Homens se podiam tornar padres. Formação de Estados. A Baixa Idade Média representa o período determinante na formação dos estados ocidentais europeus. Os reinos de França, Inglaterra e Espanha consolidam o seu poder e definem centros de poder duradouros. Surgem também novas potências na Europa Central como a Hungria e Polónia, após sua conversão ao cristianismo. O Reino da Hungria teve origem nos Magiares, que se estabeleceram no território por volta do ano 900 durante o reinado de Árpád, depois do período de conquista do . O papado, que até então sempre se manifestara independente dos reis seculares, começa a afirmar a sua autoridade temporal sobre a totalidade do mundo cristão. A monarquia papal atinge o seu apogeu durante o início do durante o pontificado do Papa Inocêncio III. As Cruzadas do Norte e o avanço dos reinos cristãos e ordens militares para regiões pagãs no Báltico e no norte da Escandinávia levou à assimilação forçada de inúmeros povos autóctones na Europa. Durante o início da Baixa Idade Média, a Alemanha foi dominada pela dinastia saxónica, que lutava ainda pelo controlo dos poderosos ducados locais formados durante as migrações bárbaras dos séculos anteriores. Em 1024, assume o poder a dinastia saliana, que tinha já entrado em confronto aberto com o papado acerca de nomeações eclesiásticas durante o reinado do imperador . Os seus sucessores continuaram o clima de confronto, estendendo-o a parte da nobreza Germânica. Depois da morte do imperador , o qual não havia deixado descendência, seguiu-se um período de instabilidade até ao reinado de , que toma posse do trono imperial durante o fim do . Embora o seu reinado tenha sido estável, os seus sucessores enfrentam o mesmo clima de instabilidade ainda durante o . Um dos fatores de maior instabilidade foi a constante ameaça e invasão dos Mongóis no território europeu em meados do , desde as primeiras incursões na Rússia de Quieve até às invasões da Europa de Leste em 1241, 1259 e 1287. Dominada pela dinastia capetiana, a corte francesa aumenta gradualmente a sua influência sobre a nobreza, permitindo-lhe exercer maior controlo nos territórios para além da Ilha de França do que durante os séculos XI e XII. No entanto, encontrariam resistência por parte dos Duques da Normandia, que em 1066 tinham já subjugado grande parte de Inglaterra e criado um império em ambas as margens do canal que duraria até ao fim da Idade Média. Durante a dinastia Plantageneta do rei e dos seus sucessores, o reino dominaria a totalidade de Inglaterra e grande parte de França. No entanto, viria a perder a Normandia e a maior parte das possessões do Norte de França durante o reinado de João em 1204. Isto esteve na origem de divergências entre a nobreza Inglesa, ao mesmo tempo que as obrigações financeiras decorrentes da tentativa de reconquista da Normandia obrigaram o rei a assinar em 1215 a "Magna Carta", um documento que limitaria o poder absoluto do rei e foi o primeiro passo de um longo processo que levaria ao parlamentarismo. Durante o reinado de , foram feitas ainda mais concessões de poder à nobreza e diminuído o poder da corte. A monarquia francesa, no entanto, continuaria a fortalecer a sua influência perante a nobreza durante o , centralizando a administração e aumentando o número de territórios que directamente controlava. Além da sua expansão para Inglaterra, os Normandos chegaram a estabelecer colónias na Sicília e no sul de Itália, depois de Roberto de Altavila ter desembarcado no território em 1509 e estabelecido um ducado que mais tarde se tornaria o Reino da Sicília. Na Península Ibérica, os estados cristãos confinados à região noroeste do território iniciam o processo de Reconquista dos estados islâmicos no sul. Por volta de 1150, o norte cristão estava dividido em cinco reinos principais – Leão, Castela, Aragão, Navarra e Portugal. O sul da Península continuava dominado pelos estados islâmicos, inicialmente pelo Califado de Córdova, que no entanto se viria a fragmentar em 1031 numa série de pequenos estados voláteis denominados taifas, que continuaram a combater os reinos cristãos até o Califado Almóada restabelecer o governo central no sul durante a década de 1170. As forças cristãs fazem novos avanços durante o início do , culminando na captura de Sevilha em 1248. Cruzadas. Durante o , os seljúcidas viria a dominar grande parte do Médio Oriente, conquistando os antigos territórios persas na década de 1040, a Arménia na década de 1060, e a cidade de Jerusalém em 1070. Em 1071, o exército turco derrotou o exército bizantino durante a Batalha de Manziquerta, capturando o imperador bizantino . Isto possibilitou aos Turcos a invasão da Ásia Menor, o que constituiu um golpe severo no Império Bizantino ao retirar-lhe grande parte da população e o seu centro económico. Embora o exército bizantino se tenha reorganizado, nunca chegaria a recuperar a Ásia Menor e só efetuaria ações defensivas. Os próprios Turcos vieram a enfrentar dificuldades na manutenção do território, perdendo o domínio de Jerusalém para o Califado Fatímida do Egito e assistindo ao despoletar de várias guerras civis no seu interior. As Cruzadas pretendiam libertar Jerusalém do domínio muçulmano. A primeira Cruzada foi promovida pelo Papa Urbano II durante o Concílio de Clermont em 1095 como resposta a um pedido de ajuda do imperador bizantino para conter o avanço muçulmano na região. O papa prometeu indulgências a todos os que tomassem parte, tendo sido mobilizadas milhares de pessoas na Europa, de todas as classes sociais. Jerusalém foi conquistada pelos cruzados em 1099, tendo também sido estabelecidos vários estados cruzados na região. Durante os séculos XII e XIII, houve uma série de conflitos entre estes estados e os territórios islâmicos circundantes, o que levou à convocação de novas cruzadas em seu auxílio, ou para reconquistar Jerusalém, que entretanto tinha sido novamente capturada por Saladino em 1187. As ordens religiosas militares, como os Templários ou os Hospitalários, são formadas durante esta época, e viriam a desempenhar um papel fundamental na consolidação e estabilização dos territórios reconquistados. No ano de 1204, a Quarta Cruzada conquista a cidade de Constantinopla estabelecendo o que viria a ser o Império Latino de Constantinopla e enfraquecendo consideravelmente a posição do Império Bizantino que, embora voltasse a conquistar Constantinopla em 1261, nunca chegaria a restabelecer o glória dos séculos anteriores. No entanto, em 1291 todos os estados cruzados tinham já sido capturados ou forçados a deslocar-se para territórios insulares. O poder papal convocou também cruzadas para outras regiões além da Palestina, tendo sido proclamadas à Península Ibérica, sul de França e ao longo do Báltico. As cruzadas na Península Ibérica estão interligadas com o processo de Reconquista do território aos muçulmanos. A participação da Ordem dos Templários e da Ordem dos Hospitalários serviu como modelo à fundação de várias ordens militares locais, a maior parte delas mais tarde integradas nas duas ordens que viriam a ser dominantes no início do , a Ordem de Calatrava e de Santiago. A Europa do Norte, que tinha permanecido fora da influência do mundo cristão até ao , foi também palco de movimentos de conquista entre os séculos XII e XIV que viriam a ser conhecidos como Cruzadas do Norte. Este movimento deu também origem a várias ordens militares, entre elas os Irmãos Livônios da Espada e a Ordem dos Cavaleiros Teutónicos. Esta última, apesar de fundada nos estados cruzados, foi sobretudo ativa na área do Báltico a partir de 1225, mudando em 1309 a sua sede para o Castelo de Malbork na Prússia. Cultura. Ao longo do , as novas obras publicadas nos campos da filosofia e da teologia começam a estimular o pensamento intelectual. É notório o debate entre realistas e nominalistas sobre o conceito da universalidade. O discurso filosófico é bastante influenciado pela redescoberta de Aristóteles e da sua ênfase no empirismo e no racionalismo. Alguns intelectuais como Pedro Abelardo e Pedro Lombardo introduzem a lógica aristotélica na teologia. A transição do ao XII marca também o momento de afirmação das escolas catedrais por toda a Europa Ocidental e a transição do ensino dos espaços monásticos às catedrais e centros urbanos. As escolas catedrais viriam por sua vez a ser substituídas por universidades nas cidades de maiores dimensões. A filosofia e a teologia são reunidas na escolástica, uma tentativa dos intelectuais dos séculos XII e XIII em reconciliar a teologia cristã consigo própria, que viria a dar origem a um sistema de pensamento que procurou abordar de forma sistémica a verdade e a razão. A escolástica teve o seu auge em Tomás de Aquino, autor da influente "Summa Theologica". É nas cortes da nobreza que surge a cultura da cavalaria e do amor cortês, expressa em língua vernacular em vez de latim, e materializada em poemas, contos, lendas e canções populares divulgadas por trovadores e escritas muitas vezes sob a forma de canções de gesta e poemas épicos, como a "Canção de Rolando" ou a "Saga dos Nibelungos". Surge também a literatura de género escrita para o público letrado fora dos meios académicos, sobretudo na forma de crónicas e de grandes narrativas com temas seculares ou religiosos. Entre as mais notáveis estão a "Historia Regum Britanniae", um conjunto de lendas pseudo-históricas sobre a fundação da Grã-Bretanha, e outras obras mais rigorosas do ponto de vista histórico, como as de Guilherme de Malmesbury ou de Otão de Frisinga. Acentua-se o debate em torno das questões de direito, tanto secular como canónico. O direito secular sofreu um grande impulso depois da descoberta do "Corpus Juris Civilis" no . Em 1100, o direito romano fazia já parte do programa da Universidade de Bolonha, e o seu ensino e disseminação viria a contribuir para o registo e padronização de códigos legais por toda a Europa Ocidental. Em 1140, surge uma obra intitulada "Decreto de Graciano", da autoria de Graciano, monge advogado e professor em Bolonha, e que seria o primeiro de seis textos que estariam na base do "Corpus Juris Canonici", documento que manteve força jurídica na Igreja Católica até 1918. Ciência e tecnologia. Uma das maiores influências das culturas grega e islâmica durante este período manifestou-se na substituição da numeração romana pelo sistema de numeração decimal e na introdução da álgebra, fundamentais para o avanço das ciências matemáticas. A tradução do Almagesto de Ptolomeu do grego para o latim no final do foi fundamental no progresso da astronomia. Um dos maiores pólos de desenvolvimento da medicina deu-se no sul de Itália, na Escola de Salerno, influenciada pela medicina islâmica. Ao longo dos séculos XII e XIII, assiste-se na Europa e uma série de inovações na gestão dos meios de produção económica, que se reflectiram num crescimento económico muito acentuado. Entre os maiores avanços tecnológicos conta-se a invenção do moinho de vento, os primeiros relógios mecânicos, as primeiras investigações no campo da ótica com a criação de lentes rudimentares, a destilação e o uso do astrolábio. A produção de vidro foi impulsionada sobretudo pela descoberta de um processo para a criação de vidro transparente durante o início do , e esteve na origem da ciência ótica, onde se destacou Roger Bacon, ao qual é atribuída a invenção dos primeiros óculos. Uma das principais inovações agrícolas foi o desenvolvimento do sistema de rotação de culturas de três campos para as plantações, o que permitiu aumentar o cultivo do solo de apenas metade em cada ano, no antigo sistema de dois campos, para dois terços com o novo sistema, aumentando significativamente a produção. O desenvolvimento do arado pesado permitiu que solos mais pesados fossem cultivados eficientemente, um avanço que foi ajudado com a disseminação do colar de cavalo e a ferradura, ambas que levaram ao uso de animais de tração no lugar do boi. Os cavalos são mais rápidos que os bois e requerem menos pasto, fatores que ajudaram a utilização do sistema rotativo de três campos. O surto construtivo de catedrais e fortificações militares foi também motor de inovações técnicas na área da construção, permitindo a edificação generalizada em pedra de edifícios civis. A construção naval progrediu com a introdução do sistema de vigas e pranchas em substituição do método romano de caixa e espiga, bem como a introdução da vela latina e do leme de proa, que possibilitaram um aumento significativo da velocidade de navegação. Entre os exércitos generalizou-se o recurso à infantaria com funções especializadas. A par da ainda dominante cavalaria pesada, surgem besteiros montados, sapadores e engenheiros. A besta, usada já desde a Antiguidade, volta a tornar-se de uso generalizado como resposta ao grande número de cercos durante os e XI. O recurso cada vez maior à besta durante os séculos XII e XIII levou ao aumento do uso de elmos, armaduras pesadas e bardas. Em meados do era já conhecido o uso da pólvora, embora meramente como explosivo e não como arma. Em 1320, eram já usados canhões durante os cercos, e na década de 1360 está documentado o uso de fuzis em batalha. Arquitetura e arte. Ao longo do , a edificação de igrejas e mosteiros é feita sobretudo através da mimetização e aperfeiçoamento dos modelos estéticos vernaculares romanos, o que estaria na origem da designação "românica". As próprias construções romanas eram muitas vezes demolidas e recicladas, aproveitando-se o material disponível e integrando-se métodos e motivos ornamentais antigos nas novas construções. A partir das primeiras experiências durante o que se convencionou designar por arte pré-românica, o estilo desenvolveu-se e propagou-se pela Europa de forma notavelmente homogénea, motivado por um surto sem precedentes a nível de construção de novos espaços religiosos. Praticamente todos estes espaços foram decorados com pinturas murais, embora hoje em dia sejam muitíssimo poucos os exemplos sobreviventes. Entre as características mais distintivas do românico conta-se os paramentos de grande espessura, o uso do arco de volta perfeita, aberturas de pequena dimensão, e o uso de arcaria cega nas paredes. Os grandes portais profusamente decorados com escultura e alto-relevos, quase sempre pintados, tornam-se um dos elementos centrais das fachadas, sobretudo em França. Os capitéis são na sua maioria decorados com motivos animalistas e figuras de bestiário. Desenvolve-se também a forma característica da fortaleza Europeia, crucial para a política e guerra. A ourivesaria românica atinge um dos seus períodos áureos durante arte mosana, onde se destacam artistas como Nicolas de Verdun e obras de matriz clássica como a pia batismal da igreja de São Bartolomeu, que contrastam com as figuras distorcidas de grande parte da figuração contemporânea. As iluminuras de maior riqueza artística encontram-se normalmente em bíblias e saltérios. A pintura mural no interior das igrejas está quase sempre presente, e segue na sua maioria um esquema narrativo fixo, mostrando o Juízo Final no lado ocidental e Cristo em Majestade no lado oriental, com várias narrativas bíblicas ao longo da nave ou, mais raramente, a pintura do próprio tecto como na Abadia de Saint-Savin-sur-Gartempe. A partir do início do , desenvolve-se em França a arquitetura gótica, distinta sobretudo pelo recurso a abóbadas de cruzaria, arcos quebrados, arcobotantes e aberturas de maiores dimensões, preenchidas com vitrais. O gótico permaneceu uma opção estética comum até ao em grande parte da Europa, e está presente sobretudo em igrejas e catedrais de grandes dimensões, como a Catedral de Chartres ou a Catedral de Reims. Durante a Baixa Idade Média, a prática da iluminura e da cópia literária passa gradualmente dos mosteiros para oficinas especializadas, e já durante o início do a maior parte dos monges comprava livros nas livrarias. Surgem também os livros de horas enquanto forma de devoção para os leigos. A ourivesaria continua a ser a mais prestigiada forma de arte, e o esmalte de Limoges uma das técnicas mais usadas em relicários e cruzes. Em Itália, durante o , o pioneirismo de mestres como Giotto e Duccio contribui para uma cada vez maior sofisticação da pintura de painel e da técnica do fresco. A arte secular desenvolve-se sobretudo a partir do , fruto da prosperidade crescente das classes abastadas, chegando até nós imensos exemplares de entalhes de marfim, como peças de jogo, pentes e pequenas figuras religiosas. Igreja e sociedade. A reforma monástica é um tema central ao longo do , à medida que cresce a inquietação entre a elite da Igreja relativamente ao facto dos monges não aderirem por completo a uma forma de vida estritamente religiosa, ao poder excessivo detido por bispos locais e à diversidade de cultos existente de região para região. A Abadia de Cluny, fundada em 909, dá origem a um amplo movimento de reforma monástica, chegando a unir na sua ordem, no seu apogeu, mais de um milhar de mosteiros na Europa. A ordem obtém reputação de austeridade, rigor e de independência económica e política em relação aos poderes locais, ao não permitir a interferência e participação de leigos nas suas eleições e colocando-se a si própria sobre proteção do papado. A reforma monástica de Cluny inspirou mudanças na própria hierarquia da Igreja. Os seus princípios foram adotados durante o papado do próprio , e contribuíram para a ideologia independentista que levaria à controvérsia das investiduras no fim do . A controvérsia envolveu o e o Imperador , inicialmente sobre nomeações episcopais, mas que se tornou numa disputa acesa sobre questões de investidura, matrimónio dentro do clero e simonia. O imperador, que via como obrigação a proteção da Igreja, pretendia escolher os próprios bispos no seu território, enquanto que o papado insistia na sua independência face ao poder secular. A questão permaneceu por resolver mesmo depois da Concordata de Worms em 1122. O conflito é um dos mais significativos episódios que esteve na base da criação de uma monarquia papal independente e equivalente às autoridades leigas. A Baixa Idade Média foi também palco para inúmeros movimentos religiosos. Para além dos cruzados e dos reformadores monásticos, a vida religiosa abriu-se a novas formas de organização. Foram fundadas novas ordens monásticas, como a Ordem dos Cartuxos ou a Cisterciense, esta última expandindo-se rapidamente sob a liderança de Bernardo de Claraval, e novas ordens militares como a Ordem dos Templários. Muitas destas ordens são fundadas como resposta ao sentimento generalizado que o monaquismo Beneditino estava já desajustado das necessidades dos leigos, sobretudo dos que pretendiam uma comunidade monástica próxima do modelo hermético e fechado paleocristão ou viver de forma apostólica. A peregrinação religiosa era também encorajada. Os antigos locais de peregrinação, como Roma, Jerusalém e Santiago de Compostela, acolhiam um número cada vez maior de peregrinos, ao mesmo tempo que novos locais ganham destaque, como Monte Gargano e a Basílica de San Nicola. Durante o , o papado aprova as ordens mendicantes dos dominicanos e franciscanos, cujos membros fazem juras de pobreza e de mendicidade como única fonte de rendimento. Para além das ordens reconhecidas oficialmente, surgem ao longo dos séculos XII e XIII vários outros grupos como os valdenses ou os cátaros, embora tenham sido decretados hereges pelo papa. Os cátaros chegaram mesmo a ser o alvo da Cruzada Albigense e extintos durante a inquisição medieval. Os séculos XIV e XV. Fome e peste. Os primeiros anos do são marcados por várias carestias, que culminariam na Grande fome de 1315-1317. Para além da transição climática abrupta do período quente medieval para a pequena Idade do Gelo, as várias carestias são o resultado de uma especialização excessiva em monoculturas, que deixaram a população vulnerável às devastações causadas por condições meteorológicas desfavoráveis. No seguimento destas catástrofes, surge em 1347 a Peste Negra, uma epidemia altamente contagiosa e mortal que se disseminou por toda a Europa entre 1348 e 1350. A cifra de mortes é estimada em 35 milhões de pessoas, cerca de um terço da população, e atingiu sobretudo as cidades em virtude da elevada concentração populacional. Grandes porções do território ficaram inabitadas e os terrenos abandonados. Em função da escassez de mão de obra, o preço dos salários na agricultura subiu significativamente, o que, no entanto, seria contrabalançado pela queda abrupta da procura de géneros alimentares. A luta por salários iguais por parte dos trabalhadores urbanos esteve na origem de uma série de revoltas populares por toda a Europa, entre elas a "Jacquerie" em França, a revolta de 1381 em Inglaterra, e várias revoltas nas cidades de Florença, na atual Itália, e Gent e Bruges, ambas localizadas na atual Bélgica. O trauma infligido pela peste provocou um fervor religioso por toda a Europa, que se manifestaria na fundação de novas caridades, na culpabilização extrema dos flagelantes e na acusação dos Judeus como bodes expiatórios. A peste regressaria, ainda que esporadicamente e em surtos menores, ao longo de todo o . Sociedade e economia. As deslocações e diminuição da população em consequência da peste reflectiram-se em toda a estrutura social e económica europeia. As terras pouco produtivas foram abandonadas, uma vez que os sobreviventes puderam adquirir terras mais férteis. Embora a servidão tenha diminuído na Europa ocidental, tornou-se mais comum na Europa de leste à medida que os senhorios a impunham nos inquilinos anteriormente livres. Muitos dos camponeses no Ocidente puderam converter o pagamento em trabalho para uma renda monetária. A percentagem de servos entre os camponeses desceu de um máximo 90 % para 50 % em finais da Idade Média. Os senhorios tornaram-se também mais conscientes de interesses em comum entre si, agrupando-se de forma a exigir mais privilégios dos governos. A literacia tornou-se mais comum fora do clero e a população urbana começa a demonstrar interesse pela cavalaria, à semelhança da nobreza. As comunidades judaicas foram expulsas de Inglaterra em 1290 e de França em 1306. Embora a alguns tivesse sido permitido regressar, à maioria não foi, tendo emigrado em direção a leste para a Polónia e Hungria. Os judeus expulsos de Espanha em 1492 dispersaram-se pela Turquia, França, Itália, Holanda e Norte de África. O assinalável crescimento da banca em Itália durante os séculos XIII e XIV foi em parte motivado pela necessidade de financiamento dos constantes conflitos bélicos deste período e pela necessidade do papado em transferir dinheiro entre reinos. Muitas das instituições financeiras emprestavam dinheiro à realeza com riscos acrescidos, tendo muitas entrado em bancarrota quando os reis não saldavam as dívidas. O renascer do Estado. A Baixa Idade Média também testemunhou a ascensão por toda a Europa de Estados-nação monárquicos fortes, particularmente na Inglaterra, França e nos reinos cristãos da Península Ibérica — Aragão, Castela e Portugal. Os longos conflitos do final da Idade Média vieram fortalecer o domínio real sobre o próprio território, ainda que tenham sido extremamente pesarosos com os camponeses. Os reis obtinham benefícios com os conflitos através do aumento territorial e da extensão da legislação real por todos os seus reinos. O financiamento da guerra exigiu métodos de cobrança de impostos e, na maior parte das vezes, aumentos significativos na taxa de impostos. A necessidade de obter o consentimento daqueles que eram taxados levou a que corpos representativos, como o Parlamento da Inglaterra ou a Assembleia dos Estados Gerais, ganhassem algum poder e autoridade. Ao longo do , a monarquia francesa procurou alargar a sua influência por todo o reino, sacrificando as possessões da nobreza. Esta expansão foi alvo de resistência quando tentou confiscar as possessões da coroa inglesa no sul de França, o que levou à deflagração da Guerra dos Cem Anos, que se prolongaria até 1453. O próprio reino francês esteve na iminência da desagregação durante os primeiros anos do conflito devido ao esforço de guerra, situação que se voltaria a repetir durante os primeiros anos do e apenas invertida no fim da década de 1420, com as sucessivas vitórias militares de Joana d'Arc e a vitória final do reino francês ao capturar a última colónia inglesa no sul de França em 1453. No entanto, estima-se que a população francesa no final do conflito tinha diminuído para metade. Paradoxalmente, a guerra viria a contribuir significativamente na formação da identidade nacional inglesa, proporcionando a união de várias identidades locais numa identidade cultural única e distinta da influência cultural francesa dominante até ao início da Guerra dos Cem Anos. A guerra marcou também a introdução de nova tecnologia de combate, como o arco longo e do canhão de combate na batalha de Crécy em 1346. Apesar de o Sacro Império Romano-Germânico continuar a existir, a natureza electiva da coroa imperial impediu a formação de qualquer dinastia estável capaz de manter um estado forte. Mais a leste, os reinos da Polónia, Hungria e Boémia ganharam poder e influência. Na Península Ibérica, continuava o processo de reconquista dos reinos muçulmanos do sul, embora Portugal se tenha concentrado ao longo do na expansão ultramarina, enquanto os restantes reinos lidavam com problemas sucessórios e instabilidade social no mesmo período. A Inglaterra, após a derrota na Guerra dos Cem Anos, entraria num longo período de guerra civil conhecido como Guerra das Rosas, que duraria até ao fim da década de 1490 e que só terminou após a vitória de sobre na batalha de Bosworth Field em 1485. Os reinos escandinavos da Noruega, Dinamarca e Suécia foram brevemente unificados durante a União de Kalmar, no final do e nas primeiras décadas do , mas voltariam a desagregar-se depois da morte da rainha . As maiores potências do mar Báltico continuavam a ser as cidades-Estado da Liga Hanseática. cujas rotas comerciais se estendiam da Europa Ocidental até à Rússia. A Escócia, liderada por , viu reconhecida pelo papa a sua independência do domínio Inglês em 1328. Colapso do Império Bizantino. Embora os imperadores paleólogos tivessem conseguido recapturar Constantinopla em 1261, nunca conseguiram recuperar o domínio sobre as antigas terras do Império Bizantino. Controlavam apenas uma pequena parte da península Balcânica perto de Constantinopla, a própria cidade, e algumas terras costeiras no mar Negro e no mar Egeu. As antigas terras bizantinas nos Balcãs foram divididas entre o Reino da Sérvia, o Império Búlgaro e a República de Veneza. O poder imperial bizantino seria ameaçado por uma nova tribo oriunda da Ásia, os Otomanos, que tinham ocupado a Anatólia durante , expandindo-se progressivamente ao longo do . Em 1366, subjugam a Bulgária à vassalagem e conquistam a Sérvia após a derrota desta na batalha do Kosovo em 1389. Os reinos ocidentais reuniram-se em auxílio dos cristãos balcânicos e declararam uma nova cruzada em 1396, enviando um numeroso exército, que viria no entanto a ser derrotado na batalha de Nicópolis. Constantinopla acabaria por ser finalmente capturada pelos Otomanos em 1453. Controvérsia dentro da Igreja. Uma das mais significativas manifestações da instabilidade do foi o Papado de Avinhão, de 1305 a 1378, e o Grande Cisma do Ocidente que se lhe seguiu, entre 1378 e 1418, momento em que coexistiram dois, e depois três, papas rivais, cada um apoiado por estados diferentes. No início do , depois de um instabilidade, os oficiais eclesiásticos reuniram-se no Concílio de Constança em 1414, depondo no ano seguinte um dos papas rivais, deixando apenas dois pretendentes. Seguiram-se várias deposições até que, em novembro de 1417, o concílio elege Martinho V . Além do cisma, a igreja ocidental estava divida por controvérsias teológicas, algumas das quais viriam a ser consideradas heresias. John Wyclif (m. 1384), um teólogo inglês, foi condenado por heresia em 1415 por defender o acesso dos laicos ao texto da Bíblia e por assumir posições sobre a Eucaristia contrárias à doutrina da igreja. Os ensinamentos de Wyclif influenciaram os dois maiores movimentos hereges da Idade Média – o Lollardismo na Inglaterra e os Hussitas na Boémia. Os boémios foram também influenciados por Jan Hus, sentenciado à fogueira em 1415 depois de ter sido condenado como herege pelo Concílio de Constança. A Igreja hussita, embora sujeita a uma cruzada contra si, sobreviveria até ao fim da Idade Média. Entre outras heresias criadas estão também as acusações contra a Ordem dos Templários, que estiveram na origem da sua supressão em 1312 e da divisão do seu vasto espólio entre e os Hospitalários. O papado refinou o conceito de transubstanciação durante o fim da Idade Média, afirmando que apenas o clero regular podia partilhar o vinho da Eucaristia. Isto viria a distanciar ainda mais o clero secular do clero regular. Os leigos mantiveram as práticas de peregrinação, veneração de relíquias e a crença no poder do Diabo. Místicos como Mestre Eckhart (m. 1327) ou Thomas à Kempis (m. 1471) foram autores de obras que ensinavam aos leigos a focarem-se na sua própria espiritualidade, uma interpretação que viria a contribuir para a Reforma Protestante. A crença em bruxaria generalizou-se de tal forma que, no fim do , a igreja cedeu à pressão do medo e da paranoia populista, iniciando em 1484 uma série de julgamentos pela prática de bruxaria, sendo também publicado em 1486 o "Malleus Maleficarum", o mais popular manual de caçadores de bruxas. Académicos, intelectuais e descobrimentos. John Duns Scotus (n. 1308) e Guilherme de Ockham (n. "circa" 1348), lideraram uma das mais notáveis reações contra a escolástica medieval, rejeitando a aplicação da razão na fé. Os seus esforços, aliados aos de vários outros autores, levariam à renúncia do ideal platónico do "universal". A persistência de Ockham em que a razão opera de forma independente da fé permitiu à ciência separar-se em definitivo da teologia e filosofia. O Direito pautou-se pelo avanço sólido do direito romano em áreas de jurisprudência anteriormente governadas pelo direito consuetudinário. A única exceção foi a Inglaterra onde prevaleceu o direito comum. Vários países fizeram um esforço no sentido de codificar as leis, tendo sido promulgados códigos jurídicos em estados tão diversos como Castela, Polónia e Lituânia. A educação permanecia ainda direccionada ao futuro clero. A aprendizagem básica de letras e aritmética podia ser feita na própria província da família ou através do clero local, mas os assuntos secundários do trivium — gramática, retórica e lógica — eram estudados nas escolas catedrais presentes nas grandes cidades. Difundiram-se também as escolas comerciais, chegando algumas cidades de Itália a ter mais do que um destes empreendimentos. Durante os séculos XIV e XV apareceram também uma série de novas universidades por toda a Europa. Surgem grandes autores da literatura vernacular, como Dante, Petrarca e Giovanni Boccaccio na Itália do "quattrocento", Geoffrey Chaucer e William Langland em Inglaterra e Cristina de Pisano na França. A literatura continuou a ser sobretudo de natureza religiosa, mas embora muitas destas obras continuassem a ser escritas em latim, aumentou a procura de textos que se debruçassem sobre santos e outros temas religiosos em línguas vernaculares. No teatro, surge o género de peças miraculosas patrocinadas pela Igreja. A invenção da prensa móvel por volta de 1450, trouxe consigo a democratização e facilidade na impressão de livros, e deu origem a inúmeras editoras em toda a Europa. A percentagem de alfabetizados cresceu, embora continuasse baixa; as estimativas apontam para que por volta de 1500 a taxa de literacia fosse de apenas 10 % entre os Homens e 1 % entre as mulheres. Durante o início do , os reinos da Península Ibérica começaram a financiar explorações além das fronteiras da Europa. O Infante D. Henrique de Portugal (m.1460) foi o impulsionador de expedições que viriam a descobrir as Ilhas Canárias, Açores e Cabo Verde ainda durante a sua vida. Em 1486, Bartolomeu Dias (m.1500) navegou ao longo da costa ocidental africana até ao cabo da Boa Esperança, ponto de difícil passagem que seria superado em 1498 por Vasco da Gama (m.1524), abrindo assim a rota marítima para a Índia. Os reinos de Aragão e Castela financiaram a viagem expedicionária de Cristóvão Colombo que em 1492 viria a descobrir a América. A coroa inglesa, na figura do rei financiou a viagem de Giovanni Caboto , que em 1497 chegaria à ilha de Cape Breton. Progressos tecnológicos. O uso crescente de ovelhas com lã de fibras longas permitiu a obtenção de fio com maior resistência. As rocas de fiar tradicionais foram progressivamente substituídas por rodas de fiar, triplicando a sua capacidade produtiva. Um dos avanços técnicos com maior impacto na vida quotidiana foi a introdução de botões para fechar as peças de roupa, permitindo a criação de peças com corte adequado sem a necessidade de as atar. Os moinhos de vento foram melhorados com a implementação de torres giratórias em função da direção do vento. O alto-forno aparece na Suécia por volta da década de 1350, melhorando a qualidade do ferro e aumentando a capacidade de produção. A primeira lei de patentes, criada em Veneza no ano de 1447, passou a proteger os direitos dos inventores. Arquitetura e arte no. A arte do fim do período medieval na generalidade da Europa contrasta com a arte italiana do mesmo período. Enquanto que em Itália o contexto artístico mostrava já sinais de que se preparava o Renascimento, no norte da Europa e na Península Ibérica manteve-se o gosto e a preferência pela estética gótica praticamente até o fim do , culminando na exuberância e complexidade características do gótico internacional. A encomenda de arte secular aumentou significativamente em quantidade e qualidade, muito impulsionada pelo patronato das classes mercadoras da Itália e Flandres, fazendo encomendas de retratos de si próprios em óleo e comprando imensa joalharia, cofres, arcas e majólica. Entre os objetos muito apreciados e encomendados encontrava-se também a cerâmica mourisca produzida pelos ceramistas mudéjares em Espanha. Embora entre a realeza prevalecesse o gosto por peças de prata, são poucos os exemplares que sobreviveram até aos nossos dias, como a Taça de Santa Inês. O desenvolvimento da manufatura de seda em Itália veio tornar a Europa menos dependente das importações do Império Bizantino ou do mundo islâmico. Na França e na Flandres, os conjuntos de tapeçaria como a "A Dama e o Unicórnio" tornar-se-iam num dos mais cobiçados objetos de luxo. As complexas gramáticas decorativas do alto gótico, até aí visíveis sobretudo no exterior dos templos, são progressivamente adaptadas a vários elementos do interior, sobretudo em túmulos e púlpitos, como o Púlpito de Santa Andreia em Pistoia. Os retábulos pintados ou de madeira entalhada tornam-se comuns, sobretudo à medida que se começa a criar capelas laterais nas igrejas. A própria pintura flamenga dos séculos XV e XVI, através de artistas como Jan van Eyck ou Rogier van der Weyden , rivaliza em qualidade com o próprio "quattrocento" italiano. Os manuscritos iluminados e os livros de temática secular, sobretudo contos, começam a ser coleccionados em larga escala pela elite no . A partir de 1450 e ainda que caros, os livros impressos tornam-se extraordinariamente populares, havendo já cerca de incunábulos impressos no ano 1500. A impressão tornou também obsoleta a iluminura, fazendo destas obras, no , um objeto com valor meramente artístico e encomendado apenas pela elite. Embora as pequenas xilogravuras, quase sempre de temas religiosos, fossem acessíveis até a camponeses, as gravuras eram mais caras e destinadas a um mercado mais abastado. Imagem moderna. O período medieval é frequentemente caricaturado enquanto "tempo de ignorância e superstição", que "sobrepunha sempre os mandamentos religiosos em relação à experiência pessoal e racionalismo". Esta noção é um legado da Renascença e do Iluminismo, períodos em que os intelectuais estabeleciam sempre a comparação da sua cultura com a cultura medieval de forma preconceituosa. Os intelectuais renascentistas viam a civilização clássica como uma época de imensa cultura e civilização, e a Idade Média como um progressivo declínio dessa cultura. Por seu lado, os iluministas encaravam a razão como sendo sempre superior à fé e, por conseguinte, a Idade Média como um tempo de ignorância e superstição. Uma corrente de pensamento defende, no entanto, que a razão e a lógica eram normalmente tidas em conta durante a Idade Média. O historiador da ciência Edward Grant, escreveu que "o facto de o raciocínio lógico ter sido expresso [no ], só pode ter sido possível devido à longa tradição medieval que definiu o uso da razão como a mais importante das atividades humanas". Também, ao contrário do que é comum acreditar-se, David Lindberg escreve que "o intelectual medieval raramente era pressionado pela força coercitiva da igreja e muito provavelmente considerava-se livre (sobretudo na ciência natural) para seguir a razão e observação até onde quer que isso os conduzisse". A caricatura do período reflete-se também em várias crenças populares. Por exemplo, uma das especulações que começou a ser difundida durante o e que ainda é muito comum na cultura popular, é a suposição, errada, de que todas as pessoas na Idade Média acreditavam no mito da Terra plana. Na verdade, o próprio corpo das universidades medievais propunha evidências que demonstravam que a Terra seria esférica, Lindberg e Numbers afirmam mesmo que seria muito rara a existência de qualquer académico cristão medieval que não tivesse conhecimento da esfericidade da Terra ou que não soubesse até a sua circunferência aproximada. Entre outros equívocos comuns sobre o período medieval está a noção de que "a Igreja proibia as autópsias e a dissecação" ou que "o avanço do Cristianismo impediu o progresso da ciência", mitos populares que ainda são vistos como verdades históricas apesar de não serem apoiados pela historiografia contemporânea. A Idade Média vem sendo reavaliada e em parte reabilitada há pelo menos dois séculos pelos historiadores, que têm encontrado nela uma série de aspectos inovadores e dinâmicos e vêm continuamente lançando novas luzes sobre interpretações e abordagens antes consagradas em larga escala. Porém, a opinião ainda prevalente na cultura popular a mostra como um período de barbárie, obscurantismo, superstição, intolerância, tirania, estagnação econômica, decadência moral e desorganização política, e as reiteradas tentativas dos historiadores recentes de desmistificar essa imagem têm sido pouco eficientes. Por outro lado, desde o século XIX o período tem exercido um continuado fascínio sobre a população. Durante o Romantismo foi muito valorizado pelos intelectuais e artistas, que o viam como uma época de espiritualidade, ordem e pureza que os tempos modernos haviam perdido e que era preciso resgatar. Não por acaso a literatura se viu inundada por romances e novelas medievalistas, o tema apareceu em inúmeras pinturas, esculturas e ilustrações, e a Europa foi coberta por um vasto corpo de edifícios em estilo neogótico. Ao mesmo tempo, tradições, folclores e símbolos medievais — reais ou imaginados — foram usados como importante elemento político para a formação e consolidação de novos Estados e identidades nacionais, de narrativas étnicas e de uma historiografia nacionalista em várias regiões europeias. Mais recentemente o tema continua popular, atraindo as pessoas pelo seu exotismo e sua aura de mistério. Os castelos e catedrais medievais são atrações turísticas que encantam multidões, a organização de torneios de cavalaria, festas e feiras "medievais" se multiplicam até na América, suas tradições e costumes estimulam os amantes do folclore e a busca pelas raízes numa época de perda generalizada de referências, e, para muitos a quem o tempo presente parece insatisfatório ou ameaçador, tornou-se até mesmo uma era idealizada e colorida por anseios nostálgicos de retorno a uma suposta Idade Dourada. Continua sendo um elemento significativo para a sustentação de identidades e ideologias étnicas e nacionalistas, e nos últimos anos o imaginário e valores fictícios de uma Idade Média romantizada têm sido um dos combustíveis para uma ascensão do racismo, do fundamentalismo religioso, de teorias pseudocientíficas, de teorias da conspiração, de patriotismos radicais e de correntes políticas de extrema direita. Para justificar suas pretensões, esses movimentos oferecem leituras da história medieval equivocadas, ultrapassadas ou deliberadamente falsas e distorcidas. Na síntese de Jérôme Baschet,
