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Muriqui-do-sul
Muriqui-do-sul O muriqui-do-sul , também chamado simplesmente de mono-carvoeiro ou muriqui, é uma espécie de primata da família "Atelidae e do" gênero "Brachyteles" endêmico da Mata Atlântica brasileira. É uma das duas espécies existentes de muriqui, sendo a outra o muriqui-do-norte (nome científico: "Brachyteles hypoxanthus"). Ocorre principalmente nos estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espirito Santo e Minas Gerais. Com quase 1,60 m de comprimento e pesando até 15 kg, o muriqui do sul é o maior primata não-humano das Américas. É uma espécie considerada como "criticamente em perigo" pela IUCN e "em perigo" pelo Ministério do Meio Ambiente. Isso se deve principalmente à alta fragmentação da Mata Atlântica e à caça ilegal, que pode levar pequenas populações reduzidas à extinção rapidamente. O muriqui-do-sul tem longos braços e uma cauda preênsil, que permite a braquiação. Ao contrário do muriqui-do-norte, sua face é negra, sem manchas esbranquiçadas, e não possui o polegar vestigial. Os testículos são volumosos, consequência de um sistema de acasalamento promíscuo. Etimologia. "Muriqui" vem do tupi "muri'ki" e significa "gente que bamboleia, que vai e vem". A espécie é conhecida como "povo manso da floresta", graças a seus hábitos pacíficos e de permanência em grupo. Características. É um animal dócil, de pelagem bege espessa e macia, com anel de pelos mais claros ao redor da face. Não possui polegar. A coloração da pele da face, das mãos, pés, planta da cauda e do escroto é preta. Os machos têm caninos consideravelmente mais longos que as fêmeas. De braços e pernas longos e finos, gosta de se balançar nas árvores segurando-se apenas pela cauda, que é preênsil. Os muriquis machos medem entre 55-78 cm de comprimento — sem contar com a cauda, que acrescenta mais 74-80 cm no comprimento — e podem pesar de 9,6 a 15 kg quando adultos. Os indivíduos do sexo feminino são relativamente menores, tendo entre 46-63 cm de comprimento do corpo e mais 65-74 da cauda, pesando entre 8-11 kg. Machos e fêmeas têm o ventre proeminente. Comportamento e ecologia. De hábitos diurnos, os muriquis geralmente vivem em altitudes que variam de 400 m a até 2.050 m de altitude. Alimentam-se sobretudo de folhas, mas também podem consumir quantidades significativas de frutas, flores, cascas, bambus, samambaias, néctar, pólen, e sementes. De hábitos gregários, vivem em grupos que possuem entre 4-43 indivíduos. Os muriquis machos, ao contrário de muitos outros primatas, passam grandes períodos de tempo juntos, sem comportamento agressivo significativo. Também não são territoriais. Extremamente ágeis chegam a dar saltos de até dez metros na copa das árvores, eles também podem dormir durante parte do dia. Conservação. Endêmico da Mata Atlântica do sudeste do Brasil (do sul da Bahia até o Paraná), sofre os efeitos do antropismo por várias vertentes: Segundo estimativas, existiam aproximadamente cerca de 1.300 muriquis do sul vivendo no Brasil em 2005, são considerados um dos primatas mais ameaçados do mundo. Iniciativas de conservação. A Associação Pró-Muriqui desenvolve pesquisas com o Muriqui do Sul no estado de São Paulo (Parque Estadual Carlos Botelho) desde 1993. Este é o único estudo de longo prazo com mono-carvoeiro em florestas não-fragmentadas do Brasil. O principal foco de atuação destas pesquisas situa-se no "continuum" ecológico de Paranapiacaba, o maior remanescente natural do bioma Mata Atlântica ainda existente no país (210.000 hectares de floresta contínua). Promove treinamento de jovens estudantes em primatologia de campo, visando à formação de recursos humanos que serão os futuros tomadores de decisão nas áreas de conservação e pesquisa. O Programa Muriqui, do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, acompanha grupos da espécie, estudando suas rotas e hábitos. O projeto conta com o apoio do centro de Primatologia do Rio de Janeiro, localizado em Guapimirim. Outros estudos importantes foram desenvolvidos com monos-carvoeiros existentes nas matas da fazenda Barreiro Rico, em Anhembi, no estado de São Paulo, de propriedade da família Reis de Magalhães. Em cativeiro. Existem apenas duas populações cativas de muriquis-do-sul, ambas das quais se encontram no Brasil, no zoológico municipal de Curitiba e no zoológico de Sorocaba, com este ultimo estando localizado a 80 km do Parque Estadual Carlos Botelho, considerado um dos maiores santuários para o Muriqui do sul, e o único no qual a espécie foi devidamente estudada em um ambiente de floresta contínua.
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Mandioca
Mandioca Manihot esculenta, conhecida como mandioca, macaxeira, aipim, castelinha, uaipi, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre, mandioca-brava e mandioca-amarga, é uma planta da família das "Euphorbiaceae". Esta planta é nativa da América do Sul, no entanto está presente em muitas regiões do mundo. O seu consumo só pode ocorrer depois de uma etapa de cozimento que reduza o conteúdo de HCN (cianeto de hidrogênio) para níveis muito baixos. Como o cianeto de hidrogénio é muito volátil, a sua redução ocorre devido à temperatura de cozimento, o que ocasiona a evaporação do composto. É a terceira maior fonte de carboidratos nos trópicos, depois do arroz e do milho, e é um dos principais alimentos básicos no mundo em desenvolvimento, existindo na dieta básica de mais de meio bilhão de pessoas. Espalhada para diversas partes do mundo, tem hoje a Nigéria como seu maior produtor. Etimologia. "Mandioca" origina-se do termo tupi "mãdi'og", "mandi-ó" ou "mani-oca", que significa "casa de Mani", sendo Mani a deusa benfazeja dos guaranis que se transforma em mani-oca. "Aipim" origina-se do termo tupi "ai'pi". "Maniva" origina-se do termo tupi "mani'iwa". No Brasil, o termo "mandioca" ou "mandioca brava" é utilizado para as plantas com HCN superior a 100 mg/Kg de produto; enquanto que o termo "macaxeira, mandioca mansa" ou "aipim", é utilizado nas plantas que possuem menos de 50 mg de HCN por kg de raiz fresca sem casca. Doenças fitossatárias. As doenças estão entre as principais causas da queda de produção e produtividade da cultura da mandioca. No estado do Pará, a exemplo, as podridões radiculares são responsáveis pelas maiores perdas. Podridão Radicular – Afeta principalmente os cultivos da região norte. Estima-se que na região amazônica em áreas de várzea a perda chegue a mais de 50% e, em áreas de terra firme, 30%. Já em áreas que detêm solos com má drenagem da água da chuva observa-se que estas perdas são, na maioria dos casos, totais. A sintomatologia observada nas raízes permite distinguir em dois grupos de podridões: a) Podridão mole: Os agentes etiológicos são espécies de "Phytophthora" e "Pythium", atualmente classificados no reino Chromista (Stramenopila). Tais organismos fitopatogênicos infectam as plantas, causando podridão-mole, decorrente de características necróticas dos patógenos que atuam na maceração dos tecidos de reserva, levando a desintegração das raízes, que liberam um odor forte e característico. O amarelecimento e murcha da parte aérea da planta são sintomas reflexos do apodrecimento das raízes, geralmente observado a partir do 2 ou 3 meses de intensa ocorrência de chuvas. b) Podridão Seca: Especies de "Fusarium, Scytalidium, Lasiodiplodia" e "Diplodia" são os principais agentes etiológicos da podridão-seca, a qual se caracteriza pela ocorrência de áreas necróticas secas e/ou pontuações enegrecidas nos tecidos internos das raízes e também na casca. Sinônimos. Sinônimos e nomes arcaicos: Cultivares (variedades). A cultura da mandioca apresenta ampla variabilidade genética representada pelo grande número de cultivares disponíveis no Brasil, seu local de origem. Até 2006 já haviam sido catalogadas, apenas no Brasil, mais de 4 mil delas mantidas em coleções e bancos de germoplasma de várias instituições de pesquisa. A maioria dessas cultivares é fruto do trabalho de seleção e conservação dos agricultores em suas lavouras durante anos seguidos. São as chamadas variedades crioulas. O ciclo cultural da mandioca é o período que vai do plantio à colheita. As cultivares de mandioca têm ciclos que variam de 6 a 36 meses e, com base neles, são classificadas em: A mesma cultivar dificilmente se comporta de forma semelhante em todos os locais pois, por apresentar alta interação do genótipo com o ambiente, caracteriza-se por adaptação localizada, podendo o comportamento de uma mesma cultivar variar até entre lavouras de agricultores da mesma região, em decorrência de diferenças de solo ou de manejo do cultivo. É considerada planta rústica e com ampla capacidade de adaptação, sendo cultivada em todas as regiões tropicais, adaptando-se às mais variadas condições de clima e solo. Independentemente de sua ampla variabilidade genética e de sua interação com o ambiente, os principais parâmetros ecológicos da mandioca são constituídos por temperatura, radiação solar, fotoperíodo, regime hídrico e solo. O principal critério utilizado na seleção de cultivares para consumo humano é a existência de baixo teor de ácido cianídrico nas raízes. Características como tempo de cozimento das raízes, palatabilidade, ausência de fibras na massa cozida e resistência à deterioração após a colheita também devem ser consideradas. As cultivares recomendadas para a alimentação animal devem apresentar alto rendimento de raízes e da parte aérea, boa retenção foliar, alto teor de proteína nas folhas e teor mínimo de ácido cianídrico, tanto nas folhas como nas raízes. Composição nutricional. A mandioca é rica em fibras, isenta de glúten e possui 3 vezes mais calorias que a batata. Possui dois tipos de carboidrato: a amilopectina e a amilose. Valor nutricional por 100 g de mandioca Toxicidade. A mandioca se difere das outras plantas produtoras de amido por seu teor de linamarina (beta-glicosídeo de acetona cianidrina), que pode gerar cianeto livre (ânion CN−) o qual, em água, forma ácido cianídrico, cianeto de hidrogênio ou cianureto de hidrogênio, (HCN). composto extremamente volátil, porém, altamente tóxico podendo em pequenas quantidades provocar ataxia e morte Isto deve-se ao fato de que os cianetos iónicos se coordenam com íons férricos contidos no citocromo oxidase III da mitocondria, impedindo a redução do oxigênio em água da cadeia transportadora de elétrons, matando a pessoa exposta por sufocamento. Por esta razão é necessário o cozimento da "Mandioca" antes do seu consumo para que diminua o conteúdo de HCN para valores abaixo de 0,5 mg/Kg de produto A dose letal de HCN para o ser humano oscila entre 50 a 60 mg/kg de peso-vivo. Em relação à quantidade de HCN/Kg na raiz fresca sem casca, as cultivares são classificadas em: A macaxeira (mandioca mansa, de mesa ou aipim), por apresentar baixos teores de ácido cianídrico (<50 mg/kg), pode ser consumida após pouco processamento culinário (cozer em água, ou leve cozedura seguido de fritura etc). No entanto para a mandioca (mandioca braba), por apresentar altos teores de ácido cianídrico (>50 mg/kg), é necessário cozimento por um tempo mínimo de 50 horas a uma temperatura de 100 °C.. A forma mais utilizada para alcançar isto é o processamento tradicional, que consiste na moagem seguida da retirada da manipuera (ou manipueira), líquido libertado que pode ser usado para a produzir goma e tucupi, e, por fim, a torrefação Produção agrícola. Segundo a FAO, a mandioca é plantada em mais de 100 países, sendo os maiores produtores a Nigéria, a Tailândia, o Brasil, a Indonésia, Angola, Gana e a República Democrática do Congo, respectivamente. Segundo a FAO, em 2008, foram produzidas aproximadamente 25,9 milhões de toneladas, no Brasil; 8,9 milhões, em Angola; 5 milhões, em Moçambique; 50 mil, em Timor-Leste; 48 mil, em Guiné-Bissau e 6,3 mil toneladas, em São Tomé e Príncipe. Em 2016, a Nigéria liderava a produção de mandioca em raiz com 20%, seguida pela Tailândia (11%), Indonésia (9%) e Brasil (8%). Em 2010, o rendimento médio foi de 12,5 toneladas por hectare de cultura da mandioca em todo o mundo. As fazendas de mandioca mais produtivas em todo o mundo estavam na Índia, com uma produtividade média nacional de 34,8 toneladas por hectare em 2010. Os maiores produtores no Brasil são: Pará, Paraná, Bahia e Maranhão. A mandioca desempenha um papel vital na segurança alimentar das economias rurais dos países da África subsariana devido à sua resistência à seca, baixa fertilidade do solo e pragas. Lendas. O folclorista Câmara Cascudo registra alguns mitos sobre a mandioca. São eles: Entre os parecis, povo de Mato Grosso, no Brasil, a história é a seguinte: Zatiamare e sua esposa Kôkôtêrô tiveram um par de filhos — o menino Zôkôôiê e uma menina, Atiolô — desprezada pelo pai, que a ela nunca falava senão por assobios. Amargurada pelo desprezo paterno, a menina pediu à mãe que a enterrasse viva; esta resistiu ao estranho apelo mas, ao fim de certo tempo, atendeu-a: a menina foi enterrada no cerrado, onde o calor a desagradou e, depois no campo, também lugar que a incomodara. Finalmente foi enterrada na mata, onde foi do seu agrado; recomendou à mãe para que não olhasse quando desse um grito, o que ocorreu após algum tempo. A mãe acorreu ao lugar, onde encontrou um belo e alto arbusto que ficou rasteiro quando ela se aproximou; a índia Kôkôtêrô, porém, cuidou da planta que mais tarde colheu do solo, descobrindo que era a mandioca. Entre os bacairis, conta-se a lenda de um veado que salvara o bagadu (peixe da família "Practocephalus") que, para recompensá-lo, deu-lhe mudas da mandioca que tinha ocultas sob o leito do rio. O veado conservou a planta para alimentação de sua família mas o herói dos bacairis, Keri, conseguiu pegar do animal a semente, que distribuiu entre as mulheres da tribo. A lenda de Mani foi registrada em 1876, por Couto de Magalhães. Em domínio público, este foi o registro do folclorista: Câmara Cascudo acrescenta que o nome "mandioca" advém de "Mani + oca", significando "casa de Mani". É, segundo este autor, um mito tupi, recontado em obras posteriores, como "Lendas dos Índios do Brasil", de Herbert Baldus (1946), e "Antologia de Lendas dos Índios Brasileiros", de Alberto da Costa e Silva (1956). Utilização. Culinária do Brasil. Como encontra-se na clássica obra "Casa-Grande & Senzala", ao chegarem ao Brasil, os primeiros europeus se espantaram com a fartura da farinha de mandioca, muito mais abundante e fácil de ser obtida que a farinha de trigo europeia. No Brasil Colônia, foi um dos principais alimentos utilizados pelos colonos. Em forma de farinha, integrava vários pratos como bolo, beiju, sopa, angu e, às vezes, misturada apenas com água ou com feijão e carne, quando havia. O amido da mandioca também pode ser processado em forma de bolinhas para formar o sagu. Os tipos de farinhas comuns na região Norte do Brasil: Culinária da Colômbia. A "carimañola" é um prato típico colombiano e consiste em um tipo de bolinho de mandioca em forma de torta. Mandioca Breda foi preparado por membros do povo de Saliva na província de Casanare, Colômbia, no início de 1856. Culinária das Filipinas. Nas Filipinas, o bolo de mandioca ou "Kakanin" é uma das sobremesas caseiras mais populares e apreciadas. É feito a partir de mandioca ralada ("Kamoteng Kahoy"), misturado com leite de coco, ovos e manteiga e coberto com uma mistura de leite cremoso. É também chamado de "cassava bibingka". No Brasil, a raiz tuberosa da mandioca é consumida de várias formas. Há muitos tipos de farinha de mandioca, que são resultantes da ralagem, prensagem e secagem da raiz da mandioca, e a farinha de tapioca ou polvilho, que é feita com o fino amido proveniente da decantação do caldo prensado da massa de mandioca. Da mandioca fermentada é produzida a puba. Dela, também são feitas bebidas como o cauim (indígena), feito através de fermentação. Por meio de um processo de destilação, também é produzida uma cachaça ou aguardente de mandioca: a tiquira. Possui elevado teor alcoólico. É comum no estado do Maranhão mas é pouco conhecida no restante do Brasil. Dela, também se faz outra farinha: o polvilho (fécula de mandioca), doce ou azedo, que serve para a preparação de diversas comidas típicas brasileiras, como o pão de queijo. Apesar de frequente em países da África e da Ásia, para onde foram levadas pelos colonizadores ibéricos, o hábito de se utilizar as folhas da planta para alimentação, no Brasil, só ocorre na Região Norte. Na África, é comum consumir-se, além da raiz, também as folhas jovens em forma de esparregado. Em Moçambique, estas são piladas (moídas no pilão), juntamente com alho e a própria farinha seca da raiz e, depois, cozinhada normalmente com um marisco (caranguejo ou camarão); esta comida se chama matapa e é uma das mais populares da culinária moçambicana. Em Angola, este esparregado é conhecido como kissaca. A farinha de mandioca comumente é preparada a partir da mandioca-brava. Para se extrair a manipuera, é necessário o uso do tipiti ou outro tipo de prensa. Dela, retira-se a caiarema ou carimã. No linguajar popular, polvilho. "Manipuera" se origina dos termos tupis: Uso pelos nativos americanos. A mandioca tinha uma enorme importância para a alimentação dos índios e dos primeiros colonizadores do Brasil e, como se vê acima no trecho de carta do Padre José de Anchieta de 1554, foi o motivo para a fundação da cidade de São Paulo. Os cintas-largas de Mato Grosso e Rondônia obtinham a raiz de maneira peculiar: ao invés de arrancar o pé inteiro, como quase todos os outros índios faziam, suas mulheres cavavam o solo e removiam apenas as raízes grandes, deixando as menores se desenvolverem. Os tupinambás da Bahia faziam a "giroba", um tipo de cauim, que também servia como alimento. A mandioca era descascada, cortada em pedaços, cozida, socada em pilão, cozida novamente com mais água e colocada em vasilhame para fermentar. A massa cozida não era mastigada como na maioria dos cauins, sendo amassada no pilão e mesmo assim ocorria o processo de fermentação. As mães alimentavam crianças pequenas com a "giroba", que, segundo a crença, permitia-lhes que se desenvolvessem em adultos fortes e saudáveis. Nos estados do Maranhão, Piauí e Ceará, é produzida a tiquira, bebida resultante da destilação da mandioca. Os araras do Pará, que eram nômades não cultivavam mandioca. Os omáguas do Alto Amazonas colhiam a mandioca e a enterravam deixando apodrecer parcialmente e assim a consumiam. Os camaiurás de Mato Grosso, para virar beiju, talhavam na madeira a pá, que apresentava a extremidade semi circular. Os caiabis de Mato Grosso assavam a mandioca com casca na brasa, descartavam a casca e deixavam-na de molho na água. No outro dia, a mandioca era amassada e comida fria. Algumas tribos não conheciam o tipiti, como os paracanãs, do Pará. Faziam a farinha cortando a mandioca, cozendo-a e espremendo-a em uma esteira para remover a parte líquida. As bolas de mandioca eram secas em um jirau, desfeitas, peneiradas e torradas Da mandioca, os ameríndios obtinham uma grande variedade de derivados: "Arumbé": massa de mandioca com pimenta. Beiju: o pão de mandioca é feito em farelos e aspergido com água, resultando em uma massa grudenta que é espalhada sobre uma chapa quente, sendo continuamente virada de um lado e do outro. Os caiabis de Mato Grosso faziam o beiju deixando a mandioca brava de molho por uns dias. Depois ela era descascada e bem seca ao sol. Ela era socada no pilão, umedecida e assada de um só lado. Os Txukahamãe ou Megaron da mesma região envolviam a massa de mandioca em forma de quadrado em folha de bananeira e a colocavam entre pedras aquecidas, cobriam-na com mais folhas e terra e a deixavam assar por horas. Os xirianás de Roraima assavam não só o beiju nos largos discos de argila, como também carnes de caça. Um modo diferente de preparar o beiju era praticado pelos Haló’ T´é Sú de Mato Grosso. Removiam as cinzas e brasas do fogo e no local colocavam a farinha, que era comprimida até formar os beijus. As cinzas e brasas eram sobre eles colocadas, que ficavam assados em quinze minutos. As brasas eram removidas com uma vareta e os beijus batidos para a remoção das cinzas. Os nativos das Américas preparavam vários tipos de beijus e outros pratos derivados da mandioca: Produção de combustíveis. No início do Proálcool, nos anos 1970, a mandioca foi considerada como uma possível matéria-prima para a produção de álcool combustível no Brasil. Pesquisas brasileiras indicam que o amido da mandioca pode ser usado na produção do hidrogênio verde ("ver: Bio-hidrogénio e Produção biológica de hidrogênio").
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Macaxeira
Macaxeira
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Mentira
Mentira Mentira é uma afirmação ou negação falsa dita por alguém que sabe (ou suspeita) de tal falsidade, ou se engana sem ser propositado mas na maioria das vezes espera que seus ouvintes acreditem nos dizeres. Segundo Paul Ekman, uma mentira é contada quando "uma pessoa tem a intenção de enganar a outra, ou fazendo deliberadamente, sem notificação prévia de seu propósito e sem ter sido explicitamente solicitada a fazê-lo pelo alvo" (p. 28). Ou seja, ao contrário de situações em que é esperado que a pessoa transmita falsas informações, como em um jogo de "poker", na mentira a pessoa pode escolher entre mentir ou falar a verdade, sabendo a diferença entre as duas opções. Moralidade da mentira. Mentir é contra os padrões morais de muitas pessoas e é tido como um "pecado" em muitas religiões. As tradições éticas e filósofos estão divididos quanto a se uma mentira é alguma situação permissível – Platão disse sim, enquanto Aristóteles, Santo Agostinho e Kant disseram não. Mentir de uma maneira que piore um conflito em vez de diminuí-lo, ou que se vise tirar proveito deste conflito, é normalmente considerado como algo antiético. Existem pessoas que afirmam que é com frequência mais fácil fazer as pessoas acreditarem numa grande mentira dita muitas vezes, do que numa pequena verdade dita apenas uma vez. Esta frase - "Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade" - foi proferida pelo Ministro da Propaganda Alemã Joseph Goebbels no Terceiro Reich. A mentira torna-se uma sátira com propósitos humorísticos quando deixa explícita pelos excessos na fala e o tom jocoso que de fato é uma mentira. Nestes casos é com frequência tratada como não sendo imoral e é bastante praticada por humoristas, comediantes, escritores e poetas. Etiqueta da mentira. A etiqueta é bastante preocupada com as questões da mentira, atribuição da culpa e hipocrisia – coisas que com frequência são menosprezadas na ética mas de grande utilidade na sociedade: As razões morais para se tolerar mentiras têm a ver em sua maior parte em evitar conflitos. Um código ético irá com frequência especificar quando a verdade é necessária e quando não é. Em tribunais, por exemplo, o processo antagônico e padrão de evidência que é aplicado restringe as perguntas de maneira que a necessidade da testemunha mentir é reduzida – de maneira que a verdade quanto a questão em julgamento supostamente será revelada com mais facilidade. A necessidade de mentir é reconhecida pelo termo "mentira social" onde a mentira é inofensiva, e há circunstâncias onde existe uma expectativa de se ser menos do que totalmente honesto devido a necessidade ou pragmatismo. As mentiras podem ser divididas em classes – ofensivas ou mal intencionadas, inofensivas e jocosas, do qual apenas a primeira classe é séria (O catolicismo classifica a primeira como pecado mortal mas também condena as outras como veniais). Há alguns tipos de mentiras que são consideradas aceitáveis, desejáveis, ou mesmo obrigatórias, devido a convenção social. Tipos de mentiras convencionais incluem: A maioria das pessoas participa de tais mentiras convencionais, e não aplica a desaprovação moral costumeira em relação às mentiras em tais situações. Mentiras convencionais são vistas como uma categoria menor de mentira, semelhante as mentiras sociais. No entanto, uma minoria de pessoas as vê como mentiras maliciosas. Psicologia da mentira. A capacidade dos hominídeos de mentir é percebida cedo e quase universalmente no desenvolvimento humano e estudos de linguagem com pongídeos. Uma famosa mentira do último grupo foi quando Koko, a gorila, confrontada por seus treinadores depois de uma explosão de raiva no qual ela arrancou uma pia de aço do lugar onde ela estava presa, sinalizou na Língua de Sinais Americana, "o gato fez isso, " apontando para seu pequeno gato. Não está claro se isso foi uma piada ou uma tentativa genuína de culpar seu pequeno bicho de estimação. A psicologia evolucionária está preocupada com a teoria da mente que as pessoas empregam para simular a reação de outra a sua história e determinar se uma mentira será verossímil. O marco mais comumente citado na ascensão disso, o que é conhecido como inteligência maquiavélica, ocorre na idade humana de cerca de quatro anos e meio, quando as crianças começam a ser capazes de mentir de maneira convincente. Antes disso, elas parecem ser incapazes de compreender que todo mundo não tem a mesma visão dos eventos que elas têm – e parecem presumir que há apenas um ponto de vista —o seu próprio — que precisa ser integrado a qualquer história. Sociologia e linguística da mentira. A mentira e a atribuição de culpa são tão básicas a sociedade que é difícil estudá-las de maneira formal. George Lakoff, na crítica de certas afirmações que George W. Bush fez antes da invasão do Iraque de 2003, observa que O filósofo Leo Strauss, que teve uma grande influência sobre várias personalidades no Projeto para o Novo Século Americano que dominou a administração durante esse período, estressou a necessidade de mentir a fim de ocultar uma posição estratégica, ou para auxiliar a diplomacia. Da mesma forma personalidades anteriores na filosofia política de Nicolau Maquiavel a "nobre mentira" de Platão. Parece extremamente improvável que a mentira seja algum dia inteiramente eliminada da política ou da diplomacia, da mesma forma que não possível removê-la da guerra que essas atividades são, em última instâncias, criadas para ajudar a impedir de ocorrer. Mentiras e confiança. Uma razão para que a mentira possa persistir como uma estratégia em ambientes sociais é que não é a comparação dos fatos contra alguma noção de verdade, mas em vez disso, a avaliação de se uma traição da confiança aconteceu ou não, que determina a resposta a uma mentira. No caso da Guerra com o Iraque, por exemplo, o fato de que a mentira agravou um conflito poderia ter representado uma séria quebra da confiança e traição daqueles que iriam sofrer no conflito. No entanto, qualquer um que aceita como verdadeira a afirmativa de que o regime em vigor era uma ameaça "inevitável" a aqueles que pereceram o combatendo, ou aqueles cujas vidas estão em risco como consequência da invasão, teria uma probabilidade muito menor de considerar agravar o conflito no momento mais conveniente ser qualquer tipo de traição. A perspectiva do bom senso conservador com frequência se baseia nesse tipo de suposição de certeza. Mas se conflitos que são agravados são escolhidos devido a alguma ideologia, é difícil ver como isso difere da simples lógica de "o poder torna certo". Segundo Robert Feldman, as mentiras de políticos que se aparentam positivas para a sua base de apoio são permanentemente justificadas em prol da percepção pessoal de mundo de cada eleitor. Mentiras durante a infância. As mentiras começam cedo. Crianças pequenas aprendem pela experiência que declarar uma inverdade pode evitar punições por más ações, antes de desenvolverem a teoria da mente necessária para entender porque funciona. De maneira complementar, existem aqueles que acreditam que as crianças mentem por insegurança, e por não compreender a gravidade dos seus atos "escapa[m] da responsabilidade apelando para a mentira". Nesse estágio do desenvolvimento, as crianças às vezes contam mentiras fantásticas e inacreditáveis, parecidas com a mentira de Koko, a gorila discutida anteriormente, porque eles não possuem o sistema de referência conceitual para julgar se uma declaração é verossímil ou mesmo entender o conceito de verossimilhança. Quando a criança primeiro aprende como a mentira funciona, naturalmente elas não possuem o entendimento moral para evitar fazer isso. É necessário anos observando as pessoas mentirem e o resultado das mentiras para desenvolver um entendimento adequado. A interferência da família também é imprescindível para que a criança compreenda através de bons exemplos a forma correta de agir. A propensão a mentir varia muito entre as crianças, com algumas fazendo isso de maneira costumeira e outras sendo com frequência honestas. Os hábitos em relação a isso mudam normalmente até o início da idade adulta. Nos casos em que esta mudança não ocorre, a psicologia os definem como adultos no estágio de infância psicológica. Alguns veem que as crianças - como um todo - têm maior tendência a mentir do que os adultos. Outros defendem que a quantidade de mentiras permanece o mesmo, mas os adultos mentem sobre coisas diferentes. Com certeza a mentira de adultos costuma ser mais sofisticada, e de consequências maiores do que as contadas por crianças. Boa parte desse julgamento depende se a pessoa conta inverdades diplomáticas, insinceridade social, retórica política e outros comportamentos adultos que são tidos como mentiras. Detecção de mentiras. Os sinais de mentira podem ser subdivididos em duas classes: sinais verbais e não verbais. Neurocientistas descobriram que a mentira ativa estruturas do cérebro completamente diferentes durante exames de tomografia por ressonância magnética, o que pode levar a um método mais preciso (embora não prático) de detecção de mentiras.
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Monarquia
Monarquia Monarquia é uma forma de governo em que um monarca (tal como um rei ou imperador) exerce a função de chefe de Estado e mantém-se em tal cargo até a sua morte ou abdicação. Existem duas principais formas de monarquia: a absoluta, em que o poder do monarca vai além do de chefe de Estado e é superior ao dos outros órgãos do governo, e a constitucional ou parlamentar, em que o poder do monarca é limitado por uma Constituição, podendo ser meramente cerimonial. A primeira é considerada um regime autoritário, enquanto a segunda normalmente ocorre num contexto democrático e representa a maior parte das monarquias atuais. Formas de governo sem um monarca são denominadas repúblicas. A maioria das monarquias é hereditária, mas também existem e existiram monarquias eletivas, tais como a do milenar Sacro Império Romano-Germânico, a República das Duas Nações (república aristocrática, precursora da ideia de monarquia constitucional), e os atuais Vaticano, Andorra, Camboja, Emirados Árabes Unidos, Essuatíni, Kuwait e Malásia. Nas monarquias hereditárias, o monarca é parte de uma família real (ou imperial) e existe uma linha de sucessão de seus descendentes com direito ao trono. Das 45 monarquias existentes no mundo atualmente, 20 são reinos da Commonwealth e 16 destes reconhecem o monarca do Reino Unido como chefe de Estado, tendo as restantes 4 monarcas próprios. Há no total 29 famílias reais no poder. E ainda 33 são monarquias subnacionais. A maioria são monarquias constitucionais, existindo atualmente apenas, e oficialmente, 5 monarquias absolutas no mundo (Arábia Saudita, Brunei, Essuatíni, Omã, Vaticano), ainda que o Catar, sendo oficialmente uma monarquia constitucional, possua propriedades de absoluta. Uma monarquia pode ser um Estado Federal, por exemplo o Canadá, a Austrália e a Malásia são reinos federais sob a forma de monarquias constitucionais. Etimologia. A palavra monarca (do latim: monarcha) vem do grego ("monarkhía", de , "um/singular," e "ἀρχων", "líder/chefe"), posteriormente no latim, "monarcha", "monarchìa", referindo-se a um soberano único. Atualmente a palavra "monarquia" é geralmente usada para se referir a um sistema hereditário tradicional de governo, sendo que monarquias eletivas são consideradas, no geral, exceções. História. Monarquia é uma das mais antigas formas de governo, com ecos na liderança de chefes tribais. Desde 1800, têm vindo a ser abolidas diversas monarquias, por grande influência das ideias trazidas pela Revolução Francesa e das invasões ocorridas nas Guerras Napoleónicas, e, a maior parte das nações que a mantêm, são monarquias constitucionais. Entre os poucos Estados que mantêm aspetos de monarquia absoluta são a Arábia Saudita, o Brunei, o Catar, Omã, Essuatíni e o Vaticano. O monarca também mantém um poder considerável na Jordânia e em Marrocos. A mais recente nação a abolir a sua monarquia foi o Nepal, que se tornou uma república em 2008. África. Faraós governaram o Antigo Egito ao longo de mais de trinta séculos até à altura em que o Egito foi anexado pelo Império Romano. No mesmo período, vários reinos floresceram na região vizinha, a Núbia. O Corno de África, desde o Império de Axum (séculos IV - ) e, posteriormente, o Império Etíope , foi governado por uma série de monarcas. Hailé Selassié, o último imperador da Etiópia, foi deposto num golpe de Estado. O Império de Canem estava na África Central. Reinos como o Reino do Congo existiam no sul da África. Tanto os Califados Árabes quanto o Império Turco-Otomano tiveram territórios ao norte da África, e criaram protetorados com certa autonomia. Tanto a Partilha da África quanto, após a derrocada do Império Turco-Otomano na Primeira Guerra Mundial, a assinatura do Tratado de Sèvres, depois substituído pelo Tratado de Lausana, acabaram com esses territórios. Com a Partilha de África, vários reinos europeus conquistaram e apoderaram-se de vastos territórios, fazendo deles suas colônias. Europa. Dezenas de monarquias existiram na História da Europa. Destacam-se o Sacro Império Romano-Germânico, o Reino da França, o Reino Unido de Grã-Bretanha e Irlanda, o Reino da Prússia, o Reino de Espanha, o Reino de Portugal (tanto Portugal quanto Espanha são precursores da exploração do Novo Mundo), o Império Alemão e o Império Russo. Muitas monarquias foram abolidas: algumas monarquias dissolveram-se originando Estados independentes (Áustria-Hungria), outras foram desmanteladas pela revolução (Império Russo terminou após a Revolução Russa de 1917), e outras foram fundidas numa única coroa (por exemplo, a Coroa de Aragão e a Coroa de Castela fundiram-se dando origem ao Reino de Espanha). A Noruega, ao tornar-se independente da Suécia, em 1905, optou pela monarquia. A Espanha, que já teve duas repúblicas, após o governo franquista, restabeleceu a monarquia ao transitar para a democracia. Hoje, na Europa, continuam a existir sete reinos, três principados (Liechtenstein e Mónaco, sendo Estados independentes, e Gales, incorporado no Reino Unido), um ducado (Ilhas do Canal, do Ducado da Normandia), um Grão-Ducado (Luxemburgo), e um Estado soberano como cidade-estado (Cidade do Vaticano). Além disso, há o caso peculiar de Andorra (em que o bispo de Urgel e o líder francês, atualmente o Presidente da França são copríncipes). Ásia. Na Ásia dezenas de monarquias existiram. No Oriente Médio os Califados que surgiram com Maomé, os reinos instaurados nas Cruzadas, como o Reino de Jerusalém e o Império Otomano merecem destaque. Merecendo também destaque na região mais oriental do continente, o Império Sino-Indiano; o Império Corásmio; o maior Império da história, o Império Mongol e os Dez Reinos que depois formaram o Império Chinês. Na China, "rei" é a tradução para o termo usual Wang (王), nome dado ao soberano antes da Dinastia Qin e durante o período dos Dez Reinos. Durante o início da Dinastia Han, a China tinha um número de pequenos reinos, cada um com o tamanho de um concelho e subordinado ao imperador da China. Na Tailândia, no Camboja, no Butão e no Tibete (apesar de atualmente não ser independente, por fazer parte da República Popular da China, o Dalai Lama é reconhecido como líder "de jure") há também monarquias atualmente. Além dela o Japão, é hoje a única monarquia em que o monarca continua a usar o título de Imperador. América. As monarquias existiram entre os povos indígenas das Américas, muito antes da colonização europeia. Os títulos utilizados no Novo Mundo incluíam Cacique (em Hispaníola e Porto Rico) Tlatoani (no Império Asteca), Ajaw (no Império Maia), Inca (no Império Inca), Morubixaba (na antiga língua tupi para designar o "Chefe") e muitos outros. A época dos Descobrimentos e a colonização europeia trouxe extenso território aos monarcas europeus. Algumas colónias romperam com os seus impérios e declararam independência (como os Estados Unidos na Revolução Americana e as guerras de independência hispano-americanas na América Latina). O Canadá e outras colónias britânicas na América, tornaram-se autónomas, permanecendo sob a monarquia britânica no domínio da Commonwealth britânica ou como territórios ultramarinos até a edição do Estatuto de Westminster, em 1931, fato que unia as ex-colônias ao Reino Unido via Ministério do Exterior. (Veja Confederação Canadense). Outros Estados monárquicos também emergiram. Agustín de Iturbide declarou-se Imperador do México, em 1822, depois da independência da Nova Espanha. Maximiliano do México governou como imperador mexicano de 1863 a 1867 até ser executado por um Golpe Militar. Dois membros da Casa de Bragança, Pedro I e Pedro II, governaram o Brasil como imperadores, de 1822 a 1889, separando-se do Império Português, até o Golpe Militar de 15 de Novembro de 1889 que implantou a República do Brasil. O Haiti também conheceu diferentes períodos monárquicos após sua independência. Jean-Jacques Dessalines intitulou-se imperador e governou o Haiti de 1804 a 1806; foi sucedido por Henri Cristophe, mantido como rei de 1811 a 1820; posteriormente, vieram Faustin-Élie Soulouque, que governou de 1849 a 1859, e Fabre-Nicholas Geffrard, que se manteve no poder de 1859 a 1867. Características e papel. Atualmente, a extensão dos poderes reais do monarca varia: Quase todos os Estados possuem um único monarca num determinado momento, apesar de existir casos de monarcas que governaram simultaneamente em alguns países (diarquia), como na antiga cidade-Estado grega de Esparta, assim como casos de soberania conjunta de esposos ou parentes (como e de Inglaterra, Escócia e Irlanda). Um exemplo atual de diarquia constitucional é Andorra. Um regente também pode governar pelo monarca. A monarquia, especialmente a monarquia absoluta, é algumas vezes ligada a aspetos religiosos; muitos monarcas já reivindicaram o direito para governar segundo a vontade de Deus ("direito divino dos reis" ou "mandato do Céu"), uma especial ligação com Deus (rei sagrado) ou mesmo uma pretensa encarnação dos próprios deuses (culto imperial, rei divino). Muitos monarcas se intitulam "Fidei defensor" ("Defensor da Fé"); alguns mantêm cargos oficiais relacionados com a religião de Estado ou com a Igreja estabelecida. Os monarcas possuem diversos títulos, incluindo os de rei ou rainha, príncipe ou princesa (Príncipe do Mónaco, por exemplo), imperador ou imperatriz (Imperador do Japão), ou mesmo duque ou grão-duque (Grão-Duque de Luxemburgo). Muitos monarcas também são distinguidos por tratamentos, como "Sua Majestade", "Alteza Real" ou "Pela Graça de Deus". Os títulos de monarcas soberanos (existem outros, intermediários, mas estes são os mais conhecidos) conforme a tradição ocidental, do mais alto para o mais baixo são: No Vaticano, o título atribuído ao monarca é Papa. Nos países do Golfo Pérsico e no Brunei são atribuídos títulos de Sultão e Emir. Os títulos intermediários (da nobreza, mas não da família real) são: Duque, Lord, Marquês, e Conde. Monarcas também fazem parte de certas cerimónias, como a coroação e a aclamação real. A monarquia é associada a um governo político ou sociocultural, onde os monarcas governam por toda a vida (contudo o Yang di-Pertuan Agong da Malásia, que serve um termo de cinco anos, e outros são considerados monarcas apesar de não possuírem posições que perdurem por uma vida inteira) e passam as responsabilidades e o poder da posição para os seus filhos ou família quando falecem garantindo assim a continuidade da nação e salvaguardas das tradições únicas de cada povo. Muitos monarcas, tanto historicamente como atualmente, nasceram e cresceram pertencendo a uma família real, a uma Casa real ou à corte. Os monarcas que cresceram numa família real (quando existente há várias gerações, chamada de dinastia) são quase sempre educados para assumir suas futuras obrigações, servir o seu país e os interesses do seu povo. As monarquias constitucionais (atualmente 54 das 68 existentes no mundo) consideram irresponsável o facto de haver um Chefe de Estado de uma cor política (como acontece nas repúblicas, nas quais o presidente responde aos interesses do seu partido, antes de o fazer relativamente aos interesses da sua nação). Quando um presidente possui uma cor política e o chefe de governo outra, dá-se um conflito democrático que cria clivagens internas ou desentendimentos que só prejudicam o regular funcionamento das Instituições Democráticas. Nas monarquias Constitucionais a Coroa protege essas Instituições Democráticas e evitam-se os conflitos dado que o monarca não obedece a cores políticas e sim aos interesses da nação. Apesar de não ter nenhuma obrigatoriedade, não é comum um Monarca no geral ter afiliação política. Diversos sistemas de sucessão têm sido utilizados, tais como proximidade de sangue, primogenitura e parentesco agnático (Lei Sálica). Apesar de tradicionalmente a maior parte dos monarcas terem sido homens, existem diversos casos de mulheres que reinaram na história, que neste caso, são chamadas de rainhas reinantes, enquanto rainha-consorte refere-se à esposa de um rei reinante. Em 2022 existe uma rainha reinante: Rainha Margarida II da Dinamarca. Há formas de governos que podem ser hereditárias sem serem consideradas monarquias, tais como a de famílias de governos autoritários(como a República Popular Democrática da Coreia ou famílias políticas em muitas democracias. Algumas monarquias não são hereditárias. Numa monarquia eletiva, o monarca é eleito, mas para todos os efeitos atua como qualquer outro monarca. Exemplos históricos de monarquia eletiva incluem os Sacro Imperadores Romanos (escolhidos por príncipes-eleitores, mas normalmente sendo provenientes da mesma dinastia) e as eleições da chamada democracia dos nobres, da República das Duas Nações. Exemplos modernos incluem o papa da Igreja Católica Apostólica Romana (que governa como Soberano da Cidade-Estado do Vaticano e é eleito para toda a vida pelo Colégio de Cardeais), e o Yang di-Pertuan Agong da Malásia. As monarquias existiram por todo o mundo, apesar de nos últimos duzentos anos muitos países terem abolido a monarquia e terem-se tornado repúblicas. A defesa das repúblicas é chamada de republicanismo, enquanto a defesa de monarquias é chamada de monarquismo. As principais vantagens das monarquias hereditárias são a imediata continuidade da liderança, com um curto interregno (como visto na frase clássica "O Rei está morto. Longa vida ao Rei!") dado o direito sucessório evitar todo o gasto das campanhas e eleições presidenciais, o facto de uma casa real, por norma, ser muito mais barata de sustentar do que um palácio presidencial (com todos os assessores e máquinas políticas que o mesmo exige), o facto de o príncipe herdeiro ser educado para servir a nação, conhecendo todas as regras e protocolos desde a nascença e sendo educado a conhecer e respeitar a história e tradições do seu país, respondendo aos interesses do povo sem possuir ligações políticas. Segundo o estudo da OCDE de 2008 os países onde há mais Justiça Social na Europa são países monárquicos, A República Portuguesa, nesta lista, ocupa o último lugar. Segundo o mesmo estudo da OCDE dos 10 primeiros países com maior poder económico, 7 são monarquias (Reino Unido, Espanha, Noruega, Dinamarca, Suécia, Países Baixos, Bélgica). Em alguns casos as monarquias são dependentes de outros poderes (como vassalos, suserania, protetorados, estados fantoches, hegemonia). Em outros casos o poder do monarca não é limitado devido a restrições constitucionais mas sim à eficácia militar. Nos últimos tempos do Império Romano, a guarda pretoriana depôs várias vezes imperadores e nomeando um novo imperador. Os reis helénicos da Macedónia e do Epiro eram eleitos pelo "braço", que foi semelhante, em composição, à ecclesia das democracias, o município de todos os cidadãos livres; o serviço militar era muitas vezes ligado à cidadania, entre os membros do sexo masculino da Casa Real. A dominação militar do monarca ocorreu na Tailândia moderna e no Japão medieval (em que um chefe militar hereditário, o Shogun, era o governante de facto, embora o imperador japonês nominalmente governasse). Na Itália fascista, uma monarquia coexistiu com o partido fascista de Benito Mussolini, tal como aconteceu na Romênia ou na Grécia. A Espanha, chefiada por Francisco Franco, foi oficialmente uma monarquia, embora não houvesse nenhum monarca no trono. Após a sua morte, Franco foi sucedido, como chefe de Estado, pelo herdeiro Bourbon, Juan Carlos I. A monarquia autoproclamada é estabelecida quando uma pessoa se declara um monarca e não tem laços históricos a uma dinastia anterior. Napoleão I da França declarou-se Imperador dos franceses e governou durante o Primeiro Império Francês, depois de previamente se ter autointitulado Primeiro Cônsul após o golpe de poder em 18 de Brumário. Jean-Bédel Bokassa do Império Central Africano declarou-se "Imperador". Yuan Shikai coroou-se imperador durante a curta duração do "Império da China", alguns anos após a fundação da República Popular da China. Numa união pessoal, a mesma pessoa serve como monarca em distintos Estados independentes. Às vezes os títulos são usados para expressar pretensões a territórios que não são efectivamente da pessoa (por exemplo, os pretendentes ingleses para o trono francês) ou títulos não reconhecidos (antipapas). Um pretendente é um requerente para um trono já abolido ou ocupado por outra pessoa. Abdicação é quando um monarca se demite. Únicas ou invulgares situações existem em vários países: Monarquia e direito. A verdadeira monarquia foi frequentemente oposta à tirania que é um poder de forma monárquica, mas não fundamentado no direito. A soberania do monarca deve ser limitada por um conjunto normativo que a distingue do despotismo: seja as leis de Deus, seja as regras de justiça natural, seja as leis fundamentais do Estado. A monarquia não é assim o governo de um só; ela supõe o respeito de normas superiores ou levar em conta o interesse geral, o bem comum. Não somente as atribuições dos monarcas, mas também a sua sucessão, obedecem a normas. A monarquia pode ser eletiva ou hereditária. Na monarquia hereditária, o monarca é chefe de Estado por nascimento e durante o tempo de sua vida. A história e a tradição desempenham um grande papel na legitimidade das monarquias em vigor. Um dos princípios antigos da legitimidade que fundamentavam uma monarquia hereditária é o direito divino, a ideia de que Deus escolhe a pessoa do rei pela regra da sucessão. Sucessão. As regras para a seleção dos monarcas variam de país para país. Em países cuja forma de governo é a monarquia constitucional as regras de sucessão são geralmente consubstanciadas em uma lei aprovada por um órgão de representação, como um Parlamento. Numa monarquia eletiva, os monarcas são eleitos ou nomeados por algum corpo (um colégio eleitoral) de forma vitalícia. Por exemplo, Pepino, o Breve (pai de Carlos Magno) foi eleito Rei dos Francos por uma assembleia de líderes francos; Estanislau II da Polônia foi eleito rei, assim como Frederico I da Dinamarca e Noruega. Os Povos germânicos tinham monarquias eletivas, e os imperadores do Sacro Império Romano-Germânico eram eleitos por príncipes-eleitores, embora muitas vezes estas votações fossem apenas uma mera confirmação da regra de hereditariedade. Existem atualmente sete monarquias eletivas: Andorra, Camboja, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Malásia, Essuatíni e Vaticano. O Papado existe há quase dois milénios. Numa monarquia hereditária, a posição de monarca é herdada por um parente, de acordo com os costumes e as regras de ordem de sucessão, na qual usualmente se traça uma linha desde a família real até uma dinastia histórica pelo parentesco consanguíneo. No caso Português, o pretendente ao trono, D. Duarte Pio de Bragança, pertence à última dinastia reinante, Dinastia de Bragança, e tem ligações genealógicas com o primeiro rei de Portugal, D. Afonso I. No Brasil, caso seja restaurado o sistema monárquico de governo, o Imperador a ser coroado deverá ser Dom Bertrand de Orléans e Bragança, ou seus sucessores, por ser o legítimo sucessor direto do último imperador soberano, D. Pedro II. Às vezes a ordem de sucessão é afetada por regras em matéria de género. A regra de sucessão paterna proíbe, atualmente em poucos casos, sucessores do sexo feminino (tal como o caso do Mónaco), e em alguns sistemas uma mulher só pode herdar quando, pela linha masculina, não há nenhum descendente que remonte a um ancestral comum. Em 1980, a Suécia tornou-se a primeira monarquia a declarar iguais os direitos de primogenitura, o que significa que o filho mais velho do monarca, independentemente do sexo, ascende ao trono. Outros reinos (tais como os Países Baixos, em 1983, Noruega, em 1990, e Bélgica em 1991) têm seguido este exemplo. Às vezes a crença religiosa afeta a sucessão. Como exemplo, desde a "Lei de Compensação de 1701", todos os católicos romanos são inelegíveis para ser o monarca britânico e são ignorados na ordem de sucessão. A primogenitura, em que o filho mais velho do monarca é primeiro na linha de se tornar monarca, é o sistema mais comum. No caso de ausência de filhos, o membro mais próximo na linha colateral (por exemplo, um irmão mais novo) torna-se monarca. Outros sistemas incluem "tanistry", que é semieletivo e se baseia no mérito e na Lei sálica. Em casos complexos, especialmente durante a Idade Média, o sistema de primogenitura entrou em conflito com o princípio de "proximidade sanguínea" e os resultados foram idiossincráticos. Em algumas monarquias, como a da Arábia Saudita, a sucessão ao trono normalmente passa primeiro para o irmão mais velho do monarca, e, só depois, para os filhos do monarca. A nomeação, feita pelo atual monarca é um outro sistema, utilizado na Jordânia. Neste sistema, o monarca escolhe o seu próprio sucessor, que pode ou não ser um parente. Tipologia. Ao longo da história têm existido diferentes tipos de monarquia. Monarquia sagrada ou religiosa. A forma mais antiga que se conhece sagrada ou a religiosa, que encontramos nas culturas primitivas. Neste tipo de monarquia, o rei era considerado como de origem divina e possuía um poder ilimitado. Tal modelo pode encontrar-se em Israel, na Roma Antiga, no Império Asteca e no Antigo Egito. Monarquia feudal. A partir da Idade Média, o regime monárquico espalhou-se por toda a Europa, normalmente pela necessidade de um dirigente forte, capaz de formar e comandar exércitos para defender o país. As monarquias feudais europeias eram assim dinásticas, o trono sendo geralmente transmitido ao filho mais velho ou ao descendente masculino mais próximo. Os soberanos medievais procuravam armas e soldados com os senhores feudais, e não se mantinham no poder que graça à fidelidade da nobreza. Assim, na monarquia feudal, apresenta-se a característica de uma limitação do poder do monarca, segundo a própria estrutura feudal do reino. O poder era entregue ao rei, com o acordo dos senhores feudais, e estava dependente da colaboração destes, sendo estabelecido segundo regras bem definidas e mútuas. O rei possuía um poder efetivo concedido pelos seus iguais, conservando estes um poder da mesma ordem nos seus domínios. Este tipo de monarquia caracterizou, com algumas variantes, a França dos séculos X ao XIV, o Japão dos séculos XV ao XVIII, a China da dinastia Ming, etc. Monarquia absoluta. A monarquia absoluta foi estabelecida em face das dificuldades de responsabilização dos grandes senhores feudais que condicionavam excessivamente o seu apoio ao rei. A monarquia absoluta é, por essência, centralizadora. O absolutismo moderno começou a desenvolver-se com o nascimento dos Estados-nação no , a fim de estabilizar o poder real em reação ao feudalismo. Com o declínio do feudalismo, o poder é centralizado nas mãos dos soberanos. Estes dirigentes são apoiados por uma crescente classe média, ou burguesia, que beneficia de um governo central forte, capaz de manter a ordem e criar um clima propício para o florescimento do comércio. Neste tipo de monarquia, o rei era o chefe supremo da nação, exercendo o Poder Executivo e Legislativo. Era o principal responsável pelo destino do povo. O absolutismo, como sistema político, implica todos os poderes detidos por um monarca e distingue-se de outras monarquias pelo facto de que o poder encontrar a sua justificação essencial nele mesmo. A monarquia absoluta designa os regimes em que o monarca exerce um poder sobre os seus súbditos, só limitado pelo direito natural, mas que, para além disso, iguala a sua vontade à lei e impõe sobre os seus domínios um poder em que o monarca figura como o responsável final ou exclusivo. Assim, o rei governa só, mas deve respeitar os privilégios dos corpos e das ordens que compõem o país, e ele deve tomar conselho. Foram monarquias absolutas a maior parte dos estados europeus ocidentais, entre os séculos XVI e XVIII, sobretudo em França, Espanha, Áustria, Saboia e Portugal, que se caracterizaram pela inexistência de qualquer outro poder político alternativo, exceto a lei e os costumes, sem prejuízo da identificação da vontade real com a lei. Luís XIV, rei da França (1643-1715), é o representante arquétipo e a mais perfeita ilustração do absolutismo. A célebre a sua frase “"o Estado sou eu"”, que reproduz a forma excessiva de governar de certos monarcas absolutistas desse tempo como ele. O princípio da relação entre o monarca e Deus (o rei como representação de Deus na Terra) dava ao monarca regras morais e de direito natural que não pode transgredir. No caso de Portugal, o essencial era garantir que o rei pudesse ser a última voz que resolvesse quaisquer diferendos internos. Despotismo esclarecido do século XVIII. Ainda durante o , a monarquia absoluta mudou de carácter, foram tentadas reformas no sentido de introduzir novos organismos necessários ("despotismo esclarecido"). Nesse modelo de monarquia, o monarca continua sendo um representante do absolutismo ao partilhar a exaltação do estado em seu modo centralizador de governar, porém era animada pelos ideais de progresso, reforma e filantropia do Iluminismo, mas, por outro, não eram aceitas todas as ideias do Iluminismo. O argumento para legitimar o poder dos déspotas esclarecidos não era uniforme. Grande parte deles legitimou o seu poder com base na teoria do contrato social de Thomas Hobbes, na qual se falava sobre a necessidade de um soberano se sobrepor a outras pessoas para assegurar a ordem e evitar a guerra de todos contra todos. Também legitimaram o seu poder com o argumento de que governam por saberem fazê-lo e que, consequentemente, têm que assegurar o progresso de seus povos – de acordo com o novo ethos das Luzes. Frederico II da Prússia, Gustavo III da Suécia, Maria Teresa da Áustria, e o Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I de Portugal, são alguns dos expoentes máximos do 'despotismo esclarecido' desenvolvido no século XVIII. A monarquia absoluta ocidental tinha fortes limites. Por um lado obedecia às "leis fundamentais do reino" (sucessão masculina, leis regionais, legitimidade, princípios de regência, etc.). Em Espanha, a monarquia absoluta nasceu com os reis católicos, os quais conseguiram a unidade religiosa e territorial. Em Portugal, a tendência para este sistema já era sensível no reinado de D. João I e tomou forma definitiva com D. João II. O seu sucessor, D. Manuel I, proveu-a de instrumentos burocráticos necessários para o seu exercício concreto. Uma série de revoluções, iniciadas com a Revolução Gloriosa, levaram progressivamente os monarcas da Europa a ceder seus poderes a regimes parlamentares. Na Inglaterra, e depois em França, o princípio de um rei que governa só, é questionado pelos parlamentos, composto dessa burguesia que pretende, não somente ser consultada, mas tomar o lugar de classe dominante dos nobres e governar. Monarquia parlamentarista. A monarquia parlamentar é uma das formas de governo existente nos países ocidentais atuais, na que o Rei exerce a função de Chefe de Estado sob o controle do Poder Legislativo (Parlamento) e do Poder Executivo (Governo), isto é, o Rei reina, mas não governa. As normas e decisões emanadas do Parlamento regulam não só o funcionamento do Estado mas também a atuação e funções do próprio Rei. Monarquia constitucional. Embora o Japão seja um monarquia constitucional e esta seja a monarquia mais antiga do mundo, apenas surgiu na Europa nos finais do , com a Revolução Gloriosa inglesa, em 1688. Na monarquia constitucional, também conhecida por monarquia parlamentar, existe um Parlamento (eleito pelo povo) que exerce o Poder Legislativo. Não tendo papel legislativo, exercício da autoridade do rei está em garantir o normal funcionamento das instituições do Estado. O monarca personifica a autoridade do Estado. Como chefe do Governo é eleito um primeiro-ministro cujas acções são fiscalizadas por um parlamento. Aqui a sucessão monárquica pode estar regulamentada pela legislação estatal ou por preceitos de ordem familiar. Desde meados do , a monarquia constitucional apresenta frequentemente uma forma democrática de estado, com as regras constitucionais daí decorrentes. A sucessão pode ser eletiva ou hereditária, conforme os países ou épocas. A monarquia inglesa, desde o , adotou este tipo de monarquia, tornando-se na mais antiga democracia do mundo e servindo de modelo a todas as democracias atuais (sejam elas monárquicas ou republicanas). A Constituição deve emanar da nação e estabelecer as regras do governo. O parlamento, e especialmente a Câmara dos Comuns que representa a nação, personifica o direito face ao monarca. As monarquias francesas de 1790 a 1792 e, em seguida, a partir de 1815 a 1848, baseiam-se neste princípio. Nestas formas de monarquia, ao passo que o sistema parlamentar se desenvolve gradualmente, a soberania passa do rei para a nação. No Reino de Portugal, a monarquia constitucional foi adotada no reinado de , que aceitou a Constituição portuguesa de 1822. No ano seguinte, no entanto, D. João VI suspende a sua vigência e nomeia uma comissão encarregue de elaborar um novo texto constitucional. Após o assassínio de D. João VI, em março de 1826, D. Pedro IV outorga a Constituição portuguesa de 1826/Carta Constitucional de 1826, que vem a ser suspensa por D. Miguel I, aclamado rei em Cortes reunidas, segundo as regras tradicionais. A Carta Constitucional de D. Pedro veio a ser reposta no final da guerra civil (1828-1834), vencida pelos liberais contra os absolutistas. Uma revolução, em Setembro 1836, derruba a Carta e reinstala provisoriamente a Constituição de 1822, em vigor até à aprovação de nova Constituição, em 1838. Em 1842, um golpe de Estado põe fim à vigência da Constituição de 1838, reimplantando a Carta Constitucional de 1826, que será o texto constitucional da monarquia até ao golpe de Estado que impõe a República, em 1910. No Brasil, dois anos após a declaração de independência em relação ao Império Português, outorgou, em 1824, a primeira Constituição Brasileira, que lhe deu amplos poderes. Esta manteve-se em vigor até à proclamação da República em 1889. Na Europa, após a Primeira Guerra Mundial foram derrubadas as monarquias do Império Russo, por causa da Revolução Russa de 1917; O Império Alemão, encerrado após a derrota na Grande Guerra, em um golpe de caráter comunista que obrigou a abdicação do cáiser , formando a tão criticada República de Weimar e a do Império Austro-Húngaro, após um desmantelamento sumário de seus territórios pelos membros da Entente, na qual o Imperador Carlos I nada pode fazer, além de fugir enquanto se formava o novo estado da República da Áustria Alemã. Atualmente existem monarquias constitucionais no Reino Unido, Países Baixos, Suécia, Dinamarca, Noruega, Espanha, Mónaco, Liechtenstein, Luxemburgo, e Bélgica, todas constitucionais. Monarquia popular. A monarquia popular é uma forma de governo cuja governança do Estado está sob a responsabilidade do Monarca, que geralmente detém o título de Rei, através de um mandato popular. Monarquia eletiva. A monarquia eletiva é a forma de governo na qual o monarca desempenha o seu cargo por toda a vida e o seu sucessor é eleito por um conselho através de votação. Este sistema de sucessão foi praticado durante a Idade Média, representando uma evolução do modelo germânico. Na monarquia visigótica encontramos exemplos disso. O rei era eleito por um conselho composto pelos príncipes ou grandes responsáveis eleitores. Depois da escolha, o novo monarca devia jurar as capitulações governativas, que continham as condições impostas pelo conselho eleitoral para o monarca exercer o poder. Este sistema ainda vigora atualmente em alguns estados, como, por exemplo, no Vaticano, onde o Colégio de Cardeais escolhe um novo papa e vitalício. Monarquia federal. Uma monarquia federal é uma federação de estados com um único monarca como Chefe Geral da Federação, mas pode reter diferentes monarcas ou um sistema não-monárquico de governo, nos vários estados que aderiram à federação. Monarquia hereditária. A monarquia hereditária é a forma monárquica pela qual o soberano é estabelecido por sucessão hereditária. A ordem sucessória tanto pode apoiar-se no regime familiar da casa reinante (por exemplo, a dinastia de Avis, Hohenzollern, Hanôver, etc.), como na lei do reino (Espanha ou Reino Unido). Atualmente a maioria das monarquias modernas são hereditárias.
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Multitarefa
Multitarefa Quando um sistema operacional permite a execução de mais de um programa ao mesmo tempo, ele é chamado de multitarefa e tem de lidar com procedimentos que concorrem quanto à utilização da capacidade de processamento do hardware. Então, é necessário definir e gerenciar uma questão básica que é a prioridade de cada programa quanto ao uso de recursos existentes. Os sistemas operacionais executam novos processos sem ter a necessidade que processos que foram iniciados antes precisem ser encerrados, para isso os programas executam segmentos (partes) de múltiplos processos de maneira intercalada fazendo que cada segmento dos processos executados, utilize os recursos computacionais (CPU, memória principal, disco, etc) de maneira ordenada e sequencial, mantendo as informações de cada processo consistentes. A multitarefa automaticamente  parcialmente interrompe a execução de cada processo salvando seu estado atual(resultados parciais, conteúdo de registradores, conteúdo de memória) e então carregando o estado salvo de outro processo e passando o controle dos recursos do sistema para ele, essa interrupção pode ser implementada a partir de divisões iguais de tempo (multitarefa preemptiva) ou administrada por um programa que gerencia e supervisiona os processos e define quando estes serão interrompidos. A multitarefa não está diretamente ligada ao processamento paralelo pois mesmo em CPUs de vários núcleos, o processamento de mais de um processo é permitido em apenas um único núcleo do processador. História. O primeiro sistema informatizado a usar multitarefa foi o computador , completado 1961. A multitarefa preemptiva foi implementada nas versões iniciais do Unix em 1969, e é o padrão no Unix e em sistemas operacionais similares, incluindo Linux, Solaris e BSD em suas variações. Pode parecer difícil de imaginar um computador "monotarefa", i.e., que apenas permita utilizar uma aplicação mas, de fato, houve um percurso histórico notável até se atingir o nível atual de paralelização de processos. Com efeito, os primeiros computadores apenas permitiam executar uma única tarefa de cada vez. O é um excelente exemplo disso, já que foi dos primeiros sistemas operativos para computadores pessoais. O primeiro passo para a multitarefa no MS-DOS foi a criação dos TSR's ("Terminate and Stay Resident"), pequenos programas que permaneciam em memória enquanto se executava outro programa, e que podiam instalar rotinas de tratamento de interrupções para serem ativados posteriormente. Ou seja, estando o utilizador a escrever um texto num processador de texto, por exemplo, poderia apertar uma combinação de teclas que dispararia uma interrupção e chamaria a TSR de uma agenda pessoal para tirar notas. Assim, do ponto de vista do processador, o processo do processador de texto era bloqueado e passava-se o controle para a agenda. Quando o utilizador terminasse, voltava-se ao processador. Ambos programas coexistiam, mas não podiam ser executados simultaneamente. O passo seguinte foi a emulação de multitarefa. Exemplos disto eram as primeiras versões de Windows, que este executava sobre DOS (monotarefa), mas o núcleo do Windows fazia a sua própria gestão dos processos. Curiosamente, se um processo bloqueasse o Windows, todas as aplicações teriam que ser terminadas pois eram todas dependentes. Posteriormente, surgiu uma das principais componentes dos SO atuais: o escalonador de processos, ou (em inglês) "scheduler", que faria a gestão, qualificação e o gerenciamento de prioridade dos processos sem afetar o núcleo do sistema operativo. Ou seja, todas as tarefas núcleo são críticas, e todo o tempo que sobrar é legado aos processos. Adivinha-se, portanto, a necessidade de estabilizar o núcleo, por forma a minimizar o tempo de execução de tarefas internas. O escalonador de processos é uma componente muito polêmico em termos de inovação e de aplicações. Dependendo das situações, um escalonador de processos deve gerir os seus processos por forma a diminuir a latência entre aplicações interativas, ou assegurar a coerência em termos de critérios no escalonamento: se uma tarefa não é crítica, então não devia estar a ser executada. Diferentes tipos de sistemas multitarefas. Os sistemas podem ainda ser classificados pela forma com que suas aplicações são gerenciadas, podendo ser divididos em sistemas batch, de tempo compartilhado ou de tempo real. Um sistema operacional pode suportar um ou mais destes tipos de processamento, dependendo de sua implementação. Sistemas batch: Foram os primeiros tipos de SOs multiprogramáveis a serem implementado. Eram armazenados em disco enquanto esperam para serem executados. Sistemas de tempo compartilhado: Os sistemas de tempo compartilhado (timesharing) também são conhecidos por sistemas online. Permitem que diversos programas sejam executados a partir da divisão do tempo do processador em pequenos intervalos, denominados fatia de tempo (time-slice). Sistemas de tempo real: Os sistemas de tempo real (real-time) são implementados de forma semelhante à dos sistemas de tempo compartilhado. A diferença entre os dois tipos de sistemas é o tempo exigido no processamento das aplicações. Em sistemas de tempo compartilhado o tempo de processamento pode variar sem comprometer as aplicações em execução. Em sistemas de tempo real os tempos de processamento devem estar dentro de limites rígidos (devem ser obedecidos) caso contrário poderão ocorrer problemas irreparáveis. Tarefas. Os conceitos ligados ao paralelismo de tarefas não são consensuais. A linguagem vulgar no UNIX sugere, no entanto, alguns termos razoavelmente universais. No UNIX, existem dois níveis de tarefa: o processo e a "thread". Os processos têm uma série de threads associadas. Tipicamente, cada processo tem um determinado espaço de endereçamento que as diferentes "threads" compartilham. Cada thread tem o seu próprio estado de processador e a sua própria pilha. Processo. Um processo pode ser visto como um conjunto de recursos utilizados por uma ou mais tarefas. Cada processo é isolado e como recursos são atribuídos aos processos, as tarefas fazem  o uso deles através dos processos. Assim uma tarefa de um processo A não consegue acessar recursos de uma tarefa do processo B. As tarefas de um mesmo processo podem trocar informações com facilidade, pois compartilham a mesma área de memória. No entanto, tarefas de processos distintos não conseguem essa comunicação facilmente, pois estão em áreas diferentes de memória. Esse problema é resolvido com chamadas de sistema do kernel que permitem a comunicação entre processos. Alternância de tarefas. Cada processador pode executar apenas um programa de cada vez. Por esta razão, a multitarefa num sistema uniprocessador (ou monoprocessador) é apenas uma ilusão conseguida com a alternância rápida entre as várias tarefas. O núcleo do sistema operativo é responsável por isolar os contextos de execução das diversas tarefas. Para conseguir isto, é necessário que uma rotina do núcleo seja chamada a dada altura. Essa rotina (que pode ser chamada por uma interrupção provocada por um temporizador interno do computador) geralmente executa as seguintes operações: Escalonador. Para que a CPU não fique muito tempo sem executar tarefa alguma, os sistemas operacionais utilizam técnicas para escalonar os processos que estão em execução na máquina. O escalonamento é a atividade organizacional feita pelo escalonador da CPU, possibilitando executar os processos mais viáveis e concorrentes, priorizando determinados tipos de processos. O Escalonador escolhe o processo que será executado pela CPU com o auxílio do hardware se preocupando com a eficiência da CPU e de maneira que execução dos processos seja realizada de maneira íntegra. Os escalonadores preemptivos são algoritmos que permitem que um processo seja interrompido durante sua execução,tanto por uma interrupção de entrada/saída ou por decorrência do algoritmo de escalonamento adotado. Após a interrupção ocorre o que se chama de troca de contexto, que consiste em salvar o conteúdo dos registradores e a memória utilizada pelo processo que fora interrompido e conceder a outro processo o privilégio de executar na CPU restaurando os registradores e espaços de memória utilizado por esse processo.
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Micronacionalismo
Micronacionalismo O Micronacionalismo é um fenômeno humano e multifacetado, caracterizado pela concepção, construção e/ou simulação de países em miniatura ou países-modelo, chamados de micronações (numa tradução literal do inglês "micronation"). Os praticantes ou "cidadãos" das micronações, por sua vez, são os micronacionalistas. Liberland é um exemplo atual de micronação. História. As primeiras micronações conhecidas se formaram no século XIX, a maioria fundada por aventureiros ou especuladores de negócios. A micronação mais antiga que se tem conhecimento é o Reino de Redonda fundado em 1865 no Caribe. Como hobby doméstico, as micronações começaram a se desenvolver mais rapidamente com o surgimento de Ely-Chaitlin, na Califórnia (EUA.), nos anos 1960, fundada por Marc Eric Ely. Mais tarde, em 1979, sob influência de Ely, Robert Ben Madison, então com 13 anos, fundou na cidade de Milwaukee um país cujo território era seu próprio quarto: o Reino da Talossa, país fundador da Liga dos Estados Secessionistas. Durante a década de 1980, proliferaram-se micronações na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Europa. Hoje, existem centenas de micronações pelo mundo, várias delas com "representação" na Internet. Características e estudos. Há micronações que se utilizam dos mais curiosos sistemas de governo (monarquias são, porém, o sistema de governo mais utilizado, tanto constitucionais como absolutas), países que se relacionam como se realmente soberanos fossem . Para servir de mediadora entre tantos países, foi criada a Liga dos Estados Secessionistas, a L.O.S.S., conhecida como a principal "ONU das micronações". São membros da Liga as nações autodenominadas "mais influentes" do chamado Mundo Micronacional. Os micropaíses ou microestados, como também são chamados, são alvos de estudos de sociólogos e outros acadêmicos; a micropatriologia é ciência humana em sua essência, tendo sido assunto principal de livros e teses que tratam da possibilidade de se criar, de maneira - digamos - artificial, uma sociedade. Entre os maiores estudiosos da matéria estão o professor francês Fabrice O'Driscoll, presidente do Instituto Francês de Micropatriologia, que publicou, com a colaboração de Cláudio de Castro, no final de 1999 seu livro "Ils ne siègent pas a l´ONU", através da editora Les Presses du Midi (pode ser adquirido via internet, por cerca de 20 euros); o diplomata brasileiro Alberto Rosa Fioravanti e o escritor francês Patrice Chairoff, autor do livro "Bible des Micronations", que traz uma extensa e explicativa lista das micronações do mundo. O movimento micronacional se divide, classicamente, em dois tipos de micronações: Sua localização pode ser em qualquer lugar do globo terrestre, mesmo que nem um cidadão sequer seja morador daquela localidade. Podem adotar histórias fictícias até o dia de sua fundação, e a partir daí começa a ser escrita sua verdadeira história. Os modelistas têm plena noção de serem praticantes de um "hobby," uma simulação. Exemplos célebres são algumas das micronações listadas no tópico micronações Importantes e as "peculiaristas" (são quase que completamente fictícias; seus membros podem assumir vários personagens, inclusive não humanos, sua localização pode ser em um outro planeta ou dimensão e sua história é sempre fantástica. Nenhuma micronação é melhor exemplo desta subdivisão do que "L´lome"). Existem graus de "peculiarismo": uma nação assim classificada pode ter, por exemplo, localização em Saturno e habitantes não humanos, mas seus acontecimentos são verdadeiros, e ela é extremamente ativa. Por outro lado, pode uma micronação peculiarista localizar-se na Bolívia e seus acontecimentos, mesmo diários, serem fruto da imaginação de seus membros. Segundo alguns, haveria também as micronações "virtualistas," as quais seriam aquelas que, apesar de terem caracteres de qualquer uma das três categorias retro mencionadas, consideram-se "países irreais" ou até "cidades virtuais"; porém cremos ser esta classificação errônea pelo simples fato de não serem micronações, e sim jogos de RPG "on-line", que vêm e vão num piscar de olhos (seriam exemplos as defuntas "Web Island" e "Santa Clara"). Acredita-se que a palavra "virtual" seja uma antítese de "micronação", já que uma micronação é formada de pessoas reais, que protagonizam acontecimentos reais. Muitos micropatriólogos (estudantes do micronacionalismo) acreditam na existência das chamadas "one-man nations", micronações formadas apenas de um habitante ou mesmo por várias, que por vaidade ou qualquer outro motivo, têm seu fundador como única pessoa que realmente decide o que deve ser feito, como único cidadão ativo. Há ainda aquelas classificadas como "concretistas", que seriam as supostas micronações reconhecidas como soberanas e independentes por uma ou mais micronações, não sendo, porém, membros da ONU. O internacionalista Celso Duvivier de Albuquerque Mello acredita que, com raras exceções, para que seja considerado Estado, uma nação deve fazer parte da ONU. Já os micronacionalistas Harold D. Thomas e Thomas Leys discordam desta concepção, acreditando se tratarem de microestados, e não micronações. Exemplos seriam "Seborga" e "Sedang". A diferença entre microestados e micronações reside no facto de que estas não lutam - ou são incapazes de fazê-lo - pelo seu reconhecimento diplomático por outras micronações, já que não têm argumentos legítimos à luz do direito internacional para requisitar jurisdição total sobre um território. Também são mencionadas nos meios micronacionais as chamadas "micronações projetistas", que seriam projetos de uma nação ideal, onde um sistema de governo e estrutura social são montadas, porém sem a intenção de tornar aquilo que foi criado um micropaís ativo (por ativo entende-se o micropaís que intenciona funcionar, seja através de uma lista nacional de mensagens ou mesmo de qualquer mecanismo que possibilite a sua governabilidade). Muitas surgem como trabalho escolar ou até mesmo para ilustrar as ideias de um determinado partido político. "Alphistia" e a "URSP" seriam ótimos exemplos. Acreditamos, contudo, que as projetistas seriam uma subespécie das modelistas, pois se enquadram perfeitamente em sua descrição. Com o advento da Internet, as micronações fictícias de todo o mundo puderam se comunicar e começaram uma intensa integração. Em 1992, foi fundada Porto Claro. O fundador, Pedro Aguiar, divulgou seu país na Internet a partir de 1996 e com isso deu um grande passo para o surgimento de novas micronações, no Brasil e em outros países. Pouco tempo depois, nasceu o Sacro Império de Reunião, fundado por Cláudio de Castro, primeira micronação lusófona a alcançar fama internacional, sendo alvo de reportagens em meios de comunicações mais diversos, desde o New York Times até o francês La Liberátion. Em poucos anos, já havia algumas centenas de micronações cadastradas em todos os continentes, sendo que quase um quinto delas era lusófona. Hoje, o micronacionalismo continua a atrair milhares de praticantes. Sites como a AOIN, NationStates e a UBR, sendo esse último lusófono, permitem uma integração mais aprofundada, atraem muita gente que procura esse tipo de diversão. Micronacionalismo Lusófono. O fenômeno do Micronacionalismo, também existe em língua portuguesa. Micronações com sede no Brasil, em Portugal e em outros países lusófonos também existem. Algumas das principais e mais reconhecidas micronações lusófonas são o Sacro Império de Reunião e o Principado da Pontinha. Lista de Micronações. Estas são algumas micronações:
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Memória de acesso aleatório
Memória de acesso aleatório A memória (do inglês "Random Access Memory", frequentemente abreviado para RAM), também chamado de memória volátil de leitura e escrita, é uma memória temporária computacional de acesso rápido; ou seja, é um local de armazenamento temporário de informações digitais usada pelo processador para armazenar informações temporariamente e que possui um acesso feito de forma aleatória mais rápido que ao HD, DVD, pendrive (permite a rápida leitura e escrita de informações), utilizada como memória primária em sistemas eletrônicos digitais. A RAM é um componente essencial vários tipos de dispositivos, como: computador pessoal, computador servidor, smartphone, pois é onde basicamente ficam armazenados os programas básicos operacionais. Por mais que exista espaço de armazenamento disponível, na forma de um HDD, SSD ou memória flash, é sempre necessária uma certa quantidade de RAM. O termo acesso aleatório identifica a capacidade de se ter acesso a qualquer posição e em qualquer momento, por oposição ao acesso sequencial imposto por alguns dispositivos de armazenamento, como fitas magnéticas. O nome não é verdadeiramente apropriado, já que outros tipos de memória (como a ROM) também permitem o acesso aleatório a seu conteúdo. O nome mais apropriado seria: Memória de Leitura e Escrita, que está expressa na programação computacional. Apesar do conceito de memória operacional de acesso aleatório ser bastante amplo, atualmente o termo é usado apenas para definir um dispositivo eletrônico que o implementa, uma vez que atualmente essa memória se encontra espalhada dentro do próprio sistema dos atuais computadores (sistema por assim dizer "nervoso" do computador, como o humano), basicamente um tipo específico de chip. Nesse caso, também fica implícito que é uma memória volátil, todo o seu conteúdo é perdido quando a alimentação da memória é desligada. A memória principal de um computador baseado na Arquitetura de Von-Neumann é constituída por RAM. É nesta memória que são carregados os programas em execução e os respectivos dados do utilizador. Uma vez que se trata de memória volátil, os seus dados são perdidos quando o computador é desligado. Para evitar perdas de dados, é necessário salvar a informação para suporte não volátil, como o disco rígido. É usada pelo processador para armazenar os arquivos e programas que estão sendo processados. A quantidade de RAM disponível tem um grande efeito sobre o desempenho, já que sem uma quantidade suficiente dela o sistema passa a usar memória virtual, que é lenta. A principal característica da RAM é que ela é volátil, ou seja, os dados se perdem ao reiniciar o computador. Ao ligar é necessário refazer todo o processo de carregamento, em que o sistema operacional e aplicativos usados são transferidos do HD para a memória, onde podem ser executados pelo processador. Os chips de memória são vendidos na forma de pentes de memória. Existem pentes de várias capacidades, e normalmente as placas possuem dois ou três encaixes disponíveis. Há como instalar um pente de 1 GB junto com o de 512 MB que veio no micro para ter um total de MB, por exemplo. História. Os primeiros computadores usavam relés, contadores mecânicos ou linhas de atraso para funções de memória principal. As linhas de atraso ultrassônicas eram dispositivos seriais que só podiam reproduzir dados na ordem em que foram gravados. A memória do tambor poderia ser expandida a um custo relativamente baixo, mas a recuperação eficiente de itens de memória exigia conhecimento do layout físico do tambor para otimizar a velocidade. Travas construídas a partir de triodos de tubo de vácuo e, mais tarde, de transistores discretos, foram usadas para memórias menores e mais rápidas, como registradores. Esses registros eram relativamente grandes e muito caros para usar em grandes quantidades de dados; geralmente apenas algumas dezenas ou poucas centenas de bits dessa memória podem ser fornecidos. A primeira forma prática de memória de acesso aleatório foi o tubo de Williams a partir de 1947. Ele armazenava dados como pontos eletricamente carregados na face de um tubo de raios catódicos. Como o feixe de elétrons do CRT podia ler e escrever os pontos no tubo em qualquer ordem, a memória era de acesso aleatório. A capacidade do tubo Williams era de algumas centenas a cerca de mil bits, mas era muito menor, mais rápido e mais eficiente em termos de energia do que usar travas individuais de tubo de vácuo. Desenvolvido na Universidade de Manchester, na Inglaterra, o tubo Williams forneceu o meio no qual o primeiro programa armazenado eletronicamente foi implementado no computador Manchester Baby, que primeiro executou um programa com sucesso em 21 de junho de 1948. sendo projetado para o bebê, o bebê foi um teste para demonstrar a confiabilidade da memória. A memória de núcleo magnético foi inventada em 1947 e desenvolvida até meados da década de 1970. Tornou-se uma forma difundida de memória de acesso aleatório, contando com uma matriz de anéis magnetizados. Alterando o sentido da magnetização de cada anel, os dados podem ser armazenados com um bit armazenado por anel. Como cada anel tinha uma combinação de fios de endereço para selecioná-lo e lê-lo ou escrevê-lo, o acesso a qualquer local de memória em qualquer sequência era possível. A memória de núcleo magnético era a forma padrão de sistema de memória de computador até ser substituída pela memória semicondutora de estado sólido MOS (metal-óxido-silício) em circuitos integrados (ICs) durante o início da década de 1970. Antes do desenvolvimento de circuitos integrados de memória somente leitura (ROM), a memória de acesso aleatório permanente (ou somente leitura) era frequentemente construída usando matrizes de diodo acionadas por decodificadores de endereço ou planos de memória de corda de núcleo especialmente enrolados. A memória de semicondutores começou na década de 1960 com a memória bipolar, que usava transistores bipolares. Embora melhorasse o desempenho, não poderia competir com o preço mais baixo da memória de núcleo magnético. Tipos. Existem basicamente dois tipos de memória em uso: SDR e DDR. As SDRs são o tipo tradicional, onde o controlador de memória realiza apenas uma leitura por ciclo, enquanto as DDR são mais rápidas, pois fazem duas leituras por ciclo. O desempenho não chega a dobrar, pois o acesso inicial continua demorando o mesmo tempo, mas melhora bastante. Os pentes de memória SDR são usados em micros antigos: Pentium II e Pentium III e os primeiros Athlons e Durons soquete A. Por não serem mais fabricados, eles são atualmente muito mais raros e caros que os DDR, algo semelhante ao que aconteceu com os antigos pentes de 72 vias, usados na época do Pentium 1. É fácil diferenciar os pentes SDR e DDR, pois os SDR possuem dois chanfros e os DDR apenas um. Essa diferença faz com que também não seja possível trocar as bolas, encaixando por engano um pente DDR numa placa-mãe que use SDR e vice-versa. Mais recentemente, tem acontecido a uma nova migração, com a introdução dos pentes de memória DDR2. Neles, o barramento de acesso à memória trabalha ao dobro da frequência dos chips de memória propriamente ditos. Isso permite que sejam realizadas duas operações de leitura por ciclo, acessando dois endereços diferentes. Como a capacidade de realizar duas transferências por ciclo introduzida nas memórias DDR foi preservada, as memórias DDR2 são capazes de realizar um total de 4 operações de leitura por ciclo, uma marca impressionante. Existem ainda alguns ganhos secundários, como o menor consumo elétrico, útil em notebooks. Os pentes de memória DDR2 são incompatíveis com as placas-mãe antigas. Eles possuem um número maior de contatos (um total de 240, contra 184 dos pentes DDR), e o chanfro central é posicionado de forma diferente, de forma que não seja possível instalá-los nas placas antigas por engano. Muitos pentes são vendidos com um dissipador metálico, que ajuda na dissipação do calor e permite que os módulos operem a frequências mais altas. Os pentes de memória DDR3 tem o dobro de taxa de transferência se comparado ao DDR2. A tensão caiu de 1,8V da memória DDR2 para 1,5 V para a DDR3 O tipo DDR3 tem a mesma percepção da DDR2, com melhorias na qual dobra a quantidade de operações por vez em relação ao padrão anterior, ou seja, realiza 8 procedimentos de leitura ou gravação a cada ciclo de clock, quatro no início deste e outros quatro no final. Geralmente são encontradas com chips que utilizam encapsulamento CSP (Chip Scale Package) com encaixes FBGA (Fine pitch Ball Grid Array), cuja principal característica é o fato de os terminais do chip serem pequenas soldas. A vantagem disso é que o sinal elétrico flui mais facilmente e há menos chances de danos físicos. Capacidade e Velocidade. A capacidade de uma memória é medida em Bytes, Kilobyte (1 KB = ou 210 Bytes), Megabyte (1 MB = KB ou 220 Bytes), Gigabyte (1 GB = MB ou 230 Bytes) e Terabyte (1 TB = GB ou 2 40 Bytes). A velocidade de funcionamento de uma memória é medida em Hz ou MHz. Este valor está relacionado com a quantidade de blocos de dados que podem ser transferidos durante um segundo. Existem no entanto algumas RAMs que podem efetuar duas transferências de dados no mesmo ciclo de clock, duplicando a taxa de transferência de informação para a mesma frequência de trabalho. Além disso, a colocação das memórias em paralelo (propriedade da arquitetura de certos sistemas) permite multiplicar a velocidade aparente da memória. Memória cache. De qualquer forma, apesar de toda a evolução, a RAM continua sendo muito mais lenta que o processador. Para atenuar a diferença, são usados dois níveis de memória do tipo cache, incluídos no próprio processador: o cache L1 e o cache L2. O cache L1 é extremamente rápido, trabalhando próximo à frequência nativa do processador. Na verdade, os dois trabalham na mesma frequência, mas são necessários alguns ciclos de clock para que a informação armazenada no L1 chegue até as unidades de processamento. No caso do Pentium 4, chega-se ao extremo de armazenar instruções já decodificadas no L1: elas ocupam mais espaço, mas eliminam este tempo inicial. De uma forma geral, quanto mais rápido o cache, mais espaço ele ocupa e menos é possível incluir no processador. É por isso que o Pentium 4 inclui apenas um total de 20 KB desse cache L1 ultrarrápido, contra os 128 KB do cache um pouco mais lento usado no Sempron. Em seguida vem o cache L2, que é um pouco mais lento tanto em termos de tempo de acesso (o tempo necessário para iniciar a transferência) quanto em largura de banda, mas é bem mais econômico em termos de transistores, permitindo que seja usado em maior quantidade. O volume de cache L2 usado varia muito de acordo com o processador. Enquanto a maior parte dos modelos do Sempron utilizam apenas 256 KB, os modelos mais caros do Core 2 Duo possuem 4 MB completos. É um método criado para correção de erros de memória. É o método mais antigo, e somente identifica erros, não os corrige, e consiste na adição de um bit de controle no final de cada byte de memória. A operação de checagem dos dados na paridade é bem simples: são contados o número de bits “1” de cada byte. Se o número for par, o bit de paridade assume um valor “0” e caso seja ímpar, 9º bit assume um valor “1”. Quando requisitados pelo processador, os dados são checados pelo circuito de paridade que verifica se o número de bits “1” corresponde ao depositado no 9º bit. Caso seja constatada alteração nos dados, ele envia ao processador uma mensagem de erro. O método não é totalmente eficaz, pois não é capaz de detectar a alteração de um número de bits que mantenha a paridade. Se dois bits zero retornassem alterados para bits um, o circuito de paridade não notaria a alteração nos dados. Felizmente, a possibilidade de alteração de dois ou mais bits ao mesmo tempo é remota. O uso da paridade não torna o computador mais lento, pois os circuitos responsáveis pela checagem dos dados são independentes do restante do sistema. Seu único efeito colateral, é o encarecimento das memórias, que ao invés de 8 bits por byte, passam a ter 9, tornando-se cerca de 12 a 60% mais caras. Dispositivo ECC-(Error Correct Code) - "Código de correção de erros". Código de detecção no qual uma combinação de pulsos proibitiva pelo acréscimo ou perda de 1 bit indica qual bit esta errado. Além do custo, a paridade não permite corrigir os erros, apenas identificá-los, o que diminui sua utilidade prática. O aumento do bom nível de confiabilidade dos novos módulos de memórias fez com que as memórias com paridade caíssem em desuso.
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Modem
Modem Um modem (amálgama de modulador-demodulador) é um dispositivo de hardware que converte dados em um formato adequado para um meio de transmissão de forma que possam ser transmitidos de um computador para outro (historicamente através de cabos telefônicos). Um modem modula um ou mais sinais de onda portadora para codificar informações digitais para transmissão e demodula sinais para decodificar as informações recebidas. O objetivo é produzir um sinal que possa ser transmitido facilmente e decodificado de maneira confiável para reproduzir os dados digitais originais. Os modems podem ser usados ​​com quase todos os meios de transmissão de sinais analógicos, dos diodos emissores de luz ao rádio. Um tipo comum de modem é aquele que transforma os dados digitais de um computador em sinal elétrico modulado para transmissão por meio de linhas telefônicas e demodulado por outro modem no lado do receptor para recuperar os dados digitais. Os modems são geralmente classificados pela quantidade máxima de dados que podem enviar em uma determinada unidade de tempo, geralmente expressa em bits por segundo (símbolo bit/s ou bps) ou raramente em bytes por segundo (símbolo B/s). Os modems também podem ser classificados por sua taxa de símbolos, medida em baud. A unidade de transmissão significa símbolos por segundo, ou o número de vezes por segundo em que o modem envia um novo sinal. Por exemplo, o padrão ITU V.21 usava chaveamento de frequência de áudio com duas frequências possíveis, correspondentes a dois símbolos distintos (ou um bit por símbolo), para transportar 300 bits por segundo usando 300 baud. Por outro lado, o padrão ITU V.22 original, que podia transmitir e receber quatro símbolos distintos (dois bits por símbolo), transmitia 1.200 bits enviando 600 símbolos por segundo (600 baud) usando a modulação por deslocamento de fase. Tipos de modems. Os primeiros "modems" analógicos eram externos. Ligados através das interfaces paralelas, onde a velocidade de transmissão era de 300 bps (bits por segundo) e operavam em dois sinais diferentes, um tom alto que representava bit 1, enquanto o tom baixo representava o bit 0. Os fax-modems têm esse nome devido ao facto de que o dispositivo pode ser utilizado para receber e enviar fac-símile. Basicamente, existem "modems" para o acesso discado e banda larga. Os "modems" para acesso discado geralmente são instalados internamente no computador (em um barramento PCI) ou ligados em uma porta serial, enquanto os "modems" para acesso em banda larga podem ser USB, Wi-Fi ou Ethernet. Os "modems" ADSL diferem dos "modems" para acesso discado porque não precisam converter o sinal de digital para analógico e de analógico para digital porque o sinal é sempre digital (ADSL - Asymmetric Digital Subscriber Line). O exemplo mais familiar é um modem de banda de voz que transforma os dados digitais de um computador pessoal em sinais elétricos modulados na frequência de voz do alcance de um canal telefónico. Estes sinais podem ser transmitidos através de linhas telefônicas e demodulados por outro "modem" no lado do receptor para recuperar os dados digitais. Os "modems" são geralmente classificados pela qualidade de dados que podem enviar em uma determinada unidade de tempo, normalmente medido em bits por segundo (bit/s ou bps). Eles também podem ser classificados pela taxa de símbolos medido em bauds, o número de vezes que o "modem" muda o estado do sinal por segundo. Por exemplo, o ITU V.21 padrão utilizado-shift keying frequência de áudio, tons aka, para transportar 300 bits/s usando 300 baud, enquanto o padrão ITU V.22 original permitia 1.200 bit / s com seiscentos baud usando modulação de fase.
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MP3
MP3 O MP3 ("MPEG-1/2 Audio Layer 3") é um dos primeiros tipos de compressão de áudio com perdas quase imperceptíveis ao ouvido humano. O seu bitrate (taxa de bits) é da ordem de kbps ("quilobits" por segundo), sendo 128 kbps a taxa-padrão, na qual a redução do tamanho do arquivo é de cerca de 90%, ou seja, o tamanho do arquivo passa a ser 1/10 do tamanho original. A taxa de bits pode chegar a até 320 kbps (cerca de 2,3 MB/min de áudio), gerando a máxima qualidade sonora do formato, na qual a redução do tamanho do arquivo é de cerca de 75%, ou seja, o tamanho do arquivo passa a ser cerca de 1/4 do original. Há também outras taxas intermediárias, como 192 kbps e 256 kbps, cuja escolha depende da relação custo-benefício desejada, onde o tamanho do arquivo pode ser reduzido em detrimento da qualidade/fidelidade do som. Para efeitos de comparação, as músicas de um CD de áudio comum possuem uma taxa de amostra de dados de 1411,2 kbps. O Motion Picture Experts Group, acrônimo MPEG, formalmente designado como ISO / IEC JTC 1/SC 29/WG 11, denominação de codificação de imagens em movimento e áudio, é uma comissão técnica, formada pela ISO e IEC, encarregada de estabelecer normas para a representação de áudio digital, vídeo e outros tipos de mídia para atenderem a uma ampla variedade de aplicações. O Comité foi instituído em janeiro de 1988 por Leonardo Chiariglione e se reuniu pela primeira vez nos dias 10, 11 e 12 de maio de 1988. Normalmente, reuniam-se, em média, quatro vezes por ano. Na primeira reunião houve participação de 25 membros, enquanto que, atualmente, as reuniões são frequentadas por mais de 350 membros que representam mais de 200 empresas e organizações de 20 países ao redor do mundo. O método de compressão com perdas empregado na compressão do MP3 consiste em retirar do áudio tudo aquilo que o ouvido humano normalmente não conseguiria perceber, devido a fenômenos de mascaramento de sons e de limitações da audição humana. O ouvido humano consegue captar frequências de 20 Hz até 20 kHz. O tamanho dos arquivos em MP3 será tanto maior quanto maior for a sua duração. Para efeito de exemplo, consideremos uma música com cinco minutos de duração. Para armazená-la a uma taxa de 320 kbps, será necessário um espaço de 2,3 MB/min x 5 min = 11,5 MB. Na qualidade-padrão, de 128 kbps, serão necessários 0,92 MB/min de áudio para o armazenamento da mesma música. Um CD-R comum pode armazenar até mais de 12 horas de áudio em MP3 de 128 kbps. MP3 é uma abreviação de MPEG 1 Layer-3. Um erro comum é confundir MP3 com MPEG-3, um formato morto. História. 1970: O professor Dieter Seitzer, da Universidade Erlangen-Nuremberg na Alemanha, depara-se com o problema de transmitir fala em alta qualidade através de linhas telefônicas. Ele inicia, então, um grupo de pesquisa em codificação de áudio Fim de 1970: Em virtude do surgimento do ISDN (Integrated Service Digital Network) e de cabos de fibra óptica para telecomunicações, melhorar a codificação de voz pareceu pouco importante. Então o professor Seitzer iniciou a pesquisa em codificação de sinais de música. 1979: O grupo do professor Seitzer desenvolveu o primeiro processador de sinais digitais capaz de realizar a compressão de áudio. Um dos estudantes, Karlheinz Brandenburg, começou a implementar princípios da psicoacústica na codificação de áudio. 1987: A Universidade Erlangen-Nuremberg realizou uma parceria com o Instituto Fraunhofer. 1988: Estabeleceu-se o MPEG (Moving Picture Experts Group), grupo de trabalho da ISO (International Organization for Standardization) liderado por  , responsável por desenvolver padrões para a compressão de áudio e vídeo digitais. 1989: Brandenburg finalizou sua tese de doutorado, onde apresentava o algoritmo OCF ("Optimum Coding in the Frequency Domain"). Tal codec possuía várias características da atual tecnologia MP3 e era um sistema de tempo real. 1991: Melhoras no algoritmo OCF, somadas a contribuições da Universidade de Hannover, dentre outras, produziram um novo codec de áudio, chamado ASPEC (Adaptative Spectral Perceptual Entropy Coding). O ASPEC foi um dos 14 trabalhos enviados para a ISO como proposta de codificação de áudio. Após testes rigorosos, a ISO sugeriu que a codificação de áudio apresentasse 3 abordagens em escala de complexidade e eficiência: Layer 1 e Layer 2, mais simples, baseadas em um outro codec enviado à ISO, o MUSICAN, Layer 3, de alta eficiência e maior complexidade, baseada no ASPEC. O ASPEC evolui, então, para o codec MP3 - MPEG-1 Layer 3. 1995: Os pesquisadores de Fraunhofer votaram ' .mp3 ' como a extensão de arquivos MPEG Layer 3. Disponibilizou-se o codec do Layer 3 como shareware. 1997: Michael Robertson constrói o site 'mp3.com', onde disponibiliza informações e tudo o mais relacionado à tecnologia MP3. 1997: A SONY Company cria um formato padrão de MP3 (ARQUIVO) que todas as empresas do mundo adotaram. 1998: Surgem os primeiros players portáteis de MP3, usando memória flash. 1999: A Samsung desenvolve o primeiro telefone celular do mundo que serve também com MP3 player. O MP3 Player foi criado em 1998 pela empresa sul-coreana Saehan que lançou nos mercados sul-coreano e norte-americano o MPMan, o 1º MP3 player do mundo. 2000: Surgem, no mercado negro, CD players com funcionalidades de mp3. 2006: Na Alemanha, MP3 gera mais de 10.000 postos de trabalho e aproximadamente 300 milhões de euros de impostos. Os alemães gastam em média 1,5 bilhões de euros em MP3 players e produtos relacionados. Após a grandiosa fama na Internet, o MP3 causou grande revolução no mundo do entretenimento. Assim como o LP de vinil, o cassete de áudio e o CD, o MP4 se fortaleceu como um popular meio de distribuição de canções. A questão-chave para entender todo o sucesso do MP4 se baseia no fato de que, antes dele ser desenvolvido, uma música no computador era armazenada no formato WAV, que é o formato-padrão para arquivo de som em PCs, chegando a ocupar dezenas de megabytes em disco. Na média, um minuto de música corresponde a 10 MB, para uma gravação de som de 16 bits estéreo com 44,1 KHz, o que resulta numa grande complicação a distribuição de músicas por computadores, principalmente pela Internet. Com o surgimento do MP3, essa história mudou, pois o formato permite armazenar músicas no computador sem ocupar muito espaço e sem tirar a qualidade sonora das canções. Geralmente, um minuto de música corresponde a cerca de 1 MB em MP3. O MP3 (MPEG-1/2 Audio Layer 3) foi um dos primeiros tipos de arquivos a comprimir áudio com perda de dados, eficientemente, de forma quase imperceptível ao ouvido humano. Ao se popularizar, o formato MP3 deixou, consequentemente, a indústria fonográfica preocupada com seus lucros. O MP3 alcançou um sucesso tão grande que, quando as gravadoras se deram conta, o formato já estava presente em milhões de computadores em todo o mundo. A cantora americana Suzanne Vega é considerada a "mãe" do mp3. Um artigo publicado pelo Zero hora, escrito pela própria cantora, revela que sua voz, na canção "a cappella" "Tom's Diner", de 1986, serviu de referência auditiva para Brandenburg realizar os ajustes finais nos parâmetros de compressão do mp3. Ou seja, os mesmos parâmetros empregados para que a voz de Suzanne Vega fosse ouvida de maneira satisfatória por Brandenburg na canção "Tom's Diner" são os parâmetros empregados para a compressão de todo o áudio no formato mp3 até hoje. Detalhes técnicos. As taxas de compressão alcançadas pelo MP3 chegam a até 12 vezes, dependendo da qualidade desejada. Para fazer isso, o MP3 utiliza-se, além das técnicas habituais de compressão, de estudos de psicoacústica, sendo que estes permitem aproveitar-se das limitações e imperfeições da audição humana. A utilização dos limites da audição humana baseia-se em três princípios básicos: Licenças e patentes. A Thomson Consumer Electronics controla o licenciamento da patente do "MPEG-1/2 Layer 3" nos poucos países que reconhecem patentes de "software", tais como Estados Unidos e Japão. Em setembro de 1998, o Instituto Fraunhofer enviou um comunicado a diversos desenvolvedores de programas MP3, exigindo cobrança de "royalties" por essa patente. O comunicado informava que o licenciamento era necessário para "distribuir e/ou vender decodificadores e/ou codificadores", e que os produtos não licenciados infringiam os "direitos sobre a patente do Instituto Fraunhofer e da Thomson. Para produzir, vender e/ou distribuir produtos que se utilizem do padrão "MPEG-1/2 Audio Layer 3" e, portanto, de suas respectivas patentes, é necessário obter uma licença." Tal iniciativa revelou a necessidade de promover formatos realmente livres, como o padrão "ogg vorbis". Note-se que, passados 20 anos da existência do MPEG-1, e consequentemente do MP3, a licença passará a ser livre, tornando-se este codificador propriedade da humanidade. "Streaming". O sistema empregado pelo MP3 também possibilita transmissões por "streaming", onde o arquivo pode ser interpretado à medida que é feito o "download" ou em que é baixado (não é necessário que o arquivo chegue inteiro para iniciar a reprodução).
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Membrana plasmática
Membrana plasmática A membrana plasmática, citoplasmática ou plasmalema é a estrutura que delimita todas as células vivas, tanto as procarióticas como as eucarióticas. Ela estabelece a fronteira entre o meio intracelular, o citoplasma, e o ambiente extracelular, que pode ser a matriz dos diversos tecidos. Aparece em eletromicrografias como duas linhas escuras separadas por uma faixa central clara, com uma espessura de 6 a 10 nm. Esta estrutura trilaminar encontra-se em todas as membranas encontradas nas células, sendo por isso chamada de "unidade de membrana" ou "membrana unitária." A membrana celular não é estanque, mas uma “porta” seletiva que a célula utiliza para captar os elementos do meio exterior que lhe são necessários para o seu metabolismo e para libertar as substâncias que a célula produz e que devem ser enviadas para o exterior (sejam elas produtos de excreção, das quais deve se libertar, ou secreções que a célula utiliza para várias funções relacionadas com o meio). Composição química. Açúcares. Todas as membranas plasmáticas celulares são constituídas predominantemente por fosfolipídeos e proteínas em proporções variáveis e uma pequena fração de açúcares, na forma de oligossacarídeos.Exteriormente, na grande maioria das células animais, a membrana plasmática apresenta uma camada rica em glicídeos: o "glicocálix" ou glicocálice. Entre outros papéis, o glicocálix tem a função de reconhecimento químico da célula para seu exterior e tem também função protetora, impedindo que alguns tipos de vírus ou bactérias se anexem à célula. Lipídios. Os lipídios presentes nas membranas celulares pertencem predominantemente ao grupo dos fosfolipídios. Estas moléculas são formadas pela união de três grupos de moléculas menores: um álcool, geralmente o glicerol, duas moléculas de ácidos graxos e um grupo fosfato, que pode conter ou não uma segunda molécula de álcool. A proporção de fosfolipídeos varia muito: compõe cerca de 50% da membrana plasmática e 90% da membrana mitocondrial. A estrutura das membranas deve-se primariamente a essa camada dupla de fosfolipídios. Esses lipídios são moléculas longas com uma extremidade hidrofílica (tem afinidade com a água) e a cadeia hidrofóbica (não tem afinidade com a água). O grupo fosfato está situado nas lâminas externas da estrutura trilaminar. A parte situada entre as lâminas fosfatadas é composta pelas cadeias hidrofóbicas. As membranas animais possuem ainda o colesterol, e as células vegetais possuem outros esteróis, importantes para o controle da fluidez das membranas. A uma dada temperatura, quanto maior a concentração de esteróis, menos fluida será a membrana. As células procariontes, salvo algumas exceções, não possuem esteróis. Proteínas. As proteínas são as principais fontes de energia e os principais componentes funcionais das membranas celulares. A maioria das proteínas da membrana celular está mergulhada na dupla camada fosfolipídica, interrompendo sua continuidade, são as "proteínas integrais". Outras, as "proteínas periféricas", estão aderentes às extremidades de proteínas integrais. Algumas proteínas atuam no transporte de substâncias para dentro ou para fora da célula. Entre estas, encontram-se glicoproteínas (proteínas ligadas a carboidratos). Algumas destas proteínas formam conexões, os fibronexos, entre o citoplasma e macromoléculas da matriz extracelular. Os grupos sanguíneos A-B-O, M-N e Rh, bem como fatores HLA, são antígenos da superfície externa da membrana. Principais características da membrana plasmática. A membrana celular é responsável pela manutenção de uma substância do meio intracelular, que é diferente do meio extracelular, e pela recepção de nutrientes e sinais químicos do meio extracelular. Para o funcionamento normal e regular das células, deve haver a seleção das substâncias que entram e o impedimento da entrada de partículas indesejáveis, ou ainda, a eliminação das que se encontram no citoplasma. Por ser o componente celular mais externo e possuir receptores específicos, a membrana tem a capacidade de reconhecer outras células e diversos tipos de moléculas, como hormônios. As membranas celulares possuem mecanismos de adesão, de vedação do espaço intercelular e de comunicação entre as células. Os microvilos ou microvilosidades são muito frequentes e aumentam a superfície celular. Não confundir a membrana celular com a parede celular (das células vegetais, por exemplo), que tem uma função principalmente de proteção mecânica da célula. Devido à membrana citoplasmática não ser muito forte, as plantas possuem a parede celular, que é mais resistente. A membrana celular é uma camada fina e altamente estruturada de moléculas de lípidos e proteínas, organizadas de forma a manter o potencial eléctrico da célula e a controlar o que entra e sai da célula (permeabilidade selectiva da membrana). Sua estrutura só vagamente pode ser verificada com um microscópio de transmissão eletrónica. Muitas vezes, esta membrana contém proteínas receptoras de moléculas específicas, os Receptores de membrana, que servem para regular o comportamento da célula e, nos organismos multicelulares, a sua organização em tecidos (ou em colónias). Por outro lado, a membrana celular não é, nem um corpo rígido, nem homogêneo – é muitas vezes descrita como um fluido bidimensional e tem a capacidade de mudar de forma e invaginar-se para o interior da célula, formando alguns dos seus organelos. A matriz fosfolipídica da membrana foi pela primeira vez postulada em 1825 por Gorter e Grendal; no entanto, só em 1895, Charles Overton deu força a esta teoria,tendo observado que a membrana celular apenas deixava passar algumas substâncias, todas lipossolúveis. Transporte através das membranas. Mesmo nas membranas não biológicas, como as de plástico ou celulose, há moléculas que as conseguem atravessar, em determinadas condições. Dependendo das propriedades da membrana e das moléculas (ou átomos ou íons) em presença, o transporte através das membranas classifica-se em: O transporte através das membranas pode ainda ser classificado em mediado, envolve permeases [transporte ativo e difusão facilitada, n.b.(transporte passivo)], e não-mediado (difusão directa). Transporte passivo. O interior das células – o citoplasma – é basicamente uma solução aquosa de sais e substâncias orgânicas. O transporte passivo de substâncias na célula pode ser realizado através de difusão ou por osmose. A difusão se dá quando a concentração interna de certa substância (soluto) é menor que a externa, e as partículas tendem a entrar na célula. Quando a concentração interna é maior, as substâncias tendem a sair. A difusão pode ser auxiliada por enzimas permeáveis sendo classificada difusão facilitada. Quando não há ação de enzimas, é chamada difusão simples No que se refere à osmose, quando a concentração externa de substâncias é menor que a interna, parte do líquido citoplasmático tende a sair fazendo com que a célula murche - plasmólise. Quando a concentração interna é maior, o líquido do meio externo tende a entrar na célula, dilatando-a - Turgência, entretanto existe ainda a situação em que a célula murcha e depois por motivos externos volta a obter sua quantidade normal de água,então esse fato é chamado de Deplasmólise, ou seja, uma plasmolise inversa. Neste caso, se a diferença de concentração for muito grande, pode acontecer que a célula estoure. As células que possuem vacúolos são mais resistentes à diferença de concentração, pois estas organelas, além de outras funções, agem retendo líquido. Transporte ativo. O transporte ativo através da membrana celular é primariamente realizado pelas enzimas ATPases, como a importante bomba de sódio e potássio, que tem função de manter o potencial elétrico das células. Muitas células possuem uma ATPase do cálcio que opera as concentrações intracelulares baixas de cálcio e controla a concentração normal (ou de reserva) deste importante mensageiro secundário. Uma outra enzima actua quando a concentração de cálcio sobe demasiadamente. Isto mostra que um íon pode ser transportado por diferentes enzimas, que não se encontram permanentemente ativas. Há ainda dois processos em que, não apenas moléculas específicas, mas a própria estrutura da membrana celular é envolvida no transporte de matéria (principalmente de grandes moléculas) para dentro e para fora da célula: Nos seres humanos e animais, a secreção serve como meio que o corpo possui de eliminar resíduos metabólicos celulares que ainda tem importância funcional. Através da fusão entre o lisossomos primários e bolsas formadas na fagocitose ou pinocitose, forma-se o vacúolo digestório heterofágico, também chamado de lissosomo secundário. Nesse vacúolo, parte das substâncias são digeridas e transformadas em moléculas menores que atravessam a membrana e se espalham no citosol. A outra parte não digerida permanece no vacúolo, que agora passa a ser vacúolo ou corpo residual. A clasmocitose termina quando o vacúolo residual se funde à membrana plasmática da célula e expulsa o seu conteúdo para o meio externo. Microdomínios de membrana. Microdomínios de membrana, também conhecidos como balsas lipídicas, são regiões especializadas em que as moléculas lipídicas da membrana plasmática das células animais se reúnem de forma transiente. Esses domínios são ricos em esfingolipídios e colesterol, e, portanto, mais rígidos que o resto da membrana. Glicoesfingolipídios (cerebrosídeos e gangliosídeos), geralmente, possuem cadeias longas de ácidos graxos saturados, e formam agregados transitórios na lâmina externa que excluem glicerofosfolipídios, normalmente constituídos por grupo acil graxo insaturado e um grupo acil saturado menor. Os grupos acil saturados longos de esfingolipídios podem formar associações mais estáveis e compactas com o longo sistema de anéis do colesterol se comparados às cadeias mais curtas e geralmente insaturadas de fosfolipídios. Desde o surgimento dos modelos sobre a organização de membrana, evidências sobre membranas celulares foram se acumulando e mostrando que, particularmente membranas de superfície celular, são lateralmente heterogêneas em proporções que parecem variar de centenas de nanômetros a alguns micrômetros. Essas heterogeneidades são, normalmente, reconhecidas como 'microdomínios'. Os microdomínios são mais espessos e mais ordenados do que outras regiões das bicamadas lipídicas. Eles comportam-se como “balsas de esfingolipídios líquidos ordenados à deriva em um oceano de fosfolipídios líquidos desordenados”, sendo reconhecidos, também como balsas lipídicas. Os locais de microdomínios reúnem, de modo mais adequado, certas proteínas de membrana, devido as cadeias de hidrocarbonos dos esfingolipídios, mais longas e retas do que as de outras porções das membranas lipídicas. Essa segregação lateral de proteínas e lipídios no domínio das balsas é importante, uma vez que, as balsas lipídicas podem auxiliar a organizar as proteínas da membrana concentrando-as para o transporte em membranas de vesículas ou para a conversão de sinais extracelulares em intracelulares durante processos de sinalização celular. DIGS (domínios enriquecidos com glicolipídios insolúveis em detergente) A partir de alguns estudos relacionados a definição de conjuntos glicolipídicos em membranas, observou-se que proteínas de membrana específicas e glicolipídios formam complexos insolúveis em Triton X-100 (detergente) em 4oC. Parton e Simons cunharam o termo DIGS para estes domínios de membrana ricos em colesterol e glicoesfingolipídeos que apresentam essa particularidade de serem insolúveis a ação de detergentes. DIGS podem ser isolados por centrifugação por gradiente de sacarose devido ao seu alto teor lipídico. A fração DIG flutua nesses gradientes em baixa densidade, sendo bem separada de outros materiais solúveis em Triton X-100. A fração DIG isolada das células é rica em glicoesfingolipídios e esfingomielina. Além disso, a fração significativa do colesterol da membrana é associada a DIG, enquanto a maioria dos glicerofosfolipídios são solubilizados em Triton X-100. Proteínas dos microdomínios As balsas lipídicas são compostas majoritariamente por duas classes de proteínas integrais de membrana: aquelas ancoradas à membrana por duas cadeias longas de ácidos graxos saturados ligados covalentemente por resíduos de Cys (dois grupos palmitoil ou um grupo palmitoil e um grupo miristoil) e proteínas ancoradas por GPI. Essas âncoras lipídicas, assim como as cadeias acil longas e saturadas dos esfingolipídeos, formam associações mais estáveis com o colesterol e com os longos grupos acil em balsas do que com os fosfolipídios vizinhos. As proteínas de membrana podem mover-se para dentro e para fora das balsas lipídicas em uma escala de tempo de segundos. Contudo, muitas dessas proteínas residem principalmente em um microdomínio. É possível estimar a fração da superfície celular ocupada por balsas pela fração da membrana plasmática que resiste à solubilização por detergente, fração que pode alcançar até 50% em alguns casos: as balsas cobrem metade do oceano. A maioria das células expressa mais do que 50 tipos diferentes de proteínas plasmáticas, portanto, é provável que uma única balsa contenha apenas um subconjunto de proteínas de membrana e que essa segregação de proteínas de membrana seja significativa do ponto de vista funcional. Para um processo que envolve a interação de duas proteínas de membrana, a presença delas em uma única balsa aumentaria muito a probabilidade de colisão. Observa-se, por exemplo, que alguns receptores de membrana e proteínas de sinalização estão co-localizados em balsas de membrana. Caveolinas e cavéolas A caveolina é uma proteína integral de membrana com dois domínios globulares conectados por um domínio hidrofóbico em forma de grampo de cabelo, que liga a proteína à lâmina citoplasmática da membrana plasmática. A caveolina forma dímeros e associa-se a regiões ricas em colesterol na membrana, e, a presença de dímeros de caveolina faz com que a bicamada lipídica associada se curve para dentro, formando cavéolas (“pequenas cavernas”) na superfície da célula. As cavéolas são microdomínios distintos que envolvem as duas lâminas da bicamada lipídica – a lâmina citoplasmática, local de onde o domínio globular da caveolina se projeta, e a lâmina extracelular, uma balsa de esfingolipídeo/colesterol típica associada com proteínas ancoradas por GPI. As cavéolas são microdomínios relacionados a diversas funções celulares, incluindo o tráfego de membranas no interior celular e a transdução de sinais externos em respostas celulares. Os receptores para a insulina e outros fatores de crescimento, assim como certas proteínas ligadas ao GPI, e proteínas-cinases associadas à sinalização transmembrana, parecem estar localizados em balsas e, possivelmente, em cavéolas.
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A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (popularmente conhecida como A Igreja Mórmon embora não seja um termo correto) é uma igreja de fundamentação cristã com características restauracionistas, e a maior denominação originária do Movimento dos Santos dos Últimos Dias. O nome oficial da igreja se refere a Jesus Cristo como seu líder e à conversão dos fiéis, ou santos, à igreja, na última dispensação — de onde surge a referência aos "últimos dias". O termo "santos" é a mesma denominação usada na época de Jesus Cristo no Novo Testamento. A Igreja está sediada em Salt Lake City, nos Estados Unidos e estabeleceu congregações em todo o mundo. Em 2017, a Igreja relatou um pouco mais de 16,1 milhões de membros em todo o mundo. Atualmente, se converte numa das grandes denominações religiosas cristãs no mundo, fazendo-se presente em cerca de 206 países e territórios dependentes. No Brasil, de acordo com estimativas dos registros da instituição religiosa, possui mais de 1.429.935 membros, caracterizando-se no terceiro país em número de fiéis no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e México. Os membros, habitualmente referidos como Santos dos Últimos Dias ou erroneamente de mórmons, são cristãos restauracionistas e conservadores, e não se encaixam em nenhuma vertente do cristianismo tradicional ou atual e tão pouco das influências judaico-cristãs. À semelhança de outras organizações restauracionistas, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias adota o relato de que, após os eventos descritos no Novo Testamento, houve uma grande apostasia ( a perda da verdade e autoridade de Deus na terra) da verdadeira fé cristã e do sacerdócio, com esta verdadeira fé e sacerdócio tendo sido restaurados por Joseph Smith Jr., através da profecia e da visitação de Deus, O Pai Celestial, e Seu Filho Jesus Cristo, no início de 1820. Também é relatada a posterior visita de anjos e profetas bíblicos como sendo mensageiros celestiais. Assim, a Igreja afirma ser a única organização na Terra com autoridade para realizar ordenanças válidas (como o batismo e o sacramento), além de outras ordenanças já praticadas antigamente, que foram reveladas novamente por Deus por intermédio de Joseph Smith Jr., como o casamento eterno e o batismo vicário. Sob uma doutrina de contínua revelação, os Santos dos Últimos Dias creem que Jesus Cristo, sob a direção de Deus, o Pai, leva à igreja revelações sobre a sua vontade, dadas ao seu presidente, a quem os membros da Igreja consideram como um moderno "Profeta, vidente e revelador". O presidente atual é Russell M. Nelson. Os membros individuais acreditam que eles também podem receber revelação pessoal de Deus na condução de suas vidas. O presidente lidera uma estrutura hierárquica com vários níveis, descendo até as congregações locais. Bispos são considerados os líderes de congregações locais. Os membros masculinos, depois de terem atingido os 12 anos de idade, podem ser ordenados para o sacerdócio, desde que eles estejam vivendo os padrões da igreja. As mulheres não ocupam posições dentro do sacerdócio, mas ocupam cargos de liderança na igreja em organizações auxiliares. Tanto homens como mulheres podem servir como missionários, e a Igreja mantém um grande programa missionário de proselitismo religioso, além de realizar serviços humanitários em todo o mundo. Os membros fiéis devem aderir à leis sobre a pureza sexual, saúde, jejum e a observância do dia do Senhor (para a igreja, o domingo). Além disso, a Igreja realiza ordenanças sagradas por meio do qual os membros fazem convênios com Deus, incluindo o batismo, a confirmação, o sacramento (comunhão santamente), investidura e casamento celestial (bênçãos matrimoniais que se estendem para além da mortalidade), todos dos quais são de grande importância para membros da Igreja. História. O seu próprio relato, Joseph Smith Jr., aos quatorze anos de idade, após querer saber a qual igreja de sua época se filiar, retirou-se para ler a Bíblia em seu quarto quando leu, em Tiago 1:5: "E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada". Refletindo sobre o que lera, Joseph retirou-se em oração e segundo seu relato afirma ter recebido uma visão na manhã de primavera de 1820, num bosque próximo à sua casa, na qual Deus e Jesus Cristo lhe ordenaram que não se filiasse a nenhuma das igrejas existentes, mas que restaurasse a verdadeira Igreja de Cristo. Este acontecimento é conhecido como a Primeira Visão. Os relatos de Joseph Smith dizem que recebeu do anjo Morôni a informação sobre o local onde estavam enterradas uma coleção de placas de ouro gravadas, que continham um registro da relação de Deus com os antigos habitantes das Américas e que também continha a plenitude do evangelho eterno. Mais tarde este registro nas placas seria traduzido por Joseph Smith Jr. Segundos seus relatos pelo dom e poder de Deus, dando origem ao Livro de Mórmon, um Outro testemunho de Jesus Cristo como creem os membros . O termo mórmon, geralmente usado para referir-se aos Santos dos Últimos Dias erroneamente, deriva do nome do profeta Mórmon, que teria sido um dos autores e compiladores das escrituras que formaram o Livro. É dito ainda que, em 22 de setembro de 1827, o anjo Morôni, no Cumora(localizada no Condado de Ontário, no estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos) entregou a Joseph Smith Jr. as placas de ouro a fim de que Joseph as traduzisse. Joseph e Oliver Cowdery concluíram a alegada tradução em 1830 e o Livro de Mórmon foi publicado no dia 26 de março deste mesmo ano. Ainda em 1830, em 6 de abril, na cidade de Fayette, no estado de Nova Iorque, foi fundada a Igreja, que rapidamente cresceu, gerando contra si fortes perseguições que culminaram no assassinato de Joseph Smith Jr. e seu irmão Hyrum Smith em 1844, no cárcere de Carthage, em Nauvoo. A perseguição não obteve sucesso, pois a nova religião continuou a se expandir, apesar da morte do primeiro Profeta. Nos dias atuais, impulsionada pela obra de missionários, que são jovens solteiros entre 18 a 26 anos (para os homens) e a partir de 19 anos (para mulheres), a igreja realiza proselitismo pelo mundo. A organização da igreja a partir de então até hoje, consiste em 1 Profeta e dois conselheiros, compondo a Primeira Presidência, e Doze Apóstolos. Seguidos então por uma grande variedade de líderes locais, todos servindo voluntariamente. Lembrando que a igreja ensina que o cabeça da organização é Jesus Cristo. (Efésios 2:20) Joseph Smith Jr., segundo suas afirmações, teria recebido a revelação divina de que a igreja deveria construir templos, e ordenou que fosse construído um templo em Kirtland, no estado de Ohio. Assim sendo, em 27 de março de 1836, foi dedicado o Templo de Kirtland, o primeiro templo Santos dos Últimos Dias. Entretanto, o templo foi abandonado algum tempo depois, devido à perseguição imposta aos Santos dos Últimos Dias, que abandonaram a cidade. Com a evacuação de Kirtland, os Santos se abrigaram em povoados no estado vizinho do Illinois. Isso culminou, em 16 de dezembro de 1840, na criação da cidade de Nauvoo, fundada pelos Santos. Com a contínua perseguição, Nauvoo também foi abandonada pelos Santos dos Últimos Dias, em 1846, dois anos depois da morte de Joseph Smith Jr.. Expulsos de Missouri e Illinois, muitos refugiados Santos dos Últimos Dias, liderados por Brigham Young, se organizaram em Caravanas colocaram todos os seus pertences em carroções e carrinhos de mão e migraram para o oeste do país. Esses migrantes ficaram conhecidos como Pioneiros mórmons. A mãe de Joseph Smith Jr., Lucy Mack Smith, foi uma das que abandonaram Nauvoo e seguiram rumo ao oeste, juntamente com os pioneiros. Todavia, Emma Smith, viúva de Joseph Smith Jr. e então presidente da Sociedade de Socorro, recusou-se a migrar para o oeste e permaneceu em Kirtland, onde morreu em 1879. A Igreja encontrou paz e espalhou-se fortemente na região oeste dos Estados Unidos, e rapidamente foi crescendo pelo mundo. A cidade fundada pelos membros da igreja, Salt Lake City, é vista hoje como uma das melhores cidades do mundo para se viver. Era pioneira. Em 1846, após as dificuldades enfrentadas no Missouri (culminando em uma ordem de extermínio decretada contra os mórmons) e com a perseguição contínua em Illinois, Brigham Young conduziu os membros da Igreja, os pioneiros mórmons, na maior migração forçada da História dos Estados Unidos. Os pioneiros mórmons migraram para o oeste do país e estabeleceram-se na região do Vale do Lago Salgado. No dia 24 de julho de 1847, após chegarem ao Vale de Salt Lake, Brigham Young afirmou que "aquele seria o lugar para o descanso dos mórmons". Assim, em 1850, os Santos dos Últimos Dias se instalaram no local criaram o Território de Utah em busca de liberdade religiosa. O grupo ramificou-se e colonizou uma grande região hoje conhecida como "Corredor dos Mórmons". Ainda jovem, Brigham Young foi chamado profeta da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e passou a dedicar-se a ela. Após a morte de Joseph Smith Jr., inicialmente, regeu tanto a Igreja como o Estado, tornando-se um líder teocrático. Ele também propôs a prática do casamento plural, uma forma de poligamia, devido a existência de diversas mães e crianças abandonadas na comunidade decorrente da grande quantidade de homens que lutaram na Guerra Civil Americana. Segundo ele recebeu esta lei como mandamento de Deus da mesma forma que os antigos profetas do Antigo Testamento, mas esta prática, posteriormente, foi descontinuada devido a uma nova revelação a Wilford Woodruff em 1890 em que Deus pediria para que a prática fosse cessada. Isto porque o número de viúvas já não era o mesmo e as famílias já haviam encontrado um lar e abrigo seguros e também porque o governo dos Estados Unidos promoveu ações contra os polígamos. Por volta de 1857, houve novamente uma escalada das tensões entre os membros da Igreja e os americanos, em grande parte como resultado das denúncias infundadas envolvendo a poligamia e da condição de Estado teocrático do território de Utah por Brigham Young, que fora indicado governador do Território pelo governo federal. A chamada Guerra Mórmon seguiu de 1857 a 1858, e resultou, relativamente pacífica, na invasão de Utah pelo Exército dos Estados Unidos. Após o fato, os Santos dos Últimos Dias da região aceitaram a renúncia de Brigham Young e passaram a ser liderados por um governador não-mórmon, Alfred Cumming. No entanto, a Igreja ainda exercia o poder político significativo no Território de Utah, por serem mais da metade da população da região. Com a morte de Brigham Young, em 1877, na Casa de Leão, Utah passou a ser governado por outros presidentes Santos dos Últimos Dias , sendo que alguns membros resistiram aos esforços do Congresso dos Estados Unidos em proibir os casamentos polígamos no estado de Utah e foram excomungados da igreja. O conflito entre os ex-membros da Igreja e o governo americano agravou-se a tal ponto que, em 1890, o Congresso propunha a desintegração da Igreja e apreendeu todos os seus bens. Logo depois, o presidente da Igreja, Wilford Woodruff, publicou um Manifesto que suspendeu oficialmente a prática da poligamia por todos os membros da Igreja em todo os Estados Unidos e outros países com presença oficial da Igreja até o momento. O Manifesto melhorou as relações da Igreja com os Estados Unidos e aumentou de forma acentuada a convivência pacífica entre ambos após 1890, tal que Utah foi admitido como um Estado Americano em 1896. As relações melhoraram ainda mais após 1904, quando o presidente da Igreja, Joseph F. Smith, desmentiu a poligamia perante o Congresso dos Estados Unidos e emitiu um "Segundo Manifesto" contra a continuação da poligamia entre os Santos dos Últimos Dias do país. Eventualmente, a Igreja adotou uma política de excomungar os membros encontrados praticando a poligamia e, hoje, procura ativamente distanciar-se de grupos auto-denominados "fundamentalistas", que continuam a praticar a poligamia. Templos atuais. Vários acontecimentos históricos ocorreram em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias durante o século XX. Na primeira metade do século, a igreja expandiu-se para diversos países e territórios, principalmente para a Europa e América do Sul, onde criou missões e enviou missionários para países como Chile, Argentina, Peru, Brasil e Equador. A igreja expandiu-se ainda para países da Europa Ocidental, tendo como destaques a Suíça, onde localiza-se o Templo de Berna - primeiro templo Santos dos Últimos Dias construído no continente - e o Reino Unido, que possui a maior comunidade Santos dos Últimos Dias da Europa. Obra missionária. A Igreja cresceu substancialmente e tornou-se uma organização internacional, em parte devido à propagação de missionários em todo o mundo. Em 2013, havia 88 mil missionários Santos dos Últimos Dias em todos os países e territórios com presença oficial desta denominação. Em 2000, havia cerca de 11 068 861 membros da Igreja no mundo, de acordo com dados estatísticos promovidos pela própria igreja, sendo que em 2009 a adesão atingiu 13 824 854 pessoas e mais de 15 milhões em 2013. Rodney Stark, professor de sociologia da Universidade de Baylor, no Texas, estima que daqui a 40 anos um em cada vinte norte-americanos seja Santos dos Últimos Dias e que existirão aproximadamente 50 milhões de membros da religião no mundo. Ainda segundo Rodney Stark, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias está muito perto de ser a segunda religião da história a ter pelo menos uma congregação em cada país do planeta - logo depois dos católicos. Posições da Igreja. A igreja tornou-se defensora forte e pública da família como a unidade básica da sociedade e, por vezes, desempenhou papel proeminente em questões políticas, incluindo a oposição de bases de mísseis MX Peacekeeper em Utah e Nevada em 1983, jogos especializados, oposição ao casamento homossexual (ver homossexualidade e mormonismo) e oposição ao aborto e ao uso da eutanásia. Para além das questões que considera ser os da moralidade, no entanto, a igreja geralmente mantém uma posição de neutralidade política. Poucas mudanças oficiais tem ocorrido com a organização. Uma mudança significativa foi a ordenação de homens negros ao sacerdócio em 1978. A igreja afirma que esta mudança se deu por conta de uma revelação de Deus que declarava tal mudança. Helvécio Martins, um executivo do Rio de Janeiro, no Brasil, foi o primeiro negro a ser ordenado ao Sacerdócio, após a publicação da Declaração Oficial - 2. Há variações periódicas somente na estrutura e organização da igreja, principalmente para acomodar o crescimento da organização e a crescente presença internacional. Por exemplo, desde 1900, a igreja instituiu um Programa de Correlação do Sacerdócio de centralizar as operações da igreja e colocá-las sob uma hierarquia de líderes do sacerdócio. Durante a Grande Depressão, a igreja também começou a operar um sistema de proteção social da igreja, e tem realizado numerosos esforços humanitários em cooperação com outras organizações religiosas. O termo "Mórmon", geralmente usado para referir-se aos membros da Igreja, deriva do nome do profeta Mórmon, que é um dos autores e compiladores das escrituras que formaram O Livro de Mórmon, que é, de acordo com a igreja, outro testamento de Jesus Cristo. O termos "mórmon é" desencorajado a ser usado ao se referir a igreja e sua doutrina, os termos encorajados são "membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias" ou apenas "Santos dos Últimos Dias". Presença no mundo. A sede da Igreja fica situada no estado do Utah - fundado pelos Pioneiros mórmons - na cidade de Salt Lake City. Está presente em mais de 172 países, sendo o quarto maior corpo religioso dos Estados Unidos, onde possui 71 templos construídos. Em alguns estados norte-americanos, como Arizona, Idaho, Nevada, Wyoming e Washington, a Igreja é a segunda maior denominação religiosa, superado apenas pela Igreja Católica. Dos mais de 15,3 milhões de adeptos da religião, 6,4 milhões estão nos Estados Unidos, o país com a maior comunidade Santos dos Últimos Dias no mundo, seguido por México e Brasil, com 1,34 milhão e 1,28 milhão de adeptos, respectivamente. Apesar de esses três países concentrarem mais da metade da população dos membros da Igreja, o país com maior densidade de membros é Tonga, onde mais de 50% da população seria de Santos dos Últimos Dias, segundo estatísticas da igreja. A Ásia é o continente com o maior número de países onde a igreja não tem representação. Países do Oriente Médio, Norte de África e Leste asiático estão entre os de maior dificuldade encontrada pela igreja para iniciar suas operações de proselitismo religioso. Quase todos os países da Europa possuem representantes de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, com exceção de Kosovo, Montenegro e Bósnia e Herzegovina. No continente americano, em contrapartida, Cuba é o único país onde a igreja não está presente. Em 2010, os Santos dos Últimos Dias obtiveram autorização do governo comunista chinês para iniciar suas atividades religiosas no país. Sendo assim, a República Popular da China foi o primeiro país de regime socialista a autorizar a presença da igreja em seu território. As negociações para que a igreja obtivesse autorização legal para suas atividades no país duraram cerca de trinta anos. Tal fato fez de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias a segunda entidade cristã a receber autorização para atuar no país, logo após a Católica. Moçambique. A igreja chegou a Moçambique em 2000 e possuía na ocasião 40 membros. Em 2011, os membros já são mais de 5.000 espalhados através de dois distritos, 19 ramos, e três grupos por todo o país. Angola. Os Santos dos Últimos Dias chegaram a Angola em 1985, porém, muitos haviam sido batizados enquanto viviam por um curto período na França ou em Portugal. Após o seu regresso a Angola, eles formaram o núcleo da Igreja no país. Os registros indicam que cerca de 400 membros batizados na Europa entre 1980-1996 retornou às cidades em Angola. A Igreja foi oficialmente reconhecida em Angola em 1993. O primeiro ramo (uma pequena congregação) foi organizado em 1996 na capital do país, Luanda. Eles tinham sido reunidos nas casas dos portadores do sacerdócio. Brasil. Antes do início oficial da Igreja no Brasil, a Igreja e o Brasil se conheceram por meio do então Imperador do Brasil, Dom Pedro II. Durante sua visita aos Estados Unidos em 1876, o Imperador, ao viajar de Nova York a São Francisco pela Primeira Ferrovia Transcontinental dos EUA, aceitou o convite de Brigham Young e desceu do trem em Ogden, Utah e visitou Salt Lake City no 22 de abril de 1876. O Imperador visitou a Praça do Templo, o Tabernáculo, fez perguntas sobre a fé e também visitou o "Savage Art Gallery" onde comprou fotos de Utah. Depois de sua visita, ele declarou: “Os mórmons realizaram árduo labor, preparando esta terra para as culturas, impelidos (...) pelo entusiasmo religioso”. O início de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no Brasil deu-se antes da Segunda Guerra Mundial. Uma família de alemães estabeleceu-se em Ipomeia, Santa Catarina, em 1923. Como no Brasil ainda não havia sido estabelecida a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a família escreveu para a Primeira Presidência solicitando que lhe enviassem materiais de apoio, além de missionários. Na época, a Missão da Igreja mais próxima situava-se em Buenos Aires, na Argentina. Em 1926, Reynold Stoolf, então presidente da Missão Sul-Americana, visitou o Brasil pela primeira vez. Os élderes Schindler e Heinz foram os primeiros missionários mórmons a chegarem ao Brasil, em 17 de setembro de 1928. Como eles não falavam português, o trabalho de proselitismo junto as famílias de imigrantes era feito na língua alemã. Com a Segunda Guerra Mundial, entretanto, os missionários deixaram o Brasil, e somente os membros da Igreja levaram avante o trabalho missionário. A Família Sell, que também vivia em Santa Catarina, foi a primeira família brasileira a se converter ao mormonismo. Em 1933, foi organizada a Sociedade de Socorro no Brasil, ainda em Santa Catarina. Na ocasião, estavam presentes 24 mulheres. A primeira missão brasileira foi criada dois anos depois, em São Paulo, tendo Rulon S. Howells como presidente. O idioma falado pelos missionários ainda era o alemão. O total de fiéis da igreja no Brasil era de apenas 143 pessoas. Em 1939, com a proibição do governo brasileiro do uso do idioma alemão em público, a igreja passa a usar o idioma português. Com isso, o Livro de Mórmon foi traduzido para a língua portuguesa. Em 1941, a Igreja iniciou a retirada dos missionários americanos, devido a Segunda Guerra Mundial, sendo que eles só retornaram ao país em número considerável em 1946. Ainda em razão da Segunda Guerra Mundial, muitos ramos (congregações) foram fechados no país. A expansão da Igreja reiniciou-se logo após o término da Segunda Guerra, quando a Igreja tornou a enviar missionários ao país. Em 1 de janeiro de 1948, foi publicada "A Gaivota", primeira revista oficial da Igreja no Brasil e que, posteriormente, teve seu nome alterado para "A Liahona". Em 1951, a igreja comprou um prédio localizado na rua itapeva, em São Paulo, para a sede da Missão Brasileira. David O. McKay, presidente da igreja nas décadas de 1950, 1960 e 1970, visitou o Rio de Janeiro e São Paulo em 1958. Na ocasião, ele realizou uma conferência e criou novos ramos no Brasil, sendo os principais nas cidades de Manaus e Campinas. No ano seguinte, Harold B. Lee, também visitou o Brasil e criou a missão brasileira do Sul, em 30 de setembro de 1959, com sede em Curitiba (em 1968 houve a transferência da sede para Porto Alegre), abrangendo os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que possuíam 11 ramos e 1.400 membros nesta missão. Em 22 de outubro de 1959 foram organizados os distritos de Porto Alegre (mais de 260 membros), Joinville (mais de 200 membros) e Curitiba (mais de 550 membros). Dois anos depois, em 1961, Ezra Taft Benson desembarcou em Brasília em caráter oficial e participou de uma conferência com Juscelino Kubitschek, presidente brasileiro da época. Em dezembro de 1962 a Igreja contava com 6.747 membros, 43 ramos e 9 edifícios próprios. A terceira missão no país foi criada em 7 de julho de 1968, com o nome de "Missão Brasileira do Norte", 'sediada em Recife. A missão brasileira do Norte abrangia Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Juiz de Fora, Recife e Rio de Janeiro. O Programa do Seminário e do Instituto de Religião do Sistema Educacional da Igreja, programas educacionais religiosos oferecidos pela denominação a seus fiéis (semelhante a uma catequese) foi instalado em alguns estados brasileiros em 1971. No mesmo ano, a Missão Brasileira do Sul passa a se chamar Missão Brasil Sul e a Missão Brasileira do Norte passa a se chamar Missão Brasil Norte. Em 14 de outubro de 1972 foi criada a primeira estaca do Rio de Janeiro. Em 1975 foi realizada, no Palácio do Anhembi, em São Paulo, a Conferência Anual da Igreja. Foi a primeira vez em que o Brasil sediou uma conferência mórmon. Nessa ocasião, foi anunciado a construção do Templo de São Paulo, o primeiro templo da Igreja no Brasil e na América Latina. O Templo de São Paulo foi dedicado em 31 de outubro de 1978 pelo presidente Spencer W. Kimball. Ainda na conferência, foi criada duas novas estacas: A estaca Manaus Brasil e a estaca Brasília Brasil. No ano seguinte, 2008, em 1 de junho, o Templo de Curitiba também foi dedicado, por Thomas S. Monson, sendo o quinto templo no Brasil e o 126º no mundo, além de ter sido o primeiro templo dedicado por Thomas S. Monson desde que este assumiu a presidência da igreja, em fevereiro de 2008. Em 3 de outubro de 2009, a igreja anunciou a construção do sétimo templo no país, em Fortaleza, fazendo do Brasil o quarto do mundo em número de templos, superado por Estados Unidos, com 71 templos mórmons e México e Canadá, com doze e oito templos, respectivamente. Recentemente, a igreja anunciou a construção do oitavo e nono templo brasileiro, na cidade do Rio de Janeiro e Belém respectivamente. As últimas estatísticas divulgadas pela igreja apontam que o total de membros no Brasil supera a marca de 1,32 milhão de pessoas, organizadas em quase 2 mil congregações espalhadas por todo o país. O trabalho missionário é desenvolvido em 34 missões. Há também 325 Centros de História da Família, dedicados essencialmente a pesquisas genealógicas. Esses centros são abertos a todos os interessados, inclusive às pessoas não filiadas à igreja. Como comemoração dos oitenta anos da presença da Igreja no Brasil, foi realizada uma sessão especial promovida pelo Senado Federal do Brasil. Em 2017 a Igreja anunciou o décimo templo na cidade de Brasília, e em 2018 foi anunciado mais um templo, dessa vez o de Salvador, o décimo primeiro templo da Igreja no país. Portugal. As Forças Armadas dos Estados Unidos, estacionadas em Portugal no início de 1970, realizaram as primeiras reuniões da igreja no país. Portugal recebeu a visita de Spencer W. Kimball, em 1974, recebendo a confirmação de que a entidade religiosa seria reconhecida no país e que os missionários poderiam realizar o proselitismo religioso. Em novembro do mesmo ano, William Grant Bangerter, que ocupava um cargo na Primeiro Conselho dos Setenta da igreja, chegou a Lisboa para presidir a recém-criada Missão Portugal Lisboa. Quatro missionários foram transferidos de uma missão no Brasil para iniciar o trabalho. Um membro da embaixada canadense, que vivia no país, cedeu sua residência para as primeiras reuniões da igreja. Em meados de 1975, havia 100 membros portugueses Santos dos Últimos Dias, e três anos depois, em 1978, a adesão atingiu 1000. Hoje, vivem cerca de 42 mil adeptos do mormonismo no país, organizados em dezenas de congregações locais. Estas congregações, chamadas alas e ramos, servem como centros de pesquisa genealógica que permitem a qualquer cidadão traçar árvores genealógicas até o Século XVI. Em Lisboa, a igreja mantém um centro de história da família, que possui a Biblioteca Genealógica de Lisboa. Além da capital portuguesa, há bibliotecas genealógicas de história da família nos Açores, São Domingos de Benfica e na Ilha da Madeira. A Igreja usa um espaço próprio de programação religiosa na RTP2 em conjunto com outras confissões religiosas. Esta possibilidade está ao abrigo da lei de liberdade religiosa, também conhecida como conferência de Lambeth da qual é parte do conselho consultivo ecumênico protestante. Portugal não possuía nenhum dos 126 templos mórmons em funcionamento. O templo mórmon mais próximo de Portugal era o Templo de Madrid, frequentado por uma grande maioria dos membros da Igreja portugueses. Em 2 de outubro de 2010, o presidente da igreja, Thomas S. Monson anunciou oficialmente a construção de um templo em Portugal. Ensinamentos e práticas. Fontes de autoridade. A teologia da igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é composta de uma reunião de doutrinas bíblicas com revelações modernas, somente dadas aos Profetas devidamente ordenados e chamados por Deus, que consiste em 15 homens, 3 compondo a Primeira Presidência e os Doze Apóstolos. As principais fontes de autoridade da teologia são a cânone da fé dos quatro textos religiosos aceitos pela igreja, que são a Bíblia, O Livro de Mórmon, Doutrina e Convênios e a Pérola de Grande Valor, que são chamados de obras-padrão. Entre esses livros religiosos, apenas a Bíblia é aceita pelas demais organizações cristãs. Segundo a igreja, o Livro de Mórmon é um outro testamento de Jesus Cristo, que Joseph Smith traduziu-o de placas de ouro enterradas em uma montanha dos Estados Unidos. A igreja caracteriza o Livro de Mórmon como "o mais correto de todos os livros da Terra e a pedra angular da religião". A Bíblia também faz parte do cânone da igreja. Os membros da religião acreditam que a Bíblia é a palavra de Deus, desde que esteja traduzida corretamente. Alguns trechos da tradução de Joseph Smith foram incluídos na Pérola de Grande Valor, que também inclui outras traduções de Joseph Smith e itens históricos da igreja. Outros itens históricos e revelações são encontradas em Doutrina e Convênios. A igreja acredita em revelação contínua que complementam as escrituras antigas em perfeita harmonia, que é o pronunciamento dos Apóstolos atuais e dos membros da Primeira Presidência. A igreja ensina que a Primeira Presidência (o Profeta e seus conselheiros) e o Quórum dos Doze Apóstolos são profetas e que seus ensinamentos são dados geralmente sob a inspiração de Deus através do Espírito Santo. Os membros da igreja reconhecem o Quórum dos Doze Apóstolos regularmente como profetas, videntes e reveladores. Comparações dentro do Cristianismo. Muitas das crenças dos Santos dos Últimos Dias são compartilhadas por outras denominações cristãs. Além de uma crença na Bíblia, na divindade de Jesus Cristo e sua expiação e ressurreição, outros ensinamentos da Igreja são compartilhados com outros ramos do cristianismo. A teologia Santo dos Últimos Dias inclui a crença na doutrina da salvação através de Jesus Cristo, seu nascimento virginal, restauracionismo, a rejeição do pecado original, milenarismo, expiação - visão de substituição penal e uma forma de sucessão apostólica. As práticas do batismo por imersão e da eucaristia (referido como o Sacramento) também são crenças em comum com outras ramificações dentro do Cristianismo. Alguns de seus ensinamentos são frequentemente confundidos com os das Testemunhas de Jeová e dos Amish. No entanto, a teologia da igreja difere de muitas outras igrejas dentro do Cristianismo, e alguns cristãos não acreditam que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é parte do Cristianismo. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2007 constatou que 31% dos estadunidenses não sabia ou não acreditava que os membros da Igreja eram parte do Cristianismo. As diferenças entre a igreja e a maioria das denominações do cristianismo tradicional incluem o desacordo com os aspectos do Credo niceno-constantinopolitano, a crença em uma teoria única da salvação humana, que inclui três céus (referido como "graus de glória") uma doutrina de "exaltação", que inclui a capacidade das pessoas herdarem tudo que o Pai possui após a morte, um código de saúde chamado a Palavra de Sabedoria, e as cerimônias sagradas realizadas nos templos situados em diversas cidades do mundo. As principais denominações cristãs possuem uma visão da Igreja Santos dos Últimos Dias como estando para além do cristianismo. O Presbiterianismo afirma que o Mormonismo é uma nova e emergente tradição religiosa distinta da tradição histórica apostólica da Igreja Cristã. Em 2000, durante sua conferência geral, a Igreja Metodista afirmou que a Igreja de Jesus Cristo, por auto-definição e por sua doutrina, não se enquadra dentro dos limites da tradição histórica apostólica da fé cristã. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não se declara Protestante, pois afirma não protestar a Igreja Católica, mas sim cristã. Do ponto de vista dos cristãos que defendem crenças, a área mais discutida é a rejeição dos Santos dos Últimos Dias a certos credos ecumênicos, como o Credo niceno-constantinopolitano, que define a visão predominante do Deus cristão como uma Trindade de três pessoas distintas e consubstancial (pertencente à mesma natureza e substância). Na teologia SUD , a Trindade é vista como Deus Pai, seu filho Jesus Cristo, e o Espírito Santo, como três pessoas distintas, porém, com o mesmo propósito. Outras diferenças significativas entre a Igreja e outras denominações do Cristianismo, deve-se ao fato da aceitação da igreja de escrituras adicionais, doutrina e práticas para além do que é encontrado na Igreja Católica ou versões da Bíblia protestante. Doutrinas e práticas distintas. Várias doutrinas e práticas da Igreja Mórmon são únicas no cristianismo. A Cosmologia Mórmon, o Plano de Salvação, que inclui uma vida pré-mortal, os Três Graus de Glória, e a doutrina de exaltação são distintos entre as demais religiões cristãs. Em particular, a Igreja Mórmon ensina que cada espírito humano é um filho espiritual literal de Deus. Além disso, a Igreja ensina que o ser humano pode alcançar, por meio da Expiação de Jesus Cristo, a exaltação, o que significa que todos os seres humanos podem herdar a glória e tudo que Deus possui. Eles acreditam que a exaltação inclui a reunificação da família mortal depois da ressurreição e da capacidade de ter filhos espirituais na vida após a morte. Para obter esse estado de divindade, a Igreja ensina que é preciso ter fé em Jesus Cristo, exercer o arrependimento, ser batizado por quem tem autoridade do sacerdócio e receber o dom do Espírito Santo e realizar convênios (ordenanças) nos Templos. A cerimônia de selamento mórmon reflete uma visão singular no que diz respeito às famílias. De acordo com a Teologia Mórmon, homens e mulheres legalmente casados podem ser selados uns aos outros para que seu vínculo conjugal continue após a morte. As crianças também podem ser selados a seus pais biológicos ou adotivos de forma permanente. Negar o Espírito Santo, derramar sangue inocente e o adultério são os pecados mais abomináveis. Não são admitidas relações sexuais antes do casamento. Os Santos dos Últimos Dias obedecem a uma Lei de Saúde, chamada de Palavra de Sabedoria. A Palavra de Sabedoria é uma lei pela qual os Santos dos Últimos Dias devem abster-se do consumo de bebidas alcoólicas, café, chá preto, drogas ilícitas e tabaco. Assim sendo, os Santos dos Últimos Dias seguem este código de conduta relativo ao cuidado e respeito com seus corpos físicos. Acreditam que seus corpos são sagrados. Além dessa lei de saúde, há também a chamada Lei da Castidade, que diz que os Santos dos Últimos Dias devem manter relações sexuais apenas após o casamento e respeitar a fidelidade. A Lei da Castidade ensina que a intimidade sexual é sagrada aos olhos de Deus, é ordenada por Ele para criação de filhos e expressão do amor conjugal. Além disso, todos os homens jovens solteiros entre 18 e 26 anos que são suficientemente saudáveis e muitos casais aposentados voluntários são incentivados a servirem como missionários em diversos países do mundo por um período de até dois anos, além de prestarem serviços humanitários. As mulheres jovens solteiras, de 19 a 27 anos, também podem servir como missionárias por um período de 18 meses. Regras de Fé. Joseph Smith Jr. resumiu a doutrina da igreja em treze pontos fundamentais. Este resumo encontra-se publicado na Pérola de Grande Valor e são chamados de "Regras de Fé", a saber: Crenças básicas. A igreja resume a sua doutrina em dezessete crenças, chamadas de Crenças Básicas, a saber: Palavra de Sabedoria. A Palavra de Sabedoria é o nome dado a uma parte do livro de Doutrina e Convênios, escrito por Joseph Smith, em 1833, que descreve o código da saúde recomendado pela igreja. A aderência às proibições de consumo de bebidas alcoólicas, café, chá preto, tabaco e uso e tráfico de drogas ilícitas é um pré-requisito para o batismo na igreja e para os membros entrarem no templo da igreja. Portanto, mais do que um conselho, a Palavra de Sabedoria, hoje, é um Mandamento. A Palavra de Sabedoria pode ser usada como uma analogia, em que nosso corpo é um templo, sendo um templo precisa ser bem cuidado. Inclui uma lista de recomendações alimentares, incluindo o uso frequente de grãos, frutas, legumes e pouco consumo de carnes. Ao longo dos anos, a igreja adicionou dicas para manter a saúde, que foram acrescentadas e são consideradas parte da Palavra de Sabedoria. Algumas sugestões incluem o exercício regular, a melhoria da saúde física e mental, estudo diário das escrituras e educação do país onde residem, etc. Na conferência geral da Igreja de 9 de setembro de 1851, Brigham Young declarou que as recomendações dentro da Palavra de Sabedoria estavam sendo tomadas para todas as ordens aos santos dos últimos dias. A Palavra de Sabedoria é considerado um princípio, com a promessa que inclui bênçãos tanto físicas, como espirituais para aqueles os que a cumprem. Organização e estrutura. Terminologia. A igreja afirma ser uma continuação da Igreja de Cristo estabelecida em 1830 por Joseph Smith Jr. O nome da Igreja sofreu diversas alterações durante a década de 1830. Primeiramente era chamada de "A Igreja de Jesus Cristo", sendo chamada depois de "A Igreja de Deus", e em seguida, em 1834, o nome foi alterado oficialmente para "A Igreja dos Santos dos Últimos Dias". Em abril de 1838, o nome foi oficialmente mudado para "A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias", forma que dura até os dias de hoje. Depois da morte de Joseph Smith Jr., Brigham Young, que assumiu a liderança do Movimento dos Santos dos Últimos Dias, integrou a igreja Mórmon, em 1851, pela legislação do Estado de Deseret sob o nome de "A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos-dias", que incluiu um hífen "Últimos-dias" e a letra "d" em minúsculo". Em 1887, a igreja foi legalmente dissolvida nos Estados Unidos pelo Ato Edmunds-Tucker, em razão da prática da poligamia, hoje abandonada pela igreja". Posteriormente, a Igreja continuou a funcionar como uma "associação sem personalidade jurídica religiosa", permanecendo seu formal, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A igreja possui nomes informais, como Igreja Mórmon, Igreja SUD, Os Santos dos Últimos Dias e LDS. Esses nomes são aceitos pela denominação, mas a mesma ainda recomenda o uso de seu nome formal. O termo "Igreja Mórmon" é de uso comum e popular, mas a igreja começou a desencorajar a sua utilização no final do século XX, por entender que não é única denominação religiosa proveniente do Movimento dos Santos dos Últimos Dias. Grande parte de seus adeptos utiliza a abreviação SUD, que significa Santos dos Últimos Dias, como são reconhecidos entre si. Distribuição geográfica. As congregações da igreja, chamadas de "Alas (unidades com mais de cem membros)" ou "Ramos (unidades com menos de cem membros)" são geralmente organizadas geograficamente, ao contrário das outras principais denominações cristãs. Para as reuniões de domingo, a igreja está agrupada em capelas onde grupos de pessoas - pertencentes a uma determinada Ala ou Ramo - se reúnem com o propósito de aprender as doutrinas da igreja e adorar a Jesus Cristo. Embora o edifício possa ser referido como uma capela, a sala utilizada como uma capela para serviços religiosos é realmente apenas um componente da capela-padrão. A Capela compõem de jardim, salas de aula, palco para apresentações culturais, quadra para prática esportiva. A igreja mantém uma visita virtual de um exemplo típico, e também um localizador de capelas online que pode ser usado para localizar os locais e horários de reuniões de suas congregações em todo o mundo. A Igreja relata uma associação mundial de mais de 15 milhões de membros, com aproximadamente 8,6 milhões residentes fora dos Estados Unidos. De acordo com estas estatísticas, a religião dos Santos dos Últimos Dias é o quarto maior corpo religioso nos Estados Unidos. O relatório de membros da igreja inclui todos os membros batizados e seus filhos. Embora a igreja não divulgue os números de atendimento ao público aos domingos, os investigadores estimam que a participação efetiva de cultos semanais dos Santos dos Últimos Dias mundialmente é de cerca de 4 milhões. 13% dos mórmons vivem no estado norte-americano do Utah. Além dos Estados Unidos, outras regiões com população significantes de mórmons incluem México, Brasil e Ásia, com pouco mais de 1 milhão cada um; América do Sul (fora o Brasil), com 2,5 milhões de fiéis e América Central e Europa, com mais ou menos meio milhão de mórmons cada um. Na África há aproximadamente 420 mil adeptos do mormonismo. A religião mórmon é a maior religião em dez estados americanos, depois da Católica. Curiosamente, a Oceania possui o maior número de países com grande densidade de mórmons. Somente em Tonga, mais da metade da população é mórmon. Outros destaques são Samoa (36%), Samoa Americana (24,1%), Niue (12%), Kiribati (10,7%) e Polinésia Francesa (8,7%). Hierarquia do sacerdócio. A igreja é organizada em uma estrutura hierárquica do sacerdócio administrada por homens. Os Santos dos Últimos Dias acreditam que Jesus Cristo dirige a igreja através de revelações, quase sempre obtidas através de um único homem, chamado "profeta" ou ainda "presidente". O atual presidente da igreja é Russell M. Nelson. Ele e dois conselheiros - que geralmente são ordenados apóstolos - formam a chamada "Primeira Presidência", o organismo que preside a igreja, juntamente com outros doze apóstolos chamados de Quórum dos Doze Apóstolos. Quando o presidente morre, seu sucessor é invariavelmente o membro mais antigo do Quórum dos Doze Apóstolos, que reconstitui, em seguida, uma nova Primeira Presidência. Estes homens, e os outros membros masculinos da liderança da igreja, são chamados de Autoridades Gerais. Todos os homens acima de dezoito anos, legalmente casados, são incentivados a doar um dízimo de 10% dos seus rendimentos mensais à igreja. Estes também são incentivados a reservar um dia durante cada mês para realizarem, em conjunto, serviços gratuitos à comunidade. O Centro de Conferências é onde a igreja realiza suas conferências anuais. Todos os homens, acima de doze anos, são convidados a receber o Sacerdócio. A ordenação ocorre por uma cerimônia onde as mãos são colocadas sobre a cabeça de um ordenado. O sacerdócio é dividido em dois: Sacerdócio Aarônico, para homens de doze aos dezessete anos; e Sacerdócio de Melquisedeque, para homens acima dos dezoito anos. Desde 1978, a adesão, no sacerdócio foi aberto a todos os homens de todas as etnias. Quórum dos Doze Apóstolos. O Quórum dos Doze Apóstolos é um dos organismos que regem a hierarquia da igreja. Os membros do Quórum dos Doze Apóstolos são apóstolos, chamados também de profetas, videntes, reveladores e testemunhas especiais de Jesus Cristo. O Quórum dos Doze Apóstolos foi organizado em 1835 e designado como um "corpo de conselheiros". Na igreja, o Quórum dos Doze Apóstolos possui o segundo papel de liderança, submetendo-se somente ao da Primeira Presidência. Após a morte de Joseph Smith Jr., Brigham Young tornou-se o presidente do Quórum dos Doze Apóstolos. Assumindo o controle da igreja, Brigham Young enfatizou o papel do Quórum dos Doze Apóstolos como o corpo central da igreja. Então, em 1847, os Quórum dos Doze Apóstolos foi reorganizado. Atualmente, são estes os membros do Quórum dos Doze Apóstolos: M. Russell Ballard (a partir de 1985); Jeffrey R. Holland (a partir de 1994); Dieter F. Uchtdorf (a partir de 2004); David A. Bednar ( a partir de 2004); Quentin L. Cook (a partir de 2007); David Todd Christofferson ( a partir de 2008); Neil L. Andersen (a partir de 2009); Ronald A. Rasband (a partir de 2015); Gary E. Stevenson (a partir de 2015); Dale G. Renlund (a partir de 2015); Gerrit W. Gong (a partir de 2018) e Ulisses Soares (a partir de 2018). Organizações auxiliares. Sob a hierarquia do Sacerdócio, são quatro organizações auxiliares que preenchem vários papéis na igreja: Sociedade de Socorro, Organização das Moças, Organização dos Rapazes e a Primária. Em algumas congregações, dependendo do número de membros em idade adulta que encontram-se solteiros, pode forma-se uma organização voltada para estes, chamada de Membros Adultos Solteiros (MAS). A Igreja também opera vários programas e organizações nas áreas de proselitismo, educação e bem-estar da igreja. Muitos destes programas auxiliares são coordenados pelo Programa de Correlação do Sacerdócio, que é projetado para fornecer uma abordagem sistemática para manter a coerência em todo o mundo, a ortodoxia, e o controle das ordenanças da igreja, doutrinas, organizações, reuniões, materiais e outros programas e atividades. Finanças. A Igreja tem uma política muito severa em relação ao uso do dinheiro. Nenhum homem ou líder eclesiástico da igreja pode receber qualquer quantia em dinheiro. Todos os líderes da igreja são voluntários, e o dinheiro somente é usado para manutenção e construção dos edifícios e materiais da igreja. A igreja não divulga suas demonstrações financeiras desde 1959, mas em 1997, a revista Time classificou-a como uma das mais ricas igrejas do mundo per capita. Desde 2007, seus fins lucrativos e entidades de ensino filial são auditadas por uma firma de contabilidade independente, a Deloitte & Touche. Além disso, a Igreja emprega um serviço de auditoria independente que fornece a sua certificação em cada conferência geral anual de que as contribuições da igreja são recolhidas e gastas de acordo com a política da Igreja. A igreja recebe quase todos os fundos do dízimo. Segundo a igreja, o dízimo é dedicado a fins eclesiásticos e não utilizados em empreendimentos de fins lucrativos. A igreja utiliza os seus fundos do dízimo para a construção e manutenção de edifícios e outras instalações; para imprimir as Escrituras para o trabalho missionário, para proporcionar bem-estar social e assistência, e de apoio missionário, educacional, e outros programas patrocinados pela igreja. Aproximadamente US$ 884,6 milhões são reservados pela igreja anualmente para assistência humanitária realizada em diversos países. Algumas parcerias internacionais são mantidas pela entidade. A Cruz Vermelha dos Estados Unidos, a Fundação das Nações Unidas, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, o Fundo para a Criança das Nações Unidas, a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e da Crescente Vermelho são algumas das entidades filantrópicas internacionais que recebem ajuda de custo humanitário dos mórmons. sendo que a igreja doou $3 milhões de dólares para providenciar vacinas contra o sarampo para 200 milhões de crianças em 40 países africanos. Escrituras. Joseph Smith, foi o restaurador da igreja, ensinou que Deus estava revelando coisas divinas aos homens. A Igreja aceita outros livros sagrados e revelações que complementam e esclarecem a Bíblia. Além disso, Deus pode dar a revelação para aqueles que presidem esta igreja, e revelações pessoais a qualquer homem ou mulher em qualquer lugar e situação, revelações estas ligadas à sua vida pessoal e familiar. Eles são mantidos na Primeira Presidência e os Doze Apóstolos da Igreja como profetas, videntes e reveladores. Bíblia. Todos os Santos dos Últimos Dias aceitam a Bíblia como escritura sagrada, desde que esteja traduzida corretamente. Acreditam que suas profecias são verdadeiras. Os Santos dos Últimos Dias estudam o Velho Testamento e o Novo Testamento em classes de escola dominical, em suas reuniões aos domingos. Entende-se que as escrituras são compilações de livros que mostram a vontade de Deus através de seus respectivos profetas, e nota-se que há outros livros que são mencionados na Bíblia que foram perdidos. Desde 2015, membros da igreja no Brasil utilizam a Bíblia versão SUD que é uma revisão da Bíblia do Padre João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida de 1914. Antes de 2015, a bíblia preferida da igreja é a tradução de João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica Trinitária do Brasil, Edição Corrigida e Revisada, Fiel ao Texto Original. Esta bíblia é usada quando autoridades da Igreja a citam. O Livro de Mórmon. O Livro de Mórmon é, segundo acredita-se, um outro testamento de Jesus Cristo, segundo a igreja, e é um volume de escrituras sagradas, com um propósito semelhante a da Bíblia e da teologia, e é considerado por seus membros como a pedra fundamental de sua religião. É uma história de comunicação de Deus com os antigos habitantes das Américas. A história começa 600 anos a.C., quando Deus enviou um profeta chamado Leí deixar Jerusalém com sua família, e irem todos para uma terra da Promessa: As Américas. Depois de Leí, o Senhor chamou outros profetas, como Néfi (filho de Leí), Mosias, Helamã, entre outros. Mórmon foi um desses profetas. Também um dos acontecimentos mais importantes relatados no Livro de Mórmon, é a visitação do Salvador Jesus Cristo as Américas, após sua ressurreição. Também o livro tem uma promessa, que se encontra no livro de Moroni capítulo 10, versículos 3-5. "perguntar a Deus com real intenção, a fim de saber se o Livro é verdadeiro". Doutrina e Convênios. De acordo com a igreja, Doutrina e Convênios é uma coletânea de revelações divinas e modernas dadas por Deus a Joseph Smith e alguns de seus sucessores. Contém instruções sobre o sacerdócio, o trabalho missionário, o trabalho dos templos, as glórias da eternidade, e trabalho para os mortos, entre outros. Doutrina e Convênios contém 138 seções, ou capítulos, e 2 Demonstrações oficiais escritas por Joseph Smith Jr., mas também contém o que é chamados pela igreja como "a palavra literal de Deus". Entre os escritos, está a Primeira Visão (seções 76, 110, 137 e 138), ordenações (seção 102), sentenças (artigo 109 e 121), perguntas (artigo 113), deveres eclesiásticos e responsabilidades (artigo 123), letras (artigo 127 e 128 ), instruções personalizadas (Artigo 129 a 131) e declarações (artigo 134). A maioria das seções foram escritas e desenvolvidas por Joseph Smith Jr. a partir de 1829 até sua morte, em 1844. A seção 135 relaciona a morte dele, escrito por John Taylor, em 27 de junho de 1844. A última seção relata uma visão dada a Joseph F. Smith em 1918 sobre o mundo dos espíritos e da administração da obra missionária entre os mortos. Pérola de Grande Valor. Todos os Santos dos Últimos Dias aceitam uma coleção de escritos sagrados, chamados de "Pérola de Grande Valor". É uma seleção de materiais ou itens de grande valor que estão relacionados a vários aspectos importantes da fé e teologia de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. É composto de "O Livro de Moisés", "O Livro de Abraão", "Joseph Smith - Mateus", "Joseph Smith - História" e os treze Regras de Fé. O Profeta Joseph Smith preparou esse material separadamente e esses foram publicadas durante os anos nas jornais da Igreja. Mais tarde, o Élder Franklin D. Richards do Quórum dos Doze sentiu que os membros da Igreja precisavam de melhor acesso às esses artigos, e preparou "A Peróla de Grande Valor" para esse fim. Foi publicada pela primeira vez no ano 1851 em Inglaterra em inglês. O livro foi usado muito pelos membros da Igreja, e mais tarde, em 1880, foi aceito como uma obra-padrão da Igreja. Um pequeno livro, composto por oito capítulos, que Joseph Smith começou em junho de 1830, o qual, segundo Smith, foi traduzido com o poder de Deus, os escritos de Moisés, na Bíblia, acrescentando as peças originais que foram perdidas ao longo do tempo. Equivalentes no início de Gênesis, e contém um relato da criação do mundo, a história de Adão e Eva, a vida de Enoque (descendente direto de Adão) e as condições que prepararam o mundo para o Dilúvio. Ele diz a tentativa de Satanás para destruir o plano de salvação, e como Jesus Cristo aceitou o plano pré-mortal. No início do século XIX, um arqueólogo italiano, Antonio Lebolo, encontrou alguns papiros nos túmulos egípcios. Quando ele morreu, eles foram deixados para Michael Chandler. Joseph Smith os comprou, com a ajuda de Oliver Cowdery e W. W. Phelps. A tradução foi feita supostamente em 1835, pelo próprio Joseph Smith Jr. De acordo com Joseph Smith Jr., o livro era uma tradução de alguns registros antigos escritos por Abraão, enquanto ele estava no Egito. O livro, de acordo com os Santos dos Últimos Dias, descreve a história de Abraão e seus primeiros anos de vida, incluindo a visão do cosmos. Em 2013, a Igreja mudou a descrição do Livro de Abraão declarando que é uma "tradução "inspirada" dos escritos de Abraão". Segundo a Igreja, "Nenhum dos caracteres nos fragmentos de papiro mencionou o nome de Abraão, ou qualquer um dos eventos registrados no livro de Abraão". Livro de um único capítulo, faz parte da correção que Joseph Smith Jr. fez da Bíblia para torná-la mais correta, com a ajuda de Deus. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias continua a usar a Bíblia cristã - sem os livros deuterocanônicos aceitos pela Igreja Católica, alguns chamam de "apócrifos" (que significa que a discussão destes textos é aberta) - mas considera a correção de Joseph Smith importante. As seções deste livro contam a história oficial de Joseph Smith, escrita por ele próprio em 1838. Foi publicada em série no Times and Seasons, em Nauvoo, Illinois, em 15 de março de 1842. Cultura e sociedade. Devido às diferenças no estilo de vida promovida pela doutrina da Igreja e da história, uma cultura distinta tem crescido em torno de membros da igreja. É sobretudo concentrado no Ocidente, mas como membros da igreja se concentram em todo o mundo, muitas das suas práticas mais distintivas, como seguir a palavra de sabedoria, revelou uma lei ou código (D&C 89), semelhante ao capítulo 11 de Levítico, na Bíblia, que proíbe o consumo de tabaco, álcool, café e chá, e outras substâncias que causam dependência. Como resultado da palavra de sabedoria, a cultura em algumas áreas do mundo, com uma alta concentração de membros da igreja, tende a ser refletida. Reuniões e programas extensivos são realizados regularmente e se tornaram parte da cultura dos santos dos últimos dias. Música. Coro do Tabernáculo. O Coro do Tabernáculo da Praça do Templo (anteriormente chamado de Coro do Tabernáculo Mórmon), fundado em 1847, é um dos maiores, mais antigos e renomados coros em todo o mundo. É composto por 360 vozes e é geralmente acompanhado por um órgão de 623 tubos. A Orquestra da Praça do Templo é constituída por 110 músicos. Todos os membros do Coro do Tabernáculo Mórmon são voluntários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos Últimos Dias. Durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002, realizado em Salt Lake City, o Coro do Tabernáculo Mórmon realizou a cerimônia de encerramento oficial. Todas as reuniões da Igreja aos domingos começam com uma canção selecionada a partir da coleção de canções, chamada de Hinário. Muitas canções e hinos são específicos para a Igreja. O hinário moderno foi publicado em 1985 e possui 341 hinos. O primeiro hinário, compilado por Emma Smith em 1836, possuía apenas 26 hinos, todos eles presentes no hinário moderno. Entre os mais conhecidos estão: Que manhã Maravilhosa!, Sou um filho de Deus, Ó meu Pai, Hoje ao Profeta rendamos louvores, Um Pobre Aflito Viajou, Ó Élderes de Israel, entre outros. Quatro vezes por ano, as mulheres adultas (membros da Sociedade de Socorro) frequentam a casa de uma família em busca de enriquecimento espiritual. A reunião pode ser constituída por um projeto de serviço (quando as mulheres se organizam e ajudam a família na organização do lar) ou assistir a um evento social. A Sociedade de Socorro também oferece atividades complementares para as mulheres com as mesmas necessidades e interesses. A Igreja emitiu, em 1995, a edição , que revela a postura oficial da igreja em relação à família. Eventos e encontros sociais. Além destas reuniões regulares, reuniões adicionais são freqüentemente realizadas na Igreja. Auxiliares oficiais da liderança podem realizar reuniões ou treinamentos para membros da igreja. A reunião é dependendo de cada situação. A igreja oferece também bailes, jantares, festas e apresentações musicais. A Organização dos Rapazes e Moças, uma das organizações estruturais da igreja, realiza uma vez por ano uma atividade onde os jovens aprendem técnicas de escotismo e progresso pessoal, além de muitas atividades saudáveis e divertidas durante o ano. Outras atividades populares são o aprendizado de técnicas de basquete, destinada a jovens em geral - estes por suas vez, convidados por jovens mórmons - história familiar, conferências, devocionais (para jovens e membros solteiros). Membros da igreja também podem utilizar o edifício da igreja para casamentos, recepções e funerais. Meios de comunicação e artes. A cultura criou importantes oportunidades de negócio para os santos dos últimos dias. A maior parte dessas comunidades são na área de cinema, websites, arte gráfica, fotografia e pinturas. A igreja possui uma editora chamada Deseret Book, situada em Salt Lake City, responsável por grande parte das edições notavéis e outras publicações da igreja que são vendidas. Alguns dos títulos que se tornaram populares fora da comunidade mórmon são a trilogia "Tempo de Glória" e o filme The Other Side of Heaven (em português: O Outro Lado do Céu). Uma série de obras foram bem sucedidas apenas no seio da comunidade mórmon. A BYU Television, um canal de televisão por satélite operado pela Universidade Brigham Young, é de propriedade da igreja mórmon. Publicam também mensalmente em várias línguas a revista "A Liahona". Genealogia. A Igreja mantém registros cuidadosos de seus membros, e facilita-lhes a compilação e armazenagem de informações sobre a sua ascendência. Essas informações são importantes devido à crença na possibilidade da salvação dos antepassados, mediante o batismo vicário feito pelos seus descendentes. Os membros da igreja acreditam que a salvação só poderá ser alcançada se os antepassados aceitarem o Evangelho no "mundo espiritual", lugar onde o espírito dos mortos aguarda a ressurreição. Os Santos dos Últimos Dias acreditam que possuem uma grande obrigação para com os mortos. O conhecimento da origem da família, a sua ligação, a tradição, a cultura e a religião, são tidas como um princípio para os adeptos do mormonismo. Realizam, por procuração, portarias em templos da igreja para familiares falecidos de membros da igreja, com o propósito de lhes permitir receber as bênçãos divinas provenientes aos que cumprem a doutrina mórmon. Os Santos dos Últimos Dias acreditam que assim, as famílias poderão ser eternas. Isto foi quem motivou a igreja criar e manter o Centro de história da família, que se localiza em Utah. Os arquivos de genealogia da igreja são riquíssimos em conteúdo, sendo referência mundial. No Brasil, o principal Centro de História da Família situa-se em São Paulo, no bairro do Caxingui, distrito do Morumbi, fundado em 1984. Educação. A igreja possui um programa educacional chamado "Seminário", voltado a adolescentes dos catorze aos dezessete anos membros da igreja. Jovens mórmons são instruídos na doutrina, escrituras e história mórmon todos os dias. Pessoas de dezoito aos trinta anos fazem parte do “instituto de religião”, programa similar também mantido pela igreja que se realiza semanal ou bissemanalmente. Quase 750.000 estudantes mórmons participam nestes dois programas e são ensinados por mais que 35.000 professores. Possui ainda um programa extensivo de educação secular, com universidades nos Estados Unidos e Israel e escolas secundárias. É de propriedade da igreja a Universidade Brigham Young (em inglês "Brigham Young University"), uma universidade privada sediada na cidade de Provo, sendo a mais antiga instituição educacional existente no oeste dos Estados Unidos - fundada em 16 de outubro de 1875 - e a maior universidade religiosa da América. Cerca de 98% dos 34.067 alunos da universidade são mórmons. Em 2001, a igreja estabeleceu o Fundo Perpétuo de Educação. Empréstimos sem juros são feitos a estudantes pobres mórmons para que estes financiem seus estudos. Estudantes residentes em países em desenvolvimento são tidos como prioritários. Mais de 10.000 empréstimos já foram admissionados pela igreja. A Igreja mantém um programa de educação chamado Pathway, que é um programa que visa ajudar tanto norte americanos como estrangeiros de qualquer país a estudar na Universidade Brigham Young tanto à distância como no próprio campus a preços bem abaixo da média americana. Postura. Aborto. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias diz-se contrária à prática do aborto. No entanto, aceita o aborto em casos limitados, por exemplo, se a concepção foi causada por estupro ou incesto, quando a mãe está com a vida em perigo e quando for demonstrado que o feto padece de graves defeitos que não lhe permitem viver após o nascimento. Ainda assim, nestes casos, recomenda-se que a mãe deve pensar e explorar, juntamente com sua família e líderes da igreja, a orientação de Deus antes de tomar uma decisão. A Igreja oferece adoção, especialmente para casais que têm dificuldade em ter filhos, e assim o exigem. Homossexualidade. A homossexualidade é vista pela igreja como um conjunto de "pensamentos, sentimentos e comportamentos", e não como uma condição inalterável. A igreja afirma acolher os seus membros abertamente gays ou lésbicas sob certas condições. Ela ensina que os desejos e sentimentos homossexuais, embora por vezes involuntários, podem e devem ser verificados e controlados. A lei da castidade, seguida pela igreja, e que orienta os membros a não praticarem o sexo antes do casamento, é aplicada aos membros homossexuais da mesma forma. A prática da homossexualidade sem arrependimento está sujeita a excomunhão, assim como o adultério ou quebra da lei da castidade. No entanto, os membros da igreja que possuem tendências homossexuais permanecem dentro da igreja, desde que se abstenham da prática homossexual. Esses membros são constantemente acompanhados espiritualmente por seus líderes. Neutralidade política. A igreja afirma ser neutra em matéria de política partidária. Isso se aplica em todas as nações em que está estabelecida. Os Santos dos Últimos Dias afirmam serem submissos ao regime político de seu país. Entre os princípios da igreja mórmon, está o incentivo a seus membros em desempenhar seu papel como cidadãos responsáveis em suas comunidades, inclusive usando seu direito ao voto nas eleições. Nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório, a igreja recomenda que seus adeptos façam o uso do voto, mas afirma que não indica qualquer candidato a seus membros ou faz apologia a partidos políticos, assim como não permite que suas propriedades sejam usadas para fins políticos partidários. Declara-se apartidária. Críticas. A igreja tem sido alvo de críticas por sua postura, muitas vezes controversa, desde seus primeiros anos em Nova Iorque e Pensilvânia. Na década de 1820, as críticas davam-se em torno da afirmação de Joseph Smith Jr. em ter descoberto um conjunto de placas de ouro, e a partir do qual o Livro de Mórmon foi traduzido. Na década de 1830, a maior crítica deu-se ao suposto envolvimento de Joseph Smith Jr. em um fraudulento golpe bancário, inclusive com a impressão ilegal de dinheiro - o AntiKirtland Safety Society Bank Kirtland, no estado de Ohio. Houve também a publicação do Livro de Mandamentos, onde aparecia a suposta revelação de Deus para que todos os bens dos gentios fossem "consagrados" aos SUDs no Missouri, culminando assim na Guerra Mórmon em 1838. Na década de 1840, a crítica maior era centrada nas aspirações teocráticas da Igreja em Nauvoo, no estado de Illinois, onde Joseph Smith foi proclamado prefeito da cidade. A publicação deste fato pelo jornal Nauvoo Expositor desencadeou a fúria do prefeito, que mandou seu exército, também ilegal, destruir a imprensa deste jornal. Uma série de eventos foram desencadeados e culminou no seu assassinato em 1844. Após a igreja aceitar abertamente a prática do casamento plural durante a segunda metade do século XIX, inúmeras críticas a nível nacional sobrevieram e tornaram-se bastante comuns, principalmente pelo fato de os Estados Unidos não permitirem a prática da poligamia no país. Críticas também surgiram em torno das aspirações teocráticas da igreja no território de Utah. Em 1857, a igreja também recebeu críticas da imprensa após o Massacre de Mountain Meadows, no sul de Utah, no qual colonos mórmons uniram-se a índios nativos da região com o objetivo de criar o Estado de Deseret. Críticos acadêmicos têm questionado a legitimidade de Joseph Smith Jr. como um profeta, especialmente a autenticidade histórica do Livro de Mórmon - pela absoluta falta de provas a seu favor e pelas inúmeras provas contra - e do Livro de Abraão, pois hoje todos os facsímiles e o texto dos papiros "traduzidos" não passam do Livro dos Mortos dos Egípcios. A crítica contra a igreja também se dá sobre o revisionismo histórico, a oposição da igreja à homossexualidade e as políticas racistas e sexistas. Entre notáveis críticos da igreja mórmon do século XX estão Jerald Tanner e Sandra Tanner e Fawn Brodie. Parte dos membros da Igreja fizeram intensa campanha, em 2008, a favor da revogação da lei que permitia o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a campanha chegou a arrecadar mais de 20 milhões de dólares investidos em campanhas publicitárias na Califórnia, o que gerou debates contrários à denominação e protestos de organizações dos direitos dos homossexuais e outros. Embora a Igreja ainda afirme ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apoiou leis que garantiam direitos a comunidade LGBT em Salt Lake City. Devido às grandes diferenças em sua doutrina, a Igreja é geralmente considerada distinta da tradição histórica do Cristianismo - muitas vezes chamada de não Cristã - por católicos, ortodoxos, protestantes e outras denominações religiosas.
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Forró
Forró Forró é uma festa originária do estado de Pernambuco e disseminada na Região Nordeste do Brasil, bastante popular e comum, especialmente nas festas juninas. O nome da festa forró é usado para nomear distintos gêneros musicais como o xote, baião, arrasta-pé e o xaxado, por isso quem não conhece suas histórias, as confundem com um gênero único. As músicas são executadas tradicionalmente por trios instrumentais com acordeão ("sanfona"), zabumba e triângulo. Forró também é um dos gêneros musicais da festa forró, o qual foi criado por Luiz Gonzaga em 1958. A dança do xote (dois pra lá e dois pra cá) passou a acompanhar as músicas desse novo gênero e a ser chamada de dança do forró. Os gêneros musicais executados nos forrós, desde a década de 90 também são chamados agrupadamente de forró pé-de-serra. Conhecido e praticado em todo o Brasil, o forró é especialmente popular nas cidades brasileiras de Campina Grande e Caruaru, que sediam as maiores festas juninas do país. Já nas capitais Aracaju, Fortaleza, João Pessoa, Natal, Maceió, Recife, Teresina, São Luís e Salvador são tradicionais as festas e apresentações de bandas de forró em eventos privados que atraem especialmente os jovens. Em 2021 o forró foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Origem do nome. O termo "forró", segundo o filólogo pernambucano Evanildo Bechara, é uma redução de "forrobodó", que por sua vez é uma variante do antigo vocábulo galego-português "forbodó", corruptela do francês "faux-bourdon", que teria a conotação de "desentoação". O elo semântico entre "forbodó" e "forrobodó" tem origem, segundo Fermín Bouza-Brey, na região noroeste da Península Ibérica (Galiza e norte de Portugal), onde "a gente dança a golpe de bumbo, com pontos monorrítmicos monótonos desse baile que se chama "forbodó"". Na etimologia popular (ou pseudoetimologia) é frequente associar a origem da palavra "forró" à expressão da língua inglesa "for all" (para todos). Para essa versão foi inventada uma engenhosa história: no início do século XX, os engenheiros britânicos, instalados em Pernambuco para construir a ferrovia Great Western, promoviam bailes abertos ao público, ou seja "for all". Assim, o termo passaria a ser pronunciado "forró" pelos nordestinos. Outra versão da mesma história substitui os ingleses pelos estadunidenses e Pernambuco por Parnamirim (Rio Grande do Norte) do período da Segunda Guerra Mundial, quando uma base militar dos Estados Unidos foi instalada nessa cidade. Apesar da versão bem-humorada, não há nenhuma sustentação para tal etimologia do termo. Em 1912, estreou a peça teatral "Forrobodó", escrita por Carlos Bettencourt (1890-1941) e Luís Peixoto (1889-1973), musicada por Chiquinha Gonzaga e em 1937, cinco anos antes da instalação da referida base militar em território potiguar, a palavra "forró" já se encontrava registrada na história musical na gravação fonográfica de “Forró na roça”, canção composta por Manuel Queirós e Xerém. História. Os bailes populares eram conhecidos em Pernambuco por "forrobodó" ou "forrobodança" ou ainda "forrobodão" já em fins do século XIX. O forró tornou-se um fenômeno "pop" em princípios da década de 1950. Em 1949, Luiz Gonzaga gravou "Forró de Mané Vito", de sua autoria em parceria com Zé Dantas e em 1958, "Forró no escuro". No entanto, o forró popularizou-se em todo o Brasil com a intensa imigração dos nordestinos para outras regiões do país, especialmente, para as capitais: Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Nos anos 60, além de Luiz Gonzaga, destacaram-se artistas como Marinês, Ary Lobo, Zito Borborema, Luiz Wanderley, Sebastião do Rojão, Jacinto Silva e muitos outros. Nos anos 1970, surgiram, nessas e em outras cidades brasileiras, "casas de forró". Foi nessa década que surgiu a moda do forró de duplo sentido, consagrada pelas composições e interpretações de João Gonçalves. Outros grandes cantores do período foram Zenilton e Messias Holanda. No fim dessa década, intrumentos como a bateria, o baixo elétrico e a guitarra elétrica já eram introduzidos nas gravações de discos de vários artistas, como Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Genival Lacerda e Alcymar Monteiro. A década de 1980 foi de crise para o forró, o que fez com que grandes nomes do gênero aderissem ao duplo sentido das letras para atrair a atenção do público. Foi a década do chamado "forró malícia" representado por nomes como Genival Lacerda, Clemilda, Sandro Becker, Marivalda entre outros. Foi nessa década que a bateria (esporadicamente utilizada nos anos 70) foi inserida oficialmente na instrumentação do gênero, assim como a guitarra, o baixo elétrico e, mais raramente, os metais. Em 1989, o forró ganhou destaque internacional através da coletânea , que foi indicada a um Grammy Awards na categoria Best Traditional Folk Album. Ainda assim, na década de 1980 terminou com o falecimento do Rei do Baião (Luiz Gonzaga) e fazendo com que o gênero não conseguisse recuperar o prestígio consolidado. Nos anos 1990, surgia um movimento que procurou dar novo fôlego ao forró, adaptando-o ao público jovem (porém perdendo a originalidade do gênero): era o nascimento das bandas de "forró eletrônico", surgidas no Ceará, cuja pioneira foi a Mastruz com Leite. Outros grandes nomes desse movimento são Calcinha Preta, Magníficos e Limão com Mel. Modernização. A modernização musical do forró iniciou no final da década de 1970, quando a bateria passou a ser utilizada de forma sutil em disco de artistas como Trio Nordestino, Os 3 do Nordeste, Genival Lacerda, Alcymar Monteiro e outros. Na década de 1980, a bateria, guitarra elétrica e baixo elétrico faziam parte oficialmente da instrumentação dos discos de forró. Luiz Gonzaga passou a fazer uso constante desses instrumentos a partir do seu álbum de 1980, "O homem da terra". No início da década de 1990, surgiu no Ceará um novo meio de produzir músicas de forró, com a introdução de instrumentos como o teclado e o sax e a retirada da zabumba, mesclando com elementos da lambada, música pop e axé music, o movimento ficou conhecido como forró eletrônico ou estilizado. Seu precursor foi o produtor musical e empresário Emanuel Gurgel, responsável pelas bandas Mastruz com Leite, Forró Cavalo de Pau, Mel com Terra e Catuaba com Amendoim. O principal meio de divulgação foi a rádio Som Zoom Sat e a gravadora Som Zoom Estúdio, pertencentes a Gurgel. Tal pioneirismo recebeu críticas por transformar o forró num produto. Várias bandas de forró notabilizaram-se por fazer versões de clássicos do rock e do pop internacional. A banda de "rock" Raimundos fez muito sucesso nos anos 1990 com o gênero, forrocore, um misto de forró com o "hardcore", desde a composição musical até as letras. Na década de 2010 o cantor Wesley Safadão se tornou um dos nomes mais conhecidos do "forró estilizado" em nível nacional no Brasil. Revitalização. No fim da década de 1990 e início da de 2000 em São Paulo, as músicas do forró pé-de-serra foram revitalizadas na grande mídia com o surgimento de grupos e artistas solo como o Rastapé, Bicho-de-pé e o Falamansa. O estilo desses artistas ficou conhecido como "forró universitário", o nome é devido a se apresentarem em festas universitárias paulistanas. Ele executa gêneros musicais do forró original com acréscimos ou mudanças instrumentais. O estilo musical pé-de-serra e universitário são na prática muito parecidos e são geralmente diferenciados pela localização geográfica dos artistas e pelo período histórico. Forró pé-de-serra, também conhecido como forró tradicional, é a expressão utilizada para designar os estilos mais tradicionais (xote, baião e arrasta-pé), que possuem como instrumentos característicos o sanfona, zabumba e triângulo, diferentemente dos estilos mais estilizados que usam instrumentos elétricos, como o forró eletrônico. O Forró Pé-de-serra ou Forró Tradicional designa de um estilo do original de sua criação tendo os principais representantes de sua música, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Marinês, Alcymar Monteiro e Sivuca. Em comparação com o forró pé-de-serra, a dança no universitário sofreu muitas alterações e tornando-se completamente diferente no nordeste (pé-de-serra) e no sudeste (universitário). O "forró de favela" e o novo forró romântico da década de 2010. Na década de 2010 surgiu uma nova geração de bandas de forró que apostaram em um ritmo mais lento do que o que se conhecia no forró até então, ( o xote) e em letras que falavam de romantismo e de temas considerados mais populares entre as populações das periferias das cidades do Nordeste brasileiro. Embora a existência de letras românticas não fosse nenhuma novidade no forró desde a sua criação, e nas bandas da década de 1990 como Limão com Mel, Mastruz com Leite e Calcinha Preta, entre outras, esta nova geração de bandas se destacou por representar uma "retomada" do romantismo após um período em que esta temática esteve em baixa entre as bandas de forró de maior sucesso entre o público, e principalmente pela inovação do ritmo mais lento. Foi aí que surgiram muitas bandas que seguiram estilo semelhante, alternando as letras românticas com letras que apresentavam temáticas consideradas mais voltadas para o "povão" como amor a primeira vista , sexo, bebida alcoólica, traições, adultério, como traições em relacionamentos e exames de paternidade, razão pela qual este movimento musical foi apelidado de forró de favela. O forró de favela apresenta elementos de semelhança com o estilo musical contemporâneo chamado de "brega romântico do Recife", inclusive com a produção de versões das mesmas músicas estrangeiras. A Pisadinha e o Piseiro. No começo dos anos 2000 também surge no interior do Nordeste brasileiro uma nova vertente do forró conhecida como "pisadinha".. A pisadinha é inicialmente um fenômeno inerente às zonas rurais e às pequenas cidades do interior nordestino, em contraste com o forró de favela, o qual nasceu e se desenvolveu nas grandes capitais. Rapidamente, no entanto, a pisadinha começa a alcançar sucesso comercial e a chegar às grandes metrópoles da região tendo como pioneiros nessa vertente os cantores: Nelson Nascimento (Rei da Pisadinha), Forró 100 Preconceito e Cintura de Mola. Já no fim dos anos 2010 surge mais uma modernização e acréscimo de equipamentos e tecnologia nas produções , composições , shows e eventos. Com uma nova coreografia e jeito de dançar surge o "Piseiro". Com artistas na linha de frente como: Barões da Pisadinha , Eric Land e Zé Vaqueiro. O "forró das antigas". Em meados da década de 2010, a partir da realização de festivais e coletâneas postadas no YouTube usando o nome comercial Forró das Antigas, tornou-se comum o uso deste rótulo para se referir a bandas de forró romântico conhecidas antes de 2010, como por exemplo Limão com Mel (1993), Mastruz com Leite (1990), Calcinha Preta (1995), Magníficos (1995), Desejo de Menina (2003), Cavaleiros do Forró (2001), Moleca 100 Vergonha (1999), Banda Styllus (1989), Brucelose. Forró e religiosidade popular. Estudiosos tem apontado para a importância do gênero no âmbito religioso. Observa-se uma transversalidade religiosa quando o forró passa a utilizado de forma mais ou menos intensa na religiosidade popular brasileira, principalmente no Catolicismo, no Pentecostalismo e na Umbanda. No catolicismo romano. No catolicismo, o forró é muito comum em quermesses, festas populares como as festas juninas, bem como é utilizado nas missas, através de grupos de músicas que fazem adaptações dos cânticos de missa para o gênero. No pentecostalismo. Observa-se uma presença muito forte do gênero nas comunidades pentecostais. O forró está presente desde os primórdios da religião no Brasil. Como expressão de fé de uma parcela marginalizada da população, o forró passou a ser para os pentecostais uma forma de afirmação e disseminação de suas doutrinas. Atualmente, os pentecostais chamam o ritmo de ""corinho de fogo"." Na umbanda. Os cânticos são entoados em um ritmo impulsionado pelo toque dos atabaques, contudo nota-se a presença de ritmos como o baião e o coco em muitos pontos. Pode-se citar aqui também os pontos ligados às entidades baianas ou oriundas de regiões do Nordeste brasileiro. Um ponto famoso com forte influência dos dois ritmos citados é "Mamãe Oxum". Forró como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Tendo seu valor cultural e relevância reconhecidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Forró foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial em 2021. A violência de gênero no forró. O forró, um gênero musical que vem do nordeste do Brasil, tem sido uma grande parte da identidade cultural dos nordestinos. Recentemente, há um foco nas letras de forró que perpetuam um tipo de senso superior dos homens nordestinos contra as mulheres. Não somente as mulheres sofrem com os estereótipos criados nas letras de forró mas também, os da comunidade LGBT+, de acordo com pesquisadores da Universidade de Fortaleza e a , “... o Nordeste é a região que concentra maior número de mortes homoafetivas, com 43% do total, demonstrando o [a falta de] reconhecimento das masculinidades alternativas.” Também, o forró é conhecido por sua sexualização do corpo feminino através das letras das canções. De acordo com um estudo da , as duas canções: “Hoje eu tô solteiro" e “Banda Calcinha Preta”, ambos geram-se alguns sentidos de um sistema patriarcal e reforçam-se  “...a submissão feminina em relação ao homem". Além da música, as letras machistas se manifestam em violência contra as mulheres nas festas de forró e pelo país inteiro. Pesquisadoras da Universidade de Fortaleza concluíram que as letras moldam as opiniões dos homens em relação às mulheres de maneiras negativas. Os quatro sentimentos que eles identificam que os homens aprendem são: a desmoralização da vítima, a justificação do estupro pelo álcool, a desqualificação da negativa feminina e a banalização da violência contra a mulher. Pesquisadores argumentam que o resultado desses sentimentos é violência de gênero em todo o país, onde 43% das mulheres sofreram violência sexual ao longo da vida. Os problemas têm persistido nos últimos tempos. Tipos de danças. O forró é dançado em pares, e evoluiu para vários estilos que têm raízes em diversos outras danças, adaptadas para o molde e a estética que a cultura e a música do forró apresenta. O estilo de música, bastante abrangente dentro do forró, também irá variar com as danças. O forró é dançado ao som de vários gêneros musicais brasileiros tipicamente nordestinos, além do gênero musical forró, entre os quais destacam-se: o xote, o baião, o arrasta-pé, o xaxado, a marcha (estilo tradicionalmente adotado em quadrilhas) e coco, e algumas vezes, o maracatu. Todos esses gêneros musicais são próximos, mas não são o mesmo que música forró. Danças tradicionais ou populares: Danças de salão Surgiram no fim dos anos 90 em escolas de dança profissional. A partir de misturas da dança do xote/forró com outras danças. Elas acompanham alguns gêneros musicais como o xote, baião, forró (gênero musical), coco, rojão e toada. As principais danças são:
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Rock and roll
Rock and roll O rock and roll, também conhecido como rock & roll, rock 'n' roll, ou ainda rock 'n roll, é um gênero musical surgido nos Estados Unidos no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, com raízes nos estilos musicais norte-americanos, como: "country", "blues", "R&B", e que rapidamente se espalhou para o resto do mundo. O instrumento mais comum neste estilo é a guitarra, sempre presente nas bandas, podendo possuir um único instrumentista, ou dois com funções diferenciadas (guitarrista base e solo). Normalmente, as bandas, além do instrumento predominante, a guitarra, são formadas por um: contrabaixo (após 1950, um baixo elétrico) e uma bateria. Nos primórdios do "rock and roll", também se utilizava o piano ou o saxofone frequentemente como instrumentos bases, mas estes foram substituídos ou suplementados, geralmente, pela guitarra a partir da metade dos anos 1950. A batida é essencialmente um "blues com country" com contratempo acentuado, este último quase fornecido por uma caixa-clara. A enorme popularidade e eventual visão no mundo inteiro do "rock and roll" deu-lhe um impacto social único. Muito além de ser simplesmente um gênero musical, como visto nos filmes e na televisão e de acordo com a mídia que se desenvolvia na época, influenciou estilos de vida, moda, atitudes e linguagem. História. Origens do Gênero. Por se tratar de gêneros musicais que foram influenciados e influenciam em ritmo acelerado, a delimitação exata de onde termina o R&B ou o soul e começa o rock and roll é impossível de ser apontada, mas aceita-se que as "origens" do rock and roll remontam entre as décadas de 1940 e 1950, através de uma combinação de diversos gêneros musicais populares na época. Estes incluíram: o "gospel", a "folk", o "blues" - em especial as formas elétricas desenvolvidas em Memphis, Nova Orleans e Texas - à base do "boogie woogie" tocado no piano e um "jump blues", que se tornaram conhecidos como a fusão "R&B". Também adicionaram-se influências de "country" e "jazz". No entanto, elementos de "rock and roll" podem ser ouvidos em gravações "country" da década de 1910 e blues dos anos 1920. Muitos brancos norte-americanos experimentaram o "jazz" e "blues" afro-americanos, que, frequentemente, eram relegados à condição de "race music" (código da indústria fonográfica para estações de rádio de "rhythm and blues") e que raramente eram ouvidos pela corrente majoritária branca. Poucos músicos negros de "rhythm and blues", notadamente Louis Jordan, The Mills Brothers e The Ink Spots, alcançaram algum sucesso, embora em alguns casos (como o da canção "Choo Choo Ch'Boogie", de Jordan), este êxito tenha sido alcançado com canções escritas por compositores brancos. O gênero "western swing" da década de 1930, geralmente tocado por músicos brancos, também seduziu fortemente o "blues" e diretamente influenciou o "rockabilly" e o "rock and roll", como pode ser ouvido, por exemplo, na canção "Jailhouse Rock", de Elvis Presley, de 1957. O desenvolvimento do rock and roll foi um processo evolutivo, não há um registro único que pode ser identificado como inequivocamente "o primeiro" disco de rock and roll. Candidatos para o título de "primeiro disco de rock and roll" incluem "Strange Things Happening Everyday" de Sister Rosetta Tharpe (1944); "Rock Awhile" de Goree Carter (1949); "Rock the Joint" de Jimmy Preston (1949), que mais tarde foi regravado por Bill Haley & His Comets, em 1952; "Rocket 88" de Jackie Brenston and his Delta Cats (na verdade, Ike Turner e sua banda The Kings of Rhythm), gravada na Sun Records de Sam Phillips em março de 1951, em termos de sua grande impacto cultural em toda a sociedade americana e outros lugares do mundo, "Rock Around the Clock" de Bill Haley, foi gravada em abril 1954, mas não foi um sucesso comercial até o ano seguinte; é geralmente reconhecida como um marco importante, mas foi precedida de muitas gravações das décadas anteriores em que os elementos do rock and roll pode ser claramente detectados. Voltando mais algumas décadas, o "rock and roll" pode traçar uma linhagem para o distrito de Five Points, em Manhattan, em meados do século XIX, cenário da primeira fusão pesadamente rítmica de danças africanas com a melodia de gêneros europeus (especialmente de origem irlandesa). Em 1956, no filme "Rock, Rock, Rock", Alan Freed interpreta a si mesmo e diz ao público que ""Rock and roll" é um rio musical que tem absorvido muitos riachos: "rhythm and blues", "jazz", "ragtime", canções de "cowboy", "country" e "folk". Todos contribuíram para o "big beat"." A tabela abaixo aponta algumas, mas não todas, as principais influências sobre o "rock and roll". O que deve ser salientado é que, antes do "rock and roll", a música foi categorizada por: raça, nacionalidade, localização, estilo, instrumentação, técnicas vocais e até mesmo por religião. No entanto, com a imensa popularidade e sucesso comercial de Elvis Presley em 1956, o "Rock and roll" se tornou um objeto angular da indústria musical americana. Nunca mais a música foi definida e categorizada desta forma. Origens da expressão. A palavra "rock" teve uma longa história no idioma inglês como uma metáfora para "to shake up, to disturb or to incite" (sacudir, perturbar ou incitar). Em 1937, Chick Webb e Ella Fitzgerald gravaram "Rock It for Me", que incluía na letra o verso "So won't you satisfy my soul with the rock and roll." ("Então, você não vai satisfazer a minha alma com o rock and roll."). Já o termo "Rocking" era usado por cantores negros "gospel" no sul dos Estados Unidos para dizer algo semelhante ao êxtase espiritual. Pela década de 1940, no entanto, o termo foi usado como um duplo sentido, referindo-se pretensamente a dançar e ao ato sexual, como em "Good Rocking Tonight", de Roy Brown. O verbo "roll" era uma metáfora medieval que significava "ter relações sexuais." Durante centenas de anos, escritores têm utilizado expressões como "They had a roll in the hay" (Eles tiveram um rolo no feno) ou "I rolled her in the clover" (Eu transei com ela no trevo). Os termos eram muitas vezes utilizados em conjunto ("rocking-and-rolling") para descrever o movimento de um navio no mar, por exemplo, como na canção "Rock and Roll", das Irmãs Boswell, em 1934, que apareceu no filme Transatlantic Merry-Go-Round' (literalmente, "Transatlântico Carrossel"), naquele mesmo ano, e na canção "Rockin 'Rollin' Mama", de Buddy Jones em 1939. O cantor "country" Tommy Scott se referia ao movimento de um trem na ferrovia em "Rockin e Rollin", de 1951. Uma versão alternativa às origens de "rocking-and-rolling" pode, ainda, remonta aos trabalhadores das ferrovias "Reconstruction South". Esses homens cantariam canções na batida do martelo para manter o ritmo do seu instrumento de trabalho. Ao final de cada linha em uma canção, os homens balançariam seus martelos para baixo para fazer um furo na rocha. Os "shakers" - homens que ocupavam as pontas de aço perfuradas pelo martelo humano - "balançariam" o prego para frente e para trás para limpar a pedra ou rolar, girando o prego para melhorar a 'mordida' da broca. Até então, a frase "rocking-and-rolling" ("balançando e rolando"), conforme uma gíria laica negra que remete a dançar ou fazer sexo, apareceu em gravações pela primeira vez em 1922, na canção "My Man Rocks Me With One Steady Roll" de Trixie Smith. Mesmo antes, em 1916, o termo "rocking-and-rolling" foi usado com conotação religiosa, no registro fonográfico de "The Camp Meeting Jubilee", gravado por um quarteto masculino desconhecido.<br>Em 1934, a canção "Rock and Roll" por Boswell Sisters apareceu no filme Transatlantic Merry-Go-Round. Em 1942, o colunista da revista Billboard, Maurie Orodenker começaram a usar o termo "rock-and-roll" para descrever gravações otimistas, como "Rock Me", de Sister Rosetta Tharpe. Em 1943, o "Rock and Roll Inn" em Merchantville, Nova Jérsia, foi estabelecido como um local de música. A expressão foi também incluída nos anúncios para o filme ""Wabash Avenue", estrelado por Betty Grable e Victor Mature. Uma propaganda para o filme que circulou em 12 de abril de 1950 anunciou Ms. Grable como "the first lady of rock and roll" e "Wabash Avenue" como "the roaring street she rocked to fame". Três diferentes canções com o título "Rock and Roll" foram gravadas no final dos anos 1940: uma em 1947 por Paul Bascomb, outra por Wild Bill Moore em 1948, e ainda outra em 1949 por Doles Dickens, e a expressão estava em constante uso nas letras de canções "R&B" da época. Um outro registro onde a frase foi repetida durante toda a canção foi em "Rock and Roll Blues", gravado em 1949 por Erline "Rock and Roll" Harris. Em 1951, em Cleveland (Ohio), o "DJ" Alan Freed começou a tocar "R&B" para uma audiência multirracial. Freed é creditado como o primeiro a utilizar a expressão "rock and roll"" para descrever a música. No entanto, o termo já tinha sido apresentado ao público dos Estados Unidos, especialmente nas letras de muitas gravações "rhythm and blues". Início e primeiras gravações. Rockabilly. "Rockabilly", geralmente (mas não exclusivamente) se refere ao tipo de rock and roll, que foi tocado e gravado em meados dos anos 1950 por cantores brancos, como Elvis Presley, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis, que tinham bastante influência da música country. Muitos outros cantores populares de "rock and roll" da época, como Fats Domino, Chuck Berry e Little Richard, vieram da tradição do rhythm and blues negro, faziam músicas que atraiam a plateias brancas, e normalmente não são classificados como ""rockabilly". Em julho de 1954, Elvis Presley gravou um "hit" regional: "That's All Right"", pela gravadora de Sam Phillips, a Sun Records em Memphis. Dois meses antes, em Maio de 1954, Bill Haley e Seus Cometas gravaram "Rock Around the Clock". Embora apenas tenha sido um "hit" menor quando lançado, quando usado na sequência de abertura do filme ""Blackboard Jungle", um ano mais tarde, ela realmente passou a definir o auge do "rock and roll" em movimento. A canção se tornou um dos maiores sucessos na história, e frenéticos grupos adolescentes para ver Haley e os Cometas tocar, causavam em algumas cidades. "Rock Around the Clock" foi um avanço tanto para o grupo e para todas as músicas de rock and roll. Se tudo que veio antes de lançar as bases, "Clock"" introduziu a música para um público global. Em 1956, a chegada de rockabilly foi sublinhada pelo sucesso de canções como "Folsom Prison Blues", de Johnny Cash, "Blue Suede Shoes", de Carl Perkins e o Hit No. 1 de Presley, "Heartbreak Hotel", de Presley. Por alguns anos, tornou-se a forma de rock and roll de maior sucesso comercial. Atos posteriores do rockabilly, particularmente cantores como Buddy Holly, seriam uma grande influência nos artistas da Invasão Britânica e particularmente na composição dos Beatles e, por meio deles, na natureza posterior do rock. Doo wop. Doo-wop era uma das formas mais populares do rhythm and blues dos anos 50, muitas vezes comparadas ao rock and roll, com ênfase em harmonias vocais de várias partes e letras de apoio sem sentido (de onde se originaria seu nome), que geralmente eram suportado com instrumentação leve. Suas origens estavam nos grupos vocais afro-americanos das décadas de 1930 e 40, como Ink Spots e Mills Brothers, que tiveram considerável sucesso comercial com arranjos baseados em harmonias estreitas. Eles foram seguidos por artista vocais de R&B dos anos 40, como The Orioles, The Ravens e The Clovers, que injetaram um forte elemento do gospel tradicional e, cada vez mais, a energia do jump blues. Em 1954, quando o rock and roll estava começando a surgir, vários artistas semelhantes começaram a passar das paradas de R&B para o sucesso principal, muitas vezes com adição de buzinas e saxofones, como Crows, Penguins, El Dorados e Turbans, todos marcando grandes hits. Apesar da explosão subsequente nas gravações de artistas doo wop nos anos 50, muitos não conseguiram traçar ou foram artistas de um só sucesso. As exceções incluíam o The Platters, com músicas como "The Great Pretender" (1955) e The Coasters com canções humorísticas como "Yakety Yak" (1958), ambas classificadas entre os artistas de rock and roll de maior sucesso da época. No final da década, havia um número crescente de cantores brancos, especialmente ítalo-americanos, ocupando o Doo Wop, criando grupos totalmente brancos como os Mystics e Dion and the Belmonts, e grupos racialmente integrados como The Del-Vikings e The Impalas. O Doo-wop seria uma grande influência na surf music vocal, soul e no início do Merseybeat, incluindo os Beatles. Versões cover. Muitos dos primeiros sucessos do rock and roll branco foram versões covers ou reescritas parciais de canções anteriores do rhythm and blues ou do blues negro. No final dos anos 1940 e no início dos anos 1950, a música R&B vinha ganhando uma batida mais forte e um estilo mais selvagem, com artistas como Fats Domino e Johnny Otis acelerando os tempos e aumentando a batida de fundo para grande popularidade no circuito de juke joint. Antes dos esforços de Freed e outros, a música negra era tabu em muitas rádios de propriedade de brancos, mas artistas e produtores rapidamente reconheceram o potencial do rock and roll. Algumas das primeiras gravações de Presley foram covers de black rhythm and blues ou blues, como "That's All Right" (um arranjo country de um número de blues), "Baby Let's Play House", "Lawdy Miss Clawdy" e "Hound Dog". As linhas raciais, no entanto, são um tanto mais nubladas pelo fato de algumas dessas canções R&B originalmente gravadas por artistas negros terem sido escritas por compositores brancos, como a equipe de Jerry Leiber e Mike Stoller. Os créditos das composições geralmente não eram confiáveis; muitos editores, executivos de gravação e até mesmo gerentes (brancos e negros) inseriam seus nomes como compositores para coletar cheques de royalties. Covers eram comuns na indústria musical da época; tornou-se particularmente fácil pela provisão de licença compulsória da lei de direitos autorais dos Estados Unidos (ainda em vigor).] Um dos primeiros covers de sucesso relevantes foi a transformação de Wynonie Harris do hit blues original de Roy Brown de 1947, "Good Rocking Tonight" em um rock mais vistoso. A tendência mais notável, no entanto, foram covers pop brancas de gravações negras de R&B. O som mais familiar dessas capas pode ter sido mais palatável para o público branco, pode ter havido um elemento de preconceito, mas as gravadoras voltadas para o mercado branco também tinham redes de distribuição muito melhores e eram geralmente muito mais lucrativas.. Notoriamente, Pat Boone gravou versões higienizadas de canções gravadas por nomes como Fats Domino, Little Richard, The Flamingos e Ivory Joe Hunter. Mais tarde, à medida que essas canções se tornaram populares, as gravações dos artistas originais também foram tocadas no rádio. As versões covers não eram necessariamente imitações diretas. Por exemplo, a versão incompleta de Bill Haley de "Shake, Rattle and Roll" transformou o conto humorístico e atrevido de amor adulto de Big Joe Turner em um enérgico número de dança adolescente, enquanto Georgia Gibbs substituiu o vocal duro e sarcástico de Etta James em "Roll With Me, Henry" (regravada como "Dance With Me, Henry") com um vocal alegre, mais apropriado para um público não familiarizado com a canção para a qual a canção de James foi uma resposta, "Work With Me, Annie" de Hank Ballard". A versão rock and roll de Elvis de "Hound Dog", tirada principalmente de uma versão gravada pela banda pop Freddie Bell and the Bellboys, era muito diferente do blues shouter que Big Mama Thornton havia gravado quatro anos antes.. Outros artistas brancos que gravaram versões cover de canções de rhythm & blues incluem Gale Storm ["I Hear You Knockin'" de Smiley Lewis], The Diamonds ["Little Darlin'" dos Gladiolas, e "Why Do Fools Fall in Love?" de Frankie Lymon & the Teenagers"], Crew Cuts ["Sh-Boom" de the Chords', e "Don't Be Angry" de Nappy Brown], Fountain Sisters ["Hearts of Stone" de The Jewels] e Maguire Sisters ["Sincerely" de The Moonglows]. Rock britânico. Na década de 1950, a Grã-Bretanha estava bem posicionada para receber a música e a cultura do rock and roll americano. Compartilhava uma linguagem comum, fora exposto à cultura americana por meio do estacionamento de tropas no país e compartilhava muitos desenvolvimentos sociais, incluindo o surgimento de distintas subculturas juvenis que, na Grã-Bretanha, incluíam os Teddy Boys e os rockers. Trad jazz se tornou popular, e muitos de seus músicos foram influenciados por estilos americanos relacionados, incluindo boogie woogie e blues. A mania do skiffle, liderada por Lonnie Donegan, utilizou versões amadoras de canções folk americanas e encorajou muitos da geração seguinte de rock and roll, folk, R&B e músicos beat a começar a se apresentar. Ao mesmo tempo, o público britânico estava começando a conhecer o rock and roll americano, inicialmente por meio de filmes como "Blackboard Jungle" (1955) e "Rock Around the Clock". (1956). Ambos os filmes continham o sucesso de Bill Haley & His Comets, "Rock Around the Clock", que entrou nas paradas britânicas no início de 1955 - quatro meses antes de chegar às paradas pop dos Estados Unidos - liderou as paradas britânicas no final daquele ano e novamente em 1956, e ajudou a identificar o rock and roll com a delinquência adolescente. Artistas americanos de rock and roll, como Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly, Chuck Berry e Carl Perkins, depois disso, tornaram-se grandes forças nas paradas britânicas. A resposta inicial da indústria musical britânica foi tentar produzir cópias de discos americanos, gravados com músicos de sessão e muitas vezes liderados por ídolos adolescentes. Mais roqueiros britânicos de base logo começaram a aparecer, incluindo Wee Willie Harris e Tommy Steele. Durante este período, o rock and roll americano permaneceu dominante; no entanto, em 1958, a Grã-Bretanha produziu sua primeira estrela e canção rock and roll "autêntica", quando Cliff Richard alcançou o número 2 nas paradas com "Move It". Ao mesmo tempo, programas de TV como "Six-Five Special" e "Oh Boy!" promoveu as carreiras de roqueiros britânicos como Marty Wilde e Adam Faith. Cliff Richard e sua banda de apoio, The Shadows, foram os artistas caseiros de rock and roll mais bem-sucedidos da época. Outros artistas principais incluem Billy Fury, Joe Brown e Johnny Kidd & the Pirates, cujo hit de 1960 "Shakin 'All Over" se tornou um standard do rock and roll. Como o interesse pelo rock and roll estava começando a diminuir na América no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, ele foi assumido por grupos nos principais centros urbanos britânicos como Liverpool, Manchester, Birmingham e Londres. Quase ao mesmo tempo, uma cena de blues britânico se desenvolveu, inicialmente liderada por seguidores puristas do blues, como Alexis Korner e Cyril Davies, que foram diretamente inspirados por músicos americanos como Robert Johnson, Muddy Waters e Howlin' Wolf. Muitos grupos se moveram em direção à música beat de rock and roll e rhythm and blues do skiffle, como os Quarrymen que se tornaram os Beatles, produzindo uma forma de revivalismo do rock and roll que os levou e muitos outros grupos ao sucesso nacional por volta de 1963 e internacional sucesso de 1964, conhecido na América como a invasão britânica. Os grupos que seguiram os Beatles incluíram Freddie and the Dreamers, com influência beat, Wayne Fontana e Mindbenders, Herman's Hermits e Dave Clark Five. Os primeiros grupos de rhythm and blues britânicos com mais influências de blues incluem Animals, Rolling Stones e Yardbirds. Impacto cultural. Alan Freed, também conhecido como ""Moondog", é creditado como o primeiro a utilizar a expressão "rock and roll"" para descrever a música "rhythm and blues" tocada para uma audiência multirracial. Enquanto trabalhava como "DJ" na estação de rádio WJW, em Cleveland, ele também organizou o primeiro grande concerto de rock and roll, o "Moondog Coronation Ball", em 21 de março de 1952. Posteriormente, Freed organizou muitos concertos de "rock and roll" marcados pela presença tanto de brancos quanto de negros, contribuindo ainda mais para introduzir estilos musicais afro-americanos para um público mais vasto. Tensões raciais. O "rock and roll" surgiu em uma época em que as tensões raciais nos Estados Unidos estavam próximos de vir à tona. Os negros norte-americanos protestavam contra a segregação de escolas e instalações públicas. A doutrina racista ""separate but equal" foi nominalmente derrubada pela Suprema Corte dos Estados Unidos em 1954, mas a difícil tarefa de fazer respeitar a decisão estava por vir. Este novo gênero musical combinando elementos das músicas branca e negra inevitavelmente provocou fortes reações. Depois do "The Moondog Coronation Ball"", as gravadoras logo compreenderam que havia mercado formado pelo público branco para a música negra que estava para além das fronteiras estilísticas do "rhythm and blues". Mesmo o preconceito considerável e as barreiras raciais não podiam barrar as forças do mercado. O "rock and roll" tornou-se um sucesso de um dia para outro nos Estados Unidos, repercutindo no outro lado do Oceano Atlântico e, talvez, culminando em 1964 com a "Invasão Britânica". Os efeitos sociais do "rock and roll" foram massivos mundialmente, influenciando estilos de vida, moda, atitudes e linguagem. Além disso, pode ter ajudado a causa do movimento dos direitos civis, porque tanto os jovens norte-americanos brancos como os negros gostavam do gênero, que ainda derivou muitos estilos musicais: "soul music", "funk", progressivo, "punk", "heavy metal" e alternativo. Cultura "teen". Um ídolo "teen" geralmente é um artista que atrai um grande número de seguidores, principalmente adolescentes do sexo feminino, devido à sua boa aparência, apelo sexual além de suas qualidades musicais. Um bom exemplo é Frank Sinatra na década de 1940, embora um exemplo anterior possa ser Rudy Vallée. Com o nascimento do "rock and roll", Elvis Presley se tornou um dos maiores ídolos teen de todos os tempos. Seu sucesso levou os promotores de eventos à criação deliberada de novos ídolos, tais como Frankie Avalon e Ricky Nelson. Outros músicos daquela época também atingiram popularidade. Devido ao sucesso de muitos outros artistas, como os Beatles e os Monkees, no meio "teen", foram criadas algumas revistas orientadas exclusivamente ao público jovem (por exemplo "16 Magazine" e "Tiger Beat"). Essas publicações mensais estampavam um ídolo "teen" na capa, bem como fotografias atraentes, uma seção de "Perguntas & Respostas", e uma lista de predileções (ou seja, cor favorita, comida favorita etc). Os ídolos "teen" também influenciaram na produção de desenhos animados matutinos a brinquedos, entre outros produtos. No auge da popularidade dos Beatles, não era incomum ver perucas inspiradas no corte de cabelo, por exemplo. Militar. Durante a guerra do Vietnã, o termo "Rock and Roll" se referia ao disparo com uma arma automática (geralmente o fuzil M-16), empunhando a arma no quadril como uma guitarra. Era muitas vezes utilizado o termo "Let's Rock and Roll". Estilo de dança. Desde o seu início na década de 1950 até o início dos anos 1960, a música "rock and roll" gerou novos estilos de danças. Adolescentes encontraram, no ritmo irregular do Contratempo, a brecha para reavivar a dança "jitterbug" da era das "big bands". Danças "Sock-hops", de ginásio ou de festas em porões residenciais tornaram-se uma mania, e os jovens norte-americanos assistiam ao programa de televisão American Coreto, apresentado por Dick Clark, para se manter atualizados sobre os mais recentes estilos de dança e moda. A partir de meados dos anos 1960, quando o "rock and roll" gradualmente tornou-se "rock", este influenciou danças de gêneros musicais seguintes, começando pelo twist, e conduziu em direção ao "funk", "disco", "house", "techno" e "hip-hop".
