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melhor esteio. Capacitou-me a recuperar a confiança e minha habilidade para |
vender. |
“Fiquei satisfeito em ter podido pagar-lhe, ainda que de modo tão simples, o |
encorajamento que ele tinha me dado. |
“Uma noite, Swasti me procurou profundamente abalada: “Seu amo está com |
problemas. Temo por ele. Há alguns meses vem perdendo grandes somas nas |
mesas de jogo. Não está pagando ao fazendeiro pêlos cereais nem pelo mel. Não |
está pagando ao emprestador de dinheiro. Eles estão revoltados e ameaçam-no.” |
? “Por que devemos nos preocupar com suas loucuras? Não somos os seus |
responsáveis”, respondi sem pensar. |
? “Jovem desmiolado, não está entendendo? Ele deu ao emprestador de dinheiro |
seu título de propriedade para garantir o empréstimo. Segundo a lei, o homem |
pode reclamá-lo e vendê-lo. Não sei o que fazer. Ele é um bom amo. Por quê? |
Por que tais problemas vieram cair sobre ele?” |
“Os temores de Swasti não eram sem fundamento. Enquanto me achava assando |
o pão na manhã seguinte, o emprestador de dinheiro voltou com um homem |
chamado Sasi. Esse homem me examinou e disse que eu servia. |
“O emprestador de dinheiro não quis esperar o retorno de meu amo, mas |
incumbiu Swasti de dizer-lhe que tinha me levado. Sem levar comigo senão a |
túnica que estava vestindo e o meu alforje com as moedas de cobre preso ao |
cinto, apressaram-me a deixar o local, os pães ainda assando no forno. |
“Fora arrancado às minhas mais queridas esperanças como o furacão |
desenraiza a árvore da floresta, atirando-a ao mar encapelado. Novamente uma |
casa de jogo e bebidas alcoólicas causavam minha desgraça. |
“Sasi era um homem rude e grosseiro. Quando cruzava comigo a cidade, falei- |
lhe sobre os bons serviços que tinha prestado a Nana-naid e disse-lhe que ele |
poderia esperar o mesmo tratamento. Sua resposta foi totalmente |
desencorajadora. |
? “Não gosto deste trabalho. Meu amo não gosta dele. O rei determinou que ele |
me destinasse à construção de uma seção do Grande Canal. O amo me pediu |
que comprasse mais escravos, trabalhasse arduamente e acabasse rápido com a |
obra. Ora, como pode algum homem acabar rapidamente uma obra grande |
como aquela?” |
“Imagine um deserto sem árvore alguma, apenas pequenos arbustos e um sol |
queimando com tal fúria que a água em nossos barris já não prestava, de tão |
quente, para matar nossa sede. Imagine agora filas de homens descendo aos |
profundos buracos escavados e dali trazendo pesados cestos de areia fofa |
através de caminhos poeirentos, da manhã até a noite. Imagine a comida |
servida em gamelas onde todos comiam juntos, como porcos. Não tínhamos |
tendas nem palha para as camas. Foi essa a situação em que me achei. Enterrei |
meu alforje num lugar marcado, meio descrente de que no futuro viesse a |
desencavá-lo. |
“Nos primeiros tempos trabalhei com boa vontade, mas, à medida que os meses |
se arrastavam, senti meu ânimo fraquejar. Então a febre tomou conta do meu |
corpo exausto. Perdi o apetite e mal podia levar à boca pedaços de carneiro e |
verduras. A noite via-me completamente vencido pela insônia. |
“Em minha desgraça perguntava-me se o plano de Zabado não era mesmo o |
melhor, fazer corpo mole para não condenar o próprio corpo ao esmorecimento. |
Depois lembrei-me da última visão que tive dele e convenci-me de que o velho |
camarada estava errado. |
“Meus pensamentos voltaram-se para Pirata e toda aquela amargura, e me |
perguntei se também podia ser justo brigar e matar. A recordação de seu corpo |
ensangiientado me mostrou que seu plano não tinha a menor serventia. |
“Lembrei-me então da última vez em que vi Megiddo. Suas mãos mostravam |
calos imensos devido a trabalho árduo, mas seu coração era leve e havia |
contentamento em seu rosto. Seu plano era o melhor. |
“Mas eu tinha tanta disposição para o trabalho quanto Megiddo; ele podia não |
ter trabalhado tão duro quanto eu. Por que o meu trabalho não me trouxe |
felicidade e sucesso? Era o trabalho que trazia felicidade a Megiddo ou isso |
acontecia devido à intervenção dos deuses? Estaria escrito que eu devia |
trabalhar a vida inteira sem a satisfação de meus desejos, sem felicidade ou |
sucesso? Todas essas questões misturavam-se em minha cabeça, e eu não |
encontrava uma resposta sequer. Realmente, eu me achava lamentavelmente |
confuso. |