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Idade Moderna
Idade Moderna A Idade Moderna foi um período específico da História do Ocidente que se inicia no final da Idade Média em 1453 d.C., embora os limites cronológicos sejam objeto de debate, a linha temporal deste período estende-se do final do século XV até à Idade das Revoluções no século XVIII; muitos historiadores assinalam o início desta idade na data de 29 de maio de 1453, quando ocorreu a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, incluindo assim o Renascimento e a Era dos Descobrimentos (incluindo as viagens de Colombo que começaram em 1492 e a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama em 1498), e data de término com a Revolução Francesa no dia 14 de julho de 1789. Historiadores à escala mundial nas décadas mais recentes têm argumentado que de uma perspectiva mundial, a característica mais importante que deu início à idade moderna foi a globalização. Este período da história moderna está caracterizado pela exploração e colonização do Continente Americano e o estabelecimento de contatos sólidos entre civilizações espalhadas pelo mundo. As potências mundiais envolveram-se umas com as outras através do comércio, à medida que bens, plantas, animais e alimentos viajavam do Velho Mundo para o Novo Mundo e vice-versa. Novas economias e instituições emergiram, tornando-se mais sofisticadas e globalmente articuladas à medida que o tempo foi passando. Este processo começou nas cidades-estado medievais do norte da Itália, particularmente Génova, Veneza e Milão. Este período da história humana também inclui o estabelecimento de uma teoria econômica dominante, o mercantilismo. A colonização europeia dos continentes americano, asiático e africano ocorreu desde o até ao , disseminando a religião cristã por todo o mundo. As tendências em diversas regiões do mundo durante a Idade Moderna apresentam uma mudança daquilo que havia sido ao longo de séculos a organização, a política ou a economia. O feudalismo foi posto de lado na Europa, ao mesmo tempo que este período viu também a Reforma Protestante, a desastrosa Guerra dos Trinta Anos, a Revolução Comercial, a colonização europeia do continente americano, a Era Dourada da Pirataria e o início da Idade das Revoluções, que para além de ter ocorrido a Revolução Industrial, trouxe também a ocorrência de grandes revoluções políticas e sociais como a francesa e a norte-americana. Na Ásia, no , a economia chinesa sob a Dinastia Ming foi estimulada graças às trocas comerciais com os portugueses, os espanhóis e os holandeses, enquanto no Japão começou o período conhecido como Nanban, depois da chegada dos primeiros portugueses ao arquipélago. Outras tendências notáveis deste período incluem o desenvolvimento da ciência experimental, as viagens cada vez mais céleres graças aos avanços na cartografia e na produção de mapas, o progresso tecnológico cada vez mais rápido, a secularização das políticas civis e o aparecimento dos estados-nação. O final deste período da história humana termina com o aparecimento da Idade Contemporânea, consensualmente definida como tendo começado com a Revolução Francesa. Feudalismo e capitalismo. O feudalismo foi um sistema político, econômico e social que predominou durante toda a Idade Média. Mas, já no final da Idade Média, o uso da terra, fundamental para o povo naquele período, foi perdendo a força. Os campos foram abandonados e o comércio nascia fortalecido. Depois de longos anos de devastação e desordem, começava certa estabilidade econômica. O castelo, centro das atividades econômicas, ia perdendo sua importância. O progresso do comércio artesanal, as feiras medievais, a cidade burguesa incompatível com o feudo ofereciam chances de lucro e atrativos do comércio. A difusão de alguns inventos que impulsionaram o progresso técnico e os avanços da ciência contribuíram para essa transformação: a bússola, invenção dos chineses, começou a se generalizar entre os séculos XIV e XV e permitia a orientação dos navegadores em alto-mar; a pólvora, também inventada pelos chineses, introduzida na Europa (), revolucionou a arte da guerra; a imprensa foi um invento revolucionário devido ao alemão Johannes Gutenberg (), e com ela se multiplicaram os livros. A vida urbana tem início, aumenta a população das cidades. No início da Idade Moderna, as cidades se expandem, vão de forma gradual deixando para trás a experiência do feudo. Claro que elas tiveram que lutar para sobreviver, tanto na parte econômica como na social e política. As comunicações iam se tornando mais velozes, estradas iam se abrindo, mudando toda a paisagem de cada localidade. Uma nova classe social, que reunia banqueiros, artesãos, camponeses, mercadores, aparecia com o nome de burguesia. O dinheiro adquiriu valor e o comércio superou a terra. A passagem econômica da Idade Média para a Moderna se deu com o aparecimento do capitalismo. Gradativamente, o comércio foi se desenvolvendo, a princípio dentro da própria cidade, depois entre duas ou mais cidades e, por fim, entre países. Com o sistema capitalista, os trabalhadores começaram a ter um salário. Os produtos foram produzidos em maior quantidade, e nascia assim a passagem do feudalismo ao capitalismo. O desenvolvimento das navegações vai fortalecer as rotas marítimas e comerciais abertas na Idade Média. Crescia o comércio por terra e por mar e mudava o quadro político, econômico e social da Europa. Grandes associações surgiram (associações livres), formando as hansas. A mais conhecida foi a Liga Hanseática ou Hansa Teutônica. Era uma associação que agrupava mais de 160 cidades no comércio com o leste da Europa. Progresso comercial. O progresso comercial e urbano, a burguesia, o artesanato, as feiras, as rotas terrestres e marítimas deram ao rei a certeza de que, se ele não aceitasse o comércio e se aliasse aos burgueses, certamente não teria sucesso financeiro. Surgiu a aliança rei-burguesia, e tal fato foi, sem dúvida, a abertura do sistema capitalista. O capitalismo é um sistema político, social e econômico que tem como características: Fases do capitalismo. Portanto, a Idade Moderna surge com novos empreendimentos políticos, econômicos e sociais. Surgiu a organização empresarial e o espírito de lucro, dando início aos tempos modernos. Abre-se um novo contexto sociocultural e econômico na Europa. Grandes navegações. No período de transição da Baixa Idade Média para a Idade Moderna, o Mar Mediterrâneo continuou a principal ligação entre os países conhecidos. Esse intercâmbio se fazia através das rotas das especiarias, que eram monopólio das grandes cidades italianas, como Gênova e Veneza. As mercadorias orientais (sedas, porcelanas e principalmente condimentos, como a pimenta e a canela, indispensáveis para a conservação dos alimentos), depois de passarem por muitos portos e intermediários, eram vendidas a preços altíssimos para as nações europeias, obrigando-as a uma situação de dependência dos comerciantes italianos. A tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, dificultou ainda mais o tráfico de mercadorias. Dominando a maioria dos portos mediterrâneos, os turcos exigiam elevadas taxas das caravanas comerciais, forçando assim novo aumento nos preços dos produtos. Era necessário descobrir novas rotas que livrassem a Europa da supremacia turca e italiana. Os reinos ibéricos (Portugal e Espanha) foram os primeiros a reunir condições técnicas e financeiras para explorar as novas terras. A península ibérica e as grandes navegações. Reino português. Portugal foi a primeira nação a financiar expedições marítimas. Vários fatores contribuíram para esse pioneirismo: a existência de bons portos; a familiaridade portuguesa com o mar, devido à grande atividade pesqueira desenvolvida na região; uma burguesia enriquecida e disposta a investir para aumentar seus lucros; a paz interna e a centralização do poder. Portugal foi o primeiro reino a se unificar, formando um estado nacional. A Escola de Sagres também contribuiu grandemente, fornecendo condições tecno-científicas para a navegação num oceano ate então desconhecido: o Atlântico. Bússolas e astrolábios trazidos da China, sextantes, mapas feitos pelos melhores cartógrafos da época e, principalmente, a caravela com suas velas triangulares possibilitaram aos navegantes resistir e atravessar o bravio "Mar Tenebroso". A expansão portuguesa iniciou-se pelo norte da África, com a tomada de Ceuta, em 1415 (importante centro de especiarias). Seguiram-se as ilhas da Madeira e Açores. Gradativamente, em expedições sucessivas, sempre contornando o continente africano, em 1487, Bartolomeu Dias contornou o Cabo da Boa Esperança no sul da África. Em 1498, Vasco da Gama chega ao porto de Calicute, na costa ocidental da Índia. A descoberta desse novo caminho trouxe lucros fabulosos para os mercadores portugueses e, ao mesmo tempo, estabelecia concorrência com os produtos trazidos através das rotas italianas. Reino espanhol. Formado pela união dos reis Dom Fernando de Aragão e Dona Isabel de Castela, a Espanha lançou-se à exploração dos mares quase um de Portugal. Dois motivos provocaram esse atraso: A Espanha não hesitou em dar o empreendimento ao estrangeiro Cristóvão Colombo. Sua teoria da esfericidade da Terra (confirmada pouco depois pelo cientista Nicolau Copérnico) não mereceu muito crédito na época. Acreditando na possibilidade de atingir as índias sempre navegando para oeste, Colombo dirigiu suas três caravelas nessa rota, e teria alcançado as índias caso o continente americano não estivesse no caminho. As naus espanholas desembarcaram na ilha de Guanaani (atual ilhas Bahamas) e depois em Cuba e São Domingos. Era o ano de 1492. Certo de que obtivera sucesso, Colombo deu o nome de índios aos habitantes encontrados na nova terra. Realizou ainda outras viagens, sempre explorando as ilhas americanas. Intervenção católica. A descoberta da América por Colombo provocou disputa entre os reinos ibéricos, interessados na posse de terras. Portugal preocupou-se em firmar um tratado que lhe assegurasse o domínio das terras existentes a leste do oceano Atlântico. O acordo entre os dois países foi julgado pelo papa Alexandre VI, que confirmou um novo tratado. Partindo-se de uma linha imaginária traçada a partir do pólo (37°), o Tratado de Tordesilhas estabeleceu que as terras encontradas a oeste dessa linha pertenceriam à Espanha e aquelas situadas a leste seriam de Portugal. Por esse motivo, a esquadra de Pedro Álvares Cabral, que se dirigia às Índias, fez um desvio proposital para oeste para garantir ao rei português a posse das terras do Brasil. Os outros países europeus desconsideraram esse tratado, que os excluía, e procuraram se estabelecer e explorar o novo continente. Características da colonização ibérica. As novas conquistas não ofereceram interesse imediato a Portugal. O comércio de especiarias estava no auge: o aumento de consumo e sua falta no mercado europeu faziam com que as cargas dos navios que retomavam das índias fossem disputadas e as mercadorias alcançassem preços elevados na revenda. Por esse motivo, Portugal limitou-se a estabelecer algumas feitorias nas novas terras, para desenvolver atividades extrativas. Com a demarcação de terras entre Espanha e Portugal e a posterior ocupação europeia das terras, os indígenas ficaram expostos diante estas duas frentes de expansão como pelas frentes missionárias e de "plantations". Tais frentes não eram movimentos pacíficos e pretendiam incorporar o mesmo território e os mesmos indivíduos (SCHMITZ, 1991, p. 49). Utilizava-se da mão-de-obra indígena, onde poderia ocorrer o escambo, troca de utensílios europeus por outros materiais, serviços ou mesmo indígenas destinados ao escravismo. No sul do Brasil, por volta de 1600, acontecem as "descidas", escravização sistemática dos índios. Eram promovidas pelos moradores de São Vicente que aportavam em Laguna, Araranguá, Mampituba e Lagoa dos Patos, onde na costa existiam feitorias para negociar os indígenas. Segundo Schmitz (1991, p. 50), este comércio tinha como mentores pajés e mestiços, que quando os navios chegaram à barra, eram enviados emissários ao sertão pelos chefes chamados Tubarões para avisar que havia utensílios para trocar por gente. Mas a exclusividade da rota marítima durou pouco. Inglaterra, França e Holanda, ignorando propositadamente o tratado que dividia a América entre as duas nações, passaram a utilizar-se dos caminhos recém-descobertos para suas próprias transações comerciais. O aumento da oferta de produtos provocou a queda dos preços e, portanto, dos lucros obtidos. Os reinos ibéricos tentaram, então, nova atividade lucrativa, através do povoamento e exploração colonial. Colonização portuguesa. Fez-se ao longo do litoral atlântico, insistindo-se no cultivo de produtos raros na Europa. Um deles, a cana-de-açúcar, encontrou condições de solo e clima propícios no Nordeste do Brasil, tornando-se a base da economia lusitana na época. A necessidade de homens para a lavoura, homens que trabalhassem para donatários e não para seu próprio enriquecimento, alterou a relação inicial entre brancos e índios. "A legislação portuguesa sempre procurou contrariar ou dificultar a imigração, embora milhares de camponeses europeus não tivessem terras e passassem fome" (Décio Freitas). Livres, com valores culturais e estrutura social e econômica bem diversos dos colonizadores, os índios não se sujeitavam às imposições dos brancos. As lutas entre colonizadores e índios condenaram ao desaparecimento inúmeras nações indígenas, ao mesmo tempo que instituíam a mais abominável exploração humana: o regime escravo. Colonização espanhola. Os conquistadores espanhóis encontraram impérios indígenas ricos e evoluídos, como os dos maias, astecas e incas. Esses povos possuíam conhecimentos de astronomia e geometria, cultivavam a terra utilizando o sistema de irrigação, além de terem um artesanato e uma arquitetura evoluídos. Para dominar esses povos, os espanhóis aproveitaram-se de suas armas e cavalos (desconhecidos para os nativos) e também das rivalidades entre tribos, aliando-se às menores para conquistar os maiores impérios. Com suas tradições destruídas e cidades arrasadas, foram forçados a aceitar o trabalho obrigatório (encomienda). Cada comunidade indígena estava sob supervisão de brancos (encomenderais), determinando também a (mita), o trabalho forçado dos aldeões na realização das obras públicas e outros serviços ao governo. Considerar o elemento nativo como inferior foi o traço comum na colonização dos países ibéricos. Desrespeitaram e baniram a cultura local, provocando desaparecimento de muitas nações indígenas em nome da "civilização" que Ocidente trouxe como "legado" que deveria ser incorporado às terras conquistadas. Em menos de cem anos, vitimaram-se três quartos da população americana. Tornou-se imperiosa a vinda de escravos africanos. Política econômica. O objetivo da colonização foi primordialmente explorar da forma mais lucrativa possível seus domínios coloniais. Não havia nenhuma intenção de povoamento: trabalhadores livres, em grande número, buscariam seu próprio enriquecimento e dificultariam a fiscalização e taxação de impostos. Estabeleceram-se novos princípios econômicos para as relações entre metrópole e colônia. As principais leis mercantilistas foram: Esse comércio desvantajoso, aliado à proibição de instalar manufaturas próprias e produzir artigos semelhantes aos da metrópole, gerou uma situação de total dependência econômica, que posteriormente prejudicou a independência política e financeira dos países dominados. No início do , a prática provou que o equilíbrio da balança comercial e os monopólios contribuíram decisivamente para a supremacia anglo-francesa no conjunto das nações europeias. O ouro em quantidade, sem aplicação sólida, não garantia o progresso de um Estado. A Espanha, que não aplicou seus lucros na melhoria das técnicas agrícolas e tampouco na instalação de manufaturas, perdeu sua posição para os países que desenvolveram a produção interna e fortaleceram o comércio nos dois níveis: externo e interno. Renascimento. Os homens da Idade Média consideravam os aspectos e fatos da vida e da história de acordo com os ideais religiosos. Para eles, a vida terrena e os acontecimentos históricos se explicavam pela vontade de Deus, um ser superior. Toda a ciência, a literatura e a arte daquela época dependiam do pensamento religioso. Todavia, no decorrer do , a Itália e o resto da Europa começaram a modificar seu modo de pensar, voltando suas atenções para uma vida concreta e terrena, onde o homem passou a ter importância como o grande protagonista de acontecimentos e determinando, ele mesmo, a sua vontade. No Renascimento, o mundo aparece como cenário das ações humanas, e não como expressão da vontade divina. A natureza também atrai as atenções e se torna objeto de observações e estudos por parte dos renascentistas. A palavra Renascimento indica, em todos os seus aspetos, o prosseguimento da vida econômica, social e cultural que aconteceu na Itália e depois no resto da Europa. O termo Renascimento vem de renascer da Idade Média, isto é, renascer ou reviver os valores da Antiguidade clássica greco-romana. Origens. O Renascimento começou na Itália, com o desenvolvimento das cidades e do comércio. As cidades italianas abrigavam nobres senhores, como os Lourenço de Médici, da cidade de Florença; os Gonzaga, da cidade de Mantova; os Sforza, da cidade de Milão, e tantos outros nobres senhores que, gozando de prosperidade econômica, resolveram financiar e proteger artistas, cientistas e literatos. Esses protetores de artistas eram chamados mecenas. Causas. Chamamos de humanismo o movimento literário e cultural que fez reviver os estudos da literatura clássica grega e romana, indispensáveis para a formação do homem e para levá-lo a viver com sabedoria e harmonia em sociedade. O interesse dos humanistas era fazer reviver e valorizar diferentes culturas, enfatizando o homem, a ponto desse movimento ser chamado de antropocentrismo, colocando o homem como centro dos interesses e atenções. Os humanistas desprezaram alguns valores cristãos, embora fossem cristãos, e apenas desejavam dar uma nova interpretação às mensagens do Evangelho. Os humanistas queriam a todo custo criar uma nova cultura: introduziram métodos críticos na leitura e interpretação de fontes, reconstruindo textos originais, eliminando deformações e omissões dos copistas medievais. Muitas universidades foram fundadas, porém o ensino era ainda medíocre. Muitos príncipes, nobres e humanistas reuniram importantes obras manuscritas da Antiguidade, a preço de ouro, e juntos começam a formar grandes bibliotecas. Surgiram, também, associações culturais chamadas academias. Renascimento literário. O papa Nicolau (1447-1455) reuniu no seu palácio mais de 5 mil manuscritos, que mais tarde viriam a formar a biblioteca do Vaticano, hoje uma das mais ricas do mundo. A invenção da imprensa, em 1450, pelo alemão Johannes Gutenberg, foi responsável pela impressão da Bíblia e, daí por diante, surgiram muitos livros, facilitando o conta(c)to dos leitores com a cultura. Nesse meio tempo, os artistas italianos se entusiasmaram pela arte greco-romana e tentaram fazê-la reviver. Grandes humanistas apareceram em toda a Europa e deram força ao movimento literário. Renascimento artístico. A principal característica da pintura renascentista é a libertação. Os homens do Renascimento se sentiam o centro do Universo, expondo sua própria personalidade ao mundo que os circundava, procurando leis de equilíbrio e de harmonia para imitá-la na vida e na arte. A renovação do humanismo e do Renascimento transforma convenções, ideias, ambientes e cria a base cultural que se irá manifestar na Idade Moderna. Renascimento científico. Itália. Foi perseguido pela igreja católica porque suas teorias não estavam de acordo com o pensamento vigente. Conclusão. O Renascimento foi um fenômeno histórico que fez reviver valores, criar outros novos e trouxe o despertar de novos momentos na literatura, na arte e na ciência. A sociedade da época aproveitou muito da cultura renascentista, que até hoje chega para nós. Foi o Renascimento, sem dúvida, o alvorecer da Idade Moderna. Reforma e Contra-Reforma. A Reforma foi um movimento que surgiu dentro da Igreja Católica como resposta às dúvidas dos fiéis e às discussões religiosas. As ideias renascentistas valorizaram o homem e suas realizações, a expansão comercial permitiu o confronto de valores e culturas diversas e provocou um "repensar" crítico do mundo, até então dominado pelo clero romano. As alterações político-econômicas da época exigiam uma reformulação na estrutura social, mas a Igreja retardou sua ação, permitindo o aparecimento da crise nas ideias católicas. No plano político, a autoridade papal (supranacional) interferia no poder do rei. A obrigatoriedade do consentimento do papa na administração dos soberanos ia enfraquecendo o poder deles sobre o Estado. A teoria do Estado independente de Maquiavel começava a frutificar. No plano econômico, a Igreja continuava proibindo a usura (juros altos) e pregando a venda das mercadorias por um preço justo. Essa teoria era incompatível com o enriquecimento e a ascensão da burguesia comercial. Os negociantes queriam liberdade de preços para garantir a expansão de seus negócios e aumentar seus lucros. Os camponeses, sem esperanças dentro de suas vidas miseráveis, queriam livrar-se das taxas impostas pelos grandes senhores e também do dízimo obrigatório cobrado pela Igreja. Essa insatisfação era alimentada pela corrupção que se verificava nas ordens clericais. Como representantes de Deus, investidos de poder supremo sobre os homens, suas preocupações se restringiam à política, à guerra e às artes, ignorando a necessidade das almas que lhes cabia conduzir. A riqueza e o conforto em que viviam desagradava aos fiéis, que desejavam uma religião mais próxima dos ensinamentos e exemplos de Cristo. Precursores. A decadência moral dos sacerdotes favoreceu o aparecimento de numerosas seitas, que contestavam alguns dogmas católicos e propunham uma vida de desapego aos bens materiais. Entre estes, destacaram-se os valdenses (seguidores de Pedro Valdo) e os albigenses (da cidade francesa de Albi), que pregavam maior fraternidade entre os homens, uma vida mais humilde, com a divisão dos bens entre os membros de suas comunidades. Essas atitudes foram consideradas "heresias" e a Igreja, através dos tribunais da Inquisição, perseguiu e matou aqueles que se obstinavam em seguir essas seitas. Outros pregadores, como o inglês John Wycliffe (professor em Oxford) e o estudante tcheco John Huss, condenaram o poderio da Igreja, propuseram a secularização de seus bens e o acesso dos fiéis às escrituras. A morte de John Huss e do monge florentino Savonarola, líder político que criticou o humanismo renascentista e a corrupção do papa Alexandre VI, aumentou o conflito que se instalava entre os poderes dominantes na época. Outro fator que desmoralizou a autoridade da Igreja Católica foi a crise do papado, que foi o controle que os reis franceses exerceram sobre o papa durante o , com a transferência da sede do Vaticano de Roma para Avinhão (França). Os demais países contestaram e a Igreja chegou a possuir dois pontífices: um em Roma e outro na França. Razões políticas na Reforma. A Reforma protestante foi iniciada por Martinho Lutero, e foi principalmente impulsionada por razões de interpretação das escrituras, políticas e sociais A Reforma de Martinho Lutero. Era bastante ruim a situação da Alemanha, no . Sem um poder centralizado, dividida entre vários senhores feudais e praticando uma economia agrária, custava a desenvolver-se economicamente. O povo estava esmagado pelos tributos feudais e o dizimo. A Igreja recolhia ali inúmeros impostos e era proprietária de grandes extensões de terras. A única consolação do povo era a fé. Mas como acreditar numa Igreja que vendia os cargos eclesiásticos a quem pagasse mais e que não escondia os filhos ilegítimos dos "celibatários" sacerdotes? E, pior do que tudo: oferecia o perdão dos pecados através do pagamento de bulas que comprovavam a absolvição do papa (indulgência). A indignação aumentou quando o monge Tetzel foi à Alemanha para a venda de bulas, no intuito de arrecadar mais dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro. Martinho Lutero, monge alemão, criticou os abusos de Tetzel e começou a denunciar publicamente a corrupção da Igreja Romana. A preocupação de Lutero era com a salvação da alma, mas, perseguido e ameaçado de excomunhão, não recuou e expôs suas ideias na Catedral de Wittenberg (as 95 Teses de Lutero). Lutero, contrariando a doutrina adotada pela Igreja Romana de que o homem se salva pelas boas obras, adotou as ideias de Santo Agostinho, "O homem se salva pela fé". Propôs uma igreja mais simples, onde o Evangelho fosse discutido pelos fiéis, que teriam a Bíblia traduzida no seu próprio idioma (O próprio Lutero traduziu a Bíblia para o alemão). Também era contrário ao celibato clerical e favorável a que as terras da igreja passassem a pertencer ao Estado. Perseguição e massacre de anabatistas. Martinho Lutero era radicalmente contra o corpo doutrinário e o movimento anabatista que originou-se na Reforma, que foi liderado por Thomas Münzer. Münzer inicialmente era adepto de Lutero, porém ao defender juntamente com seu movimento uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres, e sem propriedade privada, este foi fortemente atacado por Lutero, e eles romperam. Lutero argumentou para Münzer que a existência de "senhores e servos era vontade divina", legitimando assim o poder político. Em 1524 Münzer iniciou uma revolta camponesa comandada pelos anabatistas, que provocou a Guerra dos Camponeses, comandando massas camponesas contra a nobreza imperial. Nesse conflito Lutero escreveu aos príncipes contra Munzer, afirmando: "Contras as hordas de camponeses (...), quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde". Após a derrota dos Camponeses na guerra, os anabatistas continuaram sendo perseguidos e executados em países protestantes, por exemplo, a Holanda e Frísia, que massacraram aproximadamente 30.000 anabatistas nos dez anos que se seguiram a 1535. Controvérsia com Filipe de Hesse. Em dezembro de 1539, Filipe I de Hesse, que já era casado, queria se casar novamente com uma das damas-de-espera de sua esposa e assim, praticar a bigamia. Filipe solicitou a aprovação dos principais reformadores alemães; Lutero, Melanchthon e Bucer, e se justificou citando como precedente a poligamia dos patriarcas. Lutero e os demais teólogos não tomaram uma decisão geral, e informaram a Filipe que, se ele de fato, estava determinado, deveria se casar secretamente e manter silêncio sobre o assunto. Como resultado, em 4 de março de 1540, Filipe casou com uma segunda esposa, Margarethe von der Saal, com Melanchthon e Bucer entre as testemunhas. No entanto, Felipe não conseguiu manter em segredo o casamento, e ele ameaçou tornar público o conselho de Lutero. Lutero disse-lhe para "dizer uma boa e grossa mentira" e negar o casamento completamente, o que Filipe fez durante a controvérsia pública subsequente. Na opinião do biógrafo de Lutero, Martin Brecht, "dar conselhos confessionais para Filipe de Hesse foi um dos piores erros que Lutero cometeu, e (...) a história considera Lutero como principal responsável". Brecht defende que o erro de Lutero não era seus conselhos pastorais particulares, mas que ele calculou mal as consequências políticas.. O caso causou danos duradouros à reputação de Lutero. Revoltas sociais. A doutrina luterana provocou uma divisão entre os nobres alemães, muitos deles ansiosos por se apoderar dos bens do clero, para aumentar seus domínios. O apoio desses nobres foi decisivo para que as ideias de Lutero prosperassem. Reunidos pelo imperador (do Sacro Império Romano-Germânico) para que voltassem a fé católica, muitos nobres protestaram (daí o nome protestantes dado àqueles que aderiram à nova religião). Sem conseguir um acordo, o rei deu consentimento para que cada nobre escolhesse livremente sua religião. Os camponeses eram obrigados a adotar a religião de seu senhor. Os pequenos nobres, animados com a perspetiva de mudanças e melhor divisão de riquezas, disputaram com os grandes senhores as terras anteriormente pertencentes a Igreja. Essa revolta dos pequenos cavaleiros foi rapidamente vencida pelos príncipes. Ao mesmo tempo, surgiram líderes entre os camponeses. Baseados nas escrituras, queriam o fim dos privilégios feudais, o não pagamento de taxas consideradas abusivas e um tratamento digno. Os camponeses afirmavam que essa nova ordem era agradável e compatível com a justiça divina. As revoltas camponesas foram duramente criticadas por Lutero, que autorizou os nobres a combatê-las com rigor e violência, pois "não há nada mais daninho que um homem revoltado…". Essa defesa dos interesses feudais fez com que o luteranismo fosse a religião dos grandes senhores, que passaram a ser os líderes espirituais da nova Igreja. A doutrina luterana espalhou-se pela Alemanha, Suécia, Noruega e Dinamarca. Calvinismo. As ideias protestantes foram adotadas também na Suíça. Em Genebra, com a pregação de João Calvino, o protestantismo sofreu uma reformulação e maior radicalização. Calvino desenvolveu a teoria da predestinação: Deus escolhe os eleitos segundo seu critério, para nós desconhecido, mas justo e infalível, ou seja, o homem nasce salvo ou não, e ocupar um alto posto ou enriquecer pelo trabalho eram sinais da escolha divina. Para a cidade de Genebra, com um comércio desenvolvido e uma poderosa burguesia, essa doutrina significava o reconhecimento da riqueza e do trabalho dos negociantes como situação abençoada aos olhos de Deus. Calvino tornou-se um autêntico líder político e estabeleceu, de maneira rígida, as regras a serem seguidas pelos calvinistas: Em resumo: a conduta calvinista estimulava a poupança e reduzia os gastos desnecessários. Essa teoria estava de acordo com a filosofia de vida dos burgueses que, enfim, possuíam uma religião que os valorizava. Predestinação e Calvinismo. A peça fundamental da doutrina de João Calvino é a predestinação, atualmente considerada controversa por muitos setores da sociedade e grupos religiosos. Calvino creditava todo o centro da história, bem como de sua teologia à ideia da Soberania de Deus. De forma que este havia planejado, por meio de Decretos Eternos, o destino final de cada ser humano. E por consequência o ser humano estava predestinado desde antes de seu nascimento ao céu ou o inferno. Segundo sua crença, alguns (dentre toda humanidade já caída e destinada ao inferno) foram eleitos por Deus para serem salvos, isto é, para serem iluminados pelo Espírito Santo que os levariam a um genuíno arrependimento de seus pecados e serem, desta forma, salvos pela Graça Divina, ao passo que outros foram eleitos a permanecer como estavam: perdidos em seus pecados e não arrependidos, herdando consequentemente à justa maldição eterna - recompensa direta do pecado - independentemente dos atos que estas pessoas cometassem em vida. Calvino, como todos os demais protestantes em suas diversas formulações soterológicas afirmava que a salvação não se dá pelas obras e sim pela Graça divina. Calvino considerava também o trabalho e a prosperidade financeira um sinal das bênçãos de Deus, legitimando o lucro. Assim o calvinismo ganhou popularidade e força entre os burgueses. Calvino e Genebra. João Calvino, juntamente com seus seguidores, instalaria em Genebra um governo de caráter teocrático, e quem descumprisse as normas e doutrinas oficiais do estado era punido. Centenas de pessoas seriam sentenciadas à morte. O caso mais famoso é o do cientista e reformador Miguel Servet, primeiro a descrever a circulação pulmonar, condenado a morrer na fogueira por suas ideias teológicas pelo Conselho de Genebra presidido por Calvino, que havia inclusive consultado outros reformadores sobre o assunto, como os seguidores de Martinho Lutero, que concordaram universalmente com sua execução. Servert, por exemplo defendia o Antitrinitarismo (motivo pelo qual foi condenado em países católicos e protestantes.) Após o ocorrido Calvino escreveu: "Quem sustenta que é errado punir hereges e blasfemadores, pois nos tornamos cúmplices de seus crimes (…). Não se trata aqui da autoridade do homem, é Deus que fala (…). Portanto se Ele exigir de nós algo de tão extrema gravidade, para que mostremos que lhe pagamos a honra devida, estabelecendo o seu serviço acima de toda consideração humana, que não poupamos parentes, nem de qualquer sangue, e esquecemos toda a humanidade, quando o assunto é o combate pela Sua glória." Destruição de patrimônio artístico e cultural na Holanda. Durante a Reforma nos Países Baixos iniciada em 1560, a partir de agosto de 1566, uma multidão de calvinistas invadiu a Igreja de Hondschoote na Flandres (atualmente norte da França) com a finalidade de destruir imagens, ícones, esculturas e obras de arte católicas. Esse incidente provocou outros semelhantes nas províncias do norte e sul, conhecido como "Beeldenstorm", em que calvinistas invadiram igrejas e outros edifícios católicos, para destruir estátuas e imagens de santos em toda a Holanda, o que provocou uma enorme perda de patrimônio histórico e cultural daquela época. Reforma Inglesa. A Reforma Inglesa foi promovida pelas necessidades políticas de . Sendo este casado com Catarina de Aragão, que não lhe havia dado filho homem, Henrique solicitou ao a anulação do casamento. Perante a recusa do Papa, por razões pessoais Henrique fez-se proclamar, em 1531, chefe absoluto da igreja inglesa. O "Ato de Supremacia", votado no Parlamento em novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da igreja. Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados, perseguidos e executados, tribunais religiosos foram instaurados e católicos foram obrigados à assistir cultos protestantes, muitos importantes opositores foram mortos, tais como Thomas More, o bispo John Fischer, bem como sacerdotes, frades franciscanos e monges cartuchos. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, implantou o calvinismo como doutrina oficial da Igreja Anglicana, doutrina religiosa mais conveniente à nova nobreza e burguesia. Os católicos também tiveram diversos direitos institucionais negados no Reino Unido, do século XVI até o final do , um deles, foi o direito de possuir armas de fogo, considerado um dever para protestantes, e terminantemente proibido para católicos. Quando em 1780, o Parlamento inglês tentou outorgar o mesmo direito aos católicos, 120.000 protestantes assinaram uma petição contrária a decisão, e depois provocaram uma revolta em Londres, que resultou na morte de centenas de católicos e incêndio e saque de capelas e casas católicas. Outras consequências. A partir dela surgiram novas igrejas protestantes: huguenotes (França), reformistas (Países Baixos), presbiterianos (Escócia) e puritanos (Inglaterra). Essas igrejas aboliram a obrigatoriedade do latim nos ofícios religiosos, desconsideraram a autoridade papal, adotaram como válidos apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia, acabaram com o celibato para os sacerdotes e permitiram a livre interpretação da Bíblia, aumentando a participação dos fiéis no culto (reuniões de oração e leitura). Criaram uma religião mais individual, em que os santos e os padres passaram a ser dispensáveis. Tribunais religiosos e Caça as Bruxas. Tribunais religiosos e a caça às bruxas, bem como outros métodos de combate à heresia foram perpetradas tanto pela Igreja Católica quanto pelas Igrejas Protestantes (como a Igreja Anglicana, Igreja Luterana Igreja Calvinista e Igreja Presbiteriana). Por exemplo, a Caça às Bruxas na Nova Inglaterra nos Estados Unidos em 1692 (as Bruxas de Salém) foi financiada por puritanos. Censura literária. Com a invenção da máquina tipográfica de Johannes Gutenberg, as Igrejas Protestantes, ao mesmo tempo em que propagavam a bíblia e suas ideias, também tornaram proibidos uma série de livros católicos e outros que contrariavam suas doutrinas. Tais como a Igreja Luterana e a Igreja Anglicana. Contra-Reforma. Os movimentos protestantes diminuíram consideravelmente a influência da Igreja Romana em vários países e provocaram a perda de suas terras nesses domínios. A expansão rápida do protestantismo e a pressão dos católicos para a moralização de sua religião fizeram surgir uma reação para afirmar o credo católico. Esse movimento foi liderado pela ordem dos Capuchinhos, que viviam na austeridade tradicional, e pelo cardeal Ximenes, da Universidade de Salamanca. Mas a Igreja só conseguiu reafirmar-se definitivamente após a promulgação das resoluções do Concílio de Trento (reunido entre 1545 e 1563 na cidade de Trento, na Itália), que estabeleceu: A reabilitação moral da Igreja deteve o avanço do protestantismo, mas não impediu a divisão de doutrinas. A partir da Reforma, o mundo não estava mais submetido à supremacia da Igreja Romana. Primórdios do absolutismo europeu. Foi na parte política que houve as maiores transformações dos tempos modernos. Se observarmos bem, foi sempre a figura do rei que ficou em destaque em todo o curso da História, desde as velhas monarquias ocidentais e orientais até hoje. O rei sempre foi a autoridade máxima. Ainda hoje, temos países em que o rei é o governante, como, por exemplo, na Inglaterra e na Suécia, que são sistemas monárquicos modernos, constitucionais. As causas gerais desse sistema de absolutismo em toda a Europa foram: Tudo isso levou à centralização monárquica, constituindo-se o novo absolutismo, desta vez esclarecido e progressista, fundado numa ordem política expressa na constituição do Estado moderno e na existência de uma nova entidade coletiva que, a partir de agora, ia formar a nação. O rei passa a ser senhor absoluto, símbolo nacional. Ele é quem faz as leis, aplica a justiça, cuida das finanças e estabelece hierarquia de funcionários; enfim, ele é a fonte de todos os poderes. Felipe II e o domínio espanhol na Europa. No ano de 1556, quando decidiu abdicar do trono em favor de seu filho Filipe II, este herdou a coroa da Espanha, o ducado de Milão e o reino de Nápoles, os Países Baixos e as colônias americanas. Era um domínio imenso para um jovem soberano, que tinha um auto-conceito da própria autoridade real. Ele mostrou, desde os primeiros atos de seu governo, a firme decisão de concentrar em suas mãos o poder. Filipe II, por trinta anos, reinou nesse vasto império, controlando pessoas e afazeres, até aqueles de menor importância. Tudo isso por um ambicioso programa de reconduzir a unidade do mundo católico sob o domínio da Espanha. Na parte interna, sufocou revoltas regionais e perseguiu hereges, mouros e hebreus. Na política externa, empenhou-se em defender a Santa Sé, levantar a bandeira do catolicismo em todos os países que estavam envolvidos em guerras de religião e lutar sem trégua para impedir o avanço dos turcos no mar Mediterrâneo. Com a morte de Filipe II, no ano de 1598, pode-se constatar que bem pouco dos objetivos políticos por ele implantados durante anos, com profunda obstinação, tiveram efeitos satisfatórios. A Espanha, nessa época, acumulou metais preciosos, sua indústria ficou quase que paralisada e, assim, seus domínios foram ficando arruinados. A Espanha estava esgotada pelas guerras, as quais foi submetida durante anos. Suas finanças fundamentavam-se na terra, na agricultura e na indústria, em plena decadência. Enquanto isso, a Holanda e a Inglaterra se tornavam duas grandes potências navais. Nesse mesmo tempo, a França superava a crise de uma guerra civil e implantava suas bases para uma futura supremacia na Europa. Formação dos Países Baixos. A Bélgica e a Holanda foram os primeiros Países Baixos a experimentar o peso da política autoritária de Filipe II e também os primeiros a opor forte e tenaz resistência a ele. As inimizades, que já há tempos punham em choque a rica burguesia flamenga contra os exageros do fiscalismo espanhol, explodiram em uma revolta em 1566, quando Filipe II pretendia introduzir nos Flandres o Tribunal da Inquisição. Nobres, burgueses, populares, calvinistas e católicos se uniram em luta, que assumiu as características de uma guerra de libertação nacional. No ano de 1579, sob a chefia de Guilherme I, Príncipe de Orange, proclamaram sua independência e se constituíram na República das Sete Províncias Unidas, em 1581, formando a Holanda. No ano de 1648, a Espanha se decidiu a reconhecer a independência dessa nova República. A Holanda, em pouco tempo, havia se tornado uma grande potência marítima. Com uma frota de 20 mil embarcações, dominava o oceano e concentrava enorme quantidade de capital em seus bancos, tornando-se o maior centro monetário da Europa. Porém, as lutas entre a Holanda e a Espanha ainda perduraram até 1648, quando chegou ao fim a Guerra dos Trinta Anos, que envolveu, no início do , a maioria das nações europeias, por motivos políticos, econômicos e religiosos. No ano de 1526, com ofensivas fulminantes, os turcos haviam conquistado grande parte da Hungria e chegaram quase às portas de Viena. Na África, tornaram-se donos da Síria e do Egito e controlavam a Argélia, de onde partiam as frotas de piratas bárbaros para dominar os cristãos e escravizá-los. Em agosto de 1571, uma frota veneziana caía prisioneira dos turcos otomanos, na ilha de Chipre. Os turcos ameaçavam tomar o Mar Mediterrâneo. Filipe II havia iniciado uma luta contra eles. As lutas eram sem tréguas, feitas com armas brancas e sempre com represálias sanguinárias. Foi no ano de 1571 que as potências cristãs resolveram se reunir sob a proteção do papa Pio V, na Liga Santa, e conseguiram defrontar-se com os turcos em uma grande batalha naval, no coração de seus domínios. No dia 5 de outubro de 1571, a frota cristã, composta de 208 navios, sob o comando de João da Áustria (irmão de Filipe II), se confrontou nas águas de Lepanto (na Grécia) com a frota turca, formada de 230 navios. A vitória dos cristãos foi triunfante. A Batalha de Lepanto foi o maior evento militar do e pôs fim ao domínio turco no Mediterrâneo, que passou ao domínio espanhol. Poucos anos depois, Filipe II obteve outro sucesso na política colonial. Em 1580, a dinastia portuguesa entregava, por falta de herdeiros diretos, a coroa de Portugal para a Espanha, e Filipe II ficou governando colônias portuguesas na Índia Oriental e na América do Sul. Foi a época do domínio espanhol no Brasil (1580-1640). Os domínios espanhóis eram tão vastos que se dizia que neles "o Sol nunca se punha", pois se estendia do Oriente ao Ocidente. Lutas político-religiosas na França. A França também sofreu a intervenção política e religiosa de Filipe II. Esse país, cansado de longas lutas contra Carlos V, era palco de agitações e grandes contrastes sociais. A monarquia, aproveitando-se da crise, queria restabelecer seus privilégios. Nesse clima de aguda tensão, o calvinismo renascia e ganhava força entre os artesãos, entre alguns elementos da pequena burguesia urbana e até das nobres famílias feudais. Porém, entre os camponeses, uma grande massa não aderiu ao calvinismo e continuou fiel ao catolicismo. Iniciou-se, assim, uma série de intermináveis guerras religiosas, que ameaçavam destruir a unidade política da França. Os católicos encontraram no Duque de Guise um capitão hábil e decidido. Os huguenotes (assim eram chamados os calvinistas franceses) insistiam para que os Bourbons, importante família da França, lutassem a seu lado. Naturalmente Filipe II apoiou os católicos. Os huguenotes foram apoiados pela anglicana Isabel I da Inglaterra; eles faziam arruaças, invadiam igreja, destruíam imagens e matavam católicos. Por mais de trinta anos (1562-1598), a França foi teatro de uma violenta guerra civil. O episódio mais trágico foi a Noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572), quando milhares de huguenotes foram a Paris, convidados para o casamento do seu comandante, o capitão Henrique de Bourbon, com Margarida de Valois, irmã do rei Carlos IX. Os huguenotes, atraídos ao palácio para a festa, foram massacrados enquanto dormiam. Outros milhares foram assassinados em praça pública, por ordem da rainha mãe, Catarina de Médicis. Ela estava convencida de que só liquidando os huguenotes poderia ser restabelecida a paz no reino. A rainha convenceu seu filho Carlos IX a fechar os olhos diante desse plano de massacre, e Henrique de Guise preparou tudo para realizar o plano. Na manhã de 24 de agosto de 1572, um domingo, a guarda real tomou posição diante do Louvre. Os calvinistas foram para lá saber do que se tratava, e bastou o primeiro tiro para dar início ao tumulto. A ordem do rei e da rainha era de matar só os chefes calvinistas, mas a população, fanática, juntou-se a eles, e a matança foi geral. Só pela manhã foram mortos mais de 2 mil huguenotes. Parece que o rei e a rainha, assustados com tudo aquilo, quiseram conter o massacre, mas a luta continuou até o dia 26 de agosto. Foi o mais vergonhoso massacre religioso da história. Os chefes protestantes que conseguiram salvar-se foram refugiar-se nos subúrbios de Paris. Após o massacre de São Bartolomeu, católicos e huguenotes fizeram acordos de pouca duração. Dois partidos surgiram: a Santa Liga do Duque de Guise e a União Protestante de Henrique de Navarra. Havia entre os nobres franceses, Henrique III (rei da França na época) e o Conde de Guise, divergências religiosas. O rei Henrique III mandou assassinar o Conde de Guise e, em 1589, foi vítima do punhal de um fanático. Como não deixava herdeiros nem descendentes, foi sucedido por Henrique de Navarra, chefe do partido protestante, Rue subiu ao trono com o título de Henrique IV. Henrique IV assumiu o trono e tornou-se católico, inaugurando a Dinastia dos Bourbons, que governou a França até 1792. Para pôr fim às lutas religiosas internas, ele concedeu o Édito de Nantes (1598), um documento que concedeu a liberdade religiosa. Com a paz interna, cresceu o comércio e a indústria na França. O rei ganhou prestígio e o absolutismo consolidou-se. Ele morreu em 1610, assassinado por um fanático católico. A Inglaterra da rainha Isabel I. Isabel I de Inglaterra, a grande adversária de Filipe II de Espanha, subiu ao trono após a morte de sua irmã, Maria, a Católica, que tinha deixado uma triste recordação a seu povo, pela crueldade de seu governo e pela perseguição aos protestantes ingleses. A jovem rainha Isabel I esforçou-se para assegurar a paz religiosa e preservar seu país do fanatismo religioso que explodia em todo o continente europeu. Sob seu reinado, foi dada continuidade às obras de Henrique VIII. Nos campos, surgiu uma nova classe de ricos proprietários, que investiam grandes capitais para ajustar a agricultura às novas exigências da indústria. Eles não se contentavam em produzir só para o próprio consumo; queriam produzir também para vender. Com o grande consumo de lã, as terras e os campos foram usados para pastagem de ovelhas. A Inglaterra abria novos mercados para os produtos de sua indústria e teve, desta forma, que aumentar a sua frota, formada de navios ligeiros e bem armados, que começaram a fazer a rota atlântica para quebrar o monopólio espanhol na América e dominar o comércio mundial. Comércio e pirataria caminhavam passo a passo. Surgiram companhias de navegação, que trocavam produtos como a lã inglesa com cereais da Polônia e sedas do Oriente. A pirataria saqueava quem estivesse por perto. Uma esquadra foi preparada por Filipe II, da Espanha, em 1587, para invadir e conquistar a Inglaterra. As duas potências estavam em luta desde meados do , com a pilhagem sistemática de colônias e navios espanhóis por corsários ingleses. Divergências religiosas separavam a Espanha da Inglaterra. Além dessas divergências, explodiu uma guerra e, desde 1584, as relações diplomáticas entre esses dois países ficaram cortadas. Para quebrar o poderio inglês, Filipe II montou a Invencível Armada, formada de 135 navios, canhões, marinheiros e quase soldados, sendo que a maior parte, os mais poderosos e maiores navios eram de origem portuguesa. Era comandada pelo Duque de Medina-Sidonia. Em 1588, foi atacada por navios ingleses, antes de penetrar em águas britânicas. Após refugiar-se durante algum tempo em Calais, rumou para a Inglaterra, mas um violento temporal destruiu mais da metade de seus navios, e a esquadra voltou para a Espanha sem combater e quase sem embarcações. Com isso, a Inglaterra passou à frente da Espanha no poderio marítimo. Absolutismo francês. O desejo de ordem e de unidade desenvolvido durante o levou o povo a aceitar o espírito do absolutismo, no . As pessoas julgavam que a concentração de poderes nas mãos de um só homem, o rei, seria o melhor caminho. As multidões queriam ver no rei a imagem de Deus. O rei, para elas, deveria ser um herói, amante da glória, protetor das letras, mas sem esquecer a predileção pelas armas (visto que a qualidade de conquistador era estimada como a mais nobre e o mais elevado dos títulos por todos os contemporâneos). A Guerra dos Trinta Anos reforçou enormemente o prestígio internacional da França. O povo vinha reclamando, questionando mudanças políticas. O absolutismo francês compreendeu desde os reinados de Francisco I, em 1515, até o reinado de Luís XVI, em 1792. Duas grandes dinastias reinaram na França nesse período: a Dinastia Valois-Orléans-Angoulême e a Dinastia Bourbon. A Dinastia Valois-Orléans-Angoulême compreendeu os seguintes rei Francisco I, Henrique II, Francisco II, Carlos IX e a regência da rainha mãe Catarina de Médicis e Henrique III. Dinastia Bourbon. Henrique IV, o Grande. Foi o fundador da Dinastia Bourbon. Em 1572, tornou-se rei de Navarra. Sua família era uma das mais importantes do país. Seu principal momento na vida política foi a assinatura do Édito de Nantes (1598), documento que dava liberdade religiosa para católicos e protestantes. Foi um rei que mereceu o título de restaurador e libertador do Estado. Morre em 1610, assassinado por um fanático religioso. Luís XIII, o Justo. Filho de Henrique IV, tinha apenas oito anos de idade quando o pai morreu. A nobreza pensou em assumir o trono mas a rainha mãe Maria de Médicis assumiu a regência em nome do filho até que ele completasse a maioridade. No ano de 1624 foi nomeado o cardeal Richelieu como primeiro-ministro com o apoio da rainha mãe Maria de Médicis. O cardeal Richelieu tinha como nome de batismo Armand-Jean du Plessis. No governo da França, combateu as duas principais forças políticas: a nobreza e os protestantes. Na política, envolveu a França em várias guerras e não pensou duas vezes quando teve que aliar-se aos protestantes contra a casa dos católicos de Habsburgo, que dominava grande parte da Europa. Nessa fase, a França participou da Guerra dos Trinta Anos. A França lutou contra a Áustria e teve alguns sucessos no início, mas depois foi ameaçada pelos espanhóis. A Espanha, aliada à Áustria, procurava conquistar a França. O cardeal Richelieu reprimia quem não concordasse com sua política. Foi um lutador incansável pela melhoria dos portos e pela criação de companhias de comércio. Com a morte do rei Luís XIII e de Richelieu, cabia o direito de governar a Luís XIV, que era ainda uma criança. Assumiu, então, a rainha mãe Ana da Áustria. Ana da Áustria era esposa de Luís XIII. Eles tiveram um filho, Luís XIV. Com a morte do rei Luís XIII e do cardeal Richelieu, ela resistiu às pretensões da nobreza e nomeou como ministro o cardeal Jules Mazzarino, que ajudou a governar a França até a maioridade de Luís XIV. Luís XIV, o Grande. Subiu ao trono da França em 1661, depois de anos da regência da rainha mãe Ana da Áustria e da morte do cardeal Mazzarino. Nesse período, a França esteve no auge do seu esplendor absolutista. Esse soberano fez por merecer o apelido de Rei-Sol. Ficou célebre por sua frase: L'État c'est moi ("O Estado sou eu"). A sua corte era organizada segundo as regras de um cerimonial complicado, que tinha seu centro na pessoa do rei, que era quase divinizado. Tudo isso foi feita de maneira a afirmar o poder absolutista de Luís XIV. De fato, para ele, o rei era o único dono do Estado e sua autoridade não devia ser discutida por nenhuma magistratura, ou por seus súditos. Os aristocratas foram privados por Luís XIV de ocupar cargos administrativos. Os cargos de administração do Estado foram distribuídos diretamente e controlados por ele. A nobreza foi, portanto, afastada do poder político, mas isso não fez melhorar a condição dos camponeses que trabalhavam em suas terras. Os nobres não pagavam taxas e continuavam a impor seus tributos e prestações, que vinham da época feudal. A política do rei, mediante o desenvolvimento das manufaturas e das atividades comerciais, ia favorecendo essencialmente os burgueses, isto é, os grandes empresários (de tecidos, de construção naval) e os comerciantes de grande porte (exportadores e importadores de matérias-primas, de comestíveis, etc.), que eram os únicos capazes de investir grandes capitais. Guerras de expansão. Com Luís XIV, continuou a política de expansão da França. O invencível exército francês dominava já a Europa depois da vitória contra a Espanha e os Habsburgos. Profundamente renovado era seu exército, armado de fuzis novíssimos e de baionetas, com uma potente artilharia. O exército francês só foi vencido no mar, durante uma invasão aos Países Baixos (1672-1678), quando romper os diques e alagar o próprio territórios a render-se aos invasores. Luís XIV perseguiu protestantes, e muitos deles deixaram o país. Foi ele quem mandou construir o Palácio de Versalhes, onde morou e no qual trabalhavam mais de 4 mil funcionários. Seu exército uniformizado servia o rei e guardava o palácio. Essa obra, os gastos da corte e o envolvimento da França em guerras político-religiosas arruinaram a economia francesa. Política do Rei Sol. O Conselho de Estado, órgão consultivo, era constituído de pessoas que o rei escolhia, e só ele estabelecia critérios para seus componentes. Colbertismo. Entre os ministros que formavam o conselho, destacaram-se, o ministro da Guerra (Louvois), o ministro da Fazenda ("Colbert") e Vauban, que auxiliava o rei nas técnicas de defesa militares. O colbertismo foi uma política adotada pelo ministro da Fazenda, que aperfeiçoou o sistema de cobranças de impostos e exerceu um rígido controle sobre a receita e a despesa do Estado. Organizou um sistema de contabilidade pública e procurou conter os gastos excessivos, conseguindo o milagre de equilibrar o orçamento tradicionalmente deficitário do país. Estimulou a vida econômica francesa, adotou uma série de medidas sábias e inteligentes, apoiou o comércio internacional. O colbertismo trouxe para a França indiscutíveis benefícios. Porém, a intervenção exagerada dos poderes públicos na economia provocou a diminuição da produção. Após a morte de Colbert, não tendo sido encontrado um ministro que o substituísse a altura, a França entrou em decadência e o governo de Luís XIV sofreu reveses. Balanço do reinado. O despotismo de Luís XIV não se limitou ao plano político, cultural e religioso. Revogou o Édito de Nantes e perseguiu huguenotes, proibido o culto de protestantes. Nos assuntos religiosos da Igreja Católica, teve atritos com o papa. Na política exterior, o rei Luís XIV desejava alcançar as fronteiras naturais (Pirenéus, Alpes), o que levou a lutas constantes contra a Holanda, a Espanha e a Áustria. Ao final de tão longo reinado (54 anos), a França havia aumentado seu território e se sobressaindo diante das nações europeias, porém sua economia estava na bancarrota. Os gastos excessivos haviam arruinado o país. Luís XIV morreu em 1715. Luís XV, o Bem-Amado. Bisneto de Luís XIV, herdou a coroa em 1715. Durante a primeira parte de seu governo, o reinado foi exercido por seu tio, o Duque Felipe de Orléans. A regência terminou em 1723, data em que foi chamado o cardeal Fleury, que orientou na vida política. Luís XV lançou seu país em dois conflitos externos: a Guerra da Sucessão da Áustria e a Guerra dos Sete Anos. Ao morrer, em 1774, deixou a França empobrecida e mergulhada em sérios problema econômicos. Seu sucessor foi Luís XVI. Neto de Luís, subiu ao trono em 1774. O povo esperava melhoras com ele no poder. Esse rei governou na época da Revolução Francesa. Ele e sua esposa Maria Antonieta morreram guilhotinados pelos líderes da Revolução Francesa, que pôs fim ao absolutismo na França e introduziu o sistema da República. Absolutismo inglês. O absolutismo na Inglaterra teve início com Henrique VII, primeiro rei da Dinastia Tudor. Esse soberano encontrou um país enfraquecido pelas lutas internas, que aceitou sem resistência a centralização do poder. Mais tarde, a submissão da Igreja inglesa ao poder real (anglicanismo), com Henrique VIII, e a prosperidade econômica do reinado de Isabel I, mais a habilidade desses reis de "controlar" o Parlamento, permitiu-lhes um domínio total sobre seu país. A morte de Isabel I (1603), que não deixou herdeiros, fez com que o trono passasse a seus parentes escoceses, os Stuarts. Jaime VI & I, rei da Escócia e da Inglaterra, era favorável às ideias absolutistas. Para fortalecer seu poder, lançou novos impostos sem autorização do Parlamento e tentou reforçar a Igreja Anglicana (da qual era chefe supremo), perseguindo católicos e protestantes. Sua falta de habilidade política colocou o Parlamento contra seu governo e sua intolerância religiosa desagradou principalmente aos burgueses e ao povo. Foi durante o seu governo que se iniciou o povoamento da América do Norte. Muitos. colonos fugiam das perseguições religiosas provocadas por ele. Seu filho, Carlos I, adotou a política paterna, aumentando as divergências entre o poder real e os membros do Parlamento, que, agora, raramente eram convocados. Durante seu reinado, Escócia e Irlanda revoltaram-se por causa dos altos impostos cobrados. Para esmagar a rebelião, Carlos I foi forçado a convocar o Parlamento: precisava de dinheiro para pagar o Exército. Depois de conseguir seu objetivo, o rei procurou dissolver o Parlamento. A burguesia, cansada de tanto autoritarismo, não aceitou essa atitude e iniciou uma rebelião para depor o rei. A Inglaterra se dividiu em dois partidos opostos: Os cabeças-redondas venceram e condenaram à morte o rei Carlos I. Nas lutas, destacou-se a liderança de Oliver Cromwell, membro da pequena nobreza que, apoiado pelos puritanos, assumiu o poder com a tarefa de reorganizar o Estado. Era Cromwell. O governo de Cromwell (1649-1658) se caracterizou por medidas centralizadoras. Reagiu com violência e sufocou todos os movimentos contrários à sua política, quer por parte da nobreza escocesa, quer por parte dos protestantes, membros do partido dos cabeças-redondas. Rapidamente esqueceu os ideais republicanos da Revolução, tornando-se um autêntico monarca absolutista, fazendo-se nomear "Lorde Protetor" da Inglaterra, com poderes hereditários. A rebelião irlandesa, iniciada no governo de Carlos I, foi duramente esmagada: matou inúmeros padres, apossou-se das terras dos católicos irlandeses, distribuindo-as entre os protestantes. Pretendia com isso acabar definitivamente com essas revoltas. (O tempo encarregou-se de mostrar seu erro: as disputas que se verificaram entre católicos e protestantes na Irlanda, iniciadas nessa época, duram até nossos dias.) No plano administrativo, sua realização mais importante foram os Atos de Navegação, que obrigavam os países importadores a transportar suas mercadorias unicamente em navios ingleses ou, então, de seu próprio país. Essa medida estimulou a construção naval e a Inglaterra superou a Marinha neerlandesa (a maior frota da época), tornando-se a Rainha dos Mares. Graças a ele, o Imperialismo Britânico foi não só possível, mas dominante até o início da Primeira Grande Guerra, quando a Inglaterra viu seu lugar ser ocupado por a mais nova potência mundial, os Estados Unidos da América. Apesar de governar sem o Parlamento, recebeu apoio do Exército e da burguesia, esta satisfeita com os lucros obtidos graças à política econômica adotada pelo seu governo. Com a morte de Cromwell, em 1658, a Inglaterra voltou a viver um breve período de agitação. Seu filho, Ricardo, não foi capaz de manter-se no governo e começou nova disputa pelo poder. Para evitar nova guerra civil, que poria a perder os avanços econômicos conquistados, a burguesia aceitou a restauração da monarquia, desde que o rei se submetesse às leis do Parlamento, isto é, a restauração da Monarquia Parlamentarista. Restauração monárquica (1660-1688). Carlos II, herdeiro de Carlos I, que estava exilado na França, assumiu o trono inglês, jurando obediência à Constituição. No entanto, apoiado pelo rei absolutista Luís XIV, procurou concentrar o poder em suas mãos e, ao mesmo tempo, reabilitar a Igreja Católica. Seu governo foi marcado por protestos dos parlamentares, que conseguiram uma única vitória: a lei do habeas-corpus, que garantia ao indivíduo proteção contra prisões sem comprovação de crime. Seu irmão e sucessor, Jaime II, era católico declarado (é preciso lembrar que um retorno ao catolicismo implicaria a devolução das terras que os anglicanos haviam tomado da Igreja Católica). Para evitar que, novamente, a religião católica se tornasse a religião oficial na Inglaterra, nobres e burgueses se uniram para depor o rei, entregando o poder à sua filha Maria Stuart (protestante). Revolução Gloriosa. Maria Stuart e seu marido, Guilherme de Orange (neerlandês) aceitaram o trono inglês. Ao desembarcar com seu exército na Inglaterra, Guilherme recebeu apoio das cidades inglesas. Pressionado pela situação, Jaime II renunciou e a revolução se fez sem lutas. Antes de serem coroados, os novos soberanos juraram respeitar a "Declaração de Direitos" que, entre outros itens, proibia o rei de convocar exércitos sem autorização do Parlamento e aumentar os impostos, garantia a liberdade individual e a propriedade privada. Essa revolução, que afirmou definitivamente a superioridade do Parlamento sobre o poder real, determinou maior desenvolvimento inglês e, por isso, recebeu o nome de "Revolução Gloriosa". Consequências. Desde essa época, o Parlamento passou a dirigir a política inglesa. Com o tempo, o primeiro-ministro, escolhido entre os membros do partido mais votado, passou a exercer a função de chefe de governo. Dar a expressão "O Rei reina, o Ministro governa". O rompimento definitivo com o absolutismo favoreceu o desenvolvimento de nova política econômica, adequada aos interesses da crescente burguesia: optou-se pelo livre comércio, dando fim aos monopólios. Qualquer pessoa que tivesse recursos suficientes poderia iniciar uma atividade produtiva e comerciar livremente em qualquer região de sua escolha. Isso estimulou grandemente a produção agrícola e manufatureira e fez com que a Inglaterra conseguisse reunir condições favoráveis para ser a pioneira na Revolução Industrial.
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Índice de Desenvolvimento Humano
Índice de Desenvolvimento Humano Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um índice estatístico composto de expectativa de vida, educação (média de anos de escolaridade completados e anos esperados de escolaridade ao entrar no sistema educacional) e indicadores de renda per capita, que é usado para classificar os países em quatro níveis do desenvolvimento humano. Um país obtém um nível mais alto de IDH quando a expectativa de vida é mais alta, o nível de educação é mais alto e a renda nacional bruta per capita é mais alta. Foi desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq e ainda foi usado para medir o desenvolvimento de um país pelo Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010 introduziu o Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD). Embora o IDH simples permaneça útil, "o IDHAD é o nível real de desenvolvimento humano (considerando a desigualdade), enquanto o IDH pode ser visto como um índice de desenvolvimento humano 'potencial' (ou o nível máximo de IDH) que poderia ser alcançado se não houvesse desigualdade." O índice é baseado na abordagem de desenvolvimento humano, desenvolvida por Mahbub ul Haq, ancorada no trabalho de Amartya Sen sobre capacidades humanas, muitas vezes enquadrado em termos de se as pessoas são capazes de "ser" e "fazer" coisas desejáveis na vida. Exemplos incluem — estar: bem alimentado, abrigado, saudável; fazendo: trabalho, educação, votação, participação na vida comunitária. A liberdade de escolha é central — alguém que escolhe estar com fome (por exemplo, quando jejua por motivos religiosos) é bem diferente de alguém que está com fome porque não pode comprar comida, ou porque o país está passando fome. O índice não leva em consideração diversos fatores, como a riqueza líquida per capita ou a qualidade relativa dos bens de um país. Essa situação tende a rebaixar a classificação de alguns dos países mais avançados, como os membros do G7 e outros. Origem. O IDH surge no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e no Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH). Estes foram criados e lançados pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq em 1990 e teve como objetivo explícito: "Desviar o foco do desenvolvimento da economia e da contabilidade de renda nacional para políticas centradas em pessoas." Para produzir os RDHs, Mahbub ul Haq reuniu um grupo de economistas bem conhecidos, incluindo: Paul Streeten, Frances Stewart, Gustav Ranis, Keith Griffin, Sudhir Anand e Meghnad Desai. Mas foi o trabalho de Amartya Sen sobre capacidades e funcionamentos que forneceu o quadro conceptual subjacente. Haq tinha certeza de que uma medida simples, composta pelo desenvolvimento humano, seria necessária para convencer a opinião pública, os acadêmicos e as autoridades políticas de que podem e devem avaliar o desenvolvimento não só pelos avanços econômicos, mas também pelas melhorias no bem-estar humano. Sen, inicialmente se opôs a esta ideia, mas ele passou a ajudar a desenvolver, junto com Haq, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Sen estava preocupado de que seria difícil capturar toda a complexidade das capacidades humanas em um único índice, mas Haq o convenceu de que apenas um número único chamaria a atenção das autoridades para a concentração econômica do bem estar humano. Metodologia. Após 2010. No Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010 o PNUD começou a usar um novo método de cálculo do IDH. Os três índices seguintes são utilizados: 1. Expectativa de vida ao nascer (EV) = formula_1 2. Índice de educação (EI) = formula_2 3. Índice de renda (IR) = formula_5 Finalmente, o IDH é a média geométrica dos três índices anteriores normalizados: Legenda: Até 2010. Até 2009, para calcular o IDH de uma localidade, fazia-se a seguinte média aritmética: Legenda: Críticas. O Índice de Desenvolvimento Humano tem sido criticado por uma série de razões, incluindo pela não inclusão de quaisquer considerações de ordem ecológica, focando exclusivamente no desempenho nacional e por não prestar muita atenção ao desenvolvimento de uma perspectiva global. Dois autores afirmaram que os relatórios de desenvolvimento humano "perderam o contato com sua visão original e o índice falha em capturar a essência do mundo que pretende retratar." O índice também foi criticado como "redundante" e uma "reinvenção da roda", medindo aspectos do desenvolvimento que já foram exaustivamente estudados. O índice foi ainda criticado por ter um tratamento inadequado de renda, falta de comparabilidade de ano para ano, e por avaliar o desenvolvimento de forma diferente em diferentes grupos de países. O economista Bryan Caplan criticou a forma como as pontuações do IDH eram produzidas até 2009; cada um dos três componentes são limitados entre zero e um. Como resultado disso, os países ricos não podem efetivamente melhorar a sua classificação em certas categorias, embora haja muito espaço para o crescimento econômico e longevidade. "Isso efetivamente significa que um país de imortais, com um infinito PIB "per capita" iria obter uma pontuação de 0,666 (menor do que a África do Sul e Tajiquistão), se sua população fosse analfabeta e nunca tivesse ido à escola." Ele argumenta: "A Escandinávia sai por cima de acordo com o IDH, porque o IDH é basicamente uma medida de quão escandinavo um país é." As críticas a seguir são comumente dirigidas ao IDH: de que o índice é uma medida redundante que pouco acrescenta ao valor das ações individuais que o compõem; que é um meio de dar legitimidade às ponderações arbitrárias de alguns aspectos do desenvolvimento social; que é um número que produz uma classificação relativa; que é inútil para comparações inter-temporais; e que é difícil comparar o progresso ou regresso de um país uma vez que o IDH de um país num dado ano depende dos níveis de expectativa de vida ou PIB per capita de outros países no mesmo ano. No entanto, a cada ano, os estados-membros da ONU são listados e classificados de acordo com o IDH. Se for alta, a classificação na lista pode ser facilmente usada como um meio de engrandecimento nacional, alternativamente, se baixa, ela pode ser utilizada para destacar as insuficiências nacionais. Usando o IDH como um indicador absoluto de bem-estar social, alguns autores utilizaram dados do painel de IDH para medir o impacto das políticas econômicas na qualidade de vida. Gustav Ranis, e dois outros autores, criticam o índice pelo seu reducionismo e sugerem a inclusão de mais vectores do desenvolvimento humano. Para estes autores, o IDH é uma medida bastante incompleta do desenvolvimento humano, deixando de parte muitos aspectos da vida que são fundamentais: o bem-estar mental, a autonomia e emancipação dos indivíduos, a liberdade política, as relações sociais, o bem-estar das comunidades, as desigualdades (incluídas as de género), as condições de trabalho e lazer, a segurança política e económica, e o ambiente. Onze novas categorias de indicadores forneceriam um melhor retrato dos países alvo do IDH.
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Itambé (Bahia)
Itambé (Bahia) Itambé é um município brasileiro no interior do estado da Bahia, na microrregião de Itapetinga. Situada a 346 metros acima do nível do mar, sua área é de 1 534,575 km². Sua população em 2021, segundo estimativas do IBGE, era 22 474 habitantes. A cidade é cortada pelo Rio Pardo. Topônimo. A palavra "Itambé" é de origem tupi e significa "Pedra Afiada", através da junção de "i'tá" (pedra) e "aim'bé" (afiada). História. De acordo com a Lei Estadual 2 042, de 12 de agosto de 1927, o povoado adquiriu a sua emancipação política (o povoado do Verruga pertencia até então ao município de Vitória da Conquista). No dia 1 de janeiro de 1928, foi empossado o primeiro prefeito, coronel Hygino dos Santos Melo. Em 30 de novembro de 1938, através do Decreto-Lei 11 089, o Município de Itambé adquiriu o distrito de Itapetinga, que pertencia ao Município de Vitória da Conquista. Em 3 de agosto de 1948, foi colocada primeira pedra para construção da primeira casa do distrito de Catolezinho, numa área doada pelo então vereador e próspero fazendeiro Cassiano Fernandes Ferraz. Após nove meses, já haviam sido edificadas em torno de trezentas casas. Assim, Catolezinho se tornou o primeiro distrito e Itapetinga, o segundo. Itambé possuía também os arraiais de Sapucaia, Palmares e Bandeira. Em 12 de dezembro de 1952, Itambé perdeu o distrito de Itapetinga quando este foi emancipado politicamente. No processo de estruturação política e administrativa, houve também a estruturação da fé. Em 28 de novembro de 1935, foi instalada paróquia de Itambé, graças à influência de Aparício do Couto Moreira, que era parente próximo do monsenhor Moisés Couto, vigário de Itabuna. Este intercedeu para a criação da paróquia, tendo, como primeiro vigário, o padre Nestor Passos. A paróquia de Itambé tem São Sebastião como patrono. Economia. A economia de Itambé é baseada na agricultura, pecuária, comércio, extração mineral e indústrias de pequeno porte, sendo o destaque a pecuária. As culturas agrícolas que se destacam são: feijão, mandioca, milho, banana . Na pecuária, o município possui rebanhos: bovinos, eqüinos, suínos, ovinos e aves. No último Censo Agropecuário feito pelo IBGE, em 2006, o município de Itambé possuía o maior rebanho bovino do Estado da Bahia, com 168.235,00 cabeças de gado. O comércio é baseado principalmente nas vendas a varejo. Outra atividade econômica que merece destaque no município é a Mineração. Extrai-se berilo, calcário, cristal de rocha, feldspato, fluorita, nióbio, columbita, caulim, pegmatitos, cristais transparentes, cristal róseo, águas marinhas, urânio, ametista, micas, amianto e barita. A cidade possui indústrias de selaria, capotaria, olaria, sapataria, extração de minério. Saúde. O município possui a Santa Casa de Misericórdia, quatro unidades de saúde da família na Zona Urbana sendo elas: USF Dr. Jorge de Souza Heine (Sidney Almeida), USF Felipe Achy (Felipe Achy), USF Gerusa Alves (Durvalina Andrade), USF Valter Vilarinho (Centro), USF Sibéria Maciel (Humberto Lopes), e duas Unidades de Saúde da Família nos distritos USF José Rucas Achy (Catolezinho), USF São José do Colônia no distrito de mesmo nome, ainda o Posto de Saúde Coriolano José Fagundes (Humberto Lopes) Academia de Saúde (Sidney Almeida), Central Municipal de Regulação (Centro), onde a população tem acesso a atendimento médico, odontológico, psicólogo, nutricionista, serviço social, vacinação, farmácia básica e primeiros socorros. A cidade dispõe ainda do Centro de Fisioterapia Dr. Alterives Maciel (Centro), Centro de Atenção Psicossocial CAPS I (Agenor Novais) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência 192, . Também existem vários laboratórios de analises clínicas que fazem vários tipos de procedimentos.  Educação. O município de Itambé é muito bem servido de escolas: possui 1 colégio estadual de 1º e 2º graus. Complexo Estadual Polivalente de Itambé. Existem diversas escolas municipais espalhadas pela sede, distritos e zona rural. A cidade possui, também, uma escola particular: o Centro Educacional Enoy Ferraz Trancoso, no centro da cidade, e duas creches que atendem a população carente: Magda Maria Correia, no centro da cidade, e Maria Fernandes Achy, no Felipe Achy. Distritos. Atualmente, o município conta com dois distritos em seu território: Cultura e Lazer. Existe a biblioteca municipal Guilherme Marback (desativada) e mais duas que pertencem ao Colégio Estadual Polivalente e ao Centro Educacional Gilberto Viana.