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Punk (desambiguação)
Punk (desambiguação) Punk pode referir-se a: Em música: Em televisão:
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Macau
Macau Macau (em chinês tradicional: ; em chinês simplificado: ; "pinyin": "Àomén", ; em cantonês "jyutping": "ou3mun4*2", em cantonês Yale: "Oumùhn", , em hacá: "Au4mun2") é uma das regiões administrativas especiais da República Popular da China desde 20 de dezembro de 1999, sendo a outra Hong Kong. Antes desta data, Macau foi colonizada e administrada por Portugal durante mais de 400 anos e é considerada o primeiro entreposto, bem como a última colónia europeia na Ásia. A colonização de Macau teve início em meados do , com uma ocupação gradual de navegadores portugueses que rapidamente trouxeram prosperidade a este pequeno território, tornando-o numa grande cidade e importante entreposto comercial entre a China, a Europa e o Japão. Macau atingiu o seu auge nos finais do e nos inícios do , mas só em 1887 a China reconheceu oficialmente a soberania e a ocupação perpétua portuguesa de Macau, através do "Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português". Em 1967, como consequência do Motim 12–3, que marcou a revolta de residentes chineses de Macau a favor dos comunistas, em 3 de dezembro de 1966, Portugal renunciou à sua ocupação perpétua de Macau. Em 1987, após intensas negociações entre Portugal e a República Popular da China, os dois países acordaram que Macau voltaria para a soberania chinesa no dia 20 de dezembro de 1999. A Região Administrativa Especial de Macau é constituída pela península de Macau e por duas ilhas: Taipa e Coloane. Após a ligação feita por meio de um aterro, o istmo de Cotai, Macau ficou com a superfície total de 28,6 km². Situa-se na costa meridional da República Popular da China, a oeste da foz do rio das Pérolas e a 60 km de Hong Kong, que se encontra aproximadamente a leste de Macau. Faz fronteira a norte e a oeste com a Zona Económica Especial de Zhuhai, logo é adjacente à província de Cantão. Macau tem cerca de 538 mil habitantes, sendo a esmagadora maioria de etnia chinesa. Foram feitos muitos aterros na foz do rio das Pérolas para conseguir mais espaços de construção. Desde 20 de dezembro de 1999, o nome oficial de Macau é "Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China" (RAEM). Após o estabelecimento da RAEM, Macau atua sob os princípios do Governo Popular Central da RPC de "um país, dois sistemas", da "Administração de Macau pela Gente de Macau" e de "Alto Grau de Autonomia", gozando por isso de um estatuto especial, semelhante ao de Hong Kong, e possuindo consequentemente um elevado grau de autonomia, limitado apenas no que se refere às suas relações exteriores e à defesa. Foi também garantido pela RPC a preservação do seu sistema económico-financeiro e das suas especificidades durante pelo menos cinquenta anos, isto é, pelo menos até 2049. Etimologia. Antes da colonização portuguesa ocorrida no início do , Macau era conhecida como "Hou Keng" ("Ostra Espelho") ou "Keng Hoi" ("Mar de Espelho"). O seu nome chinês ("Ou Mun"), que, à letra, significa "Porta da Baía", parece ter origem no facto de a península de Macau ser habitada, antes da chegada dos portugueses, por várias povoações de pescadores e alguns camponeses chineses vindos das províncias de Fuquiém e Cantão. O seu nome português (Macau) parece ter origem num dos primeiros locais de desembarque dos navegadores portugueses, a Baía de A-Má (em cantonês, "A-Ma Kong"), nome esse que se deve à existência nessa baía de um templo em homenagem à deusa A-Má. A-Ma Gao se tornaria, Amacao, Macao e, por fim, Macau. História. Domínio chinês. Através de estudos arqueológicos, há fortes indícios que comprovam que os chineses se estabeleceram na península de Macau entre quatro e dois mil anos antes de Cristo e em Coloane há cinco mil anos. Durante a Dinastia Ming, muitos pescadores oriundos de Cantão e de Fuquiém estabeleceram-se em Macau e foram eles que construíram o famoso Templo de A-Má. Edificaram também várias povoações, sendo uma das mais importantes localizada em Mong-Há. Pensa-se que o templo mais antigo de Macau, o Templo de Kun Iam, se localizava precisamente nesta região do Norte da península de Macau. Ocupação portuguesa. Os portugueses estabeleceram-se provisoriamente em Macau entre 1553 e 1554, sob o pretexto de secar a sua carga. Em 1557, as autoridades chinesas autorizaram os portugueses a se estabelecerem permanentemente em Macau, concedendo-lhes um considerável grau de autogoverno. Em troca, os portugueses foram obrigados a pagar aluguel anual (cerca de 500 taéis de prata) e certos impostos a estas autoridades, que defendiam que Macau continuava a ser parte integrante do Império Chinês. As autoridades chinesas tiveram desde sempre algum medo e desprezo pelos estrangeiros, passando a supervisionar atentamente os portugueses de Macau e a exercer, até meados do , uma grande influência na administração deste entreposto comercial. Desde então, Macau desenvolveu-se como intermediário no comércio triangular entre a China, o Japão e a Europa, numa época em que as autoridades chinesas proibiram o comércio directo com o Japão por mais de cem anos. Este lucrativo comércio trouxe enorme prosperidade para Macau, tornando-a numa grande cidade comercial e ajudando-a a atingir o seu auge nos finais do e inícios do . Para além de ser um entreposto comercial, Macau desempenhou também um papel activo e fulcral na disseminação do Catolicismo, tornando-se também um importante ponto de formação e de partida de missionários católicos para os diferentes países do Extremo Oriente, principalmente para a China. Por este motivo, o criou, em 1576, a Diocese de Macau. Esses missionários desempenharam também um importante papel no intercâmbio cultural, científico e artístico entre a China e o Ocidente, e no desenvolvimento da cultura e da educação de Macau. Em 1583, foi criado o Leal Senado, sede e símbolo do poder e do governo local, pelos moradores portugueses, mais precisamente pelos comerciantes de Macau. Este organismo político, considerado como a primeira câmara municipal de Macau, foi fundada com o objetivo de proteger o comércio controlado por Macau, de estabelecer a ordem e a segurança nesta cidade e de resolver os problemas quotidianos. Apesar de a partir de 1623 Macau passar a ter um governador português, o Leal Senado, até à primeira metade do , continuou a manter uma grande autonomia e a exercer um papel fundamental na administração da cidade. Devido à sua prosperidade, Macau foi várias vezes atacada pelos holandeses ao longo da primeira metade do . O ataque mais importante teve início em 22 de junho de 1622, quando cerca de 800 soldados holandeses desembarcaram, numa tentativa de conquistar a cidade. Após dois dias de combate, em 24 de junho, os invasores foram derrotados, sofrendo elevadas baixas (cerca de 350 mortes) e conseguindo abater apenas algumas dezenas de portugueses. Para Macau, desprevenida, esta vitória foi considerada um milagre. Em 1638–1639, o comércio português com o Japão foi interrompido, devido às políticas de isolamento levados a cabo pelo então xogum japonês, Tokugawa Iemitsu. Este acontecimento afectou seriamente a economia de Macau, que entrou rapidamente em declínio. Século XIX. No contexto da Guerra Peninsular, em setembro de 1808 foi ocupada por tropas da força expedicionária sob o comando do contra-almirante William O'Brien Drury, comandante-chefe das Forças Navais Britânicas nos mares da Ásia, a pretexto de proteção contra a ameaça francesa. Esse efetivo foi reembarcado no final desse mesmo ano, por força da concentração de cerca de 80 000 homens do exército chinês diante das portas da cidade. Desde os meados do , Macau, mesmo perdendo muitos mercados de comércio ao longo dos tempos (a começar pelo encerramento do comércio com o Japão) e vivendo com alguma frequência na pobreza e miséria, conseguiu ainda reter a sua importância económica e estratégica enquanto porto europeu na China. Mas, esta importância foi seriamente reduzida na Primeira Guerra de Ópio em 1841 quando Hong Kong se tornou no porto ocidental mais importante na China. Em 1844, através de um decreto real, Macau foi ingressado finalmente na estrutura administrativa ultramarina portuguesa. Porém, este acto não foi reconhecido pela China. Este documento real redefiniu ainda e mais uma vez que o Governador era o principal órgão político-administrativo de Macau e não o Leal Senado, que já tinha perdido a sua importância e influência política em 1834. Em 1845, Portugal declarou a cidade um porto franco. O Governador João Ferreira do Amaral (1846–1849) ordenou o fim do pagamento do aluguer anual e dos impostos chineses, a expulsão dos mandarins de Macau e a abolição, em 1849, da alfândega chinesa (o "Ho-pu"). Durante o , os portugueses ocuparam a parte Norte da península de Macau (naquela altura ocupada pelos chineses), as ilhas da Taipa (em 1851) e de Coloane (em 1864). Eles começaram também a expandir a sua influência às ilhas vizinhas de Lapa, Dom João e Montanha. Em 1887, Portugal diligenciou junto do debilitado e fraco Governo Chinês a assinatura do Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português, o qual reconhecia e legitimava a ocupação perpétua de Macau e das suas dependências pelos portugueses. Século XX. O Governo de Macau, querendo criar a sua própria moeda oficial, autorizou, em 1901, o Banco Nacional Ultramarino (BNU) a emitir notas com a denominação de patacas. As primeiras notas impressas começaram a entrar em circulação em 1906 e 1907. Portugal não participou formalmente da Segunda Guerra Mundial (1939–1945); portanto, Macau tornou-se um dos únicos locais do Sudeste Asiático a permanecer neutro frente ao conflito mundial. Por esta razão, um grande número de refugiados chineses, fugindo à ocupação japonesa, foram abrigar-se provisoriamente em Macau, fazendo duplicar a sua população durante aquele período. Esta afluência de refugiados causou muitos problemas, principalmente os relativos à sobrepopulação e à falta de bens alimentares. O Japão respeitou a neutralidade de Portugal e por isso também a de Macau. Mas, mesmo não ocupando Macau, os temidos japoneses exerceram uma enorme influência no Governo de Macau, ameaçando-o muitas vezes. Como por exemplo, em 1941, as ilhas de Lapa, Dom João e Montanha, ocupadas oficialmente pelos portugueses em 1938, foram abandonadas devido a uma ameaça emitida pelo Exército Japonês. Consequentemente, os japoneses ocuparam-nas, mas com o terminar da Segunda Guerra Mundial, em 1945, elas foram restituídas à China, devido à informalidade da presença portuguesa nessas três ilhas. Em 1949, deu-se a fundação da República Popular da China (RPC), de carácter comunista e anticolonialista. Esta nova república declarou o "Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português" como um dos muitos tratados desiguais impostos pelas potências europeias à China e por isso foi declarado inválido. Mas, o novo regime não esteve ainda disposto a tratar desta questão histórica dos tratados desiguais, por isso o "statu quo" de Macau foi provisoriamente mantido. No dia 3 de dezembro de 1966 ocorreu em Macau um célebre motim popular levantado por chineses pró-comunistas descontentes e fortemente influenciados pela Revolução Cultural de Mao Tse-tung. Este acontecimento é vulgarmente chamado de Motim 12–3. Neste dia de protestos, houve 11 mortos e cerca de 200 feridos e foi necessário a mobilização de soldados para controlar a situação. O motim gerou terror e uma grande tensão em Macau, sendo o assunto encerrado apenas em 29 de janeiro de 1967, com um humilhante pedido de desculpas do Governo de Macau à comunidade chinesa local. Este motim fez também com que Portugal renunciasse a sua ocupação perpétua sobre Macau e reconhecesse o poder e o controlo "de facto" dos chineses sobre Macau, marcando o princípio do fim do período colonial desta cidade. Transferência da soberania para a China. Com o regime democrático instaurado em Portugal pela Revolução dos Cravos, em 1974, Portugal iniciou conversações com os movimentos de libertação das colónias portuguesas. Essas negociações conduziram ao Acordo do Alvor. Nasciam assim, em 1975, os novos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP): Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. A China rejeitou a transferência imediata da soberania de Macau, tendo apelado para o estabelecimento de negociações que permitissem uma transferência harmoniosa. Com o decorrer das negociações, o estatuto de Macau redefiniu-se para "território chinês sob administração portuguesa" e a transferência de soberania de Macau para a República Popular da China foi agendada para a data de 20 de dezembro de 1999, através da Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau. Este documento bilateral e internacional, assinado no dia 13 de abril de 1987, estabelecia ainda uma série de compromissos e garantias feitas entre Portugal e a China que permitiam a Macau um considerável grau de autonomia e a conservação das suas especificidades, incluindo o seu modo de vida e o seu sistema económico de carácter capitalista, até 2049. Após a transferência, o novo Governo da Região Administrativa Especial de Macau, encabeçado e dirigido por Edmund Ho Hau-wah, combateu ferozmente e com êxito contra o crime organizado pelas tríades, com o precioso apoio do Governo Central da República Popular da China. Macau foi remilitarizada, através da colocação de uma guarnição de tropas chinesas. Estas tropas, além de servir para afirmar a soberania chinesa, foram encaradas como uma mais-valia, um apoio ao combate à criminalidade. Liberalização do Jogo, rápido crescimento económico e problemas sociais. Em 2001–2002, deu-se uma liberalização parcial do sector do jogo, devido ao fim do prazo da concessão do monopólio deste sector económico de tão grande importância à companhia de casinos de Stanley Ho. Esta liberalização, aliado ao relaxamento das restrições de viagem aos residentes da China Continental pelo Governo Central e consequentemente ao desenvolvimento do turismo de Macau, causou um grande e acelerado crescimento económico jamais visto em Macau. Mas, por detrás deste crescimento, criaram-se graves e alarmantes problemas sociais, como por exemplo o problema da inflação galopante, da mão de obra ilegal ou do excesso da importação (legal) de mão de obra barata e o alargamento do fosso entre os ricos e os pobres (em 2006, o coeficiente de Gini de Macau subiu para 0,48, sendo por isso a sua desigualdade da distribuição de renda mais acentuada do que, como por exemplo, em Singapura, na Coreia do Sul ou até na China Continental). Estes problemas, juntamente com a denúncia em 2006 de escandalosos casos de corrupção envolvendo o então Secretário das Obras Públicas Ao Man Long e a falta de transparência do Governo da RAEM, fizeram com que se ocorresse em Macau vários protestos, principalmente em 2007. Foram registados protestos nos dias 1 de maio de 2007 (Dia do Trabalhador) e 20 de dezembro de 2007, quando Macau celebrou os oito anos de aniversário do estabelecimento da RAEM. Neste último protesto, cerca de 1 500 a 3 500 pessoas saíram às ruas para lutarem por um sistema político mais democrático e com maior transparência, exigindo ao Governo a implementação total do sufrágio universal directo nas eleições para a Assembleia Legislativa de Macau e para o Chefe do Executivo de Macau. Lutavam também por uma maior independência das receitas do jogo e a introdução de medidas para a diminuição do fosso entre ricos e pobres. Desqualificação de candidatos nas eleições legislativas de 2021. Pela primeira vez desde o estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau (20 de Dezembro de 1999), em Julho de 2021, a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), de acordo com a Lei Eleitoral, desqualificou 21 candidatos de 6 listas do sufrágio directo, "por não serem fiéis a Macau ou não defenderem a Lei Básica". Três listas pró-democracia foram totalmente excluídas, com um total de 15 candidatos, que estavam de alguma forma ligados à Associação Novo Macau. Estas três listas eram: a Associação do Novo Progresso de Macau, liderado por Sulu Sou Ka Hou (deputado na legislatura de 2017–2021); a Associação Próspero Macau Democrático, liderado por Scott Chiang e secundado por António Ng Kuok Cheong (deputado entre 1992 e 2021); e a Associação do Progresso de Novo Macau, liderada por Paul Chan Wai Chi (deputado entre 2009–2013). Os outros candidatos excluídos eram Cloee Chao e Lei Man Chao, da lista ""Novos Jogos de Macau" (defensora dos trabalhadores do sector do Jogo); Lee Sio Kuan e Kuong Kai Nang, da lista "Ou Mun Kong I"; e Tommy Lo e Wu Shaohong, da lista "Macau Vitória"". O Tribunal de Última Instância (TUI) pronunciou-se a favor da decisão da CAEAL de excluir as três listas pró-democracia de participarem das eleições legislativas de 2021, por serem infiéis a Macau e não defenderem a Lei Básica. As evidências eram a participação de candidatos excluídos "em actividades de apoio incompatíveis com a Lei Básica, ou que provam que são infiéis à RAEM". Estas actividades estavam relacionadas com o "4 de Junho", a "Carta Constitucional 08" e a “Revolução de Jasmim”. Nestas actividades, foram defendidas reformas democráticas na China e o derrube do Governo Central e do Partido Comunista da China, cuja liderança no governo nacional em Pequim passou, em 2018, a ser explicitamente protegida pela Constituição da República Popular da China (Artigo 1.º). Geografia. Macau localiza-se a 22° 10' Norte (latitude) e 113° 33' Leste (longitude), mas as coordenadas 113º 55' Leste e 21º 11' Norte (a localização exacta do Farol da Guia) também são aceites como sendo as coordenadas geográficas oficiais da localização da RAEM. Esta região administrativa especial está situada na costa meridional da República Popular da China, a oeste da foz do rio das Pérolas, na ligação entre o Interior da China e o Mar do Sul da China, a sul do Trópico de Câncer, a 145 km de Cantão (que se situa aproximadamente a norte de Macau) e a 60 km de Hong Kong, que se encontra no outro vértice da foz do rio das Pérolas (isto é, situa-se aproximadamente a leste de Macau). Macau faz fronteira com a Zona Económica Especial de Zhuhai a norte e a oeste, logo é adjacente à província de Cantão. Outras principais cidades próximas de Macau incluem a Zona Económica Especial de Shenzhen. A Região Administrativa Especial de Macau é constituída pela península de Macau, pelas ilhas da Taipa e de Coloane e pelo istmo de Cotai. A área total é de 28,6 km², sendo a península de 9,3 km². É na península de Macau que se concentra a principal atividade, sendo lá que se encontram os principais organismos político-administrativos, a maior parte da indústria, os principais serviços e equipamento cultural. Possui um relevo não muito acidentado, mas também possui elevações: Alto de Coloane (170,6 m), a Colina da Guia, Colina de Mong Há, Colina da Penha e Colina da Ilha Verde. A área total de Macau continua a aumentar visto que o Governo da RAEM está continuamente a fazer mais aterros, "reclamando" terrenos à foz do rio das Pérolas, para "ganhar" mais espaços de construção. Clima. Climaticamente, Macau está na área das monções e o seu clima é considerado subtropical húmido, sendo considerado temperado e chuvoso no Verão, a estação de ano mais longa de Macau. Nesta estação de ano, isto é, entre maio e outubro, são frequentes as chuvas intensas, as trovoadas e os tufões (as tempestades tropicais), bem como os elevados valores da precipitação e da temperatura. Quando está hasteado o sinal nº 8 do Código local de Tempestades Tropicais, são interrompidas as ligações marítimas e aéreas com o exterior. A última vez que tal ocorreu foi a 19 de abril de 2008, na passagem do tufão "Neoguri" (cão-guaxinim, em coreano) a ciclone tropical e sua aproximação de Macau. A época mais agradável do ano é o Outono, que começa em outubro, altura em que o Interior da China começa a arrefecer. Nesta época, o clima é quase sempre ameno e o céu limpo. No mês de dezembro as massas de ar frio vindas do Interior da China (norte de Macau) atingem Macau, arrefecendo a sua temperatura. Em janeiro e fevereiro (meses do Inverno), Macau é atingida por mais vagas de ventos frios e secos do Norte da Sibéria vindos do Centro e do Sul da China, arrefecendo ainda mais a sua temperatura, podendo esta descer abaixo dos 10°C. É geralmente nesta época invernal que se registam os valores mais baixos do ano para a temperatura, a humidade relativa e a precipitação. Nos meses de março e abril (período da Primavera), o vento sopra de Leste para Sudoeste, fazendo assim aumentar a temperatura e a humidade. Nesta época do ano, são relativamente frequentes os dias húmidos com chuviscos e com pouca visibilidade. As variações atmosféricas de Macau, que são relativamente grandes entre o Verão e o Inverno, são principalmente causadas pelas monções. Em 2006, os valores absolutos da temperatura máxima (no Verão) e mínima (no Inverno) do ar foram de 36,0 °C e de 6,5 °C, respectivamente, sendo a temperatura média anual aproximadamente de 22 °C. A média da humidade relativa foi de 79,0% e o vento soprou predominantemente do Norte. Demografia. Em 2007, a população de Macau contava com cerca de 538 mil habitantes e é a cidade com maior densidade populacional (18 811 hab./km²) do mundo. O crescimento populacional, nomeadamente da população activa (que contava em novembro de 2007 com mais de 320 mil pessoas) ou mão de obra, registado em Macau é sustentado principalmente pela imigração de pessoas oriundas da China Continental, das Filipinas e de outras partes do mundo, visto que a sua taxa de natalidade é uma das mais baixas do mundo, tendo sido somente registado em 2007 uma taxa de 8,57 ‰. Mas, por outro lado, Macau é um dos lugares com maior esperança de vida à nascença (em média, com cerca de 82,27 anos de idade, em 2007) e com o menor índice de mortalidade infantil (com aproximadamente 4,33 mortes por 1 000 nascimentos). Mais concretamente, em 2007, nasceram em Macau cerca de 4 500 crianças e morreram cerca de 1 500 pessoas. Em novembro de 2007, registaram-se em Macau cerca de 85 mil trabalhadores não residentes (TNR), sendo este elevado número devido ao rápido crescimento económico, que consequentemente originou o aparecimento em massa de postos de emprego, que por sua vez contribuiu para a falta de trabalhadores locais e, em geral, também de mão de obra, quer qualificada quer não qualificada. A maioria da população activa trabalha no sector dos jogos, do turismo e da hotelaria. Somente 2,9% da população activa é desempregada. Composição étnica e idiomas. Em 2006, cerca de 93,9% da população era de nacionalidade chinesa, sendo a maioria dos restantes (6,1%) de nacionalidade portuguesa (1,7%) e de nacionalidade filipina (2%). Relativamente à origem da população residente, em 2006, cerca de 94,3% tem uma ascendência somente chinesa e 5,7% de outras ascendências. Nesta última categoria, incluem-se os residentes com uma ascendência chinesa e portuguesa (0,8%); com uma ascendência chinesa, portuguesa e outra (0,1%); com uma ascendência portuguesa (0,6%); e com uma ascendência portuguesa e outra (0,1%). As línguas oficiais são o português e o chinês. O cantonês é dominado, em 2006, por cerca de 91,9% da população e falado correntemente por cerca de 85,7% da população, tornando-o a língua, ou mais precisamente a variedade do chinês, mais falada de Macau. O português é só dominado por cerca de 2,4% da população e falado correntemente por cerca de 0,6% da população. Os portugueses, ex-administradores de Macau, sempre foram uma minoria étnica nesta região. Mas, mesmo assim, eles deixaram em Macau uma das suas mais importantes e duradouras heranças, os macaenses ou "filhos da terra", que são pessoas que têm uma ascendência (antepassados) portuguesa e chinesa (e também outras de origem asiática, como por exemplo, malaia, indiana, cingalesa) que nasceram e/ou moram ou moraram em Macau. Uma minoria deles ainda sabem falar o patuá macaense, um crioulo de base portuguesa em via de extinção. Religião. Macau, como um ponto de encontro e de intercâmbio entre o Ocidente e o Oriente, é dotada de uma grande diversidade de religiões, como o Budismo, o Confucionismo, o Taoísmo, o Catolicismo, o Protestantismo, o Islamismo e a Fé Bahá'í, que se coexistem harmoniosamente. Porém a esmagadora maioria da população de Macau é adepta ao Budismo. Mas, muitos deles, considerando esta religião como uma concepção genérica, incorporam nela vários elementos e valores do confucionismo, do taoísmo, da mitologia chinesa e de outros costumes, crenças e práticas tradicionais chinesas, sendo uma destas práticas os cultos ancestrais. Todo este conjunto religioso sincretizado e adoptado pelos chineses é chamado vulgarmente por religiões populares chinesas ou crenças populares chinesas ou ainda por crenças tradicionais chinesas. Existe também em Macau uma comunidade considerável de cristãos, sendo a sua maioria membros da Igreja Católica, que está hierarquicamente organizada e estruturada em Macau na Diocese de Macau. Esta diocese foi criada em 1576 e está atualmente na dependência imediata da Santa Sé, abrangendo somente o território da RAEM. Atualmente, Macau conta com cerca de 30,1 mil católicos. Desde 2016, o Bispo de Macau é D. Stephen Lee Bun-sang. Além da presença da Igreja Católica, existe também em Macau uma comunidade de protestantes, que contava, em 2006, com cerca de seis mil protestantes e 70 templos. A chegada do Protestantismo a Macau remonta ao , com a chegada, em 1807, do missionário protestante Robert Morrison. Os residentes de Macau são dotados de uma considerável tolerância e liberdade religiosas. De acordo com o artigo 34.º da Lei Básica da Região Administrativa Especial de Macau, ""os residentes de Macau gozam da liberdade de crença religiosa e da liberdade de pregar, de promover atividades religiosas em público e de nelas participar". E, de acordo com o seu artigo 128.º, "o Governo da RAEM não interfere nos assuntos internos das organizações religiosas…" e "…não impõe restrições às atividades religiosas que não contrariem as leis da Região Administrativa Especial de Macau". Em Macau, todas as confissões religiosas são iguais perante a lei e, de acordo com a Lei n.º 5/98/M, as relações entre o seu Governo e as confissões religiosas assentam-se "nos princípios da separação e da neutralidade"". Criminalidade e segurança pública. Durante várias décadas, a criminalidade violenta era um risco sério para o turismo, pois a cidade não conseguia controlar o crime organizado. Os grupos de crime organizado, designados localmente de "Tríades" ou "Seitas", são transformações de organizações político-revolucionárias, que existiam desde a altura da Dinastia Qing. Com o tempo, essas mesmas organizações foram perdendo a sua identidade e hoje em dia são mais conhecidas como sociedades secretas ou, em chinês, "Hák Sé Wui". Entre eles, os mais conhecidos são os "14 Kilates" ("Sap Sei Kei") e a "Gasosa" ("Soi Fong"). A sua fonte de receitas são: comissões para não desestabilizarem a atividade dos casinos, lojas ou outras atividades comerciais, empréstimos a altíssimas comissões principalmente a jogadores dos casinos, "proteção" aos comerciantes que lhes pagam, droga e lavagem de dinheiro. Na década de 1990 deram-se bastantes assassinatos por ajuste de contas entre tríades, que não atingiram ou interferiram na vida da população normal e inocente. Em maio de 1998, Wan Kuok-koi, o famoso e temido líder da poderosa tríade "14 Kilates", foi detido. Em outubro de 1999, começou o seu histórico julgamento e em novembro, um mês antes da transferência de soberania, foi condenado a 15 anos de prisão e ao confisco de todas as suas possessões ilegais. Após a transferência de soberania, o novo Governo da Região Administrativa Especial de Macau, apoiado pelo Governo Central da República Popular da China, combateu com êxito o crime organizado. Uma guarnição do Exército de Libertação Popular foi colocada em Macau e foi encarada como uma mais-valia, um apoio ao combate à criminalidade. O número de crimes reduziu-se de forma considerável, principalmente a criminalidade violenta que desceu 70% no ano 2000 e outros 45% no ano 2001. Macau tornou-se muito mais seguro e isto trouxe de novo confiança aos turistas. Esta evolução foi também propiciada pela reanimação da economia de Macau. Apesar da diminuição do número de crimes organizados, isto não quer dizer necessariamente que as poderosas e temidas tríades deixaram de existir e de ter influência na sociedade. Mas, em 2006, a criminalidade, principalmente a não organizada, voltou a aumentar de novo, registando-se mais crimes contra a vida em sociedade, embora menos crimes violentos. Política. Governo. O atual estatuto de Macau (Região Administrativa Especial) está definido na Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau e na Lei Básica da Região Administrativa Especial de Macau. A Declaração Conjunta e a Lei Básica especificam que Macau goza de uma elevada autonomia e que o seu sistema económico-financeiro, social, fiscal, de segurança e de controlo da imigração e das fronteiras, bem como a maneira de viver, os direitos e as liberdades dos seus cidadãos (como por exemplo as liberdades de expressão, de imprensa, de edição, de livre saída e regresso de Macau, de associação, de reunião, de desfile e de manifestação, de religião, de organização e participação em greves e em associações, etc.) e, em suma, as suas especificidades, irão manter-se preservadas e inalteráveis, pelo menos, até 2049, 50 anos após a transferência de soberania. Como um exemplo da sua autonomia, esta região administrativa especial pode, por si própria, estabelecer relações, celebrações e acordos com países e regiões ou organizações internacionais com a designação de "Macau, China". Com esta designação, Macau pode também participar, por si própria, nas organizações e conferências internacionais não limitadas aos Estados e em eventos desportivos, como por exemplo. Segundo os princípios de "um país, dois sistemas", de "Administração de Macau pela Gente de Macau" e de "Alto Grau de Autonomia", Macau possuiu uma grande autonomia em todos os aspectos e assuntos relacionados com a RAEM, exceptuando em assuntos relacionados com a defesa e os negócios estrangeiros (política externa) sendo que, nesta última esfera Macau goza ainda assim de alguma autonomia. Esta pequena região mantém a sua própria moeda (pataca), o seu próprio sistema de controlo de imigração e de fronteiras e a sua própria polícia. O poder é exercido por oficiais e administradores naturais de Macau, e não por pessoas e oficiais de República Popular da China. O poder está dividido, tal como na maioria dos sistemas políticos, em 3 partes distintas: o executivo, o legislativo e o judicial. Relativamente ao poder judicial, Macau goza do poder de julgamento em última instância, de acordo com as disposições da Lei Básica. O cargo do Chefe do Executivo de Macau é sempre ocupado por um cidadão chinês residente proeminente de Macau. Ele é o dirigente máximo da RAEM e o Chefe do Governo da RAEM, que é o órgão executivo de Macau e composto por 5 Secretarias e 2 Comissariados. Ele é aconselhado pelo Conselho Executivo, composto por 7 a 11 conselheiros. O primeiro Chefe do Executivo foi Edmund Ho Hau-wah. Desde 2009, este cargo passou a ser ocupado por Fernando Chui Sai On. Este cargo político de grande importância é eleito por sufrágio indirecto, mais concretamente seleccionado por uma "Comissão Eleitoral" composta por 400 membros nomeados por associações ou organizações representativas dos interesses dos vários sectores da sociedade de Macau devidamente registadas e regularmente recenseadas, pelos deputados à Assembleia Legislativa de Macau, pelos deputados de Macau à Assembleia Popular Nacional e pelos representantes dos membros de Macau no Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Após a selecção, o Chefe do Executivo ainda tem que ser aceite e oficialmente nomeado pelo Governo Popular Central da República Popular da China. O órgão legislativo da RAEM é a Assembleia Legislativa (AL), composta por 33 membros eleitos ou nomeados de diferentes formas: catorze são eleitos por sufrágio universal directo; doze são eleitos por sufrágio indirecto; e sete são nomeados pelo Chefe do Executivo. A AL é responsável de fazer as leis e tem o poder, nos termos legais, de acusar, questionar e apresentar uma moção de censura contra o Chefe do Executivo, ou comunicar a moção directamente ao Governo Popular Central da RPC para que este decida. Ela também tem o poder de emendar o método de eleição do Chefe do Executivo e da própria AL em 2009. Em cada quatro anos, realizam-se em Macau as eleições legislativas. O sufrágio directo está reservado a todos os cidadãos recenseados de Macau com residência permanente e com uma idade superior a 18 anos. O sufrágio indirecto está apenas reservado para as organizações ou associações locais (eleitores colectivos) que representam os interesses de vários sectores importantes da sociedade, que adquiriram personalidade jurídica há pelo menos sete anos, e que foram oficialmente registadas e regularmente recenseadas. Nas eleições legislativas de 2021, estavam recenseados 323 907 eleitores individuais ou singulares para as eleições por sufrágio directo e 17 886 votantes em representação de 813 eleitores colectivos (pessoas colectivas) para as eleições por sufrágio indirecto. Sistema jurídico e judicial. Segundo a Lei Básica da RAEM, a Região possui um elevado grau de autonomia na gestão dos seus assuntos. O sistema judicial de Macau é autónomo e independente quer do Governo local quer do Governo Popular Central da República Popular da China, e goza inclusivamente o poder de julgamento em última instância. Os órgãos judiciários da RAEM são o Ministério Público; os tribunais de primeira instância, que são subdivididos em Tribunal Judicial de Base e em Tribunal Administrativo; o Tribunal de Segunda Instância; e o Tribunal de Última Instância. O sistema jurídico de Macau é baseado essencialmente no modelo do direito português, e dessa forma faz parte da família dos sistemas jurídicos de raiz continental (romano-germânico). De 1987 a 1999, este sistema jurídico foi completamente modernizado tendo em vista a transferência de soberania de Macau para a República Popular da China. Assim, foram aprovados uma série de novas leis e códigos, incluindo o Código Penal (1995), o Código Civil (1999), o Código Comercial (1999), o Código de Processo Penal (1996) e o Código de Processo Civil (1999). Após a transição, continuaram-se a efectuar grandes reformas no sistema jurídico, como por exemplo o uso da língua chinesa nos tribunais e nas legislações. Apesar de, desde o estabelecimento da RAEM, este sistema sofrer várias alterações, aperfeiçoamentos e adaptações para corresponder à Lei Básica da RAEM e ao novo estatuto de Macau como região administrativa especial, ele continua a ser essencialmente mantido durante pelo menos 50 anos, a contar desde a transferência de soberania (1999), em harmonia com o princípio de "um país, dois sistemas". Por esta razão, toda a legislação existente antes de 1999 foi mantida, excepto uma pequena parte que contrariava a Lei Básica. Do ponto de vista constitucional, o sistema jurídico de Macau caracteriza-se pela existência de um texto com força constitucional na ordem jurídica interna da RAEM, a Lei Básica da Região Administrativa Especial de Macau, promulgada pelo Assembleia Popular Nacional da República Popular da China no ano de 1993. Em regra, as leis nacionais da República Popular da China não têm aplicação na RAEM, excepto aquelas que são expressamente indicadas no Anexo III da Lei Básica. Atualmente, elas são 11 e tratam de assuntos não compreendidos no âmbito da autonomia da RAEM, tais como a defesa nacional e as relações externas. O sector do jogo, sendo uma atividade económica fundamental para Macau, é objecto de regulamentação bastante desenvolvida, tendo por isso um bom e desenvolvido direito do jogo. Em Macau não há pena de morte nem prisão perpétua, visto que elas não estão previstas no Código Penal de Macau. Grande parte da legislação da RAEM pode ser consultada gratuitamente no "website" da Imprensa Oficial de Macau. Cidades-irmãs de Macau. Segue-se uma lista das cidades-irmãs de Macau: Divisão administrativa. Durante o período de administração portuguesa, Macau esteve dividido em 2 municípios ou concelhos (Concelho de Macau e o Concelho das Ilhas) e em sete freguesias. Estes concelhos eram administrados por uma câmara municipal e supervisionados por uma assembleia municipal. Após a transferência de soberania, o novo Governo da RAEM aboliu os municípios e os seus órgãos municipais, criando provisoriamente o Município de Macau Provisório, o Município das Ilhas Provisório, a Câmara Municipal de Macau Provisória, a Câmara Municipal das Ilhas Provisória, a Assembleia Municipal de Macau Provisória e a Assembleia Municipal das Ilhas Provisória. Em dezembro de 2001, estes municípios e órgãos provisórios foram abolidos, dando definitivamente lugar ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), que está subordinado à Secretaria da Administração e Justiça. As freguesias de Macau foram mantidas e passaram a ser reconhecidas pelo Governo como umas meras divisões regionais e simbólicas de Macau, não dispondo de quaisquer poderes administrativos. Elas são sete: Economia. Macau é uma pequena economia de mercado, extremamente aberta e liberal, com livre circulação de capitais, resultante da sua longa história como porto franco. A moeda oficial usada em Macau é a pataca e encontra-se indexada ao dólar de Hong Kong. Macau faz parte da Organização Mundial do Comércio. A economia de Macau é em grande parte baseada no sector terciário, nomeadamente no jogo de fortuna e azar e no turismo. Outras atividades importantes são a indústria têxtil e a produção de fogo-de-artifício, brinquedos, produtos electrónicos e flores artificiais, as transações bancárias e a construção civil. O PIB de Macau, em 2007, era de 19,1 mil milhões de dólares americanos. O PIB "per capita", no ano de 2007, era de dólares americanos. Em 2006, a economia do território assistiu a uma inflação de 5,2% e em 2007 a uma inflação de 5,57%. Porém, um economista destacado de Macau defendeu que os valores reais da inflação estão muito acima dos 5,57%, possivelmente ultrapassando até o valor de 7,5%. O Governo da RAEM sempre conseguiu equilibrar as suas finanças, por isso, em 2006, os seus saldos acumulados ascenderam a mais de 50 mil milhões de patacas. Mas, este equilíbrio fiscal é atualmente muito dependente dos impostos recolhidos no sector do jogo, que sofreu uma liberalização parcial, que só foi possível quando o prazo da concessão do monopólio da companhia de casinos de Stanley Ho (a STDM) no sector do jogo expirou no dia 31 de dezembro de 2001. Na RAEM, a atividade neste sector vital para a economia de Macau assenta em concessões de direito administrativo, sendo que, atualmente e após a liberalização, existem três concessionárias e três subconcessionárias de jogos de fortuna e azar. Devido ao seu grande número de casinos, Macau é chamada de "Las Vegas do Oriente". Em 2005 as somas envolvidas no jogo em Macau equivaleram pela primeira vez às de Las Vegas (cada uma cerca de 5,6 mil milhões de dólares americanos), tornando Macau no principal centro mundial da indústria do jogo. Em 2007, as receitas brutas do sector do Jogo de Macau foram contabilizadas aproximadamente nos 83,8 mil milhões de patacas, isto é, cerca de 10,5 mil milhões de dólares americanos. Em 2007, houve mais de 27 milhões de turistas que escolheram Macau como destino de viagem, sendo que 55,08% eram oriundos da China Continental. Este crescimento deve-se principalmente à diminuição de restrições de viagem pelo Governo Central Chinês. Após a diminuição gradual destas restrições, os chineses passaram a poder obter vistos individuais de viagem, podendo viajar livremente para outros países e regiões, principalmente para Macau e Hong Kong, ajudando a desenvolver grandemente o sector do turismo de Macau. No mês de outubro de 2010, as receitas brutas provenientes da área do Jogo bateram um valor recorde até à data, atingindo as 19 mil milhões de patacas (cerca de 2,375 mil milhões de USD ou 1,706 mil milhões de euros). Este valor relativo apenas ao mês de outubro supera as 13 mil milhões de patacas referentes ao ano todo de 1999, último ano em que Macau esteve sob administração portuguesa. As receitas brutas provenientes da área do Jogo têm continuado a crescer em 2011 e a bater novos máximos, mês após mês. Em maio, as receitas brutas atingiram as 24,306 mil milhões de patacas (cerca de 3,03 mil milhões de USD ou 2,1 mil milhões de euros). Trata-se de um crescimento de 42,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Para melhor se compreender a dimensão astronómica desta quantia, estima-se que a manter este ritmo, as receitas brutas da área do Jogo em Macau em 2011 se aproxime das 290 mil milhões de patacas ou 25 mil milhões de euros (ao câmbio atual de € 1 = MOP 11,61) que é praticamente o mesmo valor do empréstimo do FMI a Portugal em 2011 (26 mil milhões de euros). Infraestrutura. Saúde. Segundo as estatísticas governamentais, em 2007, Macau contava com 1226 médicos (em média cerca de 2,3 médicos por cada 1 000 habitantes), 1335 enfermeiros (em média cerca de 2,5 enfermeiros por cada 1000 habitantes) e 1014 camas hospitalares disponíveis ao internamento (em média cerca de 1,9 camas por cada 1 000 habitantes). Enquanto que a média para o número de médicos e enfermeiros "per capita" está acima da média global (apesar de ainda estar longe da média europeia), a média do número de camas de internamento "per capita" está muito abaixo da média global, que é cerca de 3 camas por cada 1 000 habitantes. Em 2005, o Governo da RAEM gastou 1,56 mil milhões de patacas, tendo registado um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Mas, mesmo com todo este investimento, o sistema de saúde pública de Macau, para além da falta de camas de internamento hospitalar, defronta ainda vários problemas, como por exemplo a lentidão ou morosidade de atendimento dos doentes e ainda a falta de pessoal especializado em certos serviços e áreas específicas da medicina. O Governo tutela e oferece à população vários tipos de serviços de saúde, destacando-se os cuidados de saúde primários e básicos, que são atualmente disponibilizados por sete centros de saúde e 2 estações de saúde pública espalhados pela RAEM, e os cuidados de saúde diferenciados e especializados, que são principalmente disponibilizados pelo Centro Hospitalar Conde de São Januário. Este centro hospitalar, fundado em 1874, é atualmente o único hospital público desta região e, em 2005, era composta por 230 médicos, 532 enfermeiros e 544 camas, sendo 476 pertencentes ao Serviço de Internamento. Além do Governo, existe também muitas entidades privadas, como por exemplo o Hospital Kiang Wu, o Dispensário dos Operários, a Clínica da Associação de Beneficência Tung Sin Tong e tantas outras clínicas privadas, que prestam serviços de saúde. Várias destas entidades recebem apoio financeiro de associações locais e do Governo, como por exemplo o Hospital Kiang Wu. Este hospital privado foi fundado pelos chineses em 1871 e, em 2005, era composta por 237 médicos, 356 enfermeiros, 195 técnicos e 445 trabalhadores com outras funções. O Hospital Kiang Wu dispõe também de um Centro Médico na Taipa, construído em outubro de 2005, para servir principalmente os moradores da Taipa. Em Macau e no ano de 2005, as principais causas de morte foram as doenças do sistema circulatório (32,1%), os tumores (28,2%) e as doenças do sistema respiratório (16,5%). Assistência e segurança social. Em 2005, as despesas do Governo da RAEM nos serviços sociais foram mais de 401 milhões de patacas, tendo registado um aumento de 38,88% em relação ao ano anterior. No mesmo ano, o Governo da RAEM, pretendendo dar uma ajuda especial às famílias monoparentais, aos deficientes e aos doentes crónicos, canalizou mais de 20 milhões de patacas para ajudá-los e, com a intenção de ajudar os residentes com mais de 65 anos de idade, criou um subsídio para idosos, que concede anualmente 1 200 patacas a este grupo etário. Este subsídio anual, mesmo criticado por muitas pessoas de Macau por conceder anualmente pouco dinheiro aos idosos, custou ao Governo cerca de 40 milhões de patacas só no ano de 2005. O Governo de Macau, em 1989, criou um regime contributivo de segurança social para proteger os trabalhadores. Este regime ficou sob a responsabilidade do Fundo de Segurança Social (FSS), estabelecido no dia 23 de março de 1990. Esta instituição, que está sob a alçada do Secretário para a Economia e Finanças, possui autonomia administrativa e financeira, sendo as suas receitas principais os lucros provenientes de investimentos privados e principalmente as contribuições dos empregadores, dos trabalhadores, do Governo (1% das suas receitas correntes) e do sector do jogo (uma determinada percentagem das suas receitas brutas). O Fundo de Segurança Social concede aos trabalhadores contribuintes vários tipos de prestações, tais como a Reforma pensionária de velhice, a pensão de invalidez, a pensão social, o subsídio de desemprego, o subsídio de doença, o subsídio de nascimento, o subsídio de casamento, o subsídio de funeral e créditos emergentes das relações de trabalho. Em 2005, conforme os diversos tipos de prestações, a FSS pagou cerca de 229 milhões de patacas. De acordo com a lei, todos os empregadores têm a responsabilidade de inscrever e pagar as suas devidas contribuições, a fim de os seus trabalhadores poderem gozar os benefícios oferecidos pela FSS. Os trabalhadores com pagamento voluntário de contribuições e os trabalhadores por conta própria têm um regime de contribuição diferente. Em 2005, mais de 158 000 trabalhadores contribuintes eram empregados por conta de outrem (incluindo os trabalhadores eventuais e da Administração Pública), mais de 12 mil eram trabalhadores de pagamento voluntário de contribuições e mais de 10 mil eram trabalhadores por conta própria. Transportes. A RAEM é coberta eficazmente por uma rede rodoviária, cuja extensão total atingiu os 368,2 km, no ano de 2004. Esta região chinesa tem também um sistema de transportes públicos relativamente eficiente, cobrindo grande parte da RAEM, apesar de ainda ter vários problemas relativamente graves e urgentes a serem resolvidos, como por exemplo a elevada saturação do sistema e a falta preocupante de condutores de autocarros, que, consequentemente, originou a diminuição do número de autocarros a circularem nesta região. Os dois meios predominantes de transporte público são os autocarros e os táxis. Atualmente, os Transportes Urbanos de Macau S.A.R.L. (Transmac) e a Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM) são as duas únicas companhias que são autorizadas a explorar os serviços de autocarros na RAEM. Relativamente aos táxis, no final de 2005, existe somente cerca de 760 veículos deste tipo a circularem em Macau. O Metro Ligeiro de Macau é o primeiro projecto de transporte sobre carris em Macau. Começou a operar no dia 10 de dezembro de 2019. O sistema é constituído por 1 linha e tem 11 estações. A extensão da linha é de 9,3 km. No final de 2005, havia em Macau mais de 78 000 ciclomotores e motociclos e mais de 68 000 automóveis ligeiros particulares em circulação e foram registadas mais de 17 000 novas viaturas (apresentando um aumento de 15% em relação a 2004). Relativamente ao estacionamento de viaturas, que é um grande problema que necessita de ser resolvido, existe somente em Macau, no ano de 2005, 14 parques de estacionamento concessionados para o uso público, que têm uma capacidade total para 5 928 veículos ligeiros, 250 mini-autocarros, 240 autocarros ou veículos pesados e 609 motociclos, e ainda cerca de 2931 parquímetros. Tudo isto contribui para o agravamento dos problemas relativamente urgentes relacionados com o trânsito em Macau. A península encontra-se ligada à ilha da Taipa por três pontes (Ponte da Amizade, Ponte Governador Nobre de Carvalho e Ponte Sai Van). A ilha da Taipa e a ilha de Coloane encontram-se ligadas entre si pela "Estrada do Istmo", construída sobre o istmo de Cotai. Cotai encontra-se por sua vez ligada à ilha chinesa de Hengqin por uma ponte rodoviária (Ponte Flor de Lótus) e futuramente receberá uma ligação ferroviária. Para estabelecer ligações com o exterior, a RAEM possui um aeroporto internacional, um heliporto e vários portos, que servem ou para o embarque e desembarque de passageiros (destacando-se o Terminal Marítimo do Porto Exterior, também chamado de Terminal Marítimo e Heliporto de Macau) ou para a carga e descarga de mercadorias e também de combustíveis. O transporte marítimo e de helicóptero contribuem de um modo importante para o estabelecimento de ligações frequentes com Hong Kong, Shenzhen, Zhuhai e outras cidades costeiras da Região do delta do rio das Pérolas. Macau também possui o projeto de construir o seu metropolitano, e assim aumentar a eficiência do seu transporte coletivo. Educação. Em 2016, a taxa de alfabetização da população residente com idade igual ou superior a 15 anos era somente de 96,5%, registando porém uma subida de cerca de 0,9% relativamente a 2011. Mas, este número deve-se ao facto de a taxa de alfabetização da população com idade superior ou igual a 65 anos se situar somente nos 81,2%. Relativamente à população com idades entre os 15 aos 19 anos, a sua taxa de alfabetização era de 99,7%, um número muito mais animador. Mas, mesmo assim, os níveis de escolaridade da população de Macau são baixos em relação às outras regiões e países desenvolvidos e mais ricos. Em 2016, só cerca de 23,1% da população activa concluiu o ensino superior, um facto bastante preocupante, dado que Macau, que está a experimentar atualmente um acelerado crescimento económico, necessita de muita mão de obra qualificada e especializada. Em Macau, a escolaridade obrigatória é aplicada de uma forma obrigatória e universal a todos os menores entre os 5 e os 15 anos de idade. A escolaridade gratuita, que é mais abrangente, engloba o ensino infantil ou pré-escolar (de 3 anos e cujo acesso é permitido quando a criança complete 3 anos), o ensino primário (de 6 anos e cujo acesso é permitido quando a criança complete 6 anos), o ensino secundário geral (de 3 anos) e o ensino secundário complementar (de 3 anos). Macau não tem um sistema de ensino próprio e universal, sendo por isso usado pelas escolas o sistema educativo britânico, chinês ou português. As línguas chinesa (o cantonense e o mandarim) e inglesa são dadas praticamente em todas as escolas locais. A língua portuguesa é deixada em segundo plano, muito mais depois do ano de transferência de soberania de Macau (1999), com excepção da Escola Portuguesa de Macau, a Escola Primária Luso-Chinesa da Flora e a Escolas Secundária Luso-Chinesa de Luis Gonzaga Gomes que são, atualmente, as únicas escolas de Macau a oferecer currículos semelhantes aos de Portugal e um ensino em língua portuguesa aos alunos do 1º ano ao 12º ano de escolaridade. Outras línguas estrangeiras, como o francês, também existem como opções. No ano lectivo de 2005/2006, existiam em Macau 86 escolas (13 são públicas ou oficiais, 60 são particulares de escolaridade gratuita e 13 são particulares de escolaridade não gratuita) que ministravam o ensino não superior, contando com mais de 92 mil alunos e de docentes. E também no ano letivo de 2004/2005, existia em Macau dez instituições de ensino superior, sendo quatro públicas e seis particulares. Estas instituições, sendo a mais antiga a Universidade de Macau, contavam com cerca de vinte e seis mil alunos matriculados e docentes e ofereciam juntos um total de duzentos e cinquenta e dois cursos de diploma, bacharelato, licenciatura, pós-graduação, mestrado e doutoramento. Comunicações. Ao contrário de Hong Kong, a rede local de comunicações de Macau não se tornou numa rede em grande escala e ferozmente competitiva. Por esta razão, esta rede sofre uma forte competição de outras redes regionais próximas da RAEM, nomeadamente a de Hong Kong e a da China Continental, cujas redes são, na maioria dos casos, de maior qualidade do que a rede local. Por isso, muitos residentes de Macau escolhem também, muitas vezes em detrimento ou em complementariedade com a rede local, as dezenas de jornais e revistas publicadas e os vários canais e programas de rádio e da televisão emitidos em Hong Kong e na China Continental. A Lei Básica e a Lei de Imprensa da RAEM protege e garante as liberdades de expressão, de edição e de imprensa a todas as pessoas de Macau, e o Governo da RAEM garantiu a total autonomia e liberdade dos meios de comunicação, principalmente os de comunicação social, de informar o público e o papel destes meios na vigilância às acções governamentais. Relativamente à televisão (TV) e ao rádio, existe em Macau: a estação de televisão Teledifusão de Macau, S.A. (TDM), que foi fundada em 1982; as duas estações de rádio Rádio Macau e Rádio VilaVerde Lda a empresa responsável pela distribuição de serviços de televisão por cabo, a TV Cabo Macau, S.A.; e três empresas que fornecem serviços de radiodifusão televisiva por satélite, a Cosmos Televisão por Satélite, a Companhia de Televisão por Satélite China (Grupo) S.A. e a Companhia de Televisão por Satélite MASTV, Limitada. A imprensa só apareceu em Macau durante o , mas foi a partir dos anos 1930 do que os jornais de Macau começaram a desenvolver-se aos passos. Atualmente, publicam-se diariamente, com uma tiragem total superior a 100 000 exemplares, oito jornais (diários) de língua chinesa, sendo o mais antigo o ""Tai Chung Pou" (fundado em julho de 1933) e o mais novo o "San Wa Ou" (fundado em dezembro de 1989). O maior jornal de Macau é o "Ou Mun Iat Pou", fundado em 15 de agosto de 1958, e este exerce uma grande influência na Cidade, representando a maior parte da tiragem total diária. É possuído por uma empresa privada que mantém fortes laços e amizades com o Partido Comunista Chinês. O "Va Kio Pou", fundado em 20 de novembro de 1937, é o segundo maior jornal chinês de Macau. Entre os seis semanários de língua chinesa ainda existentes, o mais antigo é o "Assuntos Correntes"", fundado em 1972. Todos eles, com excepção do Semanário Desportivo de Macau, que divulga notícias relacionados com o desporto, tratam de assuntos de interesse geral da população local. Há cada vez mais pessoas que criticam a imprensa chinesa, por esta ser maioritariamente pró-China e pró-governo e por esta muitas vezes praticar a chamada autocensura, ao evitar, sem ameaça directa de outrem, certos temas sensíveis, por temer represálias da China. Relativamente à imprensa em língua portuguesa, existe em Macau 3 diários, 1 semanário e um suplemento em língua portuguesa lançado pelo diário chinês ""Tai Chung Pou" no dia 10 de setembro de 2007. Com excepçăo do semanário católico "O CLARIM", que foi fundado em 1948, grande parte dos jornais de língua portuguesa que atualmente ainda continuam presentes em Macau foram fundados na década de 1980 do . Em 2014, o "O CLARIM", para além da sua histórica edição em língua portuguesa, passou a disponibilizar também edições semanais em inglês e em chinês, tornando-se assim num semanário trilíngue (português, chinês e inglês). Também se publica vários tipos de revistas em Macau, destacando-se, como por exemplo, a Revista MACAU. Em 1995, os serviços de Internet foram lançados em Macau e em 2000, o Serviço Internet de banda larga, lançado pela CTM, entrou finalmente em serviço. Em 2001, o Governo da RAEM começou a emitir licenças de serviços de Internet para vários operadores, tendo concedido até 2005 licenças definitivas a 17 companhias. Em 2002, o regulamento administrativo sobre a prestação destes serviços foi finalmente publicado. Em 2005, mais de 88 mil pessoas eram utentes da Internet, ou seja, cerca de 18% da população total de Macau, sendo que cerca de 68 000 eram utilizadores registados da banda larga. O atual código de Internet de Macau é ".mo". Cultura. Macau é muitas vezes caracterizado como um ponto de encontro, de coexistência harmoniosa e de intercâmbio multicultural (principalmente entre a cultura chinesa e ocidental), e consequentemente, um sítio onde se convergem muitos valores, crenças religiosas, costumes, hábitos, tradições e estilos arquitectónicos. Esta característica única e própria de Macau constitui uma das suas especificidades mais importantes. Os macaenses, uma das maiores heranças deixadas pela multissecular administração portuguesa de Macau, têm a sua própria cultura e maneira de viver, distinta quer da dos portugueses quer da dos chineses, bem como o seu próprio crioulo, o patuá macaense, que está em vias de extinção. Este crioulo é baseado no português e fortemente influenciado pelo cantonês, pelo malaio e por muitas outras línguas. Tudo isto é fruto do longo e histórico convívio, coexistência e intercâmbio entre as culturas ocidental e oriental. Este encontro harmonioso multicultural é revelado também, como por exemplo, no calendário dos feriados e das festividades de Macau, destacando-se como por exemplo o Ano Novo Lunar Chinês, o Dia do Buda, o Natal e a Páscoa. O Governo da RAEM organiza muitos espectáculos, concertos e atividades e eventos recreativos e culturais, destacando-se o Concurso de Jovens Músicos de Macau (realizado no Verão), a Exposição de Artes Visuais, o Festival Internacional de Música (realizado em outubro) e o Festival de Artes de Macau (realizado em março). Macau possui uma rede de bibliotecas públicas, pondo em disposição ao público mais de 541 000 volumes e 24 000 objectos multimédia; um arquivo histórico (o Arquivo Histórico de Macau), que tem como objectivo principal recolher, tratar, preservar e difundir documentos com valor histórico; muitos museus, destacando-se o Museu de Macau e o Museu Marítimo; e um centro cultural (o Centro Cultural de Macau), que tem aproximadamente uma área de 45 000 km2. A protecção, valorização e preservação do património histórico, arquitectónico e cultural de Macau é uma prioridade importante do Governo da RAEM, sendo este património uma atracção turística de grande importância para Macau. Dezenas de edifícios e lugares históricos, como por exemplo as famosas Ruínas de São Paulo e o Templo de A-Má, foram inclusivamente reconhecidos como fazendo parte da História mundial, visto que ilustram bem um dos primeiros e mais duradouros encontros entre a China e o Mundo ocidental. Por esta razão, foram incluídos na lista do Património Mundial da UNESCO, no dia 15 de julho de 2005. A partir daquele momento, este conjunto arquitectónico histórico passou a chamar-se de Centro Histórico de Macau. Culinária. A culinária de Macau também é uma mistura de culturas. Algumas das delícias da gastronomia da China, principalmente do Sul da China, são a sopa de barbatana de tubarão, a sopa de fitas, o arroz glutinoso e o famoso "dim sum" (點心, diǎnxīn em Mandarim), que é uma mistura riquíssima de pequenos pratos diferentes, servidos principalmente nos restaurantes onde existe o "Yam Tchá" (traduzido literalmente em português: beber chá). Quando se fala sobre a culinária de Macau, é de destacar a culinária dos macaenses, considerada única no Mundo, que nasceu quando as esposas orientais dos portugueses tentavam fazer comidas portuguesas com os ingredientes locais (principalmente os de origem chinesa), mas também com vários ingredientes oriundos de lugares (como por exemplo Malaca, Índia e Moçambique) visitados pelos portugueses na altura dos Descobrimentos. Evidentemente, as tradições culinárias destas esposas influíram nestas comidas, originando a culinária macaense, considerada por muitos como uma genuína gastronomia de fusão. Sopa de lacassá e porco afumado, "min chi" (carne picada), balichão, "tacho" (ensopado de carne e legumes), arroz gordo, cabidela de pato, camarões grandes recheados, chetnim de bacalhau, inhame "chau-chau" com "lap-yôck", galinha assada, caldo de raiz de lótus e caril de galinha são algumas das comidas macaenses populares. Desportos. O Governo da RAEM, para promover o desporto para todos e divulgar junto da população as vantagens do exercício físico na saúde, organiza muitas atividades e eventos, como por exemplo o Dia de Desporto em Família, o Dia do Desporto para Todos, o Festival Desportivo das Entidades Públicas, o Festival Desportivo das Mulheres de Macau e o Dia Internacional do Desafio. Macau possui muitos campos, pavilhões, centros e instalações desportivas de grande qualidade, destacando-se o Estádio Campo Desportivo e a Piscina Olímpica de Macau, sendo quase sempre abertas para o uso público. Esta região administrativa especial possui também uma rede de trilhos (localizado nas ilhas da Taipa e Coloane), piscinas e praias públicas e um número significativo de parques e jardins (atendendo à reduzida área de Macau), oferecendo à população um lugar para praticarem exercícios matutinos ou para frequentarem por puro lazer. O futebol é o desporto mais praticado no território e o que tem mais amantes. Dado a existência de poucos campos de dimensões oficiais para futebol entre 22 jogadores (duas equipes) para atender às necessidades do grande número de praticantes locais de futebol, existe em Macau o futebol jogado a 7, o qual se denominou "Bolinha", praticado em campos de menor dimensão como o existente no Colégio D. Bosco. Existe em Macau dezenas de associações e clubes de futebol, nomeadamente o Clube Desportivo Monte Carlo. As ligas e grande parte das competições de futebol são anualmente organizadas pela Associação de Futebol de Macau, mas devido à pequena população de Macau (cerca de meio milhão), as ligas profissionais são financeiramente inviáveis. A modalidade de futebol de salão (futsal) é também uma das mais praticadas pela juventude de Macau. O hóquei em campo e a pelota basca foram outros desportos que tiveram a sua dimensão em Macau, mas que com o tempo se perderam a sua glória e praticamente desapareceram. O hóquei em patins, muito por influência da comunidade portuguesa, ainda prevalece em Macau como uma boa alternativa de desporto para muitos jovens, além de ténis de mesa, badminton, basquetebol e voleibol. As modalidades relacionadas com artes marciais como o Kung Fu, Karaté, Judo e Taekwondo são muito populares e têm muitos adeptos. A maioria da população mais idosa, principalmente chinesa, opta por praticar Tai Chi, como desporto de manutenção. Macau também organiza muitos eventos e competições desportivas locais. A nível regional e internacional, Macau organiza anualmente o Grande Prémio de Macau e organizou em 2005 os 4º Jogos da Ásia Oriental, em 2006 os 1º Jogos da Lusofonia e em 2007 os 2º Jogos Asiáticos em Recinto Coberto. Uma das atracções de Macau é o Grande Prémio de Macau, uma série de espectaculares corridas de automóveis e motociclos, desde a corrida dos carros clássicos, passando pelos Super-Cars até à Fórmula 3 (a mais esperada). Todos os meses de novembro, e desde o ano de 1954, os melhores pilotos do mundo são convidados a participar num dos circuitos mais emocionantes e perigosos do Mundo. Trata-se de um circuito que percorre o meio da cidade, intercalando longas rectas (Porto Exterior) com as sinuosas curvas do monte da Guia. A curva do Hotel Lisboa é o local onde mais acidentes são registados. Os pilotos mais famosos que passaram neste circuito foram: Ayrton Senna, Michael Schumacher, Mika Hakkinen, Rubens Barrichello, David Coulthard e Ralf Schumacher. Muitos deles usaram o circuito de Macau como trampolim para a Fórmula 1. O piloto chinês Michael Kwan, na prova de "Super Cars", é um dos que mais vezes venceram em Macau, tendo inclusive participado numa das corridas com um recém-fabricado Ferrari F50. Contudo, a dificuldade do circuito e a inexistência de escapatórias têm provocado algumas mortes desde a criação das competições principalmente em motociclos. Durante os dois dias de treino e principalmente durante os dois dias de competição, um número significativo de residentes de Macau e de turistas assistem a estas corridas espectaculares. Em 2003, celebrou-se o 50ª edição do Grande Prémio, com muitas celebrações e festas, incluindo uma demonstração de Fórmula 1. Feriados. Segue-se uma lista dos feriados da Região Administrativa Especial de Macau:
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Moçambique
Moçambique Moçambique, oficialmente designado como República de Moçambique, é um país localizado no sudeste do continente Africano, banhado pelo oceano Índico a leste e que faz fronteira com a Tanzânia ao norte; Maláui e Zâmbia a noroeste; Zimbábue a oeste e Essuatíni e África do Sul a sudoeste. A capital e maior cidade do país é Maputo, anteriormente chamada de Lourenço Marques, durante o domínio português. Entre o primeiro e o , povos bantus migraram de regiões do norte e oeste para essa região. Portos comerciais suaílis e, mais tarde, árabes, existiram no litoral moçambicano até a chegada dos europeus. A área foi reconhecida por Vasco da Gama em 1498 e em 1505 foi anexada pelo Império Português. Depois de mais de quatro séculos de domínio português, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975, transformando-se na República Popular de Moçambique pouco tempo depois. Após apenas dois anos de independência, o país mergulhou em uma guerra civil intensa e prolongada que durou de 1977 a 1992. Em 1994, o país realizou as suas primeiras eleições multipartidárias e manteve-se como uma república presidencial relativamente estável desde então. Moçambique é dotado de ricos e extensos recursos naturais. A economia do país é baseada principalmente na agricultura, mas o sector industrial, principalmente na fabricação de alimentos, bebidas, produtos químicos, alumínio e petróleo, está crescendo. O sector de turismo do país também está em crescimento. A África do Sul é o principal parceiro comercial de Moçambique e a principal fonte de investimento directo estrangeiro. Portugal, Brasil, Espanha e Bélgica também estão entre os mais importantes parceiros económicos do país. Desde 2001, a taxa média de crescimento económico anual do produto interno bruto (PIB) moçambicano tem sido uma das mais altas do mundo. No entanto, as taxas de PIB "per capita", índice de desenvolvimento humano (IDH), desigualdade de renda e expectativa de vida de Moçambique ainda estão entre as piores do planeta, enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) considera Moçambique um dos países menos desenvolvidos do mundo. A única língua oficial de Moçambique é o português, que é falado principalmente como segunda língua por cerca de metade da população. Entre as línguas nativas mais comuns estão o macua, o tsonga, ndau, chuabo e o sena. A população de cerca de 30 milhões de pessoas é composta predominantemente por povos bantus. A religião com o maior número de adeptos em Moçambique é o cristianismo (a denominação católica é a que reúne maior número de adeptos), mas há uma presença significativa de seguidores do islamismo. O país é membro da União Africana, da "Commonwealth" Britânica, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da União Latina, da Organização da Conferência Islâmica, da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral e da Organização Internacional da Francofonia. Etimologia. O nome "Moçambique", primeiramente utilizado para a ilha de Moçambique, primeira capital da colónia, teria derivado do nome de um comerciante árabe que ali viveu, "Musa Al Bik", "Mossa Al Bique" ou "Ben Mussa Mbiki". História. Primeiros povos. Os primeiros povos que habitaram o território do atual Moçambique eram bosquímanos caçadores e recolectores. Entre o primeiro e o , ondas migratórias de povos de línguas bantas vieram de regiões do oeste e do norte de África através do vale do rio Zambeze e depois, gradualmente, seguiram para o planalto e áreas costeiras do país. Esses povos estabeleceram comunidades ou sociedades agrícolas baseadas na criação de gado. Eles trouxeram com eles a tecnologia para extração e produção de utensílios de ferro, um metal que eles usaram para fazer armas para conquistar povos vizinhos. As cidades moçambicanas durante a Idade Média ( ao XVI) não eram muito robustas e pouco restou delas, como o porto de Sofala. O comércio costeiro de Moçambique primeiramente foi dominado por árabes e persas, que tinham estabelecido assentamentos até o sul da Ilha de Moçambique. Assentamentos comerciais suaílis, árabes e persas existiram ao longo da costa do país durante vários séculos. Vários portos comerciais suaílis pontilhavam a costa do país antes da chegada dos árabes, que comercializavam com Madagáscar e com o Extremo Oriente. Domínio português. Desde cerca de 1500, os postos e fortalezas comerciais portuguesas acabaram com a hegemonia comercial e militar árabe na região, tornando-se portas regulares da nova rota marítima europeia para o oriente. A viagem de Vasco da Gama em torno do Cabo da Boa Esperança em 1498 marcou a entrada portuguesa no comércio, política e cultura da região. Os portugueses conquistaram o controle da Ilha de Moçambique e da cidade portuária de Sofala no início do e, por volta da década de 1530, pequenos grupos de comerciantes e garimpeiros portugueses que procuravam ouro penetraram nas regiões do interior do país, onde montaram as guarnições e feitorias de Sena e Tete, no rio Zambeze, e tentaram obter o controle exclusivo sobre o comércio de ouro. Os portugueses tentaram legitimar e consolidar a sua posição comercial através da criação dos Prazos da Coroa (um tipo de sesmaria), que eram ligados à administração de Portugal. Apesar dos "prazos" terem sido originalmente desenvolvidos para serem controlados por portugueses, por conta da miscigenação com os habitantes locais eles acabaram por se tornar centros luso-africanos defendidos por grandes exércitos de escravos africanos conhecidos como cundas. Historicamente, houve escravatura em Moçambique. Seres humanos eram comprados e vendidos por chefes tribais locais e por comerciantes árabes, portugueses e franceses. Muitos dos escravos moçambicanos eram fornecidos por chefes tribais que invadiam tribos guerreiras vizinhas e vendiam seus cativos para os "prazeiros". Embora a influência portuguesa tenha se expandido de forma gradual, o seu poder era limitado e exercido por colonos individuais a quem era concedida uma extensa autonomia. Os portugueses foram capazes de arrancar grande parte do comércio litorâneo dos árabes entre os anos de 1500 e 1700, mas, com a tomada do Forte Jesus de Mombaça (no atual Quénia) pelos árabes em 1698, o pêndulo começou a oscilar na outra direção. Como resultado, o investimento português diminuiu enquanto Lisboa dedicou-se ao comércio mais lucrativo com a Índia e o Extremo Oriente e ao processo de colonização do Brasil. Durante essas guerras, tribos árabes do atual Omã recuperaram alguma parte do comércio da África Oriental a norte de Moçambique. Muitos "prazos" haviam diminuído em meados do , mas vários deles sobreviveram. Durante o outras potências europeias, particularmente os britânicos (Companhia Britânica da África do Sul) e os franceses (Madagáscar), tornaram-se cada vez mais envolvidas no comércio e na política da região em torno dos territórios da África Oriental Portuguesa. No início do , os portugueses mudaram a administração de grande parte de Moçambique para grandes empresas privadas — como a Companhia de Moçambique, a Companhia da Zambézia e a Companhia do Niassa — controladas e financiadas principalmente por britânicos, que estabeleceram linhas ferroviárias para os países vizinhos. Embora a escravidão tenha sido abolida legalmente em Moçambique, no final do as companhias promulgaram uma política de trabalho barato — muitas vezes forçado — para africanos em minas e plantações em colónias britânicas próximas e na África do Sul. A Companhia da Zambézia, a empresa mais rentável, assumiu uma série de participações em "prazeiros" menores e estabeleceu postos militares para proteger as suas propriedades. As companhias construíram estradas e portos para levar os seus produtos ao mercado, incluindo uma ferrovia que liga até hoje o Zimbábue ao porto moçambicano de Beira. Devido ao desempenho insatisfatório e a uma mudança, sob o regime corporativista do Estado Novo de António de Oliveira Salazar, no sentido de um maior controle de Portugal sobre a economia do Império Português, as concessões para as companhias não foram renovadas quando terminaram. Foi o que aconteceu em 1942 com a Companhia de Moçambique, que, contudo, continuou a operar nos sectores agrícola e comercial como uma corporação, e o que já tinha acontecido em 1929 com o término da concessão da Companhia do Niassa. Em 1951, as colónias ultramarinas portuguesas em África foram rebatizadas para províncias ultramarinas de Portugal. Movimento de independência. Com ideologias comunistas e anticoloniais espalhando-se por toda a África, muitos movimentos políticos clandestinos foram estabelecidos em favor da independência de Moçambique. Estes movimentos afirmavam que as políticas e planos de desenvolvimento elaborados pelas autoridades do governo eram voltadas apenas para o benefício da população portuguesa que vivia em Moçambique, sendo que pouca atenção era dada à integração das tribos moçambicanas e ao desenvolvimento das comunidades nativas. De acordo com as declarações oficiais da guerrilha, isso afetava a maioria da população indígena, que sofria tanto com a discriminação patrocinada pelo Estado quanto pela enorme pressão social. Muitos sentiam que tinham recebido muito pouca oportunidade ou recursos para melhorar as suas competências e melhorar a sua situação económica e social a um grau comparável à dos europeus moçambicanos. Estatisticamente, os brancos portugueses de Moçambique eram de facto muito mais ricos e qualificados do que a maioria negra nativa. Como resposta ao movimento guerrilheiro, o governo português iniciou mudanças graduais, com novas políticas sócio-económicas e igualitárias para todos os cidadãos a partir da década de 1960 e, principalmente, da década de 1970. A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) sob comando de Eduardo Mondlane deu início a uma campanha de guerrilha, contra o governo português, em setembro de 1964. Juntamente com os outros dois conflitos já iniciados em outras colónias portuguesas de África Ocidental Portuguesa (Angola) e da Guiné Portuguesa, este entrave político tornou-se parte da chamada Guerra Colonial Portuguesa (1961–1974). Sob a ótica militar, o exército português manteve o controle dos centros populacionais, enquanto as forças de guerrilha procuraram espalhar a sua influência em áreas rurais, especialmente aquelas localizadas ao norte e oeste do país. Após dez anos de guerra e com o retorno de Portugal à democracia através de um golpe militar de esquerda em Lisboa, que substituiu o regime do Estado Novo em Portugal por uma junta militar (a Revolução dos Cravos, de abril de 1974), e na sequência dos Acordos de Lusaka, a FRELIMO assumiu o controle do território moçambicano. Moçambique tornou-se independente de Portugal em 25 de junho de 1975. Após a independência, a maioria dos 250 mil portugueses que viviam em Moçambique deixaram o país, alguns expulsos pelo governo, outros fugindo com medo. Guerra civil. Uma das primeiras ações do novo governo, sob a presidência de Samora Machel, foi estabelecer um Estado unipartidário baseado em princípios marxistas. Cuba e União Soviética foram as primeiras nações a estender os laços diplomáticos ao novo país, ajudando-o também com forças militares, como forma de manter a independência e reprimir a oposição. Logo após a independência, o país foi assolado por uma guerra civil longa e violenta entre forças oposicionistas da anticomunista Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o regime marxista da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Este conflito, combinado com as disputas diplomáticas e envolvimento do governo com movimentos guerrilheiros em países vizinhos, como a Rodésia (em que o governo moçambicano apoiou o grupo guerrilheiro organizado pelo Exército Africano para a Libertação Nacional do Zimbábue (ZANLA) e a África do Sul do regime de "apartheid" (na qual o governo moçambicano proveu ajuda ao grupo capitaneado por Nelson Mandela) além do excesso de planeamento central e implementação de políticas socialistas ineficazes que resultaram nas severas dificuldades econômicas que caracterizaram as primeiras décadas de independência de Moçambique, resultado das práticas adotadas pelo então regime vigente no país. Este período também foi marcado pelo êxodo de cidadãos portugueses, do colapso da infraestrutura nacional, da falta de investimentos em ativos produtivos e da nacionalização, pelo governo, de indústrias de propriedade privada, além de várias crises de fome generalizadas. Durante a maior parte da guerra civil, o governo central comandado pela FRELIMO foi incapaz de exercer controle efetivo fora das áreas urbanas do país, muitas das quais eram controladas a partir da capital, Maputo. Estima-se que a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) tenha exercido controle em áreas que incluíam até 50% das partes rurais de várias províncias, e os serviços de assistência médica de qualquer tipo foram interrompidos por anos. O problema se agravou quando o governo cortou gastos em assistência médica. A guerra civil foi marcada por diversas violações dos direitos humanos cometidas por ambos os lados do conflito, cenário que se tornou ainda pior quando a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) começou a usar táticas terroristas e a atacar civis indiscriminadamente. O governo central executou dezenas de milhares de pessoas ao tentar estender seu controle por todo o país e mandou muitas pessoas para campos de reeducação, onde milhares foram mortos. Durante a guerra, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) propôs um acordo de paz baseado na secessão dos territórios do norte e oeste do país, que passariam a ser a república independente da Rombésia. A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) recusou-se a negociar e reivindicou a soberania sobre todo o território do país. Estima-se que um milhão de moçambicanos tenham morrido durante a guerra civil no país, com cerca de outros 1,7 milhão buscando refúgio em países vizinhos e vários outros milhões tendo que se deslocar internamente por conta do conflito. O regime da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) também deu abrigo e apoiou movimentos rebeldes africanos, como o Congresso Nacional Africano (da África do Sul) e a União Nacional Africana do Zimbábue. Enquanto isso, os governos da Rodésia e da África do Sul (na época sob o regime do "apartheid") apoiavam as forças da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Em 19 de outubro de 1986, Samora Machel voltava de uma reunião internacional na Zâmbia em um Tupolev Tu-134, quando o avião presidencial caiu nos Montes Libombos, perto da localidade sul-africana de Mbuzini. Dez pessoas sobreviveram, mas o presidente Machel e trinta e três outros tripulantes morreram, incluindo ministros e funcionários do governo moçambicano. A delegação soviética das Nações Unidas divulgou um relatório alegando que a sua visita tinha sido prejudicada pelos sul-africanos. Os representantes da União Soviética avançaram com a teoria de que o avião tinha sido desviado intencionalmente por um sinal VOR, usando uma tecnologia fornecida por agentes de inteligência militar do governo sul-africano. Período multipartidário. O sucessor de Machel, Joaquim Chissano, implementou mudanças radicais no país através de reformas, como a mudança da ideologia marxista para a capitalista, e começou negociações de paz com a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A nova constituição moçambicana, promulgada em 1990, previa um sistema político multipartidário, uma economia baseada no livre mercado e eleições livres. A guerra civil findou meados de outubro de 1992, com o Acordo Geral de Paz, que foi mediado primeiramente pelo Conselho Cristão de Moçambique (CCM) e depois assumido pela Comunidade de Santo Egídio. Sob a supervisão das forças de manutenção da paz das Nações Unidas, a paz voltou a ser operada em Moçambique. Até 1993, cerca de 1,5 milhão de refugiados moçambicanos tinham procurado asilo em países vizinhos como Maláui, Zimbábue, Essuatíni, Zâmbia, Tanzânia e África do Sul como resultado da guerra civil e da seca que havia retornado, fenómeno que foi parte da maior repatriação testemunhada na África subsaariana. No entanto, em anos recentes, Moçambique experimentou a volta do conflito armado em 2013, principalmente nas regiões centro e norte do país. Em 5 de setembro de 2014, o ex-presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, assinaram o Acordo de Cessação das Hostilidades, o qual colocou fim às atividades militares hostis e permitiu com que ambos partidos concentrassem-se nas eleições gerais realizadas em outubro de 2014. Porém, logo após as eleições gerais, uma nova crise política emergiu e o país está novamente à beira de um conflito armado. A RENAMO não reconhece o resultado das eleições gerais e demanda o controle de seis províncias — Nampula, Niassa, Tete, Zambézia, Sofala e Manica — locais onde o partido alega ter ganho a maioria dos votos. Geografia. Com km quadrados de área territorial, Moçambique é o 34º maior país do mundo em área territorial, sendo comparável em tamanho à Turquia. Moçambique está localizado na costa sudeste da África. O Rifte Africano Oriental estende-se até ao sul de Moçambique. O ponto mais alto de Moçambique é o Monte Binga, localizado na fronteira do país com Zimbábue, que se eleva a 2 436 metros acima do nível do mar. Moçambique está situado na costa oriental da África Austral, limitado a norte pela Tanzânia, a noroeste pela Zâmbia e Maláui, a oeste pela Essuatíni e pelo Zimbábue, a sul e oeste pela África do Sul e a leste pelo Canal de Moçambique, uma porção do oceano Índico. O país limita-se, ainda, através de suas águas territoriais, com Madagáscar e as Comores, no Canal de Moçambique. A norte do rio Zambeze o território é dominado por um grande planalto, com uma pequena planície costeira bordejada de recifes de coral e, no interior, limita com maciços montanhosos pertencentes ao sistema do Grande Vale do Rifte. A sul é caracterizado por uma larga planície costeira de aluvião, coberta por savanas e cortada pelos vales de vários rios, entre os quais destacando-se o rio Limpopo. A maioria da área terrestre de Moçambique, 70%, é da savana de Miombo, predominantemente decídua. Árvores e arbustos do mesmo género crescem em outros lugares da África, mas em Moçambique os arbustos decíduos são mais altos e mais densos do que em outros lugares. A zona costeira atinge 2 700 km de extensão e é uma das maiores da África. Sabe-se que pelo menos 5 600 espécies diferentes de plantas ocorrem em Moçambique. Existem 250 espécies nativas, das quais 45 só nas montanhas Chimanimani. Outra área famosa pela sua flora é o pantanal que se estende da Área de Conservação de Santa Lúcia, no lado sul-africano, até à cidade de Xai-Xai O Parque Nacional da Gorongosa, localizado na província de Sofala, possui uma área de km quadrados, no extremo sul do grande vale do Rifte da Africa Oriental. A exuberância paisagística e a particularidade da fauna bravia deste Parque tornam-no um dos principais atrativos turísticos. No parque, há a presença de elefantes, a na foz do Zambeze onde predomina o búfalo, além de reservas parciais como a de Gilé e a do Niassa respectivamente a nordeste de Quelimane e nas margens do rio Rovuma. Também no parque da reserva natural de Bazaruto se podem avistar aves exóticas, recifes de corais e espécies marinhas protegidas como dugongos, golfinhos e tartarugas marinhas. Clima. O clima do país é húmido e tropical, influenciado pelo regime de monções do Índico e pela corrente quente do Canal de Moçambique, com estações secas de Maio a Setembro. A pluviosidade anual é alta, especialmente no norte do país. A pluviosidade é mais forte, por um lado, nas terras altas na fronteira com o Zimbábue e o Maláui, e por outro lado, na costa entre Maputo e Beira, a qual está exposta às chuvas acompanhadas de vento durante todo o ano. As temperaturas médias em Maputo variam entre os 13–24 °C em Julho a 22–31 °C em Fevereiro. A estação das chuvas ocorre entre Outubro e Abril. A precipitação média nas montanhas ultrapassa os 2 mil mm. A humidade relativa é elevada situando-se entre 70 a 80%, embora os valores diários cheguem a oscilar entre 10 e 90%. As temperaturas médias variam entre 20 °C no Sul e 26 °C no norte, sendo os valores mais elevados durante a época das chuvas. Seca, desertificação e chuvas causadas por ciclones tropicais estão causando problemas ambientais. As inundações causadas por um furacão em 2000 foram os piores em 50 anos. Centenas de milhares de famílias tiveram que deixar as suas casas. No entanto, a preparação da população para desastres melhorou e os danos causados pelas inundações na primavera de 2007 foram significativamente menores. Na primavera de 2008, grandes evacuações foram realizadas em áreas de inundação. Demografia. De acordo com os resultados do Censo de 2017, Moçambique tem 27 909 798 habitantes, um aumento de 7 330 533 ou 35,6% em relação aos 20 579 265 registados no Censo de 2007. As províncias da Zambézia e Nampula são as mais populosas do país e concentram cerca de 39% da população moçambicana. Composição étnica. Os macuas são o grupo dominante na parte norte do país, os sena e shonas (principalmente ndaus) são proeminentes no vale do Zambeze e os tsongas são predominantes no sul de Moçambique. Outros grupos incluem os macondes, WaYaos, suaílis, tongas, chopes e ngunis (incluindo zulus). Povos bantos compreendem 97,8% da população, enquanto o restante, incluindo africanos brancos (em grande parte de ascendência portuguesa), euro-africanos (mestiços de povos bantos e portugueses) e indianos. Cerca de 45 mil pessoas de ascendência indiana residem em Moçambique. Durante o governo colonial português, uma grande minoria de pessoas de ascendência portuguesa vivia permanentemente em quase todas as regiões do país e moçambicanos com sangue português, no momento da independência do país, eram cerca de 360 mil pessoas. Muitos deles deixaram a região após a independência moçambicana em 1975. Há várias estimativas para o tamanho da comunidade chinesa em Moçambique, sete mil a doze mil pessoas. Idiomas. O português é a língua oficial e a mais falada do país, usada por pouco mais da metade da população (50,4%). Cerca de 39,7%, principalmente a população africana nativa, usam o português como segunda língua e 12,78% falam-no como primeira língua. A maioria dos moçambicanos que vivem nas áreas urbanas usam o português como principal idioma. As línguas bantas de Moçambique, que são as mais faladas no país, variam muito em seus grupos e, em alguns casos, são bastante mal analisadas e documentadas. Além de ser uma língua franca no norte do país, o suaíli é falado em uma pequena área do litoral próxima à fronteira com a Tanzânia; mais ao sul, na Ilha de Moçambique, o mwani, considerado como um dialeto do suaíli, é falado. No interior da área de suaíli, o maconde é o idioma mais falado, separado da área onde ciyao é usado por uma pequena faixa de território de falantes da língua macua. O maconde e o ciyao pertencem a grupos linguísticos diferentes, sendo o ciyao muito próximo da língua mwera da área do planalto Rondo, na Tanzânia. Alguns falantes do nianja são encontrados na costa do lago Maláui, bem como do outro lado do lago na fronteira com o Maláui. Há falantes de emakhuwa, com uma pequena área de língua eKoti no litoral. Em uma área abrangendo o baixo Zambeze, falantes da língua sena, que pertence ao mesmo grupo da língua nianja, são encontrados, com áreas que falam a CiNyungwe rio acima. Uma grande área de língua chona se estende entre a fronteira do Zimbábue e do mar. Anteriormente essa língua era considerada uma variante do ndau, mas agora usa a ortografia chona padrão que surgiu no Zimbábue. Há também grupos falantes da língua tsonga, enquanto o tsua ocorre no litoral e no interior. Esta área de linguagem se estende até a vizinha África do Sul. Ainda relacionados a estes idiomas, mas diferentes, estão os falantes do chope ao norte da foz do Limpopo e os falantes da língua ronga na região imediatamente ao redor da cidade de Maputo. As línguas deste grupo são, a julgar pelos vocabulários curtos, muito vagamente semelhante ao zulu, mas obviamente não são do mesmo grupo linguístico. Há pequenas comunidades falantes do suázi e zulu em áreas de Moçambique imediatamente ao lado da fronteira com a Essuatíni e com KwaZulu-Natal, na África do Sul. Árabes, chineses e indianos falam principalmente português e, alguns, hindi. Indianos provenientes da Índia Portuguesa falam qualquer um dos crioulos portugueses da sua origem, além do português como segunda língua. Religiões. Por força de sua Constituição, Moçambique é um estado laico, sendo expressamente proibido no texto constitucional quaisquer discriminações ou acepções baseadas na religião, garantindo-se, também, a liberdade religiosa a todos os cidadãos. A legislação moçambicana exige que todas as organizações religiosas sejam registradas junto ao Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, embora não sejam aplicadas sanções aos grupos religiosos pela ausência deste registro. Locais de culto também são protegidos por força legal e, de igual modo, também é assegurada a objeção ao serviço militar por razões religiosas. O censo de 2017 revelou que os cristãos formam 56,1% da população (maioria Católica, com cerca de 27,2%) e os muçulmanos compunham 18,9% da população de Moçambique, enquanto 4,8% das pessoas afirmaram praticar outras crenças religiosas, principalmente o animismo. Cerca de 13,9% dos moçambicanos não tinham crenças religiosas e outros 2,5% não especificaram pertencer a algum grupo religioso. Há uma aderência significativa de parte da população à crenças religiosas tribais sincréticas, sendo este um segmento não incluído nas estimativas oficiais governamentais. A Igreja Católica Romana estabeleceu doze dioceses no país (Beira, Chimoio, Gurué, Inhambane, Lichinga, Maputo, Nacala, Nampula, Pemba, Quelimane, Tete e Xai-Xai; arquidioceses são Beira, Maputo e Nampula). Estatísticas para o número de católicos variam entre 5,8% da população na diocese de Chimoio, para 32,50% na diocese de Quelimane. Entre as principais igrejas protestantes no país estão a Congregação Cristã em Moçambique, a Igreja União Baptista de Moçambique, a Assembleia de Deus e os Batistas do Sétimo Dia, este último com cerca de 6.442 membros. Também estão presentes no país os Adventistas do Sétimo Dia, a Igreja Anglicana da África Austral, a Igreja do Evangelho Completo de Deus, a Igreja Metodista Unida, a Igreja Presbiteriana de Moçambique, a Igreja de Cristo e a Assembleia Evangélica de Deus. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Igreja Mórmon) estabeleceu uma presença crescente no país e foi legalmente reconhecida em 1996, tendo começado a enviar missionários para a nação em 1999. Em fevereiro de 2021 este grupo religioso tinha cerca de membros. A Fé Bahá'í tem estado presente em Moçambique desde o início da década de 1950, mas não se identificava abertamente nesse período devido à forte influência da Igreja Católica no governo, que não a reconheceu oficialmente como uma religião mundial. Com a independência, em 1975, o país viu a entrada de novos pioneiros. No total, havia cerca de três mil bahá'ís declarados em Moçambique em 2010. Os muçulmanos estão particularmente presentes no norte do país. Eles são organizados em várias irmandades (do ramo Qadiriya ou Shadhuliyyah). Duas organizações nacionais também existem, o Conselho Islâmico de Moçambique (reformistas) e do Congresso Islâmico de Moçambique (pró-sufismo). Há também importantes associações indo-paquistanesas, assim como algumas comunidades xiitas e ismaelitas. Governo e política. Moçambique é uma república presidencialista, cujo governo é nomeado pelo Presidente da República. O parlamento de 250 membros, denominado Assembleia da República, tem como uma de suas funções, verificar as ações do governo. As eleições legislativas e presidenciais são realizadas a cada cinco anos. A FRELIMO foi o movimento que lutou pela libertação desde o início da década de 1960. Após a independência, passou a controlar exclusivamente o poder, aliada aos países do então "bloco socialista", e introduzindo um sistema político de partido único, semelhante ao praticado naqueles países. O regime provocou a hostilidade dos estados vizinhos segregacionistas existentes na altura, África do Sul e Rodésia, que apoiaram elementos brancos recolonizadores e guerrilhas internas. Esta situação viria a transformar-se numa guerra civil de 16 anos. O fim desse conflito armado foi marcado pela assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), em Roma, Itália, em 1992. No entanto, em 2013, Moçambique presenciou o retorno do conflito armado entre a FRELIMO e a RENAMO, afetando a população principalmente das regiões centro e norte do país. Apesar das inúmeras negociações, um novo acordo de paz ainda não foi concluído. Samora Machel foi o primeiro presidente de Moçambique independente e ocupou este cargo até à sua morte em 1986. O seu sucessor, Joaquim Chissano, negociou o fim da guerra civil e introduziu um sistema multipartidário que integrou o principal movimento rebelde, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Neste novo sistema, a Frelimo permaneceu no poder até os dias actuais, tendo ganho as eleições parlamentares realizadas em 1994, 1999, 2004 e 2009, mesmo com acusações de fraudes. O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), uma dissidência da RENAMO, constituiu-se em bancada parlamentar em Abril de 2010. O MDM atualmente tem dezassete deputados na Assembleia da República, desde as últimas eleições gerais realizadas em 2014. O regime prevalecendo em Moçambique desde inícios dos anos 1990 evidenciou sempre défices democráticos, que o sucessor de Joaquim Chissano, Armando Guebuza, tentou colmatar nos anos 2000. Direitos humanos. O conceito de direitos humanos em Moçambique é uma questão permanente para o país. Durante mais de quatro séculos, Moçambique foi governado pelos portugueses. Após a independência de Moçambique de Portugal, seguiram-se 17 anos de guerra civil, entre a RENAMO e a FRELIMO, até 1992, quando a paz foi por fim alcançada. Armando Guebuza foi então eleito presidente em 2004 e reeleito em 2009, apesar das críticas de que lhe faltava honestidade, transparência e imparcialidade. Isso desencadeou uma série de incidentes de direitos humanos, incluindo assassinatos ilegais, prisões arbitrárias, condições prisionais desumanas e julgamentos injustos. Também houve muitas questões relacionadas com as liberdades de expressão e mídia, liberdade na Internet, liberdade de reunião pacífica e discriminação e abuso de mulheres, crianças e pessoas com deficiência. Muitas destas questões continuam em curso. Em 2018, uma reportagem publicada no jornal português Público alegava que as terras mais férteis de Moçambique, especialmente no corredor de Nacala, estão a deixar de ser exploradas pelos moçambicanos e milhares de camponeses ficam sem terra, e lançados na pobreza, a troco de falsas promessas de multinacionais do sector agrário. Portugal, com a Portucel Moçambique à cabeça, é o país da Europa que mais área explora nesta zona. Relações internacionais. Apesar de alianças que datam da luta de independência continuem a ser relevantes, a política externa de Moçambique tornou-se cada vez mais pragmática ao longo do tempo. Os dois pilares da política externa moçambicana são a manutenção de boas relações com seus vizinhos e de manutenção e expansão de laços com os parceiros de desenvolvimento. Durante os anos 1970 e início dos anos 1980, a política externa do país era indissoluvelmente ligada à Rodésia e África do Sul, bem como pela concorrência das superpotências da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética. A decisão de Moçambique de impor sanções na Organização das Nações Unidas (ONU) contra a Rodésia e negar a esse país o acesso ao mar, fez o governo liderado por Ian Smith realizar ações ostensivas e secretas contra os moçambicanos. Embora a mudança de governo no Zimbábue, em 1980, tenha removido esta ameaça, o governo da África do Sul continuou a apoiar a RENAMO em sua guerra com o governo da FRELIMO. O Acordo de Nkomati de 1984, apesar de falhando em seu objectivo de acabar com o apoio sul-africano à RENAMO, abriu contactos diplomáticos iniciais entre os governos moçambicano e sul-africano. Esse processo ganhou impulso com o fim do regime do "apartheid", que culminou com o estabelecimento de relações diplomáticas plenas com a África do Sul em Outubro de 1993. Embora as relações com os vizinhos Zimbábue, Maláui, Zâmbia e Tanzânia continuassem ocasionalmente tensas, os laços de Moçambique com esses países continuam fortes. Nos anos imediatamente após a sua independência, Moçambique beneficiou de uma assistência considerável de alguns países ocidentais, especialmente dos escandinavos. A União Soviética e os seus aliados, no entanto, tornaram-se os principais defensores económicos, militares e políticos de Moçambique e sua política externa reflectia essa ligação. Isso começou a mudar em 1984, quando Moçambique se tornou membro do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). A ajuda ocidental através de países escandinavos como Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia rapidamente substituiu o apoio soviético. A Finlândia e os Países Baixos estão se tornando fontes cada vez mais importantes de assistência para o desenvolvimento moçambicano. A Itália também mantém boas relações com Moçambique, como resultado de seu papel fundamental durante o processo de paz. As relações com Portugal, a antiga potência colonial, continuarão a ser importantes por muito tempo porque os investidores portugueses desempenham um papel de destaque na economia moçambicana. Moçambique é membro do Movimento Não Alinhado e está entre os membros moderados do bloco africano nas Nações Unidas e em outras grandes organizações internacionais. O país também pertence à União Africana (antiga Organização da Unidade Africana) e à Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral. Em 1994, o governo tornou-se membro de pleno direito da Organização da Conferência Islâmica, em parte para ampliar sua base de apoio internacional, mas também para agradar à considerável população muçulmana do país. Da mesma forma, no início de 1996, Moçambique aderiu com seus vizinhos anglófonos à "Commonwealth" Britânica e, na época, era a única nação que entrou para a organização sem nunca ter feito parte do Império Britânico. No mesmo ano, Moçambique tornou-se membro fundador e primeiro presidente da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e mantém laços históricos, económicos, políticos e culturais estreitos com outros países lusófonos, como Portugal ou o Brasil. Subdivisões. Moçambique está dividido em 11 províncias: As províncias estão divididas em 154 distritos, os distritos subdividem-se em 419 postos administrativos e estes em 1052 localidades, o nível mais baixo da administração local do Estado. Em Moçambique foram criados até ao momento, 65 municípios: 33 criados originalmente em 1997, mais 10 em abril de 2008, mais 10 em Maio de 2013 e mais 12 em 2022. Economia. A moeda oficial é o metical, que substituiu a moeda antiga a uma taxa de mil para um. O metical antigo foi retirado de circulação pelo Banco de Moçambique até o final de 2012. O dólar estadunidense, o rand sul-africano e, recentemente, o euro também são moedas amplamente aceitas e utilizadas em transações comerciais no país. O salário mínimo legal é de cerca de 60 dólares por mês. Moçambique é membro da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC — sigla em inglês). O protocolo de livre comércio da SADC visa tornar a região da África Austral mais competitiva, ao eliminar tarifas e outras barreiras comerciais. Em 2007, o Banco Mundial falou sobre o "ritmo de crescimento económico inflado" de Moçambique e um estudo conjunto do governo e de doadores internacionais no mesmo afirmou que "Moçambique é geralmente considerado como uma história de sucesso na ajuda humanitária". Também em 2007, o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que "Moçambique é uma história de sucesso na África subsaariana." No entanto, apesar deste aparente sucesso, tanto o Banco Mundial quanto a UNICEF usaram a palavra "paradoxo" para descrever o aumento da desnutrição infantil crónica em face ao crescimento do PIB moçambicano. Entre 1994 e 2006, o crescimento médio do PIB foi de aproximadamente 8% ao ano, no entanto, o país continua sendo um dos mais pobres e subdesenvolvidos do mundo. Em uma pesquisa de 2006, três quartos dos moçambicanos afirmaram que nos últimos cinco anos a sua situação económica permaneceu a mesma ou tornou-se pior. O reassentamento de refugiados da guerra civil e reformas económicas bem sucedidas levaram a uma alta taxa de crescimento: o país teve uma recuperação económica notável, atingindo uma taxa média anual de crescimento do PIB de 8% entre os anos de 1996 e 2006 e entre 6% e 7% no período entre 2006 e 2011. As devastadoras inundações do início de 2000 desaceleraram o crescimento económico para 2,1%, mas uma recuperação completa foi alcançada em 2001, com um crescimento de 14,8%. Uma rápida expansão no futuro dependia de vários grandes projectos de investimento estrangeiro, o prosseguimento das reformas económicas e a revitalização dos sectores de turismo, agricultura e transportes. Em 2013, cerca de 80% dos habitantes do país estava empregada no sector agrícola, a maioria dos quais dedicados à agricultura de subsistência em pequena escala, que ainda sofre com uma infraestrutura, redes comerciais e níveis de investimento inadequados. Apesar disso, em 2012, mais de 90% das terras cultiváveis de Moçambique ainda não tinham sido exploradas. Em 2013, um artigo da BBC informou que, desde 2009, portugueses estão a voltar para Moçambique por causa do crescimento da economia local e pela má situação económica de Portugal, devido a crise da dívida pública da Zona Euro. Mais de empresas estatais (principalmente pequenas) foram privatizadas no país. Os preparativos para a privatização e/ou liberalização do sector estão em andamento para as restantes empresas estatais, como as dos sectores de telecomunicações, energia, portos e ferrovias. O governo frequentemente selecciona um investidor estrangeiro estratégico quando quer privatizar uma estatal. Além disso, os direitos aduaneiros foram reduzidos e a gestão aduaneira foi simplificada e reformada. O governo introduziu um imposto sobre valor agregado, em 1999, como parte de seus esforços para aumentar as receitas internas. Em 2012, grandes reservas de gás natural foram descobertas em Moçambique, receitas que podem mudar drasticamente a economia do país. No entanto, a economia de Moçambique tem sido abalada por uma série de escândalos de corrupção política. Em julho de 2011, o governo propôs novas leis anticorrupção para criminalizar o peculato, o tráfico de influência e a corrupção, depois de inúmeros casos de desvio de dinheiro público. Esta legislação foi aprovada pelo Conselho de Ministros do país. Moçambique condenou dois ex-ministros por corrupção desde 2011. Moçambique foi classificado no 123º lugar entre 174 países no Índice de Percepção de Corrupção de 2012 feito pela Transparência Internacional. De acordo com um relatório de 2005 feito pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID — sigla em inglês), "a escala e o âmbito da corrupção em Moçambique constituem um motivo de alerta." Infraestrutura. Saúde. A taxa de fecundidade moçambicana é de cerca de 5,5 nascimentos por mulher. O gasto público em saúde foi de 2,7% do PIB em 2004, enquanto que as despesas privadas em saúde somaram 1,3% no mesmo ano. Os gastos com assistência médica "per capita" era de 42 dólares (PPC) em 2004. No início do , havia três médicos por 100 mil habitantes de Moçambique e a mortalidade infantil era de 100 por mil nascimentos em 2005. Após a sua independência de Portugal em 1975, o governo de Moçambique estabeleceu um sistema de assistência médica primária, que foi citado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um modelo para outros países em desenvolvimento. Mais de 90% da população havia sido vacinada. Durante o período do início dos anos 1980, cerca de 11% do orçamento do governo era voltado para gastos com saúde. No entanto, a guerra civil moçambicana levou o sistema de saúde primária a um grande retrocesso. Entre os alvos dos ataques da RENAMO às infraestruturas do governo entre 1980 e 1992 estavam instalações médicas e educacionais. Em Junho de 2011, o Fundo de População das Nações Unidas divulgou um relatório sobre o estado da obstetrícia no mundo. O documento contém dados sobre a força de trabalho e as políticas relacionadas com a mortalidade neonatal e materna em 58 países do mundo. A taxa de mortalidade materna por 100 mil habitantes em Moçambique era de 550 em 2010, comparado com 598,8 em 2008 e com 385 registrado em 1990. A taxa de mortalidade em menores de 5 anos por nascimentos é de 147. O objetivo deste relatório é destacar maneiras para que os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio da ONU possam ser alcançados, especialmente os objectivos 4 (reduzir a mortalidade infantil) e 5 (diminuir a taxa de morte materna). Em Moçambique, o número de parteiras por 1 000 nascidos vivos é de 3 e o risco de morte para mulheres grávidas é de 1 em 37. A taxa oficial de prevalência da epidemia de HIV na população moçambicana em 2011 foi de 11,5% na faixa etária entre 15 e 49 anos (uma referência comum para as estatísticas de HIV). Este é um valor mais baixo do que o observado em vários dos países vizinhos da África Austral. Para as partes do sul do país (províncias de Maputo e Gaza), os números oficiais são mais do que o dobro da média nacional. Em 2011, as autoridades de saúde estimaram que cerca de 1,7 milhões de moçambicanos eram portadores do vírus HIV, dos quais 600 mil estavam sob tratamento antirretroviral. Em dezembro de 2011, 240 mil pessoas estavam recebendo esse tratamento, e 416 mil pessoas em março 2014. De acordo com o relatório da UNAIDS de 2011, a epidemia de HIV/SIDA em Moçambique parece estar a estabilizar. Através de ONGs de muitos países em desenvolvimento, Moçambique é apoiado pelo resto do mundo. Devido as dificuldades de gestão da ajuda externa e da desigualdade da comunidade local, as ONGs fragmentam o sistema de assistência médica primária do país. O pesquisador de saúde James Pfeiffer argumenta que, além de instalar uma nova estratégia de gestão da ajuda, um novo paradigma de cooperação deve ser constituído, a fim de facilitar o intercâmbio entre os trabalhadores humanitários e os trabalhadores de saúde locais no mundo em desenvolvimento. O novo paradigma vai ajudar a promover um impacto positivo duradouro sobre as instituições de saúde locais e fortalecer o relacionamento profissional entre os trabalhadores da saúde. Segurança alimentar. Estima-se que 64% da população de Moçambique sofre de insegurança alimentar. Este problema prevalece principalmente na região sul do país, onde cerca de 75% da população sofre desse mal. Moçambique está entre os 16 países com “mais alto risco de apresentar níveis crescentes de fome aguda”, diante de um cenário global, onde novos recordes nos níveis de fome no país apenas aumentam. A saúde em Moçambique, é fortemente afetada pela insegurança alimentar do país. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2009 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, cerca de 55% da população de Moçambique vive na pobreza, quase metade é analfabeta, 40% é subnutrida, apenas 47% têm acesso a água potável e existe uma expectativa de vida ao nascer de apenas 59 anos. Moçambique classificou-se em 180º lugar entre 188 países no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Muito disso é resultado da insegurança alimentar no país. O país tem uma das taxas de prevalência de AIDS mais altas do mundo. A prevalência do vírus em Moçambique é mais um ponto de vulnerabilidade para as famílias de baixa renda da zona rural do país; o mesmo agrava níveis de pobreza e malnutrição extremos. Esses fatores colocam em risco a produção agrícola do país. Cerca de 15% de mulheres grávidas entre os 15 e 49 anos de idade estão infetadas pelo vírus. A epidemia tem um carácter heterogêneo em termos geográficos e socioeconômicos. A principal via de transmissão continua a ser sexual em cerca de 90% dos casos em adultos. A agricultura familiar no país, constitui a atividade econômica de grande parte da população, podendo alcançar mais de 75% dos cidadãos. Sendo assim com mais de metade da sua população dependente da agricultura para viver, a segurança alimentar de Moçambique pode ser extremamente volátil e descontrolada. 90% das terras são compostas por fazendas de 10 hectares ou menos e a produção agrícola em grande escala é praticamente inexistente. O país sofre de múltiplas pragas. A mais devastadora de longe para a agricultura é o gafanhoto vermelho, que é endêmico na bacia do rio Púnguè. A geografia de Moçambique é particularmente vulnerável a desastres naturais, como secas e enchentes, com um total de 15 nos últimos 25 anos. Esses eventos prejudicaram muito o setor rural e a economia geral do país. As inundações de 2000, por exemplo, afetaram cerca de 2 milhões de pessoas, enquanto as secas de 1994 e 1996 afetaram 1,5 milhão nas partes sul e centro do país. Embora o país e o restante do continente africano estejam longe de ser os maiores emissores de gases de efeito estufa, são os que mais têm sofrido e estão entre os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas globais. Além disso, poderão ser os mais afetados pela degradação da terra que tem acontecido em diferentes partes do mundo. Os pobres são particularmente vulneráveis aos riscos induzidos pelo clima simplesmente em virtude de sua pobreza. Os praticantes da agricultura familiar têm poucos bens para vender e o seu consumo já é baixo, por isso, em tempos de escassez, não têm muito para os proteger da insegurança alimentar. Moçambique tem um sistema relativamente bem desenvolvido de planos de preparação para desastres a nível distrital. Projetos financiados por doadores e pelo Sistema Nacional de Alerta Rápido ajudam o governo a lidar com os problemas no país. Educação. Desde a independência do domínio português em 1975, a construção e a formação de professores escolares não acompanhou o aumento da população. Especialmente após a Guerra Civil de Moçambique (1977–1992), com matrículas no pós-guerra atingindo máximos históricos devido à estabilidade e o crescimento da população jovem, a qualidade da educação ainda é precária. Todos os moçambicanos são obrigados por lei a frequentar a escola de nível primário, no entanto, um grande número de crianças moçambicanas não vão à escola primária, porque têm de trabalhar para subsistência de suas famílias. Em 2007, um milhão de crianças ainda não iam à escola, a maioria delas de famílias rurais pobres, e quase a metade de todos os professores em Moçambique ainda estavam desqualificados. A escolarização de meninas aumentou de três milhões em 2002 para 4,1 milhões em 2006, enquanto a taxa de conclusão aumentou de 31 mil para 90 mil. Transportes. Existem mais de km de estradas, mas grande parte da rede não é pavimentada. Como nos seus vizinhos da Commonwealth, o sentido de circulação de tráfego em Moçambique é pela esquerda com os condutores do lado direito dos automóveis, sendo portanto um dos únicos dois países lusófonos a possuir esta característica (o outro é Timor-Leste). Existe um aeroporto internacional em Maputo, 21 outros aeroportos pavimentados e mais de 100 pistas de aterragem com pistas não pavimentadas. Na costa do Oceano Índico existem vários grandes portos marítimos, incluindo Nacala, Beira e Maputo. Existem km de vias navegáveis interiores, assim como ligações ferroviárias que servem as principais cidades e ligam o país ao Maláui, ao Zimbabué e à África do Sul. O sistema ferroviário moçambicano foi desenvolvido ao longo de mais de um século a partir de três portos diferentes no Oceano Índico que serviram como terminais para linhas separadas para o interior. As estradas de ferro foram os principais alvos durante a Guerra Civil Moçambicana, foram sabotadas pela RENAMO e estão a ser reabilitadas. Uma autoridade paraestatal, a Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique, supervisiona o sistema ferroviário e os seus portos conectados, mas a gestão tem sido largamente terceirizada. Cada linha tem seu próprio corredor de desenvolvimento. Em 2005, havia km de via férrea, consistindo de km de bitola de 1 067 mm (3 pés e 6 polegadas), compatível com sistemas ferroviários vizinhos e uma linha de 140 km de bitola de 762 mm (2 pés e 6 polegadas), a Ferrovia de Gaza. A rota central da Corporação Ferroviária da Beira liga o porto da Beira aos países sem litoral do Maláui, Zâmbia e Zimbabué. A norte deste, o porto de Nacala também está ligado por via férrea ao Maláui e, ao sul, Maputo está ligado ao Zimbabué e à África do Sul. Essas redes interconectam-se apenas através de países vizinhos. Uma nova rota para o transporte de carvão entre Tete e Beira estava planeada para entrar em serviço em 2010 e, em agosto de 2010, Moçambique e Botsuana assinaram um memorando de entendimento para desenvolver uma estrada de ferro de km através do Zimbabué, para transportar carvão de Serule até um porto de águas profundas na vila de Techobanine, em Moçambique. Cultura. Moçambique é reconhecido pelos seus artistas plásticos: escultores (principalmente da etnia Makonde) e pintores (inclusive em tecido, técnica batik). Artistas como Malangatana, Gemuce, Naguib, Ismael Abdula, Samat e Idasse destacam-se na área de pintura. A música vocal moçambicana também impressiona os visitantes. A timbila chope foi considerada Património Mundial. Artes. A música de Moçambique pode servir a muitos propósitos, que vão desde a expressão religiosa até cerimônias tradicionais. Os instrumentos musicais são geralmente feitos à mão e incluem tambores feitos de madeira e pele de animal, como a lupembe, um instrumento de sopro feito de chifres de animais ou madeira, e a marimba, que é uma espécie de xilofone nativo. A marimba é um instrumento popular entre os chopes da costa centro-sul moçambicana, que são famosos por sua habilidade musical e de dança. A música de Moçambique é semelhante ao "reggae" e ao calipso caribenho. Outros tipos de música são populares em Moçambique, como a marrabenta e outros tipos de música lusófona, como o fado, o samba, a bossa nova e o maxixe. Os macondes são famosos por suas máscaras e esculturas elaboradas de madeira, que são geralmente usadas em danças tradicionais. Existem dois tipos diferentes de esculturas em madeira: as "shetani" (espíritos malignos), que são em sua maioria esculpidas em ébano, e as "ujamaa", que são esculturas em forma de totem que ilustram rostos realistas de pessoas e de várias figuras. Essas esculturas são geralmente referidas como "árvores genealógicas", porque contam histórias de muitas gerações. Durante os últimos anos do período colonial, a arte moçambicana refletiu a opressão pelo poder colonial e tornou-se símbolo da resistência. Após a independência em 1975, a arte moderna passou para uma nova fase. Os dois artistas moçambicanos contemporâneos mais conhecidos e mais influentes são o pintor Malangatana Ngwenya e o escultor Alberto Chissano. Uma boa parte da arte pós- independência, durante os anos 1980 e 1990, reflete a luta política, a guerra civil, o sofrimento, a fome e a luta. Danças tradicionais são geralmente complexas e altamente desenvolvidas em todo o país. Há muitos tipos diferentes de danças tribais, que geralmente são ritualísticas por natureza. Os chopes, por exemplo, atuam em batalhas vestidos com peles de animais. Os homens macuas vestem roupas e máscaras coloridas, dançando sobre palafitas ao redor da aldeia por horas. Grupos de mulheres na parte norte do país realizam uma dança tradicional chamado "tufo", para comemorar feriados islâmicos. Literatura. A literatura moçambicana obteve um maior desenvolvimento no período colonial, lidando com temas nacionalistas. Os escritores mais importantes dessa fase foram Rui de Noronha e Noémia de Sousa. José Craveirinha iniciou-se na literatura na década de 1940, abordando temas da realidade social dos moçambicanos em seus poemas, e provocou a rebelião. É considerado o mais importante poeta moçambicano. José Craveirinha recebeu o Prémio Camões em 1991. Mia Couto, que também ganhou o Prêmio Camões, em 2013, é um dos principais escritores da era contemporânea em Moçambique. Nascido em Beira, recebeu o Prêmio Literário Internacional Neustadt em 2014, tendo sido um dos dois únicos escritores de língua portuguesa a receber tal honraria. Tem-se que uma parte significativa da produção literária moçambicana se deve aos poetas da chamada "literatura europeia". Estes poetas são aqueles que, sendo etnicamente caucasianos, centram toda, ou quase toda a temática de suas obras nos problemas cotidianos de Moçambique, exercendo expressiva influência na identidade nacional do país. Alberto de Lacerda, Reinaldo Ferreira, Glória Sant'Anna, António Quadros, Sebastião Alba e Luis Carlos Patraquim são alguns dos escritores pertencentes a este grupo literário. Culinária. Depois de quase 500 anos de colonização, os portugueses impactaram significativamente a cozinha moçambicana. Culturas como a mandioca (raiz amido de origem brasileira), castanha de caju (também de origem brasileira, embora Moçambique já tenha sido o maior produtor deste produto) e o pãozinho, que são pães franceses trazidos pelos portugueses. O uso de especiarias e temperos, como cebola, louro, alho, coentro, páprica, pimenta, pimentão vermelho e vinho foram introduzidos também pelos portugueses, assim como cana de açúcar, milho, milheto, arroz, sorgo (um tipo de grama) e batatas. Prego (rolo de carne), rissole, espetada (kebab), pudim e o popular Inteiro com piripiri (frango inteiro com molho da planta piri piri), são todos os pratos portugueses comumente consumidos pela população atual de Moçambique. Comunicações. A mídia moçambicana é fortemente influenciada pelo governo. Os jornais têm taxas de circulação relativamente baixas, devido aos altos preços e às baixas taxas de alfabetização. Entre os jornais mais divulgados estão os diários controlados pelo Estado, como o "Noticias" e o "Diário de Moçambique", e o semanário "Domingo". A sua circulação está principalmente confinada a Maputo. A maior parte do financiamento e da receita de publicidade é dada a jornais pró-governo. No entanto, o número de jornais privados com opiniões críticas aumentou significativamente nos últimos anos. Os programas de rádio são a forma mais influente de mídia no país devido à sua facilidade de acesso. As estações de rádio estatais servem um número de ouvintes superior ao das rádios privadas. A Rádio Moçambique é a emissora com o maior número de ouvintes e que foi criada pouco depois da independência de Moçambique. As estações de TV vistas pelos moçambicanos são, entre outras, a TVM, a STV e a TV Miramar. Através de cabo e satélite, os telespectadores podem acessar dezenas de outros canais africanos, asiáticos, brasileiros e europeus. Desportos. O jogador português Eusébio (nascido em Moçambique antes da independência) foi avançado da selecção Portuguesa no Campeonato do Mundo de 1966, levando Portugal às semifinais. A atleta Maria de Lurdes Mutola ganhou duas medalhas olímpicas nos 800 metros, uma medalha de bronze nas Olimpíadas de 1996, em Atlanta e uma medalha de ouro, nas Olimpíadas de 2000, na Austrália. Os desportos mais populares de Moçambique são basquetebol, futebol e atletismo. A jogadora de basquetebol Clarisse Machanguana jogou na WNBA. A selecção moçambicana de futebol disputou quatro vezes a Copa das Nações Africanas, mas nunca disputou uma taça do mundo.
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Micronação
Micronação Uma micronação é uma entidade cujos membros afirmam pertencer a uma nação independente ou Estado soberano, mas que carece de reconhecimento legal por governos mundiais ou grandes organizações internacionais. A maioria é geograficamente muito pequena, mas varia em tamanho de menos de um metro quadrado a mais de um milhão de quilômetros quadrados (Westarctica). Eles são geralmente o resultado de um único indivíduo. Uma micronação expressa uma reivindicação formal e persistente, ainda que não reconhecida, de soberania sobre algum território físico. As micronações são distintas dos verdadeiros movimentos secessionistas; as atividades das micronações são quase sempre triviais o suficiente para serem ignoradas em vez de desafiadas pelas nações estabelecidas cujo território elas reivindicam. Várias micronações emitiram moedas, bandeiras, selos postais, passaportes, medalhas e outros itens relacionados ao Estado, muitas vezes como fonte de receita. O termo "micronação" para descrever essas entidades data pelo menos da década de 1970. O termo "micropatrologia" às vezes é usado para descrever o estudo de micronações e microestados por micronacionalistas, alguns dos quais se referem a Estados-nação soberanos como "macronações". As micronações contrastam com os microestados, que são Estados soberanos pequenos, mas reconhecidos, como Andorra, Bahrein, Liechtenstein, Mônaco, San Marino, Singapura e Cidade do Vaticano. Eles também são distintos de países imaginários e de outros tipos de grupos sociais (como ecovilas, campi, tribos, clãs, seitas e associações comunitárias residenciais). Definição. As micronações geralmente têm uma série de características comuns, embora possam variar muito. Eles podem ter uma estrutura semelhante a Estados soberanos estabelecidos, incluindo reivindicações territoriais, instituições governamentais, símbolos oficiais e cidadãos, embora em escala muito menor. As micronações costumam ser bem pequenas, tanto no território reivindicado quanto nas populações reivindicadas – embora haja algumas exceções a essa regra, com diferentes micronações tendo diferentes métodos de cidadania. As micronações também podem emitir instrumentos formais, como selos postais, moedas, cédulas e passaportes, e conceder honras e títulos de nobreza. A Convenção de Montevidéu foi uma tentativa de criar uma definição jurídica distinguindo entre Estados e não-Estados. Algumas micronações atendem a essa definição, enquanto outras não, e outras rejeitam a convenção. Algumas micronações como Sealand e Austenasia rejeitam o termo micronação e se consideram Estados soberanos; outras micronações como Flandrensis ou Molossia, embora também se considerem oficialmente como tal, não têm intenção de serem realmente reconhecidas como Estados reais. História. História inicial e evolução. Martin Coles Harman comprou a ilha britânica de Lundy em 1925, declarou-se rei e emitiu moedas e selos postais privados para uso local. Embora a ilha fosse governada como um feudo virtual, seu proprietário nunca afirmou ser independente do Reino Unido, então Lundy pode ser descrito na melhor das hipóteses como um precursor de micronações territoriais posteriores. Outro exemplo é o Reino de Elleore declarado em 27 de agosto de 1944, quando um grupo de professores comprou a ilha dinamarquesa e ainda existe hoje. Um terceiro exemplo é o Principado da Baldonia Exterior, uma ilha rochosa de 16 acres (65.000 m 2) na costa de Nova Escócia, fundada por Russell Arundel, Presidente da Pepsi Cola Company (mais tarde: PepsiCo), em 1945 e compreendendo uma população de 69 pescadores. História durante 1960 a 1980. As décadas de 1960 e 1970 testemunharam a fundação de uma série de micronações territoriais. O primeiro deles, Sealand, foi estabelecido em 1967 em uma plataforma abandonada da Segunda Guerra Mundial no Mar do Norte, ao largo da costa leste da Inglaterra, e ainda sobrevive. Outros foram fundados em princípios libertaristas e envolveram esquemas para construir ilhas artificiais, mas apenas três são conhecidos por terem tido sucesso limitado na realização desse objetivo. A República da Ilha das Rosas era uma plataforma de 400 m 2 (4.300 pés quadrados) construída em 1968 em águas nacionais italianas no Mar Adriático, a 11 km da cidade italiana de Rimini. É conhecido por ter emitido selos e por ter declarado o esperanto como sua língua oficial. Logo após a conclusão, no entanto, foi apreendido e destruído pela Marinha italiana por não pagar impostos estaduais. No final da década de 1960, Leicester Hemingway, irmão do autor Ernest, estava envolvido em outro projeto semelhante – uma pequena plataforma de madeira em águas internacionais na costa oeste da Jamaica. Este território, composto por uma barcaça de 8 pés (2,4 m) por 30 pés (9,1 m), ele chamou de "Nova Atlântida". Hemingway era um cidadão honorário e presidente; no entanto, a estrutura foi danificada por tempestades e finalmente saqueada por pescadores mexicanos. Em 1973, Hemingway teria se mudado da Nova Atlântida para promover uma plataforma de 840 m 2 perto das Bahamas. O novo país foi chamado de "Tierra del Mar" ("Terra do Mar"). (A cidade natal adotada por Ernest Hemingway, Key West, mais tarde fez parte de outra micronação; veja República Concha.) A República de Minerva foi criada em 1972 como um projeto libertário de um novo país pelo empresário de Nevada, Michael Oliver. O grupo de Oliver conduziu operações de dragagem nos recifes de Minerva, um banco de areia localizado no Oceano Pacífico ao sul de Fiji. Eles conseguiram criar uma pequena ilha artificial, mas seus esforços para garantir o reconhecimento internacional tiveram pouco sucesso, e a vizinha Tonga enviou uma força militar para a área e a anexou. Em 1º de abril de 1977, o bibliófilo Richard Booth declarou a cidade galesa de Hay-on-Wye um reino independente com ele mesmo como seu monarca. A publicidade pode ter ajudado a indústria do turismo da cidade com base em interesses literários, e "King Richard" (cujo cetro era um desentupidor de vaso sanitário reciclado) concedeu títulos e honras de Hay-on-Wye a qualquer um disposto a pagar por eles. Micronações japonesas na década de 1980. Em 1981, baseando-se em uma reportagem sobre a "Nova Atlântida" de Leicester Hemingway, o romancista Hisashi Inoue escreveu uma obra de realismo mágico de 700 páginas, "Kirikirijin", sobre uma vila que se separa do Japão e proclama seu dialeto marginalizado e vulgar sua língua nacional, e sua subsequente guerra de independência. Isso, sozinho, inspirou um grande número de aldeias japonesas, principalmente nas regiões do norte, a "declarar independência", geralmente como um movimento para aumentar a conscientização de sua cultura e artesanato únicos para os japoneses urbanos que viam a vida da aldeia como atrasada e inculta. Essas micronações chegaram a realizar "cúpulas internacionais" de 1983 a 1985, e algumas delas formaram confederações. Ao longo da década de 1980 houve um "boom de micronação" no Japão que trouxe muitos turistas urbanos para essas aldeias rebeldes. Mas o duro impacto econômico da bolha japonesa de preços de ativos em 1991 acabou com o boom. Muitas das aldeias foram forçadas a se fundir com cidades maiores, e as micronações e confederações foram geralmente dissolvidas. Desenvolvimentos na Austrália e Nova Zelândia. Desenvolvimentos micronacionais que ocorreram na Nova Zelândia e na Austrália nas três últimas décadas do século XX incluíram: As micronações estabelecidas na Austrália não têm legitimidade jurídica. Efeitos da Internet. O micronacionalismo abandonou muito de seu manto "anti-establishment" tradicionalmente excêntrico e assumiu uma perspectiva distinta de "hobby" em meados da década de 1990, quando a popularidade emergente da Internet tornou possível criar e promover entidades estatais em um meio totalmente eletrônico com relativa facilidade. Um exemplo inicial é o Reino de Talossa, uma micronação criada em 1979 por Robert Ben Madison, então com 14 anos, que entrou online em novembro de 1995 e foi noticiado no "The New York Times" e em outras mídias impressas em 2000. Como resultado, o número de micronações exclusivamente online, baseadas em fantasia ou simulação se expandiu dramaticamente. A micronação Ladonia coexiste como território físico e como uma grande e ativa comunidade online que se assemelha a um terceiro lugar, distinguindo-se de outras micronações, que são comunidades online ativas ou reivindicam pequenos territórios físicos. Várias micronações territoriais tradicionais, incluindo a província de Hutt River, Seborga e Sealand, mantêm sites que servem principalmente para promover suas reivindicações e vender mercadorias. Micronacionalistas Notáveis. Alguns indivíduos notáveis ​​envolvidos com o micronacionalismo incluem:
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Marxista
Marxista
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Maringá
Maringá Maringá é um município brasileiro do estado do Paraná, sendo uma cidade média-grande planejada e de urbanização recente. É a terceira maior do estado e a sétima da região sul do Brasil em relação a sua população, destacando-se pela qualidade de vida oferecida a seus moradores e por ser um importante entroncamento rodoviário regional. É considerada uma das cidades mais arborizadas e limpas do país. Sua população, conforme o Censo de 2022, era de habitantes, e sua Região Metropolitana com mais de habitantes (dados IBGE/2020). Planejada pela empresa Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná, em 10 de maio de 1947, Maringá foi uma vila e depois, distrito do município de Mandaguari, sendo elevada à categoria de município pela Lei nº 790, de 14 de fevereiro de 1951, desmembrando-se daquele município. Com traçado urbanístico inicialmente planejado e modernista, pelo urbanista Jorge Macedo Vieira, seguindo o princípio de Ebenezer Howard de cidade-jardim, sofreu crescimento acelerado nas décadas seguintes. Ainda assim, o município mantém índices de qualidade de vida elevados, preservando no perímetro urbano grandes áreas de mata nativa como o Horto Florestal, o Parque dos Pioneiros (bosque II) e o Parque do Ingá, sendo este último aberto ao público. Inclui ainda fragmentos menores como o Parque do Cinquentenário, ou áreas particulares e uma grande rede de áreas de conservação de fundos de vale. Etimologia. Segundo a Nova História da MPB - Volume 22, o nome do município deu-se porque os operários cantavam a música "Maringá, Maringá" (de Joubert de Carvalho) noite e dia, durante seus trabalhos. Fato é que, na placa da Rua Joubert de Carvalho, está escrito: "Compositor da música que deu o nome à cidade". História. Fundação. O município tem origem com a colonização do norte do Paraná, que teve início no fim do século XIX. A região, que era predominantemente ocupada por florestas de mata atlântica, atraiu a atenção de produtores rurais paulistas e mineiros devido à presença da "terra roxa", do italiano, terra rossa (vermelha), originada da decomposição do basalto e extremamente fértil. O principal interesse dos fazendeiros era a aumentar a área de produção de café. Para solucionar os problemas de logística da região, um grupo de fazendeiros da região, liderados pelo paulista Antonio Barbosa Ferraz, promoveu a construção de uma estrada de ferro ligando a cidade paranaense Cambará, no “norte velho”, a Ourinhos, no interior de São Paulo. Em 1923, uma comitiva liderada por Edwin Samuel Montagu, ex-secretário de finanças do tesouro do Reino Unido, veio ao Brasil para negociar uma dívida que o país possuía junto a credores britânicos. Entre os membros da comitiva estava Simon Joseph Fraser, o 16º Lorde Lovat da Escócia, que viajou para procurar terras férteis para cultivar algodão para a indústria têxtil britânica. Lorde Lovat visitou propriedades do interior paulista e, seguindo a trilha das fazendas de café, chegou ao norte do Paraná. Colonização. A fertilidade da terra roxa que atraíram paulistas e mineiros à região alguns anos antes também agradou o britânico, que decidiu investir na plantação de algodão na região e fundou a empresa Brazil Plantation Sindicate, empresa responsável pelo gerenciamento de suas propriedades em terras brasileiras, que mais tarde foi absorvida pela Companhia de Terras Norte do Paraná, que planejou a colonização da região com a formação de quatro núcleos urbanos, que teriam aproximadamente 100 km de distância uns dos outros: Londrina, Maringá, Cianorte e Umuarama. Essas cidades seriam os grandes centros prestadores de serviços da região, sendo interligadas por uma única ferrovia. Entre essas cidades, a cada 15 km aproximadamente, deveriam surgir cidades menores, que teriam a função de ser um ponto de apoio para as propriedades rurais da região, abastecendo-as com produtos de necessidade básica que não eram produzidos no campo, como sal, produtos de higiene pessoal, querosene, roupas, entre outros. A divisão dos lotes promovida pela Companhia de Terras Norte do Paraná foi planejada para aproveitar o máximo possível os recursos naturais e logísticos da região. Todas as propriedades deveriam fazer divisa com uma corrente d’água ao fundo, aproveitando os fartos recursos hídricos locais; e com uma estrada de rodagem à frente, para facilitar o escoamento da produção. O primeiro lote de Maringá, de numeração 1/A, foi adquirido pelo padre alemão Emílio Clemente Scherer, que chegou ao país em 1938, fugindo do nazismo. O padre Scherer é considerado o primeiro pioneiro desbravador de Maringá. A propriedade que ele adquiriu, foi batizada de Fazenda São Bonifácio. Foi nesta propriedade que, a 12 de fevereiro de 1940, surgiu a primeira igreja do município, a Igreja São Bonifácio, construída com madeira retirada de árvores cortadas na própria fazenda. Em 1942, surgiu também um pequeno povoado que servia como ponto de apoio aos desbravadores que já começavam a trabalhar nas propriedades rurais locais, o chamado "Maringá Velho". Já a Capela Santa Cruz foi o primeiro templo religioso na zona urbana, sendo construída em madeira em 1945. Preservada, encontram-se no seu interior quadros e imagens sacras, algumas vindas da Espanha. Planejamento urbanístico. O projeto da cidade de Maringá é datado de 1943 e assinado pelo urbanista paulista Jorge de Macedo Vieira, adepto do conceito de "Cidade Jardim" elaborado pelo britânico Ebenezer Howard e responsável pelo projeto de vários bairros de São Paulo. O traçado do município foi desenhado com largas avenidas, canteiros que valorizavam o paisagismo e ruas que seguiam a inclinação natural do relevo o mais fielmente possível. O planejamento contemplava também a divisão da cidade por zonas, de acordo com a função. A região central concentraria o centro cívico, a Zona 1 seria destinada ao comércio e à prestação de serviços, as Zonas 2, 4 e 5 seriam residenciais, enquanto as Zonas 3, 6 e 7 seriam zonas residenciais operárias, e assim por diante. A cidade foi planejada para comportar até 200 mil habitantes. A fundação oficial de Maringá e data em que a cidade comemora seu aniversário é 10 de maio de 1947, quando a Companhia de Terras Norte do Paraná (que foi adquirida por investidores brasileiros nos anos 1940 e foi rebatizada como Companhia Melhoramentos Norte do Paraná em 1951) abriu um escritório na cidade. Geografia. Poucos rios cercam o município, que tem como principal meio de abastecimento de água o rio Pirapó. A captação de água superficial realizada no rio Pirapó corresponde a 88% da água distribuída, sendo os outros 12% provenientes de cinco poços profundos. Até abril de 2010 a cidade possuía 102.162 ligações de água. Seu território encontra-se entre o interflúvio dos rios Pirapó e Ivaí. O município tem uma área total de 473.064.190 m², sendo 128.260.000 m² de área urbana e 340.864.260 m² de área rural. O solo da região é do latossolo roxo-distrófico. A Região Metropolitana de Maringá foi instituída pela lei complementar estadual 83, de 1998, e compreende os municípios de Ângulo, Iguaraçu, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Maringá, Paiçandu e Sarandi. Em 2005, com a inclusão de Astorga, Doutor Camargo, Itambé, Ivatuba e Presidente Castelo Branco, a população da Região Metropolitana de Maringá passou a ser estimada em habitantes (IBGE/2005), atingindo o mínimo necessário para se enquadrar como área de região metropolitana. Com os catorze municípios, possui uma a área territorial de 3.187,7 km². A lei foi aprovada no Palácio Iguaçu pelo governador Roberto Requião, que convidou o ex-prefeito da cidade de Maringá, João Ivo Caleffi para coordenar a região Metropolitana. Vegetação. A cidade, planejada desde o seu nascimento, oferece uma flora invejável. O ano todo é possível observar as suas ruas arborizadas que produz um ar bom de se respirar, mas especialmente na passagem do inverno para a primavera, muitas árvores explodem em flores. Maringá é considerada uma das cidades mais verdes do Brasil. Maringá possui uma das mais altas taxas de concentração de área verde 26,65 m² por habitante, são 90 alqueires de mata nativa em 17 bosques. Dentre as árvores que mais caracterizam o perfil do município, estão os Ipês (Tabebuia) que florescem principalmente nas cores: Ipê-amarelo|Amarelo, Rosa (Tabebuia palmeri Rose [Contr. U.S. Natl. Herb. 1:109, t. 11. 1891],Roxo e Branco. Tão evidente é a paixão pela árvore que existe um concurso anual de fotografia, capitaneado pela Universidade Estadual de Maringá, que certifica as melhores fotos de ipês. - Acácias, Quaresmeiras, Paineiras, Ipê Roxo, Ipê Amarelo, Pata-de–Vaca, Flamboyant, Jacarandá-mimoso, Tamareira do Oriente, Acácia Imperial, Palmeira Imperial, Sibipirunas e outras,foram utilizadas no projeto paisagístico. Poluição ambiental. Mesmo com os problemas normais dos centros urbanos, Maringá preserva a fama de cidade verde, ecologicamente bem cuidada. Sua origem teve planejamento, projeto urbanístico – reservas florestais, canteiro central, avenidas largas, diversas espécies de árvores que segue um Plano Diretor. A cidade tem uma das maiores frotas de veículos do Paraná e também é um importante entroncamento rodoviário. Por conta disso, alguns pontos da cidade apresentam índices de poluição sonora e atmosférica mais evidentes. Duas regiões problemas são as avenidas Duque de Caxias e a Colombo. Clima. Com a atualização climática do período 1981-2010, Maringá deixou de ter clima subtropical úmido ("Cfa", de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger) e passou a ter um clima tropical de monção ("Am", segundo a tabela citada, devido ao fato de a temperatura média do mês mais frio ter se tornado superior a 18 °C, com o mês menos chuvoso com média de pluviosidade inferior a 60 mm). Por estar situada no Hemisfério Sul, no ponto de afunilamento do extremo sul brasileiro e cortada pela linha do Trópico de Capricórnio, a região de Maringá sofre influência de vários fatores macroclimáticos que originam: migração das massas de ar da zona atlântica, equatorial, tropical e depressão baixa nos meses de verão. No inverno, quando as infiltrações de massa de ar frio da frente polar são comuns, as geadas ocorrem de duas a três vezes por ano. A cidade é marcada pela geada negra que dizimou a agricultura em 1975. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), referentes a 1961 (janeiro a maio) e aos períodos de novembro de 1963 a abril de 1971, setembro de 1975 a fevereiro de 1978, dezembro de 1978 a dezembro de 1984 e desde janeiro de 1986, a menor temperatura registrada em Maringá foi de em 21 de julho de 1981. Temperaturas negativas também ocorreram nos dias 26 de agosto de 1984 e 26 de junho de 1994, ambas com mínimas de . A máxima absoluta atingiu em 6 de outubro de 2020. O maior acumulado de precipitação em 24 horas alcançou em 27 de fevereiro de 1993. Desde novembro de 2006, quando o INMET instalou uma estação automática no município, o menor índice de umidade relativa do ar (URA) foi de 10% na tarde do dia 13 de setembro de 2010 e a maior rajada de vento atingiu () em 22 de dezembro de 2010. Demografia. No censo demográfico de 2022 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do município era de habitantes, apresentando uma densidade populacional de , sendo o 3º município mais populoso do estado (atrás de Londrina e da capital paranaense) e o 63º do país. Maringá possui uma taxa de alfabetização de 95,1%, enquanto sua taxa de urbanização é de 98,4%. O município tinha uma população de 357.077 habitantes de acordo com o Censo 2010; desses 171.748 são homens e 185.369 são mulheres. Além disso, 349.120 são moradores da Zona Urbana e 7.997 moram na Zona Rural. Composição étnica. A região de Maringá apresenta grande influência de imigrantes japoneses, devido ao grande número, estes, formaram a ACEMA; Maringá também teve influência de imigrantes italianos e alemães, na qual os alemães também se reuniram e formaram uma associação, a Associação Cultural Teuto-Brasileira. Depois outros grupos de imigrantes foram chegando, como os portugueses, poloneses, espanhóis, ucranianos, árabes, judeus, entre outros. Segundo o Censo de 2010, a distribuição étnica da população residente em Maringá é composta por 253.161 brancos (70,90%), 78.662 pardos (22,03%), 12.999 amarelos (3,64%), 11.720 negros (3,28%), e 535 indígenas (0,15%). Religião. Maringá é um município com maioria católica, mas com muitas outras denominações religiosas, como batistas, presbiterianos, metodistas, muçulmanos, budistas, espíritas, entre outros. Apesar dos católicos serem a maioria, seu crescimento permanece estagnado, enquanto o número de evangélicos cresceu 2,41%, e o de pessoas que não têm religião caiu 2,03%. A população local é composta por católicos (73,72%), evangélicos (21,15%), além de muçulmanos, budistas, espíritas, ateus e outros (5,13%). Segurança e criminalidade. Maringá foi considerada a cidade mais segura do Brasil, segundo dados do Ipea de 2005, com índice de homicídio de 7,94 para cada 100 mil habitantes. Os índices de criminalidade dessa cidade foram comparáveis aos de Amsterdã, a capital da Holanda. Em 2011, o município registrou 17,7 assassinatos para cada 100 mil habitantes, quase o dobro do preconizado pela Organização das Nações Unidas (ONU): dez mortes. O município conta com efetivo do Exército Brasileiro (Tiro-de-Guerra 05-009), das Polícias Militar (4º BPM), Civil (9ª SDP), Federal, Rodoviária Federal, Rodoviária Estadual e da Guarda Municipal. Política. De acordo com a Constituição de 1988, Maringá está localizada em uma república federativa presidencialista. Foi inspirada no modelo estadunidense, no entanto, o sistema legal brasileiro segue a tradição romano-germânica do Direito positivo. A administração municipal se dá pelo poder executivo e pelo poder legislativo. Até 2020, Maringá teve 17 mandatos no cargo de prefeito. O eleito nas eleições municipais no Brasil em 2020 para ocupar o cargo foi Ulisses Maia, na qual foi reeleito, do Partido Social Democrático (PSD). O poder legislativo da cidade de Maringá é constituído pela Câmara Municipal), composta por 15 vereadores eleitos para mandatos de quatro anos (em observância ao disposto no artigo 29 da Constituição. Cidades-irmãs. Maringá possui as seguintes cidades-irmãs: Economia. Maringá destaca-se hoje pelo setor de comércio e prestação de serviços. A agricultura continua a ser fundamental para Maringá, apesar de sua importância ter diminuído nos últimos anos. A atividade agrícola diversificou-se, e além do café, hoje se plantam milho, trigo, algodão, rami, feijão, amendoim, arroz, cana-de-açúcar, e principalmente, soja. Dentro dos vários segmentos no setor industrial no município de Maringá, temos os de metalmecânica, agroindústria, vestuário, prestação de serviços e turismo. O setor industrial não é tão expressivo como a agricultura, mas vem crescendo. O município tem um parque crescente que lida com tecelagem e agroindústria, mas principalmente confecções. Grandes indústrias, como Cocamar, Coca-Cola, Noma , Romagnole, entre outras, fomentam a geração de empregos no município, e até de outras cidades da região. As indústrias metal mecânica atendem todo o território nacional e exportam também para países da América Latina, uma gama muito grande de produtos. Maringá é o polo da moda no sul do país, contando com o maior shopping atacadista da América Latina, o Mercosul. Recentemente, Maringá também esta se destacando no mercado de software, contando com um consolidado APL- Arranjo Produtivo Local no setor. O Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (CODEM), atualmente em mudança para Conselho de Desenvolvimento Econômico Metropolitano, é um órgão criado por Lei Municipal (4275/96, de 11 de Setembro de 1996), com caráter deliberativo e consultivo e com a finalidade de propor e fazer executar política de desenvolvimento econômico. É constituído por entidades representativas dos diversos segmentos organizados da sociedade. Sua estrutura conta com uma mesa Diretora, um Plenário e 11 Câmaras Técnicas Setoriais. Entre suas funções, o CODEM tem a atribuição de gerir o FMD (Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico), instituído pela Lei Municipal (4274/96, de 11 de Setembro de 1996). As atribuições do CODEM são exercidas em parceria com entidade de sociedade civil e poder público, destacando-se a Prefeitura Municipal, a ACIM (Associação Comercial e Industrial de Maringá), o IDR (Instituto para o Desenvolvimento Regional) e a FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná). Essa parceria reflete o grande lema do CODEM que é: "Comunidade e Governo, juntos determinando nosso futuro". Setor terciário. Maringá conta com cinco grandes "centros comerciais": Shopping Avenida Center, Shopping Cidade, Lar Center Mandacaru Boulevard, Shopping Maringá Park (antigo Aspen Park Shopping Center) e Shopping Catuaí Maringá. Sendo este o segundo maior do interior do Paraná (atrás somente do Shopping Catuaí Londrina). A vocação comercial de Maringá pode ser comprovada pelo dinamismo e pela variedade de artigos oferecidos pelas empresas dos setores de saúde, produtos alimentícios, farmacêuticos, vestuários, eletrodomésticos, ferragens, livrarias, restaurantes, lanchonetes. E, por ser um polo atacadista, os preços dos produtos também são competitivos. Estes fatores reunidos atraem consumidores de várias regiões do Paraná, do sudoeste de São Paulo e de algumas cidades do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. As empresas de Maringá atuam em pelo menos sete segmentos do mercado atacadista: alimentos, armarinhos e miudezas, papéis, vidros, tecidos, madeira, auto peças e eletrodomésticos. Isso sem contar as inúmeras indústrias de confecções, que basicamente comercializam a produção no atacado. Maringá também é um importante polo microrregional na prestação de serviços na saúde, contando com vários hospitais públicos e privados , entre eles:Hospital Universitário - HU da Universidade Estadual de Maringá, Hospital Municipal HMM - Emergência Psiquiátrica, Santa Casa de Misericórdia, Hospital Psiquiátrico de Maringá HPM, Hospital Santa Rita, Hospital Maringá e Hospital Paraná. O município abriga o Maringá e Região Convention & Visitors Bureau, entidade de caráter independente e sem fins lucrativos, cujo objetivo é desenvolver a economia regional através do incentivo ao turismo de eventos. Implantado e mantido pelas iniciativas públicas e privadas ligadas ao setor de turismo e eventos, é responsável pelo desenvolvimento planejado do mesmo, incluindo efetivamente a localidade no circuito turístico nacional e internacional. Subdivisões. Maringá está subdividida em zonas fiscais, começando pela Zona 01 (onde fica localizado o Centro Financeiro da cidade) e terminando na Zona 53, além de bairros, loteamentos e dois distritos (Floriano e Iguatemi). As zonas fiscais tem função meramente administrativa, sendo que apenas as dez primeiras zonas são consideradas também bairros e a maioria está localizada na região central da cidade. Infraestrutura. Urbanismo. Maringá é um modelo de cidade-jardim, projetada pelo urbanista Jorge Macedo de Viera; o seu traçado viário e intensa arborização das ruas asseguram uma peculiar paisagem para a cidade. É a 2ª cidade com melhor saneamento básico do Brasil. Possui 95% de cobertura de esgoto e 100% do esgoto é tratado. Transportes. A cidade de Maringá possui um trânsito moderado para uma cidade da sua estrutura, principalmente ao meio-dia e no fim de tarde, horários em que o comercio e a maioria das estabelecimentos comerciais e industriais fecham as portas. Atualmente a bicicleta representa 6% dos deslocamentos na cidade, o dobro da média nacional, sendo que Maringá possui 41 quilômetros de ciclovias. A cidade também conta com um Terminal Intermodal. Localizado no centro da cidade, é ponto principal do transporte coletivo da cidade. Atualmente funciona apenas como terminal de ônibus, mas futuramente terá uma estação ferroviária em seu subsolo para ligar Maringá a cidades da região, através do chamado "Trem pé-vermelho". O sistema de transporte de Maringá atualmente é executado apenas por uma empresa, a Transporte Coletivo Cidade Canção, empresa do Grupo Comporte, a qual atua por meio de liminar da justiça e sem a devida licitação, ferindo a Constituição de 1988 e a Lei Federal de Licitações 8.666/93. Todo o sistema é operado de forma radial, ou seja, as linhas têm como destino final o centro da cidade (Terminal Urbano Municipal), havendo até então apenas três linhas que ligam os bairros diretamente. Maringá possui um aeroporto para voos domésticos; Aeroporto de Maringá, controlado pelos Terminais Aéreos de Maringá - SBMG S.A. e o Terminal de Cargas Internacional (Teca). O aeroporto opera com voos das empresas Gol Linhas Aéreas, Azul Linhas Aéreas e LATAM Airlines; até meados da década de 2010 operou vôos de empresas internacionais de cargas como LAN Cargo, ABSA Cargo Airline, Florida West Cargo, Tampa Cargo, que faziam as rotas Maringá - Miami; Campinas; Santiago do Chile e também as empresas nacionais de cargas como a Varig Log, a Gol Log e a Azul Cargo, que faziam rotas brasileiras e internacionais. O movimento no aeroporto no ano de 2010 foi de 497.979 passageiros, entre embarques e desembarques.. Maringá sofreu uma drástica redução de vôos devido a pandemia de COVID-19 em 2020, reduzindo a operação a poucos horários e destinos por dia. Em 2021, a demanda se reestabeleceu, abrindo novos destinos e horários operando pelas três principais empresas citadas anteriormente. Por Maringá passam várias rodovias que interligam o estado do Paraná, e que também levam a outros países (Paraguai e Argentina), e estados (Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul). As diversas rodovias que passam por Maringá é dada especial atenção para a PR-323, que está se tornando em uma verdadeira "rodovia da morte". A rodovia estende-se por 210 kms entre as cidades de Maringá e Iporã, passando pelos municípios de Paiçandu, Doutor Camargo, Cianorte, Tapejara, Cruzeiro do Oeste, Umuarama, Perobal e Cafezal do Sul, a rodovia PR-323 possui pavimento asfáltico em pista simples e com movimento de veículos intenso, pesquisa realizada em 2008 por uma organização independente, mostra que o movimento diário ultrapassa 30 mil veículos, em decorrência do movimento inúmeros acidentes são registrados inclusive com mortes, sendo necessário com urgência a sua duplicação. Entre outras importantes rodovias que passam pelo município está a BR-376 e a PR-317. Maringá é atravessada pela Linha Ourinhos-Cianorte da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e conta com o terminal ferroviário da América Latina Logística (ALL), que detém sua concessão e faz o transporte de cargas comerciais, ligando Maringá a vários estados do Brasil, como: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul; além de ligar o município a nove cidades da Argentina através da ferrovia. Educação. A média geral do ENEM 2008 EMR de colégios privados foi de 60,21 e a média geral do ENEM 2008 EMR de colégios públicos foi de 49,07. Há uma instituição pública de ensino superior, a Universidade Estadual de Maringá (UEM), uma das mais disputadas do estado. Sua sede e campus principal estão situados em Maringá. Em 2010, pelo terceiro ano consecutivo, foi considerada a melhor instituição de ensino superior do Paraná, segundo o Índice Geral de Cursos (IGC) do MEC. A UEM possui cursos de destaque em todo o âmbito nacional, os quais atraem estudantes de todo o Brasil. O curso mais concorrido é o de Medicina, que em 2012 alcançou uma concorrência de 365,6 candidatos por vaga no vestibular de inverno. O Campus Sede, com aproximadamente 100 hectares, fica no centro de Maringá, e tem uma população universitária estimada em mais de 18 mil pessoas, sendo 10.046 alunos da graduação, 2.857 mil de pós-graduação, 1.700 de cursos livres, 1.296 professores e 2.414 servidores. A Universidade Estadual de Maringá é um dos principais centros de ensino universitário e de pesquisa científica do estado. A UEM também tem vários campi regionais espalhados pelas seguintes cidades do estado do Paraná: Umuarama, Cianorte, Goioerê, Cidade Gaúcha, Diamante do Norte e Porto Rico. Há setores que defendem a federalização da entidade. O município também conta com diversas instituições privadas de ensino superior, algumas das quais atuando em outros níveis educacionais: Universidade Cesumar, Centro Universitário Ingá, PUC-Maringá, Centro Universitário Internacional UNINTER, Faculdade Tecnológica América do Sul (Colégio Anglo Maringá), Unifamma, Faculdade Maringá e Faculdade Cidade Verde (FCV), Faculdade Alvorada. Contando universidades públicas e privadas, o município conta com mais de 45 mil universitários. Cultura. Eventos e atrações. O maior festival de música do Sul, o Festival de Música Cidade Canção (Femucic), ocorre no município, reunindo músicos de todo o Brasil. Semanalmente a Secretaria de Cultura disponibiliza concertos e espetáculos de dança gratuitos em teatros locais, como o Teatro Barracão. Maringá conta também com dezoito salas de cinema, sendo quatro delas em 3D, uma sala vip, duas Digital Max Screen (tela com 180 m² e som espacial) e um dos maiores e mais modernos teatros do interior do estado do Paraná, o Teatro Calil Haddad, além do teatro Marista. Todos os anos uma mostra de cinema, o Festival de Cinema de Maringá ocorre, reunindo centenas de longas e curtas para exibição e premiação. Ocorre a cada mês de maio, em comemoração às festividades do aniversário do município, uma feira agroindustrial, a "Expoingá". a feira é responsável por trazer a Maringá o que há de novo no setor de tecnologia e maquinário agroindustrial. Outro ponto forte da festa são os rodeios que figuram entre os mais importantes do Brasil. Para completar, durante as noites dos 11 dias de festa são apresentados espetáculos musicais com os principais artistas brasileiros. Segunda maior feira do Brasil, ficando atrás somente da feira de Uberaba (MG), a Expozebu. No mês de agosto ocorre em Maringá o Festival Nipo Brasileiro, que reúne toda a colônia oriental do município, (3º maior concentração de descendentes japoneses no Brasil), na associação ACEMA, o festival tem como objetivo apresentar a população à cultura japonesa muito difundida na região. Tem como principais pontos turísticos: a Catedral de Maringá (Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Glória), segundo monumento mais alto da América do Sul e décimo do mundo com 124 metros de altura; o Parque do Ingá, com 47,3 hectares; o Parque das Grevíleas, com 44,6 hectares. Esportes. Maringá conta com três clubes filiados na FPF, dois disputam a 1ª divisão do paranaense, o Maringá Futebol Clube, que também disputa o Brasileirão Série D e o Aruko Sports Brasil é o caçula da cidade-canção, iniciando seus trabalhos profissionais em 2021. O terceiro, mais tradicional, conquistou 3 vezes o Campeonato Paranaense (1963, 1964 e 1977), é o Grêmio Maringá, que se encontra na segunda divisão estadual. O Estádio Willie Davids é um marco no esporte maringaense, atualmente com capacidade para 23.000 torcedores. O estádio não é somente utilizado para o futebol, mas também para outras modalidades como o atletismo. O estádio já chegou a ter capacidade para 35.000 torcedores, mas com a instalação de cadeiras e melhorias no conforto, teve sua capacidade reduzida. Outros clubes maringaenses que estão extintos ou licenciados são: Grêmio Esportivo Paranaense, Maringá Atlético Clube, Maringá Futebol Clube (anos 1990), Noroeste Futebol Clube, Galo Maringá, Adap Galo Maringá Football Club, Maringá Esporte Iguatemi O Basquete da cidade de Maringá tem reconhecimento estadual como uma das melhores equipes da modalidade do estado, o esporte é representado pelo Maringá Basquete. A equipe coleciona diversos títulos estaduais e nacionais. Dentre as muitas conquistas da equipe é válido ressaltar a sequencia de vitórias se mantendo invicto nos Jogos Abertos de 2003 a 2009 e também a participação na Nossa Liga de Basquete (NLB) com uma das maiores médias de público do campeonato, registrando média de 3.000 torcedores/jogo. O handebol do município tem grande expressão estadual e nacional, representado pela equipe Unimed/UEM/Maringá. Nos naipes masculino e feminino, todas as categorias, sendo elas: infantil, cadete, juventude, juvenil, júnior, adulto e máster. Tem como sua casa o Ginásio Chico Neto. A Associação Maringaense de Handebol, em parceria com a Unimed e Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá, possui um projeto social com crianças entre 9 e 12 anos, distribuído em 20 núcleos de treinamento, espalhados pela periferia e em alguns municípios da Região Metropolitana de Maringá. Com o apoio da Unimed, a A.M.H. e o D.E.F., são fornecidos para cada polo, os materiais esportivos, e também os acadêmicos responsáveis, necessários para a prática da modalidade. Maringá possuí atletas na Seleção Brasileira em praticamente todas as categorias. A cidade possui um time de futebol americano, o Maringá Pyros, que atualmente disputa o Campeonato Paranaense de Futebol Americano e a Liga Nacional de Futebol Americano e treina na Universidade Estadual de Maringá. No dia 9 de Setembro de 2008, após muitas reuniões, é fundada a Associação Atlética Rugby Maringá (A.A.R.M.), contendo os fundadores: Anselmo Mendes, Guilherme Martins, João Galvão, Marcelo Gimenes Valenzuela, Paulo Davantel, Lucas Vieira, Carlos Eduardo Alves, Gabriel Carolenske, Leonardo Castro e André Bordin. Ainda no ano de 2008, já com a colaboração da Prefeitura Municipal de Maringá, a equipe maringaense disputa um torneio na modalidade Rugby 7’s em Cascavel/PR – modalidade a ser disputada nos próximos jogos pan-americanos em Guadalajara e nas olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro – contando, inclusive, com a participação de dois times argentinos e chega ao quarto lugar, recebendo o troféu Fair Play e de melhor jogador da competição pela brilhante atuação do atleta Gustavo Albuquerque. Em 2009 a associação toma mais corpo e busca ainda mais apoio da Administração Pública Maringaense. Recomeça o Campeonato Paranaense de Rubgy com a etapa em Guarapuava e, logo após, em Londrina. Mesmo com boas atuações a equipe não alcança boa colocação. Eis que, na 3ª Etapa do Campeonato Paranaense de Rugby, em Curitiba, o Hawks Rugby Maringá chega na segunda posição, vencendo os jogos contra as fortes equipes de Londrina e Guarapuava e perdendo para a anfitriã Curitiba após uma disputadíssima partida. Com a realização da 4ª Etapa do Campeonato Paranaense de Rugby no dia 27 de junho de 2009 em Maringá, estreitam-se os laços entre a Associação e a Administração Pública, o que possibilita a instalação das traves no campo do Parque Alfredo Nyffeler (conhecido popularmente por “buracão”) e, com isso, a criação do quarto campo oficial de rugby do país. Hoje a AARM consta com aproximadamente 61 associados, sendo que quase todos são também atletas do Rugby. A AARM está criando projetos para difundir o Rugby em Maringá e região, dentre estes projetos, existe um projeto social para ensinar o Rugby a crianças e adolescentes carentes. O futsal é atualmente é o esporte que mais se destaca na cidade. Com Ótimas campanhas no campeonato estadual na chave ouro, a cidade é representada pelo Ciagym/Oppnus Maringá. A equipe nunca conquistou um titulo expressivo, mas já chegou ao final do paranaense em 2008, perdendo à Equipe do Umuarama. Em 2012, o Oppnus Maringá, disputou a Liga Futsal, mas não conseguiu passar da segunda fase. Em 2013, a equipe volta a disputar a Super Liga. Jogos abertos do Paraná e brasileiros são os únicos títulos da equipe. O Futsal maringaense já teve passagens de bons jogadores, como o caso de Vampeta, jogador que atualmente defende uma equipe italiana e também já defendeu a seleção do pais europeu. Na ocasião, a cidade era representada pela Associação Maringaense de Futsal, a Amafusa, que também disputou a Liga Nacional nos anos de 2003 e 2004. Em 2002 a Amafusa também ficou com o vice-campeonato, perdendo a final para a tradicional equipe do São Miguel Futsal. Os títulos da Amafusa são os Jogos Abertos do Paraná e o Campeonato paranaense Chave prata no ano de 2001, equivalente a segunda divisão. O Cesumar/Purity vôlei representou a cidade de Maringá na Superliga Brasileira de Voleibol Masculino em 2008 e a partir de 2013 a equipe Moda Maringá recolocou um time na principal competição de vólei do Brasil. O Moda Maringá manda seus jogos no Ginásio Chico Neto. O beisebol é um esporte bastante forte em Maringá, a cidade que possui um grande número de descendentes de japoneses tem bons jogadores e ainda há um clube em que a prática deste esporte é muito comum, a ACEMA. O tênis também é muito praticado na cidade, há academias somente para a prática do esporte, Academia de Tênis de Maringá (ATM), mas o tênis também é muito praticado em clubes, como Clube Olímpico de Maringá, Country Club de Maringá, Clube Hípico de Maringá, etc.
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Maranhão
Maranhão Maranhão ( é uma das 27 unidades federativas do Brasil, localizada na Região Nordeste englobando a sub-região Meio-Norte do País. O estado faz divisa com três estados brasileiros: Piauí (leste), Tocantins (sul e sudoeste) e Pará (oeste), além do Oceano Atlântico (norte). Com área de e com 217 municípios, é o segundo maior estado da região Nordeste e o oitavo maior do Brasil. Com uma população de habitantes, é o 11º estado mais populoso do país. A capital e cidade mais populosa é São Luís. Eis outros municípios com população superior a cem mil habitantes: Imperatriz, São José de Ribamar, Timon, Caxias, Codó, Paço do Lumiar, Açailândia e Bacabal. Em termos de produto interno bruto, é o quarto estado mais rico da Região Nordeste do Brasil e o 17º mais rico do Brasil. As principais atividades econômicas são a indústria (trabalho de transformar alumínio e alumina, celulose, alimentícia, madeireira), os serviços, o extrativismo vegetal (babaçu), a agricultura (soja, mandioca, arroz, milho) e a pecuária. Entre as Unidades da Federação, possui o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, com 0,676 pontos. Localizado entre as regiões Norte e Nordeste do Brasil, o Maranhão há o segundo maior litoral do país, resultando em uma grande diversidade de ecossistemas. São 640 quilômetros de extensão de praias tropicais, floresta amazônica, diversas variedades de cerrados, mangues, delta em mar aberto, dunas o único deserto do mundo com milhares de lagoas de águas cristalinas. Também é perceptível, na maior parte do ano (entre os meses de maio a novembro), a seca branda na Microrregião das Chapadas do Alto Itapecuru, acentuadamente em São João dos Patos e Barão de Grajaú. Essa diversidade está organizada em cinco polos turísticos, cada um com seus atrativos naturais, culturais e arquitetônicos. São eles: o polo turístico de São Luís, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, o Parque Nacional da Chapada das Mesas, o Delta do Parnaíba e o polo da Floresta dos Guarás. Com redução de altitudes e regularidade da topografia, apresenta-se um relevo modesto, superior a 90% da superfície inferior a 300 metros. Tocantins, Gurupi, Pindaré, Mearim, Parnaíba, Turiaçu e Itapecuru são os rios mais importantes e pertencem às bacias hidrográficas do Parnaíba, do Atlântico Nordeste Ocidental e do Tocantins-Araguaia. O Rei de Portugal Dom João III dividiu a região do Maranhão em duas capitanias hereditárias, que o monarca entregou a Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade, no ano de 1535 (região descrita como "grande baía com uma ilha"). A partir de então, até os franceses estabelecerem-se em 1612 (França Equinocial), o conhecimento da área não foi tomado por Portugal. Em 1615, no contexto da Conquista do Nordeste e Conquista da Amazônia (período de combate as forças estrangeiras que estabeleceram fortificações na região), uma expedição com portugueses e brasileiros partiu da Capitania de Pernambuco, sob ordem do Governador Geral da Armada e Conquista do Maranhão Alexandre de Moura e liderança de Jerônimo de Albuquerque, visando expulsar os franceses e consolidar o domínio português e, por conseguinte, sua habitação. Como recompensa pelo êxito na empreitada, o General nomeou Jerônimo de Albuquerque Capitão-Mor da Conquista do Maranhão e, em 1621, foi instituído o Estado do Maranhão, por Filipe II de Portugal (e Filipe III da Espanha) no Norte do América Portuguesa, porém instalado em 1626 devido aos conflitos com os holandeses. Sendo o novo Estado uma colônia independente e autônoma do Estado do Brasil, a criação da Capitania do Maranhão ocorreu em paralelo à fundação do Estado do Maranhão, ficando a Capitania subordinação ao Estado. Em 1641, os neerlandeses ocupam a ilha de São Luís, donde foram expulsos pelos portugueses em 1644 consolidado o domínio português, Em 1654, criou-se o Estado do Maranhão e Grão-Pará, devido ao progresso e ascensão da região de Belém, e à verificação pela Coroa Portuguesa que tal organização administrativa favorecia apenas a interesses pessoais de donatários e sesmeiros. Em 1774, dividiu-se Estado em duas unidades administrativas por Marquês de Pombal: o Estado do Maranhão e Piauí e Estado do Grão-Pará e Rio Negro. O Maranhão apenas foi conquistado pelo Império do Brasil em 1823, porque Portugal o defendeu muito fortemente, e somente depois que o almirante Lord Cochrane interveio, a pedido de Dom Pedro I. Em 1831, irrompeu-se a Setembrada, que pregou que fossem expulsos os portugueses e os frades franciscanos, e, em 1838, a Balaiada, um movimento popular que contrariava a aristocracia rural. A economia declinou devido à abolição da escravidão pela Princesa Isabel, só vindo à recuperação na época da 1ª Guerra Mundial. Em 1619, deu-se início a colonização do Maranhão, com a primeira imigração organizada de açorianos em território brasileiro. Como território na América, foi construído por imigrantes de diversas regiões do mundo, dando-lhe uma rica e diversa cultura, embora de matriz portuguesa. Etimologia. Os tupinambás inicialmente habitavam a região, esses consideravam-se filhos do grande ancestral e herói "Maíra", assim o topônimo "Mairi", utilizado para representar o território tupinambá (atuais estados brasileiros do Amapá, Pará e, Maranhão), com origem no nheengatu, inicialmente significaria o "território de Maíra" ou "terra dos filhos de Maíra". Mas essa divindade foi associada aos "homens brancos" e, em especial, aos navegadores franceses, passando a serem chamados de "Maíras" ou “Mair”, e assim a região de "Mairi" passou a representar o "lugar dos franceses". Não há uma hipótese consensual para a origem do nome do estado do Maranhão. As teorias mais aceitas são: referência à expressão em língua tupi "Mar'Anhan", que significa "O mar que corre"; Maranhão era o nome dado ao Rio Amazonas pelos nativos da região antes da chegada dos navegantes europeus (nos países Andinos é chamado de rio Maranhão, ao entrar no Brasil muda para rio Solimões, na confluência com o rio Negro muda para rio Amazonas). Em 1720, o jesuíta Domingos de Araújo, publicou a obra "Crônica da Companhia de Jesus da Missão do Maranhão", na qual sustentou que o nome foi dado por uma expedição enviada por Cristovão Jaques que ao ver o Rio Amazonas o descreveu como "Maranhão" (grande mar). No contexto da história do Brasil, a primeira referência à região como sendo o Maranhão ocorreu na época antes da criação das capitanias hereditárias, chamada de Conquista do Maranhão, em seguida foram criadas as duas seções da Capitania do Maranhão, em 1534. História. Período pré-cabralino. Na época do Descobrimento do Brasil, o atual Estado do Maranhão era povoado por diferentes tribos indígenas. Os primeiros habitantes do Maranhão faziam parte de dois grupos indígenas: os tupis e os jês. Os tupis habitavam o litoral. Já os jês habitavam o interior. Os dois povos indígenas que pertencem ao grupo tupi são os guajajaras e os urubus. Os guajajaras e os urubus apenas foram pacificados em pleno século XX. Os dois povos indígenas do grupo jê são os timbiras e os sacamecras. Diversas tribos do Piauí entraram no Maranhão. Isso ocorreu no século XVIII. Naquela época, esses povos indígenas piauienses escaparam para evitar que os brancos os caçassem. Colonização europeia. Não existem notícias feitas com exatidão a respeito das primeiras expedições que começaram a explorar a costa maranhense. Reza a crença de que, em 1500, o espanhol Vicente Yáñez Pinzón já navegou por toda a costa norte do Brasil. A viagem feita por Pinzón na costa norte do Brasil tem origem em Pernambuco e destino à foz do rio Amazonas. Em 1531, Martim Afonso de Sousa chegou ao Brasil. Esse homem foi o comandante da primeira expedição que começou a colonizar a região. O militar e nobre português exigiu que Diogo Leite fosse responsável pela exploração do litoral norte. Diogo Leite aproximou-se da foz do rio Gurupi. Atualmente, o rio Gurupi serve de divisa entre os Estados do Maranhão e do Pará. A divisa entre os dois atuais estados brasileiros ficou por muito tempo conhecida como "abra de Diogo Leite”. Em 1534, quando Dom João III dividiu a Colônia Portuguesa no Brasil em Capitanias Hereditárias, os portugueses ainda não chegaram a colonizar o Maranhão. Um ano depois, o monarca português concedeu a terra a três fidalgos que eram homens de sua confiança. Foram eles: João de Barros, Fernando Álvares de Andrade e Aires da Cunha. Ambos os primeiros idealizaram seu plano para a tomada de posse da capitania. Os dois donatários encarregaram sua execução a Aires da Cunha. A Capitania do Maranhão foi uma das subdivisões do território brasileiro no período colonial. Seu primeiro donatário foi Fernando Álvares de Andrade, que recebeu a capitania em 11 de março de 1535. Aires da Cunha, que ficou encarregado de fazer a posse da capitania, veio ao Brasil no mesmo ano da doação. Durante a viagem, dez veleiros, 900 homens de armas e 130 a cavalo estavam a caminho. Mas a frota afundou nas costas maranhenses devido a violento temporal e o capitão faleceu, assim como a maior parte dos integrantes. Os sobreviventes fundaram um núcleo de povoamento denominado Nazaré e passaram a explorar o terreno através dos acidentes geográficos fluviais. Entretanto, os indígenas não lhes favoreceram essa ocupação. Do núcleo de povoamento, restou nada. Quando essa povoação foi destruída, os portugueses abandonaram-na. Em 1539, foi a vez doutro fidalgo lusitano denominado Luís de Melo da Silva. Também teve seu navio afundado no litoral maranhense. Entretanto, retornou a Portugal em 1554. João de Barros, em 1555, mandou seus descendentes João e Jerônimo à donataria. Naquela época, os franceses já houveram entrado ali. De acordo com narrativa de Jerônimo dirigida ao monarca português, estiveram na capitania 17 naus de franceses. Os franceses edificaram, com materiais de construção da época, casas de pedra e faziam comércio com os nativos. Invasões estrangeiras. As naus vindas da França continuaram a navegar no século XVI. Da tripulação dos três navios que se direcionavam ao Maranhão ,a maioria das pessoas permaneceu no terreno após o fracasso da expedição. O comandante dos três navios foi o capitão Jacques Riffault. Um dos tripulantes, Charles Des Vaux, estudou o idioma indígena e prometeu que lhes traria demais franceses para governá-los e defendê-los. De retorno à França, Des Vaux adquiriu do rei Henrique IV que Daniel de la Touche, senhor de "La Ravardière", fosse junto com o tripulante ao Maranhão para comprovar as maravilhas que lhe narrara. Prometeu-se a conquista do novo território para a coroa francesa Depois do falecimento de Henrique IV, La Ravardière retornou à França. Naquele país europeu lutou num período de 15 anos pelo projeto de fundação da denominada França Equinocial. François de Razilly, senhor de Aumelles e Razilly, e Nicolas de Harlay, senhor de Sancy, barão de Molle e de Grosbois, estiveram interessados pelo empreendimento. A rainha regente da França e Navarra, Maria de Médici, permitiu que participassem os religiosos da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos da expedição. A esquadra francesa era constituída de três navios. Os comandantes dessa esquadra foram La Ravardiére e Razilly. Ambos foram solidários a Nicolas de Harlay. A esquadra deixou o porto de Cancale, na atual região francesa da Bretanha e chegou em 26 de julho de 1612 a uma enseada maranhense. Deram o nome de Sant'Ana à ilha de menor porte onde chegaram a encostar o navio. A pequena ilha recebeu esse nome em honra à santa do dia. Ali levantaram a primeira cruz latina feita de madeira em solo maranhense. Os tripulantes da embarcação ficaram nessa ilha. Enquanto isso, Charles Des Vaux começou a conversar com os indígenas na ilha de Upaon-Açu. O segundo nome da ilha foi ilha do Maranhão e posteriormente ilha de São Luís. Ali, em 12 de agosto, foi celebrada a primeira missa solene. Escolheu-se o lugar da primeira fortificação. Com a cooperação dos indígenas, edificaram a primeira capela. Em 8 de setembro foi levantada a cruz na ilha de Sant'Ana. Abençoou-se o terreno e a fortificação recebeu o nome de Forte de São Luís. A origem do nome da cidade é uma homenagem ao rei santo da França Luís IX, que compartilhava o nome com o rei da época, Luís XIII. Eis o início da cidade de São Luís. Em julho de 1615, Francisco Caldeira de Castelo Branco, representando a Capitania de Pernambuco, exigiu que La Ravardière abandonasse a terra que conquistou. Jerônimo de Albuquerque mudou-se para a ilha, construiu o Forte de São José de Itapari e passou a lutar. Em 17 de outubro, uma frota pernambucana de nove navios e mais de 900 homens sob o comando de Alexandre de Moura aproximou -se da baía de São Marcos. Os portugueses desafiavam assim a fortaleza dos franceses. Durante o confronto entre as tropas francesa e portuguesa, Jerônimo de Albuquerque atacou por terra. La Ravardière não resistiu: em 3 de novembro devolveu a colônia, o forte, os navios e as armas. De Pernambuco, o francês foi para Lisboa, onde esteve aprisionado antes de voltar à França. Em 13 de junho de 1621, foi instituído o Estado do Maranhão, por Filipe II de Portugal (e Filipe III da Espanha, devido União Ibérica) no Norte do América Portuguesa, porém sua instalação ocorreu em 1626, junto ao primeiro Governador, o Capitão-General Francisco Coelho de Carvalho, devido aos conflitos na tentativa de invasão holandesa na região. A vila de São Luis, sede da Capitania do Maranhão, foi mantida como sede do novo Estado. Sendo o novo Estado uma colônia independente do Estado do Brasil. Uma entidade autônoma política e economicamente, subordinada diretamente a Lisboa, separada do Estado do Brasil em 1618. A criação da Capitania do Maranhão se passa em paralelo à fundação do Estado do Maranhão, ficando a Capitania subordinada ao Estado. Na época da invasão neerlandesa ao Maranhão esteve aprisionado o aventureiro Gedeon Morris. Depois esse homem estaria no comando da guarnição de Flandres na capitania brasileira do Ceará. As notícias transmitidas por Gedeon Morris a respeito das condições de vida em São Luís foram ouvidas interessadamente pelos invasores do Recife. Os portugueses defendiam com dificuldade seu entendimento. A paz entre Portugal e os Países Baixos estava firmada. Naquela época, em novembro de 1641 uma frota holandesa penetrou pela barra de São Luís e depois desceu pelo Desterro e destruiu a cidade. A frota neerlandesa foi encabeçada por Pieter Baas. O governador Bento Maciel Parente foi aprisionado irresistivelmente. Bento Maciel Parente era veterano do sertão e assassino de indígenas. Em Tapuitapera, atual município de Alcântara, no continente, Teixeira de Melo recebeu emissários do príncipe Maurício de Nassau. Maurício de Nassau lhe ofereceu o governo dos portugueses do Maranhão. Se a proposta fosse aprovada, o político teuto-neerlandês já se teria recolhido a São Luís. Mas, como a proposta foi recusada, a luta continuou até fevereiro de 1644. Nessa data, os neerlandeses retiraram-se depois dum período de 27 meses de ocupação intranquila. Desses 27, 17 meses foram um longo período de lutas. Sobrou dos neerlandeses a ruína do casarão onde residiu o governador Pieter Baas. Derrubou-se esse casarão em 1939. A vista do porto e a planta da cidade foram registradas por Frans Post. Os originais desses desenhos hoje são parte integrante da exposição permanente no Museu Britânico. As gravuras foram reproduzidas no grande livro de Gaspar Barlaeus sobre o Brasil holandês. Depois a gravuras foram copiadas depois para a obra de santa Teresa sobre os conflitos militares entre Portugal e os Países Baixos. Em 1654, foi criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, devido ao progresso e ascensão da região de Belém, e a Coroa Portuguesa verificou que a organização administrativa anterior favorecia apenas aos interesses pessoais de donatários e sesmeiros. Revolta de Beckman. A Coroa Portuguesa decidiu criar a Companhia de Comércio do Maranhão em 1682. Essa era a fórmula daquela época para o desenvolvimento das regiões que os europeus colonizaram como estes objetivos: o sistema de estanco a ser monopolizado, que teve o privilégio garantido para o comércio de produtos primeiramente necessários; a compra exclusiva e obrigatória de toda a produção do estado; e o fornecimento comprometido de escravos vindos da África, mais adequados para a dureza atarefada da agricultura em terras de clima equatorial, como forma de compensação proibitiva da caça ao indígena. Mas a estratégia não surtiu efeito, ou seja, houve a degeneração do sistema: para a compra, o pagamento do indivíduo que representava a companhia era muito barato. Transformou-se indignação em revolta. O mais importante líder do movimento foi Manuel Beckman. Beckmann nasceu em Lisboa. Seu pai era alemão e sua mãe portuguesa. A profissão de Beckmann era a de senhor de engenho no Mearim. Consta que foi assinado pelos conspiradores um papel em círculo. O objetivo desse documento era para que ninguém houvesse o direito de acusação contra algum deles por liderar o motim. Foi confundida por Beckmann a liberdade instintiva do comércio com o preconceito feroz contra o escravo: a vulnerabilidade era do ameríndio vitimado. A prisão doméstica do capitão-mor Baltasar Fernandes estava perante a custódia da esposa. Em seu colégio, ficou a incomunicabilidade do jesuítas. O fechamento das entradas do estanco armazenado foi definitivo. Não era desejo da Junta dos Três Estados (clero, nobreza e povo) a independência. Naquela época essa junta já estava constituída. O governo colonial do Brasil enviou Tomás Beckman ao reino de Portugal. Tomás era irmão de Manuel. Foi explicado por ele ao monarca lusitano que não houve revolta contra Tomás. O desejo dos conspiradores foi ser livre para comerciar—o motivo era o fechamento do estanco armazenado—e para a caça ao indígena. Por essa razão, foram expulsos pelos conspiradores os religiosos da Companhia de Jesus, que embarcaram em dois navios. Decidiu-se criar uma guarda cívica e foram demitidos funcionários que não tiveram certeza se eram leais. Foi enviado por Beckmann um ministro plenipotenciário a Belém. Manuel Beckman dirigiu-se a Alcântara. Entretanto, não foi apoiado em ambos os lugares. Não foi aceita por Beckman uma proposta de corromper o governador Francisco de Sá de Meneses. Entretanto, foi iniciado o fracasso da chama do levante. São Luís recebeu o novo governador Gomes Freire de Andrade em 15 de maio de 1685. O militar português era comandante duma tropa formada por 150 soldados, que confraternizaram com os soldados terrestres. Os mais importantes conjurados se foram. O desembarque foi presenciado por Beckmann e apenas no dia posterior serviu como refúgio seu engenho.Nesse ocorreu o aprisionamento do líder da revolta. A explicação ao motivo da prisão de Beckmann era esta: traiu seu afilhado Lázaro de Melo. Concluiu-se pela abertura da devassa que a introdução e a manutenção do sistema de estanco era sinônimo de calote, engano e hostilidade. Mas Gomes Freire assinou sentença lavrada contra Jorge de Sampaio, Francisco Deiró e Manuel Beckman. Foi feita a declaração de culpa destes três homens por serem criminosos contra a autoridade real. Veio a fuga de Deiró e seu enforcamento em efígie. O padecimento de Sampaio e Beckman foi causada pela coragem da pena de morte. Foi declarada a extinção por Gomes Freire do contrato do estanco. Os jesuítas foram devolvidos pela mesma pessoa que extinguiu o estanco e acertado o governo. Estado do Maranhão. Em 1751 o Estado do Maranhão e Grão-Pará passou a se chamar Estado do Grão-Pará e Maranhão, com capital transferida de São Luís a Belém, devido ao crescimento econômico com a produção de açúcar, algodão, tabaco e das drogas do sertão (sobretudo na capitania do Pará). Compreendia os atuais Estados do Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Maranhão e Piauí. Em 1755, foi criada a a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, a qual deveria garantir a vinda de escravizados africanos para a colônia, com monopólio da navegação e comércio exterior, além de fornecer crédito para os produtores locais e a introdução de melhores técnicas agrícolas. O crescimento econômico intensificou as disputas pela exploração e comércio das drogas, que levaram em 1759 a expulsão dos jesuítas, que controlavam estas atividades. Em 1772, Marquês de Pombal dividiu o Estado em duas unidades administrativas: Estado do Maranhão e Piauí (com sede em São Luís); e Estado do Grão-Pará e Rio Negro (com sede em Belém). Em 1780, o algodão representava cerca de 24% das exportações brasileira, enquanto o açúcar respondia por cerca de 34%, diante da Guerra de Independência Americana e a crescente demanda por algodão na indústria têxtil inglesa. Em 1818, a economia maranhense atingiu um milhão de libras e movimentou 155 navios, sendo a quarta maior economia brasileira. Nesse período, São Luís era a quarta cidade mais populosa no Brasil. O apogeu econômico deste período pode ser representado com a construção dos casarões do Centro Histórico de São Luís e de Alcântara. O algodão representava cerca entre 73% e 82% das exportações do Maranhão no final do século XVIII e início do século XIX. Com a retomada da produção americana ao mercado internacional, por volta de 1820 a economia da província entrava em crise. Séculos XIX e XX. A Capitania do Maranhão houve como último governador o Marechal do Exército de Portugal Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, considerado um excelente administrador. O militar português imprimiu o jornal mais antigo já publicado no estado, "O Conciliador do Maranhão", fato que marca a chegada da tipografia em território maranhense. Na altura, a independência já se previra. Rebeliões locais contavam com o apoio dos cidadãos do Piauí e os sertanejos cearenses. Estavam presentes em águas maranhenses os navios de Lord Thomas Cochrane, nomeado em 1823 pelo imperador Pedro I do Brasil comandante da esquadra brasileira. Desde a crise na economia algodoeira e com o movimento revolucionário da balaiada, a Província do Maranhão tornou-se política e socialmente estável. A atividade econômica da agricultura na época era o trabalho escravo e duma vez ou outra a estabilidade política e social teve desafios excessivos. Mas havia a persistência do ideal republicano. Como foi visto antes, Lord Cochrane depôs e prendeu Bruce, primeiro presidente da Província do Maranhão que Pedro I do Brasil nomeou, devido à veiculação de ideias pró-república. Como Bruce foi acusado, o conselho de guerra ouviu a sua resposta e foi julgado inocente; mas o acontecimento, por sua vez, teve expressividade. Em 1824, pelos chefes da Confederação do Equador que nasceram no Ceará, foram enviados emissários ao povo maranhense, na certeza de que seu liberalismo permitiria a participação revolucionária. Os chefes cearenses da Confederação do Equador estiveram presentes no Maranhão com as forças expedicionárias. As forças expedicionárias tiveram decisão no processo da independência. Em 1829, os revolucionários leram proclamações republicanas na localidade de Pastos Bons, à época o centro do movimento republicano e secessionista do estado, que daria origem à efêmera República de Pastos Bons. Por quem a província teve como último presidente, o desembargador Tito Augusto Pereira de Matos, depois que foi abolido o regime monárquico, foi passado a administração ao tenente-coronel João Luís Tavares. Tavares integrava uma junta de sete cidadãos, dois quais cinco são militares e dois são civis. Foi entregue o poder pela junta ao primeiro governador que Manuel Deodoro da Fonseca nomeou em 17 de dezembro de 1889. A chegada ao Rio de Janeiro foi de Pedro Augusto Tavares Júnior. A Assembleia Legislativa promulgou a primeira constituição política estadual datada de 4 de julho de 1891. Em 1892, mais precisamente no dia 28 de julho, promulgou-se uma nova constituição, acrescida das emendas em 1898, 1904 e 1919. O século XX teve como primeiro governador do Maranhão o senhor João Gualberto Torreão da Costa. Durante a administração de Benedito Pereira Leite, pelo presidente eleito do Brasil Afonso Pena, o Maranhão foi visitado em 1906. O movimento revolucionário que entrou no Brasil Meridional tornou-se mais extensa e os revolucionários depuseram o governador José Pires Sexto em 1930. A Assembleia Legislativa aprovou uma nova constituição do estado datada de 16 de outubro de 1934, durante administração de Antônio Martins de Almeida. A Assembleia Legislativa emendou a constituição estadual em 1936 e a administração de Paulo Martins de Sousa Ramos tomou posse. Durante o Estado Novo, Getúlio Vargas nomeou Sousa Ramos como interventor. Com a Segunda República, aprovou-se pela Assembleia Constituinte estadual uma nova constituição datada de 28 de julho de 1947. José Sarney da Costa tomou posse do governo estadual em 1966. Por iniciativa de Sarney iniciou-se o período modernizador "Maranhão Novo", dos quais se destacavam o Porto do Itaqui a ser construído e a rodovia São Luís-Teresina a ser pavimentada. Apenas nas posteriores décadas, com os recursos da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), sobreveio o que se mudou na economia estadual, com a solidez das repercussões no Maranhão: entrou-se em operação a Usina Hidrelétrica de Boa Esperança em 1970 e em 1973 ocorreu a inauguração da indústria papeleira (Cepalma), onde a matéria-prima da região é utilizada. Foi inaugurada a primeira etapa da indústria aluminífera do consórcio Alumar em 1984. Esta fábrica de alumínio foi o primeiro projeto do programa Grande Carajás. Iniciou-se a construção do Centro de Lançamento de Alcântara em 1987. Geografia. Geomorfologia, hidrografia e vegetação. Como a topografia do relevo do Maranhão é plana, são pertencentes ao estado 75% do território inferiores a 200m de altura e somente dez por cento superiores a 300m. As duas unidades geomorfológicas são: a baixada litorânea e o planalto. A baixada litorânea é dominada por um relevo cujos acidentes geográficos são colinas e tabuleiros, que se dividem em arenitos que pertencem à série Barreiras. Em algumas partes que se atopam no litoral, a incluir a ilha de Upaon-Açu, que se situa no coração do que se chama de Golfão Maranhense, o alcance desse relevo vai em direção à linha da costa. Nas demais, o mar separa o golfão maranhense através duma faixa de terrenos que são planícies, tendo sujeição à ocorrência de inundações no período chuvoso. É a planície litorânea propriamente dita, que no fundo do golfão passa a denominar-se Campo de Perizes. Na parte oriental do golfão maranhense, assume-se por esses terrenos o caráter da amplitude dos areais com formações dunares, que por elas é integrada à região litorânea entre a costa dos Lençóis e a baía de Tutóia. É ocupado pelo planalto a totalidade do interior do estado cujo relevo é de um tabuleiro. Apresenta-se pelo planalto um conjunto feito de chapadões que se dividem em terrenos de sedimentação (arenitos xistosos e folhelhos). Perto do golfão maranhense se alcançam pelas elevações somente as altitudes entre 150 e 200m; na extremidade sul, entre 300 e 400m; e perto do divisor de águas, entre as bacias hidrográficas do Parnaíba e do Tocantins, atingem-se as cotas altimétricas de 600 m. São delimitados pelos talvegues do planalto os chapadões uns dos outros através da profundidade de entalhes, e por isso são apresentados pelos chapadões as escarpas de difícil subida que contrastam com a regularidade do topo. A quase totalidade das bacias hidrográficas do estado faz-se da parte meridional para a parte setentrional por meio da quantidade de rios independentes que deságuam no oceano Atlântico: Gurupi, Turiaçu, Maracaçumé, Pindaré, Grajaú, Mearim, Itapecuru e Parnaíba. Na parte sul-ocidental do estado uma pequena parte das águas escoadas dirige-se à parte ocidental. São integrados no sudoeste pequenos afluentes que deságuam na margem oriental do rio Tocantins. Veja a lista de rios do Maranhão. A cobertura vegetal do Maranhão compõe-se basicamente de floresta, campos e cerrados. São ocupadas pelas florestas a totalidade da porção norte-ocidental do estado (Amazônia maranhense), isto é, muitas partes estão situadas na parte ocidental do rio Itapecuru. Nessas matas é muito abundante a palmeira do babaçu (mata dos cocais), produto básico do extrativismo vegetal da região. Os campos são dominantes ao redor do Golfão Maranhense e no litoral ocidental. São revestidas pelos cerrados as regiões leste e sul. No litoral, são assumidas pela vegetação feições variadas: campos de inundação (Baixada Maranhense), mangues e arbustos. Clima. Na classificação climática de Köppen-Geiger, o principal grupo climático do Maranhão é o tropical (tipo A em Köppen), que no estado se subdivide em dois tipos climáticos, sendo eles, respectivamente: tropical de monção ("Am"), que apresenta um mês mais seco (que quase sempre se passa no ou logo após o solstício de inverno) com precipitação menor que 60 mm, mas equivalente a mais de 4% da precipitação anual total; No Maranhão, o clima tropical de monção encontra-se na porção noroeste do estado, na divisa com o Pará. e tropical de savana ("Am/As"), que apresenta uma estação mais seca no inverno ("Aw") ou no verão ("As"), onde o mês mais seco tem precipitação inferior a 60 mm e equivale a menos de 4% da precipitação anual total. Esse é o tipo climático predominante no Maranhão, onde no litoral a estação seca é no verão ("As") e no restante do estado é no inverno ("Aw"). Nalgumas classificações, no Maranhão, existem três tipos distintos de clima: o tropical superúmido de monção, o tropical com chuvas de outono e o tropical com chuvas de verão. São apresentados pelos três as semelhanças que há entre os três regimes térmicos, com elevação das temperaturas médias anuais, que oscilam perto de 26 °C, mas são diferentes quanto ao comportamento das chuvas. Pelo primeiro tipo, que domina no oeste do estado, é apresentada a maior elevação dos totais (mais de 2 000 mm ao ano); é apresentado pelos outros dois chuva entre 1 250 e 1 500 mm ao ano e estação seca com boa marcação, e são diferentes entre si, como é indicado por seu próprio nome, pela época em que caem as chuvas. Os verões são quentes, com máximas ultrapassando os 40 °C com frequência, e, no inverno, que coincide com a estação seca; as temperaturas podem chegar próximo aos 10 °C em cidades do sul maranhense, configurando assim, uma grande amplitude térmica. Noutra classificação adotada, o clima no estado pode-se assim definir: Equatorial, que ocorre no extremo oeste, sendo quente e chuvoso, regido pelo deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e pela Massa Equatorial Continental (mEc), ambas com marcante atuação no outono e inverno; e Tropical semiúmido, na região central e leste, apresenta um período seco entre quatro a seis meses, entre o inverno e a primavera, em razão de uma influência menos expressiva das massas de ar citadas. O regime pluviométrico é de 1 000 a 1 200 mm ao ano. Demografia. O Maranhão possui 217 municípios distribuídos em uma área de 329 651,496 km², sendo o oitavo maior estado do Brasil, um pouco menor que a Alemanha. Sua população no Censo Demográfico de 2022 era de 6.775.152 habitantes, sendo o décimo segundo estado mais populoso do país, com população superior à da Jordânia. Cerca de 63,08 por cento dos maranhenses vivem em áreas urbanas. O Maranhão possui 20,55 habitantes por km² (2022), sendo o décimo sexto na lista de estados brasileiros por densidade demográfica. O Maranhão tem o Índice de Desenvolvimento Humano igual a 0,676 (2021), sendo o com menor IDH na lista dos estados brasileiros por IDH. O estado também possui a menor expectativa de vida do Brasil, de 70,9 anos (2017). O Maranhão apresenta o sétimo maior índice de mortalidade infantil do Brasil. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de cada mil nascidos no Maranhão por ano, 16,3 não sobreviverão ao primeiro ano de vida (2019). Vários fatores contribuem para o alto índice de mortalidade infantil no estado: dentre eles, o fato de que menos da metade da população tem acesso à rede de esgoto e o de que quase trinta por cento da população não tem acesso a água tratada. Línguas. O estado tem a fama, entre os maranhenses, de ser o local onde se fala o melhor português do Brasil. No entanto, linguistas como Marcos Bagno e Pasquale Cipro Neto questionam esse título: o primeiro, por argumentar que nenhuma fala ou dialeto pode ser considerado melhor ou pior que outro; o segundo, por argumentar que tal título pertence, na verdade, à cidade do Rio de Janeiro. Urbanização. De acordo com um estudo realizado pela Fundação João Pinheiro, Maranhão é um dos estados com o maior "déficit" habitacional relativo do país, com referência em dados obtidos em 2019, contudo, houve avanços: em 2007, o Maranhão era o estado com maior "déficit" habitacional relativo do país, o que podia à época ser atribuído ao "processo histórico de concentração de renda" no estado.. O Maranhão apresenta um déficit de 15,2 por cento (em relação ao total de domicílios particulares permanentes e improvisados), segundo estudos de 2019, feitos pela Fundação João Pinheiro, sendo que atualmente o maior déficit relativo encontra-se no Amapá (17,8%), seguido por Roraima (15,2%), tendo ficado o Maranhão (15,25%) na terceira posição. Em termos absolutos, o "déficit" no estado chega a 329.495 unidades, o sexto maior do país. O "déficit" maranhense representa 5,6 por cento do déficit absoluto total brasileiro, estimado em 5.876.699. A média maranhense é quase duas vezes maior do que a nacional, de 8,0 por cento. Composição étnica. O Maranhão é um dos estados mais miscigenados do Brasil, o que pode ser demonstrado pelo número de 68,8% de pardos (embora o fenótipo seja contraintuitivo) autodeclarados ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, resultado da grande concentração de escravos indígenas e africanos nas lavouras de cana-de-açúcar, arroz e algodão. Embora a composição predominante seja europeia Os grupos indígenas remanescentes e predominantes são dos grupos linguísticos macro-jê e tupi. No tronco macro-Jê, destaca-se a família jê, com povos falantes da língua Timbira (Mehim)ː Kanela (Apanyekra e Ramkokamekra), Krikati, Gavião Pukobyê, Krepumkateyê e Krenyê. No tronco tupi, a família tupi-guarani, com os povos falantes da língua tenetehara (Guajajara e Tembé), Urubu-Kaapor, além dos Awá-Guajá, concentrados principalmente no bioma da Amazônia, no Alto Mearim e na região de Barra do Corda e Grajaú. Povos como os Akroá-Gamela e Tremembés ainda lutam por reconhecimento étnico e demarcação de terras. De acordo com John Hemming, havia por volta de 1 milhão de indígenas no Maranhão em 1500. Houve forte tráfico negreiro entre os séculos XVIII e XIX, que trouxe milhares de negros da Costa da Mina e da Guiné, mais precisamente do Benim, antigo Daomé, Gana e Togo, mas também em levas não menos importantes de africanos do Congo, Cabinda e Angola. Embora a matriz da cultura maranhense seja portuguesa, muitas tradições deste estado têm forte marca das culturas das Áfricas Central e Ocidental: culinária (Arroz de Cuxá), religião (Tambor de Mina e Terecô), festas (Bumba-Meu-Boi e Tambor de Crioula) e músicas (Reggae no Maranhão). Atualmente, o Maranhão conta muitas comunidades quilombolas em toda região da Baixada, rio Itapecuru e Mearim. A população branca, 24,9 por cento, é quase exclusivamente composta de descendentes de portugueses, dada a pequena migração de outros europeus para a região. Ainda no início do século XX a maior parte dos imigrantes portugueses era oriunda dos Açores e da região de Trás-os-Montes. Também no século XX, vieram contingentes significativos de sírios e libaneses, refugiados do desmonte do Império Otomano e que hoje têm grande e tradicional presença no estado. A proximidade com a cultura portuguesa e o isolamento do estado até à primeira metade do século XX gerou um sotaque local próprio e ainda bastante similar ao português falado em Portugal, praticando os maranhenses uma conjugação verbal e pronominal próxima da portuguesa. A região do Maranhão é considerada a primeira a receber colonos ilhéus (açorianos) de forma organizada. Em 1619, cerca de 300 casais chegaram ao Maranhão, sendo que o número total de pessoas girava em torno de mil pessoas, número significativo para a época. Além dos casais iniciais, vindos com Estácio da Silveira em 1619, outros se seguiram: em 1621 chegaram 40 casais com Antonio Ferreira de Bettencourt e Jorge de Lemos Bettencourt; em 1625 chegaram outros casais com Francisco Coelho de Carvalho; nos navios N. S. da Palma e São Rafael, tendo como capitão Manoel do Vale, chegaram 50 casais em 1676; e nos navios N. S. da Penha de França e São Francisco Xavier vieram mais colonos. Subdivisões. O Maranhão é composto por 217 municípios, que se distribuem em 22 regiões geográficas imediatas, que, por sua vez, estão agrupadas em cinco regiões geográficas intermediárias, segundo a divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017. As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. Na divisão vigente até 2017, os municípios do estado distribuiam-se em 21 microrregiões e cinco mesorregiões, segundo o IBGE. Economia. No último quarto do século XVIII, o Maranhão foi uma das poucas regiões brasileiras que prosperou economicamente. Isto deveu-se em grande parte à política adotada por Sebastião José de Carvalho e Melo na luta contra a Ordem dos Jesuítas. Os colonos maranhenses eram adversários tradicionais dos jesuítas na luta pela escravização dos índios. Pombal ajudou-lhes criando uma companhia de comércio altamente capitalizada para auxiliar no desenvolvimento da região. De outra banda, a alteração no mercado mundial de produtos tropicais, provocada pela Guerra de Independência dos Estados Unidos e pela Revolução Industrial também contribuíram sobremaneira para o desenvolvimento econômico do Maranhão. Os dirigentes da companhia perceberam que o algodão e o arroz eram os produtos cuja procura crescia com mais intensidade, de modo que concentraram recursos na produção destes dois produtos. No fim da época colonial, o Maranhão recebeu em seu porto de cem a cento e cinquenta navios por ano, chegando a exportar um milhão de libras. A economia maranhense foi uma das mais prósperas do país até a metade do século XIX. Mas após o fim da Guerra Civil Americana, quando perdeu espaço na exportação de algodão, o estado entrou em colapso, agravado pelo abandono gerado pelos governos imperial e republicano; somente após o final da década de 1960 no século XX o estado passou a receber incentivos e saiu do isolamento, com ligações férreas e rodoviárias com outras regiões. A inauguração do Porto do Itaqui, em São Luís, um dos mais profundos e movimentados do país, serviu para escoar a produção industrial e de minério de ferro vinda de trem da Serra dos Carajás, atividade explorada pela Vale. A estratégica proximidade com os mercados europeus e norte-americanos fez do Porto do Itaqui uma atraente opção de exportação, mas padece de maior navegação de cabotagem. A economia estadual atualmente baseia-se na indústria de transformação de alumínio, alimentícia, celulose, madeireira, extrativismo (babaçu), agricultura (soja, mandioca, arroz, milho), na pecuária, produção de gás natural e nos serviços. São Luís concentra grande parte do produto interno bruto do estado; a capital passa por um processo marcante de crescimento econômico, sediando mais de três universidades (duas públicas e uma privada), além de uma dezena de centros de ensino e faculdades particulares. A expansão imobiliária é visível, mas o custo de vida ainda é bastante elevado e a exclusão social, acentuada. Há grande dependência de empregos públicos. Sua pauta de exportação, em 2012, se baseou principalmente em Soja (25,93%), Oxido de Alumínio (23,99%), Minério de Ferro (17,54%), Ferro Fundido 16,47%) e Alumínio Bruto (5,35%). A agricultura e a pecuária são atividades importantes na economia do Maranhão, além da pesca, que lhe dá a liderança na produção de pescado artesanal do país. Afinal, o estado possui 640 km de litoral, o segundo maior do Brasil, que fornece produtos bastante utilizados na culinária regional, como o camarão, caranguejo e sururu. O Maranhão aumentou a produção de grãos, em 2000, e teve significativo crescimento industrial, de acordo com a Sudene. Apesar disso, o estado está entre os mais pobres do país. Agricultura. Conforme dados da CONAB, o Maranhão é o segundo maior produtor agrícola do Nordeste. O setor agrícola maranhense destaca-se na produção de arroz (5º estado de maior produtividade de arroz do país e o 1º do Nordeste.), cana-de-açúcar (2,5 milhões de toneladas em 2018), mandioca (3º maior produtor do Nordeste e 12º maior produtor do Brasil em 2019, com 464 mil toneladas), milho (3º maior produtor do Nordeste, cerca de 1,3 milhão de toneladas em 2018), soja (2º maior produtor da região Nordeste, cerca de 3 milhões de toneladas em 2019), algodão (2º maior produtor do Nordeste) e eucalipto. O sul do estado é um dos maiores polos de produção de grãos do país. A região a cada ano alcança novos recordes de produtividade. O principal produto agrícola é a soja, que chegou a 2 milhões de toneladas na última safra, em 2015. Tal produção coloca o Maranhão como o segundo maior produtor da região, atrás da Bahia. A região sul do Estado concentra a produção de soja, com destaque ao município de Balsas que em 2015 produziu 501 668 toneladas, com 181 764 de área plantada e 181 764 de área colhida, rendimento médio 2 760 kg/ha. Outros municípios que se destacam na produção de soja são: Tasso Fragoso, Sambaíba, Riachão, Alto Paraíba e Carolina. Com a construção do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram) no Porto do Itaqui, ampliou-se a capacidade de armazenamento e exportação de grãos como soja, milho e arroz, utilizando-se da infraestrutura da Ferrovia Carajás e da Ferrovia Norte Sul para escoamento da produção do sul do estado, bem como dos estados de Tocantins, Goiás e Mato Grosso. Indústria. O Maranhão tinha em 2018 um PIB industrial de R$ 16,1 bilhões, equivalente a 1,2% da indústria nacional e empregando 74.593 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Serviços Industriais de Utilidade Pública, como Energia Elétrica e Água (29,5%), Construção (24,2%), Metalurgia (20,4%), Celulose e papel (10,7%) e Alimentos (3,7%). Estes 5 setores concentram 88,5% da indústria do estado. Turismo. O Maranhão, por ser localizado num bioma de transição entre o sertão nordestino e a Amazônia, apresenta ao visitante uma mescla de ecossistemas somente comparada, no Brasil, com a do Pantanal Mato-Grossense. Possui mais de 640 km de litoral, sendo, portanto, o estado com o segundo maior litoral brasileiro, superado apenas pela Bahia. O turismo que se exerce nesse estado pode classificar-se em dois tipos: turismo ecológico e turismo cultural/religioso. O Maranhão tem o privilégio de possuir, devido à exuberante mistura de aspectos da geografia, a maior diversidade de ecossistemas de todo o País. São 640 quilômetros de extensão de praias tropicais, floresta amazônica, cerrados, mangues, delta em mar aberto e o único deserto do mundo com milhares de lagoas de águas cristalinas. Essa diversidade está organizada em cinco polos turísticos, cada um com seus atrativos naturais, culturais e arquitetônicos. São eles: o polo turístico de São Luís, o centro histórico de Alcântara, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, o Parque Nacional da Chapada das Mesas, o Delta do Parnaíba (o terceiro maior delta oceânico do mundo) e o polo da Floresta dos Guarás. O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, situado no litoral oriental do Maranhão, envolve os municípios de Humberto de Campos, Primeira Cruz, Santo Amaro e Barreirinhas. Seu maior atrativo é o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, belo e intrigante fenômeno da natureza, um paraíso ecológico com 155 mil hectares de dunas, rios, lagoas e manguezais. O Parque Nacional da Chapada das Mesas possui uma área de 160 046 hectares de cerrado localizado no Sudoeste Maranhense. Possui cachoeiras, trilhas ecológicas em cavernas e desfiladeiros, "rappel", sítios arqueológicos com inscrições rupestres e rios de águas cristalinas. As principais cidades do polo são Estreito, Carolina e Riachão. Infraestrutura. A população de grande parte do estado ainda sofre com problemas de saneamento básico, desnutrição infantil e renda per capita. O Maranhão apresenta altos índices de desnutrição entre as crianças de zero a cinco anos, de acordo com levantamento do Fundo da Nações Unidas para a Infância feito em 1999. Energia. O estado conta com um eficiente sistema de abastecimento de energia, através da Subestação da Eletronorte instalada no Distrito Industrial do Município de Imperatriz, além de estar bastante próxima às hidroelétricas de Estreito (1 087 megawatts) e de Serra Quebrada (em projeto). O estado do Maranhão buscou diversificar sua matriz energética e também conta com usinas própriasː 4 usinas com capacidade total de 1 428 MW, utilizando gás natural (Complexo Termelétrico Paraíba); 2 usinas com capacidade de 330 MW, utilizando óleo combustível (a Usina Termelétrica Gera Maranhão, em Miranda do Norte); 1 usina com capacidade de 360 MW, utilizando carvão mineral (Usina Termelétrica Porto do Itaqui); 1 usina com capacidade de 254 MW, utilizando biomassa (Usina Termelétrica Suzano Maranhão, pertencente à Suzano Papel e Celulose); uma usina hidráulica com capacidade de 1 087 MW (Usina Hidrelétrica de Estreito); e o Complexo Eólico Delta 3 com capacidade de 221 MW. Atualmente, o estado produz mais energia do que consome. Atualmente, a exploração de gás na Bacia do Parnaíba tem capacidade de produzir até 8,4 milhões de m³ de gás por dia, explorados pela empresa Eneva, utilizados na produção de energia termelétrica, com a implantação de 153 km de gasodutos, ao custo do investimento de R$ 9 bilhões. A concessionária de energia elétrica que cobre o Maranhão é a Companhia Energética do Maranhão e os serviços de distribuição e comercialização de gás canalizado no Maranhão é feito pela Companhia Maranhense de Gás. Educação. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2009, o Maranhão possui o maior número de crianças entre oito e nove anos de idade analfabetas no país. Quase quarenta por cento das crianças do estado nessa faixa etária não sabem ler e escrever, enquanto que a média nacional é de 11,5 por cento. Os dados do instituto, porém, não oferecem um diagnóstico completo da situação, pois baseiam-se somente na informação de pais sobre se seus filhos sabem ler e escrever um bilhete simples. Em 2006, os alunos do Maranhão obtiveram a quarta pior nota na prova do Exame Nacional do Ensino Médio de língua portuguesa. Em 2007, obtiveram a sétima pior, que foi mantida na avaliação de 2008. Na redação, os alunos saíram-se um pouco melhor, apresentando a sexta pior nota em 2006 e subindo seis posições em 2007. Em 2013 o Maranhão obteve a segunda pior nota entre os estados brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA, na sigla em inglês) em suas provas de matemática, leitura e ciências, ficando à frente apenas do estado de Alagoas. As principais universidades públicas do estado são: Universidade Federal do Maranhão (UFMA); Universidade Estadual do Maranhão (UEMA); Instituto Federal do Maranhão (IFMA) e Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL). O Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA) comanda a educação profissional técnica de nível médio no estado. Cultura. Culinária. A cozinha maranhense sofreu influência francesa, portuguesa, africana e indígena. O tempero é diferenciado, fazendo-se uso de ingredientes como cheiro-verde (coentro e cebolinha verde), cominho em pó e pimenta-do-reino. No Maranhão, é marcante a presença de peixes e frutos do mar como camarão, sururu, caranguejo, siri, pescada, robalo, tainha, curimbatá, mero, surubim e outros peixes de água doce e salgada. Além de consumirem-se outros pratos como sarrabulho, dobradinha, mocotó, carne-de-sol, galinha ao molho pardo, todos acompanhados de farinha d'água. Da farta cozinha maranhense, destacam-se o arroz de cuxá, símbolo da culinária do Maranhão, feito com uma mistura de gergelim, farinha seca, camarão seco, pimenta-de-cheiro e o ingrediente especial — a vinagreira (hortaliça de origem africana muito comum no Maranhão). Dentre os bolos consumidos pelos maranhenses, podem ser destacados o bolo de macaxeira e o de tapioca. As sobremesas típicas da mesa maranhense são os doces portugueses e uma infinidade de doces, pudins e sorvetes feitos de frutas nativas como bacuri, buriti, murici, jenipapo, tamarindo, caju, cupuaçu, jaca etc. A juçara — nome popular e local de açaí— é muito apreciada pelos maranhenses, consumida com farinha, camarão, peixe, carne-de-sol ou mesmo em forma de suco, sorvete e pudim. Dada a importância da "juçara" na cultura maranhense, realiza-se anualmente a Festa da Juçara. A panelada, um cozido preparado a partir de vísceras da vaca, é popular em Imperatriz, segunda maior cidade do estado, e oferece-se em diversos pontos da cidade. Esportes. No estado nasceram os medalhistas olimpicos Rayssa Leal, no esqueite; José Carlos Moreira, no atletismo; além de Ana Paula, campeã mundial de handebol em 2013.
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Mato Grosso
Mato Grosso Mato Grosso é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está localizado na região Centro-Oeste. Tem a porção norte de seu território ocupada pela Amazônia Legal, sendo o sul do estado pertencente ao Centro-Sul do Brasil. Extensas planícies e amplos planaltos dominam a área, sendo que a maior parte destes (cerca de 74%) se encontra abaixo dos seiscentos metros de altitude. Juruena, Teles Pires, Xingu, Araguaia, Paraguai, Rio Guaporé, Piqueri, São Lourenço, das Mortes, Rio Vermelho e Cuiabá são os rios principais. Tem como limites os estados do Amazonas, Pará (norte); Tocantins, Goiás (leste); Mato Grosso do Sul (sul); Rondônia e a Bolívia (oeste), país vizinho. Ocupa uma área equivalente à da Venezuela e não muito menor do que a vizinha Bolívia. Mato Grosso está organizado em 22 microrregiões e cinco mesorregiões, dividindo-se em 141 municípios, sendo os mais populosos e importantes: a capital Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis, Sinop, Tangará da Serra, Barra do Garças e Cáceres. Pelo Tratado de Tordesilhas (de 7 de junho de 1494), o território do atual estado de Mato Grosso pertencia à Espanha. Os jesuítas, a serviço dos espanhóis, criaram os primeiros núcleos, de onde foram expulsos pelos bandeirantes paulistas em 1680. Em 1718, a descoberta do ouro acelerou o povoamento. Em 1748, para garantir a nova fronteira, Portugal criou a capitania de Mato Grosso e, lá, construiu um eficiente sistema de defesa. O Tratado de Madri, de 1750, reconheceu as conquistas bandeirantes na região de Mato Grosso, para dirimir questões de limites entre Portugal e Espanha. Com a chegada dos seringueiros, pecuaristas e exploradores de erva-mate na primeira metade do século XIX, o estado retomou o desenvolvimento. Em 1977, a parte sul do estado foi legalmente desmembrada, formando, assim, um novo estado, Mato Grosso do Sul, o que na prática só se daria em 1979. História. Colonização europeia. O primeiro europeu a desbravar a área que viria a constituir o estado de Mato Grosso foi o português Aleixo Garcia (há quem lhe atribua, sem provas decisivas, a nacionalidade espanhola), náufrago da esquadra de Juan Díaz de Solís. Em 1525, ele atravessou a mesopotâmia formada pelos rios Paraná e Paraguai e, à frente de uma expedição que chegou a contar com 2 000 homens, avançou até a Bolívia. De volta, com grande quantidade de prata e cobre, Garcia foi morto por índios paiaguás. Sebastião Caboto também penetrou na região em 1526 e subiu o Paraguai até alcançar o domínio dos guaranis, com os quais travou relações de amizade e de quem recebeu, como presente, peças de metais preciosos. Os fantásticos relatos sobre imensas riquezas do interior do continente sul-americano acenderam as ambições de portugueses e espanhóis. Os primeiros, a partir de São Paulo, lançaram-se em audaciosas incursões, nas quais prepararam índios e alargaram as fronteiras do Brasil. As bandeiras paulistas chocaram-se com tropas espanholas do cabildo de Assunção e com resistência das missões jesuíticas. Desde 1632, os bandeirantes conheciam, de passagem e de lutas, a região onde os jesuítas haviam localizado as suas reduções de índios e que os espanhóis percorriam como terra sua. Antônio Pires de Campos chegou criança, em 1672, com a bandeira paterna, às depois famosas minas dos Martírios. Já adulto, retomou o caminho da serra misteriosa e navegou, de contracorrente, os rios Paraguai e São Lourenço, embicando Cuiabá acima, até o atual Porto de São Gonçalo Velho, onde se chocou com os índios coxiponés. Corrida do ouro. A notícia de índios pouco ariscos e descuidados logo se espalhou. Em 1718, um bandeirante de Sorocaba, Pascoal Moreira Cabral Leme, descendente de índios, subiu o Rio Coxipó até atingir a aldeia destruída dos coxiponés, onde deu início à rancharia de uma base de operações. Às margens do Coxipó e do Cuiabá, Cabral Leme descobriu abundante jazida de ouro. A caça ao índio cedeu vez, então, às atividades mineradoras. Em 8 de abril de 1719, foi lavrado o termo de fundação do arraial de Cuiabá, e aclamou-se Pascoal guarda-mor regente "para poder guardar todos os ribeiros de ouro, socavar, examinar, fazer composições com os mineiros e botar bandeiras, tanto aurinas, como ao inimigo bárbaro". A notícia da descoberta de ouro não tardou em transpor os sertões, dando motivo a uma corrida sem precedentes para o oeste. A viagem até Cuiabá, distante mais de quinhentas léguas do litoral atlântico, exigia de quatro a seis meses, e era arriscada e difícil em consequência do desconforto, das febres e dos ataques indígenas. Rodrigo César de Meneses, capitão-general da capitania de São Paulo, chegou a Cuiabá no fim de 1726 e ali permaneceu cerca de um ano e meio. A localidade recebeu o título de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. Constituiu-se a câmara e nomeou-se um corpo de funcionários encarregados de dar cumprimento ao rigoroso regulamento fiscal da coroa. Em 1729, foi criado o lugar de ouvidor. Problemas de fronteiras. O Tratado de Madri, de 1750, reconheceu as conquistas bandeirantes na região de Mato Grosso, para dirimir questões de limites entre Portugal e Espanha. Outro tratado, de 1761, modificou o anterior, ao proibir construções fortificadas na faixa de fronteira. Os espanhóis exigiram a evacuação de Santa Rosa, ocupada e fortificada por Rolim de Moura, que resolveu enfrentá-los. Travou-se luta, sem vantagem decisiva para nenhuma das partes. Afinal, os castelhanos se retiraram em 1766, já sob o governo do sucessor de Rolim, seu sobrinho João Pedro da Câmara. Expulsos os jesuítas das missões espanholas, em 1767, a situação tornou-se mais tranquila para Portugal. Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, que governou de 1772 a 1789, tomou, porém, a iniciativa de reforçar o esquema defensivo. Construiu, à margem do Rio Guaporé, o Forte Real do Príncipe da Beira, no qual chegaram a trabalhar mais de duzentos obreiros e, no sul, sobre o Rio Paraguai, abaixo do Rio Miranda, o Presídio de Nova Coimbra. Fundou Vila Maria (mais tarde São Luís de Cáceres, ou simplesmente Cáceres), Casalvasco, Salinas e Corixa Grande. Criticou severamente o novo tratado luso-espanhol de 1777 (Tratado de Santo Ildefonso) no tocante a Mato Grosso, por achar que encerrava concessões prejudiciais a Portugal. Usou no levantamento cartográfico e na delimitação de fronteiras os serviços de dois astrônomos e matemáticos brasileiros recém-formados em Coimbra, Francisco José de Lacerda e Almeida e Antônio Pires da Silva Pontes, e dos geógrafos capitães Ricardo Francisco de Almeida Serra e Joaquim José Ferreira. Caetano Pinto de Miranda Montenegro, o futuro Marquês de Vila Real de Praia Grande, chegou a Cuiabá em 1796 para assumir o cargo de capitão-general, com recomendação da metrópole para elaborar um plano de defesa que protegesse a capitania contra qualquer tentativa de invasão. A guerra com os espanhóis foi deflagrada em 1801, quando Lázaro de Ribera, à frente de oitocentos homens, atacou o Forte de Coimbra, defendido bravamente por Ricardo Franco, com apenas cem homens, que conseguiram repelir o invasor. A paz, todavia, só foi firmada em Badajoz, em 6 de maio de 1802. A capitania, com meio século de vida autônoma, consolidou sua estabilidade territorial e neutralizou de imediato o perigo de novas invasões. No fim do período colonial, registrou-se certo declínio da capitania. Cuiabá e Vila Bela haviam sido elevadas à categoria de cidade. Em 20 de agosto de 1821, Magessi foi deposto pela "tropa, clero, nobreza e povo", como "ambicioso em extremo, concussionário insaciável, hipócrita". Formou-se, em Cuiabá, uma junta governativa que jurou lealdade ao príncipe dom Pedro e outra, dissidente, em Vila Bela da Santíssima Trindade, com o que se estabeleceu a dualidade de poder. Em abril de 1878, em função do Tratado de Ayacucho, foram enviadas, para Corumbá, as "Plantas Geográficas dos Rios Guaporé e Mamoré", sendo que a cartografia para delimitar os limites fronteiriços dos rios Guaporé e Mamoré foi levantada e apresentada pela Segunda Seção Brasileira, sediada na mesma cidade, tendo sido todas chanceladas pelos delegados brasileiros e bolivianos. Continuando, a descrição diz "Destas cabeceiras continuam os limites pelo leito do mesmo rio até sua confluência com o Guaporé, e depois pelo leito deste e do Mamoré até sua confluência com o Beni, onde principia o Rio Madeira". Em 1878 e 1879, houve troca de notas da chancelaria boliviana com a embaixada do Brasil em La Paz, acusando o recebimento e aprovando a "Carta Geral", conforme ajustado na Sétima Conferência da Comissão Mista. Século XIX. A notícia da independência do Brasil , que ocorreu em 7 de setembro de 1822, só chegou na província de Mato Grosso em 22 de janeiro de 1823. A demora deve-se ao fato de que o difícil acesso a Mato Grosso àquela época, sobretudo no período de chuvas, dificultou a chegada imediata da notícia da independência. Logo depois, um governo provisório único substituiu as duas juntas e foi instalado em Cuiabá, o que transformou Vila Bela da Santíssima Trindade em "capital destronada". As lutas entre as tendências conservadora e liberal refletiram-se na província durante o primeiro reinado e a regência. Foi montada, em Cuiabá, a tipografia na qual seria impresso o primeiro jornal da província, a "Tifis Matogrossense", cujo primeiro número circulou em 14 de agosto de 1839. A situação econômico-financeira da província se agravou, com um "deficit" orçamentário crescente. Os governos se sucederam sem acontecimentos de maior relevo até a Guerra do Paraguai. Uma guarda defensiva montada em 1850 no Morro do Pão de Açúcar pelo governador João José da Costa Pimentel irritou o governo paraguaio. Pimentel então recuou ante gestões diplomáticas realizadas em Assunção. Foi substituído pelo capitão de fragata Augusto João Manuel Leverger, barão de Melgaço, cujo primeiro governo durou de 1851 a 1857. Leverger recebeu ordem de concentrar toda a força militar da província no baixo Paraguai, para esperar os navios que deveriam subir o rio com ou sem licença de Francisco Solano López. Mudou-se, então, para o Forte de Coimbra, onde permaneceu cerca de dois anos. O coronel Frederico Carneiro de Campos, nomeado presidente provincial em 1864, subia o rio Paraguai para assumir o posto quando seu navio — o Marquês de Olinda — foi atacado e aprisionado por uma belonave paraguaia. Logo que o Paraguai rompeu as hostilidades, revelou-se a fraqueza do sistema defensivo brasileiro em Mato Grosso, prevista por Leverger. Caiu logo Coimbra, após dois dias de resistência. Em seguida, foi a vez de Corumbá e da colônia de Dourados. A guerra seguiu seu curso, marcada por episódios como a retirada de Laguna, a retomada e subsequente abandono de Corumbá. Dessa cidade, as tropas brasileiras trouxeram para Cuiabá uma epidemia de varíola que teve efeitos devastadores. Para o povo, 1867 seria o "ano das bexigas", mais que da retomada de Corumbá. Os últimos anos do império registraram um lento desenvolvimento da província, governada de outubro de 1884 a novembro de 1885 pelo general Floriano Peixoto. Em 9 de agosto de 1889, assumiu a presidência o coronel Ernesto Augusto da Cunha Matos, sob cujo governo se realizou a eleição de que saíram vitoriosos os liberais — triunfo celebrado em Cuiabá com um pomposo baile em 7 de dezembro, pouco antes de chegar à cidade a notícia da queda da monarquia. As aspirações republicanas e federalistas em Mato Grosso tinham tido expressão confusa em várias revoltas, mas no remanso do segundo reinado as agitações se aplacaram. As campanhas pela abolição e pela república tiveram ali repercussão modesta. Ao iniciar-se o período republicano, Mato Grosso tinha uma população calculada em oitenta mil habitantes. A província ficava segregada: sem estradas de ferro, eram necessários cerca de trinta dias de viagem, passando por três países estrangeiros, para atingi-la, a partir do Rio de Janeiro, por via fluvial. Nas primeiras décadas do período republicano a violência foi usada em disputas políticas e econômicas, com conflitos armados pelo governo estadual, conflitos em geral entre coronéis por poder e terras, saques a cidades, como Paranaíba, execuções de opositores, como o Massacre da Baía do Garcez, em 1901, e tentativas de conseguir autonomia para o sul, que já naquela época tinha sentimento separatista. Houve também um projeto de separar o Mato Grosso do Brasil em 1892. Em 1892 a oposição pegou em armas e derrubou o presidente estadual Manuel Murtinho em 1º de fevereiro. Porém em 7 de maio Generoso Ponce, à frente de 4 000 homens, iniciou o cerco às forças adversárias na capital e dominou-as em menos de uma semana. Em 22 de junho, caiu Corumbá. Vitorioso seu Partido Republicano, Murtinho retornou ao poder. Surgiu mais tarde, entretanto, uma desavença entre os dois líderes, Ponce e Murtinho. O rompimento consumou-se em dezembro de 1898, com uma declaração pública de Manuel Murtinho, apoiado por seu irmão Joaquim Murtinho, ministro da Fazenda do presidente Campos Sales. Seus partidários conquistaram o poder, num ambiente de grande violência. Mais tarde, contudo, Ponce e Murtinho reconciliaram-se e formaram novo agrupamento político. Século XX. A vitória dessa corrente política se deu com o movimento armado de 1906, que culminou na morte do presidente Antônio (Totó) Pais de Barros. Seguiu-se um período de interinidade na presidência. Generoso Ponce foi afinal eleito em 1907. A economia do estado melhorou com a abertura de vias férreas a partir do leste (Jupiá, Três Lagoas e Água Clara) e do oeste (Porto Esperança, Miranda e Aquidauana), para se encontrarem em Campo Grande. A ligação ferroviária com São Paulo foi fator de progresso para Mato Grosso, por intensificar o comércio e valorizar as terras da região. Com o novo presidente, Joaquim Augusto da Costa Marques, que assumiu em 1911, avultaram as pressões da companhia Mate Laranjeira no sentido de renovar o arrendamento dos seus extensos ervais no sul do estado. A pretensão suscitou nova divergência entre Murtinho e Ponce: o primeiro defendia a prorrogação do contrato até 1930, com opção para a compra de 1 000 000 a 2 000 000 de hectares, enquanto Ponce queria a divisão da área em lotes de 450 hectares, que seriam oferecidos a arrendamento em hasta pública. Morto Ponce, a empresa ganhou novo trunfo com o apoio do senador situacionista Antônio Azeredo. Mas o antigo presidente do estado, Pedro Celestino Corrêa da Costa, tomou posição contrária. Os deputados estaduais hostis à prorrogação do contrato fizeram obstrução e impediram que ela fosse aprovada. Finalmente, a Mate Laranjeira foi frustrada em suas pretensões, com a aprovação da Lei Número 725, de 24 de agosto de 1915. O general Caetano Manuel de Faria Albuquerque assumiu o governo em 15 de agosto de 1915. Seus próprios correligionários conservadores tentaram forçá-lo à renúncia, e ele, tendo a seu lado Pedro Celestino, aceitou o apoio da oposição, num movimento que se chamou "caetanada". Contra seu governo organizou-se a rebelião armada, com ajuda da Mate Laranjeira e seus aliados políticos. Na assembleia, foi proposto e aprovado o impedimento do general Caetano de Albuquerque. Consultado, o Supremo Tribunal Federal não tomou posição definitiva, e o presidente Venceslau Brás acabou por decretar a intervenção no estado em 10 de janeiro de 1917. Em outubro, no Rio de Janeiro, os chefes dos dois partidos locais concluíram acordo, mediante o qual indicava o bispo dom Francisco de Aquino Correia para presidente, em caráter suprapartidário. O prelado assumiu em 22 de janeiro de 1918 e fez uma administração conciliadora, assinalada por uma série de iniciativas. A intervenção federal pôs fim á época da luta armada pelo poder. Até a Revolução de 1930, a administração estadual lutou com graves problemas financeiros. No período pós-revolucionário, sucederam-se os interventores. Em 1932, o general Bertoldo Klinger, comandante militar de Mato Grosso, deu apoio armado à Revolução Constitucionalista de 1932. Em 7 de outubro de 1935, a Assembleia Constituinte elegeu governador Mário Correia da Costa. Incidentes ocorridos em dezembro de 1936, quando foram feridos a bala os senadores Vespasiano Martins e João Vilas Boas, deram causa à renúncia do governador e a nova intervenção federal. A velha ideia da separação da porção sul do estado só veio a triunfar em 1977, por meio de uma lei complementar que desmembrou 357 471,5 km² do estado para criar Mato Grosso do Sul. Anteriormente, houve ainda a tentativa de transformar Campo Grande em capital de Mato Grosso, destronando Cuiabá. A iniciativa da divisão partiu do Governo Federal, que alegava, em primeiro lugar, a impossibilidade de um único governo estadual administrar área tão grande e, em segundo, as nítidas diferenças naturais entre o norte e o sul do estado. A lei entrou em vigor em 1º de janeiro de 1979. A partir de então, todas as projeções pessimistas de que o então norte, com a capital Cuiabá, iria se estagnar, não se concretizaram, pelo contrário, surgindo então um processo de pleno crescimento do estado, aliado com a criação e desenvolvimento de municípios como Alta Floresta, Sinop, Tangará da Serra, Primavera do Leste, Campo Novo do Parecis, Sapezal, Campo Verde, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, que hoje estão entre os maiores contribuintes do PIB de Mato Grosso. As políticas econômicas de apoio preferencial à exportação e à ocupação e desenvolvimento da Amazônia e do Centro-Oeste, implantadas a partir da década de 1970, levaram a novo surtos de progresso em Mato Grosso. A construção de Brasília contribuiu para acabar com a antiga estagnação. Uma vez inaugurada a nova capital, Mato Grosso continuou a atrair mão de obra agrícola de outros estados, pois oferecia as melhores áreas de colonização do país. Graves problemas persistiram, porém, na década de 1980. Geografia. O estado de Mato Grosso ocupa uma área de  km² e localiza-se a oeste do Meridiano de Greenwich e a sul da Linha do Equador, tendo fuso horário -4 horas em relação a hora mundial GMT. No Brasil, o estado faz parte da região Centro-Oeste, fazendo fronteiras com os estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Pará, Amazonas, Rondônia, Tocantins, além de um país, a Bolívia. A capital (Cuiabá) está localizada a 15º35'55.36" lat. e 56º05'47.25" long., sendo conhecida, por isso mesmo, como coração da América do Sul. A drenagem da região se faz por meio de dois sistemas, os dos rios Amazonas e Paraguai. Ao primeiro, pertencem o Juruena e o Teles Pires (formadores do Tapajós), além do Xingu e do Araguaia, este na fronteira com Goiás. O principal afluente do Rio Paraguai no estado é o Rio Cuiabá. O estado de Mato Grosso, um dos campeões do desmatamento no Brasil e no mundo, era revestido por uma vegetação em que predominavam as florestas, como prosseguimento da mata amazônica. Na área do Pantanal Mato-Grossense que permaneceu nos limites do estado ocorria um revestimento vegetal composto de cerrados e campos. A zona de florestas compreendia 47% da área do estado, os cerrados 39% e os campos 14%. São as seguintes unidades de conservação a nível federal localizadas em Mato Grosso: Parque Nacional do Cristalino; Parque Nacional do Xingu; Parque Nacional do Pantanal Matogrossense; Parque Nacional da Chapada dos Guimarães; Estação Ecológica de Taiamã; Estação Ecológica da Serra das Araras; Área de Proteção Ambiental Meandros do Araguaia; Parque Nacional do Juruena e Parque Nacional dos Campos Amazônicos. Relevo. Com altitudes modestas, o relevo apresenta grandes superfícies aplainadas, talhadas em rochas sedimentares. Abrange três regiões distintas. Na porção centro-norte do estado, a dos chapadões sedimentares e planaltos cristalinos (com altitudes entre quatrocentos e oitocentos metros), que integram o Planalto Central Brasileiro. Na região do planalto arenito-basáltico, localizada no sul, simples parcela do planalto meridional. Na parte do Pantanal Mato-Grossense, baixada da porção centro-ocidental. Ao sul do Planalto Brasileiro, situa-se o divisor de águas entre as bacias dos rios Paraguai e Amazonas, constituído em parte pela Chapada dos Parecis. A maior parte da área é drenada pelos rios da Bacia amazônica. A planície aluvial do médio Araguaia situa-se na região limítrofe entre Mato Grosso e Goiás. Tem natureza semelhante à da planície do Pantanal: ampla, está sujeita a inundações anuais e deposição periódica de aluviões. Pouco depois dela, para oeste, ficam os contrafortes da serra do Roncador. Fuso horário. O fuso horário em vigor é uma hora menor em relação ao Horário de Brasília e quatro horas a menos em relação a Greenwich, UTC-4. Geralmente entre os meses de outubro e fevereiro adota-se o Horário de Verão, no qual os relógios são adiantados uma hora para poupar energia. Curiosamente, ainda que em caráter não oficial, alguns municípios do leste do estado, na região conhecida como "Vale do Araguaia", adotam o Horário de Brasília mesmo sendo obrigados por lei a adotarem o Fuso Horário Oficial de Mato Grosso. A população, por sua vez, alega que a região já está dentro do fluxo 45° O e, além disso, sofre muita influência do estado de Goiás, uma vez que por se tratar de região de divisa, a capital Goiânia está muito mais próxima que Cuiabá. Portanto, municípios como Barra do Garças, Alto Araguaia, Canarana, Água Boa e Nova Xavantina, por exemplo, seguem o Horário de Brasília. Clima. O estado apresenta sensível variedade de climas. Prevalece o tropical super-úmido de monção, com elevada temperatura média anual, superior a 24º C e alta pluviosidade (2 000 milímetros anuais); e o tropical, com chuvas de verão e inverno seco, caracterizado por médias de 23 °C no planalto. A pluviosidade é alta também nesse clima: excede a média anual de 1 500 milímetros. Já em lugares elevados, como a Chapada dos Guimarães e a Serra do Monte Cristo, o clima é subtropical, com uma temperatura média anual de Chapada dos Guimarães é de 24 °C, sendo a maior máxima registrada de 40 °C e a menor de 0 °C. Durante a atuação de uma intensa massa de ar polar, as temperaturas durante a tarde nas cidades do centro-sul e sudoeste do estado podem estar próximas a 10 °C, enquanto que no restante do território as temperaturas ultrapassam os 30 °C. Demografia. A população de Mato Grosso para 1.º de julho de 2021 era de habitantes, segundo a estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mato Grosso é o 17.º estado mais populoso do Brasil e concentra 1,7% da população brasileira. Possui uma densidade demográfica de 3,9 habitantes por quilômetro quadrado. Pelas características encontradas no estado, o predomínio é de pessoas adultas e com um índice de declínio para jovens e aumento de idosos. Pela média do estado há um predomínio de homens devido a emigração dos outros estados para Mato Grosso, contudo, na grande Cuiabá há predomínio de mulheres, semelhante à média brasileira. Mato Grosso ocupa o oitavo lugar entre os maiores índices de desenvolvimento humano das unidades federativas do Brasil. Segundo dados do Censo brasileiro de 2010, obtidos pelo IBGE por meio de pesquisa de autodeclaração, 52,7% da população mato-grossense se identifica como parda, 27,1% como branca, 7,4% como negra e 1,1% como asiáticos ou indígenas.</small> Semelhante ao que ocorre em todo território nacional, Mato Grosso é predominantemente povoado por pessoas cristãs, sendo na sua maioria católicos e uma fração menor dividida em inúmeras denominações evangélicas, contando ainda com a presença de religiões afrodescendentes. Governo e política. O estado de Mato Grosso, assim como em uma república, é governado por três poderes, o executivo, representado pelo governador, o legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso e outros tribunais e juízes. Além dos três poderes, o estado também permite a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos. A atual constituição do estado foi promulgada em 1989, acrescida das alterações resultantes de posteriores Emendas Constitucionais. O poder executivo mato-grossense está centralizado no governador do estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto pela população para mandatos de até quatro anos de duração, podendo ser reeleito para mais um mandato. Sua sede é o "Palácio Paiaguás", que desde 1975 é sede do poder executivo e residência oficial do governador. Nas eleições estaduais em Mato Grosso em 2018, Mauro Mendes candidatou-se pelo Democratas a governador e foi eleito em 1º turno com 58,69% dos votos válidos. O poder legislativo estadual é unicameral, constituído pela Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, localizada no Centro Político Administrativo. É constituída por 24 deputados, que são eleitos a cada quatro anos. No Congresso Nacional, a representação mato-grossense é de três senadores e oito deputados federais. O poder judiciário tem a função de julgar, conforme leis criadas pelo legislativo e regras constitucionais brasileiras, sendo composto por desembargadores, juízes e ministros. Atualmente, a maior corte do Poder Judiciário mato-grossense é o Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Subdivisões. O Mato Grosso é composto por 141 municípios, que estão distribuídos em 18 regiões geográficas imediatas, que por sua vez estão agrupadas em cinco regiões geográficas intermediárias, segundo a divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017. As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. Na divisão vigente até 2017, os municípios do estado estavam distribuídos em 22 microrregiões e cinco mesorregiões, segundo o IBGE. Economia. A pecuária e a agricultura em terras anteriormente constituintes de florestas ou de cerrado, que foram devastadas com este fim, foram os principais sistemas comerciais de Mato Grosso dos séculos XX e XXI. Devido ao crescimento econômico propiciado pelas exportações, Mato Grosso tornou-se um dos principais produtores e exportadores de soja do Brasil, entre os municípios que destacam como exportadores está Rondonópolis maior exportador do Estado. Entre os dez municípios mais ricos do Centro-Oeste, 8 são de Mato Grosso, com destaque para Alto Taquari, Campos de Júlio e Sapezal, que possuem os três maiores PIBs per capita da mesorregião, e Cuiabá, que é sede de 8 empresas de grande porte, mesma quantidade que Belém e Florianópolis e maior número que em Campo Grande. É um dos maiores estados em relação à exploração de minérios. Em 2012, o crescimento na região de Sinop, Sorriso, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Matupá se mostrou um forte propulsor para o desenvolvimento econômico do estado, baseado na produção e venda de grãos. As exportações do estado se basearam, naquele ano, em soja (40,59%), milho (17,70%), farelo de soja (16,42%), algodão cru (7,86%) e carne bovina congelada (5,13%) Em dados de 2020, o Mato Grosso lidera como maior produtor nacional de grãos do país, com uma participação de 28,0%. É o maior produtor de soja do Brasil, com 26,9% do total produzido em 2020 (33,0 milhões de toneladas), e o terceiro maior produtor de feijão, com 10,5% da produção brasileira. Na cana-de-açúcar, o estado está em sexto lugar no Brasil, com dezesseis milhões de toneladas colhidas em 2019/20. Em 2017, o Mato Grosso era o maior produtor de milho do país com 58 milhões de toneladas. É também o maior produtor de algodão do Brasil, com cerca de 65% da produção nacional (1,8 dos 2,8 milhões de toneladas colhidos no país em 2018). Na semente de girassol, o estado foi o maior produtor nacional em 2019, com 60 mil toneladas. Na produção de mandioca, o Brasil produziu um total de 17,5 milhões de toneladas em 2019. Mato Grosso produziu 287 mil toneladas neste ano. Em 2019, o rebanho bovino matogrossense chegou à marca de trinta milhões de cabeças de gado, o maior rebanho bovino do país, representando sozinho quase 14% da produção nacional. Em 2018, Mato Grosso era o quinto maior produtor de carne suína do país, com um plantel de aproximadamente 178 mil matrizes e um rebanho em torno de 2,5 milhões de animais. Em 2017, o estado teve 1,15% de participação na mineração nacional (quinto lugar no país). Mato Grosso teve produção de ouro (8,3 toneladas a um valor de R$ 1 bilhão), principalmente na cidade de Peixoto de Azevedo, e estanho (536 toneladas a um valor de R$ 16 milhões). Além disso, nas pedras preciosas, o estado é o 2º maior produtor nacional de diamante, tendo extraído 49 mil quilates no ano de 2017. A cidade de Juína é a principal nesta atividade no estado. O estado também tem uma pequena produção de safira e jaspe. Mato Grosso tinha em 2017 um PIB industrial de R$ 17,0 bilhões, equivalente a 1,4% da indústria nacional. Empregava naquele ano trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: construção (32,0%), alimentos (27,9%), serviços industriais de utilidade pública, como energia elétrica e Água (18,6%), bebidas (4,5%) e derivados do petróleo e biocombustíveis (3,9%). Estes cinco setores concentravam naquele ano 86,9% da indústria do estado. Infraestrutura. Transportes. Mato Grosso tinha, em 2020, 141.171 km de estradas municipais; nas estradas estaduais eram 22.399 km de estradas não pavimentadas, 7.281 km de estradas pavimentadas e 81 km de rodovias duplicadas. Na malha rodoviária federal, havia 3.649 km de estradas, incluindo 330 km de rodovias duplicadas. O Mato Grosso, apesar de ser um estado de ocupação mais recente, já conta com uma rodovia de pista dupla ligando a capital Cuiabá a uma das maiores cidades do estado, Rondonópolis, e seguindo até a divisa com o Mato Grosso do Sul. As principais rodovias de Mato Grosso foram construídas a partir da década de 1970, através do Programa de Integração Nacional. O Transporte Terrestre atua com grande importância para a economia do estado, permitindo o escoamento da produção agrícola e suprindo as necessidades da circulação de mercadorias. Sendo um grande produtor e exportador agropecuário, o estado vem recebendo algumas evoluções em sua infra-estrutura rodoviária, porém, ainda possui muitas estradas de terra e algumas rodovias costumam ficar em más condições asfálticas. As principais Rodovias Federais que cortam o estado são: BR-163, a partir do sul do Estado, liga Cuiabá a Santarém; BR-364, a partir de Goiás, liga Cuiabá à Rio Branco no Acre passando por Porto Velho em Rondônia; BR-070, que liga Cuiabá a Brasília e BR-158, a partir de Barra do Garças, segue em direção ao Pará. A Ferronorte interliga Mato Grosso ao Porto de Santos, em São Paulo. Conta com quatro terminais: Alto Araguaia, Alto Taquari, Itiquira (Mato Grosso) e Rondonópolis(Sendo este o maior terminal intermodal da América Latina), e são responsáveis pelo escoamento de grande parte da produção agrícola do estado. Atualmente a ferrovia encontra-se em posse/concessão da América Latina Logística. Apesar dos rios que banham o estado apresentarem boas condições de navegação, as Hidrovias em Mato Grosso, em geral, são menos utilizadas e envolvem polêmicas com questões ambientais e sociais, sendo que muitas obras encontram-se embargadas atualmente. As principais hidrovias são: Paraguai-Paraná, Rio das Mortes-Araguaia-Tocantins e Madeira-Amazonas O Aeroporto Internacional Marechal Rondon, localizado no município de Várzea Grande, é o principal aeroporto do estado. Dista oito quilômetros do centro de Cuiabá, a capital do estado, sendo o terceiro aeroporto mais movimentado do Centro-Oeste do Brasil, segundo dados da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária. Educação. O Estado possui diversas escolas de educação básica e instituições de ensino técnico e superior. As principais instituições públicas de educação de Mato Grosso são: Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT); Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) e Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). A Universidade Federal de Mato Grosso foi criada em 1970. Sua sede encontra-se em Cuiabá, possuindo campi em mais quatro cidades: Barra do Garças, Pontal do Araguaia, Sinop e Várzea Grande. As atividades de ensino, pesquisa e extensão estão concentradas em 113 cursos de graduação, incluídas as habilitações, e 60 de especialização sustentados em núcleos de investigação e extensão, onde mais de 21 mil estudantes realizam seus estudos. A Universidade do Estado de Mato Grosso foi fundada em 1978, com sede administrativa no município de Cáceres. Possui câmpus nos municípios de Alta Floresta, Alto Araguaia, Barra do Bugres, Cáceres, Colíder, Diamantino, Juara, Luciara, Nova Mutum, Nova Xavantina, Pontes e Lacerda, Sinop e Tangará da Serra. A contribuição desta universidade é bastante relevante, principalmente para o interior de Mato Grosso, formando milhares de profissionais. Cultura. Música e dança. Mato Grosso preserva manifestações culturais com influências variadas, que ganham expressão em danças cantos e festivais folclóricos em diferentes regiões do estado. As mais conhecidas são o Siriri, dança acompanhada por cantoria, com influências indígenas e africanas, e o Cururu, espécie de desafios de rimas, com origens em manifestações religiosas por homens, que fazem versos e toadas para as mulheres. Os maiores festivais de Siriri e Cururu ocorrem em Cuiabá e região. A viola de cocho é um instrumento musical rudimentar típico da Bacia do Paraguai, produzida por mestres artesãos, violeiros e cururueiros. Praticamente desconhecida no Brasil, a viola de cocho já muito aplaudida mundo afora. A viola de cocho só é encontrada no pantanal de Mato Grosso, recebe este nome porque é confeccionada em um tronco de madeira inteiriço, esculpido no formato dos recipientes utilizados para alimentar os animais, os cochos. Com forma e sonoridade singulares, a viola de cocho possui sempre cinco ordens de cordas, denominada "prima", "contra", "corda do meio", "canotio" e "resposta." Outra cultura típica do estado é o sertanejo universitário, um estilo musical que provém de uma mistura da música sertaneja. É considerado o terceiro segmento na evolução da música sertaneja, estando atrás do sertanejo dito raiz e do sertanejo romântico. O rasqueado cuiabano é a música popular mato-grossense que tem as suas origens nos ritmos que formaram a música popular brasileira o rasqueado é formado por três ritmos que estão na base da formação do povo brasileiro, ou seja, o negro, o índio e o europeu. Os instrumentos utilizados na execução do tradicional rasqueado são o ganzá, o mocho ou adufo (espécie de tambor em forma de banquinho), o violinofone e a imprescindível viola-de-cocho. Porém hoje em dia , novos instrumentos, principalmente os eletrônicos, são empregados por bandas ditas da região urbana. O lambadão cuiabano (também conhecido simplesmente como lambadão) é um estilo de música e dança característico da baixada cuiabana, especialmente nos municípios de Cuiabá e Várzea Grande. Trata-se de um ritmo rápido derivado da junção da lambada e do carimbó do Pará, que se tornou um ritmo característico da periferia cuiabana e varzea-grandense. O lambadão sofreu um pouco de preconceito, especialmente contra as versões mais sexualizadas da dança, semelhantes ao funk carioca. Em 2009, foi promovido o Primeiro Festival de Lambadão de Cuiabá com as principais bandas de lambadão como Scort Som, Real Som, Banda Ellus e muitas outras. Esportes. No estado nasceram os medalhistas em Mundiais Felipe Lima na natação e David Moura no judô, além dos campeões mundiais de futsal Vinícius e Lenísio.
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Mato Grosso do Sul
Mato Grosso do Sul Mato Grosso do Sul é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Localiza-se no sul da Região Centro-Oeste. Limita-se com cinco estados brasileiros: Mato Grosso (norte), Goiás e Minas Gerais (nordeste), São Paulo (leste) e Paraná (sudeste); e dois países sul-americanos: Paraguai (sul e sudoeste) e Bolívia (oeste). É dividido em 79 municípios e ocupa uma área é de , com tamanho comparável à Alemanha. Com uma população de habitantes em 2021, Mato Grosso do Sul é o 21º estado mais populoso do Brasil. A capital e município mais populoso de Mato Grosso do Sul é Campo Grande. Outros municípios com população superior a cem mil habitantes são Dourados, Três Lagoas e Corumbá. A extremidade ocidental do estado é coberta pelo Pantanal; o noroeste cobre as planícies; e o leste cobre os planaltos com as serras escarpadas da Bodoquena. Paraguai, Paraná, Paranaíba, Miranda, Aquidauana, Taquari, Negro, Apa e Correntes são os rios mais importantes. As principais atividades econômicas são agricultura (soja, milho, algodão, arroz, cana-de-açúcar); a pecuária (gado bovino); a mineração (ferro, manganês, calcário); e a indústria (alimentícia, de cimento, de mineração). O desejo de desmembrar Mato Grosso do Sul de Mato Grosso se iniciou nas primeiras décadas do século XX, com uma revolta sob a liderança do coronel João da Silva Barbosa, resultando que os rebeldes foram derrotados. O norte sempre teve resistência, por ter medo de que o estado se esvaziasse economicamente. Por ocasião da Revolução Constitucionalista de 1932, efetivou-se a adesão do sul ao movimento, sob a condição de que se fosse vitorioso seria dividido o antigo estado. No dia 11 de outubro de 1977, finalmente concretizou-se o desmembramento de Mato Grosso do Sul, que o presidente Ernesto Geisel elevou à categoria de estado em 1º de janeiro de 1979, sendo primeiro governador empossado Harry Amorim Costa, além da Assembleia Constituinte. O acontecimento das primeiras eleições deu-se apenas em 1982. Como justificativa de desmembrar o novo estado, foi argumentado pelo governo federal que a grande extensão da área do antigo estado tornava-o difícil de administrar, além da apresentação dos verdadeiros ambientes naturais diferenciados. Tem, como bebida típica, o tereré, que é o seu patrimônio imaterial, sendo Mato Grosso do Sul também o estado-símbolo dessa bebida e maior produtor de erva-mate da Região Centro-Oeste do Brasil. O uso desta bebida, derivada da erva-mate ("Ilex paraguariensis"), nativa do Planalto Meridional do Brasil, é de origem pré-colombiana. O Aquífero Guarani compõe parte do subsolo do estado, sendo Mato Grosso do Sul detentor da maior porcentagem do aquífero dentro do território brasileiro. Etimologia e linguística. O termo "Mato Grosso do Sul" deriva do nome do vizinho "Mato Grosso", estado do qual aquele foi desmembrado quando de sua criação. Já a origem do termo "Mato Grosso" é incerta, acreditando-se que venha de um nome indígena usado para designar parte da região - a palavra guarani "kaaguazú" ("kaa", "bosque", "mata" e "guazú", "grande", "volumoso"), que significaria, aproximadamente, "Mato Grosso". Assim como o vizinho estado de Mato Grosso, o uso oficial, localmente, rejeita sempre o artigo definido junto ao nome do estado: diz-se "governo de Mato Grosso do Sul", "governador de Mato Grosso do Sul", "constituição do estado de Mato Grosso do Sul", "em Mato Grosso do Sul". História. Primeiros tempos. Os primeiros habitantes de Mato Grosso do Sul eram povos indígenas como os guaranis, terenas e caiapós. A região de Mato Grosso do Sul estava, no século XVIII, no caminho das monções, expedições fluviais que ligavam a vila de Araritaguaba a Cuiabá. Foi nesse contexto que os primeiros não-indígenas se fixam no atual território do estado e eram paulistas. Em 1719, os irmãos Leme da Silva, por acidente, desviam-se da rota convencional das monções e se fixam em um local no trajeto, onde criam a Fazenda Camapuã, onde surge o povoado embrião da atual Camapuã. Com isso, surgem as primeiras povoações no estado na rota das monções, como Coimbra (1775), Ladário (1778) e Miranda (1797). Pós-Guerra do Paraguai e antes da emancipação. Nas décadas após a Guerra do Paraguai (1864-1870), o atual Mato Grosso do Sul recebe ondas migratórias vindas do Sul e Sudeste do Brasil, atraídos pelas terras férteis, criação de gado e o cultivo de erva-mate, que ampliam o povoamento do estado. Alguns imigrantes europeus, sobretudo italianos e espanhóis, também se fixam no estado. Novas cidades surgem nas das antigas fortalezas da guerra, como Dourados e Coxim, além de Campo Grande, fundada por mineiros logo após o fim do conflito. Por volta de 1889, as elites de Corumbá propuseram transferir a capital de Mato Grosso para lá, assim iniciando o movimento separatista. No início do século XX, a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil rompe o isolamento do sul de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), ligando Corumbá ao litoral de São Paulo e isso alavanca o desenvolvimento da região. Além disso, o sul mato-grossense sentia-se mais próximo a São Paulo do que a Cuiabá, favorecendo o separatismo. Em 1932, com a Revolução Constitucionalista em São Paulo, é criado por rebeldes apoiadores da causa paulista o Estado de Maracaju, cujas terras abrangiam o atual estado de Mato Grosso do Sul, e Vespasiano Martins é nomeado governador. Com o fim da Revolução, Maracaju é dissolvido e reincorporado a Mato Grosso. Após o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial, em 1943 Getúlio Vargas ordena a criação de territórios federais em regiões estratégicas de fronteira, como o de Ponta Porã, que existiu até 1946, quando voltou a pertencer a Mato Grosso. A partir dos anos 1950, o desenvolvimento do agronegócio e a expansão da fronteira agrícola trazem migrantes de outros estados. Emancipação política. A ideia de desmembrar o antigo sul de Mato Grosso contornou definitivamente o atual estado em 1975, com a tese "Divisão político-administrativa de Mato Grosso", que a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) publicou, cujos dados basearam a campanha intensificada pelo desmembramento. O presidente Ernesto Geisel comunicou que o governo federal decidiu sobre o assunto durante uma reunião com o então governador de Mato Grosso, José Garcia Neto, em 4 de maio de 1977. De acordo com o primeiro projeto de lei, o novo estado seria chamado de "Campo Grande". Quando o Congresso Nacional aprovou a lei e o presidente do Brasil sancionou, em 11 de outubro do mesmo ano, o nome do estado foi mudado para "Mato Grosso do Sul" e foi decidido que a capital do novo estado seria Campo Grande. A emancipação do sul de Mato Grosso em um novo estado se deve a dois fatores: o grande território de Mato Grosso, que o impedia de ser governado eficazmente, e fatores geográficos e sociais, com o então sul do estado com uma vegetação de campos, melhor distribuição fundiária, agricultura mais intensiva e maior densidade demográfica, e o norte mato-grossense dominado pela Amazônia, com o predomínio do latifúndio e da agricultura extensiva. Novo estado. A afirmação dada pela lei que constituiu Mato Grosso do Sul nos quatro primeiros anos em que passou a existir, desde 1º de janeiro de 1979, foi a de que o presidente do Brasil nomeou um interventor que governaria o novo estado. Naquela data o presidente Ernesto Geisel investiu no cargo, em Brasília, o profissional da engenharia Harry Amorim Costa. Durante aquela ocasião, foi acentuado pelo presidente Ernesto Geisel que o fato de ser criado Mato Grosso do Sul teve como significado "o reconhecimento de uma realidade econômica e social" e foi destacado no novo estado — então a 23ª unidade da federação brasileira — a "extraordinária vocação para o desenvolvimento agropecuário e agroindustrial", devido acima de tudo dos solos férteis da região de Dourados e do grande potencial que o cerrado tem da agricultura. Cortando o mandato do primeiro governador pelo primeiro ano, Marcelo Miranda Soares substituiu Harry Amorim. Quem demitiu Marcelo Miranda, por sua vez, já em 1980 foi o presidente do Brasil João Baptista Figueiredo e quem substituiu foi Pedro Pedrossian, "de modo a promover maior entrosamento e unidade política no estado, com vistas às eleições de 1982". Contudo, nem o fato de substituir nem as verbas que o governo liberou em 1981 foi a garantia de que o governo fosse vitorioso nas eleições de 1982. Foi eleito governador Wilson Barbosa Martins, ex-deputado federal cassado. O governo de Wilson Martins enfatizou a industrialização, perante o fato de instituir os incentivos—um dos quais tem consistido na fixação de um prazo de três anos de carência para recolher o Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICM) do estabelecimento das empresas industriais no estado até 1989. Também foi atacado pelo novo governo que o meio ambiente fosse ameaçado, quando teve o apoio em 1984 da Operação Pantanal 2, que a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema) organizou, com as forças armadas e as polícias civil e militar ajudando. O destino da operação era a repreensão dos "coureiros" que praticavam a caça ilegal no pantanal. Foi pronunciado por Martins que ele foi contrário ao fato de instalar mais seis destilarias de álcool na bacia hidrográfica do rio Paraguai: considerava o projeto como ameaçador do meio ambiente pois foi previsto pelo então governador da época que fossem despejados de 15 milhões de litros de vinhoto diariamente nos rios. Nos anos 1980 foi procurado pelo governo estadual que ele mesmo voltasse a discutir sobre os problemas sociais, inclusive setores infraestruturais como a educação e a saúde. O governo instalou a primeira companhia da Polícia Florestal, que tem a incumbência de promover a redução das ações da predação humana no Pantanal, área que empresas pesqueiras e caçadores depredaram. Também foi implantado o Grupo de Operações de Fronteira (GOF) para a repressão do tráfico de drogas, o fato de contrabandear e a caçar ilegalmente animais silvestres nos 400 km de fronteiras com a Bolívia e o Paraguai. A par de desenvolver o turismo ecológico, que o Pantanal propiciou, nos anos 1990 têm crescido as perspectivas de desenvolver a economia, acima de tudo com o fato de decidir a conclusão das obras da Ferronorte, que dará permissão ao transporte ferroviário da produção agrícola em direção ao porto de Santos, no estado de São Paulo. Em 1997 o governo privatizou a Empresa Energética do Estado de Mato Grosso do Sul. Século XXI. Nos anos de 2005 e 2006, o fato de descobrir focos de febre aftosa no estado tem levado aproximadamente 50 países à restrição ou à proibição de comprar carne bovina no Brasil. Foi confirmado pela União Europeia (UE) que fosse restringida a carne de Mato Grosso do Sul em setembro de 2007. Essa medida foi revogada em outubro de 2008. De 2002 a 2008, os lenhadores desmataram 4 279 quilômetros quadrados do bioma Pantanal, dos quais 65% ficavam em território sul-mato-grossense. Em maio de 2008, foi realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Operação Ouro Negro, que visa combater o trabalho de explorar ilegalmente a lenha e o carvão no Pantanal. O Ibama multou seis carvoarias por não licenciarem e sim desmatarem acima do limite que a instituição ambiental autorizou. A justiça condenou o ex-prefeito do município de Dourados Ari Artuzi e os ex-vereadores Sidlei Alves, Humberto Teixeira Junior e Evaldo de Melo Moreira, em outubro de 2011, por terem cometido crime de improbidade administrativa. Um outro processo será respondido pelos quatro políticos. Eles foram acusados por superfaturar o fato de licitar e pagar propina. Geografia. O estado de Mato Grosso do Sul está localizado no sul da região Centro-Oeste do Brasil e tem como limites Goiás ao nordeste, Minas Gerais ao leste, Mato Grosso ao norte, Paraná ao sul, São Paulo ao sudeste, Paraguai ao oeste e sul e a Bolívia ao noroeste. Ocupa uma superfície de quilômetros quadrados, participando com 22,2 por cento da superfície da Região Centro-Oeste do Brasil e 4,2 por cento da área territorial brasileira (de 8 514 876,6 km²), sendo ligeiramente maior que a Alemanha. Possui, ainda, 79 municípios, 165 distritos, quatro mesorregiões geográficas e onze microrregiões geográficas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Hidrografia. O território estadual é drenado a leste pelos sistemas dos rios Paraná, sendo seus principais afluentes os rios Sucuriú, Verde, Pardo e Ivinhema; a oeste é drenado pelo Paraguai, cujos principais afluentes são os rios Taquari, Aquidauana e Miranda. Pelo Rio Paraguai escoam as águas da planície do Pantanal e terrenos periféricos. Na baixada, produzem-se anualmente inundações de longa duração. A linha de divisa com o estado de Mato Grosso segue limites naturais formados por vários rios e camalotes. Vegetação. Os cerrados recobrem a maior parte do estado, mas também destaca-se a Floresta Estacional Semidecidual. Há ainda a presença de pampas e Mata Atlântica. Na planície do Pantanal, no oeste do estado, durante o período de cheias do Rio Paraguai , a região vira a maior região alagadiça do planeta, lá se combinam vegetações de todo o Brasil (até mesmo da Caatinga e da Floresta Amazônica). É um dos biomas com maior abundância de biodiversidade do Brasil, embora seja considerada pouco rica em número de espécies. Relevo. O Relevo de Mato Grosso do Sul é formado por planaltos, patamares e chapadões, todos inseridos nas bacias dos rios Paraná e Paraguai. O arcabouço geológico de Mato Grosso do Sul é formado por três unidades geotectônicas distintas: a plataforma amazônica, o cinturão metamórfico Paraguai-Araguaia e a bacia sedimentar do Paraná. Sobre essas unidades, visualizam-se dois conjuntos estruturais. O primeiro, mais antigo, com dobras e falhas, está localizado em terrenos pré-cambrianos, e o segundo, em terrenos fanerozoicos, na bacia sedimentar do Paraná. Não ocorrem grandes altitudes nas duas principais formações montanhosas, as serras da Bodoquena e de Maracaju, que formam os divisores de águas das bacias do Paraguai e do Paraná. As altitudes médias do estado ficam entre duzentos e seiscentos metros. Clima. Na maior parte do território do estado predomina o clima do tipo tropical ou tropical de altitude, com chuvas de verão e inverno frio e seco, caracterizado por médias termométricas que variam entre 25 °C na Baixada do Paraguai e vinte graus centígrados no planalto. No extremo meridional ocorre o clima subtropical, em virtude de uma latitude um pouco mais elevada e do relevo de planalto. As geadas são comuns no sul do estado registrando em média três ocorrências do fenômeno por ano. Observa-se o mesmo regime de chuvas de verão e inverno seco e a pluviosidade anual é, também, de aproximadamente 1 500 milímetros. Demografia. A população de Mato Grosso do Sul tem crescido a altos níveis desde a década de 1870, quando o estado passou a ser efetivamente povoado. Entre a década de 1940 e o ano de 2008, a população aumentou quase dez vezes, ao passo que a população do Brasil, no mesmo período, aumentou pouco mais que quatro vezes. Isso, no entanto, não se dá devido a uma alta taxa de natalidade no estado, mas à grande quantidade de migrantes de outros estados ou imigrantes em Mato Grosso do Sul. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no ano de 2005, 30,2% da população residente no estado não era natural daquela unidade da federação, ao passo em que a taxa de fecundidade no estado no ano 2000 era a décima menor do Brasil, com 2,4 filhos por mulher. Composição étnica. Segundo o Censo de 2010, a composição étnica da população sul-mato-grossense era a seguinte naquele ano: 47,29% brancos, 43,59% pardos, 4,90% pretos, 2,99% indígenas e 1,22% amarelos. As migrações de contingentes oriundos em grande parte do Sul e Sudeste do Brasil e imigrações de países como Alemanha, Espanha, Itália, Japão, Paraguai, Portugal, Síria e Líbano foram fundamentais para o povoamento de Mato Grosso do Sul e marcaram a fisionomia da região. O estado é, ainda, o segundo do Brasil em número de habitantes ameríndios, de várias etnias, como os guaranis caiouás e nhandevas, guatós, cadiuéus, kambas, ofaiés, terenas e chiquitanos. O grande número de descendentes de indígenas e de imigrantes paraguaios (estes últimos, em grande parte, fruto da miscigenação entre espanhóis e índios guaranis) são dois fatores que contribuem para a alta porcentagem de pardos na população de Mato Grosso do Sul. Já a ascendência afro-brasileira desse grupo étnico não é tão numerosa quanto a indígena. A população indígena do estado totalizava, em 2008, 53 900 pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A área mais povoada do antigo estado de Mato Grosso, com uma densidade demográfica bastante alta, era o planalto da Bacia do Rio Paraná, onde ocorrem solos de terra vermelha com topografia regular. Ao ser constituído, no final da década de 1970, Mato Grosso do Sul contava com uma densidade média de 3,9 habitantes por quilômetro quadrado - alguns municípios chegavam a ter mais de cinquenta habitantes por quilômetro quadrado-, em contraste com o norte, atual Mato Grosso, de menor densidade. Migração e imigração. Pelas informações dos censos de 1991 e 1996, entre 1970 e 1990 houve redução nas migrações interestaduais nas últimas décadas e também queda do saldo migratório em Mato Grosso do Sul. Segundo os dados, em 1991 houve a entrada de 124 045 pessoas de outros estados e a saída de 105 009, resultando no saldo migratório de 19 036. Já em 1996, 87 374 pessoas imigraram para o estado e 73 748 emigraram desse para outros estados, resultando num saldo migratório de 13 626 habitantes. No geral, o cenário demográfico e social apresentado em Mato Grosso do Sul se baseia na tomada de decisões das diversas instâncias de atuação da sociedade civil, da academia e dos diversos níveis de governos, possibilitando e adequando o planejamento e ações dentro de uma visão panorâmica real nos níveis desejados de qualidade de vida e com o devido padrão de desenvolvimento sustentável. Durante seus quase quinhentos anos de história espanhola, portuguesa e brasileira, a chegada de imigrantes, colonizadores e conquistadores foi constante. Desde que o primeiro colonizador europeu, Aleixo Garcia, que teria pisado em seu território em 1524, ao percorrer o caminho do Peabiru, o estado de Mato Grosso do Sul recebeu migrantes de diversas partes do Brasil nas diferentes fases de sua ocupação. Visando a substituição da mão de obra escrava por trabalhadores livres no Brasil, o Governo Imperial passou, a partir da segunda metade do século XIX, a promover mais ativamente a imigração, principalmente europeia para o Brasil. Dessa época até o nacionalismo do Estado Novo, que dificultou a imigração, o Brasil recebeu milhões de imigrantes, não só europeus. O sul mato-grossense não foi exceção. A partir de 1890, o estado de Mato Grosso – notadamente o sul mato-grossense – apresentou uma população de estrangeiros crescente, superior a seis por cento da população total, até 1920, quando o número decaiu para entre cinco e três por cento da população em 1970. De qualquer maneira, no período entre 1872 e 1970, Mato Grosso e o sul mato-grossense tiveram continuadamente uma população estrangeira acima da média nacional, caso este que somente se repetiu com quatro outros estados e a cidade do Rio de Janeiro. Na cidade de Corumbá, por exemplo, era difícil localizar quem falasse o idioma português. Entre 1920 e 1970, mais de cinquenta por cento dos estrangeiros que habitavam Mato Grosso eram paraguaios. Outros treze por cento eram naturais da Bolívia. Subdivisões. O Mato Grosso do Sul é composto por 79 municípios, que estão distribuídos em 12 regiões geográficas imediatas, que por sua vez estão agrupadas em três regiões geográficas intermediárias, segundo a divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017. As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. Na divisão vigente até 2017, os municípios do estado estavam distribuídos em onze microrregiões e quatro mesorregiões, segundo o IBGE. Política. O estado de Mato Grosso do Sul, assim como em uma república, é governado por três poderes, o executivo, representado pelo governador, o legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso do Sul, e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul e outros tribunais e juízes. Além dos três poderes, o estado também permite a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos. A atual constituição do estado foi promulgada em 1989, acrescida das alterações resultantes de posteriores Emendas Constitucionais. O poder executivo sul-mato-grossense está centralizado no governador do estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto pela população para mandatos de até quatro anos de duração, podendo ser reeleito para mais um mandato. Nas eleições estaduais de 2022, Eduardo Riedel, foi eleito governador, derrotando Renan Contar. O poder legislativo estadual é unicameral, constituído pela Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso do Sul, localizada no Palácio Guaicurus, no Parque dos Poderes, em Campo Grande. Ela é constituída por 24 deputados, que são eleitos a cada quatro anos. No Congresso Nacional, a representação sul-mato-grossense é de três senadores e oito deputados federais. O poder judiciário tem a função de julgar, conforme leis criadas pelo legislativo e regras constitucionais brasileiras, sendo composto por desembargadores, juízes e ministros. Atualmente, a maior corte do Poder Judiciário sul-mato-grossense é o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Economia. A região onde Mato Grosso do Sul está localizado contribui muito para o seu desenvolvimento econômico, pois é vizinho de grandes centros produtores e consumidores do Brasil: Minas Gerais, São Paulo e Paraná, além de fazer fronteira com a Bolívia e o Paraguai, uma vez que se situa na rota de mercados potenciais de toda a zona ocidental da América do Sul e se comunica com a Argentina através da Bacia do rio da Prata, dando também acesso ao Oceano Atlântico e ao Pacífico através dos países andinos. A principal área econômica do estado de Mato Grosso do Sul é a do planalto da Bacia do Paraná, com seus solos florestais e de terra roxa. Nessa região, os meios de transporte são mais eficientes e os mercados consumidores da região Sudeste estão mais próximos. Agropecuária. Sua economia está baseada na produção rural (animal, vegetal, extrativa vegetal e indústria rural), indústria, extração mineral, turismo e prestação de serviços. O estado possui um dos maiores rebanhos bovinos do país. Além da vocação agropecuária, a infra-estrutura econômica existente e a localização geográfica permitem ao estado exercer o papel de centro de redistribuição de produtos oriundos dos grandes centros consumidores para o restante da região Centro-Oeste e a região Norte do Brasil. Quanto a sua pauta de exportações, Mato Grosso do Sul se destacou na venda para o exterior de açúcar in natura (17,26%), soja (16,96%), carne bovina congelada (10,37%), pastas químicas de madeira à soda ou sulfato (10,34%) e milho (9,99%). Segundo dados de 2020, se Mato Grosso do Sul fosse um país, seria o quinto maior produtor mundial de oleaginosas. Em 2020, Mato Grosso do Sul foi o quinto maior produtor de grãos do país, com 7,9%. Na soja, produziu 10,5 milhões de toneladas em 2020, um dos maiores estados produtores do Brasil, em torno do 5º lugar. É o quarto maior produtor de cana-de-açúcar, com cerca de 49 milhões de toneladas colhidas na safra 2019/20. Em 2019, o Mato Grosso do Sul também foi um dos maiores produtores de milho do país, com 10,1 milhões de toneladas. Na produção de mandioca, o Brasil produziu um total de 17,6 milhões de toneladas em 2018. Mato Grosso do Sul foi o sexto maior produtor do país, com 721 mil toneladas. O estado possui o quarto maior rebanho bovino do Brasil, com um total de 21,4 milhões de cabeças de gado. O estado é um grande exportador de carne bovina, mas também de aves e suínos. Na avicultura, o estado tinha, em 2017, um rebanho de 22 milhões de aves. Na carne de porco, em 2019, o Mato Grosso do Sul processou mais de 2 milhões de animais. O estado ocupa a 7ª posição brasileira na suinocultura, avançando para se tornar o 4º maior produtor brasileiro nos próximos anos. Em 2017, Mato Grosso do Sul detinha 0,71% da participação mineral nacional (6º lugar no país). Mato Grosso do Sul produziu ferro (3,1 milhões de toneladas no valor de R$ 324 milhões) e manganês (648 mil toneladas no valor de R$ 299 milhões). Indústria. Mato Grosso do Sul teve um PIB industrial de R$ 19,1 bilhões em 2017, equivalente a 1,6% da indústria nacional. Emprega 122.162 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Serviços Industriais de Utilidade Pública, como Eletricidade e Água (23,2%), Construção (20,8%), Alimentos (15,8%), Celulose e Papel (15,1%) e Derivados de Petróleo e Biocombustíveis (12,5%). Esses 5 setores concentram 87,4% da indústria do estado. Na cidade de Três Lagoas, a produção de papel e celulose é considerável. Mato Grosso do Sul registrou crescimento acima da média nacional na produção de celulose, atingiu a marca de 1 milhão de hectares de eucalipto plantado, ampliou seu parque industrial no setor e consolidou-se como o maior exportador do produto no país no primeiro trimestre de 2020. Entre 2010 e 2018, a produção no sul de Mato Grosso aumentou 308%, atingindo 17 milhões de metros cúbicos de madeira redonda de papel e celulose em 2018. Em 2019, o Mato Grosso do Sul alcançou a liderança das exportações no comercializado no país, com 9,7 milhões de toneladas comercializadas: 22,20% do total exportado brasileiro de celulose naquele ano. Turismo. Mundialmente conhecido por sua biodiversidade, encontrada principalmente no Complexo do Pantanal e no Parque Nacional da Serra da Bodoquena, o Mato Grosso do Sul possui atrativos naturais e culturais que podem ser vistos ao participar de passeios turísticos. Os cenários são distintos e com belezas peculiares, sendo rico em flora, fauna e exuberância da natureza. A dedicação de seus habitantes o tornaram uma das mais produtivas áreas agrícolas e seus visitantes devem provar sua comida típica. O turismo ecológico também representa uma importante fonte de receita para o estado. Sua capital é Campo Grande e suas principais cidades turísticas são Bonito, Jardim e Bodoquena localizados no Parque Nacional da Serra da Bodoquena; cidades de Corumbá, Aquidauana, Miranda, Anastácio, e Porto Murtinho no Complexo do Pantanal; Ponta Porã e Bela Vista na fronteira com o Paraguai, além das cidades de Costa Rica, Rio Verde e Fátima do Sul. Infraestrutura. Educação. A taxa de analfabetismo em Mato Grosso do Sul decresceu no final do século XX, com reduções nos níveis de analfabetismo classe etária de 10 anos e mais, passando de 23,37%, em 1980, para 9,5% em 2004. E apesar das reduções serem significativas, os dados da área urbana e rural foram bem distintos. As principais instituições de ensino superior de Mato Grosso do Sul são: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD); Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS). Em novembro de 2009, foi implantado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul o Centro Tecnológico de Eletrônica e Informática de Mato Grosso do Sul (CTEI-MS), uma polo tecnológico criado pela parceria entre a UFMS, a UCDB e a UNIDERP. Foi montada no CTEI uma das redes de informática mais rápidas do país, que opera a 10 Gb/s. Energia. Mato Grosso do Sul possui uma capacidade de geração de energia instalada é de 7 826,5 MW, sendo 94% é de origem renovável. Desse total, MW são provenientes de usinas hidrelétricas, 464,7 MW de gás natural, 427,4 MW de biomassa e 182,8 MW de pequenas centrais hidrelétricas. Porém, até 2015, a capacidade de geração terá um incremento de 4 208,4 MW a partir do início das operações da Usina Hidrelétrica São Domingos dentre outras usinas de biomassa e "PCHs". Ainda assim, a maior parte da energia consumida no estado é produzida pela Usina Hidrelétrica Engenheiro Sousa Dias, na divisa com São Paulo. Transportes. Em 2022, Mato Grosso do Sul possuía 45 176,8 km de rodovias municipais, 15 084,0 km de rodovias estaduais e 3 197,6 km de rodovias federais. Em 2022 eram cerca de 8 000 km de rodovias pavimentadas (entre rodovias estaduais e federais). Seu sistema viário contribui em boa medida para o escoamento da produção agropecuária. Os principais eixos rodoviários são: BR-163, que liga os municípios de Sonora a Mundo Novo, onde havia cerca de 120 km de pistas duplicadas em 2022, com planejamento futuro para um total de 847 km de duplicações, cruzando todo o estado; BR-267, que liga Porto Murtinho a Bataguassu (Porto XV de Novembro), no rio Paraná, e a Ourinhos, em São Paulo; BR-060, que liga Chapadão do Sul a Bela Vista e a BR-262, que Liga Corumbá a Vitória (Espírito Santo). Tendo uma malha rodoviária desenvolvida para os padrões nacionais, MS possui vários terminais rodoviários de passageiros, se destacando os terminais de Campo Grande, Dourados e Esplanada da Estação (Corumbá). Mato Grosso do Sul sedia ainda três grandes empresas nacionais de transporte rodoviário de passageiros: Expresso Queiroz, Viação Cruzeiro do Sul e Viação São Luiz. O estado também possui duas linhas ferroviárias: a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que liga o centro-oeste do estado de São Paulo com a cidade de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, na do Rio Paraguai, com 1 330 quilômetros de extensão; e Ferronorte, que liga a cidade de Santa Fé do Sul a Rondonópolis desde 1989, sendo um dos principais corredores de escoamento de grãos da região, com 755 quilômetros que ligam o noroeste paulista com o sul mato-grossense. A navegação fluvial, que já teve importância decisiva, vem perdendo a preeminência. Dois eixos fluviais compõem o estado, ambos pertencentes à Bacia do Rio da Prata. O Rio Paraguai integra o estado com os países vizinhos Paraguai e Argentina, e com Mato Grosso pelo porto de Cáceres. Os principais produtos transportados no rio são: minérios de ferro e de manganês, cimento, madeira, derivados de petróleo e gado em pé. No ano de 1999, essa hidrovia começou a transportar açúcar, partindo de Porto Murtinho. Os principais portos são os de Corumbá Ladário e Esperança) e Porto Murtinho. Por fim, através do Rio Paraná que corre a Hidrovia Tietê-Paraná. Mato Grosso do Sul é um estado muito bem servido no que diz respeito a aeroportos, possuindo sete em operação, sendo três internacionais (Aeroporto Internacional de Campo Grande, Aeroporto Internacional de Corumbá e Aeroporto Internacional de Ponta Porã) e quatro regionais (Aeroporto Plínio Alarcom, Aeroporto Regional de Dourados, Aeroporto Regional de Bonito e Aeroporto Regional de Nova Andradina) Cultura. A cultura inclui a linguagem, as crenças, os costumes, as cerimônias, a conduta, a arte, a culinária, a moda, o folclore, os gestos e o modo de vida de determinado número de pessoas em um período. O local onde se situa, o meio ambiente, a economia e o que cerca um povo influência o seu modo de vida. A cultura local é uma mistura de várias contribuições das migrações ocorridas em seu território: Esportes. Mato Grosso do Sul possui vários equipamentos esportivos que impulsionam o turismo esportivo e atraem milhares de pessoas, com um razoável planejamento de infraestrutura esportiva: recebe todo ano eventos esportivos e automobilísticos importantes como a Formula Truck e a Stock Car. O maior estádio universitário da América Latina também se encontra no estado. No estado nasceu o medalhista olímpico Rafael Silva no judô, o medalhista em Mundiais de atletismo Zequinha Barbosa, o tricampeão Pan-Americano e finalista olímpico Leonardo de Deus na natação e Müller, campeão mundial de futebol em 1994 pela Seleção Brasileira.
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Minas Gerais
Minas Gerais Minas Gerais é uma das 27 unidades federativas do Brasil, sendo o quarto estado com a maior área territorial e o segundo em quantidade de habitantes, localizada na Região Sudeste do país. Limita-se ao sul e sudoeste com São Paulo, a oeste com Mato Grosso do Sul, a noroeste com Goiás e Distrito Federal, a norte e nordeste com a Bahia, a leste com o Espírito Santo e a sudeste com o Rio de Janeiro. Seu território é subdividido em 853 municípios, a maior quantidade dentre os estados brasileiros. A topografia mineira é bastante acidentada, sendo que alguns dos picos mais altos do país encontram-se em seu território. O estado também abriga a nascente de alguns dos principais rios do Brasil, o que o coloca em posição estratégica no que se refere aos recursos hídricos nacionais. Possui clima tropical, que varia de mais frio e úmido no sul até semiárido em sua porção setentrional. Todos esses fatores aliados propiciam a existência de uma rica fauna e flora distribuídas nos biomas que cobrem o estado, especialmente o cerrado e a ameaçada Mata Atlântica. O território de Minas Gerais era habitado por indígenas quando os portugueses chegaram ao Brasil. Contudo, ocorreu uma grande migração para o estado a partir do momento em que foi anunciada a existência de ouro. A extração do metal trouxe riqueza e desenvolvimento para a então província, proporcionando seu desenvolvimento econômico e cultural. Mas o ouro logo se tornou escasso, provocando a emigração de grande parte da população, até que um novo ciclo (o do café) novamente traria a Minas projeção nacional e cujo fim levou ao processo de industrialização relativamente tardio. Minas Gerais atualmente possui o terceiro maior produto interno bruto do Brasil, sendo que grande parte do total produzido no estado ainda se deve a atividades mineradoras. Tal desenvolvimento também advém de sua notável infraestrutura, como a grande quantidade de usinas hidrelétricas e a maior malha rodoviária do país. Em virtude de suas belezas naturais e de seu patrimônio histórico, Minas Gerais é um importante destino turístico brasileiro. O povo mineiro possui uma cultura peculiar, marcada por manifestações religiosas tradicionais e culinária típica do interior, além de importância nacional nas produções artísticas contemporâneas e também no cenário esportivo. Etimologia. Minas Gerais se relaciona literalmente por abrigar campos de extração de inúmeros minérios, principalmente ouro, denominadas "minas gerais", em oposição às minas particulares ou por sua variedade de tipos de minério. No início do século XVIII, a região era simplesmente denominada Minas. Em 1710, surge a capitania de São Paulo e Minas de Ouro e, em 1720, desmembra-se dela a capitania de Minas Gerais. História. Uma parte da história do atual estado de Minas Gerais foi determinada pela exploração da grande riqueza mineral que se encontra em seu território. Seu nome, inclusive, provém da larga quantidade e variedade das minas presentes, que passaram a ser exploradas desde o século XVII e até os dias atuais movimentam uma fração importante da economia do estado. Pré-história e povos indígenas. Em meados do século XIX, o paleontólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund descobriu, na região de Lagoa Santa, fósseis humanos de milhares de anos atrás, pertencentes a uma população que ali viveu há milhares de anos, apelidada de “Povo de Lagoa Santa”, ao qual pertenceu Luzia, crânio pertencente a uma jovem mulher que viveu há 11,3 mil anos, sendo o fóssil humano mais antigo já encontrado na América do Sul, achado em 1974 na Lapa Vermelha, uma gruta entre os municípios de Lagoa Santa e Pedro Leopoldo. Com base na análise da morfologia craniana de Luzia e de seu povo, foi formulada a teoria de que tinham traços australoides, tendo pertencido a uma população que chegou às Américas antes dos ancestrais dos ameríndios. No entanto, com a análise do material genético dos restos humanos do Povo de Lagoa Santa, constatou-se que essa população pré-histórica tinha o DNA totalmente ameríndio, sendo, portanto, descartada qualquer relação com populações da Australásia e a teoria de que o povoamento das Américas se deu por uma onda de indivíduos de traços australoides e outra de indivíduos mongoloides. Na região dos municípios de Januária, Montalvânia, Itacarambi e Juvenília, no norte do estado, escavações arqueológicas levaram a estimativas de que a ocupação inicial teria ocorrido na época de Luzia. Desse período, herdaram-se características culturais como o uso de peças de pedra ou osso, fogueiras extintas, criação de cemitérios, pequenos silos com sementes e pinturas rupestres. Mais tarde, há cerca de 4 mil anos, especula-se que tenha ocorrido o cultivo de vegetais, em especial do milho, e há dois mil anos já existia importante manufatura de produtos cerâmicos. Mais de cem grupos indígenas habitavam o atual território de Minas Gerais na época da chegada dos portugueses. Nos vales dos rios Doce, Jequitinhonha e Mucuri, habitavam os povos genericamente conhecidos como "botocudos”, como os maxacalis, maconis, naquenuques, aranãs, crenaques e pataxós. O Norte de Minas era dominado pelos cariris e xacriabás. O centro, oeste e sul de Minas eram habitados pelos cataguás, que eram o grupo indígena mais numeroso do território mineiro na época colonial, tanto que a região era conhecida como “Campos Gerais dos Cataguases” na época dos bandeirantes. As regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba eram habitadas pelos caiapós e araxás, enquanto que a Zona da Mata Mineira era povoada pelos puris. A região de Minas Gerais próxima à divisa com São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás era ocupada pelos bororós. Entretanto, durante os primeiros séculos de colonização do Brasil, os indígenas dessa região foram capturados pelos bandeirantes para serem escravizados e os grupos que se revoltaram eram exterminados, o que provocou uma grande redução na população indígena, restando atualmente cinco grupos: xacriabás, crenaques, maxacalis, pataxós e pankararus, este último sendo oriundo do interior de Pernambuco. A corrida do ouro. A primeira penetração europeia no território mineiro foi com a expedição dos espanhóis Francisco Bruza Espinosa e João de Azpilcueta Navarro entre 1553 e 1555, que partiu do litoral da Bahia e percorreu o Norte de Minas. Nas décadas seguintes, outras expedições conhecidas como “entradas”, vindas do litoral nordestino, percorreram essa mesma região, como a de Sebastião Fernandes Tourinho em 1573. A partir do final do século XVI, os bandeirantes percorreram o território de Minas Gerais à procura de ouro e pedras preciosas. Muitas de suas expedições foram apoiadas pela Coroa Portuguesa, dentre as quais se destacam a de Fernão Dias e de seu genro Borba Gato, que partiu da vila de São Paulo em 1674. No século XVII, iniciou-se a colonização do Norte de Minas, com a fixação de vaqueiros sertanejos, devido à expansão da pecuária do Sertão nordestino, e de bandeirantes, à procura de pedras preciosas e indígenas para escravizar. Entre 1692 e 1693, o bandeirante Antônio Rodrigues Arzão descobriu as primeiras jazidas de ouro no território de Minas Gerais. Nos anos seguintes, bandeirantes vindos das vilas de São Paulo e Taubaté percorreram a região do Rio das Velhas à procura de ouro. Em 1696, Salvador Fernandes Furtado descobriu ouro nas margens do Rio do Carmo e ali ergueu o seu acampamento, que originou a Vila de Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana). Dois anos depois, Antônio Dias de Oliveira descobriu o metal amarelo no sopé do Pico do Itacolomi e ali funda seu assentamento, embrião de Vila Rica (atual Ouro Preto). Em 1702, João de Siqueira Afonso descobriu essas pedras preciosas no vale do Rio das Mortes. Inicialmente, o ouro era extraído do leito dos rios, o que obrigava os garimpeiros a se mudar conforme o esgotamento do metal. Após algum tempo, a exploração passou a ser feita também nas encostas de montanhas, o que obrigava o assentamento permanente dos mineradores, proporcionando o surgimento dos primeiros povoados. A notícia descoberta de ouro logo se espalhou e, nas décadas seguintes, centenas de milhares de pessoas ávidas por riqueza, sobretudo portugueses (o que inclui cristãos novos), mas também brasileiros oriundos de São Paulo, Bahia, Pernambuco e do Rio de Janeiro, se fixaram em Minas Gerais. A chegada de um grande número de pessoas em pouco tempo levou a epidemias e falta de alimentos. Os paulistas se julgavam proprietários do ouro retirado das minas, alegando direito de descoberta e conquista, e não queriam que outros se apossassem dessa riqueza. Com isso, em 1707, entraram em conflito com os portugueses e brasileiros não paulistas (apelidados de "emboabas", termo tupi que significa "aquele que ofende"), ocasionando a Guerra dos Emboabas, encerrada em 1709. Os paulistas foram derrotados e muitos deles tiveram que abandonar as jazidas de ouro de Minas Gerais, tendo que procurar o metal na Região Centro-Oeste do Brasil, encontrando-o anos depois em Goiás e Mato Grosso. A imposição da autoridade da Coroa Portuguesa também contribuiu para o fim do conflito, a partir da criação da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro em 1709. Em 1711, as primeiras vilas foram criadas em Minas Gerais, sendo elas Sabará, Vila Rica e Vila do Nossa Senhora do Carmo. Em 1720, ocorreu a Revolta de Vila Rica contra as taxações sobre o ouro e, com isso, nesse mesmo ano foi criada a Capitania de Minas Gerais. A Coroa Portuguesa, então, passou a controlar com rigor a exploração de ouro nas minas, recolhendo 20% de tudo o que era produzido, o que ficou conhecido como "quinto". A população da capitania continuava a crescer, mas existiam até então somente pequenos cultivos agropecuários de subsistência, o que demandava a importação de produtos de outras regiões da colônia. Novos acessos a região passaram a ser criados e o fluxo de pessoas e mercadorias aumentou intensamente surgindo, assim, o primeiro grande mercado consumidor do Brasil. Ao longo desses acessos apareciam povoados, tendo, portanto, papel fundamental no povoamento da capitania. Dentre esses trajetos destaca-se o Caminho Novo, que ligava as regiões mineradoras ao Rio de Janeiro. A intensa mistura de pessoas associada a riqueza oriunda do ouro e a vida urbana proporcionaram a formação de uma nova sociedade culturalmente diversa, com vários músicos, artistas, escultores e artesãos. Dentre os movimentos culturais destacam-se o trabalho de Aleijadinho e Mestre Ataíde, dentre outros, que permitiram o florescimento do Barroco Mineiro. Na década de 1720, na região do vale do Jequitinhonha, ocorreu a descoberta do diamante, embora seus descobridores por décadas não reconheceram o valor desta pedra preciosa. Contudo, a Coroa Portuguesa, ao reconhecer a produção mineral da região, logo estabeleceu uma forma de cobrar impostos sobre a produção, de forma similar ao quinto do ouro. O principal núcleo de exploração dos diamantes era próximo de onde surgiu o Arraial do Tijuco (hoje Diamantina). No auge da exploração do ouro, a mão de obra escravizada era essencial para os grandes proprietários. Desta forma, intensificou-se o comércio de negros trazidos do continente africano para trabalhar nas minas. Muitos dos negros tentavam e conseguiam fugir, o que provocou o intenso surgimento de quilombos por todo o atual estado. Estima-se que durante o século XVIII surgiram mais de 120 destas comunidades por toda a capitania. Contudo, tais assentamentos não se encontravam tão afastados dos centros mineradores, o que facilitava a fuga de mais negros. Existia, ainda, o comércio de produtos de subsistência entre os negros e comerciantes, que tiravam vantagem do preço mais baixo oferecido pelos quilombolas. Inconfidência Mineira. No entanto, a partir da segunda metade do século XVIII a produção aurífera dava sinais claros de declínio. Para manter a arrecadação, a Coroa Portuguesa passou a aumentar os impostos e a fiscalização na colônia, além de criar a derrama, uma nova forma de imposto que garantiria seus lucros. As regiões auríferas passaram a ficar cada vez mais escassas, e os colonos não mais podiam arcar com tais impostos, levando o governo lusitano ao confisco de suas propriedades. Tais ações consideradas abusivas trouxeram profunda insatisfação entre a população mineira. Então, influenciados pelos ideais do Iluminismo que surgira na Europa e se espalhavam pelo mundo ocidental, as elites mineradoras passaram a conjecturar um plano com o objetivo de criar uma nova república na região de Minas Gerais. A revolução estava marcada para acontecer em 1789, quando ocorreria uma nova cobrança da derrama. Dentre os líderes do movimento estavam os poetas Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, o padre Carlos Correia de Toledo e Melo, o coronel Joaquim Silvério dos Reis e o alferes Tiradentes. Contudo, a cobrança da derrama foi revogada pelas autoridades lusitanas. Ao mesmo tempo, tinha-se a investigação por parte da coroa sobre o movimento de insurreição que estaria para acontecer. Em troca do perdão de suas dívidas, Joaquim Silvério dos Reis delatou todo o plano dos inconfidentes, o que levou à prisão de vários de seus companheiros antes que a insurreição acontecesse. Como boa parte dos membros dos movimentos tinham forte ligação com a elite, poucos foram de fato condenados. Como Tiradentes era de origem popular, toda a responsabilidade do movimento foi atribuída a ele. Como forma de reprimir outros movimentos, a Coroa Portuguesa realizou o enforcamento e o esquartejamento do alferes, e partes de seu corpo foram espalhadas por vias de acesso da capitania. Decadência da produção mineral. Até então a maior parte da população da capitania concentrava-se nos núcleos urbanos e nas proximidades da região mineradora. Contudo, o esgotamento das jazidas auríferas e de diamantes levou à diáspora da população urbana, que se deslocou para outras regiões. Os desbravadores passaram a criar novas fazendas por outras regiões do atual estado, erguiam capelas onde posteriormente surgiam arraiais e vilas. No início do século XIX, houve uma intensa criação de vilas, freguesias, distritos e municípios. Isto contribuiu para a expansão e povoamento do território mineiro, expandido suas fronteiras para o norte (adquirindo partes da província de Pernambuco), para leste (adquirindo áreas do Espírito Santo), para o oeste (anexando a região do Triângulo Mineiro, antes pertencente a Goiás). A população mineira passou a ser predominantemente rural, e as cidades do ouro ficaram cada vez mais vazias, o que teve grande influência na cultura e na política da província. O período imperial. Durante o período imperial, teve duas mobilizações importantes da população. A primeira delas foi a Sedição Militar de 1833, um movimento sem consistência que queria o retorno de Dom Pedro I ao país, mas foi logo abafado pelo governo provincial. Outro grande movimento foi a Revolução Liberal de 1842. No Brasil Império as forças políticas estavam divididas essencialmente entre liberais e conservadores. Quando Dom Pedro II atingiu a maioridade em 1840, o Partido Conservador assumiu o poder, o que provocou a revolta dos liberais. Tiveram início, então, conflitos armados na província de São Paulo, que ganharam adesão dos liberais mineiros em 1842, com a participação inicial de quinze dos quarenta e dois municípios existentes na época. Para conter os revoltosos, o governo imperial enviou guardas nacionais e unidades do exército, que deveriam prender os líderes do partido liberal. Transcorreram vários conflitos durante mais de dois meses até que o movimento foi finalmente abafado por completo. Os líderes foram julgados e absolvidos seis anos depois. Durante a segunda metade do século surgiram os primeiros avanços no setor industrial em Minas. No campo siderúrgico, começava a aumentar a produção e manufatura do ferro. Surgiram ainda várias fábricas de produtos têxteis, laticínios, vinhos, alimentos, cerâmicas e louças. Contudo, as atividades agropecuárias dominavam a economia da época, sendo voltadas principalmente para subsistência, desfavorecendo o crescimento econômico da província. A mão de obra era predominantemente escrava, provenientes dos que restaram das atividades mineradoras. A produção de café voltada para a exportação chegou à província no início do período imperial e aumentou substancialmente até o fim do século. Porém, a produção paulista sempre foi expressivamente maior e fatores administrativos, naturais e econômicos desfavoreceram o desenvolvimento da cafeicultura mineira na época. Cafeicultura. Em 1889 tem início o período da República Velha no Brasil, que foi comandado inicialmente por presidentes militares. Somente em 1894 houve a eleição do primeiro presidente civil do Brasil, dando início ao período da República Oligárquica. Em Minas Gerais, surgiam os primeiros grandes barões do café, responsáveis por aumentar significativamente a produção do estado. As oligarquias cafeeiras tinham grande influência no cenário político nacional, a ponto de escolherem os representantes que iriam ocupar o cargo de presidente do país. Os dois estados mais populosos do país, então, firmaram um acordo em que os presidentes eleitos seriam alternados entre paulistas e mineiros, o que ficou conhecido como política do café-com-leite. Existiram, porém, algumas divergências políticas entre os dois estados, o que permitiu a eleição de presidentes de outros estados, embora nunca deixassem de exercer influência sobre o processo eleitoral. Na década de 1920, vários fatores aceleraram o declínio do domínio oligárquico, como revoltas populares, movimentos tenentistas e a crise econômica do café, que se agravou ainda mais com a grande depressão. Mas a política do café-com-leite terminou de fato quando o então presidente paulista Washington Luís deveria indicar um mineiro para sucessão, mas indicou outro paulista, Júlio Prestes. Em oposição ao episódio, Minas Gerais se uniu à Aliança Liberal, que realizou um golpe de Estado em 1930 e instaurou uma nova república no Brasil, sob o comando de Getúlio Vargas. Industrialização. O ciclo do café no estado teve certas características particulares que desfavoreceram o crescimento econômico do estado. O lucro gerado pela cultura era em parte destinado aos portos de exportação nos estados vizinhos. Além disso, findo o período da escravidão, não houve a transição direta para o trabalho livre e assalariado nas lavouras, o que levou à menor circulação monetária. Outro agravante era a desarticulação entre as regiões do estado, que tinham mais relações econômicas com os estados vizinhos. Em reconhecimento a esta situação, as elites mineiras iniciaram uma tentativa de centralizar a economia estadual a partir de diversas iniciativas, dentre elas a criação de uma nova capital, Belo Horizonte, em 1897. Uma exceção ao atraso industrial foi a cidade de Juiz de Fora, que apresentou um surto de desenvolvimento industrial sustentado pela economia cafeeira aliado à proximidade com o Rio de Janeiro. Contudo, tal desenvolvimento durou até 1930, quando a competição com os outros grandes centros industriais do país levou à estagnação e posterior declínio do parque industrial da cidade. O projeto de desenvolvimento mineiro estava pautado por duas orientações. A primeira delas incluía a diversificação produtiva, em que se pretendia a criação de uma forte agricultura capaz de sustentar o desenvolvimento industrial. A outra estratégia envolvia o aproveitamento dos recursos naturais do estado para realizar a especialização produtiva, com a produção de bens intermediários. Através das primeiras décadas do século XX o plano foi sendo gradualmente implementado com diversas iniciativas, como a criação da Cidade Industrial de Contagem em 1941. Contudo, o avanço foi prejudicado por conta de problemas logísticos como a falta de energia e de uma rede eficiente de transportes. A partir do fim da década de 40 e ao longo da década de 50, no entanto, Minas passa por um importante processo de transformação, que visa sanar os problemas que barravam o desenvolvimento mineiro, principalmente durante o período do mandato de Juscelino Kubitschek como governador (1951-1955) e presidente da república (1956-1961). Foram criadas a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), várias usinas hidroelétricas e milhares de quilômetros de rodovias. Um importante setor industrial que se desenvolveu neste período foi o metalúrgico, sustentado pela exploração do ferro na região central do estado. Contudo, a instabilidade econômica que se sucedeu durante a década de 1960 afetou a continuidade de tal crescimento, deixando o estado em defasagem. Durante a ditadura militar, as federações de indústrias de Minas Gerais e importantes industriais mineiros apoiaram o regime. Na década seguinte, porém, Minas retoma sua trajetória de crescimento econômico beneficiado, sobretudo, pelo processo de descentralização industrial. Como resultado, o crescimento do produto interno bruto mineiro foi superior à média nacional por vários anos. Tal processo deveu-se ao incremento da produção industrial e fortalecimento da agricultura. Tal processo provocou ainda o aumento da porcentagem da população que vivia nas cidades, embora boa parte deste êxodo rural tenha motivado a emigração da população para os grandes centros urbanos de outros estados. Na década de 1980, o crescimento econômico mineiro sofre uma nova descontinuidade por conta da crise econômica generalizada pela qual o país passava. Mesmo assim, o crescimento mineiro ainda foi superior à média nacional. A partir da década de 90, o estado apresentou baixo dinamismo econômico, seguindo a tendência nacional. A partir de então, Minas se consolida na economia nacional com o terceiro maior PIB do país, e se mantém na posição até hoje. Geografia. Minas Gerais é uma das 27 unidades federativas do Brasil, localizada na Região Sudeste do país, limitando-se com os estados de São Paulo a sul e sudeste, Rio de Janeiro a sudeste, Mato Grosso do Sul a oeste, Goiás e Distrito Federal a noroeste, Bahia (a norte e nordeste) e Espírito Santo a norte e leste, tendo um total de de linha fronteiriça. A área do estado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de (um pouco menor que a soma das áreas ocupadas por Portugal e Espanha juntos, de 596 994 km²) e equivale a 6,89% do território brasileiro, sendo o quarto maior estado em tamanho territorial (depois de Amazonas, Pará e Mato Grosso), dos quais estão em perímetro urbano. A distância linear entre os pontos extremos estaduais é de no sentido leste–oeste e 986 no sentido norte–sul. Relevo. A maior parte do território mineiro apresenta altitudes que oscilam entre 900 e metros, tendo predominância de planaltos com escarpas e depressões, mais notáveis na região central. O ponto mais alto do estado é o Pico da Bandeira, situado na divisa com o Espírito Santo, com metros de altitude (o terceiro maior do país), seguido pelo Pico do Cristal com metros. Além da Serra do Caparaó, onde está o pico da Bandeira, outros maciços montanhosos merecem destaque no território mineiro, dentre eles a Serra do Espinhaço, que segue do centro em direção ao norte do estado até o limite com a Bahia. Ao sul, delimitando a fronteira com os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, está a Serra da Mantiqueira na qual se situam alguns dos mais altos picos do país, como o Agulhas Negras com metros de altitude. Outras cadeias montanhosas de menor porte espalham-se por todo o estado, dentre as mais notáveis a Serra da Canastra e do Lenheiro. Oficialmente, as formas de relevo existentes no estado de Minas Gerais podem ser divididas nos seguintes tipos de unidades geomorfológicas: "planalto Cristalino", "serra do Espinhaço", "depressão do rio São Francisco", "planalto do São Francisco" e "planalto do Paraná". O planalto cristalino possui altitudes médias de 800 metros — sendo reduzida ao aproximar-se da Zona da Mata —, apresentando depressões onde originam-se os vales dos rios Jequitinhonha e Doce. A serra do Espinhaço possui altitude média de metros, relevando-se por dividir a bacia do rio São Francisco com as bacias hidrográficas costeiras. A depressão do rio São Francisco tem altitude média de 500 metros e está presente na parte oeste de Minas, em sentido norte-sul. O planalto do São Francisco tem altitude média de mil metros e é composto por chapadões acidentados entrelaçados por vales. Por fim, o planalto do Paraná tem altitude média de 600 metros e corresponde ao sudoeste mineiro, sendo cortado por rios como o da Prata, Tijuco e o Araguari. Hidrografia. Na rede hidrográfica, entre os principais rios do estado de Minas Gerais estão o Doce, que nasce entre as encostas das serras da Mantiqueira e Espinhaço e percorre 853 km até desaguar no Oceano Atlântico, no Espírito Santo; o Grande, cuja nascente está na Serra da Mantiqueira, no município de Bocaina de Minas, percorrendo km até o Rio Paranaíba, formando assim o Rio Paraná (no estado de São Paulo); o Paranaíba, que nasce na Mata da Corda, em Paranaíba, e tem aproximadamente km; o São Francisco, que nasce na Serra da Canastra, percorre km, cortando a Bahia e passando por Pernambuco, Sergipe e Alagoas até desaguar no oceano, sendo suas águas essenciais para o turismo, lazer, irrigação e transporte em várias cidades, especialmente no norte mineiro e, por fim, o Jequitinhonha, que nasce na serra do Espinhaço, em Serro, e percorre 920 km até sua foz no Atlântico. Outros rios importantes do estado são o Mucuri, Pardo, Paraíba do Sul, São Mateus e das Velhas. O Parque Estadual do Rio Doce abriga o maior sistema lacustre do estado. Contudo, existem importantes reservatórios de usinas hidrelétricas, como a Represa de Furnas no sul e a Três Marias no centro do estado. Devido à grande quantidade de nascentes, o estado é conhecido como a caixa-d'água do Brasil, tendo muitos desses rios relevância energética, agrícola e turística, com grande presença de usinas hidrelétricas, canais para irrigação e atividades de lazer. 16 bacias hidrográficas compõem o estado de Minas Gerais, sendo a maior delas a do São Francisco, que abrange uma área de 2,3 milhões de km² no estado. Quatro regiões hidrográficas abrangem o território mineiro, sendo elas a do São Francisco (tendo como principais componentes, em Minas, os rios São Francisco, das Velhas e Paracatu), do Atlântico Leste (rios como São Mateus, Doce, Itaúnas e Itabapoana), do Atlântico Sudeste e do Paraná (composta pelas sub-bacias dos rios Paranaíba e Grande). Na estação das secas é observado um menor volume das águas, sendo que no norte mineiro alguns cursos chegam a secar nos períodos de estiagem. Já na estação das chuvas ocorre a cheia dos rios e, por vezes, enchentes. Clima. No estado de Minas Gerais, predominam quatro tipos distintos de clima: o clima subtropical de altitude (Cwb, segundo a Classificação climática de Köppen-Geiger), que ocorre nas regiões mais elevadas das serras da Canastra, Espinhaço e Mantiqueira e em pequenas áreas próximas às cidades de Araguari e Carmo do Paranaíba, tendo estiagens no inverno e temperaturas amenas durante o ano e cuja temperatura média do mês mais quente é inferior a 22 °C; o clima subtropical de inverno seco — e com temperaturas inferiores a 18 °C — e verão quente — temperaturas maiores de 22 °C — (Cwa), observado a norte das serras do Espinhaço e do Cabral; clima tropical com inverno seco (Aw), que predomina no Triângulo Mineiro, na Zona da Mata, Vale do Rio Doce e em quase toda a metade norte do estado, tendo estação seca no inverno e chuvas abundantes no verão, com precipitações anuais entre 750 mm a mm; e o clima tropical semiúmido com chuvas no verão (As), que ocorre no norte mineiro, com precipitações anuais sempre inferiores a mm e por vezes menores que 750 mm. Segundo a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), o clima semiárido está presente em 88 municípios mineiros, todos no norte do estado, muitos dos quais estão em processo de desertificação. O estado sofre influência de frentes frias durante todo o ano, no entanto, no inverno, a presença do anticiclone do Atlântico Sul impede o avanço da umidade, mantendo os dias secos e ensolarados, e favorece a influência de massas de ar frio, configurando-se a estação seca. Entre o final da primavera e começo do verão (principalmente entre novembro e março), com o afastamento do anticiclone, as frentes frias atuam com maior intensidade e há uma intensa organização da convecção tropical, manifestada por uma banda de nebulosidade convectiva, as chamadas zonas de convergência — dentre as quais a zona de convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é a que mais afeta o estado, provocando dias seguidos de chuvas intensas em algumas regiões. Devido à nebulosidade, as chuvas causadas pelas ZCAS e por frentes frias são capazes de provocar quedas de temperatura, que normalmente fica elevada nessa época, devido à atuação de massas de ar quente continentais. Ecologia e meio ambiente. Originalmente, a cobertura vegetal de Minas Gerais era constituída por quatro biomas principais: Cerrado, Mata Atlântica, Campos Rupestres e a mata seca. O cerrado é o bioma predominante, sendo observado em 50% do território mineiro, mais presente na porção oeste do estado. A vegetação é predominantemente rasteira, composta por gramíneas, arbustos e árvores, tendo como representantes da fauna tamanduá, tatu, anta, jiboia, cascavel e o cachorro-do-mato, além de espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará, o veado-campeiro e o pato-mergulhão. A Mata Atlântica ocupa a segunda maior área de ocorrência em Minas Gerais, predominando nas regiões da Zona da Mata, Campos das Vertentes, Sul, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Rio Doce e Vale do Mucuri, no entanto foi fortemente devastada, ocorrendo atualmente em áreas restritas. A vegetação é densa e, devido ao elevado índice pluviométrico, bastante verde, sendo possível encontrar bromélias, cipós, samambaias, orquídeas e líquens e, na fauna, macacos, preguiças, capivaras, onças, araras, papagaios e beija-flores. Os campos rupestres possuem cobertura vegetal de menor porte e são típicos das terras altas do estado, tendo vegetação herbácea e poucas árvores, apresentando raposas, veados, micos, capivaras e cobras. Já a mata seca é uma fitocenose do cerrado e ocorre no norte do estado, no vale do rio São Francisco, apresentando plantas espinhosas e com galhos secos, dentre as quais destacam-se as barrigudas, os ipês e os pau-ferros na flora e a ariranha, a onça, a anta, a capivara e a águia-pescadora na fauna. Segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o estado contava, em 2012, com onze estações ecológicas (que protegiam um total de ), nove reservas biológicas (), onze monumentos naturais (), quatro refúgios de vida silvestre (), 16 áreas de proteção ambiental (APA — ), duas florestas estaduais (), uma reserva de desenvolvimento sustentável (), 182 reservas particulares do patrimônio natural (RPPN — ), e 23 parques estaduais. Sete parques nacionais também estão situados em Minas Gerais: Caparaó, Grande Sertão Veredas, Itatiaia, Cavernas do Peruaçu, Sempre-Vivas, Serra da Canastra e Serra do Cipó, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A Serra do Cipó é inclusive a maior comunidade vegetal em espécies por metro quadrado do mundo. Apesar da existência das áreas de preservação, o estado ainda apresenta consideráveis índices de desmatamento, encontrando-se com 9,84% de seu território dentro do polígono das secas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Outra situação grave é a da Mata Atlântica, cujo bioma perdeu um espaço de entre 2011 e 2012 em Minas Gerais, o que representa 44% do total desmatado em todo país. A Mata Atlântica, que já chegou a se estender do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte de hoje, foi quase totalmente devastada, restando atualmente apenas 5% de sua vegetação original (cerca de ); em Minas Gerais, cobria cerca de 81,8% da área que corresponde ao atual estado, mas hoje esse percentual é de apenas de 7%, sendo os principais responsáveis pelo desflorestamento, no período colonial, a extração do pau-brasil e as plantações de cana-de-açúcar e café e, mais recentemente, a mineração e a agropecuária. Por outro lado, muitos projetos do governo e iniciativas privadas estão tentando reverter este quadro. Demografia. Minas Gerais é o segundo estado mais populoso do Brasil, com uma população de habitantes em 2022 e uma densidade demográfica de habitantes por quilômetro quadrado. Ao longo do século passado, Minas tem sempre apresentado um crescimento populacional inferior à media nacional. O movimento da população rural em direção às zonas urbanas observado durante o mesmo período também foi acentuado, contudo bem abaixo da média nacional. Ainda durante o mesmo período, observou-se o intenso movimento emigratório da população mineira em direção a outros estados que se mostravam promissores durante seu desenvolvimento industrial, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro. Especialmente durante a década de sessenta, mais de dois milhões de mineiros deixaram o estado. Ao longo das décadas seguintes, a população continuou a emigrar para outras regiões mas, devido às novas oportunidades que surgiam em Minas, essa taxa foi gradualmente diminuindo. Somente na década de 1990 o saldo migratório tornou-se favorável para Minas, ou seja, o estado possuía mais imigrantes do que emigrantes. A região central do estado, em especial a região metropolitana de Belo Horizonte, é a mais populosa e a que apresenta maior crescimento populacional em todo o estado. Logo a seguir encontram-se as regiões do Alto Parnaíba, Centro-Oeste, Sul e Triângulo. A região nordeste do estado, por sua vez, possui o menor contingente populacional do estado em virtude da pobreza e estagnação econômica da região. A população mineira era composta em 2012 por 49,2% de homens e 50,8% de mulheres. A taxa de fecundidade em 2012, ou seja, a quantidade média de filhos que uma mulher teria em média é de 1,7, pouco abaixo da média nacional que é 1,8. A mortalidade infantil no mesmo ano, por sua vez, ficou em 13,2 mortes por mil nascidos vivos, também abaixo da média brasileira de 15,7 mortes. Por fim, a esperança de vida ao nascer em Minas ficou em torno de 76 anos, sendo que para as mulheres esta expectativa é de 79 anos e para os homens é de aproximadamente 73 anos. Etnias. De acordo com o censo de 2010 do IBGE, pouco menos da metade (45,4%) da população mineira se autodeclarava branca, enquanto uma parcela semelhante (44,3%) se autodeclarava pardos e 9,2% se consideravam pretos. Uma pequena parcela, por sua vez, consideravam-se amarelos ou indígenas (1,1%). A maior parte da população mineira é descendente de colonos portugueses originários do Norte de Portugal (particularmente do Minho) e de escravos africanos, sobretudo oeste-africanos e bantos, vindos durante a época da mineração, no século XVIII e, após a decadência desta no século XIX, para trabalharem na produção agrícola. Além desses dois povos principais, contribuíram para a diversidade da população mineira os bandeirantes paulistas, descobridores das jazidas de ouro, e, no final do século XIX e início do XX, imigrantes não-portugueses, sobretudo italianos. Dos pouco mais de trinta mil indígenas que habitam o estado atualmente, pouco mais de onze mil estão distribuídos entre doze etnias que pertencem ao tronco linguístico macro-jê. A maior reserva indígena do estado pertence aos Xacriabás, localizados nos municípios de Itacarambi e São João das Missões, com mais de oito mil integrantes. Em um estudo genético, 13,8% dos mineiros portadores de anemia falciforme testados tinham mais de 85% de ancestralidade europeia e 11,05% dos portadores de anemia falciforme tinham mais de 85% de ancestralidade africana. A maioria deles, 73,37%, apresentou níveis intermediários de mistura (entre 15 e 85%). De acordo com um estudo genético autossômico realizado em 2013, a composição da população mineira é a seguinte: 59,20% europeia, 28,90% africana e 11,90% indígena. Habitação. Em 2012, cerca de 84,5% da população mineira, o que representa mais de 16,7 milhões de pessoas, viviam nas cidades, sendo que a taxa de urbanização era ligeiramente menor que a brasileira (84,8%). Outros 2,9 milhões viviam nas áreas rurais do estado. O estado de Minas Gerais possuía, segundo o censo de 2010, domicílios, sendo na zona urbana (86,05%) e na zona rural (13,95%). Desse total, eram casas (88,89%), eram apartamentos (9,76%), eram casas de vila ou em condomínio (0,86%), eram habitações em casa de cômodos ou cortiços (0,48%) e 164 eram ocas ou malocas. Quanto à forma de ocupação, domicílios eram próprios (72,30%), sendo próprios já quitados (67,47%) e em processo de aquisição (4,82%); eram alugados (18,36%); eram cedidos (8,93%), sendo por empregador (2,85%) e cedidos de outra forma (6,09%) e os restantes eram ocupados sob outras condições (0,41%). Ainda no ano de 2010, segundo os critérios elaborados pela Fundação João Pinheiro, o déficit habitacional ultrapassava 557 mil pessoas, dos quais mais de 507 mil estavam situados na zona urbana. Este indicador representa a parcela da população cujas moradias não apresentam o mínimo de infraestrutura necessária ou que pagam aluguel que compromete a renda familiar ou que moram em locais com uma quantidade elevada de pessoas. Língua. A língua portuguesa falado em Minas Gerais possui três dialetos: o mineiro, o paulista e o baiano, segundo uma pesquisa da UFJF. O "Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais" (EALMG) foi o primeiro mapeamento linguístico do estado de Minas Gerais, realizado por pesquisadores dialetologistas da UFJF e publicado em 1977. O estudo identificou três regiões dialetais em Minas: no norte do estado, o falar baiano, caracterizado pela abertura das vogais pretônicas. No Triângulo Mineiro e no sul do estado, o falar paulista, com o principal traço fonético o chamado “r retroflexo”. Por fim, na região central, o falar mineiro propriamente, caracterizado por alongamento das vogais, nasalização e fala mais pontuada. Renda e desigualdade. O rendimento médio "per capita" de Minas Gerais é de 733 reais, de acordo com o censo realizado em 2010 pelo IBGE, encontrando-se abaixo da média nacional. Contudo, o estado apresenta uma grande disparidade entre suas regiões no que se refere ao desenvolvimento econômico e social. As regiões mais ricas do estado, como a Central e o Triângulo Mineiro, possuem renda "per capita" de mais de 900 reais, enquanto as áreas mais pobres localizadas no norte do estado, especialmente nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, este valor não ultrapassa 500 reais. Contudo, verifica-se o crescimento maior da renda das regiões mais pobres, motivados sobretudo pelo aumento do salário mínimo e pelos programas de transferência de renda do governo federal. O Índice de Desenvolvimento Humano, baseados em fatores como saúde, educação e qualidade de vida, revelam de forma ainda mais acentuada a desigualdade entre as regiões de Minas Gerais. O norte e nordeste do estado concentram a maioria dos municípios com baixo IDH, enquanto a região Sul, Triângulo e Alto Paranaíba que a situação é oposta. A região central do estado, embora seja rica, possui alto índice de desigualdade, ou seja, a renda não é igualmente distribuída entre a população. Cerca de seiscentos mil pessoas moram em aglomerados subnormais, dos quais pouco mais da metade estão na capital mineira. O maior aglomerado, contudo, localiza-se em Betim e possui mais de vinte e três mil habitantes. Coronel Fabriciano e Vespasiano são os que apresentam maior porcentagem da população vivendo nessas áreas (mais de 20%). Religião. De acordo com o Censo 2010, a maior parte da população (13,8 milhões de pessoas) se consideram católicos, o que coloca o estado em nono lugar quando se considera a porcentagem da população pertencente a esta religião (73,32%). Embora o número de católicos venha apresentando gradual queda nos últimos anos, a religião ainda está fortemente enraizada na cultura mineira, especialmente nas áreas rurais e nas cidades do interior, onde são comuns celebrações e festejos organizados pelas paróquias das comunidades. Quase quatro milhões de mineiros pertencem a igrejas evangélicas das quais destacam-se, de acordo com o número de adeptos, a Assembleia de Deus (mais de setecentos mil seguidores), Igreja Batista (mais de quinhentos mil seguidores) e a Igreja do Evangelho Quadrangular (quase trezentos e cinquenta mil adeptos). Cerca de 420 mil pessoas no estado são adeptas do espiritismo, que teve como importante divulgador o médium mineiro Chico Xavier. Existem ainda várias outras minorias religiosas no estado, dentre elas a umbanda e o candomblé que juntas possuem menos de vinte mil adeptos e cujos rituais por vezes são confundidos com tradições folclóricas. Quase um milhão de mineiros, por sua vez, consideram-se sem religião dos quais cerca de setenta mil são ateus e pouco mais de sete mil são agnósticos. Política. Sendo um estado da Federação, Minas Gerais é governado por três poderes, independentes e harmônicos entre si: o executivo, representado pelo governador; o legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG) e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e outros tribunais e juízes. Por vezes, o estado também permite a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos. A atual constituição mineira foi promulgada em 1989, acrescida das alterações resultantes de posteriores emendas constitucionais. São símbolos estaduais a bandeira, o brasão e o hino. O poder executivo está centralizado no governador do estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto pela população para mandatos de até quatro anos de duração, podendo ser reeleito para mais um mandato. Ouro Preto foi a capital mineira entre 1721 e o final do século XIX, no entanto em 1897 a sede do governo fora transferida para a recém-criada cidade de Belo Horizonte, devido à antiga Vila Rica não comportar o crescimento econômico e populacional. Nesta mesma ocasião foi construído o Palácio da Liberdade, primeira sede do governo mineiro em Belo Horizonte, que desde 2010 funciona no Palácio Tiradentes, localizado na Cidade Administrativa de Minas Gerais. O poder legislativo mineiro é unicameral, constituído pela Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, que funciona no "Palácio da Inconfidência" e é constituída por 77 deputados, que são eleitos a cada quatro anos. No Congresso Nacional, a representação mineira é de três senadores e 55 deputados federais. No poder judiciário, a mais alta instância é o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), constituído por desembargadores. Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, com mais de dezesseis milhões de eleitores aptos a votar, distribuídos em pouco mais de trezentas zonas eleitorais. Subdivisões. A primeira divisão feita no território mineiro foi feita em 1711, a pedido do então governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, após a área do atual estado desmembrar-se da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. Neste ano, foram criadas a Vila Ribeirão do Carmo (atual Mariana, em 8 de abril), Vila Rica (atual Ouro Preto, em 8 de julho) e Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará (atual Sabará, em 17 de julho). Atualmente, Minas Gerais possui várias subdivisões, baseadas em aspectos socioeconômicos, com fins estatísticos, principalmente. O estado é dividido em 853 municípios, que estão distribuídos em 70 regiões geográficas imediatas, que por sua vez estão agrupadas em 13 regiões geográficas intermediárias, segundo a nova divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017. São as regiões intermediárias: de Barbacena, Belo Horizonte, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga, Juiz de Fora, Montes Claros, Patos de Minas, Pouso Alegre, Uberaba, Uberlândia, Teófilo Otoni e Varginha. O estado também é dividido a partir da regionalização da Secretaria de Planejamento e Gestão (SEPLAG; antiga Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral — SEPLAN), que vinha sendo elaborada desde a década de 1970 e hoje segue a divisão adotada em dezembro de 1995. Segundo a SEPLAG, Minas Gerais se divide em dez regiões de planejamento, a saber: Alto Paranaíba (31 municípios), Central (158), Centro-Oeste de Minas (56), Jequitinhonha/Mucuri (66), Mata (142), Noroeste de Minas (19), Norte de Minas (89), Rio Doce (102), Sul de Minas (155) e Triângulo (35). O governo mineiro realizou uma redivisão em 2015, desta vez em 17 territórios, sendo estes: Alto Jequitinhonha, Caparaó, Central, Mata, Médio e Baixo Jequitinhonha, Metropolitano, Mucuri, Noroeste, Norte, Oeste, Sudoeste, Sul, Triângulo Norte, Triângulo Sul, Vale do Aço, Vale do Rio Doce e Vertentes. Oficialmente, também existem duas regiões metropolitanas no estado de Minas Gerais, sendo elas a de Belo Horizonte e do Vale do Aço, além da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, que tem sede em Brasília, mas envolve os municípios mineiros de Buritis, Cabeceira Grande e Unaí. Uma região metropolitana ou área metropolitana é um grande centro populacional, que consiste em uma (ou, às vezes, duas ou até mais) grande cidade central, e sua zona adjacente de influência. Geralmente, regiões metropolitanas formam aglomerações urbanas, uma grande área urbanizada formada pela cidade núcleo e cidades adjacentes, formando uma conurbação, a qual faz com que as cidades percam seus limites físicos entre si. Economia. Minas Gerais é o estado brasileiro que possui o terceiro maior produto interno bruto, que totalizava 351,38 bilhões de reais no fim do ano de 2010. Ao longo dos últimos anos, a economia mineira apresentou crescimento praticamente contínuo, interrompido somente durante a grande recessão entre os anos de 2008 e 2009 quando houve o decréscimo significativo do PIB mineiro. Contudo, posteriormente, a economia voltou a crescer em ritmo superior à media nacional. Das regiões mineiras, a Região Metropolitana de Belo Horizonte concentra 45% das atividades econômicas do estado, e é também uma das regiões que apresenta maior crescimento. A capital mineira, por si só, possui 43% das atividades econômicas da região, seguida pelos municípios de Betim e Contagem. A seguir estão o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, o Sul e Sudoeste de Minas, Zona da Mata e Vale do Rio Doce que juntas correspondem a cerca de 40% do PIB mineiro. As regiões menos desenvolvidas são os vales do Jequitinhonha e do Mucuri, que juntas possuem 2,1% de participação no PIB estadual. O estado, segundo dados de 2012, é o terceiro que mais exporta no país, sendo responsável por 12,78% dos produtos vendidos ao exterior, ficando atrás apenas de São Paulo (26,55%) e Rio de Janeiro (12,88%). A pauta de exportação do estado, no entanto, é muito concentrada e baseada em produtos primários, principalmente minério de ferro (43,15%), café (11,29%), ferro-ligas (5,86%) e ouro (5,15%). O volume total de exportações em 2012 foi de cerca US$ (trinta e três bilhões de dólares). Agropecuária. O setor primário da economia mineira correspondeu a cerca de 8,7% da soma de tudo o que foi produzido no estado durante o ano de 2012. Das culturas do estado, o café foi o que teve a maior participação no que se refere ao valor da produção agrícola estadual, chegando a 40% em 2011. Em 2017, Minas respondia por 54,3% da produção nacional total de café, sendo, portanto, o maior produtor do país. A região sul do estado é a principal origem do café mineiro, onde é cultivado em sua maioria a variedade arábica. A produção de cana-de-açúcar, por sua vez, representa quase 20% do valor da produção agrícola de Minas, seguido pelo milho, soja e feijão. Em 2019, Minas era o 3º maior produtor de cana-de-açúcar do país (11% do total), com 74,3 milhões de toneladas. Na safra 2018/2019, Minas Gerais colheu 5 milhões de toneladas de soja, sendo o 7º lugar no país. Minas Gerais era o 2º maior produtor de feijão do Brasil em 2019, com 17,2% da produção nacional. Em 2019, o estado foi o 2º maior produtor de laranja (989 mil toneladas), 3º maior produtor de banana (825 mil toneladas) , o 2º maior produtor de tangerina (210 mil toneladas) e o 3º maior produtor de abacaxi (179 milhões de frutos) do país. Minas produz cerca de 30% do sorgo do país, atrás apenas de Goiás. Sobre a cenoura, o Brasil ocupava em 2016 o 5º lugar no ranking mundial, com uma produção anual próxima de 760 mil toneladas. Minas Gerais e São Paulo são os 2 maiores produtores do Brasil. Entre os polos de produção em Minas Gerais, estão os municípios de São Gotardo, Santa Juliana e Carandaí. Já a batata tem como principal produtor nacional o estado de Minas Gerais, com 32% do total produzido no país. Minas Gerais colheu, em 2017, cerca de 1,3 milhão de toneladas do produto. Em 2019, no Brasil, havia uma área total produtora em torno de 4 mil hectares de morango. O maior produtor é Minas Gerais, com aproximadamente 1 500 hectares, cultivado na maioria dos municípios do extremo sul do Estado, na região da Serra da Mantiqueira, sendo Pouso Alegre e Estiva os maiores produtores. Minas também se destaca no cenário nacional na produção de tomate, onde é o 3º maior produtor nacional (572 mil toneladas em 2019). No município de Jaíba, no norte de estado, um projeto implantou a maior área de agricultura irrigada da América do Sul, onde são cultivadas mais de trinta variedades de frutas, dentre elas a banana-prata, da qual o município é o maior produtor. Em relação à pecuária, Minas Gerais lidera a produção nacional de leite, com uma produção de 8,4 bilhões de litros em 2010, o que equivaleu a um quarto da produção brasileira. O estado também possui uma importante participação nacional nas criações de corte de bovinos, suínos e frangos. A produção mineira de ovos também foi a segunda maior do país, com cerca de 375 milhões de dúzias. Indústria. Minas Gerais tinha em 2018 um PIB industrial de R$ 142,8 bilhões, equivalente a 10,9% da indústria nacional. Emprega 1 141 944 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Construção (17%), Extração de Minerais Metálicos (16,2%), Metalurgia (12,9%), Alimentos (11,4%) e Serviços Industriais de Utilidade Pública, como Energia Elétrica e Água (11%). Estes 5 setores concentram 68,5% da indústria do estado. Outros setores relevantes são os de Derivados de petróleo e biocombustíveis (5,4%), Químicos (3,7%), Veículos automotores (3,6%), Produtos de metal (2,2%) e Bebidas (1,8%). A atividade de extração de minerais metálicos é a que possui maior participação no setor secundário mineiro, com aproximadamente um quarto de representação na indústria estadual e responde por mais de quarenta por cento da produção mineral nacional. Dentre os principais minérios extraídos destacam-se o ferro, manganês (explorados sobretudo na região conhecida como Quadrilátero Ferrífero), ouro, níquel, nióbio, zinco, quartzo, enxofre, fosfato e bauxita. Três quartos da indústria mineira, por sua vez, correspondem a atividades de transformação dos quais o mais participativo é o setor de metalurgia, sendo que, no âmbito da indústria siderúrgica o estado foi responsável por um terço da produção nacional. Em Minas estão instaladas unidades produtivas de alguns dos maiores grupos ligados ao setor do país, como a Gerdau, Usiminas e ArcelorMittal. O estado possui, ainda, significativa participação no setor de fundição, com atividades concentradas sobretudo no centro-oeste do estado e cuja metade da produção é destinada ao setor de automobilísticos. A seguir, destaca-se o setor de produtos alimentícios, que corresponde a 13% das atividades industriais de Minas. Em seguida, com participação praticamente semelhante, está o setor automobilístico, responsável pela produção de quase um quarto da produção nacional de veículos a parti da presença de unidades produtivas de empresas como Iveco, Fiat e Mercedes Benz. Destaca-se, ainda, a produção de cimento, sendo que o estado é o maior produtor nacional, fato que é favorecido pelas grandes reservas de calcário em território mineiro. Outro setor importante é a indústria química, especialmente o setor de plásticos, cuja produção destina-se principalmente a atender outras cadeias produtivas. Na indústria do calçado, o estado tem um polo especializado em tênis e calçados baratos em Nova Serrana. Na indústria eletroeletrônica, o estado tem um pequeno pólo em Santa Rita do Sapucaí, com produção de equipamentos para o ramo das telecomunicações, como conversores (set-top Box), incluindo os utilizados na transmissão do sistema de TV digital. Na produção de celulares e outros eletrônicos, a Multilaser produz em Extrema. Serviços. O setor terciário é o mais importante da economia mineira, pois corresponde a mais da metade das atividades econômicas do estado. Neste setor, o comércio varejista tem acompanhado o crescimento do setor no país, que foi de 8,3% no período de 2009 a 2012. Contudo, alguns segmentos apresentaram comportamentos distintos como a venda de móveis e eletrodomésticos que evoluiu acima da média nacional, ao contrário do segmento de super e hipermercados, que foi abaixo da média brasileira no mesmo período. No entanto, a participação do comércio no setor terciário é superada somente pelo segmento de administração pública, responsável por movimentar 13,7% de todo o PIB estadual. Em 2010, foram arrecadados no estado aproximadamente 43,5 bilhões de reais em impostos, o que corresponde a doze por cento do PIB mineiro. Destacam-se ainda, as atividades ligadas ao setor imobiliário e de aluguéis (8,6% do valor agregado bruto mineiro), intermediação financeira (5,2%) e de transportes (5,1%). O comércio exterior de Minas Gerais tem apresentado um crescimento contínuo acima da média nacional, o que fez sua participação em vendas externas nacionais aumentarem de 10,5% em 2002 para 13,4% em 2012 e consolidar-se como o segundo maior estado exportador do país. Mais da metade do total exportado compõe-se de produtos da extração mineral bruta ou processados pela indústria metalúrgica. Cerca de um quinto desse total compõe-se de produtos da agropecuária, em especial o café. Destaca-se, ainda, o crescimento na exportação de medicamentos, soja e ouro não monetário nas exportações mineiras. Os principais destinos dos produtos exportados são a China, o Japão, Alemanha, Estados Unidos e Argentina. De forma similar, a importação de produtos no estado manteve-se crescendo com taxas similares às nacionais. Destaca-se nesse contexto a compra de veículos automotores, produtos químicos e farmacêuticos, produtos minerais e maquinaria industrial. O resultado da balança comercial mineira manteve-se positivo ao longo nos últimos dez anos, o que significa que o estado exportou mais do que importou. Em 2011, o superávit mineiro chegou a 28,4 bilhões de reais, muito próximo ao superávit brasileiro de 29,8 bilhões, evidenciando, portanto, a relevância do estado no comércio internacional brasileiro. No ano de 2011, 10,635 milhões de pessoas se enquadravam na categoria de população economicamente ativa, dos quais aproximadamente dez milhões se encontravam ocupadas. Desses, 3,8 milhões de pessoas possuíam carteira assinada. A taxa de desemprego no estado apresentou contínua queda desde 2009, passando de 7,2% para 3,9% no fim de 2012. Dentre as principais ocupações da população economicamente ativa, destacam-se as atividades de comércio (16,3%), agropecuária (16,2%) e da indústria de transformação (11,8%), seguidas por serviços de saúde, educação e serviços sociais, construção civil e serviços domésticos. Todos os setores de atividade econômica apresentam maior quantidade de empregados na região central do estado, com exceção das atividades agropecuárias, na qual o Sul de Minas possui maior quantidade de trabalhadores formais. Infraestrutura. O estado de Minas Gerais é dotado de uma notável infraestrutura que permite seu desenvolvimento econômico. No estado, encontra-se a maior rede rodoviária dentre as unidades da federação, além de uma importante parcela das ferrovias do país. Minas Gerais conta ainda com 92 aeroportos e cinco portos secos distribuídos em várias regiões do estado. Minas conta ainda com várias usinas hidroelétricas e possui inclusive um quarto das pequenas centrais hidrelétricas do país. O estado possui ainda mais de oitocentos quilômetros de gasodutos administrados pela Companhia de Gás de Minas Gerais. Serviços básicos. Dos domicílios, eram abastecidos pela rede geral (86,28%) de abastecimento de água, por meio de poços ou nascentes fora da propriedade (8,32%), por meio de poços ou nascentes situados dentro da propriedade (3,94%), através de rios, açudes, lagos ou igarapés (0,77%), 908 em poço ou nascente situado dentro ou fora da aldeia (0,01%) e eram abastecidos de outras maneiras (0,68%). domicílios eram abastecidos pela rede de fornecimento de energia elétrica (99,29%) e domicílios destinavam seu lixo à coleta (87,63%), sendo por meio de serviço de limpeza (83,59%) e por meio de caçambas (4,03%). E, por último, na questão de existência de banheiros e esgotamento sanitário, dos domicílios que tinham banheiros de uso exclusivo do próprio domicílio (97,25%), eram atendidos pela rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica (77,99%) e tinham o esgoto coletado de outra maneira (19,26%). Havia ainda domicílios com banheiro de uso comum a mais de um domicílio (1,50%), sendo por meio da rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica (0,62%) e possuíam outro escoadouro (0,87%); outros domicílios não tinham banheiros nem sanitários (1,26%). Existem várias empresas responsáveis pelo saneamento básico. No entanto, em 615 dos 853 municípios mineiros a empresa encarregada do fornecimento de água é a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que também se responsabiliza pela coleta de esgoto em outros 220. Os demais municípios são abastecidos por outras companhias, por empresas locais ou pelos chamados serviços autônomos de água e esgoto (SAAEs; criados a partir do extinto Serviço Especial de Saúde Pública) — um exemplo ocorre em Governador Valadares, na região do Vale do Rio Doce, onde o saneamento básico é feito pelo SAAE de Governador Valadares. Ainda há serviços de internet discada e banda larga (ADSL) sendo oferecidos por diversos provedores de acesso gratuitos ou pagos, além de cobertura pela rede "wireless" (internet sem fio) nos principais centros urbanos. O serviço de telefonia é oferecido por operadoras como a Vivo, Oi, TIM, Claro, Algar, entre outras. sendo que o código de área (DDD) das cidades do estado pode ser 31, 32, 33, 34, 35, 37, 38 e 39. Energia. Minas Gerais é um dos estados com maior demanda de energia, sendo que em 2010 o consumo total chegou a 35,8 milhões de toneladas equivalentes de petróleo, o que correspondeu a 13,2% da demanda nacional, a maior parte destinada ao setor industrial. Minas Gerais é um dos maiores produtores de energia hidroelétrica do país, com grandes geradores dos quais destacam-se a Usina Hidrelétrica de Furnas, Itumbiara e São Simão. Contudo, embora o estado exporte parte da energia elétrica gerada, boa parte da energia utilizada é importada, sobretudo na forma de lenha, carvão mineral e derivados, utilizados sobretudo nas indústrias siderúrgicas. Dentre os principais componentes da matriz energética mineira em 2010 foram o petróleo e gás (33,7%), seguido por lenha e derivados (21,4%), derivados de cana-de-açúcar (15,4%) e energia hidroelétrica (14,6%). No mesmo ano, 53,6% da energia utilizada no estado provinha de fontes renováveis, das quais a maior participação era da lenha e seus derivados. O estado possui potencial de produção de energia eólica que chega a ter a mesma ordem de grandeza que a energia hidrelétrica produzida atualmente. A Serra do Espinhaço é a região mais promissora para a implantação desse tipo de empreendimento. Minas Gerais possui condições climáticas favoráveis, sobretudo nos meses de inverno, que permitem o aproveitamento da energia solar, utilizada principalmente para o aquecimento. No que se refere à produção de energia elétrica a partir da radiação solar, os locais mais promissores para a instalação encontram-se no norte e noroeste do estado. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) é a encarregada do fornecimento de energia elétrica em 774 municípios mineiros, ou seja, 96% da área de concessão, sendo a responsável pela operação de 65 usinas (situadas dentro e fora do estado). A companhia possui ainda ações de várias outras empresas de energia espalhadas pelo Brasil, dentre elas a Light, do Rio de Janeiro, e suas ações são negociadas em São Paulo e Nova Iorque. Os demais 79 municípios do estado são atendidos por outras concessionárias, sendo a maior delas a Energisa, que atende a 66 cidades da Zona da Mata. Saúde. Em 2009, existiam estabelecimentos hospitalares no estado, com leitos. Do total de estabelecimentos, eram públicos, sendo de caráter municipal, 84 de caráter estadual e 46 de caráter federal. estabelecimentos eram privados, sendo com fins lucrativos e 766 sem fins lucrativos. 257 unidades de saúde possuíam especializações com internação e unidades eram providas de atendimento ambulatorial. De acordo com uma pesquisa realizada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios em 2008, 79,1% da população mineira avaliou sua saúde como boa ou muito boa, 69,6% afirmaram ter realizado consulta médica nos últimos doze meses anteriores à data da entrevista, 41,0% dos habitantes consultaram o dentista no mesmo período e 7,6% da população estiveram internados em leito hospitalar. 35,1% dos habitantes declararam ter alguma doença crônica e 29,3% dos residentes tinham cobertura de plano de saúde. No mesmo ano, 63,1% dos domicílios particulares permanentes estavam cadastrados no programa Unidade de Saúde Familiar. De acordo com a mesma pesquisa, na questão de saúde feminina, 42,0% das mulheres com mais de 40 anos fizeram exame clínico das mamas nos últimos doze meses, 56,7% das mulheres entre 50 e 69 anos fizeram exame de mamografia nos últimos dois anos e 77,9% das mulheres entre 25 e 59 anos fizeram exame preventivo para câncer do colo do útero nos últimos três anos. Educação. O fator "educação" do IDH no estado atingiu em 2010 a marca de 0,638 — a oitava maior do país, estando em conformidade aos padrões mínimos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) — ao passo que a taxa de analfabetismo indicada pelo último censo demográfico do IBGE foi de 7,66%, a décima melhor porcentagem nacional, porém a segunda pior do Sudeste brasileiro, à frente apenas do Espírito Santo. Tomando-se por base o relatório do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2011, Minas Gerais obteve o maior índice dentre os alunos do 5º ano do ensino fundamental entre os estados brasileiros — 5,9 —, o terceiro maior valor do 9º ano — 4,6, perdendo apenas para Santa Catarina e São Paulo — e o quarto maior dentre os alunos do 3º ano do ensino médio — 3,9, perdendo para Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Na classificação geral do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2013, cinco escolas do ente federativo figuraram entre as dez melhores do "ranking" nacional, inclusive sendo o único estado que possui uma escola com esta excelência localizada em uma cidade fora da capital. Com estabelecimentos de ensino fundamental, unidades pré-escolares e escolas de nível médio, a rede de ensino do estado é uma das mais extensas do Brasil. De acordo com dados da amostra do censo demográfico de 2010, da população total, habitantes frequentavam creches e/ou escolas. Desse total, frequentavam creches, estavam no ensino pré-escolar, na classe de alfabetização, na alfabetização de jovens e adultos, no ensino fundamental, na educação de jovens e adultos do ensino fundamental, no ensino médio, na educação de jovens e adultos do ensino médio, em cursos superiores de graduação, em especializações de nível superior, no mestrado e no doutorado. pessoas não frequentavam unidades escolares, sendo que nunca haviam frequentado e haviam frequentado alguma vez. Entre as muitas instituições de ensino superior, destaca-se a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), classificada como a 478ª melhor universidade do mundo e, juntamente com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Universidade Federal de Lavras (UFLA), está entre as melhores do Brasil segundo o Índice Geral de Cursos, do Ministério da Educação. A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) também se destaca no estado, ela ficou em 4º melhor lugar em Minas, e em 28º no Brasil, na frente da UFLA (Lavras), UFOP (Ouro Preto) e UFTM (Uberaba), segundo dados do ranking das universidades brasileiras da Folha de S. Paulo, em 2016. Minas Gerais é o estado com o maior número de instituições federais de ensino superior do país, abrigando 20 instituições, sendo 8 Institutos Federais, 1 Centro Federal e 11 Universidades Federais. Conta ainda com duas instituições estaduais: a Universidade do Estado de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Montes Claros. Além de cerca de 350 faculdades e universidades particulares e filantrópicas presentes em mais de 240 municípios. Ciência e tecnologia. Minas Gerais é sede de importantes institutos de pesquisa, no entanto 40% dos grupos de pesquisa mineiros estavam concentrados na UFMG, que abrigava ainda 46% do total de projetos do conjunto de instituições do estado. A UFV mantinha 19% do total de equipes. As universidades ainda não formam um grupo homogêneo e cerca de 87% dos professores do ensino superior dedicam-se exclusivamente à entidade. A maior parte dos estudos científicos oriundos das universidades estão voltados às engenharias, saúde, ciências biológicas e ciências exatas, sendo que muitas vezes estão voltados às necessidades econômicas e sociais regionais — na UFV e na UFTM, situadas respectivamente na Zona da Mata e no Triângulo Mineiro, grande parte das pesquisas está voltada às ciências agrárias, por exemplo. São alguns dos principais institutos subordinados às instituições de ensino e que visam o aprimoramento científico e tecnológico o Centro de Estudos Aeronáuticos da Universidade Federal de Minas Gerais (CEA), com ênfase em pesquisas da área de engenharia aeronáutica; o Laboratório de Alta Tensão da Universidade Federal de Itajubá (LAT-UNIFEI), um dos poucos laboratórios de alta tensão do Brasil; o Laboratório Nacional de Astrofísica; a Fundação Christiano Ottoni (FCO), que promove programas acadêmicos de ensino, pesquisa e extensão da UFMG; e o Centro de Pesquisa Manuel Teixeira da Costa (CPMTC), órgão complementar do Instituto de Geociências da UFMG que promove a realização de pesquisas ligadas à geologia e áreas afins das geociências. Fora do campo universitário, destacam-se o Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (IPEAD), que realiza pesquisas aplicadas às ciências econômicas e contábeis; a Fundação João Pinheiro (FJP), referência nacional em diversos setores das ciências sociais; a Fundação Ezequiel Dias (FUNED), referência na produção de medicamentos e soros, em estudos em saúde pública e nas ações de vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental; o Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR), unidade regional da Fiocruz onde são realizadas pesquisas ligadas à saúde e à epidemiologia; o Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), com vistas à aplicação tecnológica ao desenvolvimento social e econômico e, por fim, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, que possui diversos centros de pesquisas espalhados por todo o estado. Comunicações. A Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais é o órgão oficial responsável pelas comunicações em todo o estado, atuando tanto na assessoria da imprensa, quanto no "marketing" e na Internet. Existem diversos jornais presentes em vários municípios mineiros, como por exemplo "Diário do Aço" (em Ipatinga e Vale do Aço), "Hoje em Dia", "Estado de Minas", "Diário da Tarde", "O Tempo" (Belo Horizonte), "Jornal Correio de Uberlândia" (Uberlândia), "Jornal da Manhã" (em Uberaba), "O Mantiqueira" (em Poços de Caldas), "Tribuna de Minas" (em Juiz de Fora), "Folha do Sul" (em Três Corações), "Diário de Caratinga" (em Caratinga), "Jornal de Minas" (em São João del-Rei) e "O Norte" (em Montes Claros). O "Super Notícia", com sede em Belo Horizonte, estava entre os dez de maior circulação no país em 2008, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação, ocupando a terceira colocação, com exemplares/dia, após a "Folha de S. Paulo" e "O Globo". O estado também possui uma grande quantidade de emissoras de rádio, tanto AM quanto FM, sendo algumas das principais a BH FM, Globo Minas, América, Itatiaia, 98 FM, Nativa FM, Alvorada, Jovem Pan FM e BandNews — a maioria sediada em Belo Horizonte, mas com retransmissoras em outros municípios. A primeira rádio mineira foi a Rádio Sociedade de Juiz de Fora, que foi ao ar em 1° de janeiro de 1926, e em 1927 surge a Rádio Mineira, a primeira da capital mineira. No entanto, a primeira emissora do estado a ter reconhecimento nacional foi a Rádio Inconfidência, criada em 3 de setembro de 1936, notória por suas sessões de auditório e programação diversificada, voltada à população. Também obteve destaque a Rádio Itatiaia, que foi criada em 1951 e é considerada a líder de audiência em sua frequência AM no estado desde a década de 1970, com programação voltada ao jornalismo, esporte e prestação de serviço. No campo da televisão, a primeira emissora do estado a ter projeção nacional foi a TV Itacolomi, criada na capital mineira em 8 de novembro de 1955. Nesta época, poucos habitantes possuíam aparelho televisor em Minas Gerais, devido ao preço, mas à medida que a emissora aumentava seu raio de transmissão as vendas de telerreceptores cresciam, o que proporcionou o estabelecimento de novas emissoras no estado. Até seu fechamento, em 1980, a Itacolomi fazia parte dos Diários Associados, conglomerado de empresas de mídia do Brasil fundado por Assis Chateaubriand, que também foi o criador da paulista TV Tupi, primeira emissora de televisão do país. Assim como já vinha ocorrendo em São Paulo e no Rio de Janeiro com a Tupi, a TV Itacolomi passa a ter como concorrentes em Minas Gerais, a partir da década de 1960, a Rede Excelsior (extinta), a Rede Globo e a Rede Record. Atualmente há várias emissoras sediadas no estado, tais como a Record Minas, Paranaíba, TV Leste (afiliadas à Record), TV Globo Minas, InterTV dos Vales, EPTV Sul de Minas (afiliadas à Globo), TV Alterosa Belo Horizonte e TV Alterosa Leste (afiliadas ao SBT). Segurança pública e criminalidade. As principais unidades das forças armadas presentes em Minas Gerais são o Exército Brasileiro, sendo que o estado é integrante do Comando Militar do Leste (exceto o Triângulo, que pertence ao Comando Militar do Planalto), com sedes em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro; a Marinha do Brasil, segundo a qual Minas situa-se no 1º Distrito Naval, com sede no Rio de Janeiro (exceto o sul mineiro, que está jurisdiciado ao 8º Distrito Naval da Marinha do Brasil); e a Força Aérea Brasileira, segundo a qual o estado faz parte do 3º Esquadrão de Transporte Aéreo. Assim como os demais estados do Brasil, há dois tipos de corporações policiais que possuem a finalidade de realizar a segurança pública em seu território. São elas: a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), que tem função de defesa social, e a Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, que exerce a função de polícia judiciária e é subordinada ao governo estadual. De acordo com dados do "Mapa da Violência 2011", publicado pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes em Minas Gerais é a terceira menor do Brasil. No entanto, o número de homicídios saltou de 8,6 para 19,5 por 100 mil habitantes no período entre 1998 e 2008, fazendo com que o estado permanecesse na 23ª posição, apresentando um aumento de 126,6% no número de assassinatos durante o período pesquisado. Em 2010, de acordo com dados do IPEA, Minas alcançou a taxa de 18,5 homicídios por 100 mil habitantes, um aumento de 61,4% em relação ao número registrado em 2000, que foi de 11,5 homicídios a cada 100 mil habitantes, sendo que o suportável pela Organização Mundial da Saúde é de 10 homicídios por 100 mil habitantes. Apesar da pequena queda do número de homicídios entre 2008 e 2010, entre janeiro e setembro de 2013 houve um crescimento de 21% da ocorrência de crimes violentos, como sequestro e estupro, em relação ao mesmo período de 2012. De acordo com dados do "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros 2014", também publicado pelo Instituto Sangari, os dez municípios mineiros com as maiores taxas de homicídios por grupo de 100 mil habitantes são São Joaquim de Bicas (71,3), Mateus Leme (63,3), Teixeiras (61,5), Governador Valadares (59,0), Esmeraldas (57,8), Juatuba (56,3), Betim (55,5), Sarzedo (55,3), Itaobim (52,5) e Buritizeiro (51,7). São Joaquim de Bicas apareceu na lista das 100 cidades mais violentas do Brasil, ocupando a 80ª posição. Para reduzir as taxas, diversas medidas vêm sendo tomadas pelo poder público, como a ampliação do efetivo de policiais civis, militares e bombeiros e a implantação de unidades do Instituto Médico Legal (IML) e batalhões da PM. O estado também foi o pioneiro na criação de um presídio em parceria com a inciativa privada. Transportes. Em novembro de 2020, o estado de Minas Gerais possuía, além das rodovias municipais, 39.738 km de rodovias estaduais e federais, sendo 29.255 km pavimentados e 2.505 km de rodovias duplicadas. O estado possui rodovias duplicadas que saem da capital Belo Horizonte e a conectam com São Paulo (BR-381) e Rio de Janeiro (BR-040), e em sua parte oeste (BR-050, BR-153 e BR-365 na área conhecida como Triângulo Mineiro, entre os estados de São Paulo e Goiás, próximo a Uberaba e Uberlândia). Algumas partes do BR-262 também estão duplicadas. O estado, no entanto, apresenta, em geral, um déficit de duplicações, com trechos de pista única com circulação acima do limite de saturação. Recentemente, em 2022, foi criado um projeto para conceder BR-381 à iniciativa privada, com a intenção de duplicar 215 km entre Belo Horizonte, Ipatinga e Novo Oriente de Minas. A grande extensão da malha viária associada ao relevo predominantemente montanhoso — que faz com que haja uma grande quantidade de curvas sinuosas nas estradas — e às condições climáticas típicas do estado faz com que Minas tenha uma considerável taxa de acidentes em relação ao restante do Brasil; situações agravadas pelo fato do estado possuir apenas 31,6% das estradas em condições classificadas como "boa" ou "ótima", segundo informações do CNT de 2010. A frota estadual em 2012 era de veículos, sendo automóveis, caminhões, caminhões-trator, caminhonetes, caminhonetas, micro-ônibus, motocicletas, motonetas, ônibus, utilitários, tratores de rodas e outros classificados como outros tipos de veículos. No estado, existem seis aeroportos administrados pelo Infraero. São eles: o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte-Confins (em Confins), o Aeroporto da Pampulha - Carlos Drummond de Andrade (em Belo Horizonte), o Aeroporto de Belo Horizonte-Carlos Prates (em Belo Horizonte), o Aeroporto de Uberlândia (em Uberlândia), o Aeroporto de Montes Claros (em Montes Claros), e o Aeroporto de Uberaba (em Uberaba). Há também outros aeroportos menores, como os de Alfenas, Araxá, Caxambu, Diamantina, Divinópolis, Espinosa, Frutal, Governador Valadares, Ipatinga, Ituiutaba, Juiz de Fora, Leopoldina, Monte Verde, Patos de Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, São João del-Rei, Unaí, Varginha, entre outros. Também há transporte hidroviário, sendo que a principal hidrovia contida no estado é a Hidrovia do São Francisco, cujo curso d'água é navegável desde o município de Pirapora até Juazeiro, na Bahia. O transporte ferroviário, por sua vez, faz-se presente desde o século XIX, quando da construção da Estrada de Ferro Central do Brasil, na década de 1860. Em 1874, foi inaugurada a Estrada de Ferro Leopoldina. Em 1880, foi fundada a Estrada de Ferro Oeste de Minas e nas décadas seguintes foram abertas várias outras ferrovias em território mineiro. A partir da década de 1960, as ferrovias passaram a ser substituídas pelas rodovias, devido à demanda do crescimento da frota automobilística, levando ao fechamento de algumas estradas de ferro e ramais. Na década de 1990, ocorre a privatização de todo o sistema ferroviário nacional, desativando os serviços de passageiros restantes em algumas linhas locais. No entanto, ainda há caminhos de ferro ativos cortando Minas Gerais, sendo hoje utilizados somente para o transporte de carga, como as antigas Estrada de Ferro Central do Brasil, Estrada de Ferro Leopoldina, Estrada de Ferro Oeste de Minas e a Ferrovia do Aço, administradas pelas concessionárias MRS Logística e Ferrovia Centro Atlântica. A Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) é a responsável por escoar a produção da Vale e de outras empresas do estado em direção ao Porto de Tubarão, em Vitória, no Espírito Santo, e também opera o único trem de passageiros diário do Brasil que percorre longas distâncias, entre Vitória e Belo Horizonte, interligando outras cidades que também contam com estações. Cultura. A "Secretaria Estadual de Cultura" (SEC), que foi criada em 1983, durante o governo de Tancredo Neves, e estruturada em 1996, é o órgão vinculado ao Governo do Estado de Minas Gerais responsável por atuar no setor de cultura do estado, desde seu planejamento financeiro até a execução de projetos e manutenção de bibliotecas, museus e do Arquivo Público Mineiro. A SEC atua em parceria com diversas outras instituições e entidades culturais, diretamente subordinadas ou não ao órgão público, como a Fundação Clóvis Salgado (FCS), a Fundação TV Minas Cultural e Educativa, a Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG) e a Rádio Inconfidência. Artes cênicas. Minas Gerais conta com vários espaços, projetos e eventos dedicados ao fomento das áreas teatral e de dança. O estado é berço de uma considerável gama de grupos teatrais de sucesso nacional ou mesmo internacional, tais como o Grupo Galpão, o Giramundo Teatro de Bonecos, o Grupo Corpo e Ponto de Partida. Muitos deles têm suas origens e manutenção ligadas à formação artística profissional e a mecanismos municipais e estaduais de incentivo cultural; o Grupo Divulgação, de Juiz de Fora, por exemplo, nasceu na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A Companhia de Dança Palácio das Artes, fundada em Belo Horizonte em 1971, é um dos grupos profissionais mantidos pela Fundação Clóvis Salgado e ocasionalmente está presente em palcos nacionais e internacionais. Em Minas Gerais, situam-se alguns dos maiores espaços teatrais do Brasil, tais como o Teatro Municipal de Ouro Preto, que também é o teatro mais antigo das Américas, inaugurado no século XVIII; o Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora, cuja importância arquitetônica e histórica culminou no tombamento pelo IPHAN; o Palácio das Artes de Belo Horizonte, que é considerado como o maior centro de produção, formação e difusão cultural do estado e um dos maiores da América Latina, sendo mantido pela Fundação Clóvis Salgado, que oferece à população uma série de programações artísticas e de atividades educativas; o Centro Cultural Usiminas, em Ipatinga, considerado como um dos mais modernos do país e mantido pelo Instituto Cultural Usiminas; e o Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte, mantido pelo Banco do Brasil. São vários os eventos artísticos do estado em que os grupos e artistas demonstram suas atividades, sendo realizados tanto nos espaços culturais quanto ao ar livre. Na capital mineira, são alguns exemplos o Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua (FIT-BH), o Festival Internacional de Teatro de Bonecos, o Festival Internacional de Dança (FID), o Festival Internacional de Corais (FIC), o Festival Internacional de Curtas, o Festival Mundial de Circo do Brasil e o Festival Internacional de Quadrinhos. No interior do estado, destaca-se a realização da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, com espetáculos teatrais em Juiz de Fora e no Vale do Aço; e o Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, com oficinas de iniciação e atualização, espetáculos, peças de teatro e exposições em vários municípios do estado, como Diamantina e Cataguases. Música, cinema e literatura. A música se faz presente em Minas Gerais desde o período colonial. Os primeiros instrumentos musicais a adentrarem o estado foram trazidos pela Companhia de Jesus na segunda metade do século XVI, com objetivo de converterem os indígenas aos costumes europeus, difundindo a música barroca. Por décadas, os jesuítas foram responsáveis tanto pelo ensinamento da gramática e do latim quanto pela alfabetização musical nas escolas. No século XVIII destacou-se a obra sacra de Lobo de Mesquita e, no XIX, a de João de Deus de Castro Lobo, cujas obras estão disponibilizadas, dentre outras, nas séries Acervo da Música Brasileira e Patrimônio Arquivístico-Musical Mineiro. A partir do século XIX, as bandas de música se desenvolvem a ponto de serem hoje um dos marcos de identidade cultural do estado. Na primeira metade do século XX, destacam-se o samba, a bossa nova, o chorinho e as marchinhas com os compositores Ary Barroso, de Ubá, e Ataulfo Alves, de Miraí. Na década de 1970, surge em Belo Horizonte o movimento Clube da Esquina, cujas maiores influências eram a bossa nova e os Beatles. Na década de 80, destacaram-se mundialmente Sepultura e Sarcófago e na década de 90, surgem Skank, Jota Quest, Pato Fu e Tianastácia. Às primeiras décadas do século XXI, surgem artistas musicais como César Menotti & Fabiano e Paula Fernandes. No cinema mineiro, os nomes de Humberto Mauro e João Carriço se destacam por serem os pioneiros do cinema nacional. Humberto Mauro iniciou suas primeiras filmagens em 1925 em Cataguases, mudando-se para o Rio de Janeiro. Seu contemporâneo João Carriço, com o lema "Cinema para o povo", lançou a Carriço Filmes, em Juiz de Fora, produzindo cinejornais e documentários no início do século XX. No período do Cinema Novo e do Cinema Marginal, desponta o nome de Carlos Alberto Prates Correia, um dos principais realizadores da história do estado, autor de filmes evocadores da paisagem, da cultura e do povo mineiro, como os inventivos "Perdida", "Cabaret Mineiro" e "Noites do Sertão". Finalmente, no cinema contemporâneo, ressaltam-se Cao Guimarães produtor de curtas premiados no mundo inteiro; Helvécio Ratton, diretor de entre outros filmes "Menino Maluquinho" e "Pequenas Histórias"; e Selton Mello, que atuou em filmes como "Guerra de Canudos", "O Que É Isso, Companheiro?", "O Palhaço", "O Cheiro do Ralo" e "Meu Nome Não é Johnny". A literatura mineira, por sua vez, teve bastante contribuição para a primeira geração literária brasileira, ainda no século XVIII. As obras oriundas do estado tinham ideais bucólicos, visando a representar paisagens locais, sendo os principais autores da época Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manoel da Costa. Com o Romantismo e o Simbolismo, no século XIX, ganham destaque as obras de Bernardo Guimarães e Alphonsus de Guimaraens. No século XX, Minas conquista grande espaço no cenário literário brasileiro, revelando nomes como Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura e João Guimarães Rosa, que contribuíram para o auge do Modernismo no Brasil. Entre a segunda metade do século XX e a contemporaneidade, ressaltam-se Abgar Renault, Cyro dos Anjos, Murilo Rubião, Luiz Vilela, Affonso Romano de Sant'Anna, Murilo Mendes, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Henriqueta Lisboa, Affonso Ávila, Oswaldo França Júnior, Roberto Drummond, Bartolomeu Campos de Queirós e Ziraldo. Folclore, artesanato e culinária. A religiosidade tem influência marcante nas principais manifestações culturais do povo mineiro, principalmente nas festas folclóricas. Dentre as tradições presentes no estado, destacam-se o Congado, que reúne danças herdadas dos costumes africanos, difundidos pelos escravos, com as tradições católicas dos colonizadores; as comemorações da Folia de Reis, que celebram desde o nascimento de Jesus até a visita dos Três Reis Magos através de procissões e visitas a casas; as "Pastorinhas", que são meninos e meninas que visitam os presépios nas casas, assim como se fazia em Belém na época do nascimento de Jesus; o bumba meu boi, que simboliza a morte e renascimento do boi; a Festa do Divino, em homenagem ao Divino Espírito Santo; as Cavalhadas, representando os combates e guerras travadas entre mouros e cristãos; a Dança de São Gonçalo; e as quadrilhas, nas festas juninas. Boa parte da produção artesanal mineira tem ligação às tradições culturais do estado, como na representação de imagens de santos ou personagens históricos. O artesanato está presente em diversas regiões de Minas Gerais, com produção baseada em pedra-sabão, cerâmica, madeira e fibras vegetais, argila, prata e estanho. Em Tiradentes destacam-se os objetos em prata; na região do Vale do Jequitinhonha são feitas peças em madeira e principalmente cerâmica; em Ouro Preto, Congonhas, Mariana e Serro há considerável presença dos trabalhos em pedra-sabão; em Ouro Preto e Viçosa são produzidos utensílios com cobre e outros metais; e em todo o estado são encontrados bordados, trançados em talas, bambu e fibras têxteis, crochês e tricôs, além da madeira. Na cozinha mineira, por sua vez, a carne de porco é muito presente, sendo famosos o tutu com lombo de porco, a costelinha de porco e o leitão à pururuca. Também são apreciados a vaca atolada, o feijão tropeiro com torresmo, a canjiquinha com carne (de boi ou porco), linguiça e couve, o frango ao molho pardo com angu de fubá, o frango com quiabo ensopado e arroz com pequi. São famosos os doces mineiros, especialmente o doce de leite, a goiabada e a paçoca. O pão de queijo, os queijos (e seu modo artesanal de preparo) e o café também estão entre as principais referências da cozinha mineira. Muitos pratos têm origens indígenas, cuja culinária era predominantemente à base de mandioca e milho e teve incremento dos costumes europeus, com a introdução dos ovos, do vinho, dos quentes e dos doces. Arquitetura. Durante o período colonial, a riqueza oriunda do ouro e dos diamantes propiciou o surgimento de cidades que tinham como característica o dinamismo cultural. Nesse contexto, desenvolveram-se as cidades e a arquitetura colonial, cujas obras permanecem como sendo alguns dos conjuntos mais notáveis deste período da história brasileira. As casas das cidades mineiras eram construídas com aspectos uniformes entre si e, usualmente, ocupavam todo o terreno. As ruas estreitas se adaptavam à topografia acidentada do território mineiro. Dada a influência da Igreja Católica, muitas igrejas foram erguidas nas cidades e vilas da época, com características arquitetônicas notáveis típicas do período barroco. Merecem destaque, especialmente, as obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, notável por seu estilo peculiar refletido nas esculturas, obras arquitetônicas e entalhes do final do período colonial. Os principais remanescentes desta fase da arquitetura mineira são o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos (em Congonhas, com obras de Aleijadinho), o centro histórico de Ouro Preto e de de Diamantina (todos declarados patrimônios da humanidade pela UNESCO), além da Igreja de São Francisco de Assis em São João del-Rei. Já no fim do período colonial, houve a transição para o período neoclássico. Contudo, tal estilo não foi tão marcante em território mineiro, deixando traços em algumas construções como na Casa da Câmara e Cadeia de Ouro Preto e na fachada da Igreja de Nossa Senhora do Pilar em Nova Lima. Posteriormente, a partir das últimas décadas do século XIX, o ecletismo europeu passa a influenciar as obras arquitetônicas do estado, que passava por um surto de desenvolvimento graças à atividade cafeeira e à pecuária. Em um primeiro momento, tal estilo ainda sofre influência do neoclassicismo, apresentando contornos suaves. Somente a partir do século XX, o ecletismo passa a apresentar uma estética rebuscada, além de permitir uma vasta gama de combinações estilísticas influenciada sobretudo pela arte europeia, que se estendem até a década de 1940. No período entreguerras chega ao estado a tendência mundial do "art déco", que valorizava em sua estética a abstração, a linha, a forma, o volume e a cor e que se beneficiou pelas inovações construtivas, como a utilização do concreto armado. Contudo, uma grande revolução viria com os projetos de Oscar Niemeyer que, ao conceber o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, buscou a criação de formas simples e úteis, com suas características curvas. Na década de 50, o arquiteto concebeu outras obras notáveis, como o Edifício Niemeyer. Ao mesmo tempo chegam a Minas novos conceitos do nascente Estilo Internacional, além do surgimento da arquitetura modernista no Brasil. Desde então, as construções passaram a integrar como princípios a funcionalidade e integração com seus arredores. Um dos mais recentes e notáveis projetos arquitetônicos no estado é a Cidade Administrativa de Minas Gerais, projetada por Oscar Niemeyer e concluída em 2010. Turismo. Um dos mais importantes circuitos turísticos de Minas Gerais é a Estrada Real, que passa pelos antigos caminhos utilizados para transportar o ouro das minas, que liga a região central do estado às cidades do Rio de Janeiro e Parati. Os diferentes roteiros deste circuito apresentam atrativos históricos, culturais e naturais para seus visitantes. Outro aspecto notável do turismo mineiro inclui a visitação às cidades históricas, as quais conservam as construções do museu colonial além de incluírem museus e espaços culturais que revelam o passado dessas localidades. Destas cidades, destaca-se Ouro Preto, onde encontra-se o Museu da Inconfidência. O relevo do estado, com abundância de picos e serras (especialmente os grandes picos), além da grande quantidade de grutas e cavernas, rios e lagos naturais e artificiais e a riqueza da fauna e flora estadual atraem praticantes do ecoturismo e também do turismo de aventura. Outro segmento relevante é o turismo rural, já que Minas é um dos estados que mais possuem empreendimentos voltados para esta finalidade. Na região central do estado, além das cidades históricas e da capital, encontram-se parques nacionais como o Serra do Cipó, além do Museu de Inhotim, que possui um dos maiores acervos de arte contemporânea do país. No sul do estado, encontra-se o Circuito das águas, conhecido por suas estâncias minerais. Destaca-se ainda o turismo de negócios que está em franca expansão, uma vez que nos últimos anos grandes eventos de projeção internacional foram realizados no estado. Em especial, destaca-se nesse segmento a cidade de Belo Horizonte, que atrai cada vez mais feiras, congressos e reuniões, o que pode ser atribuído à infraestrutura e à importante rede hoteleira da cidade. Outras cidades do interior (como Juiz de Fora, Uberaba e Uberlândia) também oferecem opções para a realização de eventos de negócios de grande porte. Esportes. O futebol é um dos esportes mais populares no estado de Minas Gerais, tendo como principais equipes Atlético, Cruzeiro, América, Villa Nova, Tupi, Ipatinga, Boa Esporte e Caldense. A Federação Mineira de Futebol é a entidade responsável por organizar a competição mais tradicional do estado, o Campeonato Mineiro, cuja primeira edição foi realizada em 1915. Outra competição tradicional é a Taça Minas Gerais que, por falta de interesse das agremiações mineiras, não foi realizada no ano de 2013. Dentre os maiores estádios de futebol do estado, destacam-se o Independência na capital, Parque do Sabiá em Uberlândia, Mário Helênio em Juiz de Fora, Melão em Varginha, Arena do Jacaré em Sete Lagoas e o Ipatingão, além do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, que foi uma das arenas da Copa do Mundo FIFA de 2014. A Federação Mineira de Voleibol é a responsável pela organização das competições de vôlei no estado que possui o maior número de atletas registrados como praticantes desse esporte. Existe ainda a Federação Mineira de Basketball, que organiza as competições do esporte, além de buscar difundi-lo pelo estado. Anualmente são realizados os Jogos Escolares de Minas Gerais, na qual competem escolas em vários níveis, desde etapas municipais até as finais estaduais. No estado nasceram os tenistas Marcelo Melo e Bruno Soares, que foram respectivamente o nº1 e o nº2 do mundo em duplas; Ronaldo da Costa, ex-recordista mundial da maratona; medalhistas olímpicos como Maicon de Andrade no taekwondo, Marcus Mattioli na natação, Moysés Blás e Cláudia Pastor no basquete; Adenízia da Silva, Ana Carolina da Silva, Ana Flávia Sanglard, Ana Paula Henkel, Anderson Rodrigues, Camila Brait, Érika Coimbra, Fabiana Claudino, Gabriela Guimarães, Giovane Gávio, Hilma, Márcia Fu, Xandó, Maurício Souza, Lucarelli, Sassá, Sheilla Castro, Talmo e Walewska no vôlei; além de medalhistas em Mundiais como André Cordeiro, Henrique Barbosa, Larissa Oliveira, Nicolas Oliveira, Rodrigo Castro e Teófilo Ferreira na natação. Feriados. Em Minas Gerais, existe apenas um feriado estadual: o dia 21 de abril, que é considerado como a Data Magna do Estado. Comemora-se juntamente ao feriado nacional em homenagem a Tiradentes, por ocasião do aniversário de sua execução em 21 de abril de 1792.
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Massa
Massa Massa é um conceito utilizado em ciências naturais. Em particular, a massa é frequentemente associada ao peso dos objetos. Esta associação não se mostra na maioria das vezes, entretanto, correta, ou quando correta, não se mostra completamente elucidativa. Em acordo com o paradigma científico moderno, o peso de um objeto resulta da interação gravitacional entre sua massa e um campo gravitacional: ao passo que a massa é parte integrante da explicação para o peso, ela sozinha não constitui a explicação completa. Os trajes espaciais dos astronautas, quando usados aqui na Terra, parecem consideravelmente mais pesados do que quando usados na superfície da Lua, contudo suas massas permanecem exatamente as mesmas. É comum também a associação de massa ao tamanho e forma de um objeto. Massa realmente toma parte na explicação para o tamanho dos objetos (densidade), mas não constitui a explicação correta ou completa. A massa é uma grandeza escalar e não é um vetor. O corpo humano é equipado com vários sentidos com os quais estabelecemos a compreensão do mundo que nos cerca. Em primeira instância é às sensações que eles nos fornecem que naturalmente associamos certos conceitos e definições, a citar os conceitos intuitivos de temperatura, tamanho, resistência, peso, massa, e outros. O conceito intuitivo de massa que desenvolvemos encontra-se intimamente ligado a eles. Entretanto sabe-se hoje que nossos sentidos são mestres em nos enganar — quem nunca viu uma ilusão de ótica? — e que eles também não têm grande precisão. Se um punhado de balas for colocado em uma de suas mãos, e se uma for retirada do topo da pilha, você certamente não dará por falta desta se confiar apenas na sensação do peso que seu tato lhe confere. Como se deduz, para a correta compreensão do mundo que nos cerca não podemos confiar em nossos sentidos. Para alcançá-la devemos confiar em algo mais avançado, a saber, no poder de abstração que temos e em informações fornecidas por aparelhos especificamente projetados para obtê-las. Dentro deste contexto, que culminou no que chamamos hoje ciência, o conceito abstrato de massa evoluiu juntamente com a nossa compreensão do mundo natural, mas mesmo nos dias de hoje mostra-se essencial ainda na forma com a qual se consolidou pela primeira vez: o primeiro conceito científico de massa com o qual nos deparamos na escola — o de massa como medida da inércia, da maior ou menor oposição que um corpo impõe à mudança em seu estado de movimento (F=m.a) — ainda é o fornecido pela mecânica newtoniana, mas a partir dele podemos hoje encontrar no mínimo sete definições diferentes de massa, e em verdade, dentro da teoria mais geral para o estudo da dinâmica dos corpos (a Relatividade Geral), podemos até mesmo não encontrar uma definição satisfatória para massa. Os conceitos científicos de massa, que diferem do conceito também científico de quantidade de matéria, sempre se mostram de alguma forma associados ao conceito de inércia, e mesmo em relatividade, onde energia e massa mantêm, em acordo com a famosa equação E = mc2, íntima relação, esta associação está presente: não só a matéria mas também a energia apresenta inércia. Entretanto, apesar de muito bem definida dentro de cada área de estudo onde aparece, "explicar" a massa não é uma coisa muito simples, e atualmente existem algumas teorias que tentam elucidar nas origens o que é massa. Definição geral de massa. Os conceitos físicos de força e massa surgem em teorias ou modelos destinados a estabelecer a dinâmica em sistemas compostos ou por entes semelhantes ou por entes de natureza às vezes bem distintas. Nestes modelos sempre figuram também dois outros conceitos fundamentais, o conceito de momento e o conceito de energia. Os conceitos de energia e momento são importantes porque suas definições se dão de forma que energia e momento sempre obedeçam a leis gerais de conservação, leis estas decorrentes da existência de regras naturais de relacionamento entre entes e/ou sistemas que são, em princípio, estáveis e muito bem estabelecidas. Neste contexto, energia e momento guardam íntima relação, e um ente físico é caracterizado pela sua relação de dispersão, um gráfico ou função que explicita a relação existente entre o momento e a energia para este ente. Dois entes físicos com a mesma natureza física têm relações de dispersão semelhantes. Como exemplo, as partículas clássicas dentro da mecânica de Newton têm energias que dependem dos quadrados de seus momentos: formula_1 (esta relação é encontrada de forma explicita na mecânica hamiltoniana:formula_2 ). Já os fótons, partículas definidas no âmbito da mecânica quântica, têm energias linearmente dependentes de seus momentos: formula_3. É com base na relação de dispersão que se estabelece a definição geral de massa: Na oportunidade cita-se também a definição de força: Definições mais intuitivas de massa, que não exigem a princípio conhecimentos avançados em cálculo integral e diferencial, podem ser derivadas desta definição formal quando no contexto de um modelo dinâmico particular. Unidade de massa. Segundo o Sistema internacional de unidades (SI), a medida da massa é o quilograma (kg). A unidade de medida de massa — o quilograma — encontra-se intimamente atrelada ao quilograma-padrão, um protótipo internacional de platina iridiada (feito de irídio e platina) que se encontra conservado no Escritório Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), situado no parque de Sant Cloud, nas proximidades de Paris, França, sendo o quilograma definido como a massa deste protótipo. Em vista do senso comum ressalta-se que o conceito de quilograma (kg) como unidade de massa difere completamente do conceito de quilograma-força (kgf), uma unidade alternativa ao newton (N) na medida de força ou peso. No ramo da física de partículas é comum medir-se a massa não em quilogramas (kg) mas em unidades diretamente associadas às de energia, dentre as quais o elétron-volt (eV) se destaca. Em acordo com a ideia de equivalência entre massa e energia proposta por Einstein (formula_6) a massa do elétron é expressa, em física de partículas, como 5,11x105 eV/c2 ou 511 keV/c2, e não como 9,11x10−31 kg. Em química, apesar de não pertencer ao Sistema Internacional mas ser por este aceita, uma unidade de massa muito utilizada é a unidade de massa atômica, também conhecida por dalton. A unidade de massa atômica relativa, abreviada por "u", "uma", ou simplesmente "Da", equivale à massa de um doze avos (1/12) da massa do isótopo mais estável e abundante de carbono (carbono 12) em seu estado fundamental. Mesmo sendo o quilograma a unidade oficial do Sistema Internacional de Unidades, unidades específicas a cada ramo de atividade ou de uso comum em certas localidades têm uso ainda muito difundido, a citar a tonelada, a arroba, a onça, o quilate (em joalheria e ourivesaria), e outras. Definições de massa na mecânica newtoniana. Em mecânica clássica, que encerra em si as leis da dinâmica e também a lei da gravitação universal, ambas devidas à Isaac Newton, encontram-se duas possíveis definições para massa: a massa inercial, associada à Segunda Lei de Newton, e a massa gravitacional, definida em função da interação gravitacional entre dois corpos. Massa inercial. A massa inercial formula_7 de um corpo é uma grandeza escalar associada à razão entre o módulo da aceleração formula_8 apresentada por um corpo de referência — por definição o quilograma padrão (cuja massa inercial vale m0 = 1 kg) — e o módulo da aceleração formula_9 apresentada por este corpo quando ambos encontram-se solicitados por forças não gravitacionais de mesmo módulo. Um mecanismo destinado à medida da massa inercial nada mais é do que um mecanismo que aplique forças não gravitacionais com módulos idênticos a dois corpos distintos, e que permita a medida de suas acelerações. Um bom "medidor de massa inercial" é o sistema constituído por duas massas, uma das quais de referência formula_11 de valor previamente conhecido (mas não necessariamente o quilograma-padrão ou réplica deste), apoiadas em uma mesa horizontal sem atrito, e conectadas entre si por uma mola de massa desprezível e com constante elástica não necessariamente conhecida. Em virtude da terceira lei de Newton, ao colocar-se o sistema para oscilar ambas as massas oscilarão em torno do centro de massa e os módulos das forças em ambas serão, apesar de não necessariamente conhecidos, obrigatoriamente iguais. Ao medir-se a aceleração formula_12 e formula_13 das massas (em relação ao centro de massa) e determinar-se a razão entre elas estabelece-se automaticamente o inverso da razão de suas massas inerciais formula_14 e formula_15, o que fornece a massa desconhecida em função da massa de referência (ou a massa desconhecida diretamente quando a massa de referência é quilograma-padrão ou réplica deste, caso em que formula_14=1 kg). A construção de um medidor de massa inercial fundamentado nos princípios citados pode ser muito simplificada quando, baseando-se na Lei de Hooke e no estudo dos movimentos harmônicos simples, percebe-se que a medida da razão entre as acelerações pode ser substituída pela medida da razão inversa das amplitudes dos movimentos, grandeza esta facilmente mensurável. O conceito de massa inercial fundamenta-se diretamente nas leis da mecânica, em especial com a Segunda Lei de Newton. A Segunda Lei de Newton afirma em essência que a força aplicada em um dado objeto é diretamente proporcional à aceleração que este apresenta. Assim, quanto maior a força aplicada a um mesmo objeto, maior a sua aceleração. Subentende-se aqui, como em todo problema de mecânica clássica, que o referencial utilizado é um referencial inercial, sendo portanto a primeira e a terceira leis sempre válidas no referencial assumido (conforme praxe). Nestas condições, a segunda lei também encerra em si o fato experimental de que, ao selecionarem-se diversos corpos completamente diferentes, uma mesma força irá produzir nestes, muito provavelmente, acelerações completamente diferentes. Este fato estabelece a necessidade de se definir uma grandeza intrínseca a cada corpo que expresse em seu valor a relação entre a força necessária e a aceleração desejada neste corpo em específico: esta grandeza, definida como a massa inercial do corpo, aparece na segunda lei como sendo a constante de proporcionalidade entre força e aceleração. Tendo-se já por definida a unidade de aceleração (m/s²), pois esta deriva de uma relação entre a unidade de comprimento (no S.I o metro) e uma unidade de tempo (no S.I o segundo), havia, mediante as situações apresentadas, duas possibilidades para se estabelecer as unidades das grandezas restantes: ou definia-se um padrão de força, sendo a sua intensidade então definida como uma unidade fundamental, e mediante esta definição estabelecia-se a unidade de massa como unidade derivada, ou estabelecia-se um corpo referência para o qual a massa inercial seria a unidade, e assim fazendo ter-se-ia a unidade de força e não a unidade de massa como uma unidade derivada. Por razões práticas, a opção escolhida foi a segunda, e estabeleceu-se um corpo padrão, o quilograma-padrão, ao qual se atribuiu por definição a massa inercial de 1 quilograma (1 kg). Com esta definição, a unidade de força, uma grandeza derivada, recebeu o nome newton, havendo a seguinte relação entre elas: Assim, uma força com intensidade de 1 newton (1N) é uma força que, quando aplicada ao quilograma-padrão, ou a um corpo cuja massa seja, por comparação inercial ao quilograma padrão ou réplica deste, também 1 kg, provoque nestes uma aceleração de exatos 1 m/s². Massa gravitacional. Definição. Isaac Newton, por preocupar-se não apenas com a dinâmica dos corpos terrenos mas também com a dos corpos celestes, estabeleceu, juntamente com as leis da mecânica clássica, a Lei da Gravitação Universal. A Lei da gravitação universal suporta-se no fato experimental de que todos os corpos massivos conhecidos até hoje, pelo simples fato de existirem, atraem outros corpos massivos ao seu redor - e todos os outros do universo, uma vez que a força gravitacional decai com o quadrado da distância, e a rigor nunca se anula, por maior que esta seja. A força de interação em questão é a conhecida força gravitacional, sendo esta também denominada (de fato em situações mais específicas) força peso. Na Lei da Gravitação Universal figura portanto uma massa, a massa gravitacional, uma propriedade que é, assim como a massa inercial, intrínseca a todos os corpos. A definição operacional de massa gravitacional de um corpo é feita, assim como o ocorrido para o caso da massa inercial, por comparação entre a massa gravitacional deste corpo e a massa gravitacional de um corpo de referência, e são em princípio as massas gravitacionais e não as respectivas massas inerciais que, juntamente com a distância de separação entre os corpos, determinam a força gravitacional entre estes. O processo de medida da massa gravitacional deve ter por base, logicamente, a força gravitacional. Através de uma balança de equilíbrio nota-se que diferentes corpos são atraídos de forma diferente quando nas proximidades de um grande corpo massivo - a exemplo de um planeta como a Terra. Em um experimento com uma dessas balanças, observa-se que a balança "pende" para o lado do objeto mais "pesado", ou seja, para o lado do objeto com maior massa gravitacional. Através de uma balança de braço imersa em um campo gravitacional constante como o criado (não obrigatoriamente) pela Terra, a determinação da massa gravitacional de um corpo pode ser feita por comparação a um padrão unitário de massa gravitacional verificando-se que a massa gravitacional do objeto em teste - colocado em um dos pratos - será o número necessário de amostras-padrão a serem colocados no outro prato a fim de que a balança mostre-se equilibrada. O corpo-padrão sobre o qual se define a unidade de massa gravitacional acaba sendo, por razão simples à frente discriminada, o mesmo protótipo sobre o qual se define a unidade de massa inercial, o quilograma-padrão. A unidade de massa gravitacional é, portanto, a mesma unidade usada na medida de massa inercial: o quilograma (kg). A definição de quilograma (kg) como a unidade de massa gravitacional deve-se à equivalência experimental entre as massas inerciais e gravitacionais observada em todos os corpos, mas em princípio não há nada na mecânica ou na gravitação que obrigue a existência de tal relação, e por isto elas devem ser definidas, a priori, de formas separadas. Um exemplo, hipotético e irreal, da não obrigatoriedade da equivalência entre as massas inercial e gravitacional seria obtido caso admitíssemos que a força gravitacional não atuasse sobre partículas carregadas eletricamente, e sim sobre partículas estritamente neutras. Nestas condições, dois pedaços de urânio confeccionados de forma a terem massas inerciais estritamente iguais, mas compostos por isótopos distintos deste material, a saber urânio U235 (usado na bomba de Hiroshima) e U238 (isótopo abundante, usado em reatores), teriam visivelmente massas gravitacionais (e pesos) diferentes, pois o número de nêutrons em uma amostra seria maior do que o número de nêutrons na outra. Massas gravitacionais ativa e passiva? Definições. A introdução da ideia de campo na Física por Michael Faraday representou um avanço formidável não só no ramo da eletricidade mas também no estudo da gravitação universal. A ideia fundamental atrás do conceito de campo se opõe diretamente ao conceito de ação à distância. Dados dois entes em interação, no modelo de ação à distância cada um dos entes atua diretamente sobre o outro, não havendo qualquer agente intermediário responsável por esta interação. Na visão através do modelo de campo, um dos entes em interação é agora responsável por criar ao seu redor um terceiro ente físico, o campo, que será o mediador da interação entre ele e o segundo ente. Neste caso, o segundo ente não mais interage com o primeiro diretamente, e sim com o campo que este criou. Em algumas bibliografias usa-se o modelo de campo para suportar a definição de duas massas gravitacionais a princípio diferentes: a massa gravitacional ativa e a massa gravitacional passiva, nenhuma das quais, então, necessariamente igual à massa inercial do corpo associado. Temos então a seguinte definição para cada uma delas: Uma questão de simetria. Dentro da dinâmica de Newton há, ao contrário do que ocorre entre massa gravitacional e massa inercial, forte base teórica para se afirmar que as massas gravitacionais ativa e passiva devem ser, em verdade, iguais, ou pelo menos diretamente proporcionais mediante uma constante de proporcionalidade universal. O suporte mais importante para tal fato encontra-se na definição de força, que é exatamente a mesma tanto no âmbito da teoria da gravitação universal quanto no âmbito da teoria mecânica: força é a expressão física da interação de DOIS objetos, e um objeto sob a ação de uma força tem sua dinâmica determinada pela Segunda Lei de Newton, qualquer que seja a natureza da interação entre os corpos. Se assim não fosse, a teoria da gravitação destacar-se-ia como uma teoria dinâmica a parte, devendo estabelecer não apenas que existe uma interação de origem gravitacional entre dois corpos e fornecer a tradicional fórmula para o cálculo da força que representa esta interação, como também fornecer todo um conjunto de regras (similares ou não às leis de Newton) que permitissem determinar a dinâmica dos corpos que por ventura se encontrassem sobre a ação destas "forças especiais". Uma vez estabelecido que a Terceira Lei de Newton vale dentro da dinâmica gravitacional, a igualdade, ou melhor, a proporcionalidade entre as massas gravitacionais ativa e passiva é direta. Repare que estas massas não precisam obrigatoriamente ter o mesmo valor para um dado corpo, pois um fator de proporcionalidade universal poderia ser facilmente "absorvido" dentro da constante de gravitação universal G que figura na equação da Lei da Gravitação Universal. Assim, poder-se-ia, em princípio, definir: "a massa gravitacional ativa de qualquer corpo vale sempre o dobro de sua massa passiva". Se assim fosse, um corpo com massa gravitacional passiva de 1 kg teria uma massa gravitacional ativa de 2 kg. Repare entretanto que estabelecendo-se, neste caso, o valor da constante de gravitação G como tendo a metade do valor que na realidade tem, o fator 2 introduzido na definição da massa ativa seria cancelado por este fator 1/2 introduzido na constante G original, e a força gravitacional bem como toda a dinâmica fornecida pela segunda lei para estes corpos não seriam, como um todo, afetadas. Entretanto, podendo-se escolher, fazem-se sempre as escolhas mais simples: Equivalência de massa inercial e gravitacional. É fato que, conforme elaboradas por Newton, não há nada em toda a estrutura da dinâmica e da gravitação universal que forneça uma razão teórica plausível para a equivalência experimentalmente observada entre massa gravitacional e massa inercial. A dinâmica newtoniana afirma apenas que as massas gravitacionais são responsáveis pelas forças gravitacionais entre dois corpos em interação gravitacional, sendo estas massas e não as inerciais as massas usadas na determinação do módulo destas forças gravitacionais - um par ação e reação. Afirma também que a massa inercial é a massa utilizada na segunda lei da dinâmica, sendo esta massa, e não a massa gravitacional, a massa utilizada no cálculo da aceleração apresentada pelo corpo quando solicitado por quaisquer forças - inclusive as de origem gravitacional. A massa presente na equação fundamental da dinâmica (formula_21) é, pois, a massa inercial. O pêndulo de Newton. Newton foi o primeiro a verificar experimentalmente a equivalência entre massa inercial e massa gravitacional. A ideia de seu experimento reside nos resultados teóricos da aplicação das teorias gravitacional e mecânica ao estudo de um pêndulo gravitacional simples, que, mantidas explícitas as massas gravitacional e inercial nos cálculos, leva à seguinte equação para o período de oscilação T de um pêndulo: onde formula_23 e formula_24 referem-se, respectivamente, às massas inercial e gravitacional do corpo suspenso, L ao comprimento do pêndulo e g ao módulo da aceleração da gravidade no local do experimento. Nesta equação torna-se evidente que, mantidos constantes o local do experimento - e portanto a aceleração da gravidade g no local - e o comprimento L do pêndulo, uma troca do corpo suspenso no pêndulo por outro qualquer que tenha, por simplicidade mas não obrigatoriedade, uma mesma massa gravitacional mg, só levará a uma alteração no período do pêndulo se a razão formula_25 for diferente nos diversos corpos, ou seja, se não houver uma relação fixa entre a massa gravitacional mg e a massa inercial mi. Na sequência, Newton construiu um pêndulo fixando uma caixa oca e a princípio vazia na ponta de uma haste com massa desprezível. O interior da caixa foi, então, em uma sequência de experimentos, enchido com os mais diversos materiais, tendo Newton sempre o cuidado de encher o pêndulo de forma que este tivesse, depois de cheio, sempre a mesma massa gravitacional mg (o pêndulo era pesado). Os períodos dos diversos pêndulos assim obtidos foram, satisfeitos os rigores experimentais associados ao experimento, a citar a manutenção, em valores constantes e adequados, do local, da amplitude A do movimento, e do comprimento L da corda, então medidos. Consideradas as incertezas experimentais inerentes, Newton não observou qualquer alteração nos períodos dos diversos pêndulos por ele construídos e, ao fazê-lo, estabeleceu a igualdade entre as massas inercial e gravitacional até a terceira casa decimal (precisão de cerca de 1 parte em 103). Uma vez estabelecida a igualdade entre as duas massas, a equação para o período do pêndulo se reduz a: formula_26 que é a equação encontrada em qualquer livro de física de ensino médio. Graças à equivalência entre as massas inercial e gravitacional há uma completa independência entre o período de oscilação T de um pêndulo (oscilando com pequenas amplitudes) e a massa do corpo nele suspenso. Assim, mantidos o comprimento L e a aceleração da gravidade no local do experimento, qualquer que seja a massa que se coloque na ponta de um pêndulo, o seu período de oscilação T será o mesmo. Uma alteração no período T requer ou uma alteração no comprimento L do pêndulo, ou uma alteração na aceleração da gravidade no local onde realiza-se a experiência. Como a aceleração da gravidade terrestre no local, suposto fixo, também é constante, o período T de um pêndulo mostra-se influenciável em primeira ordem apenas por alterações em seu comprimento L. Em consequência, os relógios "cuco" têm por base de tempo as oscilações de pêndulos, os quais são ajustados, uma vez em seus respectivos locais de trabalho, mediante pequenas mudanças nos seus comprimentos L. Pêndulos mostram-se também como bons equipamentos para a determinação, com razoável precisão, da gravidade em um dado local. A balança de torção de Eötvös. Um considerável avanço experimental na busca da afirmação de igualdade entre as massas inercial e gravitacional foi feito por Loránd Eötvös em 1909. Utilizando uma balança de torção ele realizou uma sequência de experimentos que resultou em uma considerável redução na incerteza desta afirmação, sendo seus resultados compatíveis com uma incerteza menor que 1 parte em 109 (1 milhão de vezes mais precisa do que a obtida por Newton). Eötvös colocou diferentes materiais nas extremidades de sua balança de torção e comparou, para cada material, a sua massa gravitacional (o seu "peso") e a sua massa inercial, determinada a partir da força inercial centrífuga devida à rotação da Terra. Qualquer diferença entre estas duas massas seria observada como uma rotação da balança de torção. Tal rotação, dentro dos limites experimentais, não foi observada. Dicke e Braginsk: incerteza menor que 1 parte em 1011. A ideia do uso da balança de torção para a determinação da igualdade entre as massas inercial e gravitacional foi retomada, em 1964, por um cientista de nome, Robert H. Dicke, e em 1972 por Vladimir Braginsk. Com refinamentos que agora levavam em conta, entre outros, a atração gravitacional do Sol, e a força inercial associada à órbita da Terra ao redor do sol, estes cientistas conseguiram ao fim afirmar que a massas inercial e gravitacional são iguais com uma incerteza menor do que 1 parte em 1011, refinando em pelo menos 100 vezes a incerteza anteriormente obtida por Eötvös. O princípio da equivalência de Einstein. "Eu estava sentado em uma cadeira no escritório de patentes, em Berna, quando de repente ocorreu-me um pensamento: se uma pessoa cair livremente, ela não sentirá seu próprio peso. Eu estava atônito. Este simples pensamento impressionou-me profundamente. Ele me impeliu para uma teoria da gravitação." (Albert Einstein) Talvez a mais forte evidência a favor da veracidade da afirmação entre a igualdade das massas inercial e gravitacional encontre-se em um fato inicialmente observado por Galileu Galilei, e eternizado na famosa experiência da Torre de Pisa. Uma vez estabelecido um local onde haja um campo gravitacional conhecido, a exemplo um ponto na superfície da Terra, verifica-se experimentalmente que TODOS os objetos caem, quaisquer que sejam as suas massas, materiais constituintes ou volumes, quando soltos em queda livre a partir de um mesmo ponto, exatamente com a MESMA aceleração. Conforme visto, se houvesse realmente alguma diferença entre massa gravitacional e massa inercial, um corpo que, a exemplo, apresentasse massa inercial razoavelmente maior do que sua massa gravitacional deveria, em seu processo de queda, apresentar uma aceleração mensuravelmente menor do que a que seria observada em um corpo no qual a massa gravitacional fosse maior que (ou pelo menos não tão diferente da) sua massa inercial. Esta última ideia encontra enfronhada na citada frase de Einstein pois, associada os diversos materiais que compõem o corpo humano, levaria a forças de contato entre os diversos sistemas do corpo quando este estivesse em queda livre. Tomemos a exemplo o sistema ósseo e o sistema muscular. Caso as razões entre as massas inercial e gravitacional fossem diferentes nos dois sistemas, haveria obrigatoriamente uma força de contato entre estas estruturas a fim de se manter a unicidade do corpo durante a queda. Sendo o nosso sentido de tato sensível justamente a estas forças, estas fariam com que as pessoas "sentissem" a suas próprias quedas, fato que não é, entretanto, observado. O Princípio da Equivalência entre as massas inercial e gravitacional guarda uma íntima relação com o Princípio da Equivalência de Einstein, ponto de partida para a construção de uma teoria de gravitação covariante em relação a qualquer referencial: a Relatividade Geral. Uma vez estabelecida a equivalência entre massa inercial e massa gravitacional, o termo massa, dentro da dinâmica newtoniana, passa a representar, de forma implícita, o termo mais adequado à situação. Conservação da massa em Mecânica Clássica. No âmbito da mecânica clássica considera-se que a massa, uma propriedade da matéria, é constante, não podendo ser criada e nem destruída, apenas transportada. Diversas leis, a exemplo das leis de Newton e de Lavoisier (massa dos reagentes é igual a massa dos produtos), tomam partido desse fato que, mantidas as fronteiras impostas pela mecânica clássica, mostra-se plenamente verídico no cotidiano. Entretanto a ideia de conservação e de associação entre massa e matéria falha de forma considerável em outros campos que não o da mecânica clássica, e em áreas sujeitas às leis da física de partículas, da mecânica quântica e da relatividade, esta acaba substituída ("englobada") por uma lei mais fundamental, a lei da conservação de energia. Nestas áreas massa mostra-se equivalente à energia, e a equação E=mc² torna-se indispensável para estabelecer-se a citada lei de conservação. Massa no âmbito da relatividade. Relatividade restrita. Conforme encontrados em Física Quântica (Eisberg, Robert et. al.), os postulados da Relatividade Restrita parecem simples. Entretanto esta simplicidade esconde um intrincado conjunto de ideias e fatos que, derivados de inconsistências entre as teorias da mecânica clássica e do eletromagnetismo clássico, e de inconsistências, o que é bem mais sério, entre estas teorias e fatos experimentais então estabelecidos, culminaram com a necessidade de uma nova proposta para a compreensão da dinâmica da matéria (e energia). A simplicidade dos postulados esconde também consequências em verdade nada simples e que fogem bem ao senso de mundo que temos normalmente. Fatos como dilatação do tempo, contração do espaço, e uma nova "definição" de massa encontram-se bem distantes da percepção de mundo de um "simples mortal". Massa de repouso. Ao ser elaborada a relatividade restrita acabou herdando vários dos conceitos antes existentes em mecânica clássica, o que faz sentido visto que a mecânica clássica foi um paradigma para a dinâmica que perdurou por quase trezentos anos sem encontrar qualquer evidência experimental que não fosse condizente com sua proposta, sendo portanto uma teoria para a dinâmica que se ajusta plenamente aos fatos observáveis do "mundo em que vivemos", e dentro de certos limites plenamente válida ainda hoje. Qualquer nova teoria dinâmica que pretenda estender a compreensão até então fornecida pela mecânica clássica deverá portanto necessariamente apresentar resultados que concordem com os por ela fornecidos quando dentro dos limites de sua validade, ou seja, em um mundo macroscópico e de baixas velocidades quando comparadas à da luz. A mais importante herança recebida pela relatividade restrita da mecânica clássica é o conceito de referencial inercial sobre o qual esta nova teoria também se estabelece, sendo a relatividade restrita, portanto, uma teoria ainda não completamente covariante. Tal covariância geral só será alcançada no âmbito da Relatividade Geral. Na sequência, uma segunda herança direta da mecânica clássica e que se traduz dentro da relatividade restrita por massa de repouso formula_27 é o conceito clássico de massa inercial, sendo esta definida dentro da relatividade restrita como a massa medida para um objeto quando este se encontre em repouso em relação ao referencial inercial a partir do qual se estabelece a medida, ou seja, com velocidade praticamente nula e assim completamente desprezível quando comparada à da luz - condição que implica o limite de validade da mecânica clássica. Assim: No âmbito da relatividade restrita a massa de repouso (ou simplesmente massa) de uma partícula ou sistema pode ser obtida através da expressão: onde E é a energia total do sistema, P é o momento total do sistema e c a velocidade da luz. Massa relativística. Definição. A relatividade restrita, sendo uma nova teoria sobre dinâmica, estabeleceu novas regras que substituíram as Leis de Newton quando fora do limite clássico, e foram elaboradas, conforme discutido, de forma que se reduzissem a elas quando nos limites onde a mecânica clássica vale. Estas novas leis, mais abrangentes, foram também estabelecidas de forma a tornar não só a dinâmica da matéria como também as leis da dinâmica da energia invariantes à mudança de referencial, leis últimas expressas por um conjunto de equações que constituem ainda hoje o pilar fundamental da teoria eletromagnética clássica, as Equações de Maxwell. Dentro deste contexto, nos limites onde as leis da mecânica não valem, o conceito clássico de momento (formula_31) não se mostra mais associado a uma lei de conservação, e a elaboração de um novo conceito de momento condizente com as leis da relatividade restrita e também com a existência de uma lei de conservação associada levou à definição do que se denomina momento relativístico. O momento relativístico P, que satisfaz conforme definido à citada lei de conservação, é definido por: Comparando-se estas e várias outras equações da dinâmica relativística com as respectivas equações da dinâmica clássica, tem-se a intuição que se pode derivar as leis da dinâmica relativística substituindo a massa inercial m nas equações para a mecânica clássica pelo que se convencionou chamar massa relativística formula_33: Na equação para a massa relativística vemos que esta massa é explicitamente dependente de sua velocidade, e, visto que maiores valores de velocidade nesta equação implicam maiores valores para a massa relativística, indo esta ao infinito no limite que a velocidade formula_35 do objeto iguala-se à velocidade da luz C, não é incomum encontrar-se pessoas ligadas à área científica dizendo que "a massa aumenta a altas velocidades". O fato é que, apesar de intuitivo - e de muitas das vezes levar a analogias que podem mostrar-se válidas - uma simples substituição da massa inercial clássica pela massa relativística leva, na maioria das vezes a resultados completamente falsos. Vejamos o que ocorre com a força e com a equação de Newton nesta perspectiva. A relatividade "herda" a definição de força em sua forma mais abrangente que, junto com a definição do momento relativístico, resulta: Notoriamente a força que se observa atuando em um corpo que se move com uma velocidade formula_39 não pode ser derivada pela simples substituição da expressão da massa relativística na lei da dinâmica de Newton F=ma. A força na mecânica relativística apresenta duas componentes: uma condizente com a "proposta" de massa relativística, paralela à aceleração apresentada pelo corpo, e outra, que nos diz que há também força na direção da velocidade do objeto, termo que não condiz com a "proposta" e tão menos com a mecânica clássica. Outra incoerência associada à definição de massa relativística pode ser obtida quando esta é substituída na Lei da Gravitação de Newton. Conforme estruturada, a dinâmica da relatividade restrita estabelece a dinâmica dos corpos e energia apenas em situações completamente isentas de campos gravitacionais, e uma equação para a lei da gravitação não figura dentro do âmbito da relatividade restrita. A associação de uma teoria de gravitação à da relatividade restrita nos leva diretamente à relatividade geral. Assim, conforme tradução do expresso em "Classical Daynamics" (Thornton et. al), "Nós preferimos nos reter o conceito de massa como uma grandeza invariante, uma propriedade intrínseca dos corpos. O uso dos dois termos, massa de repouso e massa relativística, é hoje considerado obsoleto. Portanto nós sempre iremos nos referir apenas ao termo massa, o qual equivale à massa de repouso. O uso da massa relativística geralmente conduz a erros ao se usar expressões clássicas.". Massa transversal e longitudinal? Os conceitos de massa longitudinal e massa transversal. São muito importantes no estudo das colisões de íons pesados relativísticos e na Física de Hádrons por ser um dos observáveis usados para a dedução sobre uma fase da matéria chamada Plasma de Quarks de Gluons. Esta definição vem da definição de aceleração relativística: Esta expressão mostra que de forma geral a aceleração de um partícula depende do ângulo entre a força e a velocidade, e geralmente não tem a direção e o sentido da força. Entretanto há dois casos em que a força tem a mesma direção da aceleração, fornecendo algo parecido com a forma clássica de Newton: Conservação da massa – energia. A mecânica relativística também herda, além dos já falados, dois outros conceitos bem intuitivos da mecânica clássica: o conceito de trabalho T de uma força, classicamente definido por: formula_43 , e que, em mecânica clássica, conduz à definição formula_44 - válida quando se tem uma força F constante formando sempre o mesmo ângulo formula_45 com o deslocamento - e o teorema da equiparação entre trabalho e variação da energia cinética, formula_46. A fim de se ter uma energia cinética relativística condizente com o teorema da equivalência citado, devemos inserir a força relativística na equação que define trabalho, o que, após alguns cálculos não muito avançados (para quem sabe um pouco de cálculo integral e diferencial - ver Eisberg et.al, Física Clássica), fornece: Mostra-se também, sem muita complicação, que no limite onde a velocidade v da partícula é negligenciável perto da velocidade c da luz, a equação da energia cinética relativística se reduz à equação da energia cinética clássica formula_48. A equação da energia cinética relativística, assim definida, é uma equação em que há duas parcelas, um dependente de velocidade V do lado esquerdo, e uma independente de V, fixa uma vez conhecida a massa inercial da partícula, do lado direito: formula_49. Transpondo os termos temos formula_50, e lembrando que a energia total de uma partícula é a soma entre sua energia cinética e demais tipos de energia que esta possui, a intuição nos leva diretamente à conclusão que o termo deve ser interpretado como a energia relativística total da partícula. Quando a velocidade da partícula é nula, sua energia total vale, assim: que é a famosa equação de Einstein para a equivalência entre massa e energia. A validade desta equivalência entre massa de repouso e energia de repouso no contexto da relatividade restrita encontra suporte experimental em uma série de eventos que vão desde a produção e aniquilação de pares de partícula-antipartícula, onde massa de repouso é claramente convertida em energia pura (radiação eletromagnética: raios gama), até reações nucleares onde a conversão de massa de repouso em energia é responsável por manter reatores funcionando, e também por permitir que se construam bombas muito pequenas perto do seu imenso poder de destruição (bombas nucleares). A energia relativística também obedece, como é de se esperar, a uma lei de conservação: a lei da conservação da massa-energia no contexto da relatividade restrita. Relatividade geral. No âmbito da Relatividade Geral a queda livre de uma partícula em um campo gravitacional é entendida como um movimento que se realiza em ausência de força. A força neste contexto é a causa de desvios nesta trajetória de queda livre. Associada à força, medindo a oposição da partícula a mudanças na sua trajetória de queda livre, temos a massa inercial da partícula. As trajetórias das partículas em queda livre são linhas retas - de forma mais rigorosa geodésicas - no espaço-tempo. Estas trajetórias são dependentes apenas das posições e velocidades iniciais das partículas em queda livre, mostrando-se completamente independentes de propriedades inerentes como as massas ou as dimensões destas (o princípio da equivalência). Em função do espaço-tempo não ser plano, as projeções das geodésicas associadas sobre o espaço tridimensional ao qual estamos habituados normalmente não fornecem trajetórias retas e sim trajetórias quase sempre "curvas", a exemplo trajetórias parabólicas, neste mundo tridimensional onde espaço e tempo são entendidos como separados. A origem dos campos gravitacionais na equação fundamental da Teoria da Relatividade Geral encontra-se o tensor de energia-momento, ou seja, nas densidades e fluxos de energia e momento. Uma vez que a energia de uma partícula em repouso associa-se diretamente à sua massa (inercial), as massas dos corpos em repouso são "fontes" de campos gravitacionais. Sendo o movimento da fonte do campo gravitacional desprezível e sendo a velocidade do objeto em queda livre bem pequena quando comparada à velocidade da luz, tem-se no limite a validade da lei da gravitação de Newton: a massa do corpo confunde-se com a massa gravitacional clássica. Assim tem-se o princípio da equivalência. Entretanto há exceções: para corpos com alta densidade de energia (luz como partícula) este argumento não é válido: a gravidade nas proximidades do sol mostra-se duas vezes maior do que a que seria esperada pela Gravitação de Newton sob mesmo princípio. O conceito de massa na Teoria Geral da relatividade é em verdade bem mais complexo do que o encontrado na sua versão restrita. De fato, a Teoria Geral da Relatividade não oferece uma definição simples do termo massa, mas oferece diferentes definições aplicáveis cada qual em circunstâncias específicas diferentes, a exemplo as massas "ADM" e "Komar". E existem situações claras dentro da Teoria Geral onde não há como se estabelecer um conceito aceitável para massa. Em suma, não há um conceito de massa que se mostre completamente covariante dentro da Teoria Geral da Relatividade. Massa no âmbito da mecânica quântica. Dentro dos limites onde não só a granulosidade da matéria como também a quantização nos processos de troca de energia mostram-se relevantes, as leis da teoria clássica deixam muito a desejar quando o objetivo é explicar os fenômenos naturais que nele ocorrem, e em primeira instância a teoria da mecânica quântica não relativística torna-se a teoria responsável por nos fornecer as ferramentas adequadas para a correta compreensão dos fenômenos naturais observáveis dentro destes limites. A mecânica quântica não relativística é uma extensão da mecânica clássica para o mundo microscópico com dimensões comparáveis às dos átomos. Esta teoria, cujas origens remontam ao ano de 1900 com os trabalhos de Max Planck, pode ser rapidamente sintetizada na Equação de Schrödinger, equação que exerce na teoria quântica papel similar à equação fundamental da dinâmica dentro da mecânica clássica. Com a devida ressalva sobre o conceito de partícula no âmbito da teoria quântica, a qual nos leva diretamente ao princípio da complementaridade de Niels Bohr, na equação de Schrödinger figura uma massa, essencialmente a massa inercial da partícula, herança direta da mecânica clássica. Em consequência, no escopo da mecânica quântica não relativística a massa é a mesma massa inercial, clássica, da partícula. No que se refere à associação entre massa inercial e gravitacional, no mundo quântico o conceito de massa gravitacional tornam-se completamente sem sentido visto que a ordem de grandeza das massas no mundo atômico leva a valores extremamente pequenos - completamente desprezíveis e realmente desprezados - para as forças gravitacionais entre dois entes neste mundo microscópico. Para a descrição correta do átomo de hidrogênio a expressão para a energia potencial elétrica de interação entre o próton e o elétron é indispensável na equação de Schrödinger, mas em nenhuma literatura esta aparecerá ao lado de sua equivalente gravitacional. Para a descrição de fenômenos que envolvam altas velocidades (se comparadas às da luz) ou elevados níveis de energia - a exemplo espalhamento de raios X pela matéria - a mecânica quântica ganha uma versão relativística, e neste caso nas equações associadas, entre elas a equação de Klein-Gordon, figura o conceito de massa de repouso da partícula. O uso do conceito de massa relativística herda as mesmas restrições já consideradas na definição desta neste artigo, sendo suprimido pelo uso do conceito de energia total da partícula. Em certas situações a massa mostra-se muitas vezes medida através de um comprimento de onda, diretamente associado ao comprimento de onda de um fóton cuja energia seja a mesma da energia de repouso da partícula. Seguindo esta associação, para elétrons tem-se a massa quântica do elétron, o seu comprimento de onda Compton, que pode ser determinada por várias formas de espectroscopia e encontra-se intimamente relacionada à constante de Rydberg, o raio de Bohr, e o raio clássico do elétron. A massa quântica de objetos maiores pode ser diretamente medida pela balança de Watt. Conceitos de massa em sistemas específicos. Massa reduzida. Geralmente estabelecido dentro do âmbito da gravitação mas também válido em outras situações similares, o conceito de massa reduzida surge a partir de resultados matemáticos associados à análise da dinâmica de dois corpos com massas m1 e m2 que, devido à interação gravitacional entre eles, gravitam mutuamente o centro de massa do sistema que constituem. A análise clássica deve ser feita a partir do centro de massa ou de outro referencial inercial equivalente, e a rigor não pode ser estabelecida com base em um referencial fixo em um dos corpos, pois estes não constituem referenciais inerciais válidos. São necessários portanto seis grandezas, a saber as componentes dos vetores formula_53 e formula_54 que localizam os dois corpos a partir do referencial inercial escolhido. Entretanto, sob certas condições, que incluem a dependência da função energia potencial U associada ao sistema apenas com o módulo do vetor formula_55 que localiza uma das massas em relação à outra, condições geralmente satisfeitas por tais sistemas gravitacionais constituindo um sistema isolado, a análise pode ser feita a partir de qualquer referencial inercial mediante o conhecimento do vetor formula_56 que localiza o centro de massa do sistema em relação ao referencial escolhido e do vetor formula_57 que localiza uma das massas em relação à outra. Escolhendo-se, sem perda de generalidade, o centro de massa como referencial (formula_58), os cálculos podem ser feitos com base apenas em três grandezas, a saber as componentes do vetor que localiza uma massa em relação à outra (o vetor formula_57). Nestas condições, o problema é formalmente reduzido, sendo matematicamente análogo, ao problema da análise do movimento de um único corpo que se mova sob influência de um campo central - campo este diretamente associado à função energia potencial formula_60 e à origem do referencial inercial assumido - e que tenha massa formula_61 determinada através da expressão: formula_62 Esta massa formula_61 é conhecida por massa reduzida do sistema formado pelas massas m1 e m2. Assim, a análise do sistema Terra-Lua pode ser feita a partir de um referencial com origem no centro na Terra desde que à Lua seja atribuída a massa reduzida associada ao sistema Terra-Lua. O emprego do conceito de massa reduzida não se restringe ao problema clássico citado, figurando também em áreas como eletromagnetismo e física quântica, a exemplo no estudo dos átomos e na definição da "Constante de Rydberg para um núcleo de Massa M". Massa efetiva. Elétrons e "buracos" em cristais. Ao se discutir o comportamento de partículas que se movem dentro de estruturas que lhe impõem potenciais periódicos ao longo de seu movimento é conveniente introduzir o conceito de massa efetiva. Esta situação é típica dentro de física do estado sólido, onde a maioria dos efeitos elétricos de interesse decorre do alto padrão de simetria encontrado nos cristais semicondutores - a exemplo silício ou arsenieto de gálio - e da quebra proposital desta simetria - a exemplo através da introdução de pequenas quantidades de elementos específicos - os dopantes - na rede. A introdução da massa efetiva tem um considerável valor teórico pois dentro dos cristais semicondutores a ausência de um elétron introduzida por um dopante com valência inferior à requisitada pela rede - a exemplo gálio em cristal de silício - gera um "buraco", que efetivamente funciona como uma partícula positiva - um portador de carga que também contribui para a produção de corrente elétrica - e que, apesar de ter uma massa real nula (é literalmente um buraco - a falta de um elétron), move-se dentro da rede e sob ação de campos (forças) externos como se fosse uma partícula com massa real igual à sua massa efetiva. A origem da massa efetiva encontra-se no comportamento dual da matéria no mundo quântico, sendo os movimentos das partículas dentro dos cristais melhor descritos por ondas de matéria do que pelo clássico movimento de partículas em si. Quando se movem com determinadas velocidades (momentos) dentro da rede que lhes conferem comprimentos de onda de De Broglie próximos ou iguais aos dos parâmetros de rede - ou da periodicidade da rede na direção de seus movimentos - a interação entre estas partículas e as barreiras periódicas impostas pelos íons do cristal, ou seja, entre estas partículas e o cristal como um todo, aumentam consideravelmente. Ocorre um fenômeno de ressonância entre a partícula que se move e a rede, e nestas condições o cristal todo se opõe consideravelmente ao movimento do elétron com aquela determinada energia e momento. A tentativa de se aumentar a energia da partícula quando próximo a esta situação, digamos através da aplicação de um campo elétrico externo - de uma força externa - pode inclusive levar a uma resposta muito mais intensa da rede cristalina sobre esta partícula, que ao invés de realmente acelerar no sentido da força externa aplicada, acaba acelerando em sentido contrário ao desta: fala-se então em massa efetiva negativa, pois, em acordo com o senso clássico da lei de Newton, a aplicação da força externa à partícula causou uma aceleração no sentido contrário ao da força aplicada. Para situações em que o momento e a energia das partículas impliquem comprimentos de onda de De Broglie com valores bem diferentes dos comprimentos impostos pela periodicidade da rede, as massas efetivas têm valores praticamente iguais aos das massas reais destas partículas. As situações de ressonância para determinadas energias levam à existência de bandas de energias proibidas para as partículas dentro dos cristais. As bandas permitidas traduzem-se como as conhecidas camadas eletrônicas (K, L, M, etc.) dentro do estudo da química e física, e são bem visíveis em um diagrama de relação de dispersão para estas partículas quando em um determinado cristal. Um exemplo ilustrativo encontra-se na figura ao lado. Repara as regiões onde a massa efetiva é negativa. Em termos da relação de dispersão mostrada como exemplo, a massa efetiva de uma partícula na rede cristalina é definida como: formula_64 A massa efetiva liga-se à curvatura da relação de dispersão: "boca" para cima implica massa efetiva positiva, "boca" para baixo, massa efetiva negativa. Na transição, a massa efetiva é nula. A situação representada na figura é unidimensional e portanto simplificada. Os cristais são geralmente tridimensionais, e quando necessária ao tratamento formal destes, a massa efetiva assume a forma de um tensor: formula_65 Maiores detalhes sobre esta definição e sobre fenômenos de transporte associados a elétrons e buracos em cristais tridimensionais fogem ao escopo deste artigo, mas sendo de interesse do leitor estes podem facilmente ser encontrados na literatura especializada. Os modelos para o núcleo atômico. No estudo da física nuclear não se tem ainda um modelo completamente coerente com todas as informações experimentais disponíveis, e alguns modelos concorrem lado a lado - no velho estilo da complementaridade, a citar o modelo da gota líquida, o do gás de Fermi, o de Camadas e o Coletivo - para a compreensão do núcleo como parte integrante da matéria. No modelo do Gás de Fermi a modelagem é a mesma que a encontrada para um gás de elétrons, e nele cada nucleon do núcleo se move em um potencial efetivo atrativo, de valor médio essencialmente constante, criado pelos demais nucleons com o qual interage. Este potencial apresenta uma profundidade constante Vo dentro de um raio equivalente ao do núcleo, e reduz-se imediatamente a zero fora destas dimensões. Com base em trabalhos experimentais para nucleons em diversas energias dentro do núcleo, evidenciou-se que não se poderia a rigor tratar o potencial Vo como constante, pois este apresenta variações lentas e aproximadamente lineares com as energias dos nucleons. Em vista destes dados experimentais, optou-se por um tratamento onde Vo permanecesse essencialmente constante, e as massas dos nucleons sofressem as correções necessárias para tornar o modelo condizente com os dados experimentais, havendo assim uma massa efetiva no modelo do Gás de Fermi em moldes essencialmente análogos à massa efetiva de elétrons e buracos em cristais. Dentro dos modelos atômicos há outras definições diretamente associadas à massa, como o conceito de "massa semi-empírica", existente dentro do modelo de Gota Líquida para o núcleo, e com validade geral o conceito de "defeito de massa", que retrata o quanto menor é a massa de um núcleo resultante da fusão de dois outros quando comparado à soma das massas dos núcleos que lhe deram origem. O "defeito de massa" é facilmente compreensível, sendo composto por uma única parcela que retrata, em acordo com a equação da equivalência massa-energia (formula_66), a energia que é liberada na fusão dos núcleos pais e que se traduz como uma redução da massa no núcleo filho. Já na equação de massa, que fornece a massa semi empírica no modelo de Gota Líquida, encontram-se seis parcelas, cada uma responsável por considerar a influência de um dado parâmetro físico relevante na determinação de uma massa efetiva dentro deste modelo, havendo um termo associado à massa de repouso dos núcleons isolados, um termo de volume proporcional ao número de massa A, um termo de superfície proporcional a A2/3, um termo coloumbiano proporcional a Z²/A1/3, um termo de assimetria proporcional a (Z-A/2)²/A onde Z é o número atômico e um termo de emparelhamento, geralmente proporcional a A1/2, que pode ser aditivo, nulo, ou subtrativo, sendo este subtrativo quando Z e N são ambos pares e aditivo se Z e N são ambos ímpares. Assim, a fórmula da massa semi-empírica no modelo da Gota Líquida, com resultado expresso em unidades de massa atômica (u), é: formula_67 onde os termos a1 a a5 são empiricamente obtidos a partir dos dados experimentais. Um conjunto capaz de fornecer bons resultados é obtido quando estes termos de proporcionalidade valem respectivamente (0,01691; 0,01911; 0,000763; 0,10175; 0,012). Maiores detalhes sobre os modelos nucleares fogem ao escopo deste artigo, e para mais informações sobre defeito de massa, massa semi-empírica e outros conceitos de massa dentro dos modelos nucleares sugerimos a leitura de bibliografia especializada.
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Méson
Méson O é uma partícula subatômica (um hádron) composta por um quark e por um antiquark de carga de cor oposta. Frequentemente, um par de quark e antiquark não ocorre isoladamente, mas, em vez disso, mistura-se com outros de modo a que os quarks fiquem com uma sobreposição de sabores (como sempre, os sabores mais semelhantes em massa misturam-se mais). Os mésons escalares (de spin 0) têm a energia mais baixa, e o quark e o antiquark têm spin oposto; nos mésons vetoriais (de spin 1), o quark e o antiquark têm spin paralelo. Ambos surgem em versões de maior energia quando o spin é aumentado por momentum angular orbital. A maior parte da massa de um méson provém da energia de ligação e não da soma das massas dos seus componentes. Todos os mésons são instáveis. História. Os mésons foram originalmente previstos como transportadores da força que liga os prótons e os nêutrons no núcleo. Quando foi descoberto, o múon foi identificado como membro da família devido à sua massa semelhante e foi-lhe dado o nome de "méson mu". No entanto, verificou-se que não mostra uma atração forte pela matéria nuclear. Na realidade, é um lépton. Mais tarde, descobriu-se o píon, e verificou-se que é este o verdadeiro transportador da força e que decai num múon.
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Macuco
Macuco Macuco ou macuco-solitário (nome científico: "Tinamus solitarius") é uma espécie de ave tinamiforme sul-americana de família dos tinamídeos ("Tinamidae"). Etimologia. "Macuco" e "macuca" são os nomes populares da espécie. Estes termos são oriundos do tupi "ma'kuku". Segundo o "Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi" (DHPT), pode derivar de "makuka'gwa". Foi registrado em 1858 como "macucu". No capítulo XIII do "Historia Naturalis Brasiliae" (1648) de George Marcgrave, foi citado como "Macucagua avis". Taxonomia. Todos os tinamiformes são da família dos tinamídeos, e no esquema maior também são ratitas. Ao contrário de outras ratitas, os tinamiformes podem voar, embora em geral não sejam voadores fortes. Todas as ratitas evoluíram de pássaros voadores pré-históricos, e os tinamiformes são os parentes vivos mais próximos desses pássaros. Anteriormente, esta ave era dividida em duas subespécies: "T. s. pernambucensis" no nordeste do Brasil (Pernambuco e Alagoas), e "T. s. solitarius" encontrado no sudeste do Paraguai e extremo nordeste da Argentina. O primeiro, no entanto, acabou não sendo distinto do nominal, mas sim de aves individuais que mostraram um morfo de cor particular que agora é conhecido por também ocorrer em outros lugares. Notavelmente, a tonalidade do dorso varia entre azeitona e ferrugem, e a intensidade da cor da plumagem da parte inferior do pescoço também varia. A barra preta nestas áreas é mais ou menos forte. "Pernambucensis" refere-se a pássaros mais amarelos com muitas barras, especialmente no pescoço. Descrição. O macuco é um grande tinamiforme acastanhado fortemente barrado de preto. Seu pescoço, peito e flancos são cinzas e sua barriga é branca. Tem uma coroa marrom escura e uma garganta branca na cabeça e no pescoço amarelados, que contrasta com uma linha amarela distinta na lateral do pescoço. Tem uma média de 45 centímetros (18 polegadas) de comprimento. Distribuição. O macuco ocorre no sudeste da Bahia, leste de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, leste de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul. Também é encontrado no sudeste do Paraguai e extremo nordeste da Argentina na província de Misiones. Comportamento. Como outros tinamiformes, o macuco põe ovos de formas estranhas com uma casca brilhante e colorida, e come frutas e sementes do chão ou plantas baixas. Os machos incubam os ovos que estão em um ninho no chão e também criam os filhotes por um curto período de tempo antes de serem independentes. Ecologia. O macuco é encontrado em florestas tropicais úmidas de planície e florestas montanhosas até metros ( pés) acima do nível do mar. Habita prontamente a floresta secundária e pode não ser incomum em parcelas extensivamente usadas, tolerando até certo ponto o corte seletivo. Grandes plantações de espécies exóticas não são muito apreciadas. Mas as aves podem ser abundantes o suficiente para resistir a alguma caça, por exemplo, em um mosaico de plantações de "cabruca", intercaladas com crescimento secundário com denso caeté (marantáceas) e sub-bosque de bambu "Merostachys", bem como o bambu "Guadua" mais alto e palmeiras crescidas ("Euterpe edulis"). No ecótono da Floresta Ombrófila Montana Densa pouco perturbada, populações prósperas podem existir em fragmentos florestais tão pequenos quanto mil acres (400 hectares). Conservação. Atualmente, o macuco está ameaçado pelo desmatamento em curso causado pela urbanização, industrialização, expansão agrícola e construção de estradas associada. Também é caçado excessivamente. Consequentemente, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) classifica-o como uma espécie quase ameaçada em sua Lista Vermelha, mas pode em breve tornar-se vulnerável com uma ocorrência de 900 mil quilômetros quadrados (380 mil milhas quadradas). A população que se acreditava anteriormente ser referida por "pernambucensis" é muito rara ou já extirpada. Essas aves do norte sempre foram bastante raras em tempos históricos, com possivelmente não mais de seis espécimes em museus. Observou-se que esta espécie não é difícil de introduzir em habitat adequado. Descobriu-se que macucos persistem em números em um fragmento de floresta de acres (610 hectares), onde não foram originalmente encontrados. Em 2005, foi classificado como criticamente em perigo na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo; em 2010, como em perigo na Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais e quase ameaçado no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná; em 2011, como vulnerável na Lista das Espécies da Fauna Ameaçada de Extinção em Santa Catarina; em 2014, como vulnerável na Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Rio Grande do Sul e como em perigo no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo; em 2017, como em perigo na Lista Oficial das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado da Bahia; e em 2018, como quase ameaçado na Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e em perigo na Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Estado do Rio de Janeiro. Por fim, consta no Apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES).
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Língua mirandesa
Língua mirandesa A língua mirandesa ("lhéngua/léngua mirandesa", "mirandés") é o nome oficial que recebe o asturo-leonês em território português. Um estudo da Universidade de Vigo revelou que em março de 2020 a língua era conhecida de cerca de 3500 pessoas, das quais cerca de 1500 são capazes de a falar regularmente. Os falantes distribuem-se principalmente por uma área de 550 km², conhecida como Terra de Miranda e formada pelo concelho de Miranda do Douro e freguesias de Angueira e Vilar Seco, no concelho de Vimioso. A inclusão de Caçarelhos (atualmente denominada por Caçarelhos e Angueira) na área de domínio linguístico mirandês é defendida por autores como Amadeu Ferreira. O mirandês tem três subdialetos (central ou normal, setentrional ou raiano, meridional ou sendinês) e está dotado de um dicionário, gramática e ortografia próprios; os seus falantes são em maior parte bilíngues, trilíngues ou até mesmo quadrilíngues falando muitos deles o mirandês, o português e o castelhano, e até por vezes o galego. As associações como a SIL International outorgam um código próprio à língua, enquanto que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a enquadra no contexto do asturo-leonês. Os textos recolhidos em mirandês mostram a envolvência de traços fonéticos, sintáticos ou vocabulares das diferentes línguas; o português é mais cantado pelos mirandeses, porque é considerado língua culta, fidalga, importante. Possui status de língua oficial em Portugal desde 1999. Situação atual. Um estudo da Universidade de Vigo revelou que em março de 2020 existiam apenas 3500 pessoas que conhecem a língua, das quais apenas cerca de 1500 são capazes de a falar regularmente. Foi identificada uma ruptura com este idioma, em particular nas gerações mais novas, através de uma “forte portugalização linguística”, derivada sobretudo do efeito dos meios de comunicação social, e da associação do mirandês à ruralidade e à pobreza. Encontra-se em situação muito crítica, prevendo-se o seu desaparecimento em cerca de 20 anos se se mantiver o ritmo atual. O mirandês é, desde 1999, a segunda língua oficial do país. A preservação da língua mirandesa deve-se à geografia e ao isolamento das designadas Terras de Miranda. Os rios ou cordilheiras são fatores cruciais para a criação de uma "fronteira linguística". No caso das Terras de Miranda, o rio Sabor teve influência, isolando a área da influência da língua portuguesa. Outro factor para a preservação da língua é a proximidade e a acessibilidade a Espanha, tendo assim um comércio virado para o turismo espanhol, uma atividade crucial na cidade de Miranda do Douro. Esta cidade tem uma grande vertente comercial destinada aos espanhóis que outrora faziam parte do Reino de Leão, que muitas vezes ainda falam o asturiano, língua de origem do mirandês. Isto terá feito com que o mirandês chegasse aos nossos dias quase intacto, a acessibilidade e o contacto constante a uma Espanha que fala, essencialmente, o asturiano e um isolamento face ao português. Havia muitos anos que o mirandês não era falado no coração da comarca, Miranda do Douro, mas, nos últimos anos, a deslocação das pessoas das aldeias para a cidade trouxe o mirandês de volta, porque nas aldeias era onde se conservava o mirandês e este êxodo rural trouxe a língua mirandesa novamente à cidade. A língua mirandesa está numa situação de diglossia, isto é, quando duas línguas coexistem mas uma prevalece sobre a outra, por razões extralinguísticas. Neste caso o português tem conquistado os habitantes das Terras de Miranda pelo seu prestígio e difusão global. A atitude dos falantes em relação à sua língua autóctone também leva a uma relação de diglossia. Como exemplo, tem-se "Lição de Mirandês: You falo como bós i bós nun falais como you" de Manuela Barros Ferreira (do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa) em que é evidente a desvalorização da língua mirandesa face ao português. Segundo os entrevistados, não falam o mirandês quando estão em situações formais, como por exemplo, na relação professor-aluno (como é o caso do entrevistado) é, de uma forma geral, a língua portuguesa que prevalece. Há também alguns complexos com a língua, reservando-a a contextos mais familiares, do quotidiano ou mesmo contextos de extrema intimidade. Todos estes fatores levam a língua a uma situação de diglossia. O ensino do mirandês, opcional nas escolas do concelho de Miranda do Douro, é limitado a uma hora por semana, não dispondo até hoje de livros de texto, materiais pedagógicos e vagas próprias de docentes especializados. Proteção. Entre as possíveis medidas de proteção, contam-se a ratificação da Carta Europeia das Línguas Minoritárias, a criação de uma nova Lei do Mirandês, atualizada de acordo com as ações e medidas planeadas e orçamentadas em áreas como educação, justiça, administração local e regional, serviços públicos, meios de comunicação, atividades e equipamentos sociais, economia e intercâmbios transfronteiriços. Esta nova Lei do Mirandês serviria como ponto de partida para impulsionar o desenvolvimento dessas áreas e promover o uso e a preservação do Mirandês como uma língua minoritária e culturalmente significativa, possivelmente levando a que a língua mirandesa ganhasse nova vitalidade. Fonologia. Características comuns ao português, ao galego e ao asturo-leonês ocidental (origem linguística da língua mirandesa): Algumas diferenças fonológicas em relação ao português: Amostras de texto. Segue-se um texto amostra em língua mirandesa publicado no jornal "Público" por Amadeu Ferreira, a 24 de julho de 2007. Para comparação, apresentam-se as traduções do texto para leonês, asturiano, português, galego e castelhano.
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Monera
Monera Monera é um reino biológico que inclui todos os organismos vivos que possuem uma organização celular procariótica, como bactérias, cianobactérias e arqueobactérias. O termo Monera na classificação atual encontra-se obsoleto, e seus integrantes foram divididos entre os reinos Eubacteria e Archaea, no sistema de três domínios e/ou de seis/oito reinos. Algumas vezes o reino Monera, era chamado de "Procariontas" ou "Prokaryotae". Na influente classificação de Lynn Margulis, o termo Monera significava o mesmo que Procarionte, e deste modo continua sendo usada em muitos manuais, livros e textos. História taxonômica. Tradicionalmente os organismos foram classificados como animais, vegetais ou minerais, como no Systema Naturae de Linnaeus. Após a descoberta do microscópio, várias tentativas foram feitas para ajustar os micro-organismos nos reinos animal ou vegetal. Muitos desses organismos eram tratados como uma divisão do reino Plantae, chamada Schizophyta, e dividida em duas classes: Schizomycetes (bactérias, que eram consideradas "fungos") e Cyanophyta (algas azuis-esverdeadas ou cianofíceas). Em 1866, Ernest Haeckel propôs o sistema de três reinos que adicionou o grupo Protista como um novo reino que continha os organismos microscópicos. Uma das oito divisões do novo reino Protista foi chamada de Moneres (Monera), e incluía todas as bactérias então conhecidas. O reino Protista de Haeckel também incluía diversos organismos eucariontes, o que comprometeu o reconhecimento do grupo nos anos seguintes. Embora, a distinção de procariontes e eucariontes seja creditada a uma publicação de Eduard Chatton, em 1925 (apesar dele não enfatizar esta distinção mais do que outros biólogos de seu tempo), ela não foi notada até 1982. Barkley, em 1939, criou o reino Monera dividindo-o entre arqueófitas (Archeophyta), hoje chamadas de Cyanobacteria, e esquizófitas (Schizophyta), um termo que foi muito usado pelos botânicos para se referir as bactérias. Roger Stanier e C. B. van Niel acreditavam que as bactérias (termo que na época não incluía as cianobactérias) e as algas cianofíceas tinham uma única origem, uma convicção que culminou no trabalho de Stainer de 1970, “Eu penso que é agora muito evidente que algas azuis-esverdeadas não são distinguíveis das bactérias por nenhuma característica fundamental em sua organização celular”. Outros pesquisadores, como Ernst Pringsheim Jr., em 1949, suspeitavam de origens distintas para bactérias e algas cianofíceas. Em 1974, o "Bergey's Manual" publicou uma nova edição cunhando o termo cianobactéria para se referir as então algas cianofíceas ou algas azuis, marcando a aceitação deste grupo dentro dos Monera. Em 1969, Robert Whittaker, publicou o sistema de cinco reinos para a classificação dos seres vivos. O sistema de Whittaker colocou quase todos os seres unicelulares ou no grupo procarionte Monera ou no grupo eucarionte Protista. Ele, entretanto, não acreditava que todos os seus reinos fossem monofiléticos. Em 1977, Carl Woese e George Fox demonstram que as arqueas (inicialmente chamadas de arqueobactérias) e bactérias não aparentam ser mais próximos um do outro do que dos eucariontes. Inicialmente muito controversa, a hipótese tem sido bem aceita, e o antigo reino Monera foi substituído pelos reinos Eubacteria e Archaea. Estes dois grupos podem ainda ser tratados como sub-reinos, mas a maioria dos novos esquemas taxonômicos tendem a tratar Bacteria ("Eubacteria") e Archaea como domínios e/ou reinos distintos.
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Microbiologia
Microbiologia Microbiologia (do Grego , "mīkros", "pequeno"; , "bios", "vida"; e , "-logia, "estudo"; "estudo da vida pequena"") é o estudo científico de microrganismos, aqueles sendo unicelulares (célula única), multicelulares (colônia de células) ou acelulares (ausentes de células; e.g. vírus). A microbiologia abrange várias sub-disciplinas, incluindo virologia, bacteriologia, protistologia, micologia, imunologia e parasitologia. Os microrganismos eucarióticos possuem organelas ligadas à membrana e incluem fungos e protistas, enquanto os organismos procarióticos - todos os quais são microrganismos - são convencionalmente classificados como desprovidos de organelas ligadas à membrana e incluem Bactérias e Archaea. Os microbiologistas tradicionalmente confiavam na cultura, coloração e microscopia. No entanto, menos de 1% dos micro-organismos presentes em ambientes comuns podem ser cultivados isoladamente usando os meios atuais. Atualmente os micro-organismos que não são cultivados por técnicas tradicionais são identificados por técnicas independentes de cultivo. Microbiologistas têm utilizado ferramentas de biologia molecular, como a sequência do gene 16S rRNA para a identificação e classificação de bactérias e archeas. A existência de microrganismos foi prevista muitos séculos antes de serem observados pela primeira vez, por exemplo, pelos jainistas na Índia e por Marco Terêncio Varrão na Roma antiga. A primeira observação microscópica registrada foi de corpos frutíferos de fungos, por Robert Hooke em 1666, mas o padre jesuíta Athanasius Kircher foi provavelmente o primeiro a ver micróbios, que ele mencionou ter observado no leite e em material pútrido em 1658. Anton van Leeuwenhoek é considerado como o pai da microbiologia quando observou e fez experiências com organismos microscópicos na década de 1670, usando microscópios simples de seu próprio projeto. A microbiologia científica se desenvolveu no século XIX por meio do trabalho de Louis Pasteur e da microbiologia médica de Robert Koch. História. A existência de microrganismos foi teorizada por muitos séculos antes de sua descoberta real. A existência de vida microbiológica invisível foi postulada pelo Jainismo, que se baseia nos ensinamentos de Mahavira já no século VI a.C. Paul Dundas observa que Mahavira afirmou a existência de criaturas microbiológicas invisíveis que vivem na terra, na água, no ar e no fogo. As escrituras jainistas descrevem nigodas que são criaturas submicroscópicas que vivem em grandes aglomerados e têm uma vida muito curta, que permeiam todas as partes do universo, até mesmo em tecidos de plantas e carne de animais. O romano Marco Terêncio Varrão fez referências aos micróbios quando advertiu contra a localização de uma cabana nas proximidades dos pântanos "porque existem certas criaturas diminutas que não podem ser vistas pelos olhos, que flutuam no ar e entram no corpo pela boca e nariz e, portanto, podem causar doenças graves". Na era de ouro da civilização islâmica, os cientistas persas levantaram a hipótese da existência de microrganismos, como Avicena em seu livro O Cânone da Medicina, Ibn Zuhr (também conhecido como Avenzoar), que descobriu ácaros da sarna, e Rasis, que deu a descrição mais antiga conhecida da varíola em seu livro "A Vida Virtuosa" (al-Hawi). Em 1546, Girolamo Fracastoro propôs que as doenças epidêmicas eram causadas por entidades semelhantes a sementes que podiam transmitir a infecção por contato direto ou indireto.Em 1676, Antonie van Leeuwenhoek, que viveu a maior parte de sua vida em Delft, Holanda, foi o primeiro a descobrir (observar), estudar, descrever, conduzir experimentos científicos com uma grande variedade de organismos microscópicos (incluindo bactérias, que ele chamou de "animálculos") e aproximadamente determinar seu tamanho, usando microscópios de lente única de seu próprio projeto. Ele é considerado o pai da microbiologia por ter sido o pioneiro no uso de microscópios de lente única simples. Embora Van Leeuwenhoek seja frequentemente citado como o primeiro a observar micróbios, Robert Hooke fez sua primeira observação microscópica registrada de corpos frutíferos de fungos, em 1665. No entanto, foi sugerido que um padre jesuíta chamado Athanasius Kircher foi o primeiro a observar os microrganismos. Kircher foi um dos primeiros a projetar lanternas mágicas para fins de projeção, então ele devia estar bem familiarizado com as propriedades das lentes. Ele escreveu "Sobre a estrutura maravilhosa das coisas na natureza, investigada pelo Microscópio" em 1646, declarando "quem acreditaria que o vinagre e o leite abrigam uma infinidade de vermes". Ele também notou que o material pútrido está cheio de inúmeros animálculos rastejantes. Ele publicou seu "Scrutinium Pestis" (Exame da Peste) em 1658, afirmando corretamente que a doença era causada por micróbios, embora o que ele viu foram provavelmente glóbulos vermelhos ou brancos, e não o próprio agente da peste. O Nascimento da Bacteriologia. O campo da bacteriologia (mais tarde se tornou uma subdisciplina da microbiologia) foi fundado no século XIX por Ferdinand Cohn, um botânico cujos estudos sobre algas e bactérias fotossintéticas o levaram a descrever várias bactérias, incluindo Bacillus e Beggiatoa. Cohn também foi o primeiro a formular um esquema para a classificação taxonômica de bactérias e a descobrir endosporos. Louis Pasteur e Robert Koch foram contemporâneos de Cohn e são frequentemente considerados os pais da microbiologia moderna e da microbiologia médica, respectivamente. Pasteur é mais famoso por sua série de experimentos projetados para refutar a então amplamente aceita teoria da geração espontânea, solidificando assim a identidade da microbiologia como ciência biológica. Um de seus alunos, Adrien Certes, é considerado o fundador da microbiologia marinha. Pasteur também projetou métodos de preservação de alimentos (pasteurização) e vacinas contra várias doenças, como antraz, cólera aviária e raiva. Koch é mais conhecido por suas contribuições para a teoria dos germes das doenças, provando que doenças específicas eram causadas por microrganismos patogênicos específicos. Ele desenvolveu uma série de critérios que se tornaram conhecidos como Postulados de Koch. Koch foi um dos primeiros cientistas a se concentrar no isolamento de bactérias em cultura pura, resultando em sua descrição de várias novas bactérias, incluindo Mycobacterium tuberculosis, o agente causador da tuberculose. Embora Pasteur e Koch sejam frequentemente considerados os fundadores da microbiologia, seu trabalho não refletia com precisão a verdadeira diversidade do mundo microbiano por causa de seu foco exclusivo em microrganismos com relevância médica direta. Foi somente no final do século XIX e no trabalho de Martinus Beijerinck e Sergei Winogradsky que a verdadeira amplitude da microbiologia foi revelada. Martinus Beijerinck, o pai fundador da "Delft School of Microbiology," frequentemente considerado como o fundador da virologia, microbiologia ambiental e microbiologia industrial, fez duas contribuições importantes para a microbiologia: a descoberta de vírus e o desenvolvimento de técnicas de cultura de enriquecimento. Embora seu trabalho com o vírus do mosaico do tabaco tenha estabelecido os princípios básicos da virologia, foi seu desenvolvimento da cultura de enriquecimento que teve o impacto mais imediato na microbiologia, permitindo o cultivo de uma ampla gama de micróbios com fisiologias totalmente diferentes. Winogradsky foi o primeiro a desenvolver o conceito de quimiolitotrofia e, assim, revelar o papel essencial desempenhado pelos microrganismos nos processos geoquímicos. Ele foi responsável pelo primeiro isolamento e descrição de bactérias nitrificantes e fixadoras de nitrogênio. O microbiologista franco-canadense Felix d'Herelle co-descobriu os bacteriófagos em 1917 e foi um dos primeiros microbiologistas aplicados. Joseph Lister foi o primeiro a usar desinfetante fenol em feridas abertas de pacientes. Conceito. Micróbios possuem características básicas do fundo dos organismos basicromáticos que os tornam os modelos de organismos ideais. Foi descoberta a origem das bactérias, tendo sido anterior à origem de outros corpos, tais como protozoários, eucariontes e vírus. Dentre os citados, o último a se desenvolver foram os protozoários, por tratar-se de seres com uma complexidade maior: Estes traços permitiram que Joshua Lederberg e sua mulher Esther Lederberg pudessem dirigir um elegante experimento em 1951 demonstrando que adaptações evolutivas surgem melhor da preadaptação do que da mutação dirigida. Para isto, eles inventaram a replicação em placa, que permitiu que eles transferissem numerosas colônias de bactérias para locais específicos de uma placa de petri preenchida com Ágar-ágar para regiões análogas em diversas outras placas de petri. Após a replicação de uma placa com "E. coli", eles expuseram cada uma das placas a fagos. Eles observaram que colônias resistentes aos fagos estavam presentes em partes análogas de cada placa, possibilitando-os concluir que os traços de resistência aos fagos existiam na colônia original, que nunca havia sido exposta aos fagos, ao invés de surgirem após as bactérias terem sido expostas aos vírus. A extensiva caracterização dos micróbios tem nos permitido o uso deles como ferramentas em outras linhas da biologia:
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Mitologia
Mitologia O termo mitologia pode referir-se tanto ao estudo de mitos como a um conjunto de mitos. Por exemplo, mitologia comparada é o estudo das conexões entre os mitos de diferentes culturas, ao passo que mitologia grega é o conjunto de mitos originários da Grécia Antiga. Em sentido coloquial, o termo "mito" é, frequentemente, utilizado para se referir a uma história falsa. Porém o uso acadêmico do termo não denota, geralmente, um julgamento quanto a sua verdade ou falsidade. No estudo de folclore, um mito é uma narrativa sagrada que explica como o mundo e a humanidade vieram a ser da forma que são atualmente. Muitos estudiosos em outros campos usam o termo "mito" de forma um pouco diferente. Em um sentido muito amplo, a palavra pode se referir a qualquer história tradicional. Os mitos são, geralmente, histórias baseadas em tradições e lendas feitas para explicar o universo, a criação do mundo, fenômenos naturais e qualquer outra coisa a que explicações simples não são atribuíveis. Mas nem todos os mitos têm esse propósito explicativo. Em comum, a maioria dos mitos envolvem uma força sobrenatural ou uma divindade, mas alguns são apenas lendas passadas oralmente de geração em geração. Figuras mitológicas são proeminentes na maioria das religiões e a maior parte das mitologias estão atadas a pelo menos uma religião. Alguns usam a palavra mito e mitologia para desacreditar as histórias de uma ou mais religiões. O termo é, frequentemente, associado às descrições de religiões de sociedades antigas, como a mitologia romana, mitologia grega, mitologia egípcia e mitologia nórdica, que foram quase extintas. Destaca-se, ainda, a mitologia cristã, que ainda hoje tem muitos devotos pelo mundo. No entanto, é importante ter em mente que, enquanto alguns veem os panteões nórdico e céltico como meras fábulas, outros os têm como religião (ver Neopaganismo). Alguns religiosos tomam como ofensa a caracterização de sua fé como um conjunto de mitos, pois isso implicaria em afirmar tacitamente que sua religião não passa de folclore. De qualquer forma, parece haver um consenso de que cada religião possui um grupo de mitos que desenvolveram-se em conjunto com suas escrituras. Esse tipo de postura é particularmente recorrente em países cuja maior parte da população adere a uma religião específica, como é o caso do Brasil ou México. Natureza dos mitos. Características típicas. Os personagens principais nos mitos são, geralmente, deuses ou heróis sobrenaturais. Como histórias sagradas, os mitos, e também podem ser consideradas as fábulas, são, muitas vezes, endossados pelos governantes e sacerdotes e intimamente ligados à religião. Na sociedade em que é divulgado, um mito é geralmente considerado como um relato verdadeiro de um passado remoto. Na verdade, muitas sociedades têm duas categorias de narrativas tradicionais: "histórias verdadeiras" ou mitos, e as "histórias falsas" ou fábulas. Mitos geralmente estão ambientados em uma época antiga, quando o mundo ainda não tinha atingido sua forma atual,e explicam como o mundo atingiu sua forma atual e como os costumes, instituições e tabus foram estabelecidos. Os mitos são também encontrados "in illo tempore", ou seja, num tempo indefinido e intemporal, ajustando-se assim ao pensamento de qualquer sociedade. Religião e mitologia. Os termos "mito" e "mitologia" são, comumente, empregados para ilustrar histórias de uma ou mais religiões como algo falso ou duvidoso - e muito embora quase todos os dicionários incluam essa definição, a palavra "mito" nem sempre implica uma história falsa, nem uma história verdadeira. O termo é constantemente utilizado no sentido de descrever religiões criadas pelas sociedades antigas, cujos ritos estão quase extintos. Muitas pessoas veem seus textos sagrados como possuindo verdades religiosas, inspiradas divinamente. Para o propósito desse artigo, a palavra "mitologia" é usada para se referir a histórias, que, enquanto podem ou não ser factuais, revelam verdades fundamentais e pensamentos sobre a natureza humana, através do frequente uso de arquétipos. Também é necessário frisar que as histórias discutidas expressam pontos de vista e crenças de um país, um período no tempo, cultura e/ou religião a qual lhes deu à luz. Uma pessoa pode falar de mitologia Judaica, mitologia Cristã ou mesmo mitologia Islâmica, com cada uma descrevendo os elementos míticos nessas religiões sem se referir à veracidade sobre a sua história.