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Identidade trigonométrica
Identidade trigonométrica Identidade trigonométrica é uma identidade que envolve funções trigonométricas, sendo, pois, verdadeira para todos os valores das variáveis envolvidas. Com efeito, ela é útil sempre que expressões que contêm expressões trigonométricas devam ser simplificadas, ou, doutra sorte, substituídas com o propósito de conseguir uma nova transformação, mais útil para dada aplicação. Uma importante aplicação, exemplo notável da técnica de substituição, é a integração de funções não-trigonométricas: um recurso comum envolve primeiro usar a integração por substituição com uma função trigonométrica e então simplificar a integral resultante com uma identidade trigonométrica. Notação. Ângulos. Ângulos são entidades geométricas definidas em geometria euclidiana plana ou tridimensional, podendo ser estendidos para geometrias não-euclidianas. Um ângulo, plano ou não, é caracterizado por sua abertura, e essa abertura pode ser medida.<br> Embora sejam entidades distintas, sob o rigor lógico-matemático, costuma-se, por simplicidade de nomenclatura e notação (e de sentenças pertinentes), empregar o termo "ângulo" por "medida de ângulo", sempre que não houver comprometimento de ideias.<br> É usual utilizar letras gregas como alfa ("α"), beta ("β"), theta ("θ") e phi ("φ"), ou letras latinas iniciais, como ""a", "b", "c" etc., ou medianas ("m", "n", "p" etc.), para representar medidas de ângulos, que sejam conhecidos por generalidade e por princípio ("a priori").<br> Contudo, quando expressões matemáticas, que são sentenças lógico-matemáticas, envolverem medidas de ângulo como quantidades variáveis (variáveis matemáticas), devem-se preferir "x", "y", "z" etc., conforme convenção para variáveis.<br> Assim, ao se escreverem expressões que representam relações, funções, igualdades, identidades ou equações com um ou mais argumento variável, os símbolos convencionais adequados a essa aplicação ("x", "y", "z"" etc.) devem-se utilizar.<br> Várias unidades de ângulo são largamente utilizadas, incluindo grau, radiano e grado, além de reto, correspondente à medida de um ângulo reto: A tabela a seguir mostra as conversões para alguns ângulos comuns: Funções trigonométricas. As funções trigonométricas básicas são o seno e o cosseno de um ângulo, justamente porque se pode escrever qualquer outra função trigonométrica a partir das funções seno e cosseno. A notação utilizada para essas funções é  formula_2 e formula_3, respectivamente, onde formula_4 é o ângulo. Todavia as parênteses podem ser omitidas, ficando da seguinte forma: formula_5 eformula_6. A função tangente (escreve-se "formula_7" ou "formula_8" ) de um ângulo é a razão entre seno e o cosseno do mesmo ângulo: formula_9. Finalmente, as funções trigonométricas de razão recíproca, secante (formula_10), cossecante (formula_11) e cotangente (formula_12), das funções cosseno, seno e tangente, respectivamente: Funções inversas. As funções trigonométricas inversas são funções inversas parciais. Por exemplo a função inversa de seno é a função arco seno, denotada por formula_16 ou por formula_17  (essa ultima notação é pouco utilizada, pois costuma gerar confusão entre a função arcoseno e cossecante). Essas funções são utilizadas quando temos uma relação trigonométrica conhecida e deseja-se descobrir o ângulo que resulta em tal relação. Por exemplo: sabendo-se que o formula_18, podemos dizer que formula_19. Assim observa-se que, para essas funções, deve valer:formula_20eformula_21A tabela a seguir mostra as funções trigonométricas e suas respectivas inversas: Identidades pitagóricas. Existem diversas relações entre as funções trigonométricas. Essas relações são conhecidas como identidades trigonométricas ou identidades pitagóricas, justamente porque todas elas partem das relações estabelecidas pelo teorema de pitágoras. A relação básica entre seno e cosseno é formula_22 conhecida como Identidade Trigonométrica Fundamental, pois é a mais básica identidade pitagórica. Esta identidade pode ser deduzida através do Teorema de Pitágoras, o que será demonstrado adiante. Também existem outras duas identidades: formula_23 e formula_24 que são corolários da identidade trigonométrica fundamental. Assim, existem três identidades pitagóricas: Relação fundamental. Vamos demonstração a relação fundamental: formula_28 Demonstração geométrica. Seja o triângulo retângulo ACH, com catetos formula_29 e formula_30 e hipotenusa formula_31 observa-se, como já foi demonstrado anteriormente que: formula_32 formula_33 e formula_34 Aplicando o teorema de Pitágoras: formula_35 Logo: formula_36 Corolários. 1° Corolário. Vamos demonstrar o seguinte corolário: formula_23 Demonstração Geométrica. Seja o triângulo retângulo ADF, com catetos formula_38 e formula_39 e hipotenusa formula_40 observa-se, como já foi demonstrado anteriormente que: formula_41 formula_42 e formula_43 Aplicando o teorema de Pitágoras: formula_44 Logo: formula_45 Demonstração Algébrica. É possível demonstrar esse corolário através da relação fundamental dividindo todos os termos por formula_46 da seguinte forma: formula_47 2° Corolário. Vamos demonstrar o seguinte corolário: formula_48 Demonstração Geométrica. Seja o triângulo retângulo AEG, com catetos formula_49 e formula_50 e hipotenusa formula_51 observa-se, como já foi demonstrado anteriormente que: formula_52 formula_53 e formula_54 Aplicando o teorema de Pitágoras: formula_55 Logo: formula_56 Ou, comutativamente: formula_57 Demonstração Algébrica. É possível demonstrar esse corolário através da relação fundamental dividindo todos os termos por formula_58 da seguinte forma: formula_59 Tendo em mente esses dois resultados podemos ainda demonstrar as seguintes relações: formula_60 e formula_61 formula_62 Simetria. Na tabela a seguir temos as relações de simetria entre diferentes tipos de ângulos e suas funções trigonométricas e em seguida suas devidas explicações e demonstrações. Simetria entre ângulos replementares. Chamamos de ângulo replementar o ângulo que, somado a outro, resulta em formula_63 ou formula_64. A seguir temos as explicações dessas relações e ao lado temos as verificações geométricas. Seno e cosseno de ângulos replementares. Para seno e cosseno de ângulos replementares temos as relações: Na figura ao lado temos a verificação geométrica dessas propriedades e a abaixo as demonstrações. Demonstração geométrica. A demonstração de formula_66 é trivial, pois ambos são coincidentes (ambos são o mesmo segmento) o que pode ser observado na figura ao lado. Para demonstrar que formula_65 partiremos de congruência de triângulos. Seja os ângulos formula_4 e formula_70 no ciclo trigonométrico unitário, conforme vemos na figura ao lado, temos: formula_71 Com base nisso e sabendo que formula_72 teríamos que formula_73, uma vez que formula_74. Porém, pela definição de seno no ciclo trigonométrico temos que formula_75, uma vez que o seno no 3° e no 4° quadrante são negativos. Logo temos que formula_75 e formula_66. Tangente de ângulos replementares. Para a tangente de ângulos replementares temos a relação: Na figura ao lado temos a verificação geométrica dessa propriedade e abaixo temos a demonstração algébrica. Demonstração algébrica. Para demonstrar que formula_78, partiremos da relação entre seno e cosseno. Temos, pela definição de tangente, que a tangente de um ângulo é a razão entre o seno e cosseno do mesmo ângulo. Assim, temos que: formula_80 Logo formula_78. Cossecante e secante de ângulos replementares. Para a cossecante e secante de ângulos replementares temos as relações: Na figura ao lado temos a verificação geométrica dessas propriedades abaixo temos as demonstrações algébricas. Cossecante de ângulos replementares. Para demonstrar que formula_82, partiremos da relação de simetria do seno. Temos, pela definição de cossecante, que a cossecante de um ângulo é o inverso multiplicativo do seno do mesmo ângulo. Assim, temos que: formula_85 Logo formula_82. Secante de ângulos replementares. Para demonstrar que formula_83, partiremos da relação de simetria do cosseno. Temos, pela definição de secante, que a secante de um ângulo é o inverso multiplicativo do cosseno do mesmo ângulo. Assim, temos que: formula_88. Logo formula_83. Cotangente de ângulos replementares. Para a cotangente de ângulos replementares temos a relação: Na figura ao lado temos a verificação geométrica dessa propriedade e abaixo temos a demonstração algébrica. Demonstração algébrica. Para demonstrar que formula_90 é possível partir da relação de simetria entre tangente ou da relação de simetria entre seno e cosseno. Utilizaremos aqui relação de simetria entre tangente. Temos, pela definição de cotangente, que a cotangente de um ângulo é o inverso multiplicativo da tangente do mesmo ângulo. Assim, temos que: formula_92. Logo formula_90. Simetria entre ângulos complementares. Chamamos o ângulo complementar um ângulo que, quando somado a outro, resulta em formula_94 ou formula_95. A seguir temos as explicações e demonstrações dessas relações e suas verificações geométricas. Seno e cosseno de ângulos complementares. Para seno e cosseno de ângulos complementares temos as seguintes relações: formula_96, ou seja, o cosseno de um ângulo é igual ao seno do seu complementar (ou vice-versa); formula_97, ou seja, o seno de um ângulo é igual ao cosseno de seu complementar (ou vice versa). Na figura ao lado temos a verificação geométrica dessa propriedade e abaixo temos suas demonstrações Demonstração para ângulos agudos. Essa primeira demonstração se limita para ângulos agudos, pois utiliza a relação entre o seno e o cosseno dos ângulos não retos de um triângulo retângulo qualquer. Para essa demonstração, então, utilizaremos o triângulo retângulo ao lado. Nesse triângulo observamos que os ângulos não retos são complementares, pois a soma de todos os ângulos de um triângulo é formula_98. Assim, primeiramente, vamos analisar as relações trigonométricas relativas ao ângulo formula_4 e, em seguida, analisar as relações trigonométricas relativas ao ângulos formula_100: formula_101; formula_102. Assim, conforme observamos nas relações acima temos: formula_103 e formula_104. Assim, demonstramos a relação de simetria entre seno e cosseno de ângulos agudos e complementares. Demonstração no ciclo trigonométrico. Queremos demonstrar que formula_96 e formula_97 . Para isso partiremos dos triângulo s formula_107 e formula_108. Observe que nesses triângulos temos as seguintes relações:formula_109 e formula_110 Assim, com base nessas relações observamos que os dois triângulos são congruentes pelo caso de congruência lado, ângulo e ângulo oposto ao lado.: formula_111 Nessa congruência de triângulos chegamos ás seguintes conclusões: formula_112 e formula_113. Assim demonstramos a relação de de simetria entre seno e cosseno de ângulos complementares. Tangente e cotangente de ângulos complementares. Para a relação de simetria entre tangente e cotangente de ângulos complementares temos as seguintes relações: Na figura ao lado temos a verificação geométrica dessas relações e, em seguida, suas demonstrações. Demonstração. Queremos demonstrar que formula_116 e que formula_115. Para isso partiremos das definições de tangente e cotangente e das relações de simetria entre seno e cosseno de ângulos complementares. Pela definição de tangente, temos que a tangente de um ângulo pode ser expressa pela razão entre o seno e cosseno do mesmo ângulo. Dessa forma, temos: formula_118, pois a cotangente de um ângulo é igual a razão entre o cosseno e o seno do mesmo ângulo. Para demonstrarmos que formula_115 partiremos da definição de tangente como inverso multiplicativo da cotangente. Assim, temos: formula_120. Logo formula_116 e formula_115. Secante e cossecante de ângulos complementares. Para a relação de simetria entre secante e cossecante de ângulos complementares temos as seguintes relações: Na figura ao lado temos a verificação geométrica dessas relações e, em seguida, suas demonstrações. Demonstração. Queremos demonstrar que formula_123 e que formula_124. Para isso partiremos das definições de secante e cossecante como inversos multiplicativos do cosseno e do seno, respectivamente. Após isso aplicaremos as relações já demonstradas de seno e cosseno de ângulos complementares. Assim temos: formula_127. e formula_128. Em formula_129 temos demonstrado a relação da secante de ângulos complementares e em formula_130 temos demonstrado a relação da cossecante de ângulos complementares. Simetria entre ângulos suplementares. Chamamos de ângulos suplementares dois ângulos que, somados, resultam em formula_98 ou formula_132. A seguir temos as explicações dessas relações e suas respectivas demonstrações. Simetria entre seno e cosseno de ângulos suplementares. Para a relação de simetria entre seno e cosseno de ângulos suplementares temos as seguintes relações: A seguir temos a demonstração para essas duas propriedades e suas verificações geométricas. Demonstração. Queremos demonstrar que formula_135 e formula_134. Para isso partiremos dos triângulos formula_137 e formula_107 da figura ao lado. Observe que, nesses triângulos, temos as seguintes relações: formula_139 e formula_140 Assim, com base nessas relações, percebemos que os triângulos são congruentes pelo caso de congruência lado, ângulo e ângulo oposto ao lado. Da seguinte forma: formula_141 Logo, a partir dessa congruência de triângulos, temos as seguintes relações: formula_142 e formula_143. Como formula_144 é um ângulo obtuso e que possui imagem no segundo quadrante temos que formula_145 é negativo. Assim, podemos dizer que formula_134. Assim demonstramos a relação existente entre seno e cosseno de ângulos suplementares. Simetria entre tangente e cotangente de ângulos suplementares. Para tangente e cotangente de ângulos suplementares temos as seguintes relações: Abaixo temos as demonstrações dessas propriedades e suas verificações geométricas. Demonstração algébrica. Para demonstrar essas relações partiremos das já demonstradas relações de simetria entre cosseno e seno de ângulo suplementares. Assim, temos que formula_135 e que formula_134. Escrevendo a tangente como a razão entre seno e cosseno e utilizando estas relações temos o seguinte: formula_151. Logo a tangente de um ângulo é igual ao inverso aditivo da tangente do seu suplementar. Tendo demonstrado essa relação para a tangente fica fácil demonstrá-la para a cotangente, bastando para isso escrever a cotangente como inverso multiplicativo da tangente, da seguinte forma: formula_152. Logo a cotangente de um ângulo é igual ao inverso aditivo da cotangente do seu suplementar. Simetria entre secante e cossecante de ângulos suplementares. Para a secante e cossecante de ângulos suplementares temos as seguintes relações: Abaixo temos as demonstrações dessas propriedades e suas verificações geométricas. Demonstração. Para demonstrar essas relações partiremos das relações de simetria entre seno e cosseno de ângulo suplementares. Assim, temos: formula_155 e formula_156 Logo a secante de um ângulo é igual ao inverso aditivo da secante de seu suplementar e a cossecante de um ângulo é igual ao inverso aditivo da cossecante de seu suplementar. Translação e periodicidade. Trocando-se valores de certos ângulos, é possível obter equivalências entre as funções trigonométricas. Funções trigonométricas são periódicas, e portanto, valores específicos de ângulo para as funções trigonométricas denotam um mesmo valor. Teoremas de adição. É possível deduzir fórmulas para calcular as funções trigonométricas da soma e da diferença de números reais, se conhecermos as funções circulares desses números. A seguir há uma tabela que contém todas as fórmulas para adições e subtrações de arcos e, abaixo, suas demonstrações. Demonstrações. Cosseno da Soma. Para descobrir o cosseno da soma de dois arcos (ou ângulos) segue a seguinte fórmula:formula_157 Demonstração: Sejam os pontos formula_158 formula_159 formula_160 da figura ao lado, associados aos arcos formula_161 formula_162 e formula_163 respectivamente. Assim, conforme já fora demonstrado, as coordenadas cartesianas dos pontos formula_158 formula_159 formula_160 e formula_167 são as seguintes: formula_168 formula_169 formula_170 formula_171 Observa-se, também, que os arcos que há entre os pontos A e B é igual ao arco que há entre o ponto E e C, o que faz com as respectivas cordas sejam iguais, logo: formula_172 Aplicando a fórmula da distância entre dois pontos da geometria analítica, temos: formula_173 e formula_174 Simplificando a primeira relação, temos: formula_175 Sabendo que formula_176 podemos reescrever: formula_177 Simplificando a segunda relação, temos: formula_178 Sabendo que formula_179 podemos reescrever: formula_180 Por fim, sabendo que se formula_181 então formula_182 logo podemos igualar as duas relações da seguinte forma: formula_183 Podemos, por fim isolar o cosseno da soma em um dos lados da igualdade: formula_184 . Cosseno da diferença:. De forma similar ao cosseno da soma, o cosseno da diferença pode ser expresso por: formula_185 Demonstração: Seja o cosseno da soma já demonstrado, podemos demonstrar o cosseno da diferença através de algebrismos simples: formula_186 Assim, aplicando-se a formula do cosseno da soma obtêm-se: formula_187 De tal modo, sabendo que: formula_188 e formula_189 Podemos reescrever como: formula_190 Logo: formula_185 Seno da soma. Para descobrir o seno da soma entre dois arcos segue a seguinte fórmula: formula_192 Demonstração: Através das relações de simetria entre seno e cosseno, sabemos que: formula_193 e formula_194 Assim, podemos escrever: formula_195 Aplicando-se a já demonstrada fórmula do cosseno da diferença, temos: formula_196 Portanto, aplicando novamente as relações de simetria, chegamos à formula: formula_197 Seno da diferença. De forma similar ao seno da soma, o seno da diferença é expresso por: formula_198 Demonstração: Seja o seno da soma já demonstrado, é possível demonstrar o seno da diferença através de algebrismos simples: formula_199 Aplicando-se a fórmula do seno da soma temos: formula_200 Tendo em mente que: formula_188 e formula_189 Podemos reescrever: formula_203 Logo: formula_198 Tangente da Soma. Para obter a tangente da soma de dois arcos utiliza-se a seguinte fórmula: formula_205 Demonstração: Seja formula_206 podemos escrever: formula_207 Aplicando-se as fórmulas já demonstradas do seno e do cosseno da soma, temos que: formula_208 Podemos dividir o denominador e o numerador por formula_209 de forma a reescrever a fórmula: formula_210 Simplificando, temos: formula_211 Logo: formula_212 Tangente da diferença. De forma análoga à tangente da soma, a tangente da diferença pode ser obtida através da fórmula: formula_213 Demonstração: Sabendo que formula_214 Podemos aplicar a fórmula da tangente da soma do seguinte modo: formula_215 Tendo em mente que formula_216 podemos reescrever como: formula_217 Logo: formula_218 Cotangente da soma. Para calcular a cotangente da soma de dois arcos utiliza-se a seguinte fórmula: formula_219 Demonstração: Seja formula_220 podemos escrever: formula_221 Aplicando-se as fórmulas já demonstradas do cosseno e do seno da soma, temos: formula_222 Podemos dividir o numerador e o denominador por formula_223 para reescrever a fórmula: formula_224 Simplificando: formula_225 Logo: formula_219 Cotangente da diferença. De forma análoga à cotangente da soma, pode-se calcular a cotangente da diferença entre dois arcos aplicando-se a seguinte fórmula: formula_227 Demonstração Seja formula_228 podemos aplicar a fórmula da cotangente da soma da seguinte maneira: formula_229 Sabendo que formula_230 podemos reescrever: formula_231 Logo: formula_232 Função geral. A função geral é uma representação das funções trigonométricas criada a fim de simplificar e tornar mais intuitivas suas propriedades e relações. Ela é definida do seguinte modo: formula_233 e formula_234, em que formula_235 é a notação de Euler para diferenciação. Exemplificam-se as abaixo as representações tradicionais na forma generalizada : Detalhes de notação: formula_241 Transformação soma-produto. formula_251 "Exemplos:" Transformação de produto em soma. É também possível transformar produto de gerais em soma de gerais. Isto é feito da seguinte forma: Repare a sequência binária nos sinais '+' e '-'. Para 3 termos, por exemplo, note que os sinais entre 'a', 'b' e 'c' se comportam da seguinte maneira: ++, +-, -+, --. O comportamento binário é observado para qualquer quantidade de termos. Tal formulação é bastante vantajosa para um alto número de termos, encontrados, entre outros, no estudo de máquinas elétricas (como no cálculo do torque eletromagnético, que demanda 3 termos) - a qual seria de difícil obtenção através dos meios tradicionais. Exemplos: Soma de arcos. Para uma geral de dado arco, é possível decompô-la em soma de produtos de gerais de outros arcos. Note a sequência binária na base das funções gerais V(y) e V(z): 00, 0(-1), (-1)0, (-1)(-1). O comportamento binário é observado para qualquer 'n'. A base da função geral da esquerda, V(x), altera-se, em cada termo da soma para manter igual a soma das bases iguais à base inicial: "Exemplos": Soma de arcos defasados com ângulo comum variável. Seja formula_273 uma função de natureza exponencial (seja real ou complexa). "Exemplos:" É válida a seguinte identidade: formula_277 Como a função foi decomposta em soma ponderada de seno e cosseno com ângulo comum variável em função de x, pode-se juntar os dois arcos da seguinte forma: formula_278 Formulas de arco duplo, triplo e metade. É possível obter as funções trigonométricas quando temos um ângulo sendo multiplicado ou divido, conforme as fórmulas da tabela abaixo. A seguir temos as demonstrações dessas propriedades. Fórmulas da duplicação de ângulos. Seno do dobro. Para calcular o seno de um arco do tipo formula_279 utiliza-se a fórmula: formula_280 Demonstração: Seja formula_281 podemos aplicar a fórmula do seno da soma, de modo que: formula_282 Logo: formula_280 Cosseno do dobro. Para calcular o cosseno de um arco do tipo formula_279 pode-se utilizar as seguintes fórmulas: Demonstração: Seja formula_286 podemos aplicar a fórmula do cosseno da soma para obter: formula_287 Logo: formula_285 Demonstração: Seja a relação fundamental formula_290 já demonstrada, temos que formula_291 Aplicando-se essa relação na fórmula demonstrada acima temos: formula_292 Logo: formula_289 Demonstração Seja a relação fundamental formula_290 temos que formula_296 Ao aplicarmos isso na fórmula formula_297 temos: formula_298 Logo: formula_294 Tangente do dobro. Para calcular a tangente de um arco do tipo formula_279 pode-se utilizar a seguinte fórmula: formula_301 Demonstração: Seja formula_302 podemos aplicar a fórmula da tangente da soma: formula_303 Logo: formula_304 Fórmulas da divisão do ângulo em dois. Seno da divisão. Para calcular o seno da metade de um arco, utiliza-se a seguinte fórmula: formula_305 Demonstração: Sabendo que formula_306 podemos definir formula_307 de modo a reescrever: formula_308 Logo, isolando formula_309 temos: formula_305 Cosseno da divisão. Para calcular o cosseno da metade de um arco, utiliza-se a seguinte fórmula: formula_311 Demonstração: Sabendo que formula_312 podemos definir formula_313 de modo a reescrever: formula_314 Portanto, isolando formula_315 temos: formula_311 Tangente da divisão. Para calcular a tangente da metade de um arco, utiliza-se a fórmula: formula_317 Demonstração: Para demonstrar essa fórmula utilizaremos as duas fórmulas demonstradas acima, da seguinte forma: formula_318 Logo: formula_317 Note que, para esses três casos, formula_320 significa que pode haver qualquer dos dois sinais, dependendo do valor de formula_321 Fórmulas de redução de potências. Resolve-se com as fórmulas de duplo ângulo, isolando-se: formula_322 formula_323 formula_324 Produto para soma e soma para produto. Os produtos para somas e somas para produto podem ser provados por meio de substituições nos teoremas de adição. Cálculo. Se as funções trigonométricas são definidas geometricamente, então suas derivadas podem ser encontradas primeiramente verificando que formula_325 e então usando a definição por limite da derivada e os teoremas de adição; se eles são definidos por suas Séries de Taylor, então as derivadas podem ser encontradas pela diferenciação das séries de potências termo a termo. formula_326 O restante das funções trigonométricas pode ser diferenciado usando as identidades acima e as regras de diferenciação, por exemplo formula_327 formula_328
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Itapiranga (Santa Catarina)
Itapiranga (Santa Catarina) Itapiranga é um município brasileiro localizado no extremo-oeste do estado de Santa Catarina, Região Sul do país. Toponímia. "Itapiranga" é um vocábulo de origem tupi: significa "pedra vermelha", através da junção de "itá" (pedra) e "pyranga" (vermelha). História. Itapiranga nasceu da ideia dos dirigentes da Sociedade União Popular, do Rio Grande do Sul, de criar um núcleo de colonização para germânicos católicos na década de 1920. Depois de percorrer 150 quilômetros em embarcações rústicas, navegando pelos rios da Várzea e Uruguai, os desbravadores, chefiados pelo missionário padre Max Von Lassberg, chegaram a Porto Novo, que, em 10 de abril de 1926, se transformaria em Itapiranga. Geografia. Itapiranga localiza-se na latitude 27º10'8" Sul e longitude 53º51'44" oeste, estando a uma altitude de 206 metros. Possui uma área territorial de 286,16 km² e sua população, conforme estimativas do IBGE de 2021, era de habitantes. Economia. A base da economia, que já foi calcada na extração da madeira, é, hoje, a agropecuária e a agricultura, com destaque para o cultivo de milho, soja, trigo e tabaco, além da criação de aves, suínos e principalmente o gado de leite. A diversificação econômica se firma com a instalação de indústrias frigoríficas e com a maior festa do município, a Oktoberfest, sendo a cidade o berço nacional da festa. Esporte. No esporte, Itapiranga se destaca no Moleque Bom de Bola, onde já ficou 5 vezes campeão estadual, quatro no masculino (2003, 2004, 2007 e 2010) e duas no feminino (2002 e 2008). Há, também, o Clube de Patinação Danúbio Azul, um dos clubes de patinação mais importantes do estado, que é reconhecido tanto por seu grupo de show que realiza apresentações em toda a região Sul do Brasil e também por patinadores que competem em campeonatos estaduais, nacionais e até convocações para campeonatos internacionais. No futebol se destaca o Clube amador da cidade Esporte Clube Cometa, que levou o título de campeão estadual de amadores Fase Oeste no ano de 1990, 2007 e 2009. No ano de 2009 ficou campeão da fase geral estadual do campeonato estadual de amadores. No ano de 2010, se destaca por ter sediado na cidade de Itapiranga, o Sul-Brasileiro de Futebol Amador, onde o time ficou Vice-Campeão.
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Itacambira
Itacambira Itacambira é um município brasileiro do estado de Minas Gerais, situado a uma altitude de 1.048 m. O município, fundado em 1962, tem um total de 4.526 habitantes numa área de 1.795,7 km². Portanto, com uma densidade de 2,5 hab/km². Etimologia. "Itacambira" procede do tupi antigo "itakangapyra", "pedra da cabeça pontuda": "itá", pedra + "akanga", cabeça + "apyr", pontuda + "a", sufixo. Turismo. Entre as atrações, está a Matriz de Santo Antônio, uma construção iniciada na primeira metade do século XVIII. O interior dela causa impacto visual pelo aspecto despojado e diferente das apresentações estéticas de templos católicos. Em 2009, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais entregou as obras de restauração de nove imagens sacras, além do retábulo-mor, oratório da sacristia, quatro oratórios da nave, púlpito, coro e a balaustrada da nave. A igreja chegou a guardar as "múmias de Itacambira". Próximo a Itacambira, encontram-se diversas cachoeiras, contabilizando um total de sete quedas d'água.
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Idade Contemporânea
Idade Contemporânea A Idade Contemporânea, também chamada de Contemporaneidade, é o período atual da história ocidental e cujo início remonta à Revolução Francesa (1789). Desde os seus primórdios, é marcado pelo iluminismo, corrente filosófica que defende o primado da razão e o desenvolvimento da ciência como garantia de progresso civilizatório para a Humanidade. A Contemporaneidade distingue-se, de maneira geral, pelo desenvolvimento e consolidação do capitalismo no ocidente e, consequentemente pelas disputas das grandes potências europeias por territórios, matérias-primas e mercados consumidores. Após duas grandes guerras mundiais, no entanto, o ceticismo veio abalar a crença iluminista de progresso da civilização, aumentando a percepção de que nações consideradas tão avançadas e instruídas eram de fato capazes de cometer atrocidades dignas de bárbaros. Decorre daí o conceito de que a classificação de nações mais desenvolvidas e nações menos desenvolvidas tem limitações de aplicação. Atualmente está havendo uma especulação a respeito de quando essa era irá acabar, e consequentemente, a respeito da validade do modelo europeu de divisão histórica.