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Metal (desambiguação)
Metal (desambiguação) Metal pode ser:
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Maria Gaetana Agnesi
Maria Gaetana Agnesi Maria Gaetana Agnesi (Milão, 16 de maio de 1718 — Milão, 9 de janeiro de 1799) foi uma linguista, teóloga, benfeitora, filósofa e matemática italiana. Agnesi é reconhecida como tendo escrito o primeiro livro que tratou, simultaneamente, do cálculo diferencial e integral. Escreveu em latim a obra "Propositiones philosophicae" (Proposições Filosóficas), publicada em Milão em 1738; mas o que a tornou notável foi o seu compêndio profundo e claro de análise algébrica e infinitesimal na obra "Instituzioni Analitiche" (Instituições Analíticas), traduzida para o inglês e para o francês. O livro foi além dos tópicos sobre filosofia e abordou mecânica celestial e teoria da gravidade de Newton. Durante uma década, Agnesi escreveu uma obra de dois volumes; o primeiro deles, com mais de mil páginas tratava de aritmética, álgebra, trigonometria, geometria analítica e cálculo. O segundo abrangia equações diferenciais. Foi a primeira obra que uniu as ideias de Isaac Newton e de Gottfried Leibniz. É dela também a autoria da chamada "curva de Agnesi". Faleceu numa instituição para idosos, em Milão, chamada Pio Albergo Trivulzio. Primeiros anos. Seu pai, Pietro, foi um rico homem de negócios e professor de matemática na Universidade de Bolonha que elevou sua família para a nobreza de Milão. Tendo nascido em Milão, Maria foi considerada uma menina prodígio muito cedo, falava francês e italiano aos cinco anos de idade. Aos 13 anos de idade já havia adquirido fluência no grego, hebraico, espanhol, alemão e latim, sendo considerada uma verdadeira poliglota. Sempre educou seus irmãos mais novos. Quando tinha nove anos de idade compôs um discurso em latim para um encontro acadêmico. O tema era o direito das mulheres de receber educação. Contribuições para a matemática. Segundo a Enciclopédia Britannica, ela é "considerada a primeira mulher no mundo ocidental a atingir uma reputação na matemática". O resultado mais valioso de seus trabalhos foi o "Instituzioni analitiche ad uso della gioventù italiana", (Instituições analíticas para o uso da juventude italiana), que foi publicado em Milão em 1748 e "foi considerado como a melhor introdução existente às obras de Euler". O objetivo deste trabalho foi, de acordo com a própria Agnesi, dar uma ilustração sistemática dos diferentes resultados e teoremas do cálculo infinitesimal. O modelo para seu tratado foi "Le calcul différentiel et intégral dans l'Analyse" de Charles René Reyneau. Neste tratado, ela trabalhou na integração de análise matemática com álgebra. O primeiro volume trata da análise de quantidades finitas e o segundo da análise de infinitesimais. Uma tradução francesa do segundo volume por P.T. d'Antelmy, com acréscimos por Charles Bossut (1730-1814), foi publicada em Paris em 1775; e "Analytical Institutions", uma tradução para o inglês de todo o trabalho de John Colson (1680-1760), o Lucasian Professor of Mathematics em Cambridge, "inspecionado" por John Hellins, foi publicada em 1801 às custas do Barão Maseres. A obra foi dedicada à Imperatriz Maria Teresa, que agradeceu a Agnesi com o presente de um anel de diamante, uma carta pessoal e uma caixa de diamantes e cristal. Muitos outros elogiaram seu trabalho, incluindo o Papa Bento XIV, que lhe escreveu uma carta elogiosa e lhe enviou uma coroa de ouro e uma medalha de ouro. Ao escrever este trabalho, Agnesi foi aconselhada e ajudada por dois ilustres matemáticos: seu ex-professor Ramiro Rampinelli e Jacopo Riccati. Bruxa de Agnesi. O "Instituzioni analitiche ..." , entre outras coisas, discutiu uma curva anteriormente estudada e construída por Pierre de Fermat e Guido Grandi. Grandi chamou a curva de "versoria" em latim e sugeriu o termo "versiera" para o italiano, possivelmente como um trocadilho: 'versoria' é um termo náutico, "folha", enquanto "versiera / aversiera" é "diabo", "bruxa", do latim "Adversarius", um pseudônimo de "diabo" (Adversário de Deus). Por qualquer motivo, depois de traduções e publicações do "analitiche Instituzioni ..."a curva ficou conhecida como "Bruxa de Agnesi". Outros trabalhos. Agnesi também escreveu um comentário sobre o "Traité analytique des section coniques du marquis de l'Hôpital" que, embora muito elogiado por aqueles que o viram no manuscrito, nunca foi publicado.
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Marco Vipsânio Agripa
Marco Vipsânio Agripa Marco Vipsânio Agripa () foi um político da gente Vipsânia da República Romana eleito cônsul por três vezes, em 37, 28 e 27 a.C., com Lúcio Canínio Galo e com Otávio nas duas vezes seguintes. Era amigo próximo, genro e principal comandante de Otávio e, como arquiteto, foi responsável pela construção de alguns dos mais notáveis edifícios da história de Roma. Como general, conquistou muitas vitórias importantes, especialmente a Batalha de Ácio, em 31 a.C., contra as forças combinadas de Marco Antônio e Cleópatra, que deixou Otávio como único poder em Roma, o futuro imperador romano Augusto. Agripa auxiliou-o na transformação de Roma numa "cidade de mármore" e na reforma dos aquedutos romanos com o objetivo de entregar a todos os romanos, de todas as classes sociais, serviços públicos de boa qualidade. Foi o responsável pela criação de muitas termas, pórticos e jardins por toda a cidade e já se acreditou no passado que ele teria encomendado a construção do Panteão. Agripa era também o sogro do segundo imperador, Tibério, avô pelo lado materno de Calígula e bisavó materno de Nero. Primeiros anos. Agripa nasceu entre 64 e 62 a.C. em um local incerto. Seu cognome de família é derivado da forma latina do grego "Agrippas", que significa "cavalo selvagem". É possível que seu pai tenha sido Lúcio Vipsânio Agripa. Ele tinha um irmão mais velho, também chamado Lúcio Vipsânio Agripa, e uma irmã, Vipsânia Pola. A família não tinha nenhuma proeminência na vida pública romana até sua ascensão. Porém, Agripa tinha mais ou menos a mesma idade de Otaviano e os dois foram educados juntos, tornando-se grandes amigos. Apesar da associação de Agripa com a família de Júlio César, seu irmão mais velho escolheu o lado adversário na guerra civil da década de 40 a.C., lutando com Catão, o Jovem, contra César na Batalha de Tapso, na África Velha. Quando as forças de Catão foram derrotadas, o irmão de Agripa foi preso e libertado depois que Otaviano intercedeu por ele. Não se sabe se Agripa lutou contra o irmão na África, mas é provável que ele tenha servido na campanha de César de 46-45 a.C. contra Pompeu, que culminou na Batalha de Munda. César o tinha em alta estima, suficiente para enviá-lo com Otaviano, em 45 a.C., para estudar em Apolônia (na costa da Ilíria) com as legiões macedônias enquanto consolidava seu poder em Roma; um dos amigos de César, Caio Cílnio Mecenas, enviou seu filho para estudar com eles. No quarto mês de sua estadia em Apolônia chegaram as notícias do assassinato de Júlio César, ocorrido em março de 44 a.C.. Agripa e outro amigo deles, Quinto Salvidieno Rufo, recomendaram que Otaviano marchasse para Roma com as legiões da Macedônia, mas ele preferiu navegar para a Itália com uma pequena força para chegar mais rapidamente. Assim que chegou, soube que César o havia adotado como herdeiro legal. Ele imediatamente assumiu o nome de César ("Caio Júlio César") e acrescentou "Otaviano" como agnome, mas os historiadores modernos geralmente se referem a ele como "Otaviano" neste período. Ascensão ao poder. Depois do retorno de Otaviano a Roma, ele e seus aliados, especialmente Agripa e Mecenas, perceberam que precisariam do apoio de legiões. Agripa ajudou Otaviano a alistar tropas na Campânia. Assim que conseguiu suas legiões, Otaviano fez um pacto com Marco Antônio e Lépido, estabelecido legalmente em 43 a.C. na forma do Segundo Triunvirato. Otaviano e seu colega consular, Quinto Pédio, conseguiram que os assassinos de César fossem processados "in absentia" e Agripa foi encarregado do caso contra Caio Cássio Longino. É possível que tenha sido neste mesmo ano que Agripa iniciou sua carreira política, assumindo o posto de tribuno da plebe, o que lhe garantiu o acesso ao Senado Romano. Em 42 a.C., Agripa provavelmente lutou ao lado de Otaviano e Antônio na Batalha de Filipos. Depois de seu retorno a Roma, Agripa teve um importante papel na guerra de Otaviano contra Lúcio Antônio e Fúlvia, respectivamente irmão e esposa de Marco Antônio, que começou em 41 a.C. e terminou com a captura de Perúsia em 40 a.C.. Porém, Quinto Salvidieno Rufo ainda era o principal general de Otaviano na época. Depois da Campanha de Perúsia, Otaviano partiu para a Gália, deixando Agripa como pretor urbano em Roma com instruções de defender a Itália contra Sexto Pompeu, um adversário dos triúnviros que estava ocupando a Sicília. Em julho do 40 a.C., enquanto Agripa estava ocupado com os Jogos Apolinários ("Ludi Apollinares"), uma responsabilidade dos pretores, Sexto começou um raide no sul da Itália. Agripa avançou contra ele, forçando-o a se retirar. Porém, o triunvirato se mostrou instável e, em agosto de 40 a.C., tanto Sexto quanto Antônio invadiram a Itália (mas não em aliança). O sucesso de Agripa na retomada de Siponto das forças de Antônio ajudaram a acabar com o conflito (conhecido como Guerra de Mutina). Agripa estava entre os intermediários que firmaram a paz entre Otaviano e Antônio. Durante as discussões, Otaviano soube que Salvidieno havia se oferecido a Antônio para traí-lo, o que resultou em sua prisão. Ele foi executado ou cometeu o suicídio e Agripa tornou-se o principal general de Otaviano. Em 39 ou 38 a.C., Otaviano nomeou Agripa governador da Gália Transalpina, onde, em 38 a.C., ele sufocou uma revolta dos aquitanos. Agripa lutou também contra as tribos germânicas, tornando-se o segundo general romano a cruzar o Reno depois de Júlio César. Foi convocado de volta a Roma por Otaviano para assumir o consulado em 37 a.C., quando serviu com Lúcio Canínio Galo. Ele estava bem abaixo da idade mínima requerida (43 anos), mas Otaviano havia sofrido uma humilhante derrota naval contra Sexto Pompeu na Batalha de Messina e precisava de um amigo para supervisionar os preparativos para as campanhas seguintes da Revolta Siciliana. Agripa recusou a oferta de realizar um triunfo por seus feitos na Gália — afirmando, segundo Dião Cássio, que seria impróprio celebrar um triunfo num período difícil para Otaviano. Como Sexto Pompeu tinha o controle do mar na costa da Itália, a primeira providência de Agripa foi arranjar um porto seguro para sua frota. Ele conseguiu construindo um canal através das faixas de terra que separavam o "Lacus Lucrinus" do mar, formando um porto externo, e ligando o lago Averno ao "Lucrinus" para que servisse como porto interior. O novo complexo portuário foi chamado de Porto Júlio, uma homenagem a Otaviano. Agripa também foi responsável por alguns avanços tecnológicos, incluindo navios maiores e uma versão melhorada dos arpéus (ganchos para agarrar as naus inimigas). Foi nesta época que Agripa se casou com Cecília Pompônia Ática, filha do amigo de Cícero, Tito Pompônio Ático. Otaviano e Agripa partiram com a frota para lutar contra Sexta em 36 a.C.. Porém, a armada dos dois foi duramente atingida por tempestades e obrigada a recuar, com Agripa assumindo o comando de uma nova investida. Graças à tecnologia superior e ao treinamento dos marinheiros romanos, Agripa e seus homens venceram batalhas navais decisivas em Milas e Nauloco, destruindo todos menos dezessete dos navios de Sexto e obrigando a maior parte de suas forças a se render. Otaviano, com seu poder aumentado, forçou o triúnviro Lépido a se aposentar e voltou para Roma em triunfo. Agripa recebeu a homenagem sem precedentes de uma coroa naval, decorada com a ponta da proa dos navios vencidos; como lembra Dião Cássio, esta foi ""uma decoração dada a ninguém mais, antes ou depois"." Vida no serviço público. Agripa participou de campanhas militares menores entre 35 e 34 a.C., mas, no outono deste ano, já estava em Roma para dar início imediato a uma campanha de melhorias e reformas públicas, incluindo a renovação do aqueduto conhecido como Água Márcia, incluindo a extensão de seus canais para que cobrissem uma parte maior da cidade. Por suas ações, foi selecionado como um dos edis de 33 a.C. e, durante seu mandato, as ruas foram restaurados e os esgotos (Cloaca Máxima) foram limpos enquanto se promoviam luxuosos espetáculos públicos. Agripa construiu ainda termas (conhecidas como Termas de Agripa), jardins, pórticos e estimulou exibições de obras de arte. Era bastante raro que um consular aceitasse posições inferiores, mas o sucesso de Agripa acabou com esta tradição. Como imperador, Augusto se vangloriaria por "encontrar uma cidade de tijolos e entregar uma cidade de mármore", um feito conquistado em parte pelos grandes serviços de Agripa durante seu mandato. Antônio e Cleópatra. Agripa foi novamente convocado para assumir o comando da frota quando a guerra contra Antônio e Cleópatra irrompeu. Ele capturou a estratégica cidade de Metone, no sudoeste do Peloponeso, e seguiu para o norte, atacando a costa grega e capturando Corcira. Otaviano em seguida levou suas forças terrestres para lá, ocupando a ilha como uma base naval. Antônio reuniu suas tropas e navios em [[Ácio] e Otaviano seguiu para lá para encontrá-lo. Agripa, enquanto isso, derrotou o aliado de Antônio, [[Quinto Nasídio]], em uma batalha naval em [[Patras]]. Dião relata que, conforme Agripa seguia para se encontrar com Otaviano perto de Ácio, encontrou [[Caio Sósio]], um dos generais de Antônio, que estava realizando um ataque surpresa contra o esquadrão de [[Lúcio Tário Rufo]], um aliado de Otaviano. A chegada inesperada de Agripa reverteu o resultado da batalha. Conforme a batalha decisiva se aproximava, segundo [[Dião Cássio]], Otaviano recebeu informações de que Antônio e Cleópatra planejavam atravessar seu [[bloqueio naval]] e fugir. A princípio, ele queria permitir que a [[nau capitânea]] deles passasse livre argumentando que ele conseguiria tomá-la com naus menores e que o resto da frota inimiga simplesmente se renderia ao perceber a covardia de seus líderes. Agripa foi contra, argumentando que os navios de Antônio, embora maiores, poderiam escapar se conseguissem lançar suas velas e que Otaviano deveria iniciar a batalha imediatamente pois a frota de Antônio havia acabado de ser atingida por uma tempestade. Otaviano seguiu o conselho do amigo. Em 2 de setembro de 31 a.C., a [[Batalha de Ácio]] foi travada. A vitória de Otaviano, que conferiu-lhe o poder completo sobre Roma e sobre a República, deveu-se principalmente a Agripa. Como sinal de sua consideração, Otaviano concedeu-lhe a mão de sua sobrinha, [[Cláudia Marcela Maior]] em 28 a.C.. Ele também serviu um segundo consulado com Otaviano neste mesmo ano. Em 27 a.C., Agripa foi cônsul pela terceira vez com Otaviano e, naquele ano, o Senado conferiu a Otaviano o título imperial de [[Augusto (título)|Augusto]], dando fim, efetivamente, à [[República Romana]]. Em comemoração pelo resultado da batalha, Agripa construiu e dedicou o edifício que serviu como "Panteão" de Roma antes de sua destruição em 80 a.C.. O imperador [[Adriano]] utilizou o projeto de Agripa para construir seu [[Panteão (Roma)|próprio Panteão]], que ainda hoje sobrevive em Roma. A inscrição neste edifício posterior, construído por volta de 125, preservou o texto da inscrição do edifício de Agripa, da época do seu terceiro consulado. Os anos seguintes, Agripa passou na [[Gália]], reformando toda a administração provincial e o sistema tributário, juntamente com um [[Via Agripa|efetivo sistema viário]] e aquedutos. Últimos anos. [[Ficheiro:Panteon-roma-2011.JPG|thumb|direita|upright=1|[[Frontão]] do [[Panteão (Roma)|Panteão]], uma obra posterior, do imperador [[Adriano]] ( 125 a.C.), mas que preserva a dedicatória de Agripa, da época de seu terceiro consulado (27 a.C.).]] [[Ficheiro:02.Teatro romano (49).JPG|thumb|direita|upright=1|[[Teatro romano de Mérida]], construído por Agripa ordem de Augusto.]] A amizade de Agripa com Augusto parece ter sido obscurecida pelo ciúme dos sobrinho do imperador, [[Marco Cláudio Marcelo (sobrinho de Augusto)|Marco Cláudio Marcelo]], fomentada, provavelmente, pelas intrigas de [[Lívia Drusila|Lívia]], a terceira esposa de Augusto, que temia a influência dele sobre seu marido. Tradicionalmente, acredita-se que foi por causa deste ciúme que Agripa saiu de Roma, nominalmente para assumir o governo das províncias orientais — uma espécie de "exílio de honra", mas ele enviou apenas um [[legado]] para a [[Síria (província romana)|Síria]] permanecendo o tempo todo em [[Lesbos]] e governando por procuração, apesar de ser possível que ele estivesse numa missão secreta negociando com os [[partas]] o retorno dos [[estandarte romano|estandartes]] que eles ainda detinham. Com a morte de Marcelo, ocorrida em menos de um ano depois de seus exílio, Agripa foi reconvocado a Roma por Augusto, que percebeu que não podia prescindir de seus serviços. Porém, se estes eventos forem colocados no contexto da crise em 23 a.C., parece improvável que, tendo que enfrentar uma importante oposição e próximo de realizar uma importante movimentação política, o imperador Augusto colocasse um homem no exílio no comando do grosso das tropas romanas. O que é muito mais provável que é o "exílio" de Agripa foi, na verdade, um cuidadoso movimento político para colocar um leal aliado no comando de uma importante exército para servir como plano secundário caso as negociações de 23 a.C. fracassassem e Augusto precisasse de apoio militar. Além disso, depois de 23 a.C., como parte do que ficou conhecido como o "Segundo Acordo Constitucional" de Augusto, os poderes constitucionais de Agripa foram aumentados para prover ao [[Principado (Roma Antiga)|Principado de Augusto]] maior estabilidade ao designar um herdeiro político ou substituto se ele sucumbisse aos frequentes problemas de saúde ou fosse assassinado. No espaço de um ano, o [[imperium|"imperium" proconsular]], similar ao poder de Augusto, foi conferido a Augusto por cinco anos. A natureza exata desta concessão é incerta, mas provavelmente cobria as [[província imperial|províncias imperiais]] de Augusto, no ocidente e no oriente, provavelmente sem autoridade sobre as [[província senatorial|províncias senatoriais]]. Estas viriam posteriormente assim como o cuidadosamente protegido [[tribuno da plebe|poder dos tribunos]] ("tribunicia potestas"). Conta-se que [[Caio Cílnio Mecenas]] aconselhou Augusto a manter Agripa ainda mais perto fazendo dele seu genro e, para isso, forçou-o a se divorciar de Marcela para se casar com sua única filha, [[Júlia, a Velha]], em 21 a.C., a viúva de [[Marco Cláudio Marcelo (sobrinho de Augusto)|Marcelo]], igualmente celebrada por sua beleza, habilidades e imoderada [[prodigalidade]]. En 19 a.C., Agripa foi enviado para sufocar uma revolta dos [[cântabros]] no norte da [[Hispânia]] ([[Guerras Cantábricas]]). Entre 16 e 15 a.C., foi encarregado de construir o [[Teatro romano de Mérida|Teatro romano de Augusta Emerita]], atual [[Mérida (Espanha)|Mérida]], por ordem de Augusto. Em 18 a.C., os poderes de Agripa aumentaram ainda mais, chegando quase a igualar os de Augusto. Neste ano, seu "imperium" proconsular foi aumentado para cobrir também as províncias senatoriais e, além disso, ele finalmente recebeu o poder dos tribunos da plebe. Como no caso de Augusto, a concessão deste poder lhe foi dado sem que ele tenha de fato sido eleito para esta posição. Estes poderes eram consideráveis, dando-lhe poder de veto sobre os atos do Senado e de outros [[magistrado romano|magistrados]], incluindo outros tribunos, e o poder de apresentar leis para serem aprovadas na [[Assembleia do povo]]. Tão importante quanto, a pessoa do tribuno era sacrossanta, o que significava que qualquer um que os agredisse ou impedisse seus atos, incluindo os políticos, poderiam ser legalmente mortos. Depois desta concessão, Agripa era, no papel, tão poderoso quanto Augusto. Mas não havia dúvidas de que este estava no comando. Agripa foi nomeado governador das províncias orientais novamente em 17 a.C., onde sua administração, justa e prudente, conquistou o respeito e a boa vontade dos provincianos, especialmente da população [[judeus|judaica]]. Agripa também recuperou o controle efetivo de Roma sobre o [[Quérson|Quersoneso Cimério]], na [[península Crimeia]], durante seu mandato. O último serviço público de Agripa foi o início da campanha de conquista da região do alto [[rio Danúbio|Danúbio]], que tornar-se-ia a província romana da [[Panônia (província romana)|Panônia]] em 13 a.C.. Agripa morreu na [[Campânia]], em 12 a.C., com 51 anos de idade. Seu filho póstumo, [[Marco Vipsânio Agripa Póstumo]], foi batizado em sua homenagem. Augusto honrou sua memória com um magnífico funeral e decretou um luto de mais de um mês. Augusto cuidou pessoalmente da educação de todos os filhos de Agripa e chegou mesmo a [[Adoção na Roma Antiga|adotar]] dois deles, [[Caio César]] e [[Lúcio César]]. Não adotou Agripa Póstumo para preservar a linhagem do amigo, pois, segundo a autobiografia de Augusto, tratava-se de um jovem desequilibrado e de mente fraca, sendo executado logo após a morte de Augusto. Apesar de Agripa ter construído um túmulo para si, Augusto depositou seus restos em [[Mausoléu de Augusto|seu próprio mausoléu]] (que ainda existe). Legado. [[Ficheiro:-0020 Altes Museum Mädchenkopf anagoria.JPG|thumb|esquerda|upright=0.6|[[Júlia, a Velha]], a única filha biológica de [[Augusto]] e esposa de Agripa, com quem teve cinco filhos.]] Agripa era conhecido também como escritor, especialmente sobre [[geografia]]. Sob sua supervisão, o sonho de [[Júlio César]] de [[agrimensura]]r o Império Romano foi realizado. Ele construiu um esquema circular, que depois foi gravado em mármore por Augusto e, posteriormente, colocado numa [[colunata]] construída por sua irmã, [[Vipsânia Pola]]. Entre suas obras está uma autobiografia, hoje perdida. O termo "[[Via Agripa]]" é utilizado para denominar a rede de estradas na [[Gália]] construída por Agripa. Descendência. Agripa teve diversos filhos em seus três casamentos. Com sua primeira esposa, [[Cecília Ática]], teve uma filha, [[Vipsânia Agripina]], que seria a primeira esposa do imperador [[Tibério]] e mãe de [[Druso, o Jovem]]. Com [[Cláudia Marcela Maior]], é possível que tenha tido uma filha, cuja existência é incerta, e é chamada de "[[Vipsânia Marcela]]". É possível que esta filha tenha sido uma segunda filha de Cecília Ática, mas não há informações suficientes para afirmar. A existência dela depende unicamente de [[Públio Quintílio Varo]], mencionado como genro de Agripa na oração funerária de Augusto para o amigo. Finalmente, com [[Júlia, a Velha]], a filha de Augusto, Agripa teve cinco filhos: [[Caio César]], [[Júlia, a Jovem (neta de Augusto)|Júlia, a Jovem]], [[Lúcio César]], [[Agripina, a Velha]], esposa de [[Germânico]] e mãe de [[Calígula]] e da imperatriz [[Agripina, a Jovem]], além de [[Agripa Póstumo]] (nascido depois de sua morte). Já houve inúmeras tentativas de designar mais descendentes à linhagem de Agripa, incluindo duas linhagens dos [[Asínios]], descendentes de [[Caio Asínio Pólio (cônsul em 23)|Caio Asínio Pólio]] e [[Marco Asínio Agripa]] respectivamente. Uma filha (e outros descendentes) chamada Rubélia Bassa de [[Júlia (filha de Druso, o Jovem)|Júlia]], filha de Druso, o Jovem, que pode ter sido filha de [[Caio Rubélio Blando]] de um casamento anterior. E, finalmente, uma série de descendentes de [[Júnia Lépida]] e seu marido, Caio Cássio Longino. Porém, todas essas linhagens são hipotéticas e não há evidências que suportem qualquer ligação com os descendentes de Agripa. Caio e Lúcio, herdeiros do império e filhos adotivos de Augusto, foram designados "principis iuventutis". Porém, faleceram de causas naturais e a herança do império recaiu sobre [[Nero Cláudio Druso]] (que faleceu em um acidente) e, depois, sobre [[Tibério]], que finalmente seria o sucessor de Augusto. [[Druso, o Jovem|Druso]] e Tibério eram filhos do matrimônio anterior de [[Lívia Drusa]], a esposa de Augusto, e também foram adotados por ele. Bibliografia. [[Categoria:Cônsules da República Romana]] [[Categoria:Romanos antigos do século I a.C.]] [[Categoria:Pretores da República Romana]] [[Categoria:Propretores da República Romana]] [[Categoria:Guerra Civil de César]] [[Categoria:Guerra Civil dos Libertadores]] [[Categoria:Campanha de Perúsia]] [[Categoria:Campanha de Mutina]] [[Categoria:Guerra Civil de Antônio]] [[Categoria:Guerras Cantábricas]] [[Categoria:Vipsanii]] [[Categoria:Governadores romanos da Síria]] [[Categoria:Almirantes romanos]] [[Categoria:Dinastia júlio-claudiana]] [[Categoria:Procônsules da Hispânia]] [[Categoria:Arquitetos da Antiguidade]] [[Categoria:Cônsules do Império Romano]] [[Categoria:Escritores da Roma Antiga]] [[Categoria:Geógrafos da Roma Antiga]] [[Categoria:Revolta Siciliana]] [[Categoria:Epulões]] [[Categoria:Sepultamentos no Mausoléu de Augusto]]
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Samba
Samba Samba, também conhecido como samba urbano carioca ou simplesmente samba carioca, é um gênero musical brasileiro que se originou entre as comunidades afro-brasileiras urbanas do Rio de Janeiro no início do século XX. Tendo suas raízes na expressão cultural da África Ocidental e nas tradições folclóricas brasileiras, especialmente aquelas ligadas ao samba rural primitivo dos períodos colonial e imperial, é considerado um dos mais importantes fenômenos culturais do Brasil e um dos símbolos do país. Presente na língua portuguesa ao menos desde o século XIX, a palavra “samba” era originariamente empregada para designar uma “dança popular” ou um “bailado popular”. Com o tempo, seu significado foi estendido a uma “dança de roda semelhante ao batuque” e também a um “gênero de canção popular”. Esse processo de firmação como gênero musical iniciou-se na década de 1910 e teve na obra “Pelo Telefone”, lançada pela Odeon em 1917, o seu grande marco inaugural. Apesar de identificado por seus criadores, pelo público e pela indústria fonográfica como “samba”, esse era muito mais ligado do ponto de vista rítmico e instrumental ao maxixe do que ao samba propriamente dito. Somente no final da década de 1920 que o samba estruturou-se como é conhecido modernamente. Tendo nascido no bairro do Estácio e logo estendido a Oswaldo Cruz e outras partes da cidade através de seus ramais ferroviários, esse samba trazia inovações no ritmo, na melodia e também em aspectos temáticos. Sua mudança rítmica baseada em um novo padrão instrumental percussivo resultou em um estilo mais batucado e sincopado – oposto ao samba amaxixado inaugural – notadamente assinalado por um andamento mais acelerado, notas mais longas e uma cadência marcada muito além das simples palmas usadas até então. O paradigma estaciano também inovou na formatação do samba como canção, organizada em primeira e segunda partes tanto na melodia quanto na letra. Ao criarem um novo referencial musical reconfigurado, estruturado e delimitado, os sambistas do Estácio definiram o samba como gênero de maneira moderna e acabada. Nesse processo de estabelecimento como expressão musical urbana e moderna, o samba carioca contou com o papel decisivo das escolas de samba, responsáveis por delimitar e legitimar definitivamente as bases estéticas do ritmo, e do rádio, que contribuiu sobremaneira na difusão e popularização do gênero e de seus intérpretes de canção. Destarte, o samba alcançou grande projeção em todo o Brasil e se tornou um dos principais símbolos da identidade nacional brasileira. Outrora criminalizado e visto com preconceito por suas origens afro-brasileiras, o gênero de canção também conquistou respaldo entre integrantes das classes mais favorecidas e da elite cultural do país. Ao mesmo tempo que se firmou como gênese do samba carioca, o paradigma do samba do Estácio abriu caminho para a sua fragmentação, ao longo do século XX, em novos subgêneros e estilos de composição e interpretação. Principalmente a partir da chamada “época de ouro” da música brasileira, o samba recebeu fartas categorizações, algumas das quais denotando sólidas e bem aceitas vertentes derivadas – como a bossa nova, o pagode, o partido alto, o samba de breque, o samba-canção, o samba de enredo e o samba de terreiro – enquanto outras nomenclaturas foram um tanto mais imprecisas – como samba à moda agrião, samba do barulho, samba epistolar ou samba fonético – e algumas ainda meramente depreciativas – como sambalada, sambolero ou sambão joia. O samba urbano carioca tem ritmo basicamente 2/4 e andamento variado com aproveitamento consciente das possibilidades dos refrãos cantados ao som de palmas e ritmo batucado, em que foram acrescidos uma ou mais partes de versos declamatórios. Sua instrumentação tradicional é composta por instrumentos de percussão como o pandeiro, a cuíca, o tamborim, o ganzá e o surdo e de acompanhamento – cuja inspiração é o choro – como o violão e o cavaquinho. Em 2007, o Iphan declarou o samba carioca e três de suas matrizes – o samba de terreiro, o samba de partido-alto e o samba de enredo – como patrimônio cultural do Brasil. Etimologia e definição. Não existe consenso entre estudiosos sobre a etimologia do termo “samba”. Uma corrente tradicionalista defende que o étimo seja oriundo das línguas bantas. Segundo Nei Lopes e Luiz Antônio Simas, precisamente dos verbos "semba" (em quimbundo, “rejeitar, separar” ou “agradar, encantar, galantear”), "sàmba" (em quicongo, um tipo de dança em que “um dançarino bate contra o peito de outro”) e "samba" (em chócue, “brincar, cabriolar”). Já na América espanhola do passado, os termos "samba" e "semba" designavam na região do rio da Prata o candombe, uma dança popular com atabaques, enquanto "zamba", na Bolívia, era uma antiga dança das festas de coroação dos reis negros. Acredita-se que o primeiro uso da palavra “samba” na imprensa brasileira tenha sido no Diário de Pernambuco em 1830. O termo foi documentado na publicação em uma nota contrária ao envio de soldados para o interior pernambucano como medida disciplinar, pois lá poderiam ficar ociosos e se entreter com “pescarias de currais [armadilhas de apanhar peixe], e trepações de coqueiros, em cujos passatempos será recebida com agrado a viola, e o samba”. Outra aparição antiga foi registrada no jornal humorístico recifense O Carapuceiro de 1838. Já no Rio de Janeiro, a palavra só passou a ser conhecida ao final do século XIX, quando era ligada aos festejos rurais, ao universo do negro e ao "norte" do país, ou seja, o Nordeste brasileiro. Por muitos anos da história colonial e imperial do Brasil, os termos “batuque” ou “samba” foram empregados à qualquer manifestação de origem africana que reunisse danças (principalmente a umbigada), cantos e usos de instrumentos dos negros. Ao final do século XIX, “samba” estava presente na língua portuguesa, designando um “bailado popular” ou diferentes tipos de danças populares (xiba, fandango, catereté, candomblé, baiano) que assumiam características próprias em cada parte do país, não só pela diversidade das etnias da diáspora africana, como pela peculiaridade de cada região em que foram assentadas. No século XX, o termo foi ganhando novas acepções, como para uma “dança de roda semelhante ao batuque” e um “gênero de canção popular”. O primeiro uso da palavra em contexto musical teria sido para “Em casa de baiana”, de 1913, registrada como “samba de partido-alto”. Depois, no ano seguinte, para as obras “A viola está magoada” e “Moleque vagabundo”. E, em 1916, para o célebre “Pelo telefone”, lançado como “samba carnavalesco” e tido como marco fundador do samba urbano carioca. Raízes. Tradição rural. Durante a Missão de Pesquisas Folclóricas no Nordeste de 1938, o escritor Mário de Andrade notou que, em meio rural, o termo “samba” associava-se ao evento onde a dança se realizava, à forma de se dançar o samba e à música executada para a dança. O samba urbano carioca foi influenciado por diversas tradições associadas ao universo de comunidades rurais pelo Brasil. A folclorista Oneida Alvarenga foi a primeira estudiosa a listar danças populares primitivas do tipo: o coco, o tambor de crioula, o lundu, a chula ou o fandango, o baiano, o cateretê, o quimbere, o mbeque, o caxambu e a xiba. A essa lista, Jorge Sabino e Raul Lody acrescentaram: o samba de coco e a sambada (chamados também de coco de roda), o samba de matuto, o samba de caboclo e o jongo. Uma das formas de dança mais importantes na constituição da coreografia do samba urbano carioca, o samba de roda praticado no Recôncavo baiano era tipicamente dançado ao ar livre por dançante solista, enquanto outros participantes da roda se encarregavam do canto – alternados em partes solo e coro – e da execução dos instrumentos da dança. Os três passos básicos do samba de roda baiano eram o corta-a-jaca, o separa-o-visgo e o apanha-o-bago, além também do miudinho dançado exclusivamente por mulheres. Em suas pesquisas sobre o samba baiano, Roberto Mendes e Waldomiro Junior examinaram que alguns elementos de outras culturas, como o pandeiro árabe e a viola portuguesa, foram aos poucos incorporados ao canto e ao ritmo dos batuques africanos, cujas variantes mais conhecidas eram o samba corrido e o samba chulado. No estado de São Paulo, desenvolveu-se outra modalidade primitiva de samba rural conhecida, praticada basicamente em cidades ao longo do rio Tietê – a partir da capital paulista, até o seu curso médio – e tradicionalmente dividida entre samba de bumbo – com apenas instrumentos de percussão, tendo como regente o bumbo – e o batuque de umbigada – com o tambu, o quinjengue e o guaiá. Constituído essencialmente por duas partes (coro e solo) geralmente feitas de improviso, o partido-alto era – e ainda é – a variante cantada mais tradicional do samba rural fluminense. Originário da região metropolitana do Rio de Janeiro, é a junção, de acordo com Lopes e Simas, do samba de roda baiano com a cantoria do calango, assim como uma espécie de transição entre o samba rural e o que seria desenvolvido no ambiente urbano carioca a partir do século XX. Raízes do carnaval carioca. Durante o Brasil colonial, as festas públicas católicas costumavam atrair todos os segmentos sociais, inclusive negros e escravos, que aproveitavam as celebrações para fazer suas próprias manifestações, como os folguedos de coroação dos reis congos e os cucumbis (folguedo banto) no Rio de Janeiro. Aos poucos, essas celebrações exclusivas do povo negro foram sendo desvinculadas das cerimônias do catolicismo e mudadas para o período do carnaval. A partir dos cucumbis, surgiram os cordões cariocas, que apresentavam elementos de brasilidade – como negros fantasiados de indígenas. No final do século XIX, por iniciativa do pernambucano Hilário Jovino, nasceram os ranchos de reis (posteriormente conhecidos como ranchos carnavalescos). Um dos ranchos mais importantes do carnaval carioca foi o Ameno Resedá. Criado em 1907, o autointitulado “rancho-escola” tornou-se um modelo para apresentações carnavalescas em cortejo e para as futuras escolas de samba nascidas nos morros e subúrbios do Rio. O samba urbano carioca. O nascimento em terreiro baiano. Epicentro político e sociocultural do Brasil, de base escravista, o Rio de Janeiro sofreu forte influência da cultura africana. Em meados do século XIX, mais da metade da população da cidade – então capital do Império brasileiro – era formada por negros escravos. No início da década de 1890, o Rio contava com mais de meio milhão de habitantes, dos quais apenas a metade era natural da cidade, enquanto a outra parte era oriunda das antigas províncias imperiais brasileiras, principalmente da Bahia. Em busca de melhores condições de vida, esse afluxo de negros baianos para terras cariocas aumentou consideravelmente após a abolição da escravidão no Brasil. Chamada por Heitor dos Prazeres de “Pequena África”, essa comunidade da diáspora baiana na capital do país instalou-se nas imediações da zona portuária carioca e, após as reformas urbanas do prefeito Pereira Passos, nos bairros da Saúde e Cidade Nova. Por ação dos negros baianos radicados no Rio, foram introduzidos novos hábitos, costumes e valores de matrizes afro-baianas que influenciaram a cultura carioca, especialmente em eventos populares como a tradicional Festa da Penha e o Carnaval. Mulheres negras egressas de Salvador e do Recôncavo baiano, as tias baianas fundaram os primeiros terreiros de candomblé, introduziram o jogo de búzios e difundiram os mistérios das religiões de matrizes africanas da tradição jeje-nagô na cidade. Além do candomblé, as residências ou os terreiros das tias baianas sediavam diversas atividades comunitárias, como a culinária e os pagodes, onde se desenvolveria o samba urbano carioca. Dentre as tias baianas mais conhecidas do Rio, estavam as tias Sadata, Bibiana, Fê, Rosa Olé, Amélia do Aragão, Veridiana, Mônica, Perciliana de Santo Amaro e Ciata. Local de encontros em torno da religião, da culinária, da dança e da música, a casa de Tia Ciata era frequentada tanto por sambistas e pais de santo quanto por intelectuais e políticos influentes da sociedade carioca. Entre alguns de seus frequentadores, estavam Sinhô, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Donga e Caninha, bem como alguns jornalistas e intelectuais, como João do Rio, Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Francisco Guimarães (conhecido popularmente como Vagalume). Foi nesse ambiente que Vagalume, então cronista do Jornal do Brasil, presenciou em outubro de 1916 o nascimento de “O Macaco É Outro”. De acordo com o jornalista, o samba ganhou de imediato a adesão dos populares que saíram entoando a música em animado bloco. Donga documentou a obra em partitura e, em 27 de novembro daquele ano, declarou a autoria na Biblioteca Nacional, onde foi registrada como “samba carnavalesco” de nome “Pelo telefone”. Pouco depois, a partitura foi utilizada em três gravações na Casa Edison. Uma delas interpretada pelo cantor Baiano e contando com acompanhamento de violão, cavaquinho e clarineta. Lançada em formato 78 rpm pela Odeon em 19 de janeiro de 1917, o samba “Pelo telefone” tornou-se o grande sucesso no carnaval carioca daquele ano. Foram também lançadas duas versões instrumentais – gravadas pela Banda Odeon e pela Banda do 1º Batalhão da Polícia da Bahia – respectivamente em 1917 e 1918. O êxito de “Pelo telefone” marcou o início oficial do samba como gênero de canção. Essa primazia tem sido, contudo, questionada por alguns estudiosos, sob o argumento de que a obra teria sido apenas o primeiro samba sob essa categorização a fazer sucesso. Antes, foram gravados “Em casa da baiana”, de Alfredo Carlos Bricio, declarado à Biblioteca Nacional como “samba de partido-alto” em 1913, “A viola está magoada”, de Catulo da Paixão Cearense, lançado como “samba” por Baiano e Júlia no ano seguinte, e “Moleque vagabundo”, “samba” de Lourival de Carvalho, também em 1914. Outro debate relacionado à “Pelo telefone” diz respeito à autoria exclusiva de Donga, que foi logo contestada por alguns de seus contemporâneos que o acusaram de ter se apropriado de uma criação coletiva, anônima, registrando-a como apenas dele. A parte central da canção teria sido concebida nos tradicionais improvisos em encontros na casa da Tia Ciata. Sinhô reclamou a autoria do refrão “ai, se a rolinha, sinhô, sinhô” e criou outra letra em resposta a Donga. No entanto, o próprio Sinhô, que se consolidaria na década de 1920 como primeiro grande nome do samba, foi acusado de se apropriar de canções ou versos alheios – ao que ele se justificava com a célebre máxima de que samba era “como passarinho” no ar, é ”de quem pegar primeiro”. Essa defesa insere-se em uma época a qual figura do compositor popular não era a do indivíduo que compunha ou organizava sons, mas aquele que registrava e divulgava as canções. Na era das gravações mecânicas, as composições musicais – sob pretexto de garantir que não houvesse plágio – não pertenciam aos compositores, mas aos editores e, posteriormente, às gravadoras, uma realidade modificada apenas com o advento das gravações elétricas, quando o direito à propriedade intelectual da obra passou a ser individual e inalienável ao compositor. Em todo o caso, foi a partir de "Pelo Telefone” que o samba ganhou notoriedade como produto no mercado musical brasileiro. Gradualmente, o nascente samba urbano foi obtendo popularidade no Rio de Janeiro, especialmente na Festa da Penha e no Carnaval. Celebrada no mês de outubro, a Festa da Penha tornou-se o grande evento para os compositores da Cidade Nova que queriam divulgar suas composições na expectativa de que fossem lançadas no carnaval seguinte. Outro divulgador nesse período foi o teatro de revista, local que consagrou Aracy Cortes como uma das primeiras cantoras de sucesso do novo gênero de canção popular. A solidificação do sistema de gravação elétrico possibilitou que a indústria fonográfica lançasse novos sambas por cantores com vozes menos potente, como Carmen Miranda e Mário Reis, intérpretes que se tornaram referências ao criar um novo jeito de interpretar o samba mais natural e espontâneo, sem tantos ornamentos, em oposição à tradição do belcanto operístico. Essas gravações seguiam um padrão estético marcado por semelhanças estruturais ao lundu e, principalmente, ao maxixe. Por conta disso, esse tipo de samba é considerado por estudiosos como “samba-maxixe” ou “samba amaxixado”. Ainda que o samba praticado nas festividades das comunidades baianas no Rio fosse uma estilização urbana do ancestral “samba de roda” da Bahia, caracterizada por um samba de partido alto com estribilhos cantados ao ritmo marcado das palmas e dos pratos raspados com facas, esse samba era também influenciado pelo maxixe. Foi na década seguinte que nasceria, a partir dos morros cariocas, um novo modelo de samba bastante distinto desse estilo amaxixado associado às comunidades da Cidade Nova. Samba do Estácio, a gênese do samba urbano. Entre o final do século XIX e o início do século XX, no contexto da Primeira República, as camadas pobres do Rio de Janeiro enfrentavam sérias questões econômicas relacionadas a sua sobrevivência na capital federal, tais como a imposição de novos tributos decorrentes dos fornecimento de serviços públicos (como iluminação elétrica, água e esgoto, calçamentos modernos), uma nova legislação que impunha normas e restrições arquitetônicas para construções urbanas, e a proibição do exercício de determinadas profissões ou práticas econômicas ligadas à subsistência principalmente dos mais pobres. A situação dessa população agravou-se ainda mais com as reformas urbanas no centro carioca, cujo alargamento ou abertura de vias demandou a destruição de diversos cortiços e moradias populares na região. Por conseguinte, esses moradores desabrigados foram ocupando provisoriamente encostas nas proximidades dessas antigas construções demolidas, como o Morro da Providência (principalmente ocupado por ex-moradores do cortiço Cabeça de Porco e ex-soldados da Guerra de Canudos) e o Morro de Santo Antonio (especialmente pelos ex-combatentes da Revolta da Armada). Em pouco tempo, esse tipo de habitação provisória fixou-se de modo permanente na paisagem urbana do Rio, originando as primeiras favelas da cidade. A partir do aumento das populações expulsas dos cortiços e da chegada de novos migrantes pobres à capital da República, as favelas cresceram aceleradamente e se alastraram por morros e zonas suburbanas cariocas. Foi nesse cenário que nasceria durante a segunda metade da década de 1920 um novo tipo de samba, chamado de “samba do Estácio”, que se constituiria na gênese do samba urbano carioca ao criar um novo padrão tão revolucionário que suas inovações perduram até os dias atuais. Localizado próximo à Praça Onze e abrigando o Morro do São Carlos, o bairro do Estácio era um centro de convergência do transporte público, principalmente de bondes que serviam à zona norte. Sua proximidade aos nascentes morros bem como sua primazia na formação desse novo samba acabaram por vincular sua produção musical, a partir das linhas de trem urbanas, às favelas e aos subúrbios cariocas, como o Morro da Mangueira e o bairro suburbano de Osvaldo Cruz. O samba do Estácio distinguia-se do samba da Cidade Nova tanto em aspectos temáticos, como também à melodia e ao ritmo. Feito para os desfiles dos blocos carnavalescos do bairro, o samba estaciano inovava com um andamento mais rápido, notas mais longas e uma cadência para além das palmas tradicionais. Outra mudança estrutural decorrente desse samba foi a valorização da “segunda parte” das composições: em lugar de usar a típica improvisação das rodas de samba de partido-alto ou dos desfiles carnavalescos, houve a consolidação de sequências preestabelecidas, que teriam um tema – por exemplo, problemas cotidianos – e a possibilidade de se encaixar tudo dentro dos padrões de gravações fonográficos de 78 rpm da época – algo em torno de três minutos nos discos de 10 polegadas. Em comparação às obras da primeira geração de Donga, Sinhô e companhia, os sambas produzidos pela turma do Estácio também se destacavam por uma maior contrametricidade, que pode ser evidenciada em um depoimento de Ismael Silva acerca das inovações introduzidas por ele e seus companheiros no novo samba urbano carioca: A onomatopeia intuitiva construída por Ismael Silva tentava explicar a mudança rítmica operada pelos sambistas do Estácio com o "bum bum paticumbum pugurumdum" do surdo na marcação da cadência do samba, fazendo desse um ritmo mais sincopado. Tratava-se, portanto, de uma ruptura com o samba "tan tantan tan tantan" irradiado das tias baianas. Assim, ao final da década de 1920, o moderno samba carioca possuía dois modelos distintos: o samba urbano primitivo da Cidade Nova e o novo samba sincopado da turma do Estácio. Contudo, enquanto a comunidade baiana gozava de certa legitimidade social, incluindo a proteção de personalidades importantes da sociedade carioca que apoiavam e frequentavam as rodas musicais da Pequena África, os novos sambistas estacianos sofriam discriminação sociocultural, inclusive mediante repressão policial. Bairro popular e com grande contingente de negros e mulatos, o Estácio era um dos grandes redutos de sambistas pobres situados entre a marginalidade e a integração social, que acabaram estigmatizados pelas classes altas cariocas como malandros “perigosos”. Por conta dessa pecha, o samba estaciano sofreu grande preconceito social em sua origem. Para evitar perseguição policial e conquistar legitimidade social, os sambistas do Estácio decidiram vincular suas batucadas ao samba do carnaval e se organizaram naquilo que batizaram como escolas de samba. De acordo com Ismael Silva – também fundador da Deixa Falar e o criador da expressão “escola de samba” –, o termo era inspirado na Escola Normal que outrora havia no Estácio, e portanto as escolas de samba formariam “professores do samba”. Embora a primazia de primeira escola de samba do país seja contestada pelos núcleos formadores de Portela e Mangueira, a Deixa Falar foi pioneira na difusão do termo em sua busca por estabelecer uma organização diferente dos blocos carnavalescos daquele tempo e também a primeira agremiação carnavalesca a utilizar o conjunto futuramente conhecido como bateria, unidade composta por instrumentos de percussão como surdos, tamborins e cuícas, que – ao se juntarem aos já utilizados pandeiros e chocalhos – deram uma característica mais “marchada” ao samba dos desfiles. Em 1929, o sambista e babalaô Zé Espinguela organizou o primeiro concurso entre as primeiras escolas de samba cariocas: a Deixa Falar, a Mangueira e a Oswaldo Cruz (futura Portela). A disputa não envolveu cortejo, mas sim uma competição para escolher o melhor samba entre esses conjuntos carnavalescos – cujo vencedor o samba “A Tristeza Me Persegue”, de Heitor dos Prazeres, um dos representantes da Oswaldo Cruz. A Deixa Falar foi desclassificada pelo uso de uma flauta e de uma gravata de Benedito Lacerda, então representante do conjunto do Estácio. Esse veto a instrumentos de sopro tornou-se regra dali adiante – inclusive para o primeiro desfile entre elas, organizado em 1932 pelo jornalista Mario Filho e patrocinado pelo diário Mundo Sportivo –, pois diferenciava as escolas dos ranchos carnavalescos com a valorização das batucadas, que marcariam definitivamente as bases estéticas do samba a partir de então. O samba batucado e sincopado do Estácio representou um rompimento estético com o samba amaxixado da Cidade Nova. Por sua vez, a primeira geração do samba não aceitava as inovações criadas pelo sambistas do morro, visto como uma deturpação do gênero ou mesmo designado como “marcha”. Para músicos como Donga e Sinhô, samba era sinônimo de maxixe – espécie de último estágio abrasileirado da polca europeia. Já para os sambistas dos morros cariocas, samba era o último estágio abrasileirado do batuque angolano que propunham ensinar à sociedade brasileira mediante as escolas de samba. Esse conflito de gerações, no entanto, não perdurou por muito tempo, e o samba do Estácio firmou-se como o ritmo por excelência do samba urbano carioca no decorrer da década de 1930. Entre 1931 e 1940 o samba foi o gênero de canção popular mais gravado no Brasil, com quase 1/3 do repertório total – 2.176 sambas em um universo de 6 706 composições. Sambas e marchas compuseram juntos os percentuais pouco mais da metade do repertório gravado nesse período. Graças a nova tecnologia de gravação elétrica, foi possível captar os instrumentos percussivos presentes nas escolas de samba. O samba “Na Pavuna” (de Almirante), interpretado pelo Bando de Tangarás, foi o primeiro gravado em estúdio com a percussão que caracterizaria o gênero a partir dali: tamborim, surdo, pandeiro, ganzá, cuíca, entre outros. Embora contado com a presença desses instrumentos percussivos, as gravações de samba em estúdio eram marcadas pela predominância de arranjos musicais de tom orquestrado com instrumentos de metais e corda. Esse padrão orquestral foi imprimido sobretudo por arranjadores europeus, entre os quais Simon Bountman, Romeu Ghipsmanm, Isaac Kolman e Arnold Gluckman, maestros cuja formação erudita acabou por conferir uma sonoridade sinfônica europeia no ritmo contramétrico e de batuques do samba estaciano. Outra razão do sucesso do samba estaciano no mercado fonográfico foi a introdução da “segunda parte”, que estimulou o estabelecimento entre parcerias entre os compositores. Por exemplo, um compositor criava o refrão de um samba e outro compositor concebia a segunda parte, como ocorreu na parceira entre Ismael Silva e Noel Rosa em “Para Me Livrar do Mal”, resultado da primeira parte do sambista estaciano e da segunda parte do sambista da Vila Isabel. Com a crescente demanda por novos sambas pelos intérpretes, também se tornou comum a prática de compra e venda de composições. Essa transação normalmente se dava por duas maneiras distintas: o autor negociava a venda apenas da gravação do samba – isto é, o sambista mantinha-se como autor da composição, mas não receberia nenhuma parte dos ganhos obtidos com as vendas dos discos, que ficavam divididos entre o comprador e a gravadora – ou da composição inteira – ou seja, o sambista perdia integralmente os direitos sobre o seu samba, inclusive de autoria. Em alguns casos, o sambista vendia a parceria ao comprador e também recebia uma parte dos lucros com as vendagens dos discos. Vender um samba significava ao sambista uma chance de ver sua produção divulgada – especialmente quando ele ainda não gozava do mesmo prestígio adquirido pelos sambistas da primeira geração – e também um modo de suprir suas próprias dificuldades financeiras. Para o comprador, era a possibilidade de renovar seu repertório, gravar mais discos e faturar sobre as vendagens, e consolidar ainda mais sua carreira artística. Artistas com bom trânsito com as gravadoras, os populares intérpretes Francisco Alves e Mário Reis foram adeptos dessa prática, tendo adquirindo sambas de compositores como Cartola e Ismael Silva. Era do rádio e popularização do samba. A década de 1930 marcou a ascensão do samba do Estácio como gênero musical urbano em detrimento do samba de estilo maxixe. Se as escolas de samba foram cruciais para delimitar, divulgar e legitimar o novo samba estaciano como a autêntica expressão do samba urbano carioca, o rádio cumpriu também um papel decisivo em popularizá-lo em âmbito nacional. Embora a radiodifusão no Brasil tenha sido inaugurada oficialmente em 1922, o rádio era um veículo ainda incipiente e de natureza técnica, experimental e restrita Na década de 1920, o Rio de Janeiro abrigava apenas duas estações de pequeno alcance cuja programação limitava-se basicamente a difundir conteúdo educativo ou música erudita. Esse panorama mudou radicalmente na década de 1930, com a ascensão política de Getúlio Vargas, que identificou o meio de comunicação como uma ferramenta de interesse público para fins econômicos, educacionais, culturais ou políticos, bem como para a integração nacional do país. Um decreto varguista de 1932 regulamentando a publicidade no rádio foi crucial para a transformação comercial, profissional e popular da radiodifusão brasileira. Com a autorização de que anúncios pudessem ocupar 20% (e depois 25%) da programação, o rádio tornou-se mais atrativo e seguro para os anunciantes e – somada ao aumento nas vendas de aparelhos receptores no período – transformou o veículo de sua função outrora educativa para uma potência do entretenimento. Com o aporte de recursos financeiros oriundos da propaganda, as emissoras passaram a investir na programação musical, transformando o rádio no grande divulgador da música popular do país – seja ela gravada em disco ou apresentada ao vivo diretamente dos auditórios e estúdios das emissoras. Tendo o samba como grande atrativo, o rádio cedeu espaço para o gênero com os “sambas de carnaval”, divulgados para os festejos carnavalescos, e os “sambas de meio de ano”, lançados ao longo do ano. Essa expansão do rádio como meio de entretenimento de massa possibilitou a formação de um campo profissional tanto para técnicos profissionais vinculados a atividades sonoras, quanto para intérpretes, arranjadores e compositores. Dessa cenário, destacaram-se os radialistas Ademar Casé (no Rio) e César Ladeira (em São Paulo), como pioneiros no estabelecimento de contratos de exclusividade com cantores para apresentação nos programas ao vivo. Isto é, em vez de receber apenas um cachê por apresentação, foi fixada a remuneração mensal, modelo que desencadeou uma disputa acirrada entre as estações de rádio, inclusive de diferentes estados, para formar seus "casts" profissionais e exclusivos com as estrelas populares da música popular e orquestras filarmônicas. Grandes intérpretes do samba, como Carmen Miranda, passaram a assinar contratos vantajosos para atuarem de maneira exclusiva com determinada emissora de rádio. A instituição de grandes programas de auditório criou a necessidade de se montar grandes orquestras de rádio, dirigidas por maestros arranjadores, que davam uma roupagem mais sofisticada à musical popular brasileira. Uma das mais notórias formações orquestrais do rádio foi a Orquestra Brasileira – sob comando do maestro Radamés Gnatalli e com um time de músicos como os sambistas João da Baiana, Bide e Heitor dos Prazeres na percussão –, que combinou padrões da canção internacional da época com instrumentos populares na música brasileira, como o cavaquinho e o violão. A Orquestra Brasileira notabilizou-se com o sucesso do programa "Um milhão de melodias", da Rádio Nacional carioca, um dos mais populares da história do rádio brasileiro. Nesta fase de ouro da radiodifusão do Brasil despontou uma nova geração de compositores oriundos da classe média, como Almirante, Ary Barroso, Ataulfo Alves, Braguinha, Lamartine Babo e Noel Rosa, que construíram carreiras bem sucedidas nesse meio de comunicação. Crescido no bairro de classe média Vila Isabel, Noel Rosa foi fundamental para a desestigmatização do samba do Estácio. Embora tenha iniciado sua trajetória musical compondo emboladas nordestinas e estilos rurais afins, o compositor mudou seu estilo ao ter contato como o samba feito e cantado pelos bambas do Estácio e por outros sambistas nos morros cariocas. Desse encontro, resultaram amizades e parcerias entre Noel e nomes como Ismael Silva, Cartola, Canuto e Antenor Gargalhada. No campo da interpretação do samba, além de Noel, eclodiu uma nova safra de intérpretes, como Jonjoca, Castro Barbosa, Luís Barbosa, Cyro Monteiro, Dilermando Pinheiro, Aracy de Almeida, Marília Batista. Outro destaque foi a cantora Carmen Miranda, a grande estrela da música popular brasileira no período e a primeira artista a divulgar o samba em âmbito internacional. Consagrada no Brasil, Carmen deu continuidade a sua bem sucedida carreira artística nos Estados Unidos, onde atuou em musicais em Nova Iorque e, mais adiante, no cinema de Hollywood. Sua popularidade foi tamanha que a cantora chegou a se apresentar na Casa Branca para o presidente Franklin D. Roosevelt. A consolidação do samba como carro-chefe da programação musical do rádio carioca foi marcada pela associação do gênero musical com a imagem dos artistas brancos, que mesmo quando proletarizados, eram mais palatáveis ao gosto médio do público, enquanto que o sambista negro pobre permaneceu normalmente à margem desse processo como mero fornecedor das composições para os grandes intérpretes brancos ou ainda como instrumentistas acompanhantes desses. Essa forte presença de intérpretes e compositores brancos foi também decisiva para a aceitação e a valorização do samba pelas elites econômicas e culturais do país. A partir disso, a classe média passou a reconhecer o valor do ritmo inventado pelos negros brasileiros. O Teatro Municipal da capital federal passou a ser palco de elegantes bailes de carnaval frequentados pela elite carioca. Tendo contato com o gênero popular a partir de rodas de samba e choro, o renomado maestro Heitor Villa-Lobos promoveu um encontro musical entre o maestro estadunidense Leopold Stokowski com os sambistas Cartola, Zé da Zilda, Zé Espinguela, Pixinguinha, Donga, João da Baiana e outros, no navio Uruguai, ancorado no píer Mauá em 1940. O resultado das gravações foi editado nos Estados Unidos em . Outro espaço elitizado da sociedade brasileira eram os cassinos, que tiveram seu auge no Brasil durante os anos 1930 e 1940. Além de trabalhar com jogos de azar, essas elegantes casas de diversões ofereciam serviços de restaurante e bar e eram palco de espetáculos – entre os quais o samba também figurava com destaque. Dessa forma, os cassinos firmavam contratos de exclusividade com grandes artistas, como foi o caso de Carmen Miranda como grande estrela do Cassino da Urca. Em acontecimento incomum ao universo dos sambistas do morro, o compositor Cartola e o Conjunto da Mangueira (com Geraldo Pereira e Aluísio Dias nos violões, Dona Neuma no coro, entre outros) apresentaram-se em temporada de um mês no luxuoso Cassino Atlântico, de Copacabana, em 1940. A consolidação do samba entre as elites brasileiras também foi influenciada pela valorização da ideologia da mestiçagem em voga com a construção do nacionalismo da época. De uma imagem de símbolo do atraso nacional, o mestiço transformou-se em representante das singularidades brasileiras, e o samba, com sua origem mestiça, acabou vinculado à construção da identidade nacional. Tendo atuado decisivamente para o crescimento do rádio no Brasil, o governo Vargas percebeu o samba como um elemento vital para a construção dessa ideia de mestiçagem. Especialmente sob o Estado Novo, cuja política cultural ideológica de reconceituar o popular e enaltecer tudo que fosse considerado expressão autêntica nacional, o samba foi alçado a posição de grande símbolo nacional do país e o ritmo oficial da pátria. No entanto, uma das preocupações do regime varguista era interferir na produção musical a fim de promover o samba como meio de socialização “pedagógica”, isto é, banindo composições que afrontassem a ética do regime. Nessa busca de “civilizar” o samba, entrou em ação órgãos políticos como o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) para encomendar sambas que exaltassem o trabalho e censurar letras que abordassem a boêmia e a malandragem, dois dos temas mais comuns à tradição do samba urbano carioca. Também foram instituídos concursos musicais através dos quais a opinião pública elegia os seus compositores e intérpretes favoritos. Sob Vargas, o samba teve um peso expressivo na construção de uma imagem do Brasil no exterior e foi um importante meio de divulgação cultural e turística do país. Em busca de reforçar uma imagem positiva nacional, tornou-se frequente a presença de renomados intérpretes do gênero em comitivas presidenciais a países latino-americanos. No final de 1937, os sambistas Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres participaram de uma caravana de artistas brasileiros a Montevidéu que se apresentou na Gran Exposición Feria Internacional del Uruguay. O governo brasileiro também financiou um programa informativo e de música popular chamado "Uma Hora do Brasil", produzido e irradiado pela , de Buenos Aires, que teve ao menos uma irradiação para a Alemanha nazista. Quando o regime de Vargas aproximou-se dos Estados Unidos, o DIP fez um acordo para a transmissão de programas de rádio brasileiro em centenas de emissoras da rede CBS. Sob esse contexto, o samba “Aquarela do Brasil” (de Ary Barroso) foi lançado no mercado dos Estados Unidos, tornando-se o primeiro sucesso musical brasileiro no exterior e uma das obras mais populares do cancioneiro popular nacional. Em meio a política da boa vizinhança, Walt Disney visitou a Portela em sua passagem pelo Brasil em 1941, de onde se aventou a hipótese de que Zé Carioca, personagem criado pelo cartunista para exprimir o jeito brasileiro, teria sido inspirado pela figura do sambista Paulo da Portela. A ascensão do samba como gênero musical popular no Brasil também contou com a sua divulgação no cinema brasileiro, especialmente nas comédias musicais, sendo parte integrante de trilha sonora, da trama ou mesmo tema principal da obra cinematográfica. A boa aceitação do público com o curta-metragem “A Voz do Carnaval” (de Adhemar Gonzaga) abriu caminho para diversas outras obras cinematográficas relacionadas ao ritmo, muitas das quais contavam com forte presença de intérpretes ídolos do rádio no elenco, como “Alô, Alô, Brasil!”, que teve as irmãs Carmen e Aurora Miranda, Francisco Alves, Mário Reis, Dircinha Batista, o Bando da Lua, Almirante, Lamartine Babo, entre outros. O advento dos populares filmes de chanchada tornou o cinema brasileiro um dos maiores divulgadores de músicas carnavalescas. Em um dos raros momentos em que sambistas do morro protagonizaram programas de rádio, Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres e Cartola comandaram o programa “A Voz do Morro”, na Rádio Cruzeiro do Sul, em 1941. Ali, eles apresentavam sambas inéditos cujos títulos eram dados pelos ouvintes. Contudo, no decorrer da década, o samba dos bambas cariocas foi perdendo espaço no rádio brasileiro para novos subgêneros que se formavam, enquanto figuras como Cartola e Ismael Silva foram caindo no ostracismo até saírem da cena musical no final da década de 1940. Novas vertentes comerciais do samba. Graças a sua exploração econômica através do rádio e do disco, o samba não apenas se profissionalizou, como também se diversificou em outras vertentes, muitas das quais distintas das matizes originárias dos morros cariocas e estabelecidas por interesses da indústria fonográfica nacional. Período da música do Brasil compreendido entre 1929 e 1945 marcado pela chegada do rádio e da gravação eletromagnética do som ao país e pela notabilização de grandes compositores e intérpretes, – a chamada “época de ouro” registrou diversas tipificações ao samba, algumas com maior e outras com menor solidez. Publicações dedicadas ao tema difundiram uma abrangente terminologia conceitual, incluindo denominações posteriormente consagradas em novos subgêneros – como o samba-canção, o samba-choro, o samba-enredo, o samba-exaltação, o samba-de-terreiro, o samba de breque –, bem como partituras registradas e etiquetas e capas de disco lançados estamparam variadas nomenclaturas para o samba na tentativa de expressar uma tendência funcional, rítmica ou temática – como samba à moda baiana, samba-batucada, samba-jongo, samba-maxixe –, embora algumas tenham soado bastante inconsistentes – como samba à moda agrião, samba de arrelia, samba do barulho, samba epistolar e samba fonético. Em outros casos, foi a crítica musical que imputou rótulos pejorativos com vistas a desaprovar determinadas alterações estéticas ou tendências de moda – como nos depreciativamente chamados sambalada e sambolero para nuances estilísticas o samba-canção. Consagrado na era radiofônica como um dos principais subgêneros do samba, o samba-canção nasceu entre os músicos profissionais que tocavam nos teatros de revista do Rio de Janeiro no final da década de 1920 e início da década de 1930. Embora o termo tenha começado a circular na imprensa em 1929 para designar equivocadamente composições amaxixadas “Jura”, de Sinhô, e “Diz que me amas”, de J. Machado, o marco inicial da vertente foi “Linda Flor (Ai, Ioiô)”, melodia de Henrique Vogeler e letra de Luis Peixoto, lançada no teatro de revista e em disco pela cantora Aracy Cortes. De uma forma geral, o samba-canção ficou marcado como uma variante de andamento mais lento, com uma dominância da linha melódica sobre a marcação rítmica que explora basicamente a temática da subjetividade e do sentimento. Como seus lançamentos ocorriam fora da época carnavalesca, a vertente ficou vinculada aos chamados “samba de meio de ano”. Contudo, durante os anos 1930, o termo samba-canção foi empregado para designar arbitrariamente muitas composições contidas essa denominação de “samba de meio de ano”, mas que não eram ainda sambas-canções propriamente ditos, sejam elas mais tristonhas a mais animadas. De outra parte, muitos sambas à época de seu lançamento seriam posteriormente reconhecidos como samba-canção, como o caso de obras de Noel Rosa e Ary Barroso. Não por acaso, Zuza Homem de Mello e Jairo Severiano consideram que o estilo foi verdadeiramente inaugurado com a segunda versão da canção “No rancho fundo”, com melodia de Ary Barroso e letra de Lamartine Babo. Basicamente, o Carnaval era reservado para o lançamento de marchinhas e sambas de enredo, variante tipificada dessa forma anos 1930 por causa da letra e da melodia, que devem compreender o resumo poético do tema escolhido pela escola de samba para o seu desfile carnavalesco. Diferente do samba-enredo, o samba de terreiro – ou também samba de quadra – era uma modalidade de samba de andamento curto, com a segunda parte mais comedida que prepara a virada da bateria para um retorno, mais vivo, ao início. Seu formato foi também consolidado na década de 1930. Também dessa época, o samba-choro – no princípio chamado de choro-canção ou choro cantado – era uma vertente sincopada híbrida de samba com o instrumental choro, mas com andamento médio e presença de letra. Criada pela indústria fonográfica brasileira, foi lançado, ao que tudo indica, com “Amor em excesso”, de Gadé e Valfrido Silva, em 1932. Um dos mais populares sambas dessa variante é “Carinhoso”, de Pixinguinha, lançado como choro em 1917, recebeu letra e acabou relançado duas décadas depois, na voz de Orlando Silva, com grande êxito comercial. Na década seguinte, o cavaquinista Waldir Azevedo popularizaria o chorinho, uma espécie de samba instrumental de andamento rápido. Difundido durante o Estado Novo, o samba-exaltação foi a uma modalidade marcada pelo caráter de grandiosidade, expresso notadamente pela melodia extensa, pela letra de tema patriótico-ufanista e pelo arranjo orquestral faustoso. O grande paradigma da vertente é “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso. A partir do sucesso da primeira versão gravada por Francisco Alves, em 1939, o samba-exaltação passou a ser bem cultivado por compositores profissionais do teatro musical e dos meios fonográfico e radiofônico. Outro samba dessa modalidade muito conhecido foi “Brasil Pandeiro”, de Assis Valente, grande sucesso com o grupo vocal Anjos do Inferno em 1941. Na virada para a década de 1940, surgiu o samba de breque, subgênero marcado pelo ritmo acentuadamente sincopado e pelas paradas súbitas chamadas breques (do inglês break, termo abrasileirado para breque, ou freios de automóveis), aos quais o intérprete encaixava comentários falados, geralmente de caráter humorístico, alusivos ao tema. O cantor Moreira da Silva consolidou-se como o grande nome dessa vertente. Hegemonia do samba-canção e influências musicais estrangeiras. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o consequente crescimento da produção de bens de consumo, os aparelhos de rádio propagaram-se no mercado brasileiro em diversos modelos e com preços acessíveis às diversas camadas da população brasileira. Dentro desse contexto, a radiodifusão nacional também atravessou um momento de mudança de linguagem e audiência que tornou o rádio um veículo ainda mais popular no Brasil. Em busca de uma comunicação mais fácil com o ouvinte, o padrão de programação ficou mais sensacionalista, melodramático e apelativo. Uma das melhores expressões desse novo formato e da nova audiência popular eram os programas de auditório e os concursos de “reis” e “rainha do rádio”. Embora cumprissem um papel na legitimação do samba como produto cultural e música símbolo nacional e também transformassem a cultura musical popular com a circulação de novos gêneros musicais e performances mais extrovertidas, programas de auditório como os paradigmáticos “Programa César de Alencar” e “Programa Manoel Barcelos” – ambos na Radio Nacional, líder em audiência e principal veículo de comunicação no país – fomentavam o culto da personalidade e da vida privada dos artistas, cujo ápice era o frenesi coletivo gerado em torno dos fã-clubes das estrelas da música popular durante os concursos de reis e rainhas do rádio. No meio do samba mais ligado às tradições do Estácio e dos morros, a década de 1950 foi marcada pela presença vitalizante de antigos e novos compositores que conduziram a renovação do gênero pelos próximos anos. Essa renovação esteve presente nos sambas de autores mais conhecidos do grande público como Geraldo Pereira e Wilson Batista, de sambistas menos conhecidos mas atuantes em suas comunidades, como Zé Kéti e Nelson Cavaquinho – compositor que estabeleceria uma grande parceria com Guilherme de Brito – e também de novos compositores, como Monsueto. Também se destacavam os sambas de breque de Jorge Veiga e, em São Paulo, os Demônios da Garoa consagravam os sambas de Adoniran Barbosa. Desaparecido por muitos anos, o sambista Cartola fora encontrado lavando carros em Ipanema pelo jornalista Sérgio Porto, que o levou para cantar na Rádio Mayrink Veiga e lhe conseguiu um emprego no Diário Carioca. Como parte dos festejos do Quarto Centenário da cidade de São Paulo, o compositor Almirante organizou o “Festival da Velha Guarda”, que reuniu grandes nomes da música popular brasileira então esquecidos, como Donga, Ismael Silva, João da Baiana e Pixinguinha. No entanto, o período compreendido entre a segunda metade da década de 1940 e o final da década de 1950 foi profundamente marcado pelo prestígio e domínio do samba-canção no cenário musical do Brasil. Embora em sua época de surgimento não tenha havido tantos lançamentos característicos dessa vertente, muitas alcançaram grande sucesso comercial e, já em meados dos anos 1940, esse subgênero começou a dominar a programação do rádio brasileiro e ser o estilo mais tocado fora da época carnavalesca. Essa ascensão do samba-canção como vertente musical hegemônica foi também acompanhada sobretudo pela avalanche de gêneros musicais estrangeiros – trazidos ao Brasil sob o contexto político-cultural da Segunda Guerra – que começaram a competir no mercado do país com o próprio samba-canção. O tango e, principalmente, o bolero que ocupavam parte significativa da programação radiofônica se proliferavam por clubes e salões de dança do Rio de Janeiro e de São Paulo. A música dos Estados Unidos também passou a ocupar grande parte das programações das emissoras de rádio brasileiras. Com as big bands em evidência, algumas rádios faziam grande grande divulgação do jazz, gênero que adquiria cada vez mais apreço entre alguns músicos cariocas, mormente aqueles que trabalhavam nas boates. Em ritmo de samba-canção, muitos boleros, foxes e canções francesas também faziam parte do repertório dos pianistas das boates. Sob o influxo da forte penetração desses gêneros importados, o próprio samba-canção do pós-guerra acabou influenciado por esses ritmos. Em certos casos, a mudança ocorreu por meio de um tratamento musical baseado nos timbres do cool jazz e performances vocais mais contidas, e estruturas melódico-harmônicas mais complexas, distintas, portanto, da sensualidade rítmico-corpórea do samba tradicional. Em outros casos, foi com a forte passionalidade exercida pelo bolero e por baladas comerciais estrangeiras. Ambas influências desagradavam os críticos mais tradicionalistas: no primeiro, acusavam o samba-canção de ter se “jazzificado”, especialmente pelos sofisticados arranjos de orquestra; no segundo, o andamento ainda mais lento e romântico da vertente levou a rótulos pejorativos como “sambolero” ou “sambalada”. De fato, os acompanhamentos orquestrais do samba-canção nesse tempo ficaram marcados por arranjos contendo sopros e cordas que substituíam os tradicionais regionais e possibilitavam uma dramatização nos arranjos em conformidade com o tema das canções e a expressividade dos intérpretes. Se para alguns críticos esses atributos orquestrais e melódico-harmônicos do samba-canção moderno dos anos 1950 eram oriundos da cultura norte-americana do pós-guerra, para outros essa influência era muito mais latino-americanos do que norte-americanos. Outra marca estética da vertente no período era a performance vocal dos intérpretes desta música, ora mais inclinados à potência e expressividade líricas, ora mais apoiados sobre um canto entoativo e próximo da dinâmica coloquial. Com uma nova geração de intérpretes surgida no pós-guerra, o cenário musical brasileiro foi tomado pelos sambas-canções de “fossa” e “dor de cotovelo” na década de 1950. A vertente estava dividida entre uma geração mais tradicional e outra mais moderna. Se no primeiro grupo estavam compositores como Lupicínio Rodrigues e Herivelto Martins e intérpretes como Nelson Gonçalves, Dalva de Oliveira, Angela Maria, Jamelão, Cauby Peixoto e Elizeth Cardoso, o segundo grupo tinha como principais expoentes Dick Farney, Lúcio Alves, Tito Madi, Nora Ney, Dolores Duran, Maysa e Sylvia Telles, dentre outros. O samba-canção moderno também fez parte de uma fase da carreira de Dorival Caymmi e do início da obra musical de Tom Jobim, um dos grandes nomes da nova vertente do samba que marcaria estilisticamente o gênero e a própria música brasileira nos próximos anos. Bossa nova, a nova revolução no samba. O período compreendido entre a posse de Juscelino Kubitschek, em 1956, até a crise política no governo João Goulart que culminou no Golpe de Estado no Brasil em 1964, foi marcado por grande efervescência da cena musical brasileira, em especial no Rio de Janeiro. Embora tenha perdido a condição de capital do país após a inauguração de Brasília, a cidade manteve sua posição de grande polo cultural do país e do samba urbano, cujas transformações no ambiente do rádio, da indústria fonográfica, das casas noturnas e entre os círculos da juventude de classe média universitária resultaram na bossa nova – termo pelo qual ficou conhecido um novo estilo de acompanhamento rítmico e interpretação do samba difundido a partir da zona sul do Rio de Janeiro. Em um momento em que o apelo ao tradicional ganhava um novo impulso, a bossa nova marcaria toda a estrutura de criação e audição apoiada nos gêneros estabelecidos, tendo em vista que buscava uma renovação dentro da tradição do samba. Inicialmente chamado de “samba moderno” pela crítica musical nacional, essa nova vertente foi inaugurada oficialmente com a composição “Chega de Saudade”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, lançada em 1958 em duas versões: uma interpretada por Elizeth Cardoso e outra com o cantor e violonista João Gilberto. Baiano radicado no Rio, João Gilberto mudou radicalmente a forma de interpretar o samba até então, modificando as harmonias com a introdução de acordes de violão não convencionais e revolucionando a síncope clássica do gênero com uma divisão rítmica única. Essas experiências formais gilbertianas foram consolidadas no LP Chega de Saudade, lançado em 1959, e desencadearam o surgimento de um movimento artístico em torno de João Gilberto com artistas profissionais como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Alaíde Costa, Sylvia Telles, entre outros, que atraiu jovens músicos amadores da zona sul carioca – quase todos oriundos da classe média e com formação universitária – como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli. Consolidada nos anos seguintes como um tipo de samba de concerto, não dançante, e comparável ao cool jazz estadunidense, a bossa nova tornou-se uma vertente sambística de grande reputação no cenário nacional e, com seu ritmo, mais assimilável pelo estrangeiro do que o do samba tradicional, se tornou conhecida mundialmente. Depois de ser lançada no mercado estadunidense em uma série de concertos em Nova Iorque no final de 1962, foram editados discos brasileiros de bossa nova em diversos países, gravaram-se outros, e compuseram-se novas canções, inclusive com artistas estrangeiros. Várias dessas obras – com o samba “Garota de Ipanema”, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, à frente – converteram-se em grandes sucessos internacionais. Contudo, em meio à turbulência que marcava o cenário político brasileiro da época, o movimento sofreu uma dissidência, que resultou na chamada “corrente nacionalista”. Com a pretensão de realizar uma obra mais engajada e em sintonia com o contexto social do período, os bossa-novistas nacionalistas formaram-se em torno de Nara Leão, Carlos Lyra, Sergio Ricardo, Edu Lobo, e da parceria entre Vinicius de Moraes e Baden Powell, estes dois últimos firmando uma fértil parceria que resultou no LP “Os Afro-sambas”, de boa repercussão internacional. Além da bossa, emergiram outras vertentes de samba nesse período entre o final dos anos 1950 e começo da década de 1960. Com a ascensão das boates como os grandes espaços de diversão noturna no Rio, difundiram-se espetáculos como shows de variedades com a participação de ritmistas e passistas do samba e apresentações musicais para dançar, principalmente executadas por conjuntos instrumentais com teclado, guitarra, contrabaixo acústico, bateria e percussão, e interpretados por crooners. Moda na década de 1960, esse formato de “samba para dançar” resultou em estilos como o sambalanço – um tipo de samba bem animado e dançante, do qual se destacaram músicos como Ed Lincoln e intérpretes como Silvio Cesar, Pedrinho Rodrigues, Orlandivo, Miltinho e Elza Soares. Nesse mesmo ambiente, também surgiu o samba-jazz, vertente consolidada com o sucesso da bossa nova que aproximou o samba com o jazz bebop, tendo inicialmente como base a trinca instrumental piano-baixo-bateria e posteriormente formações mais amplas. Também sob esse novo contexto musical, o compositor Jorge Ben despontou com seu peculiar e híbrido jeito de tocar samba, mesclando elementos da bossa nova e do blues e do rock’n’roll estadunidenses e que levaria, inclusive, sambas como “Mas que nada” e “Chove Chuva”, lançados por Sergio Mendes e o conjunto Brazil 66, às paradas de sucesso dos Estados Unidos. E, no final da década de 1960, surgiu o samba-funk, capitaneado pelo pianista Dom Salvador e o seu Grupo Abolição, que mesclava os compassos binário do samba e o quaternário do funk estadunidense recém-chegado ao mercado musical brasileiro. O período também ficou marcado pela grande profusão de danças performáticas em par de samba. Foram os casos do samba de gafieira, estilo de dança desenvolvida nos bailes de clubes suburbanos cariocas frequentados por pessoas de baixo poder aquisitivo ao longo dos anos 1940 e 1950 e que se tornou modismo também entre pessoas de classe média alta nos anos 1960, e o samba rock, estilo de dança nascido nos bailes da periferia paulistana na década de 1960, misturando passos vindos do samba, do rock e de ritmos caribenhos como a rumba e a salsa. Os “bailes blacks” viveram seu auge notadamente no Rio e em São Paulo na década de 1970, época de grande profusão da cultura musical negra oriunda dos Estados Unidos, em torno da qual se divulgavam tais bailes. Isso também gerou um novo debate sobre a influência estrangeira na música brasileira e também do próprio samba. O samba como “música de resistência”. Em 1962, era tornado público a “Carta do samba”, documento redigido pelo escritor Édison Carneiro que expressava a necessidade de preservar características tradicionais do samba, como a síncopa, sem, no entanto, “lhe negar ou tirar espontaneidade e perspectivas de progresso”. Esse manuscrito veio ao encontro de uma série de circunstâncias que fizeram com que o samba urbano tradicional fosse não apenas revalorizado em diversos círculos culturais brasileiros, como também passasse a ser considerado por esses como uma espécie "música de resistência" contra-hegemonia musical no rádio carioca da época. Em uma década marcada no mercado fonográfico brasileiro pelo domínio do rock internacional e da sua variante brasileira, a Jovem Guarda, esse samba teria começado a ser visto como expressão da maior autenticidade e pureza do gênero, o que levou a criação de termos como “samba autêntico”, “samba de morro”, “samba de raiz” ou ainda “samba de verdade”. Uma das maiores expressões desse “samba de resistência” na primeira metade da década de 1960 foi o Zicartola, um bar aberto em um sobrado da Rua da Carioca no ano de 1963. Iniciativa do sambista Cartola e de sua companheira Dona Zica, o Zicartola transformou-se em pouco tempo em um famoso ponto de encontro de sambistas da velha guarda, o que atraiu a frequência de muitos estudantes e intelectuais da esquerda carioca, e se tornou célebre por suas noitadas de samba que, além de revelar novos talentos, como Paulinho da Viola, reavivaram as carreiras de antigos compositores então no ostracismo do mercado fonográfico. Em fevereiro de 1964, ano do golpe militar, era lançado Nara, álbum de estreia de Nara Leão, que incluía sambas de compositores do samba tradicional como Cartola, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Zê Kéti, além de sambas da corrente mais nacionalista da bossa nova. E no final desse ano, a cantora bossa-novista reuniu-se com Zé Kéti e João do Vale para o espetáculo musical Show Opinião, que se tornou uma referência como manifestação artística em protesto ao regime autoritário instaurado. No ano seguinte, o compositor Hermínio Bello de Carvalho produziu o show Rosa de Ouro, espetáculo musical que lançava para o grande público a sexagenária Clementina de Jesus. Era o nascimento da carreira artística profissional de uma das vozes mais expressivas da história do samba, marcada por um repertório voltado às matrizes africanas do universo do samba, como jongos, curimbas, lundus e sambas da tradição rural. O conjunto de acompanhamento à Clementina nesse espetáculo foi composto por Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho e Nelson Sargento. Conhecidos à época como “conjuntos regionais”, essas formações à base de violão, cavaquinho e pandeiro, e ocasionalmente algum instrumento de sopro, foram revalorizadas e ficaram associadas a ideia de um samba mais autêntico e genuíno. A partir daí, a ideia de formar grupos vocais-instrumentais de samba para apresentações profissionais amadureceu e, com o sucesso obtido por conjuntos como A Voz do Morro e Os Cinco Crioulos, impulsionou a criação de outros grupos compostos apenas por sambistas com relação direta ou indireta com as escolas de samba nos anos seguintes, como os grupos Os Originais do Samba, Nosso Samba, Brasil Ritmo 67, Os Batuqueiros, Exporta-samba, entre outros. Outros dois espetáculos significativos desse momento de revalorização estética do samba urbano carioca tradicional foram “Telecoteco opus N°1”, com Cyro Monteiro e Dilermando Pinheiro, que ficou cartaz no Teatro Opinião, e “O samba pede passagem”, que reuniu os veteranos Ismael Silva e Aracy de Almeida com os jovens Baden Powell, Sidney Miller e MPB4, entre outros. Nesse contexto da efervescência dos movimentos de resistência do samba, surgiu o programa “Adelzon Alves, o amigo da madrugada”. Apresentado pelo radialista Adelzon Alves na Rádio Globo do Rio de Janeiro, o programa dedicava um repertório exclusivamente dedicado ao gênero – em um cenário no qual o rádio ante a supremacia da televisão como grande meio de comunicação do Brasil havia se convertido em um divulgador de músicas gravadas em disco. Frente a hegemonia do rock estrangeiro e da Jovem Guarda especialmente por influência das gravadoras nas emissoras comerciais do país, o programa de Adelzon Alves tornou-se o principal porta-voz do samba e dos sambistas cariocas no meio radiofusor e grande propagador de termos, que repercutem até hoje, referentes ao legado do universo do “samba do morro” como música nacional “de resistência” e “de raiz”. Além da força da Jovem Guarda, movimento catapultado pelo programa homônimo exibido pela TV Record, a música brasileira vivenciava o surgimento de uma nova geração de artistas pós-bossa-novistas que, consagrados no âmbito da era dos “festivais da canção”, se tornou o embrião da chamada MPB. Um desses nomes mais notáveis foi o compositor Chico Buarque de Hollanda, autor de sambas como “Apesar de você”, que se tornaram clássicos do gênero. Na contramão das disputas ideológicas entre o violão brasileiro e as guitarras da música internacionalizada que marcaram esses festivais, o sambista iniciante Martinho da Vila inscreveu “Menina moça”, um partido-alto estilizado, no terceiro Festival de Música Popular Brasileira em 1967. Embora eliminado precocemente dessa competição, a canção projetou o nome de Martinho na cena musical da época, cujos êxitos seguintes abriram caminho para a afirmação no mercado fonográfico desse tipo de samba marcado por refrão forte e, normalmente, três partes soladas. Como a orientação estética voltada à música jovem da época, esses “festivais da canção” praticamente ignoraram o velho samba, o que gerou críticas de sambistas como Elton Medeiros, que reivindicava a inclusão da “verdadeira música brasileira” nessas competições musicais. Na contracorrente dessa tendência, ocorreu a primeira Bienal do Samba em 1968, ano também marcado pelo lançamento do primeiro disco solo de Paulinho da Viola e também de um outro álbum desse compositor em dupla com Elton Medeiros. No início da década seguinte, Paulinho consolidava seu prestígio com sucesso comercial do samba “Foi um rio que passou na minha vida” e também como produtor do primeiro registro fonográfico do conjunto da Velha Guarda da Portela. O samba na expansão da indústria fonográfica. Entre 1968 e 1979, o Brasil passou por um grande crescimento da produção e do consumo de bens culturais. Neste período, houve uma forte expansão da indústria fonográfica no país, que se consolidava como um dos maiores mercados mundiais. Dentre os principais fatores para a expansão do mercado brasileiro, estavam: a consolidação da produção de MPB estimulado por artistas como Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethania, e também do segmento das canções românticas, puxado pelo campeão de vendagens Roberto Carlos; o estabelecimento do LP como formato dominante, onde era possível inserir várias composições em um mesmo disco, e também tornava o artista mais importante do que suas canções individualmente; a significativa participação da música estrangeira no mercado, com o predomínio de música jovem nas paradas de sucesso e o crescimento do repertório internacional nas trilhas de telenovelas, principalmente da TV Globo. Outro aspecto importante no setor fonográfico do período foi o tecnológico, com uma modernização dos estúdios de gravação no Brasil que se aproximava dos padrões técnicos internacionais, e ainda a consolidação de gravadoras estrangeiras no país, como a EMI (que compraria a brasileira Odeon) e a WEA. Esse verdadeiro ingresso do Brasil no âmbito da indústria cultural global também afetou profundamente o universo do samba, que se tornou um dos fenômenos de massas do mercado musical nacional dessa década representado pela aparição, na lista de discos mais vendidos no período, de LPs de Martinho da Vila, Originais do Samba, Agepê, Beth Carvalho, Clara Nunes, Alcione, Jair Rodrigues e Benito de Paula, entre outros, e de sambas de enredo das escolas cariocas do Grupo I. No reduto do samba tradicional, foram lançados os primeiros LPs dos veteranos compositores Donga, Cartola e Nelson Cavaquinho. Outros dois compositores já consagrados nesse ambiente, Candeia e Dona Ivone Lara também estrearam com trabalhos solo no mercado fonográfico. O mesmo ocorreu em São Paulo com os lançamentos dos primeiros álbuns de estúdio de Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini. Revelados na década anterior, os sambistas Paulinho da Viola e Martinho da Vila consolidaram-se como dois dos grandes nomes de sucesso do mundo do samba nos anos 1970, que também viu o surgimento dos cantores Roberto Ribeiro e João Nogueira. Entre as intérpretes da nova geração, despontaram os nomes de Clara Nunes, Beth Carvalho e Alcione como as grandes cantoras de samba no mercado fonográfico brasileiro, cujas boas vendagens de discos – marcados pela valorização de músicas dos compositores das escolas de samba cariocas – contribuíram sobremodo para a popularidade do samba. A esse “ABC do samba” também se somaram Leci Brandão, que já ostentava a condição de membro da ala de compositores da Mangueira, e Cristina Buarque, com um trabalho de resgate a sambas e sambistas das escolas de samba. Dos novos compositores, destacaram-se Paulo Cesar Pinheiro, Nei Lopes, Wilson Moreira, além da dupla Aldir Blanc e João Bosco. Sob esse mesmo contexto da expansão do samba no mercado fonográfico brasileiro da década de 1970, a indústria fonográfica investiu em uma linha menos tradicional e mais romântica de samba, cuja estrutura rítmica simplificada deixava a percussão – o principal traço do samba – um pouco de lado. Rejeitado como brega tanto por parte de músicos mais conceituados do país quanto por parte da crítica, essa fórmula ficou estigmatizada sob o rótulo depreciativo de “sambão-joia”. A despeito disso, esse samba mais romântico transformou-se em um grande sucesso comercial no repertório de cantores como Luiz Ayrão, Luiz Américo, Gilson de Souza, Benito Di Paula e Agepê, bem como da dupla Antonio Carlos e Jocafi, autores do mundialmente famoso samba “Você abusou”. Outra aposta da indústria fonográfica da época foi em discos de partido-alto, tradicional forma do samba muito cantada nos terreiros (posteriormente quadras) das escolas de samba cariocas e nos habituais “pagodes” – confraternizações festivas, regadas a música, comida e bebida – desde as primeiras décadas do século XX. De remotas raízes africanas, a vertente é caracterizada por uma batida de pandeiro altamente percussiva (com uso da palma da mão no centro do instrumento para estalos), uma harmonia em tom maior (geralmente tocado por um conjunto de instrumentos de percussão normalmente surdo, pandeiro e tamborim e acompanhado por um cavaquinho e/ou por um violão) e pela arte de cantar e criar versos de improviso, quase sempre em caráter de desafio ou disputa. Essa essência baseada na improvisação foi levada aos estúdios das gravadoras brasileiras, onde o partido-alto converteu-se em um estilo dotado de mais musicalidade e feito com versos mais concisos e solos escritos, em vez da cantoria improvisada e espontânea conforme os cânones tradicionais. Esse partido-alto estilizado foi lançado em vários LPs coletivos, lançados no decorrer da década de 1970, cujos títulos traziam embutido o próprio nome do subgênero, como “Bambas do partido alto”, “A fina flor do partido alto” e “Isto que é partido alto”, que incluíram sambistas como Anézio, Aniceto, Candeia, Casquinha, Joãozinho da Pecadora, Luiz Grande e Wilson Moreira, embora nem todos fossem versados na arte do improviso. Outro artista que se destacou como partideiro foi Bezerra da Silva, intérprete que se notabilizaria na década seguinte com sambas análogos ao partido-alto e tematizados no mundo e no submundo das favelas cariocas. A década de 1970 foi também um momento de grandes transformações nas escolas de samba cariocas. Acompanhando de perto essas mudanças, a indústria fonográfica começou a investir na produção anual de LPs dos sambas de enredo apresentados nos desfile carnavalescos. Nos primeiros anos, era comum o lançamento de até dois discos o primeiro contendo os sambas de enredo dos desfiles e o segundo com sambas alusivos a história de cada escola. A partir de 1974, o lançamento anual passou a se concentrar em um único LP para cada a primeira e segunda divisão. Ainda nesse período, começava a se difundir como moda rodas de samba pelo Rio de Janeiro e por outras cidades brasileiras. Originalmente restritas a quintais de residências de sambistas e aos terreiros/quadras das escolas de samba, essas reuniões informais ganharam um novo sentido em clubes esportivos e recreativos, teatros de arena, churrascarias, entre outros, com a promoção de rodas com palco e microfones e a participação de sambistas ligados às escolas. Enquanto isso, novas rodas musicais eram formadas informalmente nos subúrbios cariocas, cujo resultado levaria ao gérmen, no final da década de 1970, de uma nova e bem sucedida vertente do samba urbano nos anos 1980. Pagode, a nova renovação do samba. Designado originariamente no universo do samba carioca para os encontros musicais de sambistas e, logo, também se ampliando aos sambas neles cantados, o termo pagode popularizou-se com a ressignificação das rodas de samba no Rio de Janeiro, a partir da década de 1970, com os “pagodes de mesa”, onde os sambistas reuniam-se ao redor de uma grande mesa, situada frequentemente em um “fundo de quintal” residencial, em oposição às rodas de samba em voga feitas em clubes e afins. Alguns dos mais afamados pagodes da cidade eram o pagode do Clube do Samba (feito na residência de João Nogueira no Méier), do Terreirão da Tia Doca (com os ensaios da Velha Guarda da Portela em Oswaldo Cruz), do Pagode do Arlindinho (organizado por Arlindo Cruz em Cascadura) e, principalmente, do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, na zona suburbana da Leopoldina. Na década de 1980, os pagodes viraram uma febre em todo o Rio de Janeiro. E, muito além que simples locais de divertimento, tornavam-se centros irradiadores de uma nova linguagem musical que se expressou com um novo estilo interpretativo e totalmente renovado de samba fincado à tradição do partido-alto. Dentre as inovações desse novo samba e marcado pelo requinte nas melodias e por inovações na harmonia e na percussão com o acompanhamento de instrumentos como o tantã (em lugar do surdo), o repique e o banjo de quatro cordas com afinação de cavaquinho. A estreia do samba desses pagodes do Cacique de Ramos nos estúdios de gravação ocorreu em 1980 com o Fundo de Quintal, conjunto musical apadrinhado por Beth Carvalho. Já em seus primeiros trabalhos, o Fundo de Quintal deu visibilidade não somente a esse novo samba, como também a compositores como Almir Guineto, Arlindo Cruz, Sombrinha, Jorge Aragão – todos eles integrantes do grupo – e Luiz Carlos da Vila – este ligado ao pagodes do Cacique de Ramos. Ao caminho aberto pelo Fundo de Quintal, foi lançado em 1985 o disco coletivo “Raça Brasileira”, que revelou ao grande público intérpretes como Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho. Priorizando especialmente sambas da vertente partido-alto, esse LP, assim como os trabalhos desde 1979 de Beth Carvalho, de Almir Guineto e do grupo Fundo de Quintal, formataram o novo estilo que acabou denominado pelo mercado musical como pagode. A novidade do pagode no cenário musical do Brasil ocorreu em um momento de grande reorganização da indústria fonográfica no país, cujos investimentos na primeira metade da década tinham sido concentrado sobretudo no rock brasileiro e na música infantil. Embora alguns artistas do samba tivessem tido algum sucesso comercial no período, como Bezerra da Silva, Almir Guineto e Agepê – que, em 1984, se tornou o primeiro intérprete de samba a superar a marca de 1 milhão de cópias vendidas em um único LP –, o momento não era promissor para o samba no âmbito comercial. Intérpretes bem populares como Beth Carvalho, Clara Nunes, João Nogueira e Roberto Ribeiro puxaram a queda nas vendas de discos do gênero. Desgostoso pelo pouco reconhecimento e interesse na divulgação de sua obra, Paulinho da Viola deixou a gravadora Warner em 1984 e só voltou a ter um álbum lançado no final daquela década. Com o êxito do LP “Raça Brasileira”, o fenômeno pagode viveu um período de ascensão comercial no mercado fonográfico do Brasil. Os principais artistas da vertente alcançaram o topo das paradas de sucesso e se tornaram conhecidos nacionalmente graças a exposição na grande mídia e dos investimentos crescentes das gravadoras estimulados pelas grandes vendagens a partir de 1986, puxados tanto pelos LPs dos já estabelecidos Almir Guineto e Fundo de Quintal – o grande paradigma do subgênero – quanto pelos trabalhos de estreia de Zeca Pagodinho, Marquinhos Satã e Jovelina Pérola Negra. Embora tenha havido um certo arrefecimento do interesse das gravadoras e dos meios de comunicação ainda no decorrer da segunda metade dos anos 1980, o pagode firmou-se como um importante subgênero do samba. Na década de 1990, surgiu uma nova geração de artistas que compartilhavam, até certo ponto, algumas características afins, como a incorporação de elementos musicais tradicionalmente incomuns ao universo do samba, e um repertório dedicado em boa parte a letras românticas. Inicialmente tido pelo mercado fonográfico e pelos meios de comunicação como uma continuidade do pagode da década anterior, essa nova onda foi caracterizada, posteriormente, sob o rótulo de “pagode romântico” – ou também “pagode paulista”, devido ao grande número de artistas dessa cena que despontaram, principalmente, de São Paulo, embora tenha havido também nomes oriundos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Essa distinção foi estabelecida justamente porque o samba interpretado por esses novos artistas e grupos musicais – ainda que mantivesse algumas semelhanças com o padrão consagrado pelo Fundo de Quintal – não tinha como maior referencial musical os sambistas da década anterior nem guardava aspectos tradicionais e informais de matrizes do samba urbano. Por exemplo, as produções de estúdio de boa parte desses grupos, como o Raça Negra, abria mão do uso de instrumentos comuns ao pagode dos anos 1980 – como o repique de mão, o tantã e o banjo – em troca de instrumentação característica da música pop internacional daquele período, sobretudo o saxofone e o teclado eletrônico. O emprego destes instrumentos da música pop foi menos ou mais comum a cada grupo, mas sua finalidade era a mesma, ou seja, o uso de samplers e teclados reproduzir o som de diversos instrumentos. A despeito dessas diluições, o “pagode romântico” conquistou grande êxito comercial no mercado fonográfico e espaço nos meios de comunicação de massa, colocando em evidência conjuntos como Art Popular, Negritude Jr, Exaltasamba, Katinguelê, Raça Negra, Só Pra Contrariar, Soweto, entre outros. O samba no século XXI. Durante a segunda metade da década de 1990, o aumento da venda ilegal de fitas cassetes e, principalmente, compact discs provocou uma profunda crise na indústria fonográfica no Brasil, que se agravou, a partir da década de 2000, com a possibilidade do download digital, muitas vezes gratuito, de obras musicais via internet. Nesse contexto, houve uma queda vertiginosa na comercialização de discos oficiais de samba e suas vertentes, especialmente o pagode. Grupos de grande êxito comercial na década de 1990, como Raça Negra e Só Pra Contrariar, viram suas vendagens caírem substancialmente na virada para os anos 2000. Em adição, em um espaço de poucas décadas, as execuções de samba nos meios de difusão diminuíram, sendo que o gênero é quase sempre representado pela vertente pagode nas listagens. Dos 100 artistas mais ouvidos nas rádios brasileiras entre 2010 e 2019 da Crowley Official Broadcast Chart, apenas 11 eram do samba - e todos do pagode. Em um outro levantamento, feito em conjunto entre a Kantar Ibope e a Crowley Broadcast Analysis, o pagode correspondia apenas 9% da audiência de rádio no Brasil em 2019, bem distante da dominante música sertaneja, cuja fatia representava cerca um terço da audiência radiofônica no país. Ainda assim, as primeiras duas décadas do século XXI confirmaram o pagode como referência hegemônica de samba como projeção comercial. No primeiro decênio desse século, surgiram novos artistas que se destacaram comercialmente, como os grupos Revelação, Sorriso Maroto e Turma do Pagode, e de alguns intérpretes que deixaram seus conjuntos originais para se lançar em carreira solo, como Péricles (ex-Exaltasamba), Belo (ex-Soweto) e Alexandre Pires (ex-Só Pra Contrariar). Na década seguinte, foi a vez de despontarem Xande de Pilares e Thiaguinho, ex-vocalistas do Revelação e Exaltasamba respectivamente, e dos cantores Mumuzinho, Ferrugem e Dilsinho. Uma característica comum a todos estes artistas foi a quantidade significativa de lançamentos de álbuns ao vivo com registros de shows. Isso ganhou ainda maior força com o desenvolvimento do streaming, plataforma para música digital que se popularizou na década de 2010. Fora do âmbito hegemônico comercial do subgênero pagode, o final da década de 1990 foi também um período de grande visibilidade e notoriedade do samba mais tradicional na cidade do Rio de Janeiro. Uma nova geração de músicos emergiu em rodas de samba que se espalharam por vários bairros da cidade, em especial na Lapa, região central da cidade que passou a concentrar diversos bares e restaurantes com música ao vivo. Por ter se identificado com o bairro boêmio, esse movimento ficou conhecido informalmente como “samba da Lapa”. Com um repertórios composto por clássicos do gênero e sem concessões a vertentes mais modernas, esse novo circuito promoveu o encontro entre músicos iniciantes e veteranos de diversas gerações de sambistas, todas identificadas com os elementos tradicionais que compõem o samba urbano carioca. Dentre alguns artistas que atuavam no âmbito de rodas de samba desse bairro, estavam Teresa Cristina e o grupo Semente, Nilze Carvalho e o Sururu na Roda, Luciane Menezes e o Dobrando a Esquina, Eduardo Gallotti e os Anjos da Lua, entre outros, além de veteranos como Áurea Martins. E, mais tarde, surgiram Edu Krieger e Moyseis Marques. Outras novos artistas ligados às tradições do samba, mas sem vínculos diretos com o movimento da Lapa carioca, que surgiram foram Dudu Nobre e Diogo Nogueira, além de Fabiana Cozza em São Paulo. No campo institucional, o Iphan declarou em 2007 o samba urbano carioca e suas matrizes samba de terreiro, partido-alto e samba-enredo do samba carioca como patrimônio cultural imaterial brasileiro. Instrumentos do samba urbano. Com ritmo basicamente 2/4 e andamento variado, o samba urbano é tocado basicamente por instrumentos de percussão e acompanhado por instrumentos de corda. Em determinadas vertentes, foram acrescentados outros instrumentos de sopro.
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Triângulo (desambiguação)
Triângulo (desambiguação) Em geografia: Em iconografia: Em matemática: Outros significados:
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MacOS
MacOS macOS (; anteriormente Mac OS X e posteriormente OS X, na fase de desenvolvimento inicialmente chamado Rhapsody Project) é um sistema operativo proprietário desenvolvido e distribuído pela empresa Apple Inc. desde 2001 e destinado exclusivamente aos computadores Mac. Dentro do mercado de desktops, laptops e pelo uso da web, é o segundo sistema operacional desktop mais usado, depois do Microsoft Windows. A última versão do OS X possui certificação UNIX. Até a versão 10.8 (Mountain Lion) chamava-se de Mac OS X, e entre esta e a versão 10.11 (El Capitan) chamava-se OS X. O macOS é a segunda grande série de sistemas operacionais Macintosh. O primeiro é coloquialmente chamado de Mac OS Classic, introduzido em 1984, o último lançamento desse sistema foi o Mac OS 9 em 1999. A primeira versão para desktop, o Mac OS X 10.0, foi lançada em março de 2001, com sua primeira atualização, a 10.1, chegando ainda naquele ano. Depois disso, a Apple começou a nomear seus lançamentos com nome de felinos, que duraram até OS X 10.8 Mountain Lion. A partir do OS X 10.9 Mavericks, os lançamentos foram nomeados em homenagem a locais na Califórnia. A Apple encurtou o nome de "Mac OS X" para "OS X" em 2012 e depois alterou para "macOS" em 2016, adotando a nomenclatura que eles estavam usando para seus outros sistemas operacionais como, iOS, watchOS e tvOS. A versão mais recente é do macOS Ventura, que foi lançado publicamente para todos os usuários em 2022. Assim, o macOS, lançado inicialmente pela Apple Computer em 2001, é uma combinação do Darwin (um núcleo derivado do micronúcleo Mach) com uma renovada GUI chamada Aqua. Os lançamentos do Mac OS X de 1999 até 2005 foram lançados nos Macs baseados em processadores PowerPC. A Apple anunciou em 2006 que a partir daquele ano a empresa adotaria a arquitetura Intel, as versões posteriores do sistema foram lançadas para os Macs baseados em Intel com processadores de 32 bits e atualmente de 64 bits. Em 2020, ocorreu uma nova transição de arquitetura, o macOS 11 Big Sur adotou uma arquitetura chamada Apple Silicon baseada em ARM de 64 bits apesar disso, os Macs com processadores Intel de 64 bits ainda receberão suporte limitado pela empresa. Descrição. O macOS apresenta uma grande mudança em relação aos sistemas operacionais anteriores do Macintosh e o código que é a base do sistema é completamente diferente das versões anteriores. Apesar da maioria das alterações estarem nos "bastidores" do sistema operacional, a interface gráfica de usuário Aqua é o novo recurso mais visível. O uso de bordas arredondadas, cores translúcidas e outros adereços trouxe mais cores e texturas às janelas e controles do Desktop do que a interface Platinum do OS 9. Inicialmente isso gerou bastante controvérsia entre os usuários, com uns alegando que a interface tinha ficado "como um brinquedo" e com falta de profissionalismo; outros alegando que era "outra grande inovação da Apple". O visual é instantaneamente reconhecível e antes mesmo do lançamento da primeira versão do macOS, outros desenvolvedores começaram a produzir "skins" para aplicativos personalizáveis como o Winamp para ficarem mais parecidos com o visual Aqua. A Apple ameaçou processar pessoas que fazem ou distribuem programas que oferecem uma interface que eles dizem ser derivada de seu design patenteado. O núcleo do macOS é um sistema operacional certificado Unix, construído em torno de um núcleo XNU com recursos básicos Unix acessíveis por meio de uma interface de linha de comando. Pouco antes do lançamento do Mac OS X a Apple lançou esse núcleo como Darwin. Baseando-se nesse núcleo, a Apple projetou e desenvolveu um número de componentes de código fechado (closed source) de licença proprietária, incluindo a interface Aqua e o Finder (o sistema de gerenciamento de arquivos). A combinação da interface amigável e o poder do núcleo open source Darwin/BSD tornaram o Mac OS X o ambiente Unix mais bem vendido até hoje em número de computadores vendidos. História. Desenvolvimento. A herança do que viria a ser macOS teve origem na NeXT, uma empresa fundada por Steve Jobs após a sua saída da Apple em 1985. Lá, o sistema operacional Unix-like NeXTSTEP foi desenvolvido e lançado em 1989. O kernel do NeXTSTEP é baseado no kernel Mach, que foi originalmente desenvolvido na Carnegie Mellon University, com camadas adicionais de kernel e código de espaço de usuário de baixo nível, derivado de partes do BSD. Sua interface gráfica de usuário foi construída sobre uma GUI toolkit orientado a objetos usando a linguagem de programação Objective-C. No início dos anos 90, a Apple tentou criar um OS de "próxima geração" para suceder seu Mac OS clássico através dos projetos Taligent, Copland e Gershwin, mas todos eles foram abandonados. Isso levou a Apple a comprar o NeXTEP em 1996, permitindo que o NeXTSTEP, então chamado OpenStep, servisse como base para o sistema operacional de próxima geração da Apple. Essa compra também levou Steve Jobs a retornar à Apple como um interino, na época, o então CEO permanente da empresa, pastoreou a transformação do OpenStep pelos programadores em um sistema que seria adotado, pelo mercado primário da Apple, para usuários domésticos e profissionais criativos. O projeto foi inicialmente chamado de "Rhapsody" e depois oficialmente chamado de "Mac OS X". Lançamento do Mac OS X. O Mac OS X foi originalmente apresentado como a décima versão principal do sistema operacional da Apple para computadores Macintosh; as versões atuais do macOS mantêm o número de versão principal "10". Os sistemas operacionais Macintosh anteriores (versões do Mac OS clássico) eram nomeados usando números arábicos, como no Mac OS 8 e Mac OS 9. A letra "X" no nome do Mac OS X refere-se ao número 10 no numeral romano. É, portanto, corretamente pronunciada como "dez" nesse contexto. No entanto, é também comumente pronunciado como "X" (xis). A primeira versão do Mac OS X, Mac OS X Server 1.0, foi um produto de transição, apresentando uma interface semelhante ao clássico Mac OS, embora não fosse compatível com software projetado para o sistema mais antigo. As versões para consumidores do Mac OS X incluíam mais compatibilidade com versões anteriores. As aplicações Mac OS puderam ser reescritas para serem executadas nativamente através da API Carbon; muitas também puderam ser executadas diretamente através do ambiente clássico com uma redução na performance. A versão para consumidores do Mac OS X foi lançada em 2001 com o Mac OS X 10.0 codinome Cheetah. As revisões foram variáveis, com elogios extensivos à sua sofisticada e brilhante interface Aqua, mas com críticas ao seu desempenho lento. Com a popularidade da Apple em baixa, os fabricantes de vários aplicativos Mac clássicos, como o FrameMaker e o PageMaker, recusaram-se a desenvolver novas versões de seus softwares para Mac OS X. O colunista da revista americana Ars Technica, John Siracusa, que revisou todas as principais versões do OS X até 10.10, descreveu os primeiros lançamentos em retrospectiva como "característica pobre" e com o desenho Aqua, como "insuportavelmente lento e enormemente parco de recursos". Lançamentos seguintes. A Apple rapidamente desenvolveu novas versões do Mac OS X. Na revisão da versão 10.3 codinome Panther, Siracusa observou "É estranho ter passado de anos de incerteza de um vaporware para um suprimento anual estável de novas versões importantes do sistema operacional" A versão 10.4, codinome Tiger, alegadamente chocou os executivos da Microsoft ao oferecer vários recursos, como busca rápida de arquivos e processamento gráfico melhorado, que a Microsoft passou vários anos lutando para adicionar, com desempenho aceitável, ao sistema operacional Windows. Considerando a música como um mercado chave, a Apple desenvolveu o iPod music player e o software de música para o Mac, incluindo iTunes e o GarageBand. Visando os mercados de consumo e mídia, a Apple enfatizou suas novas aplicações de "estilo de vida digital", como a suíte iLife, entretenimento doméstico integrado através do Front Row media center e o navegador web Safari. Com a crescente popularidade da internet, a Apple também ofereceu serviços online adicionais, incluindo o .Mac, MobileMe e as mais recentes versões dos produtos iCloud. Mais tarde, ela começou a vender aplicativos de terceiros por meio da Mac App Store. As novas versões do Mac OS X também incluíram modificações na interface geral, afastando-se do brilho listrado e da transparência das versões iniciais. Alguns aplicativos começaram a usar uma aparência metalizada, ou aparência na barra de título não listrada na versão 10.4. No Leopard, a Apple anunciou uma unificação da interface, com um estilo de janela cinza-gradiente padronizado. Em 2006, os primeiros Intel Mac lançados utilizaram uma versão especializada do Mac OS X 10.4 Tiger. Um desenvolvimento chave para o sistema foi o anúncio e lançamento do iPhone a partir de 2007. Enquanto os reprodutores de mídia iPod anteriores da Apple usavam um sistema operacional mínimo, o iPhone usou um sistema operacional baseado no Mac OS X, que mais tarde seria chamado de "iPhone OS" e depois "iOS". O lançamento simultâneo de dois sistemas operacionais baseados nos mesmos frameworks colocou tensão na Apple, que citou o iPhone como responsável por forçá-la no atraso do lançamento do Mac OS X v10.5 codinome Leopard. Entretanto, depois que a Apple abriu o iPhone para desenvolvedores terceiros, seu sucesso comercial chamou atenção para o Mac OS X, com muitos desenvolvedores de softwares para iPhone mostrando interesses também no desenvolvimento do Mac. Em 2007, o Mac OS X 10.5 Leopard foi o único lançamento com componentes binários universais, permitindo a instalação selecionada em Intel Mac e Mac PowerPC. É também o lançamento final com suporte à Mac PowerPC. Já o Mac OS X 10.6 Snow Leopard foi a primeira versão do OS X a ser construída exclusivamente para o Intel Mac, e o lançamento final com suportes à Intel Mac de 32 bits. O nome foi criado para sinalizar seu status como uma iteração do Leopard, focando em melhorias técnicas e de desempenho ao invés de recursos voltados ao usuário; de fato, esse foi explicitamente marcado para os desenvolvedores como sendo um lançamento "sem novos recursos". Desde o seu lançamento, vários lançamentos OS X ou macOS (nomeadamente OS X Mountain Lion, OS X El Capitan e macOS High Sierra) seguem este padrão, com um nome derivado do seu antecessor, semelhante ao modelo "tick-tock" utilizado pela Intel. Em duas versões posteriores, Lion e Mountain Lion, a Apple mudou algumas aplicações para um estilo de design altamente esqueumórfico inspirado nas versões contemporâneas do iOS, ao mesmo tempo em que simplificou alguns elementos, fazendo com que controles como barras de rolagem desaparecessem quando não estavam em uso. Essa direção era, assim como as interfaces metalizadas, impopular para alguns usuários, embora continuasse uma tendência de maior animação e variedade na interface anteriormente vista em aspectos de design, como o utilitário de backup Time Machine, que apresentava versões anteriores de arquivos contra uma nebulosa giratória, e a brilhante doca translúcida do Leopard e Snow Leopard, além disso, com o Mac OS X 10.7 Lion, a Apple deixou de lançar versões separadas do Mac OS X para servidores, vendendo ferramentas de servidor como um aplicativo separado e baixável, através da Mac App Store. Uma revisão descreveu a tendência nos produtos de servidor como se tornando os "mais baratos e mais simples... mudando seu foco das grandes empresas para as pequenas". OS X. Em 2012, com o lançamento do OS X 10.8 Mountain Lion, o nome do sistema operativo foi reduzido de Mac OS X para OS X. Naquele ano, a Apple removeu o chefe do desenvolvimento do OS X, Scott Forstall, e o design foi alterado para uma direção mais mínima. O novo design da interface de usuários da Apple, usando saturação profunda de cores, botões somente texto e uma interface mínima e "plana", foi estreado com o iOS 7 em 2013. Com os engenheiros do OS X trabalhando alargadamente no iOS7, com a versão lançada em 2013, o OS X 10.9 Mavericks, foi algo como uma versão de transição, com alguns design esqueumórficos removidos, enquanto a maioria da interface geral do Mavericks permaneceu inalterada. Na versão seguinte, OS X 10.10 Yosemite, adotou um design semelhante ao do iOS 7, mas com maior complexidade, adequado para uma interface controlada com um mouse. A partir de 2012, o sistema passou para um calendário de liberação anual semelhante ao do iOS. Porém alguns jornalistas e desenvolvedores de softwares terceiros sugeriram que essa decisão, embora permitindo um lançamento mais rápido de recursos, significava menos oportunidade de focar na estabilidade do sistema, sem nenhuma versão do OS X recomendável para usuários que exigissem estabilidade e desempenho acima dos novos recursos. A atualização de 2015 da Apple, o OS X 10.11 El Capitan, foi anunciada com objetivo de focar especificamente em melhorias de estabilidade e desempenho. macOS. A partir de 2016, com o lançamento do macOS 10.12 Sierra, o nome foi alterado de OS X para macOS para simplificar com a marca de outros sistemas operacionais primários da Apple: iOS, watchOS, tvOS e o macOS 10.12. As principais características do Sierra foram a introdução do Siri no macOS, o Optimized Storage, melhorias nas aplicações incluídas e a maior integração com o iPhone e o Apple Watch. O Apple File System (APFS) foi anunciado na Apple Worldwide Developers Conference em 2016 como um substituto do HFS+, um sistema de arquivos altamente criticado. A Apple apresentou o macOS 10.13 High Sierra na "2017 Worldwide Developers Conference", antes de lançá-lo mais tarde naquele ano. Ao rodar em unidades de estado sólido, ela usou o APFS, ao invés do HFS+. Seu sucessor, macOS 10.14 Mojave, foi lançado em 2018, adicionando uma opção de interface de usuário escura e uma configuração dinâmica no papel de parede. Ele foi substituído pelo macOS 10.15 Catalina em 2019, que substituiu o iTunes por aplicativos separados para diferentes tipos de mídia, e introduziu o sistema Catalyst para portar aplicativos iOS. Em 22 de Junho de 2020, a Apple confirmou publicamente por meio de uma apresentação online, a primeira da história da empresa, que iria trocar a plataforma de processadores da Intel no novo macOS 11.0 Big Sur, pela plataforma ARM. Versões. Mac OS X v10.0 "Cheetah". Mac OS X v10.0, codinome "Cheetah", foi a primeira versão do sistema operacional Mac OS X, para desktop e servidor da Apple Inc.. Mac OS X v10.0 foi lançado no dia 24 de março de 2001 por um preço de US$ 129,95. Substituiu o Mac OS X Público Beta e veio antes do Mac OS X v10.1. Mac OS X v10.0 foi uma mudança radical do Sistema Operacional anterior, considerado "clássico", da Macintosh e foi a resposta da Apple Inc. à tão esperada próxima geração de sistemas operacionais da Macintosh. Apresentou um novo conceito de código criado completamente diferente do modelo do Mac OS 9, como também todos os sistemas operacionais anteriores da Apple. Mac OS X introduziu o novo núcleo Darwin Unix-like e um sistema totalmente novo de administração de memória. Provou ser um começo duradouro para o Mac OS X. Mac OS X v10.1 "Puma". Mac OS X v10.1, codinome "Puma", foi a segunda versão do sistema operacional Mac OS X, para desktop e servidor da Apple Inc.. Substituiu o Mac OS X v10.0 e antecedeu ao Mac OS X v10.2. A versão 10.1 foi lançada em 25 de setembro de 2001 como uma macroatualização gratuita da versão 10.0. A partir da versão 10.1.2, a Apple Inc. fez do Mac OS X o sistema operacional padrão dos novos Macs. O sistema operacional foi distribuído sem custos por empregados de Steve Jobs em uma conferência em São Francisco. Logo após, foi distribuído para os usuários do Macintosh em 25 de outubro de 2001 nas lojas da Apple Inc. e outros distribuidores de produtos da marca. O sistema melhor recebido do que Mac OS X versão 10.0, embora os críticos reclamassem do excesso de defeitos e da falta de alguns recursos no novo sistema operacional. Mac OS X v10.2 "Jaguar". Mac OS X v10.2 "Jaguar" foi a terceira versão do Sistema Operacional para desktop e servidores da série Mac OS X. Substituiu o Mac OS X v10.1 com o codinome Puma e antecedeu o Mac OS X v10.3 "Panther". O sistema operacional foi lançado no dia 23 de agosto 2002 pelo preço de US$ 129, ou a um preço de US$ 199 dólares para o "family pack" que permitia cinco instalações em computadores separados em uma residência. O sistema operacional foi bem aceito pelos usuários do Macintosh pelo grande avanço na estabilidade e velocidade; porém, muitos críticos ainda reivindicaram melhoria na velocidade da interface pois diziam que ainda possuíam muitos problemas pendentes. Jaguar foi o primeiro sistema operacional Mac OS X onde o codinome foi usado em anúncios publicitários. Hoje os produtos do Mac OS X continuam a tradição de usar o codinome em seus produtos dos sistemas operacionais da Apple. Mac OS X v10.3 "Panther". O Mac OS X v10.3 "Panther" foi o quarto lançamento do Mac OS X. Ele substituiu o Mac OS X v10.2 "Jaguar" e teve como sucessor o Mac OS X v10.4 "Tiger". O "Panther" foi lançado em 24 de outubro de 2003. O seu custo era de US$ 129 para uma única licença de usuário e US$ 199 para um pack familiar (licença para 5 computadores). Mac OS X v10.4 "Tiger". Mac OS X v10.4 "Tiger" foi o quinto lançamento do Mac OS X. O "Tiger" foi liberado ao público em 29 de abril de 2005 como o sucessor do Mac OS X v10.3 "Panther", que foi lançado 18 meses antes, logo substituído pelo Mac OS X v10.5 "Leopard", em 26 de Outubro de 2007, após 30 meses, tornando-se o Mac OS X de mais longa versão. Alguns dos novos recursos incluem um rápido sistema de busca chamado Spotlight, uma nova versão do navegador Safari, Dashboard, um novo tema unificado, e suporte aperfeiçoado para uso em processadores 64 bits. O "Tiger" foi também a primeira versão do sistema operacional Mac OS X liberada para trabalhar com máquinas Apple com arquitetura Intel (máquinas Apple usando processadores x86.) Seis semanas após o seu lançamento oficial, a Apple tinha entregue 2 milhões de cópias do Tiger, o que representa 16% de todos os usuários do Mac OS X. A Apple alega que o Tiger foi o mais bem sucedido Mac OS X da história da empresa. Na Conferência WWDC em 11 de junho de 2007, o CEO da Apple, Steve Jobs, anunciou que, dos 22 milhões de usuários do Mac OS X, mais do que 67% estavam usando Tiger. Mac OS X v10.5 "Leopard". O Mac OS X v10.5 "Leopard" é o sexto lançamento da família Mac OS X, sendo o sucessor do Mac OS X v10.4 "Tiger". Leopard foi lançado em 26 de Outubro de 2007 e esteve disponível em duas variantes: uma versão desktop, adequada para computadores pessoais, e uma versão para servidor, a versão Mac OS X Server. O "Leopard" foi substituído pelo Mac OS X v10.6 "Snow Leopard", lançado em agosto de 2009. De acordo com a Apple, O "Leopard" contem mais de 300 alterações e melhorias, abrangendo desde o núcleo do sistema operacional até componentes incluídos em aplicações e ferramentas para desenvolvedores. O "Leopard" introduz um redesenhado Dock, o Menu Bar com efeito de transparência e uma atualização do Finder que incorpora o Cover Flow (uma navegação com interface visual vista pela primeira vez no iTunes). Outras características notáveis incluem suporte para escrita de 64-bit, um backup automático com um utilitário chamado Time Machine, suporte a Spotlight para buscas em várias máquinas e a inclusão do Front Row e o Photo Booth, que anteriormente estavam incluídos apenas com alguns modelos Mac. Mac OS X v10.6 "Snow Leopard". Em 2009, Apple e Microsoft mudaram a estratégia, lançando novas versões de seus sistemas operacionais. Enquanto o Windows 7 foi lançado em outubro, o Mac OS X Snow Leopard 10.6 chegou ao mercado americano na última semana de agosto. O Snow Leopard ficou mais rápido ao iniciar o computador e abrir programas, principalmente os da Apple, além de 50% menor, liberando 7G de espaço em HD (disco rígido). Como desvantagem está a exigência do processador Intel, o que significa que não roda nos antigos Macs. Mas por outro lado, custa apenas US$ 30 para quem já possui o Leopard 10.5, o anterior. Entre outras novidades estão o ajuste automático do relógio em viagens, a data na barra de menu, a sinalização da intensidade da rede wireless, possibilidade de ícones maiores, visualização de itens de uma pasta, plugins de páginas web, como flash, não congelam mais o navegador, os vídeos são exibidos em tela inteira e podem ser enviados direto para o youtube. Mac OS X v10.7 "Lion". O Mac OS X v10.7 "Lion" é o oitavo lançamento da família Mac OS X, sendo o sucessor do Mac OS X v10.6 "Snow Leopard". Lion foi anunciado em 20 de Outubro de 2010 na conferência "Back To The Mac" e foi lançado em 20 de Julho de 2011, estando disponível para download através da Mac App Store. Apple: "Pegamos nossas melhores ideias do Mac OS X e aplicamos no iPhone. Pegamos nossas melhores ideias do iPhone e aplicamos no iPad. Agora chegou a hora de aplicar tudo isso no Mac." Novidades: OS X v10.8 "Mountain Lion". O OS X v10.8 "Mountain Lion" é o nono sistema operativo do OS X, sendo uma atualização e sucessor do Mac OS X v10.7 "Lion". O Mountain Lion foi anunciado em Fevereiro de 2012 e lançado em 25 de Julho de 2012, disponível para download na Mac App Store. As suas maiores atualizações foram a introdução do iCloud, Messages, Reminders, Notes, Notification Center, Game Center, dentre outros. O Mountain Lion trouxe algumas características do sistema operacional móvel da Apple, o iOS. É também a primeira versão a ser chamada oficialmente de "OS X", e não de "Mac OS X". A partir desta versão, a empresa Apple Inc. anuncia um cronograma de lançamentos de sistema anual, assim como ocorre com o sistema móvel iOS. OS X v10.9 "Mavericks". O OS X v10.9 "Mavericks" é o décimo sistema operacional da família OS X, sendo o sucessor do OS X v10.8 "Mountain Lion". O OS X Mavericks é a primeira versão que não leva o nome de algum felino, optaram por homenagear uma região para amantes do surf no norte da Califórnia. Foi anunciado em Junho de 2013 e lançado em 22 de outubro de 2013. Suas principais atualizações são o iBooks e Mapas, antes apenas disponíveis para o iOS, tendo também novas opções no Finder, Central de Notificações, Calendário, iCloud e Safari, e um suporte melhorado para múltiplos monitores. OS X v10.10 "Yosemite". O OSX v10.10 "Yosemite" é o décimo primeiro sistema operacional da família OS X, sendo o sucessor do OSX v10.9 "Mavericks". Anunciado em junho de 2014, pela primeira vez desde "aqua", traz mudanças significativas na interface gráfica, adotando transparências e design flat inseridos no iOS 7. Foi lançado em 16 de outubro de 2014. OS X v10.11 "El Capitan". O OSX v10.11 "El Capitan" é o décimo segundo sistema operacional da família OS X, sendo o sucessor do OSX v10.10 "Yosemite". Anunciado em junho de 2015, traz mudanças poucos significativas em relação ao seu antecessor, foi disponibilizado para download no outono americano 23/09 - 21/12 macOS v10.12 "Sierra". O macOS v10.12 "Sierra" é o décimo terceiro sistema operacional da família macOS, sendo o sucessor do OSX v10.11 "El Capitan". Anunciado em junho de 2016, traz, além da mudança no nome, cujo objetivo foi padronizar com os demais sistemas da Apple (iOS, tvOS e watchOS), melhorias nos recursos de continuidade, função picture in picture, abas para todas as janelas de apps e integração com a assistente virtual Siri. macOS v10.13 "High Sierra". O macOS v10.13 "High Sierra" é o décimo quarto sistema operacional da família macOS, sendo o sucessor do macOS v10.12 "Sierra". Anunciado em junho de 2017, traz mudanças focadas nos "power users", além da mudança do antigo sistema de arquivos para o novo e repensado APFS (Apple File System), agora presente em todos os dispositivos, desde watchOS e tvOS, até iOS e macOS. Esse sistema de arquivos foi feito com foco em rápida administração de dados e arquitetura 64-bit. Além disso tivemos atualizações no aplicativo de fotos, Safari e uma renovação da plataforma Metal, de processamento gráfico. macOS v10.14 "Mojave". É o décimo quinto sistema operacional da família macOS, sendo o sucessor do macOS v10.13 "High Sierra". Anunciado em junho de 2018 e lançado oficialmente em 24 de setembro em 2018, tem como principais novidades: Além destas mudanças, houve várias outras feitas no funcionamento do sistema, sendo elas: macOS 10.15 "Catalina". O macOS 10.15 Catalina foi anunciado em 3 de junho de 2019 em versão beta. Sua previsão de lançamento era em 10 de setembro de 2019. Porém, foi lançado em Outubro de 2019. macOS 11.0 "Big Sur". O macOS Big Sur foi anunciado durante o discurso principal da WWDC em 22 de junho de 2020, e foi disponibilizado ao público em geral em 12 de novembro de 2020. Esta é a primeira vez que o número da versão principal do sistema operacional foi incrementado desde o Mac OS X Public Beta em 2000. Ele traz suporte à ARM, novos ícones e mudanças estéticas na interface do usuário para o sistema. macOS 12.0 "Monterey". O macOS Monterey é a décima oitava. O sucessor do macOS Big Sur, foi anunciado na WWDC em 7 de junho de 2021 e lançado em 25 de outubro de 2021. O sistema operacional recebeu o nome de Monterey, continuando a tendência de lançamentos com nomes de locais da Califórnia desde 10.9 Mavericks de 2013. Foi sucedido pelo Ventura em 2022. macOS 13.0 "Ventura". O macOS Ventura foi anunciado na WWDC em 6 de junho de 2022, o sucessor do macOS Monterey é a décima nona versão atual e principal do macOS. É nomeado por conta da cidade Ventura na Califórnia, seguindo o sistema de nomenclatura do estado de origem que começou com o OS X Mavericks. A primeira versão do desenvolvedor foi lançada em 6 de junho de 2022, enquanto a primeira versão beta pública foi lançada em 11 de julho de 2022. O macOS Ventura foi lançado publicamente em 24 de outubro de 2022. macOS 14.0 "Sonoma". O macOS Sonoma foi anunciado na WWDC em 5 de junho de 2023, é o sucessor do macOS Ventura e será a vigésima próxima versão atual e principal do macOS.
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México
México México (; , oficialmente Estados Unidos Mexicanos, é uma república constitucional federal localizada na América do Norte. O país é limitado a norte pelos Estados Unidos; ao sul e oeste pelo Oceano Pacífico; a sudeste pela Guatemala, Belize e Mar do Caribe; a leste pelo Golfo do México. Com um território que abrange quase 2 milhões de quilômetros quadrados, o México é o quinto maior país das Américas por área total e o 14.º maior país independente do mundo. Com uma população estimada para 2020 de 126 milhões de habitantes, é o 11.º país mais populoso do mundo e o mais populoso país da hispanofonia. O México é uma federação composta por 31 estados e a Cidade do México (capital). O México figura também como o segundo país mais populoso e segundo em PIB da América Latina, em ambos os casos superado apenas pelo Brasil. Na Mesoamérica pré-colombiana muitas culturas amadureceram e se tornaram civilizações avançadas como a dos olmecas, toltecas, teotihuacanos, zapotecas, maias e astecas, antes do primeiro contato com os europeus. Em 1521, a Espanha conquistou e colonizou o território mexicano a partir de sua base em Tenochtitlán e administrou-o como o Vice-Reino da Nova Espanha. Este território viria a ser o México com o reconhecimento da independência da colônia em 1821. O período pós-independência foi marcado pela instabilidade econômica, a Guerra Mexicano-Americana e a consequente cessão territorial para os Estados Unidos, uma guerra civil, dois impérios e uma ditadura nacional. Esta última levou à Revolução Mexicana em 1910, que culminou na promulgação da Constituição de 1917 e a emergência do atual sistema político do país. Eleições realizadas em julho de 2000 marcaram a primeira vez que um partido de oposição conquistou a presidência do Partido Revolucionário Institucional. O México é uma das maiores economias do mundo e uma potência regional, e, desde 1994, o primeiro país latino-americano membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sendo um país de renda média-alta consolidada. O México é considerado um dos países recentemente industrializados e uma potência emergente. A nação tem o 13.º maior PIB nominal e o 11.º maior PIB por paridade de poder de compra. A economia está fortemente ligada à dos seus parceiros do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), especialmente os Estados Unidos. O país ocupa o quinto lugar no mundo e o primeiro das Américas em número de Patrimônios Mundiais da UNESCO, com 31 lugares que receberam esse título, e em 2007 foi o 10.º país mais visitado do mundo, com 21,4 milhões de turistas internacionais. Etimologia. Depois de a Nova Espanha conquistar a independência do Império Espanhol, foi decidido que o novo país teria o nome de sua capital, a Cidade do México, que foi fundada em 1524 em cima da antiga capital asteca de Tenochtitlan-México. O nome vem da língua nahuatl, mas seu significado é desconhecido. "Mēxihco" era o termo em nahuatl usado para se referir ao coração do império asteca, o Vale do México, e ao seu povo, os astecas, no que depois se tornou o futuro estado do México como uma divisão da Nova Espanha antes da independência. O sufixo "-co" é um locativo em nahuatl, o que torna a palavra o nome de um lugar. Além disso, a etimologia do termo ainda é incerta. Tem sido sugerido que ele é derivado de "Mextli" ou "Mēxihtli", um nome secreto para o deus da guerra e patrono dos astecas, Huitzilopochtli, caso em que "Mēxihco" significa "Lugar onde Huitzilopochtli vive". Outra hipótese sugere que "Mēxihco" deriva de um amálgama das palavras nahuatl para "Lua" ("Metztli") e centro ("xīctli"). Este significado ("lugar no centro da Lua") pode referir-se à posição de Tenochtitlán no meio do lago Texcoco. O sistema de lagos interligados, dos quais Texcoco formava o centro, tinha a forma de um coelho, que os mesoamericanos associavam pareidoliamente à Lua. Ainda há outra hipótese que sugere que a palavra é derivada de "Mēctli", a deusa do agave. O nome da cidade-Estado foi transliterado para o espanhol como "México" com o valor fonético da letra <x> no espanhol medieval, que representava a fricativa pós-alveolar surda [ʃ]. Este som, bem como a fricativa pós-alveolar sonora [ʒ], representado por um <j>, evoluiu para uma fricativa velar surda [x] durante o século XVI. Isso levou ao uso da variante "Méjico" em muitas publicações em espanhol, sobretudo na Espanha, enquanto no México e na maioria dos outros países de língua espanhola "México" era a grafia preferida. Nos últimos anos, a Real Academia Espanhola, que regulamenta a língua espanhola, determinou que ambas as variantes são aceitáveis ​​no idioma, mas que a grafia normativa recomendada é "México". O nome oficial do país mudou conforme a forma de governo. Em duas ocasiões (1821–1823 e 1863–1867), o país era conhecido como "Imperio Mexicano" (Império Mexicano). Todas as três constituições federais (1824, 1857 e 1917, a Constituição atual) usavam o nome "Estados Unidos Mexicanos" ou "Estados-Unidos Mexicanos". O nome "República Mexicana" foi usado nas Leis Constitucionais de 1836. Em 22 de novembro de 2012, o presidente Felipe Calderón enviou ao congresso mexicano uma legislação para mudar o nome oficial do país para simplesmente México. Para entrar em vigor, o projeto precisa ser aprovado por ambas as casas do congresso, assim como pela maioria das 31 legislaturas estaduais do país. Como esta legislação foi proposta apenas uma semana antes de Calderón passar o governo para Enrique Peña Nieto, os críticos de Calderón interpretaram isso como um gesto simbólico. História. Culturas pré-colombianas. Há muito debate acerca do povoamento das Américas. Estudos genéticos comprovam a tese de que os ancestrais dos povos ameríndios eram caçadores-coletores asiáticos do leste da Sibéria. A data em que o homem chegou à América vindo da Ásia Setentrional é bastante debatida, pois alguns estudiosos propõem que ocorreu há 30 mil anos ou até 40 mil anos, mas tais datas não são aceitas pela comunidade científica, que afirma que a data de chegada foi em algum momento por volta de 20 mil anos atrás. Também é debatida a rota de chegada do homem à América a partir da Sibéria: a mais aceita é a da travessia a pé da Beríngia e uma posterior passagem por um corredor terrestre descongelado no extremo norte do continente, mas também é proposta uma rota alternativa por meio da navegação em pequenos barcos próximo ao litoral. Fogueiras encontradas no Vale do México foram datadas por radiocarbono de 21 000 a.C. e alguns fragmentos de ferramentas de pedra foram encontrados perto das fogueiras, indicando a presença de humanos naquela época. O fóssil humano mais antigo já achado nas Américas, apelidado de Eva de Naharon, datado de 13,6 mil anos atrás, foi encontrado em 2001 no estado de Quintana Roo. Com o clima mais seco e a mudança na fauna ocorridos com o fim do Último período glacial, por volta de 9500 a.C., os habitantes da Mesoamérica foram forçados a trocar a caça de animais de grande porte pela caça de pequenos animais e a coleta de frutos silvestres. Gradualmente, nos milênios seguintes foi surgindo uma agricultura nessa região e na Aridoamérica, tendo como principais cultivos o milho, feijão, cucurbita e pimenta chili. Paulatinamente, vilas neolíticas foram se desenvolvendo, originando os embriões de civilizações, em grande parte na área mesoamericana, mas também no atual estado de Chihuahua. Por volta de 1500 a.C., em uma disputa por região de terras férteis entre os atuais estados de Veracruz e Tabasco, surgiu a primeira civilização na Mesoamérica, a olmeca, cujos principais centros foram San Lorenzo e La Venta. Os olmecas se destacaram por serem os primeiros a criar centros cerimoniais de pedra e por sua arte, que inclui cabeças colossais, máscaras e estatuetas de jade. Entre 100 a.C. e 300 d.C., houve a disseminação de sociedades complexas e civilizações pela Mesoamérica, com forte influência olmeca. Nessa época, surgiu, na região do Vale do México, Teotihuacan, uma grande cidade, com uma população entre 125 e 200 mil habitantes, e centro de uma civilização e de um império político e comercial. Também apareceu nesse mesmo período, na Península de Iucatã, a civilização maia, que se destacou por seus avançados conhecimentos astronômicos e matemáticos e pela sua arquitetura. Entre os séculos VIII e XIII, ocorreu a decadência das civilizações clássicas da Mesoamérica (maias e teotihuacanos), cuja causa ainda é debate entre arqueólogos. Ao mesmo tempo, os toltecas, vindos do norte do México e falantes de uma língua da família uto-asteca, ocuparam o Vale do México e ali criaram a sua civilização, que era o poder religioso, político e comercial da região. Por volta do século XIII, os astecas, um povo falante de língua uto-asteca oriundo do noroeste do México, ocuparam o Vale do México e destruíram a civilização tolteca, estabelecendo em seu lugar a civilização asteca. Em 1325, fundaram, em uma ilha do Lago de Texcoco, a sua capital, Tenochtitlán. Essa civilização subjugou os povos vizinhos e se tornou a força dominante na região da Mesoamérica. Estimativas populacionais apontam para uma população de 6 a 25 milhões de habitantes na região do atual México na época da conquista espanhola. Colonização espanhola (1519–1821). As primeiras expedições espanholas no México partiram de Cuba a mando do governador Diego Velázquez de Cuéllar e exploraram a região da Península de Iucatã e a costa do Golfo do México, sendo elas as de Francisco Hernández de Córdoba (1517) e Juan de Grijalva (1518). Em março de 1519, Hernán Cortés desembarcou no litoral de Tabasco. Pouco tempo depois, fundou a cidade de Veracruz, base para a conquista do Império Asteca, de onde partiu em direção a Tenochtitlán, chegando ali em novembro, tendo contatos amistosos com os astecas. No entanto, os espanhóis sequestraram o imperador asteca Montezuma II em seguida, assim iniciando conflitos. Cortés foi forçado a voltar para Veracruz, para lutar contra as tropas do governador de Cuba, de quem havia se tornado inimigo, e deixou seus homens em Tenochtitlán. Em junho de 1520, Montezuma foi substituído por Cuitláhuac, que ordenou uma guerra total contra os conquistadores, o que resultou no episódio conhecido como Noite Triste, no qual metade dos espanhóis morreu. Após uma epidemia de varíola, doença introduzida pelos europeus, que dizimou milhões de indígenas, e a formação de alianças com tribos inimigas dos astecas, em abril de 1521 as tropas de Cortés iniciaram o Cerco de Tenochtitlan, que finalizou-se em agosto, com a rendição do último imperador asteca, Cuauhtémoc. Nos anos seguintes, os europeus conquistaram o restante do Império Asteca, anexando-o ao Império Espanhol. A conquista militar foi acompanhada pela cristianização e aculturação dos povos indígenas. Depois da conquista do Império Asteca, os conquistadores rapidamente subjugaram a maioria das outras tribos do sul do México ao seu domínio e o estenderam até o sul da Guatemala e Honduras. Iniciou-se, em 1526, a conquista da Península de Iucatã, aonde ainda existiam povos maias, com sua civilização em decadência, mas houve forte resistência indígena e os espanhóis só conseguiram conquistar toda a região vinte anos depois. Entre 1530 e 1536, o atual estado de Jalisco e outras regiões da costa mexicana do Pacífico foram conquistados por Nuño de Guzmán. A conseguinte descoberta de jazidas de metais preciosos nos estados de Zacatecas, Guanajuato e San Luis Potosí iniciou a colonização do centro-norte do México. A colonização do norte do México pelo espanhóis ocorreu apenas a partir do final do século XVI, devido à resistência indígena local e ao fato de a região ser predominantemente desértica, e o que atraiu primeiro os colonizadores para essa área foi a procura por pedras preciosas, mas acabaram colonizando-a por meio da agropecuária. Em 1535, foi criado o Vice-Reino da Nova Espanha, o primeiro da América Hispânica, que floresceu graças à mineração de prata. Na segunda metade do século XVIII, surgiram as primeiras ideias separatistas no México, causadas pelas reformas do rei espanhol Carlos III, que reforçaram e centralizaram o poder da Espanha sobre as colônias e o mercantilismo, e o Iluminismo, movimento que levava ao questionamento do absolutismo. Além disso, as revoluções Americana e Francesa também estimularam o separatismo não apenas na Nova Espanha, mas também em outras colônias espanholas. Independência (1810–1821). Em 1808, Napoleão Bonaparte invadiu a Espanha, tirou do trono Fernando VII e nomeou como rei o seu irmão José Bonaparte. Este foi o estopim para a independência do México. Em 16 de setembro de 1810, o Padre Miguel Hidalgo emitiu na cidade de Dolores Hidalgo, Guanajuato, o Grito de Dolores, clamando a população para lutar pelo fim do domínio espanhol e pela igualdade de todos. O primeiro grupo insurgente era formado por Hidalgo, o capitão do exército vice-reinal espanhol Ignacio Allende, o capitão de milícias Juan Aldama e "La Corregidora" Josefa Ortiz de Domínguez. Hidalgo e alguns de seus soldados foram capturados pelas tropas realistas e executados por um pelotão de fuzilamento em Chihuahua em 31 de julho de 1811. Após sua morte, a liderança foi assumida pelo padre José María Morelos, que ocupou as principais cidades do sul. Em 1813, foi convocado o Congresso de Chilpancingo e, em 6 de novembro, foi assinada a Ata solene da declaração de independência da América Setentrional. Morelos foi executado por tropas metropolitanas em 22 de dezembro de 1815. Grupos guerrilheiros, cada vez menores, continuaram a luta pela independência, com o legado de Hidalgo e Morelos. Nos anos seguintes, a revolta esteve perto do colapso, mas em 1820 o vice-rei Juan Ruiz de Apodaca enviou um exército sob o comando do general crioulo Agustín de Iturbide contra as tropas de Vicente Guerrero. Em vez de lutar, Iturbide aproximou-se de Guerrero para juntar forças. Iturbide foi apoiado pelos conservadores, temerosos de que a constituição espanhola liberal restaurada em 1820 tirasse os direitos e privilégios do clero. Em 1821, foi criado o Exército Trigarante, com as três garantias do Plano de Iguala (independência, união e preservação do Catolicismo), que conquistou a maior parte do território mexicano. O chefe das tropas espanholas, pressionado, foi forçado a assinar o Tratado de Córdoba em 24 de agosto daquele ano, por meio do qual a Espanha reconheceu a independência Nova Espanha, passando a ser o México, e assegurava que um imperador seria eleito caso um príncipe europeu adequado ao trono não fosse escolhido. Enquanto isso, uma regência interina governava o novo país. Primeiro Império e Primeira República (1821–1846). Em maio de 1822, Iturbide foi aclamado Imperador, com o título de Agostín I. No entanto, a relação com o Congresso foi se deteriorando e o monarca mandou fechá-lo no final de outubro daquele ano, passando a governar por meio de uma junta, o que o fez perder popularidade entre a elite e os militares. Em dezembro de 1822, o General Antonio López de Santa Anna proclamou a república e o imperador foi forçado a renunciar e ir para o exílio, mas retornou ao México em 1824, sendo preso e executado logo em seguida. Até a adoção da primeira Constituição mexicana, em 1824, o país vivia grandes dificuldades econômicas, pois a economia estava se deteriorando, a dívida externa aumentando e muitas revoltas militares ocorriam devido à falta de dinheiro para pagar o Exército. Em 1824, foi aprovada a primeira Constituição, que estabelecia um sistema federalista e excluía a imensa maioria da população da participação política. Como a escravidão nunca foi predominante no México e já havia diminuído muito, a sua abolição, em 1829, foi algo mais simbólico. Os primeiros anos da República foram caracterizados pela instabilidade política econômica e pelo embate entre os conservadores, favoráveis a um Estado unitário e ao Catolicismo como religião oficial, e os liberais, adeptos de um Estado federal e secular. Em 1836, o general Antonio López de Santa Anna, um centralista e ditador por duas vezes, aprovou as "Siete Leyes", uma alteração radical que institucionalizou a forma centralizada de governo. Quando ele suspendeu a Constituição de 1824, uma guerra civil espalhou-se por todo o país e as repúblicas do Rio Grande e de Yucatán declararam independência. Devido à forte presença de estadunidenses na região do Texas, ela declarou sua independência também em 1836, sendo anexada aos Estados Unidos como um estado em 1845. Disputas fronteiriças levaram à Guerra Mexicano-Americana (1846–1848), cujo estopim foi um confronto entre tropas de ambos os países em abril de 1846. O conflito foi encerrado por meio do Tratado de Guadalupe Hidalgo (2 de fevereiro de 1848), por meio do qual o México cedeu metade do seu território — Califórnia, Arizona e Novo México — aos Estados Unidos. Uma transferência muito menor de território, em partes do sul do Arizona e do Novo México — Compra Gadsden — ocorreu em 1854. A Guerra das Castas de Yucatán, a revolta maia, que começou em 1847, foi uma das mais bem-sucedidas revoltas modernas de indígenas americanos. Rebeldes maias, ou "cruzob", mantiveram enclaves relativamente independentes até a década de 1930. Segundo Império e Segunda República (1855–1876). A insatisfação com o retorno de Santa Anna ao poder levou ao surgimento de uma nova geração da oposição liberal, cujo principal nome era o do indígena zapoteca Benito Juárez. Seus membros assinaram o Plano de Ayutla (1854). No ano seguinte, Santa Anna foi deposto por uma revolta liberal e Ignacio Comonfort assumiu a presidência. O novo governo adotou reformas, conhecidas como La Reforma, cujo principal arquiteto foi Juárez: os militares e clero perderam privilégios e a Igreja foi forçada a vender suas terras. Em 1857, foi adotada uma nova Constituição, de caráter liberal e progressista, estabelecendo o México como um país federal e democrático e diminuindo o poder da Igreja. Comonfort renunciou logo em seguida, sendo substituído por Juárez. As medidas laicistas e anticlericais da nova Carta Magna irritaram os conservadores, levando a uma guerra civil, a Guerra da Reforma, entre liberais e conservadores. Em janeiro de 1861, os liberais conquistaram a Cidade do México, vencendo a guerra, e proclamaram Juárez presidente. Derrotados, os conservadores mexicanos pediram ajuda para o imperador da França Napoleão III, que viu o país como uma base estratégica para os planos franceses na América Latina. Em dezembro de 1861, navios franceses, espanhóis e britânicos desembarcaram no México e começaram a invadir o país, sob o pretexto de dívidas do governo mexicano com essas potências europeias. Por causa de desacordos com a forma de cobrar as dívidas, Reino Unido e Espanha deixaram a empreitada e a França continuou a invasão, chegando à Cidade do México em 10 de junho de 1863. Napoleão transformou o México em um Império novamente e coroou um aliado, o príncipe austríaco Maximiliano de Habsburgo, como monarca do país. Maximiliano tentou adotar uma política de conciliação nacional, mas suas intervenções nas Forças Armadas Mexicanas e a manutenção de medidas laicistas e anticlericais o fizeram perder apoio dos conservadores. Enquanto isso, Benito Juárez liderava um governo paralelo. A presença de tropas no México estava custando caro aos cofres franceses e, após o fim da Guerra Civil Americana, os Estados Unidos pediram a Napoleão III para retirar suas tropas do vizinho e a interrupção da contratação de mercenários austríacos para o Exército Imperial Mexicano, o que foi feito. Sem as tropas francesas, as tropas imperiais foram sendo derrotadas gradativamente pelas forças republicanas. Em 15 de maio de 1867, Maximiliano e seu exército se renderam ante às tropas lideradas por Juárez e o imperador rendido foi fuzilado pouco mais de um mês depois. Ao retornar à presidência, em 1867, Juárez adotou políticas de reconstrução do México, graças à ajuda financeira dos Estados Unidos, e gradualmente reatou relações com os países europeus, além de continuar com certas reformas. No entanto, muitos liberais começaram a se opor ao presidente, pois estava se tornando um líder autoritário e conseguiu a reeleição inconstitucionalmente em 1871. Juárez faleceu em julho de 1872 e assumiu a presidência Sebastián Lerdo de Tejada, seu aliado, que enfrentou uma oposição conservadora. Porfiriato (1876–1911). Em 1876, Lerdo foi deposto pelo General Porfirio Díaz. Díaz governou o México pela primeira vez entre 1876 e 1880. Entre 1880 e 1884, o poder esteve nas mãos de seu aliado Manuel González. Em 1884, Porfirio retornou ao poder, ali permanecendo até 1911, sendo reeleito cinco vezes consecutivas. O período entre 1876 e 1911 ficou conhecido como "Porfiriato", caracterizado pela continuidade do projeto modernizante que Juárez e Lerdo elaboraram e implementaram, notáveis realizações econômicas, investimentos nas artes e ciências, mas essas medidas beneficiaram apenas a elite mexicana e houve uma forte desigualdade econômica e repressão política. As primeiras indústrias nas grandes cidades surgiram nessa época e os operários eram bastante explorados e ganhavam salários baixos. Díaz governou com um grupo de confidentes que ficaram conhecidos como os "científicos", dos quais o mais influente foi o secretário da Fazenda, José Yves Limantour. O regime "porfiriano" foi influenciado pelo positivismo. O Porfiriato levou a desigualdades no desenvolvimento que causaram tensões: as desigualdades setoriais, pois as exportações de produtos mineradores e de matérias-primas estavam crescendo consideravelmente, enquanto os alimentos e os bens de consumo estavam mais escassos, e desigualdades entre regiões. A produção de milho caiu de 2,5 milhões em 1877 para 2 milhões em 1910, enquanto a população aumentou, o que, traduzido em produção per capita, representou uma redução de 50%. A propriedade em grande escala gerou uma forte concentração fundiária. No final da presidência de Díaz, 97% da terra arável pertencia a 1% da população e 95% dos camponeses perderam suas terras, tendo que se tornar trabalhadores agrícolas em latifúndios ou migrar para as cidades e trabalhar nas indústrias, formando um miserável proletariado urbano, cujas revoltas seriam esmagadas uma a uma. Revolução Mexicana (1910–1920). Em 1910, Porfirio Díaz venceu as eleições de modo fraudulento. O candidato derrotado da classe média, Francisco I. Madero, não aceitou os resultados. Ao mesmo tempo, grupos camponeses, liderados no norte por Pancho Villa e no sul por Emiliano Zapata, pegaram em armas para exigir a deposição de Díaz e reformas sociais em prol da massa camponesa e indígena, como a reforma agrária. Iniciou-se, assim, a Revolução Mexicana. Em 1911, Díaz foi deposto e Madero assumiu a presidência. No entanto, o novo presidente enfrentou dissidências na elite e entre os camponeses e não fez a reforma agrária e, devido a isso, os revolucionários se recusaram a depor as armas. Em 1913, Madero foi deposto e morto pelo General Victoriano Huerta, que tentou reprimir os camponeses. Com isso, Villa e Zapata se aliaram ao movimento constitucionalista liderado por Venustiano Carranza, liberal. Em 1914, Huerta foi deposto. Carranza assumiu a presidência e fez reformas sociais, mas a reforma agrária não foi cumprida, o que levou os revolucionários de volta à luta armada em 1915. Em 1917, foi promulgada uma nova Constituição, que persiste até hoje, na qual foi estabelecida a educação gratuita e obrigatória, direitos trabalhistas básicos e o poder do Estado de fazer a reforma agrária. Os adversários políticos mandaram assassinar Zapata em 1919 e Villa em 1923. Estima-se que a Revolução Mexicana matou 900 mil pessoas de uma população de 15 milhões de habitantes em 1910. Governo do PRI (1920–1990). Assassinado em 1920, Carranza foi sucedido por um outro herói revolucionário, Álvaro Obregón (1920–1924), que por sua vez foi sucedido por Plutarco Elías Calles (1924–1928). Obregón foi eleito para um novo mandato em 1928, mas foi assassinado antes que pudesse assumir o poder. Sob os governos de Obregón, Calles e Emilio Portes Gil (1928–1930), a reforma agrária reconhecida pela Constituição de 1917 começou a ser implementada. As condições de vida melhoraram e a taxa de mortalidade infantil caiu de 224,4‰ para 137,7‰ entre 1923 e 1931. Foi feito um esforço sério em favor da educação: o orçamento da educação ascendeu a 14% das despesas do Estado e o número de escolas rurais triplicou. A taxa de alfabetização para os maiores de 10 anos aumentou de 25% em 1924 para 51% em 1930. Em 1929, Calles fundou o Partido Nacional Revolucionário (PNR), mais tarde rebatizado de Partido Revolucionário Institucional (PRI), para enfatizar a valorização das instituições do país, e iniciou um período conhecido como "Maximato" (1929–1934). Em 1934, o militar Lázaro Cárdenas foi eleito presidente e durante o seu governo (1934–1940), de tendência nacionalista e populista, houve uma ampliação da reforma agrária e a implementação de várias reformas econômicas e sociais. O seu mais importante feito foi a nacionalização do petróleo em 18 de março de 1938, o que provocou uma crise diplomática com os países cujos cidadãos tinham perdido negócios pela desapropriação das empresas petrolíferas estrangeiras. O sucessor de Cárdenas, Manuel Ávila Camacho (1940–1946), adotou uma política interna conciliatória e seu governo foi o início de uma fase de desenvolvimento industrial do país. No contexto da Segunda Guerra Mundial, a gestão Ávila firmou um acordo com os Estados Unidos, por meio do qual o México fornecia matéria-prima aos estadunidense e, em troca, estes davam empréstimos para auxiliar a economia do vizinho hispânico. Em 1942, o México declarou guerra às potências do Eixo, pois dois de seus navios-tanque foram afundados por submarinos alemães. A maior contribuição militar mexicana na Guerra foi o envio de unidades aéreas para lutar junto com os Estados Unidos nas Filipinas. Nas décadas após a Segunda Guerra Mundial, o México experimentou um substancial crescimento econômico, o que alguns historiadores chamam de "milagre mexicano". Obras de infraestrutura, como usinas hidrelétricas, ferrovias e rodovias, foram construídas e a indústria petroquímica se desenvolveu. Apesar de a economia ter florescido, a desigualdade social continuou sendo um fator de descontentamento. Além disso, durante os governos do PRI, o estado mexicano estava se tornando cada vez mais autoritário e às vezes opressivo, como no Massacre de Tlatelolco em 1968, que custou a vida de cerca de 200 a 1500 manifestantes. As reformas eleitorais e a crise petrolífera mundial de 1973 marcaram a administração de Luis Echeverría (1970–1976). A queda nas exportações e no preço do petróleo e o aumento da taxa dos juros levaram à crise econômica de 1982, quando o governo decretou a moratória da dívida externa. O governo de Miguel de la Madrid (1982–1988) recorreu à desvalorização da moeda, o que, por sua vez, provocou mais inflação. Na década de 1980, as primeiras rachaduras na posição de monopólio político do PRI eram vistas com a eleição de Ernesto Ruffo Appel no estado da Baixa Califórnia e a fraude eleitoral em 1988, o que impediu o candidato de esquerda Cuauhtémoc Cárdenas de ganhar as eleições presidenciais nacionais, perdendo para Carlos Salinas de Gortari e levando a protestos maciços na Cidade do México. Período contemporâneo (1990–). O governo de Salinas (1988–1994) embarcou em um programa de reformas neoliberais, que fixou a taxa de câmbio, controlou a inflação e culminou com a assinatura do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), que entrou em vigor em 1 de janeiro de 1994. No mesmo dia, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) iniciou uma rebelião armada de duas semanas de duração contra o governo federal e continuou nos anos seguintes como um movimento de oposição não violento contra o neoliberalismo e a globalização. No início do governo de Ernesto Zedillo (1994–2000), houve uma grave crise econômica no México, provocada pela abertura às importações e o consequente déficit na balança comercial, conhecida como efeito tequila, e a moeda se desvalorizou. Com um rápido pacote de resgate estadunidense autorizado pelo presidente Bill Clinton e as principais reformas macroeconômicas iniciadas por Zedillo, a economia recuperou-se rapidamente e atingiu um crescimento de quase 7% ao ano até o final de 1999. Nos anos 1990, houve um crescimento na oposição mexicana, cujos principais partidos eram o conservador Partido de Ação Nacional (PAN) e o esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD). Nas eleições legislativas de 1997, pela primeira vez em 68 anos, o PRI perdeu a maioria no Legislativo. Após reformas eleitorais, o México realizou, em 2000, sua primeira eleição presidencial sem fraudes, vencida pelo candidato Vicente Fox (PAN), quebrando a hegemonia de 71 anos do PRI na presidência. O governo de Fox (2000–2006) continuou com políticas neoliberais e prometia o combate à corrupção e ao narcotráfico. Essa gestão também convocou uma comissão para investigar os abusos aos direitos humanos ocorridos durante a Guerra Suja Mexicana nos anos 1960 a 1980. As eleições de 2006 foram uma das mais acirradas da história mexicana. O candidato governista, Felipe Calderón (PAN), foi eleito presidente com estreitíssima margem sobre Andrés Manuel López Obrador (PRD), mais conhecido como AMLO. Obrador e seus apoiadores não reconheceram o resultado das urnas e exigiram a recontagem dos votos. Calderón tomou posse em dezembro, enquanto AMLO se autoproclamou presidente paralelo. Durante o governo Calderón (2006–12), foi aprovada uma legislação que reformou o sistema judiciário, trabalhou-se para fortalecer o sistema energético. No entanto, o que mais se destacou nesse período foi o início da controversa guerra contra os cartéis de drogas, bastante criticada por manter as altas taxas de violência, por gerar milhares de mortos e ter tido poucas soluções. A crise econômica mundial de 2008 afetou duramente a economia mexicana, pois a recessão foi iniciada no seu maior parceiro comercial, os Estados Unidos. Os efeitos da crise pioraram por causa do grande número de casos de uma nova modalidade de gripe, a gripe suína, que rapidamente se espalhou pelo mundo. A situação econômica fortaleceu o PRI, que derrotou o governo nas eleições parlamentares de 2009. As eleições presidenciais de 2012 significaram o retorno do PRI, com a eleição para a presidência de Enrique Peña Nieto, que derrotou López Obrador (PRD) e Josefina Vázquez (PAN). Respondendo às alegações de AMLO de supostas violações à lei eleitoral e fraude nas urnas, o órgão eleitoral recontou os votos da maioria dos locais de votação e confirmou a vitória de Peña Nieto. Logo no início do governo de Peña Nieto (2012–8), o novo presidente anunciou um plano com uma ampla agenda de reformas, que seria aplicada gradualmente, cuja efetivação se iniciou em fevereiro de 2013, com a reforma educacional e, em seguida, as reformas financeira e energética. Em 2014, houve um aumento da imigração de centro-americanos para os Estados Unidos, fugindo da criminalidade em seus países de origem, e o governo mexicano respondeu adotando medidas mais rígidas contra a imigração ilegal. No mesmo ano, foi aplicada a reforma política e eleitoral. No final do governo de Peña Nieto, houve uma série de escândalos de corrupção, alguns deles envolvendo sua esposa, e a violência atingiu recordes. Isso favoreceu a vitória de López Obrador nas eleições de 2018, dessa vez pelo partido de esquerda Movimento Regeneração Nacional, por ele fundado em 2014. Obrador ganhou as eleições com mais da metade dos votos e venceu em todos os estados do país (exceto em Guanajuato), inclusive no norte que nunca o apoiara, tomando posse em 1° de dezembro de 2018. No início de seu governo, Obrador adotou políticas de distribuição de renda às camadas mais pobres, aumentou o salário mínimo e fez uma reforma trabalhista. O presidente prometeu acabar com o capital privado na estatal petrolífera Pemex. A pandemia de COVID-19 afetou fortemente o México, com a maior queda no PIB em quase 90 anos, e o governo foi criticado por não testar a população contra a doença. Em 2021, a aliança governista manteve a maioria legislativa e, no ano seguinte, com altas taxas de aprovação, um plebiscito, com 40% da participação esperada, apoiou a permanência de AMLO na presidência. Geografia. O México está localizado a cerca de 23 ° N e 102 ° W na porção sul da América do Norte. Quase todo o México está na Placa Norte-americana, com pequenas partes da península de Baja California nas placas do Pacífico e de Cocos. Geofisicamente, alguns geógrafos incluem o território a leste do Istmo de Tehuantepec (cerca de 12% do total) na América Central. Geopoliticamente, no entanto, o México é totalmente considerado parte da América do Norte, juntamente com o Canadá e com os Estados Unidos. A área total do México é de 1 972 550 km², tornando-o o 14.º maior país do mundo em área total, e inclui cerca de 6 000 km² de ilhas no Oceano Pacífico (incluindo as ilhas Guadalupe e Revillagigedo), Golfo do México, Caribe e no Golfo da Califórnia. No norte, o país divide uma fronteira de 3 141 km com os Estados Unidos. Os meandros do Río Bravo del Norte (conhecido como Rio Grande, nos Estados Unidos) definem a fronteira Estados Unidos-México a leste de Ciudad Juárez até o Golfo do México. Uma série de marcadores naturais e artificiais delineiam o resto da fronteira a oeste de Ciudad Juárez até o Oceano Pacífico. Ao sul, o México divide uma fronteira de 871 km com a Guatemala e outra com 251 km com Belize. O México é atravessado de norte a sul por duas cadeias de montanhas conhecidas como Sierra Madre Oriental e Sierra Madre Ocidental, que são a extensão das Montanhas Rochosas do norte da América do Norte. De leste a oeste, no centro, o país é atravessado pelo Eixo Neovulcânico também conhecido como Serra Nevada. Uma quarta cordilheira, a Sierra Madre del Sur, vai de Michoacán até Oaxaca. Como tal, a maioria dos territórios do México central e do norte estão localizadas em altitudes elevadas, e as maiores elevações são encontradas no Eixo Neovulcânico: Pico de Orizaba (5 700 m), Popocatépetl (5 462 m), Iztaccíhuatl (5 286 m) e o Nevado de Toluca (4 577 m). Três grandes aglomerações urbanas estão localizadas nos vales entre essas quatro elevações: Toluca, Grande Cidade do México e Puebla. Clima. O Trópico de Câncer efetivamente divide o país em zonas temperadas e tropicais. Terras ao norte do vigésimo quarto paralelo têm temperaturas mais baixas durante os meses de inverno com forte caída de neve nas serras e planaltos. Ao sul do vigésimo quarto paralelo, as temperaturas são constantes durante todo o ano e variam apenas em função da altitude. Isto dá ao México um dos sistemas climáticos mais diversos do mundo. Áreas ao sul do vigésimo quarto paralelo com elevações de até 1 000 m (a parte sul de ambas as planícies costeiras, bem como a Península de Yucatán), têm uma temperatura média anual entre 24 e 28 °C. As temperaturas permanecem elevadas aqui durante todo o ano, com apenas 5 °C de diferença entre o inverno e o verão, na temperatura média. Ambas as costas do México, com exceção do litoral sul da Baía de Campeche e do norte de Baja California, também são vulneráveis a furacões graves durante o verão e o outono. As áreas baixas ao norte do vigésimo quarto paralelo são quentes e úmidas durante o verão, que geralmente têm menor temperatura média anual (20–24 °C) por causa de condições mais moderadas durante o inverno. Muitas das grandes cidades no México estão localizadas no Vale do México ou nos vales adjacentes, com altitudes geralmente acima de 2 000 m. Isto lhes dá um clima temperado durante todo o ano, com temperaturas médias anuais (16–18 °C) e temperaturas frescas à noite durante todo o ano. Muitas partes do México, especialmente no norte, têm um clima seco com chuvas esporádicas, enquanto as partes das planícies tropicais do sul têm uma média de mais de 2 000 mm de precipitação anual. Por exemplo, muitas cidades no norte do país, como Monterrey, Hermosillo e Mexicali, experimentam temperaturas de 40 °C ou mais no verão. No deserto de Sonora as temperaturas atingem 50 °C ou mais. O norte do México é caracterizado pelo deserto, porque está localizado na latitude em que todos os desertos ao redor do globo são formados. Hidrografia. Os rios do México se agrupam em três aspectos: a vertente do Pacífico, a do Golfo e a do Altiplano, que não possui saída para o mar. O mais longo dos rios mexicanos é o rio Grande, da vertente do Golfo. Ele tem 3 034 km de extensão e serve como limite com os Estados Unidos. Outros rios desta vertente são o Usumacinta, que faz o limite com a Guatemala; o rio Grijalva talvez seja o que tem a maior quantidade de água do país; e o rio Pánuco, cuja bacia faz parte do Vale do México. No Pacífico desembocam os rios Lerma e Balsas, que têm vital importância para as cidades das terras altas do México, os rios Sonora, Fuerte, Mayo e Yaqui sustentam a próspera agricultura do noroeste do país, e o rio Colorado, que é compartilhado com os Estados Unidos. Os rios interiores, ou seja, aqueles que não desembocam no mar, são curtos e têm pouco volume. Destacam-se o rio Casas Grandes no Chihuahua e o Nazas, em Durango. A maior parte dos rios do México têm pouco volume, e quase nenhum deles é navegável. O México abriga numerosos lagos e lagoas em seu território, mas a maioria é pequena. O mais importante é o lago de Chapala, no estado de Jalisco, que devido à superexploração está em risco de desaparecer. Outros lagos importantes são o lago de Pátzcuaro, o Zirahuén e o Cuitzeo, todos eles em Michoacán. Além disso, a construção de represas tem proporcionado a formação de lagos artificiais, como o de Mil Islas, em Oaxaca. Meio ambiente e biodiversidade. Pelo menos 1 500 espécies de mamíferos podem ser encontradas no México, uma diversidade relevante se comparada com outros países da região. Alguns animais são vistos quase que exclusivamente no país, como o monstro-de-gila, o coelho dos vulcões — segundo menor leporídeo do mundo — e o ajolote ("Ambystoma mexicanum"), um anfíbio também conhecido como monstro aquático. Algumas espécies de iguanas, patos e borboletas, bem como mais de 50 espécies de colibris, também compõem a fauna mexicana, que conta ainda com mais de 1 000 espécies de pássaros, destacando-se a águia pescadora, garça-azul e araras. O México possui uma das floras mais variadas entre os países do mundo, podendo ser encontradas várias paisagens naturais diversificadas. Há uma peculiaridade quanto aos cactos, com o país abrigando mais da metade das espécies de cacto existentes, entre as quais a pita. Cerca de 30 000 espécies de plantas e 600 espécies de orquídeas estão disseminadas em pastagens, desertos, bosques e selva tropical, distribuídos ao longo do território mexicano. Em torno de 14,14% da área é composta de selva tropical, enquanto 19,34% são bosques de coníferas. 37% da superfície está coberta de plantas que sobrevivem com pouca água. Demografia. De acordo com estimativas feitas pelo Instituto Nacional de Estatística e Geografia do México, em 2020, o país tinha 126 milhões de habitantes, o que o torna o país de língua espanhola mais populoso do mundo. Em 1900, a população mexicana era de 13,6 milhões. Durante o período de prosperidade econômica que os economistas chamaram de "Milagre Mexicano", o governo investiu em programas sociais eficientes que reduziram a taxa de mortalidade infantil e aumentaram a expectativa de vida. Essas medidas levaram a um intenso aumento demográfico entre 1930 e 1980. A taxa de crescimento anual da população foi reduzida de um pico de 3,5% em 1965 para 0,99% em 2005. O México está passando para a terceira fase da transição demográfica, visto que cerca de 50% da população em 2009 tinha 25 anos ou menos. As taxas de fertilidade também diminuíram de 5,7 filhos por mulher em 1976 para 2,2 em 2006. Religião. O censo de 2010, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística e Geografia, apontou o catolicismo romano como a principal religião do país, com 82,7% da população, enquanto 9,7% (10 924 103) pertencem a outras denominações cristãs, incluindo os evangélicos (5,2%), pentecostais (1,6%), outros protestantes ou reformados (0,7%), Testemunhas de Jeová (1,4%), Adventistas do Sétimo Dia (0,6%) e a Igreja Mórmon SUD (0,3%). 172 891 (ou menos de 0,2% da população) pertenciam a outras religiões não cristãs; 4,7% declararam não ter religião; 2,7% não especificaram. Os 92 924 489 de católicos no México são, em termos absolutos, a segunda maior comunidade católica do mundo, depois do Brasil. O dia da festa da Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira do México, é comemorado em 12 de dezembro e é considerado por muitos mexicanos como o mais importante feriado religioso de seu país. O censo de 2010 informou que 314 932 pessoas eram membros da Igreja Mórmon SUD, embora a igreja em 2009 tenha alegado ter mais de um milhão de membros registrados. Cerca de 25% de membros registrados participam de um sacramento semanal, embora possa variar tanto para mais quanto para menos. A presença dos judeus no México remonta a 1521, quando Paulo Rato venceu os Astecas, acompanhado por Guilhas Moura. Segundo o censo de 2010, existem 67 476 judeus no México. No México o Islã é praticado por uma pequena população na cidade de Torreón, Coahuila, e há cerca de 300 muçulmanos em San Cristóbal de las Casas, na área de Chiapas. No censo de 2010, 18 185 mexicanos relataram pertencer a uma religião oriental, de uma categoria que inclui uma pequena população budista. Composição étnica. O governo mexicano não realiza censos raciais, não sendo possível aferir a contribuição de cada origem na população mexicana. Segundo uma pesquisa de opinião realizada em 2011 pela organização "Latinobarómetro", 52% dos mexicanos se disseram mestiços entre indígenas e europeus, 19% indígenas, 6% brancos, 2% mulatos e 3% "outra raça". Na obra The World Factbook, publicada pela CIA, grande referência na área de estatística sobre países, consta que a composição étnica do México é a seguinte: 62% mestiços entre indígenas e espanhóis, 21% predominantemente ameríndios, 7% ameríndios e 10% outros (em grande parte, brancos). Já Francisco Lizcano afirma, em seu artigo "Composición Étnica de las Tres Áreas Culturales del Continente Americano al Comienzo del Siglo XXI" (“Composição Étnica das três áreas culturais do continente americano no início do século XXI” em português), que a população mexicana é assim composta etnicamente: 69% mestiços indígenas-europeus, 18% brancos, 12% ameríndios e 1% outros (negros, mulatos e asiáticos). O México é etnicamente diverso e a constituição define o país como uma nação multicultural. A nacionalidade mexicana é relativamente jovem, decorrente de cerca de 1821, quando o México conseguiu a independência do Império Espanhol, e é composta por muitos grupos étnicos regionais distintos, como os diversos povos indígenas e imigrantes europeus. A maioria dos mexicanos são mestiços entre indígenas e espanhóis que compõem o núcleo da identidade cultural do México. Darcy Ribeiro dividiu a população mexicana em três segmentos. O segmento superior da sociedade mexicana, racial e culturalmente mais europeizado, controla a economia e as instituições políticas. Nessa camada se situam as famílias tradicionais que integravam a aristocracia colonial, mesclada com matrizes indígenas. O segundo segmento, considerado mestiço, mais culturalmente do que racialmente, forma a maioria da população mexicana. Embora, além da ascendência indígena, tenham absorvido certa proporção de sangue europeu e africano, se integraram na sociedade colonial por meio da "espanholização" e da conversão ao catolicismo. Esse estrato vai desde o campesinato ao assalariado rural, dos trabalhadores rurais às camadas baixas da classe média rural e citadina. Por fim, o terceiro segmento é formado pela massa de marginalizados culturalmente indígenas. Apesar de todas as alterações culturais sofridas ao longos dos séculos, que os distanciam do indígena no sentido pré-colombiano, essa camada ainda se vê unificada etnicamente como membros de suas comunidades tribais, preservando elementos culturais e de lealdades que os distinguem do resto da sociedade mexicana. Formam uma categoria marginal, relegada às áreas mais pobres do país. Em 2004, o governo mexicano fundou o Instituto Nacional de Medicina Genômica (INMEGEN), que lançou o Projeto da Diversidade do Genoma Mexicano. Em maio de 2009, o Instituto emitiu um relatório sobre grande estudo do genoma da população mexicana. Entre os achados, foi relatado que 80% da população é mestiça de uma forma ou de outra, as proporções de ancestralidade europeia e indígena são aproximadamente uniformes. As proporções de mistura variam geograficamente de norte ao sul, como estudos anteriores pré-genômicos tinham imaginado, com a contribuição europeia predominante no norte e um maior componente indígena no sul. Uma das conclusões importantes do estudo, foi relatado que, mesmo sendo composta de diversos grupos genéticos ancestrais de todo o mundo, a população mexicana é geneticamente distinta entre as populações do mundo. Idiomas. Não existe "de jure" uma língua oficial constitucional em nível federal no México. O país tem a maior população de língua espanhola no mundo, sendo que quase um terço de todos os falantes nativos do espanhol vivem no México. Aproximadamente 5,4% da população fala uma língua indígena e 1,2% não fala espanhol. Os povos indígenas têm direito a receber serviços públicos e documentos em suas línguas nativas. A Comissão Nacional para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas reconhece a língua dos Kikapú, que imigraram dos Estados Unidos, e reconhece as línguas dos refugiados indígenas guatemaltecos. Há cerca de 80 mil menonitas de língua alemã no México. O chipilenho é uma língua falada por descendentes de italianos que colonizaram a cidade de Chipilo, uma linguagem irmã do talian brasileiro. Imigração e emigração. O México é o lar do maior número de cidadãos estadunidenses no exterior (estimados em um milhão em 1999), o que representa 1% da população mexicana e 25% de todos os cidadãos estadunidenses no exterior. Outras comunidades importantes de estrangeiros são os da América Central e do Sul, principalmente da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru, Cuba, Venezuela, Guatemala e Belize. Embora as estimativas variem, a comunidade argentina é considerada a segunda maior comunidade estrangeira no país (estimada em algum lugar entre 30 mil e 150 mil). O México também recebeu um grande número de libaneses. A comunidade mexicana-libanesa gira em torno de 400 mil pessoas. Ao longo do século XX, o México seguiu uma política de concessão de asilo aos latino-americanos e europeus (principalmente espanhóis, em 1940), fugindo de perseguições políticas em seus países de origem. Em outubro de 2008, o México reforçou as suas regras de imigração e decidiu deportar cubanos que estavam usando o país como um ponto de entrada para os Estados Unidos. Como o México é muito mais rico do que os países imediatamente a sudeste de suas fronteiras, o país tem um problema crônico com a imigração ilegal a partir desses países, especialmente da Guatemala, Honduras e El Salvador. Um grande número de migrantes da América Central que têm atravessado a fronteira ocidental da Guatemala para o México são deportados todos os anos. A imigração ilegal tem sido um problema para o México, principalmente desde a década de 1970. Em 2006, o México deteve mais de 182 mil pessoas que entraram ilegalmente no país, principalmente nas proximidades da Guatemala, Honduras, El Salvador, todos os países da América Central, vizinhos do México ao sul. Um número menor de imigrantes ilegais provêm do Equador, Cuba, China, África do Sul e Paquistão. O México representa também a maior fonte de imigração para os Estados Unidos. Cerca de 9% da população nascida no México está agora vivendo nos Estados Unidos. 28,3 milhões de estadunidenses relataram ter ascendência mexicana em 2006. Política. Governo. Os Estados Unidos Mexicanos são uma federação cujo governo é representativo, democrático e republicano, baseado em um sistema presidencialista de acordo com a Constituição de 1917, que estabelece três níveis de governo: a União federal, os governos estaduais e os governos municipais. De acordo com a constituição, todos os estados constituintes da federação devem ter uma forma republicana de governo composta de três ramos: o executivo, representado por um governador e um gabinete nomeado, o poder legislativo, constituído por um congresso, e o judiciário, que inclui um Supremo Tribunal de Justiça do Estado. O legislativo federal é o bicameral Congresso da União, composto pelo Senado da República e pela Câmara dos Deputados. O Congresso faz leis federais, declara guerra, impõe impostos, aprova o orçamento nacional e os tratados internacionais e ratifica as nomeações diplomáticas. O Congresso federal e as legislaturas estaduais são eleitos por um sistema de votação paralela que inclui pluralidade e representação proporcional. A Câmara dos Deputados tem 500 deputados. Destes, 300 são eleitos por voto de pluralidade em distritos uninominais (os distritos eleitorais federais) e 200 são eleitos por representação proporcional com listas fechadas de partidos, para os quais o país é dividido em cinco distritos eleitorais. O Senado é composto por 128 senadores. Destes, 64 (dois para cada estado e dois para a Cidade do México) são eleitos por voto de pluralidade em pares; 32 senadores são a primeira minoria ou vice-líder (um para cada estado e um para a Cidade do México) e 32 são eleitos por representação proporcional de listas fechadas nacionais de partidos. O executivo é o presidente dos Estados Unidos Mexicanos, que é o chefe de Estado e de governo, bem como o comandante-chefe das Forças Armadas do México. O presidente também nomeia o gabinete e outros oficiais e é responsável por executar e aplicar a lei, além de ter o poder de vetar projetos de lei. O órgão máximo do Poder Judiciário é o Supremo Tribunal de Justiça, o Supremo Tribunal Nacional, que tem onze juízes nomeados pelo Presidente e aprovados pelo Senado. O tribunal interpreta leis e julga casos de competência federal. Outras instituições do judiciário são o Tribunal Federal Eleitoral, os tribunais colegiados, unitários e distritais e o Conselho do Judiciário Federal. Três partidos têm sido historicamente os partidos dominantes na política mexicana: o Partido da Ação Nacional é um partido conservador fundado em 1939 e pertencente à Organização Democrata Cristã da América; o Partido Revolucionário Institucional é um partido de centro-esquerda e membro da Internacional Socialista, fundado em 1929 para unir todas as facções da Revolução Mexicana e que foi uma força quase hegemônica na política mexicana desde então; e o Partido da Revolução Democrática é um partido de esquerda, fundado em 1989 como o sucessor da coalizão de partidos socialistas e liberais. Forças armadas. O México tem o terceiro maior orçamento de defesa da América Latina, com relato de gastos militares anuais de 24,944 bilhões de dólares ou cerca de 1,6% do PIB. Desde os anos 1990, quando os militares escalaram seu papel na guerra contra as drogas, uma importância crescente tem sido colocada em adquirir plataformas de vigilância aérea, aviões, helicópteros, tecnologias digitais de combate, equipamento de guerra urbana e transporte rápido de tropas. As forças armadas do México têm dois ramos: o Exército mexicano (que inclui a Força Aérea Mexicana) e a Marinha mexicana. As forças armadas mexicanas mantêm infraestruturas importantes, incluindo as instalações de "design", pesquisa e experimentação de armas, veículos, aviões, navios, sistemas de defesa e eletrônica; os centros de fabricação da indústria militar para a construção de tais sistemas e estaleiros navais que constroem navios de guerra pesados e tecnologia de mísseis avançados. Estas instalações têm um impacto significativo no emprego e na economia. Nos últimos anos, o México tem melhorado suas técnicas de treinamento, o comando militar e as estruturas de informação e tomou medidas para se tornar mais autossuficiente no fornecimento de seus equipamentos militares, projetando, assim como fabricando suas próprias armas, mísseis, aviões, veículos, armamento pesado, eletrônica, os sistemas de defesa, equipamento militar pesado industrial e navios de guerra. Historicamente, o México manteve-se neutro nos conflitos internacionais, com exceção da Segunda Guerra Mundial. No entanto, nos últimos anos, alguns partidos políticos propuseram uma alteração da Constituição para permitir que o exército mexicano, a Força Aérea e a Marinha colaborem com as Nações Unidas em missões de paz, ou para fornecer ajuda militar aos países que, oficialmente, pedirem por isso. Relações internacionais. A política externa do México é dirigida pelo presidente e executada através da Secretaria de Relações Exteriores. Seus princípios são constitucionalmente estabelecidos no Artigo 89, Seção 10, e incluem: autodeterminação dos povos, não intervenção, resolução pacífica de conflitos, proibição do uso da força nas relações internacionais, igualdade jurídica dos Estados, cooperação internacional para o desenvolvimento e luta pela paz e segurança. A partir de 1930, a Doutrina Estrada serviu como um complemento importante a estes princípios. Desde a sua independência, as relações exteriores do México têm sido dirigidas principalmente aos Estados Unidos, seu maior parceiro comercial, bem como aos seus vizinhos historicamente ligados na América Latina e no Caribe. Devido a problemas internos, como a Revolução Mexicana, no início do século XX, o México manteve-se praticamente isolado dos assuntos internacionais. Uma vez com a ordem restabelecida, a sua política externa foi construída baseada em prestígio hemisférico nas décadas seguintes. Demonstrando sua independência dos Estados Unidos, o México apoiou a consolidação do governo revolucionário de Cuba nos anos 1960, a Revolução Sandinista na Nicarágua durante a década de 1970 e grupos revolucionários de esquerda em El Salvador nos anos 1980. No entanto, na década de 2000, o ex-presidente Vicente Fox adotou uma nova política externa que pediu a abertura e aceitação de críticas da comunidade internacional e do aumento da participação do México na política externa, bem como uma maior integração em relação aos seus vizinhos do norte. Uma maior prioridade para a América Latina e Caribe foi dada no governo do presidente Felipe Calderón. Além disso, desde a década de 1990, o México tem procurado uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e de seus métodos de trabalho, com o apoio do Canadá, Itália, Portugal e outros nove países, que formam um grupo informalmente chamado "Coffee Club". Como uma potência regional e emergente, o México tem uma forte presença global e é membro de diversas organizações e instâncias internacionais, como as Nações Unidas, a Organização dos Estados Americanos, o G8+5, o G20 maiores economias, a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Crime e aplicação da lei. A segurança pública é realizada nos três níveis de governo, cada qual com diferentes prerrogativas e responsabilidades. Os departamentos de polícia locais e estaduais são primariamente responsáveis pela aplicação da lei, ao passo que a Polícia Federal Preventiva é responsável por funções especializadas. Todos os níveis reportam à Secretaria de Segurança Pública. O Gabinete do Procurador-Geral da República (PGR) é a agência executiva encarregada de investigar e reprimir crimes no nível federal, principalmente os relacionados com narcotráfico, tráfico de armas, espionagem e roubos bancários. O PGR opera a Polícia Federal Ministerial, uma agência de investigação e prevenção. De acordo com um estudo da OCDE em 2012, 15% dos mexicanos relataram terem sido vítimas de crime no ano anterior, um resultado que, entre os países da OCDE, só é maior que o da África do Sul. Em 2010, a taxa de homicídios do México foi de 18 por 100 mil habitantes; a média mundial é de 6,9 por 100 mil habitantes. O narcotráfico e atividades relacionadas são uma grande preocupação no país. A guerra às drogas no México deixou mais de 60 mil mortos e, talvez, outros 20 mil desaparecidos. Os cartéis de drogas mexicanos têm cerca de 100 mil membros. O Instituto Nacional de Estatística e Geografia do governo mexicano estimou que houve crimes por habitantes em 2012. Desde que o ex-presidente Felipe Calderón lançou uma ofensiva contra os cartéis em 2006, mais de 28 mil supostos criminosos foram mortos. Do total de violência relacionada com a droga, 4% são pessoas inocentes, principalmente transeuntes e pessoas presas entre tiroteios; 90% criminosos e 6% militares e policiais. Em outubro de 2007, o presidente Calderón e o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciaram a "Iniciativa Mérida", um plano de cooperação policial entre os dois países. Subdivisões. O México está dividido em 31 estados autônomos mais a Cidade do México, formando uma união federal, que se listam abaixo por ordem alfabética, seguidos do nome da respectiva capital. A área metropolitana da Cidade do México e partes adjacentes do estado do México, é uma das áreas mais populosas do mundo. Cada estado tem sua própria constituição, congresso e um judiciário, e seus cidadãos elegem por votação direta para governador por um período de seis anos, e representantes para os respectivos congressos estaduais unicamerais por três anos. A Cidade do México é uma divisão política especial que pertence à federação como um todo e não a um estado particular, e, como tal, tem um governo local mais limitado do que os estados da nação. Economia. A economia do México é, atualmente, a 14.ª maior do mundo se consideramos seu Produto Interno Bruto (PIB) nominal (dados de 2011), bem como a 11.ª se for levado em conta seu PIB medido em Poder de Compra (além de ser, efetivamente, a 2.ª mais desenvolvida da América Latina, superada somente pelo Brasil). Desde a crise de 1994, as administrações têm melhorado os fundamentos macroeconômicos do país. O México não foi significativamente influenciado pela crise sul-americana de 2002 e tem mantido taxas positivas de crescimento após um breve período de estagnação em 2001. As agências de risco Moody's (março 2000) e a Fitch Ratings (em janeiro de 2002) emitiram "ratings" de grau de investimento para a dívida soberana do México. Apesar de sua estabilidade macroeconômica sem precedentes, o que reduziu a inflação e as taxas de juro para níveis recordes e aumentou a renda per capita, as disparidades continuam enormes entre a população urbana e a rural, os estados do norte, centro e sul, e entre os ricos e os pobres, embora tenha havido uma crescente classe média desde meados da década de 1990. O acordo de livre comércio mais influente é o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), que foi assinado em 1992 pelos governos dos Estados Unidos, Canadá e México e entrou em vigor em 1994. Em 2006, o comércio do México com os dois parceiros do norte foi responsável por quase 50% das exportações e 45% das importações do país. O México representa 5% do PIB (Produto Interno Bruto) do bloco. Recentemente, o Congresso da União aprovou uma importante reforma fiscal, de pensões e judicial, e a reforma da indústria do petróleo está sendo atualmente discutida. De acordo com a lista das maiores empresas do mundo em 2008 Forbes Global 2000, o México tinha 16 empresas na classificação. O México tem uma economia mista de livre mercado e está firmemente estabelecido como um país de renda média-alta. É a 11.ª maior economia do mundo, medida do produto interno bruto (PIB) em Poder de Compra. Segundo as últimas informações disponíveis a partir do Fundo Monetário Internacional, o México tinha o segundo maior Produto Nacional Bruto per capita na América Latina, em termos nominais, em 9 716 dólares em 2007 e o maior em paridade do poder de compra (PPC), em 14 119 dólares em 2007. Após a crise econômica de 1994, o México fez uma recuperação impressionante, construindo uma moderna e diversificada economia. O petróleo é a maior fonte de renda externa do México. De acordo com a Goldman Sachs, com a revisão BRIMC das economias emergentes, em 2050 as maiores economias do mundo serão as seguintes: China, Índia, Estados Unidos, Brasil e México. O México é a maior nação produtora automobilística da América do Norte, superando o Canadá e, mais recentemente, os Estados Unidos. O México é o primeiro e único país latino-americano a ser incluído no "World Government Bond Index" ou WGBI, que lista as economias globais mais importantes que circulam títulos da dívida pública. Segundo o diretor para o México no Banco Mundial, a população em situação de pobreza diminuiu de 24,2% para 17,6% na população geral e de 42% para 27,9% em áreas rurais no período 2000–2004. No entanto, a desigualdade de renda continua sendo um problema e enormes lacunas permanecem, não só entre áreas ricas e pobres, mas também entre o norte e o sul, e entre os meios urbano e rural. Fortes contrastes de renda e desenvolvimento humano são também um problema grave no México. O relatório de 2004 do Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas apontou que Benito Juárez, na capital Cidade do México, e San Pedro Garza García, no estado de Nuevo León, teriam um nível de desenvolvimento econômico, educacional e de expectativa de vida semelhante ao da Alemanha ou Nova Zelândia. Em contrapartida, Metlatónoc, no estado de Guerrero, teria um IDH similar ao da Síria. O crescimento médio anual do PIB para o período de 1995–2002 foi de 5,1%. A recessão econômica nos Estados Unidos causou também um padrão semelhante no México, de onde se recuperou rapidamente ao crescer 4,1% em 2005 e 3% em 2005. A inflação alcançou um nível recorde de 3,3% em 2005 e as taxas de juros estão baixas, o que tem estimulado o consumo de crédito na classe média. O México tem experimentado na última década a estabilidade monetária: o déficit orçamentário foi reduzido e a dívida externa foi reduzida para menos de 20% do PIB. As remessas de cidadãos mexicanos que trabalham nos Estados Unidos representam apenas 0,2% do PIB do México, o que representou 20 bilhões de dólares por ano em 2004 e é a décima maior fonte de renda externa do país, depois do petróleo, exportações industriais, bens manufaturados, eletrônica, indústria pesada, automóveis, construção, alimentos, serviços bancários e financeiros. Segundo o banco central do México, as remessas caíram 3,6% em 2008, para 25 bilhões de dólares. Em 2018, 48% da população vivia na pobreza e os 10% mais ricos da população detinham quase 80% da riqueza nacional. Mais de três milhões de crianças eram obrigadas a trabalhar devido à pobreza das famílias. A corrupção é um grande desafio para a economia mexicana: de acordo com estudos do Banco Mundial, a corrupção política e económica pode representar 9% do PIB. Cerca de 60% da população ativa trabalha na economia informal e 15% nos Estados Unidos. Estes últimos absorvem 80% das exportações mexicanas, o que coloca o país latino-americano numa situação de extrema dependência que o obriga frequentemente a aceitar as exigências de Washington. Turismo. O México tem a 23.ª maior renda de turismo no mundo e a maior da América Latina. A grande maioria dos turistas que vêm ao México são dos Estados Unidos e do Canadá, seguidos por visitantes de países da Europa e da Ásia. Um número menor também vêm de outros países latino-americanos. No Índice de Competitividade em Viagens e Turismo de 2011, o México ficou em 43.º lugar no mundo e em quarto na América. Infraestrutura. Ciência, tecnologia e educação. De acordo com dados do Scopus, um banco de dados de registros bibliográficos e revistas científicas, o México se posiciona na 28ª posição no mundo em matéria de publicações científicas, ocupando o segundo lugar entre os países da América Latina, depois do Brasil, e também o segundo lugar entre os países hispanofalantes, atrás da Espanha. Em 2010, o índice de alfabetização era de 69% para jovens com menos de 14 anos, e 91% para as pessoas acima de 15, colocando o México em 24.º lugar no ranking mundial de acordo com a UNESCO. Na década de 1970, o México estabeleceu um sistema de "ensino a distância" através de comunicações de satélite para atingir pequenas comunidades rurais e indígenas inacessíveis por outros meios. Escolas que usam esse sistema são conhecidas no México como "telesecundarias". O ensino a distância da educação secundária no México também é transmitido para alguns países da América Central e para a Colômbia, e é usado em algumas regiões do sul dos Estados Unidos como um método de educação bilíngue. Há aproximadamente 30 mil "telesecundarias" e cerca de um milhão de estudantes de "telesecundaria" no país. Energia. A produção de energia no México é gerida por empresas estatais: a Comissão Federal de Eletricidade ("Comisión Federal de Electricidad", CFE) e a Pemex ("Petróleos Mexicanos"). A CFE é responsável pela operação de usinas geradoras de eletricidade e sua distribuição em todo o território nacional desde outubro de 2009, quando assumiu a área sob responsabilidade da extinta "Luz y Fuerza del Centro". A maior parte da eletricidade é gerada em usinas termoelétricas, embora a CFE opere várias usinas hidrelétricas, bem como a energia eólica, geradores de energia geotérmica e nuclear. Os recursos naturais são "propriedade da nação" pela constituição. Como tal, o setor petrolífero é administrado pelo governo, com diferentes graus de investimento privado. O México é o sexto maior produtor de petróleo do mundo, com 3,7 milhões de barris por dia. A Pemex, empresa pública responsável pela prospecção, extração, transporte e comercialização de petróleo e gás natural, bem como a refinação e distribuição de produtos petrolíferos e petroquímicos, é uma das maiores empresas na América Latina, fazendo 86 bilhões de dólares em vendas por ano. A empresa é fortemente tributada, sendo uma importante fonte de receita para o governo. Em 1980 as exportações de petróleo representaram 61,6% do total das exportações, enquanto em 2000 foram apenas 7,3%. Em 2021, o México tinha, em energia elétrica renovável instalada, em energia hidroelétrica (19º maior do mundo), em energia eólica (15º maior do mundo), em energia solar (18º maior do mundo), em biomassa e em energia geotérmica (6° maior do mundo). Saúde. Desde o início da década de 1990, o México entrou em um estágio de transição em relação à saúde de sua população e alguns indicadores, como o índice de mortalidade, estão similares àqueles encontrados nos países desenvolvidos. Apesar de todos os mexicanos poderem receber tratamento médico pelo estado, 50,3 milhões de mexicanos não possuíam plano de saúde em 2002. Têm sido feito esforços para aumentar esse número de pessoas, e a administração pretendia completar um sistema de saúde universal até 2011. A infraestrutura médica do México é muito boa na sua maior parte e pode ser excelente nas principais cidades, mas nas áreas rurais e comunidades indígenas a cobertura médica é pobre, forçando as populações a viajar para a área urbana mais próxima para receber tratamento médico especializado. Instituições do estado, como o Instituto Mexicano do Seguro Social (IMSS) e o Instituto de Segurança e Serviços Sociais dos Trabalhadores do Estado (ISSSTE) são as que mais contribuem para a saúde e segurança social. Serviços de saúde privados também são muito importantes e respondem por 13% de todas as unidades médicas do país. O tratamento de saúde nas instituições privadas e a prescrição de remédios no México tem custo um pouco menor que a média de seus vizinhos da América do Norte. Transportes. A rede de estradas pavimentadas no México é a segunda mais extensa da América Latina, com 116 802 km em 2005 (atrás apenas do Brasil, com 212 798) sendo 10 474 km de vias duplicadas ou vias expressas, a maioria das quais pedagiadas. No entanto, como o México tem uma orografia diversificada, com a maioria do território atravessado por cadeias de montanhas altas, além dos desafios econômicos, que levaram a dificuldades na criação de uma rede integrada de transportes, embora a rede tenha melhorado, ainda não é considerada eficaz o bastante para satisfazer as necessidades nacionais de forma adequada. O transporte de massa no México é modesto. A maior parte das necessidades de transporte doméstico de passageiros é servida por uma extensa rede de ônibus, com várias dezenas de empresas de exploração por regiões. O transporte de passageiros entre as cidades é limitado. Um dos primeiros países latino-americanos a promover o desenvolvimento do sistema de transporte de ferrovia, o México possui uma extensa rede ferroviária, com 30 952 km. A maior parte da rede ferroviária é usada principalmente para transporte de mercadorias ou carga industrial, operada principalmente pela Ferrocarriles Nacionales de México (FNM), privatizada em 1997. Apesar de vasta, a rede ainda é considerada ineficiente para atender às demandas econômicas de transporte no país. Em 1999, o México tinha 1 806 aeroportos, dos quais 233 tinham pistas pavimentadas, sendo que, destes, 35 respondiam por 97% do tráfego de passageiros. O Aeroporto Internacional da Cidade do México é o segundo maior da América Latina — atrás apenas do de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo — e o 44.º maior do mundo, atendendo a cerca de 21 milhões de passageiros por ano. Cultura. A cultura mexicana reflete a complexidade da história do país através da mistura das civilizações pré-hispânicas e da cultura da Espanha, transmitida durante a colonização de 300 anos da Espanha no México. Elementos culturais exógenos, principalmente dos Estados Unidos, foram incorporados à cultura mexicana. A era Porfiriana ("el Porfiriato"), no final do século XIX e primeira década do século XX, foi marcada pelo progresso econômico e pela paz. Após quatro décadas de conflito civil e guerra, o México assistiu ao desenvolvimento da filosofia e das artes, promovido pelo presidente Díaz. Desde aquele tempo, o que foi acentuado durante a Revolução Mexicana, a identidade cultural teve sua fundação na mestiçagem, cujo elemento é o núcleo indígena. À luz das diversas etnias que formaram o povo mexicano, José Vasconcelos, em sua publicação "La Raza Cósmica" ("A Raça Cósmica") (1925), definiu o México como um caldeirão de todas as raças (alargando assim a definição do mestiço), não apenas biologicamente mas culturalmente também. Esta exaltação da mestiçagem era uma ideia revolucionária que contrastava fortemente com a ideia de uma raça superior pura predominante na Europa na época. Belas artes. A arte pós-revolucionária no México tinha a sua expressão nas obras de artistas renomados como Frida Kahlo, Diego Rivera, José Orozco, Rufino Tamayo, Federico Cantú Garza, David Siqueiros e Juan O'Gorman. Diego Rivera, a figura mais conhecida do muralismo mexicano, pintou o "Man at the Crossroads" no Rockefeller Center em New York City, um imenso mural que foi destruído no ano seguinte devido à inclusão de um retrato do líder comunista russo Lênin. Alguns dos murais de Rivera são exibidos no Palácio Nacional mexicano e no Palácio de Belas Artes. Compositores acadêmicos do México incluem Manuel María Ponce, José Pablo Moncayo, Julián Carrillo, Mario LaVista, Carlos Chávez, Silvestre Revueltas, Arturo Márquez e Juventino Rosas, muitos dos quais incorporaram aos seus trabalhos elementos de música tradicional. Literatura. A literatura do México iniciou-se antes da chegada dos colonizadores europeus, com a produção literária nos assentamentos indígenas da Mesoamérica. O poeta mexicano pré-colombiano mais conhecido é Nezahualcóyotl. A literatura moderna mexicana foi influenciada pelos conceitos da colonização espanhola da América Central. Escritores e poetas coloniais proeminentes incluem Juan Ruiz de Alarcón e Juana Inés de la Cruz. O poeta Octavio Paz recebeu o Nobel de Literatura em 1990. Outros escritores importantes são: Alfonso Reyes, José Joaquín Fernández de Lizardi, Ignacio Manuel Altamirano, Carlos Fuentes, Renato Leduc, Jaime Labastida, Mariano Azuela e Juan Rulfo. B. Traven escreveu "El tesoro de Sierra Madre", que foi adaptado para o cinema em 1948. Cinema. Filmes mexicanos desde a Idade de Ouro entre 1940 e 1950 são os maiores exemplos de cinema latino-americano, com uma enorme indústria comparável à de Hollywood naqueles anos. Foram exportados filmes mexicanos e expostos em toda a América Latina e Europa. "Maria Candelaria" (1944), de Emilio Fernandez, foi um dos primeiros filmes no Festival de Cannes em 1946, na primeira vez em que o evento foi realizado após a Segunda Guerra Mundial. O famoso diretor espanhol Luis Buñuel nasceu no México. Atores e atrizes famosos deste período incluem María Félix, Pedro Infante, Dolores del Río, Jorge Negrete e os comediantes Cantinflas e Roberto Gomez Bolaños. Mais recentemente, filmes como "Como Água para Chocolate" (1992), "Cronos" (1993), "Amores Brutos"' (2000), "Tu Y Mama También" (2001), "O Crime do Padre Amaro" (2002), "O Labirinto do Fauno" (2006) e "Babel" (2006) têm sido bem-sucedidos na criação de histórias universais sobre temas contemporâneos, e foram reconhecidos internacionalmente, como no Festival de Cinema de Cannes. Os diretores mexicanos Alejandro González Iñárritu, Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro e o roteirista Guillermo Arriaga são alguns dos mais conhecidos cineastas atuais. Culinária. Em 2006, o México apresentou a candidatura de sua gastronomia como parte do Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Foi a primeira vez em que um país apresentou sua tradição gastronômica para tal posto. No entanto, o resultado foi negativo, porque, de acordo com a decisão, a comissão não colocou ênfase adequada sobre a importância do milho na culinária mexicana. Finalmente, em 16 de novembro de 2010, a culinária mexicana foi reconhecida pela UNESCO como Património Mundial, com o argumento de que a cozinha local manteve sua identidade intacta desde suas raízes pré-hispânicas. O título abrange desde os ingredientes clássicos, como milho, feijão, abóbora e pimentão, até os sabores atuais, influenciados pela colonização europeia. A cozinha mexicana atual foi estabelecida durante a colonização espanhola, numa mistura de pratos da Espanha com ingredientes indígenas nativos. De origem indígena, são usados na culinária mexicana o milho, pimenta, abóbora, abacate, batata-doce, peru e outras frutas e temperos. Outros produtos indígenas são os muitos tipos de feijões. Da mesma forma, algumas técnicas de cozinha que são usadas hoje foram herdadas de povos pré-colombianos, como o processamento de milho, os fornos de cozimento de alimentos a-terra, moagem em almofariz e metate. Com os espanhóis vieram as carnes de porco, frango e vaca, pimenta-preta, açúcar, leite e todos os seus derivados, trigo e arroz, cítricos e uma constelação de ingredientes que fazem parte da dieta diária dos mexicanos. A partir desse encontro de duas culinárias com milênios de antiguidade, nasceu a barbacoa, o mole, pozole e tamal em sua forma atual, o chocolate, uma grande variedade de pães, tacos e o grande repertório de petiscos mexicanos. Também nasceram bebidas como atole, champurrado, chocolate de leite e as águas frescas; sobremesas como o acitrón (doce cristalizado de cacto) e toda uma gama de doces cristalizados; rompope (uma bebida alcoólica com gema de ovo), cajeta (um caramelo de leite de cabra), jericaya (doce típico mexicano com leite, ovos e outros ingredientes), bem como grande variedade de iguarias criadas nos conventos em todas as partes do país. Algumas bebidas mexicanas superaram suas fronteiras e são consumidas diariamente na América Central, Estados Unidos, Canadá, Espanha e Filipinas, como no caso da Água de Jamaica, horchata de arroz, a margarita e a tequila. Esportes. A Cidade do México organizou os Jogos Olímpicos de Verão de 1968, tornando-se a primeira cidade latino-americana a receber o evento. O país também recebeu a Copa do Mundo da FIFA duas vezes, em 1970 e 1986. O esporte mais popular do México é o futebol. Com frequência, acredita-se que o futebol foi introduzido no México pelos mineiros córnicos no final do século XIX. Em 1902, uma liga de cinco equipes emergiu com uma forte influência britânica. Os melhores clubes do México são o América, com 12 campeonatos, o Guadalajara, com 11, e o Toluca, com 10. Antonio Carbajal foi o primeiro jogador a jogar em cinco Copas do Mundo e Hugo Sánchez foi nomeado o melhor jogador da CONCACAF do século XX pela IFFHS. A liga de beisebol profissional do país é nomeada Liga Mexicana de Béisbol. Embora geralmente não seja tão forte como os Estados Unidos, os países do Caribe e o Japão, o México conseguiu vários títulos internacionais de beisebol. As equipes mexicanas ganharam a Série do Caribe nove vezes. O México teve vários jogadores contratados pelas equipes da Major League Baseball, sendo o mais famoso deles o artilheiro Fernando Valenzuela, dos Los Angeles Dodgers. Em 2013, a Seleção Mexicana de Basquetebol venceu a Copa América de Basquetebol Masculino e se classificou para o Campeonato Mundial de Basquetebol Masculino de 2014, onde alcançou os "playoffs". Por causa dessas conquistas, o país obteve os direitos de hospedar a Copa América de Basquetebol Masculino de 2015. A tourada é um esporte popular no país e quase todas as grandes cidades têm praças de touros. A Plaza México, na Cidade do México, é a maior praça de touros do mundo, com capacidade para 55 mil pessoas. A "lucha libre" é um esporte popular com campeonatos nacionais, como AAA, CMLL e outros. O México é uma potência internacional no boxe profissional (no nível amador, várias medalhas olímpicas de boxe também foram conquistadas pelo México). Salvador Sánchez e Julio César Chávez são apenas alguns lutadores mexicanos que foram classificados entre os melhores de todos os tempos.
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Maria Monforte
Maria Monforte
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Movimento browniano
Movimento browniano Movimento Browniano ou pedesis ( "pulando") é o movimento aleatório das partículas suspensas em um fluido (líquido ou gás), resultante da sua colisão com átomos rápidos ou moléculas no gás ou líquido. O movimento Browniano é um dos mais simples processos da estocástica (ou probabilística) de tempo contínuo, e é um limite de ambos os processos mais simples e mais complicados estocásticos ("veja" passeio aleatório e teorema de Donsker). Esta universalidade está intimamente relacionada com a universalidade da distribuição normal. Em ambos os casos, é muitas vezes conveniência matemática, em vez da precisão dos modelos, que motiva a sua utilização. O termo "movimento Browniano", nomeado em homenagem ao botânico Robert Brown, também pode se referir ao modelo matemático usado para descrever tais movimentos aleatórios, que muitas vezes é chamado de teoria da partícula. Este modelo tem inúmeras aplicações do mundo real. Por exemplo, flutuações do mercado de ações são frequentemente citados, embora Benoît Mandelbrot rejeitou sua aplicabilidade aos movimentos de preços de ações, em parte, porque estes são descontínuos. Conceito. O movimento browniano é o movimento aleatório de partículas num fluido (líquido ou gás) como consequência dos choques entre todas as moléculas ou átomos presentes no fluido. O termo movimento browniano pode ser usado para se referir a uma grande diversidade de movimentos com partículas, com moléculas, e com ambos presentes em estados desde micro até macroscópicos em situações de organização caóticas, semi-caóticas, ou de proporções matemáticas, principalmente em casos de modelagem, todos estes na área denominada Física de partículas. Esse fenômeno físico que é intrínseco à matéria e aos choques que ocorrem nos fluidos, também pode ser observado com macromoléculas, tendo por exemplo o momento que a luz incide em locais relativamente secos, permitindo que se veja macropartículas "flutuando" em suspensão no ar fazendo movimentos aleatórios. Vulgarmente confunde-se com poeira, entretanto deve-se notar que o ar (o fluido em questão) que pratica o movimento browniano e não as partículas (ou macromoléculas, neste caso poeira) que estão naquele. Há um padrão pouco explícito em alguns casos deste movimento aleatório que o classifica como um movimento fractal, pois descreve um padrão dinâmico bem definido. Quem primeiro percebeu isso foi Benoît Mandelbrot, matemático francês. Esse movimento está diretamente ligado com muitas reações em nível celular, como a difusão, a formação de proteínas, a síntese de ATP e o transporte intracelular de moléculas. Hoje em dia, o movimento browniano serve de modelo na descrição de flutuações que ocorrem nos mais diversos e inesperados tipos de sistemas. Por exemplo, praticamente a mesma descrição e o mesmo tratamento matemático de Einstein podem ser adaptados para descrever flutuações de preços de mercadorias, a condutividade elétrica em metais e a ocorrência de cheias nos rios. Físicos atualmente estudam tal movimento em relação à Teoria do Caos. Breve História. O poema didático latino De rerum natura (Sobre a natureza das coisas), escrito por Tito Lucrécio Caro cita: Demonstrando algum conhecimento das sociedades antigas sobre como choques de partículas geram os vários fenômenos que são citados. É de se observar que na época em questão não havia aceitação e nem entendimento unânime sobre a existência de átomos e outros componentes da matéria. A disputa atômica começou com Demócrito e Anaxagoras. Os filósofos se opunham às teorias atômicas, distinguidos pela questão da gota d´água, por exemplo, que deve se dividir repetidamente sem limite, com cada subdivisão preservando as propriedades da original. A escola atômica de Demócrito defendia que as subdivisões não podiam continuar indefinidamente. A doutrina da homogeneidade seguida por Anaxagoras defende que a divisão da gota pode continuar sem término, porque o tamanho do corpo não reflete a natureza da substância. Descoberta do Movimento Browniano. Em 1827, ao olhar através de um microscópio partículas encontradas em grãos de pólen na água,o biólogo Robert Brown observou que as partículas se moviam através da água, mas não foi capaz de determinar os mecanismos que causaram este movimento. Assim, foi o primeiro a observar cientificamente o movimento que achou se tratar de uma nova forma de vida, pois ainda não se tinha completa ciência da existência de moléculas, e as partículas pareciam descrever movimentos por vontade própria. Jan Ingenhousz também fez algumas observações do movimento irregular de poeira de carbono em álcool em 1765. Porém, a primeira pessoa a descrever a matemática por trás do movimento Browniano foi Thorvald N. Thiele em 1880 em um artigo no método dos menores quadrados. Isto foi seguido independentemente por Louis Bachelier em 1900 em sua tese de PhD "A Teoria da Especulação". Átomos e moléculas , posteriormente foram teorizados como os constituintes da matéria e, muitas décadas depois, Albert Einstein publicou um artigo em 1905 que explicava em detalhes precisos como o movimento que Brown tinha observado era o resultado do pólen sendo movido por moléculas de água individuais. Esta explicação deste fenômeno de transporte serviu como a confirmação definitiva de que átomos e moléculas realmente existem, e foi ainda verificada experimentalmente por Jean Baptiste Perrin, em 1908. Perrin foi agraciado com o Prêmio Nobel de Física em 1926 "por seu trabalho sobre a estrutura descontínua da matéria" (Einstein tinha recebido o prêmio cinco anos antes "por seus serviços à física teórica", com citação específica de uma pesquisa diferente). Sendo então que a direção da força de bombardeamento atômico está constantemente mudando, e em diferentes momentos da partícula é atingido mais de um lado do que o outro, levando à natureza aparentemente aleatória do movimento. Resultados físicos posteriores. Theodor Svedberg fez importantes demonstrações do movimento Browniano em colóides e Felix Ehrenhaft, em partículas de prata no ar. Jean Perrin realizou experimentos para testar os novos modelos matemáticos e seus resultados publicados finalmente colocaram um fim na disputa de dois mil anos sobre a existência dos átomos e moléculas.E, por esses trabalhos, ele foi agraciado com o prêmio Nobel de Física de 1926. Alguns anos depois do trabalho de Einstein, o matemático Norbert Wiener provou que a trajetória browniana tem comprimento infinito entre dois pontos quaisquer. O caminho traçado pela partícula é tão demorado que, se houvesse um tempo infinitamente longo, ela percorreria todo o plano, sem deixar de passar por nenhum ponto. Tecnicamente se diz que, contrariando as aparências, o caminho percorrido pela partícula browniana não é uma linha (com dimensão 1), mas é uma superfície (com dimensão 2)! E tem mais: Não pense que a trajetória da partícula browniana parece ser irregular porque o microscópio não tem um aumento suficiente para mostrar os detalhes da curva. Nada disso. Com um microscópio mais potente veríamos mais detalhes, realmente, mas a curva seria tão angulosa e irregular quanto antes. Outras Pesquisas. Outro francês, Louis Bachelier, em sua tese de doutoramento apresentada em 1900, cinco anos antes do artigo de Einstein, desenvolveu praticamente toda a teoria do movimento aleatório, obtendo expressões semelhantes às que seriam depois obtidas por Einstein. No entanto, Bachelier não descrevia um sistema físico, como partículas suspensas em água, mas as flutuações das ações de uma bolsa de valores. Por essa razão, seus resultados passaram inteiramente despercebidos pelo,s físicos da época. Hoje, sabe-se que o tratamento teórico dessas flutuações serve para explicar inúmeros fenômenos que ocorrem em áreas completamente distintas, como a física, a biologia, a economia e as ciências políticas. A observação aparentemente inocente de Robert Brown revelou-se muito mais importante do que parecia do que quando foi relatada pela primeira vez. Movimento Browniano na Física. A primeira teoria do Movimento Browniano na Física foi publicada por Einstein em sua tese de doutoramento no ano de 1905, publicada em "Annalen der Physik". Inicialmente, Einstein analisou as equações de Navier-Stokes para o escoamento de um fluido incompressível, obtendo: formula_1 Onde, formula_2 = Viscosidade efetiva na presença de soluto; formula_3 = Viscosidade do solvente puro; formula_4 = Parte do volume total que é ocupada pelo soluto. Assim, com base em grandezas conhecidas, como a massa molar e a densidade, tem - se que: formula_5 Desse modo, as únicas incógnitas são o raio da partícula (formula_6) e o Número de Avogrado (formula_7). O cientista buscou ainda outro modo de relacionar formula_6 e formula_7, obtendo um resultado matemático em que relaciona a difusão (D) com a temperatura e a viscosidade do fluido, de forma: formula_10 Onde, D = Coeficiente de Difusão R = Constante universal dos gases T = Temperatura Termodinâmica formula_11 = Raio das partículas formula_3 = Viscosidade do solvente puro formula_7 = Número de Avogadro Por meio do Movimento Browniano, Einstein possibilitou a observação de flutuações de partículas que anteriormente possuíam desvio quadrático médio muito pequeno. A base de sua teoria é tida como a semelhança do comportamento de soluções e do comportamento de suspensões diluídas, onde existe uma relação do coeficiente de difusão com a viscosidade, somado à uma dedução probabilística da equação de difusão. Diante desses cálculos, foi elaborado para o Movimento Browniano o deslocamento quadrático médio na direção "x" e o tempo de observação "t", tal que: formula_14 No caso tridimensional, devido a isotropia, temos que: formula_15 formula_16 Alguns anos após as descobertas de Einstein, em 1908, Paul Langevin, assim como outros cientistas, buscou a generalização das fórmulas já criadas. Assim, Langevin definiu que o Movimento Browniano de uma partícula que esteja fora de um campo de força conservativo pode ser escrito como uma equação diferencial, sendo: formula_17 Onde, formula_3 = Viscosidade do meio; formula_19 = Velocidade da particula; formula_20 = Força aleatória. Vale ressaltar que formula_20 é uma força que mantêm a agitação das partículas em suspensão, sendo atribuída a força gerada pelas moléculas do fluido nas partículas suspensas. Langevin demonstrou que a variância da velocidade é dada por: formula_22 Onde, formula_23= Constante a ser calculada; formula_3 = Viscosidade do meio; formula_25= Tempo. Desse modo, para tempo longos, a função exponencial tende a zero, assim: formula_26 Levando em conta fatores como a energia cinética média das partículas, Langevin demonstra que: formula_27 Onde, formula_28 = Constante de Boltzmann; T = Temperatura do meio externo. Dessa maneira, para tempos suficientemente longos, a teoria de Langevin é equivalente as propostas de Einstein sobre o Movimento Browniano. Analogia do Marinheiro bêbado. Uma maneira simples de compreender o processo de difusão do Movimento Browniano é o passeio ao acaso em uma dimensão, que pode ser exemplificado pelo "problema do marinheiro bêbado". Um marinheiro bêbado andando em linha reta, no eixo X, partindo de um poste dá sempre passos do mesmo tamanho. Tendo a possibilidade de caminhar para frente ou para trás. Qual será a sua distancia do poste após N passos? Sendo formula_29 a posição após n passos. temos então: formula_30 formula_31 formula_32 formula_33 O que resulta em: formula_34, mas formula_35 ou seja: formula_36 Sendo: N - o número de passos dados l - o tamanho dos passos Exemplo Biofísico : A saída estreita. O problema da saída estreita (ou da janela estreita) é um problema da física, aplicado a biologia ou a biologia celular, aonde uma partícula Browniana (íon, molécula ou proteína), está confinada num domínio fechado (ou dentro de uma célula) por uma membrana refletiva (membrana plasmática), exceto por uma pequena janela pela qual ela pode sair. O problema resume-se em calcular o tempo médio para que ela escape. Sendo que este tempo é influenciado pelo tamanho da janela, velocidade da partícula e afins. Gases. Em sistemas gasosos, ocorre a presença de movimento browniano. Na realidade um fluido puro apresenta movimento browniano entre suas partículas. Quando se adiciona qualquer impureza esta pode apresentar movimento browniano com suas partículas e com as do fluido, representando assim um complexo estudo probabilístico.
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Mecânica (desambiguação)
Mecânica (desambiguação) Ou ainda:
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Milagre
Milagre Em acepção geralmente empregada, milagre ou miráculo (do latim "miraculum", do verbo "mirare", "maravilhar-se") é um acontecimento dito extraordinário que, à luz dos sentidos e conhecimentos até então disponíveis, não possuindo explicação científica aindaconhecida, dá-se de forma a sugerir uma violação das leis naturais que regem os fenômenos ordinários. Para grande parte dos teístas, sua realização é atribuída à omnipotência divina, sendo considerado como um ato de intervenção direta de Deus (ou deuses) no curso normal dos acontecimentos. Geralmente os milagres têm, segundo esses, propósitos definidos, sendo o mais comum o de beneficiar, por mérito moral e ou de fé, adeptos de determinada crença em detrimento dos não adeptos, que permanecem sujeitos às leis regulares. Para a ciência não há milagres até o momento corroborados; e a natureza rege-se, com base no que se tem "ciência" ao menos até hoje, por leis naturais inexoráveis. Para a ciência, caso afronte a realidade universal, a crença exacerbada em milagres pode, inclusive, implicar riscos de morte ou mesmo fatalidades que, à luz dos fatos, far-se-iam plenamente desnecessários. Este verbete (milagre) também pode referir-se a uma forma de teatro religioso onde encenavam-se histórias atreladas às vidas dos anjos. Foram muito populares na Idade Média, e chegaram a fazer parte oficial dos ritos da Igreja Católica. Em tal acepção, o milagre ainda mostra-se importante em dias atuais, sobretudo na literatura. O Milagre e a Ciência. À luz da ciência, embora haja certamente muitas perguntas ainda sem resposta, situação plenamente coerente com o método científico e com o dinamismo e o ceticismo da ciência em sua definição moderna, não há milagres verificados. A busca científica por explicações para os fenômenos apoiados em fatos verificáveis - fatos científicos - tem historicamente conduzido a teorias científicas e explicações naturais para todos os fenômenos até então conhecidos. À luz da ciência, a natureza funciona conforme ela é, e não da forma como alguma deidade ou mesmos nós gostaríamos. Cabe-nos por tal entender as regras e utilizá-las a nosso favor; e não impô-las à natureza. Nas palavras de Jacob Bronowski: "O homem domina a natureza não pela força, mas pela compreensão. É por isto que a ciência teve sucesso onde a magia fracassou: porque ela não buscou um encantamento para lançar sobre a natureza" O universo é, sob concepção científica, regido por regras naturais e não vontades sobrenaturais; e a crença exacerbada na não veracidade dessa afirmação pode implicar riscos significativos, incluso o risco de morte, não apenas para os demais seres vivos como também para a própria pessoa humana . Segundoum famoso biólogo inglês, "(...) a natureza não é cruel, apenas implacavelmente indiferente. Essa é uma das lições mais duras que se têm de aprender." O Milagre e as Religiões. Cristianismo. De maneira geral, os cristãos creem também que no milagre como a manifestação direta e sobrenatural da vontade divina sobre determinada situação, e serve tão somente para que o nome de Deus seja glorificado, tal como os operados pelo seu Filho. Para estes, durante seu ministério, Jesus operou vários milagres, mostrando assim seu poder sobre a doença, a natureza, sobre o nascimento e até mesmo sobre a morte. Catolicismo. O milagre central sobre o qual se sustenta a crença católica atrela-se, junto a outros de igual importância nas Escrituras, ao nascimento de Jesus a partir de uma virgem, a Virgem Maria; expressando esse a pureza desse ser frente aos demais mortais. Já para os cristãos evangélicos o maior milagre, que é o mais recorrente até hoje, é a salvação de um pecador, que apenas o próprio Cristo, por intermédio do Espírito Santo, pode operar num indivíduo. Destaca-se também que, para os protestantes de vertente reformada, segundo o princípio do Sola Scriptura, não é necessária a crença em nenhum outro milagre que não sejam os narrados na Sagrada Escritura. Cristianismo evangélico. Para a maioria dos cristãos evangélicos, o literalismo bíblico assegura que os milagres descritos na Bíblia ainda são relevantes e podem estar presentes na vida do crente. Curas, sucessos acadêmicos ou profissionais, o nascimento de uma criança após várias tentativas, o fim de um vício, etc., seriam exemplos tangíveis da intervenção de Deus com ofé e oração, pelo Espírito Santo. Na década de 1980, o movimento neopentecostalismo enfatizou novamente os milagres e a cura pela fé. Em certas igrejas, um lugar especial é reservado paracuras com imposição de mãos durante o culto ou para campanhas evangelização. A cura pela fé ou cura divina é considerada uma herança de Jesus adquirida por sua morte e ressurreição. Espiritismo. Embora não seja panteísta, segundo a Doutrina Espírita, não existem milagres na concepção comumente empregada a este termo. Para os kardecistas, todos os acontecimentos ocorrem em acordo com o que denominam de Leis Naturais. Segundo a lógica Espírita, sendo essas Leis criadas e mantidas por Deus, e sendo Deus perfeito, não haveria motivo para derrogá-las ou contradizê-las uma vez que elas próprias derivam da perfeição. O Espiritismo segue assim uma doutrina com base naturalista; contudo considerando os espíritos como entidades reais, integrantes e atuantes do universo natural. As Leis Naturais - também nomeada Lei Divina - por consequência estendem-se, e abrangem agora leis comportamentais; encontram-se a Lei Divina assim dividida em duas partes: uma parte física e uma parte moral. Tendo em vista que o conhecimento humano atual ainda não é capaz de explicar todos os eventos no universo, para o Espiritismo, tudo aquilo que não encontra, até a presente data, explicação nas leis naturais conhecidas, será um dia explicado mediante o avanço da ciência. A ideia é análoga àquela difundida no meio científico - remetendo às bases do kardecismo estruturado como um misto de filosofia, religião, e em particular, ciência - e similar à encontrada no caso exemplo onde duas pessoas, muito distantes uma da outra, são imaginadas serem vistas conversando por meio de aparelhos eletrônicos - digamos radiotransceptores - contudo em épocas bem distintas: se para um indivíduo do século I tal fenômeno classificar-se-ia com certeza como um inegável milagre; para um indivíduo a par da ciência do século XXI, certamente não. Nesses termos, o Espiritismo categoricamente afirma que não faz milagres, e que mesmo a comunicação com "inteligências" de pessoas já mortas, por meio da mediunidade, pode ser explicada com base em Leis naturais que nada têm de sobrenatural. Da mesma maneira, os assim chamados “milagres” encontrados em textos sagrados estariam enquadrados dentro de eventos normais, mesmo que a ciência atual talvez ainda não possa explicá-los
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Maria
Maria
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Acordeão
Acordeão O acordeão (no Brasil também denominado sanfona, acordeon e gaita) é um instrumento musical aerofone de origem alemã, composto por um fole, palhetas livres e duas caixas harmónicas de madeira. É um instrumento de tecla. Etimologia e uso. A palavra "acordeão" vem do alemão "akkordium", pelo francês "accordéon". No Brasil é comum o uso das formas não preferenciais "acordeon" e "acordeom". Na Região Nordeste do Brasil, o instrumento é conhecido como "sanfona", embora este termo designe originalmente um instrumento musical de cordas muito tensas, similar à rabeca. "Sanfona" vem do grego σῠμφωνῐ́ᾱ, pelo latim "symphonia". Inicialmente, o termo sanfona denominava a concertina devido à similaridade do som produzido, depois passou a designar qualquer instrumento formado por um fole estruturado em pregas. Tal acepção posteriormente ganhou ainda mais difusão, sendo usada para caracterizar qualquer objeto semelhante a uma sanfona ("porta sanfonada", "pasta sanfonada" etc.). Devido à disseminação da cultura nordestina em outras regiões do Brasil, tal uso é hoje nacional. O uso do termo "gaita" como sinônimo de acordeão é particularmente comum no Rio Grande do Sul e em Cabo Verde). História. O "cheng". Em 2700 a.C., foi inventado, na China, o instrumento musical denominado "cheng", que é tocado até hoje. É uma espécie de órgão portátil tocado pelo sopro da boca. Tem a forma de uma fénix, que os chineses consideram a rainha entre as aves. O "cheng" é dividido em 3 partes: O recipiente de ar parece o bojo de um bule de chá. O canudo de sopro tem a forma de bico de bule ou do pescoço de um cisne. A quantidade dos tubos de bambu variava, porém, a mais usada é a de 17. Interessante é que, destes 17 tubos de bambu, 4 não têm a abertura embaixo para a entrada do ar, sendo, portanto, mudos e colocados somente por uma questão de estética. Na parte superior do recipiente de ar ou reservatório de ar, existem as perfurações onde são fixados os tubos de bambu. Em cada tubo, é colocado a lingueta ou palheta, para produzir o som. Este recipiente (espécie de cabaça) é abastecido constantemente pelo sopro do músico, que tapa, com as pontas dos dedos, os pequenos orifícios que existem na parte inferior de cada tubo. De acordo com a música a ser executada, ele vai soltando os dedos, podendo formar até acordes. Em cada tubo de bambu, há um caixilho próprio para ser colocada a lingueta, presa por uma extremidade e solta na outra, que vibra livremente quando o ar comprimido a agita. O "cheng" é o precursor do harmónio e do acordeão, pois foi o primeiro a ser idealizado e construído na família dos instrumentos de palheta. De acordo com a região que era usado, o "cheng" recebia nomes diferentes: "schonofouye", "hounofouye", "tcheng", "cheng", "khen", "tam kim", "yu", "tchao" e "ho". Invenção do acordeão na Europa. De acordo com o padre jesuíta Amiot, o "cheng" foi levado da China para São Petersburgo, na Rússia, onde Kratzenstein (Christien Theophile), doutor em filosofia, em medicina e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Copenhague, nascido em Wernigerode, na Prússia, em 1723, examinou o instrumento e verificou que o seu agente sonoro era uma lâmina de metal que vibrava por meio do sopro, produzindo sons graves e agudos. Ele sugeriu que Kirschnik aplicasse, nos tubos dos órgãos de sua fabricação, esta lâmina livre de metal, o que foi feito em 1780. Da Rússia, passou para a Europa, tendo a Alemanha tomado grande interesse sobretudo nos instrumentos de órgão. Foi daí que Christien Friederich Ludwig Buschmann, fabricante de instrumentos, teve a ideia de reunir várias lâminas afinadas e fixadas numa placa formando uma escala cujos sons se faziam ouvir passando rapidamente através do sopro, isto em 1822. Mais tarde, ele transformou esta pequena placa num instrumento musical para brinquedo de criança, tocado com as duas mãos, ao qual deu o nome de handaolina ou harmónica de mão. Para tanto, aumentou o número de palhetas de metal e o tamanho do aparelho , anexando- lhe um pequeno fole e uma série de botões. Este instrumento, depois, segundo a história, foi aperfeiçoado por Koechel e, 7 anos mais tarde, o austríaco Cirilo Demian construiu, em Viena, um instrumento rudimentar de palheta livre, teclado e fole, ao qual, em virtude de ter 4 botões na parte da mão esquerda que, ao serem tocados com os dedos afundados, permitiam a obtenção do acorde, deu o nome de acordeão, nome que ficou definitivamente ligado ao instrumento através de inúmeros aperfeiçoamentos. O sistema de palheta livre já havia sido aperfeiçoado por Grenié em 1810, na França, sendo rico em sonoridade e dando origem ao órgão. O francês Pinsonat empregou o mesmo sistema no alamiré ou diapasão tubular que veio a chamar-se tipófono ou tipótono e do qual se originou a gaita de boca, cuja invenção se deve a Eschenbach. A gaita de boca é um conjunto de palhetas metálicas como linguetas, dispostas cada uma em seu caixilho e vibradas pelo ar soprado pela boca. Na França, o acordeão foi aperfeiçoado em 1837 por C. Buffet. Segundo todos os tratados sobre o assunto, o acordeão nada mais é do que o aperfeiçoamento de diversos instrumentos do mesmo género, como o oeline de Eschenbach, o aerophone de Christian Dietz, a physarmónica de Hackel, etc., tomando, desde esta data, sua forma definitiva e seus variados registos para mudança de intensidade e timbre do som. Mais tarde, com a escala cromática, o acordeão pôde produzir qualquer melodia ou harmonia e inúmeros fabricantes o aperfeiçoaram colocando registros, tanto na mão direita com na esquerda, para maior variedade de sons. Na Alemanha, o primeiro acordeão foi construído em 1822, em Berlim, é deste país que vêm os célebres acordeões da marca Hohner. Os primeiros acordeões italianos foram construídos em 1863 em Castelfidardo, em Ancona, surgindo depois Paolo Soprani e Stradella-Dellapé. Acordeão. O acordeão possui palhetas, fixadas em pequenos suportes de madeira chamados de castelos. O som do acordeão é criado quando o ar que está no fole passa por pequenos tubos nos castelos que o direcionam até as palhetas, com a pressão do ar as palhetas vibram gerando o som. Quanto maior o tamanho da palheta, mais grave o som produzido. Quanto mais forte o ar é forçado para as palhetas, mais intenso é o som. O movimento do fole é controlado com o braço esquerdo. A maioria dos acordeões tem quatro vozes, que são diferentes oitavas para uma mesma tecla ou botão. Portanto, num acordeão de quatro vozes com o registro 'master' pressionado, ao tocar um Dó, na verdade são tocados dois Dós na oitava que pressionou, um Dó uma oitava acima e um Dó na oitava abaixo, e isso é responsável pelo som único do acordeão. Teclado ou botões. No que toca ao lado direito do acordeão, um acordeão cromático pode ter botões ou teclado. O acordeão com teclado ou piano, é composto por um teclado de um piano colocado na vertical, com as notas mais graves em cima e as mais agudas em baixo. O acordeão cromático com botões, apresenta botões cujo número pode variar, que são tocados com a mão direita, e cuja disposição dos botões segue a ordem das escalas cromáticas. Além destes tipos, existe, actualmente, o acordeão de baixo solto, que é construído como o campo esquerdo do piano, sendo possível formar acordes mais sofisticados. Ao pisar uma tecla do teclado ou um botão, uma alavanca sobe, que libera um buraco ligado ao fole que permite o ar passar pelas palhetas e assim criar o som. Baixos. Os baixos são botões tocados com a mão esquerda que exercem função ou de baixo (como a tuba numa banda ou a mão esquerda em uma valsa para piano), tocando notas e acordes, num ritmo determinado pelo estilo de música (podem também ser pisados o baixo e o acorde simultaneamente para exercer a função do teclado em uma banda de rock) ou de baixo-livre (como os pedais em um órgão), mais usado em peças clássicas e dobrados. A principal configuração de baixos é o sistema Stradella, na qual as duas primeiras fileiras são notas, sendo a segunda o baixo fundamental, que determina a tonalidade dos acordes abaixo, e a primeira, acima da segunda, o intervalo de terça maior a partir da fundamental. As outras 4 fileiras abaixo são os acordes maiores, menores, de sétima dominante e sétima diminuto, organizados em colunas a partir da nota de sua fileira, como demonstrado abaixo: Os baixos fundamentais e contra-baixos são organizados em quintas com a nota seguinte, como de si bemol para fá, de fá para dó, de dó para sol etc. Quanto ao dedilhado dos baixos, a localização das notas em um acordeão de 120 baixos é feita através de marcas nos baixos fundamentais de lá bemol, dó e mi. A maioria dos acordeonistas eruditos utiliza o dedilhado 4-3-2-5, na qual os baixos fundamentais são tocados com o dedo 4, utilizando o dedo 2 para alcançar o botão ao lado(a quinta), quando necessário; o dedo 3 para os acordes maiores; e o dedo 2 para acordes menores, 7 dominante e 7 diminuto, se utilizando o dedo 3 para pisar o botão ao lado (a quinta), quando necessário, já que o dedo 2 estaria ocupado tocando o acorde. Em caso de necessidade de pisar o contrabaixo menor, utiliza-se o dedo 5, como com o dedo 4 em dó e o 5 em mi bemol. Obviamente, existem exceções, como em casos em que se utiliza o dedo 3 para pisar o baixo de dó e o dedo 4 para pisar o acorde de fá maior, entre outros casos especiais Popularmente, também é utilizado o dedilhado 3-2-5, no qual se utiliza o dedo 3 e 2 para baixos e contrabaixos (o 5 em contrabaixos menores) e o 2 em todos os acordes, maiores, menores, 7 dominante e diminutos. Em caso de baixo-livre, o dedilhado deve ser elaborado pelo acordeonista ou é fornecido na própria partitura, acima ou abaixo da nota. A maioria dos acordeões com o sistema Stradella são com o seguinte número e configuração de baixos: Registros. Registros são teclas que modificam o som, alternando quais oitavas são tocadas. Localizam-se acima das teclas, no caso do teclado ou então próximos ao fole ou no caso dos baixos na parte de trás do acordeão. Os registros mais comuns são: Entre muitos outros, podendo ter até mais de 30 teclas (repetindo alguns registros para melhor alcance durante a execução da música). Os acordeões também possuem registros no lado da baixaria responsáveis por alternar as oitavas tocadas nos baixos. A quantidade desses registros varia conforme marca e modelo de cada instrumento. Notação musical. A notação musical do acordeão é feita em clave de sol e de fá, como ilustra o fragmento abaixo: A clave de sol é escrita exatamente como em partituras para piano (no caso de acordeões cromáticos), obedecendo as mesmas normas de dinâmica e escrita, pois o teclado é idêntico. É na clave de fá onde está a grande diferença entre a partitura de acordeão e piano. É organizada da seguinte maneira: Abaixo da linha central do pentagrama (ré), as notas são baixos fundamentais ou contrabaixo. Se for baixo, é notada normalmente, como acontece com o fá logo no primeiro compasso, se for contrabaixo, recebe um traço logo abaixo da nota, como acontece com o Si no segundo compasso. Acima da linha central do pentagrama, as notas são Acordes, recebendo, acima da nota, M (ou maj) para acorde maior, m (ou min) para acorde menor, 7 (ou S ou 'set') para acorde de sétima dominante e d (ou dim) para acordes de sétima diminuto. Tessitura. A tessitura do teclado de um acordeão de 120 baixos com 41 teclas é a seguinte: Embora quando se utiliza os registros a tessitura do acordeão alcance as regiões subgrave e superaguda, a notação é feita como se estivesse utilizando o registro Master ou Clarinete (respeitando a regra de notação para os Baixos), de modo que a notação jamais vai acontecer acima do Lá 6 na Clave de Sol ou abaixo do Ré ou Dó 2 na clave de Fá. Num acordeão de quatro vozes as notas do registro clarinete costumam vir repetidas, sendo uma na afinação padrão e a outra com uma ligeira desafinação tendendo ao mais grave. Não foi adicionada a tessitura das notas e acordes nos baixos em virtude da falta de padronização. Em outras palavras, a tessitura neste aspecto varia muito de acordo com a marca, modelo e origem do instrumento. No Brasil. O acordeão foi trazido ao Brasil por colonizadores e imigrantes europeus, especialmente italianos e alemães, que se instalaram no sul do país (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná). O primeiro instrumento trazido tinha o nome de "Concertina" e era um acordeão Cromático de 120 botões. O acordeão era muito popular no Sul do Brasil em 1950, onde algumas casas chegavam a ter até 2 instrumentos. Devido a diversidade de configurações foi facilmente adaptado pela cultura que veio da Europa. O acordeão é o instrumento de símbolo oficial do Rio Grande do Sul, onde seu projeto de lei teve votação unânime na câmara de vereadores. Os mais notáveis acordeonistas de acordeon piano do sul são Adelar Bertussi, Honeyde Bertussi, Albino Manique, Edson Dutra, Porca Véia, Luiz Carlos Borges, entre muitos outros. Já no nordeste Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca, Oswaldinho do Acordeon, entre outros. No auge do sucesso, havia cerca de 65 fábricas deste instrumento pelo Brasil, a maioria (52) localizadas no Rio Grande do Sul com apenas 7 fábricas localizadas fora da região sul. Um dos mais famosos e genuinamente brasileiros foram os acordeões Todeschini, de Bento Gonçalves no RS, fechada em 1973 após um incêndio atingir a fábrica em 1971, depois disso a fábrica não conseguiu se reconstruir e o mercado de acordeons caiu no Brasil por conta da chegada da guitarra elétrica, então a fábrica voltou-se para a indústria de móveis. O acordeão Todeschini é muito apreciado ainda hoje em dia e hoje muitas oficinas se especializam nesses acordeons para poder traze-los de volta a vida. Os mais notáveis músicos do acordeão de botão são Renato Borghetti, Chico Brasil, Hermeto Pascoal e Tio Bilia. No Sul do Brasil o acordeão é conhecido como gaita e tem papel fundamental na música regionalista do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O acordeão diatônico, por sua vez, é chamado de gaita-ponto, gaita-botoneira, gaita de botão ou simplesmente botoneira. Tornou-se popular também no nordeste e centro–oeste do Brasil. Os primeiros gêneros (fado, valsa, polca, bugiu, caijun etc.) retratavam o folclore dos imigrantes portugueses, alemães, italianos, franceses e espanhóis. Porém, no Nordeste (onde o acordeão é conhecido como sanfona), desde o início do século XX, mais precisamente com a construção da malha ferroviária brasileira pelos ingleses, deu-se início a um novo ritmo, o forró, característico do nordeste brasileiro, no qual um dos principais instrumentos musicais é o acordeão. No Nordeste, Luís Gonzaga do Nascimento, conhecido como o Rei do Baião, foi um importante sanfoneiro que compôs a canção "Asa Branca" (1947).
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Mário Soares
Mário Soares Mário Alberto Nobre Lopes Soares (Lisboa, Camões, 7 de dezembro de 1924 – Lisboa, São Domingos de Benfica, 7 de janeiro de 2017) foi um advogado e político português que ocupou os cargos de Primeiro-Ministro de Portugal de 1976 a 1978 e de 1983 a 1985 e de Presidente da República Portuguesa de 1986 até 1996. Político de profissão e vocação, co-fundador do Partido Socialista, a 19 de abril de 1973, Mário Soares iniciou na juventude o seu percurso político, integrando grupos de oposição ao Estado Novo, primeiro como militante de base do Partido Comunista Português e membro de outras estruturas ligadas ao PCP, o MUNAF e o MUD, tendo sido cofundador do MUD Juvenil — e depois na oposição não comunista — Resistência Republicana e Socialista, que funda com dissidentes do PCP e através do qual entrará para o Diretório Democrato-Social. Pela sua atividade oposicionista foi detido 12 vezes pela PIDE — cumprindo cerca de três anos de cadeia (Aljube, Caxias e Penitenciária) — e, posteriormente, deportado para São Tomé. Permaneceu nessa ilha até o governo de Marcello Caetano lhe permitir o regresso a Portugal, sendo, posteriormente às eleições de 1969 — nas quais Soares foi cabeça-de-lista pela CEUD em Lisboa — forçado a abandonar o país, optando pelo exílio em França. No processo de transição democrática subsequente ao 25 de Abril de 1974 Mário Soares afirmou-se como líder partidário no campo democrático, contra o Partido Comunista, batendo-se de forma intransigente pela realização de eleições. Foi ainda Ministro de alguns dos governos provisórios — destaca-se sobretudo o facto de ter sido Ministro dos Negócios Estrangeiros, logo no I Governo Provisório, associando-se ao processo de descolonização, qualidade em que dirigiu o processo de rápida independência e autodeterminação das províncias ultramarinas, processo esse que ficou para sempre como o ponto menos consensual do seu percurso político. Vencedor das primeiras eleições legislativas realizadas em democracia, Soares foi Primeiro-Ministro dos dois primeiros governos constitucionais, o I e II governos constitucionais, este último de coligação com o CDS. A sua governação foi marcada pela instabilidade democrática — nomeadamente, pela tensão entre o Governo e o Presidente da República — Conselho da Revolução — pela crise financeira e pela necessidade de fazer face à paralisação da economia ocorrida após o 25 de Abril, que levou o Governo a negociar um grande empréstimo com os EUA. Ao mesmo tempo, foi um período em que o Governo, e Soares em particular, se empenhou em desenvolver contactos com outros líderes europeus, tendentes à adesão de Portugal às Comunidades Europeias. Líder da oposição entre 1979 e 1983, no ano de 1982, Mário Soares conduziu o PS ao acordo com o PSD e o CDS (que então formavam um governo chefiado por Francisco Pinto Balsemão) para levar a cabo a revisão constitucional de 1982, que permitiu a extinção do Conselho da Revolução, a criação do Tribunal Constitucional e o reforço dos poderes da Assembleia da República. Foi, de novo, Primeiro-Ministro do IX governo, do chamado Bloco Central, num período marcado por uma nova crise financeira e pela intervenção do FMI em Portugal, e pela formalização da adesão de Portugal à CEE. Depois destas experiências governativas, Mário Soares viria a ser Presidente da República durante dois mandatos, entre 1986 e 1996 — venceu de forma tangente, e à segunda volta, as eleições presidenciais de 1986, contra Diogo Freitas do Amaral, e com larga maioria as de 1991, em que contou não só com o apoio do PS como do PSD, de Cavaco Silva. Sendo o primeiro civil a exercer o cargo de Presidente da República, deixou patente um novo estilo presidencial, promovendo a proximidade com as populações e a projeção de Portugal no estrangeiro; sendo marcado ao mesmo tempo pela tensão política com os governos de Cavaco Silva e pelo polémico caso TDM (Teledifusão de Macau). Biografia. Infância. Nascido no número 153 da Rua Gomes Freire, na extinta freguesia do Coração de Jesus, na cidade de Lisboa, Mário Soares foi o segundo filho do professor e antigo sacerdote João Lopes Soares (Leiria, Arrabal, 17 de Novembro de 1879 – Lisboa, Campo Grande, 31 de Julho de 1970), fundador do Colégio Moderno em Lisboa, Ministro e depois activista Republicano AntiFascista, e de sua mulher Elisa Nobre Baptista (Santarém, Pernes, 8 de Setembro de 1887 – Lisboa, Campo Grande, 28 de Fevereiro de 1955), proprietária duma pensão na Rua Ivens. Quando nasceu, o pai e a mãe já tinham filhos de relações anteriores — Rogério Lopes Soares de mãe desconhecida e Tertuliano Lopes Soares (Alcobaça, 30 de Dezembro de 1906 - ?), que já tinha quase 18 anos quando ele nasceu, filho de João Lopes Soares e de Joaquina Ribeiro da Silva, o qual foi médico-cirurgião, casado com Maria da Conceição Gaudêncio, filha de Amadeu Gaudêncio e de sua mulher Claudina de Almeida Henriques; e J. Nobre Baptista e Cândido Nobre Baptista, de 17 anos, que era filho de Elisa Nobre Baptista mas dum casamento anterior. Em virtude de João Soares ainda ser padre quando engravidou a futura mulher, os pais só se casaram a 5 de setembro de 1934, já Mário Soares tinha quase 10 anos. O casamento fez-se na 7.ª conservatória do Registo Civil, em Lisboa, dado que a situação do marido, antigo sacerdote, e da mulher, que era divorciada, impediam um casamento católico. No entanto, até ao fim da vida e apesar do contencioso com a Santa Sé para que o desobrigasse do estatuto de clérigo, João Lopes Soares manteria sempre a sua fé católica. Percurso académico e profissional. Mário Soares licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa em 1951 e em Direito na Faculdade de Direito da mesma universidade em 1957. Após terminar a licenciatura em Histórico-Filosóficas, não lhe sendo permitido seguir a carreira docente, nem no ensino público nem no particular, juntou-se aos pais na gerência do Colégio Moderno, atividade em que seria depois sucedido pela sua mulher, Maria de Jesus Barroso e, posteriormente, pela sua filha, Isabel Barroso Soares (Lisboa, 9 de janeiro de 1951), igualmente professora do colégio. Em finais dos anos 1950 conseguiria finalmente obter licença para exercer a função de professor do ensino particular, licença essa que lhe foi concedida pelo Ministro Francisco de Paula Leite Pinto. Enquanto advogado, Soares fez estágio com Leopoldo do Vale, ocupando em seguida um escritório na Rua do Ouro, 87, 2.º, em plena Baixa de Lisboa, e mantendo parceria com Gustavo Soromenho e Pimentel Saraiva, especialistas em Direito Fiscal. Mais tarde juntar-se-iam Vasco da Gama Fernandes e Manuel Castilho. Nas suas memórias contou que o seu maior sucesso como advogado terá ocorrido quando representou Maria Cristina de Mello contra os irmãos, na disputa por ações da CUF, vencendo em juízo o professor Marcello Caetano. Como advogado defensor de presos políticos, participou em numerosos julgamentos, realizados no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial. Representou, nomeadamente, Álvaro Cunhal e Octávio Pato, quando acusados de crimes políticos, e a família de Humberto Delgado na investigação do seu alegado assassinato pela PIDE, o que proporcionou a Soares uma certa visibilidade internacional. Juntamente com Adelino da Palma Carlos defendeu também a causa dinástica de D. Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança. Início do seu percurso político. Mário Soares despertou para a política no seio familiar, de tradição republicana e oposicionista. O pai, João Lopes Soares, era republicano convicto e ocupou vários cargos depois da implantação da República — foi governador civil do Distrito da Guarda, de Braga e Santarém, e deputado à Assembleia da República durante dez anos, entre 1916 e 1926, ano em que triunfa o golpe militar que dá origem à ditadura. Antes, em 1919, tinha sido brevemente Ministro das Colónias. Em agosto de 1930, tinha Soares cinco anos, o pai foi deportado para os Açores. A atividade política de Mário Soares levá-lo-ia por 12 vezes aos calabouços da prisão. Estava preso quando casou por procuração, embora com registo na 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, a 22 de fevereiro de 1949, com a atriz Maria Barroso. Militância no MUNAF e no MUD. Por influência de Álvaro Cunhal (que chegou a ser regente de estudos no Colégio Moderno), Soares aderiu em 1943 ao Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), estrutura ligada ao Partido Comunista Português, e integrou a partir de 1946 a Comissão Central do MUD — Movimento de Unidade Democrática, sob a presidência de Mário de Azevedo Gomes; tendo sido nesse âmbito co-fundador do MUD Juvenil e membro da sua primeira Comissão Central. Em 1949 foi secretário da Comissão Central da candidatura do general Norton de Matos à Presidência da República. Obrigado pela direção do PCP a confessar ao velho general (oposicionista ao Estado Novo mas anticomunista), que estava a colaborar na Comissão Central da candidatura em representação dos comunistas, Norton de Matos quis afastá-lo totalmente de qualquer atividade na campanha. Por causa da interferência de Mário de Azevedo Gomes, acabou por aceder a mantê-lo na estrutura, mas sem responsabilidades de facto. Em princípios dos anos 1950 Soares acaba por romper com o MUD e em definitivo com o PCP, por não se rever nem na linguagem, nem na metodologia. Mais tarde dirá que o PC o tentara obrigar a passar à clandestinidade e que «"ficara imunizado"». A versão oficial dos comunistas é que Soares foi expulso por «"ter abdicado da luta"». Afastamento do PCP. Afastado do PCP, Soares fundou em 1955 a Resistência Republicana e Socialista, reunindo outros elementos vindos daquele partido (caso de Fernando Piteira Santos, expulso do PCP em 1949); da União Socialista (como Manuel Mendes, antigo militante do MUD Juvenil), Gustavo Soromenho, Ramos da Costa, José Ribeiro dos Santos, Teófilo Carvalho dos Santos, José Magalhães Godinho, entre outros. Foi em nome da Resistência Republicana e Socialista que Soares entrou em 1956 para o Directório Democrato-Social, a convite de Armando Adão e Silva, juntando-se nessa estrutura a António Sérgio, Jaime Cortesão e Azevedo Gomes. Em 1958 pertenceu à comissão de honra da candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República. Em 1961 foi redator e signatário do Programa para a Democratização da República. Candidatou-se a deputado à Assembleia Nacional do Estado Novo, nas listas da Oposição Democrática, em 1965, pela CDE. Deportação para São Tomé. Preso 12 vezes, cumprindo um total de cerca de três anos de cadeia, Mário Soares foi deportado sem julgamento para a ilha de São Tomé, em 1968, após divulgar a um jornalista do "Sunday Telegraph" um caso de prostituição que envolvia membros do Governo e homens de negócios próximos do regime de Salazar, conhecido como Ballet Rose. Esta deportação desperta a atenção da comunicação social internacional. Oposição ao PCP e candidatura pela CEUD. No período subsequente à morte de Salazar, o sucessor deste na Presidência do Conselho, Marcello Caetano, dita o regresso de Soares à metrópole, que chega a Lisboa na madrugada de 9 de novembro de 1968. No período subsequente, acentua a sua oposição contra o socialismo totalitário que representava o comunismo e chega a ser acusado de denunciar comunistas à PIDE. Em 1969 apresentava-se de novo candidato à Assembleia Nacional, no Círculo de Lisboa, pela CEUD — Comissão Democrática de Unidade Eleitoral, agrupando os socialistas anticomunistas da Ação Socialista Portuguesa, monárquicos constitucionais, da Comissão Eleitoral Monárquica, e católicos antifascistas. Em fevereiro de 1970 são detidos pela PIDE os ex-candidatos da CEUD Francisco Salgado Zenha e Jaime Gama e encarcerados no Forte de Caxias. Raul Rego, também ex-candidato da CEUD em Lisboa, que publicara um artigo contra a Guerra Colonial na revista espanhola "Cuadernos para el Diálogo", é colocado em regime de residência fixa por tempo indeterminado. Em julho do mesmo ano Soares é chamado à PIDE, onde lhe é feito um ultimato, para abandonar o país ou então será preso. É então que resolve partir para o exílio em França. Exílio em França. Aquando do seu exílio em França, em 1970, foi "chargé de cours" nas universidades de Paris VIII (Vincennes) e Paris IV (Sorbonne), e igualmente professor convidado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes, que décadas depois lhe atribuiu o grau de doutor "honoris causa". Também Manuel Cordo Boullosa lhe deu emprego como consultor jurídico do Banco Franco-Português. A sua intervenção política em França era realizada através da imprensa estrangeira e da captação de apoios internacionais. Estando ainda nesse país, em 1972, foi à loja maçónica parisiense "Les Compagnons Ardents", da "Grande Loge de France", pedir apoio para a luta política contra o Estado Novo e ingressou na maçonaria, segundo ele próprio, optando depois por ficar "adormecido". Regresso a Portugal. A 28 de abril de 1974, três dias depois do golpe de 25 de Abril, regressou do exílio em Paris, no chamado "Comboio da Liberdade". Soares viajou acompanhado pela mulher, Maria Barroso, e por Manuel Tito de Morais e Francisco Ramos da Costa. Dois dias depois, Soares esteve presente no Aeroporto da Portela, na chegada a Lisboa de Álvaro Cunhal. A 1 de maio de 1974, nas primeiras comemorações do Dia do Trabalhador após o 25 de Abril, e ainda que tivessem ideias políticas diferentes, subiram de braços dados, pela primeira e última vez, as ruas da Baixa Pombalina e a Avenida da Liberdade. Foi ministro dos Negócios Estrangeiros, de Maio de 1974 a Março de 1975, e um dos impulsionadores da independência das colónias portuguesas, tendo sido responsável por parte desse processo. PREC. Durante o período revolucionário que ficou conhecido como PREC, em que se agudiza o conflito entre os comunistas e democratas não revolucionários, Soares afirma-se como o principal líder civil do campo democrático, tendo conduzido o Partido Socialista à vitória nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1975. Durante esta altura, a tensão com o Partido Comunista Português aumentou cada vez mais, culminando no célebre debate no dia 6 de novembro de 1975, com Álvaro Cunhal, cujos projetos estariam em confronto no Golpe de 25 de novembro de 1975. Afastados os perigos totalitários à direita e à esquerda, a Assembleia Constituinte concluiu os seus trabalhos a 2 de abril de 1976 com a aprovação da Constituição da República Portuguesa de 1976, contando apenas com o voto contra do Centro Democrático Social, e com a sessão de encerramento, onde foi assinado o seu decreto de promulgação pelo Presidente da República Francisco da Costa Gomes. A 25 de abril de 1976, realizaram-se as primeiras eleições legislativas, em que o Partido Socialista se sagrou vencer com 34,89% dos votos. A 27 de junho realizaram-se as eleições presidenciais, em que o candidato apoiado pelo Partido Socialista, pelo Partido Popular Democrático, pelo Centro Democrático Social e pelo Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses, o general António Ramalho Eanes venceu com 61,59% dos votos. Primeiro-Ministro de Portugal. Soares tomou posse como Primeiro-Ministro do I Governo Constitucional a 23 de julho de 1976, em cerimónia no Palácio de Belém, sendo reconduzido no cargo, a 30 de janeiro de 1978, para liderar II Governo Constitucional em coligação com o Centro Democrático Social, e a 9 de junho de 1983, para liderar o IX Governo Constitucional, em coligação com o Partido Social Democrata. Política interna. Economia e finanças. Atingido pela crise do petróleo de 1973, pelas nacionalizações e pela descolonização, que levou a uma vaga de meio milhão de retornados, Portugal enfrentava uma taxa de inflação de cerca de 20%, taxa de desemprego superior a 7%, bens racionados e desvalorização do escudo. Após um empréstimo de 250 milhões de dólares por parte da Alemanha durante os governos provisórios, a situação financeira nacional não melhorou, o que obrigou a um pedido de empréstimo maior, de cerca de 1500 milhões de dólares, financiados por 14 países através do Fundo Monetário Internacional (FMI). As medidas de austeridade levadas a cabo levaram a que Soares, aquando da tomada de posse do afirma-se que era "[nã]o se trata agora de meter o socialismo na gaveta, mas de salvar a democracia", o que se tornaria numa das suas frases mais conhecidas. Saúde. Foi durante o II Governo Constitucional em coligação com o Centro Democrático Social, que se avançou com aquela que é considerada como uma das maiores conquistas da democracia: a criação do Serviço Nacional de Saúde, por iniciativa do então Ministro dos Assuntos Sociais António Arnaut. No entanto, a lei seria apenas aprovada em 1979, já durante o V Governo Constitucional, liderado por Maria de Lurdes Pintassilgo. No IX Governo Constitucional, o Ministério da Saúde é criado através da sua separação do Ministério dos Assuntos Sociais, tendo como primeiro titular António Maldonado Gonelha. Em 1984, foi criada a Direção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários, pondo fim aos Serviços Médico-Sociais da Previdência. Política externa. Adesão à Comunidade Económica Europeia. Aquele que era um dos pilares do pensamento político de Soares, inscritos nos programas eleitorais do Partido Socialista para as eleições legislativas de 1976 e no do I Governo Constitucional, a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) foi uma das prioridades de todos os governos constitucionais que se seguiram. Tendo em vista ganhar apoio numa possível adesão, Mário Soares iniciou, em fevereiro de 1977, uma viagem pelas várias capitais dos estados-membros da Comunidade Económica Europeia, começando com Londres, Dublin, Copenhaga e Roma, seguindo-se Bruxelas, Paris,Bona, Haia e cidade do Luxemburgo, no início de março. A 22 de março, foi apresentado na Assembleia da República um voto de congratulação, que foi aprovada com os votos do Partido Socialista, do Partido Popular Democrático e do Centro Democrático Social e os votos contra do Partido Comunista Português, da União Democrática Popular e de dois deputados independentes (Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues). O pedido foi formalizado a 28 de março e iniciado a 5 de abril, em Concelho de Ministros da CEE. No entanto, as negociações demorariam oito anos, com a assinatura do Tratado de Adesão a 12 de junho de 1985, já Mário Soares era novamente Primeiro-Ministro do IX Governo Constitucional. Presidente da República. Em 1985, escassos dias após a exoneração do IX Governo Constitucional, Mário Soares apresentou a sua candidatura à Presidência da República. Devido à impopularidade do seu governo, partiu para as eleições com apenas 8% nas intenções de voto e com uma forte concorrência à esquerda Maria de Lurdes Pintassilgo e Francisco Salgado Zenha. No entanto, duas semanas antes das eleições, deu-se o célebre incidente da Marinha Grande. Quando, a 14 de janeiro de 1986, Mário Soares dispôs-se a visitar uma das poucas fábricas que tinham recebido subsídios do anterior governo (presidido pelo próprio Soares), nesse momento operários de outra fábrica que não os tinha recebido começaram a vaiar o político, sendo isto o prelúdio da agressão física que viria a seguir. A ameaça, primeiramente verbal, acabou num ataque pessoal a Mário Soares quando um grupo de trabalhadores desempregados esbofetearam o candidato, esbofetearam também dois dos guarda-costas do político. Soares, acusaria pouco depois do acto de violência que este tinha sido executado por seguidores de Francisco Salgado Zenha, afirmando que os que o agrediram tinha autocolantes de dito candidato, o qual, tinha estado uma hora antes no mesmo lugar. Os seguidores do candidato e os jornalistas conseguiram fugir até à Fábrica dos Irmãos Stephens, protegendo-se lá ficando a salvo da multidão enfurecida. Alguns referem que o Incidente fez com que Mário Soares, que no início tinha pouco apoio (chegando apenas a 8% nas primeiras sondagens) e que à esquerda tinha dois candidatos: Maria de Lurdes Pintassilgo e Francisco Salgado Zenha, vencesse não só os adversários de esquerda mas também Freitas do Amaral o qual tinha um apoio sólido da direita política. Durante os seus mandatos presidenciais, foi o presidente da República que atribuiu mais condecorações, nomeadamente 2505 condecorações das ordens honoríficas portuguesas, entre as quais algumas que viriam a ser retiradas aos titulares na sequência de processos judiciais, como o caso do embaixador Jorge Ritto — condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique e irradiado na sequência da sua condenação no Processo Casa Pia. No seu primeiro mandato, surgiu o caso Emaudio / Teledifusão de Macau, o que o obrigou a várias explicações públicas e atingiu membros do seu círculo próximo, nomeadamente Carlos Melancia, nomeado por Mário Soares para governador de Macau em 1987. Ademais, a Emaudio fora criada na órbita da Fundação de Relações Internacionais, entidade ligada ao PS a que Mário Soares havia presidido antes de ser eleito presidente da República e que envolvia Menano do Amaral, angariador de fundos para a campanha presidencial de Mário Soares; Bernardino Gomes, chefe de gabinete de Mário Soares enquanto primeiro-ministro; Rui Mateus, presidente da Fundação de Relações Internacionais do PS, por indicação de Mário Soares; António de Almeida Santos, ministro dos governos de Mário Soares; o filho de Mário Soares, João Soares; entre outros. As suspeitas sobre ligações de Mário Soares a alegados financiamentos ilícitos da sua campanha presidencial e de campanhas eleitorais do PS nunca foram provadas. Também o caso do fax de Macau atingiu politicamente Mário Soares, nomeadamente porque António Strecht Monteiro, filho de um fundador do PS com boas relações com Mário Soares, havia sido responsável por estabelecer contacto entre o governador de Macau, Carlos Melancia, Rui Mateus e a empresa alemã que havia pago 50 000 contos a Carlos Melancia no sentido de garantir a vitória no concurso para a consultoria das obras de construção do aeroporto de Macau e que, gorada essa expectativa, enviou um fax — daí o nome do caso, Fax de Macau — a Carlos Melancia exigindo a devolução do dinheiro. Desse facto foi dado conhecimento ao gabinete de Mário Soares, então presidente da República, que ficou politicamente comprometido com o caso. Pós-Presidência da República. O percurso político de Mário Soares depois dos dez anos de Presidência da República foram orientados para a intervenção a nível internacional. Depois de ter assumido, em dezembro de 1995, a presidência da Comissão Mundial Independente Sobre os Oceanos, seria escolhido em setembro de 1997 para a presidência do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água. Também em 1997 assumiu a presidência da Fundação Portugal África — fundada pelo Banco de Fomento e Exterior (posteriormente integrado no Banco Português de Investimento) — e a presidência do Movimento Europeu Internacional, uma ONGD cuja fundação remonta ao pós-Segunda Grande Guerra e que foi impulsionadora da fundação do Conselho da Europa, em 1949. Subsequentemente, em 1999, três anos depois de terminar o seu mandato como Presidente, Mário Soares foi o cabeça-de-lista do PS às eleições europeias de 1999. Uma vez eleito foi logo de seguida candidato a presidente do Parlamento Europeu, mas perdeu a eleição para Nicole Fontaine, em relação a quem não teve pejo de afirmar que tinha «"um discurso de dona de casa"», no sentido pejorativo do termo. Essa derrota na corrida à presidência do Parlamento Europeu acabou por retirar expetativa à ambição de Soares em desempenhar um cargo importante na política internacional. Candidato a um terceiro mandato como Presidente da República. Longe da política ativa, sem deixar de assumir como figura de maior referência do PS, Soares surpreendeu o país ao aceitar, em 2005, um regresso à disputa pelo cargo de Presidente da República. Foi assim, aos 81 anos, o segundo candidato anunciado — após Jerónimo de Sousa, candidato apoiado pelo PCP — o que seria um inédito terceiro mandato. O motivo da sua entrada na corrida era nem mais nem menos do que impedir que José Sócrates, então secretário-geral do PS tivesse de apoiar o candidato Manuel Alegre, após algumas crispações deste histórico do PS com as hostes do seu próprio partido — de resto, Alegre havia sido adversário de Sócrates nas eleições internas do PS em 2004, representando uma corrente ideológica completamente oposta à de Sócrates. Na eleição presidencial, realizada a 22 de Fevereiro de 2006, Soares obteve apenas o terceiro lugar, com 14% dos votos, ficando inclusive atrás da candidatura (que acabou por não ter apoio partidário) de Manuel Alegre. As eleições foram vencidas com maioria absoluta (e, portanto, à primeira volta) por Aníbal Cavaco Silva. Pós-Presidenciais de 2006. Em 2007 foi nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Também presidia ao Júri do Prémio Félix Houphouët-Boigny, da UNESCO, desde 2010, e era patrono do International Ocean Institute, desde 2009 e até à sua morte. No dia 11 de Outubro de 2010 recebeu o Doutoramento "Honoris Causa" pela Universidade de Lisboa aquando das comemorações do centenário da mesma, coincidindo com as comemorações do centenário da República Portuguesa (5 de Outubro). Com 89 anos foi eleito a personalidade do ano 2013 pela imprensa estrangeira, radicada em Portugal. Em 25 de abril de 2016, recebeu a chave da cidade de Lisboa, do presidente da CML, Fernando Medina, a mais alta distinção atribuída pelo município a personalidades com relevância nacional e internacional. Faleceu às 15h28m de 7 de janeiro de 2017, aos 92 anos de idade, no Hospital da Cruz Vermelha, em São Domingos de Benfica, Lisboa, onde estava internado, em coma profundo, desde 13 de dezembro de 2016, após um longo período de doença, que se agudizou após a morte da mulher, Maria Barroso. Fundação Mário Soares e Maria Barroso. Soares fundou em 1996 a Fundação Mário Soares, uma instituição cultural com o objetivo de organizar debates, colóquios e iniciativas sobre política e defesa dos direitos humanos. A fundação possui uma casa-museu e um espólio documental de dois milhões de documentos legado por Soares. A atividade da Fundação desenvolve-se no plano cultural, científico, educativo e social, destacando-se a organização e disponibilização em acesso aberto do seu património cultural (Arquivo, Biblioteca, Casa Comum e Casa-Museu João Soares), a programação de eventos científicos e culturais, a promoção de programas de formação e de debate, a cooperação com os países da lusofonia e o estímulo à criação e disseminação de conhecimento de base científica, em particular sobre a ação de Mário Soares e Maria Barroso. Rebatizada em Agosto de 2020 como Fundação Mário Soares e Maria Barroso, mantem e amplia os valiosos arquivos documentais — incontornáveis para quem queira estudar a resistência ao Estado Novo ou a história dos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas. Morte. Mário Soares morreu às 15h28m de 7 de janeiro de 2017, depois de ter estado mais de duas semanas internado no Hospital da Cruz Vermelha, em São Domingos de Benfica, em coma profundo. O Governo decretou 3 dias de luto nacional e um funeral de Estado. Este, foi o primeiro funeral em democracia com honras de Estado, exéquias que passaram a servir de guião para os funerais de Estado em Portugal, nomeadamente para o funeral de estado de Jorge Sampaio. Antes disso, o anterior funeral de Estado foi o de António de Oliveira Salazar durante a ditadura em 1970. Deixou de herança um património avaliado em cerca de 17 milhões de euros. Família e casamento. Casado desde 22 de fevereiro de 1949 com Maria Barroso, Mário Soares foi pai de João Barroso Soares e de Isabel Barroso Soares. Foi igualmente tio paterno, por afinidade, do cronista e antigo deputado e secretário de Estado Alfredo Barroso e tio materno por afinidade do cineasta Mário Barroso (chamado Mário Alberto em sua homenagem e por ser seu padrinho) do médico-cirurgião Eduardo Barroso e da bailarina Graça Barroso. Resultados eleitorais. Ao longo da sua carreira política, Mário Soares concorreu a dez eleições, seis legislativas, três presidenciais e uma europeia, vencendo duas legislativas, duas presidenciais e uma europeia. Foi por três vezes Primeiro-Ministro, dos I, II e IX Governos Constitucionais, o primeiro minoritário Socialista, o segundo em coligação com o CDS e o terceiro em coligação com o Partido Social-Democrata. Eleito deputado cinco vezes, Mário Soares assumiu o mandato na Assembleia Constituinte e em 1978 após a queda do II. Em 1999, foi eleito eurodeputado, tendo concorrido a Presidente do Parlamento Europeu, perdendo para a democrata-cristã Nicole Fontaine. Em 1986, concorreu pela primeira vez a Presidente da República Portuguesa, ganhando à segunda volta, após o apoio do Partido Comunista Português. Em 1991, foi reeleito com 70,35% dos votos, a maior percentagem de sempre obtida por um candidato. Em 2006, torna-se o primeiro ex-Presidente da República a concorrer a um terceiro mandato, não conseguindo a eleição devido à forte fragmentação à esquerda e à falta do apoio popular que antes desfrutara. Condecorações. Ordens nacionais: Ordens estrangeiras:
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Medicina
Medicina Medicina é uma das muitas áreas do conhecimento ligada à manutenção e restauração da saúde. Ela trabalha, num sentido amplo, com a prevenção e cura das doenças humanas e animais num contexto médico. Lida com ações de saúde pública e ambiental, incluindo a saúde animal, promoção, prevenção, controle, erradicação e tratamento das doenças, traumatismos ou qualquer outro agravo à integridade e bem-estar animais, além do controlo de sanidade dos produtos e subprodutos de origem animal para o consumo humano e animal compreendem a área da medicina da responsabilidade do profissional de saúde médico veterinário. Em Portugal, a saúde oral, higiene, integridade dentária, a sua limpeza e profilaxia compreendem a área da medicina da responsabilidade do Médico Dentista, que é um profissional da saúde capacitado na área de odontologia, e apesar de ter um âmbito de acção semelhante, não deve ser confundido com o Médico estomatologista. Porém no Brasil, à medicina dentária, ou odontologia, e medicina são profissões distintas, porém muito semelhantes, pois ambas possuem prerrogativa médica de atuação clínica e cirúrgica. Segundo a Organização Mundial da Saúde, saúde não é apenas a ausência de doença. Consiste no bem-estar físico, mental, psicológico e social do indivíduo. É um estado cumulativo, que deve ser promovido durante toda a vida, de maneira a assegurar-se de que seus benefícios sejam integralmente desfrutados em dias posteriores. Nesse contexto, diretrizes de organizações supranacionais compostas por eminentes intelectuais do globo relacionados à área de saúde estabeleceram um novo paradigma de abordagem em medicina. O santo patrono da medicina é São Lucas. Conceito. Medicina, derivada do latim "ars medicina", significa a arte da cura. O conceito de Medicina tradicional refere-se a práticas, abordagens e conhecimentos, incorporando conceitos materiais e mentais, técnicas manuais e exercícios, aplicados individualmente ou combinados, a indivíduos ou a colectividades, de maneira a tratar, diagnosticar e prevenir doenças, ou visando a manter o bem-estar. História. Existem duas versões da origem da medicina. Segundo os países xiitas, a medicina surgiu no Império Aquemênida e segundo a tradição ocidental, Hipócrates é considerado o pai da medicina. Considera-se que viveu entre 460 a 377 a.C. e deixou um legado ético e moral válido até hoje. Precursor do pensamento científico, procurava detalhes nas doenças de seus pacientes para chegar a um diagnóstico, utilizando explicações sobrenaturais, devido à limitação do conhecimento da época. Ainda antes da era cristã, Asclepíades de Bitínia tentou conciliar o atomismo de Leucipo e Demócrito com a prática médica. No primeiro século de era cristã, Cláudio Galeno, outro médico grego, deu contribuições substanciais (baseado em dissecções de animais) para o desenvolvimento da medicina. Na Idade Média os religiosos assumiram o controle da arte de curar através de medicamentos e deixaram para os barbeiros-cirurgiões, que já lidavam com a navalha, a realização de sangrias, supostamente eficazes na cura de doenças, e também de amputações nos campos de batalha, em uma época em que não havia anestesia. Em 1865, Louis Pasteur teorizou que as infecções eram causadas por seres vivos. Foi ele o inventor do processo de pasteurização, muito utilizado no leite. Lister, em 1865, aplicou pela primeira vez uma solução anti-séptica em um paciente com fraturas complexas, com efeito profilático na infecção. Iniciou-se uma nova era. Em 1928, Alexander Fleming descobriu a penicilina ao observar que as colônias de bactérias não cresciam próximo ao mofo de algumas placas de cultura. Surge uma nova era: a dos antibióticos, que permitiu aos médicos curar infecções consideradas mortais. A evolução desde então não parou. A eterna luta do homem contra a morte entrou em uma nova etapa, cada vez mais moderna. No Brasil. Até o século XIX floresciam curandeiros, alguns charlatães, feiticeiros. O primeiro médico prático do Rio de Janeiro foi Aleixo Manuel, "o velho", em meados do século XVII. Os caboclos empregavam a medicina dos pajés e os negros, seus amuletos e ervas. Os cirurgiões-barbeiros eram os responsáveis pela prática de prescrição de drogas, sangrias e atendimento aos partos difíceis. Não havia faculdade de medicina e os cariocas que desejavam fazer o curso eram obrigados a ir estudar em Coimbra. A medicina do tempo do Primeiro Reinado, embora D. João VI tivesse trazido alguns bons médicos para o Rio de Janeiro, era do "tipo caseiro": rodelinhas de limão nas frontes para enxaquecas, suadouros de sabugueiro e quina, para as febres: cataplasmas contra a asma: antipirina para as dores de cabeça; banhos de malva para as dores nas cadeiras; um "cordial" contra a insônia e, para os loucos, o Hospício, na Praia Vermelha. O Rio de Janeiro foi sempre no tempo colonial um verdadeiro "campo experimental" para remédios, tal sua quantidade. Além de serem imitados os de Portugal, havia especialidades indígenas ou africanas. Na "Farmacopeia de Vigier", de 1766, são anotados: para a sífilis, carne de víbora em pó; para a tuberculose pulmonar ou "chaga de bofe", açúcar rosado com leite de jumenta ou cabra; para a verminose, raspas de chifre de veado; para a calvície, pomada de gordura humana retirada dos enforcados; nas anginas, pescoço de galo torrado e pulverizado; para panarícios, pasta de minhocas; havia chás feitos com excrementos de gatos e cães, percevejos, urina, carne e pele de sapos e lagartixas. Uma emulsão conhecida como ´da castidade´ era dada a padres e freiras como antiafrodisíaco: levava água de alface, rosas e sementes de papoulas. Após abrir os portos do Brasil às nações amigas de Portugal, D. João VI assinou em 18 de fevereiro de 1808, por influência do Cirurgião–mor do Reino José Correia Picanço, o documento que mandou criar a Escola de Cirurgia da Bahia e deu início ao ensino da medicina no país. A Faculdade de Medicina da UFRJ foi criada meses depois, por Carta Régia assinada em 5 de novembro de 1808, com o nome de Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia e instalada no Hospital Militar do Morro do Castelo. Em 30 de junho de 1929 é fundada no Rio de Janeiro a Academia Nacional de Medicina por Joaquim Cândido Soares de Meireles, seu primeiro presidente. Antes da instituição ser chamada de Academia Nacional de Medicina, havia tido dois outros nomes. Há cem membros titulares que ingressam na instituição mediante apresentação de teses científicas. Numa de suas dependências, um pequeno museu mostra, por exemplo, o primeiro estetoscópio chegado ao Brasil. A interiorização do ensino da medicina começou somente em 1950 quando foi fundada a primeira faculdade de medicina do interior do Brasil, a Faculdade de Medicina de Sorocaba da PUC-SP. Em 13 de junho de 1954 o diretor do Instituto Brasileiro de História da Medicina plantou no Jardim Botânico do Rio uma muda vinda da árvore de Hipócrates, multimilenar, que ainda existe na ilha de Cós, na Grécia. Medicina em diferentes países. Brasil. No Brasil o curso de medicina é oferecido em forma de graduação (6 anos) sendo o ensino médio o único pré-requisito para o ingresso no curso. Portugal. Em Portugal o curso de medicina é oferecido a nível de pós-graduação "strictu sensu", sendo necessário como pré-requisito, antes o indivíduo ter se graduado em alguma licenciatura (3 a 4 anos) em áreas que envolvem a saúde como biologia, enfermagem, farmácia, entre outras e após se ingressar no mestrado em medicina (3 anos) ou fazer o mestrado integrado em medicina que permite o ingresso em uma licenciatura (3 anos) que vai envolver matérias básicas de biologia geral e saúde e após isso, o mestrado (3 anos) em si que é o curso capacitador. Estados Unidos e Canadá. Nos Estados Unidos e Canadá, assim como em Portugal o curso de medicina também é uma pós-graduação "strictu sensu," sendo que antes do indivíduo se ingressar na pós-graduação em medicina (MD) ou medicina osteopática (DO), deve ter feito graduações que envolvam conteúdos das áreas de ciências que na maioria das vezes são graduados em biologia, química, física, entre outros desde que contenham o mínimo de matérias biológicas equivalentes exigidas. Ciências médicas e profissões médicas no Brasil. O tempo médio de formação em medicina no Brasil é de 6 anos. Após formar-se médico, pode-se fazer especialização ou uma residência médica que irá depender da especialidade e sub-especialidade que optar. Para entrar em um programa de residência médica, o médico deve ser aprovado e classificado em concurso de âmbito internacional e, devido ao grande número de médicos que se formam a cada ano, vem aumentando o número de profissionais que conseguem ser aprovados neste concurso. Estes médicos acabam optando por fazer especialização em curso normal de pós-graduação, que muitas vezes não apresentam o mesmo nível de qualidade exigido para um programa de Residência. A Medicina tem dois aspectos: é uma área de conhecimento (isto é, uma ciência) e é uma área de aplicação desse conhecimento (as profissões médicas). Na medicina, podemos destacar a Odontologia, que tanto no Brasil como em Portugal já constitui um curso médico e cirúrgico independente. A Medicina baseada em evidências é uma tentativa de ligar esses dois aspectos (ciência e prática) através do uso do método científico, buscando através de técnicas e pesquisas científicas o melhor tratamento para um determinado paciente. Às vezes, pode ser difícil distinguir entre ciência médica e profissão em medicina. Os vários ramos especializados da medicina são estudados por ciências básicas especializadas e por correspondentes profissões médicas, igualmente especializadas, que lidam com órgãos, sistemas orgânicos e suas doenças. As ciências básicas da medicina frequentemente são as mesmas de outras áreas como a biologia, a física e a química. Existem várias áreas ligadas à ciência da saúde ou ciência médica: medicina dentária ou odontologia, serviço social, psicologia, enfermagem (o cuidado com o paciente doente), farmácia, biologia, biomedicina, fonoaudiologia, educação física, fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição, protética e bioengenharia. Podem-se incluir também diversas profissões auxiliares (de nível médio) no Brasil entre estas se destacam os Agentes Comunitários de Saúde, função equivalente aos Médicos de pés descalços na China, os Agentes de Controle de Endemias ou Zoonoses; Os Auxiliares de Saneamento e Inspetores Sanitários; Os Auxiliares de Laboratório (bioquímica), Auxiliares de enfermagem, Auxiliares de Nutrição e Odontologia ou Técnicos de Higiene Dental. Em algumas regiões ainda se encontram parteiras capacitadas e supervisionadas por centros de obstetrícia. Especialistas de Saúde Pública têm enfatizado a importância dessas profissões especialmente por sua capacidade de resolver os agravos mais frequentes da população e principalmente por realizar serviços de prevenção (medicina preventiva) e promoção da saúde no modelo de atenção à saúde da família. O médico, quando nos últimos anos da faculdade de medicina, realiza internato hospitalar em diversas áreas como clínica médica, cirurgia geral, pediatria e ginecologia e obstetrícia. Em algumas faculdades brasileiras já foi introduzido também o internato obrigatório em saúde coletiva, com estágios em medicina preventiva e social e medicina de família e comunidade. Faculdades de medicina no Brasil. No Brasil há 342 escolas médicas, com vagas oferecidas (dados de outubro de 2020). O estado de São Paulo é o que mais possui faculdades (67 no total), seguido de Minas Gerais com 48 escolas. Há uma oferta desproporcional das vagas no país: o estado do Tocantins oferece uma vaga para habitantes. No Amapá, o estado com menos vagas, a proporção é de uma vaga para habitantes. A Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais é a que mais forma médicos, com 342 vagas anuais (dados de outubro de 2020). As faculdades com menor número de vagas são da Universidade de Pernambuco (campus de Serra Talhada) e a Faculdade Metropolitana São Carlos, em Itabapoana, no estado do Rio de Janeiro, ambas com 20 vagas/ano. Segundo dados de maio de 2021, a mensalidade mais cara é da Faculdade São Leopoldo, em Campinas e Araras, estado de São Paulo: com o conceito Enade 3. A mais barata é da Faculdade UnirG, em Gurupi, estado do Tocantins: com o conceito Enade 2. Distribuição de médicos no Brasil. A desigualdade na distribuição de médicos no Brasil acompanha outros abismos sociais existentes no país. Apesar de haver um médico para cada 549 brasileiros — índice superior ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de um para cada mil pessoas —, sete em cada 10 profissionais habilitados para atuar no país trabalham nas regiões Sul e Sudeste. Com isso, enquanto no Rio de Janeiro há um profissional para cada 289 habitantes, no outro extremo, os maranhenses dispõem de um médico para cada pessoas. Os dados são de um novo balanço do Conselho Federal de Medicina (CFM). Há cerca de 347 mil médicos espalhados por todo o Brasil. Não fosse a disparidade na repartição desses profissionais, poderia ser dito que a situação brasileira é melhor que a de países como o Japão (com um médico para cada 952 habitantes), Reino Unido (um para 869 pessoas) e Argentina (um para 740). A média recomendada pela OMS visa garantir que a população tenha assistência médica, assim como os profissionais tenham um número satisfatório de pacientes. No ranking brasileiro, o Paraná ocupa o 7.° lugar, com um profissional para cada grupo de 586 habitantes. Em estados do Norte e do Nordeste, as capitais reúnem quase 90% dos profissionais. Segundo o Sistema Integrado de Entidades Médicas, em março do ano passado havia 575 médicos habilitados no Acre. Destes, 427 (74%) trabalhavam na capital, contabilizando um médico para cada 716 habitantes. Os outros 21 municípios dividiam 119 profissionais, cada um deles responsável por habitantes. No interior de Roraima, a proporção passa de um médico para 10 mil pessoas. Distribuição de médicos em Portugal. Em 2016, Portugal tem 49 152 médicos inscritos na Ordem e 29 642 a trabalhar para os serviços públicos. Portugal já teve 191 médicos por 100 mil habitantes, em 1980. Em 2014 tem 442. Em 2017, o concelho de Leiria possui 3,5 médicos por mil habitantes, o pior rácio entre as 18 capitais de distrito, que está abaixo da média nacional (4,3). No pólo oposto, surge o município de Coimbra que regista um rácio de 31,6 médicos por cada mil moradores. Em 2019 estão inscritos na Ordem dos Médicos 54 500 profissionais (incluí os reformados e os que estão a exercer fora do país). Especialidades médicas. No Brasil, para ser um especialista, o médico deve realizar uma residência médica e prestar um concurso junto a associação médica da especialidade, que é reconhecido pela Associação Médica Brasileira e homologado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), sem o qual ele é apenas médico, sem especialidade. Até para ser considerado Clínico, o médico deve fazer Residência em Clínica Médica, com duração mínima de 2 anos. A medicina tem muitas especializações possíveis, algumas subespecializações e as denominadas "áreas de atuação". No Brasil elas são regulamentadas em Resolução expedida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). (Veja a ). Algumas disciplinas ministradas durante o curso de medicina:
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Medicina baseada em evidências
Medicina baseada em evidências A medicina baseada em evidências (MBE) - denominada medicina baseada na evidência em Portugal - é um movimento médico que usa evidências científicas existentes e disponíveis no momento, com boa validade interna e externa, para a aplicação de seus resultados na prática clínica, se baseando no método científico, especialmente àquelas tradicionalmente estabelecidas que ainda não foram submetidas ao escrutínio sistemático científico. Evidências significam, aqui, provas científicas. A Medicina Baseada em Evidências adota técnicas oriundas da ciência, engenharia e estatística tais como: meta-revisões da literatura existente (também conhecidas como metanálises), análise de risco-benefício, experimentos clínicos aleatorizados e controlados, estudos naturalísticos populacionais, dentre outras. Ela luta para que todos os médicos façam "uso consciencioso, explícito e judicioso da melhor evidência atual" quando fazem decisões em seu trabalho de cuidado individual dos pacientes. História. Um dos criadores deste movimento foi o professor Archie Cochrane, pesquisador britânico autor do livro "Effectiveness and Efficiency: Random Reflections on Health Services" (1972). Sua luta levou à crescente aceitação popular do conceito da medicina baseada em evidências. Seu trabalho foi reconhecido e homenageado com a criação dos centros de pesquisa de medicina baseada em evidências – os Cochrane Centres – e de uma organização internacional chamada de Cochrane Collaboration. Procedimento. A prática da MBE implica não somente conhecimento e experiência clínicas, mas também “expertise” em procurar, encontrar, interpretar e aplicar os resultados de estudos científicos epidemiológicos aos problemas individuais de seus pacientes. Implica ainda saber como calcular e comunicar os riscos e os benefícios dos diferentes cursos de ação aos seus pacientes. Críticas e justificativas. Os críticos da MBE dizem que muitos médicos já fazem isto em sua prática médica. Também dizem que evidências científicas são, frequentemente, deficientes em muitas áreas do conhecimento médico. Dizem que a falta de evidência de benefícios e que a falta de benefícios não são a mesma coisa e que quanto mais dados são reunidos e agregados, mais difícil se torna comparar os resultados de uma pesquisa específica com aqueles do paciente que está sendo tratado. A despeito de todos esses problemas, a MBE tem tido cada vez mais sucesso em atribuir a afirmação "ex cathedra" de um profissional de saúde para a forma menos válida de evidência. Agora, os todos médicos experts devem, sempre que possível, procurar basear seus pronunciamentos em referências da literatura relevante e mais atual. Assim, a Medicina Baseada em Evidências contrapõe-se a chamada Medicina Baseada na Autoridade. Exemplo e como funciona. Por exemplo, se um médico oftalmologista diz que não há necessidade de se realizar a limpeza de um aparelho que entra em contato com a córnea de seu paciente antes de usá-lo em outro paciente, ele deverá fornecer uma evidência - uma prova científica - dessa afirmação. Assim, deverá procurar um estudo epidemiológico em que foi acompanhado um número suficiente de pacientes que tiveram o exame realizado após assepsia do aparelho, comparado com um número semelhante de outros pacientes que tiveram o exame realizado sem a referida assepsia, por um período de tempo adequado. Se tal estudo não existir, deverá montar tal estudo. Após o período de acompanhamento (de anos a décadas) deverá ser analisada a história de todos os pacientes quanto a quaisquer alterações de saúde. Segundo a Medicina baseada em Evidências, é apenas após a aplicação de um método estatístico adequado aos resultados de incidências de doenças (oculares e não oculares) de ambos os grupos, que se poderá chegar à conclusão de que a realização da assepsia do aparelho é necessária ou não. Qualquer profissional - seja médico ou não - que realize qualquer afirmação sobre a saúde de uma pessoa sem embasá-la em estudos científicos está fazendo medicina baseada em autoridade e não medicina baseada em evidências científicas. MBE no Brasil. A MBE foi introduzida no Brasil pelo Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah (pai da MBE no Brasil), Professor Titular e Chefe da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Terapêutica da UNIFESP, diretor do Centro Cochrane do Brasil. Em outubro de 1996 o Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah funda o Centro Cochrane do Brasil, um dos 14 centros da Colaboração Cochrane ao redor do mundo. O Centro Cochrane do Brasil é a principal organização não governamental e sem fins lucrativos a promover o ensino, pesquisa e extensão em MBE, prática baseada em evidências e saúde baseada em evidências do Brasil. Além disso, é parceira da Universidade Federal de São Paulo e Ministério da Saúde. Durante a pandemia da covid-19 no Brasil, o oncologista Bruno Filardi e o cardiologista autor do livro "Manual de Medicina Baseada em Evidências" (2021), José Alencar, se destacaram nas redes sociais ao debater e defender a MBE na corrida das vacinas e supostos tratamentos contra a COVID-19. A bióloga e divulgadora científica Natalia Pasternak, também se destacou ao defender o movimento na CPI da COVID-19.
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Mário de Andrade
Mário de Andrade Mário Raul de Morais Andrade (São Paulo, 9 de outubro de 1893 – São Paulo, 25 de fevereiro de 1945) foi um poeta, contista, cronista, romancista, musicólogo, historiador de arte, crítico e fotógrafo brasileiro. Um dos fundadores do modernismo no país, ele praticamente criou a poesia brasileira moderna com a publicação de sua "Pauliceia Desvairada" em 1922. Ele teve uma influência enorme na literatura brasileira moderna e, como estudioso e ensaísta, foi pioneiro no campo da etnomusicologia. Sua influência chegou muito além do Brasil. Andrade foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Treinado como músico e mais conhecido como poeta e romancista, Andrade se envolveu pessoalmente em praticamente todas as disciplinas relacionadas ao modernismo paulistano e se tornou o polímata nacional do Brasil. Suas fotografias e ensaios sobre uma ampla variedade de assuntos, da história à literatura e à música, foram amplamente publicados. Ele foi a força motriz por trás da Semana de Arte Moderna, o evento de 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil, e um membro do vanguardista Grupo dos Cinco. As ideias por trás da semana foram exploradas no prefácio de sua coleção de poesia "Pauliceia Desvairada" e nos próprios poemas. Depois de trabalhar como professor de música e colunista de jornal, publicou seu grande romance, "Macunaíma", em 1928. Os trabalhos sobre música folclórica brasileira, poesia e outras temáticas foram seguidos de maneira desigual, muitas vezes interrompidos pela mudança na relação de Andrade com o governo brasileiro. No final de sua vida, ele se tornou o diretor fundador do Departamento de Cultura de São Paulo, formalizando um papel que exercia há muito tempo como catalisador da entrada da cidade - e da nação - na modernidade artística. Juventude. Mário de Andrade nasceu em São Paulo, cidade onde morou durante quase toda a vida no número 320 da Rua Aurora, onde seus pais, Carlos Augusto de Andrade e Maria Luísa de Almeida Leite Moraes de Andrade, também haviam morado. Durante sua infância foi considerado um pianista prodígio, tendo sido matriculado no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1911. Recebeu educação formal apenas em música, mas foi autodidata em história, arte, e especialmente poesia. Dominava a língua francesa, tendo lido Rimbaud e os principais poetas simbolistas franceses durante a infância. Em 1913, seu irmão Renato, então com quatorze anos de idade, morreu de um golpe recebido enquanto jogava futebol, o que causou um profundo choque em Andrade. Ele abandonou o conservatório e se retirou com a família para uma fazenda que possuíam em Araraquara. Ao retornar, sua habilidade de tocar piano havia sido afetada por um tremor nas mãos. Embora ele houvesse se formado no Conservatório, ele não se apresentou mais e começou a estudar canto e teoria musical com a intenção de se tornar um professor de música. Ao mesmo tempo, começou a ter um interesse mais sério pela literatura. Em 1917, ano de sua formatura, publicou seu primeiro livro de poemas, "Há uma Gota de Sangue em Cada Poema", sob o pseudônimo de Mário Sobral. O livro contém indícios de uma crescente percepção do autor em relação a uma identidade particularmente brasileira, mas, assim como a maior parte da poesia brasileira produzida na época, o faz num contexto fortemente ligado à literatura europeia—especialmente francesa. Seu primeiro livro parece não ter tido um impacto significativo e Andrade decidiu ampliar o âmbito de sua escrita. Deixou São Paulo e viajou para o campo. Iniciou uma atividade que continuaria pelo resto da vida: o meticuloso trabalho de documentação sobre a história, o povo, a cultura e especialmente a música do interior do Brasil, tanto em São Paulo quanto no Nordeste. Andrade também publicou ensaios em jornais de São Paulo, algumas vezes ilustrados por suas próprias fotografias, e foi, acima de tudo, acumulando informações sobre a vida e o folclore brasileiro. Entre as viagens, Andrade lecionava piano no Conservatório, havendo sido também, conforme relato de Oneyda Alvarenga, aluno de estética do poeta Venceslau de Queirós, sucedendo-lhe como professor no Conservatório após sua morte em 1921. Mário de Andrade compôs uma única canção, intitulada "Viola Quebrada". Carreira. Semana de Arte Moderna. Enquanto essas viagens de coleta de folclore aconteciam, Andrade desenvolveu um grupo de amigos entre jovens artistas e escritores de São Paulo, que, como ele, conheciam o crescente movimento modernista na Europa. Vários deles foram posteriormente conhecidos como Grupo dos Cinco: o próprio Andrade, os poetas Oswald de Andrade (sem parentesco) e Menotti del Picchia, e as artistas Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, sendo que a última esteve na Europa antes da Primeira Guerra Mundial e apresentou São Paulo ao expressionismo. Jack E. Tomlins, tradutor do segundo livro de Andrade, descreve em sua introdução um evento particularmente crucial no desenvolvimento da filosofia modernista de Andrade. Em 1920, ele conheceu o escultor modernista Victor Brecheret e comprou uma escultura intitulada "Busto de Cristo", que descrevia Cristo como um brasileiro de cabelos trançados. Sua família (aparentemente para sua surpresa) ficou chocada e furiosa. Andrade retirou-se para seu quarto sozinho e depois lembrou, em uma palestra traduzida por Tomlins, que - ainda "delirante" - saiu para a varanda e "olhou para a praça abaixo sem realmente vê-la". Esses poemas eram completamente diferentes de seu trabalho formal e abstrato. As linhas dos versos variam muito em comprimento e estrutura sintática, consistindo principalmente de descrições impressionistas e fragmentadas, intercaladas com trechos de fala aparentemente ouvidos e desconectados no dialeto de São Paulo. O falante dos poemas muitas vezes parece dominado pelo labirinto de diálogos que o interrompe constantemente, como em "Colloque Sentimental": Depois que os poemas foram concluídos, Andrade escreveu o que chamou de "Prefácio Extremamente Interessante", em uma tentativa de explicar retrospectivamente o contexto teórico dos poemas (embora Bruce Dean Willis tenha sugerido que as teorias do prefácio têm mais a ver com o seu trabalho posterior do que com "Pauliceia"). O prefácio é autodepreciativo ("Este prefácio - embora interessante - é inútil"), mas ambicioso, apresentando uma teoria não apenas da poesia, mas da estética da linguagem, a fim de explicar as inovações de seus novos poemas. Andrade explica seu emaranhado de linguagem em termos musicais: Ele faz uma distinção, no entanto, entre linguagem e música, no sentido de que "as palavras não são fundidas como notas; na verdade, elas são embaralhadas e se tornam incompreensíveis". No entanto, como Willis apontou, há um pessimismo no prefácio; em uma de suas principais passagens, compara a poesia às riquezas submersas de El Dorado, que nunca podem ser recuperadas. Em 1922, enquanto preparava "Pauliceia Desvairada" para publicação, Andrade colaborou com Malfatti e Oswald de Andrade na criação de um único evento que iria introduzir seu trabalho para o público em geral: a Semana de Arte Moderna. A "Semana" incluiu exposições de pinturas de Malfatti e outros artistas, leituras e palestras sobre arte, música e literatura. Andrade foi o principal organizador e a figura central do evento, que foi recebido com ceticismo, mas teve boa participação. Ele deu palestras sobre os princípios do modernismo e seu trabalho na música folclórica brasileira e leu seu "Prefácio Extremamente Interessante". Como o clímax da "Semana", ele leu "Pauliceia Desvairada". O uso de versos livres e expressões coloquiais de São Paulo pelos poemas, embora relacionados a poemas modernistas europeus do mesmo período, eram inteiramente novos para os brasileiros. A leitura foi acompanhada de zombarias persistentes, mas Andrade perseverou e depois descobriu que grande parte da plateia a considerava transformadora. Este tem sido citado frequentemente como o evento seminal na literatura brasileira moderna. O Grupo dos Cinco continuou trabalhando juntos na década de 1920, período em que sua reputação se solidificou e a hostilidade ao trabalho diminuiu gradualmente, mas eventualmente o grupo se separou; Andrade e Oswald de Andrade tiveram uma briga séria (e pública) em 1929. "O Turista Aprendiz". Ao longo da década de 1920, Andrade continuou viajando pelo Brasil, estudando a cultura e o folclore do interior. Ele começou a formular uma teoria sofisticada das dimensões sociais da música folclórica, que é ao mesmo tempo nacionalista e profundamente pessoal. O tema explícito de Andrade era a relação entre a música "artística" e a música da rua e do campo, incluindo os estilos afro-brasileiro e ameríndio. O trabalho foi controverso por suas discussões formais sobre música folclórica; essas controvérsias foram agravadas pelo estilo de Andrade, que era ao mesmo tempo poético (Luper chama de "Joyceano") e polêmico. Suas viagens pelo Brasil se tornaram mais do que apenas pesquisas; em 1927, começou a escrever um diário de viagem chamado "O turista aprendiz" para o jornal "O Diario Nacional". A coluna serviu de introdução aos cosmopolitas ao Brasil indígena. Ao mesmo tempo, serviu de propaganda para o trabalho de Andrade. Várias fotografias de Andrade foram publicadas ao lado da coluna, mostrando a paisagem e as pessoas. Ocasionalmente, o próprio Andrade aparecia neles, geralmente filtrado "pela" paisagem. Suas fotografias serviram assim para promover seu projeto modernista e seu próprio trabalho, ao mesmo tempo que sua função de registrar folclore. Embora Andrade tenha continuado fotografando ao longo de sua carreira, essas imagens dos anos 1920 representam a maior parte de seu notável trabalho, sendo a série de 1927 de particular importância. Ele estava especialmente interessado na capacidade das fotografias de capturar ou reafirmar o passado, um poder que ele considerava altamente pessoal. No final dos anos 1930, ele escreveu: Em muitas das imagens, as figuras são sombreadas, borradas ou quase invisíveis, uma forma de retrato que para Andrade se tornou uma espécie de sublime modernista. Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). No ano de 1936, ele foi convidado por Gustavo Capanema, então Ministro da Educação e Saúde, a escrever um anteprojeto para a criação de um órgão de preservação do patrimônio em nível nacional, segundo solicitação do então governante do Brasil, Getúlio Vargas. Sua proposta de organização certamente foi influenciada por todas as suas viagens pelo Brasil e pela diversidade cultural que havia conhecido. Ele atribuía a ideia de "Patrimônio Artístico Nacional" e indicava quatro grandes Livros do Tombo, que dividiam os itens a serem protegidos em oito tipos de artes. Após a criação do SPHAN, foi delegada a ele a direção da 4ª Região do IPHAN, que compreendia os estados de São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. "Macunaíma". Ao mesmo tempo, Andrade estava desenvolvendo uma extensa familiaridade com os dialetos e culturas de grandes partes do Brasil. Ele começou a aplicar à ficção em prosa a técnica padronizada da fala que havia desenvolvido ao escrever os poemas da "Pauliceia Desvairada". Ele escreveu dois romances durante esse período usando essas técnicas: o primeiro, "Amor, Verbo Intransitivo," foi em grande parte um experimento formal; o segundo, escrito pouco depois e publicado em 1928, foi "Macunaíma," um romance sobre um homem ("O herói sem nenhum caráter" é o subtítulo do romance) de uma tribo indígena que vem a São Paulo, aprende seus idiomas. - ambos, o romance diz, português e brasileiro - e retorna. O estilo do romance é composto, misturando descrições vívidas da selva e da cidade com reviravoltas abruptas na fantasia, o estilo que mais tarde seria chamado de realismo mágico. Linguisticamente, também, o romance é composto; quando o herói rural entra em contato com seu ambiente urbano, o romance reflete o encontro de idiomas. Baseando-se fortemente no primitivismo que Andrade aprendeu com os modernistas europeus, o romance protela sobre o possível canibalismo indígena, enquanto explora a imersão de Macunaíma na vida urbana. O crítico Kimberle S. López argumentou que o canibalismo é a força temática motriz do romance: o consumo de culturas por outras culturas. Formalmente, "Macunaíma" é uma mistura extática de dialetos e ritmos urbanos e rurais que Andrade colecionava em sua pesquisa. Ele contém um estilo de prosa inteiramente novo - profundamente musical, francamente poético e cheio de deuses e quase deuses, mas que contém considerável impulso narrativo. Ao mesmo tempo, o romance como um todo é pessimista. Isso termina com a destruição deliberada de Macunaíma de sua própria aldeia; apesar da euforia da colisão, a reunião de culturas dos novos documentos é inevitavelmente catastrófica. Como Severino João Albuquerque demonstrou, o romance apresenta "construção e destruição" como inseparáveis. É um romance de poder (Macunaíma tem todos os tipos de poderes estranhos) e alienação. Assim como "Macunaíma" mudou a natureza da literatura brasileira em um instante - Albuquerque o chama de "o texto fundamental do modernismo brasileiro" - o conflito interno no romance era uma parte forte de sua influência. "O modernismo", como Andrade descreveu, estava formalmente vinculado às inovações da literatura europeia recente e baseado no encontro produtivo de forças culturais na população diversificada do Brasil; mas era ferozmente nacionalista, baseado em grande parte na distinção entre a cultura brasileira e o mundo e na documentação dos danos causados pelos efeitos remanescentes do domínio colonial. Ao mesmo tempo, a complexa vida interior de seu herói sugere temas pouco explorados na literatura brasileira anterior, que os críticos adotaram para se referir ao próprio Andrade. Embora "Macunaíma" não seja autobiográfico no sentido estrito, reflete e refrata claramente a própria vida de Andrade. Ele era um mulato; seus pais eram proprietários de terras, mas não faziam parte da pseudo-aristocracia portuguesa do Brasil. Alguns críticos têm feito um paralelo entre a raça e os antecedentes familiares de Andrade com a interação entre categorias de seu personagem Macunaíma. Outros críticos defenderam análogos semelhantes entre a sexualidade de Andrade e o status complexo de Macunaíma. Embora Andrade não fosse abertamente gay e não houvesse evidência direta de suas práticas sexuais, muitos dos amigos de Andrade relataram após sua morte que ele estava claramente interessado em homens (o assunto é discutido apenas com relutância no Brasil). Foi sobre uma acusação pseudônima de efeminação que Andrade rompeu com Oswald de Andrade em 1929. Inevitavelmente, o "polemismo de Macunaíma" e a pura estranheza tornaram-se menos óbvios, à medida que se tornaram abrigados na cultura e na educação brasileira predominantes. Uma vez considerado pelos críticos acadêmicos como uma obra desajeitadamente construída, de importância mais histórica que literária, o romance passou a ser reconhecido como uma obra-prima modernista cujas dificuldades fazem parte de sua estética. Andrade é um ícone cultural nacional; seu rosto apareceu na moeda brasileira. Um filme de "Macunaíma" foi feito em 1969, pelo diretor brasileiro Joaquim Pedro de Andrade, atualizando a história de Andrade para a década de 1960 e transferindo-a para o Rio de Janeiro; o filme foi relançado internacionalmente em 2009. Pesquisa musical. Andrade não foi diretamente afetado pela Revolução de 1930, na qual Getúlio Vargas tomou o poder e se tornou ditador, mas ele pertencia à classe dominante que a Revolução foi projetada para substituir, e suas perspectivas de emprego diminuíram sob o regime de Vargas. Ele foi capaz de permanecer no Conservatório, onde agora era Presidente de História da Música e Estética. Com esse título, ele se tornou uma autoridade nacional de fato sobre a história da música e sua pesquisa passou da inclinação pessoal de sua obra de 1920 para livros didáticos e cronologias. Ele continuou a documentar a música folclórica rural e, durante os anos 1930, fez uma enorme coleção de gravações das músicas e de outras formas de música do interior. As gravações foram exaustivas, com uma seleção baseada na abrangência e não no julgamento estético, incluindo relacionados e outros sons não musicais. Na época, compilou diversas canções tradicionais brasileiras, entre elas 15 modinhas de salão dos tempos do Império, as quais cuidadosamente prefaciou e dedicou ao amigo Heitor Villa-Lobos. As técnicas de Andrade foram influentes no desenvolvimento da etnomusicologia no Brasil e antecedem trabalhos semelhantes feitos em outros lugares, incluindo as conhecidas gravações de Alan Lomax. Ele é creditado por cunhar a palavra "popularque", que ele definiu como imitações da música folclórica brasileira por músicos urbanos eruditos ("erudito" geralmente é uma depreciação no vocabulário de Andrade). A palavra continua ganhando força na discussão da música brasileira como categoria tanto acadêmica quanto nacionalista. Em 1935, durante um período instável no governo de Vargas, Andrade e o escritor e arqueólogo Paulo Duarte, que há muitos anos desejavam promover pesquisas e atividades culturais na cidade através de uma agência municipal, conseguiram criar um Departamento de Cultura de São Paulo unificado ("Departamento de Cultura e Recreação da Prefeitura Municipal de São Paulo"). Andrade foi nomeado diretor fundador. O Departamento de Cultura tinha um amplo alcance, supervisionando a pesquisa cultural e demográfica, a construção de parques e uma ala editorial considerável. Andrade abordou a posição com ambição característica, usando-a para expandir seu trabalho no folclore e na música folclórica enquanto organizava inúmeras performances, palestras e exposições. Ele mudou sua coleção de gravações para o Departamento, e expandi-la e aprimorá-la se tornou uma das principais funções do Departamento, supervisionada pela ex-aluna de Andrade, Oneyda Alvarenga. A coleção, chamada "Discoteca Municipal," era "provavelmente a maior e melhor organizada em todo o hemisfério". Ao mesmo tempo, Andrade estava refinando sua teoria da música. Ele tentou reunir suas pesquisas em uma teoria geral. Preocupado, como sempre, com "a" necessidade "do modernismo de" romper com o passado, ele formulou uma distinção entre a música clássica da Europa dos séculos XVIII e XIX e o que chamou de música do futuro, que se basearia simultaneamente em colapsos modernistas da forma musical e no entendimento da música folclórica e popular. A música do passado, disse ele, foi concebida em termos de espaço: seja o contraponto, com suas múltiplas vozes dispostas em alinhamento vertical, ou as formas sinfônicas, nas quais a voz dominante é normalmente projetada em cima de um acompanhamento complexo. A música futura seria organizada no tempo, e não no espaço: "momento a momento". Essa música temporal seria inspirada não pela "lembrança contemplativa", mas pelo profundo desejo ou desejo expresso pela palavra portuguesa "saudade". Por meio de sua posição no Departamento de Cultura, nesse período, ele pôde ajudar Dina Lévi-Strauss e seu marido, Claude Lévi-Strauss, com os filmes que estavam fazendo com base em pesquisas de campo em Mato Grosso e Rondônia. Final da vida. A posição de Andrade no Departamento de Cultura foi abruptamente revogada em 1937, quando Vargas voltou ao poder e Duarte foi exilado. Em 1938, Andrade se mudou para o Rio de Janeiro para ocupar um cargo na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde ele dirigiu o Congresso da Língua Nacional Cantada, uma importante conferência de folclore e música folclórica. Ele voltou para São Paulo em 1941, onde trabalhou em uma edição colecionada de sua poesia. O projeto final de Andrade foi um longo poema chamado "Meditação Sôbre o Tietê". O trabalho é denso e difícil, e foi descartado pelos primeiros críticos como "sem sentido", embora trabalhos recentes tenham sido mais entusiasmados. Um crítico, David T. Haberly, o comparou favoravelmente ao "Paterson, de" William Carlos Williams"," um épico inacabado denso, mas influente, que usa uma construção composta. Como "Paterson", é um poema sobre uma cidade; a "Meditação" está centrada no rio Tietê, que corre por São Paulo. O poema é simultaneamente um resumo da carreira de Andrade, comentando poemas escritos muito antes, e um poema de amor dirigido ao rio e à própria cidade. Nos dois casos, o poema sugere um contexto mais amplo: compara o rio ao Tejo, em Lisboa, e ao Sena, em Paris, como se estivesse reivindicando uma posição internacional para Andrade também. Ao mesmo tempo, o poema associa a voz de Andrade e o rio ao banzeiro, palavra da tradição musical afro-brasileira: música que pode unir homem e rio. O poema é a afirmação definitiva e final da ambição de Andrade e de seu nacionalismo. Andrade morreu em sua casa em São Paulo de um ataque cardíaco em 25 de fevereiro de 1945, aos 51 anos. Dadas as suas divergências com a ditadura varguista, não houve qualquer reação oficial significativa antes de sua morte. No entanto, a publicação de seus "Poemas Completos", em 1955 (um ano após a morte de Vargas), marcou o início da canonização de Andrade como um dos heróis culturais do Brasil. Em 15 de fevereiro de 1960, a biblioteca municipal de São Paulo foi renomeada para Biblioteca Mário de Andrade"." Vida pessoal. Sexualidade. Apenas 50 anos após a morte do escritor, a questão da sexualidade de Mário de Andrade foi abordada em livro por seu amigo Moacir Werneck de Castro, que referiu que na roda de colegas não se suspeitava que fosse homossexual: "supúnhamos que fosse casto ou que tivesse amores secretos. Se era ou não, isso não afeta a sua obra, nem seu caráter". E só em 1990, o seu amigo Antonio Candido se referiu diretamente ao assunto: "O Mário de Andrade era um caso muito complicado, era um bissexual, provavelmente". O episódio do rompimento da amizade com Oswald de Andrade é hoje largamente citado: Oswald ironizou que Mário se "parecia com Oscar Wilde por detrás". A maioria dos familiares de Mário falam que ele era assexual, só se importando com a literatura. No entanto, sempre persistiu fortemente nos meios acadêmicos um "silêncio" sobre o assunto. A respeito disso, no livro "Devassos no Paraíso - A Homossexualidade no Brasil, da Colônia à Atualidade" (2000), João Silvério Trevisan denuncia "um patético jogo de cena que mais tem revelado do que ocultado a homossexualidade de Mário de Andrade [...] tem sido vítima de um verdadeiro conluio de censores paranoicos, que cercaram sua vida e continuam atuando sobre seu cadáver como abutres zelosos da própria 'honra', em nome da qual têm tornado 'indigno' o passado do maior escritor modernista do Brasil". No dia 19 de junho de 2015, a Fundação Casa de Rui Barbosa disponibilizou para consulta trecho inédito de carta escrita pelo próprio Mário de Andrade em 7 de abril de 1928 ao amigo Manuel Bandeira, na qual fala a respeito de sua fama de homossexual. Até essa data, a carta, que recebeu ampla divulgação dos jornais, é a confissão mais clara sobre sua sexualidade, em que ele escreve: A carta já havia sido publicada anteriormente em livro de 1966 das correspondências entre ambos os escritores, mas o trecho acima havia sido completamente retirado sem a devida informação. Só foi possível o acesso total por pedido do jornalista Marcelo Bortoloti, através da revista "Época", por meio da Lei de Acesso à Informação, visto que, segundo a diretora da Casa de Rui Barbosa, Lia Calabre, a família e os herdeiros de Mário de Andrade sempre se opuseram a divulgá-la. Para Silviano Santiago, que organizou a correspondência entre Mário e Carlos Drummond de Andrade, a carta não traz "novidade, porque a questão era sabida, meio consensual, mas sua não-revelação atrapalhava a compreensão da obra de Mário de Andrade e de sua figura intelectual. Agora há um extenso trabalho pela frente, que é tratar daquela que eu julgo ser a grande questão libertária do novo milênio: a sexualidade. [...] Essa carta pode abrir novas interpretações. Acho que houve uma conspiração do pudor em não revelar a íntegra da carta porque se trata de um tema tabu. Se não, essa carta não teria sido proibida, não haveria tanta curiosidade em torno dela e agora, revelada, não estaria fazendo tanto barulho". Eduardo Jardim, autor da biografia "Eu Sou Trezentos - Mário de Andrade - Vida e Obra", comentou: "A carta mostra claramente uma tensão entre o amor carnal, que é físico e sexual, e o amor sublime, espiritualizado, como o que ele demonstra ter pela amizade de Manuel Bandeira. Essas tensões atravessam sua personalidade. [...] Ele se dizia pansexual. Talvez ele não tinha uma sexualidade exclusiva, ele também se relacionava com mulheres. A experiência da homossexualidade era muito diferente naquela época no Brasil, no ambiente dele, era algo mais reprimido do que é hoje. [...]". De acordo com Trevisan, com a divulgação pública da carta seria possível "trabalhar a obra de Mário de Andrade sob o viés da homossexualidade dele. É um aspecto importante que certamente pode despejar luz sobre seu legado. Houve uma conspiração do silêncio sobre a homossexualidade de Mário. Essa é uma característica da intelectualidade brasileira". Impacto cultural. Mário de Andrade já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Paulo Hesse no filme "O Homem do Pau-Brasil" (1982) e Pascoal da Conceição nas minisséries "Um Só Coração" (2004) e "JK" (2006). Em 1993, quase 48 anos após sua morte, a Casa da Moeda do Brasil emitiu a cédula de 500 000 cruzeiros em sua homenagem. A cédula possui sua efígie, tendo à esquerda, desenho inspirado em fotografia de sua autoria, intitulada "Sombra Minha". Acompanhada pelo último verso do conhecido poema "Eu sou trezentos...". No reverso, consta uma cena representando Mário de Andrade conversando com crianças, ladeada por prédios que simbolizam o crescimento vertiginoso da cidade de São Paulo na época do escritor. A nota ficou em circulação entre 29/01/1993 e 15/09/1994, e foi a cédula com maior valor de face já emitida na história das moedas nacionais. Em 2022, a obra Macunaíma foi composta por Ronaldo Miranda para o Ballet e Orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Obras. Poesia. Póstumo: Ensaios, críticas e musicologia. Póstumo: Contos. Póstumo: Crônicas. Póstumo: Diários. Póstumo:
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Folk contemporâneo
Folk contemporâneo O folk" contemporâneo (ou simplesmente folk") refere-se a uma grande variedade de gêneros musicais que surgiram em meados do século XX e que estão associados à música tradicional. Do inglês "folklore": "folk" significa 'gente' ou 'povo', e "lore" significa 'conhecimento'. O termo "música folk" é também um sinônimo de música tradicional, porém, aqui entende-se toda a música que é chamada "folk" e que não é música tradicional, um conjunto de gêneros que começou com (a música tradicional) e, em seguida, evoluiu a partir do "folk revival" de meados do século XX. O folk contemporâneo evoluiu a partir da música tradicional a partir de meados do século XX. Este processo e período é chamado de "(segundo) folk revival" (em português: "renascimento da música tradicional") e atingiu seu ápice na década de 1960. A música "folk" contemporânea foi definida por um foco em instrumentos acústicos e letras politica e socialmente conscientes que refletiam as mudanças sociais ocorrendo na época. A transição foi um pouco centrada nos Estados Unidos e também é chamada de "American folk music revival" ("renascimento da música tradicional americana"). O "folk revival" é uma tendência de jovens intérpretes que popularizam o estilo de música tradicional de seus ancestrais. O "folk revival" do pós-Segunda Guerra Mundial na América do Norte e no Reino Unido originou o folk contemporâneo e trouxe um significado adicional para o termo "folk": músicas recém-compostas por autores conhecidos e que imitavam estilos e formas de música tradicional. Reavivamentos menores e semelhantes ocorreram em outras partes do mundo noutras ocasiões, mas o termo folk contemporâneo não foi tipicamente aplicado à nova música criada durante esses reavivamentos. Os gêneros de fusão, como folk rock, folk-pop, folktronica, indie folk e outros também evoluíram dentro desse fenômeno. Tipicamente, artistas que empregam formas de música e estilos de performance tradicionais (por exemplo, acompanhamento de guitarra acústica) mas trabalham em uma base profissional e se empenham em repertórios originais, (muitas vezes autoral) são descritos como "cantores folk". Enquanto a música folk contemporânea é um gênero geralmente distinto da música tradicional, muitas vezes compartilha o mesmo nome em inglês ("folk music"), artistas e locais que a música tradicional; inclusive, canções individuais podem ser uma mistura dos dois estilos. O nome mais comum para esta nova forma de música também é "folk", mas muitas vezes é chamada de "folk contemporâneo" para fazer a distinção. História. Enquanto o Nacionalismo romântico do folk revival teve sua maior influência sobre a música de arte, o "segundo folk revival" do século XX resultou em um novo gênero de música popular com artistas comercializados através de concertos, gravações e transmissões de rádio e televisão. Uma das primeiras figuras desse renascimento foi o cantautor norte-americano Woody Guthrie, que cantou canções tradicionais nas décadas de 1930 e 1940, além de compor o seu próprio repertório. No Reino Unido, o folk revival promoveu uma geração de cantores e compositores como Donovan, que alcançou proeminência inicial na década de 1960. O folk revival gerou a primeira verdadeira onda de artistas internacionalmente bem-sucedidos do Canadá, como Gordon Lightfoot, Leonard Cohen, Joni Mitchell e Buffy Sainte-Marie. Entre os principais artistas que surgiram a partir da década de 1940 até o início da década de 1960, incluem-se Woody Guthrie, Pete Seeger, Joan Baez e Bob Dylan. O uso de instrumentos elétricos por Dylan ajudou na criação de gêneros como folk rock e country rock, particularmente pelo seu álbum "John Wesley Harding" (1967). Os meados da década de 1960 até o início da década de 1970 foram associados a grandes mudanças musicais, políticas, de estilo de vida e de contracultura. A música folk sofreu uma rápida evolução, expansão e diversificação relacionadas ao mesmo tempo. As principais mudanças ocorreram através da evolução de artistas estabelecidos como Bob Dylan, Joan Baez, Judy Collins, Seekers e Peter, Paul and Mary, e também através da criação de novos gêneros de fusão com rock e pop. Durante este período, o termo "música de protesto" costumava ser usado para caracterizar a música folk com temas políticos atuais. Os artistas canadenses Gordon Lightfoot, Leonard Cohen, Bruce Cockburn e Joni Mitchell representaram essas fusões e gozaram de grande popularidade nos Estados Unidos. Posteriormente, a música folk passou a abordar temas "pessoais e introspectivos" em vez de abordar temas de cunho político e social. A convergência do movimento dos direitos civis e da música folk no campus da faculdade levou à popularidade de artistas como Bob Dylan e sua marca de música de protesto. Cantores e compositores populares como Phil Ochs, Buffy Sainte-Marie, Arlo Guthrie e Tom Paxton seguiram os passos de Woody Guthrie, escrevendo "música de protesto" e músicas tópicas expressando apoio para várias causas, incluindo o Movimento dos Direitos Civís Americanos e também o movimento anti-guerra, além de causas associadas à Guerra do Vietnã. Canções como "Blowin' in the Wind", de Dylan, se tornaram um hino para o movimento de direitos civís, e ele cantou baladas sobre muitas outras questões atuais da época, como "Hard Rain's Gonna Fall" sobre a crise dos mísseis cubanos. Dylan é citado tendo dito "há outras coisas neste mundo além do amor e do sexo que também são importantes". Diversos artistas que começaram suas carreiras cantando material em grande parte tradicional, como Joan Baez e Judy Collins, começaram a escrever seu próprio material. No final da década de 1960, assistiu-se ao advento de grupos de folk elétrico (chamado "electric folk"), uma forma de "folk rock". Outros subgêneros do "folk" são o "anti-folk", "folk punk", "indie folk", "folktronica", "freak folk" e "Americana;" além de gêneros de fusão como "folk metal", "folk" progressivo, "folk" psicodélico e "neofolk". "Folk revival". Folk revival ou roots revival (algo como "renascimento das raízes") é uma tendência de jovens intérpretes que popularizam o estilo de música tradicional de seus ancestrais. O folk revival do pós-Segunda Guerra Mundial na América do Norte e no Reino Unido iniciou um novo gênero, o folk contemporâneo, e trouxe um significado adicional para o termo "folk": músicas recém-compostas por autores conhecidos e que imitavam estilos e formas de música tradicional. Nos Estados Unidos, durante as décadas de 1930/40, o cantor e compositor Woody Guthrie emergiu da poeira de Oklahoma e da Grande Depressão em meados do século XX, com letras que expunham seus pontos de vista sobre ecologia, pobreza e sindicalização nos EUA, tudo isso com melodias que refletiam os muitos gêneros da música tradicional americana. Seu legado musical inclui centenas de canções políticas, tradicionais e infantis, baladas e obras improvisadas. O folk revival britânico incorpora uma série de movimentos para o conjunto, preservação e desempenho da música tradicional no Reino Unido e territórios e países relacionados, que tiveram origens já no século XVIII. Está particularmente associado a dois movimentos, geralmente referidos como o primeiro e segundo folk revival, respectivamente no final do século XIX e no início e meio do século XX. O primeiro incluiu maior interesse e estudo da música tradicional, o segundo foi parte do nascimento da música folk contemporânea. Estes tiveram um impacto profundo no desenvolvimento da música clássica britânica e na criação de uma escola "nacional" ou "pastoral" e levou à criação de uma subcultura de clubes de música tradicional e festivais populares, além de subgêneros influentes, incluindo folk progressivo e folk rock britânico. Artistas importantes do movimento em países cuja língua oficial é o inglês também inclui: The Almanac Singers, Burl Ives, Pete Seeger, Robert Schmertz, The Weavers, Harry Belafonte, Odetta, The Kingston Trio, The Limeliters, Joan Baez, The Chad Mitchell Trio, The Highwaymen, The New Christy Minstrels, The Rooftop Singers, Bob Dylan, Peter, Paul and Mary, Judy Collins, The Seekers e Ian & Silvia. Muitas vezes, as "revivals" incluem uma adição de canções recém-compostas com letras politicamente conscientes, bem como uma modernização do som tradicional. Características associadas aos "revivals" inclui: Definições. Na década de 1960 nos Estados Unidos, ocorreu o reavivamento da música tradicional (ou "folk revival"). Durante esse período, um novo estilo de música folk foi desenvolvido. A música folk contemporânea foi definida por um foco em instrumentos acústicos e letras política e socialmente conscientes que refletiam as mudanças sociais ocorrendo na época. Enquanto a música folk contemporânea é um desenvolvimento mais recente dos Estados Unidos, a música folk pode ser encontrada em todo o mundo. De acordo com a orientação do 54º Grammy Awards, a categoria "Best Folk Album" inclui material folk autêntico em estilos vocais e instrumentais tradicionais, bem como material contemporâneo de artistas que usam elementos do folk tradicional, além de seus sons e técnicas instrumentais como base para suas gravações. A música folk é principalmente, mas não exclusivamente, acústica, muitas vezes usando arranjos contemporâneos com produção e sensibilidades claramente diferentes de uma abordagem pop. "Cada país tem sua própria música folk (ou tradicional), mas o termo "folk" geralmente se refere a música americana e britânica que passou por gerações pela tradição oral. É uma música simples e acústica que gira em torno dos eventos cotidianos das pessoas comuns. Muitas canções "folk" tradicionais não tem um autor conhecido, elas simplesmente evoluíram ao longo dos anos. A maioria das primeiras músicas folk eram desta natureza, mas com Woody Guthrie os artistas começaram a fazer o caminho inverso e compor o seu próprio repertório. Ainda assim, muitos artistas, incluindo os Weavers e Pete Seeger, escolheram misturar músicas tradicionais com material mais novo, escrito pelos próprios artistas ou outros músicos contemporâneos. Inicialmente, Bob Dylan funcionou nesse estilo, mas, em seu segundo álbum, "The Freewheelin' Bob Dylan" (1963), ele começou a apostar inteiramente em material original, iniciando assim a era moderna da música "folk", onde a maioria dos artistas canta o seu próprio material (geralmente, música pessoal e introspectiva) e apenas ocasionalmente fazem "covers"." —Definição do AllMusic para o uso contemporâneo do termo "folk music". A música folk é qualquer estilo de música que representa uma comunidade e pode ser cantada ou tocada por pessoas que podem ou não ser músicos treinados, usando os instrumentos disponíveis para eles. À medida que os tempos mudaram, a música folk progrediu para refletir os tempos. Muitas das antigas músicas de trabalho e protesto ainda são cantadas hoje, embora com novos versículos que foram adicionados para refletir o contexto em que as músicas foram ressuscitadas. Tradicionalmente cantada e tocada dentro de comunidades, ou seja, não criada ou produzido para consumo popular, a música tradicional americana foi incorporada a estilos "mainstream", criando alguma combinação de música folk e pop, durante o "folk revival" no meio do século XX. A música tradicional dos Estados Unidos começou a se misturar com a música pop, já que os Baby boomers atingiram a idade de uma só vez, muitos deles ouvindo a Antologia da música popular americana de Harry Smith. A música do folk revival era música pop narrativa com consciência social. Desde então, as formas musicais dirigidas pela comunidade (punk rock, hip hop) evoluíram a partir desta combinação de música folk e pop. Agora, no século XXI, a música folk norte-americana tem fortes influências de todos esses movimentos musicais. Fora da musicologia, a "música folk" ​​é mais usada para descrever um estilo de música que evoluiu rapidamente ao longo do último século. Você ouvirá críticos e fãs se referirem a um artista como "folky", e geralmente isso não significa que eles estejam emprestando uma melodia de uma fonte tradicional. Em vez disso, esse termo é dado a músicas que são tocadas usando instrumentos que normalmente não são vistos em uma banda de rock ou pop. Se a música que eles compuseram com seu instrumento acústico sobreviverá através de gerações até que se torne tradicional, não parece importar para muitos críticos e fãs. Debater se isso dilui a tradição da música folk é um debate frequente entre críticos, musicologistas e fãs. Para os propósitos aqui, "música folk" ​​refere-se a música derivada ou influenciada pela música tradicional americana, seja uma banda "mainstream" contemporânea que use o estilo de banjo clawhammer, ou uma trupe que toca "" exatamente do mesmo modo que elas foram originalmente feitas. A música que mantém a tradição popular em mente está construindo constantemente essa tradição e mantendo-a viva. Enquanto essa música é feita principalmente para dar voz a uma comunidade particular, ela está contribuindo para a tradição atual da música folk americana. Uma vez que a música folk é mais adequadamente definida pelas pessoas que a criam, é importante não ignorar que termos como "cantor folk" ou "folky" passaram a significar algo diferente do que significava há 50 anos. Os artistas folk hoje são experimentadores que manipulam diferentes gêneros, integrando várias influências musicais em suas músicas narrativas. Uma definição comum para o atual uso do termo "folk" é: "uma música simples e acústica cujos temas giram em torno do cotidiano das pessoas comuns" ou mesmo "música acústica, calma e suave que faz grande uso de guitarras acústicas." O folk contemporâneo é em grande parte diferente da música tradicional, mas mantém uma ligação estilística com ela. Tipicamente, artistas que empregam formas de música e estilos de performance tradicionais (por exemplo, acompanhamento de guitarra clássica) mas trabalham em uma base profissional e se empenham em repertórios originais, (muitas vezes autoral) são descritos como "cantores "folk"". A mistura de elementos do folk com estilos populares, como pop, rock, jazz, blues e eletrônica, deu origem a diversos , incluindo folk rock, indie folk, folktronica, entre outros. Embora nem sempre, o folk contemporâneo é muitas vezes descrito como a música influenciada pelos estilos tradicionais dos Estados Unidos e Reino Unido. A música que emprega estilos tradicionais de outras regiões é geralmente classificada como "world music". Outras definições para o termo inclui: música acústica tocada com instrumentos 'tradicionais' e música que 'imita' estilos tradicionais. "Hoje em dia, quando as pessoas pensam em música "folk", elas geralmente imaginam um cantor-compositor com uma guitarra acústica. Mas, acredite ou não, o cantor-compositor é um fenômeno bastante recente na história centenária da música tradicional americana. Embora tenham existido cantores-compositores que precederam Woody Guthrie, ele foi realmente a primeira pessoa a popularizar o formato, passando a tocha para Bob Dylan (que levou a coisa toda do "cantor-compositor" para um novo nível) e assim por diante. Na música popular, os compositores sempre trabalhavam separados dos cantores, de modo que a popularização da música folk americana através do formato cantor-compositor em meados do século XX ajudou também a transformar o mercado pop." –Kim Ruehl, "About.com". De acordo com o site AllMusic, o "folk" contemporâneo "refere-se aos cantores e compositores "folk" pós-Bob Dylan nos anos 70 e além." Ainda de acordo com a definição do site, "Antes de Dylan, a maioria dos cantores folk interpretava músicas tradicionais clássicas ou escrevia canções tópicas de base ampla. Depois de Dylan, cantores folk mudaram sua abordagem. Não só sua música se abriu, aceitando certas técnicas de produção de "pop/rock" e instrumentação, mas suas canções se tornaram cada vez mais introspectivas, concentrando-se no pessoal em vez do social. Nas décadas seguintes, os cantores folk contemporâneos às vezes atravessavam o "pop", mas seu som permanecia enraizado nas tradições do folk e costumavam frequentar seus próprios círculos, lançando álbuns em selos independentes e tocando em clubes de música folk e casas de café." As definições de ""folk" contemporâneo" são geralmente vagas e variáveis. Aqui, entende-se toda a música que é chamada "folk" e que não é música tradicional, um conjunto de gêneros que começou com (a música tradicional) e, em seguida, evoluiu a partir do "folk revival" de meados do século XX. De acordo com Hugh Blumenfeld (sobre a cena "folk" norte-americana): Este é o uso comum do termo "música folk contemporânea", mas não é o único caso de evolução de novas formas tradicionais. A "música country" contemporânea evoluiu de uma tradição rural americana, porém de forma diferente. A música "Bluegrass" é um desenvolvimento profissional da música americana antiga, misturada com "blues" e "jazz". A música tradicional americana engloba numerosos gêneros de música, conhecidos como música tradicional, música folk tradicional, música folk contemporânea ou música de raiz. Muitas músicas tradicionais foram cantadas dentro do mesmo grupo familiar ou popular por gerações, e às vezes remontam a origens como Grã-Bretanha, Europa ou África. Mike Seeger, uma vez famoso, comentou que a definição de música popular americana é "... toda a música que se encaixa entre as rachaduras". Música de raiz ("roots music") é uma ampla categoria de música, incluindo bluegrass, gospel, , jug bands, música tradicional dos Apalaches, blues, Cajun e música nativa americana. A música é considerada americana, quer porque é nativa dos Estados Unidos ou porque se desenvolveu lá, fora de origens estrangeiras, até o ponto em que atingiu os musicologistas como algo distintamente novo. É considerado "música de raiz" porque serviu de base à música desenvolvida nos Estados Unidos, incluindo rock and roll, rhythm and blues e jazz.
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Migas à alentejana
Migas à alentejana As migas à alentejana constituem um dos mais conhecidos pratos da gastronomia do Alentejo. Tal como as açordas e outros pratos desta região portuguesa, o ingrediente de base é o pão em especial pão tradicional Alentejano, um tipo de mão de massa densa com um toque agridoce. Este é combinado com carne de porco e muitas vezes chouriço e banha de porco, produtos com grandes tradições na região. Além do pão e da carne porco, leva alho, massa de pimentão e sal. A receita em si tende a ser uma variação de fritar carne de porco, chouriço, toucinho ou banha, alho e massa de pimentão, depois das carnes estarem bem fritas, retiram-se essas e junta-se pão alentejano com um pouco de água quente e esmaga-se bem o pão até criar uma papa e vai-se fritando até essa massa engrossar e dourar criando uma migas, por fim serve-se com as carnes que foram fritas anteriormente.
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Modelação do comportamento
Modelação do comportamento
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Modelo das partículas fluidas
Modelo das partículas fluidas
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Mercantilismo
Mercantilismo Mercantilismo é um conjunto de práticas econômicas desenvolvido na Europa na Idade Moderna, entre o século XV e o final do século XVIII. O mercantilismo originou um conjunto de medidas econômicas diversas de acordo com os Estados. Caracterizou-se por uma forte intervenção do Estado na economia. Consistiu numa série de medidas tendentes a unificar o mercado interno e teve como finalidade a formação de fortes Estados-nacionais. É possível distinguir três modelos principais: balança comercial favorável, pacto colonial e protecionismo. Segundo William Holman Hunt, o mercantilismo originou-se no período em que a Europa estava a passar por uma grave escassez de ouro e prata, não tendo, portanto, dinheiro suficiente para atender ao volume crescente do comércio. As políticas mercantilistas partilhavam a crença de que a riqueza de uma nação residia na acumulação de metais preciosos (ouro e prata), advogando que estes se atrairiam através do incremento das exportações e da restrição das importações (procura de uma balança comercial favorável). Essa crença é conhecida como bulionismo ou metalismo. O Estado desempenha um papel intervencionista na economia, implantando novas indústrias protegidas pelo aumento dos direitos alfandegários sobre as importações, protecionismo, controlando os consumos internos de determinados produtos, melhorando as infraestruturas e promovendo a colonização de novos territórios (monopólio), entendidos como forma de garantir o acesso a matérias-primas e o escoamento de produtos manufaturados. A forte regulamentação da economia pelo mercantilismo será contestada na segunda metade do século XVIII por François Quesnay e pelo movimento dos fisiocratas. O mercantilismo é um conjunto de ideias econômicas que considera a prosperidade de uma nação ou Estado dependente do capital que possa ter. Os pensadores mercantilistas preconizam o desenvolvimento econômico por meio do enriquecimento das nações graças ao comércio exterior, o que permite encontrar saída aos excedentes da produção. O Estado adquire um papel primordial no desenvolvimento da riqueza nacional, ao adotar políticas protecionistas, e em particular estabelecendo barreiras tarifárias e medidas de apoio à exportação. Princípios mercantilistas. Os princípios mercantilistas eram os seguintes: O mercantilismo enquadra-se historicamente na Idade Moderna, com a progressiva autonomia da economia frente à moral e a religião bem como frente à política. Esta enorme ruptura realizar-se-á por meio de conselheiros dos governantes e pelos comerciantes. Esta nova disciplina chegará a ser uma verdadeira ciência econômica com a fisiocracia. Entre os muitos autores mercantilistas, há que destacar a Martín de Azpilicueta (1492-1586), Tomás de Mercado (1525-1575), Jean Bodin (1530–1596), Antoine de Montchrétien (1576–1621), ou William Petty (1623–1687). O mercantilismo foi a teoria predominante ao longo de toda a Idade Moderna (do século XVI ao XVIII), época que aproximadamente indica o surgimento da ideia do Estado-nação e a formação econômico social conhecida como Antigo Regime na Europa Ocidental. Marca o final da proeminência da ideologia econômica do cristianismo (a crematística), inspirada em Aristóteles e Platão, que recusava a acumulação de riquezas e os empréstimos com juros (vinculados ao pecado da usura). Numa época que os reis desejavam possuir o máximo de ouro possível, as teorias mercantilistas buscavam esse objetivo e desenvolviam uma problemática baseada no enriquecimento, com base numa análise simplificada dos fluxos econômicos, em que, por exemplo, não se leva em conta o papel do sistema social. Como agente unificador tendente à criação de um Estado nacional soberano, o mercantilismo contrapõe-se a duas forças: a primeira, mais espiritual e jurídica do que político-econômica, era constituída pelos "poderes universais": a Igreja e o Sacro Império Romano Germânico; a segunda, de caráter predominantemente econômico foi o particularismo local, com a dificuldade que produz para as comunicações e a sobrevivência da economia natural (em determinadas zonas as rendas do Estado eram em espécie e não em dinheiro), enquanto a pretensão mercantilista era de que o mercado fechado fosse substituído pelo mercado nacional, e as mercadorias fossem substituídas por ouro, como medida de valor e meio de troca. O mercantilismo vê a intervenção do Estado como o meio mais eficaz para o desenvolvimento econômico. Outra tendência do mercantilismo era fortalecer o poder do Estado no exterior, subordinando a atividade econômica a esse objetivo, e interessando-se pela riqueza enquanto servisse como base para isso. O liberalismo considerará a riqueza como preciosa para o indivíduo e, portanto, digna de ser atingida como um fim em si mesmo: se o particular não deve pensar em nada mais senão em enriquecer, é um fato puramente natural e involuntário que a riqueza dos cidadãos contribua para aumentar a riqueza do Estado. Por outro lado, para os mercantilistas, a riqueza privada é simplesmente um meio, e como tal fica subordinado ao Estado e aos seus fins de domínio. A confiança no mercantilismo começou a decair em finais do século XVIII, quando as teorias de Adam Smith e de outros economistas clássicos foram ganhando prestígio no Império Britânico e, em menor grau, no restante da Europa (exceto na Alemanha, onde a Escola Histórica de Economia foi a mais importante durante todo o século XIX e começo do XX). Adam Smith, na sua obra "A riqueza das nações", critica o mercantilismo com dureza, qualificando-o como uma "economia ao serviço do Príncipe". Curiosamente, embora tenha sido uma antiga colônia britânica, os Estados Unidos não aderiram à economia clássica. Em vez disso, adotaram uma forma de neomercantilismo preconizada pela chamada "escola americana" - organizada em torno das políticas de Alexander Hamilton, Henry Clay e Abraham Lincoln, as quais posteriormente seriam defendidas pelo Partido Republicano. Essa corrente seria dominante nos EUA até ao surgimento do "New Deal", após a crise de 1929. A escola americana também influenciaria os economistas da Escola Histórica de Economia, como Friedrich List. Atualmente a teoria do mercantilismo é recusada pela maioria dos economistas, se bem que alguns dos seus elementos sejam ocasionalmente vistos de modo positivo por alguns, entre os quais cabe citar a Ravi Batra, Pat Choate, Eammon Fingleton, ou Michael Lind. Doutrina econômica mercantilista. O mercantilismo como conjunto de ideias econômicas. Quase todos os economistas europeus dentre 1500 e 1750 são considerados atualmente como mercantilistas. Contudo, estes autores não se consideravam partícipes de uma única ideologia econômica. O termo só foi inventado em 1763, por Vitor Riquetti Marquês de Mirabeau, e popularizado por Adam Smith, em 1776. O termo "mercantilismo" foi criado a partir da palavra latina "mercari", que significa mercantil, no sentido de levar a cabo um negócio, e que procede da raiz "merx" que significa mercadoria. De início foi usado apenas por críticos, como Mirabeau e o próprio Smith, mas foi logo adotada pelos historiadores. De fato, Smith foi quem primeiro organizou formalmente muitas das contribuições dos mercantilistas no seu livro "A Riqueza das Nações". O mercantilismo em si não pode ser considerado como uma teoria unificada de economia. Na realidade não houve escritores mercantilistas que apresentassem um esquema geral do que seria uma economia ideal, tal como Adam Smith faria mais adiante para a economia clássica. O escritor mercantilista tendia a concentrar a sua atenção numa área específica da economia. Somente após o período mercantilista é que estudiosos, como Eli F. Heckscher, integrariam as diversas ideias no que chamariam "mercantilismo". Heckscher vê, nos escritos da época, um sistema de poder político e, ao mesmo tempo, um sistema de regulamentação da atividade econômica, um sistema protecionista e um sistema monetário com a teoria da balança comercial. Contudo, alguns teóricos recusam completamente a ideia mesma de uma teoria mercantilista, alegando que esta dá "uma falsa unidade a fatos díspares". O historiador do pensamento econômico Mark Blaug faz notar que o mercantilismo foi qualificado posteriormente como "bagagem incômoda", "diversão de historiografia", e de "gigantesco globo teórico". Até certo ponto, a doutrina mercantilista, em si mesma, tornava impossível a existência de uma teoria geral da economia. Os mercantilistas viam o sistema econômico como um jogo de soma zero, onde a ganância de uma das partes supunha a perda da outra ou, seguindo a famosa máxima de Jean Bodin, "não há nada que alguém ganhe e que outrem não perca". Assim, por definição, qualquer sistema político que beneficiasse a um grupo faria dano a outro (ou outros), não existindo a possibilidade de a economia servir para maximizar a riqueza comum ou para o bem comum. Aparentemente, os escritos dos mercantilistas foram feitos mais para justificar "a posteriori" uma série de práticas, do que para avaliar o impacto dessas práticas e determinar o melhor modo de implementá-las. O mercantilismo é, portanto, uma doutrina ou política econômica que aparece num período intervencionista e "descreve um credo econômico que prevaleceu à época de nascimento do capitalismo, antes da Revolução Industrial". As primeiras teorias mercantilistas desenvolvidas a princípios do século XVI estiveram pontuadas pelo bullionismo. A esse respeito, Adam Smith escrevia: Durante esse período, importantes quantidades de ouro e prata fluíam desde as colônias espanholas do Novo Mundo para a Europa. Para os escritores bullionistas, como Jean Bodin ou Thomas Gresham, a riqueza e o poder do Estado medem-se pela quantidade de ouro que possuem. Cada nação deve, pois, acrescentar as suas reservas de ouro à custa das demais nações para fazer crescer o seu poder. A prosperidade de um Estado mede-se, segundo os bullionistas, pela riqueza acumulada pelo governo, sem mencionar a Renda Nacional. Este interesse para as reservas de ouro e prata é explicado em parte pela importância dessas matérias-primas na época de guerra. Os exércitos, que contavam com muitos mercenários, eram pagos com ouro e exceto os poucos países europeus que controlavam as minas de ouro e prata, a principal maneira de obter essas matérias-primas era o comércio internacional. Se um Estado exportava mais do que importava, a sua "balança do comércio" (o que corresponde atualmente à balança comercial) era excedentária, o qual se traduzia numa entrada neta de dinheiro. Isto levou os mercantilistas a propor como objetivo econômico o de ter um excedente comercial. Era estritamente proibida a exportação de ouro. Os bullionistas também eram partidários de altas taxas de juros para animar os investidores a investir o seu dinheiro no país. No Século XVIII foi desenvolvida uma versão mais elaborada das ideias mercantilistas, que recusava a visão simplista do bullionismo. Esses escritores, como Thomas Mun, situavam como principal objetivo o crescimento da riqueza nacional, e embora continuavam considerando que o ouro era a riqueza principal, admitiam que existiam outras fontes de riqueza, como as mercadorias. O objetivo de uma balança comercial excedentária continuava a ser perseguido, mas desde esse momento era visto interessante importar mercadorias da Ásia por meio de ouro para revender depois esses bens no mercado europeu com importantes benefícios. Esta nova visão recusava a partir desse momento a exportação de matérias-primas, que uma vez transformadas em bens finais constituíam uma importante fonte de riqueza. Enquanto o bullionismo favorecera a exportação massiva de lã de Grã-Bretanha, a nova geração de mercantilistas apoiava a proibição total de exportar matérias-primas e propugnava o desenvolvimento de indústrias manufatureiras domésticas. Ao precisar as indústrias importantes capitais, no Século XVIII houve uma redução das limitações contra a usura. Como muito bem demonstrou William Petty, a taxa de interesse vê-se como uma compensação pelas moléstias ocasionadas ao prestador ao ficar sem liquidez. Um resultado dessas teorias foi a posta em prática das "Navigation Acts" a partir de 1651, que deram aos barcos ingleses a exclusiva nas relações entre Grã-Bretanha e as suas colônias, proibindo aos holandeses o acesso a certos portos para restringir a expansão dos Países Baixos. As consequências em matéria de política interior das teorias mercantilistas estavam muito mais fragmentadas do que os seus aspetos de política comercial. Enquanto Adam Smith dizia que o mercantilismo apelava a controlos muito estritos da economia, os mercantilistas não concordavam entre si. Alguns propugnavam a criação de monopólios e outras cartas patentes. Mas outros criticavam o risco de corrupção e de ineficácia de tais sistemas. Muitos mercantilistas também reconheciam que a instauração de quotas e de controlo dos preços propiciava o mercado negro. Por outro lado, a maior parte dos teóricos mercantilistas estavam de acordo na opressão econômica dos operários e agricultores que deviam viver com uma renda perto do nível de sobrevivência, para maximizar a produção. Uma maior renda, tempo de lazer suplementar ou uma melhor educação dessas populações contribuiriam para favorecer a folgança e prejudicariam a economia. Esses pensadores viam uma dupla vantagem no fato de dispor de abundante mão-de-obra: as indústrias desenvolvidas nessa época precisavam de muita mão-de-obra e, ademais, isso reforçava o potencial militar do país. Os salários eram mantidos, portanto, em um baixo nível para "incitar a trabalhar". As leis de pobres ("Poor Laws") em Inglaterra perseguem os vagabundos e fazem obrigatório o trabalho. O ministro Colbert fará trabalhar as crianças com seis anos nas manufaturas do Estado. A reflexão sobre a pobreza e o seu papel social na Idade Moderna cobrou importância, sobretudo após a Reforma Protestante e os diferentes papéis que à predestinação e o triunfo pessoal davam a teologia de Lutero, Calvino ou a Contra-reforma. A opinião católica tradicional associava-se ao mantimento do Antigo Regime, sancionando o lazer dos privilegiados e considerando a condenação do trabalho como um castigo divino, enquanto as sociedades onde triunfou o protestantismo pareciam adequar-se mais aos novos valores burgueses. Tradicionalmente os pobres eram vistos como os mais próximos a Deus, e as instituições de caridade não se viam como meios de erradicar a pobreza, senão de paliar os seus efeitos. Porém, entre os católicos também se inclui a obra de Juan Luis Vives "De subventione pauperum. Sive de humanis necessitatibus libri II" (Os dois livros da subvenção aos pobres ou da necessidade humana. Bruxas, 1525), que trata o problema da mendicidade procurando soluções nas instituições públicas, que devem socorrer os verdadeiros pobres e fazer trabalhar aos que somente são vagos; para isso considerava precisa uma organização da beneficência e uma reforma do sistema sanitário, de asilo. Seguindo as suas ideias foi organizada a atuação contra a pobreza na cidade de Bruxas. Interpretação histórica do mercantilismo. Em efeito, não se pode falar de uma escola mercantilista, pois, para poder falar de uma escola deve existir uma série de características como a presença de um mestre que crie um pensamento que seja seguido pelos membros da escola, além de homogeneidade no pensamento. Assim, por exemplo, podemos falar da Escola Clássica com Adam Smith como epicentro do pensamento, ou seja, como mestre, e a afinidade entre os diferentes autores da mesma. No caso do pensamento chamado mercantilista não encontramos nenhum dos atributos necessários para identificá-lo com uma escola de pensamento. O mercantilismo teve diversas interpretações ao longo do tempo. Desde Adam Smith até o presente sucedem-se explicações do que foram e significaram todos estes autores chamados mercantilistas. John Maynard Keynes, Gustav Schmoller, William Cunningham e o já mencionado Adam Smith, entre muitos outros, achegaram a sua perspectiva do mercantilismo. É assinalado particularmente Eli Heckscher que, influenciado pelos três últimos autores mencionados, reúne as interpretações destes para logo acrescentar a sua. Fala do mercantilismo do ponto de vista da sua política protecionista e as suas atitudes monetárias (como já refere Smith), como uma doutrina na construção do Estado (recolhido de Schmoller), como um sistema de poder (propugnado por Cunningham) e acrescenta a sua tese a estas quatro: descreve o mercantilismo como uma concepção social que quebrou com as formas, tanto morais quanto religiosas, que determinavam o comportamento dos agentes econômicos. Destaca-se Cantillon entre os autores que acreditam que o mercantilismo é a antecipação da doutrina clássica. Este autor, entre o pensamento mercantilista e clássico, aperfeiçoa o conceito de "balança de comércio" em termos de trabalho. Desta óptica é levado em conta o aumento do emprego como término positivo nas ganâncias da balança comercial. Assim, pois, Cantillon, advoga por medidas de estabilidade dos preços e impedir a sua subida (pela acumulação do dinheiro) e, em consequência, a sobrevivência de um nível alto de emprego A época mercantilista. O conceito de mercantilismo define-se a partir dos grandes Descobrimentos, consequência da abertura das rotas comerciais marítimas pelos portugueses entre o século XV e 1500 (data do descobrimento do Brasil) e a consolidada corrente do metal precioso (ouro e prata nomeadamente) levado dos territórios novos para a Europa, em particular depois do estabelecimento dos vice-reinos da "Nova Espanha" e do Peru pelos castelhanos. Intimamente ligado à emergência do Estado-nação moderno e baseado na existência do binômio "metrópole – colônias", o mercantilismo assumiu formas nacionais, das quais podem citar-se, em ordem cronológica: Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda, França, Dinamarca e Suécia durante os séculos XVI, XVII e XVIII. Nesta época, o mercantilismo evolui de tal maneira que gera um estudo apropriado e traduz-se como uma atividade econômica, em tal grau que se fala de políticas econômicas e normas econômicas. O mercantilismo começa a ser conhecido com outras denominações, as mesmas que dão senso ao seu conceito: sistema mercantil, sistema restritivo, sistema comercial, colbertismo na França e cameralismo na Alemanha. Derivado da expansão militar europeia e do incipiente desenvolvimento manufatureiro, como complemento da produção clássica da agricultura, o mercantilismo incrementou notavelmente o comércio internacional. Os mercantilistas foram os primeiros em identificar a importância monetária e política deste. O mercantilismo desenvolveu-se numa época na que a economia europeia estava em transição do feudalismo ao capitalismo. As monarquias feudais medievais estavam sendo substituídas pelas novas nações-estado centralizadas, em forma de monarquias absolutas ou (em Inglaterra e Holanda) parlamentares. Os câmbios tecnológicos na navegação e o crescimento dos núcleos urbanos também contribuíram decisivamente ao rápido acréscimo do comércio internacional. O mercantilismo focava em como este comércio podia ajudar melhor os Estados. Outro câmbio importante foi a introdução da contabilidade moderna e as técnicas de dupla entrada. A nova contabilidade permitia levar um claro seguimento do comércio, contribuindo para a possibilidade de fiscalizar a balança de comércio. E evidentemente, também não se pode ignorar o impacto do descobrimento da América. Os novos mercados e minas descobertas impulsionaram o comércio exterior a cifras até não concebidas. Isto levou a um grande acréscimo dos preços e a um acréscimo na própria atividade comercial. Curiosamente, a relação entre a chegada de metais preciosos americanos e a inflação europeia do século XVI (um fenômeno a uma escala até então desconhecida) não foi plenamente estabelecido até as pesquisas de Earl J. Hamilton numa data tão tardia quanto 1934 ("O tesouro americano e a revolução dos preços na Espanha, 1501-1650"). Antes do mercantilismo, os estudos econômicos mais importantes realizados na Europa foram as teorias da Escolástica medieval. O objetivo destes pensadores era encontrar um sistema econômico que fosse compatível com as doutrinas cristãs com respeito à piedade e a justiça. Eram centrados nomeadamente nas questões microeconômicas e nas trocas locais entre indivíduos. O mercantilismo, por sua vez, estava alinhado com as outras teorias e ideias que estavam substituindo o ponto de vista medieval. Nesta época foram adotadas também as teorias da "Realpolitik" impulsionadas por Nicolau Maquiavel e a primazia do interesse nacional nas relações internacionais. A ideia mercantilista de o comércio ser uma soma zero na qual cada parte fazia o possível para ganhar numa dura concorrência, integrava-se dentro das teorias filosóficas de Thomas Hobbes. Os jogos de soma zero, como o dilema do prisioneiro, podem ser consistentes com um ponto de vista mercantilista. No mencionado dilema, "os jogadores são premiados por atraiçoar os seus companheiros, embora todos ficassem melhor se todos cooperassem". Esse ponto de vista pessimista sobre a natureza humana também se encaixa na visão de mundo puritana, que inspirou parte da legislação mercantilista mais dura, como as Atos de Navegação ("Navigation Acts") introduzidos pelo governo de Oliver Cromwell. As ideias mercantilistas. O pensamento mercantilista pode ser sintetizado através das nove regras de Von Hornick: Contudo, a política econômica interna que defende o mercantilismo estava ainda mais fragmentada do que a internacional. Enquanto Adam Smith apresentava um mercantilismo que apoiava o controlo estrito da economia, muitos mercantilistas não se identificavam com tais ideias. Durante os começos da era moderna estava na ordem do dia o uso das patentes reais e a imposição governamental de monopólios. Alguns mercantilistas apoiavam-nos, enquanto outros viam a corrupção e ineficiência desses sistemas. Um dos elementos nos quais os mercantilistas estavam de acordo era a opressão econômica dos trabalhadores. Os assalariados e os granjeiros deviam viver nas "margens de subsistência". "O objetivo era maximizar a produção, sem nenhum tipo de atenção sobre o consumo. O fato de as classes mais baixas terem mais dinheiro, tempo de lazer, ou educação era visto como um problema que degeneraria em poucos ganhos do trabalho, prejudicando a economia do país". Por outro lado, os estudiosos não se põem de acordo no motivo pelo qual o mercantilismo foi a ideologia ou teoria econômica dominante durante dois séculos e meio. Um grupo, representado por Jacob Viner, argumenta que o mercantilismo foi simplesmente um sistema muito direto e que contava com senso comum. Contudo, sustentava-se sobre uma série de falácias lógicas que não podiam ser descobertas pelas pessoas da época, dado que não tinham as ferramentas analíticas necessárias. Outra escola, apoiada por economistas como Robert B. Ekelund, entende que o mercantilismo não era um erro, mas o melhor sistema possível para aqueles que o desenvolveram. Esta escola argumenta que as políticas mercantilistas foram desenvolvidas e postas em prática por comerciantes e governos, cujo objetivo era incrementar ao máximo os benefícios empresariais. Os empresários beneficiavam-se enormemente, e sem que isso lhes supusesse um esforço, pela imposição de monopólios, as proibições às importações e a pobreza dos trabalhadores. Os governos, pela sua vez, beneficiavam-se do cobro das tarifas alfandegárias e os pagamentos dos mercadores. Se bem que as ideias econômicas mais tardias foram desenvolvidas com freqüência por acadêmicos e filósofos, quase todos os escritores mercantilistas eram comerciantes ou pessoas com cargos no Governo. O mercantilismo como processo econômico. Dentro da doutrina econômica mercantilista emergiram, de maneira natural, três questões fundamentais que gerava esta lucrativa atividade comercial: Na obra "The Circle of Commerce" ("O Círculo do Comércio", 1623), Edward Misselden desenvolveu um conceito de balança comercial expressado em termos de débitos e créditos, apresentando o cálculo da balança comercial para a Inglaterra do dia de Natal de 1621 até o de 1622. A ideia mercantilista de "balança de comércio multilateral" corresponde à atual noção de "balança de pagamentos" e é composta de cinco contas: Políticas mercantilistas. As ideias mercantilistas foram a ideologia econômica dominante em toda Europa a princípio da Idade Moderna. Contudo, como conjunto de ideias não sistematizadas, a sua aplicação concretiza diferiu na prática de cada país. Na França. Na França, o mercantilismo nasce a princípios do século XVI, pouco tempo depois do reforço da monarquia. Em 1539, um real decreto proíbe a importação de mercadorias têxteis de lã provenientes da Espanha e de uma parte de Flandres. O ano seguinte são impostas restrições à exportação de ouro. Multiplicam-se as medidas protecionistas ao longo do século. Jean-Baptiste Colbert, ministro de finanças durante 22 anos, foi o principal impulsionador das ideias mercantilistas na França, o que fez com que alguns falaram de colbertismo para designar o mercantilismo francês. Com Colbert, o governo francês implicou-se muito na economia para acrescentar as exportações. Colbert eliminou os obstáculos ao comércio ao reduzir as taxas alfandegárias interiores e ao construir uma importante rede de estradas e canais. As políticas desenvolvidas por Colbert em conjunto resultaram eficazes, e permitiram que a indústria e a economia francesas crescessem consideravelmente durante esse período, tornando a França numa das maiores potências europeias. Não teve tanto sucesso à hora de tornar França numa grande potência comercial equiparável à Inglaterra e a Holanda. Também é característico do colbertismo empreender uma decidida política de criação de Manufaturas Reais que fabricavam produtos estratégicos ou de luxo (os Gobelinos, para tapetes e cristais), em ambos os casos consumíveis em primeiro lugar pela demanda da própria monarquia, ao mesmo tempo que produziam a emulação do seu consumo tanto dentro como fora do reino. Tal emulação também se viu na criação de manufaturas similares em outros países europeus, entre os que destacaram as "Reales Fábricas" espanholas de produtos de luxo, de armas, e de artigos de grande consumo monopolizadas pelo Estado como regalias: tabaco, aguardente, naipes. Na Inglaterra. Na Inglaterra, o mercantilismo atinge o seu apogeu durante o período chamado de "Long Parliament" (1640–1660). As políticas mercantilistas também se aplicaram durante os períodos Tudor e Stuart, especialmente com Robert Walpole como principal partidário. O controle do governo sobre a economia doméstica era menor que no restante da Europa, devido à tradição da "Common law" e o progressivo poder do parlamento. Os monopólios controlados pelo Estado estenderam-se, especialmente antes da guerra civil inglesa, apesar de serem com frequência questionados. Os autores mercantilistas ingleses estavam divididos com a respeito da necessidade de controlo da economia interior. O mercantilismo inglês adotou a forma de controlo do comércio internacional. Foi posto em prática um amplo leque de medidas destinadas a favorecer a exportação e penalizar a importação. Foram instauradas taxas alfandegárias sobre as importações e subvenções à exportação. Foi proibida a exportação de algumas matérias-primas. As "Navigation Acts" (Ato de Navegação) proibiam aos comerciantes estrangeiros fazer comércio no interior da Inglaterra. A Inglaterra aumentou o número de colônias e, uma que vez estavam sob controlo, eram instauradas regras para autorizar a produzir apenas matérias-primas e a comerciar unicamente com Inglaterra. Isto conduziu a progressivas tensões com os habitantes dessas colônias e foi uma das principais causas da Guerra de Independência dos Estados Unidos. Estas políticas contribuíram em larga medida a tornar a Inglaterra na maior potência comercial do Mundo, e uma potência econômica internacional. No interior, a transformação de terras não cultivadas em terreno agrícola teve um efeito duradouro. Os mercantilistas pensavam que para fazer crescer o poderio de uma nação, todas as terras e recursos deviam ser utilizadas ao máximo, o que levou a se embarcarem em grandes projetos como a drenagem da região dos "fens" ("pântanos" da planície de Bedford). Na Espanha. A revolução dos preços que afetou a toda Europa desde o século XVI, teve a sua origem na chegada a Espanha das remessas anuais de metais preciosos que trazia a frota das Índias, com o que a reflexão sobre as suas causas e possíveis soluções produziu o primeiro pensamento econômico digno de tal nome. A isso era acrescentada a tradição de petições econômicas nas Cortes, tanto as castelhanas quanto as dos reinos da Coroa de Aragão. Castela, desde a Baixa Idade Média presenciara um confronto entre os interesses vinculados à exportação da lã (a aristocrática "Mesta", e a alta burguesia de mercadores de Burgos, as feiras e portos ligados com Flandres) e os vinculados à produção interna de panos (a baixa burguesia e o patriciado urbano das cidades centrais, como Segóvia e Toledo), que se expressaram nas guerras civis dos Trastâmara e mesmo na Guerra das Comunidades de Castela. Esse modelo simplificado não oculta a confluência de múltiplos interesses, tanto pessoais como dinásticos, institucionais e estamentais, como os das diferentes partes do clero, e mesmo a presença de minorias como judeus e conversos e a grande maioria social que é o campesinato. A mesma construção da monarquia autoritária tem muito para ver com a sua habilidade para arbitrar estes conflitos socioeconômicos e a sua dimensão política. A mesma organização do monopólio do comércio americano, através da Casa de Contratação de Sevilha, conjugado com os empréstimos adiantados por banqueiros alemães (família Fugger) ou genoveses, e os mecanismos da dívida pública (juros) dão uma amostra do necessário e complicado que era entender os fenômenos econômicos e agir politicamente sobre eles. Era vital para o funcionamento do complexo aparato militar, burocrático e de Fazenda da Monarquia Hispânica (veja-se Instituições espanholas do Antigo Regime), no que os impostos (uns do rei, outros do reino, outros dos municípios), as múltiplas isenções, e os direitos e regalias do monarca formavam um tecido caótico. Os economistas espanhóis dos séculos XVI e XVII eram chamados de arbitristas, por ser chamado de arbítrio a medida que, pela sua mera vontade, podia o rei tomar em benefício do reino, e que esses autores solicitavam. Seu papel foi infra-valorado pela mesma historiografia econômica espanhola nos seus primeiros estudiosos, como é o caso de Manuel Colmeiro. Já na sua própria época eram ridicularizados por propor medidas extravagantes, como o fez Quevedo, que em várias ocasiões descreve bem-intencionados arbitristas ("arcigogolantes") causando toda classe de catástrofes; um de eles está tão concentrado em escrever as suas teorias que não se dá conta de que se tirou a sim mesmo um olho com a caneta. Durante a crise econômica da Espanha no Século XVII (de fato foi a principal afetada pela geral crise do século XVII) puseram-se em prática muitas políticas econômicas com certa incoerência, incluindo alterações monetárias e fiscais que mais que remediar, contribuíram para o seu aprofundamento. O Estado ruinoso de finais desse século, durante o reinado de Carlos II, porém presenciou uma reativação da economia nas zonas periféricas (exceto Andaluzia). Após a Guerra de Sucessão Espanhola (1700-1714), implicou um indubitável sucesso econômico a adoção, pelos governos de Filipe V, de uma série de medidas mercantilistas de inspiração colbertista importadas da França (ministros Jean Orry e Michael-Jean Amelot). No século XVIII, a herança do "arbitrismo" mudou para o chamado "projectismo" ilustrado com maior elevação intelectual. No reinado de Fernando VI as medidas associadas ao Cadastro de Ensenada, muito ambiciosas, não foram aplicadas com decisão. O mesmo ocorreu com as do Marquês de Esquilache com Carlos III (decreto de abolição da taxa do trigo e livre comércio de grão, 1765), que foi apartado após o motim que leva o seu nome (1766). O final do século XVIII é o da ascensão de políticos com ideias econômicas mais próximas à fisiocracia e o liberalismo econômico (Campomanes e Jovellanos), destacando-se o projeto de lei agrária e a liberalização do comércio americano; que também não conseguiram um desenvolvimento eficaz, já na crise do Antigo Regime. Em Portugal. Em Portugal, o mercantilismo surgiu no século XVII, no reinado de D. Pedro II, com o Conde da Ericeira e o Marquês de Fronteira com o objectivo de proteger a economia portuguesa, que era marcada por uma grande dependência face ao exterior. As medidas tomadas por Conde da Ericeira passaram por uma política de desvalorização monetária, que encarecia os produtos estrangeiros importados e embaratecia os portugueses, passavam também pelo incentivo e protecção da indústria, e apoio ao comércio. As Leis Pragmáticas de 1677 que impediam as importações de tecidos estrangeiros e luxos e incentivavam o uso de produtos feitos no reino, foi de todas a medida que mais se destacou. Estas medidas fizeram com que a indústria manufactureira nacional se desenvolvesse. Como dizia Duarte Ribeiro de Macedo (1675) um dos autores mais importantes nesta matéria”A importância da circulação do dinheiro na sociedade é igual à circulação do sangue no corpo humano”, daí a importância destes desenvolvimentos das indústrias nacionais. As primeiras medidas mercantilistas não foram bem sucedidas devido à diminuição das importações de países como a Inglaterra, o que levou a que Portugal assinasse o Tratado de Methuen em 1703, onde estava patente que Portugal importava as manufacturas de Inglaterra que por sua vez importava os vinhos portugueses, este tratado contribuiu para o desenvolvimento da viticultura, principalmente na Madeira, nos Açores e no Douro. Porém o Tratado de Methuen veio a acentuar o desequilíbrio da balança comercial devido ao valor das manufacturas que eram importadas de Inglaterra ser mais alto do que o dos vinhos que eram exportados, o que se reflectiu na balança deficitária. A solução para minimizar este problema surgiu através do ouro do Brasil que era usado para cobrir o défice. Também a política de Marquês de Pombal, ministro de D. José I apresentou alguns aspectos mercantilistas, pois fomentou o comércio, através da criação de companhias comerciais privilegiadas como: a Companhia para o Comércio do Oriente; Companhia do Grão-Pará e Maranhão; Companhia Geral do Pernambuco e Paraíba; Companhia para o Comércio dos Ajauas e dos Macuas; Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, todas estas companhias fomentaram a economia nacional. Também desenvolveu a indústria, através da fundação e renovação de fábricas de vidros, na Marinha Grande, de louças, em Lisboa, da reorganização da Real Fábrica das Sedas, em Tomar, e da contratação de mão-de-obra qualificada estrangeira para melhorar a produção e aplicação de medidas proteccionistas para os produtos nacionais. Em suma, a política de Marques de Pombal centrou-se no desenvolvimento da indústria e do comércio, para suster a crise económica e libertar o país da dependência externa. Outros países. As demais nações também adotaram as teses mercantilistas em diferentes graus. Os Países Baixos, que se tornaram o centro financeiro da Europa graças à sua muito desenvolvida atividade comercial, estavam pouco interessados em restringir o comércio e somente na última hora adotaram algumas políticas mercantilistas. O mercantilismo desenvolveu-se em Europa Central e em Escandinávia após a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648), quando Cristina da Suécia e Cristiano IV da Dinamarca passaram a preconizá-lo. Os imperadores Habsburgo interessaram pelas ideias mercantilistas, mas a extensão e a relativa descentralização deste Império fazia difícil a adoção de tais medidas. Alguns Estados do Império adotaram as teses mercantilistas, especialmente a Prússia, que teve sob o mandato de Frederico II a economia mais rígida da Europa. Com esta base doutrinal, a Alemanha ia gestar uma escola chamada dos "cameralistas" que teria influência até o Século XIX. Rússia sob Pedro o Grande tratou de pôr em prática o mercantilismo sem muito sucesso devido à ausência de uma classe significativa de comerciantes ou de uma base industrial. As ideias mercantilistas também alimentaram os períodos de conflito armado nos séculos XVII e XVIII. Ao ser a ideia dominante que o stock de riqueza é algo fez, o único jeito de aumentar a riqueza de um país era em detrimento de outro. Muitas guerras, entre as quais é preciso contar as guerras anglo-holandesas, franco-holandesa, e franco-inglesa foram ocasionadas pelas doutrinas que preconizavam o nacionalismo econômico. O mercantilismo contribuiu também para o desenvolvimento do imperialismo, pois todas as nações tratavam de apoderar-se de territórios para ficar com matérias-primas. Ao longo deste período o poder das nações europeias estendeu-se por todo o planeta. À custa da economia interior, esta expansão criou monopólios, quer as britânicas Companhia das Índias quer a Companhia da Baía de Hudson, quer a francesa Companhia das Índias Orientais. Estas companhias privilegiadas tinham precedentes desde o século XIV nas cidades italianas de Pisa, Gênova, Florença e Veneza; a Hansa é omitida por responder a outra categoria funcional. Em Inglaterra surgirão algumas a partir de guildas medievais preexistentes, como as diferentes Company of Merchant Adventurers (séculos XV e XVI). Foi na Holanda independente da Monarquia Católica que apareceram as primeiras dignas do nome de companhias privilegiadas: a VOC (1602) e a WIC (1621). Outras nações tiveram companhias privilegiadas, notavelmente as nórdicas (Dinamarca, Suécia…). Na Espanha, apesar de contar com precedentes medievais, como os Consulados do Mar aragoneses ou as instituições similares castelhanas, a figura é de incorporação mais tardia: no século XVIII o monopólio do porto de Cádiz (sucessor do de Sevilha), já muito castigado pelas consequências comerciais do Tratado de Utrecht, foi admitindo a presença de alguma companhia similar, como a Compañía Guipuzcoana de Caracas (1728). Críticas. Um bom número de estudiosos já haviam assinalado alguns erros importantes nas teorias mercantilistas bem antes que Adam Smith desenvolvesse uma ideologia que o pudesse substituir completamente. Houve críticos como Dudley North, John Locke ou David Hume que atacaram os fundamentos do mercantilismo, e ao longo do século XVIII foi perdendo o favor que tivera. Os mercantilistas eram incapazes de entender noções como a da vantagem competitiva (embora esta ideia apenas chegasse a ser entendida com David Ricardo em 1817) e os benefícios do comércio. Por exemplo, Portugal era um produtor muito mais eficiente de vinho do que Inglaterra, enquanto na Inglaterra era relativamente mais barata a produção têxtil. Pelo tanto, se Portugal se especializava em vinho e a Inglaterra em têxteis, ambos os Estados sairiam beneficiados se comerciassem. Nas teorias econômicas modernas, o comércio não se entende como uma soma zero entre competidores, pois que ambas as partes podem ser beneficiadas, pelo qual se trata mais de um jogo de soma positiva. Mediante a imposição das restrições à importação, ambas as nações terminam sendo mais pobres que se não existissem travas ao comércio. David Hume, pela sua vez, apontou a impossibilidade do grande objetivo mercantilista de conseguir uma balança comercial positiva constante. À medida que os metais preciosos entravam num país, a oferta incrementar-se-ia e o valor desses bens nesse Estado começaria a reduzir-se com referência a outros bens de consumo. Pelo contrário, no Estado que exportasse os metais preciosos, o valor começaria a crescer. Chegaria um momento no que não compensasse exportar bens do país com altos preços ao outro país, que agora teria níveis de preços menores, e a balança comercial terminaria revertendo por si mesma. Os mercantilistas não entenderam este problema, e argumentaram durante muito tempo que um acréscimo na quantidade de dinheiro simplesmente significava que todo o mundo era mais rico. Outro dos objetivos principais à hora de criticar as teorias do mercantilismo foi a importância que dada aos metais preciosos, mesmo quando alguns mercantilistas começaram a tirar a importância do ouro e a prata. Adam Smith apontou que os metais preciosos eram exatamente iguais que qualquer outro bem de consumo, e que não havia razão alguma para lhe dar um tratamento especial. O ouro não era mais do que um metal de cor amarela que era valioso simplesmente por não ser abundante. A primeira escola que recusou completamente o mercantilismo foi a da Fisiocracia, na França. Contudo, as suas teorias também apresentavam uma série de importantes problemas, e a substituição do mercantilismo não se produziu até que Adam Smith publicou a sua famosa obra "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações" em 1776. Este livro amostra as bases do que atualmente se conhece como a economia clássica. Smith dedica uma parte considerável do livro a rebater os argumentos dos mercantilistas, se bem que estes são com freqüência versões simplistas ou exageradas dos seus pensamentos. Os acadêmicos também estão divididos à hora de estabelecer uma causa para o final do mercantilismo. Aqueles que crêem que a teoria era simplesmente um erro deduzem que a sua substituição era inevitável desde o momento em que as ideias de Smith, muito mais exatas, foram expostas ao público. Aqueles que opinam que o mercantilismo era uma procura de formas de enriquecimento para uma parte da sociedade entendem que somente terminou quando se produziram importantes câmbios na sociedade, e nomeadamente no sistema de poderes. No Reino Unido o mercantilismo foi desaparecendo a partir de que o Parlamento açambarcou o poder que o monarca tinha para estabelecer monopólios. Se bem que os ricos capitalistas que controlavam a Casa dos Comuns se beneficiavam desses monopólios, o Parlamento via difícil levá-los a cabo por causa do grande custo que supunha tomar essas decisões coletivas. Os regulamentos mercantilistas foram eliminados pouco a pouco ao longo do século XVIII no Reino Unido, e durante o século XIX o governo britânico adotou abertamente o livre comércio e as teorias econômicas de Smith do "laissez faire". No continente o processo foi algo diferente. Na França as prerrogativas econômicas da monarquia absoluta foram mantidas até a Revolução Francesa, sendo então que terminou o mercantilismo. Na Alemanha o mercantilismo continuou sendo uma importante ideologia até começos do século XX. Legado. Ideias mercantilistas sobreviventes. Pode afirmar-se que as críticas de Adam Smith ao mercantilismo foram aceitas no Império Britânico, mas recusadas nos Estados Unidos por figuras tão importantes quanto Alexander Hamilton, Friedrich List, Henry Clay, Henry C. Carey e Abraham Lincoln. No século XX, a maioria de economistas de ambos os lados do Atlântico chegaram a aceitar que em algumas áreas as teorias mercantilistas eram corretas. O mais importante foi o economista John Maynard Keynes, que explicitamente apoiou algumas das suas teorias. Adam Smith recusara a ênfase que até então os mercantilistas puseram na quantidade de dinheiro argumentando que os bens, a população e as instituições eram as causas reais de prosperidade. Keynes argumentou que a quantidade de dinheiro em circulação, a balança comercial e os tipos de interesse tinham uma grande importância na economia. Este ponto de vista foi logo a base do monetarismo, cujos defensores atualmente recusam muitas das teorias econômicas keynesianas, mas que se desenvolveu e é atualmente uma das escolas econômicas mais importantes. Keynes também fez notar que o enfoque nos metais preciosos também era razoável na época na que se deu (começos da era moderna). Numa época anterior ao papel moeda, um acréscimo dos metais preciosos e das reservas do Estado era a única forma de incrementar a quantidade de dinheiro em circulação. Adam Smith, por outro lado, também recusou a ênfase do mercantilismo para a produção, argumentando que a única forma de fazer crescer à economia era através do consumo (que, pela sua vez, impulsionava a produção de bens). Keynes, porém, defendeu que a produção era tão importante quanto o consumo. Keynes e outros economistas do período também retomaram a importância que tinha a balança de pagamentos, e visto que desde a década dos anos 1930 todas as nações controlaram as entradas e saídas de capital, a maioria dos economistas está de acordo em que uma balança de pagamentos positiva é melhor que uma negativa para a economia de um país. Keynes também retomou a ideia de que o intervencionismo governamental é uma necessidade econômica. Contudo, se bem que as teorias econômicas de Keynes tiveram um grande impacto, não tiveram tanto sucesso os seus esforços de reabilitar a palavra "mercantilismo", que atualmente segue a ter conotações negativas e é usado para atacar uma série de políticas protecionistas. Por outro lado, as similaridades entre o keynesianismo e as ideias dos seus sucessores com o mercantilismo às vezes fizeram que os seus detratores as categorizassem como neomercantilismo. Por outro lado, alguns sistemas econômicos modernos copiam algumas das políticas mercantilistas. Por exemplo, o sistema do Japão ocasionalmente também é qualificado de neo-mercantilista. Uma área do uso da informação, Smith foi rebatido antes mesmo do que Keynes. Os mercantilistas, que eram geralmente mercadores ou funcionários públicos do governo, tinham em suas mãos uma grande quantidade de dados de primeira mão sobre o comércio, e usavam-nos consideravelmente nas suas pesquisas e escritos. William Petty, um mercantilista importante, é com freqüência considerado o primeiro economista em usar uma análise empírica para estudar a economia. Smith recusava este sistema por entender que o método dedutivo era o método correto para descobrir as verdades econômicas. Atualmente, porém, a maioria das escolas econômicas aceitam que ambos os métodos são importantes (se bem que a Escola Austríaca supõe uma notável exceção). Em instâncias específicas, as políticas mercantilistas protecionistas também tiveram um impacto positivo no Estado que as pôs em prática. O mesmo Adam Smith (sem importar a contradição em que incorria ao patrocinar o livre comércio para as demais e não para a sua própria nação) elogiou as Atas de Navegação inglesas por terem servido para expandir enormemente a frota mercante britânica, e por ter um papel central em tornar o Reino Unido na superpotência naval e econômica que foi desde então. Alguns economistas argumentaram que o protecionismo era bom para indústrias em desenvolvimento, e que se bem que causa alguns danos a curto prazo, pode ser benéfico a longo (teoria das "indústrias infantis" do alemão Friedrich List). Em qualquer caso, "A Riqueza das Nações" teve um profundo impacto no final do mercantilismo e a adoção posterior da política de livre mercado. Para 1860, a Inglaterra já eliminara os últimos vestígios do mercantilismo (por exemplo, as protecionistas leis dos grãos ou "Corn Laws"). As regulamentações industriais, os monopólios e as tarifas alfandegárias foram retiradas. Convertida em "a oficina do mundo", com uma indústria e uma frota mercante com a que ninguém podia competir, Inglaterra converteu-se na grande defensora e propagandista da política de livre mercado, justo no momento em que mais a beneficiava, e o continuou a ser até a Primeira Guerra Mundial, quando a segunda revolução industrial trouxe competidores sérios. Herança política. A posteridade do mercantilismo foi sem dúvida maior na prática política que na teoria econômica. Se o pensamento econômico do século XIX é dominado pelas escolas clássica e neoclássica, mais bem favoráveis ao livre-comércio, a prática política esteve influenciada durante muito tempo por ideias mercantilistas. Como faz ver o historiador Paul Bairoch, apesar de ""os homens deixarem de razoar em termos de nível de desenvolvimento a conseguir em maior ou menor tempo passando a fazê-lo em termos de apropriação de uma parte maior de riqueza", em 1815 e em 1913, o mundo ocidental é "um oceano de protecionismo rodeando alguns ilhotes liberais"". Após o fim da Segunda Guerra Mundial, assiste-se a uma liberalização contínua do comércio mundial sob o impulso das grandes instituições de livre-comércio como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI). Contudo alguns economistas como Paul Krugman opinam que estas instituições estão guiadas por um "mercantilismo ilustrado", que não tenta favorecer os princípios do livre-comércio, senão favorecer as concessões comerciais mutuamente vantajosas. Outros economistas radicais e pensadores chegam a afirmar que essas organizações, com a escusa do livre-comércio, impõem a forma de comércio internacional que desejam as grandes potências econômicas que os controlam. Segundo Daniel Cohen, os recentes insucessos das negociações no seio da OMC resultam reveladores desse "mercantilismo ilustrado". Se as negociações das anteriores etapas chegaram a ter sucesso, foi graças a comprometimentos, a concessões recíprocas e eqüitativas. Os países ricos aceitavam, por exemplo, liberalizar o setor têxtil em troca de vantagens em matéria de serviços financeiros concedidos pelos países emergentes. Por outro lado, após a cimeira de Cancún em 2003, as negociações entre países ricos e pobres mudaram de natureza. Os debates focalizam-se no tema agrícola no que as oportunidades de um intercâmbio mutuamente benéfico apareceram impossíveis. Longe de ser um "jogo de soma positiva", o comércio internacional aparece como um "jogo de soma zero", o desafio da cimeira passou a ser: "nossos agricultores ou os vossos", como se as ganâncias de uma nação significassem perdas para outra. O termo neo-mercantilismo serve para designar, quase sempre de jeito pejorativo, as políticas contemporâneas que lembram as dos mercantilistas do século XVIII. Consistem quase sempre em medidas protecionistas ou em políticas comerciais agressivas nas quais o Estado se implica para fomentar a competitividade das empresas nacionais. No contexto da globalização, o neo-mercantilismo baseia-se no conceito de "competência mundial", vindo a ser uma "guerra econômica" entre os países. Diz-se que a proteção às empresas nacionais e o apóio à sua competitividade nos mercados mundiais é proveitosa para a economia nacional. Assim algumas grandes potências são acusadas de neo-mercantilistas quando apóiam à sua indústria nacional por meio de subvenções ou de encargos estatais, ao mesmo tempo em que impõem quantidades, taxas ou normas à importação, para proteger o seu mercado interior. O conflito Boeing-Airbus, unido às subvenções atribuídas a cada uma das suas empresas por parte dos governos norte-americano (em forma de encargos) e europeus, pode ser visto como exemplo de neo-mercantilismo. O conceito de "guerra comercial" alimenta as campanhas políticas das grandes potências econômicas: é preciso "fazer Europa para chegar ao peso" dizia um cartaz do Partido Socialista Francês que apresentava a Europa frente de um lutador de sumo japonês e um obeso norte-americano durante a campanha eleitoral para o referendum sobre o Tratado de Maastricht em 1992. Segundo alguns, essas políticas servem de contrapeso para os efeitos supostamente negativos da globalização econômica sobre a justiça social, enquanto os economistas do livre-comércio opinam que favorecem interesses particulares de algumas indústrias e prejudicando ao interesse geral. Contudo, o conceito de preferência comunitária não é uma realidade jurídica, nem sequeira econômica. Se foi sancionado pelo Tribunal de Justiça da União Europeia a 13 de Março de 1968 em matéria de política agrária comum (em função de um direito de alfândega sobre os produtos procedentes de países terceiros), pronto topou-se com os objetivos do GATT. Atualmente é mantida uma tarifa exterior comum, que provoca com freqüência duras discussões entre os países membros da União Europeia e a Organização Mundial do Comércio
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Michael Faraday
Michael Faraday Michael Faraday (Newington Butts, 22 de setembro de 1791 — Richmond upon Thames, 25 de agosto de 1867) foi um físico e químico britânico que atuou com fortes contribuições para os estudos do eletromagnetismo e eletroquímica. Suas descobertas englobam os princípios básicos da indução eletromagnética, diamagnetismo e eletrólise. É considerado um dos cientistas mais influentes de todos os tempos. Além disso, Faraday fez também diversas outras contribuições muito importantes na física e na química. Faraday foi principalmente um experimentalista, tendo sido descrito como o "melhor experimentalista na história da ciência", mesmo não conhecendo matemática avançada, como cálculo infinitesimal. Suas grandes contribuições para a ciência tiveram grande impacto sobre o entendimento do mundo natural. As descobertas de Faraday cobrem áreas significativas das modernas física e química, e a tecnologia desenvolvida baseada no seu trabalho está ainda mais presente. Suas descobertas em eletromagnetismo forneceram a base para os trabalhos de engenharia no fim do século XIX para que Edison, Siemens, Tesla e Westinghouse tornassem possível a eletrificação das sociedades industrializadas. Seus trabalhos em eletroquímica são amplamente usados em química industrial. Embora Faraday tenha recebido pouca educação formal, ele foi e é conhecido até os dias atuais como um dos cientistas mais influentes da história. Graças a sua pesquisa sobre o campo magnético em torno de um condutor que conduz corrente contínua, Faraday conseguiu estabelecer a base para o conceito de campo eletromagnético na Física. Nesse sentido, ele também estabeleceu que o magnetismo poderia afetar os raios de luz e que havia uma relação subjacente entre os dois fenômenos. Dessa maneira, Faraday descobriu os princípios da indução eletromagnética e do diamagnetismo, e as leis da eletrólise. Por conseguinte, suas invenções no ramo de dispositivos rotativos eletromagnéticos proporcionaram a base da tecnologia de motores elétricos e foi, em grande parte, devido a seus esforços e trabalhos que a eletricidade atualmente é tida de maneira prática e recorrente para usos em tecnologias e afins. Na física, foi um dos primeiros a estudar as relações entre eletricidade e magnetismo. Em 1821, logo após Oersted descobrir que a eletricidade e o magnetismo eram associados entre si, Faraday publicou um trabalho que chamou de "rotação eletromagnética", elaborando os princípios de funcionamento do motor elétrico. Em 1831, Faraday descobriu a indução eletromagnética, o princípio por trás do gerador elétrico e do transformador elétrico. Suas ideias sobre os campos elétricos e os magnéticos, e a natureza dos campos em geral, inspiraram trabalhos posteriores fundamentais nessa área, como as equações de Maxwell. Seus estudos sobre campos eletromagnéticos são conceitos-chave da física atual. Na química suas contribuições também foram de grande importância. Descobriu o benzeno, produziu os primeiros cloretos de carbono conhecidos (C2Cl6 e C2Cl4), investigou o clatrato hidratado do cloro, inventou uma forma inicial do bico de Bunsen, o sistema de números de oxidação e ajudou a expandir os fundamentos da metalurgia e da metalografia. As suas experiências garantiram o sucesso na liquefação de gases nunca antes liquefeitos (dióxido de carbono e cloro entre outros). Isso tornou possíveis novos métodos de refrigeração cujos princípios continuam a ser utilizados nos modernos refrigeradores domésticos. Talvez a sua maior contribuição tenha sido virtualmente fundar a eletroquímica. Faraday criou termos como eletrólito, ânodo, catodo, eletrodo, e íon. Além disso, Faraday se tornou o primeiro e mais importante professor fulleriano de química na Royal Institution, um cargo vitalício. Como dito, Faraday é conhecido até os dias atuais como um excelente experimentalista que transmitiu suas ideias em forma de uma linguagem clara e simples de ser compreendida. Todavia, suas habilidades matemáticas não se estendiam até a trigonometria e se limitavam à álgebra mais simples. James Clerk Maxwell reuniu o trabalho de Faraday e outros em um conjunto de equações que é aceito como a base de todas as teorias modernas dos fenômenos eletromagnéticos. Nesse sentido, em frente aos usos de linhas de força de faraday, Maxwell escreveu que eles mostram que Faraday "foi na realidade um matemático de uma ordem muito elevada - alguém de quem os matemáticos do futuro podem derivar métodos valiosos e férteis". Por esse fator, a unidade no Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de capacitância é nomeada em sua homenagem: o farad. Michael Faraday apresentou e apresenta até hoje grande notoriedade que até mesmo o célebre Albert Einstein manteve uma foto de Faraday na parede de seu escritório, ao lado de fotos de outros grandes nomes da ciência, como Isaac Newton e James Clerk Maxwell. O físico Ernest Rutherford afirmou: "Quando consideramos a magnitude e a extensão de suas descobertas e sua influência no progresso da ciência e da indústria, não há honra demais para prestar à memória de Faraday, um dos maiores cientistas descobridores de todos os tempos." Em 1853 Faraday publicou os resultados dos seus estudos sobre as mesas girantes. Ele verificou experimentalmente que as mesas se moviam devido ao efeito ideomotor. O experimento e sua divulgação no jornal The Times estão relacionados à preocupação de Faraday com as falhas na educação que levaram as pessoas a acreditarem no mesmerismo, nas mesas girantes e nas sessões espíritas. Em 1854 ele tratou do assunto em uma de suas palestras. Vida pessoal. Vida pregressa. Michael Faraday nasceu em 22 de setembro de 1791 em Newington Butts, que agora é parte do bairro londrino de Southwark, entretanto, na época era uma parte suburbana de Surrey. Sua família não estava bem no quesito financeiro. Seu pai, James, era membro da seita Glassite do cristianismo. James Faraday mudou sua esposa e dois filhos para Londres durante o inverno de 1790 de Outhgill em Westmorland, onde tinha sido um aprendiz do ferreiro da aldeia. Michael Faraday nasceu no outono daquele ano. O jovem Michael, que era o terceiro de quatro filhos e tinha apenas a educação escolar básica, teve que educar a si mesmo, comprovando um grande exemplo de indivíduo autodidata. Por continuidade cronológica, aos 14 anos, Faraday se tornou aprendiz de George Riebau, um encadernador e livreiro local na Blandford Street. Durante seu aprendizado de sete anos, Michael leu diversos livros, no qual em sua coleção incluía Isaac Watts's "a melhoria da mente", e ele implementou com entusiasmo os princípios e sugestões nele contidas. Ele também desenvolveu um enorme interesse pela ciência, em especial por eletricidade. Faraday foi particularmente inspirado pelo livro "Conversations on Chemistry", de Jane Marcet. Vida adulta. Em 1812, aos 20 anos de idade e no final de seu aprendizado, Faraday assistiu a palestras do eminente químico inglês Humphry Davy, do Royal Institution and the Royal Society, e de John Tatum, fundador da City Philosophical Society. Muitos dos ingressos para essas palestras foram dados a Faraday por William Dance, que foi um dos fundadores da Royal Philharmonic Society. Faraday subsequentemente enviou a Davy um livro de 300 páginas baseado em anotações que ele havia feito durante essas palestras. A resposta de Davy foi imediata, gentil e favorável. Em 1813, quando Davy danificou sua visão em um acidente com tricloreto de nitrogênio, ele decidiu contratar Faraday como assistente. Coincidentemente, um dos assistentes da Royal Institution, John Payne, foi demitido e Sir Humphry Davy foi convidado a encontrar um substituto; assim, ele nomeou Faraday como Assistente Químico na Royal Institution em 1 ° de março de 1813. Muito em breve Davy confiou a Faraday a preparação de amostras de tricloreto de nitrogênio, e os dois ficaram feridos em uma explosão dessa substância muito sensível. Faraday casou-se com Sarah Barnard (1800-1879) em 12 de junho de 1821. Eles se conheceram por meio de suas famílias na igreja Sandemaniana, e ele confessou sua fé à congregação Sandemaniana um mês depois de se casarem. Eles não tinham filhos. Faraday era um cristão devoto; sua denominação sandemaniana era uma ramificação da Igreja da Escócia. Bem depois de seu casamento, ele serviu como diácono e por dois mandatos como ancião na casa de reunião de sua juventude. Sua igreja estava localizada em Paul's Alley no Barbican. Esta casa de reuniões foi realocada em 1862 para Barnsbury Grove, Islington; este local no norte de Londres foi onde Faraday serviu os últimos dois anos de seu segundo mandato como ancião antes de renunciar ao cargo. Biógrafos notaram que "um forte senso da unidade de Deus e da natureza permeou a vida e obra de Faraday". Vida posterior. Em junho de 1832, a Universidade de Oxford concedeu a Faraday o título de Doutor honorário em Direito Civil. Durante sua vida, ele foi oferecido um título de cavaleiro em reconhecimento por seus serviços à ciência, que ele rejeitou por motivos religiosos, acreditando que era contra a palavra da Bíblia acumular riquezas e buscar recompensas mundanas, e declarando que preferia permanecer "planície Sr. Faraday até o fim". Eleito membro da Royal Society em 1824, ele se recusou duas vezes a se tornar presidente. Ele se tornou o primeiro professor fulleriano de química na Royal Institution em 1833. Em 1832, Faraday foi eleito Membro Honorário Estrangeiro da Academia Americana de Artes e Ciências. Ele foi eleito membro estrangeiro da Real Academia Sueca de Ciências em 1838, e foi um dos oito membros estrangeiros eleitos para a Academia Francesa de Ciências em 1844. Em 1849 ele foi eleito membro associado da Real Instituto da Holanda, que dois anos depois se tornou a Academia Real Holandesa de Artes e Ciências e posteriormente ele foi feito membro estrangeiro. Faraday sofreu um colapso nervoso em 1839, mas acabou retornando às suas investigações sobre eletromagnetismo. Em 1848, como resultado de representações do príncipe consorte, Faraday foi premiado com uma casa de graça e graça em Hampton Court em Middlesex, livre de todas as despesas e manutenção. Esta era a Casa do Mestre Mason, mais tarde chamada de Casa Faraday, e agora nº 37 da Hampton Court Road. Em 1858, Faraday retirou-se para morar lá. Tendo fornecido vários projetos de serviço ao governo britânico, quando solicitado pelo governo para aconselhar sobre a produção de armas químicas para uso na Guerra da Crimeia (1853-1856), Faraday recusou-se a participar citando razões éticas. Faraday morreu em sua casa em Hampton Court em 25 de agosto de 1867, aos 75 anos de idade. Alguns anos antes ele havia recusado uma oferta de sepultamento na Abadia de Westminster após sua morte, mas ele tem uma placa memorial lá, perto do túmulo de Isaac Newton. Faraday foi enterrado na seção dos dissidentes (não anglicanos) do Cemitério de Highgate. Realizações científicas. Química. Como dito até então, não é inédito que Michael Faraday construiu uma carreira brilhante como cientista, tanto que até os dias atuais é extremamente reconhecido e de alto renome. O primeiro trabalho de Faraday como químico começou como assistente de Humphry Davy. Michael Faraday estava especificamente envolvido no estudo do cloro, em que ele descobriu dois novos compostos de cloro e carbono. Ele também conduziu os primeiros experimentos grosseiros em relação a difusão de gases, um fenômeno que foi apontado pela primeira vez pelo célebre John Dalton. A importância física deste fenômeno foi mais plenamente revelada por Thomas Graham e Joseph Loschmidt. Dessa forma, Faraday conseguiu liquefazer vários gases, investigou as ligas de aço e produziu vários novos tipos de vidro para fins ópticos. Um espécime de um desses vidros pesados se tornou, em momento posterior, historicamente importante; quando o vidro era colocado em um campo magnético, Faraday determinava a rotação do plano de polarização da luz. Assim, este espécime também foi a primeira substância repelida pelos pólos magnéticos de um ímã. Por conseguinte, Faraday também foi responsável por inventar uma forma inicial do hoje conhecido: Bico de Bunsen, que está em uso prático e recorrente em laboratórios didáticos, industriais e de pesquisas na área científica em todo mundo, sendo utilizado como fonte de calor. Faraday trabalhou extensivamente no campo da química, atuando na descoberta de substâncias como o benzeno (que, inicialmente, ele a chamou de bicarbureto de hidrogênio) e gases liquefeitos como o cloro. A liquefação de gases ajudou a estabelecer que gases são vapores de líquidos com ponto de ebulição muito baixo e deu uma base mais sólida ao conceito de agregação molecular. Já em 1820, Faraday discorreu sobre a primeira síntese de compostos feitos de carbono e cloro: C 2 Cl 6 e C 2 Cl4, no qual publicou seus resultados no ano seguinte. Faraday também determinou a composição do clatrato hidratado de cloro, que foi descoberto por Humphry Davy em 1810. Michael também é responsável por descobrir as leis da eletrólise e por popularizar as terminologias como ânodo, cátodo, eletrodo e íon, termos propostos em grande parte por William Whewell. Faraday foi o primeiro a relatar o que mais tarde veio a ser chamado de nanopartículas metálicas. Em 1847, ele descobriu que as propriedades ópticas dos coloides de ouro diferiam daquelas do metal a granel correspondente. Esta foi provavelmente a primeira observação relatada dos efeitos do tamanho quântico e pode ser considerada o nascimento da nanociência. Eletricidade e magnetismo. Faraday é mais conhecido por seu trabalho sobre eletricidade e magnetismo. Sua primeira experiência registrada foi a construção de uma pilha voltaica com sete moedas britânicas de meio penny, empilhadas junto com sete discos de folha de zinco e seis pedaços de papel umedecidos com água salgada. Com essa pilha, ele decompôs o sulfato de magnésia (primeira carta a Abbott, 12 de julho de 1812). Em 1821, logo após o físico e químico dinamarquês Hans Christian Ørsted descobrir o fenômeno do eletromagnetismo, Davy e o cientista britânico William Hyde Wollaston tentaram, mas não conseguiram, projetar um motor elétrico. Faraday, tendo discutido o problema com os dois homens, passou a construir dois dispositivos para produzir o que chamou de "rotação eletromagnética". Um deles, agora conhecido como motor homopolar, causava um movimento circular contínuo que era gerado pela força magnética circular em torno de um fio que se estendia até uma poça de mercúrio em que foi colocado um ímã; o fio então giraria em torno do ímã se alimentado com corrente de uma bateria química. Esses experimentos e invenções formaram a base da moderna tecnologia eletromagnética. Em sua empolgação, Faraday publicou resultados sem reconhecer seu trabalho com Wollaston ou Davy. A controvérsia resultante dentro da Royal Society prejudicou sua relação de mentor com Davy e pode muito bem ter contribuído para a designação de Faraday para outras atividades, o que consequentemente impediu seu envolvimento na pesquisa eletromagnética por vários anos. Desde sua descoberta inicial em 1821, Faraday continuou seu trabalho de laboratório, explorando propriedades eletromagnéticas de materiais e desenvolvendo a experiência necessária. Em 1824, Faraday configurou brevemente um circuito para estudar se um campo magnético poderia regular o fluxo de uma corrente em um fio adjacente, mas não encontrou essa relação. Este experimento seguiu um trabalho semelhante realizado com luz e ímãs três anos antes, que produziu resultados idênticos. Durante os próximos sete anos, Faraday gastou muito de seu tempo aperfeiçoando sua receita de vidro de qualidade óptica (pesado), borossilicato de chumbo, que ele usou em seus estudos futuros conectando luz com magnetismo. Em seu tempo livre, Faraday continuou publicando seu trabalho experimental em óptica e eletromagnetismo; ele manteve correspondência com cientistas que conheceu em suas viagens pela Europa com Davy, e que também estavam trabalhando com eletromagnetismo. Dois anos após a morte de Davy, em 1831, ele começou sua grande série de experimentos nos quais descobriu a indução eletromagnética, registrando em seu diário de laboratório em 28 de outubro de 1831 que ele era; "fazendo muitos experimentos com o grande ímã da Royal Society". A descoberta de Faraday veio quando ele enrolou duas bobinas isoladas de fio em torno de um anel de ferro e descobriu que, ao passar uma corrente por uma bobina, uma corrente momentânea foi induzida na outra bobina. Este fenômeno agora é conhecido como indução mútua. O aparelho de espiral de ferro ainda está em exibição na Royal Institution. Em experimentos subsequentes, ele descobriu que, se movesse um ímã através de uma alça de fio, uma corrente elétrica fluía naquele fio. A corrente também fluía se o loop fosse movido sobre um ímã estacionário. Suas demonstrações estabeleceram que um campo magnético variável produz um campo elétrico; esta relação foi modelada matematicamente por James Clerk Maxwell como a lei de Faraday, que posteriormente se tornou uma das quatro equações de Maxwell e que, por sua vez, evoluíram para a generalização conhecida hoje como teoria de campo. Faraday mais tarde usaria os princípios que descobriu para construir o dínamo elétrico, o ancestral dos modernos geradores de energia e do motor elétrico. Em 1832, ele completou uma série de experimentos com o objetivo de investigar a natureza fundamental da eletricidade; Faraday usou " estática ", baterias e "eletricidade animal" para produzir os fenômenos de atração eletrostática, eletrólise, magnetismo, etc. Ele concluiu que, ao contrário da opinião científica da época, as divisões entre os vários "tipos" de eletricidade eram ilusórios. Faraday, em vez disso, propôs que apenas uma única "eletricidade" existe, e os valores variáveis ​​de quantidade e intensidade (corrente e tensão) produziriam diferentes grupos de fenômenos. Perto do final de sua carreira, Faraday propôs que as forças eletromagnéticas se estendessem para o espaço vazio ao redor do condutor. Esta ideia foi rejeitada por seus colegas cientistas, e Faraday não viveu para ver a eventual aceitação de sua proposta pela comunidade científica. O conceito de Faraday de linhas de fluxo emanando de corpos carregados e ímãs forneceu uma maneira de visualizar campos elétricos e magnéticos; esse modelo conceitual foi crucial para o desenvolvimento bem-sucedido dos dispositivos eletromecânicos que dominaram a engenharia e a indústria até o final do século XIX. Diamagnetismo. Em 1845, Faraday descobriu que muitos materiais exibem uma repulsão fraca de um campo magnético: um fenômeno que ele chamou de diamagnetismo. Faraday também descobriu que o plano de polarização da luz polarizada linearmente pode ser girado pela aplicação de um campo magnético externo alinhado com a direção em que a luz se move. Isso agora é denominado efeito Faraday. Em setembro de 1845, ele escreveu em seu caderno: "Eu finalmente consegui "iluminar uma curva magnética" ou "linha de força" e "magnetizar um raio de luz"". Mais tarde em sua vida, em 1862, Faraday usou um espectroscópio para pesquisar uma alteração diferente da luz, a mudança das linhas espectrais por um campo magnético aplicado. O equipamento disponível para ele era, no entanto, insuficiente para uma determinação definitiva da mudança espectral. Pieter Zeeman mais tarde usou um aparelho aperfeiçoado para estudar o mesmo fenômeno, publicando seus resultados em 1897 e recebendo o Prêmio Nobel de Física em 1902 por seu sucesso. Em seu artigo de 1897 e em seu discurso de aceitação do Nobel, Zeeman fez referência ao trabalho de Faraday. Gaiola de Faraday. Em seu trabalho sobre eletricidade estática, o experimento do balde de gelo de Faraday demonstrou que a carga residia apenas no exterior de um condutor carregado, e a carga externa não tinha influência sobre nada dentro de um condutor. Isso ocorre porque as cargas externas se redistribuem de modo que os campos internos que emanam delas se cancelam. Esse efeito de proteção é usado no que agora é conhecido como gaiola de Faraday. Em janeiro de 1836, Faraday colocou uma moldura de madeira, de 12 pés quadrados, em quatro suportes de vidro e acrescentou paredes de papel e tela de arame. Ele então entrou e o eletrificou. Quando saiu de sua jaula eletrificada, Faraday mostrou que a eletricidade era uma força, não um fluido imponderável como se acreditava na época. Biografia. Michael Faraday nasceu em Newington Butts, ao sul de Londres. Sua família era pobre. Seu pai, James Faraday, era ferreiro. Junto com mãe de Faraday, Margaret Hastwell, migrou no começo de 1791 do norte da Inglaterra para Newington Butts em busca de trabalho. Eles já tinham dois filhos antes de se mudarem, um menino e uma menina. Faraday nasceu poucos meses depois dessa mudança. A família logo se mudou de novo, agora para Londres. Lá nasceu uma menina após Faraday e foi onde o jovem Michael Faraday recebeu os rudimentos de uma educação, aprendendo a ler, escrever, e aritmética. Faraday começou a trabalhar aos 13 anos de idade, como menino de recados de um encadernador e comerciante de livros, George Riebau, um imigrante francês que foi para Londres devido à Revolução Francesa. Em 1805, aos 14 anos, Faraday tornou-se aprendiz de Riebau e leu vários dos livros que encadernou durante seus sete anos de aprendizado. Um livro que chamou sua atenção foi "Palestras sobre química" de Jane Marcet, escrito em 1805. A obra "A melhoria da mente", de Isaac Watts, fez com que ele meditasse a respeito. Leu um exemplar que estava encadernando da Enciclopédia Britânica e interessou-se muito por um artigo sobre eletricidade. Como resultado de suas leituras realizou experiências químicas simples. Certa vez teve acesso a um livro chamado "Experiências químicas." Com o pouco dinheiro que tinha comprou instrumentos simples para fazer as experiências que estavam no livro. Assim foi modelando sua inteligência e desenvolvendo sua técnica. Conforme ele progredia, aumentava o seu interesse e a sua curiosidade. Lia todos os livros de ciência que encontrava. Desde 1810 Faraday assistiu aulas de John Tatum (fundador de uma sociedade filosófica), sobre diversos assuntos. Em 1810, com vinte anos de idade, Faraday foi convidado para assistir a quatro conferências de sir Humphry Davy, químico inglês e presidente da Royal Society entre 1820 e 1827. Faraday tomou notas destas conferências e, mais tarde, redigiu-as em formato mais completo. Então, em 1812, escreveu para Humphry Davy (que admirava muito desde que assistiu as aulas de química), mandando cópias destas notas. Davy respondeu para Faraday quase imediatamente, e muito favoravelmente, além de marcar um encontro. Em março de 1813, foi nomeado ajudante de laboratório da Royal Institution, por recomendação de Humphry Davy. Davy precisava fazer uma lâmpada de segurança para ser usada nas minas e Faraday pode mostrar seu potencial, dando-lhe sugestões, pois tinha grande capacidade analítica. Suas sugestões foram aceitas. Davy o reconheceu e lhe deu a oportunidade de participar ativamente de suas experiências. Seis meses depois, Davy o convidou para acompanhá-lo como seu “assessor filosófico” em uma série de conferências. No dia 13 de outubro de 1813, partiram para a Europa. “Esta manhã marca uma época em minha vida”, escreveu em seu diário. Como o criado de Davy desistiu de viajar, Faraday assumiu este papel. A viagem foi cheia de surpresas para Faraday: conheceu o mar, as montanhas, o Vesúvio; em Paris, viu Napoleão; conheceu Alessandro Volta, André-Marie Ampère, Joseph Gay-Lussac e outros cientistas. Em 1815, de volta à Inglaterra, Faraday passa a integrar o Royal Institution, onde foi conferencista de várias Royal Institution Christmas Lectures. Ele e Davy concluem a lâmpada de segurança, que começou a ser usada no ano seguinte. Faraday declara que a lâmpada não era perfeitamente segura, o que desagrada ao ego de Davy. Ingressou na Sociedade Filosófica, onde realizava conferências sobre química, utilizando-se do que ouvia de Davy. Em 12 de junho de 1821, Faraday casou-se com Sarah Barnard (1800-1879), e não tiveram filhos. Em 1820, Hans Christian Ørsted provou os efeitos magnéticos da corrente elétrica: um fio metálico conduzindo corrente elétrica provoca o desvio de uma agulha metálica. Em 1821, William Hyde Wollaston concluiu que ao aproximar um ímã de um fio onde está passando corrente elétrica o fio deveria girar em torno do ímã. No dia 3 de setembro deste ano, Faraday mostrou que uma barra de ímã girava em torno de um fio eletrizado e que um fio suspenso eletrizado girava em torno de um ímã fixo, comprovando a teoria de Wollaston. Em outubro, publicou no “Quarterly Journal”. No natal do mesmo ano, fez com que o fio se movesse pela influência do magnetismo terrestre. Com uma sugestão de Davy, Faraday consegue obter cloro líquido. Escreveu, então, um comunicado para a "Royal Society". Mas Davy o lê, antes de ser enviado, e redige uma nota sobre sua participação. Foi eleito membro da "Royal Society" em 1824. Recebeu a nomeação para diretor do laboratório em fevereiro de 1825. Neste mesmo ano, isolou o benzeno do óleo de baleia. Trabalhou como perito em tribunais, tendo ganho, num só ano, cinco mil dólares. Em 1827, foi convidado para trabalhar na Universidade de Londres, mas rejeitou o convite. Trabalhou por quatro anos em vidros para óptica. Obteve várias qualidades de vidro, conseguindo aperfeiçoar o telescópio. Em 17 de outubro de 1831 demonstrou que era possível converter energia mecânica em energia elétrica. Foi a primeira demonstração de um dínamo, que veio a ser o principal meio de fornecimento de corrente elétrica. No dia 29 desse mês, pegou um disco de cobre preso a um cabo e um ímã em formato de ferradura. Entre os polos do ímã fez girar o disco, que estava ligado a um galvanômetro, a agulha se moveu com o girar do disco. Em 1832, fundou a eletroquímica e desenvolveu as leis da eletrólise. Neste mesmo ano, recebeu o Diploma Honorário da Universidade de Oxford, sendo homenageado com a medalha Copley da Royal Society, a maior honraria já concedida por ela. Em 1833 tornou-se Professor Fulleriano de Química na "Royal Institution". Faraday teve importância na química como descobridor de dois cloretos de carbono, investigador de ligas de aço e produtor de vários tipos novos de vidros. Um desses vidros tornou-se historicamente importante por ser a substância em que Faraday identificou a rotação do plano de polarização da luz quando ela passa por um campo magnético e também por ser a primeira substância a ser repelida pelos polos de um ímã. Particularmente, ele acreditava nas linhas de campo elétrico e magnético como entidades físicas reais e não abstrações matemáticas. Porém, suas descobertas no campo da eletricidade ofuscaram quase que por completo sua carreira química. A mais importante das contribuições de Faraday foi a descoberta da indução eletromagnética, em 1831. Em 1857, o físico John Tyndall lhe ofereceu a presidência da Royal Society, mas Michael recusou: “quero ser simplesmente Michael Faraday até o fim”. Ele queria continuar com suas experiências, se fosse presidente não teria tempo para isso. Faraday morreu na sua casa em Hampton Court, aos 75 anos, e não foi enterrado na Abadia de Westminster, mas no Cemitério de Highgate. Visão Religiosa. Faraday foi um cristão que participou de uma denominação não-conformista chamada Sandemanismo; do qual chegou a servir como diácono. É um consenso entre seus biógrafos que sua fé modelou sua visão do processo científico e o endossava. Isso não significa que aceitasse a Escritura como fonte de informação científica propriamente, mas acreditava que a Escritura (o Livro da palavra de Deus, indicando a salvação) e a Teologia Natural de Deus (a natureza) eram suficientes para apontar a existência e poder de Deus. Como outros cientistas cristãos, ele compartilhava a crença de que a natureza está debaixo de leis que podem ser discernidas por nós, pelo motivo da natureza ter sua origem e controle num Criador Legislador. Em um "memorândum" (1844) ele argumentou: The Faraday Institute for Science and Religion. Há em Cambrige o "The Faraday Institute for Science and Religion" instituição formada por cientistas, teólogos e filósofos, criada para: A história com a rainha. Há relatos de um evento supostamente ocorrido com Faraday que é usado para satirizar aqueles que não conseguem encontrar relevância em trabalhos de pesquisa básica como os desenvolvidos por ele. Certa vez Faraday recebeu uma visita da Rainha Vitória da Inglaterra em seu laboratório. Quando a rainha lá chegou, Faraday logo se pôs a mostrar-lhe todas as suas invenções e descobertas. Ao terminar a demonstração a rainha perguntou: - Mas para que servem todas essas coisas? Ao que o sábio físico respondeu: - E para que serve um bebê? Obras. Os livros de Faraday, com exceção de "Manipulação Química", eram coleções de artigos científicos ou transcrições de palestras. Desde sua morte, o diário de Faraday foi publicado, assim como vários grandes volumes de suas cartas e o diário de Faraday de suas viagens com Davy em 1813-1815.
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Microfone
Microfone O microfone é um transdutor que converte o som em sinais elétricos. Microfones são usados em muitas aplicações como telefones, gravadores, aparelhos auditivos, shows e na transmissão de rádio e televisão. História. O antecessor do microfone foi o megafone, que amplia a voz utilizando apenas o ar como meio de transmissão, e cuja origem remonta da Grécia antiga. Os primeiros experimentos registrados utilizando fios como meios de transmissão da voz remontam de 1665, registrados por Robert Hooke. Telefones primordiais foram desenvolvidos nos anos 1800 independentemente por Johann Philipp Reis e Alexander Graham Bell. O primeiro microfone prático foi desenvolvido independentemente por David Edward Hughes, Emile Berliner, e Thomas Edison. Padrões polares. Sensibilidade polar do microfone. O microfone está paralelo à página voltada para cima em cada diagrama. Efeito de proximidade. O efeito de proximidade ocorre com microfones que operam através da detecção do gradiente de pressão do ar, resultando em um grave acentuado quando o aparelho é aproximado da fonte de pressão, onde o gradiente é mais intenso, uma vez que as variações na pressão são mais intensas quanto menor a distância da fonte.
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Rio Mondego
Rio Mondego O rio Mondego é o quinto maior rio português e o primeiro de todos os que têm o seu curso inteiramente em Portugal. Nasce na serra da Estrela, mais propriamente na freguesia de Mangualde da Serra, concelho de Gouveia. Percorre toda a região do Centro (Região das Beiras) e tem a sua foz no oceano Atlântico, junto à cidade da Figueira da Foz. Aspectos físicos e naturais. O rio Mondego tem um comprimento aproximadamente de 258,3 quilómetros. A sua nascente situa-se na serra da Estrela, no sítio de Corgo das Mós (ou "Mondeguinho"), freguesia de Mangualde da Serra, concelho de Gouveia, a uma altitude de cerca de 1 525 m. No seu percurso inicial, atravessa a serra da Estrela, de sudoeste para nordeste, nos concelhos de Gouveia e Guarda. A poucos quilómetros desta cidade, junto à povoação de Vila Cortês do Mondego, atinge uma altitude inferior a 450 m. Nesse ponto, inflecte o seu curso, primeiro para noroeste e depois, já no concelho de Celorico da Beira, para sudoeste. Aqui se inicia o seu curso médio, ao longo do planalto beirão, cortando rochas graníticas e formações metamórficas. Depois de atravessar o concelho de Fornos de Algodres, o rio Mondego serve de fronteira entre os distritos de Viseu, a norte, e da Guarda e de Coimbra, a sul. Assim, delimita, na margem norte, os concelhos de Mangualde, Seia, Nelas, Carregal do Sal, Santa Comba Dão e Mortágua, enquanto que na margem sul serve de limite aos concelhos de Gouveia, Oliveira do Hospital, Tábua, Penacova e Vila Nova de Poiares. Entre Penacova e Coimbra, o rio percorre um apertado vale, num trajecto caracterizado por numerosos meandros encaixados. Depois de se libertar das formações xistosas e quartzíticas, e já nas imediações da cidade Coimbra, o rio inaugura o seu curso inferior, constituído pelos últimos quarenta quilómetros do seu trajecto e cumprindo um desnível de apenas 40 metros de altitude. Nesta última etapa, percorre uma vasta planície aluvial, cortando os concelhos de Coimbra, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz, onde desagua, no oceano Atlântico. Junto à sua foz forma-se um estuário com cerca de 25 km de comprimento e 3,5 km² de área.<ref name="SNIRH/INAG">http://snirh.pt/snirh.php?main_id=5 / SNIRH/INAG, acedido em 5 de fevereiro de 2009</ref> Nos últimos 7,5 km do seu troço desdobra-se em dois braços (norte e sul), que voltam a unir-se junto à foz, formando entre si a pequena ilha da Murraceira. Bacia hidrográfica. O rio Mondego drena uma bacia com uma área total de 6 645 km², tem uma orientação dominante Nordeste-Sudoeste. A bacia ocupa o segundo lugar em área entre os rios cujas bacias se situam totalmente em território português. Ao longo do seu percurso recebe as águas de rios seus afluentes como o Dão na margem direita, o Alva, o Ceira, o Ega (ou Rio dos Mouros) e o Arunca, e Pranto na margem esquerda. Grande parte do percurso, até Coimbra, (chamado Alto Mondego ou Mondego Superior) faz-se através de um vale bastante encaixado em rochas metamórficas e granito. O troço terminal (designado por Baixo Mondego), com cerca de 40 km, percorre uma planície aluvial, extremamente fértil e onde se localizam alguns dos mais produtivos arrozais da Europa. A bacia hidrográfica do rio Mondego tem uma precipitação média anual de 1 233 mm e um caudal médio anual de 108,3 m³.s-1. Na bacia hidrográfica do rio Mondego localizam-se inúmeros aproveitamentos hidráulicos. A capacidade total de armazenamento nas albufeiras localizadas nesta bacia é cerca de 540 hm3. Cheias. A causa principal da ocorrência das cheias nos rios é a incidência de precipitações intensas. A dimensão da bacia hidrográfica e o tipo de acontecimento meteorológico governam as características das cheias, as quais no rio Mondego relativamente rápidas, com tempos entre o início de cheia e o pico do caudal da ordem das poucas horas, podendo ser particularmente perigosas devido ao aumento brusco do nível de escoamento. As cheias no rio Mondego ocorreram desde pelo menos o século XIV, afectando a vida de uma importante cidade como Coimbra. Aqui, foi possível registar as cheias mais importantes, das quais se destacam as dos anos 1331, 1788, 1821, 1842, 1852, 1860, 1872, 1900, 1915, 1962, 1969 e 1979. Numa frequência empírica pode verificar-se que as cheias designadas como importantes tiveram um período de retorno de 50 anos. Pode ainda verificar-se que nos dois últimos séculos, com a mesma análise empírica, as cheias importantes têm um período de retorno de 20 anos. Tornava-se, assim, evidente a necessidade de intervenção para controlar as cheias. Com a construção das barragens da Aguieira e da Raiva e do açude de Coimbra, foram construídos novos leitos aluvionares, incluindo 7,7 km de diques de defesa, uma dragagem de 16 hm3 e revestimentos de enrocamentos com um volume de 0,5 hm3. Os caudais de cheia em Coimbra eram da ordem dos 2 500 m³.s-1, sendo amortecidos para 1 200 m³.s-1 através dos dois aproveitamentos referidos anteriormente. Na foz estão previstos caudais de 3 000 m³.s-1. Ecologia. No respeitante à qualidade da água para a vida aquática, há a distinguir duas zonas principais: Algumas das espécies identificadas para esta bacia têm particular importância do ponto de vista conservacionista e comercial, nomeadamente o sável ("Alosa alosa"), a savelha ("Alosa fallax"), a lampreia ("Petromyzon marinus"), e a truta ("Salmo truta fario"). Muito recentemente, um grupo internacional de cientistas, descobriu aqui uma nova família de microalgas têm potencial para dar origem a compostos de interesse farmacêutico, cosmético ou para aquacultura. Assim como, no seu trecho terminal do rio, percebeu-se que é o habitat de uma nova espécie de borboleta nocturna descrita para a ciência. A construção do sistema de açudes e barragens ao longo do rio, veio constituir uma barreira à passagem das espécies migradoras. A jusante do açude de Coimbra encontram-se exclusivamente as espécies que sobrevivem a uma potencial influência salina. No que respeita ao estado de conservação da vegetação ripícola, verifica-se que em apenas cerca de um terço da extensão total do rio se pode considerar muito bem conservada, ou seja, em que ambas as margens apresentam uma cobertura vegetal bem desenvolvida estando presentes os estratos arbóreo e o arbustivo. Entre os principais factores de perturbação, degradação e destruição dos ecossistemas aquáticos e terrestres associados contam-se: o desenvolvimento urbano e industrial, o desenvolvimento agrícola, a construção de barragens, a extração ilegal de areias, as actividades lúdico-recreativas, a actividade florestal, os fogos florestais, a invasão de espécies exóticas, a caça e a pesca. No troço do Baixo Mondego surgem as matas de choupos, ulmeiros e salgueiros, de que a mais emblemática é, sem dúvida, a Mata Nacional do Choupal na periferia de Coimbra. Aqui nidifica a maior colónia urbana de milhafre-preto ("Milvus migrans") da Europa, com cerca de 70 ninhos recenseados. Existem vários locais de interesse ornitológico, como a ilha da Morraceira, já que no estuário é comum observarem-se espécies como o pato-real ("Anas platyrhynchos"), a cegonha-branca ("Ciconia ciconia"), o flamingo-comum ("Phoenicopterus roseus"), a gaivota-prateada ("Larus argentatus"), o alfaiate ("Recurvirostra avosetta"), o pernilongo ("Himantopus himantopus") e a andorinha-do-mar-anã ("Sterna albifrons"), na serra da Estrela o Melro-d'água ("Cinclus cinclus") entre outras. Devido à sua importância ecológica como zona húmida de nidificação e/ou de alimentação de numerosas espécies de aves aquáticas, o Estuário do Mondego foi classificado como sítio da Convenção de Ramsar, um habitat de importância internacional, não só pelas mencionadas espécies de aves, mas também pela existência de espécies piscícolas migratórias, como a lampreia, o sável e a savelha. Origem do nome. Os romanos chamavam "Munda" ao rio Mondego. "Munda" significa transparência, claridade e pureza. Nesses tempos as suas águas eram assim. Ao longo da Idade Média o rio continuou a chamar-se "Munda". Transportes e turismo. Em Coimbra existe uma embarcação turística que permite fazer um pequeno cruzeiro nas águas do rio, entre o Parque Dr. Manuel Braga e a Lapa dos Esteios. Ao longo de um trajecto de poucos quilómetros, pode-se assim observar as mudanças recentemente operadas em ambas as margens do Mondego. Outro tipo de turismo a operar no rio são as descidas em canoa no rio Mondego entre Penacova e Coimbra. Ao longo do curso do rio existem diversas praias fluviais, de entre as quais se destacam, de montante para jusante, as de Ribamondego, Ponte Nova, Penacova, Palheiros/Zorro e Pé Rodrigo. No estuário, junto à Figueira da Foz, foi construída uma marina para embarcações de recreio. Navegação. Os dados disponíveis acerca da navegabilidade permitem inferir uma evolução do Baixo Mondego desde a ocupação fenícia. Durante a ocupação romana, os navios de mar ainda deveriam chegar a Coimbra, mas o progressivo assoreamento foi reduzindo a navegação para montante, exigindo barcos de menor porte: as barcas serranas, meio de transporte privilegiado no contacto entre o interior e o litoral, vinham do Oceano Atlântico até Coimbra e os mais pequenos chegavam a ir mesmo até Penacova. Estes serviam para que as mulheres de Penacova viessem a Coimbra, buscar roupa suja e depois a trazerem lavada e passada a ferro, e para os Homens levarem lenha para o litoral e trazer peixe para o interior. No século XVII o estuário já só se alargava a jusante de Montemor-o-Velho, cerca de 20 km a montante da desembocadura actual. Vários eram os portos importantes no carregamento e descarregamento de mercadorias ao longo do Mondego, a montante de Coimbra, no século XIX e ainda em parte do século XX: Coimbra, Foz do Caneiro, Rebordosa, Ronqueira, Carvoeira, Ponte de Penacova, Vila Nova, Raiva, Carvalhal, Oliveira do Mondego, Almaça e Gondolim (atual Gondelim). De todos estes portos há a salientar a grande importância comercial do Porto da Raiva, que chegou a ser um dos maiores e mais importantes do país ate meados do século XIX, e até ao findar da navegação do Mondego o mais importante ao longo deste rio. O assoreamento foi progressivamente dificultando a navegação no Mondego, levando ao seu desaparecimento na década de 50 do século XX. Calcula-se que nos últimos seiscentos anos o leito terá subido cerca de 1 cm/ano, ou seja um metro em cada século. No século XVIII, o rio era instável e entrançado, com frequentes fenómenos de avulsão na planície aluvial, entre Coimbra e Montemor. Já naquela época era reconhecido o problema do forte assoreamento, bem como o carácter tempestuoso do caudal do rio. Para resolver esses problemas, foi elaborado, no final do século XVIII, um plano de encanamento do Mondego a jusante de Coimbra. Desde 1781 até 1807, a situação dos campos do Mondego melhorou muito após a abertura de um novo leito. Mas a situação foi piorando, devido ao assoreamento do rio, chegando ao século XX numa situação insustentável. Na década de 1960, foi preparado o Plano Geral de Aproveitamento Hidráulico da Bacia do Mondego, um plano para a intervenção hidráulica que foi implementado nas décadas de 1970 e 1980. O Mondego corre actualmente em canal artificial desde Coimbra até à Figueira da Foz. Além das duas grandes barragens foram construídos novos leitos aluvionares, incluindo 7,7 km de diques de defesa, uma dragagem de 16 hm3 e revestimentos com um volume de 0,5 hm3. Por fim, o Mondego desagua no Atlântico junto à Figueira da Foz, servindo de porto e de abrigo para as actividades ligadas à pesca, ao sal e ao turismo e recreio. Aproveitamento hidroeléctrico e hidroagrícola. A bacia hidrográfica do Mondego apresenta uma enorme diversificação de utilizações da água, muito importantes para o desenvolvimento económico da região, nomeadamente a agricultura, a indústria e fábricas de polpa de celulose , a produção de energia eléctrica e o abastecimento público de água em toda a região hidrográfica. Desta multiplicidade de utilizadores, a necessidade de implementação de um modelo de gestão integrada dos recursos hídricos da bacia, ao qual foi definido de um quadro jurídico e institucional para a criação de uma entidade gestora do aproveitamento hidráulico do Mondego (AHM). Por tudo isto, a bacia hidrográfica do rio Mondego é uma das bacias portuguesas com maior utilização dos recursos hídricos, sobretudo nas componentes hidroeléctrica e agrícola, onde se destaca a barragem da Aguieira, barragem da Raiva e barragem de Fronhas com uma potência instalada de 110 MW e uma produtibilidade média anual de 360 GWh, que regulariza volumes de água para abastecimento público de alguns concelhos do Baixo Mondego e para a rega do Aproveitamento Hidroagrícola do Baixo Mondego. As outras importantes são a barragem do Caldeirão e o Açude de Coimbra. Atravessamento. O rio Mondego é atravessado por numerosas pontes rodoviárias e ferroviárias. Pela sua dimensão e importância, destacam-se a ponte de Palhês que liga Cativelos (Gouveia) às Contenças de Baixo (Mangualde), a ponte de Caldas de Felgueira (entre os concelhos de Nelas e de Oliveira do Hospital), a Ponte José Luciano de Castro (em Penacova), as pontes da Portela, a Ponte Rainha Santa Isabel, a Ponte Pedro e Inês, a Ponte de Santa Clara e a Ponte do Açude (todas em Coimbra), a ponte de Montemor-o-Velho, pela A17 e a Ponte Edgar Cardoso na Figueira da Foz. Desporto. Nas águas do rio é comum organizar-se provas de várias modalidades desportivas aquáticas, tais como vela e motonáutica (no estuário, junto à Figueira da Foz) e ainda de remo e de canoagem. Existe o centro desportivo de alto rendimento em Montemor-o-Velho com centro náutico, pistas de atletismo, e Pousada da Juventude. A sua utilização têm se revelado útil para várias modalidades olímpicas como: remo, canoagem, natação de águas abertas e o triatlo, e onde já decorreram várias provas internacionais. A organização espacial do plano de água previu uma ilha com uma barreira vegetal para proteger do ventos predominantes de nordeste, canais de acesso para facilitar as provas de 500, 1000 e 2000 metros. Outro melhoramento para a qualidade da água do local é a adução a montante com entrada directa a partir do leito central do Mondego ou a partir da vala do regadio na bombagem de Formoselha. Cultura. Literatura. O Mondego é certamente o rio português mais cantado por poetas desde tempos imemoriais. As primeiras referências chegadas até à actualidade, remontam ao início do século XVI com os poetas do Cancioneiro Geral. Com efeito, é com Bernardim Ribeiro que é possível identificar, em primeiro lugar, alusões implícitas ao Mondego, na sua obra "Menina e Moça". Mas é o seu amigo Sá de Miranda que, apesar de ter nascido e estudado em Coimbra, escreve em espanhol os seguintes versos: Não é certo que Luís de Camões tenha estudado em Coimbra, mas parece irrefutável que terá vivido na cidade nos tempos da sua juventude. Essa passagem ficou gravada na sua obra, tal como o atesta o soneto: Muito mais tarde, no século XIX, a referência do rio é uma constante na poesia de António Nobre. Outro poeta conimbricense, Eugénio de Castro, exclamava: Já no século XX, Miguel Torga descrevia o calmo deslizar do rio na planície: Música. A canção tradicional de Coimbra — o fado de Coimbra — encontrou sempre nos versos dos grandes poetas que viveram ou que passaram por esta cidade, inspiração para os musicar e interpretar. Assim, não admira que muitos dos mais conhecidos fados de Coimbra aludam ao Mondego, às suas paisagens e às suas musas inspiradoras. A referência ao nome do rio está presente na mais conhecida balada coimbrã, escrita por António de Sousa (1898-1981) e gravada em 1929, por Edmundo Bettencourt e recriada, anos mais tarde, por José Afonso: Também o "Vira de Coimbra" inclui uma quadra de António Nobre que faz uma referência implícita ao carácter estival que o rio apresentava no século XIX: Na "Balada do Mondego" exalta-se a via de comunicação que o rio constituía até meados do século XX: Mas não é só no fado que se esgotam as referências ao Mondego. Mais recentemente, Pedro Ayres Magalhães escreveu uma canção interpretada por Né Ladeiras e que diz:
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Madeira (desambiguação)
Madeira (desambiguação)
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Mogadouro
Mogadouro Mogadouro é uma vila raiana portuguesa localizada na sub-região das Terras de Trás-os-Montes, pertencendo à região do Norte e ao distrito de Bragança. É sede do Município de Mogadouro que tem uma área total de 760,65 km2, 8.304 habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 11 habitantes por km2, subdividido em 21 freguesias. O município é limitado a noroeste pelo município de Macedo de Cavaleiros, a norte por Vimioso, a nordeste por Miranda do Douro, a sudeste pela região espanhola de Castela e Leão, a sul por a sul por Freixo de Espada à Cinta e por Torre de Moncorvo e a oeste por Alfândega da Fé. Geografia. O município de Mogadouro caracteriza-se por estar inserido numa região de relevo acidentado com variações entre áreas montanhosas, vales, e ainda pela Meseta Ibérica (designando-se nesta região pelo Planalto Mirandês). Os pontos mais elevados do sistema montanhoso do município de Mogadouro são: Os principais rios que atravessam o município são o Rio Douro a sudeste, o Rio Sabor a oeste, o Rio Maçãs e o Rio Angueira a nordeste. O Parque Natural do Douro Internacional está inserido no município de Mogadouro, englobando as freguesias de Urrós, Bemposta, Brunhosinho, Peredo da Bemposta, Vila de Ala, Tó, Ventozelo, Vilarinho de Galegos, Vilar de Rei, Vale de Porco, Castelo Branco e Bruçó. A Barragem de Bemposta é uma das 5 barragens (Miranda, Picote, Bemposta, Aldeadávilla e Saucelle) que fica no troço internacional do Rio Douro. Tem uma altura de 87 metros e a sua albufeira tem uma capacidade total de 129 000 000 m³. Foi inaugurada em 1964 a primeira Central Hidroelétrica, onde esteve presente Salazar e Franco. Em 2011 foi inaugurada a segunda Central Hidroelétrica. A Barragem de Bastelos, situada na freguesia de Penas Roias, é uma barragem de aterro, e por isso tem como finalidade reter a água vinda da Ribeira de Bastelos. Tem uma altura de 23.2 metros, e foi inaugurada em 1993. História. Pré-História. No município existem vários vestígios deixados pelas povoações do: Formação do Reino de Portugal. Após a afirmação do Reino de Portugal, no século XII foram reconstruídos o Castelo de Mogadouro e o Castelo de Penas Roias pela Ordem dos Templários, após ambos os castelos terem sido doados por Fernão Mendes de Bragança a esta Ordem em 1145. Com a extinção da Ordem dos Templários, surge a Ordem de Cristo, e é para esta ordem que o Castelo de Mogadouro e de Penas Róias são transferidos, em 1311 e 1319, respetivamente. Aos Castelos de Mogadouro e Penas Roias juntaram-se o Castelo de Miranda do Douro, o Castelo de Algoso, Castelo do Outeiro e o Castelo de Vimioso, na defesa da região transmontana das invasões castelhanas. Apenas 5 aldeias do atual município de Mogadouro receberam a Carta de Foral que foram: Período dos Távoras. Os Távoras tiveram um papel muito importante em Mogadouro, na construção de Igrejas, pontes, estradas... Estes tinham imensos patrimónios espalhados pelo Concelho, como o Castelo de Mogadouro, Castelo de Penas Róias e a Quinta da Nogueira. Após o Processo dos Távoras, estes foram mortos o seu património ficou ao abandono, e o Castelo foi abandonado ficando, com o passar do tempo em ruínas, como o de Penas Roias. Século XX. No inicío do século XX os Paços do Concelho são afetados por um incêncio, que destruiu todos os arquivos e repartições. A 22 de Maio de 1938, com a abertura do troço Mogadouro-Duas Igrejas (Miranda do Douro), a Linha do Sabor entrou em funcionamento na totalidade, com 6 paragens no município, na Estação Ferroviária de Bruçó, no Apeadeiro de Vilar do Rei, na Estação Ferroviária de Mogadouro, na Estação Ferroviária de Variz, no Apeadeiro de Sanhoane e no Apeadeiro de Urrós. A 1988 a Linha foi totalmente encerrada. Evolução da População do Município. "" Através dos registos de habitantes consegue-se observar um êxodo rural das aldeias do município para a vila de Mogadouro, sendo que de 1970 a 2001 todas as freguesias perderam habitantes ao contrário de Mogadouro, que teve um aumento de 1858 habitantes. O despovoamento é bastante visível em todas as freguesias, sendo que entre 1900 e 1950 existiam aldeias com mais de mil habitantes, que hoje tem menos de 500, um desses casos é Vilarinho dos Galegos, com 1022 habitantes em 1900 e 190 em 2011. Em todo o município, apenas Vale da Madre consegui registar um aumento, de 2 habitantes, entre 2001 e 2011. O concelho recebeu foral do rei D. Afonso III de Portugal a 27 de dezembro de 1272. Subdivisão do município. Freguesias. O município de Mogadouro está dividido em 21 freguesias: Antigas freguesias, extintas em 2013:
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Montemor-o-Velho
Montemor-o-Velho Montemor-o-Velho é uma vila portuguesa do distrito de Coimbra, que pertencia à antiga província da Beira Litoral e à região do Centro (Região das Beiras), estando atualmente englobada na sub-região Região de Coimbra (NUT III), com cerca de habitantes. É sede do Município de Montemor-o-Velho que tem km² de área e habitantes (2011), subdividido em 11 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Cantanhede, a leste por Coimbra e por Condeixa-a-Nova, a sul por Soure e a oeste pela Figueira da Foz. Situa-se a uma altitude média de 5 m acima do nível médio do mar. Trata-se de um dos poucos municípios de Portugal territorialmente descontínuos. O caso de Montemor-o-Velho é único no contexto português, pois a descontinuidade do município deve-se à existência, na zona sudeste do seu território, de um pequeníssimo enclave pertencente ao vizinho município de Soure (freguesia de Figueiró do Campo), encaixado entre as freguesias montemaiorenses de Pereira e Santo Varão. História. Montemor-o-Velho é uma antiga vila cujos vestígios remontam à Pré-história, designadamente ao período Neolítico. Existem referências documentais ao seu castelo desde o século IX. Em 848, Ramiro I das Astúrias passou a dominar o castelo de Montemor, mas a reconquista definitiva do Mondego foi empreendida pelo Rei Fernando Magno de Leão, que entregou o castelo ao Conde Sesnando. Este castelo é bastante bonito de visitar, estando em bom estado de conservação. De lá se desfruta de uma bela vista sobre os arrozais do rio Mondego e restantes terrenos de cultivo. A sua importância estratégica fez desta vila um centro de atracção, tendo recebido o primeiro foral em 1212. Montemor foi ainda, durante séculos, terra de infantado, primeiro de e D. Teresa, depois de D. Afonso IV (1322), mas também de D. Pedro, Duque de Coimbra (1416). Em 1472, D. Afonso V faz Marquês de Montemor-o-Velho D. João de Portugal, mais tarde Duque de Bragança. Paróquias. A vila de Montemor-o-Velho, no âmbito religioso, teve, na Idade Média, e até finais do séc. XIX, cinco paróquias: Alcáçova, São Martinho, São Salvador, São Miguel e Santa Maria Madalena. Com a extinção das três últimas, Manuel Correia de Bastos Pina, bispo-conde da Diocese de Coimbra, por decreto de 30 de Julho de 1874, criou uma só paróquia para Montemor-o-Velho, aglutinando a de Santa Maria d'Alcáçova, a principal, e a de São Martinho, a maior do arrabalde, facto também atestado numa lápide colocada na frontaria da Igreja de São Martinho. De acordo com o Padre Dr. José dos Reis Coutinho, na sua obra "Comemoração dos Novecentos Anos da Igreja de Santa Maria da Alcáçova", em 1995, refere que E acrescenta: Freguesias. O Município de Montemor-o-Velho está dividido em 11 freguesias: Paisagem. Montemor-o-velho era assim descrito em 1947: Cultura. Realiza-se anualmente o festival internacional de teatro, Citemor. No castelo realiza-se também o festival "Montemor Medieval". No mês de Maio (todos os Sábados do mês) realiza-se o Encontro de Teatro da Vila de Pereira "Em Cena" Organizado pelo Grupo de Teatro OCeleiro ( Vencedor do Concurso Nacional de Teatro do INATEL / 2009) O antigo Mercado Municipal foi convertido numa galeria de arte. Existe ainda na vila o teatro "Esther de Carvalho". O Paul de Arzila e o Paul do Taipal são importantes parques naturais, locais de desova e crescimento de peixes e anfíbios e onde se pode avistar aves sedentárias e migratórias. A "Feira da Cebola" realiza-se anualmente no dia 8 de setembro, feriado municipal. Economia. Montemor-o-Velho, que em tempos foi terra de agricultores, está hoje virada para as actividades do sector terciário, em parte devido à instalação das repartições da administração, instituições financeiras e de serviços; o pequeno comércio é variado. A indústria está representada com vários estabelecimentos fabris de pequena e média dimensão. A agricultura continua a ter grande importância. Cultiva-se o milho e o arroz com recurso a processos cada vez mais modernos e a existência de uma Escola Profissional Agrícola, a par da Cooperativa e dos serviços da Zona Agrária da DRABL, contribuem com o saber técnico que permite melhorar a produtividade dos campos. Evolução da População do Município. De acordo com os dados do INE o distrito de Coimbra registou em 2021 um decréscimo populacional na ordem dos 5.0% relativamente aos resultados do censo de 2011. No concelho de Montemor-o-Velho esse decréscimo rondou os 5.4%. Política. Eleições legislativas. <small> Desporto. A vila de Montemor-o-Velho possui uma das melhores pistas para canoagem da europa, sendo um local que já recebeu provas internacionais dessa modalidade. A Selecção Nacional de Canoagem treina com regularidade nesta pista.