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Inquisição
Inquisição A Inquisição ou Santo Ofício ou Santo Ofício da Inquisição ou Santa Inquisição foi um grupo de instituições dentro do sistema jurídico da Igreja Católica Romana cujo objetivo era combater a heresia, apostasia, blasfémia, feitiçaria e costumes considerados desviantes. Violência, tortura, ou a simples ameaça da sua aplicação, foram usadas pela Inquisição para extrair confissões dos hereges. Começou no na França para combater movimentos religiosos vistos como heréticos, em particular, em relação aos cátaros e valdenses. Entre os outros grupos que foram investigados pela Inquisição Medieval encontram-se os fraticelli, os hussitas (seguidores de Jan Hus), as beguinas, e os conversos. A partir da década de 1250, os inquisidores eram geralmente escolhidos entre os membros da Ordem Dominicana para substituir a prática anterior de utilizar clérigos locais como juízes. O termo Inquisição Medieval cobre os tribunais do até meados do . No final da Idade Média e início do Renascimento, o conceito e o alcance da Inquisição foi significativamente ampliado em resposta à Reforma Protestante e à Contrarreforma Católica. Alargou-se a outros países europeus, resultando nas Inquisição Espanhola e Portuguesa. Esses dois reinos em particular operavam tribunais inquisitoriais ao longo de seus respectivos impérios (o Espanhol e o Português) na América, Ásia e África (resultando nas Inquisições Goesa, Peruana e Mexicana, entre outras). Um foco particular das inquisições espanhola e portuguesa foram os conversos, ou seja, judeus e muçulmanos que se tinham convertido ao catolicismo, e que eram considerados suspeitos de secretamente terem voltado a praticar suas religiões anteriores. A instituição da Inquisição persistiu até o início do (exceto dentro dos Estados Pontifícios), após as guerras napoleônicas na Europa e depois das guerras hispano-americanas de independência na América. Sobreviveu como parte da Cúria Romana, e recebeu um novo nome em 1908, sob o Papa Pio X, como "Sacra Congregação do Santo Ofício". Em 1965, por ocasião do Concílio Vaticano II, durante o pontificado de Paulo VI e em clima de grandes transformações na Igreja após o papado de João XXIII, assumiu o seu nome atual: Congregação para a Doutrina da Fé. Origem e histórico. A instalação desses tribunais era muito comum na Europa a pedido dos poderes régios. Diz Oliveira Marques em "História de Portugal", tomo I, página 393: «(…) a Inquisição surge como uma instituição muito complexa, com objetivos ideológicos, econômicos e sociais, consciente e inconscientemente expressos. A sua atividade, rigor e coerência variaram consoante a época.» A ideia da criação da Inquisição surgiu inicialmente para funcionar como um tribunal interno, apenas para dentro da Igreja católica. Em 1022, foi criado o primeiro "Tribunal Público contra a Heresia", em Orleans (França). Em 1183, delegados enviados pelo Papa averiguaram a crença dos cátaros de Albi, sul de França, também conhecidos como "albigenses", que já tinham surgido em 1143, e que acreditavam na existência de um Deus para o Bem e outro para o Mal; Cristo seria o Deus do bem, enviado para salvar as almas humanas, e o Deus criador do mundo material seria o Deus do mal. Após a morte, as almas boas e espirituais iriam para o céu, enquanto as almas pecadoras e materialistas, como castigo, reencarnariam no corpo de um animal. Isto foi considerada uma heresia e no ano seguinte, no Concílio de Verona, foi criado o Tribunal da Inquisição. Os cátaros consideravam que a alma seria a parte boa do ser humano, e o corpo seria a parte má do homem. Rejeitavam a maior parte do Antigo Testamento -e o seu Deus beligerante - como satânico. Não construíam igrejas, mas estavam bem organizados. Os cátaros consideravam as mulheres como iguais aos homens, e o catarismo ofereceu às mulheres a oportunidade de participar plenamente na fé a todos os níveis. Na estrutura da igreja cátara, os seguidores estavam divididos em três classes: os "Perfeitos", que eram o topo da igreja, os seus sacerdotes, os "Crentes" e os "Ouvintes." Em 1184, "Ad abolendam," um decreto e bula do Papa Lúcio III, determinava que os detentores de cargos públicos, condes, barões, reitores, nas cidades e outros lugares, deveriam assumir a responsabilidade de punir os hereges que lhe fossem entregues pela Igreja; e qualquer autoridade que falhasse nesse dever seria excomungado, afastado do cargo e despojado de todos os direitos legais. As cidades que abrigassem hereges sofreriam boicotes comerciais, e as terras dos hereges conhecidos declaradas perdidas. Em 1209, o Papa Inocêncio III ordenou uma cruzada contra os cátaros, para o que procurou o apoio de vários senhores feudais. Seguiram-se vinte anos de guerra contra os cátaros e seus aliados no Languedoc: a Cruzada Albigense. O entusiasmo pela Cruzada, que foi extremamente violenta, foi parcialmente inspirado por um decreto papal que permitia o confisco de terras pertencentes aos cátaros e seus apoiantes. Após a tomada de Béziers, em 22 de Julho de 1209, sob o comando do legatário papal, Arnaud Amalric, toda a população de cerca de 7 a 9 mil almas - homens, mulheres e crianças - foi massacrada e a cidade saqueada e incendiada. Segundo o historiador Cesáreo de Heisterbach, Amalric, quando perguntado como distinguir os cátaros dos católicos, respondeu: "Matem-nos a todos! Deus conhecerá os seus". O movimento cátaro acabou por praticamente desaparecer, sendo os sobreviventes perseguidos depois pela Inquisição até à extinção. Na época medieval a pena privativa de liberdade não era utilizada como forma de sanção contra crimes. Ou seja, se um sujeito cometesse um crime, não existia ainda a prática civil de mandar para a cadeia os delinquentes, essa prática tornou-se comum a partir do . Assim, no tempo medieval era comum a aplicação de penas (pelo próprio governo) por exemplo: a pena de tortura é bastante comum; a pena de morte era bastante comum; assim como a fogueira era já utilizada. Essas eram as formas de punição por crimes cometidos. Diz o historiador Adriano Garuti: "A pena de morte foi empregada não somente na Inquisição, mas praticamente em todos os outros sistemas judiciários da Europa". Sobre o uso da tortura diz o historiador especialista na inquisição espanhola Henry Kamen: "Em uma época em que o uso da tortura era geral nos tribunais penais europeus, a inquisição espanhola seguiu uma política de benignidade e circunspeção que a deixa em lugar favorável se se compara com qualquer outra instituição. A tortura era empregada somente com último recurso e se aplicava em pouquíssimos casos."; em outro momento diz o mesmo autor: "As cenas de sadismo que descrevem os escritores que se inspiraram no tema tem pouca relação com a realidade"; "em comparação com a crueldade e as mutilações que eram normais nos tribunais seculares, a Inquisição se mostra sob uma luz relativamente favorável; este fato, em conjunção com o usual bom nível da condição de seus cárceres, nos faz considerar que o tribunal teve pouco interesse pela crueldade e que tratou a justiça com a misericórdia". Estes pontos de vista são repudiados pela maioria dos historiadores; Richard L. Kagan, por exemplo, diz que Kamen não conseguiu ""entrar na barriga" "da besta e avaliar o que realmente significava para as pessoas que com ela viviam"." Para Kagan, são necessários estudos que realmente utilizem os minuciosos arquivos da inquisição para poder reconstruir o mundo dos que foram presos na sua rede. O Papa Gregório IX, durante o seu pontificado, editou duas bulas que marcam o reinício da Inquisição: "Excommunicamus et anathematisamus" em 1231, que já previa a pena de morte para os hereges, e em 20 de abril de 1233, "Licet ad Capiendos". Nos séculos seguintes, a Inquisição julgou, absolveu ou condenou e entregou ao Estado - para que as penas fossem aplicadas - vários de seus inimigos propagadores de heresias. Nesta etapa, foi confiada à recém-criada ordem dos Pregadores (os Dominicanos). A privação de benefícios espirituais era a não administração de sacramentos aos heréticos, onde, caso houvesse ripostação, deveria ser chamada a intervir a autoridade não religiosa (casos de agressão verbal ou física). Se nem assim a pessoa quisesse arrepender-se eram dadas, conscientemente, como anátema (reconhecimento oficial da excomunhão), "censuras eclesiásticas inapeláveis". Conforme o Concílio de Viena, de 1311, obrigava-se os inquisidores a recorrerem à tortura apenas mediante aprovação do bispo diocesano e de uma comissão julgadora, em cada caso. A tortura era um meio incluído no interrogatório. Durante a Cruzada Albigense, os Valdenses tinham sido igualmente perseguidos, com um menor número de vítimas, pois ao contrário dos Cátaros, evitavam defender-se pelas armas, preferindo fugir á frente dos exércitos da Igreja Romana e estabelecer-se noutros locais. O primeiro caso conhecido de julgamento de um valdense por um tribunal da inquisição deu-se mais de um o início do movimento, em 1316. Nesse ano, um valdense foi sentenciado a prisão perpétua e outro queimado na fogueira. Em 1319, outros 26 foram presos e outros três condenados à morte. Foi apenas em 1487 que o Papa Inocêncio VIII declarou uma Cruzada contra os Valdenses. O Papa reuniu um exército de 18 mil homens para matar ou prender todos os valdenses, forçando-os a ir até aos Alpes, onde sofreram dificuldades mas permaneceram durante muitas décadas a seguir. Bem mais tarde, já em pleno , os reis de Castela e Aragão, Isabel e Fernando, solicitam, e obtêm do Papa a autorização para a introdução de uma Inquisição. Tal instituição afigurava-se-lhes necessária para garantir a coesão num país em unificação (foi do casamento destes dois monarcas que resultou a Espanha) e que recentemente conquistara terras aos mouros muçulmanos na Península Ibérica e os judeus sefarditas, por forma a obter «unidade» nacional que até ali nunca existira. A ação do Tribunal do Santo Ofício tratou de mais casos depois da conversão de alguns judeus e mouros que integravam o novo reino. Alguns deles foram obrigados a renegar as suas religiões e a aderir ao cristianismo ou a abandonar o país. A estes é dado o nome de "cristãos-novos". Alguns esqueciam de fato a religião dos seus antepassados, enquanto outros continuavam a praticar secretamente a antiga religião. A esses últimos dá-se o nome de cripto-judeus. Eram frequentes os levantamentos populares e as denúncias de práticas judaizantes aos inquisidores. Mais tarde, em certas regiões da Itália e em Portugal, o Papa autorizou a introdução de instituições similares, em condições diferentes. No caso de Portugal, a recusa do Papa ao pedido, tendo visto os abusos da Espanha, mereceu que o rei tivesse como alternativa ameaçar com a criação de uma "inquisição" régia, que segundo ele era coisa urgente para o reino. De fato, a introdução da Inquisição em Portugal resultou das pressões espanholas que, para além de uma sinceridade zelota, não queriam ver o reino rival beneficiar-se com os judeus e mouriscos expulsos de Espanha. Neste momento, estamos diante da "apropriação penal" dos discursos, ato que justificou por muito tempo a destruição de livros e a condenação dos seus autores, editores ou leitores. Como lembrou Chartier: "A cultura escrita é inseparável dos gestos violentos que a reprimem". Ao enfatizar o conceito de perseguição enquanto o reverso das proteções, privilégios, recompensas e pensões concedidas pelos poderes eclesiásticos e pelos príncipes, este autor retoma os cenários da queima dos livros que, enquanto espetáculo público do castigo, inverte a cena da dedicatória. Idade Média. Em 1184 a Inquisição surge no Languedoc (sul da França) para combater a heresia dos cátaros ou albigenses. Em 1249, implantou-se também no reino de Aragão, como a primeira Inquisição estatal e, já na Idade Moderna, com a união de Aragão e Castela, transformou-se na Inquisição espanhola (1478 - 1834), sob controle direto da monarquia hispânica, estendendo posteriormente sua atuação à América. A Inquisição portuguesa foi criada em 1536 e existiu até 1821. A Inquisição romana ou "Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício" existiu entre 1542 e 1965. O condenado era muitas vezes responsabilizado por uma "crise da fé", pestes, terremotos, doenças e miséria social, sendo entregue às autoridades do Estado para que fosse punido. As penas variavam desde confisco de bens e perda de liberdade até a pena de morte, muitas vezes na fogueira, método que se tornou famoso, embora existissem outras formas de aplicar a pena. Os castigos aplicados eram reproduções das punições comuns à época, instituídas pelo poder temporal, que, em geral, se encarregava de condenar e queimar os hereges, as feiticeiras ou os sodomitas. Os tribunais da Inquisição não eram permanentes, sendo instalados quando surgia algum caso de heresia, sendo depois desfeitos. Posteriormente tribunais religiosos e outros métodos judiciários de combate à heresia seriam utilizados também pelas igrejas protestantes (como, por exemplo, na Alemanha e na Inglaterra). Nos países de maioria protestante também houve perseguições - neste caso contra católicos, contra reformadores radicais, como os anabatistas, e contra supostos praticantes de bruxaria; neste caso, os tribunais se constituíam no marco do poder real ou local, geralmente "ad-hoc", e não como uma instituição específica. O delator que apontava o "herege" para a comunidade muitas vezes garantia sua fé e status perante a sociedade. Ao contrário do que é comum pensar, o tribunal do Santo Ofício era uma entidade jurídica e não tinha forma de executar as penas. A Igreja não derramava sangue, não estava autorizada a condenar à morte, e esta "ficção piedosa" serviu para manter teoricamente as mãos dos inquisidores limpas. Na realidade, é óbvio que estavam perfeitamente conscientes do destino a que estavam a entregar os sentenciados "relaxados". O resultado da inquisição feita a um réu era entregue ao poder secular ou nem sequer seguia para lá. Numa sociedade na qual imperava a fé, é de supor que os poderes civis se apropriassem, na tentativa de combater a desordem social ou os inimigos públicos, das prerrogativas religiosas. No , os tribunais da Inquisição foram suprimidos pelos estados europeus, mas foram mantidos pelo Estado Pontifício. Inquisição espanhola. A Inquisição espanhola é, entre as demais inquisições, a mais famosa. David Landes relata: ""A perseguição levou a uma interminável caça às bruxas, completa com denunciantes pagos, vizinhos bisbilhoteiros e uma mania racista do sangue ("limpieza de sangre"). Conversos judaizantes eram apanhados por intrigas e vestígios reveladores de prática mosaica: recusa de carne de porco, toalhas lavadas à sexta-feira, uma prece escutada à soslaia, frequência irregular à igreja, uma palavra mal ponderada. A higiene em si era uma causa de suspeita e tomar banho era visto como uma prova de apostasia para marranos e mouriscos. A frase "o acusado era conhecido por tomar banho" é uma frase comum nos registros da Inquisição. Sujidade herdada: as pessoas limpas não têm de se lavar. Em tudo isto, os espanhóis e portugueses rebaixaram-se. A intolerância pode prejudicar o perseguidor (ainda) mais do que a vítima. Deste modo, a Ibéria, e na verdade toda a Europa Mediterrânica, perderam o comboio da chamada revolução científica"". Rino Cammilleri diz: "As fontes históricas demonstram muito claramente que a inquisição recorria à tortura muito raramente. O historiador Bartolomé Benassar, que se ocupou da Inquisição mais dura, a espanhola, fala de um uso da tortura "relativamente pouco frequente e geralmente moderado". "O número proporcionalmente pequeno de execuções, segundo o historiador Henry Kamen, constitui um argumento eficaz contra a lenda negra de um tribunal sedento de sangue"; pois, como ele sustenta, "as cenas de sadismo que descrevem os escritores que se inspiraram no tema possuem pouca relação com a realidade". Esta visão não é partilhada pela maioria dos historiadores; os próprios dezenas de milhares de registos da Inquisição, muitos ainda por estudar, assim como alguns testemunhos pessoais, a contrariam. O historiador Toby Green, aceitando embora ter existido certa demonização da Inquisição Espanhola, em comparação com outras perseguições suas contemporâneas, sustenta por exemplo que não se deve negar o uso habitual de tortura; corrigir a "lenda negra" não deve significar a substituição por uma "lenda branca". A 1 de novembro de 1478, uma Bula do Papa Sixto IV - "Exigit Sincerae Devotionis -" autorizava a criação de uma Inquisição Espanhola. Confiou-se então o direito de nomear e demitir aos monarcas espanhóis. O primeiro auto de fé foi realizado a 6 de fevereiro de 1481, e seis indivíduos foram queimados vivos na fogueira. Em Sevilha, só em novembro, 288 pessoas foram queimadas, enquanto setenta e nove foram condenadas à prisão perpétua. Em fevereiro de 1482 o Papa autorizou a nomeação de mais sete dominicanos como Inquisidores, entre eles, Tomás de Torquemada. Este viria a passar à história como a face mais aterrorizante da Inquisição. Em abril de 1482, o próprio Papa Sixto IV emitiu uma bula, na qual concluía: "A Inquisição há algum tempo é movida não por zelo pela fé e a salvação das almas, mas pelo desejo de riqueza". Após essa conclusão, revogaram-se todos os poderes confiados à Inquisição e o Papa exigiu que os Inquisidores ficassem sob o controle dos bispos locais. O Rei Fernando ficou indignado e ameaçou o Papa. A 17 de outubro de 1483, uma nova bula estabelecia o "Consejo de La Suprema y General Inquisición" para funcionar como a autoridade última da Inquisição, sendo criado o cargo de Inquisidor Geral. Seu primeiro ocupante foi Tomás de Torquemada. Até a sua morte em 1498, Torquemada teve poder e influência que rivalizavam com os próprios monarcas Fernando e Isabel. O número de execuções durante o mandato de Torquemada como inquisidor é muito controverso; o estimado por Henry Kamen é cerca de dois mil. Inquisição portuguesa. A Inquisição em Portugal teve sua origem em decorrência de compromissos assumidos por D. Manuel I de Portugal, no seu contrato de casamento com Isabel de Aragão e Castela, assinado em 30 de novembro de 1496. A Inquisição Portuguesa começou formalmente em Portugal em 1536, a pedido do Rei de Portugal, D. João III. Manuel I pediu o Papa Leão X a instalação da Inquisição em 1515, mas só depois de sua morte (1521) que o Papa Paulo III criou a instituição. Na sua liderança, havia um "Grande Inquisidor", ou "Inquisidor Geral", nomeado pelo Papa, mas selecionado pela Coroa portuguesa e sempre de dentro da família real. A Inquisição Portuguesa foi principalmente direcionada aos judeus sefarditas, a quem o Estado forçava a se converter ao cristianismo. A Espanha expulsou sua população sefardita em 1492; depois de 1492 muitos destes judeus espanhóis deixaram a Espanha e rumaram para Portugal, mas foram alvos de perseguição lá também. A Inquisição Portuguesa realizou o seu primeiro "auto de fé" em 1540. Os inquisidores portugueses principalmente direcionavam seus julgamentos contra os cristãos-novos (ou seja, judeus convertidos). A Inquisição Portuguesa expandiu o seu âmbito de operações de Portugal para as possessões coloniais portuguesas, como Brasil, Cabo Verde e Goa, onde continuou como um tribunal religioso, investigando e julgando casos de violação dos princípios do catolicismo romano ortodoxo até 1821. D. João III (que reinou entre 1521 e 1557) estendeu a atividade dos tribunais para cobrir temas como censura, adivinhação, feitiçaria e bigamia. Originalmente voltada para uma ação religiosa, a Inquisição passou a exercer influência sobre quase todos os aspectos da sociedade portuguesa: político, cultural e social. Apesar de não estar instituído no Brasil, esta colônia estava subordinada ao Tribunal de Lisboa, que enviava um visitador para investigar presencialmente como se encontravam a fé e o cumprimento dos dogmas católicos pela população. Desse modo, registraram-se três visitações à colônia brasileira, nomeadamente na Capitania da Bahia, na Capitania de Pernambuco e no Estado do Maranhão e Grão-Pará. Esta última, classificada como extemporânea pelos historiadores, ocorreu já ao final do , momento em que a instituição já se encontrava enfraquecida. A Inquisição em Goa começou em 1560 e tinha como principal objetivo punir pessoas que seguiam o hinduísmo ou islão e que se converteram para o catolicismo romano, mas que eram suspeitas de estarem seguindo suas antigas fés. Além disso, a Inquisição processava não convertidos que interferiam em tentativas portuguesas de converter os não cristãos ao catolicismo. De acordo com Henry Charles Lea, entre 1540 e 1794, os tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora queimaram 1 175 pessoas vivas, queimaram a efígie de outras 633 e impuseram castigos a 29 590 pessoas. No entanto, a documentação de 15 dos 689 autos de fé desapareceu, de forma que estes números podem subestimar levemente a realidade. Também se ignora quantas vítimas morreram nos cárceres da Inquisição em resultado de doenças, falta de condições e maus tratos; as prisões podiam-se prolongar por meses ou até anos sem prazo definido, aguardando confirmação dos "crimes". Em 22 de outubro de 2016 a Câmara Municipal da cidade de Évora inaugurou um monumento em homenagem às milhares de vítimas das Inquisição Portuguesa. Procedimentos. Denúncias. O procedimento habitual começava com o anúncio de um período de graça, enunciado num "Édito de Graça". Numa localidade escolhida, visitada pelos inquisidores, era pedido aos chamados hereges que se apresentassem, e que fossem feitas denúncias; este era o método básico de encontrar suspeitos de heresia. Muitos denunciavam-se a si mesmos ou confessavam alegadas heresias por medo que um amigo ou vizinho o pudesse fazer mais tarde. O terror da Inquisição provocava reações e denúncias em cadeia. Se confessassem dentro de um "período de graça" - habitualmente de 30 dias - poderiam ser aceites de volta à igreja sem penitência. Em geral, os benefícios propostos pelos éditos de graça àqueles que se apresentassem espontaneamente eram o perdão da pena de morte ou prisão perpétua e o perdão da pena de confisco de bens, porém teriam que denunciar outras pessoas que não tivessem se apresentado. Não bastava denunciar-se como herege. Qualquer um suspeito de conhecer a heresia de outrem e que não fizesse a denúncia obrigatória seria excomungado e a seguir sujeito ele mesmo à acusação como "promotor de heresia". Se o denunciante nomeasse outros potenciais denunciantes, estes seriam também convocados. O ônus da justificação ficava com o acusado. As denúncias foram usadas por muitos como vingança pessoal contra vizinhos e parentes, para eliminar rivais nos negócios ou no comércio. Reservava-se a pena de morte, aplicada pelo braço secular (o Estado) basicamente para os hereges não arrependidos, e para os que haviam "recaído" após conversão nominal ao catolicismo. Todo o tipo de denúncias eram aceites pela Inquisição, independentemente da reputação ou posição do denunciante. Boatos, meras suposições, serviam, e mesmo cartas anónimas eram aceites, "se o caso fosse de natureza que tal acção pareça adequada ao serviço de Deus e ao bem da Fé". Estava previsto que os próprios guardas dos cárceres podiam denunciar e ser testemunhas contra os acusados. Interrogatórios. Baseando-se nas denúncias, as detenções eram efectuadas pelos oficiais de justiça, ou pelos familiares, que estavam autorizados a andar armados e efectuar prisões. Os julgamentos da Inquisição eram secretos e a possibilidade de recorrer das decisões era nula. O réu era interrogado e pressionado a confessar os "crimes" que lhe eram atribuídos. Os suspeitos não conheciam as acusações feitas contra eles, nem sequer a identidade das testemunhas. Cada tribunal da Inquisição contava com seus próprios funcionários (advogados, promotores, notários e etc.) e sua própria prisão. Vários métodos eram utilizados para extrair informações. O primeiro era a ameaça de morte, geralmente incluindo a escolha de uma confissão ou ser queimado na fogueira. O segundo era a prisão combinada com escassez de alimento. A terceira eram as visitas de outras pessoas que tinham sido julgadas, com a ideia de que encorajariam o acusado a confessar. Após estes métodos, seria usada a tortura, ou mesmo a sua simples ameaça, em que eram mostrados ao réu os diversos instrumentos nela usados. Ao longo dos anos que durou, a Inquisição produziu vários manuais de procedimento, verdadeiros "livros de instruções" para lidar com os diversos tipos de heresia. O texto primordial é a própria bula "Ad Extirpanda" do Papa Inocêncio IV, de 1252, que nas suas trinta e oito leis detalha com minúcia o que deve ser feito e autoriza o uso da tortura. Dos diversos manuais depois produzidos, alguns se salientam: de Nicholas Eymerich, "Directorium Inquisitorum," escrito em 1376; de Bernardo Gui, "Practica inquisitionis heretice pravitatis," escrito entre 1319 e 1323. As bruxas não foram esquecidas: o livro "Malleus Maleficarum ("o martelo das bruxas")," escrito em 1486, por Heinrich Kramer, trata do assunto. Em Portugal foram escritos diversos "Regimentos" (quatro) para uso dos inquisidores, o primeiro em 1552 a mando do Cardeal inquisidor D. Henrique e o último em 1774, este patrocinado pelo Marquês de Pombal. O Regimento de 1640 determinava que cada tribunal do Santo Ofício deveria possuir uma Bíblia, um compêndio de direito canónico e civil, o Directorium Inquisitorum de Eymerich, e o De Catholicis institutionibus de Diego de Simancas. Tortura. Os interrogatórios eram por vezes seguidos por sessões de tortura. Em Portugal, o Regimento de 1613, acerca de como se deveria proceder com os arguidos que deveriam ser submetidos à tortura e como esta deveria ser efectuada, afirma:"... quando é tomada a decisão de que o arguido seja submetido à tortura, ou porque o crime não foi provado ou porque a sua confissão está incompleta (...)" Isto é, tanto aquele contra o qual não havia provas, assim como o chamado "diminuto," poderiam ser submetidos a tortura. Antes da sessão, porém, o acusado era informado de que se morresse, partisse um membro ou perdesse a consciência durante a tortura, a culpa seria apenas sua, pois poderia ter evitado o perigo confessando sem demora as suas ofensas. Após a bula "Ad Extirpanda", autorizando a tortura, mas não pelas mãos dos próprios clérigos, o Papa Alexandre IV na bula "Ut Negotium" de 1256, permitia que os inquisidores se absolvessem mútuamente se tivessem incorrido em quaisquer "irregularidades canónicas no seu importante trabalho". Depois de meados do , a tortura tinha lugar seguro nos procedimentos da inquisição. Os métodos habituais de tortura variavam conforme as regiões e países onde os inquisidores actuavam. Os mais usuais eram o "strappado," em que os braços das vítimas eram amarrados atrás das costas por cordas, sendo o interrogado depois suspenso no ar por uma roldana e baixado de repente a pouca distância do chão; o cavalete (ou potro), nas suas diversas variantes, em que o corpo era esticado até deslocar as articulações e inutilizar músculos; e a simulação de afogamento, o célebre "waterboarding", que mais tarde se tornou mais conhecido pela sua utilização pela CIA no começo do . Antes do início de uma sessão de tortura, os seus instrumentos seriam mostrados ao interrogado, o que muitas vezes era suficiente para obrigar o seu testemunho. As sessões eram registadas por escrito, meticulosamente. Desses documentos sobrevivem um grande número; são secas exposições burocráticas, de tom de neutralidade clínica, que anotam também os gritos dos supliciados. As declarações feitas durante a tortura teriam, em teoria, de ser repetidas mais tarde, livremente, e num local afastado da câmara de tortura, mas na prática, os que retratavam as suas confissões sabiam que poderiam ser torturados novamente. Sob tortura, ou até interrogatório cerrado, comenta Cullen Murphy, as pessoas dirão seja o que for. Julgamento e Sentenças. Os julgamentos inquisitoriais pouco tinham a ver com a justiça. A aceitação de testemunhas de acusação suspeitas, a ocultação da sua identidade ao réu, os boatos e denúncias anónimas aceites como factos provados, o papel de figurante do advogado de defesa quando este existia, o uso da tortura, são a "perversão sistemática e metódica" dos conceitos mais básicos dum julgamento judicial. A inquisição nunca absolvia de facto um acusado, apenas o libertava por falta de suficientes provas. Em qualquer momento o processo poderia ser reaberto após novas denúncias. O frade franciscano Bernard Delicieux, adversário e vítima dos inquisidores, declarou, na presença do rei Filipe IV de França e da sua corte, que se São Pedro e São Paulo fossem acusados de "adorar" hereges e fossem processados à maneira da Inquisição, não teriam defesa possível. Nos manuais e registos de julgamentos inquisitoriais encontram-se habituais descrições dos Inquisidores como pacientes, caridosos benfeitores, vítimas, por assim dizer, da teimosia dos acusados, que eles tentam "salvar". Além dos vivos, a Inquisição também julgou os mortos. Julgamentos póstumos obrigavam a desenterrar os falecidos, e os seus restos eram queimados na fogueira. A inquisição era paciente. Os bens deixados pelo morto eram confiscados dos seus herdeiros. As sentenças da Inquisição poderiam ser, além da morte na fogueira, o exílio, multas, as galés, a prisão perpétua, e o confisco de bens e propriedades. A bula "Ad Extirpanda" determinava que as casas dos hereges deveriam ser completamente arrasadas. Ademais, o impacto da actividade inquisitorial na sociedade não se limitava a estas penas. Sob o terror da inquisição, famílias inteiras denunciavam-se mutuamente—pais, filhos, esposas, maridos—o que se somava à redução à miséria obtida pelo confisco dos bens e pela humilhação pública. Uma das penas da inquisição era o uso forçado de roupa ou sinais distintivos - como o sambenito. Uso do fogo. A utilização de fogueiras como maneira de o braço secular aplicar a pena de morte aos condenados que lhes eram entregues pela Inquisição é o método mais famoso de aplicação da pena capital, embora existissem outros. Seu significado era basicamente religioso - dada a religiosidade que estava impregnada na população daquela época, inclusive entre os monarcas e senhores feudais -, uma vez que o fogo simbolizava a purificação, configurando a ideia de desobediência a Deus e ilustrando a imagem do Inferno. Brian Innes é de opinião que a lógica por trás deste castigo final era a visão de que a alma eterna do herege poderia permanecer incólume; portanto a única maneira de o salvar do castigo de Deus na vida após a morte era destruir o seu corpo e mente corrompidos, assim libertando a sua alma, purgada de todos os pecados. Por sua vez, Jennifer Deane escreve que o fogo era o meio de execução escolhido porque, de acordo com o legislado no Conselho de Verona em 1184, aniquilava o organismo de tal maneira que ele não poderia ser ressuscitado; proscrições canónicas contra o derramamento de sangue (reafirmadas no Quarto Conselho de Latrão em 1215) poderiam também ter sido uma influência. O historiador A. J. Saraiva, estudando a inquisição portuguesa, em Lisboa, narra que os condenados à fogueira eram presos à estaca num plano mais alto do que a pira, numa zona habitualmente ventosa, o que tinha como resultado, se a vítima não sufocasse primeiro, que o calor a assava lentamente, num suplício que poderia durar horas, diante duma multidão alegre e excitada. Em muitos casos também queimavam-se em praça pública os livros avaliados pelos inquisidores como símbolos do pecado: ""No fim do auto se leo a sentença dos livros proibidos e se mandarão queimar três canastras delles." Maio de 1624". Foi por causa da sua obra "Discours pathetique au sujet des calamités", publicada em Londres (1756), que o Cavaleiro de Oliveira foi relaxado à justiça secular que o fez queimar em estátua com o livro suspenso ao pescoço — como herege convicto — durante o auto de fé realizado em Lisboa no ano de 1761. Estatísticas. Desde o , os historiadores têm gradualmente extraído estatísticas dos registros dos tribunais inquisidores, a partir das quais estimativas foram calculadas ajustando o número registrado de condenações pela taxa média de perda de documentos para cada período de tempo compilado. O professor italiano de história renascentista e perito em Inquisição Carlo Ginzburg tem as suas dúvidas sobre a utilização de estatísticas para chegar a um julgamento sobre o período: "Em muitos casos, não temos as provas, as provas foram perdidas", disse Ginzburg. Cerca de 1818, estando refugiado em França, Juan Antonio Llorente publicou o seu trabalho mais conhecido, a "Histoire critique de l'Inquisition espagnole (História Crítica da Inqusição Espanhola)". As suas obras "foram os primeiros relatos totalmente documentados da Inquisição a terem visto a luz do dia em mais de trezentos anos de existência do tribunal". Llorente, que fora secretário da própria Inquisição Espanhola, teve acesso total aos arquivos da instituição. Ele calculou que em Espanha a Inquisição tinha queimado na fogueira mais de 300 mil vítimas, um número que a grande maioria dos historiadores considera manifestamente exagerado. García Cárcel estima que o número total de pessoas julgadas por tribunais inquisitoriais ao longo da sua história foi de aproximadamente 150 mil, das quais cerca de três mil foram executadas - cerca de dois por cento do número de pessoas que foram a julgamento. Gustav Henningsen e Jaime Contreras estudaram os registros da Inquisição Espanhola, que lista casos, dos quais 826 resultaram em execuções e 778 em efígies (ou seja, quando um boneco de palha era queimado no lugar da pessoa). William Monter estima mil execuções entre 1530-1630 e 250 entre 1630-1730. Jean-Pierre Dedieu estudou os registros de tribunal de Toledo, que colocou 12 mil pessoas em julgamento. Para o período anterior a 1530, Henry Kamen estimou que houve cerca de duas mil execuções em todos os tribunais da Espanha. Os tribunais eclesiásticos atuaram em Minas Gerais entre 1700 e 1820, onde aconteceram 989 denúncias nas comarcas do Rio da Mortes, do Rio das Velhas, do Serro do Frio e na de Vila Rica. Com base no estudo dos processos inquisitoriais concluiu o historiador católico Rino Camillieri: "Em processos inquisitoriais uma ínfima parte levou à condenação à morte, e dessas só uma pequena minoria produziu efetivamente execuções". Em Toulouse, considerada uma das cidades em que a inquisição atingiu grau mais forte "houve apenas 1% de sentenças à morte", diz Rino Camillieri. Agostinho Borromeu, historiador que estudou a inquisição espanhola pontua: "A Inquisição na Espanha celebrou, entre 1540 e 1700 (160 anos), 44 674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas 1,8% (804) e, destes, 1,7% (13) foram condenados em 'contumácia' (queima de efígies)". Adriano Garuti, historiador escreve: "contrariamente ao que se pensa, apenas uma pequena fração do procedimento inquisitorial se concluía com a condenação à morte." Thomas Noffke, um pastor valdense, comentou: "Se há muitos ou poucos casos, isso não importa. O importante é que não se diga: "Tenho razão e tu estás errado e eu queimo-te na fogueira"". Censura literária. O "Index" ou "Index Librorum Prohibitorum" era a lista de livros proibidos cuja circulação tinha de ser controlada pela Inquisição. Os livros autorizados eram impressos com um "imprimatur" ("que seja publicado") oficial. Assim era evitada a introdução de conteúdo considerado herege pela Igreja. Em 1558 foi introduzida na Espanha (pela própria Coroa Espanhola, à revelia da Igreja) a pena de morte para quem importasse livros estrangeiros sem permissão ou para quem imprimisse sem a autorização oficial. Um exemplo desta desconfiança dos espanhóis perante as ideias que lhes chegavam da Europa no século é-nos dado pela estatística dos alunos espanhóis da Universidade de Montpellier. Esta universidade costumava receber estudantes de medicina espanhóis. Eles deixaram de ir. Entre 1510 e 1559 foram 248. Já entre 1560 e 1599 foram apenas 12. Em tempos mais recentes, em Portugal, na década de 60, chegou a ser considerada pela PIDE ( a polícia política do Estado Novo) a proibição da obra de António José Saraiva sobre a Inquisição. Segundo as considerações do oficial que analisou o livro, não fazia sentido proibi-lo, já na sua terceira edição, mas sim impedir a sua publicidade; além disso, a obra era menos severa do que a de Alexandre Herculano, bastante mais antiga, sobre o mesmo tema. Posição actual da Igreja Católica. A reflexão sobre a actividade inquisitorial da Igreja Católica começou a ser seriamente levada a cabo no período de preparação para o Grande Jubileu de 2000, por iniciativa de João Paulo II, que apelou ao arrependimento de "exemplos de pensamento e de acção que são de facto uma fonte de anti-testemunho e de escândalo". A 12 de Março de 2000, durante a celebração do Jubileu, o Papa, em nome de toda a Igreja Católica, bem como de todos os cristãos, pediu desculpa por estes actos e em geral por vários outros. O Papa pediu perdão para sete categorias de pecados: pecados gerais; pecados "ao serviço da verdade"; pecados contra a unidade cristã; pecados contra os judeus; contra o respeito pelo amor, paz e culturas; pecados contra a dignidade das mulheres e das minorias; e contra os direitos humanos. Alguns teólogos foram de opinião que este pedido de desculpas sem precedentes iria minar a autoridade da Igreja. O pedido de desculpas de João Paulo II foi considerado imperfeito por vários críticos, entre eles personalidades judaicas, que entre outros pontos levantaram a questão da beatificação, na mesma altura, do Papa Pio IX, conhecido pelo seu antissemitismo e responsável pelo rapto de Edgardo Mortara, uma criança de seis anos, retirada à força da sua família judia.
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Ipueiras
Ipueiras
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Itaquiraí
Itaquiraí Itaquiraí é um município do estado de Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste, no Brasil. História. Até o século XVIII, a região era ocupada pelos índios terenas e caiuás. A partir de então, começou a ser desbravada por bandeirantes. No início do século XX, ganhou impulso, na região, o cultivo da erva-mate. Em 1955, a região começou a ser ocupada por migrantes procedentes dos estados de São Paulo e Paraná, que ocuparam os terrenos pertencentes ao capitão João Paulo Cabreira e a Geraldo Fernandes Fideles. Foi elevada a distrito pertencente a Ponta Porã pela Lei 2111, de 26 de dezembro de 1963, com o nome de "Itaquiraí". Posteriormente, passou a pertencer aos municípios de Amambai e Iguatemi. Em 1980, separou-se de Iguatemi, tornando-se um município autônomo. Etimologia. "Itaquiraí" é um nome de origem tupi que significa "rio da pedra dormente", através da junção de "itá" (pedra), "kera" (dormente) e " 'y" (rio). Recebeu este nome devido ao Córrego Itaquiraí. Geografia. Localização. O município de está situado no sul da região Centro-Oeste do Brasil, no Sudoeste de Mato Grosso do Sul (Microrregião de Iguatemi). Localiza-se na latitude de 23º28’26” Sul e longitude de 54°11’06” Oeste. Distâncias: Geografia física. No município de Itaquiraí, verifica-se a predominância de latossolo de textura média e, acompanhando as principais linhas de drenagem, nitossolos de textura arenosa/média, ambas com baixa fertilidade natural, e algumas áreas de neossolos. Está a uma altitude de . Tem, como característica principal, áreas planas entremeadas com relevos tabulares. As áreas planas de acumulação predominam ao longo dos rios principais, representada por larga faixa próxima ao rio Paraná e, ao norte, com o rio que lhe serve de limite. O município de Itaquiraí encontra-se na Região dos Planaltos Arenítico-Basálticos Interiores, com duas unidades geomorfológicas, Divisores das Sub-Bacias Meridionais e Vale do Paraná. Está sob influência do clima subtropical (Cfa) do sul de Mato Grosso do Sul. A temperatura média dos meses mais frios está entre 14 °C a 15 °C. As precipitações variam de 1 400 a 1 700 milímetros anuais. Está sob influência da Bacia do Rio da Prata. Principais rios: A vegetação do município de Itaquiraí apresenta predominância da Floresta Estacional Semidecidual com áreas de pastagem plantada. Aparecem, em menor percentual, distribuídas pelo município, a Floresta Estacional e Floresta Submontana. Geografia política. Está a -1 hora com relação a Brasília e -4 com relação ao Meridiano de Greenwich. Ocupa uma superfície de de . Itaquiraí (sede) e Porto Iporã. Naviraí, Eldorado e Iguatemi. Demografia. A população é de 18 618 (urbana: 11 015 – rural: 7 603), e a densidade demográfica é de 9,02 hab/km² (Fonte: Censo do 2010 do IBGE). Economia. Na produção vegetal, Itaquiraí destaca-se pelo cultivo da lavoura comercial de grãos, sendo que, no ano de 2004, as principais culturas (soja, milho, algodão herbáceo e trigo) produziram, aproximadamente, 60 020 toneladas em uma área colhida de 26 374 hectares, com destaque para a produção de soja, que responde por 48,06% daquele volume e 64,30% da área. O milho vem em segundo lugar, participando com 41,67% da produção e 25 012 toneladas, colhidas em uma área de 6 210 hectares. Também conta com algumas indústrias que contribuem para a economia do município, a maior indústria que fornece geração de emprego é a Bello Alimentos, fornecendo mais de 500 empregos diretos e indiretos. Os destaques no comércios ficam por conta das maiores lojas de móveis entre elas Requinte Móveis, Eletromóveis e Gazin. Educação. A cidade conta com três escolas que são gerenciadas pelo Governo do Mato Grosso do Sul: "E.E José Juarez Ribeiro de Oliveira " "E.E Manoel Guilherme dos Santos " "E.E Leopoldo Dalmolin" Possui também duas escolas municipais, cuja Escola Municipal Jardim Primavera situa-se dentro da cidade, já a Escola Municipal Santa Rosa situa-se em um assentamento próximo a cidade, e conta também com três creches e uma pré-escola. Conta com uma universidade privada de ensino à distância. (Anhanguera) Transportes. O município não possui transporte público. A cidade é fornecida pela Rodoviária Municipal de Itaquiraí. A BR-163 corta a cidade passando pela Av. Industrial.