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Sebastião José de Carvalho e Melo
Sebastião José de Carvalho e Melo Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal e Conde de Oeiras (Lisboa, 13 de maio de 1699 – Pombal, 8 de maio de 1782) foi um nobre, diplomata e estadista português. Foi secretário de Estado do Reino durante o reinado de D. José I (1750-1777), sendo considerado, ainda hoje, uma das figuras mais controversas e carismáticas da História Portuguesa. Representante do despotismo esclarecido em Portugal no século XVIII, viveu num período da história marcado pelo iluminismo. Iniciou com esse intuito várias reformas administrativas, económicas e sociais. Proibiu a importação de escravos em Portugal Continental a 12 de fevereiro de 1761 e acabou com a discriminação dos cristãos-novos, apesar de não ter extinguido oficialmente a Inquisição portuguesa, que foi colocada sob autoridade régia e esteve em vigor "de jure" até 1821. Por outro lado, criou a Real Mesa Censória em 1768, com o objectivo de transferir, na totalidade, para o Estado a fiscalização das obras que se pretendessem publicar ou divulgar no Reino, o que até então estava a cargo do Tribunal do Santo Ofício. Durante o reinado de D. João V foi embaixador nas cortes do Reino da Grã-Bretanha, em Londres, Inglaterra, e do Sacro Império Romano-Germânico, em Viena, Arquiducado da Áustria. A sua administração ficou marcada por duas contrariedades célebres: o primeiro foi o Terramoto de Lisboa de 1755, um desafio que lhe conferiu o papel histórico de renovador arquitectónico da cidade. Pouco depois, o Processo dos Távoras, uma intriga com consequências dramáticas. Foi um dos principais responsáveis pela expulsão dos jesuítas de Portugal e das suas colónias. O quadro "O Marquês de Pombal iluminando e reconstruindo Lisboa", assinado conjuntamente por Louis-Michel van Loo (1707-1771) e Claude-Joseph Vernet (1714-1789), dois grandes pintores da sua época, representa o estadista, em 1759, no centro de uma cena de grande significado político e económico. Nascimento, família e juventude. Sebastião José de Carvalho e Melo nasceu em 13 de maio de 1699 em Lisboa, freguesia das Mercês, sendo baptizado a 6 de Junho do dito ano na Capela da mesma invocação, sita na Rua Formosa, que pertencia à sua família, tendo como padrinho, Sebastião José de Carvalho e Melo, seu avô paterno. Filho de Manuel de Carvalho e Ataíde (Mercês (Lisboa), 26 de junho de 1676 - Mercês (Lisboa), 15 de março de 1720), fidalgo da província, com propriedade na região de Leiria e de sua mulher, D. Teresa Luísa de Mendonça e Melo (Santa Maria dos Olivais (Lisboa), bap. 7 de outubro de 1684 - ?), esta descendente de fidalgos estabelecidos no Brasil. Entre os ascendentes de sua mãe estão as famílias Albuquerque, Moura e Cavalcanti, sendo descendente por duas linhas, uma delas matrilineal, da índia brasileira tabajara Tindarena ou Tavira, baptizada como Maria do Espírito Santo Arco Verde. Eram seus avós paternos Sebastião José de Carvalho e Melo (falecido em 19 de janeiro de 1719 na freguesia das Mercês) e D. Leonor Maria de Ataíde (falecida em 30 de novembro de 1720 na freguesia das Mercês), maternos João de Almada e Melo, senhor de Souto d'El Rei e Olivais e D. Maior Luísa de Mendonça. Sebastião foi o mais velho de doze irmãos, dos quais se destacam Paulo António de Carvalho e Mendonça (1702-1770) e Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1701-1779), fiéis colaboradores do irmão. A sua mãe casaria no estado de viúva em 30 de junho de 1721, com Francisco Luís da Cunha de Ataíde (Mártires (Lisboa), bap. 4 de junho de 1668 - ?), viúvo de D. Josefa Leocádia Coutinho, falecida em 1719. Apesar do berço nobre, a família não possuía grandes quantias de dinheiro. Na sua juventude estudou Direito, na Faculdade de Leis e na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra, e serviu no exército durante um curto período. Quando se mudou para a capital, Sebastião de Carvalho era um homem turbulento. Casamentos. Quando era ainda apenas um fidalgo sem grandeza, aos 23 anos, em 16 de janeiro de 1723, Sebastião José, como lhe chamava a alta nobreza, sua inimiga, casou-se com uma viúva sem filhos e importante dama aristocrata, D. Teresa de Noronha e Bourbon Mendonça e Almada (Santos-o-Velho (Lisboa), 22 de setembro de 1687 - Mercês (Lisboa), 6 de fevereiro de 1739), de 35 anos, viúva de António de Mendonça Furtado, seu primo, falecido em 1718, filha de D. Bernardo de Noronha e de D. Maria Antónia de Almada, onze anos mais velha, sobrinha do conde de Arcos, o que criou a Sebastião de Carvalho problemas com a família da mulher. Tinha casado por arranjo da família, depois de um rapto consentido. Os pais da recém-formada família tornaram a vida do casal insustentável, pelo que se retiraram para as suas propriedades próximas de Pombal. Em 1739 foi enviado a Londres como ministro plenipotenciário, e ali prestou relevantes serviços, mostrando grande energia e não vulgar inteligência, arrancando sobretudo ao ministério do duque de Newcastle muitas das isenções para os negociantes portugueses em Londres, que tinham em Lisboa os negociantes ingleses, e o reconhecimento do direito que tinham as autoridades portuguesas de punir os excessos praticados pelos capitães de navios ingleses em terras e costas de Portugal. Sebastião de Carvalho sofreu em Inglaterra o grande desgosto da morte de sua mulher, que faleceu em Lisboa a 6 de fevereiro, aos 51 anos, legando-lhe todos os bens da sua grande casa. Foi sepultada num jazigo subterrâneo da Igreja Paroquial de Nossa Senhora das Mercês. Durante a sua carreira no estrangeiro e já viúvo, encontrou a mulher que lhe viria a dar sete filhos. Foi em Viena que casou a 18 de dezembro de 1745 com Eleonore Ernestine Eva Wolfganga Gräfin von und zu Daun auf Sassenheim und Callaborn (Viena, Áustria, 2 de novembro de 1721 - Mercês, Lisboa, 3 de janeiro de 1789), ou simplesmente condessa de Daun, filha de Heinrich Reichard Lorenz, conde de Daun (1673-1729) e de Maria Violante Josepha von Boymont, condessa de Payrsberg (1692-1758). Tiveram os seguintes filhos: A embaixada de Londres. Do tio paterno, Paulo de Carvalho, herdou o morgado constituído por bens em Oeiras e Sintra. Em 1733 foi nomeado Sócio da Real Academia Portuguesa da História. Também através do tio terá conhecido o cardeal D. João da Mota, primeiro-ministro, que o enviou para Londres para substituir, como embaixador, Marco António de Azevedo Coutinho, a quem tratava carinhosamente por tio nas cartas que trocavam (mas parece que seriam somente primos). Aí chegou em outubro de 1738 com 39 anos. Terá sido esta a fase que mais ajudou a formar o seu espírito reformador. A Grã-Bretanha era uma sociedade culta, progressiva e liberal, o oposto do obscuro Portugal. Na altura o idioma usado na diplomacia europeia era o francês, pelo que o embaixador nunca aprendeu inglês, socorrendo-se de intérpretes, como era habitual. Em 1739, com a Guerra da Orelha de Jenkins entre ingleses e espanhóis, logo seguida, em 1742, da Guerra da Sucessão Austríaca. Em ambas Portugal se manteve neutro e a Inglaterra participante ativo. Essa neutralidade não dava direito aos ingleses de usarem as águas portuguesas, mas a Inglaterra abusava e desrespeitava o reino português atacando aí os navios espanhóis. O embaixador português debalde apresentava as reclamações. A primeira função de Carvalho em Londres foi obter ajuda para as forças portuguesas na Índia, onde tinham perdido a ilha de Salsete. A Inglaterra não ajudou. Em 1740, a Grã-Bretanha proibiu toda a exportação de trigo. Portugal foi afetado por esse corte no fornecimento e o embaixador português, mais uma vez, não conseguiu nada a favor de Portugal. Uma das grandes pretensões de Portugal era a Colónia de Sacramento. Carvalho apresentou a Robert Walpole o pedido para que o rei britânico, como fiador do tratado de Utrecht, reconhecesse o direito de Portugal à colónia e que auxiliasse a expulsar os intrusos espanhóis. As constantes negativas e delongas nas respostas às suas solicitações e reclamações mostram a consideração que a Grã-Bretanha tinha por Portugal: uma dependência e não um aliado. Face a isto, a opinião de Carvalho era que "o inglês imagina (...) que nasceu para ser senhor dos cabedais do mundo". Opinava também negativamente sobre o parlamentarismo britânico, preferindo adoptar como modelos os estadistas franceses, nomeadamente Richelieu. Contudo reconhecia o espírito empreendedor britânico, a sua cobiça insaciável e a sua tenacidade no Oriente. A opinião negativa que tinha dos ingleses aplicava-se também aos inúmeros britânicos que viviam em Portugal. Considerava ele que os britânicos dominavam o comércio em Portugal, nomeadamente o do vinho, e que aqueles o falsificavam destruindo a fama do produto nacional. Eis os fundamentos da futura ideia da Companhia dos Vinhos. E também da sua preferência pelo comércio com as colónias portuguesas, pois considerava que Portugal poucos lucros obtinha com o comércio com o estrangeiro. Foi em Londres que conheceu um ex-funcionário da Companhia da Índias de nome Cleland. Das suas conversas surgiu a ideia de uma companhia idêntica para os domínios portugueses. Mas uma companhia que necessitaria de muito capital, que teria um retorno periclitante, não poderia singrar sem alguma proteção ou privilégio. Eis o surgir da ideia de monopólio que mais tarde viria a usar em diversas situações. Carvalho tinha grande preconceito contra os judeus. Considerava que estes usavam artifícios para extorquir dinheiro, passá-lo por Inglaterra a caminho da Holanda (para onde fugiram muitos judeus aquando da expulsão da Península Ibérica). Considerava ainda que estes tinham uma grande conspiração contra todos os países em que tinham sido perseguidos e a favor dos que os recebiam. Concluindo, a função de Carvalho em Londres foi um fracasso: não conseguiu ajuda para Salsete, não conseguiu o reconhecimento em Sacramento, os marinheiros portugueses eram maltratados nos portos britânicos, Portugal não foi exceptuado à proibição de exportação do trigo e não havia igualdade comercial. Mas foi em Londres que germinaram as ideias e planos económicos mais tarde implementados. Missão a Viena. Em 1745 foi transferido para Viena, Áustria. Nesta época Viena vivia a Guerra da Sucessão Austríaca em que se discutia o futuro do Sacro Império Romano-Germânico. Era arquiduquesa da Áustria D. Maria Teresa e Papa Bento XIV. Em Roma dividiam-se os partidos mas a maioria estava contra os intentos da rainha. Daí que esta quisesse colocar no Colégio dos Cardeais um seu defensor, o que aliás já estava combinado desde antes da morte do seu pai, Carlos VI. Agora a Santa Sé voltava atrás com a palavra, criando um problema diplomático. O embaixador português em Roma, Manuel Pereira de Sampaio, sugeriu ao Papa a mediação dos reis portugueses, tios da arquiduquesa austríaca (a rainha portuguesa D. Maria Ana de Áustria era irmã de Carlos VI). Não havendo na altura embaixador português em Viena, foi Sebastião José de Carvalho o escolhido, pese embora mantivesse a sua posição em Londres. Carvalho viria a considerar esta atribuição um desterro e um presente envenenado. Considerava que era impossível a negociação e que o seu envio tinha só o intuito de o excluir da criação da Companhia para a Índia, que tinha projectado em Londres. Este projecto da Companhia teve de imediato oponentes e o primeiro-ministro, D. João da Mota, rejeitou-o por falta de meios financeiros. Em dezembro de 1744, Carvalho saiu de Lisboa. Mas primeiro desembarcou novamente em Londres. Tinha que tratar de negócios da embaixada mas também de seguir o plano da Companhia da Índia que teimava em prosseguir. Só em maio de 1745 é que seguiu para Viena. Esta demora impacientou os reis portugueses. Passou primeiro por Haia, depois por Hanover e só chegou a Viena em julho. Pouco depois, em 13 de Setembro de 1743, era eleito como Sacro Imperador o marido da rainha austríaca, Francisco Estêvão. Mantinha-se a questão do lugar no Colégio dos Cardeais, agravada com picardias. Em Viena a opinião era que na verdade não teria sido o Papa a propor a mediação portuguesa e que o enviado português não seria imparcial. Para piorar a situação de Carvalho, a carta do rei português à sua sobrinha apresentava-o não como ministro (embaixador), mas como emissário. Com isto, o enviado não tinha qualquer qualificação diplomática. Aos 46 anos casa-se pela segunda vez, como já referido, desta feita com Leonor de Daun, dama da corte e filha de ilustre família austríaca. Se Maria Teresa parecia ceder, Roma parecia inflexível. Carvalho convenceu-se que a sua missão era impossível e comunicou à rainha austríaca a sua partida para Londres. O governo português mostrou descontentamento com essa opção e obrigou-o a manter-se em Viena. A tarefa de Carvalho era complicada. Viena considerava a mediação portuguesa uma intromissão e Carvalho um defensor de Roma. Roma considerava-o incapaz de imparcialidade, ainda por cima agora casado com uma austríaca, e os cardeais sentiam-se despeitados pela decisão do Papa em ter aceite a intermediação portuguesa sem os consultar. Ou seja, nenhuma das cortes ansiava pelo sucesso de Carvalho. Em maio de 1746, Carvalho pediu a demissão da sua função que não foi aceite. Em julho de 1746 parecia não mais ser necessária a mediação portuguesa já que Roma e Viena tinham encetado negociações directas. Mas eis que faleceu Filipe V de Espanha e ascendeu ao trono o seu filho Fernando VI, genro de D. João V. Surgiu novamente a hipótese de uma intermediação portuguesa, desta feita para a guerra em geral. Para tal Carvalho é chamado à presença da imperatriz. Esta era um oportunidade de Portugal sobressair e melhorar as relações com Espanha. Finalmente as partes chegaram a acordo e se chegou à paz. Só quando faleceu Filipe V de Espanha é que Carvalho foi verdadeiramente incumbido (a 18 de Outubro de 1746) de poderes para negociar e assinar acordos relativos à mediação, que só agora era reconhecida por Viena. Novo problema surgiu entretanto, agora relativo ao príncipe-eleitor de Mogúncia. Estas questões entre Viena e Roma arrastaram-se por mais dois anos até 1748. A contenda chegou ao fim com a ajuda de Carvalho e não mais havendo entre as duas coroas, terminou a função daquele em Viena. Enquanto durou a batalha diplomática entre Viena e Roma, outra, de âmbito pessoal, decorria entre os ministros (embaixadores) portugueses das mesmas cidades: Carvalho e Manuel Pereira de Sampaio. Carvalho muito escreveu sobre o seu colega. Acusou-o de ambicionar um papel de relevo na mediação e de querer Carvalho como mero subalterno. Esta inimizade pode ter desfavorecido Carvalho junto do rei D. João V. Durante a sua estadia em Viena, Carvalho teve problemas financeiros. O seu banqueiro aí era o barão Diogo de Aguilar (Jakob, Freiherr von Aguilar), judeu português foragido na Alemanha, por medo da fogueira. O socorro que este judeu lhe prestou, e outros já em Londres, é capaz de justificar a mudança de opinião de Carvalho sobre os mesmos e as atitudes que teve no futuro em seu benefício. Em 1747 foi-lhe nomeado sucessor em Londres. Descontente com a notícia, que lhe travava os seus planos da Companhia da Índia, não ajudou minimamente o sucessor. Em 1749 chegou a Portugal, mas enquanto viveu D. João V, não conseguiu nova função. Alguns autores acreditam ter sido neste período que aderiu à Maçonaria. O rei morreu no ano seguinte e, de acordo com uma recomendação da rainha-mãe, o novo rei D. José I nomeou Sebastião José como ministro dos Negócios Estrangeiros. Ao contrário do pai, D. José foi-lhe muito benévolo e confiou-lhe gradualmente o controle do Estado. Secretário de Estado do Reino (Primeiro-Ministro). Em 1755, Sebastião de Melo já era Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino, cargo homólogo ao actual primeiro-ministro. Características gerais. Governou com mão de ferro, impondo a lei a todas as classes, desde os mais pobres até à alta nobreza. Impressionado pelo sucesso económico inglês, tentou implementar medidas que incutissem um sentido semelhante à economia portuguesa. Procurou fortalecer o poder real a fim de torná-lo de fato o executor de uma política capaz de capitalizar os sectores produtivos, e propiciar o desenvolvimento manufactureiro, terminando com a fragmentação e o loteamento do aparelho do Estado. Acreditava que suas acções de poder seriam norteadas pela razão humana, capaz de tudo ordenar, inclusive a organização do Estado e da sociedade. Por esse motivo, acreditava que qualquer elemento que fosse obstáculo ao "poder da razão ilustrada", seria desagregador e, portanto, desprovido de toda e qualquer legitimidade. Nesse contexto, os “interesses nacionais”, racionalmente entendidos, deveriam nortear toda acção política e, consequentemente, também económica e social. Esse tipo de pensamento gerou tensões e descontentamentos, principalmente nos sectores mais tradicionais da sociedade portuguesa, tanto leiga, quanto religiosa. Quando encontrava resistência, o Marquês de Pombal não hesitava em agir com firmeza, e até mesmo com o uso da violência, contra os sectores mais tradicionais da sociedade portuguesa no sentido de erradicar qualquer força política que pudesse colocar entraves ao alcance dos seus objectivos reformadores. Realizações. A região demarcada para a produção do vinho do Porto, a primeira região a assegurar a qualidade dos seus vinhos, data da sua governação. Em sua gestão, Pombal pôs em prática um vasto programa de reformas, cujo objectivo era racionalizar a administração sem enfraquecer o poder real. Para atingir essa meta, o ministro incorporou as novas ideias divulgadas na Europa pelos iluministas, mas ao mesmo tempo conservou aspectos do absolutismo e da política mercantilista. O Marquês de Pombal foi a figura-chave do governo português entre 1750 e 1777. Sua gestão foi um perfeito exemplo de "despotismo esclarecido", forma de governo que combinava a monarquia absolutista com o racionalismo iluminista. Uma notável realização de Pombal foi a fundação, em 1774, da Vila Real de Santo António, próxima à foz do rio Guadiana, no sul de Portugal. Em Fevereiro de 1761, no reinado de D.José I, proibiu a importação de escravos em Portugal Continental e na Índia, não por razões humanitárias, que eram estranhas â sua natureza, mas por serem mão de obra necessária no Brasil. Ao mesmo tempo estimulou o comércio de escravos negros ("as peças", nos termos daquele tempo) para aquela colónia, tendo sido fundadas, com o apoio e envolvimento direto do Marquês de Pombal, duas companhias - a Companhia do Grão-Pará e Mara­nhão e a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba - cuja atividade principal era precisamente o tráfico de escravos, na maioria africanos, para terras brasileiras. Na lista de acionistas das duas companhias contavam-se , além do Marquês, muitos nobres e clérigos. Entre 1757 e 1777, foram importados um total de 25 365 escravos negros para o Pará e Maranhão, vindos dos portos oeste-africanos. Reorganizou o exército e a marinha, reestruturou a Universidade de Coimbra acabando com a discriminação dos "cristãos novos" (pelo menos em parte), contratando prestigiados professores estrangeiros e equipando-a com aparelhos científicos modernos. Apesar dessa reestruturação da Universidade de Coimbra o número de alunos universitários baixa de para apenas 500 devido ao desastre educacional que resultou das reformas do Marquês no ensino não universitário. Mas uma das mais importantes reformas foi nos campos das economias e finanças, com a criação de companhias e associações corporativas que regulavam a actividade comercial, assim como a reforma do sistema fiscal. Todas estas reformas granjearam-lhe a inimizade das altas classes sociais, em especial da nobreza, apelidando-o "novo rico". O terremoto de 1755. O desastre abateu-se sobre Portugal na manhã do dia 1 de novembro (dia de Todos os Santos) de 1755. Nesta data, Lisboa foi abalada por um violento tremor de terra, com uma amplitude que em tempos actuais é estimada em cerca de nove pontos na escala de Richter. A cidade foi devastada pelo tremor de terra, pelo maremoto e ainda pelos incêndios que se seguiram. Sebastião de Carvalho sobreviveu por sorte, mas não se impressionou. Imediatamente tratou da reconstrução da cidade, de acordo com a famosa frase: "E agora? Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos". Apesar da calamidade, Lisboa não foi afectada por epidemias e menos de um ano depois já se encontrava parcialmente reconstruída. Esta recuperação rápida pode ser atribuída à resposta rápida por parte do Marquês de Pombal a decretar várias "Providências" com o âmbito de estabilizar a situação e socorrer os habitantes de Lisboa. A baixa da cidade foi redesenhada por um grupo de arquitectos e engenheiros, com a orientação expressa de resistir a terramotos subsequentes. Foram construídos modelos para testes, nos quais os terramotos foram simulados pelo marchar de tropas. Nesta altura, e pela orientação do Marquês do Pombal, teve início o modelo de construção de edifícios num sistema denominado de "gaiola", em que todas as obras eram edificadas a partir de uma estrutura de madeira, semelhante a uma gaiola. A partir deste período, todos os edifícios eram obrigados a respeitar esta norma, com o fim de tornar as construções resistentes aos terramotos, devido à sua flexibilidade. Surgiram também os primeiros edifícios dotados de saneamento próprio, através de condutas ligadas directamente ao rio, e as ruas adquiriram dimensões em torno dos 20 metros de largura - para as estradas principais - uma característica nunca antes vista. Os edifícios e praças da "Baixa Pombalina de Lisboa" ainda prevalecem, sendo uma das atracções turísticas de Lisboa, construídos sob a assinatura do Marquês de Pombal. Sebastião de Melo fez também uma importante contribuição para a sismologia: elaborou um inquérito enviado a todas as paróquias do país. Exemplos de questões aí incluídas: os cães e outros animais comportaram-se de forma estranha antes do evento?; O nível da água dos poços subiu ou desceu?; Quantos edifícios foram destruídos? Estas questões permitiram aos cientistas portugueses a reconstrução do evento e marcaram o nascimento da sismologia enquanto ciência. O processo dos Távoras. Na sequência do terramoto ficou só menos de dois anos mais como Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. O rei D. José I deu ao seu primeiro-ministro poderes acrescidos, tornando-o numa espécie de ditador, e fê-lo Conselheiro de Estado e Comendador de Santa Marinha da Mata de Lobos e de São Miguel das Três Minas, ambas na Ordem de Cristo. À medida que o seu poder cresceu, os seus inimigos aumentaram e as disputas com a alta nobreza tornaram-se frequentes. O atentado. Em setembro de 1758, a carruagem do rei foi alvejada quando esse voltava da casa de sua amante, D. Teresa de Lorena e Távora, a esposa do 4.º Marquês de Távora. Esta, além de irmã e nora de D. Francisco de Assis de Távora, 2.º Marquês de Távora, era cunhada e nora de sua esposa a famosa D. Leonor Tomásia de Távora, grande opositora do Marquês de Pombal. O monarca foi ferido e a rainha assumiu como regente. As investigações, durante o mês de dezembro, acusaram membros da alta nobreza, os quais foram imediatamente presos; entre eles integrantes da família dos Távoras (o número total de prisioneiros chegou a mais de mil, a maioria dos quais jamais foi julgada formalmente). As confissões dos réus foram obtidas sob tortura, sendo igualmente torturadas as próprias testemunhas de acusação. Em 12 de janeiro de 1759, José de Mascarenhas da Silva e Lencastre, então Duque de Aveiro, e diversos membros da família dos Távoras foram condenados à morte, sendo, no dia seguinte, barbaramente torturados e executados num patíbulo público em Belém, na presença do rei e da corte. Consequências. Sebastião de Melo não mostrou qualquer misericórdia, tendo perseguido cada um dos alegadamente envolvidos. Com este golpe final, o poder da nobreza foi decisivamente contrariado, marcando uma vitória sobre os seus inimigos, aqueles que tinham força para se oporem a si e ao rei. Pela sua acção rápida, D. José I atribuiu ao seu leal ministro o título de Senhor Donatário das vilas de Oeiras e seu termo e de Pombal, com o título de Conde de Oeiras, em 1759. Depois da execução dos Távoras, a perseguição à nobreza nunca mais parou. Quando o déspota Pombal abandonou o poder, foram libertados cerca de oitocentos presos políticos, mas entretanto cerca de dois mil e quatrocentos tinham morrido nas prisões. A 3 de Setembro 1759, um ano depois da tentativa de regicídio a D. José, expulsou os jesuítas da metrópole e das colónias, confiscando seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus agia como um poder autónomo dentro do Estado português e as suas ligações internacionais eram um entrave ao fortalecimento do poder régio. Os jesuítas tinham também sido considerados implicados no atentado ao Rei. No seguimento do caso Távora, o novo Conde de Oeiras não conheceu qualquer nova oposição. Adquirindo o título de Marquês de Pombal em 1770, teve quase exclusivamente o poder de governar Portugal até à morte de D. José I em 1777. Reformas. Reformas no aparelho de Estado. Marquês de Pombal introduziu importantes mudanças no aparelho de Estado português. O cerne de suas reformas no campo político era o de fortalecer a figura do rei, inspirado no absolutismo esclarecido de Luís XIV (Rei da França entre 1643 e 1715), e para isso procurou: fortalecer o mercantilismo e, por outro lado, enfraquecer a nobreza e o clero (regalismo). Nesse contexto, foram criadas de compilações de direito civil, que substituíram o direito canónico, representou o primeiro passo para a afirmação de Pombal enquanto estadista e o estado como entidade superior e autónoma face ao resto da sociedade, inclusive até à própria Igreja Católica. De facto, o estado português pronunciou-se várias vezes em desacordo com a Santa Sé, estabelecendo-se corte de relações diplomáticas até à morte de D. José e posterior subida ao trono de D. Maria I. Introduziu em Portugal a censura de livros e publicações de carácter político, instituindo a Real Mesa Censória (1768), instrumento de defesa da teoria do direito divino dos reis e de perseguição à teoria do pacto de sujeição do rei à soberania da comunidade (defendida pelos jesuítas). Pombal fez florescer um novo conceito na História portuguesa, o chamado "pombalismo". O pombalismo era uma doutrina política segundo a qual, toda a governação vai no sentido de racionalizar o estado e de Portugal superar atrasos vários na sua economia. Reformas económicas. Apesar dos problemas, Sebastião de Melo levou a cabo um ambicioso programa de reformas. Entre outras realizações, o seu governo procurou incrementar a produção nacional em relação à concorrência estrangeira, desenvolver o comércio colonial e incentivar o desenvolvimento das manufacturas. Dentre os objectivos das reformas económicas de Pombal, estava o de aumentar a arrecadação fiscal, e, nesse contexto, as dificuldades para combater o descaminho praticado por pequenos comerciantes, foi uma das causas da criação de monopólios. Portanto, não hesitou em impor monopólios esmagando a concorrência interna. Assim, em 1753 foi fundada a Companhia do Comércio da Ásia Portuguesa (de efémera duração) e, em 1756, a Companhia para a Agricultura das Vinhas do Alto Douro, à qual o ministro concedeu isenção de impostos no comércio e nas exportações, estabelecendo assim a primeira região demarcada de produção vinícola no mundo, colocando-se os célebres marcos pombalinos nas delimitações da região. Em 1773, surgia a Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve, destinada a controlar a pesca no sul de Portugal. Ao mesmo tempo, o marquês criou estímulos fiscais para a instalação de pequenas manufacturas voltadas para o mercado interno português, do qual também faziam parte as colónias. Essa política proteccionista englobava medidas que favoreciam a importação de matérias-primas e encareciam os produtos importados similares aos de fabricação portuguesa. Como resultado, surgiram no reino centenas de pequenas manufacturas produtoras dos mais diversos bens. O ministro fundou também o Banco Real em 1751 e estabeleceu uma nova estrutura para administrar a cobrança dos impostos, centralizada pela Real Fazenda de Lisboa, sob seu controle direto. De uma maneira geral e de acordo com a mentalidade iluminista, mostrava considerar o desenvolvimento económico e o exercício absoluto do poder como dois aspectos da mesma realidade: é difícil dizer se, para Pombal, o poder servia o desenvolvimento ou o desenvolvimento afirmava o poder. Reformas religiosas. A acção reformadora de Pombal estendeu-se ainda ao âmbito da política religiosa. Também neste campo, o Primeiro-Ministro empenhou-se no fortalecimento do absolutismo régio e no combate a sectores e instituições que poderiam enfraquecê-lo. Passou a ser proibido usar a palavra "cristão-novo", quer por escrito quer oralmente. As penas eram pesadas: para o povo - chicoteamento em praça pública e exílio em Angola; para os nobres - perda de títulos, cargos, pensões ou condecorações; para o clero - expulsão de Portugal. Reformas na educação. A educação em Portugal até então vinha sendo dominada quase que em exclusivo pela Companhia de Jesus e outras congregações. Em 1759, com a reforma Pombalina os jesuítas foram expulsos de todo o território português, e Pombal fez publicar um alvará, que seria a solução para a situação em que se encontrava a educação em Portugal. A expulsão dos jesuítas representou um desastre sem igual na educação em Portugal. Os jesuítas forneciam educação gratuita a perto de 20 mil alunos, tendo praticamente o monopólio da educação não superior. Portugal só voltará a ter este número de alunos no início do século XX, quando a população é o dobro da daquela época. Pombal, criou pela primeira vez o cargo de Director Geral dos Estudos, dentro do sistema da Aulas Régias, que tem como função vigiar o progresso dos estudos e elaborar um relatório anual da situação do ensino. A censura esteve em grande destaque durante a governação de Pombal, expressa pela destruição e proibição de livros de autores como Diderot, Rousseau, Voltaire, La Fontaine, que eram tidos como ""corruptores da Religião e da Moral" (CARVALHO 2001:468 ) e de conteúdo "ofensivo da paz e sossego público"". Pombal introduziu importantes mudanças no sistema de ensino (superior) do reino e das colónias - que até essa época estava sob a responsabilidade da Igreja -, passando-o ao controle do Estado. A Universidade de Évora, por exemplo, que havia sido fundada no século XVI pelo cardeal D. Henrique, pertencente aos jesuítas, foi extinta, e a Universidade de Coimbra sofreu profunda reforma, sendo modernizada. Devido à expulsão dos jesuítas e consequente fim das suas escolas o número de alunos que chega à universidade baixa enormemente nos tempos do Marquês de Pombal, de 3 mil na universidade de Coimbra mais 1,5 mil na universidade de Évora em poucos anos a universidade sobrante, a de Coimbra fica apenas com 500 alunos. Foi criada ainda a Aula do Comércio, implementada em Lisboa em 1759, primeiro estabelecimento de ensino oficial no mundo a ensinar a Contabilidade de uma forma técnico-profissional. Em dezembro de 1770 foi criada a Junta de Previdência Literária, que tinha como objectivo apurar das causas da decadência da Universidade de Coimbra. Menos de um ano depois, a Junta apresentava as conclusões e os responsáveis: os jesuítas. O Marquês de Pombal e o Brasil. Existe dissonância entre a percepção do Marquês entre alguns sectores do ensino básico em Portugal e alguns brasileiros, principalmente da região sul - que o veem como um tirano e opressor. Na visão do governo português, a administração da colónia devia ter sempre como meta a geração de riquezas para a metrópole. Esse princípio não mudou sob a administração do Marquês. O regime de monopólio comercial, por exemplo, não só se manteve, como foi acentuado para se obter maior eficiência na administração colonial. A descoberta do ouro no Brasil é associada ao surgimento da economia paralela em Portugal, a partir do início das actividades contrabandistas promovidas na sequência do Ciclo do ouro. Em 1755 e 1759, foram criadas, respectivamente, a "Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão" e a "Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba", empresas monopolistas destinadas a dinamizar as actividades económicas no Norte e Nordeste da colónia. Esta não deve ser confundida com a Companhia de Comércio do Maranhão, criada em 1682, e associada à Revolta de Beckman - contra os preços abusivamente altos praticados pela Companhia em todos os bens de consumo da população, e os preços baixos na compra dos géneros tropicais produzidos pelos mesmos colonos. No entanto, na região mineira, instituiu a "derrama" em 1765, com a finalidade de obrigar os mineradores a pagarem os impostos atrasados. A derrama foi um dos factos que motivou depois a Inconfidência Mineira. As maiores alterações, porém, ocorreram na esfera político-administrativa e na educação. Em 1759, o regime de capitanias hereditárias foi definitivamente extinto, com a sua incorporação aos domínios da Coroa portuguesa. Quatro anos depois, em 1763, a sede do governo-geral da colónia foi transferida de Salvador da Bahia para o Rio de Janeiro, cujo crescimento sinalizava o deslocamento do eixo económico do Nordeste para a região Centro-Sul. Com a expulsão violenta dos jesuítas do império português, o Marquês determinou que a educação na colónia passasse a ser transmitida por leigos nas chamadas "Aulas Régias". Até então, o ensino formal estivera a cargo da Igreja. O ministro regulamentou ainda o funcionamento das missões, afastando os padres de sua administração, e criou, em 1757, o Directório, órgão composto por homens de confiança do governo português, cuja função era gerir os antigos aldeamentos. Complementando esse "pacote" de medidas, o marquês procurou dar maior uniformidade cultural à colónia, proibindo a utilização do "Nheengatu", a "língua geral" (uma mistura das línguas nativas com o português, falada pelos bandeirantes) e tornando obrigatório o uso do idioma português. Alguns estudiosos da história afirmam que foi com esta medida que o Brasil deixou o rumo de ser um país bilingue. Na região amazónica, utilizava-se a mão-de-obra indígena em quase tudo. Porém, ao contrário dos colonos, os jesuítas obtinham a cooperação voluntária dos índios. Assim, enquanto as missões prosperavam, as aldeias dos colonos enfrentavam numerosas dificuldades. A expulsão dos jesuítas levou à desagregação da economia colectora de drogas do sertão, causando uma longa fase de estagnação económica em várias regiões da Amazónia, superada apenas no final do século XIX com o surto da borracha. No Vale Amazônico, Pombal empreendeu o levantamento cartográfico e demográfico das comunidades e vilas originárias, para se verificar a quantidade de indígenas aptos ao trabalho; introduziu sementes não-nativas e o fomento à indústria extrativa no Estado; a melhoria da técnica agrícola pelo uso de fertilizantes e ferramentas europeias; executou reformas no Porto do Pará, última via de escoamento das produções locais à Metrópole; e, por fim, dedicou-se à abertura de caminhos fluviais e estradas para a intensificação do comércio entre as capitanias do Norte. Também estimulou a miscigenação com os indígenas no país, proibindo a escravização dos mesmos como uma das medidas, já que percebeu que a única forma de manter uma colónia tão grande sem perdê-la para outros países europeus era povoá-lo com súditos da coroa portuguesa. Ainda hoje, encontra-se uma estátua de mármore em tamanho natural do Marquês de Pombal na Santa Casa de Misericórdia da Bahia localizada no centro histórico de Salvador. O autor brasileiro José Joaquim de Sousa Nunes viajou a Portugal para publicar em 1758 "Discursos Político-morais", dedicado ao Marquês de Pombal. Mas ao tomar conhecimento da obra, Pombal mandou queimar todas as edições impressas, pois não autorizara a dedicatória e não concordara com determinados conteúdos. Apenas três edições se salvaram, de propriedade do poeta Alberto de Oliveira, entregues à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A Academia Brasileira de Letras publicou uma nova edição em 1931. Outros aspetos críticos da sua governação. Incêndios da Trafaria e de Monte Gordo. Para além de eventos já mencionados, outros factos deram uma luz diversa à sua imagem de déspota iluminado, tendo levado Camilo Castelo Branco, quase um século depois, a denominá-lo "Nero da Trafaria". Guerra Fantástica. A Guerra Fantástica enquadrou-se na Guerra dos Sete Anos, e onde Portugal, aliado de Inglaterra, defrontou uma invasão da Espanha, aliada de França. Em 1754 a política do Marquês tinha dispensado metade dos efectivos militares, e o exército mal equipado, foi ineficaz para parar uma invasão espanhola, que chegou a tomar Miranda do Douro, o Castelo de Segura e depois outras cidades como Bragança e Chaves, ameaçando chegar a Lisboa. Ainda foi pedida ajuda ao Conde de Lippe para reorganizar o exército para uma defesa de Lisboa, mas a invasão acabou por não ocorrer devido a negociações de paz. A Colónia do Sacramento foi tomada, e isso determinou depois o fim da presença portuguesa no Uruguai, após longas disputas e negociações que terminaram no Tratado de Santo Ildefonso (1777) formalmente assinado já pela recém empossada D. Maria I. Declínio e morte. Em 24 de fevereiro de 1777, com a morte de Dom José I, assumem o trono Dona Maria I, a Pia, e o seu marido D. Pedro III, que detestavam o Marquês. D. Maria I teria alegadamente sofrido de ataques de raiva apenas ao ouvir o nome do antigo primeiro-ministro de seu pai. O poderio do Marquês era enorme, contudo sempre dependeu do apoio do rei. Assim que este faleceu, a Rainha, que nunca perdoou a impiedade mostrada para com a família Távora retirou-lhe todos os cargos. Mais ordenou que o Marquês se resguardasse sempre a uma distância de pelo menos 32 quilómetros dela. Se a Rainha passasse em viagem por uma das suas propriedades, o Marquês era obrigado por decreto a afastar-se de casa. A destituição de Pombal foi motivo de muita alegria e desordem nas ruas. O Marquês refugiou-se primeiro em Oeiras e depois na sua propriedade perto de Pombal. A multidão tentou incendiar a sua casa de Lisboa, que teve de ser protegida pela tropa. Quase todos os seus antigos aliados o abandonaram. Pombal tinha acumulado muitos inimigos: boa parte da nobreza portuguesa, e uma grande parte do clero, não gostaram de suas reformas porque tiveram seu poder e privilégios reduzidos, e também havia o caso dos Távoras. Maria I, que passou à história como D. Maria I, "A Pia," odiava-o. Quando o rei José morreu e a rainha subiu ao trono, em 1777, o marquês foi afastado do governo e condenado ao ostracismo, acusado de corrupção. A rainha, em Agosto de 1781, fez publicar um decreto que declarava Pombal "réu e merecedor de um exemplar castigo" mas, lembrando-se "mais da clemência do que da justiça", e porque o Marquês lhe pedira "perdão, detestando o temerário excesso que cometera" revogou "as penas corporais que lhe deviam ser impostas", em atenção ao estado de saúde do Marquês, confirmando apenas o desterro. O Marquês de Pombal morreu pacificamente na sua propriedade em 8 de Maio de 1782. Os seus últimos dias de vida foram vividos em Pombal e na Quinta da Gramela, propriedade que herdara de seu tio, o arciprestre Paulo de Carvalho e Ataíde, em 1713. Após a sua morte, na noite de 11 de maio de 1782, o seu cadáver foi conduzido num coche puxado por três parelhas para a igreja do convento de Santo António da vila de Pombal. A sua esposa, D. Leonor Ernestina de Daun, faleceu sete anos depois, em 3 de janeiro de 1789, aos 67 anos, sendo sepultada no jazigo da família, na Igreja Paroquial de Nossa Sr.ª das Mercês, em Lisboa. Com o advento das invasões francesas a sua sepultura foi profanada pelos soldados do marechal André Masséna, sendo retirado das suas ossadas, o traje, e a espada. Em 1856/7, o Marechal Saldanha, seu neto por via materna, trasladou para Lisboa os restos mortais, que foram depositados na ermida das Mercês, onde o Marquês de Pombal fora baptizado e, inclusive, pertencia à irmandade. Em 1923, passaram definitivamente os restos mortais para a Igreja da Memória, Lisboa, onde se encontram até ao presente. Foi homenageado com uma estátua numa das mais importantes praças de Lisboa, que tem o seu nome, inaugurada a 13 de maio de 1934 pelo ministro das obras públicas Duarte Pacheco, mas sem a presença quer do primeiro Ministro Oliveira Salazar quer do Presidente da República Óscar Carmona. Marquês de Pombal é também o nome da estação de metropolitano mais movimentada de Lisboa. Ligações externas. [[Categoria:Naturais de Lisboa]] [[Categoria:Alumni da Universidade de Coimbra]] [[Categoria:Embaixadores de Portugal no Reino Unido]] [[Categoria:Embaixadores de Portugal na Alemanha]] [[Categoria:Embaixadores de Portugal na Áustria]] [[Categoria:Maçons de Portugal]] [[Categoria:Maçons do século XVIII]] [[Categoria:Académicos de Portugal]] [[Categoria:Pessoas do Brasil Colonial]] [[Categoria:Primeiros-ministros de Portugal]] [[Categoria:Conselheiros do Reino de Portugal]] [[Categoria:Comendadores da Ordem de Cristo]] [[Categoria:História de Lisboa]] [[Categoria:Processo dos Távoras]] [[Categoria:Condes de Oeiras]] [[Categoria:Marqueses de Pombal]] [[Categoria:Liberais clássicos]]
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Misticismo
Misticismo Misticismo (do grego μυστικός, transliterado "mystikos", "um iniciado em uma religião de mistérios") é o contato com uma verdade espiritual, divindade ou Deus através da experiência direta ou intuitiva. No livro de Jakob Böhme "O Príncipe dos Filósofos Divinos", o misticismo se define como um tipo de religião que enfatiza a atenção imediata da relação direta e íntima com Deus, ou com a espiritualidade, com a consciência da Divina Presença. É a religião em seu mais apurado e intenso estágio de vida. O iniciado que alcançou o "segredo" é chamado um "místico". Os antigos cristãos empregavam a palavra "contemplação" para designar a experiência mística. Visão geral. A palavra "místico" foi empregada pela primeira vez no Mundo Ocidental nos escritos atribuídos a Dionysius, o Areopagite, que apareceu no final do século V. Dionysius empregou a palavra para expressar um tipo de "teologia", mais do que uma experiência. Para ele e para muitos intérpretes, desde então, o misticismo tem se baseado em uma teoria ou sistema religioso que concebe Deus como absolutamente transcendente, além da Razão, do pensamento, do intelecto e de todos os processos mentais. A palavra, desde então, tem sido usada para os tipos de "conhecimento" esotérico e teosófico, não suscetíveis de verificação. A essência do misticismo é a experiência da comunicação direta com Deus. A palavra "misticismo" tem origem no termo grego μυστικός = "iniciado" (nos Mistérios de Elêusis, μυστήρια = "mistérios", referindo-se as "Iniciações"). É a busca para alcançar comunhão ou identidade consigo mesmo, com o divino, com a Verdade espiritual, ou com Deus através da experiência direta, intuição ou "insight"; e a crença de que tal experiência é uma fonte importante de conhecimento, entendimento e sabedoria. As tradições podem incluir a crença na existência literal de realidades empíricas, além da percepção, ou a crença de que uma "verdadeira" percepção humana do mundo transcende o raciocínio lógico ou a compreensão intelectual. O termo "misticismo" é, frequentemente, usado para se referir a crenças que são externas a uma religião ou corrente principal, mas relacionadas ou baseadas numa doutrina religiosa da corrente principal. Por exemplo, Kabala é a seita mística dominante do judaísmo, sufismo é a seita mística do Islã e gnosticismo refere geralmente a várias seitas místicas que surgiram como alternativas ao cristianismo. Enquanto religiões do Oriente tendem a achar o conceito de misticismo redundante, e o conhecimento tradicional e ritual são considerados como esotéricos: por exemplo, vajrayana e budismo. Definições. Uma definição de misticismo não poderia ser ao mesmo tempo significativa e de abrangência suficiente para incluir todos os tipos de experiências, que têm sido descritas como "místicas". Por definição natural, misticismo é a crença através da prática, estudo e aplicação das leis que unem o homem à Natureza. Desta forma, a mística se distingue da religião por referir-se à experiência direta com o divino, transcendendo sem a necessidade de intermediários. Na teologia. Conjunto de práticas religiosas que levam à contemplação dos atributos divinos. Estado natural ou disposição para as coisas místicas, religiosas; religiosidade. História do termo. Mundo helenístico. No mundo helenístico, a palavra "místico" se referia a rituais religiosos secretos, como os Mistérios de Elêusis. O uso do termo não tinha ligações diretas com o transcendental. Um "mystikos" era um iniciado em uma religião de mistério. Cristianismo primitivo. No cristianismo primitivo, a palavra "mystikos" se referia a três dimensões, que logo se confundiramː a bíblica, a litúrgica e a espiritual ou contemplativa. A dimensão bíblica se refere a interpretações alegóricas ou secretas da Bíblia. A dimensão litúrgica se refere ao mistério litúrgico da eucaristia, ou seja, à presença de Cristo na eucaristia. A terceira dimensão é o conhecimento experimental ou contemplativo de Deus. Até o século VI, o termo grego "theoria", significando "contemplação" em latim, era usado para a interpretação mística da Bíblia. A ligação entre misticismo e a visão do divino foi introduzida pelos primeiros Padres da Igreja, que usavam o termo como um adjetivo, como em "teologia mística" e "contemplação mística". Sob a influência do Pseudo-Dionísio, o Areopagita, a teologia mística passou a significar a investigação da verdade alegórica da Bíblia, e "a consciência espiritual do Absoluto inefável além da teologia dos nomes divinos". A teologia negativa do Pseudo-Dionísio exerceu uma grande influência na religiosidade monástica medieval. Ela foi influenciada pelo neoplatonismo, e foi muito influente na teologia da Igreja Ortodoxa. No cristianismo ocidental, foi uma contracorrente à teologia que prevaleceu, a teologia positiva. "Theoria" permitiu que os Padres da Igreja percebessem camadas de sentido na Bíblia que escapavam a uma abordagem puramente científica ou empírica à interpretação. Os Padres de Antioquia, em particular, viram um duplo sentido (literal e espiritual) em todas as passagens da Escritura. Posteriormente, "theoria" ou contemplação passou a se distinguir da vida intelectual, levando θεωρία ou "contemplatio" a se identificar com uma forma de oração distinta da oração discursiva do Oriente e do Ocidente. Sentido medieval. Esse triplo sentido de "místico" continuou na Idade Média. De acordo com Dan Merkur, a expressão "unio mystica" surgiu no século XIII como um sinônimo para "casamento espiritual", ou êxtase, que era experimentado quando a oração era usada "para contemplar tanto a onipresença de Deus no mundo quanto Deus em sua essência". Sob a influência do Pseudo-Dionísio, o Areopagita, a teologia mística passou a denotar a investigação da verdade alegórica da Bíblia, e "a consciência espiritual do Absoluto inefável além da teologia dos nomes divinos". A teologia negativa do Pseudo-Dionísio exerceu uma grande influência na religiosidade monástica medieval, embora ela fosse uma religiosidade predominantemente masculina, pois não era permitido que as mulheres estudassem. Ela foi influenciada pelo neoplatonismo, e foi muito influente na teologia da Igreja Ortodoxa. No cristianismo ocidental, foi uma contracorrente à teologia que prevaleceu, a teologia positiva. É mais conhecida atualmente no mundo ocidental graças a Mestre Eckhart e a João da Cruz. Sentido moderno inicial. Nos séculos XVI e XVII, "misticismo" passou a ser usado como um substantivo. Essa mudança se ligou a um novo discurso, no qual ciência e religião eram separadas. Martinho Lutero dispensou a interpretação alegórica da Bíblia, e condenou a teologia mística, que ele via mais como platônica do que cristã. O místico, enquanto procura pelo significado oculto dos textos, se tornou secularizado, e também associado com a literatura, em oposição à ciência e à prosa. A ciência também se distinguiu da religião. Por volta de meados do século XVII, o místico passou a ser aplicado apenas ao âmbito religioso, separando religião e "filosofia natural" como duas abordagens distintas da descoberta do sentido oculto do universo. As hagiografias tradicionais e os escritos dos santos passaram a ser designados como "místicos", indo de virtudes e milagres até experiências extraordinárias e estados mentais, criando por conseguinte a nova expressão "tradição mística". Uma nova compreensão do divino como residindo dentro do ser humano, uma essência além da variedade das expressões religiosas. Sentido contemporâneo. O século XIX viu uma crescente ênfase na experiência individual, como uma defesa contra o crescente racionalismo da sociedade ocidental. O significado de "misticismo" foi consideravelmente reduzidoː Sob a influência da filosofia perene, que se popularizou tanto no oriente quanto no ocidente pelo unitarismo, transcendentalismo e teosofia, o termo "misticismo" foi aplicado a um amplo espectro de tradições religiosas, no qual todos os esoterismos e tradições e práticas religiosas são reunidos. O termo "misticismo" foi estendido para fenômenos comparáveis em religiões não cristãs, onde ele influenciou a resposta do budismo e do hinduísmo ao colonialismo, resultando no neovedanta e no modernismo budista. No uso contemporâneo, o termo "misticismo" se tornou um termo generalista para vários tipos de visões de mundo não racionais, parapsicologia e pseudociência. William Harmless chega a afirmar que o misticismo se tornou "um termo genérico para esquisitice religiosa". Dentro do estudo acadêmico de religião, a "inequívoca convergência" se tornou "opaca e controversa". O termo "misticismo" está sendo usado de maneiras diferentes em diferentes tradições. Alguns chamam a atenção para a fusão entre misticismo e termos correlatos, como espiritualidade e esoterismo, e apontam as diferenças entre várias tradições. Variações de misticismo. Baseado em várias definições de misticismo, principalmente misticismo como uma experiência de união ou de vazio, misticismo como um estado alterado de consciência que é adquirido de uma forma religiosa, misticismo como uma visão ou intuição, e misticismo como uma via de transformação, misticismo pode ser encontrado em várias culturas e tradições religiosas, tanto em religiões populares quanto em religiões organizadas. Essas tradições incluem práticas que induzem a experiências místicas ou religiosas, mas também padrões éticos e práticas para fortalecer o autocontrole e integrar a experiência mística na vida diária. Dan Merkur observa, no entanto, que as práticas místicas são sempre separadas das práticas religiosas diárias, e são restritas a "especialistas religiosos como monges, sacerdotes e renunciantes". Misticismo ocidental. Religião de mistérios. Os mistérios de Elêusis eram cerimônias anuais de iniciação aos cultos de Deméter e Perséfone. Eram realizados secretamente em Elêusis, perto de Atenas, na Grécia Antiga. Os mistérios começaram por volta de 1600 a.C., na civilização micênica, e continuaram por 2 000 anos, se tornando um grande festival durante o período helenístico, e posteriormente se expandindo para Roma. Numerosos acadêmicos propuseram que o poder dos mistérios de Elêusis vinha da ingestão da bebida ciceona ("kykeon)" como substância enteógena. Misticismo cristão. Cristianismo primitivo. A teologia negativa do Pseudo-Dionísio, o Areopagita (século VI), exerceu uma grande influência na religiosidade monástica medieval, tanto no oriente quanto (por tradução para o latim) no ocidente. O Pseudo-Dionísio aplicou o pensamento neoplatônico, particularmente o de Proclo, à teologia cristã. Cristianismo ortodoxo. A Igreja Ortodoxa possui uma longa tradição de "theoria" (experiência íntima) e "hesychia" (quietude interior), na qual a oração contemplativa silencia a mente para se progredir no caminho da "theosis" (deificação). "Theosis", unidade prática e conformidade com Deus, é obtida pelo engajamento na oração contemplativa, o primeiro estágio de "theoria", que resulta do cultivo de vigilância ("nepsis"). Em "theoria", se contemplam as "divisivelmente indivisíveis" operações divinas ("energeia") como a "luz incriada" da transfiguração de Jesus, uma graça que é eterna e procede naturalmente da escuridão ofuscante da incompreensível essência divina. É o principal objetivo do hesicasmo, que se desenvolveu no pensamento de Simão, o Novo Teólogo, abraçado pelas comunidades monásticas do Monte Atos, e defendido principalmente por Gregório Palamas contra o filósofo humanista grego Barlaão de Seminara. De acordo com críticos da Igreja Católica, a prática do hesicasmo tem suas raízes na introdução de uma abordagem prática sistemática do quietismo por Simão, o Novo Teólogo. Simão acreditava que a experiência direta dava, aos monges, autoridade para pregar e absolver pecados, sem a necessidade de ordenação formal. Enquanto as autoridades da Igreja também ensinavam de uma perspectiva filosófica e especulativa, Simão ensinava a partir de sua própria experiência mística individual, e encontrou grande resistência à sua abordagem carismática e ao seu apoio à experiência individual da graça de Deus. Europa ocidental. A alta Idade Média viu o florescimento da prática mística e da teorização no catolicismo romano ocidental, correspondendo ao florescimento de novas ordens monásticas, com figuras como Guigo II, Hildegarda de Bingen, Bernardo de Claraval e as vitorinas, todos vindos de diferentes ordens, assim como o primeiro real florescimento da piedade popular entre o público leigo. A baixa Idade Média testemunhou o embate entre as escolas de pensamento dominicana e francisca, que também foi um conflito entre duas teologias místicasː de um lado, Domingos de Gusmão; do outro, Francisco de Assis, Santo António de Lisboa, Boaventura e Ângela de Foligno. Esse período também viu indivíduos como Jan van Ruusbroec, Catarina de Siena e Catarina de Gênova, a "Devotio Moderna", e livros como "Theologia Germanica", A Nuvem do Não Saber e A Imitação de Cristo. Além disso, houve o crescimento de grupos de místicos centrados em regiões geográficasː as beguinas, como Matilda de Magdeburgo e Hadewijch de Antuérpia; os místicos renanos Mestre Eckhart, Johann Tauler e Henrique Suso; e os místicos ingleses Richard Rolle, Walter Hilton e Juliana de Norwich. Entre os místicos espanhóis, incluem-se Teresa de Ávila, João da Cruz e Inácio de Loyola. O posterior período pós-Reforma Protestante também viu os escritos de visionários leigos como Emanuel Swedenborg e William Blake, e a fundação de movimentos místicos como os "Quaker". O misticismo católico continuou no período moderno com figuras como Padre Pio e Thomas Merton. A Filocália, um antigo método místico da Igreja Ortodoxa, foi promovido pela escola perenialista, do século XX. A obra supostamente psicografada Um Curso em Milagres representa uma mistura de ideias cristãs não denominacionais e da Nova Era. Esoterismo ocidental e espiritualidade moderna. Muitas tradições esotéricas ocidentais e elementos de espiritualidade moderna foram chamados de "misticismo", como o gnosticismo, o quarto caminho, o transcendentalismo, a teosofia e o neopaganismo. A espiritualidade ocidental moderna e a psicologia transpessoal combinam práticas psicoterapêuticas ocidentais com práticas religiosas como meditação para obter uma transformação duradoura. O misticismo natural é uma intensa experiência de unificação com a natureza ou com a totalidade cósmica, e era popular entre os escritores românticos. Misticismo judaico. Na era comum, o judaísmo adquiriu dois tipos principais de misticismoː "merkabah" e cabala. O primeiro precedeu o segundo, e focava em visões, particularmente as mencionadas no livro de Ezequiel. Deriva seu nome da palavra hebraica que significa "carruagem", uma referência à visão de Ezequiel de uma carruagem de fogo composta por seres celestiais. A cabala é um conjunto de ensinamentos esotéricos que visa a explicar o relacionamento entre um "Ain Soph" ("Sem Fim") imutável, eterno e misterioso e o universo finito e mortal (sua criação). Dentro do judaísmo, forma as bases da interpretação religiosa mística. A cabala se desenvolveu originalmente inteiramente dentro do âmbito do pensamento judaico. Os cabalistas, frequentemente, usam fontes clássicas judaicas para explicar e demonstrar seus ensinamentos esotéricos. Esses ensinamentos, então, são mantidos por seguidores no judaísmo para definir o significado interior tanto da Bíblia hebraica quanto da literatura rabínica tradicional, bem como sua dimensão transmitida anteriormente oculta, e para explicar o significado das observâncias religiosas judaicas. A cabala emergiu, depois de formas iniciais de misticismo judaico, nos séculos XII e XIII no sul da França e Espanha, sendo reinterpretada na renascença mística judaica do século XVI na Palestina Otomana. Foi popularizada na forma do judaísmo chassídico do século XVIII em diante. No século XX, o interesse pela cabala inspirou um reavivamento judaico interdenominacional e contribuiu para ampliar a espiritualidade contemporânea não judaica, e também serviu para engajar seu florescimento e reênfase histórica através da investigação acadêmica recentemente estabelecida. Misticismo islâmico. Considera-se que o sufismo é a dimensão interior e mística do islã. Clássicos acadêmicos sufistas definiram sufismo comoː Um praticante dessa tradição é, atualmente, conhecido como um "ṣūfī" (صُوفِيّ), ou, num uso anterior, um dervixe. A origem da palavra "sufi" é ambígua. Uma interpretação diz que "sufi" significa "aquele que veste lã"; durante o islamismo inicial, existiam ascetas piedosos que se vestiam de lã e se retiravam da vida urbana. Uma outra explicação é que a palavra "sufi" significa "pureza". Geralmente, os sufis pertencem a uma "khalqa", um círculo ou grupo, liderado por um "Sheikh" ou "Murshid". Os círculos sufis, geralmente, pertencem a uma "tariqa", que é a ordem sufi. Cada uma tem uma "silsila", que é a linhagem espiritual, que registra sua sucessão desde notáveis sufis do passado, até chegar ao último profeta, Maomé, ou a um de seus colaboradores mais próximos. Os "turuq" (plural de "tariqa") não ficam confinados como as ordens monásticas cristãs; seus membros mantêm uma vida externa. O pertencimento a uma ordem sufi segue as linhagens familiares. Os encontros podem ou não ser segregados, de acordo com o costume prevalecente na sociedade circundante. A fé muçulmana é sempre um pré-requisito para a entrada. A prática do sufismo incluiː Os objetivos do sufismo incluemː a experiência de estados de êxtase ("hal"), purificação do coração ("qalb"), a vitória sobre o eu inferior ("nafs"), extinção da personalidade individual ("fana"), comunhão com Deus ("haqiqa"), e conhecimento superior ("marifat"). Algumas crenças e práticas sufis foram consideradas não ortodoxas por outros muçulmanos; por exemplo, Almançor Alhalaje foi executado por blasfêmia depois de proferir a frase "Ana'l Haqq" ("eu sou a verdade" (isto é, Deus)) durante um transe. Alguns sufistas clássicos notáveis foramː Ibn Arabi, Jalaladim Maomé Rumi, Attar de Nixapur, Sultan Bahoo, Saíde Sadique Ali Huceini, Saadi de Xiraz e Hafez, todos eles grandes poetas da língua persa. Omar Caiam, Algazali e Ibn Arabi foram renomados acadêmicos. Abdalcáder Guilani, Moinuddin Chishti, Bahauddin Naqshband e Rumi fundaram grandes ordens. Rabia de Baçorá foi a mais proeminente sufi mulher. O sufismo teve o primeiro contato com o mundo judaico-cristão durante a ocupação moura da Espanha. Ocorreu uma reavivamento do interesse pelo sufismo em países não muçulmanos durante a era moderna, liderado por figuras como Inayat Khan, Idries Shah (ambos no Reino Unido), René Guénon (França) e Ivan Aguéli (Suécia). O sufismo também tem estado presente há muito tempo em países asiáticos de maioria não muçulmana, como a Índia e a China. Religiões indianas. Hinduísmo. No hinduísmo, vários "Sadhana" têm, como objetivo, vencer a ignorância ("avidhya") e transcender a identificação limitada com o corpo, mente e ego, para obter a "moksha". O hinduísmo tem várias tradições ascéticas e escolas filosóficas interconectadas que têm, como objetivos, a "moksha" e a aquisição de poderes superiores. Com o início da colonização britânica da Índia, essas tradições passaram a ser interpretadas em termos ocidentais como "misticismo", encontrando termos e práticas ocidentais equivalentes. Ioga são práticas e disciplinas físicas, mentais e espirituais que visam a obter um estado de paz permanente. Várias tradições de ioga são encontradas no hinduísmo, budismo e jainismo. Os Ioga Sutras definem ioga como "a tranquilização dos estados mutáveis da mente", a qual é obtida no samádi. O vedanta clássico fornece interpretações filosóficas e comentários sobre os Upanixades, uma vasta coleção de hinos antigos. São conhecidas no mínimo dez escolas de vedanta, das quais Advaita Vedânta, Vishishtadvaita e Dvaita são as mais conhecidas. Advaita Vedânta, como exposto por Shânkara, afirma que não existe diferença entre atman e bramã. A mais conhecida subescola é Kevala Vedanta ou mayavada, como exposto por Shânkara. Advaita Vedânta adquiriu uma ampla aceitação na cultura indiana e fora dela como o exemplo paradigmático da espiritualidade hindu. Em contraste, o Bhedabheda-Vedanta enfatiza que o atmã e o bramã são, ao mesmo tempo, iguais e diferentes entre si, enquanto o Dvaita Vedanta afirma que o atmã e Deus são, fundamentalmente, diferentes. Nos tempos modernos, os Upanixades foram interpretados pelo neovedanta como sendo "místicos". Várias tradições xivaítas são, fortemente, não dualísticas, como o xivaísmo de Cachemira e o Shaiva Siddhanta. Tantra. Tantra é o nome dado por acadêmicos a um estilo de meditação e ritual que surgiu na Índia não após o século V. O tantra influenciou as tradições hindus, Bön, budistas e jainistas e se espalhou com o budismo para o leste e sudeste da Ásia. O ritual tântrico procura procura acessar o supramundano através do mundano, identificando o microcosmo com o macrocosmo. O objetivo do tantra é sublimar (mais do que negar) a realidade. O praticante do tantra objetiva usar o prana (energia que flui através do universo, inclusive através do corpo do praticante) para realizar metas espirituais, materiais, ou ambas. A prática do tantra inclui visualização de divindades, mantras e mandalas. Também pode incluir práticas sexuais e antinomianas. Tradição dos santos e siquismo. O misticismo, no darma sique, começou com seu fundador, Guru Nanak, que, quando criança, teve profundas experiências místicas. Guru Nanak enfatizou que Deus precisa ser visto com o "olho interior", ou o "coração", do ser humano. Guru Arjan, o quinto guru sique, adicionou vários místicos de outras religiões no "Guru Granth Sahib". O objetivo do siquismo é tornar-se um com Deus. Os siques meditam como um meio de progredir rumo à iluminação; a meditação "simran" possibilita uma espécie de comunicação entre o infinito e a finita consciência humana. Não há concentração da respiração, mas principalmente a lembrança de Deus através da recitação do nome de Deus e da rendição à presença de Deus, sempre metaforizada como rendição aos pés do Senhor. Budismo. De acordo com Oliver, o budismo é místico no sentido de que ele objetiva uma identificação com a verdadeira natureza do ser, e viver de acordo com isso. O budismo se originou na Índia, entre os séculos VI e IV a.C., mas atualmente é praticado majoritariamente em outros países, onde se desenvolveu em várias tradições, as principais sendo o teravada, maaiana e "vajrayana". O budismo objetiva a liberação do ciclo de renascimentos através do autocontrole, obtido através da meditação e do comportamento correto. Alguns caminhos budistas objetivam o desenvolvimento e transformação gradual da personalidade rumo ao nirvana, como nos Quatro Estágios da Iluminação do teravada. Outros, como a tradição japonesa do zen rinzai, enfatizam a iluminação repentina, mas também prescrevem treino intensivo, com meditação e autocontenção. Embora o teravada não reconheça a existência de um Absoluto teístico, ele postula um nirvana como uma realidade transcendente que pode ser atingida. Ele ainda enfatiza a transformação da personalidade através da prática meditativa, autocontenção e comportamento moralmente correto. De acordo com Richard H. Jones, o teravada é uma forma de misticismo no qual a estruturação conceitual das experiências é enfraquecida, e o senso ordinário do si mesmo é enfraquecido. É mais conhecido no ocidente através do movimento Vipassana e de ramos do budismo teravada de Myanmar, Laos, Tailândia e Sri Lanka, e inclui professores budistas dos Estados Unidos como Joseph Goldstein e Jack Kornfield. A escola maaiana yogacara investiga o funcionamento da mente, afirmando que somente a mente ("citta-mātra") ou as representações que nós conhecemos ("vijñapti-mātra") realmente existem. No pensamento budista maaiana posterior, que sofreu uma reviravolta idealista, a mente não modificada passou a ser vista como pura consciência, da qual tudo emerge. "Vijñapti-mātra", junto com a natureza de Buda ou "tathagatagarba", foi um conceito influente no subsequente desenvolvimento do budismo maaiana, não apenas na Índia, mas também na China e no Tibete, principalmente nas tradições zen e Dzogchen. O zen chinês e japonês se funda na compreensão chinesa da natureza de Buda como sendo a essência de todo ser, e na doutrina das duas verdades como sendo uma polaridade entre a realidade absoluta e a realidade relativa. O zen objetiva uma intuição da verdadeira natureza do ser, ou natureza de buda, consequentemente manifestando a realidade absoluta na realidade relativa. No soto, essa natureza de buda é apresentada como sendo sempre presente, e "shikantaza", a meditação sentada, é a expressão da já existente budeidade. O zen rinzai enfatiza a necessidade de uma nova intuição dessa natureza de buda, mas também enfatiza que uma prática mais intensa é necessária para aprofundar essa visão e expressá-la na vida cotidiana, como expresso nos Três Portões Misteriosos de Linji Yixuan, nos Quatro Caminhos de Conhecimento de Hakuin Ekaku, e nas Dez Cenas de Pastoreio. O acadêmico japonês de zen Daisetsu Teitaro Suzuki notou similaridades entre o budismo zen e o misticismo cristão, especialmente o mestre Eckhart. A tradição tibetana "vajrayana" se baseia na filosofia "madhyamaka" e no tantra. Na ioga divina, visualizações de deidades são, eventualmente, dissolvidas, de modo a realizar o inerente vazio de tudo que existe. O "dzogchen", que se baseia tanto na escola de budismo tibetano "nyingma" quanto na tradição "bön", foca na visão direta de nossa real natureza. Ele assegura que a "natureza da mente" se manifesta quando alguém alcança a iluminação, se tornando consciente não conceitualmente ("rigpa", "presença aberta") da sua própria natureza, "um reconhecimento da sua própria natureza sem princípio". O "mahamudra" tem similaridades com o "dzogchen", enfatizando a abordagem meditacional para a intuição e a liberação. Taoismo. A filosofia taoista centra-se no "tao", usualmente traduzido como "caminho", um inefável princípio cósmico. Os contrastantes porém interdependentes conceitos de "yin" e "yang" também simbolizam harmonia, com as escrituras taoistas sempre enfatizando as virtudes "yin" da feminilidade, passividade e cessão. A prática taoista inclui exercícios e rituais que objetivam manipular a energia vital "qi", e obter saúde e longevidade. Isso redundou em práticas que são bem conhecidas no ocidente, como o "tai chi chuan". A secularização do misticismo. Atualmente, também está ocorrendo, no ocidente, aquilo que Richard Jones chama de "secularização do misticismo". É a separação da meditação e outras práticas místicas de seu uso tradicional em modos religiosos de vida, para serem utilizadas apenas com finalidades seculares, relacionadas a benefícios fisiológicos e psicológicos. Abordagens acadêmicas do misticismo e das experiências místicas. Tipos de misticismo. Robert Charles Zaehner distingue três tipos fundamentais de misticismoː teístico, monístico e natural. A categoria teística inclui a maior parte das formas de misticismo judeu, cristão e muçulmano e alguns exemplos ocasionais hindus, como Ramanuja e o "Bhagavad Gita". O tipo monístico, que, de acordo com Zaehner, se baseia numa experiência de unidade com a alma de uma pessoa, inclui escolas budistas e hindus como o sânquia e o Advaita Vedânta. O misticismo natural parece se referir a exemplos que não se encaixam em nenhuma das duas categorias precedentes. Walter Terence Stace, no seu livro "Misticismo e filosofia" (1960), distinguiu dois tipos de experiência místicaː misticismo extrovertido e misticismo introvertido. Misticismo extrovertido é uma experiência de unidade do mundo externo, enquanto o misticismo introvertido é "uma experiência de unidade desprovida de objetos perceptíveis; é, literalmente, a experiência do nada". A unidade no misticismo extrovertido é com a totalidade dos objetos perceptíveis. Enquanto a percepção permanece contínua, "a unidade brilha através do mesmo mundo"; a unidade no misticismo introvertido é com a consciência pura, desprovida de objetos perceptíveis, "pura consciência unitária, em que a consciência do mundo e da multiplicidade é, completamente, obliterada". De acordo com Stace, tais experiências são não sensuais e não intelectuais, sob uma total "supressão de todo conteúdo empírico". Stace argumenta que as diferenças doutrinárias entre as tradições religiosas são critérios inapropriados quando se fazem comparações interculturais entre experiências místicas. Stace argumenta que misticismo é parte de um processo de percepção, não interpretação, o que significa que a unidade das experiências místicas é percebida, e só depois é interpretada de acordo com o histórico do observador. Isso pode resultar em diferentes registros do mesmo fenômeno. Enquanto um ateu descreve a unidade como "libertação do recheio empírico", uma pessoa religiosa pode descrevê-la como "Deus" ou "o Divino". Experiências místicas. Desde o século XIX, experiência mística evoluiu como um conceito distinto. É relacionado estreitamente com "misticismo", mas enfatiza apenas o aspecto da experiência, seja ela espontânea ou induzida por comportamento humano, enquanto o misticismo abrange um maior espectro de práticas que objetivam a transformação da pessoa, não apenas a indução de experiências místicas. As Variedades da Experiência Religiosa, de William James, é o livro clássico sobre experiências místicas ou religiosas. Ele influenciou, profundamente, tanto a compreensão popular quanto a acadêmica sobre "experiência religiosa". Ele popularizou o uso da expressão "experiência religiosa", e influenciou a compreensão do misticismo como uma experiência distinta que fornece conhecimento do transcendentalː Ainda, Gelman nota que a assim chamada "experiência mística" não é um evento transitório, como William James defendia, mas uma "permanente consciência, acompanhando a pessoa ao longo do dia, ou partes dele. Por essa razão, talvez seja melhor falar de consciência mística, que pode ser tanto fugaz como permanente". A maior parte das tradições místicas alerta contra o apego às experiências místicas, e oferece "uma protetora e hermenêutica estrutura" para acomodar essas experiências. Essas mesmas tradições oferecem os meios para induzir experiências místicas, que podem ter diversas origensː O estudo teórico da experiência mística deslocou-se de uma abordagem experiencial, privada e perenialista para uma abordagem contextual e empírica. A abordagem experientalista vê a experiência mística como a expressão privada de verdades perenes, separadas de seu contexto histórico e cultural. A abordagem contextual, que inclui construcionismo e teoria de atribuição, leva, em conta, o contexto histórico e cultural. A pesquisa neurológica segue uma abordagem empírica, relacionando experiências místicas com processos neurológicos. Perenialismo "versus" construcionismo. A expressão "experiência mística" evoluiu como um conceito distinto a partir do século XIX, enfatizando apenas o aspecto experiencial, seja ele espontâneo, seja ele induzido por comportamento humano. Os perenialistas consideram que essas várias tradições experienciais apontam para uma realidade transcendente universal, de que essas tradições são a prova. Nesta abordagem, as experiências místicas são privadas, separadas do contexto da qual emergem. Representantes bem-conhecidos são William James, R.C. Zaehner, William Stace e Robert Forman. A posição perene é "largamente desconsiderada pelos acadêmicos", mas "não perdeu nada de sua popularidade". Em contraste, desde o final do século XX, a maioria dos acadêmicos tem apoiado uma abordagem construcionista, que afirma que as experiências místicas são totalmente construídas por ideias, práticas e símbolos familiares aos místicos. Críticos da expressão "experiência religiosa" observam que a noção de "experiência religiosa" ou "experiência mística" como marco da verdade religiosa é um desenvolvimento moderno, e pesquisadores contemporâneos de misticismo observam que as experiências místicas são formadas por conceitos "que o místico traz e que moldam sua experiência". O que é experimentado é determinado pelas expectativas e pelo histórico conceitual do místico. Richard Jones traça uma distinção entre "anticonstrutivismo" e "perenialismo"ː construtivismo pode ser rejeitado no que diz respeito a certa classe de experiências místicas sem a atribuição a uma filosofia perenialista. Se pode rejeitar o construtivismo sem ter de argumentar que as experiências místicas revelam uma intercultural "verdade perene". Por exemplo, um cristão pode rejeitar tanto o construtivismo quanto o perenialismo argumentando que existe uma união com Deus livre de construções culturais. A oposição entre construtivismo e anticonstrutivismo diz respeito à natureza das experiências místicas, enquanto o perenialismo diz respeito às tradições místicas e as tradições que eles esposam. Contextualismo e teoria da atribuição. Atualmente, a posição perenialista é "largamente rejeitada pelos acadêmicos", e a abordagem contextual se tornou a abordagem comum. O contextualismo leva, em conta, o contexto histórico e cultural das experiências místicas. A abordagem atributiva vê a "experiência mística" como estados não ordinários de consciência, que são explicados em uma estrutura religiosa. De acordo com Proudfoot, os místicos, inconscientemente, apenas atribuem um conteúdo doutrinário a experiências ordinárias. Ou seja, os místicos projetam conteúdo cognitivo em experiências de outro modo ordinárias que têm um forte impacto emocional. Essa abordagem foi mais desenvolvida por Ann Taves, em sua obra "Experiência religiosa reconsiderada". Ela incorpora tanto a abordagem cultural quanto a neurológica em seu estudo da experiência mística. Pesquisa neurológica. A pesquisa neurológica possui uma abordagem empírica, relacionando experiências místicas a processos neurológicos. Isso leva a uma questão filosófica centralː a identificação dos gatilhos neuronais ou correlatos neurais das experiências místicas prova que as experiências místicas são apenas eventos cerebrais, ou ela apenas identifica a atividade cerebral que ocorre durante um evento cognitivo genuíno? As posições mais comuns são que a neurologia reduz as experiências místicas ou que a neurologia é neutra quanto à cognitividade mística. O interesse em experiências místicas e drogas psicodélicas viu um ressurgimento recentemente. O lobo temporal parece estar envolvido nas experiências místicas e na mudança de personalidade que pode resultar de tais experiências. Ele gera a sensação de "eu", e dá a sensação de familiaridade ou estranhamento às percepções dos sentidos. Existe uma noção de longa data de que epilepsia e religião estão ligadas, e existem algumas figuras religiosas que podem ter sofrido de epilepsia do lobo temporal. O lobo da ínsula pode estar envolvido com a inefabilidade, um poderoso sentimento de certeza que não pode ser expresso através de palavras, o que é uma qualidade comum às experiências místicas. De acordo com Picard, esse sentimento de certeza pode ser causado por uma disfunção do lobo da ínsula, uma parte do cérebro que está envolvida com a interocepção, autorreflexão e em evitar incerteza sobre as representações internas do mundo através da "antecipação da resolução da incerteza ou risco". Misticismo e moralidade. Uma questão filosófica no estudo do misticismo é a relação do misticismo com a moralidade. Albert Schweitzer apresentou a clássica opinião de que misticismo e moralidade são incompatíveis. Arthur Danto argumentou que a moralidade é incompatível ao menos com o misticismo indiano. Walter Stace, por outro lado, argumentou que misticismo e moralidade são não apenas compatíveis, mas o misticismo também é a fonte e a justificação da moralidade. Outros que estudaram múltiplas tradições místicas concluíram, no entanto, que a relação entre misticismo e moralidade não é tão simples assim. Richard King também apontou para a disjunção entre "experiência mística" e justiça socialː
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Médio Tejo (sub-região)
Médio Tejo (sub-região) O Médio Tejo é uma sub-região portuguesa situada no centro do país, pertencendo à região do Centro. Tem uma extensão total de 2.283 km2, 228.604 habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 100 habitantes por km2. Está composta por 13 municípios e 93 freguesias, sendo a cidade de Tomar a cidade administrativa e um dos principais núcleos urbanos da sub-região. Com 16.932 habitantes na sua área urbana e 36.414 habitantes em todo o município, é a segunda maior cidade, a seguir do Entroncamento com 20.141 habitantes, e o segundo maior município do Médio Tejo, a seguir de Ourém com 44.576 habitantes em todo o município, sendo limitada a noroeste com a Região de Leiria, a norte com a Região de Coimbra, a leste com a Beira Baixa, a sudeste com o Alto Alentejo e a sudoeste com a Lezíria do Tejo. Divisões. A sub-região é composta por 13 municípios, 93 freguesias e seis cidades: Municípios. O Médio Tejo divida-se nos seguintes 13 municípios: Freguesias. O Médio Tejo divida-se nas seguintes 93 freguesias: Cidades. O Médio Tejo compreende as seguintes seis cidades: Demografia. Habitantes. Nos censos de 2021, o Médio Tejo registou 228.604 habitantes e uma densidade populacional de 100 habitantes por km2, sendo assim a 16° sub-região mais populosa e a 13° mais densa populada de Portugal. Dentro da Região do Centro, a qual pertence, é a 6° sub-região mais populosa e a 5° mais densa. Municípios. O Médio Tejo compreende 13 municípios, sendo os maiores municípios, em termos populacionais, Ourém com perto de 45 mil habitantes, Tomar com mais de 35 mil habitantes, Abrantes e Torres Novas com ambas perto de 35 mil habitantes e Entroncamento com mais de 20 mil habitantes. Na densidade populacional, o Entroncamento com 1.467 habitantes por km2, e o município mais denso de todo o Médio Tejo, a seguir de Vila Nova da Barquinha com 142 habitantes por km2, Torres Novas com 126 habitantes por km2, Ourém com 107 habitantes por km2, e Tomar com 104 habitantes por km2. Cidades. O Médio Tejo compreende seis cidades, sendo as maiores cidades, em termos populacionais, o Entroncamento com mais de 20 mil habitantes, Tomar com perto de 17 mil habitantes, Abrantes e Torres Novas com ambas mais de 16 mil habitantes e Fátima com mais de 13 mil habitantes. Na densidade populacional, o Entroncamento com 1.467 habitantes por km2, e a cidade mais densa de todo o Médio Tejo, a seguir de Tomar com 557 habitantes por km2, Ourém com 353 habitantes por km2 e Torres Novas com 261 habitantes por km2. Dos 228.604 habitantes, que o Médio Tejo dispõe, cerca de 39% moram nas seis cidades, tendo 89.782 habitantes morando nas cidades da sub-região.
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Minho-Lima
Minho-Lima
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Muro de Berlim
Muro de Berlim Muro de Berlim (), nomeado oficialmente Muro de Proteção Antifascista () em 1961 pelo SED, foi uma barreira física construída pela Alemanha Oriental durante a Guerra Fria, que circundava toda a Berlim Ocidental. Era parte da fronteira interna alemã. Este muro, além de dividir a cidade de Berlim ao meio, simbolizava a divisão do mundo em dois blocos ou partes: República Federal da Alemanha (RFA), que era constituído pelos países capitalistas encabeçados pelos Estados Unidos; e a República Democrática Alemã (RDA), constituído pelos países socialistas sob jugo do regime soviético. Construído na madrugada de 13 de agosto de 1961, dele faziam parte 66,5 km de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas electrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Este muro era patrulhado por militares da Alemanha Oriental Socialista com ordens de atirar para matar (a célebre "Schießbefehl" ou "Ordem 101") os que tentassem escapar, o que provocou a separação de dezenas de milhares de famílias berlinenses. A distinta e muito mais longa fronteira interna alemã demarcava a fronteira entre a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental. Ambas as fronteiras passaram a simbolizar a chamada "cortina de ferro" entre a Europa Ocidental e o Bloco de Leste. Antes da construção do Muro, 3,5 milhões de alemães orientais tinham evitado as restrições de emigração do Leste socialista e fugiram para a Alemanha Ocidental, muitos ao longo da fronteira entre Berlim Oriental e Ocidental. Durante sua existência, entre 1961 e 1989, o Muro quase parou todos os movimentos de emigração e separou a Alemanha Oriental de Berlim Ocidental por mais de um quarto de século. Durante uma onda revolucionária de libertação ao comando de Moscou que varreu o Bloco de Leste, o governo da Alemanha Oriental anunciou em 9 de novembro de 1989, após várias semanas de distúrbios civis, que todos os cidadãos da RDA poderiam visitar a Alemanha Ocidental Capitalista e Berlim Ocidental. Multidões de alemães orientais subiram e atravessaram o muro juntando-se aos alemães ocidentais do outro lado, em uma atmosfera de celebração. Ao longo das semanas seguintes, partes do Muro foram destruídas por um público eufórico e por caçadores de "souvenirs". Mais tarde, equipamentos industriais foram usados para remover quase o todo da estrutura. A queda do Muro de Berlim abriu o caminho para a reunificação alemã que foi formalmente celebrada em 3 de outubro de 1990. Muitos apontam este momento também como o fim da Guerra Fria. O governo de Berlim incentiva a visita do muro derrubado, tendo preparado a reconstrução de trechos do muro. Além da reconstrução de alguns trechos, está marcado no chão o percurso que o muro fazia quando estava erguido. Antecedentes. Alemanha pós-guerra. Após a Segunda Guerra Mundial na Europa, o que restou da Alemanha nazista a oeste da linha Oder-Neisse foi dividido em quatro zonas de ocupação (por Acordo de Potsdam), cada um controlado por uma das quatro potências aliadas: os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a União Soviética. A capital, Berlim, enquanto a sede do Conselho de Controle Aliado, foi igualmente dividida em quatro sectores, apesar da cidade estar situada bem no interior da zona soviética. Em dois anos, ocorreram divisões entre os soviéticos e as outras potências de ocupação, incluindo a recusa dos soviéticos aos planos de reconstrução para uma Alemanha pós-guerra autossuficiente e de uma contabilidade detalhada das instalações industriais e infraestrutura já removidas pelos soviéticos. Reino Unido, França, Estados Unidos e os países do Benelux se reuniram para mais tarde transformar as zonas não-soviéticas do país em zonas de reconstrução e aprovar a ampliação do Plano Marshall para a reconstrução da Europa para a Alemanha. O Bloco de Leste e o Bloqueio de Berlim. Após a Segunda Guerra Mundial, o líder soviético Joseph Stalin construiu um cinturão protector da União Soviética em nações controladas em sua fronteira ocidental, o Bloco do Leste socialista, que então incluía Polónia, Hungria e Tchecoslováquia, que ele pretendia manter a par de um enfraquecido controle soviético na Alemanha. Já em 1945, Stalin revelou aos líderes alemães socialistas que esperava enfraquecer lentamente a posição Britânica em sua zona de ocupação, que os Estados Unidos iriam retirar sua ocupação dentro de um ano ou dois e que, em seguida, nada ficaria no caminho de uma Alemanha unificada sob controle socialista dentro da órbita soviética. A grande tarefa do Partido Comunista no poder na zona Soviética alemã foi abafar as ordens soviéticas através do aparelho administrativo e fingir para as outras zonas de ocupação que se tratavam de iniciativas próprias. Nesse período, a propriedade e a indústria foram nacionalizadas na zona de ocupação Soviética. Em 1948, após desentendimentos sobre a reconstrução e uma nova moeda alemã, Stálin instituiu o Bloqueio de Berlim, impedindo que alimentos, materiais e suprimentos pudessem chegar a Berlim Ocidental. Os Estados Unidos, Reino Unido, França, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e vários outros países começaram uma enorme "ponte aérea de Berlim", fornecendo alimentos e outros suprimentos à Berlim Ocidental. Os soviéticos montaram uma campanha de relações públicas contra a mudança da política Ocidental e socialistas tentaram perturbar as eleições de 1948, enquanto 300 mil berlinenses pediam para que o transporte aéreo internacional continuasse. Em maio de 1949, Stalin acabou com o bloqueio, permitindo a retomada dos embarques do Ocidente para Berlim. A República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) foi declarada em 7 de outubro de 1949, onde o Ministério de Negócios Estrangeiros Soviético concedeu autoridade administrativa a Alemanha Oriental, mas não sua autonomia, onde os soviéticos possuíam ilimitada penetração no regime de ocupação e nas estruturas de administração e de polícia militar e secreta. A Alemanha Oriental diferia da Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha), que se desenvolveu como um país Ocidental capitalista com uma economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft" em alemão) e um governo de democracia parlamentar. O crescimento económico contínuo a partir de 1950 da Alemanha Ocidental alimentou um "milagre económico" de 20 anos ("Wirtschaftswunder"). Enquanto a economia da Alemanha Ocidental cresceu e seu padrão de vida melhorou continuamente, muitos alemães orientais tentavam ir para a Alemanha Ocidental. Depois da ocupação soviética da Europa Oriental no final da Segunda Guerra Mundial, a maioria das pessoas que viviam nas áreas recém-adquiridas do Bloco Oriental aspiravam à independência e queriam que os soviéticos saíssem. Aproveitando-se da zona de fronteira entre as zonas ocupadas na Alemanha, o número de cidadãos da RDA que se deslocam para a Alemanha Ocidental totalizou 197 mil em 1950, 165 mil em 1951, 182 mil em 1952 e 331 mil em 1953. Uma das razões para o aumento acentuado em 1953 foi o medo de Sovietização mais intensa com as ações cada vez mais paranóicas de Joseph Stalin em 1952 e no início de 1953. 226 mil pessoas fugiram apenas nos primeiros seis meses de 1953. Histórico. Construção. Os planos da construção do muro eram um segredo do governo da Alemanha Socialista. Poucas semanas antes da construção, Walter Ulbricht, líder da RDA na época, respondeu assim à pergunta de uma jornalista da Alemanha Ocidental: Assim, Walter Ulbricht foi o primeiro político a referir-se a um "muro", dois meses antes da sua construção. Os governos ocidentais tinham recebido informações sobre planos drásticos, parcialmente por pessoas de conexão, parcialmente pelos serviços secretos. Sabia-se que Walter Ulbricht havia pedido a Nikita Khrushchov, numa conferência dos Estados do Pacto de Varsóvia, a permissão de bloquear as fronteiras a Berlim Ocidental, incluindo a interrupção de todas as linhas de transporte público. Depois desta conferência, anunciou-se que os membros do Pacto de Varsóvia intentassem "inibir os actos de perturbação na fronteira de Berlim Ocidental", e que propusessem implementar um guarda e controle efectivo. Dia 11 de Agosto, a Volkskammer confirmou os resultados desta conferência, autorizando o conselho dos ministros a tomar as medidas necessárias. O conselho dos ministros decidiu dia 12 de Agosto usar as forças armadas para ocupar a fronteira e instalar gradeamentos fronteiriços. Na madrugada do dia 13 de Agosto de 1961, as forças armadas bloquearam as conexões de trânsito a Berlim Ocidental. Eram apoiadas por forças soviéticas, preparadas à luta, nos pontos fronteiriços para os sectores ocidentais. Todas as conexões de trânsito ficaram interrompidas no processo (mas, poucos meses depois, linhas metropolitanas passavam pelos túneis orientais, mas não servindo mais as "estações fantasma" situadas no oriente). "Mr. Gorbachev, tear down this wall!". Em um discurso no Portão de Brandemburgo em comemoração ao 750º aniversário de Berlim em 12 de junho de 1987, Ronald Reagan desafiou Mikhail Gorbachev, então Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética, para derrubar o muro como um símbolo de crescente liberdade no Bloco de Leste: Queda do Muro. O Muro de Berlim começou a ser derrubado na noite de 9 de Novembro de 1989 depois de 28 anos de existência. O evento é conhecido como "a queda do muro". Antes da sua queda, houve grandes manifestações em que, entre outras coisas, se pedia a liberdade de viajar. Além disto, houve um enorme fluxo de refugiados ao Ocidente, pelas embaixadas da RFA, principalmente em Praga e Varsóvia, e pela fronteira recém-aberta entre a Hungria e a Áustria, perto do lago de Neusiedl. O impulso decisivo para a queda do muro foi um mal-entendido entre o governo da RDA. Na tarde do dia 9 de Novembro houve uma conferência de imprensa, transmitida ao vivo na televisão alemã-oriental. Günter Schabowski, membro do Politburo do SED, anunciou uma decisão do conselho dos ministros de abolir imediatamente e completamente as restrições de viagens ao Oeste. Esta decisão deveria ser publicada só no dia seguinte, para anteriormente informar todas as agências governamentais. Pouco depois deste anúncio houve notícias sobre a abertura do Muro na rádio e televisão ocidental. Milhares de pessoas marcharam aos postos fronteiriços e pediram a abertura da fronteira. Nesta altura, nem as unidades militares, nem as unidades de controle de passaportes haviam sido instruídas. Por causa da força da multidão, e porque os guardas da fronteira não sabiam o que fazer, a fronteira abriu-se no posto de Bornholmer Strasse, às 23h, mais tarde em outras partes do centro de Berlim, e na fronteira ocidental. Muitas pessoas viram a abertura da fronteira na televisão e pouco depois marcharam à fronteira. Como muitas pessoas já dormiam quando a fronteira se abriu, na manhã do dia 10 de Novembro havia grandes multidões de pessoas querendo passar pela fronteira. Os cidadãos da RDA foram recebidos com grande euforia em Berlim Ocidental. Muitas boates perto do Muro espontaneamente serviram cerveja gratuita, houve uma grande celebração na Rua Kurfürstendamm, e pessoas que nunca se tinham visto antes cumprimentavam-se. Cidadãos de Berlim Ocidental subiram o muro e passaram pelo Portão de Brandemburgo, que até então não eram acessíveis aos ocidentais. O Bundestag interrompeu as discussões sobre o orçamento, e os deputados espontaneamente cantaram o hino nacional da Alemanha. Reações. Alemanha ocidental. Ainda no mesmo dia da construção do muro, o chanceler da Alemanha ocidental, Konrad Adenauer, dirigiu-se à população pelo rádio, pedindo calma e anunciando reações ainda não definidas a serem colocadas junto com os aliados. Adenauer tinha visitado Berlim havia apenas duas semanas. O Prefeito de Berlim, Willy Brandt, protestou energicamente contra a construção do muro e a divisão da cidade, mas sem sucesso. No dia 16 de Agosto de 1961 houve uma grande manifestação com 300 000 participantes em frente do Schöneberger Rathaus, em Berlim Ocidental, para protestar contra o muro. Brandt participou nessa manifestação. Ainda em 1961, fundou-se em Salzgitter a "Zentrale Erfassungsstelle der Landesjustizverwaltungen" a fim de documentar violações dos direitos humanos no território da Alemanha Oriental. Aliados. As reações dos Aliados ocidentais vieram com grande demora. Vinte horas depois do começo da construção do muro apareceram as primeiras patrulhas ocidentais na fronteira. Demorou 40 horas para reservar todos os direitos em Berlim ocidental em frente do comandante soviético de Berlim Oriental. Demorou até 72 horas para o protesto ser oficial em Moscou. Por causa desses atrasos sempre circulavam rumores que a União Soviética havia declarado aos aliados ocidentais de não afectar seus direitos em Berlim ocidental. Seguindo as experiências no Bloqueio de Berlim, os Aliados sempre consideravam Berlim ocidental em perigo, e a construção do muro manifestou esta situação. Reações internacionais, 1961: Contudo, o presidente norte-americano John F. Kennedy apoiou a ideia da "cidade livre" de Berlim. Mandou forças armadas suplementares e reactivou o general Lucius D. Clay. Dia 19 de Agosto 1961 chegaram a Berlim Clay e o vice-presidente dos Estados Unidos, Lyndon B. Johnson. Protestaram fortemente contra o chefe de estado da RDA, Walter Ulbricht, que havia declarado que as polícias popular e fronteiriça da RDA tivessem autoridade de controle sobre policias, oficiais e empregados dos aliados ocidentais. Finalmente até o comandante soviético na RDA mediou pedindo moderação do lado do governo alemão oriental. Dia 27 de Outubro de 1961 houve um confronto perigoso entre tanques dos EUA e soviéticos ao lado do Checkpoint Charlie na rua Friedrich. Dez tanques norte americanos enfrentaram dez tanques soviéticos, mas todos se retiraram no dia seguinte. As duas forças não queriam deixar explodir a guerra fria, com o risco de uma guerra nuclear. Estrutura e áreas adjacentes. O Muro de Berlim tinha mais de 140 quilômetros de comprimento. Em junho de 1962, uma segunda cerca paralela, também conhecida como parede "hinterland" (muro interno), foi construída cerca de 100 metros mais longe no território da Alemanha Oriental. As casas contidas entre a parede e as cercas foram destruídas e os moradores foram realocados, estabelecendo o que mais tarde ficou conhecido como "faixa da morte", que ficava coberta de areia ou cascalho, o que facilitava a detecção de pegadas e invasores e também permitia aos policiais ver quais guardas haviam negligenciado sua tarefa; não oferecia cobertura; e, mais importante, oferecia campos de tiro claros para os guardas do muro. Ao longo dos anos, o Muro de Berlim evoluiu em quatro versões: O "muro de quarta geração", conhecido oficialmente como "Stützwandelement UL 12.11" (elemento do muro de contenção UL 12.11), era a versão final e mais sofisticada da muralha. Iniciado em 1975 e concluído por volta de 1980, foi construído a partir de 45 mil seções separadas de concreto armado, cada uma com 3,6 metros de altura e 1,2 metro de largura e custando cerca de de dólares. As disposições de concreto adicionadas a esta versão do muro foram feitas para impedir que os fugitivos conduzissem seus carros através das barricadas. Em pontos estratégicos, o muro foi construído com um padrão um pouco mais fraco, para que veículos blindados da Alemanha Oriental e da União Soviética pudessem facilmente romper em caso de guerra. O topo do muro era revestido por um cano liso, destinado a dificultar a escalada. O muro também era reforçado por cercas de malha, cercas de sinalização, trincheiras anti-veículo, arame farpado, cães, "canteiros de pregos" (também conhecido como "tapete de Stalin") sob varandas penduradas na faixa da morte, mais de 116 torres de vigia e 20 "bunkers" com centenas de guardas. Essa versão do muro é a mais comumente vista em fotografias e fragmentos sobreviventes dela em Berlim e em outros lugares ao redor do mundo geralmente são peças da quarta geração. O "layout" passou a se parecer com a fronteira interna da Alemanha na maioria dos aspectos técnicos, exceto pelo fato de que o Muro de Berlim não possuía minas terrestres nem canhões de mola. A manutenção era realizada na parte externa da parede por pessoal que acessava a área externa através de escadas ou através de portas ocultas dentro da parede. Essas portas não podiam ser abertas por uma única pessoa, precisando de duas chaves separadas em dois orifícios separados para destravar. Como era o caso da fronteira interna da Alemanha, uma faixa não fortificada do território oriental foi deixada do lado de fora do muro. Essa faixa externa era usada pelos trabalhadores para pintar por cima das pichações e realizar outras manutenções do lado de fora do muro. Ao contrário da fronteira interna da Alemanha, no entanto, a faixa externa usualmente não tinha mais do que quatro metros de largura e, em fotos da época, a localização exata da fronteira real em muitos lugares parece nem ter sido marcada. Também em contraste com a fronteira interna da Alemanha, a polícia da Alemanha Oriental demonstrava pouco interesse em manter as pessoas fora da faixa externa; as calçadas das ruas de Berlim Ocidental até passavam por dentro dela. Apesar da política geral de negligência benigna do governo da Alemanha Oriental, sabe-se que os vândalos eram perseguidos na faixa externa e até presos. Em 1986, o desertor e ativista político Wolfram Hasch e outros quatro desertores estavam de pé dentro da faixa externa, desfigurando o muro quando funcionários da Alemanha Oriental emergiram de uma das portas ocultas para prendê-los. Todos, exceto Hasch, escaparam de volta ao setor ocidental. O próprio Hasch foi preso, arrastado pela porta para a faixa da morte e mais tarde condenado por cruzar ilegalmente a fronteira "de jure" fora do muro. O artista de grafite Thierry Noir relatou que muitas vezes foi perseguido por soldados da Alemanha Oriental. Enquanto alguns grafiteiros foram expulsos da faixa externa, outros, como Keith Haring, eram aparentemente tolerados. Tentativas de fuga. Nos 28 anos da existência do Muro morreram muitas pessoas. Não existem números exatos e há indicações muito contraditórias, porque a RDA sistematicamente impedia todas as informações sobre incidentes fronteiriços. A primeira vítima morta a tiros foi Günter Litfin, baleado pela polícia dia 24 de agosto de 1961 ao tentar escapar perto da estação Friedrichstraße. Rudolf Urban havia morrido em 17 de setembro de 1961 depois de cair no dia 19 de agosto enquanto tentava escapar utilizando uma corda de um apartamento localizado na Bernauer Strasse, exatamente na divisa entre as duas Alemanhas. No dia 17 de agosto de 1962, Peter Fechter sangrou no chamado "corredor da morte", à vista de jornalistas ocidentais, sendo a vítima mais famosa. Em 1966, foram mortas duas crianças de 10 e 13 anos. O último incidente fatal ocorreu no dia 8 de março de 1989, oito meses antes da queda, quando Winfried Freudenberg, de 32 anos, morreu na queda de seu balão de gás de fabricação caseira no bairro de Zehlendorf, quando tentava transpor o muro. Estima-se que na RDA 75 000 pessoas foram acusadas de serem desertores da república. Desertar da república era um crime que, segundo o artigo §213 do código penal da RDA, era punido com até 2 anos de prisão. Pessoas armadas, membros das forças armadas ou pessoas que carregavam segredos nacionais eram mais severamente punidas, se considerado culpado de escape da república, por pelo menos 5 anos de prisão. Também houve guardas fronteiriços que morreram por causa de incidentes violentos no muro. A vítima mais conhecida era Reinhold Huhn, que foi assassinado por um "Fluchthelfer" (pessoas que ajudavam cidadãos do Leste a passar a fronteira, ilegalmente). Estes tipos de incidentes eram utilizados pela RDA para a sua propaganda, e para posteriormente justificar a construção do muro de Berlim. Processos pelas mortes do muro de Berlim. Os processos judiciais do "Schießbefehl", a respeito de se atirar em todas as pessoas que tentaram cruzar o Muro entre 1961 e 1989, demoraram até o outono de 2004. Entre os responsáveis acusados, estavam o presidente do Conselho de Estado, Erich Honecker, o sucessor dele, Egon Krenz e os membros do Conselho Nacional de Defesa Erich Mielke, Willi Stoph, Heinz Keßler, Fritz Streletz e Hans Albrecht e ainda o presidente regional do partido SED em Suhl. Além disso, foram acusados alguns generais, como o chefe das forças fronteiriças, Klaus-Dieter Baumgarten e vários soldados que eram parte do Exército Nacional Popular (NVA) ou das forças fronteiriças da RDA. Como resultado dos processos, 11 dos acusados foram condenados à prisão, 44 foram condenados a uma pena, que foi suspensa condicionalmente, 35 acusados foram absolvidos. Entre estes, Albrecht, Streletz e Keßler foram condenados a vários anos de prisão. O último processo acabou dia 9 de novembro de 2004, exatamente 15 anos depois da derrubada do Muro, com uma sentença condenatória.
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Movimento
Movimento Em física, movimento é a variação de posição espacial de um objeto ou ponto material em relação a um referencial no decorrer do tempo. Na filosofia clássica, o movimento é um dos problemas mais tradicionais da cosmologia desde os pré-socráticos, na medida em que envolve a questão da mudança na realidade. Assim, o mobilismo de Heráclito considera a realidade como sempre em fluxo. A escola eleática por sua vez, principalmente através dos paradoxos de Zenão, afirma ser o movimento ilusório, sendo a verdadeira realidade imutável. Aristóteles define o movimento como passagem de potência a ato. Para ele o ato consiste, pois, na existência de uma coisa, não no sentido em que se diz que é potencial. É a atualidade de uma matéria, isto é, sua forma num dado instante do tempo; o ato é a forma que atualiza uma potência contida na matéria. É toda realidade que, como forma, tem como característica ser determinado, finito, perfeito, completo. Por exemplo, a árvore é o ato da semente, o adulto é o ato da criança, a mesa é o ato da madeira etc. Aristóteles distinguiu o movimento como deslocamento no espaço; como mudança ou alteração de uma natureza; como crescimento e diminuição; e como geração e corrupção (destruição). No universo descrito pela física da relatividade, o movimento nada mais é do que a variação de posição de um corpo relativamente a um ponto chamado "referencial". Estudo do movimento. A ciência física que estuda o movimento e suas causas é a Mecânica. Ela se preocupa tanto com o movimento em si quanto com o agente que o faz iniciar ou cessar. Se abstraírem-se as causas do movimento e preocupar-se apenas com a descrição do movimento, ter-se-á estudos de uma parte da Mecânica chamada Cinemática (do grego "kinema", movimento). Se, ao invés disso, buscar-se compreender as causas do movimento, as forças que iniciam ou cessam os movimentos dos corpos, ter-se-á estudos da parte da Mecânica chamada Dinâmica (do grego "dynamis", força). Existe ainda uma disciplina que estuda justamente o não-movimento, corpos parados: é a Estática (do grego "statikos", ficar parado). De certo modo, a estaticidade é uma propriedade altamente específica, pois só se apresenta para referenciais muito especiais, de modo que o comum é que em qualquer situação, possamos atribuir movimento ao objeto em análise. Notas históricas. Movimento segundo Aristóteles. Segundo Aristóteles todos os corpos celestes no Universo possuíam almas, ou seja, intelectos divinos que os guiavam ao longo das suas viagens, sendo portanto estes responsáveis pelo movimento do mesmo. Existiria, então, uma última e imutável divindade, responsável pelo movimento de todos os outros seres, uma fonte universal de movimento, que seria, no entanto, imóvel. Todos os corpos deslocar-se-iam em função do amor, o qual nas últimas palavras do Paraíso de Dante, movia o Sol e as primeiras estrelas. Aristóteles nunca relacionou o movimento dos corpos no Universo com o movimento dos corpos da Terra. Movimento segundo Galileu. Foi este italiano quem primeiro estudou, com rigor, os movimentos na Terra. As suas experiências permitiram chegar a algumas leis da Física que ainda hoje são aceitas. Foi também Galileu que introduziu o método experimental: Na base da Física, estão problemas acerca dos quais os físicos formulam hipóteses, as quais são sujeitas à experimentação, ou seja, provoca-se um dado fenómeno em laboratório de modo a ser possível observá-lo e analisá-lo cuidadosamente. Galileu procedeu a várias experiências, como deixar cair corpos de vários volumes e massas, estudando os respectivos movimentos. Tais experiências permitiram-lhe chegar a conclusões acerca do movimento em queda livre e ao longo de um plano inclinado. Também fez o estudo do movimento do pêndulo, segundo o qual concluiu que independentemente da distância percorrida pelo pêndulo, o tempo para completar o movimento é sempre o mesmo. Através desta conclusão construiu o relógio de pêndulo, o mais preciso da sua época. Movimento segundo Isaac Newton. Foi Isaac Newton quem, com base nos estudos de Galileu, desenvolveu os principais estudos acerca do movimento, traçando leis gerais, que são amplamente aceitas hoje em dia. As leis gerais do movimento, enunciadas por Newton são: Primeira Lei de Newton: Também conhecida como Lei da Inércia, enuncia que: Segunda Lei de Newton: Também conhecida como Lei Fundamental da Dinâmica, enuncia que: Terceira Lei de Newton: Também conhecida como Lei de Ação-Reação, enuncia que: Tais leis são fundamentais no estudo do movimento em Física, e são essenciais na resolução de problemas relacionados com movimento, velocidade, aceleração e forças, em termos físicos e reais.
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Mac OS Classic
Mac OS Classic Macintosh Operating System (conhecido pelo retrônimo Mac OS Classic) foi um sistema operacional desenvolvido para computadores Macintosh produzidos pela Apple Inc., com o lançamento em 1984 e o encerramento do seu suporte em 2001. O sistema operacional Macintosh é conhecido por ter popularizado o conceito de interface gráfica do usuário. Foi incluído em todos os Macintosh que foram vendidos durante a época em que foi desenvolvido; e as atualizações para o "software" foram feitas em conjunto com o lançamentos desses novos sistemas. Até antes da versão 7.6, era apenas chamado "System"; e a partir dessa versão em diante, passou a ser denominado Mac OS. Foi substituído pelo Mac OS X, um novo sistema operacional reconstruído a partir do Unix BSD, preservando alguns elementos gráficos do antigo sistema. A Apple lançou o primeiro Macintosh em 24 de janeiro de 1984. A primeira versão do "software" do sistema, que não tinha nome oficial, foi parcialmente baseada no Lisa OS, que a Apple lançou anteriormente para o computador denominado Lisa em 1983. Havia um acordo entre a empresa Xerox e a Apple que permitia que a Xerox comprasse ações da Apple a um preço favorável. Ela também utilizou alguns conceitos do computador Xerox Alto, que o ex-CEO da Apple, Steve Jobs, e outros membros da equipe Lisa haviam projetado previamente. Esse sistema operacional consistia do "ROM Macintosh Toolbox" e do "System Folder", um conjunto de arquivos que eram carregados a partir do disco principal. O nome Macintosh System Software entrou em uso em 1987 com o lançamento do "System 5". A Apple renomeou o sistema como Mac OS em 1996, começando oficialmente com a versão 7.6, devido a um programa de combate aos clones de Macintosh. Esse programa terminou após o lançamento do Mac OS 8 em 1997. A última grande versão do sistema foi o Mac OS 9 em 1999. As atualizações finais do Mac OS 9 lançadas em 2001 proporcionaram interoperabilidade com o Mac OS X. O nome "Classic", que agora significa a versão mais primitiva do Mac OS como um todo, é uma referência ao Ambiente Clássico, uma camada de compatibilidade que ajudou a facilitar a transição para Mac OS X (agora macOS).
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Mogi das Cruzes
Mogi das Cruzes Mogi das Cruzes é um município brasileiro do estado de São Paulo, localizado na Região Metropolitana de São Paulo e Alto Tietê. Sua divisão administrativa é formada pela sede e pelos distritos de Biritiba Ussu, Brás Cubas, César de Sousa, Jundiapeba, Quatinga, Sabaúna, Taboão e Taiaçupeba. O bandeirante paulista Gaspar Vaz deu início ao povoado, que tornou-se a "Vila de Sant'Anna de Mogi Mirim", criada oficialmente em 1 de setembro de 1560 e que viria a se tornar a cidade de Mogi das Cruzes, eventualmente se tornando um ponto de parada entre São Paulo e Rio de Janeiro. Topônimo. Segundo Eduardo Navarro, em seu "Dicionário de Tupi Antigo" (2013), mogi é um nome de origem tupi antiga que significa "rio das cobras", através da junção de "moîa" (ou "mboîa"), "cobra", e "'y", "rio", referindo-se ao Tietê, o qual, em seu alto curso, cruza o município. Ao longo dos anos, a grafia "M'Boijy, que significa rio da cobra," foi alterada para "Boigy", depois para "Mogy", "Moji e "finalmente para "Mogi". Segundo as normas ortográficas vigentes da língua portuguesa, este topônimo deveria ser grafado "Moji" pois prescreve-se o uso da letra "j" para a grafia de palavras de origem tupi-guarani. Assim, tanto o dicionário "Houaiss" como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística usam a grafia "Moji". Historicamente, no entanto, o uso mais comum, apoiado pela administração pública e pela imprensa, é "Mogi" para o nome da cidade. Dois outros municípios que usam o nome de "Mogi" são Mogi Guaçu e Mogi Mirim. Por se tratar de topônimo com tradição histórica secular e uso consagrado pelos brasileiros, a grafia com "g" também é aceita (assim como em "Sergipe"), de acordo com a norma ortográfica vigente em sua Base XI: História. Mogi das Cruzes começou como um povoado, por volta de 1560, servindo como um ponto de repouso aos bandeirantes e exploradores indo e vindo de São Paulo, entre eles Brás Cubas. Gaspar Vaz Guedes foi responsável pela abertura da primeira estrada entre a capital e Mogi, iniciando o povoado, posteriormente elevado à "Vila", com o nome "Vila de Sant'Ana de Mogi Mirim". O fato foi oficializado em 1º de setembro de 1611. Em 13 de março de 1865 foi elevada à cidade, e em 14 de abril de 1874 à comarca. De acordo com o historiador Isaac Grinberg, o bandeirante Gaspar Vaz além de responsável pela abertura e por desbravar estas terras, após adquirir uma sesmaria na região, o mesmo também foi responsável pelo pedido de elevação do povoado a vila. Fato que se deu em 1611, aos primeiro de Setembro. Mogi das Cruzes acolhe colônias de todos os cantos do mundo, com destaque especial para a colonização japonesa, com uma grande quantidade de japoneses e seus descendentes (aproximadamente 20% segundo a prefeitura), que já estão em sua terceira geração no município. Além disso, o município possui uma considerável população nordestina, sendo que a maioria veio para a capital estadual e, depois, mudou-se para Mogi das Cruzes em busca de melhor qualidade de vida. Geografia. Mogi das Cruzes situa-se a uma altitude média de 780 metros. Seu ponto mais alto é o Pico do Urubu com 1 160 metros, localizado na Serra do Itapety. O município é cortado por duas serras: a Serra do Mar e a Serra do Itapety e ainda pelo Rio Tietê. Em seu território se encontram duas represas que fazem parte do Sistema Produtor do Alto Tietê, os reservatórios de Taiaçupeba e do rio Jundiaí. Localização. Mogi das Cruzes está situada na região leste da Grande São Paulo, no Alto Tietê. O ponto de referência é o "marco zero", um obelisco instalado na Praça Coronel Benedito de Almeida, em frente à Igreja Matriz Catedral Sant'Ana. Os limites são Arujá a noroeste, Santa Isabel a noroeste e norte, Guararema a nordeste, Biritiba Mirim a leste, Bertioga e Santos a sul, Santo André a sudoeste, Suzano a sudoeste e oeste e Itaquaquecetuba a oeste. Depois da capital paulista, Mogi das Cruzes é o maior município em área da Grande São Paulo, com 712,541 quilômetros quadrados. Segurança Pública. Ocorrências por 100 mil habitantes. Os dados referente ao número de ocorrências por 100 mil habitantes, no ano de 2016: Gráfico de Roubo e Furto de Veículos:. Abaixo está o gráfico que mostra a evolução do número de roubo e furto de veículos a partir de 2001 até 2016: <graph>{ "version": 2, "width": 1199, "height": 220, "data": [ "name": "table", "values": [ "x": 2001, "y": 892 { "x": 2002, "y": 822 { "x": 2003, "y": 840 { "x": 2004, "y": 887 { "x": 2005, "y": 1031 { "x": 2006, "y": 742 { "x": 2007, "y": 733 { "x": 2008, "y": 782 { "x": 2009, "y": 971 { "x": 2010, "y": 889 { "x": 2011, "y": 1034 { "x": 2012, "y": 1129 { "x": 2013, "y": 878 { "x": 2014, "y": 1331 { "x": 2015, "y": 1254 { "x": 2016, "y": 942 ] ], "scales": [ "name": "x", "type": "ordinal", "range": "width", "zero": false, "domain": { "data": "table", "field": "x" }, "name": "y", "type": "linear", "range": "height", "nice": true, "domain": { "data": "table", "field": "y" "axes": [ "type": "x", "scale": "x" { "type": "y", "scale": "y" ], "marks": [ "type": "rect", "from": { "data": "table" "properties": { "enter": { "x": { "scale": "x", "field": "x" "y": { "scale": "y", "field": "y" "y2": { "scale": "y", "value": 0 "fill": { "value": "steelblue" "width": { "scale": "x", "band": "true", "offset": -1 }</graph> Gráfico de homicídios dolosos:. Abaixo está o gráfico que mostra a evolução do número de homicídios dolosos a partir de 2001 até 2016:<graph>{ "version": 2, "width": 1090, "height": 220, "data": [ "name": "table", "values": [ "x": 2001, "y": 40 { "x": 2002, "y": 56 { "x": 2003, "y": 65 { "x": 2004, "y": 84 { "x": 2005, "y": 63 { "x": 2006, "y": 47 { "x": 2007, "y": 29 { "x": 2008, "y": 38 { "x": 2009, "y": 36 { "x": 2010, "y": 33 { "x": 2011, "y": 32 { "x": 2012, "y": 34 { "x": 2013, "y": 38 { "x": 2014, "y": 68 { "x": 2015, "y": 50 { "x": 2016, "y": 30 ] ], "scales": [ "name": "x", "type": "ordinal", "range": "width", "zero": false, "domain": { "data": "table", "field": "x" }, "name": "y", "type": "linear", "range": "height", "nice": true, "domain": { "data": "table", "field": "y" "axes": [ "type": "x", "scale": "x" { "type": "y", "scale": "y" ], "marks": [ "type": "rect", "from": { "data": "table" "properties": { "enter": { "x": { "scale": "x", "field": "x" "y": { "scale": "y", "field": "y" "y2": { "scale": "y", "value": 0 "fill": { "value": "steelblue" "width": { "scale": "x", "band": "true", "offset": -1 }</graph> CDP Mogi das Cruzes. Mogi das Cruzes conta também com um Centro de Detenção Provisória (CDP), que foi inaugurado em 15 de Outubro de 2002 e que é administrado pela SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) e está localizado na Estrada do Taboão. Segundo a SAP a capacidade do CPD Mogi das Cruzes é de 584 detentos. Em 2016, a realidade é que o CDP lidava com superlotação de mais de 2.000 pessoas. Em 2020, o CDP ainda tinha uma superlotação de 1.573 para um CDP equipado para apenas 844 detentos. Transportes. Trens. O município é servido pelos trens da Linha 11 do Trem Metropolitano de São Paulo e conta com quatro estações: Também no município situa-se a antiga "Estação Sabaúna", atualmente utilizada como espaço cultural e ocasionalmente usada como destino do Expresso Turístico, principalmente na época do Natal. Ônibus. Duas empresas são responsáveis por operar os ônibus municipais: CS Brasil e Princesa do Norte. Os ônibus são integrados pelo Sistema Integrado Mogiano (SIM), que separa a cidade em oito regiões diferentes. É possível realizar a integração com linhas diferentes com o cartão eletrônico. Há dois terminais de ônibus na cidade: o Terminal Central, que se interliga a Estação Mogi das Cruzes da CPTM e o Terminal Estudantes, que fica próximo da estação de mesmo nome. O município também é servido por linhas de ônibus intermunicipais da EMTU-SP, através do Consórcio Unileste, que ligam Mogi das Cruzes às cidades de Arujá, Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Poá, Salesópolis, Santa Isabel, São Paulo e Suzano. Existem também algumas linhas de responsabilidade da ARTESP, que interligam Mogi das Cruzes aos municípios de Jacareí, São José dos Campos, Atibaia, Nazaré Paulista, Igaratá, Taubaté, Aparecida, Santo André, São Bernardo do Campo, Santos, São Vicente (São Paulo), Praia Grande, Guarujá, Bertioga e São Sebastião. Existem ainda linhas interestaduais que estão sob responsabilidade da ANTT que ligam aos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Ferrovias. O município é cortado pelas seguintes ferrovias: Rodovias. O município é cortado e servido pelas seguintes rodovias: Comunicações. Telefonia. A cidade foi atendida pela Telefônica Mogi das Cruzes até 1975, quando passou a ser atendida pela Companhia Telefônica da Borda do Campo (CTBC). Em 1998 esta empresa foi privatizada e vendida juntamente com a Telecomunicações de São Paulo (TELESP) para a Telefônica, sendo que em 2012 a empresa adotou a marca Vivo para suas operações de telefonia fixa. TV Diário - Afiliada Rede Globo. O primeiro canal de TV aberto gerado diretamente de Mogi das Cruzes, foi ao ar no dia 1 de maio de 2000 através do canal 14 UHF. A TV Diário estreou ao meio-dia, retransmitindo à programação da Rede Globo. Sua área de cobertura abrange a região do Alto Tietê a parte leste da Grande São Paulo., e atualmente, é o canal de televisão mais visto da região. Nos primeiros 6 meses, a emissora funcionava na Rua Navajas, no centro da cidade da cidade, em uma casa pequena. Os estúdios eram nos fundos, e a redação de jornalismo era numa garagem improvisada. Em setembro de 2000, ela se mudou para sua sede atual na Rua Ewald Muhleise, 52 em César de Sousa. Educação. Educação Básica. Na educação básica (ensino fundamental e ensino médio), de acordo como o Ministério da Educação, entre as dez escolas com médias mais elevadas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica da Região do Alto Tietê, cinco estão no município – incluindo a que conquistou o primeiro lugar entre as instituições do primeiro ciclo do ensino fundamental (1ª a 4ª série), a Escola Municipal Professor Jair Rocha Batalha, que obteve nota 6,5 em uma escala de 0 a 10. A nota coloca a escola entre as poucas do país com qualidade de escola de país desenvolvido. Para entrar neste grupo, uma escola deve obter uma nota maior ou igual a 6 no IDEB. Ensino técnico. Em relação ao ensino técnico, a cidade abriga diversas escolas técnicas particulares e a escola técnica pública ETEC Presidente Vargas, vinculada ao Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, fundada em 1948 e em funcionamento desde 1957. Mogi conta também com uma unidade do SENAI, que oferece cursos técnicos, cursos de aprendizagem industrial além de cursos de formação inicial e continuada. O SENAI em Mogi das Cruzes foi inicialmente denominada como Escola SENAI Zona C (Central), prefixo Z-21 e iniciou suas atividades em 9 de maio de 1945, na Rua Senador Dantas, n.º 326, no centro da cidade, onde permaneceu funcionando até 1962. Suas instalações foram transferidas para o novo prédio, construído, em terreno próprio cedido pela Prefeitura, localizado na Rua Dom Antônio Cândido de Alvarenga, 353 - Centro - Mogi das Cruzes, SP, em uma área de 8.544 m², sendo 4.423 m² de área construída. A Escola recebeu em 1964, sua atual denominação de Escola SENAI “Nami Jafet”. Ensino superior. Mogi das Cruzes conta com uma universidade de grande porte, a Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), com o Centro Universitário Braz Cubas, a Faculdade do Clube Náutico Mogiano, o Instituto de Filosofia e Teologia Paulo VI, uma unidade de educação à distância da Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), e um campus da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC), sendo esta última vinculada ao Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Saneamento básico. O município, a partir da infraestrutura de esgoto do SEMAE, serve 92,14% da população, com uma taxa de 60,93% do tratamento de esgoto. O SEMAE é uma autarquia municipal, responsável pelo esgoto, coleta e tratamento. Economia. Mogi das Cruzes tem uma economia diversificada. Possui uma agricultura muito forte: é o maior polo produtor de hortaliças, cogumelos, caqui, orquídeas e nêsperas do Brasil. Por outro lado, é uma cidade que vive uma expansão industrial forte, com 891 indústrias, entre elas a General Motors (GM), JSL, a Valtra, controlada pela AGCO Corporation, que é a maior fabricante de tratores agrícolas do Brasil, a Imerys do Brasil, indústria química, a Kimberly Clark, empresa no setor de higiene e bem-estar, Höganäs Brasil Ltda, e a Gerdau. O setor industrial emprega 20 mil pessoas. No setor de serviços, há 21 mil pessoas empregadas e uma das maiores empresas de "telemarketing" do País, a Neobpo, que emprega mais de 3 mil pessoas. No comércio, há 7 200 estabelecimentos comerciais e 17 mil pessoas empregadas. No espaço de 15 milhões de metros quadrados, a prefeitura oferece incentivos fiscais, que variam de acordo com o faturamento e geração de empregos do empreendimento e já abriga 35 indústrias, entre elas a GM Motors e a Kimberly Clark. Turismo. Um levantamento feito pela prefeitura constatou que o município tem cinco principais atrações turísticas: Pico do Urubu na Serra do Itapeti, o Parque Centenário da Imigração Japonesa (César de Sousa), Parque Leon Feffer (Brás Cubas) o Parque da Cidade (Alto do Ipiranga), Pedreira de Sabaúna e a Represa do Rio Jundiaí (Taiaçupeba). O Parque Centenário da Imigração Japonesa foi inaugurado em 2008 pelo então prefeito Junji Abe, em comemoração aos 100 anos do estabelecimento da colônia japonesa na cidade e no país. O Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello – Chiquinho Veríssimo, na Serra do Itapeti, pode ser considerado um grande viveiro da flora e fauna nativas da Mata Atlântica. Atende com visitas monitoradas com agendamento prévio. Além dessas atrações naturais e parques, Mogi das Cruzes conta desde 13 de junho de 2009 com um Expresso Turístico. Trata-se de uma locomotiva da CPTM que puxa dois vagões fabricados na década de 1960, entre as estações da Luz e Mogi das Cruzes. Arte e cultura. Mogi das Cruzes possui produção cultural nas mais variadas vertentes artísticas. Possui dois teatros municipais: o Theatro Vasques, inaugurado em 1902 e recentemente restaurado, localizado no Largo do Carmo, e o Teatro Doutor Bóris Grinberg, inaugurado em 2007, localizado no bairro Nova Mogilar. O "Salão da Primavera" - exposição artística de quadros sobre o tema - é um dos mais antigos da região. São diversas academias de dança, companhias teatrais, músicos, pintores, fotógrafos, escritores. Também é da cidade o grupo teatral mais antigo da Região do Alto Tietê, o "TEM - Teatro Experimental Mogiano" fundado em 1965, onde atuou Ricardo Blat. O cartunista Maurício de Sousa, apesar de nascido no município vizinho de Santa Isabel, iniciou sua produção artística durante o período em que morou em Mogi das Cruzes, produções estas distribuídas nos veículos de mídia do município e da região. Vários de seus personagens mais famosos foram inspirados em habitantes de Mogi das Cruzes. Além disso, existe, em Mogi das Cruzes, a mais antiga partitura para orquestra e coro composta no Brasil que se tem notícia. Trata-se da "Ladainha de Nossa Senhora Aparecida", composta por Faustino Xavier do Prado, mestre de capela da igreja do Carmo de Mogi das Cruzes, no início do século XVIII (entre 1725 e 1740). Seguindo essa tradição musical, há em Mogi, atualmente, duas bandas sinfônicas e uma orquestra sinfônica: a Banda Sinfônica Jovem Mario Portes, que tem como regente o maestro Felipe Bordignon; a Banda Sinfônica de Mogi, que tem como regente o maestro Daniel Bordignon; e a Orquestra Sinfônica de Mogi das Cruzes, que tem como regente o maestro Lelis Gerson. O CECAP - Centro Cultural Antônio do Pinhal, fundado em 15 de dezembro de 2006, desenvolve um conjunto de atividades artísticas culturais, oferecendo gratuitamente o curso de História da Arte do Século XX, que resgata a história da arte e o artista mogiano. Museus. Mogi também abriga alguns museus e espaços públicos destinados à arte e a cultura. O principal deles, a Pinacoteca de Mogi das Cruzes, foi inaugurado em 2016. O espaço é destinado à exposição de obras de artes visuais - assinadas por artistas mogianos e convidados. Em exposição, são 161 obras de 128 artistas, sendo 50 delas pertencentes à prefeitura da cidade. Já o Casarão do Carmo, construção do século XIX em estilo colonial, de taipa de pilão e taipa de mão, é ocupado com apresentações artísticas, exibição de filmes e encontros culturais. Religião. De acordo com o Censo 2010, a religião católica apostólica romana constitui 51,47% da população, os segmentos evangélicos 35%, a religião espírita 11% e os demais segmentos religiosos, juntamente com os habitantes que se declaram sem religião, somam 2,53%. De acordo com a ONG Refúgio Brasil, o Alto Tietê tem mais de mil muçulmanos, incluindo mogianos, que fazem uso da mesquita mogiana para as práticas religiosas. Esportes. Em novembro de 2011, o município de Mogi das Cruzes sediou os Jogos Abertos do Interior de São Paulo de 2011. O evento reuniu mais de 15 mil atletas profissionais e amadores. Após visita do cônsul geral da Bélgica em São Paulo, Didier Vanderhasselt, a cidade foi confirmada pelo prefeito Marco Bertaiolli (PSD) como sede do centro de treinamento da seleção belga para a Copa do Mundo FIFA de 2014. A cidade atualmente é a sede de dois times de futebol que atualmente disputam a Segunda divisão do Campeonato Paulista, o União Mogi das Cruzes e o Clube Atlético Mogi das Cruzes. O principal estádio de futebol é o Estádio Municipal Francisco Ribeiro Nogueira, conhecido como Nogueirão, inaugurado em 1995. Em 2015, o estádio foi reinaugurado após uma grande reforma. Também é sede de um time de basquete, o Mogi das Cruzes Basquete, ou simplesmente Mogi Basquete. Administração. O Poder Executivo da cidade de Mogi das Cruzes é representado pelo prefeito e seu gabinete de secretários, seguindo o modelo proposto pela Constituição Federal.
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Bossa nova
Bossa nova Bossa nova é o termo pelo qual ficou conhecido um movimento de transformação do samba irradiado a partir da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro no final da década de 1950 e que, por conseguinte, passou a dar nome ao estilo de interpretação e acompanhamento rítmico dele surgido, que ficou conhecido como “batida diferente”. De acordo com o musicólogo Gilberto Mendes, a vertente era uma das “três fases rítmicas do samba”, na qual a "batida" da bossa havia sido extraída a partir do "samba de raiz". Segundo o jornalista Ruy Castro, a bossa nova era "“uma simplificação extrema da batida da escola de samba”", como se dela tivessem sido retirados todos os instrumentos e conservado apenas o tamborim. A bossa nova daria lugar, no final da década de 1960, a MPB, com a fusão da bossa nova com ritmos regionais e folclóricos brasileiros. O marco inicial da bossa nova é o samba "Chega de Saudade" (de autoria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), lançado originalmente por Elizeth Cardoso em 1958 e, pouco depois, por João Gilberto, que tocou violão em ambas as gravações. Paralela e previamente a isso, o pianista e vocalista Johnny Alf, desde a composição de “Rapaz de bem” três anos antes, em 1955, também se tornou um dos pioneiros da renovação do samba, tocando em bares cariocas com e inspirando Gilberto, João Donato e Jobim desde 1950. Em 1959, com o LP "Chega de Saudade", Gilberto consolidaria esse novo estilo de tocar que alterava as harmonias com a introdução de acordes não convencionais — como antes já realizavam violonistas como Garoto, Vadico, Oscar Bellandi, entre outros — e uma sincopação do samba inovadora a partir de uma divisão única realizada sobre sambas tradicionais como “Rosa morena” (de Dorival Caymmi), “Morena boca de ouro”, de Ary Barroso, “Aos pés da cruz” (de Marino Pinto e Zé da Zilda) e “É luxo só” (de Ary Barroso e Luís Peixoto). A partir e em torno de João Gilberto, um grupo de músicos, quase todos oriundos de classe média e com formação universitária, ajudaria a transformar as experiências formais do violonista baiano. O jeito suave de cantar foi influenciado pelo jazzista Chet Baker. A partir da década de 1960, o samba de bossa nova consolidou-se definitivamente no cenário musical do Brasil, onde se destacaram, além de Gilberto e da dupla Tom e Vinícius, nomes como Newton Mendonça, Billy Blanco, Aloysio de Oliveira, Baden Powell, Oscar Castro Neves, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Sérgio Mendes, César Camargo Mariano, Airto Moreira, Eumir Deodato, Milton Banana, João Donato, entre vários, além do surgimento de inúmeros conjuntos vocais, como Os Cariocas, ou instrumentais, como Bossa Três, Tamba Trio, Bossa Rio, Copa 5, Sambalanço Trio, Os Catedráticos, entre outros. Foi nesse mesmo momento que o estilo experimentou uma projeção internacional em escala jamais vista com outra vertente da música popular brasileira. Em 1962, o saxofonista Stan Getz em conjunto com o guitarrista Charlie Byrd lançaram o LP "Jazz Samba", o que chamou a atenção do meio musical nos Estados Unidos para a bossa nova. Naquele mesmo ano, um concerto no Carnegie Hall de Nova York, que reuniu Tom Jobim e João Gilberto, entre outros, abriu de vez as portas do mundo para o estilo. No ano seguinte, com o lançamento do LP Getz/Gilberto, parceira entre o violonista brasileiro e o saxofonista americano, tornou a vertente conhecida mundialmente, além de arrebatar o Grammy Award para álbum do ano de 1965. Dois anos depois, sob o título “The girl from Ipanema”, versão em inglês para o famoso samba Garota de Ipanema, de Tom e Vinicius, foi gravado por Frank Sinatra. No entanto, já em meados dos anos sessenta, o movimento bossa-novista passava por uma cisão. De um lado, um grupo manteve-se fiel a estética leve, caracterizada por letras de temas amenos e descompromissados com a realidade brasileira ou qualquer espécie de participação social, pelo tom suave e intimista (personalizado na voz de João Gilberto). De outro lado, outro grupo formado por compositores como Baden Powell, Sergio Ricardo e Carlos Lyra e por letristas como Vinicius de Moraes e Nelson Lins e Barros associou-se ao movimento geral da cultura brasileira no sentido de buscar uma base popular folclórica nas músicas e uma temática de realismo e participação social nas letras. Foi essa dissidência que veio estabelecer uma conexão importante entre o samba da bossa nova e o samba das camadas populares, geralmente conhecido como “do morro” ou "de raiz", fazendo com que nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti e Elton Medeiros — sambistas de prestígio no meio do "samba de raiz", mas alijados do mercado fonográfico de época — passassem a ser conhecidos por uma fatia do público jovem e universitário. É nesse novo contexto que o o cenário artístico brasileiro viu surgir uma nova geração de compositores, como Paulinho da Viola, tido ali como um sucessor de Noel Rosa ou de Ismael Silva, e Chico Buarque, autor de composições que logo se tornariam sambas antológicos. Origens. A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na década de 1930, em "São Coisas Nossas", samba do popular cantor Noel Rosa: "O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...)". A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na década seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas. Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura americana do pós-guerra, de músicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, uma especialmente do cool jazz e bebop. Embora tenha forte influência da música estrangeira, particularmente do "jazz", a bossa nova possui elementos de samba sincopado. Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a bossa nova. Um embrião do movimento, já na década de 1950, eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média carioca em apartamentos da zona sul, como o de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli, entre outros. A popularidade da bossa nova na zona sul do Rio de Janeiro deu-se muito pela adesão do gênero no meio universitário. A repercussão dos encontros nos apartamentos em Copacabana e Ipanema despertou o interesse da organização de eventos do Clube Universitário Hebraico do Brasil, que realizou no primeiro semestre de 1958 a primeira apresentação pública de bossa nova. No palco, artistas como Roberto Menescal, Nara Leão, Luiz Eça e Sylvinha Telles, grande destaque da noite, executaram canções do repertório que viriam a se tornar clássicos como “Rapaz de Bem”, de Johnny Alf. A divulgação do evento no Clube Universitário Hebraico também tem parte na origem do nome “bossa nova” para o movimento. Uma secretária da instituição, responsável pela criação de cartazes de divulgação do show, divulgou-o como “Sylvinha Telles e um grupo bossa-nova”, visto que o conjunto não tinha um nome. Outro evento universitário de grande repercussão foi realizado no Anfiteatro da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, na Praia Vermelha em 20 de Maio de 1960, com a presença de João Gilberto, Astrud Gilberto, Nara Leão, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e foi batizado como “A noite do amor, do sorriso e da flor” fazendo referência a canção “Meditação” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco das Garrafas. Início oficial. Movimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro — impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de Juscelino Kubitschek (1955–1960) — a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em agosto de 1958, um compacto simples do violonista baiano João Gilberto (considerado o "papa" do movimento), contendo as canções "Chega de Saudade" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e "Bim Bom" (do próprio cantor). Meses antes, João participara de "Canção do Amor Demais", um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca Elizeth Cardoso. De acordo com o escritor Ruy Castro (em seu livro "", de 1990), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, "Luciana", "Estrada Branca", "Outra Vez" e "Chega de Saudade"-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no "jazz" norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova. Outras das características do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então, abordavam temáticas leves e descompromissadas - exemplo disto, "Meditação", de Tom Jobim e Newton Mendonça. A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia, "desenvolver-se-ia a prática do "canto-falado" ou do "cantar baixinho", do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'". Em 1959, era lançado o primeiro LP de João Gilberto, "Chega de saudade", contendo a faixa-título - canção com cerca de 100 regravações feitas por artistas brasileiros e estrangeiros. A partir dali, a bossa nova era uma realidade. Além de João, parte do repertório clássico do movimento deve-se as parcerias de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Consta-se, segundo muitos afirmam, que o espírito bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça Orfeu da Conceição, primeira parceria da dupla, que esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do Bando da Lua, para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega Orfeu, uma das belas composições de Tom e Vinícius, "Se todos fossem iguais a você", já prenunciando os elementos melódicos da bossa nova. Além de "Chega de saudade", os dois compuseram "Garota de Ipanema", outra representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, depois de "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso), com mais de 169 gravações, entre as quais de Sarah Vaughan, Stan Getz, Frank Sinatra (com Tom Jobim), Ella Fitzgerald entre outros. É de Tom Jobim também, junto com Newton Mendonça, as canções "Desafinado" e "Samba de uma Nota Só", dois dos primeiros clássicos do novo gênero musical brasileiro a serem gravados no mercado norte-americano a partir de 1960. Mudanças. Em meados da década de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada por Marcos Valle, Dori Caymmi, Edu Lobo e Francis Hime e estimulada pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Inspirada em uma visão popular e nacionalista, este grupo fez uma crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua reaproximação com compositores de morro, como o sambista Zé Keti. Um dos pilares da bossa, Carlos Lyra, aderiu a esta corrente, assim como Nara Leão, que promoveu parcerias com artistas do samba como Cartola e Nelson Cavaquinho e baião e xote nordestinos como João do Vale. Nesta fase de releituras da bossa nova, foi lançado em 1966 o antológico LP "Os Afro-sambas", de Vinicius de Moraes e Baden Powell. Entre os artistas que se destacaram nesta segunda geração (1962-1966) da bossa nova estão Paulo Sérgio Valle, Edu Lobo, Marcos Vasconcelos, Dori Caymmi, Nelson Motta, Francis Hime, Wilson Simonal, entre outros... Fim do movimento, da bossa nova à MPB. Um dos maiores expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em 1965, Vinícius de Moraes compôs, com Edu Lobo, "Arrastão". A canção seria defendida por Elis Regina no "I Festival de Música Popular Brasileira" (da extinta TV Excelsior), realizado no Guarujá naquele mesmo ano. Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia MPB, gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira até o início da década de 1980 - época em que surgiu um pop rock nacional renovado. A MPB nascia com artistas novatos, da segunda geração da bossa nova, como Geraldo Vandré, Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda, que apareciam com frequência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles tinham pouco ou quase nada de bossa nova. Vencedoras do "II Festival de Música Popular Brasileira", realizado em São Paulo em 1966, "Disparada", de Geraldo, e "A Banda", de Chico, podem ser consideradas marcos desta ruptura e mutação da bossa em MPB. Legado. O fim cronológico da bossa não significou a extinção estética do estilo. O movimento foi uma grande referência que para gerações posteriores de artistas, do "jazz" (a partir do sucesso estrondoso da versão instrumental de "Desafinado" pela dupla Stan Getz e Charlie Byrd) a uma corrente pós-"punk" britânica (de artistas como Style Council, Matt Bianco e Everything but the Girl). Hoje tem uma nova geração de artistas que revivem o estilo. Entre eles destacam-se Bogdan Plech, Eliane Elias, Irene Miranda Quartet, Rosa Passos, Shelley Dunstone e Lisa Ono, entre outros. No "rock" brasileiro, há de se destacar tanto a regravação da composição de Lobão, "Me chama", pelo músico bossa-novista João Gilberto, em 1986, além da famosa música do cantor Cazuza composta por ele e outros músicos, "Faz parte do meu show", gravada em 1988, com arranjos fortemente inspirados na bossa nova. Seu legado é valioso, deixando várias joias da música nacional, dentre as quais "Chega de Saudade", "Garota de Ipanema", "Desafinado", "O barquinho", "Eu Sei Que Vou Te Amar", "Se Todos Fossem Iguais A Você", "Águas de Março", "Outra Vez", "Coisa mais linda", "Corcovado", "Insensatez", "Maria Ninguém", "Samba de uma nota só", "O pato", "Lobo Bobo", "Saudade fez um Samba, Bossa Nova"
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Movimento cultural
Movimento cultural Um movimento cultural é uma mudança na maneira como várias disciplinas abordam seu trabalho. Isso incorpora todas as formas de arte, as ciências e filosofias. Historicamente, diferentes nações ou regiões do mundo passaram por sua própria sequência independente de movimentos na cultura, mas à medida que as comunicações mundiais aceleraram, essa distinção geográfica tornou-se menos distinta. Quando os movimentos culturais passam por revoluções de um para o outro, os gêneros tendem a ser atacados e misturados, e muitas vezes novos gêneros são gerados e os antigos desaparecem. Essas mudanças geralmente são reações contra a forma cultural anterior, que normalmente se tornou obsoleta e repetitiva. Uma obsessão emerge entre o "mainstream" com o novo movimento, e o antigo cai no esquecimento – às vezes ele desaparece completamente, mas muitas vezes ele segue favorecido em algumas disciplinas e ocasionalmente reaparece (às vezes prefixado com "neo-"). Há uma discussão contínua sobre a definição precisa de cada um desses períodos, e um historiador pode agrupá-los de maneira diferente ou escolher nomes ou descrições diferentes. Além disso, embora em muitos casos a mudança popular de um para o outro possa ser rápida e repentina, o início e o fim dos movimentos são um tanto subjetivos, pois os movimentos não surgiram do nada e não vieram a um fim abrupto e perder o suporte total, como seria sugerido por um intervalo de datas. Assim, o uso do termo "período" é um tanto enganoso. "Período" também sugere uma linearidade de desenvolvimento, ao passo que não é incomum que duas ou mais abordagens culturais distintas estejam ativas ao mesmo tempo. Os historiadores serão capazes de encontrar traços distintivos de um movimento cultural antes de seu início aceito, e sempre haverá novas criações em formas antigas. Portanto, pode ser mais útil pensar em termos de "movimentos" amplos que têm começos e finais ásperos. No entanto, para uma perspectiva histórica, alguns intervalos de datas aproximados serão fornecidos para cada um para indicar a "altura" ou período de tempo aceito do movimento. Este artigo atual abrange movimentos culturais ocidentais, notadamente europeus e americanos. No entanto, eles foram acompanhados por movimentos culturais no Oriente e em outros lugares. No final do século XX e início do século XXI na Tailândia, por exemplo, houve uma mudança cultural dos valores sociais e políticos ocidentais para japoneses e chineses. Além disso, essa cultura revigorou os conceitos monárquicos para acomodar as mudanças de estado da ideologia ocidental em relação à democracia e às monarquias.
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Choro
Choro O choro, ou chorinho, é um gênero da música popular brasileira surgido no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. Segundo José Ramos Tinhorão, o choro aparece não como gênero musical, mas como "forma de tocar", por volta de 1870. Sua origem, portanto, está no estilo de interpretação que os músicos populares do Rio de Janeiro imprimiam à execução das danças de salão europeias, principalmente as polcas, a dança mais popular no Brasil desde 1844. O choro tem como matrizes os gêneros luso-africano-brasileiros como a modinha e o lundu, e as danças de salão européias que chegaram no Brasil principalmente na década de 1840: a polca, a quadrilha, a schottich, a mazurca e a valsa, esta última presente no Brasil desde os princípios do século XIX. Em um primeiro momento, portanto, o choro consistiu em um "estilo" de interpretação da música importada, consumida nos salões e bailes da alta sociedade do Império. Sob o impulso criador dos "chorões", a comunidade de músicos populares , as danças europeias foram "abrasileirando-se", adquirindo feições genuinamente nacionais. A formação instrumental dos primeiros grupos de choro tinha como base os instrumentos de sopro, principalmente a flauta e o oficleide, além do violão e do cavaquinho. No decorrer do século XX, o bandolim adquire um lugar de destaque como solista, e o pandeiro se consolida como o principal instrumento de percussão. O compositor e maestro Henrique Alves de Mesquita, o flautista Joaquim Callado, os pianistas Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, o oficlidista Irineu de Almeida e o maestro Anacleto de Medeiros são os principais representantes dessas primeiras gerações que, nascidos no século XIX, estabeleceram os pilares do choro e da música popular carioca, que com a difusão pelas bandas de música e pelo rádio foi ganhando todo o território nacional.<ref name="DINIZ/2006-23p">Diniz, 2006, p.23</ref> Aluno de Irineu de Almeida, herdeiro imediato dessas primeiras gerações, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, foi o responsável pela consolidação do gênero. Virtuose da flauta, arranjador de primeira hora, e mestre do contraponto improvisado ao saxofone, Pixinguinha firmou-se como o maior compositor da história do choro.<ref name="DINIZ/2006-24p">Diniz, 2006, p.24</ref> História. Nome. A origem da designação "choro" para este gênero musical é controversa. Dentre as hipóteses, a primeira propõe que o termo teria surgido de uma fusão entre "choro", do verbo chorar, e "chorus", que em latim significa "coro". Para Lúcio Rangel e José Ramos Tinhorão, a expressão choro derivaria da maneira chorosa, melancólica, com que os violonistas do século XIX acompanhavam as danças de salão europeias. Por extensão, próprio conjunto de choro passou a ser denominado pelo termo, por exemplo, "Choro do Calado". Já Ary Vasconcelos vê a palavra choro como uma corruptela de choromeleiros, corporações de músicos que tiveram atuação importante no período colonial brasileiro. Os choromeleiros executavam, além da charamela, outros instrumentos de sopro. O termo passou a designar, popularmente qualquer conjunto instrumental. Câmara Cascudo arrisca que o termo pode também derivar de "xolo", um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas, expressão que, por confusão com a parônima portuguesa, passou a ser conhecida como "xoro" e finalmente, na cidade, a expressão começou a ser grafada com "ch". No princípio, a palavra designava o conjunto musical e as festas onde esses conjuntos se apresentavam, mas já na década de 1910 se usava o termo para denominar um gênero musical consolidado.<ref name="DINIZ/2003-12p">Diniz, 2003, p.12</ref> Atualmente, o termo "choro" tanto pode ser usado nessa acepção como para nomear um repertório de músicas que inclui vários ritmos. A despeito de algumas opiniões negativas sobre a palavra "chorinho", essa também se popularizou como referência ao gênero, designando um tipo de choro em duas partes, ligeiro, brejeiro, muito comunicativo.<ref name="DINIZ/2003-12p">Diniz, 2003, p.12</ref> Origens. Tido como a primeira música popular urbana típica do Brasil, a história está ligada com a chegada, em 1808, da Família Real portuguesa ao Brasil. Promulgada capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815, o Rio de Janeiro passou, então, por uma reforma urbana e cultural, quando foram criados cargos públicos. Com a corte portuguesa vieram instrumentos de origem européia como o piano, clarinete, violão, flauta, bandolim e cavaquinho, bem como seus instrumentistas.Com esses viajantes, chegou ao Brasil a música de dança de salão européia, como a valsa, a quadrilha, a mazurca, a schottish e principalmente a polca, que viraram moda nos bailes daquela época. A reforma urbana, os instrumentos e as músicas estrangeiras, juntamente com a abolição do tráfico de escravos no Brasil em 1850, foram condições históricas para o surgimento do choro, já que possibilitou a emergência de novos ofícios para as camadas populares. Nesse contexto, tendo como origens estilísticas o lundu, ritmo de inspiração africana à base de percussão, com gêneros europeus, nasceu o choro no Rio de Janeiro, por volta de 1870.<ref name="DINIZ/2003-13p">Diniz, 2003, p.13</ref> Esses grupos de instrumentistas populares, a quem se daria mais tarde o nome de "chorões", eram oriundos de segmentos da classe média baixa da sociedade carioca, sendo em sua grande maioria modestos funcionários de repartições públicas - como da Alfândega, dos Correios e Telégrafos e da Estrada de Ferro Central do Brasil - cujo trabalho lhes permitiam uma boemia regular, e geralmente moradores da Cidade Nova.<ref name="DINIZ/2003-14p">Diniz, 2003, p.14</ref> Sem muito compromisso e sem precisar tocar por dinheiro, essas pessoas passaram a formar conjuntos para tocar de "ouvido" essas músicas, que juntamente com alguns ritmos africanos já enraizados na cultura brasileira, como o batuque e o lundu, passaram a ser tocadas de maneira abrasileirada pelos músicos que foram então batizados de chorões. Inicialmente, eles se reuniam aos domingos nos chamados pagodes no fundo dos quintais dos subúrbios cariocas ou nas residências da Cidade Nova. Com isso, se tornaram os principais canais de divulgação do estilo para o povo.<ref name="DINIZ/2006-22p">Diniz, 2006, p.22</ref> Um dos preceitos desses pagodes ou tocatas domingueiras era uma mesa farta em alimentos e bebidas.<ref name="DINIZ/2003-14p">Diniz, 2003, p.14</ref> As formações pioneiras adotavam como terno de instrumentos a flauta, o violão e o cavaquinho. A flauta como "solista", o violão na "baixaria" e o cavaquinho como "centro". Aos poucos, os chorões passaram a se apresentar constantemente em saraus da elite imperial, executando os gêneros europeus mais em voga imprimindo uma genuína cultura afro-carioca, sempre com improvisações e desafios entre os instrumentistas solistas e de acompanhamento, que foram consolidando o estilo.<ref name="DINIZ/2006-23p">Diniz, 2006, p.23</ref> As mais antigas referências a esses grupos de músicos mencionam o flautista Joaquim Callado como o iniciador e organizador desses primeiros conjuntos. Como era professor da cadeira de flauta do Conservatório Imperial, Callado teve grande conhecimento musical e reuniu em torno de si os melhores músicos da época, que tocavam por simples prazer e descompromisso de fazer música. O conjunto instrumental "O Choro de Calado" costumava se reunir sem ideia prévia quanto a composição instrumental ou quanto ao número de figurantes de cada grupo. Em 1877, Chiquinha Gonzaga compôs "Atraente", e em 1897, "Gaúcho" ou "Corta-Jaca", grandes contribuições ao repertório do gênero, entre outras composições, como "Lua Branca". O choro era considerado apenas uma maneira mais sincopada (pela influência do lundu e do batuque) de se interpretar aquelas músicas, portanto recebeu fortes influências, porém aos poucos a música gerada sob o improviso dos chorões foi perdendo as características dos seus países de origem e os conjuntos de choro proliferaram na cidade, estendendo-se ao Brasil. Século XX. A partir dos primeiros anos da República, há menção de outros conjuntos de chorões incorporando outros instrumentos de cordas, bem como a utilização de instrumentos de banda com a função de solistas ou concertante dentro dos grupos. Eram os casos do bandolim, da bandola, da bandurra, do bombardino, do bombardão, da clarineta, do flautim, do oficlide, do pistom, do saxofone e do trombone. Era a participação ocasional ou improvisada desses instrumentos que determinava a função de cada um no conjunto musical, que era determinada de acordo com a capacidade do executante, tanto se incumbindo do solo como do contracanto ou mesmo as duas coisas alternadamente. Constituídos de polcas, xotes, tangos e valsas, o repertório era assinado por autores brasileiros, em sua maioria, os próprios conjuntos. Essas primeiras composições de choro com características próprias foram compostas por Joaquim Calado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros e Ernesto Nazareth, dentre outros. Durante as primeiras décadas do século XX, as habaneras, as polcas, os tangos, os xotes eram já designadas simplesmente como choros, termo que passou não apenas a denominar um gênero musical genuinamente popular e brasileiro, como também rotular a produção dos músicos chorões. Os conjuntos de choro foram muito requisitados nas gravações fonográficas que, no Brasil, tiveram início em 1902. O compositor Anacleto de Medeiros, regente da banca do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, foi um dos primeiros ao participar das primeiras gravações do gênero. Misturou a xote e a polca com as sonoridades brasileiras. Como grande orquestrador, adaptou a linguagem das rodas de choro para as bandas. O virtuoso da flauta Patápio Silva, considerado o sucessor de Joaquim Calado, ficou famoso por ser o primeiro flautista a fazer um registro fonográfico. Autor de "Sons de Carrilhões", o violonista João Pernambuco trouxe do sertão sua forma típica de canção e enriqueceu o gênero com elementos regionais, colaborando para que o violão deixasse de ser um mero acompanhante na música popular. Músico de trajetória erudita e ligado à escola européia de interpretação, Ernesto Nazareth compôs "Brejeiro" (1893), "Odeon" (1910) e "Apanhei-te Cavaquinho" (1914), que romperam a fronteira entre a música popular e a música erudita, sendo vitais para a formação da linguagem do gênero. Um dos maiores compositores da música popular brasileira, Pixinguinha contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma musical definitiva. Também tenor, arranjador, saxofonista e flautista, ele formou em 1919 o conjunto Oito Batutas, formado por Pixinguinha na flauta, João Pernambuco e Donga no violão, dentre outros músicos. Fez sucesso entre a elite carioca, tocando maxixes e outros choros. Quando compôs "Carinhoso", entre 1916 e 1917 e "Lamentos" em 1928, que são considerados dois dos choros mais famosos, Pixinguinha foi criticado e essas composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz. Outras composições de Pixinguinha, entre centenas, são "Rosa", "Vou vivendo", "Lamentos", "1 a 0", "Naquele tempo" e "Sofres porque Queres". Na década de 1920, o maestro Heitor Villa-Lobos compôs uma série de 16 composições dedicadas ao Choro, mostrando a riqueza musical do gênero e fazendo-o presente na música erudita. A série é composta de 14 choros para diversas formações, um Choro Bis e uma introdução aos Choros. Se a série tem o título "Choros", individualmente o nome de cada composição vem sempre no singular. O Choro nº 1 foi composto para violão solo. Existem também choros para conjuntos de câmara e orquestra. A peça Choro nº 13, de Heitor Villa-Lobos, foi composta para duas orquestras e banda. Já o Choro nº 14 é para orquestra, coro e banda. Uma das composição mais conhecida e executada dentre os choros orquestrais de Villa-Lobos é o Choro nº 10, para coro e orquestra, que inclui o tema "Rasga o Coração" de Catulo da Paixão Cearense. Devido à grande complexidade e à abrangência dos temas regionais utilizados pelo compositor, a série é considerada por muitos como uma das suas obras mais significativas. Também a partir da década de 1920, impulsionado pelas gravadoras de discos e pelo advento do rádio, o choro fez sucesso nacional com o surgimento de músicos como Luperce Miranda e do pianista Zequinha de Abreu, autor de Tico-Tico no Fubá, além de grupos instrumentais que, por dedicar-se à música regional, foram chamados de regionais, como o Regional de Benedito Lacerda, que tiveram como integrantes Pixinguinha e Altamiro Carrilho, e Regional do Canhoto, que tiveram como integrantes Altamiro e Carlos Poyares. Ocorreu uma revitalização do gênero na década de 1970. Em 1973, uniram-se o Conjunto Época de Ouro e Paulinho da Viola no show "Sarau". Foram criados os "Clubes do Choro" em Brasília, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo, dentre outras cidades. Surgiram grupos jovens dedicados ao gênero, como Galo Preto e Os Carioquinhas. O novo público e o novo interesse pelo gênero propiciou também a redescoberta de veteranos chorões, como Altamiro Carrilho, Copinha e Abel Ferreira, além de revelar novos talentos, como os bandolinistas Joel Nascimento e Déo Rian e o violonista Rafael Rabello. Festivais do gênero ocorreram no ano de 1977. A TV Bandeirantes de São Paulo promoveu duas edições do "Festival Nacional do Choro" e a Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro promoveu o "Concurso de Conjuntos de Choro". Em 1979 com o LP "Clássicos em Choro", o flautista Altamiro Carrilho fez sucesso tocando músicas eruditas em ritmo de choro. Também naquele ano, por ocasião do evento intitulado "Tributo a Jacob do Bandolim", em homenagem aos dez anos do falecimento do bandolinista, é criado o grupo Camerata Carioca, formado por Radamés Gnatalli, Joel Nascimento e Raphael Rabello, dentre outros músicos. A década de 1980 foi marcada por inúmeras oficinas e seminários de choro. Importantes instrumentistas se reuniram para discutir e ensinar o gênero às novas gerações. Em 1986, realizou-se o primeiro "Seminário Brasileiro de Música Instrumental", em Ouro Preto, uma proposta ampla que ocasionou uma redescoberta do choro. A partir de 1995 o gênero foi reforçado por grupos que se dedicaram à sua divulgação e modernização e pelo lançamento de CDs. Século XXI. O choro entra no terceiro século da sua existência, com uma bagagem de mais de 130 anos, completamente firmado como um dos principais gêneros musicais do Brasil. São milhares de discos gravados e centenas de chorões que marcaram presença. O choro além de ser um gênero musical rico e complexo, é também um fenômeno artístico, histórico e social. Em 4 de setembro de 2000, foi sancionada lei que criava o dia nacional do choro, a ser comemorado no dia 23 de abril, em homenagem ao nascimento de Pixinguinha. No Estado de São Paulo, existe o Dia Estadual do choro, comemorado no dia 28 de junho, dia em que nasceu Garoto, um dos principais expoentes paulistas do choro. Elementos característicos. Rítmica. O choro não se caracteriza por um ritmo específico, mas pela maneira de se tocar solta e sincopada, repleta de ornamentos e improvisações. Assim, é muito vasta a gama de ritmos nos quais se baseiam os compositores de choro. Dentre os principais ritmos utilizados, pode-se citar o maxixe, o samba, a polca e a valsa, dando origem, assim, ao ‘’samba-choro’’, à ‘’polca-choro’’ e à ‘’valsa-choro’’ (com relação ao maxixe, não é utilizada a expressão “maxixe-choro”, mas apenas ‘’maxixe’’). Além disso, há choros de andamento rápido e choros mais lentos (apelidados "varandões"). Forma. O choro tradicional é caracterizado por três partes. É comum que cada parte esteja em uma tonalidade, geralmente com modulações para tons vizinhos como o relativo ou o quarto grau. A partir de meados do século XX tornou-se muito popular o choro com apenas duas partes. Grande parte dos choros de Jacob Bittencourt apresentam apenas duas partes. Um grande defensor do choro em duas partes foi o compositor K-Ximbinho. Além disso, observa-se uma quadratura regular em cada uma das partes. Em geral, cada parte tem 16 ou, mais recentemente, 32 compassos (sobretudo nos choros com apenas duas partes), subdivididas em frases de compassos, por sua vez compostas de dois incisos de 4 compassos. Letra. Uma das principais discussões sobre o Choro é se deve ou não ter letra. Essa polêmica sempre foi discutida entre os chorões, que têm opiniões diversas. Originalmente, o gênero é puramente instrumental, mas, principalmente a partir dos anos 1930 com a influência do rádio, começou-se a colocar letras em choros. Um exemplo famoso é o do choro "Carinhoso", de Pixinguinha, que recebeu letra de João de Barro e foi gravado com sucesso por Orlando Silva. As interpretações de Ademilde Fonseca a consagraram como grande intérprete do choro cantado, sendo considerada "A Rainha do choro". Outra controvérsia levantada é a respeito da inserção de letras em choros de compositores já falecidos, como fez, dentre outros, Hermínio Bello de Carvalho. Isso, para muitos chorões, constitui um desrespeito à obra dos compositores, além de resultar em parcerias fictícias, gerando brigas em torno de direitos autorais. Instrumentos e conjuntos típicos. Os chorões muitas vezes se reúnem em grupos, geralmente "rodas de choro" ou "conjuntos regionais". O nome "regional" provavelmente surgiu na década de 1920, a partir de grupos que se dedicavam à música regional. O conjunto regional é geralmente formado por um ou mais instrumentos melódicos, como flauta, bandolim e cavaquinho, que executam a melodia; o cavaquinho tem um importante papel rítmico e também assume parte da harmonia; um ou mais violões e o violão de 7 cordas formam a base harmônica do conjunto e o pandeiro atua na marcação do ritmo base.
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Michelangelo
Michelangelo Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (Caprese, 6 de março de 1475 — Roma, 18 de fevereiro de 1564), mais conhecido simplesmente como Michelangelo ou Miguel Ângelo, foi um pintor, escultor, poeta, anatomista e arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte do ocidente. Ele desenvolveu o seu trabalho artístico por mais de setenta anos entre Florença e Roma, onde viveram seus grandes mecenas, a família Medici de Florença, e vários papas romanos. Iniciou-se como aprendiz dos irmãos Davide e Domenico Ghirlandaio em Florença. Tendo o seu talento logo reconhecido, tornou-se um protegido dos Medici, para quem realizou várias obras. Depois fixou-se em Roma, onde deixou a maior parte de suas obras mais representativas. Sua carreira se desenvolveu na transição do Renascimento para o maneirismo, e seu estilo sintetizou influências da arte da Antiguidade clássica, do primeiro Renascimento, dos ideais do humanismo e do neoplatonismo, centrado na representação da figura humana e em especial no nu masculino, que retratou com enorme pujança. Várias de suas criações estão entre as mais célebres da arte do ocidente, destacando-se na escultura o "Baco", a "Pietà", o "David", as duas tumbas Medici e o "Moisés"; na pintura o vasto ciclo do teto da Capela Sistina e o "Juízo Final" no mesmo local, e dois afrescos na Capela Paulina; serviu como arquiteto da Basílica de São Pedro implementando grandes reformas em sua estrutura e desenhando a cúpula, remodelou a praça do Capitólio romano e projetou diversos edifícios, e escreveu grande número de poesias. Ainda em vida foi considerado o maior artista de seu tempo; chamavam-no de "o Divino", e ao longo dos séculos, até os dias de hoje, vem sendo tido na mais alta conta, parte do reduzido grupo dos artistas de fama universal, de fato como um dos maiores que já viveram e como o protótipo do gênio. Foi um dos primeiros artistas ocidentais a ter sua biografia publicada ainda em vida. Sua fama era tamanha que, como nenhum artista anterior ou contemporâneo seu, sobrevivem registros numerosos sobre sua carreira e personalidade, e objetos que ele usara ou simples esboços para suas obras eram guardados como relíquias por uma legião de admiradores. Para a posteridade Michelangelo permanece como um dos poucos artistas que foram capazes de expressar a experiência do belo, do trágico e do sublime numa dimensão cósmica e universal. Biografia. Primeiros anos. Michelangelo foi o segundo filho de Lodovico di Lionardo Buonarroti Simoni e Francesca di Neri Buonarroti. Em sua certidão de batismo seu nome consta de duas formas, Michelagnelo e Michelagnolo Buonaroti; aparece na biografia de Vasari como Michelagnolo Bonarroti e na de Condivi como Michelagnolo Buonarroti. Quando jovem assinava como Michelagniolo. Essas primeiras biografias foram escritas quando ele ainda vivia e sua fama estava no auge, e seus admiradores, não contentes em estabelecer uma alta estirpe para sua família — cuja genealogia aparece hoje como duvidosa —, trataram de engrandecer eventos relacionados ao seu nascimento e infância, alegadamente proféticos de sua futura glória. Por exemplo, dizia-se que sua mãe caíra de um cavalo enquanto o carregava nos braços mas teriam saído ilesos do acidente; ainda bebê, dormindo no mesmo berço de um irmão, este contraiu grave doença contagiosa, da qual faleceu, mas Michelangelo milagrosamente não foi contaminado. Também diziam que seu mapa astral preconizava um futuro brilhante, por causa de uma conjunção de Vênus, Marte e Júpiter no Ascendente. Condivi disse que sua família era antiga e pertencia à nobreza, o que era aceito como um fato na época em que viveu. Seria descendente dos condes de Canossa, da região de Reggio Emilia, tendo entre seus ancestrais a célebre Matilde de Canossa, e ligados pelo sangue a imperadores. Um membro da família, Simone da Canossa, teria se radicado em Florença em 1250 e sido feito cidadão da República, encarregado da administração de uma das seis divisões florentinas. Ali mais tarde mudara seu sobrenome de Canossa para Buonarroti, em função do prestígio que vários indivíduos da família chamados Buonarroto adquiriram como magistrados, passando este ramo da Casa de Canossa a ser conhecido como Casa de' Buonarroti Simoni. Lodovico na época do nascimento de Michelangelo era administrador das vilas de Caprese e Castello di Chiusi, subordinadas a Florença. Um mês depois, contudo, expirando o seu mandato, a família se transferiu definitivamente para Florença, mas o bebê, como era um hábito, foi entregue a uma ama para ser criado em Settignano, outra vila florentina, numa propriedade familiar. Com três anos voltou a viver na casa paterna, e com seis perdeu a mãe. Teve como irmãos Lionardo, o primogênito, e mais Buonarroto, Giovansimone e Gismondo. O pai, mesmo possuindo algum prestígio, não era rico. Sua família era numerosa e suas rendas, baseadas principalmente na propriedade rural em Settignano, eram insuficientes para manter um elevado padrão de vida. O salário que recebia da República era baixo, 500 liras a cada seis meses, e ficava obrigado a pagar com ele mais dois notários, três servos e um cavalariço. A antiga fortuna da família, adquirida no comércio e no câmbio, começara a se dissipar com seu próprio pai, que teve de prover dotes para suas filhas, pagar dívidas vultosas e não obteve cargos lucrativos, e a situação piorou na geração seguinte, a ponto de estarem perto de perder seu estatuto de patrícios e decair para a plebe. Reconhecendo que Michelangelo era especialmente dotado, assim que atingiu a idade adequada Lodovico o enviou para ser educado por Francesco da Urbino, esperando que seguisse uma carreira prestigiada. Para a sua frustração, o filho fez pouco progresso na gramática, no latim e na matemática, e roubava tempo dos estudos para procurar a companhia de artistas e desenhar. Tornou-se amigo de Francesco Granacci, discípulo de Domenico Ghirlandaio, que o incentivou nas artes e o levava para frequentar o atelier de seu mestre, com o resultado de ele abandonar o interesse pela instrução regular, e por isso receber repetidas punições de seu pai e irmãos, para quem a carreira artística era indigna da nobreza de sua linhagem. Mesmo assim, conseguiu finalmente vencer a oposição paterna e ser admitido como discípulo de pintura dos irmãos Davide e Domenico Ghirlandaio, através de um contrato com duração estipulada de três anos, assinado em 1 de abril de 1489, ganhando um salário de 24 florins de ouro, o que não era uma prática costumeira naquele tempo. Disse Condivi que a primeira obra acabada de Michelangelo foi a pintura "Santo Antônio Abade atormentado por demônios" a partir de uma gravura de Martin Schongauer, tão bem feita que teria suscitado a inveja de Domenico. As relações entre ambos já deviam estar tensas, pois Michelangelo tinha o hábito de jactar-se como superior a Domenico e certa vez ousara corrigir os seus desenhos, humilhando-o, o que não foi pouca coisa, dado que era então um dos pintores mais importantes de Florença, e a insolência deve ter repercutido fundo no espírito do mestre. Outra peça que produziu na época, uma cópia de uma cabeça antiga, teria resultado tão bem que o proprietário do original, recebendo em vez a cópia, não conseguiu perceber a troca. Somente pela indiscrição de um companheiro de Michelangelo a artimanha foi descoberta, e comparando-se ambos os trabalhos, o talento de Michelangelo se tornou reconhecido. Mas é provável que esses relatos tenham sido muito magnificados — Vasari, na segunda versão de sua biografia, disse que a obra de Condivi tinha muitas inverdades —, pois considerando o reduzido tempo que permaneceu ali, e sabendo-se hoje dos rigorosos hábitos disciplinares do aprendizado artístico da época, que iniciava com as tarefas mais humildes, ele dificilmente teria tido condições de desenvolver tão cedo uma técnica capaz de produzir obras de qualidade tão alta como é declarado. Ainda seria apenas um serviçal, como todos os principiantes, mantendo os materiais e ferramentas dos mestres e dos discípulos mais graduados em ordem e em condições de uso, limpando o espaço, e ficando à disposição dos mestres para atender quaisquer outras demandas para o bom funcionamento da oficina. No pouco tempo que lhes restava era-lhes permitido exercitar o desenho através da cópia de modelos consagrados, mas isso nessa primeira fase era raro, pois além do trabalho servil ser exaustivo o papel era caríssimo e não podia ser gasto à toa com alunos ainda despreparados. Somente quando os alunos dominavam essa parte instrumental e já conheciam em profundidade as propriedades dos materiais da arte era-lhes dado acesso ao conhecimento dos rudimentos mais básicos da criação, servindo então como assistentes diretos dos mestres, mas ainda apenas esticando as telas e preparando os painéis em madeira, dando-lhes as camadas de base, pintando alguns detalhes menos importantes da composição e se aprofundando no estudo do desenho. Entretanto, parece certo que quando ingressou na oficina de Ghirlandaio Michelangelo já havia praticado muito desenho, e assim é difícil determinar com exatidão até onde vai a verdade das biografias primitivas, até porque elas constantemente tendem a exaltar o seu sujeito, mesmo que seja reconhecido que seu talento foi precoce e seu desenvolvimento, muito rápido. Juventude. Michelangelo não terminou seu aprendizado com os Ghirlandaio. Um ano depois deixou o atelier e entrou na proteção de Lourenço de Médici. Os autores divergem sobre as circunstâncias desse evento. Talvez por seu temperamento rebelde ele tenha se tornado uma presença irritante para os seus mestres, também ele aparentemente não apreciava tanto a pintura como a escultura; Barbara Somervill disse que seu pai, confiando na força de um parentesco distante com os Médici e na disposição de Lourenço em ajudar seus familiares pobres, apelou para que ele o aceitasse como aprendiz; Vasari e Condivi alegam que foi por solicitação direta de Lourenço a Lodovico. Seja como for, com quinze anos de fato ele passou a viver no palácio dos Medici. Lourenço era o chefe de sua ilustre família, então a mais rica da Itália, governava "de facto" Florença embora não tivesse cargo oficial, e reunira em torno de si uma brilhante corte de humanistas e artistas, sendo ele próprio um poeta e intelectual. Foi uma circunstância afortunada para Michelangelo, pois recebia o atraente salário de cinco ducados por semana, e pôde desfrutar da amizade pessoal com o mecenas, comendo em sua mesa, e da atmosfera erudita do seu círculo, do qual participavam Angelo Poliziano, Pico della Mirandola e Marsilio Ficino, reforçando sua educação precária e entrando em contato com o Neoplatonismo. Fez amigos também entre os filhos da casa, que mais tarde se tornaram seus patronos, e mais importante para sua carreira foi poder frequentar o célebre Jardim de Esculturas que Lourenço organizara com uma importante coleção de fragmentos da Antiguidade clássica, de cujo estudo retirou substancial informação para desenvolver seu estilo pessoal na escultura. Para administrar esse jardim, Lourenço contratara o escultor Bertoldo di Giovanni, que havia sido aluno de Donatello, e com ele Michelangelo teve algo que se aproximou de um professor de escultura, embora aparentemente não tenha seguido seus métodos. Sua primeira obra para Lourenço parece ter sido uma cabeça de fauno, que não sobreviveu, mas segundo consta foi tão bem realizada que com ela Lourenço definitivamente se rendeu ao talento do jovem. Outras obras dessa fase foram um crucifixo para o prior do Hospital do Santo Espírito, que lhe permitia dissecar cadáveres para estudar sua anatomia, um baixo-relevo hoje conhecido como a "Madonna da Escada", à maneira de Donatello, e o alto-relevo da "Centauromaquia", criado sob o conselho de Poliziano e possivelmente inspirado em um motivo encontrado em um sarcófago romano, que despertou a admiração, até das gerações seguintes, como uma obra já madura, ainda que tenha sido deixado inconcluso. Pouco depois, em 8 de abril de 1492, Lourenço faleceu, deixando o governo para seu filho Pedro de Médici ("Piero"), de apenas vinte e um anos de idade. Segundo Condivi, para Michelangelo a morte de seu patrono foi um grande choque, tendo permanecido dias em funda tristeza, incapaz de qualquer ação. Retirou-se para a casa de seu pai, onde esculpiu um "Hércules" de grandes dimensões, que foi vendido para , mas do qual não se conhece o paradeiro. Sucedeu então que caísse uma grande nevasca sobre Florença, e então Pedro lembrou-se do amigo. Intimou que ele acorresse ao seu palácio para fazer um boneco de neve, e renovou o convite para que o artista vivesse no palácio Medici a fim de que as coisas continuassem da maneira que eram antes da morte de Lourenço. O convite foi aceito e Michelangelo novamente se tornou um favorito, mas Pedro carecia de toda a sabedoria política de seu pai, era tirânico e completamente inepto para a sua função. Tanto que atraiu a condenação de Savonarola e o descontentamento popular cresceu rápido. Percebendo o rumo fatal que os acontecimentos tomavam, e por causa de sua íntima associação com Pedro, Michelangelo fugiu secretamente primeiro para Bolonha, e depois seguindo para Veneza, poucas semanas antes de Florença ser invadida por e Pedro ser derrubado e expulso de lá junto com toda a sua família. Não conseguindo trabalho em Veneza, voltou para Bolonha, onde encontrou um novo patrono em Gianfrancesco Aldovrandi, em cuja casa permaneceu por um ano. Por sua sugestão produziu figuras para a tumba inacabada de São Domingos, um "Anjo segurando um candelabro", um "São Proclo" e um "São Petrônio", além de entreter seu mecenas com leituras de Dante, Petrarca e Boccaccio, apreciadas por seu dialeto toscano ser o mesmo em que haviam sido escritas. Entretanto, conheceu obras classicistas de Jacopo della Quercia, que exerceram significativa influência em seu estilo. No inverno de 1495 voltou brevemente a Florença. Condivi e Vasari relataram que Michelangelo encontrou-se com Lorenzo di Pierfrancesco de' Medici, que o encorajou a esculpir um "São João", e depois um "Cupido adormecido", induzindo o artista a patiná-lo para que pudesse ser vendido como uma antiguidade por um bom preço no mercado romano. Michelangelo o teria enviado para Roma em 1496 e sido adquirido pelo Cardeal Raffaele Riario, mas Clacment alega que a história é muito duvidosa. Maturidade. De qualquer forma ele viajou para Roma em seguida e hospedou-se por um ano com Riario, mas para ele aparentemente não produziu nada. Sua obra seguinte, um "Baco embriagado" de grandes dimensões e traços claramente clássicos, foi feita a pedido do banqueiro Jacopo Galli, que solicitou ainda um "Cupido em pé", e através de quem Michelangelo conheceu o Cardeal Jean de la Grolaye de Villiers, embaixador da França junto ao Papa, que encomendou a célebre "Pietà", um tema raro na Itália mas comum na França, que foi imediatamente aclamada como uma obra-prima, alçando-o à fama. Logo recebeu outras comissões, incluindo quinze estatuetas de santos para o Cardeal Francesco Piccolomini, mas realizou destas apenas quatro, interrompendo o trabalho em 1501 para atender um chamado da Catedral de Florença. A encomenda foi de um "David", a ser instalado nos contrafortes da Catedral. Michelangelo escolheu para a obra um enorme bloco de mármore que havia sido trabalhado parcialmente por outros escultores mas permanecia abandonado há quarenta anos, com mais de 5 metros de altura. Talhar uma obra desse vulto ainda hoje é um desafio técnico enorme, e quando pronta em 1504 o resultado foi considerado tão brilhante e magnificente que foi formada uma comissão de notáveis para decidir onde colocá-la, pois se julgou merecer uma posição mais destacada do que a prevista anteriormente. Assim, foi instalada diante do Palácio dos Priores, a sede administrativa da República, como um símbolo das virtudes cívicas florentinas. Durante esses anos envolvido com o "David", Michelangelo ainda achou tempo para criar várias "Madonnas" para patronos privados, uma em forma de estátua, duas em relevo e uma pintura, esta sendo especialmente significativa como um exemplo precursor do Maneirismo florentino. Condivi mencionou mais duas obras, em bronze, um "David" e uma "Madonna", que não são conhecidas. Depois do sucesso absoluto de seu "David", Michelangelo foi atraído para projetos monumentais, mas raramente aceitava ajudantes diretos, de forma que muitos deles não foram acabados. Foi o caso da outra empreitada com que os magistrados florentinos o incumbiram, um grande afresco para a Sala do Conselho, representando a "Batalha de Cascina", um evento da guerra em que Florença conquistou Pisa. Leonardo da Vinci foi convidado no mesmo momento para fazer outra grande pintura na parede oposta da sala. Nem uma das duas foi terminada, e a de Michelangelo sequer saiu do estudo preparatório. Em 1505, Michelangelo aceitou um pedido de doze grandes Apóstolos em mármore para a Catedral, mas somente um, "Mateus", foi começado, e mesmo este foi abandonado antes de acabar, pois o o chamara para Roma. Júlio era tão fascinado pelo grandioso quanto Michelangelo, e era voluntarioso; seus atritos com o artista, cujo temperamento também era forte, se tornaram lendários. Planejara erguer uma portentosa tumba para si mesmo, com quarenta estátuas. Definido o desenho, Michelangelo viajou para as minas de mármore em Carrara para selecionar as pedras, passando lá oito meses. Quando o material chegou a Roma ocupou boa parte da Praça de São Pedro. Mas estando Júlio engajado ao mesmo tempo na reconstrução da vasta Basílica de São Pedro, os fundos para o trabalho logo secaram. Michelangelo supôs que o arquiteto de São Pedro, Bramante, havia envenenado o papa contra ele, e deixou Roma, voltando para Florença. O papa fez pressão sobre as autoridades florentinas exigindo o seu retorno, e em vez de continuar as obras da sua tumba mandou-o criar uma colossal estátua sua em bronze para instalar em Bolonha, que recém havia conquistado em suas expedições militares. Depois de pronta o fez aceitar, a contragosto, o encargo de pintar o enorme teto da Capela Sistina, completado em apenas quatro anos, entre 1508 e 1511. O resultado foi muito além das expectativas papais, e mesmo que Michelangelo não estivesse muito à vontade com a técnica da pintura, preferindo sempre a escultura, deu provas de possuir um gênio pictórico comparável ao que produziu o "David" e a "Pietà". Assim que terminou o teto, Júlio mandou que ele voltasse a trabalhar em sua tumba, que jamais foi acabada segundo o plano original. Júlio morreu em 1513 e o projeto então foi revisado várias vezes e sucessivamente reduzido pelos outros papas, transformando-se em uma obra muito mais modesta do que a pretendida. Das quarenta estátuas do plano o monumento atual possui apenas sete, e destas somente o "Moisés" (1513–15) tem real valor, sendo uma contrapartida escultórica das grandes figuras do teto da Sistina. Seis outras, inacabadas mas também de grande interesse, representando escravos e prisioneiros, originalmente pretendidas como parte do conjunto, foram dispersas e estão hoje no Museu do Louvre em Paris e na Galleria dell'Accademia de Florença. Outra peça importante do período foi um "Cristo Redentor" nu para a Igreja de Santa Maria sobre Minerva. O sucessor de Júlio foi um amigo de juventude de Michelangelo, o segundo filho de Lourenço de Médici, Giovanni, que foi sagrado papa com o nome de Leão X. O governante de Florença então era o Cardeal Giulio de' Medici, mais tarde também papa com o nome de Clemente VII. Ambos empregaram o artista principalmente em Florença em obras de glorificação de sua família. Para eles Michelangelo penetrou no terreno da arquitetura, elaborando um plano para a remodelação da fachada da Basílica de São Lourenço, nunca concretizado, mas os seus esforços deram melhores frutos em um projeto menor, a construção e decoração da Sacristia Nova, ligada à Basílica. As obras mais significativas na Sacristia são as originais tumbas de Juliano II de Médici e Lourenço II de Médici, que compreendem cada uma uma estátua idealizada do morto e duas figuras decorativas reclinadas sobre o caixão, nem todas inteiramente acabadas mas de grande pujança, já em um estilo claramente maneirista. No mesmo período Michelangelo projetou outro edifício anexo à Basílica, a Biblioteca Laurenciana, para receber o acervo legado pelo papa Leão X após sua morte. A estrutura é marcante pela sua livre interpretação dos cânones arquitetônicos clássicos, tornando-a o primeiro e um dos mais importantes exemplos do Maneirismo arquitetural. Em 1527 Roma foi invadida e violentamente saqueada por tropas rebeldes de Carlos V, imperador do Sacro Império. O papa fugiu, e Florença se revoltou novamente contra os Medici, banindo-os. Em seguida a cidade foi assediada, e nesse período Michelangelo foi empregado pelo governo local em obras de engenharia, projetando fortificações. Esta década e a seguinte foram especialmente difíceis para ele. Seu pai morrera em 1521 e em seguida seu irmão favorito. Michelangelo se preocupava com o avanço dos anos e temia a morte, e ainda se envolveu em assuntos familiares para assegurar a perpetuação do nome Buonarroti. Em sua vida afetiva se ligou fortemente a homens jovens, em especial a Tommaso dei Cavalieri, trocando calorosa correspondência e escrevendo-lhes poesias de grande qualidade, tratando do tema do amor na tradição de Petrarca e expressando ideias neoplatônicas. Essas ligações e esses testemunhos materiais têm sido considerados por grande número de estudiosos como evidências de homossexualidade, mas para uma minoria influente, da qual participa Gilbert Creighton, editor da Britannica, é provável que ele estivesse mais preocupado em encontrar um filho adotivo e que seu transbordamento emocional não passasse de retórica literária. Em 1530 os Medici conseguiram impor definitivamente seu governo em Florença, Michelangelo voltou ao projeto das tumbas da família e produziu duas esculturas, um "Gênio da Vitória", que se tornou um protótipo para os escultores maneiristas, e um "David", às vezes identificado também como "Apolo". Em 1534 deixou a cidade pela última vez, a chamado do novo papa, Paulo III, passando a residir em Roma, embora tenha sempre alimentado a esperança de poder voltar e terminar seus projetos inacabados. Últimas décadas. Nessa fase Michelangelo deixou um pouco de lado a escultura e se voltou para a arquitetura, a poesia e a pintura. Paulo III o chamara para pintar a cena do "Juízo Final" na parede atrás do altar da Capela Sistina. A composição foi outra obra-prima, mas em um estilo muito diverso daquele do teto, e reflete o impacto da Contra-Reforma na cultura da época. A concepção é poderosa e as figuras ainda são grandiosas, mas sua descrição anatômica é menos clara. Por outro lado, a intensidade psicológica e dramática é muito mais impressionante. Uma cena prevista para a parede oposta, mostrando a "Queda de Lúcifer", foi desenhada em cartão mas não realizada. Entretanto, de acordo com Vasari o desenho foi aproveitado por um artista menor na Catedral de Todi, com uma execução pobre. Imediatamente depois foi convocado para pintar mais dois grandes painéis na Capela Paulina, ilustrando a "Crucificação de São Pedro" e a "Conversão de Saulo". Nesse período desenvolveu uma profunda ligação afetiva com a patrícia romana Vittoria Colonna, que perdurou até a morte dela em 1547, compartilhando um interesse pela poesia e pela religião. Desenhou a remodelação da Praça do Capitólio, um dos projetos urbanísticos mais notáveis da cidade, e na sua condição de novo arquiteto de São Pedro, cargo aceito também com grande relutância, elaborou os planos para a reforma de sua estrutura a partir das ideias deixadas por Bramante, descartando acréscimos de outros colaboradores e revertendo a planta para cruz grega. Também desenhou a cúpula, uma grande obra de arquitetura, embora construída somente depois que morreu, com ligeiras modificações. Enquanto trabalhava em São Pedro se envolveu em projetos arquitetônicos menores, completando o inacabado Palácio Farnese, dando aconselhamento nas obras da Villa Giulia, da Igreja de São Pedro em Montorio e do "Belvedere" do Vaticano, além de fornecer um projeto, não utilizado, para a remodelação da Basílica de São João dos Florentinos. Em 1555 Paulo IV ascendeu o papado e de imediato abriu um conflito com o governo espanhol em Nápoles, ao mesmo tempo em que intensificou os procedimentos da Contra-Reforma e apoiou a Inquisição. Cancelou a chancelaria de Rimini que Paulo III havia outorgado a Michelangelo, uma boa fonte de renda para ele, e quis destruir o "Juízo Final" da Sistina, considerado indecente, o que só não ocorreu graças à firme oposição de vários cardeais; mesmo assim vários nus foram cobertos. O clima em Roma se tornou tenso, tropas francesas entraram nos Estados Papais e Michelangelo, em 1557, buscou refúgio temporário em um mosteiro em Spoleto, deixando as obras na Basílica a cargo de auxiliares. Voltando a Roma pouco depois, passou a se dedicar ao projeto de um túmulo para si mesmo, nunca executado, mas para ele esculpiu a "Pietà de Florença", onde se acredita que ele tenha deixado seu auto-retrato na figura de José de Arimateia. Então voltou às obras de São Pedro, mas suas decisões eram continuamente desacatadas pelos assistentes, criando uma situação estressante. Em 1559 o papa morreu. Era tão odiado que o povo romano deu grandes manifestações de júbilo ao saber da notícia, e Duppa diz que deve ter sido um alívio também para o artista. Pio IV manteve Michelangelo como arquiteto de São Pedro — desta época é o projeto da cúpula — e lhe restituiu parte das rendas de Rimini. Desenhou um monumento em honra ao irmão do papa a ser instalado na Catedral de Milão, executado por outros, construiu a Porta Pia, reformou as Termas de Diocleciano, transformando-as na Basílica de Santa Maria dos Anjos e dos Mártires, e projetou uma capela na Basílica de Santa Maria Maior, terminada postumamente. A nomeação de Michelangelo como arquiteto-chefe de São Pedro nunca agradara aos diretores da obra e aos arquitetos assistentes, as pressões por fim acabaram por triunfar, e em 1562 ele foi removido do cargo. Mas logo a situação reverteu a seu favor, pois Michelangelo solicitou uma entrevista com o papa e lhe expôs as intrigas que haviam levado à situação. O papa mandou examinar o caso, confirmou as alegações de Michelangelo e o reconduziu à chefia das obras, e mais, ordenou que suas diretrizes fossem seguidas à risca. Em 1563 foi eleito "primus inter pares" da Accademia del Disegno de Florença, recém fundada por Cosimo I de' Medici e Vasari, e somente depois disso, às portas dos noventa anos de idade, sua saúde e vigor começaram a declinar rápida e visivelmente. Pouco tempo lhe restava, e na passagem de 1563 para 1564 se tornou claro que já não poderia sair à rua a qualquer hora e sob qualquer tempo como costumava, e nem podia mais recusar a ajuda de outros como fora seu hábito perene. Em 14 de fevereiro de 1564 sofreu uma espécie de ataque, e espalhou-se a notícia de que ele estava doente. Não obstante, seu amigo Tiberio Calcagni, que correu visitá-lo, o encontrou na rua debaixo da chuva, dizendo que não encontrava sossego de forma alguma. De acordo com o relato, sua face estava com uma péssima aparência e sua fala era hesitante. Entrando em casa, recolheu-se para descansar. Outros amigos vieram para atendê-lo, no dia seguinte pressentiu a morte e mandou chamar seu sobrinho Lionardo, mas este não chegou a tempo de vê-lo vivo. Faleceu pacificamente pouco antes das cinco da tarde do dia 18, na companhia de Tiberio Calcagni, Diomede Leoni, Tommaso dei Cavalieri e Daniele da Volterra, além dos médicos Federigo Donati e Gherardo Fidelissimi. Por ordem do governador de Roma o corpo foi depositado com grandes honras na Basílica dos Doze Santos Apóstolos, mas Lionardo desejava que ele repousasse em Florença, e teve de roubar o cadáver e despachá-lo para a outra cidade disfarçado como mercadoria, sendo entregue na alfândega local em 11 de março. Dali foi removido para um oratório, e no dia seguinte em segredo foi levado para a Basílica da Santa Cruz, mas o movimento foi percebido por populares e logo uma grande multidão se formou para acompanhar o cortejo, prestando-lhe sua última homenagem. O grupo entrou na Basílica, que ficou completamente lotada, e o lugar-tenente da Accademia ordenou que o caixão fosse aberto. Segundo os registros, após vinte e cinco dias de seu falecimento, o corpo ainda estava intacto e sem qualquer odor. Então foi enterrado atrás do altar dos Cavalcanti. Em 14 de julho uma grande cerimônia pública homenageou sua memória. Os poemas e panegíricos escritos para o dia encheram um volume, que foi publicado em seguida. Sua tumba definitiva foi desenhada por Giorgio Vasari e está na Basílica da Santa Cruz. Mais tarde diversas cidades ergueram-lhe monumentos. Personalidade. Quando adulto Michelangelo tinha uma estatura mediana e possuía ombros largos e braços fortes, resultado de suas infindáveis horas trabalhando com a pedra. Seu cabelo era escuro e seus olhos pequenos e castanhos, usava a barba dividida em duas, tinha os lábios finos, o nariz quebrado de uma luta na juventude com Pietro Torrigiano, e sua testa era saliente. Não dava a mínima atenção à sua aparência física, vestia-se com roupas velhas, às vezes até esfarrapadas, que estavam invariavelmente sujas. Mesmo assim não raro dormia com elas e com seus sapatos. Da mesma forma, era indiferente quanto à comida, comia pouco e irregularmente, tinha má digestão; ficava tão satisfeito com um pedaço de queijo como com uma refeição de vários pratos, como as que comia quando convidado pelos poderosos. Não fazia caso de onde ia dormir e tinha um sono curto, sofria de dores de cabeça e com o avançar dos anos teve problemas de vesícula e reumatismo nas pernas, mas em geral gozou de boa saúde até seu último ano de vida. Trabalhava incansavelmente, pôde adquirir uma educação geral bastante larga mesmo sem instrução regular, e poucas coisas o interessavam além de sua arte. Entre elas, como se depreende de suas cartas, ele tinha preocupações quanto à perpetuação e dignificação do nome familiar. Em várias, dirigidas a seu sobrinho Lionardo, urgiu que ele se casasse com uma jovem da nobreza, digna dos Buonarroti, e encareceu que ele deixasse o campo e morasse em um palacete urbano, o sinal mais evidente do "status" de um patrício. Em outras expressa sua ambição de "ressuscitar a sua Casa", e seu desejo de glória tanto pessoal como familiar é documentado por outros testemunhos. Enquanto viveu se formou um folclore a respeito de sua personalidade, descrevendo-o como "terribile", ou seja, passional e violento. Também era considerado desconfiado, irritável, antissocial, excêntrico e melancólico, tímido e avarento, e muitos o chamavam de louco. Vasari e Condivi consideraram necessário enfatizar que essas descrições eram caluniosas, mas isso prova que elas eram correntes, mesmo que possam não ter correspondido à toda a verdade. Eles em vez o descreveram como uma pessoa profundamente religiosa, em quem a pregação de Savonarola sobre o despojamento dos bens mundanos exercera duradouro impacto. Lera suas obras até o fim de seus dias e dizia que recordava claramente da sua voz. Disseram ainda que era liberal e generoso, dando obras valiosas de presente para seus amigos e sendo gentil com seus servos. Como professor não escondia seu conhecimento dos discípulos, mas não gostava que fosse divulgado que ele ensinava. Vários de seus alunos o chamavam de pai. Não era desprovido de senso de humor, e às vezes buscava a companhia de pessoas capazes de fazê-lo rir. Entre elas apreciava especialmente os pintores Jacopo Torni, Sebastiano del Piombo e o próprio Vasari, com quem se divertia. Era sensível ao trabalho alheio qualificado, e louvava até o de antigos rivais como Rafael, mas várias vezes expressou seu desprezo pela mediocridade e pela pretensão de outros. Era admirador entre outros de Donatello, Ticiano, Ghiberti e Bramante, e mesmo de artistas pouco conhecidos como Antonio Begarelli e Alessandro Cesari, em quem encontrava qualidades invisíveis para outros. Sobrevivem documentos que atestam sua natureza generosa e benevolente, mas outros em parte confirmam aquele folclore, incluindo sua própria correspondência. Mas é de lembrar em se tratando de um artista tão diferenciado em relação aos seus contemporâneos, uma pessoa submetida a pressões internas e externas desconhecidas pela maioria, obviamente não possuía a mesma natureza que um homem comum e ele por consequência não poderia se comportar como tal. Sem entrar numa apologia do gênio, seu enorme talento, suas ideias artísticas visionárias e de amplitude titânica, sua insatisfação com a conquista ordinária e a sua infatigável capacidade de realização, dons que se por um lado foram reconhecidos universalmente e atraíram a admiração e o assombro gerais e lhe valeram o epíteto de "divino", por outro com toda a probabilidade o separaram psicologicamente do resto dos humanos, nem se pode esperar que universos tão distintos pudessem se compreender ou conviver sem tensões importantes. É muito difícil fazer uma ideia da evolução de sua riqueza pessoal. Herdou terras em Settignano e foi capaz de torná-las bem mais produtivas do que no tempo de seu pai, e até expandiu sua área. Possuía uma casa-atelier em Roma, duas casas e um atelier em Florença, e se diz que tinha terras em vários locais da Toscana. Suas maiores obras foram pagas regiamente, mas muitas vezes os custos do material, que não eram baixos, estavam incluídos. Além disso, muitas vezes seus patronos lhe pagaram irregularmente, em diversas ocasiões não recebeu o pagamento completo e obras como a tumba de Júlio II representaram despesa e não ganho para ele. Por outro lado, com seus hábitos espartanos de vida fez uma boa economia, e numa carta disse que Paulo III o cumulara de benefícios. Doou altas somas para caridade e sustentou seus familiares quando pôde, e várias vezes ajudou artistas pobres, inclusive seus dois biógrafos. Não confiava em bancos e guardava seu dinheiro em um baú embaixo da cama. Quando morreu este baú continha dez mil ducados de ouro, uma quantia, segundo Forcellino, suficiente para comprar o Palácio Pitti. Vida amorosa. Michelangelo nunca se casou e hoje é praticamente um consenso que tenha sido homossexual, a despeito da negação de seus primeiros biógrafos. Tem sido aventado que o artista teve casos amorosos concretos com vários jovens, como Cecchino dei Bracci, para quem desenhou o túmulo, e Giovanni da Pistoia, que conheceu enquanto trabalhava no teto da Capela Sistina, e para quem escreveu alguns sonetos. Mas nenhuma prova concludente se encontrou nessa direção, e é bastante possível que o próprio Michelangelo, refreando seus sentimentos e necessidades, tenha fugido de uma consumação carnal. Vários fatores podem ser considerados para tornar a hipótese plausível. Em sua juventude em Florença ficara profundamente impressionado com a pregação de renúncia ao mundo de Girolamo Savonarola, e expressou sua admiração por ele ao longo de toda a vida. Em segundo lugar se considere a influência da visão humanista-neoplatônica de sua época sobre o amor, outro elemento relevante em seu universo pessoal, que falava do corpo como "o cárcere terreno", e ainda que aceitasse o amor entre homens e até o estimulasse, não aprovava o contato físico, lançando a vivência do sentimento num plano espiritual. Além disso, a opinião pública sobre a homossexualidade no era bastante negativa; em Florença os homossexuais podiam ser castrados ou condenados à morte. O que transparece fortemente de suas poesias é o perene conflito entre o impulso ao amor terreno e ao amor divino, que, como ele mesmo disse, "o mantinha dividido em duas metades", e segundo Harmon, pelo que se sabe sobre sua vida, não há como excluir nenhum dos opostos no estudo de sua personalidade e de sua forma de amar. Ao mesmo tempo em que reiteradas vezes falou do amor dirigido a pessoas como a força dinâmica que o capacitava à transcendência — "o amor nos urge e desperta, dá penas às nossas asas, e a partir daquele primeiro estágio, com o qual a alma não se satisfaz, ela pode voar e subir ao seu Criador" — em outros momentos declarava seu desejo de intimidade física, querendo "abraçar meu tão desejado, meu tão doce senhor, com meus braços indignos", ou imaginando ser um bicho-da-seda para tecer uma túnica preciosa "envolvendo seu belo peito com prazer". Condivi registrou que "muitas vezes ouvi Michelangelo discursar a respeito do amor, mas jamais o ouvi falar qualquer coisa diferente do amor platônico". Dizem Ryan e Ellis, invocando mais outros autores, que a maioria dos historiadores modernos reconhece a inclinação homoerótica de Michelangelo, mas a questão de se isso o levou a uma vida sexualmente ativa permanece uma incógnita. Entre os homens quem ocupou o maior lugar em seus pensamentos foi Tommaso dei Cavalieri, um patrício amante das artes. Na época Cavalieri era um jovem de 17 anos de idade, e Varchi, que também o conheceu, disse que ele que tinha um temperamento calmo e despretensioso, uma fina inteligência e educação, e uma beleza incomparável, e por tais qualidades merecia o amor de quantos o conhecessem. Logo após seu primeiro contato Michelangelo enviou-lhe duas breves cartas. Numa delas disse: "Percebo agora que não posso esquecer vosso nome assim como não posso esquecer a comida com a qual vivo — não! antes eu poderia esquecer a comida com que vivo, que infelizmente alimenta apenas o corpo, mas não vosso nome, que nutre minha alma e meu corpo, enchendo ambos de tamanho deleite que me torno imune à tristeza e ao medo da morte, isso enquanto vossa memória dura em mim. Imaginai se o meu olho estivesse também fazendo sua parte" (uma referência à distância física entre eles)" o estado em que eu me encontraria!". Em outra carta, para seu amigo Sebastiano del Piombo, disse: "Se o vires, imploro-te que me recomendes a ele mil vezes, e quando tu me escreveres diz-me algo a seu respeito para eu ter o que colocar na mente, pois se eu esquecê-lo creio que no mesmo instante cairei morto". Para ele Michelangelo escreveu cerca de quarenta poemas, presenteou-o com desenhos, e foi o único de quem pintou um retrato, uma obra infelizmente perdida. Entre os desenhos que deu a Tommaso estão um "Rapto de Ganimedes", a "Queda de Phaeton", a "Punição de Tytus", e um "Bacanal de crianças", cujos temas são sugestivos. Ainda que Cavalieri tenha retribuído o amor do artista em grande medida e o tenha expressado várias vezes, inclusive em cartas, não parece ter sido apaixonado, e o teria cultivado dentro da esfera da amizade, o que segundo Ryan foi fonte de muita angústia e desapontamento para Michelangelo. Entretanto, em uma das cartas que Tommaso enviou a Michelangelo se encontra uma passagem ambígua que reza: "…che Vostra Signoria torni presto, perché tornando liberarete me di prigione: perché io fuggo le male pratiche, e volendo fugirle non posso praticare altri che con voi". Uma tradução direta é "...que Vossa Senhoria volte logo, porque voltando me libertareis da prisão: porque eu fujo das más práticas, e querendo fugir delas não posso praticar com ninguém mais senão convosco". Frederick Hartt traduziu "praticare" como "fazer amor", mas vários dicionários consultados não fazem qualquer associação de "praticare" com "fazer amor", e a traduzem no sentido de "fazer amizade", "frequentar", "visitar com frequência" e "conhecer", de modo que a interpretação desta passagem permanece duvidosa. O que é certo é que sua relação se transformou em uma sólida lealdade, sobrevivendo a alguns atritos e à transformação do jovem em um pai de família, perdurando até a morte de Michelangelo. Segue um dos sonetos que lhe dedicou: A outra figura de grande importância em sua vida pessoal foi Vittoria Colonna. Descendente de uma família nobre, foi uma das mulheres mais notáveis da Itália quinhentista. Ainda jovem casou-se com Fernando de Ávalos, Marquês de Pescara. Tornou-se autora de poesias louvadas como impecáveis, das mais importantes continuadoras da tradição de Petrarca em sua geração, uma mediadora política, reformadora religiosa, e seus méritos próprios foram amplamente reconhecidos ainda em sua vida, mas a historiografia posterior a retratou indevidamente mais como uma figura passiva, à sombra de grandes homens que conheceu, entre eles Michelangelo. É possível que tenham se encontrado em torno de 1537, mas sua relação só se estreitou em torno de 1542 quando Michelangelo já era idoso e ela, viúva há dezessete anos. Discutiam arte e religião. Para ela Michelangelo escreveu várias poesias e produziu desenhos, e ela por sua vez dedicou-lhe também uma série de poemas. O afeto de Michelangelo tornou-se intenso, e em seus sonetos meditava se esta não seria mais uma paixão infrutífera, talvez a mais infeliz de todas. Apesar de suas dúvidas, o tom geral de suas poesias sobre ela é calmo e doce, e busca a sublimação de forma mais consistente através da fé. Walter Pater comparou a relação de ambos com a de Dante e Beatriz. A fé em que Michelangelo se apoiou para enfrentar os dilemas de seus sentimentos foi a da Contra-Reforma, que depositava a responsabilidade pela solução dos problemas espirituais mais na força interior de cada um do que em santos, padres, indulgências e outros auxiliares externos comuns às gerações anteriores. Da parte de Vittoria, Abigail Brundin disse que as poesias que ela dedicou ao seu amigo revelam o mesmo esforço de lidar com essa responsabilidade e de compartilhar os frutos do labor no espírito de uma comunhão evangélica com alguém que passava pelas mesmas dúvidas e agitações de alma. Michelangelo esteve presente em sua agonia, e ela faleceu em seus braços, enquanto ele em lágrimas beijava suas mãos sem cessar. Mais tarde arrependeu-se de não ter ousado beijar-lhe a testa e a face. Condivi registrou que após a morte de Vittoria, Michelangelo passou um período transtornado, como se tivesse perdido a razão. Em um soneto expressou sua tristeza e revolta, e disse que jamais a natureza fizera face tão bela. Obra. Contexto, estilo e ideias sobre arte. Michelangelo viveu ao longo da última fase do Renascimento e na transição para o Maneirismo, uma época de intensos conflitos sociais e profundas mudanças na vida cultural. Quando jovem absorveu as lições do primeiro Renascimento, que estabelecera uma série de cânones técnicos e estéticos para a representação artística. Esses cânones haviam sido estabelecidos sobre uma forte tendência de recuperação na arte e na cultura da tradição clássica da Antiguidade, que se desenvolvia desde séculos antes a partir de uma série de descobertas de textos de filósofos e outros escritores antigos, especialmente neoplatônicos helenistas e oradores, poetas, políticos e historiadores romanos, e de peças de arqueologia. Com essa quantidade de novas informações, no se consolidou o que se chamou de Humanismo, uma síntese eclética dessas fontes pagãs com o pensamento cristão, incorporando ainda elementos das tradições árabes, orientais e egípcias, bem como outros oriundos da magia, das tradições religiosas esotéricas, da mitologia clássica e da astrologia. O resultado foi a colocação do ser humano novamente no centro do universo, enfatizando sua nobreza, sua beleza, sua liberdade, os poderes de seu intelecto e sua natureza divina. Na arte foi criado um sistema de proporções ideais para a arquitetura e para a representação do corpo e se cristalizou o sistema da perspectiva para a definição da representação bidimensional. O Renascimento associou ainda o idealismo clássico com um intenso interesse pelo estudo científico do mundo natural, produzindo uma arte que era uma generalização universal mas capaz de se deter no particular para descrever caracteres individuais. Ao mesmo tempo, era uma arte de índole ética, pois se considerava possuir uma função social da qual não podia escapar, e almejava sobretudo a cura das almas e a instrução do público para a condução da vida pelos caminhos da virtude. Michelangelo passou sua juventude em Florença quando ela estava no auge de seu prestígio político, econômico e principalmente cultural, sendo uma referência não só para a Itália mas para boa parte da Europa. Pouco depois, em torno de 1500, Roma tomou-lhe a dianteira em todos esses aspectos, onde os papas fortaleceram seu poder temporal enfraquecido, invocaram para Roma a posição de cabeça do mundo e herdeira do Império Romano, e proclamaram a universalidade de sua autoridade religiosa. Foi a fase chamada de Alta Renascença, quando as ideias artísticas clássicas a respeito de harmonia, equilíbrio, moderação, dignidade, proporção e fidelidade à natureza se tornaram especialmente influentes. Nesta mesma altura, Michelangelo atingia sua primeira maturidade artística e já trabalhava para os papas em Roma, produzindo obras que espelham perfeitamente essas concepções. Entretanto, a Itália já estava sob a mira de grandes potências estrangeiras, e começou a ser invadida em vários pontos. Em 1527 Florença foi posta sob sítio e Roma foi vítima de um terrível saque por tropas do Sacro Império, enquanto na mesma época no norte da Europa os Protestantes conseguiam a sua separação da Igreja romana com severas críticas à doutrina e aos abusos e corrupção do clero. A autoridade papal sofreu sério abalo, o poder político italiano no panorama internacional caiu de imediato, e na Itália se instaurou um clima sociocultural de incerteza, tensão e medo. A reação da Igreja foi lançar nos anos seguintes a Contra-Reforma, estabelecendo uma nova formulação para a doutrina e novas regras para a arte sacra, onde se tornou uma praxe a censura prévia com uma orientação claramente propagandística. Como descreveu Argan, nesse período a religião já não era uma revelação inconteste de verdades eternas, mas uma busca individual; a ciência já não se estabelecia sobre a autoridade dos antigos, mas sobre a livre pesquisa; a política mudava sua base de uma noção de hierarquia emanada de Deus para se lançar na procura de um equilíbrio sempre provisório entre forças contrastantes; a História, como experiência já vivida, perdera seu valor determinante, o que contava então era a experiência de cada um no presente, e a arte deixava para trás os cânones abstratos e coletivos para mergulhar no mundo do julgamento individual, da investigação do próprio processo criativo e da materialidade da obra. Desta forma, os seus cerca de quarenta ou cinquenta últimos anos, a maior parte da carreira de Michelangelo, transcorreram nesse ambiente agitado, e seu estilo dessa fase deve ser caracterizado como maneirista, exibindo traços típicos desta escola que ele mesmo ajudou a fundar, quais sejam: uma marcada reação ao equilíbrio e harmonia do classicismo e à idealização da Alta Renascença, a distorção das proporções do corpo, uma tendência à estilização de feições, ao exagero e ao drama, o uso de uma paleta de cores pouco naturais, a anulação da perspectiva de ponto central com a criação de uma sensação de vários planos simultâneos, arbitrários e irracionais de espaço, e a preferência por formas espiraladas, contorcidas e bizarras, e por composições apinhadas de personagens. Michelangelo se distinguiu da estética renascentista abandonando a crença de que a Beleza é produzida por uma relação matemática de proporções entre as partes do todo, e confiava antes nos sentidos. Dizia que é mais necessário ter um compasso no olho do que nas mãos, pois as mãos produzem a obra, mas quem a julga é o olho. Não se sentia obrigado a seguir leis estéticas apriorísticas dizendo que o artista não devia ser guiado senão pela ideia que concebera, e considerava possível definir outras proporções igualmente aceitáveis e belas. Sua insistência na sua própria autonomia criativa e na expressão de sua visão pessoal o tornou o primeiro artista do ocidente a ter príncipes e papas a seus pés, decretando por si mesmo como a obra deveria ser realizada, ao contrário da prática anterior à sua geração, quando o artista era um simples artesão obediente à vontade de seus patronos. Isso era tanto um reconhecimento de sua própria capacidade como uma resposta à cultura da época que glorificava a fama pessoal. Compartilhava com os renascentistas e com seus outros contemporâneos o amor pela arte da Antiguidade, mas na sua época os modelos disponíveis eram em sua grande maioria produto do Helenismo ou da era romana, que não são propriamente idealistas e trabalham mais o lado dramático, dinâmico e emotivo da representação. Também foi estimulado nessa direção pela descoberta de uma importante obra helenista, o "Grupo de Laocoonte", que causou uma sensação em toda a intelectualidade romana em sua exibição pública no Vaticano em 1508. Apesar de sua inclinação para os modelos romanos e helenistas, Michelangelo aparece como um grande idealista, um herdeiro direto do universalismo da arte do Alto Classicismo grego. O artista não estava mais interessado na observação da natureza além do necessário para criar um protótipo de forma que ignorava o particular e era aplicável indiscriminadamente para todos os sujeitos. Nada em sua arte é específico além da forma geral do corpo humano, e o transformou em algo cuja potência vem causando admiração desde quando o plasmou em imagem. Na mesma tradição alto-clássica, procurou expressar as virtudes heróicas da alma através de corpos poderosos cuja beleza é apoteótica e ideal, e não humana, porém inevitavelmente filtrando o idealismo antigo através da sua eclética interpretação pelo Humanismo renascentista, onde o trágico e o patético também tinham um lugar. Como observou Weinberger, não representou a sua geração, mas uma geração de gigantes vivendo fora do tempo, e os edifícios que ergueu parecem ter-se destinado a esta raça. Mesmo suas obras pequenas têm uma feição monumental. Não caracterizou trajes ou fisionomias de sua época, não produziu retratos além de uns poucos desenhos, suas figuras não estão engajadas em atividades comuns, não aparecem utensílios do cotidiano, nem móveis, nem arquiteturas da época; não parecem afetadas pelas estações, pela paisagem em torno. Quando há alguma paisagem, é surpreendentemente desértica, é apenas um espaço convencional e abstrato onde distribuiu seus personagens sobre-humanos. Não teve outros alicerces para sua arte senão o corpo humano, o amor pela sua beleza e uma ideia de sublime magnificada ao extremo — certa vez buscando mármores em Carrara desejou transformar uma montanha inteira em uma estátua de um gigante. Até mesmo suas descrições de gênero sexual são ambíguas, em várias de suas pinturas e esculturas as mulheres são quase tão musculosas quanto os seus homens e a única diferença visível é a presença de seios e ausência de um pênis. Por outro lado, algumas de suas figuras masculinas têm uma languidez e afetação postural só encontradas na representação feminina de seu tempo. Mesmo que em várias imagens seja aparente um androginismo, é amplamente reconhecida sua preferência pelo corpo masculino, especialmente nu, que é fio condutor de toda a sua produção artística, e abunda mesmo em suas composições sacras. O nu masculino aparece desde a sua primeira escultura autenticada, a "Centauromaquia", numa de suas primeiras pinturas, o "Tondo Doni", continua pela sua carreira afora, no "Baco", no "David", no "Cristo Redentor", nos "Escravos" e nos "Cativos", no "Gênio da Vitória", no "Jovem ajoelhado" e várias outras esculturas, toma a vasta maioria de seus desenhos, é tema de suas poesias e se multiplica nas pinturas "A Batalha de Cascina", no teto e no "Juízo Final" da Sistina. Tal frequência desde aquele tempo tem provocado reações negativas em setores da Igreja, a ponto de o Papa Paulo IV mandar cobrir as genitálias expostas de várias figuras nos afrescos da Sistina, e o "Cristo Redentor" em mármore sofrer o mesmo destino, recebendo um manto de bronze. Seu estilo e iconografia nos últimos dois séculos têm sido objeto do mais acalorado debate entre os críticos e historiadores, a ponto de Barolsky ter dito ironicamente que a copiosa bibliografia produzida sobre ele é ela mesma "michelangelesca", e embora Michelangelo seja em geral contado na mais alta estima, pouco consenso sobre pontos específicos pôde ser conseguido. Entretanto, em sua poesia ele deixou muitas pistas sobre suas ideias artísticas e sobre a vida, e nela, conforme foi sugerido por escritores como Erwin Panofsky e Carlo Argan, parece transpirar o Neoplatonismo como uma influência preponderante, da forma como ele foi interpretado pelos humanistas e poetas cristãos italianos como Marsilio Ficino, Pico della Mirandola, Dante Alighieri e Petrarca. Martin Weinberger, de inclinação formalista, rejeitou a explicação transcendental e assinalou que não se pode atribuir com certeza a uma escola definida de pensamento ideias que pertenciam à cultura renascentista como um todo e estiveram sujeitas a uma multiplicidade de correntes. Também disse que Michelangelo dificilmente teria colocado sua arte acima da natureza, e que sua obra requer um estudo mais dentro do domínio da arte pura — seu tratamento dos materiais, a evolução de suas formas e de sua linguagem plástica. É possível que uma síntese de ambas as visões seja o caminho mais adequado para se compreender melhor sua produção. De fato a interpretação de uma peça específica muito dificilmente pode ser circunscrita a qualquer fonte individual, mas em linhas gerais a explicação transcendental parece permanecer a tendência mais forte entre a crítica para interpretar seu estilo e motivações como um todo. Parece bastante claro que para Michelangelo a busca da transcendência foi uma força propulsora em todo o seu trabalho, como foi documentada de várias maneiras, mas estava firmemente inspirada na beleza que ele via no mundo físico, transformada pelo poder do Amor residente na alma em algo, então sim, divino. Num poema escreveu: <poem> "Vejo em tua bela face, meu Senhor," "aquilo que não posso expressar nesta vida." "A alma, ainda vestida de carne," "com aquilo tantas vezes é transportada para Deus."</poem> Em outro, disse: <poem> "Meus olhos, buscando coisas belas," "e minha alma, buscando a salvação" "não têm outro poder de ascender ao céu" "senão contemplando tudo que é belo".</poem> Por outro lado, não se pode atribuir um peso por demais determinante ao que ele disse de si mesmo e de sua arte, ainda que seu testemunho jamais possa ser descartado. Como lembrou Barolsky, na cultura da época o artificialismo e a estilização eram onipresentes. Mesmo a arte era considerada uma "ilusão deliciosa", conforme disse Vasari, e estava sujeita a uma série de convenções, de domínio público. Os textos do são carregados de recursos puramente retóricos, e o relacionamento social em altas esferas era algo muito próximo de um teatro. Da mesma forma as biografias eram peças laudatórias enganosas, e os escritos poéticos de Michelangelo devem ser analisados levando-se em conta o contexto desse universo de convenções e artifícios, num processo de construção consciente da sua imagem pública e do seu próprio mito que ele levou a um grau hiperbólico, modelando a si mesmo à feição de um colosso, assim como fazia com suas obras. Sua correspondência tampouco é uma fonte exatamente fiel de informação sobre sua vida; em muitos momentos é evasiva, ambígua, exagerada, contraditória e às vezes claramente mentirosa, o que não era, de resto, uma característica exclusiva sua, mas espelhava um comportamento coletivo. Epitomizando esses costumes, em 1532 foi publicado "O Príncipe", de Machiavelli, cujas ideias tiveram larga difusão, sacramentando a necessidade do governante de usar o engano e a dissimulação pelo bem da manutenção da ordem pública. Outro aspecto que tem intrigado os historiadores é o estado inacabado de muitas de suas obras. Frequentemente fatores externos, que foram documentados, o levaram a isso, sendo constantemente chamado de um lado para outro pelos papas e príncipes, mas em outros casos não houve qualquer imperativo conhecido que pudesse justificá-lo, e se especula hoje que as tensões entre suas ideias grandiosas e a dificuldade prática de transportá-las satisfatoriamente para uma forma concreta e limitada pela matéria física podem ter sido um elemento importante nesse fenômeno. A seguir são abordadas em mais detalhe as várias técnicas a que se dedicou, mas dada a quantidade de suas obras, apenas as mais importantes serão citadas. Escultura. Michelangelo via a si mesmo acima de tudo como um escultor. Participou do debate teórico da época sobre qual das artes seria a mais nobre, a chamada "questão do paragone", e se posicionou do lado dos escultores. Em uma carta escrita para Benedetto Varchi disse: Para Michelangelo o processo escultórico era uma sucessiva remoção do supérfluo para expor a ideia — o "concetto" — projetada na matéria. Em um de seus poemas comparou o processo com o ato de Deus tirando o homem do barro. Às vezes fazia modelos em argila ou cera como estudos preliminares. Suas influências imediatas foram a escultura romana, Giovanni Pisano, Niccolò dell'Arca, Jacopo della Quercia, Donatello e também Leonardo da Vinci, mas desde o início eximiu-se de uma fidelidade estrita a esses modelos, buscando uma abordagem individual, o que é visível já na "Centauromaquia" que criou para Lorenzo de' Medici, uma das composições mais avançadas tecnicamente de sua época. Ali o mito é apenas um pretexto, conforme analisou Argan, para uma pesquisa em torno do movimento puro. Sua primeira obra importante foi o "Baco", fortemente inspirada em modelos helenistas. A solução formal é criativa, uma figura desequilibrada e sensual que anula a solenidade clássica e a transforma numa figura quase burlesca, em uma contínua interpenetração de curvas e superfícies polidas que captam habilmente a luz. O contraste é provido pela pequena figura do fauno atrás dele, que serve como suporte estrutural e ao mesmo tempo é tratado com outras texturas e construído a partir de blocos básicos bem distintos. Em seguida, com apenas vinte e três anos, esculpiu sua afamada "Pietà", que tem sido louvada desde a origem pelo seu finíssimo acabamento de superfície e pela sua brilhante composição em pirâmide, uma forma de grande estabilidade e perfeita para veicular o "pathos" melancólico, resignado e meditativo da cena. O Cristo aparece no regaço de sua mãe, com uma face tranquila sem sinal de sofrimento, como se dormisse; suas chagas mal são perceptíveis, o que enfatiza a beleza do seu corpo. A Virgem é uma jovem, e mais parece uma irmã de Cristo e não sua mãe, o que foi criticado pelos seus contemporâneos. Sua resposta foi de que sua castidade tão perfeita teria preservado sua beleza e juventude. A composição é interessante também porque a figura da Virgem, se estivesse de pé, seria bem maior do que a de seu filho, um recurso técnico-ilusionístico que não é notado sem uma medição, mas provê com o seu corpo e o largo manto cheio de dobras um amplo receptáculo para o descanso do mártir, e empresta ao conjunto uma impressão de tranquilidade. O sucesso da obra foi enorme, e foi a única que Michelangelo assinou. Entre 1501 e 1504 criou sua maior escultura, o colossal "David" para Florença. Usando um bloco único de mármore já parcialmente trabalhado, mandou erguer uma cerca em torno e o escavou sozinho, sem permitir visitas. Quando foi inaugurado causou uma sensação entre os florentinos. Inteiramente nu, é uma imagem de triunfo, na tradição dos nus heroicos do classicismo, mas por pudor foi-lhe aplicada uma guirlanda de bronze sobre o sexo. Apesar do seu tamanho descomunal, o "David" é ainda um adolescente, e foi representado nos momentos preparatórios do combate com Golias. Sua expressão é tensa, sua mão direita se crispa sobre a coxa, mas não há ação, tudo se resume na concentração da energia antecipando o momento mortal. É tanto um símbolo do civismo republicano de Florença, como foi reconhecido de imediato, como da condição gloriosa do homem no pensamento renascentista. A tumba de Júlio II deveria ter sido sua maior obra de escultura, uma grande estrutura livre dentro da Basílica de São Pedro no estilo de um mausoléu, com 10 x 15 m de área e adornado com 40 estátuas em tamanho natural representando profetas e personificações das artes liberais, com uma grande estátua de Júlio de 3 metros de altura coroando o conjunto. Michelangelo deveria receber pela obra um salário anual de 1 200 ducados — dez vezes mais do que outro artista receberia — e mais um pagamento final de 10 mil ducados, uma quantia bastante expressiva. O mármore foi trazido de Carrara e ocupou noventa carros. Para que o mausoléu pudesse ser instalado na Basílica, esta teve de ser reformada, destruindo-se a veneranda construção anterior erguida por Constantino I entre 326 e 333 d.C., ampliando-se sua planta consideravelmente, e desviando a maior parte dos recursos de Júlio para lá. Desta forma, as obras da tumba se paralisaram, Michelangelo teve de pagar o transporte do mármore por conta própria, reclamou com o papa e foi expulso do Vaticano. Ultrajado, partiu para Florença. O papa mandou cavaleiros em sua perseguição mas só o alcançaram perto de Florença. A despeito das ameaças, recusou-se a voltar e enviou ao papa uma carta protestando contra os maus tratos. Alguns meses depois ocorreu a reconciliação em Roma, e Júlio solicitou que ele esculpisse uma enorme estátua sua em bronze para a cidade de Bolonha, e para lá foi enviado, morando em alojamento precário, tendo de dividir a cama com mais dois ajudantes, que além disso ele considerava incompetentes. A primeira fundição da estátua falhou, e teve de ser refundida, agora com sucesso. Tinha 4 metros de altura e pesava 4,5 toneladas, uma das maiores obras em bronze desde a Antiguidade, sendo instalada em 1508. Quando Bolonha readquiriu sua independência a estátua foi destruída. Com a morte de Júlio em 1513 a sua tumba se tornou mais do que nunca uma necessidade, mas seus herdeiros não se dispunham a prosseguir na escala que ele pretendera. Um dos primeiros esboços de Michelangelo foi revivido e o monumento foi muito reduzido, a câmara mortuária foi substituída por um simples sarcófago e o monumento deslocado para junto de uma parede lateral, mas ainda haveria diversas estátuas e relevos. Apesar da dedicação com que Michelangelo se voltou para o trabalho, nos três anos seguintes só três estátuas haviam sido iniciadas, o "Moisés", e duas outras, de escravos, mas permaneciam inconclusas. Entre 1519 e 1520 fez um "Cristo Redentor" inteiramente nu para a Igreja de Santa Maria sobre Minerva, inspirado no modelo do nu heroico da Antiguidade clássica. Havia sido encomendado em 1514 pelo patrício romano Metello Vari, e o trabalho iniciara em seguida, mas a meio caminho Michelangelo descobriu um veio negro no mármore e abandonou a peça. Uma segunda versão foi criada rapidamente para cumprir o contrato, e o polimento final foi entregue a seus discípulos. Anos depois sua nudez foi oculta. Quando iniciou o pontificado de Leão X o artista foi requisitado para trabalhar em Florença. Lá, entre vários projetos arquitetônicos, esculpiu a partir de 1521 um importante par de tumbas para dois duques Medici na Sacristia Nova. Como já se tornava uma experiência comum para ele, houve várias interrupções e não pôde terminá-las, foi chamado para Roma em 1526. As estátuas dos mortos são belas e nobres, os retratam idealizadamente vestidos como antigos generais romanos, mas são especialmente notáveis as que se reclinam sobre os sarcófagos. Na tumba de Juliano, as alegorias do "Dia" e da "Noite", e na de Lorenzo, a "Aurora" e o "Ocaso", com uma possante descrição anatômica e intenso "pathos". Deveriam ter sido esculpidas ainda quatro estátuas de deidades fluviais, mas não foram sequer iniciadas. Quando Michelangelo partiu os monumentos ainda não estavam montados, e sua forma final se deveu ao concurso de alguns de seus discípulos, que finalmente arranjaram as tumbas no ano de 1545, na forma como se as vê hoje. Provavelmente Michelangelo voltou a trabalhar na tumba de Júlio em 1526, produzindo quatro "Cativos", maiores do que os dois "Escravos", que também não foram acabados mas modernamente são muito apreciados por sua concepção poderosa e por parecerem estar lutando em desespero para se libertar da prisão da matéria amorfa que os rodeia, e Hartt chegou a dizer que dificilmente seu impacto emocional poderia ser mais forte se tivessem sido finalizados. Um quarto projeto para a tumba de Júlio II foi desenhado em 1532, e formalizado em contrato com a família, em dimensões ainda menores, e toda a iconografia foi revista. Criou nesta época mais uma estátua, o "Gênio da Vitória", uma das mais originais composições de Michelangelo com sua figura fortemente contorcida, a subjugar um prisioneiro, embora não seja garantido que se destinasse ao túmulo. Também esta não foi finalizada. O trabalho só foi terminado em 1545 após o papa intervir para liberar o artista das obrigações com a família de Júlio. E em vez de se localizar na Basílica, foi montado na Basílica de São Pedro Acorrentado. O "Moisés", a única peça que ele completou inteiramente, e que deveria ser apenas uma figura secundária no projeto original, foi instalado no centro da composição, rodeado de estátuas muito menos expressivas esculpidas às pressas e completadas por escultores menores, junto com mais duas, obra integral de outros artistas. De interesse ainda restam suas obras finais, duas "pietàs". A primeira ele iniciou antes de 1555 como parte de um projeto para uma tumba própria, que não se concretizou. A meio do trabalho exasperou-se com a "indocilidade da pedra" e destruiu parcialmente o que havia conseguido. Seus discípulos tentaram recompô-la e acabar algumas partes, mas sem grande sucesso, e uma das pernas de Cristo foi perdida. O que hoje permanece é um esboço, ainda assim pungente, da morte de Jesus, estruturado de forma a parecer que o peso de seu corpo sem vida é grande demais para ser sustentado pelas figuras de José de Arimateia, Maria Madalena e a Virgem Maria, emprestando à peça uma atmosfera de trágico desalento. Outra das "pietàs", a chamada "Pietà Rondanini", foi iniciada pouco antes de ele falecer, e permanece apenas com suas formas sugeridas, mas novamente seu aspecto inacabado, junto com a sensível concepção do conjunto, tem grande apelo para o público moderno. Pintura. A primeira pintura que se pode atribuir com segurança a Michelangelo é o "Tondo Doni" (c. 1504), uma imagem da "Sagrada Família". Seu tratamento de espaços e volumes é claramente escultórico, com linhas exatas a delimitar as formas, e sua iconografia foi interpretada por Charles de Tolnay como um sumário da evolução da fé. A Virgem e São José pertencem ao mundo do Antigo Testamento, regido pela Lei; Cristo é a Boa Nova, o mundo da Graça; São João Batista é a ponte de ligação entre ambos, e a galeria de nus ao fundo representaria o mundo pagão. O grupo é organizado a partir da forma da pirâmide combinada à espiral, a "figura serpentinata" que se tornou tão cara aos maneiristas, e o tratamento dos planos cromáticos estabelece limites nítidos entre eles, sem "sfumato". Sua obra seguinte de importância teria sido a jamais realizada "Batalha de Cascina", mas da qual sobrevive uma cópia do desenho preparatório. A cena escolhida para representação foi a do aviso da chegada das forças pisanas, colhendo os florentinos de surpresa. Michelangelo usou novamente um pretexto temático para realizar um notável estudo de anatomia de corpos humanos, colocando um grande grupo de soldados a se aprontarem para a batalha numa multiplicidade de posições. Na sequência veio a encomenda do teto da Capela Sistina, um espaço de grande significado simbólico no Vaticano por ser onde se realizam as eleições papais. A Capela já era decorada com uma série de afrescos importantes nas paredes, e a tarefa de Michelangelo foi a de decorar o teto, pintado apenas de um azul pontilhado de estrelas. A ideia inicial de Júlio II era de apenas doze grandes figuras dos Apóstolos, mas Michelangelo concebeu um conjunto de sete Apóstolos e mais as cinco sibilas da mitologia grecorromana, uma escolha bastante incomum mas não inteiramente inédita para um teto de capela. Acrescentou ainda quarenta ancestrais de Cristo, uma longa série de cenas do Genesis, vários nus e outras figuras acessórias, compondo um grupo de trezentas figuras dividido em três grupos: a Criação da Terra por Deus, a Criação da Humanidade e sua queda e, por fim, a Humanidade representada por Noé. As figuras exibem uma força e majestade sem precedentes na pintura ocidental. Todo o tom da obra é monumental, é grandiloquente sem ser puramente retórico, mas possuindo alta poesia, inaugurando uma forma inteiramente nova de representar o trágico, o heroico e o sublime, e também o movimento e o corpo humano. Sua interpretação temática tem sido objeto de intenso debate desde o momento de sua apresentação pública, e muitos a tem comparado com um grande panorama da evolução humana dentro de um escopo cósmico, num entendimento do Antigo Testamento como uma preparação para a vinda de Cristo, ou como uma interpretação neoplatônica dos eventos bíblicos sob uma óptica de relacionamento Deus-Homem particularmente dramática. Michelangelo anos mais tarde disse que a concepção da iconografia se devia a ele, mas para quem não tinha uma grande erudição nem sabia latim, a complexidade simbólica das cenas parece estar além de sua capacidade de conceituação. Hartt disse que tem sido sugerido que ele teve um conselheiro teológico na elaboração do programa temático do teto na pessoa de Marco Vigerio della Rovere, um franciscano parente do papa. As cenas são compostas sem relação espacial umas com as outras ou com as figuras laterais, e o painel não pode ser observado a partir de um único ponto de vista. É interessante também porque permanece como um documento da evolução do autor na pintura de afresco em escala monumental, técnica com a qual ele estava pouco familiarizado no início da obra. Ele partiu da figura de Noé sobre a entrada, e foi seguindo em direção ao altar. As primeiras figuras revelam sua inexperiência e usam modelos formais mais ou menos padronizados e pouco dinâmicos, e as cenas guardam uma escala relativamente modesta. Mas em pouco tempo, como é visível, adquiriu confiança e desenvoltura, e estudos recentes têm afirmado que à medida que o trabalho avançava prescindia mais e mais de esboços preparatórios na escala definitiva, até descartá-los por completo, pintando diretamente. A mesma confiança fica patente no tratamento cada vez mais livre das pinceladas e no crescente dinamismo e expressividade das figuras, chegando a dimensões de tragédia em alguns personagens, o que ilustra com clareza a passagem do equilíbrio clássico do Alto Renascimento para o mundo agitado do Maneirismo. O trabalho foi interrompido na metade por cerca de um ano, quando não houve fundos para pagá-lo, e quando foi retomado, curiosamente o mesmo processo evolutivo se observa da segunda metade, na cena da criação de Adão, para o final na figura de Jonas. Existe porém um diferencial na segunda metade, enfatizando as atmosferas reflexivas antes do que as anatomias vitais e exuberantes. Recentemente uma restauração patrocinada por uma companhia de televisão japonesa e levada a cabo por uma grande equipe de especialistas removeu camadas de fuligem de velas, sujeiras diversas e possíveis restauros anteriores. A opção do responsável pelo trabalho foi remover tudo o que havia acima da camada realizada em "buon fresco", o afresco puro, pintado quando a camada de base ainda está úmida, fazendo com que ao secar as cores se fixem permanentemente incorporadas ao reboco. O resultado foi surpreendente, mostrando uma paleta de cores brilhante e variada, muito diferente daquela que por séculos foi associada com a pintura de Michelangelo. Mas o restauro levantou uma turbulenta controvérsia no mundo da arte. Enquanto que um grupo de críticos louvou o resultado como uma revelação, dizendo que obrigava à reformulação de todas as avaliações prévias sobre sua estética, muitos outros peritos igualmente respeitados consideraram a intervenção uma calamidade que destruiu a sua pintura para sempre, acusando os restauradores de remover, além dos detritos acumulados ao longo dos anos, também acréscimos do próprio Michelangelo que teriam sido pintados "a seco" depois do "buon fresco" secar, o que realmente era uma prática bastante comum no seu tempo. Comparando-se fotografias dos estados anterior e posterior, parece claro que a adoção de uma solução técnica unificada para todo o painel foi de fato uma atitude temerária, e que o restauro tenha sido radical demais pelo menos em alguns pontos, pois é difícil crer que o artista tivesse, por exemplo, pintado figuras sem olhos, como estão agora algumas delas. Diversos outros detalhes desapareceram, como ornamentações na arquitetura ilusionística que emoldura as cenas, pregas nos mantos e o modelado sutil dos corpos e das sombras, resultando em planos mais achatados e anulando parte do efeito escultórico da pintura. Entretanto, em termos de cores a paleta luminosa que surgiu na Capela Sistina teve uma confirmação quando se restaurou o "Tondo Doni", que traz o mesmo espectro de cores. Outra composição de grande importância foi realizada na mesma Capela Sistina, a cena do "Juízo Final" sobre a parede do altar, pintada entre 1536 e 1541, encomendada por Paulo III, um tema perfeitamente afinado a um momento em que a Contra-Reforma exercia com força a censura e perseguia visões heterodoxas do Cristianismo. A composição é estruturada em torno da figura monumental de Cristo Juiz, que separa os bons dos maus. Ao contrário da tradição anterior, que estabelecia esta cena em níveis e hierarquias rigidamente compartimentalizados, Michelangelo dissolveu boa parte desses limites, tornando o conjunto muito mais dinâmico e unificado. A própria distinção entre os condenados e o salvos é minimizada, e os próprios santos são em sua maioria despojados de vestimentas e atributos conspícuos, numa massa de corpos nus que se espalha em movimento por toda a superfície. Toda essa nudez imediatamente despertou severas críticas de parte do alto clero, e por pouco o painel não foi destruído. Para explicar como uma profusão de nus pôde ser pintada na Capela Sistina, um dos espaços mais importantes do Vaticano, Crompton disse que os dois papas mais fortemente associados a ela eram alvo de rumores. O construtor da Capela, Sisto IV, foi mais de uma vez acusado de sodomia, e sua inclinação era confirmada pelo seu próprio camareiro. Júlio II, que mandou pintar o teto, havia sido condenado pelo Concílio de Pisa como outro "sodomita, coberto de úlceras vergonhosas". O concílio em verdade serviu a fins políticos de seus adversários, mas outros relatos falam de sua atração por homens jovens. Suas últimas pinturas dignas de nota foram dois grandes afrescos na Capela Paulina do Vaticano. Depois da grande liberdade mostrada no "Juízo", ambos foram concebidos com mais rigor e menos dinamismo, ainda que estejam entre suas obras mais expressivas pela poderosa compactação dos grupos e pela intensidade dramática da caracterização dos personagens. O primeiro representa a "Conversão de Saulo", realizado entre 1542 e 1545, organizado em torno da eficiente diagonal entre Cristo no céu e Saulo arrojado ao solo, cego pela luz divina, com uma grande figura de cavalo ao centro funcionando como o eixo estrutural que equilibra toda a cena. O segundo afresco retrata a "Crucificação de Pedro", e foi terminado em 1550, a mais compacta de todas as pinturas de Michelangelo, organizada também sobre a diagonal formada pela cruz sendo erguida. Todo o senso de perspectiva foi ignorado e Michelangelo reverteu ao uso medieval de representar o que está mais longe numa posição superior, com pouca distinção de proporções entre o primeiro plano e os planos em recuo. A cena é essencialmente estática, com pouca ação, mas possui uma pungente qualidade ritualística. Arquitetura. Vasari disse que os arquitetos do haviam levado a arquitetura a um alto nível, mas careciam de um elemento que os impediu de atingirem a perfeição — a liberdade. Descrevendo a arquitetura como um sistema de regras definidas, declarou que os edifícios novos deviam seguir o exemplo dos antigos mestres clássicos, mantendo o conjunto em boa ordem e evitando mistura de elementos díspares. Nessa linha de ideias, ele acrescentou que a liberdade criativa, apesar de cair fora de algumas regras, não era incompatível com a ordem e a correção, e tinha a vantagem de ser guiada pelo juízo do próprio criador. Michelangelo foi considerado por Vasari o único dos mestres da sua geração a conquistar essa desejada liberdade, e cujo engajamento pessoal e individualista em todas as suas atividades, incomum numa época em que o trabalho coletivo era a regra, abriu caminho para outros arquitetos produzirem obras cada vez mais personalistas, buscando solucionar os problemas da construção dentro da esfera da própria arquitetura sem a antiga tutela dos literatos, dos tratadistas e dos intelectuais, e com um novo senso de profissionalismo. Isso não impediu, contudo, que elementos clássicos continuassem a ser empregados, mas numa abordagem eclética e experimental, e se adequando a novos conceitos de habitabilidade, função e conforto. Seu primeiro trabalho arquitetônico foi o desenho de uma nova fachada para a Basílica de São Lourenço, em Florença, executado a pedido de Leão X em 1515. O plano possui dois pisos de igual importância, estruturados em dois blocos laterais dispostos simetricamente em torno de um bloco central coroado por um frontão, dentro do esquema clássico. O projeto foi abandonado sem ser realizado. Seu projeto seguinte foi a Sacristia Nova da Basílica, concebida na tradição de Brunelleschi, instalando uma cúpula apoiada em pendentes sobre um volume cúbico, com paredes revestidas de estuque intercalado com seções em pedra. A decoração interna também foi sua, criando tumbas de feição arquitetural para dois príncipes Médici nas paredes laterais e aplicando elementos arquiteturais simplesmente decorativos que subvertem as suas funções primitivas, como tabernáculos vazios sobre as portas, janelas cegas e pilastras sem capitéis. A Biblioteca Laurenciana, também anexa à Basílica, é da mesma forma inovadora, especialmente o espaço do vestíbulo, cuja verticalidade é de todo incomum. Também faz uso de elementos arquiteturais desvinculados de sua função, como as janelas cegas e pilastras sem base, apoiadas apenas sobre consoles, além de agrupar os elementos de forma muito compacta. A peça mas notável no vestíbulo é a escadaria, tratada de maneira escultórica como um volume de grande independência em relação à estrutura do edifício. As salas para a guarda dos livros e para a leitura são convencionais, amplas e espaçosas na tradição das bibliotecas conventuais medievais, demonstrando um entendimento das necessidades funcionais do espaço. Em 1534, com esses projetos ainda em andamento, Michelangelo mudou-se para Roma. Ali seu primeiro projeto foi a remodelação da praça na colina do Capitólio, que desde o Saque de Roma em 1527 estava em ruínas. O papa Paulo III havia recentemente instalado no centro da praça uma importante relíquia romana, a estátua equestre de Marco Aurélio, e Michelangelo foi incumbido de prover um cenário urbanístico para ela, numa obra que tinha grande importância cívica. Michelangelo encontrou a área já ocupada por dois palácios arruinados dispostos em um ângulo arbitrário, com um outro no fundo da praça. Aproveitou a disposição original dos palácios e criou um espaço intermédio trapezoidal, em cujo centro foi colocada a estátua, organizando os volumes e vazios de forma simétrica. Os palácios foram restaurados e suas fachadas redesenhadas, com um projeto diferenciado para o do fundo e fachadas gêmeas para os laterais. Para a entrada da praça Michelangelo concebeu uma rampa-escadaria monumental, interligando o topo da colina com o nível da cidade. O resultado do conjunto foi brilhante. Ele não chegou a ver o projeto concluído mas seus continuadores seguiram o desenho que deixou. Sua obra mais ambiciosa na arquitetura foi sua participação na reforma da Basílica de São Pedro. Usou como base o projeto desenvolvido por Bramante, que considerava de alto nível, e, como ele, preferia a planta em cruz grega como a mais adequada para uma igreja. Mesmo nesse terreno sua obsessão pela forma humana se torna evidente; pensava que o edifício era comparável a um corpo humano, significando organizar suas partes em torno de um eixo central, assim como os membros se organizam em torno do tronco. Dizia que quem não dominava a forma do corpo não seria capaz de compreender a arquitetura. Suas modificações no desenho bramantino foram a compactação do conjunto, eliminando o esquema de várias cruzes interligadas e estruturando a planta sobre uma única grande cruz, com uma entrada de colunata dupla sustentando um frontão clássico. A configuração atual da Basílica, todavia, é em cruz latina, tendo sido reformada em anos posteriores. Seu tratamento das fachadas também revela sua tendência de dar mais unidade e coerência ao conjunto, estabelecendo uma série de pilastras externas na ordem colossal, que atravessa dois pisos e os interliga poderosamente sem interromper a fluência do desenvolvimento horizontal. Essa ideia havia sido esboçada por Leon Battista Alberti numa igreja de Mântua, mas Michelangelo levou-a à sua conclusão lógica e em uma escala monumental, tornando-se um modelo para os arquitetos do Maneirismo e do Barroco. Outra contribuição importante para o edifício foi o desenho de sua cúpula. Planejou de início uma cúpula ogival, como a da Catedral de Florença, mas depois o reformulou de forma hemisférica para compensar a verticalidade do bloco inferior e para criar um diálogo entre elementos estáticos e dinâmicos. Contudo, ele não viu a cúpula ser construída, e quando o foi seu segundo desenho foi descartado e Giacomo della Porta reverteu o projeto para sua concepção primitiva, julgando-o, com boas razões, mais estável e fácil de construir. Mesmo assim ainda é uma criação de Michelangelo, e uma das mais importantes em seu gênero em todo o mundo, sendo também ela um modelo para gerações futuras. Desenho. A maior parte dos desenhos de Michelangelo que sobrevivem são esboços preparatórios para suas obras em escultura e pintura. Não obstante, possuem qualidades que os tornam obras de arte por si mesmos, e demonstram uma habilidade consumada no tratamento da forma, nos efeitos de luz e na descrição da anatomia e do movimento. Era capaz de obter efeitos de volume muitas vezes com o simples controle da espessura do traço. O estudo dos seus desenhos lança luzes valiosas sobre o seu processo criativo e sobre as mudanças na concepção de uma obra, e existem vários deles que jamais foram transportados para outros formatos, permanecendo como testemunhos únicos de uma dada ideia. Mas nem todos foram concebidos como estudos, presenteou seus amigos várias vezes com obras acabadas, e realizou alguns retratos, o que indica que ele considerava esta técnica como um território autônomo da arte. Dava-lhes grande valor, e os guardava ciosamente. O domínio do desenho era enfatizado quando ensinou seus poucos alunos, recomendando que eles o praticassem sem cessar, muitas vezes provendo desenhos seus para que copiassem. O desenho também lhe serviu como meio de divulgação de suas ideias, e após 1550 realizou vários para serem transportados para a pintura por outros artistas. Vasari disse que pouco antes de morrer Michelangelo queimou grande quantidade de seus desenhos e esboços, a fim de que ninguém pudesse ver o modo como ele desenvolveu seu trabalho e testou o seu gênio, para que sua imagem pública não parecesse menos do que perfeita. Com isso o acervo remanescente é relativamente reduzido, e as peças que escaparam da destruição foram altamente cobiçadas pelos colecionadores. Seu próprio sobrinho Lionardo teve de desembolsar uma elevada quantia quando quis adquirir alguns no mercado de arte romano. A maior parte deles, cerca de duzentos, está preservada na Casa Buonarroti em Florença, como um legado de seus descendentes. Devido à superexposição à luz e a más condições ambientais ao longo dos séculos, grande parte da coleção sofreu grave prejuízo, mas foram restaurados na década de 1970. Poesia. Na opinião de Alma Altizer, Michelangelo foi um poeta extraordinário, e em seus melhores momentos foi capaz de expressar uma poderosa unidade de visão que os torna ao mesmo tempo rústicos e sofisticados, arcaicos e contemporâneos, obscuros e cristalinamente claros. Buscava com eles poder expressar "os movimentos internos de sua alma". Para a pesquisadora sua força deriva de sua capacidade de condensar nos poucos versos de suas formas favoritas, o soneto e o madrigal, uma vasta gama de significados e uma rica pletora de imagens poéticas, penetrando fundo na dialética inerente à vida humana. Nos cerca de trezentos poemas e fragmentos que chegaram aos dias de hoje é recorrente a exploração de antíteses — imaginação e realidade, criação e destruição, sujeito o objeto, espírito e matéria, amante e amado, dor e prazer, vida interior e exterior, beleza e feiura, vida e morte. Suas primeiras obras são muitas vezes inacabadas, convencionais e derivativas de Dante Alighieri e Petrarca, e também da filosofia escolástica em sua maneira de lidar com os paradoxos morais e religiosos, mas com o passar dos anos desenvolveu uma técnica sintética original que lhe possibilitou manejar as antíteses em vários planos simultâneos. Girardi apontou como outras características de sua poesia uma tendência a abstrair e interiorizar as imagens e expressões formais que herdou de seus modelos, uma recusa a usar conceitos de maneira simplesmente ornamental como um fim em si mesmos, e uma capacidade de evitar circunlóquios e ir diretamente ao ponto desejado, o que lhes empresta uma grande força persuasiva e os anima como imagens de uma experiência verdadeira. A seguir um madrigal composto para Vittoria Colonna: Para Altizer este poema exemplifica o melhor da produção de Michelangelo. O uso de palavras em sua forma toscana arcaica, como "fora, foco, volta, opra, fratta, tragge", reforça a atemporalidade do conceito de que o amor é uma força ao mesmo tempo criativa e destrutiva, e que a produção de uma obra de arte "de prata ou ouro", significando sua alta qualidade, muitas vezes exige o sacrifício do artista, que "se rompe em pedaços" para trazê-la à luz. Também condensa em poucas linhas a relação da arte com o amor e o desejo insaciável pela beleza infinita, e a noção de que a alma do artista é incompleta sem a presença da sua musa. Essa condensação é possível graças ao uso de formas sintáticas compactas, invertidas ou interpoladas e pela escolha de poucas palavras-chave que por si trazem junto uma série de conceitos associados. Apesar de suas altas qualidades, a maior parte de sua obra poética não foi escrita senão para ele mesmo e para um reduzido círculo de amigos. Vários poemas foram registrados em fragmentos de papel, ou em meio a outros escritos, como se fossem pensamentos paralelos que ele captou de passagem. Uma vez pensou em publicar cerca de uma centena deles, mas seu editor faleceu antes de terminar o trabalho e ele não retornou ao projeto, mas alguns apareceram a público sem seu consentimento, e foram considerados obras preciosas. Berni o elogiou com um "terzetto" onde dizia: <poem> "Calai todos vós, pálidas violetas, "e líquidos cristais, e bestas pétreas: "ele fala coisas, e vós dizeis só palavras."</poem> Benedetto Varchi nas homenagens fúnebres a Michelangelo igualou sua poesia às suas realizações nos outros campos da arte. Mesmo assim, essa apreciação não era generalizada, e somente em 1623 surgiu uma coletânea, obra de seu sobrinho-neto Michelangelo, o Jovem, mas largamente corrigida, atualizando a linguagem e expurgando-a de alusões homoeróticas e de declarações consideradas inaceitáveis para a moral e a religião. Esta edição foi a única disponível até o , quando as adulterações do editor foram em boa parte removidas e as poesias restauradas a uma forma bastante próxima da original. O interesse nesse momento era já significativo, mas sua tradução para outras línguas era considerada extremamente difícil. Uma edição completa só foi conseguida por Cesare Guasti em 1863, mas padecia de problemas editoriais sérios. Em 1897 Carl Frey ofereceu o primeiro trabalho realmente erudito de edição, catapultando a produção poética de Michelangelo para um patamar muito mais elevado de atenção do público, tornando-se canônico por cerca de sessenta anos, embora ainda apresentasse algumas deficiências. Em 1960 Enzo Girardi publicou outra edição completa, muito superior, oferecendo uma versão em italiano moderno ao lado de uma versão restaurada que se tornou referencial, e provendo uma ordenação cronológica baseado na evolução da caligrafia de Michelangelo, o que possibilitou estudar o tema em relação à sua evolução artística como um todo e com os acontecimentos de sua vida pessoal. O quadro formado a partir disso é que ele só começou a escrever depois de 1503, produzindo quatorze poemas até 1520. Desta data até 1531, mais trinta ou quarenta, e entre 1532 e 1547, cerca de duzentos, divididos em três grupos: o primeiro dirigido a Tommaso dei Cavalieri, expressando uma intensidade de amor que tornava seu destinatário o epítome de tudo o que de bom poderia haver no mundo, unindo de maneira sem igual a beleza do corpo e do espírito; o segundo, dirigido a Vittoria Colonna, igualmente intenso afetivamente mas mais inclinado à religiosidade; e um grupo para uma destinatária desconhecida, a "dama bela e cruel", possivelmente uma figura simbólica e não uma pessoa real, tratando de temas variados não relacionados ao amor. A última fase é a mais eclética, e só pode ser agrupada pela cronologia, mas um tema comum é a religião, expressando seu desejo de paz e perdão por seus pecados. Depois da contribuição de Girardi as edições e traduções se multiplicaram, e até o fim do somente em inglês apareceram cinco edições completas. Entretanto, na própria Itália ele está longe de ser uma unanimidade entre os críticos, e nomes importantes como Benedetto Croce e Giuseppe Toffanin consideraram sua poesia pobre, pouco original e seriamente defeituosa. Curiosamente o próprio autor escreveu comentários ao lado de vários poemas denegrindo seu mérito, mas ele não estendia essa opinião ao conjunto de sua obra poética, e escreveu a Jacob Arcadelt agradecendo-lhe ter musicado um deles, e a Varchi por uma palestra altamente laudatória que proferira em Florença sobre esta faceta de sua carreira; além disso, como se disse antes, ele pelo menos uma vez tencionou publicar uma coletânea substancial. Seus poemas foram musicados várias vezes ao longo da história, por compositores como Costanzo Festa, Bartolomeo Tromboncino, Jacob Arcadelt Dmitri Shostakovitch, Hugo Wolf, Richard Strauss, Luigi Dallapiccola e Benjamin Britten. Correspondência. Michelangelo era um assíduo correspondente; sobrevivem quase quinhentas das incontáveis cartas que escreveu para os mais diferentes destinatários, embora estes tenham sido principalmente seus familiares, amigos, agentes e patronos. Elas são uma fonte da maior relevância para se formar uma ideia mais completa de sua vida, personalidade e obra. Em várias delas se encontram exemplos de sua poesia, e em sua prosa exibem, segundo George Bull, um dialeto toscano robusto e fluente, capaz de transitar entre uma linguagem rica e florida e asserções diretas e objetivas, muitas vezes de dura crítica, expressando uma imaginação viva e complexa, uma posição ambivalente sobre várias coisas e uma sensibilidade refinada e passional, muitas vezes coloridas por um fino senso de humor, mas que às vezes chegava ao grotesco. Não raro abordou temas centrais da vida humana — a morte, a religião, o amor e a ambição. Usava muitas metáforas de grande vivacidade e sua habilidade com os jogos de palavras era grande. Segue uma carta dirigida a Tommaso dei Cavalieri em dezembro de 1532: "Impulsivamente, senhor Tommaso, meu senhor caríssimo, sou impelido a escrever a Vossa Senhoria, não em resposta a alguma (carta) vossa que houvesse recebido, mas antes por andar como as plantas meio secas à beira de um magro regato, que por pouca água sofrem manifestamente. Mas depois que parti da praia não encontrei pequenos córregos, mas o oceano profundo onde aparecestes, tanto que, se pudesse, para não submergir de todo, à praia de onde parti primeiro voluntariamente retornaria. Mas como estou aqui, faremos pedra do coração e seguiremos; e se não tenho a arte de navegar pelas ondas do mar de vosso valoroso gênio, me desculpareis, nem desdenhareis o que vos digo, nem querereis dar-me o que não possuo: pois quem é sempre solitário, nunca pode ter companhia. Mas Vossa Senhoria, única luz de nosso século, não pode satisfazer-se com a obra alheia, não tendo semelhantes nem alguém igual a si. Mas se entre as minhas coisas, que espero e prometo fazer, alguma vos agradar, a direi muito mais afortunada do que boa; e quando estiver certo de agradar, como disse, em alguma coisa a Vossa Senhoria, o tempo presente, com tudo o que surgir através de mim, nela porei, e pesa-me demais não poder reaver o passado, pois então poderia servi-lo muito mais longamente do que só possuindo o futuro, que será breve, pois já sou muito velho. Não tendes que dizer-me nada. Lede o coração e não a palavra, porque a pena não é fiel à boa vontade. Oh, desculpai-me que antes tenha-me mostrado estupefato com vosso peregrino gênio, pois sei quanto agi mal; pois natural é maravilhar-se que Deus faça milagres, assim como maravilha que Roma produza homens divinos. E disso o universo é testemunha." Outra carta, escrita para seu irmão Lionardo em agosto de 1541: "Lionardo, me escreves que vens a Roma neste setembro com o Guicciardino. Digo-te que não é uma boa hora, pois não farias senão aumentar as minhas preocupações, além das que já tenho. E digo isso também para Michele, porque estou tão ocupado que não tenho tempo a perder convosco, e todas as outras coisinhas me aborrecem demais: só por isso te escrevo. É preciso preparar a quaresma, te mandarei dinheiro para que te ajeites bem, para que não chegues aqui como uma besta. Escrevi também a Michele, e aconselha-o que também ele se apronte para fazer uma boa quaresma, pois ficarei aliviado; mas talvez haja qualquer coisa que ele precise fazer em Roma em setembro. Isso não sei, mas se não for o caso, de novo aconselho que não venham antes desta quaresma, porque em setembro não terei tempo de qualquer forma para falar convosco, ainda mais que o Urbino que está comigo vai em setembro a Urbino e me deixa aqui sozinho com tanto a fazer. Mas não me faltará alguém que me providencie a comida! Lê esta carta para Michele e pede-lhe que se prepare para esta quaresma como eu disse. E anda a treinar a escrita!, que me parece que tu pioras a cada dia." Legado e fortuna crítica. Michelangelo foi repetidas vezes disputado por várias cidades, que tentaram seduzí-lo com pensões vultosas para que se estabelecesse entre eles. Até mesmo o sultão da Turquia desejou tê-lo em sua corte. Os banqueiros Gondi de Florença puseram à sua disposição quaisquer quantias que ele desejasse. O rei da França, Francisco I, lhe ofereceu 3 mil coroas para lá se radicar, e a "Signoria" de Veneza, uma pensão vitalícia de 600 coroas e liberdade completa de ação. Foi estimadíssimo por todos os seus patronos; mesmo o turbulento Júlio II, com quem brigou inúmeras vezes, lhe mostrava caloroso afeto. Júlio III, embora não o tenha empregado para nenhuma tarefa definida em consideração à sua idade avançada, constantemente solicitava seu conselho e se mostrava tão atencioso a ponto de dizer que daria seu sangue e anos de sua vida para prolongar a de Michelangelo, queria sempre que ele sentasse ao seu lado e abria caminho quando ele passava. Para seus contemporâneos e sucessores imediatos, a influência visual de sua arte foi relativamente pequena e não pode ser comparada à influência de sua personalidade como um grande criador, nem guarda uma relação direta com a fama alcançada por suas maiores obras, possivelmente porque o seu modelo formal era considerado grandioso e sublime demais e, por isso, inibidor para a formação de uma verdadeira escola. Os casos em que se assinalou uma influência direta foram poucos e revelam uma dependência quase completa ao mestre, como foi o de Daniele da Volterra, o mais talentoso entre seus discípulos. Entretanto, em aspectos limitados ele continuou por muito tempo sendo considerado um modelo, especialmente no terreno do desenho anatômico. Na escultura ele contribuiu para cristalizar a forma da "figura serpentinata", que teve uma grande penetração entre os maneiristas, e artistas importantes do Barroco como Rubens, Borromini, Ticiano, Tintoretto e Bernini devem algo às suas concepções. No Rodin também se mostrou sensível ao seu tratamento de volumes e superfícies. Na arquitetura sua obra também teve um impacto fertilizador sobre os criadores da geração seguinte, abrindo um caminho para experimentações livres e individuais a partir dos padrões clássicos ortodoxos. Michelangelo foi o primeiro artista ocidental a reivindicar consistentemente sua independência criativa, e o prestígio de que desfrutou em vida, tornando-o um iluminado, um ser tocado pelo divino, desencadeou um processo de inversão das hierarquias do sistema de produção e consumo de arte que culminou na visão romântica do artista como um gênio isolado, incompreendido, semilouco, preocupado apenas com a expressão de si mesmo, atormentado por anelos insatisfeitos pelo infinito, à frente de seu tempo, perseguido por filisteus insensíveis e absolutamente livre de obrigações sociais ou morais para com seu público. As primeiras análises substanciais da obra de Michelangelo apareceram nas duas biografias que foram escritas sobre ele enquanto ainda estava vivo, embora não se possa a rigor dizer que fossem críticas; são antes elogios efusivos ao seu talento e caráter pessoal. A primeira foi incluída no compêndio biográfico de Giorgio Vasari, "As vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos" (1550). O texto inicia dizendo que "o benigno Regente dos Céus, vendo quão infrutiferamente os artistas se esforçavam para aperfeiçoar a arte, decidiu enviar à Terra um gênio capaz de, sozinho, levá-las todas à perfeição consumada". Mesmo com todo o elogio, Michelangelo, ao ler o trabalho, não ficou inteiramente satisfeito. Assim, seu discípulo Ascanio Condivi em 1553 escreveu sua "Vida de Michelangelo Buonarroti", que contém dados fornecidos pelo próprio artista, mas mesmo esta versão de sua história não foi considerada de todo fiel, e contém muitos erros factuais importantes. Mas o tom da narrativa é o mesmo de Vasari. Por exemplo, ao descrever os afrescos da Capela Sistina, disse que ali estava tudo o que era possível fazer com a forma humana. Por outro lado, possui muita informação valiosa, e foi usada como uma das fontes de Vasari para sua segunda edição das "Vidas", de 1568, que se tornou um texto canônico sobre ele, mas não deixou de criticar vários aspectos do trabalho de seu colega. Esses estudos se esforçaram por criar uma imagem pública de Michelangelo sob uma perspectiva heroica, divinizada e exemplar, apagam defeitos de caráter que eram notórios para os outros contemporâneos do artista, e inclusive negam peremptoriamente os boatos que diziam ele ser homossexual; Condivi chegou ao ponto de assegurar que ele era tão casto quanto um monge. Os elogios a ele em seu tempo foram incontáveis, e além do que Vasari e Condivi disseram, acrescentem-se mais alguns a título de ilustração: Benedetto Varchi disse que seu talento incomparável seria reconhecido até entre os bárbaros; Perino del Vaga o chamou de o deus do desenho; Ariosto disse que ele estava além dos mortais, e até Rafael Sanzio, que fora seu rival, falou que dava graças a Deus por ter nascido no tempo de Michelangelo. Expressões semelhantes foram encontradas amiúde nos séculos seguintes. Goethe, depois de ver a Capela Sistina, disse que já não tinha prazer em observar a natureza, pois não mais encontrava nela a grandeza com que Michelangelo a retratara; foi uma influência sobre Winckelmann na sua conceitualização do Neoclassicismo, considerando-o um dos poucos artistas modernos a igualarem as realizações dos antigos gregos; foi um paradigma para todos os artistas românticos pelo caráter autobiográfico de sua obra, pela sua paixão e ambição; Yeats louvou a sua capacidade de imitar a natureza e viu sua obra como uma confirmação de suas próprias inclinações a valorizar a vida física; Freud disse que nenhuma outra obra de arte o impressionara tanto como o "Moisés", deu uma interpretação psicológica para ele relacionando-o a figuras de autoridade e à força da justa indignação, e viu em seu idealismo patriarcal uma expressão concreta da mais alta conquista intelectual possível para a humanidade. Foi admirado até por artistas das vanguardas iconoclastas do , como Henry Moore, que o chamou de sobre-humano. A despeito da tendência moderna de se estudar a arte dentro de uma óptica acadêmica que tem muito do racionalismo e objetividade da ciência, ainda em tempos recentes são comuns expressões bombásticas para descrever sua vida e obra. Como exemplo, Sir Kenneth Clark disse que Michelangelo foi um dos maiores eventos na história do homem ocidental, e André Malraux o chamou de o inventor do Herói. Antonio Paolucci considerou esse fenômeno como virtualmente impossível de ser evitado, dada a enorme pressão nesse sentido exercida pela reiteração continuada de um processo de deificação acrítica e incondicional ao longo de séculos, em uma dimensão tal que nenhum outro artista experimentou. De uma forma bastante clara, ele foi o primeiro grande artista moderno, e permanece como o protótipo do conceito de gênio até os dias de hoje. Na cultura. Michelangelo foi um dos poucos artistas do mundo erudito que puderam penetrar na cultura popular e criar um folclore a seu respeito. Ele deu o nome a uma quantidade de pessoas, estabelecimentos de ensino, empresas e produtos comerciais de vários tipos, incluindo uma mão biônica. É nome de um vírus de computador, de um grande transatlântico, de um asteroide, de uma cratera no planeta Mercúrio, de uma das Tartarugas Ninjas, e sua figura foi retratada no cinema, sendo considerado um clássico o filme "The Agony and the Ecstasy" (1965), dirigido por Carol Reed e com Charlton Heston no papel do artista.
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Matosinhos
Matosinhos Matosinhos é uma cidade portuguesa localizada na sub-região da Área Metropolitana do Porto, pertencendo à região do Norte e ao distrito do Porto. É sede do Município de Matosinhos que tem uma área total de 62,42 km2, 172.557 habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 2 764 hab./km2, subdividido em 4 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Vila do Conde, a nordeste pela Maia, a sul pelo Porto e a oeste pelo oceano Atlântico. Definição. No litoral da cidade situa-se o porto de Leixões, o segundo maior porto artificial de Portugal e segundo porto marítimo da Área Metropolitana do Porto. Parte do aeroporto internacional do Porto abrange os limites municipais. Matosinhos, juntamente com os municípios vizinhos do Porto e de Vila Nova de Gaia, forma a Frente Atlântica do Porto, que constitui o núcleo populacional mais urbanizado da Área Metropolitana do Porto, situado no litoral, delimitado, a oeste, pelo Oceano Atlântico. História. Durante toda a sua história, Matosinhos esteve ligado ao mosteiro de Bouças, que será bastante antigo, sendo a sua construção anterior a 944. No ano de 900 já existia uma pequena povoação com o nome de "Matesinus" que em 1258 se chamaria "Matusiny", um lugar da freguesia de Sendim. D. Manuel I concedeu-lhe foral em 30 de setembro de 1514 e passou a pertencer ao concelho de Bouças em 1833, tendo como sede a vila de Bouças, até 1836 designada Senhora da Hora. Até ao liberalismo constituía o Julgado de Bouças. Em 1853 foi criada a vila de Matosinhos, constituída pela freguesia do mesmo nome e pela freguesia de Leça da Palmeira, que passou a sede do concelho em substituição de Bouças. Em 1867 é finalmente criado o concelho de Matosinhos, mas que acaba por desaparecer vinte dias depois voltando a ter sede em Bouças. Dado que Matosinhos já se figurava como um lugar mais importante em 6 de Maio de 1909 é criado o concelho de Matosinhos que existe nos nossos dias. Foi elevada a cidade a 28 de Junho de 1984 com Narciso Miranda como Presidente da Câmara e Fernando Miranda como seu vice. Freguesias. O município de Matosinhos engloba três cidades — Matosinhos, São Mamede de Infesta e Senhora da Hora — e cinco vilas (Leça da Palmeira é parte integrante da cidade de Matosinhos). Com a união de freguesias feita em 2013, o concelho de Matosinhos subdivide-se em quatro freguesias: Economia. Matosinhos foi até recentemente um município fortemente industrializado, que tem vindo a passar a ser um município dedicado ao sector terciário. No entanto, ainda mantém petrolíferas herança do auge industrial. As suas indústrias de relevo são a petroquímica, as indústrias alimentares e conserveiras, os têxteis e de material eléctrico. É ainda uma cidade com uma grande actividade piscatória. É também nesta cidade, mais concretamente na freguesia de Leça da Palmeira, que se localiza a Exponor, o maior recinto de feiras empresariais do país. Possuiu as mais importantes portas do Grande Porto: o Porto de Leixões, o maior porto artificial de Portugal, construído nos finais do século XIX. Etnografia. Matosinhos é uma terra recente para os padrões portugueses,sendo portanto influenciada pela cidade do Porto. Incorpora tradições piscatórias do litoral Norte, em específico da comunidade piscatória da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, as mais fortes na cidade, mas também tradições rurais das terras da Maia. A principal festa em Matosinhos é o Senhor de Matosinhos, cuja origem está numa antiga lenda em que a Imagem de Jesus Crucificado (obra de Nicodemus), aqui terá aparecido junto ao mar, onde existe uma Capela-Memorial. A imagem do Senhor é venerada no famoso Santuário do Senhor de Matosinhos (obra-prima de Nicolau Nasoni). Outra lenda muitíssimo antiga, localiza aqui o milagre das vieiras (conchas), atribuído a Santiago-Maior. Turismo. Na nova marginal, muito ampla, os patins em linha, skates, trotinetes e bicicletas são pretextos para um passeio à beira-mar. A praia, um areal extenso próximo do porto, tem acumulado maus resultados nos índices de qualidade ambiental, mas a afluência de banhistas não pára de crescer. É conhecida pela prática e ensino de vários desportos náuticos. Há muitos — e bons restaurantes — nas imediações. Principais Pontos Turísticos a Visitar. Matosinhos assume-se como a cidade do turismo de cruzeiros, do melhor peixe do mundo, da arquitetura contemporânea, do design, do jazz, da ciência e investigação, da dança, do teatro, do surf e da vela e agora também da moda. Da moda e na moda… Matosinhos é ainda um concelho com vasto património cultural e arquitectónico de onde se destacam os seguintes pontos de interesse que merecem ser visitados em qualquer altura do ano: Anémona “She Changes”, Escultura “Tragédia no mar”, Titan, Terminal de Cruzeiros, Monumento Senhor do Padrão, Igreja do Bom Jesus de Matosinhos, Casa da Arquitectura, entre muitos outros. Monumentos. She Changes é uma escultura famosa e recente desenhada pela artista Janet Echelman, que foi inaugurada em 2005. Encontra-se na Praça Cidade do Salvador, entre Porto e Matosinhos, tendo o objectivo de homenagear os pescadores das duas cidades. Evolução da População do Município. ★ Os Recenseamentos Gerais da população portuguesa, regendo-se pelas orientações internacionais da época (Congresso Internacional de Estatística de Bruxelas de 1853), tiveram lugar a partir de 1864 passando, a partir de 1900, a referenciar a população também por idades. Todos os censos encontram-se disponíveis para consulta no site do Instituto Nacional de Estatística. ★ ★ De acordo com o censo de 2021 registaram-se no Município (e Distrito) as seguintes alterações relativamente a 2011: -1.6% de habitantes (-1.7%); -14% no grupo dos 0–4 anos (-20%); -10% no grupo dos 15–24 anos (-6%); -9% no grupo dos 25–64 anos (-5%); + 40% no grupo dos 65+ (+ 33%). "" Política. "Ver artigo principal: Câmara Municipal de Matosinhos" Geminações. Cidades Geminadas. Matosinhos é geminada com: Acordos de Cooperação. Matosinhos possui um acordo de cooperação com:
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Baião (música)
Baião (música) Baião é um gênero de música e dança popular da região Nordeste do Brasil, derivado de um tipo de lundu, denominado "baiano", de cujo nome é corruptela. O baião utiliza muito os seguintes instrumentos musicais: viola caipira, triângulo, flauta doce e acordeão (também chamado de sanfona). A rabeca é apontada como o instrumento característico do Baião, dada a sonoridade lembrar a da sanfona que por sua vez seria a mais identificada quando o ritmo se tornou conhecido nacional e internacionalmente. Os sons destes instrumentos são intercalados ao canto. A temática do baião é o cotidiano dos sertanejos e das dificuldades da vida dos tais, como na canção "Asa Branca" que fala do sofrimento do sertanejo em função da seca nordestina. Foi na segunda metade da década de 1940 que o baião tornou-se popular, através dos músicos Luiz Gonzaga (conhecido como o “rei do baião”) e Humberto Teixeira (“o doutor do baião”), abrindo caminho para outros artistas que ficariam muito conhecidos como Sivuca e Carmélia Alves. O baião ainda influenciaria o trabalho de muitos artistas contemporâneos, tendo renascido o interesse pelo gênero ainda na década de 1970 com o advento da "Tropicália" e como influência marcante nos trabalhos de músicos nordestinos desde então. História. Segundo informa Câmara Cascudo, foi gênero de dança popular bastante comum durante o século XIX. Em 1928 Rodrigues de Carvalho registrou que "…"o baião, que é o "[ritmo]" mais comum entre a canalha, e toma diversas modalidades". Câmara Cascudo registra ainda a sua popularização no país, a partir de 1946, com Luiz Gonzaga, em forma modificada pela "inconsciente influência local do samba e das congas cubanas" - sendo o ritmo de sucesso, vencendo o espaço então dominado pelo bolero. Sua execução original era com sanfonas, que com a popularização passou a anexar o orquestramento. A conjunto da instrumentação básica do "baião", segundo "Luiz Gonzaga" num depoimento, é de origem portuguesa, mais especificamente da chula. ' ' ' ' "Depois eu verifiquei que esse conjunto era de origem portuguesa, porque a chula do velho Portugal tem essas coisas, o ferrinho (triângulo), o bombo (o zabumba) e a rabeca (a sanfona)… é folclore que chegou de lá no Brasil e deu certo. Agora, o que eu criei, foi a divisão do triângulo, como ele é tocado no baião. Isso aí não era conhecido. (Deryfus, 1996, p.152 apud Ramalho, 2000, p.62)" ' ' ' ' O primeiro sucesso veio com a música homônima - Baião - de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, cuja letra diz: "Eu vou mostrar pra vocês / Como se dança o baião / E quem quiser aprender / É favor prestar atenção."" e ""(…) o baião tem um quê / Que as outras danças não têm"". Gonzaga logo passou a dominar o gosto popular com outros sucessos no estilo do baião, a ponto de jornais da época registrarem que o ritmo tornara-se a "coqueluche nacional de 1949" (segundo a revista Radar) e era decisiva sua influência "na predileção do povo" (jornal Diário Carioca). A partir da década de 1950, o gênero passou a ser gravado por diversos outros artistas, dentre os quais Marlene, Emilinha Borba, Ivon Curi, Carolina Cardoso de Menezes, Carmem Miranda, Isaura Garcia, Ademilde Fonseca, Dircinha Batista, Jamelão, dentre outros. Se Gonzaga era o "Rei do Baião", Carmélia Alves era tida como a "Rainha", Claudete Soares a "princesa" e Luiz Vieira o "príncipe". Após um período de relativo esquecimento, durante a década de 1960 e a seguinte, no final dos anos 70 ressurgiu com Dominguinhos, Zito Borborema, João do Vale, Quinteto Violado, Jorge de Altinho e outros. O ritmo influenciou ainda o tropicalismo de Gilberto Gil e o rock'n roll de outro baiano - Raul Seixas. Este último fundiu os dois ritmos, criando aquilo que chamou de "Baioque". Características. Segundo Guerra Peixe, o baião possui uma escala que vai de dó a dó, com as seguintes variações: Continuando, o maestro consigna que possui os ritmos melódicos: semicolcheia, colcheia, semínima e mínima prolongada em compasso de dois por quatro. As harmônicas nos modos acima:
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Multituberculata
Multituberculata Multituberculata são mamíferos semelhantes a roedores como esquilos. Recebem esse nome a partir de seus dentes molares, os quais são dentes amplos com especialidade para raspagem. São os mamíferos mais comuns e mais conhecidos da era Mesozóica. (F. Harvey Pough) Os Multituberculata, foram um grupo extinto de mamíferos primitivos, tradicionalmente classificados na Subclasse Allotheria, "status" que hoje em dia vem sendo contestado. Recentes estudos filogenéticos e paleontológicos têm levantados muitas dúvidas quanto à relação destes animais com os outros mamíferos. (F. Harvey Pough) Aparentemente, o grupo não deu origem a nenhum ramo de mamíferos existente na atualidade. Uma vez que são conhecidos apenas como fósseis, a taxonomia e anatomia detalhada dos Multituberculata permanece em aberto. Entre as suas características distintivas encontram-se os dentes que apresentam um número anormal de cúspides (daí o nome da ordem). O estudo dos Multituberculata faz-se quase exclusivamente através das tipologias de dentição. Os Multituberculata surgiram no Jurássico médio (Dogger) e extinguiram-se no Oligocénico inferior. A sua distribuição geográfica incluia todo o hemisfério Norte. Popularização na mídia. Mamíferos Multituberculata do Período Cretáceo aparecem na obra de ficção-científica brasileira "Realidade Oculta".
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Microscópio
Microscópio O microscópio é um instrumento óptico com capacidade de ampliar imagens de objetos muito pequenos graças ao seu poder de resolução. Este pode ser composto ou simples: microscópio composto tem duas ou mais lentes associadas; microscópio simples é constituído por apenas uma lente. Acredita-se que o microscópio tenha sido inventado no final do século XVI por Hans Janssen e seu filho Zacharias, dois holandeses fabricantes de óculos. Tudo indica, porém, que o primeiro a fazer observações microscópicas de materiais biológicos foi o neerlandês Antonie van Leeuwenhoek (1632 - 1723). Serve-se especialmente para os cientistas, que utilizam este instrumento para estudar e compreender os micro-organismos. Os microscópios de Leeuwenhoek eram dotados de uma única lente, pequena e quase esférica. Nesses aparelhos ele observou detalhadamente diversos tipos de material biológico, como embriões de plantas, os glóbulos vermelhos do sangue e os espermatozoides presentes no sêmen dos animais. Foi também Leeuwenhoek quem descobriu a existência dos micróbios, como eram antigamente chamados os seres microscópicos, hoje conhecidos como micro-organismos. Os microscópios dividem-se basicamente em duas categorias: Há ainda os microscópios de varredura de ponta que trabalham com uma larga variedades de efeitos físicos (mecânicos, ópticos, magnéticos, elétricos). Um tipo especial de microscópio eletrônico de varredura é por tunelamento, capaz de oferecer aumentos de até cem milhões de vezes, possibilitando até mesmo a observação da superfície de algumas macromoléculas, como é o caso do DNA. Importância. A citologia é dependente de equipamentos que permitem toda a visualização das células humanas, pois a maioria delas são tão pequenas que não podem ser observadas sem o auxílio de instrumentos óticos de ampliação. O olho humano tem um limite de resolução de 0,2 mm. Abaixo desse valor, não é possível enxergar os objetos sem o auxilio de instrumentos, como lupas e, principalmente, o microscópio. O crédito da invenção do microscópio é discutível, mas sabe-se que em 1590 os irmãos neerlandeses Franz, Johan e Zacarias Janssen compuseram um artefato rudimentar munido de um sistema de lentes, que permitia a ampliação e a observação de pequenas estruturas e objetos com razoável nitidez. O aparelho foi denominado de microscópio e constituiu a principal janela da ciência para o mundo além da capacidade de resolução do olho humano. Em 1665, o inglês Robert Hooke usou um microscópio para observar uma grande variedade de pequenos objetos, além de animais e plantas que ele mesmo representava em fiéis ilustrações. Hooke percebeu além que a casca do carvalho era formada por uma grande quantidade de alvéolos vazios, semelhantes à estrutura dos favos de uma colmeia. Naquela época, Hooke não tinha noção de que estava observando apenas contornos de células vegetais mortas. Publicou as suas descrições e ilustrações em uma obra denominada Micrographia, em que usa a designação "little boxes or cells" (pequenas caixas ou celas) para denominar os alvéolos observados, dando origem assim ao termo célula. O termo acabou tornando-se definitivo.
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Método científico
Método científico O método científico refere-se a um conjunto de regras básicas dos procedimentos que produzem o conhecimento científico, quer um novo conhecimento, quer uma correção (evolução) ou um aumento na área de incidência de conhecimentos anteriormente existentes. Na maioria das disciplinas científicas consiste em juntar evidências empíricas verificáveis — baseadas na observação sistemática e controlada, geralmente resultantes de experiências ou pesquisa de campo — e analisá-las com o uso da lógica. Para muitos autores, o método científico nada mais é do que a lógica aplicada à ciência. Os métodos que fornecem as bases lógicas ao conhecimento científico são: método indutivo, método dedutivo, método hipotético-dedutivo, método dialético, método fenomenológico, etc.. Descrições de métodos são encontradas desde as civilizações antigas, como no Antigo Egito e na Grécia Antiga, mas só foi na sociedade árabe, há cerca de mil anos que as bases do que seria o método científico atual foram sendo construídas, com o trabalho do cientista Ibn Al- Haytham nos seus estudos sobre ótica, fazendo ele ser considerado por muitos "o primeiro cientista". O método utilizado por ele já contava com similaridades com o método de Descartes e o atual como: a observação e a pesquisa teórica anterior ao fazer do experimento, a separação em categorias e comparar a hipótese de acordo com os resultados. A metodologia científica se reforça no pensamento de René Descartes, que foi posteriormente desenvolvido empiricamente pelo físico inglês Isaac Newton. Descartes propôs chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes, características que definiram a base da pesquisa científica. Compreendendo-se os sistemas mais simples, gradualmente se incorporam mais e mais variáveis, em busca da descrição do todo. O Círculo de Viena acrescentou a esses princípios a necessidade de verificação e o método indutivo. Karl Popper demonstrou que nem a verificação nem a indução sozinhas serviam ao propósito em questão – o de compreender a realidade conforme esta é e não conforme gostar-se-ia que fosse – pois o cientista deve trabalhar com o falseamento, ou seja, deve fazer uma hipótese e testar suas hipóteses procurando não apenas evidências de que ela está certa, mas sobretudo evidências de que ela está errada. Se a hipótese não resistir ao teste, diz-se que ela foi falseada. Caso não, diz-se que foi corroborada. Popper afirmou também que a ciência é um conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos falseamentos. Nunca se prova uma teoria científica. Thomas Kuhn percebeu que os paradigmas são elementos essenciais do método científico, sendo os momentos de mudança de paradigmas chamados de revoluções científicas. O método científico é construído de forma que a ciência e suas teorias evoluam com o tempo. Não apenas recentemente mas desde os primórdios a metodologia científica tem sido alvo de inúmeros debates de ordem filosófica, sendo criticada por vários pensadores aversos ao pensamento cartesiano, a citarem-se as críticas elaboradas pelo filósofo francês Edgar Morin. Morin propõe, no lugar da divisão do objeto de pesquisa em partes, uma visão sistêmica, do todo. Esse novo paradigma é chamado de Teoria da complexidade (complexidade entendida como abraçar o todo). Embora tal paradigma não implique a rigor na invalidade do método científico em sua forma geral, este certamente propõe uma nova forma de se aplicá-lo no que se refere às particularidades de cada área quanto ao objetivo é compreender a realidade na melhor forma possível. Evolução do método. Metodologia científica literalmente refere-se ao estudo dos pormenores dos métodos empregados em cada área científica específica, e em essência dos passos comuns a todos estes métodos, ou seja, do método da ciência em sua forma geral, que se supõe universal. Embora procedimentos variem de uma área da ciência para outra (as disciplinas científicas), diferenciadas por seus distintos objetos de estudo, consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o método científico de outros métodos encontrados em áreas não científicas, a citarem-se os presentes na filosofia, na matemática e mesmo nas religiões. A história do método científico se mistura com a história da ciência. Documentos do Antigo Egito já descrevem métodos de diagnósticos médicos. Na cultura da Grécia Antiga, os primeiros indícios do método científico começam a aparecer. Grande avanço no método foi feito no começo da filosofia islâmica, há cerca de mil anos, com a contribuição de Ibn al- Haytham, cientista árabe, que em sua pesquisa sobre ótica, organizou o que muitos consideram as bases do método científico moderno que se consolidaram com o surgimento da Física nos séculos XVII e XVIII. Francis Bacon, em seu trabalho Novum Organum (1620) — uma referência ao "Organon" de Aristóteles — especifica um novo sistema lógico para melhorar o velho processo filosófico do silogismo. A metodologia científica tem sua origem no pensamento de Descartes, que foi posteriormente desenvolvido empiricamente pelo físico inglês Isaac Newton. René Descartes propôs chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes, características que definiram a base da pesquisa científica. Lê-se no livro o "Discurso do método": Correntemente estas regras são: 1) da evidência; 2) da divisão ou análise; 3) da ordem ou dedução; e, 4) da enumeração (contar, especificar), classificação. Contexto de uma pesquisa. Existem diferentes tipos de pesquisa, quando se usa o método científico como divisor de águas. Como exemplo, vamos falar do método hipotético-dedutivo. Pesquisa focada no método hipotético-dedutvo. Primeiramente, os pesquisadores definem proposições lógicas ou suposições - as hipóteses - para explicar certos fenômenos e observações, e então desenvolvem experiências ou observações a serem feitas em que testam essas hipóteses. Se confirmadas, "as hipóteses podem gerar leis", e juntamente com as evidências associadas, geram as teorias científicas; isso seria pensando na construção teorias. Ou seja, nesse cenário o pesquisador foca em gerar "percepções" do mundo em forma de hipóteses, e testá-las."Hipótese pode ser definida como qualquer afirmação sobre algo. Fazemos observações, e criamos hipóteses, que seria a forma como pensamos que o sistema funciona. Em seguida, criamos formas de testar nossas hipóteses. Toda pesquisa tem hipótese, estando ou não o pesquisador ciente."Embora as hipóteses sejam geralmente formuladas em cima de um subconjunto de fatos de particular interesse ou relevância, vale ressaltar que o método pode impor a integração entre todo conhecimento produzido. Isso ocorre quando a hipótese trata algo maior, como a hipótese da velocidade constante da luz da teoria da relatividade. A rigor não há inúmeros subconjuntos de evidências, cada um particular a uma teoria restrita, mas sim um conjunto único e universal de evidências, com as quais, qualquer que seja, uma hipótese válida não pode conflitar, quer seja esteja esta hipótese associada a um sistema em particular que busque esta ser uma explicação geral para os fenômenos naturais. Integrando-se o conjunto de fatos e as hipóteses de diversas áreas em uma única e coerente estrutura de conhecimento formam-se teorias cada vez mais amplas e abrangentes, e ao fim do que se denomina por ciência. Com tal imposição do método, colocam-se as hipóteses sempre que possível em um patamar bem mais amplo de abrangência, podendo estas virem a receber o título honorífico de leis científicas e as teorias pertinentes virem a ser reconhecidas consensualmente pela comunidade científica como um paradigma válido à época em questão. Construção de conhecimento. Outra característica do método é que o processo de produção do conhecimento científico precisa ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretação dos resultados. Sobre a objetividade, que consiste em se atentar às propriedades do objeto em estudo e não às do sujeito que as estuda (subjetividade), é conhecida a afirmação de Hans Selye, pesquisador canadense que formulou a moderna concepção de estresse: "Quem não sabe o que procura não entende o que encontra", referindo-se à necessidade de formulação de definições precisas (a essência dos conceitos) e que possam ser respondidas com um simples sim ou não, e aos cuidados que se deve ter com a subjetividade inerente ao ser humano. Tanto a imparcialidade (evidência) quanto a objetividade foram incluídas por René Descartes (1596 – 1649) nas regras lógicas que caracterizam o método científico. Além disso, o procedimento precisa ser documentado, tanto no que diz respeito à fonte de dados como às regras de análise, para que outros cientistas possam reanalisar, reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados. Assim se distinguem os relatos científicos (artigos, monografias, teses e dissertações) de um simples estilo (padrão) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracterizam as normas da Retórica ou o estudo do uso persuasivo da linguagem, em função da eloquência. É comum o uso da análise matemática ou estatística de forma direta ou mediante aproximação por modelos abstratos idealizados ao qual se acrescem gradualmente as variáveis necessárias para satisfazer à complexidade do problema enfocado e precisão desejada, precisão que depende do objetivo da pesquisa (identificar, descrever, analisar, etc.). Como exemplo, na construção de modelos para sistemas biológicos, onde o modelo pode começar do simples para o complexo. Embora os estudos preliminares possam ter natureza qualitativa, o enfoque final deve ser quantitativo, e este é essencial à ciência, sendo "o universo do mais ou menos" um universo, a rigor, alheio ao método científico. A divisão da ciência em grandes áreas, áreas de estudo, cadeiras e disciplinas científicas distintas têm levado em consideração, em vista do debatido acima, as adequações dos diferentes pormenores da metodologia científica exigidas pelo alvo dos estudos em cada situação. É comum a afirmação de que em função da evolução e definição atual do método científico, num extremo têm-se a física e química seguida da biologia, da geologia, e demais cadeiras das ciências naturais, e no outro, se não violando mantendo-se contudo na fronteira dos rigores do método científico, as ciências sociais, a citar-se a psicologia e as ciências jurídicas, estas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenças (senso comum) ou ciências do espírito (sistemas mítico - religiosos), estas últimas já certamente alheias ao que se denomina de área científica de estudo. No caso da biologia, isso levou alguns a afirmarem, trazendo de volta um fantasma da química vs. física [tradução livre]:Todas as ciências são ou física ou coleção de selosMais discussões em Pires (2022). Contudo, pensadores contemporâneos veem nessas duas abordagens uma oposição complementar, enquanto que as pesquisas quantitativas que visam descrever e explicar fenómenos que produzem regularidades mensuráveis são recorrentes e exteriores ao sujeito (objetivos), na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) é da mesma natureza que o objeto de sua análise e, ele próprio, uma parte da sua observação (o subjetivo). É importante ter em mente que as pesquisas científicas se relacionam com modelos, com uma constelação de pressupostos e hipóteses, escalas de valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade científica num determinado momento histórico, ou seja, a um paradigma válido à época em consideração. Elementos do método científico. "Ciência é muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos." - Carl Sagan "...ciência consiste em agrupar factos para que leis gerais ou conclusões possam ser tiradas deles." - Charles Darwin O método científico é composto dos seguintes elementos: O método científico consiste dos seguintes aspectos: Na área da saúde a natureza da associação causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877 para demonstração da relação causal entre microrganismos e patologias, fundando-se a proposta de Koch basicamente nos mesmos princípios enunciado acima, ou seja: força da associação, ou conectividade (correlação nem sempre implica causalidade); sequência temporal (assimetria); transitividade (evidência experimental); previsibilidade e estabilidade dos resultados. Uma maneira linearizada e pragmática de se seguir o método científico está exposto a seguir passo a passo. Vale a pena notar que é apenas uma referência, podendo haver, em acordo com a situação, passos necessários, contudo nesta lista não relacionados ou mesmo passos listados; cujos cumprimento não se faz necessário. Na verdade, na maioria dos casos não se seguem todos esses passos, ou mesmo parte deles. O método científico não é uma receita: ele requer inteligência, imaginação e criatividade. O importante é que os aspectos e elementos apresentados anteriormente estejam presentes: Observe-se que nem todas as hipótese podem ser facilmente confirmadas ou refutadas por experimentos ou evidências e que em muitas áreas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretá-los já é uma grande tarefa como nas ciências humanas e jurídicas (criminologia), contudo a necessidade de fazê-lo é inerente à ciência. Ciências humanas. A limitação ética da realização de experimentos com seres humanos, o estudo das subjetividades ou do essencialmente subjetivo, individual e particular psiquismo humano, ou a natureza histórica do objeto das ciências sociais, conduziram os pensadores a distintos caminhos ou proposições de estudo para o método científico. Contudo, parafraseando Minayo..."uma base de dados quando bem trabalhada teórica e praticamente, produz riqueza de informações, aprofundamento e maior fidedignidade interpretativa"... As principais divergências na análise dos resultados de pesquisas em ciências sociais ou humanas se dão no plano da contextualização dos dados ou informações obtidas em campo nos diversos sistemas teóricos, ou seja, conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos momentos históricos e/ou segmentos das comunidades científicas. Nas ciências sociais identifica-se três grandes correntes de pensamentos: Para Haguette a individualização das ciências sociais que se deu a partir do séc. XIX, trouxe consigo a questão política como problema, mais especificamente o advento do marxismo como práxis ou possibilidade de intervenção no curso da história. Ainda segundo essa autora, apenas no séc. XX desenvolveu-se as chamadas metodologias de pesquisa qualitativa não limitadas aos aspectos explicativos da realidade como vistos até então. As metodologias de pesquisa qualitativa, a exemplo do interacionismo simbólico, as etnometodologias e por excelência a pesquisa-ação (pesquisa-participante), derivam da convicção de que a ação social é fundamental na configuração da sociedade, ou seja não mais dissociada do processo histórico-político que a conduz. O acidente. É comum considerar alguns dos mais importantes avanços na ciência, tais como as descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming, como tendo ocorrido por acidente. No entanto, o que é possível afirmar à luz da observação científica é que terão sido "parcialmente" acidentais, uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a "pensar cientificamente", estando, portanto, conscientes de que observaram algo novo e interessante. Os progressos da ciência são acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso, que segue um caminho mais ou menos sistemático na busca de respostas a questões científicas. É este o caminho denominado de "método científico". Hipótese. A Hipótese é uma proposição que se admite de modo provisório como verdadeira e como ponto de partida a partir do qual se pode deduzir, pelas regras da lógica, um conjunto secundário de proposições, que têm por objetivo elucidar o mecanismo associado às evidências e dados experimentais a se explicar. Literalmente pode ser compreendida como uma suposição ou proposição na forma de pergunta, uma conjetura que orienta uma investigação por antecipar características prováveis do objeto investigado e que vale quer pela concordância com os fatos conhecidos quer pela confirmação através de deduções lógicas dessas características, quer pelo confronto com os resultados obtidos via novos caminhos de investigação (novas hipóteses e novos experimentos). No método científico, a proposição de hipóteses é o caminho que deve levar à formulação de uma teoria. O cientista, na sua hipótese, tem dois objetivos: explicar um ou geralmente um conjunto de "fatos" e prever outros acontecimentos e fatos dele decorrentes (deduzir as consequências). A hipótese deverá ser testada frente a fatos obtidos de observações sistemáticas e controladas resultantes de experiências laboratoriais e de pesquisa em campo. Se, após muitas dessas experiências, os resultados obtidos pelos pesquisadores não contrariarem a hipótese, esta então será aceita como válida, promovida à lei se for simples contudo de abrangência geral, e integrada à teoria e/ou sistema teórico pertinente. A promoção da hipótese ao patamar de integrante de uma teoria ou sistema teórico pertinente não lhe aufere, contudo, o título de dogma. Todas as hipóteses científicas estão em perpétuo teste frente aos fatos naturais, frente aos resultados experimentais e frente aos rigores de consistência lógica com as demais hipóteses aceitas como válidas no presente momento! Uma hipótese indubitável hoje pode ser falsa amanhã, e isto vale para todas as hipóteses científicas, independente dos "títulos honoríficos" que possuam. Mesmo as leis científicas não passam de meras hipóteses neste contexto.
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Mairinque
Mairinque Mairinque é um município brasileiro do estado de São Paulo situado na Região Metropolitana de Sorocaba, na Mesorregião Macro Metropolitana Paulista e na Microrregião de Sorocaba. Localiza-se a uma latitude 23º32'45" sul e a uma longitude 47º11'00" oeste, estando a uma altitude de 850 metros. Sua população estimada em 2019 era de 47 150 habitantes. História. A região onde atualmente se localiza Mairinque, foi inicialmente chamada de Entroncamento, pois nos estudos dos engenheiros da Estrada de Ferro Sorocabana, projetava se ali a construção de uma estação e um grande entroncamento ferroviário da linha que viria de Itu com a linha tronco da Sorocabana, além de onde partiria a futura linha Mairinque-Santos. Na época, a área pertencia ao município de São Roque. A companhia iniciou as obras de construção das linhas, reservou áreas para as futuras oficinas e loteou parte dos terrenos nas imediações da estação para a criação de uma vila. Em 27 de outubro de 1890 a vila foi fundada as margens da Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1897, juntamente com a inauguração da linha para Itu, a estação recebeu o nome de Mayrink, em homenagem ao sr. Francisco de Paula Mayrink, presidente da Sorocabana a partir de 1882. A vila assumiu o nome da estação e passou a se chamar Vila Mayrink, que viria a se tornar o município de "Mairinque". A vila cresceu e em 1902, as oficinas da ferrovia que eram em Sorocaba, foram transferidas para Mairinque, o que fez sua importância aumentar muito mais para a região. Famosa pelo seu estilo, a estação ferroviária foi idealizada pelo arquiteto francês Victor Dubugras, sendo a primeira arquitetura de concreto armado do Brasil, inaugurado em 1906 depois de dois anos de construção. Atualmente, nela funciona o museu da Estrada de Ferro Sorocabana. Em 24 de setembro de 1908, pela Lei Estadual nº 1131, foi criado o Distrito de Paz de Mairinque, no Município e Comarca de São Roque. Em 1930, a oficina da Estrada de Ferro Sorocabana foi transferida para Sorocaba. Com essa mudança, a Vila iniciou uma queda no desenvolvimento, chegando quase a desaparecer. Em 1929, começaram as obras da linha Mairinque-Santos da Estrada de Ferro Sorocabana, projetada desde 1889 para quebrar o monopólio da SPR, em ligar o interior paulista ao Porto de Santos. Com duas frentes de trabalho, uma vindo de Santos e outra de Mairinque, o ramal foi concluído em 1937. Em 1940, a Estrada de Ferro Sorocabana passou a instalar e ampliar suas repartições em Mairinque, tais como: depósito de locomotivas com oficina de manutenção, almoxarifado, Sede do Serviço Florestal, Sede dos serviços de eletrificação, armazém de abastecimento e principalmente Sede dos ferroviários. A conclusão da linha Mairinque-Santos e as instalações da Sorocabana forjaram definitivamente a vocação de Mairinque até os dias atuais, tornando um dos principais entroncamentos ferroviários do Brasil. Na década de 1950, a implantação da Companhia Brasileira de Alumínio cooperou muito para o reerguimento do então Distrito de Mairinque, através da implantação da indústria de alumínio na região da Vila do Rodovalho, que se desenvolveu e passou a ser o Distrito de Alumínio. Em 1953, foi tentada pela primeira vez a emancipação política do Distrito, fracassando porque ainda não havia condições para a instalação. Em 1958, foi criado o Município de Mairinque (através da Lei nº 5285, de 18 de fevereiro de 1959), abrangendo o distrito sede e o Distrito de Alumínio. O primeiro prefeito do município foi o sr. Arganauto Ortolani. Em 30 de dezembro de 1991, o distrito de Alumínio foi elevado à categoria de município, desmembrado de Mairinque pela lei estadual nº 7644. Geografia. O município de Mairinque está situado no interior do estado de São Paulo, a 70 quilômetros da capital, sendo a ela ligada pela Rodovia Raposo Tavares e também servida pela Rodovia Castelo Branco. A sede do município localiza-se nas coordenadas 23º32'45"S 47º11'00"O, aos 900 metros de altitude. No caminho para Ibiúna, via bairro da Sebandilha , a estrada chega aos 940 metros de altitude. Todavia, uma das maiores altitudes do município é encontrada no topo da serra que dá acesso ao bairro Moreiras, estrada Gov. Mário Covas, junto à plantação de eucaliptos da CBA. No topo da referida serra, junto às antenas de telefonia celular, encontramos a altitude de 993 metros, numa área onde os topos dos morros ficam todos acima de 950 metros. Em dias mais úmidos e frios, é fácil encontrar esta área alta tomada por nevoeiro. Quase toda a área do município insere-se na zona geográfica temperada, isto é, abaixo do Trópico de Capricórnio. A exceção é a porção norte do município, próxima da Rodovia Castelo Branco, que é atravessada pelo referido trópico. Ficam localizados acima do Trópico de Capricórnio os bairros: Varejão, Olhos d'água, Dona Catarina, Mato Dentro e Porta do Sol. Os demais bairros situam-se em área geográfica temperada. Mairinque possui uma extensão territorial de 209,757 km². Clima. Segundo a classificação climática de Köppen, categorizada em sete tipos climáticos, que correspondente ao clima úmido, sendo eles: Cwa, Aw, Cfb, Am, Cfa, Af e Cwb. O município de Mairinque é classificado pela sigla Cfa - clima subtropical úmido, com a presença de chuvas durante o verão e uma seca durante o inverno. A temperatura média no mês quente é superior que 22 °C , e a média de temperatura durante o é frio é inferior a 20 °C. Temperatura. No município, durante 4 meses do ano as temperaturas são mornas, atingindo a temperatura média dos 26 °C, já entre os meses de novembro a março, as temperaturas são mais quentes, chegando a temperatura média de 28 °C. Entretanto, durante os meses de maio, junho, julho e agosto, as temperaturas ficam abaixo da média, ficando entorno dos 22 °C. Nesse mesmo período, onde há a presença do frio, a temperatura média atinge os 12 °C. Mais informações sobre a variação da temperatura do município pode ser consultada no site. Precipitação. Durante os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março são registrados os maiores índices de precipitação para a região, registrando a média para os 4 meses entorno de 170,42 mm. O mês mais elevado de precipitação é registrado em janeiro, com 202, 0 mm e em fevereiro com 180,67 mm. Nos meses onde a temperatura são baixas, os índices registram em média 48, 17 mm. Geologia e Geomorfologia. O município está localizado em uma região com formações geológicas de rochas de calcária, compondo o conjunto São Roque. São rochas constituídas por calcita (carbonato de cálcio) e (carbonato de cálcio e magnésio). Além disso, de modo geral, é possível observar ligeiras topografias com altura média de 850 metros, onde predominam colinas e morros altos. Pedologia. Predomina-se  no município o solo do tipo Argissolo, caracterizado pela formação de argila de fácil revolvimento na camada inferior. Este solo está associado a alta taxa pluviométrica dos climas úmidos e superunidos, além de muito alta suscetibilidade de processos erosivos. São arenosos, com a  textura média ou argilosos no horizonte mais superficial. Apresentam uma cor mais forte (amarelada, brunada ou avermelhada), maior coesão e maior plasticidade e pegajosidade em profundidade, devido ao maior teor de argila. Tem uma fertilidade  variável, dependente principalmente de seu material de origem. Em relação a sua retenção de água, possui um maior nos horizontes abaixo da superfície (subsuperficiais), que podem se constituir em um reservatório de água para as plantas e vegetação. Flora. Vegetação. A região do município predomina a vegetação da Mata Atlântica, além de formações de Cerrado (ecótono). A maior porção de Mata Atlântica está localizada na Bacia Hidrográfica do Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT) na APA da Represa Itupararanga. Na região central da cidade encontra-se um remanescente florestal de Mata Atlântica composto por espécies exóticas e nativas, e com áreas em regeneração, local esse que recebeu o nome de Parque Municipal Horto Florestal “Antônio Anselmo” (PMHFAA). Para mais informações sobre a Mata Atlântica, clique aqui. Serviço ecossistêmicos. A cobertura vegetal (vegetação - florestas) é de suma importância para a conservação e a manutenção da qualidade das águas de rios e córregos. É essencial para manter a biodiversidade local, conservar o solo e evitando que materiais e sedimentos percolem até os cursos d’água, facilitando assim a infiltração de água no solo e a recarga dos aquíferos e represas. Cerrado Mayrink. O município de Mairinque é contemplado com formações de cerrado campestres e cerrado stricto sensu em transição com áreas de Floresta Estacional Semidecidual, e apresenta o predomínio da vegetação de gramíneas-herbáceas, além de espécies lenhosas e xeromórficos, com a presença de troncos tortuosos, folhas coriáceas, características comuns entre as espécies de plantas típicas da fisionomia de cerrado. Para mais informações sobre o Cerrado, clique aqui. Fauna. As espécies de aves encontradas/registradas para o município encontra-se disponibilizada por meio da plataforma do Wikiaves Para a cidade, há um registro de 191 espécies de aves catalogas/registras que pode ser acessada aqui. De modo geral, existem alguns registros de animais para a cidade noticiados pela mídia local, sendo eles: gato-selvagem; veado-campeiro; ouriço; coruja-buraqueira; jararaca; cobra-verde entre outros. Demografia. Dados do Censo - 2016 População total: 48.852 Densidade demográfica (hab./km²): 190,63 Mortalidade infantil até 1 ano (por mil): 13,70 Expectativa de vida (anos): 72,42 Taxa de fecundidade (filhos por mulher): 2,30 Taxa de alfabetização: 92,79% Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M): 0,801 Hidrografia e Abastecimento de água. A hidrografia do município está localiza-se na Sub-Bacia Médio Sorocaba, sendo gerenciada pela Unidade Hidrográfica de Gerenciamento de Recursos Hídricos 10  (UHGRHI 10), e administrada pelo órgão regulador - Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba (CBH-SMT).   O município possui 7 microbacias em diversas regiões  da cidade, sendo eles: Ribeirão do Mato Dentro, Saboó, Córrego dos Moreiras, Córrego dos Pintos, Monjolinho, Ribeirão do Varjão e Ribeirão do Setúbal, sendo a última bacia localizada mais próximo do reservatório da Represa de Itupararanga. Captação de água. O principal meio de captação de água para abastecimento público do município é realizado no Manancial Fiscal, localizado na região  da Represa de Itupararanga, formado pela barragem do Rio Sorocaba no Município de Votorantim. Além deste manancial, realiza-se também a captação superficial no Manancial Carvalhal. O Manancial Fiscal e o Carvalhal pertencem à Bacia do Rio Sorocaba e são classificados como Classe 2. Isso quer dizer que ambos estão aptos e destinados ao abastecimento para consumo humano após tratamento convencional. De acordo com os dados disponibilizados por Pedrazzi et al, o reservatório apresenta índices de qualidade das suas águas variando de ótima a boa. Além disso, o sistema de abastecimento de água ainda conta a captação de água subterrânea de com 21 poços. Esses poços que abastecem o município apresentam porções de afloramento dos Aquíferos Cristalinos, Tubarão e Guarani. Transporte. O município conta com serviços de transporte das seguintes empresas de ônibus: • Viação Cometa (Transporte Rodoviário, pela ARTESP): Para Sorocaba, Itapetininga, São Roque, São Paulo, Santos, São Vicente, Praia Grande e Mongaguá. • Rápido Luxo Campinas Ltda. (Transporte Intermunicipal Metropolitano, pela EMTU): Para São Roque, Alumínio, Itu e Sorocaba. • Jundiá Transportadora Turística (Transporte Municipal) Rodovias. Mairinque é beneficiada por duas das principais rodovias do estado: = Ferrovias. Mairinque nasceu as margens da Estrada de Ferro Sorocabana, no principal entroncamento da companhia. Além de contar com a Estação Ferroviária de Mairinque, no município se inicia a linha Mairinque-Santos, principal corredor ferroviário de exportação do Porto de Santos, que recebe cargas do interior paulista, Minas Gerais e Mato Grosso pela Variante Boa Vista-Guaianã e de Mato Grosso do Sul e norte do Paraná pela EFS. Os últimos trens de passageiros (suburbanos da CPTM e os de longa distância da Fepasa) circularam pelo município em 1999. Comunicações. A cidade foi atendida pela Companhia Telefônica Brasileira (CTB) até 1973, quando passou a ser atendida pela Telecomunicações de São Paulo (TELESP), que construiu a central telefônica utilizada até os dias atuais. Em 1998 esta empresa foi privatizada e vendida para a Telefônica, sendo que em 2012 a empresa adotou a marca Vivo para suas operações de telefonia fixa. Economia. Desde a instalação do parque industrial, a cidade e todo o município experimentaram um progresso, e se irradiou velozmente por todos os setores de suas atividades pública, privada e social. Com a expansão de seu parque industrial, mudou-se a fisionomia da cidade e muito de sua antiga rotina, ocasionando um rápido crescimento urbano, a vinda de novos estabelecimentos bancários e o desenvolvimento do comércio. Principais indústrias do município: MDL Brasil, Cargill, Otma Cosméticos, Ledo Arvoredo, Cuno Latina 3M, Agrostahl, Fiorella, Soldatopo, Tortuga, Lancer, Eternox, Fersol, Imagraf, Ferplast, Neumatic, Etrúria e a firma de prestação de serviços CEFRI - Centrais de Estocagem Frigorificada, dentre outras empresas menores, porém em expansão. Bairros de Mairinque. Norte Sul Leste Oeste Central Administração. PREFEITO ANTONIO ALEXANDRE GEMENTE. VICE-PREFEITO RODRIGO AUGUSTO CONCEIÇÃO. VEREADORES ELEITOS 2020 Eleições 2020. Toninho Gemente, do PSD, foi eleito prefeito de Mairinque (SP) para os próximos quatro anos. Ao fim da apuração, Toninho Gemente teve 38,36% dos votos. Foram 9.601 votos no total. O candidato derrotou os principais concorrentes: 2º kelly Veneri (PTB) teve 23,87% dos votos. Foram 5.974 votos. 3º Eduardo Thomaz (PSL) teve 20,71% dos votos. Foram 5.183 votos. A eleição em Mairinque teve 25,67% de abstenção, 5,5% votos brancos e 8,63% votos nulos. Toninho Gemente tem 75 anos, é casado, tem superior completo e declara ao TSE a ocupação de advogado. O vice é Rodrigo da Imobiliária, do Podemos. Os dois fazem parte da coligação Experiência e Respeito Por Mairinque, formada pelos partidos PDT, DEM, PODE, DC, PSDB e PSD. Confira todos os vereadores eleitos: Carmo Tulio Martins Camargo (PSD) - 787 votos - 3,05% Jose Edicarlos Santana de Lima (DEM) - 740 votos - 2,87% Fabio Melo dos Santos (PDT) - 697 votos - 2,70% André Pereira da Rocha (PTB) - 524 votos - 2,03% Jackson Alair dos Santos Silva (PTB) - 486 votos - 1,89% Eliane Adão Gomes (PTB) - 466 votos - 1,81% Paulo Antonio Garcia (PSDB) - 442 votos - 1,71% Roselene Moreira Silva (MDB) - 402 votos - 1,56% Abner Segura Fernandes (PSD) - 394 votos - 1,53% Bruno Fernando Santana Gonçalves (DEM) - 301 votos - 1,17% Roberto Wagner Simao Ierck (PODE) - 294 votos - 1,14% Emily Caroline Idalgo Oliveira (PT) - 257 votos - 1% Rodrigo Fernando Cobello (PSL) .
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Moscovo
Moscovo (, transl "Moskva", lido "Maskvá" — ) é a capital e maior cidade da Rússia. Fica às margens do rio Moscovo na região central do país, com uma população estimada em 12,4 milhões de habitantes dentro dos limites da cidade, mais de 17 milhões de habitantes na área urbana e mais de 20 milhões de habitantes na área metropolitana. A cidade cobre uma área de 2 511 km², enquanto a área urbana cobre 5 891 km² e a área metropolitana cobre mais 26 mil km². Moscou está entre as maiores cidades do mundo, além de ser a maior área urbana e metropolitana da Europa e a maior cidade por área terrestre do continente europeu. Documentada pela primeira vez em 1147, Moscou cresceu e se tornou uma cidade próspera e poderosa que serviu como capital do Grão-Principado de Moscou e do Czarado da Rússia. Quando o czarado foi reformado para se tornar o Império Russo, a capital foi transferida de Moscou para São Petersburgo, o que diminuiu a influência da cidade. A capital foi então transferida de volta para Moscou após a Revolução de Outubro e a cidade voltou a ser o centro político da RSFS da Rússia e depois da União Soviética. Após a dissolução da União Soviética, Moscou permaneceu como a capital da Federação Russa então recém-estabelecida. A megacidade mais setentrional e fria do mundo, com uma história de oito séculos, Moscou é governada como uma cidade federal (desde 1993) que serve como centro político, econômico, cultural e científico da Rússia e da Europa Oriental. Como uma cidade global alfa, Moscou tem uma das maiores economias urbanas do mundo. A cidade é uma das cidades mais visitadas da Europa, além de abrigar o maior número de bilionários da Europa e o quarto maior do mundo. O Centro Internacional de Negócios de Moscou é um dos maiores distritos financeiros do mundo, e apresenta alguns dos arranha-céus mais altos da Europa. Moscou foi a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 1980 e uma das cidades-sede da Copa do Mundo FIFA de 2018. Como o centro histórico da Rússia, Moscou serve como lar de vários artistas, cientistas e figuras do esporte russos devido à presença de seus vários museus, instituições acadêmicas e políticas e teatros. A cidade abriga vários Patrimônios Mundiais da UNESCO e é conhecida por sua exibição de arquitetura russa, particularmente sua histórica Praça Vermelha e edifícios como a Catedral de São Basílio e o Kremlin de Moscou, dos quais este último serve como sede do poder do governo russo. Moscou é o lar de muitas empresas russas de vários setores e é servida por uma rede de trânsito abrangente, que inclui quatro aeroportos internacionais, nove terminais ferroviários, um sistema de bonde, um sistema de monotrilho e, principalmente, o metrô de Moscou, o mais movimentado da Europa e um dos maiores sistemas de metrô do mundo. A cidade tem mais de 40 por cento do seu território coberto por vegetação, o que também a torna uma das cidades mais verdes do mundo. Etimologia. Pensa-se que o nome da cidade deriva do nome do rio Moskva. Foram propostas várias teorias sobre a origem do nome do rio. Os povos fino-úgricos merya e muroma, que estavam entre as várias tribos pré-eslavas que originalmente habitavam a área, supostamente chamavam o rio de "Mustajoki", ou "Rio Negro". Tem sido sugerido que o nome da cidade deriva deste termo. A teoria mais bem fundamentada linguisticamente e amplamente aceita é da raiz proto-balto-eslava *"mŭzg"-/"muzg"- do proto-indo-europeu *""- "molhado", por isso o nome "Moskva" pode significar "pântano". Seus cognatos incluem , ("piscina, poça"), e ("lavar"), ("afogar-se"), ("mergulhar, mergulhar"). Em muitos países eslavos, Moskov é um sobrenome comum, principalmente na Bulgária, Rússia, Ucrânia e Macedônia do Norte. Além disso, existem lugares com nomes semelhantes na Polônia, como Mozgawa. A forma original em russo antigo do nome é reconstruída como *, *', portanto foi um dos poucos substantivos radicais "ū" eslavos. Tal como acontece com outros substantivos dessa declinação, foi sofrendo uma transformação morfológica no estágio inicial do desenvolvimento da língua, como resultado as primeiras menções escritas no século XII eram , ' (caso acusativo), , ' (caso locativo), , ' (caso genitivo). Destas últimas formas veio o nome russo moderno , "", que é resultado da generalização morfológica com os numerosos substantivos radicais "ā" eslavos . No entanto, a forma "Moskovĭ" deixou alguns vestígios em muitas outras línguas, como , , , , , em turco otomano: , , , , , , , , etc. De maneira semelhante, o nome latino "" foi formado e mais tarde tornou-se um nome coloquial para a Rússia usado na Europa Ocidental nos séculos XVI e XVII. Dele também vieram os termos "Moscóvia" e a "Moscovita". Várias outras teorias (de origem celta, iraniana, caucasiana), com pouco ou nenhum fundamento científico, são agora amplamente rejeitadas pelos linguistas contemporâneos. História. Origem. O nome da cidade vem do rio Moscou, um termo de origem incerta. A primeira referência à cidade data de 1147, quando convidou o príncipe de Novgorod para a cidade de Moscou. O encontro ocorreu em 4 de abril de 1147. A cidade estava em festa, os príncipes das zonas vizinhas ofereciam presentes uns aos outros e fizeram um acordo de cooperação mútua. Nove anos mais tarde, Jorge manda construir uma muralha de madeira, que é reconstruída com frequência para garantir a proteção da cidade que crescia em meio aos conflitos entre Jorge e o príncipe de Czernicóvia. A cidade também era um ponto estratégico para os príncipes de Vladimir-Susdália, na época uma importante província. O rio Volga também tinha grande influência nas trocas comerciais entre a cidade e os restantes principados, bem como outros reinos. Prova disso são as moedas árabes encontradas na cidade. Na altura, Moscou era mais uma cidade administrativa do que comercial, dado que a população que ali vivia era sobretudo camponesa. Nos anos seguintes, a cidade viria a ter metalúrgicos e pessoas ligadas a artesões. O rio Volga, o seu ponto estratégico e a crescente populações fizeram Moscou crescer nos séculos XII e XIII. Rússia de Kiev e Vladimir-Susdália. No inverno de 1278, os mongóis capturaram a cidade e assassinaram o comandante da armada, bem como praticamente toda a população. Esses saques, ligados diretamente à história da Rússia, foram um desastre à composição do território russo. Posteriormente, os moscovitas puderam regressar às suas casas expulsando os inimigos. Contudo, ao contrário do que se passava na cidade, o resto do sul do território havia sido totalmente destruído, e muitas das cidades não se recuperaram, provocando grandes ondas de imigração para norte, onde se localizava Moscou. Isso influenciou a cidade, que viu a sua população crescer. Depois dos saques e das carnificinas provocados pelos tártaros, Moscou volta a se recuperar e, em 1327, a cidade torna-se a capital do principado de Vladimir-Suzdal. A sua boa localização em relação ao rio Volga permitiu um desenvolvimento estável, atraindo milhares de refugiados provenientes de todo o território russo devido às grandes invasões dos tártaros, estabelecendo o poderoso Estado da Moscóvia. Sob o poder de Ivan I da Rússia, Moscou substitui definitivamente Tver como o centro político de Vladimir-Suzdal. A partir daí, a cidade cresce a uma velocidade ainda maior. Ao contrário dos outros principados do mundo, a Moscóvia não era dividida em zonas para serem governadas pelos filhos, mas sim herdada inteiramente pelos descendentes. A revolta de Moscou contra a dominação estrangeira aumentava cada vez mais. Em 1380, Demétrio, príncipe de Moscou, ganhou uma importante batalha que permitiu acabar com o poder dos tártaros, a batalha de Kulikovo. Com isso, a Rússia, através de Moscou, torna-se livre de todo o domínio estrangeiro. A cidade torna-se num grande centro de poder, que, com o passar dos anos, viria a tornar-se a capital de um grande Império com grande importância mundial. Com isto, Kiev perde o seu estatuto de poder que antes tivera como Rússia de Kiev. Czarado e Império. Em 1571, tártaros da Crimeia atacaram e saquearam Moscou, poupando apenas o Kremlin. O seria marcado por um grande crescimento populacional e por certas revoluções, como o fim da invasão da Polônia e Lituânia em 1612 e a revolta de Moscou em 1682. Em 1712, após Pedro, o Grande fundar São Petersburgo às margens do Neva, em 1703, Moscou perde a condição de capital. As razões foram o contato com o mar que São Petersburgo propiciava, a localização estratégica para as trocas comerciais e a própria defesa da Rússia. O ano de 1812 é, sem dúvida, a data mais conhecida da história da Rússia, pois marca a invasão das tropas de Napoleão Bonaparte. Ao saber que Napoleão chegara às fronteiras da Rússia, os moscovitas elaboraram uma emboscada previamente definida. Quando os franceses chegaram à cidade, em 14 de setembro, o seu assustador exército encontrou uma cidade abandonada e completamente queimada. Sem nada para comer e com o terrível frio russo, as tropas viram-se obrigadas a bater em retirada. A imensa maioria morreu no regresso a França, fazendo com que Napoleão fosse perseguido pelos russos. Este acontecimento é dramatizado na obra Guerra e Paz, de Leão Tolstoi, e na "Abertura 1812" de Piotr Ilitch Tchaikovski, que retrata todos estes acontecimentos. União Soviética. Depois da vitória, Moscou continua crescendo a um ritmo bastante elevado. Em 1918, durante a Guerra Civil, Moscou serviu de quartel-general do Exército Vermelho, com um número aproximado de soldados. Com o grande feito da Revolução de Outubro, a cidade torna-se capital da União Soviética, em 12 de março de 1918. Em novembro de 1941, a cidade volta a ser atacada, desta vez pela Alemanha Nazi, durante a Segunda Guerra Mundial. Moscou é evacuada e decretada como campo de batalha. Ao passo que a cidade era bombardeada, eram construídos diversos armamentos para combater os tanques. Nessa altura, e devido aos riscos, o líder soviético da época, Joseph Stálin, é aconselhado a abandonar a cidade e evacuar o resto da população que lá permanecia. A proposta, entretanto, foi recusada pelo líder. Em meio à invasão, a cidade dava continuidade à construção do metrô iniciada em 1930 que, ironicamente, foi beneficiada pelos bombardeamentos, que permitiram a expansão rápida das linhas. Posteriormente, Moscou recebeu as Olimpíadas de 1980, que foram boicotados pelos Estados Unidos e outras nações ocidentais como protesto contra a Invasão soviética do Afeganistão. Federação Russa. Em 1991, a URSS é dissolvida e, com Boris Iéltsin no poder, Moscou cresce exponencialmente. A cidade passa a ser a capital da Federação Russa, onde fica o poder central, a Duma. No fim da década de 1990, a cidade cresce, aumenta suas linhas de metrô e moderniza a sua arquitetura, gerando críticas à demolição desmedida de prédios históricos para dar lugar aos grandes arranha-céus. Moscou transforma-se numa cidade cosmopolita cheia de história, cultura e vivacidade, mas também com problemas como o crime organizado e a pobreza. Geografia. Localização. Moscou está situada às margens do rio Moskva, que flui por pouco mais de 500 km através da planície europeia oriental na Rússia central. No total, 49 pontes atravessam o rio e seus canais dentro dos limites da cidade. A elevação de Moscou no Centro de Exposições de Toda a Rússia (VVC), onde está situada a principal estação meteorológica de Moscou, é de 156 m. Teplostanskaya é o ponto mais alto da cidade com 255 m. Horário. Moscou serve como ponto de referência para o fuso horário usado na maior parte da Rússia europeia, Bielorrússia e República da Crimeia. As áreas operam no que é conhecido nos padrões internacionais como Moscow Standard Time (MSK, МСК), que é 3 horas antes do UTC, ou UTC+3. O horário de verão não é mais aplicado. De acordo com a longitude geográfica, o meio-dia solar médio em Moscou ocorre às 12h30. Parques e áreas verdes. Existem 96 parques e 18 jardins em Moscou, incluindo quatro jardins botânicos. Existem 450 km² de zonas verdes além de 100 km² de florestas. Moscou é uma cidade muito verde quando comparada a outras cidades de tamanho comparável na Europa Ocidental e na América do Norte. Existem em média 27 m² de parques por pessoa em Moscou, em comparação com 6 m² em Paris, 7,5 m² em Londres e 8,6 m² em Nova York. O Parque Gorky (oficialmente o Parque Central de Cultura e Descanso em homenagem a Maxim Gorky), foi fundado em 1928. A parte principal (689 mil m²) ao longo do rio Moskva contém estrades, atrações infantis (incluindo a Roda de Observação, lagoas com barcos e bicicletas aquáticas), quadras de tênis e outras instalações esportivas. Faz fronteira com o Jardim Neskuchny (408 mil m² quadrados ou 101 acres), o parque mais antigo de Moscou e uma antiga residência imperial, criada como resultado da integração de três propriedades no século XVIII. O Jardim apresenta o Teatro Verde, um dos maiores anfiteatros abertos da Europa, com capacidade para 15 mil pessoas. O Parque Izmaylovsky, criado em 1931, é um dos maiores parques urbanos do mundo, juntamente com o Richmond Park, em Londres. A sua área de 15,34 km², é seis vezes maior que a do Central Park em Nova York. O Jardim Botânico Principal da Academia de Ciências de Tsytsin, fundado em 1945, é o maior da Europa. Abrange o território de 3,61 km² na fronteira com o Centro Panrusso de Exposições e contém uma exposição de mais de 20 mil espécies de plantas de todo o mundo, bem como um laboratório para pesquisa científica. Contém também um rosário com 20 mil roseiras, um dendrário e um carvalhal, com idade média das árvores superior a 100 anos. Há uma estufa ocupando mais de 5 000 m² de terras. Outras atrações incluem o Zoológico de Moscou, um jardim zoológico em duas seções (os vales de dois riachos) ligados por uma ponte, com quase mil espécies e mais de 6 500 espécimes. A cada ano, o zoológico atrai mais de 1,2 milhão de visitantes. Clima. Moscou tem um clima continental úmido (Köppen: "Dfb") com invernos longos e frios (embora médios para os padrões russos) geralmente durando de meados de novembro até o final de março e verões quentes. Climas continentais mais extremos na mesma latitude — como partes do leste do Canadá ou da Sibéria — têm invernos muito mais frios do que Moscou, sugerindo que ainda há moderação significativa do Oceano Atlântico, apesar do fato de Moscou estar longe do mar. O clima pode flutuar amplamente, com temperaturas variando de -25 °C na cidade e -30 °C nos subúrbios a acima de 5 °C no inverno e de 10 a 35 °C no verão. As altas temperaturas típicas nos meses quentes de junho, julho e agosto estão em torno de confortáveis ​​20 a 26 °C, mas durante as ondas de calor (que podem ocorrer entre maio e setembro), as altas temperaturas diurnas geralmente excedem 30 °C, às vezes por uma semana ou duas de cada vez. No inverno, as temperaturas médias normalmente caem para aproximadamente -10 °C, embora quase todo inverno haja períodos de calor com temperaturas diurnas subindo acima de 0°C e períodos de resfriamento com temperaturas noturnas caindo abaixo de −20 °C. Esses períodos geralmente duram cerca de uma semana ou duas. A estação de cultivo em Moscou normalmente dura 156 dias, geralmente por volta de 1 de maio a 5 de outubro. A temperatura mais alta já registrada foi de 38,2 °C na estação meteorológica VVC e 39,0 °C no centro de Moscou e do aeroporto Domodedovo em 29 de julho de 2010, durante a incomum onda de calor no Hemisfério Norte naquele ano. Altas temperaturas recordes foram registradas em janeiro, março, abril, maio, julho, agosto, novembro e dezembro em 2007–2014. Em média, Moscou tem 1731 horas de luz solar por ano, variando de 8% em dezembro a 52% de maio a agosto. Esta grande variação anual é devido à formação de nuvens convectivas. No inverno, o ar úmido do Atlântico condensa no interior frio do continente, resultando em condições muito nubladas. No entanto, essa mesma influência continental resulta em verões consideravelmente mais ensolarados do que as cidades oceânicas de latitude semelhante, como Edimburgo, no Reino Unido. Entre 2004 e 2010, a média ficou entre 1800 e 2000 horas com tendência a mais luz solar nos meses de verão, até um recorde de 411 horas em julho de 2014, 79% da luz solar possível. Dezembro de 2017 foi o mês mais escuro em Moscou desde o início dos registros, com apenas seis minutos de luz solar. As temperaturas no centro de Moscou costumam ser significativamente mais altas do que nos arredores e nos subúrbios próximos, especialmente no inverno. Por exemplo, se a temperatura média de fevereiro no nordeste de Moscou é de -6,7 °C, enquanto nos subúrbios é de cerca de -9 °C. Demografia. De acordo com as estatísticas federais de 2013, a população de Moscou é de habitantes, contra registrados no Censo de 2002. Na época do censo de 2010 oficial, a composição étnica da cidade era:<br> A população oficial de Moscou é tomada daqueles que têm residência permanente. De acordo com o Serviço Federal de Migração da Rússia, Moscou também possui 1 milhão e 800 mil moradores oficiais com residência temporária. O número de moradores não oficiais, aqueles sem a devida documentação, é estimado em um adicional de 1 milhão de pessoas. Religião. O Cristianismo é a religião predominante na cidade, sendo a Igreja Ortodoxa Russa a denominação mais popular. Moscou também é a sede de um Patriarcado, entre os mais influentes da Igreja, que conduz a religião tradicional do país, considerada uma parte do patrimônio histórico da Rússia em uma lei aprovada em 1997. Além dos velhos crentes, as outras religiões praticadas em Moscou incluem o Islã, o Protestantismo, o Budismo e o Judaísmo. O Patriarcado de Moscou serve como a sede da Igreja russa, residindo no Mosteiro de Danilov. Moscou era chamada de "cidade das 1 600 igrejas" até 1918, quando a Rússia se tornou um Estado ateu e a religião perdeu sua posição na sociedade. Com a desintegração da União Soviética, em 1991, muitas das igrejas destruídas foram restauradas e as religiões tradicionais vem ganhando popularidade. Enquanto a população muçulmana da cidade é estimada entre 1,2 e 1,5 milhões de pessoas de um total de 12 milhões, no ano de 2010 havia apenas quatro mesquitas na cidade. Apesar de uma mesquita adicional ter sido aprovada no sudeste, ativistas contrários às práticas islâmicas bloquearam a sua construção. Política. Governo local. Moscou é a sede do poder para a Federação Russa. No centro da cidade, no distrito administrativo central, está o Kremlin de Moscou, que abriga a casa do Presidente da Rússia, bem como muitas das instalações do governo nacional. A cidade, como qualquer capital nacional, é também a sede de todas as embaixadas estrangeiras e diplomatas que representam as várias nações na Rússia. Moscou é designada como uma das três únicas cidades federais da Rússia, junto com Sebastopol e São Petersburgo. Governo federal. Moscou, como a capital da país, sedia as autoridades federais legislativas, executivas e judiciais do país, com exceção do Tribunal Constitucional da Federação Russa, localizado em São Petersburgo desde 2008. A autoridade executiva suprema — o Governo da Federação Russa — está localizada na Casa Branca, no centro de Moscou, assim como a Duma Federal e o Conselho da Federação. O Supremo Tribunal da Federação Russa e o Supremo Tribunal de Arbitragem da Federação Russa também estão localizados em Moscou. Além disso, o Kremlin de Moscou é a residência oficial do Presidente da Federação Russa. A residência de trabalho do presidente no Kremlin está localizada no Palácio do Senado. Segurança. De acordo com a classificação das cidades mais seguras feita pela "The Economist", Moscou ocupa a 37ª posição com uma pontuação de 68,5 pontos por cento. O nível geral de criminalidade é bastante baixo. Mais de 170 000 câmeras de vigilância estão conectadas ao sistema de reconhecimento facial da cidade. As autoridades reconheceram o experimento bem-sucedido de dois meses com reconhecimento automático de rostos, gênero e idade das pessoas em tempo real — e então implantaram o sistema em toda a cidade. A rede de videovigilância une câmeras de vídeo de acesso (95% dos prédios residenciais da capital), câmeras no território e em prédios de escolas e creches, em pontos de transporte público, em parques, passagens subterrâneas e estádios. Subdivisões administrativas. Moscou é dividida em 12 distritos administrativos. Todos os distritos possuem o seu brasão, bandeira e políticos eleitos por voto. Cada distrito também dispõe de emissoras de televisão próprias. Economia. Moscou é uma das maiores economias entre as cidade da Europa e compreende aproximadamente 22% do PIB russo. Em 2009, a economia de Moscou chegou a 7,16 trilhões de rublos (225 bilhões de dólares). A cidade tem a menor taxa de desemprego de todas as subdivisões federais da Rússia, situando-se em apenas 1% no ano de 2010, em comparação com a média nacional de 7%. O salário médio mensal na cidade é o quarto maior da Rússia, com 41 600 rublos, aproximadamente euros ou reais, que é quase o dobro da média nacional de 21 800 rublos, equivalente a cerca de 560 euros ou reais. A capital russa é indiscutivelmente o centro financeiro da Rússia e a sede dos maiores bancos do país e de muitas de suas maiores empresas, como a Gazprom, a maior estatal russa. Moscou responde por 17% das vendas de varejo e 13% de toda a atividade de construção civil no país. Desde a crise financeira russa de 1998, vários setores de atividade em Moscou mostraram taxas exponenciais de crescimento. Muitos centros de negócios novos e prédios de escritórios foram construídos nos últimos anos, mas a cidade ainda enfrenta a escassez de espaços de escritório. Como resultado, muitas das antigas instalações industriais e de pesquisa estão sendo reconstruídas para se tornarem adequadas para o uso de escritórios. O mercado de Cherkizovskiy é o maior mercado na Europa, com volume diário de cerca de 30 milhões de dólares e cerca de 10 000 vendedores de vários países. Em 2008, Moscou tinha 74 bilionários com uma fortuna média de 5,9 bilhões de dólares, o que a colocou acima dos 71 bilionários de Nova Iorque. No entanto, em 2009, o número de bilionários na cidade caiu para 27, bem menos que os 55 bilionários de Nova Iorque. No geral, a Rússia perdeu 52 bilionários durante a crise econômica, entre 2008 e 2011. No topo da lista de bilionários da Rússia em 2009, estava Mikhail Prokhorov, com 9,5 bilhões de dólares, à frente do mais famoso Roman Abramovich, com 8,5 bilhões de dólares. A companhia de Prokhorov, o grupo ONEXIM, possui ativos enormes em energia de hidrogênio, nanotecnologia, energia tradicional e setor de metais preciosos, enquanto Abramovich, que vendeu a sua companhia petrolífera "Sibneft" para a gigante estatal russa Gazprom, em 2005, comprou os ativos de siderurgia e mineração. Ele também é dono do clube de futebol Chelsea FC. A mulher mais rica da Rússia continua sendo Helena Baturina, casada com o ex-prefeito de Moscou, Iuri Luzhkov. Oleg Deripaska, que liderou a lista com uma fortuna recorde de 28 bilhões de dólares em 2009, hoje ostenta 3,5 bilhões de dólares. Com base na lista de 2011 da Forbes, Moscou era a cidade com mais bilionários no mundo, um total de 79. Na lista de 2012, a cidade perdeu a posição para Nova Iorque, mas ainda continua com o segundo lugar. Infraestrutura. Educação e ciência. Há 1696 colégios e 91 faculdades em Moscou. Além deles, também existem 222 instituições de educação superior, incluindo 60 universidades federais e a própria Universidade de Moscou, fundada em 1755. O prédio principal, que já foi o maior edifício do continente, com seus 240 m de altura, é localizado na Colina dos Pardais. A Universidade Técnica Estatal Bauman de Moscou, fundada em 1830, é localizada no centro de Moscou, atendendo a mais de 18 mil alunos e mil pós-graduandos em áreas da engenharia, oferecendo uma gama de diplomas técnicos. Desde que abriu inscrições para estudantes de fora do país, em 1991, a Universidade Bauman aumentou o número de estudantes estrangeiros para mais de 200. O Conservatório de Moscou, fundado em 1866, é uma conhecida escola de música, cujos alunos incluem Serguei Rachmaninoff, Mstislav Rostropovich, Aram Khachaturian, Alexander Scriabin e Alfred Schnittke. O Instituto Federal de Relações Internacionais de Moscou, fundado em 1944, continua sendo a escola de diplomacia e relações internacionais mais conhecida da Rússia, com seis diferentes vertentes focadas nas relações internacionais. Aproximadamente 4 500 estudantes compõem o corpo universitário, e mais de 700 mil livros em russo e línguas estrangeiras — dos quais são considerados raros — podem ser encontrados na biblioteca do instituto. Moscou é um dos maiores centros científicos da Rússia. A sede da Academia Russa de Ciências é localizada em Moscou, assim como diversas instituições científicas e de pesquisa. Há 452 bibliotecas na cidade, incluindo 168 infantis. A Biblioteca Nacional, fundada em 1862, é a principal biblioteca do país. Essa livraria possui mais de 17 milhões de livros, 13 milhões de revistas, 350 mil partituras musicais e 150 mil mapas, fazendo dela a maior biblioteca da Rússia e uma das maiores do mundo. Itens em 247 diferentes idiomas compõem aproximadamente 29% de toda a coleção. A Biblioteca Histórica, fundada em 1863, é a maior especializada em história da Rússia. Sua coleção contém 4 milhões de itens em 112 idiomas, a respeito da história russa e mundial, de heráldica, de numismática e da história da ciência. Transportes. Existem cinco principais aeroportos comerciais servindo Moscou: Sheremetievo (SVO), Domodedovo (DME), Vnukovo (VKO), Jukovsky (ZIA) e Ostafievo (OSF). Sheremetievo, o aeroporto mais movimentado da Rússia, é classificado como o quinto aeroporto mais movimentado da Europa e é o mais conectado globalmente, atendendo 60% de todos os voos internacionais do país. Os aeroportos de Moscou variam em distâncias do anel viário MKAD: Domodedovo é o mais distante a 22 km; Vnukovo é de 11 km; Sheremetievo fica a 10 km; e Ostafievo, o mais próximo, fica a cerca de 8 km de MKAD. Há vários aeroportos menores perto de Moscou (19 no Oblast de Moscou), como o Aeroporto de Myachkovo, que são destinados a aeronaves particulares, helicópteros e fretamentos. Moscou possui uma ampla rede ferroviária, com nove terminais, todos localizados próximos ao centro da cidade e integrados à linha Koltsevaia. Cada estação deve lidar com trens de diferentes partes da Europa e Ásia, o que exige uma boa logística e profunda manutenção técnica. Como os bilhetes são relativamente baratos, os trens são o meio de viagem favorito dos russos, especialmente com destino a São Petersburgo, grande centro de serviços da Rússia. Moscou é o terminal ocidental da Ferrovia Transiberiana, que atravessa aproximadamente 9 300 km do território russo, até chegar a Vladivostok, na costa do Pacífico. O metrô de Moscou, conhecido como o "Palácio Subterrâneo", é único pela sua estética, murais, mosaicos e lustres ornados. Quando inaugurado, em 1935, o sistema tinha apenas duas linhas. Hoje, o metrô já compreende doze linhas, sendo a maior parte delas subterrânea, com um total de 188 estações. O metrô de Moscou é um dos mais profundos do mundo e serve 10 milhões de passageiros diariamente. Diferentemente de São Petersburgo, Moscou não depende diretamente de um transporte fluvial bem equipado. A capital tem dois terminais de passageiros no rio Moscou, além de rotas regulares de embarcações, também no Oka. Esse método de transporte, entretanto, é usados mais para fins de entretenimento e turismo do que para transporte. O Terminal Norte, construído em 1937, é o principal acesso para rotas fluviais de longa duração. Há também três portos de carga que atendem a Moscou. Moscou dispõe de uma longa rede urbana de ônibus, que parte de toda estação de metrô próxima às zonas residenciais. A cidade também tem um terminal para viagens de longo alcance e intermunicipais, que transportam, diariamente, cerca de 25 000 passageiros, o que representa 40% das rotas terrestres de Moscou. Toda via de importância é servida por pelo menos uma rota de ônibus, que são reforçadas por rotas de trólebus. Moscou também conta com um sistema de bondes, inaugurado em 1899. A linha mais recente foi construída em 1984. O uso diário de bondes pelos moscovitas já é baixo e vem caindo, pelo fato de partes das conexões terem sido retiradas. Entretanto, os bondes continuam importantes em alguns distritos, que dependem do transporte para se locomover até as estações de metrô. Os bondes também facilitam a baldeação entre linhas de metrô. Cultura. Um dos museus de arte mais conhecidos de Moscou é a Galeria Tretyakov, fundada por Pavel Tretyakov, um rico defensor das artes, que doou sua coleção privada para a administração da cidade. A galeria é dividida em dois blocos. O chamado "antigo Tretyakov" é a galeria original, à margem sul do rio Moscovo, que lida com a arte clássica e tradicional da Rússia. Os trabalhos de vários pintores famosos da época pré-revolucionária, tal qual Ilya Repin e diversos ícones podem ser encontrados por lá. O chamado "novo Tretyakov" foi estabelecido na era soviética, e contém, principalmente, os trabalhos dos artistas soviéticos e obras contemporâneas, além de uma pequena quantidade de conteúdos do início do , da mesma época daqueles encontrados no "antigo Tretyakov". A nova galeria inclui uma reconstrução do famoso Monumento à III Internacional e uma mistura de trabalhos de artistas da vanguarda, como Kazimir Malevich e Wassily Kandinsky. O Realismo socialista também se faz presente dentro da galeria do "novo Tretyakov". Também há em Moscou o renomado Museu Pushkin de Belas Artes, com exposições acerca das civilizações, com diversas réplicas de esculturas antigas. Entretanto, o museu também abriga pinturas famosas de praticamente toda era ocidental, além de obras de Claude Monet, Paul Cézanne e Pablo Picasso. O Museu Histórico da Rússia, um dos mais visitados do país, é localizado em Moscou, mais especificamente entre a Praça Vermelha e o Manege moscovita. Suas mostras vão de relíquias de tribos pré-históricas da atual Rússia até os trabalhos artísticos de valores incalculáveis adquiridos pelos czares da dinastia Romanov. O número total de objetos nas coleções do museu ultrapassa os milhões. O Museu Politécnico, fundado em 1872, é o maior museu técnico da Rússia, oferecendo uma ampla gama de invenções históricas e descobrimentos tecnológicos, incluindo o humanoide do e os primeiros computadores soviéticos. Essa coleção contém mais de 160 mil itens. O Panorama de Borodino é outro museu localizado na Avenida Kutuzov que oferece a oportunidade para que seus visitantes experimentem estar em um campo de batalha, com uma visão de 360º, uma homenagem à Batalha de Borodino, uma das principais atrações desse museu que é completamente dedicado à vitória na Guerra Patriótica de 1812 sobre Napoleão e seu exército, incluindo o Arco do Triunfo, erguido em 1827. Na cidade, existe também o museu de história militar, que inclui estátuas, equipamentos bélicos e informações interativas obtidas por meio de histórias de guerra. Moscou é o coração da performance das artes, incluindo o balé e o cinema. Há 93 teatros, 132 cinemas e 24 salões de concerto na capital. Entre os vários teatros e estúdios de balé da cidade, destacam-se o Teatro Bolshoi e o Teatro de Arte de Moscou. Os repertórios são numerosos durante a temporada, com interpretações modernas de trabalhos clássicos, líricos ou dramáticos. Moscou tem uma grande tradição circense, sendo sede do Circo de Moscou. Os filmes soviéticos fazem parte da história do cinema russo, e o estúdio moscovita Mosfilm foi o coração de diversos clássicos cinematográficos, responsável pelas produções artísticas e documentais. Entretanto, apesar da constante presença e reputação de cineastas internacionalmente reconhecidos na cidade, os estúdios que outrora fizeram fama em todo mundo hoje vivem tempos de mansidão. Filmes raros e históricos podem ser vistos no Cinema Salut, onde coleções de museu são apresentadas regularmente. O Museu Estatal da Arquitetura, localizado próximo da Praça Vermelha, é o museu nacional de arquitetura da Rússia, que leva o nome do arquiteto Alexei Schusev. O Dia da Vitória é um importante evento em toda a Rússia. Em Moscou, a data é considerada especial, e comemorada com desfiles militares, apresentações musicais e queima de fogos. O Museu Memorial da Cosmonáutica é, de fato, um verdadeiro memorial aos "heróis" e pioneiros do espaço. O ambiente é localizado sob o célebre "Monumento aos Conquistadores do Cosmos". Arquitetura. A arquitetura de Moscou é mundialmente conhecida. Moscou é o local da Catedral de São Basílio, com suas elegantes cúpulas de cebola, bem como a Catedral de Cristo Salvador e as Sete Irmãs. O primeiro Kremlin foi construído em meados do século XII. O design medieval de Moscou era de paredes concêntricas e ruas radiais que se cruzavam. Esse layout, assim como os rios de Moscou, ajudou a moldar o design de Moscou nos séculos seguintes. O Kremlin foi reconstruído no século XV. Suas torres e algumas de suas igrejas foram construídas por arquitetos italianos, emprestando à cidade algumas das auras do renascimento. A partir do final do século XV, a cidade foi embelezada por estruturas de alvenaria, como mosteiros, palácios, muros, torres e igrejas. A aparência da cidade não mudou muito no século XVIII. As casas eram feitas de troncos de pinheiro e abeto, com telhados de telhas cobertas de grama ou cobertas por casca de bétula. A reconstrução de Moscou na segunda metade do século XVIII foi necessária não apenas por incêndios constantes, mas também pelas necessidades da nobreza. Grande parte da cidade de madeira foi substituída por edifícios no estilo clássico. Durante grande parte de sua história arquitetônica, Moscou foi dominada por igrejas ortodoxas. No entanto, a aparência geral da cidade mudou drasticamente durante os tempos soviéticos, especialmente como resultado do esforço em larga escala de Joseph Stalin para "modernizar" Moscou. Os planos de Stalin para a cidade incluíam uma rede de amplas avenidas e estradas, algumas delas com mais de dez pistas, que, embora simplificassem bastante o movimento pela cidade, foram construídas à custa de um grande número de prédios e distritos históricos. Entre as muitas baixas das demolições de Stalin, estava a Torre Sukharev, um marco histórico da cidade, bem como mansões e edifícios comerciais. O novo status da cidade como capital de uma nação profundamente secular tornou os edifícios religiosos significativos especialmente vulneráveis à demolição. Muitas das igrejas da cidade, que na maioria dos casos eram alguns dos edifícios mais antigos e importantes de Moscou, foram destruídas; alguns exemplos notáveis incluem a Catedral de Kazan e a Catedral de Cristo Salvador. Durante os anos 90, ambos foram reconstruídos. Muitas igrejas menores, no entanto, foram perdidas. Embora o período stalinista posterior tenha sido caracterizado pela redução da criatividade e da inovação arquitetônica, os anos pós-revolucionários anteriores viram uma infinidade de novos edifícios radicais criados na cidade. Especialmente notáveis foram os arquitetos construtivistas associados a VKHUTEMAS, responsáveis por pontos de referência como o Mausoléu de Lenin. Outro arquiteto de destaque foi Vladimir Shukhov, famoso por Shukhov Tower, apenas uma das muitas torres hiperbolóides projetadas por Shukhov. Foi construído entre 1919 e 1922 como uma torre de transmissão para uma empresa de transmissão russa. Shukhov também deixou um legado duradouro para a arquitetura construtivista do início da Rússia soviética. Ele projetou amplas galerias de lojas alongadas, principalmente a loja de departamentos GUM na Praça Vermelha, com pontes inovadoras de cofres de metal e vidro. Talvez as contribuições mais reconhecíveis do período stalinista sejam as chamadas Sete Irmãs, compreendendo sete arranha-céus maciços espalhados por toda a cidade a uma distância igual do Kremlin. Uma característica definidora do horizonte de Moscou, sua forma imponente foi supostamente inspirada no Edifício Municipal de Manhattan, na cidade de Nova York, e seu estilo — com exteriores intrincados e uma grande torre central — foi descrito como arquitetura gótica stalinista. Todas as sete torres podem ser vistas dos pontos mais altos da cidade; eles estão entre as construções mais altas do centro de Moscou, além da Torre Ostankino, que, quando foi concluída em 1967, era a mais alta estrutura de terra autônoma do mundo e hoje continua sendo o sexagésimo segundo mais alto do mundo, classificado entre edifícios como o Burj Khalifa em Dubai, Taipei 101 em Taiwan e a CN Tower em Toronto. O objetivo soviético de fornecer moradia para todas as famílias e o rápido crescimento da população de Moscou levaram à construção de grandes blocos habitacionais monótonos. A maioria deles data da era pós-Stalin e os estilos geralmente recebem o nome do líder então no poder (Brezhnev, Khrushchev, etc.) Eles geralmente são mal mantidos. Embora a cidade ainda tenha alguns prédios de cinco andares construídos antes da metade da década de 1960, os prédios mais recentes geralmente têm pelo menos nove andares e têm elevadores. Estima-se que Moscou tenha mais do dobro de elevadores que a cidade de Nova York e quatro vezes mais que Chicago. A Moslift, uma das principais empresas de operação de elevadores da cidade, tem cerca de 1 500 mecânicos de elevadores de plantão, para libertar os moradores presos em elevadores. Os edifícios da era stalinista, encontrados principalmente na parte central da cidade, são enormes e geralmente ornamentados com motivos de realismo socialista que imitam temas clássicos. No entanto, pequenas igrejas — quase sempre ortodoxas orientais — encontradas em toda a cidade fornecem vislumbres de seu passado. A Old Arbat Street, uma rua turística que já foi o coração de uma área boêmia, preserva a maioria de seus edifícios antes do século XX. Muitos edifícios encontrados nas principais ruas do centro da cidade (atrás das fachadas stalinistas da Rua Tverskaya, por exemplo) também são exemplos da arquitetura burguesa típica dos tempos czaristas. O Palácio Ostankino, Kuskovo, Uzkoye e outras grandes propriedades nos arredores de Moscou pertencem originalmente a nobres da era czarista, e alguns conventos e mosteiros, dentro e fora da cidade, estão abertos a moscovitas e turistas. Tentativas estão sendo feitas para restaurar muitos dos exemplos mais bem guardados da cidade de arquitetura pré-soviética. Essas estruturas restauradas são facilmente identificadas por suas novas cores brilhantes e fachadas impecáveis. Também existem alguns exemplos de notável trabalho de vanguarda soviético, como a casa do arquiteto Konstantin Melnikov na área de Arbat. Muitas dessas restaurações foram criticadas por suposto desrespeito à autenticidade histórica. O facadismo também é amplamente praticado. Exemplos posteriores de arquitetura soviética interessante são geralmente marcados por seu tamanho impressionante e pelos estilos semimodernistas empregados, como no projeto Novy Arbat, conhecido como "dentes falsos de Moscou" e notório pela perturbação em larga escala de uma área histórica no centro de Moscou envolvido no projeto. O horizonte de Moscou está se modernizando rapidamente, com várias novas torres em construção. Nos últimos anos, a administração da cidade tem sido amplamente criticada por fortes destruições que afetaram muitos edifícios históricos. Cerca de um terço da histórica Moscou foi destruída nos últimos anos para dar espaço a apartamentos e hotéis de luxo. Outros edifícios históricos, incluindo marcos históricos como o hotel Moskva de 1930 e a loja de departamentos Voyentorg de 1913, foram arrasados e reconstruídos novamente, com a inevitável perda de valor histórico. Os críticos culpam o governo por não fazer cumprir as leis de conservação: nos últimos 12 anos, mais de 50 prédios com status de monumento foram demolidos, vários dos quais datam do século XVII. Alguns críticos também se perguntam se o dinheiro usado para a reconstrução de edifícios destruídos não poderia ser usado para a renovação de estruturas deterioradas, que incluem muitas obras do arquiteto Konstantin Melnikov e da estação de metrô Mayakovskaya. Algumas organizações, como a Moscow Architecture Preservation Society e Save Europe's Heritage, estão tentando atrair a atenção do público internacional para esses problemas. Esportes. Moscou dispõe de um grande número de várias instalações esportivas, sendo a sede de 63 estádios, além de oito campos profissionais de futebol e onze praças de atletismo. O mais conhecido é o Complexo Luzhniki, o quarto maior de toda a Europa, sede das Olimpíadas de 1980 e da final da Liga dos Campeões da UEFA de 2007–08. 40 outros complexos esportivos estão localizados dentro dos limites da cidade, incluindo 24 arenas com gelo artificial. O Estádio Olímpico era a principal arena para a prática do bandy, sediando o Campeonato Mundial em duas ocasiões. Atualmente é , sediando o Campeonato Mundial em 2010. Em Moscou também há sete hipódromos, sendo o maior deles o Central de Moscou, fundado em 1834. Em 1980, Moscou sediou os Jogos Olímpicos, apesar de as provas marítimas terem acontecido em Tallinn, na época a Estônia Soviética. Os jogos propiciaram a construção de uma grande infraestrutura, como vários complexos esportivos e o segundo terminal do Aeroporto Sheremetievo. Moscou também candidatou-se como sede para as Olimpíadas de 2012, mas foi eliminada na decisão, que definiria Londres como a sede dos jogos. O futebol, no verão e o hóquei, no inverno, são os esportes mais populares da cidade. Entretanto, o PBC CSKA e o MBC Dínamo são fortes clubes de basquetebol da cidade que se destacam nos campeonatos nacionais. As principais equipes esportivas de Moscou incluem o CSKA, a equipe de hóquei mais premiada do mundo, o Spartak, o mais vezes campeão do futebol russo, e o Dínamo, que revelou importantes nomes em várias modalidades esportivas. Todos esses clubes têm equipes de futebol, hóquei e basquetebol. O Lokomotiv e Torpedo são outras duas equipes de futebol importantes da cidade. O Spartak, historicamente representando a grande massa, e o CSKA, o clube do exército, fazem o Grande Clássico Moscovita, decorrente da rivalidade entre os trabalhadores e os militares. O Dínamo, por outro lado, foi fundado pela política secreta. Com isso, os mais fortes times russos acabaram por se concentrar em Moscou. Por conta do clima frio, existem muitos parques que oferecem a prática de patinação e esqui. Como importante polo do esporte, Moscou também oferece anualmente a Copa Kremlin, um conhecido torneio de tênis entre a Associação de Tenistas Profissionais e a Associação de Tênis Feminino. A Copa é uma competição muito prestigiada, principalmente pelos jogadores russos. O Slava Moscou e o RC Lokomotiv são conhecidos clubes profissionais de rúgbi. Moscou foi a sede da Copa do Mundo de Rúgbi de 2013. A Rússia sediou a Copa do Mundo FIFA de 2018 e o Luzhniki teve sua capacidade aumentada em quase 10 mil assentos.
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Nobel de Física
Nobel de Física O Nobel de Física é uma condecoração criada pela Fundação Nobel, de grande relevância desde sua criação, obedecendo a vontade do químico Alfred Nobel, expressa em seu testamento. É um prêmio atribuído anualmente, em outubro, pelos membros da Academia Real das Ciências da Suécia, a eminentes pesquisadores que se tenham destacado na produção de conhecimentos inovadores no domínio da física. A medalha e o diploma da fundação são oficialmente entregues pelo rei da Suécia, a 10 de dezembro, dia do aniversário da morte do criador do prêmio. John Bardeen é o único premiado por duas vezes, em 1956 e 1972. William Lawrence Bragg é o mais jovem laureado do Nobel de Física, ganhando o prêmio em 1915 com 25 anos na época. Quatro mulheres já foram laureadas com o prêmio, Marie Curie (1903), Maria Goeppert-Mayer (1963) e Donna Strickland (2018) e Andrea Ghez (2020). História. Alfred Nobel, em sua última vontade e testamento, afirmou que sua riqueza seria usada para criar uma série de prêmios para aqueles que conferem o "maior benefício à humanidade" nos campos da física, da química, da paz, fisiologia ou medicina e literatura. Embora Nobel tenha escrito vários testamentos durante sua vida, o último foi escrito um ano antes de sua morte e foi assinado no Clube Sueco-Norueguês em Paris em 27 de novembro de 1895. Laureados. O primeiro Prêmio Nobel de Física foi concedido em 1901 a Wilhelm Conrad Röntgen, da Alemanha. Em 1901, Röntgen recebeu coroas suecas, o que equivale a coroas suecas em dezembro de 2017. John Bardeen é o único premiado por duas vezes, em 1956 e 1972. Marie Skłodowska-Curie também ganhou dois prêmios Nobel, um de física em 1903 e outro de química em 1911. William Lawrence Bragg era, até outubro de 2014, o mais jovem laureado do Nobel, e continua sendo o mais jovem laureado do Nobel de Física, ganhando o prêmio em 1915 com 25 anos. Quatro mulheres já foram laureadas com o prêmio: Curie (1903), Maria Goeppert-Mayer (1963), Donna Strickland (2018) e Andrea Ghez (2020). Até 2020, o prêmio foi concedido a 215 indivíduos. Conferência de Solvay. A 1.ª Conferência de Solvay reuniu vários laureados com o prêmio Nobel de Física (abaixo estão os nomes destacados em negrito): <br>
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Nova Zelândia
Nova Zelândia Nova Zelândia (, ; em maori: "Aotearoa", ) é um país insular, oficialmente pertencente à Oceania, no sudoeste do Oceano Pacífico, formado por duas massas de terra principais (comumente chamadas de Ilha do Norte e Ilha do Sul) e por numerosas ilhas menores, sendo as mais notáveis as ilhas Stewart e Chatham. O nome indígena na língua maori para a Nova Zelândia é Aotearoa, normalmente traduzido como "A Terra da Grande Nuvem Branca". É o principal constituinte do Reino da Nova Zelândia, com os demais constituintes sendo territórios ultramarinos, que incluiriam as Ilhas Cook e Niue (que se autogovernam, mas em associação livre); Tokelau; e a Dependência de Ross (reivindicação territorial da Nova Zelândia na Antártida). Recebeu este nome em homenagem a uma província dos Países Baixos chamada Zelândia, que era a terra natal de seus colonizadores. A Nova Zelândia é notável por seu isolamento geográfico: está situada a cerca de km a sudeste da Austrália, separados através do mar da Tasmânia e os seus vizinhos mais próximos ao norte são a Nova Caledônia, Fiji e Tonga. Devido ao seu isolamento, o país desenvolveu uma fauna distinta dominada por pássaros, alguns dos quais foram extintos após a chegada dos seres humanos e dos mamíferos introduzidos por eles. A maioria da população da Nova Zelândia é de ascendência europeia (67,6%), sobretudo britânica, enquanto os nativos maoris, ou seus descendentes, são minoria (14,6%). Asiáticos e polinésios não maori também são grupos de minoria significativa (16,1%), especialmente em áreas urbanas. A língua mais falada é o inglês, trazida pelos colonizadores britânicos, embora também sejam considerados idiomas oficiais línguas nativas, como a língua maori. Carlos III, como rei da Nova Zelândia e de outros quinze países da comunidade britânica, é o chefe de estado do país e é representado por um governador-geral cerimonial, que detém poderes de reserva. O rei não tem nenhuma influência política substancial e sua posição é essencialmente simbólica. O poder político é mantido pelo parlamento da Nova Zelândia, sob a liderança do primeiro-ministro, que é o chefe de governo do país. A Nova Zelândia é um dos países mais desenvolvidos e industrializados do mundo, e que se posiciona muito bem em comparações internacionais sobre desenvolvimento humano, qualidade de vida, esperança de vida, alfabetização, educação pública, paz, prosperidade, liberdade econômica, facilidade de fazer negócios, falta de corrupção, liberdade de imprensa, democracia e proteção das liberdades civis e de direitos políticos. Suas cidades também estão entre as "mais habitáveis do mundo". Etimologia. "Aotearoa" (muitas vezes traduzido como "terra da longa nuvem branca") é o nome māori atual para a Nova Zelândia e também é usado no inglês neozelandês. Não se sabe se os māori tinham um nome para todo o país antes da chegada dos europeus, sendo que "Aotearoa" originalmente referia-se apenas à Ilha do Norte. Abel Tasman avistou a Nova Zelândia em 1642 e chamou-a de "Staten Landt", supondo que o país fosse conectado a um lugar do mesmo nome no extremo sul da América do Sul. Em 1645, cartógrafos holandeses renomearam o lugar para "Nova Zeelandia", em homenagem a província holandesa de "Zeeland". O explorador britânico James Cook posteriormente anglicizou o nome para "New Zealand". Os māori tinham vários nomes tradicionais para as duas ilhas principais que formam o país, incluindo "Te Ika-a-Maui" (o peixe de "Māui") para a Ilha do Norte e a "Te Wai Pounamu" (as águas da pedra verde) ou "Te Waka o Aoraki" (a canoa de Aoraki) para Ilha do Sul. Os primeiros mapas europeus rotulavam as ilhas como Norte (Ilha do Norte), Média (Ilha do Sul) e Sul (Ilha Stewart). Em 1830, começaram-se a usar mapas onde "Norte" e "Sul" eram os termos usados para distinguir as duas maiores ilhas do país e em 1907 esta era a norma aceita. O "New Zealand Geographic Board" descobriu em 2009 que os nomes da Ilha do Norte e Ilha do Sul nunca haviam sido formalizados, mas já há planos para fazer isso. O conselho também está considerando nomes māori, como "Te Ika-a-Māui" e "Te Wai Pounamu", como as escolhas mais prováveis de acordo com o presidente da comissão da língua maori. História. Povoamento. A Nova Zelândia foi um das últimas grandes massas de terra colonizadas por seres humanos. A datação por radiocarbono, evidências de desmatamento e a variabilidade do DNA mitocondrial em populações māori sugerem que a Nova Zelândia foi ocupada pelos polinésios do leste entre 1250 e 1300, concluindo uma longa série de viagens pelas ilhas do Pacífico sul. Ao longo dos séculos que se seguiram, esses colonos desenvolveram uma cultura distinta agora conhecida como māori. A população foi então dividida em "iwi" (tribos) e "hapū" (subtribos), que acabaram por cooperar, competir e, por vezes, lutar uns com os outros. Em algum momento, um grupo dos māori migrou para as ilhas Chatham (a que deram o nome de "Rekohu"), onde desenvolveram uma cultura distinta chamada moriori. A população moriori foi dizimada entre 1835 e 1862, principalmente por causa da invasão e escravização promovidas pelos māori, embora as doenças europeias também tenham contribuído para isso. Em 1862, havia apenas 101 sobreviventes e os últimos morioris puros conhecidos morreram em 1933. Colonização europeia. Os primeiros europeus conhecidos por terem alcançado a Nova Zelândia foram o explorador holandês Abel Tasman e a sua tripulação em 1642. Em um encontro hostil, quatro tripulantes foram mortos e pelo menos um māori foi atingido por um tiro de metralha. Os europeus não voltaram a Nova Zelândia até 1769, quando o explorador britânico James Cook mapeou quase todo o seu litoral. Após Cook, a Nova Zelândia foi visitada por europeus e por vários baleeiros, foqueiros e navios comerciais norte-americanos. Eles negociavam alimentos, ferramentas de metal, armas e outros bens de madeira, alimentos, artefatos e água. A introdução da batata e do mosquete transformou a agricultura e a guerra māori. A batata proporcionou um excedente de alimentos confiável, o que permitiu campanhas militares maiores e melhor sustentadas. O resultado das inter-tribais Guerras dos Mosquetes abrangeu mais de 600 batalhas entre 1801 e 1840, matando entre 30 000 e 40 000 māoris. A partir do início do século XIX, missionários cristãos começaram a se estabelecer na Nova Zelândia e, eventualmente, conseguiram converter a maior parte da população māori. A população nativa māori diminuiu em cerca de 40% do seu nível pré-contato durante o século XIX; doenças trazidas pelos europeus foram o principal fator. O governo britânico nomeou James Busby como Residente Britânico para a Nova Zelândia em 1832 e em 1835, após um anúncio iminente de soberania da França, a indistinta Tribos Unidas da Nova Zelândia enviou uma declaração de independência ao rei Guilherme IV do Reino Unido pedindo proteção. A contínua agitação e a posição dúbia legal da declaração da independência levou o Escritório Colonial do Reino Unido a enviar o capitão William Hobson para a reivindicar a soberania para a Coroa Britânica e negociar um tratado com os māori. O Tratado de Waitangi foi assinado na Baía das Ilhas em 6 de fevereiro de 1840. Em resposta às tentativas da comercial Companhia da Nova Zelândia de estabelecer um assentamento independente em Wellington e de "compra" de terras em Akaroa por colonos franceses, Hobson declarou a soberania britânica sobre todos a Nova Zelândia em 21 de Maio de 1840, ainda que cópias do tratado ainda estivessem em circulação. Com a assinatura do tratado e da declaração da soberania vários imigrantes, principalmente do Reino Unido, começaram a chegar em números cada vez maiores. A Nova Zelândia, originalmente parte da colônia de Nova Gales do Sul, tornou-se uma colônia da coroa separada em 1841. A colônia ganhou um governo representativo em 1852 e o primeiro parlamento da Nova Zelândia se reuniu em 1854. Em 1856, a colônia efetivamente tornou-se auto-governada, ganhando a responsabilidade sobre todos os assuntos domésticos, com exceção da política nativa. (Controle sobre a política nativa foi concedida em meados da década de 1860.) Preocupado com a possibilidade da Ilha do Sul formar uma colônia separada, o premiê Alfred Domett apresentou uma resolução para transferir a capital de Auckland para uma localidade perto do Estreito de Cook. Wellington foi escolhida pelo seu porto e localização central, com o parlamento oficialmente sediado ali pela primeira vez em 1865. Com o aumento do número de imigrantes, os conflitos por terras levou às Guerras da Nova Zelândia da década de 1860 a década de 1870, resultando na perda e no confisco de muitas terras māori. Em 1893, o país tornou-se o primeiro país do mundo a conceder a todas as mulheres o direito ao voto e em 1894 foi pioneiro na adoção da arbitragem obrigatória entre empregadores e sindicatos. Independência. Em 1907, a Nova Zelândia declarou-se um domínio dentro do Império Britânico e em 1947 o país adotou o Estatuto de Westminster, o que tornou a Nova Zelândia um reino da "Commonwealth". O país se envolveu em assuntos mundiais, lutando ao lado do Império Britânico na primeira e e segunda Guerras Mundiais e sofrendo os impactos da Grande Depressão. A depressão levou à eleição do primeiro governo trabalhista e ao estabelecimento de um estado de bem-estar abrangente e de uma economia protecionista. A Nova Zelândia experimentou um período de prosperidade crescente nas épocas seguintes a Segunda Guerra Mundial e os māori começaram a deixar sua vida rural tradicional e ir para as cidades em busca de trabalho. Um movimento de protesto dos māori desenvolveu-se, criticando o eurocentrismo e trabalhando por um maior reconhecimento da cultura māori e do Tratado de Waitangi. Em 1975, um Tribunal Waitangi foi criado para investigar alegações de violações do tratado e foi habilitado para investigar queixas históricas em 1985. Geografia. A Nova Zelândia é formada por duas ilhas principais e um algumas ilhas menores, situadas perto do centro do hemisfério de água. As principais ilhas do Norte e do Sul são separadas pelo Estreito de Cook, com 22 km de largura em seu ponto mais estreito. Além das duas ilhas principais, as cinco maiores ilhas habitadas são a Ilha Stewart, Ilhas Chatham, Ilha Grande Barreira (no Golfo de Hauraki), Ilha D'Urville e a Ilha Waiheke (há cerca de 22 km do centro de Auckland). As ilhas do país estão entre as latitudes 29° e 53ºS e longitudes 165° e 176°E. O território da Nova Zelândia é longo (mais de km ao longo de seu eixo norte-nordeste) e estreito (largura máxima de 400 km), com cerca de km de costa e uma área total de km quadrados. Por causa de suas distantes ilhas periféricas e de seu longo litoral, o país tem extensivos recursos marinhos. Sua zona econômica exclusiva, uma das maiores do mundo, cobre mais de 15 vezes a sua área terrestre. A Ilha do Sul é a maior massa de terra da Nova Zelândia e é dividida ao longo de seu comprimento pelos Alpes do Sul. Nessa cordilheira, há 18 picos com mais de 3 000 m de altura, sendo o maior o Monte Cook, com m. A região de "Fiordland" tem montanhas íngremes e fiordes profundos, registros da glaciação deste canto sudoeste da Ilha do Sul. A Ilha do Norte é menos montanhosa, mas é marcada pelo vulcanismo. A altamente ativa zona vulcânica de Taupo formou um grande planalto vulcânico, pontuado pela maior montanha da Ilha do Norte, o Monte Ruapehu, com m. O planalto também abriga o maior lago do país, o Lago Taupo, situado na cratera de um dos mais ativos supervulcões do mundo. O país deve a sua topografia variada, e talvez até o seu aparecimento acima do nível do mar, ao limite dinâmico que acontece entre as placas do Pacífico e Indo-Australiana. Oficialmente, a Nova Zelândia localiza-se na Oceania. Estudos recentes apontam a existência de um microcontinente chamado Zelândia, que supostamente submergiu depois de se separar do supercontinente Gondwana. Há cerca de 25 milhões de anos, uma mudança nos movimentos das placas tectônicas começaram a contorcer e deformar a região. Isto agora é mais evidente nos Alpes do Sul, formados pela compressão da crosta ao lado da falha alpina. Em outros lugares do limite da placa envolve a subducção de uma placa sob a outra, produzindo o fossa de Puysegur o sul, a fossa de Hikurangi ao lesta da Ilha do Norte e as fossas de Kermadec e de Tonga mais ao norte. Biodiversidade. O isolamento geográfico da Nova Zelândia por 80 milhões de anos e a biogeografia de ilhas influenciaram a evolução das espécies de animais, fungos e plantas do país. O isolamento físico causou isolamento biológico, resultando em uma ecologia evolutiva dinâmica com exemplos de plantas e animais muito distintos, bem como populações de espécies comuns. Cerca de 82% das plantas vasculares da Nova Zelândia são endêmicas, cobrindo 1 944 espécies em 65 gêneros. O número de fungos registrados na Nova Zelândia, incluindo espécies formadoras de líquen, não é conhecido, nem a proporção desses fungos endêmicos, mas uma estimativa sugere que existem cerca de 2 300 espécies de fungos formadores de líquen na Nova Zelândia e 40% deles são endêmicos. Os dois principais tipos de floresta são aqueles dominados por árvores de folhas largas com podocarpos emergentes ou por faias do sul em climas mais frios. Os demais tipos de vegetação consistem em pradarias, a maioria das quais são tussock. Antes da chegada dos seres humanos, estima-se que 80% da terra estava coberta de floresta, com apenas altas áreas alpinas, úmidas, inférteis e vulcânicas sem árvores. O desmatamento maciço ocorreu depois que os humanos chegaram, com cerca de metade da cobertura florestal perdida para o fogo após o assentamento polinésio. Grande parte da floresta restante caiu após o assentamento europeu, sendo derrubada ou derrubada para dar espaço à agricultura pastoral, deixando a floresta ocupando apenas 23% da terra. As florestas eram dominadas por pássaros, e a falta de predadores de mamíferos levou a que alguns como apteryx, kiwi, kakapo, weka e takahe evoluíssem a ausência de voo. A chegada dos seres humanos, as mudanças associadas ao habitat e a introdução de ratos, furões e outros mamíferos levaram à extinção de muitas espécies de aves, incluindo grandes aves como o moa e a águia-de-haast. Outros animais nativos são representados por répteis (tuatara, lagostins e lagartixas), sapos, aranhas, insetos (weta) e caracóis. Alguns, como os tuatara, são tão únicos que foram chamados de fósseis vivos. Três espécies de morcegos (uma extinta) foram os únicos sinais de mamíferos terrestres nativos na Nova Zelândia até a descoberta de ossos, em 2006, de um mamífero terrestre exclusivo do tamanho de um rato com pelo menos 16 milhões de anos. No entanto, os mamíferos marinhos são abundantes, com quase metade dos cetáceos do mundo (baleias, golfinhos e botos) e um grande número de focas-marinhas relatadas nas águas da Nova Zelândia. Muitas aves marinhas reproduzem-se na Nova Zelândia, um terço delas exclusivas do país. Mais espécies de pinguins são encontradas na Nova Zelândia do que em qualquer outro país. Clima. A Nova Zelândia tem um clima ameno e temperado marítimo, com temperaturas médias anuais variando de 10 °C no sul até 16 °C no norte do país. A máxima e mínima históricas são de 42,4 °C, em Rangiora, Canterbury, e -26 °C, em Ranfurly, Otago. As condições variam fortemente entre as regiões extremamente úmidas na costa oeste da ilha sul para as regiões quase semiáridas na região Central de Otago e na Bacia do Mackenzie no interior Canterbury e subtropicais em Northland. Das sete maiores cidades do país, Christchurch é a mais seca, recebendo em média apenas 640 mm de chuva por ano, e Auckland a mais chuvosa, recebendo quase o dobro desse montante. Auckland, Wellington e Christchurch recebem uma média anual superior a 2 000 horas de luz solar. As partes do sul e oeste da Ilha do Sul tem um clima mais frio e nublado, com cerca de – horas; as partes norte e nordeste da Ilha do Sul são as áreas mais ensolaradas do país e recebem cerca de – horas. Demografia. A população da Nova Zelândia é de aproximadamente 4,9 milhões de habitantes, segundo estimativas de 2018. O país é predominantemente urbano, com 72% da sua população vivendo em 16 áreas urbanas principais e 53% vivendo nas quatro maiores cidades de Auckland, Christchurch, Wellington e Hamilton. As cidades neozelandesas geralmente obtêm boas colocações em classificações internacionais de habitabilidade. Em 2010, por exemplo, Auckland foi considerada a quarta cidade mais habitável do mundo e Wellington a décima-segunda pelo "Quality of Life Survey", feito pela consultoria Mercer. A expectativa de vida de uma criança nascida na Nova Zelândia em 2015 era de 84 anos para as mulheres e 80,2 anos para os homens. A esperança de vida ao nascer deverá aumentar de 80 anos para 85 anos em 2050 e a mortalidade infantil deverá diminuir ainda mais. Em 2050, estima-se, a população deverá chegar aos 5,3 milhões de habitantes, a idade média subirá de 36 anos para 43 anos e a percentagem de pessoas com 60 anos de idade e mais velhas subirá de 18% para 29%. O país tem a maior taxa de suicídio entre os jovens de países desenvolvidos, com taxa de 15,6 suicídios por 100 000 pessoas. Religião. O cristianismo é a religião predominante na Nova Zelândia. No censo de 2006, 55,6% da população se identificou como cristã, enquanto que 34,7% não tinham religião (de 29,6% em 2001) e cerca de 4% eram afiliados com outras religiões. As principais denominações cristãs são anglicanismo, catolicismo romano, presbiterianismo. Há também um número significativo de cristãos que se identificam com metodistas, pentecostais, batista, membros da A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e da religião neozelandesa rātana, que tem adeptos entre māori. De acordo com dados do censo, outras religiões minoritárias significativas incluem o hinduísmo, o budismo e o islamismo. Etnias, imigração e idiomas. No censo de 2006, 67,6% da população se identificava etnicamente como descendentes de europeus e 14,6% como maori. Outros grandes grupos étnicos incluem os povos asiáticos (9,2%) e do Pacífico (6,9%), enquanto 11,1% identificou-se simplesmente como "neozelandês" (ou similar) e 1% com outras etnias. Esses dados contrastam com os de 1961, quando o censo informou que a população da Nova Zelândia era composta por 92% de europeus e 7% de māori, com minorias asiáticas e do Pacífico compartilhando o 1% restante. Embora o gentílico para um cidadão da Nova Zelândia seja "neozelandês", o termo informal "kiwi" é comumente utilizado tanto a nível internacional quanto pelos habitantes locais. O empréstimo linguístico māori "Pākehā" geralmente se refere aos neozelandeses de descendência europeia, embora alguns rejeitem esta denominação e alguns māori a usem para se referir a todos os neozelandeses não polinésios. Os māori foram os primeiros humanos a chegar à Nova Zelândia, seguidos pelos primeiros colonizadores europeus. Após a colonização, os imigrantes provinham predominantemente da Grã-Bretanha, Irlanda e Austrália, por causa de políticas restritivas semelhantes às políticas da Austrália Branca. Houve também significativa imigração dalmácia, holandesa, italiana e alemã, juntamente com a imigração europeia indireta através da Austrália, América do Norte, América do Sul e África do Sul. Depois da Grande Depressão, as políticas de migração foram relaxadas e a diversidade de imigrantes aumentou. Em 2009–10, uma meta anual de 45 000 a 50 000 aprovações de residência permanente foi criada pelo Serviço de Imigração da Nova Zelândia, o que significa mais de um novo imigrante para cada 100 moradores da Nova Zelândia. 23% da população da Nova Zelândia nasceu no exterior, a maioria dos quais vivem na região de Auckland. Embora a maioria dos imigrantes ainda venha do Reino Unido e da Irlanda (29%), a imigração vinda do Leste da Ásia (principalmente China continental, mas com um número significativo também da Coreia, Taiwan, Japão e Hong Kong) está aumentando rapidamente o número de pessoas provenientes desses países. O número de estudantes internacionais pagantes aumentou acentuadamente na década de 1990, sendo que mais de 20 000 pessoas estudavam em instituições públicas de ensino superior do país em 2002. O inglês é o idioma predominante na Nova Zelândia, falada por 98% da população. O inglês neozelandês é semelhante ao inglês australiano e muitos falantes anglófonos do hemisfério norte são incapazes de falar esse sotaque. Depois da Segunda Guerra Mundial, os māori foram desencorajados a falar a sua própria língua ("te reo Māori") em escolas e locais de trabalho e existia como uma linguagem única comunitária em algumas áreas remotas. Recentemente, o idioma maori foi objeto de um processo de revitalização, sendo declarado uma das línguas oficiais da Nova Zelândia em 1987, e é falado por 4,1% da população. Existem hoje escolas e dois canais de televisão de língua maori, os únicos canais de televisão a nível nacional que têm a maior parte do seu conteúdo de horário nobre exibido em maori. Nos últimos anos, muitos lugares foram oficialmente nomeados em maori e inglês. O samoano é uma das línguas mais faladas na Nova Zelândia (2,3%), seguido pelo francês, hindi, cantonês e mandarim (dialetos da língua chinesa). A Língua Neozelandesa de Sinais é utilizada por cerca de 28 000 pessoas e tornou-se a segunda língua oficial do país em 2006. Governo e política. A Nova Zelândia é uma monarquia constitucional com uma democracia parlamentar, embora a sua constituição não seja codificada. Charles III é o monarca neozelandês e o chefe de Estado do país. O rei é representado pelo governador-geral, que é nomeado a conselho do primeiro-ministro. O governador-geral pode exercer os poderes prerrogativos da Coroa (como revisão de casos de injustiça e nomeações de ministros, embaixadores e outros importantes funcionários públicos) e, em raras situações, os poderes moderadores (o poder de demitir um primeiro-ministro, dissolver o parlamento ou recusar o Consentimento Real de um projeto de lei). Os poderes do rei e do governador-geral são limitados por restrições constitucionais e não podem normalmente ser exercidos sem o Conselho de Ministros. O gabinete, formado por ministros e liderado pelo primeiro-ministro, é o órgão máximo de formulação de políticas e responsável por decidir as ações mais significativas do governo. Por convenção, os membros do gabinete estão ligados por responsabilidade coletiva de decisões tomadas pelo gabinete. O Parlamento da Nova Zelândia detém o poder legislativo e consiste no Soberano (representada pelo governador-geral) e na Câmara dos Representantes. O parlamento também incluía uma câmara alta, o Conselho Legislativo, até que este foi abolido em 1950. A supremacia da Câmara sobre o Soberano foi criada na Inglaterra através da Declaração de Direitos de 1689 e foi ratificada como lei na Nova Zelândia. A Câmara dos Representantes é eleita democraticamente e é um governo formado a partir do partido ou coligação com a maioria dos assentos. Se não houver maioria é formado um governo minoritário pode ser formado se o apoio de outros partidos estiver assegurado. O governador-geral nomeia os ministros sob a orientação do primeiro-ministro, que é por convenção o líder parlamentar do partido do governo ou coligação. Juízes e magistrados são nomeados politicamente e não sob regras rigorosas em matéria de posse para ajudar a manter a independência constitucional do governo. Isto, teoricamente, permite que o judiciário interprete as leis com base exclusivamente na legislação aprovada pelo parlamento sem outras influências sobre suas decisões. O Conselho Privado em Londres, foi o supremo tribunal de recursos do país até 2004, quando foi substituído pelo recém-criado Supremo Tribunal de Nova Zelândia. O judiciário, presidido pelo chefe de justiça, inclui o Tribunal de Recurso, o Tribunal Superior e os tribunais subordinados. Relações internacionais. Na era colonial, a Nova Zelândia permitia que o governo britânico determinasse o comércio externo e fosse responsável pela política externa. Entre 1923 e 1926, Conferências Imperiais decidiram que a Nova Zelândia devia ser autorizada a negociar os seus próprios tratados políticos, sendo o primeiro tratado comercial de sucesso estabelecido com o Japão, em 1928. Apesar dessa relativa independência, a Nova Zelândia prontamente seguiu o Reino Unido ao declarar guerra à Alemanha nazista em 3 de setembro de 1939, quando o então primeiro-ministro neozelandês, Michael Savage, proclamou: "Onde ela vai, nós vamos; onde ela está, nós estamos". Em 1951, o Reino Unido virou-se cada vez mais para seus interesses europeus, enquanto a Nova Zelândia juntou-se à Austrália e aos Estados Unidos no tratado de defesa ANZUS. A influência dos Estados Unidos na Nova Zelândia enfraqueceu após protestos sobre a Guerra do Vietnã, o fracasso dos Estados Unidos em advertir França após o naufrágio do "Rainbow Warrior" e por desacordos sobre questões agrícolas comerciais, ambientais e sobre a políticas sobre a zona livre de armas nucleares da Nova Zelândia. Apesar da suspensão das obrigações dos Estados Unidos, o tratado ANZUS permaneceu em vigor entre a Nova Zelândia e a Austrália, cuja política externa tem seguido uma tendência histórica semelhante. Próximos contatos políticos são mantidos entre os dois países, com acordos de livre comércio e organização de viagens que permitem aos cidadãos visitar, viver e trabalhar em ambos os países sem qualquer restrição. Atualmente, mais de 500 00 neozelandeses vivem na Austrália e 65 000 australianos vivem na Nova Zelândia. A Nova Zelândia tem uma forte presença entre os países insulares do Pacífico. Uma grande proporção da ajuda externa da Nova Zelândia vai para esses países e muitos povos do Pacífico migram para a Nova Zelândia em busca de emprego. A migração permanente é regulamentada no âmbito do programa do governo, que permitem até 1 100 samoanos e até 750 habitantes de outras ilhas do Pacífico, respectivamente, para se tornarem residentes permanentes da Nova Zelândia por ano. Um esquema de trabalhadores sazonais de migração temporária foi introduzido em 2007 e em 2009 cerca de 8 000 habitantes das ilhas do Pacífico foram empregados nele. A Nova Zelândia está envolvido Fórum das Ilhas do Pacífico, Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico e do Fórum Regional da Associação de Nações do Sudeste Asiático (incluindo Cúpula do Leste Asiático). O país também é membro da Organização das Nações Unidas, da Comunidade das Nações, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e os Cinco Acordos de Força de Defesa. Forças armadas. A Força de Defesa da Nova Zelândia é composta por três ramos: a Marinha Real da Nova Zelândia, o Exército da Nova Zelândia e a Força Aérea Real da Nova Zelândia. As necessidades de defesa nacional da Nova Zelândia são modestas, devido à improbabilidade de ataque direto, mesmo com a presença global do país. A Nova Zelândia lutou nas duas guerras mundiais, com campanhas notáveis em Galípoli, Creta, El Alamein e Cassino. A Campanha de Galípoli desempenhou um papel importante na promoção da identidade nacional da Nova Zelândia e fortaleceu a tradição ANZAC, compartilhada com a Austrália. De acordo com Mary Edmond-Paul, "a Primeira Guerra Mundial tinha deixado cicatrizes na sociedade neozelandesa, com cerca de 18 500, no total, mortos como resultado da guerra, mais de 41 000 feridos e outros afetados emocionalmente, de uma força de combate no exterior de cerca de 103 000 e uma população de pouco mais de um milhão". A Nova Zelândia também teve uma importante participação na Batalha do Rio da Prata e na campanha aérea da Batalha da Grã-Bretanha. Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tinham mais de 400 000 militares americanos estacionados na Nova Zelândia. Além do Vietnã e das duas guerras mundiais, a Nova Zelândia lutou na Guerra da Coreia, na Segunda Guerra dos Bôeres, na Emergência Malaia, na Guerra do Golfo e na Guerra do Afeganistão. O país tem contribuído com forças para várias missões de paz regionais e globais, tais como aquelas no Chipre, Somália, Bósnia e Herzegovina, Suez, Angola, Camboja, fronteira Irã-Iraque, Bougainville, Timor-Leste e nas Ilhas Salomão. A Nova Zelândia também enviou uma unidade de engenheiros do exército de para ajudar na reconstrução de infraestrutura do Iraque por um ano durante a Guerra do Iraque. Subdivisões. Quando foi povoada pelos britânicos, a Nova Zelândia foi dividida em províncias. Estas foram abolidas em 1876 para que o governo pudesse ser centralizado, por motivos financeiros. Em resultado, a Nova Zelândia não possui nenhuma entidade subnacional como província, estado ou território, para lá do governo local. Apesar disso, o espírito das províncias sobrevive e existe uma feroz rivalidade entre elas em acontecimentos culturais ou desportivos. Desde 1876, o governo central tem administrado as várias regiões da Nova Zelândia. Devido à sua herança colonial, seu governo reflete com bastante fidelidade as estruturas britânicas de governo local, com concelhos de cidade, "borough" e condado. Ao longo dos anos, alguns destes conselhos fundiram-se ou tiveram as fronteiras ajustadas por mútuo acordo, e foram criados alguns novos. Em 1989, o governo reorganizou por completo o governo local, implementando a actual estrutura de dois níveis com as regiões e as autoridades territoriais. Hoje, a Nova Zelândia tem 12 conselhos regionais para a administração de assuntos ambientais e de transportes, e 74 autoridades territoriais que administram as estradas, o saneamento básico, as autorizações de construção e outros assuntos locais. As autoridades territoriais são 16 conselhos de cidade, 57 conselhos de distrito e o Conselho das Ilhas Chatham. Quatro dos conselhos territoriais (uma cidade e três distritos) e o Conselho das Ilhas Chatham também exercem as funções de conselho regional, e são assim conhecidos como autoridades unitárias. Os distritos das autoridades territoriais não são subdivisões dos distritos dos conselhos regionais, e alguns atravessam as fronteiras dos conselhos regionais. A Nova Zelândia se subdivide em 16 regiões: Economia. Nova Zelândia tem uma moderna, próspera e desenvolvida economia de mercado, com um produto interno bruto (PIB) em paridade do poder de compra (PPC) "per capita" estimado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em cerca de US$ 26 966. A moeda do país é o dólar da Nova Zelândia, informalmente conhecido como o "dólar Kiwi", que também circula nas Ilhas Cook, Niue, Tokelau e nas Ilhas Pitcairn. A Nova Zelândia havia sido classificada como o quinto país "mais desenvolvido" do mundo pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2011 e caiu para 16º na classificação de 2018, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e Ficou em 4º lugar no Índice de Liberdade Econômica de 2011, publicado pela "Heritage Foundation". Historicamente, as indústrias extrativistas têm contribuído fortemente para a economia da Nova Zelândia, concentrando-se, de acordo com a época, na caça às focas e baleias, linho, ouro, goma kauri e na madeira nativa. Com o desenvolvimento do transporte refrigerado em 1880, carne e produtos lácteos passaram a ser exportados à Grã-Bretanha, um comércio que serviu de base para um forte crescimento econômico na Nova Zelândia. A elevada demanda de produtos agrícolas do Reino Unido e dos Estados Unidos ajudou os neozelandeses a alcançar um padrão de vida mais elevado do que o da Austrália e da Europa Ocidental nos anos 1950 e 1960. Em 1973, o mercado de exportação da Nova Zelândia foi reduzido quando o Reino Unido aderiu à Comunidade Europeia e por outros fatores, tais como crise do petróleo de 1973 e a crise energética de 1979, o que levou a uma grave depressão econômica. O padrão de vida neozelandês caiu atrás daqueles registrados na Austrália e na Europa Ocidental e, em 1982, a Nova Zelândia tinha a menor renda "per capita" entre todos os países desenvolvidos pesquisados pelo Banco Mundial. Desde 1984, sucessivos governos engajados na reestruturação macroeconômica do país transformou rapidamente a Nova Zelândia de uma economia altamente protecionista para uma economia de livre comércio e liberalizada. O desemprego chegou acima dos 10% em 1991 e 1992, após a "segunda-feira negra de 1987", mas finalmente caiu a uma baixa recorde de 3,4% em 2007 (a 5ª menor taxa entre os 27 países comparáveis da OCDE). A crise financeira mundial que se seguiu, porém, teve um grande impacto na economia neozelandesa, com o PIB do país encolhendo por cinco trimestres consecutivos, a mais longa recessão em mais de 30 anos, e com o aumento do desemprego para uma taxa de 7% no final de 2009. A taxa de desemprego para os jovens foi de 17,4% no trimestre de junho de 2011. A Nova Zelândia tem experimentado uma série de "fuga de cérebros" desde 1970, fenômeno que continua ainda hoje. Quase um quarto dos trabalhadores altamente qualificados do país vivem no exterior, a maioria na Austrália e Reino Unido, taxa maior do que a de qualquer outra nação desenvolvida. Nos últimos anos, entretanto, um "ganho de cérebros" trouxe profissionais educados da Europa e de países menos desenvolvidos. Turismo. O turismo é uma importante indústria na Nova Zelândia, contribuindo com NZ$ 15 bilhões (ou 9%) do produto interno bruto (PIB) doméstico do país em 2010. É também a maior indústria de exportação da Nova Zelândia, com cerca de 2,4 milhões de turistas internacionais visitando o país anualmente (dados de setembro de 2009), o que forneceu 18% das receitas de exportação neozelandesas em 2010. A Nova Zelândia é comercializada no exterior como um lugar "limpo e verde" de aventura, com destinos naturais, como Milford Sound, o Monte Cook, as Cavernas de Waitomo, o Parque Nacional Abel Tasman e a Travessia Alpina do Tongariro, enquanto atividades como o "bungee jumping" ou a observação de baleias exemplificam atrações turísticas típicas. Queenstown abriga o primeiro bungee jumping comercial do mundo, o Kawarau Bridge Bungy, localizado a 43 m acima do Rio Kawarau. A Nova Zelândia também é muito conhecida pelas paisagens exuberantes que foram locações para as trilogias cinematográficas "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit", dirigidas pelo cineasta Peter Jackson. Algumas delas se tornaram atrações permanentes para receber os fãs da saga. No roteiro dos mais aficionados pela Terra-média não pode faltar Hobbiton (Vila dos Hobbits), em Matamata; Valfenda, em Wellington; e Mordor, no Parque Nacional de Tongariro. Outras locações podem ser encontradas em Nelson, Canterbury, Mackenzie Country, Southern Lakes e Fiordland. A grande maioria das chegadas de turistas para a Nova Zelândia veem através do Aeroporto de Auckland que movimentou mais de 11 milhões de passageiros em 2004. Muitos turistas internacionais também gastam o tempo em Christchurch, Queenstown, Rotorua e Wellington. O turismo doméstico também é importante, sendo que as despesas desse tipo de atividade chegam a US$ 13 bilhões e superam as despesas de turistas internacionais, de US$ 9 bilhões em 2010. No geral, o turismo mantém cerca de 180 000 empregos em tempo integral (10% da força de trabalho na Nova Zelândia). Infraestrutura. Educação. O ensino primário e secundário é obrigatório para crianças entre seis a dezesseis anos. Existem 13 anos escolares e as escolas públicas são gratuitas. A Nova Zelândia tem uma taxa de alfabetização de adultos de 99%, uma das mais altas no mundo. Ao todo, cinco tipos de instituições públicas estão credenciadas e autorizadas a oferecer ensino educacional: universidades, faculdades de educação, institutos politécnicos, institutos especializados, "wānanga", para além de estabelecimentos de ensino privado. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos da OCDE classifica o sistema educacional da Nova Zelândia como o sétimo melhor do mundo, com alunos com desempenho excepcionalmente bom em leitura, matemática e ciências. O ensino superior é fornecido por universidades, institutos de tecnologia e politécnicos, estabelecimentos de treinamento privados, organizações de treinamento da indústria, além da wānanga — que se assemelha às universidades convencionais e oferece educação num contexto baseado na cultura maori. Há uma variação de de cursos comunitários informais, os quais não são avaliados, a cursos de graduação e pós-graduação com base em pesquisas. Toda a educação pós-obrigatória é regulamentada pela Autoridade de Qualificações da Nova Zelândia, entidade governamental responsável por garantir a qualidade de todos os cursos e organizações de ensino superior, sendo disciplinada pela Lei de Educação de 1989. Na população adulta, 14,2% possuem o grau de bacharel ou superior, 30,4% têm alguma forma de qualificação secundária como qualificação mais alta e 22,4% não possuem qualificação formal. As universidades de Auckland, Otago, Victoria de Wellington e Canterbury foram listadas entre as cinquenta melhores universidades da Oceania, de acordo com a classificação do QS World University Rankings de 2021. Energia, transporte e comunicações. Em 2008, petróleo, gás e carvão geraram cerca de 69% da oferta de energia bruta da Nova Zelândia e 31% foi gerada a partir de energias renováveis, principalmente energia hidrelétrica e geotérmica. A rede de transportes da Nova Zelândia inclui km de estradas, no valor de 23 bilhões de dólares, e km de linhas ferroviárias. A maioria das grandes cidades e vilas do país estão ligadas por serviços de ônibus, embora o automóvel privado seja o modo predominante de transporte. As ferrovias foram privatizadas em 1993, em seguida, re-adquiridas pelo governo em 2004 e investidas através de uma empresa estatal. O sistema ferroviário percorre o território do país, embora a maioria das linhas seja de transporte de mercadorias, em vez de passageiros. A maioria dos visitantes internacionais chegam por via aérea e a Nova Zelândia tem sete aeroportos internacionais, embora atualmente apenas os aeroportos de Auckland e Christchurch conectem-se diretamente com outros países além de Austrália e Fiji. Os Correios da Nova Zelândia tinham o monopólio sobre as telecomunicações até 1989, quando "Telecom New Zealand" foi formada, inicialmente como uma empresa estatal e privatizada em 1990. A Telecom ainda possui a maior parte da infraestrutura de telecomunicações, mas a concorrência de outros fornecedores aumentou. Cultura. Os primeiros māori adaptaram a sua cultura polinésia aos desafios associados com um ambiente maior e mais diversificado e desenvolveram a sua própria cultura. A organização social era em grande parte comum com as famílias ("whanau"), sub-tribos ("hapu") e tribos ("iwi") governadas por um chefe ("rangatira"), cuja posição era sujeita à aprovação da comunidade. Os imigrantes britânicos e irlandeses trouxeram aspectos de suas própria culturas para a Nova Zelândia e também influenciaram a cultura māori, particularmente com a introdução do cristianismo. No entanto, os māori ainda consideram sua fidelidade a grupos tribais como uma parte vital de sua identidade e os papéis de parentesco de sua cultura se assemelham aos de outros povos da Polinésia. Mais recentemente, americanos, australianos, asiáticos e outras culturas europeias exerceram influência sobre a Nova Zelândia. A cultura polinésia não māori também é aparente, com o "Pasifika", o maior festival do mundo polinésio, agora sendo um evento anual em Auckland. A vida em grande parte rural, no início da Nova Zelândia, levou à imagem de que os neozelandeses são robustos, trabalhadores e solucionadores de problemas trabalhador. Na época a Nova Zelândia não era conhecido como um país intelectual. Do início do século XX até o final dos anos 1960, a cultura māori foi suprimida através da tentativa de assimilação do povo nativo em neozelandeses britânicos. Em 1960, o ensino superior tornou-se mais acessível, as cidades se expandiram e, consequentemente, a cultura urbana começou a dominar. Embora a maioria da população viva em cidades, grande parte da arte, filmes, literatura e humor da Nova Zelândia têm temas rurais. Esportes. A maioria dos códigos esportivos jogados na Nova Zelândia têm origens inglesas. Golfe, netball, tênis e críquete são os quatro primeiros esportes coletivos, sendo o futebol o mais popular entre os jovens e o rugby o que atrai mais espectadores. Vitoriosas turnês de rugby pela Austrália e pelo Reino Unido no final dos anos 1880 e início dos anos 1900 desempenharam um papel importante no início da formação da identidade nacional do país, embora a influência do esporte tenha decaído. O turfe também foi um esporte popular e tornou-se parte da cultura "Corrida, Rugby e Cerveja" durante a década de 1960. A participação dos māori em esportes europeus é particularmente evidente no rugby e a equipe do país realiza a "haka" (desafio tradicional maori) antes dos jogos internacionais. A Nova Zelândia tem equipes competitivas internacionais no rugby, netball, críquete e softball e tradicionalmente tem bom desempenho no triatlo, remo, iatismo e ciclismo. O país também tem um bom desempenho na proporção de medalhas em relação à população nos Jogos Olímpicos e nos Jogos da Commonwealth. A Seleção Neozelandesa de Rugby é frequentemente considerada como a melhor do mundo e é a detentora de várias vitórias na Copa do Mundo de Rugby. O país é conhecido por sua forte tradição em esportes radicais, turismo de aventura e montanhismo. Outras atividades ao ar livre, como ciclismo, pesca, natação, corrida, canoagem, caça, esportes de neve e surf também são populares.
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Nupedia
Nupedia A Nupedia foi uma enciclopédia online cujos artigos foram escritos por colaboradores voluntários com conhecimento adequado no assunto, revisados por editores especializados antes da publicação e licenciados como conteúdo livre. Foi fundada por Jimmy Wales e subscrita pela Bomis, com Larry Sanger como editor-chefe. A Nupedia operou de outubro de 1999 a setembro de 2003. É mais conhecido hoje como o antecessor da Wikipédia, mas a Nupedia tinha um processo de aprovação de sete etapas para controlar o conteúdo dos artigos antes de serem postados, em vez de atualização ao vivo baseada na wiki. A Nupedia foi projetada por um comitê, com especialistas para predefinir as regras, e aprovou apenas 21 artigos em seu primeiro ano, em comparação com a Wikipédia que postou 200 artigos no primeiro mês e 18 mil no primeiro ano. Diferentemente da Wikipédia, a Nupedia não era uma wiki; em vez disso, caracterizou-se por um extenso processo de revisão por pares, projetado para tornar seus artigos de qualidade comparável à das enciclopédias profissionais. A Nupedia queria que acadêmicos (idealmente com doutorado) oferecessem conteúdo voluntário. Antes de encerrar suas atividades, a Nupedia produziu 24 artigos aprovados que haviam completado seu processo de revisão (também existiam três artigos em duas versões de tamanhos diferentes), e outros 150 artigos estavam em andamento. Wales preferia a postagem de artigos mais fácil da Wikipédia, enquanto Sanger preferia a abordagem revisada por pares usada pela Nupedia e mais tarde fundou a Citizendium em 2006 como uma alternativa à Wikipédia revisada por especialistas. Em junho de 2008, a CNET UK listou a Nupedia como um dos maiores sites extintos da ainda jovem história da Internet, observando como o controle estrito limitou a postagem de artigos. História. Em outubro de 1999, Jimmy Wales começou a pensar em uma enciclopédia online construída por voluntários e, em janeiro de 2000, contratou Larry Sanger para supervisionar seu desenvolvimento. O projeto foi oficialmente lançado online em 9 de março de 2000. Em novembro de 2000, entretanto, apenas dois artigos completos haviam sido publicados. Desde o início, a Nupedia foi uma enciclopédia de conteúdo livre, com a Bomis com a intenção de gerar receita com anúncios online no Nupedia.com. Inicialmente, o projeto usava uma licença própria, a "Nupedia Open Content License". Em janeiro de 2001, mudou para a GNU Free Documentation License por insistência de Richard Stallman e da "Free Software Foundation". Também em janeiro de 2001, a Nupedia iniciou a Wikipédia como um projeto paralelo para permitir a colaboração em artigos antes de entrar no processo de revisão por pares. Isso atraiu o interesse de ambos os lados, pois proporcionou a estrutura menos burocrática preferida pelos defensores da Gnupedia. Como resultado, o GNU nunca se desenvolveu realmente, e a ameaça de competição entre os projetos foi evitada. À medida que a Wikipédia cresceu e atraiu contribuidores, ela rapidamente desenvolveu vida própria e começou a funcionar em grande parte independentemente da Nupedia, embora Sanger inicialmente liderasse a atividade na Wikipédia em virtude de sua posição como editor-chefe da Nupedia. Além de levar à descontinuação do projeto GNU, a Wikipédia também levou ao desaparecimento gradual da Nupedia. Devido ao colapso da economia da internet na época, Jimmy Wales decidiu interromper o financiamento de um editor-chefe assalariado em dezembro de 2001, e Sanger demitiu-se de ambos os projetos logo depois. Após a saída de Sanger, a Nupedia tornou-se cada vez mais uma reflexão tardia para a Wikipédia; dos artigos da Nupedia que concluíram o processo de revisão, apenas dois o fizeram depois de 2001. À medida que a Nupedia se tornava inativa, a ideia de convertê-la em uma versão estável de artigos aprovados da Wikipédia foi ocasionalmente abordada, mas nunca implementada. Mais tarde, o servidor da Nupedia caiu em setembro de 2003. O conteúdo enciclopédico da Nupedia, muitas vezes descrito como limitado, foi assimilado pela Wikipédia. Processo editorial. A Nupedia teve um processo editorial de sete etapas, consistindo em: Esperava-se que os autores tivessem conhecimento especializado (embora a definição de especialista permitisse um grau de flexibilidade, e foi reconhecido que alguns artigos poderiam ser escritos por um bom escritor, em vez de um especialista "em si") e esperava-se que os editores que aprovassem os artigos para publicação fossem "verdadeiros especialistas em suas áreas e (com poucas exceções) [que] possuíssem doutorado". Ruth Ifcher era alguém de quem Sanger dependia e com quem trabalhava de perto nas políticas e procedimentos iniciais da Nupedia. Ifcher, com vários diplomas superiores, era programador de computador e ex-editor de texto e concordou em ser editor-chefe voluntário. Desenvolvimento de software. A Nupedia foi desenvolvido pelo software colaborativo NupeCode. NupeCode é um software de código aberto/livre (lançado sob a "GNU General Public License") projetado para grandes projetos de revisão por pares. O código estava disponível através do repositório CVS da Nupedia. Um dos problemas enfrentados pela Nupedia durante grande parte de sua existência foi a falta de funcionalidade do software. Grande parte da funcionalidade que faltavam haviam sido simuladas usando blocos de texto sublinhados que pareciam ser hiperlinks, mas na verdade não eram. Como parte do projeto, uma nova versão do software original (chamado "NuNupedia") estava em desenvolvimento. O NuNupedia foi implementado para testes no "SourceForge", mas nunca atingiu um estágio de desenvolvimento suficiente para substituir o software original.
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Netuno (planeta)
Netuno (planeta) é o oitavo planeta do Sistema Solar, o último a partir do Sol desde a reclassificação de Plutão para a categoria de planeta anão, em 2006. Pertencente ao grupo dos gigantes gasosos, possui um tamanho ligeiramente menor que o de Urano, mas maior massa, equivalente a 17 massas terrestres. Netuno orbita o Sol a uma distância média de 30,1 unidades astronômicas. O planeta é formado por um pequeno núcleo rochoso ao redor do qual encontra-se uma camada formada possivelmente por água, amônia e metano sobre a qual situa-se sua turbulenta atmosfera, constituída predominantemente de hidrogênio e hélio. De fato, notáveis eventos climáticos ocorrem em Netuno, inclusive a formação de diversas camadas de nuvens, tempestades ciclônicas visíveis, como a já extinta Grande Mancha Escura, além dos ventos mais rápidos do Sistema Solar, que atingem mais de km/h. A radiação solar recebida por Netuno não seria suficiente para fornecer tamanha energia à turbulenta atmosfera, pelo que descobriu-se que o calor irradiado do centro do planeta possui um papel importante na manutenção destes eventos meteorológicos extremos. A pequena quantidade de metano nas camadas altas da atmosfera é, em parte, responsável pela coloração azul do planeta. Ao redor de Netuno orbitam quatorze satélites naturais conhecidos, dos quais destaca-se Tritão, de longe o maior. Um tênue e incomum sistema de anéis também existe, exibindo uma estrutura irregular com concentrações de material que formam arcos. Sua influência gravitacional afeta as órbitas de corpos menores situados além, no Cinturão de Kuiper, entrando em ressonância orbital. Visto da Terra, Netuno apresenta uma alta magnitude (quanto mais brilhante o astro, menor sua magnitude), sendo impossível observá-lo a olho nu. Suspeitou-se de sua existência somente após a observação cuidadosa da órbita de Urano, que apresentava ligeiras irregularidades por conta da perturbação gravitacional de Netuno. Após análise matemática com conclusões obtidas independentemente por John Couch Adams e Urbain Le Verrier, obtiveram as posições aproximadas de onde o planeta deveria estar na esfera celeste. Após diversas buscas com o auxílio de telescópios, em 23 de setembro de 1846 encontraram o planeta, cujo nome escolhido posteriormente homenageia o deus romano dos mares. Até o presente momento, a única sonda espacial que visitou o planeta foi a Voyager 2, em 1989, cuja passagem permitiu obter fotografias e informações sem precedentes, ainda sendo a principal fonte de dados sobre o que atualmente se conhece sobre o planeta. Características físicas. O planeta mais distante do Sol pertence ao grupo dos gigantes gasosos, sendo o quarto maior do Sistema Solar, mas sua massa é superior à de Urano. Seu raio é equivalente a 3,91 raios terrestres (cerca de 24 mil quilômetros), enquanto que sua massa corresponde a 17,14 massas terrestres. Embora esteja no grupo dos gigantes gasosos, Netuno, assim como Urano, são bem mais densos e menos massivos que Júpiter e Saturno. Contudo, seu tamanho ainda é bastante superior às dimensões dos planetas telúricos. Em virtude de sua rápida rotação (cerca de 16 horas e sete minutos), o planeta possui um ligeiro achatamento. Por isso, o raio equatorial ( km) é maior do que o raio polar ( km). A aceleração da gravidade no planeta é de 11,15 m/s2 (pouco maior que a da Terra) e a velocidade de escape é de 23,5 km/s. Estrutura interna. Juntamente com Urano, Netuno pertence à classe dos gigantes gasosos, pois possui uma grande massa de compostos voláteis que são encontrados sob a forma de gelo nas regiões longínquas do Sistema Solar. Além disso, os modelos que descrevem a composição interna dos dois planetas são bastante semelhantes entre si. Enquanto que nos dois maiores gigantes gasosos, Júpiter e Saturno, hidrogênio e hélio compõem a maior parte da massa dos planetas, em Netuno estes elementos são abundantes somente na atmosfera, cuja espessura estimada é de cinco mil quilômetros. Embora possua dimensões ligeiramente menores, Netuno possui massa maior do que a de Urano, pelo fato de que a massa específica de Netuno é de 1,64 g/cm³ em comparação com 1,3 g/cm³ de Urano. Infere-se, a partir da densidade do planeta (não tão leve para ser composto por gases leves nem tão pesado para ser composto de silicatos e metais) que seja formado predominantemente por água, metano e amônia. Embora essas substâncias sejam conhecidas como "gelos", não estão necessariamente em estado sólido no interior do planeta. Possivelmente estes compostos estão mais comprimidos no interior do planeta, o que aumenta sua densidade, o que poderia ser causado também pelo maior teor de compostos rochosos nas suas camadas internas. Netuno provavelmente possui um núcleo de material rochoso de massa similar à da Terra, cuja temperatura deve ser superior a 5 100 °C, possivelmente maior do que o núcleo de Urano. Ao seu redor, existiria um grande "oceano", uma camada formada principalmente por oxigênio, nitrogênio, carbono e hidrogênio, mantidos sob grande pressão e temperatura. Contudo o termo não implica que exista necessariamente uma camada líquida no planeta, mas na verdade uma região onde estes elementos podem ser encontrados em átomos isolados ou formando substâncias químicas, principalmente água, metano e amônia. Não se sabe, contudo, a proporção desses elementos na constituição do planeta. Uma quantidade superior de hidrogênio poderia implicar sua manifestação com características metálicas, o que permitiria o fluxo de corrente elétrica e influenciaria o campo magnético. Reações químicas podem ocorrer também entre os elementos químicos e substâncias, que teriam como produtos, por exemplo, hidrogênio molecular, que subiria para a atmosfera e diamante, que afundaria em direção ao núcleo. O fluxo térmico de Netuno possui um fator de 2,6, ou seja, o planeta emite 2,6 vezes mais energia térmica do que recebe do Sol. Por isso, a atividade convectiva da atmosfera é influenciada pela energia proveniente do interior do planeta, sendo determinante para explicar a grande variabilidade dos eventos meteorológicos observados. Nos planetas terrestres, a fonte de calor do núcleo provém do decaimento radioativo, enquanto, em Júpiter, a energia térmica provém da condensação e movimento interno do gás hélio. Contudo, os elementos radioativos são pouco abundantes nos confins do Sistema Solar, bem como a quantidade de hélio na composição total do planeta é pouco significativa. Desta forma, não há até o presente momento explicação para a origem da energia interna adicional do planeta. Um processo de diferenciação planetária nas camadas do manto de Netuno poderia contribuir para a liberação de energia térmica. Atmosfera. A atmosfera de Netuno é, sob diversos aspectos, similar à de Urano. Contudo sua dinâmica apresenta-se em uma complexa configuração de fortes ventos que varrem o planeta, além da formação de tempestades ciclônicas e de nuvens, com características visuais claramente visíveis. Assim como os demais planetas gigantes, Netuno não possui uma superfície visível e definida, por isso as altitudes na atmosfera são medidas a partir do referencial cuja pressão é de 1 bar. A partir deste nível de referência, a atmosfera estende-se até uma profundidade de cinco mil quilômetros, onde a pressão chega a cem mil bars. A atmosfera superior de Netuno é composta por 79% de hidrogênio, cerca de 18% de hélio e a maior parte restante por metano, cuja presença confere a coloração azul anil do planeta, ao absorver a radiação vermelha incidente. Presume-se que algum outro componente da atmosfera de Netuno contribua para sua acentuada coloração, uma vez que Urano possui uma quantidade de metano similar em sua atmosfera, mas apresenta coloração mais clara. Esta camada observada representa somente uma pequena fração do planeta, correspondendo a cerca de 15% do raio do planeta. A temperatura da atmosfera netuniana varia conforme a altitude. Na altitude cuja pressão equivale a 0,1 bar, a temperatura chega ao mínimo de 50 K (-223 °C), e sobe conforme a pressão diminui, ou seja, conforme a altitude aumenta, atingindo até 327 °C a uma pressão de centenas de bilionésimos de bar, o que equivale a uma altitude de quilômetros acima do nível de referência de 1 bar. Abaixo do nível de pressão de 0,1 bar, a temperatura aumenta conforme a pressão aumenta. No nível de referência de 1 bar, a temperatura média é de 74 K (-199,15 °C). A alta temperatura da camada superior da atmosfera, embora seja comum em todos os outros planetas gigantes, ainda permanece um mistério, pois não pode ser provocada pela radiação ultravioleta solar, devido à grande distância ao Sol. Possivelmente está relacionada ao comportamento do campo magnético do planeta. Com base nas temperaturas, a atmosfera pode ser dividida em camadas. Desde a parte mais profunda da atmosfera até o nível onde ocorrem as menores temperaturas (onde a pressão é de 0,1 bar) encontra-se a troposfera, onde normalmente ocorrem névoas e nuvens. Limitada pela tropopausa, a camada imediatamente seguinte é a estratosfera, na qual a temperatura cresce com a altitude até a mesosfera. Acima desta, está a termosfera, onde a pressão é da ordem de 10−6 microbar e altas temperaturas ocorrem, seguida pela exosfera, extremamente rarefeita. O metano, embora não seja tão abundante, interfere na dinâmica da atmosfera netuniana. Ao serem atingidas pelos raios ultravioleta do Sol, as moléculas de metano se quebram por fotólise e formam hidrocarbonetos e polímeros, como etano e acetileno, que formam uma névoa. Esta névoa situa-se acima das camadas de nuvens de metano. Estas partículas caem para as profundezas da atmosfera, onde a temperatura e pressão são maiores, onde a abundância de hidrogênio propicia novamente a formação de metano que, por correntes convectivas, retorna às camadas superiores da atmosfera, estabelecendo assim um ciclo no qual a proporção de metano na atmosfera permanece constante. Entretanto, a quantidade de metano na estratosfera é anormalmente alta, ao contrário do que preveem os modelos teóricos. As moléculas de metano teoricamente seriam levadas para as altas camadas pelas fortes correntes convectivas. Descobriu-se, no entanto, que a região polar sul do planeta é 10 °C mais quente que a temperatura média do planeta. Desta forma, o metano encontraria condições favoráveis para escapar para camadas altas da atmosfera, espalhando-se pela estratosfera. Esta temperatura está relacionada ao verão do hemisfério sul. Espera-se que quando o verão chegar no hemisfério norte, o mesmo ocorra na região polar oposta. Dinâmica atmosférica. O planeta é varrido por fortes ventos que formam cinturões, de forma similar aos outros gigantes gasosos. Estas grandes faixas circulam paralelas ao equador do planeta, e seguem, em baixas latitudes, em direção retrógrada, oposta à rotação do planeta. Conforme o aumento da latitude a partir do equador, gradualmente revertem sua direção até se tornarem prógrados, no sentido de rotação do planeta, acima da latitude 70° norte e sul. Provavelmente, as correntes convectivas são ascendentes em latitudes médias e descendentes próximas ao equador e nos polos, alimentadas pela energia interna irradiada do núcleo do planeta. Observações feitas ao longo de décadas tanto pela sonda Voyager, Telescópio Espacial Hubble e outros telescópios na Terra permitiram constatar mudanças de longo prazo que vêm ocorrendo na atmosfera do planeta. Em especial, notou-se um aumento da atividade atmosférica no hemisfério sul até o ano de 2003, quando a formação de nuvens atingiu seu máximo. A estratosfera do planeta também tem apresentado um gradual aumento da temperatura, por causas desconhecidas. Por conta da inclinação de seu eixo de rotação em pouco mais de 28°, Netuno possui estações que duram aproximadamente quarenta anos, apesar da intensidade da luz solar que atinge o planeta ser 900 vezes menor que a no nosso planeta. A formação de nuvens no hemisfério sul do planeta estaria associada à chegada do verão, quando é máxima a radiação solar incidente. A intensidade das tempestades parece estar também ligada à gradual mudança de estação. O planeta vem mostrando ainda um ligeiro aumento de brilho ao longo das últimas duas décadas devido à maior formação de nuvens, o que também deve estar relacionado à mudança de estação e à maior insolação no hemisfério sul. O maior aquecimento, em especial em altas latitudes, provoca correntes convectivas que leva o metano para as camadas altas da atmosfera, onde formam-se cristais que constituem as nuvens. Existem ainda evidências de que o ciclo de atividade solar, que se repete a cada onze anos, poderia também influenciar na maior ou menor quantidade de nuvens periodicamente. Nuvens. A dinâmica atmosférica de Netuno é marcada por uma variedade de tipos de nuvens de rápida evolução que interferem na aparência e no fluxo térmico do planeta. O planeta apresenta bandas de circulação dos ventos tal como Júpiter ou Saturno, contudo são praticamente indistinguíveis visualmente. Em observações no comprimento de onda do infravermelho, entretanto, pode-se observar a existência de espessas faixas, estendendo-se por dezenas de graus de latitude e envolvendo todo planeta, além de apresentarem grande variação de largura ao longo de poucos anos. Contrastando com a coloração azul do planeta, surgem nuvens de cristais de metano de coloração branca, análogas aos cirros formados por cristais de água na Terra. Possuem geralmente um curto período de existência, formando-se e dissipando-se em questão de horas. Localizam-se acima do nível de pressão de 1 bar, acima dos demais níveis de nuvens, sobre os quais projeta sombra. Nuvens deste tipo são comumente associadas a tempestades ciclônicas, tal como ocorreu em conjunto com a Grande Mancha Escura, possivelmente no nível de pressão de 0,1 bar. Estas nuvens são facilmente identificáveis quando observadas em infravermelho, pois refletem grande parte da radiação incidente neste comprimento de onda. Modelos teóricos da atmosfera de Netuno preveem a localização de outras camadas de nuvens nas camadas internas da atmosfera do planeta, abaixo das camadas observadas pela Voyager 2. Devem ser formadas por sulfeto de hidrogênio e amônia entre 2 e 5 bar e cristais de água e hidrossulfeto de amônio entre 20 e 50 bar. Somente duas camadas de nuvem foram observadas diretamente, sendo a superior formada por metano e a inferior uma camada espessa e opaca, tratando-se possivelmente do topo da camada de nuvens de sulfeto de hidrogênio. Tempestades. A visita da sonda Voyager 2 revelou que, mesmo apesar de estar extremamente longe do Sol, Netuno possui uma dinâmica atmosférica turbulenta, com fortes ventos e formações ciclônicas que evoluem rapidamente. Apresentam estruturas visualmente distintas, diferentemente de Urano. A velocidade média dos ventos que circulam o planeta em direção contrária ao movimento de rotação no equador é de cerca de 400 metros por segundo, e nos polos, em direção prógrada, cerca de 250 m/s, já muito superiores às velocidades dos ventos na Terra. Contudo, as maiores velocidades registradas no planeta atingem mais de quilômetros por hora, sendo os mais rápidos registrados em todo o Sistema Solar. Esta dinâmica é causada principalmente pela energia interna irradiada do centro do planeta, produzindo correntes convectivas. Uma das mais notáveis tormentas registradas foi a Grande Mancha Escura fotografada pela Voyager 2 ao passar pelo planeta. Comparável à Grande Mancha Vermelha de Júpiter, a mancha localizava-se a 30 graus ao sul do equador. Tratava-se de uma tormenta anticiclônica com 12 mil por 18 mil quilômetros de extensão, que diminuíram para 5 mil por quilômetros após os oitos dias de observação da Voyager 2. Observações efetuadas poucos anos depois com o Telescópio Espacial Hubble mostraram que a Grande Mancha Escura havia desaparecido completamente, sem deixar nenhum vestígio. As tempestades ciclônicas no planeta parecem formar "buracos" nas camadas superiores de nuvens, revelando as camadas inferiores. Contudo, em 1994, o Hubble permitiu observar uma nova grande tempestade no outro hemisfério similar à observada pela Voyager 2, apelidada de Grande Mancha Escura do Norte, que durou por dois anos. As fotografias da Voyager mostraram, ainda, um conjunto de nuvens brancas próximas à região da Grande Mancha Escura, mas que circulavam o planeta mais rápido, por isso foram apelidadas de "Scooter". Ao sul da grande mancha existia outra tormenta de dimensões menores, nomeada Pequena Mancha Escura. Magnetosfera. Netuno, conforme descoberto a partir de dados enviados pela Voyager 2, possui um campo magnético cujos dipolos principais estão inclinados 47° em relação ao seu eixo de rotação, além de seu centro estar deslocado do centro do planeta, com distância superior a meio raio do planeta. Por este motivo, os polos magnéticos encontram-se em baixas latitudes no planeta, além de ser mais intenso no hemisfério sul, em direção ao qual está deslocado. A intensidade do campo magnético ao nível atmosférico de 1 bar varia entre 1 e 0,1 gauss entre os hemisférios sul e norte, respectivamente. Sua origem possivelmente é a corrente de fluidos ionizados em seu interior, criando o efeito de dínamo similar ao da Terra e de Urano. A circulação de cargas elétricas nas camadas internas (localizadas possivelmente na metade do raio do planeta). A distribuição do campo magnético netuniano, entretanto, apresenta uma configuração complexa, na qual ocorre a superposição de um campo quadrupolo, o qual produz quatro polos magnéticos igualmente espaçados entre si, e octopolo cuja intensidade por vezes supera o dipolo, sendo o caso mais intenso deste fato em todo o Sistema Solar. A magnetosfera de Netuno, a região livre dos efeitos do vento solar criada pelo campo magnético do planeta, estende-se desde o arco de choque (região onde as partículas do vento solar são desaceleradas pelo campo magnético), situado a cerca de 39 raios do planeta a frente de si, até a magnetopausa, a 26 raios do planeta na direção oposta. A configuração da magnetosfera de Netuno varia conforme a rotação do planeta e do campo magnético transcorrem, variando desde uma configuração normal semelhante ao campo magnético terrestre até aquela em que o polo magnético aponta diretamente na direção do vento solar, cujos ciclos se repetem a cada rotação do planeta. Isto causa o aquecimento das camadas mais altas da atmosfera bem como a emissão irregular de radiação eletromagnética no comprimento de onda do rádio. De fato a magnetosfera de Netuno possui a menor densidade de prótons e elétrons em comparação com os demais gigantes gasosos. A tênue atmosfera de Tritão, seu maior satélite natural, fornece íons de nitrogênio para a magnetosfera. Contudo, a constante desorientação da magnetosfera netuniana faz com que as partículas presas no mesmo passem pelos satélites e anéis do planeta, que acabam por absorvê-las. Fracas emissões de auroras foram detectadas em Netuno, possivelmente originadas próximas aos polos magnéticos. Movimentos orbitais. Netuno completa uma translação ao redor do Sol a cada 164,79 anos terrestres, orbitando a uma velocidade de aproximadamente 5,45 quilômetros por segundo. A partir do ponto onde foi descoberto, Netuno completou sua primeira órbita somente em julho de 2011. O semieixo maior da órbita do planeta, a distância média entre ele e o Sol, mede aproximadamente 30 unidades astronômicas, o que equivale a 4,49 bilhões de quilômetros. A órbita de Netuno possui uma excentricidade de somente 0,011, o que faz com que seja uma das mais circulares dentre os planetas do Sistema Solar. As primeiras tentativas de se obter com precisão o período de rotação de Netuno foram feitas utilizando-se técnicas de espectroscopia e fotometria, o que deixava considerável incerteza nas medições. A espectroscopia permitia obter as velocidades com que os dois limbos se moviam em relação à Terra e, conhecendo-se o diâmetro, obtinha-se o período de rotação. A fotometria buscava observar a variação de brilho causada pela visibilidade de uma grande estrutura em Netuno, medindo-se o intervalo transcorrido entre elas. Somente em 1979 os telescópios atingiram porte suficiente para distinguir regiões brilhantes, as nuvens, a partir do qual obteve-se um período de rotação de cerca de 17 horas. Contudo, além da imprecisão dos equipamentos utilizados, estes instrumentos obtinham a velocidade somente da atmosfera do planeta. Os ventos giram em velocidades diferentes conforme as bandas de circulação do planeta. Além disso, assim como os demais gigantes gasosos, o planeta apresenta rotação diferencial. Somente após a visita da Voyager 2 que o período de rotação do centro do planeta foi estabelecido com razoável precisão, sendo de 16 horas e sete minutos. O eixo de rotação de Netuno é inclinado em 28,3°, similar à inclinação do eixo terrestre, que é de 23,5°. Por isso o planeta apresenta variações sazonais da radiação solar recebida nos hemisférios norte e sul tal como a Terra, embora em Netuno cada estação dure aproximadamente 41 anos. Interação gravitacional com corpos menores. A influência gravitacional de Netuno possui importante papel no movimento orbital dos objetos que se encontram além de sua órbita, no Cinturão de Kuiper, povoado por grandes corpos gelados e planetas anões. Alguns destes objetos entram em órbitas ressonantes com a órbita do planeta, o que geralmente faz com que as órbitas sejam estáveis, evitando-se o encontro dos corpos com Netuno, o qual desviaria fortemente sua trajetória. O planeta anão Plutão está em ressonância 2:3 com Netuno, ou seja, enquanto Netuno completa duas voltas ao redor do Sol, Plutão completa exatamente três. Assim, mesmo apesar da órbita de Plutão se aproximar mais do Sol do que a de Netuno em um certo trecho, os dois corpos nunca se aproximam. Para valores comuns de ressonância são dados nomes aos grupos de corpos com este comportamento. Corpos que estão em ressonância 2:3 recebem a denominação coletiva de plutinos, enquanto os que estão em ressonância 1:2 são os twotinos. A órbita de Netuno é compartilhada com objetos troianos, que encontram-se distribuídos próximo aos pontos localizados 60° a frente e atrás do planeta, nos pontos de Lagrange L4 e L5, respectivamente. Em janeiro de 2016, somente doze troianos foram descobertos na órbita de Netuno, sendo nove deles localizados à frente do planeta. O primeiro a ser descoberto foi o , durante o programa Deep Ecliptic Survey em busca de corpos menores. A população de troianos netunianos, entretanto, deve ser muito maior, possivelmente comparável à quantidade de troianos de Júpiter ou mesmo maior. Isto porque os pontos de Lagrange são gravitacionalmente estáveis, assim como na órbita jupiteriana. Somente um quasi-satélite do planeta Netuno foi descoberto até o presente momento, o asteroide (309239) 2007 RW10. Visto de Netuno, este objeto com 250 quilômetros de diâmetro parece orbitar ao seu redor, embora orbite o Sol. Está em ressonância 1:1 com o planeta, embora deva permanecer nesta configuração somente nos próximos anos. Formação e evolução. O planeta Netuno se formou a partir da acreção de parte da matéria do disco protoplanetário existente ao redor do Sol primordial, inicialmente pela fusão de diversos planetesimais, de acordo com a hipótese nebular. Posteriormente, o núcleo de rocha ou gelo que se formara adquiriu dimensões suficientes para atrair o gás e a matéria ao seu redor até que o disco desaparecer por completo. Esse processo teria durado somente dez milhões de anos. Após cessada a absorção de gases, muitos planetesimais que não foram incorporados aos planetas gigantes ficaram entre suas órbitas. Modelos numéricos sugerem que Netuno teria se formado bem mais próximo do Sol, somente a 23 UA. Contudo, a interação gravitacional dos gigantes gelados com os planetesimais os jogava para o interior do Sistema Solar (causando o período caótico do intenso bombardeio tardio) e, por conservação de energia, impulsionava Urano e Netuno para mais longe do Sol. A migração planetária pela qual o planeta passou teve reflexo na configuração do Cinturão de Kuiper, arrastando alguns objetos para órbitas ressonantes, nas quais se mantêm até o presente momento, ou direcionando-os para fora de sua órbita. Tritão provavelmente não se formou próximo a Netuno, mas teria sido capturado pela gravidade do planeta em algum momento em sua história, por isso possui uma órbita retrógrada. Sua aproximação ao planeta teria perturbado a órbita de eventuais satélites preexistentes, levando à colisão entre eles. A configuração natural da órbita de Tritão faz com que o mesmo se aproxime gradualmente do planeta até que, em algum momento no futuro, o satélite atinja o limite de Roche e a gravidade de Netuno o faça se romper completamente, formando-se então um grande sistema de anéis. Anéis. Netuno é circundado por um tênue sistema de anéis, de cuja existência se suspeitava desde a década de 1980, e que vieram a ser confirmados pela sonda Voyager 2. Observava-se uma redução do brilho das estrelas nas proximidades do planeta durante uma ocultação, mas nunca de forma simétrica. As fotografias da Voyager 2 mostraram se tratar na verdade de anéis com pouco material em si, boa parte concentrada em aglomerações que formam arcos, mais brilhantes em comparação com o restante do próprio anel, característica única no Sistema Solar. Os anéis são formados em sua maioria por partículas de poeira escuras que refletem pouca luz solar, possivelmente formadas por gelo de metano. Os arcos formados em um dos anéis poderiam ser criados pela recente desfragmentação de um pequeno satélite há alguns milhares de anos. Suspeita-se que todo o sistema de anéis seja relativamente jovem, podendo ter sido formado há menos de um milhão de anos. O sistema de anéis, de acordo com contínuas observações, mostra-se instável, por conta de que alguns dos arcos estão se tornando mais rarefeitos e desaparecendo. Satélites naturais. Netuno possui quatorze satélites naturais conhecidos. O maior deles é Tritão, que possui muitas características peculiares. Uma delas é que o satélite circula Netuno em uma órbita retrógrada, ou seja, em sentido oposto ao de rotação do planeta, sendo o único dos grandes satélites do Sistema Solar a executar tal movimento, o que poderia ser explicado se o satélite não tivesse se formado junto com o planeta, mas tivesse sido capturado por este posteriormente. Tritão possui aproximadamente quilômetros de diâmetro, sendo mais de 6 vezes maior que Proteu, a segunda maior lua do planeta, que possui 420 quilômetros de diâmetro. Sua superfície é formada por camadas de nitrogênio, metano e dióxido de carbono congelados, marcados por características que sugerem atividade geológica. Tritão possui ainda uma atmosfera rarefeita e praticamente transparente, composta principalmente de nitrogênio. O satélite possui uma das menores temperaturas já detectadas no Sistema Solar, atingindo somente 35 K (-238 °C). Nereida que, junto com Tritão e Larissa, eram os únicos satélites conhecidos de Netuno até o sobrevoo da Voyager 2, possui uma órbita extremamente elíptica e diâmetro de somente 340 km. Além de seu pequeno tamanho, possui uma baixa refletividade, o que torna sua observação extremamente difícil a partir da Terra. É o terceiro maior satélite natural do sistema netuniano, precedido por Proteu, cujo diâmetro é de 420 km. Além de Proteu, outros cinco satélites naturais foram descobertos a partir de imagens da Voyager 2, dentre eles Náiade, Talassa, Despina e Galateia, e o restante a partir dos grandes telescópios na Terra. A configuração peculiar do sistema de satélites e anéis de Netuno sugere uma história conturbada. Em especial, a captura gravitacional de Tritão por Netuno pode ser a causa da órbita incomum de Nereida, assim como ser responsável por limpar as proximidades de sua órbita ao redor do planeta. Além disso, a existência de muitas pequenas luas nas proximidades dos anéis pode ser a fonte de poeira que mantém os anéis, através de pequenos impactos que acontecem com cometas ou meteoros. Observação e exploração. Por conta de sua imensa distância à Terra, Netuno não pode ser observado a olho nu, pois apresenta uma magnitude que varia de aproximadamente +7,8 a +8, enquanto, em uma noite escura as estrelas mais fracas observáveis possuem magnitude de +6. Por isso sua observação pode ser feita somente com o auxílio de um telescópio. Tritão, brilha com uma magnitude de somente +13,4, sendo necessário no mínimo um telescópio de 200 mm para observá-lo. O disco visível do planeta Netuno possui um diâmetro angular que varia entre 2,2 e 2,4 segundos de arco, por isso sua observação é fortemente perturbada pela turbulência atmosférica. O período sinódico, no qual o planeta retorna à mesma longitude na esfera celeste a partir da Terra é de 367,5 dias. O albedo de Netuno é de 0,29, ou seja, o planeta reflete quase um terço da luz que recebe do Sol. Os desenhos astronômicos de Galileu mostram que ele observou Netuno no dia 28 de dezembro de 1612, e outra vez no dia 27 de janeiro de 1613; em ambas as ocasiões, o planeta estava muito próximo — em conjunção — a Júpiter. Mas, como pensou que se tratasse de uma estrela fixa, não lhe pode ser creditada a descoberta. Durante o período da sua primeira observação em dezembro de 1612, o movimento aparente de Netuno estava excepcionalmente lento, pois, no mesmo dia, o planeta havia iniciado o período retrógrado do seu movimento aparente no céu, que não podia ser percebido da Terra por meio dos instrumentos primitivos de Galileu. Descoberta. A partir da descoberta de Urano em 1781, sua órbita passou a ser detalhadamente estabelecida a partir de numerosas observações, feitas principalmente pelo astrônomo francês Jean Baptiste Joseph Delambre. Entretanto, a posição observada do planeta não concordava com os cálculos estabelecidos, ou seja, não ocupava exatamente a posição prevista por modelos matemáticos, estando um pouco atrasado ou um pouco adiantado em sua órbita. Sugeriu-se, então, que estas perturbações gravitacionais seriam causadas por outro corpo celeste que orbitaria o Sol além de Urano. Desta forma, a partir de cuidadosas observações das variações da posição de Urano, seria possível calcular a posição do corpo desconhecido. O desafio foi aceito por John Couch Adams, um astrônomo da Universidade de Cambridge, em 1843, quando passou a trabalhar com os dados obtidos até então, provando matematicamente ser possível a existência de um outro corpo celeste que seria responsável pela perturbação da órbita de Urano. Ele enviou os resultados para George Biddell Airy, astrônomo real britânico, que não fez nada com os resultados enviados por Adams até 1846, quando outro astrônomo francês, Urbain Le Verrier publicou resultados de seus cálculos independentes da localização do novo planeta, semelhante à posição obtida por Adams. Airy então designou dois astrônomos, James Challis e William Lassell, para procurarem o planeta. Em duas ocasiões, Challis afirmou ter visto o planeta, mas suas observações precisavam ser confirmadas. Sua estratégia para encontrar o planeta consistia em observar certa região do céu e comparar com as cartas estelares. Uma estrela observada que não estivesse na carta possivelmente seria o planeta. Enquanto isso, Le Verrier, por carta, persuadiu o astrônomo Johann Gottfried Galle, do Observatório de Berlim, a procurar com o telescópio refrator do local. Heinrich Louis d'Arrest, um estudante, sugeriu a Galle que eles comparassem uma carta do céu recentemente desenhado na região do local previsto por Le Verrier com o céu observado no momento para procurar pelo deslocamento característico do planeta. Na mesma noite do recebimento da carta, em 23 de setembro de 1846, encontraram uma "estrela" que não estava nas cartas. Na noite seguinte observaram sua ligeira mudança de posição, o que confirmava de fato se tratar de um planeta, que estava a um grau de onde Le Verrier previra que estaria, e a cerca de 12° da previsão de Adams. Posteriormente, Challis percebeu que ele havia observado o planeta duas vezes em agosto, mas não o identificara devido à sua abordagem casual do trabalho. Na época da descoberta, houve muita rivalidade entre franceses e britânicos sobre qual país merecia os créditos pela descoberta. Posteriormente, chegou-se a um consenso internacional de que Le Verrier e Adams mereciam o crédito em conjunto. No entanto, a questão está agora sendo reavaliada por historiadores, devido à redescoberta, em 1998, dos "papéis sobre Netuno" (documentos históricos do Observatório de Greenwich), que foram aparentemente roubados pelo astrônomo Olin J. Eggen e escondidos por quase três décadas, sem serem redescobertos (em sua possessão) até imediatamente após sua morte. Após a revisão dos documentos, alguns historiadores agora sugerem que Adams não merece crédito igualmente a Le Verrier. Desde 1966, Dennis Rawlins tem questionado a credibilidade da reivindicação de Adams de co-descoberta. Em um artigo de 1992, em seu jornal "Dio", ele considera a reivindicação britânica um "roubo". "Adams fez alguns cálculos, mas ele estava um tanto incerto sobre onde ele dizia que estava Netuno", diz Nicholas Kollerstrom, da University College London em 2003. A nomeação. Pouco depois da sua descoberta, Netuno foi simplesmente chamado de "planeta exterior a Urano". Galle foi o primeiro a sugerir um nome, propondo nomeá-lo em homenagem ao deus Jano. Na Inglaterra, Challis propôs o nome "Oceano". Reivindicando o direito de nomear a sua descoberta, Le Verrier rapidamente propôs o nome "Netuno" para o seu novo planeta, afirmando falsamente que o nome já havia sido oficialmente aprovado pelo Bureau des Longitudes francês. Em outubro, chegou a denominar o planeta "Le Verrier", com o seu próprio nome, e foi lealmente apoiado pelo diretor do Observatório de Paris, François Arago. No entanto, como essa sugestão encontrou dura oposição fora da França, os almanaques franceses rapidamente reintroduziram o nome "Herschel" para "Urano", em homenagem ao seu descobridor, Sir William Herschel, e "Leverrier" para o novo planeta. Em 29 de dezembro de 1846, Friedrich Georg Wilhelm Struve declarou-se publicamente a favor do nome "Netuno" para a Academia de Ciências da Rússia e, em poucos anos, "Netuno" tornou-se o nome internacionalmente aceito. Na mitologia romana, Netuno é o deus dos mares, identificado com o grego Poseidon. O uso de um nome mitológico parecia concordar com a nomenclatura dos outros planetas, que foram nomeados em homenagem a deuses romanos. Observações posteriores. Já em 10 de outubro de 1846, 17 dias após a descoberta de Netuno, o astrônomo inglês William Lassell descobriu o seu principal satélite, Tritão, a pedido de John Herschel, que lhe escrevera uma carta nove dias antes. Ao fim do século XIX, criou-se a hipótese de que irregularidades observadas no movimento de Urano e Netuno fossem causados pela presença de um outro planeta mais exterior. Após extensas campanhas de busca, Plutão foi descoberto em 18 de fevereiro de 1930, nas coordenadas previstas pelos cálculos de William Henry Pickering e Percival Lowell. No entanto, o novo planeta estava muito distante para que pudesse gerar a irregularidade observada no movimento de Urano, enquanto a irregularidade do movimento de Netuno era, na verdade, um erro no cálculo da massa do planeta (que foi definida com a missão da Voyager 2), e que, além disso, originava da irregularidade de Urano. A descoberta de Plutão foi, portanto, um tanto acidental. Devido à sua grande distância, pouco se sabia sobre Netuno, pelo menos até a metade do século XX, quando Gerard Kuiper descobriu a sua segunda lua, Nereida. Nos anos setenta e oitenta, surgiram indícios sobre a probabilidade da presença de anéis ou arcos de anéis. Em 1981, Harold Reitsema descobriu a sua terceira lua, Larissa. Exploração. A maior quantidade de dados obtida sobre o planeta foi coletado a partir da única sonda que já passou próxima a Netuno, a Voyager 2. Lançada em 1977, a sonda estava inicialmente programada para visitar Júpiter e Saturno, mas aproveitou-se da posição favorável para visitar os dois outros gigantes, Urano e Netuno, em uma única viagem, através da técnica de gravidade assistida, na qual a atração gravitacional de um planeta é utilizada para direcionar a sonda para o seguinte. A Voyager 2 realizou sua máxima aproximação entre 24 e 25 de agosto de 1989, quando passou a menos de cinco mil quilômetros acima da atmosfera do planeta, embora as observações tenham transcorridos entre junho e outubro do mesmo ano. Algumas horas depois passou a quarenta mil quilômetros de Tritão, reunindo imagens de alta resolução de sua superfície. A proximidade permitiu à sonda coletar dados detalhados sobre as dimensões, composição e campo magnético, além de descobrir o sistema de anéis e seis novos satélites naturais e acompanhar sua complexa dinâmica atmosférica, através de cerca de dez mil fotografias enviadas, além de outros dados. Oficialmente, não há missões planejadas para o planeta Netuno, embora muitas propostas tenham sido feitas, entre elas o Neptune/Triton Orbiter. Entretanto, a observação do planeta se manteve contínua, utilizando-se do Telescópio Espacial Hubble e os grandes telescópios espalhados pelo mundo. Estas observações permitem acompanhar a dinâmica do surgimento de nuvens e tempestades na atmosfera do planeta, através de equipamentos que permitem coletar dados em vários comprimentos de onda. Contudo o nível de detalhe é muito inferior à riqueza de detalhes fornecida pela sonda.
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Navegador web
Navegador web Um navegador de rede, navegador "web", navegador da internet ou simplesmente navegador (), é um programa que habilita seus usuários a interagirem com documentos HTML hospedados em um servidor da rede. Tim Berners-Lee, que foi um dos pioneiros no uso do hipertexto como forma de compartilhar informações, criou o primeiro navegador, chamado WorldWideWeb (www), em 1990. Mais tarde, para não confundir-se com a própria rede, trocou de nome para Nexus. A "web", entretanto, só explodiu realmente em popularidade com a introdução do NCSA 'Mosaic, que era um navegador gráfico (em oposição a navegadores de modo texto) rodando originalmente no Unix, mas que foi também portado para o Macintosh e Microsoft Windows logo depois. A versão 1.0 foi liberada em setembro de 1993. Marc Andreesen, o líder do projeto Mosaic na NCSA, demitiu-se para formar a companhia que seria conhecida mais tarde como Netscape Communications Corporation. História. Os primeiros navegadores exibiam apenas texto (exemplo: imagem ao lado), no decorrer do tempo foram inseridas novas funcionalidades. Com o advento da "Internet", o conhecimento gerado por todos os seus usuários ganhou uma nova forma de ser exibida e gerada, ampliou-se o campo da informação. A ferramenta mais popular de visualização de informações disponíveis na internet é o navegador. Com o advento das rede sociais o usuário dos navegadores passaram a ser um dos grandes geradores de informação, por exemplo facebook, twitter ... Logo o navegador é uma ferramenta que nos auxilia a visualizar e gerar conteúdo na internet. Os navegadores atuais são compostos por diversos componentes. Na o navegador é um "software". Personagens desta história. Tim Berners-Lee, que foi um dos pioneiros no uso do hipertexto como forma de compartilhar informações, criou o primeiro navegador, chamado WorldWideWeb, em 1990. Ele ainda o introduziu como ferramenta entre os seus colegas do CERN em Março de 1991. E tem sido intrinsecamente ligado ao desenvolvimento da própria "Web". A "Web", entretanto, só explodiu realmente em com a introdução do NCSA Mosaic, que era um navegador gráfico (em oposição a navegadores de modo texto) rodando originalmente no Unix, mas que foi também portado para o Apple Macintosh e Microsoft Windows logo depois. A versão 1.0 do Mosaic foi lançada em setembro de 1993. Marc Andreessen, o líder do projeto Mosaic na NCSA, demitiu-se e fundou a Netscape Communications. A Netscape lançou o seu produto líder Navigator em outubro de 1994, e este tornou-se o mais popular navegador no ano seguinte. A Microsoft, que até então havia ignorado a "Internet", entrou na briga com o seu Internet Explorer, comprado apressadamente da Splyglass Inc. Isso marca o início da Guerra dos navegadores, que foi a luta pelo mercado dessas aplicações entre a gigante Microsoft e a companhia menor largamente responsável pela popularização da "Web", a Netscape. O Opera, um navegador rápido e pequeno, popular principalmente em Compu1996 e permanece um produto de nicho no mercado de navegadores para os computadores pessoais ("PC"). Essa disputa colocou a "Web" nas mãos de milhões de usuários ordinários do "PC", mas também mostrou como a comercialização da "Web" podia arruinar os esforços de padronização. Tanto a Microsoft como a Netscape deliberadamente incluíram extensões proprietárias ao HTML em seus produtos, e tentaram ganhar superioridade no mercado através dessa diferenciação. A disputa terminou em 1998 quando ficou claro que a tendência no declínio do domínio de mercado por parte da Netscape era irreversível. Isso aconteceu, em parte, pelas ações da Microsoft no sentido de integrar o seu navegador com o sistema operacional e o empacotamento do mesmo com outros produtos por meio de acordos OEM; a companhia acabou enfrentando uma batalha legal em função das regras antitruste do mercado norte-americano. A Netscape respondeu liberando o seu produto como código aberto, criando o Mozilla. O efeito foi simplesmente acelerar o declínio da companhia, por causa de problemas com o desenvolvimento do novo produto. A companhia acabou comprada pela AOL no fim de 1998. O Mozilla, desde então, evoluiu para uma poderosa suíte de produtos "Web" com uma pequena mas firme parcela do mercado. O Lynx Browser permanece popular em certos mercados devido à sua natureza completamente textual. Apesar do mercado para o Macintosh ter sido tradicionalmente dominado pelo Internet Explorer e pelo Netscape Navigator, o futuro parece pertencer ao próprio navegador da Apple Inc., o Safari, que é baseado no mecanismo de renderização KHTML, parte do navegador de código aberto Konqueror. O Safari é o navegador padrão do Mac OS X. Em 2003, a Microsoft anunciou que o Internet Explorer não seria mais disponibilizado como um produto separado, mas seria parte da evolução da plataforma Windows, e que nenhuma versão nova para o Macintosh seria criada. Expectativas para o futuro. Em 2008, a W3C anunciou a especificação do HTML5, que entre outras, muda a forma de "execução e funcionamento" dos navegadores, fazendo com que os mesmos não mais executem as linhas de comandos em HTML, buscando os recursos agregados (arquivos contendo dados e informações, ou mesmo, configurações adicionais de funcionamento), atrelando programas adicionais à sua execução (como "plugin"), e como ocorre atualmente (2010), limitando o acesso a alguns conteúdos da "Web", que ficam "amarrados" a programas de terceiros (outras empresas). Assim sendo, a especificação HTML5 propicia uma liberdade incondicional do navegador, transformando-o de mero "exibidor e agregador" em um "programa "on-line"", que contém as especificações (comandos) de forma única, não sendo necessário o complemento de outros recursos e ferramentas. Excetuando-se o IE8, todos os demais navegadores já contêm o algoritmo que os torna "compatíveis" com a especificação HTML5. Características. Os principais navegadores possuem características em comum na interface tais como: voltar para a página anterior, ir para página posterior, recarregar ("refresh") a página atual, espaço para digitar a URL, estratégias para escolher sites favoritos e o conceito de abas (entre outros). Uma outra característica comum entre eles é apresentar um histórico dos "sites" navegados ao longo do tempo. Diferentes navegadores podem ser distinguidos entre si pelas características que apresentam. Navegadores modernos e páginas "Web" criadas mais recentemente tendem a utilizar muitas técnicas que não existiam nos primórdios da "Web". Como notado anteriormente, as disputas entre os navegadores causaram uma rápida e caótica expansão dos próprios navegadores e padrões da "World Wide Web". A lista a seguir apresenta alguns desses elementos e características: Protocolos e padrões. Eles comunicam-se geralmente com servidores da rede (podendo hoje em dia se comunicar com vários tipos de servidores), usando principalmente o protocolo de transferência de hipertexto HTTP para efetuar pedidos a , e processar respostas vindas do servidor. Estes arquivos, são por sua vez identificados por um URL. O navegador tem a capacidade de ler vários tipos de arquivos, sendo nativo o processamento dos mais comuns (HTML, XML, JPEG, GIF, PNG, etc.), e os restantes possíveis através de "plugins" (Flash, Java, etc.). Os navegadores tem a capacidade de trabalhar também com vários outros protocolos de transferência. A finalidade principal do navegador é fazer-se o pedido de um determinado conteúdo da "Web" e providenciar a exibição do mesmo. Geralmente, quando o processamento do ficheiro não é possível através do mesmo, este apenas transfere o ficheiro localmente. Quando se trata de texto (Markup Language e/ou texto simples) e/ou imagens bitmaps, o navegador tenta exibir o conteúdo. Os primeiros navegadores suportavam somente uma versão mais simples de HTML. O rápido desenvolvimento do mercado de navegadores levou à criação de dialetos não padronizados do HTML, causando problemas de interoperabilidade na "Web". Navegadores mais modernos (tais como o Mozilla Firefox, Opera, Google Chrome, Apple Safari e Microsoft Internet Explorer) suportam versões padronizadas das linguagens HTML e XHTML (começando com o HTML 4.01), e mostram páginas de uma maneira uniforme através das plataformas em que rodam. Alguns dos navegadores mais populares incluem componentes adicionais para suportar Usenet e correspondência de "e-mail" através dos protocolos NNTP e SMTP, IMAP e POP3 respectivamente Segurança. Hoje em dia, a maioria suporta protocolo de transferência de hipertexto seguro (HTTPS) [identificado no browser por um cadeado fechado] e oferecem uma forma rápida e fácil para deletar "cache" da "web", "cookies" e histórico. Com o crescimento e as inovações das técnicas de invasões e infecções que existem na "Internet", torna-se cada vez mais necessária segurança nos navegadores. Atualmente (2007) eles são "obrigados" a possuir proteções contra "scripts" maliciosos, entre outros conteúdos maliciosos que possam existir em páginas "web" acessadas. Podemos destacar o esforço da W3C (principal organização de padronização da rede mundial de computadores) com o CSP - Content Security Policy (em inglês ou "Política de Segurança do Conteúdo" tradução livre). O CSP destina-se a ajudar os criadores da Web ou os administradores de servidores a especificar como o conteúdo interage nos seus sites. A segurança dos navegadores gera disputa entre eles em busca de mais segurança. Sua proteção tem que ser sempre atualizada, pois com o passar do tempo, surgem cada vez mais novas técnicas para burlar os sistemas de segurança dos navegadores.