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Indústria química
Indústria química Industria Química se refere a uma variedade de empresas que convertem matéria prima - seja petróleo, gás natural, minérios e minerais -, através de reações químicas, em produtos químicos industriais, como petroquímica, agroquímicos, produtos farmacêuticos, polímeros, tintas, conservantes alimentícios, e etc. Esses produtos podem ser o produto final de uso imediato ou que serão necessários para outras indústrias. A química industrial está presente em praticamente todos os outros setores: desde da agricultura – provendo defensivos agrícolas e fertilizantes -, até cosméticos, farmacêutica e medicina. É considerado a “espinha dorsal” de todo o setor industrial, já que provém uma grande quantidade de insumos para outros setores, como, por exemplo, a petrolífera que abastece os mais variados segmentos como energético, farmacêutico, agronômico e têxtil. É um setor que está em constante renovação, demandando intenso investimento em pesquisa, tecnologia, infraestrutura e mão de obra especializada. Também enfrenta diversos desafios como a responsabilidade ambiental, o descarte e reciclagem de rejeitos e a sustentabilidade. É um dos segmentos mais lucrativos da indústria, rendendo até trilhões de dólares quando somados os valores das principais representantes do ramo e corresponde a, aproximadamente, 15% do setor econômico manufatureiro dos Estados Unidos. Também emprega profissionais dos mais variados campos. Além de químicos, analistas, auxiliares, técnicos e engenheiros químicos; mas também pode empregar profissionais das mais variadas áreas indiretamente, como agrônomos (no caso especial da agroquimica), farmacêuticos (na farmacologia) e até biólogos. As indústrias químicas envolvem o processamento ou alteração de matérias-primas obtidas por mineração e agricultura, entre outras fontes de abastecimento, formando materiais e substâncias com utilidade imediata ou que são necessários para outras indústrias. As indústrias de processamento de alimentos não são, em geral, incluídas no termo "indústria química". História. Da antiguidade até a Revolução Industrial. Pode-se dizer que a Industria Química atual nasceu, praticamente, com a própria Industria. Mas muito antes da revolução industrial, a química já era empregada em diversos produtos ao longo da história. A história da humanidade está, intimamente, ligada à química. Já durante a antiguidade, diversos povos utilizaram de métodos e reações químicas para forjar objetos e substancias de seu interesse. Os egípcios foram pioneiros ao fabricar o vidro enquanto os chineses aprenderam a utilizar a pólvora. Os alquimistas em um esforço para encontrar substâncias lendárias como a pedra filosofal ou transformar qualquer metal em ouro puro, deram passos importantes, tendo sido eles, por exemplo, a descobrir que certos sais misturados na areia, sílica e cal davam origem a vidros coloridos. Carbonato de Sódio já era usado, desde dos tempos antigos na produção de tecidos, vidro, papel e sabão. Durante a idade média, a civilização árabe contava com alquimistas engenhosos que, em busca de ouro, acabaram por aperfeiçoar diversos métodos como a destilação e deixaram como herança diversas palavras ainda hoje usadas, como o termo “álcali” encontrado em manuscritos árabes por alquimistas europeus e adotado para designar substancias com teor básico, “alcalino”. Até aquele ponto, os conhecimentos na química e a produção de produtos químicos era restrita a espécies de oficinas, onde o modelo de produção beirava o artesanal. Da Revolução Industrial ao Século XX. A Revolução Industrial modificou completamente as relações de trabalho e de produção. As oficinas artesanais foram substituídas pelas primeiras fabricas e a produção passou a ser em etapas. As primeiras maquinas eram movidas pela força do vapor, gerado em caldeiras e estas alimentadas com o carvão mineral. O principal setor inicialmente beneficiado foi o têxtil, mas a Industria Química também começou a ensaiar seus primeiros passos. O algodão bruto precisava passar por um processo de branqueamento em uma substancia acida e nos primeiros anos era utilizado urina envelhecida ou com leite azedo, mas este método se mostrava ineficiente, já que era necessário longos períodos de tempo com o tecido “de molho”, além de uma demanda cada vez mais difícil de suprir de urina e leite. O ácido sulfúrico se mostrou, em laboratório, uma alternativa viável. Descobriu-se, em 1736, que queimar enxofre misturado com nitrato de potássio na presença de vapor d’água produz ácido sulfúrico. Uma fábrica foi montada na Escócia em 1749 e o ácido se tornou um dos primeiros produtos químicos produzidos em larga escala. Mais tarde, o ácido sulfúrico seria substituído pela indústria têxtil pelo pó descolorante, resultado da reação química entre cloro e cal. À medida que a Revolução Industrial se expandiu, a química industrial se renovou para atender a demanda crescente por produtor sofisticados para os mais variados fins. O maior marco da história da indústria química pode ser traçado com a descoberta do petróleo como fonte viável para substituir o carvão nas indústrias. A humanidade havia encontrado uma fonte de energia e matéria prima que tinha em si diversas vantagens logísticas e econômicas. Em 1850, James Young que o petróleo podia ser extraído de xisto betuminoso e do carvão mineral; e criou processos de refinação. A “Segunda Revolução Industrial”, como ficou conhecido o período entre 1850 e 1939, foi marcada pela intensa industrialização de outros países como Bélgica, França, Alemanha, Itália e Rússia (este em menor escala), além dos EUA e Japão. Grandes inovações técnicas foram realizadas como a invenção do motor de combustão interna, o uso de combustíveis petrolíferos e o desenvolvimento de produtos químicos. O avanço fica evidente se analisado o número de elementos químicos conhecidos: até o ano de 1800, apenas 37 dos atuais 118 elementos que compõe a tabela periódica eram conhecidos. Em apenas 99 anos (1800-1899) 45 novos elementos foram descobertos e catalogados. Neste mesmo período, substancias seriam isoladas em laboratório através de métodos que “abriram as portas” para um intenso desenvolvimento técnico científico da química industrial, teorias revolucionárias foram formuladas e publicadas, e conceitos inéditos foram desenvolvidos: a morfina foi extraída, refinada e isolada com sucesso da flor papoula pelo químico alemão Friedrich Sertürner, em 1804, futuramente seria largamente usada como analgésico para dores severas; em 1817, Carl Linnaeus isolou a Estricnina, um dos primeiros pesticidas e usado para exterminar ratos; em 1828, Friedrich Wöhler, conseguiu sintetizar artificialmente a ureia, refutando o dogma quase religioso vitalismo; 1847, James Simpson foi o primeiro a utilizar anestésicos em mulheres em trabalho de parto; e em 1897, Felix Hoffmann sintetizou a aspirina a partir do ácido salicílico. Ainda no Século 19, os avanços da química permitiram o surgimento de industrias do ramo voltadas para a produção de fertilizantes artificiais: os fosfatos. As plantações eram adubadas com fertilizantes naturais orgânicos que transferiram para o solo os seus nutrientes através da decomposição, mas esse processo era lento e passou a ser ineficiente para atender à crescente demanda de alimentos. Os fosfatos e nitratos se mostraram poderosos fertilizantes e logo passaram a ser largamente produzidos. Outro avanço notável do Século XIX foi a borracha natural, usada desde dos tempos antigos, se tornou um material útil e economicamente viável. A borracha natural, produto da seiva da Seringueira, é bastante flexível e pegajosa, mas com o tempo ela ressecava e se tornava quebradiça. Em 1839, Charles Goodyear descobriu que usar calor e enxofre tornava a borracha mais forte, mais resistente ao desgaste, menos elástica e menos pegajosa – processo chamado vulcanização. Uma quantidade enorme de seringueiras foi plantada na África e na Ásia para atender o mercado, permitindo o florescimento de diversas industrias do ramo nas nações industrializadas. Também foram ensaiados os primeiros passos da chamada Era dos Plásticos: em 1862, Alexander Parkes apresentou na Exposição Internacional de Londres o parkesine – o primeiro plástico sintético -, obtido pela reação entre celulose a ácido nítrico; em 1872, o químico alemão Eugen Baumann produziu o primeiro cloreto de polivinil, futuramente conhecido pela sigla em inglês PVC; e em 1894, o raiom de viscose, uma fibra semissintética semelhante a seda e feita de celulose, foi patenteada pelo químico inglês Charles Cross e seus colegas. Até essa época, o motor a carvão, pioneiro das inovações técnicas, ainda era dominante nas industrias da Europa. A invenção do motor de combustão interna permitiu o surgimento de automóveis primitivos, cujo combustível era o chamado “gás de carvão”. Gottlieb Daimler tentou, com sucesso, usar o petróleo como combustível para os motores. Este método era muito mais eficiente e proveitoso, percebeu-se que o petróleo tinha um potencial energético extraordinário. Químicos se debruçaram sobre o petróleo em busca de desvendar sua composição e propriedades, até que seus derivados como e "Diesel" e a gasolina fossem refinados, servindo de combustível para alimentar a indústria, os recém-criados motores à combustão e serem a principal fonte de energia. O capitalismo financeiro monopolista permitiu que grandes corporações químicas dominassem o mercado durante décadas. A produção de conhecimento e produtos químicos ficou concentrada em grandes trustes e monopólios, em especial nos Estados Unidos. O campo da química teve um salto exponencial de conhecimento nunca visto antes. A química e a medicina eram, de longe, as disciplinas que mais recebiam atenção em meados do inicio do Séc. XX das academias de ciências da Europa, empenho que foi fundamental para a descoberta e desenvolvimento de diversos produtos, métodos e elementos químicos. Do Século XX a atualidade. A indústria como um todo experimentou um enorme salto tecnológico durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial. Era a primeira vez na história que todos os recursos e esforços de uma sociedade eram direcionados para um conflito armado, fazendo poucas distinções entre civis e militares. A química, novamente, experimentou um novo salto de conhecimento, mas desta vez com uma finalidade mais perversa: a aniquilação de vidas humanas nos campos de batalha. O avanço do Império Alemão sobre a França estagnou nos arredores de Paris. A partir daí, nenhum dos dois exércitos conseguiram avanços significativos, forçando os soldados a cavar trincheiras com o objetivo de manter as posições já conquistadas. Desesperados para romper o impasse, vez ou outra os generais davam inicio à ataques que raramente se avançava mais que alguns poucos metros ao custo de milhares de vidas. Os alemães – que tinham grande domínio da química - passaram a usar os gases venenosos como o gás lacrimogênio, cloro ou o mortal mostarda, produzidos em larga escala pelo vasto poderio industrial de seu país. O cenário após o uso de tais armamentos era horroroso: soldados tinham uma morte dolorida, asfixiados e com as peles e olhos queimados; nem mesmo os ratos que infestavam aos milhares as trincheiras conseguiam escapar. O uso de armas químicas se mostrou, além de desumano, pouco eficaz. Causou ainda o “único caso autentico de repulsa humanitária governamental sobre os meios de se fazer guerra” – na Convenção de Genebra de 1925, o mundo se comprometeu a nunca mais usar armas químicas. A humanidade ficou traumatizada a ponto de nenhum dos lados da Segunda Guerra Mundial fazer uso deste armamento e, salve raras exceções, até os dias atuais continua fora dos campos de batalha. Sobre o trauma da química na Guerra, Eric Hobsbawm escreve o seguinte: Durante o segundo conflito mundial, a indústria, novamente, passou a ter seus esforços concentrados no esforço bélico. Desta vez, os tanques de guerra eram uma inovação poderosa em campos de que valeram aos alemães uma formidável vantagem durante sua ofensiva. Outra inovação foram os novos modelos de aviões militares que eram projetados para despejar bombas em cidades e aterrorizar civis – a chamada “guerra dos não combatentes”. Essas mudanças no campo de batalha incentivaram inúmeras pesquisas e inovações na química, notoriamente, nos combustíveis para alimentar as enormes maquinas de guerra. Outro setor beneficiado foi o têxtil. A equipe do químico americano Wallace Carothers em 1934 descobriu o náilon. Durante a Guerra, as principais indústrias têxteis americanas enfrentaram uma severa escassez de Seda para a confecções de roupas, mas o náilon se mostrou um substituto perfeito: mais resistente, barato e produzido a partir de derivados de petróleo. Fibras e polímeros também passavam a ganhar espaço no mercado. Vinil, baquelite, celofane, polietileno, poliestireno e Teflon (junto com o Polipropileno e Kevlar, descobertos anos mais tarde) inauguraram uma nova Era na Industria Química: a dos plásticos. Ideais para embalagens, revestimentos e outros bens de consumo, esses materiais iriam conquistar o mercado capitalista menos de duas décadas mais tarde: de eletrodomésticos a peças de automóveis ou aviões, para onde se olhasse no mundo pós-segunda guerra mundial se via o plástico e fibras sintéticas. A perseguição aos judeus na Alemanha Nazista beneficiou diversas empresas industriais dos variados setores: o químico não foi diferente. A chamada “"Solução Final"” era o extermínio deliberado de judeus e outros indivíduos considerados “inferiores” pelo regime nazista. No início, centenas ou milhares eram mortos por fuzilamento, mas este método se mostrou caro, lento e com forte impacto psicológico sobre os soldados. Buscando alternativas, os alemães passaram a “testar” outros métodos mais “baratos” e impessoais, onde o efeito psicológico em matar milhares de seres humanos fosse “aliviado”. Encontraram a solução através do uso de gás como método de execução. Toneladas do Zyklon-B, um pesticida a base de ácido cianídrico, foram produzidos e usados no primeiro genocídio industrializado da história. Estas empresas adquiriram grandes somas de lucro durante o extermínio de seres humanos e algumas foram processadas após a guerra. Outro setor diretamente beneficiado foi o farmacêutico: algumas empresas financiaram ou conduziram por conta própria experimentos médicos sem qualquer senso moral e ético em seres humanos. Os mais emblemáticos eram os experimentos nazistas com a Sulfonamida, substancia química que parecia promissora no combate a infecções – algo como os atuais antibióticos. Os anos pós Segunda Guerra Mundial foram marcados por uma série de transformações nos mais variados aspectos e um extraordinário crescimento econômico dos Estados Unidos, esse último fator favoreceu um também crescente consumo de bens e produtos, em especial, os industrializados. Como dito anteriormente, ainda na década anterior a Segunda Guerra os plásticos e fibras já chamavam a atenção de químicos e industrias do ramo por seu potencial financeiro. Na década de 1950, surgiram os primeiros "Fastfood". O plástico foi largamente empregado como embalagem para produtos industrializados e conservantes alimentícios passaram a estar entre os ingredientes de comida processada. A química passou a ser cada vez mais presente na dieta da população. Na década de 1970, cientistas já alertavam mudanças climáticas ocorridas como consequência da ação humana. A população civil começa a adquiria consciência ecológica e governos adotam resoluções contra o esgotamento de recursos naturais. A partir deste ponto, cientistas começaram a se perguntar: “Quais os limites do Planeta Terra? O que acontecerá quando os recursos, que a humanidade usa de forma tão imprudente, se esgotar?” Pouco a pouco, a Industria Química recebeu responsabilidades como o tratamento de rejeitos químico, alternativas viáveis aos combustíveis fósseis e fontes renováveis de energia. As chamadas “revoluções verdes” - uma série de transformações tecnológicas no campo e no modo de produção agrícola, inauguradas por Norman Borlaug - permitiram uma espetacular produção de alimentos. Utilizando os chamados “agroquímicos” – pesticidas agrícolas e fertilizantes -, é possível produzir uma quantidade muito maior de comida, não como se fazia anteriormente aumentando a área cultivada; mas utilizando desde produtos e outras técnicas (mecanização e seleção genética de sementes, por exemplo) para se aumentar significativamente a produtividade. Naqueles anos também ocorreram revoluções nos medicamentos. A descoberta recente de antibióticos, a larga produção de anti-inflamatórios e o ainda rudimentar conhecimento de drogas psicodélicas foram catalisadores para uma formidável produção de medicamentos que consolidaram a farmacologia. É fato que Químicos, pelo menos atualmente, não podem produzir e “testar medicamentos” (hoje isso compete a médicos e farmacêuticos), mas são eles os profissionais responsáveis por abastecer a indústria farmacêutica de insumos e reagentes necessários para a produção das drogas. Aliados com os novos medicamentos descobertos recentemente e pelos avanços na produção de alimentos, a expectativa de vida média de países industrializados deu um salto notável. Com a virada do Século 21, a preocupação com o meio ambiente e impactos negativos que a crescente exploração de recursos não renováveis causam no planeta se tornaram fonte de interminável debate tanto na sociedade civil quanto na comunidade cientifica. Atualmente, a indústria química enfrenta uma série desafios e metas para assegurar um crescimento sustentável, além de garantir um futuro viável para as próximas gerações. Setores. Como já ficou claro, a Industria Química se estende à diversos campos. Produzindo reagentes ou produtos que devem ser processados imediatamente ou em etapas futuras, esse segmento abastece diversos outros setores como insumo e matéria prima cruciais para seus respectivos desenvolvimentos: Petroquímica. O Petróleo é uma mistura óleos, hidrocarbonetos e outras substancias orgânicas. Através de processos físico-químicos, como a destilação fracionada, as substancias que o compõe podem ser separadas em diferentes níveis e etapas e essas frações tem diversas aplicações industriais de acordo com a categoria do petróleo processado. Provavelmente, o mais expressivo segmento da Química Industrial, a indústria petroquímica é responsável por fornecer insumos, reagentes e outras substancias derivadas do petróleo para uma variedade de outros setores. Sua atuação se inicia na extração do Petróleo em reservas naturais, seu refino e a separação de suas frações. Desta cadeia primária é extraído, por exemplo, o “asfalto”, a gasolina e o “gás de cozinha” (GLP – Gás Liquefeito de Petróleo); mas também são extraídos diversas outras substancias que servirão para outros setores como, por exemplo, a vaselina (usada na indústria de cosméticos, em cremes e pastas; ou na indústria farmacêutica, em lubrificantes e pomadas), o butano e propano (usado tanto como combustível, quanto veículo em aerossóis, como desodorantes e inseticidas domésticos) ou diversos solventes usados na produção de tintas e pigmentos. Os refinos e produtos deste segmento são organizados em 3 categorias básicas: 1 – Os "petroquímicos básicos": consistem na primeira geração de produtos derivados da primeira etapa do processamento do petróleo, sendo considerados “insumos brutos” que serão mais tarde utilizados na produção de bens e compostos mais complexos. Nesta categoria, se encontram, por exemplo, o Etileno, Propileno e aromáticos diversos. 2 – Os "petroquímicos intermediários": são substancias (ou mistura de substancias) mais complexas de uma segunda geração, podendo ser fruto da reação dos componentes anteriores. Esse grupo é representado, em sua maioria, pelas resinas e fibras. Aqui se encontram o PVC, PET, elastômeros, dentre outros. 3 – Os "Petroquímicos transformadores": sendo essa a terceira geração de processamento, é representada por compostos complexos transformados nos mais diversos bens e objetos. Aqui se encontram os filmes, garrafas, tubos, tintas, fibras sintéticas, tecidos, cosméticos e higiene pessoal, além de farmacêuticos. A petroquímica é a matriz da maioria esmagadora dos combustíveis, tais como "Diesel", gasolina, gás natural, etc. Estes são fontes importantes de energia para outros setores da indústria, como a siderúrgica e a metalúrgica, por exemplo; ou mover automóveis e aviões, além de alimentar geradores termoelétricos. Do petróleo também se extrai resinas que, após processos químicos, são convertidas em plásticos e fibras para embalagens, revestimentos e outros bens de consumo. Sua presença se estende à construção civil, já que muitos revestimentos e fibras são diretamente derivadas do petróleo. As famosas “casas americanas”, chamam atenção pelos materiais empregados em sua construção: resinas, fibras e mantas, a maioria sendo composta por derivados petroquímicos. Agroquimica. A agricultura é outro setor diretamente envolvido com a Industria Química. Ao longo da história da humanidade, o aumento de produção e produtividade agrícolas foram alcançados, principalmente, aumentando a área de cultivo, o que implicava, necessariamente, no desmatamento e eliminação de uma vegetação já existente para “abrir espaço” para as lavouras. Mas as revoluções verdes deram a possibilidade de mudar este panorama: utilizando novos métodos de plantio e manejo, como a mecanização e o uso de pesticidas e fertilizantes químicos, foi possível aumentar espetacularmente a produção e produtividade agrícola sem aumentar a área cultivada. Os chamados “produtos agroquímicos” foram essenciais neste desenvolvimento: consistem, basicamente em pesticidas agrícolas e fertilizantes. Os pesticidas agrícolas são substancias que visam a eliminação de pragas ou outros organismos que possam comprometer as plantações. É utilizado contra vários seres vivos como insetos, ervas daninhas, moluscos, pássaros, mamíferos, peixes, vermes ou micróbios. Pesticidas não são, necessariamente, venenos no sentido estrito da palavra (embora, quase sempre, sejam tóxicos ao Ser Humano) e nem todos visam exterminar fisicamente contra as pragas, pois alguns tem apenas a função de repeli-los. Neste grupo se encontram: Inseticidas, acaricidas, fungicidas, herbicidas, bactericidas, nematicidas, moluscicidas ou rodenticidas. Os pesticidas também costumam ser divididos em duas classes químicas, de acordo com sua composição: 1 – Orgânicos sintéticos: trata-se de substancias orgânicas sintetizadas em laboratório, representados pelos carbamatos, fosforados (dentre um exemplo, se encontra os venenos para carrapatos), os clorofosfatos, os cianídricos (substancias a base de Cianetos, extremamente tóxicos e venenosos tais como o Cianeto de Potássio e o Cianeto de Chumbo, popularmente conhecido como “chumbinho”) e os organoclorados (cujo representante mais famoso é o DDT). 2 – Inorgânicos sintéticos: substancias sintetizadas com base em elementos químicos tóxicos como arsênio, tálio, bário, nitrogênio, fósforo, cádmio, ferro, selênio, chumbo, cobre, mercúrio e zinco. Desde da década de 50, o uso de pesticidas só aumentou e, atualmente, 2,5 milhões de toneladas de produtos químicos desta categoria são usados todos os anos. Já os fertilizantes são substancias que suprem as plantas de nutrientes (micro ou macro) essenciais para seu desenvolvimento. Os nutrientes e minerais do solo não são homogêneos por se tratar de uma fase sólida e o plantio constante leva, inevitavelmente, ao desgaste e empobrecimento. Os fertilizantes resolvem ambos os problemas. Por exemplo, as plantas necessitam dos chamados “macronutrientes”: Nitrogênio (N), Fosforo (P) e Potássio (K). O nitrogênio é metabolizado e é fundamental para o desenvolvimento das folhas, o fosforo é essencial no desenvolvimento dos frutos enquanto o potássio está presente nas raízes. O fertilizante mais utilizado, o NPK, detém 3 macronutrientes essenciais para o desenvolvimento saudável das plantas. Fertilizantes costumam ser divididos nas seguintes categorias: Os Fertilizantes Nitrogenados (Amônia, Ureia, Nitritos e Nitratos), os Fertilizantes Potássicos (Cloreto de Potássio, por exemplo) e os Fertilizantes Fosforosos (provenientes, em sua maioria, de origem mineral, tal como os fosfatos). Outros produtos químicos importantes para o setor agrícola são os corretivos de pH do solo. Em suma, as plantas necessitam de um pH que pode variar do mais ácido, neutro ou básico. Em geral, chuvas deixam o solo mais ácido graças a presença de ácido carbônico, proveniente da reação química entre o dióxido de carbono na atmosfera e a água precipitada (Ver: Chuva ácida). Porém, certos tipos de solo costumam ter um caráter mais básico, principalmente em consequência a presença de alguns tipos de argila e compostos de metais alcalinos, como o Hidróxido de Alumio ou Hidróxido de Potássio. Os corretivos de acidez têm a finalidade básica de manter o pH do solo em um patamar que seja possível a germinação e desenvolvimento das sementes, garantindo a sobrevivência da lavoura. A calagem é o método de correção de acidez do solo. Farmacêutica e Medicina. As Industrias Química e Farmacêutica são irmãs. Na atualidade, a primeira é responsável por suprir a segunda de reagentes e insumos necessários para o desenvolvimento e produção de drogas. Mas nem sempre foi assim: em um passado não muito distante, químicos e médicos trabalhavam lado a lado no desenvolvimento e aplicação de drogas com aplicações revolucionárias na medicina. Por exemplo, morfina e éter são duas substancias com a mesma aplicação: anestesiar. As duas foram descobertas, isoladas e refinados por químicos e largamente utilizadas nas décadas seguintes. Curiosamente, por quais mecanismos o éter anestesia a dor e caiu em desuso, por que se mostrou mortal se administrado em excesso, além de ter um efeito lento. A Industria Química também contribui desenvolvendo métodos de separação de componentes, catalisadores e veículos para serem incorporados na cadeia produtiva de diversos medicamentos. A Industria Química também está presente nos chamados “exames de imagem por contraste”. O método de imagem por Raio-X permite a observação detalhada de estruturas densas (os ossos) dentro do organismo. Essas estruturas não podem ser “atravessadas” pelos raios-x e por isso aparecem nitidamente destacadas, se comparadas com pele, musculo e ligamentos que se reduzem a meros borrões. Porém, supondo que em determinada situação seja necessário analisar uma estrutura “mole”, este método será ineficaz. Os exames de contraste resolvem este problema. O paciente ingere uma solução com um determinado composto radioativo com uma curta meia-vida, o tecido que se deseja analisar absorve esta substancia a acaba “contrastando” em exames de ressonância, o que permite um diagnóstico médico. Este método é aplicado para exames de tireoide (o radiocomposto usado é o Iodo-131), próstata, intestino, dentre outros. Há também a produção de pasta de Bário, utilizada em seções de radioterapias para o tratamento de câncer. Indústria Alimentar. A química também se encontra nos alimentos industrializados. Desde que Louis Pasteur provou laboratorialmente a existência de vida microbiana, que bactérias e fungos estavam por trás da deterioração e decomposição da matéria orgânica e que muitos representavam um grave risco a saúde humana, a indústria se lançou em uma corrida para desenvolver métodos sofisticados para impedir, ou pelos menos retardar, esse processo. Grandes avanços foram feitos, utilizando de métodos físicos como o congelamento ou desidratação dos alimentos, mas a indústria química foi responsável por desenvolver, aperfeiçoar e aplicar métodos e substâncias químicas que são capazes de retardar por períodos longos a deterioração dos alimentos: os chamados “conservantes”. A Indústria Química desenvolveu os aditivos alimentares, substancias adicionadas aos alimentos para modificar suas características sensoriais e prolongar seu tempo de conservação, como já mencionado. No processamento de alimentos são adicionados acidulantes ou reguladores de acidez, antiglomerantes, antiespumantes, antioxidantes, espessantes, corantes, emulsificantes, aromatizantes, realçadores de sabor, conservantes, estabilizantes, adoçantes, dentre outros. Conservantes de alimentos podem ser dos mais simples como sal e açúcar (que desidratam o alimento, impedindo a proliferação microbiana), até os mais sofisticados como tripolifosfato de sódio e pirofosfato tetrasódico, utilizados, por exemplo, em macarrão instantâneo. Há ainda os corantes alimentícios que, como o próprio nome sugere, são substâncias químicas adicionadas na cadeia produtiva para modificar a cor dos alimentos e deixa-los com um aspecto visível agradável. Doces e refrigerantes são exemplos clássicos do emprego dessas substancias. Um exemplo é o caramero-50 na Coca-Cola. As essências e os realçadores de sabor são outro trunfo da química na alimentação. É perfeitamente possível produzir em laboratório substancias que, quando acrescentada aos alimentos industrializados, deixem as mesmas características sensoriais que os alimentos originais. Os ésteres são um exemplo clássico. Por exemplo, supondo que uma determinada empresa vá produzir balas com o sabor de bananas, não será necessário processar bananas de verdade para extrair as substancias que lhe conferem o aroma e sabor característicos; pois é possível, utilizando, dentre outros reagentes, álcoois específicos e ácido sulfúrico, sintetizar as mesmas substâncias por um custo viável. Indústria de Cosméticos. Cosméticos são feitos com diversos insumos químicos. A maioria esmagadora dos produtos da chamada “indústria da beleza” tem como principio propriedades e reações químicas para formar o efeito desejado. Batons, por exemplo, são constituídos por 4 componentes básicos: ceras (em geral derivadas de petróleo), óleos, pigmentos e aromatizantes. Todos estes 4 insumos são, em maior ou menor grau, produzidos em industrias químicas. O mesmo vale para os Shampoos, cujo principio de funcionamento é mais complexo, sendo constituído por uma fase oleosa, pelo menos um tipo de álcool e um composto iônico. Sabonetes são produzidos utilizando-se, entre outros componentes, a glicerina, que tem propriedades esfoliante; o hidróxido de potássio, que deixa o produto “macio”; corantes e essências elaboradas, produzidas em laboratório e reproduzindo os mais variados aromas, desde dos mais comuns como lavanda, até os mais inusitados como café e chocolate. Maquiagens são produtos particularmente desafiadores. Não faz muito tempo que bases e pó compacto tinham um limitado leque de opções de tons de pele, variando de tons mais escuros até os mais claros. No entanto, em uma população tão diversificada quanto a do Brasil, a indústria foi forçada a desenvolver pigmentos que atendesse os mais variados públicos, desde afrodescentes, pardos e indígenas, até brancos e albinos. Cremes e pomadas para cabelos representam um vasto mercado e potencial econômico. Gel fixador, máscaras, cremes para pentear para os mais variados tipos de cabelo (cacheado, liso, crespo, etc.), reparador de pontas, hidratantes capilares ou ainda tintas dos mais variados tons, são parte de um disputado segmento da indústria. Este mercado era dominado, há poucos anos, pela esmagadora maioria de produtos destinados ao público feminino. Aos poucos, os homens também ganharam espaço e hoje desfrutam de uma variedade de cosméticos, como: maquiagens, sabonetes, cremes de pentear ou pomadas para combater a calvície, queda e quebra de cabelos, além de champôs especiais, alguns com carvão ativado como princípio ativo, específicos para combater a caspa. Em laboratórios, químicos também se debruçam na tarefa de desenvolver e produzir cosméticos sofisticados, atóxicos e viáveis, diversificando o mercado e inovando conhecimentos no campo. Brasil. O Brasil tinha em 2011 a 6.ª maior indústria química do mundo, com um faturamento líquido de US$ 157 bilhões, ou 3,1% do faturamento mundial. Nesta época, havia 973 fábricas de produtos químicos de uso industrial. Elas estão concentradas na Região Sudeste, principalmente em São Paulo. A indústria química contribuiu com 2,7% para o PIB brasileiro em 2012 e se estabeleceu como o quarto maior setor da indústria de transformação. Apesar de registrar um dos maiores faturamentos do setor no mundo, a indústria química brasileira, em idos de 2012 e 2013, assistia a uma forte transferência da produção para o exterior, com queda da produção industrial nacional e avanço dos importados. Um terço do consumo no país era atendido por importações. 448 produtos deixaram de ser fabricados no Brasil entre 1990 e 2012. Isso resultou na paralisação de 1.710 linhas de produção. Em 1990, a participação dos produtos importados no consumo brasileiro era somente de 7%, em 2012 era de 30%. As principais empresas do setor no Brasil eram: Braskem, BASF, Bayer, AirLiquide, Carbocloro, Clariant, AkzoNobel, Cabor, Petrom, Evonik, Henkel, Kraton, DyStar, Oxiteno e Unigel. Em 2018, o setor químico brasileiro era o oitavo maior do mundo, respondendo por 10% do PIB industrial nacional e 2,5% do PIB total.
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Número inteiro
Número inteiro Um número inteiro é um número que pode ser escrito sem um componente fracional. Por exemplo, 21, 4, 0, e −2048 são números inteiros, enquanto 9.75, , e não são. O conjunto dos números inteiros é representado pelo símbolo formula_1, cuja letra é originada da palavra alemã "Zahlen" (, "números"). formula_2 Os inteiros (juntamente com a operação de adição) formam o menor grupo que contém o monoide aditivo dos números naturais. Como os números naturais, os inteiros formam um conjunto infinito contável. Os números inteiros podem ser simétricos, quando os números têm sinais opostos, ou pode existir também o valor absoluto de um número inteiro, que é a distância entre a origem e o número. Subconjuntos de formula_1. formula_4 Conjunto dos inteiros não nulos formula_5 formula_1+ formula_7 Conjunto dos inteiros não negativos formula_8 formula_9+ formula_7 Conjunto dos inteiros não negativos, excluindo zero formula_11 formula_1- formula_7 Conjunto dos inteiros não positivos formula_14 formula_9- formula_7 Conjunto dos inteiros não positivos, excluindo zero formula_17 Propriedades básicas das operações formula_18 (adição) e formula_19 (multiplicação):. Há diversos campos numéricos verificando as propriedades abaixo. Dizemos que eles têm uma mesma estrutura algébrica, a qual é chamada de anel de integridade. O campo dos inteiros, formula_20, é o mais simples e conhecido dos anéis de integridade, e tem o seguinte conjunto de propriedades básicas: Para todos formula_21: Integridade da multiplicação. Demonstrações usando as propriedades básicas. formula_59 Unicidade do elemento neutro da multiplicação Vamos supor por absurdo que existem dois elementos neutros da multiplicação formula_60 e formula_61, com formula_62 Como formula_60 é elemento neutro da multiplicação, então: formula_64 Como formula_61 é elemento neutro da multiplicação, então: formula_66 Temos: formula_67 [Comutatividade da multiplicação] formula_68 É absurdo, pois formula_61 é diferente de formula_60 por hipótese. Então o elemento neutro da multiplicação é único. formula_71 Unicidade do elemento simétrico Vamos supor que existem dois simétricos formula_49 e formula_73 de formula_50, tal que formula_75. formula_76 [Existência do elemento neutro] formula_77 [Existência do inverso na adição] formula_78 [Associativa] formula_79 [Comutativa] formula_80 [Associativa] formula_81 [Existência do elemento neutro] Notação para o simétrico de formula_50 é formula_83. Como por hipótese formula_84 não podemos ter formula_85. Logo o simétrico da adição é único. Com isso podemos definir a subtração: formula_86 formula_87 Multiplicação por formula_88 formula_89 formula_90 formula_91 formula_92 formula_93 formula_94 Distributividade formula_95 formula_96 [Comutativa] formula_97 [Distributiva e Comutativa] Proposição (leis do cancelamento). formula_98Sendo formula_50 e formula_100 números inteiros: formula_101 formula_102 Observe que, para formula_103 formula_104 e formula_105 Logo temos, formula_106 (vem da definição de soma em formula_107) Agora podemos provar: formula_108 formula_109 formula_110 [Associatividade] formula_111 formula_112 formula_71 Sendo formula_114 e formula_115 números inteiros formula_116 formula_117 formula_118 formula_119 [Comutatividade] formula_120 [Distributiva] Logo formula_121 ou formula_122, como formula_123, por hipótese temos: formula_124 formula_125 formula_126 formula_127 Relação de ordem nos inteiros. Temos que se formula_128 ou formula_129 Com isso os números inteiros ficam divididos em: formula_130 Inteiros não negativos formula_131 formula_132 Inteiros não positivos formula_133 formula_134 Inteiros positivos formula_135 formula_136 Inteiros negativos formula_137 Observação: temos formula_138 no caso particular formula_139, temos formula_140, somente se formula_141 Notação:formula_142 e formula_143 são compatíveis com a adição e a multiplicação, conforme os resultados: Proposição: Sendo formula_144 formula_98 A relação de ordem é preservada na adição: formula_146 formula_147 formula_148 formula_149 formula_150 formula_151 formula_152 formula_153 formula_154 Esta demonstração é de forma análoga à anterior. formula_71 A relação de ordem é preservada na multiplicação por inteiros positivos: formula_156 formula_157 para formula_158, ou seja, formula_159 formula_160 formula_161 formula_162 formula_163 formula_164 formula_165 formula_166 formula_167 para formula_168, ou seja, formula_169 formula_160 formula_171 formula_172 formula_173 formula_174 formula_172 formula_171 formula_177 <math>\qquad \Rightarrow a Valor absoluto de um número inteiro. O valor absoluto de um número inteiro formula_100 é a distância modular, e é definido como a distância do número até a origem(0): formula_179 Tomar o valor absoluto de um número inteiro consiste basicamente em deixá-lo inalterado se o número for positivo ou nulo, e apagar seu sinal, caso ele seja negativo. "Exemplo:" formula_180, formula_181 Conceitos básicos de divisibilidade. O divisor de um número inteiro formula_182, é todo inteiro formula_100 capaz de transformar o inteiro formula_50 num produto de inteiros: formula_185 (para algum número inteiro formula_115). Sempre que formula_100 for divisor de formula_50, também costuma-se empregar as seguintes terminologias alternativas, sinônimas: formula_189"o inteiro formula_100 divide formula_50", o que pode ser abreviado com a notação: formula_192 ; formula_189"o inteiro formula_50 é múltiplo de formula_100" "Exemplo:" Os divisores de formula_196 são formula_197 Todos eles são não-nulos, e temos respectivamente: formula_198 "Atenção:" Demonstrações. formula_98 Se formula_100 é divisor de formula_50, então formula_202 também é. Hipótese: formula_203 Tese: formula_204 Temos que formula_205 Então formula_206 formula_207 formula_208, sendo formula_209 formula_210, pela definição de divisor formula_211 formula_71 Se formula_50 é divisor de formula_100 e formula_100 é divisor de formula_50, então formula_217 ou formula_218 Hipótese: formula_219 e formula_220 Tese: formula_217 Temos que formula_222, formula_223 formula_224, formula_225 formula_226 formula_227 ou formula_228 formula_230 formula_231 formula_233 formula_234 Número primo e números relativamente primos. Como formula_235 sempre são divisores de cada número inteiro formula_236, dizemos que eles são os "divisores triviais," ou os "divisores impróprios, de" formula_50. Nos casos em que formula_238 e formula_239, temos exatamente dois divisores triviais. Contudo, em todos os demais casos de formula_236, temos exatamente quatro divisores triviais. Número primo é todo inteiro formula_241 cujos divisores são todos triviais. Isto equivale a dizer que um número primo é todo inteiro formula_242 com exatamente quatro divisores: formula_243. Número composto é todo inteiro formula_244 que tem ao menos um divisor não trivial. Isto equivale a dizer que um número composto é todo inteiro formula_244 com cinco ou mais divisores. Chamamos de divisor comum de dois ou mais números inteiros, todo inteiro que seja divisor de cada um desses inteiros. "Exemplo:" Os divisores de formula_246 são formula_247, enquanto que os divisores de formula_248 são formula_249. Assim, os divisores comuns de formula_246 e formula_248 são formula_252. Dizemos que dois números inteiros são relativamente primos, ou primos entre si se tiverem como divisores comuns apenas os divisores triviais formula_253 e formula_254. Proposição: todo número primo que não dividir um inteiro formula_50 dado, é relativamente primo com formula_50. Demonstração: Sendo formula_242 um primo dado e formula_50 um número inteiro. Temos que os divisores de formula_242 são formula_60, formula_254, formula_242 e formula_263, como formula_242 não divide formula_50, seus únicos divisores comuns serão formula_60 e formula_254. Máximo divisor comum (mdc). Chamamos de máximo divisor comum de dois ou mais números inteiros, o maior dos divisores comuns desses inteiros. A notação formula_268 indicará o máximo divisor comum dos inteiros formula_50, formula_100. "Exemplo:" Temos formula_271, pois os divisores comuns de formula_272 e formula_273 são formula_274 e formula_275. Note que: formula_278 formula_288 Fatoração: sendo formula_289, com formula_290 inteiros, dizemos que formula_291 são fatores de formula_50 e que formula_291é uma fatoração desse formula_50. Ex: formula_295 O mdc também pode ser calculado a partir do Algoritmo de Euclides. Teorema da divisão euclidiana. A ideia da divisão euclidiana consiste em separar um todo em partes iguais. Essa divisão pode ocorrer de forma exata (quando a união dessas partes resulta no número original) ou de forma inexata (quando ocorre o contrário). No contexto dos números inteiros, formula_50 corresponde ao todo, e formula_100 corresponde a cada uma das partes iguais. Ou seja: formula_189Exemplo: formula_303 formula_304 formula_189Exemplo: formula_312 formula_313 Há apenas uma maneira de fazer uma divisão exata, mas há maneiras diferentes de se fazer uma divisão inexata. Podemos dividí-las em: inexatas por falta (a mais utilizada, como formula_314) e inexatas por excesso (como formula_315). Teorema fundamental da aritmética. Este teorema afirma que os números primos funcionam como base para a construção de todo e qualquer número inteiro (exceto formula_88 e formula_274), fazendo apenas multiplicações. Este teorema tem uma importância tão grande que é chamado de Teorema Fundamental da Aritmética. A fatoração em primos de um inteiro formula_236, formula_274 pode ser escrita de diversas maneiras, como por exemplo: Assim, por exemplo, formula_327 formula_328 formula_329 formula_330 Propriedades relativas à ordem. Dois inteiros admitem relações binárias como =, > e <. A ordem de Z é dada por ... < −2 < −1 < 0 < 1 < 2 < ... e faz de Z uma ordenação total sem limite superior ou inferior. Chama-se de inteiro "positivo" os inteiros maiores que zero; o próprio zero não é considerado um positivo. A ordem é compatível com as operações algébricas no seguinte sentido: Aplicações. Inteiro é frequentemente um tipo primitivo em linguagem de programação, normalmente com 1, 2, 4, ou 8 bytes de comprimento (8, 16, 32, ou 64 bits). Observe, porém, que um computador pode apenas representar um subconjunto dos inteiros com estes tipos, já que os inteiros são infinitos e uma quantidade de bits fixa limita a representação a um máximo de 2 à potência do número de bits (formula_331 para bytes, formula_332 para arquiteturas de 32 bits, etc). No entanto, o uso de técnicas de inteligência artificial permitem que computadores representem e raciocinem sobre o conjunto dos inteiros. RSA. O RSA é o mais conhecido dos métodos de criptografia de chave pública. Ele foi criado em 1978 por R. L. Rivest, A. Shamir e L. Adleman, que na época trabalhavam no MIT e é o mais usado em aplicações comerciais atualmente. A construção deste sistema é baseada nas propriedades da Teoria dos Números e suas principais características são: simplicidade, chave pública e extrema dificuldade em violar o código.
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Infinito
Infinito Infinito (do latim "infinitus", símbolo: formula_1) é a qualidade daquilo que não tem fim. É um conceito usado em vários campos, como a matemática, filosofia e a teologia. É representado com o símbolo ထ, e na matemática é uma noção quase-numérica usada em proposições. Mas é na matemática que o conceito tem as suas raízes mais profundas, sendo a disciplina que mais contribuiu para a sua compreensão. Formas de infinito. Infinito potencial. O "infinito potencial" é a forma mais natural e intuitiva de conceber o infinito, sendo por isso de aceitação geral e não controversa. Nesta concepção o infinito corresponde a algo que pode ser aumentado, continuado ou estendido, tanto quanto se queira. Um exemplo é a sequência dos números naturais: é sempre possível somar mais um, estendendo-a indefinidamente: Para Platão (428 a.C.? – 347 a.C.?) o potencial de extensão era considerado limitado, finito; podia ser adjetivado de "peiron" (limitado, claramente determinado). O conceito de infinito propriamente dito era algo irracional, impensável, sem sentido. Inclusive pareceu natural pensar que não faria sentido que Deus tivesse tão indesejada característica. Aristóteles (384 – 322 a.C.), discípulo de Platão, cuja doutrina marcou muitos pensadores da história, como Tomás de Aquino, também recusou a existência do infinito como algo real ou pensável. Em boa parte, isso deveu-se aos paradoxos que o conceito de infinito encerra, como mostrou Zenão, que levavam a concluir o infinito como um conceito negativo, irracional e não pensável. Apesar disso, Aristóteles aceitou a noção de infinito absoluto, "apeiron" (ilimitado, ininteligível, caótico). O método dedutivo, essencial à geometria aristotélica, determina que "não podemos conhecer os objetos posteriores que não derivem de elementos primeiros". Mas estes postulados primeiros são indemonstráveis, estão fora da ciência, estando no domínio da "metamatemática". São o motor imóvel - absoluto - de todo o resto: Deus. Portanto, o infinito seria algo para além da razão, mas que pode ser pensado como sendo transcendental ou no domínio do divino. A infinidade potencial é caraterística da forma intuitiva de conceber o espaço e o tempo, mas não é evidente ou unânime se o infinito potencial será um atributo efetivo do espaço e tempo reais. Ao longo da história vários pensadores tentaram explorar e levar mais longe o conceito de infinito. Por necessidade da matemática, surgiu muito mais tarde a concepção de infinito em ato, que só foi apresentado de forma convincente no século XIX pela mão de Georg Cantor. Infinito absoluto. O "infinito absoluto", a par do infinito potencial, foi a única outra forma de infinito tomada em linha de conta pelos pensadores durante milénios. Aristóteles considera o infinito potencial, mas afirma não fazer sentido pensar a sua concretização como um todo completo, um infinito em ato. Impõe-se portanto um limite do processo de atuação, um "fim último", uma "entelequia", usando o termo que os gregos introduziram na linguagem da filosofia. Este conceito de infinito como absoluto entrou na doutrina filosófica cristã. No século XIII esta contém muitos elementos da "Suma Teológica" de Tomás de Aquino, o qual, por sua vez, absorvera a estrutura filosófica de Aristóteles. A concepção do infinito aristotélico-tomista manteve-se dominante desde a civilização greco-latina até ao Renascimento. No século XIX, Georg Cantor desafiou a visão do infinito como algo que não podia ser tratado racionalmente e desenvolveu a sua teoria dos transfinitos. Esta teoria, apesar de ter permitido aumentar a compreensão do infinito, tinha os seus próprios limites, pelo que Cantor foi levado a concluir a existência de um infinito Absoluto, que consegue estar para além de toda a criação racional. Infinito atual. O "infinito atual", "infinito real" ou ainda "infinito completo", é um conceito mais abstrato e controverso: faz sentido a existência por completo de uma entidade com um número infinito de elementos? O aristotelismo nega a existência do infinito atual, que ele seja físico ou abstrato, tendo sido esta a posição dominante durante milénios. Pontualmente surgiram algumas vozes dissonantes, que admitiam pensar o infinito para lá do potencial como atual: Deus poderia ter uma natureza infinita atual, e não apenas um processo com potencial. São exemplos disso Gregório de Níssa, Nicolau de Cusa e, muito mais tarde, Georg Cantor. Em bom rigor, os pioneiros do conceito de infinito atual ainda o associavam ao "apeiron" - algo logicamente incoerente. Foi Cantor o primeiro a mostrar que o conceito poderia ser trabalhado de forma lógica e racional . Na matemática, notou-se que existe uma grande diferença qualitativa entre uma sucessão potencial infinita de elementos, discretos, e a sucessão de pontos de um segmento de reta, aquilo que é chamado de linha contínua. No primeiro caso podemos acrescentar sempre mais um elemento, dando mais um passo para o elemento seguinte. Uma sucessão é infinitamente extensível. No caso do contínuo não faz sentido falar do elemento seguinte: entre um determinado ponto e outro posterior, tão próximo quanto se queira, é sempre possível encontrar um ponto intermédio, e assim consecutivamente, até ao infinito. Um segmento contínuo é infinitamente divisível. Este segundo tipo de infinito levanta grandes questões sobre o infinito potencial, pois parte-se de um todo dado (o segmento de reta) que pode conter um si uma infinidade de elementos. O infinito em ato parece ser um propriedade necessária do "contínuo". Estas propriedade do segmento de reta foram explicadas através do conceito de "infinitésimo": "números" indefinidamente pequenos, menores do que qualquer número real. Este conceito tem raízes na Grécia Antiga, no atomismo de Leucipo de Mileto (século V a.C.) e seu discípulo Demócrito de Abdera (460 - 370 a.C.). O atomismo foi criticado ao longo da história, tendo sido Zenão de Eleia(495 - 430 a.C.) o protagonista de um dos mais marcantes ataques, através dos seus paradoxos. Foi recuperado mais tarde, para servir de fundamento ao cálculo infinitesimal de Leibniz (1646 - 1716) e Newton (1643 - 1727). Apesar da sua eficácia na matemática e na física, os infinitésimos apresentavam inconsistências, presentes no facto de serem simultaneamente não-finitos e não-nulos. Os infinitésimos acabaram por ser banidos da matemática com a formulação do cálculo diferencial e integral por Karl Weierstrass (1815-1897), que substitui o infinitésimo pelo conceito de limite. Os infinitésimos foram mais tarde recuperados na matemática por Abraham Robinson (1918-1974), que em 1966 apresenta uma nova teoria para a análise matemática baseada nos infinitésimos, chamada de análise não-standard, que fornece um fundamento teórico para a utilização dos infinitésimos tal como Leibniz idealizou. Georg Cantor (1845 - 1918) foi considerado como sendo o primeiro a dar um tratamento lógico e racional ao infinito atual. Criou o conceito de número transfinito, que denota a "potência" da cardinalidade de um conjunto. O primeiro transfinito, formula_3 (aleph-zero) representa a "quantidade" dos números naturais, sendo por isso um infinito em ato. Cantor mostrou que existem infinitos com diferentes potências, sendo a cardinalidade do conjunto dos números reais superior à dos números naturais e racionais. Paradoxos e antinomias. Paradoxos de Zenão. Zenão de Eleia (490? - 430 a.C.?) foi um filósofo, discípulo de Parménides de Eleia. Como método de argumentação usava paradoxos para demonstrar o absurdo das teses que combatia, tendo criado vários que ficaram conhecidos até aos dias de hoje. Zenão opunha-se às teses atomistas e ao conceito positivo de infinito. Para as criticar, criou paradoxos que concluiam que a subdivisão infinita levava a uma contradição, logo não podia fazer sentido. Os paradoxos mais conhecidos são a ""Dicotomia" e "Aquiles e a tartaruga"": Este paradoxo só foi resolvido muito mais tarde, com o advento do cálculo e das séries convergentes. Com efeito, o paradoxo da Dicotomia corresponde à seguinte formalização matemática : Paradoxo de Galileu. Galileu Galilei (1564 - 1642) apresentou o paradoxo dos quadrados no seu livro "Discorsi e dimostrazioni matematiche a due nuove scienze". Galileu retoma a comparação anteriormente feita por Nicolau de Cusa (1401 - 1464) entre a sequência dos números naturais e a sequência dos seus quadrados: é intuitivo dizer que existem "menos" quadrados do que naturais, pois é possível encontrar números naturais que não são quadrados. Mas, ao mesmo tempo, cada número natural tem o seu quadrado, pelo que não é correto dizer que há "menos" quadrados do que números naturais. Estamos perante um dilema. Galileu expõe o raciocínio e as conclusões a que chega através de um diálogo entre três personagens - Salviati, Simplício e Sagredo (o próprio Galileu, um sábio aristotélico e um homem do senso comum). O discurso conclui: A solução encontrada para o paradoxo é que não faz sentido usar as operações de "maior" e "menor" para comparar conjuntos infinitos. E, por exclusão de partes, conclui também que se pode dizer que os quadrados são tantos quanto os naturais, pois é possível estabelecer um bijeção entre os dois conjuntos infinitos. Seria nesta ferramenta que estaria a chave para o desenvolvimento da teoria dos infinitos desenvolvida já no século XIX por Georg Cantor. Mais recentemente, David Hilbert (1862-1943) apresentou uma outra formulação deste paradoxo, que conclui que o dobro do infinito é "igual" a infinito, conhecida por Hotel de Hilbert. Tempo infinito. Ver Teorema do macaco infinito e A Biblioteca de Babel. Na matemática. Em matemática, conjuntos infinitos foram primeiramente considerados por Georg Cantor, por volta de 1873. Cantor observou que conjuntos infinitos podem ter tamanhos diferentes, distinguindo entre conjuntos infinitos contáveis e incontáveis, e desenvolveu sua teoria de números cardinais baseado nesta observação. A matemática moderna aceita o infinito real. Por exemplo, as linhas e superfícies da geometria são interpretadas pela matemática contemporânea como conjuntos infinitos de pontos. Certos sistemas numéricos estendidos, tais como os números surreais, incorporam os números (finitos) ordinais e os números infinitos de diferentes tamanhos. É necessário abandonar a intuição sobre objetos finitos ao lidar com conjuntos infinitos. Isso é provado pelo paradoxo do Grand Hotel de Hilbert. O símbolo de infinito. O símbolo de infinito formula_5 é por vezes chamado de lemniscata, do latim "lemniscus". John Wallis é creditado pela introdução do símbolo em 1655 no seu "De sectionibus conicis". Uma conjectura sobre o porquê ter escolhido este símbolo é ele derivar de um numeral romano para 1000 que, por sua vez foi derivado do numeral etrusco para 1000, que se assemelhava a CIƆ e era por vezes usado para significar "muitos". Outra conjectura é que ele deriva da letra grega ω - Omega - a última letra do alfabeto grego. Também, antes de máquinas de composição serem inventadas, ∞ era facilmente impresso em tipografia usando o algarismo 8 deitado sobre o seu lado. O símbolo de infinito está disponível no padrão HTML como codice_1 e em LaTeX como codice_2. Em Unicode, é o caractere de código U+221E (ထ), ou 8734 em notação decimal. A curva matemática que gera o símbolo formula_5 é a lemniscata. Na teoria dos conjuntos, o infinito é representado pela letra hebraica " aleph " ( formula_7 ). Definição matemática formal. O infinito tornou-se uma ferramenta fundamental para o cálculo infinitesimal e diferencial, que apesar dos seus bons resultados práticos, não estava ainda formalmente definido de forma satisfatória para os padrões de rigor matemáticos. E sem uma definição formal sólida não era possível resolver de forma convincente os paradoxos que ainda persistiam. Dirichlet (1805 - 1859) apresentou o "princípio da gaveta", conhecido desta forma apesar de nunca ter sido publicado por este, também referido como "princípio da casa dos pombos". Afirma que se tivermos mais do que "n" objetos arrumados em "n" gavetas, então há pelo menos uma gaveta com mais de um item. De forma mais abstrata, podemos dizer: "Se M é um conjunto finito, é impossível estabelecer uma correspondência de um para um de elementos de M com outros elementos de M de forma a que fiquemos com algum elemento que não tenha correspondente". Richard Dedekind (1831 - 1916), em 1888, propôs na sua obra "O que são e o que precisam ser os números" uma definição de infinito, hoje conhecida como infinito de Dedekind, partindo de propriedades bem conhecidas dos conjuntos finitos, equivalente à também proposta em 1887 por Giuseppe Peano: "um conjunto é infinito se existe uma função de um para um (bijeção) entre todo o conjunto e um subconjunto próprio". Usando uma linguagem matemática, podemos dizer: "Sendo M um conjunto finito, é impossível encontrar uma função de um para um com um subconjunto próprio de M". Dedekind definiu como conjunto infinito todo aquele que tem uma bijeção com um conjunto próprio, e por oposição, como conjunto finito todo aquele que não é infinito. Na física. Em física, são usados números reais aproximados para medições contínuas e números naturais para medições discretas (ou seja, contagens). No entanto, os físicos partem do princípio de que nenhuma quantidade mensurável pode ter um valor infinito, seja tendo uma precisão infinita, ou por corresponder a uma contagem de um número infinito de eventos. Por exemplo, presume-se impossível para qualquer corpo ter massa infinita ou energia infinita. Conceitos de coisas infinitas, tal como uma onda plana infinita, existem, mas não existem meios para os gerar experimentalmente. A prática de recusar valores infinitos para quantidades mensuráveis não vem de motivações ideológicas ou filosóficas "a priori". Resulta de motivações pragmáticas e metodológicas. Um dos propósitos de qualquer teoria física e científica é dar fórmulas utilizáveis que correspondem à realidade, pelo menos aproximada. Por exemplo se existisse algum objeto de massa gravitacional infinita, usar uma fórmula para calcular a sua força gravitacional conduziria a um resultado infinito, o que não teria qualquer utilidade. Por vezes, um resultado infinito para uma quantidade física pode significar que a teoria está sendo usada para calcular numa situação em que, a teoria se aproxima do seu limite para conseguir explicar a realidade. Ou seja, ela está fundamentada em algum erro e deve ser corrigida. Este ponto de vista não significa que o infinito não possa ser usado em física. Por uma questão de conveniência, cálculos, equações, teorias e aproximações frequentemente usam séries infinitas, funções sem limites, etc., podendo implicar quantidades infinitas. Os físicos, no entanto, requerem que o resultado final seja fisicamente significativo. Na teoria quântica de campos surgem infinidades que precisam ser interpretadas de forma a conduzir a um resultado final com significado físico, através de um processo chamado renormalização. Existem também algumas circunstâncias teóricas onde o resultado final é infinito. Um exemplo é a singularidade na descrição dos buracos negros. Algumas soluções das equações da teoria da relatividade geral permitem distribuições finitas de massa e volume de tamanho zero, e por isso de densidade infinita. Este é um exemplo do que é chamado de uma singularidade matemática, ou um ponto onde uma teoria física deixa de funcionar. Isso não significa necessariamente a existência de infinidades físicas ; pode simplesmente significar que a teoria é incapaz de descrever adequadamente a situação. Dois outros exemplos ocorrem nas leis de força inversamente proporcionais ao quadrado da distância, na equação de força gravitacional de gravidade newtoniana e na lei de Coulomb da eletrostática. Nestas equações, quando d = 0 obtemos infinitos Na cosmologia. Na antigas cosmologias, o céu era considerado como uma cúpula sólida, ou firmamento. Em 1584, Giordano Bruno propôs um universo sem limites na sua obra "Sobre o Infinito, o Universo e os Mundos": "existem incontáveis sóis; incontáveis terras giram em torno destes sóis de maneira semelhante à forma como os sete planetas giram em torno do nosso sol". Os cosmólogos há muito procuram descobrir se o infinito existe no nosso universo: haverá um número infinito de estrelas? O universo tem volume infinito? O espaço continua indefinidamente? Esta é uma questão em aberto na cosmologia. De notar que a questão de ser infinito difere da questão de ter fronteiras de descontinuidade. A superfície bidimensional da terra, por exemplo, é finita, e apesar disso ainda não tem nenhuma descontinuidade. Viajando numa linha reta irá acabar por retornar ao ponto exato de partida. O universo, pelo menos em princípio, pode ter uma topologia semelhante; se viajar em linha reta através do universo, é concebível que acabe por revisitar o seu ponto de partida. Se, por outro lado, o universo for curvado como uma esfera, mas tiver uma topologia simples, lisa, então poderia ser ilimitado e infinito. A curvatura do universo pode ser medida através de momentos multipolares no espectro da radiação cósmica de fundo em micro-ondas. Até à data, a análise dos padrões de radiação gravada pelo satélite WMAP sugere que o universo tem uma topologia simples. Isso seria coerente com um universo físico infinito. Espera-se que a sonda Planck, lançada em 2009, grave a radiação cósmica de fundo com uma precisão 10 vezes maior e dê melhores indicações sobre a questão de saber se o universo é infinito ou não. Na filosofia. Argumento da regressão infinita. É uma argumentação usada em muitos ramos da filosofia, em que um raciocínio exige um precedente, que por sua vez exige outro precedente, "ad infinitum". Para evitar esta regressão infinita alega-se a necessidade de um princípio fundamental não demonstrável. Esta argumentação foi usada também por Aristóteles e Platão. Na teologia. Desde a antiguidade que, na Índia, a religião jainista considera o mundo como sendo infinito. As religiões monoteístas geralmente induzem a noção de infinito, mais precisamente, as noções de eternidade e de transcendência), ainda que estas não sejam formalizadas com o detalhe que a matemática o faz. Uma das primeiras manifestações do conceito remonta ao Egito antigo, ao período de Aquenáton, autor do culto ao deus Aton. O conceito de transcendência está associado à noção de espaço ou tempo infinito. Na época moderna, Cantor associou-a também ao infinito numérico, chegando a considerar que o seu trabalho sobre os números cardinais e ordinais tinha implicações teológicas. Nas artes. Pintura e artes visuais. Na arte, a perspectiva utiliza o conceito de um ponto de fuga imaginário, ou pontos no infinito, localizados a uma distância infinita do observador. Isso permite aos artistas criar pinturas que retratam de forma realística o espaço, distâncias e os objetos. A principal diferença entre a arte da Idade Média e a do Renascimento foi a introdução da terceira dimensão. A pintura renascentista é caraterizada pelo realismo, introduzido pela perspectiva com o auxílio da matemática. Isso implicava um processo de racionalização que agradava ao pintor, pois o artista renascentista era também um cientista. M. C. Escher é um artista que se tornou conhecido pelo interesse que os seus trabalhos despertam em matemáticos e físicos. Teve bastante sucesso a fazer representações do infinito. Fê-lo através de duas técnicas: uma foi usar dentro da imagem uma superfície não plano, como seja uma esfera, onde conseguia desenhar uma padrão que se repetia infinitamente. Outra foi usar geometrias não euclidianas, que aprendera com o matemático H.S.M. Coxeter, como é o caso dos famosos padrões com serpentes e peixes. Também não podem deixar de ser referidas as figuras "impossíveis", tais como a escadaria que, embora sendo finita, forma uma espiral sem fim. Cada detalhe parece perfeitamente normal ao abservador, no entanto a imagem global confronta a realidade. Literatura. O autor argentino Jorge Luís Borges destacou-se por escrever sobre temas relacionados com a filosofia e metafísica. Nos seus contos descreve labirintos, repetições cíclicas e alusões ao infinito. O seu conto "A Biblioteca de Babel" é exemplar dessa forma de escrita. Descreve um mundo constituído por uma biblioteca que teria todos os livros possíveis, discursando sobre as implicações de tal biblioteca. História do conceito. Os povos anteriores aos gregos, como os árabes, hindus, chineses, babilónios ou os egípcios, tinham já uma matemática desenvolvida. No entanto, esta debruçava-se exclusivamente sobre problemas do dia-a-dia, de cariz prático, como o cálculo de áreas, volumes, peso e tempo. Não existia espaço para um termo ambíguo como o infinito, pois nada na vida do dia-a-dia era infinito. Apesar disso, existem relatos da utilização do infinito na matemática hindu, relacionada com a utilização do zero. Brahmagupta definiu a divisão por zero como tendo resultado "a/0", sem especificar o significado. Mais tarde Bhaskara II (1150) e Ganesa (1558) fizeram a ligação explícita com o conceito de infinito. Ganesa afirmou que "a/0" é "uma quantidade indefinida e ilimitada, ou infinita: não possivel determinar o quão grande é. É inalterada pela adição ou subtração de quantidades finitas". Grécia Antiga. Só se sentiu a necessidade de pensar sobre o infinito quando a matemática passou de uma disciplina exclusivamente prática para uma disciplina teórica, o que veio a acontecer na Grécia Antiga, no século VI a.C.. Apesar de o infinito matemático ser reconhecido por filósofos como Pitágoras, Parménides e Platão, era tomado como um conceito "negativo": algo irracional, inacessível, até mesmo intratável. O pensamento de Aristóteles (384 - 322 a.C.) foi o que permaneceu dominante tendo uma forte influência de pensar o infinito, pela filosofia e teologia até ao século XVII. Aristóteles nega a existência do infinito tomado como completo, quer ele seja físico ou abstrato. O método dedutivo, central na geometria aristotélica, determina que "não podemos conhecer os objetos posteriores que não derivem de elementos primeiros". Estes postulados primeiros são indemonstráveis, estão fora da ciência, estando no domínio da "metamatemática". São o "atual" de onde parte todo o "potencial". Os eventos futuros são por isso a consequência da realização dos eventos anteriores, sendo admitido o infinito em potência, mas não faz sentido pensar o futuro como um infinito todo dado, completo, já realizado. Impõe-se um limite do processo de atuação, um "fim último", uma "entelequia", para usar o termo introduzido pelos gregos na linguagem da filosofia. Apesar de rejeitar o infinito como algo com uma existência concreta, Aristóteles foi pioneiro ao discutir a diferença entre infinito potencial e infinito em ato. Em contraste com a doutrina aristotélica, uma linha de pensamento opositora, o atomismo, considerava a matéria como sendo composta de uma quantidade infinita de átomos, indivisíveis, admitindo desta forma o infinito. Eudoxo de Cnido (390 - 338 a.C) e Demócrito de Abdera (460 - 370 a.C) são considerados os fundadores do atomismo, e estabeleceram uma técnica prática, o método da exaustão, que recorria ao infinito potencial para resolver problemas matemáticos. Este método foi incorporado por Euclides (360 - 295 a.C) nos seus "Elementos" (livros V e XII) e foi depois refinado por Arquimedes 287 – 212 a.C.), que o utilizou para descobrir resultados cuja prova faria depois através de outros métodos. Em particular, foi notável á utilização por Arquimedes do método da exaustão para calcular o valor de Pi, usando aproximações graduais de poliedros a uma circunferência. Conseguir pela primeira vez apresentar um método de cálculo que permitia obter o valor de Pi com a precisão que se desejasse. Ainda assim, o método era considerado uma heurística, um técnica auxiliar, não uma ferramenta matemática de pleno direito, capaz de fazer prova. Ainda na antiguidade, Plotino (205 - 270 d.C.) foi o primeiro a conceber um infinito absoluto, com semelhanças ao infinito em ato, mas que continua a estar para além do racional. Trata-se de um infinito que existe como um todo, mas é, transcendental, sendo uma caraterística do divino. Esta visão de infinito absoluto, atual mas não pensável, manteve-se na doutrina filosófica cristã, como mais tarde a obra de Gregório de Níssa (330 - 395 d.C.) também mostra. Idade Média. No século XIII, Tomás de Aquino, fortemente influenciado pela estrutura filosófica de Aristóteles, admitiu também a infinidade absoluta como uma característica de Deus, mas considera o infinito em ato como não sendo admissível na "criação", no mundano. Esta concepção do infinito aristotélico-tomista manteve-se dominante desde a civilização greco-latina até ao Renascimento. Nicolau de Cusa (1401 - 1464), já no final da Idade Média, introduz uma forma de pensar "prius inaudita" - nunca antes vista. Abandona a ideia de infinito como algo não pensável e transformou-o num conceito científico, que podia ser usado em matemática desprendido da sua carga teológica. Argumenta que o infinito tem uma forma única, que não pode ser medido em termos de "maior" ou "menor". Compreendeu que os inteiros são tantos quantos os quadrados dos inteiros, apesar de os últimos serem "menos" que os inteiros. Aos fenómenos contraintuitivos do infinito chamou de "Coincidentia Oppositorum" - a coincidência dos opostos. Este discernimento abriu portas a um novo espaço conceptual que viaria a ser aproveitado por figuras como Galileu Galilei, Bernard Bolzano, Georg Cantor, Kurt Gödel e Gerhard Gentzen. Renascimento. Giordano Bruno (1548 - 1600) foi uma voz discordante da doutrina aristotélico-tomista dominante. Na sua obra de 1584, "Sobre o Infinito, o Universo e os Mundos" discute as consequências filosóficas da substituição do modelo do mundo de Nicolau Copérnico (1473 - 1543), fechado por uma esfera exterior, pelo modelo de Thomas Diggs (1546 - 1595), que questionava a existência dessa esfera. Bruno defende a existência do infinito não transcendental e discute a argumentação finitista de Aristóteles e Tomás de Aquino. Galileu Galilei (1564 - 1642), atomista e contra a tradição aristotélica dominante, deu um passo ousado ao afirmar claramente a possibilidade de divisão de um segmento de reta numa infinidade de elementos "primeiros", não quantos, isto é, sem extensão: "(a subdivisão) pressupõe que as partes são infinitas, porque de contrário a subdivisão seria terminável; e o serem partes infinitas, extrai-se como consequência do serem não quantas". Apesar de ousado na filosofia, Galileu era prudente como matemático, e não deu o passo seguinte de aceitar o infinito em ato como parte da matemática. Com base nas ideias de Galileu, os seus discípulos desenvolveram a "geometria do indivisível", que foi fundada por Bonaventura Cavalieri (1598–1647) e desenvolvida por Evangelista Torricelli (1608 - 1647). John Wallis (1616 - 1603), autor de "Arithmetica Infinitorum" (1656), foi o terceiro grande nome do método dos indivisíveis, que seria a premissa para o desenvolvimento do cálculo infinitesimal (ou diferencial). Gottfried Leibniz (1646 - 1716) publicou a primeira exposição do cáclulo diferencial em 1664, na "Acta Eruditorum", no ensaio "Nova methodus pro maximis et minimis, itemque tangentibus" (novo método para achar os máximos e mínimos, assim como as tangentes). Em paralelo e de forma independente, Isaac Newton (1642 - 1727) desenvolveu um método equivalente, mas que só foi publicado em 1687, no "Philosophiae naturalis principia mathematica". Esta descobertas independentes geraram uma disputa azeda sobre a autoria, que chegaram a ter contornos políticos derivados do prestígio para os seus países, Alemanha e Grã-Bretanha. Os métodos de Leibniz e Newton marcaram o triunfo do infinito na matemática, mas restava ainda muita controvérsia sobre a natureza destes infinitesimais. São mesmo zero? São átomos muito pequenos mas maiores que zero? A expressão mais acutilante desta questão foi a do bispo George Berkeley (1685 - 1753), que em 1753 publicou uma obra satirizando e ridicularizando os fundamentos do cálculo infinitesimal. Idade Contemporânea. Bernard Bolzano (1781 - 1848) mostrou que a maioria das antinomias do infinito podiam ser reduzidas a paradoxos (algo que parece contraditório ao senso comum, mas não o é efetivamente) através de raciocínio lógico. Georg Cantor (1845 - 1918) foi o primeiro a conseguir um tratamento racional e matemático do infinito, e a afirmar o infinito atual como objeto pensável e tratável de forma racional, e contra a filosofia de Kant, que prevalecia na época. Até esse momento, o conceito de infinito atual tinha sido rejeitado por grandes pensadores como Galileu, Leibniz, Newton e até mesmo Gauss, devido às dificuldades geradas pelas suas contradições. Cantor terá se inspirado no trabalho de Nicolau de Cusa, a quem se refere em notas de rodapé em "Grundlagen", e caraterizou o infinito pela sua cardinalidade. Chamou conjunto contável aos conjuntos infinitos para os quais é possível estabelecer uma correspondência biunívoca de todos os seus elementos com o conjunto de todos os números naturais. A essa correspondência chama-se equipotência. Cantor mostrou que os números racionais são contáveis, mas que os números reais não. Através do seu argumento de diagonalização provou por absurdo que não é possível estabelecer essa correspondência. Os números reais são "mais" que os naturais, ou dizendo melhor, têm uma cardinalidade superior. Correspondem a uma ordem de infinito superior à dos naturais. Cantor estabeleceu a existência de uma escala ordenada de potências de infinito, potencialmente infinita, o que levantava a questão da existência ou não de um infinito absoluto, superior a todo e qualquer infinito. Esse conceito parece estar para além do racional.
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Igarassu
Igarassu Igarassu é um município brasileiro no litoral norte do estado de Pernambuco. Está situado na Região Metropolitana do Recife, a 27 km da capital pernambucana, Região Nordeste do país. Um dos primeiros núcleos de povoamento do Brasil, a cidade abriga, de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o templo católico mais antigo do país: a Igreja dos Santos Cosme e Damião. Seu centro histórico abarca ainda monumentos como o Convento e Igreja de Santo Antônio, que abriga o Museu Pinacoteca de Igarassu, cujo acervo é considerado a mais importante coleção da fase colonial brasileira. História. Por volta do ano 1000, os índios tapuias que habitavam a região foram expulsos para o interior do continente devido à chegada de povos tupis procedentes da Amazônia. No século XVI, quando chegaram os primeiros europeus à região, a mesma era habitada por um desses povos tupis: os caetés. Originalmente, Igarassu foi um distrito criado em 1550 e elevado à condição de vila ainda no século XVI. Essa configuração se manteve por cerca de três séculos, até que a lei estadual 130, de , elevou a vila à condição de cidade. Geografia. Com altitude de 19 metros, o município se localiza à latitude 07°50'03" sul e à longitude 34°54'23" oeste. Subdivisões. Compõem o município três distritos: Igarassu (sede), Nova Cruz e Três Ladeiras. Relevo. O relevo predominante no município é o de Tabuleiros Costeiros, relevo que predomina em todo litoral leste do nordeste, tendo altitudes médias que variam entre 50 e 100 metros acima do nível do mar. Hidrografia. O município de Igarassu encontra-se inserido nos domínios das bacias dos pequenos rios costeiros, são os rios: Igaraçu, Palmeira, Jarapiá, Cumbé, Catucá, Botafogo, Itapicuru, Tabatinga, das Pacas, Paripe, Conga, Bonança, Utinga, Timbó, Monjope e Maniquara. Reserva ecológica Charles Darwin. A reserva de floresta atlântica está em preservação há mais de 40 anos com intuito de auxiliar as pesquisas acerca das pteridófitas e seus aspectos ecológicos em território pernambucano. Solo. Os solos do município são representados pelos latossolos e podzólicos nos topos de chapadas e topos residuais. Geologia. O município está incluído, geologicamente, na província da Borborema, sendo compostos dos seguintes litotipos: "Salgadinho" e "Vertentes", e dos sedimentos das formações "Beberibe", "Gramame", do "Grupo Barreiras" e dos depósitos "fluvio-lagunares" e "aluvionares". Vegetação. A vegetação nativa municipal é a mata atlântica, composta por "florestas sub-perenifólias", com partes de "floresta sub-caducifólia". Clima. O município tem o clima tropical, do tipo "As´". Os verões são quentes e secos, com temperaturas que nunca ultrapassam os 35 °C. Os invernos são amenos e úmidos, com o aumento de chuvas; a temperatura nunca cai para menos de 15 °C. Demografia. Segundo o censo 2013 do IBGE, Igarassu possui uma população de 109.322 habitantes, distribuídos numa área de 305,560 km², tendo assim, uma densidade demográfica de 333,88 hab/km². Economia. Segundo dados sobre o produto interno bruto dos municípios, divulgado pelo IBGE referente ao ano de 2011, a soma das riquezas produzidos no município é de 1.337.837 milhões de reais (10° maior do estado). Sendo o setor industrial o mais mais representativo na economia igarassuana, somando 625.583 milhões. Já os setores de serviços e da agricultura representam 536.080 milhões e 22.184 milhões, respectivamente. O PIB "per capita" do município é de 12.921,34 mil reais (9° maior do estado). Shopping. Shopping Igarassu, inaugurado em 30 de Outubro de 2018. Igreja Matriz dos Santos Cosme e Damião. A Igreja Matriz dos Santos Cosme e Damião é a igreja mais antiga do país, construída em 1535 por Duarte Coelho. Etimologia. O nome "Igarassu", que deveria ser grafado com cê cedilhado, é de origem tupi e significa "canoa grande", ou seja, "navio", através da junção dos termos "ygara" (canoa) e "usu" (grande).