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Napster
Napster Napster, criado por Shawn Fanning e seu co-fundador Sean Parker, é um serviço de streaming de música pertencente à Rhapsody Internatonal Inc, contando com aproximadamente 40 milhões de faixas. Anteriormente, foi o programa de compartilhamento de arquivos em rede P2P criado em 1999, que protagonizou o primeiro grande episódio na luta jurídica entre a indústria fonográfica e as redes de compartilhamento de música na Internet. Compartilhando, principalmente, arquivos de música no formato MP3, o Napster permitia que os usuários fizessem o "download" de um determinado arquivo diretamente do computador de um ou mais usuários de maneira descentralizada, uma vez que cada computador conectado à sua rede desempenhava tanto as funções de servidor quanto as de cliente. História. A primeira versão foi lançada na Internet em 1999. Seu criador visava facilitar a forma como obtinha músicas MP3 na Internet - nesta época, isso não era tarefa fácil, era preciso domínio de muitas ferramentas, esforço e sobretudo paciência. Foi então que Shawn Fanning teve a brilhante ideia: "Que bom que seria se todo mundo pudesse compartilhar as suas coleções de músicas e baixar novos arquivos MP3 diretamente nos computadores dos outros usuários". O Napster começou a ganhar popularidade já no início de 2000 quando também veio a se tornar uma empresa. Novas versões eram lançadas mensalmente e o número de usuários quadruplicava todas as semanas. Em seu auge, em Janeiro de 2001, o Napster teve um pico de 8 milhões de usuários conectados trocando diariamente um volume estimado de 20 milhões de canções. No início de 2001 não resistiu a uma série de ações legais e o serviço foi fechado em março. Várias companhias da indústria fonográfica decidiram processar o serviço, acusando de promover a pirataria e possibilitar a troca de arquivos de áudio protegidos por direito autoral. Os servidores do Napster foram desligados após uma batalha judicial travada entre seus operadores e a Recording Industry Association of America (RIAA) e, em dezembro de 2002, foi comprado pelo grupo Roxio, fabricante de softwares para gravação de CD e DVD, e passou a vender as músicas arquivadas aos usuários. As grandes empresas da indústria fonográfica, como a Sony e a Warner acusaram o Napster de violar a Lei de Copyright, ajudando a disseminar ilegalmente arquivos protegidos por tal lei. A banda Metallica se declarou publicamente contra o Napster. O baterista da banda, Lars Ulrich, tomou a frente das acusações, movendo ações legais contra o software. Se no início do ano de 2001, artistas uniram-se à batalha contra o file sharing, no cenário musical era possível encontrar artistas com opinião contrária, defendendo a forma utilizada pelo público para consumo da música. Tom Morello é um exemplo. Quando a Sony, proprietária legal dos direitos de suas músicas, utilizou a Digital Millenium Copyright Act (DMCA, sigla para Lei dos Direitos Autorais do Milênio Digital em português), para bloquear usuários que compartilhavam faixas do álbum Renegades por meio do Napster, Morello declarou-se totalmente ofendido com a decisão de sua gravadora, anunciando que outras faixas em MP3 estariam disponíveis para download no site da banda. Mas a revolução não acabou e mudou a indústria fonográfica para sempre: isso porque novos programas que faziam o mesmo que o Napster surgiram no mesmo ano - WinMX, Kazaa, eDonkey, Morpheus, Audiogalaxy. Napster Network. Napster Network é uma rede de P2P, a primeira rede popularizada foi a utilizada pelo programa Napster e sendo encerrada em 2001. Foi criada uma rede paralela no final de 2016, chamada também de OpenNap. É importante frisar que o Napster atualmente é um serviço de compra de músicas pela Internet e possui uma estrutura cliente-servidor tradicional. Legado. O Napster e o MP3 são associados a revolução da música digital que mudou a indústria da música para sempre. As gravadoras tiveram perdas massivas na vendas de álbuns em meio físico, ano após ano desde 2000. Foi então que a Apple Inc. começou a vender música em formato digital (AAC) pela iTunes Music Store por um preço abaixo do que os aplicados pelas gravadoras, começando a lucrar com negócio. Além de oferecer música online por um preço acessível, as primeiras interfaces da loja virtual de Steve Jobs era muito parecida com o próprio Napster. A semelhança ajudou que os usuários se adaptassem facilmente a nova forma de consumir música. Porém, na época, o que mais importava com esse novo negócio da Apple era a venda de seu tocador de música digital, o iPod. O player acompanhou a revolução na música digital; ao comprar uma música na iTunes Store, era muito fácil transferir os arquivos para o iPod. Mesmo com essas iniciativas de sucesso na comercialização de música digital online, ainda hoje é possível obter música em formato MP3 de forma ilegal e não autorizada através de aplicações como eMule, Ares Galaxy e BitTorrent. O aplicativo BitTorrent, muitas vezes confundido com o próprio torrent, é um dos mais conhecidos e utilizados para o compartilhamento de arquivos torrent. Por permitir que arquivos maiores circulassem na rede, o torrent foi responsável por um episódio parecido ao acontecido com o Napster, a acusação do The Pirate Bay. Atualidade. Hoje em dia, o Napster é um serviço de streaming de músicas online com o plano de R$ 17,90. Contando com cerca de 60 milhões de faixas, 4 milhões de álbuns e 2 milhões de artistas, nele há rádios personalizadas de acordo com gênero musical, que vão se aperfeiçoando com o tempo de uso, e recursos como o Car Mode, que facilita a navegação quando o usuário está dirigindo, o Kids Mode, otimizado para crianças e uma ferramenta exclusiva, o EarPrint, onde o usuário pode personalizar o som de acordo com sua audição. Além disso, está disponível em diversos países como: Argentina, Áustria, Bélgica, Brasil, Colômbia, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e EUA, entre outros. A empresa também fez parcerias com a operadora Vivo, o Portal Terra, o time Corinthians e a Rede Transamérica.
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Nazismo
Nazismo O nazismo (), oficialmente nacional-socialismo (; ), é uma ideologia associada a Adolf Hitler e ao Partido Nazista (, NSDAP, ou Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães) na Alemanha Nazi. Durante a ascensão de Hitler ao poder era frequentemente referido como hitlerismo. O termo relacionado "neonazismo" é aplicado a outros grupos de extrema-direita com ideias semelhantes que se formaram após o colapso do regime nazista. O nazismo é uma forma de fascismo que despreza a democracia liberal e o sistema parlamentar. Incorpora o racismo científico, o antissemitismo, o anticomunismo e o uso de eugenia no seu credo. O seu nacionalismo extremo tem origem no pangermanismo e do movimento do nacionalismo étnico Völkisch que tem sido um dos principais aspectos do nacionalismo alemão desde o século XIX, e foi fortemente influenciado por grupos paramilitares chamados , que surgiram durante a República de Weimar após a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, de onde surge o "culto à violência" do partido. O termo "nacional-socialismo" surgiu a partir da tentativa de redefinição nacionalista do conceito de "socialismo", para criar uma alternativa tanto ao socialismo internacionalista marxista quanto ao capitalismo de livre mercado. A ideologia rejeitava o conceito de luta de classes, assim como defendia a propriedade privada e as empresas de alemães. O nazismo apoiava teorias pseudo-científicas como a hierarquia racial e o darwinismo social, que atribuíam aos povos germânicos o mais elevado grau de pureza da raça ariana ou nórdica, que apresentavam como a "raça superior". O movimento tinha como objetivo superar as divisões sociais para criar uma sociedade homogênea, ao mesmo tempo que buscava unidade nacional e tradicionalismo. Os nazistas tentavam conseguir isto através de uma "comunidade do povo" ("Volksgemeinschaft") que iria unir todos os alemães e excluir aqueles considerados como "povos estrangeiros" ("Fremdvölkische"). O nazismo também reivindicava com determinação o que entendia serem territórios historicamente alemães sob a doutrina pangermânica (ou "Heim ins Reich"), além de outras áreas para colonização alemã sob a doutrina de "Lebensraum". O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães ("Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei", NSDAP) foi fundado em 5 de janeiro de 1919. No início dos anos 1920, Adolf Hitler assume o controle da organização e rebatiza-a para Partido Nazista. O Programa Nacional Socialista, aprovado em 1920, apelava por uma Grande Alemanha unida e que negaria cidadania aos judeus ou aos seus descendentes, além de apoiar a reforma agrária e a nacionalização de algumas indústrias. Em "Mein Kampf", escrito em 1924, Hitler delineou o antissemitismo e o anticomunismo no cerne de sua filosofia política, bem como o seu desdém pela democracia parlamentar e sua crença no direito da Alemanha expandir seu território. O poder político era concentrado nas mãos do "Führer" (ou "líder"). Após o Holocausto e a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, apenas alguns grupos radicais racistas, geralmente referidos como neonazistas, ainda descrevem-se como "nacional-socialistas". Etimologia. O nome completo do partido era "Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei" (em português: Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães) e oficialmente usavam a sigla NSDAP. O termo "nazista" já era usado antes do surgimento do NSDAP como uma palavra coloquial e depreciativa para um fazendeiro ou camponês retrógrado, caracterizando uma pessoa desajeitada. Nesse sentido, a palavra "nazista" era um hipocorístico do nome masculino alemão "Igna(t)z" (em si uma variação do nome Inácio). Igna(t)z era um nome comum na época na Baviera, a área de onde o NSDAP surgiu. Na década de 1920, oponentes políticos do NSDAP no movimento trabalhista alemão aproveitaram isso. Usando o termo "Sozi" para "Sozialist" por exemplo eles abreviaram o nome do NSDAP, "Nationalsozialistische", para desdenhoso "Nazi", a fim de associá-los ao uso depreciativo do termo mencionado acima. O primeiro uso do termo "nazista" pelos nacional-socialistas ocorreu em 1926 em uma publicação de Joseph Goebbels chamada "Der Nazi-Sozi" ("O Nazi-Sozi"). No panfleto de Goebbels, a palavra "nazista" só aparece quando associada à palavra "Sozi" como uma abreviatura de "nacional-socialismo". Após a ascensão do NSDAP ao poder na década de 1930, o uso do termo "nazista" por si só ou em termos como "Alemanha nazista ", "regime nazista" e assim por diante foram popularizados por exilados alemães fora do país, mas não na Alemanha. A partir deles, o termo se espalhou para outras línguas e acabou sendo trazido de volta para a Alemanha após a Segunda Guerra Mundial. O NSDAP adotou brevemente a designação "nazista" em uma tentativa de reapropriar o termo, mas logo desistiu desse esforço e geralmente evitou usar o termo enquanto estava no poder. Em cada caso, os autores se referem a si próprios como "nacional-socialistas" e seu movimento como "nacional-socialismo", mas nunca como "nazistas". Posição no espectro político. A grande maioria dos estudiosos identificam o nazismo, na prática, como uma expressão da extrema-direita. Entre os temas tipicamente defendidos pela extrema-direita incluídos no nazismo está o argumento de que pessoas "superiores" têm o direito de dominar outros indivíduos e que a sociedade deve expurgar elementos supostamente "inferiores" (vide darwinismo social, antissemitismo e racismo científico). Adolf Hitler e outros membros do partido descreviam oficialmente o movimento nazista como não sendo nem de esquerda e nem de direita, mas sincrético. Em "Mein Kampf", Hitler atacava diretamente tanto os políticos de esquerda quanto os da direita na Alemanha, dizendo: Hitler, quando questionado sobre se apoiava a "burguesia de direita", afirmou que o nazismo não era exclusivamente voltado para qualquer classe social e indicou que não favorecia nem a esquerda nem a direita, mas elementos preservados considerados "puros" de ambos os "campos", ao dizer: "a partir do campo da tradição burguesa, é preciso a determinação nacional, e do materialismo do dogma marxista, o socialismo criativo". Historiadores apontam algumas características socialistas do regime nazista, que tinham como objetivo obter o apoio da classe trabalhadora, mas salientam que elas eram apenas um mecanismo para garantir a adesão para o verdadeiro ideal do nazismo, que era a luta pela supremacia da raça ariana no mundo. "Hitler nunca foi socialista", apontou o historiador britânico Ian Kershaw em sua biografia sobre Hitler. Os nazistas foram fortemente influenciados pela extrema-direita alemã pós-Primeira Guerra Mundial, que tinha crenças comuns, tais como antimarxismo, antiliberalismo e antissemitismo, além do nacionalismo, do desprezo pelo Tratado de Versalhes e da condenação da República de Weimar por conta da assinatura do armistício em novembro de 1918, que mais tarde culminou na assinatura do Tratado de Versalhes. A grande inspiração para os nazistas foram os nacionalistas "Freikorps", organizações paramilitares de extrema-direita que praticavam atos de violência política após a Primeira Guerra Mundial. Inicialmente, a extrema direita alemã pós-Primeira Guerra Mundial era dominada por monarquistas, mas a geração mais jovem, que estava associada ao nacionalismo Völkisch, era mais radical e não manifestava qualquer afetação sobre a restauração da monarquia alemã. Esta geração mais jovem pretendia desmantelar a República de Weimar e criar um novo estado radical e forte baseado numa ética marcial dominante que pudesse reviver o "Espírito de 1914" que estava associado à unidade nacional alemã ("Volksgemeinschaft"). Os nazistas, os monarquistas de extrema direita, o reaccionário Partido Popular Nacional Alemão (DNVP) e outros, como oficiais monarquistas do Exército Alemão e vários industriais proeminentes, formaram uma aliança em oposição à República de Weimar em 11 de outubro de 1931 em Bad Harzburg, oficialmente conhecida como "Frente Nacional", mas vulgarmente conhecida como Frente Harzburg. Os nazistas afirmavam que a aliança era puramente tática e continuaram a ter divergências com o DNVP. Sendo os nazistas um partido antiburguês, consideravam o DNVP como um partido reacionário (antiburguês). Após as eleições de julho de 1932, a aliança desfez-se quando o DNVP perdeu muitos dos seus assentos no Reichstag. Os nazistas acusaram-nos de tratarem-se de "um amontoado insignificante de reaccionários". O DNVP respondeu denunciando os nazistas pelo seu socialismo, a sua violência nas ruas e os "experimentos económicos" que aconteceriam se os nazistas chegassem ao poder. Mas em meio a uma situação política inconclusiva em que os políticos conservadores Franz von Papen e Kurt von Schleicher eram incapazes de formar governos estáveis ​​sem os nazistas, Papen propôs ao presidente Hindenburg nomear Hitler como Chanceler à frente de um governo formado principalmente por conservadores, com apenas três ministros nazistas. Hindenburg fê-lo e, ao contrário das expectativas de Papen e do DNVP, Hitler foi logo capaz de estabelecer uma ditadura de partido único nazista. O Kaiser Wilhelm II, que foi pressionado a abdicar do trono e fugir para o exílio em meio a uma tentativa de revolução comunista na Alemanha, inicialmente apoiou o Partido Nazista. O seus quatro filhos, incluindo o príncipe Eitel Friedrich e o príncipe Óscar, tornaram-se membros do Partido Nazista na esperança de que, em troca do seu apoio, os nazistas permitissem a restauração da monarquia. Havia facções dentro do Partido Nazista, tanto conservadoras quanto radicais. O conservador nazista Hermann Göring instou Hitler a se reconciliar com os capitalistas e reaccionários. Outros notáveis nazistas conservadores foram Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich. Enquanto isso, o radical nazista Joseph Goebbels opunha-se ao capitalismo, considerando que havia judeus no seu núcleo, e manifestou a necessidade de o partido enfatizar tanto o carácter proletário quanto o nacional. Essas opiniões foram compartilhadas por Otto Strasser, que mais tarde deixou o Partido Nazista e formou a Frente Negra na crença de que Hitler teria supostamente traído os objectivos socialistas do partido ao endossar o capitalismo. Quando o Partido Nazista emerge do anonimato para se tornar uma grande força política após 1929, os financiadores ricos interessaram-se pelos nazistas considerando-os como um potencial baluarte contra o comunismo, e a facção conservadora rapidamente ganhou mais influência. O Partido Nazista foi financiado quase inteiramente com taxas de adesão, mas depois de 1929 a sua liderança começou por procurar ativamente doações de industriais alemães, e Hitler deu início a dezenas de reuniões de arrecadação de fundos com líderes empresariais. Em meio a uma Grande Depressão, diante da possibilidade de ruína económica de um lado e de um governo comunista ou social-democrata do outro, as empresas alemãs voltaram-se cada vez mais para o nazismo como uma forma de sair da situação, prometendo um Estado orientado para a economia que apoiaria, em vez de atacar, os interesses comerciais existentes. Em janeiro de 1933, o Partido Nazista garantiu o apoio de importantes sectores da indústria alemã, principalmente entre os produtores de aço e carvão, o setor de seguros e a indústria química. Grandes segmentos do Partido Nazista, particularmente entre os membros do "Sturmabteilung" (SA), estavam comprometidos com as posições socialistas, revolucionárias e anticapitalistas oficiais do partido e previam uma revolução social e económica assim que o partido conquistasse o poder em 1933. No período imediatamente anterior à tomada do poder pelos nazistas, houve até social-democratas e comunistas que trocaram de lado e ficaram conhecidos como "Rindersteak Nazis" ("Nazis Bife"): castanho por fora e vermelho por dentro. O líder da SA, Ernst Röhm, pressionara por uma "segunda revolução" (a "primeira revolução" sendo a tomada do poder pelos nazistas) que promulgaria políticas socialistas. Além disso, Röhm desejava que as SA incorporassem o muito menor Exército Alemão às suas fileiras sob a sua liderança. Assim que os nazistas alcançaram o poder, a SA de Röhm foi liderada por Hitler para suprimir violentamente os partidos da esquerda, mas também para dar início a ataques contra indivíduos considerados associados à reação conservadora. Hitler considerou as ações independentes de Röhm como violadoras e possivelmente ameaçadoras da sua liderança, o que colocariam em risco o regime ao alienar o presidente conservador Paul von Hindenburg e o Exército Alemão de orientação conservadora. Isso resultou na purga de Röhm por Hitler e de outros membros radicais da SA a 30 de junho de 1934, no que veio a ser conhecido como a Noite das Facas Longas. Antes de ingressar no Exército da Baviera para lutar na Primeira Guerra Mundial, Hitler vivia um estilo de vida boémio enquanto pintor de aquarela de rua em Viena e Munique, tentando alguns dos hábitos desse estilo de vida mais tarde, adormecia e acordava muito tarde, mesmo depois de se tornar chanceler e, posteriormente, Führer. Após a guerra, o seu batalhão foi incorporado pela República Soviética da Baviera de 1918 a 1919, onde foi eleito Representante Adjunto do Batalhão. De acordo com o historiador Thomas Weber, Hitler compareceu ao funeral do comunista Kurt Eisner (um judeu alemão), usando uma braçadeira de luto preta num braço e uma braçadeira comunista vermelha no outro, evidenciando que as crenças políticas de Hitler não se tinham ainda solidificado. Em "Mein Kampf", Hitler nunca mencionou qualquer serviço com a República Soviética da Baviera e afirmou que se tornou um antissemita em 1913 durante os seus anos em Viena. Esta declaração foi contestada pela contenção de que ele não era um antissemita naquela época, embora seja bem estabelecido que Hitler lia muitos folhetos e jornais antissemitas durante aquele período e admirava Karl Lueger, o prefeito antissemita de Viena. Hitler alterou as suas visões políticas em resposta à assinatura do Tratado de Versalhes em junho de 1919 tendo sido então quando Hitler se tornou um antissemita nacionalista alemão. Hitler expressou oposição ao capitalismo, considerando-o de origem judaica e acusando o capitalismo de manter nações rendidas aos interesses de uma classe rentista cosmopolita parasita. Também expressou oposição ao comunismo e às formas igualitárias de socialismo, argumentando que a desigualdade e a hierarquia são benéficas para a nação. Acreditava que o comunismo foi inventado pelos judeus para enfraquecer as nações, promovendo a luta de classes. Após a sua ascensão ao poder, Hitler assumiu uma posição pragmática na economia, aceitando a propriedade privada e permitindo que empresas privadas capitalistas existissem desde que aderissem aos objetivos do estado nazista, mas não tolerando empresas que ele considerava opostas aos interesses nacionais. Os líderes empresariais alemães não gostavam da ideologia nazista, mas passaram a apoiar Hitler, porque viam os nazistas como um aliado útil para promover os seus interesses. Vários grupos empresariais realizaram significativas contribuições financeiras para o Partido Nazista antes e depois da tomada do poder nazista, na esperança de que uma ditadura nazista eliminaria o movimento sindical organizado e os partidos de esquerda. Hitler procurou ativamente obter o apoio dos líderes empresariais, argumentando que a empresa privada é incompatível com a democracia. Embora se opusesse à ideologia comunista, Hitler elogiou publicamente o líder da União Soviética Joseph Stalin e o stalinismo em várias ocasiões. Hitler elogiou Stalin por tentar purificar o Partido Comunista da União Soviética das influências judaicas, dando destaque à purificação por Stalin de comunistas judeus como Leon Trotsky, Grigory Zinoviev, Lev Kamenev e Karl Radek. Embora Hitler sempre tivesse pretendido colocar a Alemanha em conflito com a União Soviética para que pudesse ganhar o "Lebensraum" ("espaço vital"), apoiou uma aliança estratégica temporária entre a Alemanha nazista e a União Soviética para formar uma frente comum antiliberal para que pudessem derrotar as democracias liberais, particularmente a França. Hitler admirava o Império Britânico e o seu sistema colonial como prova viva da superioridade germânica sobre as raças "inferiores" e via o Reino Unido como um aliado natural da Alemanha. No Mein Kampf escreveu: "Por muito tempo, haverá apenas duas potências na Europa com as quais a Alemanha poderá concluir uma aliança. Essas potências são a Grã-Bretanha e a Itália". Relação com o fascismo. O termo "nazismo" é frequentemente usado como sinônimo de "fascismo". Ao passo que o nazismo incorporou elementos estilísticos do fascismo, as semelhanças principais entre os dois foram o nacionalismo, o irredentismo territorial e a teoria econômica. O nazismo pode ser considerado uma forma extrema de fascismo, muitas vezes chamado de nazifascismo e também pode ser encarado como um subconjunto do fascismo. Ao mesmo tempo que o fascismo é uma ideologia antiliberal e antissocialista que defende a supremacia do Estado e o interesse da coletividade em detrimento dos direitos e vontades individuais, o Nazismo acredita que o povo é a realidade fundamental e que Estado (no caso o alemão) seria responsável por unificar e expandir a comunidade racial germânica. Do ponto de vista econômico, o nazismo partilha muitas características com o fascismo, como o controle governamental da finança e do investimento (através da atribuição de créditos) da indústria e da agricultura, ao mesmo tempo que o poder corporativo e os sistemas baseados no mercado para criar os preços se mantinham. Citando Benito Mussolini: "O fascismo devia ser chamado corporativismo, porque é uma fusão do Estado e do poder corporativo." Além disso, o papel que os sindicatos deviam desempenhar nas relações de trabalho nas empresas era outro ponto de contato entre fascismo e nazismo. Tanto o partido nazista alemão como o partido fascista italiano tiveram inícios ligados ao sindicalismo e encaravam o controle estatal como forma de eliminar o conflito nas relações laborais. Porém existem diferenças entre o fascismo e o nazismo. Por exemplo, Benito Mussolini, líder do fascismo italiano, não adaptou o antissemitismo até se ter aliado a Hitler, enquanto que o nazismo foi explicitamente antissemita desde o início. De acordo com Sahid Maluf, em sua obra Teoria Geral do Estado, baseando-se nas observações de Pedro Calmon, as principais diferenças entre o fascismo e o nazismo seriam: História. Origens. Influência do Romantismo. O filólogo Victor Klemperer associou as origens e os valores do nazismo provêm ao movimento romântico do início do . Segundo ele, tudo o que caracteriza o nazismo estava contido no Romantismo: a deposição da razão, a animalização do homem e a idealização do pensamento de poder. O escritor Max Blechman acreditava que existiam duas vertentes do romantismo: a revolucionária (inicial) e a conservadora (que surgiu por último). Também de acordo com Blechman, muitos pensadores nazistas usaram ideias do romantismo para tentar fortalecer o nazismo politicamente. Esses pensadores tentaram fazer o romantismo ser compatível com a doutrina nacional-socialista separando este em duas vertentes, assim como Blechman. A primeira delas era considerada subjetiva, antiga e decadente; a outra, associada ao romantismo alemão, era considerada objetiva e chegou a ser chamada de "Verdadeiro Romantismo". Carl Schmitt, um dos principais teóricos do nazismo, chegou argumentar no livro "Politische Romantik" que o romantismo era um movimento politicamente irrelevante e que era essencialmente apolítico porque a sua principal orientação seria direcionada à estética. Entretanto, Schmitt também considerava o romantismo como algo que atrapalharia o seu objetivo de criar uma hegemonia da filosofia nacional socialista e também chegou a dizer que declarar que um movimento politizado seja "apolítico" é a melhor estratégia para fazer com que este seja considerado politicamente irrelevante. Nacionalismo (Völkisch). Uma das influências ideológicas mais significativas sobre os nazistas foi o nacionalista alemão Johann Gottlieb Fichte, cujas obras serviram de inspiração para Hitler e outros membros nazistas, incluindo Dietrich Eckart e Arnold Fanck. Em sua obra "Discursos à nação alemã" (1808), escrita em meio à ocupação napoleônica de Berlim pela França, Fichte invocou uma revolução nacional alemã contra os ocupantes franceses, fazendo discursos públicos, armando seus alunos para a batalha contra os franceses, e salientando a necessidade da ação para expulsar os franceses. O nacionalismo de Fichte era populista e em oposição às elites tradicionais, insistindo na necessidade de uma "Guerra do Povo" (Volkskrieg), conceito este semelhante ao adotado posteriormente pelos nazistas. Fichte promoveu o excepcionalismo alemão e salientou a necessidade da nação alemã ser purificada, incluindo purgar a língua alemã de palavras francesas, uma política que os nazistas empreenderam ao assumir o poder. Ele denunciou o materialismo, o individualismo e sociedade industrial urbana secularizada, ao defender uma sociedade "superior" com base na cultura "popular" alemã e no "sangue" alemão. Denunciou os estrangeiros, as ideias estrangeiras e declarou que os judeus, as nacionais minorias, católicos e maçons eram "traidores da nação" e indignos da inclusão na nação alemã. Ele descreveu o mundo em termos da lei natural e romantismo, exaltando as virtudes da vida rural, condenando a negligência da tradição e da decadência da moral, denunciou a destruição do meio ambiente, e condenou as culturas "cosmopolitas", como as dos judeus e ciganos. Durante a era da Alemanha Imperial, o nacionalismo foi ofuscado tanto pelo patriotismo prussiano e pela tradição federalista dos vários estados que compunham o império. O evento da Primeira Guerra Mundial, incluindo o fim da monarquia prussiana na Alemanha, resultou em uma onda de nacionalismo revolucionário ("ver: Revoluções de 1917-23"). Os nazistas apoiaram tais políticas nacionalistas revolucionárias, e alegaram que a sua ideologia era influenciada pela liderança e políticas do chanceler alemão, Otto von Bismarck, o fundador do império alemão. Os nazistas declararam que eles se dedicariam a continuar o processo da criação de um sistema unificado alemão, o Estado-nação, que Bismarck tinha iniciado. Apesar de Hitler ser favorável à criação do Império Alemão, ele era crítico da política interna moderada de Bismarck. Sobre a questão do apoio de Bismarck de aceitar a Pequena Alemanha, excluindo a Áustria, ao contrario da Grande Alemanha dos nazistas, Hitler declarou que a realização de Bismarck foi o "maior conquista" que ele poderia ter alcançado "dentro dos limites possíveis da época". Em Mein Kampf (Minha Luta), Hitler apresentou-se como um "segundo Bismarck". Durante sua juventude, na Áustria, Hitler foi politicamente influenciado pelo austríaco pangermanismo de Georg Ritter von Schonerer, que defendia o radical nacionalismo alemão, o antissemitismo, o anticatolicismo, o antieslavismo e visões antiHabsburgo. Copiando Schonerer e seus seguidores, Hitler adotou para o movimento nazista a saudação do Heil ("ver: Saudação nazista e Sieg Heil"), o título de Führer, e o modelo de liderança absoluta do partido. Hitler também ficou impressionado com o antissemitismo populista e agitação antiliberal burguesa de Karl Lueger, que como prefeito de Viena na época de Hitler, usou na cidade um estilo oratório demagógico, apelando para as massas populares. Lueger, ao contrário de Schonerer, não era um nacionalista alemão mas um defensor pró-católico dos Habsburgos. Derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e consequências. Nas palavras de Karl Dietrich Bracher: "o nazismo, como Hitler, foi o produto da Primeira Guerra Mundial, porém, recebeu sua forma e sua força daqueles problemas básicos da história alemã moderna que caracterizaram a difícil caminhada do movimento democrático". Em 1917, a Alemanha havia derrotado a Rússia, que se retirou da guerra em meio à Revolução Bolchevique. Em 1918, tem início na Alemanha uma série de rebeliões populares, de trabalhadores e soldados, que, inspirados na Revolução Russa de 1917, pretendiam derrubar o governo e acabar com a guerra ("ver: Revolução Alemã de 1918-1919"). Os movimentos mais fortes eram justamente os socialistas, organizados pelo grupo chamado de Liga Espartaquista, liderados por Rosa Luxemburgo, que havia convivido com Lenin quando este morou na Alemanha. Quase simultaneamente, estouravam rebeliões de camponeses famintos no sul da Alemanha e na região da Baviera. Os comunistas quase tomaram o poder em janeiro de 1919. Entretanto, durante todo o período 1917-1919, a ameaça da insurreição era constante e a elite temia que uma revolução popular pudesse acontecer a qualquer momento. Apesar de a guerra no "front" ocidental estar tecnicamente empatada, a entrada dos Estados Unidos em favor da Inglaterra e da França, em 1917, começava a mudar a guerra contra a Alemanha. A elite alemã toma uma decisão desesperada: aceita um acordo de paz desfavorável para não correr o risco de ver uma revolução comunista na Alemanha. Na década de 1920, os nazistas se levantam como novo bastião contra os socialistas e se utilizam do discurso anticomunista para conseguir doações dos banqueiros e industriais alemães para suas campanhas eleitorais. O Partido Nazista tinha assim dois grandes desafios político-ideológicos: explicar a derrota de um povo teoricamente superior e, ao mesmo tempo, conseguir encontrar um culpado que não fossem os banqueiros alemães, que agora financiavam as campanhas eleitorais do partido Nazista. Hitler construiu a solução na obra "Minha Luta", que refinou posteriormente em outros escritos do Partido Nazi. A solução era simples: Hitler argumentou que a Alemanha havia sido derrotada por uma grande conspiração internacional de judeus ("ver: Conspiração judaico-maçônico-comunista internacional"). Ele criou uma maléfica e terrível conspiração de judeus de diferentes países (banqueiros judeus na Inglaterra e na França, associados com judeus comunistas na Rússia), que se uniram para derrotar a Alemanha. Hitler conseguiu, com uma só teoria, explicar a derrota na Primeira Guerra Mundial. A maior parte dos judeus que tinha condições econômicas suficientes deixou a Alemanha quando Hitler tomou o poder em 1933-1934. Logo são iniciadas as primeiras perseguições generalizadas de judeus, mas a maior parte deles se sentiam mais alemães do que judeus e acreditavam que podiam convencer o restante da Alemanha disso. E a perseguição começou aos poucos, em 1933-1934, com a caça aos "judeus comunistas", acusados de provocar o incêndio do Reichstag. Isso permitiu a Hitler eliminar o principal partido de oposição (o Partido Comunista Alemão), prender e mandar matar os líderes sindicais e impor sua ditadura. Na sequência, a "depuração" da sociedade alemã (como os nazistas denominavam esse processo de limpeza étnica), continuou com a prisão dos judeus nos campos de trabalho forçado. Somando-se os judeus residentes na Alemanha, os que residiam nos países que foram ocupados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (Polônia, Tchecoslováquia, Áustria), ciganos, homossexuais ("ver: Homossexuais na Alemanha Nazista") e um número incontável de presos políticos, comunistas, anarquistas e sindicalistas em geral, foram mortos entre 5 e 6 milhões de pessoas, apenas nos campos de concentração. O Programa de 25 pontos do NSDAP. O "Programa de 25 Pontos", oficialmente "Programa de 25 Pontos do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães" (em alemão: "Das 25-Punkte-Programm der Nationalsozialistischen Deutschen Arbeiterpartei") é o nome dado ao programa político do Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP), tal como foi proclamado em 24 de fevereiro de 1920, em Munique, por Adolf Hitler. O programa foi aprovado por uma audiência de duas mil pessoas (segundo a descrição de Hitler em "Mein Kampf"), na "Hofbräuhaus", uma das maiores cervejarias da cidade. Em 8 de agosto do mesmo ano, o DAP passou a se chamar Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, mantendo o mesmo programa. Holocausto. Holocausto é o nome geralmente utilizado para se referir tanto ao genocídio praticado pela Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial quanto ao somatório de políticas antissemitas praticadas pelo Terceiro Reich entre 1933-1945. O termo "Holocausto", que originalmente veio da palavra grega romanizada "holokauston" (), foi histórica e inicialmente usado para designar uma oferta um sacrifício ao deuses (ou uma oferta de sacrifício dos judeus), na qual a vítima era queimada em um altar. O vocábulo é utilizado desde a década de 1980 para se referir ao assassinato de mais de dez milhões de pessoas, que vitimou principalmente os judeus. Os Judeus foram as principais vítimas do Holocausto. Antes de iniciar diretamente a sua política de extermínio, o Estado Nazista criou leis antissemitas para excluir os judeus da sociedade alemã. As principais foram essas duas, que foram criadas em 1935 e passaram a ser conhecidas como Leis de Nuremberg: Lei de Proteção do Sangue e da Honra Alemã e a Lei de Cidadania do Reich, a primeira proibia relações conjugais e sexuais entre judeus e alemães e a segunda revogou a cidadania alemã de judeus, reduzindo-os a "sujeitos do Estado". As principais localidades para as quais o Regime Nazista enviou as vítimas do Holocausto foram os guetos e os campos de concentração. Os primeiros eram usados especificamente para abrigar judeus e funcionavam como áreas transitórias, onde eles ficavam até serem enviados para os campos de concentração, que abrigavam todos os grupos perseguidos pelo Terceiro Reich. O principal método de assassinato utilizado nesses campos foi o uso de câmaras de gás. Além dos Judeus, a Alemanha Nazista também perseguiu com mais intensidade eslavos, ciganos, homossexuais, testemunhas de jeová, opositores políticos e deficientes físicos e mentais. O Terceiro Reich também perseguiu, com menor intensidade, os negros e os maçons. A principal medida dos nazistas contra os negros foi a esterilização forçada e somente cerca de vinte deles foram levados para campos de concentração; porém, eles foram afetados pelas Leis de Nuremberg e muitos negros fugiram da Alemanha devido a perseguição. Os maçons foram atacados e tratados como inimigos pelos nazistas, mas não chegaram a ser considerados por eles como uma ameaça isolada e, por isso, não sofreram uma perseguição sistemática. O Estado Nazista utilizou um sistema de triângulos coloridos para identificar os seus prisioneiros. O uso da palavra Holocausto para designar as vítimas das perseguições do Reich que não professavam o Judaísmo é algo é contestado por muitos estudiosos. O principal argumento usado por eles é que o termo foi originalmente concebido para descrever o extermínio dos judeus e que o Holocausto judeu foi um crime em uma escala tal, e de tal totalidade e especificidade, como a culminação da longa história do antissemitismo europeu, que não deve ser incluído em uma categoria geral com todos os outros crimes cometidos pelos nazistas. Dois termos mais específicos para os judeus são utilizados para se referir a esse acontecimento: "Shoah" e "Solução Final da Questão Judaica". Enquanto o primeiro significa "destruição" ou "catástrofe" e é a palavra mais utilizada para se referir ao acontecimento em Israel, o segundo foi o nome oficial utilizado pelo Terceiro Reich para descrever a sua política de extermínio dos judeus. Base filosófica. A essência do nazismo: totalitarismo e racismo. A essência do fascismo e do nazismo está no totalitarismo, especificamente na noção de controle totalitário, ou seja, na ideia de que o Estado e, em última instância, o chefe de Estado (no caso da Alemanha, o Führer), deveria controlar tudo e todos. Para isso, a homogeneização da sociedade é fundamental ("ver: Gleichschaltung"). As formas de controle social em regimes totalitários geralmente envolvem o uso e a exacerbação do medo a um grau extremo. Todos passam a vigiar a todos e todos se sentem vigiados e intimidados. Cada indivíduo passa a ser cooperador do Führer no processo de construção de uma sociedade "homogênea". Nesse processo de homogeneização totalitária, os inúmeros festivais, atividades cívicas, como as mobilização das massas nas ruas, foram determinantes. O nacionalismo étnico do nazismo teve influências de duas teorias raciais alemãs, "Herrenvolk" ("raça-mestra") e o "Übermensch" ("super-homem"). Além disso, a ideologia nazista possuía uma crença na necessidade de purificar a "raça alemã" através da eugenia, que culminou na eutanásia não voluntária de pessoas deficientes ("ver: Aktion T4"). Para controlar tudo e todos, o nazismo instigava e exacerbava ao extremo o nacionalismo, geralmente associado às rivalidades com outros países suposta ou realmente ameaçadores. A ideia de um inimigo externo extremamente poderoso é funcional para unir a sociedade contra o "inimigo comum". O medo de um inimigo externo é funcional para aglutinar socialmente povos que até há pouco tempo não se identificavam como uma só nação, como foram os casos de países unificados apenas no (Alemanha e Itália). Como Sigmund Freud havia demonstrado, a necessidade da criação artificial da identidade em grupos sociais pode levar à homogeneização forçada destes, e a existência de membros diferentes no grupo é desestabilizadora, o que leva o grupo a tentar eliminá-lo. Entretanto, era necessário algo mais, além do medo de um inimigo externo, para conseguir atingir o ultranacionalismo e o totalitarismo. Era funcional criar inimigos internos, sorrateiros, subterrâneos, conspiratórios. No fascismo, o papel de 'inimigo sorrateiro' é destinado ao comunismo e aos comunistas como um todo. Já o nazismo acrescenta ao rol de inimigos — em que já estava incluído o comunismo — algumas minorias étnico-religiosas: os judeus, em um primeiro momento, e depois os ciganos e os povos eslavos (já durante a Segunda Guerra Mundial). A partir disso é que se torna central o segundo pilar do nazismo — a ideologia da superioridade racial ariana. Antissemitismo. O preconceito antissemita era muito comum no mundo ocidental, principalmente a partir do final do . Por isso, diz-se que a aceitação das massas dependia do antissemitismo e da exaltação do orgulho alemão, ferido com a derrota na Primeira Guerra Mundial. O historiador Léon Poliakov, através de seu conjunto de livros de quatro volumes conhecido como a A História do Antissemitismo, mostra que o antissemitismo não é fruto de doutrinas atuais, mas sim de tempos remotos, fazendo uma conexão entre o antissemitismo com a história do judaísmo. O papel da ideologia da superioridade racial no nazismo. De acordo com o livro "Mein Kampf" ("Minha Luta"), Hitler desenvolveu as suas teorias políticas pela observação cuidadosa das políticas do Império Austro-Húngaro. Ele nasceu como cidadão do Império e acreditava que a sua diversidade étnica e linguística o enfraquecera. Também via a democracia como "um canal através do qual o bolchevismo permite que seus venenos fluam para os diferentes países e trabalhe lá por tempo suficiente para que essas infecções conduzam a um enfraquecimento da inteligência e da força de resistência". O nazismo defende que uma nação é a máxima criação de uma raça. Consequentemente, as grandes nações (literalmente, nações grandes) seriam a criação de grandes raças. A teoria diz que as grandes nações alcançam tal nível devido aos seus poderios militar e intelectual e que estes, por sua vez, se originam em culturas racionais e civilizadas, que, por sua vez ainda, são criadas por raças com boa saúde natural e traços agressivos, inteligentes e corajosos. As nações mais fracas seriam então aquelas criadas por raças impuras, isto é, que não apresentam a totalidade de indivíduos de origem única. De acordo com os nazistas, um erro óbvio desse tipo é permitir ou encorajar múltiplas línguas dentro de uma nação. Essa crença é o motivo pelo qual os nazistas alemães estavam tão preocupados com a unificação dos territórios dos povos de língua alemã. Nações incapazes de defender as suas fronteiras, diziam, seriam a criação de raças fracas ou escravas. Defendiam eles que as raças escravas eram menos dignas de existir do que as raças-mestras. Em particular, se uma raça-mestra necessitasse de um espaço vital ("Lebensraum") para viver, teria ela o direito de tomar o território das raças fracas para si. Trata-se de uma teoria originalmente concebida pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel, que propôs uma "antropogeografia" como um ramo da geografia humana, como o espaço de vida dos grupamento humanos. Ao sistematizar os conhecimentos políticos aplicados pela geografia, Ratzel contribuiu decisivamente para o surgimento da geografia política, que, no início do , foi acrescida do termo geopolítica. Friedrich Ratzel visitou a América do Norte no início de 1873 e se impressionou com a doutrina do Destino Manifesto nos EUA. Ratzel simpatizava com os resultados do Destino Manifesto, mas ele nunca usou o termo. Em vez disso, ele contou com a Tese da Fronteira de Frederick Jackson Turner. Ratzel defendeu colônias ultramarinas para a Alemanha, na Ásia e África ("ver: Império colonial alemão"), mas não uma expansão em terras eslavas. Alguns alemães reinterpretaram Ratzel para defender o direito da raça alemã de se expandir na Europa e essa noção foi mais tarde incorporada na ideologia nazista. Harriet Wanklyn argumenta que os políticos distorceram a teoria de Ratzel para objetivos políticos. Raças sem pátria eram, portanto, consideradas "raças parasíticas". Quanto mais ricos fossem os membros da "raça parasítica", mais virulento seria o parasitismo. Uma raça-mestra podia, portanto, de acordo com a doutrina nazista, endireitar-se facilmente pela eliminação das "raças parasíticas" da sua pátria. Foi essa a justificativa teórica para a opressão e eliminação dos judeus, ciganos, eslavos e homossexuais, um dever que muitos nazis consideravam repugnante, tendo eles como prioridade a consolidação do estado ariano. As religiões que reconhecessem e ensinassem essas verdades eram as religiões "verdadeiras" ou "mestras" porque criavam liderança ao evitarem as "mentiras reconfortantes". As que pregassem o amor e a tolerância, "em contradição com os fatos", eram chamadas religiões "escravas" ou "falsas". Os homens que aceitassem essas "verdades" eram chamados "líderes naturais"; os que as rejeitassem eram chamados "escravos naturais". Dizia-se dos escravos, especialmente dos inteligentes, que embaraçavam os mestres pela promoção de falsas doutrinas religiosas e políticas. Apesar disso, Hitler em seu primeiro discurso como chanceler disse que o cristianismo ocupava um local central na sociedade alemã. Economia. Os nazistas chegaram ao poder em meio à Grande Depressão, quando a taxa de desemprego alemã da época estava perto de 30%. De um modo geral, os teóricos e políticos nazistas atribuíram as falhas econômicas anteriores da Alemanha a causas políticas, como a influência do marxismo na força de trabalho, as maquinações sinistras e exploradoras do que eles chamaram de judaísmo internacional e as demandas de reparação de guerra dos líderes políticos ocidentais. Em vez dos incentivos econômicos tradicionais, os nazistas ofereceram soluções de natureza política, como a eliminação dos sindicatos organizados, o rearmamento (em violação do Tratado de Versalhes) e a política biológica. Vários programas de trabalho destinados a estabelecer o pleno emprego para a população alemã foram instituídos assim que os nazistas tomaram todo o poder nacional. Hitler encorajou projetos com apoio nacional, como a construção do sistema de rodovias "Autobahn", a introdução de um carro popular acessível ("Fusca") e, mais tarde, os nazistas fortaleceram a economia por meio dos negócios e empregos gerados pelo rearmamento militar. Os nazistas se beneficiaram no início da existência do regime com a primeira recuperação econômica pós-Depressão, e isso combinado com seus projetos de obras públicas, programa de aquisição de empregos e programa de conserto de casa subsidiado, reduziu o desemprego em até quarenta por cento em um ano. Esse desenvolvimento temperou o clima psicológico desfavorável causado pela crise econômica anterior e encorajou os alemães a marcharem em sintonia com o regime. As políticas econômicas dos nazistas foram, em muitos aspectos, uma continuação das políticas do Partido Nacional do Povo Alemão, um partido nacional-conservador e parceiro de coalizão nazista. Enquanto outros países capitalistas ocidentais se esforçaram para aumentar a propriedade estatal da indústria durante o mesmo período, os nazistas transferiram a propriedade pública e serviços públicos para o setor privado. Foi uma política intencional com objetivos múltiplos, em vez de ideologicamente orientada, e foi usada como uma ferramenta para aumentar o apoio das massas ao governo nazista e ao partido. O governo nazista deu continuidade às políticas econômicas introduzidas pelo governo de Kurt von Schleicher em 1932 para combater os efeitos da Depressão. Ao ser nomeado chanceler em 1933, Hitler nomeou Hjalmar Schacht, um ex-membro do Partido Democrático Alemão, como presidente do Reichsbank em 1933 e ministro da Economia em 1934. Hitler prometeu medidas para aumentar o emprego, proteger a moeda alemã e promover a recuperação da Grande Depressão. Isso incluía um programa de assentamento agrário, serviço de mão-de-obra e garantia de manutenção da saúde e das pensões. No entanto, essas políticas e programas, que incluíam grandes programas de obras públicas apoiados por gastos deficitários, como a construção da rede "Autobahn" para estimular a economia e reduzir o desemprego, foram herdados e planejados para serem realizados pela República de Weimar durante a presidência do conservador Paul von Hindenburg, porém os nazistas se apropriaram dessas políticas. Acima de tudo, a prioridade de Hitler era o rearmamento e o aumento do exército alemão em preparação para uma eventual guerra para conquistar o "Lebensraum" no Leste. As políticas de Schacht criaram um esquema de financiamento do déficit, no qual os projetos de capital eram pagos com a emissão de notas promissórias chamadas notas "Mefo", que podiam ser negociadas entre as empresas. Isso foi particularmente útil em permitir que a Alemanha se rearmar, porque as notas "Mefo" não eram Reichsmarks e não apareceriam no orçamento federal, o que facilitou a ocultação do rearmamento. No início de seu governo, Hitler disse que "o futuro da Alemanha depende exclusivamente e apenas da reconstrução da "Wehrmacht". Todas as outras tarefas devem ceder precedência à tarefa de rearmamento." Essa política foi implementada imediatamente, com os gastos militares crescendo rapidamente e muito maiores do que os programas de criação de trabalho civil. Já em junho de 1933, os gastos militares para o ano foram planejados para ser três vezes maiores do que os gastos com todas as medidas de criação de trabalho civil em 1932 e 1933 combinados. A Alemanha Nazista aumentou seus gastos militares mais rapidamente do que qualquer outro estado em tempo de paz, com a parcela dos gastos militares crescendo de um por cento para dez por cento da renda nacional apenas nos primeiros dois anos do regime. Eventualmente, atingiu 75 por cento em 1944. Apesar de sua retórica condenando as grandes empresas, os nazistas rapidamente firmaram uma parceria com empresas alemãs em fevereiro de 1933. Naquele mês, depois de ser nomeado chanceler, mas antes de ganhar poderes ditatoriais, Hitler fez um apelo pessoal aos líderes empresariais alemães para ajudarem a financiar o Partido Nazista nos meses cruciais que se seguiriam. Ele argumentou que deveriam apoiá-lo no estabelecimento de uma ditadura porque "a empresa privada não pode ser mantida na era da democracia" e porque a democracia levaria ao comunismo. Ele prometeu destruir a esquerda alemã e os sindicatos, sem qualquer menção de políticas antijudaicas ou conquistas estrangeiras. Nas semanas seguintes, o Partido Nazista recebeu contribuições de dezessete grupos empresariais diferentes, sendo a maior parte do IG Farben e do Deutsche Bank. historiador Adam Tooze escreve que os líderes empresariais alemães eram, portanto, "parceiros voluntários na destruição do pluralismo político na Alemanha". Em troca, proprietários e gerentes de empresas alemãs receberam poderes sem precedentes para controlar sua força de trabalho, a negociação coletiva foi abolida e os salários congelados em um nível relativamente baixo. Os lucros das empresas também aumentaram muito rapidamente, assim como o investimento corporativo. Além disso, os nazistas privatizaram propriedades e serviços públicos, apenas aumentando o controle econômico do Estado por meio de regulamentações. Hitler acreditava que a propriedade privada era útil porque encorajava a competição criativa e a inovação técnica, mas insistia que deveria se conformar aos interesses nacionais e ser "produtiva" ao invés de "parasitária". Os direitos de propriedade privada estavam condicionados ao cumprimento das prioridades econômicas estabelecidas pela liderança nazista, com altos lucros como recompensa para as empresas que os seguiram e a ameaça de nacionalização sendo usada contra aqueles que não o seguiram. Sob a economia nazista, a livre competição e os mercados autorregulados diminuíram, mas as crenças darwinistas sociais de Hitler o fizeram manter a competição empresarial e a propriedade privada como motores econômicos. Os nazistas eram hostis à ideia de bem-estar social em princípio, defendendo, em vez disso, apoiavam o conceito social darwinista de que os fracos e fracos deveriam perecer. Eles condenaram o sistema de bem-estar da República de Weimar, bem como a caridade privada, acusando-os de apoiar pessoas consideradas racialmente inferiores e fracas, que deveriam ter sido eliminadas no processo de seleção natural. No entanto, diante do desemprego em massa e da pobreza da Grande Depressão, os nazistas acharam necessário estabelecer instituições de caridade para ajudar os alemães racialmente puros a fim de manter o apoio popular, enquanto argumentavam que isso representava "auto-ajuda racial "e não a caridade indiscriminada ou o bem-estar social universal. Programas nazistas como o Winter Relief of the German People e o mais amplo National Socialist People's Welfare (NSV) foram organizados como instituições quase privadas, oficialmente contando com doações privadas de alemães para ajudar outros de sua raça, embora na prática aqueles que se recusaram a doar enfrentaram graves consequências. Ao contrário das instituições de bem-estar social da República de Weimar e das instituições de caridade cristãs, o NSV distribuiu assistência explicitamente por motivos raciais. Fornecia apoio apenas para aqueles que eram "racialmente sólidos, capazes e dispostos a trabalhar, politicamente confiáveis e dispostos e capazes de se reproduzir". Os não-arianos foram excluídos, bem como os "tímidos para o trabalho", "a-sociais" e os "doentes hereditários". Esforços bem-sucedidos foram feitos para envolver as mulheres de classe média no trabalho social, auxiliando famílias numerosas, e as campanhas de Ajuda no Inverno atuaram como um ritual para gerar simpatia pública. As políticas agrárias também foram importantes para os nazistas, pois correspondiam não apenas à economia, mas também à sua concepção geopolítica do "Lebensraum". Para Hitler, a aquisição de terras e solo era um requisito para moldar a economia alemã. Para amarrar os agricultores às suas terras, a venda de terras agrícolas era proibida. A propriedade das fazendas permaneceu privada, mas os direitos de monopólio comercial foram concedidos às juntas de comercialização para controlar a produção e os preços com um sistema de cotas. A Lei Hereditária da Fazenda de 1933 estabeleceu uma estrutura de cartel sob um órgão governamental conhecido como "Reichsnährstand" (RNST), que determinava "tudo, desde sementes e fertilizantes usados até como a terra era herdada". Hitler via, principalmente, a economia alemã como um instrumento de poder e acreditava que a economia não se tratava de criar riqueza e progresso técnico para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos de uma nação, mas sim que o sucesso econômico era fundamental para fornecer os meios e as bases materiais necessários para a conquista militar. Enquanto o progresso econômico gerado pelos programas nacional-socialistas tinha o seu papel de apaziguar o povo alemão, os nazistas e Hitler em particular não acreditavam que as soluções econômicas por si só fossem suficientes para lançar a Alemanha no palco como potência mundial. Os nazistas, portanto, buscaram assegurar um renascimento econômico geral acompanhado por gastos militares maciços para o rearmamento, especialmente mais tarde por meio da implementação do Plano de Quatro Anos, que consolidou seu governo e garantiu firmemente uma relação de comando entre a indústria de armas alemã e o governo nacional-socialista. Entre 1933 e 1939, os gastos militares ultrapassaram 82 bilhões de marcos do Reich e representaram 23% do produto nacional bruto da Alemanha, à medida que os nazistas mobilizaram seu povo e economia para a guerra. O anticapitalismo nazista. Os nazistas acreditavam que o capitalismo causava danos às nações pelo controle das finanças internacionais, pelo domínio econômico das grandes empresas e pela influência dos judeus. Cartazes de propaganda nazista, nos bairros de classe trabalhadora, possuíam elementos que associavam a ideologia ao anticapitalismo. Em um deles, estava escrito: "Manter um sistema industrial podre não tem nada a ver com nacionalismo. Eu posso amar a Alemanha e odiar o capitalismo". Hitler expressava, tanto em público como em privado, um profundo desprezo pelo capitalismo, acusando-o de tomar como reféns as nações para beneficiar os interesses de uma classe rentista de "parasitas cosmopolitas". Ele era contra a economia de mercado e a busca desenfreada do lucro e queria uma economia que respeitasse o interesse público. Não confiava no capitalismo e preferiu uma economia planificada. Hitler declarou em 1934, em um quadro do partido, que "o sistema econômico contemporâneo fora criação dos judeus". Hitler confidenciou um dia para Benito Mussolini que "o capitalismo tinha passado o seu tempo". Hitler também acreditava que a classe empresarial "não queria outra coisa que não fossem lucros e a Pátria não significava nada para eles". Hitler considerava Napoleão como um modelo para o seu comportamento anticonservador, anticapitalista e antiburguês. Em seu "Mein Kampf", Hitler mostrou o seu compromisso com o mercantilismo. Ele acreditava que os recursos econômicos ligados a um território tinham que ser requisitados pela força. Ele acreditava na aplicação do conceito de espaço vital para trazer esses territórios valiosos para a economia alemã. Ele pensava que a única maneira de manter a segurança econômica era ter controle direto sobre recursos, em vez de depender de comércio internacional. Ele afirmou que a guerra era a única maneira para ganhar esses recursos e o única modo de derrotar o sistema econômico capitalista em declínio. Um número de nazistas tinha profundas convicções socialistas e anticapitalistas, em particular, Ernst Röhm, o líder da Sturmabteilung (SA). Röhm alegou que os nazistas chegaram ao poder constituindo uma revolução nacional, mas ele declarou enfaticamente que uma "segunda revolução socialista" era necessária para que a ideologia nazista fosse completada. Outro nazista de alta patente, o ministro da Propaganda Joseph Goebbels, afirmou categoricamente o caráter socialista do nazismo ao escrever em seu diário que, se ele tivesse que escolher entre o bolchevismo e o capitalismo, "seria melhor para nós ir para baixo com o bolchevismo do que viver na escravidão eterna do capitalismo". O anticomunismo nazista. Os nazistas alegavam que o comunismo era perigoso para o bem-estar das nações por causa de sua intenção de dissolver a propriedade privada, por apoiar a luta de classes, sua agressão contra a classe média, sua hostilidade para com os pequenos empresários, e seu ateísmo. O nazismo rejeitava o conceito de luta de classes e também o igualitarismo, favorecendo uma economia estratificada, com as classes sociais definidas tendo por base o mérito e o talento, mantendo propriedade privada, bem como criando uma espécie de solidariedade nacional que transcenderia a distinção de classe.Ao longo da década de 1920, Hitler apelou às diferentes facções nazistas para que se unissem em oposição ao "bolchevismo judeu". Hitler afirmava que os "três vícios" do "judeu marxista" foram a democracia, o pacifismo e internacionalismo. Em 1930, Adolf Hitler disse: "… "Nosso termo adotado "socialista" não tem nada a ver com o socialismo marxista, Marxismo é antipropriedade; enquanto o verdadeiro socialismo não é!". Em conversas particulares datadas de 1942, Hitler afirmou: "Eu absolutamente insisto em proteger a propriedade privada; … nós devemos incentivar a iniciativa privada"". Nos últimos anos da década de 30 e início dos anos 40, os grupos e regimes anticomunistas que apoiaram o nazismo incluíam a Falange Espanhola; o Regime Vichy na França e; na Grã-Bretanha foram apoiados por Lord Halifax, Cliveden Set, pela União Britânica de Fascistas de Sir Oswald Mosley, e por associados de Neville Chamberlain. Nazismo e religião. Relação com o Cristianismo. O historiador Laurence Rees, procurou analisar a relação entre o Cristianismo e o pensamento de Hitler no livro "O Carisma de Adolf Hitler". Rees chegou a conclusão de que este procurou fortalecer o seu movimento associando-o, de forma oportunista, com a doutrina cristã. Ele diz que Hitler, com o passar dos anos, mudou a ênfase que dava para os preceitos tradicionais cristãos para uma ideia pouco precisa de "Providência" que, mesmo não se sabendo quem ou o que esta seria, muitos cristãos alemães associavam ao Cristianismo. Hitler também chegou a dar diversas declarações abertamente anticristãs em conversas privadas; em uma delas, ele chegou a dizer que o cristianismo teria sido a "religião errada" para a Alemanha, e em outra que ele era "uma invenção de cérebros doentes". Porém, mesmo que a visão de que Hitler era anticristão seja forte, o movimento nazista era bastante heterogêneo quanto ao cristianismo. Ao mesmo tempo que houve diversos líderes nazistas abertamente contrários a ele, tais como: Joseph Goebbels, Martin Bormann, Alfred Rosenberg e Heinrich Himmler; também existiram outros que eram favoráveis, como Erich Koch por exemplo. A principal iniciativa do nazismo para conseguir um apoio maior do povo alemão através da doutrina cristã foi a tentativa de criar um modelo de cristianismo que fosse compatível com a suas ideias, este ficou conhecido como "Cristianismo positivo" ("Positives Christentum"). De acordo com Richard Steigmann-Gall, o Cristianismo positivo teria surgido no através do Protestantismo liberal ("Kulturprotestantismus"), movimento que teve como principal proposta a reinterpretação do cristianismo através da rejeição ao Antigo Testamento e, de acordo com Franklin Ferreira, teve como pano de fundo o Antissemitismo. O termo "Cristianismo positivo" foi usado no 24.° ponto do Programa do Partido Nazista de 1920, com a seguinte frase: "O Partido, como tal, defende o ponto de vista de um cristianismo positivo, sem se ligar confessionalmente a qualquer denominação." Nas igrejas protestantes, a ascensão nazista ao poder na Alemanha foi no início acolhida com "benévola simpatia". Tendo o nazismo procurado identificar-se com o patriotismo alemão, algumas personalidades protestantes, como o Dr. Martin Niemöller, votaram inicialmente em favor dos nacional-socialistas. Em julho de 1933, os representantes das igrejas protestantes alemãs escreveram uma constituição para a criação de uma "Reichskirche" (Igreja do Reich), que foi criada a partir da fusão das 28 igrejas luteranas e reformistas alemães, e que era considerada a "igreja oficial" do regime. Desde o início, foi diferente a atitude dos católicos, alarmados pelo conteúdo racista dos livros "Minha Luta", de Adolf Hitler, e "O Mito do ", de Alfred Rosenberg. Nesses livros, os arianos surgem como os elementos superiores da humanidade, defendendo-se a pureza racial ariana como a primeira necessidade dos alemães. Contrapunham os católicos que a destruição de barreiras entre judeus e gentílicos pertence à própria essência do Evangelho e que o racismo não tem cabimento na igreja cristã. Quando Hitler aceitou uma Concordata com o Vaticano ("Reichskonkordat"), houve alguns católicos que ainda hesitaram. Os dois inimigos mortais da Alemanha, tal como os nazistas afirmavam na sua propaganda interna, eram, porém, claramente identificados: marxismo e judaísmo. A "incompatibilidade fundamental do nacional-socialismo com a religião cristã era manifesta", passando todos os cristãos, tanto protestantes como católicos, ao ataque sistemático ao nazismo. Apesar disso, as relações do Partido Nazista com a Igreja Católica têm sido apresentadas por alguns autores como controversa. Argumentam não saber se Hitler se considerava, ou não, cristão, e que a hierarquia da Igreja, representada pelo Papa Pio XI, se teria mantido basicamente silenciosa ("ver: Vaticano durante a Segunda Guerra Mundial"). A existência de um Ministério de Assuntos da Igreja, instituído em 1935 e liderado por Hanns Kerrl, teria sido quase ignorada por ideólogos como Alfred Rosenberg e por outros decisores políticos. Hitler e os outros líderes nazistas procuraram utilizar o simbolismo e a emoção cristã para propaganda junto ao público alemão, esmagadoramente cristão. Enquanto que autores não cristãos puseram ênfase na utilização externa da doutrina cristã, sem dar importância ao que poderia ter sido a mitologia interna do partido, os cristãos, baseando-se nos livros dos chefes nazis, nos folhetos de propaganda nazista que estes lançavam contra o cristianismo, e na perseguição constante decidiram se opor a Hitler. Declarações públicas e oficiais produzidas por autoridades católicas sobre o nazismo existem pelo menos desde o ano de 1930, bem antes da chegada de Hitler ao poder, quando o Ordinário de Mogúncia, em nome do seu bispo, declarou: "O que acabamos de dizer (sobre o nazismo), responde às três perguntas que nos foram postas: a) pode um católico ser membro do partido hitleriano?; b) está um sacerdote católico autorizado a consentir que os adeptos desse partido tomem parte em cerimônias eclesiásticas, incluindo funerais?; c) pode um católico fiel aos princípios do partido ser abrangido pelos sacramentos? Devemos responder 'não' a tais perguntas". O Papa Pio XI sabia do que se passava na Alemanha e escreveu vários documentos condenando o nazismo, com destaque para a encíclica de condenação do nazismo — "Mit brennender sorge" ("Com viva preocupação"). Muitos padres e líderes católicos opuseram-se com todo o vigor ao nazismo, dizendo que ele era incompatível com a moral e a fé cristã. Tal como aconteceu com muitos opositores políticos, muitos desses padres foram condenados aos campos de concentração pela sua oposição. O próprio Dr. Martin Niemöller, que a princípio lhes dera apoio, foi enviado para "Dachau". Nazismo e paganismo. Foi por intermédio do nazismo que se deu no a mais importante manifestação do paganismo. Uma denuncia da componente pagã do nazismo surgiu nos Estados Unidos, em 1934, logo após a vitória eleitoral e a subida ao poder de Adolf Hitler, como o livro "Nazismo: um assalto à civilização". Nesse livro, chamava-se a atenção para algo que se considerava inquietante: no dia 30 de julho de 1933, mais de cem mil nazistas tinham-se reunido em Eisenach para declarar querer tornar "a origem germânica a realidade divina", restaurando Odin, Baldur, Freia e os outros deuses teutônicos nos altares da Alemanha — Wotan deveria estar no lugar de Deus, Siegfried no lugar de Cristo. Durante o ano de 1936, os líderes nazis começam a abandonar a "cristandade alemã" ou o que também se designava por "cristianismo positivo". É então que Goebbels apresenta o nazismo como se fosse uma religião a ser respeitada — havia uma nova fé alemã a defender. Enquanto von Schirach tentava imbuir na Juventude Hitleriana a admiração pelas antigas tribos pagãs, o Movimento da Fé Germânica ("Deutsche Glaubensbewegung", DGB) fazia o grosso da propaganda. O DGB tinha como profeta Jakob Wilhelm Hauer (1881-1962), professor de Teologia em Tübingen, que pregava a ideia de uma fé ariana dos alemães. No livro "Deutsche Gottschau", Hauer defendia que a história da Alemanha era mais do que mera sequência de fatos, havendo na sua base uma divindade que encarnava o espírito da raça ariana. Uma grande manifestação foi organizada em Burg Hunxe, na Renânia. Em 1937, o Papa Pio XI publica uma Carta Encíclica de condenação do nazismo — "Mit brennender sorge" ("Com viva preocupação"), onde diz: "Damos graças, veneráveis irmãos, a vós, aos vossos sacerdotes e a todos os fieis que, defendendo os direitos da Divina Majestade contra um provocador neopaganismo, apoiado, desgraçadamente com frequência, por personalidades influentes, haveis cumprido e cumpris o vosso dever de cristãos". No Comício de Nuremberg, em 1937, revivia entre os nazistas o paganismo ancestral do povo ariano, surgindo um místico laicismo como um dos tópicos centrais em discussão: para que a Alemanha voltasse à sua antiga fé, não bastava a separação Igreja-Estado; as Igrejas cristãs teriam que ser destruídas e o Estado transformado numa nova Igreja; impunha-se uma nova religião nacional. No festival nórdico, do Solstício de Verão, Julius Streicher, diretor do "Strümer" e amigo pessoal de Hitler, perante uma enorme multidão de alemães reunidos em Hesselberg (montanha a qual o Führer declarou sagrada), ao lado de uma grande fogueira simbólica, disse: "Se olharmos para as chamas deste fogo sagrado e nelas lançarmos os nossos pecados, poderemos baixar desta montanha com as nossas almas limpas. Não precisamos nem de padres nem de pastores". Esse neopaganismo romântico, gerado pela ação dos responsáveis e órgãos nazistas, com destaque para, além de Goebbels, Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich, entrava então já em clara ruptura com as igrejas cristãs, protestantes e católica. Em 1938, depois das perseguições aos judeus que vinham desde a subida ao poder de Hitler, a perseguição aos cristãos passava então também a ser sistemática. Mais tarde, ao estudar o fenômeno totalitário, o filósofo Herbert Marcuse identifica na ideologia do nazismo várias camadas sobrepostas, considerando precisamente o paganismo, a par do misticismo, racismo e biologismo, uma das componentes essenciais da sua "camada mitológica". Segundo Paul Tillich, no paganismo do nazismo estava o elemento essencial que explicava o seu antissemitismo, no enfoque colocado nos "laços de sangue arianos". Para Emmanuel Levinas, o nazismo apresentava uma forma de religiosidade pagã que se opunha a toda uma civilização monoteísta. Neonazismo. Definição. O Neonazismo é a ideologia que faz o resgate de elementos do nazismo e surgiu após a Segunda Guerra Mundial. O neonazismo surgiu na Europa dentro das alas radicais de organizações de direita e foi formado por antigos nazistas que sobreviveram à derrota do nazismo em 1945. Essa ideologia proliferou-se com o tempo em muitos grupos e associações, que atuavam na clandestinidade, mas também adentrou na política profissional com a formação de partidos que aglomeravam os neonazistas. Após a reunificação alemã em 1990, ganharam ainda mais seguidores. Esses partidos utilizavam uma linguagem mais branda para mascarar a influência nazista. Esse movimento, adere ao negacionismo do holocausto dizendo que é "exagerado dizer que morreram mais de seis milhões de judeus em câmaras de gás". Alguns não negam o holocausto mas tentam justificá-lo falando de "sabotagens e terrorismos por parte dos judeus". Os principais revivalistas desse movimento são: George Lincoln Rockwell, Savitri Devi, Francis Parker Yockey, William Pierce, Eddy Morrison e David Myatt. Alguns movimentos neonazistas. No final do , surgiram movimentos neonazistas em vários países, incluindo os Estados Unidos e várias nações europeias. Alguns grupos que podem ser considerados neonazistas, porque não negam a sua associação com essa ideologia, são: Partido Nazi Americano e Aliança Nacional. Negacionismo do Holocausto. O Negacionismo do Holocausto consiste em uma prática de revisionismo histórico (isso é admitido inclusive pelos defensores dessa ideia e por isso eles preferem chamar o movimento de Revisionismo do Holocausto) que consiste basicamente em negar a existência da perseguição e do extermínio de judeus que ocorreu durante o Terceiro Reich. O fenômeno do negacionismo do holocausto existe desde o final da Segunda Guerra Mundial, porém ele passou a ser mais conhecido durante a reunificação alemã em 1990. O ativista político e escritor francês Paul Rassinier, considerado o "pai" do Negacionismo do Holocausto, escreveu em seu segundo livro, "A Mentira de Ulisses" (1950), que a Segunda Guerra Mundial havia sido um complô judeu internacional e que outros sobreviventes dos campos de concentração, já que ele mesmo havia sido um, exageravam nos relatos de suas vivências. Entre as alegações dos negacionistas podem ser citadas as seguintes: Os nazistas não possuíam uma política oficial ou intenção de exterminar os judeus (a política teria sido de deportação e não de extermínio); Os nazistas não utilizaram câmaras de gás para o assassinato em massa de judeus (eles dizem que existem evidências científicas que comprovam que câmaras de gás não poderiam ser usadas para matar grandes grupos de pessoas); A soma total de 5 a 6 milhões de mortes de judeus foi um exagero grosseiro, sendo o número verdadeiro, em ordem de magnitude, muito menor (o "verdadeiro" número de judeus mortos teria sido algo entre trezentos mil e 1,5 milhão de pessoas). Além disso, eles contestam a veracidade de evidências materiais que refutam os seus argumentos e de testemunhos dos sobreviventes do Holocausto. Os defensores da negação do Holocausto são muitas vezes acusados de manipular e falsificar evidências para tentar mostrar credibilidade para os seus argumentos. De acordo com os pesquisadores Michael Shermer e Alex Grobman, há uma "convergência de evidências" que prova que o Holocausto aconteceu. Entre as evidências estão: O Negacionismo do Holocausto é visto como uma forma de antissemitismo. A "American Historical Association", afirma que ele é "na melhor das hipóteses, fraude acadêmica". O doutor William Shulman, diretor do "Holocaust Research Center", descreveu a negação "… como se aquelas pessoas [vítimas do Holocausto] fossem assassinadas duas vezes". Em 2006, Kofi Annan, Secretário Geral da ONU, declarou: "Relembrar é uma repreensão necessária àqueles que dizem que o Holocausto nunca aconteceu ou que foi exagerado. Negacionismo do Holocausto é obra de fanáticos; devemos rejeitar suas falsas alegações sempre que necessário". Em janeiro de 2007, a Assembleia Geral das Nações Unidas condenou "sem reservas qualquer negação do Holocausto", embora o Irã tenha se desassociado da resolução. O Negacionismo do Holocausto é considerado um crime em dezesseis países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Eslováquia, França, Grécia, Hungria, Israel, Liechtenstein, Lituânia, Polônia, Portugal, República Checa, Romênia, Suíça. O uso do termo "nazista" na cultura popular. O termo "nazista" (no português do Brasil), ou "nazi" (no português europeu), é frequentemente utilizado para criticar grupos de pessoas que, de acordo com quem faz a crítica, tentam impor soluções impopulares ou extremistas à população em geral ou poderiam cometer crimes e outros tipos de violações sobre terceiros sem mostrar remorso. Esse tipo de crítica fez com que o filósofo Leo Strauss formasse, em 1951, a expressão "Reductio ad Hitlerum." Ela é usada para designar uma estratégia argumentativa falaciosa que funciona da seguinte forma: quando ocorre uma discussão ou debate, um dos grupos envolvidos tenta desqualificar os argumentos do grupo oponente associando qualquer um dos dois alvos da estratégia (argumento ou grupo que o faz) ao nazismo, criando uma ideia de que uma opinião seria errada somente porque o nazismo ou Adolf Hitler consideravam essa opinião correta e vice-versa. Um exemplo do uso de "Reductio ad Hitlerum" é a seguinte sentença: "Os nazistas eram conservadores, então o conservadorismo é errado". Essa tática, muitas vezes, não é vista com bom olhos, pois acredita-se que o seu uso frequente tem como consequência a relativização e a banalização do Holocausto. Durante o início da popularização da "internet", na década de 1990, o uso de analogias ao nazismo com o objetivo de tentar vencer uma discussão "on-line" ocorria com bastante frequência. Percebendo essa situação, o advogado americano Mike Godwin criou a Lei de Godwin, que se tornou uma das "regras da "internet"". Essa regra define que "com o prolongamento de uma discussão "on-line", a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo os nazistas ou Hitler aproxima-se de um (100%)". Para muitas pessoas, a aplicação da Lei de Godwin — ou seja, quando alguém recorre ao nazismo em um debate na "internet" —, é um sinal de que determinada discussão está encerrada e de que quem usou a expressão perdeu a disputa.
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Numismática
Numismática Numismática (do grego clássico "νόμισμα" - "nomisma", através do latim "numisma", moeda) é o estudo sob o ponto de vista histórico, artístico e econômico das cédulas, moedas e medalhas, muito embora o termo também seja empregado como sinônimo ao colecionismo desses itens. A numismática engloba ainda outros objetos "monetiformes", ou seja, assemelhados às moedas, como os jetons (geralmente emitidos por corporações para identificar seus membros), moedas particulares (destinadas a circular em círculos restritos, como uma fazenda) ou ainda os pesos monetários (que serviam para conferir os pesos das moedas em circulação). Na atualidade, desenvolveu-se também o conceito de colecionar moedas como forma de investimento, visto que as moedas costumam se valorizar com o passar dos anos e, dessa forma, podem garantir lucro aos “investidores” no momento da revenda. Ciência numismática. A numismática faz uso de diversas áreas do conhecimento para estudar as moedas, buscando identificá-las e situá-las no tempo histórico. Porém na atualidade a moeda se tornou, também, um documento histórico, sendo utilizada como “fonte” de dados para pesquisas, pois uma moeda pode facilmente fornecer dados sobre o povo que a cunhou, como sua forma de governo, língua, religião, forma como comercializavam, situação da economia, e até mesmo grau de sofisticação dos povos – através da análise do método de cunhagem – e por isso a numismática tem um papel cada vez maior no estudo da história dos povos. A preocupação principal da numismática é a moeda, enquanto peça cunhada. Cabe ao numismata analisar as moedas por diferentes métodos e buscando nelas diferentes informações. Durante esse processo o numismata fará uso de conhecimentos adquiridos através de outras disciplinas como a história, a cronologia, a metrologia, a simbologia, a epigrafia, a heráldica, a iconografia, a geografia, a economia, noções dos processos de metalurgia e da evolução nas artes, entre outros campos que podem ser abordados. A numismática clássica divide-se em duas partes distintas: Nos trabalhos científicos a distinção entre essas duas áreas é frequentemente sutil, já que além de distintas essas partes são complementares. Devem os primeiros estudos das moedas antigas a sua elaboração aos eruditos do Renascimento, como o Tractatus de Origine Monetarum de Oresmius (1385), a Miscellanea de Ângelo Policiano, aparecida em 1489, o Liber de Origine et Ratione Monetae, do Bispo de Worms (1503) e sobre todos o célebre De Asse et Partibus Eius, de Guilherme Budeu, que data de 1515. História. Desde o Império Romano a aristocracia cultivou o interesse de colecionar moedas, sem no entanto estudá-las. O costume romano compartilhado por imperadores, como Augusto, foi mantido por reis europeus durante a Idade Média. A coleção de reis como Luís XIV da França e Maximiliano do Sacro Império possibilitariam o surgimento da numismática durante o Renascimento, graças à vontade dos humanistas em recuperar a cultura greco-romana, e a iniciativa de organizar as coleções reais. Assim a numismática surgiu durante o renascimento e se consolidou como ciência nos séculos seguintes. Assim temos nomes como o abade Joseph Eckhel que trabalhou na coleção imperial de Viena, capital da Áustria. Temos o colecionador francês Joseph Pellerin, que contribuiu para a coleção real francesa, e temos também um dos nomes mais famosos, Francesco Petrarca, poeta que desenvolveu a numismática na Itália. O objetivo de Petrarca era conhecer a história de cada povo. Petrarca demonstrou também como a numismática pode se tornar uma paixão contagiosa. Em 1390, coube a ele, indiretamente, a cunhagem de moedas comemorativas pela libertação da cidade de Pádua, pelo visconde Francisco II de Carrara. Seja pela cultura, pela observância de técnicas ou simplesmente pelo desafio de colecionar, a relação entre cultura e numismática sempre é presente. Mesmo aqueles que colecionam moedas ou cédulas como um simples "hobby", sem se dedicar à pesquisa, adquirem uma boa bagagem de cultura geral. Há uma série de curiosidades que os numismatas cultivam. Por exemplo, a serrilha das moedas surgiu porque era frequente, antes disso, raspar a borda das moedas de metais mais nobres (ouro e prata) para juntar esse mesmo metal em pó, diminuindo o diâmetro da moeda e o seu valor no peso (mas não o valor facial) - na gíria numismática este acto de subtrair metal original á moeda é chamada de "cerceio". Outro exemplo, embora não de interesse direto para a numismática, é a quantidade de objectos que já serviram de moeda em diferentes culturas: das conchas e seixos até animais como elefantes ou o couro de outros. Ainda hoje, em vários países do Oriente as moedas são perfuradas para nelas serem enfiados cordões. História. A numismática desenvolveu-se no Brasil, principalmente a partir do século XIX, seguindo em parte o modelo europeu. A aristocracia teve papel fundamental para o desenvolvimento da numismática no Brasil, por ser a classe mais instruída e também por ter condições de formar coleções numismáticas, lembrando-se que na época as coleções deviam se formar basicamente de moedas greco-romanas. Temos também a contribuição especial do imperador Dom Pedro II, amante das artes e da história e que frequentemente fazia viagens ao exterior donde trazia “lembranças”. Com o fim do Império, a maior parte da produção numismática brasileira ficou restrita a museus e a trabalhos realizados por poucos pesquisadores principalmente no eixo das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, quadro que começou a se alterar com a popularização das feiras de antiguidade e com a criação de sociedades numismáticas no país. Neste contexto, algumas personagens se destacam por sua contribuição à ciência numismática nacional. O personagem mais importante, ainda hoje considerado o verdadeiro criador da nossa numismática é Julius Meili. Sua obra estaria, inicialmente, dividida em quatro tomos, sendo o último dedicado às medalhas brasileiras. Dos três volumes concluídos, o primeiro, As Moedas do Brasil Colônia, foi publicado em 1897. Alguns anos mais tarde surge o catálogo Souza Lobo, engrandecendo a ainda escassa fonte de consulta a respeito da nossa história numária. Com o passar dos anos, cresceu notavelmente o número de numismatas e, consequentemente, os acervos compostos de belos e raros exemplares. Foi na década de 1940 que começaram a surgir os primeiros trabalhos do numismata, estudioso e pesquisador, Kurt Prober, com destaque para o seu Manual de Numismática de 1944 e o Catálogo de Moedas Brasileiras de Prata de 1947. Apesar dos esforços a numismática no Brasil não é tão bem difundida como em outros países. Ainda assim, possui vários grupos de colecionadores bem organizados, cursos e literatura sobre sua evolução no país. No calendário oficial, o dia 1º de Dezembro é marcado como o "Dia do Numismata". Essa data foi escolhida por reunião da Sociedade Numismática Brasileira por ser o dia, no calendário católico, de Santo Elói (ou Elígio), padroeiro dos numismatas. A obra "Sylloge Nummorum Graecorum Brasil/SNG", de autoria de Marici Martins Magalhães (UFRJ), apresenta a coleção de moedas gregas e provinciais romanas existente no acervo do Museu Histórico Nacional. Além das moedas gregas propriamente ditas, a SNG inclui as moedas produzidas por todas as antigas civilizações sob a influência Greco-Romana, abrangendo geograficamente desde a costa atlântica da Europa até o noroeste da Índia, e cronologicamente desde as primeiras cunhagens Gregas em aproximadamente 600 a. C até o final do III século d.C.. Museus de Numismática Brasileiros. Museu de Numismática Bernardo Ramos. O Museu mais Antigo do Brasil de 1900 é o Museu de Numismática Bernardo Ramos em Manaus, Amazonas e tem a sua origem na coleção de moedas, medalhas, cédulas e documentos históricos, organizada pelo comerciante amazonense Bernardo Ramos. Estudioso e fascinado pela Numismática, viajou por vários países, adquirindo peças para sua coleção. Em 1898, adquiriu a valiosa coleção e respectiva biblioteca especializada do humanista pernambucano Cícero Peregrino Dias. O Governo do Amazonas autorizou a compra da coleção numismática de Bernardo Ramos, em 20 de Fevereiro de 1900, pela quantia de trezentos contos de réis. Em 1900, por ocasião das festividades do IV Centenário do Descobrimento do Brasil, realizadas no Rio de Janeiro, então capital da República, a Coleção Numismática foi exposta no período de 05 a 31 de maio de 1900, no salão nobre do Externato do Ginásio Nacional, hoje Museu Nacional. A exposição ao ser visitada pelo então Presidente da República Dr. Campos Salles, despertou neste um grande interesse, levando-o a fazer uma oferta de compra, o que foi recusado pelo Amazonense. Em 30 de novembro de 1900, o Decreto n.º 0460 criou a Seção Numismática e o Regulamento, que deu origem legal ao Museu. A coleção foi dividida em 24 vitrines de madeira de lei com cristal bisotado, e aberta à visitação. Desde 25 de março de 2009, o Museu retornou ao antigo prédio do Comando Geral da Policia Militar, atual Palacete Provincial. O acervo que em 1900, era considerado o primeiro da América Latina e o quarto do mundo, atualmente está entre um dos melhores do mundo em sua especialidade. Museu Herculano Pires. O Museu Herculano Pires foi um museu mantido pela Itaú Numismática de 2000 a 2009, quando reunia então um dos maiores acervos de moedas, medalhas e condecorações luso-brasileiras, com mais de 6.500 peças. Dessas, cerca de 1 500 estão expostas, divididas em 32 módulos e organizadas cronologicamente. As principais atrações são a Peça da Coroação de D. Pedro I, a Ordem da Rosa, Moedas Obsidionais Holandesas e Dobrões, além de uma mesa circular com 256 moedas do século XIX que permite observação detalhada com lentes que aumentam o objeto 40 vezes. Museu de Valores do Banco Central. O Museu de Valores do Banco Central é um museu brasileiro, com sede em Brasília, no Distrito Federal e sala de exposição na gerência-regional Curitiba. Seu acervo é composto de cédulas, moedas e outros valores impressos, barras de ouro, medalhas e curiosidades numismáticas ligadas ao dinheiro e a tecnologia de sua fabricação. Inaugurado no dia 31 de agosto de 1972, como parte dos eventos comemorativos dos 150 anos da Independência do Brasil, no Palacete da antiga Caixa de Amortização. Com a transferência do Banco Central do Brasil para Brasília, o Museu de Valores recebeu novas instalações no edifício sede do Banco Central, em 8 de setembro de 1981. O Museu de Valores possui uma coleção de moedas e cédulas brasileiras, com peças representativas de todos os períodos da história do país. Esta coleção inclui exemplares de extrema raridade, como é o caso da chamada "Peça da Coroação", da qual restam apenas 64 moedas, para comemorar a coroação de D. Pedro I como imperador do Brasil, em 1822. Por fim, o Banco Central do Brasil é o órgão responsável pela reserva-ouro brasileira. Em razão disso o Museu tem condições de expor ao público exemplares de barras de ouro, pepitas e outras curiosidades que mostram a beleza, a raridade e a utilidade desse metal precioso que sempre provocou fascinação no ser humano. Em destaque, pode-se ver a maior pepita de ouro já encontrada no Brasil: pesa 60,820 kg (52,332 kg de ouro contido) e foi encontrada no garimpo de Serra Pelada, no Estado do Pará. Em Portugal. História. Em Portugal, a numismática teve um percurso evolutivo considerável no século XIX, através do contributo do Dr Augusto Carlos Teixeira de Aragão, considerado por muitos o pai desta ciência neste país, e que dedicou vários anos da sua vida a estudar, coleccionar, catalogar e organizar exposições da colecção Real Portuguesa ao serviço S. M. o rei D. Luis I de Portugal. Como referências da sua obra notável podem-se citar as publicações sobre a "Description des Monnaies, Médailles et Autres Objects D'Art Concernant L'Histoire Portugaise" tendo esta obra em conjunto com a colecção, acompanhado a delegação Portuguesa da época à Exposição Universal de Paris em 1867, tendo-lhe sido atribuída a medalha de ouro da exposição; a "Descrição geral e histórica das moedas cunhadas em nome dos reis, regentes e governadores de Portugal" em 3 Tomos; e a "Descripção Histórica das Moedas Romanas existentes no Gabinete Numismático de sua Magestade EL-Rei O Senhor Dom Luiz I".  Museus. Museu da Casa da Moeda. O Museu da Casa da Moeda, em Lisboa, conta com mais de 35.000 moedas datadas de entre os séculos VII-VI a.C. e o século XXI, entre as quais se destacam as de origem grega, romana, sueva, visigoda, bizantina, islâmica, portuguesa e estrangeira como a Peça da Coroação de D. Pedro I. E 9.500 medalhas produzidas desde o século XV à atualidade, tanto de origem portuguesa como estrangeira. Também criado em formato digital, o Museu é visitável pela internet.
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Niels Henrik David Bohr
Niels Henrik David Bohr
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Niels Bohr
Niels Bohr Niels Henrik David Bohr (dinamarquês: ( ); Copenhague, – Copenhague, ) foi um físico e filósofo dinamarquês que fez contribuições fundamentais para a compreensão da estrutura atômica e da mecânica quântica, pela qual recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1922. Bohr desenvolveu um modelo atômico (átomo de Bohr), no qual propôs que os níveis de energia dos elétrons são quatizadas e que os elétrons se movem em órbitas estáveis ao redor do núcleo atômico, mas podem saltar de um nível de energia (ou órbita) para outro. Embora o modelo tenha sido, mais tarde, substituído por outros, seus princípios fundamentais permanecem válidos. Ele também concebeu o princípio da complementaridade, que defende que objetos têm certos pares de propriedades complementares que não podem ser todos observados ou medidos simultaneamente, como a dualidade onda-partícula. Essa noção de complementariedade dominava o pensamento de Bohr tanto na ciência quanto na filosofia. Bohr fundou o Instituto de Física Teórica na Universidade de Copenhague, hoje conhecido como Instituto Niels Bohr, que foi inaugurado em 1920. Bohr orientou e colaborou com físicos incluindo Hans Kramers, Oskar Klein, George de Hevesy, e Werner Heisenberg. Ele também previu a existência de um novo elemento semelhante ao zircônio, que recebeu o nome de háfnio (em homenagem à cidade de "Hafnia", Copenhague em latim). Posteriormente, o elemento bóhrio foi nomeado em sua homenagem. Durante a década de 1930, Bohr ajudou os refugiados da Segunda Guerra Mundial. Depois que a Dinamarca foi ocupada pelos alemães, Bohr encontrou-se com Heisenberg, que havia se tornado o responsável pelo projeto de energia nuclear alemão. Em setembro de 1943 chegou a Bohr a notícia de que estava prestes a ser preso pelos alemães, fugindo assim para a Suécia. De lá, ele foi levado para a Grã-Bretanha, onde se juntou ao projeto britânico de armas nucleares Tube Alloys, e fez parte da missão britânica no Projeto Manhattan. Após a guerra, Bohr apelou para a cooperação internacional sobre energia nuclear, envolvendo-se na criação da CERN e tornando-se o primeiro presidente do Instituto Nórdico de Física Teórica em 1957. Início de vida. Primeiros anos e educação. Bohr nasceu em Copenhague, Dinamarca, em 7 de outubro de 1885, o segundo dos três filhos de Christian Bohr, um professor de fisiologia na Universidade de Copenhague e descobridor do efeito de Bohr, e de Ellen Adler Bohr, descendente de uma rica família judia dinamarquesa, proeminente em bancos e em círculos parlamentares. Niels tinha uma irmã mais velha, Jenny, e um irmão mais novo, Harald. Jenny tornou-se uma professora, enquanto Harald tornou-se matemático e jogador de futebol, tendo jogado pela Seleção Dinamarquesa de Futebol nos Jogos Olímpicos de Verão de 1908, em Londres. Niels também era um amante do futebol, e os dois irmãos jogaram várias partidas pelo clube de futebol copenhaguense Akademisk Boldklub, com Niels na função de goleiro. Bohr foi educado na Escola Latina Gammelholm, tendo ingressado aos sete anos de idade. Em 1903, Bohr ingressou na Universidade de Copenhague como graduando de física. Ele foi ensinado por Christian Christiansen, o único professor de física da instituição à época; ele também estudou astronomia e matemática com Thorvald Thiele, e filosofia com Harald Høffding, que era amigo de seu pai. Em 1905, ocorreu uma competição patrocinada pela Academia Real Dinamarquesa de Ciências e Letras para investigar um método de medição da tensão superficial de líquidos, proposta em 1879 por John William Strutt, o Lord Rayleigh. O desafio envolvia medir a frequência de oscilação do raio de um jato d'água. Bohr fez uma série de experimentos utilizando o laboratório de seu pai na Universidade; a instituição em si não possuía um laboratório de física. Para completar seus experimento, ele teve de fazer seus próprios instrumentos de vidro, fabricando tubos de teste com as seções transversais elípticas necessárias. Niels foi além da tarefa original, incorporando melhorias à teoria e ao método de Rayleigh ao considerar a viscosidade da água e ao trabalhar com amplitudes finitas, ao invés de apenas com aquelas de tamanho infinitesimal. Seu trabalho, enviado às vésperas do fim do prazo do concurso, venceu a competição. Ele mais tarde submeteu uma versão melhorada do artigo para a Royal Society em Londres, para publicação na revista da instituição, "Philosophical Transactions of the Royal Society". Harald foi o primeiro dos dois irmãos a concluir seu mestrado, obtendo-o na área de matemática em abril de 1909. Niels levou outros nove meses para obter seu mestrado com a teoria eletrônica dos metais, um tópico designado por seu orientador, Christiansen. Bohr elaborou o tema de seu mestrado para produzir sua tese de doutorado em filosofia, sendo esta muito mais abrangente que sua dissertação. Ele pesquisou a literatura sobre o assunto, assentando-se em um modelo postulado por Paul Drude e elaborado por Hendrik Lorentz, no qual os elétrons de um metal são considerados como possuindo um comportamento semelhante ao de um gás. Bohr estendeu o modelo de Lorentz, mas continuou incapaz de entender fenômenos como o efeito Hall, concluindo que a teoria eletrônica não poderia explicar completamente as propriedades magnéticas dos metais. A tese foi aceita em abril de 1911, e Bohr defendeu-a em 13 de maio; Harald havia recebido seu doutorado no ano anterior. A tese de Bohr foi inovadora, porém atraiu pouco interesse fora da Escandinávia por ter sido escrita em Dinamarquês, um requisito da Universidade de Copenhague à época. Em 1921, a física neerlandesa Hendrika Johanna van Leeuwen demonstraria, de forma independente, um teorema a partir da tese de Bohr, hoje conhecido como teorema de Bohr–van Leeuwen. Família. Em 1910, Bohr conheceu Margrethe Nørlund, a irmã do matemático Niels Erik Nørlund. Bohr renunciou sua filiação à Igreja da Dinamarca em 16 de abril de 1912, e ele e Margrethe casaram-se em uma cerimônia civil na prefeitura em Slagelse em 1 de agosto. Anos depois, seu irmão Harald também deixou à Igreja de forma similar antes de seu próprio casamento. Bohr e Margrethe tiveram seis filhos. O mais velho, Christian, morreu em um acidente de barco em 1934, e outro, Harald, morreu de meningite na infância. Aage Bohr tornou-se um físico de sucesso e, em 1975, foi laureado com o Prêmio Nobel de Física, como seu pai. Hans Bohr tornou-se um médico; Erik Bohr, um engenheiro de química; e Ernest, um advogado. Como seu tio Harald, Ernest Bohr foi um atleta olímpico, havendo jogado hóquei sobre a grama pela Dinamarca nos Jogos Olímpicos de Verão de 1948, realizados em Londres. Carreira acadêmica. Átomo de Bohr. Em setembro de 1911, Bohr, apoiado por uma sociedade da Fundação Carlsberg, viajou à Inglaterra. À época, era o local onde estava sendo feito a maior parte do trabalho teórico sobre a estrutura de átomos e moléculas. Lá, conheceu J. J. Thomson do Laboratório Cavendish e do Trinity College, Cambridge. Bohr assistiu a palestras sobre eletromagnetismo promovidas por James Jeans e Joseph Larmor, e realizou algumas pesquisas em raios catódicos, mas não conseguiu impressionar Thomson. Ele encontrou maior sucesso entre físicos mais jovens como o australiano William Lawrence Bragg, e o neozelandês Ernest Rutherford, cujo modelo de 1911 de um átomo com núcleo central pequeno desafiava o modelo proposto por Thomson em 1904. Bohr recebeu um convite de Rutherford para conduzir um trabalho de pós-doutorado Universidade Victória de Manchester, onde Bohr conheceu George de Hevesy e Charles Galton Darwin (ao qual Bohr referia-se como sendo "o neto do verdadeiro Darwin"). Bohr retornou à Dinamarca em julho de 1912 para seu casamento, e viajou pela Inglaterra e pela Escócia na sua lua de mel. Ao retornar, ele tornou-se um "privatdocent" na Universidade de Copenhague, dando palestras sobre termodinâmica. Martin Knudsen indicou o nome de Bohr a "docente", sendo aprovado para o cargo em julho de 1913, e Bohr então começou a ensinar estudantes de medicina. Seus três artigos, que mais tarde ficariam conhecidos como "a trilogia", foram publicados na "Philosophical Magazine" em julho, setembro e novembro daquele ano. Ele adaptou a estrutura nuclear do modelo de Rutherford à teoria quântica de Max Planck e então criou o seu próprio modelo do átomo. Modelos planetários dos átomos não eram novos, mas o tratamento fornecido por Bohr era. Tomando como ponto de partida o artigo publicado por Darwin em 1912 sobre o papel dos elétrons na interação de partículas alfa com um núcleo, ele fez avanços na teoria de elétrons viajando em órbitas em torno do núcleo atômico, com as propriedades químicas de cada elemento sendo em grande parte determinadas pelo número de elétrons nas órbitas mais externas de seus átomos. Ele introduziu a ideia de que um elétron poderia "descer" de uma órbita de maior energia para uma de menor energia, emitindo um quantum de energia discreta durante o processo. Esse raciocínio tornou-se a base do que eventualmente veio a ser conhecido como a antiga teoria quântica. Em 1885, Johann Balmer descreveu o que ficou conhecido como a série de Balmer, uma lista das linhas espectrais do átomo de hidrogênio. Ele percebeu que os quatro comprimentos de onda λ em que essas linhas se encontravam (todas na região visível do espectro) obedeciam a seguinte fórmula: em que "R" é a constante de Rydberg, medida experimentalmente. A fórmula de Balmer foi corroborada pela descoberta de novas linhas espectrais, correspondentes a valores maiores de "n"; entretanto, por trinta anos, ninguém conseguiu explicar por que ela funcionava. No primeiro artigo de sua trilogia, Bohr foi capaz de derivá-la de seu modelo, explicitando a dependência da constante de Rydberg de outras constantes fundamentais: em que "m"e é a massa do elétron, e "e" é a sua carga; "ε0" é a permissividade do vácuo, "h" a constante de Planck, e "c" a velocidade da luz. Além disso, o modelo de Bohr explicava a generalização da fórmula de Balmer em que o termo "1/22" é substituído por "1/m2", com "m" um inteiro menor que "n". A primeira limitação do modelo foi a série de Pickering, composta por linhas que não eram compatíveis com a fórmula de Balmer. Quando confrontado sobre isso por Alfred Fowler, Bohr respondeu que elas eram causadas pelo hélio ionizado, isto é, átomos de hélio com apenas um elétron. O modelo de Bohr pôde ser adaptado para íons desse tipo. Muitos físicos mais velhos, como Thomson, Rayleigh e Hendrik Lorentz não gostaram da trilogia, mas a geração mais jovem, incluindo Rutherford, David Hilbert, Albert Einstein, Enrico Fermi, Max Born e Arnold Sommerfeld perceberam-na como um grande avanço. A aceitação da trilogia foi completamente devida à sua capacidade de explicar fenômenos que bloqueavam outros modelos e de prever resultados que foram verificados em seguida por experimentos. Hoje, o modelo de Bohr para o átomo tornou-se ultrapassado, mas ainda é o modelo mais bem conhecido do átomo, aparecendo frequentemente em livros-texto de física e química do ensino secundário. Bohr não gostava de ensinar estudantes de medicina. Ele decidiu retornar a Manchester, onde Rutherford lhe ofereceu um trabalho como leitor no lugar de Darwin, cujo mandato havia expirado. Bohr aceitou. Ele tirou licença da Universidade de Copenhague, começando por uma viagem de feriado a Tirol com seu irmão Harald e sua tia Hanna Adler. Nessa viagem, ele visitou a Universidade de Göttingen e a Universidade de Munique, onde conheceu Sommerfeld e conduziu seminários sobre sua trilogia. Enquanto estavam em Tirol, a Primeira Guerra Mundial eclodiu, dificultando enormemente a viagem de volta para a Dinamarca e a viagem subsequente de Bohr com Margrethe à Inglaterra, onde ele chegou em outubro de 1914. Eles ficaram até julho de 1916, quando ele já havia sido nomeado Presidente de Física Teórica da Universidade de Copenhague, uma posição criada especialmente para ele. Concomitantemente, sua documentação de licença expirou, então ele ainda tinha que dar aulas de física a estudantes de medicina. Novos professores foram formalmente introduzidos pelo Rei Cristiano X, que expressou seu prazer em conhecer um jogador de futebol tão famoso. Instituto de Física. Em abril de 1917, Bohr começou uma campanha para estabelecer um Instituto de Física Teórica. Ele ganhou o apoio do governo dinamarquês e da Fundação Carlsberg, e contribuições significativas também foram feitas pela indústria e por doadores privados, muitos deles judeus. A legislação para o estabelecimento do Instituto foi aprovada em novembro de 1918. Hoje conhecido como o Instituto Niels Bohr, a instituição foi inaugurada em 3 de março de 1921, com Bohr como diretor. Sua família se mudou para um apartamento de primeiro piso. O instituto de Bohr serviu como um ponto focal para pesquisadores de mecânica quântica e assuntos relacionados entre os anos 1920 e 1930, período no qual a maioria dos físicos mais famosos do mundo passaram algum tempo em sua companhia. Entre os primeiros colaboradores estão Hans Kramers dos Países Baixos, Oskar Klein da Suécia, George de Hevesy da Hungria, Wojciech Rubinowicz da Polônia e Svein Rosseland da Noruega. Bohr tornou-se amplamente apreciado como seu anfitrião e colega eminente. Klein e Rosseland produziram a primeira publicação do Instituto antes mesmo de ele ser inaugurado. O modelo de Bohr funcionava bem para o hidrogênio, mas não era capaz de descrever elementos mais complexos. Em 1919, Bohr já estava se afastando da ideia de que elétrons orbitavam o núcleo e desenvolveu uma heurística para descrevê-los. Os elementos de terras raras colocavam um problema particular de classificação para os químicos, por eles serem quimicamente semelhantes. Um avanço importante ocorreu em 1924 com a descoberta por Wolfgang Pauli de seu princípio de exclusão, que fornecia uma base teórica firme para os modelos de Bohr. Bohr foi então capaz de afirmar que o então desconhecido elemento de número atômico 72 não era um elemento de terras raras, mas sim um elemento com propriedades químicas semelhantes às do zircônio. Ele foi imediatamente desafiado pelo químico francês Georges Urbain, que afirmava ter descoberto um elemento de terras raras de número atômico 72, que ele chamava de "céltio". No Instituto em Copenhague, Dirk Coster e George de Hevesy aceitaram o desafio de mostrar que Bohr estava certo, e não Urbain. Começar com uma ideia clara das propriedades químicas do elemento desconhecido simplificou em muito o processo de busca. Eles analisaram amostras do Museu de Mineralogia de Copenhague a procura de um elemento similar a zircônio e logo o encontraram. O elemento, que eles denominaram háfnio ("Hafnia" sendo o nome latino para Copenhague), acabou se mostrando mais comum que ouro. Em 1922, Bohr foi laureado com o Prêmio Nobel de Física "pelos seus serviços na investigação da estrutura de átomos e da radiação que emana dele". O prêmio, portanto, reconhecia tanto a sua trilogia quanto seu trabalho pioneiro no campo emergente da mecânica quântica. Para sua palestra do Nobel, Bohr mostrou à sua audiência uma compilação ampla do que era então conhecido sobre a estrutura do átomo, incluindo o princípio da correspondência, que ele havia formulado. Tal princípio afirmava que o comportamento de sistemas descritos pela teoria quântica reproduz a física clássica no limite de grandes números quânticos. A descoberta do espalhamento da luz por partículas carregadas por Arthur Holly Compton em 1923 convenceu a maioria dos físicos que a luz era composta por fótons, e que energia e momento linear eram conservados em colisões entre elétrons e fótons. Em 1924, Bohr, Kramers e John C. Slater, um físico norte-americano que trabalhava no Instituto em Copenhague, propuseram o que ficou conhecido como a teoria Bohr–Kramers–Slater; tais ideias eram mais qualitativas do que uma teoria física em si. A teoria BKS tornou-se a última tentativa de entender a interação entre a matéria e a radiação eletromagnética utilizando a antiga teoria quântica, na qual fenômenos quânticos eram compreendidos através da imposição de restrições quânticas a uma descrição ondulatória clássica do campo eletromagnético. A modelagem do comportamento atômico sob radiação eletromagnética incidente utilizando "osciladores virtuais" nas frequências de absorção e emissão, em vez das frequências aparentes (diferentes) das órbitas de Bohr, levou Max Born, Werner Heisenberg e Kramers a explorar diferentes modelos matemáticos. Isso acarretou o desenvolvimento da mecânica matricial, a primeira forma da mecânica quântica moderna. A teoria BKS também provocou a discussão de, e renovou atenção a, dificuldades nas fundações da antiga teoria quântica. O efeito mais controverso da teoria BKS – de que o momento e a energia não seriam necessariamente conservados em cada interação, mas somente de forma estatística – logo se mostrou em conflito com experimentos conduzidos por Walther Bothe e Hans Geiger. À luz desses resultados, Bohr informou Darwin que "não há nada mais a fazer se não dar aos nossos esforços revolucionários um funeral tão honroso quanto possível". Mecânica quântica. A introdução do spin por George Uhlenbeck e Samuel Goudsmit em novembro de 1925 foi um marco importante. No mês seguinte, Bohr viajou a Leiden para a comemoração do cinquentenário do doutorado de Hendrick Lorentz. Quando seu trem parou em Hamburgo, ele se encontrou com Wolfgang Pauli e Otto Stern, que pediram sua opinião na teoria do spin. Bohr apontou sua preocupação teórica com a interação entre elétrons e campos magnéticos. Quando chegou a Leiden, Paul Ehrenfest e Albert Einstein informaram-lhe que Einstein havia resolvido esse problema usando sua teoria da relatividade. Bohr então fez com que Uhlenbeck e Goudsmit incluíssem essa resolução em seu artigo. Assim, quando Bohr encontrou Werner Heisenberg e Pascual Jordan em Gotinga na viagem de volta, ele tornou-se, em suas próprias palavras, "um profeta do evangelho do magneto eletrônico". Heisenberg foi pela primeira vez à Copenhague em 1924, e então retornou a Göttingen em junho de 1925, havendo desenvolvido os fundamentos matemáticos da mecânica quântica pouco tempo depois. Após mostrar seus resultados para Max Born em Göttingen, Born percebeu que eles poderiam ser melhor expressos utilizando matrizes. Esse trabalho atraiu a atenção do físico britânico Paul Dirac, que veio a Copenhague em setembro de 1926 e então permaneceu na cidade por seis meses. O físico austríaco Erwin Schrödinger também a visitou em 1926. A sua tentativa de explicar a física quântica em termos clássicos utilizando mecânica ondulatória impressionou Bohr, que acreditava que ela contribuir "tanto para a clareza e a simplicidade matemáticas que ela representava um avanço gigantesco em relação a todas as formas anteriores da mecânica quântica". Quando Kramers deixou o Instituto em 1926 para aceitar a posição de professor de física teórica na Universidade de Utrecht, Bohr organizou para que Heisenberg retornasse e tomasse o lugar de Kramers como "palestrante" ("lektor") na Universidade de Copenhague. Heisenberg trabalhou em Copenhague como palestrante universitário e assistente de Bohr de 1926 até 1927. Bohr ficara convencido de que a luz se comportava tanto como onda quanto como partícula, e em 1927, experimentos confirmaram a hipótese de de Broglie de que a matéria (como elétrons) também se comportava como onda. Ele concebeu o princípio filosófico da complementariedade: que objetos poderiam possuir propriedades mutuamente exclusivas, tal como ser uma onda ou um fluxo de partículas, dependo do escopo experimental. Ele sentiu que seu princípio não foi completamente entendido por filósofos profissionais. Ainda em 1927, Heisenberg desenvolveu em Copenhague o seu princípio da incerteza, que Bohr passou a adotar. Em um artigo que ele apresentou em setembro do mesmo ano na Conferência Volta em Como, Heisenberg demonstrou que o princípio da incerteza poderia ser derivado de argumentos clássicos, sem a terminologia quântica ou matrizes. Einstein preferia o determinismo da física clássica em relação à probabilística da nova física quântica, para a qual ele mesmo havia contribuído. Problemas filosóficos que advieramos aspectos inovadores da mecânica quântica tornaram-se objetos de discussão amplamente celebrados. Einstein e Bohr tiveram vários debates acerca dessas questões filosóficas ao longo de suas vidas. Em 1914, Carl Jacobsen, o herdeiro das cervejarias Carlsberg, legou sua mansão para ser usada vitaliciamente pelo dinamarquês que tivesse feito a contribuição mais proeminente para ciência, literatura ou arte, como uma residência honorária (). Harald Høffding havia sido o primeiro ocupante, e após sua morte em julho de 1931, a Real Academia Dinamarquesa de Ciências deu a Bohr o cargo. Ele e sua família se mudaram para a residência em 1932. Ele foi eleito presidente da Academia em 17 de março de 1939. Em 1929, o fenômeno do decaimento beta incitou Bohr a novamente sugerir que a lei da conservação de energia fosse abandonada, mas o neutrino teorizado por Enrico Fermi e a descoberta subsequente do nêutron em 1932 forneceram uma explicação alternativa. Isso direcionou Bohr a criar uma nova teoria do núcleo composto em 1936, que explicava como nêutrons poderiam ser capturados pelo núcleo. Nesse modelo, o núcleo poderia ser deformado como se fosse uma gota de líquido. Ele trabalhou nessa teoria com um novo colaborador, o físico dinamarquês Fritz Kalckar, que morreu repentinamente em 1938. A descoberta da fissão nuclear por Otto Hahn em dezembro de 1938 (e sua explicação teórica por Lise Meitner) provocaram grande interesse entre os físicos. Bohr trouxe a notícia aos Estados Unidos, onde abriu a Quinta Conferência de Washington sobre Física Teórica, junto de Fermi, em 26 de janeiro de 1939. Quando Bohr disse a George Placzek que isso resolvia todos os mistérios dos elementos transurânicos, Placzek respondeu dizendo que ainda restava um: as energias de captura de nêutron do urânio não eram compatíveis com aquelas do seu decaimento. Bohr pensou nisso por alguns minutos e então anunciou a Placzek, Léon Rosenfeld e John Wheeler afirmando "eu entendi tudo." Baseando-se no seu modelo de gota líquida para o núcleo, Bohr concluiu que era o isótopo do urânio-235 e não o mais abundante urânio-238 que era primariamente responsável pela fissão com nêutrons térmicos. Em abril de 1940, John R. Dunning demonstrou que Bohr estava correto. Nesse meio tempo, Bohr e Wheeler desenvolveram um tratamento teórico que eles publicaram no seu artigo de setembro de 1939, intitulado "O Mecanismo da Fissão Nuclear". Em 1934, publicou o livro "Atomic Theory and the Description of Nature", que foi reeditado em 1961. Em janeiro de 1937, Bohr participou na Quinta Conferência de Física Teórica, em Washington, na qual defendeu a interpretação de Lise Meitner e Otto Frisch, também do Instituto de Copenhaga, para a fissão do urânio. Segundo esta interpretação, um núcleo atômico de massa instável era como uma gota de água que se rompe. Três semanas depois, os fundamentos da teoria da "gota líquida" foram publicados na revista Physical Review. A esta publicação seguiram-se muitas outras, todas relacionadas com o núcleo atómico e a disposição e características dos electrões que giram em torno dele. Um ano depois de se ter refugiado em Inglaterra, devido à ocupação nazi da Dinamarca, Bohr mudou-se para os Estados Unidos, onde ocupou o cargo de consultor do laboratório de energia atómica de Los Alamos. Neste laboratório, alguns cientistas iniciavam a construção da bomba atômica. Bohr, compreendendo a gravidade da situação e o perigo que essa bomba poderia representar para a humanidade, dirigiu-se a Churchill e Roosevelt, num apelo à sua responsabilidade de chefes de Estado, tentando evitar a construção da bomba atómica. Mas a tentativa de Bohr foi em vão. Em julho de 1945 a primeira bomba atómica experimental explodiu em Alamogordo. Em Agosto desse mesmo ano, uma bomba atómica destruiu a cidade de Hiroshima. Três dias depois, uma segunda bomba foi lançada em Nagasaki. Em 1945, finda a II Guerra Mundial, Bohr regressou à Dinamarca, onde foi eleito presidente da Academia de Ciências. Bohr continuou a apoiar as vantagens da colaboração científica entre as nações e para isso foi promotor de congressos científicos organizados periodicamente na Europa e nos Estados Unidos. Em 1950, Bohr escreveu a “Carta Aberta” às Nações Unidas em defesa da preservação da paz, por ele considerada como condição indispensável para a liberdade de pensamento e de pesquisa. Em 1957, Niels Bohr recebeu o Prêmio Átomos pela Paz. Ao mesmo tempo, o Instituto de Física Teórica, por ele dirigido desde 1920, afirmou-se como um dos principais centros intelectuais da Europa. Bohr morreu a 18 de Novembro de 1962, vítima de uma trombose, aos 77 anos de idade. Encontra-se sepultado no Cemitério Assistens, em Copenhaga. Participou da 5ª, 6ª, 7ª e 8ª Conferência de Solvay. Após ser laureado com o Nobel de Física de 1922, recebeu de presente da Cervejaria Carlsberg uma casa próximo à cervejaria, que possuía uma torneira com cerveja abastecida diretamente da cervejaria. Concepções filosóficas. Heisenberg disse que Bohr era "primeiramente um filósofo, não um físico". Bohr leu o filósofo dinamarquês do século XIX, adepto do existencialismo cristão, Søren Kierkegaard. Richard Rhodes argumentou em "The Making of the Atomic Bomb" que Bohr foi influenciado por Kierkegaard através de Høffding. Em 1909, Bohr deu a seu irmão a obra "Estádios no Caminho da Vida" de Kierkegaard como presente de aniversário. Em uma carta anexada, Bohr escreveu: "É a única coisa que tenho para mandar para casa; mas eu não acredito que seria muito fácil encontrar qualquer coisa melhor;... eu até acredito que é uma das coisas mais encantadoras que eu já li." Bohr gostava da linguagem e do estilo literário de Kierkegaard, mas mencionou que ele tinha algumas discordâncias da filosofia de Kierkegaard. Alguns dos biógrafos de Bohr sugeriram que essa discordância tem origem na defesa de Kierkegaard do Cristianismo, enquanto Bohr era ateu. É disputado o quanto Kierkegaard influenciou a filosofia e a ciência de Bohr. David Favrholdt argumenta que Kierkegaard teve influência sobre o trabalho de Bohr, tomando a declaração de Bohr sobre sua discordância com Kierkegaard como evidência, enquanto Jan Faye argumenta que é possível discordar do conteúdo de uma teoria e ainda assim concordar com suas premissas e estruturas gerais. Quanto à natureza da física e da mecânica quântica, Bohr opinava que "Não existe mundo quântico. Isso é apenas uma descrição física abstrata. É errado pensar que o dever da física é descobrir como a natureza é. A física se preocupa com o que nós podemos dizer sobre a natureza". CERN. Niels Bohr é um dos "pais fundadores" do então "Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear" (CERN), a actual Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, conjuntamente com Pierre Auger, Raoul Dautry, François de Rose e Lew Kowarski pela França e Edoardo Amaldi pela Itália. O professor Victor Weisskopf do CERN, antigo aluno de Niels Bohr, disse no dia da sua morte que "as bandeiras do CERN estão a meia haste. O CERN perdeu um dos seus fundadores e o mundo perdeu um homem importante".
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Nobel de Química
Nobel de Química O Nobel de Química () é atribuído anualmente pela Academia Real das Ciências da Suécia a diversos cientistas de diferentes campos da Química. É um dos cinco Prêmios Nobel criados a partir de Alfred Nobel, em 1895, atribuído pelas notáveis contribuições para a facilitação dos dias de hoje a partir de cinco áreas: química, física, literatura, paz, fisiologia ou medicina e economia (sendo este último atribuído pelo Banco da Suécia desde 1968 em homenagem a Alfred Nobel.). Este prêmio é administrado pela Fundação Nobel, adjudicado por um comitê constituído por cinco membros eleitos pelo Academia Real das Ciências da Suécia. O primeiro Nobel de Química foi atribuído em 1901, a Jacobus Henricus van 't Hoff, dos Países Baixos, “por sua descoberta das leis da dinâmica da química e pressão osmótica em soluções.” A cerimônia na qual é entregue o prêmio é apresentada em Estocolmo, capital da Suécia, em uma cerimônia anual em 10 de dezembro, o aniversário da morte de Nobel.
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Número hiper-real
Número hiper-real O conjunto dos números hiper-reais é uma maneira de tratar quantidades infinitas e infinitesimais. Os hiper-reais, ou reais não padronizados, *R, são uma extensão dos números reais R que contém números maiores do que qualquer coisa na forma Esse número é infinito, e seu inverso é infinitesimal. O termo "hiper-real" foi introduzido por Edwin Hewitt em 1948. Abordagem intuitiva. Os números hiper-reais foram introduzidos para dar rigor matemático a uma abordagem intuitiva do cálculo infinitesimal. Pelo cálculo infinitesimal, a velocidade de uma partícula movendo-se de acordo com uma equação da forma, por exemplo, formula_2 pode ser calculada através da razão formula_3 para um valor de formula_4 que seja muito pequeno, porém maior que zero. O resultado desta conta é formula_5, que difere do resultado esperado formula_6 pela quantidade pequena, porém não nula, formula_4. Se esta quantidade for desprezada, chega-se ao resultado desejado. O problema com este raciocínio é que não é claro o que pode ser desprezado. Então, introduze-se um novo tipo de número, chamado de infinitesimal, formula_8 que satisfaz formula_9 para todo número real "a > 0". O único número real que é infinitesimal é o zero, O sistema de números que inclui os números reais e os infinitesimais é chamado de conjunto dos números hiper-reais. Dois números reais "a" e "b" estão infinitamente próximos quando sua diferença "a - b" for um infinitesimal. Se formula_10 for um número infinitesimal, então seu inverso formula_11 é um número infinito positivo, e formula_12 infinito negativo. Os números hiper-reais que não são infinitos são chamados de números finitos. Os números hiper-reais podem ser manipulados algebricamente da mesma forma que os números reais. A definição da derivada pode então ser dada como sendo o número real que está infinitamente próximo de formula_13 Por exemplo, para formula_14, o resultado é formula_15, e, como formula_16 é um infinitesimal, o (único) número real que está infinitamente próximo de formula_15 é formula_18 Princípio da transferência. Os números hiper-reais satisfazem o princípio da transferência, uma versão rigorosa da Lei da Continuidade heurística de Leibniz. O princípio da transferência afirma que as verdadeiras declarações de primeira ordem sobre R também são válidas no *R. Por exemplo, a lei comutativa da adição, "x" + "y" = "y" + "x", vale do mesmo modo para os hiper-reais e para os reais; desde que R seja um campo real fechado, então é *R. Desde que formula_19 para todos os inteiros "n", há também um formula_20 para todos hiper-inteiros "H". O princípio da transferência para ultrapotências é uma consequência do Teorema de Łoś' de 1955. Preocupações sobre a Correção de argumentos envolvendo números infinitesimais remonta a antiga matemática Grega, com Archimedes trocando essas provas com as que usavam outras técnicas como o método da exaustão. Nos anos de 1960, Abraham Robinson provou que hiper-reais eram logicamente consistentes se e somente se os reais fossem. Isso amenizou o medo de que qualquer prova envolvendo infinitesimais pudesse ser defeituosa, fornecendo que elas eram manipuladas de acordo com as regras de lógica as quais Robinson delineou. A aplicação dos números hiper-reais e, em particular, o princípio da transferência para problemas de análises matemáticas são chamados de análises não padronizadas. Uma aplicação imediata é a definição dos conceitos básicos de análises como derivação e integração de forma direta, sem passar por complicações lógicas de múltiplos quantificadores. Portanto, a derivada de"f(x)" se torna formula_21 para um infinitesimal formula_22, onde "st(·)" denota um função padrão, que associa a todo hiper-real finito um único real infinitamente perto dele. Similarmente, a integral é definida como parte padrão da soma infinita adequada.
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Prêmio Nobel de Literatura
Prêmio Nobel de Literatura O Nobel de Literatura () é um prêmio literário sueco que é concedido anualmente, desde 1901, a um autor de qualquer país que, nas palavras da vontade do industrial sueco Alfred Nobel, produziu "no campo da literatura o trabalho mais notável em uma direção ideal" . Embora os trabalhos individuais sejam às vezes citados como particularmente dignos de nota, o prêmio é baseado no conjunto da obra de um autor como um todo. A Academia Sueca é responsável por escolher o ganhador do prêmio e anunciar os nomes dos laureados, no início de outubro. É um dos cinco Prêmios Nobel estabelecidos pela vontade de Alfred Nobel em 1895. Em algumas ocasiões, o prêmio foi adiado para o ano seguinte. Não foi concedido em 2018, mas dois prêmios foram concedidos em 2019. Embora o Prêmio Nobel de Literatura tenha se tornado o prêmio literário de maior prestígio do mundo, a Academia Sueca tem atraído críticas significativas por seu tratamento do prêmio. Muitos autores que ganharam o prêmio caíram no ostracismo, ao mesmo tempo em que outros rejeitados pelo júri continuam amplamente estudados e lidos. O prêmio "tornou-se amplamente visto como político - um prêmio de paz no disfarce literário", cujos juízes são preconceituosos contra autores com diferentes gostos políticos para eles. O professor britânico de literatura Tim Parks expressou ceticismo de que seria possível que "professores suecos comparem um poeta da Indonésia, talvez traduzido para o inglês, com um romancista dos Camarões, talvez disponível apenas em francês, e outro que escreve em africâner, mas é publicado em alemão e holandês...". Em 2016, 16 dos 113 laureados foram de origem escandinava. A Academia tem sido frequentemente acusada de ser tendenciosa em relação aos autores europeus, e em particular aos suecos. A formulação "vaga" de Nobel para os critérios do prêmio levou a controvérsias recorrentes. No sueco original, a palavra "idealisk" é traduzida como "ideal". A interpretação do Comitê do Nobel tem variado ao longo dos anos. Nos últimos anos, isso significa uma espécie de idealismo defendendo os direitos humanos em larga escala. História. Alfred Nobel estipulou em seu testamento que seu dinheiro seria usado para criar uma série de prêmios para aqueles que conferem o "maior benefício para a humanidade" em física, química, paz, fisiologia ou medicina e literatura. Embora Nobel tenha escrito vários testamentos durante sua vida, o último foi escrito pouco mais de um ano antes de sua morte e assinado no Clube Sueco-Norueguês em Paris em 27 de novembro de 1895. Nobel legou 94% de seus ativos totais, 31 milhões de coroas suecas (o equivalente a US$ 198 milhões ou € 176 milhões em 2016), para estabelecer e dotar os cinco prêmios Nobel. Devido ao nível de ceticismo em torno do testamento, só em 26 de abril de 1897 foi aprovado pelo Storting, o Parlamento da Noruega. Os executores de seu testamento foram Ragnar Sohlman e Rudolf Lilljequist, que formaram a Fundação Nobel para cuidar da fortuna de Alfred Nobel e organizar os prêmios. Os membros do Comitê Nobel Norueguês que deveriam conceder o Prêmio da Paz foram nomeados logo após a aprovação do testamento. As organizações que fariam a premiação foram: o Instituto Karolinska em 7 de junho, a Academia Sueca em 9 de junho e a Academia Real das Ciências da Suécia em 11 de junho. A Fundação Nobel chegou então a um acordo sobre as diretrizes de como o Prêmio Nobel deveria ser concedido. Em 1900, os estatutos recém-criados da Fundação Nobel foram promulgados pelo rei . Processo de premiação. A cada ano, a Academia Sueca envia pedidos de indicações de candidatos ao Prêmio Nobel de Literatura. Os membros da Academia, membros de academias de literatura e sociedades, professores de literatura e linguagem, ex-laureados do Nobel em Literatura e os presidentes de associações literárias têm permissão para nomear um candidato. Não é permitido nomear a si mesmo. Milhares de solicitações são enviadas a cada ano e, em 2011, cerca de 220 delas tiveram retorno. Essas propostas devem ser recebidas pela Academia até 1 de fevereiro, quando são examinadas pelo Comitê Nobel. Em abril, a Academia restringe o campo a cerca de vinte candidatos. Até maio, uma pequena lista de cinco nomes é aprovada pelo Comitê. Os quatro meses seguintes são gastos na leitura e revisão dos trabalhos dos cinco candidatos. Em outubro, os membros da Academia votam e o candidato que recebe mais da metade dos votos é nomeado o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Ninguém pode obter o prêmio sem estar na lista pelo menos duas vezes, assim muitos dos mesmos autores reaparecem e são revisados ​​repetidamente ao longo dos anos. A academia é mestre em treze idiomas, mas quando um candidato indicado escreve em uma língua desconhecida, são convidados tradutores e especialistas juramentados para traduzirem alguns trechos desse escritor. Outros elementos do processo são semelhantes aos de outros prêmios Nobel. Os juízes são compostos de um comitê de 18 membros que são eleitos para um mandato vitalício e até 2018, não estavam tecnicamente autorizados a renunciar. Em 2 de maio de 2018, o rei Carlos XVI Gustavo alterou as regras da academia e possibilitou a renúncia dos membros. As novas regras também afirmam que um membro que estiver inativo no trabalho da academia por mais de dois anos pode ser solicitado a renunciar. O prêmio é geralmente anunciado em outubro. Às vezes, no entanto, o prêmio foi anunciado no ano após o ano nominal, sendo o último o prêmio de 2018. No meio da controvérsia em torno de alegações de agressão sexual, conflito de interesses e renúncias, em 4 de maio de 2018, a Academia Sueca anunciou que o prêmio de 2018 seria anunciado em 2019, juntamente com o laureado de 2019. Prêmios. Um ganhador do Prêmio Nobel de Literatura ganha uma medalha de ouro, um diploma com uma citação e uma quantia em dinheiro. A quantia de dinheiro concedida depende da renda da Fundação Nobel naquele ano. Se um prêmio for concedido a mais de um laureado, o dinheiro será dividido igualmente entre eles ou, para três laureados, poderá ser dividido em meio e dois trimestres. Se um prêmio é concedido em conjunto a dois ou mais laureados, o dinheiro é dividido entre eles. O prêmio em dinheiro do Prêmio Nobel tem flutuado desde a sua inauguração, mas a partir de 2012 ficou em coroas suecas (cerca de US$ ), antes era de coroas. Esta não foi a primeira vez que o montante do prêmio foi diminuído - começando com um valor nominal de kr em 1901 (no valor de coroas em 2011) o valor nominal foi tão baixo quanto coroas ( coroas em 2011) em 1945 - mas tem sido estabilizado desde então, chegando a um valor de coroas em 2001. O laureado também é convidado a dar uma palestra durante a "Semana do Nobel" em Estocolmo; o destaque é a cerimônia de premiação e o banquete no dia 10 de dezembro. É o prêmio literário mais rico do mundo por uma grande margem. As medalhas do Prêmio Nobel, cunhadas pela Myntverket na Suécia e na Casa da Moeda da Noruega desde 1902, são marcas registradas da Fundação Nobel. Cada medalha apresenta uma imagem de Alfred Nobel no perfil esquerdo no anverso (frente da medalha). As medalhas do Prêmio Nobel de Física, Química, Fisiologia ou Medicina e Literatura têm obversos idênticos, mostrando a imagem de Alfred Nobel e os anos de seu nascimento e morte (1833-1896). O retrato de Nobel também aparece no anverso da medalha do Prêmio Nobel da Paz e na Medalha pelo Prêmio em Economia, mas com um design ligeiramente diferente. A imagem no verso de uma medalha varia de acordo com a instituição que concede o prêmio. Os versos das medalhas do Prêmio Nobel de Química e Física compartilham o mesmo design. A medalha para o Prêmio Nobel de Literatura foi projetada por Erik Lindberg. Os ganhadores do Prêmio Nobel recebem um diploma diretamente do rei da Suécia. Cada diploma é projetado exclusivamente pelas instituições premiadas para o laureado que o recebe. O diploma contém uma foto e um texto que declaram o nome do laureado e normalmente uma citação do motivo pelo qual receberam o prêmio. Potenciais destinatários do Prêmio Nobel de Literatura são difíceis de prever, já que as indicações são mantidas em segredo por cinquenta anos, até que estejam disponíveis publicamente no "The Nomination Database" para o Prêmio Nobel de Literatura. Atualmente, apenas indicações enviadas entre 1901 e 1968 estão disponíveis para visualização pública. Esse sigilo sempre tem levado à especulação sobre o próximo prêmio Nobel. Críticas. Controvérsias acerca dos selecionados do Nobel. De 1901 a 1912, o comitê, liderado pelo conservador Carl David af Wirsén, ponderou a qualidade literária de uma obra contra sua contribuição para a luta da humanidade "em direção ao ideal". Tolstói, Ibsen, Zola e Mark Twain foram rejeitados em favor de autores pouco lidos hoje. O primeiro prêmio em 1901, concedido ao poeta francês Sully Prudhomme, foi fortemente criticado. Muitos acreditavam que o escritor russo Leon Tolstoy deveria ter recebido o primeiro prêmio Nobel de literatura. Durante a Primeira Guerra Mundial e suas consequências imediatas, o comitê adotou uma política de neutralidade, favorecendo escritores de países não combatentes. August Strindberg foi repetidamente contornado pelo comitê, mas tem a singular distinção de ser premiado com o Prêmio Anti-Nobel, conferido pela aclamação popular e assinatura nacional e apresentado a ele em 1912 pelo futuro primeiro-ministro Hjalmar Branting. James Joyce escreveu os livros que ocupam o 1º e 3º lugar na Modern Library 100 Best Novels - Ulysses e Portrait of the Artist as a Young Man - mas Joyce nunca venceu. O dramaturgo espanhol Àngel Guimerà, que escreveu em catalão, foi indicado 23 vezes para o Prêmio Nobel, embora nunca tenha vencido, devido a controvérsias sobre o significado político do gesto. Ele foi candidato ao Prêmio Nobel em 1904, a ser compartilhado com o escritor provençal Frédéric Mistral, em reconhecimento de suas contribuições para a literatura em línguas não oficiais. A pressão política do governo central da Espanha, que tornou esse prêmio impossível, acabou sendo concedida a Mistral e ao dramaturgo espanhol José Echegaray. A escolha de Selma Lagerlöf (Suécia de 1858 a 1940) como ganhadora do Prêmio Nobel em 1909 (pelo 'idealismo elevado, imaginação vívida e percepção espiritual que caracteriza seus escritos') seguiu um debate acirrado por causa de seu estilo de escrita e assunto que quebrou os decoros literários do tempo. De acordo com os arquivos da Academia Sueca estudados pelo jornal Le Monde em sua abertura em 2008, o romancista e intelectual francês André Malraux foi seriamente considerado para o prêmio na década de 1950. Malraux estava competindo com Albert Camus, mas foi rejeitado várias vezes, especialmente em 1954 e 1955, "desde que ele não volte ao romance". Assim, Camus foi premiado em 1957. Alguns atribuem a W. H. Auden não ter recebido o Prêmio Nobel de Literatura por erros em sua tradução do Vägmärken (Markings) de 1961, ganhador do Prêmio da Paz, e declarações que Auden fez durante uma turnê escandinava sugerindo que Hammarskjöld era homossexual, como Auden. Em 1962, John Steinbeck recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. A seleção foi fortemente criticada e descrita como "um dos maiores erros da Academia" em um jornal sueco. O New York Times perguntou por que o comitê do Nobel deu o prêmio a um autor cujo "talento limitado é, em seus melhores livros, diluído pela filosofia da décima taxa", acrescentando: "achamos interessante que o louro não tenha sido concedido a um escritor ... cuja significância, influência e corpo de trabalho já causaram uma impressão mais profunda na literatura de nossa época ". O próprio Steinbeck, quando perguntado no dia do anúncio se ele merecia o Nobel, respondeu: "Francamente, não". Em 2012 (50 anos depois), o Prêmio Nobel abriu seus arquivos e foi revelado que Steinbeck era uma "escolha de compromisso" entre uma lista composta por Steinbeck, os autores britânicos Robert Graves e Lawrence Durrell, o dramaturgo francês Jean Anouilh e a autora dinamarquesa Karen Blixen. Os documentos desclassificados mostraram que ele foi escolhido como o melhor de um lote ruim: "Não há nenhum candidato óbvio para o prêmio Nobel e o comitê do prêmio está em uma situação nada invejável", escreveu o membro do comitê Henry Olsson. Em 1964, Jean-Paul Sartre foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, mas ele escreveu recusando, afirmando que "não é a mesma coisa se eu assino Jean-Paul Sartre ou se eu assino Jean-Paul Sartre, laureado com o Prêmio Nobel. Um escritor deve recusar-se a se transformar em uma instituição, mesmo que isso ocorra da forma mais honrosa". No entanto, ele foi premiado. O escritor dissidente soviético Aleksandr Solzhenitsyn, o laureado de 1970, não compareceu à cerimônia do Prêmio Nobel em Estocolmo por temer que a URSS impedisse seu retorno depois (seus trabalhos foram distribuídos de forma clandestina). Depois que o governo sueco se recusou a honrar Solzhenitsyn com uma cerimônia pública de premiação e palestra em sua embaixada em Moscou, Solzhenitsyn recusou o prêmio, comentando que as condições impostas pelos suecos (que preferiam uma cerimônia privada) eram "um insulto ao próprio Prêmio Nobel". Solzhenitsyn não aceitou o prêmio e prêmio em dinheiro até 10 de dezembro de 1974, depois de ter sido deportado da União Soviética. Em 1974, Graham Greene, Vladimir Nabokov e Saul Bellow foram considerados, mas rejeitados em favor de um prêmio conjunto para os autores suecos Eyvind Johnson e Harry Martinson, ambos membros da Academia Sueca na época, e desconhecidos fora de seu país de origem. Bellow recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1976; nem Greene nem Nabokov foram premiados. O escritor argentino Jorge Luis Borges foi indicado ao Prêmio várias vezes, mas, como afirma Edwin Williamson, biógrafo de Borges, a Academia não o premiou, provavelmente por causa de seu apoio a certos ditadores militares de direita argentinos e chilenos, inclusive Augusto Pinochet, que, de acordo com a revisão de Tóibín de Borges: A Life, de Williamson, tinha contextos sociais e pessoais complexos. A escolha do laureado de 2004, Elfriede Jelinek, foi protestada por um membro da Academia Sueca, Knut Ahnlund, que não desempenhou um papel ativo na Academia desde 1996; Ahnlund renunciou, alegando que a seleção de Jelinek havia causado "danos irreparáveis" à reputação do prêmio. A escolha de Harold Pinter para o Prêmio em 2005 foi adiada por um par de dias, aparentemente devido à renúncia de Ahnlund, e levou a novas especulações sobre a existência de um "elemento político" na concessão do Prêmio pela Academia Sueca. Embora Pinter não tenha sido capaz de dar sua polêmica Palestra do Nobel em pessoa por causa de problemas de saúde, ele a transmitiu de um estúdio de televisão em vídeo projetado em telas para uma audiência na Academia Sueca, em Estocolmo. Seus comentários têm sido fonte de muitos comentários e debates. A questão de sua "posição política" também foi levantada em resposta à premiação do Prêmio Nobel de Literatura para Orhan Pamuk e Doris Lessing em 2006 e 2007, respectivamente. A escolha de 2016 de Bob Dylan foi a primeira vez que um músico e compositor ganhou o Nobel de Literatura. O prêmio causou alguma controvérsia, particularmente entre escritores argumentando que os méritos literários da obra de Dylan não são iguais aos de alguns de seus pares. O escritor marroquino francês Pierre Assouline descreveu a decisão como "desdenhosa dos escritores". O romancista escocês Irvine Welsh disse: "Sou fã de Dylan, mas este é um prêmio de nostalgia mal concebido, arrancado das próstatas rançosas de hippies tagarelas e senis". O colega e amigo de composição de Dylan, Leonard Cohen, disse que não foram necessários prêmios para reconhecer a grandeza do homem que transformou a música pop com discos como a Highway 61 Revisited. "Para mim", disse Cohen, "[o Nobel] é como ganhar uma medalha no Monte Everest por ser a montanha mais alta". Escritor e comentarista Will Self escreveu que o prêmio "banalizou" Dylan, enquanto esperava que o laureado "seguisse Sartre ao rejeitar o prêmio". Controvérsias acerca dos membros da Academia Sueca. Ser membro do comitê de 18 membros, que seleciona os destinatários, é tecnicamente vitalício. Os membros não estão autorizados a sair, embora possam recusar-se a participar. Para os membros que não participam, o assento do conselho é deixado vago até a morte. Doze membros ativos/participantes são necessários para um quórum. Em 1989, três membros renunciaram em protesto depois que a academia se recusou a denunciar o aiatolá Ruhollah Khomeini por ter pedido a morte de Salman Rushdie. Realizações literárias negligenciadas. Na história do Prêmio Nobel de Literatura, muitas conquistas literárias foram negligenciadas. O historiador literário Kjell Espmark admitiu que "quanto aos primeiros prêmios, a censura de más escolhas e omissões flagrantes é frequentemente justificada. Tolstoi, Ibsen e Henry James deveriam ter sido recompensados ​​em vez de, por exemplo, Sully Prudhomme, Eucken e Heyse. " Há omissões que estão além do controle do Comitê Nobel, como a morte prematura de um autor, como foi o caso de Marcel Proust, Italo Calvino e Roberto Bolaño. Segundo Kjell Espmark, "as principais obras de Kafka, Cavafy e Pessoa só foram publicadas depois de suas mortes e as verdadeiras dimensões da poesia de Mandelstam foram reveladas sobretudo nos poemas inéditos que sua esposa salvou da extinção e deu ao mundo muito tempo depois" que ele havia perecido em seu exílio siberiano". O romancista britânico Tim Parks atribuiu a interminável polêmica em torno das decisões do comitê do Nobel com a "tolice essencial do prêmio e nossa própria tolice em levá-lo a sério" e observou que "18 (ou 16) cidadãos suecos terão uma certa credibilidade ao pesar trabalhos de literatura sueca, mas que grupo poderia realmente pensar sobre o trabalho infinitamente variado de dezenas de diferentes tradições. E por que deveríamos pedir a eles que fizessem isso?".
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Número ordinal
Número ordinal Na teoria dos conjuntos, um número ordinal, ou só ordinal, é um tipo de ordem de um conjunto bem-ordenado. Eles são usualmente identificados com conjuntos hereditariamente transitivos. Ordinais são uma extensão dos números naturais diferentes dos inteiros e dos cardinais. Como outros tipos de números, ordinais podem ser somados, multiplicados e exponenciados. Os ordinais foram apresentados por Georg Cantor em 1883 para acomodar sequências infinitas e para classificar conjuntos com certos tipos de estruturas de ordem neles. Ele os derivou por acidente, enquanto trabalhava num problema que envolvia séries trigonométricas. Os ordinais finitos (e cardinais finitos) são os números naturais: formula_1, já que quaisquer duas ordens de um conjunto finito são isomórficas de ordem. O menor ordinal infinito é o formula_2, que é identificado com o número cardinal formula_3. Entretanto, no caso transfinito, além de formula_2, ordinais elaboram uma distinção mais refinada do que os cardinais na contagem de suas informações de ordem. Enquanto há somente um cardinal infinito contável, que é o formula_3, há incontáveis ordinais infinitos contáveis, que são: formula_6 formula_7 formula_8 formula_9 Aqui, adição e multiplicação não são comutativas: em particular, formula_10 é formula_11, ao contrário de formula_12, assim como formula_13 é formula_11, enquanto formula_15 não é. O conjunto de todos os ordinais contáveis constitui o primeiro ordinal incontável formula_16, que é identificado como cardinal (próximo cardinal após o). Cardinais bem-ordenados são identificados com seus ordinais iniciais, ou seja, o menor ordinal daquela cardinalidade. A cardinalidade de um ordinal é a associação de ordinais com cardinais. Em geral, cada ordinal formula_17 é o tipo de ordem do conjunto de ordinais estritamente menores que o ordinal, o próprio α. Esta propriedade permite que todo ordinal seja representado como o conjunto de todos os ordinais menores que ele. Ordinais podem ser categorizados como: zero, ordinais sucessor e ordinais limite (de várias cofinalidades). Dada uma classe de ordinais, pode-se identificar um α-ésimo membro daquela classe, ou seja, pode-se indexá-los (contá-los). Tal classe é fechada e não limitada se sua função de indexação é contínua e nunca para. A foma normal de Cantor representa unicamente cada ordinal como um somatório finito de potências ordinais de formula_11. Entretanto, isto não pode forma a base da notação universal dos ordinais devido a tal representação auto referencial, como formula_19. Ordinais cada vez maiores podem ser definidos, mas eles ficam mais e mais difíceis de descrever. Qualquer número ordinal pode ser transformado em um espaço topológico por atribuí-lo com a topologia de ordem; esta topologia é discreta se e somente se o ordinal é um cardinal contável, ou seja, no máximo formula_11. Um subconjunto de formula_12 é aberto na topologia de ordem se e somente se ou ele é cofinito ou ele não contém ω como elemento. Ordinais estendem os números naturais. Um número natural (que, neste contexto, inclui o número 0) pode ser usado para dois propósitos: para descrever o tamanho de um conjunto ou para descrever a posição de um elemento numa sequência. Quando restritos a conjuntos finitos, estes conceitos coincidem; há somente uma forma de inserir um conjunto finito numa sequência linear, a menos de isomorfismo. Ao lidar com conjuntos infinitos, deve-se distinguir entre a noção de tamanho, que leva a números cardinais, e a noção de posição, que é generalizado pelos números ordinais descritos aqui. Isto se deve, enquanto todo conjunto tem somente um tamanho (sua cardinalidade), há várias boa-ordenações não isomórficas de qualquer conjunto infinito, como explicado abaixo. Enquanto a noção de número cardinal é associada com um conjunto sem estrutura particular sobre ele, os ordinais são intimamente ligados com o tipo especial de conjuntos que são chamados de bem-ordenados (tão intimamente ligados, de fato, que alguns matemáticos não fazem qualquer distinção entre os dois conceitos). Um conjunto bem-ordenado é um conjunto totalmente ordenado (dado quaisquer dois elementos, define-se qual é o menor e o maior de forma coerente) tal que não haja sequência decrescente infinita (entretanto, pode haver sequências crescentes infinitas); isso quer dizer, todo subconjunto não vazio do conjunto tem um elemento mínimo. Ordinais podem ser usados para rotular os elementos de qualquer conjunto bem-ordenado (o menor elemento sendo rotulado como 0, o sucessor dele é 1, o próximo é 2, “etc”) e para medir a “extensão” de todo o conjunto pelo menos ordinal que não é rótulo de um elemento pertencente ao conjunto. Esta “extensão” é chamado o tipo de ordem do conjunto. Qualquer ordinal é definido pelo conjunto de ordinais que o precedem: de fato, a definição mais comum de ordinais identifica cada ordinal como o conjunto de ordinais que o precedem. Por exemplo, o ordinal 42 é o tipo de ordem de ordinais menores que ele, ou seja, os ordinais de 0 (o menor dos ordinais) a 41 (o predecessor imediato de 42), e é identificado como o conjunto {0, 1, 2...41}. Da mesma forma, qualquer conjunto (S) de ordinais que é fechado ‘pra baixo’ – quer dizer que qualquer ordinal α em S e qualquer ordinal β < α, β está também no conjunto – é (ou poder ser definido com) um ordinal. Até então nós mencionamos somente ordinais finitos, que são os números naturais. Mas há infinitos também: o menor infinito é ω, que é o tipo de ordem dos números naturais (ordinais finitos) e que pode ser identificado com o conjunto dos números naturais (de fato, o conjunto dos números naturais é bem-ordenado – como todo conjunto de ordinais – e como ele é fechado para baixo, pode ser identificado com o ordinal associado a ele, que é exatamente como definimos ω). Talvez uma intuição mais clara dos ordinais pode ser formada ao examinar os primeiros: como mencionado acima, eles começam com os números naturais, 0, 1, 2, 3, 4, 5... depois de todos os números naturais, vem o primeiro ordinal infinito, o ω, e depois vem ω+1, ω+2, ω+3, e assim por diante. (O significado exato da adição será definido posteriormente, só considere-os como nomes.) Depois de todos estes, vem ω*2 (que é ω+ ω), ω*2+1, e assim por diante. Agora o conjunto de ordinais que nós formamos desta forma (ω*m+n, onde m e n são números naturais) deve ter um ordinal associado a ele: ω². Prosseguindo, teremos ω³, então ω4, e assim em diante, e ωω, ... e muito mais adiante o ε0 (épsilon zero). Nós podemos percorrer esse caminho indefinidamente longo. O menor menor ordinal incontável é o conjunto de todos os ordinais contáveis, expresso como ω1. Definições. Conjuntos bem ordenados. Num conjunto bem-ordenado, todo subconjunto não vazio tem um menor elemento. Dado o axioma da escolha dependente, isto é equivalente a dizer que o conjunto é totalmente ordenado e não há sequência infinita decrescente, algo talvez melhor de ser visualizado. Na prática, a importância da boa ordenação é justificada pela possibilidade de aplicações na indução transfinita, que diz, essencialmente, que qualquer propriedade que passar de um predecessor de um elemento para o próprio elemento deve ser verdade para todos os outros elementos (do dado conjunto bem-ordenado). Se os estados da computação (programa computacional ou jogo) podem ser bem ordenados de tal forma que cada passo é seguido por um passo “mais baixo”, então você pode ter certeza que a computação terminará. Agora, nós não queremos distinguir entre dois conjuntos bem ordenados eles somente diferem nos “rótulos dos seus elementos”, ou mais formalmente: se nós podemos parear os elementos do primeiro conjunto com os elementos do segundo, de tal forma que um elemento é menor do que outro no primeiro conjunto, então o par do primeiro elemento é menor do que o parceiro do segundo elemento no segundo conjunto, e vice-versa. Tal correspondência um-pra-um é chamada de isomorfismo de ordem e dois conjuntos bem-ordenados são isomórficos-de-ordem, ou similar (obviamente isto é uma relação de equivalência). Desde que exista um isomorfismo de ordem entre dois conjuntos bem-ordenados, o isomorfismo de ordem é único: isto torna bastante justificável considerar os dois conjuntos como essencialmente idênticos achar um representante “canônico” do tipo de isomorfismo (classe). Isto é exatamente o que os ordinais fornecem, assim como também fornecem a rotulagem canônica dos elementos de qualquer conjunto bem ordenado. Então nós queremos essencialmente definir um ordinal como uma classe de isomorfismos dos conjuntos bem ordenados: isto é, como uma classe de equivalência para a relação de equivalência de “é isomórfico de ordem”. Há uma dificuldade técnica envolvida, entretanto, no fato de que a classe de equivalência é muito grande para ser um conjunto na formalização usual de Zermelo-Fraenkel (ZF) da teoria dos conjuntos. Mas isto não é uma dificuldade séria. Nós diremos que o ordinal é o tipo de ordem de qualquer conjunto na classe. Definição de um ordinal como uma classe de equivalência. A definição original de um número ordinal, encontrado no exemplo no Principia Mathematica, define o tipo de ordem de uma boa-ordenação como o conjunto de todas as boas ordenações similares (isomórficas de ordem) àquela boa ordenação: em outras palavras, um número ordinal é genuinamente uma classe de equivalência de conjuntos bem ordenados. Esta definição deve ser abandonada no ZF e sistemas relacionadas da teoria axiomática dos conjuntos porque estas classes de equivalência são muito grandes para formar um conjunto. Entretanto, esta definição pode ainda ser usada na teoria dos tipos e nas “Novas Fundações” da teoria dos conjuntos de Quine e sistemas relacionados (que sustentam uma solução alternativa um tanto surpreendente ao paradoxo de Burali-Forti do maior ordinal). Definição de Von Neumann dos ordinais. Ao invés de definir um ordinal como uma classe de equivalência dos conjuntos bem-ordenados, nós o definiremos como um conjunto bem-ordenado particular que representa (canonicamente) a classe. Assim, um número ordinal será um conjunto bem-ordenado; e todo conjunto bem-ordenado será isomórfico de ordem a exatamente um número ordinal. A definição padrão, sugerida por John Von Neumann, é: cada ordinal é o conjunto bem-ordenado de todos os ordinais menores. Em símbolos, λ = [0,λ). Formalmente: Note que os números naturais são ordinais por esta definição. Por exemplo, 2 é um elemento de 4 = {0, 1, 2, 3}, e 2 é igual a {0, 1}, assim como é um subconjunto de {0, 1, 2, 3}. Pode ser mostrado por indução transfinita que todo conjunto bem-ordenado é isomórfico de ordem a exatamente um destes ordinais, ou seja, há uma ordem que preserva uma função bijetora entre eles. Assim, os elementos de todo ordinal são ordinais também. Sempre que você tem dois ordinais, S e T, S é um elemento de T se e somente se é um subconjunto próprio de T. Em outras palavras, ou S é um elemento de T ou T é um elemento de S, ou eles são iguais. Então todo conjunto de ordinais é totalmente ordenado. Ainda mais, todo conjunto de ordinais é bem ordenado. Isto generaliza o fato de que todo conjunto de números naturais é bem ordenado. Consequentemente, todo ordinal S é um conjunto que contém como elementos precisamente os ordinais menores que S. Por exemplo, todo conjunto de ordinais tem um supremo, o ordinal obtido por unir todos os ordinais do conjunto. Esta união existe independente do tamanho do conjunto, pelo axioma da união. A classe de todos os ordinais não é um conjunto. Se fosse um conjunto, poderíamos mostrar que seria um ordinal e assim um membro dele mesmo, que contradiria sua ordem estrita de “pertence”. Isto é o paradoxo de Burali-Forti. A classe de todos os ordinais é de várias formas chamado “Ord”, “ON”, ou “∞”. Um ordinal é finito se e somente se a a ordem oposta é também bem ordenada, que é o caso se e somente se cada um de seus subconjuntos tem um máximo. Outras definições. Há outras formulações modernas da definição de ordinal. Por exemplo, assumindo o axioma de regularidade, é equivalente dizer para um conjunto x: Estas definições não podem ser usadas nas teorias dos conjuntos “não bem-fundados”. Nas teorias dos conjuntos com “urelementos”, temos que assim ter certeza que a definição não permite que os urelementos apareçam nos ordinais. Sequência transfinita. Se α é um ordinal limite e X é um conjunto, uma sequência α-indexada de elementos de X é uma função de α a X. Este conceito, uma sequência transfinita ou sequência ordinal-indexada, é uma generalização do conceito de uma sequência. Uma sequência comum corresponde ao caso α = ω. Indução transfinita. O que é indução transfinita? Indução transfinita vale em qualquer conjunto bem-ordenado, mas é também tão importante para os ordinais que é bom relembrarmos aqui: Isto é, se P(α) é verdade sempre que P(β) é verdade para todo β < α, então P(α) é verdade para todos α. Ou, mais praticamente: para fornecer uma propriedade P para todos os ordinais α, pode-se assumir que ela já é válida para todos os menores β < α. Recursão transfinita. Indução transfinita pode ser usada não somente para fornecer coisas, mas também para defini-las. Tal definição é normalmente chamada de recursão transfinita – a prova que o resultado é bem definido usa indução transfinita. Seja F uma função (classe) para ser definida sobre os ordinais. A ideia agora é que, na definição F(α) para um ordinal não específico pode-se assumir que F(β) já está definido para todo β < α e assim fornecemos a fórmula para F(α) em termos destes F(β). Segue-se então por indução transfinita que há uma e somente uma função que satisfaça a fórmula recursiva até α e a inclua. Eis um exemplo da definição por recursão transfinita sobre os ordinais (mais será dado depois): Ordinais sucessor e limite. Qualquer ordinal que não seja o zero tem um elemento mínimo, que é o zero. Pode ou por não ter um elemento máximo. Por exemplo, 42 tem máximo 41 e ω+6 tem um máximo ω+5. Por outro lado, ω não tem um elemento máximo já que não há um número natural que seja o maior de todos. Se um ordinal tem um máximo α, então há um próximo ordinal depois de α, e é chamado de ordinal sucessor, que chamaremos de sucessor de α, escrito como α+1. Na definição de von Neumann dos ordinais, o sucessor de α é α U { α } já que seus elementos são o que são elementos de α e o próprio α. Um ordinal que não seja zero que não é sucessor é chamado de ordinal limite. Uma justificativa para este termo é que o ordinal limite é de fato o limite num sentido topológico de todos os ordinais menores (sob a topologia de ordem). Quando ‹ αi | i < µ › é uma sequência de ordinais indexada, indexada por um limite µ e a sequência é crescente, ou seja, αi < αp, para qualquer i < p, definimos seu sucessor como sendo o menor limite superior do conjunto { αi | i < µ }, que é o menor ordinal (sempre existe) maior que qualquer termo da sequência. Neste sentido, um ordinal limite é o limite de todos os ordinais menores (indexados por ele mesmo). Mais precisamente, é o supremo do conjunto dos ordinais menores. Outra forma de definir um ordinal limite é dizer que α é um ordinal limite se e somente se: Assim, todo ordinal, ou é zero, ou é sucessor (de um predecessor bem-definido) ou é limite. Esta distinção é importante, porque várias definições por indução transfinita se baseiam nela. Muitas vezes, quando se define uma função F por indução transfinita sobre todos os ordinais, define-se F(0) e F(α+1) assumindo que F(α) é definido, e então, para os ordinais limites µ, define-se F(µ) como sendo o limite de F(β) para todo β<µ (seja no sentido de ordinais limites, como nós acabamos de explicar, ou para qualquer noção de limite se F não recebe valores ordinais). Assim, o passo interessante na definição é o passo sucessor, não o passo dos ordinais limites. Tais funções (especialmente para F não decrescente e considerando valores ordinais) são chamadas de contínuas. Nós veremos que a adição, multiplicação e exponenciação dos ordinais são contínuas em função dos seus segundos argumentos. Indexação de classes de ordinais. Nós mencionamos que qualquer conjunto bem ordenado é similar (isomórfico de ordem) a um único número ordinal α, ou em outras palavras, que seus elementos podem ser indexados de uma maneira crescente pelos ordinais menores que α. Isto se aplica, em particular, a qualquer conjunto de ordinais: qualquer conjunto de ordinais é naturalmente indexado por todos os ordinais menores que algum α. O mesmo vale, com uma pequena modificação, para classes de ordinais (uma coleção de ordinais, possivelmente muito grande para formar um conjunto, definida sobre alguma propriedade): qualquer classe de ordinais pode ser indexada por ordinais (e, quando a classe não tem limite na classe de todos os ordinais, isto a leva a uma bijeção de classe com a classe de todos os ordinais). Então nós podemos livremente falar do µ-ésimo elemento na classe (com a convenção que o “0-ésimo” é o menor, o “1-ésimo” é o próximo menor, e assim por diante). Formalmente, a definição é por indução transfinita: o µ-ésimo da classe é definido (desde que já tenha sido definido para todos os β < µ), como o menor elemento maior que o β-ésimo elemento para todo β<µ. Nós podemos aplicar isto, por exemplo, na classe dos ordinais limite: o µ-ésimo ordinal, que ou é limite ou zero, é ω.µ (veja aritmética dos ordinais para a definição de multiplicação dos ordinais). Similarmente, podemos considerar ordinais aditivamente indecomponíveis (quer dizer, um ordinal não zero que não é a soma de dois ordinais estritamente menores que ele): o µ-ésimo ordinal aditivamente indecomponível é indexado como ωµ. A técnica de indexar classes de ordinais é várias vezes útil no contexto de pontos fixados: por exemplo, o µ-ésimo ordinal α tal que ωα = α é escrito ξµ. Eles são chamados de números épsilon. Conjuntos não limitados fechados e classes. Uma classe C de ordinais é dita não limitada, ou cofinal, quando dado um ordinal α, há um β em C qual que α < β (então a classe deve ser uma classe própria, ou seja, não pode ser um conjunto). É dita ser fechada quando o limite de uma sequência de ordinais na classe está novamente na classe: ou, de forma equivalente, quando a função de indexação F é contínua no sentido de que, para µ um limite ordinal, F(µ) (o µ-ésimo ordinal na classe) é o limite de todos os F(β) tal que β < µ; isto é também a mesma coisa que ser fechado, no sentido topológico, para a topologia de ordem (para evitar falar de topologia ou classes-próprias, pode-se requisitar que a interseção da classe com qualquer ordinal dado é fechada para a topologia de ordem naquela ordinal, isto é novamente equivalente). De importância particular, são aquelas classes de ordinais que são fechadas e não limitadas, algumas vezes chamadas de clubes. Por exemplo, a classe de todos os ordinais limites é fechada e não limitada: isto se traduz no fato de que há sempre um ordinal limite maior que o ordinal em questão, e que um limite de ordinais limites é um ordinal limite (um fato um tanto feliz, se a terminologia tivesse que fazer certo sentido!). A classe de ordinais aditivamente indecomponíveis, ou a classe de ordinais ξ, ou a classe dos cardinais, são fechadas e não limitadas; o conjunto de cardinais regulares, entretanto, é não limitado e não é fechado, e qualquer conjunto finito de ordinais é fechado, porém limitado. Uma classe é estacionária se tem uma interseção não vazia com toda classe fechada e não limitada. Todas as superclasses de classes fechadas e não limitadas são estacionárias, e classes estacionárias são não limitadas, mas há classes estacionárias que não são fechadas e classes estacionárias que não possui subclasse fechada e não limitada (tal como a classe de todos os ordinais limites que cofinalidade contável). Já que a interseção de duas classes fechadas e não limitadas é fechada e não limitada, a interseção de uma classe estacionária e uma classe fechada não estacionária é estacionária. Mas a interseção de duas classes estacionárias pode ser vazia, por exemplo, a classe de ordinais com cofinalidade ω com a classe de ordinais com cofinalidade incontável. Ao invés de formular estas definições para classes (próprias) de ordinais, podemos formulá-las para conjuntos de ordinais abaixo de um dado ordinal α: um subconjunto de um ordinal limite α é dito ser não limitado (ou cofinal) sob α desde que qualquer ordinal menor que α seja menor que algum ordinal no conjunto. Mais geralmente, podemos definir um subconjunto de qualquer ordinal α cofinal em α desde que para todo ordinal menor que α seja menor ou igual a algum ordinal no conjunto. O subconjunto é dito fechado sob α desde que ele seja fechado para a topologia de ordem em α, ou seja, um limite de ordinais no conjunto ou está no conjunto, ou é igual ao próprio α. Aritmética de ordinais. Há três operações básicas sobre os ordinais: adição, multiplicação e exponenciação. Cada uma pode ser definida de duas formas essencialmente diferentes: ou pela construção de um conjunto explicitamente bem ordenado que representa a operação ou por usar recursão transfinita. A forma normal de Cantor provê uma maneira padronizada de escrever os ordinais. As operações aritméticas chamadas “naturais” retém comutatividade às custas da continuidade. Ordinais e cardinais. Ordinal inicial de um cardinal. Cada ordinal está associado a um cardinal, sua cardinalidade, obtido simplesmente ao esquecer a ordem. Qualquer conjunto bem ordenado que contém aquele ordinal como seu tipo de ordem tem a mesma cardinalidade. O menor ordinal que contém um dado cardinal como sua cardinalidade é chamado o ordinal inicial daquele cardinal. Todo ordinal finito (número natural) é inicial, mas a maioria dos ordinais infinitos não é inicial. O axioma da escolha é equivalente ao enunciado que todo conjunto pode ser bem ordenado, ou seja, todo cardinal tem um ordinal inicial. Neste caso, é comum identificar o número cardinal com seu ordinal inicial, e nós dizemos que este ordinal inicial é um cardinal. Cantor usava a cardinalidade para particionar ordinais em classes. Ele se referia aos números naturais como a primeira classe de número, os ordinais com cardinalidade formula_3 (os contáveis ordinais infinitos) como a segunda classe de números e de forma geral, os ordinais com cardinalidade formula_23 como a n-ésima classe de número. O α-ésimo ordinal inicial infinito é escrito como formula_24 . Sua cardinalidade é escrita formula_25. Por exemplo, a cardinalidade de ω0=ω é formula_3, que é também a cardinalidade de ω² ou ξ0 (todos são ordinais contáveis). Então (assumindo que o axioma da escolha vale), nós identificamos ω com formula_3 , a notação formula_3 é usada quando escrevemos cardinais, e ω é usado quando escrevemos ordinais (isto é importante, já que formula_3² = formula_3, enquanto ω² > ω). Também, formula_16é o menor ordinal incontável (para ver que ele existe, considere o conjunto das classes de equivalência de boas ordenações de números naturais: cada boa ordenação define um ordinal contável, e formula_16 é o tipo de ordem daquele conjunto), formula_33é o menor ordinal cuja cardinalidade é maior que formula_34, e assim por diante, e formula_35é o limite do formula_36 para os números natuais n (qualquer limite de cardinais é cardinal, então este limite é de fato o primeiro cardinal depois de todos os formula_36). Cofinalidade. A confinalidade de um ordinal α é o menor ordinal µ que é um tipo de ordem de um subconjunto cofinal de α. Note que um número de autores definem cofinalidade ou a usam somente para ordinais limites. A cofinalidade de um conjunto de ordinais ou qualquer outro conjunto bem ordenado é a cofinalidade do tipo de ordem daquele conjunto. Assim, para um ordinal limite, existe um µ-indexado estritamente crescente com limite α. Por exemplo, a cofinalidade de ω² é ω, porque a sequencia ω.m (onde m varia entre os números naturais) tende a ω², mas, mais geralmente, qualquer ordinal limite contável tem cofinalidade ω. Um ordinal limite incontável pode ter ou cofinalidade ω, como formula_36), ou cofinalidade incontável. A cofinalidade de 0 é 0. E a cofinalidade de qualquer ordinal sucessor é 1. A cofinalidade de qualquer ordinal limite é no mínimo formula_11) . Um ordinal que é igual a sua cofinalidade é chamado regular e é sempre um ordinal inicial. Qualquer limite de ordinais regulares é um limite de ordinais iniciais e assim é também inicial, mesmo se não for regular, o qual usualmente não é. Se o axioma da escolha vale, então é regular para cada α. Neste caso, os ordinais 0, 1, formula_11), formula_16) , e formula_33) são regulares, enquanto 2, 3, formula_35) , e ωω•2 são ordinais iniciais que não são regulares. A cofinalidade de qualquer ordinal α é um ordinal regular, ou seja, a cofinalidade da cofinalidade de α é a mesma que a cofinalidade de α. Então a operação de cofinalidade é idempotente. Alguns ordinais contáveis “enormes”. Nós já mencionamos (veja forma normal de Cantor) o ordinal ξ0, que é o menor que satisfaça a equação formula_44 , então ele é o limite da sequencia 0, 1, formula_11, formula_46, formula_47, etc. Vários ordinais podem ser definidos como pontos fixos de certas funções de ordinal (o i-ésimo ordinal tal que formula_44é chamado ξi , então nós poderíamos continuar procurando o i-ésimo ordinal tal que formula_49, e assim sucessivamente, mas toda a sutileza está no “e assim sucessivamente”). Nós podemos tentar fazer isto sistematicamente, mas não importa qual sistema seja usado para definir e construir ordinais, há sempre um ordinal que está acima de todos os outros ordinais construídos pelo sistema. Talvez o ordinal mais importante que é limite de um sistema de construção desta forma é o ordinal de Church-Kleene, formula_50(mesmo com o formula_16no nome, o ordinal é contável), que é o menor ordinal que não pode de forma alguma ser representado por uma função computável (podemos ser rigorosos nessa definição, é claro). Ordinais consideravelmente enormes podem ser definidos abaixo de formula_50, que mede a “força da prova-teórica” de certos sistemas formais (por exemplo, ξ0 define a força da aritmética de Peano). Ordinais grandes podem ser também definidos acima do ordinal de Church-Kleene, que são de interesse em vários tópicos da lógica. Topologia e ordinais. Qualquer ordinal pode ser transformado em um espaço topológico de forma natural ao dotá-lo com uma topologia de ordem. Veja a sessão de topologia e ordinais do artigo “Topologia de Ordem”. Conjuntos Fechados para baixo e Ordinais. Um conjunto é fechado para baixo se qualquer coisa menor do que um elemento do conjunto também está no conjunto. Se um conjunto de ordinais é fechado para baixo, então aquele conjunto é um ordinal – o menor ordinal que não está no conjunto. Exemplo: Classificação ordinal. A classificação de um elemento em um ordinal depende sempre do número de elementos que estão à sua frente. De modo que em concursos públicos ou demais disputas, quando há empate entre dois competidores numa posição X, a classificação seguinte é considerada vazia. Por exemplo, num empate entre dois competidores na primeira colocação, o próximo competidor melhor colocado é considerado terceiro, ficando vago o segundo lugar. Nem sempre, no entanto, esta regra é seguida, existindo algumas organizações que consideram que aquele que ficou com dois competidores à sua frente pode ser o segundo, caso os outros dois estejam empatados.
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Normandos
Normandos Os normandos foram um povo germânico estabelecido no norte da França, cuja aristocracia descendia em grande parte de viquingues da Escandinávia (a palavra viquingue vem de "vikingr" do nórdico antigo e se refere a expedições no mar). Muitas vezes se usa "normano" como sinónimo, nome derivado de "Northmen" ou "Norsemen", que significa "homens do Norte". Eles desempenharam um importante papel político, militar e cultural na parte norte e mediterrânea da Europa Medieval e Oriente Médio, por exemplo: a colonização da Normandia, a Conquista Normanda da Inglaterra, o estabelecimento de estados na Sicília e sul da península Itálica e as Cruzadas. Sua rica história originou várias lendas a seu respeito. Os normandos na Inglaterra. História. Em 911, sob o tratado de Saint Claire Sur Epte, o rei da França, Carlos o Simples, cedeu a um líder invasor viquingue, Rolão, o ducado da Normandia, na esperança de que esses viquingues defendessem o país de novos ataques estrangeiros, fossem viquingues também ou não. Rolão aceitou o tratado e se instalou no território que em alguns anos de conquistas e anexações seria transformado na Normandia. Era usual que os viquingues se casassem com mulheres francesas e dessem uma educação católica a seus filhos. Desse modo, já no ano 1000, os viquingues normandos já deixavam de ser pagãos para se tornarem normandos cristãos e falantes do francês. Em 1066, os normandos vencem a Batalha de Hastings, e com isso conquistam o trono inglês. A língua inglesa moderna surgiria da união entre os idiomas dos anglos e saxões com o francês trazido pelos normandos. Em 1154, Henrique II marcou o fim do período normando na Inglaterra. Já no fim do século, nenhum normando ainda se considerava normando, nem mesmo na própria Normandia. Durante a Revolução Francesa, a cultura normanda foi praticamente extinta, mas ainda existem vestígios desta cultura nas Ilhas do Canal. Organização social. Ao se estabelecer no norte da França, os viquingues adotaram o feudalismo como modelo sócio-econômico. Já denominados como normandos, esses implantaram o sistema feudal nos países que conquistavam. O binômio terra-proteção se enraizou na sociedade do povo normando. A sociedade era composta por servos sem terra, vilões, aldeões, proprietários livres, cavaleiros, abades e abadessas, barões, bispos e rei. As casas dos normandos indicavam qual sua posição na hierarquia social. O senhor da propriedade ou um comerciante rico tinha casa de pedras com vários quartos. Entretanto, os que não tinham meios para construir suas casas as faziam de palha, argila e madeira. Castelos. Os castelos normandos tinham um objetivo bem definido. O rei Guilherme I ordenou a construção de castelos nos pontos mais importantes do país na medida em que era difícil a manutenção das conquistas territoriais. Os castelos eram localizados perto das cidades no intuito de evitar rebeliões. Se fosse necessário, centenas de casas poderiam ser demolidas para a construção dos castelos. Vida na cidade. Na época áurea da dominação Normanda, as cidades tiveram alto crescimento populacional. Por exemplo, Londres, no fim do , já possuía 20 mil habitantes. As cidades se formavam à medida que os senhores feudais conseguiam do rei o direito de ter mercados em seus domínios e isso foi um dos motivos pela qual o comércio se intensificou na Inglaterra e o feudalismo foi aos poucos deixado para trás. Quando isso acontecia, eles abriam ruas e estabelecimentos comerciais. Nas cidades, as doenças eram ameaças constantes. O lixo, a água poluída e a ausência de sistema de esgoto eram problemas graves naquela época. Os normandos no Mediterrâneo e na Itália meridional. Os normandos se estabeleceram com sucesso também longe da Normandia. Quase contemporaneamente à conquista da Inglaterra, na segunda metade do , grupos de normandos se dirigiram ao sul da península Itálica e Península Ibérica (, a Tarragona), inicialmente como mercenários, motivados pela possibilidade que ofereciam as rebeliões antibizantinas na Apúlia. Nessa época, a maior parte da Itália era dominada pelo Reino Lombardo, enquanto a Sicília estava dominada pelos árabes, lá chamados de sarracenos. Os mercenários normandos prestavam seus serviços para várias tarefas, como a proteção dos peregrinos que iam ou retornavam de Jerusalém ou a luta aos sarracenos. Desta maneira enriqueceram, constituindo-se em senhores territoriais (o primeiro foi o condado de Aversa com Rainulfo Drengoto em 1030). Logo, para dar uma direção política, se aliaram à família dos Altavila (originalmente "Hauteville") guiada por Guilherme Braço de Ferro (morto em 1046), que liderou uma mudança radical no domínio político-territorial do Mezzogiorno. O papa Leão IX, vendo seu Benevento ameaçado, tentou enfrentá-lo; mas o exército pontifício foi derrotado na Batalha de Civitate (1053), o Papa foi capturado, e assim Benevento permaneceu uma ilha pontifícia em terra normanda. Em 1059, Roberto Guiscardo, dos Altavila, fez um pacto com o papa Nicolau II, a Concordata de Melfi, com a qual se declarava formalmente seu vassalo, obtendo em troca os títulos (ainda somente nominais) de duque da Apúlia (que compreendia também a Basilicata) e da Calábria (que estava, porém, ainda em parte nas mãos dos bizantinos), parte da Campânia e Sicília (que estava, porém, em mãos dos árabes). Os normandos conseguiram rapidamente livrar o Sul da presença bizantina com repetidas expedições que se concluíra com a conquista, por Roberto Guiscardo da cidade de Régio da Calábria, onde ele confirmou o título de duque de Calábria. Os Altavilas assim puderam rapidamente dedicar-se à Sicília. Rogério "Bosso" de Altavila, irmão de Roberto, no comando de um grupo de cavaleiros, em 1061, desembarcou em Messina e invadiu a ilha (então sob domínio árabe). O avanço dos normandos continuou, com Rogério instalando-se, em 1064, no canto norte-oriental da Sicília e avançando a Cefalù e a Noto. Na Apúlia, Roberto prosseguiu a luta antibizantina, tomando Brindisi e Bari (1071). Em 1072, Rogério tomou Palermo, que foi escolhida capital. Em 1073, tomaram Amalfi e em 1077 Taormina e Salerno. Enquanto Boemundo I de Antioquia, filho da primeira esposa de Roberto, se tornava no fim de 1088 soberano incontestável do Principado de Taranto, Rogério I junto ao filho Rogério II, formavam o Reino da Sicília, criando assim na Itália um estado de dimensões consideráveis: o reino normando da Sicília. Rogério II, nomeado rei de Sicília e duque da Apúlia e da Calábria na catedral de Palermo, durante a noite de Natal de 1130, estendeu o domínio normando na Itália meridional com a conquista do Ducado de Nápoles (1137) e, com Assise di Ariano (1140), conferiu ao seu Reino uma organização feudal rigidamente hierárquica e estreitamente ligada à pessoa do soberano. O domínio dos normandos na Itália meridional teve fim em 1194 (morte de Tancredo de Lecce) e em 1198, quando o imperador romano-germânico Henrique VI (morto em 1197), em virtude de seu matrimônio com Constança de Altavila (morta em 1198), uniu à coroa imperial a de rei da Sicília.
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Normandia
Normandia A Normandia (francês: "Normandie") é uma "região histórica" do noroeste da França colonizada pelos normandos e que corresponde, "grosso modo", ao antigo Ducado da Normandia. Antigamente divididos em duas regiões administrativas: a Baixa Normandia e a Alta Normandia, os cinco departamentos normandos Calvados, Eure, Manche, Orne e Sena Marítimo são agora unidos em uma só região administrativa que se chama Normandia desde 1 de janeiro de 2016. História. Durante a Idade Média, a região foi cedida aos Vikings, numa tentativa do rei Carlos, o Simples — incapaz de abater militarmente os ataques vikings — de chegar a um acordo pelo fim das invasões daquele povo à França. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a região foi palco da Batalha da Normandia, durante a qual tropas Aliadas desembarcaram em solo francês, a fim de combater a dominação da Alemanha Nazista.
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Neorrealismo
Neorrealismo O neorrealismo foi uma corrente artística de meados do século XX, com um carácter ideológico marcadamente de esquerda / marxista, que teve ramificações em várias formas de arte (literatura, pintura, música), mas atingiu o seu expoente máximo no Cinema neorrealista, sobretudo no realismo poético francês e no neorrealismo italiano. Com o mesmo nome, mas com distinção, pode ser observada uma Teoria das relações internacionais. Neorrealismo na literatura. A literatura neorrealista teve no Brasil e em Portugal motivações semelhantes, resgatando valores do realismo e naturalismo do fim do século XIX com forte influência do modernismo, marxismo e da psicanálise freudiana. O determinismo social e psicológico do naturalismo é mantido, assim como a analogia entre o homem e o bicho (vide Angústia - Filme, de 1936), a busca pela objetividade e neutralidade como formas de dar credibilidade à narração. Entretanto, se no naturalismo as mazelas da sociedade eram expostas pelos romancistas com algum pessimismo, sem perspectiva de solução a não ser o resgate ao passado "A Ilustre Casa de Ramires", os escritores neorrealistas são sobretudo ativistas políticos, leitores de Marx, da prosa revolucionária de Górki e tomam posição na chamada luta de classes, denunciando as desigualdades sociais e os desmandos das elites. Vale lembrar que a industrialização somente no século XX deixou escancarada a distância entre os donos dos meios de produção e os trabalhadores. Enquanto internacionalmente a crise de 1929 foi estopim para o neorrealismo italiano e depois português, no Brasil a situação precária dos nordestinos foi retratada já a partir de "A bagaceira", de 1928. E se o neorrealismo optou pela ficção, tanto no Brasil quanto em Portugal, se deve principalmente aos governos ditatoriais, quais sejam o Estado Novo de Getúlio Vargas no Brasil e o Estado Novo de António Oliveira Salazar em Portugal. Essa ficção neorrealista e pós modernista (no sentido de ser posterior ao movimento modernista) sofre as influências do Modernismo, especialmente a liberdade linguística e o intimismo freudiano à Virginia Woolf. Elementos que se tornarão mais fortes num segundo momento do neorrealismo, culminando na prosa existencialista do meio do século XX. Ver também: Romance de 30, Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes. Vários autores como Manuel da Fonseca ou Carlos de Oliveira destacaram-se também no neorrealismo português. José Ernesto de Sousa teve um papel importante na teotização do movimento. Neorrealismo na pintura. O neorrealismo marcou as propostas de pintura de pendor social dos anos 30 e 40. Ligada às questões de carácter social e de denúncia, marcada pelo fervor revolucionário comunista, pelas vontades de demarcação das massas, pintores como Orozco e Rivera no México (exaltam o povo mexicano e as suas origens pré-colombianas, valorizando o seu esforço na luta pela liberdade-anticolonialismo e na construção do progresso do seu país), Cândido Portinari no Brasil, artistas soviéticos e portugueses aproveitaram para gravar em grandes murais, no caso da América Latina sobretudo, os grandes acontecimentos sociais e históricos que marcaram a época. Pintura mural figurativa de grandes dimensões em edíficios de encomenda pública. Neorrealismo no cinema. Realismo poético francês. O cinema da escola do realismo poético francês abandonou o caráter individualista do cinema de autor, até então dominante na cinematografia francesa. Passou a ser valorizado o trabalho de uma equipe de realizadores, sobretudo os roteiristas, muitos trazidos da literatura e do jornalismo. Com a vitória da Frente Popular nas eleições gerais francesas de 1936, o país passou a ser governado por uma política de coalizão que unia socialistas, comunistas e radicais, sob influência da Komintern. O cinema, atento a essas mudanças sócio-culturais, passou a explorar histórias protagonizadas por pessoas marginalizadas, geralmente da classe operária ou delinquentes, que buscavam em vão a ascensão social, imersas em um ambiente cético e pessimista. O marco inicial do realismo poético francês é O Atalante, de Jean Vigo. Outros nomes importantes do movimento foram os roteiristas Charles Spaak e Jacques Prévert, e os diretores Jacques Feyder, Jean Renoir, Julien Duvivier e Marcel Carné. Neorrealismo italiano. No cinema, o neorrealismo italiano caracterizou-se pelo uso de elementos da realidade numa peça de ficção, aproximando-se até certo ponto, em algumas cenas, das características do filme documentário. Ao contrário do cinema tradicional de ficção, o neorrealismo buscou representar a realidade social e econômica de uma época mostrando-a muitas vezes sem rodeios. O marco inicial do neorrealismo é em 1944-1945 com o lançamento do filme de Rossellini, Roma, Cidade Aberta, rodado logo após a libertação de Roma. A "paternidade do termo" é de dúbia possibilidade: a primeira diz que seria de Mario Serandrei quando chamou de "neo-realístico" o filme Ossessione, no qual havia sido montador; e a outra possibilidade atribui o termo a Umberto Barbaro, quando este usou o termo para resenhar o filme Quai des Brumes. Cinema neorrealista Italiano. Terminado, mas não "eliminado", o Neorrealismo certamente não desaparece, pois deixa marcas e um legado que perdura até o cinema contemporâneo, e em vários países. É ele que inaugura, por exemplo, o uso massivo e quase onipresente de crianças, como em "I Bambini Ci Guardano" e "Ladri di Biciclette", pois a ótica infantil reproduziria uma certa inocência na crueza da análise social, sem a censura instintiva e auto-imposta dos adultos. Capturar a realidade sem disfarçá-la, desnudá-la, com cenários naturais e atores locais, velhinhos, trabalhadores humildes, "pessoas do povo" — esse era o espírito, numa reação, sem dúvida, à cosmética excessiva predominante no cinema do período fascista. Cinema neorrealista português. O Verismo havia decidido abrir mão dos floreios e ir direto ao ponto. Mas como "Riso Amaro", no entanto, aponta para um retorno ao melodrama e ao estrelismo glamouroso, o movimento é posto em xeque. O "uso" (indevido?) de uma estética, construída com firmes propósitos contestadores, para uma indústria cultural que, no final das contas, servia à manutenção do status quo, decepciona alguns dos mais engajados. Afinal, "a batalha foi perdida"? O Cinema submeteu-se à indústria? Não valeu o esforço de tentar despir a sociedade? O Cinema, como instrumento de mobilização, foi percebido logo de início por vários realizadores (e forças políticas). Bastaria citar o uso que os soviéticos e os nazis fizeram dos filmes para corroborar essa afirmação. É discutível, porém, até que ponto esse potencial de influência cultural/ideológica se manteve, se reduziu ou se ampliou a partir da introdução da televisão como meio de comunicação de massa, da década de 1950 em diante. Talvez houvesse, entre os cineastas neorrealistas, um alto grau de ingenuidade em acreditar que a simples exposição das mazelas sociais fosse mobilizar a sociedade italiana para uma reforma radical espontânea. Não basta conhecer um problema para querer (e poder) resolvê-lo. Ao mesmo tempo, não há como negar, por exemplo, a alta penetração que as esquerdas críticas (desalinhadas com Moscovo) tiveram entre os trabalhadores italianos no pós-Guerra, e é impossível desligar esse fato, nessa época, do comprometimento crítico da arte e da cultura (não só o cinema neorealista). Os realizadores de um filme, quando inseridos numa indústria cultural que serve ao modo de produção capitalista, podem não perceber seu papel de "doutrinadores" (ou agentes de um doutrinamento) ou, se percebem, não combatem o sistema ao qual pertencem. Por outro lado, é mais do que claro que o cineasta que identifica esse sistema e decide "nadar contra a corrente" tem noção exata do seu alcance e é consciente da sua capacidade de mobilizar através da exposição pública do seu trabalho. Ele é, ao mesmo tempo, artista e comunicador, e o produto audiovisual é tanto seu suporte artístico como sua mídia. Analogamente, o cineasta e o designer gráfico são ambos, em última análise, comunicadores visuais, convergindo nos fins e divergindo nos meios (o suporte). Toda forma de arte pressupõe sua materialização em obras de arte. Se o Cinema é a "Sétima Arte", o filme é a obra — material — à qual se aplicam todas as "leis" do universo da Arte. Entendendo uma obra como reflexo inevitável das condições em que é produzido (o seu tempo, o seu local, o seu autor, o seu público...), é possível deduzir dela a visão de mundo predominante na sua origem. O filme neorrealista, assim, é uma forma de encarar a realidade que atendia ao momento e espaço da Itália arrasada do pós-Guerra, influenciada, em muito, por uma óptica marxista e opositora da artificialidade da cultura de massas. Cinema neorrealista no Brasil. O filme Fome, de 1929, produzido, dirigido e estrelado por Olympio Guilherme, é considerado a primeira produção brasileira da corrente neorrealista.
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Núcleo celular
Núcleo celular O núcleo celular é uma estrutura presente nas células eucariontes, que contém o ADN (ou DNA) da célula. É delimitado pelo envoltório nuclear, e se comunica com o citoplasma através dos poros nucleares. O núcleo possui duas funções básicas: regular as reações químicas que ocorrem dentro da célula (metabolismo), e armazenar as informações genéticas da célula. O seu diâmetro pode variar de 11 a 22,25 μm. Além do material genético, o núcleo também possui algumas proteínas com a função de regular a expressão gênica, que envolve processos complexos de transcrição, pré-processamento do mRNA (RNA mensageiro), e o transporte do mRNA formado para o citoplasma. Dentro do núcleo ainda se encontra uma estrutura denominada nucléolo, que é responsável pela produção de subunidades dos ribossomos. O envoltório nuclear é responsável tanto por separar as reações químicas que ocorrem dentro do citoplasma daquelas que ocorrem dentro do núcleo, quanto por permitir a comunicação entre esses dois ambientes. Essa comunicação é realizada pelos poros nucleares que se formam da fusão entre a membrana interna e a externa do envoltório nuclear. O interior do núcleo é composto por uma matriz denominada de nucleoplasma, que é um líquido de consistência gelatinosa, similar ao citoplasma. Dentro dele estão presentes várias substâncias necessárias para o funcionamento do núcleo, incluindo bases nitrogenadas, enzimas, proteínas e fatores de transcrição. Também existe uma rede de fibras dentro do nucleoplasma (chamada de matriz nuclear), cuja função ainda está sendo discutida. O ADN presente no núcleo encontra-se geralmente organizado na forma de cromatina (que pode ser eucromatina ou heterocromatina), durante o período de interfase. Durante a divisão celular, porém, o material genético é organizado na forma de cromossomos. Sua posição é geralmente central, acompanhando o formato da célula, mas isso pode variar de uma para outra. Nos eritrócitos dos mamíferos, o núcleo está ausente. História. O núcleo celular foi o primeiro organelo a ser descoberto, tendo sido primeiramente descrito por Franz Bauer, em 1802. Foi mais tarde descrito em mais detalhe pelo botânico escocês Robert Brown, em 1831, numa palestra na Sociedade Linneana de Londres. Brown estava a estudar orquídeas ao microscópio quando observou uma região opaca, que chamou de auréola ou núcleo, existentes nas células da camada exterior, em flores. Na altura não sugeriu nenhuma potencial função. Em 1838, Matthias Schleiden propôs que o núcleo desempenhava um papel na geração de células, tendo introduzido o nome "citoblasto" (gerador de células). Acreditou que tinha observado novas células a aparecerem à volta dos "citoblastos". Franz Meyen era um forte opositor a esta teoria, tendo já descrito células a multiplicar-se por divisão e acreditando que muitas células não teriam núcleo. A ideia de que as células podem ser geradas "de novo", pelo "citoblasto", contradizia os trabalhos de Robert Remak (1852) e Rudolf Virchow (1855), que decisivamente propagaram o paradigma de que as células são geradas somente por outras células ("Omnis cellula e cellula"). A função do núcleo permanecia, no entanto, pouco clara. Entre 1876 e 1878, Oscar Hertwig publicou vários estudos sobre a fertilização em óvulos de ouriço-do-mar, mostrando que o núcleo do espermatozoide entra no oócito, fundindo-se com o seu núcleo. Esta foi a primeira vez que era sugerido que um indivíduo se desenvolve a partir de uma única célula nucleada. Isto vinha em contradição com a teoria de Ernst Haeckel, de que a filogenia completa de uma espécie era repetida durante o desenvolvimento embrionário, incluindo a geração da primeira célula nucleada a partir de uma "Monerula", uma massa sem estrutura, de muco primordial ("Urschleim"). A necessidade de um núcleo espermático para a fertilização foi discutida por algum tempo. No entanto, Hertwig confirmou as suas observações em outros grupos animais, como por exemplo em anfíbios e moluscos. Eduard Strasburger produziu os mesmos resultados em plantas (1884). Isto abriu o caminho para estabelecer o núcleo como tendo um papel primordial na hereditariedade. Em 1873, August Weismann postulou a equivalência das células germinais paternais e maternas para a hereditariedade. A função do núcleo, como transportador da informação genética, apenas ficou clara mais tarde, após a mitose ter sido descoberta e a hereditariedade mendeliana ter sido redescoberta, no início do século XX. Nessa altura, a teoria cromossómica da hereditariedade foi desenvolvida. Estrutura do núcleo celular. O núcleo é o maior organelo celular em animais. Em células de mamíferos, o diâmetro médio anda tipicamente à volta de 11 a 22μm e ocupa 10% do volume total. O líquido viscoso dentro do núcleo denomina-se nucleoplasma, e é similar ao citoplasma encontrado no exterior do núcleo. Citoesqueleto. Nas células animais, duas redes de filamentos intermédios providenciam suporte estrutural ao núcleo: a lâmina nuclear forma uma rede organizada na face interna do envelope, enquanto que um tipo de suporte menos organizado é providenciado pela face citosólica do envelope. Ambos os sistemas dão o suporte estrutural para o envelope nuclear e actuam como pontos de ancoragem para os cromossomas e poros nucleares. A lâmina nuclear é essencialmente composta por proteínas denominadas laminas. Como todas as proteínas, as laminas são sintetizadas no citoplasma e depois transportadas para o interior do núcleo, onde são agregadas antes de serem incorporadas na rede existente de lâmina nuclear. As laminas podem também ser encontradas dentro do nucleoplasma, onde formam uma estrutura regular que é visível com o auxílio de microscopia de fluorescência. A função desta estrutura ainda não está totalmente estabelecida, embora se saiba que está excluída do nucléolo e está presente durante a interfase. As estruturas de laminas que formam esta estrutura ligam-se à cromatina e rompendo a sua estrutura dá-se a inibição da transcrição de genes que codificam proteínas. Tal como os componentes de outros filamentos intermédios, o monómero de lamina contém um domínio em alfa-hélice, usados por dois monómeros para se enrolarem um no outro, formando uma estrutura dimérica denominada "coiled-coil". Então, duas destas estruturas diméricas colocam-se lado a lado, num arranjo antiparalelo, formando um tetrâmero denominado "protofilamento". Oito destes protofilamentos formam um arranjo lateral que é torcido de molde a formar uma estrutura semelhante a uma corda. Estes filamentos podem ser juntos ou separados de uma maneira dinâmica, significando que o comprimento do filamento depende das diferentes taxas de adição e remoção de filamento. Cromossomos. Existem dois tipos de cromatina. A eucromatina é a forma menos compacta de ADN, e contém genes que são frequentemente expressos pela célula. O outro tipo, a heterocromatina, é a forma mais compacta, e contém ADN que não é frequentemente transcrito. Esta estrutura é ainda mais categorizada em heterocromatina "facultativa", consistindo de genes que estão organizados como heterocromatina apenas em certos tipos de célula ou em certos estágios de desenvolvimento, e a heterocromatina "constitutiva", que consiste em componente cromossómicos estruturais como os telómeros e os centrómeros. Durante a interfase, a cromatina organiza-se em pequenos aglomerados individuais, denominados "territórios cromossómicos". Os genes activos, que são normalmente encontrados na região da eucromatina, tendem a estar localizados nas fronteiras deste territórios cromossómicos. Anticorpos associados com certos tipos de organização da cromatina, particularmente os nucleossomas, têm sido relacionados com um número de doenças autoimunes, tal como o lupus eritematoso sistémico. Estes são conhecidos como anticorpos antinucleares (AAN) e têm sido observados concertadamente com esclerose múltipla, como parte de uma disfunção geral do sistema imunitário. Envelope nuclear e poros nucleares. O invólucro nuclear é composto por duas membranas celulares dispostas em paralelo (uma interior e outra exterior) e separadas por 10 a 50 nanómetros. O envelope nuclear envolve completamente o núcleo e separa o material genético da célula do citoplasma, servindo como barreira à difusão livre de macromoléculas entre o nucleoplasma e o citoplasma A membrana nuclear externa é contínua com a membrana do retículo endoplasmático rugoso (RER), estando igualmente recoberta de ribossomas. O espaço entre as membranas nucleares é chamado de espaço perinuclear e tem continuidade com o lúmen do RER. Os poros nucleares providenciam canais aquosos através do invólucro, sendo compostos por múltiplas proteínas, colectivamente denominadas de nucleoporinas. Os poros possuem cerca de 125 milhões de dalton de massa molecular e consistem em cerca de 50 (em leveduras) a 100 proteínas (em vertebrados). Os poros possuem 100 nm de diâmetro total; no entanto, o espaço através do qual as substâncias difundem livremente tem apenas 9 nm de largura, devido à presença de sistemas de regulação no centro do poro. Este tamanho permite a livre passagem de pequenas moléculas solúveis em água ao mesmo tempo em que impede que moléculas de maiores dimensões, como os ácidos nucleicos e proteínas entrem ou saiam de maneira inapropriada. Estas moléculas maiores terão que ser transportadas para o interior do núcleo de maneira activa. O núcleo de uma típica célula de mamífero tem cerca de 3 mil a 4 mil poros através de todo o seu envelope, com cada um deles contendo uma estrutura anelar, de simetria octogonal, no local onde as membranas interna e externa se fundem. Ligado a este anel existe uma estrutura em forma de cesto que se estende em direcção ao nucleoplasma, e uma série de extensões filamentosas que alcançam o citoplasma. Ambas as estruturas servem para mediar a ligação a proteínas transportadoras nucleares. A maioria das proteínas, subunidades ribossomais e alguns ARN são transportados através dos complexos de poros num processo mediado por uma família de factores de transporte denominadas carioferinas. Estas carioferinas que medeiam o movimento para o núcleo também são chamadas de importinas, enquanto que aquelas que medeiam o movimento para fora do núcleo são chamadas de exportinas. A maioria das carioferinas interage directamente com a sua carga, apesar de algumas usarem proteínas adaptadoras. hormonas esteroides como o cortisol e a aldosterona, tal como outras pequenas moléculas lipossolúveis, envolvidas na sinalização intercelular, podem se difundir através da membrana celular, para o citoplasma, onde se ligam a receptores nucleares que são transportados para o núcleo. Já no núcleo, servem como factores de transcrição quando juntos com o seu ligando; na ausência do ligando, muitos receptores funcionam como desacetilases de histonas que reprimem a expressão genética. Nucléolo. O nucléolo é uma estrutura presente dentro do núcleo, nâo envolta por membrana. Por vezes é classificado como "suborganelo". Forma-se em volta de repetições de ADNr, ADN que codifica o ARN ribossomal (ARNr). Estas regiões são denominadas regiões organizadoras de nucléolo. O papel principal do nucléolo é o de sintetizar ARNr e de formar os ribossomas. A coesão estrutural do nucléolo depende da sua actividade, já que a formação de ribossomas resulta na associação temporária de componente nucleolares, facilitando assim mais formação de ribossomas e logo uma maior associação. Este modelo é suportado por observações de que a inactivação do ADNr resulta na mistura de componentes nucleolares. O primeiro passo na formação do ribossoma é a transcrição do ADNr, efectuado por uma proteína chamada RNA polimerase I, dando origem a um pré-ARNr precursor, de grandes dimensões. Este é clivado nas subunidades 5.8S, 18S, e 28S do ARNr. A transcrição, o processamento pós-transcricional e a formação do ribossoma, ocorrem no nucléolo, auxiliado por moléculas de ARN nucleolar pequeno (snoRNA, em inglês), algumas das quais derivado de splicing de intrões de genes codificantes de ARN mensageiro, relacionados com funções ribossomais. As subunidades ribossomais já formadas são as estruturas de maior dimensão que passam pelos poros nucleares. Quando observado através do microscópio electrónico, o nucléolo pode ser visto como sendo constituído por três regiões distintas: uma região interior (centro fibrilar), rodeada pelo componente fibrilar denso, que por sua vez é rodeado pelo componente granular. A transcrição do ADNr ocorre no centro fibrilar ou na fronteira entre o centro fibrilar e o componente fibrilar denso. Quando a transcrição de ADNr é aumentada, verifica-se a detecção de mais centros fibrilares. A maior parte da clivagem e modificação do ARNr ocorre no componente fibrilar denso, enquanto que os passos mais tardios, envolvendo a assemblagem de proteínas em subunidades ribossomais, ocorre no centro granular. Outros corpos subnucleares. Para além do nucléolo, o núcleo contém um número de outros corpos não-membranares. Alguns deles são os corpos de Cajal, os gémeos de corpos enovelados ("gemini of coiled bodies", em inglês). Domínios PIKA, corpos PML, agregados de grânulos intercromatínicos (speckles) e paraspeckles. Apesar de pouco se saber sobre alguns destes domínios, estes são significantes pelo facto de mostrarem que o nucleoplasma não é uniforme, mas sim que contém vários subdomínios funcionais organizados. Outras estruturas subnucleares aparecerem como parte de processos de doenças. Por exemplo, foi já reportada a presença de pequenos bastões intranucleares em alguns casos de miopatia nemalínica. Corpos de Cajal e gémeos. Um núcleo contém tipicamente entre uma a dez estruturas denominadas corpos de Cajal ou corpos enovelados, cujo diâmetro é de 0,2 µm e 2.0 µm, dependendo do tipo de célula e da espécie. Quando vistos ao microscópio electrónico, assemelham-se a novelos e são densos focos de distribuição para a proteína denominada coilina. Estes corpos estão envolvidos em alguns papéis relacionados com o processamento do ARN, especificamente os pequenos ARN nucleolares (snoRNA), a maturação dos pequenos ARN nucleares (snRNA) e modificação do ARNm histónico. Similares aos corpos de Cajal são os gémeos de corpos enovelados, quer em forma quer em tamanho. São virtualmente indistinguíveis sob o microscópio electrónico. Em oposição aos corpos de Cajal, os gémeos não possuem pequenas ribonucleoproteínas nucleares (snRNPs), mas contêm uma proteína em inglês denominada "survivor of motor neurons" (SMN), cuja função está relacionada com a biogénese das snRNP. Supõe-se que os gémeos assistem os corpos enovelados na biogénese das snRNP, apesar de também ter sido sugerido, de evidências microscópicas, que os corpos enovelados os os gémeos de corpos enovelados são diferentes manifestações da mesma estrutura. Domínios PIKA e PTF. Os domínios PIKA (do inglês, "polymorphic interphase karyosomal associations") foram primeiramente descobertos em estudos de microscopia no ano 1991. As suas funções eram e permanecem pouco claras, apesar de não terem sido associados com replicação activa de ADN, com a trasncrição e com o processamento do ARN. Descobriu-se que se associavam com distintos domínios definidos por densas localizações do factor de transcrição PTF, que promove a transcrição de snRNA. Corpos PML. Os corpos PML (do inglês, "promyelocytic leukaemia") são corpos esféricos que se encontram dispersos por todo o nucleoplasma, medindo entre 0,2 e 1,0 µm. Outros nomes são: domínio nuclear 10, corpos Kremer e domínios oncogénicos PML. São muitas vezes vistos no núcleo em associação a corpos de Cajal e a corpos de clivagem. Foi sugerido que desempenham um papel na regulação da transcrição. Paraspeckles. Descobertos por Fox et al. em 2002, os paraspeckles são compartimentos de forma irregular que ocorrem no espaço intercromatínico Foram documentados pela primeira vez em células HeLa, onde existem em número de 10 a 30 por núcleo. Também se conhece a sua ocorrência em células primárias humanas, em linhas celulares trnasformadas e em secções de tecidos. Os paraspeckles são estruturas dinâmicas que são alteradas em resposta a mudanças na actividade metabólica celular. São dependente de transcrição e em ausência de transcrição por ARN Pol II estas estruturas desaparecem e todos os seus componentes proteicos associados (PSP1, p54nrb, PSP2, CFI(m)68 e PSF) formam uma estrutura em forma de crescente, em posição perinucleolar. Este fenómeno é demonstrado durante o ciclo celular. Durante o ciclo celular, os paraspeckles estão presentes durante a interfase e durante a toda a mitose, com excepção da telófase. Durante a telofase, quando os dois núcleos-filho são formados, não existe transcrição por ARN polimerase II, de tal forma que os componentes proteicos formam uma cobertura perinucleolar. Agregados granulares intercromatínicos. Os agregados granulares intercromatínicos ou "speckles" (speckles de clivagem) são ricos em snRNPs de clivagem e em outras proteínas necessárias para o processamento do pré-ARNm. Porque a célula tem necessidades variáveis, a composição e a localização destes corpos muda em função da transcrição do ARNm e da regulação via fosforilação de proteínas específicas. Tabela periódica da célula do núcleo. Biólogos que estudam a árvore da vida revelaram um novo sistema de classificação para núcleos celulares e descobriram um método para transmutar um tipo de núcleo celular em outro. Os cientistas trabalham na tabela de células de núcleos estudando sistemas de classificação de cromossomos com base nas maneiras como eles se dobram para caber no núcleo de diferentes espécies de animais. Em algumas espécies, os cromossomos são organizados como as páginas de um jornal, com as margens externas de um lado e o meio dobrado do outro, e, em outras espécies, cada cromossomo é dobrado em uma pequena bola. Ao longo de milênios de evolução, as espécies são capazes de voltar de um tipo para outro. Função. A principal função do núcleo celular é controlar a expressão genética e mediar a replicação do ADN durante o ciclo celular. O núcleo providencia o local para a transcrição, que está separado do local da tradução, no citoplasma. Isto permite um nível de regulação genética que não está disponível nos procariotas. Compartimentação celular. O envelope nuclear permite que o núcleo controle o seu conteúdo, separando-o do resto do citoplasma quando necessário. Isto é importante para o controlo dos processos de ambos os lados da membrana nuclear. Em alguns casos, onde um processo citoplasmático necessita de ser restringido, um componente chave é removido para o núcleo, onde interage com factores de transcrição que regulam a produção de certas enzimas nas vias metabólicas. Este mecanismo regulador ocorre no caso da glicólise, uma via metabólica que age para degradar a glucose para produzir energia. A hexoquinase é uma enzima responsável pelo primeiro passo da glicólise, formando glucose-6-fosfato a partir da glucose. A altas concentrações de frutose-6-fosfato, uma proteína reguladora remove a hexoquinase para o núcleo, onde forma onde complexo transcricional repressor juntamente com proteínas nucleares, para reduzir a expressão de genes envolvidos na glicólise. De maneira a controlar quais genes são transcritos, a célula impede que alguns factores de transcrição, responsáveis por regular a expressão genética, de terem acesso ao ADN, até que sejam activados por outras vias de sinalização. Isto previne até mesmo níveis baixos de expressão genética inapropriada. Por exemplo, no caso de genes controlados por NF-κB, envolvidos na maioria das respostas inflamatórias, a transcrição é induzida em resposta a uma via de sinalização, como aquela que é iniciada pela molécula sinalizadora denominada TNF-α, que se liga a um receptor na membrana celular, resultando no recrutamento de proteínas sinalizadoras e eventualmente na activação do factor de transcrição NF-κB. Um sinal de localização nuclear na proteína NF-κB, permite que seja transportada através do poro nuclear até ao núcleo, onde estimula a transcrição dos genes-alvo. A compartimentação permite que a célula previna a tradução de mRNA que não sofreu splicing. O mRNA eucariota contém intrões que devem ser removidos antes que ocorra a tradução e dêem origem a proteínas funcionais. O splicing é efectuado dentro do núcleo antes de o mRNA poder ser acedido por ribossomas para se dar a tradução. Sem o núcleo, os ribossomas iriam traduzir o mRNA recentemente transcrito (não processado) em proteínas com malformações e não funcionais Expressão genética. A expressão genética envolve a transcrição, na qual o ADN é usado como modelo para a produção de ARN. No caso de genes que codificam proteínas, o ARN produzido por este processo é o ARN mensageiro, que depois necessita de ser traduzido pelos ribossomas para formação das proteínas. Como os ribossomas se localizam fora do núcleo, o ARNm produzido necessita de ser exportado. Uma vez que o núcleo é o local da transcrição, também contém uma variedade de proteínas que ou fazem a mediação directa da transcrição ou estão envolvidos em regular o processo. Estas proteínas incluem as helicases que desenrolam a dupla fita da molécula da ADN, para facilitar a acesso a ela, a ARN-polimerase que sintetiza a molécula de ARN, a topoisomerase que muda a quantidade de enrolamento no ADN, assim como uma grande variedade de factores de transcrição que regulam a expressão genética. Processamento do pré-ARNm. As moléculas recém criadas de ARNm são conhecidas como transcritos primários. Elas têm que sofrer modificação pós-transcricional no núcleo antes de serem exportadas para o citoplasma; o ARNm que aparece no núcleo sem estas modificações é degradado em vez de traduzido em proteínas. As três principais modificações são: inserção de uma capa na extremidade 5', poliadenilação na extremidade 3', e splicing de ARN. Enquanto no núcleo, o pré-ARN está associado com uma variedade de proteínas, em complexos denominados partículas de ribonucleoproteínas heterogéneas (hnRPNs). A adição da capa 5´ocorre co-transcricionalmente e é o primeiro passo na modificação pós-transcricional]]. A cauda múltipla de adenina na extermidade 3' é apenas adicionada após a transcrição estar completa. O splicing do ARN, levado a cabo por um complexo denominado spliceossoma, é o processo pelo qual os intrões, ou regiões do ADN que não codificam proteínas, são removidas do pré-ARNm e o remanescente exão é reconectado numa molécula contínua. Este processo normalmente ocorre após a inserção da capa 5' e da poliadenilação 3', mas pode ter início antes da síntese estar completa em transcritos com muitos exões. Muitos pré-ARNm, incluindo aqueles que codificam anticorpos, podem sofrer splicing de variadas formas, produzindo diferentes ARMm maduros que codificam proteínas com diferentes estruturas primárias. Este processo é conhecido com splicing alternativo e permite a produção de uma grande variedade de proteínas a partir de uma quantidade limitada de ADN. Dinâmica e regulação do núcleo. Transporte nuclear. A entrada e saída de grandes moléculas do núcleo está intimamente controlada pelos complexos de poros nucleares. Apesar de pequenas moléculas poderem entrar no núcleo sem regulação, macromoléculas como o ARN e proteínas requerem associação com carioferinas denominadas importinas para entrar no núcleo e exportinas para sair. Proteínas de carga que têm que ser transferidas do citoplasma para o núcleo contêm sinais de localização nuclear ligadas pelas exportinas. A habilidade das importinas e exportinas em transportar a sua carga é regulada por GTPases, enzimas que hidrolisam a molécula de guanosina trifosfato para libertar energia. A GTPase de maior importância envolvida no transporte nuclear denomina-se Ran, que pode se ligar a GTP ou GDP, dependendo se estiver localizada no núcleo ou citoplasma. Enquanto que as importinas dependem de RanGTP para se dissociarem da sua carga, as exportinas requerem RanGTP para se poderem ligar à sua carga. A importação nuclear depende da importina se ligar à sua carga, no citoplasma, e transportá-la através do poro nuclear até ao núcleo. Dentro do núcleo, a RanGTP actua para separar a carga da importina, permitindo que esta possa sair do núcleo para ser reutilizada. A exportação nuclear é similar, sendo que a exportina liga-se à carga dentro do núcleo, num processo facilitado pela RanGTP, saindo depois através do poro nuclear, separando depois da sua carga no citoplasma. Proteínas de exportação, especializadas, existem para efectuar a transferência de Arnm madura e ARNt para o citoplasma, após a modificação pós-transcripcional estar completa. Este mecanismo de controlo de qualidade é importante devido ao papel central destas moléculas no processo de tradução das proteínas; uma expressão errada de uma proteína devido à incompleta excisão de intrões ou a incorrecta incomporação de aminoácidos, poderão ter efeitos negativos para a célula; o ARN modificado de maneira incompleta que chega ao citoplasma é degradado em vez de ser utilizado na tradução em proteínas. Agregação e desagregação. Durante o seu ciclo de vida, o núcleo pode se desagregar, quer em resposta ao processo de divisão celular quer como consequência da apoptose, uma forma de morte celular programada. Durante estes eventos, os componentes estruturais do núcleo, o envelope e a lâmina, são sistematicamente degradados. Durante o ciclo celular, a célula divide-se para formar duas células. Para que este processo seja possível, cada uma das células resultantes deverá possuir um conjunto completo de genes, um processo que requer a replicação dos cromossomas, assim como a segregação em conjuntos separados. Isto ocorre pelos cromossomas replicados, os cromatídeos irmãos, ligados aos microtúbulos, que por sua vez estão ligados a diferentes centrossomas. Os cromatídeos irmãos podem então ser puxados para diferentes localizações na célula. No entanto, em muitas células, o centrossoma está localizado no citoplasma, fora do núcleo, e os microtúbulos não podem ligar-se aos cromatídeos na presença de um envelope nuclear. Portanto, nos passos iniciais do ciclo celular, começando na prófase até cerca da prometáfase, a membrana nuclear é desmantelada. Durante o mesmo período, a lâmina nuclear também é desagregada através de um processo regulado por fosforilação das laminas. Para o fim do ciclo celular, a membrana nuclear é novamente agregada, e pela mesma altura a lâmina nuclear também o é, através da desfosforilação das laminas. A apoptose é um processo controlado, através do qual os componentes estruturais da célula são destruídos, resultando na morte da célula. As mudanças associadas com a apoptose afectam directamente o núcleo e o seu conteúdo, por exemplo, na condensação da cromatina e desintegração do envelope e lâmina nucleares. A destruição da rede de laminas e controlada por proteases especializadas, denominadas caspases, que fazem a clivagem das laminas, comprometendo dessa forma a integridade estrutural do núcleo. A clivagem das laminas é por vezes usada como um indicador laboratorial da actividade de caspases, em ensaios de actividade precoce de apoptose. Células que expressam laminas resistentes a caspases são deficientes nas mudanças nucleares relacionadas com a apoptose, sugerindo que as laminas desempenham um papel essencial no início dos eventos que levam à degradação do núcleo por apoptose. A própria inibição da agregação das laminas é um indutor da apoptose. O envelope nuclear age como uma barreira que previne que vírus de ADN e ARN entrem no núcleo. Alguns vírus requerem acesso a proteínas que existem dentro do núcleo de maneira a poderem-se replicar ou agregarem os seus componentes. Os vírus de ADN, como o herpes-vírus, replicam e agregam-se no núcleo celular, saindo depois por evaginação através da membrana nuclear interna. Este processo é acompanhado pela desagregação da lâmina da face nuclear da membrana interna. Células anucleadas e polinucleadas. Apesar de a maioria das células possuir um único núcleo, alguns tipos de células não possuem núcleo e outros possuem vários núcleos. Isto pode ser derivado de processos normais, como o da maturação dos eritrócito de mamíferos, ou ser resultado de divisões celulares mal sucedidas. As células anucleadas não possuem núcleo e portanto são incapazes de se dividirem para produção de descendência celular. O tipo de célula anucleada mais conhecida é o eritrócito de mamíferos, que também carece de outros organelos como a mitocôndria e serve principalmente para o transporte de oxigénio dos pulmões para os tecidos celulares. Os eritrócitos sofrem maturação através do processo denominado eritropoiese, que se dá na medula óssea e onde perdem o núcleo, organelos e ribossomas. O núcleo é expelido durante o processo de diferenciação de um eritroblasto em um reticulócito, o precursor imediato dos eritrócitos maduros. A presença de um agente mutagénicos poderá induzir a libertação de alguns eritrócitos "micronucleados" imaturos. Células anucleadas também podem surgir de divisões celulares mal processadas, em que uma das células-filhas não possui núcleo e a outra fica binucleada. As células polinucleadas possuem múltiplos núcleos. A maioria das espécies de protozoário da classe Acantharea e alguns fungos em micorrizas possuem células polinucleadas. Em humanos, as células do músculo esquelético, denominadas miócitos, tornam-se multinucleadas durante o seu desenvolvimento; o arranjo de núcleos resultante, perto da periferia das células, permite um máximo de espaço intracelular para as miofibrilhas. Células multinucleadas também podem ser anormais em humanos; por exemplo, células que derivam da fusão de monócitos e macrófagos, conhecidas como células gigantes multinucleadas, por vezes acompanham reacções de inflamação e também estão envolvidas na formação de tumores. Evolução. Sendo a principal característica que define uma célula eucariótica, a origem evolutiva do núcleo tem sido alvo de muitas especulações. Quatro grandes teorias foram propostas para explicar a existência do núcleo, apesar de nenhuma ter até agora um apoio alargado. A teoria conhecida como modelo sintrófico propõe que uma relação simbiótica entre as Archaea e as Bacteria terá criado a célula eucariótica portadora de núcleo. Formula-se que a simbiose se originou quando Archaea primitivas, similares às actuais Archaea metanogénicas, invadiram e passaram a viver dentro de bactérias similares às actuais mixobactérias, eventualmente formando um núcleo primordial. Esta teoria é análoga à teoria aceite sobre a origem da mitocôndria eucariótica e do cloroplasto, que se pensa terem se desenvolvido a partir de uma similar relação endossimbiótica entre um proto-eucariotas e bactérias aeróbias. A origem do núcleo entre as Archaea é suportado por observações de que este grupo e os eucariotas possuem genes similares para determinadas proteínas, incluindo as histonas. As observação que mostram as mixobactérias como organismos móveis, que podem formar complexos multicelulares e que possuem quinases e proteínas G similares aos Eukarya, suportam uma origem bacteriana da célula eucariótica. Um segundo modelo propõe que células proto-eucarióticas evoluíram a partir de bactérias, sem estágios endossimbióticos. Este modelo é baseado na existência das bactérias do filo Planctomycetes, que possuem uma estrutura nuclear com poros primitivos e outras estruturas membranares compartimentadas. Um modelo similar propões que uma célula semelhante à eucariótica, o cronócito, evoluiu primeiramente, tendo depois fagocitado membros das Archaea e Bacteria, gerando assim o núcleo e a célula eucariótica. O modelo mais controverso, conhecido como eucariogénese viral, propõe que o núcleo composto de membranas, assim como outras estruturas eucarióticas, originaram-se a partir da infecção de um vírus. A sugestão é suportada por similaridades entre eucariotas e vírus: fitas lineares de ADN e ligação forte a proteínas (analogia entre histonas e envelope viral). Uma versão da proposta sugere que o núcleo evoluiu ao mesmo tempo em que a fagocitose, formando um "predador" celular primitivo. Outra variante propõe que os eucariotas são originários de Archaea primitivos, infectados com poxvirus, baseada nas semelhanças entre a polimerase de ADN de modernos poxvirus e eucariotas. Tem sido sugerido que a questão ainda não resolvida da evolução do sexo possa estar ligada à hipótese da eucariogénese viral.
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Laureados com o Nobel de Fisiologia ou Medicina
Laureados com o Nobel de Fisiologia ou Medicina O Nobel de Fisiologia ou Medicina () é um prêmio atribuído anualmente pelo Instituto Karolinska, da Suécia, laureando as pessoas que se destaquem nas áreas de investigação da fisiologia ou da medicina. É um dos cinco prêmios estabelecidos em 1895 no testamento de Alfred Nobel, que morreu em 1896. Esses prêmios são concedidos por contribuições notáveis em química, física, literatura, paz e fisiologia ou medicina. Conforme orientações no testamento, o prêmio é administrado pela Fundação Nobel e outorgado por um comitê que consiste de cinco membros eleitos pela Academia Real. Embora comumente referido como o Prêmio Nobel de Medicina, Nobel declarou especificamente que o prêmio seria concedido por "fisiologia ou medicina" em seu testamento. Por isso, o prêmio pode ser concedido em uma gama mais ampla de campos. O primeiro Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina foi concedido em 1901 a Emil Adolf von Behring, da Alemanha. Cada destinatário recebe uma medalha, um diploma e um prêmio em dinheiro que tem variado ao longo dos anos. Em 1901, von Behring recebeu coroas suecas, o que equivale a coroas suecas em dezembro de 2017. O prêmio é entregue em Estocolmo em uma cerimônia anual em 10 de dezembro, o aniversário da morte de Nobel. Os laureados ganharam o Prêmio Nobel em uma ampla gama de campos relacionados à fisiologia ou medicina. Em 2009, 8 Prêmios foram concedidos para contribuições no campo da transdução de sinal por proteínas G e segundos mensageiros, 13 foram concedidos para contribuições no campo da neurobiologia e 13 foram concedidos para contribuições no metabolismo intermediário. Em 1939, Gerhard Domagk, um alemão, não foi autorizado por seu governo a aceitar o prêmio. Mais tarde, ele recebeu uma medalha e um diploma, mas não o dinheiro. Até 2022, o prêmio foi concedido a 225 pessoas, sendo que doze delas eram mulheres: Gerty Cori (1947), Rosalyn Yalow (1977), Barbara McClintock (1983), Rita Levi-Montalcini (1986), Gertrude B. Elion (1988), Christiane Nüsslein-Volhard (1995), Linda B. Buck (2004), Françoise Barré-Sinoussi (2008), Elizabeth H. Blackburn (2009), Carol W. Greider (2009), May-Britt Moser (2014) e Tu Youyou (2015). Houve nove anos em que o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina não foi concedido (1915–1918, 1921, 1925, 1940–1942). Também houve cinco anos em que o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina foi adiado por um ano. O Prêmio não foi concedido em 1914, pois o Comitê Nobel de Fisiologia ou Medicina decidiu que nenhuma das nomeações daquele ano preenchia os critérios necessários, mas foi concedido a Robert Bárány em 1915 e contabilizado como o prêmio de 1914. Este precedente foi seguido pelo prêmio de 1922 concedido a Archibald Hill e Otto Fritz Meyerhof em 1923, o prêmio de 1926 concedido a Johannes Fibiger em 1927, o prêmio de 1938 concedido a Corneille Heymans em 1939 e o prêmio de 1943 concedido a Henrik Dam e Edward Adelbert Doisy em 1944.