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Infinitesimal
Infinitesimal Infinitesimal (ou infinitésimo), na matemática, é definido como uma quantidade que está mais perto de zero do que qualquer número real, mas diferente de zero. Infinitesimais não pertencem aos números reais, mas eles existem em outros sistemas de números como os números hiper-reais e os números surreais. Esses sistemas podem ser pensados como extensões da linha dos números reais, em que tanto infinitesimais quanto infinitos podem ser considerados quantidades significantes, já que, nos reais, quantidades com diferença de um infinitesimal devem ser consideradas iguais. Os números infinitesimais foram usados na definição da derivada desenvolvida por Leibniz, em que uma derivada poderia ser pensada como uma razão de dois infinitesimais. A definição não foi formalizada por ele. Com isso, os infinitesimais foram substituídos pelos limites, que podiam ser calculados com números reais. História dos Infinitesimais. O matemático grego Arquimedes (c. 287 a.C. – c. 212 a.C.) foi a primeira pessoa a propôr uma definição rigorosa de infinitesimais. Sua propriedade arquimediana define um número como infinito se satisfazer as condições |x|>1, |x|>1+1, |x|>1+1+1+, ... Newton e Leibniz usaram infinitesimais no desenvolvimento do cálculo. Newton por meio dos fluxões e Leibniz por meio do diferencial. O uso dos infinitesimais foram criticados pelo Bispo Berkeley na sua obra "O Analista"
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Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia
Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia A Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia ou Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia (em grego: Ελληνορθόδοξο Πατριαρχείο Αντιοχείας), legalmente Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia e Todo o Oriente (, : "Baṭriyarkiyya Anṭākiyya wa-Sāʾir al-Mashriq li'l-Rūm al-Urthūdhuks," lit.: Patriarcado de Antioquia e Todo o Oriente para os Rumes Ortodoxos) é uma Igreja ortodoxa autocéfala, parte da comunhão do Cristianismo Ortodoxo. Encabeçada pelo , considera-se a sucessora da Comunidade cristã fundada em Antioquia pelos Apóstolos Pedro e Paulo. É também um dos cinco patriarcados da antiguidade, chamados de Pentarquia. Dentro da Comunhão Ortodoxa, ele ocupa o terceiro lugar de precedência. O título histórico completo do primaz da Igreja de Antioquia é "Sua Beatitude Patriarca da Grande Cidade de Deus de Antioquia, Síria, Arábia, Cilícia, Ibéria, Mesopotâmia e Todo o Oriente". História. A Igreja de Antioquia data do período apostólico, a tradição localizando sua fundação no ano de 34, por São Pedro e São Paulo Apóstolo. Extensamente citada nos Atos dos Apóstolos e nas epístolas paulinas, na cidade de Antioquia é descrita por São Lucas, ele mesmo membro da comunidade, a primeira vez em que os discípulos de Cristo foram chamados cristãos. A Igreja se tornou um grande centro da cristandade, com seu patriarca São Serapião de Antioquia, já pelo fim do século II, sendo registrado exercendo poderes fora da Síria (província romana), intervindo em Roso (na Cilícia) e em Edessa (fora do Império Romano). À medida que o sistema “metropolitano” surgiu nos primeiros séculos da Igreja – com bispos das principais cidades presidindo sínodos de bispos regionais regularmente convocados – Antioquia era uma sé de liderança. O cânon 6 do Primeiro Concílio Ecumênico confirmou a preeminência de longa data de Antioquia, juntamente com a de Roma e Alexandria. No começo da era cristã, a comunidade de Antioquia sofreu com muita divisão. Após a eleição de São Melécio, cuja posição cristológica se encontra até hoje ambígua, o Patriarcado se dividiu entre seus sucessores seminicenos sem comunhão com Alexandria e Roma, os nicenos estritos seguidores de Eustácio em comunhão com ambas as sés, os arianistas apoiados pelo Imperador Valente e os seguidores de Apolinário de Laodiceia. Pouco depois a reunificação destes grupos em conflito, seguiu-se uma alternância entre patriarcas diofisistas (que seriam apoiados pelo Concílio de Calcedônia em 451) e miafisistas. A disputa se agravou depois da escolha do influente miafisista Severo de Antioquia pelo Imperador Anastácio I Dicoro em 512. Seis anos depois, Justino I assumiu o império, depôs Severo e elegeu Paulo. Severo, no entanto, liderou um cisma, dando origem à Igreja Ortodoxa Síria, enquanto os sucessores de Paulo permaneceriam como a Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia. Durante o reinado de Justiniano, a importância da Sé de Antioquia foi relevada com a inclusão dela na Pentarquia, estrutura de governo da Igreja Cristã que perdura até o Grande Cisma de 1054, quando Antioquia, junto às outras sés orientais, separa-se de Roma. Em 1386, como consequência da invasão de Antioquia, hoje Antáquia, na Turquia, pelo Império Otomano em 1268, a Sé se mudou para Damasco, na Síria, onde permanece até hoje. Administração e Estrutura. O Patriarca. O Patriarca é eleito pelo Santo Sínodo entre os metropolitas que o compõem. O Patriarca preside o Santo Sínodo e executa suas decisões. Ele também atua como Metropolita da Arquidiocese de Antioquia e Damasco. O atual Patriarca, João X (Iazigi), foi eleito em 17 de dezembro de 2012, sucedendo ao Metropolita Saba Esber, eleito lugar-tenente em 7 de dezembro de 2012, após a morte de Inácio IV (Hazim). Arquidioceses e Metropolitas. Existem atualmente 22 arquidioceses, cada uma chefiada por um metropolita. No Brasil. O Brasil tem seu próprio Metropolita ortodoxo antioquino, Dom Damaskinos Mansour, nascido em Damasco, na Síria. A Arquidiocese Ortodoxa Antioquina de São Paulo e Todo o Brasil é sediada na Catedral Metropolitana Ortodoxa de São Paulo, localizada na cidade de São Paulo, possui também paróquias espalhadas pelo resto do estado, bem como por Goiás, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco e o Distrito Federal. Há um Vicariato Patriarcal no Rio de Janeiro, isto é, uma comunidade ligada diretamente ao Patriarca, não sujeita à arquidiocese brasileira. A primeira liturgia ortodoxa na América do Sul foi celebrada em São Paulo pelo Padre Mussa Abi Haidar com fiéis antioquinos de origem síria e libanesa em salão devidamente adaptado em 1897. Deste grupo viriam a primeira igreja ortodoxa no subcontinente, a Igreja da Anunciação à Mãe de Deus, localizada no centro histórico da cidade de São Paulo e atualmente fechada após ter sido atingida por um incêndio em julho de 2022. Sete anos mais tarde, e, em 1922, um bispo para o Brasil, o Bispo Michael Chehade. Em 1958, Dom Ignatios Ferzli assumiria o posto de Metropolita do Brasil, que manteria até sua morte em 1997, quando é ordenado Dom Mansour.
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Intel
Intel Intel Corporation () (estilizada como Intel, acrônimo de Integrated Electronics) é uma empresa multinacional e de tecnologia sediada em Santa Clara, Califórnia, no Vale do Silício. É a segunda maior fabricante em valor de chips semicondutores do mundo com base na receita, sendo superada pela Samsung, e é a inventora da série de microprocessadores x86, os processadores encontrados na maioria dos computadores pessoais (PCs). A Intel fornece processadores para fabricantes de sistemas de computadores, como Apple, Lenovo, HP e Dell e também fabrica chipsets para placas-mãe, controladores de interface de rede e circuitos integrados como microprocessadores, memória flash, chips gráficos, processadores embarcados e outros dispositivos relacionados a comunicações e computação. A Intel Corporation foi fundada em 18 de julho de 1968 pelos pioneiros de semicondutores Robert Noyce e Gordon Moore (conhecido pela lei de Moore) e amplamente associada à liderança executiva e à visão de Andrew Grove. O nome da empresa foi concebido como uma junção das palavras integrado ("integrated") e eletrônicos ("electronics)", com o co-fundador Noyce tendo sido um dos principais inventores do circuito integrado (microchip). O fato de que "intel" é o termo para informações de inteligência também tornou o nome apropriado. Intel foi uma das primeiras desenvolvedoras de chips de memória SRAM e DRAM, que representaram a maioria de seus negócios até 1981. Embora a Intel tenha criado o primeiro microprocessador comercial do mundo em 1971, isso não se tornou seu principal negócio até o sucesso do computador pessoal (PC). Durante os anos 90, a Intel investiu pesado em novos projetos de microprocessadores, promovendo o rápido crescimento da indústria de computadores. Durante esse período, a Intel se tornou o fornecedor dominante de microprocessadores para PCs e era conhecida por táticas agressivas e anticompetitivas em defesa de sua posição no mercado, particularmente contra a AMD (Advanced Micro Devices), bem como uma luta com a Microsoft pelo controle da direção da indústria de PCs. O Open Source Technology Center ("Tecnologia de Código Aberto") da Intel hospeda PowerTOP e LatencyTOP, e suporta outros projetos de código aberto, como Wayland, Intel Array Building Blocks e Threading Building Blocks (TBB) e Xen. História. Fundada em 18 de Julho de 1968 por Robert Noyce (físico e co-inventor) e Gordon Moore (físico e químico), o primeiro produto da empresa foi o circuito integrado de memória RAM, e a mesma logo se tornou líder neste mercado nos anos 1970. Paralelamente, os engenheiros da Intel Marcian Hoff, Federico Faggin, Stanley Mazor e Masatoshi Shima inventaram o primeiro microprocessador. Originalmente desenvolvido para a companhia japonesa Busicom a fim de substituir o ASIC's da calculadora já produzida pela Busicom, o Intel 4004 foi introduzido no mercado para produção em massa em 15 de Novembro 1971, embora o microprocessador não tenha se transformado no núcleo do negócio de Intel até meados dos anos 1980 (nota: À Intel é dado geralmente o crédito juntamente com a Texas Instruments pela invenção quase-simultânea do microprocessador). Em 1983, alvorecer da era do computador pessoal, os lucros de Intel vieram sob a pressão aumentada dos fabricantes japoneses de circuitos integrados de memória, e o então presidente Andy Grove resolveu dirigir a companhia com foco nos microprocessadores. Um elemento chave de seu plano era a intenção, considerada então radical, de transformar-se na única fonte para os sucessores do popular microprocessador 8086. Foi lançado o processador 8088, que fez um grande sucesso para os computadores recém-lançados da IBM, os primeiros PC´s. Posteriormente surgiram outros que ganharam mais recursos e maior velocidade de processamento, pertencentes a então denominada família de processadores x86. Mas, ao lançar o quarto processador que deveria se chamar 80586, a Intel acabou criando a marca registrada Pentium (apesar do rótulo 80586, mais conhecido como 586, ter sido aplicado por muito tempo por concorrentes da Empresa). Até então, a manufatura de circuitos integrados complexos não era confiável o bastante para que os clientes dependessem de um único fornecedor, porém Grove começou a produzir processadores em três fábricas geograficamente distintas e cessou de licenciar os projetos de microprocessadores aos concorrentes tais como Zilog e AMD. Quando a indústria do PC explodiu nos anos 1980 e no começo dos anos 1990, a Intel foi uma das mais beneficiadas. Durante os anos 1990, os Laboratórios da Arquitetura Intel (Intel Architecture Labs - IAL) eram responsáveis por muitas das inovações da estrutura do computador pessoal, incluindo o barramento PCI, o barramento PCI express (PCIe), o barramento serial universal (Universal Serial Bus - 'USB'), e a arquitetura agora dominante para usuários de multiprocessadores, a x86. Estratégia IDM 2.0. Em 23 de Março de 2021, o então CEO Pat Gelsinger anunciou planos visionários para retomar a liderança no mercado. Entitulado "IDM 2.0" (Fabricação de Dispositivos Integrados, do inglês "Integrated Device Manufacturing"), Gelsinger delineou a combinação de 3 pilares para permitir o alcance da liderança tecnológica: Para acelerar seus planos, Gelsinger anunciou uma significativa expansão da capacidade produtiva, com investimentos iniciais de $20 bilhões de dólares para construir duas novas fábricas (ou "fabs") no campus de Ocotillo, no estado do Arizona, e gerar cerca de 3 mil empregos de alta tecnologia. Instalações. A sede da Intel fica em Santa Clara, Condado de Santa Clara no estado da Califórnia, Estados Unidos. A empresa também possui instalações na China, Costa Rica, Malásia, Brasil, Israel, Irlanda, Índia, Filipinas e na Rússia. Nos Estados Unidos, a Intel emprega mais de 45 000 funcionários em Colorado, Massachusetts, Arizona, Novo México, Oregon, Texas, Washington, e Utah. Em 11 de Abril de 2022, a Intel homenageou um dos seus fundadores ao nomear de "Gordon Moore Park" a expansão de aproximadamente 500 acres do campus com a mais avançada tecnologia em fabricação de chips localizada em Ronler Acres na cidade de Hillsboro, no estado do Oregon. O Gordon Moore Park é o centro do desenvolvimento tecnológico de chips, onde cerca de 10 mil funcionários fazem avançar os horizontes previstos pela Lei de Moore inovando as arquiteturas dos transistors, dos processamento das bolachas de silício (wafers) e das tecnologias de enpacotamento (packaging). Microcontroladores. A Intel fabrica alguns microcontroladores dentre eles: Intel core. A família de processadores Intel core é mais popular no mundo, a maioria dos computadores pessoais estão equipados com eles.
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Infante Dom Henrique
Infante Dom Henrique O Infante Dom Henrique de Avis, 1.º duque de Viseu e 1.º senhor da Covilhã (Porto, – Sagres, ), foi um infante português e a mais importante figura do início da era das descobertas, popularmente conhecido como "Infante de Sagres" ou "O Navegador". Os seus restos mortais encontram-se sepultados no Mosteiro da Batalha. Vida. Infante D. Henrique nasceu numa quarta-feira de cinzas na cidade do Porto, Portugal, no dia então considerado pouco propício ao nascimento de uma criança. Era o quinto filho de João I de Portugal, fundador da Dinastia de Avis, e de Dona Filipa de Lencastre. Foi batizado alguns dias depois do seu nascimento, tendo sido o seu padrinho o bispo de Viseu. Os seus pais deram-lhe o nome Henrique possivelmente em honra do seu tio materno, o duque Henrique de Lencastre (futuro Henrique IV de Inglaterra). Pouco se sabe sobre a vida do infante até aos seus catorze anos. Tanto ele como os seus irmãos (a chamada Ínclita geração) tiveram como aio um cavaleiro da Ordem de Avis. Foi o principal impulsionador da expansão portuguesa, os chamados descobrimentos portugueses. Em 1414, convenceu seu pai a montar a campanha para a conquista de Ceuta, na costa norte-africana junto ao estreito de Gibraltar. A cidade foi conquistada em Agosto de 1415, assegurando ao reino de Portugal o controle das rotas marítimas de comércio entre o Atlântico e o Levante. Na ocasião foi armado cavaleiro e recebeu os títulos de Senhor da Covilhã e duque de Viseu. Foi também administrador da Ordem de Cristo. Após a conquista de Ceuta, retirou-se para Lagos, onde dirigiu expedições ao Atlântico. Rodeou-se de sábios e navegadores portugueses, maiorquinos, genoveses e venezianos. Durante a sua vida foram redescobertas as ilhas do Atlântico, já conhecidas em mapas do século XIV: os arquipélagos da Madeira e dos Açores. O povoamento e exploração das ilhas ficou a seu cargo. Após a morte do irmão, o rei Duarte, tornou-se regente o irmão infante D. Pedro, sendo o sobrinho Afonso V, menor. Um conflito entre o rei Afonso V e o seu tio, o infante D. Pedro, levou à batalha de Alfarrobeira, em que o infante foi morto. O infante D. Henrique colocou-se ao lado do rei, seu sobrinho, contra o seu próprio irmão. Expansão territorial. Durante o reinado de seu pai iniciou-se a expansão para África e para o Atlântico. Henrique teve um papel importante nesta fase. As explorações continuaram durante os reinados seguintes e a regência do infante Pedro. Conquista de Ceuta. O infante e os seus irmãos quiseram ser armados cavaleiros depois duma batalha e não em torneio. Foi proposta a tomada da cidade de Ceuta, no norte de África. A sua conquista também era uma forma do rei ganhar prestígio, conquistando uma cidade muçulmana, pois estes eram vistos como inimigos dos cristãos. Uma enorme armada partiu em 23 de Julho de 1415. A tomada deu-se a 21 de Agosto. A 18 de fevereiro de 1416 foi encarregado do governo de Ceuta. Cabia-lhe organizar, no reino, a manutenção daquela praça-forte em Marrocos. Em 1418, regressou a Ceuta na companhia de D. João, seu irmão mais novo. Os infantes comandavam uma expedição de socorro à cidade, que sofreu nesse ano o primeiro grande cerco, imposto conjuntamente pelas forças dos reis de Fez e de Granada. O cerco foi levantado e D. Henrique tentou de imediato atacar Gibraltar, mas o mau tempo impediu-o de desembarcar: manifestava-se assim uma vez mais a temeridade e fervor anti muçulmano do Infante. Ao regressar a Ceuta recebeu ordens de seu pai para não prosseguir tal empreendimento, pelo que retornou para o reino nos primeiros meses de 1419. Aprestou por esta época uma armada de corso, que atuava no estreito de Gibraltar a partir de Ceuta. Dispunha assim de mais uma fonte de rendimentos e desse modo, muitos dos seus homens habituaram-se à vida no mar. Mais tarde, alguns deles seriam utilizados nas viagens dos Descobrimentos. Expansão marítima. Em Lagos, no Algarve, o infante fixou a sua residência. Várias expedições foram feitas por sua iniciativa ou com a sua permissão. Em 1418 dois dos seus escudeiros, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, fazem o reconhecimento da ilha do Porto Santo, no arquipélago da Madeira e, no ano seguinte, da ilha da Madeira. Estas ilhas já estão assinaladas em portulanos e textos desde o século anterior. As ilhas revelaram-se de grande importância, vindo a produzir grandes quantidades de cereais, minimizando a escassez que afligia Portugal. O arquipélago foi doado a D. Henrique por Duarte I de Portugal, sucessor de D. João I, em 1433. Em 25 de maio de 1420, D. Henrique foi nomeado Governador da Ordem de Cristo, cargo que deteve até ao fim da vida. No que concerne ao seu interesse na exploração do oceano Atlântico, o cargo e os recursos da ordem foram decisivos ao longo da década de 1440. Desde que ficou com a tutela da Ordem, as velas passaram a usar a cruz de Cristo. Em 1427, os seus navegadores descobriram as primeiras ilhas dos Açores, por Diogo de Silves. Outra data aponta para 1431, por Gonçalo Velho. Também estas ilhas desabitadas foram depois povoadas pelos portugueses. Mapas do século XIV apontam a existência de ilhas nas coordenadas dos Açores. Até à época do Infante D. Henrique, o cabo Bojador era para os europeus o ponto conhecido mais meridional na costa de África. Gil Eanes, que comandou uma das expedições, foi o primeiro a ultrapassá-lo em 1434, eliminando os medos então vigentes quanto ao desconhecido que para lá do cabo se encontraria. Aquando da morte de D. João I, D. Duarte, irmão de D. Henrique, subiu ao trono. O rei entregou ao irmão um quinto de todos os proveitos comerciais com as zonas descobertas bem como o direito de explorar além do cabo Bojador. O reinado de D. Duarte durou apenas cinco anos, após o qual, D. Henrique apoiou o seu irmão D. Pedro na regência como "braço-direito", sendo seu lugar-tenente durante a menoridade do sobrinho D. Afonso V, recebendo em troca a confirmação do seu privilégio. Procedeu também, durante a regência, ao povoamento dos Açores. Com um novo tipo de embarcação, a caravela, as expedições adquiriram um grande impulso. O cabo Branco foi atingido em 1441 por Nuno Tristão e Antão Gonçalves. A Baía de Arguim em 1443, com consequente construção de uma feitoria em 1448. Foi também em 1441 que foram trazidos os primeiros escravos e criado um entreposto comercial no cabo Branco. Dinis Dias chegou ao rio Senegal e dobrou o Cabo Verde em 1444. A Guiné foi visitada. Assim, os limites a sul do grande deserto do Saara foram ultrapassados. A partir daí, D. Henrique cumpriu um dos seus objectivos: desviar as rotas do comércio do Saara e aceder às riquezas na África Meridional. Em 1452 a chegada de ouro era em suficiente quantidade para que se cunhassem os primeiros cruzados nesse metal.Entre 1444 e 1446, cerca de quarenta embarcações partiram de Lagos. Na década de 1450 descobriu-se o arquipélago de Cabo Verde. Data dessa época a encomenda de um mapa-múndi do Velho Mundo a Fra Mauro, um monge veneziano. Em 1460, a costa estava já explorada até ao que é hoje a Serra Leoa. Entretanto, D. Henrique estava também ocupado com assuntos internos do Reino. Julga-se ter patrocinado a criação, na Universidade de Coimbra, de uma cátedra de astronomia e filosofia. Um dos motivos para a exploração marítima era encontrar o reino do "Preste João." Desejava-se obter uma aliança com esse reino cristão para atacar os muçulmanos pelas costas. Desastre de Tânger. Foi um dos principais organizadores da conquista de Tânger em 1437, que se revelou fracasso enorme, já que o seu irmão mais novo, D. Fernando (o Infante Santo) ficou refém em Marrocos, até à sua morte em 1443, como garantia da devolução de Ceuta que nunca veio a acontecer. A sua reputação militar sofreu um revés e os seus últimos anos de vida foram dedicados à política e à exploração. Legado. Durante a sua vida foram redescobertos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Foi feita a sua colonização e exploração económica. A passagem do cabo Bojador, em 1434 por Gil Eanes, foi outro acontecimento importante. Ainda durante a sua vida chegou-se ao arquipélago de Cabo Verde, em 1455 por Cadamosto. Genealogia. Descendência. O Infante morreu solteiro, sem alguma vez ter tido mulher ou filhos. Deixou como seu principal herdeiro o seu sobrinho (e filho adoptivo), em bens, cargos e títulos, o segundo filho de seu irmão o rei D. Duarte já falecido, o Infante D. Fernando, duque de Beja, e que a partir dessa altura passa a ser Duque de Viseu tal como ele e a dirigir os Descobrimentos portugueses para o Reino de Portugal tal como o seu tio.
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Ipumirim
Ipumirim Ipumirim é um município brasileiro do estado de Santa Catarina com uma população de aproximadamente 7.244 habitantes. O nome Ipumirim vem do Tupi-Guarani, onde Ipu: Vale" e Mirim: Pequeno." Ou seja, Pequeno Vale. História. Colonizada por alemães e italianos no início do século XX, Ipumirim tornou-se município em 1963, quando se emancipou de Concórdia. Geografia. Localização – Meio-oeste, a 33 km de Concórdia e a 525 km de Florianópolis. Clima – Mesotérmico úmido, com temperatura média entre 10 °C e 28 °C. A cidade é dividida ao meio pelo Rio Engano tendo assim, a parte Oeste e Leste. Turismo. Situada na região do Alto Uruguai Catarinense, Ipumirim caracteriza-se pela grande quantidade de minifúndios. São cerca de 500, muitos deles abertos para o turismo rural. Também é famosa pelo atendimento caloroso que os moradores da cidade, na maioria descendentes de italianos, oferecem aos turistas. Infraestrutura turística – O Chafariz na rótula central da cidade refresca e ilumina ainda mais o clima quente e radiante do verão ipumirinense, tornando as caminhadas pelo centro da cidade animadas e divertidas. Possui confortáveis e bons restaurantes na cidade, com destaque para a comida italiana e gaúcha. Desde o ano 2020 tem Hunsrückisch e Talian como línguas co-oficiais segunda lei N° 1868 Economia. O Pequeno Vale é conhecido por ser um dos maiores exportadores de carne de frango de Santa Catarina e do Brasil. Possui uma unidade da JBS instalada no município empregando trabalhadores de diversos segmentos de todo o Vale da Produção (Arabutã, Ipumirim e Lindoia do Sul). A Indústria Madeireira também está muito presente no município, empregando centenas de trabalhadores e produzindo materiais de qualidade com padrões internacionais. E conta com mais de 3.000.000 de árvores plantadas em áreas de reflorestamento, com previsão de plantio de aproximadamente 400.000 mudas por ano.
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Júnior (futebolista, 1954)
Júnior (futebolista, 1954) Leovegildo Lins Gama Júnior, também conhecido como Júnior, Maestro Júnior ou Júnior Capacete (João Pessoa, 29 de junho de 1954), é um ex-futebolista e ex-treinador brasileiro que atuava como lateral-esquerdo. Atualmente trabalha como comentarista esportivo na Rede Globo. Como jogador, era ambidestro e polivalente, bom marcador e grande distribuidor de jogadas, independente da posição. A facilidade para jogar bem com as duas pernas o permitiu atuar como lateral-esquerdo, direito, volante e meio-campista. Jogador de extrema técnica e rara habilidade, tinha grande visão de jogo, precisão nos passes, e era ótimo cobrador de faltas e escanteios (tendo feito inclusive alguns gols olímpicos). Fez fama atuando pelo Flamengo, onde jogou 865 partidas, sendo o jogador que mais vezes vestiu a camisa rubro-negra. Pelas contas do site Fla-Estatística, foram 876 jogos entre 6 de novembro de 1974, quando entrou no lugar de Humberto Monteiro em um amistoso contra o Operário, e 19 de agosto de 1993, quando disputou dois amistosos de 45 minutos cada contra Zaragoza e Internazionale. Júnior participou de 508 vitórias, 212 empates e 156 derrotas, marcando 78 gols. Em 2020, em um ranking elaborado por especialistas dos jornais O Globo e Extra, figurou na 2ª posição entre os maiores ídolos de futebol da história do Clube de Regatas do Flamengo, atrás apenas do Zico. Em 1981, foi eleito o 3º Melhor Jogador da América do Sul e, pela Revista Italiana Guerin Sportivo, o 7º Melhor Jogador do Mundo no Ano. Em 2020, foi indicado pela FIFA como um dos elegíveis para o Time dos Sonhos da Bola de Ouro. Carreira. Como jogador. Nascido em João Pessoa, na Paraíba, Junior desembarcou na cidade Rio de Janeiro ainda quando criança, criando o hábito de jogar futebol na orla carioca. Foi assistindo a uma dessas peladas que o então técnico da base do , Modesto Bría, convidou o ambidestro Júnior para testes entre os jovens rubro-negros. Neste meio tempo, porém, chegou a jogar futebol de salão no Sírio Libanês. Flamengo. A habilidade e a visão de jogo apuradas fizeram com que ele fosse aceito. Nas categorias de base, atuava como volante. Em apenas um ano nas categorias de base, teve sua primeira oportunidade entre os profissionais. Atuando como lateral-direito, estreou em 1974, obtendo destaque logo de cara. O primeiro grande momento da carreira foi a reta final do Carioca de 1974. Na decisão do terceiro turno, vitória de 2 a 1 contra o América, gols de Zico e do lateral direito Júnior. No primeiro jogo do triangular decisivo, mais uma vitória por 2 a 1 contra o América, gols de Jayme e mais uma vez do lateral direito Júnior. Depois dessas duas vitórias, bastou, ao time e ao seu lateral direito artilheiro, empatar com o Vasco em 0 a 0 e conquistar seu primeiro título com a camisa rubro-negra. Em 1976, dois anos após sua profissionalização, uma mudança definitiva marcaria sua carreira. O treinador Cláudio Coutinho improvisou Júnior na lateral-esquerda, deixando no banco de reservas Vanderlei Luxemburgo. Nesta posição, Junior se mostrou um jogador muito mais útil ao time. Em 1981, recebeu até propostas do Real Madrid, mas o coração falou mais alto. Em 1984 não teve jeito. O Flamengo precisava de dinheiro, e após 10 anos e 44 gols marcados, ele foi vendido para o Torino, da Itália. Os anos no futebol italiano. Torino. Por aproximadamente 2 milhões de dólares, o Torino adquiriu o lateral brasileiro, de 30 anos, para ser a principal peça de seu time. Com uma idade mais avançada, Junior pediu para ser deslocado para atuar mais avançado, preservando-se mais para poder continuar sua carreira por mais tempo. Passou a ser chamado também de Leo Junior. E foi assim, atuando no meio de campo, que logo no ano de sua estreia, conduziu o time de Turim ao vice-campeonato italiano. Ele marcou sete gols e foi, ao lado do meio-campista Giuseppe Dossena, o maestro do time treinado por Luigi Radice. Não a toa ele foi eleito o melhor jogador daquele campeonato, que contava com jogadores do quilate de Maradona, Platini, Rummenigge, Falcão e Zico (os dois brasileiros já de despedida). O primeiro ano de Júnior na Itália, apesar da idolatria da torcida do time de Turim, teve também algumas turbulências sérias. Ele sofreu racismo em duas oportunidades. O primeiro caso aconteceu em um duelo contra o Milan, onde foi insultado durante toda a partida no San Siro, sendo ainda alvo de mais xingamentos e cusparadas quando saía do estádio ao lado de seus parentes. Na outra ocasião, sofreu com torcedores da Juventus que levaram ao dérbi faixas ofensivas ao jogador, mencionando principalmente a cor de sua pele. Como resposta, a torcida do Torino levou cartazes de apoio, com os dizeres "Melhor negro do que juventino". Em seu segundo ano pelo clube, Júnior manteve seu futebol de alto nível, sendo novamente a principal peça de um Torino que chegou ao quarto lugar da Serie A. Pescara. Em 1987, alguns desentendimentos com o treinador Luigi Radice o fizeram ser negociado com o Pescara, que havia acabado de subir para a Serie A. Junior tornou-se, assim, o primeiro estrangeiro a vestir a camisa do clube. Ganhou logo de cara a faixa de capitão e ajudou o clube a manter-se na Primeira Divisão. Em seu segundo ano no Pescara, apesar de não ter conseguido ajudar a equipe a manter-se na Primeira Divisão, ele foi eleito o segundo melhor estrangeiro da Serie A, ficando à frente de nomes como Careca, Gullit, Rijkaard, van Basten e Maradona, perdendo apenas para Matthäus, que levou a Internazionale a um "Scudetto" cheio de recordes. Em sua despedida do futebol italiano, ele recebeu uma bela homenagem do Pescara: uma partida entre as seleções de Brasil e Itália da Copa do Mundo de 1982. Retorno por empréstimo ao Torino. Em junho de 1991 (já vestindo novamente a camisa do ) foi emprestado por alguns dias pelo Fla ao Torino para disputar a Copa Mitropa, vencida pelo time grená sobre o Pisa. Em 2006, no centenário do Torino, mostrando toda a idolatria do clube para com a sua pessoa, Júnior foi homenageado. Retorno ao Flamengo. Em 1989, aos 35 anos e a pedido de seu filho, que nunca o vira jogar pelo Flamengo, Júnior voltou para comandar a equipe rubro-negra nas conquistas da Copa do Brasil de 1990, o Campeonato Estadual de 91 e o Brasileirão de 92. Em 1992, atuando como meia, liderou o Flamengo ao título brasileiro, no Brasileirão daquele ano. Tal fato é considerado um feito, tendo em vista a idade avançada do então meia, com 38 anos. Neste último foi um autêntico maestro, pois de seus pés surgiriam as jogadas que surpreenderiam os rivais na reta final daquele campeonato. Júnior, aliás, marcou gols nos dois jogos decisivos contra o rival Botafogo: 3 a 0 e 2 a 2. O "Vovô-Garoto", como ficou conhecido na segunda fase em que esteve no time rubro-negro, viveu muitos dias de glória no clube, fazendo 77 gols ao todo com a camisa rubro-negra. Júnior encerrou sua carreira futebolística em 93. Chegou a receber propostas para defender outras equipes, entre elas o Botafogo, mas não desistiu de sua aposentadoria. Seleção Brasileira. Júnior começou a escrever seu nome com a camisa canarinho a partir de 1976. Inicialmente, o craque disputou as Olimpíadas de Montreal, em 1976. Depois dos Jogos Olímpicos, integrou uma lista da CBD com 72 jogadores que seriam observados por Cláudio Coutinho durante o Campeonato Brasileiro de 1977, tendo vista a Copa do Mundo da Argentina no ano seguinte. Foi preterido pelo técnico, que preferiu improvisar o zagueiro Edinho como lateral na Copa. A partir de 1979, porém, Júnior passou a ser nome certo nas convocações da Seleção Brasileira. Na Copa do Mundo de 1982, fez parte do que é considerado um dos maiores times que o futebol já produziu. Na partida contra a Argentina, fez seu único gol em Copas do Mundo. Ao receber um belo passe de Zico, o camisa 6 surgiu como surpresa, invadiu a área e bateu rasteiro, tirando do alcance do goleiro Fillol. A Seleção Brasileira bateu o time do novato Diego Maradona por 3 a 1. Participou também da Copa do Mundo de 1986. Pela Seleção Brasileira principal, Júnior jogou 88 partidas entre os anos de 1979 e 1992, registrando oito gols. Sua maior conquista com a amarelinha foi o vice-campeonato da Copa América de 1983. Porém, todo o encantamento que ele trouxe junto com toda aquela geração só pode ser comparada às Seleções de 58/62 e 70. Estilo de jogo e características. Júnior era conhecido por sua técnica e trabalho em equipe, bem como sua versatilidade. Ambidestro, Junior começou sua carreira jogando como lateral-direito, mas fez sucesso quando passou a jogar de lateral-esquerdo. Com isso, quando no ataque, ele puxava a bola para o centro do campo, e não necessariamente à linha de fundo, o que confundia o marcador. Um exmeplo disso foi o gol que ele fez contra a Alemanha, num amistoso. Com uma inteligência tática acima da média, Junior passou a atuar como meio-campista mais pro final de sua carreira, distinguindo-se por sua capacidade de organizar a manobra ofensiva, bem como por sua capacidade de cumprir tarefas defensivas, bem como por elegância e sabedoria tática. Conforme a FIFA. ele era tão capaz de "orquestrar movimentos de ataque como cumprir seu mandato defensivo". Além de suas habilidades de criação de jogadas, ele era um excelente batedor de faltas e de pênaltis. Trabalhos após a aposentadoria no campo. Treinador e manager. Encerrou a carreira de jogador em 1993 e no mesmo ano assumiu a função de treinador do time do Flamengo, substituindo Evaristo de Macedo e ficando no clube até 1994. Retornou ao clube em 1997 no lugar de Joel Santana. Nestas duas oportunidades, ele levou o clube ao vice no Campeonato Carioca de 1994. Totalizou 35 vitórias, 21 empates e 20 derrotas em 76 partidas. Foi ainda técnico do Corinthians em 2003, mas entregou o cargo após três rodadas. Em 2004 assumiu a função de gerente de futebol do Flamengo, ficando na função até o final daquele ano. Futebol de areia. Depois de sua aposentadoria dos campos, Júnior partiu para uma grande empreitada: a de alavancar o até então incipiente futebol de areia à condição de esporte reconhecido e sucesso de público. Participou das primeiras grandes conquistas da Seleção Brasileira de Beach Soccer, tendo depois a companhia de outros grandes craques do campo, como Zico e Cláudio Adão. É considerado por muitos o maior jogador da história do Beach Soccer. Trabalhos atuais. Um convite de Carlos Alberto Parreira, então técnico da seleção, para ser observador na Copa de 1994, o fez descobrir uma nova vocação."Era uma oportunidade de participar de uma Copa em outra função e adorei. E acho que foi aí que surgiu a vontade de ser comentarista." Seus primeiros trabalhos como comentarista foram nos canais SporTV e Premiere, onde trabalhou de 1998 a 2003. Em 2005, ele assinou contrato com a Rede Record de Televisão em 2005. Ficou um ano na emissora da Barra Funda e depois voltou a comentar pela Rede Globo de Televisão. Desde então ele trabalha para a equipe de esportes da Rede Globo, sendo o comentarista titular dos jogos de times do Rio de Janeiro. Como comentarista dos canais da Globo, participou de todas as Copas do Mundo desde 1998. Além disso, desde 2012 é membro do Conselho Fiscal da AGAP - Associação de Garantia ao Atleta Profissional do Rio de Janeiro (Mandato 2012/2016). Outros trabalhos. Em 2006, Junior foi um dos três jurados do reality show esportivo Joga Bonito, apresentado pela Rede Bandeirantes. Carreira como cantor e sambista. Júnior também fez sucesso fora dos gramados e areias como cantor. O que pouca gente sabe é que sua formação como sambista começou cedo, logo aos oito anos, quando aprendeu a tocar pandeiro observando as rodas de samba que o tio promovia no Rio de Janeiro. Em 1982, poucos meses antes da Copa do Mundo da Espanha, Júnior gravou um compacto com a música Povo Feliz, que ficou mais conhecida como "Voa, Canarinho". A música virou a trilha sonora da Seleção Brasileira naquela Copa e o compacto vendeu mais de 800 mil cópias. O lado B deste compacto tem a música "Pagode da Seleção", que não obteve tanta repercussão. Meses antes da gravação deste compacto, Júnior já havia gravado o LP "Junior", pela RCA Victor, registrando os sambas "Tenha dó" e "Ser Mangueira (É ser feliz)". Em 1986, Júnior gravou em compacto simples, o samba "Vibrar de novo", que mais tarde também seria incluído na coletânea "As 17 melhores músicas para a seleção na Copa de 90", da Som Livre. Em 1990, gravaria o seu segundo álbum, intitulado "Tem Que Arrebentar!", pelo selo EMI. Em 1995, ano do centenário do Flamengo, gravou o CD comemorativo do clube, com participações dos músicos Bebeto e Moraes Moreira. Torcedor declarado da Estação Primeira de Mangueira, Junior todo ano desfila pela escola no Carnaval. Além disso, Júnior tem um projeto na cidade do Rio que se chama "Samba da Sopa Junior", onde ele sempre leva um convidado do samba. Ele toca de 15 em 15 dias, e cobra somente o couvert artístico. Discografia. Junior (1982). junior (sem acento, e com a primeira letra minúscula), também conhecido como Felicitações ao Campeão, é o nome do primeiro álbum da discografia do Júnior. Foi lançado em 1982, em formato LP, pela RCA Victor. As informações sobre as faixas do álbum seguem abaixo: Tem Que Arrebentar! Tem Que Arrebentar! é o nome do segundo álbum da discografia do Júnior. Foi lançado em 1990, em formato LP, pela EMI. As informações sobre as faixas do álbum seguem abaixo: Estatísticas. Como jogador. Seleção Brasileira. Seleção principal